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Estratégias de comercialização de arroz com base em diferentes ...

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ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ PARA DIFERENTES<br />

EXPECTATIVAS DE PREÇOS<br />

Andréia C. O. Adami<br />

Doutora <strong>em</strong> Economia Aplicada ESALQ/USP<br />

Pesquisadora do CEPEA<br />

<strong>em</strong>ail: adami@cepea.org.br<br />

Geraldo Sant´Ana <strong>de</strong> Camargo Barros<br />

Prof. Titular da Escola Superior <strong>de</strong> Agricultura “Luiz <strong>de</strong> Queiroz” – ESALQ/USP<br />

Coor<strong>de</strong>nador do Cepea<br />

<strong>em</strong>ail: gscbarro@esalq.usp.br<br />

TEMA: PREVISÃO, TRANSMISSÃO E VOLATILIDADE DE PREÇOS


ABSTRACT<br />

In or<strong>de</strong>r to illustrate the environment of <strong>de</strong>cision making by paddy rice producer in 2010<br />

regarding the best time to sell, three marketing alternatives were evaluated. The first strategy<br />

consisted in <strong>de</strong>ciding in July to sell the product offseason - the next six months, consi<strong>de</strong>ring six-step<br />

ahead forecasts. The second marketing stipulated the sale to occur also in the next six months - from<br />

August to January, however, in each month the producers would re-evaluate his expected price<br />

behavior market conditions before <strong>de</strong>ciding, <strong>base</strong>d on one-step ahead forecasts. The third strategy<br />

would be to set a target price. It was assumed that farmers would follow ARIMA predictions<br />

according to Box and Jenkins (1976) procedures consi<strong>de</strong>ring with seasonal <strong>com</strong>ponents. Because<br />

this method do not consi<strong>de</strong>r current and future expected information, farmers would risk taking<br />

wrong <strong>de</strong>cisions in dynamic changing markets such the rice market in Brazil. What happened in<br />

2010 was that farmers extrapolated to this year the evolution observed in previous years, so that<br />

prices would rise during the year. However, increased production in Brazil and rising inventories,<br />

public and private, in addition to imports affected prices negatively throughout the year. Based on<br />

expectations of better prices for the offseason the producers postponed sales, since they were<br />

allowed to postpone of operating credit repayments counted on effective government action in case<br />

of falling prices. However, government action has not had the expected effect, prices kept falling<br />

and that producer that held production throughout the year had to sell at lower prices late this year<br />

and pay storage costs. As a result farmers that <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>d to sell his production at a price that covered<br />

costs would have experienced the highest losses <strong>com</strong>pared to inten<strong>de</strong>d returns. Lower losses would<br />

be incurred by farmers that postponed sales until the best moment offseason.<br />

Key Words: rice paddy, marketing, market risk<br />

RESUMO<br />

Visando ilustrar o ambiente <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão vivenciado pelo produtor <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong><br />

casca <strong>em</strong> 2010 quanto ao melhor momento para a venda do seu produto, três estratégias <strong>de</strong><br />

<strong><strong>com</strong>ercialização</strong> foram analisadas. Na primeira estratégia proposta, consi<strong>de</strong>rou-se que o produtor<br />

tome a <strong>de</strong>cisão <strong>em</strong> julho para a venda do produto na entressafra - próximos seis meses, valendo-se<br />

<strong>de</strong> previsões 6 passos à frente. Como segunda estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> propôs-se que a venda<br />

ocorra também nos próximos seis meses - agosto a janeiro, porém, a cada mês o produtor reavalia<br />

as condições <strong>de</strong> mercado antes <strong>de</strong> tomar a <strong>de</strong>cisão, previsões um passo à frente. A terceira estratégia<br />

trata-se <strong>de</strong> fixar um preço, neste caso, consi<strong>de</strong>rou-se o valor <strong>de</strong> R$30,00. Utilizou-se o instrumental<br />

metodológico dos mo<strong>de</strong>los ARIMA para se obter as previsões, formulados por Box e Jenkis (1976),<br />

consi<strong>de</strong>rando-se ainda a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>com</strong>ponentes sazonais – mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> médias mensais. O que<br />

ocorreu <strong>em</strong> 2010 foi uma expectativa <strong>de</strong> que os preços seriam melhores durante o ano, reproduzindo


o padrão <strong>de</strong> alguns anos anteriores. Porém, ao longo do ano foram confirmadas expectativas <strong>de</strong><br />

aumento da produção brasileira <strong>com</strong> consequente aumento dos estoques, públicos e privados.<br />

A<strong>de</strong>mais, as importações impactaram negativamente nos preços. Baseados <strong>em</strong> expectativas <strong>de</strong><br />

preços melhores para o segundo s<strong>em</strong>estre os produtores postergaram as vendas, já que pu<strong>de</strong>ram<br />

contar <strong>com</strong> o adiamento das parcelas do custeio e na expectativa <strong>de</strong> que o Governo utilizaria seus<br />

instrumentos <strong>de</strong> política agrícola para conter a queda dos preços. Os resultados mostram que<br />

produtores que <strong>de</strong>cidiss<strong>em</strong> ven<strong>de</strong>r seu produto cobrindo os custos, teriam experimentado as maiores<br />

perdas <strong>em</strong> relação ao retorno pretendido. Perdas, ainda que menores, teriam ocorrido também para<br />

produtores que tivess<strong>em</strong> adiado suas vendas para o melhor momento da entressafra.<br />

Palavras-chave: <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca, <strong><strong>com</strong>ercialização</strong>, risco <strong>de</strong> mercado<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

No Brasil, o mercado <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> praticamente não se vale <strong>de</strong> mecanismos privados <strong>de</strong><br />

gerenciamento <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> mercado. São poucos os contratos privados <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> para o<br />

<strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca. Vendas antecipadas através <strong>de</strong> contratos a termo, por ex<strong>em</strong>plo, são raras. O que<br />

geralmente ocorre é a venda à vista no período da colheita - nos meses <strong>de</strong> março a junho (pico <strong>de</strong><br />

safra) - ou o <strong>de</strong>pósito do produto <strong>em</strong> silos próprios e/ou <strong>de</strong> Cooperativas para vendas futuras - s<strong>em</strong><br />

fixação <strong>de</strong> preços - nos meses <strong>de</strong> julho a fevereiro, período <strong>de</strong> entressafra, no qual, espera-se que os<br />

preços sejam maiores.<br />

Po<strong>de</strong> ocorrer, na entressafra, <strong>de</strong> os preços não evoluír<strong>em</strong> da forma esperada, ou seja,<br />

r<strong>em</strong>unerando o armazenamento, ficando a <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> do <strong>arroz</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das políticas<br />

adotadas pelo governo, cuja principal ferramenta <strong>de</strong> intervenção é a Política <strong>de</strong> Garantia <strong>de</strong> Preços<br />

Mínimos (PGPM). Através da PGPM o Governo fixa um preço mínimo para as safras e a<br />

intervenção no mercado se dá através dos instrumentos AGF, EGF, Contratos Públicos <strong>de</strong> Opção <strong>de</strong><br />

Venda, PROP e PEP.<br />

O governo po<strong>de</strong> também, <strong>em</strong> anos <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> <strong>de</strong>sfavorável para os produtores -<br />

preço abaixo dos custos <strong>de</strong> produção, postergar os pagamentos das parcelas <strong>de</strong> custeio <strong>de</strong> anos<br />

anteriores e da própria safra corrente, aliviando a pressão <strong>de</strong> se fazer caixa para pagamento da<br />

dívida. Essa estratégia <strong>de</strong> postergar a dívida retira a pressão <strong>de</strong> venda imediata por parte do<br />

produtor, porém, <strong>em</strong>purra um volume significativo da dívida para o final da entressafra. Se a<br />

expectativa <strong>de</strong> valorização na entressafra não ocorrer - por pressão <strong>de</strong> preços ao varejo ou da<br />

parida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importação - seu equilíbrio financeiro po<strong>de</strong> ficar seriamente prejudicado.<br />

O mês <strong>de</strong> outubro - historicamente <strong>de</strong> pico <strong>de</strong> preço - é um importante sinalizador do<br />

<strong>com</strong>portamento dos preços na entressafra. A partir daí, o mercado segue <strong>em</strong> ritmo <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano,


<strong>com</strong> menor interesse da indústria pelo <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca; além disso, <strong>em</strong> janeiro, já há algum <strong>arroz</strong><br />

novo no mercado.<br />

Enquanto aguarda o melhor momento para ven<strong>de</strong>r seu produto, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as<br />

condições <strong>de</strong> suprimento do mercado e, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado as condições climáticas, o produtor<br />

gaúcho adota sua estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong>. Mas, qual será o melhor momento para ven<strong>de</strong>r o<br />

produto? Visando ilustrar o ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão vivenciado pelo produtor, analisam-se a seguir as<br />

alternativas abertas a ele no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> 2010, quais sejam: ven<strong>de</strong>r o produto na safra, ou ao longo<br />

da entressafra ou, então, estocar o produto para ven<strong>de</strong>r apenas quando o preço <strong>de</strong> mercado atingir<br />

um preço pré-estipulado.<br />

A escolha do “melhor” mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> previsão <strong>base</strong>ou-se na formulação teórica do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos mo<strong>de</strong>los ARIMA, formulados por Box e Jenkis (1976) e na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>ponentes sazonais que precisam ser incluídos no mo<strong>de</strong>lo. Pressupõe-se que esse mo<strong>de</strong>lo<br />

po<strong>de</strong>ria ser utilizado pelo produtor para prever os preços do <strong>arroz</strong> para o período <strong>de</strong> entressafra<br />

(julho a janeiro).<br />

Na primeira estratégia proposta, consi<strong>de</strong>ra-se que o produtor tome a <strong>de</strong>cisão <strong>em</strong> julho para a<br />

venda do produto na entressafra - próximos seis meses, valendo-se <strong>de</strong> previsões 6 passos à frente.<br />

Como segunda estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> propõe-se que a venda ocorra também nos próximos<br />

seis meses - agosto a janeiro, porém, a cada mês o produtor reavalia as condições <strong>de</strong> mercado antes<br />

<strong>de</strong> tomar a <strong>de</strong>cisão, para avaliar este cenário trabalha-se <strong>com</strong> previsões um passo à frente. A terceira<br />

estratégia seria fixar um preço, que o produtor consi<strong>de</strong>re r<strong>em</strong>unerador ou que pelo menos cubra os<br />

custos <strong>de</strong> produção, neste caso, trabalhou-se <strong>com</strong> o valor <strong>de</strong> R$30,00/saca <strong>de</strong> 50 quilos.<br />

2. O MERCADO DE ARROZ NO BRASIL<br />

A colheita do <strong>arroz</strong>, no Brasil, está concentrada nos meses <strong>de</strong> Março a Junho, e está<br />

distribuída <strong>de</strong> forma que os períodos <strong>de</strong> pico, ou seja, maior volume colhido se dá nos meses <strong>de</strong><br />

março e abril e o período <strong>de</strong> entressafra nos meses <strong>de</strong> agosto, set<strong>em</strong>bro, outubro, nov<strong>em</strong>bro e<br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro (Companhia Nacional <strong>de</strong> Abastecimento - CONAB, 2011a) – Figura 1.


%<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Figura 1 - Distribuição mensal da colheita <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> no Brasil<br />

Fonte: CONAB (2011a)<br />

Devido à distribuição anual da oferta, as <strong>de</strong>cisões quanto à <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> do produto fica<br />

concentrada no período da safra, principalmente por parte dos produtores, já que na entressafra as<br />

atenções se voltam mais ao plantio da próxima safra. Ou seja, é no período da safra que os<br />

produtores adotam sua estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> para o ano, é, pois, nesse período que ele t<strong>em</strong><br />

que tomar a <strong>de</strong>cisão quanto a ven<strong>de</strong>r seu produto logo no período da colheita, estocar <strong>em</strong> silo<br />

próprio – quando possível, ou <strong>de</strong>positar na cooperativa, <strong>de</strong>cidindo ainda se a venda será fracionada<br />

ou total. A estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> mais <strong>com</strong>um, <strong>de</strong>finida por produtores que prefer<strong>em</strong><br />

estocar seu produto, é esperar um preço melhor para a entressafra, estocando o <strong>arroz</strong> <strong>em</strong><br />

cooperativas. Em anos <strong>de</strong> oferta elevada, <strong>em</strong> que os preços não reag<strong>em</strong>, há forte pressão por<br />

intervenção governamental. O Governo Fe<strong>de</strong>ral atua utilizando seus instrumentos (<strong>com</strong>pras diretas<br />

e contratos <strong>de</strong> opção), através <strong>de</strong> apoio à <strong><strong>com</strong>ercialização</strong>.<br />

Dos anos 1960 até meados dos anos 1990 a política <strong>de</strong> preços agrícolas (PGPM) consistiu na<br />

formação <strong>de</strong> estoques por parte do Governo Fe<strong>de</strong>ral que visava retirar o excesso <strong>de</strong> oferta <strong>em</strong> anos<br />

<strong>de</strong> safra abundante e reduzir o estoque <strong>em</strong> anos <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> produção. Os instrumentos <strong>de</strong><br />

intervenção governamental naquele período eram as Aquisições do Governo Fe<strong>de</strong>ral (AGF) e os<br />

Empréstimos do Governo Fe<strong>de</strong>ral (EGF). Com a intensificação da abertura <strong>com</strong>ercial e o<br />

agravamento da restrição fiscal, <strong>em</strong> meados dos anos 1990, o governo passou a adotar novos<br />

instrumentos <strong>de</strong> sustentação <strong>de</strong> preços <strong>de</strong> forma a apoiar a formação <strong>de</strong> estoques por parte da<br />

iniciativa privada (REZENDE, 2003).<br />

Distribuição mensal da colheita <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> no Brasil<br />

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez<br />

A partir <strong>de</strong> 1996, passam a integrar a PGPM dois novos instrumentos <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> preços<br />

ao produtor: o Prêmio <strong>de</strong> Escoamento <strong>de</strong> Produto (PEP) e os Contratos <strong>de</strong> Opções <strong>de</strong> Venda, <strong>em</strong><br />

Mês


que o governo é o único lançador das opções. Em <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2004 o governo instituiu os<br />

contratos <strong>de</strong> Prêmio <strong>de</strong> Risco para Aquisição <strong>de</strong> Produto Agropecuário oriundo <strong>de</strong> Contrato Privado<br />

<strong>de</strong> Opção <strong>de</strong> Venda (PROP) - Lei 11.076. Nesses contratos o governo leiloa para indústrias e/ou<br />

cooperativas um prêmio, chamado prêmio <strong>de</strong> risco, para qu<strong>em</strong> assumir o <strong>com</strong>promisso <strong>de</strong> lançar<br />

para o produtor rural os contratos <strong>de</strong> opção <strong>de</strong> venda (ADAMI, 2005).<br />

Uma característica <strong>de</strong>sses novos contratos <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> para o mercado <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong><br />

casca (PEP, Opção pública e PROP) é o apoio para a distribuição da <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> do produto<br />

<strong>de</strong>ntro do ano safra. O PEP, que é o prêmio para escoamento, t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> redistribuição do<br />

produto entre regiões, já os contratos <strong>de</strong> Opção Pública e o PROP são apoios para que o produtor<br />

possa armazenar seu produto na safra e ven<strong>de</strong>r na entressafra. Porém, <strong>em</strong> anos <strong>de</strong> oferta abundante e<br />

baixo preço, os produtores po<strong>de</strong>m exercer seu direito <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r ao governo (exercer seus contratos<br />

<strong>de</strong> Opção Pública), se esse volume não retornar para o mercado, esses contratos tornam-se uma<br />

AGF. Uma vantag<strong>em</strong> na utilização <strong>de</strong>sses novos programas é que o governo não precisa ter<br />

disponível o recurso para adquirir e manter <strong>em</strong> estoque parte da produção da safra, mas, apenas para<br />

subsidiar a diferença <strong>de</strong> preços. A formação <strong>de</strong> estoques fica por conta dos operadores privados.<br />

A Tabela 1 resume as operações <strong>com</strong> a política <strong>de</strong> apoio à <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> no<br />

Brasil a partir da adoção dos novos instrumentos <strong>de</strong> sustentação <strong>de</strong> preços. Nota-se que nas safras<br />

2009/10 e 2010/11- até fevereiro/11, o governo pouco atuou para auxiliar o mercado. O fato que<br />

po<strong>de</strong> ajudar a explicar a baixa atuação do Governo no ano <strong>de</strong> 2010 é que os preços no mercado do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul romperam a barreira do preço mínimo apenas a partir <strong>de</strong> outubro. Só então<br />

verifica-se atuação do governo através do PEP e do PROP.<br />

Tabela 1: Apoio do Governo Fe<strong>de</strong>ral à <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> (mil toneladas) – ano safra<br />

(março/fevereiro)<br />

Fonte: Brasil, 2011.


Até 1989 a estocag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul recebeu forte estímulo da PGPM via<br />

EGF que, era fort<strong>em</strong>ente subsidiado. A partir dos anos 1990 a redução do papel da PGPM passou a<br />

viabilizar a estocag<strong>em</strong> privada nesse estado. Segundo Rezen<strong>de</strong> (2003), <strong>de</strong>vido o <strong>arroz</strong> gaúcho ter<br />

maior participação <strong>de</strong> mercado, era a partir do preço mínimo que se formavam os preços nas regiões<br />

consumidoras.<br />

As mudanças ocorridas na estrutura da PGPM e atuação do governo ocorreram no sentido <strong>de</strong><br />

incentivar a armazenag<strong>em</strong> privada e o relacionamento dos agentes da ca<strong>de</strong>ia. Pois, o papel do preço<br />

mínimo não <strong>de</strong>veria ser o <strong>de</strong> influenciar os preços <strong>de</strong> mercado, mas, sim, garantir um nível <strong>de</strong><br />

preços minimamente r<strong>em</strong>unerador ao produtor.<br />

Adami, Barros e Bacchi (2007), mediram os efeitos da PGPM sobre os preços no mercado<br />

gaúcho e concluíram que os formuladores <strong>de</strong> política não se influenciam pelo <strong>com</strong>portamento<br />

cíclico do preço <strong>de</strong> mercado, mas, atêm-se apenas ao nível mínimo <strong>de</strong> referência, que procuram<br />

assegurar. No curto prazo, porém, há um efeito da política sobre os preços <strong>de</strong> mercado. Em anos <strong>de</strong><br />

oferta elevada, por ex<strong>em</strong>plo, o preço mínimo serve <strong>com</strong>o um piso ao mercado, assegurando aos<br />

produtores ao menos uma parte dos custos <strong>de</strong> produção. Nessas ocasiões verifica-se atuação mais<br />

acentuada pela CONAB através <strong>de</strong> seus instrumentos <strong>de</strong> opções e AGF. Tudo isso se passa s<strong>em</strong> que<br />

as tendências <strong>de</strong> mercado sejam afetadas. Esse resultado sugere que o governo não t<strong>em</strong> <strong>com</strong>o<br />

estratégia a<strong>com</strong>panhar os ciclos <strong>de</strong> mercado da cultura, mas sim, assegurar um piso <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong><br />

ao setor. Porém, nos anos <strong>em</strong> que o preço <strong>de</strong> mercado rompe a barreira do preço mínimo estipulado,<br />

o Governo t<strong>em</strong> atuado fort<strong>em</strong>ente. Mesmo <strong>com</strong> a forte atuação do governo no mercado <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong><br />

casca, os preços têm sofrido significativas variações <strong>em</strong> função das oscilações na oferta do produto.<br />

Na Figura 2 são apresentadas as médias <strong>de</strong> preços para o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (RS) e Mato<br />

Grosso (MT) e os respectivos preços mínimos fixados pelo governo para esses estados. Observa-se<br />

que <strong>de</strong> maio/2005 até junho/2006 os preços <strong>de</strong> mercado, nas duas regiões, permaneceram abaixo do<br />

preço mínimo <strong>de</strong> referência. Apenas a partir <strong>de</strong> julho/2006, voltam a se recuperar (superar o preço<br />

mínimo) sendo que, no RS essa recuperação foi mais lenta, <strong>com</strong> os preços permanecendo abaixo do<br />

preço mínimo <strong>de</strong> referência até julho/2007. Des<strong>de</strong> então, os preços vinham superiores ao mínimo<br />

nos dois estados até que <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 2010 os preços romp<strong>em</strong> novamente a barreira do mínimo no<br />

RS. No MT os preços permanec<strong>em</strong> altos <strong>de</strong>vido à menor oferta do produto. Já no RS, os preços<br />

continuam <strong>em</strong> trajetória <strong>de</strong> queda, <strong>de</strong>vido à maior oferta do produto na região, níveis altos <strong>de</strong><br />

importação do MERCOSUL e expectativa <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> volume para a safra 2010/2011.


60,00<br />

50,00<br />

40,00<br />

30,00<br />

20,00<br />

10,00<br />

0,00<br />

fev/04<br />

Preços médios mensais pagos ao produtor pelo <strong>arroz</strong> longo-fino - RS - R$/saca <strong>de</strong> 50kg<br />

- MT - R$/saca <strong>de</strong> 60kg e respectivos preços mínimos (PM)<br />

mai/04<br />

ago/04<br />

nov/04<br />

fev/05<br />

mai/05<br />

ago/05<br />

nov/05<br />

fev/06<br />

mai/06<br />

ago/06<br />

nov/06<br />

fev/07<br />

mai/07<br />

ago/07<br />

nov/07<br />

fev/08<br />

mai/08<br />

ago/08<br />

nov/08<br />

RS PM/RS MT PM/MT<br />

fev/09<br />

mai/09<br />

ago/09<br />

Figura 2 - Média <strong>de</strong> preços nominais da saca <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca da varieda<strong>de</strong> longo fino para o<br />

estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (RS), para o Mato Grosso (MT) e respectivos preços mínimos <strong>de</strong><br />

referência – período: fev/2004 a <strong>de</strong>z/2010.<br />

Fonte: CONAB, 2011.<br />

2.1 O mercado <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2008) mostram que<br />

a região Sul do país é a principal produtora <strong>de</strong> <strong>arroz</strong>, tendo <strong>com</strong>o principais estados produtores Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul e Santa Catarina. Aproximadamente 60% da produção nacional, <strong>em</strong> 2010, foram<br />

cultivadas no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Essa região t<strong>em</strong> a cultura do <strong>arroz</strong> <strong>com</strong>o uma das principais<br />

ativida<strong>de</strong>s agrícolas. Os dados da Tabela 2 mostram que, <strong>em</strong> 2010, os Estados do RS, SC e Mato<br />

Grosso foram responsáveis por mais <strong>de</strong> 75% da produção <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> no Brasil.<br />

nov/09<br />

fev/10<br />

mai/10<br />

ago/10<br />

nov/10


Tabela 2 - Arroz <strong>em</strong> casca – produção e área colhida - principais Estados produtores<br />

-1990 a 2010<br />

Ano<br />

1990<br />

1991<br />

1992<br />

1993<br />

1994<br />

1995<br />

1996<br />

1997<br />

1998<br />

1999<br />

2000<br />

2001<br />

2002<br />

2003<br />

Maiores Estados Produtores<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul Mato Grosso Santa Catarina Maranhão<br />

Produção<br />

3.194,4<br />

3.809,5<br />

4.569,8<br />

4.965,2<br />

4.230,7<br />

5.038,1<br />

4.356,6<br />

4.083,5<br />

3.591,9<br />

5.630,1<br />

4.981,0<br />

5.256,3<br />

5.486,3<br />

4.697,1<br />

Área<br />

colhida Produção<br />

698,1<br />

804,1<br />

897,6<br />

981,5<br />

976,5<br />

988,9<br />

863,0<br />

800,3<br />

831,9<br />

989,6<br />

944,2<br />

949,8<br />

981,3<br />

961,8<br />

420,7<br />

465,8<br />

850,7<br />

587,6<br />

812,4<br />

762,3<br />

721,8<br />

694,9<br />

776,5<br />

1.727,3<br />

1.851,5<br />

1.151,8<br />

1.192,4<br />

1.255,6<br />

Área<br />

colhida<br />

355,2<br />

303,5<br />

571,7<br />

491,2<br />

476,5<br />

417,1<br />

429,1<br />

355,2<br />

364,1<br />

726,7<br />

698,5<br />

450,4<br />

438,6<br />

449,8<br />

Produção<br />

567,7<br />

597,1<br />

689,1<br />

598,4<br />

667,0<br />

708,4<br />

531,0<br />

576,5<br />

634,8<br />

758,8<br />

799,0<br />

892,7<br />

922,9<br />

1.034,6<br />

Área<br />

colhida<br />

Produção<br />

Área<br />

colhida<br />

Produção<br />

No RS produz-se o <strong>arroz</strong> longo fino irrigado <strong>com</strong> uma produtivida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 6.400kg/ha.<br />

No Brasil 80% do <strong>arroz</strong> produzido é da classe longo fino e os 20% restantes da classe longo. Os<br />

produtores gaúchos, ao longo dos anos, conseguiram significativos ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> para a<br />

cultura do <strong>arroz</strong>. Em 1990 a produtivida<strong>de</strong> média estava <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 4.200kg/ha e, <strong>em</strong> 2007,<br />

chegou a superar os 6.700kg/ha. Esse aumento <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se ao <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

tecnologias avançadas na produção do <strong>arroz</strong> <strong>de</strong> várzea <strong>de</strong>vido à relevância da cultura para o Estado.<br />

Esses ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> viabilizam a redução <strong>de</strong> preços no mercado. Os preços do <strong>arroz</strong> <strong>em</strong><br />

152,2<br />

130,2<br />

149,8<br />

146,1<br />

149,7<br />

153,7<br />

113,5<br />

116,4<br />

118,5<br />

126,5<br />

135,0<br />

137,1<br />

137,3<br />

143,7<br />

464,8<br />

970,3<br />

400,9<br />

632,3<br />

1,035,6<br />

951,6<br />

555,0<br />

559,2<br />

381,0<br />

646,1<br />

727,4<br />

623,7<br />

628,7<br />

689,1<br />

679,1<br />

759,0<br />

760,9<br />

737,8<br />

760,2<br />

778,0<br />

409,7<br />

414,8<br />

425,7<br />

449,6<br />

478,8<br />

458,6<br />

478,2<br />

496,2<br />

Pará<br />

Área<br />

colhida<br />

148,1 127,4<br />

194,2 144,0<br />

183,6 145,5<br />

286,2 193,9<br />

269,8 187,9<br />

337,8 231,5<br />

369,4 247,4<br />

372,3 256,1<br />

353,9 261,1<br />

414,9 300,2<br />

403,8 2 92,9<br />

391,5 235,7<br />

408,4 232,2<br />

482,2 258,6<br />

2004 6.301,7 1.039,2 1.932,2 675 ,6 999,8 150,8 720,1 517,7 541,4 280,5<br />

2005 6.205,2 1.049,6 2.043,2 776,9 1.049,9 154,4 718,0 535,8 652,5 303,2<br />

2006 6.872,4 1.039,7 738,8 287,5 1.099,1 155,9 708,9 506,3 423,2 211,6<br />

2007 6.419,3 954,4 734,4 28 0,3 1.099,1 155,9 710,8 511,4 396,8 207,4<br />

2008 7.361,7 1.066,6 683,4 239,8 1.018,1 153,1 699,7 477,6 310,3 163,3<br />

2009 7.095,0 1.105,6 803,9 280,6 1.039,7 149,6 605,0 478,6 291,8 151,9<br />

2010 (1) 6.920,2 1.079,6 742,7 246,9 1.056,9 149,7 602,5 470,0 277,2 137,9<br />

Fonte: Brasil (20 10 b)<br />

(1) Estimativa


casca têm sofrido significativas variações <strong>em</strong> função das oscilações na oferta do produto. Do<br />

Quadro 1 constam as médias anuais dos preços <strong>de</strong> mercado da saca <strong>de</strong> 50 kg <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca<br />

irrigado ao atacado/produtor no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul - referência para 58% <strong>de</strong> grãos inteiros, o preço<br />

mínimo anual vigente e a relação preço <strong>de</strong> mercado/preço mínimo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997. Verifica-se que<br />

apenas <strong>em</strong> 2006 e 2007 os preços aos produtores ficaram (na média do ano) abaixo do preço<br />

mínimo vigente.<br />

Ano Preço mercado<br />

R$/saca 50kg<br />

Preço mínimo<br />

R$/saca 50kg<br />

Preço<br />

mercado/preço mínimo<br />

1997 13,59 10,53 1,29<br />

1998 17,02 10,53 1,61<br />

1999 15,03 10,53 1,43<br />

2000 12,23 10,92 1,12<br />

2001 15,67 10,92 1,43<br />

2002 20,07 10,92 1,84<br />

2003 32,50 14,00 2,32<br />

2004 31,36 20,00 1,57<br />

2005 21,09 20,00 1,05<br />

2006 20,23 22,00 0,92<br />

2007 21,23 22,00 0,97<br />

2008 30,32 22,00 1,38<br />

2009 27,78 25,80 1,08<br />

2010 27,08 25,80 1,05<br />

Quadro 1 - Médias anuais dos preços nominais <strong>de</strong> mercado para o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, preço mínimo nominal anual e<br />

relação preço <strong>de</strong> mercado/preço mínimo.<br />

Fonte: Dados da pesquisa.<br />

1) Preço mínimo: CONAB (2010b).<br />

2) Preço <strong>de</strong> mercado: Instituto Rio Gran<strong>de</strong>nse do Arroz - IRGA (2011).<br />

Uma limitação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> <strong>com</strong>paração é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o preço médio ter ficado acima<br />

do mínimo na média do ano e os preços s<strong>em</strong>anais ou mensais ter<strong>em</strong> permanecido abaixo do mínimo<br />

durante boa parte do ano, <strong>com</strong>o ocorreu <strong>em</strong> 2005 e 2010, e justamente na segunda meta<strong>de</strong> do ano,<br />

período <strong>de</strong> entressafra, quando os produtores esperam preços maiores. É o caso <strong>de</strong> 2010, <strong>em</strong> que no<br />

segundo s<strong>em</strong>estre do ano os produtores <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca do Rio Gran<strong>de</strong> experimentaram


momentos difíceis para <strong>com</strong>ercializar o produto, pois, os preços <strong>de</strong> mercado têm permanecido<br />

abaixo do preço mínimo <strong>de</strong> referência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outubro. Nesse período, os produtores e suas<br />

cooperativas têm pressionado o Governo para garantir maior apoio à <strong><strong>com</strong>ercialização</strong>. O preço<br />

mínimo garantido pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral é um seguro que o Governo oferece aos produtores. Porém,<br />

o que têm ocorrido é que, esse seguro, por probl<strong>em</strong>as operacionais ou por falta <strong>de</strong> recursos, não t<strong>em</strong><br />

chegado ao mercado <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po hábil.<br />

No RS a estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> mais utilizada pelos produtores é colocar o produto<br />

<strong>em</strong> armazéns <strong>de</strong> terceiros, que muitas vezes pertenc<strong>em</strong> às indústrias beneficiadoras, s<strong>em</strong> fechar<br />

contrato <strong>de</strong> venda; neste caso, os produtores assum<strong>em</strong> o risco <strong>de</strong> mercado (associado à possível<br />

queda dos preços), <strong>de</strong>vendo ainda arcar <strong>com</strong> os custos <strong>de</strong> armazenag<strong>em</strong> – estratégia que onerou o<br />

produtor <strong>em</strong> 2010. Essa estratégia <strong>de</strong> postergar a venda <strong>de</strong> <strong>arroz</strong>, no ano <strong>de</strong> 2010, foi pautada<br />

principalmente na prorrogação das parcelas <strong>de</strong> custeio. Ocorre que, <strong>em</strong> anos <strong>em</strong> que os preços não<br />

reag<strong>em</strong>, esse adiamento da venda po<strong>de</strong> ser muito arriscado, pois os preços ten<strong>de</strong>m a continuar<br />

caindo e, num futuro próximo, o produtor além <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r a preços menores, ainda terá que arcar<br />

<strong>com</strong> a dívida que foi postergada.<br />

Ao escolher (tentar prever) o melhor momento para <strong>com</strong>ercializar seu produto, o produtor<br />

<strong>de</strong>ve levar <strong>em</strong> conta, além das informações dos preços dos anos anteriores também as condições <strong>de</strong><br />

oferta e <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda do ano corrente e para o próximo ano, pois são informações que po<strong>de</strong>m afetar<br />

o preço no futuro. O que ocorreu <strong>em</strong> 2010 foi uma expectativa <strong>de</strong> que os preços seriam melhores<br />

durante o ano, pois <strong>em</strong> janeiro/10 esperava-se uma redução da oferta mundial do grão. Porém, ao<br />

longo do ano, foram confirmadas expectativas <strong>de</strong> aumento da produção brasileira e aumento dos<br />

estoques, públicos e privados, além <strong>de</strong> aumento das importações do MERCOSUL.<br />

Diante da expectativa <strong>de</strong> preços melhores para a entressafra os produtores seguraram as<br />

vendas durante a safra e mantiveram-se retraídos na entressafra, pois os preços não reagiam e a<br />

prorrogação das parcelas <strong>de</strong> custeio aliviava a pressão <strong>de</strong> se fazer caixa por parte do produtor. O<br />

Quadro <strong>de</strong> Suprimentos – Quadro 2 mostra que aparent<strong>em</strong>ente não havia motivos para que os<br />

preços caíss<strong>em</strong> tanto, já que o estoque final para a safra 2009/10 ficaria <strong>em</strong> um nível baixo,<br />

<strong>com</strong>parativamente aos anos anteriores, <strong>em</strong> que os preços foram mais r<strong>em</strong>uneradores. Porém, diante<br />

<strong>de</strong> uma expectativa <strong>de</strong> que a produção para a safra 2010/2011 seria suficiente para aten<strong>de</strong>r ao<br />

consumo <strong>de</strong> mercado e po<strong>de</strong>ndo ainda contar <strong>com</strong> importações do MERCOSUL, mesmo a preços<br />

<strong>de</strong> parida<strong>de</strong> superiores aos observados no mercado local na entressafra <strong>de</strong> 2010 – Figura 3, as<br />

indústrias passaram a pressionar ainda mais por concessões <strong>de</strong> preços na hora da <strong>com</strong>pra. O que se<br />

viu ao final <strong>de</strong> 2010 e início <strong>de</strong> 2011 (até março) foram preços cada vez menores ao passar das<br />

s<strong>em</strong>anas.


Safra Estoque Inicial Produção Importação Suprimento Consumo Exportação Estoque Final Estoque final/Consumo<br />

2004/05 2.728 13.355 728 16.811 12.900 380 3.531 27%<br />

2005/06 3.532 11.972 828 16.332 13.000 452 2.880 22%<br />

2006/07 2.879 11.316 1070 15.265 12.930 313 2.022 16%<br />

2007/08 2.022 12.160 590 14.772 12.500 790 1.482 12%<br />

2008/09 1.481 12.702 908 15.091 12.550 894 1.647 13%<br />

2009/10 1<br />

1.647 11.661 1.100 14.408 12.600 600 1.208 10%<br />

2010/11 2<br />

1.208 12.831 800 14.839 12.600 600 1.639 13%<br />

Quadro 2 – Suprimento do mercado brasileiro <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca – <strong>em</strong> mil toneladas<br />

Fonte: Brasil, 2011<br />

1 – Estimativa<br />

2 – Previsão<br />

R$/saca<br />

33,00<br />

32,00<br />

31,00<br />

30,00<br />

29,00<br />

28,00<br />

27,00<br />

26,00<br />

25,00<br />

24,00<br />

23,00<br />

22,00<br />

21,00<br />

20,00<br />

Preço parida<strong>de</strong> importação<br />

jul/10 ago/10 set/10 out/10 nov/10 <strong>de</strong>z/10<br />

Argentina Uruguai RS<br />

Figura 3 – Preços <strong>de</strong> parida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importação – Brasil/Argentina, Brasil/Uruguai e Preço do<br />

<strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca no RS – médias mensais <strong>em</strong> R$/saca <strong>de</strong> 50 quilos.<br />

Fonte: CONAB, 2011.<br />

3. METODOLOGIA<br />

Nesta seção é apresentada a formulação teórica dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> previsão. Essa formulação<br />

está centrada no <strong>de</strong>senvolvimento dos mo<strong>de</strong>los ARIMA, formulados por Box e Jenkis (1976) e na<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>com</strong>ponentes sazonais que precisam ser incluídos no mo<strong>de</strong>lo, além dos dados<br />

necessários à mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> do probl<strong>em</strong>a.<br />

3.1 Mo<strong>de</strong>los ARIMA<br />

Os mo<strong>de</strong>los ARIMA (Auto-regressivo-Integrado-Média Móvel), foram inicialmente<br />

formulados por Box e Jenkis (1976). Essa metodologia consiste <strong>em</strong> ajustar mo<strong>de</strong>los auto-<br />

regressivos integrados <strong>de</strong> média móvel - ARIMA (p, d, q). É possível que uma série não-<br />

estacionária possa tornar-se estacionária diferenciando-a certo número <strong>de</strong> vezes. Assim, uma série


t<strong>em</strong>poral não estacionária po<strong>de</strong> ser mo<strong>de</strong>lada a partir <strong>de</strong> d diferenciações, da inclusão <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>ponentes auto-regressivos (AR) e <strong>de</strong> média móvel (MA).<br />

Portanto, um processo t Y po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito através da mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> ARIMA (p, d, q) <strong>com</strong>o:<br />

d<br />

φ ( )( 1−<br />

B ) Y = θ ( B)<br />

at<br />

(1)<br />

p<br />

B t q<br />

Na equação (1) φ (B)<br />

= 1-φB -... -<br />

p<br />

p<br />

φ p B é o operador auto-regressivo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m p AR(p);<br />

θ (B)<br />

= 1-θ B-... -θ<br />

é o operador <strong>de</strong> média móvel <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m q MA(q); at é um termo ruído<br />

q<br />

branco on<strong>de</strong>:<br />

q<br />

q B<br />

E (at)=0 ∀ t ;<br />

2<br />

Var (at)= σ a∀t<br />

∀ t e<br />

COV (at, as)=0 para s ≠ t);<br />

e, d é a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> integração da série.<br />

Uma série s<strong>em</strong> <strong>com</strong>ponente <strong>de</strong>terminístico, representada por um processo ARMA,<br />

estacionária e invertível po<strong>de</strong> tornar-se estacionária após d diferenças. Neste caso, diz-se que a série<br />

é integrada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m d – I(d).<br />

A construção do mo<strong>de</strong>lo é <strong>base</strong>ada num ciclo iterativo, no qual a escolha da estrutura do<br />

mo<strong>de</strong>lo é <strong>base</strong>ada nos próprios dados. As etapas do ciclo são:<br />

1) I<strong>de</strong>ntificação: o objetivo é <strong>de</strong>terminar os valores p, d, e q do mo<strong>de</strong>lo ARIMA (p,d,q).<br />

Proce<strong>de</strong>-se aos testes <strong>de</strong> raiz unitária <strong>de</strong> para avaliar se trata-se <strong>de</strong> uma série estacionária e verifica-<br />

se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciá-la para torná-la estacionária. O teste <strong>de</strong> hipótese realizado para testar<br />

a estacionarieda<strong>de</strong> das séries é <strong>base</strong>ado nas distribuições que constam <strong>de</strong> Dickey & Fuller (1979),<br />

Dickey & Fuller (1981), Fuller (1976) (apud En<strong>de</strong>rs, 2004). Determina-se os valores <strong>de</strong> p e q <strong>com</strong><br />

<strong>base</strong> na análise das funções <strong>de</strong> auto-correlação e auto-correlação parcial. Para se <strong>de</strong>terminar o<br />

número <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens (p), alguns critérios <strong>com</strong>o <strong>de</strong> Akaike (Akaike Information Criterion – AIC) e<br />

Schwarz (Schwartz Bayesian Criterion – SBC) e o Teste Q <strong>de</strong> L-Jung e Box são ferramentas<br />

importantes;<br />

2) Estimação: os parâmetros do mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>ntificado são estimados e examinados. Uma idéia<br />

fundamental no <strong>de</strong>senvolvimento Box-Jenkis é o princípio da parcimônia. O pesquisador <strong>de</strong>ve estar<br />

atendo para o fato <strong>de</strong> que incorporar coeficientes adicionais aumenta o valor da estimativa do R 2 ao<br />

custo <strong>de</strong> reduzir os graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>;


esíduos.<br />

3) Verificação ou checag<strong>em</strong>: diagnóstico do mo<strong>de</strong>lo ajustado através da análise dos<br />

Caso o mo<strong>de</strong>lo não seja a<strong>de</strong>quado, po<strong>de</strong>-se iniciar um novo ciclo ajustando-se outros<br />

mo<strong>de</strong>los alternativos. Para o propósito <strong>de</strong> previsão, <strong>de</strong>ve-se escolher o mo<strong>de</strong>lo que fornece o menor<br />

erro quadrático médio <strong>de</strong> previsão.<br />

As previsões obtidas <strong>com</strong> mo<strong>de</strong>los ARIMA oferec<strong>em</strong> bons resultados por incorporar<strong>em</strong><br />

<strong>com</strong>ponentes <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong> e/ou tendências que permit<strong>em</strong> que seja respeitada a dinâmica das<br />

séries. Porém, a escolha do mo<strong>de</strong>lo exige muito cuidado por parte do pesquisador, pois vários<br />

mo<strong>de</strong>los po<strong>de</strong>m apresentar proprieda<strong>de</strong>s similares.<br />

3.2 Sazonalida<strong>de</strong><br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta subseção está <strong>base</strong>ado <strong>em</strong> Morettin e Toloi (2006). Seja Zt uma<br />

série t<strong>em</strong>poral <strong>com</strong> observações t = 1, ..., N. Po<strong>de</strong>-se escrever Zt <strong>com</strong>o a soma <strong>de</strong> três <strong>com</strong>ponentes<br />

não observáveis – equação (2):<br />

Zt = Tt + St + at (2)<br />

Na equação (1) Tt e St representam a tendência e a sazonalida<strong>de</strong>, respectivamente, e at é a<br />

<strong>com</strong>ponente aleatória <strong>de</strong> média zero e variância<br />

2<br />

σ a - que representa um processo estacionário. Zt é,<br />

<strong>em</strong> geral, não-estacionária. As <strong>com</strong>ponentes Tt e St são, <strong>em</strong> geral, bastante relacionadas e a<br />

influência da tendência sobre a <strong>com</strong>ponente sazonal po<strong>de</strong> ser forte. Por isso, não se <strong>de</strong>ve isolar uma<br />

das <strong>com</strong>ponentes s<strong>em</strong> tentar isolar a outra. Estimando-se Tt e St e subtraindo-se <strong>de</strong> Zt obtém-se a<br />

estimativa da <strong>com</strong>ponente aleatória at.<br />

Um procedimento utilizado para eliminar a tendência <strong>de</strong> uma séria é tomar as diferenças,<br />

conforme <strong>de</strong>finido na seção 3.1. Em geral, séries econômicas se tornam estacionárias após aplicar a<br />

primeira diferença t<strong>em</strong>poral – equação (3):<br />

∆ t = Z t − Z t−1<br />

Z (3)<br />

Se a série apresenta sazonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminística o método <strong>de</strong> regressão por mínimos<br />

quadrados po<strong>de</strong> ser utilizado para a obtenção das previsões a partir dos meses anteriores. Então, a<br />

<strong>com</strong>ponente St do mo<strong>de</strong>lo (1) po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong><strong>com</strong>posta <strong>em</strong>- equação (4):


12<br />

∑<br />

j = 1<br />

S = α d<br />

(4)<br />

t<br />

j<br />

jt<br />

on<strong>de</strong> (djt ) são variáveis períodicas – senos, co-senos ou variáveis sazonais “dummies”.<br />

α j<br />

Supondo-se sazonalida<strong>de</strong> constante, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> t, assim, djt=1, se o período t<br />

j<br />

correspon<strong>de</strong> ao mês j, j = 1, 2, ..., 12, e 0, caso contrário. Os valores estimados α são as médias<br />

mensais ou constantes sazonais.<br />

Para séries econômicas, que <strong>em</strong> geral apresentam crescimento exponencial, tomando-se os<br />

logaritmos neperianos e uma diferença t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> Zt obtém-se uma série estacionária. Então,<br />

*<br />

sendo Z t = ln Z t , o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> previsão fica – Equação (5):<br />

12<br />

*<br />

* *<br />

∆Z t = + ∑ α j d jt + a t<br />

j = 1<br />

β (5)<br />

*<br />

*<br />

Na equação (5), d jt = ∆d<br />

jt , at = ∆at<br />

. A equação (5) po<strong>de</strong> ser reescrita <strong>com</strong>o:<br />

12<br />

*<br />

*<br />

∆Z t = β + ∑ δ jd<br />

jt + at<br />

j=<br />

1<br />

δ j j<br />

on<strong>de</strong>, =<br />

3.3 Dados<br />

α α j−1<br />

- e δ 1 α 1 − α 12<br />

= .<br />

A série <strong>de</strong> dados utilizada é a série do Indicador <strong>de</strong> Preços do Arroz <strong>em</strong> casca divulgada pelo<br />

Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>em</strong> Economia Aplicada da Escola Superior <strong>de</strong> Agricultura “Luiz <strong>de</strong><br />

Queiroz” da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – CEPEA-ESALQ/USP. Os preços são consi<strong>de</strong>rados <strong>em</strong><br />

saca <strong>de</strong> 50 quilos e foram <strong>de</strong>flacionados para preços <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010. O <strong>de</strong>flator utilizado foi o<br />

Índice Geral <strong>de</strong> Preços – Disponibilida<strong>de</strong> Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas - FGV<br />

(2011). Esta série é a referência <strong>de</strong> preços do <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca – 58% <strong>de</strong> grãos inteiros para o estado<br />

do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

A Figura 4 mostra o <strong>com</strong>portamento da série mensal do Indicador <strong>de</strong> preços do <strong>arroz</strong> <strong>em</strong><br />

casca que representa o preço médio do mercado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Observa-se que o maior<br />

valor (<strong>em</strong> Reais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010) foi praticado <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2008 – R$39,52/saca. Esses preços<br />

vinham na casa dos R$20,00 <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2005 e, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006 apresentaram pico <strong>de</strong><br />

^


R$32,42. Já, <strong>em</strong> 2010, o pico se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> janeiro – R$35,29 a saca, a partir <strong>de</strong> então os preços<br />

seguiram <strong>em</strong> queda chegando a R$24,76 <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro.<br />

R$ /saca<br />

45,00<br />

40,00<br />

35,00<br />

30,00<br />

25,00<br />

20,00<br />

15,00<br />

10,00<br />

5,00<br />

0,00<br />

39,52<br />

35,29<br />

jul/05<br />

out/05<br />

jan/06<br />

abr/06<br />

jul/06<br />

out/06<br />

jan/07<br />

abr/07<br />

jul/07<br />

out/07<br />

jan/08<br />

abr/08<br />

jul/08<br />

out/08<br />

jan/09<br />

abr/09<br />

jul/09<br />

out/09<br />

jan/10<br />

abr/10<br />

jul/10<br />

out/10<br />

24,76<br />

Figura 4 – Preços <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca (58% <strong>de</strong> grãos inteiros) para o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul – <strong>em</strong><br />

Reais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010.<br />

Fonte: CEPEA, 2011.<br />

A Figura 5 a seguir ajuda a explicar porque os produtores <strong>de</strong> <strong>arroz</strong> têm expectativas <strong>de</strong> preço<br />

elevado no mês <strong>de</strong> outubro. Em média, é o mês que apresenta o maior preço. Janeiro também é um<br />

mês <strong>em</strong> que os preços são elevados. As médias mensais dos últimos cinco anos mostram que os<br />

preços se reduz<strong>em</strong> durante os meses <strong>de</strong> fevereiro e março quando então, voltam a se elevar,<br />

atingindo pico <strong>de</strong> valorização no mês <strong>de</strong> outubro. Porém, o ano <strong>de</strong> 2010 contrariou a expectativa<br />

evi<strong>de</strong>nciando a incerteza <strong>de</strong>sse <strong>com</strong>portamento; nesse ano, o pico se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> janeiro e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então,<br />

os preços segu<strong>em</strong> <strong>em</strong> queda.


R$/saca<br />

32,00<br />

31,00<br />

30,00<br />

29,00<br />

28,00<br />

27,00<br />

26,00<br />

25,00<br />

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez<br />

Figura 5 – Médias mensais do preço do <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca (58% <strong>de</strong> grãos inteiros) para o Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul – <strong>em</strong> Reais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010.<br />

Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do CEPEA.<br />

Levando-se <strong>em</strong> conta que o período <strong>de</strong> agosto até janeiro é o mais favorável <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

preços para o produtor adotou-se, neste estudo, três estratégias <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong>. Numa,<br />

consi<strong>de</strong>ra-se que no fim da safra, no mês <strong>de</strong> julho, o produtor tome a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> armazenar o<br />

produto e esperar para ven<strong>de</strong>r nos meses <strong>de</strong> agosto a janeiro, quando acredita que os preços serão<br />

melhores, para tanto, ajustou-se o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> previsão <strong>de</strong> preços para se obter previsões fora da<br />

amostra 6 passos à frente a partir <strong>de</strong> agosto. Na segunda estratégia o produtor reavalia mensalmente<br />

se trata-se do melhor momento para ven<strong>de</strong>r seu produto, neste caso, <strong>com</strong>para-se os valores reais<br />

<strong>com</strong> previsões um passo a frente para os meses <strong>de</strong> agosto até janeiro – período <strong>de</strong> entressafra. Na<br />

terceira estratégia consi<strong>de</strong>ra-se que o produtor fixaria o preço <strong>em</strong> R$30,00/saca, na expectativa <strong>de</strong><br />

que esse valor fosse atingido até janeiro.<br />

Antes <strong>de</strong> iniciar as previsões atreladas às estratégias <strong>de</strong>finidas anteriormente, foram<br />

utilizados alguns procedimentos para <strong>de</strong>finir o “melhor” mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> previsão. O primeiro passo foi<br />

<strong>de</strong>tectar a presença raiz unitária na série, uma vez que vários mo<strong>de</strong>los da classe SARIMA foram<br />

testados. O Teste <strong>de</strong> Dickey e Fuller Aumentado indicou a existência <strong>de</strong> uma raiz unitária. As<br />

funções <strong>de</strong> auto correlação e auto correlação parcial foram analisadas e indicaram a presença <strong>de</strong><br />

sazonalida<strong>de</strong> na série. O ajuste do mo<strong>de</strong>lo aos dados (menor erro <strong>de</strong> previsão) e previsões <strong>de</strong>ntro da<br />

amostra para a entressafra <strong>de</strong> 2008 indicaram que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminística<br />

(dummies mensais) <strong>com</strong> uma diferença simples seria o mais indicado – Figura 6. Consi<strong>de</strong>re-se<br />

ainda que a série sofreu uma transformação logarítmica para estabilizar a variância dos dados<br />

originais.


R$/saca<br />

54<br />

52<br />

50<br />

48<br />

46<br />

44<br />

42<br />

40<br />

38<br />

36<br />

34<br />

32<br />

30<br />

28<br />

26<br />

24<br />

22<br />

20<br />

Previsões <strong>de</strong>ntro da amostra 6 passos à frente<br />

ago/08 set/08 out/08 nov/08 <strong>de</strong>z/08 jan/09<br />

Previsão Valor observado limite inferior limite superior<br />

Figura 6: Testando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> previsão - Previsões <strong>de</strong>ntro da amostra para a entressafra <strong>de</strong><br />

2008. – previsões 6 passos à frente a partir <strong>de</strong> agosto/08.<br />

Com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> previsão ajustado proce<strong>de</strong>u-se às previsões fora da amostra para a<br />

entressafra <strong>de</strong> 2010. O objetivo é ilustrar a estratégia <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir as previsões para os preços do<br />

<strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca na entressafra <strong>de</strong> 2010 (agosto até janeiro/11) consi<strong>de</strong>rando-se a evolução dos<br />

preços <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2005 até julho <strong>de</strong> 2010. Neste caso, as previsões, assim <strong>com</strong>o a média histórica,<br />

indicaram que os melhores preços se dariam <strong>em</strong> outubro e <strong>de</strong>pois <strong>em</strong> janeiro – Figura 7. Porém, o<br />

valor <strong>de</strong> R$30,00 não aparece <strong>com</strong>o mais provável (média das previsões) <strong>em</strong>bora esteja <strong>de</strong>ntro do<br />

intervalo <strong>de</strong> confiança superior (otimista). Ocorre que <strong>em</strong> 2010, difrent<strong>em</strong>ente do que ocorreu nos<br />

anos anteriores, quando o mo<strong>de</strong>lo ficou b<strong>em</strong> ajustado e além <strong>de</strong> apresentar um pequeno erro <strong>de</strong><br />

previsão o mo<strong>de</strong>lo indicava b<strong>em</strong> o sentido da evolução (aumento ou queda) dos preços, enquanto o<br />

mo<strong>de</strong>lo indicava alta a partir <strong>de</strong> agosto o que se viu no mercado foram preços <strong>em</strong> queda durante<br />

todos os 6 meses posteriores.<br />

R$/saca<br />

44<br />

42<br />

40<br />

38<br />

36<br />

34<br />

32<br />

30<br />

28<br />

26<br />

24<br />

22<br />

20<br />

Previsões fora da amostra 6 passos à frente<br />

ago/10 set/10 out/10 nov/10 <strong>de</strong>z/10 jan/11<br />

Previsão Valor observado limite inferior limite superior


Figura 7: Previsões do preço <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca para os meses se agosto/ 2010 até janeiro/2011<br />

– previsões 6 passos à frente.<br />

A Figura 8 ilustra a estratégia <strong>de</strong> reavaliar mês a mês a evolução dos preços incorporando as<br />

novas informações na previsão. Comparando-se as figuras 7 e 8 é possível observar que a estratégia<br />

<strong>de</strong> reavaliar a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> venda mês a mês, ou seja, a<strong>com</strong>panhar os movimentos do mercado durante<br />

o período <strong>em</strong> que o produtor preten<strong>de</strong> realizar a venda (efetivar o negócio) fornece previsões mais<br />

ajustadas (mais próximas do que realmente ocorre no mercado. Isso porque o erro <strong>de</strong> previsão<br />

aumenta <strong>com</strong> o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po que é incorporado na análise, aumentando o risco <strong>de</strong> resultado<br />

<strong>de</strong>sfavorável na hora da venda.<br />

R$/Saca<br />

36<br />

34<br />

32<br />

30<br />

28<br />

26<br />

24<br />

22<br />

20<br />

Previsões 1 passo à frente<br />

ago/10 set/10 out/10 nov/10 <strong>de</strong>z/10 jan/11<br />

Previsão Valor observado limite inferior limite superior<br />

Figura 8: Previsões preço <strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca para os meses se agosto/ 2010 até janeiro/2011 –<br />

previsões 1 passos à frente.<br />

É possível <strong>com</strong>parar o resultado das três estratégias <strong>de</strong>finidas, previsões 6 passos à frente,<br />

um passo à frente e preço fixo <strong>em</strong> R$30,00, através da <strong>com</strong>paração entre o valor obtido pelas<br />

previsões (esperado) e o efetivo valor <strong>de</strong> mercado. A diferença entre o valor esperado e o efetivo<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida <strong>com</strong>o o risco da estratégia adotada e quanto mais negativo o valor <strong>de</strong>ssa diferença,<br />

maior o risco, ou seja, maior a perda associada à estratégia dotada pelo produtor. Na figura 9 ilustra-<br />

se o risco associado a cada estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> consi<strong>de</strong>rada – na primeira, o produdor<br />

tomaria a <strong>de</strong>cisão no fim da safra (mês <strong>de</strong> julho) para toda a entressafra <strong>base</strong>ado nas previsões <strong>de</strong><br />

preços 6 passos a frente; na segunda estratégia ocorre a reavaliação da previsão do preço mês a mês,<br />

nesse caso, o produtor estaria atento às novas informações e condições <strong>de</strong> mercado, incorporando-as<br />

nas previsões <strong>de</strong> preços; e, a terceira estratégia refere-se à fixação <strong>de</strong> um preço (target) <strong>com</strong> a<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não ven<strong>de</strong>r abaixo do preço estipulado <strong>em</strong> R$30,00 a saca. Observa-se que a estratégia


<strong>de</strong> fixar um preço é muito mais onerosa e, quanto maior o preço esperado (fixado pelo produtor)<br />

maior po<strong>de</strong> ser a perda associada <strong>com</strong> a estratégia, uma vez o produtor po<strong>de</strong> ter que ven<strong>de</strong>r seu<br />

produto b<strong>em</strong> abaixo do preço <strong>de</strong>sejado, o que <strong>de</strong> fato ocorreu <strong>em</strong> 2010.<br />

R$/saca<br />

1,00<br />

0,00<br />

-1,00<br />

-2,00<br />

-3,00<br />

-4,00<br />

-5,00<br />

-6,00<br />

-7,00<br />

-8,00<br />

Comparação entre as estratégias <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong><br />

ago/10 set/10 out/10 nov/10 <strong>de</strong>z/10 jan/11<br />

Define preço <strong>em</strong> julho Define preço mês a mês Fixa preço <strong>em</strong> R$30,00<br />

Figura 9 – Risco associado às três estratégias <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong>.<br />

4. CONCLUSÃO<br />

Responsável por 60% da produção nacional, o produtor gaúcho é o mais afetado pelas<br />

oscilações no mercado <strong>de</strong> <strong>arroz</strong>. O produtor espera que os preços sejam melhores no período da<br />

entressafra, especialmente no mês <strong>de</strong> outubro, <strong>em</strong> que os preços ten<strong>de</strong>m a ser maiores, <strong>em</strong> média.<br />

Porém, esse <strong>com</strong>portamento po<strong>de</strong> não ocorrer <strong>em</strong> todos os anos, <strong>com</strong>o aconteceu <strong>em</strong> 2005 e 2010,<br />

trazendo riscos ao produtor que t<strong>em</strong> <strong>com</strong>o estratégia concentrar a venda na entressafra ou <strong>de</strong>ixar<br />

para ven<strong>de</strong>r apenas no mês <strong>de</strong> outubro.<br />

Em 2010, os preços foram maiores no mês <strong>de</strong> janeiro. Nesse mês, a preços <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong><br />

2010, os preços chegaram a R$35,29. A partir <strong>de</strong> então seguiram <strong>em</strong> queda chegando a <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro<br />

<strong>em</strong> R$24,16. O produtor que <strong>de</strong>ixou para ven<strong>de</strong>r no segundo s<strong>em</strong>estre viu os preços cada vez mais<br />

<strong>de</strong>preciados. No último trimestre do ano, o Governo Fe<strong>de</strong>ral atuou através do PEP (que não surtiu o<br />

resultado esperado) e através do adiamento das parcelas do custeio, o que ajudou a pressionar ainda<br />

mais os preços no início <strong>de</strong> 2011, quando os produtores tiveram que liberar seus silos para estocar o<br />

<strong>arroz</strong> da nova safra.<br />

Os resultados do estudo mostraram que a melhor estratégia <strong>de</strong> <strong><strong>com</strong>ercialização</strong> seria<br />

a<strong>com</strong>panhar o mercado antes <strong>de</strong> tomar as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> venda – estratégia que apresentou a menor


diferença entre a previsão e o efetivo valor <strong>de</strong> mercado. Já, fixar um preço e esperar que o mesmo<br />

se confirme no mercado é uma estratégia que oferece o maior risco (valores mais negativos),<br />

principalmente <strong>em</strong> anos <strong>de</strong> oferta elevada.<br />

Ao tentar prever o melhor momento para <strong>com</strong>ercializar seu produto, o produtor <strong>de</strong>ve levar<br />

<strong>em</strong> conta, além das informações dos preços anteriores também as condições <strong>de</strong> oferta e <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda<br />

do ano corrente e para o próximo ano, pois são informações que po<strong>de</strong>m afetar o preço no futuro. O<br />

que ocorreu <strong>em</strong> 2010 foi uma expectativa <strong>de</strong> que os preços seriam melhores durante o ano. Porém,<br />

ao longo do ano, foram confirmadas as expectativas <strong>de</strong> aumento da produção brasileira e aumento<br />

dos estoques, públicos e privados, além das importações ter<strong>em</strong> impactado negativamente nos preços<br />

levando-os a quedas durante todo o ano. Baseados <strong>em</strong> expectativas <strong>de</strong> preços melhores para o<br />

segundo s<strong>em</strong>estre os produtores postergaram as vendas, já que pu<strong>de</strong>ram contar <strong>com</strong> o adiamento<br />

das parcelas do custeio e na expectativa <strong>de</strong> que o governo utiliza-se seus instrumentos <strong>de</strong> política<br />

agrícola para conter a queda dos preços. Porém, a atuação do governo não surtiu o efeito esperado,<br />

os preços continuaram caindo e aquele produtor que segurou seu produto durante todo o ano teve<br />

que ven<strong>de</strong>r a preços mais baixos no fim do ano, além <strong>de</strong> arcar <strong>com</strong> os custos <strong>de</strong> armazenamento<br />

durante todo o ano. Embora a série histórica mostre que <strong>em</strong> média os preços são maiores a partir <strong>de</strong><br />

julho, há risco <strong>de</strong> que <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado ano as expectativas não se confirm<strong>em</strong>. Foi o que<br />

aconteceu <strong>em</strong> 2010, on<strong>de</strong> fatores <strong>com</strong>o estoques <strong>em</strong> níveis altos e a perspectiva <strong>de</strong> uma boa safra<br />

para 2010/2011 pesaram na <strong>de</strong>cisão das indústrias que pressionaram o ano todo para que os preços<br />

se reduziss<strong>em</strong>.<br />

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS<br />

ADAMI, A. C. O; BARROS, G. S.A. C; BACCHI, M. R. P. Política <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> preços para o<br />

<strong>arroz</strong> <strong>em</strong> casca do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: curto ou longo prazo? In: XLV CONGRESSO DA<br />

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ADAMI, A.C.O. Contratos <strong>de</strong> opção: análise do potencial <strong>de</strong> sustentação <strong>de</strong> preços para o<br />

mercado <strong>de</strong> <strong>arroz</strong>. 2005. 117 p. Dissertação (Mestrado <strong>em</strong> Economia Aplicada) – Escola Superior<br />

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2006. 2 edição

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