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Apresentação<br />
<strong>Memória</strong> <strong>da</strong> <strong>Cana</strong> é uma a<strong>da</strong>ptação<br />
do texto teatral Álbum de Família<br />
de Nelson Rodrigues alimenta<strong>da</strong> pela<br />
leitura de textos basilares sobre a formação<br />
<strong>da</strong> família brasileira, principalmente, Casa<br />
Grande & Senzala de Gilberto Freyre, obra<br />
germinal para a interpretação do Brasil.<br />
O projeto começa no estudo do livro<br />
O Anjo Pornográfico de Ruy Castro,<br />
aclama<strong>da</strong> biografia de Nelson Rodrigues,<br />
pernambucano criado no Rio de Janeiro.<br />
Mencionamos sua origem nordestina<br />
porque, nesta leitura, cresce a percepção<br />
de uma herança pernambucana na obra<br />
de Nelson Rodrigues. Profusão de<br />
imagens em seus quatro primeiros anos na<br />
ci<strong>da</strong>de de Recife e de convivência com o<br />
imaginário pernambucano durante to<strong>da</strong><br />
sua vi<strong>da</strong>.<br />
Nasce uma vontade de devolver o Álbum<br />
à Recife, devolver um pouco de Nelson<br />
à sua origem, vasculhar sua árvore<br />
genealógica enquanto percorremos a<br />
nossa. Desenhar nosso álbum de família<br />
pernambucana na geografia de arquétipos<br />
traça<strong>da</strong> em seu texto.<br />
O público vai assistir a um mergulho em<br />
busca de memórias de nossas famílias<br />
nordestinas em diálogo com a obra Álbum<br />
de Família de Nelson Rodrigues.<br />
O roteiro é composto de uma a<strong>da</strong>ptação<br />
<strong>da</strong> obra de Nelson e algumas ações<br />
cênicas inspira<strong>da</strong>s pelas leituras <strong>da</strong> obra de<br />
Gilberto Freyre sobre família patriarcal e a<br />
civilização do açúcar.<br />
<strong>Os</strong> atores envolvidos têm origem e/ou<br />
parentes nascidos no eixo Pernambuco-<br />
Alagoas-Paraíba, com exceção de uma atriz<br />
que explora o lugar <strong>da</strong> estrangeira, a que<br />
não tem o mesmo sangue, a que se sente<br />
excluí<strong>da</strong> desta reunião familiar.<br />
<strong>Os</strong> <strong>Fofos</strong> inauguram com este projeto<br />
uma saudável prática <strong>da</strong> ‘construção<br />
em processo’ de um novo espetáculo.<br />
Realizamos uma primeira mostra do<br />
trabalho no TUSP, em maio de 2008,<br />
com apoio a Lei de Fomento ao Teatro <strong>da</strong><br />
Ci<strong>da</strong>de de São Paulo e, no ITAÚ Cultural,<br />
apresentamos uma segun<strong>da</strong> etapa de nossa<br />
pesquisa, em fevereiro de 2009.<br />
Abrimos as portas desta casa, propondo<br />
um espaço-instalação onde atores e<br />
público possam conversar com suas<br />
lembranças familiares, testemunhando nos<br />
cômodos desta casa patriarcal, os segredos<br />
de família sussurrados ou bravejados/<br />
sugeridos/revelados por Nelson, por<br />
Gilberto e por nós.<br />
Nesta casa de purgar, aceitamos o<br />
desafio de Nelson e empreendemos<br />
nossa queima<strong>da</strong> para incendiar máscaras.<br />
Queremos caminhar sob as cinzas<br />
desta experiência, num ritual cênico de<br />
purificação para que, com a vista limpa,<br />
possamos rever o lugar <strong>da</strong> família em<br />
nossas histórias.