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Arquivo PDF - Universidade Anhembi Morumbi

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI<br />

Ana Rita Valverde Peroba<br />

Design Social: um caminho para o designer de Moda?<br />

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO<br />

MESTRADO EM DESIGN<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

STRICTO SENSU<br />

São Paulo, março/2008


UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI<br />

Ana Rita Valverde Peroba<br />

Design Social: um caminho para o designer de Moda?<br />

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO<br />

Dissertação apresentada ao<br />

Programa de Pós-Graduação<br />

Stricto Sensu em Design -<br />

Mestrado, da <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong>, como<br />

requisito parcial para obtenção<br />

do título de Mestre em Design.<br />

Orientadora: Profa. Dra. Rosane Preciosa<br />

São Paulo, março/2008


UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI<br />

Ana Rita Valverde Peroba<br />

Design Social: um caminho para o designer de Moda?<br />

Dissertação apresentada ao<br />

Programa de Pós-Graduação<br />

Stricto Sensu em Design -<br />

Mestrado, da <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong>, como<br />

requisito parcial para obtenção<br />

do título de Mestre em Design.<br />

Aprovada pela seguinte Banca<br />

Examinadora:<br />

Profa. Dra. Rosane Preciosa<br />

Orientadora<br />

Mestrado em Design <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong><br />

Profa. Dra. Suzana Avellar<br />

Fundação Armando Álvares Penteado<br />

Centro Universitário Belas Artes<br />

Profa. Dra. Claudia Marinho<br />

Mestrado em Design <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong><br />

Prof. Dr. Jofre Silva<br />

Mestrado em Design <strong>Anhembi</strong> <strong>Morumbi</strong><br />

São Paulo, março/2008


Todos os direitos reservados. É proibida a<br />

reprodução total ou parcial do trabalho<br />

sem autorização da <strong>Universidade</strong>, do<br />

autor e do orientador.<br />

Ana Rita Valverde Peroba<br />

Graduada em desenho industrial<br />

habilitação em programação visual pela<br />

<strong>Universidade</strong> Federal de Pernambuco.<br />

Professora dos cursos de Tecnologia em<br />

Design de Moda da Faculdade Senac<br />

Pernambuco e da Faculdade Maurício de<br />

Nassau. Atua principalmente com o<br />

seguinte tema de pesquisa: Design<br />

Social.<br />

Ficha Catalográfica<br />

Peroba, Ana Rita Valverde<br />

Design Social um caminho para o<br />

designer de moda? São Paulo, 2008.<br />

103 p.<br />

Dissertação apresentada ao programa de<br />

Mestrado Stricto Sensu da <strong>Universidade</strong> <strong>Anhembi</strong><br />

<strong>Morumbi</strong>.<br />

Área de concentração: Design, Arte e<br />

Tecnologia.<br />

Orientadora: Profa. Dra. Rosane Preciosa<br />

1. Design Social. 2. Responsabilidade Social.<br />

3. Sustentabilidade. 4. Artesanato.<br />

5. Projeto Sistêmico. I título.<br />

CDU: 391.


DEDICATÓRIA<br />

Dedico esta dissertação aos meus pais Lília (in memoriam) e<br />

Luis, que sempre incentivaram a busca pelo conhecimento.


AGRADECIMENTOS<br />

Made in Recife<br />

A minha madrinha Fafá, pelos bons conselhos.<br />

As colegas da Especialização<br />

Carmem Valente<br />

Adélia Collier<br />

Mara Ayub<br />

pelo incentivo e dicas valiosas.<br />

A minha irmã Emanuela, por sempre segurar as pontas.<br />

Made in São Paulo<br />

Aos colegas da primeira turma do mestrado em Design:<br />

Lu, Junia, Mercedes, Vera, Eli, Elo, Valéria, Mércia, Zé,<br />

Geraldo, Marcelo, Flavio, Gui,<br />

Gu (saudades hipermidiáticas) e<br />

meu eterno presidente Rabib!<br />

Aos professores Ana Mae, Claudia, Gisela, Vânia e Mauro.<br />

Aos meus amigos Suzane e Daniel, que me acolheram<br />

com o jeito pernambucano na capital paulista.<br />

Ao paulista João, pelas caronas e amizade que se<br />

transformaram em dedicação e amor.<br />

A profa. Suzana Avellar, pelas entrevistas e<br />

disponibilidade.<br />

A Silvia Sasaoka pela receptividade.<br />

A todos os funcionários do campus <strong>Morumbi</strong>, em especial<br />

à direção.<br />

À coordenação do Mestrado.<br />

À Rosane A Preciosa, pelo afeto das broncas, pela<br />

paciência de anjo, pela dedicação. Sem ela(s) eu não teria<br />

conseguido chegar ao fim.


You have to make up your mind either to make sense<br />

or to make money, if you want to be a designer.<br />

Buckminster Fuller


Design Social: um caminho para o designer de Moda?<br />

Palavras-chave: Design Social. Responsabilidade Social.<br />

Sustentabilidade. Artesanato. Projeto sistêmico.<br />

Resumo<br />

O design, ao optar por projetos que adotem uma<br />

abordagem social, distanciando-se de um modelo<br />

exclusivamente voltado para o mercado, pode contribuir<br />

para modificar práticas sociais, culturais e econômicas de<br />

pequenas comunidades artesãs.<br />

O pressuposto desta dissertação é discutir a importância do<br />

papel social do designer no contemporâneo. Ao ativar o<br />

potencial criativo dessas comunidades e auxiliar no<br />

fortalecimento de vínculos entre seus membros, é capaz de<br />

gerar produtos coletivos que inauguram novas formas de<br />

existência auto-sustentáveis nestas comunidades. Em<br />

contrapartida, essa comunidade responde a esse diálogo e<br />

também é capaz de oferecer, a esse profissional de design,<br />

mudanças significativas em seu repertório criativo-<br />

projetual. A partir desse processo, as comunidades tornam-<br />

se independentes, aprendem a dar continuidade ao seu<br />

fazer artesanal, fortalecendo suas raízes através das<br />

inovações propostas.<br />

O projeto A mão na Moda, desenvolvido pelo designer de<br />

moda Walter Rodrigues em parceria com as rendeiras do<br />

Piauí, comparece nesta dissertação, configurando-se como<br />

um exemplo consolidado dessa abordagem social do<br />

design.


Key words: Social Design. Social Responsibility.<br />

Sustainability. Craftwork. Systemic Projects.<br />

Abstract<br />

The design while opting for projects that adopt a social<br />

approach, being distanced of a model exclusively turned to<br />

the market, can contribute in order that craftsmen modify<br />

social, cultural and economical practices of small communities.<br />

The presupposition of this dissertation is to discuss the<br />

importance of the social paper of the designer in the<br />

contemporary. While activating the creative potential of these<br />

communities and auxiliary in the strengthening of bonds<br />

between his members, it is able to produce collective products<br />

that inaugurate the new auto-sustainable forms of existence<br />

in these communities. In counterentry, this community<br />

responds to this dialog and also it is able to offer, to this<br />

professional of design, significant changes in his creative<br />

repertoire - projetual. From this process, the communities<br />

become independent, learn to give continuity to own way to<br />

do craft, strengthening his roots through the proposed<br />

innovations.<br />

The project A mão na Moda, developed by the fashion<br />

designer Walter Rodrigues in partnership with the lace-<br />

makers of the Piauí, Brasil. Appears in this dissertation, being<br />

shaped like a consolidated example of this social approach of<br />

the design.


SUMÁRIO<br />

1.0 Palavras iniciais<br />

2.0 O Movimento Arts & Crafts e sua atualidade<br />

2.1 O papel Designer ontem<br />

2.2 Concepção artesanal e concepção industrial<br />

2.2.1 Concepção digital<br />

3.0 O que é Design Social<br />

3.1 O papel da Sustentabilidade no Contemporâneo<br />

3.1.1 A questão ecológica<br />

3.1.2 Inclusão Social<br />

3.1.3 Responsabilidade Social e Responsabilidade Social<br />

Corporativa(RSC)<br />

3.2 Uma Abordagem Sistêmica<br />

4.0 A Mão na Moda - Relato de uma experiência<br />

5.0 Considerações finais<br />

Epílogo<br />

6.0 Referências Bibliográficas<br />

Apêndices<br />

p. 15<br />

p. 23<br />

p. 28<br />

p. 32<br />

p. 36<br />

p. 41<br />

p. 48<br />

p. 50<br />

p. 60<br />

p. 63<br />

p. 70<br />

p. 79<br />

p. 91<br />

p. 94<br />

p. 95


LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

Imagens do entorno da fábrica ACTEX - Recife - PE<br />

John Heskett<br />

Victor e Sylvia Margolin<br />

Pevsner<br />

Exposição A mão na Moda<br />

Papel de parede William Morris<br />

William Morris<br />

John Ruskin<br />

Rafael Cardoso<br />

AWN Pugin<br />

Palácio de Cristal<br />

Henry Cole<br />

Edwin Maxwell Fry<br />

Tierry Kazazian<br />

Pegada na areia<br />

Aloísio Magalhães<br />

a<br />

Prédio da ESDI- 1 Escola Supeior de Design do Brasil<br />

Vilém Flusser<br />

Logo da Rio Eco-92<br />

Carlo Vezzoli<br />

Klaus Krippendorf<br />

Sérgio Sena<br />

Heliana Pacheco<br />

Rachel Cooper<br />

Nigel Whitley<br />

Capas das edições do livro Design for The Real World<br />

Henry Way Kendall<br />

a<br />

M Cecília Loschiavo dos Santos<br />

Ezio Manzini<br />

Gui Bonsiepe<br />

Logo do Museu A Casa<br />

Imagem da fachada do Museu A Casa<br />

Convite da Exposição A Mão na Moda<br />

Imagens da Exposição A Mão na Moda<br />

Fachada Museu do Estado de Pernambuco<br />

Produto desenvolvido em parceria<br />

Estudantes de Einhoven parceria<br />

Artesão trabalhando o couro<br />

Imagens da Exposição Serrita<br />

p. 15<br />

p. 17<br />

p. 20<br />

p. 21<br />

p. 22<br />

p. 23<br />

p. 24<br />

p. 24<br />

p. 25<br />

p. 25<br />

p. 26<br />

p. 27<br />

p. 28<br />

p. 29<br />

p. 35<br />

p. 35<br />

p. 36<br />

p. 39<br />

p. 42<br />

p. 43<br />

p. 44<br />

p. 46<br />

p. 47<br />

p. 50<br />

p. 51<br />

p. 51<br />

p. 52<br />

p. 76<br />

p. 77<br />

p. 79<br />

p. 79<br />

p. 79<br />

p. 79<br />

p. 79<br />

p. 80<br />

p. 80<br />

p. 80<br />

p. 80<br />

p. 80


LISTA DE ILUSTRAÇÕES(cont.)<br />

Rendeira Trabalhando com a almofada de bilro<br />

Detalhe da almofada de bilro<br />

Detalhe da almofada de bilro<br />

Walter Rodrigues<br />

Imagem de conjunto de rendas produzidas em Morro da<br />

Mariana<br />

Imagem de conjunto de rendas produzidas em Morro da<br />

Mariana<br />

Amostra de galão de renda<br />

Amostra de renda<br />

Amostra de galão de renda<br />

Amostra de renda<br />

Vestido da coleção desenvolvida por Walter Rodrigues.<br />

Walter vestindo a manequim<br />

Detalhe de busto criado por Walter e as rendeiras<br />

Detalhe das costas criada por Walter e as rendeiras<br />

Walter vestindo a manequim<br />

Detalhe de vestido criado por Walter e as rendeiras<br />

Tag do Artesanato solidário<br />

Silvia Sassaoka<br />

Marisa Silva<br />

Imagem de uma blusa produzida antes do projeto<br />

Imagem de detalhe das costas de um vestido do projeto A<br />

mão na moda<br />

Renda do Morro da Mariana<br />

p. 82<br />

p. 82<br />

p. 82<br />

p. 84<br />

p. 84<br />

p. 84<br />

p. 85<br />

p. 85<br />

p. 85<br />

p. 85<br />

p. 86<br />

p. 87<br />

p. 87<br />

p. 87<br />

p. 87<br />

p. 87<br />

p. 88<br />

p. 88<br />

p. 89<br />

p. 90<br />

p. 90<br />

p. 93


1.0 Palavras Iniciais<br />

O trabalho como designer em indústrias de confecção na<br />

cidade do Recife, Pernambuco, me trouxe um convívio com a<br />

dinâmica sócio-cultural que existe neste microcosmo. Percebi o<br />

grande paradoxo entre os trabalhadores, funcionários das<br />

indústrias e as comunidades do entorno das fábricas. (Vide<br />

Apêndice1)<br />

Apesar da qualidade de vida assemelhada entre esses dois<br />

públicos, ainda assim, um abismo os separa. De um lado, o<br />

público interno, funcionários de carteira assinada, o<br />

denominado chão-de-fábrica no jargão da indústria, criando<br />

produtos de moda, objetos de desejo que são revendidos nos<br />

maiores e melhores magazines. De outro, os moradores da<br />

comunidade que vivem sem um sistema sanitário. Servidos por<br />

poucas escolas, sofrem a violência interna das redes de tráfico<br />

que, nos dias de hoje, dominam o local. E também vivenciam<br />

uma violência externa, porque do outro lado da rua assistem a<br />

uma vida sonhada: emprego, carteira assinada, o tão desejado<br />

salário, além de vislumbrar as escolas particulares, repletas de<br />

recursos, carros importados, mães bem cuidadas, shoppings,<br />

todo um modo de vida inatingível para a sua condição social.<br />

Os habitantes dessas comunidades pobres são tomados de<br />

uma sensação de que jamais poderão banhar-se naquelas<br />

águas.<br />

Todos os dias os dois públicos se cruzam, tendo a violência e o<br />

medo como principal forma de contato entre eles. Os<br />

trabalhadores muitas vezes são submetidos a assaltos<br />

15


constantes, a poucos passos do portão da fábrica.<br />

Diariamente exposta a esse cotidiano, fui aos poucos levada a<br />

refletir sobre o papel que o designer vem desempenhando no<br />

contemporâneo, suas relações com o mercado e a sociedade, e<br />

me perguntava como ele poderia intervir em contextos como<br />

esse, marcados por tamanha desigualdade social.<br />

Buscar respostas para essas perguntas vem sendo minha<br />

principal motivação para escrever essa dissertação. Pensar a<br />

profissão de designer numa perspectiva social, em que a<br />

1<br />

conjuntura política revela-se desfavorável ao bem-estar<br />

humano, parece ser hoje um desafio proposto a todo<br />

pesquisador dessa área de conhecimento.<br />

"Abordar problemas sociais em projetos de Design não é um tema<br />

novo. (...) Mas nos coloca mais uma vez defronte da (...)<br />

necessidade de questionamento da ordem vigente (...) e de<br />

encararmos (...) o papel do designer como um formador de opinião<br />

com um discurso ativo na produção de contribuições significativas<br />

à sociedade". (COUTO & MARTINS, 2006)<br />

A questão social sempre esteve presente desde o início da<br />

formação do design, reaparecendo agora dentro de um outro<br />

contexto sócio-político, reinserindo-se no debate neste início<br />

de século XXI, e se tornando o foco das discussões que estão<br />

sendo realizadas. Apresentaremos alguns percursos e<br />

pensadores que discutiram este viés no design ao longo destes<br />

séculos, e os estudiosos brasileiros que levantam esta questão<br />

e a formulam como crucial para o futuro da profissão.<br />

Traremos essas discussões para pensar o Design, de forma<br />

mais abrangente, e o Design de Moda, mais pontualmente,<br />

1 bem-estar- Estado de satisfação plena das exigências do corpo e do espírito, conforto e<br />

tranqüilidade.<br />

16


HESKETT, John.<br />

(1937-)<br />

Graduou-se na<br />

London School of<br />

Economics e em<br />

1976, ganhou o<br />

prêmio<br />

Goldsmith´Travelling<br />

Fellowship pelo<br />

estudo do design<br />

alemão no século<br />

XX. É professor do<br />

Institute of Design<br />

da Unversidade de<br />

Illinois, em Chicago.<br />

Tem atuado como<br />

professor visitante em<br />

diversas universidades<br />

ao redor do mundo:<br />

Turquia, Japão,<br />

Chile, Alemanha,<br />

Dinamarcae<br />

Finlandia. Autor de<br />

vários livros<br />

importantes no<br />

estudo do Design.<br />

Suas pesquisas tem<br />

especial interesse em<br />

como o design cria<br />

valor econômico.<br />

buscando compreender como a moda pode contribuir com<br />

projetos práticos de produtos com uma visão social sistêmica.<br />

Verificamos que o design tem, ao longo da sua evolução<br />

histórica, procurado equilibrar as tensões entre continuar<br />

dentro de um modelo de produção e desenvolvimento que é<br />

artesanal ou mudar, evoluir para um novo modelo, com a<br />

inserção de maquinário e tecnologia, alterando o<br />

organograma da produção de objetos em geral. Estas<br />

passagens, de um modelo de produção para o outro,<br />

Artesanal/Industrial-Industrial/Artesanal, não são escolhas<br />

puras e simples de um grupo, elas fazem parte da evolução do<br />

design, cujo crescimento acontece de forma rizomática,<br />

abrangendo cada vez mais áreas, inserindo novos paradigmas<br />

na criação e absorvendo as diversas influências sociais,<br />

políticas, espaciais, temporais, psíquicas, ambientais,<br />

organizacionais e econômicas. Portanto, quando tratamos de<br />

Design, o tema da Revolução Industrial retorna, a nosso ver, e<br />

se torna uma obrigatoriedade mencioná-lo.<br />

Formado e configurado no seio dessas mudanças que levaram<br />

a primeira grande revolução dos meios produtivos que<br />

influenciaram a sociedade, o Design não pode prescindir da<br />

análise da evolução de suas conformações. (HESKETT, 1998, p. 7)<br />

Procuraremos dentro deste contexto, dar ênfase ao Design<br />

Social, que à primeira vista seria a concepção de objetos<br />

realizada com o viés amplo do pensamento social. Notamos<br />

que esta forma de olhar sempre esteve presente, e volta à<br />

tona, nos dias de hoje, reforçada pelos fatores sócio-ético-<br />

econômico-ambientais que se apresentam neste início de<br />

século XXI. Acreditamos que daqui por diante será cada vez<br />

17


mais difícil não concebermos o Design como Social; assim<br />

sendo, analisaremos este fenômeno de um ângulo já indicado<br />

por diversos historiadores e pensadores acrescido de algumas<br />

contribuições de leituras nossas.<br />

Nas palavras de John Heskett (1998, p. 8) "(...) as profundas<br />

mudanças provocadas pela industrialização têm sido<br />

examinadas considerando-se o design como fenômeno social".<br />

E, por isso mesmo, uma expressão da cultura, que convoca no<br />

designer responsabilidade e intervenção.<br />

Pretendemos delinear alguns conceitos de Design Social (DS),<br />

suas implicações e questões relevantes, como o resgate da<br />

cidadania e inserção social, no sentido de melhorar a<br />

compreensão do papel do designer no trabalho com<br />

comunidades. Segundo Heliana Soneghet Pacheco (1996, p. 56),<br />

é através da<br />

"(...) prática do DS com o interlocutor e a comunidade envolvida,<br />

que fica evidente a existência de um Design que projeta<br />

acontecimentos e produz coletivos sujeitos, e não comunidades e<br />

objetos de consumo."<br />

Ou seja, o diálogo travado entre o designer e a comunidade na<br />

construção de um projeto de design preocupado com os<br />

movimentos sociais advindos da sua implementação, e o<br />

designer e o cliente, interlocutor, que também será<br />

participante da construção do projeto, é fundamental para o<br />

crescimento destas comunidades. Fortalecem as relações entre<br />

os sujeitos e cria uma unidade de pensamento no grupo que<br />

ajuda a nortear a busca por uma solução harmônica. Assim, a<br />

18


probabilidade de sucesso de um projeto destes é bem maior.<br />

A criação de objetos, o desenvolvimento de projetos de<br />

produtos utilitários, reúne desde premissas intrínsecas a<br />

qualquer ser humano, como facilitar uma tarefa ou conseguir,<br />

por instrumentos, realizar uma tarefa, até construir um meio<br />

ambiente sócio-ético mais justo e saudável através do<br />

processo do design. Quando o ser humano necessitou de um<br />

instrumento que facilitasse a caça de animais, nos primórdios,<br />

desenvolveu a lança: pedra lascada atada com cipós ou pele<br />

de animais a um galho. Mesmo que esse desenvolvimento,<br />

essa criação, viesse a contribuir com o bem-estar social da sua<br />

comunidade, fomentando o seu crescimento e<br />

desenvolvimento, este, talvez, não fosse o foco principal. Hoje<br />

em dia, não podemos negar que o é. Não é mais possível<br />

conceber projetos sem analisar a influência da função social<br />

destes, mesmo que estes estejam sujeitos à "(...) pluralidade<br />

das forças e influências que moldaram suas formas e<br />

caracterizaram seu papel social". (HESKETT, 1998, pp.8-9)<br />

Em muitos projetos, a função social destes não é analisada na<br />

fase de planejamento, ela ocorre como conseqüência natural.<br />

A dicotomia entre forma e função, e qual dos dois deve<br />

prevalecer num projeto é uma questão que exige reflexão.<br />

Para nós, ambas, seguem o contexto social. Apesar das<br />

mudanças e evoluções inevitáveis em qualquer projeto, o foco<br />

deve garantir a coesão e idoneidade deste.<br />

Concordamos com Heskett (op. cit.) quando ele se baseia "(...)<br />

na crença de que a diversidade do design exige uma<br />

consideração de seus vários papéis e funções", ou seja, por<br />

mais preciso que seja o recorte realizado sobre um tema, em<br />

uma pesquisa de design, não podemos deixar de abordá-lo<br />

19


MARGOLIN, Victor.<br />

É pesquisador e<br />

professor adjunto de<br />

História do Design da<br />

<strong>Universidade</strong> de Illinois<br />

(Chicago). Suas<br />

primeiras publicações<br />

foram na “Jester” a<br />

revista de humor do<br />

Colégio de Columbia<br />

em Nova York. Depois<br />

da graduação, teve<br />

vários empregos. Por<br />

volta dos 30 anos<br />

iniciou uma carreira<br />

acadêmica que o levou<br />

a ser o primeiro PhD<br />

em história do design<br />

nos Estados Unidos.<br />

MARGOLIN, Sylvia.<br />

É Professora<br />

aposentada da<br />

Governor's State<br />

University em Chicago,<br />

ela lecionou no<br />

College of Health<br />

Professions, Trabalho<br />

Social. Além do<br />

Queens College, CUNY,<br />

1965., New York<br />

University, 1974 e da<br />

University of Illinois<br />

em Chicago, 1995<br />

nas suas múltiplas facetas.<br />

Cabe ao designer determinar dentro das condições<br />

apresentadas pelo cenário (fatores econômicos, físicos,<br />

políticos, climáticos, psicológicos etc.) a melhor adequação:<br />

ouvir as várias partes, equilibrar as fraquezas e oportunidades,<br />

gerar um projeto viável que reflita uma harmonia, desde a<br />

concepção até o descarte ou a reutilização dos produtos<br />

gerados, e lidar ainda com as mudanças sociais que causam e<br />

podem causar transformações ou mudanças nos sujeitos<br />

envolvidos direta ou indiretamente no projeto.<br />

Os projetos de design podem ser potencializados e<br />

influenciados por uma série de efeitos: desde decisões<br />

comerciais e políticas passando pelo contexto organizacional<br />

da empresa em que o designer atua, pela disponibilidade da<br />

matéria, as instalações e até "por conceitos sociais e estéticos<br />

predominantes: a variedade de condições possíveis é imensa."<br />

(HESKETT, 1998, p. 10)<br />

Assim, esta dissertação pretende contribuir com uma<br />

discussão sobre a atuação dos designers, e minimizar a<br />

ausência de pesquisas nessa área. Conforme aponta o casal<br />

Margolin:<br />

"Uma razão pela qual não existe mais suporte a serviços de design<br />

social é a ausência de pesquisas que demonstrem como um<br />

designer pode contribuir para o bem-estar humano". (MARGOLIN &<br />

MARGOLIN, 2004, p. 46)<br />

No que diz respeito ao trabalho desenvolvido pelo designer de<br />

1<br />

moda, acreditamos que o fator bem-estar é o primordial. O<br />

conforto físico que deve ser proporcionado pelas roupas, o<br />

20


PEVSNER, Nikolaus<br />

(1902-83)<br />

Nascido na Alemanha.<br />

Foi Historiador da<br />

arquitetura inglesa.<br />

Sob o efeito de<br />

Heinrich W ö lfflin,<br />

Pevsner afirmou em<br />

muitos trabalhos seus<br />

que a arte deve ser<br />

considerada dentro<br />

do seu contexto<br />

histórico e social. Um<br />

dos maiores críticos<br />

da arquitetura do<br />

século 20.<br />

psíquico que inclui o sentir-se bem, e, acima de tudo, o social,<br />

que implicitamente está ligado à questão econômico-<br />

ambiental e circunscreve enfim o projeto destas roupas.<br />

O sistema produtivo de roupas sempre esteve diretamente<br />

ligado aos padrões sociais e econômicos, às formas de<br />

produção e ao desenvolvimento das populações. A questão da<br />

produção de têxteis e confecção de roupas sempre esteve<br />

atrelada aos processos produtivos e tecnológicos, que foram<br />

se modificando ao longo do tempo. Não discutiremos neste<br />

trabalho os valores simbólicos desses processos de apropriação<br />

e modificação de valor pela sociedade através das vestimentas.<br />

Nosso interesse é abordar apenas como a produção de roupas,<br />

moda e acessórios faz parte do disparador (starter) das<br />

mudanças nos processos produtivos que transformaram e<br />

continuam a transformar a sociedade como um todo.<br />

Além disto, os produtos de moda (roupas e acessórios) sempre<br />

estiveram na ponta das evoluções tecnológicas que marcaram<br />

o final do século XVIII, onde ocorreram as principais evoluções<br />

na indústria de fiação e tecelagem, como nos confirma Pevsner<br />

ao afirmar que "(...) a indústria têxtil era um dos sustentáculos<br />

da produção industrializada". (PEVSNER,1995, p.32)<br />

Esta é a razão da necessidade de pesquisas no campo do<br />

design de moda serem efetuadas no Brasil, trazendo para<br />

nosso cenário as questões pertinentes à criação, produção,<br />

inovação, geração e disseminação de conhecimentos da<br />

metodologia do design aplicada a produtos de moda. Para<br />

tanto, ao final de nosso trabalho relataremos um caso prático<br />

de notório sucesso, do qual pretendemos extrair algumas<br />

reflexões sobre projetos de design de moda que se<br />

21


constituem a partir de uma abordagem social.<br />

Acreditamos ser este um processo-chave, para a atuação dos<br />

designers na realidade sócio-política-econômica e ambiental<br />

do nosso país. Nas palavras de Victor Margolin:<br />

"Quando reconhecemos nossa relação com o social como parte de<br />

nossa relação com o design, encontramos (...) história, teoria e<br />

crítica, assuntos centrais". (MARGOLIN, 2001, p. 58)<br />

Estes três campos, história, teoria e crítica, se entrelaçam e<br />

funcionam como pilares para a formulação de um percurso<br />

possível para o designer de moda.<br />

Exposição A Mão na Moda - 2001<br />

22


Papel de parede de<br />

William Morris c.1897.<br />

Típico do Arts and<br />

Crafts movement.<br />

2.0 O Movimento Arts & Crafts e sua atualidade<br />

"Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida.<br />

Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um".<br />

Fernando Sabino<br />

A referência histórica é necessária por dois fatores: o primeiro,<br />

porque nos faz percorrer as evoluções e os encaixes que foram<br />

sendo feitos ao longo do tempo, e encontrar os acertos para<br />

inová-los e ajustá-los à nossa realidade e preocupações atuais.<br />

Evitando, assim, o acúmulo de erros sucessivos.<br />

"Portanto, só o resgate histórico nos possibilitará conhecer as<br />

origens e os percursos desenvolvidos para melhor compreender e<br />

analisar o presente e poder vislumbrar e prospectar o futuro."<br />

(MOURA, 2002, p. 10)<br />

O segundo fator é que esse movimento é considerado como<br />

marco fundamental no estudo do design. A influência e a<br />

interdependência dos fatos geradores daquele cenário, além<br />

da interação com as mudanças sociais e culturais que<br />

marcaram sua eclosão, são sentidas e analisadas até os nossos<br />

dias.<br />

O movimento Arts & Crafts (Artes e Ofícios) surgiu na<br />

Inglaterra, nos últimos anos do século XIX, encabeçado por<br />

dois artistas, arquitetos e pensadores do seu tempo, William<br />

Morris e John Ruskin, que se preocupavam com a procura de<br />

uma estética significativa e autêntica. Por trás desta busca<br />

estética, havia uma enorme preocupação com os fatores<br />

sociais envolvidos e as conseqüências político-econômicas<br />

advindas das relações de trabalho.<br />

23


MORRIS, William.<br />

(1834-1896)<br />

Poeta, romancista e<br />

editor inglês, cria em<br />

1861 o ateliê Morris,<br />

Marshall, Faulkner &<br />

Co., que se torna a<br />

fonte do Movimento<br />

Arts & Crafts (Artes e<br />

Ofícios).<br />

RUSKIN, John.<br />

(1819-1900)<br />

Pensador, crítico e<br />

educador inglês, autor<br />

de diversos títulos<br />

entre eles os cinco<br />

volumes de Modern<br />

Painters (Pintores<br />

Modernos) e os três<br />

The Stones of Venice<br />

(As pedras de Veneza).<br />

Desde os seus primórdios o design manteve uma preocupação<br />

intrínseca com o bem-estar social. Em muitos momentos na<br />

história porém, o entusiasmo com a evolução da tecnologia e<br />

as ferramentas utilizadas nos processos produtivos,<br />

encobriram ou mascararam essa preocupação. Ora os<br />

resultados financeiros obtidos eram o foco, ora a preocupação<br />

estética, a forma dos objetos, era o centro das atenções, mas<br />

as relações entre os trabalhadores e o meio-ambiente, entre os<br />

produtos e os dejetos, era ignorada, relegada a segundo<br />

plano.<br />

Enfim, em relação aos questionamentos sobre o papel do<br />

designer, no contexto do século XIX, e que retornam hoje em<br />

dia, com nova roupagem, nos cabe trazê-los à baila,<br />

ampliando as discussões e indicando alguns caminhos<br />

possíveis a serem trilhados em cenários futuros.<br />

De acordo com Sylvia e Victor Margolin (2004, p.43),"Desde a<br />

Revolução Industrial, o paradigma de design dominante tem<br />

sido o de desenhar para o mercado.” O designer atuava como<br />

parte do sistema que era submetido à indústria, segundo os<br />

ditames dos industriais e fabricantes. Igualmente ao que<br />

ocorre na moda prêt-à-porter, que desde a sua criação, se<br />

volta para a produção industrial.<br />

Cabe então nos perguntarmos: à medida que a produção em<br />

massa começa a ser processada, onde vai parar o artesão?<br />

Qual a sua função dentro desta nova cadeia produtiva que<br />

está se formando? E qual a função dos projetistas, dos<br />

designers que criam estes novos produtos para uma produção<br />

tecnológica, em série e de escala industrial?<br />

24


CARDOSO<br />

Denis, Rafael.<br />

PhD em história da<br />

arte pela<br />

<strong>Universidade</strong> de<br />

Londres Courtauld<br />

Institute of Art e<br />

professor do<br />

departamento de<br />

Artes & Design da<br />

Pontifícia<br />

<strong>Universidade</strong><br />

Católica, Rio de<br />

Janeiro.<br />

Augustus Welby<br />

Northmore<br />

Pugin (1812-<br />

1852)<br />

Arquiteto, designer<br />

das artes<br />

decorativas ,teórico<br />

e crítico. Sua<br />

percepção em<br />

todos estes campos<br />

sempre foi liderada<br />

por sua fé Católica.<br />

Segundo Cardoso (2004, p. 72),<br />

"A filosofia do movimento Arts and Crafts girava em torno da<br />

recuperação dos valores produtivos tradicionais defendidos por<br />

Ruskin (...)Os integrantes do movimento buscavam promover uma<br />

maior integração entre projeto e execução, uma relação mais<br />

igualitária e democrática entre os trabalhadores envolvidos na<br />

produção, e uma manutenção de padrões elevados em termos de<br />

qualidade de materiais e acabamento (...)"<br />

As empresas, entre oficinas e indústrias, buscavam na época<br />

um estilo que agradasse ao mercado consumidor. Esta busca<br />

de padrões reproduzíveis suscitou as críticas dos designers que<br />

viam na Revolução Industrial um viés trágico, destruidor da<br />

criação, dos valores estéticos, e por fim dos valores sociais dos<br />

artesãos, que não mais eram considerados como parte<br />

integrante do processo, mas relegados à margem deste.<br />

Este foi um dos pontos principais das críticas à Revolução<br />

Industrial, que promoveu a mobilidade social apenas à classe<br />

dos fabricantes, e condenou à perda de prestígio e estabilidade<br />

os mestres-artesãos e seus aprendizes. Por ironia, um dos<br />

motivos também das críticas, e conseqüente falha do<br />

Movimento Arts & Crafts, pois os objetos gerados pelas<br />

oficinas e empresas, que eram contra a Industrialização,<br />

tornavam-se inacessíveis à maioria da população, por serem<br />

demasiadamente caros. Problema que vemos ainda se repetir<br />

na contemporaneidade.<br />

Ainda assim, enxergamos que uma concepção do que hoje<br />

denominamos Design Social, começou a ser levantada por John<br />

Ruskin e ampliada por William Morris, iniciada através das<br />

críticas e ironias de A. W. N. Pugin.<br />

25


The Crystal Palace at<br />

Sydenham Hill,<br />

London. Designed por<br />

Sir Joseph Paxton for<br />

the Great.<br />

(créditos: BBC Hulton<br />

Picture Library)<br />

http://images.google.<br />

com.br/imgres?imgurl<br />

=http://content.answ<br />

ers.com/main/content/<br />

wp/en-commons/<br />

thumb/ c/c4/300px-<br />

Crystal_Palace.<br />

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//www.answers.com/t<br />

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=215&w=300&sz=8<br />

5&hl=pt-BR&start=<br />

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stal%2Bpalace%2Bexi<br />

bition%26um%3D1%<br />

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nt%3Dfirefox-a%26<br />

channel%3Ds%26rls%<br />

3Dorg.mozilla:pt-BR<br />

:official%26sa%3DG<br />

"A discussão do design na Inglaterra do século XIX foi dominada<br />

pela tensão entre uma demanda constante e cada vez maior de<br />

artigos com tradição de produção artesanal, como móveis, objetos<br />

de cerâmica e de metal, e a criação de uma produção<br />

comercializada que se apropriou das formas e valores do passado e<br />

os modificou, tornando-os acessíveis a parcela maior da<br />

população." (HESKETT, 1998, P. 19)<br />

A crítica que se seguiu foi tão radical aos acontecimentos<br />

gerados a partir deste início de produção em série, e das<br />

mudanças acarretadas por ele, que chegaram ao ponto de<br />

indicarem "(...) uma condenação total da indústria e seus<br />

produtos, apontando para o custo humano e sacrifício<br />

envolvidos num sistema social que exigia e produzia esses<br />

bens." (HESKETT, 1998, p. 20)<br />

A Exposição de 1851 foi a coroação e a constatação de todo o<br />

equívoco ocorrido durante o processo de industrialização e<br />

massificação da produção; ali estavam, lado a lado, o pior de<br />

todas as nações, junto da mais alta tecnologia até então<br />

desenvolvida pelo ser humano. (PEVSNER, 1974, p. 28)<br />

Poderíamos dizer que foi a reação ao visual grotesco dos<br />

objetos exibidos na exposição de 1851 que fez surgir o<br />

movimento Arts and Crafts. A banalização e o exagero além da<br />

falta total de sensibilidade e mínimo conhecimento "em<br />

relação às formas, materiais, aos padrões decorativos".(PEVSNER,<br />

1974, p. 29)<br />

O mau gosto, a cópia mera e simples da artesania pelas<br />

máquinas, sem o menor pudor, a menor acuidade, o menor<br />

senso estético, chocou os visitantes da exposição. O grande<br />

impacto é que o mesmo fenômeno se repetia em todos os<br />

26


COLE, Henry.<br />

(1808-1882)<br />

Sir Henry, começou a<br />

carreira no serviço<br />

público. Foi membro<br />

da Royal Society for<br />

the Encouragement<br />

of Arts, Manufactures<br />

and Commerce (RSA).<br />

Em algumas<br />

pesquisas lhe é<br />

creditado o design do<br />

primeiro selo do<br />

mundo o Penny<br />

Black. Foi<br />

organizador de várias<br />

exposições, e<br />

incubido pelo príncpe<br />

Albert de organizar a<br />

The Great Exhibition<br />

of the Works of<br />

Industry of all<br />

Nations no The<br />

Crystal Palace no<br />

Hyde Park,<br />

Londres,<br />

de 1 Maio a 15<br />

Outubro de 1851.<br />

pavilhões, nas exposições de todas as nações que ali se viam<br />

representadas. Algumas perguntas se mostraram necessárias:<br />

Por que a arte foi tão esquecida? Por que os artesãos foram<br />

menosprezados, e os seus produtos desqualificados? Estas<br />

mesmas perguntas ressoam na maioria das ONG´s<br />

recentemente criadas para ajudar os artesãos de hoje a<br />

resgatar a sua cidadania, a sua dignidade e a sua fonte de<br />

renda.<br />

O ideal de melhoria dos padrões aplicados na indústria estava<br />

intimamente ligado à concepção das belas artes. Morris e<br />

Ruskin acreditavam que com a apreensão das belas artes pela<br />

população, o bom gosto, o bom senso estético poderia ser<br />

disseminado, e conseqüentemente a exigência de produtos<br />

com design forçaria uma mudança de direcionamento na<br />

produção. "A convicção de que o aperfeiçoamento poderia ser<br />

efetuado por meios estéticos produziu diversas propostas<br />

práticas". (HESKETT, 1998, p. 20)<br />

O Journal of Design, editado por Henry Cole, um dos<br />

promotores da Grande Exposição de 1851 frisava em um dos<br />

seus artigos: "Se o público é incapaz de apreciar a excelência,<br />

decerto não poderemos convocar o fabricante a produzi-la por<br />

um sacrifício." (HESKETT, 1998, p. 23)<br />

Aliás, diga-se de passagem, esta excelência é perseguida e<br />

cobrada até os nossos dias, principalmente quando se trata do<br />

sistema da moda. A moda demanda a cada estação uma nova<br />

tendência, uma nova cartela de cores, uma nova inspiração. O<br />

desejo pelo novo, pelo inédito, é o que impulsiona as<br />

engrenagens do sistema.<br />

27


Para nós, mencionar o movimento Arts and Crafts é<br />

extremamente importante, porque ele foi o disparador do<br />

pensamento social para o design, momento em que os<br />

maiores pensadores do design viram uma conexão entre os<br />

processos produtivos, a alocação da mão de obra numa cadeia<br />

industrializada e a condição social destes trabalhadores.<br />

2.1 O papel do Designer ontem<br />

Foi William Morris quem trouxe a renovação do desenho do<br />

artefato, com planejamento, acuidade e estética. Ele anteviu e<br />

divulgou através de seu esforço pessoal e profissional a união<br />

entre o artesão e o designer. Os artistas deveriam ser<br />

transformados em artesãos-designers. Para tanto, o designer<br />

aprenderia com os técnicos e artesãos e estes aprenderiam<br />

com os designers. A educação e o treinamento dos operários<br />

eram vistos como uma forma de aprimorar o design<br />

produzido. Embora, muitos donos de oficinas e fabricantes,<br />

não concordassem com isto. (PEVSNER, 1974, p. 36)<br />

A revolução na sensibilidade que floresceu a partir de Ruskin e<br />

Morris, e seus companheiros no movimento idealista, mudou<br />

as concepções de criação com a incorporação da metodologia<br />

FRY, Edwin Maxwell.<br />

criativa, com a apreciação dos talentos e a participação do<br />

(1899-1987)<br />

Britânico, Graduou-se<br />

criador em toda a sequência do processo produtivo desde a<br />

arquiteto na School of<br />

Architecture da<br />

origem, criação, até a conclusão do trabalho (produto<br />

University of acabado). Este processo carregava ainda uma preocupação na<br />

Liverpool. Foi um dos<br />

arquitetos que manutenção da dignidade e do papel dos artesãos e<br />

instituiu as sólidas<br />

fundações para o trabalhadores das indústrias e oficinas envolvidas. (FRY, 1976, p.<br />

Modernismo britânico<br />

se expandir.<br />

54)<br />

28


KAZAZIAN,<br />

(1961)<br />

Thierry<br />

O designer francês<br />

diplomado pela<br />

Domus Academy de<br />

Milão, é considerado<br />

a primeira voz a falar<br />

sobre o Ecodesign na<br />

França. Em 1988<br />

tornou-se um dos<br />

fundadores da O2,<br />

primeira rede<br />

internacional de<br />

designers que<br />

trabalham para um<br />

desenvolvimento<br />

sustentável. Hoje, a<br />

O2 France acompanha<br />

empresas em sua<br />

abordagem de<br />

desenvolvimento<br />

sustentável,<br />

traduzindo-a para o<br />

espírito de cada<br />

atividade - produtos e<br />

serviços -,<br />

notadamente graças à<br />

ecoconcepção. Entre<br />

elas: Alcatel, Danone,<br />

Lafuma, Legrand,<br />

LVMH, Monoprix,<br />

Steelcase etc.<br />

O ideário de William Morris trouxe à tona uma preocupação<br />

com as pessoas envolvidas diretamente nos processos<br />

produtivos de bens. As mudanças no pensamento da<br />

humanidade alavancaram as mudanças "no campo das idéias<br />

sociais".<br />

Em pleno século XXI temos a tecnologia digital invadindo cada<br />

vez mais os meios produtivos e o quotidiano das pessoas e<br />

mais uma vez no outro lado da balança a questão social se<br />

contrapõe. Ela aparece, como que se impondo à sociedade,<br />

cobrando dela, através de um avanço terrível da violência<br />

urbana, um pouco dos ganhos que a elite absorveu com a<br />

chegada das facilidades da tecnologia digital. Entendendo<br />

aqui elite como produtores e consumidores dos bens<br />

industrializados.<br />

No início do século XIX, coube a Ruskin (2004, p. 21) produzir os<br />

primeiros textos em tom de crítica ecológica que se conhece.<br />

Trazendo o problema instaurado para humanidade neste início<br />

de século XXI pela produção inconseqüente. Kazazian (2005, p.<br />

14) nos mostra que Ruskin pode ter sido o primeiro pensador<br />

desta tragédia, e Morris seu primeiro ativista, que buscava com<br />

seu exemplo e trabalho reverter o estado de coisas que se<br />

apresentava.<br />

"Hostil à Revolução Industrial e ao capitalismo, que, de seu ponto<br />

de vista, favorecem mais a produtividade que a qualidade e a<br />

estética, William Morris poeta, romancista e editor inglês cria em<br />

1861 o ateliê Morris, Marshall, Faulkner & Co., que se torna a fonte<br />

do movimento Arts & Crafts, cuja ambição é embelezar o meio<br />

ambiente cotidiano pelas artes da decoração". (KAZAZIAN, 2005, p.<br />

14)<br />

29


Esta seria uma visão simplista, redutora das verdadeiras<br />

intenções do trabalho de Morris, embelezar, trazer senso<br />

estético e discernimento crítico à população sobre os objetos,<br />

era apenas uma das facetas de seu trabalho.<br />

Mas concordamos com Kazazian (2005, p. 14) quando, sobre<br />

Morris, afirma que "ele considera que a indústria gera uma<br />

perda de controle do criador sobre a produção e desfigura os<br />

objetos cotidianos (...)". É bem verdade que o artesão que<br />

controlava desde a concepção até a comercialização dos<br />

objetos na era do artesanato, com a industrialização, era<br />

determinado a atuar apenas numa pequena etapa da criação<br />

desde objeto. Atuando numa produção dividida em etapas<br />

cada vez menores e fazendo parte de uma equipe cada vez<br />

maior de trabalhadores. A conseqüência era a perda de<br />

contato do criador sobre o produto final. O designer, que<br />

surge neste cenário, trabalha longe, muitas vezes, física e<br />

intelectualmente desta equipe produtiva que é um dos pontos<br />

de crítica, de Morris, sobre este processo. Porém esta,<br />

também, se torna uma parte preponderante na própria<br />

definição da profissão de designer.<br />

De novo concordamos com Kazazian (2005, p. 14), quando traz<br />

a questão inicial do surgimento do Design como disciplina<br />

formatada como conhecemos hoje, e a credita a Morris.<br />

"William Morris quis transformar o ambiente de seus<br />

contemporâneos juntando, sem distinção, artes menores e<br />

maiores. Trata-se do primeiro nascimento do Design".<br />

30


Segundo Cardoso (2004, p. 69), "William Morris deu início a uma<br />

série de empreendimentos comerciais que iriam divulgar a<br />

importância do designer de forma inédita." Através de suas<br />

companhias procurava tratar o desenvolvimento de produtos<br />

como uma missão de vida e, com ela, alcançar um bem maior<br />

para toda população.<br />

Morris tinha como missão reorganizar os meios produtivos e<br />

os personagens neles envolvidos de uma forma coerente, que<br />

tanto os designers, os artesãos, os fabricantes e os<br />

trabalhadores das indústrias tivessem um papel digno e<br />

valorizado, atuando em conjunto para o benefício da maior<br />

parcela da população.<br />

Para Margolin (2001, p. 60),<br />

"Como pensador, Morris conseguiu ter enorme ascendência sobre<br />

designers, educadores e teóricos, por ter articulado tão<br />

poderosamente a sua oposição à racionalidade técnica da sua<br />

época. Seus argumentos se mantêm persuasivos quando nos<br />

esforçamos para conferir sentido à turbulência atual da inovação<br />

tecnológica."<br />

Portanto, 158 anos após suas primeiras ações para mudar a<br />

forma como a sociedade dispunha da tecnologia, as idéias e<br />

reflexões de William Morris difundidas através do Arts and<br />

Crafts Movement parecem ainda pertinentes, e merecem ser<br />

retomadas e repensadas.<br />

31


2.2 Concepção artesanal, concepção industrial<br />

Quando nos dispomos a fazer algo, por exemplo, um bolo,<br />

juntamos todos os seus componentes, e ao final, o produto<br />

resultante, é completamente diferente em aparência, cor,<br />

cheiro e sabor de todos os ingredientes que utilizamos. Nós<br />

modificamos a forma destes componentes para criarmos um<br />

produto de nosso interesse.<br />

O mesmo acontece com o artesanato, os produtos<br />

manufaturados e os industrializados. Ao darmos uma nova<br />

forma aos componentes, imprimindo o nosso trabalho,<br />

transformando-os em objetos úteis, etimologicamente,<br />

estamos in-formando estes componentes, não apenas<br />

enformando (colocando em uma fôrma), mas transformando<br />

os componentes em objetos através dos processos. A criação<br />

de objetos utilitários, decorativos, ritualísticos vem<br />

acompanhando a humanidade desde sua pré-história.<br />

A partir do início do século XIX a crescente busca por artigos<br />

com um preço acessível, pela parcela da população em<br />

ascensão financeira, e a busca dos fabricantes em conceber<br />

produtos baratos com "cara" e jeito de produtos caros e<br />

exclusivos levou à destruição dos valores estéticos e artísticos<br />

destes objetos. Tornando-se apenas um fator comercial, na<br />

concepção deles. A reprodução de padrões e designs (aqui<br />

empregamos a palavra como ornamentos) clássicos da realeza,<br />

eram aplicadas para aumentar o interesse e o preço de<br />

utilitários comuns, o que se tornou uma febre, e um ideal<br />

perseguido pelas oficinas e fábricas que se formavam.<br />

32


SEMPER, Gottfried.<br />

(1803 - 1879)<br />

Um dos mais<br />

importantes<br />

arquitetos alemães do<br />

século XIX. Além de<br />

teórico foi professor<br />

da Academia de<br />

Dresden e diretor da<br />

seção de arquitetura<br />

da Escola Politécnica<br />

de Zurich e<br />

cofundador do<br />

Museum South<br />

Kesington, projeto<br />

que pretendia unificar<br />

arte e indústria.<br />

Desde o seu início o Design sempre estabeleceu um diálogo<br />

entre arte, artesanato e processos industriais de (re)produção.<br />

"Os escritos do alemão Gottfried Semper definiram uma teoria<br />

estética que aceitava a inevitabilidade da industrialização e<br />

confrontava os problemas da inter-relação entre arte e indústria."<br />

(HESKETT, 1998, p. 27)<br />

Ou seja, o Design surgiu para ser um solucionador destes<br />

problemas.<br />

"No artesão combinam-se três atividades, de artista, produtor<br />

e vendedor" (HESKETT, 1998, p. 90). O artesão, que era a mente<br />

por trás da criação, responsável pelo cuidado construtivo,<br />

havia praticamente desaparecido com o final da era que se<br />

chamou do artesanato e o início da era industrial. Agora nas<br />

fábricas quem atuava na produção, praticamente não tinha<br />

outro contato com os produtos desenvolvidos, a não ser os<br />

demandados durante alguma fase da produção. Os<br />

trabalhadores não emitiam opinião sobre o desenvolvimento<br />

dos produtos; o trabalho tornara-se completamente<br />

impessoal, frio e mecanicista. Cada um só respondia pela<br />

parte que lhe cabia no processo perdendo a visão e o contato<br />

com o todo fabril. A qualidade estética destes produtos<br />

dependia exclusivamente dos dirigentes das fábricas,<br />

"fabricantes incultos", segundo Pevsner (1980, p. 32).<br />

Cardoso (apud MOURA, 2002, p. 12) nos explica que<br />

"a diferença entre design e artesanato reside justamente no fato<br />

de que o designer se limita a projetar o objeto para ser fabricado<br />

por outras mãos ou, de preferência, por meios mecânicos."<br />

33


A pegada ecológica e o<br />

seu método de cál-<br />

culo foi desenvolvido<br />

através da tese de<br />

doutorado do prof. PhD<br />

Mathis Wackernagel<br />

sob a orientação do<br />

Prof. William Rees na<br />

University of British<br />

Columbia em<br />

Vancouver, Canadá<br />

(1990-1994). Ela é<br />

uma medida de<br />

impacto das ações<br />

humanas no ambiente<br />

natural que nos<br />

sustenta. A pegada<br />

exprime a área de terra<br />

e mar que é necessária<br />

para nos alimentar,<br />

fornecer recursos,<br />

produzir energia,<br />

assimilar resíduos, e<br />

re-absorver os gases<br />

produzidos pelo uso<br />

de combustíveis<br />

fósseis. O cálculo usa a<br />

terra como “moeda” e<br />

oferece uma noção<br />

para visualização, o<br />

denominado hectare<br />

global (gha) (uma área<br />

equivalente a um<br />

hectare normal, mas<br />

ajustado para<br />

produtividade global<br />

média) para assim<br />

quantificar a área<br />

necessária para dar<br />

suporte a um<br />

indivíduo, uma<br />

comunidade ou à<br />

população de uma<br />

nação nos seus<br />

padrões atuais de vida.<br />

E também pode ser<br />

utilizada para medir o<br />

impacto da fabricação<br />

de um produto.<br />

Calcule a sua!<br />

http://www.earthday.net/Footprint/index.asp<br />

O designer estaria, assim, afastado da produção em si mesma.<br />

O artesão criava, produzia e operava em todas as fases do<br />

processo produtivo, fosse o resultado deste processo um par<br />

de sapatos, um terno, uma roupa, um outro artefato qualquer.<br />

Deste modo ele era um conhecedor de todas as fases do<br />

processo, e de seus desenvolvimentos. Auxiliado apenas por<br />

ferramentas elementares, e seus aprendizes, estes processos<br />

eram demorados e os produtos quase sempre exclusivos. Com<br />

o advento das máquinas, (a vapor e elétricas), surgiram os<br />

profissonais, especialistas ou especializados, em certas etapas<br />

do processo produtivo. O operador ou colaborador participava<br />

apenas de alguma parte do processo, perdendo assim a noção<br />

de todo o processamento até o produto final. Isto faz parte da<br />

visão mecanicista da divisão do trabalho em etapas<br />

especializadas. Este procedimeto visa melhorar a qualidade<br />

final e reduzir o tempo total de produção do bem, para<br />

rapidamente o produto estar à disposição do mercado<br />

consumidor, ou seja, dos clientes. A era da produção em<br />

massa ou em série instalava-se. Havia então, muito desperdício<br />

de toda ordem. Expoente dessa era, Henry Ford tinha uma<br />

frase típica: "extraimos a matéria-prima no sábado; na terça-<br />

feira o cliente já recebeu o carro." (PALADINI, 2006, p.62)<br />

No final do século XVIII as mudanças no pensamento da<br />

humanidade e a aceleração técnica com a rápida evolução dos<br />

processos de manufatura que influenciaram e foram<br />

influenciados inclusive pelas mudanças religiosas, trouxeram à<br />

tona uma "compreensão da missão mundial" do designer,<br />

segundo Pevsner (1980, p.37), e principalmente "dos valores<br />

éticos do trabalho quotidiano". Esta talvez seja a primeira pista<br />

do espírito daquele tempo que vemos presente neste final de<br />

34


MAGALHÃES, Aloísio.<br />

(1927-1982)<br />

Designer, artista<br />

plástico, político, foi<br />

um dos fundadores da<br />

Escola Superior de<br />

Desenho Industrial e<br />

desempenhou papel<br />

fundamental no<br />

quadro da produção e<br />

divulgação do design<br />

no Brasil. Ao longo dos<br />

anos que se seguiram,<br />

poucos infelizmente,<br />

Aloísio Magalhães<br />

trabalhou como nunca<br />

para traçar um projeto<br />

de um novo Brasil.<br />

século XX e início de século XXI: a retomada das discussões<br />

sobre ética, trabalho e meio ambiente, formas de produção<br />

limpa e preocupadas com a pegada ecológica e o futuro da<br />

biosfera para as próximas gerações. Estas discussões, mais<br />

uma vez, são impulsionadas pelas mudanças no pensamento<br />

da humanidade e a expansão da tecnologia digital.<br />

A partir do momento em que o designer toma consciência do<br />

seu papel de interventor no social, e direciona os seus esforços<br />

para atuar na missão de promover o bem-estar respeitando os<br />

limites e a perenidade do meio ambiente, muda<br />

completamente a perspectiva de atuação deste designer.<br />

Conforme nos alertou Aloísio Magalhães em seu discurso, na<br />

comemoração de 15 anos da ESDI, em 1977:<br />

"Transitamos num espectro amplo de diversidade de saberes e de<br />

situações muito distanciadas: da pedra lascada ao computador.<br />

Não estarão aí algumas indicações de uma reconceituação da<br />

atividade? Não será esta a tarefa que deveremos fazer?"<br />

(MAGALHÃES 1998, p. 12)<br />

Repensar o design e pensar em projetar com uma perspectiva<br />

voltada para o social, reconsiderar a abrangência das ações do<br />

design enquanto profissão, principalmente no Brasil, quando<br />

a conjuntura social, política e econômica é desfavorável ao<br />

bem-estar humano, é uma das tarefas do pesquisador.<br />

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.fibra-ds.com/Images/logo_esdi<br />

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84&tbnid=XlJFGeRe3-sh_M:&tbnh=68&tbnw=78&prev=/images%3Fq%3Desdi%2Brio%2Bde%2B<br />

janeiro%2Bbrasil%26start%3D80%26gbv%3D2%26ndsp%3D20%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN<br />

35


2.2.1 A concepção Digital<br />

Nas palavras de Victor Margolin (1994, p. 10): "estaremos<br />

verdadeiramente no meio de uma mudança comparável à<br />

troca da cultura agrária pela Idade da Máquina? Ele, em seu<br />

FLUSSER, Vilém.<br />

(1920-1991)<br />

Nascido em Praga,<br />

viveu no Brasil de 1964<br />

a 1976. Lecionou<br />

artigo "A Idade da Comunicação: um Desafio para designers",<br />

acreditava que estamos.<br />

36<br />

filosofia da Ciência<br />

como prof. Convidado<br />

O primeiro ponto de contato entre estes dois momentos<br />

na Escola Politécnica<br />

da USP. Foi um dos<br />

históricos dá título a este capítulo: a concepção artesanal e a<br />

fundadores do curso concepção industrial. Para os defensores e entusiastas do<br />

de Comunicação Social<br />

da FAAP.<br />

processo industrial, os processos manuais foram relegados a<br />

segundo plano. Encontramos no início do século XIX, a<br />

situação em que se produzia em excesso, comprava-se em<br />

excesso, mas tudo sem qualidade e com grande desperdício. A<br />

população então crescia num ritmo alucinante e a educação<br />

ficava a desejar, consumidores vorazes e incultos foram vítimas<br />

desta espiral de erros e conseqüências.<br />

A visão de que os produtos industrializados poderiam ser<br />

fabricados com materiais de qualidade inferior e um aumento<br />

de preço na comercialização, legitimada pelo design, assim,<br />

aumentando os lucros, é uma visão distorcida do real valor do<br />

design. O design busca, com a economia de materiais, e a<br />

pesquisa de novos materiais, um equilíbrio entre a função,<br />

durabilidade, facilidade de produção e comercialização do<br />

produto. A queda dos custos e o aumento dos lucros é uma<br />

conseqüência deste trabalho, não um fim em si mesmo.<br />

Segundo Flusser (2007, p. 35), "(...) as grandes revoluções dos<br />

séculos XIV e XV tiveram origem nas oficinas e nos conflitos


que ali insurgiram." As oficinas na Idade Média (780A.C. ao<br />

século XIV) e as fábricas na passagem do século XVIII para o<br />

XIX, eram os locais de conflito, onde as mudanças sociais<br />

começavam a ganhar corpo, a partir das mudanças<br />

tecnológicas que influenciaram os meios produtivos.<br />

Uma outra mudança de paradigma nos meios de produção<br />

atual, que chamamos de Revolução Digital, acontece. A<br />

revolução da virada do século XX para o XXI prepara uma<br />

transformação radical nas formas de planejar o design: o<br />

Design Social.<br />

Para Villém Flusser (2007, p. 38), a chegada dos meios digitais<br />

representaria uma terceira quebra, por ele denominada de<br />

terceira Revolução Industrial, ao invés de uma Revolução<br />

Digital: "(...) terceira Revolução Industrial, aquela que implica a<br />

substituição das máquinas por aparelhos eletrônicos." Ou seja,<br />

a introdução de mecanismos microeletrônicos, automatizações<br />

e robotizações, para realização de tarefas repetitivas. Uma<br />

revolução que mais uma vez é conduzida através de fios, de<br />

teias, redes que interligam, e tramam conexões que envolvem<br />

a todos. Assim como os tecidos de algodão, a função deste<br />

tecido de comunicação é esquentar as relações, aproximar as<br />

trocas de informação e conhecimento entre as pessoas,<br />

artesãos e designers.<br />

No projeto de design e comunicação encontra-se ainda um<br />

campo para desenvolvimento de mudanças que é, para<br />

Cardoso, em seu prefácio de "O mundo codificado" de Villém<br />

Flusser (2007, p. 17), um dos poucos espaços que nos resta para<br />

utopias, isto é, para sonharmos e esgarçarmos os limites entre<br />

a matéria e as representações. "Ao ingressarmos plenamente<br />

37


na era da imagem técnica, retornarmos, de certo modo, ao<br />

tempo anterior ao discurso linear, histórico". (idem) As<br />

possibilidades abertas pela digitalização dos meios produz<br />

novas mudanças tecnológicas que influenciam e alteram as<br />

relações sociais neste início de século XXI. A internet, os<br />

contatos e redes virtuais, o mundo virtual, enfim. Esta<br />

evolução até mesmo para ciência, foi rápida demais, e o<br />

distanciamento necessário para se avaliar a abrangência destas<br />

mudanças na sociedade, provavelmente, só será alcançado em<br />

uma década ou mais.<br />

Visualizamos o início das grandes transformações sociais no<br />

entorno das grandes transformações produtivas, no momento<br />

histórico em que as evoluções tecnológicas são<br />

implementadas. Flusser (2007, p. 37) visualizou quatro<br />

momentos na história em que o epicentro das mudanças é o<br />

local:<br />

"(...) as fábricas são lugares onde sempre são produzidas novas<br />

formas de homens: primeiro, o homem-mão, depois, o homem-<br />

ferramenta, em seguida, o homem-máquina, e, finalmente, o<br />

homem-aparelhos-eletrônicos. Repetindo: essa é a história da<br />

humanidade."<br />

Nosso olhar se volta para dois desses momentos: quando o<br />

homem se defronta com as máquinas e posteriormente com a<br />

digitalização dos processos.<br />

O mundo virtual trouxe novos paradigmas para o designer<br />

lidar. Novos problemas de concepção. O design de interfaces<br />

ganha força, a intermediação que acontece entre os usuários,<br />

clientes e os produtos, mídias, serviços virtuais, faz vir à tona<br />

38


PAPANEK, Victor.<br />

(1927-1999)<br />

Estudou design e<br />

arquitetura em Nova<br />

York e no MIT-<br />

Massachusetts<br />

Institute of<br />

Technology.<br />

uma variedade de problemas a serem solucionados,<br />

discutidos, pesquisados. A Revolução Digital, assim como fora<br />

a Revolução industrial, abre um novo campo de atuação para<br />

o designer e o joga novamente no centro das atenções do<br />

sistema econômico e social.<br />

Projetar dentro de uma concepção virtual, de imaterialidade<br />

dos produtos, repensar suas delimitações, sua conformação<br />

no ciberespaço, traz o designer para uma nova forma de<br />

encarar a terceira dimensão. Esta concepção trouxe um novo<br />

solo para o design, trouxe o espaço, sem paredes, pisos ou<br />

tetos, sem limites dimensionais, o que para a antropometria e<br />

ergonomia, causa uma enorme diferença. Vejamos, por<br />

exemplo, o caso dos celulares: aparelhos diminutos, teclas<br />

ínfimas, que os dedos humanos são incapazes de acessar com<br />

precisão. O design junto com a tecnologia cria o problema, ao<br />

invés de buscar solucioná-lo. Surge no mercado um novo<br />

produto, a caneta de escrita virtual, não para ser utilizada em<br />

papel, mas em telas, para dar alcance preciso no acionamento<br />

de teclas diminutas em celulares do tamanho de caixas de<br />

cigarro.<br />

O design contemporâneo tem um propósito social, que os<br />

designers estão esquecendo. Este foi o alerta feito por<br />

Papanek (1971), em outra versão, outro cenário, mas que é<br />

perfeitamente plausível hoje, com as situações reais e virtuais<br />

com as quais estamos lidando. A inclusão digital, a permissão<br />

de acesso a diversos públicos da gama imensa de informação<br />

disponível nas redes impõe mais este paradigma. A facilitação<br />

ao público com dificuldades inerentes: idosos, cadeirantes,<br />

não videntes, crianças, de se movimentar, trabalhar, viver,<br />

39


incar com os novos produtos e serviços, dentro e fora do<br />

novo ciberespaço, abre-nos uma nova gama de possibilidades<br />

e caminhos a seguir. (MARGOLIN, 2004, p. 43)<br />

Que tendência seguirá o design neste novo milênio, ainda é<br />

uma incógnita. Mas experimentamos uma diversidade de<br />

possibilidades que convergem para um ponto em comum: o<br />

papel social do design, a responsabilidade deste papel para as<br />

futuras gerações, a necessidade de ser debatido, pesquisado,<br />

difundido com os estudantes o posicionamento ético e moral<br />

necessário para assunção desta responsabilidade.<br />

A mudança de paradigma da revolução digital não modificou<br />

apenas o tipo de produtos que são desenvolvidos, mas<br />

principalmente a maneira pela qual nos comunicamos e<br />

trabalhamos, as inter-relações advindas desta mudança. Os<br />

relacionamentos mudaram porque o ambiente onde eles<br />

ocorrem mudou.<br />

Como nos lembra Margolin (2004, pg. 44), "Os vários domínios<br />

que têm um impacto sobre o funcionamento humano são o<br />

biológico, psicológico, cultural, social, natural e físico/espacial".<br />

Ou seja, as relações humanas são as gotículas que juntas<br />

formam o mar da sociedade, onde os designers atuam para<br />

melhorar, facilitar, ampliar estes relacionamentos, favorecendo<br />

e fortalecendo estas relações.<br />

40


3.0 O que é Design Social<br />

Antes de mais nada, é importante dizer que o Design como<br />

prática projetual implica tanto o desenvolvimento de<br />

produtos quanto relações simbólicas e sociais intensas, e tais<br />

relações se constituem como o principal foco de nossa<br />

dissertação.<br />

No que diz respeito ao Design Social, ao menos duas acepções<br />

são identificadas: a primeira, que apela para a<br />

responsabilidade social do designer e a segunda que carrega o<br />

valor econômico-social do trabalho do designer. Ambas estão<br />

presentes nos projetos de design, e merecem a nossa reflexão.<br />

A definição de Design Social ainda está em construção. Victor<br />

Margolin, em seu livro Politics Of The Artificial (2002), nos traz<br />

uma especial contribuição ao introduzir a noção de que o<br />

Design Social é uma atividade produtiva para o<br />

desenvolvimento do capital humano e social ao mesmo tempo<br />

que cria produtos e processos. Deste modo, o designer daria<br />

forma tanto a produtos materiais quanto a imateriais que<br />

solucionariam problemas humanos de larga escala e<br />

contribuiria para o bem-estar social. Esta definição é<br />

compartilhada por designers que colocam ênfase na sua<br />

atuação social de forma profissional, o que afasta<br />

completamente desta definição a idéia de caridade ou de<br />

trabalho voluntário. O Design Social se torna uma atividade<br />

econômica que conduz ao crescimento e desenvolvimento do<br />

local onde o projeto é realizado.<br />

41


Realizada de 3 a 14 de<br />

junho de 1992, o Rio<br />

de Janeiro, a<br />

Conferência das<br />

Nações Unidas sobre o<br />

Ambiente e o<br />

Desenvolvimento<br />

(também conhecida<br />

como Cúpula da Terra<br />

ou Eco-92) reuniu 108<br />

chefes de Estado para<br />

buscar mecanismos<br />

que rompessem o<br />

abismo norte-sul<br />

preservando os<br />

recursos naturais da<br />

Terra.<br />

As bases para a Eco-92<br />

foram lançadas em<br />

1972, quando a ONU<br />

organizou sua primeira<br />

conferência ambiental,<br />

em Estocolmo, e em<br />

1987.<br />

iProjetos de Design Social são estratégicos: discutir sobre as<br />

implicações positivas e negativas de cada ação, procurar<br />

informação para traçar os possíveis cenários que serão<br />

estabelecidos através das ações, é essencial. Vários relatórios e<br />

comissões foram criadas ao longo dos anos para discutir as<br />

questões e apontar ações pertinentes à Sustentabilidade,<br />

Ecologia, Meio-ambiente e Sociedade: Relatório Brutland,<br />

Grupo de Roma, Agenda 21, Rio Eco 92i. Mas apenas a<br />

realização destas discussões sem uma ação efetiva, bem como<br />

ações impositivas, sem discussão e consenso, são inoperantes<br />

frente a um contexto social adverso. Congregar governos e<br />

organismos políticos e sociais para analisar e discutir caminhos<br />

e possibilidades é o início, propor ações e efetivá-las, faz parte<br />

da responsabilidade de todos os povos.<br />

Whiteley (1998, p. 70), através de seus estudos formulou<br />

algumas sugestões de modelo de design para este milênio,<br />

podemos incluir nas responsabilidades do designer social,<br />

segundo ele,<br />

"(...) as responsabilidades em relação às questões ecológicas, tanto<br />

em termos de potencial do design para garantir a sustentabilidade<br />

ambiental, quanto em termos do papel negativo do design como<br />

estímulo ao sistema de valores consumistas."<br />

A trajetória percorrida pelo Design, ao longo de sua história,<br />

trouxe-nos às discussões sobre o Design Social, em que todas<br />

as ações são centradas no ser humano. (MARGOLIN, 2007, p. 06)<br />

Para Krippendorff (2000, p. 88), o design tem uma trajetória<br />

marcada por seis paradigmas, e destaca ao longo desta<br />

trajetória:<br />

42


VEZZOLI, Carlo.<br />

Designer, professor da<br />

graduação e doutirado<br />

de sustentabilidade<br />

ambiental e projeto na<br />

Faculdade de Desenho<br />

da <strong>Universidade</strong><br />

Politécnica de Milão,<br />

na Itália.<br />

"Um aumento gradual na consideração de aspectos humanos e<br />

sociais, e corresponde à saída radical de uma cultura científica em<br />

direção àquilo que podemos chamar de cultura projetual."<br />

Entre esses paradigmas estariam: o projeto de produtos para<br />

produção em série; a mudança de foco dos produtos para<br />

bens e serviços (abordagem também utilizada por Carlo<br />

Vezzoli e Ezio Manzzini); o foco nas interfaces; as redes de<br />

multi-usuários e os planejamentos.<br />

Os Designers, mas não somente, como qualquer pessoa, não<br />

podem mais negar a sua parcela de responsabilidade com o<br />

futuro do planeta. Encontrar meios de viabilizarmos as<br />

mudanças necessárias através de um planejamento consciente<br />

de ações aglutinadoras, faz parte do seu dia-a-dia.<br />

Para Margolin (1998, p.47):<br />

"O design é a atividade que gera planos, projetos e produtos. É<br />

uma atividade que produz resultados tangíveis, os quais podem<br />

funcionar como demonstrações ou como discussões das maneiras<br />

em que poderíamos viver. O design está reinventando<br />

constantemente os seus objetos de estudo, sua área de<br />

abrangência, não se limita, portanto, a categorias antiquadas de<br />

produtos. O mundo espera novidades da parte dos designers.<br />

Esta é a natureza do design."<br />

Também faz parte desta natureza projetar não só objetos ou<br />

linhas de produção, mas projetar cenários, criar um novo<br />

ambiente, mudar os paradigmas sociais com que nos<br />

deparamos neste início de século XXI. Analisar as informações,<br />

atender às necessidades básicas do ser humano para uma vida<br />

digna e saudável, ao invés de atender apenas aos seus desejos,<br />

43


KRIPPENDORFF,<br />

Klaus.<br />

Ph.D. em<br />

Comunicação pela<br />

<strong>Universidade</strong> de<br />

Illinois, Urbana, 1967.<br />

Diplomado em<br />

Design, Ulm School of<br />

Design, Germany,<br />

1961.<br />

Engenheiro (grad.),<br />

State Engineering<br />

School Hanover,<br />

Germany, 1954<br />

e planejar as ações que levarão a este propósito. Isto faz parte<br />

do Design Social. Ou seja, projetar cenários significa buscar<br />

antecipar os acontecimentos ajudando no sentido de<br />

afastarmos as possibilidades indesejadas e reforçarmos o<br />

caminho e as ações necessárias para o que desejamos no<br />

futuro. Assim como afirma Arge para a sociedade,<br />

"(...) a atividade projetual tornou-se um modo de vida, que o<br />

antigo pensamento do design como criação de coisas deu lugar ao<br />

pensamento do design como algo incrustado na sociedade".<br />

(KRIPPENDORFF apud ARGE, 2000, p. 88)<br />

No entanto, por maior que seja a quantidade de dados<br />

tomada, não é possível controlar todos os resultados das<br />

ações. Mesmo dentro da melhor tecnologia empregada para a<br />

análise destes, por maior que seja a amplitude da revisão<br />

histórica, e por mais realistas que sejam as projeções, a própria<br />

dinâmica da sociedade decide o rumo que estas ações irão<br />

tomar. Do mesmo modo que a natureza muitas vezes reage de<br />

forma inusitada e consegue obter uma regeneração impensável<br />

da degradação sofrida pelo meio-ambiente.<br />

O exercício de projetar e propor cenários é baseado no que<br />

poderia acontecer. Os criadores desses prognósticos de<br />

cenários reconhecem que os eventos ou as atividades que eles<br />

estudam são muito complexas para serem controladas. Mas<br />

esses tipos de cenários tendem a ser mais pragmáticos, menos<br />

idealistas. (MARGOLIN, 2007, p.06)<br />

Ao designer cabe cercar-se da maior quantidade possível de<br />

ferramentas para traçar estratégias em conjunto com a<br />

comunidade científica e leiga, para minimizar os impactos<br />

44


negativos e maximizar os pontos positivos das ações. O<br />

trabalho interdisciplinar, a troca de informações com outras<br />

áreas como as ciências sociais, a ecologia, a saúde, a<br />

engenharia de produção e a administração, e principalmente<br />

com a população-alvo destas ações, bem como conquistar seu<br />

engajamento nas atividades desenvolvidas é essencial. O<br />

designer não pode mais ser o único responsável pelo rumo<br />

que tomam as suas idéias. A partir do momento em que os<br />

designers contemporâneos percebem que o planejamento não<br />

é uma característica exclusiva da sua profissão, e que deve ser<br />

cada vez mais difundido em nossa realidade, partem "em<br />

direção à defesa de práticas sociais mais palatáveis",<br />

entendidas como aquelas que podem e devem ser exercidas<br />

pelo designer enquanto profissional, para atuar dentro do seu<br />

alcance, na promoção de pequenas mudanças sociais.<br />

(KRIPPENDORFF, 2000, p. 91)<br />

No intuito de buscar reforço para que estes planejamentos e<br />

cenários sejam o mais próximo possível da realidade futura, a<br />

adição das várias esferas que constituem o mundo social se faz<br />

necessária. Cabe analisar cuidadosamente e estar ciente das<br />

suas próprias esferas de conhecimento e interesse, procurar<br />

determinar sua área de abrangência e sempre que necessário,<br />

convocar profissionais de outras áreas para o planejamento.<br />

(MARGOLIN, 2007, p.06)<br />

O Design social é o resultado da dinâmica (do somatório) de<br />

todas as (rel)ações individuais. Por isso mesmo, ele é uma<br />

grande oportunidade de promover tanto as mudanças<br />

necessárias, quanto uma grande responsabilidade para toda<br />

sorte de atores sociais. Ele vai além de projetar artefatos,<br />

45


SENA,<br />

de.<br />

Paulo Sérgio<br />

Formado em Ciências<br />

pela <strong>Universidade</strong> de<br />

Taubaté (1983);<br />

graduação em Ciências<br />

Biológicas pela<br />

<strong>Universidade</strong> de<br />

Taubaté (1984);<br />

mestrado em Ecologia<br />

pela <strong>Universidade</strong> de<br />

Guarulhos/Instituto<br />

Butantan, (1994);<br />

mestrado em Ciência<br />

Ambiental pela<br />

<strong>Universidade</strong> de São<br />

Paulo (2000) e<br />

doutorando em<br />

Ciências Sociais pela<br />

Pontifícia <strong>Universidade</strong><br />

Católica de São Paulo<br />

(Qualificado em<br />

28.Fev.2008).<br />

simbologias para estes artefatos ou serviços, ele é o resultado<br />

das ações sobre os sistemas e das articulações e mediações<br />

que ocorrem entre os atores e destes para com o meio-<br />

ambiente. Ele é o resultado da crença de que mudanças<br />

podem ocorrer através do design.<br />

"O design Social procura casar pensamento e prática para<br />

viabilizar a constituição de um estilo de viver e a constituição de<br />

uma sensibilidade capaz de se fazer e sustentar esse estilo."<br />

(PACHECO, 1996, p. 50)<br />

O estilo nesta afirmação corresponde, segundo a autora, a<br />

uma série de procedimentos que sustentam as práticas e<br />

respondem às inquietações vividas pela humanidade.<br />

Entendemos o Design Social segundo Nigel Whiteley (1998, p.<br />

74), ao dizer que o design defende “(...) ideais sociais e<br />

culturais mais elevados do que o consumismo a curto prazo,<br />

com sua bagagem obrigatória de degradação ambiental." E<br />

carrega "(...) o potencial de contribuir para uma qualidade de<br />

vida melhor e mais sustentável. " (Idem)<br />

O objetivo do design social é promover uma boa qualidade de<br />

vida e garantir sua continuidade na biosfera. Promover um<br />

ambiente favorável ao desenvolvimento de todo o planeta. "O<br />

Design Social revela uma metodologia que ressalta os<br />

interesses e necessidades culturais de um povo, promovendo a<br />

interação social." (SENA, 1995, p. 91)<br />

A professora Heliana Soneghet Pacheco, em seu artigo O<br />

Design Social, a Barraca e o Desenho Coletivo na PUC-Rio,<br />

46


PACHECO, H. S.<br />

Graduada em<br />

Comunicação Visual<br />

pela Pontifícia<br />

<strong>Universidade</strong> Católica<br />

do Rio de Janeiro<br />

(1988), mestrado em<br />

Design pela Pontifícia<br />

<strong>Universidade</strong> Católica<br />

do Rio de Janeiro<br />

(1996) e doutorado<br />

em Typography &<br />

Graphic<br />

Communication -<br />

University of Reading -<br />

UOR (2008). É<br />

professora titular da<br />

<strong>Universidade</strong> Federal<br />

do Espírito Santo.<br />

assinala que<br />

"O Design Social (DS) é uma metodologia de desenvolvimento de<br />

projetos que vem caminhando e esse transformando (...). Com uma<br />

trajetória marcada pelo envolvimento direto dos alunos (designers)<br />

com os usuários, criando uma parceria na elaboração de projetos,<br />

o DS foi descobrindo a importância do interlocutor no processo<br />

projetual. (...) Transformou-o em Desenho Coletivo por incluir no<br />

método de aprendizagem projetual, os afetos, as intuições e os<br />

acontecimentos que movimentam a coletividade." (PACHECO, 1996,<br />

p. 61.)<br />

Se partirmos do princípio de que os problemas enfrentados<br />

pela humanidade foram desenvolvidos através das ações<br />

humanas, podemos supor que ações humanas conscientes<br />

podem solucionar ou, na pior das hipóteses, parar e então<br />

minimizar, até mesmo reverter determinados problemas. Dito<br />

desta forma parece uma tarefa bem simples. Mas a rede<br />

intricada desenvolvida torna a tarefa praticamente impossível:<br />

nações, povos, políticas e interesses diversos estão sendo<br />

confrontados diariamente, e todos implicam problemas<br />

vivenciados.<br />

47


3.1 O papel da Sustentabilidade no Contemporâneo<br />

"Foi o canadense Maurice Strong que usou em 1973 pela primeira<br />

vez o conceito de ecodesenvolvimento para caracterizar uma<br />

concepção alternativa de política do desenvolvimento. Ignacy<br />

Sachs formulou os princípios básicos desta nova visão do<br />

desenvolvimento. Ela integrou basicamente seis aspectos, que<br />

deveriam guiar os caminhos do desenvolvimento: a) a satisfação<br />

das necessidades básicas; b) a solidariedade com as gerações<br />

futuras; c) a participação da população envolvida; d) a preservação<br />

dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; e) a<br />

elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança<br />

social e respeito a outras culturas, e f) programas de educação."<br />

(CAVALCANTI, 1998, p.31)<br />

Nos anos 80, a concepção do desenvolvimento sustentável se<br />

intensifica, como fruto das críticas e dos debates e relatórios<br />

relacionados ao modelo econômico e de crescimento<br />

estabelecido pelos processos de industrialização e pela<br />

democracia.<br />

"O desenvolvimento sustentável revelou-se uma nova maneira de<br />

perceber as soluções para os problemas globais, que não se<br />

reduzem apenas à degradação ambiental, mas incorporam<br />

também dimensões sociais, políticas e culturais." (CAMARGO, 2002<br />

p.ii)<br />

"Desenvolvimento sustentável, sustainable development ou<br />

nachhaltige Entwicklung é um conceito aparentemente<br />

indispensável nas discussões sobre a política do desenvolvimento<br />

no final deste século." (CAVALCANTI, 1998, p.29)<br />

O design para sustentabilidade é uma atividade estratégica de<br />

design realizada para conceber e desenvolver soluções<br />

sustentáveis. São sistemas de produtos e serviços que<br />

48


permitem ao homem viver melhor consumindo (muito) menos<br />

recursos ambientais e melhorando (ou, em muitos casos,<br />

regenerando) os contextos físicos e sociais da vida.<br />

Os quatro pilares de sustentabilidade são: o Ecologicamente<br />

correto, o economicamente viável, o socialmente justo e<br />

culturalmente aceito. (DIVITIIS, 2007)<br />

"Na verdade, não há uma economia da sustentabilidade nem<br />

uma única forma de chegar aos predicados de uma vida<br />

sustentável. Inexiste tampouco uma teoria única do<br />

desenvolvimento ecologicamente equilibrado. O que há é uma<br />

multiplicidade de métodos de compreender e investigar a<br />

questão." (CAVALCANTI, 1998, p.21)<br />

Concordamos com Brüseke (1998, p.36 ) quando afirma como<br />

deve ser conduzida uma teoria de desenvolvimento<br />

sustentável<br />

"uma teoria do desenvolvimento tem que: a) contribuir para a<br />

interpretação sistemática do desenvolvimento social; b) tem que<br />

demonstrar seu valor heurístico nos estudos de casos; c) deve na<br />

base da sua coerência interna servir para orientar a ação social com<br />

sentido numa situação que seria menos transparente sem a<br />

existência dessa teoria."<br />

49


COOPER, Rachel<br />

Professora de Gestão<br />

em Design na<br />

<strong>Universidade</strong> de<br />

Lancaster, onde ela é o<br />

Diretora do Instituto de<br />

Lancaster das Artes<br />

Contemporâneas e<br />

também Imagination<br />

Lancaster (um centro<br />

da pesquisa em<br />

produtos, lugares e<br />

sistemas do futuro).<br />

3.1.1 A questão ecológica<br />

A complexidade da teia que une economia, meio ambiente e<br />

ecologia às relações sociais e políticas determina que apenas<br />

soluções complexas serão possíveis. Então percebe-se que<br />

parar, minimizar e retroceder o estado de evolução da<br />

destruição causada pela sociedade contemporânea não será<br />

nada fácil, talvez mesmo impossível.<br />

Os designers podem e estão cientes do quanto devem<br />

contribuir para estas mudanças. Desde as ações e<br />

posicionamentos iniciais de William Morris e John Ruskin<br />

passando por Victor Papanek, Tomás Maldonado, Gui<br />

Bonsiepe, chegando a Victor Margolin e Klaus Krippendorff,<br />

só para citarmos alguns arquitetos, historiadores e designers<br />

que levantam essa bandeira e abrem espaço para discussão<br />

destas questões.<br />

"A natureza que é vista, pelo moderno, como matéria-prima, fonte<br />

de riqueza e exploração para o lucro, passa a ser pensada em<br />

termos de recursos finitos que exigem uma estratégia de<br />

exploração sustentável." (SENA, 1995, p. 90)<br />

A designer Rachel Cooper nos traz que "Nos anos 60, os<br />

designers começaram a considerar ativamente as implicações<br />

mais abrangentes do design para sociedade." (SANTOS, 2005, p.<br />

80). E daí decorreram algumas correntes: a) design verde, b)<br />

design responsável (década de 1970), c) ecodesign e design<br />

ético(década de 1990) e o d) design feminista (anos 2000).<br />

50


WHITELEY, Nigel.<br />

Professor of Visual Arts.<br />

Department: Lancaster<br />

Institute for the<br />

Contemporary Arts.<br />

Para Whitele y ( 1998, p. 67) ,<br />

"O designer radical do final da década de 1960 deu lugar ao<br />

designer responsável da década de 1970, principalmente a partir<br />

da publicação do livro Design for the real world de Victor Papanek,<br />

o qual lançou a proposta dos designers assumirem um papel social<br />

construtivo e intervencionista em oposição às forças consumistas."<br />

Nos anos 70, os designers são motivados em favor de uma<br />

abordagem mais solidária, encorajados a abandonar a política<br />

do "design pelo lucro" e voltar suas atenções para o viés social<br />

do design. Surge então "uma nova geração de designers cada<br />

vez mais voltada para questões ambientais ou verdes". Ainda<br />

mais fortalecidos pela reedição do livro de Papanek. (WHITELEY,<br />

1998, p. 67)<br />

Nos anos 80 e 90,<br />

"A compra de produtos e serviços socialmente responsáveis e<br />

éticos foi facilitada pela disseminação de pesquisas no campo da<br />

sustentabilidade e de publicações orientadas à educação do<br />

consumidor." (SANTOS, 2005, p. 80)<br />

A década de 1990 desloca o foco para o designer ético.<br />

"(...) encara todo o design como um fenômeno ligado visceral e<br />

intimamente ao consumo e, portanto, ao sistema social e político<br />

do Ocidente moderno. (WHITELEY, 1998, p. 67)<br />

Nos anos 2000, a "acessibilidade e inclusão", as questões de<br />

ergonomia e conforto de todos os tipos de usuário têm<br />

atraído muitos designers. E mais "(...) recentemente, os<br />

designers têm voltado sua atenção para questões<br />

relacionadas ao crime." (SANTOS, 2005, p. 80)<br />

O designer seria um agente para a diminuição da violência<br />

51


KENDALL, Henry<br />

Way. (1926-1999).<br />

Físico do MIT,<br />

prêmio<br />

Nobel de Física em<br />

1990,<br />

foi o primeiro a<br />

afirmar que os seres<br />

humanos e o mundo<br />

natural estão numa<br />

rota de colisão (ISEE-<br />

International Society<br />

for Ecological<br />

Economics, 1994).<br />

urbana. Não apenas buscando minimizar os seus efeitos, com<br />

equipamentos para a segurança pessoal e patrimonial, mas<br />

atuando nas suas causas: nas inter-relações sociais.<br />

O nosso cenário atual evoca questões prementes e urgentes: A<br />

fome, através da qual a sociedade sucumbe, as condições sub-<br />

2<br />

humanas de metade da população mundial , vivendo abaixo da<br />

linha da pobreza; a falta de educação, saúde e empregos para<br />

todos. Quanto maior a tecnologia empregada para produção<br />

de alimentos, menor é a distribuição e ainda temos que lidar<br />

com qualidade, sempre questionável, destes alimentos. Alguns<br />

defendem que refrear o consumismo que se abateu sobre a<br />

sociedade pós-industrial é a solução, outros defendem que<br />

seria o colapso total.<br />

"O complexo de problemas que desafiam os homens de todas as<br />

nações: a pobreza em meio à riqueza; a degradação do meio<br />

ambiente; a perda de confiança nas instituições; o crescimento<br />

urbano descontrolado; a insegurança no emprego; a alienação da<br />

juventude; a rejeição de valores tradicionais; e a inflação e outras<br />

rupturas econômicas e monetárias." (MARGOLIN apud MEADOWS,<br />

1998, p. 40)<br />

Todos concordam que o estado atual de coisas não pode<br />

permanecer em curso, pois a humanidade está em rota de<br />

colisão com o meio ambiente e a sustentabilidade da vida no<br />

planeta.<br />

Quanto tempo mais será possível continuar nesta velocidade<br />

de consumo, qual o verdadeiro grau de aceleração desta<br />

colisão provocada por nossas ações, são questões controversas.<br />

“Ao se falar de rota de colisão entre homem e natureza, não se está<br />

2 Aproximadamente a metade da população do mundo vive baixo da linha da pobreza, segundo um<br />

informe da Organização Internacional do Trabalho (OIT).<br />

52


pregando catastrofismo. Muito ao contrário, realçar a noção de<br />

uma economia da sustentabilidade diz respeito ao fato de que as<br />

funções ecossistêmicas são parâmetros que não se podem<br />

modificar impunemente, necessitando de estabilidade diante de<br />

perturbações suscitadas pelas ações do homem." (CAVALCANTI,<br />

1998, p.17)<br />

Mapear este cenário com precisão é a chave para discutirmos<br />

planos efetivos e realizáveis a curto, médio e longo prazos. Se<br />

não é possível vislumbrar o caminho, será impossível criarmos<br />

as rotas, mesmo que, seja uma rota de fuga emergencial.<br />

Segundo Cooper em entrevista concedida a Santos (2005, p.81 ),<br />

"alguns" (que Margolin identifica como empresários e grande<br />

parte da opinião pública dos países industrializados) acreditam<br />

que a simples adoção da Responsabilidade Social pelas<br />

empresas é a solução para combater a corrente que defende<br />

uma diminuição no consumo, e na produção de bens que<br />

acarretaria uma conseqüente desacelaração nos processos<br />

econômicos. (MARGOLIN, 1998, p.41)<br />

Para Cooper, "(...) a eficácia desta ação está mais direcionada<br />

para mudanças de ordem política, social, ética e ambiental."<br />

Ou seja, não basta que as empresas se digam Socialmente<br />

Responsáveis, se elas não promoverem mudanças reais de<br />

atitude empresarial e estimularem essas mudanças no seu<br />

entorno, tanto nos meios políticos como os sociais. Divulgar<br />

que é uma empresa ética e permitir atitudes antiéticas de seus<br />

colaboradores é entrar em contradição. A fase mais difícil para<br />

estas empresas é a inicial, a adaptação dos seus funcionários e<br />

fornecedores a uma nova atitude, que não é só cobrada nos<br />

negócios, mas como uma postura para a vida de cada um<br />

deles. (SANTOS, 2005, p. 80)<br />

53


No artigo O design e a situação mundial, publicado em 1997,<br />

posterior ao Global equilibrium or global expansion: design<br />

and world situation, de 1996, Victor Margolin identifica e<br />

nomeia dois modelos de entendimento da situação mundial: o<br />

modelo de equilíbrio para o mundo e o modelo de expansão<br />

mundial.<br />

O primeiro modelo, baseado nos estudos desenvolvidos pelo<br />

Clube de Roma, desde 1972 "(...) parte da premissa de que o<br />

mundo é um ecossistema de equilíbrio delicado, baseado em<br />

recursos finitos". E portanto, cada elemento do sistema tem<br />

importância vital na manutenção do seu equilíbrio. Dentro<br />

deste sistema se algum elemento sofrer danos que provoquem<br />

o desequilíbrio deste elemento, ou mesmo o esgotamento de<br />

alguns dos recursos básicos do sistema, este sofrerá um abalo<br />

tão significativo que poderá acarretar o colapso do sistema<br />

inteiro. (MARGOLIN, 1998, p.41)<br />

O segundo modelo, defendido pelo meio empresarial<br />

internacional, apoiado por muitos governos e muitos<br />

consumidores, trabalha sobre a lógica dos mercados. Todo o<br />

sistema é compreendido como negócios e movimentações de<br />

mercadorias e bens. São excluídas deste sistema as noções de<br />

nação, sociedade e cultura. Os produtos e a quantidade de<br />

riqueza que podem gerar são sua mola propulsora. Não<br />

obstante a alocação da riqueza gerada, que poderia ser<br />

acumulada ou redistribuída, este sistema parte da premissa de<br />

que os bens e a tecnologia por eles gerados são capazes de<br />

satisfazer todas as necessidades do homem. Como se a<br />

qualidade de vida humana dependesse apenas do conforto<br />

físico e psicológico proporcionado pelos bens acumulados.<br />

54


Nesta equação o meio ambiente foi exonerado. (MARGOLIN,<br />

1998, p.41)<br />

"O materialismo tem se tornado parte tão integrante das noções de<br />

felicidade que o desenvolvimento de produtos encontra-se<br />

emaranhado de forma quase inextricável à busca do<br />

melhoramento da vida humana" (MARGOLIN, 1998, p.43)<br />

As leituras feitas dos textos e livros de Nigel Whiteley (1998) e<br />

Victor Margolin (1998) apontam que na maioria dos projetos<br />

de produtos é raro o questionamento sobre sua real<br />

necessidade, ou mesmo sobre os seus possíveis impactos<br />

ambientais, sociais, morais ou pessoais. A busca pelo<br />

aperfeiçoamento de produtos baseada nestas premissas,<br />

segundo Margolin, inexiste.<br />

O público é incitado a adquirir um novo produto ou trocar a<br />

versão corrente, não por uma diferenciação tecnológica ou<br />

adequação às necessidades identificadas em pesquisas com o<br />

usuário, mas apenas pelo apelo estético, muitas vezes<br />

denominado design ou pelo chamado efeito demonstração,<br />

isto é, procura-se demonstrar aos demais que se adquire<br />

status com a posse de um produto com um design<br />

diferenciado. Haja vista a inúmera quantidade de modelos e<br />

marcas de celulares espalhados pelo mercado brasileiro. A<br />

diversidade não significa que o objetivo core do produto, que<br />

é permitir ligações telefônicas dentro das áreas de cobertura<br />

dos serviços das operadoras a qualquer um que tenha um<br />

aparelho e tenha adquirido este serviço, foi ampliado ou<br />

modificado. O que não justifica que os valores destes<br />

aparelhos variem de R$ 99,00 a 2.999,00! Alguns modelos<br />

realmente incorporam novas tecnologias ou novas<br />

55


habilidades, mas que não refletem diretamente sobre a<br />

função primordial desses aparelhos.<br />

As empresas de hoje sofrem com as exigências do<br />

consumidor, atendê-las simplesmente, não significa mais<br />

conquistar este consumidor. Empresas de mesmo porte, com<br />

produtos e tecnologias similares, atuam no mercado com<br />

preços competitivos. Buscar um diferencial, procurar se<br />

destacar num mar de ofertas, fazer a imagem da empresa<br />

"saltar" perante as outras, vai depender muito dos seus valores<br />

e atitudes. Prevalecerão aquelas que demonstrarem respeito<br />

ao meio ambiente e à sociedade, assim como as que atuarem<br />

no mercado de forma transparente, com ética e dentro de<br />

uma cadeia de sustentabilidade.<br />

A palavra de ordem do mercado de tecnologias é a<br />

"convergência", através da qual um único aparelho agrega<br />

múltiplas funções e consegue reunir conectividade, som,<br />

imagem em múltiplas tarefas, isto é, realizar ligações com<br />

transmissão de dados, voz e imagem, tudo ao mesmo tempo.<br />

A convergência também está presente nos eletrodomésticos,<br />

como as geladeiras, que possuem tela plana, com<br />

conectividade e permitem a navegação pela web.<br />

Uma das questões que envolvem a convergência e o<br />

lançamento de novos produtos e modelos é o aumento ou<br />

melhoria da qualidade destes produtos. No entanto, não<br />

temos parâmetros para determinar quais são as características<br />

de um determinado produto com uma qualidade suficiente e<br />

"percebida" pelos usuários.<br />

56


Para Krippendorff (KRIPPENDORFF, 2000, p. 89), "Não reagimos às<br />

qualidades físicas das coisas, mas ao que elas representam<br />

para nós." Por isto que o designer passou a projetar marcas,<br />

identidades, a criar conceitos e organizar informações. A<br />

atividade passou de projetos materiais para projetos<br />

imateriais. E esta percepção levou à conclusão de que os<br />

projetos eram muito mais práticas sociais do que meros<br />

objetos de uso. O foco dos projetos mudou dos objetos para o<br />

homem, o usuário, o cliente, as pessoas e suas relações. E daí,<br />

para as pessoas e suas atitudes perante a vida e ao planeta.<br />

"Freqüentemente, a qualidade do produto está além daquilo que o<br />

3<br />

usuário pode aproveitar mas, mesmo assim, a compra é efetuada<br />

porque o produto representa o que há de melhor e isto vem a<br />

constituir-se em uma declaração simbólica." (MARGOLIN, 1998,<br />

p.43)<br />

Este tipo de visão vai de encontro às questões relacionadas<br />

com a Responsabilidade Social Corporativa, pela qual não<br />

apenas os aspectos econômicos devem prevalecer, mas<br />

principalmente os critérios não econômicos devem influenciar<br />

as escolhas dos consumidores. (SANTOS, 2005, p. 80)<br />

Lançar no mercado produtos tidos de luxo, com preços<br />

exorbitantes e funções que nunca serão exploradas pelos<br />

usuários, apenas para se criar uma nova necessidade, um novo<br />

parâmetro para o status social de quem adquire estes<br />

produtos, bem como criar novos mercados para produtos que<br />

nem existiam, é uma das estratégias utilizadas pelas indústrias.<br />

Projetar e determinar o tempo máximo de vida da "novidade"<br />

para em seguida surgir com o mais novo modelo, que em<br />

breve sucumbirá e assim sucessivamente. Este é o modelo<br />

57


adotado pela maioria das empresas e o sistema da moda usa a<br />

pesquisa de tendências como ferramenta para auxiliar nesta<br />

estratégia. (MARGOLIN, 1998, p. 41)<br />

"A moderna sociedade industrial se caracteriza, por sua vez, por<br />

fluxos de sentido único, em que matéria e energia de baixa<br />

entropia se convertem continuamente em matéria e energia de alta<br />

entropia, não integrados nos ciclos materiais da natureza. Não se<br />

pode ter sustentabilidade dessa forma. Um modelo sustentável tem<br />

que se basear em fluxos que sejam fechados dentro da sociedade<br />

ou ajustados aos ciclos naturais (Eriksson, 1992). Este é um desafio<br />

ponderável para a compreensão científica das relações entre o<br />

homem e seu referencial ecológico, entre sociedade e natureza."<br />

(CAVALCANTI, 1994, p.19)<br />

Os processos industriais são resumidos em uma entrada de<br />

matéria que com o acréscimo de energia é transformada em<br />

produto e deste processo as sobras são deixadas para a<br />

natureza. Após esta etapa, o produto é lançado no mercado<br />

para ser consumido pela sociedade, parte dele (invólucros,<br />

embalagens), mais uma vez são deixados para a natureza se<br />

encarregar de absorvê-los, e após o primeiro ciclo de consumo<br />

do produto, novos dejetos serão lançados de novo na<br />

natureza. Desta forma, quanto mais evoluídos os processos e<br />

maior e mais rápida a circulação de mercadoria e o consumo,<br />

maior será o acúmulo destes dejetos, o que torna impossível a<br />

absorção e transformação destes pela natureza em tempo de<br />

restabelecer o seu equilíbrio natural. Este é considerado um<br />

modelo insustentável de produção, segundo Cavalcanti (1998,<br />

p. 19), um modelo de rota de colisão entre a economia e a<br />

natureza.<br />

"The terms ecodesign and sustainable design now characterize<br />

products that embody a design strategy that is consistent with the<br />

58


values of minimizing waste, using less energy, and reducing the<br />

amount of material we relegate to landfills." (MARGOLIN, 2002, p.<br />

49)<br />

3<br />

As inúmeras campanhas promovidas em diversos países a<br />

cerca dos problemas das fontes de energia, a utilização de<br />

fontes renováveis e limpas a busca de novas fontes,<br />

demonstram a importância deste aspecto nos projetos. Para<br />

Margolin (2002, p. 49) "(…) however, there is a new<br />

consciousness regarding product recycling and reuse."<br />

4<br />

(MARGOLIN, 2002, p. 49)<br />

"As incumbências do design podem ser divididas em bases de<br />

simples critérios, o mais importante deles é a relação entre os<br />

vários aspectos do meio ambiente e os indivíduos que interagem<br />

com ele (...)." (MOLES, 1989, p. 77)<br />

A Terra pede planejamento, organização, disciplina,<br />

perseverança e responsabilidade, por parte de todos os seres<br />

5<br />

vivos que coabitam os seus sistemas em toda a biota.<br />

3 “Os termos ecodesign e desenho sustentável agora caracterizam produtos que personificam uma<br />

estratégia de desenho que é compatível com os valores de minimizar resíduos, usando menos<br />

energia, e reduzindo o montante do material que relegamos a aterros." (MARGOLIN, 2002, p. 49)<br />

(livre tradução do autor)<br />

4 "(…) de qualquer forma, existe uma nova consciência no que diz respeito à reciclagem e<br />

reutilização dos produtos." (livre tradução do autor).<br />

6 “Biota - Refere-se à parte que tem vida de um ecossistema. A biota é também chamada de flora e<br />

fauna." (DASHEFSKY, 2001, p. 48)<br />

59


3.1.2 Inclusão Social<br />

A Inclusão Social não se refere apenas aos PPD - Pessoa<br />

Portadora de Deficiência, ou portadores de necessidades<br />

especiais. Incluir socialmente significa também capacitar, dar<br />

condições para que a inclusão se faça de forma plena.<br />

Neste trabalho iremos tratar de uma inclusão social específica,<br />

aquela promovida pelo trabalho em conjunto de designers que<br />

disparam novos processos criativos e produtivos em<br />

comunidades artesãs.<br />

Nas palavras de Campos (2006, p.12),<br />

"Incluir socialmente os mais pobres significa dar-lhes dignidade,<br />

propiciar recursos para uma alimentação adequada e para suas<br />

necessidades básicas, zelar pela proteção de seus direitos,<br />

assegurar uma política de assistência social, de segurança alimentar<br />

e nutricional, por meio de uma rede de proteção e promoção<br />

social, na perspectiva de consolidação do exercício pleno de<br />

democracia."<br />

Inclusão Social é também trazer para o convívio social uma<br />

pessoa alijada por qualquer motivo, seja econômico, cultural,<br />

político, religioso, ambiental, racial, sexual. O fator gerador do<br />

processo de exclusão pode ser permanente, imutável ou não,<br />

nestes casos o que estabelece a exclusão é a falta de<br />

acolhimento social do indivíduo. E este acolhimento, esta<br />

convivência, pode ser ensinada, pode-se aprender a tolerar e<br />

respeitar os direitos de cada um, necessários para a operação<br />

dessa inclusão. Mudar este estado de coisas é o primeiro passo<br />

para uma sociedade mais justa.<br />

60


Quando partimos do princípio que o trabalho é a forma digna<br />

através da qual o ser humano pode alcançar condição de vida<br />

favorável, sem miséria, sem fome, sem exclusão de nenhuma<br />

espécie, percebemos que fazer estas populações,<br />

comunidades, grupos ingressarem num sistema produtivo, ou<br />

permanecerem em um sistema produtivo, mesmo que<br />

artesanal, é uma das formas de viabilizar um futuro melhor<br />

para a sociedade.<br />

Com o avanço das tecnologias, a força de trabalho humana se<br />

deslocou da importância de força física, exigida nos trabalhos<br />

escravizantes para força intectual, prevalescendo o expertise<br />

do indivíduo. Portanto o paradigma de inclusão também faz<br />

parte do modelo econômico vigente.<br />

A distribuição de renda é um dos fatores mais preocupantes<br />

da sociedade contemporânea. A qualificação alcançada por<br />

cada trabalhador está diretamente ligada a esta questão. As<br />

desigualdades sociais tendem a aumentar com a concentração<br />

do conhecimento, e principalmente quando para<br />

operacionalização das forças produtivas é necessário um<br />

conhecimento tecnológico. Transpor a barreira cada vez maior<br />

que se estabelece é um desafio para todos os povos, todas as<br />

populações.<br />

Tendemos a concordar com o deputado Ariosto de Holanda ao<br />

afirmar que:<br />

Temos de criar, com urgência, mecanismos ágeis e flexíveis de<br />

transferência de conhecimentos para a população, a partir de<br />

atalhos que avancem sobre os mecanismos tradicionais da<br />

educação e que tenham ação de massa, porque os excluídos são<br />

muitos. (Holanda, 2006, p. 63)<br />

61


A geração de emprego, não é mais o ponto crucial, mas a<br />

geração de condições de trabalho para geração e distribuição<br />

de uma renda mínima necessária a manutenção de uma<br />

qualidade de vida boa, favorável ao desenvolvimento<br />

intelectual, espiritual e econômico da ciedade. A<br />

transformação da lógica do desenvolvimento corrente se faz<br />

necessária. "A inclusão social é certamente o caminho para<br />

mudarmos a imagem do nosso país, que é palco das maiores<br />

injustiças sociais." (MAFRA, 2008) A promoção da inclusão é a<br />

passagem para uma realidade possível na sociedade<br />

contemporânea deste início de terceiro milênio. "A cada um de<br />

nós compete à responsabilidade social de mudarmos este<br />

quadro em nosso país, buscando soluções para situações<br />

diversas." (MAFRA, 2008)<br />

A Inclusão Social implica favorecer o desenvolvimento das<br />

possibilidades de interação e vivência social das pessoas. Em se<br />

tratando do designer, significa auxiliar na busca de autonomia<br />

de comunidades, trabalhando em prol da capacitação destas,<br />

reconhecendo as diferenças e ajudando a aflorar todo seu<br />

potencial criativo. Um dos seus principais objetivos é buscar<br />

condições de crescimento sustentado.<br />

Neste sentido, o designer contribui para que uma nova<br />

sociedade seja construída, dentro de uma atuação ética,<br />

introduzindo pequenas mudanças que podem conquistar<br />

grandes transformações.<br />

62


3.1.3 Responsabilidade Social e Responsabilidade Social<br />

Corporativa (RSC)<br />

A Responsabilidade Social está inclusa no processo de<br />

administração das empresas. E para a efetivação deste<br />

conceito, se faz necessária uma corporação, um<br />

conglomerado de indivíduos, uma organização econômica,<br />

civil ou comercial. No Brasil, a Responsabilidade Social<br />

Corporativa também é conhecida como Responsabilidade<br />

Social Empresarial (RSE).<br />

As estratégias utilizadas pelas indústrias para o lançamento de<br />

novos produtos, e criação de novas necessidades e mercados,<br />

começam a ser combatidas aos poucos pelo "consumidor<br />

verde", preocupado não apenas com a sua relação direta de<br />

uso de um determinado produto, mas com a cadeia produtiva<br />

à qual este produto pertence, e no rastro social deixado, além<br />

do que será gerado após este seu primeiro uso. Ele, o<br />

consumidor verde, é o ator principal da contemporaneidade. A<br />

segunda parte desta proposição requer um enorme esforço de<br />

todos. Estamos na fase embrionária desta nova forma de<br />

consumo e muitas adaptações e mudanças de hábitos serão<br />

necessárias principalmente nos grandes centros urbanos<br />

consumistas.<br />

Como decorrência destes movimentos ecológicos e de defesa<br />

do consumidor, as empresas passaram a se preocupar mais<br />

com suas obrigações sociais. (MONTANA & CHARNOV, 1998, p. 32)<br />

Existem alguns tipos de abordagem que são chaves para o<br />

entendimento da RSC, e foram gerados a partir das diferenças<br />

63


de entendimento entre os teóricos do que seria a obrigação<br />

social, a Responsabilidade Social e a sensibilidade social. A<br />

primeira delas, a obrigação social, traz uma "abordagem que<br />

supõe ser o objetivo principal de uma empresa o sucesso<br />

econômico, e não a satisfação de responsabilidades sociais, e<br />

que portanto a empresa deveria meramente satisfazer as<br />

responsabilidades sociais mínimas impostas pela legislação."<br />

(MONTANA & CHARNOV, 1998, p. 32)<br />

A segunda, a da Responsabilidade Social, "(...) supõe não<br />

serem as metas da empresa meramente econômicas mas<br />

também sociais e que a empresa deveria destinar recursos<br />

econômicos para a realização dessas metas."(op.cit.)<br />

A terceira é denominada de sensibilidade social por MONTANA<br />

& CHARNOV (1998, p. 32), e pressupõe que a empresa não tem<br />

apenas metas econômicas e sociais, mas também precisa<br />

antecipar-se aos problemas sociais do futuro e agir agora para<br />

responder a esses problemas.<br />

Rachel Cooper em entrevista a Santos (2005, p. 80), chama a<br />

atenção para quatro aspectos, que seriam responsabilidades a<br />

serem assumidas pelas corporações para atingirem o que ela<br />

denomina de "uma boa cidadania corporativa": 1) econômico;<br />

2)legal; 3)ético; 4)filantrópico.<br />

A cidadania corporativa, no aspecto econômico, busca o<br />

equilíbrio entre o custo do produto e o preço final ao<br />

consumidor, permitindo que um número maior de pessoas<br />

tenha acesso aos produtos, e trabalha na contramão dos<br />

artigos de luxo. Existe uma abertura para que o público<br />

interno tenha opção de acesso aos produtos da empresa, que<br />

sejam também seus consumidores.<br />

64


No aspecto legal, Cooper levanta que a sua ação promove<br />

apenas uma base de aspecto moral na condução dos negócios,<br />

utilizada muito mais para coibir ações abusivas. No aspecto<br />

ético, procura-se minimizar tanto danos e prejuízos sociais<br />

internos à corporação, quanto externos. O maior capital de<br />

uma empresa é o seu capital humano, o conhecimento<br />

acumulado e a dedicação dos seus funcionários. O grande<br />

desafio para os gestores é manter este público interno sempre<br />

motivado, o que perpassa pela qualidade de vida deste público<br />

tanto dentro, quanto no período que ele passa fora da<br />

corporação. Neste aspecto estão os apoios psicológicos, a<br />

assistência à saúde, a preocupação com a alimentação e a<br />

moradia. Os departamentos de recursos humanos atuam não<br />

apenas como selecionadores e provedores da mão de obra e<br />

dos aspectos legais, mas como gerenciadores de carreiras<br />

duradouras.<br />

No aspecto filantrópico, vários estudos demonstram que<br />

empresas que assumem um posicionamento filantrópico,<br />

reunindo toda a corporação em ações que dão retorno direto<br />

à sociedade como campanhas de alimento, brinquedos e<br />

agasalho, criam um elo indissolúvel com seus associados.<br />

Algumas chegam até a atingir clientes e fornecedores, gerando<br />

uma enorme cadeia para a promoção do "bem comum" na<br />

sociedade como um todo.<br />

Uma empresa que atua no mercado, levando em conta essas<br />

quatro responsabilidades terá uma visualização ímpar. A tão<br />

buscada fidelização de clientes torna-se decorrência das suas<br />

ações e não mais apenas do marketing e da publicidade.<br />

65


"Uma das grandes preocupações das Empresas modernas é<br />

estabelecer e manter relações equilibradas e justas com a<br />

comunidade em que estão inseridas. A cidadania empresarial é a<br />

atitude de participação desinteressada, consciente e voluntária<br />

adotada pela Empresa, que se traduz em políticas de ação<br />

corporativa, nas quais as potencialidades do seu negócio são<br />

orientadas para a realização de projetos sociais destinados a<br />

beneficiar a comunidade. Apoiar as iniciativas individuais e<br />

coletivas de seus empregados, quando da proposição de ações<br />

sociais que resultem em benefícios para a comunidade, também é<br />

fator importante no papel social da instituição." (JOCHIMS, 2006)<br />

Na visão do economista e prêmio Nobel Milton Friedman a<br />

responsabilidade social das empresas refere-se apenas aos<br />

seus acionistas, pois todo o emprego e impostos gerados e<br />

pagos pela atuação da empresa, são a sua contribuição, mais<br />

do que justa, para a comunidade em geral. E muitos<br />

empresários e industriais seguem esta linha de pensamento.<br />

"The view has been gaining widespread acceptance that corporate<br />

officials and labor leaders have a "social responsability" that goes<br />

beyond the interest of their stockholders or their members. This<br />

view shows a fundamental misconception of the character and<br />

nature of the free economy. In such an economy, there is one and<br />

only one social responsibility of business- to use its resources<br />

and engage in activities designed to increase its profits so long as<br />

it stays within the rules of the game, wich is to say, engages in<br />

open and free competition, without deception and fraud…Few<br />

6 A visão que tem ganho maior aceitação é a de que as corporações e os funcionários lìderes têm<br />

uma "responsabilidade social" que vai além dos interesses de seus acionistas e do corpo diretor. Esta<br />

visão mostra um erro fundamental em sua concepção tanto no caráter quanto na natureza da<br />

economia de livre mercado. Neste tipo de economia existe uma e apenas uma única<br />

responsabilidade dos negócios- usar os recursos das empresas e se engajar em atividades<br />

designadas para aumentar seus ganhos por tanto tempo quanto estas forem as regras do jogo<br />

8 8<br />

66


a<br />

SANTOS, M Cecília<br />

Loschiavo dos<br />

Filósofa, mestre e<br />

doutora em Filosofia<br />

pela USP onde leciona<br />

Design. É<br />

coordenadora dos<br />

programas de pósgraduação<br />

em Design<br />

da <strong>Universidade</strong> de São<br />

Paulo e das Oficinas de<br />

Design Social da USP.<br />

Desde 1994 vem<br />

pesquisando 'O<br />

descarte dos produtos<br />

industriais, Design e<br />

Moradores de Rua em<br />

cidades globais'.<br />

trends could so thoroughly undermine the very foundation o our<br />

free society as the acceptance by corporate officials of a social<br />

responsibility other than to make as much money for their<br />

stockholders as possible." (DESSLER apud FRIEDMAN, 1998, p. 91)<br />

Na visão contrária a Friedman, temos que<br />

"A Responsabilidade social corporativa, refere-se ao direcionamento<br />

para onde as empresas deveriam voltar os seus canais de recursos.<br />

Aplicá-los, mais para o melhoramento de um ou mais segmentos<br />

da sociedade ao invés de disponibilizá-los para os próprios donos e<br />

acionistas da empresa." (DESSLER, 1998, p. 89)<br />

Os stockholder seriam os acionistas propriamente ditos,<br />

aqueles que detêm parte do capital da empresa. Se a empresa<br />

influi diretamente na qualidade do meio-ambiente no qual ela<br />

se instala, por exemplo, onde descarta os dejetos de sua<br />

produção ou desmata áreas para ampliação de suas<br />

instalações, então ela é responsável pelo seu entorno, pela<br />

manutenção de uma boa qualidade do meio ambiente, assim<br />

como da boa qualidade de vida de seus vizinhos.<br />

"(...) a idéia de que as corporações, enquanto organizações, tem<br />

"responsabilidade social" e obrigações mais diretamente<br />

relacionadas à sociedade em geral tem se tornado popular a partir<br />

dos anos 50 e continuado nos anos 60 e 70(...) e prevaleceu e<br />

cresceu nos anos 90." (SANTOS, 2005, p. 81)<br />

6 econômico, isto significa dizer que, enquanto houver competição aberta e livr<br />

e, sem fraudes...Poucas tendências poderiam tão fortemente minar as fundações desta sociedade<br />

livre como o acolhimento por parte das empresas de uma outra responsabilidade social além de<br />

ganhar mais dinheiro para seus acionistas quanto for possível. (DESSLER apud FRIEDMAN, 1998, p.<br />

91) (livre tradução do autor)<br />

6<br />

67


Existe um link entre a responsabilidade social e a ética, que<br />

muitas vezes não está claro, pois as questões morais e<br />

comportamentais perpassam pelo antepassado cultural de<br />

cada um, suas experiências pessoais, seus princípios religiosos<br />

e crenças. No caso das empresas e corporações, a<br />

responsabilidade social é extensiva à comunidade na qual ela<br />

está instalada geograficamente.<br />

A criação de empregos, e de eventos sociais e educacionais,<br />

são entendidos por muitos dos filósofos sociais como parte da<br />

responsabilidade da empresa. Segundo Gary Dessler (1998, p.<br />

89), "Socially responsible behavior thus might include ceating<br />

jobs for minorities, controling pollution, or supporting<br />

7<br />

educational facilities or cultural events."<br />

O designer como ator deste cenário, que carrega em seu fazer<br />

profissional a responsabilidade de ser a ponte entre os<br />

industriais e o consumidor, traduzindo os desejos e as<br />

necessidades dos consumidores em objetos que serão<br />

viabilizados e produzidos para o desenvolvimento das<br />

empresas, precisa trabalhar com a visão da responsabilidade<br />

social e ajudar às empresas a incorporá-la nas suas missões e<br />

visões de negócio.<br />

"Responsabilidade social pode ser a expressão a ser atualizada<br />

como pano de fundo para uma nova construção teórica. Segundo<br />

esse padrão de análise, conjugado à noção de gestão de design,<br />

essa atividade deve considerar os múltiplos aspectos envolvidos no<br />

7 "Comportamento socialmente responsável, deveria incluir a criação de empregos para as minorias,<br />

o controle da poluição ou o suporte ao acesso à educação ou aos eventos culturais." (DESSLER,<br />

1998, p. 89) (livre tradução do autor)<br />

68


campo da produção, ou seja, deve se desenvolver simultaneamente<br />

sob a ótica do respeito ao consumidor, e ao trabalhador, ao<br />

fornecedor e ao distribuidor, ao investidor e à comunidade, ao<br />

meio ambiente e à necessidade produtiva" (LEITE, 2001, p. 69)<br />

Como vemos, o DS está implícito na RSE, a partir do momento<br />

em que o designer participa dos processos de planejamento e<br />

organização das corporações, ele se torna voz ativa no<br />

direcionamento das operações das empresas. Atua como elo<br />

entre as operações intra-muros e extra-muros, define matérias,<br />

formas, atuações, que serão fundamentais nas relações<br />

interpessoais e projetará o futuro destas relações.<br />

69


3.2 Uma Abordagem Sistêmica<br />

"No século XX, a ciência trouxe a perspectiva holística da natureza,<br />

do universo como um todo, conhecida como pensamento<br />

sistêmico, que emergiu simultâneamente em várias áreas como a<br />

biologia, a física e a psicologia. E, posteriormente, surgindo a nova<br />

ciência: a Ecologia." (COSTA E SOARES, 2004, p.21)<br />

A abordagem exigida pelos projetos, na contemporaneidade,<br />

leva os designers, os projetistas a "(...) questionar os sistemas,<br />

discutir os seus valores e os seus princípios." (WHITELEY, 1998,<br />

p. 69) Para Tomás Maldonado, os designers devem buscar uma<br />

autonomia e usá-la quando possível, para fins sociais e<br />

ambientais. Confrontar as forças políticas e econômicas e as<br />

conseqüentes polarizações que surgem entre riqueza/<br />

pobreza, fundamentalismo religioso/ humanismo,<br />

sustentabilidade ambiental/ destruição ecológica e a utopia/<br />

resistência tecnológica. A partir do momento em que o<br />

designer sai da posição de profissional que atende ao mercado<br />

e age como um profissional que pensa o sistema, torna-se um<br />

ser autônomo, e ganha a possibilidade de atuar como<br />

beneficiário da sociedade e do ambiente. (MARGOLIN, 2007)<br />

Posicionar-se desta forma requer conhecimento e reflexão<br />

profunda dos seus valores, metas e preocupações. Saber o que<br />

incomoda o nosso olhar é saber onde devemos atuar para<br />

criarmos um ambiente favorável às mudanças, e buscar força<br />

em parcerias e instituições que tenham os mesmos<br />

objetivos.(Idem)<br />

70


"Levar a cabo o empreendimento de integração de princípios<br />

ecológicos e limites físicos no formalismo dos modelos da<br />

economia compreende não poucas dificuldades suscitadas pela<br />

necessidade de abordagens multidisciplinares, transdisciplinares,<br />

holísticas e sistêmicas." (CAVALCANTI, 1994, p.21)<br />

Para o designer Carlo Vezzoli (2006) em entrevista concedida,<br />

disponível no site da Pós-graduação Latu sensu em Design de<br />

Produto da UNEB, a solução para os projetos de design<br />

contemporâneos é a adoção de "(...) uma perspectiva mais<br />

sistêmica para se aproximar da perspectiva ecológica." Utilizar<br />

uma abordagem partindo do ciclo de vida dos produtos,<br />

através do qual o desenho de sistemas "(...) composto por<br />

todos os processos que caracterizam o produto em seu<br />

funcionamento, ou o sistema de todos os efeitos danosos que<br />

todas as entradas e saídas deste sistema estão causando." Ou<br />

seja, uma abordagem sistêmica requer uma visão ampla do<br />

processo de desenvolvimento de produtos e serviços.<br />

Um projeto sistêmico, engloba o estudo dos sistemas<br />

anteriores à produção, os que fazem parte da produção<br />

propriamente dita e os posteriores a ela. São observados os<br />

processos desde a extração de recursos que servirão de<br />

matéria, todos os recursos consumidos durante os processos<br />

de transformação, distribuição, embalagem e empacotamento,<br />

disposição, aquisição, consumo, uso e o 1º descarte. Isto é,<br />

analisa todas as fases com potencial dano ao meio-ambiente e<br />

à sociedade em seu processo.<br />

"O desenho do projeto tem que se mover do desenho de produto<br />

para o desenho do projeto das fases do ciclo de vida desse produto<br />

71


com o objetivo de minimizar o impacto ambiental geral".<br />

(Entrevista com VEZZOLI, 2006)<br />

Através da análise da quantidade de energia necessária à<br />

produção, o designer pode minimizar a utilização da energia e<br />

dos materiais utilizados durante os ciclos de vida do produto.<br />

Ele pode projetar inclusive os ciclos posteriores ao primeiro<br />

ciclo de utilização, o que acontece depois do seu primeiro<br />

descarte, as possibilidades de reutilização e reciclagem até a<br />

recuperação da energia gasta nos processos.<br />

Abarcar essa gama de informações envolvidas, demanda um<br />

alto conhecimento e denota a grande complexidade de um<br />

projeto desta natureza. Na contemporaneidade a<br />

complexidade e o imbricamento dos sistemas faz parte do dia-<br />

a-dia. E, por isto mesmo, o trabalho com grupos, equipes de<br />

profissionais, atuando em conjunto dentro do desenvolvimento<br />

de um mesmo projeto é essencial. A troca e o fluxo acelerado<br />

de informações com as quais um projeto complexo lida,<br />

impossibilita uma ação individual.<br />

"A concepção de um design é bastante complexo, pois envolve uma<br />

relação de historicidade inserida no contexto da atualidade,<br />

aproximando-se dos problemas sócio-econômicos, e<br />

conseqüentemente, de sua dimensão política e tecnicista." (SENA,<br />

1995, p. 91)<br />

Vezzoli (2006) levanta a questão do papel do designer neste<br />

momento histórico, e da consolidação do entendimento deste<br />

papel. Onde alguns preceitos, ou algumas considerações,<br />

devem ser premissas num projeto desta natureza. A ética e a<br />

moral são parte do<br />

72


"(...) conceito compartilhado mundialmente para um<br />

desenvolvimento produtivo e social. O que é levado em<br />

consideração é que o desenvolvimento social e produtivo deve ter<br />

lugar dentro dos limites ajustados pelo ambiente, enfocando as<br />

necessidades da geração presente sem comprometer a durabilidade<br />

da geração futura em alcançar as suas necessidades de uma forma<br />

eqüitativa."<br />

O cenário atual aponta para uma mudança radical nos padrões<br />

de consumo atuais. O que significa mudanças culturais e<br />

sociais profundas. Para Vezzoli (2006), "(...) a sustentabilidade<br />

requererá uma mudança profunda na cultura industrial." Os<br />

padrões de qualidade e quantidade de produtos consumidos<br />

passarão por uma revisão que modificará estes conceitos. Já se<br />

percebe nitidamente este redirecionamento no consumo<br />

mundial.<br />

O redesenho de projetos, mas não apenas ele, será o propulsor<br />

e difusor desta nova forma de consumo.<br />

"O que é preciso é que a nova geração de produtos e serviços<br />

confie em valores e padrões de qualidade mais coerentes com o<br />

padrão de uma sociedade sustentável." (VEZZOLI, 2006)<br />

Uma nova geração de produtos sustentáveis está nascendo. O<br />

público está participando deste nascimento, apontando<br />

direções, cobrando, exigindo dos produtores, mas este<br />

processo ainda não está massificado.<br />

"Cada trabalho revela um espectro de críticas e ideologias,<br />

resultando em uma preocupação com programas de transformação<br />

social, que envolve, desde o ambiente material até as concepções<br />

mercadológicas". (SENA, 1995, p. 91)<br />

73


Muitas adaptações estão sendo implementadas em processos<br />

existentes. Em alguns casos, adaptações a serviço apenas da<br />

publicidade e do marketing, do apoderamento do discurso do<br />

ecologicamente correto por empresas, marcas e produtos,<br />

mascarando as reais condições de produção. Muitas vezes,<br />

ocorre o implemento de mudanças em fases dos projetos que<br />

realmente são significativas, mas que no sistema acabam por<br />

acarretar o efeito inverso. Observar a produção de maneira<br />

segmentada, sem olhar o espectro mais amplo do sistema,<br />

pode ocasionar erros de avaliação nos processos.<br />

"O hiato entre o custo de produção e o custo social de determinado<br />

produto revela-se facilmente quando um design não contribui para<br />

a melhoria da qualidade de vida de um povo, esse hiato se forma<br />

em função de uma metodologia que não inclui o custo-benefício do<br />

produto para a sociedade, tomada como consumidora. Portanto há<br />

uma lógica interna na concepção de um Design Social, a própria<br />

lógica do usuário e não a lógica da produção." (SENA, 1995, p. 92).<br />

Por isso, destacamos a importância do desenho desses projetos<br />

abarcar os diversos sistemas que os compõem. Entender que<br />

um produto não inicia na prateleira do supermercado, ou no<br />

plantio de uma árvore para retirada da celulose, mas nas<br />

famílias de espécies da fauna e flora que foram deslocadas<br />

para o preparo do terreno para o plantio dos pinheirais, que<br />

servirão de matéria-prima para a produção da celulose que<br />

compõe as pilhas de resmas que encontramos à venda nos<br />

supermercados, e em todo o possível desequilíbrio e dano<br />

causado com esta ação.<br />

"O que é preciso é que a nova geração de produtos e serviços confie<br />

em valores e padrões de qualidade mais coerentes com o padrão de<br />

uma sociedade sustentável." (VEZZOLI, 2006)<br />

74


O problema central é desenhar um sistema que realmente<br />

recicle os materiais, pois a grande maioria das matérias<br />

utilizadas é reciclável. É importante desenvolver-se uma<br />

arquitetura do produto que torne mais fácil esta reciclagem<br />

com um custo efetivamente menor em todo o ciclo de<br />

reciclagem, começando desde a separação do material e o seu<br />

transporte.<br />

"Tudo isso nos diz que uma nova geração de designers conscientes<br />

da sustentabilidade é necessária no Brasil e na Itália, o que significa<br />

que quem é responsável pela pesquisa e educação tem um<br />

importante papel a fazer." (VEZZOLI, 2006)<br />

Na contemporaneidade, para se estar alinhado com as<br />

exigências da sustentabilidade é necessário um realinhamento<br />

da economia. Onde aparecem as oportunidades para o<br />

desenvolvimento de produtos e o mercado orientado à<br />

sustentabilidade. Neste ponto, a revolução digital, as novas<br />

tecnologias, vêm favorecer ao<br />

"(...) aumento das possibilidades em gerenciar sistemas mais e mais<br />

complexos de interação, permitindo fluxos mais eco-eficientes de<br />

recursos em um nível sistêmico e finalmente em virtude do<br />

aumento das atividades de outsourced, liderando um potencial<br />

maior de consumo de recursos eficientes, principalmente em<br />

virtude de uma economia de escala e especialização." (VEZZOLI,<br />

2006)<br />

O gerenciamento da quantidade de informação necessária só é<br />

possível graças aos sistemas digitais. Programas de<br />

armazenamento, análise, troca e difusão da informação e dos<br />

resultados dessas análises permitem aos gestores a<br />

organização do grande fluxo de informação. A combinação<br />

75


MANZINI, Ezio.<br />

Designer, engineer,<br />

architect, educator<br />

and author - is one of<br />

the most important<br />

thinkers in design<br />

today. The<br />

manuscripts available<br />

here and much of the<br />

work listed in our<br />

bibliography are<br />

accessible reading for<br />

students of design.<br />

Sustainable design<br />

theory can be<br />

daunting for<br />

newcomers, but<br />

previous knowledge in<br />

this field is not a<br />

prerequisite for<br />

understanding and<br />

implementing<br />

Manzini's ideas.<br />

dos resultados gerados em várias fontes, por vários aspectos<br />

das ciências, a montagem de uma matriz complexa,<br />

envolvendo os diversos sistemas, tem sua viabilidade através<br />

dos processos digitais.<br />

"A conscientização acerca dos problemas ambientais tem como<br />

decorrência a reorientação de novos comportamentos sociais e a<br />

procura por produtos e serviços que minimizem o impacto gerado<br />

ao ambiente." ( Entrevista com MANZINI, 2007)<br />

As pesquisas em Design vêm<br />

"(...) contribuir para o desenvolvimento de uma cultura projetual<br />

capaz de enfrentar a transição para a sustentabilidade e de<br />

promover o aparecimento de uma nova geração de produtos e<br />

serviços sustentáveis." (MANZINI, 2007)<br />

O entendimento do design está sendo ampliado e transposto<br />

para um patamar mais estratégico. O design deixa o primeiro<br />

momento da sua profissionalização, de apenas conformador<br />

de produtos para um planejador, integrador de sistemas de<br />

produtos e serviços. Sistemas estes que estão sendo traçados<br />

dentro da perspectiva do design sustentável, do design social,<br />

para médio e longo prazos, mas de uma forma que sejam<br />

economicamente viáveis e socialmente aceitáveis. E desta<br />

forma inverter o quadro descrito por Papanek (1971), através<br />

das suas declarações:<br />

"There are professions more harmful than industrial design, but<br />

8<br />

only a very few of them." e "(...) by creating whole new species<br />

of permanent garbage to clutter up the landscape, and by<br />

8 “Existem profissões mais danosas do que o design industrial, mas realmente muito poucas.” (livre<br />

tradução da autora) (PAPANEK, 1971, p. Xxii)<br />

76


choosing materials and processes that pollute the air we breath,<br />

designers have become a dangerous breed."<br />

Nas conclusões de Gui Bonsiepe (1983, p. 2)<br />

BONSIEPE, Gui.<br />

"Serão necessários todos os instrumentos da inteligência projetual<br />

(1934) para fazer frente a essa situação de extrema emergência. (...) o 77<br />

Estudou em Ulm na<br />

Hochschule für<br />

Gestaltung, onde<br />

também foi<br />

professor titular.<br />

desenho industrial como atividade tecnológica deve contribuir<br />

para superá-la com respostas concretas."<br />

Atuou no Chile, na<br />

argentina e em<br />

Conforme levantado por Margolin (2002, p. 80), através da<br />

diversas<br />

observação de Buchanan, se os designers atuarem neste<br />

universidades<br />

européias, Asiáticas, contexto de problemas buscando uma saída, deverão mover-se<br />

norte-americanas e<br />

latino-americanas. do segundo domínio do design, o design de objetos, onde os<br />

Fez parte de vários<br />

órgãos como ONU,<br />

produtos de design estiveram desde o século dezenove, para<br />

OIT, UNESCO e no<br />

CNPq no Brasil.<br />

um quarto domínio, o de sistemas complexos, ou ambientes<br />

de vida, "(...) complex systems or environments for living,<br />

10<br />

working, playing and learning".<br />

9 “(...)através da criação de diversos tipos de lixo que se entulham na paisagem, e escolhendo<br />

materiais e processos que poluem o ar que respiramos, o Design tem se tornado um perigoso<br />

ramo”. (livre tradução da autora) (PAPANEK, 1971, p. Xxii)<br />

10 “(…)sistemas complexos ou ambientes para se viver, trabalhar, brincar e aprender.”<br />

9


Nas palavras de Buchanan, eles deverão projetar:<br />

"(…) more and more concerned with exploring the role of design<br />

in sustaining, developing, and integrating human beings into<br />

broader ecological and cultural enviroments, shaping these<br />

enviroments when desirable and possible or adpting to them<br />

11<br />

necessary." (MARGOLIN, 2002, p. 80)<br />

11 "(…) mais e mais conscientes, explorando o papel do design sustentável, desenvolvendo e<br />

integrando os seres humanos no vasto ambiente ecológico e cultural, modelando estes ambientes<br />

quando desejável e possível ou adaptando eles às necessidades." (MARGOLIN, 2002, p. 80) (livre<br />

tradução do autor)<br />

78


4.0 A Mão na Moda - Relato de experiência<br />

A Casa, o museu do objeto brasileiro, através de sua diretora<br />

Renata Melão, com a coordenação da artista plástica Silvia<br />

Sasaoka, iniciou um Projeto em 2000, financiado pelo<br />

Ministério da Cultura com apoio do SEBRAE-PI (Piauí), e<br />

curadoria de Suzana Avellar, intitulado A MÃO NA MODA -<br />

UMA HISTÓRIA BRASILEIRA. A exposição, fruto deste Projeto,<br />

foi realizada no Espaço Cultural Citibank em São Paulo, em<br />

2001.<br />

Através de entrevistas com a curadoria e coordenação do<br />

projeto, além de dados obtidos na mídia sobre o designer<br />

convidado a nele atuar, a comunidade artesã e o Sebrae,<br />

pudemos reconstruir os acontecimentos fundamentais que<br />

norteram o projeto, incluindo-os neste relato.<br />

Os projetos organizados pelo museu, além de divulgar os<br />

trabalhos de arte e artesanato do país, também auxiliam as<br />

comunidades sem interferir em suas tradições, buscando<br />

sempre uma maneira de tornar estes trabalhos, artesanais<br />

num meio de vida sustentável.<br />

A idéia do A Mão na Moda surgiu através de um outro<br />

projeto de artesanato solidário, do Museu, desenvolvido na<br />

cidade de Serrita em Pernambuco, em maio de 2000<br />

juntamente com a Academia de Design de Eindhoven,<br />

Holanda. O objetivo era trabalhar com a moda como uma área<br />

possível de geração de renda para comunidades artesanais.<br />

79


A especialista em design, Adélia Borges, proferiu, em<br />

21/2/2008, palestra no Museu do Estado de Pernambuco, em<br />

Recife, com o tema "A relação entre design e artesanato",<br />

encerrando o ciclo de debates realizado durante a exposição<br />

"Uma Vida", com peças de arte do acervo da coleção pessoal<br />

de Janete Costa e Borsoy. Nessa ocasião, mencionou o projeto<br />

de Serrita, e afirmou que, apesar de bem intencionado, foi mal<br />

sucedido, pois os estudantes-visitantes trouxeram o material<br />

pré-fabricado, ao invés de desenvolver todo o projeto no local,<br />

a partir das necessidades identificadas. Os estudantes vieram,<br />

beberam na fonte inspiradora da artesania do couro do sertão<br />

de Pernambuco e deixaram apenas a esperança de dias<br />

melhores para os artesãos. Não conseguiram de fato<br />

concretizar uma mudança na vida dos participantes daquela<br />

comunidade. De qualquer forma, esta foi a primeira<br />

experiência com projetos de interdisciplinaridade, trazendo<br />

designers para atuarem em comunidades artesãs, e isso<br />

capacitou o Museu a investir no projeto A Mão na Moda.<br />

80


12<br />

Através do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)10, a<br />

curadora Suzana Avellar obteve dados que relatavam o alto<br />

índice de pobreza no norte e nordeste do Brasil,<br />

especificamente nos estados do Pará e do Piauí. A intenção foi<br />

trabalhar no interior, numa área que não fosse litorânea.<br />

Percebeu-se "(...) que mais do que um projeto sobre o<br />

artesanato, as comunidades que chegamos precisavam<br />

mesmo de projetos para questões como saúde, água,<br />

saneamento e educação." ( Entrevista com Suzana Avellar,<br />

2008) Partindo desta informação buscaram identificar<br />

comunidades de artesãos que pudessem ser o foco do projeto.<br />

Segundo Avellar (2007), "A idéia era reinserir o artesanato no<br />

mercado."<br />

O projeto contou com um catálogo montado pelo Sebrae-PI,<br />

no qual constavam os grupos de artesãos e os trabalhos<br />

realizados por eles. Através deste contato foi selecionado um<br />

grupo de rendeiras.<br />

O grupo escolhido foi o das Rendeiras do Morro da Mariana.<br />

O nome surgiu como uma homenagem à Mariana, uma<br />

rendeira que ficou famosa na região.<br />

81


O Morro da Mariana faz parte do município de Ilha Grande de<br />

Santa Isabel, no estado do Piauí, norte do Brasil, a 350Km da<br />

capital Teresina. As rendeiras daquela localidade trabalham a<br />

renda de bilro "artesanato originário da Itália, trazido pelos<br />

portugueses durante a época do Brasil- colônia" (AVELLAR, 2002).<br />

(Vide Apêndice 2)<br />

A renda de bilro é feita com uma espécie de almofada, de<br />

formato cilíndrico contendo geralmente palha seca no<br />

enchimento e forrada de tecido de algodão. Na parte externa<br />

da almofada, são fixados os fios, nas pontas dos fios são<br />

atados os bilros - pequenas peças de madeira que facilitam o<br />

trançar. A rendeira fixa o desenho a ser tecido na almofada e os<br />

locais a serem contornados pelos fios (as índias utilizavam<br />

espinhos para este processo). Feito isso, a rendeira vai<br />

mudando de lugar os bilros, entrelaçando os fios até todo o<br />

desenho aparecer em forma de renda. Esse processo está<br />

praticamente extinto em diversas cidades nordestinas, que<br />

atualmente produzem apenas a renda de agulha.<br />

Por sugestão de Silvia Sassaoka, e pela sua competência e<br />

reconhecimento no círcuito da moda, o estilista Walter<br />

Rodrigues foi convidado a desenvolver o projeto junto à<br />

comunidade.<br />

12 O IDH foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, e vem sendo<br />

usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em seu relatório<br />

anual. Criado para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de<br />

educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda<br />

(PIB per capita). Seus valores variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento<br />

humano total). Países com IDH até 0,499 são considerados de desenvolvimento humano baixo; com<br />

índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de desenvolvimento humano médio; e com índices<br />

maiores que 0,800 são considerados de desenvolvimento humano alto. (Fonte:http://www.sespa.pa.<br />

gov.br/Informa%C3%A7%C3%A3o/IDH/idh_oquee.htm). Acessado em 12/2007.<br />

82


AVELAR, Suzana.<br />

Bacharel em Desenho<br />

de Moda pela<br />

Faculdade Santa<br />

Marcelina (1995),<br />

mestra em<br />

Comunicação e<br />

Semiótica pela<br />

Pontifícia <strong>Universidade</strong><br />

Católica de São Paulo<br />

(2000) e doutora em<br />

Comunicação e<br />

Semiótica pela<br />

Pontifícia <strong>Universidade</strong><br />

Católica de São Paulo<br />

(2005). Professora<br />

titular da Faculdades<br />

Metropolitanas Unidas,<br />

da Fundação Armando<br />

Álvares Penteado e do<br />

Centro Universitário<br />

Belas Artes de São<br />

Paulo. Atuando<br />

principalmente nos<br />

seguintes temas: moda,<br />

Hibridização,<br />

globalização,<br />

Cibercultura, Indústria<br />

do luxo e Projetos<br />

sociais.<br />

Segundo Suzana Avellar, antes de Walter chegar à<br />

comunidade, a primeira pessoa a fazer contato com a<br />

Associação de Rendeiras do Morro da Mariana foi Juliana<br />

Campos, pesquisadora que atuava no Piauí, contratada pelo<br />

Museu, para propor o projeto à comunidade. A partir daí<br />

uma coincidência, ajudou no encontro. Maria do Socorro Reis<br />

Galeno representante do grupo, veio a São Paulo para visitar<br />

sua filha e, aproveitando a viagem, Suzana Avellar promoveu<br />

o encontro. Assim Maria conheceu primeiro o ateliê de<br />

Walter, quando levou suas amostras de renda de bilro para<br />

ele avaliar.<br />

Após este primeiro encontro, aconteceu a primeira viagem de<br />

Walter ao Piauí. Suzana e Walter passaram uma semana com<br />

as rendeiras na Associação realizando experimentos e<br />

estabelecendo uma forma de trabalho. Segundo Suzana, foi<br />

uma época de conhecimento para todas as partes. A CASA<br />

pagou logo neste início a metade do valor acertado no<br />

trabalho a fim de que as rendeiras pudessem se dedicar ao<br />

projeto já com uma certa renda garantida.<br />

O museu enviou uma museóloga, um videomaker, para<br />

acompanhar e documentar o projeto, que foi desenvolvido ao<br />

longo de um ano. O projeto pôde contar com outros<br />

parceiros: a empresa de Linhas Círculo e o Ministério da<br />

Cultura através da Secretaria do Museu e do Patrimônio<br />

patrocinou uma parte do projeto, através do FNC- Fundo<br />

Nacional de Cultura.<br />

"Isso foi uma grande conquista para nós, pois a idéia era<br />

envolver o governo federal nessa questão social ligada à<br />

83


moda. Era uma forma de mostrar que existem muitas<br />

possibilidades para dar autonomia financeira a uma<br />

comunidade via essa área." (AVELLAR, 2008)<br />

Em 1993, as rendeiras encontravam-se numa situação<br />

preocupante, numa encruzilhada profissional. Cada vez mais<br />

dispersas, vendo seus trabalhos desvalorizados, com os<br />

rendimentos do artesanato muito baixos, isso lhes impedia de<br />

dar a si mesmas e a seus familiares uma condição de vida<br />

adequada. Sem encontrar uma outra saída viável, cogitavam<br />

largar o ofício e buscar outra atividade que fosse mais<br />

rentável. "Se isso acontecesse, a memória da comunidade se<br />

perderia e seria uma grande perda para o país." (AVELLAR, 2002)<br />

Para solucionar o problema e mudar esse contexto, eram<br />

necessárias ações fundamentais: desenvolver o associativismo<br />

entre as rendeiras, inovar seus produtos e criar condições para<br />

torná-los mais atraentes para o mercado. Dentro desta<br />

perspectiva o SEBRAE-PI começou a desenvolver um trabalho<br />

com elas. (MACHADO, 2002)<br />

No início do projeto a Associação de rendeiras contava com<br />

apenas 8 (oito) participantes. Graças ao trabalho desenvolvido,<br />

Avellar relata que: "Hoje, mais de setenta rendeiras produzem<br />

e vendem rendas de bilro, para o Brasil e também para o<br />

exterior!" A maioria delas trabalha em casa e vende as rendas<br />

na sede da associação.<br />

A partir do projeto as rendeiras resolveram se unir e mudar o<br />

rumo daquela história. Congregar as artesãs foi o primeiro<br />

passo para dar maior visibilidade aos seus trabalhos artesanais.<br />

84


Walter Rodrigues recebeu uma missão, quando aceitou o<br />

convite para participar do projeto: encontrar "(...) uma nova<br />

função e novo caráter para a renda de bilro." (AVELLAR, 2002)<br />

"Com a presença de Walter, de forma muito cuidadosa e<br />

delicada, as rendeiras começaram a produzir de acordo com a<br />

coleção do estilista que desfilaria esses produtos no SPFW.<br />

Nunca foi pedido que se alterasse os desenhos das rendas mas<br />

que elas trouxessem desenhos antigos que estavam guardados<br />

há muito tempo. Essa questão de mudar os desenhos é uma<br />

outra história, pois conheço outros trabalhos com elas que o<br />

designer encomenda outros desenhos e o resultado é muito<br />

bom para ambas as partes." (AVELLAR, 2008)<br />

A visita à comunidade acarretou uma inovação nos materiais<br />

por elas trabalhados. Passou-se a utilizar linhas de viscose com<br />

lycra, seda pura e de lycra com elastano. Foi-lhes sugerido<br />

ainda uma nova cartela de cores, e desenvolvidos trabalhos<br />

não só na cor preta, mas também em outras cores. (ANDRADE,<br />

2004)<br />

"Importante dizer que Rodrigues manteve o padrão dos<br />

desenhos e da maneira de produção das rendeiras e alterou a<br />

função na forma da roupa. As rendeiras também viram novas<br />

possibilidades de criações para aquilo que mais sabiam fazer."<br />

(AVELLAR, 2002)<br />

O resultado foi tão surpreendente que a assessora de<br />

comunicação do SEBRAE, Adlene Andrade, relatando a<br />

entrevista realizada com Walter, transcreveu:<br />

85


"Entreguei a elas toda a minha produção de rendas para a<br />

última São Paulo Fashion Week e depois encomendei 60<br />

camisetas e 80 vestidos". (ANDRADE, 2004)<br />

Através do projeto houve um resgate da cidadania, da<br />

artesania. Segundo Suzana Avellar (2002), "O resultado foi<br />

admirável para todos que estavam envolvidos." Um ponto<br />

importante destacado por Suzana é que este grupo sempre<br />

teve um trabalho impecável, de excelente qualidade.<br />

Como primeiro resultado, as peças de roupas produzidas pelo<br />

estilista e pelas rendeiras foram apresentadas no São Paulo<br />

Fashion Week, em julho de 2001, e estavam plenamente<br />

integradas às tendências de moda naquele verão. O segundo<br />

ponto favorável é que apenas um ano após o projeto, as<br />

rendeiras, que estavam condenadas a encerrar suas atividades,<br />

tiveram que aumentar a sua produção em 50% ,e seus<br />

trabalhos passaram a ser conhecidos em toda a região. O<br />

reconhecimento do sucesso e da valorização do trabalho<br />

artesanal repercutiu na prefeitura, que reformou a sede da<br />

associação, que não tinha telefone, luz nem água.<br />

" (...) receberam computador, internet, assinatura de duas<br />

revistas de moda e, obviamente, continuaram produzindo sob<br />

encomenda podendo se sustentar com o seu próprio trabalho."<br />

(AVELLAR, 2002)<br />

"O que aconteceu portanto, assim como determinei desde o<br />

começo, foi a atualização do valor estético para um produto o<br />

qual, ainda que belo, mas sem muito escoamento. E isso é a<br />

capacidade da moda, da indústria da moda: a atualização do<br />

valor estético atraindo nosso olhar para um novo belo,<br />

despertando o desejo de apreendê-lo e de ser apreendido."<br />

86


(AVELLAR, 2002)<br />

Através deste primeiro projeto, o estilista Walter Rodrigues,<br />

que passou a realizar um trabalho voluntário com as<br />

artesãs da Associação das Rendeiras de Morro da Mariana,<br />

convocou uma outra Associação de rendeiras, desta vez<br />

utilizando o trabalho das Bordadeiras do Acarape, grupo<br />

atendido pelas ações do Programa Sebrae de Artesanato e<br />

coordenado pela Unidade de Desenvolvimento Setorial do<br />

Sebrae Piauí. Os bordados foram inseridos na coleção<br />

Primavera/Verão 2003-2004 do estilista.<br />

O estilista realizou um trabalho de pesquisa, e descobriu<br />

um estilo de bordado da França, que datava o século XVII.<br />

Através de imagens deste bordado, enviadas por e-mail ao<br />

Sebrae, buscou grupos que pudessem reproduzir aquele<br />

estilo. Segundo Andrade (2004) "O estilista ficou surpreso,<br />

como ele mesmo conta, porque não só era possível a<br />

reprodução, como 50 mulheres já faziam produções<br />

naquela tendência, demonstrando uma rica e conservada<br />

tradição."<br />

As bordadeiras trabalharam de abril a junho, e a coleção<br />

com bordados, utilizando a temática de flores e rosas,<br />

inspirados nos anos 30 e 70, foi mostrada primeira vez no<br />

São Paulo Fashion Week 2004 no meio do ano. Em seguida,<br />

foi exibida numa das principais feiras de moda feminina da<br />

Europa, o Salão Prêt-à-Porter, de Paris, que acontece no<br />

mês de setembro, na França. (ANDRADE, 2004)<br />

A coordenadora do projeto, Silvia Sasaoka, também<br />

continuou realizando encomendas e trazendo novos<br />

87


SASAOKA, Silvia.<br />

Artista plástica,<br />

consultora do<br />

Programa<br />

Artesanato<br />

Solidário.<br />

projetos para o Morro da Mariana, através da StraaT, empresa<br />

de consultoria de design social formada em dupla com o<br />

administrador holandês Anton van Dort. A empresa faz a<br />

ponte entre dois mundos: a periferia e o mercado. Visa<br />

promover o intercâmbio internacional de estudantes de design<br />

da Design Academy Eindhoven, da Holanda, para a criação e o<br />

desenvolvimento de novos produtos. "O artesão quer aprender<br />

a fazer um produto comercial que gere renda. Nós<br />

trabalhamos para vinculá-lo à cadeia produtiva", diz Silvia em<br />

entrevista concedida à Patricia De Cia. Após deixar suas<br />

atividades no Museu, passou a se dedicar inteiramente ao<br />

artesanato com a realização de consultoria para o ARTESOL -<br />

Artesanato Solidário, atuante em todo o Brasil com mais de<br />

dezessete comunidades.<br />

O desenvolvimento da metodologia de orientação do trabalho<br />

à distância realizada por Walter Rodrigues foi um dos grandes<br />

diferenciais. Ele criou roupas em módulos. As rendeiras muitas<br />

vezes não tinham noção de como ficariam os vestidos como<br />

produto final. Elas produziam os módulos, que eram enviados<br />

ao ateliê de São Paulo para a montagem dos vestidos.<br />

Segundo Silvia Sasaoka (2008), a continuação do trabalho,<br />

através do intercâmbio com os estudantes da Academia de<br />

Design de Eindhoven, foi o que trouxe sustentabilidade para<br />

as rendeiras do Morro da Mariana. Os estudantes passaram<br />

dois meses desenvolvendo produtos ao lado das rendeiras, e,<br />

através deste trabalho, começaram a produzir acessórios,<br />

colares e peças menores, mais fáceis de fazer e que podiam ser<br />

rapidamente comercializadas. Pesquisaram diversos materiais<br />

como crina de cavalo, plástico, tnt e estudaram principalmente<br />

88


a estrutura dos desenhos para a renda. E deste trabalho<br />

surgiram os inéditos colares de renda, que se tornaram a<br />

coqueluche do artesanato. E deram asas para que as próprias<br />

rendeiras começassem a desenvolver seus próprios colares,<br />

colocassem suas idéias nos novos produtos.<br />

Segundo Silvia (2008), este trabalho teve uma aceitação tão<br />

grande no mercado, que o próprio Walter Rodrigues, utilizou<br />

as flores desenvolvidas para o vestido usado por Dona Marisa,<br />

na posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva. O vestido de<br />

crepe amarelo tinha uma capa sobre ele com mil e duzentas<br />

camélias de renda, que foram elaboradas em linhas de dois<br />

tons e tudo ficou pronto em apenas 20 dias. As flores foram<br />

montadas sobre um molde com desenho das camélias,<br />

elaborado pelos designers holandeses que fizeram um estágio<br />

na associação três anos antes, em 2003. Esta notícia foi<br />

divulgada na mídia em geral, o que proporcionou uma<br />

enorme propaganda para o Morro da Mariana.<br />

Um grande entrave no trabalho das rendeiras era a falta de<br />

documentação e conservação dos desenhos existentes, os<br />

motivos das rendas, ou seja, preservar o conhecimento<br />

existente. E havia também um obstáculo na criação de novos<br />

motivos, até mesmo numa simples ampliação dos desenhos já<br />

existentes. Walter Rodrigues atuou como vetor de mudanças<br />

na forma de olhar o produto das artesãs. O simples fato de<br />

ensinar a usar uma máquina xerox, disponível na cidade,<br />

ampliando e reduzindo os motivos, causou uma verdadeira<br />

revolução entre as artesãs, que antes dependiam de uma<br />

mestra para este serviço, por ser um trabalho que exigia<br />

conhecimentos em geometria. Essa tecnologia,<br />

completamente desconhecida para elas, passou a fazer parte<br />

89


do trabalho diário. Trouxe liberdade imaginativa e criadora.<br />

Segundo Silvia, a verdadeira revolução acontece quando há<br />

troca entre o designer e o artesão à longo prazo, quando os<br />

designers participam não só da produção, mas do cotidiano<br />

da comunidade. Mesmo com a existência de um abismo social<br />

entre os estudantes de design holandeses e as artesãs<br />

piauenses, as informações sobre o que é um desenho, um<br />

projeto, como se cria, como se desenvolve, de onde vem a<br />

inspiração, enfim, do processo de criação, estava ali presente<br />

na intensa convivência entre esses dois mundos. E a troca<br />

acontece de forma que ambos se alimentam desta<br />

experiência.<br />

Avellar (2008) acredita que o projeto realizou seus objetivos,<br />

principalmente no que diz respeito à autonomia da<br />

Associação. Apenas com o fornecimento de informações e<br />

divulgando o seu trabalho de forma correta.<br />

Com o sucesso alcançado pelos produtos, e a repercussão<br />

atingida, a manutenção do saber artesanal foi assegurada, a<br />

mestra-artesã pôde continuar repassando seu<br />

ofício para as novas gerações de<br />

rendeiras e assim garantir a<br />

memória desse saber proveniente<br />

da cultura popular.<br />

Imagem do produto antes e depois do trabalho com o designer.<br />

90


5.0 Considerações finais<br />

A formação de um tecido: tecer, armar uma estrutura que<br />

lembra uma teia, uma rede, com um espaço mínimo entre os<br />

fios que se entrecruzam, se apertam, se unem para formar o<br />

tecido. Quando mais resistentes e longas forem as fibras que<br />

compõem estes fios, mais resistente e duradouro será o<br />

tecido. Enquanto fios, frágeis, leves, delicados.<br />

À medida em que a trama se aperta, eles vão se unindo, se<br />

fortalecendo, trama e urdume, até não se poder diferenciá-los<br />

a olho nu. E quando o tecido está formado, para<br />

conseguirmos distinguir seus fios, suas fibras a matéria do<br />

qual foi forjado, só destruindo o imenso e belo trabalho da<br />

sua união. Desfazendo a trama, desvela-se a fragilidade dos<br />

seus componentes. Assim é o Design Social, tramado no seio<br />

das comunidades, favorecendo as relações inter-pessoais,<br />

fortalecendo a importância da solidariedade e do afeto em<br />

torno de um objetivo comum.<br />

Acredito muito no designer como um empreendedor, como<br />

peça chave de transformação social. E certamente em virtude<br />

de minha experiência em design de moda pude perceber que<br />

ela, ao se engajar em projetos sociais, é capaz de produzir<br />

uma reviravolta tanto no plano social quanto criativo nas<br />

pequenas comunidades artesãs em que vier a atuar. O<br />

designer é capaz de incentivar a produção não só de bens,<br />

objetos de uso e consumo, mas gerar principalmente<br />

condições favoráveis ao bem-estar humano. O projeto Mão na<br />

Moda revelou-se um exemplo inaugural nesse sentido.<br />

91


Inúmeras são as vozes que hoje se levantam endossando o<br />

caráter insustentável da sociedade contemporânea:<br />

crescimento populacional acelerado, esgotamento dos<br />

recursos naturais, má distribuição de renda. Ou seja, uma crise<br />

desencadeada por comportamentos centrados na expansão<br />

ilimitada do consumo. E como o design pode contribuir para<br />

alterar esse contexto? Acredito que o designer não consegue<br />

mais ignorá-lo, e isso o obriga a repensar o seu papel.<br />

Vários caminhos podem ser escolhidos. A concepção de<br />

desenvolvimento sustentável é um deles. É uma opção, uma<br />

oportunidade, que deve ser compreendida à luz de uma nova<br />

sensibilidade e de uma nova razão.<br />

Poderemos ou não adotá-lo. No entanto, é oportuno dizer que<br />

uma concepção de desenvolvimento sustentável,<br />

fundamentalmente sugere que comecemos a pensar em<br />

nossas vidas de uma maneira especialmente sensível,<br />

desafiadora e inovadora. (CAMARGO, 2002)<br />

A mudança de abordagem no desenvolvimento do trabalho de<br />

um designer pode resultar na construção de uma sociedade<br />

mais justa, mais solidária e bastante criativa.<br />

Conceber e desenvolver uma abordagem sistêmica, que<br />

congregue as mais diversas áreas do pensamento e das<br />

ciências, aponta para um novo horizonte. No que diz respeito<br />

ao Design de Moda, essa perspectiva pode fortalecê-lo, ao se<br />

incumbir de quebrar paradigmas e estigmas, vendo-se<br />

92


transformado em vetor de mudanças sociais profundas.<br />

Hoje, o papel do designer é atuar como uma conexão criativa<br />

entre tecnologia e sociedade, como uma ponte entre a<br />

inovação técnica e social a ponto de propor artefatos capazes<br />

de auxiliar as pessoas a viverem melhor. Como no caso<br />

relatado das rendeiras, o designer, ao incentivar a transmissão<br />

daquele conhecimento, viu diante de si operar-se o milagre da<br />

sobrevivência: "batendo" os bilros, fazendo eles cantarem,<br />

conversarem, enquanto entrelaçam os fios atados a eles, a<br />

renda vai se formando e o desenho aparecendo, e junto com<br />

ele um modo de vida, a união, o respeito ao fazer simples e<br />

sofisticado, que invade as passarelas do mundo globalizado.<br />

93


Epílogo<br />

Não é possível consertar o mundo com uma dissertação de<br />

mestrado. Não é possível nem ao menos começar a fazê-lo,<br />

através de uma pesquisa. Mas também não é possível, quando<br />

se começa a aprofundar o conhecimento na busca de<br />

filósofos, historiadores, sociólogos, economistas, enfim, de<br />

pesquisadores provenientes de vários campos do saber,<br />

quando se estuda e percorre os caminhos da intelectualidade,<br />

não tentar fazê-lo.<br />

Os designers não são personal trainers*, não são deuses**,<br />

mas se não forem parte da solução, então serão parte do<br />

problema***.<br />

Eu, como designer, escolhi ser parte das possíveis soluções<br />

para os grandes problemas contemporâneos, escolhi ser<br />

responsável.<br />

Se eu nada deixar às futuras gerações, ao menos deixarei um<br />

exemplo: NUNCA deixe de tentar.<br />

*designers não são personal trainers, emprestado do título da obra Designer não é personal<br />

trainer editado pela Rosari em 2002, de autoria da jornalista Adélia Borges.<br />

**designers não são deuses. Idéia proposta por Lígia Fascioni em entrevista para o<br />

DesignBrasil em 19/12/2007, "...Mas não são deuses (apesar de alguns pensarem que sim)",<br />

disponível em http://www.designbrasil.org.br/ppd/opiniao/exibir.jhtml?idArtigo=1169<br />

***se não forem parte da solução, então serão parte do problema, idéia contida no livro<br />

Design for the Real World de Victor Papanek, 1972.<br />

94


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101


Mapa do estado do Piauí - Brasil. Destaque da localização de Morro da Mariana.<br />

Fonte: http://www.dnit.gov.br/menu/rodovias/mapas


A<br />

1<br />

B<br />

A Seaway, B- ACTEX, C- Tocas, 1- Colégio Dourado, 2 e 3 - Escola Primeiro passo. A mancha marca a área<br />

da favela da Borborema.<br />

C<br />

3<br />

2


Este trabalho foi diagramado<br />

em Corel DRAW X3.<br />

Impresso à laser em papel<br />

2<br />

alcalino 75g/m feito de<br />

eucaliptos reflorestados.

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