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Pontos de partida para uma pesquisa desenvolvida ... - ppgav - Udesc

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PONTOS DE PARTIDA PARA UMA PESQUISA DESENVOLVIDA NO

ÂMBITO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES

VISUAIS DA UDESC.

Giovana Bianca Darolt Hillesheim 1

Dra. Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva (orientadora) 2

Resumo

Tendo como tema a investigação “Um Olhar para as Pesquisas que Abordam a Formação de

Professores de Artes Visuais”, em fase de desenvolvimento no PPGAV da UDESC, o texto

trata das motivações e encaminhamentos metodológicos considerados pela autora na

condução da dissertação. A partir de abordagem qualitativa e esclarecimento dos critérios

para seleção de dados, são tecidas considerações sobre a pertinência do objeto de estudo.

Palavras-chave: formação de professores de arte; metodologia de pesquisa qualitativa; coleta

de dados.

Abstract

With the theme the investigation “Looking for researches on Teacher Education Visual Arts”

under development in PPGAV, UDESC, the text deals with the motivations and

methodological referrals considered by the author in the conduct of the dissertation. From a

qualitative approach and clear criteria for data selection considerations are made about the

relevance of the study object.

Keywords: training for the art teachers; qualitative research methodology; data collection.

Considerações iniciais

Todo jovem pesquisador gostaria de adotar como livro de cabeceira a

despretensiosa obra de Mário Quintana Da preguiça como método de trabalho 3 . Porém, no

momento em que a pesquisa inicia de fato, ou mesmo diante do mergulho na poesia do

escritor gaúcho, percebemos que ser simples e sintético é trabalho árduo, fruto de infinitas

leituras, inúmeras considerações e uma vasta coleção de insatisfações.

A insatisfação é a força motriz do pesquisador. A pesquisa surge daquilo que

nos incomoda, aflige, exige respostas. Charmaz (2009, p.34) chama esta seleção inicial do

1

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais Da UDESC; membro do Grupo de Pesquisa

Educação, Arte e Inclusão. giovanabianca@yahoo.com.br

2

Professora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais Da UDESC; coordenadora do Grupo de Pesquisa

Educação, Arte e Inclusão. cristinaudesc@yahoo.com.br

3

QUINTANA. M. Da preguiça como método de trabalho. – 2. ed. – São Paulo: Globo, 2007.

1


tema que se transformará em objeto da pesquisa de conceitos sensibilizadores. Estes

compreendem o conjunto de interesses de nosso universo investigativo; são pontos de partida

que muitas vezes surgem de uma premissa pessoal, ferramentas provisórias oriundas de

questões mal resolvidas em nossa formação inicial ou desdobramentos de uma perspectiva

singular do mundo que nos rodeia; são, ainda segundo a autora, “um ponto para começar, não

para concluir”.

Desta feita, a insatisfação que dá origem ao estudo Um olhar para as pesquisas

que abordam a formação de professores de artes visuais: caminhos percorridos e a

percorrer, objeto deste artigo, brota da observação de que a maioria das pesquisas de pós-

graduação que investigam a formação do professor para o ensino de arte está alojada nos

cursos de pós-graduação em educação, poucas delas encontram-se filiadas aos cursos de pós-

graduação em artes.

Tal percepção passou de uma inquietude inicial a objeto de análise, gerando

inúmeras perguntas: Há diferenças epistemológicas entre as pesquisas que investigam a

licenciatura em artes visuais nos programas educacionais e artísticos? Os estudos sobre o

ensino da arte estão se afastando da arte? Os cursos de pós-graduação em artes visuais são

insuficientes para abrigar a demanda de pesquisadores? Quais destes cursos têm o ensino da

arte como linha de pesquisa? Existem conflitos entre arte e educação? De que ordem?

Estas questões norteadoras seguem os preceitos de Trivinõs (2011, p.95) que

discute a delimitação do problema da pesquisa sob dois pontos de vista: o primeiro deles é

definido pelo pesquisador, mesmo quando este não tenha nenhum contato direto com o objeto

de estudo; o segundo diz respeito ao envolvimento do pesquisador diante de uma situação que

precisa ser esclarecida. Neste caso o tópico da pesquisa recai diretamente no âmbito da

graduação do pesquisador ou da prática profissional cotidiana. É este caráter de envolvimento

e suas respectivas insatisfações que nos interessam e alavancam nossa pesquisa.

Embora o tema nos inquiete e desperte o desejo de esclarecer nossas dúvidas,

os conceitos sensibilizadores precisam de um ponto concreto de partida, sendo necessário

conhecer as pesquisas preliminares sobre o assunto. Neste sentido, Fonseca da Silva (2011)

elenca alguns autores que tem se dedicado à sistematização deste assunto ao longo dos anos.

Dentre eles: Silva (2008), Nunes (2009), Tourinho (2009), Pillar e Rebouças (2008) e Simó

(2010).

2


Tais estudos apontam para a existência de uma produção relevante, embora

ainda insuficiente, no campo de formação de professores para o ensino da arte no Brasil. A

complexidade do tema que se abre para múltiplas possibilidades deixa transparecer quão

amplo e rico é este campo de conhecimento.

O que queremos salientar nesta pesquisa, porém, é o enfoque filosófico destes

estudos. Acreditamos que o histórico de lutas em prol da inclusão da disciplina na educação

básica, a busca pelo reconhecimento no meio educacional e o movimento de professores de

arte para que a área recebesse um tratamento paritário nos documentos oficiais e marcos

legais, tem repercutido em um discurso uníssono que acabou por silenciar outras questões tão

importantes quanto a busca por legitimação de espaço.

Destacamos não ser nossa intenção desmerecer as pesquisas vinculadas à

valorização do ensino da arte, absolutamente. Tais abordagens contribuíram sobremaneira

para que avanços reais ocorressem no ambiente escolar, tal como a inserção da disciplina na

base nacional comum da educação básica a partir da Lei Nacional de Diretrizes e Bases da

Educação, lei nº 9.394, de 1996. Também é mérito destes estudos o alerta e cobrança por

melhorias em questões frágeis ainda presentes no cotidiano escolar: investimentos

inexpressivos em formação continuada por parte dos governos, falta de logística e material

adequado para as aulas, classes lotadas e dificuldades que vão desde o comportamento do

alunado até a inclusão qualitativa de alunos com necessidades educativas especiais.

Embora saibamos da concretude destes problemas, propomos aqui um

repensar de posicionamentos e uma reflexão sobre a formação do professor de arte de maneira

epistemológica. Lançaremos nosso olhar para o quanto há de arte nas pesquisas sobre

formação de professores. Não teríamos nos afastado demais de nosso objeto de estudo?

Estaríamos minimizando o poder de alcance da arte? Um enredo menos educacional seria uma

atitude egoísta? Trata-se essencialmente do desejo de voltar os olhos para a base filosófica da

disciplina e construir um enredo que nos permita reviver o fascínio da atmosfera artística.

Ainda amparados na simplicidade calorosa de Quintana que transforma

qualquer problema em poesia, ousamos pensar neste novo enredo, embora o poeta alerte:

...o enredo é pretexto, o essencial é a atmosfera. A insatisfação faz parte do fascínio da leitura.

Um verdadeiro livro, de um senhor autor, não é um prato de comida, para matar a fome. Tratase

de um outro pão, mas que nunca sacia... E ainda bem! (QUINTANA, 2007, p. 208).

Este trecho de Primeiras Leituras refere-se aos clássicos da literatura e seu

poder arrebatador de alimento básico e essencial, tal qual o pão. O pão que queremos

3


fomentar nesta pesquisa tem este quê de alimento que não se cansa de comer. Propomo-nos a

prestar mais atenção aos ingredientes do pão – neste caso, da arte – que à mesa na qual será

servido. Buscamos esquecer, mesmo momentaneamente, que há geleias, biscoitos, café e leite

em volta – aqui representando as demais disciplinas curriculares. Propomos saborear o pão

sem a preocupação de discutir sua importância em relação aos outros alimentos que compõem

a refeição.

Muito provavelmente o envolvimento direto com o ensino da arte nos permita

ver com singularidade o objeto de pesquisa proposto. Triviños (2011) afirma que é a

contemplação viva do fenômeno que nos permite estabelecer a diferença que existe entre os

demais fenômenos investigativos e aquele sobre o qual nos debruçamos. Ao reunir

informações e buscar os dados que guiarão o estudo vamos estabelecendo relações sócio-

históricas e elaborando juízos, raciocínios e conceitos que nos permitirão conhecer a realidade

concreta do fenômeno. Este conhecimento construído através da pesquisa torna-se a evidência

do preceito de Charmaz anteriormente citado: interesses pessoais se transformam

paulatinamente de pontos de partida em pontos de chegada.

O portal da CAPES como fonte para a coleta de dados

Acreditamos que a tarefa de coletar e selecionar dados para uma pesquisa qualitativa é

um tanto quanto complexa, principalmente quando temos em mente um olhar crítico

alicerçado numa triangulação de informações com simultâneos enfoques: processos centrados

no sujeito, elementos produzidos pelo meio do sujeito e processos originados pela estrutura

socioeconômica e social. 4 Consideramos ainda que a credibilidade da fonte onde os dados

serão coletados empresta sua integridade e legitimação social para o estudo proposto. Desta

feita, nossa pesquisa se remete à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), embora saibamos que a confiabilidade dos dados é apenas um dos indícios

para a qualidade da pesquisa, devendo a mesma contar ainda com coerência no suporte teórico

e claros critérios de análise.

4 Acerca da técnica da triangulação na coleta de dados, consultar: TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em

ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. – 1. Ed. – 20 reimpr. – São Paulo: Atlas, 2011.

4


Criada em julho de 1951, no início do segundo governo Vargas e tendo como primeiro

dirigente a figura do educador Anísio Teixeira, a CAPES adquiriu ao longo de sua história

papel fundamental na consolidação e expansão dos cursos de pós-graduação stricto sensu no

país. 5 Sua missão de corroborar na construção de um padrão de excelência acadêmica para os

mestrados e doutorados nacionais ganhou ainda mais evidência diante do novo Plano

Nacional de Educação (PNE 2011-2020). Pela primeira vez o PNE contempla e abriga entre

seus componentes o Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) que, sob a tutela

da CAPES, elenca as próximas políticas nacionais para pós-graduação e pesquisa. Em sua 6ª

edição o PNPG é testemunho do papel relevante da CAPES junto aos cursos de pós-

graduação, embora não possamos negar as polêmicas existentes entorno das motivações que

nortearam o plano, a saber, o vínculo explícito entre o desenvolvimento qualitativo do ensino

superior e o olhar externo direcionado ao país como potência emergente.

Excluindo-se discussões de ordem motivacional no PNPG, há uma questão cuja

opinião é unânime: a qualidade das pesquisas e o rigor científico nos cursos de pós-graduação

são peças chave para a almejada excelência acadêmica. Agora, mais do que outrora, o

reconhecimento da importância da pesquisa para um padrão de qualidade é um fato, que por

sua vez está formalizado já na introdução do documento:

O núcleo da pós-graduação é a pesquisa. A pesquisa depende de treinamento e exige

dedicação plena ao estudo, sendo a tarefa das instituições acadêmicas e institutos de

pesquisa, públicos ou privados, aliar este e aquela. Os resultados da pesquisa, ao

serem aplicados, levam a tecnologias e a procedimentos, podendo ser usados no

setor público e no sistema privado, e fazendo do conhecimento e da tecnologia uma

poderosa ferramenta no desenvolvimento econômico e social. (PNPG, 2011, p. 18).

Por tais motivos, parece-nos fidedigno coletar os dados para este estudo no banco de

teses e dissertações alojado no portal da CAPES. Contando com o resumo das dissertações e

teses defendidas no Brasil desde 1987, este se constitui como um verdadeiro inventário das

pesquisas realizadas no Brasil 6 .

Cabe registramos aqui a salutar contribuição das pesquisas desenvolvidas e

divulgadas no âmbito das associações de pesquisadores, críticos, artistas e professores de arte

do Brasil, citamos: a Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas (ANPAP) e a

5 Informações disponíveis no portal da CAPES: http://www.capes.gov.br

6 Os programas de pós-graduação informam a CAPES sobre a produção de seus discentes (dissertações e teses) e

respondem pela veracidade das informações.

5


Federação de Arte/Educadores do Brasil (FAEB) que, dentre outras, tem publicações

relevantes sobre formação de professores para o ensino da arte. Estas certamente poderiam

compor o universo desta pesquisa, mas, por razões de dificuldades de acesso aos anais

completos e pela representatividade relativamente baixa de algumas regiões do Brasil nestes

eventos, optamos por referenciar tais estudos sem, no entanto, fazer deles nossa fonte primária

de informações 7 .

Dois critérios iniciais de seleção: o recorte temporal e a especificidade do objeto de

pesquisa

A investigação Um olhar para as pesquisas que abordam a formação de professores

de artes visuais: caminhos percorridos e a percorrer integra um projeto mais amplo intitulado

“Observatório da Formação de Professores no âmbito do ensino da Arte: estudos

comparativos entre Brasil e Argentina”, sob coordenação brasileira da professora Dra. Maria

Cristina da Rosa Fonseca da Silva/ UDESC e das pesquisadoras Dra. Maria Christina de

Sousa Rizzi/USP e Dra. Isabela Nascimento Frade/UERJ como componentes da equipe, além

de pesquisadores argentinos.

Com relação às parcerias acadêmicas internacionais, o projeto citado entende que há

um distanciamento tanto do Brasil, quanto da Argentina, do contexto da América Latina,

prevalecendo normalmente estudos desenvolvidos em conjunto com universidades europeias.

Buscando construir relações que possam oportunizar reflexões sobre o estado da arte na

formação de professores latino-americanos, o projeto direciona uma atenção especial às

peculiaridades dos dois países no contexto das inovações no campo da arte. Tais inovações

abrangem tecnologia, educação inclusiva, produção multicultural, temáticas de gênero na arte,

cultura visual, entre tantos outros desafios que permearam a formação dos professores

brasileiros e argentinos na última década. Neste sentido, o projeto tem um recorte temporal –

7

Tanto a ANPAP quanto a FAEB realizam eventos com periodicidade regular, há porém, uma rotatividade do

local/estado que abrigará estes eventos. Em razão da distância e dos custos financeiros dela decorrentes, os

eventos atingem dois grupos de participantes: um grupo composto por pesquisadores com carreira acadêmica

consolidada e vínculo direto com os interesses das associações e outro formado por jovens pesquisadores, que

apesar de muito contribuírem com as discussões, tem participação ocasional quando estão cursando pósgraduação

ou morando relativamente próximos da região na qual os eventos acontecem.

6


pesquisas de pós-graduação realizadas a partir de 2000 – investigando mobilidade,

concentração, dispersão e inserção dos temas citados nas políticas públicas em arte e

educação. 8

Reafirmamos aqui a credibilidade que depositamos em pesquisas que se encadeiam

formando, ao nosso entender, um consistente corpo teórico. Quando um grupo de

pesquisadores se debruça sobre um tema, as perspectivas se ampliam, pois a combinação de

envolvimento pessoal e compromisso coletivo mantem o foco da pesquisa. Por estarmos

cientes da amplitude do objeto de estudos, encaramos as eventuais divergências

metodológicas como oportunidades de corrigir possíveis equívocos ou apontar diferentes

posturas frente ao objeto. Na condição de uma pesquisa que nasce dentro de outra de maior

amplitude, queremos enfatizar o caráter específico deste estudo dissertativo, uma vez que o

mesmo busca uma reflexão filosófica sobre os estudos que abordam a formação de

professores para o ensino da arte. O recorte temporal – ano 2000 em diante – é mantido, pois

concordamos ser este período significativo para o ensino da arte ao entender que foi nesse

contexto que a formação de professores se deparou de forma mais sistemática com temáticas

ligadas à tecnologia, inclusão, acessibilidade, gênero e multiculturalismo.

O segundo critério para a coleta de dados diz respeito à própria especificidade da

investigação, pois é grande a diversidade de pesquisas sobre formação de professores alojada

no banco de teses e dissertações da CAPES. 9 Em nossas consultas realizadas nos meses de

março e abril de 2012 adotamos os termos formação de professores de arte como ferramentas

de busca, optando por iniciar com o nível mestrado para, numa próxima etapa desta mesma

pesquisa, ampliar para as teses de doutorado.

Quatrocentas dissertações foram apresentadas pelo banco de dados. Dentre elas

descartamos os estudos 10 que apresentavam as seguintes características:

a) Reflexão sobre formação de professores a partir de suas histórias de vida;

b) Formações em outras licenciaturas, embora a abordagem recaísse sobre a arte;

c) Considerações subjetivas na formação do professor: criatividade, autonomia, ética, entre

outras questões.

8 Síntese redigida a partir do projeto “Observatório da Formação de Professores no âmbito do Ensino de Arte:

estudos comparados entre Brasil e Argentina – (OFPEA\BRARG)”.

9 http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=2010133052018003P8

10 Os estudos mencionados, apesar de não se configurarem como fontes de informação desta dissertação,

alimentarão o banco de dados do projeto “Observatório...”.

7


d) Formação em linguagem artística alheia às artes visuais (música, dança, literatura e teatro);

e) Análise de cursos de formação continuada ligados a programas de iniciativa privada ou

governamental;

f) Formação de docentes para atuar no ensino superior;

g) Estudos de caso vinculados a sistemas de ensino, pessoas e contextos geográficos muito

específicos.

As dissertações selecionadas para compor o banco de dados desta pesquisa

caracterizam-se essencialmente pela preocupação com a formação inicial do professor para o

ensino das artes visuais/licenciatura. Ao descartarmos as pesquisas realizadas anteriormente a

2000 e aquelas cujo resumo aponta para um objeto que foge da especificidade deste estudo,

obtivemos 09 dissertações. Destas, apenas uma havia sido realizada no contexto de um curso

de pós-graduação em artes visuais; as outras oito foram desenvolvidas em cursos de pós-

graduação em educação. A continuidade na coleta de dados oriundos das teses de doutorado

contidas no banco da CAPES obedecerá aos mesmos critérios acima citados.

Argumentos finais para uma pesquisa que se inicia

Repensando o modelo de pesquisador anteriormente mencionado, como alguém

movido pela insatisfação e ansioso por apropriar-se das particularidades do mundo a sua

volta, nos remetemos à questão suprema da filosofia: a cognoscibilidade do mundo. 11 Ao nos

embrenharmos em uma pesquisa buscamos apoio na ciência para explicar o mundo, o homem,

a vida e acreditamos na matéria, na consciência e na prática social como indícios passíveis de

investigação também da arte.

Voltar nosso olhar para as pesquisas que pensam a formação do professor de arte é

buscar respostas na prática social e encará-la como um dos critérios que vai legitimando a

verdade. Pensamos haver uma forte influência do contexto na construção das pesquisas que

servem como objeto deste estudo, nos parecendo oportuno pensar em quais cursos de pós-

graduação foram elaboradas, qual a formação de seus orientadores ou quais as referências

teóricas de análise. Sabemos, no entanto, de nossas próprias limitações ao nos aproximarmos

11 TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. – 1. Ed. –

20 reimpr. – São Paulo: Atlas, 2011

8


destes estudos, pois na condição de pesquisador também estamos ligados a um contexto que

nos dá sustentação. Isto, porém, não impede um olhar reflexivo e questionador sobre o

conhecimento construído até o momento.

Na pesquisa Um olhar para as pesquisas que abordam a formação de professores de

artes visuais: caminhos percorridos e a percorrer, o enredo que envolve a história do ensino

da arte cederá espaço para a atmosfera deste contexto histórico. A atmosfera é mais fluida que

o enredo, mas nem por isso, menos presente. Reafirmando o pensamento de Quintana, para

quem o enredo é pretexto, o essencial é a atmosfera, nos colocamos na condição de um

pesquisador que acredita que a realidade existe independente de nossa consciência, e que há

diversas maneiras de nos aproximarmos dela; basicamente, a pesquisa buscará distinguir

como a educação e a arte buscam esta aproximação.

Ao mapearmos quem são, onde estão e como pensam as pessoas que pesquisam o

estado da arte nos cursos de formação de nível superior, vamos construindo a imagem da

licenciatura em Artes Visuais no país. Sendo imagem, fica implícito que a mesma pode

apresentar diferentes ângulos de um mesmo objeto. Tal qual uma casa de espelhos, as

pesquisas podem dar ênfase ou retirar de cena características que fazem parte do objeto e que,

por alguma razão, chamaram a atenção do pesquisador ou, ao contrário, são por ele

desconsideradas.

Investigando nossa própria imagem no espelho a cada manhã descobrimos outras

facetas de nós mesmos, e isso não faz com que a imagem refletida ontem possa ser chamada

de mentira. A busca por quem somos continuará dia após dia e, há não ser num ato de

extrema rebeldia, jamais desistiremos de nos conhecer. De tal forma, podemos afirmar que a

última imagem vista é sempre aquela que nos parece a mais verdadeira, pois nela está a

síntese de todos os nossos reflexos vistos até então.

Conhecer a fundo a formação do professor de artes visuais exige esta mirada em

vários espelhos. Cada pesquisador contribui de alguma forma para que outras facetas sejam

descobertas. A pesquisa em questão busca entender quais os pontos de vista que os espelhos

já mostraram, ou deram mais ênfase, e quais os ângulos que merecem atenção. A constatação

inicial de que a maior parte dos estudos sobre a formação do professor de artes visuais foi

realizada nos cursos de pós-graduação em educação dá pistas sobre o caminho trilhado por

estas pesquisas, mas conhecer de fato o quê exatamente isto significa é tarefa de garimpo,

algo a ser feito com cuidado e desejo real de ampliar a imagem refletida no espelho.

9


Referências bibliográficas

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qualitativa; trad. Joice Elias Costa. – Porto Alegre: Artmed, 2009.

QUINTANA. M. Da preguiça como método de trabalho. – 2. Ed. – São Paulo: Globo, 2007.

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em artes plásticas no Brasil. 1. ed. – Florianópolis: Editora da UDESC, 2008, v.1, p. 21-34.

SIMÓ, C. H. O Estado da Arte das Teses Acadêmicas que Abordam Arte e Inclusão. Um

Recorte de 1998 a 2008. (Dissertação- PPGAV/UDESC). Florianópolis, 2010.

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Arte: estudos comparativos entre Brasil e Argentina”, 2012.

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qual o estado do conhecimento? In Anais da 32ª Reunião da Anped. Caxambu: Editora

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TOURINHO, I. Pegando ondas nas questões de investigação em educação das artes visuais.

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– Florianópolis: Editora da UDESC, 2009, v.1, p. 15-31.

TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em

educação. – 1. Ed. – 20 reimpr. – São Paulo: Atlas, 2011.

10

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