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Paradoxos da mulher moderna: a estigmatização da personagem “Pit”

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pois é sensível, romântica, sonhadora, delica<strong>da</strong>, facilmente influenciável, emotiva, inconstante<br />

e, em determinados momentos, irracional e inconseqüente 2 .<br />

Para melhor entender como estes estigmas se constituem e se perpetuam, usarei os conceitos<br />

de Erving Goffman em seu livro A Representação do Eu na Vi<strong>da</strong> Cotidiana, de modo tal que<br />

possa demonstrar a <strong>personagem</strong> como fruto de um processo de <strong>estigmatização</strong>, onde são<br />

cristaliza<strong>da</strong>s várias identi<strong>da</strong>des, o que a faz entrar em constantes crises. Em segui<strong>da</strong>, pretendo<br />

evidenciar a importância <strong>da</strong> análise histórica <strong>da</strong> permanência de estruturas invisíveis que<br />

perpetuam a lógica de divisão sexua<strong>da</strong> de papéis utilizando, para tanto, a análise de Pierre<br />

Bourdieu em sua obra A Dominação Masculina (2005).<br />

Goffman está preocupado em analisar a maneira como indivíduos apresentam a si e as suas<br />

práticas cotidianas às demais pessoas, chama<strong>da</strong>s de platéia. Dará enfoque aos artifícios pelos<br />

quais o indivíduo “dirige e regula a impressão que formam a seu respeito e as coisas que<br />

podem ou não fazer, enquanto realiza seu desempenho diante delas” (GOFFMAN, 2004).<br />

Primeiramente, Goffman observa que quando indivíduos encontram-se na presença dos<br />

outros, vários itens passam a ser analisados, como, nível de confiança, status e condição<br />

sócio-econômica. Assim, é reunido o máximo de informações possíveis para se traçar um<br />

perfil, de modo que se possa ter em mente o que se pode esperar deste indivíduo observado e<br />

como este pode ou deve ser tratado, ou simplesmente visto.<br />

Isso pode ocorrer a partir do que Goffman define como interação, ou seja, em presença física<br />

imediata, ou através <strong>da</strong> observação, já que o indivíduo, consciente ou inconscientemente,<br />

emite uma imagem de si mesmo, causando uma determina<strong>da</strong> impressão em quem o observa.<br />

Conforme diz GOFFMAN, (2004:12): “Muitos fatos decisivos estão além do tempo e do<br />

lugar <strong>da</strong> interação, ou dissimulados nela.”<br />

A partir <strong>da</strong>qui, podemos desdobrar o que o autor chama de ativi<strong>da</strong>de significativa, que se<br />

divide em dois tipos, estando diretamente liga<strong>da</strong> à expressivi<strong>da</strong>de do indivíduo: a primeira se<br />

refere ao que o indivíduo transmite, uma vez que, considera<strong>da</strong> a comunicação no sentido<br />

formal, o indivíduo se utiliza proposita<strong>da</strong>mente de símbolos verbais ou não-verbais de forma<br />

a veicular uma determina<strong>da</strong> informação compreensivamente, por ele e pelos outros, liga<strong>da</strong> a<br />

estes símbolos. Já a segun<strong>da</strong> diz respeito a ações não necessariamente liga<strong>da</strong>s ao que o<br />

indivíduo está preocupado em transmitir. Em ambos os casos, o indivíduo pode estar<br />

querendo transmitir uma falsa impressão, de modo que estas ativi<strong>da</strong>des significativas podem<br />

ser considera<strong>da</strong>s como fraude, no primeiro caso, e como dissimulação no segundo. Nestes<br />

casos, o indivíduo pode ter uma forte influência perante os outros de forma a induzi-los a agir<br />

conforme interesses próprios (GOFFMAN, 2004).<br />

“Ocasionalmente, expressar-se-á intencional e conscientemente de determina<strong>da</strong> forma, mas,<br />

principalmente, porque a tradição de seu grupo ou posição social requer esse tipo de expressão, e não<br />

por causa de qualquer resposta particular (que não a de vaga aceitação ou aprovação), que<br />

provavelmente seja desperta<strong>da</strong> naqueles que foram impressionados pela expressão.” (GOFFMAN,<br />

2004:15)<br />

Esta passagem expressa exatamente o que ocorreu com Pit em um dos episódios transmitidos<br />

em 2005 3 . Preocupa<strong>da</strong> em agir conforme a “tradição de seu grupo”, Pit conscientemente tenta<br />

agir de modo a causar determina<strong>da</strong> impressão em seu companheiro de interação, na intenção<br />

de obter uma resposta específica, neste caso, um telefonema no dia seguinte.<br />

2<br />

No episódio “Barriga de Aluguel”, Pit chega a seqüestrar um bebê recém nascido, de tão emociona<strong>da</strong> que ficou<br />

com a expectativa de ser mãe.<br />

3<br />

Episódio “Ligações quase perigosas”, parte <strong>da</strong> coletânea dos melhores momentos de 2005<br />

Revista Espaço Acadêmico, nº 82, março de 2008<br />

http://www.espacoacademico.com.br/082/82maciel.htm<br />

2

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