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VIII. Comunidades portuguesas dos Estados Unidos

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Onésimo Teotónio de Almeida<br />

espaço de tempo já Viçente (sic) se afastara da comunidade portuguesa, mu -<br />

dara o nome para Vince e procurara americanizar-se, se bem que na comunidade<br />

americana não conseguisse que o sentissem como parte sua, sendo<br />

apenas um «token American».<br />

A literatura, somente uma das expressões culturais possíveis, consegue frequentemente<br />

captar de modo simples e tangível as realidades mais profundas<br />

da história de qualquer cultura. Neste aspecto, a literatura luso-americana<br />

não tem sido diferente das demais.<br />

Agarremos outro exemplo: Josie Carvalho, o adolescente narrador do ro -<br />

mance Leaving Pico 5 , do luso-americano Frank Gaspar, conta, para impressio<br />

nar um <strong>dos</strong> veraneantes de Nova Iorque em Provincetown, uma história,<br />

segundo a qual os portugueses teriam chegado à América antes de Colombo.<br />

Mais ainda, o feito teria pertencido a um navegador do seu Pico, de quem<br />

John Joseph Carvalho, o avô do mesmo Josie, seria descendente. Um processo<br />

subconsciente de reiterar, perante um americano de verdade, que ele,<br />

greenhorn 6 de uma comunidade imigrante, tinha também raízes naquele<br />

país, e por sinal muito mais profundas do que as do seu interlocutor. Legi ti -<br />

ma assim a sua presença na América, acentuando o direito – entitlement –<br />

que lhe assiste.<br />

A história é pura invenção do avô que, tendo plena consciência da sua fabrica<br />

ção, nem por isso deixa de reconhecer mérito na sua própria pirueta engenhosa<br />

de direito territorial e de cidadania. Não se trata de um episódio acidental<br />

no romance de Frank Gaspar, pois essa efabulação transforma-se em<br />

história dentro da narrativa principal, ganhando significado transcendente a<br />

si própria, a requerer análise atenta.<br />

Estas duas personagens, de duas obras do hoje já considerado cânone da literatura<br />

luso-americana em inglês, são paradigmáticas do tipo de problemas<br />

que este ensaio pretende abordar, nomeadamente os da identidade e da assimilação<br />

ou aculturação – que, neste caso, significa «americanização» das<br />

comunidades <strong>portuguesas</strong> <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> 7 .<br />

Ainda em jeito de introdução a esta temática da identidade e assimilação<br />

cul tural, trarei aqui como exemplo significativo – quase ao acaso – uma<br />

fotogra fia publicada no Providence Journal – cinco pessoas representando

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