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acta pediátrica portuguesa - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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Vol. 39, n.º 6<br />

Novembro / Dezembro 2008<br />

EDITORIAL<br />

A ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA ACELERA O PROCESSO DE PUBLICAÇÃO SIMPLIFICANDO O CIRCUITO<br />

EDITORIAL DOS MANUSCRITOS<br />

Daniel Virella CI<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

MORBILIDADE RESPIRATÓRIA E EXPOSIÇÃO A PARTÍCULAS INALÁVEIS NA CIDADE DE LISBOA<br />

Sandra Moreira, Carlos Silva Santos, Hugo Tente, Luísa Nogueira, Francisco Ferreira, Arlete Neto 223<br />

AVALIAÇÃO DA EFECTIVIDADE DO TRATAMENTO DAS DOENÇAS METABÓLICAS TIPO INTOXICAÇÃO<br />

DIAGNOSTICADAS NO PERÍODO SINTOMÁTICO<br />

Esmeralda Martins, Clara Barbot, Maria Luís Cardoso, Ermelinda Silva, Laura Vilarinho 233<br />

CASOS CLÍNICOS<br />

DOENÇA DE KIKUCHI<br />

Catarina Luis, Ana Maia Pita, Maria João Brito, Lour<strong>de</strong>s Cuesta, Alexandra Dias, Maria do Céu Machado 240<br />

SÍNDROME DE SIMPSON-GOLABI-BEHMEL<br />

Fabiana Ramos, Joaquim <strong>de</strong> Sá, Jorge M. Saraiva 243<br />

MIASTENIS GRAVIS<br />

Cecília Martins, Eduarda Marques, Fátima Santos, Roseli Gomes, Susana A. Pereira 247<br />

CUTIS LAXA<br />

M. Rosal Gonçalves, A. Emílio, M. Anes, A. Afonso, V. H. Neves, C. Ren<strong>de</strong>iro 250<br />

ARTIGOS DE ACTUALIZAÇÃO<br />

CÁRIE DENTÁRIA – A DOENÇA ANTES DA CAVIDADE<br />

Paulo Melo, Álvaro Azevedo, Marisa Henriques 253<br />

IMPLICAÇÕES DA ASMA NA SAÚDE ORAL INFANTIL<br />

Ana Luísa Costa, Teresa Xavier 260<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA – CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

PROTOCOLO DE ACTUAÇÃO NA HEMORRAGIA SUBARACNOIDEIA NÃO TRAUMÁTICA<br />

Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> 266<br />

CARTA AO EDITOR<br />

COMENTÁRIOS AO NÚMERO DE VERÃO DA ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA (2008:39(4))<br />

Carmona da Mota 271<br />

NOTÍCIAS CIII<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO CV<br />

ISSN 0873-9781


CONSELHO EDITORIAL<br />

Director<br />

João M. Vi<strong>de</strong>ira Amaral - Lisboa<br />

Editores Associados<br />

Daniel Virella - Lisboa<br />

Luís Pereira-da-Silva - Lisboa<br />

Jorge Amil Dias - Porto<br />

Guiomar Oliveira - Coimbra<br />

Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> Edição<br />

António Gomes - Almada<br />

Secretariado<br />

Maria Júlia Brito - SPP<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

Vol 39 Nº 6 Novembro – Dezembro 2008<br />

(Orgão Oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>)<br />

www.spp.pt<br />

app@spp.pt<br />

Fundador<br />

Carlos Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Editores Correspon<strong>de</strong>ntes (Países <strong>de</strong> Língua Oficial <strong>Portuguesa</strong>)<br />

Luís Bernardino - Angola<br />

Paula Vaz - Moçambique<br />

Renato Procianoy - Brasil<br />

Conselho Científico<br />

Aguinaldo Cabral (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> D. Metabólicas)<br />

Alexandra Seabra Diniz (Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos)<br />

Ana Ca<strong>de</strong>te (Secção <strong>de</strong> Reabilitação Pediátrica da SPMFR)<br />

Ana Me<strong>de</strong>ira (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Genética Humana)<br />

Ana Xavier (Grupo Port. <strong>de</strong> Oftalmologia Ped. e Estrabismo)<br />

Caldas Afonso (Secção <strong>de</strong> Nefrologia)<br />

Carlos Figueiredo (Secção <strong>de</strong> Medicina do Adolescente)<br />

Guiomar Oliveira (Secção <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Desenvolvimento)<br />

José A. Oliveira Santos (Secção <strong>de</strong> Pneumologia)<br />

José Cabral (Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia e Nutrição)<br />

José Luís Fonseca (Secção <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> Ambulatória)<br />

João Gomes-Pedro (Secção <strong>de</strong> Educação Médica)<br />

José Frias Bulhosa (Or<strong>de</strong>m dos Médicos Dentistas)<br />

José Gonçalo Marques (Secção <strong>de</strong> Infecciologia)<br />

Libério Ribeiro (Secção <strong>de</strong> Imuno-Alergologia)<br />

Lucília Norton (Secção <strong>de</strong> Hematologia e Oncologia)<br />

Manuel Fontoura (Secção <strong>de</strong> Endocrinologia)<br />

Maria José Vieira (Secção <strong>de</strong> Reumatologia)<br />

Miguel Coutinho (Subcomissão <strong>de</strong> ORL Pediátrica da SPORL)<br />

Olavo Gonçalves (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Neuropediatria)<br />

Óscar Tellechea (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Port. <strong>de</strong> Dermatologia e Venereologia)<br />

Paolo Casella (<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> Cirurgia Pediátrica)<br />

Rui Anjos (Secção <strong>de</strong> Cardiologia Pediátrica)<br />

Teresa Tomé (Secção <strong>de</strong> Neonatologia)<br />

Directores ex-officio<br />

(Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> e Puericultura, Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> e Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong>)<br />

Carlos Salazar <strong>de</strong> Sousa Jaime Salazar <strong>de</strong> Sousa<br />

Mário Cor<strong>de</strong>iro António Marques Valido<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Levy João Gomes-Pedro<br />

Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Luís Januário<br />

Missão da APP: A APP, sucessora da Revista <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>, é uma revista científica funcionando na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão prévia dos textos submetidos<br />

ao corpo editorial por colegas peritos em anonimato mútuo (peer review). É dirigida essencialmente a pediatras (vertentes médico-cirúrgica) e a médicos em<br />

formação pós-graduada para obtenção das respectivas especialida<strong>de</strong>s no pressuposto <strong>de</strong> que os conteúdos interessam a outros médicos e profissionais interessados<br />

na saú<strong>de</strong> da criança e adolescente inseridos no respectivo meio familiar e social. A APP preten<strong>de</strong> abarcar um vasto leque <strong>de</strong> questões sobre investigação, educação<br />

médica, pediatria social, prática clínica, temas controversos, <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> opiniões, normas <strong>de</strong> actuação, actualização <strong>de</strong> temas, etc. São adoptadas diversas modalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> divulgação: editoriais, espaços <strong>de</strong> discussão, artigos originais, artigos sobre avanços em pediatria, resumos <strong>de</strong> estudos divulgados em eventos científicos,<br />

notícias sobre eventos científicos e organismos estatais e não estatais <strong>de</strong>votados à criança e adolescente.<br />

A revista científica Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) (ISSN 0873-9781) é proprieda<strong>de</strong> da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>, com responsabilida<strong>de</strong> administrativa<br />

da respectiva Direcção. A publicação é bimestral com todos os direitos reservados. A coor<strong>de</strong>nação dos conteúdos científicos é da responsabilida<strong>de</strong> do<br />

corpo editorial da APP (Director e Director Adjunto, Editores Associados, Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Edição e Conselho Editorial). A responsabilida<strong>de</strong> dos textos científicos<br />

publicados pertence aos respectivos autores, não reflectindo necessariamente a política da SPP.<br />

Administração: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Secretariado<br />

e Publicida<strong>de</strong>: Júlia Brito – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Redacção: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pediatria</strong> – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa – Telef.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 • Condições <strong>de</strong> Assinatura: 1 Ano, Continente e Ilhas:<br />

24,94 Euros, Estrangeiro US$40 • Nº Avulso 7,48 Euros • Distribuição Gratuita aos Sócios da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> • Composição e Impressão:<br />

Quadricor - artes gráficas, lda. Rua Comandante Oliveira e Carmo, 18-C, Cova da Pieda<strong>de</strong>, 2805-212 Almada – Telef.: 212 744 607 – Fax: 212 743 190 –<br />

e-mail: prepress@quadricor.pt • Tiragem: 3000 Exemplares • Correspondência: <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa<br />

Parcerias: Danone • Merck Sharp & Dohme • Milupa <strong>Portuguesa</strong> • Nestlé Portugal • Schering-Plough<br />

XCVII


ÍNDICE<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

EDITORIAL<br />

A Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> acelera o processo <strong>de</strong> publicação simplificando o circuito editorial dos manuscritos<br />

Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CI<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

Morbilida<strong>de</strong> respiratória e exposição a partículas inaláveis na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa<br />

Sandra Moreira, Carlos Silva Santos, Hugo Tente, Luísa Nogueira, Francisco Ferreira, Arlete Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223<br />

Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas tipo intoxicação diagnosticadas<br />

no período sintomático<br />

Esmeralda Martins, Clara Barbot, Maria Luís Cardoso, Ermelinda Silva, Laura Vilarinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233<br />

CASOS CLÍNICOS<br />

Doença <strong>de</strong> Kikuchi<br />

Catarina Luis, Ana Maria Pita, Maria João Brito, Lour<strong>de</strong>s Cuesta, Alexandra Dias, Maria do Céu Machado . . . . . . . . . . . . 240<br />

Síndrome <strong>de</strong> Simpson-Golabi-Behmel<br />

Fabiana Ramos, Joaquim <strong>de</strong> Sá, Jorge M. Saraiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243<br />

Miastenia Gravis<br />

Cecília Martins, Eduarda Marques, Fátima Santos, Roseli Gomes, Susana A. Pereira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247<br />

Cutis Laxa<br />

M. Rosal Gonçalves, A. Emílio, M. Anes, A. Afonso, V. H. Neves, C. Ren<strong>de</strong>iro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250<br />

ARTIGOS DE ACTUALIZAÇÃO<br />

Cárie <strong>de</strong>ntária – a doença antes da cavida<strong>de</strong><br />

Paulo Melo, Álvaro Azevedo, Marisa Henriques. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253<br />

Implicações da asma na saú<strong>de</strong> oral infantil<br />

Ana Luísa Costa, Teresa Xavier. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA – CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

Protocolo <strong>de</strong> actuação na hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática<br />

Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266<br />

CARTA AO EDITOR<br />

Comentários ao número <strong>de</strong> Verão da Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> (2008:39(4))<br />

Carmona da Mota . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271<br />

NOTÍCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CIII<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CV<br />

XCIX


CONTENTS<br />

ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA<br />

EDITORIAL<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> adopts a simplified editorial process to achieve a swifter acceptance of manuscripts<br />

Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CI<br />

ORIGINAL ARTICLES<br />

Respiratory morbidity and exposure to inhalable particles in the city of Lisbon<br />

Sandra Moreira, Carlos Silva Santos, Hugo Tente, Luísa Nogueira, Francisco Ferreira, Arlete Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223<br />

Evaluation of treatment effectiveness in intoxication type inborn errors of metabolism diagnosed<br />

in symptomatic state<br />

Esmeralda Martins, Clara Barbot, Maria Luís Cardoso, Ermelinda Silva, Laura Vilarinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233<br />

CASES REPORTS<br />

Kikuchi Disease<br />

Catarina Luis, Ana Maria Pita, Maria João Brito, Lour<strong>de</strong>s Cuesta, Alexandra Dias, Maria do Céu Machado . . . . . . . . . . . . 240<br />

Simpson-Golabi-Behmel syndrome<br />

Fabiana Ramos, Joaquim <strong>de</strong> Sá, Jorge M. Saraiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243<br />

Myasthenia Gravis<br />

Cecília Martins, Eduarda Marques, Fátima Santos, Roseli Gomes, Susana A. Pereira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247<br />

Cutis Laxa<br />

M. Rosal Gonçalves, A. Emílio, M. Anes, A. Afonso, V. H. Neves, C. Ren<strong>de</strong>iro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250<br />

REVIEW ARTICLES<br />

Dental Caries – the disease before cavity formation<br />

Paulo Melo, Álvaro Azevedo, Marisa Henriques. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253<br />

Oral health implications of asthma in children<br />

Ana Luísa Costa, Teresa Xavier. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260<br />

PORTUGUESE PAEDIATRIC SOCIETY – CONSENSUS AND GUIDELINES<br />

Protocol for the management of non traumatic subarachnoid haemorrhage<br />

Intensive Cares Section of Portuguese Paediatric Society . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266<br />

LETTER<br />

Comments to Summer edition of Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> (2008:39(4))<br />

Carmona da Mota . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271<br />

NEWS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CIII<br />

GUIDELINES FOR THE AUTHORS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CV<br />

C


0873-9781/08/39-6/CI<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> EDITORIAL<br />

A Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> acelera o processo <strong>de</strong> publicação simplificando<br />

o circuito editorial dos manuscritos<br />

Daniel Virella<br />

Editor Associado da Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

A Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP), como órgão oficial da<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> (SPP), <strong>de</strong>ve acompanhar a<br />

evolução do <strong>de</strong>senvolvimento da <strong>Pediatria</strong> nacional, adap -<br />

tando na continuida<strong>de</strong> os princípios editoriais.<br />

Há quatro anos, a nova equipa <strong>de</strong> direcção da APP aceitou os<br />

<strong>de</strong>safios colocados pela Direcção da SPP e, no respeito pelos<br />

princípios fundadores da revista, reestruturou os processos e<br />

estratégias editoriais. Foram <strong>de</strong>finidos dois objectivos prioritários<br />

a curto prazo: a clareza e objectivida<strong>de</strong> do processo editorial<br />

e a promoção da qualida<strong>de</strong> científica dos artigos<br />

publica dos. A tentativa <strong>de</strong> reconhecimento científico inter -<br />

nacional da revista, através da in<strong>de</strong>xação na Pubmed ® , era um<br />

objec tivo secundário, a atingir a médio prazo. As estratégias<br />

<strong>de</strong>fi nidas passaram pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> circuitos explícitos <strong>de</strong><br />

cir culação dos artigos, pelo estabelecimento <strong>de</strong> critérios semiquan<br />

titativos padronizados <strong>de</strong> avaliação e pela adopção <strong>de</strong><br />

uma atitu<strong>de</strong> pedagógica face aos autores e os manuscritos.<br />

Os resultados da estratégia foram avaliados periodicamente,<br />

sendo claro que o apoio editorial aos autores se reflectiu no<br />

<strong>de</strong>sejado aumento <strong>de</strong> correcção científica e da qualida<strong>de</strong> clínica<br />

do conteúdo da revista; no entanto, o preço a pagar foi<br />

uma maior <strong>de</strong>mora no processo editorial <strong>de</strong> alguns manuscritos,<br />

como foi rapidamente reconhecido e publicado. O pro -<br />

cesso <strong>de</strong> revisão editorial, dupla ou tripla revisão por especialistas<br />

das áreas abordadas e adaptação dos manuscritos pelos<br />

autores às sugestões que lhes são enviadas é muito exigente e,<br />

portanto, moroso. Esta <strong>de</strong>mora foi aceite pela direcção da<br />

APP como necessária, a médio prazo, para cumprir os objectivos<br />

pedagógicos que foram <strong>de</strong>finidos: um processo editorial<br />

seis a nove meses mais longo para garantir um manuscrito <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> é preferível para a revista, os leitores e os autores,<br />

à aceitação e publicação célere <strong>de</strong> manuscritos com <strong>de</strong>ficiências<br />

passíveis <strong>de</strong> correcção.<br />

Volvidos quatro anos, aten<strong>de</strong>ndo à evolução positiva dos<br />

manuscritos recebidos, a direcção da APP consi<strong>de</strong>ra que a<br />

intervenção pedagógica <strong>de</strong>ve ser aligeirada, confinando a<br />

revisão editorial à verificação da conformida<strong>de</strong> dos manus -<br />

critos às Normas <strong>de</strong> Publicação e remetendo a revisão clínica<br />

e científica e a intervenção pedagógica aos revisores das áreas<br />

<strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>.<br />

Assim, reconhecendo a referida sobrecarga <strong>de</strong> trabalho editorial<br />

e consequente <strong>de</strong>mora do processo editorial, a partir do<br />

início <strong>de</strong> 2009, a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> edição da APP <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong><br />

prestar à totalida<strong>de</strong> dos manuscritos submetidos a intervenção<br />

pedagógica no acto da revisão editorial. Ao serem recebidos<br />

na APP, os manuscritos passarão a ser classificados como<br />

aptos ou não aptos a ser admitidos no processo editorial. Os<br />

autores dos manuscritos consi<strong>de</strong>rados como não aptos rece -<br />

berão uma explicação sumária dos principais aspectos que<br />

levaram a esta classificação, sendo sugerida a ressubmissão<br />

noutro formato ou a eventual opção por outro meio <strong>de</strong> divulgação.<br />

Os manuscritos consi<strong>de</strong>rados como aptos serão, como<br />

habitualmente, sujeitos à revisão por especialistas e a uma<br />

revisão editorial formal.<br />

Com esta mudança processual, a direcção da APP preten<strong>de</strong><br />

acelerar o tempo que <strong>de</strong>corre até à publicação dos manus -<br />

critos e preparar o caminho para a ansiada introdução do processo<br />

editorial semi-automático baseado na Internet, menos<br />

susceptível a falhas humanas, e que permitirá a submissão<br />

electrónica dos manuscritos, a sua gestão interna, o acesso<br />

directo dos autores à informação sobre o andamento dos seus<br />

manuscritos, e a edição <strong>de</strong> cada número da revista.<br />

Esta mo<strong>de</strong>rnização exige a absoluta adaptação ao substrato<br />

electrónico por parte do corpo editorial e do secretariado,<br />

assim como dos autores e dos revisores, mas a evolução à a<strong>de</strong>são<br />

às novas tecnologias à qual assistimos nos últimos anos<br />

permite-nos estar optimistas.<br />

Uma vez mais, a direcção da APP pe<strong>de</strong> a colaboração dos<br />

autores, revisores e leitores nesta transição para a mo<strong>de</strong>rni -<br />

da<strong>de</strong> e agra<strong>de</strong>ce à Direcção da SPP a confiança e o apoio<br />

financeiro.<br />

Correspondência:<br />

Daniel Virella<br />

Editor Associado da Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

app@spp.pt<br />

CI


0873-9781/08/39-6/223<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> ARTIGO ORIGINAL<br />

Morbilida<strong>de</strong> respiratória e exposição a partículas inaláveis na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa<br />

Sandra Moreira 1 , Carlos Silva Santos 1 , Hugo Tente 2 , Luísa Nogueira 3 , Francisco Ferreira 2 , Arlete Neto 4<br />

1 - Centro Regional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública <strong>de</strong> Lisboa e Vale do Tejo<br />

2 - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Tecnologia da Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa<br />

3 - Comissão <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação e Desenvolvimento Regional <strong>de</strong> Lisboa e Vale do Tejo<br />

4 - Hospital Dona Estefânia<br />

Resumo<br />

Introdução: Os efeitos adversos das partículas em suspensão<br />

na saú<strong>de</strong> humana expressam-se sob efeitos agudos e crónicos,<br />

não existindo nenhum limiar abaixo do qual se consi<strong>de</strong>re que<br />

a exposição a partículas não origine efeitos na saú<strong>de</strong> da população.<br />

À semelhança <strong>de</strong> outras capitais europeias, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa apresenta elevados níveis <strong>de</strong> partículas, principal -<br />

mente nas áreas <strong>de</strong> maior tráfego.<br />

Objectivo: Neste estudo procurou-se analisar os efeitos na<br />

saú<strong>de</strong> humana <strong>de</strong>correntes da exposição ambiental a partí -<br />

culas em suspensão na atmosfera (PM10 e PM2.5 ).<br />

Metodologia: O estudo centrou-se nos efeitos das partículas<br />

inaláveis na saú<strong>de</strong> respiratória da população infanto-juvenil<br />

resi<strong>de</strong>nte em Lisboa. Para o efeito, foram caracterizados os<br />

níveis <strong>de</strong> partículas (PM10 e PM2.5 ) em Lisboa e proce<strong>de</strong>u-se<br />

a uma avaliação da morbilida<strong>de</strong> respiratória, utilizando métodos<br />

indirectos relacionados com a procura e utilização dos<br />

serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em situação <strong>de</strong> urgência, tendo como base<br />

os atendimentos da Urgência Pediátrica <strong>de</strong> um Hospital <strong>de</strong><br />

Lisboa.<br />

Resultados: Verificou-se que um terço das urgências <strong>pediátrica</strong>s<br />

hospitalares é <strong>de</strong> natureza respiratória, <strong>de</strong>stacando-se quatro<br />

principais patologias: infecção aguda das vias aéreas<br />

superio res, infecção aguda das vias aéreas inferiores, asma e<br />

pneumo nia. Os mo<strong>de</strong>los estatísticos explicativos foram <strong>de</strong>senvolvidos<br />

com vista a aferir as variáveis ambientais mais relevantes<br />

para avaliar os impactes da poluição atmosférica por PM<br />

na saú<strong>de</strong> respiratória infantil, i<strong>de</strong>ntificando-se um <strong>de</strong>sfasamento<br />

temporal, <strong>de</strong> poucos dias, entre as ocorrências <strong>de</strong> elevadas<br />

concentrações <strong>de</strong> partículas e os efeitos respiratórios.<br />

Conclusão: Nestes mo<strong>de</strong>los a temperatura mínima surge<br />

como importante variável explicativa, assim como as concentrações<br />

<strong>de</strong> partículas medidas em estações <strong>de</strong> fundo (mais<br />

representativas dos níveis <strong>de</strong> concentrações <strong>de</strong> PM <strong>de</strong> zonas<br />

Recebido: 08.05.2007<br />

Aceite: 29.10.2008<br />

resi<strong>de</strong>nciais) em <strong>de</strong>trimento das estações <strong>de</strong> tráfego. Foi evi<strong>de</strong>nte<br />

uma relação entre a zona <strong>de</strong> residência das crianças com<br />

problemas respiratórios atendidas na urgência e as áreas da<br />

cida<strong>de</strong> com maiores níveis <strong>de</strong> partículas.<br />

Palavras-chave: poluição atmosférica, partículas, avaliação<br />

da exposição ambiental, morbilida<strong>de</strong> respiratória<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):223-32<br />

Respiratory morbidity and exposure to inhala -<br />

ble particles in the city of Lisbon<br />

Abstract<br />

Introduction: The adverse effects of the atmospheric parti -<br />

culate matter (PM) on human health are expressed in acute<br />

and chronic effects and there is no threshold below which we<br />

consi<strong>de</strong>r that the exposure to these particles does not originate<br />

any effect on the health of the population. Like other<br />

European capitals, the city of Lisbon has high particulate<br />

matte r (PM) levels, especially within areas of high <strong>de</strong>nsely<br />

road traffic.<br />

Objective: This study aimed to analyse the effects of the<br />

environmental exposure to atmospheric PM (PM10 and PM2.5 fractions) on human health.<br />

Methodology: The study focused on the effects of inhalable<br />

particles on respiratory health in the younger Lisbon inhabitants.<br />

To this end both Lisbon’s PM (PM10 and PM2.5 ) levels<br />

were characterized and a respiratory morbidity evaluation was<br />

performed. The latter process used indirect methods related to<br />

the search and use of the health services in emergency situations,<br />

giving special focus to the occurrences on the Paediatric<br />

Emergency in a specific Lisbon Hospital.<br />

Results: According to the results, one third of the emergencies<br />

in hospital paediatrics <strong>de</strong>rive from breathing problems,<br />

Correspondência:<br />

Sandra Sofia dos Anjos Sousa Moreira<br />

Administração Regional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa e Vale do Tejo, I.P.<br />

Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública<br />

Av. Estados Unidos da América, n.º 77<br />

1749-096 Lisboa, Portugal<br />

sandrasofiamoreira@hotmail.com<br />

223


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

presenting four main pathologies: acute upper respiratory<br />

infections, acute lower respiratory infections, asthma and<br />

pneumonia. Several explanatory statistical mo<strong>de</strong>ls were built<br />

in or<strong>de</strong>r to assess what environmental variables were <strong>de</strong>cisive<br />

for evaluating the impact of atmospheric PM pollution on the<br />

respiratory-related child hospital admissions. The mo<strong>de</strong>ls<br />

selected variables with a time gap between PM levels and its’<br />

effects, since a time lag of a few days was i<strong>de</strong>ntified between<br />

the occurrences of high PM concentrations and peaks on hospital<br />

admissions.<br />

Conclusion: According to the mo<strong>de</strong>ls built, the minimum<br />

temperature is an important variable affecting these hospital<br />

admissions, as well as the PM levels measured in background<br />

stations in <strong>de</strong>triment of traffic stations (since they are more<br />

representative of concentration levels at resi<strong>de</strong>ntial areas). It<br />

was also observed an important connection between the children’s<br />

place of resi<strong>de</strong>nce and the city most polluted areas<br />

since the frequency of cases was higher for children living on<br />

higher PM concentration neighbourhoods.<br />

Key Words: air pollution; particles; environmental exposure<br />

assessment; respiratory morbidity<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):223-32<br />

Introdução<br />

A protecção do ambiente e da saú<strong>de</strong> humana constitui um dos<br />

principais <strong>de</strong>safios do século XXI, sendo um requisito indispensável<br />

para o bem-estar e para a prosperida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong>.<br />

Encara-se hoje o ambiente como um factor crucial no con -<br />

texto saú<strong>de</strong>/doença.<br />

A poluição atmosférica tem sido consi<strong>de</strong>rada um dos graves<br />

problemas ambientais das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, como resultado<br />

<strong>de</strong> um crescente <strong>de</strong>senvolvimento industrial e urbano<br />

que, inevitavelmente, tem conduzido a um aumento da emissão<br />

<strong>de</strong> poluentes atmosféricos com consequências no ambiente<br />

e na saú<strong>de</strong> humana.<br />

É crescente a evidência científica relativa à associação entre a<br />

concentração dos poluentes atmosféricos e a mortalida<strong>de</strong>1,2 e a<br />

morbilida<strong>de</strong>3-11 humana, on<strong>de</strong> se procura estimar o risco para a<br />

saú<strong>de</strong> da população quando exposta aos diferentes poluentes<br />

atmosféricos e estabelecer indicadores <strong>de</strong> impacto na saú<strong>de</strong>.<br />

As partículas em suspensão são um dos principais poluentes<br />

atmosféricos, às quais se encontram potencialmente atribuídos<br />

efeitos negativos na saú<strong>de</strong> e no ambiente. Em termos <strong>de</strong><br />

magnitu<strong>de</strong> do impacto, os efeitos adversos das partículas em<br />

suspensão sobre a saú<strong>de</strong> humana expressam-se quer sob efeitos<br />

agudos (exposição a curto prazo), quer através <strong>de</strong> efeitos<br />

crónicos (exposição a longo prazo). No que se refere à intensida<strong>de</strong><br />

do efeito, esta é inversamente proporcional à população<br />

afectada: <strong>de</strong> acordo com a pirâmi<strong>de</strong> <strong>de</strong> efeitos da poluição<br />

atmosférica na saú<strong>de</strong> humana12 na base encontram-se os efeitos<br />

sub-clínicos e no seu topo a mortalida<strong>de</strong>.<br />

Apesar <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar que na exposição a partículas inaláveis<br />

“não existe nenhum limiar abaixo do qual a exposição<br />

não origina efeitos na saú<strong>de</strong> humana” 13 (a complexida<strong>de</strong> e a<br />

224<br />

diversida<strong>de</strong> das características físicas e químicas das partí -<br />

culas - PM10 e PM2.5 - po<strong>de</strong>m justificar, em parte, este facto),<br />

existem valores limite estabelecidos na legislação europeia e<br />

nacional para PM10 associados à protecção da saú<strong>de</strong> humana<br />

(o valor limite diário é <strong>de</strong> 50μg/m3 , valor que não se po<strong>de</strong><br />

exce<strong>de</strong>r mais <strong>de</strong> 35 vezes em cada ano civil, e o valor limite<br />

anual é <strong>de</strong> 40μg/m3 ), o que traduz um compromisso <strong>de</strong> risco<br />

tido como aceitável para a exposição da população, <strong>de</strong> acordo<br />

com as actuais condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento técnico-científico.<br />

De salientar, que aten<strong>de</strong>ndo à crescente importância das<br />

fracções granulométricas mais pequenas, foi recentemente<br />

publicada regulamentação europeia para PM2.5 .<br />

Em Portugal, como na generalida<strong>de</strong> dos países com clima<br />

mediterrâneo, as concentrações <strong>de</strong> partículas, em especial <strong>de</strong><br />

PM10 , registam valores superiores aos observados na Europa<br />

Central, sendo frequentemente mais elevados do que os valores<br />

limite legislados. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa apresenta níveis <strong>de</strong><br />

partículas inaláveis muito elevados à escala europeia, principalmente<br />

nas zonas <strong>de</strong> maior tráfego14 .<br />

Objectivo<br />

O conhecimento sobre a qualida<strong>de</strong> do ar na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa,<br />

sendo relevante não tem sido utilizado para caracterizar os efeitos<br />

dos poluentes atmosféricos sobre a saú<strong>de</strong> da população <strong>de</strong>sta<br />

cida<strong>de</strong>. Neste sentido, o estudo teve como principal objectivo<br />

<strong>de</strong>terminar o impacto na saú<strong>de</strong> humana resultante da exposição<br />

ambiental total a partículas inaláveis em suspensão na atmosfera<br />

(PM10 e PM2.5 ) em resi<strong>de</strong>ntes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Metodologia<br />

Proce<strong>de</strong>u-se à realização <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo longitudinal<br />

e prospectivo para <strong>de</strong>terminar os efeitos agudos respiratórios<br />

na população por exposição ambiental a partículas em suspensão<br />

(PM10 e <strong>de</strong> PM2.5 ).<br />

A avaliação dos níveis <strong>de</strong> partículas efectuada no âmbito do<br />

estudo teve por base a análise dos dados <strong>de</strong> PM10 e <strong>de</strong> PM2.5 medidos em contínuo pelos analisadores <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> radiação<br />

β (Environnement S.A.,MP101M) presentes nas estações<br />

<strong>de</strong> monitorização da re<strong>de</strong> oficial <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar da região<br />

<strong>de</strong> Lisboa e Vale do Tejo, instaladas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa. No<br />

sentido <strong>de</strong> complementar a informação recolhida nas estações<br />

<strong>de</strong> monitorização e tendo em vista efectuar a caracterização<br />

química das partículas PM10 , proce<strong>de</strong>u-se à realização <strong>de</strong> campanhas<br />

<strong>de</strong> amostragem <strong>de</strong>ste poluente em três locais distintos<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa utilizando amostradores gravimétricos <strong>de</strong><br />

referência, Partisol® Plus 2025. Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracterizar<br />

a distribuição espacial dos níveis <strong>de</strong> PM10 foram ainda<br />

realizadas três campanhas <strong>de</strong> amostragem com a duração <strong>de</strong><br />

uma semana (campanha <strong>de</strong> avaliação da distribuição das concentrações<br />

<strong>de</strong> fundo, campanha <strong>de</strong> comparação das concentrações<br />

interior vs. exterior e campanha <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> concentrações<br />

máximas) pelo recurso a 11 amostradores <strong>de</strong> baixo<br />

volume (LVS) Derenda LVS 3.1. De forma a garantir a intercomparação<br />

entre os diversos métodos <strong>de</strong> medição, aos resultados<br />

dos analisadores <strong>de</strong> radiação β foi aplicado um factor <strong>de</strong>


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

correcção <strong>de</strong>finido a nível nacional pelo Instituto do Ambiente<br />

(actualmente Agência <strong>Portuguesa</strong> do Ambiente): 1.11 para<br />

estações urbanas <strong>de</strong> fundo e 1.18 para estações <strong>de</strong> tráfego.<br />

No que concerne à componente saú<strong>de</strong> humana (vertente morbilida<strong>de</strong>),<br />

o estudo centrou-se na análise da saú<strong>de</strong> respiratória da<br />

população infanto-juvenil resi<strong>de</strong>nte em Lisboa, utilizando uma<br />

amostra sistemática <strong>de</strong> conveniência: os utentes que recorreram<br />

aos serviços da urgência <strong>pediátrica</strong> <strong>de</strong> uma uni da<strong>de</strong> hospitalar<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa durante o ano 2004, unida<strong>de</strong> que engloba<br />

na sua área <strong>de</strong> abrangência 40 das 53 freguesias do concelho <strong>de</strong><br />

Lisboa e 10 das 18 freguesias do concelho <strong>de</strong> Loures.<br />

Proce<strong>de</strong>u-se à recolha <strong>de</strong> dados sobre as variáveis sexo, ida<strong>de</strong><br />

e local <strong>de</strong> residência para o número diário <strong>de</strong> atendimentos da<br />

urgência <strong>pediátrica</strong> por todas as causas, por todas as doenças<br />

e especificamente por doenças respiratórias. Os dados relativos<br />

aos atendimentos da urgência <strong>pediátrica</strong> por todas as causas<br />

e por todas as doenças foram fornecidos pelos serviços do<br />

Hospital <strong>de</strong> Lisboa alvo do estudo e os atendimentos diários<br />

por doença respiratória foram recolhidos através da “codifi -<br />

cação” das fichas <strong>de</strong> urgência <strong>pediátrica</strong> dos utentes, tendo<br />

como suporte o questionário-tipo (vi<strong>de</strong> Anexo). Todos os<br />

dados recolhidos foram introduzidos em programa Microsoft<br />

Excel ® , versão Office 2003 (Microsoft Corporation, Redmond<br />

– WA, EUA), com aplicação estatística em SPSS ® 15<br />

(Statistical Package for Social Sciences, versão 15, SPSS Inc.,<br />

Chicago – IL, EUA).<br />

Foram seleccionados para análise os primeiros sete dias <strong>de</strong><br />

cada mês daquele ano, num total <strong>de</strong> 84 dias <strong>de</strong> amostragem.<br />

As patologias respiratórias, <strong>de</strong>scriminadas <strong>de</strong> acordo com a<br />

CID-10, foram agrupadas do seguinte modo: infecção aguda<br />

(J00 a J06); infecção crónica (J31 a J33 e J35 a J37); rinite<br />

alérgica e vasomotora (J30); infecção aguda (J20 a J22); gripe<br />

(J10 a J11); pneumonia (J12 a J18); bronquite crónica (J41 a<br />

J42); enfisema (J43); outra doença pulmonar obstrutiva cró -<br />

nica (J44); asma (J45 a J46); bronquectasia (J47); e outra<br />

doença respiratória não incluída anteriormente.<br />

Foi realizada uma análise <strong>de</strong>scritiva tanto das variáveis<br />

ambientais como <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que incluiu o cálculo dos rácios<br />

das doenças respiratórias no total <strong>de</strong> doenças por freguesia.<br />

A relação entre as admissões nas urgências <strong>pediátrica</strong>s por<br />

doença respiratória e os níveis <strong>de</strong> partículas observados nas<br />

estações <strong>de</strong> monitorização <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar foi avaliada<br />

através <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão linear múltipla, baseados<br />

num vasto conjunto <strong>de</strong> variáveis, tais como: dia da semana;<br />

precipitação diária acumulada; temperatura máxima; temperatura<br />

mínima; média diária da humida<strong>de</strong> relativa; velocida<strong>de</strong><br />

média do vento à superfície; média diária das concentrações<br />

<strong>de</strong> PM10 na estação <strong>de</strong> monitorização <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar dos<br />

Olivais; média diária das concentrações <strong>de</strong> PM10 na estação<br />

<strong>de</strong> monitorização <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar <strong>de</strong> Entrecampos; média<br />

do dia anterior (lag-1 ) das concentrações anteriores; média<br />

diária 2 dias antes (lag-2 ) das concentrações anteriores e assim<br />

sucessivamente até aos 5 dias; igual abordagem para as concentrações<br />

<strong>de</strong> PM2.5 em ambas as estações e lags; médias<br />

móveis das concentrações citadas para 2 e 3 dias nos dife -<br />

rentes lags consi<strong>de</strong>rados e duração do dia solar.<br />

De salientar, que se constatou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> introduzir na<br />

análise o <strong>de</strong>sfasamento temporal das concentrações (lag), à<br />

semelhança <strong>de</strong> outros estudos que optam por períodos até três<br />

dias 15-18 ou períodos mais longos 19 , tal como os cinco dias testados<br />

ao longo do presente estudo. Foram igualmente testadas<br />

concentrações médias integradas <strong>de</strong> dois e três dias, à semelhança<br />

<strong>de</strong> outros autores 20,21 .<br />

Resultados<br />

Da análise efectuada aos dados das estações <strong>de</strong> monitori -<br />

zação, verificou-se que os perfis das duas granulometrias <strong>de</strong><br />

partículas em suspensão na atmosfera (PM10 e PM2.5 ) apresentam,<br />

em geral, gran<strong>de</strong> concordância: quando aumenta uma<br />

fracção eleva-se geralmente também a outra. A excepção a<br />

este quadro verifica-se nos dias em que se regista a intrusão<br />

<strong>de</strong> massas <strong>de</strong> ar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertos norte-africanos aumentando<br />

14 maioritariamente a fracção PM10 relativamente a PM2.5 .<br />

Não obstante a caracterização da distribuição espacial das<br />

partículas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa ter sido efectuada recorrendo a<br />

amostragens maioritariamente em localizações urbanas <strong>de</strong><br />

fundo, as concentrações <strong>de</strong> PM10 medidas foram, compara -<br />

tivamente com os valores legislados, bastante elevadas,<br />

tendo-se encontrado concentrações máximas no eixo central<br />

da cida<strong>de</strong>, no sentido Norte-Sul (Figura 1).<br />

Figura 1 – Distribuição espacial das concentrações médias<br />

sema nais <strong>de</strong> PM 10<br />

Relativamente à população amostrada constatou-se que foram<br />

atendidos na urgência <strong>pediátrica</strong> do Hospital <strong>de</strong> Lisboa 17242<br />

utentes (atendimentos por todas as causas), 83.2% por doença<br />

e o restante (16.8%) por aci<strong>de</strong>nte, intoxicação, queda, mor<strong>de</strong>dura,<br />

queimadura ou outra causa externa.<br />

Em média, cerca <strong>de</strong> 61 crianças (<strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 28.2) são<br />

atendidas diariamente por doença respiratória na urgência<br />

<strong>pediátrica</strong> do hospital, correspon<strong>de</strong>ndo a 35.5% do total <strong>de</strong><br />

urgências <strong>pediátrica</strong>s por doença.<br />

Os atendimentos hospitalares por doença respiratória, no<br />

período <strong>de</strong> amostragem, perfizeram um total <strong>de</strong> 5100, com um<br />

mínimo diário <strong>de</strong> 16 utentes (que ocorreu num sábado du rante<br />

o mês <strong>de</strong> Setembro) e um máximo <strong>de</strong> 138 utentes (sexta-feira<br />

e domingo, mês <strong>de</strong> Janeiro).<br />

225


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

A evolução diária, ao longo dos 84 dias <strong>de</strong> amostragem, do<br />

número <strong>de</strong> atendimentos hospitalares por doença respiratória é<br />

apresentada na Figura 2, na qual se po<strong>de</strong> constatar que relativamente<br />

à média registada (60.7), 34 dias ultrapassaram este valor.<br />

Figura 2 – Variação diária (84 dias) dos atendimentos hospitalares<br />

por doença respiratória nas Urgências Pediátricas do<br />

Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa<br />

Numa perspectiva semanal/mensal (tendo em conta que apenas<br />

foi recolhida informação relativa a uma semana em cada<br />

mês), os atendimentos hospitalares por todas as causas, por<br />

todas as doenças e por doença respiratória alcançaram valores<br />

mínimos no mês <strong>de</strong> Setembro (respectivamente 1001, 823 e<br />

164) e máximos no mês <strong>de</strong> Fevereiro para os atendimentos<br />

hospitalares por todas as causas e por todas as doenças, com<br />

excepção dos atendimentos por doença respiratória os quais<br />

registaram um valor máximo mensal no mês <strong>de</strong> Janeiro (836<br />

atendimentos). A média mensal (relativamente aos 7 dias por<br />

semana) dos atendimentos por doença respiratória foi <strong>de</strong> 425<br />

(<strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> 180.3) existindo uma variação percentual<br />

entre o valor máximo e mínimo <strong>de</strong> 13.2%.<br />

Quanto à evolução mensal dos atendimentos hospitalares por<br />

doença respiratória verifica-se que cinco meses têm valores<br />

superiores à média: Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março,<br />

Abril e Maio, <strong>de</strong>stacando-se <strong>de</strong>stes os meses <strong>de</strong> Janeiro e<br />

Fevereiro pelo elevado número <strong>de</strong> atendimentos.<br />

A população com menos <strong>de</strong> 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> é responsável por<br />

69.3% dos atendimentos hospitalares por doença respiratória,<br />

sendo as crianças com um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> as que procuram mais<br />

os serviços, seguidas das crianças <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

(Figura 3). É notória a diminuição gradual da procura com o<br />

aumento da ida<strong>de</strong>.<br />

Figura 3 – Variação dos atendimentos hospitalares por doença<br />

respiratória nas Urgências Pediátricas do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa <strong>de</strong> acordo com a ida<strong>de</strong><br />

226<br />

A população da área <strong>de</strong> influência do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa resi<strong>de</strong> em 50 freguesias diferentes, pertencentes aos<br />

concelhos <strong>de</strong> Lisboa (40 freguesias) e <strong>de</strong> Loures (10 freguesias).<br />

No entanto, verifica-se que cerca <strong>de</strong> 35% dos utentes da<br />

urgência <strong>pediátrica</strong> por doença respiratória resi<strong>de</strong>m em outros<br />

concelhos ou em freguesias dos concelhos <strong>de</strong> Lisboa e Loures<br />

que não pertencem à área <strong>de</strong> intervenção do hospital.<br />

Como se po<strong>de</strong> constatar na Figura 4, quando se calcula a taxa<br />

<strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> procura da urgência <strong>pediátrica</strong> por doença<br />

respiratória para o grupo etário 0 a 14 anos e por freguesia,<br />

<strong>de</strong>stacam-se em cada concelho (Lisboa e Loures) as cinco freguesias<br />

da área <strong>de</strong> influência do hospital em estudo com<br />

maior valor registado na sua taxa: freguesias <strong>de</strong> Madalena,<br />

Socorro e Sacramento, Santo Estevão e Anjos para o concelho<br />

<strong>de</strong> Lisboa; freguesias <strong>de</strong> Camarate, Apelação, Sacavém, Santa<br />

Iria <strong>de</strong> Azóia e Moscavi<strong>de</strong> para o concelho <strong>de</strong> Loures.<br />

Figura 4 – Procura da urgência <strong>pediátrica</strong> por doença respiratória<br />

no Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa por 1000 habitantes (0-14 anos),<br />

por freguesia, incluindo as externas à área <strong>de</strong> influência (freguesias<br />

com taxa <strong>de</strong> incidência inferior a 19 por 1000 habitantes)<br />

O conjunto das 40 freguesias <strong>de</strong> Lisboa da área <strong>de</strong> intervenção<br />

do hospital apresenta uma taxa <strong>de</strong> incidência da procura<br />

<strong>de</strong> 64.6 por 1000 habitantes, enquanto nas restantes 13 freguesias,<br />

a procura é “apenas” <strong>de</strong> 12.3 por 1000 habitantes. Nas 10<br />

freguesias do concelho <strong>de</strong> Loures, pertencentes à área <strong>de</strong><br />

influência do Hospital, a procura é <strong>de</strong> 38.8 por 1000 e nas restantes<br />

18 freguesias é <strong>de</strong> 7.1 por 1000 habitantes.<br />

Em toda a área <strong>de</strong> influência do hospital (freguesias <strong>de</strong> Lisboa<br />

e <strong>de</strong> Loures) regista-se uma taxa média <strong>de</strong> incidência da procura<br />

<strong>de</strong> 55.7 por 1000, sendo que das 50 freguesias abrangidas<br />

26 (52%) ultrapassam esse valor médio.<br />

Ao agruparmos as freguesias da área <strong>de</strong> influência do hos pital<br />

<strong>de</strong> acordo com o centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> respectivo constatamos que os<br />

centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sacavém (concelho <strong>de</strong> Loures) e <strong>de</strong> Marvila<br />

(concelho <strong>de</strong> Lisboa) apresentam o maior número <strong>de</strong> utentes<br />

que recorrem à urgência <strong>pediátrica</strong> por doença respiratória.<br />

Na distribuição da taxa <strong>de</strong> incidência da procura, seis centros <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> registam valores superiores à taxa média (Figura 5), <strong>de</strong>stacando-se<br />

os centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Penha <strong>de</strong> França (101.9),<br />

Marvila (98.3), Graça (86.4) e S. João (78.6), Luz Soriano<br />

(66.3) e Alameda (59.0), todos do concelho <strong>de</strong> Lisboa.


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

Figura 5 – Procura por doença respiratória no Hospital da cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Lisboa por 1000 habitantes (0-14 anos), <strong>de</strong> acordo com o centro<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (área <strong>de</strong> influência do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa)<br />

Em 4846 do total <strong>de</strong> doentes atendidos por doença respira tória<br />

(5100 doentes) foi diagnosticada uma patologia do aparelho<br />

respiratório e em 167 mais do que uma patologia (somente em<br />

2 utentes foram diagnosticadas simultaneamente 3 patologias<br />

respiratórias).<br />

Do total <strong>de</strong> diagnósticos realizados <strong>de</strong>stacam-se quatro patologias<br />

respiratórias: infecções agudas nas vias aéreas supe -<br />

riores, infecções agudas nas vias aéreas inferiores, asma e<br />

pneumonia. Cerca <strong>de</strong> 67% <strong>de</strong>stas patologias <strong>de</strong>vem-se às<br />

infecções agudas do trato respiratório superior.<br />

Deve-se salientar ainda que, apesar <strong>de</strong> em termos absolutos<br />

o grupo etário 1 a 4 anos reunir o maior número <strong>de</strong> diag -<br />

nósticos para as quatro patologias respiratórias mais<br />

comuns (2089 infecções agudas das vias respiratórias; 829<br />

infecções agudas das vias aéreas inferiores; 113 pneu -<br />

monias e 135 asmas), quando se analisa para cada uma <strong>de</strong>stas<br />

patologias o valor relativo percentual <strong>de</strong> diagnósticos<br />

(Quadro I), verifica-se que os valores mais elevados registam-se<br />

para a infecção aguda das vias respiratórias supe -<br />

riores no grupo etário 5 a 9 anos (71.4% dos diagnósticos);<br />

para a infecção aguda das vias respiratórias inferiores no<br />

grupo etário menor <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (35.4%); para a pneumonia<br />

no grupo etário 10 a 14 anos (7.3%) e para a asma no<br />

grupo etário que engloba os indivíduos com mais <strong>de</strong> 15<br />

anos (20.5%).<br />

A evolução diária (84 dias) do número <strong>de</strong> patologias respiratórias<br />

(Figura 6), apresenta uma variabilida<strong>de</strong> significativa ao<br />

longo do ano entre as quatro principais doenças respiratórias<br />

registadas na urgência <strong>pediátrica</strong>.<br />

Verifica-se um <strong>de</strong>sfasamento temporal curto entre os dias <strong>de</strong><br />

maiores concentrações <strong>de</strong> PM10 e <strong>de</strong> PM2.5 relativamente aos<br />

dias que registaram maior número <strong>de</strong> admissões por doença<br />

respiratória nas urgências do Hospital (Figuras 7 e 8), facto<br />

igualmente constatado por outros autores15-19 , o que se encontra<br />

relacionado com o lag existente entre concentrações e efeitos.<br />

Este lag po<strong>de</strong> ser explicado, na medida em que o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da sintomatologia segue o mo<strong>de</strong>lo etiopatogénico<br />

da reacção gradual e progressiva com a consequente procura<br />

diferida dos cuidados.<br />

Quadro I - Distribuição percentual da patologia respiratória dos utentes da Urgência Pediátrica do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong><br />

acordo com o grupo etário<br />

Grupo Etário Todas as<br />

Diagnóstico (CID 10) < 1 ano 1-4 anos 5-9 anos 10-14 anos >15 anos ida<strong>de</strong>s<br />

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %<br />

Infecção aguda das vias<br />

aéreas superiores<br />

(J00 - J06)<br />

257 61.5 2089 65.4 713 71.4 313 68.8 61 69.3 3433 66.6<br />

Infecção crónica<br />

(J31 – J33, J35 - J37)<br />

1 0.2 10 0.3 5 0.5 3 0.7 1 1.1 20 0.4<br />

Rinite alérgica e<br />

vasomotora (J30)<br />

Infecção aguda das vias<br />

0 0.0 3 0.1 1 0.1 3 0.7 0 0.0 7 0.1<br />

aéreas inferiores<br />

(J20 – J 22)<br />

148 35.4 829 26.0 82 8.2 26 5.7 3 3.4 1088 21.1<br />

Gripe (J10 - J11) 0 0.0 7 0.2 4 0.4 1 0.2 1 1.1 13 0.3<br />

Pneumonia (J12 - J18) 10 2.4 113 3.5 64 6.4 33 7.3 4 4.5 224 4.3<br />

Bronquite crónica<br />

(J41 – J42)<br />

0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 0.2 0 0.0 1 0.0<br />

Enfisema (J43)<br />

Outra doença<br />

0 0.0 0 0.0 0 0.0 0 0.0 0 0.0 0 0.0<br />

pulmonar obstrutiva<br />

crónica (J44)<br />

0 0.0 1 0.0 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 0.0<br />

Asma (J45 – J46) 0 0.0 135 4.2 128 12.8 74 16.3 18 20.5 355 6.9<br />

Bronquectasia (J 47)<br />

Outra doença<br />

0 0.0 2 0.1 0 0.0 0 0.0 0 0.0 2 0.0<br />

respiratória não<br />

incluída anteriormente<br />

2 0.5 5 0.2 1 0.1 1 0.2 0 0.0 9 0.2<br />

Total 418 100.0 3194 100.0 998 100.0 455 100.0 88 100.0 5153 100.0<br />

227


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

Figura 6 – Variação diária (84 dias) das quatro principais doenças<br />

respiratórias nas Urgências Pediátricas do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa<br />

Figura 7 – Perfis do total <strong>de</strong> atendimentos diários em urgência<br />

<strong>pediátrica</strong> (HDE) por doença respiratória, PM 10 e PM 2.5 para o<br />

período <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong><br />

Quadro II - Estatística <strong>de</strong>scritiva dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão linear<br />

228<br />

Figura 8 – Perfis da proporção <strong>de</strong> atendimentos em urgência<br />

<strong>pediátrica</strong> (HDE) por doença respiratória (rácio admissões por<br />

doença respiratória / admissões por doença), PM10 e PM2.5 para<br />

o período <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong><br />

Para explicar as inter-relações entre as doenças respiratórias<br />

diagnosticadas e as partículas em suspensão, foram <strong>de</strong>senvolvidos<br />

dois mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão linear múltipla, utilizando o<br />

método stepwise (Quadro II).<br />

Os mo<strong>de</strong>los apresentam diferentes variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: no<br />

mo<strong>de</strong>lo 1 a variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é o “total <strong>de</strong> admissões por<br />

doença respiratória” e no mo<strong>de</strong>lo 2 é o “rácio <strong>de</strong> admissões por<br />

doença respiratória/total <strong>de</strong> admissões por qualquer doença”.<br />

Os mo<strong>de</strong>los são estatisticamente válidos consi<strong>de</strong>rando que<br />

explicam cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> do total da variância encontrada<br />

para os dias amostrados. A temperatura mínima surge nos dois<br />

mo<strong>de</strong>los como variável <strong>de</strong> relevo (Quadros II e III).<br />

Discussão<br />

A avaliação da exposição humana aos poluentes atmosféricos<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa e em particular às partículas em suspen-<br />

Variável Depen<strong>de</strong>nte Variáveis In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes r r2 Desvio Padrão<br />

Total <strong>de</strong> admissões por doença Temperatura mínima, constante, PM10 Olivais (lag 5), .766(a) 0.59 14.269<br />

respiratória (mo<strong>de</strong>lo 1) PM10 Olivais média móvel <strong>de</strong> 3 dias<br />

Rácio <strong>de</strong> admissões por doença Temperatura mínima, constante, PM10 Olivais (lag 3), .694(a) 0.48 0.06684<br />

respiratória/total <strong>de</strong> admissões por PM10 Olivais (lag 5), PM10 Olivais média móvel<br />

qualquer doença (mo<strong>de</strong>lo 2) <strong>de</strong> 3 dias (lag 4), PM2.5 Olivais (lag 3)<br />

Quadro III - Coeficientes dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão linear múltipla<br />

Mo<strong>de</strong>lo Variável Coeficientes t Significância<br />

1<br />

2<br />

Constante 77.269 10.07 0<br />

Temperatura mínima -3.352 -8.338 0<br />

PM 10 Olivais (lag 5) 0.0224 2.287 0.025<br />

PM 10 Olivais média móvel 3 dias 0.497 4.013 0<br />

Constante 0.445 13.8 0<br />

Temperatura mínima -0.012 -6.182 0<br />

PM 10 Olivais (lag 3) 0.006 3.848 0<br />

PM 10 Olivais (lag 5) 0.004 3.212 0.002<br />

PM 2.5 Olivais (lag 3) -0.009 -3.15 0.002<br />

PM 10 Olivais média móvel 3 dias (lag 4) -0.004 -2.764 0.007


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

são foi <strong>de</strong>senvolvida tendo por base um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relação<br />

dose-efeito, já ensaiado noutras cida<strong>de</strong>s europeias e ameri -<br />

canas, que valoriza as alterações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> agudas, ao nível do<br />

aparelho respiratório e as crónicas ao nível dos aparelhos circulatório<br />

e respiratório.<br />

Na extensa caracterização ambiental efectuada, que permitiu<br />

obter uma imagem da distribuição espacial dos níveis <strong>de</strong> partículas<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, observaram-se concentrações elevadas<br />

<strong>de</strong>ste poluente, sobretudo em zonas <strong>de</strong> maior tráfego<br />

como o eixo central da cida<strong>de</strong> no sentido Norte-Sul, reveladoras<br />

da importância do tráfego rodoviário em Lisboa como<br />

fonte predominante <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> partículas. Constatou-se<br />

ainda uma concordância da variação das duas fracções <strong>de</strong> partículas<br />

-PM2.5 e PM10- medidas nas estações <strong>de</strong> monitorização.<br />

O facto do acréscimo das concentrações ocorrer em paralelo<br />

em ambas as fracções é consistente com uma origem<br />

antropo génica, dado que a este tipo <strong>de</strong> fonte estão normalmente<br />

associadas partículas <strong>de</strong> pequenas dimensões.<br />

No estudo, optou-se por seleccionar a população mais jovem<br />

da nossa socieda<strong>de</strong>, tendo em conta que muitos efeitos na<br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>correntes da exposição a partículas se manifestam<br />

com especial incidência em crianças, pelo aumento <strong>de</strong> sintomas<br />

e doenças respiratórias, dada a sua gran<strong>de</strong> susceptibi -<br />

lida<strong>de</strong>22,23 . Esta selecção vai também ao encontro do preco -<br />

nizado pela iniciativa SCALE da Estratégia Europeia <strong>de</strong><br />

Ambiente e Saú<strong>de</strong>, a qual dá enfoque a este grupo populacional<br />

mais vulnerável e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o proteger.<br />

A análise dos primeiros sete dias <strong>de</strong> cada mês do ano 2004,<br />

num total <strong>de</strong> 84 dias <strong>de</strong> amostragem, permitiu englobar todos<br />

os dias da semana e <strong>de</strong>sta forma i<strong>de</strong>ntificar variações hebdomadárias.<br />

Da similarida<strong>de</strong> na variação dos atendimentos hospitalares<br />

por todas as causas e por todas as doenças, facto que já não se<br />

verifica com tanta evidência entre estes atendimentos e os por<br />

doença respiratória, constata-se uma forte correlação entre os<br />

atendimentos hospitalares por todas as causas e os por todas<br />

as doenças (0.969 para um nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 0.01),<br />

sendo esta correlação mais fraca entre os atendimentos hospitalares<br />

por todas as causas e os atendimentos hospitalares por<br />

doença respiratória (0.700 para um nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong><br />

0.01), assim como entre estes últimos e os atendimentos hospitalares<br />

por todas as doenças (0.768 para um nível <strong>de</strong> significância<br />

<strong>de</strong> 0.01).<br />

Constatou-se que a proporção da doença respiratória no conjunto<br />

<strong>de</strong> todas as doenças, apresenta uma evolução relativamente<br />

regular com ligeiras variações positivas referentes aos<br />

meses <strong>de</strong> Inverno, conquanto neste período a procura em<br />

número absoluto <strong>de</strong> utentes da urgência seja significativa -<br />

mente mais elevada.<br />

Os valores da taxa <strong>de</strong> incidência da procura da urgência <strong>pediátrica</strong><br />

são bastante mais elevados no conjunto das freguesias da<br />

área <strong>de</strong> intervenção do hospital tanto em Lisboa como em<br />

Loures, quando comparados com as outras freguesias <strong>de</strong>sses<br />

concelhos exteriores à área <strong>de</strong> influência.<br />

A constatação <strong>de</strong> que a temperatura mínima surge nos dois<br />

mo<strong>de</strong>los como variável <strong>de</strong> relevo leva a crer que este facto se<br />

<strong>de</strong>ve à importância <strong>de</strong> surtos gripais que estão usualmente<br />

relacionados com esta variável. Outro aspecto importante é o<br />

facto <strong>de</strong> os mo<strong>de</strong>los seleccionarem a série <strong>de</strong> concentrações<br />

medidas na estação <strong>de</strong> Olivais (estação <strong>de</strong> fundo) e não na <strong>de</strong><br />

Entrecampos (estação <strong>de</strong> tráfego), o que vai ao encontro <strong>de</strong><br />

premissas teóricas que apontam as estações <strong>de</strong> fundo como<br />

representativas <strong>de</strong> uma área urbana e mais a<strong>de</strong>quadas para a<br />

avaliação do impacte na saú<strong>de</strong> humana24-28 .<br />

De salientar a selecção por parte dos mo<strong>de</strong>los das PM10 ao<br />

invés das PM2.5 e <strong>de</strong> lags <strong>de</strong> 3 e 5 dias antes da admissão no<br />

hospital, como variáveis importantes para a explicação dos<br />

dados <strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong> das urgências hospitalares por motivos<br />

respiratórios.<br />

Conclusão<br />

A frequência da sintomatologia e da patologia aguda respiratória<br />

associada à exposição a poluentes ambientais, na impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser medida directamente, foi estimada através da<br />

frequência das consultas quer <strong>de</strong> urgência quer <strong>de</strong> atendi -<br />

mento clínico em geral.<br />

Confirmando os resultados <strong>de</strong> outros estudos parcelares anteriores<br />

e, <strong>de</strong> acordo com o esperado pelos profissionais médicos<br />

da Urgência do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, verificou-se<br />

que as doenças do aparelho respiratório representam mais <strong>de</strong><br />

um terço (35.5%) dos motivos da procura dos serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> por razões <strong>de</strong> doença, entre a população infantil da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa.<br />

De todas as doenças do aparelho respiratório (J00-J99, <strong>de</strong><br />

acordo com a CID-10) constantes da ficha mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> recolha<br />

<strong>de</strong> dados, quatro patologias foram diagnosticadas com maior<br />

frequência nas urgências <strong>pediátrica</strong>s do Hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lisboa: infecção aguda das vias aéreas superiores, infecção<br />

aguda das vias aéreas inferiores, asma e pneumonia. Todas<br />

estas patologias apresentam uma maior frequência absoluta<br />

para o grupo etário 1 a 4 anos.<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> avaliação da procura da Urgência Pediátrica nos<br />

primeiros sete dias do mês mostrou-se a<strong>de</strong>quado à elaboração<br />

<strong>de</strong> um perfil <strong>de</strong> aproximação da realida<strong>de</strong>, nomeadamente no<br />

que respeita ao conhecimento do número diário <strong>de</strong> atendi -<br />

mentos da urgência <strong>pediátrica</strong> por doença respiratória, sua<br />

distribuição por faixa etária, sexo e local <strong>de</strong> residência, correspon<strong>de</strong>ndo<br />

aos objectivos <strong>de</strong>finidos. Apesar dos dados não<br />

correspon<strong>de</strong>rem a uma série completa do ano <strong>de</strong> 2004, traduzem<br />

um padrão <strong>de</strong> distribuição por sexo e por grupo etário da<br />

procura da urgência por doença respiratória que passam a<br />

constituir um ponto <strong>de</strong> referência neste âmbito.<br />

Nos diversos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão linear múltipla testados e<br />

avaliados, consi<strong>de</strong>rando como variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte quer o<br />

total <strong>de</strong> admissões por doença respiratória, quer a proporção<br />

<strong>de</strong> atendimentos na urgência <strong>pediátrica</strong> por doença respira -<br />

tória (rácio entre as admissões por doença respiratória e o<br />

total <strong>de</strong> admissões por qualquer doença), surgiram resultados<br />

comuns a todos os mo<strong>de</strong>los seleccionados. Destes um dos<br />

mais relevantes foi a inclusão em todos os casos <strong>de</strong> concentrações<br />

medidas na estação <strong>de</strong> monitorização dos Olivais, ao<br />

229


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

contrário do que aconteceu com a estação <strong>de</strong> monitorização<br />

<strong>de</strong> Entrecampos. Este resultado está em concordância com<br />

diversas referências consultadas25-28 , que apontam as estações<br />

<strong>de</strong> monitorização <strong>de</strong> fundo urbano, tal como a estação dos<br />

Olivais, como sendo representativas <strong>de</strong> uma área urbana e <strong>de</strong><br />

uma população exposta muito mais significativa. Esta é a<br />

razão para a utilização <strong>de</strong> estações <strong>de</strong> fundo como fonte <strong>de</strong><br />

dados <strong>de</strong> entrada para estudos epi<strong>de</strong>miológicos.<br />

Outro resultado importante diz respeito à selecção das<br />

concen trações médias diárias <strong>de</strong> partículas (PM10 ) medidas 3<br />

ou 5 dias antes, isto é com um lag <strong>de</strong> 3 ou 5 dias, variável<br />

patente em todos os mo<strong>de</strong>los. São precisamente estes períodos<br />

que são frequentemente encontrados em bibliografia nesta<br />

área <strong>de</strong> investigação15-18 . A inclusão no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> concen -<br />

trações integradas <strong>de</strong> 3 dias (média <strong>de</strong> 3 dias, incorporando o<br />

próprio dia do atendimento e os dois dias anteriores) foi igualmente<br />

consi<strong>de</strong>rada em um dos mo<strong>de</strong>los, tendo sido esta uma<br />

variável já referida por outros autores19-21 . Estas variáveis vêm<br />

confirmar a existência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfasamento temporal <strong>de</strong> poucos<br />

dias entre causas (níveis elevados <strong>de</strong> partículas) e efeitos<br />

(admissões à urgência hospitalar <strong>pediátrica</strong>, neste caso).<br />

Outro resultado merecedor <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é a importância da<br />

variável “temperatura mínima”, a qual consta sempre dos<br />

mo<strong>de</strong>los seleccionados como variável explicativa mais relevante<br />

das variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes consi<strong>de</strong>radas.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong>vem<br />

ser entendidos não como traduzindo uma relação directa e<br />

inequívoca, mesmo que estatisticamente válidos, mas sim<br />

como suporte à explicação das observações feitas em termos<br />

<strong>de</strong> atendimentos e do rácio <strong>de</strong> atendimento entre as doenças<br />

respiratórias e o total <strong>de</strong> doenças, dado o número <strong>de</strong> dias em<br />

causa ser muito reduzido e as variáveis ambientais consi<strong>de</strong> -<br />

radas serem em número limitado.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

- À Fundação Calouste <strong>de</strong> Gulbenkian pelo financiamento<br />

<strong>de</strong>ste estudo;<br />

- Ao Prof. Doutor Carlos Vasconcelos pela supervisão do trabalho<br />

realizado pelos internos do Internato Complementar <strong>de</strong><br />

<strong>Pediatria</strong> Médica e por facilitar a recolha <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

dos utentes da Urgência Pediátrica;<br />

- Aos internos do Internato Complementar <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> Mé di -<br />

ca, Dr.ª Cláudia Constantino, Dr.ª Dora Gomes, Dr.ª Mafalda<br />

Paiva, Dr.ª Rita Machado e Dr.ª Rute Neves, pela sua colaboração<br />

na colheita <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos utentes da Urgência<br />

Pediátrica.<br />

Referências<br />

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Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

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28. Larssen S, Sluyter R, Helmis C. Criteria for EUROAIRNET: The<br />

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European Environment Agency; 1999.<br />

231


Acta Pediatr Port 2008:39(6):223-32 Moreira S et al – Morbilida<strong>de</strong> respiratória e partículas<br />

232<br />

ANEXO


0873-9781/08/39-6/233<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> ARTIGO ORIGINAL<br />

Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas tipo intoxicação<br />

diagnosticadas no período sintomático<br />

Esmeralda Martins 1 , Clara Barbot 1 , Maria Luís Cardoso 2 , Ermelinda Silva 3 , Laura Vilarinho 2<br />

1 - Unida<strong>de</strong> Metabolismo, Centro Hospitalar do Porto, Unida<strong>de</strong> Maria Pia, Porto<br />

2 - Centro <strong>de</strong> Genética Médica, INSA, Porto<br />

3 - Centro Hospitalar do Porto, Unida<strong>de</strong> Maria Pia, Porto<br />

Resumo<br />

Objectivos: Avaliar a efectivida<strong>de</strong> do tratamento nas doenças<br />

hereditárias do metabolismo tipo intoxicação diagnosticadas<br />

em crianças sintomáticas.<br />

Método: Avaliação clínica e bioquímica retrospectiva dos doen -<br />

tes com aminoacidopatias e acidurias orgânicas, mais fre quen te -<br />

mente diagnosticadas no Norte <strong>de</strong> Portugal, entre Janeiro 1990 e<br />

Dezembro 2006, através <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> dados registados nos processos<br />

clínicos. Os doentes foram divididos por grupos <strong>de</strong> patologia<br />

e ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparecimento. Registou-se ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início dos sintomas,<br />

forma <strong>de</strong> apresentação, ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diagnóstico e <strong>de</strong> início <strong>de</strong><br />

tratamento, a<strong>de</strong>são à terapêutica, <strong>de</strong>scompensações e evolução.<br />

Resultados: Foram i<strong>de</strong>ntificados e incluídos 22 doentes com<br />

doen ças hereditárias do metabolismo nomeadamente: leucinose,<br />

homocistinúria, argininemia e acidurias metilmalónica, propió -<br />

nica e 3-hidroxi-3-metilglutárica. Em oito casos a apresentação<br />

foi neonatal (início <strong>de</strong> sintomas entre o terceiro e o 13º dias <strong>de</strong><br />

vida) com diagnóstico e respectivo início <strong>de</strong> tratamento dois a<br />

cinco dias após. Nas formas <strong>de</strong> apresentação tardia os sintomas<br />

surgiram entre o mês e os 16 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com diagnóstico e início<br />

<strong>de</strong> tratamento em média 2,8 anos mais tar<strong>de</strong>. A a<strong>de</strong>são à terapêutica<br />

foi a<strong>de</strong>quada nas duas formas <strong>de</strong> apresentação. No total <strong>de</strong><br />

doentes avaliados há a salientar que dois doentes faleceram, que<br />

um tem má evolução estato-pon<strong>de</strong>ral e sequelas neurológicas graves<br />

e que onze apresentam atraso cognitivo ligeiro a mo<strong>de</strong>rado.<br />

Conclusões: O período <strong>de</strong> tempo que <strong>de</strong>correu entre a apresentação<br />

clínica sintomática e o início do tratamento foi exces -<br />

sivamente longo, sobretudo para as formas tardias, levando ao<br />

aparecimento <strong>de</strong> lesões que mesmo um tratamento correctamente<br />

efectuado não conseguiu regredir.<br />

Palavras-chave : Doenças hereditárias do metabolismo, aminoacidopatias,<br />

acidúrias orgânicas, diagnóstico sintomático,<br />

avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):233-9<br />

Recebido: 05.07.2007<br />

Aceite: 14.11.2008<br />

Evaluation of treatment effectiveness in intoxication<br />

type inborn errors of metabolism diagnosed<br />

in symptomatic state<br />

Abstract<br />

Aims: Evaluation of treatment effectiveness in inborn errors<br />

of metabolism, intoxication type, diagnosed in symptomatic<br />

children.<br />

Methods: The authors present a retrospective clinical and<br />

biochemical evaluation of patients with the more frequently<br />

diagnosed amino acid metabolism and organic acid disor<strong>de</strong>rs.<br />

The study was performed in North of Portugal, from January<br />

1990 to December 2006, and the data was obtained from consultation<br />

of the clinical files. The patients were divi<strong>de</strong>d by<br />

groups of pathology and age of presentation. The age of<br />

beginning of the symptoms, presentation from age of diagnosis<br />

and of beginning of handling, adhesion to the therapeutic,<br />

<strong>de</strong>compensations and clinical course were registered.<br />

Results: In this study 22 patients were i<strong>de</strong>ntified and inclu <strong>de</strong>d<br />

with inborn errors of metabolism, namely: MSUD, homocystinuria,<br />

argininemia, methylmalonic, propionic and 3-hy -<br />

dro xy-3-methylglutaric acidurias. Eight cases had neonatal<br />

presentation (first symptoms between the 3rd and the 13th<br />

days of life) with diagnosis and therapeutic approach 2 to 5<br />

days later. In the late-onset presentation the symptoms<br />

appeared between one month and 16 years of age with diagnosis<br />

and beginning of handling on average 2.8 years after.<br />

Therapeutic adhesion was good in the two clinical forms of<br />

presentation. Presently, in this cohort of patients, two<br />

<strong>de</strong>ceased, one has failure to thrive and severe neurological<br />

disease, eleven present slight to mo<strong>de</strong>rate mental retardation<br />

and the remaining are normal.<br />

Conclusions: The elapsed time between the symptomatic<br />

clinical presentation and the beginning of the handling was<br />

too long, mainly for the late-onset cases, leading to the<br />

Correspondência:<br />

Esmeralda Martins<br />

Unida<strong>de</strong> Metabolismo<br />

Centro Hospitalar do Porto, Unida<strong>de</strong> Maria Pia<br />

Rua da Boavista, nº 87, 4050-111 Porto<br />

Telefone: 226089900<br />

esmeraldamartins@portugalmail.pt<br />

233


Acta Pediatr Port 2008:39(6):233-9 Martins E et al – Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas<br />

appearance of disabilities that otherwise would have been<br />

avoi<strong>de</strong>d.<br />

Key Words: Inborn errors of metabolism, amino acid meta -<br />

bolism disor<strong>de</strong>rs and organic acid disor<strong>de</strong>rs, symptomatic<br />

diagnosis, effectiveness evaluation<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):233-9<br />

Introdução<br />

Ao longo dos últimos 50 anos, o <strong>de</strong>senvolvimento científico e<br />

tecnológico permitiu o reconhecimento <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> doenças hereditárias do metabolismo (DHM). Embora<br />

todos os diagnósticos sejam importantes, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

doenças metabólicas tratáveis assume a maior relevância<br />

<strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se dar início urgente a uma terapêutica<br />

a<strong>de</strong>quada 1,2 .<br />

Na área do metabolismo após o êxito que foi o tratamento présin<br />

tomático da fenilcetonúria, novas terapêuticas têm vindo a<br />

ser testadas para as DHM, umas com sucesso efectivo sal -<br />

vando a vida a centenas <strong>de</strong> doentes, outras com carácter mais<br />

experimental e menos promissoras 2 .<br />

Actualmente, são cada vez em maior número, os doentes meta -<br />

bólicos que atingem a ida<strong>de</strong> adulta, levantando-se novas ques -<br />

tões sobre os métodos actuais <strong>de</strong> diagnóstico, tratamento e<br />

seguimento. A avaliação da história natural <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s séries <strong>de</strong><br />

doentes, envolvendo estudos multicêntricos, é fundamental<br />

porque nos permite avaliar quais os factores do tratamento e<br />

segui mento que são efectivamente importantes a longo prazo 2,3 .<br />

Fazem parte do grupo das doenças metabólicas tratáveis, as<br />

aminoacidopatias, as acidúrias orgânicas, as do ciclo da ureia<br />

e as <strong>de</strong>vidas à intolerância aos açúcares. Neste primeiro grupo<br />

<strong>de</strong> doenças (referidas como tipo intoxicação na classificação<br />

fisiopatológica, o tratamento requer a remoção imediata dos<br />

metabolitos tóxicos para o doente através da utilização <strong>de</strong> dietas<br />

específicas, técnicas <strong>de</strong> remoção extra corporal, fármacos<br />

<strong>de</strong>puradores ou vitaminas que são cofactores enzimáticos. O<br />

outro gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> patologias metabólicas tratáveis integra<br />

parte das doenças com alteração do metabolismo energético<br />

como os <strong>de</strong>feitos da β-oxidação mitocondrial dos ácidos gordos,<br />

glicólise, neoglicogénese, cetogénese e cetólise, glicogenoses<br />

e hiperinsulinismo. Neste segundo grupo, o tratamento<br />

consiste em evitar períodos <strong>de</strong> jejum e aumentar o aporte <strong>de</strong><br />

hidratos <strong>de</strong> carbono particularmente durante intercorrências<br />

infecciosas 1 .<br />

Neste estudo é feita a avaliação <strong>de</strong> doentes com DHM tipo<br />

intoxicação, sendo incluídas as patologias que foram diagnosticadas<br />

com maior frequência nomeadamente leucinose,<br />

homocistinuria e argininemia e ainda as acidúrias metilma -<br />

lónica, propiónica e 3-hidroxi-3-metilglutárica.<br />

Em termos bioquímicos a leucinose (Men<strong>de</strong>lian Inheritance<br />

in Man - MIM # 248600) e as acidúrias metilmalónica (MIM<br />

# 251000) e propiónica (MIM # 232000) resultam <strong>de</strong> um bloqueio<br />

enzimático no catabolismo dos aminoácidos ramifi -<br />

cados (leucina, valina e isoleucina). A clínica po<strong>de</strong> surgir no<br />

período neonatal com recusa alimentar, letargia progressiva e<br />

234<br />

evolução para coma após um intervalo livre <strong>de</strong> sintomas ou<br />

manifestar-se mais tardiamente quer por episódios <strong>de</strong> <strong>de</strong>s -<br />

com pensação aguda intermitente, quer <strong>de</strong> forma crónica e<br />

progressiva com hipotonia, má evolução estatopon<strong>de</strong>ral e<br />

atraso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor 4,5 .<br />

A acidúria 3-hidroxi-3-metilglutárica (MIM # 246450) é também<br />

uma doença que afecta o catabolismo da leucina e simultâneamente<br />

a produção <strong>de</strong> corpos cetónicos (cetogénese). Esta<br />

patologia tem um mecanismo misto com uma fisiopatologia<br />

<strong>de</strong> doença tipo intoxicação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>feito do metabolismo energético.<br />

Clinicamente caracteriza-se por episódios <strong>de</strong> vómitos<br />

e letargia com evolução para coma. Cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos<br />

casos têm início neonatal com episódios <strong>de</strong> hipoglicemia sintomática<br />

6,7 .<br />

A homocistinuria (MIM # 236200) por défice <strong>de</strong> cistationina<br />

β- sintetase é a alteração mais frequente do metabolismo da<br />

metionina. A clínica é caracterizada pelo envolvimento dos<br />

órgãos alvo, nomeadamente olho (luxação do cristalino),<br />

esqueleto (dolicoestenomegalia e aracnodactilia), sistema<br />

vascular (tromboembolismo) e sistema nervoso central (atraso<br />

cognitivo e aci<strong>de</strong>ntes vasculares cerebrais) 8,9 .<br />

A argininemia (MIM # 207800) é uma doença do ciclo da ureia<br />

causada pelo défice em arginase I. Tipicamente apresenta-se<br />

com um quadro <strong>de</strong> paraparésia espástica progressiva e atraso<br />

mental, sendo o envolvimento hepático menos grave comparativamente<br />

com as outras doenças do ciclo da ureia 10,11 .<br />

Preten<strong>de</strong>-se com este estudo, avaliar a evolução dos doentes<br />

diagnosticados no estado sintomático, quer no período neonatal<br />

ou mais tardiamente, realçando a heterogeneida<strong>de</strong> clínica<br />

das patologias referidas anteriormente.<br />

População e métodos<br />

Local: Hospital Pediátrico <strong>de</strong> nível III<br />

Critérios <strong>de</strong> inclusão: doentes com DMH passíveis <strong>de</strong> tratamento<br />

que foram diagnosticados no estado sintomático entre<br />

1990 e 2006. Consi<strong>de</strong>ramos as aminoacidopatias e as acidúrias<br />

orgânicas diagnosticadas com maior frequência na Região<br />

Norte antes do início do rastreio neonatal alargado integrado<br />

no Programa Nacional <strong>de</strong> Diagnóstico Precoce. Assim, foram<br />

incluídos 17 doentes com aminoacidopatias (6 leucinoses, 7<br />

homocistinúrias clássicas e 4 argininemias) e 5 acidúrias orgânicas<br />

(2 acidúrias metilmalónicas, 1 aciduria propiónica, 2 acidúrias<br />

3-hidroxi-3-metilglutáricas).<br />

Todos os casos em seguimento que cumpriam os critérios<br />

estabelecidos foram incluídos no estudo.<br />

Métodos: Estudo retrospectivo com recolha <strong>de</strong> dados a partir<br />

do processo clínico. Em todos os doentes foi avaliada a história<br />

familiar, ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início dos sintomas, forma <strong>de</strong> apresentação,<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diagnóstico e <strong>de</strong> início <strong>de</strong> tratamento, a<strong>de</strong>são à<br />

terapêutica, <strong>de</strong>scompensações e evolução.<br />

A avaliação metabólica que permitiu o diagnóstico (em 21/22<br />

doentes), e os controlos bioquímicos posteriores foram efectuados<br />

no centro <strong>de</strong> referência para o diagnóstico <strong>de</strong> doenças<br />

metabólicas na Região Norte.


Acta Pediatr Port 2008:39(6):233-9 Martins E et al – Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas<br />

Foram consi<strong>de</strong>rados como critérios <strong>de</strong> sucesso o crescimento<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo normais (avaliados respectivamente<br />

por tabelas <strong>de</strong> peso - estatura e escalas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento:<br />

Griffiths até aos 6 anos e Wisc III posteriormente),<br />

asso ciados a um bom controlo nutricional e metabólico com<br />

marcadores bioquímicos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> limites consi<strong>de</strong>rados para<br />

as patologias.<br />

A a<strong>de</strong>são à terapêutica foi avaliada pelo crescimento e <strong>de</strong>sen-<br />

Quadro I - Manifestações clínicas, diagnóstico e evolução <strong>de</strong> 17 doentes com aminoacidopatias<br />

volvimento, controles bioquímicos e episódios <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação<br />

não relacionados com doenças agudas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>antes.<br />

Resultados<br />

Os resultados globais são apresentados <strong>de</strong> forma sumária para<br />

as aminoacidopatias no Quadro I e para as acidúrias orgânicas<br />

no Quadro II.<br />

Ida<strong>de</strong><br />

Inicio<br />

Ida<strong>de</strong> Diagnóstico Diagnóstico Ida<strong>de</strong><br />

DOENÇA Doente Sexo Sin- Sintomas Diag- Bioquímico Molecular Actual Evolução<br />

tomas nóstico plasma<br />

Leucinose 1 M 6 D Recusa alimentar 8 D ↑ Val e Ile Q267X / 12 A Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Letargia Leu 3167 µmol/L<br />

(VR 68-158)<br />

Q267X aprendizagem (QG 80)<br />

2 F 8 D Má evolução pon<strong>de</strong>ral 13 D ↑ Val e Ile P200X / 13 A QG 93<br />

Coma - convulsões Leu 3283 µmol/L P356L<br />

3 F 5 D Recusa alimentar 8 D ↑ Val e Ile P200X / ——- Sequelas<br />

Coma - convulsões Leu 3287 µmol/L I214K neurológicas<br />

Morte aos 7 anos<br />

4 M 7 D Letargia 9 D ↑ Val e Ile H37VfsX3 / 2 A Desenvolvimento<br />

Leu 1889 µmol/L H37VfsX3 psicomotor normal<br />

5 M 20 M Episódios <strong>de</strong> distonia 27 M ↑ Val e Ile A220V / 8 A Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

e sonolência Leu 495 µmol/L y413H aprendizagem (QG 76)<br />

6 M 33 M Episódios <strong>de</strong> ataxia 3 A ↑ Val e Ile D152N 16 A Dificulda<strong>de</strong>s<br />

recorrente Leu 314 µmol/L /D152N escolares após<br />

adolescência (QG 96)<br />

Homocistinuria 7 M 1 A Hipotonia 4 A ↑ Met, ↓ Cys T191M / 12 A Atraso cognitivo<br />

Atraso no Homocisteina T191M Defice visual<br />

<strong>de</strong>senvolvimento 240 µmol/L Alterações<br />

(VR 4,2-14.6) esqueléticas<br />

8 M 6 A Fenotipo marfanói<strong>de</strong> 13 A ↑ Met, ↓ Cys T191M / 18 A Atraso cognitivo<br />

Atraso cognitivo Homocisteina T191M Defice visual<br />

Luxação do cristalino 240 µmol/L Alterações<br />

esqueléticas<br />

9 F 6 A Fenotipo marfanói<strong>de</strong> 15 A ↑ Met, ↓ Cys T191M / 20 A Atraso cognitivo<br />

Atraso cognitivo Homocisteina T191M Defice visual<br />

215 µmol/L Alterações<br />

esqueléticas<br />

10 F 16 A Trombose venosa 16 A ↑ Met, ↓ Cys T191M / 21 A Epilepsia<br />

cerebral Homocisteina<br />

280 µmol/L<br />

T191M<br />

11 F 6 A Atraso cognitivo 10 A ↑ Met, ↓ Cys T191M / 17 A Atraso cognitivo<br />

Homocisteina<br />

188 µmol/L<br />

T191M<br />

12 M 5 A Atraso cognitivo 14 A ↑ Met, ↓ Cys T191M / 20 A Atraso cognitivo<br />

Luxação do cristalino Homocisteina<br />

216 µmol/L<br />

T191M Defice visual<br />

13 F 6 A Defice visual 7 A ↑ Met, ↓ Cys N D 8 A Sem <strong>de</strong>fice<br />

Luxação do cristalino Homocisteina<br />

179 µmol/L<br />

cognitivo<br />

Argininemia 14 F 1 M Colestase neonatal 2 M Arg 1756 µmol/L R21X / 15 A Transplante hepático<br />

(VR 20-140) R21X Exame neurológico e<br />

NH4 180 µmol/L Desenvolvimento<br />

(VR 45-80) cognitivo normais<br />

15 F 9 M Elevação das 18 M Arg 485 µmol/L R21X / 15 A Transplante hepático<br />

transamínases NH4 90 µmol/L R21X Paraparesia estável<br />

16 M 3 A Alteração na marcha 4 A Arg 560 µmol/L R21X / ? 16 A Paraparesia<br />

NH4 80 µmol/L progressiva<br />

Atraso cognitivo<br />

17 M 4 A Letargia 5 A Arg 923 µmol/L R21X / ? 23 A Paraparesia<br />

Convulsões NH4 196 µmol/L progressiva<br />

Atraso cognitivo<br />

Legenda: Arg - Arginina / Cys - Cistina / Hom - Homocistina / Ile - Isoleucina / Leu - Leucina / Met - Metionina / NH4 - Amónia / Val - Valina / D - Dias / M - Meses<br />

/ A - Anos / VR - Valor <strong>de</strong> Referência<br />

235


Acta Pediatr Port 2008:39(6):233-9 Martins E et al – Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas<br />

Quadro II - Manifestações clínicas, diagnóstico e evolução <strong>de</strong> 5 doentes com acidúrias orgânicas<br />

Ida<strong>de</strong><br />

inicio<br />

Ida<strong>de</strong> Diagnóstico Diagnóstico Ida<strong>de</strong><br />

DOENÇA Doente Sexo Sin- Sintomas Diag- Bioquímico Molecular Actual Evolução<br />

tomas nóstico<br />

Acidúria 18 F 6 D Desidratação 8 D AMM V399FsX24/R31X 20 Desenvolvimento<br />

Metilmalónica Letargia, 10.250 µmol/mmol meses psicomotor<br />

Hipotonia creat (VR-n.d) normal QG 98<br />

19 F 6 M Má evolução 9 M AMM ND 8 anos Desenvolvimento e<br />

pon<strong>de</strong>ral 30.550 µmol/mmol crescimento normais<br />

Hipotonia creat (QG 105)<br />

Acidúria Letargia - coma 3-OH-propiónico ND 6 anos Sequelas<br />

Propiónica 20 M 3 D Hipotermia 4 D 9.965 µmol/mmol neurológicas<br />

creat (VR-n.d)<br />

propionilglicina<br />

193 µmol/mmol<br />

creat (VR-n.d)<br />

graves<br />

Aciduria 21 F 2 D Hipotonia 3 D 3HMG E37X / E37X 4 anos Desenvolvimento e<br />

3-Hidroxi Convulsões 4.250 µmol/mmol crescimento normais<br />

3-Metilglutárica creat (VR-n.d) (QG 95)<br />

22 M 4 D Coma 5 D 3HMG E37X / E37X ——- Sequelas<br />

Convulsões 5.430 µmol/mmol neurológicas graves<br />

Morte aparente creat Morte aos 5 meses<br />

Legenda: AMM - Ácido metilmalónico / 3HMG - Ácido 3-hidroxi-3-metilglutárico / Creat - Creatinina / D - Dias / M - Meses / VR - Valor <strong>de</strong> Referência / ND - Não<br />

Determinado<br />

Aminoacidopatias<br />

Leucinose: Dos 6 doentes estudados, quatro tiveram reve -<br />

lação neonatal e dois, apresentação tardia. A história familiar<br />

era irrelevante havendo a referir consanguinida<strong>de</strong> apenas num<br />

caso.<br />

Clínica – Nas formas <strong>de</strong> apresentação neonatal a clínica surgiu<br />

entre o 5 e 8º dias <strong>de</strong> vida com recusa alimentar, letargia,<br />

hipotonia e convulsões. Nas formas <strong>de</strong> apresentação tardia as<br />

manifestações clínicas foram distintas: um caso apresentou-se<br />

com episódios <strong>de</strong> distonia aos 20 meses (Doente 5) e o outro<br />

com episódios <strong>de</strong> ataxia recorrente aos 33 meses (Doente 6).<br />

A pesquisa <strong>de</strong> corpos cetónicos foi positiva em três das formas<br />

neonatais e numa das tardias.<br />

Tratamento – Em dois dos casos <strong>de</strong> apresentação neonatal,<br />

pela maior <strong>de</strong>terioração neurológica e intolerância digestiva<br />

foram efectuadas técnicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>puração exógena (diálise peritoneal).<br />

Os restantes doentes fizeram <strong>de</strong>puração endógena<br />

com administração a débito contínuo, por via oral <strong>de</strong> uma<br />

mistura com carga calórica elevada associada a perfusão<br />

endo venosa <strong>de</strong> insulina endovenosa. Em todos os casos a resposta<br />

ao cofactor enzimático, tiamina, foi negativa.<br />

Actualmente cumprem uma dieta restrita em proteínas, enriquecida<br />

com uma mistura <strong>de</strong> aminoácidos essenciais isenta<br />

em aminoácidos ramificados.<br />

Evolução – Os doentes com apresentação neonatal tiveram<br />

mais episódios <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação, todos <strong>de</strong> curta duração e<br />

com valores <strong>de</strong> leucina inferiores a 1000μmol/L, excepto o<br />

Doente 1 com dois episódios <strong>de</strong> coma e valores superiores a<br />

1500μmol/L. Nas formas <strong>de</strong> apresentação tardia, após diagnóstico<br />

não houve novos episódios <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação com<br />

alterações neurológicas.<br />

A Doente 3 (que sofreu peritonite no período neonatal) ficou<br />

com sequelas neurológicas graves e faleceu aos sete anos <strong>de</strong><br />

236<br />

ida<strong>de</strong>. Os outros doentes têm actualmente ida<strong>de</strong>s compreen -<br />

didas entre os dois e os quinze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Todos têm um<br />

crescimento normal e um QI entre 79 e 93 para as formas <strong>de</strong><br />

apresentação neonatal e <strong>de</strong> 76 e 96 para os casos <strong>de</strong> revelação<br />

tardia.<br />

Homocistinúria: Dos sete doentes diagnosticados, três são do<br />

sexo masculino, havendo a referir consanguinida<strong>de</strong> em três<br />

casos e, num caso, um irmão falecido, na sequência <strong>de</strong> uma<br />

hemorragia cerebral.<br />

Clínica – Os doentes foram diagnosticados tardiamente, com<br />

ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os quatro e os <strong>de</strong>zassete anos. À<br />

data do diagnóstico a maioria apresentava atraso mental<br />

(cinco doentes com QI entre 54 e 75), alterações esqueléticas<br />

(quatro doentes, três com fenótipo marfanói<strong>de</strong>), luxação bilateral<br />

do cristalino (seis doentes) e num caso (Doente 10) tromboembolismo<br />

cerebral.<br />

Tratamento – Todos os doentes foram submetidos a prova<br />

terapêutica com piridoxina (300 a 900mg/dia) e acido fólico<br />

(10mg/dia), com ausência <strong>de</strong> resposta generalizada. Segui da -<br />

mente iniciaram uma dieta hipoproteica restrita em metionina,<br />

citrato <strong>de</strong> betaína (100mg/kg/dia) e suplementos em L-cistina<br />

(200mg/kg/dia) e vitamina B12 (1mg/dia). A doente que teve<br />

o episódio tromboembólico iniciou também terapêutica com<br />

antiagregante plaquetar.<br />

Evolução – Quatro dos doentes mantiveram-se estáveis e com<br />

valores <strong>de</strong> homocisteína total entre 50 - 60 μmol/L e em três<br />

casos registaram-se valores superiores a 80 μmol/L (Doentes<br />

8 e 9). A ida<strong>de</strong> actual varia entre os sete e os vinte anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>.<br />

Argininemia: Nos quatro doentes, dois dos quais do sexo<br />

masculino, a história familiar é irrelevante.<br />

Clínica– As ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diagnóstico oscilaram entre os dois<br />

meses e os quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. As manifestações que leva-


Acta Pediatr Port 2008:39(6):233-9 Martins E et al – Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas<br />

ram ao diagnóstico foram: alterações da função hepática<br />

(Doentes 14 e15), paraparésia espástica (Doente 16) e convulsões<br />

(Doente 17).<br />

Tratamento – Dieta hipoproteica suplementada em amino -<br />

ácidos essenciais e benzoato <strong>de</strong> sódio 250 a 300mg/kg/d.<br />

Evolução – Três doentes têm paraparésia espástica (Doentes<br />

15, 16 e 17) e <strong>de</strong>stes, dois (Doente 16 e 17) têm atraso cognitivo<br />

que se tem vindo a tornar mais evi<strong>de</strong>nte com a ida<strong>de</strong>. A<br />

doente 14, que foi diagnosticada aos 2 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, nunca<br />

teve clínica neurológica.<br />

Foi efectuado o transplante hepático com evolução positiva<br />

em dois casos: na doente 14 (pela doença hepática terminal) e<br />

na doente 15 (pela paraparésia mo<strong>de</strong>rada que estabilizou após<br />

o transplante).<br />

Têm actualmente ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os quinze e os<br />

vinte e três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Acidúrias orgânicas<br />

- Acidurias metilmalónica e propiónica: Foram i<strong>de</strong>ntifi -<br />

cadas em três doentes, dois casos <strong>de</strong> apresentação neonatal<br />

(uma aciduria metilmalónica e uma propiónica) e um caso <strong>de</strong><br />

apresentação tardia (aciduria metilmalónica). No doente 19 os<br />

pais são primos em primeiro grau.<br />

Clínica– Nos doentes com apresentação neonatal, a clínica<br />

teve início ao 3º e 6ºdias <strong>de</strong> vida com recusa alimentar, hipotonia<br />

e coma associado a hipoglicemia, acidose metabólica e<br />

<strong>de</strong>sidratação. Num caso mais grave (Doente 20) ocorreu hipotermia<br />

(temp. rectal 32º) e hipotensão. A forma <strong>de</strong> apresentação<br />

tardia (Doente 19) tinha rejeição electiva para alimentos<br />

ricos em proteínas, e má evolução pon<strong>de</strong>ral a partir da data da<br />

diversificação alimentar, associada a hipotonia e apatia.<br />

Tratamento – As formas neonatais fazem dieta restrita em<br />

pro teínas naturais e enriquecida com uma mistura <strong>de</strong> amino -<br />

ácidos essenciais suplementada com carnitina e ciclos <strong>de</strong> antibiótico<br />

oral com metronidazol. A acidúria metilmalónica <strong>de</strong><br />

apresentação tardia teve uma resposta favorável à suplementação<br />

em vitamina B12 estando com uma restrição proteica<br />

ligeira.<br />

Evolução – Os dois casos <strong>de</strong> aciduria metilmalónica (Doentes<br />

18 e 19), evoluíram favoravelmente. Têm crescimento e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo normal, e até ao momento não se<br />

registou patologia renal. Os internamentos durante intercorrências<br />

infecciosas com vómitos ou recusa alimentar têm sido<br />

raros e sem clínica neurológica.<br />

O doente com aciduria propiónica (Doente 20) actualmente<br />

com 7 anos, apresenta sequelas neurológicas graves, microcefalia<br />

e má evolução pon<strong>de</strong>ral (faz alimentação nocturna a<br />

débito contínuo). Durante os três primeiros anos <strong>de</strong> vida teve<br />

múltiplos internamentos com infecções bacterianas e fúngicas<br />

associadas a anemia, neutropenia e hiperamoniémia nos<br />

períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação.<br />

- Acidúria 3 hidroxi-3-metilglutárica: Foi i<strong>de</strong>ntificada em<br />

dois doentes com história familiar irrelevante.<br />

Clínica – Dois casos <strong>de</strong> apresentação neonatal com hipogli -<br />

cemia marcada (glicemia capilar não mensurável), sonolência<br />

e convulsões. Um dos RN estava ainda internado e o quadro<br />

foi rapidamente revertido com glicose endovenosa, o outro<br />

estava no domicílio tendo dado entrada em coma profundo<br />

com hipotermia, hipotensão, acidose metabólica e hiperamoniémia.<br />

Tratamento – Dieta com restrição lipídica e proteica com<br />

suplementos <strong>de</strong> carnitina e sobretudo evicção <strong>de</strong> períodos <strong>de</strong><br />

jejum.<br />

Evolução – Um dos doentes, actualmente com quatro anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, tem crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo normais.<br />

O que foi diagnosticado em morte aparente (Doente 22) ficou<br />

com sequelas neurológicas e faleceu aos 5 meses durante uma<br />

intercorrência infecciosa.<br />

Discussão<br />

O diagnóstico clínico das DHM nem sempre é fácil <strong>de</strong>vido à<br />

sua gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e rarida<strong>de</strong>. Nas patologias com tratamento<br />

eficaz, a sua i<strong>de</strong>ntificação tem uma importância acrescida<br />

pela necessida<strong>de</strong> imediata <strong>de</strong> início da terapêutica.<br />

Neste trabalho, apenas consi<strong>de</strong>ramos as doenças tipo intoxicação<br />

e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stas as que são actualmente susceptíveis <strong>de</strong><br />

serem <strong>de</strong>tectadas no rastreio neonatal alargado por tan<strong>de</strong>m<br />

mass12 .<br />

Aminoacidopatias<br />

Leucinose: Nos nossos doentes há um predomínio das formas<br />

<strong>de</strong> apresentação neonatal, dois terços, <strong>de</strong> acordo com o que<br />

está <strong>de</strong>scrito na literatura 4 .<br />

As manifestações clínicas são principalmente neurológicas<br />

com encefalopatia progressiva durante a primeira semana <strong>de</strong><br />

vida. Há uma recusa alimentar com letargia evolução para<br />

coma que foi observada em todos os doentes. As formas tardias<br />

po<strong>de</strong>m surgir <strong>de</strong> forma crónica com má evolução estato<br />

pon<strong>de</strong>ral ou manifestar-se por episódios recorrentes <strong>de</strong> ataxia<br />

e alterações <strong>de</strong> consciência 3,13 . Esta, foi a forma <strong>de</strong> apresen -<br />

tação <strong>de</strong> um dos casos tendo o outro apresentado um quadro<br />

atípico <strong>de</strong> episódios recorrentes <strong>de</strong> distonia, que ainda não<br />

tinha sido <strong>de</strong>scrito previamente associado a leucinose 14 .<br />

A RMN cerebral efectuada em alguns <strong>de</strong>stes doentes, apre -<br />

senta as alterações típicas <strong>de</strong>scritas, e<strong>de</strong>ma cerebral, alte -<br />

rações <strong>de</strong> sinal nos globus pallidus e talamus, quando efec -<br />

tuada em pré -tratamento ou nas fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação<br />

aguda com coma, havendo normalização da imagem cerca <strong>de</strong><br />

um ano após 4,14 .<br />

Trabalhos retrospectivos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s casuísticas efectuados<br />

recentemente, alguns com doentes adultos com leucinose,<br />

indicam que para um <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo normal,<br />

mais importante do que os valores <strong>de</strong> controlo a longo prazo<br />

(que se preten<strong>de</strong>m inferiores a 300μmol/L), é a precocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> diagnóstico e o início do tratamento 3 . Os dois casos com<br />

pior evolução foram uma das formas <strong>de</strong> apresentação neonatal,<br />

que fez uma peritonite ao 19º dia <strong>de</strong> vida evoluindo para<br />

um segundo coma com valores <strong>de</strong> leucina <strong>de</strong> 1500μmol/L, e<br />

que viria a <strong>de</strong>senvolver um quadro <strong>de</strong> tetraparésia e atraso<br />

grave (Doente 3). O outro caso foi diagnosticado aos 2 anos<br />

e, apesar <strong>de</strong> progressos favoráveis após o início <strong>de</strong> trata mento<br />

237


Acta Pediatr Port 2008:39(6):233-9 Martins E et al – Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas<br />

mantêm dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem significativas (Doente<br />

5). Estas crianças po<strong>de</strong>riam ter ganho com um diagnóstico<br />

mais precoce e início imediato do tratamento, sobretudo as<br />

formas tardias.<br />

Homocistinuria: Praticamente a totalida<strong>de</strong> dos autores refere<br />

que cerca <strong>de</strong> 50% dos doentes respon<strong>de</strong>m à piridoxina 8,15 .<br />

Contudo nesta série a resposta à piridoxina foi nula. Todos os<br />

doentes estudados têm a mutação T191M em homozigotia no<br />

gene CBS que está associada a uma activida<strong>de</strong> enzimática praticamente<br />

nula 16 . O diagnóstico foi tardio em todos os casos,<br />

quando já se tinham instalado manifestações irreversíveis<br />

secundárias á hiperhomocisteínemia. De referir que em três<br />

casos (Doentes 8, 10 e 12) a <strong>de</strong>tecção da luxação do crista lino<br />

tinha sido feita muitos anos antes da homocistinúria ter sido<br />

equacionada e esta não tinha sido consi<strong>de</strong>rado como diagnóstico<br />

diferencial.<br />

De acordo com o que se verificou na Irlanda, on<strong>de</strong> se faz o rastreio<br />

neonatal da homocistinuria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1971, o tratamento precoce<br />

da doença, com controlo dos níveis plasmáticos <strong>de</strong> homocisteína,<br />

parece proteger contra as complicações associadas 15 .<br />

Assim, será benéfico que seja efectuado o diagnóstico pre coce<br />

para esta doença tratável que pela nossa experiência, parece<br />

estar associada a um genótipo particularmente grave, em<br />

Portugal 16 .<br />

Argininemia: A apresentação típica com paraparésia espástica<br />

e atraso mental progressivo 10,11,17 foi observada apenas num<br />

doente. Os três restantes casos foram diagnosticados sem<br />

paraparésia 18,19 mas em dois o envolvimento neurológico progrediu<br />

neste sentido apesar do tratamento correctamente efectuado.<br />

Uma das crianças estava em tratamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 10<br />

meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando surgiram aos 32 meses as primeiras<br />

alterações neurológicas (Doente 15). A possível benignida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sta doença é refutada em trabalhos retrospectivos efec -<br />

tuados 11,20 . Esta evolução <strong>de</strong>sfavorável verifica-se sobretudo<br />

quando há um genótipo associado a um mau prognóstico, que<br />

é o caso dos doentes que são portadores da mutação R21X no<br />

gene ARG 1 em que a activida<strong>de</strong> enzimática é nula 17 .<br />

A única doente que não tem clínica neurológica, tem a mutação<br />

R21X em homozigotia, mas começou o tratamento aos<br />

dois meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Esta evolução está <strong>de</strong> acordo com o referido<br />

em trabalhos recentes 21 , que afirmam que um início <strong>de</strong><br />

tratamento após um diagnóstico precoce protege das lesões<br />

cerebrais.<br />

Embora o transplante hepático seja tratamento eficaz para as<br />

doenças do ciclo da ureia, nunca tinha sido efectuado na argininemia<br />

O primeiro transplante hepático foi efectuado na<br />

doente 14, que aos 7 anos apresentava uma insuficiência<br />

hepática terminal, sem clínica neurológica 22 . Após o transplante<br />

verificou-se uma rápida normalização da amónia, arginina<br />

e compostos guanidínicos que se manteve com uma dieta<br />

proteica normal. Sete anos após a doente continua sem clí nica<br />

neurológica. Posteriormente, há cinco anos, uma doente <strong>de</strong> 10<br />

anos com paraparésia espástica progressiva e <strong>de</strong>senvolvi -<br />

mento cognitivo normal foi também submetida a transplante<br />

hepático com estabilização da clínica neurológica 23 .<br />

Assim, o transplante hepático <strong>de</strong>verá ser consi<strong>de</strong>rado um tra-<br />

238<br />

tamento alternativo na argininemia e <strong>de</strong>ve ser executado precocemente<br />

quando há uma progressão da doença neurológica<br />

com o tratamento convencional ou insuficiência hepática<br />

severa.<br />

Acidúrias ôrganicas<br />

Acidúrias metilmalónica e propiónica: Está <strong>de</strong>scrito que na<br />

aciduria metilmalónica e propiónica o prognóstico é mais<br />

grave nas formas <strong>de</strong> apresentação neonatal com maior número<br />

<strong>de</strong> mortes e complicações a nível do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor<br />

24 Nos doentes com esta forma <strong>de</strong> apresentação, um<br />

(acidúria própiónica) ficou com sequelas neurológicas graves,<br />

o outro (acidúria metilmalómica) tem um <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

crescimento normais sendo <strong>de</strong> vigiar particularmente o envolvimento<br />

renal, a nível das complicações tardias, <strong>de</strong>vido à elevada<br />

excreção urinária <strong>de</strong> ácido metilmalónico <strong>de</strong>sta doente.<br />

As complicações infecciosas tal como está <strong>de</strong>scrito foram<br />

também mais graves na acidúria propiónica nos primeiros<br />

anos <strong>de</strong> vida. Todos os três doentes fazem também um followup<br />

dos órgãos alvo que po<strong>de</strong>m ter atingimento tardio (rim,<br />

coração, pâncreas e cérebro) 25 .<br />

Acidúria 3-hidroxi-3-metilglutárica: É uma das acidurias<br />

orgânicas mais frequentes na população <strong>portuguesa</strong> (7, 26) ,<br />

havendo um predomínio da mutação E37X no gene HMGL,<br />

que estes doentes apresentam em homozigotia. É uma doença<br />

com evolução favorável quando são evitados os episódios <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scompensação aguda que po<strong>de</strong>m ser fatais ou <strong>de</strong>ixar sequelas<br />

graves 7 . Os casos referidos foram <strong>de</strong> apresentação neonatal<br />

e o rápido início <strong>de</strong> tratamento no doente 21, foi fundamental<br />

para uma evolução clínica favorável.<br />

Na avaliação global <strong>de</strong>sta série, constatou-se que as amino -<br />

acidopatias são mais frequentes que as acidurias orgânicas o<br />

que está <strong>de</strong> acordo com o <strong>de</strong>scrito na literatura.<br />

Dos 22 doentes avaliados cerca <strong>de</strong> 10% faleceram e 55%<br />

apre sentam défices cognitivos mais ou menos graves. As<br />

mani festações clínicas neonatais observaram-se em 28%<br />

casos dos quais quatro são leucinoses e quatro integram o gru -<br />

po das acidurias orgânicas e surgem muitas vezes na primeira<br />

semana <strong>de</strong> vida po<strong>de</strong>ndo antecipar-se ao resultado do diagnóstico<br />

precoce. Contudo, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um resultado<br />

rápido que é possível pelas <strong>de</strong>terminações em espectometria<br />

<strong>de</strong> massa em tan<strong>de</strong>m (MS/MS) actualmente utilizado no rastreio<br />

neonatal permitirá uma orientação mais rápida do tratamento<br />

evitando sequelas irremediáveis e graves.<br />

Para os casos <strong>de</strong> apresentação mais tardia, as revisões das<br />

gran<strong>de</strong>s casuísticas para as patologias abordadas, são também<br />

consensuais da importância <strong>de</strong> um diagnóstico precoce para<br />

um prognóstico mais favorável (3,10,15) .<br />

A reflexão sobre os números e as patologias diagnosticadas<br />

nos últimos 16 anos, permite-nos verificar que <strong>de</strong>terminadas<br />

doenças têm indicação inequívoca para integração no<br />

Programa Nacional para o Diagnóstico Precoce como aliás se<br />

verifica actualmente. Durante o estudo piloto do rastreio neonatal<br />

alargado, a homocistinúria e a argininemia não faziam<br />

parte do bloco <strong>de</strong> patologias propostas e a nossa casuística foi<br />

importante no sentido <strong>de</strong> alterar, alargar e proporcionar um<br />

diagnóstico pré-sintomático para estas doenças.


Acta Pediatr Port 2008:39(6):233-9 Martins E et al – Avaliação da efectivida<strong>de</strong> do tratamento das doenças metabólicas<br />

Conclusão<br />

Nas DMH tipo intoxicação o início <strong>de</strong> uma terapêutica<br />

a<strong>de</strong>qua da tem <strong>de</strong> ser precoce e prévio ao aparecimento <strong>de</strong> sintomas<br />

que muitas vezes estão associados a lesões irrever -<br />

síveis. O sucesso do tratamento é <strong>de</strong>terminado à partida, pelas<br />

alterações que o doente apresenta ao diagnóstico e que po<strong>de</strong>m<br />

afectar negativamente toda a sua vida. O rastreio neonatal<br />

alargado implementado no nosso país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005/06 é fun -<br />

damental para a diminuição da morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong><br />

nestas patologias.<br />

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239


0873-9781/08/39-6/240<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> CASO CLÍNICO<br />

Doença <strong>de</strong> Kikuchi<br />

Catarina Luis 1 , Ana Maia Pita 1 , Maria João Brito 1 , Lour<strong>de</strong>s Cuesta 2 , Alexandra Dias 1 , Maria do Céu Machado 1<br />

1 - Departamento <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>, Hospital Fernando Fonseca<br />

2 - Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica, Hospital Fernando Fonseca<br />

Resumo<br />

A doença <strong>de</strong> Kikuchi-Fugimoto é uma doença rara, autolimitada<br />

e <strong>de</strong> origem <strong>de</strong>sconhecida. O quadro clínico manifesta-se<br />

mais frequentemente por a<strong>de</strong>nomegálias cervicais, febre e<br />

astenia mas a apresentação po<strong>de</strong> ser variável. Descrevem-se<br />

dois casos <strong>de</strong>sta entida<strong>de</strong> em adolescentes <strong>de</strong> 14 e 12 anos, do<br />

sexo feminino, cujas apresentações clínicas foram distintas.<br />

Ambas apresentavam anemia normocítica, leucopenia e elevação<br />

da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sedimentação. O estudo da autoimunida<strong>de</strong><br />

revelou anticorpos positivos e os achados histológicos<br />

da biópsia ganglionar conduziram ao diagnóstico <strong>de</strong> doença<br />

<strong>de</strong> Kikuchi-Fugimoto.<br />

A doença <strong>de</strong> Kikuchi-Fugimoto <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada no diagnóstico<br />

diferencial <strong>de</strong> febre e a<strong>de</strong>nomegálias <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida.<br />

A possível associação com lupus eritematoso sistémico<br />

torna necessário o seguimento acompanhamento e<br />

vigilância <strong>de</strong>stas doentes a longo prazo.<br />

Palavras-Chave: Doença <strong>de</strong> Kikuchi-Fugimoto, linfa<strong>de</strong>nite<br />

necrosante, febre prolongada, criança<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):240-2<br />

Kikuchi Disease<br />

Abstract<br />

Kikuchi’s disease is rare, self-limiting and of unknown cause.<br />

Its most common presentation is cervical lympha<strong>de</strong>nopathy,<br />

fever and lethargy, but the clinical picture is quite variable.<br />

We <strong>de</strong>scribe two cases of this disease in two female adolescents<br />

with 14 and 12 years-old, which presented differently.<br />

Both had normocytic anemia, leukopenia and raised erythrocyte<br />

sedimentation rate. In both the immunity screen showed<br />

positive auto-antibodies and the changes found in the lymph<br />

no<strong>de</strong> biopsy led to the diagnosis of Kikuchi’s disease.<br />

Kikuchi’s disease must be consi<strong>de</strong>red on the differential diagnosis<br />

of fever and lympha<strong>de</strong>nopathy of unknown cause. The<br />

possible association with Systemic Lupus Erythematosus <strong>de</strong> -<br />

ter mines the need for a long-term follow-up of these patients.<br />

Recebido: 16.10.2006<br />

Aceite: 23.07.2008<br />

240<br />

Key-Words: Kikuchi-Fujimoto, necrotizing lympha<strong>de</strong>nitis,<br />

prolonged fever, children<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):240-2<br />

Introdução<br />

A doença <strong>de</strong> Kikuchi-Fujimoto ou linfa<strong>de</strong>nite necrosante histiocítica<br />

é uma entida<strong>de</strong> rara, benigna e autolimitada. Foi <strong>de</strong>scrita<br />

pela primeira vez no Japão, em 1972, por Kikuchi 1 e<br />

Fujimoto et al 2 e, em 1980, foi <strong>de</strong>finida como entida<strong>de</strong> clí -<br />

nica. O primeiro caso europeu foi publicado em 19823 e o<br />

número <strong>de</strong> casos tem vindo a aumentar em todo o mundo. A<br />

doença afecta predominantemente mulheres jovens, sendo<br />

rara na ida<strong>de</strong> <strong>pediátrica</strong>. 4-6 Manifesta-se por a<strong>de</strong>nomegálias<br />

mais frequentemente localizadas na região cervical, mas<br />

po<strong>de</strong>m estar afectadas todas as ca<strong>de</strong>ias ganglionares. Em<br />

alguns casos po<strong>de</strong> associar-se febre e, mais raramente, artralgias,<br />

hepatoesplenomegália e exantema cutâneo. 4-10<br />

O diagnóstico é baseado em achados histológicos típicos <strong>de</strong><br />

linfa<strong>de</strong>nite necrosante: distorção e perda da arquitectura ganglionar,<br />

necrose e extensa cariorrexis cortical e paracortical e<br />

infiltrado inflamatório constituído por histiocitos com ausência<br />

<strong>de</strong> neutrófilos e plasmócitos. 4-10<br />

Caso clínico 1: Adolescente <strong>de</strong> 14 anos, sexo feminino, origem<br />

africana (Angola), sem antece<strong>de</strong>ntes pessoais ou fami -<br />

liares relevantes. Internada por febre <strong>de</strong> 38-39°C, com 4<br />

semanas <strong>de</strong> evolução, sem calafrio, <strong>de</strong> predomínio vespertino<br />

e emagrecimento <strong>de</strong> 5 Kg. Palpavam-se múltiplas a<strong>de</strong>nomegálias<br />

nas regiões cervical, supraclavicular, axilar e inguinal,<br />

bilaterais, dolorosas, <strong>de</strong> consistência mole, não a<strong>de</strong>rentes aos<br />

planos profundos.<br />

Apresentava hemoglobina (Hb) 10,5g/dl, hematócrito 31,5%,<br />

VGM 76,6fl, leucócitos 2440/μl, 1100/μl neutrófilos e plaquetas<br />

173000/μl, velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sedimentação (VS) 130mm e<br />

Proteína C-reactiva (PCR) 2,61mg/dl. A ecografia cervical<br />

revelou múltiplas a<strong>de</strong>nomegálias, sem sinais sugestivos <strong>de</strong><br />

necrose, e a ecografia abdominal mostrou uma a<strong>de</strong>nomegália<br />

Correspondência:<br />

Catarina Luis<br />

Departamento <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Hospital Fernando Fonseca<br />

IC 19<br />

2700 Amadora<br />

Telefone: 214348299<br />

ped@hospital-as.pt


Acta Pediatr Port 2008:39(6):240-2 Luis C et al – Doença <strong>de</strong> Kikuchi<br />

no hilo hepático com 2,18 mm. A tomografia axial compu -<br />

torizada (TC) toracoabdominal não revelou outras alterações.<br />

A pesquisa <strong>de</strong> plasmódio, serologias para Bartonella henselae<br />

e Bartonella quintana, Ehrlichia, Toxoplasma gondi, vírus<br />

Epstein-Barr, citomegalovirus e vírus da imuno<strong>de</strong> ficiência<br />

humana (HIV) 1 e 2 foram negativas. A intra<strong>de</strong>rmo-reacção <strong>de</strong><br />

Mantoux e a pesquisa <strong>de</strong> Mycobacterium tuber culosis no suco<br />

gástrico foram também negativas, tal como as hemo culturas,<br />

incluindo Brucella, coproculturas e mieloculturas, com pesquisa<br />

<strong>de</strong> Leishmania, Mycobacterium tuber culosis, Bartonella e<br />

Polymerase chain reaction (PCR) para mico bactérias atípicas.<br />

O mielograma e a biópsia óssea foram normais.<br />

O estudo da autoimunida<strong>de</strong> mostrou anticorpo antinuclear positivo<br />

(1/160), com padrão nucleolar e anticorpo anti-Sm positivo.<br />

Pesquisa <strong>de</strong> factor reumatói<strong>de</strong>, anticorpos anti-ADN nativo,<br />

ANCA e anticorpos anti-SSA, anti-SSB e anti-RNP negativa. O<br />

estudo do complemento e imunoglobulinas foram normais.<br />

Na 5ª semana <strong>de</strong> doença iniciou terapêutica empírica com<br />

ceftria xona e doxicilina (14 dias), e realizou biópsia gan glionar.<br />

O exame histológico revelou um gânglio com apagamento da<br />

arquitectura ganglionar, necrose e extensa cariorrexis, com<br />

áreas on<strong>de</strong> se visualizavam numerosas células histiocitárias à<br />

periferia, <strong>de</strong>tritos nucleares no citoplasma, linfócitos tipo B e T<br />

e ausência <strong>de</strong> neutrófilos. Estes achados foram compatíveis<br />

com doença <strong>de</strong> Kikuchi (Figura 1). Quatro dias após a biópsia<br />

ficou apirética, com melhoria gradual do estado geral, recuperação<br />

do peso e normalização das alterações analíticas.<br />

Após 26 meses permanece em acompanhamento ambulatório,<br />

assintomática mas com autoanticorpos positivos.<br />

Figura 1 – 1º caso – Imagem histopatológica do gânglio cervical<br />

(hemotoxilina-eosina, 40x). Observa-se apagamento da arquitectura<br />

ganglionar com necrose e extensa cariorrexis, com áreas na periferia<br />

com abundantes células histiocitárias, <strong>de</strong>tritos nucleares no plasma e<br />

linfócitos tipo B e T<br />

Caso Clínico 2: Adolescente <strong>de</strong> 12 anos, sexo feminino, origem<br />

africana (Guiné-Bissau), sem antece<strong>de</strong>ntes pessoais e<br />

familiares relevantes, com a<strong>de</strong>nomegálias cervicais com<br />

aumento progressivo ao longo <strong>de</strong> 3 semanas. Tinha sido previamente<br />

medicada com penicilina G benzatínica e cipro -<br />

floxacina, sem melhoria. Palpavam-se a<strong>de</strong>nomegálias cervi-<br />

cais bilaterais a maior submentoniana, com 4 cm <strong>de</strong> maior<br />

diâmetro, <strong>de</strong> consistência firme, a<strong>de</strong>rente aos planos pro -<br />

fundos, dolorosa com sinais inflamatórios e a<strong>de</strong>nomegalias<br />

nas regiões axilar, epitroclear e inguinal, <strong>de</strong> pequenas dimensões,<br />

inferiores a 2 cm, indolores, sem sinais inflamatórios. O<br />

restante exame objectivo era normal. Foi medicada com flucloxacilina<br />

e clindamicina por suspeita <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nite bacteriana,<br />

sem melhoria. Na terceira semana <strong>de</strong> doença inicia febre <strong>de</strong><br />

39°C, sem padrão característico, que manteve durante 17 dias<br />

e exantema macular, confluente, pruriginoso, localizado ao<br />

tronco e membros, com períodos <strong>de</strong> exacerbação, que remitiu<br />

espontaneamente após oito dias.<br />

Hemoglobina 13 mg/dl, leucócitos 2600/μl, neutrófilos 700/μl,<br />

plaquetas 160000/μl, PCR 0,2 mg/dl, VS 82 mm/h, AST<br />

250 UI/l, ALT 521 UI/l, LDH 527 UI/l e β2 microglo bulina<br />

3,61 mg/dl. Título <strong>de</strong> antiestreptolisina O (TASO) <strong>de</strong> 780 unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Todd. A TC cervical revelou a<strong>de</strong>nomegalias com áreas<br />

sugestivas <strong>de</strong> necrose e a TC abdominal não mostrou alterações.<br />

As serologias para vírus Epstein-Barr, citome galovírus e Toxo -<br />

plasma gondii IgM negativa e IgG positiva e para Bartonella<br />

henselae, Bartonella quintana, VIH 1 e 2, vírus da hepatite B e<br />

hepatite C foram negativas. A Radiografia <strong>de</strong> tórax normal e<br />

intra<strong>de</strong>rmo-reacção <strong>de</strong> Mantoux foram também negativas.<br />

O estudo da auto-imunida<strong>de</strong> revelou anticorpo antinuclear<br />

positivo com padrão mosqueado (título <strong>de</strong> 1/320). Os anticorpos<br />

anti-DNA, anti-Ro, anti-Sm, anti-RNP e factor reuma -<br />

tói<strong>de</strong> foram negativos. O doseamento das fracções do com -<br />

plemento foi normal.<br />

A biópsia do gânglio sub-mentoniano, efectuada na 5ª se -<br />

mana <strong>de</strong> doença, revelou extenso infiltrado composto por<br />

pequenos linfócitos B, áreas necróticas e escassa cariorrexis,<br />

colocando-se a hipótese <strong>de</strong> doença <strong>de</strong> Hodgkin. A coloração<br />

para mieloperoxidase veio a excluir esta hipótese e confirmou<br />

o diagnóstico <strong>de</strong> doença <strong>de</strong> Kikuchi. (Figura 2). Na<br />

sexta semana <strong>de</strong> doença ficou apirética e verificou-se regressão<br />

das a<strong>de</strong>nomegálias.<br />

Após 22 meses <strong>de</strong> acompanhamento, permanece assintomática,<br />

mas mantem autoanticorpos positivos.<br />

Figura 2 – 2º caso – Imagem histopatológica do gânglio cervical<br />

(Giemsa, 10x). Observa-se extensa necrose, alternando com áreas<br />

<strong>de</strong> gânglio preservado<br />

241


Acta Pediatr Port 2008:39(6):240-2 Luis C et al – Doença <strong>de</strong> Kikuchi<br />

Discussão<br />

A doença <strong>de</strong> Kikuchi é uma entida<strong>de</strong> pouco frequente. Afecta<br />

predominantemente o sexo feminino e adultos jovens (3ª<br />

década <strong>de</strong> vida). Apesar <strong>de</strong> rara abaixo dos 10 anos, foi <strong>de</strong>scrita<br />

numa criança com 19 meses3-5 . A maioria dos casos foi<br />

<strong>de</strong>scrito no sudoeste asiático e na literatura há poucos casos<br />

<strong>de</strong>scritos na raça negra.<br />

Vários estudos sugerem associação com patologias infecciosas<br />

e/ou processos auto-imunes. A sobreposição <strong>de</strong> patologias<br />

infecciosas e auto-imunes faz suspeitar que, em doentes geneticamente<br />

predispostos, vários factores possam <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<br />

uma reacção <strong>de</strong> hiperestimulação do sistema imunitário 6 .<br />

A apresentação clínica é variável. A linfa<strong>de</strong>nopatia cervical é<br />

a manifestação mais frequente (55-97%), po<strong>de</strong>ndo afectar<br />

todas as ca<strong>de</strong>ias ganglionares; associa-se a febre em 30 a 50%<br />

dos casos 3,5,7 .<br />

O primeiro caso manifestou-se como síndrome febril arras -<br />

tado e a<strong>de</strong>nomegálias generalizadas numa fase posterior,<br />

enquanto que o segundo caso evoluiu <strong>de</strong> forma típica inicialmente<br />

com a<strong>de</strong>nomegálias cervicais, a que se associou febre<br />

e alterações cutâneas numa fase mais tardia.<br />

A leucopénia presente em 27 a 58%, é um dos achados classicamente<br />

<strong>de</strong>scritos, por vezes associada a neutropénia. A PCR<br />

e VS estão elevadas em 72% dos doentes 4,5 . Po<strong>de</strong> haver anemia<br />

normocítica e normocrómica ligeira e disfunção hepática<br />

mo<strong>de</strong>rada 3,4 .<br />

O diagnóstico diferencial inclui várias patologias, uma vez<br />

que as a<strong>de</strong>nopatias cervicais são uma situação frequente em<br />

pediatria. Habitualmente resultam <strong>de</strong> uma hiperplasia linfói<strong>de</strong><br />

reactiva a infecções virais ou bacterianas do aparelho respiratório<br />

superior. No entanto, po<strong>de</strong>m indiciar doenças auto-imunes<br />

ou tumorais.<br />

A biópsia ganglionar é fundamental para o diagnóstico. Os<br />

achados histopatológicos são típicos, com perda da arquitectura<br />

ganglionar, áreas irregulares <strong>de</strong> necrose eosinofílica cortical<br />

e paracortical, com abundante cariorrexis, sendo o grau<br />

<strong>de</strong> necrose variável. A imunofenotipagem é útil nos casos<br />

duvidosos3-5 .<br />

242<br />

Não existe terapêutica específica. A doença geralmente é<br />

auto-limitada, com duração <strong>de</strong> 1 a 4 semanas 4,5,8 . A associação<br />

entre apirexia e remoção do gânglio sugere que a biópsia ganglionar<br />

po<strong>de</strong> ter também um papel importante na terapêutica 7 .<br />

Embora a evolução habitualmente seja benigna estão <strong>de</strong>s -<br />

critos casos fatais, com envolvimento multisistémico 5 . Em<br />

alguns doentes tem sido <strong>de</strong>scrita a associação com lupus eritematoso<br />

sistémico (LES), havendo autores que consi<strong>de</strong>ram a<br />

doença <strong>de</strong> Kikuchi uma forma frustre <strong>de</strong> lúpus 10 . Por este<br />

motivo, a vigilância a longo prazo é essencial.<br />

Referências<br />

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Forteza J. Fatal Kikuchi-Fujimoto disease: the lupus conection. Am<br />

Hematol 2003; 82:186-8


0873-9781/08/39-6/243<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> CASO CLÍNICO<br />

Síndrome <strong>de</strong> Simpson-Golabi-Behmel<br />

Fabiana Ramos, Joaquim <strong>de</strong> Sá, Jorge M. Saraiva<br />

Serviço <strong>de</strong> Genética Médica, Hospital Pediátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

Resumo<br />

Introdução: A síndrome <strong>de</strong> Simpson-Golabi-Behmel<br />

(SSGB) [OMIM 312870] é uma síndrome <strong>de</strong> hereditarie -<br />

da<strong>de</strong> ligada ao X, caracterizada por macrossomia, dismor -<br />

fismos faciais, anomalias viscerais e esqueléticas, predisposição<br />

para neoplasias embrionárias, com ou sem atraso do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Na maioria dos casos são i<strong>de</strong>ntificadas<br />

mutações no gene GPC3.<br />

Caso Clínico: Descreve-se um jovem, macrossómico ao nascimento<br />

e na infância, com visceromegalias, litíase biliar,<br />

alterações renais e atraso do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor<br />

ligeiro sugestivos <strong>de</strong> SSGB. Realizou estudo molecular do<br />

gene GPC3, que confirmou o diagnóstico.<br />

Discussão: A SSGB <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada no diagnóstico diferencial<br />

nos casos <strong>de</strong> macrossomia e dismorfismos, estando o<br />

estudo molecular indicado para confirmar a suspeita clínica,<br />

com repercussões nos cuidados assistenciais e no aconselhamento<br />

genético.<br />

Palavras-Chave: Síndrome Simpson-Golabi-Behmel, Macros -<br />

somia, GPC3<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):243-6<br />

Simpson-Golabi-Behmel syndrome<br />

Abstract<br />

Introduction: The Simpson-Golabi-Behmel syndrome<br />

(SSGB) [OMIM 312870] is an X-linked disease characterized<br />

by overgrowth, facial dysmorphisms, visceral and skeletal<br />

anomalies and with or without <strong>de</strong>velopmental <strong>de</strong>lay. There is<br />

an increased risk to embryonal tumors. In most cases it is<br />

i<strong>de</strong>ntified a mutation on the GPC3 gene.<br />

Clinical report: We <strong>de</strong>scribe a young male with overgrowth<br />

at birth and childhood, visceromegaly, galdstones, renal ano -<br />

ma lies and mild <strong>de</strong>velopmental <strong>de</strong>lay. The molecular analysis<br />

of the GPC3 gene confirmed the diagnosis of SSGB.<br />

Discussion: The SSGB should be remembered when there is<br />

overgrowth and dysmorphisms. The molecular study can con-<br />

Recebido: 30.05.2007<br />

Aceite: 08.10.2008<br />

firm the clinical suspicion and therefore improve the follow<br />

up of these patients and the genetic counselling.<br />

Key Words: Simpson-Golabi-Behmel syndrome, Over -<br />

growth, GPC3<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):243-6<br />

Introdução<br />

Em 1988 foi proposto por Neri et al1 e Optiz et al2 a <strong>de</strong>signação<br />

<strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> “Simpson-Golabi-Behmel (SGB) [Online<br />

Men<strong>de</strong>lian Inheritance in Man 312870] 3 para uma situação<br />

previamente <strong>de</strong>scrita por Simpson et al4 [1975], Golabi e<br />

Rosen5 [1984] e Behmel et al6 [1984]. O quadro clínico <strong>de</strong>scrito<br />

caracterizava-se por macrossomia, anomalias congénitas<br />

múltiplas, dismorfismos, sobretudo faciais, risco aumentado<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tumores e um padrão <strong>de</strong> hereditarie -<br />

da<strong>de</strong> ligada ao X. Des<strong>de</strong> então mais <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong> casos<br />

foram <strong>de</strong>scritos com um largo espectro <strong>de</strong> manifestações clínicas<br />

que variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> casos muito ligeiros nas mulheres portadoras<br />

até formas letais. Contudo a sua incidência perma nece<br />

<strong>de</strong>sconhecida.<br />

Os critérios diagnósticos incluem a macrossomia <strong>de</strong> início pré<br />

ou pós-natal, com peso e perímetro cefálico (PC) ao nasci -<br />

mento geralmente maiores que o percentil (P) 97, estatura final<br />

em torno 188 a 210 centímetros, dismorfismos faciais e múltiplas<br />

anomalias congénitas, on<strong>de</strong> estão incluídos cardiopatia,<br />

anomalias renais, <strong>de</strong>feitos da segmentação vertebral, visceromegalias<br />

e alterações ósseas e dos genitais7-9 . Para além disso,<br />

a síndrome SGB está também associada a um risco aumentado,<br />

avaliado em 10%, para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tumores<br />

embrionários, mais frequentemente tumor <strong>de</strong> Wilms e hepatoblastomas,<br />

e a atraso do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor, sobre -<br />

tudo cognitivo, que po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> ligeiro a grave1,7-10 .As<br />

mulheres portadoras po<strong>de</strong>m ter alguma expressão fenotípica,<br />

geralmente menor do que nos homens, <strong>de</strong>vido aos mecanismos<br />

<strong>de</strong> inactivação do cromossoma X9 .<br />

Em 1996 foi i<strong>de</strong>ntificado por Pilia et al 11 o gene do glipicano<br />

3 (GPC3) localizado em Xq26 e que tem um importante papel<br />

no controle da morfogénese7-8 . Na fase do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

Correspondência:<br />

Fabiana Ramos<br />

Serviço <strong>de</strong> Genética Médica, Hospital Pediátrico <strong>de</strong> Coimbra<br />

Av. Bissaya Barreto<br />

3000-075 Coimbra<br />

Telefone: 239 480638<br />

fabiana.ramos@hpc.chc.min-sau<strong>de</strong>.pt<br />

243


Acta Pediatr Port 2008:39(6):243-6 Ramos F et al – Síndrome <strong>de</strong> Simpson-Golabi-Behmel<br />

embrionário o GPC3 é amplamente expresso nos mesmos<br />

tecidos que se encontram afectados na síndrome <strong>de</strong> SGB.<br />

Seguidamente <strong>de</strong>screve-se um caso <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> SGB com<br />

diagnóstico na infância e reavaliação subsequente, com confirmação<br />

molecular.<br />

Relato <strong>de</strong> Caso<br />

Criança do sexo masculino, filho <strong>de</strong> pais não consanguíneos,<br />

irmã saudável, sem outros familiares conhecidos com pato -<br />

logia, gravi<strong>de</strong>z vigiada e com diagnóstico pré-natal (DPN)<br />

ecográfico <strong>de</strong> rins multiquísticos com dimensões aumentadas.<br />

Nasceu às 37 semanas por parto por fórceps com uma<br />

somatometria com peso <strong>de</strong> 4075Kg (P 97), comprimento <strong>de</strong><br />

54 cm (P 90-95), e PC <strong>de</strong> 35 cm (P 75). A ecografia renal<br />

confirmou a presença dos quistos e i<strong>de</strong>ntificou duplicação<br />

pielocalicial à esquerda e a ecocardiografia mostrou espes -<br />

sa mento do septo interventricular. Tinha um fácies grosseiro<br />

com fronte proeminente ao nível da sutura metópica e<br />

macro glos sia. [Figura 1]<br />

Figura 1 – Caso aos 12 meses. Notar o aspecto macrossómico, com<br />

fácies grosseiro, hipertelorismo, nariz pequeno com ponte nasal<br />

<strong>de</strong>primida, macrostomia, pectus excavatum ligeiro, hepatomegalia<br />

(<strong>de</strong>limitado em vermelho) e pequena hérnia umbilical.<br />

244<br />

Aos 4 anos mantinha os percentis <strong>de</strong> crescimento, apresen tava<br />

atraso do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor ligeiro, dismorfismos<br />

faciais, hepatoesplenomegalia com litíase biliar i<strong>de</strong>ntificada<br />

na ecografia abdominal, hérnias umbilical e inguinais bilaterais,<br />

tendo-se concluído pelo diagnóstico <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong><br />

SGB. Os resultados dos outros exames complementares,<br />

incluindo carió tipo (46,XY) e extensa investigação meta -<br />

bólica, foram normais.<br />

Aos 13 anos foi reavaliado no âmbito do aconselhamento<br />

genético da irmã. Mantinha o fenótipo já <strong>de</strong>scrito, porém mais<br />

atenuado e dificulda<strong>de</strong>s escolares. [Figura 2]<br />

Figura 2 – Caso aos 13 anos: fenótipo mais atenuado.<br />

Realizou-se o estudo molecular do gene GPC3, que revelou<br />

<strong>de</strong>lecção dos exões 1 e 2 do gene. O estudo molecular da mãe<br />

e da irmã, que não têm dismorfismos, revelou a presença em<br />

ambas da mesma <strong>de</strong>lecção em heterozigotia.<br />

Discussão<br />

A síndrome <strong>de</strong> SBG é uma doença <strong>de</strong> hereditarieda<strong>de</strong> ligada<br />

ao X rara, que apresenta ampla variabilida<strong>de</strong> fenotípica que se<br />

esten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> alterações subtis, como um fácies tipo “buldog”<br />

e anomalias minor com <strong>de</strong>senvolvimento e sobrevida normais<br />

até uma forma grave, precocemente letal, caracterizada por<br />

anomalias congénitas múltiplas e atraso mental grave. As<br />

altera ções cardíacas po<strong>de</strong>m ser encontradas em mais <strong>de</strong> me -<br />

ta<strong>de</strong> dos casos, sendo um terço <strong>de</strong>las estruturais e há uma<br />

predis posição para tumores embrionários ainda em ida<strong>de</strong>s<br />

precoces7-10 . Alguns achados, sobretudo as anomalias das<br />

mãos e do esqueleto, parecem estar especificamente envol -<br />

vidas na síndrome <strong>de</strong> SGB e não estão presentes em outras<br />

síndromes <strong>de</strong> macrossomia7-9 .<br />

O diagnóstico clínico po<strong>de</strong> no geral ser dificultado pela sobreposição<br />

dos achados com outras síndromes <strong>de</strong> macrossomia e<br />

o diagnóstico diferencial inclui em especial a síndrome <strong>de</strong><br />

Beckwith-Wie<strong>de</strong>mann, que para além da macrossomia apresenta<br />

outras características também presentes na síndrome <strong>de</strong><br />

SGB, como por exemplo malformações urogenitais, da pa re<strong>de</strong><br />

abdominal e um risco elevado <strong>de</strong> tumores. Apesar <strong>de</strong>sta sobre-


Acta Pediatr Port 2008:39(6):243-6 Ramos F et al – Síndrome <strong>de</strong> Simpson-Golabi-Behmel<br />

posição, os dismorfismos faciais das duas síndromes diferem<br />

acentuadamente7-9,12 .<br />

A síndrome <strong>de</strong> SGB é causada por mutações (<strong>de</strong>lecções ou<br />

mutações pontuais) no gene GPC3, que se localiza em Xq26,<br />

contém 8 exões e apresenta um importante papel no controle<br />

do crescimento embrionário. Alguns autores sugerem que formas<br />

mais grave da síndrome <strong>de</strong> SGB po<strong>de</strong>m estar associadas<br />

a mutações noutro gene, o GPC4 localizado em Xp227,9 .<br />

O caso clínico <strong>de</strong>screve um adolescente que foi avaliado em<br />

três períodos diferentes e que apresentava em dois <strong>de</strong>les critérios<br />

que permitiram concluir pelo diagnóstico <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong><br />

SGB: macrossomia <strong>de</strong> inicio pré-natal, rins multiquísticos e<br />

com duplicação do uréter, fácies grosseiro, presença <strong>de</strong> visceromegalias,<br />

hérnias umbilical e inguinais e atraso do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

psicomotor ligeiro. Na adolescência, o cresci -<br />

mento mantinha-se <strong>de</strong>ntro dos limites da normalida<strong>de</strong> e o<br />

aspecto grosseiro estava atenuado. [Quadro]<br />

Quadro - Achados Clínicos na Síndrome <strong>de</strong> Simpson-Golabi-<br />

Behmel<br />

Correlação com o caso clínico <strong>de</strong>scrito<br />

Síndrome <strong>de</strong> SGB Frequência Caso clínico <strong>de</strong>scrito<br />

Macrossomia<br />

Dismorfismos faciais<br />

+++ Presente<br />

Fácies grosseira +++ Presente<br />

Macrocefalia +++ Ausente<br />

Hipertelorismo/ fendas<br />

oblíquas para baixo<br />

++ Presente<br />

Pavilhões auriculares<br />

<strong>de</strong> implantação baixa<br />

++ Presente<br />

Macrostomia/ macroglossia/<br />

lábios grossos<br />

++ Ausente<br />

Sulco mediano no lábio<br />

inferior/língua<br />

++ Presente<br />

Nariz bulboso/ ponte<br />

nasal achatada<br />

++ Presente<br />

Micrognatia/ Macrognatia +++ Ausente<br />

Fendas orofaciais<br />

Anomalias Congénitas<br />

+ Presente<br />

Cardiopatia (estrutural/<br />

<strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> condução)<br />

++ Presente<br />

Visceromegalias ++ Presente<br />

Mamilos supranumerários +++ Ausente<br />

Diastase dos rectos<br />

abdominais/hérnias<br />

++ Presente<br />

Hérnias inguinal/umbilical ++ Presente<br />

Hérnia diafragmática + Ausente<br />

Anomalias renais/<br />

nefromegalia<br />

++ Presente<br />

Anomalias vertebrais ++ Ausente<br />

Pectus excavatum +++ Presente<br />

Anomalias das mãos/pés ++ Presente<br />

Criptorquidismo ++ Ausente<br />

Hipospádia + Ausente<br />

Atraso do Desenvolvimento<br />

psicomotor<br />

+/- Presente<br />

Hipotonia +++ Ausente<br />

Neoplasias +/++ Ausente<br />

Frequência dos achados clínicos: Muito frequente (+++), frequente (++), ocasional<br />

(+) e ausente (-)<br />

O estudo do gene GPC3 permitiu confirmar o diagnóstico e<br />

i<strong>de</strong>ntificar a mãe e a irmã como sendo heterozigotas para a<br />

mesma mutação. Este achado permitiu reforçar o aconselhamento<br />

genético, i<strong>de</strong>ntificou novos indivíduos em risco e<br />

possi bilitou planear estratégias reprodutivas, como o diagnóstico<br />

pré-natal molecular orientado e o diagnóstico genético<br />

pré-implantação.<br />

A importância do diagnóstico preciso, com confirmação<br />

molecular não se reflecte apenas no aconselhamento gené -<br />

tico, mas também é necessário para um planeamento a<strong>de</strong>quado<br />

da vigilância a longo prazo das possíveis complicações,<br />

sobre tudo com um programa a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> rastreio e<br />

tratamento tumoral10 .<br />

O reconhecimento da síndrome <strong>de</strong> SGB e a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> confirmação molecular po<strong>de</strong> também ser evocado no<br />

diagnóstico diferencial <strong>de</strong> macrossomia fetal, sobretudo<br />

quando outras anomalias - cardíacas, renais, vertebrais e<br />

especialmente das extremida<strong>de</strong>s, são i<strong>de</strong>ntificadas na ecografia<br />

morfoló gica. Esta suspeita po<strong>de</strong> ser confirmada pelo<br />

diagnóstico pré-natal molecular após amniocentese ou no<br />

período neonatal precoce e permite antecipar os cuidados<br />

neonatais necessários e minimizar as complicações, sobretudo<br />

secundárias a hipoglicemia, cardiopatia e anomalias<br />

renais.<br />

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245


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0873-9781/08/39-6/247<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> CASO CLÍNICO<br />

Miastenia Gravis<br />

Cecília Martins 1 , Eduarda Marques 1 , Fátima Santos 1 , Roseli Gomes 2 , Susana A. Pereira 1<br />

1 - Serviço <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Centro Hospitalar <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia-Espinho EPE<br />

2 - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Neuropediatria do Hospital <strong>de</strong> Pedro Hispano<br />

Resumo<br />

Introdução: A miastenia gravis é uma doença neuro-mus -<br />

cular com três formas <strong>de</strong> apresentação: neonatal transitória,<br />

congénita ou juvenil. O diagnóstico é sugerido pela história,<br />

exame físico, teste anti-colinesterase, electromiografia e anticorpos<br />

específicos. A imagiologia torácica po<strong>de</strong> ser impor -<br />

tante pela associação frequente <strong>de</strong>sta patologia com anomalias<br />

tímicas. O tratamento <strong>de</strong>ve ser individualizado.<br />

Caso clínico: Apresenta-se o caso <strong>de</strong> uma criança do sexo<br />

masculino <strong>de</strong> sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com fraqueza muscular generalizada<br />

agravando ao longo do dia. A electromiografia foi<br />

<strong>de</strong>terminante para o diagnóstico. A pesquisa <strong>de</strong> anticorpos<br />

anti-receptores <strong>de</strong> acetilcolina foi negativa. A ressonância<br />

magnética nuclear revelou hiperplasia tímica. A criança foi<br />

tratada com piridostigmina durante dois anos.<br />

Conclusão: Apesar <strong>de</strong> rara, <strong>de</strong>ve suspeitar-se <strong>de</strong> miastenia<br />

gravis nas crianças com cansaço crónico.<br />

Palavras-chave: Anti-corpos anti-receptores <strong>de</strong> acetilcolina;<br />

Cansaço; Electromiografia; Hiperplasia tímica; Miastenia;<br />

Piridostigmina.<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):247-9<br />

Myasthenia Gravis<br />

Abstract<br />

Introduction: Myasthenia gravis is a neuromuscular disor<strong>de</strong>r<br />

characterized by muscular weakness. There are three presentation<br />

forms: transient neonatal, congenital or juvenile. The<br />

diagnosis relies on symptoms, physical examination, anticho -<br />

linesterase test, electromyography and antibody titers.<br />

Thoracic imagiology is important because of the common<br />

association of myasthenia gravis and tymic abnormalities.<br />

Treatment should be individualized.<br />

Case report: A 7 year old boy presented with generalized<br />

muscular weakness, worsening through the day. The electro -<br />

myography was indispensable for the diagnosis. The antibo -<br />

Recebido: 21.10.2007<br />

Aceite: 30.06.2008<br />

dies anti-receptors of acetylcholine were negative. The magnetic<br />

resonance imaging showed tymic hyperplasia. He was<br />

treated with piridostigmine for 2 years.<br />

Conclusions: Despite being uncommon, one should suspect<br />

of myasthenia gravis in children who present chronic<br />

tirednes s.<br />

Key words: Acetylcholine antireceptors antibodies. Electro -<br />

myography. Myasthenia. Piridostigmine. Tymic hyperplasia.<br />

Weakness.<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):247-9<br />

Introdução<br />

A miastenia gravis (MG) é uma doença neuromuscular caracterizada<br />

por défice motor e fatigabilida<strong>de</strong> da musculatura<br />

esquelética, <strong>de</strong> carácter flutuante, exacerbando-se com o<br />

calor, o exercício físico e as intercorrências infecciosas1-2 .<br />

Apesar <strong>de</strong> rara, é a causa mais frequente <strong>de</strong> bloqueio neu ro -<br />

muscular na criança, ocorrendo em 10% dos casos na infância2<br />

. Há três formas <strong>de</strong> apresentação: neonatal transitória (passagem<br />

<strong>de</strong> anticorpos anti-receptores <strong>de</strong> acetilcolina -AARApor<br />

via placentária para o recém-nascido, filho <strong>de</strong> mãe miasténica,<br />

e que <strong>de</strong>saparece em meses); congénita (grupo <strong>de</strong><br />

doen ças não relacionado com imunida<strong>de</strong> mas com défices da<br />

placa neuromuscular, pré-sinápticos, sinápticos ou pós-sinápticos,<br />

que po<strong>de</strong>m ter diferentes tipos <strong>de</strong> hereditarieda<strong>de</strong> e clínica<br />

variada); e juvenil (aparece após os 12 meses, tem origem<br />

auto-imune e apresentação clínica também variada) 1,3 .<br />

Na MG auto-imune, o diagnóstico baseia-se na história, na<br />

exploração física, na prova farmacológica com anticoli nes -<br />

terásicos, na electromiografia (mais especificamente a <strong>de</strong> fibra<br />

única4 ) e no doseamento <strong>de</strong> anticorpos, nomeadamente:<br />

AARA, anticorpos anti-músculo estriado e anti-músculo liso1-3 .<br />

A imagiologia torácica é importante porque permite <strong>de</strong>s pistar<br />

tumores tímicos, que ocorrem em cerca <strong>de</strong> 10% dos doentes 5,6 .<br />

Estes tumores são habitualmente benignos, po<strong>de</strong>ndo ser localmente<br />

invasivos.<br />

Correspondência:<br />

Cecília <strong>de</strong> Sousa Pinto Martins<br />

Travessa da Rasa 161 Ap. 83<br />

4400 Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />

Telm: 918532812<br />

ceciliamartins@net.sapo.pt<br />

247


Acta Pediatr Port 2008:39(6):247-9 Martins C et al – Miastenia Gravis<br />

Na criança são comuns as dificulda<strong>de</strong>s técnicas na realização<br />

da electromiografia2 e o doseamento <strong>de</strong> AARA é negativo em<br />

20-50% dos casos 2,7 .<br />

O tratamento <strong>de</strong>ve ser individualizado e assenta no recurso a<br />

fármacos anticolinesterásicos, imunossupressores, plasma -<br />

férese, imunoglobulinas ou mesmo timectomia.<br />

O prognóstico é variável po<strong>de</strong>ndo evoluir para a cronicida<strong>de</strong><br />

ou para a remissão espontânea (20-30%) 2,8 .<br />

Relato <strong>de</strong> caso<br />

Criança <strong>de</strong> sexo masculino, sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, orientada para<br />

a consulta externa <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> por adinamia e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem.<br />

Ausência <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes patológicos <strong>de</strong> relevo até aos três<br />

anos, altura em que é orientado para consulta <strong>de</strong> imunoaler -<br />

gologia por crises asmatiformes. O estudo imunológico, realizado<br />

aos três e cinco anos, foi normal, tendo iniciado tera -<br />

pêutica inalatória com broncodilatadores nas agudizações.<br />

Aos seis anos iniciou escolarida<strong>de</strong> obrigatória com necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> apoio do ensino especial, dado ter manifestado dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Des<strong>de</strong> os três anos <strong>de</strong> vida apresentava dificulda<strong>de</strong>s na mastigação<br />

e na <strong>de</strong>glutição, bem como, disfonia, ptose palpebral<br />

bilateral discreta e “cansaço com o exercício”, com limitação<br />

da activida<strong>de</strong> diária (correr, subir escadas), <strong>de</strong> agravamento ao<br />

longo do dia e com o calor. Esta sintomatologia teve uma evolução<br />

insidiosa e era mais evi<strong>de</strong>nte durante intercorrências<br />

infecciosas. O estudo <strong>de</strong>ste caso surgiu após um interna mento<br />

por adinamia e prostração extrema, em contexto <strong>de</strong> síndrome<br />

virusal.<br />

A criança apresentava hábito asténico, pectus excavatum,<br />

fácies inexpressivo com mímica facial pobre, voz arrastada e<br />

discurso pouco perceptível. As pupilas eram isocóricas e<br />

fotorreactivas, os movimentos oculares eram normais, não<br />

apresentando oftalmoparésias ou nistagmo. Era evi<strong>de</strong>nte uma<br />

ligeira ptose palpebral bilateral; bem como, massas musculares<br />

hipotróficas e tónus diminuído. A força muscular estava<br />

conservada ao nível do tronco e membros, revelando fra queza<br />

após movimentos <strong>de</strong> contracção rápida e repetitiva, sobre -<br />

tudo, nos grupos distais. Os reflexos osteo-articulares estavam<br />

presentes e eram simétricos. O restante exame neurológico era<br />

normal, não manifestando dismetria, ataxia ou alterações da<br />

sensibilida<strong>de</strong>. O sinal <strong>de</strong> Gowers era negativo.<br />

A avaliação do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor, pelo teste <strong>de</strong><br />

Ruth Griffiths, revelou um coeficiente global <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> 77, com envolvimento uniforme <strong>de</strong> todas as áreas,<br />

sugerindo um défice cognitivo ligeiro/limiar.<br />

O estudo analítico (hemograma, função renal, função hepá -<br />

tica, ionograma, estudo imunológico básico e função tirói<strong>de</strong>a)<br />

foi normal. O electrocardiograma e o ecocardiograma não<br />

apresentavam alterações. Foi colocada a hipótese <strong>de</strong> MG<br />

juve nil. A electromiografia por estimulação repetitiva revelou<br />

um <strong>de</strong>créscimo superior a 20% entre o primeiro e o quinto<br />

potenciais, parâmetro indispensável para o diagnóstico <strong>de</strong><br />

MG. O doseamento <strong>de</strong> AARA e anticorpos anti-músculo<br />

248<br />

estriado e liso apresentaram títulos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> valores normais.<br />

Foi realizada ressonância magnética nuclear (RMN) torácica<br />

que <strong>de</strong>monstrou aumento mo<strong>de</strong>rado do volume do timo, que<br />

apresentava morfologia normal, sugerindo hiperplasia tímica<br />

e pectus excavatum, com índice <strong>de</strong> Heller <strong>de</strong> 3,8 (N


Acta Pediatr Port 2008:39(6):247-9 Martins C et al – Miastenia Gravis<br />

Embora a hipótese <strong>de</strong> MG juvenil fosse a mais provável,<br />

como há algumas formas <strong>de</strong> MG congénita que se iniciam<br />

após os doze meses1-2,10 e <strong>de</strong>vido à negativida<strong>de</strong> dos anticorpos,<br />

houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tentar excluir esta hipótese pela<br />

realização da pesquisa <strong>de</strong> mutações. Os genes estudados<br />

foram: RAPSN, N88K e CHAT, que não são os únicos<br />

genes envolvidos nos síndromes miasténicos congénitos.<br />

Aliás, em alguns <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>feitos não é possível ainda estudo<br />

mutacional.<br />

Não foi possível efectuar o teste com neostigmina, impor -<br />

tante para o diagnóstico3,5 , dados os antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> asma da<br />

criança. No entanto, a electromiografia, sendo <strong>de</strong> fácil acesso,<br />

permitiu confirmar MG. A imagiologia torácica evi<strong>de</strong>nciou<br />

achados típicos <strong>de</strong> envolvimento tímico, a hiperplasia e<br />

permitiu quantificar o índice <strong>de</strong> Heller, essencial para a valorização<br />

do pectus excavatum.<br />

Neste caso havia um atingimento sistémico mo<strong>de</strong>rado, pelo<br />

que preenchia critérios da classe IIb na classificação <strong>de</strong><br />

Osserman. A terapêutica com piridostigmina foi sintomaticamente<br />

eficaz.<br />

Apesar da timectomia po<strong>de</strong>r estar indicada, tendo uma taxa<br />

<strong>de</strong> sucesso elevada 4-5,8,11 , neste caso, a atitu<strong>de</strong> expectante<br />

foi baseada no estado geral do doente, no envolvimento<br />

tímico ser não invasivo, e principalmente, na resposta<br />

favorável à terapêutica. A atitu<strong>de</strong> conservadora culminou<br />

na observação <strong>de</strong> uma remissão espontânea do quadro ao<br />

fim <strong>de</strong> dois anos.<br />

Conclusões<br />

A MG por não ser frequente na ida<strong>de</strong> <strong>pediátrica</strong> torna o seu<br />

diagnóstico difícil. Nas crianças que apresentam cansaço<br />

cróni co, que aumenta com o exercício, o calor e as intercorrências<br />

patológicas é importante consi<strong>de</strong>rar esta hipótese.<br />

Neste caso, a electromiografia revelou-se indispensável para<br />

o diagnóstico e a atitu<strong>de</strong> expectante permitiu evitar uma intervenção<br />

invasiva.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Às Dras. Angela Abicht e Juliane Müller, do Molecular<br />

Myology Laboratory (Prof. Lochmüller) – Department of<br />

Neurology, Friedrich-Baur-Institute, Munique, Alemanha,<br />

pela realização do estudo genético para síndromes congénitos<br />

miasténicos com pesquisa das mutações RAPSN, N88K e<br />

CHAT.<br />

Referências<br />

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249


0873-9781/08/39-6/250<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> CASO CLÍNICO<br />

Cutis Laxa<br />

M. Rosal Gonçalves 1 , A. Emílio 1 , M. Anes 2 , A. Afonso 3 , V.H. Neves 1 , C. Ren<strong>de</strong>iro 1<br />

1 - Serviço <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Hospital São Bernardo, Centro Hospitalar <strong>de</strong> Setúbal, E.P.E.<br />

2 - Serviço <strong>de</strong> Dermatologia do Hospital São Bernardo, Centro Hospitalar <strong>de</strong> Setúbal, E.P.E.<br />

3 - Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica do Hospital Curry Cabral, Lisboa<br />

Resumo<br />

Introdução: A cutis laxa é uma doença rara do tecido conjuntivo<br />

provocada por alterações da elastina. Caracteriza-se por<br />

pele sem elasticida<strong>de</strong>, flácida, mole e enrugada, dando aos<br />

doentes um aspecto envelhecido; o envolvimento sistémico é<br />

variável. Existem formas hereditárias e adquiridas.<br />

Relato <strong>de</strong> Caso: Lactente do sexo masculino, <strong>de</strong> seis meses<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, no qual na sequência <strong>de</strong> internamento por bronquiolite<br />

é notado fenótipo muito sugestivo <strong>de</strong> cutis laxa, tendo o<br />

exame histopatológico cutâneo confirmado o diagnóstico.<br />

Discussão Clínica: O caso parece relevante, pela rarida<strong>de</strong> da<br />

doença e por apresentar fenótipo sugestivo <strong>de</strong> cutis laxa do<br />

tipo autossómico recessivo, mas com evolução clínica mais<br />

característica da forma dominante, com melhor prognóstico.<br />

Palavras-Chave: doença do tecido conjuntivo; cutis laxa;<br />

elastina.<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):250-2<br />

Cutis Laxa<br />

Abstract<br />

Background: Cutis laxa is a rare, inherited or acquired, connective<br />

tissue disor<strong>de</strong>r in which the skin becomes inelastic<br />

and hangs loosely in folds, giving appearance of premature<br />

aging, with varying systemic organ involvement.<br />

Case Report: Male infant presenting with clinical features of<br />

cutis laxa. These findings and skin biopsy were consistent<br />

with cutis laxa syndrome.<br />

Discussion: Cutis laxa is an extremely rare group of disor<strong>de</strong>rs.<br />

The clinical features of this case suggest an autossomic<br />

recessive form although the clinical evolution is more characteristic<br />

of benign dominant inheritance.<br />

Key-Words: connective tissue disor<strong>de</strong>r, cutis laxa; elastin.<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):250-2<br />

Recebido: 18.05.2008<br />

Aceite: 27.11.2008<br />

250<br />

Introdução<br />

A cutis laxa é uma doença rara do tecido conjuntivo caracterizada<br />

por pele sem elasticida<strong>de</strong>, flácida, mole, pastosa, enrugada<br />

e hipopilosa, dando aos doentes um aspecto envelhe cido.<br />

O fenótipo típico caracteriza-se por pregas cutâneas abundantes,<br />

hiperextensíveis em todas as partes do corpo, em especial<br />

na face e à volta dos olhos; pálpebras inferiores evertidas;<br />

com fendas palpebrais inclinando-se para baixo e para fora;<br />

hipertelorismo; nariz em gancho, largo e achatado; narinas<br />

evertidas; columela curta e lábio superior longo. Ambas as<br />

formas, dominantes e recessivas, po<strong>de</strong>m apresentar encerramento<br />

tardio das fontanelas, choro rouco, laxidão das cordas<br />

vocais e hipogonadismo1 .<br />

Existem formas adquiridas e hereditárias, com envolvimento<br />

variável <strong>de</strong> outros orgãos ou sistemas. Histologicamente há<br />

alterações das fibras elásticas, que estão diminuídas, fragmentadas<br />

e com <strong>de</strong>generescência granular. À microscopia electrónica<br />

observa-se irregularida<strong>de</strong> do diâmetro das fibras <strong>de</strong> colagénio,<br />

com periodicida<strong>de</strong> normal, apresentando-se as fibras<br />

elásticas como material <strong>de</strong>nso e granular, mal agregadas pela<br />

elastina ou agregadas ectopicamente.<br />

A forma adquirida é generalizada na maioria dos casos e<br />

surge geralmente na sequência <strong>de</strong> uma intercorrência infecciosa<br />

ou alérgica. A forma autossómica dominante, mais tardia,<br />

menos frequente, com melhor prognóstico, geralmente<br />

sem envolvimento sistémico, po<strong>de</strong>ndo haver diminuição das<br />

pregas cutâneas com a ida<strong>de</strong> e está associada a mutações do<br />

gene da elastina1, 2 . As formas recessivas, tipo I e II, são mais<br />

frequentes e <strong>de</strong> pior prognóstico, com início precoce e geralmente<br />

com morte na primeira infância. O tipo I, menos frequente<br />

que o tipo II, está associado a envolvimento sisté -<br />

mico marcado3 . Foi recentemente i<strong>de</strong>ntificada uma mutação<br />

do gene da fibulina 5 (proteína localizada nas fibras elásticas),<br />

que com mutações simultâneas do gene da elastina,<br />

parece estar associada à forma recessiva tipo I4, 5 . O tipo II<br />

(<strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>feitos conjugados da glicosilação e <strong>de</strong>ficiência<br />

<strong>de</strong> lisil-oxidase) está geralmente associado a atraso do cres-<br />

Correspondência:<br />

Margarida Rosal Gonçalves<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Hospital <strong>de</strong> São Bernardo<br />

Centro Hospitalar <strong>de</strong> Setúbal<br />

Telefone 265 549000<br />

margarida.rosal@gmail.com


Acta Pediatr Port 2008:39(6):250-2 Gonçlaves MR et al – Cutis Laxa<br />

cimento e do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor, bossas frontais,<br />

laxidão articular e displasia da anca6,7 .<br />

O diagnóstico <strong>de</strong> cutis laxa faz-se através do exame histopatológico<br />

da pele (microscopia electrónica) e do estudo gené -<br />

tico molecular8,9 . A terapêutica consiste no tratamento atem -<br />

pado das complicações <strong>de</strong>correntes do envolvimento sistémico<br />

e, eventualmente, correcção estética2 .<br />

Relato do Caso<br />

Lactente do sexo masculino, seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, segundo<br />

filho <strong>de</strong> pais jovens, primos em segundo grau, aparentemente<br />

saudáveis; irmã falecida aos quatro meses <strong>de</strong> forma súbita e<br />

<strong>de</strong> causa in<strong>de</strong>terminada. Gestação mal vigiada (a partir das 23<br />

semanas), <strong>de</strong> termo; parto por forceps, índice <strong>de</strong> apgar ao primeiro<br />

minuto <strong>de</strong> oito e aos cinco minutos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z; somato -<br />

metria à nascença: peso <strong>de</strong> 4040 gr (p90), comprimento <strong>de</strong><br />

53,5 cm (p75), perímetro cefálico <strong>de</strong> 35,5 cm (p75). No pe -<br />

ríodo neonatal imediato foi notada película gelatinosa em<br />

ambos os globos oculares, cuja observação pela Oftalmologia<br />

foi inconclusiva.<br />

Até aos seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> teve três episódios <strong>de</strong> bronquio -<br />

lite, tendo sido internado numa <strong>de</strong>ssas intercorrências; foi-lhe<br />

diagnosticada estenose fisiológica dos ramos da artéria pulmonar<br />

na sequência da investigação <strong>de</strong> sopro sistólico II/VI.<br />

I<strong>de</strong>ntificou-se também volumosa hérnia umbilical (anel herniário<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> quatro centímetros <strong>de</strong> diâmetro), micro -<br />

pénis e criptorquidia bilateral.<br />

Figura 1 – Lactente com facies particular, pregas cutâneas e hérnia<br />

umbilical volumosa.<br />

Figura 2 – Lactente com pregas cutâneas abundantes, mais importantes<br />

nos membros inferiores.<br />

É reinternado aos seis meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por novo episódio <strong>de</strong><br />

bronquiolite, sendo notado fenótipo particular. Para além da<br />

sintomatologia respiratória característica <strong>de</strong> bronquiolite, <strong>de</strong>stacava-se<br />

pali<strong>de</strong>z cutâneo-mucosa, choro rouco, pele laxa e<br />

mole, com múltiplas pregas cutâneas generalizadas; fonta -<br />

nelas anterior, posterior e sutura craneana médio-sagital abertas;<br />

facies peculiar, com hipertelorismo, ectropion bilateral,<br />

narinas evertidas, columela curta e lábio superior longo.<br />

Mantinha sopro sistólico, hérnia umbilical e alterações genitais<br />

já <strong>de</strong>tectadas anteriormente.<br />

Tendo em conta o fenótipo sugestivo <strong>de</strong> cutis laxa, efectuaram-se<br />

ionograma, função renal, transaminases, electroforese<br />

das proteínas totais e imunoglobulinas, electrocardiograma,<br />

eco grafia abdominal e renal e radiografia do crâneo, que<br />

foram consi<strong>de</strong>rados normais para o grupo etário. O hemo gra -<br />

ma mostrava anemia hipocrómica microcítica ligeira, <strong>de</strong> provável<br />

etiologia ferropriva. O nível <strong>de</strong> ceroplasmina era normal<br />

(32.3mg/dL). A telerradiografia do tórax antero-posterior<br />

mostrava discreta hipertransaparência bilateral, sem con<strong>de</strong>nsação.<br />

A observação por <strong>de</strong>rmatologia corroborou suspeita <strong>de</strong><br />

cutis laxa e efectuou-se biópsia cutânea. Foi também obser -<br />

vado por cardiologia, otorrinolaringologia e oftalmologia,<br />

sem referência a patologia significativa. Apresentou boa evolução<br />

clínica, tendo tido alta com seguimento multidisciplinar.<br />

O resultado do exame histopatológico cutâneo (microscopia<br />

electrónica) do fragmento da pele da pare<strong>de</strong> abdominal revelou<br />

fibras elásticas fragmentadas, sem componente periférico<br />

251


Acta Pediatr Port 2008:39(6):250-2 Gonçlaves MR et al – Cutis Laxa<br />

Figura 3 – Fibras elásticas fragmentadas <strong>de</strong> textura homogénea, com<br />

reduzida quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microfibrilhas periféricas. Detalhe – Notar a<br />

ausência <strong>de</strong> microfibrilhas à periferia das fibras 1 e 2, e a sua pre -<br />

sença (seta) à periferia da fibra 3, <strong>de</strong> estrutura próxima do normal.<br />

(fibras oxitalâmicas), aspectos utra-estruturais enquadráveis<br />

no diagnóstico <strong>de</strong> cutis laxa.<br />

Actualmente com 18 meses, a criança mantém acompa -<br />

nhamento multidisciplinar; mantém infecções respiratórias <strong>de</strong><br />

repe tição e foi submetido a herniorrafia umbilical com sucesso.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor e estaturo-pon<strong>de</strong>ral é a<strong>de</strong>quado.<br />

O apoio aos pais e o respectivo aconselhamento genético<br />

têm sido assegurados.<br />

Discussão<br />

O caso apresentado torna-se relevante não só pela sua rari -<br />

da<strong>de</strong> (existem 100 casos <strong>de</strong>scritos a nível mundial), mas também<br />

pela particularida<strong>de</strong> da sua apresentação e dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> classificação. Trata-se <strong>de</strong> um lactente com fenótipo típico<br />

<strong>de</strong> cutis laxa (pele laxa e mole, com múltiplas pregas cutâneas<br />

generalizadas; fontanela anterior, posterior e sutura<br />

cranea na médio-sagital abertas; facies peculiar, com hipertelorismo,<br />

ectropion bilateral, narinas evertidas, columela<br />

curta, lábio superior longo). No primeiro ano <strong>de</strong> vida parecia<br />

evi<strong>de</strong>nciar um envolvimento sistémico generalizado mo<strong>de</strong> -<br />

rado (infecções respiratórias <strong>de</strong> repetição com broncospasmo<br />

e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internamento, estenose dos ramos da artéria<br />

pulmonar e hérnia umbilical volumosa) que, no entanto, o<br />

estudo posterior excluiu outro tipo <strong>de</strong> afecção multiorgânica;<br />

252<br />

verificou-se uma evolução clínica benigna no segundo ano <strong>de</strong><br />

vida, inclusivé com diminuição das pregas cutâneas e dos<br />

episódios <strong>de</strong> infecções respiratórias; o <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor<br />

e estaturo-pon<strong>de</strong>ral foi a<strong>de</strong>quado à ida<strong>de</strong>, rondando<br />

o percentil 50. Perante esta evolução clínica e apesar <strong>de</strong> ter<br />

fenótipo e aspectos clínicos inicialmente muito sugestivos da<br />

forma autossómica recessiva tipo I, pensamos tratar-se <strong>de</strong><br />

uma forma dominante, com provável penetrância variável,<br />

cujo prognóstico é favorável.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Ao Dr. A. P. Alves <strong>de</strong> Matos (Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica<br />

do Hospital <strong>de</strong> Curry Cabral) pelo interesse e disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstradas, bem como no papel <strong>de</strong>terminante que teve na<br />

marcha diagnóstica <strong>de</strong>ste caso.<br />

Referências<br />

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0873-9781/08/39-6/253<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> ARTIGO DE ACTUALIZAÇÃO<br />

Cárie <strong>de</strong>ntária – a doença antes da cavida<strong>de</strong><br />

Paulo Melo, Álvaro Azevedo, Marisa Henriques<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina Dentária da Universida<strong>de</strong> do Porto<br />

Resumo<br />

A cárie <strong>de</strong>ntária é uma doença com alta prevalência<br />

em todo o mundo, sendo consi<strong>de</strong>rada pela OMS como<br />

um grave problema <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública que afecta pessoas<br />

<strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s. A par das medidas preventivas a<strong>de</strong> -<br />

quadas, assume cada vez maior importância o diagnóstico<br />

da cárie <strong>de</strong>ntária na sua fase inicial, antes <strong>de</strong> se formar a<br />

cavida<strong>de</strong>.<br />

O objectivo <strong>de</strong>ste artigo é rever os factores etiológicos da<br />

doen ça, <strong>de</strong>screver o que se passa na estrutura <strong>de</strong>ntária durante<br />

o processo carioso antes do <strong>de</strong>nte apresentar uma cavi -<br />

da<strong>de</strong> e a impor tância do diagnóstico da cárie <strong>de</strong>ntária nesta<br />

fase precoce.<br />

A partir <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica, efectuada na<br />

Medline, os autores abordam o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização<br />

que ocorre no <strong>de</strong>senvolvimento da doença. A compreensão<br />

da fisiopatologia da doença e da génese da cavitação<br />

tem motivado alterações aos conceitos anteriores <strong>de</strong><br />

cárie <strong>de</strong>ntária, dando origem à <strong>de</strong>nominação “lesão précavitária”,<br />

que encerra em si gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes novos<br />

conceitos.<br />

Também é revista uma forma específica <strong>de</strong> expressão da<br />

doença, a cárie precoce <strong>de</strong> infância, realçando a impor -<br />

tância do diagnóstico precoce, para que seja possível<br />

actuar em fases em que a cavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cárie ainda não está<br />

estabelecida.<br />

Conclusão: O melhor entendimento das fases iniciais da<br />

cárie <strong>de</strong>ntária permite i<strong>de</strong>ntificar a doença em estádios mais<br />

precoces. A importância do diagnóstico precoce resi<strong>de</strong> na<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar a cavitação das lesões e assim controlar<br />

mais facilmente a doença. O Pediatra po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar<br />

um papel <strong>de</strong>terminante na orientação e encaminhamento dos<br />

pacientes com lesões <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária pré-cavitárias.<br />

Palavras chave: cárie <strong>de</strong>ntária, etiologia da cárie <strong>de</strong>ntária,<br />

fisiopatologia da cárie <strong>de</strong>ntária, diagnóstico da cárie<br />

<strong>de</strong>ntária<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):253-9<br />

Recebido: 24.09.2008<br />

Aceite: 03.10.2008<br />

Dental Caries – the disease before cavity formation<br />

Abstract<br />

Dental caries is a highly prevalent disease worldwi<strong>de</strong> and<br />

WHO consi<strong>de</strong>r it as major Public Health problem that affects<br />

all ages. Along with a<strong>de</strong>quate preventive actions, caries diagnosis<br />

in its initial phase, before cavity formation, assumes a<br />

big role in controlling the disease.<br />

The objective of this paper is to review the etiological factors<br />

of the disease, <strong>de</strong>scribe what’s going on <strong>de</strong>ntal hard structure<br />

during the carious process, before cavity, and the importance<br />

of diagnosing <strong>de</strong>ntal caries in this early stage.<br />

The authors discuss the <strong>de</strong>mineralization process that runs<br />

along with the disease by doing a bibliographic review in<br />

Medline. In few years, new <strong>de</strong>ntal caries paradigms were held<br />

in result of the un<strong>de</strong>rstanding of the physiopathology and the<br />

cavitation process. For example, the term “precavitated<br />

lesion” is being part of it. It is also reviewed a specific manifestation<br />

of the disease, early childhood caries, highlighting<br />

the early diagnosis in a way that allows to act in a phase where<br />

cavity is not yet present.<br />

Conclusion: due to the actual un<strong>de</strong>rstanding, <strong>de</strong>ntal caries<br />

can be better diagnosed in earlier stages. This issue can result<br />

in preventing cavity formation and easier control of the disease.<br />

Paediatricians can play a major role in referring, to the<br />

<strong>de</strong>ntal office, patients with <strong>de</strong>ntal caries precavitated lesions.<br />

Key Words: <strong>de</strong>ntal caries, caries aetiology, caries physio -<br />

pathology, caries diagnosis.<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):253-9<br />

Introdução<br />

Durante o seu <strong>de</strong>senvolvimento, consi<strong>de</strong>ra-se que as crianças<br />

e adolescentes apresentam três tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntição, a <strong>de</strong>ntição<br />

<strong>de</strong>cídua, a <strong>de</strong>ntição mista e a <strong>de</strong>ntição <strong>de</strong>finitiva. De acordo<br />

com o entendimento actual da doença cárie <strong>de</strong>ntária, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que o primeiro <strong>de</strong>nte erupciona na cavida<strong>de</strong> oral, ou em qualquer<br />

altura após este marco, a criança po<strong>de</strong> começar a mani-<br />

Correspondência:<br />

Paulo Melo<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina Dentária da Universida<strong>de</strong> do Porto<br />

Rua Dr. Manuel Pereira da Silva<br />

4200-393 Porto<br />

Telefone: 351 22 090 11 00<br />

paulomelo@netcabo.pt<br />

253


Acta Pediatr Port 2008:39(6):253-9 Melo P et al – Cárie Dentária<br />

festar os primeiros sinais da doença. Depois <strong>de</strong> instalada, a<br />

cárie <strong>de</strong>ntária pela sua infecciosida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> atravessar as três<br />

<strong>de</strong>ntições, sendo transmitida <strong>de</strong>ntro da cavida<strong>de</strong> oral <strong>de</strong> <strong>de</strong>nte<br />

para <strong>de</strong>nte, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nte <strong>de</strong>cíduo (<strong>de</strong> leite)<br />

ou <strong>de</strong>finitivo1 .<br />

Sabe-se que a cárie <strong>de</strong>ntária é, a par das periodontopatias,<br />

uma doença com alta prevalência, que atinge a quase tota -<br />

lida<strong>de</strong> das pessoas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da raça, sexo, ida<strong>de</strong><br />

ou condição social 2,3 . Por consi<strong>de</strong>rar que existe uma necessida<strong>de</strong><br />

premente <strong>de</strong> intervir mais activamente nas doenças da<br />

cavida<strong>de</strong> oral, em 2007 a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

(OMS) emitiu recomendações claras para que todos os países<br />

do mundo contemplassem no seu orçamento uma verba anual<br />

significativa para a Saú<strong>de</strong> Oral (Resolução A60 R17 da<br />

Assembleia Geral da OMS <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2007).<br />

Tratando-se <strong>de</strong> uma doença ubiquitária, embora com gran<strong>de</strong>s<br />

variações geográficas 4,5 , a cárie <strong>de</strong>ntária influencia <strong>de</strong>sfavoravelmente<br />

a saú<strong>de</strong> geral do indivíduo ao diminuir a função<br />

mastigatória, alterar o <strong>de</strong>senvolvimento psicossocial e <strong>de</strong> todo<br />

o organismo, alterar a estética facial, provocar perturbações<br />

fonéticas, causar dor e originar complicações infecciosas com<br />

repercussões locais e gerais2 . Os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> provo -<br />

cados pela cárie <strong>de</strong>ntária têm também repercussões sócio-económicas<br />

pelo elevado custo do seu tratamento, pelas suas<br />

sequelas locais e gerais e pelo absentismo no trabalho e na<br />

escola.<br />

Este artigo tem como objectivo <strong>de</strong>screver o que se passa na<br />

cavida<strong>de</strong> oral e na estrutura <strong>de</strong>ntária durante o processo ca -<br />

rioso, antes do <strong>de</strong>nte apresentar uma cavida<strong>de</strong>, aproveitando<br />

para abordar a sua etiologia, fisiopatologia, uma forma específica<br />

<strong>de</strong> expressão da doença na infância e a metodologia <strong>de</strong><br />

diagnóstico a adoptar.<br />

1 - Cárie Dentária – Epi<strong>de</strong>miologia e Estratégias <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> Oral em crianças e adolescentes<br />

Pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar a cárie <strong>de</strong>ntária e <strong>de</strong> dar res -<br />

posta às repercussões da doença, ao longo do último século, a<br />

Medicina Dentária em geral e a Cariologia em particular têm<br />

evoluído significativamente6 .<br />

No início da segunda meta<strong>de</strong> do século XX, começou a ser<br />

melhor entendido o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da cárie<br />

<strong>de</strong>ntária, a sua etiologia e as potencialida<strong>de</strong>s cariostáticas do<br />

flúor. Desse conhecimento, nasceram os primeiros programas<br />

preventivos para combater este flagelo 7 , que associavam a<br />

fluoretação das águas <strong>de</strong> consumo com medidas que inter -<br />

feriam com os hábitos alimentares e <strong>de</strong> higiene oral das populações.<br />

Os países mais <strong>de</strong>senvolvidos foram os primeiros a<br />

adoptar tais medidas, posteriormente complementadas com<br />

outras atitu<strong>de</strong>s preventivas como, por exemplo, a aplicação <strong>de</strong><br />

selantes <strong>de</strong> fissuras e a introdução das pastas <strong>de</strong>ntífricas fluoretadas.<br />

No entanto, apesar <strong>de</strong> vários estudos referirem um <strong>de</strong>clínio<br />

da cárie <strong>de</strong>ntária na maioria dos países industrializados,<br />

alguns estudos mais recentes referem o aumento dos índices<br />

<strong>de</strong> cárie nos países que melhores resultados tinham consegui-<br />

254<br />

do, até ao momento, no controle da doença8 . Para além disso,<br />

consi <strong>de</strong>ra-se que a doença continua a ter uma alta preva -<br />

lência nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos e em certas etnias e grupos<br />

populacionais mais <strong>de</strong>sfavorecidos dos países indus -<br />

trializados 9-13 .<br />

Esta constatação levantou <strong>de</strong> novo a questão do problema da<br />

abordagem da cárie <strong>de</strong>ntária, relançando as dúvidas sobre<br />

qual o melhor meio para a prevenir e tratar 14,15 .<br />

Os estudos epi<strong>de</strong>miológicos têm sido preferencialmente realizados<br />

em crianças <strong>de</strong> 6 anos, para avaliar o estado em que se<br />

encontra a <strong>de</strong>ntição <strong>de</strong>cídua, e <strong>de</strong> 12 anos, para a <strong>de</strong>ntição<br />

<strong>de</strong>finitiva. Aliás, os resultados obtidos aos 12 anos, servem<br />

como padrão para classificação do estado em que se encontra<br />

a população observada.<br />

Para a quantificação da doença cárie <strong>de</strong>ntária utiliza-se o ín -<br />

dice CPOD que regista o número <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes cariados, perdidos<br />

e obturados observados num <strong>de</strong>terminado momento, repor -<br />

tando assim a história da doença da pessoa observada, ou seja,<br />

da sua experiência <strong>de</strong> cárie. A prevalência da doença é obtida<br />

com a percentagem da população observada que apresenta<br />

pelo menos um <strong>de</strong>nte cariado, perdido ou obturado16 .<br />

Estima-se que a cárie <strong>de</strong>ntária afecte 60-90% das crianças em<br />

ida<strong>de</strong> escolar e a maior parte dos adultos, uma vez que é uma<br />

doença cumulativa. Face a estes dados, e <strong>de</strong> acordo com o<br />

relatório da OMS <strong>de</strong> 2003, a cárie <strong>de</strong>ntária continua a ser um<br />

grave problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública na maior parte dos países<br />

industrializados17 .<br />

Também segundo dados da OMS, no ano 2000, 68% dos 184<br />

países analisados apresentavam um índice CPOD inferior a 3<br />

aos 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> 18 . Estes dados, confirmam que as diversas<br />

populações se encontram em patamares diferentes <strong>de</strong><br />

experiência e prevalência da doença, pelo que as atitu<strong>de</strong>s a<br />

adoptar em cada país <strong>de</strong>verão logicamente ser individuali -<br />

zadas e implementadas em função dos valores <strong>de</strong> prevalência<br />

da cárie <strong>de</strong>ntária aí encontrados.<br />

Assim, recentemente, a OMS, a Fe<strong>de</strong>ração Dentária<br />

Internacional (FDI), e a International Association for Dental<br />

Research (IADR) propuseram os objectivos para o ano 2020,<br />

on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ia base é “Pensar globalmente, agir localmente” 19 .<br />

Em Portugal, o índice CPOD aos 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, em 1999,<br />

era 3,1, segundo a OMS18 , 2,95, segundo a Direcção Geral <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> e 1,5, segundo Almeida 20 . Num estudo realizado em<br />

Vizela em 1999 o autor encontrou um valor <strong>de</strong> 3,8 em crianças<br />

<strong>de</strong> 9 anos21 . Com estes resultados Portugal é consi<strong>de</strong>rado<br />

um país com uma experiência <strong>de</strong> cárie mo<strong>de</strong>rada, bem dis -<br />

tante dos países mais <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

A este facto não está alheio o total abandono a que foi votada<br />

a Saú<strong>de</strong> Oral no país. Até ao corrente ano, não havia qualquer<br />

estratégia <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Oral que englobasse toda a população,<br />

nem um <strong>de</strong>partamento que pensasse no problema duma forma<br />

sistematizada e com objectivos claros6 . Mesmo o Plano<br />

Nacio nal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> 2004-2010 aborda o assunto <strong>de</strong> uma forma<br />

tímida, como se tratasse dum problema <strong>de</strong> menor dimensão.<br />

Em Portugal Continental, existem programas <strong>de</strong> promoção e<br />

prevenção <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Oral nas escolas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1986, inseridos na


Acta Pediatr Port 2008:39(6):253-9 Melo P et al – Cárie Dentária<br />

Saú<strong>de</strong> Escolar, mas a sua dimensão é muito limitada, dado<br />

que se tem verificado uma escassez <strong>de</strong> acções <strong>de</strong> promoção e<br />

prevenção da saú<strong>de</strong> oral por parte das equipas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> escolar<br />

em gran<strong>de</strong> parte do território. Em muitos locais para além<br />

das equipas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> escolar estarem limitadas por falta <strong>de</strong><br />

meios materiais e humanos, verifica-se a total ausência <strong>de</strong><br />

apoio Médico Dentário nos Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Apesar <strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> 1999, o Programa <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> Oral em Crianças e Adolescentes (PPSOCA) contemplar<br />

uma vertente curativa, através da contratualização com<br />

médicos <strong>de</strong>ntistas, apenas abrangeu no máximo 50.000 crianças/ano,<br />

o que é escasso para um universo estimado em cerca<br />

<strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> crianças.<br />

Como resultado <strong>de</strong>sta estratégia, existem muitos locais em<br />

que a prevalência e a experiência <strong>de</strong> cárie são elevados e o<br />

Médico <strong>de</strong> Família, o Pediatra, ou o Professor, não têm capacida<strong>de</strong><br />

para resolver os gravíssimos problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> oral<br />

<strong>de</strong> algumas crianças, dada a ausência <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> encaminhamento<br />

no âmbito do Sistema Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>6 .<br />

O actual Programa Nacional <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Oral<br />

(PNPSO) para crianças e adolescentes, no qual o autor parti ci -<br />

pou na sua concepção, teve o seu início em 2006 e carece <strong>de</strong><br />

uma leitura especializada na sua vertente <strong>de</strong> acompanha mento e<br />

tratamento, para po<strong>de</strong>r ser eficaz na sua essência. Como, até ao<br />

momento, essa leitura não foi efectuada por uma parte significa -<br />

tiva das pessoas responsáveis pela sua implementação no cam -<br />

po, este programa encontra-se a funcionar com graves lacunas.<br />

2- Etiologia da cárie <strong>de</strong>ntária<br />

A cárie <strong>de</strong>ntária é uma doença <strong>de</strong> origem polimicrobiana 22,23 e<br />

<strong>de</strong> carácter multifactorial, o que significa que é necessária a<br />

interacção <strong>de</strong> vários factores, em condições críticas, durante<br />

um certo período <strong>de</strong> tempo, para que ela se expresse clinicamente<br />

24 . Ou seja, não basta que os factores relacionados com<br />

o “agente”, <strong>de</strong> que fazem parte os microorganismos cariogénicos,<br />

estejam presentes23,25,22,26,27 , também é necessária a presença<br />

dos outros dois factores primários relacionados com o<br />

“hospe<strong>de</strong>iro” e com o “ambiente”, tendo que permanecer,<br />

estes três factores, conjugados por um <strong>de</strong>terminado período<br />

<strong>de</strong> tempo para a ocorrência das lesões <strong>de</strong> cárie e seu posterior<br />

<strong>de</strong>senvolvimento23,22,27 . Os factores relacionados com o hospe<strong>de</strong>iro<br />

têm em linha <strong>de</strong> conta os tecidos <strong>de</strong>ntários susceptíveis<br />

à dissolução ácida 22,23,25-27 e a saliva 23,26 . Por último, os factores<br />

relacionados com o ambiente envolvem o substracto a<strong>de</strong>quado<br />

à satisfação das necessida<strong>de</strong>s energéticas das bactérias<br />

cariogénicas, ou seja, os hidratos <strong>de</strong> carbono 22,23,25-27 . É isso<br />

que po<strong>de</strong>mos observar na clássica “Tría<strong>de</strong>” <strong>de</strong> Paul Keyes16 .<br />

Então, os factores etiológicos da cárie <strong>de</strong>ntária po<strong>de</strong>m ser<br />

agrupados em duas gran<strong>de</strong>s categorias: factores primários<br />

essenciais, indispensáveis à ocorrência da doença e já mencionados,<br />

e factores secundários, que influenciam mais ou menos<br />

significativamente a evolução das lesões22,26 . De salientar,<br />

todavia, que os factores secundários, actuando isoladamente<br />

ou em combinação, influenciam também, <strong>de</strong> modo importante,<br />

cada um dos factores primários e po<strong>de</strong>m interferir no processo<br />

<strong>de</strong> aparecimento e <strong>de</strong>senvolvimento da cárie <strong>de</strong>ntária.<br />

Existem inúmeros factores secundários, sendo os mais importantes,<br />

a presença <strong>de</strong> flúor na cavida<strong>de</strong> oral, a higiene oral, o<br />

estatuto socioeconómico, o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> geral e a predisposição<br />

genética.<br />

Todas estas interacções (dinâmicas e complexas) entre os factores<br />

primários e secundários, resultam num aumento ou<br />

diminuição da resistência do hospe<strong>de</strong>iro, da carioginecida<strong>de</strong><br />

do substrato (dieta) e do potencial cariogénico da microbiota;<br />

ou por outras palavras os factores secundários po<strong>de</strong>m modular<br />

a activida<strong>de</strong> da cárie16,26 .<br />

Recentemente, Bratthall28 , exemplificou o conceito da multifactorieda<strong>de</strong><br />

da doença cárie, criando um mo<strong>de</strong>lo explicativo<br />

que ilustra graficamente as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interacção dos<br />

factores etiológicos e moduladores (secundários) que po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>terminar o nível <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> cariogénica e o risco do aparecimento<br />

<strong>de</strong> lesões cariosas. O cariograma ( Figura 1.1 a 1.3)<br />

é constituído por um círculo dividido em três sectores, cada<br />

um <strong>de</strong>les representando factores capazes <strong>de</strong> influenciar fortemente<br />

a activida<strong>de</strong> cariogénica: a microbiota, a dieta e a susceptibilida<strong>de</strong><br />

do hospe<strong>de</strong>iro à doença. Os sectores <strong>de</strong>scritos<br />

por Bratthall correspon<strong>de</strong>m aos três círculos <strong>de</strong> Paul Keyes28 ,<br />

sendo que o cariograma apresenta algumas semelhanças com<br />

os círculos <strong>de</strong> Keyes, mas difere no facto <strong>de</strong> que é possível<br />

separar o impacto dos factores <strong>de</strong> risco do indivíduo28 .<br />

Figura 1.1 Figura 1.2 Figura 1.3<br />

Figura 1 – Côr vermelha: sector bacteriano; côr azul: sector susceptibilida<strong>de</strong><br />

do hospe<strong>de</strong>iro côr roxa: sector da dieta<br />

Figura 1.1 – Representação <strong>de</strong> uma situação na qual lesões cariosas<br />

po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>senvolver-se. Círculo fechado: Interacção dos factores<br />

em condições críticas.<br />

Figura 1.2 – Está a “faltar algo” em diferentes sectores. Círculo aberto:<br />

Não <strong>de</strong>verão ocorrer lesões cariosas.<br />

Figura 1.3 – Ilustração <strong>de</strong> uma situação em que é muito alto o risco<br />

<strong>de</strong> aparecimento <strong>de</strong> lesões cariosas. No caso, a microbiota cariogê -<br />

nica (sector bacteriano) é muito abundante e está a “invadir” e a<br />

sobrepor-se, aumentando a susceptibilida<strong>de</strong>.<br />

Portanto, quando o carácter multifactorial da cárie <strong>de</strong>ntária é<br />

encarado numa perspectiva ecológica, a prevalência e a quanti -<br />

da<strong>de</strong> da doença (experiência <strong>de</strong> cárie) vão ser <strong>de</strong>ter minadas pela<br />

relação dinâmica entre os múltiplos factores etiológicos22 .<br />

No recém-nascido e durante a primeira infância, po<strong>de</strong> mani -<br />

fes tar-se um tipo específico <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária, a Cárie Precoce<br />

<strong>de</strong> Infância (CPI) que reflecte condições específicas que se<br />

conjugam nesse indivíduo e que têm como resultado final um<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição do <strong>de</strong>nte muito mais agres sivo e rápido<br />

(cárie rompante) 29,30 (Figura 2).<br />

Os factores etiológicos parecem estar relacionados com a transmissão<br />

das bactérias patogénicas (o “agente”) por parte do progenitor,<br />

ou tutor - a mãe, normalmente –, o hábito <strong>de</strong> adormecer<br />

com o biberão, ou chupeta com açúcar, mel ou outro hidrato<br />

<strong>de</strong> carbono altamente cariogénico (o “am biente”) e a maior<br />

susceptibilida<strong>de</strong> da estrutura <strong>de</strong>ntária (o “hospe <strong>de</strong>iro”) 29-31 .<br />

255


Acta Pediatr Port 2008:39(6):253-9 Melo P et al – Cárie Dentária<br />

Figura 2 – Cárie Precoce <strong>de</strong> Infância grave<br />

3 – Fisiopatologia da cárie <strong>de</strong>ntária<br />

A expressão clínica da cárie <strong>de</strong>ntária é o resultado <strong>de</strong> uma<br />

acumulação <strong>de</strong> múltiplos eventos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização e remineralização,<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados ao longo do tempo. Estes eventos<br />

resultam do metabolismo bacteriano na superfície <strong>de</strong>ntária e,<br />

se persistirem no sentido da <strong>de</strong>smineralização, po<strong>de</strong>rão levar<br />

a uma perda <strong>de</strong> estrutura mineral e, por vezes, a uma fase <strong>de</strong><br />

cavitação6 .<br />

Para Fejerskov32 e Pitts33 a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária é<br />

muito imprecisa, dado que engloba diversos estádios <strong>de</strong> dissolução<br />

mineral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a simples lesão branca <strong>de</strong> esmalte até<br />

à fase <strong>de</strong> cavitação (Figura 3), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da maior ou menor<br />

sensibilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong> dos métodos <strong>de</strong> diagnóstico.<br />

Figura 3 – Dente do meio - inicio da <strong>de</strong>smineralização; <strong>de</strong>nte da<br />

esquerda –<strong>de</strong>smineralização mais acentuada; <strong>de</strong>nte da direita – cavida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cárie<br />

A presença da placa bacteriana sobre a superfície do <strong>de</strong>nte,<br />

para a doença cárie <strong>de</strong>ntária se <strong>de</strong>senvolver, é fundamental na<br />

sua fase inicial 30,34 . Ao metabolizar os carbohidratos que vão<br />

permanecer na cavida<strong>de</strong> oral por algum tempo, alguns dos<br />

grupos <strong>de</strong> bactérias presentes na placa, como os Streptococcus<br />

mutans (que incluem as espécies St. mutans e St. Sobrinus) e<br />

os Lactobacilos, que são acidófilos e acidogénicos, vão fermentar<br />

a glicose, sacarose e frutose, hidratos <strong>de</strong> carbono 32,34 .<br />

Este processo provoca uma <strong>de</strong>scida sustentada <strong>de</strong> pH na cavida<strong>de</strong><br />

oral durante cerca <strong>de</strong> quarenta e cinco minutos pois origina<br />

ácidos como o láctico, acético, propiónico e fórmico.<br />

Consequente ocorre a diminuição do pH na interface placa-<br />

256<br />

esmalte, po<strong>de</strong>ndo levar à dissolução do fosfato <strong>de</strong> cálcio do<br />

esmalte dos <strong>de</strong>ntes susceptíveis 15,35 .<br />

Neste processo, o cálcio e o fosfato são libertados para o meio<br />

externo 15,35 pelos minerais dissolvidos quando o ácido difun<strong>de</strong><br />

através do esmalte permeável (ou <strong>de</strong>ntina, se estiver exposta),<br />

resultando numa <strong>de</strong>smineralização ou perda <strong>de</strong> mineral36 (Figura 4).<br />

Figura 4 – Representação esquemática da produção <strong>de</strong> ácido pela<br />

placa bacteriana, seguida da <strong>de</strong>smineralização da estrutura mineral<br />

do <strong>de</strong>nte<br />

Se as características da saliva forem normais, a sua capaci -<br />

da<strong>de</strong> tampão reporá, ao fim <strong>de</strong> 45 minutos, o pH para valores<br />

normais no meio e os minerais disponíveis na cavida<strong>de</strong> oral<br />

remineralizarão as zonas em que ocorreu uma primeira <strong>de</strong>smineralização,<br />

evitando assim a formação <strong>de</strong> uma lesão <strong>de</strong> cárie.<br />

Os fenómenos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização e remineralização suce<strong>de</strong>m-se<br />

em cada ingestão <strong>de</strong> hidratos <strong>de</strong> carbono, po<strong>de</strong>ndo<br />

ocorrer um <strong>de</strong>sequilíbrio no sentido da <strong>de</strong>smineralização<br />

quando, por exemplo, a ingestão <strong>de</strong> hidratos <strong>de</strong> carbono se<br />

suce<strong>de</strong> com num espaço <strong>de</strong> tempo curto <strong>de</strong>mais para permitir<br />

que a remineralização ocorra. Portanto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da acção<br />

<strong>de</strong> factores patológicos ou <strong>de</strong> protecção, o balanço <strong>de</strong>ssa<br />

acção dinâmica po<strong>de</strong> pen<strong>de</strong>r para a formação <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong><br />

cárie <strong>de</strong>ntária (Figura 5) 32,33,35 .<br />

Figura 5 – Diagrama esquemático do balanço entre os factores patológicos<br />

e protectores no processo <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária (Featherstone JD<br />

2004)<br />

A composição do esmalte, no caso das crianças e adoles centes,<br />

também assume particular importância, pois os cristais que o<br />

compõem apresentam uma quantida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> impurezas<br />

mal o <strong>de</strong>nte acaba <strong>de</strong> erupcionar, tornando-o um <strong>de</strong>nte mais<br />

susceptível à <strong>de</strong>smineralização. Efectivamente neste período<br />

pós-eruptivo os cristais <strong>de</strong> esmalte são constituídos por hidroxiapatite<br />

carbonatada. Só cerca <strong>de</strong> 2 anos após a erupção os<br />

cristais <strong>de</strong> esmalte adquirem uma resistência maior à <strong>de</strong>smineralização,<br />

que é <strong>de</strong>nominada a maturação pós-eruptiva. Neste<br />

caso, fruto dos processos permanentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização-


Acta Pediatr Port 2008:39(6):253-9 Melo P et al – Cárie Dentária<br />

remineralização, as impurezas vão sendo retiradas e vão-se formando<br />

cristais <strong>de</strong> hidroxiapatite ou <strong>de</strong> fluorapatite que conferem<br />

uma resistência crescente do esmalte à <strong>de</strong>smineralização.<br />

A primeira manifestação clínica da cárie <strong>de</strong>ntária resulta da <strong>de</strong>smineralização<br />

subsuperficial da área afectada e <strong>de</strong>no mina-se<br />

“lesão branca do esmalte”. Na lesão subsuperficial po<strong>de</strong> resultar<br />

a perda <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 50% da composição mineral do es malte,<br />

mantendo a sensação <strong>de</strong> que a camada superficial se encontra<br />

íntegra 37-40 , mas alterando a sua tonalida<strong>de</strong>. Esta tonalida<strong>de</strong> da<br />

lesão resulta da perda <strong>de</strong> mineral, que al tera o índice <strong>de</strong> refracção<br />

relativamente ao esmalte normal, apa recendo agora com<br />

um aspecto branco leitoso (Figura 3) 6,41 .<br />

Quando as lesões <strong>de</strong> cárie são diagnosticadas neste estádio,<br />

ainda é possível reverter a situação sem que se estabeleça uma<br />

cavida<strong>de</strong>. Actualmente existem meios <strong>de</strong> intervir nesta fase,<br />

possibilitando a remineralização do <strong>de</strong>nte e contrariando a<br />

acção dos factores cariogénicos.<br />

Quando este processo, que se inicia no esmalte e não é controlado,<br />

po<strong>de</strong> continuar até à <strong>de</strong>ntina, <strong>de</strong>struindo gradual -<br />

mente a estrutura <strong>de</strong>ntária e originando a cavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cárie.<br />

4 – Diagnóstico <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária<br />

Ao alterar o paradigma da cárie <strong>de</strong>ntária, aceitando estes<br />

novos conceitos, passa a ser fundamental a noção da exis -<br />

tência <strong>de</strong> lesões não cavitadas para o diagnóstico precoce da<br />

doença6,35 . Esse diagnóstico passa pelo entendimento da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar a doença e não o <strong>de</strong>nte, e que não existem<br />

indivíduos imunes à doença, a cárie <strong>de</strong>ntária po<strong>de</strong> atingir<br />

qualquer indivíduo em qualquer fase da sua vida42 .<br />

Ao i<strong>de</strong>ntificar precocemente a doença, existe a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> intervir e reverter a situação promovendo a reminerali -<br />

zação da estrutura <strong>de</strong>ntária, sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a per<strong>de</strong>r.<br />

O papel do pediatra po<strong>de</strong> ser prepon<strong>de</strong>rante no <strong>de</strong>spiste e controlo<br />

da doença nos primeiros anos <strong>de</strong> vida e sempre que ocorram<br />

condições para que o equilíbrio seja perturbado35 . Por tanto<br />

a primeira preocupação que <strong>de</strong>verá existir é em i<strong>de</strong>ntificar, nos<br />

indivíduos com baixa experiência <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária ou que se<br />

encontram numa fase estável, os primeiros sinais duma lesão <strong>de</strong><br />

cárie <strong>de</strong>ntária, ou seja, as lesões <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização (Figura 3).<br />

A <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>stas lesões significa que está a ocorrer uma alteração<br />

do equilíbrio ecológico da cavida<strong>de</strong> oral e que é ne ces sária<br />

uma intervenção rápida no sentido <strong>de</strong> tentar reverter a situação43 .<br />

A presença <strong>de</strong> lesões cavitadas é um sinal <strong>de</strong> que algo <strong>de</strong> grave<br />

está a acontecer e que a intervenção já vai obrigar a procedimentos<br />

restauradores com obturação das cavida<strong>de</strong>s.<br />

Convém alertar que nem sempre o diagnóstico po<strong>de</strong> ser realizado<br />

com facilida<strong>de</strong>, pois também existem casos <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong>s<br />

que se <strong>de</strong>senvolvem na <strong>de</strong>ntina, mantendo o esmalte praticamente<br />

todo integro (Figura 6).<br />

O pediatra acompanha o <strong>de</strong>senvolvimento da criança até à<br />

adolescência, durante este período verifica-se a erupção <strong>de</strong><br />

todos os <strong>de</strong>ntes na cavida<strong>de</strong> oral, havendo alguns que são<br />

mais susceptíveis a <strong>de</strong>smineralizar durante o seu processo <strong>de</strong><br />

maturação pós-eruptiva e sobre os quais <strong>de</strong>verá ser prestada<br />

maior atenção.<br />

Figura 6 – <strong>de</strong>nte com cárie <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntina e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> removido o tecido<br />

cariado<br />

A cárie precoce <strong>de</strong> infância é a manifestação mais precoce da<br />

cárie <strong>de</strong>ntária (Figura 7) e po<strong>de</strong> ser diagnosticada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

erupção do primeiro <strong>de</strong>nte até aos 48 meses 30 . Nesta ida<strong>de</strong> o<br />

primeiro sinal <strong>de</strong> doença é a <strong>de</strong>smineralização (mancha branca)<br />

ou mesmo já uma cavida<strong>de</strong> encontrada em qualquer incisivo<br />

superior. Esta forma <strong>de</strong> manifestação da cárie <strong>de</strong>ntária<br />

tem a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser bastante rápida e agressiva, resultando<br />

na <strong>de</strong>struição das coroas dos <strong>de</strong>ntes anteriores em<br />

pouco tempo (cárie rompante) 29 (Figura 2). Para a resolução<br />

<strong>de</strong>ste problema, pela complexida<strong>de</strong> da situação, os pais da<br />

criança <strong>de</strong>vem ser alertados para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrigir os<br />

<strong>de</strong>svios alimentares que se encontram na origem da doença e<br />

a criança <strong>de</strong>ve ser encaminhada para o médico <strong>de</strong>ntista (odontopediatra)<br />

on<strong>de</strong> mais facilmente se po<strong>de</strong>rá tentar controlar ou<br />

<strong>de</strong>belar a doença.<br />

Figura 7 – Cárie Precoce <strong>de</strong> Infância<br />

Existem mais duas fases muito importantes em que os pediatras<br />

<strong>de</strong>verão estar atentos aos primeiros molares permanentes<br />

entre os 5 e os 8 anos e aos segundos molares permanentes<br />

entre os 11 e os 14 anos.<br />

5 – Papel do pediatra<br />

Depois <strong>de</strong> diagnosticados os problemas, o médico <strong>de</strong> família, ou<br />

o pediatra, <strong>de</strong>veria proce<strong>de</strong>r à orientação preventiva e ao encaminhamento<br />

do paciente para realizar os tratamentos necessários.<br />

No entanto, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que lidam diaria -<br />

mente com a população constatam que a saú<strong>de</strong> oral está a piorar<br />

gradualmente, sem que haja gran<strong>de</strong>s hipóteses <strong>de</strong> encaminhamento<br />

no âmbito do SNS. Na impossibilida<strong>de</strong> do doente recorrer<br />

à consulta privada <strong>de</strong> medicina <strong>de</strong>ntária, existem alguns conselhos<br />

preventivos que <strong>de</strong>vem ser passados a qualquer paciente<br />

e nos quais o pediatra po<strong>de</strong>rá ter um papel prepon<strong>de</strong>rante.<br />

A primeira questão relaciona-se com higiene oral e a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se terem que realizar, pelo menos, duas escovagens<br />

257


Acta Pediatr Port 2008:39(6):253-9 Melo P et al – Cárie Dentária<br />

diárias com pasta <strong>de</strong>ntífrica fluoretada, logo a partir da erupção<br />

dos primeiros <strong>de</strong>ntes (PNPSO). É fundamental que uma<br />

<strong>de</strong>las seja mesmo antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar, pois durante a noite diminui<br />

a nossa secreção salivar e concomitantemente as nossas <strong>de</strong>fesas,<br />

se coexistirem restos alimentares e bactérias cariogé -<br />

nicas44 . O uso <strong>de</strong> uma pastilha elástica sem açúcar po<strong>de</strong> funcionar<br />

como uma medida protectora para a cárie <strong>de</strong>ntária.<br />

Relativamente à alimentação, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sencorajar-se a intro -<br />

dução <strong>de</strong> açúcar ou outro edulcorante no leite ou na chupeta<br />

da criança mais jovem. Depois, noutras ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ve aconselhar-se<br />

o consumo <strong>de</strong> doces no fim das refeições e não a proibição<br />

da sua ingestão. Os efeitos mais nefastos da ingestão <strong>de</strong><br />

doces acontecem quando eles são ingeridos entre as refeições,<br />

ou seja, quando o pH da cavida<strong>de</strong> oral ainda não está reposto<br />

e a remineralização não se <strong>de</strong>u. Deve evitar-se a ingestão <strong>de</strong><br />

doces que tenham alguma a<strong>de</strong>sivida<strong>de</strong> (tipo gomas, cara -<br />

melos, etc) pois o seu tempo <strong>de</strong> permanência em contacto com<br />

os <strong>de</strong>ntes é muito maior, favorecendo a acção das bactérias<br />

cariogénicas. Também o abuso <strong>de</strong> refrigerantes, que possuem<br />

um pH muito baixo, <strong>de</strong>ve ser controlado35 . Deve sublinhar-se<br />

a importância <strong>de</strong> não ir para a cama com bolachas, leite achocolatado<br />

ou outro tipo <strong>de</strong> alimentos doces pelo mesmo motivo<br />

que é importante escovar os <strong>de</strong>ntes antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar.<br />

Estas são pequenas informações que po<strong>de</strong>m ser fundamentais<br />

para se conseguir combater a cárie <strong>de</strong>ntária e diminuir os índices<br />

actualmente existentes na nossa população6 .<br />

Conclusão<br />

O conhecimento da etiologia e fisiopatologia da cárie <strong>de</strong>ntária<br />

permite compreen<strong>de</strong>r a importância do diagnóstico precoce da<br />

doença. A importância <strong>de</strong>ste resi<strong>de</strong> na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar<br />

a cavitação das lesões e assim po<strong>de</strong>r controlar mais facil mente<br />

a cárie <strong>de</strong>ntária. O Pediatra po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar um papel<br />

<strong>de</strong>terminante na informação, orientação e encaminhamento<br />

dos pacientes com esta doença.<br />

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259


0873-9781/08/39-6/260<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> ARTIGO DE ACTUALIZAÇÃO<br />

Implicações da asma na saú<strong>de</strong> oral infantil<br />

Ana Luísa Costa, Teresa Xavier<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicina Dentária, Estomatologia e Cirurgia Maxilo-Facial da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra<br />

Resumo<br />

A prevalência da asma tem aumentado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong><br />

1980. São vários os autores que sugerem que as crianças<br />

asmáticas têm maior risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverem doenças na cavida<strong>de</strong><br />

oral, <strong>de</strong> que são exemplo a cárie <strong>de</strong>ntária, as doenças<br />

periodontais, a halitose e a má oclusão; no entanto, não existe<br />

consenso nos estudos encontrados. São recomendadas às<br />

crianças, com doenças crónicas sistémicas em geral e com<br />

asma em particular, medidas profilácticas especiais e cons -<br />

tante avaliação da activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cárie e saú<strong>de</strong> periodontal.<br />

Palavras-chave: Asma, saú<strong>de</strong> oral, crianças<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):260-5<br />

Oral health implications of asthma in children<br />

Abstract<br />

The prevalence of asthma has been increasing since 1980s.<br />

Several authors have suggested that asthmatic children are at<br />

higher risk of oral diseases, just like <strong>de</strong>ntal caries, periodontal<br />

diseases, halitosis, malocclusion, but consensus is lacking<br />

among studies. Children with systemic diseases in general<br />

and those with asthma in particular are recommen<strong>de</strong>d to adopt<br />

special prophylactic practices and keep their caries activity<br />

and periodontal health un<strong>de</strong>r constant check.<br />

Key-words: Asthma, oral health, child<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):260-5<br />

Introdução<br />

A asma é, sem dúvida, uma das doenças crónicas mais co -<br />

muns nas crianças em países <strong>de</strong>senvolvidos, sublinhan do-se<br />

a sua elevada e crescente prevalência, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />

raça e género 1-4 ; com alguma surpresa, alguns autores referem-se-lhe<br />

como sendo das poucas patologias que se distribui<br />

<strong>de</strong> forma socialmente equilibrada, isto é, não atinge<br />

maioritariamente os estratos sócio-económicos mais baixos,<br />

Recebido: 24.09.2008<br />

Aceite: 08.10.2008<br />

260<br />

sendo diagnosticada com gran<strong>de</strong> frequência em classes<br />

sociais elevadas.<br />

Há um número crescente <strong>de</strong> evidências que, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong><br />

estudos clínicos ou epi<strong>de</strong>miológicos, sugerem um aumento<br />

significativo <strong>de</strong> patologia oral em crianças asmáticas. Estas<br />

ocorrências patológicas incluem aumento da incidência e<br />

prevalência <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária, alterações morfológicas <strong>de</strong>ntárias<br />

isoladas ou envolvendo todo o aparelho estomatogná -<br />

tico, gengivite, candidíase e alterações da composição e<br />

fluxo salivares3,5-8 .<br />

Uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s neste campo (particularmente<br />

na interpretação <strong>de</strong> estudos) pren<strong>de</strong>-se com a <strong>de</strong>terminação da<br />

razão principal pela qual estas alterações orais realmente<br />

acontecem, nomeadamente se estão relacionadas com o complexo<br />

mecanismo <strong>de</strong> actuação dos diversos fármacos (tipo <strong>de</strong><br />

dispositivos <strong>de</strong> administração, via <strong>de</strong> administração, dose, frequência)<br />

ou se com os factores etiopatogénicos inerentes à<br />

própria doença. Gran<strong>de</strong> parte das investigações revelou-se<br />

inconclusiva. Não há, em Portugal, qualquer estudo que reconhecidamente<br />

procurasse contribuir para o esclarecimento<br />

<strong>de</strong>sta problemática, sendo a maior parte das investigações<br />

relativas aos países escandinavos6 .<br />

Efeitos na saliva<br />

A saliva exerce um papel essencial do ponto <strong>de</strong> vista bioló -<br />

gico; da sua multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funções sublinham-se a acti -<br />

vida<strong>de</strong> enzimática digestiva, acção antimicrobiana, capacida<strong>de</strong><br />

tampão reguladora do pH, a acção protectora relativa aos<br />

tecidos orais, a lubrificação, auxílio na <strong>de</strong>glutição, poten -<br />

ciação da sensação gustativa dos alimentos, eliminação oral<br />

do bolo alimentar e acção facilitadora da remoção dos hidratos<br />

<strong>de</strong> carbono9,10 .<br />

Há importantes sistemas antibacterianos característicos da<br />

saliva, tais como a imunoglobulina A (IgA) secretora ou<br />

outros tipos específicos <strong>de</strong> glicoproteínas com interferência<br />

na a<strong>de</strong>são e eliminação bacterianas, a peroxidase salivar, a<br />

lisozima e a lactoferrina, que condicionam o metabolismo<br />

Correspondência:<br />

Ana Luísa Costa<br />

Av. Bissaya Barreto<br />

3049-075 Coimbra<br />

Telefone 239484183<br />

aluisacosta@sapo.pt


Acta Pediatr Port 2008:39(6):260-5 Costa AL et al – Implicações da asma na saú<strong>de</strong> oral infantil<br />

bacteriano; qualquer alteração susceptível <strong>de</strong> condicionar<br />

estes sistemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa po<strong>de</strong>rá tornar o hospe<strong>de</strong>iro muito<br />

mais vulnerável a patologia oral11 .<br />

Genericamente, dois tipos <strong>de</strong> fluidos são consi<strong>de</strong>rados na<br />

cavida<strong>de</strong> oral; o primeiro, resultante da secreção do conjunto<br />

das glândulas salivares, <strong>de</strong>signa-se <strong>de</strong> saliva; já o fluido oral,<br />

também <strong>de</strong>nominado saliva total, compõe-se não só do pro -<br />

duto <strong>de</strong> secreção glandular, mas também <strong>de</strong> exsudato gengival,<br />

microrganismos e metabolitos, células epiteliais, restos<br />

alimentares e exsudato nasal. A saliva total é a que é habitualmente<br />

encontrada na cavida<strong>de</strong> oral sendo, por isso, objecto <strong>de</strong><br />

estudo do ponto <strong>de</strong> vista clínico, utilizando-se o termo saliva<br />

como sinónimo <strong>de</strong> fluido oral12 .<br />

A administração terapêutica <strong>de</strong> agonistas β2 (normalmente na<br />

forma <strong>de</strong> aerossóis) afecta, entre outros, os receptores adrenérgicos<br />

β1 e β2 das glândulas salivares; se usados <strong>de</strong> forma<br />

prolongada, os efeitos sentidos traduzem-se numa marcada<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses mesmos receptores, com consequências na<br />

secreção <strong>de</strong> proteínas salivares13 .<br />

Foi também observado, após terapia com este grupo, que os<br />

asmáticos possuíam uma resposta diminuída pelo AMPc nos<br />

linfócitos, quando comparados com grupos controlo consi<strong>de</strong>rados<br />

normais; esta alteração foi atribuída à medicação e não<br />

à doença. Para além <strong>de</strong>ste facto há estudos que revelam que,<br />

em crianças asmáticas a quem não se administrou este grupo<br />

<strong>de</strong> fármacos, não foram <strong>de</strong>scritas quaisquer tipos <strong>de</strong> alterações<br />

salivares, nem na composição nem no fluxo13-15 .<br />

Mastigar pastilhas elásticas como forma <strong>de</strong> incrementar a<br />

secreção salivar e compensar os valores <strong>de</strong> baixa <strong>de</strong> pH po<strong>de</strong><br />

não constituir uma alternativa válida, dado o teor elevado <strong>de</strong><br />

sacarose que muitas <strong>de</strong>stas possuem5 . As pastilhas elásticas<br />

contendo hortelã-pimenta, hortelã ver<strong>de</strong> e mentol (agentes<br />

aromatizantes), po<strong>de</strong>rão actuar como estímulos <strong>de</strong>senca <strong>de</strong>an -<br />

tes <strong>de</strong> crise <strong>de</strong> asma através <strong>de</strong> um mecanismo idiossincrá sico,<br />

pelo que <strong>de</strong>vem ser consumidas com precaução16 .<br />

Baseados num aumento <strong>de</strong> estirpes cariogénicas <strong>de</strong> Strepto -<br />

coccus mutans (S. mutans) na saliva, associado a uma diminuição<br />

do fluxo salivar17,18 , há estudos que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que este<br />

tipo <strong>de</strong> pacientes tratados com agonistas adrenégicos β2 <strong>de</strong>verão<br />

merecer cuidados profilácticos especiais3,4,19 , ainda que em<br />

muitos casos não se encontrem valores díspares dos índices da<br />

doença cárie13 .<br />

Diferentes estudos clínicos revelaram uma correlação posi tiva<br />

entre o número <strong>de</strong> colónias <strong>de</strong> Lactobacillus (da placa bacteriana<br />

e saliva) e a existência <strong>de</strong> lesões activas <strong>de</strong> cárie20 ; os<br />

níveis salivares <strong>de</strong> Lactobacillus permitem ainda a sua correlação<br />

com o consumo total <strong>de</strong> hidratos <strong>de</strong> carbono o que não<br />

respeita, exclusivamente, o consumo <strong>de</strong> sacarose12 .<br />

Cárie Dentária<br />

A cárie <strong>de</strong>ntária, patologia infecciosa amplamente <strong>de</strong>scrita<br />

por apresentar, à semelhança do que acontece com asma, elevada<br />

prevalência e gravida<strong>de</strong>, distingue-se pelo carácter póseruptivo<br />

e transmissível, resultando na <strong>de</strong>struição gradual e<br />

centrípeta dos tecidos <strong>de</strong>ntários mineralizados21 . Na fase ini-<br />

cial, é essencial à sua progressão a presença <strong>de</strong> placa bacte -<br />

riana a qual, por fermentação <strong>de</strong> glicose, sacarose e frutose,<br />

produz ácidos (láctico, acético, propiónico e fórmico), com<br />

uma inevitável <strong>de</strong>scida <strong>de</strong> pH à superfície do esmalte; a consequência<br />

é a dissolução do fosfato <strong>de</strong> cálcio presente no<br />

esmalte <strong>de</strong>ntário22 .<br />

A possível reversibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo este processo <strong>de</strong>strutivo<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do grau <strong>de</strong> perda mineral, condicionado por dife -<br />

rentes factores, <strong>de</strong> que são exemplo a capacida<strong>de</strong> tampão da<br />

saliva e o aporte <strong>de</strong> fluoretos.<br />

Resumidamente, trata-se <strong>de</strong> uma solução <strong>de</strong> equilíbrio dinâmico<br />

<strong>de</strong>smineralização-remineralização a que a superfície do<br />

esmalte está permanentemente sujeita no meio oral; qualquer<br />

alteração que favoreça a <strong>de</strong>smineralização po<strong>de</strong>rá originar<br />

lesão <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária12,23 .<br />

A dieta <strong>de</strong>sempenha um papel fundamental na etiologia da<br />

cárie <strong>de</strong>ntária; ainda que alguns estudos não o <strong>de</strong>monstrem<br />

inequivocamente no que toca ao consumo <strong>de</strong> açúcar, outros<br />

<strong>de</strong>finem como essencial a frequência do consumo <strong>de</strong> hidratos<br />

<strong>de</strong> carbono fermentáveis24 . Uma das razões pelas quais se<br />

torna difícil evi<strong>de</strong>nciar esta associação pren<strong>de</strong>-se com a administração<br />

<strong>de</strong> fluoretos.<br />

As bactérias do grupo S. mutans (particularmente S. mutans e<br />

S. sobri nus) são as que possuem maior capacida<strong>de</strong> cariogénica,<br />

colonizando até superfícies lisas; outras bactérias, ainda<br />

que sem esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, colonizam as cavida<strong>de</strong>s<br />

sem necessitarem em exclusivo <strong>de</strong> sacarose para a sua prolife -<br />

ração, como é o caso dos Lactobacillus20,25 .<br />

A influência da dieta na cárie <strong>de</strong>ntária não se <strong>de</strong>ve à dieta propriamente<br />

dita, mas à atitu<strong>de</strong> comportamental. Quando quer a<br />

higiene, quer o aporte <strong>de</strong> fluoretos são a<strong>de</strong>quados, a dieta<br />

passa a exercer um efeito <strong>de</strong> importância relativa, mesmo<br />

assim impossível <strong>de</strong> ignorar26 .<br />

Ainda que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> hidratos <strong>de</strong> carbono possam<br />

ser fermentados pela flora oral, a sacarose adquire aqui especial<br />

relevo; também à consistência, à capacida<strong>de</strong> retentiva e<br />

ao teor <strong>de</strong> elementos cariostáticos da dieta há que dar a <strong>de</strong> vida<br />

atenção, mesmo que, tal como antes <strong>de</strong>monstrado no estudo<br />

<strong>de</strong> Vipeholm, a frequência <strong>de</strong> ingestão seja o factor primordial<br />

no surgimento e na evolução das lesões24,27 , mais até do que o<br />

consumo total.<br />

Paralelamente existe um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> factores que po<strong>de</strong>rão<br />

ser apontados como «secundários» em todo este processo,<br />

nomeadamente os factores sócio-culturais (relação positiva<br />

entre cárie <strong>de</strong>ntária e estratos sócio-económicos ou educa -<br />

cionais mais baixos) 28-30 , higiene oral21,31 , aporte <strong>de</strong> fluoretos12 ,<br />

here ditarieda<strong>de</strong>32 , doenças crónicas, entre outros.<br />

Nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização – remineralização que<br />

ocorrem na cavida<strong>de</strong> oral po<strong>de</strong>rão interferir as doenças crónicas;<br />

aqui, não só os <strong>de</strong>sequilíbrios inerentes à própria doença<br />

mas também factores dietéticos compensatórios, medica -<br />

mentos com sacarose, alterações imunitárias po<strong>de</strong>rão culminar<br />

num aumento da patologia oral23 .<br />

A situação global em termos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Oral na Europa melhorou<br />

substancialmente nas últimas décadas 26,33 ; a percentagem<br />

261


Acta Pediatr Port 2008:39(6):260-5 Costa AL et al – Implicações da asma na saú<strong>de</strong> oral infantil<br />

<strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 5-6 anos livres <strong>de</strong> cárie aumentou mais <strong>de</strong> 50%,<br />

atingindo-se, <strong>de</strong> uma forma geral, o objectivo proposto pela<br />

Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para o ano 2000; nas crianças<br />

<strong>de</strong> 12 anos, passou-se <strong>de</strong> índices <strong>de</strong> cárie altos – mo<strong>de</strong>rados<br />

nos anos 80, para índices <strong>de</strong> cárie mais baixos.<br />

Este <strong>de</strong>créscimo ocorreu sobretudo <strong>de</strong>vido à regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escovagem <strong>de</strong>ntária com <strong>de</strong>ntífricos fluoretados (que passaram<br />

a ser universalmente utilizados), ainda que a prevalência<br />

na população adulta/idosa não tenha sofrido alteração na<br />

mesma proporção do que aconteceu com as crianças33 .<br />

As pesquisas relativas à ligação entre asma e ocorrência <strong>de</strong><br />

lesões <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária não são, <strong>de</strong> todo, unânimes; pelo contrário,<br />

são motivo <strong>de</strong> discórdia e controvérsia6,34 .<br />

Reconhecidamente, existindo risco adicional <strong>de</strong> doença cárie<br />

nestas crianças, este po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ver-se inerentemente à pato -<br />

logia asmática, à medicação para a mesma, ou ainda aos<br />

esforços para minorar as suas sequelas fisiológicas34 .<br />

Se alguns autores <strong>de</strong>screvem como certa esta associação4,6,13,35-39 ,<br />

seja <strong>de</strong>vida à diminuição do fluxo salivar por terapêutica prolongada<br />

com agonistas β2 , seja <strong>de</strong>vida à dieta excepcionalmente<br />

cariogénica e/ou xaropes açucarados, outros não constatam<br />

qualquer conexão entre as duas patologias17,34,40 .<br />

Referenciado tem sido o facto que muitas das crianças medicadas<br />

regularmente para a asma brônquica através <strong>de</strong> dispo -<br />

sitivos <strong>de</strong> inalação <strong>de</strong>senvolvem cárie <strong>de</strong>ntária, sobretudo nos<br />

primeiros molares permanentes41 ; ao serem questionados os<br />

responsáveis pelas crianças <strong>de</strong>ste facto, a maior parte <strong>de</strong>sconhece<br />

a sua composição, nomeadamente a presença <strong>de</strong> açú -<br />

cares, administrando-os, gran<strong>de</strong> parte das vezes, antes <strong>de</strong> dormir,<br />

inclusivamente após a higiene oral. Estes agentes contêm<br />

lactose como transportador e dissipador do mau sabor que<br />

possam eventualmente apresentar34,19,5,8,42 ; ainda que a lactose<br />

apresente um risco menor em termos cariogénicos do que<br />

outros tipos <strong>de</strong> açúcares possui, ainda assim, potencial<br />

cariogé nico, particularmente se associado a fluxo salivar<br />

reduzido17,34 .<br />

Um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> xaropes açucarados, antimicrobianos<br />

ou não, são utilizados nestas crianças (cada vez menos<br />

frequen temente), ou quando estão em causa outro tipo <strong>de</strong><br />

patologias, nomeadamente epilepsia e infecções do tracto<br />

genito-urinário; este facto torna-se importante e apesar <strong>de</strong><br />

alguma contradição em termos <strong>de</strong> resultados obtidos em diferentes<br />

estudos acerca da influência dos xaropes/suspensões<br />

açucaradas na Saú<strong>de</strong> Oral43-45 , a prescrição <strong>de</strong>ve basear-se,<br />

sempre que possível, numa alternativa equivalente em termos<br />

<strong>de</strong> actuação e resultado final, isenta <strong>de</strong> hidratos <strong>de</strong> carbono<br />

fermentáveis43 .<br />

A corticoterapia administrada por via inalatória cronicamente<br />

(e com conteúdo consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> lactose) é ainda apontada<br />

por alguns como um dos factores responsáveis pelo aumento<br />

<strong>de</strong> risco <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> cárie por interferência significativa com<br />

o pH da placa5 ; também os DPI (inaladores <strong>de</strong> pó seco) apresentam<br />

um pH inferior aos pMDI (inaladores pressurizados<br />

doseáveis), atingindo valores abaixo <strong>de</strong> 5,5, indicativo da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interferir com os cristais <strong>de</strong> hidroxiapatite7,8 ,<br />

promovendo a <strong>de</strong>smineralização do esmalte.<br />

262<br />

A medicação inalatória po<strong>de</strong>, por si, alterar a homeostase oral,<br />

consoante as características acídicas que eventualmente possua;<br />

os estudos in vivo até ao momento efectuados assim o traduzem8<br />

, se bem que insuficientes para que, com segurança,<br />

chegar a uma conclusão única.<br />

Imediatamente após a inalação é verificado um aumento transitório<br />

do pH salivar, provavelmente <strong>de</strong>vido a estimulação<br />

glandular <strong>de</strong> resposta, conduzindo a um ligeiro aumento <strong>de</strong><br />

saliva estimulada, não fosse o ácido um dos estímulos mais<br />

potentes para a sua produção; esta saliva é produzida é ligeiramente<br />

mais alcalina, a não ser que a capacida<strong>de</strong> ácida dos<br />

inaladores exceda a capacida<strong>de</strong> tampão da mesma8 .<br />

Um registo <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> S. mutans e Lactobacillus na saliva<br />

das crianças asmáticas5,18,46,47 influencia obviamente o <strong>de</strong>sen vol -<br />

vimento <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária, não fossem estes os microorganismos<br />

apontados como responsáveis essenciais no<br />

proces so, como <strong>de</strong> resto, já referido.<br />

O risco aumentado <strong>de</strong> hipomineralização em 1ºs molares <strong>de</strong>finitivos<br />

41,48 , resultante ou não <strong>de</strong> alterações no processo <strong>de</strong><br />

mineralização do esmalte por terapêutica corticosterói<strong>de</strong> (à<br />

semelhança do que acontece com o osso) 4 , po<strong>de</strong>rá contribuir<br />

para o incremento <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária.<br />

Alterações periodontais<br />

Em conformida<strong>de</strong> com o que acontece na asma, também a resposta<br />

imunitária – inflamatória é o mecanismo envolvido na<br />

patogénese da doença periodontal e ainda que atinja maioritariamente<br />

adultos, é significativo o número <strong>de</strong> crianças igualmente<br />

afectadas6,11 , mesmo que seja nas formas menos graves<br />

da doença.<br />

As crianças asmáticas, sobretudo aquelas a quem é administrada<br />

beclometasona via inalatória, possuem um aumento<br />

estatisticamente significativo <strong>de</strong> gengivite quando compa -<br />

radas com controlos saudáveis (apenas cerca <strong>de</strong> 10-20% da<br />

dose dos pMDI atinge os pulmões, ficando o remanescente<br />

disperso na orofaringe) 38 ; outros autores referenciam quer o<br />

aumento dos níveis <strong>de</strong> gengivite, também pela respiração<br />

bucal típica <strong>de</strong>stes doentes com a consequente <strong>de</strong>sidratação da<br />

mucosa alveolar6,35,49 , quer a ausência <strong>de</strong> alterações significa -<br />

tivas em termos periodontais nestas crianças17 . Continua, no<br />

entanto, por esclarecer, se esta inflamação gengival se <strong>de</strong>ve<br />

exclusivamente à patologia per se, se aos fármacos admi -<br />

nistrados11 .<br />

Crianças com asma alérgica foram alvo <strong>de</strong> diversos estudos<br />

relativos à condição periodontal14,15,35,49 ; as conclusões referem<br />

um aumento das concentrações <strong>de</strong> IgE na saliva total, bem<br />

como estados <strong>de</strong> inflamação gengival mais graves, quando<br />

comparados com controlos normais, enquanto que o meca -<br />

nismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa potenciado pela peroxidase não se mostrou<br />

alterado.<br />

As reacções <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> imediata, típicas da asma,<br />

po<strong>de</strong>rão estar relacionadas com o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi -<br />

mento da doença periodontal35 , não sendo <strong>de</strong> estranhar altas<br />

concentrações <strong>de</strong> IgE nos tecidos gengivais <strong>de</strong> pacientes com<br />

periodontite49 .


Acta Pediatr Port 2008:39(6):260-5 Costa AL et al – Implicações da asma na saú<strong>de</strong> oral infantil<br />

Risco aumentado na formação <strong>de</strong> cálculos foi também <strong>de</strong>s -<br />

crito 6,17 , por alteração proteica e iónica, com o comprometimento<br />

óbvio da saú<strong>de</strong> periodontal; possivelmente, o acrés -<br />

cimo dos níveis <strong>de</strong> cálcio e fósforo encontrados na saliva<br />

prove niente das glândulas submaxilar e parótida, dão<br />

consistên cia a este facto. Hyyppä, por outro lado, refere não<br />

existir diferença em relação à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cálculos nas<br />

crianças asmáticas35,49 .<br />

Recentemente, também a perda <strong>de</strong> massa óssea foi associada<br />

à corticoterapia inalatória50 , <strong>de</strong>ixando em aberto a possibili -<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> extrapolação no que concerne à doença periodontal11 .<br />

A omissão dos cuidados <strong>de</strong> higiene oral por parte das crianças,<br />

frequente e <strong>de</strong> certa forma ignorada até <strong>de</strong>terminada<br />

ida<strong>de</strong>, é relegada para segundo plano, habitualmente também<br />

pelos pais, que consi<strong>de</strong>ram esta «um mal menor» quando<br />

comparado com a asma, po<strong>de</strong>rá acarretar consequências gravíssimas6<br />

.<br />

Candidíase<br />

A candidíase é uma infecção fúngica oportunista habitualmente<br />

causada pela Candida albicans, comensal encontrado<br />

em cerca <strong>de</strong> 65% das crianças saudáveis, sem que haja <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> manifestação clínica. No<br />

entanto, sob <strong>de</strong>terminadas condições patológicas, este<br />

microrga nismo po<strong>de</strong> proliferar, particularmente na cavida<strong>de</strong><br />

oral, e produzir lesões <strong>de</strong> maior ou menor gravida<strong>de</strong>.<br />

Diferentes factores predisponentes têm vindo a ser i<strong>de</strong>ntifi -<br />

cados: diminuição da secreção salivar, má higiene oral, uso <strong>de</strong><br />

próteses removíveis, antibioterapia crónica, diabetes, terapia<br />

esterói<strong>de</strong> sistémica, alterações imunitárias, linfomas, leu -<br />

cemias e anemia51 .<br />

O relato <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> candidíase orofaríngea como efeito colateral<br />

em pacientes medicados prolongadamente com corticosterói<strong>de</strong>s<br />

inalados é frequente13,35,46,52-55 .<br />

Halitose<br />

A halitose, manifestação patológica socialmente limitativa e<br />

condicionante em termos <strong>de</strong> bem-estar sobretudo para quem a<br />

manifesta, constitui uma das queixas apresentadas por estes<br />

pacientes53,55 , obrigando à tentativa <strong>de</strong> controlo e, se possível,<br />

remissão, após diagnóstico da causa (variável, <strong>de</strong>vida a comprometimento<br />

salivar e/ou higiénico, medicação, patologia oral<br />

concomitante, alterações <strong>de</strong> pH, alimentação, entre outras).<br />

Erosão <strong>de</strong>ntária<br />

A erosão <strong>de</strong>ntária é uma patologia <strong>de</strong> origem multifactorial 56<br />

encontrada com relativa frequência e que, segundo alguns<br />

autores, po<strong>de</strong>rá estar relacionada com a asma, realçando-se o<br />

potencial aumento da prevalência <strong>de</strong> ambas 3,57 . Várias são as<br />

razões apontadas para explicar esta possível relação: o uso<br />

prolon gado <strong>de</strong> agonistas β 2 , com consequente diminuição do<br />

fluxo salivar e alterações <strong>de</strong> paladar; a acção <strong>de</strong>stes mesmos<br />

fár macos (aminofilina e teofilina, sobretudo) causa ainda rela-<br />

xamento muscular liso e, por essa mesma razão, da musculatura<br />

dos esfíncteres esofágicos, incorrendo no surgimento <strong>de</strong><br />

refluxo gastroesofágico, reconhecidamente factor etiológico<br />

<strong>de</strong>terminante nos fenómenos erosivos3,6,52,58 .<br />

Sabe-se, no entanto, que qualquer medicação com baixo pH é<br />

potencialmente causadora <strong>de</strong> erosão <strong>de</strong>ntária por dissolução<br />

cristalina6,59 .<br />

Nas situações <strong>de</strong> refluxo gastroesofágico verifica-se uma perturbação<br />

manifestada por fluxo inverso (retrógrado) do conteúdo<br />

gástrico no estômago, manifestando-se, na clínica, por<br />

queixas <strong>de</strong> azia, regurgitação ou ainda dor retroesternal; po<strong>de</strong><br />

ser uma manifestação fisiologicamente aceite (no lactente,<br />

por exemplo, encarando-se como patológica a partir do<br />

momento em que se torna frequente e abundante), ou estar<br />

associada a irritabilida<strong>de</strong>, alterações pon<strong>de</strong>rais ou anemia por<br />

causa inflamatória <strong>de</strong> origem esofágica. Sintomas extra-esofágicos<br />

po<strong>de</strong>rão também ser referenciados <strong>de</strong>stacando-se nestes<br />

casos, as pneumopatias <strong>de</strong> aspiração, as laringites, tosse<br />

crónica e disfonia.<br />

Frequentemente encontrada em adultos asmáticos, a preva -<br />

lência em crianças é, ainda assim, difícil <strong>de</strong> menosprezar, com<br />

evidências concretas <strong>de</strong> que ambas as patologias se influenciam<br />

e predispõem reciprocamente. De entre os vários mecanismos<br />

favorecedores <strong>de</strong>sta patologia <strong>de</strong> refluxo nos asmáticos,<br />

<strong>de</strong>staca-se o aumento da pressão intrabdominal por hiperinsuflação<br />

pulmonar ou durante a tosse, ou ainda uma eventual<br />

acção colateral atribuída aos diferentes fármacos continuamente<br />

utilizados53 .<br />

Outro aspecto a consi<strong>de</strong>rar pren<strong>de</strong>-se com o aumento do consumo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> bebidas, favorecedoras <strong>de</strong> pH<br />

salivar mais ácido56,60 , por parte <strong>de</strong>stas crianças, como tenta -<br />

tiva <strong>de</strong> compensar a diminuição do fluxo salivar6 .<br />

A baixa capacida<strong>de</strong> tampão salivar, não só por diminuição do<br />

fluxo mas também pela acção medicamentosa56,58 é, segundo<br />

vários autores, outro factor a ter presente5,56,58 .<br />

O padrão <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da erosão <strong>de</strong>ntária encontrado nestes<br />

pacientes é mais acentuado do que aquele <strong>de</strong>scrito em indi -<br />

víduos consi<strong>de</strong>rados normais58 . As superfícies <strong>de</strong>ntárias mais<br />

afectadas por estes fenómenos erosivos são as faces incisais e<br />

oclusais <strong>de</strong> praticamente todos os <strong>de</strong>ntes (particularmente primeiros<br />

molares), mas a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> estrutura<br />

acentua-se nas superfícies linguais <strong>de</strong> incisivos inferiores,<br />

palatinas <strong>de</strong> incisivos superiores, obe<strong>de</strong>cendo ao padrão habitualmente<br />

encontrado em relação aos ácidos extrínsecos3,58 .<br />

Outros estudos efectuados não permitem que sejam retiradas<br />

conclusões a este nível, já que os resultados que apresentam<br />

diferem do anteriormente <strong>de</strong>scrito59,61 .<br />

Má oclusão<br />

A respiração bucal, causada num número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong><br />

casos, por obstrução crónica das vias aéreas é frequente nestas<br />

crianças e po<strong>de</strong>rá resultar em distúrbios <strong>de</strong> equilíbrio<br />

<strong>de</strong>nto-facial 55,62 . Está <strong>de</strong>scrito não serem raras as mordidas<br />

cruzadas posteriores, uni ou bilaterais, a prognatia maxilar, a<br />

rotação posterior da mandíbula, o aumento da altura facial<br />

263


Acta Pediatr Port 2008:39(6):260-5 Costa AL et al – Implicações da asma na saú<strong>de</strong> oral infantil<br />

antero-superior e total nesta população, até certo ponto clinicamente<br />

reversíveis47,55,63 , facto que acentua a importância do<br />

diagnóstico precoce.<br />

Foram referenciados, ainda que raramente, casos <strong>de</strong> hiper -<br />

trofia da língua55 , irritação da garganta e disfonia47 .<br />

Conclusão<br />

O carácter crónico adjacente à asma e à patologia oral inter -<br />

fere seriamente na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da criança e <strong>de</strong> toda a<br />

família, acarreta custos financeiros importantes em cuidados<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e ainda em termos sociais, po<strong>de</strong>ndo ser responsável<br />

por absentismo escolar e profissional.<br />

As necessida<strong>de</strong>s terapêuticas por longos períodos <strong>de</strong> tempo<br />

tornarão essenciais cuidados acrescidos <strong>de</strong> higiene oral, a par<br />

<strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> medidas profilácticas2 . A intervenção precoce<br />

e continuada tornar-se-á fundamental na prevenção <strong>de</strong> lesões<br />

orais, particularmente <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntária, assumindo o Pediatra<br />

um papel fundamental no acompanhamento e encaminha -<br />

mento para a consulta <strong>de</strong> Odontopediatria.<br />

Referências<br />

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265


0873-9781/08/39-6/266<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Resumo<br />

A hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática é uma emer -<br />

gência neurológica que, embora rara em <strong>Pediatria</strong>, comporta<br />

uma gran<strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong>. O seu diagnóstico<br />

exige um grau <strong>de</strong> suspeição elevado, <strong>de</strong>vendo a abordagem<br />

terapêutica ser realizada num centro especializado que disponha<br />

<strong>de</strong> cuidados intensivos pediátricos, com apoio <strong>de</strong> neurocirurgia<br />

e neurorradiologia. Dada a experiência da nossa<br />

Unida<strong>de</strong> no tratamento <strong>de</strong>stes doentes, foi actualizado o protocolo<br />

<strong>de</strong> actuação na hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática<br />

tendo este sido posteriormente aprovado pela Secção dos<br />

Cui dados Intensivos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>,<br />

em Maio <strong>de</strong> 2008. Com este protocolo preten<strong>de</strong>-se sistema -<br />

tizar o diagnóstico e a terapêutica nos doentes com hemorragia<br />

subaracnoi<strong>de</strong>ia.<br />

Palavras-chave: hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia, aneurisma,<br />

vasospasmo<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):266-70<br />

Protocol for the management of non traumatic<br />

subarachnoid haemorrhage<br />

Abstract<br />

Spontaneous subarachnoid hemorrhage is a rare neurologic<br />

emergency in Pediatrics, nonetheless it implies high morbi -<br />

dity and mortality rate. Its diagnosis <strong>de</strong>mands a high <strong>de</strong>gree of<br />

suspicion and its management should be held in specialized<br />

centers with <strong>de</strong>dicated pediatric intensive care units, with<br />

both neurosurgery and neuroradiology consultation. Given<br />

the experience of our Unit in the treatment of these patients,<br />

the protocol on the subject was updated for non-traumatic<br />

subarachnoid hemorrhage and was subsequently approved by<br />

the Chamber of Intensive Care of the Portuguese Society of<br />

Pediatrics in June 2008. With the present protocol the authors<br />

intend to present the diagnostic and therapeutic approach of<br />

pediatric patients with subarachnoid hemorrhage.<br />

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA<br />

CONSENSOS E RECOMENDAÇÕES<br />

Protocolo <strong>de</strong> actuação na hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não<br />

traumática<br />

Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Key-words: subarachnoid hemorrhage, aneurism, va sos -<br />

pasm<br />

Acta Pediatr Port 2008;39(6):266-70<br />

A hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia (HSA) resulta do extrava -<br />

samento <strong>de</strong> sangue para o espaço subaracnoi<strong>de</strong>u e constitui<br />

uma emergência neurológica.<br />

A HSA não traumática é um acontecimento raro em <strong>Pediatria</strong>.<br />

Apenas 5% dos casos <strong>de</strong> HSA ocorrem em menores <strong>de</strong> 20 anos<br />

e apenas 0,5% do total ocorre abaixo dos 10 anos. Ape sar <strong>de</strong><br />

rara, está associada a gran<strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong>.<br />

As causas <strong>de</strong> HSA não traumática, na criança são:<br />

• Aneurismas: embora raros, são a etiologia mais frequente.<br />

A maioria é <strong>de</strong> etiologia idiopática, mas existem<br />

algumas patologias associadas a aneurismas cerebrais<br />

como doenças do colagénio, coartação da aorta, doença<br />

renal poliquística, esclerose tuberosa e infecção pelo<br />

vírus da imuno<strong>de</strong>ficiência humana<br />

• Malformações arterio-venosas (MAV)<br />

Aceite: 27.11.2008 Correspondência:<br />

Brígida Robalo<br />

Departamento da Criança e da Família do Hospital <strong>de</strong> Santa Maria<br />

Avenida Prof. Egas Moniz<br />

1649-035 Lisboa<br />

brigidarobalo@sapo.pt<br />

266<br />

Acrónimos e abreviaturas<br />

ACM – artéria cerebral média<br />

CSWS – cerebral salt-wasting syndrome<br />

DTC – doppler transcraniano<br />

HIC – hipertensão intracraniana<br />

HSA – hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia<br />

SIHAD – secreção inapropriada hormona anti-diurética<br />

HTA – hipertensão arterial<br />

MAV – malformação arteriovenosa<br />

PA – Pressão arterial<br />

PIC – pressão intracraniana<br />

PVC – pressão venosa central


Acta Pediatr Port 2008:39(6):266-70 S. Cuidados Intensivos – Hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática<br />

• Causas mais raras: tumores do sistema nervoso central,<br />

aneurismas micóticos, displasia fibromuscular, discrasias<br />

sanguineas, doença Moyamoya, infecção, vasculite,<br />

idiopática.<br />

Manifestações clínicas:<br />

• Cefaleia muito intensa <strong>de</strong> início súbito<br />

• Náuseas e/ou vómitos<br />

• Sintomas/sinais <strong>de</strong> irritação meníngea<br />

• Fotofobia e alterações visuais<br />

• Alteração do estado <strong>de</strong> consciência, coma<br />

• Convulsão<br />

• Défices neurológicos focais<br />

• E<strong>de</strong>ma da papila, hemorragias da retina, aumento da<br />

pressão arterial (PA), taquicardia ou bradicardia<br />

• Febre<br />

• A hemorragia po<strong>de</strong> ser precedida <strong>de</strong>:<br />

– Hemorragia sentinela – com cefaleia súbita locali -<br />

zada ou generalizada, <strong>de</strong> média ou gran<strong>de</strong> intensi -<br />

da<strong>de</strong> que surge, em média, 2 semanas antes da rotura<br />

do aneurisma. Po<strong>de</strong> acompanhar-se <strong>de</strong> náuseas,<br />

vómitos, fotofobia e dor cervical. Habitualmente, não<br />

ocorre nas MAV<br />

– Efeito <strong>de</strong> massa – po<strong>de</strong>m surgir alterações neuroló -<br />

gicas produzidas pelo efeito <strong>de</strong> massa da lesão vas -<br />

cular em expansão, características da localização da<br />

lesão<br />

Na avaliação da gravida<strong>de</strong> clínica da HSA, são utilizadas escalas<br />

cuja pontuação permite estabelecer uma correlação com o<br />

prognóstico do doente (Quadro I e II) ou com a pro babilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver vasospasmo sintomático (Quadro III).<br />

Quadro I - Escala <strong>de</strong> Hunt e Hess<br />

Descrição Grau<br />

Assintomático, cefaleia ligeira, rigi<strong>de</strong>z terminal da nuca<br />

Cefaleia mo<strong>de</strong>rada/grave, rigi<strong>de</strong>z da nuca, sem défice<br />

1<br />

neurológico para além <strong>de</strong> paresia <strong>de</strong> pares cranianos 2<br />

Tonturas / confusão, défice neurológico focal ligeiro 3<br />

Estupor e/ou hemiparesia mo<strong>de</strong>rada a grave 4<br />

Coma e/ou postura em <strong>de</strong>scerebração 5<br />

Quadro II - Escala da World Fe<strong>de</strong>ration of Neurosurgical<br />

Societies (WFNS)<br />

Escala <strong>de</strong> Coma Glasgow Défice motor Grau<br />

15 Ausente 1<br />

13-14 Ausente 2<br />

13-14 Presente 3<br />

7-12 Presente ou ausente 4<br />

3-6 Presente ou ausente 5<br />

Quadro III - Escala <strong>de</strong> Fisher<br />

Descrição Grau<br />

Sem hemorragia visualizável 1<br />

Deposição difusa <strong>de</strong> sangue no espaço<br />

subaracnoi<strong>de</strong>u, sem coágulos e sem colecções<br />

hemáticas com mais <strong>de</strong> 1 mm 2<br />

Coágulos localizados e/ou colecções hemáticas<br />

com 1 mm ou mais <strong>de</strong> espessura 3<br />

Hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia difusa ou não<br />

visualizável, mas com coágulos intraparenquimatosos<br />

ou intraventriculares 4<br />

Complicações:<br />

• Re-hemorragia<br />

– Nos primeiros dias (sobretudo nas primeiras 24h)<br />

• Vasospasmo<br />

– Desenca<strong>de</strong>ia hipoperfusão cerebral com lesões<br />

secundárias<br />

– Habitualmente entre o 4º-14º dia após HSA<br />

– Cefaleias, défices focais, alteração do estado <strong>de</strong> consciência<br />

– Factores <strong>de</strong> risco: HSA extensa, perda <strong>de</strong> consciência<br />

no episódio inicial, <strong>de</strong>terioração neurológica inicial,<br />

hipertensão arterial (HTA) prévia, aneurisma da artéria<br />

basilar<br />

– Diagnóstico: angiografia e doppler transcraniano<br />

(DTC). O DTC po<strong>de</strong> ser utilizado para avaliar indirectamente,<br />

<strong>de</strong> forma não invasiva, o vasospasmo<br />

através da medição da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fluxo médio na<br />

artéria cerebral média (ACM)<br />

• Hipertensão intra-craniana (HIC) e hidrocefalia<br />

secundária<br />

• Convulsões (mais frequentes se foco hemorrágico intraparenquimatoso)<br />

• Alterações do equilíbrio hidro-electrolítico<br />

– Hiponatremia (cerebral salt-wasting syndrome -<br />

CSWS / secreção inapropriada <strong>de</strong> hormona anti-diurética<br />

- SIHAD)<br />

• Outras complicações: cardíacas, pulmonares...<br />

Diagnóstico (Figura 1):<br />

• Tomografia computorizada crânio-encefálica (TC-CE)<br />

– Sensibilida<strong>de</strong> 98%


Acta Pediatr Port 2008:39(6):266-70 S. Cuidados Intensivos – Hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática<br />

Figura 1 – Algoritmo <strong>de</strong> diagnóstico e terapêutica após HSA<br />

Tratamento<br />

• O tratamento cirúrgico ou endovascular <strong>de</strong>ve ocorrer<br />

nas primeiras 24-48h após HSA, em caso <strong>de</strong> aneurisma;<br />

nos restantes casos a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re-hemorragia é<br />

menor e o tratamento menos urgente.<br />

I. FASE PRÉ-TRATAMENTO<br />

1. Internamento em Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuidados Intensivos<br />

Pediátricos, com apoio <strong>de</strong> Neurocirurgia e Neurorra -<br />

diologia<br />

• Vigilância clínica<br />

• Repouso<br />

• Manter normovolemia – soro isotónico<br />

• Controlo <strong>de</strong>:<br />

– PA, pressão venosa central (PVC) se cateter venoso<br />

central, glicemia (se >150 mg/dL, insulina), temperatura,<br />

dor (se necessário opiói<strong>de</strong>s), ansieda<strong>de</strong><br />

• Alimentação entérica<br />

• Laxantes<br />

Exames auxiliares:<br />

• Hemograma completo<br />

• Coagulação<br />

• Ionograma<br />

• Gasimetria<br />

• Radiografia tórax<br />

• Electrocardiograma<br />

• Fundoscopia<br />

268<br />

2. Prevenção do Vasospasmo<br />

A. Manter normovolémia<br />

B. Iniciar nimodipina precocemente, com monitorização<br />

da PA para prevenir a hipotensão (Quadro IV)<br />

Quadro IV - Dose e frequência <strong>de</strong> administração da nimodipina, <strong>de</strong><br />

acordo com grupo etário<br />

Grupo Etário Nimodipina (oral)<br />

1- 4 anos 15 mg <strong>de</strong> 4/4 horas<br />

5 -11 anos 30 mg <strong>de</strong> 4/4 horas<br />

12-16 anos 45 mg <strong>de</strong> 4/4 horas<br />

>16 anos 60 mg <strong>de</strong> 4/4 horas<br />

Os bloqueadores dos canais <strong>de</strong> cálcio, particularmente a<br />

nimo dipina têm um papel importante na prevenção do vasospasmo.<br />

O principal efeito secundário relacionado com a administração<br />

da nimodipina, que <strong>de</strong>ve ser evitado em absoluto<br />

nesta situação, é a hipotensão arterial.<br />

• Manter esta terapêutica 14 a 21 dias<br />

• Se hipotensão arterial:<br />

– Bólus <strong>de</strong> soro fisiológico 10 ml/Kg<br />

• Se não houver melhoria da PA:<br />

– Dopamina (5 a 10 μg/Kg/min), para manter PA a<strong>de</strong>quada<br />

à ida<strong>de</strong><br />

C. Avaliação com doppler transcraniano para monitorização<br />

<strong>de</strong> vasospasmo a partir <strong>de</strong> D1 em dias alternados,<br />

ou diário se vasospasmo (Quadro V e VI).<br />

Quadro V - Critérios <strong>de</strong> vasospasmo no adulto por Doppler<br />

Transcraniano<br />

Gravida<strong>de</strong> Vasospasmo VFM cm/s ACM/ACI Ratio<br />

Normal < 85 < 3<br />

Ligeiro < 120 < 3<br />

Mo<strong>de</strong>rado 120 a 150 3 a 5.9<br />

Grave 151 a 200 > 6<br />

Crítico > 200 > 6<br />

Legenda: VFM - velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fluxo médio na artéria cerebral média; ACM -<br />

artéria cerebral média; ACI - artéria carótida interna.<br />

Se vasospasmo sintomático e DTC compatível, iniciar protocolo<br />

para vasospasmo (ver II-2).<br />

3. Prevenção e tratamento da Hipertensão Intracraniana<br />

Através <strong>de</strong> vigilância clínica e monitorização contínua, iniciando<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo medidas simples como:<br />

• Elevação da cabeceira na linha média<br />

• Utilização <strong>de</strong> soros isotónicos<br />

• Controlo hidro-electrolítico (evitar hiponatremia)


Acta Pediatr Port 2008:39(6):266-70 S. Cuidados Intensivos – Hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática<br />

Quadro VI - Valores normais <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fluxo e índices <strong>de</strong> pulsatilida<strong>de</strong> na artéria cerebral média esquerda, por sexo e grupo etário<br />

Grupo etário Fluxo sistólico<br />

Velocida<strong>de</strong>s +/- DP (cm/sec)<br />

Fluxo diastólico Fluxo médio Índice <strong>de</strong> Pulsatilida<strong>de</strong> máximo<br />

0-10 dias 24 ± 7 46 ± 10 12 ± 7<br />

11-90 dias 42 ± 10 75 ± 15 24 ± 8<br />

3-12 meses 74 ± 14 114 ± 20 46 ± 9<br />

1-2 anos<br />

Raparigas (anos)<br />

85 ± 10 124 ± 10 65 ± 11<br />

2-4 150 ± 34 60 ± 19 98 ± 26 0.94 ± 0.14<br />

5-9 143 ± 14 62 ± 10 95 ± 10 0.86 ± 0.12<br />

10-14 134 ± 21 58 ± 11 86 ± 11 0.88 ± 0.13<br />

15-19<br />

Rapazes (anos)<br />

125 ± 25 58 ± 13 85 ± 17 0.83 ± 0.14<br />

2-4 152 ± 33 62 ± 15 100 ± 25 0.91 ± 0.17<br />

5-9 139 ± 13 62 ± 9 94 ± 10 0.84 ± 0.15<br />

10-14 128 ± 27 59 ± 14 85 ± 19 0.82 ± 0.09<br />

15-19 127 ± 22 51 ± 9 75 ± 12 1.01 ± 0.14<br />

Legenda: DP – <strong>de</strong>svio padrão<br />

Se coma com pontuação ≤ 8 na Escala Coma Glasgow<br />

• Intubação e ventilação mecânica (objectivo PaCO2 ±35<br />

mmHg)<br />

Se evidência <strong>de</strong> HIC ou sinais <strong>de</strong> pré-encravamento<br />

• Hiperventilação transitória (PaCO2 30-35 mmHg)<br />

• Manitol a 20% (0,25 g/kg e.v. em 10-20 min)<br />

• NaCl a 3% (2-3 ml/Kg e.v. em 10-20 min)<br />

• Ventriculostomia <strong>de</strong> urgência se hidrocefalia<br />

• Eventual craniectomia <strong>de</strong>scompressiva<br />

4. Tratamento das convulsões<br />

Pon<strong>de</strong>rar terapêutica profiláctica com fenitoína, na pre sença<br />

<strong>de</strong> foco hemorrágico com potencial epileptogénico (hemor ra -<br />

gia intraparenquimatosa cortical), pelo risco <strong>de</strong> hipertensão<br />

arterial e possível re-hemorragia se houver convulsões.<br />

Na presença <strong>de</strong> convulsões, tratar prontamente, segundo protocolo<br />

<strong>de</strong> terapêutica no mal convulsivo.<br />

5. Tratamento da hipertensão arterial<br />

A hipertensão arterial é um evento frequente após HSA.<br />

Objectivo:<br />

• Manter o doente normotenso para minimizar o risco <strong>de</strong><br />

nova hemorragia<br />

• Usar um fármaco <strong>de</strong> acção rapidamente reversível<br />

– Labetalol 1-3 mg/Kg/h e.v. em perfusão contínua<br />

6. Hiponatremia<br />

Cerebral salt wasting syndrome (CSWS ) e síndrome <strong>de</strong><br />

secreção inapropriada <strong>de</strong> hormona antidiurética (SIHAD)<br />

O Cerebral Salt Wasting Syndrome correspon<strong>de</strong> a uma natriurese<br />

exagerada com subsequente <strong>de</strong>sidratação hiponatrémica<br />

em doentes com patologia intracraniana. Po<strong>de</strong> surgir na pri-<br />

meira semana e resolve espontaneamente em 2-4 semanas. O<br />

seu mecanismo é <strong>de</strong>sconhecido. É fundamental distingui-lo<br />

do SIHAD pois a terapêutica é diferente. Embora a concentração<br />

<strong>de</strong> sódio na urina esteja aumentada em ambos, no CSWS<br />

esta é diluída e com débito elevado enquanto a urina é concentrada<br />

e o débito urinário é baixo no SIHAD.<br />

Tratamento do CSWS:<br />

• Reposição da volémia e do sódio com soluções salinas<br />

endovenosas isotónicas ou hipertónicas (p.ex. NaCl 3%)<br />

• Após estabilização consi<strong>de</strong>rar suplemento entérico <strong>de</strong><br />

sal<br />

• Consi<strong>de</strong>rar fludrocortisona nos casos refractários ao cloreto<br />

<strong>de</strong> sódio hipertónico.<br />

• Pon<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>smopressina nos casos com poliúria maciça<br />

e prolongada<br />

Tratamento da SIHAD:<br />

• Restrição hídrica<br />

• Furosemida<br />

• Se hiponatremia sintomática consi<strong>de</strong>rar NaCl 3%<br />

II. ANEURISMAS JÁ TRATADOS<br />

1. Pós-operatório imediato (todos os doentes)<br />

• Monitorização invasiva <strong>de</strong> PA e PVC<br />

• Se monitorizada manter pressão intracraniana (PIC)


Acta Pediatr Port 2008:39(6):266-70 S. Cuidados Intensivos – Hemorragia subaracnoi<strong>de</strong>ia não traumática<br />

Perante agravamento clínico / neurológico excluir:<br />

• Desequilíbrios hidroelectrolíticos<br />

• Complicações neurocirúrgicas (nova hemorragia, hidrocefalia)<br />

– repetir TC<br />

• Componente <strong>de</strong> vasospasmo com DTC. Se não for possível<br />

realizar DTC e após exclusão <strong>de</strong> outras causas iniciar<br />

protocolo <strong>de</strong> terapêutica <strong>de</strong> vasospasmo<br />

2. Terapêutica do vasospasmo<br />

A. Se velocida<strong>de</strong> fluxo médio na ACM > 2 vezes o normal<br />

para ida<strong>de</strong> (ver quadro VI), sem sintomas<br />

• Manter balanço hídrico positivo<br />

• Consi<strong>de</strong>rar hipertensão ligeira<br />

– PA sistólica 10 a 30 mmHg acima do Pc 95 para a<br />

ida<strong>de</strong><br />

• DTC diário até melhoria do vasospasmo<br />

• Avaliação laboratorial diária / atenção a ionograma e<br />

balanço hídrico por risco <strong>de</strong> hiponatremia e <strong>de</strong> débito<br />

urinário elevado com balanço hídrico negativo<br />

B. Se velocida<strong>de</strong> fluxo médio na ACM > 1,5 vezes o normal<br />

para ida<strong>de</strong> (ver quadro VI), com sintomas<br />

Terapêutica dos três HHH:<br />

• Hiper-hidratação (PVC 10-12 cmH2O) • Hipertensão<br />

– PA sistólica 20 a 60 mmHg acima do Pc 95 para a<br />

ida<strong>de</strong><br />

– Se necessário dopamina (5-10g/Kg/min) ± noradrenalina<br />

• Hemodiluição: Manter hematócrito entre 30 e 35%<br />

• Restantes cuidados semelhantes<br />

C. Se défice neurológico não ce<strong>de</strong> à terapêutica médica<br />

• Ao fim <strong>de</strong> 12 a 24 horas pon<strong>de</strong>rar realização <strong>de</strong> angiografia<br />

com angioplastia ou injecção intra-arterial <strong>de</strong><br />

vaso dilatador (nimodipina/ papaverina), após TC-CE<br />

para excluir enfarte<br />

• Se TC-CE revelar enfarte, parar terapêutica HTA (risco<br />

<strong>de</strong> transformação hemorrágica), mantendo normovo -<br />

lemia<br />

D. Se défice neurológico ce<strong>de</strong> à terapêutica médica<br />

• Parar terapêutica dos três HHH/terapêutica hipertensiva<br />

ao fim <strong>de</strong> 24 horas<br />

• Desmame <strong>de</strong> terapêutica hipervolémica em 3 a 4 dias<br />

• Se necessário recomeçar terapêutica<br />

270<br />

O doente <strong>de</strong>ve permanecer hospitalizado, pelo menos, até ao<br />

14º dia pós hemorragia se não houve evidência <strong>de</strong> vasospasmo,<br />

ou caso este tenha surgido até à sua resolução.<br />

Grupo <strong>de</strong> trabalho:<br />

Brígida Robalo, Francisco Abecasis, Sofia Quintas, Marisa<br />

Vieira, Cristina Camilo, Manuela Correia<br />

Instituição:<br />

Departamento da Criança e da Família, Hospital <strong>de</strong> Santa<br />

Maria, Lisboa<br />

Protocolo elaborado em Maio <strong>de</strong> 2008, na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cui -<br />

dados Intensivos Pediátricos do Hospital <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

Aprovado pela Secção <strong>de</strong> Cuidados Intensivos Pediátricos<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> em 30 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />

2008.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

José Miguens, Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia, Hospital Santa<br />

Maria, Lisboa; Patrícia Canhão, Serviço <strong>de</strong> Neurologia,<br />

Hospital <strong>de</strong> Santa Maria, Lisboa; Paulo Batista, Laboratório<br />

<strong>de</strong> Hemodinâmica cerebral, Serviço <strong>de</strong> Neurologia, Hospital<br />

Santa Maria, Lisboa<br />

Referências<br />

1. Babikian VL, Wechsler LR. Transcranial Doppler Ultrasonography.<br />

St. Louis, Missouri: Mosby; 1993.<br />

2. Humphreys RP, Pirouzmand F, Arteriovenous malformations and<br />

intracranial aneurysms in children. In: Winn HR, editor. Youmans<br />

Neurological Surgery. 5th ed.Phila<strong>de</strong>lphia: Sau<strong>de</strong>rs; 2004; vol.3:<br />

3447-60.<br />

3. Krawczyk J, Newton T, Lavine S. Subarachnoid Hemorrhage. 2007.<br />

Disponível em: http://www.emedicine.com/med/topic2883.htm.<br />

Acedido a 31 <strong>de</strong> Março 2008.<br />

4. Lysakowski C, Wal<strong>de</strong>r B, Costanza MC, Tramèr MR. Transcranial<br />

doppler versus angiography in patients with vasospasm due to ruptured<br />

cerebral aneurysm: A systematic review. Stroke 2001;32:2292-8.<br />

5. MacDonald RL. Evi<strong>de</strong>nce-based treatment of subarachnoid he -<br />

morrhage: current status and future possibilities. Clin Neurosurg<br />

2006; 53: 257-66.<br />

6. McDonald PJ, Weir BK. Pediatric Intracranial Aneurysms. Le Roux<br />

PD, Winn HR, Newell DW, editors. Management of Cerebral Aneu -<br />

rysms. 1th ed Phila<strong>de</strong>lphia: Sau<strong>de</strong>rs 2004; 357-62<br />

7. Mayberg MR, Batjer HH, Dacey R, Diringer M, Haley EC, Heros RC,<br />

et al. Stroke 1994; 25:2315-28.<br />

8. Proust F, Toussait P, Garniéri J, Hannequin D, Legars D, Houtteteville<br />

JP, et al. Pediatric cerebral aneurysms. J Neurosurg 2001; 94:733-9.<br />

9. Suarez JI, Tarr RW, Selman RW. Current Concepts: aneurysmal subarachnoid<br />

hemorrhage. N Engl J Med 2006; 354: 387-98.<br />

10. Wijdicks EFM, Kallmes DF, Manno EM, Fulgham JR, Piepgras DG.<br />

Subarachnoid hemorrhage: neurointensive care and aneurysm repair.<br />

Mayo Clinic Proc 2005; 80:550-9.


0873-9781/08/39-6/271<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> CARTA AO EDITOR<br />

Comentários ao número <strong>de</strong> Verão da Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

(2008:39(4))<br />

Carta<br />

1. Descrição <strong>de</strong> um caso clínico.<br />

Um caso clínico envolve um problema e a sua solução. A <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong>ve permitir que o leitor faça o seu próprio raciocínio<br />

tal com se fosse o médico responsável; assim se estimula o<br />

raciocínio clínico e se capta o interesse do leitor. Começar a<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um caso clínico pelos antece<strong>de</strong>ntes pessoais e<br />

familiares é meio caminho andado para <strong>de</strong>sinteressar o eventual<br />

leitor. Era o que acontecia com o ensino da História do<br />

meu tempo; gastava-se tanto tempo a ensinar Grécia e Roma<br />

que nunca se chegava às guerras liberais.<br />

O livro único do ensino liceal <strong>de</strong> História, <strong>de</strong> António<br />

Mattoso, falava das guerras púnicas. Para além da estra -<br />

nheza <strong>de</strong> chamar púnicas a guerras entre romanos e cartagi -<br />

neses, a introdução rezava assim: “Os mamertinos, piratas da<br />

Campânia, foram atacar Hierão, rei <strong>de</strong> Siracusa...”<br />

Sempre gostei <strong>de</strong> História mas <strong>de</strong>testava as “guerras púnicas”.<br />

Agora vamos reler o número <strong>de</strong> Verão da Acta Pediátrica<br />

<strong>Portuguesa</strong>:<br />

a) Relato <strong>de</strong> caso (Acta Pediatr Port 2008:39(4):149-51)<br />

Criança, sexo feminino, seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, caucasiana, filha<br />

única <strong>de</strong> pais jovens e saudáveis, não consanguíneos. A gestação<br />

foi <strong>de</strong> 36 semanas, vigiada e sem intercorrências. O parto<br />

foi por cesariana (por circular do cordão). O índice <strong>de</strong> Apgar<br />

ao nascimento foi 1/2/10 ao 1°/5° e 10° minutos respectiva -<br />

mente, com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intemamento na sequência <strong>de</strong> asfixia.<br />

A antropometria ao nascimento era a<strong>de</strong>quada à ida<strong>de</strong> gestacional<br />

(peso 2350 g/ comprimento 46 cm/ perímetro cefá -<br />

lico 32 cm - p 10-50 <strong>de</strong> Lubchenco). Foi efectuado rastreio<br />

metabólico. Efectuou leite materno exclusivo até ao mês <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor foi a<strong>de</strong>quado. Ocorreu<br />

cruzamento das curvas <strong>de</strong> percentis <strong>de</strong> peso e estatura <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Teve, no último ano, um internamento<br />

por pneumonia, e outro <strong>de</strong> curta duração, por <strong>de</strong>sidratação<br />

hiponatrémica ligeira, no contexto <strong>de</strong> vómitos incoercíveis,<br />

tendo recorrido ao Serviço <strong>de</strong> Urgência duas semanas <strong>de</strong>pois<br />

por vómitos com cerca <strong>de</strong> 24 horas <strong>de</strong> evolução, sem febre ou<br />

outra sintomatologia acompanhante.<br />

b) Relato <strong>de</strong> caso (Acta Pediatr Port 2008:39(4):139-40)<br />

Lactente <strong>de</strong> 9 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, previamente saudável, com<br />

plano nacional <strong>de</strong> vacinação cumprido, duas doses <strong>de</strong> vacina<br />

anti-meningococo C e três doses <strong>de</strong> vacina antipneumocócica<br />

conjugada pentavalente, crescimento estaturo-pon<strong>de</strong>ral regular<br />

(P50-75) e <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor a<strong>de</strong>quado à ida<strong>de</strong>. Foi<br />

levado ao serviço <strong>de</strong> urgência do hospital da área <strong>de</strong> residência<br />

por prostração, náuseas e vómitos, com início essa manhã.<br />

c) Relato <strong>de</strong> Caso (Acta Pediatr Port 2008:39(4):141-5)<br />

Relata-se o caso <strong>de</strong> um jovem do sexo masculino com 18 anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, filho <strong>de</strong> pais não consanguíneos, com antece<strong>de</strong>ntes<br />

familiares irrelevantes. A gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>correu sem compli -<br />

cações, sendo o parto eutócico, <strong>de</strong> termo, com sinais <strong>de</strong> sofrimento<br />

fetal mal esclarecidos. Des<strong>de</strong> o nascimento evi<strong>de</strong>n -<br />

ciou-se microcefalia (com restante somatometria a<strong>de</strong>quada),<br />

dismorfia sugestiva <strong>de</strong> doença neurogenética, atraso global e<br />

profundo do <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor com alterações do<br />

movimento <strong>de</strong> tipo discinético/distónico, sendo proposto o<br />

diagnóstico <strong>de</strong> encefalopatia não progressiva. Foi diagnosticada<br />

Síndroma <strong>de</strong> West aos seis meses, medicado com hormona<br />

adrenocorticotrófica (ACTH) e posteriormente valproa -<br />

to <strong>de</strong> sódio (VPA), ficando com epilepsia controlada com<br />

VPA (sem convulsões <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os nove anos, controlado com<br />

17mg/Kg/dia aos 18 anos). A investigação genética, infecciosa<br />

(pré-natal), metabólica e imagiológica (incluindo resso -<br />

nância magnética encefálica) foi negativa. Tinha ainda diagnóstico<br />

<strong>de</strong> miocardiopatia dilatada à direita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 16 anos<br />

<strong>de</strong>sconhecendo-se a função ventricular. Evi<strong>de</strong>nciaram-se alterações<br />

graves do comportamento, sendo medicado com haloperidol<br />

0,5mg (0,016mg/Kg/dose) em SOS, uma vez por dia à<br />

noite <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 16 anos.<br />

2. Sempre que possível, a <strong>de</strong>scrição dos factos não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar<br />

margem para dúvidas.<br />

a) O SMN (Acta Pediatr Port 2008:39(4):141-5) é um sindroma<br />

semelhante ao golpe <strong>de</strong> calor; os critérios da AAPsi exigem<br />

“Ausência <strong>de</strong> outra etiologia (tóxica, neurológica ou<br />

outra).”<br />

Para se po<strong>de</strong>r excluir o “golpe <strong>de</strong> calor” não basta dizer que<br />

“não há história <strong>de</strong> exposição ao calor” quando o inci<strong>de</strong>nte<br />

ocorreu “No início <strong>de</strong> Setembro, durante as férias <strong>de</strong> Verão,<br />

fora do seu ambiente habitual,” a um jovem com atraso profundo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que foi hospitalizado com grave<br />

<strong>de</strong>sidratação (Creatinina 2mg/dL, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> urinária <strong>de</strong> 1038)<br />

hipernatrémica (Na 157 mM/L), que não acontece no SMN.<br />

b) A qualida<strong>de</strong> da discussão é crucial para avaliar o fundamento<br />

do diagnóstico e a isenção do autor: “A favor <strong>de</strong> SMN,<br />

note-se que os antipiréticos não tiveram efeito na redução da<br />

temperatura (uma vez que o ponto <strong>de</strong> referência da temperatura<br />

do hipotálamo não está alterado na SMN ao contrário da<br />

sépsis)“. Faz sentido?<br />

c) Não contesto o diagnóstico, apenas me incomoda a excessiva<br />

confiança: “Relata-se um caso <strong>de</strong> hipertermia maligna<br />

por SMN...”; e também a redacção: “um caso <strong>de</strong> hipertermia<br />

maligna por SMN...” ou “... medicado com haloperidol ... em<br />

SOS, uma vez por dia à noite.”<br />

271


Acta Pediatr Port 2008:39(6):271-2 Carta ao Editor<br />

3. Por fim aprendi que “A toxocarose é a infestação parasitária<br />

por helmintas mais frequente no Mundo, sendo particularmente<br />

prevalente na população <strong>pediátrica</strong>.”<br />

Acta Pediatr Port 2008:39(4):171-5.<br />

Não ponho em causa este facto; interrogo-me sobre a sua relevância<br />

para a maioria dos médicos portugueses que não colaboram<br />

com a AMI? Será a prevalência da China semelhante à<br />

do Alentejo?<br />

Resposta dos autores<br />

Prof. Carmona da Mota<br />

Foram enviados, aos autores dos artigos citados pelo Prof.<br />

Carmona da Mota, pedidos <strong>de</strong> resposta sendo publicada a<br />

única recebida.<br />

António Gomes<br />

Em resposta aos Comentários do Prof. Henrique Carmona da<br />

Mota acerca do artigo “Sindroma maligno do neurolépticos<br />

(SMN) – Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diagnóstico no serviço <strong>de</strong> urgência”<br />

(Acta Pediatr Port 2008: 39 (4): 141-5) gostaríamos <strong>de</strong> salientar<br />

os seguintes aspectos:<br />

1. Ao iniciar a <strong>de</strong>scrição do caso clínico pelos antece<strong>de</strong>ntes<br />

pessoais, preten<strong>de</strong>mos apenas enquadrar o leitor, dado que são<br />

272<br />

factores <strong>de</strong> risco para o SMN a existência <strong>de</strong> encefalopatia<br />

prévia, atraso do <strong>de</strong>senvolvimento e perturbação do comportamento<br />

medicada com neurolépticos.<br />

2. A exclusão da hipótese <strong>de</strong> golpe <strong>de</strong> calor foi efectuada com<br />

base na <strong>de</strong>scrição dos pais <strong>de</strong> inexistência <strong>de</strong> exposição ao<br />

calor; o facto <strong>de</strong> apresentar diaforese das extremida<strong>de</strong>s é também<br />

pouco sugestiva <strong>de</strong>sta entida<strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> apresentar<br />

com uma clínica semelhante ao SMN, mas em que os doentes<br />

apresentam pele seca e flaci<strong>de</strong>z cutânea (Tonkonogy J,<br />

Sholevar DP. emedicine - Neuroleptic malignant syndrome,<br />

updated 2006). A <strong>de</strong>sidratação hipernatrémica po<strong>de</strong> ser um<br />

factor precipitante <strong>de</strong> SMN, mas este último po<strong>de</strong> também<br />

contribuir para a diminuição do aporte hídrico e ter como consequência<br />

esta <strong>de</strong>sidratação. A alteração da função renal po<strong>de</strong><br />

ser consequência da <strong>de</strong>sidratação e rabdomiólise<br />

3. Acerca do papel dos antipiréticos gostaríamos <strong>de</strong> clarificar<br />

este ponto afirmando que ao inverso do que acontece na resposta<br />

febril a uma infecção subjacente, em que há uma elevação<br />

do ponto <strong>de</strong> referência da temperatura controlada pelo<br />

hipotálamo, tal não acontece na hipertermia induzida pelo<br />

SMN; assim o uso <strong>de</strong> antipiréticos não se justifica (Frank<br />

LoVecchio, Neal A. Lewin. Antipsychotics - Golfrank’s<br />

Toxicologic Emergencies). Deste modo, a ausência <strong>de</strong> resposta<br />

aos antipiréticos é mais um dado a favor da hipótese <strong>de</strong><br />

diagnóstico <strong>de</strong> SMN.<br />

Sónia Pimentel, Rita Silva, Eulália Calado<br />

Serviço <strong>de</strong> Neurologia Pediátrica, Hospital <strong>de</strong> Dona<br />

Estefânia, Lisboa.


0873-9781/08/39-6/CIII<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> NOTÍCIAS<br />

Calendário <strong>de</strong> Eventos Nacionais e Internacionais<br />

NOVEMBRO 2008<br />

• Doenças Hereditárias do Metabolismo - V Curso Básico. Coimbra,<br />

3-5/11/08 (Sandra Fonseca e Margarida Domingues, tel. 239484464, fax<br />

239482918, sandra.fonseca@asic.pt, margarida.domingues@asic.pt)<br />

• XV Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Hospital <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

Lisboa, 5-8/11/08 (Margarida Vales, fax 217805623,<br />

margarida.vales@hsm.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Jornadas do Centro Clínico Materno Infantil. Olhão, 7-8/11/08<br />

(Teresa Alexandre; Lídia Fitas e Clara Bexiga, tel. 289702135,<br />

geral@clinica-<strong>de</strong>-especialida<strong>de</strong>s.com)<br />

• IX Congresso Nacional <strong>de</strong> Medicina Desportiva: A Criança e o<br />

Adolescente no Desporto. Lisboa, 13-15/11/08 (Merck Sharp &<br />

Dohme, tel. 214465728, fax 214465729)<br />

• Intervenção Precoce: Novos Avanços. Ílhavo, 14/11/08<br />

(geral@nasturtium.com.pt)<br />

• Jornadas Anuais <strong>de</strong> Cuidados Intensivos Pediátricos. Porto,<br />

14-15/11/08 (Serviço <strong>de</strong> Cuidados Intensivos <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>,<br />

Hospital <strong>de</strong> São João E.P.E., tel. 225512100, ext. 1844/1823,<br />

augusto.ribeiro@hsjoao.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Reunião Anual da Secção <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> Ambulatória da SPP.<br />

Chaves, 15/11/08 (António Aleixo, tel.: 9656254095,<br />

fax 289817582; CHTMAD EPE, tel. 276300975, fax 276300901,<br />

pediatria@hchaves.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Crianças em Perigo. Lisboa, 15/11/08 (tel. 96297674, 914957075,<br />

968919910, bebes.crescidos@gmail.com)<br />

• I Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do CHVNGaia/Espinho. Vila Nova <strong>de</strong> Gaia,<br />

17-18/11/08 (Raquel Gue<strong>de</strong>s, raquelgue<strong>de</strong>s@hotmail.com)<br />

• Global Neonatology & Perinatology: 1st European<br />

Union of Neo na tal and Perinatal So cie ties (EUNPS) Congress<br />

& Aca<strong>de</strong>mic Olym pics. Roma, Itália, 17-19/11/08<br />

(https://secure.onlinecongress.it/onlinecongressweb/secure/form.aspx)<br />

• 1º Curso <strong>de</strong> Patologia Neurológica Pediátrica. Porto, 18-19/11/08<br />

(www.neuropediatria.no.sapo.pt)<br />

• 16ª Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> <strong>de</strong> Leiria e Caldas da Rainha. Leiria,<br />

20-21/11/08 (tel. /fax 244817053, ped.sec@hsaleiria.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• I Curso <strong>de</strong> Hematologia Pediátrica: Patologia do Glóbulo<br />

Vermelho. Lisboa, 22/11/08 (Paula Belmonte e Pedro Men<strong>de</strong>s,<br />

tel. 217805202, fax 217805623, belmonte@fm.ul.pt)<br />

• II Fórum <strong>de</strong> Crianças em Risco. Barcelos, 25/11/08 (Daniela<br />

Simões e Júlia Pogeira, tel 253809200, fax 253817379,<br />

ssocial@hbarcelos.min-sau<strong>de</strong>.pt, psicologia@hbarcelos.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• European Forum for Good Clinical Practice (EFGCP) Children’s<br />

Medicines Working Party 4th Annual Conference on EU & US<br />

Paediatric Legislation. Bruxelas, Bélgica, 26/11/08 (EFGCP, tel.<br />

+3227328783, fax +3225033108, conferences@efgcp.be, www.efgcp.be)<br />

• 1º Curso <strong>de</strong> Hipertensão Pulmonar. Lisboa, 29/11/08 (Lina Ribeiro<br />

Lopes, tel. 213586120, lina.lopes@actelion.com)<br />

DEZEMBRO 2008<br />

• 1ªs Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do H. Infante D. Pedro Aveiro. Aveiro,<br />

4-5/12/08 (ASIAV, asiav@hip.pt; Intendis, www.eventos.bayer.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Introdução à Bioestatistica da SPP. Porto, 6-8/12/08<br />

(SPP, Webmaster@spp.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Nefrologia Pediátrica. Lisboa, 13/12/08 (Paula Belmonte e<br />

Pedro Men<strong>de</strong>s, tel. 217805202, fax 217805623, belmonte@fm.ul.pt)<br />

JANEIRO 2009<br />

• I Jornadas do Serviço <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Centro Hospitalar do Alto<br />

Ave - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guimarães: “Prevenir em…”. Guimarães, 23/1/09<br />

(tel. 253540330, pediatria@hguimaraes.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• I Congresso da Fe<strong>de</strong>ração das Associações <strong>Portuguesa</strong>s <strong>de</strong> Paralisia<br />

Cerebral. Lisboa, 23-24/1/09 (secretariado.congressofappc@gmail.pt)<br />

• Simpósio: Doença Invasiva Pneumocócica na Criança e no Adulto.<br />

Lisboa, 24/1/09 (Wyeth, Cristina Paiva, tel. 214128281,<br />

paivacm@wyeth.com)<br />

• Seminário <strong>de</strong> Cuidados Paliativos – A Criança e a Morte. Covilhã,<br />

29/1/09 (Ema Rodrigues e Luísa Sena, formacao@chcb.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• 4º Curso <strong>de</strong> Infecciologia Pediátrica. Coimbra, 29-30/1/09 (ASIC,<br />

tel. 239484464, fax: 239482918, asic@asic.pt)<br />

• Reunião Monotemática da Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia e Nutrição<br />

Pediátrica da SPP. Lisboa, 31/1/09 (Ana Viegas, tel. 214339377,<br />

ana.viegas@spcorp.com)<br />

FEVEREIRO 2009<br />

• I Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Instituto CUF. Porto, 6-7/2/09<br />

(Emídio Carreiro, tel. 917557453, emidiocarreiro@jmellosau<strong>de</strong>.pt)<br />

• II Encontro <strong>de</strong> Ortopedia Infantil - Da <strong>Pediatria</strong> à Medicina<br />

Geral e Familiar. Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, 7/2/09 (Maria João Pinho,<br />

tel. 223778105)<br />

• 18º Encontro <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Hospital Pediátrico. Luso, 19-20/2/09<br />

(ASIC, tel. 239484464, fax. 239482918, asic@asic.pt)<br />

• Nova Saú<strong>de</strong> - I Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>. Vila Nova <strong>de</strong> Famalicão,<br />

27-28/2/09 (CESPU Formação, tel. 224157174, fax 221157102,<br />

coor<strong>de</strong>nacao.ped@hmp.pt, www.cespu.pt)<br />

MARÇO 2009<br />

• Cidadão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Berço - Criança, Família e <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>. Lisboa,<br />

3/3/09 (Anabela Matos, tel. 217961818, aap_hsm.geral@sapo.pt)<br />

• III Reunião Departamento <strong>Pediatria</strong> do Hospital Fernando<br />

Fonseca. Amadora, 5-6/3/09 (Sofia Heleno, tel. 214348299,<br />

sec1.ngm@hospital-as.pt)<br />

• XXII Reunião Anual da Secção <strong>de</strong> Gastrenterologia, Hepa to -<br />

logia e Nutrição Pediátrica da SPP “Auto-imunida<strong>de</strong> e metais”.<br />

Braga, 12-14/3/09 (2009gastrenterologia-spp@muris.pt)<br />

• Curso <strong>de</strong> Inverno 2009. Sertã, 13-15/3/09 (Maria Júlia Brito,<br />

tel. 217574680, fax 217577617, secretariado@spp.pt)<br />

• Neonatal Ultrasound Course. Florença, Itália, 16-19/3/09 (AIM<br />

Group - AIM Congress, tel. +3905523388.1, fax +390552480246,<br />

ultrasound2009@aimgroup.it, www.aimgroup.eu)<br />

• 9th European Postgraduate Course in Neonatal and<br />

Pediatric Intensive Care Medicine. Berna, Suiça, 19-21/3/09<br />

(BBS Congress GmbH, peter.salchli@bbscongress.ch,<br />

www.bbscongress.ch/Kongresse/2009/NEO%202009/neo09.htm)<br />

• 1º Congresso Internacional sobre Perturbações do Desen vol -<br />

vimento. Estoril, 25-28/3/09 (Alexandra Carvalho, tel. 214858240 /<br />

912540412, congressos@cadin.net)<br />

CIII


Acta Pediatr Port 2008:39(6):CIII-IV Notícias<br />

• Course in Fetal and Neonatal Endoscopic Surgery. Braga,<br />

26-27/3/09 (sec-pg@ecsau<strong>de</strong>.uminho.pt)<br />

• Dois dias com… a Neurologia Pediátrica. Lisboa, 31/3-1/4/09<br />

(Paula Belmonte e Pedro Men<strong>de</strong>s, tel. 217985100 – ext. 44660,<br />

fax 217805623, neuropedhsm@gmail.com)<br />

MAIO 2009<br />

• III Curso <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> Comunitária. Águeda, 1-2/5/09 (Margarida<br />

Domingues, ASIC, tel. 239484464, fax 239482918, asic@asic.pt)<br />

• XI Jornadas Nacionais <strong>de</strong> Infecciologia Pediátrica. Aveiro, 7-9/5/09<br />

(Secção <strong>de</strong> Infecciologia Pediátrica da SPP)<br />

• Seminário “Ventilação neonatal - aspectos práticos”. Braga,<br />

15-16/5/09 (Secção <strong>de</strong> Neonatologia da SPP)<br />

• 13ªs Jornadas <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> do Centro Hospitalar <strong>de</strong> Cascais.<br />

Cascais, 21-22/5/09 (tel. 214827700, Anabela Vicente<br />

ext. 1326, Florinda Santos ext. 1344, fax 214844843,<br />

pediatriacascais@gmail.com)<br />

JUNHO 2009<br />

• 27th Annual Meeting of the European Society for Paediatric<br />

Infectious Diseases (ESPID 2009). Bruxelas, Bélgica, 9-13/6/09<br />

(Kenes International, +41229080488, fax +41227322850,<br />

espid@kenes.com)<br />

• Microtendências em Pneumologia Pediátrica. Lisboa, 18-19/6/09<br />

JULHO 2009<br />

• 4th Europediatrics 2009. Moscovo, Rússia, 3-6/7/09 (AC&C<br />

International Professional Congress Organiser, tel. +302106889130,<br />

fax +302106844777, europaediatrics2009@acnc.gr)<br />

OUTUBRO 2009<br />

• 50th Annual Meeting of the European Society for Paediatric<br />

Research. Hamburgo, Alemanha, 9-12/10/09 (Kenes International,<br />

+41229080488, fax +41227322850, espid@kenes.com)<br />

• Standards for Research in Child Health (StaR Child Health) Summit.<br />

Amesterdão, Holanda, 27/10/09 (http://www.starchildhealth.org/)<br />

Cursos <strong>de</strong> Formação Contínua em <strong>Pediatria</strong><br />

• Curso <strong>de</strong> Introdução à Neuropediatria e Desenvolvimento. Almada,<br />

Parte I: 14-15/11/08, Parte II: 12-13/12/08 (Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

CIV<br />

da Criança, Serviço <strong>Pediatria</strong> – Hospital Garcia Orta, tel. 212736661,<br />

fax 212736637, reuniões@cdc-hgo.com, neuroped@hgo.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

• Curso Pós-graduadado <strong>de</strong> Actualização em Desenvolvimento<br />

Infan til. Lisboa, 27/2/09 a 12/06/09 (Gabinete <strong>de</strong> Estudos Pós-Gra -<br />

duados, FCM/UNL, tel. 218803066, fax 218803068, gepg@fcm.unl.pt,<br />

www.fcm.unl.pt)<br />

• Curso Pós-graduado <strong>de</strong> Actualização em Ecografia Trans -<br />

fontanelar. Lisboa, 16 a 27/3/09 (Gabinete <strong>de</strong> Estudos Pós-Graduados,<br />

FCM/UNL, tel. 218803066, fax 218803068, gepg@fcm.unl.pt,<br />

www.fcm.unl.pt)<br />

• Curso Pós-graduado <strong>de</strong> Actualização em Ecocardiografia em<br />

Cuidados Intensivos Neonatais. Lisboa, 29/4/09 a 22/7/09 (Gabinete<br />

<strong>de</strong> Estudos Pós-Graduados, FCM/UNL, tel. 218803066, fax<br />

218803068, gepg@fcm.unl.pt, www.fcm.unl.pt)<br />

• “Encontros à Sexta-Feira” 5º Curso <strong>de</strong> Formação Contínua<br />

em <strong>Pediatria</strong> do Hospital Geral <strong>de</strong> Santo António. Porto, 3/10/08 a<br />

12/6/09 (Ana Rita Lopes, tel. 222077500 – ext. 1396;<br />

secretariado@hgsa.min-sau<strong>de</strong>.pt; http://www.encontro6feira@no.sapo.pt)<br />

• “O Essencial em… na Criança e no Adolescente” IV Ciclo <strong>de</strong><br />

Cursos do Internato Médico do Hospital <strong>de</strong> Dona Estefânia, Centro<br />

Hospitalar <strong>de</strong> Lisboa Central, EPE. Lisboa, 19/1/09 a 14/12/09 (Carla<br />

Oliveira, tel. 213596441, fax 213596439; Lúcia Pratas,<br />

internato@h<strong>de</strong>stefania.min-sau<strong>de</strong>.pt)<br />

Eventos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Brasileira <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

(fsbp@sbp.com.br; http://www.sbp.com.br)<br />

• XV Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Infectologia Pediátrica. Vitória,<br />

7-13/11/08 (www.infectoped2008.com.br)<br />

• 8º Congresso Brasileiro Pediátrico <strong>de</strong> Endocrinologia e<br />

Metabologia – Cobrapem. São Paulo, 17-20/4/09<br />

(www.cobrapem2009.com.br)<br />

• 2º Simpósio Internacional <strong>de</strong> Nutrologia. São Paulo, 14-16/5/09<br />

(www.nutroped2009.com.br)<br />

• 12º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pneumologia Pediátrica. São Paulo,<br />

11-13/6/09 (www.pneumoped2009.com.br)<br />

• 3º Simpósio <strong>de</strong> Reanimação Neonatal. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 27-29/8/09<br />

(www.simposioreanimacao2009.com.br)<br />

• 34º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>, 6º Congresso Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Otorrinolaringologia Pediátrica, 7º Congresso Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Reumatologia Pediátrica. Brasília, 8-12/10/09<br />

(www.cbpediatria2009.com.br)<br />

• 11º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Terapia Intensiva Pediátrica. Belo<br />

Horizonte, 5-7/11/09


0873-9781/08/39-6/CV<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

1. Indicações Gerais aos Autores<br />

A Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong> (APP) aceita artigos sobre qualquer tema<br />

pediátrico e materno-fetal, nas múltiplas dimensões científicas, sociais e<br />

cul turais relacionadas com a saú<strong>de</strong> e educação da criança e do adoles -<br />

cente. Aceita também estudos experimentais com animais que contribuam<br />

para o melhor conhecimento da fisiologia e fisiopatologia infantil e fetal<br />

na espécie humana.<br />

São bem-vindos artigos provenientes <strong>de</strong> todos os Países <strong>de</strong> Língua Oficial<br />

<strong>Portuguesa</strong>. Po<strong>de</strong>m ser aceites, pela sua relevância, textos escritos noutras<br />

línguas, <strong>de</strong> reconhecida divulgação internacional.<br />

Os artigos propostos não po<strong>de</strong>m ter sido objecto <strong>de</strong> qualquer outro tipo <strong>de</strong><br />

publicação. Esta restrição não se aplica a notas <strong>de</strong> imprensa ou a resumos<br />

publicados no âmbito <strong>de</strong> reuniões científicas. Se houver publicações<br />

seme lhantes à que é submetida ou se existirem dúvidas relativamente ao<br />

cum primento dos critérios acima mencionados, estas <strong>de</strong>vem ser enviadas<br />

em anexo ao manuscrito em submissão.<br />

Os manuscritos submetidos <strong>de</strong>vem estar <strong>de</strong> acordo com os requisitos <strong>de</strong><br />

sub missão <strong>de</strong> manuscritos a revistas biomédicas, elaborados pela Comis -<br />

são Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas (Uniform Requi -<br />

rements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – URMSBJ),<br />

elaborados pela Comissão Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas<br />

(Inter na tio nal Committee of Medical Journal Editors – ICMJE), dispo -<br />

nível em URL: www.icmje.org e em N Engl J Med 1997;336:309-15 e,<br />

em re cente versão <strong>portuguesa</strong>, em Rev Port Clin Geral 2007;27:778-98<br />

(http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080304112450125029.pdf).<br />

Os manuscritos são inicialmente avaliados por membros da equipa edi -<br />

torial e os consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados são submetidos ao parecer técnico <strong>de</strong><br />

pelo menos dois revisores externos. A revisão é feita anonimamente,<br />

po<strong>de</strong>ndo os revisores propor a rejeição, aceitação sem modificações ou<br />

propor alterações <strong>de</strong> conteúdo ou <strong>de</strong> forma, condicionando a publicação<br />

do artigo às mesmas. Os pareceres da equipa editorial e dos revisores são<br />

comunicados ao(s) autor(es).<br />

A proprieda<strong>de</strong> editorial dos artigos publicados é da APP. Uma vez aceites,<br />

os manuscritos não po<strong>de</strong>m ser publicados textualmente ou em forma semelhante<br />

noutros locais, mesmo noutro idioma, sem o consentimento da APP.<br />

O(s) autor(es) mantêm os direitos <strong>de</strong> autor da sua obra, o que lhes permite:<br />

– publicar em parte ou na totalida<strong>de</strong> o seu artigo em livro, com a<br />

necessária referência à publicação do artigo;<br />

– utilizar figuras, tabelas e textos do seu artigo em outros trabalhos<br />

escritos pelo(s) autor(es), com a necessária referência à<br />

publicação do artigo;<br />

– incluir o seu artigo em compilações <strong>de</strong> textos para ensino, sempre<br />

que sejam distribuídos gratuitamente pelos estudantes ou<br />

disponibilizados em suporte informático <strong>de</strong> acesso livre, com<br />

intuito <strong>de</strong> ensino ou formação.<br />

Apesar dos editores e dos revisores envidarem esforços para assegurar a qualida<strong>de</strong><br />

técnica e científica dos manuscritos, a responsabilida<strong>de</strong> final do conteúdo<br />

é dos autores, aos quais pertence a proprieda<strong>de</strong> intelectual dos artigos.<br />

2. Tipos <strong>de</strong> artigos publicados na Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

A APP prevê a publicação <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> artigos:<br />

2.1. Artigos <strong>de</strong> investigação original.<br />

Contendo o resultado <strong>de</strong> investigação original, qualitativa ou quantitativa.<br />

O texto, organizado em introdução, métodos, resultados,<br />

discussão (e eventualmente conclusão), não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3200<br />

pala vras, excluindo referências e ilustrações, com um máximo <strong>de</strong><br />

seis ilustrações e até 30 referências. Devem incluir resumos estruturados,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 300 palavras.<br />

2.2. Publicações breves.<br />

Contendo resultados preliminares ou achados novos. O texto, organizado<br />

em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão,<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 1500 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

com um máximo <strong>de</strong> duas ilustrações e até quinze referências.<br />

Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, com<br />

um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.3. Casos clínicos.<br />

Casos clínicos originais, <strong>de</strong>vidamente estudados e discutidos. O<br />

texto <strong>de</strong>ve incluir uma breve introdução, a <strong>de</strong>scrição do(s) caso(s),<br />

a discussão sucinta que terminará com uma conclusão sumária. O<br />

texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 1200 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

com um máximo <strong>de</strong> duas ilustrações e até doze referências.<br />

Os casos clínicos <strong>de</strong>vem incluir resumos, em português e em inglês,<br />

com um limite <strong>de</strong> 120 palavras, estruturados em introdução, relato<br />

dos casos e discussão (eventualmente conclusão).<br />

2.4. Séries <strong>de</strong> casos (Casuísticas).<br />

Contendo a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> séries <strong>de</strong> casos, numa perspectiva <strong>de</strong> reflexão<br />

sobre uma experiência particular <strong>de</strong> diagnóstico, tratamento ou<br />

prognóstico. O texto, incluindo uma breve introdução, a <strong>de</strong>scrição dos<br />

casos, a discussão sucinta contendo uma conclusão, não <strong>de</strong>ve exce <strong>de</strong>r<br />

2200 palavras, excluindo referências e ilustrações. O texto <strong>de</strong>ve estar<br />

organizado em introdução, métodos, resultados e discussão (eventualmente<br />

conclusão), com um máximo <strong>de</strong> três ilustrações e até trinta<br />

referências. As séries <strong>de</strong> casos <strong>de</strong>vem apresentar resumos estru tu ra -<br />

dos, em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.5. Artigos <strong>de</strong> revisão ou actualização.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão sobre temas das diferentes áreas da <strong>Pediatria</strong>, com<br />

interesse prático para profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicados a crianças e<br />

adolescentes. Este tipo <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> revisão é geralmente solicitado<br />

pelos editores. Contudo, serão avaliados artigos <strong>de</strong> revisão submetidos<br />

sem solicitação prévia dos editores. As revisões sistemáticas ou<br />

quantitativas têm priorida<strong>de</strong> editorial sobre revisões cuja metodologia<br />

não é especificada. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3400 palavras, excluindo<br />

referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong> seis ilustrações e<br />

até 60 referências. As revisões sistemáticas e quantitativas (metanálises,<br />

p.ex.) <strong>de</strong>vem ser organizadas em introdução, métodos, resultados<br />

e discussão (incluindo conclusões). Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos,<br />

em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras, <strong>de</strong>vendo<br />

ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem revisões quantitativas.<br />

2.6. Consensos e Recomendações.<br />

A submissão <strong>de</strong> consensos e recomendações emanadas por Secções<br />

da SPP ou socieda<strong>de</strong>s afins à SPP <strong>de</strong>verá ser feita pelos respectivos<br />

presi<strong>de</strong>ntes, ou seus representantes. A autoria será atribuída à Secção<br />

ou <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> em causa, <strong>de</strong>vendo constar no fim do texto a data da<br />

aprovação do documento (e eventualmente a data prevista para a<br />

revisão), os nomes dos autores envolvidos na sua elaboração,<br />

respec tiva filiação institucional, seguido expressamente da menção<br />

“em representação da Secção <strong>de</strong>... da SPP, ou da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Portu -<br />

guesa <strong>de</strong>...”. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 3400 palavras, excluindo<br />

referências e ilustrações, e conter um máximo <strong>de</strong> 60 referências. Este<br />

tipo <strong>de</strong> manuscrito não é sujeito a processo <strong>de</strong> revisão externa, sendo<br />

apenas submetido a revisão editorial formal e publicado na rubrica<br />

“<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> - Consensos e Reco mendações”.<br />

2.7. Artigos sobre Educação Médica.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão ou opinião sobre a formação médica contínua,<br />

geral ou <strong>pediátrica</strong>, dirigidos a profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>dicam<br />

a crianças e adolescentes, particularmente a responsáveis pela<br />

formação pré e pós-graduada. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser subme -<br />

tido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r<br />

2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo<br />

<strong>de</strong> três ilustrações e até 20 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir<br />

resumos, em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras,<br />

<strong>de</strong>vendo ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem estudos originais.<br />

2.8. Artigos sobre Ética.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão ou <strong>de</strong> opinião sobre problemas éticos médicos,<br />

<strong>de</strong> carácter geral ou pediátrico. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser subme-<br />

CV


Acta Pediatr Port 2008:39(6):CVI-X Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

tido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r<br />

2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo<br />

<strong>de</strong> três ilustrações e até 30 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir<br />

resumos, em português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras,<br />

<strong>de</strong>vendo ser estruturados no caso <strong>de</strong> serem estudos originais.<br />

2.9. Artigos sobre História da Medicina.<br />

Artigos <strong>de</strong> revisão sobre aspectos da História da Medicina, geral ou<br />

<strong>pediátrica</strong>. Este tipo <strong>de</strong> artigo po<strong>de</strong> ser submetido sem a solicitação<br />

prévia dos editores. O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 2400 palavras,<br />

excluin do referências e ilustrações, incluir um máximo <strong>de</strong> três ilustrações<br />

e até 40 referências. Os artigos <strong>de</strong>vem incluir resumos, em<br />

português e em inglês, com um limite <strong>de</strong> 250 palavras.<br />

2.10. Críticas <strong>de</strong> livros, <strong>de</strong> publicações em versão electrónica, <strong>de</strong><br />

sítios da Internet ou <strong>de</strong> programas informáticos.<br />

O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 600 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo duas ilustrações e até seis referências<br />

bibliográficas, incluindo a referência bibliográfica completa do<br />

objecto da revisão. Estes artigos não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

2.11. Artigos <strong>de</strong> opinião.<br />

Inci<strong>de</strong>m em comentários, ensaios filosóficos, análises críticas ou<br />

enunciados <strong>de</strong> posição, acerca <strong>de</strong> tópicos <strong>de</strong> interesse nas áreas da<br />

<strong>Pediatria</strong> e Saú<strong>de</strong> Infantil, políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação médica. O<br />

texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 900 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo uma ilustração e até cinco referências.<br />

Estes artigos não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

2.12. Cartas ao Director.<br />

Comentários sucintos a artigos publicados na APP ou relatando <strong>de</strong><br />

forma muito breve e objectiva os resultados <strong>de</strong> observação clínica ou<br />

investigação original que não justifiquem publicação mais extensa.<br />

O texto não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 400 palavras, excluindo referências e ilustrações,<br />

e incluir no máximo uma ilustração e até seis referências.<br />

As cartas ao director não <strong>de</strong>vem conter resumos.<br />

3. Submissão <strong>de</strong> Manuscritos.<br />

Os manuscritos submetidos à APP <strong>de</strong>vem ser preparados <strong>de</strong> acordo com<br />

as recomendações abaixo indicadas e acompanhados <strong>de</strong> uma carta <strong>de</strong><br />

apre sentação dirigida ao Director da Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong>.<br />

A carta <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>ve incluir a seguinte informação:<br />

1) Título completo do manuscrito;<br />

2) Nomes dos autores com especificação do contributo <strong>de</strong> cada um<br />

para o manuscrito; justificação <strong>de</strong> número elevado <strong>de</strong> autores<br />

(mais <strong>de</strong> seis), se tal ocorrer;<br />

3) Especificação do tipo <strong>de</strong> artigo, <strong>de</strong> acordo com a classificação<br />

da APP;<br />

4) Fontes <strong>de</strong> financiamento, incluindo bolsas e patrocínios comerciais;<br />

5) Explicitação <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> interesse ou da sua ausência;<br />

6) Declaração <strong>de</strong> que o manuscrito não foi ainda publicado, na<br />

íntegra ou em parte, e <strong>de</strong> que nenhuma versão do manuscrito<br />

está a ser avaliada por outra revista;<br />

7) Declaração <strong>de</strong> que todos os autores aprovaram a versão do<br />

manuscrito que está a ser submetida;<br />

8) Assinatura <strong>de</strong> todos os autores.<br />

É dada preferência à submissão dos manuscritos por e-mail (secre ta ria -<br />

do@spp.pt). O manuscrito e a carta <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>vem ser en via dos em<br />

ficheiros separados. Deve ser enviada por correio ou por fax (217 577 617)<br />

uma cópia da carta <strong>de</strong> apresentação assinada por todos os autores.<br />

Quando estiver disponível a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submissão on-line, através<br />

das páginas electrónicas da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

(www.spp.pt), será esta a forma <strong>de</strong> submissão preferencial.<br />

Se não for possível efectuar a submissão por e-mail, esta po<strong>de</strong> ser efectuada<br />

por correio, com o envio do suporte digital, para o en<strong>de</strong>reço:<br />

CVI<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong><br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Rua Amílcar Cabral, 15, R/C I<br />

1750-018 Lisboa, PORTUGAL<br />

Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha não serão<br />

<strong>de</strong>volvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da<br />

sub missão.<br />

4. Formatação dos Manuscritos.<br />

A formatação dos artigos submetidos para publicação <strong>de</strong>ve seguir os<br />

URMSBJ - ICMJE (vi<strong>de</strong> “1. Indicações Gerais aos Autores”).<br />

Todo o manuscrito, incluindo referências, tabelas e legendas <strong>de</strong> Ilus tra -<br />

ções, <strong>de</strong>ve ser redigido em coluna única, a dois espaços, com letra <strong>de</strong><br />

dimensão 12, e justificado à esquerda.<br />

Aconselha-se a utilização dos formatos <strong>de</strong> letra Times, Times New Roman,<br />

Courier, Helvética ou Arial; para caracteres especiais, aconselha-se a utilização<br />

do formato Symbol.<br />

Em todo o manuscrito as quatro margens <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> 2,5 cm.<br />

Todas as páginas <strong>de</strong>vem ser numeradas, incluindo a página <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifi -<br />

cação do manuscrito.<br />

Devem ser inseridas quebras <strong>de</strong> página entre cada secção do manuscrito.<br />

Não <strong>de</strong>vem conter cabeçalhos nem rodapés.<br />

A publicação <strong>de</strong> citações, quadros ou ilustrações cuja origem esteja sujeita<br />

a direitos <strong>de</strong> autor, está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da citação completa da fonte e/ou<br />

da autorização do <strong>de</strong>tentor dos direitos <strong>de</strong> autor.<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida - Devem ser utilizadas as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida do<br />

Sistema Internacional (SI), mas os editores po<strong>de</strong>m solicitar a apresentação<br />

<strong>de</strong> outras unida<strong>de</strong>s não pertencentes ao SI.<br />

Abreviaturas - Devem evitar-se acrónimos e abreviaturas no título e nos<br />

resumos. Quando for necessária a sua utilização, <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos na<br />

primeira vez que são mencionados no texto. O seu significado <strong>de</strong>ve também<br />

ficar explícito no resumo, nos quadros e figuras, excepto no caso das<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Quando usados mais do que seis acrónimos ou abreviaturas,<br />

recomenda-se a inclusão <strong>de</strong> um quadro com a lista completa dos<br />

mesmos.<br />

Nomes <strong>de</strong> doenças – Os nomes <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong>vem ser escritos em minús cula,<br />

exceptuando-se apenas aqueles que contêm toponímicos ou antropónimos.<br />

Nomes <strong>de</strong> medicamentos - Deve ser preferida a utilização da Designação<br />

Comum Internacional (DCI) <strong>de</strong> fármacos, escrito em minúscula, em vez <strong>de</strong><br />

no mes comerciais <strong>de</strong> medicamentos. Quando forem utilizadas marcas regis -<br />

ta das, po<strong>de</strong> ser mencionado o nome do medicamento, em maiúscula e se gui -<br />

do do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua se<strong>de</strong>, entre parêntesis.<br />

Nomes <strong>de</strong> instrumentos – Os instrumentos <strong>de</strong> medida, diagnóstico ou<br />

programas informáticos utilizados no estudo e mencionados no manus -<br />

crito <strong>de</strong>vem ser apresentados <strong>de</strong> forma genérica e através do seu nome<br />

comercial, seguido do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua se<strong>de</strong>,<br />

entre parêntesis.<br />

Local do estudo – A filiação institucional dos autores <strong>de</strong>ve ser referida na<br />

página do título. Não <strong>de</strong>ve ficar explícita, no texto ou no resumo, a i<strong>de</strong>ntificação<br />

da instituição on<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu o estudo, <strong>de</strong> modo a manter o duplo<br />

anonimato da revisão. Se essa referência for importante para a compreensão<br />

do manuscrito, <strong>de</strong>ve ser feita em termos <strong>de</strong> caracterização genérica do<br />

nível <strong>de</strong> diferenciação e local geográfico da instituição (exº: “hospital universitário<br />

<strong>de</strong> nível III” ou “centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em área rural”).<br />

Secções do manuscrito - O manuscrito <strong>de</strong>ve ser apresentado na seguinte<br />

or<strong>de</strong>m:<br />

1 - Título (em português e inglês) e título abreviado, autores, instituições,<br />

agra<strong>de</strong>cimentos, en<strong>de</strong>reço (e autor) para correspondência;<br />

2 - Resumos e Palavras-chave (em português e inglês);<br />

3 - Texto;<br />

4 - Referências;<br />

5 - Legendas;


Acta Pediatr Port 2008:39(6):CVI-X Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

6 - Ilustrações:<br />

6.1 - Quadros;<br />

6.2 - Figuras.<br />

4.1. Página <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação.<br />

Na primeira página do manuscrito <strong>de</strong>vem constar:<br />

4.1.1. O título (conciso e <strong>de</strong>scritivo), na língua original do manuscrito<br />

e em inglês;<br />

4.1.2. Um título abreviado (com um máximo <strong>de</strong> 40 caracteres,<br />

incluindo espaços);<br />

4.1.3. Os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome por<br />

extenso (não <strong>de</strong>vem incluir graus académicos ou profissionais<br />

ou títulos honoríficos);<br />

4.1.4. A filiação institucional <strong>de</strong> cada autor no momento em que o<br />

trabalho foi realizado (<strong>de</strong>ve figurar apenas na página do título;<br />

casos excepcionais <strong>de</strong>vem ser justificados);<br />

4.1.5. A contribuição <strong>de</strong> cada autor para o trabalho.<br />

Como referido nos URMSBJ - ICMJE, a autoria requer uma<br />

contribuição substancial em, pelo menos, uma das seguintes<br />

activida<strong>de</strong>s:<br />

– Concepção e <strong>de</strong>senho do estudo, ou obtenção<br />

dos dados, ou análise e interpretação dos dados;<br />

– Redacção do manuscrito ou revisão crítica do<br />

seu conteúdo intelectual;<br />

– Aprovação final da versão submetida para<br />

publicação.<br />

A obtenção <strong>de</strong> financiamento, a recolha <strong>de</strong> dados ou a supervisão<br />

geral do grupo <strong>de</strong> trabalho, por si só, não justificam<br />

autoria.<br />

É necessário especificar a contribuição <strong>de</strong> cada autor para o<br />

trabalho. Sugere-se a seguinte discriminação:<br />

(a) Desenho do estudo.<br />

(b) Recolha <strong>de</strong> dados.<br />

(c) Análise estatística.<br />

(d) Interpretação dos dados.<br />

(e) Preparação do manuscrito.<br />

(f) Pesquisa bibliográfica.<br />

(g) Recolha <strong>de</strong> fundos.<br />

Nos manuscritos assinados por mais <strong>de</strong> seis autores (três<br />

autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explici tada<br />

a razão <strong>de</strong> uma autoria tão alargada. É necessária a aprovação<br />

<strong>de</strong> todos os autores, por escrito, <strong>de</strong> quaisquer modificações<br />

da autoria do artigo após a sua submissão.<br />

4.1.6. O nome e contactos do autor que <strong>de</strong>verá receber a corres pon -<br />

dência, incluindo en<strong>de</strong>reço postal e telefone, fax ou e-mail;<br />

4.1.7. Os Agra<strong>de</strong>cimentos, mencionando colaboradores que não<br />

cumpram critérios para autoria mas que contribuíram substancialmente<br />

para o estudo ou manuscrito, especificando o<br />

seu contributo.<br />

4.1.8. Eventuais fontes <strong>de</strong> financiamento, como patrocínios ou<br />

bolsas.<br />

4.1.9. Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses entre os autores e alguma<br />

eventual instituição ou empresa comercial ligada <strong>de</strong><br />

alguma forma ao âmbito do estudo ou manuscrito.<br />

4.1.10. Contagem <strong>de</strong> palavras, respectivamente, para cada resumo e<br />

para o texto principal (não incluindo referências e ilustrações).<br />

4.2. Resumo e Palavras-Chave.<br />

4.2.1. Resumo - Deve ser redigido na língua original do manuscrito<br />

e inglês, não ultrapassando os limites indicados na espe-<br />

cificação dos tipos <strong>de</strong> manuscritos mas suficientemente<br />

informativo e elaborado segundo um formato estruturado<br />

contendo os seguintes itens:<br />

4.2.1.1. Os resumos <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> investigação original,<br />

publicações breves e revisões quantitativas <strong>de</strong>vem<br />

ser estruturados (introdução, métodos, resultados,<br />

dis cussão e conclusões) e apresentar conteúdo<br />

seme lhante ao do manuscrito.<br />

4.2.1.2. Nos casos clínicos e séries <strong>de</strong> casos, <strong>de</strong>vem ser<br />

estruturados em introdução, relato do(s) caso(s),<br />

dis cussão (incluindo a conclusão); a conclusão<br />

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar os aspectos que justificam a publicação<br />

do caso ou serie <strong>de</strong> casos.<br />

4.2.1.3. Os resumos <strong>de</strong> manuscritos referentes a revisões não<br />

sistemáticas e artigos <strong>de</strong> opinião não são estruturados<br />

segundo as secções referidas na alínea anterior.<br />

Nos resumos não <strong>de</strong>vem ser utilizadas referências e as abreviaturas<br />

<strong>de</strong>vem limitar-se ao mínimo.<br />

4.2.2. Palavras-chave - Devem ser indicadas logo a seguir ao resumo<br />

até seis palavras-chave, em português e em inglês, prefe ren cial -<br />

mente em concordância com o Medical Subject Headings<br />

(MeSH) utilizado no In<strong>de</strong>x Medicus. Para a selecção correcta<br />

das palavras-chave recomenda-se a consulta das lis tas <strong>de</strong> palavras<br />

usadas nos motores <strong>de</strong> busca: para por tuguês em<br />

http://www.bireme.br/php/<strong>de</strong>csws.php ou em http://<strong>de</strong>cs.bvs.br/<br />

e em inglês http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html.<br />

Nos manuscri tos que não incluem resumos, as palavras-chave<br />

<strong>de</strong>vem ser apresentadas no final do manuscrito.<br />

4.3. Texto.<br />

O texto po<strong>de</strong>rá ser apresentado em português ou inglês (po<strong>de</strong>rá ser<br />

excepcionalmente consi<strong>de</strong>rada a submissão <strong>de</strong> textos noutras línguas,<br />

<strong>de</strong> reconhecida divulgação internacional).<br />

Os números <strong>de</strong> um a quinze <strong>de</strong>vem ser escritos por extenso, excepto<br />

quando têm <strong>de</strong>cimais ou se seguidos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Nú me -<br />

ros superiores a quinze são escritos em algarismos, salvo no início <strong>de</strong><br />

uma frase. As casas <strong>de</strong>cimais <strong>de</strong>vem assinalar-se com vírgulas.<br />

4.3.1. Introdução - Deve conter essencialmente os argumentos<br />

científicos que fundamentam a realização do estudo e justificam<br />

os objectivos. Po<strong>de</strong> concluir com o enunciado dos<br />

objectivos do estudo. Esta secção <strong>de</strong>ve apenas conter as<br />

referências bibliográficas indispensáveis para o fundamento<br />

e os objectivos do estudo.<br />

4.3.2. Objectivos - Os objectivos do estudo po<strong>de</strong>m ser apresentados<br />

no final da Introdução ou em secção própria, <strong>de</strong>vendo<br />

ser claros, explícitos e não conter elementos metodológicos<br />

no enunciado.<br />

4.3.3. Métodos – Esta secção po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>nominar-se, consoante a<br />

natureza do estudo, “Métodos”, “Material e Métodos”,<br />

“Amostra e Métodos”, “População e Métodos”, ou simplesmente<br />

“Metodologia”. Nesta secção <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>screver-se:<br />

4.3.3.1. A amostra ou a população em estudo (especificando<br />

a sua <strong>de</strong>finição e forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, recrutamento<br />

ou selecção);<br />

4.3.3.2. A localização do estudo no tempo e no espaço;<br />

4.3.3.3. O <strong>de</strong>senho do estudo;<br />

4.3.3.4. Os métodos <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> dados;<br />

4.3.3.5. Os métodos <strong>de</strong> análise dos dados: Os métodos estatísticos<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scritos com o <strong>de</strong>talhe sufi -<br />

ciente <strong>de</strong> modo a possibilitar a reprodução dos<br />

resul tados apresentados. Sempre que possível <strong>de</strong>ve<br />

ser quantificada a imprecisão das estimativas apresentadas,<br />

<strong>de</strong>signadamente através da apresentação<br />

<strong>de</strong> intervalos <strong>de</strong> confiança. Deve evitar-se uma utilização<br />

excessiva <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> hipóteses, com o uso<br />

<strong>de</strong> valores <strong>de</strong> p, que não fornecem informação<br />

quantitativa importante. Deve ser mencionado o<br />

CVII


Acta Pediatr Port 2008:39(6):CVI-X Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

software utilizado na análise dos dados, referindo o<br />

seu fabricante e, se consi<strong>de</strong>rado necessário, inse -<br />

rindo a referência <strong>de</strong> citação.<br />

4.3.3.6. As consi<strong>de</strong>rações éticas <strong>de</strong>vem figurar no final<br />

<strong>de</strong>sta secção. Os autores <strong>de</strong>vem assegurar que todas<br />

as investigações envolvendo seres humanos foram<br />

aprovadas por comissões <strong>de</strong> ética das instituições<br />

em que a investigação foi realizada, <strong>de</strong> acordo com<br />

a Declaração <strong>de</strong> Helsínquia da Associação Médica<br />

Mundial . Nesta secção <strong>de</strong>ve ser mencionada esta<br />

aprovação e a obtenção <strong>de</strong> consentimento informado,<br />

se aplicável.<br />

4.3.4. Resultados - Os resultados <strong>de</strong>vem ser apresentados no tex -<br />

to, usando eventualmente Ilustrações (Quadros e Figuras),<br />

seguindo uma sequência lógica. Não <strong>de</strong>ve ser fornecida<br />

informação redundante, aparecendo em duplicado no texto<br />

e nas ilustrações, bastando <strong>de</strong>screver a principais observações<br />

referidas nas ilustrações. (vi<strong>de</strong> infra as recomendações<br />

sobre Ilustrações).<br />

4.3.5. Discussão - Na discussão não <strong>de</strong>ve ser repetida <strong>de</strong>talhadamente<br />

a informação fornecida na secção <strong>de</strong> Resultados. A<br />

discussão <strong>de</strong>ve incidir nas limitações do estudo, na relação<br />

dos resultados obtidos com o observado noutras investigações,<br />

<strong>de</strong>vem ser evi<strong>de</strong>nciados os aspectos inovadores do<br />

estudo e as conclusões que <strong>de</strong>les resultam. Nesta secção<br />

apenas <strong>de</strong>vem ser incluídas as referências indispensáveis<br />

para discutir os resultados do estudo.<br />

4.3.6. Conclusão – Esta secção po<strong>de</strong> surgir separada da Discussão<br />

ou incluída no final da mesma. É importante que as conclusões<br />

estejam <strong>de</strong> acordo com os objectivos do estudo, <strong>de</strong>vendo-se<br />

evitar afirmações e conclusões que não sejam completamente<br />

apoiadas pelos resultados da investigação realizada.<br />

4.4. Ilustrações.<br />

As Ilustrações <strong>de</strong>vem ser anexadas após as referências bibliográficas.<br />

As Figuras <strong>de</strong>vem ser anexas após os Quadros.<br />

Cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ser apresentada em páginas separadas,<br />

juntamente com os respectivos título e as notas explicativas.<br />

Os Quadros e Figuras <strong>de</strong>vem ser numeradas separadamente (numeração<br />

romana para Quadros e numeração árabe para Figuras) <strong>de</strong><br />

acordo com a or<strong>de</strong>m com que são apresentadas no texto.<br />

Devem ser mencionadas no texto todos os Quadros e Figuras.<br />

Cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ser acompanhado <strong>de</strong> um título e notas<br />

explicativas (ex. <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> abreviaturas) <strong>de</strong> modo a serem compreendidas<br />

e interpretadas sem recurso ao texto do manuscrito. Se<br />

a ilustração possui uma tabela ou gráfico que inclua o resultado da<br />

análise estatística, <strong>de</strong>vem ser referidos o teste estatístico usado e o<br />

seu nível <strong>de</strong> significância (no caso do cálculo do risco relativo ou<br />

do odds ratio, <strong>de</strong>vem ser incluídos os seus intervalos <strong>de</strong> confiança).<br />

O título <strong>de</strong> cada Quadro ou Figura <strong>de</strong>ve ter uma explicação sucinta<br />

do conteúdo, que chame a atenção do leitor para o seu aspecto mais<br />

importante e/ou que auxilie a sua compreensão.<br />

Nos Quadros, o título e notas explicativas encimam a tabela; nas<br />

Figuras, o título e notas explicativas colocam-se por baixo da ilustração.<br />

Para as notas explicativas dos Quadros ou Figuras <strong>de</strong>vem ser utilizados<br />

os seguintes símbolos, nesta mesma sequência: *, †, ‡, §, ||,<br />

, **, ††, ‡‡ .<br />

Nas tabelas <strong>de</strong>vem ser utilizadas apenas linhas <strong>de</strong> limite hori -<br />

zontais.<br />

As Figuras, incluindo gráficos, mapas, ilustrações, fotografias ou<br />

outros materiais, <strong>de</strong>vem ser formatadas em computador ou digitalizadas.<br />

Nos gráficos, as legendas dos eixos <strong>de</strong>vem ser preferencialmente<br />

escritas paralelamente aos eixos das or<strong>de</strong>nadas e das abcissas, indicando<br />

as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida. Esses eixos <strong>de</strong>vem ter marcas correspon<strong>de</strong>ntes<br />

aos valores.<br />

CVIII<br />

Quando digitalizadas, as legendas, símbolos, setas ou letras <strong>de</strong>vem<br />

ser inseridas no ficheiro da imagem das fotografias ou ilustrações<br />

correspon<strong>de</strong>ntes. Os símbolos, setas ou letras <strong>de</strong>vem contrastar<br />

suficientemente com o fundo <strong>de</strong> fotografias ou ilustrações.<br />

As ilustrações que incluam fotografias <strong>de</strong> doentes, <strong>de</strong>verão ser<br />

acom panhadas pela autorização do doente ou do seu responsável<br />

legal, permitindo a sua publicação, <strong>de</strong>vendo ter os olhos tapados ou<br />

<strong>de</strong>sfocados digitalmente, <strong>de</strong> modo a impedir a sua i<strong>de</strong>ntificação,<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que isso não <strong>de</strong>svirtue a intenção da apresentação da imagem.<br />

A dimensão das ilustrações é habitualmente reduzida à largura <strong>de</strong><br />

uma coluna, pelo que as mesmas e o texto que as acompanha <strong>de</strong>vem<br />

ser facilmente legíveis após redução.<br />

A resolução <strong>de</strong> imagens a preto e branco <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> pelo menos<br />

1200 dpi e a <strong>de</strong> imagens com tons <strong>de</strong> cinzento ou a cores <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong> pelo menos 300 dpi.<br />

Uma vez que a impressão final da APP é predominantemente a<br />

preto e branco ou em tons <strong>de</strong> cinzento, os gráficos não <strong>de</strong>verão conter<br />

cores. A submissão <strong>de</strong> imagens a cores <strong>de</strong>ve ser reduzida ao<br />

mínimo necessário, dado o número limitado <strong>de</strong> páginas a cores possível<br />

em cada número da APP. O excesso <strong>de</strong> imagens a cores po<strong>de</strong>rá<br />

atrasar a data <strong>de</strong> publicação até haver disponibilida<strong>de</strong> editorial.<br />

Na primeira submissão do manuscrito não <strong>de</strong>vem ser enviados originais<br />

<strong>de</strong> fotografias, ilustrações ou outros materiais, como pelí -<br />

culas <strong>de</strong> raios-X. As figuras criadas em computador ou convertidas<br />

em formato electrónico após digitalização <strong>de</strong>vem ser preferencialmente<br />

inseridas no ficheiro do manuscrito.<br />

Em caso <strong>de</strong> aceitação do manuscrito, serão solicitadas as Ilustrações<br />

nos formatos mais a<strong>de</strong>quados para a sua reprodução na revista.<br />

4.5. Referências.<br />

As referências <strong>de</strong>vem ser listadas após o texto principal, numeradas<br />

sequencialmente, pela or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> citação no texto e com o mesmo<br />

formato <strong>de</strong> letra com que figura no texto.<br />

No texto, os números das referências <strong>de</strong>vem ser apresentados em<br />

expoente, antes <strong>de</strong> vírgulas ou pontos finais (ex.: “segundo alguns<br />

autores 3,5,7 ”). Referências sequenciais <strong>de</strong>vem ser feitas indicando<br />

apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: “segundo alguns<br />

autores 5-7 ”).<br />

Não <strong>de</strong>ve ser utilizado software para numeração automática das<br />

referências.<br />

Deve evitar-se a citação <strong>de</strong> referências secundárias (textos que<br />

fazem referência às publicações originais), resumos e comunicações<br />

pessoais (estas serão referidas no texto como tal).<br />

Os autores <strong>de</strong>vem verificar se todas as referências estão <strong>de</strong> acordo<br />

com os documentos originais.<br />

Devem ser utilizados os nomes abreviados das publicações, <strong>de</strong> acordo<br />

com o adoptado pelo In<strong>de</strong>x Medicus. Os nomes abreviados <strong>de</strong>vem ser<br />

es critos em itálico, sem pontuação. Em caso <strong>de</strong> dúvida sobre qual o no -<br />

me abreviado correcto <strong>de</strong> publicações internacionais po<strong>de</strong> ser consultado<br />

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?cmd=search&db=journals.<br />

Uma <strong>de</strong>scrição pormenorizada do formato dos diferentes tipos <strong>de</strong> refe -<br />

rências conforme as regras <strong>de</strong> URMSBJ – ICMJE, po<strong>de</strong> ser encon tra -<br />

da em http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html ou em<br />

http://www.icmje.org.<br />

Citam-se apenas alguns tipos <strong>de</strong> referenciação:<br />

4.5.1. Artigo <strong>de</strong> revista: Relação <strong>de</strong> todos os autores - apelido<br />

seguido das iniciais dos primeiros nomes, sem pontos (se<br />

mais <strong>de</strong> seis autores, constarão os seis primeiros, seguidos<br />

<strong>de</strong> “et al”, em itálico). Título do artigo. Nome da revista<br />

(abreviada e em itálico), ano <strong>de</strong> publicação seguido <strong>de</strong> pon -<br />

to e vírgula, número do volume seguido <strong>de</strong> dois pontos, e<br />

primeira e última páginas (exemplo 1). Em muitas revistas,<br />

os artigos que não têm estrita natureza científica têm numeração<br />

romana (exemplo 2). Em casos excepcionais a paginação<br />

inicia-se em cada número do mesmo volume, nestes<br />

casos, o número <strong>de</strong>ve figurar entre parêntesis logo a seguir<br />

ao volume (exemplo 3); na maioria das revistas médicas a


Acta Pediatr Port 2008:39(6):CVI-X Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

paginação é contínua ao longo <strong>de</strong> todo o volume e neste<br />

caso o número <strong>de</strong>ve ser omitido. Quando se trata <strong>de</strong> um<br />

suplemento <strong>de</strong>ve figurar logo a seguir ao volume, com indicação<br />

da numeração do suplemento se este for o caso<br />

(exem plo 4). No caso <strong>de</strong> carta ao editor ou resumo, <strong>de</strong>ve ser<br />

assinalado em parêntesis recto logo a seguir ao título do artigo<br />

(exemplo 5).<br />

Exemplos:<br />

E1 - Levy ML. Adolescência e adolescentes. Acta Pediatr<br />

Port 1995;5:255-8.<br />

E2 - Chadwick R, Schuklenk U. The politics of ethical consensus<br />

finding. Bioethics 2002;16:iii-v.<br />

E3 - Diabetes Prevention Program Research Group. Hyper -<br />

tension, insulin, and proinsulin in participants with impaired<br />

glucose tolerance. Pediatr Nurs Rev 2002;40(2):679-86.<br />

E4 - Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and<br />

safety of frovatriptan with short- and long-term use for<br />

treat ment of migraine and in comparison with sumatriptan.<br />

Headache 2002;42 Suppl 2:S93-9.<br />

E5 - Tor M, Turker H. International approaches to the prescription<br />

of long-term oxygen therapy [letter]. Eur Respir J<br />

2002;20:242.<br />

4.5.2. Artigo em publicação electrónica:<br />

Exemplos:<br />

– Yu WM, Hawley TS, Hawley RG, Qu CK. Immor ta li za -<br />

tion of yolk sac-<strong>de</strong>rived precursor cells. Blood 2002 Nov<br />

15;100(10):3828-31. Epub 2002 Jul 5.<br />

– Abood S. Quality improvement initiative in nursing<br />

homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [se -<br />

rial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];<br />

102(6):[about 3p.]. Acessível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm<br />

4.5.3. Livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros<br />

nomes do(s) autor(es). Título do livro em itálico e iniciais<br />

maiúsculas. Edição. Cida<strong>de</strong>: nome da casa editora; ano <strong>de</strong><br />

publicação.<br />

– Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA.<br />

Medical Microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002.<br />

4.5.4. Capítulo <strong>de</strong> livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais<br />

dos primeiros nomes do(s) autor(es) do capítulo. Título do<br />

capítulo. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros<br />

nomes do(s) editor(es), eds. Título do livro em itá -<br />

lico e iniciais maiúsculas. Número da edição. Cida<strong>de</strong>: nome<br />

da casa editora; ano <strong>de</strong> publicação. Número da primeira e<br />

última páginas.<br />

– Arvin AN. Infection control. In: Behrman RE, Kliegman<br />

RM, Arvin AM, editors. Nelson Textbook of Pediatrics.<br />

15th ed. Phila<strong>de</strong>lphia: WB Saun<strong>de</strong>rs Company; 1996;<br />

1027-8.<br />

4.5.5. Comunicação em jornadas, congressos e similares:<br />

Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes<br />

do(s) autor(es) da comunicação. Título da comunicação. In:<br />

Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes<br />

do(s) editor(es), eds. Livro <strong>de</strong> publicação das comunicações;<br />

data e local da reunião. Cida<strong>de</strong> e nome da casa editora<br />

(se referido); ano <strong>de</strong> publicação. Número da primeira e<br />

última páginas.<br />

– Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational<br />

effort statistic for genetic programming. In:<br />

Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG,<br />

eds. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of<br />

the 5th European Conference on Genetic Programming;<br />

2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002.<br />

p. 182-91.<br />

4.5.6. Página web:<br />

– Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York:<br />

Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01<br />

[updated 2002 May 16; cited 2002 Jul 9]. Acessível em:<br />

http://www.cancer-pain.org/.<br />

5. Autorizações.<br />

Antes <strong>de</strong> submeter um manuscrito à APP, os autores <strong>de</strong>vem ter em sua<br />

posse os seguintes documentos que po<strong>de</strong>rão ser solicitados pelo corpo<br />

editorial:<br />

– consentimento informado <strong>de</strong> cada participante;<br />

– consentimento informado relativamente a cada indivíduo presente<br />

em fotografias, mesmo após tentativa <strong>de</strong> ocultar a respectiva<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>;<br />

– transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor <strong>de</strong> imagens ou ilustrações;<br />

– autorizações para utilização <strong>de</strong> material previamente publicado;<br />

– autorização dos colaboradores mencionados na secção <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

6. Revisão <strong>de</strong> Manuscritos.<br />

No caso do artigo ser aceite condicionado a modificações, estas <strong>de</strong>vem ser<br />

realizadas pelos autores no prazo indicado pela APP. O reenvio <strong>de</strong> nova<br />

versão do manuscrito <strong>de</strong>ve acompanhar-se <strong>de</strong> uma carta on<strong>de</strong> os autores<br />

respondam às sugestões feitas pelos revisores.<br />

No momento da aceitação, os autores serão informados se <strong>de</strong>vem ser<br />

enviadas as ilustrações num formato diferente àquele em que foram inicialmente<br />

enviadas.<br />

As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação<br />

do prazo <strong>de</strong> revisão em função das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> publicação da APP. A<br />

revisão <strong>de</strong>ve ser aprovada por todos os autores. Nesta fase aceitam-se apenas<br />

modificações que <strong>de</strong>corram da correcção <strong>de</strong> erros tipográficos. A correcção<br />

<strong>de</strong>ve ser efectuada em documento à parte, referindo a página, coluna,<br />

parágrafo e linha na qual se preten<strong>de</strong> que se proceda às correcções.<br />

O não respeito do prazo <strong>de</strong>sobriga a APP a aceitar a revisão pelos autores,<br />

po<strong>de</strong>ndo a revisão ser efectuada exclusivamente pelos serviços da APP.<br />

Juntamente com a correcção das provas tipográficas, <strong>de</strong>ve ser enviada<br />

uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor para APP, assinada<br />

por todos os autores (documento fornecido pela APP).<br />

7. Separatas.<br />

Após a publicação <strong>de</strong> cada número da APP, os artigos publicados serão<br />

enviados em formato PDF pelo Secretariado da APP ao primeiro autor.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser solicitado ao Secretariado da APP o envio em formato PDF <strong>de</strong><br />

artigos publicados recentemente, enquanto não estiverem disponíveis na<br />

página electrónica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> (www.spp.pt).<br />

8. Ficha <strong>de</strong> verificação para os autores.<br />

A APP recomenda aos autores que verifiquem na Ficha anexa o cumprimento<br />

dos requisitos contidos nestas Normas <strong>de</strong> Publicação, o que ace lera<br />

o processo editorial.<br />

CIX


Acta Pediatr Port 2008:39(6):CVI-X Normas <strong>de</strong> Publicação<br />

Ficha <strong>de</strong> verificação para os autores<br />

Título: na língua original do manuscrito, em inglês e na versão abreviada<br />

Autores: os nomes, a filiação institucional, a contribuição <strong>de</strong> cada autor<br />

Contacto: nome e contactos do autor que <strong>de</strong>ve receber a correspondência<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Fontes <strong>de</strong> financiamento<br />

Declaração <strong>de</strong> Conflito <strong>de</strong> Interesses<br />

Contagem <strong>de</strong> palavras: para cada resumo e para o texto principal<br />

Resumo e Abstract: estruturado conforme a tipologia do manuscrito<br />

Palavras-chave: em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH)<br />

Texto: estrutura, conteúdo, acrónimos e inserção <strong>de</strong> referências<br />

Ilustrações: formatação e numeração dos Quadros e Figuras; autorizações<br />

Referências: em concordância com as regras <strong>de</strong> URMSBJ – ICMJE<br />

Carta <strong>de</strong> Apresentação à APP<br />

Autorizações: autoria, agra<strong>de</strong>cimentos, utilização <strong>de</strong> imagens e material publicado<br />

Declaração <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> autor para APP<br />

Data: .…... / ....... / …….....<br />

Assinatura do autor principal: ……………………………………………………….......<br />

Acta Pediátrica <strong>Portuguesa</strong>. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong>.<br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa. Tel.: 217547680. Fax.: 217577617. secretariado@spp.pt<br />

CX


✄<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Nome:<br />

Morada:<br />

PROPOSTA DE NOVO SÓCIO<br />

ACTUALIZAÇÃO DE MORADA<br />

Cód. Postal - Telef.:<br />

Instituição:<br />

Telef.:<br />

e-mail: @<br />

Enviar a:<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa<br />

Tel.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617<br />

e-mail: secretariado@spp.pt<br />

Notas:<br />

• Esta proposta <strong>de</strong> novo sócio <strong>de</strong>verá ser acompanhada por um cheque <strong>de</strong> € 7,50 que se<br />

<strong>de</strong>stinará ao pagamento da primeira anualida<strong>de</strong>.<br />

• Em caso <strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r mudança <strong>de</strong> morada <strong>de</strong>verá indicar-nos qual a antiga para que se<br />

processe a actualização da mesma.


Nome:<br />

Morada:<br />

Instituição:<br />

Especialida<strong>de</strong>:<br />

Telefone:<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância Pediátrica<br />

da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

- Portuguese Paediatric Surveillance Unit -<br />

INSCRIÇÃO DE NOVO NOTIFICADOR<br />

OU ACTUALIZAÇÃO DE CONTACTOS<br />

- ,<br />

e-mail: @<br />

Enviar para:<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância Pediátrica da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617<br />

e-mail: uvp-ppsu@spp.pt<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância Pediátrica / Portuguese Paediatric Surveillance Unit. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong><br />

Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 – e-mail: uvp-ppsu@spp.pt<br />

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