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me proscreve o sonho<br />
me incita ao verso<br />
nítido e preciso.<br />
Eu me refugio<br />
nesta praia pura<br />
onde nada existe<br />
em que a noite pouse.<br />
Como não há noite<br />
cessa toda a fonte;<br />
como não há fonte<br />
cessa toda a fuga<br />
como não há fuga<br />
nada lembra o fluir<br />
de meu tempo, ao vento<br />
que nele sopra o tempo.<br />
(Fragmentos da poesia Psicologia da Composição – João Cabral de Melo Neto)<br />
Em “Psicologia da composição” acabamos entrando em <strong>uma</strong> psicologia do<br />
tempo atrav<strong>é</strong>s de Marcos que, explicando para Roberto sobre o poema, nos diz que há<br />
tempo para tudo: para comer, para dormir... Roberto completa: e para desenhar. Ambos<br />
ressaltam o entendimento desse tempo como estações do ano. Marcos tamb<strong>é</strong>m fala de<br />
um outro tempo; tempo de lembranças e tempo de sonhos que apontam para o desejo de<br />
estar em um lugar tranqüilo, com a família, fazendo coisas simples como um piquenique<br />
ou ir à praia. O tempo da poesia <strong>é</strong> o tempo do homem, pois segundo Anatol Rosenfeld<br />
(1972), o homem não está para o tempo, o homem <strong>é</strong> o tempo. Portanto na palavra<br />
po<strong>é</strong>tica o tempo se fragmenta e suas imagens se remetem a <strong>uma</strong> atemporalidade que faz<br />
indefinido o passado, o presente e o futuro.