pdf: 154.7K - Instituto Paulo Freire
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A idéia de autonomia é intrínseca à idéia de democracia e cidadania. Cidadão é<br />
aquele que participa do governo e só pode participar do governo (participar da<br />
tomada de decisões) quem tiver poder e tiver liberdade e autonomia para exercê-lo.<br />
O que está ocorrendo no Brasil (GADOTTI-BARCELLOS, 1993) não é<br />
diferente do que vem acontecendo, desde a última década, na Europa, que está<br />
preparando o seu sistema educacional para o ano 2000.<br />
Na Itália, em 1990, uma lei da Província Autônoma de Trento, estabeleceu a<br />
"autonomia organizativa, financeira e administrativa" das escolas trentinas. Essa lei<br />
estabelece a possibilidade de criação de escolas públicas com personalidade jurídica<br />
própria. Auxiliada por uma instituição financeira, a escola submete anualmente um<br />
balanço financeiro à Junta Provincial para avaliar a sua produtividade. O modelo<br />
trentino experimenta a passagem de uma escola estatal para uma escola públicaprivada-social.<br />
A reforma inglesa de 1988 reduz praticamente o Estado a duas funções básicas:<br />
repassar diretamente para as escolas os recursos públicos para a educação e avaliar a<br />
eficiência da escola. Para as escolas estatais se transformarem em escolas públicas<br />
autônomas precisam do aval do pais e dos professores por decisão da maioria tomada<br />
em assembléia geral. Elas se tornam completamente autônomas e independentes, como<br />
uma escola privada, com o seu orçamento própria, negociado anualmente com o<br />
governo central.<br />
Ao contrário do que ocorre com o modelo napoleônico - centralizador e<br />
fiscalizador - sistema que foi tomado como modelo pelos países ibero-latinoamericanos,<br />
a concepção/realização do sistema de ensino na tradição anglo-saxônica<br />
sempre foi muito descentralizada. Nesses países, a educação fundamental sempre<br />
esteve entregue ao poder local comunitário, quando não religioso: as famosas "escolas<br />
paroquiais" constituem-se na base da educação norte-americana. No Canadá existem<br />
mais de 2 mil escolas - chamadas de "escolas comunitárias" - administradas pela<br />
comunidade e mantidas pelo poder público.<br />
3. Gestão democrática e plano estratégico de participação<br />
Não se pode fazer uma mudança profunda no sistema de ensino sem um<br />
projeto social. O que a Itália está experimentando hoje - não apenas na Província de<br />
Trento - é resultado de um longo caminho percorrido com muitos encontros, debates,<br />
tentativas e confronto político entre teses opostas. A ampliação da autonomia da<br />
escola não pode opor-se à unidade do sistema. Como diz Remo Albertini, "antes o<br />
sistema era unitário no sentido de centralizado e agora o sistema continua unitário e<br />
homogêneo, mas no sentido de descentralizado" (ALBERTINI, 1991:61).<br />
Descentralização e autonomia caminham juntos.<br />
A luta pela autonomia da escola insere-se numa luta maior pela autonomia no<br />
seio da própria sociedade. Portanto, é uma luta dentro do instituído, contra o<br />
instituído, para instituir outra coisa. A eficácia dessa luta depende muito da ousadia da<br />
cada escola em experimentar o novo e não apenas pensá-lo. Mas para isso é preciso<br />
percorrer um longo caminho de construção da confiança na escola e na capacidade<br />
dela resolver seus problemas por ela mesma, confiança na capacidade autogovernar-se.<br />
A autonomia se refere à criação de novas relações sociais que se opõem às<br />
relações autoritárias existentes. Autonomia é o oposto da uniformização. A autonomia<br />
admite a diferença e, por isso, supõe a parceria. Só a igualdade na diferença e a<br />
Erro! Indicador não definido.<br />
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