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Leia mais... - De Sambas e Congadas

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Estes pontos, que nem sempre são improvisados,<br />

também podem consistir em uma prosa<br />

longa. Quando se deseja finalizar o ponto cantado,<br />

o jongueiro põe a mão sobre o couro do tambor<br />

e grita “cachoera!”, termo usado no Estado de São<br />

Paulo, ou “machado!”, denominação utilizada no<br />

Rio de Janeiro. A autora Maria de Lourdes Borges<br />

Ribeiro (1984) define o Jongo como arte envolta<br />

pela magia, pelo universo sobrenatural. Os<br />

pontos de gurumenta não são muito frequentes<br />

nas práticas dos grupos contemporâneos, embora<br />

tenha sido presenciado pela autora em questão<br />

e constantemente mencionado pelos jongueiros<br />

pesquisado por nós. A autora revela o poder da<br />

palavra no Jongo, um meio indireto para deixar o<br />

jongueiro sem ação no momento dos desafios, o<br />

canto que poderia neutralizar o oponente.<br />

A respeito da semântica do Jongo, a autora<br />

menciona a dança como um meio sutil de<br />

comunicação eficaz, e realiza uma compilação de<br />

palavras com significados fixos no contexto dos<br />

pontos, como por exemplo: angoma, que significa<br />

tambú; flor, cujo significado é alegria; e água, que<br />

consiste na cachaça. A compreensão do Jongo enquanto<br />

uma dança que ocorre em terreiro, termo<br />

utilizado para definir locais em que há a prática<br />

de religiões afro-brasileiras, como o candomblé,<br />

faz com que Ribeiro mencione a possibilidade<br />

de um sentido religioso nesta manifestação. No<br />

dossiê “Jongo no Sudeste” (2007) elaborado pelo<br />

IPHAN, a relação entre Jongo e Umbanda é sugerida,<br />

considerando a grande parte de jongueiros<br />

praticantes desta religião. Apesar de não se configurar<br />

como manifestação religiosa, de fato, a de-<br />

Lico Sales - Jongo Cunha-SP<br />

~ 60 ~<br />

nominação das músicas cantadas como “ponto”,<br />

reforça a ligação pelo menos da gênese da celebração<br />

não só com a Umbanda, mas com a religiosidade<br />

afro-brasileira presente no Brasil.<br />

O autor Robert Slenes (2007) convida-nos<br />

a uma incursão sobre as representações do Jongo<br />

no sudeste brasileiro, sobretudo, menciona pontos<br />

que ligam a África centro ocidental de cultura<br />

banto, ao cotidiano social dos escravos no Brasil<br />

que, anteriormente, tinham o território africano<br />

como morada. Para elaborar sua análise, Slenes<br />

baseia-se em duas referências: no livro de Stanley<br />

Stein – “Vassouras – um município brasileiro<br />

do café” (1850-1900), autor que estudou o escravismo<br />

por meio de fontes judiciárias, notariais e<br />

orais - também de mulheres e pela cultura ima-

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