16.04.2013 Views

Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras

Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras

Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ubiratan Machado<br />

Traduções brasileiras da literatura francesa<br />

Apesar da escassez do livro francês, da rápida popularização da literatura<br />

norte-americana e inglesa, a França continuava sendo a principal referência e<br />

preferência intelectual para o brasileiro. Este sentimento, entre outros fatos,<br />

po<strong>de</strong> ser constatado nas festas comemorativas do tricentenário da estréia <strong>de</strong><br />

Molière como ator (1943) e na passagem <strong>de</strong> Louis Jouvet pelo país, mantendo<br />

a tradição das companhias francesas, como a <strong>de</strong> Renaud-Barrault e a Comédie<br />

Française. O ator lançou no Brasil o seu livro Réflexions du Comédien, em edição<br />

da Americ-Edit.<br />

Por sua vez, a crítica brasileira se manteve atenta à produção editorial francesa,<br />

através dos escassos livros que aqui chegavam. Atenta, apaixonada e até implacável.<br />

Em 1942, La Pharisienne, <strong>de</strong> François Mauriac, conseguiu romper o bloqueio,<br />

tendo um exemplar chegado ao Brasil. Foi uma <strong>de</strong>cepção, <strong>de</strong>vida sobretudo<br />

à neutralida<strong>de</strong> do escritor, incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar o humilhante momento<br />

vivido pela França.<br />

Lúcia Miguel-Pereira não usou meias-palavras para censurá-lo com rispi<strong>de</strong>z.<br />

Preferia até acreditar que o livro tivesse sido escrito antes da guerra, pois<br />

aquela história <strong>de</strong> beatério era inconcebível em um momento tão trágico.<br />

Esperava outra coisa do gran<strong>de</strong> escritor: “A tragédia da mocida<strong>de</strong> francesa, da<br />

geração da <strong>de</strong>rrota, é, nesse momento, o único assunto digno <strong>de</strong> Mauriac – assunto<br />

que talvez, na França, ninguém possa tratar como ele.”<br />

Tudo muito fácil <strong>de</strong> se dizer a milhares <strong>de</strong> quilômetros da guerra.<br />

Mas, compreen<strong>de</strong>ndo a situação do escritor, lançava um apelo romântico:<br />

“Venha para a América, já que na França não po<strong>de</strong> escrever em liberda<strong>de</strong>,<br />

abandone os burgueses <strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>aux, e dê, aqui, o livro que <strong>de</strong>ve escrever<br />

– o livro que fará o mundo tremer <strong>de</strong> horror ante a paixão da mocida<strong>de</strong><br />

francesa.”<br />

Vivendo no Brasil e tendo quatro <strong>de</strong> seus livros lançados aqui, era <strong>de</strong> se supor<br />

que Georges Bernanos encontrasse uma boa receptivida<strong>de</strong> entre os leitores<br />

brasileiros. Não foi o que aconteceu. Durante os sete anos que o escritor viveu<br />

258

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!