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Prova comentada - Vestibular UFSC 2007 - UFSC

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REDAÇÃO<br />

I N S T R U Ç Õ E S<br />

1. Confira o número do(a) candidato(a), o local, o setor, o grupo e a ordem indicados na<br />

folha oficial de redação, a qual NÃO deverá ser assinada.<br />

2. Leia e observe atentamente as Propostas 1, 2 e 3.<br />

3. Escolha a Proposta que apresenta o tema sobre o qual você se sente mais bem<br />

preparado(a) para discorrer.<br />

4. Evite copiar trechos dos textos apresentados.<br />

5. Não escreva em versos, use linguagem clara e utilize a norma culta da língua portuguesa.<br />

6. Não se esqueça de dar um título à sua redação.<br />

7. Use caneta com tinta preta ou azul para transcrever seu texto do rascunho para a folha<br />

oficial de redação.<br />

8. Redija um texto que tenha no mínimo 20 (vinte) e no máximo 30 (trinta) linhas.<br />

9. Escreva com letra legível e ocupe todo o espaço das linhas, respeitando os parágrafos.<br />

10. Não serão corrigidas redações escritas a lápis, nem redações na folha de rascunho.<br />

PROPOSTA 1<br />

Em três dentre os romances listados para este vestibular, há personagens de origem indígena<br />

marcando presença e, sobretudo, indicando que a mistura de raças viria a ser a base da nação<br />

brasileira. A esse respeito, vale lembrar que tais romances também envolvem personagens de<br />

outras origens: alemães, árabes e portugueses.<br />

Escreva uma redação que enfoque o tema da miscigenação cultural no Brasil, fazendo<br />

referência a pelo menos um dos romances indicados.<br />

PROPOSTA 2<br />

Nos anos 80, o filme Blade Runner – O Caçador de Andróides, de Ridley Scott, mostrava um<br />

fantástico laboratório de engenharia genética, onde um cientista criava seres robóticos com a<br />

finalidade de servirem em colônias interplanetárias. Entre o final do século XX e início do XXI,<br />

uma série de filmes intitulados Matrix, de Larry e Andy Wachowski, trazia personagens cujo<br />

cérebro era monitorado com a instalação de poderosos chips. Hoje, com os avanços científicos<br />

no campo da neurociência, a ficção cede lugar à realidade com as chamadas neurotecnologias.<br />

Trata-se de técnicas de mapeamento cerebral que possibilitarão a prevenção e a cura de<br />

doenças neurológicas, de desenvolvimento de drogas ou implantação de chips que alteram o<br />

comportamento humano.<br />

Tomando as indicações feitas acima, escreva uma redação considerando os possíveis<br />

impactos desses avanços científicos.


TEXTO 1:<br />

PROPOSTA 3<br />

“Mais. Eu quero mais que esse mundinho glamouroso das telenovelas enfeitadas de cartões<br />

postais, como se o país fosse nada mais que um saboroso “pão-de-açúcar”; quero mais que<br />

bandeiras hasteadas apenas em tempos de copa do mundo; quero mais que baladas noturnas<br />

coreografadas pela repetitiva estridência de músicas eletrônicas e minadas pelo poderoso<br />

mercado do narcotráfico.”<br />

TEXTO 2:<br />

(Texto produzido especialmente para este concurso)<br />

“[...] Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do<br />

grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é<br />

exigido de mim inclusive que eu durma como um justo. Eles me querem ocupada e distraída, e<br />

não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia<br />

atrapalhar o que se está fazendo através de mim. [...]”<br />

(Clarice Lispector. “O Ovo e a Galinha”, in A legião estrangeira, pág. 53)<br />

Motivado(a) pelos textos acima, escreva sua redação considerando o poder de penetração<br />

social da mídia.<br />

ANÁLISE DA PROVA DE REDAÇÃO<br />

1. Ontem e hoje.<br />

No Concurso <strong>Vestibular</strong> de 2006, as obras literárias saíram dos limites marcados pelo<br />

exame de Literatura Brasileira e formaram a base da prova de Redação. E não apenas a de<br />

Redação. As obras literárias se refletiram, também, na questão discursiva das disciplinas de<br />

Biologia e Geografia, cujas bancas examinadoras lograram, com muita propriedade e sucesso,<br />

utilizar-se de Os Sertões, de Euclides da Cunha.<br />

Naquele ano, o impacto da novidade deu o que falar, gerando comentários vindos de<br />

vários pontos do Estado catarinense e do Sul brasileiro. Do Paraná, cartas de educadores<br />

parabenizavam a COPERVE pela ousadia; e veio do Rio Grande do Sul o convite para esta<br />

Comissão de Redação apresentar seu projeto sobre a prática de redação e sobre seu processo<br />

de avaliação. 1 A conseqüência maior, e ao nosso ver de grande valia, fora o indicativo de que o<br />

uso da lista das obras literárias tão presentes na prova de Redação criaria a suspeita, junto aos<br />

educadores mais atentos, de que o vestibular da <strong>UFSC</strong> estaria propondo um encaminhamento<br />

do ensino médio na direção da interdisciplinaridade.<br />

De fato, ao longo do ano letivo de 2006, foi notável a busca pela leitura completa (não<br />

mais apenas os resumos) das obras indicadas para o vestibular de acesso em <strong>2007</strong>. À<br />

Coordenadoria Pedagógica da COPERVE chegavam os indícios de que alguns segmentos da<br />

comunidade estudantil metropolitana passavam a ler os livros com intensidade diferente.<br />

E o que se suspeitara como tendência no ontem, marcou-se claramente como um fato<br />

no hoje.<br />

1<br />

O resultado do encontro acha-se publicado no livro A Redação no contexto do vestibular 2006 - Níveis de avaliação de<br />

textos. POA: COPERSE/UFRGS, 2006.


2. As propostas: erros e acertos<br />

As propostas em foco assim poderiam ser classificadas:<br />

a) A Proposta 1 é de muita clareza, apontando para uma temática sócio-cultural, podendo ser<br />

desenvolvida através de várias tipologias textuais. Bastante “colada” a três das obras, Dois<br />

Irmãos, Dona Narcisa de Vilar e O guarda-roupa alemão, a proposta indica claramente o<br />

fato de que a nação brasileira é etnicamente miscigenada, mas pede um enfoque específico<br />

sobre as conseqüências culturais desta miscigenação.<br />

Sendo a única mais diretamente voltada para a lista de obras indicadas, apresentou um<br />

comando claro, bem definido, mas que acabou cedendo lugar, para muitos candidatos, ao<br />

indicado no corpo da proposição. Isto é: pedia-se enfoque na “miscigenação cultural” (e, notese,<br />

estava grifado em negrito) como conseqüência da mistura de raças que formou a base da<br />

nação brasileira. Entretanto, a maior parte dos candidatos, dentre os que optaram por esta<br />

proposta, ficou como que enredada na demonstração da miscigenação racial, ou seja, deu<br />

enfoque ao que é, na verdade, um subtema, ou tema secundário. Demonstraram, aqueles<br />

candidatos, capacidade frágil de interpretação e mesmo não saber diferenciar os termos<br />

“racial” e “cultural” ou, ainda, não saber estabelecer a correta relação entre tais fenômenos.<br />

A proposta ainda pedia que o candidato estabelecesse elos com, pelo menos, um dos<br />

romances, e foram claras as pistas oferecidas para a identificação dos mesmos. Ao longo das<br />

correções percebeu-se, entretanto, ser reduzido o número de candidatos que conhecia os três<br />

romances. A maioria acabou optando por uma mera citação de apenas um dos livros, o<br />

romance da catarinense Lausimar Laus, O guarda-roupa alemão.<br />

b) A Proposta 2 pode ser considerada a mais avançada e mais exigente, face às relações<br />

tecnológicas entre ficção e realidade, solicitando do candidato um certo conhecimento sobre<br />

a cinematografia de ficção científica, com filmes que marcaram os anos 80, 90 e 2000.<br />

Requer, por outro lado, conhecimento sobre uma literatura jornalística de idéias, e até<br />

acadêmica, voltada para os marcantes avanços científicos e tecnológicos no campo da<br />

neurotecnologia. O tema é pulsante e sugere discussão que passa pela ética, enveredando,<br />

portanto, para o campo da Filosofia.<br />

O comando para a Proposta 2 foi bastante feliz. Deveria o candidato considerar “os<br />

possíveis impactos desses avanços científicos”. Ou seja, os impactos positivos que<br />

determinadas pesquisas, como as das células tronco, trarão ao ser humano; e os impactos<br />

negativos que surgem das polêmicas religiosas e conservadoras sobre o mesmo tema. Ou<br />

ainda: os impactos negativos do uso de drogas e quiçá (como o que se teve no cinema de<br />

ficção citado na proposta) de chips injetados no cérebro ou qualquer outra parte do corpo<br />

humano. Perante uma disputa por emprego ou numa disputa esportiva sabe-se que muitos<br />

recorrem a drogas para se saírem melhor que os concorrentes. O tema da ética se impõe<br />

nesta proposta. A ela recorreu um número menor de candidatos. Esta proposta exigia mais<br />

leitura, mais informação e maior capacidade interpretativa e, conseqüentemente, crítica.<br />

c) A Proposta 3 foi considerada a mais “popular”, ou seja, de mais fácil acesso. De fato, o<br />

maior número de redações abordou este tema, posto claramente no comando, ou seja, o<br />

poder de penetração da mídia, comando um tanto redutor para dois textos de reflexão de<br />

alto gabarito que se anuncia por dois termos lingüísticos de força instigante: “Mais” –<br />

iniciando o primeiro texto; “Mas” – no início do segundo; notável a idéia de rebeldia e<br />

indignação para uma oposição tirada de um texto de Clarice Lispector. Houvesse aí um<br />

comando que determinasse uma comparação entre os dois textos e as redações seriam<br />

mais ricas com muitas delas, certamente, fugindo à mesmice da tipologia dissertativa.


O Texto 1 aponta para uma postura rebelde e provocativa atingindo sutilmente as<br />

produções telenovelísticas que insistem em mostrar o Rio de Janeiro através de um clichê<br />

desgastado – seus cartões postais. Provocativo, ainda, face às injunções cabíveis ao universo<br />

da juventude urbana; tais são os sintagmas expressos em “baladas noturnas”, “músicas<br />

eletrônicas” e “mercado do narcotráfico”. O Texto 2 torna-se incisivo quanto à acusação<br />

intrínseca a um sujeito indeterminado -“Eles”- como sujeito dominador (os poderosos) em<br />

contraposição ao objeto de dominação, o eu poético. Este representa todos os insatisfeitos e<br />

todos os que trazem em si a marca da rebeldia por sua visão crítica e sentimento humanista.<br />

O texto de Clarice é um convite à sensibilidade crítica em junção com o texto anterior.<br />

Infelizmente, não foram muitas as redações cujos candidatos se sensibilizaram com as<br />

proposições, embora tenha sido a Proposta 3 a que maior número de concorrentes abraçou.<br />

Ela era universal. Universais devem ser, via de regra, os temas para redação em vestibular.<br />

Cumpre aqui registrar que, afinal de contas, o que um exame de redação deve avaliar são as<br />

habilidades de escrita de um candidato. Porém, outras habilidades – leitura e interpretação –<br />

não são de somenos importância. E foi aí que o comando facilitou demais para aqueles<br />

candidatos cuja leitura de mundo é restrita, mais vítima da invasão imagística que ataca a<br />

sociedade deste nosso tempo. Poucos foram o vestibulandos que, ao escolherem a Proposta<br />

3, se ativeram mais aos profundos problemas apontados nos dois textos, usando apenas como<br />

gancho o comando marcado pelos termos “motivado” e “poder da mídia”. Caberia neste tema<br />

adentrar pelos campos da discussão sobre a ética (ou a falta de) nos meios de comunicação e<br />

sobre “Eles”, indicado por Clarice. Não ocorreu. Foi pena!<br />

Por fim, vale anotar dois pontos pertinentes à prova de Redação sobre os quais<br />

devemos refletir com uma postura mais analítica para futuro ajuste:<br />

a) propostas cujos comandos sejam mais pontuais e que requeiram não apenas habilidades de<br />

expressão, mas também maior profundidade crítica dos candidatos;<br />

b) uma aproximação com as escolas para pensar diretrizes e procedimentos que façam inverter<br />

o quadro final das notas, aumentando as mesmas para acima de 7,0 e diminuindo o número<br />

das notas menores que 6,0.<br />

Os dois pontos a que nos referimos resultam de um levantamento quanto à escolha feita<br />

pelos candidatos das propostas apresentadas; e quanto ao quadro geral das notas. Quanto a<br />

este último tem-se que, entre os 19.298 candidatos, surgiram 121 notas menores que 1,0 e 2<br />

(duas) notas dez.<br />

Quanto à ordem de escolha das proposições, ficou clara a procura pela Proposta 3,<br />

considerada a mais fácil, porque menos exigente. Foram contabilizadas 45% na escolha para<br />

esta proposta, 31% para a 1, e 24% para a Proposta 2.<br />

3. Contribuições e melhorias.<br />

a) Sem dúvida, nestes dois últimos vestibulares a prova de Redação contribuiu para a melhoria<br />

do ensino na escola catarinense: professores atentos se deram conta de que a literatura<br />

indicada para o vestibular ganhou função real no processo de ensino.<br />

b) Está claro para todos, sobretudo com as propostas da prova de Redação para <strong>2007</strong>, que<br />

este não é um Exame de Literatura Brasileira, claramente e corretamente cobrada na prova<br />

de Português; o que se teve foi o uso de aspectos tirados das obras indicadas para, em sua<br />

produção textual, o candidato provar que sabe ler, interpretar e escrever com clareza, com<br />

adequação aos temas propostos, dando vazão à sua capacidade de argumentar e criar.<br />

c) O uso de obras literárias em propostas da prova de Redação, bem como em outras provas<br />

do Concurso <strong>Vestibular</strong> <strong>2007</strong>, funcionou como uma atitude de respeito e valorização para<br />

com o candidato que se debruçou sobre os livros indicados.

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