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A Vida Improvisada: Narrativa de um Viajante ... - UniverCidade

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

UniverCida<strong>de</strong><br />

Curso <strong>de</strong> Teatro<br />

A <strong>Vida</strong> <strong>Improvisada</strong>:<br />

<strong>Narrativa</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>Viajante</strong> Errante<br />

para <strong>um</strong> Ator mais sincero<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Dezembro/2010<br />

Por<br />

João Gioia<br />

1


CENTRO UNIVERSITÁRIO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

UniverCida<strong>de</strong><br />

Curso <strong>de</strong> Teatro<br />

A <strong>Vida</strong> <strong>Improvisada</strong>:<br />

<strong>Narrativa</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>Viajante</strong> Errante<br />

para <strong>um</strong> Ator mais sincero<br />

Trabalho apresentado como Trabalho <strong>de</strong> Conclusão do Curso <strong>de</strong> Teatro do<br />

do Centro Universitário da Cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Orientadora: Profa. Ms. Thereza Cristina Rocha<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Dezembro/2010<br />

Por<br />

João Gioia<br />

2


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Agra<strong>de</strong>ço meus pais pelo incondicional apoio e carinho.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos os professores que me ajudaram no exercício da pesquisa artística.<br />

Agra<strong>de</strong>ço aos meus amigos por me ajudarem a ser quem eu sou hoje.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todas as pessoas que passaram na minha vida e me transformaram <strong>de</strong><br />

alg<strong>um</strong>a forma.<br />

3


Dedicatória<br />

Dedico esse trabalho a minha família:<br />

todos viajantes; turistas; navegantes; exploradores; pioneiros; arqueólogos;<br />

artistas...<br />

Com <strong>um</strong> prazer em com<strong>um</strong>, <strong>de</strong> se colocar no <strong>de</strong>safio e prazer da vivência com<br />

o diferente.<br />

4


S<strong>um</strong>ário<br />

Introdução 7<br />

Memorial <strong>de</strong> pesquisa<br />

Sobre o Tema 11<br />

Definição do texto 11<br />

Experiências em viagens <strong>de</strong> trabalho 11<br />

Curso <strong>de</strong> <strong>Narrativa</strong> com Isaac Bernat 12<br />

Entrevista com Julio Adrião 12<br />

Ação Física Vocal 13<br />

Músico convidado 14<br />

Guiado pelo olho da intuição 14<br />

Porta- VOZ <strong>de</strong> <strong>um</strong>a idéia 16<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais 17<br />

Referências Bibliográficas 19<br />

Anexos<br />

Entrevista com Julio Adrião 20<br />

Texto Base do exercício <strong>de</strong> contação 26<br />

5


O que é mais importante é o olho do espectador e se você consegue fazer que<br />

ele <strong>de</strong>sencoste da ca<strong>de</strong>ira sem perceber. Você faça ele viajar, transitar; viver<br />

coisas.<br />

Júlio Adrião<br />

O objetivo é sermos instr<strong>um</strong>entos que transmitam verda<strong>de</strong>s que <strong>de</strong> outro modo<br />

permaneceriam ocultas.<br />

Yosh Oida<br />

No verda<strong>de</strong>iro encontro, há respeito pelas diferenças, há troca e<br />

complementarida<strong>de</strong>.<br />

Sotigui Kouyaté<br />

6


Introdução<br />

A motivação para este trabalho teve inicio durante o segundo período do Curso<br />

<strong>de</strong> Bacharelado em Teatro na UniverCida<strong>de</strong>. Certa vez, em aula, o professor<br />

Vitor Lemos fez <strong>um</strong>a analogia para tentar me expor <strong>um</strong>a questão que se<br />

apresentava como limitadora no meu trabalho <strong>de</strong> ator: “É como se você<br />

montasse todo <strong>um</strong> parque <strong>de</strong> diversões, mas quando chega a hora <strong>de</strong> brincar<br />

você fica do lado só olhando...”<br />

De fato, percebo que, em cena, busco marcas e formas que <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a<br />

maneira me dêem <strong>um</strong>a sensação <strong>de</strong> segurança. Cerco-me <strong>de</strong> alicerces para<br />

entrar em cena mais confiante. Todavia tenho dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar o<br />

momento presente, <strong>de</strong> agir sem premeditar as ações, respon<strong>de</strong>r aos estímulos<br />

seguindo o fluxo dos acontecimentos. Por muitas vezes acabo passando pelas<br />

marcas, mas não me transformo ao passar por elas.<br />

Na vida cotidiana, cost<strong>um</strong>o construir rotina para ajudar a me organizar nos<br />

vários compromissos pessoais e <strong>de</strong> trabalho. No entanto, em <strong>um</strong>a viagem, me<br />

distancio <strong>de</strong>ssa rotina e vivo mais próximo do <strong>de</strong>vir 1 , comendo à hora em que<br />

tenho fome, visitando aquilo que me dá vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver ou, simplesmente,<br />

experimentando a sensação <strong>de</strong> estar perdido, dando voltas <strong>de</strong> bicicleta pelos<br />

labirintos <strong>de</strong> ruas e canais <strong>de</strong> Amsterdam 2 . Mas, principalmente, estando<br />

aberto a mudar <strong>de</strong> objetivo se <strong>um</strong> outro estímulo mais forte se apresentar.<br />

O ato <strong>de</strong> viajar é <strong>um</strong> excelente exercício <strong>de</strong> fruição. Além <strong>de</strong> termos contato<br />

com outras realida<strong>de</strong>s, nos distanciamos do nosso trajeto cost<strong>um</strong>eiro. Como<br />

seres vivos, estamos em constante mudança. Quando nos afastamos do<br />

ambiente habitual, por alg<strong>um</strong>a razão, ao ali retornarmos, as mudanças ten<strong>de</strong>m<br />

a estar mais aparentes.<br />

Proponho, para esse Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso, <strong>um</strong> paralelo entre duas<br />

experiências: <strong>um</strong>a viagem e <strong>um</strong>a cena. Parto do princípio <strong>de</strong> que o momento<br />

da cena também po<strong>de</strong> ser entendido como <strong>um</strong>a viagem, <strong>um</strong>a travessia, tanto<br />

para o ator como para <strong>um</strong> espectador que se faça seu cúmplice. O ator vive em<br />

cena <strong>um</strong> transitar <strong>de</strong> estímulos e respostas e vai construindo o seu percurso ao<br />

mesmo tempo em que vai vivendo/escolhendo. Já o espectador po<strong>de</strong> também<br />

distanciar-se <strong>de</strong> sua rotina <strong>de</strong> pensamentos (durante <strong>um</strong> espetáculo) e sair com<br />

<strong>um</strong> outro olhar sobre ela.<br />

Minha gran<strong>de</strong> questão como ator vem sendo o exercício <strong>de</strong> viver em cena sem<br />

me julgar enquanto atuo; sem me importar com outras coisas além do “aqui e<br />

1 Devir é <strong>um</strong> conceito filosófico que qualifica a mudança constante, a perenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algo ou<br />

alguém. Surgiu primeiro em Heráclito: "O mesmo homem não po<strong>de</strong> atravessar o mesmo rio,<br />

porque o homem <strong>de</strong> ontem não é o mesmo homem, nem o rio <strong>de</strong> ontem é o mesmo do hoje".<br />

Devir é o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> tornar-se. A acepção Nietzscheana do "torna-te quem tu és". Traduz-se <strong>de</strong><br />

forma mais literal a eterna mudança do ontem ser diferente do hoje. O <strong>de</strong>vir é a lei do mundo.<br />

Os fenômenos se repetem, mas não se repetem o mesmo fenômeno: o raio <strong>de</strong> hoje é sempre<br />

<strong>um</strong> raio, mas não é aquele <strong>de</strong> ontem; os seres viventes são sempre classificáveis em espécies,<br />

mas os seres que vivem hoje não são mais aqueles do passado.<br />

2 Referência à experiência vivida n<strong>um</strong>a viagem no ano <strong>de</strong> 2004.<br />

7


agora”. O principal é <strong>de</strong>scobrir na cena a própria cena, ao invés <strong>de</strong> trabalhar<br />

com algo i<strong>de</strong>alizado, o que é sempre frustrante. Nesta pesquisa, <strong>de</strong>cidi então<br />

partir em busca <strong>de</strong> experimentar o simples.<br />

A partir da indicação da Banca <strong>de</strong> Qualificação <strong>de</strong> Projetos para a leitura do<br />

texto <strong>de</strong> Yoshi Oida como bibliografia auxiliar <strong>de</strong> pesquisa, tive contato com as<br />

suas experiências <strong>de</strong> vida transformadas em palavras em seu livro Um Ator<br />

Errante. Oida conta muitos <strong>de</strong> seus aprendizados como ator e sobre ser<br />

simples, ele diz: “Não tome as coisas <strong>de</strong> maneira tão séria. Simplesmente<br />

<strong>de</strong>ixe que as coisas sejam do jeito que são”. (OIDA,1999, p. 161)<br />

Nesse livro, além <strong>de</strong> narrar muitas das experiências vividas no seu trabalho<br />

com Peter Brook 3 durantes as pesquisas com o CIRT - Centro Internacional <strong>de</strong><br />

Pesquisas Teatrais, ele também reflete sobre o seu estado <strong>de</strong> errância<br />

enquanto indivíduo fora do seu pais natal, narrando vários aprendizados <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a longa viagem até se chegar ao viajante. 4<br />

Este livro é <strong>um</strong> ponto <strong>de</strong> reflexão sobre o trabalho do ator e sobre o indivíduo;<br />

sobre o teatro como opção <strong>de</strong> vida, ao mesmo tempo inspirador, <strong>de</strong><br />

experiências teatrais e místicas. Experiências essas que curiosamente se<br />

apresentam para mim com maior facilida<strong>de</strong>/freqüência em viagens.<br />

Todos temos experiência vividas e a narração <strong>de</strong>ssas experiências é <strong>um</strong>a<br />

forma ancestral <strong>de</strong> transmiti-las e compartilha-las. Na África, cost<strong>um</strong>a-se dizer<br />

que quando morre <strong>um</strong> Griot 5 , <strong>um</strong>a biblioteca se incen<strong>de</strong>ia. Isso para<br />

<strong>de</strong>monstrar a importância que tem aa transmissão oral do conhecimento na<br />

cultura africana.<br />

Acredito que, mesmo <strong>de</strong> outras formas menos ou mais aparentes, o contar<br />

histórias representa <strong>um</strong> ponto fundamental na transmissão <strong>de</strong> conhecimento,<br />

na troca <strong>de</strong> experiências, <strong>de</strong>ntre outras funções, na cultura <strong>de</strong> todos os povos<br />

ao longo dos tempos, a exemplo da leitura do evangelho nas cerimônias<br />

religiosas; as rodas <strong>de</strong> causos no Nor<strong>de</strong>ste e em Goiás; as rodas <strong>de</strong> amigos<br />

nos bares pelo Brasil afora e como não po<strong>de</strong>ria faltar: no próprio Teatro.<br />

Como afirmou Julio Adrião em entrevista especialmente cedida à pesquisa: “O<br />

teatro é fundamentalmente a contação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a história”. O ator afirma<br />

enten<strong>de</strong>r:<br />

a narrativa como <strong>um</strong>a coisa mais direta, <strong>um</strong> espetáculo<br />

teatral on<strong>de</strong> o público é confi<strong>de</strong>nte direto. Você não<br />

ignora ele, você olha para ele, você escolhe para quem<br />

você olha; você pergunta se quiser para ele. E para<br />

manter esse universo você tem que realmente fazer <strong>um</strong><br />

exercício muito sincero... 6<br />

3 Diretor inglês<br />

4 Referência ao poema <strong>de</strong> Attar <strong>de</strong>scrito no livro <strong>de</strong> Oida, p. 130.<br />

5 Tradição Africana <strong>de</strong> transmissão do conhecimento através da contação <strong>de</strong> histórias.<br />

6 Em anexo, íntegra da entrevista para apreciação.<br />

8


Nesse momento <strong>de</strong> pesquisa, nada melhor que a escolha da narrativa como<br />

forma <strong>de</strong> expressão, eliminando na medida do possível outros elementos<br />

significantes e valorizando o jogo quase corpo a corpo com a platéia. Com isso<br />

tenho em cena fundamentalmente <strong>um</strong>a única ação: contar <strong>um</strong>a história. Assim<br />

pareço ir ao encontro <strong>de</strong> Oida quando diz:<br />

Quando <strong>de</strong>sejamos fortemente ser muito aplaudidos,<br />

ficamos geralmente <strong>de</strong>cepcionados. Mas <strong>um</strong>a vez que<br />

atingimos <strong>um</strong> estado <strong>de</strong> espírito em que não nos<br />

importamos mais, porque estamos reconciliados com o<br />

nosso eu e nossa posição real, é aí então que<br />

começamos a receber elogios. Talvez seja esse o<br />

segredo da representação teatral. (Op. cit. p. 214.)<br />

Para esse exercício conto com a cooperação do público, no sentido <strong>de</strong><br />

emprestar sua imaginação, para recriar as imagens sugeridas pela história<br />

proposta. Assim, procurei seguir os passos <strong>de</strong> Oida quando diz:<br />

Criar <strong>um</strong> teatro em que o público possa recriar por si só...<br />

Falar à imaginação dos espectadores, fazer tudo para<br />

favorecer sua participação ativa no <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

temas do espetáculo... A técnica do ator resi<strong>de</strong> então em<br />

sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estimular no público sua participação<br />

no processo criativo... Os atores <strong>de</strong>vem saber conduzir<br />

os espectadores para outro tempo e espaço, diferentes<br />

daqueles da existência cotidiana... A energia que é<br />

transmitida aos espectadores por tal atitu<strong>de</strong> teatral<br />

verda<strong>de</strong>ira ficará com eles e os enriquecerá na vida<br />

cotidiana... (p.192)<br />

Busquei praticar alguns dos ensinamentos <strong>de</strong> Sotigui Kouyaté 7 que me foram<br />

passados em <strong>um</strong> curso sobre a Tradição Griot com Isaac Bernat, e trazê-los<br />

para o meu dia-a-dia: a Calma; a Escuta; a Percepção do meio; o Sentir-se<br />

parte <strong>de</strong> <strong>um</strong> todo.<br />

A escuta, na verda<strong>de</strong>, parece enfeixar todos os outros elementos.<br />

Escutar é mais que ouvir. É mais do que estar parada em<br />

frente a alguém dividindo o mesmo metro quadrado.<br />

Escuta-se por todas as células do corpo. Escuta-se com<br />

as mãos, com os olhos, com a respiração, escuta-se<br />

inclusive com os ouvidos… Uma postura escuta, <strong>um</strong><br />

gesto escuta, a boca escuta. Há que se <strong>de</strong>ixar apagar e<br />

se concentrar no outro. Há também que se eliminar<br />

quaisquer ruídos <strong>de</strong> interferência – como pensamentos<br />

que voam, telefones que tocam, vaida<strong>de</strong>s que afloram,<br />

vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ir ao banheiro… Muitos dizem que a fala<br />

distingue o ser h<strong>um</strong>ano dos outros animais. Discordo.<br />

Saber escutar é o que nos dá h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>.” 8<br />

7 Sotigui Kouyaté (1936-2010),<br />

Griot, Diretor e Ator Africano. Trabalhou com Peter Brook contemporaneamente com Ioshi<br />

Oida.<br />

8 Texto retirado do programa do espetáculo A Arte <strong>de</strong> Escutar, em cartaz no Teatro Laura Alvin,<br />

em Junho <strong>de</strong> 2008.<br />

9


A história que escolhi contar é autobiográfica, <strong>de</strong>stacada, traduzida e adaptada<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> diário <strong>de</strong> viagem do ano <strong>de</strong> 2006. Retirada da vida e transformada em<br />

teatro, aproveitando do ensinamento passado pela Mestre Thereza Rocha, em<br />

aula: <strong>Vida</strong> e arte não se separam!<br />

Na simplicida<strong>de</strong> da escuta <strong>de</strong> mim e da platéia, tento acompanhar Oida quando<br />

diz:<br />

Não é mais necessário ser <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> ator, nem<br />

apresentar <strong>um</strong> espetáculo <strong>de</strong>sl<strong>um</strong>brante para<br />

impressionar o público. Basta aceitarmos nossa<br />

própria responsabilida<strong>de</strong> enquanto membros da<br />

socieda<strong>de</strong> h<strong>um</strong>ana. O essencial é sabermos nos<br />

comunicar com os outros, n<strong>um</strong> nível profundo.<br />

(p.142)<br />

10


Sobre o Tema:<br />

Memorial <strong>de</strong> pesquisa<br />

O tema escolhido para pesquisar acabou sendo <strong>um</strong> “tiro na mosca”. Graças à<br />

insistência da minha orientadora (Thereza Rocha) <strong>de</strong> não resolver logo as<br />

coisas (ela me propôs ficar mais tempo com o problema <strong>de</strong> pesquisa), acabei<br />

chegando a esse tema <strong>de</strong> pesquisa que reúne as duas coisas que mais me dão<br />

prazer nessa vida: Teatro e Viagem.<br />

Definição do texto:<br />

Dentre as ativida<strong>de</strong>s e procedimentos, <strong>um</strong>a que executei foi o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> texto-base para a cena, traduzindo o meu diário do inglês para o<br />

português. Mais que isso, traduzir me permitiu entrar em contato com toda a<br />

minha memória da experiência vivida. Confrontei minha memória com o diário<br />

fotográfico e com o diário escrito (datado), o que me <strong>de</strong>u <strong>um</strong> enorme prazer,<br />

pois eu estava <strong>de</strong> novo vivenciando aquelas experiências, só que agora <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a outra maneira.<br />

A mesma sensação prazerosa se <strong>de</strong>u no ato <strong>de</strong> contar a história nos ensaios,<br />

como se as barreiras <strong>de</strong> tempo e espaço se enfraquecessem e eu estivesse<br />

navegando por esses lugares e memórias. Sensação parecida quando se lê <strong>um</strong><br />

livro e se sente entrando na história. Per<strong>de</strong>-se o referencial <strong>de</strong> tempo do<br />

relógio. Experimentei <strong>um</strong> pouco da potencialida<strong>de</strong> que as palavras <strong>um</strong> dia já<br />

tiveram. Oida comenta: “Hoje em dia, nada mais acontece quando dizemos:<br />

“Que chova!” ou “Que ele morra!”. As palavras per<strong>de</strong>ram o po<strong>de</strong>r que,<br />

antigamente, se ligava a própria substancia.” (1999, p. 93)<br />

Experiências em viagens <strong>de</strong> trabalho:<br />

Ao longo <strong>de</strong>sse período <strong>de</strong> pesquisa, continuei trabalhando em outras<br />

produções artísticas que me proporcionaram viagens 9 . Tive então a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre o que se passa comigo viajando. O que é<br />

diferente <strong>de</strong> quando estou na cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estou residindo? A diferença é muito<br />

maior na vivência das tarefas do que nos afazeres propriamente.<br />

Assim, durante o festival <strong>de</strong> Itaúna, por exemplo, percebi que se eu tivesse<br />

outras funções e responsabilida<strong>de</strong>s no festival, po<strong>de</strong>ria estar tão afastado ou<br />

mais do <strong>de</strong>vir que quando em <strong>um</strong>a semana rotineira no Rio <strong>de</strong> Janeiro. De<br />

volta ao Rio busco experimentar estar mais relaxado, ou melhor, viver cada<br />

tarefa por vez, muito embora encontre certa dificulda<strong>de</strong> para tal.<br />

9 Circuito SESC-RS com o espetáculo Os Náufragos; participação no 3º Festival Nacional <strong>de</strong><br />

Itaúna-MG com o espetáculo Os Ruivos; apresentação <strong>de</strong> Segura essa Marimba, em Friburgo-<br />

RJ; Histórias <strong>de</strong> Teatro e Circo com Cia Carroça <strong>de</strong> Mamulengos em Friburgo;<br />

11


Durante o final <strong>de</strong> semana da estréia da peça “Segura essa Marimba” em<br />

Friburgo, tive <strong>um</strong> momento <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> intensa. Várias razões me <strong>de</strong>ixavam<br />

feliz: estar viajando com o teatro; estar executando <strong>um</strong> bom trabalho; meu tio<br />

ter morrido <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>um</strong> longo período <strong>de</strong> sofrimento no hospital; meu<br />

momento pessoal; meu momento profissional. Vivia <strong>um</strong> momento <strong>de</strong> inteireza.<br />

Estava na piscina do hotel.<br />

A estréia no sábado havia sido ótima. Todo o trabalho estava pronto e ainda<br />

havia quatro horas para a apresentação <strong>de</strong> domingo. Eu lia o livro Um Ator<br />

errante, <strong>um</strong> texto que me fora indicado pela Banca <strong>de</strong> Qualificação do Préprojeto<br />

<strong>de</strong> Monografia. Na leitura, naveguei por tempos e espaços através das<br />

palavras <strong>de</strong> Yoshi Oida. Lia o capítulo 5 sobre a viajem à África. Yoshi refletia<br />

sobre experiências muito similares com alg<strong>um</strong>as pelas quais eu passei no<br />

período em que estive na Grécia. Talvez sua reflexão seja tão h<strong>um</strong>ana que<br />

todo viajante se i<strong>de</strong>ntifique com sua vivência relatada. Pu<strong>de</strong> experimentar <strong>de</strong><br />

novo <strong>um</strong>a sensação que me acontecia durante o período na Grécia: Estava<br />

sozinho. E ria e chorava <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>!<br />

Curso <strong>de</strong> <strong>Narrativa</strong> com Isaac Bernat:<br />

Freqüentei o curso <strong>de</strong> <strong>Narrativa</strong> com o ator Isaac Bernat. As primeiras práticas<br />

propostas por ele foram exercícios <strong>de</strong> escuta. Um dos exercícios eu já havia<br />

feito na UniverCida<strong>de</strong>. Foi muito interessante ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>um</strong> período <strong>de</strong> amadurecimento. O exercício consiste em <strong>um</strong> coletivo<br />

contar seguidamente <strong>de</strong> 1 a 10, <strong>um</strong> dos participantes <strong>de</strong> cada vez, sem aviso<br />

prévio. O <strong>de</strong>safio é que nenh<strong>um</strong> dos números seja dito por dois componentes<br />

ao mesmo tempo. Foi gostoso experimentar sentir o momento <strong>de</strong> eu falar. Ao<br />

invés <strong>de</strong> tentar adivinhar o momento <strong>de</strong> falar ou simplesmente focado no<br />

objetivo <strong>de</strong> chegar ao número 10.<br />

Entrevista com Julio Adrião:<br />

Em sua entrevista, Júlio conta que o processo <strong>de</strong> montagem do espetáculo<br />

Descoberta das Américas não começou com <strong>um</strong>a cena já pronta. Assinalou<br />

que antes <strong>de</strong> contar não existe <strong>um</strong>a partitura e que foi ao longo dos ensaios<br />

<strong>de</strong>scobrindo coisas que eram boas e mantendo-as. Assim ele disse: “Não<br />

existe erro. Existe aprendizado.”<br />

Júlio é <strong>um</strong>a pessoa muito generosa e foi muito atencioso. Dividiu alg<strong>um</strong>as <strong>de</strong><br />

suas experiências <strong>de</strong> cinco anos em cartaz com a contação da Descoberta das<br />

Américas. Esclareceu-me alg<strong>um</strong>as dúvidas sobre o trabalho do ator e mais<br />

<strong>um</strong>a vez me ajudou a enxergar como as coisas po<strong>de</strong>m ser mais simples.<br />

Quando por exemplo ao respon<strong>de</strong>r sobre quem conta, se ele ou <strong>um</strong><br />

personagem: “É teatro, já está combinado entre o público e o ator aquele jogo,<br />

mas é sempre o ator”.<br />

12


Essa entrevista foi <strong>de</strong> enorme importância para essa pesquisa. Me utilizei por<br />

diversas vezes <strong>de</strong> falas do Júlio para exemplificar ou embasar meu<br />

pensamento. Agra<strong>de</strong>ço imensamente a ele por ser esse exemplo <strong>de</strong> entrega e<br />

inteireza em cena.<br />

Ação Física Vocal:<br />

A compreensão da fala como Ação física vocal, trouxe-me a noção da<br />

importância da escolha das palavras a serem ditas; as imagens que elas<br />

po<strong>de</strong>m propor. Pus-me a experimentar diferentes formas <strong>de</strong> dizer <strong>um</strong>a idéia.<br />

Mais <strong>um</strong>a vez o trabalho pelo simples foi o caminho.<br />

Fui buscando clareza nas imagens, tentando <strong>de</strong> fato vê-las na medida que eu<br />

as conto. Quando consigo esse nível <strong>de</strong> concentração e entrega, ganho como<br />

presente <strong>um</strong>a sensação <strong>de</strong> imensa felicida<strong>de</strong>, traduzida às vezes em <strong>um</strong><br />

transbordar <strong>de</strong> lágrimas.<br />

Como, infelizmente, venho trabalhando sem a ajuda <strong>de</strong> <strong>um</strong> diretor, não tenho a<br />

certeza a respeito da efetivida<strong>de</strong> das imagens construídas para quem assiste.<br />

Mas acredito que ao <strong>de</strong>screver <strong>de</strong> forma simples, construo <strong>um</strong>a imagem e a<br />

vejo <strong>de</strong> fato, acabando por emocionar-me. Assim, as palavras tem o potencial<br />

<strong>de</strong> tocar os espectadores. Cada espectador imaginando a sua paisagem; o seu<br />

pôr-do-sol. Como sugere Adrião:<br />

Cada <strong>um</strong> tem <strong>um</strong>a referência <strong>de</strong> mar <strong>de</strong> floresta, <strong>de</strong><br />

cavalo. Tem coisas que são frutos da minha<br />

vivencia especifica <strong>de</strong> vida. De infância, tem<br />

imagens que eu trouxe para o espetáculo que eu<br />

chamo <strong>de</strong> homenagens quando eu <strong>de</strong>screvo <strong>um</strong>a<br />

coisa. Quanto mais eu conhecer <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> aquilo,<br />

será melhor que <strong>um</strong>a coisa abstrata. E tem coisas<br />

que são abstratas que eu coloquei para <strong>de</strong>ntro e<br />

acredito como verda<strong>de</strong>.<br />

Os ritmos e energias da contação são o mais próximo da experiência vivida. “A<br />

idéia é passar a energia física e sensorial do momento que aquilo aconteceu.”<br />

Dialogando com Adrião, acredito que não <strong>de</strong> forma a buscar a memória<br />

emotiva para contar, mas contando conectado com a memória viva dos fatos<br />

(sendo sincero). Como ele mesmo sugere: “É... <strong>um</strong> jogo. É <strong>um</strong>a coisa lúdica...<br />

É <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong> sincerida<strong>de</strong>. O teatro é bom quando ele é bem feito: feito<br />

com serieda<strong>de</strong>, com inteireza, com verda<strong>de</strong>.”<br />

13


Músico convidado:<br />

Tive a sorte e o prazer <strong>de</strong> ter o músico Beto Lemos 10 como parceiro nesse<br />

trabalho. Conheci-o através do trabalho com a Cia Carroça <strong>de</strong> Mamulengos 11<br />

da qual ele faz parte, viajando e se apresentando pelo Brasil há muitos anos.<br />

Apresentei-lhe a pesquisa e, na seqüência, contei-lhe a história. Depois<br />

começamos a improvisar a trilha sonora junto com a contação. Foi<br />

impressionante como a música me ajudou a ter mais calma durante a cena,<br />

ajudando-me inclusive a alcançar <strong>um</strong> nível mais profundo <strong>de</strong> entrega.<br />

Eu podia respirar <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma mais relaxada. Senti momentos <strong>de</strong> Pausa, que<br />

até então tinha medo <strong>de</strong> explorar com receio <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a atenção dos<br />

espectadores. Foram <strong>de</strong> fato as vezes em que contei a história e mais consegui<br />

me conectar com vivencia <strong>de</strong> fato.<br />

Acabamos <strong>de</strong>cidindo então pela utilização <strong>de</strong> dois instr<strong>um</strong>entos: acor<strong>de</strong>on e<br />

violão. Definimos <strong>um</strong>a melodia que será improvisada nos ritmos e energias da<br />

história. Desenvolvemos juntos <strong>um</strong> estado <strong>de</strong> escuta mútua, pois nessa<br />

proposta a música segue a história ao mesmo tempo em que a contação é<br />

também guiada pela música n<strong>um</strong> diálogo harmônico.<br />

Guiado pelo olho da intuição:<br />

Durante o momento da cena as <strong>de</strong>cisões sobre as ações seguintes são/<strong>de</strong>vem<br />

ser tomadas naquele instante. Ocorria que em muitas situações antes <strong>de</strong> agir<br />

eu refletia criticando-me. Buscava avaliar com <strong>um</strong> olhar externo para então<br />

escolher o que eu acreditava ser mais interessante para a cena. Para então<br />

partir para a ação. Eu po<strong>de</strong>ria chamar essa situação <strong>de</strong>scrita acima como<br />

ensaio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cena i<strong>de</strong>alizada. Pois eu me afastava da relação, me afastava<br />

do que eu estava vivenciando para escolher o próximo passo.<br />

Conseqüentemente o fluxo da ação se quebrava, havendo <strong>um</strong> intervalo <strong>de</strong><br />

vivencia do personagem. Isto é: o personagem-ator se afasta da ação e o atorindivíduo<br />

vinha a tona. O que eu ouvia dos professores era: eu via o João<br />

querendo fazer... É verda<strong>de</strong> que com isso acabei <strong>de</strong>senvolvendo meu interesse<br />

pela direção teatral, no entanto era <strong>um</strong> fator a ser ultrapassado para executar<br />

o trabalho <strong>de</strong> ator. Como sugere Adrião: “O pensamento racional eu procuro<br />

evitar. Acontece que o racionalismo quebra o fluxo narrativo.”<br />

Mais <strong>um</strong>a vez as experiências nas viagens me são úteis nesse aprendizado,<br />

pois não é que não se possa refletir durante <strong>um</strong>a cena ou durante <strong>um</strong>a viagem.<br />

Pelo contrário, é até <strong>um</strong>a ação interessante e muito potente já utilizada em<br />

10<br />

Músico poli-instr<strong>um</strong>entista premiado como melhor músico do ano (Premio APTR 2010) pela<br />

trilha original do espetáculo “Kabul”.<br />

11<br />

A Cia Carroça <strong>de</strong> Mamulengos é <strong>um</strong>a cia itinerante <strong>de</strong> teatro composta por <strong>um</strong>a família, (são<br />

oito 8 filhos. A filha mais velha, Maria, tem 26 anos e as duas gêmeas mais novas, Luzia e<br />

Isabel, tem 12. Eles vivem apresentando espetáculos por ruas, praças e teatros do Brasil. Os<br />

conheci no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do espetáculo “Felinda” em cartaz no Teatro do<br />

Jockey (<strong>de</strong> 6/11 a 19/12/2010), on<strong>de</strong> venho trabalhando como Assistente <strong>de</strong> Direção e<br />

Operador <strong>de</strong> Luz.<br />

14


memoráveis peças como no famoso monólogo <strong>de</strong> Hamlet 12 . Mas enquanto ele<br />

está refletindo, não é o conflito <strong>de</strong> estar ou não com <strong>um</strong>a caveira na mão que o<br />

avassala e sim toda a trama do assassinato <strong>de</strong> seu pai e a dúvida do suicídio.<br />

Ao fazer o Caminho <strong>de</strong> Santiago 13 por muitas vezes o caminhar era <strong>um</strong>a<br />

ativida<strong>de</strong> e o refletir é que era <strong>de</strong> fato a ação que eu executava. Mas o refletir<br />

era <strong>um</strong>a coisa orgânica, não analisava se o meu caminhar era <strong>de</strong> alguém que<br />

reflete.<br />

Porém acredito que muitas das nossas tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões em cena e das<br />

minhas tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões nessas travessias não se dão a partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

racionalida<strong>de</strong> reflexiva. Até mesmo porque as respostas aos estímulos, na<br />

maioria das vezes, são ou <strong>de</strong>vem ser quase que instantâneas. Percebo e<br />

valorizo a intuição como fonte <strong>de</strong> conhecimento nessas tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

Júlio Adrião na entrevista diz: “...eu me concentro muito no que eu estou<br />

fazendo e procuro não pensar que estou pensando. Que eu vou fazer isso<br />

daqui a pouco, isso que me atrapalha.” Em outras palavras, minimizar a<br />

racionalida<strong>de</strong> concentrar-se no aqui e agora e respon<strong>de</strong>r a partir da intuição.<br />

Ele segue nesse trecho afirmando:<br />

“O espetáculo hoje é o fluxo narrativo e a memória<br />

do espetáculo está muito associada <strong>um</strong>a com a<br />

outra. São as partituras físicas, sonoras e textuais.<br />

Essas três coisas fazem que o espetáculo seja hoje<br />

<strong>um</strong>a mistura <strong>de</strong> <strong>um</strong> Balé, musica que está sendo<br />

executada.”<br />

Portanto a memória nesse caso não se dá por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong><br />

raciocínio. As ações geram <strong>de</strong>slocamentos, sons e novas ações n<strong>um</strong>a<br />

seqüência contínua e continuada <strong>de</strong> vivência em cena, eliminando os vazios <strong>de</strong><br />

interpretação. Busquei assim seguir nessa prática, apenas <strong>de</strong>ixando os<br />

acontecimentos da história me levarem para o próximo acontecimento e a<br />

ação-fisica vocal me levar a executar a próxima ação-física vocal sem autojulgamento.<br />

12 Hamlet<br />

3º Ato Cena 1<br />

“Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e<br />

arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra <strong>um</strong> mar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sventuras e darlhes<br />

fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada...” (Domínio Público)<br />

13 Caminho <strong>de</strong> Santiago é <strong>um</strong>a caminhada <strong>de</strong> peregrinação muito antigo que cruza a Europa.<br />

Fiz essa caminhada <strong>de</strong> Roncesvalles na França à Finesterra na Galícia nos meses <strong>de</strong> Janeiro<br />

e Fevereiro <strong>de</strong> 2010<br />

15


Porta-VOZ <strong>de</strong> <strong>um</strong>a idéia<br />

Para essa pesquisa conto com os aprendizados adquiridos e praticados com a<br />

Excelentíssima Professora Marly Santoro <strong>de</strong> Brito. Com ela tive o primeiro<br />

contato com a idéia da Imagem da palavra, noção fundamental para o trabalho<br />

do ator.<br />

Ocorre que muitas vezes falamos as palavras como <strong>um</strong> texto, porém as<br />

palavras po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser porta-vozes <strong>de</strong> <strong>um</strong>a idéia. É revelador perceber a<br />

diferença <strong>de</strong> comunicabilida<strong>de</strong> quando se diz, por exemplo “Tomei <strong>um</strong> banho<br />

<strong>de</strong> mar”, simplesmente como <strong>um</strong> texto, falando palavras. Diferente é falar<br />

imagens, como por exemplo visualizando a cor do mar: “Tomei <strong>um</strong> banho <strong>de</strong><br />

mar”; sentindo a temperatura da água: “Tomei <strong>um</strong> banho <strong>de</strong> mar”; imaginando<br />

o sol que incidia sobre a pele: “Tomei <strong>um</strong> banho <strong>de</strong> mar”; imaginando o gosto<br />

salgado na boca: “Tomei <strong>um</strong> banho <strong>de</strong> mar”; sentindo imaginariamente o cheiro<br />

da maresia: “Tomei <strong>um</strong> banho <strong>de</strong> mar”; ouvindo imaginariamente o som das<br />

ondas: “Tomei <strong>um</strong> banho <strong>de</strong> mar”.<br />

Tendo tido contato com o Método-Direcional Beuttenmüller, primeiro através da<br />

mestre Marly Santoro <strong>de</strong> Brito e <strong>de</strong>pois da própria Gloria Beuttenmüller 14 , não<br />

pu<strong>de</strong> ignorar tal aspecto para contar <strong>um</strong>a história.<br />

Trabalhar a voz é melhorar o ser h<strong>um</strong>ano como <strong>um</strong> todo,<br />

fazendo <strong>de</strong> sua voz <strong>um</strong>a doação, <strong>um</strong> presente que se<br />

torna proprieda<strong>de</strong> dos que escutam através do sentir; e<br />

<strong>de</strong>senvolver o seu corpo interna e externamente, para<br />

que ele se torne mais criatura h<strong>um</strong>ana.<br />

(BEUTTENMÜLLER, 2009, prefácio)<br />

Noções <strong>de</strong> projeção vocal, utilização dos aparelhos <strong>de</strong> ressonância e outros<br />

exercícios também me trouxeram melhor aproveitamento da voz, evitando<br />

cansaço vocal e <strong>de</strong>sgaste das pregas vocais.<br />

14 Workshop com a Glorinha Beuttenmüller no CCBB oferecido aos participantes da V Mostra<br />

Estudantil <strong>de</strong> Teatro 2010.<br />

16


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Essa pesquisa surgiu como união das minhas duas maiores paixões: o teatro e<br />

viagens. Os pontos em com<strong>um</strong> foram se <strong>de</strong>lineando mais fortemente durante o<br />

processo. O mais interessante acima <strong>de</strong> tudo é a maior compreensão do que<br />

se passa na cena e nas viagens através do aprofundamento no tema. Com<br />

disse Oida: “O real conhecimento das coisas não é obtido ficando-se na<br />

superfície, mas unindo-se totalmente a elas.” (1999, p.202)<br />

Entendi melhor o que acontece comigo ao viajar e que po<strong>de</strong> me ajudar no<br />

entendimento <strong>de</strong> meu trabalho como ator. Ass<strong>um</strong>o <strong>um</strong> estado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sprendimento com as cobranças e expectativas. Vivo mais intensamente<br />

cada momento. Trazer portanto a experiência <strong>de</strong>ssa vivência tão presente na<br />

minha vida para a cena foi o caminho <strong>de</strong> <strong>um</strong>a experiência mais sincera no<br />

palco.<br />

Não acredito que outro tema para a pesquisa fosse mais importante para o<br />

meu processo como artista-pesquisador nesse momento. Ao longo <strong>de</strong> todo o<br />

Curso <strong>de</strong> Teatro na UniverCida<strong>de</strong>, tive <strong>de</strong> lidar com essa questão da<br />

dificulda<strong>de</strong> da vivência no momento presente, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> me relacionar com<br />

o aqui e agora da atuação. Esse trabalho me fez enten<strong>de</strong>r o caminho para esse<br />

estado <strong>de</strong> presença: relaxar as expectativas, abrir a escuta e ser generoso.<br />

Essas reflexões que auxiliam não só no trabalho como artista em cena, mas<br />

me ajudam também na experiência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida mais harmoniosa fora do<br />

palco.<br />

Cost<strong>um</strong>o repetir que meu sonho é viver viajando com o teatro. Esse trabalho<br />

me fez perceber que o que sonho é ser <strong>um</strong> artista viajante (ou errante).<br />

Também que não é necessariamente pelo <strong>de</strong>slocamento geográfico que se dá<br />

a mudança das tensões e aflições, mas através <strong>de</strong> <strong>um</strong> lidar diferente com as<br />

coisas gera-se também <strong>um</strong> estado prazeroso <strong>de</strong> errância. Como disse Julio<br />

Adrião: “Não existe erro. Existe aprendizado.”<br />

Espero que essa pesquisa <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso possa servir aos outros<br />

artistas como fonte <strong>de</strong> estímulo a pesquisas dos temas abordados, como a<br />

narrativa e o estado <strong>de</strong> errância do viajante para <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong> interpretação<br />

mais sincero do ator.<br />

Seguindo o que sugere Adrião quando diz que “o teatro é fundamentalmente a<br />

contação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a história...”, acredito que as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seqüência <strong>de</strong><br />

pesquisa e aprofundamento sejam infinitas.<br />

Para esse trabalho segui a sugestão da Mestre Helena Varvaki <strong>de</strong> buscar fazer<br />

o simples, isto é, não me <strong>de</strong>brucei sobre os vários elementos <strong>de</strong> composição<br />

significantes da cena, dando assim mais importância à simplicida<strong>de</strong> da<br />

pesquisa do trabalho como contador <strong>de</strong> história e menos como encenador.<br />

Em <strong>um</strong> momento futuro, entretanto, o jogo com os vários elementos da<br />

encenação teatral po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong>a pesquisa interessante a ser <strong>de</strong>senvolvida. Um<br />

17


espetáculo <strong>de</strong> referência para isso, ao qual pu<strong>de</strong> assistir durante o período <strong>de</strong><br />

estudo na faculda<strong>de</strong>, é Sauda<strong>de</strong> em Terras D`água da Cia Dos a Deux. Nele a<br />

narrativa é toda <strong>de</strong>senvolvida com a ação dos vários elementos cênicos (ação<br />

dos atores; luz; figurino; cenografia; trilha sonora), menos <strong>um</strong>: a fala. Pretendo<br />

seguir nessa direção. Não do teatro gestual, mas no jogo com os vários<br />

elementos significantes da cena. Pretendo pesquisá-los <strong>um</strong> a <strong>um</strong> e aos poucos<br />

ir me tornando <strong>um</strong> artista encenador.<br />

18


Referências Bibliográficas<br />

OIDA, Yoshi, Um ator errante. São Paulo: Beca, 1999.<br />

EMILLIO, Mônnica, A observação dos impulsos para <strong>um</strong> estado continuo <strong>de</strong><br />

presença – a conexão do ator com o momento presente, setembro <strong>de</strong> 2006,<br />

66F. Monografia- Curso <strong>de</strong> Artes Dramáticas UniverCida<strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong><br />

conclusão <strong>de</strong> curso,<br />

BEUTTENMÜLLER, Glorinha, Tragédia: O mal <strong>de</strong> todos os tempos, Instituto<br />

Montenegro e Raman: 2009.<br />

Site da internet:<br />

Tradução da Tragédia <strong>de</strong> Hamlet<br />

Domínio Público. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2010. Disponível em:<br />

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000073.pdf. Acesso<br />

em:07Dez. 2010<br />

19


Anexo 1<br />

Entrevista realizada com o ator Júlio Adrião<br />

cedida especialmente para o trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso.<br />

1) Como você <strong>de</strong>finiria o corpo <strong>de</strong> <strong>um</strong> contador <strong>de</strong> história?<br />

Cada <strong>um</strong> tem o seu corpo. Você conta a história, o corpo está alem da forma<br />

do corpo. O tamanho do corpo a forma do corpo, mas assim, o que vem do<br />

corpo, é a movimentação daquele corpo e a expressão tanto em termos físicos<br />

e sonoros quando ele fala. Tudo isso é o corpo do ator.<br />

Então quando eu falo : cada <strong>um</strong> usa sua própria ferramenta que é basicamente<br />

o seu corpo, para servir <strong>de</strong> comunicação entre <strong>um</strong>a história que vai ser contada<br />

e o público que vai receber. Na medida em que o teatro só acontece quando<br />

tem a troca com o público. Ali acontece o teatro.<br />

Acho que é por isso que é chamado <strong>de</strong> Arte Dramática, por que mesmo se for<br />

comicida<strong>de</strong> – É dramático! O teatro só existe enquanto, naquele momento<br />

exato que acontece por meio do ator para <strong>um</strong> público. Se não tem público<br />

ainda não é teatro.<br />

É <strong>um</strong> drama, você pensar que o seu trabalho só existe no momento fugas!<br />

No momento que você termina o espetáculo e recebe os aplausos não existe<br />

mais teatro. Mas o corpo do ator, tem que estar disponível para expressar, para<br />

traduzir tudo que no caso. Me vem pensar o contador <strong>de</strong> história como solitário<br />

ali diante do público com suas ferramentas corporais, físicas e vocais. E a<br />

história a ser contada. Na narração solo. Mas <strong>de</strong> qualquer forma, tem essa<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar não só o que você tem <strong>de</strong> original no seu corpo: que<br />

é a forma <strong>de</strong>le.<br />

Des<strong>de</strong> o seu sexo, seu peso como também as coisas que você adquiriu ao<br />

longo <strong>de</strong> sua preparação teatral ou não.<br />

De repente você tem coisas que fazem parte do seu cotidiano do seu corpo,<br />

aprendizados técnicos como <strong>um</strong>a arte marcial <strong>um</strong>a forma. E na hora <strong>de</strong> utilizar<br />

o corpo n<strong>um</strong>a contação <strong>de</strong> história vai somar, vai estar <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a forma<br />

presente para alicerçar essa contação.<br />

2) Como se preparar para contar <strong>um</strong>a história/ estória ?<br />

Primeiro <strong>de</strong> tudo. Conhecer profundamente o que você vai querer dizer, o que<br />

você vai querer contar. Conhecer essa história. De <strong>um</strong>a maneira que você<br />

possa contar ela sem ter que pensar nela. Você vai contar, vai relatar como<br />

quem chega da rua com <strong>um</strong>a coisa fresca.<br />

A principal questão para você ficar à vonta<strong>de</strong> com essa contação, para você<br />

não ficar armado é você conhecer o que vai fazer, é conhecer a sua história.<br />

Por isso o mais importante que <strong>de</strong>corar <strong>um</strong> texto nesse caso, o mais importante<br />

é conhecer a sua história, porque isso vai permitir que o seu corpo esteja<br />

disponível para esse exercício histriônico ou não <strong>de</strong> contar.<br />

20


E no processo <strong>de</strong> amadurecimento da contação, visando que isso se torne <strong>um</strong><br />

espetáculo, no caso, vai ter o espaço para você improvisar não só a forma mas<br />

também os <strong>de</strong>talhes o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa contação, a dramaturgia cênica,<br />

que está muito além do texto.<br />

A priori você não tem <strong>um</strong>a marca.<br />

N<strong>um</strong>a oficina eu digo: Vai pelo simples.<br />

Se você não te nada o que fazer, conta a história.<br />

Vê aon<strong>de</strong> o corpo pe<strong>de</strong>. O que seu corpo pe<strong>de</strong> e para on<strong>de</strong>.<br />

Não fica mexendo eu quero ação. Não é mexer.<br />

A ação po<strong>de</strong> ser física, sonora.<br />

Uma frase po<strong>de</strong> se tornar <strong>um</strong>a cena inteira que não necessariamente seja<br />

baseada na palavra mas na ação física.<br />

Isso é <strong>um</strong>a coisa bem concreta quando se faz teatro.<br />

A teatralização <strong>de</strong> <strong>um</strong>a contação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a história.<br />

Hoje em dia, esta muito em voga nos últimos 10, 15 anos, grupos se<br />

estruturarem a margem do teatro focando a contação <strong>de</strong> história e cada vez<br />

mais eles foram se enriquecendo e sugando a coisa do teatro, inclusive a<br />

questão do ator mesmo.<br />

E por outro lado o teatro como narração nada mais é que <strong>um</strong>a contação <strong>de</strong><br />

história. Você conta aquela história, então você vai valorizar a palavra mas ao<br />

mesmo tempo a ação. O que o seu corpo, o que a sua criativida<strong>de</strong> vai propor.<br />

Na hora que você for contar.<br />

Se for contar a mesma história que fulano, cada <strong>um</strong> vai contar <strong>de</strong> <strong>um</strong> jeito, com<br />

<strong>de</strong>talhes diferentes. Texto diferente.<br />

O que importa é você manter o elo <strong>de</strong> ligação com o público, <strong>de</strong> interesse. Isso<br />

se dá por meio não só do texto mas da ação. O que você propõem.<br />

3) Quem conta a história? Você ou <strong>um</strong> personagem seu?<br />

Isso se dilui muito. Essa coisa do narrador ele acaba ficando muito encostado.<br />

Eu não penso essa coisa que tem que entrar no personagem, eu acho que não<br />

é por aí.<br />

A energia que é do ator, a brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>le.<br />

Qual o jogo que ele propõe, como que ele se sente contando aquela história,<br />

eu acho que é por aí.<br />

Sem pudor, sem meta<strong>de</strong>, é tudo por inteiro.<br />

A tua voz.<br />

Agora no processo <strong>de</strong> narração tem alguém que narra isso. Que são os<br />

personagens da história ou mesmo o próprio narrador.<br />

Acontece que esse narrador acaba estando na voz <strong>de</strong> alg<strong>um</strong> personagem.<br />

Raramente ele se torna totalmente neutro.<br />

N<strong>um</strong> processo narrativo ele, mesmo que n<strong>um</strong> outro tempo, esta contando <strong>um</strong>a<br />

coisa que se passou no momento agora que ele conta, que olha no olho do<br />

público, verda<strong>de</strong>iramente, confi<strong>de</strong>ncia alg<strong>um</strong>a coisa (exemplo) naquela hora<br />

que ele quebra, quase encostado no ator.<br />

Ele esta como <strong>um</strong> narrador mais confi<strong>de</strong>ncial. Na hora que ele volta e ele cai<br />

no processo narrativo do que se passou ele tem a emergência daquele<br />

momento.<br />

A idéia é passar a energia física e sensorial do momento que aquilo<br />

aconteceu.<br />

21


Então quem conta é <strong>um</strong> narrador muito encostado no personagem que está<br />

vivenciando aquilo.<br />

No momento que você conta isso po<strong>de</strong> ser ao longo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida inteira.<br />

Você po<strong>de</strong> ter 90 anos e contar <strong>um</strong>a coisa <strong>de</strong> quando você tinha 15 anos. Isso<br />

não impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a energia que ele tem aos 90 anos <strong>de</strong> propor a sensação<br />

<strong>de</strong> quando ele tinha 15.<br />

Isso é o ator!<br />

Eu gosto <strong>de</strong> pensar que o teatro é <strong>um</strong>a coisa que agente sabe.<br />

Você sempre está emprestando o seu corpo e sua voz, sua visão o seu<br />

entendimento daquilo e o público ele vem ver você trabalhar, isso está<br />

combinado.<br />

Então é <strong>um</strong>a coisa que é feita com serieda<strong>de</strong> mas é <strong>um</strong> jogo.<br />

É <strong>um</strong>a coisa lúdica. Por mais pesado que seja o teatro, mais dramático que<br />

seja, é <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong> sincerida<strong>de</strong>. O teatro é bom quando ele é bem feito,<br />

feito com serieda<strong>de</strong>, com inteireza, com verda<strong>de</strong>. Você vai pro jogo bancando<br />

aquilo que você se propõem.<br />

Acho que a narração pelo fato <strong>de</strong> você estar sozinho ali diante do público, não<br />

necessariamente sem elementos cênico mas eventualmente até, eu entendo a<br />

narrativa como <strong>um</strong>a coisa mais direta. Um espetáculo teatral on<strong>de</strong> o público é<br />

<strong>um</strong> confi<strong>de</strong>nte direto. Você não o ignora. Você olha para ele, escolhe para<br />

quem olha, pergunta se quiser para ele. Então para manter esse negócio é <strong>um</strong><br />

exercício muito sincero. Se não você fica pedindo concessão para o cara. Fica<br />

aquele constrangimento.<br />

? Qual o grau <strong>de</strong> improvisação?<br />

Hoje <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 5 anos, mais <strong>de</strong> 400 apresentações o texto é aquele. O Grau <strong>de</strong><br />

improviso é 0 zero. A 4 anos que eu não improviso. Eventualmente,<br />

aci<strong>de</strong>ntalmente como qualquer outro espetáculo em função <strong>de</strong> algo que<br />

aconteça.<br />

Eu não faço concessão.<br />

O que tem <strong>de</strong> novida<strong>de</strong> é o fato <strong>de</strong> eu estar contando aquilo naquela hora,<br />

como se fosse a primeira vez.<br />

E o que tem <strong>de</strong> novo a cada dia é o público e eventualmente o espaço.<br />

O que mais mudou foram as intenções e pausas. Não só para agüentar contar<br />

o espetáculo porque é longo, mas também enten<strong>de</strong>r melhor o que eu quero<br />

dizer. Tem coisas que eu conto, que não faço questão que as pessoas<br />

entendam o texto.<br />

Eu falo para não enten<strong>de</strong>r mesmo. O que importa é a ação.<br />

E tem horas que o texto é fundamental.<br />

Tem varias pequenas coisas que eu criei no processo <strong>de</strong> amadurecimento da<br />

estrutura da dramaturgia final que a diretora fala que nem precisa. Mas que eu<br />

gosto e preservo.<br />

5) Como escolher os <strong>de</strong>talhes a ser contados e quais a serem omitidos?<br />

Com a ajuda fundamental do interlocutor externo que é o expectador<br />

privilegiado que assiste com freqüência e conhece bastante o processo. Que<br />

conhece cada vez mais o seu mecanismo e i<strong>de</strong>ntifica o que é <strong>um</strong>a pura<br />

22


engala e o que é realmente pertinente <strong>de</strong> ser feito. Então nesse sentido, no<br />

caso Alessandra Vannucci, me tirou várias bengalas e tira até hoje.<br />

O público normal que está vendo pela primeira vez jamais vai parar para<br />

pensar nisso mas a tua resposta vem do publico, na medida que você muda e<br />

aí funciona, mais do que funcionava. No sentido <strong>de</strong> que assim você obtém <strong>um</strong>a<br />

resposta e o conhecimento <strong>de</strong> que aquela ação é precisa. Se você não faz tudo<br />

bem, mas se faz ela o público respon<strong>de</strong>.<br />

6) Qual a importância que você dá a trilha sonora associada à <strong>um</strong>a<br />

contação <strong>de</strong> história?<br />

A trilha sonora po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> várias formas. O meu espetáculo eu acredito<br />

que tem <strong>um</strong>a trilha sonora, sou eu que faço, Na verda<strong>de</strong> a trilha sonora do meu<br />

espetáculo são sons e musicalida<strong>de</strong>s que eu proponho. Agora isso está muito<br />

no âmbito da questão estética, do que você quer e eu não vejo problema<br />

nenh<strong>um</strong>. Muitas vezes as pessoas acham que a musica po<strong>de</strong> salvar <strong>um</strong><br />

espetáculo, isso não acontece. Ela tem que vir para somar como qualquer<br />

elemento. Ser pertinente, ser necessário para o expectador também, para<br />

aquele processo <strong>de</strong> narrativa.<br />

Tem que ver qual a necessida<strong>de</strong> real. Musica ao vivo é muito legal.<br />

Você está brincando com os sentidos.<br />

No cinema é tudo muito mais imediato, porque é <strong>um</strong>a muita tecnologia, que te<br />

atropela.<br />

Agora no teatro é outra <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za. Eu acho que vale tudo. Vale ter elementos<br />

cênicos, sonorida<strong>de</strong>s (gravadas ou não) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam necessárias, que<br />

agregam, que compõem. O publico esta ali para ser manipulado. Ele quer rir e<br />

chorar.<br />

Se n<strong>um</strong> mesmo espetáculo ele pu<strong>de</strong>r rir e chorar é o i<strong>de</strong>al. Por que ele vai sair<br />

melhor. Ele vai fazer <strong>um</strong>a Ginástica.<br />

Como quando se faz <strong>um</strong> alongamento e faz a parte aeróbica.<br />

Jogar com as sensações que você po<strong>de</strong> trazer o público.<br />

Provocar <strong>um</strong>a pausa que essa pausa seja <strong>um</strong> silencio <strong>de</strong> atenção realmente é<br />

fantástico.<br />

Uma das coisas que eu mais gosto do espetáculo são as pausas.<br />

Uma pausa <strong>de</strong> 400 pessoas parece que é <strong>um</strong> silencio maior do que <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

pessoa só. É como <strong>um</strong> grito <strong>de</strong> 400 pessoas. Você se sente como regendo<br />

<strong>um</strong>a orquestra, on<strong>de</strong> os músicos estão improvisando. A platéia é que<br />

improvisa.<br />

Eles não estão preparados para nada.<br />

Acho que todo ator <strong>de</strong>via fazer <strong>um</strong> espetáculo solo. Por que é <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong><br />

sincerida<strong>de</strong>, perene que se po<strong>de</strong> fazer o tempo todo. Po<strong>de</strong> amadurecer, buscar<br />

coisas novas para não estagnar. Até para você ficar mais generoso na hora <strong>de</strong><br />

dividir o palco com outras pessoas.<br />

Você vê verda<strong>de</strong>s ali que não dá para escon<strong>de</strong>r, que as vezes n<strong>um</strong> espetáculo<br />

com muita gente você não se expõem tanto. você diminui sua liberda<strong>de</strong> e<br />

também sua responsabilida<strong>de</strong>.<br />

23


7) Quais outros elementos você consi<strong>de</strong>ra agregadores na construção <strong>de</strong><br />

imagens?<br />

Eu acho que principalmente tem que ir para o simples. Pelo simples se vai<br />

<strong>de</strong>scobrindo as necessida<strong>de</strong>s. O Básico é a história em si que você quer contar<br />

e a forma que se conta. Você po<strong>de</strong> contar <strong>um</strong>a história sem palavras, só com<br />

imagens, sons, danças, ações físicas.<br />

Vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r muito do tipo <strong>de</strong> ferramenta que tem na sua Mao.<br />

Que te instiga. Porque basicamente, você tem o seu corpo, a possibilida<strong>de</strong> da<br />

musica; possibilida<strong>de</strong> dos elementos cênicos que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> projeções<br />

até o fundo, a própria luz a dramaticida<strong>de</strong>. Todos essas são coisas que estão a<br />

sua disposição.<br />

Eu até por preguiça se eu pu<strong>de</strong>sse não usava nada.<br />

Minha vonta<strong>de</strong> era <strong>de</strong> fazer na grama, na rua do mercado. Mas na medida que<br />

você leva para o palco tem que dar <strong>um</strong> tratamento.<br />

Eu preciso muito mais <strong>de</strong>sse tratamento que é simples mas é apurado, que as<br />

vezes é ate meio complexo <strong>de</strong> fazer.<br />

Se eu for fazer n<strong>um</strong>a escola, arrasto as ca<strong>de</strong>iras ao meio dia e está vazado o<br />

som da rua como <strong>de</strong> luz fria, ali você está em casa, porque a precarieda<strong>de</strong> da<br />

estrutura é tão gran<strong>de</strong> que você não tem que se preocupar com nada.<br />

Só tem você. O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio é fazer aquilo ali se transformar em outra coisa.<br />

Todos os elementos são validos. O que é mais importante é o olho do<br />

espectador e se você consegue fazer que ele <strong>de</strong>sencoste da ca<strong>de</strong>ira sem<br />

perceber. Você faça ele viajar, transitar; viver coisas.<br />

As pessoas me perguntam : como você fica tanto tempo sem respirar?<br />

Mas quem disse que eu fico sem respirar, na verda<strong>de</strong> aquele momento na peça<br />

é <strong>um</strong> momento que eu respiro muito.É <strong>um</strong> momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso. Mas<br />

externamente você tem <strong>um</strong>a leitura e isso me comprova que eu estou fazendo<br />

o meu trabalho direito. Cada <strong>um</strong> tem <strong>um</strong>a referencia <strong>de</strong> mar <strong>de</strong> floresta, <strong>de</strong><br />

cavalo. Tem coisas que são frutos da minha vivencia especifica <strong>de</strong> vida. De<br />

infância, tem imagens que eu trouxe para o espetáculo que eu chamo <strong>de</strong><br />

homenagens quando eu <strong>de</strong>screvo <strong>um</strong>a coisa. Quanto mais eu conhecer <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong> aquilo, será melhor que <strong>um</strong>a coisa abstrata. E tem coisas que são<br />

abstratas que eu coloquei para <strong>de</strong>ntro e acredito como verda<strong>de</strong>. Que eu não<br />

sabia como resolver. Tanto como texto como ação física. Muitas ações físicas<br />

são baseadas em coisas que eu conheço concretamente, já vi.<br />

8) O que você pensa quando conta <strong>um</strong>a história?<br />

Eu penso em varias coisas. As vezes eu penso no que eu não <strong>de</strong>vo. Penso em<br />

outra coisa, ou lá na frente do espetáculo na parte que eu errei e não quero<br />

errar <strong>de</strong> novo hoje. Já pensei até em outro espetáculo. Eu faço <strong>um</strong>a ação e<br />

lembro <strong>de</strong> outra coisa. Olho para <strong>um</strong>a pessoa na platéia e é <strong>um</strong> conhecido e já<br />

me faz lembrar outra coisa.<br />

Mas eu procuro não pensar. Procuro fazer a ação, narrar a ação. Quando eu<br />

brinco <strong>de</strong> fazer as coisas invariavelmente eu lembro das minhas referencias.<br />

Não é que eu estou vendo aquela ação <strong>de</strong> guerra, aqueles corpos caídos eu<br />

procuro materializar idéias até imagens e não pensar muito e fazer.<br />

Agora que eu faço o espetáculo a muito tempo muitas vezes vem pensamentos<br />

<strong>de</strong> coisas mais esdrúxulas <strong>de</strong> contas que eu tenho que pagar, sinto <strong>um</strong>a<br />

24


comida que eu comi ou penso em frações <strong>de</strong> segundos em coisas <strong>de</strong> casa.<br />

São pensamentos, mas eu não me fixo em nada. Mas eu me concentro muito<br />

no que eu estou fazendo e procuro não pensar que estou pensando. Que eu<br />

vou fazer isso daqui a pouco, isso que me atrapalha. O que vem <strong>de</strong>pois do<br />

espetáculo.<br />

Que as vezes você trava por causa da racionalida<strong>de</strong>. O espetáculo hoje é o<br />

fluxo narrativo e a memória do espetáculo esta muito associada <strong>um</strong>a com a<br />

outra. São as partituras físicas, sonoras e textuais. Essas três coisas fazem<br />

que o espetáculo seja hoje <strong>um</strong>a mistura <strong>de</strong> <strong>um</strong> Balé, musica que está sendo<br />

executada.<br />

O pensamento racional eu procuro evitar. Acontece que o racionalismo quebra<br />

o fluxo narrativo.<br />

Nao que eu faça <strong>um</strong>a coisa automática. Mas é como o balé que é <strong>um</strong>a<br />

coreografia que é difícil passar só aquele fragmento. Tem que começar <strong>de</strong><br />

antes e parar <strong>de</strong>pois, para você passar com a energia especifica daquele<br />

momento.<br />

Você nunca repete, você tem que refazer.<br />

9) Você ao contar <strong>um</strong>a história, repete sempre da mesma maneira ou faz<br />

sempre diferente? “marcas”<br />

Eu procuro recontar da mesma maneira. Fazer da maneira que eu sei que<br />

funciona. Mas eu nao corro do risco. Uma intenção que sai diferente gera <strong>um</strong><br />

enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> coisas diferentes. De <strong>um</strong>a energia e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> fazer<br />

que é diferente todo <strong>um</strong> pedaço do espetáculo. Por que aquilo partiu diferente.<br />

Então ele vai diferente.<br />

As vezes <strong>um</strong> tropeço <strong>de</strong>mora uns 10 minutos até recuperar. Ou as vezes <strong>um</strong>a<br />

coisa que encaixa perfeitamente e você vê que naquele dia você está<br />

realmente bem.<br />

É <strong>um</strong> jogo, você parte para fazer o que se sabe.<br />

Como diz Sérgio machado: “comicida<strong>de</strong> nao tem muito improviso”.<br />

Os stand-up comedy por exemplo, nao improvisação. Ou até mas só por que<br />

tem <strong>um</strong> roteiro muito <strong>de</strong>finido.<br />

Eu gosto quando eu vou n<strong>um</strong> espetáculo e saio com a sensação : ainda bem<br />

que eu vim hoje. Porque eu duvido que ele faça isso amanhã e você vai no dia<br />

seguinte e ele faz a mesma coisa.<br />

Cada vez que você vai fazer o espetáculo n<strong>um</strong> palco menor, n<strong>um</strong>a praça<br />

menor você está no zero. Nao importa se você esta cansado, se está gripado,<br />

triste, você tem que fazer. Você sabe exatamente o que você tem que fazer e<br />

como você tem que fazer para valer a pena. Porque se for fazer pelo dinheiro<br />

melhor fazer outra coisa.<br />

Ninguém faz teatro para ficar milionário. É claro que ganhar dinheiro com teatro<br />

é bom. Mas o dia que o espetáculo se tornar <strong>um</strong>a mera fonte <strong>de</strong> dinheiro vou<br />

fazer outro espetáculo. Esse espetáculo ainda me instiga muito.<br />

Eu gosto quando as pessoas chegam e elogiam isso me renova.<br />

25


Terra<br />

Europa<br />

Grécia<br />

Cyber café<br />

Anexo 2<br />

Texto da <strong>Narrativa</strong> para cena <strong>de</strong> Monografia<br />

Eu estava viajando pela Europa e tinha mais 15 dias na Grécia antes <strong>de</strong> voltar<br />

para o Brasil <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2 anos.<br />

2 anos sem ver meus amigos; minha família; minha avó...<br />

ao longo <strong>de</strong>sses 2 anos eu escrevi <strong>um</strong> diário que vou <strong>de</strong>ixar com vc. Po<strong>de</strong><br />

folhear, po<strong>de</strong> passar...<br />

Nesse tempo eu conheci alguns lugares como Inglaterra, França, Itália,<br />

Alemanha, Holanda.<br />

Faltavam 15 dias para eu voltar para o Brasil.<br />

Mas eu sentia que eu tinha que ir à Grécia. A ilha <strong>de</strong> Santorini.<br />

Eu estava em Meteora na parte continental da Grécia.<br />

Eu estava n<strong>um</strong>a lanHouse, sentado em frente a <strong>um</strong> PC.<br />

Pela janela eu via os monastérios no alto <strong>de</strong> montanhas pontiagudas <strong>de</strong><br />

Meteora.<br />

Abri meu e-mail e tinha <strong>um</strong>a mensagem do meu pai.<br />

O titulo do e-mail era: “A Velinha está se apagando”!<br />

Ele dizia que a minha avó estava internada com sérios problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Ela estava com apenas 10% da capacida<strong>de</strong> respiratória.<br />

Eu li aquele e-mail e fiquei bastante mexido, porque faltava tão pouco tempo<br />

para eu voltar e eu não sabia se ainda ia ter a chance <strong>de</strong> estar com ela <strong>de</strong><br />

novo.<br />

Naquela noite antes <strong>de</strong> dormir eu ainda rezei bastante pedindo que ela<br />

agüentasse mais <strong>um</strong> pouco. Eu pensei em <strong>de</strong>sistir.<br />

Mas eu segui. Segui porque agente tem que seguir.<br />

No dia seguinte pequei o trem <strong>de</strong> volta para Athenas.<br />

Para pegar o 1º barco para a ilha <strong>de</strong> Santorini.<br />

Na estação <strong>um</strong> casal <strong>de</strong> turistas ingleses me ofereceram <strong>um</strong> bilhete <strong>de</strong> metro<br />

válido por mais dois dias. Eles estavam indo embora.<br />

Eu aceitei.<br />

Peguei o bilhete entrei no metro. Fui até o porto. Cheguei na bilheteria.<br />

O bilheteiro então me disse que não tinha mais passagem para aquele dia.<br />

Para eu voltar no dia seguinte.<br />

Naquele instante eu entendi que teria que dormir aquela noite em Athenas.<br />

Com a tar<strong>de</strong> livre,<br />

26


Decidi visitar o museu arqueológico, para on<strong>de</strong> e soube que são levadas as<br />

obras <strong>de</strong> arte achadas nas ilhas.<br />

E visitei.<br />

Coloquei o Ipod no ouvido e fui visitando no Aleatório.<br />

Encontrei no 2º andar <strong>um</strong>a galeria só sobre Santorini.<br />

Até que <strong>de</strong> <strong>um</strong>a janela eu avistei <strong>um</strong> jardim <strong>de</strong>ntro do museu.<br />

Era <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> jardim retangular com árvores.<br />

E na ponta <strong>de</strong>sse jardim <strong>um</strong>a estátua do Hércules com as maças <strong>de</strong> ouro.<br />

Em frente à estátua <strong>um</strong>a árvore frutífera.<br />

Me aproximei da árvore,<br />

Conferi se nao vinha ninguém.<br />

Fui pegar <strong>um</strong>a fruta.<br />

Quando eu estava quase apanhando <strong>um</strong>a<br />

- No!<br />

- Thoose are bitter!!!<br />

- Elas são muito amargas!<br />

Era <strong>um</strong>a velhinha: Sophia<br />

Ela me perguntou se eu estava com fome.<br />

Eu disse que sim.<br />

Então ela me levou para <strong>um</strong>a parte reservada só para os funcionário nesse<br />

jardim e me <strong>de</strong>u: outra fruta, me preparou <strong>um</strong> café grego; me <strong>de</strong>u <strong>um</strong> doce.<br />

Eu <strong>de</strong>itei no colo <strong>de</strong>la. E ela me abraçou.<br />

Ainda voltei a passear pelo museu mas as obras nao me interessavam mais.<br />

Às 5:30. O museu fechava. Eu sai <strong>de</strong> lá, mas nao sabia para on<strong>de</strong> ir, estava<br />

sem r<strong>um</strong>o.<br />

Com tempo livre mas sem objetivo.<br />

E como diz o ditado:<br />

“Para quem não sabe on<strong>de</strong> vai qualquer lugar está bom”.<br />

Então eu sentei ali na frente do museu,<br />

Comi a outra fruta que a Sophia havia me dado;<br />

tirei <strong>um</strong>as fotos<br />

Do meu pé; dos tijolos; da sombra.<br />

Como se a sombra estivesse falando comigo entendi que o sol estava<br />

baixando.<br />

Decidi ir para <strong>um</strong> lugar alto ver o pôr-do-sol.<br />

Decidi ir para o monte sagrado, em frente à Acrópole.<br />

Corri Peguei o metro, porquê o transito em Athenas é bem caótico e sai<br />

correndo.<br />

Deci as escadas.<br />

Cheguei na plataforma a porta quase fechando.<br />

Connsegui passar.<br />

Quando o metro chegou na estação da acrópole abriu a porta eu sai correndo<br />

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Corri, corri mesmo. Subi as escadas. O sol estava baixando. Corri, corri. Passei<br />

pelo teatro <strong>de</strong> Dionísio, Parthenon. Corri corri. Quem olhasse para mim<br />

pensava que era <strong>um</strong> ladrão. Corri corri.<br />

segui correndo morro acima...<br />

Quando eu cheguei lá em cima o Sol tinha acabado <strong>de</strong> morrer,<br />

Na direita estava a acrópole.<br />

E o céu.<br />

Eu tirei o Ipod do ouvido e fiquei ouvindo o vento,<br />

que soprava.<br />

Naquele instante eu entendi que cada instante é <strong>um</strong> instante.<br />

Aos poucos comecei a ouvir mais longe. mais longe.<br />

Foi quando <strong>de</strong> repente comecei a ouvir <strong>um</strong> som<br />

era <strong>um</strong>a música <strong>de</strong>dilhada trazida pelo vento.<br />

Decidi buscar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinha aquele som.<br />

Comecei a caminhar pelo Monte sagrado <strong>de</strong>ixando o vento me guiar,<br />

Caminhei até que eu vi <strong>um</strong> homem tocando <strong>um</strong> violão.<br />

Me aproximei.<br />

Ele esticou o braço com o violão para mim!<br />

Eu disse:<br />

“- NÃO! Eu vim por conta da sua música, você toca...”<br />

E ele tocou...<br />

Naquele entar<strong>de</strong>cer ele tocou sem eu pedir as minhas músicas favoritas!!!<br />

Ele estava com mais 3 amigos todos artistas naturais <strong>de</strong> lá.<br />

Contei a eles <strong>um</strong> pouco da viagem que eu estava fazendo e o meu plano <strong>de</strong> ir<br />

para as ilhas no dia seguinte.<br />

Eles me <strong>de</strong>ram <strong>um</strong> porção <strong>de</strong> dicas sobre on<strong>de</strong> ir, como ir, o que levar.<br />

Passamos a noite inteira conversando, bebendo, comendo, cantando.<br />

Discussões filosóficas, artísticas e pessoais...<br />

Era <strong>um</strong>a sensação <strong>de</strong> estar fazendo parte <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a coisa.<br />

Naquele instante eu entendi que por mais sozinho que eu esteja eu nunca<br />

estou só.<br />

Agente ficou lá até <strong>um</strong>as 5h da manhã.<br />

Parei e pensei, vou pagar ∋ 15,00 para dormir só 3 horas ?!?!<br />

Então eu encontrei <strong>um</strong> lugarzinho, <strong>de</strong>itei, me cobri com <strong>um</strong>a canga e dormi<br />

<strong>de</strong>baixo do céu estrelado.<br />

Na manhã seguinte fui acordado com <strong>um</strong> sol estonteante no céu.<br />

Levantei.<br />

Desci a montanha.<br />

Fui ao mercado <strong>de</strong> Rua mercado <strong>de</strong> Monastiraki,<br />

cuidar das dicas que os atenienses tinham me dado.<br />

Comprei <strong>um</strong>a barraca. Um ca<strong>de</strong>ado. 2 blusas regatas.<br />

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Peguei o Bilhete fui <strong>de</strong> metro até o porto.<br />

Cheguei na bilheteria.<br />

Comprei minha passagem para Santorini.<br />

Fui enfim à <strong>um</strong> Albergue. Tomei <strong>um</strong> banho. Arr<strong>um</strong>ei o mochilão.<br />

Antes <strong>de</strong> sair do albergue<br />

vi que estava com tempo.<br />

Fui conferir meus e-mails,<br />

Sentei na frente <strong>de</strong> <strong>um</strong> computador.<br />

Estava lá <strong>um</strong>a mensagem do meu pai.<br />

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