16.04.2013 Views

Preferência de cores feita por pássaros

Preferência de cores feita por pássaros

Preferência de cores feita por pássaros

SHOW MORE
SHOW LESS

Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!

Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.

PREFERÊNCIA DE AVES POR COLORAÇÃO DE FRUTOS ARTIFICIAIS EM<br />

PLANTAÇÃO DE CACAU E FLORESTA À DIFERENTES ALTURAS<br />

Cardoso, N. A. 1 , Fialho, M.S. 2 & Laps, R.R. 2,3<br />

RESUMO<br />

Foi investigada a possível preferência <strong>de</strong> aves frugívoras <strong>por</strong> frutos <strong>de</strong> diferentes <strong>cores</strong> em<br />

diferentes alturas nos ambientes <strong>de</strong> plantação <strong>de</strong> cacau e floresta. Foram confeccionados 60<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> frutos <strong>de</strong> coloração vermelha e 60 <strong>de</strong> coloração azul, arranjados em cachos e<br />

distribuídos igualmente entre plantação <strong>de</strong> cacau e floresta. Os cachos foram colocados entre um<br />

e dois metros e entre sete e <strong>de</strong>z metros <strong>de</strong> altura. Não foi observado nenhuma diferença no<br />

número <strong>de</strong> cachos visitados em relação as duas <strong>cores</strong>, entre os dois estratos, e entre plantação <strong>de</strong><br />

cacau e a floresta.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Frugivoria, cabruca, coloração <strong>de</strong> frutos, experimento, dossel, Serra do<br />

Teimoso, Mata Atlântica.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Vertebrados, em especial aves e mamíferos, constituem um grupo essencial para a<br />

dispersão <strong>de</strong> sementes das Angiospermas, sendo o recurso disponível em forma <strong>de</strong> frutos <strong>por</strong><br />

estas plantas, o principal alimento para muitos grupos animais (p. ex. primatas e contigidae). Esta<br />

relação mutualística levou as plantas a <strong>de</strong>senvolverem síndromes (características relacionados ao<br />

fruto) a fim <strong>de</strong> facilitar o reconhecimento e o consumo <strong>de</strong> seus frutos <strong>por</strong> um grupo especifico<br />

(taxonômico ou não), incrementando assim a eficiência <strong>de</strong> dispersão <strong>de</strong> suas sementes e<br />

conseqüentemente seu sucesso reprodutivo. Frutos dispersos <strong>por</strong> aves normalmente apresentam<br />

as seguintes características: frutos pequenos e carnosos, com polpa rica em lipídios ou proteínas;<br />

coloração po<strong>de</strong>ndo variar entre o vermelho, o preto, o azul e o púrpura, persistindo na planta ate<br />

sua remoção (van <strong>de</strong>r Pijl, 1969).<br />

Apesar da literatura a respeito da seleção <strong>de</strong> frutos <strong>por</strong> aves ser consi<strong>de</strong>rável (van <strong>de</strong>r Pijl,<br />

1 Graduação em Ciências Biológicas - Univ. Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

2 Pós-Graduação em Ecologia - Univ. Estadual <strong>de</strong> Campinas<br />

3 Fundação Univ. Regional <strong>de</strong> Blumenau, SC


1969, Gautier-Hion, et al. 1985, Willson, 1994, Avery et al., 1995, Alves-Costa & Lopes, 2001),<br />

o estudo associado a preferência <strong>de</strong> aves <strong>por</strong> frutos em diferentes alturas em florestas ainda e<br />

incipiente. Paralelamente, o cultivo <strong>de</strong> cacau na forma <strong>de</strong> cabruca (plantio consorciado com<br />

floresta) cobre gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong> interesse biológico na regiao sul da mata atlântica do nor<strong>de</strong>ste<br />

brasileiro. Estas consi<strong>de</strong>rações levaram este estudo a verificar a possível preferência <strong>por</strong> <strong>cores</strong> <strong>de</strong><br />

fruto para a aves frugívoras, no caso entre as <strong>cores</strong> vermelha e azul, e se esta preferência<br />

permanece constante a alturas diferentes, e entre duas fisionomias distintas, a cabruca e a floresta<br />

no sul Bahia. Também se analisou a taxa total <strong>de</strong> “visitas” aos frutos entre estas duas fisionomias<br />

vegetais.<br />

MATERIAIS E METODOS<br />

O estudo foi conduzido na Reserva Particular do Patrimônio Natural da Serra do Teimoso<br />

(15 o 9’17.4”S; 39 o 31’25.8”W), localizado na Serra do Teimoso, Jussari, BA. A área po<strong>de</strong> ser<br />

caracterizada como transição entre floresta úmida nos topos <strong>de</strong> morros e semi<strong>de</strong>cídua para a base.<br />

A partir <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar atóxica (plastilina) foram confeccionados 120 frutos<br />

artificiais <strong>de</strong> 5 gramas, com coloração vermelha e azul. Estes frutos foram agrupados em 24<br />

cachos com cinco frutos cada um, distribuídos entre cabruca e florestas em numero semelhante e<br />

entre duas classes <strong>de</strong> alturas: uma entre um e dois metros e outra entre sete e <strong>de</strong>z metros. Os<br />

cachos foram dispersos aleatoriamente, mantendo a distancia mínima <strong>de</strong> 10 metros entre estes.<br />

Durante três dias consecutivos no mês <strong>de</strong> abril (outono), os cachos foram inspecionados uma vez<br />

ao dia. Cada cacho foi consi<strong>de</strong>rado como uma amostra qualitativa. Foi utilizado o teste exato <strong>de</strong><br />

Fischer (Zar, 1999).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A taxa total <strong>de</strong> visitas aos cachos foi <strong>de</strong> 30,1% (Anexo 1), um valor relativamente baixo<br />

quando comparados com a taxa <strong>de</strong> visitas a frutos artificiais do estudo <strong>de</strong> Alves-Costa & Lopes<br />

(2001). Ao contrário do esperado, não foi observado nenhuma diferença no número <strong>de</strong> cachos<br />

visitados em relação às duas <strong>cores</strong>, entre os dois estratos, e entre a cabruca e a floresta (p = 0,45 e<br />

p = 0,44). Portanto, para fins <strong>de</strong> análise os cachos <strong>de</strong> diferentes <strong>cores</strong> foram agrupados para<br />

verificar possíveis diferenças na intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitas entre os estratos e fisionomias vegetais.<br />

Contudo, também não se observou qualquer diferença entre os dois estratos e as duas


fisionomias (ambos p = 0,30). Na cabruca verificou-se um aumento no numero <strong>de</strong> frutos<br />

artificiais visitados na copa — cerca <strong>de</strong> 75% (<strong>de</strong> n = 4 para n = 7) — o que era esperado, dada a<br />

maior luminosida<strong>de</strong> neste estrato. Alem disso, estudos com aves <strong>de</strong> cabrucas evi<strong>de</strong>nciam que a<br />

abundancia <strong>de</strong> aves frugívoras <strong>de</strong> copas e maior neste habitat quando comparado com a floresta,<br />

ocorrendo o contrario em relação aos frugivoros <strong>de</strong> sub-bosque (Laps 2000). Entretanto esta<br />

diferença não foi significativa, possivelmente <strong>de</strong>vido ao pequeno numero <strong>de</strong> visitas.<br />

Também era esperada a preferência <strong>por</strong> uma das <strong>cores</strong>, como observado em Turdus<br />

migratorius que apresentou preferência <strong>por</strong> frutos artificiais azuis e vermelhos, nesta or<strong>de</strong>m, em<br />

relação a frutos ver<strong>de</strong>s ou amarelos (Willson, 1994). Dentre as duas <strong>cores</strong> era esperado a seleção<br />

positiva pelo vermelho, já que aparentemente sua abundancia em frutos na Serra do Teimoso e<br />

em outras fisionomias florestais e superior a cor azul. Contudo, em Turdus sua preferencia <strong>por</strong><br />

<strong>cores</strong> não refletiu a abundancia relativa <strong>de</strong>stas <strong>cores</strong> em frutos na natureza (Willson, 1994).<br />

A diminuição da taxa <strong>de</strong> visitas aos cachos artificiais ao longo dos três dias <strong>de</strong><br />

amostragem, como verificado na figura 1, sugere a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as aves frugívoras<br />

possam estar reconhecendo estes cachos como um fonte <strong>de</strong> recurso falsa, evi<strong>de</strong>nciando assim um<br />

certo grau <strong>de</strong> aprendizagem. Alvery et al. (1995) <strong>de</strong>monstraram experimentalmente a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aves frugívoras em reconhecer e memorizar <strong>cores</strong> <strong>de</strong> frutos artificiais com maior conteúdo<br />

nutricional.<br />

Desta maneira, os resultados po<strong>de</strong>m ter sido afetados pela aprendizagem da localização<br />

espacial <strong>de</strong> frutos artificiais. Este resultado contradiz aquele encontrado <strong>por</strong> Alves-Costa & Lopes<br />

(2001); <strong>por</strong>ém estes autores utilizaram frutos artificiais feitos com argila, sendo que talvez seu<br />

gosto seja mais palatável que aqueles <strong>de</strong> plastilina, usados neste experimento.<br />

Desta forma, recomenda-se a alteração periódica do local <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong> frutos artificiais<br />

<strong>de</strong> plastilina como forma <strong>de</strong> evitar que o efeito da aprendizagem atuem sobre as taxas <strong>de</strong> visitas.<br />

Além disso, <strong>de</strong>vem ser testados frutos artificiais feitos <strong>de</strong> diferentes materiais para futuros<br />

experimentos em preferência alimentar <strong>de</strong> aves.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Aos proprietários da Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Serra do Teimoso<br />

Henrique e Lucélia Berbert; aos financiadores Global Canopy Programme-International Canopy<br />

Network e Fundação Boticário <strong>de</strong> Proteção a Natureza; às equipes <strong>de</strong> escaladores das empresas<br />

Soluções Verticais e Jardins Suspensos - Jardinagem Vertical; ao monitor em escalada Marcial<br />

C.Jorge; e aos organizadores do curso Talita Fontoura e Flavio Santos.


% <strong>de</strong> cachos visitados<br />

50<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

1 dia 2 dia 3 dia<br />

Figura 1 - Porcentagem <strong>de</strong> visitas aos cachos artificiais na cabruca e em floresta ao longo dos<br />

três dias <strong>de</strong> amostragem na Serra do Teimoso.


LITERATURA CITADA<br />

ALVERY, M.L., DECKER, D.G., HUMPHREY, J.S., HAYES, A.A. & LAUKERT, C.C. 1995.<br />

Color, size, and location of artificial fruits affect sucrose avoidance by Cedar Waxwings and<br />

European Starlings. The Auk 112: 436-444.<br />

ALVES-COSTA, C.P. & LOPES, A.V. 2001. Using artificial fruits to evaluate fruit selection by<br />

birds in the field. Biotropica 33: 713-717.<br />

GAUTIER-HION, A., DUPLANTIER, J.M., QURIS, R., FEER, F., SOURD, C., DECOUX, J.P.,<br />

DUBOST, G., EMMONS, L., ERARD, C., HECKETSWEILER, P., MOUNGAZI, A.,<br />

ROUSSILHON, C. & THIOLLAY, J.M. 1985. Fruit characters as a basis of fruit choice and<br />

seed dispersal in a tropical forest vertebrate commuity. Oecologia 65: 324-337.<br />

LAPS, R.R. 2000. Efeito da fragmentacao na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves do entorno da Reserva<br />

Biologica <strong>de</strong> Una, Bahia. Relatorio tecnico nao publicado. 72pp.<br />

WILLSON, M.F. 1994. Fruit choices by captive American Robins. The Condor 96: 494-502.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!