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FIC MARAVILHA, NÓS GOSTAMOS DE VOCÊ: MÚSICA E ...

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<strong>FIC</strong> <strong>MARAVILHA</strong>, <strong>NÓS</strong> <strong>GOSTAMOS</strong> <strong>DE</strong> <strong>VOCÊ</strong>: <strong>MÚSICA</strong> E FESTIVAIS<br />

EM TEMPOS <strong>DE</strong> CHUMBO (1972)<br />

Autor: Felipe Araújo de Carvalho<br />

Orientador: José Roberto Braga Portella<br />

Palavras-Chave: Festivais Televisivos; Regime Militar; Música.<br />

No decorrer dos últimos anos foram lançados diversos livros sobre os festivais da canção<br />

realizados no Brasil nos anos de 1960 e 1970. 1 Dentre aqueles eventos, merecem destaque<br />

os Festivais Internacionais da Canção (<strong>FIC</strong>), organizados pela TV Globo.<br />

Os <strong>FIC</strong>s foram paradigmáticos como aglutinadores políticos e culturais, sobretudo o de<br />

1972 (VIII <strong>FIC</strong>), pois levantou questões que diziam respeito à ordem social e política<br />

vigente e aos festivais, de maneira geral. Tanto que com o VIII <strong>FIC</strong>, como afirma Zuza<br />

Homem de Mello em A Era dos Festivais, praticamente se encerra o ciclo festivalesco.<br />

Não obstante a vitalidade editorial do tema na atualidade, percebe-se nas obras e estudos<br />

até agora publicados a ausência de um enfoque na linguagem tecnológico-televisiva dos<br />

festivais, ou seja, a escassez de pesquisas que discutam a organização dos festivais, a partir<br />

dos <strong>FIC</strong>s da Globo, como movimento inserido na organização das empresas brasileiras de<br />

comunicação midiática nas décadas de 1960 e 1970. Tampouco um debate dos <strong>FIC</strong>s que<br />

coloque os festivais da Globo, com suas especificidades, dentro de uma discussão mais<br />

ampla da estética, da cultura, da política e da sociedade da época.<br />

A ascensão rápida da Globo, sua disposição em “Rede”, a ligação com o grupo Times-Life<br />

e a CPI abafada que investigava a relação do grupo Marinho com investimentos<br />

estrangeiros 2 logo fez com que as produções Globo se tornassem um divisor de águas no<br />

tocante a realizações culturais. A visão empreendedora, profissional e pragmática dos<br />

diretores gerais, Boni e Walter Clarck, diante de uma TV-empresa que buscava o<br />

afastamento do amadorismo e do patriarcalismo de Asis Chateubriand, dividia imprensa e<br />

artistas. Nos festivais não seria diferente. Alguns artistas, aliás, dedicavam-se à tentativas<br />

constantes de manchar a imagem dos <strong>FIC</strong>s, como era o caso do piauiense tropicalista<br />

Torquato Neto, que em seus artigos da Geléia Geral nunca se esquecia de, em épocas de<br />

<strong>FIC</strong>, colocá-lo na fogueira 3 .<br />

Apesar de os <strong>FIC</strong>s e a Globo possuírem tantos elementos sócio-históricos para serem<br />

analisados academicamente, podemos dizer que os Festivais Internacionais são relegados a<br />

1 Dentre estes se destacam: A era dos festivais: uma parábola (MELLO, Z. H. A Era dos Festivais:<br />

uma parábola, São Paulo: Ed. 34, 2003); Prepare seu coração (RIBEIRO, S. Prepare Seu Coração: a<br />

história dos grandes festivais, São Paulo: Geração Editorial, 2002); Seguindo a canção: engajamento político<br />

e indústria cultural na MPB 1959-1969 (NAPOLITANO, M. Seguindo a canção, São Paulo: Ana Blumme,<br />

2001).<br />

2 Sobre estes temas polêmicos encontrados nas origens da fundação da Rede Globo, ver<br />

principalmente a obra COSTA, A. H. , SIMÕES, I. F. e KHEL, M. R. Um país no ar: a história da TV<br />

brasileira em três canais, São Paulo: Brasiliense, 1986. ver ainda ÁVILA, C. R. A. A teleinvasão, São Paulo:<br />

Cortez, 1982, MACHADO, R. C. A Fundação Roberto Marinho: denúncia, Porto Alegre: Tchê, 1988;<br />

HERZ, D. A história secreta da Rede Globo, Porto Alegre: Tchê, 1987; e CAPARELLI, S. Comunicação de<br />

massa sem massa, São Paulo: Cortez, 1982.<br />

3 Sobre a produção de Torquato Neto ver SALOMÃO, W. (org.) Torquato Neto: Os últimos dias de<br />

paupéria, São Paulo: Max Limonad, 1982; PIRES, P. R. Torquato Neto: Torquatália (Geléia Geral) e<br />

Torquato Neto: Torquatália (do lado de dentro), Rio de Janeiro: Rocco, 2004.


um segundo plano, dentro da produção editorial, quando o assunto são Festivais. Os<br />

festivais da Excelsior e da Record são as vedetes de historiadores e sociólogos que buscam<br />

analisar o país pelo aspecto cultural da música unida à televisão, mesmo que canções como<br />

É proibido proibir, de Caetano Veloso, e Para não dizer que não falei de flores, de<br />

Geraldo Vandré e considerada a marselhesa brasileira, tenham sido apresentadas em<br />

Festivais Internacionais da Canção da Globo.<br />

Todavia, as publicações feitas sobre outros festivais que não o <strong>FIC</strong> nos trazem elementos<br />

do ambiente social festivalesco em que vivia o país na época, bem como sobre a agitação<br />

cultural causada por estes espetáculos televisivos.<br />

A monografia está dividida em dois grandes capítulos. O primeiro deles relata a estrutura<br />

televisiva e os mecanismos da indústria cultural para as grandes realizações festivalescas,<br />

abordando bastidores de produção e a visão dos produtores musicais. Por este caminho<br />

procuramos também desvendar alguns princípios dos grandes nomes por trás da Rede<br />

Globo e o quanto as suas visões empreendedoras se relacionam com os festivaisde música<br />

veiculados na TV. Para atingir uma maior profundidade, produções editoriais de ex<br />

integrantes da TV Globo foram fundamentais, aliado a pesquisa em revistas ditas de<br />

“fofoca” que se preocupavam sobremaneira com a nova magia da televisão, em especial<br />

agora que as cores eram incorporadas a sua linguagem. As revistas “Gente” e “Fatos e<br />

Fotos” são alguns exemplos.<br />

No segundo grande capítulo aprofundamos os festivais em si, afunilando no Festival<br />

Internacional da canção de 1972. Algumas matérias e entrevistas fornecidas pela revista<br />

Veja e principalmente pelo Jornal do Brasil foram importantes para encorpar a visão que<br />

temos dos eventos festivalescos. Não nos utilizamos aqui de leituras das músicas em si, o<br />

que seria válido, mas acreditamos que como evento histórico os fatos polêmicos como a<br />

destituição do júri e o próprio espancamento de Gilberto Freyre por agentes repressivos são<br />

suficientes para atingir alguns fins relacionados à importância política destas realizações e<br />

descobrir alguns elementos do desgaste final destas atividades festivas.

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