Discurso-Vera Delascio Lopes - Clínica Prof. Antonio Carlos Lopes

Eu gostaria inicialmente de agradecer aos organizadores deste simpósio:
Profs. Rubens Belfort Júnior e Cristina Muccioli o honroso convite de
participação, acreditando que eles assim o fizeram como que para homenagear
mais diretamente o grande estudioso do assunto que motiva este encontro que
foi o Prof. Domingos Delascio de quem tive a dádiva divina de ser filha.
Falar aos senhores sobre o binômio: DELASCIO e a TOXOPRASMOSE e
suas influências reciprocas é como contar-lhes a história de um grande Amor.
Romance este que teve início em 1953 logo após o falecimento do grande
Mestre da Obstetrícia Paulista: Raul Briquet.
Falava-se então num possível concurso para a cátedra de obstetrícia da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e queria Delascio estar
preparado para tal eventualidade com uma tese pronta sobre um assunto
inédito e que tivesse importância relevante para a Obstetrícia.
Em conversas com seu dileto e particular amigo Prof. Carlos da Silva Lacaz
foi por este estimulado a estudar a TOXOPLASMOSE.
Levado por LACAZ conheceu o ilustre Prof. Paulo Nóbrega - Chefe de
Microbiologia do Instituto Biológico de São Paulo. Teve este a árdua tarefa de
manter o irrequieto Delascio no banco de um laboratório frente a um
microscópio.

Com este novo conhecimento e destas novas microscópicas visões
Delascio definitivamente se apaixona por este Protozoário tão bem descrito por
Splendore no Brasil em 1908 e concluiu o que seria o primeiro capítulo de sua
famosa monografia sobre a Toxoplasmose congênita.
Começam em seguida as observações clínicas e os estudos laboratoriais e
anatomopatológicos.
Conta Delascio com a ajuda inestimável de seus grandes e inseparáveis
amigos:
# CLEMENTE - o Poliglota, o rato de Bibliotecas que tudo achava e traduzia
para ele.
# CREDIDIO e GUARIENTO - sempre presentes no seu dia a dia juntos no
elucidar de todas doenças tocoginecológicas.
# DELIVENERI - amigo desde os bancos do primário até o fim da faculdade de
Medicina.
# LUISI - o homem do juízo final aquele que confirmava ou desmentia o
diagnóstico
# CIARI JUNIOR, MORBIN, CROSSO, REFINETTI, LEMMI, LEFEVRE,
BERUTINI, TANGANELLI, BATISTA DOS REIS, ANTONIO BEI e outros tantos.
Todos começam a encaminhar-lhe os casos que chegam à Casa Maternal
Leonor Mendes de Barros, ou à Maternidade Philomena Matarazzo ou ao
consultório particular.
2

Com a avaliação destes casos vai Delascio adquirindo conhecimentos
profundos sobre a moléstia e tendo firmeza na diagnóstico correto e nas
condutas clínicas, obstétricas e pediátricas.
Estabeleceu normas e conceitos importantes no que diz respeito ao
diagnóstico laboratorial da infecção aguda e crônica.
Seguramente dentro do estudo da Toxoplasmose o que mais atraia
Delascio era a multiplicidade das manifestações clínicas no organismo
humano, particularmente na mulher e principalmente na gestante.
Dizia ele que tinha que estar com vários especialistas: clínicos,
oftalmologistas, neurologistas, obstétras, pediatras e patologistas para que o
melhor fosse feito pelos pacientes.
Todos sabem que para ele um obstetra se diferencia pelos seus
conhecimentos de Clínica Médica e o estudo seguido e por anos desta moléstia
o pôr em contato com o que havia de melhor na Medicina daquela época.
Infelizmente findo o trabalho em 1956 o tão esperado concurso não ocorreu
devido as perspicácias da carreira universitária, mas pode ver Delascio o seu
“Luziadas” espalhando por todo este Brasil trazendo novo rumo ao diagnóstico,
conduta e tratamento da Toxoplasmose.
3

Tive a oportunidade de por 20 anos acompanhar medicamente meu pai e
seguramente em todos estes anos 20% de seus atendimentos eram de
mulheres gestantes com exames alterados para Toxoplasmose e que queriam
a sua opinião sobre a possível interrupção ou não de sua gestação.
Muitas das pacientes que ainda hoje atendo ali não estariam se não fosse a
segurança que Delascio garantia no diagnóstico e na conduta das gestações
de suas mães.
Sempre que podia me fazia estudar Clinica Médica e dizia que tirara os
clássicos da obstetrícia de seu criado mudo e os substituíra pelo Cecil ficando
ele muito feliz quando me casei com seu aluno Antonio Carlos Lopes, hoje
Professor Titular desta Escola e, segundo ele, clínico e um Cecil ambulante.
Não poderia terminar sem antes narrar-lhes um fato se não curioso,
misterioso:
- Assim que recebi o convite fui com a Dra Regina que comigo trabalha a
biblioteca de meu pai com o intuito de achar seus manuscritos e esta Revista
que tenho ora em mãos. Após 30 minutos de infrutífera procura olhei para cima
e disse: Pai se você está emocionado com esta homenagem e orgulhoso que
seus queridos alunos continuam sua obra e enobrecem a sua tão amada
Escola Paulista de Medicina me ajude.
Ao olhar novamente para uma determinada estante vejo um livro riscado com o
nome Credidio e penso - sempre juntos - subo os degraus da escada e apanho
o referido volume e para nossa surpresa nada mais era do que esta Revista.
4

Terminando faço minhas as palavras de meu marido:
Delascio foi a única pessoa da minha vida que se foi e que não fez falta pois
o sinto presente no meu dia a dia e tudo que faço, realizo e consigo é como se
fosse com o seu aval e com as suas orientações de ordem médica, moral e
espiritual.
Muito obrigada
5