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CONHECIMENTO DISPONIBILIZADO DE FORMA ASSERTIVA: A
INTELIGÊNCIA EMPREENDEDORA APLICADA À EDUCAÇÃO
Anderson Mattos Martins, M. Sc. *
Andréa Martins Andujar, M. Sc. *
Edis Mafra Lapolli, Dr. Eng. **
Fernando Augusto Gauthier, Dr. Eng.***
Maurício Gariba Júnior, M. Eng. *
Murilo Fernandes Andujar ****
Waléria Külkamp Haeming, M. Eng. *
* Doutorando(a) do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC
Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina
gariba@cefetsc.edu.br
** Professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC
oriente@led.ufsc.br
*** Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC
gauthier@eps.ufsc.br
**** Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC
murilo.andujar@linhalivre.net
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apontar a inteligência empreendedora como estratégia para a geração do
conhecimento. Para isso, o texto, apresenta reflexões em torno dos atores do processo educacional: a escola, o
professor e o aluno, remetendo-os a um perfil empreendedor. Apresenta, ainda, um detalhamento das várias
inteligências de que o indivíduo se vale para a sobrevivência nesta Era do Conhecimento. Enfim, conclui que o
“negócio” educação atingirá o sucesso se for pautado por estratégias renovadas as quais agregam conhecimento e
ação, de forma a gerar o prazer e a sensibilidade, ingredientes sine qua non da inteligência empreendedora.
PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento; Educação; Empreendedorismo; Inteligência
INTRODUÇÃO
Os desafios impostos pelo século XXI inserem no homem uma outra configuração do seu
estar no mundo e isso implica a (re)visão de velhos conceitos de forma a lançá-los a outras
semânticas, a diferentes perspectivas, à busca de soluções antes impensadas.
Nesse contexto há que se problematizar a instituição de ensino, a grande parceira na
construção da cidadania, aqui entendida como indicativo de sobrevivência nesta sociedade em
constante metamorfose. De que forma o empreendimento educação está sendo gerenciado é a
grande questão a ser buscada.
Mais do que nunca as instituições de ensino devem estar preparadas para adaptarem-se às
mudanças advindas da Era do Conhecimento, dimensão vivenciada neste século. Nela se
formata uma outra escola, um outro educador e, em conseqüência, um outro aluno, todos
parceiros pro-ativos na edificação de uma sociedade plena de indivíduos realizados e
produtivos.
Sabe-se, no entanto, que a maioria dos estudos na área educacional apresentam um cenário
baseado no culto à transmissão de informações. A escola exige do professor que ele leve a
seus alunos as informações especializadas de sua disciplina, aprendidas em seus estudos e, aos
alunos, é exigida a assimilação de maneira mecânica de todo esse arsenal de “conteúdos”.
Ora, se isso servia para alguns anos atrás, o que se verifica hoje é uma nova equação em que
essas “matérias ensinadas” pelos professores, perdem-se na avalanche de informações,
acessíveis em qualquer espaço– não só no escolar – e são atropeladas por espetacular avanço
da tecnologia que conecta o indivíduo, a cada segundo, a uma infinidade de contextos. Não é,
pois, necessária uma profunda reflexão sobre a ação de educar para perceber que há a
necessidade de os educadores instrumentalizarem(se) e instrumentalizar seus educandos de
modo a (re)construir essas informações, ou seja, transformá-las em conhecimento aplicável,
pautados na premissa de que o detentor do “poder” é aquele que souber fazer uso desse
conhecimento. Dessa forma, torna-se evidente a concepção de que o indivíduo -educando ou
educador- é produto de um contínuo processo de (re)significação de sua base de
conhecimento. Há evidências persuasivas da ruptura com os condicionantes que remetem a
educação a soluções convencionais.
Partindo-se desses princípios, a geração desses indivíduos é resultado do uso da inteligência
empreendedora, no escopo deste artigo. Esta está articulada com a reinvenção de conceitos,
lançando novas bases para a compreensão da aprendizagem, coibindo a falsa idéia da
inteligência única. É o traço “personal” que deverá estar presente na função gerencial de
educar. O contexto em que está inserida a educação reforça a idéia do professor inteligente, e
isso vai além do saber lidar com paradoxos, do adaptar-se às diversidades da sociedade. Fazer
valer a inteligência empreendedora no contexto educacional é congregar todas as outras
inteligências, acrescentar o sonho e a intuição para, com competência, inovar, criar,
sensibilizar e sensibilizar-se a fim de gerar resultados positivos, ou seja, para transformar
informação em conhecimento aplicável.
Para que melhor se visualize essa conexão entre inteligência empreendedora e a reconstrução
do conhecimento, é mister analisar os fatores que envolvem esse atrelamento: escola
empreendedora, professor empreendedor, aluno empreendedor, os vários tipos de inteligência
para então concluir-se sobre a função latente da inteligência empreendedora: construir e
(re)construir o conhecimento rumo à educação desta “nova onda”.
ESCOLA EMPREENDEDORA: A EDUCAÇÃO DIFERENCIAL DO
SÉCULO XXI
Escola empreendedora é aquela que se vale de uma rede de relações – os alunos, os
professores, os gestores, os administrativos e a sociedade – na busca de sua significação neste
cenário de mudanças. É aquela que se pauta por um discurso inovador, capaz de preparar
pessoas que assumem, que controlam a responsabilidade sobre seu próprio processo de
aprendizagem, que compreendem, representam, pla nejam, revisam formas, detectam e
corrigem seus próprios erros na busca de resultados qualquer que seja o empreendimento.
Corrobora com essa visão Belloni (1999), argumentando que:
“As sociedades contemporâneas e as do futuro próximo, nas quais vão atuar
as gerações que agora entram na escola, requerem um novo tipo de
indivíduo e de trabalhador em todos os setores econômicos; a ênfase estará
na necessidade de competências múltiplas do indivíduo, no trabalho em
equipe, na capacidade de aprender e de adaptar-se a situações novas. Para
sobreviver na sociedade e integrar-se ao mercado do século XXI, o indivíduo
precisa desenvolver uma série de capacidades novas: autogestão (capacidade
de organizar seu próprio trabalho), resolução de problemas, adaptabilidade e
flexibilidade diante de novas tarefas, assumir responsabilidades e aprender
por si próprio e constantemente trabalhar em grupo de modo cooperativo e
hierarquizado.”
Gerir dessa forma uma instituição de ensino é remetê-la para fora dos muros da escola e
buscar na sociedade os parceiros necessários ao seu sucesso. É fugir do autocentrismo que
direciona o foco de seu trabalho para dentro da própria organização, uma vez que coloca a sua
finalidade nela mesma.
Está-se falando de uma outra escola, menos voltada para o interior do próprio sistema de
ensino, diferente daquela na qual cada objeto de ensino esteja referido apenas no momento
seguinte da escolarização; menos centrada no acúmulo de informações para consumo no
próprio sistema escolar; menos orientada para uma falsa erudição enciclopédica; mais referida
ao tempo futuro em que a produção interna integra-se à produção da prática social e ao
desenvolvimento pessoal.
Dessa forma, e assim sendo, deixa de pautar-se pelo paradigma da sobrevivência pela
legalidade para fazer valer a sua legalidade em sobreviver. Para além do trocadilho de
palavras, esse paradigma desenha um outro sistema educacional facilmente traduzido por
incubadora social capaz de envolver toda a sociedade por meio de uma cultura que sinaliza
positivamente para valores empreendedores que priorizam a geração e distribuição de
riquezas, a inovação, a cidadania, a ética em todos os níveis, o respeito ao homem e ao meio
ambiente.
Isso significa uma (re)orientação de práticas para o fortalecimento da autonomia tanto da
instituição, do professor, quanto do aluno, numa perspectiva mais solidária e dialógica,
buscando um real envolvimento nas atividades desenvolvidas no cotidiano escolar. Uma
autonomia assim construída amplia os espaços de decisão e participação efetiva na sociedade
que sinaliza para indivíduos com capacidade de autogerir-se o que implica perceber no espaço
escolar uma oportunidade de desenvolvimento do verdadeiro empreendimento deste século: a
geração do conhecimento.
Segundo Wherthein (2001):
“O Relatório Mundial da Cultura, organizado por Pérez Cuellar, alerta para o
fato de que não basta apenas educar. É preciso empregar convenientemente
os conhecimentos adquiridos (...) não é mais suficiente alfabetizar e oferecer
um treinamento profissional rápido. É preciso estar-se atento às mudanças
que se operam no plano da progressiva internalização dos direitos da
cidadania, os quais se farão presentes, seguramente, nas agendas
internacionais e nacionais do século XXI.”
Para isso, como em qualquer outro negócio, há que se fazer uma análise conjuntural,
percebendo vantagens, oportunidades e riscos na relação professor-aluno-sala de aula-
sociedade. Dessa forma, observar o contexto interno, identificando os recursos, capacidades e
características que representem vantagens dessa relação a outras realidades (já que o discurso
corrente é: “aprende-se mais fora da escola que dentro dela”) e das quais deve-se tirar o
máximo de proveito para alcançar a construção de uma sociedade de cidadãos inventivos,
ousados e capazes.
Em contrapartida, deve também atentar para as suas fragilidades internas, ou seja, as
carências básicas que constituem um obstáculo para o desenvolvimento do potencial do aluno
no alcance de seus objetivos. Isso significa ponderar sobre a alienação que ainda persiste no
espaço escolar. Implica analisar qual é o verdadeiro cenário “escola”.
Analisar essa conjuntura educacional significa também vislumbrar as oportunidades que
podem ser aproveitadas na relação sala de aula, professor e aluno para o sucesso dos objetivos
traçados, gerando ações alternativas que favoreçam essa parceria na construção do
conhecimento.
Deve-se levar em conta, ainda, as ameaças externas ou, em uma linguagem empreendedora,
os riscos, fatos, situações e fenômenos que interferem no contexto sacralizado da sala de aula
e sobre os quais não se tem ou pouco se tem controle. Isso pode dificultar o alcance dos
objetivos e produzir um impacto negativo ou uma dificuldade se não for considerado.
Essa análise conjuntural do empreendimento “geração do conhecimento” aponta para
características, atitudes, habilidades e crenças que desenham o uso da inteligência
empreendedora na escola da Era do Conhecimento. A escola que deverá “lidar” com “o
ensinar e aprender para abrir as fronteiras de negócios com dimensões inimagináveis”
(Rosenburg, 2002)
PROFESSOR EMPREENDEDOR
O aprendizado deve ser o fenômeno que prepara o indivíduo para conceber a ação. Uma boa
educação deve buscar esse aprendizado. Segundo Alves (2002):
“uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor. O que resta
saber é se as escolas estão dando uma boa educação. Os burocratas
pressupõem que os alunos ganham uma boa educação se aprendem os
conteúdos dos programas oficiais. E, para testar a qualidade da educação,
criam mecanismos, provas e avaliações, acrescidos dos novos exames
elaborados pelo Ministério da Educação.”
Reforçando as palavras dese autor, Martín-Barbero (2000) acrescenta que o professor de hoje
sabe recitar muito bem sua lição e tem, à sua frente, um alunado que, por osmose com o meio
ambiente comunicativo, está embebido de outras linguagens, saberes e escrituras que circulam
pela sociedade. Estes configuram o chamado saberes-mosaicos (A.Moles, ibid), ou seja, são
feitos de pedaços, de fragmentos, o que não impede os jovens de terem, com freqüência, um
conhecimento mais atualizado que seu próprio professor.
Esse quadro é, certamente, a conseqüência de um modelo pedagógico falido, pautado no
autoritarismo e na centralização de poder cujo foco vai para longe do aprender a conviver e
harmonizar-se em prol do desenvolvimento das potencialidades necessárias à sobrevivência
neste mundo globalizado.
Partindo do desenho traçado para a educação apresentado pelos autores acima citados,
concebe-se, na contramão, o professor empreendedor. Este, ao contrário do que se vê, percebe
como sujeito da educação o corpo, porque no corpo está a vida. Melhor, “é o corpo que quer
aprender para poder viver, é ele que dá ordens” (Alves, 2001).
A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que
ela era “ferramenta” e “brinquedo” do corpo. Nisso, acredita-se que se resume o programa
educacional do corpo: aprender “ferramentas”, aprender “brinquedos”. Ferramentas são
conhecimentos que permitem ao homem resolver os problemas vitais do cotidiano.
Brinquedos são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramenta, dão
prazer e alegria à alma.
Assim, no escopo deste artigo, utilizar a inteligência empreendedora na ação pedagógica é ser
capaz de fazer valer ferramentas e brinquedos, de tal forma que o lado direito e esquerdo do
cérebro estejam tão imbricados que estudar se transforme em desafios permanentes.
Para que essa inteligência aflore, o professor precisa buscar atitudes, habilidades e crenças, ou
seja, criar uma rede de habilidade, conforme apresentada por Haeming (2001), mostrada na
figura 1.
Figura 1 – Rede de habilidades para o professor empreendedor
• Conhecer e acompanhar as
mudanças analisando seus
impactos
• Discutir a realidade dos alunos
• Ser um “agente de mudanças”
• Espírito de equipe
• Prática de delegar
responsabilidades
• Descobrir talentos
• Motivar
• Negociar
• Estar aberto a mudanças
• Ser audacioso
• Criticar, sugerindo alternativas
• Comprometer-se com resultados
• Declarar guerra à burocracia, à
acomodação, ao imobilismo
• Exercitar o potencial criativo
Transformar Processo Visão decisório idéias
em resultados estratégica
Relacionamento
Interpessoal
Descentralização
Autoconhecimento
Transformar idéias
em resultados
Processo decisório
Dessa forma, verifica-se que o professor empreendedor denota a introjeção de valores,
atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo, voltados para
atividades em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e de conviver com a incerteza
são elementos indispensáveis para o sucesso do seu ato de educar.
ALUNO EMPREENDEDOR: UM SER SOCIAL
• Gostar de gente
• Conhecer seus alunos
• Garantir o feedback
• Utilizar conflitos como
oportunidades, negociação e
solução de problemas
• Oportunizar liberdade de
expressão
• Estimular a parceria
• Conhecer seus talentos e
fraquezas
• Convencer-se de que não sabe
tudo
• Acreditar que cada ação é uma
oportunidade para o aprendizado
• Enfrentar desafios
• Correr riscos
• Não ter medo de
errar
• Expor e discutir
suas idéias
O homem é um ser social. O aluno é um homem, portanto o aluno é um ser social. Por mais
óbvias que sejam essas assertivas, o que este artigo propõe, para o estudo do perfil do aluno
destes novos tempos, passa pela real compreensão do que elas dizem.
Pela análise conjuntural da sociedade deste século, verifica-se a grande era de incertezas. O
que é hoje, não será amanhã. O homem vive em busca de um futuro que não lhe está
delineado e quem com ele combate, nessa procura, são verdades temporárias, são jogos
formatados a cada segundo, com regras criadas a cada contexto e adaptadas ao momento
vivido.
O aluno, dessa forma, ao ser denominado social, buscará encontrar ferramentas para além de
sua sobrevivência, quer ele instrumentalizar-se para atingir o seu sucesso. Assim, a escola que
lhe é apresentada é questionada. O aluno empreendedor problematiza a realidade que lhe
apresenta o sistema escolar. Ratifica essa afirmação Martín-Barbero (1999), quando, ao fazer
uma análise do sistema comunicativo educacional subjacente a nossa cultura, constata que:
“Cada dia mais estudantes testemunham uma experiência desconcertante:
reconhecer como seu professor conhece bem a matéria, mas ao mesmo
tempo constatar que esses conhecimentos se encontram seriamente
defasados em relação aos conhecimentos e linguagens que circulam por fora.
O corpo estudantil vê-se empapado por esses conhecimentos em forma de
mosaico que, como informação, circulam pela sociedade...”
É fácil perceber que o aluno, ao posicionar-se dessa forma, quer mais do que a informação
passada – muitas vezes de maneira caótica – pelo professor. Ele quer ir além, quer
instrumentalizar-se para aproveitar essas informações de forma a conectá-las com as suas
necessidades de intervenção no mundo.
O aluno de hoje quer a provocação, a interação, a reflexão, a motivação para a sua ação de
“aprender”. Ele percebe no mercado de trabalho que o “modelo fordista” felizmente acabou.
O adestramento cedeu lugar ao conhecimento. A educação passou a ser um ingrediente de
produção tão valioso como, por exemplo, a energia.
Por outro lado, estudos comprovam que no movimento para a aprendizagem, o cérebro/mente
elabora e cumpre regras, isso mostra que, de todo, a formatação do sistema escolar precisa de
um redirecionamento, já que pessoas educadas, mais que treinadas, estarão em melhores
condições de repensar alternativas.
AS INTELIGÊNCIAS E O HOMEM DO SÉCULO XXI
Diferentes concepções sobre inteligência vêm surgindo ao longo do tempo. Para alguns
estudiosos, a inteligência estaria determinada por fatores genéticos, hereditários, que uma vez
estabelecidos poderiam ser pouco modificados pelas interferências do meio no qual o
indivíduo estaria inserido. Para outros, no entanto, a inteligência dependeria fortemente do
meio social para se desenvolver. Assim, a inteligência não pode ser conceitualizada à parte
do contexto em que vive o indivíduo, o que aponta para a compreensão de que a inteligência
existe também, fora do corpo físico (Smole, 1998). Fato é que por muito tempo a concepção
de inteligência foi a de uma grandeza passível de mensuração para fundamentar a idéia de
inteligência única.
As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia postulam que as
habilidades cognitivas são bem mais específicas e diferenciadas do que se acreditava
(Gardner, 1985). A inteligência não é algo que se tenha ou não se tenha, é sobretudo algo que
se vai fazendo e desfazendo em situações individuais e coletivas. A inteligência faz muitas
coisas: inventa projetos, valora, constrói critérios, cria novas técnicas, avalia e mantém
tarefas, liberta-se do determinismo da situação. Por si só, a inteligência tem uma
característica criadora por não ser uma operação única, mas antes, uma forma de realizar
múltiplas atividades mentais, transfigurá-las e reconstruí-las; envolve percepção, memória,
imaginação, atenção, sentimentos enlaçados numa rede de competências e domínios (Marina,
1995).
Dessa forma, Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Harvard, entra no cenário das
pesquisas, ultrapassando a noção comum de inteligência, assumindo uma posição de que há
evidências de diversas competências intelectuais humanas relativamente autônomas, as quais
chama de múltiplas inteligências.
Para o autor, inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que
sejam significativos em um ou mais ambientes culturais (Gardner, 1994).
Gardner postula que a competência cognitiva humana seja descrita em termos de um conjunto
de capacidades, talentos ou habilidades mentais chamado "inteligências". Estas são, na
concepção do autor, independentes umas das outras, mas interagem entre si, raramente
funcionando isoladamente.
Conforme o autor, abrigamos no domínio de nossa mente, oito inteligências (Gardner, 1995;
Gama, 1998):
a) Inteligência lingüística ou verbal: caracteriza-se por uma sensibilidade para os sons,
ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções
da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou
transmitir idéias. É a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas, escritores,
advogados, atores. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para
contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas.
b) Inteligência sonora ou musical: manifesta-se pela capacidade para apreciar, compor ou
reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber
temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir
e/ou reproduzir música. A criança com habilidade musical especial percebe desde cedo
diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma.
c) Inteligência lógico-matemática: manifesta-se como uma sensibilidade para padrões, ordem
e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da
manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a
habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É
a inteligência característica de matemáticos e cientistas. Contudo, os motivos que movem
as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos
desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza.
A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer
cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio.
d) Inteligência espacial: destaca-se como a capacidade para perceber o mundo visual e
espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente
e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa
representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e
dos arquitetos. Em crianças, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da
habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais.
e) Inteligência cinestésico-corporal: refere-se à habilidade para resolver problemas ou criar
produtos por meio do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a
coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos
movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. Seu estímulo ensina a
"ver" e não apenas olhar. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se
move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais; demonstra uma
grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
f) Inteligência interpessoal: associa -se à habilidade para entender e responder
adequadamente a humores, temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas. Ela é
melhor apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores
bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em
crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais
avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para
reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas
demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são
extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
g) Inteligência intrapessoal: percebe-se por meio da habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de
problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e
inteligências próprias; é a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a
habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. É observável através
dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações
lingüisticas, musicais ou cinestésicas.
h) Inteligência naturalista, biológica ou ecológica: revela -se pela perícia em se identificar
membros de uma mesma espécie, reconhecer as demais espécies e em mapear relações
entre os diferentes; manifesta-se em diferentes níveis, do jardineiro ao paisagista,
permitindo maior sensibilidade na descoberta da vida e da morte e maior integração a um
sentido de beleza, ao mesmo tempo estético e existencial (Antunes, 2001).
Ao apresentar o modelo das inteligências, Gardner suscita o caráter múltiplo que a
inteligência apresenta e a possibilidade de se olhar para as manifestações da inteligência como
uma teia de relações, tecida entre todas as dimensões que se estabelecem nas possibilidades de
manifestação da inteligência. As implicações educacionais que esta teoria traz estão
relacionadas com a formação de um novo cidadão, mais feliz, mais competente, com
capacidade para o trabalho em equipe, emocionalmente mais equilibrado, mais criativo, com
espírito empreendedor, e principalmente com capacidade para ser cidadão (Smole, 1998).
O que se pode acrescentar a essa teoria das múltiplas inteligências, trazendo para o foco deste
artigo, é que a educação brasileira – e por que não a mundial – privilegiou e privilegia as
inteligências lógico-matemática e lingüística, deixando em segundo plano as restantes.
Acresce-se a essa realidade que em uma sociedade essencialmente cartesiana, como a nossa, a
predominância do racional sobre o emocional e intuitivo é evidente.
Por outro lado, e de forma paradoxal, as portas estão se abrindo para aqueles que dominam as
inteligências menos estimuladas. Nesse aspectos, chega-se à questão: a inteligência
empreendedora. Aquela que é capaz de lançar o indivíduo a soluções inusitadas de forma
surpreendente e geradora de sucesso. É por ela que, juntando todas as outras inteligências, a
realidade fantástica e inatingível passa a ser realidade vivida e mensurável.
Nesse contexto, a aprendizagem inovadora dar-se-á por meio do trabalho centrado em
habilidades múltiplas. O homem do século XXI deverá ser preparado pelas instituições de
ensino para ser inovador, eficaz, eficiente e efetivo, realizador, agregador de valores e gerador
de resultados, negociador. Deverá ser preparado para ser ativo, auto-motivado, apaixonado
pelo cliente, interessado.
É papel da educação responder às necessidades e atender às demandas exigidas pelo mercado.
O país vive desafios que requerem competências nunca antes enfatizadas e valoradas,
capacitação para respostas urgentes, obtenção de vantagens competitivas.
O educando precisa ser preparado para os nichos de mercado, para os desafios, para as
oportunidades, por um Escola Empreendedora, uma escola receptiva, predisposta e preparada
para a inovação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se verifica, para efeitos de considerações finais deste estudo, é que, em havendo um
crescimento jamais visto no empreendimento educação, não apenas por questão demográfica,
mas, essencialmente, por causa da sociedade do conhecimento, já que, segundo Drucker (apud
Rosenburg, 2002), “trata-se de uma era em que os ativos físicos, como instalações ou
máquinas, perderam importância para o ativo intelectual. Nela, o conhecimento se move de
modo ainda mais fluido do que o dinheiro e é um bem tão indispensável quanto vendável. O
conhecimento tornou-se o principal recurso econômico e o único marcado pela escassez. E
como ele se torna rapidamente obsoleto, os trabalhadores que o utilizam precisam retornar
regularmente à ‘escola’.”
As escolas deverão estar à frente, administrando essa mudança, esse crescimento. Mais ainda
deverão viabilizar estratégias centradas na geração desse conhecimento que passa a ser o
capital ativo de competição na busca de resultados.
A sobrevivência nesse cenário aponta a inteligência empreendedora como uma estratégia na
formação do cidadão deste século: a pessoa realizada porque está em sintonia com as suas
necessidades e as necessidades da sociedade em que vive e sente-se capaz de supri-las. Ela
pode viabilizar uma educação plural como o são as pessoas e suas idéias, encaminhando-as
para a vida, para a realização de seus projetos, para que elas sejam felizes. O uso da
inteligência tem que ser mobilizado para esse fim. E, para isso, a escola tradicional, em que se
enfatiza primordialmente a inteligência lógico-matemática, o ensino conteudisda, a
memorização, não basta; atender só às demandas do mercado competitivo também não. É
preciso uma estratégia educacional renovada que alie conhecimento e prazer.
Nessa aliança, desencadeada pelo uso da inteligência empreendedora, o prazer ensina o
homem a ter cuidado consigo mesmo, a começar a construir um amor próprio, descobrir o seu
próprio “self”, a ter uma autoconsciência, a fazer de seus atos e gestos uma resposta a esta sua
interioridade, enfim, ele começa a viver.
O uso da inteligência empreendedora, como aqui delineada, injeta motivação no ato de
aprender que passa a ser uma criação de valores e esses são ferramenta para estar a frente das
mudanças contextuais. O aprender passa a fazer parte de uma visão de futuro, que mesmo
sendo incerto, estimula o jovem a identificar valores essenciais e a expressá-los
desenvolvendo posturas de integridade pessoal, desafiando-o a criar para si mesmo uma
perspectiva que o entusiasme, buscando a sua energia criadora. Em conseqüência disso,
soluções antes impensadas têm mais probabilidades de virem à tona e propiciar vantagens
sustentáveis para qualquer contexto em que ele atuará.
A inteligência empreendedora faz com que o aluno seja evidenciado mais que qualquer
recurso de aprendizagem. Os valores e crenças das pessoas exercem forte impacto sobre o
gerenciamento do processo educacional, nessa perspectiva, pois determinam, em grande
medida, aquilo que o sujeito vê, absorve e conclui a partir de suas observações. Pessoas com
diferentes valores “vêem ou percebem” diferentes coisas numa mesma situação e organizam
seu conhecimento em função de seus valores. Aí está o verdadeiro caráter da educação: o
dialético. Para cada tese apresentada deve, necessariamente, haver uma antítese que, postas
em confronto, fazem emergir uma síntese, ou seja um conhecimento construído que vai ser
transformado em bem pessoal e coletivo.
Muito ainda há o que se pesquisar com relação à inteligência empreendedora, quer aplicada à
educação, quer a outros ramos. Sem dúvida, porém, ela é a grande catalizadora na “caçada” de
oportunidades e neutralização de ameaças qualquer que seja o ambiente. Ela é dotada de uma
notável e especial faculdade para, de forma competente, fragmentar (fatia r) desafios,
transformando-os em somatórios de pequenos desafios, quando confrontados com o quadro
original de partida.
O que se pode afirmar, por ora, é que valorizar a pessoa e a inovação permanentes está
centrado nesse tipo de inteligência. Nesse contexto, a educação pressupõe uma busca criativa
e permanente da inovação, ao mesmo tempo em que lida com o conhecimento e o vê como
um ativo; sentindo, pois, a necessidade de geri-lo e cercá-lo do mesmo cuidado dedicado à
obtenção de valor de outros ativos mais tangíveis (notas, provas, boletins). Pressupõe,
também, motivação para aprender. E motivação só é possível se os educandos se identificam
no processo e consideram significativas as ações nele desencadeadas.
É assim que a educação poderá gerar conhecimento disponibilizado de forma assertiva para o
“sucesso da humanidade”.
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