Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
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Pierre Plancher e o Jornal do Commercio<br />
número 55 do dia 18 daquele mês, o jornal publicou carta tida como insultuosa<br />
aos membros da Assembléia Geral do Império, na qual o autor <strong>de</strong>fendia o<br />
ministro da Guerra, o briga<strong>de</strong>iro João Vieira Carvalho, Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lajes. O <strong>de</strong>putado<br />
José Bernardino Batista Pereira, do Espírito Santo, sugerira que o ministro<br />
<strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>mitido do cargo por ter contra si a opinião pública, <strong>de</strong>vido<br />
à má gestão quanto à guerra contra as Províncias Unidas do Rio da Prata, na<br />
Cisplatina. A Câmara, porém, <strong>de</strong> acordo com o parecer <strong>de</strong> uma Comissão, opinou<br />
contra a referida proposta, por ser o assunto da alçada do Imperador, aos<br />
<strong>de</strong>putados apenas competindo <strong>de</strong>nunciar os ministros que o merecessem,<br />
como estabelecia a Constituição.<br />
O texto publicado em O Spectador gerou uma crise política envolvendo a<br />
Assembléia, o Ministro da Guerra e o próprio Imperador que, sob o pseudônimo<br />
<strong>de</strong> Manuel Joaquim Pires Ferreira, em carta-artigo publicado na Gazeta do<br />
Brasil, jornal subvencionado pela Coroa, a pretexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>putados,<br />
lançava farpas contra a Assembléia. Em outras cartas, apresentando-se sob o<br />
título <strong>de</strong> “O Inimigo da Canalha”, o Imperador foi mais contun<strong>de</strong>nte. Em certo<br />
trecho, afirma:<br />
“Sr. Redator: Ferveu-me o sangue nas veias quando vi o Suplemento d’O<br />
Spectador número 55, pelo modo por que o senhor D.A.J. ataca a Câmara dos<br />
Digníssimos Senhores Deputados e, segundo me pareceu, estes ataques são<br />
fortíssimos [...].”<br />
Diante da repercussão negativa da publicação, Plancher resolveu suspen<strong>de</strong>r<br />
a publicação do seu jornal. Ao comentar o primeiro fracasso do francês, Nelson<br />
Werneck Sodré afirma que Plancher não se conformava, pois “tinha a coceira<br />
do jornalista”. Inconformado, o editor francês resolveu lançar uma folha<br />
diária que permanecesse cautelosamente au <strong>de</strong>ssus <strong>de</strong> la melée, e que a partir do título<br />
por ele imaginado, Jornal do Commercio (cópia do Journal du Commerce, editado<br />
em Paris), <strong>de</strong>marcasse pelo nome sua área <strong>de</strong> ação: o comércio. Seria um<br />
jornal voltado para a área mercantil e também exploraria o filão publicitário.<br />
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