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567. uma perspectiva sócio-histórica do processo de alfabetização

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Uma Perspectiva Sócio-Histórica <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Alfabetização com<br />

Conscientização <strong>do</strong> Contexto Sociocultural<br />

Introdução<br />

Camila Turati Pessoa (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia)<br />

camilatpessoa@gmail.com<br />

Ruben <strong>de</strong> Oliveira Nascimento (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia)<br />

ruben@ipsi.ufu.br<br />

Este trabalho apresenta <strong>uma</strong> proposta <strong>de</strong> extensão para formação continuada <strong>de</strong><br />

professores alfabetiza<strong>do</strong>res com o objetivo <strong>de</strong> enfatizar o papel ativo da criança na<br />

aprendizagem da escrita e da leitura, tanto em nível cognitivo, interpessoal e social,<br />

utilizan<strong>do</strong> a Linguagem como mediação simbólica entre sujeito e meio social, como<br />

preconiza a psicologia <strong>sócio</strong>-<strong>histórica</strong>.<br />

A proposta inclui oficinas com conteú<strong>do</strong> teórico e prático que visam estimular as<br />

professores a utilizarem a produção <strong>de</strong> narrativas pela própria criança, colocan<strong>do</strong>-a<br />

como <strong>uma</strong> leitora <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> cultural que lhe cerca, e o professor como um coopera<strong>do</strong>r<br />

da mesma nesse <strong>processo</strong>.<br />

A Escola, como espaço <strong>de</strong> linguagem, <strong>de</strong> narrativas, po<strong>de</strong> se apropriar <strong>do</strong> simbólico, da<br />

representação, para enfatizar <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem que po<strong>de</strong>m contribuir<br />

diretamente como o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, afetivo e social <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Como aluno ativo em sua aprendizagem e como sujeito capaz <strong>de</strong> produzir um discurso<br />

sobre o que percebe <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> pensar sobre seu contexto sociocultural, e<br />

suas ações nele, assim como utilizar esse recurso em seu <strong>processo</strong> formal <strong>de</strong><br />

<strong>alfabetização</strong>. Na <strong>perspectiva</strong> <strong>sócio</strong>-<strong>histórica</strong>, a criança constrói e é construí<strong>do</strong> pelo seu<br />

universo sociocultural e histórico, por meio da interação social, sen<strong>do</strong> a comunicação<br />

um elemento importante.<br />

Toman<strong>do</strong> como base meto<strong>do</strong>lógica o conceito vigotskiano <strong>de</strong> Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Próximo (ZDP), o projeto inci<strong>de</strong> sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> conhecimentos<br />

que a criança já possui acerca <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que observa, para novos níveis <strong>de</strong> compreensão<br />

e elaboração <strong>de</strong> aspectos <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> narrativas, com o auxílio da<br />

professora como interlocutor, e das outras crianças.<br />

As narrativas po<strong>de</strong>m ser co-construídas pelas crianças, ou construídas individualmente e<br />

<strong>de</strong>pois compartilhadas como as <strong>de</strong>mais, enfatizan<strong>do</strong> a colaboração e troca <strong>de</strong> idéias<br />

entre as mesmas. O projeto visa incorporar na formação <strong>de</strong> professores alfabetiza<strong>do</strong>res a<br />

percepção da criança também como sujeito social em seu <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>,<br />

capaz <strong>de</strong> comunicar seus pensamentos sobre o contexto que vive.<br />

Á produção das narrativas associamos a produção <strong>de</strong> fantoches como apoio lúdicopedagógico<br />

na <strong>alfabetização</strong>. O projeto encontra-se em fase final, e sua receptivida<strong>de</strong><br />

pelas escolas participantes <strong>do</strong> mesmo, <strong>de</strong>monstra sua viabilida<strong>de</strong> e sua contribuição para<br />

a formação <strong>de</strong> professores alfabetiza<strong>do</strong>res no senti<strong>do</strong> teórico proposto.


Referencial Teórico<br />

A Educação tem importante papel na formação <strong>do</strong> indivíduo, preparan<strong>do</strong>-o para a vida<br />

social e cultural. Forman<strong>do</strong> indivíduos criativos, expressivos e ativos, a Educação<br />

contribui para <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> melhor e mais crítica. Segun<strong>do</strong> Paulo Freire (2007)<br />

“nenh<strong>uma</strong> ação educativa po<strong>de</strong> prescindir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> reflexão sobre o homem e <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

análise sobre suas condições culturais. Não há educação fora das socieda<strong>de</strong>s h<strong>uma</strong>nas e<br />

não há homens isola<strong>do</strong>s” (p. 61).<br />

De acor<strong>do</strong> com Vygotsky (2007), o indivíduo é produto e produtor <strong>de</strong> sua cultura, e<br />

nesse <strong>processo</strong> internaliza valores e conteú<strong>do</strong>s socioculturalmente compartilha<strong>do</strong>s entre<br />

os indivíduos, contribuin<strong>do</strong> com isso para a formação <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong> e para a<br />

construção <strong>de</strong> conhecimentos.<br />

Segun<strong>do</strong> Vygotsky (2001), o bom aprendiza<strong>do</strong> é aquele que se adianta ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> e traz a este <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos potenciais significativos,<br />

sob supervisão ou orientação <strong>do</strong> professor. De acor<strong>do</strong> com Vygotsky,<br />

o aprendiza<strong>do</strong> orienta<strong>do</strong> para níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que já foram atingi<strong>do</strong>s<br />

é ineficaz <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento global da criança. Ele não se<br />

dirige para um novo estágio <strong>do</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, mas, em vez<br />

disso, vai a reboque <strong>de</strong>sse <strong>processo</strong>. Assim, a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

proximal capacita-nos a propor <strong>uma</strong> nova fórmula, a <strong>de</strong> que o “bom<br />

aprendiza<strong>do</strong>” é somente aquele que se adianta ao <strong>de</strong>senvolvimento. [...] Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, aprendiza<strong>do</strong> não é <strong>de</strong>senvolvimento; entretanto, o aprendiza<strong>do</strong><br />

a<strong>de</strong>quadamente organiza<strong>do</strong> resulta em <strong>de</strong>senvolvimento mental e põe em<br />

movimento vários <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que, <strong>de</strong> outra forma, seriam<br />

impossíveis <strong>de</strong> acontecer. Assim, o aprendiza<strong>do</strong> é um aspecto necessário e<br />

universal <strong>do</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das funções psicológicas<br />

culturalmente organizadas e especificamente h<strong>uma</strong>nas. (VYGOTSKY, 2007, p.<br />

102, 103, aspas <strong>do</strong> autor).<br />

Isso implica fazer a boa aprendizagem <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brar-se em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

principalmente fazen<strong>do</strong> incidir a construção <strong>de</strong> novos conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s<br />

intervin<strong>do</strong> na Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Próximo <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong>-lhe<br />

<strong>de</strong>senvolver novas potencialida<strong>de</strong>s e compreensão da realida<strong>de</strong>.<br />

Para Vygotsky (2007) existem duas zonas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento interatuantes, que<br />

<strong>de</strong>terminam o <strong>de</strong>senvolvimento psicológico ou mental da criança ou <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>. A<br />

Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Real (ZDP) <strong>de</strong>finida pela capacida<strong>de</strong> da criança <strong>de</strong><br />

solucionar problemas <strong>de</strong> maneira in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, por meio <strong>do</strong>s recursos que já possui ou<br />

que já estão <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, e a Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Próximo (ZDP) <strong>de</strong>finida por<br />

aquelas situações-problema que a criança não consegue ainda resolver completamente<br />

com seus próprios recursos, mas que apresenta condições potenciais para tanto, se<br />

auxiliada ou supervisionada por adultos ou colegas mais experientes.<br />

Nesse caso, Vygotsky (200) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que é o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> novo que impulsiona o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da criança, e que po<strong>de</strong> ser consegui<strong>do</strong> partin<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> que a criança já<br />

conhece ou sabe realizar sozinha, promoven<strong>do</strong>-se situações <strong>de</strong> aprendizagem em<br />

cooperação com outras crianças ou com o educa<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que potenciais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sejam <strong>de</strong>sperta<strong>do</strong>s pela aprendizagem e pelo <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> novas<br />

competências <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sse <strong>processo</strong>.


Um fundamento básico da psicologia <strong>de</strong> Vygotsky é a concepção <strong>de</strong> que o indivíduo é<br />

um ser histórico que se constitui na e pela cultura, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ver-se como um participante<br />

ativo da herança sociocultural que é disponibilizada em seu tempo. Para Vygotsky<br />

(2007), isso equivale dizer que a Educação, enquanto instituição responsável pela<br />

preparação <strong>do</strong> indivíduo diante <strong>de</strong> sua cultura e das formas <strong>de</strong> conhecimento que a<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine (TOSCANO, 1999), <strong>de</strong>ve propiciar ao educan<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento via formas <strong>de</strong> expressão cultural e social, permitin<strong>do</strong> com isso<br />

construção <strong>de</strong> conhecimento sobre a realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> maneira cooperativa e interativa,<br />

amplian<strong>do</strong> competências e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Educação Infantil, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração e compartilhamento <strong>do</strong> conhecimento via interação social entre<br />

os pares. Esse tipo <strong>de</strong> situação <strong>de</strong> aprendizagem, que inci<strong>de</strong> na ZDP, impulsiona o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento global da criança.<br />

Uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir com <strong>uma</strong> formação escolar que propicie um bom<br />

aprendiza<strong>do</strong> que impulsione o <strong>de</strong>senvolvimento global da criança é ven<strong>do</strong>-a como<br />

parceira <strong>do</strong> <strong>processo</strong> educacional e como sujeito ativo no mesmo, e não como sujeito<br />

passivo diante da construção <strong>de</strong> conhecimento. Mello (2006) frisa que a criança é ativa<br />

no <strong>processo</strong> <strong>de</strong> aprendizagem quan<strong>do</strong> “é sujeito <strong>do</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> conhecimento e não um<br />

elemento passivo que recebe pronto o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensino” (p. 184).<br />

Um sujeito ativo no <strong>processo</strong> educacional <strong>de</strong>le participa perguntan<strong>do</strong>, comunican<strong>do</strong>-se,<br />

aplican<strong>do</strong> sua imaginação, criativida<strong>de</strong> e motivação para apren<strong>de</strong>r, ten<strong>do</strong> no professor<br />

um interlocutor que facilite essa disposição e promova aprendiza<strong>do</strong> que impulsione<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências e habilida<strong>de</strong>s e das diferentes formas <strong>de</strong> linguagem<br />

que o sujeito po<strong>de</strong> produzir (MELLO, 2006a). Para isso é preciso que o educa<strong>do</strong>r<br />

conceba o educan<strong>do</strong> com um sujeito capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e conhecer ativamente, por meio<br />

<strong>de</strong> situações <strong>de</strong> aprendizagem compartilhadas e cooperativas que facilitem o<br />

<strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento da ZDP <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s e suas formas <strong>de</strong> expressão social e cultural.<br />

Na Educação Infantil, as premissas acima são fundamentais, na medida em que apren<strong>de</strong>r<br />

a ler e escrever são formas <strong>de</strong> expressão muito importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s<br />

indivíduos em to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>de</strong> sua vida e em seu contato com o mun<strong>do</strong>. Na<br />

Educação Infantil começam a ser lança<strong>do</strong>s fundamentos para o <strong>processo</strong> educacional<br />

que se seguirá, até a Educação Superior, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se a educação formal como um<br />

<strong>processo</strong> contínuo. Daí, a importância <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Educação Infantil que se realize para um<br />

educan<strong>do</strong> ativo, criativo e capaz <strong>de</strong> se expressar <strong>de</strong> muitas maneiras diante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

complexo que vive e <strong>do</strong>s conhecimentos que <strong>de</strong>verá se apropriar pela escola.<br />

Uma maneira <strong>de</strong> se alcançar os objetivos acima na Educação Infantil, na <strong>perspectiva</strong> da<br />

psicologia <strong>sócio</strong>-<strong>histórica</strong> <strong>de</strong> Vygtosky, é permitir variadas expressões intelectuais e<br />

afetivas da criança como suporte para o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>. Segun<strong>do</strong> Vygotsky, a<br />

<strong>alfabetização</strong> começa antes da criança apren<strong>de</strong>r a técnica da escrita e da leitura (que são<br />

formas convencionais <strong>de</strong> expressão da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>), porque ela já vem se comunican<strong>do</strong><br />

e se expressan<strong>do</strong> <strong>de</strong> muitas maneiras que po<strong>de</strong>m ser utilizadas como suporte <strong>do</strong><br />

<strong>processo</strong> formal <strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong> da leitura e da escrita (MELLO, 2007b).


Nesse senti<strong>do</strong>, Mello afirma que,<br />

se queremos que nossas crianças leiam e escrevam bem e se tornem<br />

verda<strong>de</strong>iras leitoras e produtoras <strong>de</strong> texto – o que, <strong>de</strong> fato, é <strong>uma</strong> meta<br />

importantíssima <strong>do</strong> nosso trabalho como professores – é necessário que<br />

trabalhemos profundamente o <strong>de</strong>sejo e o exercício da expressão por meio <strong>de</strong><br />

diferentes linguagens: a expressão oral por meio <strong>de</strong> relatos, poemas e música, o<br />

<strong>de</strong>senho, a pintura, a colagem, o faz-<strong>de</strong>-conta, o teatro <strong>de</strong> fantoches, a<br />

construção com retalhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, com caixas <strong>de</strong> papelão, a mo<strong>de</strong>lagem com<br />

papel, massa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar, argila, enfim, que as crianças experimentem os<br />

materiais disponíveis que a escola e a educa<strong>do</strong>ra têm como responsabilida<strong>de</strong><br />

ampliar e diversificar sempre. Essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão – é sempre<br />

importante lembrar – surge a partir <strong>do</strong> que as crianças vêem, ouvem, vivem,<br />

<strong>de</strong>scobrem e apren<strong>de</strong>m (MELLO, 2006b, p. 189).<br />

Enten<strong>de</strong>mos que a produção <strong>de</strong> fantoches – <strong>uma</strong> das ativida<strong>de</strong>s acima propostas – tem a<br />

particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> envolver habilida<strong>de</strong>s correlatas como imaginação, criativida<strong>de</strong>,<br />

motricida<strong>de</strong>, cooperação e abstração da realida<strong>de</strong>, servin<strong>do</strong> muito bem como veículo <strong>de</strong><br />

expressão e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> pensamento da criança, <strong>de</strong>ntro das premissas teóricas e<br />

práticas que apontamos até o momento. Desse mo<strong>do</strong>, a produção <strong>de</strong> fantoches pelas<br />

próprias crianças torna-se um recurso importante no <strong>de</strong>senvolvimento da expressão da<br />

criança frente o mun<strong>do</strong> e seus pares, auxilian<strong>do</strong> <strong>uma</strong> educação ativa para um educan<strong>do</strong><br />

ativo e criativo.<br />

De acor<strong>do</strong> com a Seção II, artigo 29, da Lei 9394 <strong>de</strong> 20/12/1996 (LDBEN), a educação<br />

infantil, tem como finalida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança “em seus aspectos<br />

físico, psicológico, intelectual e social, complementan<strong>do</strong> a ação da família e da<br />

comunida<strong>de</strong>”. Atualmente, esse segmento <strong>de</strong> ensino vai até sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança apóia-se em sua capacida<strong>de</strong><br />

global <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> pensamento, linguagem, afetivida<strong>de</strong> e compreensão da realida<strong>de</strong>,<br />

a produção <strong>de</strong> fantoches mostra-se como veículo rico, flexível e criativo para a<br />

promoção <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento, junto com as ativida<strong>de</strong>s pedagógicas e psicológicas<br />

praticadas na Educação Infantil, como <strong>uma</strong> alternativa lúdico-pedagógica para esse<br />

<strong>de</strong>senvolvimento no contexto escolar.<br />

Para tanto, é necessário <strong>uma</strong> boa formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r nas premissas teóricas aqui<br />

apontadas, facultan<strong>do</strong> o uso <strong>de</strong>sse recurso <strong>de</strong> maneira psicologicamente embasada,<br />

pedagogicamente intencional e conscientemente voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento global<br />

da criança, via expressão artística e cultural, na qual po<strong>de</strong>mos incluir a produção <strong>de</strong><br />

fantoches pelas próprias crianças, possibilitan<strong>do</strong> assim a criação <strong>de</strong> histórias, a<br />

manufatura material <strong>de</strong> personagens, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> pensamento abstrato e a<br />

expressão <strong>de</strong> sentimentos e da percepção <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> – fatores importantes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento formal da leitura e da escrita, como componentes básicos <strong>do</strong> <strong>processo</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>alfabetização</strong>. Desse mo<strong>do</strong>, colabora-se com o que orienta a Lei 9394 (LDBEN) que<br />

vê a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica e como fundamento<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento global da criança.


Conclusão<br />

A Educação Infantil tem papel importante no <strong>de</strong>senvolvimento da expressivida<strong>de</strong> da<br />

criança, porque por essa expressivida<strong>de</strong> um <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento <strong>de</strong> fatores psicológicos,<br />

afetivos e sociais po<strong>de</strong> ser promovi<strong>do</strong>. O educa<strong>do</strong>r infantil, consciente das<br />

possibilida<strong>de</strong>s da expressivida<strong>de</strong> intelectual e afetiva da criança para narrar e produzir<br />

histórias sobre a realida<strong>de</strong> que percebe ou que imagina, po<strong>de</strong> criar um espaço simbólico<br />

importante para o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança, preparan<strong>do</strong> bases para a<br />

<strong>alfabetização</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Vygotsky (2007), a <strong>alfabetização</strong> é um <strong>processo</strong> formal que continua um<br />

<strong>processo</strong> anterior <strong>de</strong> uso da expressivida<strong>de</strong> da criança diante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Se a<br />

expressivida<strong>de</strong> anterior ao aprendiza<strong>do</strong> formal <strong>do</strong>s códigos lingüísticos for estimulada e<br />

promovida, ganhos diretos sobre o <strong>do</strong>mínio necessário não apenas para a aquisição da<br />

leitura e da escrita, mas para agir sobre o mun<strong>do</strong> por meio da linguagem, po<strong>de</strong>m ser<br />

obti<strong>do</strong>s pelo educa<strong>do</strong>r infantil consciente <strong>de</strong>ssas questões.<br />

Associar o brinque<strong>do</strong> pedagogicamente orienta<strong>do</strong> à expressivida<strong>de</strong> e as formas <strong>de</strong><br />

linguagem da criança, contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>de</strong>ssa criança frente ao<br />

cotidiano que vive e aos <strong>de</strong>safios <strong>do</strong> <strong>processo</strong> <strong>de</strong> aprendizagem escolar. Portanto,<br />

constituir na escola espaços <strong>de</strong> narrativas, <strong>de</strong> linguagem, é permitir um aprendiza<strong>do</strong><br />

escolar que favorece o <strong>de</strong>senvolvimento global da criança, vista como produtora e<br />

produto <strong>de</strong> sua cultura.<br />

O fantoche utiliza<strong>do</strong> como espaço <strong>de</strong> narrativa na Educação Infantil, tem os propósitos<br />

acima aponta<strong>do</strong>s, além <strong>de</strong> favorecer <strong>uma</strong> relação mais dinâmica entre o educa<strong>do</strong>r<br />

infantil, a criança e a cultura, com base na linguagem.<br />

Referências<br />

FREIRE, P. Educação e Mudança. 30 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2007.<br />

MELLO, S. A. Contribuições <strong>de</strong> Vigotski para a educação infantil. In: MENDONÇA,<br />

S. G. L.; MILLER, S. (orgs). Vigotski e a Escola Atual: fundamentos teóricos e<br />

implicações pedagógicas. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2006a, p. 193-202.<br />

MELLO, S. A. A apropriação da escrita como um instrumento cultural complexo. In:<br />

MENDONÇA, S. G. L.; MILLER, S. (orgs). Vigotski e a Escola Atual: fundamentos<br />

teóricos e implicações pedagógicas. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2006b, p. 181-<br />

192.<br />

TOSCANO, M. Introdução à Sociologia Educacional. 9 ed. rev. e atualiz. Petrópolis,<br />

RJ: Vozes, 1999.<br />

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes,<br />

2007.


VYGOTSKY, L. S. A Construção <strong>do</strong> Pensamento e da Linguagem. São Paulo:<br />

Martins Fontes, 2001.

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