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Obra Completa - Bad Request - Universidade de Coimbra

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Paschoa<br />

Celebra hoje o catholicismo<br />

uma das festas mais suggestivas e<br />

emocionantes do symbolismo chrislão.<br />

Atravez dos séculos, viva sempre<br />

nas tradições <strong>de</strong> lodos os povos,<br />

a lenda da Resurreição do Christo<br />

lem lido sempre a sua consagração<br />

nas festas da Paschoa, como feslas<br />

apotheolicas do primeiro propugnador<br />

da Liberda<strong>de</strong>, d'aquelle que,<br />

<strong>de</strong>pois da perseguição mais cruenta,<br />

dos flagícios mais infamantes, re-<br />

.surgiu vivo e são, sublime e perfeitíssimo,<br />

para a vida immactilada da<br />

Eternida<strong>de</strong>, essa vida gloriosa que<br />

se vive no coração e na alma dos<br />

Povos.<br />

E que Jesus, encarnação i<strong>de</strong>al<br />

do que lia <strong>de</strong> mais perfeito e <strong>de</strong><br />

mais santo, <strong>de</strong> mais elevado e <strong>de</strong><br />

mais puro, confundiu o seu nome,<br />

para lodo o sempre, com a historia<br />

da Humanida<strong>de</strong>, a que a elevação<br />

da sua Doutrina, a suavida<strong>de</strong> da<br />

sua Moral, abriu uma nova era para<br />

a re<strong>de</strong>mpção social; é que a Vida<br />

<strong>de</strong> Jesus, na sublimida<strong>de</strong> da sua<br />

singelleza, na doçura da sua humilda<strong>de</strong>,<br />

imperou, principalmente, no<br />

coração dos simples, dos humil<strong>de</strong>s,<br />

encarnou na alma popular e <strong>de</strong> tal<br />

modo, que ainda boje na imaginação<br />

do Povo se <strong>de</strong>senha a sua figura<br />

encantadora e suave, cheia <strong>de</strong><br />

mansidão e <strong>de</strong> paz.<br />

A lenda <strong>de</strong> Jesus, Ião poética e<br />

Ião inebriante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros<br />

vagidos no eslabulo <strong>de</strong> Belhlem até<br />

ás ultimas palavras, sublimes <strong>de</strong><br />

resignação e <strong>de</strong> esperança, no cume<br />

do Golgolha, vem atravessando,<br />

ha tantos séculos já, as evoluções<br />

da Humanida<strong>de</strong>, airavez <strong>de</strong> convulsões<br />

sem nome, e sempre pura, e<br />

sempre bella.. .<br />

O fulgor irradiante dos seus<br />

conceitos profundos; o brilhantismo<br />

dos seus ensinamentos phiiosophicos;<br />

a pureza da sua vida immaculada;<br />

o encanto da sua predica dulcíssima,<br />

impregnaram d'um tal perfume<br />

<strong>de</strong> sympalhia e <strong>de</strong> amor a sua<br />

obra collossal e re<strong>de</strong>mplora, quenem<br />

as perseguições ionarraveis do<br />

Império; nem as truculentas e sanguinarias<br />

orgias do Papado; nem os<br />

crimes escandalosos e infames do<br />

Clero; nem as sangrentas e eternamente<br />

con<strong>de</strong>mnaveis guerras da<br />

Religião; nem os horrores cruéis,<br />

ferozes, da Inquisição, vergonha<br />

eterna;-^nem os Imperadores, nem<br />

os Papas, nem os Padres, nem os<br />

Reis, nem os Torquemadas, po<strong>de</strong>ram<br />

nunca afundal-a, <strong>de</strong> envolta<br />

com os seus crimes, votados á elerna<br />

execração dos Povos.<br />

Philosopho grandioso, inegualavel;<br />

Revolucionário <strong>de</strong>molidor <strong>de</strong><br />

mn velho mundo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spotismos,<br />

para levantar <strong>de</strong> novo um mundo<br />

novo cheio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias as mais elevadas<br />

e as mais nobres; Nivelador <strong>de</strong><br />

todas as <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong>s sociaes,<br />

subinetlendo todos á mesma lei suprema<br />

do Amor e da Fralernisação<br />

universal; Apostolo fremente d'um<br />

gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, lodo elle perfeição e<br />

sublimida<strong>de</strong>; Conquistador glorioso<br />

da mais gloriosa das conquistas—<br />

Defen<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

a conquista da Consciência humana<br />

pela, uncção, pela humilda<strong>de</strong>, pelo<br />

exemplo, pela divina eloquencia da<br />

mais divina das concepções, — as<br />

suas armas rutilantes <strong>de</strong> combate<br />

— Jesus Christo, a Figura épica<br />

sobre Iodas as que se salientam na<br />

historia do mundo, é o centro para<br />

on<strong>de</strong> convergem hoje as adorações<br />

dos homens, que veem nelle o Symbolo<br />

dá Aspiração humana.<br />

Resurgiu! Ergueu-se do aniquilamento<br />

para viv.er eternamente<br />

na glorificação eterna da religião<br />

que fundou; levanlou-se para ascen<strong>de</strong>r<br />

tranquilamente, divinamente,<br />

soberano e magestoso* acima da<br />

Humanida<strong>de</strong>, que elle fez resurgir<br />

e levanlar-se do aniquillamento do<br />

Passado, ao influxo divinal dos seus<br />

princípios sublimes.. .<br />

Feslas da Paschoa, feslas da<br />

Paschoa. .. como a alegria doida<br />

dos sinos que repicam, vibrantes,<br />

por essas campinas fora, dá a nota<br />

hilariante do reconhecimento humano<br />

por esse Homem-Deus que<br />

abnuáHumanida<strong>de</strong> um novo ÍUIUKO<br />

vasto, illuminado, cheio do sol da<br />

Justiça e da Liberda<strong>de</strong>... Como<br />

o perfume que se evola d'essas al<strong>de</strong>ias<br />

juncadas do rosmaninho rescen<strong>de</strong>nle,<br />

lembra a santa admiração<br />

que lodos nós levamos aos pés<br />

do Heroe glorificado, Martyr d'uma<br />

gran<strong>de</strong> I<strong>de</strong>ia.. .<br />

Feslas da Paschoa, feslas da<br />

Paschoa.. . como o vosso symbo-<br />

Iismo é suggeslivo e emocionante...<br />

*<br />

Insirucção primaria<br />

Os srs. ministros do reino, fazenda<br />

e obras publicas, Iraballiatn activamente<br />

no estudo das bases para a reforma da<br />

legislação sobre insirucção primaria-<br />

Oxalá que saia coisa <strong>de</strong> geito ; para<br />

ser melhor do que está não é necessário<br />

muito.<br />

O nobre marquez<br />

Passeia por Lisboa um titular, encarnação<br />

viva da philantropia, que tem <strong>de</strong>slumbrado<br />

os basbaque» com a generosida<strong>de</strong><br />

ostentosa da sua bolsa, nas lestas<br />

<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. E contam-se d eite rasgos<br />

philantropicos <strong>de</strong> admirar, como ollertas<br />

<strong>de</strong> carteiras abarrotadas <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> banco<br />

a damas altamente çoliocauas, por occasião<br />

<strong>de</strong> Kennesses espaventosas; centos <strong>de</strong><br />

mil réis por um camarote em noites <strong>de</strong><br />

beneficio, e muitas outras acções generosas,<br />

que teem Jeito voar na aura da imprensa<br />

o nome aureolado do illustre marquez<br />

<strong>de</strong> tranco, nobre, banqueiro e millionano.<br />

Pois ha poucos dias, quando, pela 1<br />

hora da tar<strong>de</strong>, o caritativo lidalgo ia a<br />

entrar para o seu opulento escriptorio,<br />

na rua dos Capellistas, uma pobre mulher<br />

vestida quasi <strong>de</strong> andrajos, que o esperava<br />

a porta, entregou lhe uma carta.<br />

O gran<strong>de</strong> senhor, olhando a pobre<br />

mulher do alto da sua opulência e com<br />

a sobranceria d'um banqueiro pouco dado<br />

a enternecimentos pelas misérias dos<br />

outros, perguntou-lhe altivo:<br />

— Quem me envia isto ?<br />

— Sou eu, meu senhor, tenho fome.<br />

A carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> v. ex. a é muito faltada, e<br />

eu vinha pedir-lhe uma esmola...<br />

O nobre marquez não quiz ouvir<br />

mais; atirou a carta para o chão num<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo, e entrou, indillerente,<br />

no escriptorio...<br />

Que bom marmanjo nos saiu est,e<br />

fidalgo, que comprehen<strong>de</strong> a carida<strong>de</strong> como<br />

os pnariseus... só ao som <strong>de</strong> trombetas!<br />

Quem te conhecer, pau <strong>de</strong> laranjeira...<br />

Perdõe-nos, mirífico senhor!<br />

Dividas á fazenda<br />

São muitos os figurões que <strong>de</strong>vem á<br />

fazenda grossas quantias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cimas relaxadas,<br />

e entre elles contam se os srs.<br />

Barjona <strong>de</strong> Freitas, que <strong>de</strong>ve 2 contos <strong>de</strong><br />

réis e marquez <strong>de</strong> Vallada, Serpa Pinto<br />

e her<strong>de</strong>iros do dr. Pinto Coelho, que<br />

<strong>de</strong>vem, cada um, mais <strong>de</strong> 1 conto <strong>de</strong><br />

réis.<br />

É vergonhoso.<br />

Os bancos do Porto<br />

Parece que está <strong>de</strong>stinada a questão<br />

dos bancos do Porto a causar muitos<br />

amargos <strong>de</strong> bocca ao actual ministério,<br />

e principalmente aos srs. llintze Ribeiro<br />

e Fuschmi. Aquelle, porque a situação<br />

d'aque!les estabelecimentos <strong>de</strong> credito a<br />

elle se <strong>de</strong>ve, como iniciador e fomentador<br />

das negociatas <strong>de</strong> Salamanca; a este,<br />

porque reconhece a melindrosa situação<br />

dos bancos e as consequências da <strong>de</strong>rrocada<br />

eminente, e, comtudo, não po<strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r-lhes<br />

a esmola nem <strong>de</strong> um real —«<br />

não porque lhe falte, talvez, vonta<strong>de</strong>,<br />

mas pela simples razão <strong>de</strong> que... no<br />

hay.<br />

Mas ainda tem que arrostar o sr.<br />

Fuschmi, segun se cuenta, com a vonta<strong>de</strong><br />

do personagem mais altamente collocado<br />

no paiz, (jue aconselha e insiste pela entrega<br />

aos baucos do Porto do melhor <strong>de</strong><br />

2:0.1)0 contos <strong>de</strong> réis... Mas o sr. Fuschim,<br />

que é pouco maleavel, faz-se forte,<br />

resiste, e appella para as cortes, quando<br />

se reunirem.<br />

Que farão ellas ? Provavelmente o<br />

costume; iuspiram se antes nos interesses<br />

<strong>de</strong> meia dúzia, sem consi<strong>de</strong>ração<br />

pelos interesses geraes, e dão aos bancos<br />

o que elles pedirem. Estaremos il.udidos?...<br />

Ve<strong>de</strong>remo e doppo parleremo.<br />

No emtanto, os accionistas dos baucos<br />

veem-se, na sua gran<strong>de</strong> maioria, reduzidos<br />

a miséria, luctando com as maiores<br />

ditliculdadcs, alguns teudo perdido<br />

nas aventuras criminosas d'aquelles estabelecimentos<br />

toda a sua fortuna, e os<br />

directores, administiadores e tutti quanti<br />

que os comprometeram, vão passeando,<br />

engalanados, os ventres pançudos <strong>de</strong><br />

banqueiro que se presa...<br />

Ali 1 que se em Portugal houvesse<br />

justiça recta e lirme, ao menos as victimas<br />

<strong>de</strong>sses homens teriam, quando não<br />

parte do seu dinheiro, ao menos a satisfação<br />

<strong>de</strong> verem punidos os que os esbulharam<br />

! Mas assim...<br />

Feira <strong>de</strong> bois<br />

em S. Pedro d'Âlva<br />

Foi iuaugurado no domingo próximo<br />

passado este mercado, que continuará a<br />

ter logar em todos os quartos domiugos<br />

<strong>de</strong> cada mez.<br />

ilouve muita concorrência <strong>de</strong> gado,<br />

elíectuando-se já bastantes transacções.<br />

Espera-se que venha a tomar muita<br />

iinportancia esta feira por ser muito central<br />

para os povos d aquellas immediaçeõs.<br />

Correios e telegraphos<br />

No dia 20 d'al)ril, pelas 9 horas da<br />

manhã, realisar-Se-hão as provas do concurso<br />

dos empregados telegrapbo-postaes<br />

para admissão e promoção. As provas verificaui-se<br />

nas capitaes dos districtos<br />

administrativos do continente e Fuuchal.<br />

Para os districtos açorianos fica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

a realisação d'eslas provas da opportuna<br />

lixação do dia, que será annunciado.<br />

Canonisação<br />

Trati-se <strong>de</strong> canonisar o con<strong>de</strong>stavel<br />

D. Nuno Alvares Pereira. De instruir o<br />

processo canonico foi encarregado, pelo<br />

Vaticano, o prior <strong>de</strong> S. Nicolau, <strong>de</strong> Lisboa,<br />

sr. dr. Francisco Alçada <strong>de</strong> Paiva,<br />

que tem o processo já bastante a<strong>de</strong>antado.<br />

Canonisado o con<strong>de</strong>stavel, ficar-se-á<br />

chamando S. Nuno <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

ÂNNO I <strong>Coimbra</strong>, 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 74<br />

do Povo<br />

Notas impressionistas<br />

Na terra <strong>de</strong> Christo<br />

Quinta feira santa. Os sinos das<br />

egrejas espalharam pela amplidão, prestes<br />

ao meio dia, umas echonçõts melancólicas<br />

que enchem os corações d'uma uncção<br />

<strong>de</strong> suprema pieda<strong>de</strong>, d'um sentimentalismo<br />

tão christão e vago que parece escoar-se<br />

d'um canteiro virente <strong>de</strong> myosotis.<br />

. .<br />

Aquelle dlãodão, compassado e altivo,<br />

é, na geli<strong>de</strong>z lugubre do bronze, a lingua<br />

morta dos sonhos i<strong>de</strong>aes. D'aquelle som<br />

confuso e disperso, emana uma vaga nostalgia<br />

<strong>de</strong> affeclos sobre-humanos que parecem<br />

vibrar a <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós como<br />

repressão temeraria ás Àllucinações.<br />

Parece a voz enorme d'um Tudo-i<strong>de</strong>al,<br />

que brame, iroso e omnipotente, empinado<br />

na sua auctorida<strong>de</strong> invicta, contra a<br />

abjecção dos Maus que <strong>de</strong>sferem as plangencias<br />

ru<strong>de</strong>s d'um ru<strong>de</strong> industrialismo<br />

nas lyras hereticas da Matéria...<br />

< Declina a tar<strong>de</strong>, envolta num enorme<br />

ante-ceu côr <strong>de</strong> cinza. Em todos os rostos<br />

que caminham ao templo a ver a face macilenta<br />

e ensanguada <strong>de</strong> Jesus da Galilêa,<br />

<strong>de</strong>scobre-se, em linhas vivas, um<br />

mixto <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> dôr. A hypocrisia,<br />

<strong>de</strong>sfeita, enramou se gentilmente <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>.<br />

A todos os lábios afHora, na graciosida<strong>de</strong><br />

languida das coisas divinas, o<br />

verbo macio do Amor. Tudo enluctado.<br />

A paixão do phiiosopbo parece que impregnou<br />

d'um mysticismo santo esta geração<br />

ankilosada <strong>de</strong> paixões ignóbeis.<br />

Os templos, no interior, revestem a<br />

solemnida<strong>de</strong> tocante d'uma mansão. Bustos<br />

unidos, uns que saem e outros que<br />

entram, entrécliucam-^e levemente, os<br />

olhos languidos, postura amena e grave.<br />

AIli, no myslico abandono do Au <strong>de</strong>lá<br />

quieta-se a figura imuiovel do Vencido,<br />

no spasino agoniaco d'um possuido.<br />

Pieda<strong>de</strong> ! Pieda<strong>de</strong> ! Como no dia <strong>de</strong><br />

boje nenhum d'esses viajantes <strong>de</strong> templos,<br />

trajando luclo, o lucto que é a dôr, <strong>de</strong>ixará<br />

<strong>de</strong> afagar, num lance christianissimo,<br />

a mão que da sombra lhe invocar<br />

a Carida<strong>de</strong> !...<br />

No emtanto--oh santa carida<strong>de</strong> cliristãl—está<br />

alli alem, pousado num trotloir,<br />

um pobre velho, muito velho, acurvado<br />

a oito <strong>de</strong>cenni'os que são oito capítulos<br />

d'um gran<strong>de</strong> livro a que o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>u o<br />

nome <strong>de</strong> «Amargaras». O rosto macilento,<br />

d'ou<strong>de</strong> pen<strong>de</strong>m umas barbas <strong>de</strong> neve,<br />

é um pergaminho por entre cujas rugas<br />

se adivinha uma odyssêa <strong>de</strong> misérias.<br />

Do seu olhar mortiço, apenas vislumbram<br />

umas tenues faiscações <strong>de</strong> visionário.<br />

Encostado á pare<strong>de</strong>, a mão distendida<br />

aos que passam, nem uma palavra<br />

cae d'aqueiies lábios resequidos. Dirse-ia<br />

uma estatua pedindo esmola.<br />

Ninguém oiha esse velho. Damas roçagando<br />

os vestidos setinosos, frou-frou,<br />

lixam os olhos no chão, como a exprimirem<br />

uma gran<strong>de</strong> concentração religiosa.<br />

Gran<strong>de</strong>s senhores, <strong>de</strong> aplomb conselheiral,<br />

olham o fumo dos seus charutos que<br />

corta o ar em evoluçõesinhas graceis <strong>de</strong><br />

espiraes.<br />

E o pobre velho, na immohilida<strong>de</strong><br />

morna d um monge, espelha o seu olhar<br />

vago pele opulência que passa, e coteja,<br />

na ru<strong>de</strong>z d'uma philosophia sem escola,<br />

a frieza dos <strong>de</strong>votos pelas suas barbas<br />

brancas, <strong>de</strong> neve, pelos seus oito <strong>de</strong>cennios<br />

que são oito capítulos d'um gran<strong>de</strong><br />

livro a que o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong><br />

«Amarguras»!...<br />

Gri-gri.<br />

31, março.<br />

Assassinato<br />

Em Villar Formoso um guarda fiscal,<br />

chamado Fernando da Costa, assassinou<br />

uma rapariga <strong>de</strong> 14 annos.<br />

Gran<strong>de</strong> incêndio em Lisboa<br />

Recebemos o seguinte telegramma :<br />

«Lisboa, 1 — Redacção Defensor Povo.<br />

— Gran<strong>de</strong> incêndio ás 2 horas da madrugada<br />

<strong>de</strong> hoje, na rua <strong>de</strong> D. Pedro V.<br />

Foram <strong>de</strong>stmidos pelo incêndio sete<br />

estabelecimentos incluindo o theatro Rijou.<br />

Felizmente não houve <strong>de</strong>sastres pessoaes.<br />

Escolas agrícolas<br />

Projecta-se uma reforma dos serviços<br />

agrícolas, pela qual se não elimina nenhuma<br />

das acluaes escolas praticas <strong>de</strong><br />

agricultura, mas tem-se em vista realisar<br />

melhoramentos consi<strong>de</strong>ráveis no ensino,<br />

compatíveis com as forças do thesouro.<br />

Republica em Hespanha<br />

Com a maior attenção temos seguido<br />

a marcha das forças republicanas hespanholas<br />

no sentido da sua concentração,<br />

que tão esplendidos resultados <strong>de</strong>u já,<br />

e temos ido informado o publico dos<br />

pontos principaes' da evolução que no<br />

partido republicano liespanhol se vae<br />

dando.<br />

Por isso damos conta hoje da orientação<br />

para um partido único, fundindõ-se<br />

as parcialida<strong>de</strong>s Republicanas numa só<br />

unida<strong>de</strong>, o que c <strong>de</strong> vantagens intuitivas<br />

e caminho naturalmente indicado.<br />

Pi y Margall acaba <strong>de</strong> publicar um<br />

artigo importantíssimo sob a epigraphe<br />

Partido Único, que hoje publicamos, e<br />

em que se vê como aquelle distincto publicista<br />

e illustre republicano perfilha<br />

aquella i<strong>de</strong>ia.<br />

«No domingo 19 realisou-se na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Barcelona uma reunião euorme,<br />

á qual assistiram mais <strong>de</strong> 10:000 pessoas.<br />

Falaram nella, entre outros, os <strong>de</strong>putados<br />

eleitos. O sr. Sol y Ortega advogou<br />

eloquentemente a fusão dos partidos<br />

republicanos em um único partido.<br />

E' para nós summamente grato saber<br />

que o sr. Ortega, republicano progressista<br />

e homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e merecida influencia<br />

no seu partido, está ao lado <strong>de</strong><br />

tão fecundo pensamento.<br />

Sem o partido único não seria possível,<br />

no dia do triumpho, estabelecer<br />

qualquer coisa <strong>de</strong> solido e conjurar os<br />

graves perigis a que em todas as revoluções<br />

dá logar a discórdia entre os que<br />

as promovem. Sete cabeças com sete<br />

pensamentos distinctos, é evi<strong>de</strong>nte que<br />

nada po<strong>de</strong>riam fazer nem para evitar<br />

conflictos, nem para alliviar os males da<br />

patria. Gastariam forçosamente o tempo<br />

em <strong>de</strong>liberações inópportunas e luctas<br />

estereis, procurando cada um <strong>de</strong> per si<br />

preparar o terreno para que os seus<br />

correligionários prepon<strong>de</strong>rassem nas cortes<br />

e para que prevalecessem as suas<br />

opiniões.<br />

E' convenientíssima a rapida formação<br />

do partido único. A nação espera da<br />

Republica rápidos remédios e seria um<br />

perigo para a Republica que ella não<br />

começasse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a satisfazer essa<br />

esperança. Os nossos inimigos aproveitariam<br />

essa incontestável <strong>de</strong>liciencia para<br />

enfraquecer os ânimos, diffundir receios<br />

e promover a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m.»<br />

Conegos<br />

Ao sr. bispo <strong>de</strong> Beja foi concedido,<br />

por um rescriplo aposiolico, o po<strong>de</strong>r nomear<br />

conegos honorários, sem prebenda,<br />

para o aeolylarem nas solemnida<strong>de</strong>s do<br />

culto.<br />

Bibliographia<br />

Recebemos, ha dias já, um exemplar<br />

do opu«culo em que o sr. Costa Lobo,<br />

digno par do reino, publica os discursos<br />

que pronunciou nas sessões da camara<br />

dos pares, em 28 e 30 <strong>de</strong> janeiro d'este<br />

anno.<br />

Inlitula-se Descargo das minhas responsabilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> ministro.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos.


Á N t S O í — X. n 9-4 O D E F » . \ S O R D O P O V O 8 d e a b r i l d e 1 S 9 3<br />

C r y s t a b s<br />

Historia <strong>de</strong> Jesus<br />

Qaando elle emfirri, morrendo, elle, o cor<strong>de</strong>iro,<br />

Rola mansa 110 ar calado o irnmunJo,<br />

Pen<strong>de</strong>u, bem como um lírio moribundo,<br />

Sobre a haste do trágico ma<strong>de</strong>iro...<br />

Quando, lançando o espirito profundo<br />

Ao Reino bello, gran<strong>de</strong>, verda<strong>de</strong>iro,<br />

Cahiu émfim, chagado, justiceiro,<br />

Ainda, ainda perdoando ao Mundo...<br />

Um soldado romano, vendo-o exposto,<br />

E já morto ua Cruz, livido o rosto,<br />

Com um golpe <strong>de</strong> lança o trespassou.<br />

Sahiu d'aquella chaga sangue e agua;<br />

Sangue que inda quiz dar a tanta magua;<br />

Agua do pranto ainda que chorou I<br />

L e t t r a s<br />

GOMES LEAL.<br />

Impressões <strong>de</strong> um marido<br />

i<br />

No lim do parque, <strong>de</strong>baixo das tilias<br />

cujos ramos em flor, alastram na avenida<br />

uma sombra fresca, apenas estriada <strong>de</strong><br />

algumas gottas <strong>de</strong> luz, ha um banco <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira carunchosa, do qual se avistam<br />

os campos, os pomares, a massa escura<br />

do arvoredo e a linha in<strong>de</strong>cisa e azul do<br />

mar.<br />

Encolhêramos o banco para as horas<br />

<strong>de</strong> preguiça, para a prostração que succe<strong>de</strong><br />

a estes dias abrazadóres', e ahi<br />

<strong>de</strong>scançámos ao lado um do outro, fallando<br />

lentamente, procurando 110 passado<br />

as nossas melhores recordações.<br />

Que suave ambiente ahi se respira<br />

quando o sul <strong>de</strong>sapparece, mergulhando<br />

em fulgurações <strong>de</strong> incêndio, o calor diminue<br />

e o céo vae, pouco a pouco, empalli<strong>de</strong>çêndo,<br />

opalisado, iliuminado <strong>de</strong><br />

uma clarida<strong>de</strong> doce e li na. •<br />

O parque cae então em mysterioso<br />

torpor, sentindo-se no ar rumores vagos<br />

e uma branda palpitação <strong>de</strong> folhas e<br />

azas.<br />

Voos <strong>de</strong> passaros <strong>de</strong>slisam, como que<br />

attrahidos por Qm inian invisível.<br />

Os cavallos, correndo á solta na<br />

planície, relincham, aspirando o vento<br />

impregnado <strong>de</strong> sal e do áspero cheiro<br />

dos sargaços.<br />

Penachos <strong>de</strong> fumo azul <strong>de</strong>sgrenhamse<br />

por cima dos telhados das herda<strong>de</strong>s,<br />

e no céo immovel recortam-se o crescente<br />

da lua e a primeira estreita.<br />

À paz das coisas envolve-nos em<br />

uma onda tépida, e nem palavra sae dos<br />

nossos lábios,, nem um pensamento vibra<br />

no nosso cerebro.<br />

Martha reclina, infantilmente, a cabeça<br />

no meu hombro, fecha os olhos, e<br />

sob o leve estolo do corpete sinto-lhe as<br />

pulsações do coração, a caricia da pelle.<br />

Marília tem a respiração curta das<br />

creauças.<br />

Beijo a, sem que ella entreabra as<br />

palpebras, beijo a na testa, na extremida<strong>de</strong><br />

da orelíia, nos cantos da bocca e<br />

nas covinhas das fices.<br />

Marília espreguiça-se, ri, levanta se<br />

a custo, c saudosos, retomamos o caminho<br />

pálacio, que alveja ao longe, perfilando do<br />

a sua fachada COIII urnas <strong>de</strong> mármore<br />

on<strong>de</strong> brilham genraios escarlates e estatuas<br />

que dormem, em altitu<strong>de</strong>s heraíicas...<br />

I I<br />

Esta manha, Mariba accordou com<br />

um appetite doido <strong>de</strong> fazer doce.<br />

Tratámos logo <strong>de</strong> ir saquar o pomar,<br />

das altas liervas amareiladas do qual se<br />

levantavam nuvens <strong>de</strong> gafanhotos.<br />

Em seguro a escada, em quanto que<br />

Eorlha, com as saias arregaçadas, os<br />

braços nus, um aventual <strong>de</strong> algibeiras,<br />

como uma verda<strong>de</strong>ira al<strong>de</strong>ã, dá principio<br />

á colheita.<br />

Que linda ella está nessa onda <strong>de</strong><br />

luz que inunda os seus cabellos, que<br />

doira as suas faces rosadas!.. .<br />

Como o seu enorme chapéu se emoldura<br />

enlre as folhagens lustrosas e os<br />

fruetos vermelhos das cerejeiras! As<br />

abelha* zuinhem-lhe em torno.<br />

Uma cantiga <strong>de</strong> homem sobe ao longe,<br />

tio fundo da azinhaga.<br />

E vendo a assim atirar-ihe cerejas<br />

com um gesto <strong>de</strong> g a mine, escutando os<br />

seus risos sonoros, explosindo a todo o<br />

instante e a proposito <strong>de</strong> tudo, ruflandolhe<br />

a garganta <strong>de</strong> um arrulho <strong>de</strong> pomba,<br />

lembro-me <strong>de</strong> Virgilio, <strong>de</strong> todos os fra-<br />

gmentos <strong>de</strong> éclogas, outr'ora <strong>de</strong>corados,<br />

e psalmodio gravemente versos latinos,<br />

com gran<strong>de</strong> espanto <strong>de</strong> Martha, que por<br />

pouco não cae da escada nos meus<br />

brfiçcs<br />

Que <strong>de</strong>liciosas compotas, e cumo<br />

ellas : •lip:ã'> bem' . . .<br />

D'a!li i pouco, a mesa da cosinha<br />

cobre-se tle cestos cheios, até não po<strong>de</strong>r<br />

mais, <strong>de</strong> fruetos vermelhos, nimbados<br />

<strong>de</strong> vespas gulosas.<br />

E a casa impregna se do aromn da<br />

baunilha e do assucar, em quanto os<br />

tachos <strong>de</strong> cobre faíscam ao lume com<br />

reflexos que cegam.<br />

Martha atára á cintura um gran<strong>de</strong><br />

avental; não pára, anda <strong>de</strong> um lado<br />

pora o outro, prova a calda, bezunta-se,<br />

enche-se <strong>de</strong> nodoas, com a serieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um menino <strong>de</strong> côro ajudando á primeira<br />

missa.<br />

E instiga me, com a sua voz vibrante,<br />

ralha, queixa-se <strong>de</strong> que eu não a ajudo,<br />

e exclama, batendo com o pé nos tijolos<br />

usados pelos grossos tumáncos das creadas:<br />

— Oh ! os homens não teem préstimo<br />

para nada!<br />

Como as horas passam <strong>de</strong>pressa,<br />

agora que eu sou feliz !. ..<br />

I I I<br />

Muitas vezes, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> jantar, Martha<br />

assenla-se <strong>de</strong>fronte do cravo, que<br />

data do século passado.<br />

Semi-curvada, as mãos finas e brancas<br />

collocadas sobre as teclas <strong>de</strong> marfim<br />

amarelado, ella assemelha-se a uma bella<br />

dama da antiguida<strong>de</strong>, tocando um minuete<br />

<strong>de</strong> Hanieao, ou uma gavota <strong>de</strong> Lulli.<br />

O, pobre velho cravo já quasi não<br />

tem som, treme, agonisa, exhalando flebeis<br />

suspiros <strong>de</strong> doente e caindo em<br />

silêncios melancólicos.<br />

Mas as notas que ainda vibram teem<br />

um encanto penetrante, uma indisivel suavida<strong>de</strong>,<br />

o que quer que seja auatogo ao<br />

perfume, quasi evaporado, dos sacheis<br />

<strong>de</strong> iris, que se encontram em vestidos<br />

antigos, no fundo <strong>de</strong>~um armario pçr longo<br />

tempo fechado.<br />

E acompanham divinamente as canções<br />

rústicas e a voz clara que as canta,<br />

agitam docemente as historias amorosas,<br />

on<strong>de</strong> ha sempre uma filha <strong>de</strong> rei que se<br />

lamenta e um trovador paladino, que<br />

parte para a guerra.<br />

Martha embala-se com esses perturbentes<br />

sons que mal se ouvem, que<br />

teem uma lenta suavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eclio.<br />

As velas não se accen<strong>de</strong>m, por causa<br />

das borboletas nocturnas e dos mosquitos.<br />

E nada se compara a essa emoção<br />

subtil <strong>de</strong> ouvir a musica em surdina do<br />

instrumento antigo, esmorecendo no silencio,<br />

na escuridão saturada dos perfuperfumes<br />

exteriores, das platibandas <strong>de</strong><br />

heliolropos regados <strong>de</strong> fresco, das roseiras<br />

<strong>de</strong> Provins e <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> trepa<strong>de</strong>ira<br />

que guarnece os muros e cujas<br />

lolhas se arrendam nos altos rectângulos<br />

das portas <strong>de</strong> vidraça, que abrem paia o<br />

largo horisonte.<br />

De vez em quando, a pianista interrompe-se<br />

<strong>de</strong> súbito, e vollando-se no<br />

banco, exclama com inflexão zombeteira:<br />

— Dormes, Jorge?<br />

Comrnovido, supplico-lhe que continue,<br />

que me <strong>de</strong>ixe ouvil-a e sonhar.<br />

— Mas eu não sei mais nada, respon<strong>de</strong><br />

Martha, para se fazer rogar.<br />

— Dize antes que não queres, má!<br />

E todas as gavotas, todas as rondas,<br />

todas as cançonetas <strong>de</strong> guerra e <strong>de</strong><br />

amor, <strong>de</strong> que eu gosto, ahi passam, uma<br />

a uma, como se folheássemos luntos um<br />

livro <strong>de</strong> capítulos maravilhosos...<br />

René Mainero/.<br />

Doelinger<br />

Saiu do hospital <strong>de</strong> alienados do con<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Ferreira, o sr. Armínio von Doelinger,<br />

commandaute dos bombeiros voluntários<br />

do Porto.<br />

Acha--e muito melhor, posto que não<br />

esteja inteiramente restabelecido.<br />

Agricultura<br />

Ha gran<strong>de</strong>s pedidos <strong>de</strong> concessões <strong>de</strong><br />

terrenos para explorações agrícolas e industriaes<br />

na ilha <strong>de</strong> Sanlo Antão <strong>de</strong> Cabo<br />

Ver<strong>de</strong>. O que mais avulta é o pedido <strong>de</strong><br />

um grupo <strong>de</strong> proprietários, negociantes<br />

e funccionarios da província, que offerecem<br />

todas as condições para uma exploração<br />

util e eflicaz.<br />

EM SURDINA<br />

Anda tudo tão forreta,<br />

as crises são tão taludas<br />

que a lenda ohristã, faceta,<br />

<strong>de</strong> se queimarem os Judas<br />

acabou — se não ha cheta I<br />

Nesta <strong>Coimbra</strong> d'encantos<br />

on<strong>de</strong> medra o bom burguez<br />

(é um caso para espantos !)<br />

Judas... queimaram-se tres I<br />

quando ha tantos, tantos, tantos 111<br />

Eu costumo em cada anno<br />

queimar sem p'rigo, nem damno,<br />

ao findar esta semana,<br />

um Iscariote, urn maltez...<br />

Coube a sorte d'e*sta vez<br />

ao tal fibra americana I<br />

PINTA-ROXA.<br />

Tratado <strong>de</strong> commercio<br />

Foi já assignado em Madrid o tratado<br />

<strong>de</strong> commercio entre Portugal e Hespanha.<br />

Portugal é vantajosamente favorecido<br />

pela Hespanha, ohrigando-se esta a nunca<br />

mais conce<strong>de</strong>r a qualquer outra nação<br />

as mesmas vantagens.<br />

Folgamos com a realisação d'este<br />

tratado, que vem ligar mais estreitamente<br />

as relações dos dois povos, que <strong>de</strong>vem<br />

caminhar sempre como irmãos.<br />

Curioso<br />

Diz um jornal <strong>de</strong> Aveiro, que na<br />

Gafanha, ha dias, em casa d'uns lavradores<br />

uma porca <strong>de</strong>u á luz quinze leilões.<br />

A' porca tornava-se impossível criar todos<br />

os 15 filhos, e a dona dos animaes, que<br />

também aleitava uma criança, resolveu<br />

substituir o lugar da porca, dando maminha<br />

a um dos leitõesinhos.<br />

A ama do bácoro, ameiyando-o, cliegou-o<br />

ao seio, on<strong>de</strong> o animal se.agarrou<br />

fortemente, chupando como um damnado<br />

A mulher <strong>de</strong>u um grito afflictivo ao sentir<br />

a mor<strong>de</strong>dura do porco, e lançou-o violentamente<br />

ao chão.<br />

Quando acudiu gente aos gritos da<br />

mulher, esta encontrava-se ainda surpreza<br />

pelo insuccesso da experiencia, e o porquito<br />

falleceu pouco <strong>de</strong>pois, talvez <strong>de</strong><br />

inaniçâo.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

STo digtrieto «le <strong>Coimbra</strong><br />

A fim <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r a uma inspecção<br />

rigorosa sob a confecção das matrizes<br />

prediaes tem sido nomeadas commissões<br />

em todos os districtos do paiz.<br />

E' do conhecimento <strong>de</strong> todos as injustiças<br />

e os escandalos mesmo que se<br />

praticam com a nova revisão das matrizes<br />

prediaes, on<strong>de</strong> os. alfeiçoados foram<br />

protegidos e sacrificados os restantes<br />

contribuintes que não pertenciam á parcialida<strong>de</strong><br />

politica dos louvadores.<br />

Agora que o governo pensa em proce<strong>de</strong>r<br />

a um trabalho correcto e justo e<br />

está nomeando funccionarios para proce<strong>de</strong>rem<br />

á inspecção directa e avaliação<br />

dos prédios rústicos e urbanos, oxalá<br />

que este serviço longe <strong>de</strong> criar novos<br />

abusos, dispensando novas protecções,<br />

saiba cumprir com rectidão os seus <strong>de</strong>veres,<br />

não sujeitando o seu procedimento<br />

ás influencias dos corrilhos locaes, sabendo<br />

só fazer justiça.<br />

Para o serviço <strong>de</strong> inspecção e avaliação<br />

no districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> foram nomeados<br />

os srs. Alvaro Henriques Pereira,<br />

capitão do corpo <strong>de</strong> estado maior; Arthur<br />

da Silva Leitão, agronoino ; e Alberto<br />

<strong>de</strong> Sousa, oílicial addido á repartição<br />

<strong>de</strong> fazenda dislrictal.<br />

Abel


A I — X. 9 U O D K F d X I O K D O P O V O 3 (le abril d e 1 S S 3<br />

muitos outros: é notável o barulho infernal<br />

que se faz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminados<br />

os officios e creiam, que é privativo <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>; ora se s. ex. a o sr. Bispo requisitasse<br />

uns policias que vedassem a<br />

entrada aos gaiatos, porque são elles os<br />

principaes promotores da festa, além <strong>de</strong><br />

evitar o abuso, fazia uma obra <strong>de</strong> carida<strong>de</strong><br />

aos taps guitas qu»' por ahi andam<br />

guardando as esquinas.<br />

O dia <strong>de</strong> quinta feira appareceu formoso<br />

e bastante quente, um verda<strong>de</strong>iro<br />

dra <strong>de</strong> verão.<br />

Sóniente os raios solares eram <strong>de</strong><br />

vez em quando toldados por alguma nuvem<br />

dispersa no azul, cousa que não<br />

impediu que pelas 3 horas da tar<strong>de</strong> a<br />

concorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>votos aos templos<br />

fosse já numerosa.<br />

Entre os templos on<strong>de</strong> havia exposição<br />

merecem especial menção o <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz e o da Misericórdia, que estavam,<br />

na realida<strong>de</strong>, vistosamente adornados.<br />

A.' medida que a tar<strong>de</strong> corria começavam<br />

a ser menos, visitadas as egrejas<br />

da baixa e a apinhar-se a Sé, <strong>de</strong> modo<br />

que, quando se <strong>de</strong>u principio á funoção,<br />

já era difficil a entrada aili. -<br />

Repetiu-se o oíficio <strong>de</strong> trevas da<br />

noite antece<strong>de</strong>nte que terminou pelo<br />

mesmo abuso com a differença única <strong>de</strong><br />

que mais correcto e augmentado.<br />

Houve menino que levou pregos e<br />

competente martello, sendo tal a rapi<strong>de</strong>z<br />

Com que pregava, que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

hora teria com certeza coberto <strong>de</strong> prego,<br />

se não todos, ao menos uma boa parte<br />

dos bancos!<br />

Na sexta feira <strong>de</strong> manhã celebrou-se<br />

a cerimonia do enterro do Senhor, precedida<br />

<strong>de</strong> sermão da Paixão e da adoração<br />

da Cruz; como nos dias antece<strong>de</strong>ntes<br />

houve gran<strong>de</strong> concorrência.<br />

Depois d'esta serie <strong>de</strong> festejos que<br />

bem trazem á memoria os soffrimentos<br />

do Re<strong>de</strong>mptor para a nossa salvação,<br />

soffrimentos em que, apesar <strong>de</strong> serem<br />

causados pelos nossos antepassados, nós<br />

partilhamos a sua culpa, vem emfim o<br />

sabbado que o catholiicsmo consagra á<br />

resurreição.<br />

Toques altisonos attestam que a<br />

egreja está em gala e fecham, por assim<br />

dizer, com chavg d'ouro a quaresma.<br />

Com a sua narração também eu vou<br />

terminar, porque os typographos já vão<br />

reclamando o original, não me dando<br />

tempo para mais.<br />

... Só.<br />

M o v i m e n t o couunereini<br />

Agio—Premio das libras: 950 rs<br />

ouro nacional, 20;<br />

Prata : graúda, a 1.<br />

*<br />

Generos— Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />

tremez 560 — Milho branco 335—Dito<br />

amarello 33^— Feijão vermelho 520 —<br />

Dito branco 420--Dito rajado 340 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 420—-Centeio 440 —Cevada<br />

290 — Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />

meudo 650—Favas 420.<br />

Azeile a 1$610.<br />

25 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

V I I<br />

Vespera <strong>de</strong> noivado<br />

Aos últimos clarões do crepúsculo,<br />

Barbone pareceu sair da terra como o<br />

<strong>de</strong>monio das noites malditas; atravessou<br />

a ponte coin um passo resoluto e entrou<br />

no mirante, para o examinar, sem duvida,<br />

e assegurar se <strong>de</strong> que nenhuma testemunha<br />

lá eslava.<br />

Afinal, nada indicava a presença d'um<br />

único ser vivo nesta solidão. Era o silencio<br />

do aérostato em plena nuvem; as<br />

harmonias da tar<strong>de</strong> resoavam num longínquo<br />

vago; o cantar dos grilos subia<br />

dos campos, os cantos dos marinheiros<br />

subiam dos mares.<br />

Paulo Gréant ouviu como que um<br />

ruido <strong>de</strong> ferramentas, viu que Barbone<br />

se occupava num trabalho mysterioso no<br />

meio da ponte. Observando com um<br />

pouco <strong>de</strong> attenção, era fácil <strong>de</strong> adivinhar<br />

a que genero <strong>de</strong> trabalho se entregava o<br />

bandido; cortou o meio da ponte numa<br />

Camara Municipal ds <strong>Coimbra</strong><br />

S e s s ã o o r d l n a r i a<br />

16 <strong>de</strong> março<br />

Presidência do barbarei Ruben Augusto<br />

d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />

presentes: João da Fonseca Barata,<br />

Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros, João Antonio<br />

da Cunha, Manoel Miranda, Autonio José<br />

Dantas Guimarães, e Joaquim Justiniano<br />

Ferreira Lobo, effectivos; José Corrêa dos<br />

Santos, substituto.<br />

Não sendo apresentada proposta alguma<br />

para o fornecimento d'impressos,<br />

para a secretaria, foi encarregado o presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> fazer a distribuição dos impressos<br />

pelas typographias existentes na cida<strong>de</strong>.<br />

Mandou annunciar <strong>de</strong> novo que se<br />

arrendam em praça as barcas <strong>de</strong> passagem<br />

aos portos <strong>de</strong> Montessão, Taveiro,<br />

São Silvestre e Quimhres.<br />

Mandou annunciar <strong>de</strong> novo a venda<br />

dos lotes <strong>de</strong> terreno n. 0 ' 36, 38 e 39<br />

ao norte da rua n.° 10 da quinta <strong>de</strong><br />

Santa Cruz.<br />

Resolveu ven<strong>de</strong>r em praça dois lotes<br />

<strong>de</strong> terreno com frente para a rua n.° 9<br />

da mesma quinta, contíguos aos n. 0 ' 61<br />

e 62 da rua n.° 8, pertencentes a Antonio<br />

Francisco do Valle e Manoel Gomes<br />

Secco, tendo o primeiro <strong>de</strong> superfície<br />

530," l2 0 e 562, ml 0 o segundo; bem como<br />

outro com 305, m2 0 <strong>de</strong> superfície, formando<br />

um triangulo entre aquella rua n.°<br />

9, atravessa entre ella e a rua n.° 8 e<br />

os terrenos pertencentes a Camillo Duque,<br />

resi<strong>de</strong>nte em Cellas.<br />

Votou a reparação do chafariz do<br />

largo da Sé Nova, segundo o orçamento<br />

apresentado <strong>de</strong> 18$160 réis.<br />

Demittiu o guarda rural do Dianteiro,<br />

Antonio José, por irregularida<strong>de</strong>s confessadas<br />

pelo próprio nesta data, na concessão<br />

a auctorisação para diversas obras<br />

particulares<br />

Mandou-se intimar os proprietários<br />

<strong>de</strong> terrenos junto á la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Santa<br />

Clara para abrirem todos os agueiros<br />

<strong>de</strong>stinados a dar escoante ás aguas pluviaes,<br />

que do alto <strong>de</strong> Santa Clara correm<br />

pelo caminho publico.<br />

Auctorisou a compra <strong>de</strong> quinze metros<br />

<strong>de</strong> mangueira para os serviços <strong>de</strong> limpeza<br />

do matadouro.<br />

Mandou adiantar a quantia <strong>de</strong> réis<br />

10^480 para v custeamenlo do asylo dos<br />

cegos no corrente mez, prefazendo, com<br />

a <strong>de</strong> 9$000 réis votada na sessão anterior<br />

e com a 520 réis que cresceu do<br />

mez antece<strong>de</strong>nte, a somma <strong>de</strong> 20/000<br />

réis.<br />

Resolveu pedir um subsidio do governo<br />

para a sustentação do asylo dos<br />

cegos.<br />

Resolveu pedir ao commissario <strong>de</strong><br />

policia o inteiro cumprimento das posturas<br />

do município, lembrando a conveniência<br />

<strong>de</strong> não consentir a lavagem <strong>de</strong> roupas<br />

junto da avenida Eiuygdio Navarro,<br />

nem tão pouco o ancoradouo <strong>de</strong> barcas<br />

no mesmo ponto.<br />

Resolveu convidar alguns proprietários<br />

a dar começo a edilicações nos terrenos<br />

comprados na quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz.<br />

extensão consi<strong>de</strong>rável, e em seguida<br />

collocou <strong>de</strong> novo a ma<strong>de</strong>ira cortada,<br />

ajustando-a pelas duas extremida<strong>de</strong>s com<br />

apoios fracos, prestes a <strong>de</strong>slocarem-se sob<br />

os pés do primeiro que passasse.<br />

Barbone trabalhou com um phleugma<br />

soberba, como um operário honesto e<br />

laborioso que não <strong>de</strong>spreza cuidado nenhum<br />

para fazer uma obra prima. Concluído<br />

o trabalho, mostrOu-se satisfeito;<br />

parecia mesmo que lamentava a ausência<br />

dalguns <strong>de</strong>stes espectadores ociosos e<br />

benevolos que seguem com attenção um<br />

trabalho publico e exprimem logo a sua<br />

satisfação ao artilice.<br />

Vinte vezes Paulo Gréant tentou levantar-se<br />

como um espectro <strong>de</strong>ante <strong>de</strong><br />

Barbone; mas, reflectindo, viu que nesta<br />

<strong>de</strong>terminação havia um perigo real a correr<br />

sem resultado favoravel a esperar.<br />

Mais valia, pois, calar-se e esperar, porque,<br />

visto tratar-se <strong>de</strong> prestar um serviço<br />

e <strong>de</strong> dar um aviso salutar, era necessário<br />

não <strong>de</strong>struir este plano por uma precipitação<br />

estouvada.<br />

Barbone retirou-se e per<strong>de</strong>u-se no<br />

bosque proximo como o caçador que armou<br />

o laço e se colloca a distancia á<br />

espera do resultado.<br />

- Paulo Gréant levantou-se então e<br />

tornou a entrar no mirante, on<strong>de</strong> reinava<br />

a mais profunda escuridão; levantou uma<br />

I persiana até ao meio, do lado da ponte,<br />

Approvou o arrolamento <strong>de</strong> cães re-lativo<br />

ao anno corrente e mandou annunciar<br />

o praso para as reclamações,<br />

publicando se listas do arrolamento nas<br />

parochias do concelho.<br />

Deferiu os seguintes requerimentos:<br />

De Francisco <strong>de</strong> Moura Coutinho e<br />

Paiva Cardoso <strong>de</strong> Lima, acerca da annulação<br />

<strong>de</strong> contribuição directa como<br />

empregado da 2. a circumscripção Hydraulica,<br />

transferido para n Figueira da Foz.<br />

De João Alves Banda, Francisco<br />

Joaquim da Costa, João Baptista Nobre,<br />

para a collocação <strong>de</strong> tabuletas nos respectivos<br />

estabelecimentos.<br />

De José Joaquim Marques, para collocarum<br />

tubo para conducção <strong>de</strong> fumo na<br />

loja ou barraca do mercado que traz <strong>de</strong><br />

renda.<br />

De Paulino Evaristo Camões, para a<br />

compra <strong>de</strong> terreno para jazigo no cemiterio<br />

da Conchada.<br />

De Joa.juim Antonio José Pereira,<br />

para o pagamento <strong>de</strong> terreno cedido para<br />

alinhamento em 1886, <strong>de</strong> um prédio em<br />

Valle <strong>de</strong> Corredores.<br />

Com informação da repartição dobras,<br />

<strong>de</strong>terminando condições:<br />

De Joaquim Paes Abranches, para a<br />

reparação da canalisação das aguas da<br />

Sé Velha para o seu quintal na rua do<br />

Aguiar.<br />

De José Leonardo Ferreira, para assentar<br />

um <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> pedra com 0, m 37<br />

<strong>de</strong> largura na frontaria da sua casa ás<br />

Ameias.<br />

De Manoel Maria d'Almeida, para<br />

dar mais altura á porta <strong>de</strong> uma casa em<br />

Santo Antonio, rebatendo os <strong>de</strong>graus ali<br />

existentes e rebaixando o terreno por<br />

forma a <strong>de</strong>sapparecer a rampa que ali<br />

se vê.<br />

De Alberto dos Santos, da Pedruiha,<br />

para levantar a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma casa no<br />

mesmo logar.<br />

De José da Costa Mesquita, para<br />

abrir uma porta no sitio em que se vê<br />

urna janella na sua casa da rua <strong>de</strong> Borges<br />

Carneiro.<br />

De João Martins da Fonseca, para<br />

reformar a frontaria <strong>de</strong> um prédio nas<br />

ruas'do Loureiro e Salvador.<br />

De Miguel da Fonseca Barata, para<br />

levantar os rebates <strong>de</strong> uma casa na rua<br />

dos Sapateiros.<br />

De tfrancisco Rebello da Motta Arnaut,<br />

para abrir uma porta em um terraço'<br />

contíguo a uma casa na estrada da Beira<br />

De Bernardo Antonio d'Oliveira, acerca<br />

da multa que lhe foi imposta por infracção<br />

do artigo 120 n.° 23 do codigo<br />

<strong>de</strong> posturas, com a applicação in<strong>de</strong>vida<br />

do art. 95.° das mesmas posturas.<br />

De Francisco d'Almeida Quadros,<br />

para a collocação <strong>de</strong> ura portão <strong>de</strong> ferro<br />

para a sua quinta em Cellas, e para murar<br />

o olival contíguo até ao cruzeiro do<br />

mesmo logar, ficando obrigado a seguir<br />

o alinhamento recto entre o cunhal da<br />

casa e o mirante e a seguir pela aresta<br />

exterior da valleta da estrada até ao cruzeiro,<br />

on<strong>de</strong> o muro <strong>de</strong>verá passar pela<br />

parte <strong>de</strong>traz do mesmo, coin o <strong>de</strong>svio <strong>de</strong><br />

um metro, formando curva.<br />

In<strong>de</strong>feriu .um requerimento <strong>de</strong> José<br />

Antonio Dias.Pereíra, que pedia a anuulação<br />

<strong>de</strong> uma multa pela oecupaçào <strong>de</strong><br />

e postou se <strong>de</strong>terminado a fazer recuar,<br />

por um grito d'alarme', o capitão Van-<br />

Rilter ou qualquer outro que o acaso <strong>de</strong><br />

uma má inspiração conduzisse ao miraule<br />

da quinta.<br />

Ainda que a casa <strong>de</strong> campo ficasse<br />

bastante retirada, comtudo podiam se ouvir<br />

muito bem, por causa da posição e do<br />

silencio da noite, as vozes, os cantos, a<br />

musica e todo o alegre ruido d'uma festa<br />

nupcial. Paulo Gréant admirava se, pois,<br />

e com justa razão, <strong>de</strong> não ouvir nada a<br />

uma hora já bastante a<strong>de</strong>antada da noite.<br />

A cada momento tornava-se mais mysterioso<br />

este silencio da quinta, contrario a<br />

todos os usos dos casamentos, a todos<br />

os hábitos opulentos e hospitaleiros do<br />

marquez di Negro. Paulo Gréant raciocinava<br />

assim:—A ceremonia religiosa e<br />

civil acabou antes da noite; é incontestável.<br />

O palacio Santa-Scala, por tanto<br />

tempo abandonado, não podia estar em<br />

condições convenientes para nelle se dar<br />

um baile nupcial. Todos <strong>de</strong>veriam ter-se<br />

dirigido para a casa <strong>de</strong> campo do marquez,<br />

pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pôr do sol, e,<br />

nem uma voz, nada ali se faz ouvir! E'<br />

<strong>de</strong> endoi<strong>de</strong>cer I<br />

De repente, accor<strong>de</strong>s d'orchestra retumbaram,<br />

vibrantes, como que <strong>de</strong>baixo<br />

dos pés <strong>de</strong> Paulo Gréant, accordando os<br />

ecbos da montanha. Uma aria conhecida,<br />

uma aria <strong>de</strong> Zampa, modulada em qua-<br />

lerreno publico com maleriaes na rua<br />

das Solas.<br />

Enviou ao director das obras publicas<br />

um requerimento, sobre que a camara<br />

pe<strong>de</strong> o parecer d'este funccionario, acerca<br />

do alinhamento a seguir para a reconstrucção<br />

<strong>de</strong> uma casa no caes.<br />

Foram encarregados os vereadores<br />

Quadros, Barata, Miranda e Corrêa, <strong>de</strong><br />

dar o seu parecer acerca <strong>de</strong> um requerimento<br />

em que Joaquim Antonio José<br />

Pereira, queixando-se <strong>de</strong> lerem sido encaminhadas<br />

para um prédio seu as aguas<br />

do caminho <strong>de</strong> Villela, <strong>de</strong>clara que nunca<br />

o mesmo prédio foi sujeito a receber as<br />

mesmas aguas.<br />

A GRANEL<br />

Reúne na terça feira pro*xima a Fe<strong>de</strong>ração<br />

das associaçõ operarias para discussão<br />

do parecer da cofnmissào encarregada<br />

d'estudir as Bolsas do trabalho.<br />

# * # A ponte <strong>de</strong> Lares, na linha<br />

do Oeste, está ameaçando ruina.<br />

# * * Tem tido ultimamente alguma<br />

animação o commeercio <strong>de</strong> vinhos em<br />

Arcos <strong>de</strong> Val <strong>de</strong> Vez; nesta região vinícola<br />

teem estado alguns negociantes <strong>de</strong><br />

Lisboa, que teem adquirido gran<strong>de</strong> porção<br />

<strong>de</strong> vinho aos preços <strong>de</strong> 18$000 o 2O$0O*OO<br />

réis cada pipa <strong>de</strong> 500 litros.<br />

# * * Os srs. drs.-Soares d'Albergaria<br />

e Veiga, juizes das execuções fiscaes<br />

em Lisboa, procuraram o sr. ministro<br />

do reíuo, queixando-se do modo como<br />

alguns indivíduos altamente collocados<br />

teem tratado os officiaes <strong>de</strong> diligencias<br />

portadores <strong>de</strong> citações da execução por<br />

dividas á fazenda.<br />

# * * Foi con<strong>de</strong>corado com o grau<br />

<strong>de</strong> official da or<strong>de</strong>m do Medjid do Egypto<br />

o commandanle do vapor Tungue, da<br />

Mala Real Portugueza, sr. Fernan<strong>de</strong>s<br />

Pinheiro pelo salvamento <strong>de</strong> um navio.<br />

# * # O po<strong>de</strong>r judicial mandou intimar<br />

o governo inglez, por intermédio<br />

da legação <strong>de</strong> Inglaterra para pagar a<br />

contribuição predial em divida <strong>de</strong> um dos<br />

representantes d'aquelle paiz, referente<br />

aos annos <strong>de</strong> 1869 e 1870.<br />

# * # Vão ser admittidas as encommendas<br />

poslaes e amostras proce<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> França, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> beneficiadas.<br />

# * # Formou-se uma companhia<br />

ingleza para comprar e explorar em<br />

ponto gran<strong>de</strong> as famosas minas <strong>de</strong> mármore<br />

<strong>de</strong> Cariara.<br />

# * # Os juizes da relação dos<br />

Açores reclamaram do governo do facto<br />

<strong>de</strong> se promoverem juizes para as relações<br />

do continente sem escala pela das ilhas.<br />

Teem razão.<br />

# * * A casa da moeda remelleu<br />

para o banco <strong>de</strong> Portugal 100 contos <strong>de</strong><br />

réis em moedas <strong>de</strong> oOO réis.<br />

drilha, ergueu se no ar como um feixe<br />

<strong>de</strong> notas vibrantes, saudada por applausos<br />

longínquos. Gréant levantou a persiaua<br />

do lado do mar e viu, como se estivesse<br />

ao alcance da sua mão, a fragata illuminada,<br />

convertido o convez em salão <strong>de</strong><br />

baile. Em volta d'el!a cruzavam-se os<br />

botes num mar resplan<strong>de</strong>cente, que levavam<br />

á escada da fragata grupos <strong>de</strong><br />

senhoras, cujos vestidos brancos <strong>de</strong>stacavam<br />

do flanco escuro do navio.<br />

Do alto do mirante distinguiam-se<br />

perfeitamente as tapeçarias ricas pen<strong>de</strong>ntes<br />

das vergas, os pavilhões <strong>de</strong> phantasia<br />

que se agitavam em volta do baile como<br />

gran<strong>de</strong>s leques, as quadrilhas conduzidas<br />

ao som dos instrumentos <strong>de</strong> cobre, os<br />

immensos bouquets genovezes collocados<br />

nas boccas dos canhões, os tapetes<br />

orientaes lançados, como velas, sobre as<br />

carretas das baterias, os marinheiros,<br />

alcandorados na extremida<strong>de</strong> das vergas,<br />

<strong>de</strong>ixando cair sobre o mar e sobre as<br />

senhoras, uma chuva constante <strong>de</strong> flores.<br />

Era uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Van-Rilter, e que<br />

só elle podia ter.<br />

— Meu caro di Negro, tinha elle dito<br />

ao marquez, quero fazer uma surpreza a<br />

minha mulher e ás bellas geuovezas que<br />

assistirem ao meu casamento; por isso,<br />

não faça preparativos em sua casa. liei<br />

<strong>de</strong> dar o meu baile <strong>de</strong> núpcias a bordo<br />

da Berenice; é mais próprio. Um inari-<br />

* * # Em Espozen<strong>de</strong> vae fundar-se<br />

um instituto <strong>de</strong> soccoros a naufragos.<br />

* * * Segundo o parecer da procuradoria<br />

geral da coroa, o sr. Antonio<br />

Ignacio da Fonseca tem <strong>de</strong> entrar com a<br />

quantia <strong>de</strong> sete contos <strong>de</strong> réis, <strong>de</strong> addicional,<br />

em resultado da liquidação entendida"<br />

pela direcção geral dos Proprii.s<br />

Nacionaes, com relação ao antigo contrato<br />

do pape! sei lado para as loterias<br />

estrangeiras. O sr. Fonseca, que naturalmente<br />

se não conforma, interporá recurso.<br />

* * * Proseguem vagarosamente<br />

em Mogofoies os trabalhos nas vinhas,<br />

notando-se falta <strong>de</strong> braçosr tanto para a<br />

cava, como para a plantação e enxertia<br />

das cepas americanas.<br />

* * * Em Beja queixam-se do extravio<br />

-<strong>de</strong> -cartas com letras e cédulas<br />

lançadas no corraio da mesma cida<strong>de</strong>.<br />

* * * Parece que se pensa em Vizeu<br />

em fazer reapparecer o Viriato, com<br />

côr <strong>de</strong>mocrata.<br />

* * * O cruzador allemão Kaiserin<br />

Augusta, naufragou no gran<strong>de</strong> Belt.<br />

* * # Os habitantes d'algumas freguezias<br />

circumvisinhas da Serra do Marão<br />

realisaram uma gran je montaria aos<br />

lobos. Parece que apenas duas d'estas<br />

feras foram apanhadas e mortas.<br />

* * # Abateu a abobada da sachristia<br />

da egreja <strong>de</strong> Nossa Senhora da Apresentação,<br />

<strong>de</strong> Aveiro.<br />

* * # No vapor Rei <strong>de</strong> Portugal,<br />

foram para o Brazil 751 portuguezes,<br />

que para alli vão á procura <strong>de</strong> fortuna.<br />

* * # Ultimam-se os trabalhos <strong>de</strong><br />

construcção do submarino Fontes, <strong>de</strong><br />

fórma a ser lançado ao mar por todo o<br />

mez <strong>de</strong> abril.<br />

* * * O sr. Bernardino Machado<br />

recebeu uma commissão <strong>de</strong> pedreiros. S.<br />

ex. a mandou que o director das obras<br />

publicas do districto <strong>de</strong>sse as suas or<strong>de</strong>ns<br />

por fórma que lhes fosse fornecido trabalho.<br />

* # * Pela Pesqueira sahiu eleito<br />

<strong>de</strong>putado o sr. dr. Francisco Maria <strong>de</strong><br />

Almeida.<br />

Coisas e loisas<br />

Calino encontra um amigo que lhe<br />

diz :<br />

— Sabes quem está a morrer?<br />

— Quem?<br />

— O Anastacio.<br />

— Homem, que me dizes ? !...<br />

— Ainda não é tudo A mulher também<br />

adoeceu e difficilmente escapará !<br />

Calino, com profunda magua :<br />

— Coitados! E' triste que, com tão<br />

pouco tempo <strong>de</strong> casados, fiquem ambos<br />

viúvos!...<br />

nheiro <strong>de</strong>ve realisar sobre os mar o seu<br />

casamento. Se eu casasse completamente<br />

em terra, tinha medo <strong>de</strong> ter filhos coronéis<br />

<strong>de</strong> regimentos. E' necessário pensar<br />

no futuro da minha familia; os peixes<br />

nascem na agua. Assim, tudo estará<br />

promplo esta tar<strong>de</strong> ; tenho a bordo quatrocentos<br />

homens, eight liundred hands,<br />

como dizem es marinheiros inglezes ;<br />

com auxílios d'estes vae se longe em<br />

pouco lempo.<br />

Não fallemo? d'isto a ninguein ; <strong>de</strong>pois<br />

da ceremonia <strong>de</strong> egreja revelaremos<br />

o segredo do meu baile náutico, que as<br />

lanchas ja nos esperarão.<br />

Talormi teve conhecimento d'este segredo<br />

ao mesmo tempo que os outros,<br />

n-as nenhum viuco <strong>de</strong> contrarieda<strong>de</strong> lhe<br />

coutrahiu as linhas do rosto. Pelo contrario,<br />

o hábil diplomata exclamou, <strong>de</strong><br />

admiração, <strong>de</strong>ante da i<strong>de</strong>ia nautica <strong>de</strong><br />

Van-Rilter:<br />

— Bravo! capitão, disse-lhe elle<br />

apertando lhe a mão, este baile ha <strong>de</strong><br />

ser o seu mais bello combale naval; a<br />

sombra <strong>de</strong> Doria ha <strong>de</strong> invejal-o no seu<br />

palacio.<br />

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0 DEFENSOR 00 P01/0<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA Dií FtíKHEIlU BOtUiliS, 29, 1.»<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

E D I T O R ,<br />

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Anno....... 21703 Anno 2£400<br />

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Trimestre... 680 Trimestre... 600


Defensor<br />

0T % Jfi ÂNNO I <strong>Coimbra</strong>, 6 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 H ° 75<br />

p<br />

0 fim <strong>de</strong> nm povo<br />

•\AAAA.<br />

Portugal não é hoje, somente,<br />

uma nação prestes a <strong>de</strong>sapparecer<br />

em virtu<strong>de</strong> da insolvência dos seus<br />

compromissos; é, lambem, uma socieda<strong>de</strong><br />

que se extingue pela ausência<br />

<strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al, o mesmo é dizer<br />

povo sem <strong>de</strong>stino a cumprir.<br />

Porque ainda se comprehen<strong>de</strong> a<br />

exislencia <strong>de</strong> uma nacionalida<strong>de</strong>,<br />

cujas fibras moraes se comprimam<br />

pela acção <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al bárbaro, que,<br />

em muitos casos, po<strong>de</strong> ser um estimulo<br />

<strong>de</strong> raça; mas que tenha direito<br />

e razão á vida um povo, cuja<br />

aspiração ninguém presente, e cujo<br />

i<strong>de</strong>al ninguém conhece, o mesmo é<br />

que assignalar a exislencia <strong>de</strong> um<br />

orgão.cuja funcção se extingue ou<br />

se per<strong>de</strong>u.<br />

Historteamenle, somos um povo<br />

findo. Restava que nesta liquidação<br />

<strong>de</strong> um passado glorioso, já quando<br />

a Europa não precisa dos nossos<br />

roleiros, nem o mundo das nossas<br />

<strong>de</strong>scobertas, que um gran<strong>de</strong> esforço<br />

da anliga alma porlugueza nos<br />

reanimasse para a solução do nosso<br />

<strong>de</strong>stino.<br />

Que o patriotismo que se fez<br />

mareante para <strong>de</strong>scobrir novos mundos,<br />

se fizesse, <strong>de</strong>pois das <strong>de</strong>scobertas,<br />

organisador politico, para<br />

completar a acção da nossa influencia.<br />

Mas não. Malbaratado o património<br />

das conquistas, cal)imos nos<br />

<strong>de</strong>smandos da imprevi<strong>de</strong>ncia.(Quando<br />

a febre da loucura levou escoadas,<br />

<strong>de</strong> lodo, as prezas do Oriente,<br />

Portugal, <strong>de</strong>rivando <strong>de</strong> conquista<br />

hespauhola um instrumento da politica<br />

franceza, fez a restauração do<br />

século xvii, obra <strong>de</strong> apparenle<br />

gran<strong>de</strong>za, é certo, mas em cujo seio<br />

fermentava o veneno que, um século<br />

<strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>via tornar-se nos symplomas<br />

d'esla morle que nos avassalla.<br />

Em toda a vasla obra separatista<br />

d*ess£ tempo, cuja virilida<strong>de</strong> ainda<br />

hoje assombra os <strong>de</strong>scuidados<br />

da sciencia da Historia, presenle-se<br />

mais o cuidado com que um homem<br />

preten<strong>de</strong> assegurar o futuro<br />

politico da sua família, do que o<br />

empenho com que um povo <strong>de</strong>seja<br />

resurgir, forta e altivo, para as<br />

gran<strong>de</strong>s conquistas da civilisaçào.<br />

D'esle <strong>de</strong>svario funesto seguiu-se o<br />

que era <strong>de</strong> prever.<br />

Portugal leve, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse tempo,<br />

uma série ininlerrompida <strong>de</strong><br />

reis taes e <strong>de</strong> tal lei tio, que só com<br />

a ar.alyse da sua <strong>de</strong>generescencia<br />

se escreveriam volumes <strong>de</strong> psychiatria.<br />

Des<strong>de</strong> Alfonso vi até D. João<br />

vi, que é ponto final da imbecilida<strong>de</strong><br />

humana, os palácios reaes lornam-se<br />

ora em manicomios grotescos,<br />

ora em lheatros <strong>de</strong> adultérios,<br />

e, não poucas vezes, em antros on<strong>de</strong><br />

se preparam vinganças brulaes. E<br />

tal é a inconsciência da própria miséria,<br />

que ao lempo em que os limites<br />

da Europa polilica se alteravam<br />

pela ambição bonaparlisla,<br />

Portugal tica surprehendido com o<br />

seu <strong>de</strong>sapparecimento. Eslava consummada<br />

a obra da restauração<br />

seiscentista.<br />

Depois...<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO X V<br />

*<br />

Depois, após o relampago <strong>de</strong><br />

1820 e a chimera generosa <strong>de</strong><br />

1846 em que pela <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira vez<br />

se presenliu o povo—<strong>de</strong>pois.. ..<br />

isto. ..<br />

A regeneração do paiz é iniciada<br />

pela polilica cynica do um<br />

homem fundamentalmente corrupio<br />

e <strong>de</strong>vasso, como era e sempre o foi<br />

Rodrigo da Fonseca. E nesta escola<br />

raza, em que os homens são tratados<br />

como instrumentos, e as paixões<br />

teem foros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, que se<br />

matriculam os jovens prodígios que,<br />

vinte annos <strong>de</strong>pois, nos governam<br />

com a sua vasla clientella. Fontes<br />

é o primeiro fruclo d'esse coilo vil.<br />

A sua acção na politica porlugueza<br />

é, sobre domestica, noloria a lodos.<br />

Foi o primeiro homem estanhado,<br />

que arvorou em principio o faz-me<br />

arranjo. Tanto do seu tempo, e lanto<br />

<strong>de</strong> mol<strong>de</strong> com o mestre, que jámais<br />

concebeu a censura polilica<br />

senão como uma fórma <strong>de</strong> pedir.—<br />

«O que é que esse homem preten<strong>de</strong>?<br />

» — disse elle, um dia; ao ouvir<br />

o discurso vehemente <strong>de</strong> um<br />

aprendiz <strong>de</strong> politico. Na sua vasta<br />

obra <strong>de</strong> trinta e tantos annos não<br />

se presente, sequer, que exisla um<br />

povo. Elle é a representação <strong>de</strong> lodos<br />

os po<strong>de</strong>res. Chamam-lhe o rei.<br />

Esta realeza, que <strong>de</strong> facto o foi,<br />

pelo esludo que fez do caracter cón-<br />

Iradictorio do rei Luiz, não a ulilisou<br />

nem em proveito publico nem<br />

em vantagem nacional.<br />

Governou para si e para o monarcha,<br />

cujas fraquezas soube, magistralmente,<br />

explorar.<br />

Prescindindo do povo, elegeu a<br />

sua guarda numacohoile <strong>de</strong> sobrinhos,<br />

cuja incapacida<strong>de</strong> premiou á<br />

custa do thesouro. Ainda hoje, e<br />

por largos annos ainda, o paiz pagará<br />

a phanlasia com que o gran<strong>de</strong><br />

homem quiz que <strong>de</strong> um estudante<br />

menos que medíocre se fizesse<br />

um engenheiro. Para estas e outras<br />

urgências houve mister falsificar<br />

orçamentos, fazer obras dispendiosas<br />

e alargar quadros. Surgiram,<br />

então, os acampameulos <strong>de</strong> Tancos<br />

e as verda<strong>de</strong>iaas porcarias da Penitenciaria.<br />

Como escaceiassem os<br />

admiradores d'esla politica d'avenluras,<br />

Barjona, o lago d'aquelle<br />

Othello, vae a <strong>Coimbra</strong> fazer uma<br />

leva <strong>de</strong> recrutas, d'aule-mão premunidos<br />

para applaudir o diclador.<br />

Nesta leva vem o gran<strong>de</strong> Lopo, que<br />

é o personagem culminante d'esles<br />

ullimos <strong>de</strong>z annos, e em cujo caracter<br />

se reflectem todas as abominações<br />

do seu lempo. O cuidado com<br />

que esta sinistra figura da nossa<br />

polilica põe em Londres o seu<br />

dinheiro—cuja proce<strong>de</strong>ncia todos<br />

conhecem— explica, a um lempo,<br />

a sua obra e a sua covardia. Coinci<strong>de</strong><br />

a opulência d'elle com a bancarrota<br />

do Estado. Surge rico, á<br />

hora em que o paiz vae fallir!<br />

*<br />

Em toda esla agonia <strong>de</strong> torpezas<br />

inconfessáveis, não se presente<br />

a alma porlugueza. O que se presente<br />

é uma sensação <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong><br />

collecliva, <strong>de</strong> vamos morrer, sem<br />

imprecações nem proleslos. Ao pedantismo<br />

da inconsciência gover-<br />

nativa respon<strong>de</strong>, no paiz, o silencio<br />

da dôr. A miséria moral dos preten<strong>de</strong>ntes<br />

dá o nome <strong>de</strong> paz a esla<br />

<strong>de</strong>solação. E uma <strong>de</strong>signação exacta,<br />

como é exacta, lambem, a synonimia<br />

com que a Morte é, em<br />

muilas línguas, <strong>de</strong>signada com o<br />

epitheto <strong>de</strong> Somno. Classificações<br />

empyricas danimal, simplesmente.<br />

Nada mais triste.<br />

José Caldas.<br />

Tudo envenenado!<br />

Jornaes <strong>de</strong> Lisboa referem que o sr.<br />

José Dias Ferreira figura na lista dos<br />

maiores <strong>de</strong>vedores á fazenda publica, no<br />

concelho <strong>de</strong> Cintra.<br />

O caso, que, tralando-se d'outros esteios<br />

das instituições, passa sem significação<br />

<strong>de</strong> maior, tem, tratando-se do sr.<br />

Dias Ferreira, um alto valor symptomatico.<br />

A vida publica do sr. Dias Ferreira,<br />

foi, anteriormente á sua subida aos conselhos<br />

da coroa, uma lucta severa contra<br />

os actos que no po<strong>de</strong>r se exhibiam <strong>de</strong>shoneslos.<br />

Esta apparencia <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong><br />

que requestou fóros <strong>de</strong> homem <strong>de</strong> bem<br />

ao sr. Dias Ferreira, dada a veracida<strong>de</strong><br />

das noticias, que nos chegam da capital,<br />

é, na sua subtileza calculista, o maior<br />

documento <strong>de</strong> imbecilida<strong>de</strong> que o ex-presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho podia fornecer da<br />

sua personalida<strong>de</strong> moral.<br />

Achamos mais sérios, relativamente,<br />

aquelles que, á luz do dia, espesinham os<br />

mais simples elementos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>, do,<br />

que aquelles que, como agora o sr. Dias<br />

Ferreira, fazem do seu viver um dualismo<br />

indigno: apresentam e exprimem em<br />

largas tiradas oralorias uma austerida<strong>de</strong><br />

inexcedivel, e são, no fundo, uns exemplares<br />

<strong>de</strong>pravados da mais negativa honestida<strong>de</strong>.<br />

Triste I<br />

Cabo para os Açores<br />

Está a expirar o prazo concedido a<br />

uma companhia franceza para o lançamento<br />

do cabo submarino, que ligue os<br />

Açores á metrópole.<br />

O governo tem sido objecto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

instancias para a prorogaçífc do<br />

prazo, mas parece que tal addiamento<br />

se não fará.<br />

Anda bem se assim fizer, porque a<br />

companhia não ha <strong>de</strong> querer per<strong>de</strong>r o<br />

<strong>de</strong>posito, o (jue será motivo, talvez, para<br />

que os açorianos se não vejam in<strong>de</strong>finidamente<br />

privados do cabo submarino,<br />

<strong>de</strong> tanta importancia para elles... e<br />

para nós lambem, que lemos a lucrar, e<br />

não menos, com a maior approxiniação<br />

entre o continente e as ilhas.<br />

D3 relance<br />

Baixo, atarracado, quasi imberbe,<br />

vermelhusco e cumprimentador. Muito direito,<br />

chapéu alto á cabeça, bengalão a<br />

gingar, passeia por essa <strong>Coimbra</strong> como<br />

um vencedor em cida<strong>de</strong> conquistada. E é<br />

que ja a tem conquistado por varias vezes,<br />

e então... é elle quem todo lo<br />

manda.<br />

Muito urbano, muito ceremonioso fora<br />

do seu serviço <strong>de</strong> mantenedor, é fugir<br />

d'elle quando, <strong>de</strong> bengala em punho, o seu<br />

bastão <strong>de</strong> cominando, capitaneia as suas<br />

hostes aguerridas. Caiie a Sé Velha e o<br />

governo civil, como quem diz: — Cahe o<br />

o Carmo e a Trinda<strong>de</strong>.<br />

Elle, para a rapaziada — é um pae,<br />

diz elle; mas pae que dá castanha <strong>de</strong> cahir,<br />

pae severo que acaricia... á pranchada.<br />

Fora d'islo é bom homem.<br />

Quer montado no seu Bucephalo [perdoe-nos<br />

o amigo <strong>de</strong> Julio Cezar), quer na<br />

almofada guiando a quatro, quer na sua<br />

curul <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>, è sempre firme...<br />

mas evitem-lhe os repentes.<br />

Os leões também são bons... quando<br />

dormem.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Poisson d'avril<br />

A Voz Publica <strong>de</strong> sabbado 1 d'abril<br />

<strong>de</strong>u uma palpitante noticia <strong>de</strong> que fora<br />

<strong>de</strong>scoberto um valiosíssimo lhesouro na<br />

quinta <strong>de</strong> Quebrantões, constando <strong>de</strong> peças<br />

em bom ouro antigo, amphoras, columnalas,<br />

ele.<br />

O Cesário, feitor da lai quinta, sabia<br />

da melgueira, mercê da lettra d'um<br />

velho testamento; e vae d'ahi—começa a<br />

investigar, a investigar dia e noite, sem<br />

<strong>de</strong>scanço.<br />

O povinho rosnava que andavam almas<br />

do outro mundo na quinta <strong>de</strong> Quebrantões:<br />

era o Cesário, o infatigavel<br />

ambicioso que, á imitação do Gaspar dos<br />

Sinos, receiava que a noticia do lhesouro<br />

se espalhasse, e <strong>de</strong>sviava as suspeitas<br />

alimentando a superstição.<br />

Já <strong>de</strong>sanimava o feitor quando uni<br />

dia (e foi isto na madrugada do primeiro<br />

d'abril I) <strong>de</strong>scobriu um veio d'agua que<br />

se internava numa caverna.. .<br />

O coração bateu-lhe com violência...<br />

— Sera aqui ?.. .<br />

E seguiu o veio, inlernando-se na<br />

abertura praticada entre a rocha; caminhou<br />

afoitamente, molhado até aos ossos,<br />

rasgando os pés, tintos <strong>de</strong> sangue, nas<br />

pedras do caminho, estonteado pela falta<br />

dar — mas marchando sempre, como<br />

homem seguro do bom êxito da sua i<strong>de</strong>ia,<br />

e firme na sua crença.<br />

Depois d'uma amargurada meia hora<br />

<strong>de</strong> caminho, surprehen<strong>de</strong>u-o uma clarida<strong>de</strong><br />

que <strong>de</strong>senhava, a pequena distancia,<br />

a entrada d'um vasto recinto (estamos<br />

em pleno romance Ponson du Terrail...)<br />

Alravessou-lhe o cerebro a i<strong>de</strong>ia do<br />

lhesouro, e avançou o <strong>de</strong>nodado Cesário,<br />

penetrando no logar mysterioso.<br />

Achára realmente o X do problema I<br />

— O recinto era uma espaçosa loja<br />

cheia d'amphoras romanas, repletas <strong>de</strong><br />

dobtões em ouro...<br />

A entrada dois leões <strong>de</strong> bronze, do<br />

tamanho natural. O venerável pó dos tempos<br />

envolvia tudo aquillo imprimindo-lhe<br />

um certo ar d'antiguida<strong>de</strong>.<br />

—Os olhos do Cesário abriram-se<br />

<strong>de</strong>smesuradamente, mas um sentimento<br />

extrauho e inexplicável impedia o <strong>de</strong> locar<br />

as moedas ha tanto tempo <strong>de</strong>sejadas.<br />

Ficou-se mudo e quédo a contemplar<br />

a maravilha...<br />

Por fim, num impulso que honra em<br />

extremo as «uas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cidadão<br />

portuguez, põe-se <strong>de</strong> novo a caminho,<br />

dirigindo-se ao domicilio do administrador<br />

sr. dr. Fortes Júnior.<br />

Distingue o altamente, ao feitor, este<br />

rasgo patriótico f—Pensou na situação<br />

do paiz, na ameaça da crise, na miséria<br />

que nos cerca--e olíereceu generosamente,<br />

os luzidos dobrões á voracida<strong>de</strong> da<br />

fazenda publica.<br />

O Cesário guindou-se á,estatura <strong>de</strong><br />

um heroe pela sua abnegação exlraordinaria.<br />

O dr. Fortes não per<strong>de</strong>u um minuto,<br />

e lá foi — seguido d^uia bicha <strong>de</strong> policias—introduzindo-se<br />

na vereda tortuosa,<br />

molhado atè aos ossos...<br />

E d'ahi a pouco chegavam escrivães<br />

<strong>de</strong> fazenda, caminhando também pelo<br />

veio d agua, <strong>de</strong> pasta <strong>de</strong>baixo do braço,<br />

oculos na ponta do nariz, ás apalpa<strong>de</strong>llas<br />

pela rocha.. ..<br />

Não tardou a fazer-se representar a<br />

curiosida<strong>de</strong> indígena — em breve começou<br />

a romaria: na vereda havia encontrões,<br />

murros que <strong>de</strong>notavam uma concorrência<br />

<strong>de</strong>susada: rogaram-se pragas,<br />

questionava-se.<br />

O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Samodães invejou<br />

aquella balbúrdia da popularida<strong>de</strong> para<br />

a sua Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s.<br />

O poviléu engrossava minuto a minuto;<br />

a municipal estabeleceu patrulhas<br />

<strong>de</strong> cavallana e o chefe Lopes teve meta<strong>de</strong><br />

do sabre fóra da bainha.<br />

O caso tomou taes proporções que<br />

a companhia do gaz pensou em guarnecer<br />

u vereda mysieriosa <strong>de</strong> candieiros, e<br />

o sr. Juslino Teixeira propoz a instala-<br />

ção <strong>de</strong> comboios <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porta da quinta<br />

á bocca dos dragões.<br />

Gloria ao excelso Cesário !<br />

— A Voz Publica, o nosso excellente<br />

collega, soldado valentíssimo do partido<br />

republicano, encarregou-se <strong>de</strong> immortalisar<br />

o feitor, e assim o fez publicando<br />

e lançando aos quatro ventos o<br />

homem e os feitos <strong>de</strong> tão prestante cidadão.<br />

No numero do 1.° d'abril appareceu<br />

a noticia circumstanciada do caso, captando<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a attenção do publico<br />

que ama o phantastico.<br />

A quinta <strong>de</strong> Quebranlões teve um<br />

successoI — Os nossos bons burguezes<br />

fartaram-se <strong>de</strong> correr para lá á busca<br />

dos dragões (nos dragões é que estava<br />

todo o furor!)—e nem ao menos encontraram<br />

um Judas d'al<strong>de</strong>ia com bombas<br />

<strong>de</strong> vintém na sacca dos trinta dinheiros!<br />

Fiasco em toda a linha, e ingenuida<strong>de</strong><br />

hors ligue!<br />

•—Vae para o ceu, quando Deus a<br />

chame, a actual geração burgueza da invicta<br />

cida<strong>de</strong> que possue as entranhas do<br />

sr. D. Pedro ÍV.<br />

*<br />

Á noite, no Príncipe Real, fallavase<br />

muito da engraçada blague, commentando-se<br />

alegremente a romaria a Quebrantões.<br />

Ksperava se que, ao menos, o Meia<br />

Azul fosse um thesouro... para a empreza.<br />

Infelizmente, continuou o fiasco : —<br />

o Meia Azul passou pela tangente, sem<br />

ao menos alimentar as esperanças que<br />

doiraram o coração do Cesário e a alma<br />

da burguezia.<br />

Decididamente a epocha corre avessa<br />

a thesouros — sem excepção do thesouro<br />

publico.<br />

3 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />

Fra-Diavolo.<br />

Economias no ministério<br />

da guerra<br />

O sr. ministro da guerra fez publicar<br />

na ultima or<strong>de</strong>m do exercito um <strong>de</strong>creto<br />

em que se manda — cessar o abono<br />

<strong>de</strong> forragens aquelles ofliciaes que não<br />

lenham cavalio praça; conce<strong>de</strong>r o adiantamento<br />

das quantias necessarias para a<br />

acquisiçâo <strong>de</strong> cavallos para os mesmos<br />

ofíiciaes, sendo estes <strong>de</strong>bitados pela sua<br />

importância, que lhes será <strong>de</strong>scontada<br />

no prazo <strong>de</strong> seis annos; estabelecer novas<br />

forragens e cavallos para ofliciaes<br />

que os não tinham.<br />

Daqui se vê que este <strong>de</strong>creto, que,<br />

na sua primeira parte, parece representar<br />

uma economia e gran<strong>de</strong>, aggrava nas<br />

suas <strong>de</strong>terminações posteriores as forças<br />

do thesouro. Porque, acabando com o<br />

escaudalo dos abonos <strong>de</strong> forragens aos<br />

ofliciaes que não lêem cavallos praças,<br />

dá-lhes comtudo o direito <strong>de</strong> adquirirem<br />

um cavalio para o seu serviço, e, portanto,<br />

abonos <strong>de</strong> forragens, o que representa<br />

uma <strong>de</strong>speza gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> forragens<br />

e ao mesmo tempo um gran<strong>de</strong> dispêndio<br />

<strong>de</strong> dinheiro para adiantamento da<br />

compra dos cavallos, quautia <strong>de</strong> que só<br />

sera reembolsado o lhesouro no prazo <strong>de</strong><br />

6 annos. E não contando as quantias<br />

que houver em <strong>de</strong>bito pela inuulisaçào<br />

d'algum cavalio, antes <strong>de</strong> pago por completo,<br />

porque neste caso o otlicial requer<br />

a acquisiçâo d'um outro e consi<strong>de</strong>ra-se<br />

saldada a conta anterior.<br />

Conce<strong>de</strong>ndo ainda a outros ofíiciaes,<br />

que até aqui não tinham direito a cavallos<br />

praças nem a forragens, o direito <strong>de</strong><br />

os adquirirem agora, vem aggravar ainda<br />

mais as <strong>de</strong>spezes a que o <strong>de</strong>creto já<br />

dava occasião, e que são <strong>de</strong> boas <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis.<br />

Agora que tanto se apregoam economias,<br />

era, realmente, a occasião mais<br />

própria para o sr. ministro da guerra se<br />

melter em luxos <strong>de</strong> cavallos e forragens...<br />

Bem se vê que s. ex. a quer fazer<br />

verda<strong>de</strong>ira a sua aJirmaçãoao lomar conta<br />

da pasta da guerra:<br />

Com o exercito não se meche... senão<br />

para abouos <strong>de</strong> rações e <strong>de</strong> forragens.


AMO J5 O DEFEORIi DO POVO e <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 18»»<br />

O R Y S T A B S<br />

L'Anje Gardien<br />

A<strong>de</strong>java um sorriso juvenil<br />

nos lábios <strong>de</strong>smaiados da creança,<br />

docemente encostada sabre a trança,<br />

a cabecita loira, tão gentil.<br />

Pequenino jasmim, um loiro Abril,<br />

cândido e meigo como rola mansa,<br />

era riso d'amor, riso d'esp'rança,<br />

tranquillo e calmo como um ceu d'anil.<br />

Librando-se no azul da immensida<strong>de</strong><br />

foi voando, subindo aos astros d'oiro,<br />

cheio d'amor, <strong>de</strong> luz, como um thesoiro,<br />

sereno e triste como a sauda<strong>de</strong>...<br />

E hoje, doce como as pombas mansas,<br />

é —o anjo da guarda das ereanças.<br />

FERNÃO SILVESTRE.<br />

LBTTRAS<br />

Sempre bella<br />

Singella e commovente narrativa é<br />

esta que vae ler-se :<br />

Nas margens do Orge, antes <strong>de</strong> chegar<br />

a Belles-Fonlaines, vê-se unta construcção<br />

elegante, pequeno castello mo<strong>de</strong>rno,<br />

coberto <strong>de</strong> ardozias. Collocada sobre<br />

a vertente da collina, no meio d'um<br />

terreno enrelvado, e cercada por uma pequena<br />

malta, a casa attrae a attenção<br />

dos poucos remadores que <strong>de</strong>scem o Orge<br />

até Juvisy.<br />

Apenas um pescador á linha, em<br />

busca d'um bom local para a pesca, avistou<br />

algumas vezes, lá em cima, uma mulher<br />

com o rosto coberto por um <strong>de</strong>nso<br />

véu, e um mancebo que caminhava vagarosamente,<br />

encostando-se-lhe ao braço.<br />

Ao menor ruido dos remos <strong>de</strong>sappareciam<br />

ambos ao voltar uma rua ou por traz <strong>de</strong><br />

um massiço <strong>de</strong> arvoredo.<br />

A gente <strong>de</strong> Juvisy <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> tentara<br />

<strong>de</strong>svendar o mysterio que parecia envolver<br />

os dois personagens, recemchegados<br />

áquelles sitios.<br />

O jardineiro e os criados fallavam<br />

uma língua <strong>de</strong>sconhecida, que um caixeiro-viajante<br />

<strong>de</strong>clarou ser o baixo-bretão.<br />

Só uma velha criada que fazia as<br />

compras faliava francez, e essa mesma<br />

apenas pronunciava as palavras necessárias<br />

para as transacções da vida usual.<br />

Depois <strong>de</strong> discutirem todas as hypotheses<br />

imaginaveis, o estalaja<strong>de</strong>iro e o<br />

merceeiro <strong>de</strong> Juvisy tinham <strong>de</strong>cidido que<br />

aquelie mancebo era um louco que a família<br />

internara naquella proprieda<strong>de</strong>, limitada<br />

por um elevado muro do lado da<br />

estrada e por uma ribeira do lado dos<br />

campos. Quanto á mulher, era uma parenta<br />

ou uma mercenaria, e quando algum<br />

pintor, ao voltar <strong>de</strong> Belles-Fontaines,<br />

perguntava quem era o dono d'aquelle<br />

pequeno parque cheio <strong>de</strong> sombra e <strong>de</strong><br />

mysterio, respondiam-lhe muito positivamente<br />

:<br />

— Mora alli um doido.<br />

A 10 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1884, num d'e?ses<br />

dias <strong>de</strong> calor que o Senegal nos envia,<br />

o viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monthrun sabia ás nove<br />

horas da manhã do seu palacete da rua<br />

Vernet e <strong>de</strong>scia os Campos Elysios. Ia<br />

ver um cavallo cuja compra lhe tora proposta<br />

por um alquilador da rua da Pepinière.<br />

Os squares ostentavam os seus<br />

açafates <strong>de</strong> flores, cercados <strong>de</strong> folhagens<br />

cujos tons haviam sido artisticamente<br />

graduados como para uma roseta <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações<br />

estrangeiras. No ponto central,<br />

os quatro jactos d'agua erguiam-se<br />

imponentemente, reproduzindo as côres<br />

do arco-iris e espalhando ao mesmo tempo<br />

como que uma fina pulverisação <strong>de</strong><br />

diamantes. ,<br />

O sr. <strong>de</strong> Monthrun era um d'esses<br />

parisienses que não sabem nunca <strong>de</strong><br />

Paris.<br />

«O mar, dizia elle, foi feito para os<br />

pescadores e para os marinheiros. Tem<br />

por certo as suas bellezas, mas não se<br />

pô<strong>de</strong> aturar senão uma hora por dia.<br />

Apenas se retira <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>scoberto uns<br />

lodos pestilenciaes, ao lado dos quaes o<br />

cano principal do exgoto é um frasco <strong>de</strong><br />

agua <strong>de</strong> colonia. Quanto ao campo propriamente<br />

dito, ha lá tanto calor como<br />

em Paris, com a differença <strong>de</strong> que á<br />

noite ninguém sabe o que ha <strong>de</strong> fazer.<br />

Se uma pessoa <strong>de</strong>ixa abertas as janeilas<br />

é <strong>de</strong>vorada pelos mosquitos ; se sts fecha<br />

lica com sauda<strong>de</strong>s da rua Royale e da<br />

Chaussée d'Antin, on<strong>de</strong> se pô<strong>de</strong>, da meia<br />

noite ás duas horas da manhã, fumar<br />

socegadamente um charuto, ao luar, sem<br />

que venha qualquer monstro alado picar<br />

o fumador, ou qualquer morcego bater-<br />

Ihe na cara.» «<br />

No entanto, o viscon<strong>de</strong> notou que os<br />

transeuntes eram raros. Via <strong>de</strong>sembocar<br />

da rua <strong>de</strong> Ponthieu e da rua do Circo<br />

fiacres carregados <strong>de</strong> malas. A vista dos<br />

preparativos da festa imniincnle <strong>de</strong> 14<br />

<strong>de</strong> julho pungiu-lhe o coração ; este sentimento<br />

<strong>de</strong> repulsão não era, porém,<br />

filho <strong>de</strong> quaesquer opiniões politicas; o<br />

dia 15 <strong>de</strong> agosto inspirar-lhe-ia as mesmas<br />

apprehensões no tempo do império.<br />

Mas o verda<strong>de</strong>iro parisiense é o inimigo<br />

das festas publicas, é inimigo <strong>de</strong> tudo<br />

quanto perturba o seu repouso e transtorna<br />

forçadamente os seus hábitos. Por toda<br />

a parle mastros, postes, ban<strong>de</strong>irolas.<br />

— On<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rei refugiar-me durante<br />

estes tres dias? pensou o sr. <strong>de</strong> Monthrun.<br />

No anno anterior tinha ido a Saint-<br />

Germain, on<strong>de</strong> tinham feito tonta hulha<br />

e atirado tantos foguetes como em Paris.<br />

Montbrun lembrou-se então <strong>de</strong> que havia<br />

promettido a si mesmo fazer uma<br />

viagem á Bretanha antes que a picareta<br />

<strong>de</strong>molidora acabasse <strong>de</strong> transformar<br />

aquella região numa succursal <strong>de</strong> Vaugirard.<br />

Visitar novamente Vitré, Fougères,<br />

passar um dia em Saint-Malô e voltar a<br />

Paris. Evitaria a turba-multa, as illuminações.<br />

Visto que a província inva<strong>de</strong> Paris<br />

por occasião das festas é justo que o<br />

parisiense lhe ceda o logar.<br />

D'alli a dois dias, Montbrun chegava<br />

a Vitré. Era ura sabhado <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>. Na<br />

província quem quizer ter uma i<strong>de</strong>ia geral<br />

da belleza das mulheres tem que ir<br />

postar-se, ao domingo, á porta da egreja.<br />

Por este motivo, Montbrun foi logo ás<br />

oito horas da manhã para o adro da basílica<br />

<strong>de</strong> S. Martinho, á espera <strong>de</strong> que<br />

a missa acabasse.<br />

Ao sahir <strong>de</strong> Paris <strong>de</strong>itara no correio<br />

um bilhete postal dirigido a ma<strong>de</strong>moiselle<br />

Paula Salimberi, dançarina no theatro do<br />

E<strong>de</strong>n. Paula era uma formosa rapariga,<br />

uma transleverina d'olhos negros muito<br />

vivos: <strong>de</strong>butara em Nápoles e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

passar uma estação no theatro italiano<br />

<strong>de</strong> Nice viera mostrar aos parisienses as<br />

suas formas irrèprehensiveis e os seus<br />

encantos provocadores.<br />

Montbrun linha então vinte e oito<br />

annos; esbelto e bem parecido, assíduo<br />

frequentador <strong>de</strong> bastidores, juntava aos<br />

seus attraelivos pessoaes as seducções<br />

<strong>de</strong> sessenta mil francos <strong>de</strong> rendimento.<br />

Apresentou st? e foi bem recebido.<br />

Nos primeiros seis mezes aquellas relações<br />

foram <strong>de</strong>liciosas; scenas <strong>de</strong> amor,<br />

protestos <strong>de</strong> eterna fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> entrecortados<br />

<strong>de</strong> passeios ao Bois, cavalgadas<br />

matutinas e ceias alegres.<br />

ViIIe d'Avray e Bougival viram muitas<br />

vezes passar a formosa amazona e<br />

Montbrun galopando ao lado d'ella. Paula<br />

Salimberi tinha apenas um <strong>de</strong>feito : tornava-se<br />

ínsupportavel com o ciúme. Junto<br />

tl'ella Othello seria um Jorge Dandin.<br />

Se Montbruh, no theatro, dirigia vagamente<br />

o binóculo para alguma mulher,<br />

Paula arrancava-lh'o das mãos e <strong>de</strong>satava<br />

a chorar.<br />

Cm dia em que o viscon<strong>de</strong> parára um<br />

momento junto á carruagem <strong>de</strong> madame<br />

<strong>de</strong> C..., a transleverina teve um ataque<br />

<strong>de</strong> nervos.<br />

— Se me <strong>de</strong>ixares, dizia ella muitas<br />

vezes brandindo um punhal, malo te e<br />

mato-me em seguida.<br />

(Conclúe).<br />

Aureliano Scholl.<br />

S. ex. a o sr. Barjona<br />

Este alto Irumpho é gran capitão, a<br />

respeito <strong>de</strong> pagar contribuições, até<br />

hoje... nem nada!<br />

Compellido, comtudo, ao pagamento<br />

d'ellas, pelo <strong>de</strong>creto do sr. Fuschini, já<br />

todos sabem como elle respon<strong>de</strong>u ás intimações<br />

judiciaes.. . rasgou-as, ou mandou<br />

rasgal-as.<br />

Mas tem muito que rasgar, o sr.<br />

Barjona, que vae ser intimado por todos<br />

os bairros da capital a pagar as contribuições<br />

que <strong>de</strong>ve cm todos elles.<br />

An<strong>de</strong>m com elle... e não esqueçam<br />

os outros.<br />

Febre amarella<br />

Em Santos, on<strong>de</strong> a febre amarella<br />

está causando inúmeras victimas, é tal o<br />

<strong>de</strong>sleixo no serviço da immigração, que<br />

um dia d'estes havia alli agglomerados,<br />

sem que se cuidasse em dar-lhes <strong>de</strong>stino,<br />

2:600 immigrantes recem-chegados!<br />

As bodas do rei Humberto<br />

E' positivo que a rainha viuva e o<br />

infante D. Alfonso irão á Italia assistir<br />

ás bodas <strong>de</strong> prata do rei Humberto.<br />

Sobre esta viagem diz o correspon<strong>de</strong>nte<br />

do Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, em Lisboa,<br />

para este jornal:<br />

«A rainha e o infante D. AfTonso<br />

partem no dia 14 para a Italia, <strong>de</strong>morando-se<br />

alli uns 10 ou 15 dias. Sua<br />

magesla<strong>de</strong> leva uns presentes riquíssimos<br />

para seu irmão e cunhada. As toilettes<br />

são opulentíssimas e foram feitas<br />

em Paris, d'on<strong>de</strong> veiu ha dias para assistir<br />

ás provas a afamada modista Lipman,<br />

que hoje se retirou »<br />

Achamos muito louváveis estes bons<br />

sentimentos <strong>de</strong> familia, que exornam os<br />

reaes viajantes. Mas não seria melhor,<br />

até para a modéstia porlugueza, que o<br />

luxo da sr. a D. Maria Pia envergonha,<br />

que sua magesta<strong>de</strong> fos-e ficando por lá<br />

a <strong>de</strong>slumbrar a côrte <strong>de</strong> seu irmão com<br />

as suas toilettes opulentíssimas e o seu<br />

luxo raffiné?<br />

E se o sr. D. Affonso, em logar <strong>de</strong><br />

por aqui andar a estropear cavallos e<br />

atropellar os míseros peões, fosse passeiar<br />

o seu irrequietismo <strong>de</strong> nevropatha<br />

lá muito longe daqui ?...<br />

Quem teria sauda<strong>de</strong>s?...<br />

O crime <strong>de</strong> Villar Formoso<br />

Cimo dissemos, um guarda da alfan<strong>de</strong>ga,<br />

Fernando Costa, assassinou em<br />

Villar Formoso uma rapariga <strong>de</strong> 14 annos,<br />

em quinta foira santa.<br />

Ignoravam-se os pormenoras do criirte<br />

quando dêmos aquella noticia; hoje,<br />

porém, já se conheceu como o assassino<br />

commetteu o crime.<br />

Fernando Costa encontrou a pequenita<br />

na estrada e perguntou-lhe d on<strong>de</strong><br />

vinha. Que vinha <strong>de</strong> resar as cruzes.—<br />

Pois as cruzes eu t'as dou.<br />

E levanda a carabina á cara <strong>de</strong>sfechou<br />

sobre a pequena, que cahiu immediatamente,<br />

fulminada.<br />

Este bandido já praticou uma outra<br />

façanha egual.<br />

Ha tempos foi ás Naves visitar um<br />

seu amigo, Antonio Loroza. Muita festa,<br />

gran<strong>de</strong>s expansões <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e, passados<br />

momentos, dando-lhe um abraço <strong>de</strong><br />

muito amigo, metteu-llie uma bala <strong>de</strong> rewolver<br />

na garganta, a que Antonio Loroza<br />

succumbiu passado pouco tempo.<br />

Pois este lieroe foi patrocinado então<br />

<strong>de</strong> tal modo, que não foi con<strong>de</strong>mnado<br />

como merecia o seu procedimento infamissimo;<br />

e agora parece que se vão encaminhando<br />

as coisas para o mesmo resultado,<br />

allegando-se em seu favor a embriaguez<br />

!... .<br />

Veremos o que d'aqui sabe...<br />

Comício<br />

Na terça feira realisou-se em Aveiro<br />

um comício, numerosamente concorrido<br />

e a que presidiu o sr. Casimiro Barreto.<br />

Usaram da palavra muitos cavalheiros,<br />

combatendo lodos pela necessida<strong>de</strong> d'uma<br />

draga para limpeza da ria e beneliciametito,<br />

portanto, da cida<strong>de</strong>.<br />

Sericicultura<br />

Como já aqui referimos, o sr. ministro<br />

das obras publicas empenha-se no<br />

restabelecimento da industria sericicola.<br />

Sobre este assumpto o sr. dr. Bernardino<br />

Machado, que reuniu já os elementos<br />

indispensáveis, iniciará <strong>de</strong>ntro em pouco<br />

os trabalhos práticos.<br />

Pelos vencidos<br />

Subspripção <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />

<strong>de</strong>stinaria a soeeorrer<br />

os nossos correligionários<br />

emigrados<br />

Transporte 4^7 00<br />

Francisco Mendonça (mez <strong>de</strong><br />

março) 200<br />

Somma, réis 4$900<br />

Os nossos amigos e correligionários<br />

<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contri-<br />

buir para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>-<br />

rão remelter os seus nomes e as suas<br />

quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />

do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />

EM SURDINA<br />

E' para dar o cavaco<br />

não sair verso que exprima<br />

o que tenho neste caco...<br />

falta-me ás vezes a rima.<br />

Queria dizer que o Viegas<br />

p'ra reclame á botica<br />

e á venda das beldroegas...<br />

á caserna se <strong>de</strong>dica.<br />

Feito alferes tal patusco<br />

á disciplina se doma<br />

A razão d'isto lhe busco:<br />

quer continência — Ora toma!<br />

PINTA-ROXA.<br />

Assalto á mão armada<br />

Ha poucos dias foi assaltado por dois<br />

malandrins, perto do Porto <strong>de</strong> Moz, um<br />

rapaz, negociante <strong>de</strong> objectos <strong>de</strong> vidro,<br />

que se dirigia para a Marinha Gran<strong>de</strong>, a<br />

sortir-se <strong>de</strong> louça para o seu negocio.<br />

Tentou resistir, mas os bandidos feriramno<br />

com um tiro e roubaram-lhe 22$000<br />

réis que trazia. O ferido <strong>de</strong>u entrada no<br />

hospital <strong>de</strong> Porto <strong>de</strong> Moz e os salteadores<br />

evadiram-se.<br />

Tumultos em Pedrogão<br />

As rivalida<strong>de</strong>s cada vez mais accentuadas<br />

entre os povos <strong>de</strong> Castanheira <strong>de</strong><br />

Pera e <strong>de</strong> Pedrogão Gran<strong>de</strong>, por causa<br />

da mudança da comarca <strong>de</strong> Pedrogão<br />

para Figueiró dos Vinhos, que a Castanheira<br />

<strong>de</strong> Pera <strong>de</strong>seja, como mais favoravel<br />

aos seus interesses, e a que os povos<br />

<strong>de</strong> Pedrogão se oppõem tenazmente,<br />

estão dando os resultados <strong>de</strong> prever.<br />

O<strong>de</strong>iam-se encarniçadamente os dois povos,<br />

eesta opposição <strong>de</strong> interesses tem-se<br />

resolvido em luctas asperas por occasião<br />

das eleições municipaes, ainda agora<br />

mais uma vez repetidas.<br />

' No dia 2, por occasião d'eslas eleições,<br />

houve tumultos e <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que<br />

os sitios tocaram a rebate, 2 policias foram<br />

feridos e um foi preso pelo <strong>de</strong>legado<br />

uma hora <strong>de</strong>pois do tumulto.<br />

E foi tão grave o que se passou, que<br />

os vereadores da Castanheira <strong>de</strong> Pera<br />

não quízeram ir tomar posse dos seus togares<br />

na camara, receando pelas suas<br />

vidas, e é <strong>de</strong> recear que o povo <strong>de</strong> Castanheira<br />

<strong>de</strong> Pera procure <strong>de</strong>sforrar-se do<br />

<strong>de</strong> Pedrogão, o que pô<strong>de</strong> dar occasião a<br />

confliclos <strong>de</strong> serias consequências.<br />

Estes factos, na sua singeleza, e<br />

sem mais pormenores, que por emquunlo<br />

não temos, revelam acontecimentos <strong>de</strong><br />

gravida<strong>de</strong>, que exigem provi<strong>de</strong>ncias immediatas<br />

do governo.<br />

=3<br />

Um filho <strong>de</strong> Joanna d'Arc<br />

Apresentou-se ha poucos dias em Paris<br />

á porta <strong>de</strong> Elyzeu, um campouez dos<br />

Vosges, pedindo com instancia para faltar<br />

ao presi<strong>de</strong>nte da Republica, dizendo<br />

tralar-se <strong>de</strong> altos interesses dó Estado,<br />

que requeriam uma audiência ímmediala<br />

<strong>de</strong> Carnot, pois que a sua missão importante<br />

e secreta, só com o presi<strong>de</strong>nte<br />

da Republica podia ser tratada.<br />

Levado para a Perfeitura, <strong>de</strong>clarou<br />

alli que é filho <strong>de</strong> Joanna d'Arc, e que<br />

tem lido, como ella, repetidas visões e<br />

que os anjos o mandaram a toda a pressa<br />

a Paris, fallar com Carnot para este<br />

o nomear rei do Dahomé, on<strong>de</strong> iria implantar<br />

a civilisação e o christianismo.<br />

Não o mandaram para Dahomé, metleram<br />

o visionário num hospital <strong>de</strong> doidos.<br />

Homenagem<br />

Cousta ao nosso collega a Voz Publica,<br />

que a commissão Executiva do Partido<br />

Republicano no Porto tenciona oiíerecer<br />

aos implicados nos acontecimentos <strong>de</strong> 31<br />

<strong>de</strong> janeiro, e repatriados pela ultima<br />

amnistia, um jantar no Palacio <strong>de</strong> Crystal.<br />

Para este jantar serão convidados<br />

<strong>de</strong>legados <strong>de</strong> todos os concelhos do norte<br />

do paiz on<strong>de</strong> se acham <strong>de</strong>finitivamente<br />

organisadas as forças republicanas, e representantes<br />

da imprensa e corpos dirigentes<br />

do partido em Lisboa.<br />

Este procedimento é simplesmente<br />

para prestar um preito <strong>de</strong> homenagem<br />

aos que, implicados nos acontecimentos<br />

<strong>de</strong> janeiro, supportaram no exilio inclemências<br />

sem nome.<br />

E' um nobre e respeitável exemplo<br />

<strong>de</strong> confraiernisação e solidarieda<strong>de</strong> republicana.<br />

i r<br />

Paris porto do mar<br />

Ha muito tempo já que se projecta<br />

fazer um canal <strong>de</strong> Ruão a Paris, que<br />

permitta a navegação <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> alto<br />

bordo até esta- cida<strong>de</strong>, terminando um<br />

porto <strong>de</strong> mar.<br />

O projecto d'esta obra foi feito já<br />

pelo engenheiro Bouquet <strong>de</strong> la Grye.<br />

Segundo este projecto o canal lerá<br />

180 kilometros por 7 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>,<br />

que pô<strong>de</strong> permittir a navegação<br />

a 95 °/o dos navios que ancoram no Havre.<br />

O porto estabelece-se entre Saint-<br />

Dénis e Clychy, havendo mais cinco portos<br />

secundários, e os navios po<strong>de</strong>rão<br />

transpor a distancia em 17 horas. A <strong>de</strong>speza<br />

é orçada em 27.000:000^000 réis<br />

e as obras não <strong>de</strong>verão exce<strong>de</strong>r 3 annos.<br />

Este é o projecto nas suas linhas geraes;<br />

ma« executar-se-á ?<br />

As vantagens que Paris auferiria da<br />

sua realisação são evi<strong>de</strong>ntes, mas tem a<br />

luctar com a forte opposição d ! algumas<br />

cida<strong>de</strong>s interessadas em que estes trabalhos<br />

se não elfectuem.<br />

Util<br />

Segundo um jornal <strong>de</strong> medicina, a<br />

media do somno necessário ás ereanças<br />

é:<br />

Para as ereanças <strong>de</strong> 4 annos 12 horas<br />

» d 7 » 1 1 »<br />

» • » 9 Í 10 »<br />

» » 12 a 14 » 9 a 10 »<br />

A anemia, a fraqueza, fl hysteria <strong>de</strong>vem<br />

se, a maior parle das vezes, a um<br />

somno insufficienle.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Associação Commercial <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong><br />

E' hoje convocada novamente a assemblêa<br />

geral d'esta associação, a fim <strong>de</strong><br />

tratar <strong>de</strong> assumptos diversos e <strong>de</strong> importância.<br />

Ha tempos que a classe commercial<br />

está daudo provas da sua indilíereuça por<br />

esla associação, que alias tem dispensado<br />

bons serviços, bem como á cida<strong>de</strong>,<br />

pois se tem alli tratado dos interesses locaes<br />

com zelo e <strong>de</strong>dicação, e mal pensados<br />

andam aquelles que julgam ineficazes<br />

estas instituições, que tantos serviços<br />

prestam ás coliectivida<strong>de</strong>s.<br />

Se não fosse a influencia e imporlancia<br />

d'eslas associações uàu teria o commercio<br />

<strong>de</strong> Lisboa, Porto, <strong>Coimbra</strong>, e outras<br />

terras do paiz, obtido dos governos<br />

muitas das concessões que agora gozam<br />

e que estariam a dii&cultar-ihe mais a<br />

vida, criando-lhe uma situação bem embaraçosa.<br />

Está <strong>de</strong>monstrado que eslas instituições,<br />

on<strong>de</strong> se reúnem todos os elementos<br />

<strong>de</strong> acção, estão exercendo bastante<br />

prepon<strong>de</strong>rância sobre os governos, que<br />

teem <strong>de</strong> allen<strong>de</strong>r ás necessida<strong>de</strong>s e aos<br />

seus interesses, embora com isso sotíram<br />

os arraujos políticos <strong>de</strong> qualquer paricalida<strong>de</strong>.<br />

A' opposição do commercio <strong>de</strong> Lisboa<br />

e Porto, secundado pelo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

e outras terras, se <strong>de</strong>ve a revogação <strong>de</strong><br />

leis e a luuiuisaçâo <strong>de</strong> proposta», que<br />

viriam sacrificar o paiz, lezaudo o commercio<br />

e o contribuinte.<br />

E é quando isto está mais que reconhecido,<br />

mais que provado, que a ciasse<br />

commercial lie <strong>Coimbra</strong>, na sua maioria,<br />

se <strong>de</strong>ixa levar por um mau pensamento<br />

abandonando por completo os negocios da<br />

sua associaçao que lao bem tem cuidado<br />

dos seus iuleresses e do seu bem estar.<br />

Esta indilíerença e pelo que nos diz<br />

respeito a pelo que mais, nos interessa é<br />

que tem sido a causa primaria da ruina<br />

(lo paiz e do estado <strong>de</strong> miséria a que<br />

chegamos.<br />

Se não fosse a nossa inércia e o nosso<br />

egoismo, os governantes passados e<br />

os presentes não teriam commettido tanto<br />

crime, nem praticado tantas arbitrarieda<strong>de</strong>s,<br />

nem perpretado tanlo abuso.<br />

Fossemos um povo energico, laborioso,<br />

<strong>de</strong>dicado á nossa patria e a no^sa<br />

terra e o paiz não cahiria do <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />

em que o atiraram os bandos <strong>de</strong><br />

políticos negreiros que se tem vindo<br />

substituindo no po<strong>de</strong>r.<br />

Se não fosse a nossa indolência, a<br />

nossa bonhomia por tudo quanto interessa<br />

á collectivida<strong>de</strong> e à naçao, o paiz não<br />

teria sido tão miseravelmente roubado,<br />

nem os Punamás se teriam avantajado<br />

( tanto.


AK í — IV. 0 95 O I6B2FEKS011 DO POVO G <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803<br />

E tudo isto que nos <strong>de</strong>veria servir<br />

<strong>de</strong> exemplo para nova vida, para nos dar<br />

animo e resolução para um futuro mais<br />

prospero estamos assistindo ao triste espectáculo<br />

<strong>de</strong> vermos caliir <strong>de</strong> inacção e <strong>de</strong><br />

intorpecimento uma associação com bons<br />

serviços prestados, mercê da indiferença<br />

dos seus associados.<br />

Oxalá, porém, que uma hora <strong>de</strong> boa<br />

inspiração venha e seja a conselheira para<br />

chamar á or<strong>de</strong>m os incrédulos e os indifferentes<br />

a fim <strong>de</strong> que se não possa dizer<br />

com razão que o conimercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

trata com indilíerença os interesses da<br />

classe.<br />

AuoeiíifSo dos Artista»<br />

Na segunda feira celebrou-se missa<br />

na egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, commemoração<br />

fúnebre á memoria dos antigos presi<strong>de</strong>ntes<br />

d'esta Associação, Olympio Nicolau<br />

Ruy Fernan<strong>de</strong>s, José <strong>de</strong> Figueiredo Pinto<br />

e Augusto Pinto Tavares.<br />

As associações <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que haviam<br />

sido convidadas fizeram-se representar<br />

por seus <strong>de</strong>legados e a este acto assistiu<br />

gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> cidadãos.<br />

Desearrilamento<br />

O comboio expresso que costuma chegar<br />

a esta cida<strong>de</strong> ás 7 horas da tar<strong>de</strong>,<br />

com direcção a Lisboa, veiu ante-hontem<br />

ás 11 horas da noite.<br />

A causa d'esta <strong>de</strong>mora foi <strong>de</strong>vida ao<br />

comboio <strong>de</strong> mercadorias ter <strong>de</strong>searrilamento<br />

no mesmo dia 4, as 5 horas da<br />

tar<strong>de</strong>, na ponte sobre o Vouga, próximo<br />

<strong>de</strong> Estarreja.<br />

Diz-se não haver <strong>de</strong>sgraças pessoaes<br />

a lamentar, soffrendo bastantes<br />

prejuízos no material a companhia.<br />

Quartel do %3<br />

Esteve aberto á visita do publico, na<br />

segunda feira, o quartel do regimento<br />

23. As casernas acbavam-se bem<br />

adornadas, algumas com aprimorado gosto<br />

e os visitantes sairam d'alli bem impressionados<br />

pela boa or<strong>de</strong>m em que se<br />

encontravam todos os aposentos.<br />

A' officialida<strong>de</strong> d este regimento, que<br />

se mostra zelosa e <strong>de</strong>dicada para com os<br />

seus subordinados se <strong>de</strong>ve o aceio e cuidado<br />

em que vimos aquelle edilicio, bem<br />

pouco proprio para aquartellamento.<br />

Reforma <strong>de</strong> Estatuto»<br />

Brevemente serão presentes á approvação<br />

dos sócios os novos estatutos que<br />

hao <strong>de</strong> reger os uegocios da Associação<br />

dos Artistas, sendo couvocada para boje<br />

uma assembleia geral, a fim <strong>de</strong> se tratar<br />

d'esle assumpto.<br />

Grémio Operário<br />

Esteve animadíssima a soirée realisada<br />

no domingo nas salas d'esta socieda<strong>de</strong>,<br />

dançando-se até tar<strong>de</strong> e com enthusiasmo.<br />

A connnissão promotora d'este baile<br />

esmerou-se por ser agradavel aos seus hospe<strong>de</strong>s,<br />

olferecendo-lhes um serviço profuso.<br />

Joaquim Antunes <strong>Coimbra</strong>, como sempre,<br />

dirigiu com superiorida<strong>de</strong> a sala do<br />

baile.<br />

I ll—IM<br />

Gato raivoso<br />

A fim <strong>de</strong> serem tratadas dàs mor<strong>de</strong>duras<br />

que receberam d'um galo, partiram<br />

para Lisboa no sabbado ultimo Marianna<br />

e sua irmã Maria <strong>de</strong> Jesus, Maria da<br />

Boa-Morte e seu filho Albertino, moradores<br />

na rua Direita.<br />

JleHmentido<br />

Pelo exame a que proce<strong>de</strong>u uma commissão<br />

<strong>de</strong> engenheiros, verificou se que<br />

a ponte <strong>de</strong> Lares, que atravessa o nosso<br />

Mon<strong>de</strong>go, se acha em boas condições <strong>de</strong><br />

segurança.<br />

Serviço telegrapliieo<br />

A estação principal d'esta cida<strong>de</strong><br />

começa o serviço <strong>de</strong> expedição ás 7 horas<br />

da manhã.<br />

O França roubado<br />

O pobre França, popular cocheiro<br />

conimbricense, todo cortez e serviçal<br />

para com os seus'freguezes, foi infaniemente<br />

roubado.<br />

Do carro em que elle conduz as malas<br />

do correio para a estação velha,<br />

roubaram lhe, na madrugada <strong>de</strong> terça<br />

feira, um capote e a manta com que<br />

elle cobria o gado.<br />

Ainda a policia não <strong>de</strong>scobriu o larapio,<br />

que assim extorquiu ao pobre<br />

França o seu casaco <strong>de</strong> agasalho.<br />

Hospital <strong>de</strong> cliolericos<br />

No Porto começaram os trabalhos<br />

para edificação d'uin hospital <strong>de</strong> cholericos.<br />

Nesta cida<strong>de</strong> o estado sanilario é<br />

péssimo, e não vemos ninguém resolvido<br />

a tomar quaesquer im-iidas preventivas<br />

que minore os estragos que ha <strong>de</strong> causar<br />

o habitante do Ganges, no proximo<br />

verão, se por <strong>de</strong>sgraça nrfs visitar.<br />

As moutureiras e os focos <strong>de</strong> infecção<br />

que se amontoam por toda a cida<strong>de</strong><br />

ahi se conservam para edificação das<br />

nossas auctorida<strong>de</strong>s.<br />

Emigração<br />

Continúa assustadora a emigração<br />

para o Brazil, predominando o operário<br />

agrícola, que vae procurar na America<br />

os meios <strong>de</strong> subsistência.<br />

Logarejos ha por esse paiz em que é<br />

tão diminuto o numero <strong>de</strong> homens que<br />

se vê todo o trabalho do campo entregue<br />

a mulheres, havendo noutros falta <strong>de</strong><br />

braços, o que obriga á elevação <strong>de</strong> salario.<br />

Só do concelho da Mealhada, d'este<br />

districto sairam nos últimos mezes com<br />

<strong>de</strong>stino para o Brazil mais <strong>de</strong> 600 pessoas<br />

I<br />

Portugal <strong>de</strong>spovoa-se e os nossos governos<br />

<strong>de</strong>ixam a revelia tão importante<br />

assumpto e tão grave questão.<br />

Tlieatro-Circo<br />

É no proximo sabbado que a companhia<br />

equestre do real colyseu <strong>de</strong> Lisboa<br />

dará o seu primeiro espectáculo, que,<br />

ouvimos dizer, é offerecido ao Gymuasio<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Está nesta cida<strong>de</strong> com sua ex. raa esposa<br />

e filha o nosso d lecto correligionário,<br />

sr. dr. Jeronymo Silva. Cumprimentamol-o.<br />

* Partiu na segunda feira para<br />

Sin<strong>de</strong> o nosso amigo, sr. A<strong>de</strong>lino Ferreira<br />

Maia, on<strong>de</strong> tenciona passar uma temporada.<br />

* Encontrámos já em via <strong>de</strong> restabelecimento<br />

o nosso amigo sr. Antonio<br />

Pedro Leite, que durante niuilo tempo<br />

esteve gravemente enfermo. Folgamos<br />

sinceramente com as suas melhoras, <strong>de</strong>sejando-lhe<br />

um restabelecimento promptó.<br />

Hospício<br />

Vae ser posto a concurso o logar <strong>de</strong><br />

director do Hospício <strong>de</strong> expostos e abandonados<br />

d'esle districto.<br />

Deelaração<br />

Do sr. José Bento Correia, recebemos<br />

a que abaixo publicamos, e ácer:a da<br />

qual temos a dizer, que nenhuns intuitos<br />

<strong>de</strong> parcialida<strong>de</strong> nos guiaram na redacção<br />

da noticia que <strong>de</strong>mos sobre os factos<br />

a que o mesmo senhor se refere. Narramos<br />

segundo ouvimos contar a alguns<br />

populares, que comnientavam o caso, e<br />

segundo o que ouvimos ao cabo 11 e ao<br />

sr. Moura.<br />

De resto, a <strong>de</strong>claração abaixo não é<br />

uma rectificação ; fundamentalmente contamos<br />

ambos do mesmo modo.<br />

O sr. José Bento Correia repelle o<br />

appellido por que o <strong>de</strong>nominámos; ainda<br />

neste pouto fizemos obra pelo que ouvimos.<br />

E como não temos o prazer <strong>de</strong> conhecer<br />

o signatário da carta, não sabíamos<br />

se era ou nao appellido <strong>de</strong> que usava;<br />

e o appellido nem é do» mais extravagantes.<br />

..<br />

Realmente, houve alguma precipitação<br />

da nossa parte, porque o nome do<br />

sr. Correia já foi publicado neste jornal,<br />

dando-se noticia d'uma aggressão feita,<br />

ao sr. Antonio Rodrigues da Silva, professor<br />

primário ao Carmo, em terça feira<br />

<strong>de</strong> Carnaval.<br />

*<br />

Sr. redactor. — Peço a v. a especial<br />

fineza da publicação 110 seu conceituado<br />

jornal o Defensor do Povo da <strong>de</strong>claração<br />

que incluzo envio.<br />

Confessando-ine agra<strong>de</strong>cido, sou<br />

De v. etc.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 5 — 4 — 93.<br />

José Bento Correia.<br />

Declaração<br />

O pouco ou nenhum escrupulo e imparcialida<strong>de</strong><br />

com que v. narra 110 seu<br />

jornal O Defensor do Povo um inci<strong>de</strong>nte<br />

dado comigo na sexta-feira passada, no<br />

átrio da Se Nova, obriga-me a vir a publico<br />

aclarar os factos passados, não tanto<br />

por mim, como principalmente para repellir<br />

a intenção que na local trausparece<br />

<strong>de</strong> amesquiuhar e <strong>de</strong>preciar o nome <strong>de</strong><br />

bombeiro voluntário, <strong>de</strong>primindo-se assim<br />

a corporação a que pertenço.<br />

Antes, porém, <strong>de</strong> relatar os factos<br />

preciso frisar bem dois pontos:<br />

1.° (pie só sou bombeiro voluntário<br />

e como lai respondo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ando fardado<br />

ou uso qualquer distinctivo da corporação,<br />

2.° que o meu nome é José Bento<br />

Correia para todos os effeitos.<br />

Posto isto passo a expor o- factos.<br />

Na sexta-feira passada estando eu<br />

com minha família na Sé, assistindo aos<br />

officios <strong>de</strong> trevas, approximaram se uns<br />

indivíduos que, não tendo respeito nenhum<br />

pelo sitio em que estavam, dirigiram a<br />

minhas irmãs chufas pouco <strong>de</strong>centes; eu,<br />

não gostando das graçolas d'aquelles espirituosos<br />

mancebos, objectei-lhes que as<br />

graças com que estavam eram impróprias<br />

do logar em que se achavam e que as<br />

pessoas a quem se dirigiam eram <strong>de</strong> minha<br />

família.<br />

Esta minha objecção foi recebida com<br />

riso e escarneo, continuando como «té<br />

alli; eu, porém, para me livrar <strong>de</strong> qualquer<br />

resultado mau fui com um rapaz<br />

que me acompanhava (mas não era o<br />

Chuvas a que se refere na noticia) ter<br />

com o cabo 11 <strong>de</strong> policia civil e preveni-o<br />

do que se passava. Nesta occasião<br />

saiamos da egreja e o cabo acompanhounos<br />

até cá fóra, mas, persuadido <strong>de</strong> que<br />

já nada- haveria, voltou para a egreja.<br />

Quando, porém, <strong>de</strong>scíamos as éscadas<br />

da Sé éramos esperados pelos taes sujeitinhos<br />

que, segundo a noticia informa,<br />

são os briosos Antonio Henriques <strong>de</strong> Carvalho<br />

e Albino Coelho <strong>de</strong> Moura, que<br />

continuaram na faina; mas como já não<br />

estavamos no templo, azedámo-nos e<br />

altercamos, sendo nesta occasião que o<br />

tal sr. estudante Antouio Henriques <strong>de</strong><br />

Carvalho me atirou uma bengalada da<br />

qual me pu<strong>de</strong> salvar, não acontecendo o<br />

mesmo ao seu companheiro Albino <strong>de</strong><br />

Moura que a apanhou na cabeça prostrando-o<br />

por terra.<br />

Isto foi o que se passou occultando<br />

umas scenas que o <strong>de</strong>coro manda calar.<br />

Esta é que é a verda<strong>de</strong> e haja quem<br />

a conteste.<br />

José Bento Correia.<br />

A GRANEL<br />

O publico <strong>de</strong> Turim fez uma bella e<br />

enthusiastica recepção á opera «Irene».<br />

O maestro portuguez, Alfredo Keil<br />

teve <strong>de</strong>zoito chamadas ao proscénio.<br />

* * * Consta que 110 ministério dos<br />

estrangeiros vão fazer-se importantes reducções<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>speza. Para esse fim, o sr.<br />

lliiitze tem trabalhado com o chefe da<br />

repartição <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong> d'aquelle ministério.<br />

* * # Vae ser organisado em Mossame<strong>de</strong>s<br />

um corpo <strong>de</strong> cavallaria.<br />

* * * O sr. ministro da marinha<br />

recebeu hontem uma communicação telegraphica,<br />

referindo que a <strong>de</strong>limitação do<br />

Baixo Congo, fronteiras <strong>de</strong> Portugal e do<br />

Estado Livre, ainda este mez <strong>de</strong>verá ficar<br />

concluída.<br />

* * # Dado o caso <strong>de</strong> se realisar<br />

a visita <strong>de</strong> suas n agesla<strong>de</strong>s aos Açores,<br />

irão os seguintes navios: Vasco da Gama,<br />

índia, e Affonso d'Albuquerque. Parece<br />

que a viagem não se eflectuará antes <strong>de</strong><br />

julho.<br />

* * * O novo escrivão <strong>de</strong> fazenda<br />

do concelho d'Abrantes, para evitar vexames<br />

e <strong>de</strong>sgostos aos contribuintes, mandou<br />

avisar todos os <strong>de</strong>vedores <strong>de</strong> contribuições.<br />

* * # Começa a notar-se certa agitação<br />

anarchista e socialista, percursora<br />

da festa do l.°<strong>de</strong> maio, nalguns centros<br />

manufactureiros <strong>de</strong> França.<br />

* * * As encommendas postaes e<br />

amostras proce<strong>de</strong>ntes da França são admissíveis<br />

no reino mediante <strong>de</strong>sinfecção.<br />

* * * Partiu para Leiria, a fim <strong>de</strong><br />

escolher ali casa para a installação <strong>de</strong><br />

uma escola industrial, o inspector das<br />

escolas industriaes do sul.<br />

ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS DE COIMBRA<br />

AGRADECIMENTO<br />

O conselho administrativo da associação<br />

dos artistas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, sunimamente<br />

penhorado para-com todas as corporações<br />

e cidadãos que assistiram á<br />

missa fúnebre que foi rezada no dia 3<br />

do correnle, na egreja <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />

tributo <strong>de</strong> homenagem prestada á memoria<br />

<strong>de</strong> seus beuemeritos presi<strong>de</strong>ntes,<br />

Olvinpio Nicolau Ruy Fernan<strong>de</strong>s, José<br />

<strong>de</strong> Figueiredo Pinto e Augusto Pinto Tavares,<br />

torna publico o seu agra<strong>de</strong>cimento<br />

e a todos testemunha o seu affecto.<br />

<strong>Coimbra</strong> 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />

O presi<strong>de</strong>nte da meza<br />

João Antonio da Cunha.<br />

AGRADECIMENTO<br />

Os abaixo assignados paes e padrinhos<br />

da fallecida Auzenda Pereira Garcia,<br />

vem tornar publico o seu testemunho<br />

<strong>de</strong> gratidão para com todas as pessoas<br />

que se interessaram pela sua filhinha e<br />

afilhada durante a sua doença e pelos<br />

serviços prestados <strong>de</strong>pois do seu failecimenlo.<br />

Cumpre-lhes também <strong>de</strong>ixar aqui consignado<br />

os bons serviços clínicos prestados<br />

pelo ex. mo sr. dr. Vicente Augusto<br />

lloclia, que foi em extremo disvelado no<br />

tratamento da nossa saudosa Auzenda.<br />

Que todos aceitem estas palavras <strong>de</strong><br />

agra<strong>de</strong>cimento como penhor <strong>de</strong> gratidão.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />

José Garcia.<br />

Maria Pereira Garcia.<br />

José Antonio d'Almeida.<br />

Marianna Pereira d'Almeida.<br />

!6<br />

Folhetim do Defensor do Povo<br />

Memma dançava, porque uma mulher<br />

dança sempre que uma orchestra loca<br />

va-se sobre a ponte e não <strong>de</strong>ixava distinguir<br />

mais <strong>de</strong> que uma linha confusa<br />

Eram Débora e o Mitry. O cão saltava<br />

<strong>de</strong>ante d elia, e parecia abrir-lhe o<br />

com um estalejar sinistro e abriu um<br />

alçapão no meio da ponte.<br />

valsas, quadrilhas... o seu rosto expri- traçada entre as duas guardas, sobre caminho e sondar os perigos da solidão, O cão soltou um rugido surdo, como<br />

J. MÉRY<br />

mia uma satisfação calma, inexplicável<br />

para as suas amigas e suas confi<strong>de</strong>ntes.<br />

uiu precipício. Era impossível <strong>de</strong>scobrir<br />

o ponto exacto on<strong>de</strong> Barbone tinha pre-<br />

na obscurida<strong>de</strong> da noite.<br />

Foi então sóuieute que Paulo se lem-<br />

um leão colhido no laço, e Débora parou,<br />

o pé direito estendido, sem se atrever a<br />

A própria ausência <strong>de</strong> seu irmão Santa- parado a sua armadilha. Arriscar um<br />

Scala não parecia preoccupar muito a passo sobre a ponte, era arriscar a vida;<br />

A JUDIA 1 VATICANO bella noiva.<br />

e ainda que nesta hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero a<br />

brou da resposta que esperava <strong>de</strong> Memma<br />

e da sua mensageira, Débora.<br />

Todas as emoções <strong>de</strong> Gréant <strong>de</strong>sap-<br />

pousai-o sobre a ponte, assistindo imniovel<br />

a uma sceua inaudita, que parecia a<br />

visão d'um sonho mau.<br />

VII<br />

E' verda<strong>de</strong>, dizia-se, que um ecclesiastico,<br />

prestes a tomar or<strong>de</strong>ns, não<br />

morte po<strong>de</strong>ria ser olhada como um benelicio<br />

para Paulo Gréant, uma excitação<br />

pareceram <strong>de</strong>ante d'esta, que uma horrível<br />

fatalida<strong>de</strong> fazia nascer; Débora corria<br />

O Mitry tinha <strong>de</strong>sapparecido com a<br />

prancha <strong>de</strong>slocada; mas por uiu d'estes<br />

Vespera <strong>de</strong> noivado<br />

estaria convenientemente 110 meio <strong>de</strong> uin<br />

baile tão mundano.<br />

<strong>de</strong> vingança e <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> infernal<br />

o impellia, mau agrado seu, para esta<br />

cegamente para a ponte que ia subvertel-a,<br />

á sua passagem, numa armadilha<br />

esforços tentados nos momentos supremos<br />

pelos homens ou animaes, alcançou<br />

Ao ver-se a alegria, a graça, a obse- Aliual, a» reflexões, as conjecturas, festa odiosa, e lhe prohibia um suicídio infernal que lhe nao fóra <strong>de</strong>stinada. com as fauces a ma<strong>de</strong>ira intacta e ahi<br />

quiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi, tomar-se-ia pelo<br />

heroe d'esta festa nupcial; parecia que<br />

Talormi ia <strong>de</strong>sposar Memma. Multiplicava-se<br />

a bordo da fragata; era elle quem<br />

jecebia as senhoras, quem corrigia os<br />

<strong>de</strong>feitos das ornamentações, quem vigiava<br />

pela diítribuição imparcial dos sorvetes,<br />

quem indicava as quadrilhas á orchestra<br />

do lheatro Carlo Felice, quem, a cada<br />

os mysterios, não podiam dominar no<br />

meio vertiginoso d'uma noite daquellas;<br />

a musica arrebatava tudo, enchendo as<br />

cabeças <strong>de</strong> <strong>de</strong>lirio e produzindo uma<br />

febre invencível <strong>de</strong> dançar.<br />

A' distancia a que se encontrava,<br />

Paulo não podia appreheu<strong>de</strong>r todas as<br />

minuciosida<strong>de</strong>s intimas do baile da fragata;<br />

mas o que elle via, o que ouvia,<br />

<strong>de</strong> absurda complacência, porque poria A esta i<strong>de</strong>ia, Paulo soltou um grito ferrou os <strong>de</strong>ntes leoninos, agitando ao<br />

muito a sua vonta<strong>de</strong> Memma e Ritter, <strong>de</strong> terror, seguido duma palavra estri- mesmo 'tempo os membros anteriores<br />

promptos a alegrarem-se com a sua morte. <strong>de</strong>nte que or<strong>de</strong>nava a Débora que paras- para os lazer subir a altura da ponte.<br />

INao era um cadaver retirado do fundo se. Mas o vento que soprava nas arvores Gréant correu então em soccorro do<br />

d'um precipício que era necessário levar- e os latidos do Mitry abafavam a voz <strong>de</strong> cão, apezar das oscilações temerosas<br />

llies como presente <strong>de</strong> núpcias; era um Paulo.<br />

d um troço <strong>de</strong> prancha mal pregada,<br />

espectro da meia noite, paílido e formi- Débora caminhava sempre, com uma emquaiito Débora, <strong>de</strong> pé e com as mãos<br />

dável, que <strong>de</strong>via surgir do mar sobre o alegria iouca e gargalhadas que as gen- postas, orava com fervor, não se atre-<br />

navio em festa, e prodigalisar taes tilezas do cao provocavam. Greaut não vendo a retirar os olhos do ceu.<br />

uma dos suas phrases, dirigia um galante era sutlicienle para levar o seu <strong>de</strong>sespero<br />

madrigal á elegancia <strong>de</strong> íViemma, a trium- ao ultimo paroxismo: os seus ouvidos<br />

phante Nereida, a rival <strong>de</strong> Amphitrite, não supportavam ja as erupções d'esta<br />

a irmã <strong>de</strong> Thetis, a- Cleópatra da galera musica longínqua, esle grito intolerável<br />

<strong>de</strong> Actium; e não <strong>de</strong>ixava nunca, ao <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, esle hymno <strong>de</strong> sensualida-<br />

passar <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> Van-Ritter, <strong>de</strong> lhe <strong>de</strong> nupcial, que annunciava a uma cida-<br />

dizer o famoso verso <strong>de</strong> Petrarcba: <strong>de</strong> inteira o orgulho d'um só homem e<br />

insultos, taes insultos, taes espantos,<br />

que toda es=a gente em <strong>de</strong>lírio, esse<br />

aparelho <strong>de</strong> voluplosida<strong>de</strong> nupcial, esse<br />

baile tríumphante se <strong>de</strong>smoronasse na<br />

vergonha e na <strong>de</strong>solação.<br />

Do lado da quinta lizeram se ouvir<br />

os latidos alegres d'um cão. Paulo <strong>de</strong>s-<br />

hesitou mais; saltou do limiar do mirante Paulo agarrou o Mitry pelo pescoço<br />

para a extremida<strong>de</strong> da ponte, bem <strong>de</strong>ci- largo e veloso; levantando o do lado<br />

dido a aifrontar tudo paru salvar as do mirante, favoreceu o esforço do cão<br />

duas viclimas, porque neste momento o e viu o cair sobre um terreno solido e<br />

Mitry excitava quasi tanto interesse como seguro.<br />

a sua joven dona.<br />

Paulo <strong>de</strong>u alguns passos sobre a<br />

a festa da sua voluptuosida<strong>de</strong> insolente. viou-se um pouco do peso das suas com- ponte, sentiu estalar a ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>baixo<br />

Bene<strong>de</strong>tto sia questo giornol<br />

Paulo Greaut precipitou-se para fora moções para prestar um ouvido attento dos pes, e viu abaixo d'elle um abysmo<br />

do mirante, como se não tivesse obstá-<br />

E o cândido hollan<strong>de</strong>z, ébrio <strong>de</strong> feculo neuhum a encontrar 110 seu caminho;<br />

lecida<strong>de</strong>, procurava palavras com que á vista da ponte, lemhrou-se cie Uarboue.<br />

lhe respon<strong>de</strong>r, mas. não achava nada. A sombra das arvores visinhas projeçtaao<br />

ruído que cada vez se approximava negro como uma bocca do inferno. No<br />

mais, e bem <strong>de</strong>pressa percebeu no mas- niesuio instante o Mitry, excitado por<br />

siço sombrio um vestido branco que se DeOora, saltou primeiro, e o pezo do<br />

movia na direcção do mirante.<br />

molosso fez girar a prancha <strong>de</strong> Barbone<br />

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Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, i.®<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

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Lieiensor Pnvn<br />

O^ T ^ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 76<br />

Golpe <strong>de</strong> Estado<br />

Lentamente, a pouco e pouco,<br />

num trabalho <strong>de</strong> sapa, vae-se forjando,<br />

na sombra, um movimento<br />

<strong>de</strong> retrocesso na nossa vida politica,<br />

ten<strong>de</strong>nte a concentrar nas mãos<br />

d'um só homem os elementos do<br />

po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> força, que, numa socieda<strong>de</strong><br />

bem consliluida, <strong>de</strong>vem pertencer<br />

a diversos orgãos, separados<br />

entre si para garantia da sua<br />

acção.<br />

Mas apezar da opacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

que procuram revestir esse movimento,<br />

que se vae operando em ondulações<br />

subtis <strong>de</strong> verme cautelloso,<br />

todavia não <strong>de</strong>ixa elle <strong>de</strong> se fazer<br />

notar aos que da apparencia<br />

dos phenomenos <strong>de</strong>scerem á investigação<br />

da causa latente que os<br />

produz. Também á superfície serena,<br />

tranquilla, d'um lago, apparecem,<br />

por vezes, ondulações ligeiras,<br />

quasi <strong>de</strong>sapercebidas, como que <strong>de</strong><br />

um bafejo tenue da brisa, e, comtudo,<br />

a causa está em movimentos<br />

<strong>de</strong>sconhecidos que se operam na<br />

profundida<strong>de</strong> das aguas.<br />

É, precisamente, o que agora<br />

se dá no nosso meio social.<br />

Des<strong>de</strong> que um ex-minislro <strong>de</strong><br />

estado, que tem, até hoje, revestido<br />

todas as formas dó i<strong>de</strong>al politico,<br />

partindo das concepções socialistas<br />

francamente confessadas e largamente<br />

<strong>de</strong>fendidas, e passando, por<br />

uma gradação ,constante, das theorias<br />

mais avançadas e radicaes até<br />

ás mais estreitas e retrogradas,<br />

aconselhou ao rei a formula do governo<br />

pessoal, — levado, por certo,<br />

por essas manifestações atavicas tão<br />

claramente affirmadas pelas leis da<br />

hereditarieda<strong>de</strong>,— <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, parece,<br />

o rei sentiu-se dominado por<br />

esses vãos pruridos <strong>de</strong> governo pessoal<br />

e começou a <strong>de</strong>sempenhar nos<br />

negocios públicos uma acção incompatível<br />

com a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

rei constitucional.<br />

É a eloquencia dos factos, para<br />

mostrar o que basta lembrar as peripécias,<br />

contadas baixinho, que se<br />

<strong>de</strong>ram com a organisação do actual<br />

ministério, em que se atlen<strong>de</strong>u menos<br />

ás indicações da opinião do que<br />

ás imposições d'um personagem<br />

eminentemente collocado, o primeiro<br />

funccionario da nação; e em seguida<br />

temos os actos não menos<br />

frisanles d'um ministro da corôa, o<br />

que mais pô<strong>de</strong> dispôr <strong>de</strong> elementos<br />

<strong>de</strong> força e <strong>de</strong> resistência, actos<br />

que evi<strong>de</strong>nceiam a intenção <strong>de</strong> captar<br />

esses elementos — por meio<br />

<strong>de</strong> largas promoções injustificadas<br />

e ruinosas; benesses que as circumslancias<br />

financeiras do paiz não<br />

comportam; auginento da força publica,<br />

d'uma necessida<strong>de</strong> mais que<br />

problemática, quando o eífectivo<br />

militar <strong>de</strong>via ser reduzido; collocação<br />

á frente d'um corpo do exercito,<br />

o mais fiel ás instituições, dizem<br />

elles, d'um homem <strong>de</strong> plena confiança<br />

do paço; substituição dos<br />

membros d'uma commissão militar<br />

importante, a commissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza,<br />

por outros privados das camarilhas<br />

reaes, parentes e amigos dos<br />

parentes e amigos do rei...<br />

Tudo isto mostra, na eloquen-<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO X A V ^ A V ^ V V /<br />

te approximaçao dos factos, que ha<br />

uma intenção reservada predominante<br />

neste modo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r; da<br />

pru<strong>de</strong>nte analyse d'estes phenomenos<br />

chega-se a <strong>de</strong>scobrir a suprema<br />

força que os occasionou, a lei<br />

que os subordina, o centro <strong>de</strong> que<br />

elles são uma irradiação natural—<br />

o governo pessoal do rei.<br />

*<br />

Examinemos, porém, agora,<br />

tanto quanto pô<strong>de</strong> ser permittido<br />

pela ,estreiteza do tempo e do espaço,<br />

as condições <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong><br />

do projecto ineplaniente aconselhado<br />

e soffregamenle posto em pratica.<br />

Governo pessoal é uma formula<br />

repugnante nas socieda<strong>de</strong>s hodiernas,<br />

atlenlaloria da liberda<strong>de</strong> dos<br />

povos, e, portanto, <strong>de</strong>primente e<br />

anti-civilisadora, como repressão<br />

violenta das expansões da activida<strong>de</strong><br />

social; sob este ponto <strong>de</strong> vista é<br />

inadmissível, tanto á luz dos princípios<br />

mo<strong>de</strong>rnos da sociologia, como<br />

perante a dignida<strong>de</strong> e interesses vitaes<br />

dos povos. Haverá, comtudo,<br />

circumstancias exlraordinarias e<br />

anormaes, perturbações lethiferas<br />

na vida dos povos, verda<strong>de</strong>iros estados<br />

palhologicos sociaes, que justifiquem<br />

e exijam até essa panacêa<br />

do governo pessoal ?<br />

Não ha. Nos tempos d'hoje não<br />

é um homem, por valida que seja<br />

a sua constituição, por perspicua<br />

que seja a sua intelligeiícia, seja<br />

qual fôr a acuida<strong>de</strong> das suas vistas,<br />

que, por si só, lenha hombros sufíicienlemente<br />

robustos para arcar<br />

com a empreza superior da reorganisação<br />

d'um povo. Quando uma<br />

socieda<strong>de</strong> chega, como a nossa, ao<br />

ultimo grau <strong>de</strong> abatimento moral,<br />

á prostração mórbida <strong>de</strong> todas as<br />

suas forças, só homens, e não um só,<br />

<strong>de</strong> larga envergadura moral, pura<br />

austerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracteres, uina força<br />

intransigente <strong>de</strong> consciências<br />

impollulas, po<strong>de</strong>m lomar sobre si<br />

esse encargo d'uma responsabilida<strong>de</strong><br />

esmagadora, mas, ao mesmo lempo,<br />

d'uma gloria immarcessivel para<br />

os que o aceitarem como o cumprimento<br />

recto d'um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver.<br />

Homens d'esles, on<strong>de</strong> os lemos?<br />

Vegetam, porventura, na athmosphera<br />

viciada dos paços reaes, aulicos<br />

e camarilhas <strong>de</strong> cabeças coroadas?<br />

Aifirmam-se, por acaso,<br />

nos partidos monarchicos, dominados,<br />

ha tanto lempo, pelos interesses<br />

dynaslicos, que já hoje são para<br />

elles o ar que respiram? Encontral-os-ha<br />

o rei, na cohorle que o<br />

ro<strong>de</strong>ia, se se melter na aventura do<br />

golpe <strong>de</strong> estado que vae minando,<br />

lentamente, num trabalho <strong>de</strong> sapa?<br />

Não, por certo. E a regressão<br />

ao governo pessoal, se, por infelicida<strong>de</strong><br />

se tentar, será mais uma aventura<br />

infelicíssima em que nos metterá<br />

a dynastia reinante, inicio <strong>de</strong><br />

novas calamida<strong>de</strong>s sem nome.<br />

Mas não irá por diante a aventura<br />

criminosa, porque não pô<strong>de</strong><br />

ir; não é da crassa orientação das<br />

instituições dominantes, que sahirá<br />

a reorganisação da nossa socieda<strong>de</strong>,<br />

porque do que é corrupto e immoral<br />

não pô<strong>de</strong> sahir a moralida<strong>de</strong><br />

e a perfeição.<br />

Desenganemo-nos d'islo..<br />

Notas impressionistas<br />

VI<br />

Ao campo ! Ao campo !<br />

A primavera já <strong>de</strong>sfolha gentilmente,<br />

a flux, os odores florejantes do seu toilette.<br />

Quanto <strong>de</strong> mais gracioso a Natureza<br />

aquarella no seu opulento labor artístico,<br />

tudo agora se esboça amplamente<br />

por esses campos além, colorisados d'um<br />

ver<strong>de</strong>-negro felpudo que é o elan emotivo<br />

das nossas almas nostalgicas, insaciadas<br />

<strong>de</strong> pittoresco, rúbidas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al.<br />

Aos primeiros fios quentes do sol <strong>de</strong><br />

abril como que renasce uma alma nova<br />

nas nossas almas. Por toda a parte, o<br />

campo reveste a toilette solemne dos gran<strong>de</strong>s<br />

dias <strong>de</strong> poesia; e os poetas, os pobres<br />

poetas, enlevados nas gouuches sensacionaes<br />

da mãe-Natura, alamse ao mundo<br />

mysterioso do Extasi, nas azas iriadas<br />

do Inexprimível.<br />

Plena primavera. Ao campo, ó gentes<br />

I<br />

I<strong>de</strong> ao campo. E' alli, no remanso<br />

silencioso dó rusticismo, que se aspira a<br />

seiva vital das almas raras. A vida, roçagada<br />

pelos bric-à bracs da Luxuria,reteza-se<br />

alli pela oxigenação tersa e rarefeita.<br />

As almas, doridas do cansaço da<br />

transmigração, <strong>de</strong>linhantes, spleenaticas,<br />

reanimam o perdido vigor ethico, espliacelado.<br />

Dos espíritos fremem madrigaes<br />

tocantes, esbatidos <strong>de</strong> paysagens polychromicas,<br />

que affirmam vida.<br />

Sobe-se I<br />

Estou no campo, á hora do pôr do<br />

sol. Junto d'uin pequeno arroio que<strong>de</strong>slisa<br />

brando. D'aquelle lado lica-me o<br />

poente orlado d'uma facha purpurina, escarlate.<br />

Oiro sobre azul. Ao redor uns<br />

pequenos arbustos ver<strong>de</strong>jantes que oscillam<br />

brandamente ao perpassar da<br />

brisa.<br />

O meu olhar espraia-se nesta paysagem.<br />

voluptuosa, tomificada <strong>de</strong> irisações<br />

apenninas,emquanto o meu espirito, voga,<br />

voga, pelos paramos do Ignoto, a luci<strong>de</strong>z<br />

embotada pelo rutillar das nuances picturaes<br />

I...<br />

Pouco e pouco <strong>de</strong>svanece-se a facha<br />

que purpurisa o azul. Um negro indistincto<br />

começa a esfumar levemente a<br />

paysagem com uns tons glaciaes <strong>de</strong> necropole.<br />

Avança a treva. Pela serenida<strong>de</strong> circumvagain<br />

já uns luzires subtis <strong>de</strong> vagalumes<br />

que dão a nota radiante d'uma<br />

marcha aux flambeaux, em paragem.<br />

Pelos ares retinem os accor<strong>de</strong>s d'uma<br />

musica celeste—uma orchestração meiga,<br />

tão meiga e harmoniosa que parece emanar<br />

<strong>de</strong> anjos com gargantas <strong>de</strong> veliudillw. Os<br />

grillos, os ralos, as rãs...<br />

Como é emocionante, na sua simplicida<strong>de</strong>,<br />

a exhibição nua da Natureza.<br />

Como eu me abalo, mudo e quedo, pelas<br />

regiões serenas das coisas moitas transportado<br />

em miragens aurifulgentes, na<br />

emotivida<strong>de</strong> esthelica das gran<strong>de</strong>s contemplações<br />

I<br />

Ah! I<strong>de</strong> ao campo, ó meus amigos;<br />

i<strong>de</strong> para a al<strong>de</strong>ia, reconfortar as vossas<br />

pobres almas ruidas <strong>de</strong> spleen, cariadas<br />

<strong>de</strong> pessimismo. I<strong>de</strong> 1<br />

7, abril.<br />

Gri-gri.<br />

O cabo para os Açores<br />

A procuradoria geral da corôa foi <strong>de</strong><br />

parecer, que o governo tem direito a dar<br />

como rescindido o contracto celebrado o<br />

anno passado com a companhia concessionaria<br />

do cabo submarino para os Açores,<br />

visto ella ter <strong>de</strong>ixado expirar o prazo<br />

<strong>de</strong>ntro do qual <strong>de</strong>via proce<strong>de</strong>r áquella<br />

obra.<br />

Nestes termos, o governo apo<strong>de</strong>ra-se<br />

do <strong>de</strong>posito feito, que foi <strong>de</strong> noventa<br />

contos <strong>de</strong> réis.<br />

Economias no ministério<br />

da guerra<br />

Realmente, o sr. ministro da guerra<br />

parece-nos que está mesmo á altura para<br />

fazer as economias exigidas pelos tempos<br />

que vão correndo...<br />

Aquilio é um. nunca acabar <strong>de</strong> medidas<br />

largamente economicas— elle é augmento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas com rações <strong>de</strong> forragens<br />

e abonos para compra <strong>de</strong> cavallos ;<br />

e promoções <strong>de</strong> coronéis em larga escala;<br />

e até agora, contra a <strong>de</strong>terminação expressada<br />

lei, arrenda <strong>de</strong> mão beijada, porque<br />

não houve licitação em hasta publica, um<br />

edifício do estado — o castello <strong>de</strong> Faro,<br />

á companhia dos alcooes, por 450$000<br />

réis, havendo outros preten<strong>de</strong>ntes que<br />

offereciam maior quantia 1<br />

Um assombro, o sr. ministro da guerra;<br />

para fazer economias não ha como elle.<br />

E nós a aturarmos tudo isto, que já<br />

<strong>de</strong>scambou ha muito numa bambochata<br />

cómica, mas que vem a acabar em tragedia.<br />

..<br />

Loterias<br />

O contracto feito ha tempo entre o<br />

Estado e a Companhia Alliança das Loterias,<br />

em que o sr. Antonio Ignacio da<br />

Fonseca e outros apanharam a taluda, foi<br />

rescindido agora pelo sr. ministro da fazenda.<br />

Pela Africa<br />

A immigração dos boers no planalto<br />

<strong>de</strong> Mossame<strong>de</strong>s, vae causando serias apprehensões<br />

pelas suas consequências. Se<br />

da nossa parte se não contraposer áquella<br />

corrente uma corrente forte <strong>de</strong> colonos<br />

porluguezes, em breve dominarão os<br />

boers naquella feracissima região; activos,<br />

intelligentes e ousados, não são os bóeres<br />

povo para se ter era pouca conta.<br />

Tenha nisto o governo toda a attenção,<br />

aliás correremos o risco <strong>de</strong> vermos<br />

escapar se-nos uma das nossas mais ferteis<br />

e mais salubres regiões da Africa,<br />

aquella, talvez, mais própria para a acclimação<br />

do europeu.<br />

*<br />

No planalto <strong>de</strong> Htiilla lavra ura gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sanimo, consequência d'uma grave<br />

crise que atravessa aquella região e que<br />

é <strong>de</strong>vida á falta <strong>de</strong> chuvas, na época<br />

em que ellas mais necessarias se tornam.<br />

As searar morrem estioladas, e receia-se<br />

que esla crise se prolongue.<br />

*<br />

Foi coroada do melhor êxito a expedição<br />

ao Mulondo.<br />

O gentio abandonou as cubatas e<br />

refugiou-se na floresta; o soba Dungulo<br />

foi aprisionado.<br />

*<br />

O governo conlractou com a companhia<br />

da Zambezia a construcção e exploração<br />

das linhas telegraphicas <strong>de</strong> Quelimane<br />

e Moçambique, <strong>de</strong> Tele a Chicoa<br />

e ao Zumbo e as linhas necessarias para<br />

ligar as do territorio britannico. Dentro<br />

d um anuo <strong>de</strong>ve a companhia ter aberto<br />

á exploração' ura cabo submarino que<br />

ligue Queliraane e Moçambique, <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> dois annos a linha <strong>de</strong> Tete a Chicoa<br />

e 18 mezes <strong>de</strong>pois a <strong>de</strong> Chicoa ao Zumbo.<br />

A companhia é concessionaria d'estas<br />

linhas por 25 annos, e lica sujeita ás<br />

leis e regulamentos que regem o serviço<br />

telegraphico quanto ao serviço era geral;<br />

quanto á fiscalisação e ao serviço das<br />

estações, po<strong>de</strong>m estes serviços ser <strong>de</strong>sempenhados<br />

por empregados do governo.<br />

A companhia não tem direito a subsidio<br />

algum do governo, e só á isenção<br />

<strong>de</strong> direitos pelo material que importe<br />

para a execução do contracto.<br />

Se as secções telegraphicas indicadas<br />

não forem concluídas pela companhia<br />

nos prasos do contracto, o governo tem<br />

direito a lançar mão das obras feitas,<br />

sem que a companhia poss* exigir quaesquer<br />

in<strong>de</strong>mnisações.<br />

PELOS JORNAES<br />

Cá temos <strong>de</strong> novo as Novida<strong>de</strong>s atiradas<br />

ao governo com o emprestimo dos<br />

tabacos.<br />

Será apenas o amor da justiça e da<br />

equida<strong>de</strong> ?<br />

Não toquemos no ponto que é melindroso.<br />

Mas qualquer que seja o motivo,<br />

não nos cansaremos <strong>de</strong> gritar-lhe:<br />

Para baixo que é o caminho. Só se per<strong>de</strong>m<br />

as que cairem no chão.<br />

E' já tempo <strong>de</strong> se acabar com a chucha<strong>de</strong>ira<br />

ao sr. Rurnay e do sr. Fuschini<br />

proce<strong>de</strong>r como bem' diz o referido<br />

jornal:<br />

«A conta corrente d'esse empréstimo<br />

famoso está a final na sua mão.<br />

Na sua <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia estão todos aquelles<br />

que, pela posição do cargo, <strong>de</strong>vem<br />

ter conhecimento do assumpto e <strong>de</strong><br />

guardas fieis dos documentos respectivos.<br />

Os tribunaes estão ao seu dispôr.<br />

Não lhe fàlta nenhum elemento para<br />

chamar a estreitas coutas aquelles a<br />

quem na camara indicara propositos<br />

moralisadores, tão dignos <strong>de</strong> geral applausos.»<br />

Mas é engraçada a compaixão que<br />

as Novida<strong>de</strong>s mostrara por certos homens<br />

políticos que se acham em <strong>de</strong>bito á fazenda.<br />

Ora é" <strong>de</strong> notar que é esle um dos<br />

jornaes que mais moralida<strong>de</strong> e justiça<br />

tem apregoado por esse paiz fóra. Mas,<br />

não sei porque motivo, apparece-nos<br />

agora <strong>de</strong> lagrimas nos olhos, a prantear<br />

os infelizes cansoeiros cora tiradas d'esta<br />

força :<br />

«Quem não hesitou "em enxovalhai<br />

pessoas collocadas numa situação soeial,<br />

que ,se impunha a consi<strong>de</strong>rações<br />

para a medíocre urbanida<strong>de</strong> d'um aviso<br />

prévio.»<br />

Ora vejam que pena! Pois que melhor<br />

aviso queriam as Novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que<br />

se saber que brevemente ia sair o <strong>de</strong>creto,<br />

mandando cobrar as dividas á fazenda<br />

que o collega reputa em:<br />

«Algumas centenas <strong>de</strong> mil réis,<br />

que andavam <strong>de</strong>moradas na magra<br />

bolsa <strong>de</strong> vários contribuintes remissos.»<br />

-<br />

E' realmente d'uma imaginação fertellissiraa,<br />

sim senhor!<br />

Quem diabo se lembraria <strong>de</strong> dizer,<br />

por exemplo, que o sr. Rarjona, estava<br />

<strong>de</strong>morado com a fazenda ?<br />

Só as Novida<strong>de</strong>s !<br />

*<br />

O Tempo apreciando um artigo das<br />

Novida<strong>de</strong>s em que o colloca <strong>de</strong> morrão<br />

aceso em frente do governo, diz:<br />

«É ao lado do governo cora ramo<br />

<strong>de</strong> oliveira na mão.»<br />

E cal<strong>de</strong>irinha na oulra.<br />

São engraçados estes monarchicos.<br />

Mas infelizmente é uma graça que<br />

bem cara nos tem custado e continuará<br />

a custar.<br />

Assim a proposito das questões dos<br />

credores externos diz o referido jornal :<br />

«Uma questão que só se tornou<br />

grave pelas cabeçadas dos regeneradores.<br />

Depois do governo apurar pelo<br />

orçamento o que pô<strong>de</strong> dar aos credores<br />

externos, é que o paiz po<strong>de</strong>rá preseneear<br />

o espectáculo das cabeçadas<br />

regeneratorias.»<br />

Não fallando em todos os outros que,<br />

para festas da politica, empenharam a nação<br />

e empobreceram o thesouro.<br />

São todos uma belleza I<br />

Reclamações<br />

Contra o âugmento do rendimento<br />

collectavel <strong>de</strong> prédios urbanos, po<strong>de</strong>m<br />

formular-se as <strong>de</strong>vidas reclamações até ao<br />

dia 15 <strong>de</strong> maio, nos lermos do artigo<br />

331 0 do regulamento <strong>de</strong> 85 d'agosto <strong>de</strong><br />

1881.<br />

«O Commercio»<br />

De Lourenço Marques recebemos a<br />

visita d'este nosso coliega, que agra<strong>de</strong>cemos.


ANNO I - N . ' 96 O DEFENSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

C R Y S T A E S<br />

Deslumbramentos<br />

Mylady, é perigoso contemplal-a<br />

Quando passa aromalica o normal,<br />

Com seu typo tão nobre e tão <strong>de</strong> sala,<br />

Com seus gestos <strong>de</strong> neve e <strong>de</strong> metal.<br />

Sem que nisso a <strong>de</strong>sgoste ou <strong>de</strong>senfa<strong>de</strong>,<br />

Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas<br />

Eu vejo-a, eooi real solemnida<strong>de</strong>,<br />

Ir impondo toilettes complicadas I . . .<br />

Em si tudo me attrahe como um thesoiro:<br />

O seu ar pensativo e senhoril,<br />

A sua voz que tem um timbre <strong>de</strong> oiro<br />

E o seu nevado e lúcido perfil.<br />

Ah I Como me estontéa e me fascina ...<br />

E é, na graça distincta do seu porte,<br />

Como a Moda supérflua e feminina,<br />

E tão alta e serena como a Morte I ...<br />

Eu hontem encontrei-a, quando vinha,<br />

Britannica, e fazendo-me assombrar;<br />

Gran<strong>de</strong> dama fatal, sempre sósinha,<br />

E com firmeza e musica no andar I<br />

O seu olhar possue, num jogo ar<strong>de</strong>nte,<br />

Um archanjo e um <strong>de</strong>monio a illuminal-o;<br />

Como um florete, fere agudamente,<br />

E affaga como o pêllo d'iim regalo I<br />

Pois bem. Conserve o gelo por esposo,<br />

E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,<br />

O modo diplomático e orgulhoso<br />

Que Anna d'Áustria mostrava aos cortezãos.<br />

E emflm prosiga altiva como a Fama,<br />

Sem sorrisos, dramatiea, cortante;<br />

Que eu procuro fundir na minha chamma<br />

Seu ermo coração, como a um brilhante.<br />

Mas cuidado, Mylady, não se afoite,<br />

Que hão <strong>de</strong> acabar os barbaros reaes;<br />

E os povos humilhados, pela noite,<br />

Para a vingança aguçam os punhaes.<br />

E um dia, ó flôr do Luxo, nas estradas,<br />

Sob o setim do Azul e as andorinhas,<br />

Eu hei <strong>de</strong> vêr. errar, allucinadas,<br />

E arrastando farrapos — as rainhas I<br />

CESÁRIO VERDE.<br />

LBTTRAS<br />

Sempre bella<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Quando se <strong>de</strong>cidiu a fazer a sua pequena<br />

viagem á Bretanha, Montbrun chegara<br />

ao ponto em que o namorado, já<br />

farto, pergunta a si mesmo se é preferível<br />

mandar 10:000 francos num sobrescripto<br />

á dama que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser amada,<br />

ou se convém mais constituir-lhe um pequeno<br />

rendimento 'vitalício <strong>de</strong> 1:500<br />

francos. Apenas installado na carruagem<br />

que o transportava para longe <strong>de</strong> Paris,<br />

Montbrun não teve senão um pensamento<br />

único; saber como havia <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r<br />

para não ler a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a vêr<br />

Paula Salimberi.<br />

Acabada a missa começavam os fieis<br />

a sahir.<br />

Appareceram dois ou tres homens,<br />

que apenas se cobriram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haverem<br />

transposto a porta do logar santo.<br />

Em seguida as mães e as meninas, algumas<br />

matronas já pesadas, <strong>de</strong> touca, e,<br />

por excepção, algum tabellião ou magistrado.<br />

Pharmaceutico, nenhum.<br />

De repente Monthrun estacou. No<br />

meio d'uma onda <strong>de</strong> gente apparecera-llie<br />

a cabeça <strong>de</strong> uma joven. Seria uma miragem,<br />

uma illusão? Ou estaria realmente<br />

vendo aquelle rosto i<strong>de</strong>al? Nunca nos<br />

seus sonbos mais ar<strong>de</strong>ntes, imaginara<br />

coisa alguma que se approximasse d'aquellas<br />

linhas que tinham o quer que<br />

fosse <strong>de</strong> superior ao i<strong>de</strong>al humano.<br />

Era a pureza calma, a serenida<strong>de</strong><br />

christã, a virginda<strong>de</strong> radiosa, uma nuvem<br />

<strong>de</strong>sprendida do sopro que no principio<br />

fluctuava sobre as aguas. Era uma essencia<br />

d'alma.<br />

Montbrun perguntava a si mesmo se<br />

era possível que existisse uma creatura<br />

assim. Apenas se atrevia a respirar, temendo<br />

que aquelle lyrio cabido do corpete<br />

da Virgem Maria tomasse <strong>de</strong> novo<br />

o caminho dos ceus. E a joven <strong>de</strong>scia os<br />

<strong>de</strong>graus da egreja, sorrindo a uma mulher<br />

já <strong>de</strong> certa eda<strong>de</strong>, sua mãe certamente.<br />

Montbrun seguiu as duas mulheres<br />

instinctivamente, sem saber o que fazia.<br />

Entraram para uma pequena casa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>stíssima<br />

apparencia. Fixou o nome da<br />

rua. Voltando á hospedaria, Montbrun<br />

procurou colher informações.<br />

— E' uma liuda menina. E' ma<strong>de</strong>moiselle<br />

Lara<strong>de</strong> I O pae era um excelente<br />

homem que foi rico antes da Revojução;<br />

<strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> pae para filho, foram<br />

ven<strong>de</strong>ndo ora um pedaço <strong>de</strong> um prado,<br />

ora uma parcella <strong>de</strong> terreno, para po<strong>de</strong>rem<br />

manter a antiga posição. Por fim o<br />

sr. <strong>de</strong> Mira<strong>de</strong>, coitado, retirára-se para<br />

uma casita que fôra noutros tempos liabilada<br />

pelo inten<strong>de</strong>nte da familia, e alli<br />

vivia muito mo<strong>de</strong>stamente com sua mulher,<br />

da família <strong>de</strong> Laroche-Glaieul, e<br />

sua (ilha Joanna. Restar-lhe-hiam, quando<br />

muito, uns 1:200 a 1:500 francos <strong>de</strong><br />

rendimento, mas a esposa e a filha sabiam<br />

viver com muito pouco, e elle, o<br />

pobre velho, privava-se até <strong>de</strong> rapé.<br />

O viscon<strong>de</strong> dirigiu-se em carta ao<br />

seu tabellião em Paris, pedindo-lhe que<br />

escrevesse quanto antes a algum dos<br />

seus collegas <strong>de</strong> Vitré e lhe fizesse saber<br />

que elle, Montbrun, pertencia a uma<br />

boa família, era tido- na conta <strong>de</strong> um<br />

perfeito cavalheiro e gozava <strong>de</strong> uma rasoavel<br />

fortuna, <strong>de</strong>pois d'isto o tabellião<br />

<strong>de</strong> Vitré <strong>de</strong>veria apresental-o a uma família<br />

em cujo seio esperava encontrar a<br />

felicida<strong>de</strong>.<br />

Passaram-sè as coisas como as havia<br />

disposto o viscon<strong>de</strong>. Foi apresentado,<br />

cumprimentou timidamente ma<strong>de</strong>moiselle<br />

<strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>, voltou aquella casa e foi aceite<br />

No entanto, puzeram-lhe algumas condições<br />

ao casamento. O viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria<br />

acompanhar sua mulher á missa todos os<br />

domingos, e commemorar religiosamente<br />

pelo menos a Paschoa. Montbrun esteve<br />

por tudo quanto lhe pediram. Passou,<br />

como num verda<strong>de</strong>iro extasis, as poucas<br />

semanas que prece<strong>de</strong>ram o dia fixado<br />

para o seu casamento.<br />

Quando, <strong>de</strong> volta ao hotel, se achava<br />

a sós, estremecia, lembrando-se que se<br />

não tivesse ido a Vitré, Joanna teria talvez<br />

casado com outro. Mas não, ha leis<br />

escriptas no ceu; Joanna esperava-o. Elle<br />

tinha ido alli, porque assim <strong>de</strong>via ser.<br />

No melhor do seu sonho, recebeu por<br />

intermedio do tabellião, — por isso que<br />

occultava cuidadosamente a todos qual o<br />

sitio em que se refugiára,—um a carta <strong>de</strong><br />

um dos seus amigos. Esse amigo, membro<br />

do Petit Club, escrevia-lhe que Paula<br />

Salimberi o procurava por toda a parte,<br />

proferindo contra elle terríveis ameaças.<br />

Montbrun encarregou o amigo <strong>de</strong><br />

entregar 40:000 francos á transleverina,<br />

annunciaudo-lhe que elle partira para a<br />

America e que elia não o tornaria a vêr.<br />

Chegou finalmente o gran<strong>de</strong> dia.<br />

Fôra já assignado o contracto. Tinham<br />

vindo dois amigos da famiiia Monthrun<br />

para servirem <strong>de</strong> testemunhas do noivo,<br />

e, a 10 <strong>de</strong> setembro, ás 11 horas da<br />

manhã, metteram-se nas carruagens para<br />

irem á muirie. Monthrun e mais duas ou<br />

tres pessoas conversavam com o ofHcia 1<br />

da administração civil, quundo um grilo<br />

agudo, seguido <strong>de</strong> um prolongado elamor<br />

veiu aterrorisal-os.<br />

Correram ás janellas. No pateo havia<br />

um rumor estranho.<br />

— O que foi que succe<strong>de</strong>u ? perguntou<br />

Montbrun, como que estrangulado<br />

pela commoção.<br />

— Uma mulher, uma <strong>de</strong>sconhecida,<br />

atirou com uma porção <strong>de</strong> vitríolo acara<br />

da menina <strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>. A pobre creança<br />

ficou com a meta<strong>de</strong> do rosto queimado, e<br />

está cega <strong>de</strong> um olho. Vão leval-a para<br />

casa do pae.<br />

Montbrun, como fulminado, cahiu<br />

para traz <strong>de</strong>samparadamente.<br />

Em vão'tentou <strong>de</strong>pois, durante o dia,<br />

entrar em casa da noiva.<br />

— Digam lhe que não me torna a<br />

vêr nunca mais, exclamava Joanna, <strong>de</strong>rramando<br />

lagrimas que escorriam por sobre<br />

chagas vivas, queimando-a como se<br />

fossem logo.<br />

O sr. <strong>de</strong> Montbrun estava dominado,<br />

prostrado pela dôr. As ondas rubras da<br />

febre assaltavam-llie o cerebro; sentia<br />

aperíar-se-lhe o coração, como se estivesse<br />

mettido num torno. No dia seguinte,<br />

parecia ter tomado uma resolução.<br />

Expediu para Paris um longo telegrainma.<br />

A volta do correio recebeu um pequeno<br />

embrulho.<br />

A <strong>de</strong>sconhecida, presa logo em seguida<br />

ao erime, <strong>de</strong>clarára chamir-se<br />

Paula Salimberi e ter assim procedido<br />

por espirito <strong>de</strong> vingança.<br />

Mootbrtui fejhou-áe no quarto. Abriu o<br />

embrulho que continha uma certa quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pó branao. Pegou num lenço e<br />

dohróu-o ao comprido para fazer d elle<br />

uma venda; <strong>de</strong>pois mediu duas colheres<br />

<strong>de</strong> pó branco, <strong>de</strong>ilou-as no leuço e, applicando<br />

este sobre os olhos, atou-o fortemente<br />

na nuca:<br />

Duas horas <strong>de</strong>pois, chegava <strong>de</strong> carruagem<br />

em frente da casa do sr. <strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>.<br />

Desceu, encostado ao braço do tabellião<br />

<strong>de</strong> Vitré.<br />

— Não entre, disse-lhe a sr.* <strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>.<br />

Seria a morte para Joanna.<br />

— Diga-lhe que pódè receber-me,<br />

respon<strong>de</strong>u o sr. <strong>de</strong> Montbrun. O meu casamento<br />

tera logar logo que ella possa<br />

sahir. Pô<strong>de</strong> receher-me... A sua imagem<br />

permanecerá eternamente para mim<br />

o que era... Estou cego !<br />

O sr <strong>de</strong> Monthrun e sua esposa reliraram-se<br />

para a sua solidão <strong>de</strong> Juvisy.<br />

Joanna adora aquelle que por amor d'ella<br />

renunciou á rista do ccu, dos campos e<br />

das flores. Quanto ao cego, conservou intacta<br />

a imagem da virgem i<strong>de</strong>al, que <strong>de</strong>scia<br />

as escadas da egreja <strong>de</strong> Sainl-Martin-stir-<br />

Vitré.<br />

E' feliz, porque, em a noite sem fim<br />

a que se con<strong>de</strong>mnou, vè-a sempre joven,<br />

sempre bella.<br />

Aureliano Scholl.<br />

Mau!<br />

Terminou o prazo em que o sr. Barjona<br />

<strong>de</strong> Freitas <strong>de</strong>via pagar as contribuições<br />

em divida ao Estado ha largos annos.<br />

A ninguém, porém, consta que esse<br />

pagamento se effectuasse e collegas nossos<br />

<strong>de</strong> Lisboa affirmam que por or<strong>de</strong>m<br />

superior foram sustadas as execuções movidas<br />

contra o sr. Barjona.<br />

Para tão pouco não era preciso tanto,<br />

sr. Fuschini. Seria melhor não ter<br />

entrado na questão com ares tão arrogantes<br />

para ter agora <strong>de</strong> sahir cabisbaixo<br />

e contriclo. Quando não ha estofo<br />

para gran<strong>de</strong>s comuiettimentos é melhor<br />

procurar um meio termo.<br />

Vá, sr. Fuschini, revele-se: ou sim<br />

não !<br />

Agora é que eiles berram<br />

Pelo ministério da fazenda foi sustada<br />

a verba para <strong>de</strong>spezas <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

no estrangeiro.<br />

Attingia a bonita conta <strong>de</strong> 180 contos<br />

<strong>de</strong> réis; não era nada mau, mas ainda<br />

insuflieiente este osso para os fazer<br />

calar.<br />

Agora, que nem isto se lhes atira, é<br />

que ha <strong>de</strong> ser bonito vêl-os a <strong>de</strong>scoinporem-nos<br />

na primeira occasião...<br />

Mas antes assim, porque os da tal<br />

publicida<strong>de</strong> comiam a isca e ficavam-se<br />

a rir do anzol.<br />

Característico<br />

O seguinte facto, que transcrevemos<br />

d'uma corespon<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Loanda para o<br />

nosso excellente collega da capital — A<br />

Purnilia Portugueza — caracterisa bem o<br />

modo como em Africa correm as nossas<br />

coi-as.<br />

«Havia em Évora um cabo <strong>de</strong> policia<br />

sem nome, sem instrucção e sem protecção<br />

; mas um dia prestou um serviço<br />

qualquer a um doutor daquella cida<strong>de</strong>,<br />

que tinha valor politico. O policia, em<br />

vista do serviço prestado, pedia-lhe um<br />

emprego, com muitos rogos...<br />

O doutor para se ver livre d'elle,<br />

disse-lhe, só se quízeres ir para a Africa,<br />

pensando que o assustava com a palavra<br />

Africa; porém, não aconteceu assim,<br />

porque o policia, respou<strong>de</strong>u-lhe logo:<br />

para a Africa é que eu queria ir.<br />

O doutor escreveu a um seu amigo<br />

<strong>de</strong>putado para pedir um logar <strong>de</strong> amanuense<br />

para o pobre policia, para um<br />

ponto qualquer d Africa.<br />

E qual não foi-a admiração do doutor,<br />

quando d'alli a 8 dias recebe uma<br />

carta do seu amigo <strong>de</strong>putado, dizendo-lhe,<br />

que o seu protegido estava <strong>de</strong>spachado<br />

para um logar <strong>de</strong> amanuense em Loanda.<br />

O policia <strong>de</strong> couiente saltava ao saber<br />

do seu <strong>de</strong>spacho, dando vivas ao doutor.<br />

Pois esse pjíicia veio para Loanda,<br />

e é hoje não só amanuense, mas lambem<br />

advogado nos tribinaes d'esta cida<strong>de</strong>, já<br />

se sabe, sein conhecer cousa alguma <strong>de</strong><br />

direito, e uao admira, porque não teve<br />

estudo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> alguma apenas sabe,<br />

escrever e ler mal; o que é verda<strong>de</strong>,<br />

logico e evi<strong>de</strong>nte, é que elle lá appnrece<br />

110 tribunal com a sua toga <strong>de</strong> juriscon-<br />

sulto, e muitos africanos chamam-lhe<br />

doutor, convencidos, coitados, que na<br />

realida<strong>de</strong> seja um iillio <strong>de</strong> Minerva, da<br />

universida<strong>de</strong> dií <strong>Coimbra</strong>. Agora dizemnos<br />

que o doutor policia, não dando rego<br />

direito na labutação da advocacia, está<br />

empregado numa casa <strong>de</strong> jogo íiiicito.<br />

Isto não se com menta.»<br />

CHRONICA DE COIMBRA<br />

Com franqueza, ha occasiões em que<br />

o chronista se vê numa situação tal, que<br />

não sabe por on<strong>de</strong> começar.<br />

Procura, investiga, esquadrinha todos<br />

os cantos e recantos da vida coimbrã a<br />

ver se dá com um ou outro acontecimento<br />

que possa mais ou menos interessar<br />

; passa <strong>de</strong>pois para a politica e sempre<br />

o mesma estado <strong>de</strong> indifferentismo;<br />

até que, volvendo os olhos para os seus<br />

formosos campos, encontra o único elemento<br />

que na quadra presente se mostra<br />

cheio d'encantos e bellezas.<br />

<strong>Coimbra</strong> é talvez a cida<strong>de</strong> portugueza<br />

cujos arredores são mais pittorescos<br />

e poéticos.<br />

Rastejando-se-lhe aos pés corre o*<br />

seu <strong>de</strong>cantado Mon<strong>de</strong>go, orlado <strong>de</strong> virentes<br />

e formosas margens, formadas em<br />

gran<strong>de</strong> parte por extensos e espessos<br />

salgueiraes. Do lado opposto temos as<br />

serras sobre que assentam a Cumiada e<br />

Santo Antonio, d'on<strong>de</strong> se divisa toda a<br />

vasta extensão dos chamados campos do<br />

Mon<strong>de</strong>go.<br />

De fórma que, para on<strong>de</strong> quer que<br />

se vá, ou nos envolvemos cm tufos <strong>de</strong><br />

verdura regados pelas aguas do rio, ou<br />

divisamos panoramas d'uma belleza surprehen<strong>de</strong>nle.<br />

E d'isto ufana-se <strong>Coimbra</strong> e com razão<br />

; porque, <strong>de</strong> resto, em si é monotona<br />

e triste, com as ruas Íngremes e apertadas,<br />

on<strong>de</strong> falta o sol e a vida e abundam<br />

as suas filhas que, diga-se a verda<strong>de</strong>,<br />

valem bem mais que os proprios<br />

campos, sempre alegres e festivas, respon<strong>de</strong>ndo<br />

a um sorriso com outro sorriso.<br />

E assim se vae passando o tempo<br />

neste indilTerente viver, ora por entre<br />

os prados atapetados <strong>de</strong> boninas, ora pelas<br />

ruas cobertas <strong>de</strong> lama, sem nos importarmos<br />

já com as medidas da fazenda,<br />

já com a questão dos credores.<br />

E nisto faz bem <strong>Coimbra</strong>.<br />

Quem as anne que as <strong>de</strong>sarme.<br />

Ella que do lauto banquete politico<br />

só apanhou a estação nova e o projecto<br />

do caminho <strong>de</strong> ferro d'Arganil, tão tola<br />

seria se estivesse a quebrar lanças por<br />

dividas que não fez, ou a <strong>de</strong>gladiar-se por<br />

situações que não creou.<br />

Já lá se foi o tempo dos seus ídolos<br />

1<br />

Pegou-lhes pelas pernas e quebrou-os<br />

<strong>de</strong> encontro ás conveniências própria»,<br />

jurando e protestando junto do sacrario<br />

da vonta<strong>de</strong> popular — a urna, não adorar<br />

outro Deus, não ter outro idolo que<br />

não seja o seu <strong>de</strong>putado e presi<strong>de</strong>nte da<br />

actual vereação.<br />

Porém em compensação temol-a sempre<br />

prompta para todos os divertimentos<br />

que as emprezas theatraes hajam por<br />

bem impingir-lhe, quer pelos preços do<br />

costume, quer com alguns adicionaes, o<br />

que pouco faz ao caso, contanto que<br />

seja uma Judie, ou uma Geraldine que já<br />

nos faz crear agua na bôcca ao vermos<br />

umas gravuras que a empreza, para peccados<br />

dos homens e <strong>de</strong>speito das mulheres,<br />

tem esp.alhado por essas montras<br />

fóra.<br />

Geraldine a ajuizar pelos chromos e<br />

pelo que nos tem dito a imprensa, não<br />

é apenas uma mulher. E' um anjo, um<br />

archanjo, emfiin uma creação feita <strong>de</strong><br />

proposito para estontear a humanida<strong>de</strong>,<br />

cuja cabeça já não é dds que melhor regulam.<br />

Depois <strong>de</strong> ter colhido entliusiasticos<br />

hurrahs aos fleugmalicos yankees, veiu<br />

para a Europa encher <strong>de</strong> admiração e<br />

d'amor os pensativos teutões, tendo á sua<br />

frente o malogrado príncipe llodolpho.<br />

Em Paris, por esse mundo fóra, por<br />

on<strong>de</strong> quer que tenha passado, Geraldine<br />

tem <strong>de</strong>ixado sempre o rastro brilhante<br />

da arte e da belleza.<br />

Não se sabe bem o que mais se <strong>de</strong>ve<br />

admirar se a belleza, se a artista. Porém<br />

como esta ultima parte toca mais <strong>de</strong> perto<br />

aos artistas <strong>de</strong> mesmo genero, eu inclino-me<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, pelos olhos, pela esculptura,<br />

pela belleza da formosa americana<br />

que, a <strong>de</strong>morar-se* muito por cá, acabará<br />

por nos endoi<strong>de</strong>cer, sendo verda<strong>de</strong> o que<br />

se vê e o que se diz.<br />

Geraldine, com certeza, virá marcar<br />

um noyo período na vida tlieatral da<br />

nossa velha e poética <strong>Coimbra</strong>, como as<br />

eleições <strong>de</strong> 92 vieram marcar uni outro<br />

na sua vida politica.<br />

Eutão gritava-se: á urna, á urna,<br />

eleitores. H>je grita-se — ao Circo, ao<br />

Circo, ó geraldiuos!<br />

E não serei eu que ficarei em<br />

casa.<br />

Crise ministerial<br />

em França<br />

Depois <strong>de</strong> repetidas conferencias entre<br />

Carnot e diversos homens <strong>de</strong> Estado<br />

francezes, chegou-se, por fim, á solução<br />

da crise.<br />

O ministério ficou assim constituído:<br />

Presi<strong>de</strong>nte do conselho e ministro do<br />

interior, o sr. Dupuy; ministro dos negocios<br />

estrangeiros, o sr. Develle ; da<br />

fazenda, o sr. Peytral; da justiça, o sr.<br />

Guériu; da instrucção publica, o sr.<br />

Poincaré; do commercio, o sr. Terrier ;<br />

da guerra, o general Loizillon ; da marinha,<br />

o vice-almirante Rieunier; das<br />

obras publicas, o sr. Vielte; da agricultura,<br />

o sr. Viger.<br />

Quasi toda a imprensa franceza recebeu<br />

com <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> sympathia<br />

este ministério.<br />

Os amigos inglezes<br />

Vão-se turbando os ares no Egyplo<br />

para os nossos amigos inglezes, que veem<br />

a<strong>de</strong>nsar-sc grossas nuvens naquella atmosphera<br />

que elles teem gosado tão límpida<br />

... e tão feraz.<br />

Aos egypcios, vergados até ha bem<br />

pouco ao confortable domínio inglez, vaellies<br />

já parecendo historia aquella historia<br />

da occupaçâo, e tratam <strong>de</strong> sacudir os<br />

vampiros, o que já se vae mostrando nos<br />

conílictos recentes entre as auctorida<strong>de</strong>s<br />

egypcias e as iuglezas.<br />

Dêem-lhes, que não se per<strong>de</strong> nada ;<br />

ponham-nos na rua, que lucra o Egypto<br />

e a Europa.<br />

Graças regias<br />

A rainha <strong>de</strong> Hespanha agraciou com<br />

o collar da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Carlos III o sr.<br />

Hintze Ribeiro; e o rei <strong>de</strong> Portugal con<strong>de</strong>corou<br />

o marquez <strong>de</strong> Vega <strong>de</strong> Armijo<br />

com a grã-cruz <strong>de</strong> S. Thiago.<br />

Fruetos do tratado.<br />

Companhia real<br />

Consta que o governo está promovendo<br />

huj projecto <strong>de</strong> lei que o auclorise<br />

a tomar conta da companhia real<br />

dos caminhos <strong>de</strong> ferro, para as linhas<br />

ferreas serem exploradas por conta do<br />

Estado.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Escola Brolero<br />

O nosso collega--O Conimbricense<br />

publica em o numero <strong>de</strong> hontem a seguinte<br />

com mu nica ção do sr. miuistro<br />

das obras publicas:<br />

«Ministério das obras publicas, commercio<br />

e industria — Gabinete do ministro,<br />

5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893. —Sr. Joaquim<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho — Sua ex. a o sr.<br />

ministro das obras publicas encarrega-me<br />

<strong>de</strong> dizer a v. que <strong>de</strong>u as precisas instrueções<br />

para se organisarem as oilicinas<br />

na Escola Brotero.<br />

De v. att.° ven.° e obrigado,<br />

J. T. da Silva Bastos.»<br />

Esta resolução da ultima hora é <strong>de</strong>vida<br />

a_ um artigo d'aquelle jornal em que<br />

se pedia a organisação immediata das<br />

offiemas <strong>de</strong> trabalho pratico, annexas á<br />

Escola Brotero, chamando-se para este<br />

assumpto a attenção do respectivo ministro<br />

sr. dr. Bernardino Machado.<br />

li' pois mais um serviço que a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve ao dislinclo jornalista, sempre<br />

na brecha em favor dos interesses <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, e mais uma prova do quaulo o<br />

sr. dr. Bernardino Machado se interessa<br />

pela instrucção artística da classe operaria.<br />

Agora, porém, que o illustrado ministro<br />

das obras publicas está disposto a<br />

completar a nossa Escola Brotero, occasião<br />

propicia era para que s. ex. a atlen<strong>de</strong>sse<br />

também á representação que ha tempos<br />

fôra enviida ao goveruo assiguada por<br />

gran<strong>de</strong> numero d operarios e na qual se<br />

pedia o restabelecimento da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

francez.<br />

Bem sabida é a necessida<strong>de</strong> que ha<br />

<strong>de</strong> se ensinar ao operário a língua franceza,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sobre artes e offieios<br />

os livros portuguezes são raros e os que<br />

ha tão <strong>de</strong>ficientes que nada utilisam para<br />

um estudo completo; e para louvar seria<br />

se o illustrado ministro das obras publicas<br />

ao orgauisar as otlkinas creasse<br />

também a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> francez nesta Escola.<br />

A' illuslrada consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> s. ex,*<br />

<strong>de</strong>ixamos este assumpto.


AK7kO I — 96 O DEFEMIOR DO POVO » <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803<br />

Associação ( ommercial<br />

Reuniu na quinta feira a assembleia<br />

geral. Foi presente a recusa d'alguns<br />

membros que haviam sido reeleitos, e<br />

<strong>de</strong>cidido que em reunião próxima se combine<br />

a escolha dos indivíduos que hão<br />

<strong>de</strong> preencher as vacaturas.<br />

Bombeiros Voluntários<br />

Os corpos gerentes d'esta instituição<br />

benemerita projectam realisar para maio<br />

proximo uma explendida kermesse em beneficio<br />

do seu cofre.<br />

O publico <strong>de</strong>certo não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> lhes<br />

prestar toda a coadjuvação ; oxalá, porém,<br />

que esta festa não dê os prejuízos<br />

e os incommodos da passada, e que a<br />

associação possa adquirir um bom resultado<br />

a lira <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer face ás suas<br />

<strong>de</strong>spezas.<br />

Companhia equestre<br />

Foi hontem o primeiro espectáculo<br />

pela companhia <strong>de</strong> que é director o sr.<br />

Henrique Diaz, no Theatro-Circo Prin<br />

cipe Real.<br />

Não po<strong>de</strong>mos hoje fazer as nossas<br />

apreciações, mas somos informados <strong>de</strong><br />

que a companhia é no geral bem formada<br />

possuindo artistas <strong>de</strong> valor, como são :<br />

Geraldine e Emrna Gautier.<br />

Preços: Camarotes, 2(51500; ca<strong>de</strong>iras,<br />

500 ; geral, 200 réis. As creanças<br />

até 10 annos e militares sem graduação<br />

pagam meta<strong>de</strong> dos preços.<br />

Tlieatro D. Iiuiz<br />

O espectáculo em beneficio do operário<br />

funileiro, sr. Anselmo Mesquita, foi<br />

transferido, por conveniência e interesse<br />

do beneficiado, para sabbado proximo, 15<br />

do corrente.<br />

Representação<br />

Os distribuidores telegrapho-postaes<br />

d'esta cida<strong>de</strong> vão represeniar ao governo<br />

peduido-lhe para 1 serem dispensados <strong>de</strong><br />

fazer outros fardamentos, a que os obriga<br />

a nova lei.<br />

Mal remunerados como estão estes<br />

pequenos funccionarios públicos, sujeitos<br />

a <strong>de</strong>ducções nos exiguos vencimentos, é<br />

para elles onerosíssima esta <strong>de</strong>speza que<br />

os colioca em bem tristes circunistancias.<br />

O governo pratica um actQ <strong>de</strong> justiça<br />

atten<strong>de</strong>udo a esta petição, por isso mesmo<br />

que muitos dos distribuidores que<br />

ainda ha pouco tempo dispen<strong>de</strong>ram quantias<br />

em uniformes <strong>de</strong> antigo padrão, veem<br />

agora inutilisada essa verba que para<br />

elles representa um alto sacrifício.<br />

Par do reino<br />

Foi eleito por 45 votos par do reino<br />

pelo districto do Porto, o sr. dr. Souto<br />

Rodrigues, lente <strong>de</strong> Mathematica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />

Pesos e medidas<br />

No proximo mez proce<strong>de</strong>r-se-ha na<br />

repartição competente d'este concelho ao<br />

alilameuto <strong>de</strong> todos os pesos e medidas.<br />

A lettra adoptada esle anno é — H.<br />

i — — •<br />

87 FoMim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A Jitíii 1 MIMi)<br />

V I I<br />

Vespera <strong>de</strong> noivado<br />

O reconhecimento do animal manifeslou-se<br />

d um modoquasi humano; abraçou<br />

o seu salvador como nós abraçamos<br />

um amigo <strong>de</strong>pois d'um gran<strong>de</strong> serviço<br />

prestado; e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter cumprido esle<br />

<strong>de</strong>ver, o cão voltou bruscamente á sua<br />

posição <strong>de</strong> quadrupe<strong>de</strong>, á voz <strong>de</strong> Débora<br />

; servindo-se então do troço da prancha<br />

como d'um trampolim iormou ura<br />

salto <strong>de</strong> pauthera, <strong>de</strong>screveu uma curva<br />

prodigiosa e cahiu aos pés <strong>de</strong> Débora,<br />

que agra<strong>de</strong>cia a Deus.<br />

Depois d esta scena violenta, Paulo<br />

e Débora conversaram ura instante, a<br />

gran<strong>de</strong> distancia; Débora tinha abandonado<br />

o baile para vir, acompanhada pelo<br />

Mitry, dar parte a Paulo <strong>de</strong> que a festa<br />

não <strong>de</strong>via realisar-se na casa <strong>de</strong> campo,<br />

mas a bordo do navio hollan<strong>de</strong>z.<br />

Memma não recusava respon<strong>de</strong>r; exigia<br />

somente <strong>de</strong> Gréant a tranquillida<strong>de</strong><br />

e a resignação necessarias para receber<br />

Juizes <strong>de</strong> direito<br />

Foram nomeados para juizes <strong>de</strong> direito<br />

substitutos, neste concelho, os srs.<br />

bacharéis Francisco Eduardo d'Almeida<br />

Leilão e Cunha, José Simões da Silva,<br />

Accacio Hypolito Gomes da Fonseca e<br />

José Joaquim Ferreira.<br />

Promoção<br />

O nosso illustrado collega da Gazeta<br />

Nacional e distincto professor <strong>de</strong> mathematica<br />

na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, sr. dr. Costa<br />

Lobo, vae ser promovido <strong>de</strong> lente substituto<br />

a catbedratico d'aquel|a faculda<strong>de</strong>.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

O sr. dr. Bernardo d'Àlbuquerque<br />

partiu na quinta feira para Lisboa, para<br />

assistir ao casamento d'uma sua sobrinha.<br />

Sua ex. a tenciona <strong>de</strong>morar-se até<br />

quinta feira.<br />

# Tem estado nesta cida<strong>de</strong> o nosso<br />

patrício, sr. Antonio Augusto da Costa<br />

Motta, que o anno passado concluiu os<br />

seus estudos na Escola <strong>de</strong> Bellas Artes,<br />

e que agora leni na capitai uma officina<br />

<strong>de</strong> esculptura.<br />

* Esteve na sexta feira nesta cida<strong>de</strong><br />

o sr. Joaquim Antonio Ma<strong>de</strong>ira, negociante<br />

em Villa Nova <strong>de</strong> Gaya.<br />

Fabricação <strong>de</strong> tintas para escrever<br />

O proprietário d'esta fabrica, sr. Alvaro<br />

Esteves Castanheira, um trabalhador<br />

incansavel, e a cujos esforços se <strong>de</strong>ve<br />

esta nova industria em <strong>Coimbra</strong>, ja distribuiu<br />

pelos seus freguezes as tabellas<br />

dos preços d'esta manufactura, na qual<br />

se lê o importante documento que abaixo<br />

publicamos, firmado por dois cidadãos<br />

auctorisados e <strong>de</strong> reconhecida competência<br />

:<br />

Joaquim dos Santos e Silva, chefe dos<br />

trabalhos práticos do Laboratorio chirnico<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

socio effectivo do Instituto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

e da Socieda<strong>de</strong> Chimica <strong>de</strong> Berlim, e<br />

socio honorário da Socieda<strong>de</strong> Pharmaceutica<br />

Lusitana; — e Charles Lepierre,<br />

engenheiro pela escola <strong>de</strong> physica<br />

e chimica industrial <strong>de</strong> Paris,<br />

professor <strong>de</strong> chimica na escola industrial<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e membro da socieda<strong>de</strong><br />

chimica <strong>de</strong> Paris:<br />

Declaramos que tendo examinado as<br />

tintas <strong>de</strong> escrever preta e <strong>de</strong> copiar, da<br />

fabrica do sr. Alvaro Esteves Casteiiheira,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, e tendo um <strong>de</strong> nós assistido<br />

á sua fabricação, achamos que ellas estão<br />

nas condições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem substituir as<br />

melhores marcas estrangeiras. E po<strong>de</strong>mos<br />

accrescentar que estas tintas não criam<br />

bolor, como acontece com muitas outras,<br />

o que é <strong>de</strong>vido não só ao aceio na sua<br />

preparação, inas também aos processos<br />

inteiramente novos que introduzimos no<br />

modo <strong>de</strong> lhes conservar as suas qualida<strong>de</strong>s<br />

sem prejudicar o resultado linal, que<br />

consiste em fornecer ao publico ura producto<br />

sempre na mesma composição e<br />

ao mesmo tempo bygienico.<br />

uma carta escripta com o sentimento rígido<br />

do <strong>de</strong>ver.<br />

Paulo ouviu a mensagem, e dissimulando,<br />

por conveniência, a sua irritação<br />

e a sua incredulida<strong>de</strong>, disse a Débora:<br />

— Muito bem, rainha querida amiga;<br />

agra<strong>de</strong>ço-lhe as suas bonda<strong>de</strong>s. Era nome<br />

do ceu, não falle nunca a ninguém do<br />

que se tem passado esta noite. Não comprometíamos<br />

Memma. Esqueça o terror<br />

que esta excursão lhe causou. Volte para<br />

o baile; eu bei <strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar meio <strong>de</strong><br />

saliir d'aqui e <strong>de</strong>, era pouco tempo, nos<br />

tornarmos a encontrar.<br />

Débora e o Metry afastaram-se <strong>de</strong><br />

vagar, como se fossem a peusar na horrível<br />

armadilha a que acabavam <strong>de</strong> escapar.<br />

Ha horas em que o <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong><br />

amor é tão violento, que or<strong>de</strong>na a pensar<br />

na vida ou a escolher uin genero <strong>de</strong><br />

morte. Paulo Gréant nunca sentiu mais a<br />

uecessidida <strong>de</strong> se aferrar á existeucia<br />

para se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iar, como um lligello<br />

vivo, contra a iutoleravel felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

dois seres odiosos: procurou por muito<br />

tempo, ás apalpa<strong>de</strong>llas, com a prudência<br />

do medo, uma sabida, um caminho, uma<br />

escada <strong>de</strong> arbustos salientes, para <strong>de</strong>scer<br />

do ninho <strong>de</strong> aguia on<strong>de</strong> a sua raiva<br />

estava aprisionada. Nada se lhe oilereceu<br />

aos pés nem ás mãos. A rocha do mirante<br />

levaotava-se <strong>de</strong> todos os lados como<br />

ura cone vulcauico; era uma ilha ro<strong>de</strong>ada<br />

<strong>de</strong> ar — a pequena ponte ligava-a ao<br />

Com effeito, sabe-se que um gran<strong>de</strong><br />

numero <strong>de</strong> tintas estrangeiras são aJdi•<br />

cionadas <strong>de</strong> bicbloreto <strong>de</strong> mercúrio, antiseptico<br />

energico que conserva a tinta,<br />

mas que lhe dá proprieda<strong>de</strong>s nocivas,<br />

pois que este composto é um po<strong>de</strong>roso<br />

veneno que pô<strong>de</strong> occasionar graves acci<strong>de</strong>ntes,<br />

visto o costume que as creanças<br />

teem ordinariamente <strong>de</strong> levar a tinta<br />

aos lábios Estes inconvenientes não po<strong>de</strong>m<br />

ter logar com as tintas que examinámos.<br />

Também assistimos na fabrica á preparação<br />

do Lacre <strong>de</strong> differentes côres, e<br />

pelos ensaios sobre a sua fusibilida<strong>de</strong>, a<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combustão sem se tornar<br />

preto, etc., comparados com os productos<br />

<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>ncia estrangeira, ficámos<br />

convencidos <strong>de</strong> que o Lacre nacional do<br />

sr. Alvaro E. Castanheiro, não é inferior<br />

em qualida<strong>de</strong> ao Lacre estrangeiro.<br />

Finalmente, o. nosso exame ainda se<br />

esten<strong>de</strong>u ás tintas <strong>de</strong> côres e <strong>de</strong> marcar<br />

roupa, gommas e coitas liquidas, que<br />

achámos serem <strong>de</strong> excellente qualida<strong>de</strong>,<br />

todas as garantias <strong>de</strong> perfeita conservação.<br />

E por ser verda<strong>de</strong> passamos a presente<br />

<strong>de</strong>claração que assignainos.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 6 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1893 —<br />

(a) Joaquim dos Santos e Silva. — (a)<br />

Charles Lepierre.<br />

(Segue-se o reconhecimento).<br />

Irmãs hospitaleiras em <strong>Coimbra</strong><br />

Diz o Tempo:<br />

iParece que vae ser entregue ás irmãs<br />

hospitaleiras a egreja e convento <strong>de</strong><br />

Santa Clara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.»<br />

Também por cá iremos ter as santas<br />

irmãsinhas ?...<br />

Estola Central d'Agriçultura<br />

Para esla escola mandou o sr. ministro<br />

das obras publicas remover o viveiro<br />

<strong>de</strong> vi<strong>de</strong>iras que existia em Oliveira do<br />

Hospital.<br />

Questão <strong>de</strong> economia.<br />

Festivida<strong>de</strong><br />

A'manhã realisa-se em Sernache a<br />

festa annual <strong>de</strong> Nossa Senhora dos Milagres<br />

cora procissão <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>.<br />

Todos os annos costuma ir muita<br />

genle d'esla cida<strong>de</strong> passar o dia áquelle<br />

aprazivel sitio.<br />

Movimento eommereial<br />

Agio—Premio das libras: 800 rs,<br />

ouro nacional, 16;<br />

Prata: graúda, a 3 /*.<br />

*<br />

Generos— Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados: ><br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />

tremez 560 — Milho branco 335 —Duo<br />

amarello 335 —Feijão vermelho 520 —<br />

Dito branco 420 —Dito rajado 340 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 420—Centeio 440 —Cevada<br />

300 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />

meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />

Azeite a 1/610.<br />

continente, e este traço <strong>de</strong> união artificial<br />

não esperava senão que algum ousado<br />

collocasse o pé sobre ella para o<br />

precipitar no abysmo.<br />

Só os peza<strong>de</strong>llos po<strong>de</strong>m dar i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

uma tal situação. Assim, Paulo Gréant<br />

parou por alguns minutos, tomou a fronte<br />

nas mãos e sacudiu-a para se <strong>de</strong>spertar.<br />

A realida<strong>de</strong> horrível estava sempre<br />

alli, na sua crise <strong>de</strong>soladora:—sempre o<br />

ruído do baile, a illuminação do navio,<br />

as canções dos marinheiros, a fúria dos<br />

instrumentos executando as quadrilhas<br />

<strong>de</strong> t'ru-Diavolo, <strong>de</strong> Moysés, da Semiramis,<br />

do Con<strong>de</strong> Ory, isto é, todas as melodias<br />

arrebatadoras que são as palavras<br />

sensuaes do extasis e do amor.<br />

Não, aqui lio não era um sonho, e,<br />

comtudo, nada na vida real se parece<br />

com estas angustias nocturnas, com a<br />

ultuna principalmente, com esta: —Paulo<br />

Gréant não tiulu visto tudo; <strong>de</strong>scobriu<br />

aos clarões esplendidas d'umu constellação,<br />

escalões ver<strong>de</strong>s e vigorosos<br />

formados por saxifragas no Uiaco sul do<br />

miranle. Era um caminho a pique aberto<br />

sobre um precipício d'uina profundida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconhecida.<br />

Paulo experimentou a resislencia dos<br />

primeiros arbustos, e, eucontraudo-os solidos<br />

<strong>de</strong>baixo da mão, levautou ao ceu<br />

um olhar co no que <strong>de</strong> supplica, e, agarrando<br />

pelas raízes os primeiros massiços<br />

<strong>de</strong> saxiíragas, transpoz o primeiro <strong>de</strong>grau<br />

<strong>de</strong>sti escaJa vegetal, procurando, ás<br />

Vexame e extorsão<br />

Por or<strong>de</strong>m da camara foram hoje levantadas<br />

ás ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras <strong>de</strong> pei\e no<br />

mercado os cabazes <strong>de</strong> salgado que tinham<br />

á venda.<br />

A causa d'esta extorsão foi por se<br />

exigir ás pobres mulheres o pagamento<br />

atrazado d'um impo«lo que se julgava<br />

eviinoto.<br />

Trataremos do assumpto no proximo<br />

numero.<br />

Horário postal<br />

Tiragem da correspondência nos marcos<br />

postaes da cida<strong>de</strong>:<br />

1. a ás 12 horas do dia.<br />

2. a ás 2 horas da tar<strong>de</strong>.<br />

3. a ás 8 e um quarto da tar<strong>de</strong>.<br />

Nos marcos poslaes <strong>de</strong> Cellas, Estrada<br />

da Beira e Santa Clara: <strong>de</strong> manhã,<br />

cerca das 7 horas, e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> ás 6 horas!<br />

As ultimas tiragens na caixa gera,<br />

dos correios effectuam-se:<br />

Para a linha leste e Beira Baixa ás<br />

6 horas e 5 m. da tar<strong>de</strong>.<br />

Para o sul ás 9 e 55 m. da n.<br />

Para o norte, Beira Alta e paizes da<br />

Europa ás 12 horas e 30 minutos da<br />

noite.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Concluída enterraram-se,<br />

na semana ultima, os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Raul, filho <strong>de</strong> Joaquim da Costa Coutinho<br />

e Maria da Ercarnação, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

<strong>de</strong> 8 annos e 4 mezes. Falleceu <strong>de</strong><br />

peritonite tuberculose, no dia 27.<br />

Manoel Joaquim Ribeiro, filho <strong>de</strong><br />

Manoel Joaquim Ribeiro e Julia Amélia<br />

Oliveira <strong>de</strong> Abreu, da Guyana Ingleza_,<br />

<strong>de</strong> 20 annos. Falleceu <strong>de</strong> grippe, no<br />

dia 27.<br />

Auzenda Garcia, lilha <strong>de</strong> José Garcia<br />

e Maria do Patrocínio, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />

16 mezes. Falleceu <strong>de</strong> meningite tuberculosa,<br />

no dia 29.<br />

Lucinda <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />

72 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorragia cerebral,<br />

no dia 31.<br />

Recemnascido, filho <strong>de</strong> Nestorio Martins<br />

Ribeiro e Maria d'Assumpção Ribeiro,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 2 horas. Falleceu<br />

<strong>de</strong> distacia materna, no dia 1.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemitério —16:834.<br />

A GRANEL<br />

O sr. ministro da'fazenda, nas instrucções<br />

que <strong>de</strong>u aos ofliciaes encarregados<br />

da inspecção ás proprieda<strong>de</strong>s rústicas<br />

e urbanas do paiz, <strong>de</strong>clarou-lhe que<br />

era indispensável que o governo, no<br />

prazo <strong>de</strong> mez e nie.io, esteja habilitado a<br />

conhecer o valor real das proprieda<strong>de</strong>s<br />

mais importantes do paiz.<br />

* * # A fe<strong>de</strong>ração das associações<br />

do Porto resolveu rejeitar o <strong>de</strong>creto das<br />

bolsas <strong>de</strong> trabalho, tal como está elaborado.<br />

apalpa<strong>de</strong>llas, com a ponta dos pés, as<br />

feudas da rocha, para ahi encontrar um<br />

ponto <strong>de</strong> apoio, muito duvidoso.<br />

O primeiro passo dado ousadamente<br />

no caminho d'um abysmo prependicular,<br />

oppõe-se immediatamente a qualquer esperança<br />

<strong>de</strong> voltar: é necessário continuar<br />

ou cair. Paulo Gréant olhou para cima,<br />

e viu a base do mirante já separada d'elle<br />

por tres <strong>de</strong>graus d'arbustos salientes que<br />

elle tinha <strong>de</strong>scido; olhou para baixo e<br />

<strong>de</strong>scobriu com terror a aresta viva d'um<br />

rochedo nu, <strong>de</strong>spojado <strong>de</strong> verdura e<br />

muito solido para estar fendido. O abysmo<br />

escancarado e sombrio patenteava-se<br />

cora todos os seus horrores. Aqui a realida<strong>de</strong><br />

terrível torna-se o sonho febril.<br />

O moço artista, dominado pela uecessida<strong>de</strong><br />

imperiosa <strong>de</strong> viver, incruslou-se<br />

violentamente <strong>de</strong> encontro ao rochedo,<br />

e sentiu crepitarem-lhe <strong>de</strong>baixo dos <strong>de</strong>dos<br />

as ruizes das saxifragas, emquanto os<br />

seus pés, mal seguros numa fenda, faziam<br />

chover pedras, cujo som expirava, passado<br />

muito tempo, no fundo do precipício.<br />

Aproveitando <strong>de</strong> repente, rápido como<br />

o pensamento, a occasião em que as pedras<br />

da fenda cessaram <strong>de</strong> cahir, abandonou<br />

o arbusto já quasi arrancado, e<br />

crispou as unhas, como garras, numa<br />

raiz <strong>de</strong> pinheiro, o que lhe permiUiu um<br />

movimento <strong>de</strong> ascençto e procurar com<br />

os pés um apiio mais seguro. Inundado<br />

<strong>de</strong> suor, abrazaio <strong>de</strong> lebre, quebrado <strong>de</strong><br />

fadiga, Paulo <strong>de</strong>teve "se para respirar,<br />

* * * Os autos que o sr. juiz<br />

Veiga mandou levantar contra es policias<br />

que se oppozeram a que os empregados<br />

<strong>de</strong> fazenda cumprissem os mandados<br />

<strong>de</strong> que iam munidos quando, por<br />

duas vezes, se dirigiram a casa do sr.<br />

conselheiro Barjona <strong>de</strong> Freitas, já estão<br />

em po<strong>de</strong>r do sr. dr. Tito Vespasiauo<br />

Castello Branco, <strong>de</strong>legado da 5. a vara,<br />

a quem foram entregues, a fim <strong>de</strong> os fazer<br />

distribuir e dar-lhes o <strong>de</strong>vido andamento.<br />

* * * O tratado do commercio entre<br />

Porlugal e Hespanha é publicado nas<br />

duas nações ao mesmo lempo.<br />

* * # Está resolvidf a questão do<br />

convento <strong>de</strong> Carni<strong>de</strong>, ficando inteiramente<br />

separadas as duas communida<strong>de</strong>s.<br />

# * * Foi recebido no ministério<br />

da marinha um telegramma do governador<br />

<strong>de</strong> Angola notificando que a <strong>de</strong>limitação<br />

<strong>de</strong> fronteiras do Baixo Congo ficava<br />

concluída por todo este mez.<br />

# * * O alcai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigo entregou<br />

ás nossas auctorida<strong>de</strong>s 15 portuguezes<br />

que intentavam clan<strong>de</strong>stinamente seguir<br />

viagem para o Brazil.<br />

# * # A companhia geral do credito<br />

predial portuguez pediu ao governo<br />

auctorisação para fazer uma nova emissão<br />

<strong>de</strong> obrigações prediaes a 5 °/0 no<br />

valor <strong>de</strong> 900:000^000 réis.<br />

* * * Começam no dia 22 do corrente<br />

os exercícios no campo <strong>de</strong> Tancos.<br />

* * # Dizem da Regoa : — A arrebentação<br />

das vinhas neste concelho dá<br />

esperanças d'uma boa colheita <strong>de</strong> vinho<br />

este anno. O tempo tem lhe sido favoravel.<br />

# * * Dizem <strong>de</strong> Felgueiras :—Não<br />

lembra que as vi<strong>de</strong>iras apresentassem os<br />

seus gonimos tão prematuramente. Já é<br />

gran<strong>de</strong> o seu <strong>de</strong>senvolvimento e promettem-nos<br />

um abundante anuo <strong>de</strong> vinho,<br />

se os temporaes, nevoeiros e frios não<br />

prejudicarem as nascenças.<br />

* * * Consta officialmente que no<br />

<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Morbthan occorreram<br />

87 casos <strong>de</strong> cholera, dos quaes 22 fataes.<br />

# * # Foi enviada uma circular<br />

aos <strong>de</strong>legados do thesouro, recommendando-lhes<br />

que prestem todo o auxilio<br />

ás commissões encarregadas da inspecção<br />

ás proprieda<strong>de</strong>s, provi<strong>de</strong>nciando<br />

mais para que essas conimissões tenham<br />

em todos os concelhos casa para os seus<br />

Ira bailios.<br />

# * # O sr. Luciano Cor<strong>de</strong>iro, inspector<br />

das escolas industriaes do sul,<br />

partiu para Leiria, a fira <strong>de</strong> adquirir<br />

para a installação da eseola industrial<br />

uma casa d'aquella cida<strong>de</strong> que foi posta<br />

em praça.<br />

como faz um viajante que encontrou<br />

uma pousada.<br />

A orchestra do baile chegava sempre<br />

aos seus ouvidos, como a mais melodiosa<br />

e a mais pungente das ironias: triste<br />

imagem d'este mundo, on<strong>de</strong> as angustias<br />

da dôr andara sempre mescladas com<br />

os extasis longínquos do prazer!<br />

Um supremo esforço e alguns movimentos<br />

ousados e vigorosos, auxiliados<br />

por acci<strong>de</strong>ntes favoraveis <strong>de</strong> apoio, em<br />

pouco tempo collocaram as mãos <strong>de</strong><br />

Gréant ao nivel do balcão do miraute ;<br />

então uma vertigem lhe velou os olhos,<br />

ura zunindo estranho lhe resoou na cabeça,<br />

um estremecimento nervoso liie entorpeceu<br />

os pés; mas os <strong>de</strong>dos e os braços<br />

retesaram-se neste minuto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero<br />

e lançaram se á gra<strong>de</strong> do balcão,<br />

no momento em que fragm mlos <strong>de</strong> terra<br />

vegetal se lhe <strong>de</strong>sfaziam em pó <strong>de</strong>baixo<br />

dos pés; uai ultimo sopro <strong>de</strong> respiração<br />

lhe inflou as veias do pescoço,<br />

elevou o corpo á altura da persiana, e,<br />

fazendo-o saltar por cima do peitoril, atirou<br />

o como massa iuanimada sobre o pavimento,<strong>de</strong><br />

mármore do mirante...<br />

Í mprobo na r / p o » e a p h i a<br />

OpaiMri.i - Lurgo di Fr-jina a.'<br />

li, jf.m ai a r u dos Santeiros, —<br />

C JIIICTSA.


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pretas e cor, tudo novida<strong>de</strong>, merinos<br />

pretos pura lã, flanellas <strong>de</strong> lã pretas<br />

e <strong>de</strong> cores, chailes <strong>de</strong> merino preto,<br />

mantas e siHgellos lenços <strong>de</strong> seda brancos<br />

e <strong>de</strong> côr, mantilhas <strong>de</strong> seda pretas,<br />

e côr <strong>de</strong> creme; além d'estes artigos<br />

tem um magnifico sortido <strong>de</strong> chitas, selim<br />

percales, zephyres, flanellas <strong>de</strong> algodão<br />

<strong>de</strong> côr e brancos, gravatas pretas e côr,<br />

toalhas e guardanapos <strong>de</strong> linho adamascado,<br />

gostos lindíssimos, pannos patentes,<br />

famílias, ditas <strong>de</strong> linho <strong>de</strong> todas as<br />

larguras, chailes <strong>de</strong> côr, alta novida<strong>de</strong>,<br />

collare-, perfumarias, riscados, oxfords,<br />

e muitos mais artigos que é impossível<br />

mencionar, mas as pessoas que se dignarem<br />

vêr.<br />

visitar esia casa terão occasião <strong>de</strong><br />

PECHINCHA 11 — Mais <strong>de</strong> 200 cache-nez<br />

<strong>de</strong> metro, gostos e côres lindíssimas<br />

que eram <strong>de</strong> 1/200 a 500!! capuchões<br />

<strong>de</strong> malha <strong>de</strong> lã que eram <strong>de</strong><br />

1/300 a 500!! aventaes <strong>de</strong> phantasia<br />

que eram <strong>de</strong> .600 a 2401! velludilhos<br />

<strong>de</strong> côr a 300 o metro: luvas <strong>de</strong> fio <strong>de</strong><br />

escocia a 401 II Boinas <strong>de</strong> pelúcia para<br />

ereanças que eram <strong>de</strong> 2/000 a 500!!<br />

além


OT<br />

Defensor<br />

T ^ Jfi ANNO<br />

sg<br />

I <strong>Coimbra</strong>, íS <strong>de</strong> a&ri/ <strong>de</strong> 1898 N ° 77<br />

p<br />

Que fará o sr. FuscMni?<br />

Diga-se em abono da verda<strong>de</strong>.<br />

D'esta série <strong>de</strong> ministérios que se<br />

teem revezado amiudadamente no<br />

po<strong>de</strong>r, ainda não houve nenhum<br />

ministro da fazenda que tivesse<br />

mostrado mais energia e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />

na gerencia da sua pasta do<br />

que o sr. Fuschini.<br />

As medidas ultimamente tomadas<br />

a respeito da cobrança das contribuições<br />

em divida, ainda sobre<br />

a suppressão da verba <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

no estrangeiro, não obstante<br />

imporem-se lógica e necessariamente<br />

a todos os ministros, todavia<br />

só o sr. Fuschini as poz em<br />

execução.<br />

Não tem trepidado, é verda<strong>de</strong>.<br />

E comtudo nessa enorme redada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vedores á fazenda nacional, lá<br />

figuram e apparecem peixes bem<br />

graúdos, que mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pescados<br />

se mostram perigosos, já pelas<br />

artimanhas próprias, já pela<br />

protecção que a corôa quiz dispensar-lhes<br />

preten<strong>de</strong>ndo a exempção<br />

dos seus débitos.<br />

Mas agora? Agora que se trata<br />

<strong>de</strong> enormes passarões, no dizer das<br />

Novida<strong>de</strong>s, agora que a situação é<br />

tão séria como azada para <strong>de</strong>smascarar<br />

e punir esses zangãos terríveis<br />

da nação, que fará o sr. Fuschini<br />

?<br />

Ce<strong>de</strong>rá elle ás prováveis imposições<br />

do Paço, recuando no caminho<br />

da honra, pedindo a sua <strong>de</strong>missão<br />

por não se achar com forças<br />

para a lucla, ou para não acarretar<br />

inimiza<strong>de</strong>s, lançando no Limoeiro<br />

a todos os implicados?<br />

- Não sabemos; todavia crêinos<br />

que não. Pedir a sua <strong>de</strong>missão na<br />

situação presente, em que as Novida<strong>de</strong>s,<br />

não só põem ao dispôr <strong>de</strong><br />

v. ex. a todos os documentos precisos,<br />

mas também se offerecem para<br />

trabalhar na gran<strong>de</strong> obra da moralisação<br />

nacional, fechando os olhos<br />

a tantos crimes e a tantos roubos,<br />

é juntar aquelles mais um, que julgamos<br />

<strong>de</strong> não menor gravida<strong>de</strong>,<br />

tornando-se, por assim dizer, connivenlp<br />

no esphacelamenlo da patria.<br />

E commelter um crime <strong>de</strong> lesa-patria,<br />

abandonando-a exactamente<br />

quando não <strong>de</strong>ve fazer. É<br />

fugir ás durezas do seu encargo. É<br />

consentir que âmanhã nos entre<br />

pela porta <strong>de</strong>ntro, uma administração<br />

estrangeira que s. ex. a po<strong>de</strong>rá<br />

evitar, filando os olhos na França<br />

e seguindo o seu exemplo.<br />

Ha homens importantes implicados?<br />

Também na França os havia,<br />

e, não só illustres, mas também veneráveis<br />

pelos annos e pelo talento.<br />

E nem por isso Lesseps, esse<br />

velho venerando, uma das maiores<br />

glorias francezas, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser punido,<br />

e só porque consentira que<br />

roubassem.<br />

Baihaut, que ainda ha bem pouco<br />

era ministro das obras publicas,<br />

hoje é apenas o presa numero 11<br />

da ca<strong>de</strong>ia correccional <strong>de</strong> E'lampes.<br />

E quando todas as monarchias<br />

europêas, cheias <strong>de</strong> jubilo, suppunham<br />

que mais <strong>de</strong>pressa cahiriam<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO V A V ^ X V ^ V \ J<br />

as instituições do que se faria a luz<br />

sobre lamanho escandalo e se appficaria<br />

a justiça em todo o seu rigor,<br />

nós vimos fortalecer-se a Republica<br />

franceza e con<strong>de</strong>mnaremse<br />

os implicados.<br />

Faça v. ex. a o mesmo.<br />

Ha largos annos, que este pobre<br />

paiz tem sido mesa posta para<br />

quem tem querido <strong>de</strong>vorar, e sempre<br />

á mercê dos especuladores da<br />

nossa pobreza.<br />

Ha largos annos, que soffremos<br />

a mizeria que lemos em casa e a<br />

<strong>de</strong>shonra que nos vem <strong>de</strong> fóra, emquanto<br />

certos indivíduos se banqueteiam<br />

largamente, apparecendo-lhe<br />

o dinheiro por portas mysteriosas,<br />

talvez, as mesmas por on<strong>de</strong><br />

se tem sumido das arcas publicas.<br />

Rasgue-se a mascara e mostrese<br />

o ladrão.<br />

E na mão do sr. ministro da<br />

fazenda eslá fazel-o,<br />

O seu nome ficará vinculado a<br />

esla monumentosa questão, que será<br />

para s. ex. a , ou o ergástulo a que<br />

tantos estão ligados, ou a corôa da<br />

sua gloria e com ella a regeneração<br />

da palria.<br />

Justiça, sr. ministro, loque ella<br />

a quem tocar; porque a seu lado<br />

lerá todos os que ainda pugnam e<br />

trabalham pelos interesses da nossa<br />

bem <strong>de</strong>sgraçada palria.<br />

E' esle o seu <strong>de</strong>ver, é esta a<br />

sua obrigação, já como ministro, já<br />

como porluguez.<br />

Ha quem se imponha e pretenda<br />

<strong>de</strong>svial-o do caminho do seu<br />

<strong>de</strong>ver?<br />

Pois, por mais <strong>de</strong> cima que venha<br />

lai imposição, acima d'ella ha<br />

ainda uma oulra, — a vonta<strong>de</strong> do<br />

povo que lhe pe<strong>de</strong> justiça e só justiça.<br />

Porque será?<br />

Porque será que as Novida<strong>de</strong>s emprehen<strong>de</strong>ram<br />

a sua campanha <strong>de</strong> perseguição<br />

contra os <strong>de</strong>lapidadores dos dinheiros da<br />

nação? Será movidas pelo principio da<br />

justiça, já a fim <strong>de</strong> serem punidos os<br />

implicados nessas escandalosas negociações,<br />

já <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a patria d'esse bando<br />

dabulres? Será somente o resultado <strong>de</strong><br />

meras antipatliias pessoaes.<br />

Será ainda como <strong>de</strong>sforra á medida<br />

tomada pelo sr. Fuschini, supprimindo a<br />

verba <strong>de</strong> publicação 110 extrangeiro, collocando-o<br />

na situação presente entre a<br />

espada e a pare<strong>de</strong> ?<br />

Não sabemos, nem precisamos saber.<br />

O que apenas queremos é luz e mais luz<br />

sobre o caso. Queremos que o sr. ministro<br />

da fazenda em vista d'aquelle artigo, em<br />

vista d'aquel!e documento, primeiro élo<br />

da enorme ca<strong>de</strong>ia, cumpra com o seu<br />

<strong>de</strong>ver, mostrando mais uma vez a todo<br />

o paiz que não trepida no caminho das<br />

suas obrigações.<br />

Noticias <strong>de</strong> João Chagas<br />

Receberam-se noticias do nosso correligionário<br />

João Chagas.<br />

Estava sendo julgado em conselho <strong>de</strong><br />

guerra quando alli chegou o telegramma<br />

annunciando-lhe o <strong>de</strong>creto da amnistia.<br />

Em vista do telegramma o conselho foi<br />

immediatamente interrompido e o illustre<br />

jornalista foi posto em liberda<strong>de</strong> nos limites<br />

da província, emquanto lá não<br />

chegasse a or<strong>de</strong>m escripta para a sua libertação<br />

completa.<br />

Não tardará muito," pois, que tenhamos<br />

occasião <strong>de</strong> ver entre nós o valente<br />

<strong>de</strong>mocrata que tão <strong>de</strong>stemidamente se<br />

tem havido com os seus adversarios.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Los toros!<br />

No ultimo domingo inaugurou o Colyseu<br />

Portuense o gran<strong>de</strong> divertimento<br />

do nosso povo: as touradas.<br />

O Porto adora os touros.<br />

— Con<strong>de</strong>mna as pégas, commove-se<br />

com os boleos dos forcados, grita contra<br />

a barbarida<strong>de</strong> das bandarillias... e, afinal,<br />

lá vae espontaneamente, alegremente,<br />

enchendo as bancadas, agitando os<br />

lenços, applaudindo um acto <strong>de</strong> coragem,<br />

e apupando a covardia d'um diestro<br />

que foge, amedrontado, á fúria d'um<br />

boi <strong>de</strong> sangue.<br />

Uma tourada, num dia claro <strong>de</strong> bom<br />

sol, offerece attractivos irresistíveis: nos<br />

camarotes ostenlam-se as flores escolhidas<br />

da nossa primeira socieda<strong>de</strong>, mantilha<br />

traçada, leques agitando-se nervosamente,<br />

manejados por mãositas <strong>de</strong> neve;<br />

cá em baixo o gran<strong>de</strong> publico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

sportman irreprehensivel, ao garoto <strong>de</strong><br />

jornaes, acotovelando se, praguejando,<br />

soltando exclamações d'enthusiasmo hespanhol;<br />

na arena a quadrilha, exhihindo<br />

garbosamente os ouropéis lantejoulados,<br />

agitando as capas rubras diante do boi<br />

em fúria — e sobretudo isto, o cáustico<br />

do sol, incendiando nos cerebros o enthusiasmo<br />

e na féra o instinclo da bordoada<br />

<strong>de</strong> cégo.<br />

*<br />

Infelizmente — o bom sol da primavera<br />

não conce<strong>de</strong>u um ar <strong>de</strong> sua graça<br />

á primeira tourada da epocha no vasto<br />

Colyseu Portuense I Faltou-nos a luz, e<br />

por isso faltou o enthusiasmo vibrante 1<br />

O cavalleiro Serra, Maleito e os seus<br />

bandarilheiros pouco ou nada fizeram. O<br />

firmamento azul vestiu-se d'um manto<br />

côr <strong>de</strong> chumbo—nem uin raio <strong>de</strong> sol!—<br />

mais proprio á tristeza mystica do tempo<br />

santo do que ao primeiro domingo :<br />

<strong>de</strong> touros—que <strong>de</strong>veria ser profanamente<br />

jovial. Não foi I<br />

E por isso se lidaram os nove touros<br />

com enfado do publico e <strong>de</strong>sprazer<br />

das costellas hespanholas—que a empreza<br />

(honra lhe seja I) pagou por boas I<br />

— Eu tenho, <strong>de</strong> lia muito, uma particular<br />

embirração cora espectáculos <strong>de</strong><br />

abertura em que a Hespanha intervenha:<br />

ou sae come<strong>de</strong>lla para o publico ou pancadaria<br />

velha para os artistas.<br />

Ha ires annos que a minha embirração<br />

se justifica com as festas d'inauguração<br />

na Serra e no Colyseu.<br />

D'esta vez o ceu <strong>de</strong>u-me razão (ando<br />

era graça, pelo visto) e até negou a alegria<br />

da sua luz áquella festa <strong>de</strong>soladora!<br />

*<br />

... E, meus prezados leitores, além<br />

d'esta noticia — que não prima pelo interesse—que<br />

mais hei <strong>de</strong> dizer-lhes?<br />

Novida<strong>de</strong>s—não as lia: a politica não<br />

fornece duas linhas palpitantes.<br />

A diplomacia chafurda na mesma lama<br />

<strong>de</strong> ha dois mezes.<br />

As finanças continuam vivendo do<br />

credito, e soccorrendo-se d'expedientes<br />

particularmente torpes e torpemente particulares.<br />

Nas lettras —• nada ! nem <strong>de</strong>sconchavos<br />

rimados do sr. Alberto d'Oliveira<br />

A bisbilhotice da Praça Nova refina<br />

na semsahoria.<br />

On<strong>de</strong> está o assumpto para a chronica?<br />

Não sei; e não o sabem lambem os<br />

meus collegas, que vão lançando mão do<br />

expediente heroico da politica estrangeira.<br />

Têm razão, realmente. Batem todos<br />

os dias nos mesmos pontos, estafar sempre<br />

as velhas molas — cansa, maça horrivelmente<br />

I<br />

... E, meus prezados leitores, não<br />

quero ser classificado <strong>de</strong> collega do sr.<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mozer — porque, se não fora<br />

isso, estendia o artigo d'hoje, e fallava-<br />

Ihe do eterno i<strong>de</strong>al, e d'uns olhos azues<br />

do ceu, que me trazem presos na doce<br />

luz do seu olhar radiante !...<br />

10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />

Fra-Diavolo.<br />

Pela Africa<br />

Visitou-nos o.Correio <strong>de</strong> Loanda, jornal<br />

africano, que se publica em Loanda.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a visita e vamos enviarlhe<br />

o nosso jornal.<br />

> *<br />

Chegaram a Loanda 11 chinezes fugidos<br />

do Estado Livre do Congo e que<br />

tinham sido contractados em Macau por<br />

emissários d'aquelle êslado.<br />

Fizeram todo o trajecto das margens<br />

do Zaire a Loanda por terra, fallecendo<br />

um em Encoge e outro em Loanda, on<strong>de</strong><br />

chegára muito doente.<br />

Os sobreviventes foram admiltidos<br />

ao serviço dos srs. Faro & Lima, que os<br />

mandaram para as suas fazendas em<br />

Cacuaco.<br />

Esperam-se mais chinezes, pois que<br />

se não acostumam ao tratamento que<br />

lhes applicara as humanitarias auctorida<strong>de</strong>s<br />

do Estado Livre.<br />

*<br />

Em Mossangano (Angola) o parocho<br />

mandou queimar parte dos santos que<br />

estavam na egreja e que se achavam em<br />

mau estado <strong>de</strong> conservação.<br />

Foi á porta da egreja que se effectuou<br />

o auto <strong>de</strong> fé, produzindo entre<br />

os habitantes da freguezia gran<strong>de</strong> indignação<br />

o procedimento do parocho.<br />

O S. João na Figueira<br />

Na Figueira da Foz projectam-se este<br />

anno festejos grandiosos e <strong>de</strong>slumbrantes<br />

ao Santo percursor.<br />

E' tradiccional o S. João da Figueira<br />

e as festas que alli costumam fazer-se<br />

attrahem muitos milhares <strong>de</strong> romeiros<br />

áquella bonita cida<strong>de</strong>. Este anno porém,<br />

segundo nos informam, trata-se <strong>de</strong> organisar<br />

regatas, passeios fluviaes, corridas<br />

<strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, fogos <strong>de</strong> artificio, fogueiras<br />

a capricho e tuti quanti lembre para<br />

proporcionar aos forasteiros dois ou tres<br />

dias <strong>de</strong> agradaveis distracções.<br />

O Santo Antonio em Vizeu<br />

Em Vizeu, a velha cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Viriato,<br />

capital da Beira Alta, foi organisada uma<br />

commissão <strong>de</strong> muitos e respeitáveis negociantes<br />

a liIU <strong>de</strong> angariarem meios e<br />

accordarem na maneira <strong>de</strong> se festejar o<br />

Santo Antonio, que, <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sleixo<br />

<strong>de</strong> ha uns annos a esla parte, não o tem<br />

sido com a pompa e solemnida<strong>de</strong> que<br />

era festejado antigamente.<br />

Oxalá que a commis,são consiga o<br />

que Vizeu espera do seu zelo.<br />

Informam-nos <strong>de</strong> que ura dos pontos<br />

do programma é fazer Teviver as antigas<br />

touradas que tanta nomeada tiveram<br />

e que ainda hoje alli são lembradas com<br />

sauda<strong>de</strong>.<br />

A commissão não <strong>de</strong>ve esquecer-se<br />

<strong>de</strong> pedir á camara para que man<strong>de</strong> policiar<br />

a casa <strong>de</strong> Viriato, tornandó-a um<br />

logar aprazível e não o que tem sido até<br />

boje — d'um monturo.<br />

Republica Fe<strong>de</strong>ral Ibérica<br />

Recebemos este pamphleto, protesto<br />

do sr. A. A. da Silva Lobo contra a Fe<strong>de</strong>ração<br />

Ibérica.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos.<br />

PELOS JORNAES<br />

Não é possível conseguir que o Tempo<br />

perca a mania <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> junho é uma das paginas gloriosas da<br />

bem memorável administração do sr. Dias<br />

Ferreira.<br />

Por mais que a imprensa se estafe<br />

em dizer-lhe que não passa d'uma simples<br />

prova <strong>de</strong> inépcia do ex-ministro,<br />

cujas consequências estamos a soffrer,<br />

elle quer a todo o transe que seja applicado<br />

como resolução <strong>de</strong> questão, nos<br />

termos seguintes:<br />

«Mas se é preciso resolver a questão<br />

dos credores, seja como fôr, melhor<br />

ou peior, porque é que não a <strong>de</strong>ixaram<br />

resolver pela fórma que estava assente<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho? Bem ou mal era<br />

questão arrumada.»<br />

Mas já é vonta<strong>de</strong> !<br />

Mette-se-lhe na cabeça que o afamado<br />

<strong>de</strong>creto tudo resolve, e agora não ha<br />

quem o <strong>de</strong>mova do seu proposito ou teimosia,<br />

apesar da Tar<strong>de</strong> lhe dizér:<br />

«Nem o que estava assente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> junho era a resolução da questão,<br />

nem por consequência era uma questão<br />

. arrumada. Uma prova d'isto é que o<br />

relatório e o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho<br />

diziam que <strong>de</strong>ixavam a questão para<br />

ser resolvida pelo po<strong>de</strong>r legislativo na<br />

primeira reunião das cortes geraes.<br />

«A principal razão que davamos<br />

para <strong>de</strong>sejar sem <strong>de</strong>mora e <strong>de</strong> qualquer<br />

modo a resolução da questão era<br />

que, emquanto ella não fôr <strong>de</strong> qualquer<br />

modo resolvida, vemos fechadas<br />

para nós as praças estrangeiras, e que<br />

não ha hoje governo <strong>de</strong> pãiz nenhum<br />

que possa viver por muito tempo neste<br />

estado. Nós vivemos assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> junho, ha perto d'um anno.<br />

«O <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho não foi<br />

pois uma resolução, melhor ou peior,<br />

da questão, que e ao que nós julgávamos<br />

necessário. Foi a falta <strong>de</strong> resolução<br />

da questão, que é o que julgamos<br />

prejudicial.»<br />

Ainda o Tempo quer coisa mais<br />

clara ?<br />

*<br />

Ultimamente apparece-nos as Novida<strong>de</strong>s<br />

com artigo, sob a epigraphe <strong>de</strong>—<br />

Contradições, versando sobre as presumidas<br />

resoluções que o sr. Fuschini tenciona<br />

dar á.celeberrima questão do empréstimo<br />

aos tabacos e a attitu<strong>de</strong> que<br />

ultimamente teem tomado os açorianos.<br />

Julgamos este assumpto <strong>de</strong> summa<br />

gravida<strong>de</strong>, era vista do que nos dizem<br />

os últimos jornaes d'aquellas ilhas, que<br />

temos á mão.<br />

Vejamos o Açoriano <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> março.<br />

Intitula-se o seu artigo editorial —<br />

Autonomia dos Açores e começa assim:<br />

«Tal é o titulo d'um novo colleg a<br />

que começou a publicar-se em S. Miguel<br />

<strong>de</strong>stinado a advogar a i<strong>de</strong>ia expressa<br />

no proprio titulo O novo periodico<br />

é orgão d'uma commissão eleita<br />

em Ponta Delgada 110 comicio, que teve<br />

logar no theatro d'aquella cida<strong>de</strong>, no<br />

dia 19 <strong>de</strong> fevereiro ultimo, para protestar<br />

contra os novos vexames tributários<br />

<strong>de</strong>cretados pelo ministério do sr.<br />

Dias Ferreira, commissão composta <strong>de</strong><br />

elementos <strong>de</strong> todos os partidos e dalguns<br />

cavalheiros extranhos á politica.»<br />

Mas quasi ao fim da columna accrescenla:<br />

«Acabemos com o centralisação administrativa<br />

e teremos acabado cora o<br />

indifferentismo, a maior-chaga que corróe<br />

o nosso organismo social.»<br />

Ora, se o actual ministério juntar a<br />

estes trechos outras taes como este do<br />

Diário dos Açores:<br />

«Não pô<strong>de</strong> ser I<br />

«Não <strong>de</strong>ve serl<br />

«Não ha <strong>de</strong> ser!<br />

«Ou então, cessemos <strong>de</strong> pedir só a<br />

autonomia administrativa, e procuremos<br />

mais e melhor!»<br />

terá uma i<strong>de</strong>ia perfeita e nitida do estado<br />

ameaçador ji'aquellas ilhas, que não é<br />

outra cousa senão o simples resultado da<br />

politica monarchica <strong>de</strong> que o Açoriano<br />

diz:<br />

«Esta é a principal chaga que nos<br />

tem conduzido á beiía do abysmo a que<br />

temos chegado.<br />

«Salvemos da gangrena geral o archipelago,<br />

exigindo a nossa autonomia<br />

e, quiçá salvaremos d'ella o paiz inteiro,<br />

pelo exemplo <strong>de</strong> energia que lhe<br />

damos e pelo porto <strong>de</strong> salvação que<br />

lhe indigitamos — o restabelecimento<br />

da liberda<strong>de</strong> individual, por meio da<br />

libertação local.»<br />

E, como estes, muitos outros períodos<br />

que bem provam a incúria dos nossos<br />

governos e as ten<strong>de</strong>ncias <strong>de</strong> emancipação<br />

que bastante incremento vão tomando,<br />

chegando mesmo a tornarem-se<br />

perigosas.<br />

Repare bem nisto o governo !


AXXO I-M. 9 99 O DEFENSOR DO POVO 1 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 18f»3<br />

C R Y S T A B S<br />

Resposta<br />

(A MARIA)<br />

Tu perguntas-me, ó pomba estremecida,<br />

Que dôr me faz soffrer...<br />

— E' a dôr cruel que me tortura a vida<br />

Quando estás longe e te não posso vêrl<br />

E pe<strong>de</strong>s-nie, creança, que á affliôção<br />

Não dá jamais ao coração abrigo...<br />

— Não dou; <strong>de</strong>scança, pois o coração<br />

Deixei-o lá comtigo.<br />

AUGUSTO DK MESQUITA.<br />

L B T T R A S<br />

Noite <strong>de</strong> núpcias<br />

i<br />

Quando Mathias Curoz morreu,- sua<br />

viuva Annelte chorou tanto, tanto, que<br />

parecia não querer consolar-se nunca.<br />

E com eífeito, tinha razão para isso.<br />

Mathias Curoz sempre fôra um bom<br />

companheiro e durante os seis annos<br />

que durara a sua união, valente e implacavelmenle<br />

servira a esposa <strong>de</strong> todas<br />

as fórmas. Nunca enfraquecera em matéria<br />

marital e foi por ter cantado muito,<br />

que este precioso gallo morreu, ainda<br />

novo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter dado á Annette uma<br />

gran<strong>de</strong> idéa das" legitimas alegrias do<br />

casamento.<br />

Foi a única loucura que elle praticou<br />

durante a vida. Se a recordação d'este<br />

estado recommendado pela lei tivesse<br />

sido menos agradavel para sua mulher,<br />

talvez esta nunca pensasse em substituil-o<br />

e ficasse eternamente fiel á sua<br />

memoria.<br />

Mas Annette não podia pensar no<br />

-passado sem anceiar por um futuro que<br />

lhe trouxesse as <strong>de</strong>licias experimentadas.<br />

E' verda<strong>de</strong> que ella podia tomar um<br />

amante. Mas Annette era mulher honesta:<br />

não mais conhecer as coisas do amor,<br />

ou então tornar a casar-se.<br />

E foi neste ultimo partido que ella<br />

se <strong>de</strong>teve. Se algum dos nossos leitores<br />

a tivesse conhecido, certamente lhe teria<br />

perdoado. Porque os seus robustos encantos<br />

não a tinham pre<strong>de</strong>stinado ao<br />

papel <strong>de</strong> Joanna d'Arc, e o fogo que<br />

lhe brilhava nos negros olhos não indicava<br />

uma mulher d'ascetico temperamento.<br />

Além <strong>de</strong> que, contava trinta annos<br />

apenas, isto é ainda diante <strong>de</strong>" si quinze<br />

bons annos para receber caricias, o<br />

que é, na opinião <strong>de</strong> muita pessoa sensata,<br />

o melhor emprego <strong>de</strong> tempo. Não<br />

se <strong>de</strong>ita para o lado um similhante thesouro<br />

<strong>de</strong> beijos perdidos e <strong>de</strong> amplexos<br />

ar<strong>de</strong>ntes.<br />

Além <strong>de</strong> que, Annelte que era ingénua,<br />

estava convencida <strong>de</strong> que todos os<br />

homens eram como o fallccido Curoz.<br />

Pela minha parte, não posso reclamar<br />

contra esta boa opinião que ella fazia <strong>de</strong><br />

nós.<br />

E foi neste entrementes que o sr.<br />

Piedamour appareceu resolutamente como<br />

preten<strong>de</strong>nte.<br />

n<br />

Era um homem já maduro o sr. Piedamour,<br />

mas bem conservado e muito<br />

cuidadoso da sua pessoa. Além d'istò, a<br />

sua eloquencia dava-lhe uma gran<strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong><br />

na terra. Era nella o homem<br />

politico e gosava plenamente do prestigio<br />

idiota <strong>de</strong> que são ro<strong>de</strong>ados pelos estúpidos<br />

todos aquelles que julgam ter vocação<br />

para o governo.<br />

Annette admirava como toda a gente, o<br />

sr. Piedamour, e, como não comprehendia<br />

gran<strong>de</strong> coisa dos seus pretenciosos discursos,<br />

não podia medir »a estupi<strong>de</strong>z<br />

d'elles.<br />

O sr. Piedamour era o professor da<br />

terra. Eslava verda<strong>de</strong>iramente enamorado<br />

da bella viuva <strong>de</strong> Curoz? Pelo menos,<br />

recitava-lhe mil galanterias e inepcias<br />

d'um anacreontismo rústico com o que.<br />

ella se lisongeava muito.<br />

Mas eu, eu, creio antes que elle<br />

apreciava a pequena fortuna <strong>de</strong> Annetle,<br />

e contava servir-se d'ella para chegar a<br />

<strong>de</strong>putado, talvez. Porque hoje todo o<br />

homem nasce logo com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>putado. Eis francamente o que eu<br />

penso dos sentimentos do sr. Piedamour.<br />

Todos aquelles que amam a mulher como<br />

ella <strong>de</strong>ve ser amada não teem d'estas<br />

velleida<strong>de</strong>s parlamentares. Comprehen<strong>de</strong>m<br />

que toda a sua vida é apenas sufEciente<br />

para adorarem o immortal idolo<br />

que nunca <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser adorado.<br />

Pobre Annette I Como ella se alegrava<br />

á i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> nunca mais dormir,só!<br />

Como fazia d'esta reentrada na vida conjugal,<br />

uma imagem ri<strong>de</strong>nte e florida,<br />

alguma coisa como a volta ao porto<br />

após uni naufragio, como a volta á patria<br />

<strong>de</strong>pois do exilio.<br />

Náo a seguiremos nos seus sonhos<br />

<strong>de</strong> noiva impaciente. Respeitamos a vida<br />

da alma, em que a esperança nos faz<br />

felizes com tantas venturas impossíveis<br />

e mysleriosas.<br />

(Conclúe).<br />

A quem lê<br />

CA. Silvestre.<br />

Declara Gri-gri que não é solidário<br />

com a masculinisação da toilette que<br />

sahiu nas suas Notas Impressionistas,<br />

VI, segunda linha.<br />

Esta mania dos senhores compositores<br />

para masculinisar o que é femenino, dá<br />

margem a Gri gri a suppor-lhes excentricida<strong>de</strong>s<br />

que não acreditam a sua severida<strong>de</strong><br />

pudica. ..<br />

Assim nol-o diz elle.<br />

Rectificando<br />

Em um dos últimos números do nosso<br />

jornal referimos, bazeados na que alguns<br />

jornaes noticiaram, que o sr. Dias Ferreira<br />

era uni dos maiores <strong>de</strong>vedores á<br />

fazenda, no concelho <strong>de</strong> Cintra.<br />

Segundo uma certidão agora publicada<br />

pelas Novida<strong>de</strong>s verifica-se que o caso<br />

não é exacto, o que até certo ponto nos<br />

rejubila.<br />

Esta rectificação é um capitulo a<br />

menos nas responsabilida<strong>de</strong>s que pezam<br />

sobre o sr. Dias Ferreira, que <strong>de</strong> tão<br />

lamentável inépcia se revelou nos seus<br />

acto.» administrativos.<br />

Sendo <strong>de</strong> justiça toda a nossa propaganda,<br />

cumpre-nos registar a rectificação,<br />

Incêndio<br />

Na quarta feira 6 manifestou-se um<br />

incêndio voraz no estabelecimento do sr.<br />

Domingos Simões, em Ancião, propagando-se<br />

com uma rapi<strong>de</strong>z vertiginosa e<br />

tornando em pouco tempo a cinzas e a<br />

um montão <strong>de</strong> escombros o prédio, e estabelecimento.<br />

Os prejuízos são totaes, soffrendo<br />

maior perda a companhia <strong>de</strong> seguros<br />

Probida<strong>de</strong>.<br />

THEATROS<br />

No Theatro Circo Príncipe Real estreiou-se<br />

no sahbado a companhia equestre<br />

do Real Colyseu <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Felizmente para nós, que po<strong>de</strong>mos<br />

registar hoje uma impressão differente<br />

da que nos <strong>de</strong>ixou a primeira noite, es<br />

pectaculo em que, á parte o trabalho<br />

distincto da ecuyère, a gentil baroneza<br />

<strong>de</strong> Rah<strong>de</strong>n, a troupe Noiset, nos velocípe<strong>de</strong>?,<br />

e o Rambú. nada houve que não<br />

fosse banal e batido.<br />

Esta primeira impressão nem por<br />

isso a modificou a noite <strong>de</strong> domingo; na<br />

segunda feira, porém, houve trabalhos<br />

mais correctos, alguns <strong>de</strong> bom eífeito.<br />

De ma<strong>de</strong>nooiselle Polissena na barra fixa,<br />

<strong>de</strong>ve especialisar-se o sarilho <strong>de</strong> curvas<br />

e o sarilho gigante; a família Picchiani<br />

trabalhou também com mais segurança<br />

e_certeza nos seus exercícios acrobáticos;<br />

os velocipedistas, surprehen<strong>de</strong>ntes.<br />

em trabalhos diflicillimos, assombrosa e<br />

perfeitamente executados; o trabalho<br />

equestre das Rainhas das l


J W x o r—w.® » » O DEFENSOR DO POVO 1 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> I 8 » 3<br />

José Falcão<br />

Boa resolução<br />

A camara municipal <strong>de</strong>cidiu dirigir-se<br />

ao sr. governador civil pedindo-lhe a<br />

sua valiosa protecção junto do governo,<br />

a fim <strong>de</strong> que em breve sejam mandados<br />

para o posto hypico, annexo á Escola<br />

Moraes Soares, os cavallos reproductores.<br />

Estamos convencidos <strong>de</strong> que se o sr.<br />

ministro das obras publicas tiver conhecimento<br />

das boas ctndiçSes hygienicas<br />

d'esie estabelecimento e da sua importância,<br />

reconduzirá para aqui o serviço<br />

<strong>de</strong> padreaçào, retirado <strong>de</strong> S. Martinho<br />

do Bispo para se atlen<strong>de</strong>r somente a influencias<br />

e interesses <strong>de</strong> políticos egoístas.<br />

Theatro 1). Luiz<br />

É nos dias 22, 23. 24 e 25 que a<br />

companhia dramatica, dirigida pelo actor<br />

Taveira dará a terceira serie d'espectaculos<br />

que foi annunciada.<br />

Bepresentam-se as seguintes apparatosas<br />

peças :<br />

As noivas do Enéas<br />

O Solar dos Barricas<br />

O Homem da Bomba<br />

O Meia Azul<br />

E não se <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>morar a tomar os<br />

seus logares os que quizerem passar<br />

quatro noites <strong>de</strong> boa risota.<br />

Os bilhetes á venda nos logares do<br />

costume.<br />

OfTerta <strong>de</strong> livros<br />

Afim <strong>de</strong> serem distribuídos pelos<br />

alumnos das escolas primarias do districto<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o sr. bispo con<strong>de</strong> enviou ao<br />

inspector d'esta circumscripção 3:600<br />

exemplares do livro — Fé e Palria.<br />

Merece louvores s. ex. a<br />

4.° anniversario<br />

No domingo os socios activos da Associação<br />

dos bombeiros voluntários festejaram<br />

o 4.° anniversario da fundação<br />

d'esta sympathica instituição. A esquadra<br />

do bairro baixo estava vistosamente adornada<br />

e a rua das Solas foi enfeitada <strong>de</strong><br />

galhar<strong>de</strong>tes e ban<strong>de</strong>iras.<br />

Senliora dou milagres<br />

Na segunda feira celebrou-se com a<br />

pompa dos mais annos a festa que em<br />

Sernache dos Alhos se costuma fazer.<br />

Como nos annos anteriores houve<br />

muita concorrência <strong>de</strong> forasteiros que<br />

alli foram gozar um bello dia.<br />

O sr. Francisco Cardoso dos Santos<br />

com a amabilida<strong>de</strong> que o distingue reuniu<br />

na sua casa algumas famílias d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

proporcionando-lhe um improvisado<br />

salsifre on<strong>de</strong> alegremente se dançou até<br />

á uma hora da noite.<br />

^ÊmÊm—ÊimmÊ—mmmimm—mm—m<br />

28 Folhetim do Defensor do POYO<br />

J. MÉRY<br />

A JCDIA É VATICANO<br />

VII<br />

Vespera <strong>de</strong> noivado<br />

Quando Paulo Gréant voltou a si, as<br />

estrellas brilhavam ainda; levantou-se<br />

para respirar o ar vivificante do mar e<br />

da montanha, e não pou<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> olhar<br />

para o navio—o que elle viu então infundia<br />

uma tristeza medonha; tudo estava<br />

acabado...<br />

A sombra negra da fragata <strong>de</strong>stacava-se<br />

sobre o mar, com os seus ires mastros<br />

cobertos <strong>de</strong> velas. Por uma das portinholas<br />

da popa apercebia-se uma luz, a<br />

que, provavelmente, illuminava a camara<br />

<strong>de</strong> Van Ritter I...<br />

Paulo Gréant <strong>de</strong>u a esta luz um sorriso<br />

triste, e, agitando a mão sobre o<br />

abysmo, disse: — E foi para vér isto<br />

que eu luctei contra a morte com tal<br />

energia I... Que suave seria agora o<br />

meu <strong>de</strong>scanço no fundo d'esle abysmo!...<br />

Meu Deus! perdoa-me o que eu digo!<br />

Assentou-se ao lado da janella, e com<br />

esle encarniçamento infernal que nos iinpelle<br />

sempre a olhar para as coisas <strong>de</strong>-<br />

Viatieo aos enfermos<br />

No_ domingo sairá processionalnunte<br />

0 Correio <strong>de</strong> Loanda, n.9 159, <strong>de</strong><br />

das egrejas parochiaes da Sé Nova e S.<br />

S6 <strong>de</strong> fevereiro, <strong>de</strong>dica o seu artigo edi-<br />

Christovão o Sagrado Yiatico aos enfertorial<br />

a este illustre extincto, dirigindomos.<br />

Ihe palavras <strong>de</strong> merecido louvor.<br />

Trinda<strong>de</strong> Coelho<br />

Está nesta cida<strong>de</strong> este distinctissimo<br />

colaborador das Novida<strong>de</strong>s e notável escriptor.<br />

Demorá-se alguns dias em <strong>Coimbra</strong>.<br />

Valleeimento<br />

Está <strong>de</strong> lucto pela morte <strong>de</strong> sua mãe<br />

o sr. Antonio Jacob Júnior, honrado industrial<br />

d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

Os nossos pezames a sua familia.<br />

Movimento eommereial<br />

Agio—Premio das libras: 800 rs<br />

ouro nacional, 16;<br />

Prata já não tem agio.<br />

#<br />

Getieros — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />

tremez 560 — Milho branco 335 —Dito<br />

amarello 335 — Feijão vermelho 520 —<br />

Dito branco 420 —Dito rajado 340 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 420 —Centeio 440 —Cevada<br />

300 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />

meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />

Azeite a 1/610.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />

na semana ultima, os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Rachel <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Jacintho das<br />

Neves e Margarida Rosa, <strong>de</strong> Coselhas,<br />

<strong>de</strong> 61 annos. Falleccu <strong>de</strong> tuberculose<br />

pulmonar, no dia 1.<br />

Anna Maxima do Carmo Donato, filha<br />

<strong>de</strong> José Rodrigues Tocha e Theresa<br />

Ignacia da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />

87 annos. Falleceu <strong>de</strong> brancho pneumonia<br />

no dia 6.<br />

Antonio Vieira <strong>de</strong> Figueiredo da<br />

Fonseca, filho <strong>de</strong> Julio Augusto da Fonseca<br />

e D. Maria Filomena Vieira <strong>de</strong> Figueiredo,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 9 mezes. Falleceu<br />

<strong>de</strong> tuberculose, no dia 8.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemiterio —16:839.<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordfnaria<br />

23 <strong>de</strong> março<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />

d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />

presentes: João da Fonseca Rarata,<br />

Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros, João Antonio<br />

da Cunha, Manoel Miranda, Antonio José<br />

Dantas Guimarães, e Joaquim Justiniano<br />

Ferreira Lobo, effectivos; José Corrêa dos<br />

Santos, substituto.<br />

Arrematou em praça os impostos in-<br />

soladoras, conservou os olhos fixos na<br />

luz da camara <strong>de</strong> Van-Ritter.<br />

A aurora veiu encontral-o na mesma<br />

attitu<strong>de</strong>. Tinha esgotado já todo o thesouro<br />

<strong>de</strong> dores que ao homem foi dado<br />

para o amor.<br />

Uma commoçã» inesperada lhe faltava<br />

ainda, e essa tornou-o mudo e immovel...<br />

A brisa da manhã inflamma as<br />

velas da fragata, e Paulo Gréant viu-a<br />

voltar sobre a quilha, saliir do ancoradouro<br />

e alcançar o mar alto com a graça<br />

e agilida<strong>de</strong> d'uma ave.<br />

Memma, então, estava perdida para<br />

sempre I<br />

VIII<br />

Um casamento suspenso<br />

Van-Rilter não tinha dito tudo.<br />

Um d'estes <strong>de</strong>spachos, que estão suspensos<br />

sobre a cabeça dos marinheiros<br />

como espadas <strong>de</strong> Dâmocles, levava esta<br />

or<strong>de</strong>m :<br />

«Apparelhará no dia 11, antes do<br />

nascer do sol; á altura da Sicilia abrirá<br />

o invólucro n.° 17, que lhe dará novas<br />

instrucções.»<br />

Ora o dia 11 era o dia seguinte ao<br />

do casamento.<br />

Para não perturbar a festa e o baile,<br />

Van-Ritter só vagamente tinha fallado da<br />

sua próxima partida, sem dizer o dia.<br />

Alem d'isso Santa Scala, que pertencia<br />

directos sobre os generos a consumir<br />

até ao fim do anno, nas Torres, Carva-<br />

Ihosas, Casal da Mizarella, Foz das<br />

Cannas e Zorro, Palheiros; no Tovim e<br />

Chão dr> Rispo; na Pedrulha; nas freguezias<br />

<strong>de</strong> Souzellas, Ribeira, Arzilla e<br />

Assafarge e no Casal do Lobo.<br />

Mandou annunciar nova praça para<br />

o fornecimento <strong>de</strong> pedra para cobertura<br />

<strong>de</strong> canos <strong>de</strong> esgoto, por não terem comparecido<br />

nesta data licitantes.<br />

Resolveu pedir ao chefe do districto,<br />

para se empenhar com o governo, para<br />

que sejam mandados em breve os cavai<br />

los reproductores para os serviços <strong>de</strong><br />

no posto hypico, junto da escola pratica<br />

central d'agricultura.<br />

Auctorisou o presi<strong>de</strong>nte a contractar,<br />

como mais convier, o fornecimento <strong>de</strong><br />

papel para os serviços da secretaria e<br />

repartições annexas, por não ter sido<br />

apresentada hoje proposta alguma para<br />

este fim, segundo os annuncios <strong>de</strong> novo<br />

publicados.<br />

Resolveu prescendir dos serviços do<br />

facultativo do asylo dos cegos.<br />

Resolveu abrir concurso para o provimento<br />

do logar d^nspector dos incêndios,<br />

nos termos dos <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> 13 e<br />

24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />

Approvou o orçamento <strong>de</strong> réis 82)5830<br />

para a casa <strong>de</strong> officina, junto da casa<br />

das machinas á Alegria, constando esta<br />

obra <strong>de</strong> vários compartimentos na casa<br />

existente e na das machinas e telheiro<br />

contíguo.<br />

Multou em 3 dias <strong>de</strong> vencimento, segundo<br />

o regulamento, o bombeiro n.°<br />

11 da 2.* esquadra, por faltas aos incêndios<br />

e ao serviço <strong>de</strong> revistas <strong>de</strong> material.<br />

Mandou intimar um proprietário <strong>de</strong><br />

Brasfemes para dar seis lanchas <strong>de</strong> oliveira,<br />

como se obrigou em condições <strong>de</strong><br />

substituírem outras tantas arvores, que<br />

se cortaram na estrada, a seu pedido;<br />

outro, d'esta cida<strong>de</strong>, para recolher, segundo<br />

a lei, as aguas <strong>de</strong> uma ca


AIIO I-K. 0 99 O DEFENSOR DO POVO 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

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Defensor<br />

OT P ^ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 78<br />

rin Pnun<br />

• Cada vez peor<br />

E' impossível que, <strong>de</strong>ntro da'<br />

monarchia, lenhamos salvação possível.<br />

Não sei que athmosphera empestada<br />

é aquella em que vivem os<br />

nossos homens <strong>de</strong> estado, que, se<br />

porventura promulgam uma medida<br />

aceitavel pela opinião, logo em<br />

seguida vem oulra que <strong>de</strong>stroe por<br />

completo qualquer benevolencia que<br />

a primeira inspire. E' o que se dá<br />

agora mesmo, neste tempo em que<br />

parecia que o governo se inspirava<br />

mais em governar seriamente e segundo<br />

as conveniências publicas<br />

do que inspirado pelos interesses<br />

<strong>de</strong> qualquer.<br />

Pelo ministério da fazenda tem<br />

ido a celeuma conhecida, em medidas<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance para o thesouro<br />

e alé para a moralida<strong>de</strong>; mas<br />

propala-se ultimamente a noticia<br />

d'um aclo praticado pelo sr. Fuschini<br />

que atlinge as proporções do<br />

escandalo e o apeia do pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong><br />

intransigência e <strong>de</strong> hombrida<strong>de</strong> em<br />

que se collocou.<br />

Se a noticia se comprovar, havemos<br />

<strong>de</strong> a ella nos referir largamente,<br />

criticando, corno elle merece,<br />

o procedimento do sr. Fuschini.<br />

E parallelamente aos actos mais<br />

ou menos moralisadores e <strong>de</strong> boa<br />

administração do actual governo,<br />

surge lambem pelo ministério da<br />

marinha uma concessão escandalosa,<br />

que colloca o sr. Neves Ferreira<br />

numa bem triste situação — é a<br />

concessão do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong><br />

Quelimane ao Chire.<br />

No Diário do Governo, do dia<br />

12, foi publicado um <strong>de</strong>creto que<br />

auclorisou o governo a conce<strong>de</strong>r a<br />

um syndicalo a construcção d'aquelle<br />

caminho <strong>de</strong> ferro em taes condições,<br />

ro<strong>de</strong>ando-se os concessionários<br />

<strong>de</strong> taes direitos, que os interesses<br />

públicos são extraordinariamente<br />

prejudicados em favor do<br />

syndicalo; assim,, conee<strong>de</strong>-lhe:<br />

i<br />

1.° Todos os terrenos do estado que<br />

<strong>de</strong>v-erem ser occupados pela linha ;<br />

2.° Meta<strong>de</strong> dos terrenos numa zona<br />

<strong>de</strong> 2:000 metros para cada lado do eixo<br />

do caminho;<br />

3.° A escolha, <strong>de</strong> accordo com o<br />

governo, <strong>de</strong> terrenos incultos e pertencentes<br />

ao estado no districto <strong>de</strong> Quelimane<br />

e ao norte do Zamheze, a fim <strong>de</strong> nelles<br />

exercer ou promover a exploração agrícola,<br />

mineira ou <strong>de</strong> qualquer outra riqueza<br />

ali existente, não po<strong>de</strong>ndo a area ser superior<br />

a 100 mil hectares;<br />

4.° Uma area <strong>de</strong> terreno pertencente<br />

ao estado, <strong>de</strong> 1 kilomelro quadrado, junto<br />

ás estações do Chire, Mopeia e Zambeze,<br />

para a construcção <strong>de</strong> caes e estações:<br />

8.° Uma porção <strong>de</strong> terreno pertencente<br />

ao estado em Quelimane, escolhida<br />

por mutuo accordo entre o .governo e a<br />

empreza, para a construcção <strong>de</strong> <strong>de</strong>positos,<br />

armazéns e outras installações, não exce<strong>de</strong>ndo,<br />

porém, a 1 kilomelro quadrado ;<br />

e bem assim uma porção da margem do<br />

rio dos Bons Signaes para a construcção<br />

<strong>de</strong> docas., armazéns, caes acostaveis e<br />

ii*slallações necessarias para a carga e<br />

<strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> navios;<br />

6.° O direito, durante o praso da<br />

construcção, <strong>de</strong> exlrair das florestas e<br />

terrenos do estado todas as ma<strong>de</strong>iras e<br />

maleriaes que forem necessários para a<br />

construcção da linha ;<br />

7. u O direito <strong>de</strong> preferencia, em<br />

egualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circumstancias, para a<br />

construcção <strong>de</strong> ramaes e prolongamentos.<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO V A V ^ A V V - /<br />

E tudo isto, e muito mais, por<br />

noventa e quatro contos <strong>de</strong> réis, com<br />

que os concessionários hão <strong>de</strong> reembolsar<br />

o thesouro das <strong>de</strong>spezas feitas<br />

com o estudo do caminho <strong>de</strong><br />

ferro.<br />

E ludo isto — caminho <strong>de</strong> ferro,<br />

docas, pontes, caes, baldios,<br />

mattas, minas, isenção perpetua <strong>de</strong><br />

impostos, um prazo á escolha, etc.,<br />

foi dado <strong>de</strong> mão beijada a uma empreza<br />

particular, sem o governo auferir<br />

um ceitil...<br />

O sr. ministro da marinha não<br />

trepidou em patrocinar esta negociata<br />

escandalosa, contra os interesses<br />

públicos, só em benemerencia<br />

d'uns certos, que d'aqui a pouco<br />

po<strong>de</strong>m ce<strong>de</strong>r a uma companhia<br />

qualquer ingleza os importantes<br />

direitos que souberam apanhar a<br />

um governo pouco escrupuloso; o<br />

sr. ministro da marinha saltou sobre<br />

o protesto energico d'um homem<br />

competentíssimo; oppôz-se á<br />

abertura d'um concurso; dispensouse<br />

<strong>de</strong> levar o caso ao parlamento...<br />

E proce<strong>de</strong>u assim o sr. ministro da<br />

marinha, num gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo pela<br />

opinião e incúria vergonhosa pelos<br />

interesses do seu paiz.<br />

E po<strong>de</strong>, porventura, <strong>de</strong>positarse<br />

qualquer vislumbre <strong>de</strong> esperança<br />

nestes homens?<br />

E' inegável que, <strong>de</strong>ntro da monarchia,<br />

não temos salvação possível.<br />

E continuar-se-ha<br />

Segundo as contas do thesouro, a<br />

divida fluçtuante, relativa a 31 <strong>de</strong> março<br />

ultimo, consta no estrangeiro <strong>de</strong> mil trezentos<br />

e quarenta e tres contos e setecentos<br />

e trinta e oito mil e quinhentos e quarenta<br />

réis, e no paiz, <strong>de</strong>zeseis mil e trezentos e<br />

setenta e oito contos, setecentos e setenta<br />

e seis mil e duzentos e noventa réis.<br />

A esta ultima conta resta addicionar<br />

vinte e dois mil duzentos e cincoenta e<br />

quatro contos, trezentos e <strong>de</strong>zenove mil e<br />

quinhentos e vinte e tres réis.<br />

Tudo isto attinge a bonita cifra <strong>de</strong><br />

39.996:8 I4,$S53 réi«.<br />

E ainda ha por esse mundo além<br />

ingénuos que faliam na salvação da palria,<br />

como se isso fosse mais do que uma<br />

phanlasia dolorosa!<br />

Dividas ao estado<br />

Á medida que os respectivos juizes<br />

vão or<strong>de</strong>nando novas execuçõos por dividas<br />

ao Estado, relata o Século, vão-se<br />

apurando também novos e sempre graves<br />

erros. Agora viu-se que, sendo o sr.<br />

dr. Bernardo d'Albuquerque, lente da<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, intimado a pagar<br />

uma contribuição em divida, referida a<br />

1870 e relativa a emolumentos, tal contribuição<br />

fôra satisfeita em tempo <strong>de</strong>vido.<br />

Agora, com os juros, custas, etc., exigia-se<br />

ao sr. dr. Bernardo d'Albuquerque<br />

cerca <strong>de</strong> 300$000 réis.<br />

iii<br />

Os Panamás<br />

A Capitale, orgão do ministro da fazenda<br />

<strong>de</strong> Italia, revelou um escandalo similhante<br />

ao do Panamá, praticado no<br />

Banco da Sicilia, e publica os nomes <strong>de</strong><br />

alguns indivíduos compromeltidos no<br />

caso.<br />

Entre os mais importantes ha o senador<br />

Gazalotto, que é <strong>de</strong>vedor <strong>de</strong> dois<br />

milhões ha muitos annos; o do commendador<br />

Bonajuto, antigo <strong>de</strong>putado, que <strong>de</strong>ve<br />

400:000 liras e o marquez Sanginliano,<br />

sub-secretario d'estado no ministério do<br />

commercio, que <strong>de</strong>ve 93:000 liras.<br />

D'on<strong>de</strong> se cooclue que não é privilegio<br />

da França os altos escaudalos como<br />

o do Panamá.<br />

PELOS JORNAES<br />

Já não ha que duvidar. Isto não é<br />

uma questão <strong>de</strong> homens, é uma questão<br />

<strong>de</strong> meio.<br />

Cheio d'esperanças entrou para a<br />

pasta da fazenda, o sr. Fuschini, começando<br />

por uma fórma tão energica e<br />

<strong>de</strong>sassombrada que muito parecia ler-se<br />

a esperar d'elle.<br />

Mas não sei que mau vento é este<br />

que sopra aos nossos homens assim que<br />

ascen<strong>de</strong>m ás ca<strong>de</strong>iras governamentaes.<br />

A questão do emprestimo dos tabacos<br />

parece ter prendido pouco a attenção<br />

<strong>de</strong> s. ex. a mais disposto a beneficiar<br />

os afilhados <strong>de</strong> que a nação, como diz o<br />

Temjpo, num artigo commentando o <strong>de</strong>spacho<br />

<strong>de</strong> chefe <strong>de</strong> repartição <strong>de</strong> Montepio<br />

official:<br />

«Vô-se que está no galerim a Liga<br />

liberal, e que o generoso coração do<br />

austero sr. Fuschini não é <strong>de</strong> ponta tão<br />

dura qtie se não <strong>de</strong>sdodre em affectuosas<br />

ternuras por quem o ajudou a ser<br />

homem.»<br />

O mal vem <strong>de</strong> lá mais fundo e ahi<br />

é que é atacal-o e <strong>de</strong>ixemo-nos <strong>de</strong> mais<br />

trocas e baldrocas ministeriaes.<br />

Corte-se o mal pela raiz e veremos<br />

como isto muda.<br />

Ainda sobre o assumpto diz mais o<br />

referido jornal:<br />

«Houve noutro tampo, in illo tempore,<br />

uma lei chamada <strong>de</strong> salvação<br />

publica que prohibia a creação <strong>de</strong> novos<br />

empregos, e <strong>de</strong>terminava que não<br />

se nomeasse nenhum empregado novo<br />

em quanto houvesse addidos nos quadros.<br />

Hão <strong>de</strong> estar lembrados.»<br />

Admira-se então o Tempo que se atropelle<br />

a lei ?<br />

Pois olhe, que não faz muita honra<br />

ao mestre José Dias.<br />

*<br />

Isto é um nunca acabar.<br />

A cada canto seu espirilo santo.<br />

Por um lado empréstimo <strong>de</strong> tabacos,<br />

salamancada, etc., etc., e á ultima hora<br />

escreve o Popular ácerca da concessão<br />

do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> Quelimane ao<br />

Chire:<br />

«Se o governo enten<strong>de</strong>r praticar o<br />

erro <strong>de</strong> fazer a concessão nos termos<br />

em que é pedida, e <strong>de</strong>pois ella ha <strong>de</strong><br />

ser vendida ao sr. Cameron e consorte»,<br />

porque não a ven<strong>de</strong> o Estado ao<br />

mesmo sr. Cameron e consortes, e ha<br />

<strong>de</strong> passar pelo goso <strong>de</strong> primeiro a dar<br />

<strong>de</strong> graça para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser vendida?<br />

Ora antes, se ha <strong>de</strong> o Estado cabir no<br />

erro d'aquella concessão, por que não<br />

abre concurso para adjudicat-a uas<br />

condições que por melhores tiver?»<br />

«Certo é que o sr. Cameron continua<br />

em Lisboa, e certo é que chegou<br />

agora um agente <strong>de</strong> Cecil Hho<strong>de</strong>s.<br />

«Mas para nós também é certo que<br />

o sr. Neves Ferreira não fará semelhante<br />

concessão, ou que, se a fizer,<br />

a levará previamente ás cortes.»<br />

Pois agora vejam o final.<br />

Diz o nosso collega a Batalha:<br />

«Enganou-se. A concessão está feita<br />

e o <strong>de</strong>creto respectivo já foi hoje publicado<br />

na folha offijial.»<br />

Querem melhor <strong>de</strong> que isto?<br />

*<br />

Traz o nosso collega a Vanguarda<br />

um artigo intitulado — O Exercito —<br />

Economias, pondo em relevo, o que mais<br />

d'uma vez temos aqui dito ácerca do dispêndio<br />

excessivo que estamos fazendo<br />

com tal classe.<br />

E' necessário o exercito activo?<br />

A nosso ver é muito questionável;<br />

mas, dando <strong>de</strong> barato até ponto, concordamos<br />

plenamente com o nosso collega,<br />

quando nos diz:<br />

«Ora, o nosso exercito pô<strong>de</strong> manter<br />

todas as suas condições <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong><br />

publica, sem o esbanjamento luxuoso<br />

da inutilida<strong>de</strong>, mais nociva que<br />

proveitosa.<br />

«A organisação militar <strong>de</strong> 1884 não<br />

resiste á mais rapida critica.<br />

«Setenta e dois batalhões agrupados<br />

em regimentos <strong>de</strong> dois batalhões<br />

activos, só podiam ser acceites, em<br />

Portugal, por quem quizesse arregimentar<br />

trinta e seis coronéis, trinta é<br />

seis tenentes coronéis e setenta e dois<br />

majores.»<br />

E assim é. O único fim foi comprar<br />

já a custo do povo, já com o <strong>de</strong>scredito<br />

d'uma classe, até então tão respeitada e<br />

querida.<br />

João Chagas<br />

Os republicanos do Funchal vão pedir<br />

a João Chagas que caso o vapor que<br />

o conduz a Lisboa tenha paragem naquelle<br />

porto, elle se <strong>de</strong>more alguns dias na ilha<br />

da Ma<strong>de</strong>ira afim <strong>de</strong> lhe tributarem a sua<br />

estima.<br />

Suffragio universal<br />

A regeição pelo parlamento belga da<br />

proposta <strong>de</strong> lei em que se propunha o<br />

estabelecimento do suffragio universal,<br />

instantemente reclamado pelo operariado<br />

da Bélgica, <strong>de</strong>u occasião a tumultos sérios,<br />

para apasiguar os quaes teve <strong>de</strong><br />

intervir a.força armada.<br />

Em virtu<strong>de</strong> d'este procedimento das<br />

cortes constituintes, não acce<strong>de</strong>ndo a satisfazerem<br />

esta reclamação popular, os<br />

operários <strong>de</strong>claram-se em gréve a que<br />

adheriram já mais <strong>de</strong> 2:000 operários<br />

mineiros. E' assim, nesta posição <strong>de</strong> resistência,<br />

em <strong>de</strong>feza dos seus interesses,<br />

das suas garantias sociaes, que a <strong>de</strong>mocracia<br />

belga respon<strong>de</strong> ao espirilo <strong>de</strong> reacção<br />

manifestado no parlamento.<br />

O que é <strong>de</strong> recear é que d'esta situação<br />

tensa, surjam consequências lamentáveis.<br />

Persista o operariado nas suas reclamações,<br />

imponha-se, que a força é sua;<br />

é d'esle modo que conseguira que se<br />

consigne na constituição do seu paiz o<br />

principio do suffragio universal, como a<br />

sua mais segura garantia.<br />

A Cava <strong>de</strong> Viriato<br />

As diabruras dos typographos e a<br />

myopia da revisão, obrigam-nos a erratas<br />

constantes, fóra as gralhas que a<br />

perspicacia dos leitores (vá lá a phrase<br />

consagrada) tem <strong>de</strong> emendar por si.<br />

No ultimo numero, em que Gri-gri<br />

teve <strong>de</strong> appellàr para a benevolencia da<br />

composição, sahiram gralhas que nos<br />

obrigam já hoje a novas emendas.<br />

Ácerca do Santo Antonio em Vizeu,<br />

referimo-nos á cava <strong>de</strong> Viriato, mas lá<br />

sahiu — casa <strong>de</strong> Viriato, que dizíamos<br />

ser hoje um monturo, que os typographos<br />

substituíram por — d'um monturo.<br />

Mas ha males que vêem por bem,<br />

porque este <strong>de</strong>u-nos ensejo para chamarmos<br />

<strong>de</strong> novo a attenção da camara municipal<br />

<strong>de</strong> Vizeu para a tão celebre cava,<br />

reduzida boje a um verda<strong>de</strong>iro monturo.<br />

E é pena, realmente, que se faça vasadouro<br />

publico d'um logar a que andam<br />

ligadas heróicas tradições históricas, e<br />

que, pela sua posição aprazível, d'on<strong>de</strong><br />

se dislructa uiu pauorama bello, e tão<br />

proximo da estação do caminho <strong>de</strong> ferro,<br />

merece realmente mais attenção e cuidado<br />

da municipalida<strong>de</strong> viziense.<br />

Bom será, pois, que esta nossa lembrança<br />

cale no espirito dos senadores <strong>de</strong><br />

Vizeu, realisando esta idêa <strong>de</strong> aformoseainento<br />

da Cava <strong>de</strong> Viriato, mas, claro<br />

é, sera a <strong>de</strong>struírem. Honrarão assim<br />

a memoria d'um heroe da nossa historia,<br />

nos tempos mais remotos, mas que ainda<br />

hoje vive na tradição, immorredouro,<br />

ao mesmo tempo que conseguirão para a<br />

cida<strong>de</strong> um formoso passeio.<br />

A idêa ahi fica.<br />

Gran<strong>de</strong> viagem<br />

Mr. Guillot, tenente <strong>de</strong> infanteria do<br />

exercito francez, partiu na semana ultima<br />

<strong>de</strong> Constantinopla para Paris, em bycicleta,<br />

atravessando a Bulgaria, Servia,<br />

Hungria, Áustria e Suissa.<br />

As auctorida<strong>de</strong>s turcas dispensaram-<br />

Ihe a maior protecção até á fronteira.<br />

In illo tempore<br />

O distincto prosador das Novida<strong>de</strong>s,<br />

o sr. dr. Trinda<strong>de</strong> Coelho, que naquelle<br />

jornal tem burilado bellos trechos <strong>de</strong> prosa<br />

em perfis bem <strong>de</strong>senhados e em historias<br />

do seu tempo <strong>de</strong> estudante, bem<br />

apanhadas, tenciona colligir em livro<br />

aquelles fragmentos dispersos, completando-os<br />

com muitos outros.<br />

O livro será illustrado por Bordallo<br />

Pinheiro com as caricaturas dos indivíduos<br />

a quem o illustre escriptor se tem<br />

referido.<br />

Os excentricos<br />

Sir William Draggs é um excentrico<br />

pur sang.<br />

lia annos entrou numa carruagem <strong>de</strong><br />

praça e foi ao porto <strong>de</strong> Brighton, on<strong>de</strong><br />

estava ancorado o seu yacht.<br />

— Espere ahi—disse elle fleugmalicamente<br />

ao cocheiro. E embarcou no<br />

yacht.<br />

Sir Draggs tencionava fazer um pequeno<br />

passeio mas tão bem se achou<br />

que resolveu no mesmo instante dar a<br />

volta ao mundo.<br />

O que fazia no entretanto o cocheiro<br />

no caes <strong>de</strong> Brighton? Esperava. Pediu<br />

auctorisação para construir uma especie<br />

<strong>de</strong> alpendre que o abrigasse a si e ao cavalio,<br />

e alli permaneceu todos os dias.<br />

Decorreu um anno. O cocheiro vivia<br />

alli, fumando o seu cachimbo á porta,<br />

sempre <strong>de</strong> chicote em punho O cavailo<br />

sempre atrellado, engordava extraordinariamente.<br />

Uma manhã o cocheiro avistou o<br />

yacht <strong>de</strong> sir William Draggs que <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ter dado a volta ao mundo regressava<br />

a Inglaterra. A primeira pessoa que<br />

elle avistou ao <strong>de</strong>sembarcar foi o cocheiro.<br />

Não se surprehen<strong>de</strong>u.<br />

— AU right!— disse elle, quanto lhe<br />

<strong>de</strong>vo ?<br />

O cocheiro apresentou a conta que<br />

subia a perto <strong>de</strong> tres conlos <strong>de</strong> réis. Sem<br />

pestanejar sir Draggs tirou e abriu um livro<br />

<strong>de</strong> cheques e escrevendo nelle » somma<br />

reclamada, entregou-o ao cocheiro.<br />

— Agora, disse elle, leve-me a minha<br />

casa.<br />

Subiu para a carruagem e quando<br />

chegou a casa ia a subir, mas o cocheiro,<br />

chaiu indo o, disse :<br />

— E a corrida?<br />

— E' justo, disse sir Draggs. E <strong>de</strong>ulhe<br />

ainda dois schellings.<br />

O Z R T S r S T A . E S<br />

Yoi populi, YOX Dei<br />

(A ARNALDO D'OLIVEIRA )<br />

Na al<strong>de</strong>ia, toda a gente murmurava<br />

Em <strong>de</strong>sfavor da pobre rapariga;<br />

A mais leal e affeiçoada amiga,<br />

Essa mesma, por fóra, a diffamava.<br />

Uma noite que no adro se cantava<br />

Ao ru<strong>de</strong> som d'uma viola antiga,<br />

Alguém lhe dirigiu certa cantiga,<br />

Que a <strong>de</strong>sgraçada quasi <strong>de</strong>smaiava...<br />

Morreu pouco <strong>de</strong>pois. Á luz d'um cirio<br />

—Kosea camélia transformada em lyrio,<br />

Eu a vi na postura <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira;<br />

Debrucei-me, tremente, sobre a eça<br />

E notei que na languida cabeça<br />

Levava murcha a flôr <strong>de</strong> larangeira...<br />

*<br />

Ho cemiterio<br />

(Ao SR. ANTHERO DO QUENTAL)<br />

Altas horas, o mármore nevado<br />

Das velhas sepulturas esquecidas,<br />

Toma formas phantasticas, doridas,<br />

Em que o luar se alastra, macerado.<br />

O vento, como um doido abandonado,<br />

Soluça nas ramagens estendidas<br />

E as rosas brancas tombam, doloridas,<br />

Sobre o triste caminho <strong>de</strong>solado.<br />

Ao fundo um bronzeo Christo silencioso<br />

Pen<strong>de</strong> da cruz immovel, mysterioso<br />

Os gran<strong>de</strong>s olhos húmidos, celestes...<br />

E a lua, a eterna virgem macilenta,<br />

Põe um lençol <strong>de</strong> luz amarellonta<br />

No ver<strong>de</strong> escuro dos flnaes cyprestes.<br />

EDUARDO COIMBRA.


A M O I — W.* 9 8 O DEFENSOR DO POVO 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

L E T T R A S<br />

Noite <strong>de</strong> núpcias<br />

(CONCLUSÃO)<br />

III ,<br />

Chegou o gran<strong>de</strong> dia, isto é o dia<br />

do casamento <strong>de</strong> Annelte Curoz e <strong>de</strong><br />

Anselmo Piedamour.<br />

Este bem <strong>de</strong>sejaria não entrar- na<br />

egreja, a fim <strong>de</strong> conquistar alguns votos<br />

a mais, mas por cousa alguma do mundo,<br />

Annette consentiria em privar-se d'uma<br />

ceremonia que convinha á sua magestosa<br />

belleza. Porque não é precisamente solemne<br />

a entrevista na mairie em presença<br />

d'um magistrado repleto das côres nacionaes.<br />

Como todas as verda<strong>de</strong>iras mulheres,<br />

Annette amava o odor do incenso,<br />

o esplendor das casulas, a langui<strong>de</strong>z do<br />

orgão, a poesia dos psalmos, emfim todo<br />

este maravilhoso conjuncto <strong>de</strong>corativo e<br />

pagão que ro<strong>de</strong>ia as festas christãs.<br />

Foi um casamento retumbante para<br />

a terra.<br />

Voltando pelo braço do seu novo<br />

marido que caminhava altivo como um<br />

futuro ministro, Annelte tinha um não<br />

sei que <strong>de</strong> triumphante que a tornava<br />

mais appetitosa ainda, uma chamma no<br />

olhar on<strong>de</strong> se liam mil impaciências lisongeiras<br />

para aquelle que a conduzia.<br />

Os seus bellos caiiellos, atravessados <strong>de</strong><br />

tons ruivos em profun<strong>de</strong>zas d'ouro sombrio,<br />

tinham estremecimentos como os<br />

que uma caricia <strong>de</strong>senvolve nas costas<br />

impressionáveis dos felinos, um brilho<br />

magnético, singular como uma corrente<br />

<strong>de</strong> voluptuosida<strong>de</strong> que passa. Os seus<br />

belos lábios, eram como um ninho <strong>de</strong><br />

beijos prestes a voar...<br />

Todos se sentaram á meza, após um<br />

curto passeio, e o repasto foi tanto mais<br />

sumptuoso, que o sr. Piedamour julgava<br />

fazer um reclamo á sua popularida<strong>de</strong>.<br />

Uma hecatombe <strong>de</strong> gallinhas, patos<br />

e perus engolphou-se no estômago dos<br />

eleitores, emquanto o amphitrião punha<br />

em relevo a excellencia dos seus proprios<br />

méritos.<br />

Pela sua parte, Annelte ficou <strong>de</strong>smedidamente<br />

lisongeada por um tal luxo,<br />

e quiz vêr nelle uma prova <strong>de</strong> amor<br />

exaltado; comtudo, comeu pouco, pensando<br />

noutra cousa... e o tempo parecia-lhe<br />

longo. Quanto melhor não seria<br />

estarem ambos sós 1... E como este<br />

ambos sós <strong>de</strong>morava tanto I<br />

Emfim, <strong>de</strong>u meia noite, e ella, <strong>de</strong>clarando<br />

que estava um pouco fatigada<br />

fez levantar todos os convivas.<br />

Qual não foi, porém a sua admiração<br />

ao ouvir Piedamour dizer a alguns dos<br />

seus amigos:<br />

— Fiquem, meus senhores, fiquem,<br />

que ainda vamos beber algumas garrafas<br />

<strong>de</strong> Champagne...<br />

Ella então <strong>de</strong>spediu-se dos convidados<br />

e entrou só no quarto nupcial, imaginando<br />

que não esperaria muito por<br />

Piedamour, mas dizendo para si que elle<br />

bem po<strong>de</strong>ria dispensar-se <strong>de</strong> continuar a<br />

festa.<br />

IV<br />

Havia muito tempo já que Annelte<br />

aguardava seu marido, quando o ouviu<br />

subir. O tempo parecera-lhe muito longo,<br />

pela humilhação que lhe infligira e curto<br />

pelos <strong>de</strong>liciosos projectos com que ella o<br />

preenchera.<br />

Ralharia com o noivo, quando elle<br />

por fim entrasse?<br />

Um pouco... um pouco... que não<br />

durasse muito...<br />

E <strong>de</strong>pois, quem sabe?<br />

Era talvez a commoção da sua felicida<strong>de</strong><br />

que o faria <strong>de</strong>morar... porque<br />

tem-se visto esposos enamoradíssimos<br />

não ousarem, na primeira noite, approximar-se<br />

<strong>de</strong> sua mulher. ..<br />

E se islo succe<strong>de</strong>sse com Piedamour?<br />

Não seria horrível para Annette?<br />

Não, não I Ella animal-o ia, conduzil-o-ia<br />

á confiança em si proprio pela<br />

ternura...<br />

Piedamour entrou, e começou a passear<br />

pelo quarto, como um homem extremamente<br />

preoccupado.<br />

Durou isto uma meia hora.<br />

Por fim, Annette:<br />

— Então, meu amigo, não estás fatigado?<br />

Não será melhor <strong>de</strong>itares-te?<br />

E elle respon<strong>de</strong>u parecendo respon<strong>de</strong>r<br />

antes a si proprio do que ao seu<br />

pensamento:<br />

— E' isto... Com as seis ultimas<br />

garrafas, temos mais cem francos dè<br />

Champagne...<br />

— Não será isso que nos arruinará...<br />

— observou ella sorrindo.<br />

— Com os pasteis que comemos,<br />

caminha para os cento e vinte francos.. .<br />

— Depressa os recuperarás, meu<br />

amigo, dando muitas lições...<br />

— Oh! e as talhadas <strong>de</strong> presunto<br />

com que eu não contava? Temos pelo<br />

menos, pelo menos cento e sessenta<br />

francos.. .<br />

— Oh! meu amigo, não quebres a<br />

cabeça cora tantos cálculos... Vem<br />

<strong>de</strong>itar-te anda...<br />

E dizendo-lhe isto, admiravel <strong>de</strong> paciência<br />

e <strong>de</strong> brandura, Annelte estendia<br />

para elle os seus bellos braços, brancos<br />

roliços, e roçava pela estremida<strong>de</strong> do<br />

travesseiro, uns provocantes princípios<br />

<strong>de</strong> seio, que se entreviam sob a SUJ<br />

camisa aberta.<br />

Sempre pensativo e indiferente Piedamour<br />

continuou:<br />

— E o doce? Po<strong>de</strong>mos pôr cento e<br />

oitenta francos, e não erramos...<br />

Ella suspirava ruidosamente, já zangada.<br />

— E os charutos? Mais vinte francos,<br />

que prefazem a conta redonda <strong>de</strong><br />

duzentos francos...<br />

Annette não pou<strong>de</strong> conter-se mais e<br />

saltou do leito.<br />

— Vamos, sê compassivo, Anselmo!<br />

fez ella com voz supplicanle.<br />

E, como a uma creança, começou a<br />

<strong>de</strong>spil-o, apesar da sua resistencia, uma<br />

resistencia cómica e <strong>de</strong>sastrada como<br />

<strong>de</strong>via ser a <strong>de</strong> José, quando Puliphar o<br />

agarrava pela capa. Em seguida, impelliu-o<br />

para o leito nupcial, e fél-o entrar<br />

quasi violentamente. Emfim! Elle estava<br />

junto d'ella... e, uma vez alli... Mas,<br />

ó pobre Annette! pobre Annette! Piedamour<br />

retomou horisontalmente a meditação<br />

que começára verticalmente, com<br />

um resmungar menos distincto e on<strong>de</strong><br />

se entendia só: « — Duzentos e trinta...»<br />

— a—Duzentos e cincoenta...» — «<br />

— Trezentos...—Emfim, callou-se, e<br />

pareceu a Annette que o seu pensamento<br />

tomava um outro curso. E, após um instante<br />

<strong>de</strong> silencio, em voz baixa:<br />

— Então, meu amigo, nada me dizes?<br />

E elle, voltando se para a pare<strong>de</strong>,<br />

respon<strong>de</strong>u naturalmente:<br />

— Parece-me que ainda me esqueceu<br />

alguma coisa...<br />

E adormeceu profundamente.<br />

qA. Silvestre.<br />

I.° <strong>de</strong> maio<br />

Vae reunir brevemente em Lisboa a<br />

Associação dos Constructores Civis e Mestres<br />

d'<strong>Obra</strong>s, a fim <strong>de</strong> resolver sobre<br />

uma proposta para que seja consi<strong>de</strong>rado<br />

feriado o dia 1.° <strong>de</strong> maio com respeito<br />

ás obras pertencentes aos mestres filiados<br />

naquella associação. ,<br />

Contra a tuberculose<br />

Consta que o dr. Kork <strong>de</strong>scobriu um<br />

novo remedio contra a tysica.<br />

Esse remedio afíirina-se ser (1'uma<br />

efficacia prodigiosa e é applicado por<br />

inhalação.<br />

A Yida e os serviços<br />

do constitucionalismo em Portugal<br />

Sessenta annos estivemos oppressos<br />

pelo jugo castelhano.<br />

Muito soflremos no reinado dos intrusos<br />

Filippes, e o solTrimento não cessou<br />

com a sua expulsão e com a restauração<br />

dos reis indígenas, continuou com<br />

suas variantes. Não era isso <strong>de</strong> estranhar,<br />

como agora, que estava na indole <strong>de</strong><br />

uns e outros, nas suas leis e na corrente<br />

do seu tempo—no principio monarchico<br />

absoluto — no absurdo principio<br />

hereditário, e suas legitimas consequências.<br />

Mas ainda assim, nas raonarchias<br />

francamente absolutas e chamadas <strong>de</strong> direito<br />

divino pelos seus partidarios, não<br />

se crearain, nem toleraram males graves<br />

que se tem creado e tolerado á sombra<br />

dos governos <strong>de</strong>nominados liberaes, os<br />

quaes, praticamente, tem exprimido apenas<br />

Num absolutismo hypocrito, males<br />

que estão pezando esmagadores sobre a<br />

presente geração.<br />

Extremando e <strong>de</strong>testando os excessos<br />

políticos, ajudados pelo fanatismo<br />

religioso, dos reinados absolutos e principalmente<br />

do ultimo é sem questão que<br />

a immoralida<strong>de</strong> era menor, nesses tem-<br />

pos, do que a corrupção que, na mais<br />

ampla escala, tem surgido, durante a<br />

gerencia dos governos constilucionaes,<br />

que lavra fundo pelo paiz, eslen<strong>de</strong>ndo-se<br />

a Iodas as classes, com raras excepções<br />

pessoaes, <strong>de</strong>scendo do alto dos governantes<br />

até aos governados e d'essa immoralida<strong>de</strong>,<br />

porém, senão todos, a maior<br />

parte dos males que nos estão opprimindo<br />

e hão <strong>de</strong> opprimir emquanto existir<br />

a mesma coisa e essa coisa é oriunda<br />

d'outra coisa mais remota, mas que afinal<br />

influe maleficamente em todo o organismo<br />

social e actua sobre todos os<br />

salutares elementos "que <strong>de</strong>vera ser inseparáveis<br />

<strong>de</strong> todo o bom governo; sobre<br />

— a moralida<strong>de</strong>, sobre a economia, sobre<br />

a justiça, reduzindo se tudo isto a<br />

uma <strong>de</strong>cepção, a uma burla !<br />

Com effeito, entre as muitas crises<br />

porque estamos passando, a mais grave<br />

e mais "perigosa é a falta <strong>de</strong> boa moral,<br />

ê a perda dos bons costumes, a qual<br />

<strong>de</strong>vendo ser o apanagio <strong>de</strong> lodo o bom<br />

governo fugiu d'este paiz ha muito, e<br />

tar<strong>de</strong> voltará a elle.<br />

A conducla incorrecta e abusiva dos<br />

governos propagou-se aos povos e ahi<br />

estão elles corruptos, e <strong>de</strong>spidos <strong>de</strong> alguns<br />

escrupulos que convinha que conservassem,<br />

a exemplo dos dirigentes,<br />

cada vez mais propensos ao vicio e menos<br />

inclinados á virtu<strong>de</strong>, enervados e<br />

sem acção e sem enthusiasmo para se<br />

salvarem do abysmo que tem aos pés,<br />

indifferentes a tudo, até á miséria e á<br />

ruina o que governar, sem amor do povo,<br />

sem amor da patria os tem arrastado,<br />

passo a passo, até á situação <strong>de</strong>gradante<br />

que é bem patente <strong>de</strong>ntro e fóra do<br />

paiz.<br />

Implantado e proclamado o systema.<br />

baptisado com o nome pomposo ue constitucional<br />

e liberal, nunca <strong>de</strong>vera abusar<br />

<strong>de</strong>ste característico, ao contrario<br />

era seu honroso <strong>de</strong>ver seguir sempre<br />

avante, empenhando-se em o aperfeiçoar,<br />

a bem da liberda<strong>de</strong> e a bem dos povos<br />

em geral, mas não succe<strong>de</strong>u assim, começou<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo mal a sua marcha politica<br />

e administrativa.<br />

Os homens que vinham <strong>de</strong> combater<br />

no campo os seus adversarios políticos,<br />

por causa da intolerância e das variadas<br />

perseguições que d'elles tinham soffrido,<br />

subindo ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>viam, com melhor<br />

orientação e com mais tino politico, á<br />

intolerância e ás perseguições contrapor<br />

um systema <strong>de</strong> bem entendida tolerância<br />

politica, respeitando todas as opiniões<br />

e abstendo-se <strong>de</strong> perseguições, e<br />

ao mesmo povo estabelecer urna administração<br />

exemplarmente economica e <strong>de</strong><br />

toda a moralida<strong>de</strong>. E que fizeram esses<br />

homens? á intolerância offereceram outra<br />

intolerância, não menos <strong>de</strong>spótica, e<br />

perseguições não menos ferozes e cruéis,<br />

a reter ainda mais. Consentiram que se<br />

creassem quadrilhas <strong>de</strong> bandidos, <strong>de</strong>salmados,<br />

por diversos pontos do paiz, armados<br />

<strong>de</strong> punhal e trabuco e que o latrocínio<br />

fosse, não por alguns mezes, e<br />

no fogo das paixões, mas por muitos annos,<br />

a or<strong>de</strong>m aterradora e sinistra do<br />

dia e da noile I<br />

A guerra, nesse longo período nefasto,<br />

era ao miguelismo vencido e mais<br />

que tudo ao dinheiro! !<br />

Passados muitos annos <strong>de</strong> soffrimento<br />

e terror, <strong>de</strong>svastados os miguelistas<br />

e <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s sommas e outras<br />

preciosida<strong>de</strong>s aquelles que as tinham,<br />

acalmou a guerra ao miguelismo, mas<br />

porque os <strong>de</strong>satinos, os abusos e os escandalos<br />

dos governos tomavam cada vez<br />

proporções mais assustadoras começou a<br />

criar-se um grupo, ao qual <strong>de</strong>sagradava<br />

a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m na governação; e começou<br />

a combatel-a, e então toda a luria do<br />

constitucionalismo se virou contra esse<br />

grupo, que hoje fórma um partido numeroso<br />

e importante, votando-lhe um<br />

odio implacavel e rancoroso a tal ponto<br />

que <strong>de</strong>ixa vêr ura proposito <strong>de</strong> extermínio.<br />

São já muito numerosas as viclimas<br />

da perseguição monarchica constitucional,<br />

com as prisões, com as multas ecom<br />

os <strong>de</strong>gredos, e tem ten<strong>de</strong>ncia para mais!<br />

E' tal a cegueira d'essa gente que, mesmo<br />

longe da côrle, nas mais insignificantes<br />

al<strong>de</strong>ias, o homem que tiver a nota<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>saffecto ao regimen vigente, pelos<br />

maus resultados que tem dado as<br />

suas administrações, por esse simples<br />

facto, é mal vislo e odiado?<br />

E' uma miséria, uma vergonha!<br />

Agora cabe aqui observar aos homens<br />

d'esta ultima perseguição politica: se<br />

acham justa a sua perseguição aos republicanos,<br />

<strong>de</strong>veriam egualinente achar<br />

justa a perseguição que lhes fez o mi-<br />

guelismo, <strong>de</strong>viam soffrel-a com paciência<br />

evangelica, e não <strong>de</strong>viam conspirar contra<br />

ella e revoltar-se com as armas na<br />

mão; se acham injusta a perseguição<br />

miguelista, só por nossa differença <strong>de</strong><br />

opiniões, então injustíssimo é aquella<br />

que tem feito, estão fazendo e protestam<br />

fazer ao partido republicano, porque não<br />

tem outra coisa, senão a mesma differença<br />

dé^pensar e se agora enten<strong>de</strong>m que<br />

um systema <strong>de</strong> governo, por mais <strong>de</strong>spotico,<br />

iníquo e prodigo que seja, se<br />

<strong>de</strong>ve conservar, também <strong>de</strong>viam respeitar<br />

o miguelismo que era nesse lempo o<br />

systema vigenie.<br />

Do contrario têm dois moraes, querem<br />

um Deus para si, outro para os<br />

mais.<br />

E' que os homens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que agarravam<br />

o po<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>ram-o juiz como<br />

um feudo seu, querem a liberda<strong>de</strong> etudo<br />

o mais, só para si; para os outros a escravidão;<br />

mas assim também D. Miguel<br />

era liberal!<br />

Poque o <strong>de</strong>stbronaram ? Emquanto<br />

á moralida<strong>de</strong> constitucional, não é accessorio<br />

acrescentar um ponto sequer ao<br />

sordido estendal que a imprensa <strong>de</strong>mocrática<br />

tem <strong>de</strong>senrolado.<br />

Então em que se tem empregado sessenta<br />

annos <strong>de</strong> governo constitucional?<br />

Em crear nichos para os galopins<br />

mais credores, em crear e addiccionar<br />

tributos, em contrahir dividas fabulosas,<br />

em ampliar as altribuições do<br />

po<strong>de</strong>r central e restringir as garantias<br />

populares, em crear e favorecer companhias<br />

e syndicatos, em monopolisar tudo<br />

até os phosphoros, em crear mais corpos<br />

sem a menor utilida<strong>de</strong>, e em forjar<br />

pavorosas, etc.<br />

Esta, a vida, este*, os benefícios,os<br />

serviços e os dotes cora que o constitucionalismo<br />

tem enriquecido e felicitado<br />

a nação, a par d'outros que ficam no<br />

tinteiro.<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />

EM SURDINA<br />

Os que compõem o jornal<br />

pe<strong>de</strong>m-me que exare aqui<br />

o seu protesto formal<br />

contra a queixa do Gri-gri.<br />

Se escapou o feminino<br />

que <strong>de</strong>parou estas sovas,<br />

lêsse com vagar e tino,<br />

pois lhe tirámos tres provas 1<br />

Tens cabeça d'avelã,<br />

ó meu Gri-gri <strong>de</strong>svairado!<br />

Quizeste vir buscar lã?...<br />

Pois filho, vaes tosquiado.<br />

THEATROS<br />

PINTA-ROXA.<br />

No Circo continúa agradando a companhia<br />

equestre que lá trabalha, embora<br />

seja <strong>de</strong> notar a reparlição <strong>de</strong> trabalhos,<br />

quasi sempre os mesmos, e ainda a exiguida<strong>de</strong><br />

do pessoal.<br />

Nota-se, e cora razão, que o mesmo<br />

artista preencha uns poucos <strong>de</strong> números<br />

do programma <strong>de</strong> cada noite. Mas ha na<br />

companhia artistas <strong>de</strong> bastante merecimento,<br />

que já aqui nos referimos, cujos<br />

trabalhos merecem ser vistos e applaudidos.<br />

Na sexta feira estreou-se m. eiie Lecusson,<br />

e lionlem Geraldine, que o publico<br />

esperava cheio <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>.<br />

Dos trabalhos d'esta artista <strong>de</strong> fama<br />

diremos no proximo numero, que o resto<br />

já é conhecido.<br />

Hoje ha espectáculo <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> e á noite;<br />

e como a companhia pouco se <strong>de</strong>mora<br />

em <strong>Coimbra</strong>, vão aproveitando os que<br />

quizerem divertir-se ura pouco.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Associação Coitunercial<br />

Na ultima reunião d'esta socieda<strong>de</strong><br />

foram eleitos para as vagas que havia nos<br />

çorpos gerentes, os srs. Antonio Jose<br />

Dantas Guimarães, presi<strong>de</strong>nte; Manoel<br />

Marinho Falcão, 1.° secretario; e Antonio<br />

Gomes, vogal.<br />

Espera-se que os novos eleitos empreguem<br />

com constancia os esforços precisos<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento e progresso<br />

d'esta associação, que tão relevantes serviços<br />

po<strong>de</strong> prestar á classe e aos interesses<br />

d'esla cida<strong>de</strong>.<br />

Assoeinfào dos Artistas<br />

Reúne hoje a assemblêa geral para<br />

a escolha dos novos corpos gerentes,<br />

porisso que os eleitos nas passadas eleições<br />

não compareceram para tomar posse<br />

dos seus logares.<br />

Uma commissão nomeada na ultima<br />

assemblea geral para formular lista,<br />

apresentou os seguintes nomes:<br />

ASSEMBLEIA GEHAL<br />

Presi<strong>de</strong>nte — José Correia dos Santos.<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte — José Mana Men<strong>de</strong>s<br />

d'Abreu.<br />

Secretario—Alfredo da Cunha Mello.<br />

2."—dito — Anlonio Lourenço.<br />

Hdito — João Rocha.<br />

DIRECÇÃO<br />

Presi<strong>de</strong>nte—Manoel Iliydio dos Santos<br />

Vice presi<strong>de</strong>nte —Augusto Eduardo.<br />

Ferreira <strong>de</strong> Matlos<br />

Secretario —Francisco Alves Teixeira<br />

Rraga.<br />

Vice-secretario — Antonio da Silva<br />

Baptista.<br />

Tliesoureiro — Manoel dos Santos<br />

Apostolo Júnior.<br />

Vogal —Antonio dos Santos Azevedo.<br />

Duo — Evaristo José Cerveira.<br />

COMMISSÃO FISCAL<br />

José Maria Casimiro d'Abreu.<br />

Francisco da Fonseca.<br />

Manoel José Telles.<br />

A' ultima hora apparece ura grupo<br />

<strong>de</strong> opposição a esta lista, patrocinada<br />

por uiis intriguistas, que, alheios por<br />

completo aos interesses d'esta associação<br />

eslao animando os caprichos egoístas<br />

d'alguus socios, que longe <strong>de</strong> procurarem<br />

o bem estar <strong>de</strong>sta collectivida<strong>de</strong> vão<br />

talvez <strong>de</strong>struir todos os eslorços empregados<br />

pelos actuaes corpos gerentes.<br />

Tourada proliibida<br />

Quasi á .ultima hora é que lembrou<br />

ás nossas auctorida<strong>de</strong>s dar a praça <strong>de</strong><br />

touros como incapaz <strong>de</strong> serviço, ao serllie<br />

presente o programma ua tourada<br />

auuunciada para hoje e cujo producto<br />

reverlia em lavor do sr. Henrique Prata,<br />

o mutilado no incêndio uo theatro Raquel.<br />

11a muitos dias que era do conhecimento<br />

publico este espectáculo, dando<br />

alguns jornaes noticia da vinda a <strong>Coimbra</strong><br />

do actor Miguel Verdial, a quem era<br />

dada a direcção da corrida, bordando alguns<br />

ate sobre este facto umas .consi<strong>de</strong>rações<br />

tolas, chegando-se a pedir a manutenção<br />

da or<strong>de</strong>m. O facto <strong>de</strong> vir o actor<br />

Verdial assistir a tourada explica-se<br />

simplesmente por uma <strong>de</strong>dicação d este<br />

para com o seu antigo companheiro nas<br />

li<strong>de</strong>s dramaticas, Henrique Prata, nunca<br />

loi a intenção <strong>de</strong> pescar niauilesiações<br />

conlra as instituições vigentes.<br />

Mas é certo também que o beneficiado<br />

havia <strong>de</strong>cidido dispensar os serviços<br />

do seu bom amigo, pela razão obvia<br />

<strong>de</strong> que o gado para esta corrida era <strong>de</strong><br />

primeira or<strong>de</strong>m, e portanto, para a sua<br />

direcção precisava U'um pratico, vis.o<br />

que os lidadores não sao prolissionaes,<br />

e elle não <strong>de</strong>sejava que corressem nsco<br />

os que Ião <strong>de</strong>dicameute o auxiliavam na<br />

sua festa.<br />

Isto uicsiuo soube a auctorida<strong>de</strong> que<br />

viu os programmas sem o nume do sr.<br />

Verdial, e comtudo para tingir coherencia<br />

<strong>de</strong>negou a licença, mandando lionlem<br />

proce<strong>de</strong>r a uma visiona !<br />

Ora isto não é serio. Dando mesmo<br />

<strong>de</strong> barato a pouca segurança da praça,<br />

a auctorida<strong>de</strong> competia ha muito tempo<br />

dar as <strong>de</strong>vidas provi<strong>de</strong>ncias, para nao se<br />

illudir ninguém que tentasse servir-se<br />

daquelle recinto para divertimentos públicos.<br />

Porque não é á hora, quando ha <strong>de</strong>spezas<br />

gran<strong>de</strong>s feitas e compromissos senos<br />

a satisfazer, que <strong>de</strong>ve apparecer a<br />

rabulice auctoritaria a prejudicar os interesses<br />

d um cidadão.<br />

Custa a crer que o sr. governador<br />

civil, homem que passa por justiceiro e<br />

recto, désse laes or<strong>de</strong>ns, sem atteu<strong>de</strong>r<br />

aos enormes prejuízos que causou a um<br />

homem pobre, invalido para o trabalho,<br />

que esperava do beneficio publico para<br />

ameuisar as suas precanas circumstancias.<br />

A que obriga o medo — se se não<br />

<strong>de</strong>ve ames chamar poltronice.<br />

Como se umas palmas que porventura<br />

se <strong>de</strong>ssem a Verdial fizessem cair<br />

as instituições 1... Que ridículos l


ik:«O I — t s O OEFENIOR DO POVO 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

í jijL-iui. ^awBg ujegHBBgM-eagggrf^f——i<br />

Abem d« Iiygiene<br />

Está-se proce<strong>de</strong>ndo por conta da camara<br />

municipal aos trabalhos da ligação<br />

do cano <strong>de</strong> esgoto do quartel militar, com<br />

a canalisaçâo geral.<br />

Esta obra é um bom serviço prestado<br />

á hygiene publica ; e bom seria que a<br />

camara não <strong>de</strong>scusasse este ponto, conce<strong>de</strong>ndo<br />

á cida<strong>de</strong> os melhoramentos indispensáveis<br />

<strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que tanto<br />

carece.<br />

Se tal aísumpto merecer da camara<br />

especial menção, <strong>de</strong>certo terá os applausos<br />

unanimes dos seus munícipes.<br />

Centro eominereial e industriai<br />

Falla-se entre alguns membros d'estas<br />

classes na organisação d'um centro nesta<br />

cida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses collectivos,<br />

promovendo também os melhoramentos<br />

materiaes <strong>de</strong> que <strong>Coimbra</strong> tanto<br />

carece.<br />

Como se vê a idêa é magnifica , mas<br />

lembrar-nos que a Associação Commercial<br />

está luctando com a indilferença dos seus<br />

associados que quasi a abandonam, quasi<br />

que <strong>de</strong>sacreditamos da efficacia da nova<br />

associação.<br />

Mas não quer isto dizer que não<br />

mereçam louvores os que conseguirem<br />

levar a cabo tão util instituição.<br />

Ce<strong>de</strong>nein<br />

Foi auctorisada pelo governo a ce<strong>de</strong>ncia<br />

<strong>de</strong> dois compartimentos no ediíicio<br />

do governo civil para o serviço da agencia<br />

do banco <strong>de</strong> Portugal.<br />

Demiaino<br />

A camara municipal, em sessão ultima,<br />

ao julgar dos actos do couductor<br />

<strong>de</strong> obras, sr. Antonio dos Santos Nogueira,<br />

votou por unanimida<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>missão.<br />

Circular<br />

Recebemos uma circular do nosso<br />

correligionário e honrado commerciante<br />

d'esta praça, sr. Antonio Joaquim Valente,<br />

communicando-nos ter passado o<br />

seu Estabelecimento <strong>de</strong> quinquelherias aos<br />

srs. Antonio Augusto Neves e seu irmão<br />

Zacharias Duarte Neves, girando para o<br />

futuro sob a lirma social <strong>de</strong> Antonio Joaquim<br />

Valente, successores.<br />

Os tiovos commerciantes que mereceram<br />

do sr. Valente toda a confiança e<br />

protecção, toruain-se dignos das attenções<br />

do publico, que encontrará nelles apreciáveis<br />

dotes.<br />

Os nossos parabéns aos novéis commerciantes.<br />

Recita do anno<br />

Parece resolvido que a primeira recita<br />

d este curso se realisará nos princípios<br />

<strong>de</strong> maio.<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinaria<br />

1 <strong>de</strong> abril<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />

d'Alineida Araujo Pinto. Vereado-<br />

í9 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1 UTHML)<br />

VXJLI<br />

Um casamento suspenso<br />

Memma, subitamente <strong>de</strong>tida por seu<br />

marido, fez um gesto a pedir o seu leque,<br />

porque os seus lábios anhelantes não<br />

saberiam exprimir uma palavra. Neste<br />

momento, estava ella formosa <strong>de</strong> eudoi<strong>de</strong>cer;<br />

os cabellos <strong>de</strong>smanchados pela<br />

tempestuosa alegria do baile, caiam lhe<br />

ás ondas sobre as espaduas <strong>de</strong> inarlim;<br />

a coroa nupcial tinha <strong>de</strong>sapparecido e<br />

olhando o ramo <strong>de</strong> flores que ella tinha<br />

no seio, julgar-se-ia ver as flores da<br />

primavera <strong>de</strong>slolhadas sobre a neve do<br />

inverno.<br />

Pela primeira vez na sua vida Van-<br />

Ritter ta amaldiçoar a sua vida <strong>de</strong> marinheiro.<br />

mas faltou-lhe a voz para concluir<br />

este sacrilégio; olfereceu humil<strong>de</strong>-<br />

res presentes: João Antonio da Cunha,<br />

Manoel Miranda, Antonio José Dantas<br />

Guimarães, e Joaquim justiniano Feri eira<br />

Lobo, effectivos^ José Corrêa dos Santos,<br />

substituto.<br />

Arrematou os impostos indirectos dos<br />

generos que se consumirem até o fim do<br />

anno, nos logares do Dianteiro, Cova do<br />

Ouro, Cruz dos Mouroços, Senhor, dos<br />

Afflictos e Rordalo.<br />

Auctorisou o presi<strong>de</strong>nte a contractar,<br />

como mais convier, os trabalhos da cobertura<br />

do cano do caes, visto que não<br />

houve licitante em praça para o fornecimento<br />

<strong>de</strong> pedra para esta obra.<br />

Resolveu rectificar a <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong><br />

16 <strong>de</strong> março, acerca da medição <strong>de</strong> 3<br />

lotes <strong>de</strong> terreno para ven<strong>de</strong>r na rua n.°<br />

9 da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz, vendo-se <strong>de</strong><br />

nova informação dada pela repartição<br />

d'ohras e das plantas apresentadas neste<br />

acto, que o lote <strong>de</strong> terreno dado na acta<br />

respectiva com a superlicie <strong>de</strong> 530, m 0<br />

me<strong>de</strong> 566,'"0, que aquelle que foi dado<br />

com a <strong>de</strong> 562, m 0 me<strong>de</strong> 598, 1 "0 ; e que<br />

o 3.° <strong>de</strong> 305, m 0 me<strong>de</strong> 285, m 0; drtferença<br />

que provém das primeiras medições<br />

terem sido feitas pela planta e estas<br />

sobre o terreno. ,<br />

Resolveu ouvir os maiores contribuintes<br />

acerca da creação <strong>de</strong> quatro partidos<br />

médicos no concelho.<br />

Ce<strong>de</strong>u provisoriamente uma das salas<br />

do edilicio municipal para o serviço das<br />

execuções liscaes neste concelho.<br />

Mandou enviar ao comniissario <strong>de</strong><br />

policia uma participação da companhia<br />

cfilluminação a gaz dando conta <strong>de</strong> se<br />

encontrarem apagados e com as-torneiras<br />

fechadas, dois candieiros da illuminação<br />

publica, na noite <strong>de</strong> 29 para 30 <strong>de</strong><br />

março.<br />

Auctorisou o presi<strong>de</strong>nte a fazer o<br />

pagamento <strong>de</strong> prestações vencidas nesta<br />

data, <strong>de</strong> emprestimos contratados com<br />

a companhia <strong>de</strong> credito predial.<br />

Manduu proce<strong>de</strong>r á <strong>de</strong>molição dos<br />

muros elo quintal do terreiro da llerva,<br />

facilitando a passagem entre a rua Direita<br />

e o mesmo terreiro.<br />

Resolveu, com relação ás sé<strong>de</strong>s dos<br />

partidos médicos, que a sé<strong>de</strong> do partido<br />

da Ribeira <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s seja, ou nesta localida<strong>de</strong><br />

ou era Taveiro; que a sé<strong>de</strong> do<br />

partido <strong>de</strong> Assalarge seja também ou<br />

nesta localida<strong>de</strong> ou em Castello Viegas,<br />

se convier: e que d'este partido d'Assalarge<br />

passem para aquelle da Ribeira<br />

<strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s, as freguezias <strong>de</strong> Sernache e<br />

Antauhol.<br />

Resolveu dar o nome <strong>de</strong> rua ValadiIII<br />

a rua n." 10 da quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz.<br />

Tomou conhecimento da correspou<strong>de</strong>ncia<br />

recebida e <strong>de</strong>spachou diversos<br />

requerimentos d'iuteresse particular —<br />

sobre serviços do cemiterio; collocação<br />

<strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos públicos;<br />

annullação <strong>de</strong> contribuição lançada<br />

in<strong>de</strong>vidameute em 1892; multa por <strong>de</strong>scaminho<br />

<strong>de</strong> generos; e relativamente a<br />

uma pequena reparação a fazer na empena<br />

d'um prédio na rua da Sophia.<br />

radas para explicar a sua mulher as fatalida<strong>de</strong>s<br />

inherentes á nobre profissão <strong>de</strong><br />

marinheiro. Depois d'este preambulo,<br />

chegou iiumediaiamente á fatalida<strong>de</strong> particular<br />

do momento, e mostrou o <strong>de</strong>spacho<br />

inexorável, timbrado com o sello do almirantado.<br />

Memma continuava sob a obsessão<br />

anhelante do baile, ou dava-lhe talvez<br />

um suplemento artificial e bem imitado;<br />

o caso é que foi iinpossivel saber-se o<br />

que uma tal noticia lhe causava <strong>de</strong> surpreza,<br />

<strong>de</strong> indilferença, <strong>de</strong> alegria ou <strong>de</strong><br />

pesar. Todavia Vau-Rilter acceitou a interpretação<br />

mais favoravel ao seu amor<br />

proprio <strong>de</strong> maridj d'um dia, e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> lhe dar a noticia dirigiu-llie palavras<br />

consoladoras com a promessa d'um regresso<br />

proximo. Memma esforçava-se sempre<br />

por tomar a respiração e pronunciava<br />

a cada movimento do leque monosyllabos<br />

sempre extinctos num penoso trabalho<br />

<strong>de</strong> respirar.<br />

As mulheres são maravilhosas <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> nestes momentos <strong>de</strong> crise,<br />

e os homens então ficam sempre <strong>de</strong>ante<br />

d'ellas coai um ar interrogador, como<br />

<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> sphinges.<br />

Van-Ritter ajuntou ainda algumas<br />

mente o braço a sua mulher, que se palavras que Memma fez voltear nas la-<br />

admirou da direcção que seu marido tominas do seu leque, e, apertando o<br />

mava, e uianifustou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não se braço <strong>de</strong> sua mulher contra o seu, <strong>de</strong>u<br />

retirar do baile, por conveniência. Eutão um passo na direcção tão receada...<br />

Van-Ritter procurou os ro<strong>de</strong>ios mais en- Memiu IUJ oomprelteadju, ou, pelo<br />

genhosos e as formas m us bem prepa -menos, uao mostrou couipreheu<strong>de</strong>r, o<br />

COMMUNICADO<br />

Cada linha, 40 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %•<br />

Pedrogão e Castanheira<br />

Uma noticia publicada no Defensor<br />

do Povo, II.° 75, sob a epigraphe — Tumultos<br />

em Pedrogão, <strong>de</strong>safiou me a vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mais uma vez vir a terreno em<br />

<strong>de</strong>feza do bom nome da minha terra. E<br />

o meu interesse é tanto maior, quanto<br />

me consta que eiu Lisboa alguém ínflue<br />

no animo <strong>de</strong> certos jornalistas, para nada<br />

escreverem <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagradavel para a Castanheira.<br />

Por isso o nosso protesto ha<br />

<strong>de</strong> licar lavrado, embora tenhamos <strong>de</strong><br />

recorrer a pamphlelos. A fórma, como<br />

colloco a questão, <strong>de</strong>ve pôr d'aviso os<br />

que me julguem parcial a Pedrogão. As<br />

afirmações que se seguem <strong>de</strong>safio eu os<br />

partidarios do sr. viscon<strong>de</strong> ou quem quer<br />

que seja, a contestal-as.<br />

1.° O presi<strong>de</strong>nte da camara, viscon<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Castanheira, arranjou camara toda<br />

sua na primeira eleição porque <strong>de</strong>u a sua<br />

palavra d'honra que nada faria sem ouvir<br />

Pedrogão. Faltou a ella.<br />

2.° A camara presidida pelo viscon<strong>de</strong><br />

da Castanheira ven<strong>de</strong>u uns baldios<br />

que mais pertenciam á freguezia do que<br />

ao concelho, não cumprindo as disposições<br />

do auto da arrematação. Neste arranjo<br />

sobreiras seculares foram vendidas<br />

por 1$050 réis, as mais caras !<br />

3.° Os ca<strong>de</strong>rnos do recenseamento<br />

estão falsificados. O presi<strong>de</strong>nte era o sr.<br />

João Bebiano, que residia em Lisboa I<br />

í.° Na primeira eleição a que ultimamente<br />

se proce<strong>de</strong>u — votaram na assembiêa<br />

da Castanheira, mortos, ausentes<br />

e presos. O actual juiz fez o inventario<br />

a <strong>de</strong>z dos que votaram, e dois estão na<br />

Penitenciaria !<br />

5." Os amigos do sr. viscon<strong>de</strong> não<br />

recorreram da sentença que annullou a<br />

eleição, porque não quizeram.<br />

6. 8 O administrador dr. Brandão,<br />

na vespera da eleição, mandou intimar<br />

todos os cabos, que o official visse não votavam<br />

com elle, com o fim <strong>de</strong> acompanharem<br />

um preso no dia seguinte<br />

7.° A camara presidida pelosr. viscon<strong>de</strong><br />

muito poucas vezes se reunia,<br />

apezar <strong>de</strong> justificarem as suas falias,<br />

para não incorrerem nas penas dos artigos<br />

366.° do código administrativo.<br />

8.° A vereação ultimamente nomeada<br />

não vae a Pedrogão, porque contra<br />

alguns dos seus membros, ha mandados<br />

Ue captura por proezas eleitoraes.<br />

De tudo isto ha provas. Documentos<br />

authenticos, autheuticados e testemunhas<br />

affectas ao sr. viscon<strong>de</strong> provam o que<br />

affirmo.<br />

Que o povo <strong>de</strong> Pedrogão é extremamente<br />

pru<strong>de</strong>nte, é prova cabal a altitu<strong>de</strong><br />

pacifica e or<strong>de</strong>ira, perante as basofias<br />

do dr. Brandão, do Batalha e do Lemos,<br />

que pacatamente por ahi passeiam, sem<br />

que é a mesma coisa; o seu rosto exprimiu<br />

uma gran<strong>de</strong> resignarão, e <strong>de</strong>signando<br />

com a mão o baile que ameaçava<br />

extinguir-se, disse:<br />

— Depois d'uma tal noticia, não ha<br />

festa possível. Peça ao marquez di Negro<br />

que me conduza ao palacio Santa-Scala:<br />

é ahi que esperarei a sua volta, enclausurada<br />

como num convento.<br />

A noiva tinha ainda muitos compromissos<br />

do baile a satisfazer; os moços<br />

e ávidos credores correram em multidão<br />

para apresentarem as suas letras <strong>de</strong><br />

cambio a Memma, que com o olhar consultou<br />

seu marido.<br />

— Vamos, disse Van-Ritter observando<br />

as estrellas, uma hora mais ou<br />

menos não coinpromclterá ninguém; pague<br />

as suas dividas, madame Van-Ritter.<br />

Era Talormi que, abandonando o seu<br />

fingido somno, tiuha orgamsado esta insurreição<br />

contra a rainha do baile.<br />

A noticia da partida <strong>de</strong> Van-Ritter<br />

espalhou-se logo a bordo da fragata, e,<br />

coisa estrauha, causou, principalmente<br />

entre os homens, satisfação manifesta.<br />

Só Talormi foi admiravel <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>;<br />

<strong>de</strong>u ao rosto uma tristeza affectuosa, e,<br />

apertando as mãos <strong>de</strong> Van-Ritter, disse:<br />

— Capitão, ahi está uma obediencia<br />

militar que o honra, mas que nos afunda<br />

numa gran<strong>de</strong> tristeza. O capitão é um<br />

d'estes homens que se fazem conhecer<br />

immediatamente, e que orgulham os seus<br />

amigos.<br />

ii i Bgag8B.;~B—-!—— u..<br />

que me conste, que até hoje lhe tenham<br />

pizado os callos.<br />

No emtanto as indigestões <strong>de</strong> força<br />

do Brandão e <strong>de</strong> um tal Victor Portugal,<br />

tem feito vêr a muita gente Pedrogão<br />

nadando em sangue.<br />

Um facto.<br />

Quando pela primeira eleição, aqui<br />

chegou uma força <strong>de</strong> caçadores, commandada<br />

pelo official Lino Ferreira, os<br />

amigos do sr. viscon<strong>de</strong>, mandavam -um<br />

telegramma ao Repórter, dizendo que a<br />

força fôra recebida com assoadas. Ao<br />

mesmo tempo, em telegramma enviado<br />

ao Diário <strong>de</strong> Noticias, o distincto official<br />

affirmava ter sido recebido no meio do<br />

maior socego!<br />

Felizmente para Pedrogão que os<br />

amigos do sr. viscon<strong>de</strong>, nesta terra são<br />

uns foragidos <strong>de</strong> Mêda, d'Arouca e Leiria.<br />

Santissima Trinda<strong>de</strong> em que nenhum<br />

é verda<strong>de</strong>iro<br />

Mas a<strong>de</strong>ante.<br />

Nas accusações ao digno juiz <strong>de</strong> direito<br />

Sá e Motta, estão os amigos dosr.<br />

viscon<strong>de</strong> no seu papel. O digno chefe do<br />

districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, dr. Neves e Sousa,<br />

um caracter ihipolluto, sabe bem avaliar<br />

o que no nosso espirito irá acerca d'este<br />

assumpto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sabermos o que<br />

s. ex. a conhece—que alguém da Castanheira<br />

anda em Lisboa pela Arcada, em<br />

<strong>de</strong>senfreada campanha <strong>de</strong> <strong>de</strong>scredito contra<br />

o digno magistrado dr. Sí e Motta.<br />

D aqui asseveramos ao reles calumniador,<br />

isto muito em família, que não<br />

tem a coragem <strong>de</strong> dizer frente a frente<br />

ao dr. Sá e Motta aquillo que em Lisboa,<br />

com o fim <strong>de</strong> fazer opinião, dizia a diversos<br />

cavalheiros e entré outros a um<br />

magistrado digníssimo que ha pouco <strong>de</strong>ixou<br />

uma das varas <strong>de</strong> Lisboa. Damos-lhe<br />

um doce.<br />

Ainda sobre isto um jornal <strong>de</strong> Pombal—<br />

a Defeza—vem em auxilio do<br />

sr. Bebiano.<br />

Ao redactor, dr. Pimentel, que é um<br />

alho lembro aquelle dito popular — quem<br />

nas faz que as <strong>de</strong>smanche. O assumpto<br />

não é o mais seguro para encher o jornal<br />

e sobretudo não é o logar mais proprio<br />

para advogar a causa dos constituintes,<br />

principalmente quando elles já<br />

têem uma nota no registo criminal.<br />

Do Victor Portugal pouco,direi: Quem<br />

<strong>de</strong>sejar conhecer o cavalheiro, procure,<br />

indague em Alcobaça, Óbidos e sobretudo<br />

na Lourinhã.<br />

Qualquer individuo d'estas terras o<br />

conhece perfeitamente.<br />

De toda esta gente eu fallaria sem<br />

receio, muito iranquillo e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

se d'aqui perto um amigo me não lembrasse-a<br />

lei das rolhas. Não por mira<br />

que não costumo escrever para o publico,<br />

sem provar o que affirmo, mas porque<br />

o editor do jornal teria <strong>de</strong> me fazer<br />

companhia no banco dos réus. Se<br />

não fôra isso creiam os meus bons amigos<br />

que as ouviriam bonitas.<br />

Vou concluir pedindo ao digno ministro<br />

do reino que sem <strong>de</strong>mora man<strong>de</strong><br />

syndicar dos factos que se teem dado,<br />

mas uma syndicancia seria e por homem,<br />

Duas falsas lagrimas cairara sobre<br />

estas palavras, a que Van-Ritter não<br />

pou<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> commovido.<br />

Des<strong>de</strong> que Talormi se <strong>de</strong>sempenhou<br />

d'este affectoso <strong>de</strong>ver, foi-se collocar<br />

<strong>de</strong>ante da orchestra, mettendo habilmente<br />

na mão do regente uma bolsa com dinheiro,<br />

sem dizer uma palavra. A dadiva<br />

generosa foi compriheudida, porque os<br />

instrumentos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iaram-se com uma<br />

violência que não annunciava o fim do<br />

baile.<br />

Ao <strong>de</strong>sapparecerera as ultimas estrellas,<br />

Van-liuter, commovido até ás lagrimas,<br />

poz fim ao baile e dirigiu algumas<br />

palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida aos seus amigos<br />

d'essa noite. Em seguida abraçou ternamente<br />

sua mulher e contiou-a aos bons<br />

cuidados do marquez di Negro. A socieda<strong>de</strong><br />

do baile ia-se <strong>de</strong>spedindo a pouco<br />

e pouco, <strong>de</strong>scendo as escadas da fragata<br />

para os escaleres. Já Van-Ritter commandava<br />

as manobras para levantar ferro, já<br />

os marinheiros subiam ás vergas; um ultimo<br />

e cominovedor a<strong>de</strong>us se fez ouvir. Talormi,<br />

enctiugaado á pressa lagrimas<br />

ausentes, olíereceu a mão respeitosamente<br />

a Memma quando ella poz o pé sobre<br />

o primeiro <strong>de</strong>grau, e acompanhou-a como<br />

um anjo da guarda até ao escaler almirante.<br />

Santa-Scala, que tinha sido prevenido<br />

por uma mensagem <strong>de</strong> Vau-Ruter,<br />

esperava sua irmã meditando nos' bellos<br />

jaiduis do seu palácio. O marquez di<br />

que nada precise do sr. Bebiano nem <strong>de</strong><br />

Pedrogão.<br />

E em quanto isto se não faz, o povo<br />

<strong>de</strong> Pedrogão que contiríue a ser pru<strong>de</strong>nte<br />

mas castigando severamente os fanfarrões<br />

com a arma mais legitima — a lei.<br />

12 — 4 — 93.<br />

A GRANEL<br />

OA.<br />

Vae ser fixado um prazo para se<br />

apresentarem na casa da moeda as cédu-<br />

las <strong>de</strong> 50 e 100 réis da primeira emissão,<br />

e, findo elle, taes cédulas não terão<br />

valor.<br />

* * # Ficou installada na Associação<br />

Commercial <strong>de</strong> Lisboa a commissão<br />

nomeada para estudar e discutir o tratado<br />

do commercio com a flespanha. A<br />

commissão <strong>de</strong>ve reunir brevemente para<br />

encetar os seus trabalhos.<br />

* * * Consta-nos que o sr. ministro<br />

das obras publicas pensa em suppriníir<br />

um gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> postas ruraes,<br />

tendo havido ja algumas reclamações por<br />

parle d'algumas das commissões municipaes.<br />

* * # O sr. <strong>de</strong>putado Paulo Cancella<br />

entregou ao sr. ministro do reino<br />

uma representação da camara municipal<br />

da Anadia, pedindo soccorros para os pobres<br />

d'aquelle concelho, on<strong>de</strong> a epi<strong>de</strong>mia<br />

das bexigas está fazendo gran<strong>de</strong>s estragos.<br />

* * # Acamara municipal <strong>de</strong> Santa<br />

Martha <strong>de</strong> Penaguião enviou ao governo<br />

uma representação ácerca das fermentações<br />

do tabaco colhido no Douro.<br />

* * * A sub-commissão das bolsas<br />

<strong>de</strong> trabalhos na ultima reunião proce<strong>de</strong>u<br />

á revisão do projecto <strong>de</strong> regulamento<br />

distribuindo-o pelos seus membros.<br />

* * * Diz-se que o sr. Correia <strong>de</strong><br />

Barros loi encarregado pelo sr. ministro<br />

da fazenda <strong>de</strong> organisar a proposta <strong>de</strong><br />

lei dos alcooes que <strong>de</strong>ve ser submettida<br />

ao exame parlamentar.<br />

* * * O nosso paiz foi convidado<br />

a fazer-se representar na exposição internacional<br />

<strong>de</strong> medicina e cirurgia que <strong>de</strong>ve<br />

realizar-se em Roma no dia 15 <strong>de</strong> setembro.<br />

* * # O club veloíipedista do Porto<br />

projecta hoje uma excursão á Malveira.<br />

Desgarradag<br />

Pedrinhas doesta calçada<br />

Levantai-vos e dizei<br />

Quem vos passeia <strong>de</strong> noite<br />

Que <strong>de</strong> dia bem o sei<br />

Negro, Talormi e alguns creados acompanharam<br />

madame Van-Ritter até ao<br />

palacio <strong>de</strong> seu irmão, que a recebeu<br />

com uma gran<strong>de</strong> alegria, como se tivesse<br />

receado nunca mais a tornar a ver.<br />

Talormi <strong>de</strong>spediu-se do marquez di<br />

Negro apertando-liie a mão cor<strong>de</strong>almente.<br />

— Aqui esta uma scena <strong>de</strong> separação<br />

que nos conimoveu bastante, a v. ex. a e<br />

a mim, disse-lhe ellej madame Van-Ritter<br />

foi admiravel <strong>de</strong> resiguação: seu marido<br />

foi sublime. Taes actos <strong>de</strong> heroísmo domestico<br />

são mais tocantes que os feitos<br />

heroicos dos campos <strong>de</strong> batalha; não é<br />

assim, marquez?<br />

— Aprecia o caso como eu, meu<br />

caro, e felicito-o, con<strong>de</strong> Talormi, pelo<br />

seu nobre procedimento <strong>de</strong> hontem e<br />

d'esta noite.<br />

— Porque procedimento me felicita?<br />

interrogou Talormi num tora e com ura<br />

ar cheios <strong>de</strong> ingenuida<strong>de</strong>.<br />

— E' bem fácil comprehen<strong>de</strong>r, replicou<br />

di Negro rindo.<br />

— Ali!... comprehen<strong>de</strong>u-o, marquez...<br />

Felicita-me por uma coisa bem<br />

simples. Palavra d'honra, tive um capricho<br />

<strong>de</strong> rapaz...<br />

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101—Rua do Viseon<strong>de</strong> da Luz—105<br />

C O I M B R A<br />

93<br />

sta east» acaba <strong>de</strong> receber um<br />

explendido sortido <strong>de</strong>Bicycletes<br />

dos primeiros auctores, como é llnniber,<br />

Durkopp Diannas Clement — em<br />

borrachas ôcas.<br />

A CUEGA.R— Meliopolitau Pneumatique<br />

Torrilhau.<br />

Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />

vir, e já tem á venda, Bicycleles<br />

Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />

mais baratos; pois esta machina tem sido<br />

vendida por 12 O^ O O O réis ao passo que<br />

esta casa as tem a 110$000 111<br />

Tem<br />

amadores.<br />

condições <strong>de</strong> corridas e para<br />

104<br />

ireeisa-se d'um para loja <strong>de</strong><br />

P retrozeiro e miu<strong>de</strong>zas. Prefere-se<br />

com alguma pratica.<br />

RUA FERREIRA BORGES, 147<br />

L«JA DO CEPO<br />

MARCA «ANCORAS i<br />

en<strong>de</strong>-se 110 estabelecimento<br />

105 jf<br />

<strong>de</strong><br />

J U L I O D A © U N H A P I N T O<br />

74, Rua dos Sapateiros, 80<br />

CASA OE PENHORES<br />

NA<br />

CHAPELERIA CENTRAL<br />

gg nipresta-se dinheiro sobre<br />

£•4 objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />

<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />

valor.<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />

Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 6 — COIMBRA.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

53 |l Nunes <strong>de</strong>u San-<br />

ML tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />

RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBUCA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS K DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29,<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

KUIJlOIÍ<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno W 00<br />

Semestre 1$350<br />

Trimestre... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno<br />

Semestre.... 1£200<br />

Trimestre... 600


0 ^<br />

Mais energia, sr. Fuschini<br />

O caso grave do momenlo, o<br />

que absorve e sollicila imperiosamente<br />

as atlenções do paiz, é o escandalosíssimo<br />

arranjo que se occultou<br />

na negociata do empreslimo<br />

<strong>de</strong> D. Miguel, e que as Novida<strong>de</strong>s<br />

têm poslo a claro com um <strong>de</strong>sassombro<br />

e firmeza lai, que as absolvem<br />

<strong>de</strong> certos peccadilhos, seja<br />

qual fôr a intenção que as move e<br />

que nos não imporia por agora.<br />

O modo como a questão foi iniciada,<br />

num appello energico ao sr.<br />

ministro da fazenda para que faça<br />

reentrar no thesoura o melhor <strong>de</strong><br />

quatrocentos e cincoenta contos <strong>de</strong> réis,<br />

dolosamente dislrahidos do empréstimo<br />

negociado pelo sr. Antonio<br />

José da Cunha, a pretexto <strong>de</strong> pagamento<br />

aos portadores dos celebres<br />

títulos <strong>de</strong> D. Miguel, quando<br />

a verda<strong>de</strong> é que lai pagamento não<br />

se effectuou, e que em Paris ha<br />

en<strong>de</strong>nles sele processos contra<br />

orlugal, provido por um grupo<br />

d'aquelles portadores que não receberam<br />

um cêntimo <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisação;<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as Novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cla-.<br />

raram, que em seu po<strong>de</strong>r ha documentos<br />

imporlantissimos para se<br />

tratar esta queslão, e que po<strong>de</strong>m<br />

indicar on<strong>de</strong> se encontrarão muitos<br />

outros; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aquelle jornal<br />

indica, que a somma quantiosa<br />

distrahida o foi em proveito <strong>de</strong> certos<br />

banqueiros opulentos, em manejos<br />

criminosos, da responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> certos homens eminentemente<br />

collocados; ao tomar a questão<br />

este aspecto gravíssimo <strong>de</strong> um<br />

escandalo publico monumental —<br />

mais um para juntarás muitas vergonhas<br />

em que o nosso paiz tem<br />

sido fértil nos últimos annos—; parece<br />

que o procedimento do sr.<br />

ministro da fazenda eslava claramente<br />

indicado—um ministro<br />

energico, cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sassombro e<br />

<strong>de</strong> energia, forte na sua boa vonta<strong>de</strong><br />

inquebranlavel e intransigente,<br />

<strong>de</strong>veria, sem perda d'um momento,<br />

promover um inquérito que expozesse<br />

a toda a luz o que <strong>de</strong>. escuro<br />

e <strong>de</strong> tenebroso haja 110 tal arranjo.<br />

E poucas vezes, como agora,<br />

ao dispôr do ministro da fazenda<br />

se <strong>de</strong>pararão documentos e indicações<br />

Ião precisas e tão nilidas, como<br />

as Novida<strong>de</strong>s apresentam ao sr.<br />

Puschini.<br />

Mas não; o sr. Fuschini enten<strong>de</strong>u<br />

que o negocio não tem a importância<br />

que as Novida<strong>de</strong>s ihe quizeram<br />

dar; e então, em vez <strong>de</strong> se<br />

collocar energicamente e firme á<br />

frente d'uma campanha <strong>de</strong> investigação,<br />

sem ter ein linha <strong>de</strong> conta<br />

os interesses dos trunfos que porventura<br />

fosse ferir um largo inquérito<br />

bem dirigido, orientando-se<br />

unicamente por um critério <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>,<br />

limitou-se a entregar a<br />

queslão á morosida<strong>de</strong> dos processos<br />

judiciaes.<br />

Isto é, o sr. ministro da fazenda<br />

não ousa arcar <strong>de</strong> frente com os<br />

nomes que a negociata envolve.<br />

E é nisto, afinal, que se vae<br />

traduzindo a vida ministerial do sr.<br />

Fuschini; incoherencias, hesitações,<br />

ora arremettidas <strong>de</strong> valente que <strong>de</strong><br />

Defensor<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N°79<br />

Hn Pn<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO X KJR V<br />

nada se arreceia, ora recuos <strong>de</strong><br />

pussilanime que <strong>de</strong> tudo tem medo.<br />

Apresentou-se como o ministro<br />

da occasião; como o homem que<br />

havia <strong>de</strong>, cheio <strong>de</strong> hombrida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> civismo, cortar a fundo e a direito,<br />

doesse a quem doesse, foi-se<br />

envolvendo num certo manto <strong>de</strong><br />

popularida<strong>de</strong>, mas agora vae-se revelando<br />

um ministro como os mais;<br />

— falla-llie a larga envergadura, o<br />

pulso firme, o caracter energico, a<br />

intransigência que se não torce...<br />

Assim, não, sr. Fuschini,—não<br />

é o homem <strong>de</strong> que o paiz precisa,<br />

e pena é se as aptidões notáveis <strong>de</strong><br />

s. ex. a se inulilisarem <strong>de</strong>sastradamente<br />

para o futuro.<br />

O caminho <strong>de</strong> ferro<br />

do Chire<br />

Continua a ser muito discutido nas<br />

diversas folhas que se publicam por esse<br />

paiz fóra o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 12 d'este mez,<br />

que conce<strong>de</strong> aos srs. Joaquim Pires <strong>de</strong><br />

Sousa Gomes e Alfonso <strong>de</strong> Moraes Sarmento<br />

a concessão da linha ferrea <strong>de</strong><br />

Quelimane ao Chire.<br />

O Diário Popular e o Correio da<br />

Manhã tratam d'este assumpto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo<br />

este o ministro da marinha que<br />

assignou o <strong>de</strong>creto e atacando-o aquelle.<br />

As razões adduzidas pelo Correio da Manhã<br />

110 seu artigo <strong>de</strong> 17 são fracas.<br />

Diz elle que os ministros transactos<br />

não assignaram a concessão por falta <strong>de</strong><br />

opportuuida<strong>de</strong>...<br />

Ora valha-nos Deus I se a não assignaram<br />

foi por que recearam a excitação<br />

dos ânimos pois não ignoravam que o<br />

povo sabe e não esqueceu, nem esquece,<br />

as passeatas a Londres do sr. Moraes<br />

Sarmento e os exforços que este senhor<br />

empregou para arranjar uma companhia<br />

ingleza a quem sublocasse a concessão,<br />

com umas luvazitas.<br />

Como estava ainda muito recente o<br />

ultimatum, não se atreveram a fazer a concessão<br />

com lodos os privilégios, que são<br />

enormes, e que prejudicariam para o futuro<br />

a acção do governo e o futuro <strong>de</strong><br />

aquella nossa província.<br />

O Correio da Manhã, cujo director<br />

politico assignou como ministro da marinha<br />

a celebre concessão Mac-Murdo<br />

que nos occasionou a arbitragem que temos<br />

com os Estados Unidos e Inglaterra,<br />

d'on<strong>de</strong> nos hão <strong>de</strong> advir graves prejuízos,<br />

não lhe lica mal a <strong>de</strong>feza <strong>de</strong> concessão<br />

do sr. Neves Ferreira.<br />

Yae ate muito bem neste papel...<br />

31 <strong>de</strong> Janeiro<br />

Beappareceu em Lisboa este jornal<br />

republicano.<br />

JDo r e l a n c e<br />

Muito cathedratico e muito hirto, barba<br />

á guise talhada escrupulosamente, ares<br />

impávidos <strong>de</strong> mata-moiros, afarçolados,<br />

<strong>de</strong>senvolve a sua activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo que<br />

nunca <strong>de</strong>stroe a sua linha olympica.<br />

Orador celeberrimo, conhecido dos Pereiros<br />

á Pedrulha, sabe reforçar a sua<br />

eloquência com imagens ultra-mirabolantes,<br />

num estylo finamente acendrado, que<br />

parece <strong>de</strong>purar-se no crysoldamais fina eloquência<br />

ciceroneana.<br />

Administrador façanhudo, fez andar<br />

tudo no pó do gato, no seu consulado<br />

glorioso.<br />

Muito activo, conseguiu uma coisa <strong>de</strong><br />

que poucos se gabam — o maior numero<br />

<strong>de</strong> inimigos. .. é um a cada esquina.<br />

Mas elle passa altivo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso, ares<br />

<strong>de</strong> Júpiter, <strong>de</strong> fraque e chapéu alto, barba<br />

i» guine bem talhada, olympico e conse-<br />

lheiro... .<br />

E que zumbam os inimigos e os invejosos,<br />

que não conseguirão modificar a<br />

sua linha olympica.<br />

Loup.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

A prostituição <strong>de</strong> ereanças<br />

Nesta quadra esplendida <strong>de</strong> luz, em<br />

que o Firmamento se veste côr <strong>de</strong> saphira<br />

e o campo d'esmeralda; quando as<br />

rosas entreabrem os cálices <strong>de</strong> purpura<br />

ou d'opala aos clarões do sol ou aos beijos<br />

do luar — não é triste, não é <strong>de</strong>solador<br />

contemplar rosas que tombam no<br />

lôdo, assucenas que chafurdam na lama,<br />

lyrios que se afundam na vasa do monturo?<br />

Não é uma infamia sem nome <strong>de</strong>sfolhar<br />

as pétalas d'uma rosa iriante sobre<br />

a treva calliginosa d um abysmo ?<br />

E no enitanto ha mãos criminosas<br />

que <strong>de</strong>spedaçam flores sobre o charco<br />

do vicio: são os rufiões <strong>de</strong> ereanças e<br />

as ciganas que merca<strong>de</strong>jam a innocencia,<br />

pelo escuro da noite, ven<strong>de</strong>ndo a<br />

candura d'uma pomba ao <strong>de</strong>sejo bestial<br />

d'um cevado.<br />

A pomba, aos <strong>de</strong>z, aos quatorze annos—<br />

concluído o bacharelato da infamia—<br />

transforma-se em fera, e não tarda<br />

a negociar (como a negociaram a ella)<br />

a honra, o pudôr das suas irmãsitas<br />

inexperientes...<br />

— Um amontoado <strong>de</strong> torpezas e uma<br />

longa série <strong>de</strong> crimes 1<br />

*<br />

No Porto está-se dando essa exploração<br />

ignóbil, tolerada pela indilferença<br />

das auctorída<strong>de</strong>s.<br />

Grupos <strong>de</strong> raparigas, sob o cominando<br />

<strong>de</strong> megeras ou fadistas, percorrem as<br />

praças, á noite, provocando os transeuntes<br />

com propostas que mancham a bocca<br />

d uma creança...<br />

—Os nossos valentes collegas A<br />

Portuguezà e Galeria Portugueza (<strong>de</strong> que<br />

são directores os brilhantes jornalistas<br />

Heliodoro Salgado e Alberto Bessa —<br />

duas almas d'oiro, abertas a todos os<br />

sentimentos nobres e generosos) encetaram<br />

a campanha do Beni, combatendo<br />

<strong>de</strong>nodadamente, nas suas columnas, a<br />

prostituição <strong>de</strong> ereanças, esse commercio<br />

vil que vae avultando na nossa terra<br />

para que nesta <strong>de</strong>gringola<strong>de</strong> medonha<br />

não reste a attestar o nosso bom nome<br />

d'outr'ora um só documeulo immaculado,<br />

<strong>de</strong>spido <strong>de</strong> manchas, isempto dnifamias!<br />

Acompanhamos aberta e francamente<br />

os nossos collegas na sua tarefa mais<br />

que civilisadora — caridosa I<br />

A honra diplomatica que não cessam<br />

<strong>de</strong> salvaguardar as folhas monarchicas...<br />

essa per<strong>de</strong>u-se á gargalhada; o brio dos<br />

nossos applaudidos homens públicos vagueia,<br />

como um gatuno, pelos corredores<br />

do tribunal, tremendo ao ruido da<br />

folha d'um processo que se voíta, ao barulho<br />

dos tacões do otlicial <strong>de</strong> diligencias,<br />

ao tinir d'um sabre...<br />

O cadastro das gran<strong>de</strong>s ladroeiras<br />

publicas tem archivada a honra dos nossos<br />

bons portuguezes.<br />

Salveui-se as ereanças 1<br />

Salve-se a geração d'ámanhã ! Educal-as<br />

no vicio é preparar um futuro <strong>de</strong><br />

trevas I<br />

Se <strong>de</strong>ixam prostituir as ereanças —<br />

então acabemos com quanto lia d'immaculado<br />

e puro: cortem, <strong>de</strong>strocem todas<br />

as rosas, estrangulem todos os rouxinoes,<br />

vistam o azul <strong>de</strong> escuro, e arranquem-me<br />

lá <strong>de</strong> cima—<strong>de</strong> sobre esta<br />

malfadada cida<strong>de</strong>— as estrellas, os olhos<br />

límpidos do Firmamento, que contemplam<br />

as nossas torpezas <strong>de</strong>rramando lagrimas<br />

<strong>de</strong> luz ar<strong>de</strong>nte sobre a ruína dos<br />

nossos sentimentos 1...<br />

*<br />

Mães!... As ciganas que exercem<br />

o trafico vil das pobres raparigas inlitulam-se<br />

suas mães!...<br />

Sobre o crime sacrilégio!<br />

Pô<strong>de</strong> haver mãe que venda a filha ?<br />

Pô<strong>de</strong> haver crealura que offereça a alma<br />

<strong>de</strong>spedaçada (os filhos são retalhos d'alma...)<br />

ao libertino que passa?<br />

Não estremecerão d'horror, pensan-<br />

do nesta profanação, as almas das heroinas,<br />

das martyres que morreram dando<br />

exemplo d'abnegaçáo maternal?<br />

Não éropalli<strong>de</strong>cem d'indignação as<br />

santas que arrastam com longa vida <strong>de</strong><br />

sombra se preparam um raio <strong>de</strong> luz no<br />

futuro dos filhos ?<br />

Não vibra <strong>de</strong> cólera todo um organismo,<br />

todo um peito, ao attentar na <strong>de</strong>gradação<br />

a que se arrastou essa palavra<br />

tão doce, tão consoladara — pharol que<br />

nos allumia em estrada da vida, balsanio<br />

<strong>de</strong> todas as maguas, alegria que <strong>de</strong>sfaz,<br />

numa caricia, todas as nossas tristezas<br />

?<br />

Quando olhamos o passado pelo prisma<br />

da memoria—como quem contempla<br />

ruínas á luz d'um archote — o primeiro<br />

vulto que se <strong>de</strong>staca, branco* e puro, é<br />

a nossa mãe!<br />

Ligam-se a ella todas as recordações<br />

gratas, todas as sauda<strong>de</strong>s, todas as<br />

illusões doiradas d'esse tempo feliz I<br />

Não sei, em verda<strong>de</strong>, o que. é mais<br />

baixo, mais infame: Se ven<strong>de</strong>r uma<br />

creança como quem negoceia um trapo;<br />

se entregal-a á prostituição dando-se o<br />

nome <strong>de</strong> sua mãe!<br />

17 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />

Fra-Diavolo.<br />

Senhor Fuschini!<br />

Noticiam vários jornaes que um escrivão<br />

<strong>de</strong> fazenda foi rancorosamente<br />

perseguido, transferido e até preso por<br />

se não cingir ás imposições d'um administrador<br />

do concelho. Diz-se que a razão<br />

<strong>de</strong> tão insólita perseguição é por o<br />

dito escrivão querer ser justiceiro, sem<br />

contemplações para gregos nem troyanos,<br />

a respeito da nova avaliação <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Isto, sr. Fuschini, ainda não teve<br />

um <strong>de</strong>smentido ou uma solução correctiva<br />

para o administrador prepotente.<br />

Senhor Fuschini!<br />

Pela Africa<br />

A expedição que foi a Humpata castigar<br />

as hordas <strong>de</strong> llottentotes, que assolavam<br />

e punham em constante sobresalto<br />

os habitantes d'aquelles logares, levou<br />

a cabo com felicida<strong>de</strong> a sua missão, batendo<br />

aquelles selvagens, aprisionando<br />

alguns, matando muitos e expulsando<br />

para além do Cunene os restantes.<br />

Isaac Peral<br />

Este distincto marinheiro e electrista<br />

inventor do barco submarino Peral, liliouse<br />

no partido republicano hespanhol.<br />

PELOS JORNAES<br />

Traz o nosso collega a Vanguarda,<br />

um artigo firmado pelo nosso presado<br />

amigo, sr. dr. Eduardo d'Abreu, pondo<br />

em relevo as <strong>de</strong>cantadas economias dos<br />

srs. ministros da fazenda e obras publicas.<br />

Começa primeiramente por citar o<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março ultimo on<strong>de</strong> se<br />

diz :<br />

«Consi<strong>de</strong>rando, finalmente, que a'<br />

applicação temporaria nestas inspecções,<br />

<strong>de</strong> empregados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />

ministério das obras publicas, dá a<br />

maior segurança aos resultados garantidos<br />

pela sua larga experiencia e profunda<br />

competeneia em trabalhos <strong>de</strong> semelhante<br />

natureza, permittiudo<br />

além d'isso, que as inspecções<br />

se realisem sem<br />

aug^meuto <strong>de</strong> <strong>de</strong>speza.»<br />

È claro que em vista d'este <strong>de</strong>creto<br />

foram nomeadas as respectivas commissões<br />

a cuja nomeação presidiu a moralida<strong>de</strong><br />

resumida nestas palavras do mesmo<br />

artigo :<br />

«Foram <strong>de</strong>pois nomeadas essas commissões,<br />

algumas das quaes para localida<strong>de</strong>s<br />

on<strong>de</strong> os proprios avaliadores ou<br />

inspectores são importantes proprietários<br />

e até industriaes U<br />

Mas púnhamos <strong>de</strong> parle a questão<br />

da moralida<strong>de</strong> que é coisa que já não se<br />

pergunta neste Portugal monarchico.<br />

Tratemos das economias promettidas<br />

no pro^ramma governamental e estampadas<br />

em lettras gordas no referido <strong>de</strong>creto.<br />

Pois oiçam ainda o sr. dr. Eduardo<br />

d'Abreu :<br />

«Vinte e seis dias <strong>de</strong>pois, como que<br />

escondido ou perdido por entre as folhas<br />

do mesmo Diário, surge-nos um<br />

documento, assignado, não pelos srs.<br />

ministros responsáveis, mas por nm<br />

empregado subalterno, <strong>de</strong>clarando que,<br />

para o serviço das taes inspecções, já<br />

tinha sido mandado abonar cem mil<br />

réis a um, e que agora se mandava<br />

abonar os mesmos cem mil réis a outros<br />

1»<br />

E vá lá a gente ter a ingenuida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

suppôr por um momento, que ainda é<br />

possível á sombra do throno, haver homens<br />

capazes <strong>de</strong> olharem a serio para o<br />

estado gravíssimo do pniz.<br />

E assim diz o mesmo illustre parlamentar<br />

:<br />

«Mas <strong>de</strong>pois, apenas vinte e seis<br />

dias <strong>de</strong>pois, quando se trata <strong>de</strong> sustentar,<br />

no campo pratico dos factos,<br />

aquellas promessas e <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong><br />

economia,—então os ministros recuam<br />

vergonhosamente mandando expedir<br />

um simples aviso, a medo, pubiicado<br />

no Diário do Governo, e com o qual as<br />

<strong>de</strong>spezas publicas são escandalosamente<br />

e immensamente augmentadas 1»<br />

E ainda faliam em economias !<br />

*<br />

Agora vejam esta, sabida das culminancias<br />

do Paço a proposilo da viagem<br />

da »r. a D. Maria Pia, que a Reforma relata<br />

nos termos seguintes :<br />

«Nem nos parece que a magesta<strong>de</strong><br />

das instituições ganhe nada com esta<br />

peregrinação regia por causa dos agiotas.»<br />

Ganha o que o collega diz no periodo<br />

seguinte:<br />

«Pois tudo isto se sabe lá fóra e<br />

também que a companhia dos tabacos,<br />

a nnica que se recusa a contribuir com<br />

sacrifícios para os nossos apuros, é a<br />

que fez o empreslimo <strong>de</strong> viagem.»<br />

Já vê pois que as peregrinações, não<br />

são tão infructiferas que não <strong>de</strong>em pelo<br />

menos para uma viagem.<br />

C R Y S T A E S<br />

Ave Maria, Gratia Plena<br />

De tantos sonhos que abranjo<br />

Tu és o sonho melhor;<br />

Livro escripto por um anjo<br />

E que eu sei lodo <strong>de</strong> cór.<br />

Musa dos bons, que eu procuro<br />

Para inspirar-me e cantar,<br />

E vér o <strong>de</strong>us do futuro<br />

A erguer-se no meu altar.<br />

Estatua que te levantas<br />

Entre as mais cheia <strong>de</strong> luz,<br />

Gomo entre a côrte das santas<br />

Maria, a mãe <strong>de</strong> Jesus 1<br />

Haste que toda te infloras<br />

Quando eu te digo, a tremer,<br />

Que não tenho outras amoras<br />

Mais que os teus olhos, mulherl<br />

Quando os teus olhos serenos<br />

Me vestem com seu fulgor,<br />

Eu sinto erguer-se uma Vénus<br />

Das ondas do meu amor.<br />

O alvor da tua innocencia<br />

E como o alvor matinal<br />

Ao bater na transparência<br />

D'um finissimo crystai.<br />

A tua voz, se me affaga<br />

O ouvido attento a escutar<br />

Julgo-a assim como na vaga<br />

Que traz um cysne a cantar.<br />

Quando eu <strong>de</strong> sonhos coberto,<br />

Vou sentar-me ao lado teu<br />

Gomo estou <strong>de</strong> ti mais perto<br />

Fico mais perto do ceul...<br />

GUILHERME BRAGA. -


A N N O I — N . ° 9 9 O DEFENSOR DO POVO JBO <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

LETTRAS<br />

0 Moreirinha<br />

(SCENAS DA PROVÍNCIA)<br />

V<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Quando o Moreirinha atravessou rapidamente<br />

a sala e <strong>de</strong>sceu as escadas,<br />

(mal resoou o tradicional—à ses places),<br />

irado e convulso, os olhos chammejando<br />

raiva, os lábios sacudidos pela vingança,<br />

o coração prestes a rebentar no peito,<br />

e no cerebro aquella i<strong>de</strong>ia lixa, ru<strong>de</strong><br />

e brutal d'um gran<strong>de</strong> escandalo ou d'um<br />

gran<strong>de</strong> crime; a Guida leve um sorriso<br />

voluptuoso. Comprehen<strong>de</strong>u, e comprehen<strong>de</strong>u<br />

bem, que, mais do que a cólera<br />

d'elle, valia a formosura esculptural do<br />

seu curpo correctíssimo: para lhe suffocar<br />

os odios tinha o fulgor sedutoramente<br />

provocante do seu olhar, e para<br />

lhe sopear todas as velleida<strong>de</strong>s e caprichos<br />

alli estavam as pétalas mimosas da<br />

sua bocca leve e fresca. Ah I então,<br />

convencida da sua belleza e vaidosa da<br />

sua conquista, <strong>de</strong>snudava-se, em espirito:<br />

era a curva suave do seu seio, redondinho<br />

e flácido como um ninho, <strong>de</strong>sabrochando<br />

a alvura marlinea da epi<strong>de</strong>rme<br />

no roseo estonteamento dos biquinhos;<br />

era o roliço do braço, escon<strong>de</strong>ndo sobre<br />

a transparência setinea da pelle a rigeza<br />

dos inusculos, que o Moreirinha quizera<br />

vêr sempre distendidos e retezados,<br />

no esforço egoista <strong>de</strong> o apertar só a elle<br />

e continuamente; era a <strong>de</strong>slumbrancia<br />

da perna, edificada sobre o alicerce pequenino<br />

do pé arqueado e movediço con.o<br />

o das andaluzas, e enchendo e torneando<br />

á medida que subia, ora contornando a<br />

curva, ora <strong>de</strong>senhando e avolumando a<br />

coxa; era, o rei <strong>de</strong> todos os sete peccados<br />

mortaes, o roseo uos teus lábios<br />

frescos e ainda por tocar pudicamente<br />

escondidos no oiro annellado da barba<br />

farta 1...<br />

Sim, a Guida triumpharia <strong>de</strong> tudo...<br />

E, atalayada por esle orgulho e cubiçosa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar ciúmes, ar<strong>de</strong>ntes e inlinaes,<br />

relanceou os olhos em torno, chamando<br />

a si o Barros. E assim, muito<br />

juntos e confi<strong>de</strong>ncialmente, isolados a<br />

um canto no macio appetitoso da chaiselongue,<br />

os dois <strong>de</strong>sprendiam-se inteiramente<br />

do bulício da sala, tocando-se rápidos<br />

apertos <strong>de</strong> mãos e fisgadas incan<strong>de</strong>scentes<br />

d'olhar. ..<br />

Quando o mestre-sala—aurora lá fóra<br />

pelo ceu alaranjado e pelos chilros das<br />

aves nas moitas—bateu compassadamente<br />

as palmas para a ultima walsa, a Guida<br />

<strong>de</strong>ixou pen<strong>de</strong>r a cabeça sobre o hombro<br />

do Barros, enlaçou-se luxuriosamente<br />

pelo seu braço robusto, e foi assim,<br />

•jJoida e frenetica, re<strong>de</strong>moinhando sempre,<br />

<strong>de</strong>vorando-o agora com os olhos<br />

em braza, sentindo logo estremecimento<br />

e quebreiras nas pernas, como um passarinho,<br />

que morre...<br />

O pacto estava feito. Outro sol não<br />

repontaria, sem que um beijo sonoro e<br />

apaixonado abafasse, sob o docel albente<br />

e rendilhado das cortinas do leito, o<br />

grito cortante, mas amoroso da virgem,<br />

que se afunda...<br />

Tres mezes <strong>de</strong>pois, quando o silvo<br />

agudo da locomotiva uivou no ar, o Zé<br />

da Gallega, entregador do Janeiro, atroava<br />

os ouvidos, sempre <strong>de</strong>liciados em<br />

sentar-lhe as piadas magnilicas, com um<br />

grito d'alegria, bem em conformida<strong>de</strong><br />

com o habito vermelho <strong>de</strong> S. João Evangelista,<br />

que trajava e o reluzente capacete<br />

<strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong> procissão, que lhe encimava<br />

a cara barbada e bexigosa : —<br />

Olha a queda ministerial I Olha a subida<br />

do Zé Luciano I<br />

Foi um dia <strong>de</strong> festa na villa. A philarmonica<br />

resoou sete mil vezes o hymno<br />

progressista e bombas <strong>de</strong> dynamite abalavam<br />

e borravam a atmosphera Jimpida<br />

e serena.<br />

Entretanto, o Barros correra apressado<br />

ao telegrapho a lembrar ao amigo<br />

e importantíssimo ministro da justiça a<br />

sua velha pretensão. tcEspero<strong>de</strong>v. ex. a ,<br />

em paga <strong>de</strong> tantos sacrifícios,'' esle favor»,<br />

terminava.<br />

E quinze dias <strong>de</strong>pois, ainda o sol<br />

não tingira d'oiro as portas do levante,<br />

e lá ia o Barros, acobertado no seu<br />

guarda-pó d'alpaca, muito aconchegado<br />

e somnolento ao fundo da diligencia do<br />

Nipo, a caminho da sua comarca. Dele-<br />

gado do procurador régio, para todos os<br />

effeitos 1<br />

Fugia, por necessida<strong>de</strong> e por interesse;<br />

fugia atravez da villa, ainda adormecida,<br />

op<strong>de</strong> apenas uma pallida luz<br />

coava a sua clarida<strong>de</strong> atravez as cortinas<br />

e a vidraça d'uma janella, lá no alio,<br />

como um olho que prescruta e chora.<br />

Era o quarto da Guida. Coitada, sabedora<br />

da fatal noticia ao cahir da noite,<br />

para alli ficara sobre o leito, estúpida<br />

e imbecilisada, as lagrimas correndo-lhe<br />

pelas faces, a bocca entre-aberta<br />

e soluçante. Agora sim, agora, que o<br />

retinir dos guisos e o estalar do chicote<br />

se perdia ao longe, é que ella comprehendia<br />

bem a enormida<strong>de</strong> da sua <strong>de</strong>sgraça,<br />

o perigo imminente da sua queda<br />

I Horrorisava-se, petrificava-se! Cori;<br />

di*velos d'amante e caricias <strong>de</strong> mãe, ella<br />

sonhara mil felicida<strong>de</strong>s para si e para<br />

o seu Barros, e antevia já o bom cabellitiho,<br />

a boquinha rosada e o sorriso innocente<br />

e meigo do pequenino ser, que<br />

ella sentia avolumar-se, <strong>de</strong>senvolver-se<br />

e aformosentar-se no seu ventre...<br />

E elle fugia! E alli tinha ainda, no<br />

regaço, aberto e molhado em pranto,<br />

lacónica e fria como a sua fugida: «Acabo<br />

<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>spachado <strong>de</strong>legado para<br />

Moimenta da Beira. Parto esta noite.<br />

A<strong>de</strong>us.»<br />

—A<strong>de</strong>us! A<strong>de</strong>us simplesmente! E os<br />

sacrifícios d'ella?) e a sua perdição ?! a<br />

sua honra, a honra <strong>de</strong> seus paes?!<br />

E naquelle momento, brusca e re<strong>de</strong>mptoramente,<br />

<strong>de</strong>senhou-se-lhe ante os<br />

olhos a imagem do Moreirinha, amante<br />

e apaixonado, só d'ella e só para ella...<br />

Sim, contar-lhe-hia tudo, rojar-se-lfte-hia<br />

<strong>de</strong> joelhos, pedir-lhe-hia perdão.<br />

E elle perdoou-lhe, e salvou-a.<br />

Um mez volvido, sobre as mãos cruzadas<br />

da Guida e do Moreirinha caira<br />

a estola sacerdotal e o re<strong>de</strong>mptor—conjugo-vos.<br />

Livre!<br />

O almoço correu vivo e animado.<br />

Os brin<strong>de</strong>s succediam-se e poeta houve<br />

que no furor da inspiração, atirou para<br />

o espaço, com um abrir <strong>de</strong>smesurado <strong>de</strong><br />

braços :<br />

Oh! virgem, virgem, não chores<br />

a laranjeira es folhada...<br />

A Guida ruborisou-se; e, incommodnda,<br />

correu á janella a tomar ar. O<br />

Moreirinha seguiu-a. Acariciou-lhe as<br />

mãos, a curva do seio, locou-lhe o pezinho<br />

calçado nos sapatos <strong>de</strong> setim.<br />

O engenheiro passava, flammante no<br />

seu fato <strong>de</strong> flanella branca, uma nuvem,<br />

<strong>de</strong> fumo emmoldurando-lhe a fronte<br />

russa.<br />

— Ou allez-vous, monsieur?<br />

— Á l'hotel.<br />

— S'tl vous plait. ..<br />

E, radiante, <strong>de</strong>sejos velhos accordados<br />

e novas titilações em effervescencia,<br />

correu a alcànçal-o, a pedir-lhe sensações.<br />

..<br />

O Barros, que chegára na vespera,<br />

ria á porta da Havaneza.<br />

De repente, bateu na testa e, direito<br />

e mélancholico, um ar affeclado <strong>de</strong><br />

tristeza, sahiti para a rua.<br />

A Guida, que o aviítára, teve um<br />

estremecimento.<br />

— Os meus parabéns, D. Margarida.<br />

Se dá licença...<br />

E, indiscreto, um sorriso mephistophelico<br />

nos lábios, subiu as escadas.<br />

— Não, não, não...<br />

— O' filha, mas que tolice!!<br />

E, ao contrario da primeira vez, um<br />

beijo longo abafou, sob o docel rendilhado<br />

do leito, um grito voluptuoso da<br />

Guida...<br />

Antonio Povoas.<br />

A cida<strong>de</strong> do Porto<br />

Em continuação da Semana Alegre,<br />

começou a publicar-se agora no Porto<br />

aquelle jornal, que apresenta o seu 1.°<br />

numero illustrado na 1.* pagina com um<br />

retrato do dr. Cunha e Costa.<br />

E' um jornal <strong>de</strong>mocrático, bem redigido<br />

e que merece todo o favor e accei •<br />

tação.<br />

Correio <strong>de</strong> Pombal<br />

Este jornal interrompeu por algum<br />

lempo a sua publicação.<br />

Pela Bélgica<br />

O operariado belga anda actualmente<br />

numa labutação fremente em prol do suffragio<br />

universal.<br />

De ha muito que a Bélgica, por condições<br />

particulares <strong>de</strong> raça e <strong>de</strong> educação,<br />

se tornou um centro animado <strong>de</strong><br />

socialismo pratico, activando solicitamente<br />

todas as conquistas dos mo<strong>de</strong>rnos codigos<br />

sociologicos e generalisaudo por uma<br />

correlação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, todos os problemas<br />

da questão social.<br />

D'entre esses problemas que pelo<br />

seu radicalismo atterram o espirito ronceiro<br />

da burguezia, avulta gran<strong>de</strong>mente<br />

a universalisação do suffragio, que os<br />

socialistas ha largo tempo veem reclamando,<br />

na justa convicção <strong>de</strong> que o suffragio<br />

universal, selecto e instruído, é o<br />

auxiliar mais po<strong>de</strong>roso, na evolução social,<br />

para a reivindicação pacifica dos<br />

princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />

Não se justifica, ao <strong>de</strong> leve, a pertinácia<br />

reagente da burguezia, recusando<br />

ao proletariado a sua parcella <strong>de</strong> inlerferencia<br />

nos <strong>de</strong>stinos nacionaes, quando,<br />

á luz <strong>de</strong> toda a lógica, o quarto estado,<br />

vivendo inferiormente na estreiteza das<br />

suas condições, nem por isso <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

representar uma força vital do «eu paiz,<br />

força tanto mais po<strong>de</strong>rosa que pelas suas<br />

condições <strong>de</strong> producção é um elemento<br />

constituivo da riqueza material das nações.<br />

As velhas leis exclusivistas applicadas<br />

á gleba e ás <strong>de</strong>mais bordas trabalhadoras,<br />

sempre affastadas do convívio<br />

social, são hoje banidas fundamentalmente<br />

<strong>de</strong> todos os codigos convencionaes,<br />

como o foram do codigo da Consciência,<br />

humanisado pela largueza <strong>de</strong><br />

vista inlellectual cujo incremento atravez<br />

os séculos tem tocado a balisa da perfectibilida<strong>de</strong>.<br />

D'entre os seres viventes tudo boje<br />

tem direito, já não dizemos á plena liberda<strong>de</strong><br />

legal, porque não comprehen<strong>de</strong>mos<br />

liberda<strong>de</strong> legal sem a responsabilida<strong>de</strong><br />

equivalente que vem <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong><br />

mental; mas todos têm direito, pelo<br />

menos, a uma parcella <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />

na applicação legal da egualda<strong>de</strong>. Isto<br />

pelo que" toca aos povos rudimentares,<br />

que, a certos titulos, é discutivel a sua<br />

razão <strong>de</strong> ser nas luctas conscientes da<br />

civilisação. Porque, quanto a povos como<br />

a Bélgica, em que lia nas suas reclamações<br />

ao Estado conservador, uma orientação<br />

criteriosa e firme, baseada no direito<br />

natural, nem sequer ha uma tangente<br />

para se pôr em duvida a legitimida<strong>de</strong><br />

das suas exigencias.<br />

Querer restringir a administração dos<br />

negocios públicos a uma oligarchia que<br />

apenas tem a reçonimendal a uma argúcia<br />

mal guiada que a leva á systhematisação<br />

das convenções mais contraproducentes,<br />

é, sobre uma heresia social, um ataque á<br />

egualda<strong>de</strong> civil e politica, lida em todos<br />

os codigos dos mo<strong>de</strong>rnos publicistas <strong>de</strong><br />

sociologia.<br />

Esta relutancia dos Estados que firmam<br />

no direito divino a sua razão <strong>de</strong><br />

existência, em transigir com as camadas<br />

gerarchicamente inferiores, é um eterno<br />

incentivo ás luctas <strong>de</strong> classes que serão<br />

tanto mais acirradas quanto maior fôr a<br />

teimosia dos intransigentes.<br />

O que presentemente está succe<strong>de</strong>ndo<br />

na Bélgica é a documentação segura<br />

<strong>de</strong> que não é sem violência que o velho<br />

regimen quer <strong>de</strong>sviar da ingerencia do<br />

Estado as classes protelarias.<br />

E essa violência que já é volumosa<br />

pelo valor das cooperações que registra,<br />

muito embora seja ainda impotente para<br />

um <strong>de</strong>si<strong>de</strong>ratum completo, talvez quem<br />

sabe, ó burguezes?— amanhã se traduza<br />

temerosamente num baque formidando<br />

das vossas prerogalivas e dos vossos privilégios<br />

!.,.<br />

Mappa do moyimento da Caixa Economica<br />

" Fraternida<strong>de</strong> em 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1893<br />

ACTIVO<br />

Empréstimos 104$480<br />

Despezas 8$510<br />

Caixa 209&930<br />

Somma 322$920<br />

PASSIVO<br />

Acções entradas 314$300<br />

Jóias 7$600<br />

Multas 27 e pagas 6 ... 600<br />

Juros 420<br />

Total a22#920<br />

O secretario,<br />

Alberto Ramos <strong>de</strong> Vasconcellos.<br />

EM SURDINA<br />

A Jeronymo Silva<br />

-O nosso dr. Jeronymo<br />

fez annos na terça feira;<br />

dia d'annos ó synoiiymo<br />

<strong>de</strong> festança e pago<strong>de</strong>ira.<br />

E teve festa d'estalo I<br />

Foram lá muitos fulanos,<br />

a caga — fclicital-o<br />

p'los seus trinta e nove annos 1<br />

Quiz lá ir todo lyró,<br />

todo cecio o anafado...<br />

Mas então? A minha avó<br />

não tinha um collar lavado 111<br />

Mas p'ro anno, meu doutor,<br />

que você chega aos quarenta,<br />

lã irei — e sem pavor —<br />

c'uma,camisa sebenta I<br />

PINTA-ROXA.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Associação dos Artistas<br />

Apezar dos muitos esforços da opposição<br />

que appareceu a disputar no domingo<br />

a eleição dos corpos gerentes que<br />

por <strong>de</strong>liberação unanime da assemblêa<br />

geral <strong>de</strong> 6 do corrente, se teve <strong>de</strong> realisar,<br />

apenas conseguiu fazer vingar a<br />

nomeação do sr. Augusto Fino para presi<strong>de</strong>nte,<br />

que obteve 12 votos a mais.<br />

Sairam eleitos os seguintes senhores:<br />

ASSEMBLEIA GERAL<br />

Presi<strong>de</strong>nte — Augusto José Gonçalves<br />

Fino.<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte — José Maria Men<strong>de</strong>s<br />

d'Abreu,<br />

Secretario—Alfredo da Cunha Mello.<br />

2.°—dito — Antonio Lourenço.<br />

3 ° dito — João Rocha.<br />

DIRECÇÃO<br />

Presi<strong>de</strong>nte—Manoel Illydio dos Santos<br />

Vice presi<strong>de</strong>nte — Augusto Eduardo<br />

Ferreira <strong>de</strong> Mattos.<br />

Secretario —Francisco Alves Teixeira<br />

Braga.<br />

Vice-secretario — Antonio da Silva<br />

Baptista.<br />

Thesoureiro — Manoel dos Santos<br />

Apostolo Júnior.<br />

Vogal —Antonio dos Santos Azevedo.<br />

Dito—Evaristo José Cerveira.<br />

COMMISSÃO FISCAL<br />

José Maria Casimiro d'Abreu.<br />

Francisco da Fonseca.<br />

Manoel José Telles.<br />

REPRESENTANTES DOS GRÉMIOS<br />

Alfaiates — Antonio Augusto da Paixão.<br />

Calligraphos — Guilherme José Marques<br />

Pinheiro.<br />

Carpinteiros — Manoel da Conceição<br />

Ningre.<br />

Marceneiros — Joaquim <strong>de</strong> Carvalho<br />

Porto.<br />

Oleiros — José Maria Fernan<strong>de</strong>s.<br />

Pharmaceuticos — Francisco Barata<br />

Bastos.<br />

Sapateiros — Benjamin Ramos.<br />

Serralheiros — Manoel Pedro <strong>de</strong> Jesus.<br />

Typographos — Maximiano José Carvalho.<br />

Mixto— Joaquim Abrantes Saraiva.<br />

E«eala Brotero<br />

São por emquanto tres as oflicinas<br />

que vão ser installadas nesta escola, das<br />

iudustrias que mais prepon<strong>de</strong>ram neste<br />

pequeno centro industrial, e que são:<br />

Ceramica — trabalhos <strong>de</strong> roda, fabrico<br />

corrente, pintura e mo<strong>de</strong>lação, ensaios<br />

<strong>de</strong> coloração e esmalte.<br />

Serralheria— Trabalhos <strong>de</strong> forja e<br />

torno, princípios rudimentares <strong>de</strong> mechanica,<br />

ensaios <strong>de</strong> fundição como complemento<br />

á serralheria d ! arte.<br />

Carpinteria e marceneria — Carpiuteria<br />

<strong>de</strong> branco, ligada ás construcções<br />

civis: merceneria <strong>de</strong> mobiliário, singelo<br />

e <strong>de</strong> luxo, talha, e trabalhos <strong>de</strong> torno.<br />

Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Debaixo da direcção do socio d'este<br />

gymnasio, sr. Luiz Doria, houve no domingo<br />

uma sessão dos jogos da Pelota,<br />

muito usado em Hespanha e do Ron<strong>de</strong>r.<br />

Correu animado, ainda que um pouco<br />

tumultuoso <strong>de</strong>vido á pouca experiencia<br />

dos jogadores.<br />

No domingo se o tempo permittir ha<br />

outra sessão, no mesmo local, pateo do<br />

convento <strong>de</strong> Sauta Clara.<br />

A eanalisação das aguas<br />

Por edital do >r. presi<strong>de</strong>nte da camara<br />

foi suspensa temporariamente a eanalisação<br />

das aguas por conla do município,<br />

sem prejuízo dos consumidores que haviam<br />

requerido antes d'esta <strong>de</strong>liberação.<br />

Correm diversos boatos sobre este<br />

assumpto, dizendo uns que o município<br />

está soflrendo bastantes prejuízos na eanalisação<br />

por sua conta ; outros affirmam<br />

que esta medida é simplesmente para<br />

dar logar a po<strong>de</strong>r reduzir-se o pessoal.<br />

São tão inverosímeis estes boatos que<br />

apenas os registamos a titulo <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>.<br />

Relativamente ao pessoal das aguas,<br />

sabe-se bem que não é fácil a substituição<br />

do actual empregado, sr. Henrique<br />

Cesar <strong>de</strong> Lima, que tem servido com<br />

tanto zelo e <strong>de</strong>dicação o município que<br />

não acreditamos que este dispense os seus<br />

serviços, quanto mais nos não consta<br />

ter havido os prejuízos que se <strong>de</strong>ram<br />

antes da sua entrada.<br />

Além d'isSo o sr. Henrique é um<br />

empregado cumpridor, muito activo e que<br />

tem lido a rara felicida<strong>de</strong>, pelo sem comportamento<br />

e trato <strong>de</strong>licado, <strong>de</strong> servir a<br />

contento <strong>de</strong> todos os consumidores, não<br />

baixando nunca a repartição da camara<br />

uma queixa accusando-o <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s<br />

ou abandono <strong>de</strong> serviço.<br />

Não conhecemos <strong>de</strong> perto este cidadão,<br />

mas tal tem sido a sua linha <strong>de</strong><br />

conducla, que por todos é estimado, e<br />

bem mal recebida seria qualquer resolução<br />

que a camara tomasse ácerca d'este empregado,<br />

que tem merecido do publico<br />

que o conhece e aprecia, os mais altos<br />

elogios.<br />

A camara que bera melhor que/ nós<br />

saberá avaliar os bons predicados do sr.<br />

Henrique, ha <strong>de</strong> ter para com-elle todas<br />

as consi<strong>de</strong>rações, não commettendo injustiças<br />

para com uin subordinado que<br />

tao bem tem cumprido com os seus <strong>de</strong>veres<br />

prolissionaes e <strong>de</strong> bom cidadão.<br />

O baile na Recreativa<br />

Proporcionou-nos uma noite agradavelmente<br />

passada, no sabbado, a direcção<br />

da Assemuleia Recreativa.<br />

Des<strong>de</strong> o entrudo que alli não tinha<br />

havido reuuião e <strong>de</strong>vido, naturalmente,<br />

a isso foi esta muito concorrida.<br />

Muitas damas, bastantes cavalheiros<br />

e sobretudo gran<strong>de</strong> animação.<br />

Dançou-se até as 3 horas da manhã<br />

e..., se não se dançou até mais tar<strong>de</strong>,<br />

foi porque a essa hora as mamãs começaram<br />

<strong>de</strong> mostrar os seus remuntoirs era<br />

cujos mostradores apparecia a hora fatal<br />

com que <strong>de</strong> costume terminam estas<br />

reuniões.<br />

Durante a noile <strong>de</strong>liciaram-nos com<br />

trechos <strong>de</strong> musica brilhantemente executados<br />

as ex.' nas sr. a ' D. Elvira e D.<br />

Maria Silvano.<br />

Emlim uma noite <strong>de</strong> festa, verda<strong>de</strong>iramente<br />

familiar, on<strong>de</strong> nao houve o<br />

menor inci<strong>de</strong>nte que contrariasse a jovialida<strong>de</strong><br />

que durante o baile reinou.<br />

Não po<strong>de</strong>mos pois <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consignar<br />

aqui á nova di-reçção o nosso parabém<br />

pela maneira 'comó tem procedido<br />

para a sua cònservaçãd eie&envolvimento.<br />

Ao sr. comiuissàrio <strong>de</strong> policia<br />

n r. _<br />

Pedimos para que s. ex. manda po<br />

liciar a rua do Corpo <strong>de</strong> Deus, on<strong>de</strong> sao<br />

constantes os" ralhos e os palavrões.<br />

No domingo passado foi uma iníerneira;<br />

gritos <strong>de</strong> soccorro, scenas <strong>de</strong><br />

pugilato, chegando se a puchar por uma<br />

faca para o adversario.<br />

O sr coinmissario que <strong>de</strong>seja manter<br />

a or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>certo atlenuera ao nosso pedido,<br />

evitaudo que os moradores d aquella<br />

rua estejam em constaute sobresalto.<br />

Trovoada<br />

Na terça feira esteve imminente sobre<br />

esta cida<strong>de</strong> uma forte trovoada que felizmente<br />

passou sem consequências <strong>de</strong>sastrosas.<br />

Partidos médicos<br />

Na reunião dos 40 maiores contribuintes,<br />

realisada na segunda feira, foi<br />

rejeitada a creação dos quatro partidos<br />

médicos creados pela camara actual.<br />

Theatro-C/irco<br />

A companhia equestre, que ultimamente<br />

trabalhou neste theatro, <strong>de</strong>spediuse<br />

hontem.<br />

Nao po<strong>de</strong>mos referir-nos hoje ao trabalho<br />

magistral e correctíssimo da Geraldine<br />

e <strong>de</strong> Emma Gautier; no proximo<br />

numero, porém, apreciaremos como realmente<br />

merecem os trabalhos das gentilissiinas<br />

artistas.


AN^O I — M.* IO O MFElVIiOR DO POVO 8 0 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1 8 ® 3<br />

Desastre<br />

Na segunda feira, ao <strong>de</strong>scer a rua d°<br />

Arco d'Alniedina, o sr. Manoel Lucas,<br />

morador na estrada da Beira, caiu tão<br />

<strong>de</strong>sastradamente que <strong>de</strong>slocou um pé<br />

pelo artelho.<br />

Foi recolhido em casa do nosso cor-<br />

religionário o sr. Manoel Antonio da<br />

Costa, on<strong>de</strong> o hábil clinico sr. dr.<br />

Pontes lhe ministrou os primeiros curativos<br />

seguindo <strong>de</strong>pois em carro para sua<br />

casa, on<strong>de</strong> se acha em tratamento.<br />

Todos os dias se dão naquelle logar<br />

<strong>de</strong>sastres semelhantes, <strong>de</strong>vido á calçada<br />

estar polida pelo transito. Pedimos pois<br />

á camara para que provi<strong>de</strong>ncie mandando<br />

picar as pedras a fim <strong>de</strong> evitar estes<br />

acontecimentos.<br />

Mausoléu<br />

Brevemente será assente no cemiterio<br />

da Conchada o sumptuoso mausoléu que<br />

ha <strong>de</strong> recolher os restos mortaes do benemerito<br />

cidadão dr. João Corrêa Ayres<br />

<strong>de</strong> Campos.<br />

Dizem que é um bello monumento<br />

e que a sua execução ha <strong>de</strong> affirmar os<br />

elevados doles artísticos do nosso patrício<br />

sr. Antonio Augusto da Costa Motta.<br />

O mausoléu é <strong>de</strong> mármore <strong>de</strong> Carrara<br />

é impbrtará "em vinte'contos <strong>de</strong> reis.<br />

Theatro D. Luiz<br />

A companhia <strong>de</strong> opera-comica do<br />

Príncipe Real, do Porto, apresenta-se<br />

<strong>de</strong> novo no theatro D. Luiz no sahbado,<br />

levando á scena As noivas do Enéas e<br />

no domingo O Solar dos Barrigas, applaudidas<br />

operettas <strong>de</strong> Gervásio Lobato.<br />

Recita do 5.° anno<br />

O scenario que ha <strong>de</strong> servir na recita<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida dos alumnos do 5.°<br />

anno <strong>de</strong> Direito, será pintado pelo sr.<br />

Antonio Augusto Gonçalves, cujo talento<br />

artístico se tem revelado com superiorida<strong>de</strong>.<br />

Senhor aos entrevados<br />

No proximo domingo, pelas 7 horas<br />

da manhã, será levado com a pompa<br />

dos annos anteriores, o sagrado viatico<br />

aos entrevados da freguezia <strong>de</strong> S. Bartholomeu.<br />

O itinerário é o seguinte:<br />

ruas do Cego, Ferreira Borges, Corpo<br />

<strong>de</strong> Deus, Viscon<strong>de</strong> da Luz, Martins <strong>de</strong><br />

Carvalho, .praça 8 <strong>de</strong> Maio, ruas do<br />

Corvo, e dos Sapateiros, travessa da rua<br />

Velha,- praça do Commercio, rua das<br />

folias, largos das Ameias e Solta, rua<br />

dos Esteireiros e Adro <strong>de</strong> Baixo.<br />

A mesa pe<strong>de</strong> o obsequio, aos moradores<br />

d'estas ruas e largos para ornamentarem<br />

as suas janellas com colchas<br />

<strong>de</strong> damasco, assim como pe<strong>de</strong> a todos<br />

;0s-irmã0s para não faltarem á hora <strong>de</strong>terminada.<br />

Destroço d'arvores<br />

lnformam-nos que tem sido cortadas<br />

do ;Choupal, junto da praça <strong>de</strong> touros,<br />

muitas arvores, para cultivo d'aquelle<br />

terreno.<br />

O sr. director respectivo lerá conhecimento<br />

d'este vandalismo?<br />

30 Folhetim do Defensor do POYO<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

VXÍI<br />

Um casamento suspenso<br />

...Mas isso já lá vae ha muito tempo...<br />

é já historia antiga. Memma, reconheço-o,<br />

merecia mais que um capricho, e<br />

eu <strong>de</strong>sgraçadamente, não tenho paixão<br />

que oftereça a uma mulher... O estudo<br />

da diplomacia e das altas questões inoraes<br />

arrefece o coração. E' um mal? Não<br />

sei. Cada um tem <strong>de</strong> se submetter ás<br />

exigencias da sua organisação... A<strong>de</strong>us,<br />

marquez di Negro.<br />

— A<strong>de</strong>us, meu caro con<strong>de</strong>.<br />

Quando Talormi licou só, procurou<br />

por lodos os lados em volta <strong>de</strong> si e bem<br />

<strong>de</strong>pressa viu approximar-se um homem<br />

que se tinha conservado na sombra do<br />

portico da Annunciada.<br />

— Pois bera, o golpe falhou, disse<br />

Talormi, mas não importai o lobo do<br />

mar partiu e a mulher ficou só — economizámos<br />

assim a morte d'um homem.<br />

— E agora, disse Barbone, que irá<br />

<strong>de</strong> ser do meu trabalho lá em cima?<br />

N — Ah! é justo, Barbone; tu não<br />

Exames d'instrucçâo primaria<br />

Principiaram já os exames d'ins!rucção<br />

primaria no Lyceu central d'esta<br />

cida<strong>de</strong> ficando os jurys assim compos-<br />

tos:<br />

1. A MESA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Clemente Pereira <strong>de</strong> Car-<br />

valho.<br />

Vogaes: José Pereira Maduro e Antonio<br />

Albino Mourão.<br />

2. A MESA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Manoel da Costa Carvalho.<br />

Vogaes: José da Costa Henriques e<br />

Antonio Avelino.<br />

Acto <strong>de</strong> licenciado<br />

Está marcado o dia 22 <strong>de</strong> maio para<br />

o acto <strong>de</strong> licenciado na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Direito do sr. Arthur Pinto <strong>de</strong> Miranda<br />

Montenegro.<br />

Sagrado Viatico<br />

No domingo saiu proeessionaluiénte<br />

o Sagrado Viatico na vi lia <strong>de</strong> Montemor<br />

aos entrevados. A procissão era numerosa,<br />

acompanhando-a a philarmonica da<br />

villa, habilmente regida pelo sr. Francisco<br />

Carvalho, que executou muito bem<br />

alguns trechos <strong>de</strong> musica.<br />

Estatutos<br />

Já concluiu os seus trabalhos a commissão<br />

encarregada <strong>de</strong> elaborar o projecto<br />

dos novos estatutos para o Monte-pio<br />

Conimbricense, o qual será brevemeute<br />

discutido em assembleia geral.<br />

Mariano Machado<br />

Foi convidado para ir dirigir a companhia<br />

<strong>de</strong> Moçambique em Africa, este<br />

nosso amigo.<br />

Movimento commercial<br />

Agio—Premio das libras: 900 rs<br />

ouro nacional, 17 ;<br />

Prata ja não tem agio.<br />

*<br />

Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />

tremez 560 — Milho branco 335 —Dito<br />

amarello 335 — Feijão vermelho 520 —<br />

Dito branco 420 —Dito rajado 340 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 420—-Centeio 440—Cevada<br />

300 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />

meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />

Azeite a 1/610.<br />

Carta<br />

O sr. Bernardo Carvalho dirige-nos<br />

a seguinte carta a proposito da noticia<br />

que <strong>de</strong>mos era o numero passado acerca<br />

da Associação dos Artistas.<br />

Como nos falta espaço, no proximo<br />

numero mostraremos a este senhor que<br />

as informações que nos <strong>de</strong>ram não foram<br />

falsas, como suppõe, e que o caso que<br />

o fez vir varrer a sua teslada não tem a<br />

importaneia nem o valor que lhe quer<br />

dar.<br />

queres per<strong>de</strong>r o teu trabalho e é natural...<br />

Comtuílo não é necessário coinmetter<br />

caiaslrophes inúteis... Ouve,<br />

é indispensável que da tua obra não<br />

resto o mais insignificante traço...<br />

D'aqui a uma hora toda a gente estará<br />

a dormir já ua casa <strong>de</strong> campo, mas, não<br />

obstante, seguiras o teu caminho habitual<br />

em volta da quinta, e <strong>de</strong>molirás completamente<br />

a ponte do mirante... Este<br />

segundo trabalho lia <strong>de</strong>,ser altrrbuido<br />

a <strong>de</strong>vastadores nocturnos.<br />

Vamos a prevenir um caso terrível<br />

— Memnu, quando se levantar, po<strong>de</strong><br />

ter i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ir vUitar o marquez di Negro<br />

e <strong>de</strong> ao mesmo tempo ir passear até<br />

ao mirante para ver <strong>de</strong> longe o caminho<br />

que seu marido tomou... as mulheres<br />

teem d'esles caprichos. Diabo! eu não<br />

quero que Memma caia nesta armadilha<br />

<strong>de</strong> lobos; reservo-lhe uma menos perigosa.<br />

Assim, Barbone, põe-te a caminho<br />

e segue as minhas or<strong>de</strong>ns com a maior<br />

exactidão. You-ine <strong>de</strong>itar. Concluído o<br />

teu trabalho, espero-le em casa.<br />

Barbone inclinou-se <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> seu<br />

amo, e, executor sempre docildas or<strong>de</strong>ns<br />

recebidas, partiu.<br />

Tornamos a Paulo Gréant, precisamente<br />

no momento em que o <strong>de</strong>ixamos<br />

no mirante. O moço artista viu <strong>de</strong>svauecer-se<br />

o sua ultima esperança nas brumas<br />

matinaes do horisonle nuritimo. O dia<br />

<strong>de</strong>sponta já sobre os cumes das montanhas;<br />

é necessário não <strong>de</strong>ixar que os<br />

*<br />

Sr. redactor: — Era o numero 78 do<br />

seu jornal 0 Defensor do Povo, li eu;<br />

uma noticia referente á Associação dos<br />

Artistas, que as eleições se iam fazer<br />

<strong>de</strong> novo em consequência dos indivíduos<br />

que ficaram eleitos na ultima eleição (que<br />

leve logar em 2 d'outubro <strong>de</strong> 1892) não<br />

terem comparecido pasa tomar posse dos<br />

seus cargos!<br />

Não sendo esta a expressão da verda<strong>de</strong><br />

lamento que tão <strong>de</strong> má fé o informassem<br />

e como um dos membros eleitos<br />

em outubro <strong>de</strong> 1892, cumpre-me vir<br />

restabelecer a verda<strong>de</strong> dos factos varrendo<br />

a miulia testada.<br />

Em 2 d'outubro <strong>de</strong> 1892 Gzeram-se<br />

d'uma fornia perfeitamente legal as eleições<br />

dos corpos gerentes da associação<br />

em que estão; no dia 7 do me


A M O I — IV. 9 19 O D E F E N S O R B O P O V O «o <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

LIVROS<br />

Annuncios grátis recebendo-se<br />

um exemplar.<br />

Agencia Universal Portugueza<br />

Esta agencia encarrega-se <strong>de</strong> redigir<br />

e fazer inserir annuncios, communicados<br />

e réclames em todos os jornaes do Porto,<br />

Lisboa, províncias e estrangeiro.<br />

Incumbe-se da redacção <strong>de</strong> estatutos,<br />

relatorios, circulares, requerimentos, cartazes,<br />

prospectos, manifestos, etc, encarregando-se<br />

também <strong>de</strong> os fazer imprimir<br />

e (distribuir quando o cliente assim o<br />

<strong>de</strong>seje, responsabilisando-se pela niti<strong>de</strong>z<br />

e perfeição do trabalho typographico assim<br />

como pela escrupulosa distribuição.<br />

Toma conta <strong>de</strong> qualquer trabalho <strong>de</strong><br />

copia.<br />

Acceita quaesquer publicações á commissão,<br />

ou em <strong>de</strong>posito, encarregando se<br />

da sua venda e distribuição.<br />

Satisfaz com rapi<strong>de</strong>z, todas as encommendas<br />

<strong>de</strong> quaesquer livros nacionaes<br />

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todos os jornaes e publicações litterarias<br />

nacionaes e estrangeiras, pois está em<br />

correspondência directa com as principaes<br />

eniprezas e livrarias; tendo representação<br />

e correspon<strong>de</strong>ntes em todas as<br />

principaes cida<strong>de</strong>s.<br />

R u a <strong>de</strong> D. Pedro, 110 —1.°<br />

PORTO<br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha .<br />

Repetições<br />

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20 róis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 30 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

Arrematação<br />

(i. a publicação)<br />

109 M « < , Í B ' P r o x ' m o raez l ' e<br />

maio, por II horas da manhã<br />

no tribunal, ha<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r-se em hasta<br />

publica pelo inventario orphanologico <strong>de</strong><br />

Rozaria Maria <strong>de</strong> Jesus, solteira, fallecida<br />

na rua dos Militares d'esta cida<strong>de</strong>, uma<br />

morada <strong>de</strong> casas com tres andares, situada<br />

na rua da Mathemalica, freguezia da Sé<br />

Cathedral, com os números <strong>de</strong> policia<br />

40 e 42, a partir com Raphael Rodrigues<br />

d'Oliveira e her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Diogo Barata,<br />

avaliada em 695$800 réis.<br />

E' foreira do Seminário em 210 réis<br />

annuaes.<br />

A contribuição <strong>de</strong> registro e o lau<strong>de</strong>mio<br />

que for <strong>de</strong>vido serão pagos pelo arrematante.<br />

• Pelo presente são citados quaesquer<br />

credores e intimados incertos para assistirem<br />

á praça.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 14 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />

Verifiquei a exactidão.<br />

O juiz <strong>de</strong> direito,<br />

Queiroz.<br />

O escrivão,<br />

Joaquim A. Rodrigues Nunes<br />

* -<br />

107 da cida<strong>de</strong><br />

y» <strong>de</strong> Braga, <strong>de</strong>claram para os<br />

<strong>de</strong>vidos effeitos, que no dia 15 do corrente<br />

acceilaram uma letra a João Alves<br />

da Silva Júnior, da Covilhã, da quantia<br />

<strong>de</strong> 148)51080 réis, com vencimento em<br />

11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1893, e liavendo-se<br />

extraviado a mesma, passaram uma 2. a<br />

via, ficando <strong>de</strong> nenhum effeito a l. a ; o<br />

que fazem publico para que ninguém<br />

faça nenhuma transacção com a dita l. a<br />

letra, acceite, mas ainda não saccada.<br />

Braga, 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1893.<br />

11 AVI í\ fJ<br />

MARGA «ANCORAS»<br />

enrie-se no estabelecimento<br />

105 V <strong>de</strong><br />

JULIO DA CUNHA PINTO<br />

74, Rua dos Sapateiros, 80<br />

ri<br />

flNTIMIâ U P, J, A, CMIMIÍ<br />

14, Largo dlnnuuciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />

CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />

ANTONIO JOSÉ IIM073A BASTO—SUA SOS SAPATEIROS, 23 A 23<br />

OFF1CINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />

ESTAMPARIA MECHAftlCA<br />

6 inge lã, seda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />

1 feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />

vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não éstão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />

2<br />

JOIO RODRIGUES BRAGA<br />

SUCCESSOR<br />

17-ADRO DE CIMA-20<br />

fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

COIMBRA<br />

ARMAZÉM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />

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N. B. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esla marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />

4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />

mm CQN7SA BBitKS 1 EMPIBSNS -<br />

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M çoes <strong>de</strong> egrejas, forrar casas a papei, etc., etc.,<br />

tauto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />

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Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />

JOSÉ m mmi n m m<br />

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da Companhia


OT<br />

Defensor<br />

^ l J P ANNO<br />

J<br />

I <strong>Coimbra</strong>, 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 H.° 80<br />

p<br />

A lncta na Bélgica<br />

Durante oito dias, tem chegado<br />

da Bélgica noticias <strong>de</strong> um movimento<br />

operário, organisado por chefes<br />

hábeis, secundados por uma<br />

multidão convida.<br />

O partido operário socialista<br />

belga, constituído por maneira que<br />

possa manifestar-se uniforme e rapidamente,<br />

mostrou <strong>de</strong> tal modo a<br />

sua força, que fez recuar a maioria<br />

reaccionaria do parlamento, obrigando-a<br />

a submeller-se quasi completamente<br />

na questão do suffragio<br />

universal.<br />

A lucla <strong>de</strong> protesto, que durou<br />

oito dias, não foi livre <strong>de</strong> scenas<br />

violentas e o sangue <strong>de</strong> muitos trabalhadores<br />

correu pelas ruas das cida<strong>de</strong>s<br />

revoltadas.<br />

Os feridos são por <strong>de</strong>zenas e os<br />

mortos não são poucos.<br />

O paiz mineiro foi occupado militarmente;<br />

a policia multiplicou as<br />

prisões dos insurrectos; o palacio<br />

do rei foi posio em estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza,<br />

como uma praça forte; a arlilheria<br />

preparou-se para metralhar a<br />

multidão. E todavia o partido operário<br />

alcançou a suaprimeiragran<strong>de</strong><br />

Victoria pela justiça com que<br />

apresentava as suas reclamações e<br />

pela força com que tratou <strong>de</strong> as garanlir.Pelaforça,<br />

que se viu obrigado<br />

a empregar, convencido <strong>de</strong> que os<br />

meios brandos não bastavam. E sacrificou-se<br />

porque viu que o sacrifício<br />

era necessário.<br />

Mas assim é que se vence. Só<br />

assim é que se po<strong>de</strong> vencer.<br />

E, o velho mundo burguez e conservador<br />

já treme perante as legiões<br />

<strong>de</strong> famintos <strong>de</strong> pão e <strong>de</strong> justiça,<br />

que vêem avançando, illummados<br />

pela revolta, resolutos pela coragem,<br />

archote numa das mãos, machado<br />

na oulra para romper a passagem,<br />

que lhes irriçaram <strong>de</strong> bayonelas e<br />

fecharam com metralhadoras. O seu<br />

grito é um grilo <strong>de</strong> muitos séculos,<br />

sempre perdido, sempre esquecido.<br />

Emlim, elle vae fazer-se ouvir...<br />

*<br />

Um facto significativo contam<br />

as noticias da Bélgica:—No dia<br />

15, quando a camara regeilava a<br />

modificação á lei do suffragio, que<br />

<strong>de</strong>pois veiu a acceitar, com restricções,<br />

que não durarão muito, o<br />

rei Leopoldo foi para o seu parque<br />

<strong>de</strong> Laeken assistir a uma gar<strong>de</strong>nparty<br />

l Mas acrescentam essas noticias,<br />

que a multidão o assobiou e<br />

apupou, crescendo por tal fórma o<br />

seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> protesto, que, a não<br />

acudir em gran<strong>de</strong> força, á <strong>de</strong>sfilada,<br />

um regimento <strong>de</strong> cavallaria,<br />

a gar<strong>de</strong>n-party do rei Leopoldo terminaria<br />

por fórma a servir <strong>de</strong> exemplo,<br />

aos que em railly-paper's se divertem<br />

noulros paizes mais pacientes<br />

e parvos.<br />

*<br />

Ora emquanlo se passavam pelo<br />

norte da Europa estes faclos, prenúncios<br />

d'uma gran<strong>de</strong> revolução,<br />

no cantinho do occi<strong>de</strong>nle o que se<br />

dizia a respeito <strong>de</strong> um povo, tão<br />

conhecedor e <strong>de</strong>fensor dos seus direitos?<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO X V<br />

Cá pelo occi<strong>de</strong>nle, é certo, alguns<br />

se interessavam pelo que occorria<br />

e mostravam-se dispostos a<br />

proce<strong>de</strong>r por fórma egual... se os<br />

porluguezes fossem «como aquella<br />

genle da Bélgica.»<br />

Ora para conseguir o suffragio<br />

universal, para conseguir a sua liberda<strong>de</strong>,<br />

o seu pão, ou para reivindicar<br />

a sua honra pessoal ou collecliva<br />

«Ioda esta genle porlugueza»<br />

não está para massadas.<br />

Na Bélgica havia <strong>de</strong> momento,<br />

uma questão <strong>de</strong> voto; em Portugal<br />

ha <strong>de</strong> momento e sempre uma questão<br />

<strong>de</strong> calote, <strong>de</strong> roubo e fome.<br />

Pois bem 1<br />

Para conquistarem o voto além,<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> cidadãos,<br />

revollam-se, <strong>de</strong>ixam-se fuzilar.<br />

Para repellirmos a <strong>de</strong>shonra,<br />

para fazermos justiça, para evitarmos<br />

a miséria o que fazemos nós<br />

aqui ?<br />

Somos amanuenses, procuramos<br />

sel-o, e dormiremos <strong>de</strong> barriga<br />

para o ar, em <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> o ser.<br />

E o governo affirma que temos<br />

razão, a burgueziá enten<strong>de</strong> que fazemos<br />

bem, o exercito acha melhor<br />

assim...<br />

Ora quando tudo pensa d'esla<br />

maneira, não quererão os que já<br />

não po<strong>de</strong>m esperar, pensar como<br />

os seus camaradas belgas e proce<strong>de</strong>r<br />

como elles?<br />

Assim se daria o faclo inaudito<br />

<strong>de</strong> serem os pequenos e os opprimidos,<br />

que libertassem os que<br />

podiam liberlal-os a elles e liberlar-se<br />

a si 1<br />

Porque na Bélgica eslá-se dando<br />

esse caso, em parle, e aqui darse-hia<br />

por complelo.<br />

Eslará alguém disposto ao que<br />

dizemos ?<br />

Tembem não nos admira que<br />

não.<br />

Emquanlo os belgas, perturbam<br />

a gar<strong>de</strong>n-party do seu rei Leopoldo,<br />

com espontaneas manifestações <strong>de</strong><br />

assobio, os porluguezes pacientes<br />

ao saberem d'uma festa real, só<br />

lêem pena <strong>de</strong> não serem ao menos<br />

cavallos, numa caçada aos lobos,<br />

ou num railly-paper em Cinira.<br />

Bem se imporia este povo com<br />

o que fazem os outros povos!<br />

Julgam taIvez que muitos iam<br />

procurar nas noticias lelagraphicas<br />

se os operários belgas venciam a<br />

tropa e se o rei cedia ao povo?<br />

Não senhor. Por cá vae-se lêr<br />

nos lelegrammas da viagem real,<br />

se as toilettes da sr. a D. Maria Pia<br />

foram admiradas pela sua riqueza e<br />

se o siv D. Alfonso tem sido feliz<br />

em aventuras.<br />

Porque seria realmente triste<br />

se a nossa rainha e o nosso infante,<br />

envergonhassem o paiz por falta <strong>de</strong><br />

dinheiro. Não, que nós somos fidalgos.<br />

..<br />

c<br />

Centro Republicano<br />

À Civilisação, da Guarda <strong>de</strong> 18, diz<br />

que lhe consta se vae fundar naquella<br />

cida<strong>de</strong> um centro <strong>de</strong>mocrático, para o que<br />

o partido republicano conta com elementos<br />

valiosos.<br />

Oxalá que os nossos correligionários<br />

d'aquella cida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>sanimem no seu<br />

proposito, e as mais cida<strong>de</strong>s da província<br />

lhe vão seguindo o exemplo.<br />

CHRONICA DE COIMBRA<br />

<strong>Coimbra</strong> é uma das terras d'este<br />

nosso velho Portugal mais bem disposta<br />

para saber viver.<br />

Emquanto o resto do paiz clama e<br />

berra, porque é vexatória a fórma da<br />

cobrança dos cães á fazenda publica —<br />

dispendioso e infructifero o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />

18 <strong>de</strong> março ultimo, mandando proce<strong>de</strong>r<br />

á inspecção das matrizes, ella apenas<br />

volve os olhos para on<strong>de</strong> julga ouvir algum<br />

sussurro, sorri da sua ingenuida<strong>de</strong><br />

e vel-a lá vae <strong>de</strong> bandolim <strong>de</strong>baixo do<br />

braço, para a beira do seu Mon<strong>de</strong>go,<br />

cantar com os rouxinoes e fallar com a<br />

brisa, emquanto os pastores da Estrella,<br />

para conservarem as tradições legadas<br />

por Viriato, vão dando que fazer ao sr.<br />

general, commandante da terceira divisão<br />

militar.<br />

Mas <strong>Coimbra</strong> é que não está para<br />

essas coisas. Envelheceu e cançou-se nas<br />

luctas civis, que nos legaram a carta e<br />

fizeram tremer a sr. a D. Maria, no seu<br />

augusto throno.<br />

Depois d'isso, nunca mais pensou em<br />

reações e hoje, que os tempos são outros,<br />

só pensa em divertir-se, e nisso faz<br />

bem.<br />

Ultimamente appareeeu a Giraldine.<br />

E então é que é vel-a. Larga o baudolim,<br />

corre a casa, enverga o melhor da<br />

fatiota, põe uma gravata flammante e<br />

vae para o Circo exhibir o seu <strong>de</strong>lírio,<br />

o seu enthusiasmo I<br />

Troam as palmas, repelem-se as chamadas,<br />

e ella, sempre enfeitiçada pelos<br />

olhos rasgados e beilos da artista que,<br />

necessariamente <strong>de</strong>vem ser os taes a que<br />

os poetas chamam filtros d'amor.<br />

Giraldiue, diga-se a verda<strong>de</strong>, é extraordinariamente<br />

bella. D',uma altura<br />

bastante para constituir eleganoia, com<br />

uma cintura <strong>de</strong> vespa, que immediatamente<br />

se <strong>de</strong>senvolve em relevos tão salientes,<br />

tão perfeitos, assentes sobre as<br />

pernas esculpturaes, que euthusiasmam e<br />

pren<strong>de</strong>m a plateia e até aos mais indiffereutesdo<br />

Dello, como succe<strong>de</strong>u a alguns,<br />

não obstante o seu estado morbido permanente.<br />

O <strong>de</strong>lirio augmenla, o dinheiro escassea.<br />

•<br />

Chove, troveja... noites impossíveis.<br />

Mas que importa á nossa ri<strong>de</strong>nte<br />

<strong>Coimbra</strong> essas pequenas coisas ?<br />

Apenas havia um motivo que a forçaria<br />

a ficar em casa. Era a falta <strong>de</strong> dinheiro.<br />

Mas ella é engenhosa e financeira<br />

E logo <strong>de</strong> manhã, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> serventes,<br />

<strong>de</strong> chalé traçado e gran<strong>de</strong> rolo<br />

(não sei <strong>de</strong> que) andam num continuo vaeveui.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois já não parecem as<br />

mesmas. Mais pausadas, e todas <strong>de</strong> papel<br />

na mão, como quem vae <strong>de</strong>itar uma carta<br />

no correio. O que ellas fizeram do rolo<br />

e o que significa o tal papel, não sei,<br />

nem me importa saber. Mas a verda<strong>de</strong> é<br />

que á noite lá lemos os mesmos enthusiastas,<br />

as mesmas palmas, o mesmo<br />

<strong>de</strong>lirio.<br />

Na rua agua a cantaros, no palco<br />

bouquets ás dúzias.<br />

E não fica por aqui o eiithasiasrao<br />

da nossa mocida<strong>de</strong>.<br />

Até mesiuo.quando, a bella Giraldina<br />

(em linguagem <strong>de</strong> cartazes) começa a erabalar-se<br />

nos braços' <strong>de</strong> Morpheu — ellas<br />

— os tristes enamorados, vão divinisarlhe<br />

o somuo cora as notas plangentes do<br />

bandolim, ou com o trinar mavioso da<br />

guitarra.<br />

E sem tomarem alentos, sem <strong>de</strong>scançarem<br />

da refrega, na ultima noite fazera-<br />

Ihe <strong>de</strong>zoito chamadas, que por tal signal<br />

ia redundando numa boa pepineira <strong>de</strong> que<br />

a formosa americana não levará mui<br />

gratas recordaçõe».<br />

E ainda Tão <strong>de</strong>corridos tres dias, já<br />

nos vamos preparondo para as quatro<br />

recitas do D. Luiz.<br />

E diga-se <strong>de</strong>pois que <strong>Coimbra</strong> é serasaborona<br />

e que o paiz está pobre!<br />

Para mim não ha melhor liei para<br />

accusar a riqueza nacional que a nossa<br />

lusa Athenas, para on<strong>de</strong> convergem uma<br />

bôa parte das receitas do paiz.<br />

Pois é ver como ella se diverte, ri e<br />

folga sem querer saber <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas.<br />

E, <strong>de</strong>pois d'isto, digam-me com que<br />

auctorida<strong>de</strong> o sr. Dias Ferreira dizia aos<br />

credores externos que o paiz estava pobre<br />

e não podia pagar senão um terço em<br />

ouro?<br />

Comício<br />

Ilouve um gran<strong>de</strong> comicio em Castanheira<br />

<strong>de</strong> Pera, approvando-se fosse enviada<br />

uma representação a el-rei pedindo-se-lhe<br />

o <strong>de</strong>smembramento do concelho,<br />

e a creação d'um outro cora sé<strong>de</strong> em<br />

Castanheira, fazendo-se a mudança da<br />

sé<strong>de</strong> da comarca para Figueiró. O povo<br />

protestou contra a ligação a Pedrogão.<br />

Esta representação será entregue ao<br />

rei por uma commissão que para esse<br />

fim se nomeou.<br />

I. N. R. I.<br />

Para edificação <strong>de</strong> nós todos leia-se<br />

o que, ácerca <strong>de</strong> Portugal, escreve em<br />

Madrid El Pais:<br />

«Não ha muitos dias um periodico<br />

francez, fazendo-se ecco da opinião <strong>de</strong><br />

importantes homens <strong>de</strong> negocios, expressava-se<br />

d'este modo:<br />

«Essas colónias (as <strong>de</strong> Portugal) que<br />

não conseguiu fazer prosperas e que difficilmente<br />

pô<strong>de</strong> guardar por meio <strong>de</strong><br />

algumas <strong>de</strong>graçadas guarnições, talvez<br />

valesse mais proce<strong>de</strong>r á sua venda. Em<br />

resumo, isto seria menos honroso que<br />

serem o? bancarroteiros internacionaes.<br />

Ha o proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Napoleão, ce<strong>de</strong>ndo<br />

a Luiziania aos Estados-Unidos em<br />

1803, mediante 80 milhões».<br />

«Eis aqui uma nação fidalga, tão<br />

empobrecida e relaxada pelas instituições,<br />

que já se consi<strong>de</strong>ra no caso <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r<br />

aos pedaços o solo pátrio para pagar os<br />

enganos da monarchia. Talvez não estejam<br />

muito longe <strong>de</strong> acceitar a i<strong>de</strong>ia,<br />

esses mesmos que tanto contribuíram<br />

para arruinar Portugal.<br />

«Dos quaes se po<strong>de</strong>rá dizer que <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> haverem crucificado o seu paiz,<br />

lhe puzeram o I. N. R. I. para maior<br />

opprobrio.»<br />

Gazeta <strong>de</strong> Provezen<strong>de</strong><br />

A este nosso collega enviamos sinceras<br />

felicitações pelo seu anniversario,<br />

que passou no dia 16.<br />

PELOS JORNAES<br />

A proposilo d'um artigo publicado no<br />

Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, do sr. José Maria<br />

d'Alpoim, em que o illustre jornalista<br />

expõe <strong>de</strong>sassombradamente o caminho<br />

que trilhará no celeberrimo emprestimo<br />

dos tabacos, trazem as Novida<strong>de</strong>s nus<br />

períodos que põem bem em relevo o estado<br />

<strong>de</strong>gradante dos partidos monarchicos.<br />

Diz o referido jornal :<br />

«Além d'isto, não po<strong>de</strong>mos dispensar<br />

empregos, nem favores ministeriaes.<br />

Não temos, em summa, a preoccupoção<br />

<strong>de</strong> evitar couflietos, que possam<br />

produzir eoasequencias, que perturbem<br />

varias conveniências poiitieas.<br />

Ora, não tendo dinheiro para dar, nem<br />

empregos para offerecer, nem interesses<br />

a sustentar, nem conveniências politieas<br />

a atten<strong>de</strong>r; não tendo meio <strong>de</strong><br />

seduzir uns, não po<strong>de</strong>ndo alugar outros<br />

e ofíju<strong>de</strong>ndo os interesses <strong>de</strong> vários,<br />

não é para estranhar que, nessas<br />

diversas classes, se recrute um<br />

gran<strong>de</strong> exercito, que insinua, que calurnnia,<br />

que perverte, e procura embaraços,<br />

o apparecimento da verda<strong>de</strong>.»<br />

Querem mais claro <strong>de</strong> que isto ?<br />

E' já a própria imprensa monarchica<br />

que <strong>de</strong>clara terminantemente que tal<br />

gente é apenas uma questão <strong>de</strong> preço.<br />

E' um verda<strong>de</strong>iro cabos, a começar<br />

<strong>de</strong> cima até ao mais ínfimo funccionario<br />

publico, alguns dos quaes nera já querem<br />

saber das or<strong>de</strong>ns do governo, como<br />

se está dando em Santarém e Évora, no<br />

cumprimento do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março<br />

ultimo que manda pro<strong>de</strong><strong>de</strong>r á inspecção<br />

das matrizes.<br />

Diz o Diário Popular:<br />

«Em Santarém não ha meio <strong>de</strong> apanhar<br />

um empregado <strong>de</strong> fazenda para<br />

po<strong>de</strong>r funccionar a commissão. Eni<br />

Évora é o conductor que se não apanha<br />

nem á mão <strong>de</strong> Deus Padre. E não<br />

ha que luctar contra istol<br />

«u presi<strong>de</strong>nte da commissão d'inspecção<br />

ás matrizes no districto <strong>de</strong><br />

Évora, o sr Pinheiro Correia, que é<br />

um official muito energico e muito<br />

activo, farto <strong>de</strong> esperar pelo conductor,<br />

<strong>de</strong>senganado <strong>de</strong> que era inútil<br />

esperar por elle, tirou-se <strong>de</strong> mais cuidados<br />

e veio pessoalmente a Lisboa,<br />

expor as circumstancias da commissão<br />

ao governo.»<br />

Mas agora diga-noi o Popular a quem<br />

se <strong>de</strong>ve esta belleza da nossa burocracia?<br />

E' provável dizer-nos que ao povo,<br />

porque é surdo e cego e nunca quiz ver<br />

e«sé vergonhoso proteccionismo da politica<br />

monarchica que so pensa em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

o throno, aninhar e proteger afilhados,<br />

já postergaudo a lei, já lançandonos<br />

na miséria e na <strong>de</strong>shonra.<br />

E talvez, que não seja pequeno o<br />

quinhão que o Popular encontrará lá em<br />

casa.<br />

Ainda ha pouco perguntávamos o que<br />

fazia o sr. Fuschini, na queslão do empreslimo<br />

dos tabacos, esperando seo.pre<br />

que s. ex. a cumprisse com o seu <strong>de</strong>ver,<br />

mandando proce<strong>de</strong>r a uma rigorosa syndicancia.<br />

Mas, não sabemos porque circumstancia,<br />

o governo tomou um caminho completamente<br />

diverso <strong>de</strong> que toda a imprensa<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte lhe apontou, esquecendo<br />

os mais altos interesses da patria.<br />

Ainda ha pouco o nosso collega a<br />

Vanguarda, tratando d'este assumpto,<br />

dizia :<br />

«Mas o que sobretudo reclamamos<br />

é que o governo proceda a um inquérito<br />

que não seja uin sublerfurgio e a<br />

uiua syndicancia que não seja uma<br />

burla.<br />

«No que continuamos insistindo ó<br />

na elucidação <strong>de</strong> todo este mysterio dos<br />

tabacos e <strong>de</strong> todas estas operações do<br />

sr. Burnay.<br />

«O governo a que pertence o sr.<br />

Augusto Fuschini parece mais disposto<br />

a dormir sobre o escaudalo do que a<br />

proce<strong>de</strong>r com energia.»<br />

São todos os mesmos. O sr. Fuschini<br />

apresentou-se cora umas arreraettidas<br />

<strong>de</strong> leão e queira Deus não tenha<br />

saidas <strong>de</strong> sen<strong>de</strong>iro.<br />

Ainda está a leinpo. V. ex. a realmente<br />

é para surpreheu<strong>de</strong>r que, quem teve<br />

coragem para recusar a sr. a D. Maria<br />

Pia as <strong>de</strong>spezas da viajata e não recuar<br />

peranle algumas individualida<strong>de</strong>s politicas,<br />

cansoenos mores da fazenda, recue<br />

agora, quando <strong>de</strong> seu lado tem quasi<br />

todo o paiz, ainda que o Tempo lhe chame<br />

popularida<strong>de</strong> fácil.<br />

*<br />

Ha pouco tempo ainda, exlranhava o<br />

•Correio da Manhã que alguns jornaes<br />

atacassem o sr. Neves Ferreira pelas<br />

condições especiaes era que fôra feita a<br />

concessão do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> Queliraane<br />

ao Chire.<br />

Pois agora oiçam ainda a Vanguarda<br />

:<br />

«Que o governo do caminho <strong>de</strong> ferro<br />

<strong>de</strong> Lourenço Marques <strong>de</strong>u logar a que<br />

Mae-Murdo distribuísse por ahi bastante<br />

dinheiro, isso sabe-o muita genta<br />

com uma certeza absoluta. Ha mesmo<br />

quem conheça os nomes dos políticos<br />

que o recebiam.<br />

«E como Mac-Murdo conseguiu assim<br />

tudo o que pretendia, é bem possível<br />

que os inglezes recorressem ao<br />

mesmo processo para apanharem a linha<br />

<strong>de</strong> Quelimane, que acaba <strong>de</strong> ser<br />

concedida aos seus agentes nas mais<br />

<strong>de</strong>ploráveis condições.»<br />

Ora já vé agora o Correio da Manhã,<br />

que os receios que aquelles jornaes mostravam<br />

sempre tinham uma razão dft<br />

ser.


AN.\0 80 O DEFENSOR DO POVO 33 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 189S<br />

CRYSTAES<br />

Esquiva<br />

(A OLIVEIRA ALVARENGA)<br />

Quando te busco, foges sempre. Acaso<br />

Temes, meu anjo I que te créste as azas<br />

Esse fogo d'amor em que te abrazas,<br />

Este fogo d'amor em que me abrazo?<br />

Porque eu bem sei que, muito embora occulto,<br />

Por este amor, das me também amor...<br />

— Almas talhadas para a mesma dôr,<br />

Professamos os dois o mesmo culto.<br />

Sei que pens'as em mim, do mesmo modo<br />

Que penso em ti, ó dona dos ineus ais I<br />

Sei que os nossos <strong>de</strong>sejos são iguaes,<br />

E formam nossos corações um todo.<br />

Não percebes a vida sem a poise<br />

Do meu amor, como eu a não percebo<br />

Sem a esperança que em teus olhos bebo<br />

E em teus sorrisos, minha pomba dôce l<br />

Essa tua esquivança não abrandas...<br />

Mas, longe um do outro, andamos nós butcundo,<br />

Tu, minha amada l os beijos que te mando,<br />

Eu, minha vidai os beijos que me mandas.<br />

No entanto, todos sabem que me evitas,<br />

E riem, riem d'este sonho meu...<br />

Doidos I Que importa que me fujas? Eu<br />

Vivo comtigo, e tu comigo habitasl<br />

Foges-meT. A sorte, que entre gosos cria<br />

Alguns, e a muitos só conce<strong>de</strong> a noute,<br />

Fadou-me para ti, como fadou-te<br />

—Não fujas maisl—para ser minha um dial<br />

HAMILTON D'ARAUJO.<br />

LBTTRAS<br />

Os tres leitos<br />

I<br />

O anjo da guarda <strong>de</strong> Isabel, com<br />

azas <strong>de</strong>stacadas na noite, conservava-se<br />

encostado á cabeceira do pequeno leito<br />

virginal.<br />

— Isabel! Isabel!<br />

— Quem está ahi ? quem me falia ?<br />

— E' o teu anjo da guarda<br />

— Ah! causaste-me medo. Nada ha<br />

mais horrível que ser acordado em sobresalto.<br />

Julguei que tinha aqui entrado<br />

um ladrãe, e que me queria roubar a<br />

cruz <strong>de</strong> ouro que meu avô me <strong>de</strong>u pela<br />

Paschoa, mas já çstou tranquilla; que<br />

queres, meu bom amigo?<br />

— Isabel, não estou contente comtigo.<br />

Acabas <strong>de</strong> faltar á verda<strong>de</strong>, porque<br />

não dormias e pensavas naquelle mancebo<br />

que anle-honlem encontraste sob as<br />

tílias, e não posso tolerar que Uma menina,<br />

cuja alma me foi confiada, empregue<br />

as horas da noite em pensamentos<br />

reprehensiveis.<br />

— E's severo, meu anjo da guarda I<br />

Como estou na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> casar, não sei<br />

porque me seja interdicto pensar naquelie<br />

que <strong>de</strong>ve ser meu esposo; ainda hontem<br />

pediu a minha mão e o seu pedido<br />

foi acceite.<br />

— Isabel! tinha fcito <strong>de</strong> ti outra<br />

i<strong>de</strong>ia. Tu que és mais encantadora que<br />

os mais beilos anjos do Paraizo, que terias<br />

merecido, <strong>de</strong>pois da tua vida mortal<br />

passada em um claustro, <strong>de</strong>sposar no<br />

céu algum espirito <strong>de</strong> mais alta gerarchia,<br />

queres entrar no mundo e conhecer<br />

os seus prazeres? Queres pertencer<br />

a um homem, tu, que podias ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

já esposa d'um divino noivo ? Aconselho-te<br />

que resistas ás tentações d'este<br />

mundo e reserva-te completamente para<br />

as celestes bôdas.<br />

— Meu bon\,anjo, nada lenho a dizer<br />

contra ti; <strong>de</strong>sempenhaste com <strong>de</strong>masiado<br />

zelo os <strong>de</strong>veres que tinhas a<br />

cumprir em volta do meu leito virginal.<br />

Mas, na verda<strong>de</strong>, creio que as coisas <strong>de</strong><br />

que tratas não são da tua compelencia ;<br />

supplico-te que te não zangues, se prefiro<br />

a tudo, na terra e nos céus, aquelle<br />

<strong>de</strong> quem serei esposa carinhosa e fiel.<br />

— Paciência, disse o anjo, voando<br />

pelo espaço emquanto as eslrellas brilhavam,<br />

como diamantes, no azul celeste.<br />

II<br />

O anjo da guarda <strong>de</strong> Isabel, com as<br />

azas tristementes pai fidas, apenas vi-ivel<br />

na penumbra, conservava-se encostado á,<br />

cabeceira do leito nupcial.<br />

— Isabel! IsabelI<br />

— Quem está ahi? quem me falia?<br />

— E' o teu anjo da guarda.<br />

— Ah ! fazes mal em estar ahi, aconselho-te<br />

a que vôes o mais <strong>de</strong>pressa<br />

possível! Meu anjo: o meu marido estremece-me,<br />

ama-me tanto como eu o amo!<br />

Dentro; em pouco entrará nesta alcova.<br />

A tua presença, embora immaterial, <strong>de</strong>s-<br />

agradar-lhe-ia; apenas tens tempo <strong>de</strong><br />

voar.para o teu Paraizo, <strong>de</strong>ixapdo-nos<br />

no nosso.<br />

— Isabel, não estou contente comtigo.<br />

Verda<strong>de</strong> é que vaes ser uma mulher<br />

egual ás outras, e que para sempre renunciaste<br />

a votar-te ao claustro. Que<br />

magnifico futuro terias! Após dias e noites<br />

santificadas pela oração, subirias<br />

como uma setta até á eterna alegria do*<br />

eleitos; e então, no ineffavel enlevo do<br />

Paraizo, serias, com azas <strong>de</strong> neve, companheira<br />

<strong>de</strong> um anjo com azas <strong>de</strong> chamma<br />

!<br />

— Não importa, porque terei um excellente<br />

marido, a quem amarei em extremo<br />

e brevemente se ouvirão na casa,<br />

não rica mas alegre, os risos argentinos<br />

das ereanças que brincam. Serei<br />

uma feliz mulher, uma venturosa mãe.<br />

Não me lastimes, anjo! Não renuncio ao<br />

meu logar no Paraizo, mais tar<strong>de</strong>; porém,<br />

entretanto amo e adoro o que me<br />

ama e adora. Retira-te nas azas pallidas,<br />

porque meu marido arrancar-te-ia algumas<br />

pennas.<br />

— Paciência, disse o anjo voando<br />

ao espaço azul escuro, on<strong>de</strong> algumas pequenas<br />

estrellas brilhavam como pérolas<br />

e zombavam impertinentes.<br />

i n<br />

O anjo da guarda com as suas azas<br />

meio cobertas por um raio da lua, conservava-se<br />

encostado á cabeceira do leito<br />

mortuário <strong>de</strong> mármore branco.<br />

— Isabel! Isabel!<br />

— Quem está ahi? Quem me falia?<br />

— E' o teu anjo da guarda. Pareceme<br />

d'esta vez que darás attenção ás minhas<br />

palavras. Estás morta e certamente<br />

aborrecida nessa cova estreita e escura<br />

on<strong>de</strong> metteram o teu corpo. Porque<br />

não seguiste os meus conselhos? Se, insensível<br />

ás tentações do mundo, tivesses<br />

entrado em um convento, subirias logo<br />

para o divino Paraizo; não estarias nesse<br />

logar <strong>de</strong> <strong>de</strong>solação. Mas preferiste ter<br />

marido, filhos : estás castigada.<br />

— Castigada ? Porquê? Crê que nunca<br />

me arrepen<strong>de</strong>rei do que fiz. Amei<br />

com todas as forças da minha vida,<br />

aquelle que me amava; vi rir em volta<br />

<strong>de</strong> mim, como um grupo <strong>de</strong> flores vivas,<br />

os meus filhos <strong>de</strong> faces rosadas. Fui mulher,<br />

mãe e feliz. Ah I como era encantador,<br />

á noite, collocar o bule e as cliavenas<br />

sobre uma mesa, na alcova cheia<br />

<strong>de</strong> honesta paz, e vêr meu marido sorrir<br />

para meus filhos adormecidos. Sinto<br />

muito ter morrido tão nova, porque ainda<br />

tinha muita ventura para dar aquelles<br />

que me davam a alegria. Mas seja<br />

feita a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />

— Isabel, olvida essas chimeras humanas.<br />

Soou a hora em que vaes <strong>de</strong>ixar<br />

o leu sepulchro e voar comniigo para o<br />

Paraizo maravilhoso.<br />

— Oh ! que felicida<strong>de</strong> I<br />

— Vem e verás o <strong>de</strong>slumbramento e<br />

perpetuo prodígio dos céus, ouvirás a<br />

universal harmonia, brilharás mais que<br />

uma rosa ao sol na immarcessivel luz !<br />

E para cumulo <strong>de</strong> gloria, <strong>de</strong>sposarás um<br />

anjo digno da tua belleza em uma egreja<br />

<strong>de</strong> diamante, on<strong>de</strong> receberão a benção<br />

<strong>de</strong> Deus. Então não me segues?<br />

— Não, exclamou ella. Como no Paraizo<br />

não está meu marido, que farei eu<br />

lá? Parle, parte, que eu esperarei para<br />

reviver, que elle reviva lambem. lUicuso<br />

essa gloriosa alegria <strong>de</strong> bôdas infiéis,<br />

embora sublimes, celestes e celebradas<br />

por Deus. A esse serafim, prefiro o homem<br />

que amo. Esperarei resignada e<br />

confiante. Subiremos juntos ao Paraizo !<br />

E se nos recusassem abrir a porta, o<br />

eterno somno nesta casa seria para nós<br />

mais doce, que o eterno <strong>de</strong>spertar com<br />

outro, nos esplendores do Paraizo.<br />

— A<strong>de</strong>us, então ! disse o anjo; e voou<br />

enfurecido para o melancolico azul I E<br />

as estrellas que tantas coisas vêem, pareciam<br />

dizer :<br />

— Isabel tem razão!<br />

Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />

Senhor Pinta-Roxa<br />

Gri-Gri observa-lhe, sem magoas,<br />

que lhe não é pezada a charge que<br />

vossemecê lhe prespega em surdiria.<br />

Gri-Gri possue uma alma muito gran<strong>de</strong><br />

que lhe reduz a infinitamente pequenas<br />

estas manifestações garrulas <strong>de</strong> versejadores<br />

travessos e louros... tão louros<br />

e tão gentis que até lhes fica oiro sobre<br />

azul a teimosa predilecção pela masculinisacão...<br />

das toilettes!<br />

Etc.<br />

THEATROS<br />

Despediu-ie, e é pena, do Theatro-<br />

Circo a companhia do Real Colyseu <strong>de</strong><br />

Lisboa, que alli trabalhou até quarta feira<br />

passada.<br />

lleferimo nos já aos artistas d'esta<br />

companhia, alguns <strong>de</strong> somenos importância,<br />

em quem não vale a pena faIlar,<br />

outros porém valiosos e dignos <strong>de</strong> todo<br />

o elogio, não pela novida<strong>de</strong> dos trabalhos<br />

que a coisa que não houve, mas pelo<br />

<strong>de</strong>sempenho correcto e por vezes perfeito.<br />

Escusado é, pois apreciarmos <strong>de</strong><br />

novo a família Picchiani, principalmente<br />

M.*" es Polissena e Margheritta, que<br />

preenchiam, quasi, todos os espectáculos;<br />

nem mencionaremos a troupe Noiset,<br />

nos seus notáveis exercícios em velocípe<strong>de</strong>.<br />

assombrosos <strong>de</strong> difficulda<strong>de</strong> e perfeição;<br />

e, portanto, não nos referiremos<br />

também aos taes clowns <strong>de</strong> má-morte, a<br />

peior coisa, no genero, que ahi tem ap-<br />

parecido, nem ás semsaborias do D.<br />

Miguel, nem á pose do Barjona,—um<br />

tonel <strong>de</strong> casaca e com pernas — nem a<br />

qualquer outra frandulagem que a companhia<br />

exhibiu em todos os dias que<br />

aqui esteve.<br />

Po<strong>de</strong> dizer-se que no Theatro-Circo<br />

só encontrámos noites boas, com enthusiasmo<br />

e animação, nesla ultima semana.<br />

Não foi unicamente lá porque a Geraldine<br />

trabalhou nos últimos cinco dias — não<br />

se convençam d'isso os geraldinos; foi<br />

porque se reuniram nas mesmas noites<br />

mais artistas bons, e assim cada espectáculo<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser a apresentação <strong>de</strong><br />

dois ou Ires trabalhos <strong>de</strong> merecimento,<br />

como anteriormente acontecia.<br />

Podémos, pois, apreciar com louvor<br />

o trabalho <strong>de</strong> Eugeriia Lecusson, como<br />

amazona <strong>de</strong> alta escola, elegantíssima e<br />

correcta e os trabalhos gymnasticos da<br />

Geraldine, na mesma noite em que admirava<br />

tiios Polissena como acrobata e como<br />

gymnasta, os Noiset nos velocípe<strong>de</strong>s, e,<br />

ultimamente, a equilibrista Emma Gautier<br />

e a jongleusi Olivia Gautier.<br />

Era este conjuncto que chamava aos<br />

espectáculos do Circo a muita concorrência<br />

que tiveram, a animação e o interesse<br />

que <strong>de</strong>spertaram.<br />

Foi no sahbado ultimo, com a estreia<br />

da Geraldine, a primeira noite,<br />

d'esla vez, em que o circo resoou, cheio <strong>de</strong><br />

vida e <strong>de</strong> festa ; era o nome da Geraldine,<br />

nome <strong>de</strong> artista perfeita e <strong>de</strong> mulher<br />

perfeita, que encheu o theatro; mas<br />

d aquellas duas qualida<strong>de</strong>s que a nimbavam<br />

numa aureola <strong>de</strong> fama, resta nos<br />

somente a impressão da mulher <strong>de</strong> belleza<br />

impecável, perfeitíssima; a outra,<br />

a <strong>de</strong> artista sans reproche... conquistou-lh'a<br />

o reclamo e não menos a sua<br />

perfeição plástica, esculptural, auxiliada<br />

pélas poses bem estudadas, pelos sorrisos<br />

escan<strong>de</strong>centes, pelos requebros estonteantes.<br />

E d'aqui, o enthusiasmo febricitante<br />

dos geraldinos, assimados por uma lubricida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> velhos libertinos e <strong>de</strong> rapazes<br />

<strong>de</strong> sangue impetuoso; e, em contraste,<br />

as paleadas sem se saber porquê<br />

dos outros, significativas <strong>de</strong> muito capilé<br />

a girar-lhes nas veias. Porque a Geraldine,<br />

se não é artista para accen<strong>de</strong>r enthusiasmos<br />

e <strong>de</strong>lírios, muitíssimo menos<br />

o é para provocar manifestações <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sagrado, que, neste caso, foram in<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>zas<br />

abonadoras <strong>de</strong> pouca educação;<br />

e se elles dizem que não palearam a<br />

Geraldine mas sim os geraldinos, então,<br />

é o que já dissemos — capilé e agua<br />

morna a girar-lhes nas veias. Applaudil a,<br />

/nesmo exageradamente como ella o foi<br />

agora, é <strong>de</strong>sculpável; mas os geraldinophobos<br />

não teem <strong>de</strong>sculpa.<br />

E, afinal, tanto se importa ella, com<br />

os geraldinos, como com os geraldinophobos,<br />

eomo comnosco que não lapidamos<br />

aquelles. Mas o que nos causa pena é<br />

vermos frios, como o gelo dos poios,<br />

aquelles em que a eda<strong>de</strong> faria suppôr as<br />

ardências dos tropicos... Peior para elles.<br />

Foi d'esla opposição <strong>de</strong> apreciações,<br />

filha da divergencia dos temperamentos,<br />

que nasceu o charivari tempestuoso <strong>de</strong><br />

todas as noites, que nem <strong>de</strong>u occasião<br />

na quarta feira, a que se apreciasse,<br />

como elle merece, o trabalho <strong>de</strong> Alfred<br />

Ltopold em tiros ao alvo, realmente<br />

notável; a que se não <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> attenção,<br />

a Polissena e Margheritta no<br />

duplo-trapezio, on<strong>de</strong> aquella se apresentou<br />

numa nova feição dos seus trabalhos correctíssimos<br />

sempre; a que não se applaudisse<br />

a família Picchiani no Museu<br />

dt esculptura; a que não se notasse, quasi,<br />

Emma Gautier, no arame; a que passasse<br />

<strong>de</strong>sprecebida a troupe Noiset nos velocípe<strong>de</strong>s.<br />

..<br />

Despediu-se, pois, a companhia do<br />

Theatro-Circo; mas oxalá que a empreza<br />

d'esta casa <strong>de</strong> espectáculos a traga cá<br />

<strong>de</strong> novo e breve, pelo que <strong>Coimbra</strong> terá<br />

a agra<strong>de</strong>cer-lhe, e que venha também a<br />

Geradine, para dar uma nota emocionante<br />

á pasmaceira indígena — os geraldinos<br />

enthusiasmam-se, eo enthusiasmo alegra;<br />

os outros... dão sorte, e o dar sorte<br />

diverte.<br />

De modo que os neutros diverlem-se<br />

sempre.<br />

*<br />

No theatro D. Luiz, temos novamente<br />

a companhia do theatro Príncipe Real do<br />

Porto. E' bem nossa conhecida e bem estimada<br />

do nosso publico a companhia do<br />

Taveira, que pela 3.® vez este anno aqui<br />

vem dar uma serie <strong>de</strong> 4 recitas, sempre<br />

escolhidas para <strong>de</strong>sopilação dos merencoreos,<br />

cheias <strong>de</strong> verbe a que não faltam<br />

o sal e a pimenta tão necessários aos<br />

insulsos. E' aproveitarem, portanto.<br />

Hontem serviram nos — As noivas do<br />

Enéas; hoje, como prato <strong>de</strong> resistencia,<br />

temos O Solar dos Barrigas; amanhã —<br />

O Meia Azul, e por ultimo, <strong>de</strong>pois O<br />

Homem da Bomba<br />

O menu não po<strong>de</strong> ser mais aperitivo<br />

nem melhor para os estomagos dyspepticos.<br />

No proximo numero fallaremos mais<br />

<strong>de</strong> espaço das suas qualida<strong>de</strong>s estimulantes.<br />

Pela Africa<br />

Proce<strong>de</strong>-se na Guine á reconslrucçáo<br />

d'IIma al<strong>de</strong>ia, a dos Grumetes, ultimamente<br />

<strong>de</strong>vastada por um vandalismo cujos<br />

andores se não conhecem ainda. Na<br />

reconslrucçáo da al<strong>de</strong>ia a auctorida<strong>de</strong><br />

tem procurado impôr o alinhamento regular<br />

das ruas, ao que se oppõe tenazmente<br />

a superstição dos indígenas.<br />

Cada habitante tinha a casa construída<br />

sobre um terreno transmiltido <strong>de</strong><br />

paes a filhos e receia ficar sujeito a todo»<br />

os malefícios se fôr occupar outro.<br />

E nada os move a consentirem nos<br />

alinhamentos.<br />

*<br />

Morreu na ilha <strong>de</strong> Orango o rei<br />

Odonká, celebre pelas ferozes atrocida<strong>de</strong>s<br />

a que se entregava, matando pelo<br />

mais fulil motivo, escravisando todos os<br />

súbditos que só para elle trabalhavam,<br />

Este déspota selvagem tinha 33<br />

annos somente, mas a sua morte foi um<br />

beneficio para aquelles povos.<br />

*<br />

Na ilha <strong>de</strong> Santo Antão ar<strong>de</strong>ram<br />

completamente os paços do concelho do<br />

Paul, repartição <strong>de</strong> fazenda e recebedoria.<br />

Suppõe se que o incêndio não foi<br />

casual; <strong>de</strong>vorou tudo.<br />

Nos paços do concelho estavam installadas<br />

a administração, a ca<strong>de</strong>ia, a<br />

ambulancia dos medicamentos e a repartição<br />

<strong>de</strong> fazenda. Os presos, que eram<br />

cinco, conseguiram salvar-se, sendo recolhidos<br />

numa outra prisão.<br />

Parece que ao incêndio não foi estranha<br />

a rivalida<strong>de</strong> que lavra entre os<br />

habitantes do concelho da Ribeira Gran<strong>de</strong><br />

e os do Paul.<br />

*<br />

São satiofatorias as noticias. que ha<br />

da força militar <strong>de</strong>stacada no forte <strong>de</strong><br />

S. João Baptista d'Ajudá. Os dois ofliciaes<br />

que alli estão <strong>de</strong> guarnição teem<br />

sido muito obsequiados pelo general<br />

Dodds, comniandante das tropas francezas<br />

que venceram o rei <strong>de</strong> Dahomé, o<br />

qual já lhes oíTereceu por duas vezes<br />

almoço e jantar no seu palacio, fazendo-<br />

Ihes varias visitas e consi<strong>de</strong>rando-os<br />

como amigos.<br />

*<br />

O capitão Rolin, governador do forte<br />

d'Ajudá, apurou, <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>sbarate dos<br />

dahomeanos, por confissão das auctorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Dahomé, o que se passou com<br />

a trucidação barbara do portuguez Máximo<br />

<strong>de</strong> Carvalho, negociante em Ajtidá,<br />

Contaram que Máximo <strong>de</strong> Carvalho,<br />

numa expedição para a venda <strong>de</strong> certas<br />

fazendas que projectava liquidar, foi assaltado<br />

por um bando <strong>de</strong> dahomeanos<br />

que o amordaçaram e amarraram <strong>de</strong> pés<br />

e mãos, conduzindo-o ao Agou, tribunal<br />

dos dahomeonos. Ahi o cuzugan, primeira<br />

auctoriJa<strong>de</strong>, mandou que o conduzissem<br />

á presença do rei Cehanzin.<br />

Depois d'um simulacro <strong>de</strong> julgamento,<br />

e para lhe roubarem as fazendas, con<strong>de</strong>mnaram-no<br />

á morte que lhe foi dada<br />

barbaramente — amarrarara-no a uma arvore,<br />

amordaçado, e ahi lhe cortaram as<br />

pernas, abriram os intestinos, o peito e<br />

por fim cortaram-lhe a cabeça.<br />

Horrível e infamei<br />

rnrnirnmmmmmmmmmmmmmmmÊmmmmmm^SStmi^mmmi<br />

EM SURDINA<br />

Ando triste, macambúzio,<br />

pois ha quem me vaticine<br />

que não volto a pôr o luzia<br />

na formosa Geraldine I<br />

Dizem-me — por Satanaz I —<br />

que ella cá na Lusa-Athenas<br />

só tivera fatacaz<br />

por um homem — um apenas I<br />

E qu'reis vós saber, leitores,<br />

a quem ella se <strong>de</strong>dica<br />

e por quem morre d'amores ?<br />

... p'lo Viegas — da botica 11!<br />

22 (Tabril<br />

PINTA-ROXA.<br />

Já lá vão 2 annos <strong>de</strong>pois que transpoz<br />

os umbraes da eternida<strong>de</strong>, o meu<br />

<strong>de</strong>sditoso amigo e correligionário João<br />

Fonseca <strong>de</strong> Figueiredo Peixoto.<br />

Pungente é paia mim a recordação<br />

d'este dia, não «ó, por ter perdido um, dos<br />

meus poucos amigos, mas também, porque<br />

vi cahir ao meu lado um <strong>de</strong>molidor,<br />

das instituições vigentes, um <strong>de</strong>mocrata<br />

sincero, um crente na regeneração da<br />

nossa palria querida, pela proclamação<br />

dos sãos princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />

No meio do lodaçal em que está envolvida<br />

a socieda<strong>de</strong> portugueza, quando<br />

a immoralida<strong>de</strong> e a corrupção servem <strong>de</strong><br />

divisa a instituições repudiadas pelas aspirações<br />

populares e con<strong>de</strong>mnadas pela<br />

sciencia hodierna, é triste ver <strong>de</strong>sapparecer,<br />

no verdor dos annos, quem pela<br />

austerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracter e <strong>de</strong> convicções<br />

se impunha ao respeito <strong>de</strong> amigos e adversários.<br />

E' por isso que eu lamento a perda<br />

<strong>de</strong> João Peixoto.<br />

E' por isso que hoje recordo o nome<br />

d'esse sincero luctador, que dotado d'um<br />

coração d'oiro, aberto aos mais generosos<br />

e beilos i<strong>de</strong>aes, jaz, esquecido, além<br />

no cennterio, por queuj não <strong>de</strong>veria olvi- .<br />

dal o....<br />

Com 22 annos, cheio <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong><br />

talento, quanto seria cruel a esse energico<br />

batalhador, se a morte o não arrebata,<br />

contemplar a impassibilida<strong>de</strong> do<br />

povo, que assiste, sem coutrahir um musculo,<br />

sem um protesto ao <strong>de</strong>smantelamento<br />

ignominioso da pairia pela acção<br />

<strong>de</strong>leleria dos partidos moiiarchicos.<br />

E' triste ver <strong>de</strong>sapparecer os novos<br />

quando são da estatura moral <strong>de</strong> João<br />

Peixoto, num paiz ou<strong>de</strong> os Pananias sur-<br />

gem a toda a hora e o indilíerentismo,<br />

prepon<strong>de</strong>ra, nos assumptos <strong>de</strong> interesse<br />

geral; num paiz, on<strong>de</strong> as tradicções gloriosas<br />

e os brilhantes exemplos que a<br />

historia aponta, não se respeitam e muito<br />

menos se imitam; num paiz, em que se<br />

<strong>de</strong>sprezam, por completo, os princípios<br />

<strong>de</strong> justiça e ao qual só uma revolução,<br />

com todas as suas consequências trará a<br />

vida <strong>de</strong> que tanto necessita...<br />

Pobre antigo! A tua memoria «ervirme-ha<br />

<strong>de</strong> aienlo e estimulo na lucta<br />

agresie da vida l<br />

Hoje e sempre a tua memoria saudosa<br />

será pranteada por todos os que<br />

conheceram o teu bello caracter, generoso,<br />

ate ao exagero, republicano, ate ao<br />

<strong>de</strong>lírio !<br />

Neste dia, para mim, immensamenle<br />

triste irei orvalhar <strong>de</strong> lagrimas e cobrir<br />

<strong>de</strong> rosas o teu ataú<strong>de</strong><br />

Cumpro um <strong>de</strong>ver — tranquiliso a<br />

consciência I<br />

Aié lai<br />

Arthur Leitão.<br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

ASSUMPTOS LOCAES .<br />

Eseola Brotero<br />

Na oflicina <strong>de</strong> ceramica d'esla escola<br />

vae ser construído um forno egual ao da<br />

fabrica <strong>de</strong> Sevres.<br />

Espera-se que no proximo anno lectivo<br />

comecem a funecionar algumas ofíicinas.<br />

Eu» <strong>Coimbra</strong><br />

Regressou <strong>de</strong> Lisboa e nosso illustrado<br />

collega da Gazeta Nacional o sr.<br />

dr. Joaquim Martins Teixeira <strong>de</strong> Carvalho,


AN* s I — N.® 8© O D E F E N S O R D O P O V O 33 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

Atuoeinçno dos Artistas<br />

Hoje ás 2 lioras da tar<strong>de</strong> tomam<br />

posse dos cargos para que foram eleitos<br />

ultimamente, os novos corpos gerentes<br />

d'esta associação.<br />

E' <strong>de</strong> esperar que todos se esforcem<br />

por bem administrar esta importante<br />

associação, e trabalhem para o seu progresso<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro<br />

Ao nosso collaborador e distincto<br />

correligionário, sr. dr. Bernardo José<br />

Cor<strong>de</strong>iro, pedimos <strong>de</strong>sculpa das incorrecções<br />

que sairam no seu ultimo artigo,<br />

<strong>de</strong>vido á precipitação com que foi revisto.<br />

Cabe aqui um pedido: quando nos honrar<br />

com os seus escriptos envial-os a<br />

esta redacção o mais legíveis possivel,<br />

<strong>de</strong> fórma a não haver embaraços na sua<br />

revisão.<br />

Projecto <strong>de</strong> estatutOM<br />

Consta que a sub-commissão encarregada<br />

do projecto <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> estatutos<br />

da Associação dos Artistas, pensa<br />

em entregar a revisão d'esse projecto, a<br />

um advogado <strong>de</strong> Lisboa.<br />

31 Folhetim do Defensor do POYO<br />

J . M É R Y<br />

A Jlíà 1 MIMO<br />

VJII<br />

Um casamento suspenso<br />

--Não nos enganámos, disse o marquez<br />

em voz baixa ao medico; o casamento<br />

d'houlem foi muito commentado<br />

• na cida<strong>de</strong>. Em Génova ha muito maledicente,<br />

na nobreza como por toda a<br />

parte, emfim... O nosso rapaz provavelmente<br />

ouviu algumas palavras menos<br />

próprias sobre madame Van-Ritter, e recebeu<br />

um golpe <strong>de</strong> empada esta manhã.<br />

— E' evi<strong>de</strong>nte, disse o doutor.<br />

— Meu caro senhor Gréant, disse o<br />

marquez di Negro, com uma bonda<strong>de</strong><br />

paternal, não se inquiete. Nós não queremos<br />

saber os seus segredos; são muito<br />

respeitáveis. Esta aqui com» em sua<br />

casa; os cuidados não lhe hão <strong>de</strong> faltar.<br />

O doutor passará quinze dias no campo,<br />

como amigo; havemos <strong>de</strong> fazer musica,<br />

e da boa, d'aquella <strong>de</strong> que o amigo gosta,<br />

e ao tim <strong>de</strong> duas semanas estará a<br />

pé, não é assim, doutor ?<br />

— Não vou <strong>de</strong>smentil-o, di Negro,<br />

replicou o medico tomando o pulso ao<br />

E é este mesmo senhor que ao ouvir<br />

um seu collega pedir o cumprimento<br />

dos Estatutos, applicação da multa aó»<br />

que não aceitassem os cargos, se insurge<br />

contra o facto, preten<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>monstrar<br />

que não havia utilida<strong>de</strong> na sua applicação.<br />

Nesta assembleia ha <strong>de</strong>clarações cathegoricas<br />

do sr. Fino, Augusto Teixeira,<br />

recusando-se formalmente a servir<br />

qualquer cargo. Lembra aquelle senhor<br />

a conveniência <strong>de</strong> continuarem até janeiro<br />

os actuaes corpos gerentes ao que a<br />

maioria da assemblêa anuue. Em tal altura<br />

o sr. Bernardo Carvalho falia e <strong>de</strong>clara<br />

que fiquem ou não os corpos gerentes<br />

actuaes elle é que não aceita o<br />

cargo para que fora eleito, e negasse em<br />

seguida a aceitar o logar na commissão<br />

que a assemblêa geral approva, a qual<br />

se <strong>de</strong>via enten<strong>de</strong>r com os eleitos, pedindo-lhes<br />

para aceitarem os cargos.<br />

Ninguém sabe, pelas actas o que foi<br />

feito d'essa commissão, até que em 6 <strong>de</strong><br />

abril o presi<strong>de</strong>nte põe a questão nestes<br />

termos: que, se a assemblêa concorda<br />

que se dê posse, elle que a dá da melhor<br />

vonta<strong>de</strong>, mas que n assemblêa diga, se<br />

lhe apparecer um só membro, se o auctorisa<br />

a entregar-lhe tudo; o que não quer<br />

é tomar responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m; —<br />

e <strong>de</strong>mais que não via vantagens para a<br />

Associação, coagir os socios a tomarem<br />

conta <strong>de</strong> cargos contra vonta<strong>de</strong>.<br />

doente, mas é necessário que o nosso<br />

Gréant <strong>de</strong>scance. O somno é um adrniravel<br />

agente <strong>de</strong> cura — leva o soffrimento<br />

e a febre. Esta tar<strong>de</strong> já o teremos<br />

melhor.<br />

O medico correu os cortinados, produziu<br />

na galeria uma noite artificial e fez<br />

signal para se retirarem e <strong>de</strong>ixarem o<br />

doente só.<br />

Passados alguns instantes, Paulo<br />

Gréant adormeceu com esse somno terrível,<br />

que durante alguns minutos <strong>de</strong>ve<br />

ser o somno do suppliciado sobre a prancha<br />

do cadafalso.<br />

IX<br />

O leão em correrias<br />

No quarto <strong>de</strong> dormir <strong>de</strong> Talormi,<br />

severamente mobilado, não havia uma<br />

única d'eslas frivolida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rapaz.<br />

De uma saú<strong>de</strong> vigorosa e constante,<br />

o moço diplomata fazia-se pas»ar por<br />

doente duas ou tres fezes cada quinze<br />

dias, para ter um pretexto <strong>de</strong> receber<br />

visitas <strong>de</strong> amigos e <strong>de</strong> médicos, que tinham<br />

assim toda a occasião <strong>de</strong> examinar<br />

os moveis, os livros, as gravuras e<br />

os quadros, que eram com » que o reflíxo<br />

dos costumas graves do dono da<br />

casa.<br />

Sabre uma secretária <strong>de</strong> acajú ostentava-se<br />

o interminável minuscripto branco<br />

d'uma obra <strong>de</strong> que só existia o titu-<br />

T (teatro D. Luiz<br />

Hoje a incomparável opera-comica, em<br />

3 actos — O Solar dos Barrigas. Espera-se,<br />

pelo extraordinário êxito que obteve<br />

na primeira representação esta engraçadissima<br />

opereta, que a concorrência ao<br />

tbeatro seja enorme.<br />

O enthusiasmo com que os espectadores<br />

receberam o côro dos foguetes, cantado<br />

<strong>de</strong>liciosamente por Angela Pinto, ha -<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a curiosida<strong>de</strong> do nosso publico,<br />

que mais uma vez irá apreciar os<br />

magníficos trechos <strong>de</strong> musica <strong>de</strong> que está<br />

enriquecida esta peça.<br />

Consta-nos que já restam muito poucos<br />

bilhetes.<br />

Carta<br />

Do sr. Manoel Rodrigues d'Almeida<br />

recebemos uma carta relativa ás eleições<br />

ultimamente realisadas naquella associação,<br />

participando-nos que nestas eleições<br />

a opposição vingou que fossem eleitos,<br />

além do presi<strong>de</strong>nte da assembleia geral,<br />

mais o vice-presi<strong>de</strong>nte e 1.° secretario,<br />

da direcção, e ainda representautes<br />

dos grémios <strong>de</strong> alfaiate, carpinteiros,<br />

marceneiros e serralheiros.<br />

Captura<br />

Isto em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> neste jornal se<br />

dizer, que a opposição só tinha feito<br />

Pelo commissario da policia d'esta<br />

vingar a eleição do presi<strong>de</strong>nte.<br />

cida<strong>de</strong> foi expedido mandado <strong>de</strong> captura<br />

Sobre este assumpto, só temos a<br />

a diversas auctorida<strong>de</strong>s, contra Francisco<br />

dizer que estimamos muito a Victoria da<br />

Anlonio <strong>de</strong> Serpa, aecusado pelo furto<br />

<strong>de</strong> 21$150 reis e dois relogios <strong>de</strong> prata.<br />

Examea d'instrucção primaria<br />

O sr. Bernardo confessa-se satisfeito<br />

por ver que as i<strong>de</strong>ias do presi<strong>de</strong>nte eram<br />

as suas relativamente ás eleições, e folga<br />

opposição e que á associação<br />

muitas prosperida<strong>de</strong>s.<br />

E basta.<br />

<strong>de</strong>sejamos<br />

O nosso amigo sr. José Fernan<strong>de</strong>s por ver que as eleições feitas não tenham Jflerendo <strong>de</strong> IHontemór-o-Velho<br />

Carranca da villa da Louzã, tem estado effeito, e a assemblêa approva para que<br />

No ultimo mercado <strong>de</strong> Montemor re-<br />

nesta cida<strong>de</strong> em companhia <strong>de</strong> um seu se proceda a novas eleições, em face<br />

gularam os geueros abaixo <strong>de</strong>signados<br />

liiho Augusto Fernan<strong>de</strong>s Carranca, que das <strong>de</strong>clarações da presi<strong>de</strong>ncia.<br />

pelos seguintes preços:<br />

na sexta feira fez exame <strong>de</strong> instrucção E faz cavalio <strong>de</strong> batalha o sr. Ber-<br />

Milho branco 380 — Dito amarello<br />

primaria, obtendo approvação.<br />

nardo e varre a testada, porque dissemos<br />

370 — Trigo tremez 700 — Dito mouro<br />

Aos paes do examinando enviamos que estas eleições foram feitas por não<br />

720 —Arroz caroliuo 1#300 —Dito re-<br />

os nossos parabéns.<br />

terem comparecido os eleitos da passada<br />

dondo 1 $200 —Cevada 280 —Feijão<br />

a tomar posse dos seus cargos I As pa-<br />

Conferencia<br />

vermelho encarnado 600 — Dito branco<br />

lavras não compareceram é que foram<br />

500 — Dito rajado 420 — Dito fra<strong>de</strong> 440<br />

Dizem os jornaes <strong>de</strong> Lisboa que foi a pedra do escandalo I Queria posse este<br />

— Dito pateta 38i> — Batata, 420 —<br />

brilhantíssima a conferencia feita pelo sr. senhor—e recusava-se a aceitar o cargo.<br />

Tremoçog 430.<br />

dr. Fernando Martins <strong>de</strong> Carvalho, nas E falia este cidadão da ma fé d'um<br />

salas da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> instrucção popu- informador, um sujeito qualquer queosr.<br />

lar.<br />

O illustre conferente recebeu dos nu-<br />

Bernardo i<strong>de</strong>alisou ! Depois dos factos que<br />

ficam expostos que digam os senhores Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

merosos assistentes saudações<br />

ticas.enthusias-<br />

quem sujou a testada do sr. Bernardo<br />

para elle a vir varrer Ião pressuroso.<br />

Sessão ordinaria<br />

Ao sr. Bernardo Carvalho<br />

E ficamos por aqui boje e sempre<br />

porque não ha tempo para questão, nem<br />

6 <strong>de</strong> abril<br />

Não pou<strong>de</strong> ouvir o sr. Bernardo Car- isto aproveita ao publico que no» lê e Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Auvalho<br />

que dissessemos que as ultimas nos paga.<br />

gusto d'Almeida Araujo Pinto. Vereado-<br />

eleições da Associação dos Artistas fores<br />

presentes: João da Fonseca Barata,<br />

ram feitas peia única razão <strong>de</strong> não com- Ker messe<br />

Antonio José Dantas Guimarães, João<br />

parecerem a tomar posse dos seus logares<br />

os eleitos <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> Outubro. E a proposito<br />

d'e»ta nossa asserção copia o officio<br />

que lhe foi dirigido, dando-lhe parte<br />

<strong>de</strong> que havia sido eleito, para provar<br />

que elle não fôra convidado para a ceremonia<br />

da posse.<br />

Até ao dia 10 <strong>de</strong> maio é que á<br />

com missão promotora da kermesse dos<br />

bombeiros voluntários; na Quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz, po<strong>de</strong>m ser enviadas quaesquer<br />

prendas para os bazares.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Antonio da Cunha, Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros,<br />

Manoel Miranda e Joaquim Justiniano<br />

Ferreira Lobo, effectivos; e José<br />

Corrêa dos Santos, substituto.<br />

Resolveu ce<strong>de</strong>r a quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz para a realisação d'uma Kermesse<br />

a beneficio da Associação Humanitaria<br />

Mas o sr. Bernardo esquece notar Está entre nós o sr. dr. João Figuei- dos Bombeiros Voluntários.<br />

que na immediata assemblêa geral, 30 redo Martins Abreu e Castro, hahil cli- Suspen<strong>de</strong>u por 3t) dias, por irregu-<br />

<strong>de</strong> Outubro, fez-se saber á assemblêa nico em Santa Ovaia.<br />

larida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviço, o vigia dos impos-<br />

que só quatro membro dos eleitos aceitavam,<br />

e sendo lidos os oílicios <strong>de</strong> recusa,<br />

lá appareceu um do sr. Bernardo<br />

Carvalho I<br />

# Esteve nesta cida<strong>de</strong> e seguiu<br />

hontem para Murça o sr. dr. Henrique<br />

da Costa e Cunha digno <strong>de</strong>legado do<br />

procurador régio naquella comarca.<br />

tos, Augusto <strong>de</strong> Carvalho Cyrne.<br />

Mandou proce<strong>de</strong>r á limpeza dos <strong>de</strong>positos<br />

das fontes da Sé Nova e Sé Velha.<br />

lo em lettras calligraphicas, ornadas <strong>de</strong><br />

arabescos :<br />

Da influencia dos antigos costumes ligurios<br />

sobre os outros estados da Jtalia<br />

DEDICADA A S. M. CARLOS-ALBERTO<br />

Ao lado da secretária <strong>de</strong>senrolavase<br />

a carta Theodosiana, eriçada <strong>de</strong> alfinetes<br />

<strong>de</strong> todas as côres.<br />

Os livros eternamente espalhados sobre<br />

os moveis eram: —<strong>Obra</strong>s politicas <strong>de</strong><br />

Machiavtl.— Utopia <strong>de</strong> Thomaz Morus.<br />

— Say. — Malthus.— Owen. —• Tratado<br />

dos lueroglyphos <strong>de</strong> Warburton. — Mineralogia<br />

<strong>de</strong> Saavers. — Memoria sobre o<br />

arroteamento da Nóva-Hollanda. — Roma<br />

subterrâneo.<br />

Só tinha dois quadros—um representava<br />

a inhuinação clan<strong>de</strong>stina das cinzas<br />

<strong>de</strong> Phocion, o homem <strong>de</strong> bem ; o<br />

outro—a continência <strong>de</strong> Scipião Africano.<br />

Notavara-se ainda du'as hellas gravuras—<br />

Hypocrates recusando os presentes<br />

<strong>de</strong> Artaxerxes, e Aristi<strong>de</strong>s exilado.<br />

Um bailo retrato <strong>de</strong> Newton, a agua<br />

forte, co nplelava nesta cambra um i piedosa<br />

atmosphera <strong>de</strong> recolhiinsnto.<br />

Tres pancadas ligeiras resoaram na<br />

porta, a que respon<strong>de</strong>u a palavra — Entre<br />

I<br />

— Então, Rarbane, concluíste o teu<br />

trabalho? perguntou Talormi levanlan-<br />

Mandou proce<strong>de</strong>r á caiação do edilicio<br />

dos paços do concelho, resolvendo<br />

convidar os proprietários a fazer caiar<br />

as fachadas dos respectivos prédios.<br />

Mandou communicar ao administrador<br />

do concelho, para o <strong>de</strong>vido procedimento,<br />

o inci<strong>de</strong>nte havido entre uni empregado<br />

do serviço da limpeza e um carroceiro<br />

municipal, <strong>de</strong> que resultou um<br />

ferimento grave no primeiro, por virtu<strong>de</strong><br />

d'uma pedrada.<br />

Mandou reparar o caminho <strong>de</strong> Santo<br />

Antonio dós Olivaes, junto ao logar.<br />

A<strong>de</strong>anlou a quantia <strong>de</strong> 30$000 réis<br />

para custeamento do Asylo dos cegos,<br />

durante o correlfte mez, satisfazendo<br />

também a somma <strong>de</strong> 17$105 réis adiantada<br />

pelo mordomo do mesmo Asylo no<br />

mez findo.<br />

Resolveu convidar por editaes, a reclamar<br />

perante a camara, ácerca da venda<br />

<strong>de</strong> terrenos do antigo caminho á<br />

Guarda Iogleza, <strong>de</strong>saproveitados pela<br />

construcção da estrada para a Escola<br />

pratica.<br />

Nomeou guardas ruraes, mestre <strong>de</strong><br />

valias, e louvados repartidores d'aguas,<br />

para a freguezia <strong>de</strong> Sernache.<br />

Nomeou guardas ruraes para os logares<br />

<strong>de</strong> Andoriuha (Lamarosa), Abrunheira,<br />

Palheiros, Assalarge, Carvalhaes<br />

(Assafarge), para a freguezia <strong>de</strong> Santo<br />

Antonio dos Olivaes e para S. João do<br />

Campo.<br />

Despachou requerimentos sobre assumptos<br />

diversos :<br />

Aitestados <strong>de</strong> comportamento; reconstrucçâo<br />

da rua <strong>de</strong> Mont'arroio, á<br />

custa <strong>de</strong> proprietários da localida<strong>de</strong>; collocação<br />

<strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos;<br />

collocação <strong>de</strong> candieiros d'illuminação<br />

publica em pontos diversos; transgressão<br />

do regulamento dos impostos<br />

indirectos.<br />

E sobre obras particulares :<br />

Auctorisando a vedação d'um terreno<br />

<strong>de</strong> Francisco Gomes, em Ceira, para que<br />

foi ouvida a junta <strong>de</strong> parochia, lixaudose<br />

o alinhamento, sem alienação <strong>de</strong> terreno;<br />

approvando um alçado para a reconstrucção<br />

d'uma casa <strong>de</strong> José Fernan<strong>de</strong>s<br />

Ferreira, na rua da Louça, com o<br />

alinhimento que existe; approvando outro<br />

para reformar a fachada d'uma casa<br />

na rua das Solas, pertencente a Miguel<br />

da Fonseca Barata, fixando lambem o<br />

alinhamento; auctorisando, em vista do<br />

alçado respectivo a construcção da casa<br />

<strong>de</strong> Francisco d'Almeida Quadros na rua<br />

dos Militares, sem se afastar do actual<br />

alinhamento.<br />

Deferiu 18 reclamações ao arrolamento<br />

<strong>de</strong> cães.<br />

EXPEBJEMTE<br />

Prevenimos os nossos<br />

estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />

fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

vamos principiar a cobrança<br />

do-se e apoiando o cotovello esquerdo<br />

sobre o travesseiro.<br />

— Sim, sr. con<strong>de</strong>, respon<strong>de</strong>u Barbone<br />

com uma tranquillida<strong>de</strong> natural.<br />

— Ao menos estas bem certo <strong>de</strong> que<br />

ninguém te viu?<br />

— Oh 1 ninguém.<br />

— Olha bem para mim, Barbone...<br />

— Estou olhando, sr. con<strong>de</strong>.<br />

— Tu estás commovido I<br />

— Ahi sr. con<strong>de</strong>, ha vinte e quatro<br />

horas que trabalho em serviço <strong>de</strong> v. ex. a ,<br />

e ura homem não é <strong>de</strong> ferro.<br />

— Tu <strong>de</strong>ves ser <strong>de</strong> ferro, tu.<br />

— Experimentarei, meu senhor.<br />

— Hoje não tens a appareucia <strong>de</strong><br />

todos os dias...<br />

— E' possivel; e vi 4o que é necessário<br />

fallar francamente a v. ex.V ..<br />

— Falia <strong>de</strong>pressa.<br />

— Recebi esta manhã más noticias<br />

<strong>de</strong> meu pae, que está na fortaleza <strong>de</strong><br />

Civita-Vecchia...<br />

— Um famoso bandido, teu pae Gasperone<br />

I<br />

— A culpa não é d'elle, coitado;<br />

não quizeram aceital-o nos carabineiros<br />

do Santo padre ...<br />

— Comprebendo; e então elle fez-se<br />

bandido ?. ..<br />

— Oh I é muito natural*<br />

— E <strong>de</strong>pois? vamos, Barbone...<br />

— Depois? peço licença a v. ex.®<br />

para ir vêr meu pae, que está á morte<br />

em Civita-Vecchia.<br />

das suas assignaturas relativamente<br />

ao 2.° semestre.<br />

Aos que não tiverem pago<br />

o 1.° semestre enviamos<br />

recibos do anno completo.<br />

Pedimos a todos o obsequio<br />

<strong>de</strong> pagarem logo que<br />

lhes seja apVesentado o recibo<br />

ou mandarem pagar<br />

ás respectivas estações do<br />

correio quando receberem<br />

aviso, afim <strong>de</strong> se.evitar a<br />

<strong>de</strong>volução, que, além do<br />

prejuizo que nos causa, embaraça<br />

a boa regularida<strong>de</strong><br />

da nossa administração.<br />

EXPLICAÇÃO<br />

O facto <strong>de</strong> eu não consi<strong>de</strong>rar<br />

como uma aggressão brutal do sr.<br />

bacharel Simão da Gosta Pessoa,<br />

mas altribuir a um <strong>de</strong>sastre a queda<br />

<strong>de</strong> que me resultou uina fractura<br />

numa perna, em 12 <strong>de</strong> fevereiro,<br />

<strong>de</strong>u margem a que a invenção calumniosa<br />

fizesse espalhar que eu era<br />

estipendiado por aquelle sr. babarei<br />

com a miséria <strong>de</strong> <strong>de</strong>z loslões por<br />

dia!<br />

E convenço-me <strong>de</strong> que a maledicência<br />

foi mais longe com as<br />

suas pulhas <strong>de</strong> soalheiro: como ha<br />

gente para tudo e capaz <strong>de</strong> tudo,<br />

talvez alguém até afirmasse ter<br />

vtslo—«com aquelles olhos que a<br />

terra ha <strong>de</strong> comer»— o sr. bacharel<br />

Simão Pessoa <strong>de</strong>spejar nas minhas<br />

mãos grossas quanlias! li tudo<br />

isto para eu me calar! —rematam.<br />

Pois saiba-se que nunca fui<br />

visitado pelo sr. bacherel Simão<br />

Pessoa, e que não Itve nem tenho<br />

relações pessoaes com s. s.\<br />

Felizmente até hoje ainda não<br />

é o dinheiro do sr. bacharel Simão<br />

Pessoa ou o <strong>de</strong> outro burguez etn<br />

idênticas condições financeiras, que<br />

me proslitue o caracter.<br />

Altnbui a quéda a um <strong>de</strong>sastre<br />

e não a uma aggressão, porque<br />

tenho a consciência <strong>de</strong> que foi um<br />

<strong>de</strong>sastre: eis porque assim pautei<br />

o meu procedimento.<br />

Para que os senhores saibam.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />

Luiz Cardoso.<br />

— Barbone, tu tens mentido em toda<br />

a tua vida; per<strong>de</strong>ste esla manhã o teu<br />

costume ?<br />

— A menlira é uma arma como<br />

qualquer outra, e eu sirvo-me d'ella com<br />

vantagem quando é necessário, é verda<strong>de</strong>,<br />

senhor con<strong>de</strong>; mas neste momento<br />

não tenho interesse nenhum em mentir.<br />

..<br />

— Quem sabe?... Eu tenho a vista<br />

subtil, meu pobre Barbone, e presinlo<br />

uma mentira não lua peregrinação filial<br />

a Civita-Vecchia.<br />

—• Oh! meu senhor, se me fosse permittido<br />

dizer a v. ex. a que se engana. ..<br />

disse Barbone com um sorriso e uma<br />

candura seraphica.<br />

— Barbone, tiveste qualquer rixa a<br />

noite passada; provavelmente esquecesle-te<br />

<strong>de</strong> ser hábil, surprehen<strong>de</strong>rain-te<br />

num trabalho comproinelledor, <strong>de</strong>nunciaram-te<br />

á policia e tu queres salar-te<br />

para os Apenninos, como o passaro <strong>de</strong>ante<br />

do caçador.<br />

Barbone olhou para Talormi docemente,<br />

fazendo comva cabeça ligeiras<br />

ondulações negativas.<br />

Impresso na Typogfira.pli.itt.<br />

Operaria —Largo da Freiria n.»<br />

14, proximo á rua dos Sapataisos,—<br />

COIMBRA.


AXXO I — 8 O O DEFENSOR DO POVO 9 3 d e abril d e 1 8 9 $<br />

OTVLOS<br />

PAI1A<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

A N N U N C I O S<br />

Por linha .<br />

Repetições<br />

HfVEIiOPES<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapidas<br />

Typ. Operaria<br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

111 M e " d e - * e uma quinta com paúl<br />

W para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />

no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />

Para tratarem com a sua proprietária<br />

D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />

Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />

MARGA «ANGORAS»<br />

en<strong>de</strong>-ge no<br />

105 V <strong>de</strong><br />

estabelecimento<br />

«IUIAO DA CUNHA PINTO<br />

74, Rua dos Sapateiros, 80<br />

E' foreirado Seminário em 210 réis<br />

annuaes.<br />

A contribuição <strong>de</strong> registro e o lau<strong>de</strong>mio<br />

que for <strong>de</strong>vido serão pagos pelo arrematante.<br />

Pelo presente São citados quaesquer<br />

credores e intimados incertos para assistirem<br />

á praça.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 14 d abril <strong>de</strong> 1893.<br />

Yerifiquei a exactidão.<br />

O juiz <strong>de</strong> direito,<br />

Queiroz.<br />

O escrivão,<br />

Joaquim A. Rodrigues Nunes<br />

107


A crise ministerial<br />

Infelizmente paVece que começam<br />

a tomar um caracter <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

as nossas presumpções.<br />

Ainda lia pouco quando perguntávamos<br />

qual a altitu<strong>de</strong> que o<br />

sr. ministro da fazenda tomaria em<br />

face da tão celeberrima como vergonhosa<br />

questão doemprestimo dos<br />

tabacos dizíamos: «Mas agora?<br />

Agora que se trata <strong>de</strong> enormes<br />

passarões, no dizer das Novida<strong>de</strong>s,<br />

agora que a situação é tão séria<br />

como azada para <strong>de</strong>smascarar e<br />

punir esses zangãos terríveis da<br />

nação, que fará o sr. Fuschini ?<br />

«Ce<strong>de</strong>rá elle ás prováveis im<br />

posições do paço, recuando, no ca<br />

minho da honra, pedindo a sua <strong>de</strong><br />

missão por não se achar com for<br />

ças para a lucla, ou para não acar<br />

relar inimiza<strong>de</strong>s, lançando no Li<br />

moeiro a todos os implicados?»<br />

Era esla pergunta que então<br />

fazíamos e é hoje a pergunta que<br />

<strong>de</strong> novo repetimos.<br />

Porque sáe s. ex. a ? Para não<br />

arcar com as responsabilida<strong>de</strong>s inherantes<br />

ás suas obrigações ? Por não<br />

querer melindrar o paço? Para não<br />

<strong>de</strong>svendar e mostrar os <strong>de</strong>lapidadores<br />

da fazenda publica? Ou porque?<br />

Ha vonta<strong>de</strong>s e imposições superiores<br />

á energia <strong>de</strong> s. ex.*?<br />

Pois é tar<strong>de</strong> para as conhecer,<br />

se já as não conhecia. Hoje cabe-<br />

Ihe a restricla obrigação <strong>de</strong> se sustentar<br />

na sua ca<strong>de</strong>ira ministerial<br />

até <strong>de</strong>svendar esses vergoahosos<br />

Panamás, que s, ex. a . com a sua<br />

saida parece querer encobrir.<br />

Descubra-os, moslre-os a todo<br />

o paiz, ponha-os em frente da justiça,<br />

e enlão sáia se qúizer sair.<br />

Mas hoje, que quasi toda a imprensa<br />

lhe pe<strong>de</strong> justiça em nome<br />

da nação, não pô<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve sair,<br />

sem que primeiro cumpra com o<br />

seu <strong>de</strong>ver e <strong>de</strong>sfaça os <strong>de</strong>nsos nevoeiros<br />

que cobrem os traficantes<br />

que não só hão <strong>de</strong> concorrer para<br />

a sua saida, como o hão <strong>de</strong> arrastar<br />

pelas ruas da amargura.<br />

Mas o que é Irisle e doloroso<br />

é, que se veja passeiaudo, pela Europa,<br />

ao lado da sr. a D. Mana Fia,<br />

um homem que se aponta como<br />

centro para on<strong>de</strong> lêem convergido<br />

uma boa parle das receitas publicas.<br />

O que é Irisle é que no meio<br />

dos boalos e sussurros que correm<br />

a esle respeito, se diga, que em tal<br />

saida vão envolvidos altos interesses<br />

e altas personalida<strong>de</strong>s, dandose<br />

logo a coincidência <strong>de</strong> ser o apontado<br />

o sr. Bournay que agora se<br />

acha na Ilalia com a sr. 4 D. Maria<br />

Pia, a quein aquelle senhor empreâlára<br />

o dinheiro para as dtispezas<br />

da viagem, tão nobremente recusadas<br />

pelo sr. ministro da fazenda,<br />

cuja <strong>de</strong>missão já se aponla com<br />

insistência 1<br />

A quem se <strong>de</strong>verá pois a sua<br />

<strong>de</strong>missão ?<br />

Significará um aclo meramente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sua vonta<strong>de</strong>, ou a<br />

pressão <strong>de</strong> forças estranhas, empenhadas<br />

em encobrir o Ião vergonhoso<br />

como importante assumpto do empréstimo<br />

dos tabacos?<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

A primeira hypolhese não nos<br />

parece das mais verd;*Jeiras, pois<br />

que s. ex. a na situação aclual se<br />

achava apenas em mera especlativa,<br />

ainda que naquella mesma questão<br />

já se mostrára mais fracoe tímido<br />

<strong>de</strong> que sé apresenlára <strong>de</strong> principio<br />

ao paiz.<br />

Será a segunda? Assim parece.<br />

Mas quem são essas personalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> lamanha influencia nos<br />

<strong>de</strong>stinos da palria que se lhe impõem<br />

ao cumprimento do seu<strong>de</strong>vèr,<br />

chegando mesmo a levar o sr. ministro<br />

da fazenda a largar a pasla<br />

que tantos annos sonhára ? Quem<br />

quer que sejam, <strong>de</strong> bem alto <strong>de</strong>vem<br />

ellas parlir.-<br />

Mas venha d'ôn<strong>de</strong> vier lai procedimento,<br />

<strong>de</strong>sviando á força um<br />

ministro do cumprimento dos seus<br />

<strong>de</strong>veres para a regeneração da palria,<br />

não é outra coisa senão um<br />

crime <strong>de</strong> que nos cabe pedir conlas,<br />

mas conlas muilo severas.<br />

i<br />

E viva a folia !<br />

Com quanto se diga e rediga, e isso<br />

esteja supinamente em evi<strong>de</strong>ncia, que o<br />

eslado das nossas liaanças é o mais <strong>de</strong>plorável<br />

que pô<strong>de</strong> conceber-se, nem por<br />

isso affrouxa no animo dos que nos regem,<br />

a tradicional predilecção pelo luxo.<br />

Por esies trechos do Le journal, folha<br />

parisiense, avalie-se o hysterisino<br />

uxuoso da sr. a D. Maria Pia:<br />

«Se é verda<strong>de</strong> que a vida retirada<br />

na Ajuda — palacio <strong>de</strong> construcção pesada,<br />

que lembra alguma coisa o Escu><br />

rial—pesa em tanto á viuva do rei L).<br />

Luiz, e que ella tem a no?talg'a da representação,<br />

eis para a ãugusla princeza<br />

uma bella occ-asiao, seguramente, do ex-<br />

Inbir-se, com as melhore* «toàletes»<br />

pari*ieiMe«, sobre um palco<br />

on<strong>de</strong> os principaes papeis são <strong>de</strong>sempenhados<br />

por imperadores, ou primos <strong>de</strong><br />

imperadores. Parisiense, atheniense pelo<br />

seu bom gosto e cultivaudo coin extraordinário<br />

amor as vaida<strong>de</strong>s mundanas, a<br />

sr. a L). Maria Pia e tudoisso, com elfeito,<br />

d'alma e coração. E' das mãos dn«<br />

•tussas primeiras modistas que<br />

saem regularmente as suas<br />

«toiiettes», cuja riqueza <strong>de</strong>slumbrou<br />

em tempos a corte <strong>de</strong> Lisboa, quando a<br />

soberana, joven ainda, encommendava o<br />

seu retrato a Carlos Duran, e, para toruar-se<br />

mais bella 1 , ajudava po<strong>de</strong>rosamente<br />

a fortuna <strong>de</strong> madame Aline Neuvitle, sua<br />

modista favorita e privilegiada.<br />

«A rainha <strong>de</strong>morar-se-ba em Paris<br />

até a próxima terça leira, e é certo que,<br />

durante a sua estada aqui, a m»i«r<br />

parte, do seu tempo será consagrado<br />

a provas <strong>de</strong> «toiiettei,<br />

<strong>de</strong> preferencia a recepções otiiciaes ou<br />

mesmo oíliciosas, seja dos amigos do<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, seja da colonia porlugueza.»<br />

Nós só lhe pomos o visto.<br />

Pela Cafraria<br />

Oi agonies do tisco appreheu<strong>de</strong>cam<br />

ha dias a um passageiro, uma camisola,<br />

á chegada á estação da Aveuida, Lisboa.<br />

O iudáceuiissimo nnJo por que se<br />

proce<strong>de</strong>u a esta heroicida<strong>de</strong>, e coutado<br />

assim por um nosso collega :<br />

«0< agentes do liscó, com aquella<br />

amabilida<strong>de</strong> que os distingue em occasiõos<br />

solemues, convidaram o passageiro<br />

suspeito a eutrar em u n dos logares reconditos,<br />

em que se acha installada a<br />

liscalisação naquelle recinto, e alli foi<br />

mandado <strong>de</strong>spir, em seguida arrebataram<br />

lue a uuica camisola <strong>de</strong> lã que<br />

trazia vestida e remetteram convenientemente<br />

escoltados para a alfan<strong>de</strong>ga o paciente<br />

e a camisola.»<br />

Como é que epigraphaum isto? Pela<br />

Confraria ? - - lista bem.<br />

REVISTA LITTERARIA<br />

«Reyista Moya» — Miragens<br />

Acabamos <strong>de</strong> lêr o primeiro numero<br />

da Revista Nova.<br />

De todas as producções que nella se<br />

inserem, pareceu-nos intimamente <strong>de</strong>scabida,<br />

não só pela falta <strong>de</strong> boa orientação<br />

litteraria, mas ainda pela mesquinhez<br />

ue boa educação critica, aquella em<br />

que se analysa ou, antes, malsina o tra-<br />

balho recente <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong> Lemos. Firma-a<br />

o sr. Henrique <strong>de</strong> Vasconcellos, um<br />

dos Novos, (vá o termo e a leltra maiuscula)<br />

que não lemos a honra <strong>de</strong> conhecer<br />

pessoalmente, mas que nos dizem<br />

ser um rapaz inteiligente e iliustrado.<br />

Estes dois predicados baslariam, certamente,<br />

a arro<strong>de</strong>lar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua<br />

individualida<strong>de</strong> litteraria, se, no artigo<br />

<strong>de</strong> que vimos fallando, com elle nào corresse<br />

parelhas o «lesejo ar<strong>de</strong>nte e insaciável<br />

<strong>de</strong> tudo controverter e empanar.<br />

E' <strong>de</strong> ha muito a observação, mas não<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ler cabimento aqui: duas linhas<br />

lauçadas para a tela da publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>svairam<br />

e conturbam os espíritos- a tal<br />

ponto que ou a critica se transmuda em<br />

íouvaminhas ou se arvora em inquisidor.<br />

Nem tanto. Criticar bem e sãmente, sem<br />

preoccupações <strong>de</strong>schola e, o que e mais,<br />

sem prendimentos <strong>de</strong> pessoas, é hoje, e<br />

foi-o sempre, o <strong>de</strong>ver sacratíssimo <strong>de</strong><br />

todos aquelles que hão <strong>de</strong> applicar o<br />

bisturi da sua auaJyse ás manifestações<br />

intcliectoaes dos oulros.<br />

Mas d'isto infelizmente, não está<br />

isento ò artigo do sr. Vasconcellos.<br />

Depois que Eugénio <strong>de</strong> Castro implantou,<br />

entre nós, a eschola <strong>de</strong>cadista<br />

ou, como quer o sr. Vasconcellos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que aquelle poeta começou a fazer, nos<br />

Uaristos,- exercícios <strong>de</strong> lechnica e acabou<br />

uas Horas, por pastichar Verlaiue e<br />

outros <strong>de</strong>cadislas francezes; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse<br />

momento, correu accesa nos dois campos<br />

a refrega, sem que d'essa lucla,<br />

braço a braço e peito a peito, nascesse<br />

para a lilteratura uma nova formula, que<br />

não fossem esses dois epilhetos jactanciosamente<br />

arremessados aos românticos,<br />

aos velhos: barbaros, impios! Nisto se<br />

licou; e não pareça por <strong>de</strong>mais exaggerada<br />

a nossa aílirmativa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se<br />

atteate, com critério e imparcialida<strong>de</strong>,<br />

ao juízo do Mestre. E.ie mesmo lança<br />

por lerra o editicio dos que o imitaram,<br />

com estas solemnissiitías palavras: «nao<br />

me corfipieheu<strong>de</strong>ram.»<br />

Mais longe ainda vae o sr. Vasconcello-s:<br />

com um <strong>de</strong>sassombro, que nos<br />

parece loucura, nega a originalida<strong>de</strong> a<br />

todos os poetas mo<strong>de</strong>rnos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o proprio<br />

E. <strong>de</strong> Castro, a Oliveira Soares, Julio<br />

Brandão, D. João <strong>de</strong> Castro, etc. !<br />

Nada lica <strong>de</strong> pé; ou, melhor, lica apenas<br />

um—um, que é Antonio Nohre, e<br />

que o novel escriptor julga ser «o único<br />

successor em Portugal dos gran<strong>de</strong>s poetas,<br />

como foi Authero do Quental e como<br />

é João <strong>de</strong> Deus!»<br />

Aparte a vellm amiza<strong>de</strong> que nos liga<br />

a Antonio Npbre, forçoso nos e confessar,<br />

com esta ru<strong>de</strong> franqueza, que tanto<br />

nos caracterisa e por que e um <strong>de</strong>ver a<br />

cumprir, que a obra do distincto poeta,<br />

com ser uma po<strong>de</strong>rosa vibração <strong>de</strong> talento,<br />

não possue comtudo base bastante<br />

longa nem alicerce sulUcieiítemeiite<br />

solido para suster e acarretar com o pezo<br />

da estatura litteraria e scienlilica daquelles<br />

dois génios. Isto mesmo pensa o sr.<br />

Carlos Mesquita, illustre companheiro<br />

na Revista, do sr. Vasconcellos, quando<br />

nos diz que «Autonio Nobre e um<br />

caso isolado e que o assumpto que elle<br />

começou a explorar é resiricto <strong>de</strong> mais<br />

para formar uma escola sem que os Poetas<br />

se repitam», e mesmo quando anteriormeuie<br />

Irauscreve aquella observação<br />

<strong>de</strong> Leapafdi, que atinai se cifra—-na<br />

imitaçao própria e ainda quando pergunta<br />

: «em que livro <strong>de</strong> novo se vê o germen<br />

d um João <strong>de</strong> Deus ou d um Authero?»<br />

O mesmo aconteceria a Quental e<br />

acontece hoje ainda a João <strong>de</strong> Deus?<br />

Por certo que não.<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 81<br />

do Povo<br />

Sobretudo, em Anthero do Quental<br />

são tão variadas e tão profundas as suas<br />

poesias, tantos e tão esmerilhados o*<br />

seus pensamentos, on<strong>de</strong> uma philosophia<br />

própria se abraça também a um modo<br />

<strong>de</strong> dizer especial e singularissimo, que<br />

muitas veies, ao lermol-o, nos convencemos<br />

<strong>de</strong> que o que elle menos tem é<strong>de</strong><br />

poela. E' talvez um erro nosso. Mas que<br />

admira, pois, que Carlos <strong>de</strong> Lemos nem<br />

sempre o comprehen<strong>de</strong>sse ? Que espanto<br />

ha em que não o comprehendamos nós?<br />

Mas muilo mais do que isso, muito<br />

mais, vale aquella ingénua conlissão do<br />

sr. Vasconcellos, quando nos diz que a<br />

primeira impressão má que lhe veiu do<br />

livro <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong> Lemos foi o tilulo!<br />

Bibliorrhea que infestou o nosso mercado<br />

litterario <strong>de</strong> ha 50 annos a esta<br />

parte; mas abençoada bibliorrhea que<br />

nos <strong>de</strong>ixou as obras incomparáveis <strong>de</strong><br />

Garrett e Castilho I — abençoada, ainda,<br />

porque nos legou os mais formosos mol<strong>de</strong>s<br />

em que a poesia hodierna pô<strong>de</strong> fundir<br />

e vazar o seu pensar e sentir I<br />

E, <strong>de</strong>mais, que vale um titulo? Elle,<br />

quasi sempre, é a synthese das impressões<br />

com que o auclor manufacturou o<br />

seu livro. E quem lê, quem pô<strong>de</strong> lêr na<br />

alma do poeta, quando elle, a sós, no<br />

remanso do seu quarto e na fervilhaçào<br />

do seu pensamento, a rasga e dilacera,<br />

muitas vezes com mão impiedosa ? Oh,<br />

como coisas Ião mesquiuiias po<strong>de</strong>m revolucionar<br />

uin espirito J...<br />

E que grilo <strong>de</strong> ciúme é aquelle, sr.<br />

Vasconcellos, que o leva a esquecer a<br />

sua própria individualida<strong>de</strong>, nascida e<br />

creada hontem nas paginas da Revista,<br />

<strong>de</strong> fórma a arremessar ao peito <strong>de</strong> muitos<br />

escriptores <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> a seita eivada<br />

<strong>de</strong> «mephiticos e rhapsos sem talento<br />

»? Esquadrinhar bem na nossa consciência,<br />

é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos nós; <strong>de</strong>mais<br />

a mais quando, as irreflexões dós primeiros<br />

annos, nos levam a éssa epessima<br />

syntaxe e <strong>de</strong>testável prosodia.» Para<br />

que aliar a língua?<br />

Pô<strong>de</strong> ser que aiguma coisa nos esquecesse,<br />

na rapi<strong>de</strong>z com que escrevemos<br />

estas linhas; mas também não cabe<br />

mais nem tanto nas ensanchas d'uma<br />

revista, que hoje se cria, sem tempo<br />

e sem espaço.<br />

Uma que faltava, por exemplo: Beferindo-se<br />

aos poetas da província, encontra<br />

o sr. Vascoucellos uescuipa para a<br />

falta d originabda<strong>de</strong> d'elles, no motivo <strong>de</strong><br />

tardiamente receberem os livros, que ja<br />

ninguém lê e que estão postos irreverentemente<br />

a margem ha muitos ânuos.<br />

Esta tem graça 1 Segundo nos consta o<br />

sr. Henfique <strong>de</strong> Vasconcellos é africano,<br />

e por isso uma pergunta se nos suggere:<br />

Haverá para a Africa o privilegio <strong>de</strong><br />

se couce<strong>de</strong>r aos livros já lidos e relidos<br />

vigor litterario, no resto do orbe, só <strong>de</strong>pois<br />

da chegada do paquete ?<br />

O certo é que o que ahi lica dito<br />

não e uma <strong>de</strong>leza do livro <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong><br />

Lemos. Encontramos-lhe lambem <strong>de</strong>feitos,<br />

que muito nos aprazaria não lêr.<br />

Mas ainda assim, ante a critica do sr.<br />

Vasconcellos, seria injustiça nao arregaçar<br />

um pouco o véo, negro e espesso,<br />

em que o preten<strong>de</strong>u envolver. Nem<br />

tanto.<br />

A critica, quando assim, sobre ser<br />

injusta, é incivil.<br />

No emtanto, cumpre-nos dar á Revista<br />

Nova as boa» vindas, e damol-as<br />

na certeza <strong>de</strong> que nella leremos um collega<br />

franco e leal.<br />

Reduzir o quasi<br />

irreductivai<br />

Consta que o sr. Bernardino Machado<br />

vae reduzir a 50 e 60 por cento, os or<strong>de</strong>nados<br />

do pessoal menor d) ministério<br />

das obr.93 publicas, que está fóra do<br />

quadro.<br />

D'esta fórma alguns empregados receberão<br />

mensalmente a pequenina quantia<br />

<strong>de</strong>... 4#000 réis, ou seja, por cada<br />

dia, seis vinténs e meio...<br />

Como isto é lamentavel sa se reflectir<br />

que po<strong>de</strong>ríamos viver <strong>de</strong>safogadamente<br />

se os nossos governantes <strong>de</strong> ha<br />

sessenta annos para cá fossem comedidos<br />

nos seus <strong>de</strong>sperdícios I<br />

PELOS JORNAES<br />

Ainda a questão do caminho <strong>de</strong> ferro<br />

<strong>de</strong> Qm'limane Chire.<br />

Parece ser questão assente o contracto<br />

<strong>de</strong> concessão d'aqut*lla linha.<br />

Não se po<strong>de</strong>rá queixar o sr. Neves<br />

Ferreira <strong>de</strong> que a imprensa não lhe tivesse<br />

indicado qual o caminho a seguir<br />

em tão melindroso assumpto e quaes as<br />

consequências da sua imprudência.<br />

Infelizmente para nós e para elle será<br />

já tar<strong>de</strong> quando s. ex. a reconhecer os erros<br />

provenientes meramente da fórma caprichosa<br />

como preten<strong>de</strong> resolver tal caso.<br />

Sua ex. a enten<strong>de</strong>u por bem fazer o<br />

que quer; porisso terá lambem paciência<br />

<strong>de</strong> ouvir o que não quer, como já<br />

lhe dizem as Novida<strong>de</strong>s :<br />

«A final parece ser coisa resolvida<br />

a assiguatura do contracto do caminho<br />

<strong>de</strong> ferro Quehmaúe-Chire. O sr. ministro<br />

da marinha, que apenas tinha auctorisação<br />

pára tornar <strong>de</strong>finitivo esse<br />

contracto, e que sempre suppozemus a<br />

nao usasse, resolveu, ao que se alfir-<br />

111a, ligar o seu nome a este coudcninado<br />

acto <strong>de</strong> administração, arrastado<br />

pelas nefastas influencias que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

muito a opinião aponta com repetidas<br />

suspeições. Temos sincera pena que o<br />

sr. Neves Ferreira, um homem <strong>de</strong> tantos<br />

serviços, e cujo nome andava com<br />

justiça reeommendudo ao applauso patriolico,<br />

ceda ás pressões que sobre<br />

elle pesam, e assim forneça ensejo para<br />

ajustes <strong>de</strong> contas parlamentares, que<br />

nos consta neni serão brandos, nem benignos.»<br />

E diga <strong>de</strong>pois a imprensa monarchica,<br />

que nós não temos razão, quando<br />

affirmâinos ser impossível uma boa administração<br />

<strong>de</strong>ntro das actuaes instituições,<br />

quatido é ella a primeira a fallar-nos em<br />

altas pressões, beis amparos do throno I<br />

Haja em vista a cobrança dos impostos,<br />

o escandalo do «niprestiuio dos tabacos<br />

e por ultimo a concessão do caminho<br />

<strong>de</strong> ferro do Quelimane-Chire.<br />

Sempre as altas pressões — sempre as<br />

nefastas influencias <strong>de</strong> que o nosso collega<br />

— A Vanguarda diz :<br />

«Saba-se que neste negocio ha <strong>de</strong>talhes<br />

tenebrosos, que em Volta do ministério<br />

da marulha se teem agitado ha<br />

dois annos vários influentes políticos a<br />

especuladores do mais apurado quilate,<br />

anoiosus por alcançarem essa concessão<br />

para receberem dos iuglezes, aos quaes<br />

ella aproveita, a gorgeta combinada em<br />

troca <strong>de</strong> tão appetitoso presente.»<br />

Mas oiça mais, sr. Neves Ferreira.<br />

Diz o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro:<br />

«É positivo I O goveino faz o contracto.<br />

o sr. ministro da marinha insiste.<br />

Com a obstinação que é a característica<br />

do seu espirito vae por diante<br />

na sua i<strong>de</strong>ia.<br />

«SttaV Não, que, seguudo consta,<br />

no seu ministério é o sr. Neves Ferreira,<br />

quem menos manda. Governam<br />

outros : uns que estão fóra das secretarias,<br />

outros que ó necessário <strong>de</strong>sviar<br />

d'alli.»<br />

Depois accrescenta o mesmo jornal ;<br />

«K elle que entrega aosginglezes<br />

um caminho <strong>de</strong> ferro que só a inglezes<br />

ou especialmente a elles vae servir.»<br />

E para complemento <strong>de</strong> tão justa<br />

censura diz ainda :<br />

«Já mostrámos naquillo que temos<br />

dito, que á organisaçâo das bases<br />

presidiu a maior levianda<strong>de</strong>, a maior<br />

talta <strong>de</strong> patriotismo, o mais revoltante<br />

<strong>de</strong>sprezo das conveniências do paiz.»<br />

Nós mesmo que nunca tivemos maior<br />

confiança na regeneração da patria, pelos<br />

homens que se sentam nos beiraes<br />

do Paço, magoamo-nos ao vermos o nome<br />

do sr. Neves Ferreira cair d'um para<br />

outro momento, arrastado pelas nefastas<br />

influencias, que assentaram arraiaes junto<br />

ao throno para melhor dominarem todas<br />

as situações.<br />

E assim succe<strong>de</strong>rá a lodos.


AXXO I —X. 9 81 O D E F E N S O R DO P O V O S* <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

CRYSTABS<br />

Deante d'nm Christo<br />

Deixas que prenda assim leu braço forte<br />

A ea<strong>de</strong>ia da negra escravidão,<br />

Pregado nessa cruz <strong>de</strong>pois da morte<br />

Soífrendo uma continua expiação I<br />

Eu não invejo a tua horrível sorte...<br />

Sujeito ao olhar feroz da multidão,<br />

Não vês nunca brilhar no ceu do norte<br />

Uma estrella sequer <strong>de</strong>je<strong>de</strong>mpção.<br />

Ai, meu doce Jesus I eu soffro tanto I<br />

Tenho no peito meu a Raiva e a Dôr<br />

E no olhar <strong>de</strong>svairado a luz do Espanto ..<br />

Mas sei que ha <strong>de</strong> findar o meu Horror<br />

E sei que hei <strong>de</strong> enxugar este meu pranto<br />

A's dobras d'um sudário re<strong>de</strong>mptor.<br />

i<br />

II<br />

E tu, cá ficarás exposto ao frio<br />

Na triste solidão das eathedrae»,<br />

Curvado o rosto pallido e sombrio,<br />

Guardando <strong>de</strong>ntro em ti a Magoa e os Ais.<br />

E tu cá ficarás continuamente,<br />

Exposto aos furacões, aos vendavaes,<br />

Sempre preso na cruz, sempre pen<strong>de</strong>nte,<br />

Sempre submisso á voz dos Car<strong>de</strong>aes.<br />

Horrível fado teu! horrível sorte!<br />

Viver eternamente, após a morte,<br />

Sentir puisar gelado o coração!<br />

Ai meu doce Jesus! ai, que alegria,<br />

Po<strong>de</strong>r a gente dsscançar um dia!...<br />

Antes fosses, Jesus, um meu irmão.<br />

ERNESTO PIBES.<br />

LETTRAS<br />

 Yigilia<br />

- Morrera sem agonia, tranquilamente,<br />

como uma mulher cuja vida fôra sem<br />

macula ; e repousava agora no seu leito,<br />

<strong>de</strong> costas,com os olhos fechados, as feições<br />

calmas, os :longos cabellos brancos cuidadosamente<br />

alisados como se tivesse acabadb<br />

<strong>de</strong> se pentear <strong>de</strong>z minutos antès <strong>de</strong><br />

morrer. Toda a sua physionomia pallida<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>funta estava tão recatada, tão serena,<br />

tão resignada, que bem claramente<br />

se sentia a alma suave que habitara<br />

aquelle corpo,aexistencia sem perturbação<br />

que tivera aquella avó austera, o fim sem<br />

angustias e sem remorsos, que tivera<br />

aquella mulher honesta.<br />

De joelhos, ao pé da cama, o filho, um<br />

magistrado inflexível, e sua filha Margarida,<br />

no claustro soror Eulalia, choravam<br />

doidamente.<br />

Des<strong>de</strong> a sua infancia que ella os robustecera<br />

com uma moral inquebrantável,<br />

ensinando-lhes a Religião sem fraquezas<br />

e o <strong>de</strong>ver sem transigências. Elle, o homem,<br />

lizera-se magistrado, e empunhando<br />

o gladio da lei, feria sem pieda<strong>de</strong> os<br />

fracos, os que tinham fraquejado na lucla;<br />

ella, a filha, impregnada na virtu<strong>de</strong> que<br />

a banhqra n'esta familta austera, <strong>de</strong>sposara<br />

Deus, por tédio dos homens.<br />

Não tinham sequer conhecido o pae;<br />

sabiam unicamente que fizera sua mãe<br />

<strong>de</strong>sgraçada; era tudo quanto sabiam.<br />

A religiosa beijava loucamente a mão<br />

pen<strong>de</strong>nte da morta, mão <strong>de</strong> marfim semelhante<br />

ao gran<strong>de</strong> Christo <strong>de</strong>itado sobre<br />

o leito. Do outro lado do corpo estendido,<br />

a outra, mão parecia agarrar ainda 110<br />

lençol amarrotado, com esse gesto errante<br />

que se chama a préga dos agonisantes,<br />

e a roupa como que conservava umas<br />

pequenas vagas <strong>de</strong> linho, como que uma<br />

recordação d'esses últimos movimentos,<br />

que prece<strong>de</strong>m a eterna immobilida<strong>de</strong>.<br />

Umas leves pancadas na porta fizeram<br />

levantar as duas cabeças soluçantes, e o<br />

padre, que acabára <strong>de</strong> jantar, entrou.<br />

Estava vermelho, resfolegando com a<br />

digestão começada, porque tinha <strong>de</strong>itado<br />

muilo cognac no café para compensar a<br />

fadiga das ultimas noites passadas em<br />

claro, e da vigilia que ia começar.<br />

Perecia triste, com aquella falsa tristeza<br />

d'ecclesiastico para quem a morte é<br />

um ganha pão.<br />

Fez o signal da cruz, e approximando-se<br />

com o seu gesto profissional:<br />

-r-Meus queridos filhos, venho ajudul-os<br />

a passar estes tristes momentos.<br />

Mas soror Eulalia, immedialamenle<br />

levantando-se, disse :<br />

— Obrigada, muito obrigada; meu<br />

irmão e eu <strong>de</strong>sejamos licar sósinbos ao<br />

pé d'eila. São estes os últimos instantes<br />

em que a po<strong>de</strong>remos vér, todos tres,<br />

como dantes, quando nós... éramos pequenos,<br />

e a nossa po... pobre mãe...<br />

Não pou<strong>de</strong> acabar a pbrase, a tal<br />

ponto as lagrimas corriam, sulfocando-a<br />

na sua dôr.<br />

Mas o padre inclinou-se com uma<br />

tranquilida<strong>de</strong> satisfeita a pensar na sua<br />

caminha, que o esperava. ..<br />

— Como quizerem, meus filhos.<br />

Ajoelhou-se, benzeu se, rezou, e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> se levantar, sahiu <strong>de</strong>vagar murmurando<br />

:<br />

—Era uma santa I<br />

*<br />

Ficaram sós, a morta, e os filhos.<br />

Um relogio que se não via fazia ouvir na<br />

sombra o seu lic-tac regular; e pela janella<br />

aberta o molle cheiro dos fenos e<br />

dos bosques entrava com uns languidos<br />

raios da lua. Não se ouvia no campo<br />

nenhum outro ruido além das notas volantes<br />

dos sapos, e <strong>de</strong> vez em quando o<br />

zumbir d'uni insecto noturno, entrando<br />

como uma baila e indo <strong>de</strong> encontro á<br />

pare<strong>de</strong>. Uma pacificção infinita, uma divina<br />

melancolia, uma serenida<strong>de</strong> silenciosa<br />

ro<strong>de</strong>ando a morta, pareciam como<br />

que voejor em torno d'ella, expandir-se<br />

para fóra, e pedir á própria natureza a<br />

serenida<strong>de</strong> e á paz.<br />

Então o magistrado, sempre <strong>de</strong> joelhos,<br />

a cabeça mergulhada nas roupas da<br />

cama, com uma voz sumida, dilacerante!<br />

abafada pelos lenços mordidos, grilou:<br />

— Mamã, mamã, oh! minha mamã!<br />

E a irmã, curvando-se até ao chãobatendo<br />

no sobrado com a sua fronte <strong>de</strong><br />

fanatica, convulsa, torcendo se, e vibrante<br />

como num ataque epiléptico, gemeu:<br />

— Jesu", Jesus, mamã, Jesus!<br />

E sacudidos ambos violentamente por<br />

uma tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dôr arquejavam, soluçando.<br />

Depois, a Crise a pouco e pouco foi<br />

socegando, e continuaram a chorar num<br />

tom mais baixo, mais brando, como as<br />

chuvosas bonanças, seguindo-se ás borrascas<br />

no mar convulsionado.<br />

Assim estiveram muito tempo, <strong>de</strong>pois<br />

levantaram se e pozeram se a contemplar<br />

o querido cadaver. É as recordações,<br />

aquellas longínquas recordações, honlem<br />

tão cheias <strong>de</strong> alegrias, boje tão cheias<br />

<strong>de</strong> torturas, choviam lhes no espirito com<br />

todos os insignificantes promenores esquecidos,<br />

aquellas pequenas coisas intimas<br />

e familiares que como que fazem<br />

reviver aos nossos olhos o ente que <strong>de</strong>sappareceu.<br />

Recorduvam-se das circunstancias,<br />

das palavras, dos sorrisos, das<br />

inflexões d'aquella voz, que nunca mais<br />

ouviriam.<br />

Tornavani-na a Vêr feliz e tranquilla,<br />

lembravam-se das plirases que ella lhes<br />

dizia, d'um pequeno movimento da mão<br />

que tinha ás vezes, como para bater o<br />

compasso, quando dizia alguma coisa importante.<br />

Adoravam-na agora mais do que<br />

nunca. E percebiam enlão, medindo o<br />

<strong>de</strong>sespero, quanto lhe queriam, como<br />

se iam d'ahi por <strong>de</strong>ante achar abandonados.<br />

Era o seu amparo, o seu guia, toda<br />

a alegre epocha da sua existencia que se<br />

sumia ; eram as suas relações com a vida<br />

a mãe, a mamã, a carne creadora, o laço<br />

com os seus avós que <strong>de</strong>sapparéciam.<br />

Ficavam agora solitários, isolados ; já não<br />

podiam olhar para o passado.<br />

A religiosa disse ao irmão :<br />

— Lembras-le que a mamã lia sempre<br />

as suas velhas cartas; estão todas<br />

alli, na gaveta. Vamos lei as agora nós,<br />

vamos reviver esta noite ao pé d'ella.<br />

Seria como que um caminho da cruz,<br />

como que um conhecimento que travaríamos<br />

com a mãe d'ella, com os nossos<br />

avós <strong>de</strong>sconhecidos, cu^as cartas estão<br />

alli e <strong>de</strong> quem n&s fallitva tantas vezes,<br />

lembras-le ?<br />

*<br />

Tiraram da gaveta uns <strong>de</strong>z massos<br />

<strong>de</strong> papeis amarellos, atacados com cuidado.<br />

e postos em or<strong>de</strong>m. Pozeram em<br />

cima da cama estas relíquias, e, escolhendo<br />

uma d elias que tinha escripto a<br />

palavra «Pae», abriram-na e leram.<br />

Eram d'aquellas velhas epistolas que<br />

se encontram nas velhas secretarias <strong>de</strong><br />

família, d'aquellas cartas que como que<br />

rescen<strong>de</strong>m ao século passado. A primeira<br />

dizia: «Minha querida», uma outra:<br />

«Minha lindinha» ; <strong>de</strong>pois outras: «Meu<br />

querido amor» ; e ainda mais. «Minha<br />

querida filha. E <strong>de</strong> súbito, a religiosa<br />

começou a ler em voz alta, e a reler á<br />

morta a sua historia, todas as suas-queridas<br />

recordações. E o magistrado com<br />

os olhos fixos na mãe. E o cadaver immovel<br />

parecia feliz.<br />

Eulalia, interrompendo a leitura, disse<br />

subitamente:<br />

— Havemos <strong>de</strong> lh'as metter no tumulo,<br />

fazer-lhe uma mortalha com Indo<br />

isto, sepultal-a aqui <strong>de</strong>ntro.<br />

Pegou num outro masso, que não tinha<br />

escripla nenhuma palavra reveladora. E<br />

começou a ler em voz alta : «Minha adorada,<br />

amo le até á loucura. Des<strong>de</strong> hontem,<br />

soffro como um precito queimado<br />

pela tua lembrança. Sinto os teus lábios<br />

nos meus, os teus olhos, a tua carne na<br />

minha carne; amo-te, adoro-te! Enlouqueceste-me.<br />

Os meus braços abrem-se,<br />

o meu peito está arquejante pelo <strong>de</strong>sejo<br />

furioso <strong>de</strong> te possuir ainda mais uma vez.<br />

Todo o meu corpo te chama, te quer.<br />

Conservei na bocca o sabor dos teus<br />

beijos.»<br />

O magistrado erguera-se; a religiosa<br />

parou <strong>de</strong> ler; elle procurou-lhe a assignatura.<br />

Não tinha; mas unicamente <strong>de</strong>baixo<br />

das palavras: «O que le adora» o nome<br />

«Ueiirique». Seu pae chamava-se Renato.<br />

Não era elle portanto. Enlão o filho,<br />

com a mão nervosa, remecheu o maço<br />

<strong>de</strong> cartas, tirou uma outra, e leu: «Não<br />

posso viver sem as tuas caricias.» E <strong>de</strong><br />

pé, severo como no tribuoal, cravou o<br />

olhar duro na morta impassível. A religiosa,<br />

direita como uma estatua, com as<br />

lagrimas presas aos cantos dos olhos,<br />

olhando fixamente para o irmão, esperava.<br />

Então elle atravessou o quarto a<br />

passos vagarosos dirigiu-se para á janella,<br />

e com o olhar perdido na noite, esteve<br />

assim muito tempo a pensar.. •<br />

Quando se voltou, soror Eulalia,<br />

com os olhos seccos, estava ainda <strong>de</strong><br />

pé, junto da cama, com a cabeça caida<br />

sobre o peito.<br />

Elle approximou-se, apanhou rapidamente<br />

as cartas que atirou em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />

para a gaveta, <strong>de</strong>pois fechou as cortinas<br />

do leito.<br />

E, quando o dia empalli<strong>de</strong>ceu as<br />

vellas que estavam sobre a meza, o filho<br />

lentamente, levanlou-se da poltrona, e,<br />

sem tornar a olhar urna única vez para<br />

a mãe que rcpellira, con<strong>de</strong>mnada, disse<br />

<strong>de</strong>vagar:<br />

— Agora, saiamos, minha irmã.<br />

Gny <strong>de</strong> Maupassant.<br />

A levantar a cabeça<br />

O sr. Mariano <strong>de</strong> Carvalho, que em<br />

pleno parlamento se <strong>de</strong>clarou inorto para<br />

a politica, não se sente, mulgrè tout,<br />

vpom feitios para calar <strong>de</strong> vez as suas<br />

jogralidadçs com que. pelo bem condimentado,<br />

costuma embalar a parte ingénua<br />

da opinião publica.<br />

Neste proposilo, que tem alguma<br />

cousa <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> rehabilitação, o sr.<br />

Mariano tem semeado pelo Popular uma<br />

aluvião <strong>de</strong> planos financeiros e políticos,<br />

que elle impinge como sendo os seus<br />

planos financeiros e políticos <strong>de</strong> ex-ministro,<br />

com o sr. João Chrysostomo.<br />

O picaresco do caso salienta-se claramente,<br />

e o ardil, por não ser <strong>de</strong> primeira<br />

edição, po<strong>de</strong>rá impressionar os<br />

que <strong>de</strong> animo leve se <strong>de</strong>ixam alar pelo<br />

pbanlasioso dos factos, mas nunca po<strong>de</strong>rá<br />

provocar mais que um sorriso banal<br />

aquelles que conhecem, a todo o fundo,<br />

a engenhosa habilida<strong>de</strong> do sr. Mariano<br />

e as suas ardilosas artimanhas.<br />

Prosiga, pois, o sr. Mariano que a<br />

nós não nos illu<strong>de</strong>. Conbecemol-o <strong>de</strong><br />

mais.<br />

O Grito <strong>de</strong> Janeiro<br />

Recebemos a visita d'este nosso collega<br />

publicado no Porto e que bastante<br />

agra<strong>de</strong>cemos, <strong>de</strong>sejando-lhe largas prosperida<strong>de</strong>s.<br />

«Esperanto»<br />

Recebemos um curioso livrinho, <strong>de</strong><br />

propaganda em favor d'uma lingua universal.<br />

E' um methodo completo para apren^<br />

<strong>de</strong>r a lingua universal Esperanto, com<br />

uma grammatica e dois vocabulários, Esperanto-Porluguez<br />

e Portuguez-Esperanto.<br />

Na realida<strong>de</strong> o methodo é simplicíssimo,<br />

e tanto, que em poucos dias se<br />

po<strong>de</strong> conhecer o esperantismo lambem<br />

como o auctor, o dr. Luiz Zamenhof.<br />

Alma Nova<br />

Tal é o titulo d'um novo semanario<br />

da aca<strong>de</strong>mia bracarense que ultimamente<br />

nos foi enviado e que agra<strong>de</strong>cemos.<br />

THEATROS<br />

Com as Noivas do Enéas, abriu 110<br />

sabbado a sua serie <strong>de</strong> espectáculos no<br />

lheatro D. Luie a companhia do lhealro<br />

Príncipe Real, superiormente dirigida<br />

pelo actor Taveira.<br />

As Noivas do Enéas é uma comedia<br />

em quatro actos, original d 1 Gervásio<br />

Lobato, (1'on<strong>de</strong> resalta, a cada movimento<br />

scenico, a graça <strong>de</strong> que Gervásio se tornou<br />

único possuidor. Como lodos os trabalhos<br />

theatraes <strong>de</strong> Gervásio, esta comedia<br />

é um continuado <strong>de</strong> disparates inverosímeis,<br />

difficeis <strong>de</strong> apurar no enredo,<br />

<strong>de</strong> que afinal só se encontra sahida pela<br />

gargalhada, que espontaneamente nos<br />

salta. Com situações cheias <strong>de</strong> picaresco,<br />

on<strong>de</strong> abunda sempre a piada bem condimentada,<br />

sem que comtudo seja fresca,<br />

as Noivas do Enéas com algumas passagens<br />

<strong>de</strong> somenos valor substituída por<br />

uns trechos <strong>de</strong> boa musica, seria talvez<br />

um dos trabalhos melhores <strong>de</strong> Gervásio<br />

Lobato.<br />

O <strong>de</strong>sempenho nada <strong>de</strong>ixou a <strong>de</strong>sejar.<br />

José Ricardo, no papel <strong>de</strong> Enéiis houve-se<br />

sem <strong>de</strong>smandos, sabendo sempre<br />

traduzir com rigor a sua situação <strong>de</strong><br />

enamorado infeliz, batido por toda a<br />

casta <strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>. Angela Pinto pareceu-nos<br />

um ludo-nada <strong>de</strong>slocada do seu<br />

campo, no papel <strong>de</strong> Clemência.<br />

Não dizemos isto por que não lhe<br />

víssemos correcção, e muita, 110 seu papel<br />

<strong>de</strong> mulher <strong>de</strong> cabelinho na venta,<br />

mas porque nos pareceu que ella se sente<br />

muito mais á vonta<strong>de</strong> em outros papeis<br />

que a lemos visto <strong>de</strong>senvolver com incontestável<br />

mérito artístico.<br />

Emilia Eduarda, Maria da Luz, Thereza<br />

Prata e Elvira Men<strong>de</strong>s, sempre á<br />

altura dos seus papeis. Sanlos, no papel<br />

<strong>de</strong> Thomé, com quanto muito pezado<br />

para aquellas creancices <strong>de</strong> rapaz travesso<br />

e malcreado, não se sahiu mal. Firmino,<br />

Carlos Sanlos, Pires e Soares não <strong>de</strong>stoaram.<br />

*<br />

No domingo: O Solar dos Barrigas,<br />

a bella operelta já nossa conhecida. Tudo<br />

a postos para admirar, d'entre os mo<strong>de</strong>rnas<br />

operelfas,' aquella que mais superiormente<br />

se salienta. Gervásio e D. João da<br />

Camara foram aqui felicíssimos dando um<br />

relevo um tanto mais rythmico que o que<br />

ordinariamente imprimem ás suas plianíasias.<br />

Além d'isso, a inspiração musical<br />

<strong>de</strong> Cyriaco <strong>de</strong> Cardoso, o distincto maestro,<br />

matizou <strong>de</strong> musicas <strong>de</strong>liciosas o Solar<br />

dos Barrigas, musicas que nos arrebatam<br />

por vezes. O coro das bealas, o<br />

dueto <strong>de</strong> Ramiro e Manuela no segundo<br />

acto, cuja lettra principia :<br />

Ramiro:<br />

Manuela:<br />

Ó minha adorada<br />

Já d'ella fugi.<br />

Que atroz punhalada<br />

Virá dar-me aquil...<br />

e um outro dueto no terceiro acto entre<br />

os mesmos, na lingua dos — pp—, são<br />

trechos <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m que calam<br />

fundo aos amadores <strong>de</strong> boas musicas.<br />

Do <strong>de</strong>sempenho nada accrescentaremos<br />

ao que já aqui dissémos por outra<br />

occasião. Tudo muito correcto e composto.<br />

No final — é sabido — o Côro dos<br />

foguetes, que pela fácil adaptação se tornou<br />

um acepipe indispensável aos espectadores.<br />

Muita gargalhada, muita jniíma,<br />

tudo vicloriado, os foguetes a estalar —<br />

em summa: uma noite cheia, uma casa<br />

cheia e uma recita <strong>de</strong> mão cheia.. .<br />

*<br />

Segunda feira o Meia azul, peça patriótica<br />

em que correm algumas scenas<br />

da famosa revolução franceza <strong>de</strong> 89.<br />

Excèllente musica e um <strong>de</strong>sempenho regular.<br />

O papel <strong>de</strong> protogonista coube a Angela<br />

Pinto, como sempre, correcta e graciosa<br />

na <strong>de</strong>clamação e no canto; um talento,<br />

esta rapariga que sabe captar as<br />

sympathias do publico, que lhe paga em<br />

applausos os seus merecimentos artísticos<br />

e a paciência com que ella atura as<br />

maçadas dos seus admiradores.<br />

Não nos esqueceremos <strong>de</strong> mencionar<br />

aqui Emília Eduarda, uma artista distincta<br />

que em todas as noites nos <strong>de</strong>liciou,<br />

apresentando-nos lypos característicos,<br />

<strong>de</strong> boa graça e pilhéria, bem á altura<br />

dos seus doles.<br />

Theresa Prata, Elvira Men<strong>de</strong>s e Aurélia,<br />

apezar dos fracos recursos <strong>de</strong><br />

que ainda dispõem, muito correctamente.<br />

Aurélia cantou bem, e a canção do marujinlio,<br />

que é um numero <strong>de</strong> musica <strong>de</strong>liciosa,<br />

saiu correcto, valendo-lhe bons<br />

applausos.<br />

José Ricardo bem, sem <strong>de</strong>smandos,<br />

e sein exaggeros ; dando-nos Santos<br />

Mello, um apurado fidalgo, estróina e<br />

galanteador. Os restantes personagens<br />

não <strong>de</strong>stoaram d este agradavel coujuucto,<br />

e o Meia azul foi bem recebido.<br />

Taveira apresentou-nos um bom trabalho<br />

<strong>de</strong> mise en-scène, bem disposto e<br />

bem combinado, que dá vida e produz<br />

um bello elíeilo scenico.<br />

No final muitas chamadas e pe<strong>de</strong>-se<br />

o côro dos foguetes. Angela Pinto, sempre<br />

adoravel, cantu -e os espectadores<br />

acompauham-a euthusiasmados; e repete-se<br />

isto muitas vezes... e Angela, com<br />

uma paciência angélica a aturar-nos e a<br />

cantar. E vae na pan<strong>de</strong>ga !<br />

*<br />

Na terça feira a recita <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida<br />

com o Homem da Bomba, vau<strong>de</strong>ville em<br />

tres actos, musica coor<strong>de</strong>nada por Alves<br />

Rente.<br />

Apezar do insignilicativo do titulo<br />

que fazia prever uma inaçadoria sem<br />

sabor, o Homem da Bomba agradou geralmente,<br />

ja pela parle dramática do<br />

conjunclo, já porque se adorna d'umas<br />

musicas ligeiras, mas graciosas.<br />

A caução do baptisado... da bomba<br />

bellamente cantado por Theresa Prata, é<br />

sobre todas, <strong>de</strong>liciosa.<br />

O <strong>de</strong>sempenho, bem. Uns qui-pro-quós<br />

hilariantes fazem estar os espectadores<br />

sempre <strong>de</strong> gargalhadas em gutiiho, especialmente<br />

no segundo acto.<br />

José Ricardo conserva-se bem composto<br />

durante toda a scena, cheio <strong>de</strong><br />

bom humor e <strong>de</strong> pilhéria. Emília Eduarda<br />

e Maria da Luz fazem e dizem muito<br />

bem. Santos é um commandante tezo,<br />

maníaco, mo<strong>de</strong>lado por exemplares que<br />

por cá possuímos. .. Santos Mello, correcto,<br />

ailirmaudo dia a dia os seus progressos.<br />

Theresa Prata canta muito bem.<br />

Findo o vau<strong>de</strong>ville, começou a ferver<br />

a onda do foguetorio, peduido-o a lodo<br />

o fogo. Angela Piuto que estava em uma<br />

friza teve que saltar ao palco para <strong>de</strong>itar<br />

foguetes.<br />

Gran<strong>de</strong> enthusiasmo, chamadas successivas<br />

aos melhores artistas da companhia,<br />

chamadas especiaes a Taveira, a<br />

Angela Piiito e ao empresário Francisco<br />

Lucas.<br />

*<br />

»<br />

A companhia seguiu para Santarém<br />

on<strong>de</strong> vae dar alguns espectáculos.<br />

Espalhou se honlem, nao sabemos<br />

com que fundamento, que na sua voita<br />

<strong>de</strong> Saularem daria aqui mais tres espectáculos<br />

com o Burro do Sr. Alcai<strong>de</strong>,<br />

El-Bei Damnaúo e o solar dos Barrigas.<br />

Oxala isto se continue.<br />

0-<br />

Primeiro <strong>de</strong> maio<br />

Approxima-se este dia <strong>de</strong> Jèsta do<br />

operariado universal.<br />

Por toda a parle ergue-se a onda do<br />

quarto estado para solemnisar, com lodo<br />

o ardor das almas quenles, a synibolica<br />

festa do 1." <strong>de</strong> maio que e o dia lesiivo<br />

das suas aspirações reiviudicanles.<br />

Esta solcmnisação, pela generalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ptos que a vae avolumando, toma<br />

um caracter respeitado, e ailirma, peia<br />

exposição das lorças disciplinadas, o po<strong>de</strong>rio<br />

enorme do proletariado que dia a<br />

dia vae ruindo as velhas formulas.<br />

As festas do 1.° <strong>de</strong> maio, que'são<br />

uma revista ás forças prolelarias, promelteui<br />

ser este anuo, ainda mais solemnes<br />

que dos annos anteriores. Quem<br />

tiver acompanhado, <strong>de</strong> perlo, o movimento<br />

do 1.° <strong>de</strong> maio, terá observado<br />

que <strong>de</strong> anno para anuo se accentua significativamente<br />

a sua superiorida<strong>de</strong>.<br />

CARTA DE LISBOA<br />

Foi honlem, 23, que muitos dos<br />

nossos correligiouatios foram ao cemiterio<br />

do alto <strong>de</strong> S. João visitar o tumulo<br />

do chefe mais prestigioso do partido republicano,<br />

do nosso inolvidável amigo,<br />

do gran<strong>de</strong> apostolo da <strong>de</strong>mocracia porlugueza,<br />

José Elias Garcia.<br />

Todos os que la foram não fizeram<br />

mais do que cumprir um <strong>de</strong>ver sagrado.<br />

Uma commissão do Grémio Luzitauo<br />

<strong>de</strong>poz uma corôa <strong>de</strong> rozas e amores perfeitos,<br />

com litas brancas franjadas a ouro<br />

e a <strong>de</strong>dicatória: A Maçonaria Portugueza,


ao seu grão mestre José Elias Garcia;<br />

— c outra, <strong>de</strong> lozas e heras, com fitas<br />

ver<strong>de</strong>s e vermelhas, com a <strong>de</strong>signação:<br />

Os republicanos radicaes 23-4-93.<br />

A' beira da campa foram lidos alguns<br />

discursos.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois do meio dia, estando<br />

presente a commissão promotora da manifestação<br />

e a commissão do Grémio<br />

Luzitano, o nosso amigo e correligionário<br />

dr. José Isodoro Vianna leu um breve<br />

discurso <strong>de</strong> homenagem ao glorioso extincto;<br />

em seguida o nosso collega Feio<br />

Terenas leu egualmente um discurso em<br />

que elevava o valor d'aquelle que para<br />

todos nós foi um mestre auctorisado e<br />

um verda<strong>de</strong>iro amigo. Depois o sr. Pereira<br />

Batalha pronunciou do mesmo modo<br />

algumas palavras que representavam o<br />

seu respeito pela memoria <strong>de</strong> Elias Garcia.<br />

Esta sympathica manisfestaçao não<br />

pou<strong>de</strong> ser feita como nós a queríamos.<br />

A auctorida<strong>de</strong>, como sempre, havia <strong>de</strong><br />

fazer das suas. Prohibiu que se juntassem<br />

todas as commissões parochiaes republicanas<br />

e vários grupos <strong>de</strong>mocráticos. Por<br />

isso a manifestação não teve o valor necessário<br />

que se liie <strong>de</strong>via dar. No cernilerio<br />

era gran<strong>de</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> policia<br />

para matar a hydra. ..<br />

Ainda <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminada a manifestação,<br />

foi gran<strong>de</strong> o numero <strong>de</strong> republicanos<br />

que visitou o tumulo do nosso<br />

chefe morto.<br />

Entre muitos indivíduos que estavam<br />

no cemiterio a prestar a homenagem<br />

<strong>de</strong>vida ao glorioso extincto, vimos os seguintes:<br />

Feio Terenas, Gomes da Silva, Estrella<br />

Braga, Yictoriano Franco Braga<br />

que representou a Verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Tliomar,<br />

Alves Correia, Estevão <strong>de</strong> Vasconcellos,<br />

Antonio Luiz Ignacio, José Maria <strong>de</strong><br />

Sousa, Sebastião Teixeira Junior, Agostinho<br />

Manoel <strong>de</strong> Sousa, etc. O Século<br />

estava representado pelos nossos collegas<br />

Andra<strong>de</strong> Neves e Guilherme <strong>de</strong> Sousa;<br />

Gonçalves Neves representou o 31 <strong>de</strong><br />

Janeiro e o Defensor do Povo. Fizeram-se<br />

representar a Aca<strong>de</strong>mia Instrucção<br />

Popular, Associação dos Operários<br />

Manipuladores <strong>de</strong> pão, Socieda<strong>de</strong> 3 <strong>de</strong><br />

agosto. Compareceram egualmente as<br />

commissões republicanas <strong>de</strong> Santos, Lapa,<br />

S. Mame<strong>de</strong>, Alcantara, Pena Coração <strong>de</strong><br />

Jesus, Mercês, S. José e Santa Izabel<br />

O local <strong>de</strong>stinado ao monumento que<br />

vae erigir se ao gran<strong>de</strong> republicano Elias<br />

Garcia, e que lica na retunda por traz<br />

da capella, foi também muito visitado.<br />

24 d'abril.<br />

Gonçalves Neves.<br />

Carta <strong>de</strong> felicitação que alguns estudantes<br />

da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ex-alumnos do<br />

collegio jesuitico <strong>de</strong> S. Fiel, dirigiram<br />

ao sr. Manoel Borges Grainha pela publicação<br />

dos seus livros<br />

lll. mo t ex. mo sr.<br />

Quasi ao expirar o século XIX, —<br />

quando lodos pensavam que a obra libertadora<br />

do gran<strong>de</strong> Pombal estava <strong>de</strong>-<br />

32 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JÍ1DIA1 VAiiCAVO<br />

IX<br />

O leão em correrias<br />

— Afinal, continuou Talormi, tudo<br />

isso me é indifferente. Só quero provarte<br />

que um discípulo não pô<strong>de</strong> enganar<br />

um mestre. Pó<strong>de</strong>s fazer o que quizeres;<br />

fica ou parte.<br />

— Peço a v. ex. a que acredite...<br />

— Basta, interrompeu bruscamente<br />

Talormi, não quero ouvir nem mais uma<br />

palavra. Como sempre te tenho pago<br />

adiantado, não to <strong>de</strong>vo nada ; portanto<br />

po<strong>de</strong>s partir já. Se fizeste esta noite ou<br />

esta manhã unia tolice, não quero que<br />

amanhã recomeces.<br />

Talormi indicou a porta a Barbone;<br />

foi a sua <strong>de</strong>spedida.<br />

O filho <strong>de</strong> Gasperone inclinou-se, enxugou<br />

duas lagrimas, que talvez existissem,<br />

e soltando um suspiro abriu lentamente<br />

a porta e saiu como que a seu<br />

pezar.<br />

O naturalista Saavers menciona observações<br />

muito curiosas, que lhe furam<br />

finitivamente consolidada em Portugal,<br />

quando todos julgavam que o nosso paiz<br />

era terreno sáfaro on<strong>de</strong> não mais germinariam<br />

as doutrinas execrandas dos<br />

filhos <strong>de</strong> Loyola, quando todos imaginavam<br />

qu,e a luz fortíssima da civilisaçâo<br />

hodierna bastaria para espancar as trevas<br />

do jesuitismo retrogrado, — com espanto<br />

e assombro viram todos surgir occullamente,<br />

na sombra, com escandalosa<br />

connivencia dos po<strong>de</strong>res públicos, as<br />

malhas da enorme re<strong>de</strong> jesuítica que<br />

ameaça esten<strong>de</strong>r-se por sobre todo o<br />

paiz, sob a fórma <strong>de</strong> collegios, recolhimentos<br />

e outros centros d'acçâo da Companhia<br />

<strong>de</strong> Jesus. Este facto alarmou todos<br />

os que amam a civilisaçâo, porque<br />

on<strong>de</strong> a roupeta consegue trfãmphar, Jjca<br />

algemada a liberda<strong>de</strong>, oITusca-se a sciencia<br />

e a civilisaçâo retrograda.<br />

Enganam se, pois, os que pensaram<br />

que o jesuitismo no século XVIII licára<br />

para sempre extirpado entre nós: a Companhia<br />

é um cancro social que lança raízes<br />

fundas e <strong>de</strong> que é impossível fazer<br />

ablação completa; é um verme enorme<br />

que se multiplica e propaga, ainda mesmo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o retalharem. Sendo na<br />

sua essencia sempre o mesmo, tem, todavia,<br />

uma força extraordinaria <strong>de</strong> adaptação<br />

: amolda-se a todos os tempos e<br />

logares, toma todas as lórmas, todas as<br />

côres, todas as modalida<strong>de</strong>s das socieda<strong>de</strong>s<br />

por on<strong>de</strong> se alastra, transige appareniemenle<br />

com a civilisaçâo,-se isso lhe<br />

convém, mas a sua essencia, o seu espirite,<br />

a sua doutrina não variam fundamentalmente.<br />

Ainda lioje, como nos tempos<br />

do seu maior esplendor, a instrucção<br />

e a educação da mocida<strong>de</strong> é meio<br />

po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> que se serve para propagar<br />

os seus <strong>de</strong>lelerios ensinamentos ; ainda<br />

hoje o seu lim é offuscar e atrophiar a<br />

intelligeucia pelo emprego <strong>de</strong> methodos<br />

d^ensino obsoletos; esmagar e aniquillar<br />

a vonta<strong>de</strong> com o rigor d'uma disciplina<br />

<strong>de</strong>gradante; pren<strong>de</strong>r e algemar a<br />

consciência, circunscreveudo-a á contemplação<br />

mystica das vacuida<strong>de</strong>s celestes ;<br />

envenenar e <strong>de</strong>pravar o sentimento, fazendo<br />

odiar o mundo, a natureza; suspen<strong>de</strong>r<br />

e alterar todo o systema das rerelações<br />

emotivas da humanida<strong>de</strong>, extinguindo<br />

e fazendo per<strong>de</strong>r as noções da<br />

família, do amor, da amiza<strong>de</strong>, da veneração<br />

paternal, filial, e <strong>de</strong> tudo emtím<br />

quanto e franco, generoso e bom. Ainda<br />

hoje o jesuíta è um eecravo da disciplina;<br />

um auiomato insensível a tudo, que<br />

só procura a gran<strong>de</strong>za, o esplendor, o<br />

triumpho e a hegemonia da Companhia.<br />

Ainda hoje o seu espirito é, como no<br />

século XVI, reduzir a autonomia da consciência<br />

e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar á passivida<strong>de</strong><br />

iminovel da obediência cega;<br />

aiuda hoje as suas armas são a intriga,<br />

o odiosa hypocnsia, a <strong>de</strong>nuncia, a ameaça,<br />

todos os meios, emiim, porque todos<br />

lhe servem, uma vez que possam concorrer<br />

para os seus tins. Aiuda hoje, numa<br />

palavra, a Companhia <strong>de</strong> Loyola e a poiicia<br />

secreta da Egreja, a guarda avançada<br />

do ultramoutanismo, a milícia combatente<br />

da reacção contra os dogmas sociaes<br />

da Liberda<strong>de</strong>, da Egualda<strong>de</strong> e da<br />

Fraternida<strong>de</strong> humana.<br />

transmittidas por um caçador marroquino,<br />

e que nós referiremos aqui, por nossa<br />

vez, para completar o retrato do<br />

con<strong>de</strong> Talormi.<br />

«Segui durante muito tempo, disse<br />

o caçador, os hábitos e costumes d'um<br />

magnilico leão, que não receava ser<br />

visto, e que tinha escolhido para seu<br />

retiro uma caverna poUco profunda, cavada<br />

numa rocha, a <strong>de</strong>z ou doze pés<br />

abaixada planície; via-o muito facilmente<br />

e podia seguil-o com os olhos, tanto no<br />

seu <strong>de</strong>scanço coino nas suas excursões,<br />

collocando-me num cume muito elevado<br />

que dominava aquella solidão. O soberbo<br />

animal estendia-se languidamente á eutrada<br />

da caverna, sem olhar para coisa<br />

alguma, embora a sua cabeça tivesse a<br />

soberba fixi<strong>de</strong>z da observação. Evi<strong>de</strong>ntemente<br />

o leão meditava ; traçava para si<br />

algum plano <strong>de</strong> conducta ; calculava todas<br />

as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fortuna numa correria<br />

próxima; estudava os teirenos conhecidos<br />

que havia <strong>de</strong> percorrer, alim<br />

<strong>de</strong>. supprimir com aniece<strong>de</strong>ncia toda a<br />

in<strong>de</strong>cisão e marchar com esta ousadia<br />

resoluta que <strong>de</strong>termina o bom exilo.<br />

«De repente, e <strong>de</strong>pois d'uma longa<br />

immobilida<strong>de</strong>, a féra, sacudida a juba, distendia<br />

os j irretes <strong>de</strong> aço, escarvava com<br />

as garras o solo, e caia sobre a planície<br />

com o ímpeto iutrepido do animal<br />

que sabe para on<strong>de</strong> vae. Atravessava aos<br />

saltos um comprido prado; parava <strong>de</strong>ante<br />

O DEFENSOR DO POVO 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

Um dos maiores <strong>de</strong>veres cívicos para<br />

aquelles que verda<strong>de</strong>iramente amam a<br />

palria, a sciencia, a verda<strong>de</strong> e todas as<br />

conquistas da civilisaçâo é, portanto,<br />

obstar a que a acção perniciosa do jesuitismo<br />

se renove enr Portugal; é atacar<br />

<strong>de</strong> frente com o cautério da verda<strong>de</strong><br />

esse antigo cancro do nosso paiz ; é<br />

pôr a <strong>de</strong>scoberto os fins nefandos a que<br />

visa, os <strong>de</strong>lelerios processos <strong>de</strong> que usa<br />

e os terríveis efTeitos que produz.<br />

Os abaixo assignados, ex-alumnos<br />

do collegio jesuíta <strong>de</strong> S. Fiel e hoje estudantes<br />

nos cursos superiores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

conhecedores da propaganda<br />

da Companhia em Portugal, vêm enthusiastícamente<br />

congratular-se com V. Ex. a<br />

pelo êxito extraordinário dos seus livros,<br />

confirmando as irrefutáveis verda<strong>de</strong>s que<br />

encerram e dar-lhes o apreço inextimavel<br />

que merecem. Admiramos sinceramente<br />

a coragem com que V. Ex. a tem<br />

atacado a acção do jesuitismo em Portugal,<br />

não temendo arrastar com osodios,<br />

as intrigas e lodos os meios que elle empregue<br />

para combater aquelles que ousam<br />

oppôr-lhe diques a invasão perniciosa<br />

das suas doutrinas; saudamos em<br />

V. Ex. 1 o arrojado e <strong>de</strong>nodado escriptor<br />

que mo<strong>de</strong>rnamente mais tem trabalhado<br />

para conservar intaclas^s conquislas da<br />

civilisaçâo e dá liberda<strong>de</strong>; e veneramos<br />

em V. Ex. a o professor mo<strong>de</strong>sto, trabalhador<br />

e intelligente que honra o ensino<br />

em'Portugal com as mais subidas qualida<strong>de</strong>s<br />

que po<strong>de</strong>m exornar um convicto<br />

e sincero <strong>de</strong>fensor da Sciencia, da Civilisaçâo<br />

e da Liberda<strong>de</strong>.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 23 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />

(Seguem as assignaturas )<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

O» partidos médicos<br />

Como se disse sempre, a creação dos<br />

partidos médicos que figurava' no programnia<br />

dos grau<strong>de</strong>s serviços da actual<br />

vereação, era para se pagar d'uma maneira<br />

indirecta aos influentes políticos,<br />

os benelicios prestados nas eleições camararias,<br />

porisso que só se queria na<br />

camara quem tivesse uma leiçào puramente<br />

governamental, ou pelo menos<br />

transigisse com a maioria.<br />

Começou-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a apontar os<br />

nomes dos bemaventurados e o publico<br />

foi conhecedor do que o gran<strong>de</strong> beneficio<br />

que se lhe queria prestar com a creação<br />

dos partidus médicos era completamente<br />

phanlaslico ; pois que as precarias circumstancias<br />

em que se encontrava o<br />

tbesouro municipal daria logar a novos<br />

encargos que o contribuinte leria <strong>de</strong><br />

satisfazer. E senão vejam: —paralysam-se<br />

as obras da canalisaçao das<br />

aguas, <strong>de</strong>miUe se o medico do Asylo<br />

dos Cegos por falta <strong>de</strong> recursos proprios,<br />

e teiuid-se em crear os partidos médicos<br />

com acréscimo gran<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>spezas!<br />

Bons financeiros e bons administradores<br />

não lia duvida.<br />

Pois não ha dinheiro para as obras<br />

mais indispensáveis, porisso que os encargos<br />

da camara sao agora gran<strong>de</strong>s;<br />

d'uma arvore <strong>de</strong> tronco polido on<strong>de</strong> aliava<br />

as garras, mergulhava o focinho e a<br />

língua numa corrente d'agua, Lendo o<br />

cuidado <strong>de</strong> não molhar o resto do corpo,<br />

e corria até se metter num macisso sombrio<br />

e muito proximo do bebedouro on<strong>de</strong><br />

as gazellas vem <strong>de</strong>salterar-se ao pôr do<br />

sol.<br />

«No dia seguinte, o leão combinava<br />

novas excursões na sua hora <strong>de</strong> calma<br />

reflexão e <strong>de</strong> iminobilid i<strong>de</strong>, e lançava se<br />

noutro caminho com outros planos, sem<br />

nunca dar o meuor sigual <strong>de</strong> hesitação.»<br />

Vamos seguir Talormi <strong>de</strong>pois da partida<br />

<strong>de</strong> Barboue, para melhor justilicarmos<br />

essa comparação zoologica.<br />

O moço diplomata, lioaudo só nem<br />

mudou <strong>de</strong> posição; o braço direito, estendia-se,<br />

abandonado, sobre a colcha<br />

<strong>de</strong> seda, 110 esquerdo, dobrado em angulo<br />

agudo sobre a plumagem da travesseira,<br />

apoiava o corpo—-a Taiorni só lhe faltava<br />

um capacete sobre a cabeça para se<br />

parecer com a obra prima <strong>de</strong> Miguel<br />

Angelo, il Pensiero da rotunda tumular<br />

dos Médicis.<br />

Um — vamos ! — imperativo subiu<br />

ao tecto do quarto, e Talormi saltou sobre<br />

o tapete, feito da pelle d'uin tigre, que,<br />

em vi.Ij, tantas vezes tinha feito as<br />

amesmas evoluções.<br />

San o atfVtíro li iiánhum creado <strong>de</strong><br />

quirtj, 1'JÍ uii toilelle euoaiiUJjra, copal<br />

1 pelo numero das Mo<strong>de</strong>s parisien-<br />

1 : 1 1 um ' •<br />

mercê da reformeca ultima; e não lia receio<br />

<strong>de</strong> se vir pedir augmento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas,<br />

quando se sabe que tudo isso é<br />

para satisfazer interesses <strong>de</strong> políticos e<br />

pagar serviços e.leitoraes !<br />

Bem hajam os quarenta maioros contribuintes<br />

que combateram lai medida,<br />

julgando-a inopportuna e até immoral e<br />

bem merece os nossos louvores a altitu<strong>de</strong><br />

energica que nesta questão tomou<br />

o sr. Oliveira Mattos, um dos maiores<br />

contribuintes d'este concelho.<br />

Yerenios agora se a camara insiste<br />

11a sua louca pretensão.<br />

Reclame á industria e commercio<br />

Será construído um elegante pavilhão,<br />

na próxima kermesst, promovida<br />

pela Associação Humanitaria dos Bombeiros<br />

Voluntários, o qual é <strong>de</strong>stinado á<br />

exposição <strong>de</strong> objectos das industrias manufactureira<br />

e fabril, <strong>de</strong> que fôr offerecido<br />

á mesma associação um exemplar,<br />

e bem assim quaesquer artigos <strong>de</strong> venda<br />

nos estabelecimentos <strong>de</strong> modas, e outros,<br />

cujos proprietários <strong>de</strong>sejem tornar conhecidos<br />

do publico para maior facilida<strong>de</strong> ao<br />

seu consumo.<br />

Os objectos acima indicados <strong>de</strong>vem<br />

ser acompanhados <strong>de</strong> etiqueta comprehen<strong>de</strong>n<strong>de</strong><br />

os nomes dos industriaes que<br />

os manufacturaram, das fabricas on<strong>de</strong><br />

oram construídos, e dos estabelecimentos<br />

commerciaes on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser procutados.<br />

Que a i<strong>de</strong>ia vingue e que os interessados<br />

aproveitem o ensejo que se lhe<br />

offerece para tornarem conhecidos os<br />

seus productos.<br />

O sr. Gonçalves Fino, presi<strong>de</strong>nte da<br />

referida associação, prestara lodos os esclarecimentos<br />

que lhe forem pedidos.<br />

Con<strong>de</strong> do Ameal<br />

Dizem que o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

vae ser agraciado com este titulo nobviarchico.<br />

E <strong>de</strong>ve ser; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> q"ue s, ex. a<br />

se entregou <strong>de</strong> corpo e alma a politica<br />

monarchica e a serve com tanto ardor e<br />

<strong>de</strong>dicação bom é que o nome—Ayres<br />

<strong>de</strong> Campos — <strong>de</strong>sappareça. E' nome Honrado<br />

<strong>de</strong> mais para andar a conspurear-se<br />

pela politica.<br />

Commissão <strong>de</strong> estatística<br />

Foi nomeada esta commissão districlal<br />

licando assim composta :<br />

Vogais: João Autouio da Cunha, bacharel<br />

Augusto Eduardo Ferreira Barbosa,<br />

Antonio Bodrigues Pinto e João<br />

Teixeira Soares <strong>de</strong> Brito; secretario:<br />

bacharel Arthur Eduardo Manso Preto.<br />

João dos Santos laicas •<br />

Esta inteligente creança, filho do<br />

nosso amigo sr.' Francisco dos Siiutos<br />

Lucas fez ua segunda feira exame <strong>de</strong><br />

instrucção pi imana, obtendo plena approvaçao.<br />

A' família do examinando euviamos<br />

as nossas felicitações.<br />

Inspecção dos re«ervistas<br />

Está marcado para o dia 20 do corrente<br />

a revista dlnspecçâo dos reservistas<br />

na Louzã.<br />

nes; <strong>de</strong>pois limou as unhas e calçou um<br />

par <strong>de</strong> luvas cuidadosamente abotoadas.<br />

Collocado enlre dois espelhos sinceros,<br />

examinou se minuciosamente e dirigiu<br />

a si proprio um sorriso satisfeito,<br />

que radiou entre os seus graves bigo<strong>de</strong>s<br />

negros como um raio <strong>de</strong> sol na encruzilhada<br />

d'uma floresta.<br />

E trauteando até á porta da rua a<br />

aria da Lucrécia Borgia — Profitiamo<br />

<strong>de</strong>gli anni jiorenti—encamíuhou-se para<br />

a Bolsa péla estreita rua <strong>de</strong> San-Luca.<br />

Passeou no vasto pórtico on<strong>de</strong> se<br />

tratam os negocios commerciaes e financeiros,<br />

e viu-se abordado pelos novelleiros<br />

frívolos, pelos conselheiros <strong>de</strong><br />

más operações e pelos coimopolitas actores<br />

dos bastidores do theatro europeu<br />

da Bolsa<br />

lia em todas as cida<strong>de</strong>s commerciaes<br />

o mesmo homem—um insinuante e<br />

alegre chronisu que sabe tudo, que é<br />

admittido em todas as couli<strong>de</strong>neias e as<br />

reproduz sem indiscripçao; que trabalha<br />

para se distrahir e se distrahe sempre<br />

para não trabalhar; que conhece os estrangeiros<br />

antes <strong>de</strong> os ter visto, e lhes<br />

dá apertos <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> amigo velho.<br />

Este homem feliz, em Londres, chama-se<br />

Scharpe; em Liverpool, Samt-<br />

Aubui; era Leão, Cheneaux; em Bordéus,<br />

Rodrigues ; em Nantes, Audoy;<br />

110 Havre, Grandin; em Toulon, Moutte;<br />

em Paris, Gustavo Guieu; era Trieste,<br />

No mez <strong>de</strong> maio far-se-hão: em Miranda<br />

do Corvo, no dia 7; no dia 11<br />

em Penella; no dia 14 em Con<strong>de</strong>ixa no<br />

dia 21 Anadia ; e no dia 28 na Mealhada.<br />

Ao sr. ISerttai-do c arvalho<br />

Inhibe-nos a falta do espaço <strong>de</strong> nos<br />

referirmos hoje á carta que este senhor<br />

novamente nos envia. Será no proximo<br />

uumero.<br />

f<br />

Agricultura<br />

Ha muitos annos que os nossos campos<br />

não apresentam um aspecto tão<br />

promettedor como este anno. Os lavradores<br />

estão por este motivo muito satisfeito<br />

e esperam ter uma colheita formidável<br />

se o tempo continuar a favorecel-os<br />

como até aqui.<br />

Companhia do Porto<br />

A companhia que tem trabalhado no<br />

theatro I). Luiz e que é dirigida pelo<br />

talentoso actor Taveira, saiu hontem para<br />

Santarém on<strong>de</strong> vae dar uma serie d'espectaeulos.<br />

Tenciona lambem ir a Vizeu e a<br />

Braga.<br />

CONVITE<br />

A Associação Humanitaria dos Bombeiros<br />

Voluntários <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, confia<br />

em que o seu pedido <strong>de</strong> prendas para a<br />

Kérmesse lia<strong>de</strong> ser tomado em consi<strong>de</strong>ração<br />

pelas gentis damas e cavalheiros a<br />

quem se dirigiu para esse fim; e lhes<br />

solicita a elevada fineza da entrega e<br />

remessa das mesmas prendas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

ja se recebem, ate ao dia 10 Jo proximo<br />

mez <strong>de</strong> maio.<br />

<strong>Coimbra</strong>, abril <strong>de</strong> 1893.<br />

O presi<strong>de</strong>nte,<br />

Augusto José Gonçalves Fino.<br />

: „<br />

ÍAGBÂDECIÍVÍEÍÍÍO<br />

A commissão orgauisadora dá lista<br />

para os corpos gerenies da Associação<br />

tios Altistas vem por este meio agra<strong>de</strong>cer<br />

a lodos os cavalheiros que fazem<br />

parte d,os novos corpos, a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za que<br />

tiveram para com a mesma em ce<strong>de</strong>rem<br />

ao seu convite, iivrando-a por esta forma<br />

do seu espiulioso encargo; assim como<br />

também agra<strong>de</strong>ce aos dignos e prestimosos<br />

socios que faziam parle dos corpos<br />

transactos, o auxilio'que lhe prestaram<br />

ua imcumlieucia <strong>de</strong> que a mesma Associaçao<br />

a encarregou, e pe<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sculpa<br />

a todos <strong>de</strong> qualquer falta que commettesse<br />

involuntariamente nos seus agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

Egualmente agra<strong>de</strong>ce a briosa philarmonica<br />

Conimbricense o obsequio que<br />

llie prestou em ir, a seu pedido, locar<br />

á poria dos novos eleitos.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />

A commissão,<br />

Antonio Ribeiro das Neves Machado •<br />

João Caetano da Pieda<strong>de</strong>.<br />

João dos Santos.<br />

João Henriques.<br />

Manoli; em Marselha, Guirard; eui Génova,<br />

Lòrenziuo. Sein este homem múltiplo,<br />

ueiiiiuiua cida<strong>de</strong> commercial seria<br />

habuavel um umeo dia. Da a vida a uma<br />

populaçao inteira. Depois da sua morte,<br />

o seu successor é nomeado por um suffragio<br />

verda<strong>de</strong>iramente universal.<br />

Loreuzaio chegou-se a Talormi com<br />

as dua» tnaos fecundas em cumprimentos<br />

e um sorriso provocador; a perguuia banal<br />

que lhe loi leita — Que se du <strong>de</strong> novo?<br />

— respon<strong>de</strong>u com uma avalanche <strong>de</strong><br />

noticias »o.bre a cotaçao dos fuudos inglezes<br />

e fVancezes, sobre politica, ttieatro,<br />

dançarinas, sermões, avarias no mar,<br />

as ostras <strong>de</strong> Nápoles, os almoços ein<br />

San-Pietro d'Arena, os quauros comprados<br />

pelo cônsul d Inglaterra, a opera da<br />

época, o tenor applauuido, os exceliemes<br />

paquetes da compauiiia Ua2.u1 ; e, <strong>de</strong>pois<br />

d esta euuyclu|jeiiiu, cruzou os braços,<br />

sacudiu a cabeça com uma tristeza irónica<br />

e ajuntou :<br />

— Mas tudo isto não é nada, absolutamente<br />

nada, ao pé da gran<strong>de</strong> historia<br />

d'hontem...<br />

I m<br />

p r e s s o n a T y p o g x - a p h l n<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.®<br />

14, proximo á rua dos S&piUiiros,—<br />

COIMBRA.


A\X« I—N.° 81 O D E F E N S O R DO P O V O 2® <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha<br />

Repetições .<br />

80 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

LYCEU CENTRAL DE COIMBRA<br />

EDITAL<br />

EXAMES DE INSTRUCÇÃO<br />

SEGUNDARIA<br />

112 P<br />

eis» reitoria d'este Lyceu se faz<br />

saber que:<br />

Os alumnos extranhos, que, na próxima<br />

epocha, preten<strong>de</strong>rem fazer exame,<br />

<strong>de</strong>vem apresentar os seus requerimentos,<br />

assignados e <strong>de</strong>vidamente reconhecidos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> hoje até ás 4 horas da tar<strong>de</strong> do<br />

dia 10 do próximo mez <strong>de</strong> maio, <strong>de</strong>signando<br />

nelle nome, filiação e naturalida<strong>de</strong><br />

(freguezia e concelho).<br />

Este praso é imprarogavel.<br />

- : ^ ^ " l " l v ; ^ ^ A^<br />

Os alumnos só po<strong>de</strong>m ser admitlidos<br />

a exames neste Lyceu, quando houverem<br />

feito os seus estudos nesta cida<strong>de</strong> ou no<br />

districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, pelo menos durante<br />

os últimos quatro mezes.<br />

****<br />

Os requerimentos serão acompanhados<br />

dçs seguintes documentos:<br />

o) — Certidão pela qual prove ter 10<br />

annos completos;<br />

b) — Certidão líe approvação no<br />

exame <strong>de</strong> admissão aos Lyceus (actualmente<br />

exame <strong>de</strong> instrucção primaria).<br />

Estás duas certidões po<strong>de</strong>m ser substituídas-<br />

pela certidão <strong>de</strong> approvação<br />

em qualquer disciplina <strong>de</strong> instrucção<br />

secundaria.<br />

c) — Estampilhas do valor das respectivas<br />

propinas, colladas no» requerimentos<br />

e <strong>de</strong>vidamente inutilisadas.<br />

d)— Documento legal e reconhecido<br />

por tabellião, pelo qual se prove que os<br />

alumnos estão nas condições do n." 2.°<br />

v* \ • 53<br />

Po<strong>de</strong> requerer-se a admissão a exame<br />

<strong>de</strong> qualquer disciplina sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />

d.e out.ras; excepto o exame <strong>de</strong> parte ou<br />

anno subsequente <strong>de</strong> uma disciplina, sem<br />

provar ter sido approvado na parte ou<br />

anno antece<strong>de</strong>nte da mesma disciplina.<br />

Para isto consi<strong>de</strong>ra-se a geographia<br />

como a l. 1 parle <strong>de</strong> historia e a lingua<br />

portugueza como l. a parte <strong>de</strong> litteratura.<br />

5.°<br />

Po<strong>de</strong> requerer-se um só exame completo<br />

<strong>de</strong> uma disciplina, ainda que o seu<br />

ensino esteja dividido por differentes<br />

annos do curso, com tanto que paguem<br />

todas as propinas, que pagariam pelos<br />

exames feitos por annos.<br />

'' ." 6,° v ;<br />

A importancia das estampilhas é a<br />

seguinte.<br />

Por cada anno do curso — 4$78B<br />

réis — Por exame <strong>de</strong> cada disciplina —-<br />

3)3>190 réis — Pelo mesmo acto no caso<br />

do artigo 11.° do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1888 —1#595 — Pela admissão<br />

a exame singular <strong>de</strong> cada disciplina ou<br />

parte <strong>de</strong> disciplina — 2$660 réis.<br />

De emolumentos pagam os alumnos<br />

300 réis pelo termo <strong>de</strong> matricula, que<br />

será feito por cada uma das disciplinas<br />

<strong>de</strong> cada anno do curso (Port. <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1891 e artigo 10.° do <strong>de</strong>creto<br />

<strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1888).<br />

Secretaria do Lyceu Central <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />

José Joaquim Manso Preto, secretario.<br />

piano com pouco<br />

uso, e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>.<br />

Quem o perten<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> vel-o a toda a<br />

hora na rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz n.° 59.<br />

POMADA DO DR. QUEIROZ<br />

Experimentada lia mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />

e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacios.<br />

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N. R. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />

4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />

I I T O R M Di P, J, CMIIIIMI<br />

14, Largo dlnnuaciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />

6<br />

CORRESPONDENTE EM COIMBRÃ<br />

mm josé se moura basto—m aos sapateiros, se a ::<br />

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feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> ho-<br />

mem, vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />

<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />

pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />

Tintas p a r a escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />

dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. Preços inferiores.<br />

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2<br />

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O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, i.®<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNÂTUM<br />

Com estampilha<br />

Anno<br />

Semestre.... i$350<br />

Trimestre... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 21400<br />

Semestre.... 1J200<br />

Trimestre... 600


ueiensor<br />

OT " ^ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 82<br />

Jn pnvn<br />

ÁmanM<br />

On<strong>de</strong> quer que os principias<br />

socialistas teem já vasado as suas<br />

formulas doutrinarias, agita-se ámanhã,<br />

1.° <strong>de</strong> maio, uma faina jubilosa,<br />

que consigna symbolicamente,<br />

um protesto <strong>de</strong> reivindicações.<br />

De encontro á velha rocha conservanlisla<br />

que se ergue, pavorosa,<br />

no meio termo equidistante <strong>de</strong><br />

dois poios, o Passado e o Futuro,<br />

<strong>de</strong>sperta, sobranceiro, o quarto estado,<br />

sereno nas suas opiniões politicas,<br />

mais intractavel nas suas<br />

aspirações economicas, que contrabalança,<br />

em dissertações <strong>de</strong> historia<br />

pratica, as responsabilida<strong>de</strong>s consequentes<br />

do actual estado politicoeconomico<br />

das socieda<strong>de</strong>s.<br />

' Tal estado tem muito <strong>de</strong> grave<br />

e <strong>de</strong> funesto. As classes conservadoras<br />

que symbolisaram ostensivamente,<br />

por uma admiravel diffnsão<br />

alavica, o enrichessez-vous <strong>de</strong> Guizot,<br />

talhado a foice como theoria<br />

d'uma escola sem princípios, teem<br />

contribuído ob ecadamenle para<br />

uma conflagração <strong>de</strong> classes e <strong>de</strong><br />

raças, cujas resultantes não fácil se<br />

po<strong>de</strong>m prescrever.<br />

Affaslando syslemâlicamente <strong>de</strong><br />

factores da politica do Estado as<br />

classes proletarias, os partidos da<br />

contra-revolução lêem, só por esse<br />

facto, conturbado a paz social, e<br />

emprehendido, posto que insensivelmente,<br />

a própria dissolução.<br />

Intuitivamente se conclue, apontando<br />

a <strong>de</strong>do argumentos ^xperimenlaes,<br />

que são inefficazes e contraproducentes<br />

os expedientes <strong>de</strong><br />

que se lance mão para extirpar<br />

quaesquer seitas politicas ou religiosas<br />

que, ao nascerem, tragam<br />

esculpido o cunho popular. E as<br />

classes conservadoras que lêem sido<br />

por essa historia fóra os suppliciadores<br />

da massa plebêa, não só teem<br />

concitado conlra ellas umodio concentrado<br />

e viril, mas teem, o que<br />

lhes será mais doloroso, accelerado<br />

o terminus do seu predomínio.<br />

Áquem da Revolução Franceza<br />

tem-se transigido levemente, com o<br />

proletariado, em diversos capilulos<br />

<strong>de</strong> Direitos. Essas transigências,<br />

porém, sem compridas esmiuça lhas<br />

<strong>de</strong> provas históricas, evi<strong>de</strong>nciam-se<br />

fundamentalmente cavilosas e sem<br />

outros intuitos que o <strong>de</strong> apoucar,<br />

illudindo, as legitimas aspirações<br />

do povo.<br />

As constituições ditas liberaes,<br />

argamassadas <strong>de</strong> einpyrismo politico<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocralismo mascavado,<br />

cinco partes por uma, são uma salsada<br />

hybrida, sem consistência,<br />

on<strong>de</strong> o bom senso se choca a cada<br />

ponto. Tendo por fundo básico a<br />

theoria da Graça, os systemas representativos,<br />

estiolam-sepela carência<br />

<strong>de</strong> razão <strong>de</strong> ser e pelas condições<br />

<strong>de</strong> negativismo; praticamente comprovadas.<br />

Todavia, os prosaicos fazedores<br />

d'essas constituições, enamorados<br />

da opinião publica que começava a<br />

vegetar dos saguões, consignaram<br />

nos seus codigos alguns d'esses direitos<br />

que a sociologia contemporânea<br />

reclama instantemente. É vaga<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO V L V / X \ J V V ^<br />

essa consignação; é mesmo irrisória<br />

porque é um continuado <strong>de</strong> fiicções<br />

dissolventes com tenções lU<br />

lusorias: no emtanto alteslam o reconhecimento<br />

d'esses direitos que<br />

antigos escribas contestaram sem<br />

appello.<br />

Ora é para a consecução <strong>de</strong>finitiva<br />

d'esses direitos, até agora ler<br />

gislados pro fórma, que o proleta*<br />

riado <strong>de</strong> lodo o mundo levanta a<br />

cabeça, soiemnemente, na convic-<br />

- ção serena da sua justiça.<br />

E para compartir das agruras<br />

e dos benefícios do Estado, que a<br />

gleba reclama, para a pratica, um<br />

vasto tratado <strong>de</strong> reivindicações que<br />

quasi só teem povoado a mente<br />

dos seus conceplores.<br />

A festa <strong>de</strong> ámanhã, pela elevação<br />

que <strong>de</strong> uso reveste, pela alta<br />

significação que assegura na evolução<br />

do socialismo e pelo conspecto<br />

<strong>de</strong> disciplina e mobilisação <strong>de</strong><br />

forças, attrahe toda a nossa sympalhia<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratas, que vemos<br />

neste movimenlo um fundo <strong>de</strong> justiça<br />

incontroversa.<br />

m —-<br />

l.° <strong>de</strong> maio<br />

E m Lisboa — A assemblêa dos<br />

<strong>de</strong>legados á União 1.° <strong>de</strong> maio já reuniu<br />

sendo lido e approvado o manifesto que<br />

ha <strong>de</strong> ser distribuído e que é escripto<br />

pelo sr. Ernesto da Silva.<br />

A commissão que conferenciou com<br />

o srj João Franco, pedindo auctorisação<br />

para levar a effeito as manifestações projectadas<br />

<strong>de</strong>u conta do seguinte:<br />

Que o sr. ministro do reino consente<br />

em toda a execução do programma, excepto<br />

o cortejo civico que se vê obrigado<br />

a prohibir como medida preventiva, <strong>de</strong>clarando<br />

mais o sr. João Franco que o<br />

dia 1.° maio seria <strong>de</strong> feriado em todas<br />

as ofíicinas pertencentes ao estado.<br />

A assembleia em seguida votou uma<br />

moção <strong>de</strong> protesto pela prohibição do<br />

cortejo, resolvendo convidar todos os<br />

operários a comparecerem ámanhã, 1.°<br />

<strong>de</strong> maio, pelas 10 horas da manhã, no<br />

cemiterio dos Prazeres, afim <strong>de</strong> tomarem<br />

parte na manifestação ao tumulo <strong>de</strong> José<br />

Fontana e á 1 hora da tar<strong>de</strong> no comício.<br />

* Alguns Operários da Socieda<strong>de</strong><br />

Fraternal 1.® <strong>de</strong> maio, projectam solemnisar<br />

este dia com um banquete a que<br />

presidirá um anligo socialista.<br />

No Porto — Sob a presi<strong>de</strong>ncia do<br />

sr. Torquato Ricardo Oliveira, reuniu a<br />

Fe<strong>de</strong>ração das Associações. Leu-se tini<br />

officio da Associação dos Manipuladores<br />

<strong>de</strong> Tabaco, nomeando os <strong>de</strong>legados á<br />

Fe<strong>de</strong>ração,<br />

Resolveu-se que a manifestação do<br />

1.° <strong>de</strong> maio se limitasse apenas ao comício<br />

e á publicação <strong>de</strong> um manifesto<br />

que foi lido e approvado, o qual será<br />

distribuído a todos os operários.<br />

Deliberaram também pedir aos industriaes<br />

e ás camaras do Porto e Gaya,<br />

para darem feriado a todos os operários<br />

nesse dia.<br />

* Os operários chapelleiros resolveram<br />

convocar um comício geral para<br />

apresentarem a tabella <strong>de</strong> preços da<br />

mão d'obra e regulamento interino <strong>de</strong><br />

fabrico.<br />

# Os operários tecelões publicarão<br />

um manifesto no dia l.°<strong>de</strong> maio, <strong>de</strong>clarando<br />

a greve geral.<br />

# Deve realisar-se uma sessão solemne<br />

commemorativa ao 1.° <strong>de</strong> maio,<br />

promovida pela propaganda socialista.<br />

E m Setúbal — Foi convidada a<br />

dislincta poetisa D. Angelina Vidal, pela<br />

commissão organisadora das manifestações<br />

do 1.° <strong>de</strong> maio, a encorporar-se<br />

nos festejos que alli se <strong>de</strong>verão organisar.<br />

*<br />

Os srs. Agostinho da Silva e Luiz<br />

<strong>de</strong> Figueiredo partiram para o Algarve em<br />

missão <strong>de</strong> propaganda socialista.<br />

Notas impressionistas<br />

vn<br />

Pelos sonho»<br />

Sobre a taboa marmórea do antro<br />

estirava-se, mal composto, um cadaver<br />

congelado, servindo <strong>de</strong> pasto á anthropophagia<br />

esculapina. As pernas e os braço»,<br />

encurvados, <strong>de</strong>ssymetricos, pendiam<br />

ao <strong>de</strong> fóra da taboa, num abandono cynico.<br />

A cabeça, que a taboa não comportava,<br />

obliqunavá-se, atraz, muito atrozmente,<br />

memorando um supplicio tantalico.<br />

Nesta postura hórrida, torturante, as<br />

palpebras dilatavam-se <strong>de</strong>scommumente<br />

e observava-se no seu olhar vitreo<br />

um lie característico <strong>de</strong> sonâmbulo. A<br />

immobilida<strong>de</strong> da retina dava ao morto a<br />

solemnida<strong>de</strong> espectral d'um doido congestionado.<br />

Da bôcca em oval respigava<br />

uma placa <strong>de</strong> carne alvacenta. Era a língua.<br />

Naquelle <strong>de</strong>sprendimento glacido adivinhava-se<br />

um labyrinlho <strong>de</strong> conjecturas<br />

impressionantes.<br />

Quem foi? Um doido? Um santo?<br />

Um criminoso? Um justo?<br />

-r-Um justo, sim, bradou Alguém do<br />

escuro. Está alli, naquelle proximo esquelecto,<br />

a envergadura severa d'um justo.<br />

Viveu. Luctou. Foi gran<strong>de</strong> na sua<br />

mediocrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenle. Foi strenuo na<br />

sua grandiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luclador. Assimilou,<br />

pelos seus arrojos, a legitimida<strong>de</strong> dos<br />

heroes. Sempre no suppedaneo da virtu<strong>de</strong>,<br />

foi casto e penitente. Tressuou benemerencia.<br />

Odiava a humanida<strong>de</strong> na<br />

sua inconsistência, engolphada <strong>de</strong> pus.<br />

Blaspbemava contra os <strong>de</strong>uses por odiarem<br />

a arithmetica. Na sua alma vibravam<br />

relanipagos <strong>de</strong> génio. D'um cerebro<br />

bem formado, era d'uma luci<strong>de</strong>z ultra.<br />

Era também meigo. Como o Christo,<br />

amava as creancinhas. Na sua alma<br />

amo<strong>de</strong>lavam-se o rugido do leão e o vagido<br />

da creança. Ora revoluteava como<br />

o cachão, ora <strong>de</strong>slisava, vago e setineo,<br />

como o arroio. No emtanto a sua mine<br />

horrorisava. Era d'uma fealda<strong>de</strong> lypica.<br />

Quasi Gwinplaine...—<br />

E porque alli?<br />

— Vivia entre os barbaros que não<br />

lhe attingiam as suas philosophias. Odiavam-n'o<br />

uns. Riam-so outros <strong>de</strong>lle. Se<br />

daquelles lábios puros jorrava alguma<br />

sentença, gargalhava-se alvarmenle. Mofava-se<br />

das suas palavras methodicas, ias<br />

suas concepções altivolas. A gaiatada<br />

cynica da cida<strong>de</strong> inquinava-o <strong>de</strong> epithetos<br />

ignóbeis. O seu papel era <strong>de</strong> clown<br />

ètútiib esb íivno oatnsiMa]<br />

A tudo isto, o justo replicava com<br />

um sprriso <strong>de</strong>sprendido. Por egual, elle<br />

<strong>de</strong>spresava, na serenida<strong>de</strong> épica da sua<br />

tolerancia, os Iregeitos suggestivos dos<br />

que lhe malqueriam. Todavia, a enristação<br />

estável dos conviventes, apoucou-lhe<br />

as forças, asselteou-o, feriu o. O<br />

ultimo periodo da exislencia foi-lbe atroz.<br />

Morreu pobre—eis por que está alli...—<br />

Escuta-me, oh pobre cadaver d'um<br />

justo. A lua i.mmoj>ilida<strong>de</strong> compunge-me;<br />

a lua geli<strong>de</strong>z apavorara-me — a mim,<br />

pobre sonhador que te contemplo I Eu<br />

amaria po<strong>de</strong>r-te insuflar nesses ouvidos<br />

embotados uma lilintação estridulosa :<br />

foste, um justo I<br />

Eu queria que tu, pobre heroe sem<br />

Plutarcho, ouvisses este echo magnanimo<br />

que irrompe, insustido, d'uma cratera<br />

<strong>de</strong> sonhos : tu foste um justo I Porque<br />

tu não ten3 historia, ali miserável, eu<br />

queria enramar-te a fronte com a consagração<br />

suprema <strong>de</strong>—-JustoI<br />

Abril, 2S.<br />

Gri-gri.<br />

Arte <strong>de</strong> governar<br />

Consta que os gabinetes <strong>de</strong> Londres<br />

e Paris renovaram agora as suas reclamações<br />

junlo do nosso governo sobre as<br />

ostreiras do Tejo, que ha tempos foram<br />

concedidas 90 sr. Barbosa du Bocage,<br />

e pelo concessionário transferidas a um<br />

syndicato francez.<br />

Esta questão aclia-se pen<strong>de</strong>nte ha<br />

alguns annos, e a proposito d'ella têem<br />

sido trocadas muitas notas entre Portugal,<br />

França e Inglaterra, como se vê<br />

<strong>de</strong> um dos últimos Livros Brancos distribuídos<br />

no parlamento.<br />

O que se está dando com esta negociata<br />

que ha <strong>de</strong> vir a prejudicar os<br />

cofres do Estado, mercê <strong>de</strong> antigos governos,<br />

que encheram as algibeiras do<br />

sr. Barbosa du Bocage, já se <strong>de</strong>u com<br />

outros; por exemplo, o caso <strong>de</strong> Mac-Murdo,<br />

a quem o thesouro teve <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisar, e<br />

<strong>de</strong> cujo inglez o sr. Pinheiro Chagas<br />

recebeu bons auxílios.<br />

O Quelimane-Chire, a nova e iramoral<br />

concessão, que o governo actual<br />

vae legalisar, virá ao mesmo pé, <strong>de</strong>pois<br />

dos concessionários fazerem o seu negocio<br />

com o inglez Cameron, e quando<br />

este insultador <strong>de</strong> Portugal se julgar<br />

senhor e possuidor d'um caminho <strong>de</strong><br />

ferro que só a inglezes vae servir.<br />

E é assim que proce<strong>de</strong> um governo<br />

<strong>de</strong>nominado — salvador! E' infame, realmente<br />

I<br />

De regresso<br />

Os <strong>de</strong>gredados políticos que se achavam<br />

em Catumbella, José Silvério, que<br />

alli estava exercendo o logar <strong>de</strong> chefe<br />

da estação do caminho <strong>de</strong> ferro, e Eduardo<br />

Augusto Fortuna, amanuense das<br />

obras publicas, e que foram amnistiados<br />

em junho do anno passado, já seguiram<br />

viagem no Vapor Ambaia.<br />

Cabo Salomé<br />

No proximo dia 1 <strong>de</strong> maio serão<br />

julgados em Lisboa, o ex-cabo Salomé e<br />

oito indivíduos que com elle foram presos<br />

na noite em que se dirigia para o comboio<br />

em que tencionava seguir para o<br />

Porto.<br />

Mas ninguém sabe quando será o<br />

julgamento dos ladrões da junta do Porto,<br />

da recebedoria d'Evora, doi bincos Lusitano<br />

e do Povo.<br />

Saivé moralida<strong>de</strong> 1<br />

Vergonha <strong>de</strong>... conselheiro<br />

Aflirmam que o sr. José Dias Ferreira<br />

é quem dirigirá nas camaras a opposição<br />

ao actual gabinete.<br />

Cabe aqui perguntar que auctorida<strong>de</strong><br />

moral tem este homem para se collocar<br />

á frente d'uma opposição séria?<br />

Elle que governou, commettendo as<br />

maiores illegalida<strong>de</strong>s e abusos, chegando<br />

á pratica <strong>de</strong> crimes, pô<strong>de</strong> lá ser acatado<br />

pelo paiz que o conhece por <strong>de</strong>ntro<br />

e por fóra ? !<br />

Perdoe-nos o sr. Zé Dias —que não<br />

nos lembravainos que os seus adversários<br />

são do mesmo estofo.<br />

Fugindo á fome<br />

Idos do norte chegaram a Lisboa perto<br />

<strong>de</strong> mil emigrantes cora <strong>de</strong>stino ao<br />

Brazil.<br />

Isto bem prova a felicida<strong>de</strong> d'este<br />

povo e a riqueza do paiz.<br />

Que no po<strong>de</strong>r lá estão sete salvadores,<br />

como sete e$treHa$.<br />

Sem olfensa — ás estrellas !<br />

E viva a folia E<br />

Uma folha alemtejana dá conta que<br />

em maio proximo sua magesla<strong>de</strong> a rainha,<br />

sr. a D. Amélia, visitará a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Beja.<br />

Quem não tem que fazer — faz viagens<br />

1<br />

Que nós cá eslamos <strong>de</strong> bolsa reclieiada—-a<br />

bolsa e o resto I<br />

L B T T R A S<br />

Contos <strong>de</strong> crystal<br />

(A MEUS FILHOS)<br />

Hugo escuta com toda a gravida<strong>de</strong><br />

a narração <strong>de</strong> um caso asombrosp, que<br />

lhe faz abrir muito os lindos e luminosos<br />

olhos escuros e fulgurantes como<br />

lagrimas <strong>de</strong> crystal suspepsps do sol<br />

<strong>de</strong> abril.<br />

Eis o caso: o Joãosito da quinta dos<br />

pinheiros contava que todas $s noites<br />

fazia farta colheita <strong>de</strong> pyrilampos para<br />

os escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

malga <strong>de</strong> louça coimbrã presente da madrinha,<br />

em dia <strong>de</strong> annos.<br />

— Ora essa 1 Então para que serve<br />

isso? Perguntou muito curiosa a irmãsita<br />

<strong>de</strong> Hugo.<br />

— E' que os bichinhos tornam-se<br />

em dinheiro, e cada um apparece feito<br />

em cinco réis; mas ba<strong>de</strong> a gente ir<br />

muito cedinho vêr <strong>de</strong>baixo da malga,<br />

se não elles fogem e uão fica lá nem<br />

nada I<br />

— Ora I Isso é pêta I Disse rindo a<br />

pequenila Beatriz.<br />

— Qual pêta! Pergunte á minha<br />

mãe verá se eu não acho lá os cinco<br />

réis!<br />

Hugo reflectia, muito concentrado, e<br />

tal era a absorpção do seu espirijto que<br />

ficara com a colher suspensa a meio caminho<br />

da hocca e uma sopinha <strong>de</strong> leite<br />

a alvejar-lhe entre os <strong>de</strong>ntinhos entreabertos.<br />

Arraucou-o d'aquella meditação a<br />

irmãsita que o convidava a brincar po<br />

jardim, porque a mamã linha dado licença.<br />

Hugo correu e saltou alegremente,<br />

mas quando em quando ficava muito<br />

sério a olhar para as trepa<strong>de</strong>iras q^e<br />

subiam elegantemente ao longo dos muros,<br />

sacudindo ao sol as radiantes flores,<br />

pequenas urnas repleclas <strong>de</strong> perfumes<br />

suavíssimos.<br />

Afinai chegou a hora do jantar.<br />

O pequenito senlou-se na sua ca<strong>de</strong>irinha,<br />

throno das suas glorias e perric^s,<br />

e ficou direito, grave e aprumado como<br />

um diplomata que tem ante si os <strong>de</strong>stinos<br />

<strong>de</strong> uma nação.<br />

A mamã que o observava com aquelle<br />

caridoso enlevo que só o coração das<br />

mães encerra, perguntou-lhe se estava<br />

doentinho. Hugo respon<strong>de</strong>u negativamente<br />

e poz-se a bater com a sua colhersita<br />

no copo <strong>de</strong> vinho que linha dianle<br />

do prato. O sol estendia-se indolentemente<br />

ao longo da toalha, branca como<br />

a neve dos Alpes; <strong>de</strong>pois foi trepando<br />

pelo copo, e mergulhando no transparente<br />

licor entrou a semear scintillações<br />

naquells superfície Irémula, que fascinava<br />

o pequenito pensador. A creança metteu<br />

cautellosaineule a colher 110 viului, e<br />

ievantando-a cheia do rahicundo liquido<br />

<strong>de</strong>ixava-o caliir gota a gota, seguindo<br />

curiosamente a quéda do microscopio<br />

Niagára por entre os lios luminosos<br />

do sol avermelhado, que se engolphava<br />

num horisonte límpido como os seus<br />

olhos infantis.<br />

— Tu estás doentinho meu fillw? O<br />

que é que te doe?<br />

— Nada, mamãsinha.<br />

E como o sol lhe fez a <strong>de</strong>sfeita <strong>de</strong><br />

retirar-se, o pequenito pôz-se a comer<br />

com um appelile maravilhoso.<br />

A mamã sorriu-se; do seu Dello rosto<br />

<strong>de</strong>sappareceu a sombra <strong>de</strong> cuidados que<br />

ha pouco alli passara, qual nuvem <strong>de</strong><br />

ignotas amarguras.<br />

A' noite o pequenito uão quiz <strong>de</strong>ilarse.<br />

Estava calor muito calor; as janellas<br />

abertas sobre o jardim franqueavam o<br />

interior das salas á invasão dos <strong>de</strong>licados<br />

aromas que subiam dos cálices das florep,<br />

quaes dulcidas aspirações <strong>de</strong> espíritos<br />

infantis.<br />

O pequeno quiz senlar-pe á varandfi.<br />

Era uma noite <strong>de</strong>liciosa, noite <strong>de</strong> lua<br />

cheia, <strong>de</strong>sfazendo sobre o hemispherio<br />

o seu ramiihete <strong>de</strong> brancas radiações.<br />

Grasnavam melancolicamente as rans, e<br />

a aragem trazia uns echos vagos, in<strong>de</strong>cisos,<br />

<strong>de</strong> mysteriosos cantares.


A.WO I — 8 8 O DEFEKSOR DO POVO 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />

— Não tens hoje ?omno, Hugo?<br />

— Não, minha mamã.<br />

A Beatriz <strong>de</strong>sceu com a creada ao<br />

jardim; iam colher rozas para as jarras<br />

da mamã. O pequeno cheio <strong>de</strong> alegria<br />

<strong>de</strong>itou a correr tanihem.<br />

— Cuidado com as ereanças! Bradou<br />

a mamã á creada<br />

O pequenito agarroii-se ao vestidilo<br />

da írmã e ficou muito quieto, coisa aliás<br />

raríssima naquelle adoravel traquina.<br />

De repente <strong>de</strong>itou a correr por entre<br />

os renques <strong>de</strong> rozeiras, e ora curvado o<br />

pequenino vulto, ora pondo-se em bico<br />

dos pés parecia espreitar o quer que<br />

fosse.<br />

Era um pyrilampo que saltitava ca<br />

prichosamente, como estrella perdida entre<br />

a folhagem ver<strong>de</strong>jante, e que em<br />

vão tentasse volver ao ethereo ninho.<br />

O pequenito esten<strong>de</strong>u a mãosinha,<br />

porém não logrou colher a cuhiçada preza<br />

e zangou-se. Os anneis doirados dos<br />

seus cabellitos pren<strong>de</strong>ram-se então aos<br />

espinhos <strong>de</strong> uma rosa chá ; mas elle não<br />

chorou com receio <strong>de</strong> espantar o luminoso<br />

insecto, que, muito tranquillo repousava<br />

sobre as pétalas <strong>de</strong>licadas <strong>de</strong> um botão<br />

<strong>de</strong> rosa semi-aberto á viração da noite.<br />

Como aguarda avançada que espreita<br />

os movimentos do inimigo, a creança segue<br />

cada pulsação <strong>de</strong> luz <strong>de</strong>sperendida<br />

d'aquelle pequeno thesouro, cuja poáse<br />

lhe fazia supportar em silencio heroico<br />

as dôres produzidas pelos espiuhos da<br />

flor, vingadora da <strong>de</strong>scuidosa victima.<br />

Esten<strong>de</strong>u então o braço, ah I que<br />

momento <strong>de</strong> inrerteza, <strong>de</strong> cubiça, <strong>de</strong> ancieda<strong>de</strong><br />

! Napoleão em vesperas da batalha<br />

<strong>de</strong> Waterloo, Cesar e Alexandre antes<br />

dos indomitos Iriumphos assombro ás<br />

gerações, não tiveram mais anciosos instantes.<br />

Mais um esforço, mais um esforço,<br />

e. ... agora que elle não se move. . ..<br />

vá!<br />

Mas, oh 1 <strong>de</strong>cepção suprema ! o ponto<br />

luminoso apaga-se como por encanto,<br />

e o misero insecto ludibria assim a impotência<br />

do calculo humano !<br />

O pequeno fica abatido, com as lagrimas<br />

suspensas dos longos cilios côr<br />

<strong>de</strong> oiro, e o coracãosito comprimido num<br />

<strong>de</strong>sgosto que comprehendia a <strong>de</strong>scrença<br />

<strong>de</strong> si mesmo.<br />

De súbito reapparece a luz entre a<br />

folhagem; Hugo avança, esten<strong>de</strong> o corpo<br />

flexível e apo<strong>de</strong>ra-se da presa. Seccam-se-lhe<br />

as goltas <strong>de</strong> pranto, rena»celhe<br />

a confiança nas próprias forças, e<br />

<strong>de</strong>ita a correr gritando na expansão da<br />

sua victoria, como um clarim pregoeiro<br />

da formidanda victoria.<br />

Contou então á irmãsita o que vinha<br />

<strong>de</strong> passar-se e ambos riram e festejaram<br />

a conquista.<br />

Logo que entrou em casa procurou<br />

Hugo entre os seus brinquedos uma chavena<br />

pequenina, por on<strong>de</strong> a boneca tomava<br />

chá, e metteu o animalsito <strong>de</strong>baixo<br />

d'ella. Depois, muito caladinho, foi<br />

para o colo da mamã e adormeceu.<br />

Que noite <strong>de</strong> calor; abafa-se!<br />

Hugo, na sua camiuhá, está verda-<br />

A teucrina é o extracto aquoso do<br />

<strong>de</strong>iramente iucommodado com a roupa.<br />

leucrium scordím, das famílias labiadas<br />

Teve um pesa <strong>de</strong> lio, o pobre pequeno :<br />

<strong>de</strong>scoberta peto professor allemão Mosetigera<br />

uma terrina muito gran<strong>de</strong> que vi-<br />

Morhob e <strong>de</strong> que ha dias <strong>de</strong>mos noticia.<br />

nha nas mãos <strong>de</strong> um gigante. Depois, o<br />

Injectada sob a pelle, possue uma<br />

malvado, <strong>de</strong> longas barbas e feia cata-<br />

acção geral e outra local. A geral manidura,<br />

agarrou nelle e metteu-o alli <strong>de</strong>nfesta-se<br />

lambem nos indivíduos sãos e<br />

tro, cobrindo-o com a tampa. Hugo que-<br />

caracterisa-se pela elevação da tempera-<br />

ria gritar, chamar a mamã, mas não<br />

podia, suffocavst !<br />

E accordou em sobresalto, cheio <strong>de</strong><br />

terror, o coração pulsando <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente.<br />

Saltou da cama para ir ler<br />

com a mamã, mas nisto um pensamento<br />

lhe aco<strong>de</strong>. Vae direito ao cárcere do<br />

pyrilampo, levanta-o pouco a pouco, e<br />

á baça clarida<strong>de</strong> da lampada, espreita<br />

o prisioneiro.<br />

Tomou-o então nas mãosinhas <strong>de</strong><br />

jaspe e foi collocal-o junto da vidraça:<br />

— Vae-teembora,coitadinho, não lenhas<br />

medo; já não quero os cinco réis!<br />

nocente cruelda<strong>de</strong> por um acto <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong><br />

adoravel. És bom, meu pequenino<br />

amor I<br />

Os germens do mal e do bem encontram<br />

se no espirito do homem <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os primeiros movimentos da sua vonta<strong>de</strong>.<br />

Felizes dos filho; cujas mães sabem<br />

cultivar-Ihe nas consciências os lirios da<br />

virtu<strong>de</strong>!<br />

Ditosas das mães que fazem do coração<br />

da infancia o sacrario crystalino<br />

do amor filial, da pieda<strong>de</strong>, e da abnegação<br />

sublime!<br />

oAngelina Vidal.<br />

E salva-se isto I<br />

Dizem os que bebem do fino no tonel<br />

da politica, que para a Liga liberal<br />

têm entrado socios novos, e quasi todos<br />

das classes do commercio e capitalistas.<br />

O capital e o commercio na Liga;<br />

na fazenda o sr. Fuschini!<br />

E a jacobinagem a bramar que o<br />

paiz não tem salvação possivel !<br />

Que isto nos cheira a syndicalos á<br />

laia <strong>de</strong> Foz, Mozer & C. a —é certo!<br />

Quelimane-Chire<br />

O-Universal diz constar lhe ter sido<br />

á assignado o tratado Quelimane-Chire,<br />

obra do patriota ministro da marinha<br />

Neves Ferreira, que tem levantado justos<br />

clamores na maioria da imprensa.<br />

Bem sabem os senhores que este tratado,<br />

como outros, é dado <strong>de</strong> mão beijada<br />

a uns rufiões da politica que vão arranjar<br />

a sua vida com os amigos inglezes.<br />

Isto, porém, não admira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

a presidir um governo está o auclor do<br />

celebre tratado <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto, paleado<br />

nas camaras e corrido pelo paiz.<br />

Mas lá diz o ditado: — que todo o<br />

burro come palha. ..<br />

Mudam-se os tempos...<br />

Para a vaga <strong>de</strong>ixada no conselho <strong>de</strong><br />

estado pela morle do sr. marquez <strong>de</strong> Ficalho,<br />

indigila-se o sr. José Dias Ferreira.<br />

Está dito. Morto para a causa publica,<br />

a quem atraiçoou com infamia, é<br />

bom que reviva no paço e lá encontre<br />

logar entre a chusma <strong>de</strong> renegados que<br />

têm arrastado a nação á miséria e feito<br />

d'este povo heroicó, um bando <strong>de</strong> poltrões.<br />

Gloria a Zé Dias—na terra e a D.<br />

Carlos — nas alturas.<br />

Basilio Telles<br />

E' esperado brevemente no Porto o<br />

nosso diftinclo correligionário Basilio<br />

Telles, que havia emigrado para o Brazil.<br />

O romedio da tysica<br />

tura a 39,40 graus e que sobrevêm<br />

ordinariamente duas horas <strong>de</strong>pois da injecção<br />

e dura seis ou oito horas.<br />

A acção local consiste numa vermelhidão<br />

que apparece ao segundo dia da<br />

injecção ao nível do foco morboso e que<br />

é acompanhada <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma.<br />

A dose d'injecção é <strong>de</strong> 3 grammas ao<br />

nivel do foco morboso.<br />

O dr. Moselig-Morhof empregou-o<br />

com exilo em mais <strong>de</strong> 300 casos <strong>de</strong> tuberculose<br />

dos ganglios lymphaticos, dos<br />

ossos, da ptlle, ele.<br />

Os médicos que experimentem.<br />

De manhã, Beatriz correu pressurosa<br />

a vêr a transformação. Levantou a chave- CONVITE<br />

na e não. encontrando o pyrilampo inter-<br />

A Associação fíummitaria dos Bomrogou<br />

o pequenito.<br />

beiros Voluntários <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, confia<br />

— Man<strong>de</strong>i-o embora.<br />

em que o seu pedido <strong>de</strong> prendas para a<br />

— Que pena! Queria vêr se cá es-<br />

Kermesse ha<strong>de</strong> ser tomado em consi<strong>de</strong>tavam<br />

os cinco réis 1 Porque o <strong>de</strong>ixaste<br />

ração pelas gentis damas e cavalheiros a<br />

fugir ?<br />

quem se dirigiu para esse fim; e lhes<br />

— Elle estava muito triste, queria<br />

solicita a elevada fineza da entrega e<br />

ir para a mãe. A esta hora já elle está<br />

remessa das mesmas prendas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

contente... <strong>de</strong>ixa lá os cinco réis!<br />

já se recebem, até ao dia 10 do proximo<br />

A mamã ouvira tudo! Fez vêr aos<br />

mez <strong>de</strong> maio.<br />

filhos da sua alma o erro em que cahi-<br />

<strong>Coimbra</strong>, abril <strong>de</strong> 1893.<br />

ram e beijando o pequeno :<br />

— Fizeste mal em encarcerar o po-<br />

O presi<strong>de</strong>nte,<br />

bre bichinho, mas resgataste a tua in- Augusto José Gonçalves Fino.<br />

EM SURDINA<br />

Durante o mez <strong>de</strong> março<br />

findo foram concedidas 105<br />

mercês honorificas.<br />

1051 Dm pau p'lo olho!<br />

E p'ra <strong>Coimbra</strong> nem meial<br />

Isto é obra do zarolho...<br />

do farronca patuleia!<br />

(Vários jornaes).<br />

Tenho dó dos meus patrieios<br />

que ao fim <strong>de</strong> tanto trabalho,<br />

em vivorios e artifícios...<br />

negam-lhe o penduricalho!<br />

A má sorte, não lhes gabo,<br />

porém, dou-lhes um conselho:<br />

se cá voltarem — ao cabo —<br />

man<strong>de</strong>m tudo p'ro diabo,<br />

não lhes mettarn o joelho!<br />

PINTA-ROXA.<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Covilhft, «».<br />

No uia 24 <strong>de</strong>u a Troupe Dramatica<br />

' Covilhanense um espectáculo em beneficio<br />

d'uma senhora, a actriz D. Aurora<br />

Diar <strong>de</strong> Rodriguez.<br />

A beneficiada, que os srs. F. Barata<br />

e José Matta apresentaram no palco,<br />

cantou com arte a romanza — Branca<br />

Flor, que lhe mereceu muitos applausos.<br />

Itepresenlaram-se algumas comedias<br />

— Os Estróinas, a Casa <strong>de</strong> Campo, a<br />

Chateau Margaux, on<strong>de</strong> os disliuctos<br />

curiosos se houveram com pericia reveladora<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s aptidões.<br />

O sr. F. Barata, especialmente, que<br />

fazia o papel do principal estróina, não<br />

se <strong>de</strong>smanchou; tinha algumas scenas<br />

admiraveis, que <strong>de</strong>sempenhou com verda<strong>de</strong>iro<br />

talento.<br />

Todo o espectáculo correu bem, <strong>de</strong>vendo<br />

especialisar-se a sr a D. Aurora<br />

Dias, que se portou como artista <strong>de</strong> mérito<br />

real.<br />

* Continúa doente o sr. João Nunes<br />

Mouzaco, cujo restabelecimento <strong>de</strong>sejamos<br />

# Ainda se não abriu á exploração<br />

o troço do caminho <strong>de</strong> ferro da Covilhã<br />

e Guarda, apezar <strong>de</strong> estarem approvadas<br />

as tarifas e nomeado lodo o pessoal das<br />

estações. Já é <strong>de</strong>mais.<br />

# Vae gran<strong>de</strong> movimento neste centro<br />

commercial na venda <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong><br />

verão. Os fabricantes uão teem mãos a<br />

medir.<br />

* Têm corrido com regularida<strong>de</strong> os<br />

exames d'instrucçào primaria na escola<br />

Campos Mello. Nem outra coisa era <strong>de</strong><br />

esperar do jury que excerce aquellas<br />

funeções.<br />

A.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

O fl.° <strong>de</strong> maio em <strong>Coimbra</strong><br />

Um grupo <strong>de</strong> socialistas d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

solidários com as manifestações d'este<br />

dia promovidas pelo mundo operário, resolveu<br />

distribuir ámanhã um manifesto<br />

ineilando á lucta as classes trabalhadoras.<br />

Querem assim aflirmar os seus princípios,<br />

propugnar pelos seus interesses,<br />

fazerem-se ouvir das classes prepon<strong>de</strong>rantes<br />

e no pleno uso d'este direito incontestável,<br />

chamarem ao combate os<br />

seus companheiros, mostrando-lhes a<br />

causa da sua miséria, d'on<strong>de</strong> provem, e<br />

qual a maneira <strong>de</strong> a limitar, <strong>de</strong> a extinguir.<br />

Nada mais justo nem mais humanitário.<br />

Em todos os centros <strong>de</strong> activida<strong>de</strong><br />

este dia é consagrado ao <strong>de</strong>scanço e á<br />

manifestação or<strong>de</strong>ira para a conquista<br />

das suas reivindicações. Os governos<br />

<strong>de</strong>ixam em paz os manifestantes, velando<br />

apenas pela or<strong>de</strong>m e pela segurança publica,<br />

e por toda a parte se nota gran<strong>de</strong><br />

effervescencía entre as classes trabalhadoras.<br />

Em Lisboa e Porto, on<strong>de</strong> ha muitos<br />

elementos, as festas promettem ser <strong>de</strong>slumbrantes<br />

d'enthusiasmo. Apenas um<br />

senão se levantou : o ministro do reino<br />

não consentir na realisaçâo do cortejo<br />

cívico.<br />

No entanto todas as associações operarias<br />

se preparam para a solemnisação<br />

do 1.° <strong>de</strong> Maio, promovendo comícios,<br />

saraus litterarios banquetes, etc.<br />

E como em <strong>Coimbra</strong> o indifferenlismo<br />

por tudo é gran<strong>de</strong>, o grupo da so<br />

cialistas na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizarem<br />

qualquer outra manifestação se limitarão<br />

a distribuir pela cida<strong>de</strong> um<br />

manifesto on<strong>de</strong> sejam nffirmadas as suas<br />

crenças e os seus princípios.<br />

Applaudimos.<br />

Associação dos Artistas<br />

No domingo como noticiámos, tomaram<br />

pospe os novos corpos gerentes<br />

d'esla associação.<br />

O acto da posse foi muito concorrido<br />

e o nosso amigo sr. Antonio Dias Themido<br />

festejou a <strong>de</strong>posição do mandato,<br />

oflerecendo aos seus antigos collegas<br />

uni <strong>de</strong>licioso copo d'agua.<br />

A' noite a commissão eleitoral foi<br />

cumprimentar os corpos gerentes, com a<br />

philarmonica Conimbricense.<br />

O eonflicto académico<br />

Naturalmente <strong>de</strong>vido ás más informações,<br />

alguns jornaes já da capital, já<br />

do Porto têm dito coisas e loisas a respeito<br />

d'um acontecimento que, com a<br />

maior franqueza, não teve, nem podia<br />

ter maior consequência.<br />

O que admiramos é que alguns informadores,<br />

sem maior consi<strong>de</strong>ração pela<br />

magoa que tal noticia po<strong>de</strong>ria cau-ar<br />

na maioria das famílias, que nesta cida<strong>de</strong><br />

lêem seus filhos, espalhassem tal noticia,<br />

que tinha por fundamento um<br />

acontecimento sem maior imporlancia e<br />

resultado.<br />

O facto <strong>de</strong>u-se, em relação aos novatos<br />

e segundanislas <strong>de</strong> direito; mas<br />

as consequências que alguns pessimistas<br />

suppozeram terríveis, não passaram<br />

<strong>de</strong> meras presumpções mais provenientes<br />

das phantasias dos informadores, do<br />

que a realida<strong>de</strong> dos acontecimentos.<br />

O que, por ahi se diz, e se chamou<br />

confliclo académico não passa d'uma coi<br />

sa vulgar, sem imporlancia e sem consequências,<br />

como os factos lêem provado.<br />

Mas a imprensa ou seus informadores<br />

que em tudo vêem terrores, ou coisa<br />

simílhante fizeram por ahi tal clianlage,<br />

que nem merece a veracida<strong>de</strong>.<br />

Os acontecimentos passaram-se pouco<br />

mais ou menos como narram os informadores;<br />

mas as consequências, que<br />

dizem esperar-se estão tão ionge da verda<strong>de</strong>,<br />

que tudo se passou sem maior<br />

resultado.<br />

Posto isto, julgaríamos mais acertado<br />

que as informações fossem mais seguras,<br />

atten<strong>de</strong>ndoás alllicções que por esse paiz<br />

fóra vão causar.<br />

Medalha d'ouro<br />

As obras scienlificas dos srs. drs.<br />

Antonio Augusto da Costa Simões, actual<br />

reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e Bernardino<br />

Machado, ministro das obras publicas,<br />

foram premiadas com a medalha d'ouro<br />

no congresso pedagogico <strong>de</strong> Madrid.<br />

Aqui tem a nobreza <strong>de</strong> meia tijella<br />

uma con<strong>de</strong>coração que não suja, e que<br />

honra sobremaneira os agraciados<br />

E sem nos lembrar que a sobredita<br />

nobreza não se impõe pelo talento — é<br />

pela massa... nas burras!!!<br />

Senlior aos entrevados<br />

Sae hoje da egreja <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />

com a costumada pompa, o Sagrado Viar<br />

tico, em visita aos entrevados d'aquella<br />

freguezia.<br />

Economias do governo<br />

Foi or<strong>de</strong>nado pelo ministério do reino<br />

que fossem contados pela secretaria da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> os vencimentos ao professor<br />

<strong>de</strong> Philosophia, sr. dr. Garrett, em<br />

commissão <strong>de</strong> serviço publico não remunerada.<br />

Ora ninguém sabe que commissão é<br />

essa e todos se convencem que foi invenção<br />

do sr. ministro do reino para<br />

que este senhor doutor esteja ausente<br />

do serviço universatario sem prejuízos<br />

no or<strong>de</strong>nado.<br />

E assim vão ganhando a vida estes<br />

ricos amigos das instituições.<br />

Recita do b.° anno<br />

Está <strong>de</strong>finitivamente marcado o dia<br />

ÍO do proximo mez para a primeira recita<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida d'este curío, que se<br />

realisará no Thealro-circo Príncipe Real.<br />

Proinoç&es na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

Em virtu<strong>de</strong> da jubilação do sr. dr.<br />

Pedro Augusto Monteiro Castello Branco<br />

são promovidos a lente <strong>de</strong> prima e director<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o sr. dr. Bernardo<br />

d'Albuquerque; a lente <strong>de</strong> vespera<br />

o sr. dr. Manoel Nunes Giral<strong>de</strong>s; e a<br />

cathedratico o sr. dr. João Arroyo.<br />

Bolacha Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

É hoje posta á venda esta <strong>de</strong>liciosa<br />

bolacha, saida da conceituada fabrica dos<br />

srs. José Francisco da Cruz & Genro.<br />

Às caixas tem o retrato do sr. Joaquim<br />

Martins <strong>de</strong> Carvalho, num bello<br />

chromo lythographico, <strong>de</strong>senho do sr.<br />

Antonio Augusto Gonçalves.<br />

Parabéns aos apreciadores, que encontrara<br />

na vasta coliecção <strong>de</strong> bolachas<br />

que esta fabrica possue, mais um produclo<br />

<strong>de</strong> fino e apurado gosto."<br />

Monte-pio Conimbricenee<br />

Recebemos o Ilelatorio d'esta associação<br />

<strong>de</strong> soccorros mutuos, relativo ao<br />

anno <strong>de</strong> 1892.<br />

Pela exposição dos pareceres das,<br />

commissões <strong>de</strong> coutas vê-se que os corpos<br />

gerentes do Monte-pio, presididos<br />

pelo sr. Januario Damasceno Ratto, trabalharam<br />

com <strong>de</strong>dicação para a sua prosperida<strong>de</strong>,<br />

merecendo justos louvores dos<br />

seus consocios.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a olferta do exemplar<br />

que nos foi enviado.<br />

Promoção<br />

O sr. dr. Alfredo da Rocha Peixoto,<br />

lente <strong>de</strong> Mathematica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

foi promovido a primeiro astronomo do<br />

observalorio.<br />

Com o <strong>de</strong>vido respeito diremos: se<br />

tal logar faculta a s. ex. a o po<strong>de</strong>r ausen-^<br />

tar-se <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, diflicil será achar<br />

melhor cumpridor.<br />

Prorogação<br />

Foi concedido a alguns alumnos da<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina o apresentarem<br />

a certidão <strong>de</strong> approvação nos exames das<br />

línguas allemà e grega, até ao fim do<br />

anuo lectivo.<br />

liuctuosa<br />

E com o maior pezar que noticiamos<br />

o fallecimeuto da sr.* D. Amélia d'Azevedo,<br />

esposa estremecida do sr. dr. Manoel<br />

Justino d'A*.evedo, professor distincto<br />

e respeita bilissimo do lyceu d'esta<br />

cida<strong>de</strong>. A finada senhora, <strong>de</strong> caracter a<br />

todo o ponto digno do maior respeito,<br />

íalleceu no meio dos mais <strong>de</strong>sveilados<br />

cuidados dos seus e <strong>de</strong> famílias amigas,<br />

que seguiam com a mais acurada compuneção<br />

os progressos <strong>de</strong>vastadores da<br />

doença.<br />

E este respeito e estima da família<br />

e dos anugos, inanifestaram-se ainda brilhantemente<br />

da parle dos estranhos, que,<br />

numa concorrência extraordinaria, concorreram<br />

a acompanhar no enterro o<br />

cadaver d'aquella senhora. Estava repre-<br />

sentada a élite <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, mostrando<br />

assim a gran<strong>de</strong> estima que inspira' a todos<br />

o caracter honradíssimo da família<br />

Azevedo. Nao nos e possivel mencionar<br />

os nomes <strong>de</strong> todos os cavalheiros que<br />

aquelle acto concorreram; apenas nos<br />

lembramos dos srs.:<br />

Drs. Assis Teixeira, L. Praça, Pila<br />

Madureira, Yasconcellos, Alves da Hora,<br />

Araujo e Gama, Paes, B. d'Albuquerque,<br />

Fernan<strong>de</strong>s Vaz, Chaves, Callisto, Guimarães<br />

Pedrosa, Dias da Silva, Mirabeau,<br />

Bazilio, Epiphanio Marques, Raymundo<br />

da Motta, Luiz da Costa, Souto<br />

Uodrigues, Costa Lobo, Teixeira <strong>de</strong> Carvalho,<br />

Viegas, Julio Heuriques, Sousa<br />

Gomes, Manoel Paulino, secretario da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, <strong>Coimbra</strong>, e coronel Reboclio,<br />

major Lopes, cirurgiao-mór Teixeira,<br />

cirurgião ajudante Guimarães,<br />

alferes ajudante Martins' Pedro Ferrão,<br />

José Narciso Simões, Dantas Guimarães,<br />

presi<strong>de</strong>nte da Associação Commercial,<br />

Valle, Antonio d'Almeida e Silva, Julio<br />

Machado, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Foz d'Aouce, Francisco<br />

Furtado <strong>de</strong> Mello, vice-reitor do<br />

Seminário conego Silva, conego Pru<strong>de</strong>ucio,<br />

Sinibaidi, Abranches, padre Mattoso,<br />

padre Andra<strong>de</strong>, padre Gaspar, dr. Carvalho,<br />

dr. Diniz, dr. Teixeira, dr. Pereira,<br />

dr. Clemente, Bastos, Costa Pessoa,<br />

Alberto Pessoa, Francisco Guerra,<br />

dr. Francisco Manso Preto, dr. Arthur<br />

Manso Preto, dr. Julio Dallv, dr. Pinheiro<br />

Pessoa, dr. Lebre, dr. Cancella, A<strong>de</strong>lino<br />

Vieira, dr. Silvio Fellico, dr. Arthur Leitão,<br />

dr. Augusto Cymbron, dr. Silvestre<br />

Falcão, Antonio Jose d'Aimeida, dr. Menezes<br />

Parreira, dr. Albino <strong>de</strong> Mello, A<strong>de</strong>lino<br />

Maia, Antonio ^Pedro, Francisco <strong>de</strong><br />

Sousa Araujo, Alberto Leite, João <strong>de</strong><br />

Menezes e dr. Constantino.<br />

Ao sr. dr. Manoel Justino d'Azevedo,<br />

e a seus filhos, os nossos bons amigos,<br />

en<strong>de</strong>reçamos a publica expressão do nosso<br />

profundo pezar, pelo transe dolorosíssimo<br />

que os angustia, dôr que sinceramente<br />

partilhamos.


A % % .i f — M.* 8 8 O DEFEMSOR DO P O V O 3o <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803<br />

Transferencia<br />

Em quanto durarem as obras <strong>de</strong> restauração<br />

no templo da Sé Velha, a se<strong>de</strong><br />

d'esta parochia foi transferida, por auctorisa.ção<br />

episcopal, para a egreja <strong>de</strong> S. João<br />

d'Almedina.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

No quadro lega! do corpn docente<br />

das cinco Faculda<strong>de</strong>s d'este estabelecimento<br />

<strong>de</strong> ensino ha actualmente as seguintes<br />

vagas:<br />

, Em Theolcgia, 2—em Direito, 4 —<br />

em Medicina, 4—em Mathematica, 1 —<br />

em Philosophia, 1.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />

na semana ultima, os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Rita <strong>de</strong> Nazareth, filha <strong>de</strong> Manoel<br />

Bernardo e Maria José, da Figueira da<br />

Foz, <strong>de</strong> 20 annos. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose<br />

pulmonar, no dia 10.<br />

Emília, filha <strong>de</strong> Cesar José da Motta<br />

e Maria da Conceição dos Santos, <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 27 mezes. Falleceu <strong>de</strong> meningite<br />

tuberculose, no dia 11.<br />

Josepha Ferreira, filha <strong>de</strong> Francisco<br />

Simões Pedrulhn e Maria Ferreira, <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 62 annos. Falleceu <strong>de</strong> moléstia<br />

<strong>de</strong>sconhecida, no dia 12.<br />

Joaquina Emília Ferreira, filha <strong>de</strong><br />

José Ferreira e Maria Ferreira, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

<strong>de</strong> S8 annos, Falleceu <strong>de</strong> cancro<br />

do útero, no dia 12.<br />

Luiza Emília da Conceição, filha <strong>de</strong><br />

Antonio Rodrigues e Joaquina <strong>de</strong> Jesus,<br />

<strong>de</strong> Poiares, <strong>de</strong> 55 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />

pneumonia grippal, no dia 12.<br />

Recem nascida, filha <strong>de</strong> pae incógnito<br />

e Maria Emilia, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 4 mezes.<br />

Falleceu <strong>de</strong> pneumonia, no dia 13.<br />

Joaquim da Silva Duarte, filho <strong>de</strong><br />

Manoel da Silva Duarte e Maria da Silva,<br />

<strong>de</strong> Arcos <strong>de</strong> Val <strong>de</strong> Vez, <strong>de</strong> 80 annos.<br />

Falleceu <strong>de</strong> pneumonia aguda, no<br />

dia 16r<br />

Augusto Pereira José Soares, filho <strong>de</strong><br />

Pereira Soares e Theolinda Marques <strong>de</strong><br />

Carvalho, <strong>de</strong> Midões, <strong>de</strong> 43 annos. Falleceu<br />

<strong>de</strong> grippe complicada com hepatite<br />

no dia 16.<br />

Luiza Respicia, filha <strong>de</strong> Manoel Caetano<br />

Respicio e Maria Thereza, <strong>de</strong> Valle<br />

<strong>de</strong> Todos, <strong>de</strong> 46 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />

lurbulose pulmuonar no dia 18.<br />

Jose, filho <strong>de</strong> Augusto Rama Pardal<br />

e Maria da Cuncçição Dias, <strong>de</strong> Cadima,<br />

<strong>de</strong> 4 annos. Falleceu <strong>de</strong> meningo encephalile<br />

no dia 19.<br />

Joaquim Gumes Arinto, filho <strong>de</strong> José<br />

Gomes Arinto e Rita <strong>de</strong> S José, <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 31 aunos. Falleceu <strong>de</strong> pi ri -<br />

tonile, no dia 21.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemitério —16:853.<br />

Qamara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinaria<br />

6 <strong>de</strong> abril<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />

Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />

33 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. M É R Y<br />

A JIIÍIIA I mim<br />

IX<br />

O leão em correrias<br />

E Lorenzino calou-se, á espera d'uma<br />

pergunta inevitável sobre esta gran<strong>de</strong><br />

historia tão recente.<br />

— E então? perguntou Talormi sorrindo<br />

com dignida<strong>de</strong>.<br />

— Oh"! é soberbo, continuou Lorenzino,<br />

Um capitao hollan<strong>de</strong>z chega com a<br />

sua fragata para uma missão politica ;<br />

enamora-se da mais formosa das nossas<br />

genovezas, a Vénus da actualida<strong>de</strong>, uma<br />

mulher que faria levantar lodos os mortos<br />

d'um cemiterio, se por alli passasse;<br />

pe<strong>de</strong>-a em casamento, dão-lh'a, porque<br />

v. ex.* bem sabe que aos estrangeiros<br />

tudo se da—um patrício nosso podia<br />

suspirar por ella vinte annos que a não<br />

obtinha—; casaram-se honlem; o baile<br />

foi dado a bordo 'da fragata ; o marido<br />

pedia perdão a Deus pela sua felicida<strong>de</strong>;<br />

todos os nossos rapazes, ao approximar-se<br />

a hora fatal, rugiam unUonos e<br />

em surdina como tigres roubados — era<br />

presentes: Ruben Augusto d'Alnioida<br />

Araujo Pinio, João da F> nseca Barata,<br />

João Antonio da Cunha, Manuel Miranda,<br />

Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros, Joaquim Justiniano<br />

Ferreira Lobo, Antonio José Dantas<br />

Guimarães, elTectivos; José Corrêa dos<br />

Santos, substituto.<br />

Mandou intimar um proprietário em<br />

Santo Antonio dos Olivaes, pnra fazer<br />

vedar, por meio unia cortina, um poço,<br />

ou vallado, que tem em um prédio junto<br />

ao caminho publico. -<br />

Nomeou um guarda rural para.os logares<br />

<strong>de</strong> Valle <strong>de</strong> Cantaro e Invibora,<br />

na freguezia d'Assafarge.<br />

Resolveu suspen<strong>de</strong>r, por emquanto,<br />

as canalisações d'agua por conta da camara,<br />

exceptuando-se as pedidas ante"<br />

riorniente e não executadas até hoje<br />

Mandou intimar um proprietário <strong>de</strong><br />

esta cida<strong>de</strong>, para reparar unia pare<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma casa na rua Direita que confina<br />

com o novo largo, aberto entre a mes-<br />

„ma rua e o Terreiro da Erva.<br />

Auctorisou o concerto d'uma pia no<br />

cemiterio da Conchada, junto á capella.<br />

Auctorisou a mudança <strong>de</strong> tres candieiros<br />

d'illuminaçâo publica na estrada<br />

da Beira.<br />

Resolveu mandar fazer os estudos<br />

necessários para a construcção d'nin<br />

cano d'esgoto entre o bairro <strong>de</strong> Fóra <strong>de</strong><br />

Portas e a parte da rua da rua da Sophia<br />

já canalisada.<br />

Informou 89 proesssos <strong>de</strong> reclamação<br />

ao recrutamento militar do corrente<br />

anno.<br />

Demittiu o chefe interino da repartição<br />

d'obras do município, ouvindo-o<br />

neste acto, ácerca <strong>de</strong> accusações feitas.<br />

Mandou fazer, a pedido d'um proproprielario,<br />

o <strong>de</strong>svio das aguas que se<br />

<strong>de</strong>positam em uma cova junto d'uma<br />

casa na rua n.° 8 da quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz.<br />

Resolveu pedir ao administrador do<br />

concelho o andamento dos processos <strong>de</strong><br />

investigação ácerca <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> bombeiros<br />

e vigias dos impostos, remettendo-lhe<br />

um requerimento <strong>de</strong> diversos contribuintes,<br />

com referencia a serviços do<br />

vigia n.° 6.<br />

Altestou ácerca do comportamento da<br />

professora interina da escola elementar<br />

da freguezia d'Eiras.<br />

Mandou orçar a <strong>de</strong>speza a fazer com<br />

a construcção d'uiu cano d'esgoto na<br />

rua Occi<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> Mont'arroio.<br />

Conce<strong>de</strong>u a exoneração pedida por<br />

Jacinlbo Antonio Dias, do logar <strong>de</strong> fiscal<br />

da montureira.<br />

Deferiu diversos requerimentos —<br />

ácerca <strong>de</strong> acquisiçâo <strong>de</strong> terreno no cemiterio;<br />

transgressão <strong>de</strong> posturas no logar<br />

do Ameal; collocação <strong>de</strong> taboletas<br />

em estabelecimentos particulares na cida<strong>de</strong>,<br />

approvação d'um alçado para ser<br />

levantado um andar em uma casa do<br />

proprietário José Barbosa Lima, na rua<br />

<strong>de</strong> Ferreira Borges, com frente para a<br />

construcção d'uma casa, uo logar das<br />

Casas Novas, freguezia <strong>de</strong> S. Martinho<br />

do Bispo, pertencente a Manoel Mello<br />

Jorge, tomando o proprietário a área <strong>de</strong><br />

3'",45 eiu troca da <strong>de</strong> 4'",0 que ce<strong>de</strong><br />

um incêndio geral <strong>de</strong> voluptuosida<strong>de</strong><br />

clan<strong>de</strong>stina, e ninguém podia ler mão<br />

neste liagello ...<br />

Eis que <strong>de</strong> repente chega uma or<strong>de</strong>m<br />

: um <strong>de</strong>spacho lelegraphico cáe do<br />

céu cômo uma faísca electrica ou o fogo<br />

Sant'Elmo uo mastro gran<strong>de</strong> da fragata.<br />

Dir-se-ia que o diabo levava a fragata.<br />

Tudo <strong>de</strong>sappareceu num momento- Só o<br />

baile se realisou até ao fim. O vento genovez<br />

tomou o partido dos seus compatriotas<br />

; soprou nas velas com a força <strong>de</strong><br />

vinte aquilões colligados.<br />

O marido parte sein a donzelia, sua<br />

mulher. Que diz a isto, senhor ?<br />

— Que realmente é muito curioso,<br />

disse Talormi com um riso contrafeito; e<br />

acrescentou em tom <strong>de</strong> pouco interesse:<br />

E a historia acabou ahi ?<br />

—• Estas historias lambem lê.n fim !<br />

continuou Lorenzino. Eis o que se couta<br />

e que eu posso aílirmar ser verda<strong>de</strong>iro :<br />

Na noite do baile, quando a or<strong>de</strong>m chegou,<br />

conversavam com certi liberda<strong>de</strong><br />

alguns mancebos;—o assumpto prestava-se.<br />

«1£' um inci<strong>de</strong>nte muito feliz»<br />

disse um d'e.les. «E para quem?» perguntou<br />

um parente da noiva. «Ora essa!<br />

Para quem ? Para o uoivo», replicou o<br />

outro «é sempre <strong>de</strong>sagradavel não encontrar<br />

a virtu<strong>de</strong>, quando se procura <strong>de</strong>pois<br />

da meia noite.»<br />

A estas palavras o parente tmou o<br />

partido da noiva; <strong>de</strong>safiou o provocador<br />

ao publico para alargamento da rua do<br />

logar.<br />

In<strong>de</strong>feriu um requerimento <strong>de</strong> Joaquim<br />

Albino Gabriel <strong>de</strong> Mello, para o<br />

pagamento dos seus honorários como<br />

procurador agente do município, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a sua pomeação em 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1892 até 24 <strong>de</strong> março ultimo, em que<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se empregado da<br />

camara.<br />

Tomou conhecimento da correspondência<br />

recebida e registou uma <strong>de</strong>claração<br />

da presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> que os maiores<br />

contribuintes do concelho não reuniram<br />

no dia 8 para eiiitUirem o seu parecer<br />

ácerca da creação <strong>de</strong> 4 partidos médicos<br />

no concelho, e que fóra feita nova<br />

convocação para o dia 17.<br />

Sessão extraordinaria<br />

17 tfubril<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />

d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />

presentes: João Anlonio da Cunha,<br />

João da Fonseca Barata,, Manoel Miranda,<br />

Anlonio José Dantas Guimarães,<br />

elfectivos ; José Corrêa dos Santos, substituto.<br />

Maiores contribuintes presentes^por<br />

virtu<strong>de</strong> da segunda convocação.—Da contribuição<br />

predial:—dr. Francisco Henriques<br />

<strong>de</strong> Sousa Secco, José Maria <strong>de</strong> Seiça<br />

Ferrer, José Maria d'Oliveira Mattos,<br />

Manoel Cabral <strong>de</strong> Moura Coutinho <strong>de</strong><br />

Vilbena e Manoel José da Cunha Novaes.<br />

— Da contribuição industrial: — Augusto<br />

Luiz Marília, Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, David <strong>de</strong> Sousa Gonçalves,<br />

José Guilherme dos Santos e Lino Alberto<br />

Barbosa do Valle.<br />

Ouvidos os maiores contribuintes,<br />

nos lermos da lei, ácerca da creação <strong>de</strong><br />

quatro partidos- médicos no concelho",<br />

votada pela camara na sessão ordinaria<br />

<strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> março, com as alterações feitas<br />

na do 1.° d abril, emiltiram elles o seu<br />

parecer, sendo Ires em sentido favoravel<br />

á creação dos partidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, e sele<br />

em favor do adiamento d'esta medida,<br />

em vista das precarias circunstancias em<br />

que se acha o município ; assignando um<br />

d'estes com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que vota<br />

pela creação immediata dos partidos,<br />

quando se possam sustentar pelas forças<br />

do orçamento, regeitando-os quando seja<br />

necessário crear nova receita.<br />

A GRANEL<br />

Tem sido extraordinário o movimento<br />

no Lazareto, em Lisboa. Numa noite ficaram<br />

alli em cumprimento, <strong>de</strong> medidas<br />

sanitarias, 1:084 quarentenários, proce<strong>de</strong>ntes<br />

dos vapores Malange, Equateur,<br />

Congo, Tamar e Montevi<strong>de</strong>u.<br />

* * * De Loanda queixam-se <strong>de</strong><br />

que na alfan<strong>de</strong>ga d aquella cida<strong>de</strong> se<br />

commettem roubos nas fazendas que entram<br />

nos armazéns liscaes, que não são<br />

seguras.<br />

e bateram se junto da villa di Negro.<br />

Bateram-se bem, segundo se diz, mas o<br />

parente da noiva ficou ferido, porque,<br />

como sabeis, em um duello é muitas vezes<br />

o homem <strong>de</strong> bem. aquelle a quem a<br />

sorte das armas <strong>de</strong>sfavorece.<br />

Talormi, ainda que muito novo, tinha<br />

já a experiencia bastante para não<br />

acreditar tudo quanto lhe diziam; mas<br />

ao mesmo tempo pensou que ha sempre<br />

pelo menos um átomo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> na mentira<br />

mais grosseira : é esse átomo que<br />

se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>scobrir, pois que nada se <strong>de</strong>ve<br />

<strong>de</strong>sprezar.<br />

A hora era conveniente para fazer<br />

uma visita ao palacio <strong>de</strong> Santa-Scala;<br />

Talormi <strong>de</strong>spediu-se <strong>de</strong> Lorenzino, dizendo<br />

lhe :<br />

— Sois uma gazeta viva; ouvir-vosia<br />

com muilo prazer até á noite, mas<br />

esperam no palacio Durazzio, on<strong>de</strong> man<strong>de</strong>i<br />

tirar a cópia <strong>de</strong> duas mirinhas <strong>de</strong><br />

Salvator Rosa para o meu palacio <strong>de</strong><br />

Nápoles. A<strong>de</strong>us.<br />

NJ palacio <strong>de</strong> Sanla-Scala, Talormi,<br />

quando entrou, <strong>de</strong>u ao rosto um aspecto<br />

ausler» c carregado e perguntou se o<br />

príncipe estava vi-ivel. Diu o seu nome<br />

ao creado e ao niísrao tempo, vendo<br />

aberta a porta d» nvmpheu, disse: Vou<br />

para o jardim esperar a resposta.<br />

O nympheu d) palacio <strong>de</strong> Sania-Sca-<br />

U é miravilh >so pela sua graça e pela<br />

sua frescura. A figura <strong>de</strong> uma naia<strong>de</strong>,<br />

* * * Durante o mez <strong>de</strong> março<br />

findo, foram concedidas 105 mercês<br />

honoríficas, sendo 44 a nacionaes e 61<br />

a estranjeiros.<br />

* * # Continuam em Braga, com<br />

a maior activida<strong>de</strong>, os trabalhos para a<br />

insta Ilação da luz electrica, que <strong>de</strong>verá<br />

ser inaugurada na noite <strong>de</strong> S. João.<br />

* * # A camara municipal <strong>de</strong>vora<br />

vae estabeleci r uma exposição permanente<br />

<strong>de</strong> productos agrícolas no palacio<br />

<strong>de</strong> D. Manoel, d'aquella cida<strong>de</strong>.<br />

Ao sr. Bernardo Carvalho<br />

Mudo <strong>de</strong> logar porque não <strong>de</strong>sejo que<br />

a redacção do Defensor do Povo, que<br />

neste inci<strong>de</strong>nte está como Pilatos no credo,<br />

seja solidaria com as minhas caturrices<br />

e com as <strong>de</strong> um meu amigo.<br />

Volla o amigo Bernardo á falia; e<br />

montado no seu cavalio <strong>de</strong> batalha insiste:<br />

que os eleitos <strong>de</strong> 92 não compareceram<br />

á posse porque não foram convidado-.<br />

Depois d'esla afirmação do meu<br />

amigo eu não <strong>de</strong>smenti o tal facto, só<br />

fiz vêr que não podia haver posse quando<br />

a maioria se recusara a acceitar os<br />

seus cargos !<br />

Ora o que digo e disse é que se os<br />

eleitos <strong>de</strong> 92 não tomaram posse e não<br />

receberam o competente officio, foi: no<br />

primeiro caso pela recusa, em resposta<br />

ao officio da presi<strong>de</strong>ncia, dando lhe parte<br />

da sua eleição para os corpos gerentes;<br />

no segundo, apezar da assemblêa geral<br />

os obrigar a aceitar, sob pena <strong>de</strong> multa,<br />

a presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong>clarou haver pedido<br />

particularmente a alguns dos eleitos, mas<br />

que em virtu<strong>de</strong> das primeiras recusas<br />

julgou <strong>de</strong>snecessário continuar.<br />

E em face d'islo a assemblêa <strong>de</strong>cidiu<br />

proce<strong>de</strong>r a novas eleições. Se neste caso<br />

anda nariz <strong>de</strong> cera, não sei—é o que<br />

vejo das actas que tiveram approvação<br />

plena, com a assistência do sr. Bernardo.<br />

Portanto não foram convidados os<br />

que aceitavam a comparecer á posse por<br />

que da leitura das actas se conclue que<br />

não havia maioria.<br />

E em seguida vae a carta que o<br />

amigo Bernardo dirige ao redactor d'este.<br />

jornal.<br />

Pedro Cardoso.<br />

Sr. redactor: —Pasmo <strong>de</strong> vêr como<br />

v. quer <strong>de</strong>monstrar que eu falto á verda<strong>de</strong>,<br />

e como afinal se per<strong>de</strong> nas suas<br />

lucubrações <strong>de</strong> que só aproveita o que<br />

lhe convém.<br />

Julguei que v. jendo-se dado ao trabalho<br />

<strong>de</strong> folhear as actas da associação<br />

viesse dizer tudo, imparcialmente, o que<br />

nellas se contém com relação á malfadada<br />

eleição.<br />

Vejo, porém, que não; v. recortou<br />

muito bem só o que lhe conveio e <strong>de</strong>ixou<br />

no escuro o que lhe não auxiliava<br />

as suas <strong>de</strong>monstrações. Viu v. que eu<br />

e os meus collegas tinham pedido para<br />

sermos dispensados; mas não viu ou não<br />

cercada <strong>de</strong> musgos, lança <strong>de</strong> uma concha<br />

aguas crystallinas em uma larga bacia,<br />

cuja ellipse <strong>de</strong> mármore <strong>de</strong>sapparecc<br />

<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma franja <strong>de</strong> relva e <strong>de</strong><br />

flores. A latada on<strong>de</strong> a vinha se enlaça<br />

com os ramos dos limoeiros apenas <strong>de</strong>ixa<br />

chegar aos bancos do repouso uma<br />

luz crepuscular até nas horas mais esplendidas<br />

do sol do estio.<br />

Debaixo <strong>de</strong> uma magnólia, cujas flores<br />

<strong>de</strong> marfim neste instante pareciam ter<br />

nascido para coroar os seus formosos<br />

cabellos, estava sentada, lendo, uma joven,<br />

que aflagava com a m io direita a<br />

cabeça <strong>de</strong> um enorme cão que se diria<br />

ser o monstro d'est'outro jardim das<br />

<strong>de</strong>speri<strong>de</strong>s. Ao barulho dos passos <strong>de</strong><br />

Talormi, a joven levantou os olhos e a<br />

sua face encantadora coutrahiu-se <strong>de</strong>baixo<br />

<strong>de</strong> uma impressão inexplicável. O cão<br />

não fez ao estrangeiro um acolhimento<br />

dos mais sympathicos; do fundo da sua<br />

garganta sobe uma nota surda, preludio<br />

<strong>de</strong> formidáveis latidos, que uma<br />

mãosinha aiva e soberana reprimiu subitamente<br />

com o auxilio <strong>de</strong> uma reçommendação<br />

feita em inglez: — lie good, Mitry<br />

! — se<strong>de</strong> bom, Mitry I<br />

— Ahi disse Talormi, reconhecendo<br />

Débora, you, speak english very well,<br />

miss Dcbora.<br />

—Nio filio em inglez senão a Mitry,<br />

respon<strong>de</strong>u Débora em italiano ecoiu<br />

uma frieza notável.<br />

quiz vêr que não tendo a assembleia geral<br />

aceitado a nossa recusa nós ficamos<br />

ipso facto sendo os eleitos e como taes<br />

obrigados a tomar posse logo que novo<br />

officio nos convocasse para isso. Ora<br />

como tal officio não appareceu como pô<strong>de</strong><br />

v. dizer que não comparecemos, quando<br />

nós Unhamos necessariamente <strong>de</strong> comparecer<br />

logo que a assembleia geral nos<br />

collocou entre a espada e a pare<strong>de</strong>; isto<br />

é, entre aceitar ou per<strong>de</strong>r os nossos direitos<br />

<strong>de</strong> socios.<br />

Ora, parece que, temio nós em face<br />

d'islo, retirado as nossas escusas, logo<br />

que fossemos avisados para a posse tínhamos<br />

<strong>de</strong> comparecer e se não comparecessemos,<br />

a assemblêa tinha o <strong>de</strong>ver,<br />

por coherencia, <strong>de</strong> nos expulsar <strong>de</strong> socios<br />

conforme o Estatuto.<br />

E' este o ponto da questão e não<br />

vale andar por outros caminhos. Se v.<br />

conseguir affirmar com verda<strong>de</strong> que nós<br />

fomos officiados, estarei calado P resignado.<br />

Diz mais v. que não havia g maioria<br />

para tomar posse.<br />

Pois não ha tal. Ahi vão os nomes<br />

dos indivíduos que aceitaram sem reservas<br />

e os que foram obrigados a aceitar:<br />

De assembleia geral — Augusto José<br />

Gonçalves Fíuo, João Corrêa dos Santos,<br />

Joaquim Ferreira e Bernardo Carvalho.<br />

Aqui só falta um.<br />

Direcção—Augusto Teixeira, Manoel<br />

Duarte Ralha, Pedro Antunes Paulo, Alfredo<br />

Mello. Aqui só faltam tres.<br />

Foi para pedir a estes que se nomeou<br />

uma commissão que não aceitou o<br />

encargo, sendo em vista d'isso auctorisado<br />

o presi<strong>de</strong>nte para lhe officiar a pedir-lbe<br />

para aceitar. Porque se não fez.<br />

Emquanto aos presi<strong>de</strong>ntes dos grémios<br />

todos aceitaram, mas <strong>de</strong>mos <strong>de</strong> barato<br />

que assim não foi.<br />

Já vê, sr. redactor, que continúa a<br />

ser menos correcta a affirmação <strong>de</strong> v.<br />

<strong>de</strong> que nós não comparecemos. Para fazer<br />

uma asserção d'eslas era preciso que<br />

a mesa cumprisse com o seu <strong>de</strong>ver, officiando<br />

para a posse em um <strong>de</strong>terminado<br />

dia e se nós então não comparecessemos<br />

é que po<strong>de</strong>ria dizel-o aifoitamente<br />

e então seriam rasoaveis e justos os reparos<br />

<strong>de</strong> v.<br />

Como porém tal caso se não <strong>de</strong>u e<br />

crendo que v. não lerá duvida em concordar<br />

com a verda<strong>de</strong>, peço-lhe para concordar<br />

em que effectivamente não fomos<br />

convidados para a posse, e que as eleições<br />

foram feitas, segundo proposta da<br />

mesa, approvada pela assembleia geral,<br />

sem que comtudo essa illegalida<strong>de</strong> pasmasse<br />

sem protesto d'alguem.<br />

E' isto o que lhe peço e ultima instancia<br />

e espero da sua hombrida<strong>de</strong> e<br />

honra<strong>de</strong>z <strong>de</strong> caracter que não se recusará<br />

a fazer para bem da verda<strong>de</strong> e para<br />

terminar este inci<strong>de</strong>nte que para nós<br />

só dá incommodo e nada mais.<br />

Sou com subida estima<br />

De v., etc.,<br />

<strong>Coimbra</strong>, 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 .<br />

Bernardo Carvalho.<br />

— E a quem fallaes em francez?<br />

— A ninguém. Estudo essa língua e<br />

quando a souber, faltarei em francez com<br />

toda a gente.<br />

Nesta occasião Talormi entreabriu<br />

uma porta coberta <strong>de</strong> hera e lançou a<br />

vista para uma porta do jardim que elle<br />

mal linha visto e que queria observar<br />

melhor.<br />

Um rápido relance foi baslanle para<br />

lhe dar a conhecer o local com todos os<br />

pormenores.<br />

No jardim <strong>de</strong> Santa-Scala reiua um<br />

adoravel <strong>de</strong>s<strong>de</strong>m pela cultura e pela symelria;<br />

vê-se que o gosto do príncipe o<br />

abandona a todos os caprichos naturaes<br />

da vegetação. As larangeiras, as acacias,<br />

as nespereiras, as arvores da Judêa,<br />

as palmeiras crescem, cruzam os<br />

seus ramos e confun<strong>de</strong>m as suas flores<br />

e os seus fructos, como se <strong>de</strong> um só<br />

tronco, á semelhança do mulliplicante<br />

indiano, sahissem <strong>de</strong> um só germen todos<br />

estes vegetaes <strong>de</strong> tão variados tons,<br />

formas e perfumes A herva fazia ondas<br />

<strong>de</strong> velludo <strong>de</strong>baixo das arcadas d'esta<br />

floresta que se elevava em amphitheatro<br />

e, como 110 jardim Durazzo, chegava<br />

aos telhados do palacio.<br />

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transferi este cargo d'agente da mesma<br />

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Martins, negociante nesta cida<strong>de</strong>, com<br />

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O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.®<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração r— dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

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Com estampilha<br />

Anno WOO<br />

Semestre....<br />

Trimestre...<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

ÍJÍ330<br />

680<br />

Sem estampilha<br />

Anno "... 21400<br />

Semestre.... 1J200<br />

Trimestre... 600


0 quarto Estado<br />

A onda revolucionaria que vae<br />

subindo e se alastra, num crescendo<br />

que aleira a burguezia conservadora,<br />

lem "tomado nos ullimos<br />

annos Ião gran<strong>de</strong> vullo, <strong>de</strong> tal modo<br />

se vae impondo ás allenções <strong>de</strong> todos,<br />

que já ninguém ó indifferenle<br />

ao seu movimento assencional e invasor.<br />

«<br />

A classe proletaria; que atravez<br />

dos> séculos tem vivido esquecida<br />

sempre, e sempre escravisada;;<br />

submettida ora ás oligarcbias feudaes<br />

na servidão da gleba, ora aoi<br />

jugo esmagador da realeza <strong>de</strong>spótica,<br />

ora nesse regimen pseudo-liberal<br />

á escravisação dos Capitães,<br />

sem garantias


ANXO I—X." 89 O D E F E I S O R DO P O V O * <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

C E Y S T A B S<br />

As ondinas<br />

Na praia tranquilla murmuram sonoras<br />

As ondas do mar.<br />

E, ao doce das aguas murmuiio palreiro,<br />

Na areia dormita gentil cavalleiro<br />

A', luz do luar.<br />

As bellas ondinas emergem das grutas<br />

De vivo coral,<br />

Acorrem ligeiras, e apontam, sorrindo,<br />

O moço que julgam <strong>de</strong>véras dormindo<br />

No argenteo areal.<br />

Vem esta, perpassa do gorro nas plumas<br />

As mãos <strong>de</strong> setim.<br />

E aquella, com gesto divino, gracioso,<br />

Nos ares levanta do joven formoso<br />

O áureo telim.<br />

Ess'outra, que lavas, que fogo não vibram<br />

Seus olhos <strong>de</strong> anil 1<br />

Debruça-se e arranca-lhe a rutila espada,<br />

Nos copos brilhantes se apoia azougada,<br />

Travessa e gentil.<br />

A quarta, saltando, retouça, lasciva,<br />

Do moço em redor;<br />

Suspira mansinha, <strong>de</strong> manso murmura:<br />

«Po<strong>de</strong>sse eu em vida gozar a ventura<br />

Do teu fino amor 1»<br />

A quinta rebeija-lbe as mãos, enlevada<br />

Num sonho feliz,<br />

E a sexta, coin tremula e doce esquivança,<br />

Perfuma-lhe a bocca, formosa creança I<br />

Com beijos subtis...<br />

E o moço, fingindo que dorme tranquillo,<br />

Não quer acordar.<br />

E <strong>de</strong>ixa que o abracem as bellas ondinas<br />

E languido gosa caricias divinas<br />

A' luz do luar...<br />

GONÇALVES CRESPO.<br />

LETTRAS<br />

Contos americanos<br />

PROPHIiCIAS El-ECTRICAS<br />

Tome cuidado, doutor, cautella não<br />

lhe quebre alguma coisa, como eu outro<br />

dia fiz ao parisiense ! Os jornaes eléctricos<br />

não se cançarão <strong>de</strong> censurar.<br />

— Oh 1 está muito bem agora, disse<br />

o ouiro medico.<br />

E dirigindo-se a mira: como se sente,<br />

senhor?<br />

— Sinto o cerebro um pouco lúcido,<br />

respondi, mas o que aconteceu? parece<br />

que o capitoiio <strong>de</strong> Washington me caliiu<br />

em cima.<br />

— Está enganado, senhor, esse gran<strong>de</strong><br />

monumento sumiu-se pela terra <strong>de</strong>ntro,<br />

como o pistão d'uma bomba, parece-me<br />

que Ira perto <strong>de</strong> mil annos. O<br />

peso arraslou-o. Tinha <strong>de</strong>ntro um cerebro<br />

<strong>de</strong>masiadamente gran<strong>de</strong>. Ha <strong>de</strong> haver<br />

duzentos annos fizemos <strong>de</strong>senterrar<br />

a coroa da cupula e vêl a-heis em exposição<br />

no nosso museu nacional <strong>de</strong> archeologia,<br />

como um dos mais beilos specimens<br />

da arte primitiva da America.<br />

Aiuda esta manhã tivemos distincloi visitantes,<br />

vindos expressamente da Ethiopia,<br />

gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> civilisaçâo. Manifestaram<br />

um prazer extremo no estudo<br />

dos progressos realisados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período<br />

barbaro <strong>de</strong> 1888 até ao feliz anno<br />

3000, em que temos a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver.<br />

Os viajantes foram fuzilados á chegada<br />

e á partida.. .<br />

— Fuzilados! exclamei com horror.<br />

E falaes <strong>de</strong> civilisaçâo!... V'<br />

— Descance, senhor, disse o doutor<br />

tranquillamente. Comprehendo o seu engano.<br />

Os nossos touristes ethiopios não<br />

receberam tiros, mas vieram á Ncw-York<br />

pelo carro relampago, lançados por uma<br />

arma electrica, como outr'ora uma bala<br />

<strong>de</strong> chumbo. O systeiua é commodo e <strong>de</strong><br />

um uso universai. E' o ruodo <strong>de</strong> transito<br />

mais rápido e bastam dois minutos<br />

para dar a volta ao mundo, comprehen<strong>de</strong>ndo<br />

os refrescamentos — electricos, já<br />

se vê.<br />

Fiquei pensativo alguns segundos.<br />

— Como se sente agora?<br />

— Tudo o que lhe posso dizer, é que<br />

o meu cerebro funeciona regularmente<br />

mas que o meu corpo parece <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

— Ali! Ah ! exclamou o medico com<br />

um arsíuho scientilico.<br />

E voltando-se para o seu collega:<br />

— Os impon<strong>de</strong>ráveis não começaram<br />

ainda a funccionar.<br />

— Sinlo-me exquisilo, continuei eu,<br />

soffro uma impressão singular, como se<br />

eu tivesse sido <strong>de</strong>s... <strong>de</strong>s..,<br />

— Dessecado ?<br />

— Não.<br />

--Ali! eutendo, <strong>de</strong>slocado?<br />

— Não, não! quero dizer <strong>de</strong>, é...<br />

não pusso acabar a palavra.<br />

— Doutor, disse o sábio ao companheiro,<br />

traga-me o Mnémophone, se faz<br />

favor.<br />

Veiu um pequeno iustruraento; collocaram<br />

um fio electrico <strong>de</strong>baixo do pé<br />

da nieza, um outro ao ouvido do massador.<br />

— E' secco que o senhor quéria dizer,<br />

disse o doutor simplesmente, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ler acertado o instrumento.<br />

— E' isso ! exclamei.<br />

— Está bem, continuou solemnemente<br />

o sábio, a verda<strong>de</strong> é que o senhor<br />

foi secco, como diz na sua lingua imperfeita.<br />

Nós dizemos electrisado.<br />

Aborrecidos da vida, pelos fins <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1889, pelo espectáculo das<br />

dissenções politicas d"essa miserável epocha,<br />

tomou o amigo o partido <strong>de</strong> se suicidar<br />

...<br />

— Cautella, senhor, veja o que<br />

diz... não me <strong>de</strong>ixarei accusar.. .<br />

— Emfim, para evitar questões, continuou<br />

o doutor, o gran<strong>de</strong> fundador da<br />

nossa admiravel sciencia,, um cbfuro<br />

sábio d'essé tempo, Theophilo Smith, salvou-vos,<br />

eleclrisando-vos Quarenta annos<br />

mais tar<strong>de</strong>, quando elle <strong>de</strong>u publicida<strong>de</strong><br />

ao resultado das suas maravilhosas<br />

<strong>de</strong>scobertas, Smith <strong>de</strong>ixou por testamento,<br />

o seu corpo com o d'elle, a seus<br />

discípulos. Fizemos reviver o nosso glorioso<br />

Theophilo Smith, ha século e<br />

meio.<br />

Vou apresenlal-io<br />

O doutor chamou: John I<br />

— Em nome do céo, exclamei eu,<br />

não faça tal; elle é capaz <strong>de</strong> repelir a<br />

experiencia.<br />

— Não tenha receio... Nós não violentamos<br />

ninguém, mas eu continuo :<br />

Os discípulos <strong>de</strong> Smith fizeram gran<strong>de</strong><br />

negocio.<br />

Experimentamos o processo com um<br />

especulador <strong>de</strong> terrenos que tinha comprado<br />

por baixo preço uns pantanos, na<br />

esperança <strong>de</strong> os vêr em breve valerem<br />

<strong>de</strong>z vezes mais. O nosso homem não<br />

queria dar-se ao trabalho <strong>de</strong> esperar.<br />

Foi electrisado <strong>de</strong> noite, e acordou só<br />

passados 30 annos, já milionário. Este<br />

exemplo <strong>de</strong>u nome á nova invenção. Todos<br />

os especuladores infelizes, banqueiros,<br />

jogadores <strong>de</strong> bolsa em alta e baixa<br />

etc., acharam em nós uns salvadores.<br />

Neste momento tivemos mais <strong>de</strong><br />

3.000:000 <strong>de</strong> freguezes que dormem o<br />

somno da morte electrica, scientilico e<br />

provisorio, para acordarem um dia com<br />

gran<strong>de</strong>s fortunas.<br />

Este novo ramo da sciencia medica<br />

enriqueceu se com <strong>de</strong>scobertas importantes.<br />

Em resumo: New-York tornou-se o<br />

primeiro centro scientifico, mas da sciencia<br />

applicada ao commercio.<br />

Esfreguei os olhos, maravilhado com<br />

laes novida<strong>de</strong>s.<br />

—Isto admira-o, continuou o doutor.<br />

Mas não é tudo.<br />

Fazer ricos não basta. Nós encontramos<br />

o meio' <strong>de</strong> fabricar o bom senso<br />

por grosso e ven<strong>de</strong>i-o a retalho.<br />

—Oh! Olil Como pô<strong>de</strong> isso ser?<br />

—Nada mais simples. Uma machina<br />

electrica especial recolhe os germens <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ias que andam 110 ar. E' uma das<br />

mais admiraveis inveuções do anno 2998.<br />

Fixamos e incorporamos estes germens<br />

com o extracto conceutrado das obras dos<br />

gran<strong>de</strong>s homens dos tempos antigos.<br />

Este trabalho é feito pelo Ominphon»,<br />

uma outra machina muito curiosa. Depois,<br />

preparada assim a matéria prima é<br />

posta em contado com o gran<strong>de</strong> svmpathico.<br />

Não lemos mais do que fazer funccionar<br />

a bateria electrica, apoiando o<br />

polo positivo ao orgão da memoria. As<br />

cellulas do tecido nervoso recebera os<br />

crespusculos <strong>de</strong> bom senso, que são muito<br />

naturalmente distribuídos pela circulação<br />

em todo o corpo humano. Graças<br />

a esta bella invenção, a loucura, o idiotismo,<br />

a massa politica, o fanatismo puritano,<br />

<strong>de</strong>sappareceram quasi completamente<br />

da nossa gloriosa União Americana.<br />

Os gran<strong>de</strong>s homens díspensamol-os<br />

vivendo todos <strong>de</strong>baixo do mesmo teclo.<br />

Olhei em volta <strong>de</strong> mim e pela primeira<br />

vez vi que as ruas eram cobertas<br />

com céus <strong>de</strong> vidro, alumiados e ventilados<br />

scientilicarnente.<br />

Os transeuntes não tinham pois necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> chapéu, e na multidão, não<br />

vi um único careca.<br />

O meu rosto exprimiu certamente<br />

gran<strong>de</strong> surpreza porque o meu doutor<br />

me disse <strong>de</strong> repente num tom muito sério<br />

:<br />

— Nfo <strong>de</strong>ve vêr tudo ao mesmo tempo,<br />

fatigar-se iá. Antes, é preciso tomar<br />

forças.<br />

Voltou se para o ajudante.<br />

— John. traga o Soupograplie n.° 14.<br />

Dispozeram a machina <strong>de</strong> maneira a<br />

actuar sobre a minha região eju^nstrica,<br />

e senti immediatamenle uma sensação<br />

agradavel, como se tivesse comido um<br />

excellente jantar á franceza.<br />

(Continua).<br />

Jehan Sondan.<br />

O l.° <strong>de</strong> maio<br />

E m Lisboa — A manifestação na<br />

capital consistia essencialmente em prestar<br />

homenagem ao glorioso José Fontana,<br />

que tão salutares exemplos legou da sua<br />

memoria aos operários.<br />

Para essa bem cabida manifestação<br />

adheriram gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associações<br />

que se dirigiram ao cemiterio dos<br />

Prazeres, acompanhados <strong>de</strong> muitos populares.<br />

A multidão é computada em 10:000<br />

pessoas.<br />

Discursaram os srs. Conceição Fernan<strong>de</strong>s<br />

e Azedo Gnecco, que esboçaram<br />

succintamente as virtu<strong>de</strong>s civicas <strong>de</strong> José<br />

Fontana, ineitando-os á lucta.<br />

Foram <strong>de</strong>postas muitas corôas e ramos,<br />

sobresaindo as flores da carreta da<br />

Voz do Operário.<br />

A' 1 hora da tar<strong>de</strong> reuniu-se um comício<br />

que approvou uma representação<br />

ao governo pedindo a egualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas<br />

<strong>de</strong> trabalho para todos os operários<br />

do estado, dos municípios e das indu»trias<br />

particulares.<br />

Faltaram vários operários, pondo em<br />

relevo a justiça da sua reclamação.<br />

A' noite realisaram-se sessões solemnes<br />

em varias associações operarias.<br />

Vários particulares e varias associações<br />

distribuíram bodos ás viuvas <strong>de</strong><br />

operários pobres.<br />

No Porto — Na Serra do Pilar<br />

realisou-se um comício que foi pouco<br />

concorrido, por 3:000 pessoas apenas<br />

Gran<strong>de</strong> apparato policial sendo afinal<br />

tudo feito em boa or<strong>de</strong>m.<br />

Em Setúbal — Houve uma sessão<br />

solemne, em que fallou a sr. a D.<br />

Angelina Vidal, acerca das reivindicações<br />

do 1.° <strong>de</strong> maio, sendo muito vicloriada<br />

Foi lambera distribuído um manifesto.<br />

Esteve <strong>de</strong> prevenção o regimento <strong>de</strong><br />

caçadores 1.<br />

Em Almada — Duas philarmonicas<br />

tocaram a alvorada, ás 5 da manhã.<br />

Realisou-se um comício em que discursaram<br />

muitos operários. A' noite illuminações.<br />

E m Silves — Imponente reunião,<br />

approvando uma representação. Fizerara-se<br />

representar os operários <strong>de</strong> Faro.<br />

E m Peniche — Também em Peniche<br />

se festejou o 1.° <strong>de</strong> maio, havendo<br />

uma procissão cívica ao cemiterio.<br />

Pelo estrangeiro:— Madrid, 2.<br />

— As - manifestações operarias tiveram<br />

era geral caracter pacifico. Barcelona<br />

apresentava o seu aspecto normal. Só<br />

alguns operários fizeram a festa, estando<br />

fechadas as fabricas.<br />

Em Vigo realisou-se um comício, fazendo-se<br />

em seguida um pediiorio a favor<br />

dos operários presos. Em Sevilha<br />

não houve comício nem manifestações.<br />

Em Santan<strong>de</strong>r assistiram muitas mulheres<br />

ao comício alli realisado.<br />

Na região mineira <strong>de</strong> Bilbau 300<br />

operários tentaram impedir outros <strong>de</strong><br />

trabalhar, acudindo a guarda civil, a fim<br />

<strong>de</strong> evitar coacções. Como os operários<br />

resistissem, a guarda civil fez fogo, ferindo<br />

um d'elles.<br />

Madrid, 1. — Acabou agora sem inci<strong>de</strong>nte<br />

algum o comício socialista no<br />

jardim do Buen Retiro Foram pronunciados<br />

violentos discursos contra a burguezia,<br />

e leram-se adhesões dos socialistas<br />

do Paris, Londres, Berlin, Milão e<br />

Bucharest. A concorrência foi numerosa.<br />

Paris, 1. — Em Paris, no termo e<br />

nas províncias, não lem occorrido até<br />

agora nenhum inci<strong>de</strong>nte. Em todos os<br />

centros operários, Lille, Boubaix, Tourcoing,<br />

Sain-Eiienne, Carmaux, Decazeville,<br />

Marseille, Monlluçon, Nantes,<br />

Amiens, Lyon, etc., o dia annuncia-se<br />

tranquillo. Alguns operários guardam<br />

hoje feriado, nomeadamente em Lyon.<br />

A fo'ga é quasi completa em Toulon.<br />

Telegrammas <strong>de</strong> Bruxellas, Roma, Vienna;<br />

Berlim e Londres dizem que estas<br />

capitaes apresentam a sua physionomia<br />

habitual, trabalhando a maior paite dos<br />

operários. Em Londres ha vários comícios.<br />

Paris, 1.—Foi preso na praça <strong>de</strong><br />

Bepublica o <strong>de</strong>putado socialista Baudin,<br />

por incitar o povo a fazer uma gran<strong>de</strong><br />

manifestação.<br />

Em Marselha e Roubaix as municipalida<strong>de</strong>s,<br />

que são socialistas, receberam<br />

numerosas <strong>de</strong>legações <strong>de</strong> operários que<br />

lhes foram apresentar as suas reivindicações.<br />

Paris, 1.—Em Paris, no termo e<br />

nas províncias, não tem occorrido até<br />

agora nenhum inci<strong>de</strong>nte. Em lodos os<br />

centros operários, Lille, Roubaix, Tourcoing,<br />

Saint Etienne, Carmaux, Decazevílle,<br />

Marseille, Montluçon, Nantes,<br />

Amjens, Lyon, etc. o dia annuncia-se<br />

tranquillo. Alguns operorios guar<strong>de</strong>m<br />

hoje feriado, nomeadamente em Lyon. A<br />

folga é quasi completa em Toulon-Tclegrammas<br />

<strong>de</strong> Bruxellas, Roma, Vienna,<br />

Berlim e Londres dizem que estas capilaes<br />

apresentam a sua physionomia habitual,<br />

trabalhando a maior parte dos<br />

operários. Em Londres ha vários comícios.<br />

Paris, 1. — Foi preso na praça da<br />

Republica o <strong>de</strong>putado socialista Baudin,<br />

por incitar o povo a fazer uma gran<strong>de</strong><br />

manifestação.<br />

Em Marselha e Itoubaix as municipalida<strong>de</strong>s<br />

que são socialistas, receberam<br />

numerosas <strong>de</strong>legações <strong>de</strong> operários que<br />

lhes foram apresentar as suas reivindicações.<br />

Londres, 1. — Reinou socego absoluto.<br />

Não houve nenhuma manifestação<br />

ruidosa Nas províncias rebentaram algumas<br />

grèves parciaes.<br />

Vienna, 1.—Realisou-se a manifestação<br />

operaria no Prater. Houve folga<br />

geral, mas sem inci<strong>de</strong>ntes.<br />

Paris, 1. —Tem havido algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

sem imporlancia, elíecluando-se<br />

dive^as prisões, nas proximida<strong>de</strong>s da<br />

Bolsa do Trabalho. O <strong>de</strong>putado socialista<br />

Baudin foi solto já. A camara dos <strong>de</strong>putados<br />

discute sem inci<strong>de</strong>nte os projectos<br />

da sua or<strong>de</strong>m do dia. Varias <strong>de</strong>legações<br />

operarias compostas <strong>de</strong> cinco pessoas são<br />

recebidas no Palacio Bourbon e apresentam<br />

petições em favor do dia normal <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>de</strong> 8 horas.<br />

Pillula dourada<br />

As bases para o contracto do caminho<br />

<strong>de</strong> ferro Quelimane Chire já foram<br />

remmettidas á procuradoria geral da<br />

coroa, acompanhadas <strong>de</strong> umas aclarações<br />

do sr. ministro da marinha, consignado<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que o contracto tenha o caracter<br />

<strong>de</strong> provisorio.<br />

Mo é um nariz.<strong>de</strong> cera, para applacar<br />

os protestos que se esião lavrando<br />

contra este acto anti patriótico e immoral<br />

do referido sr. ministro da marinha.<br />

Bibliographia<br />

<strong>Obra</strong> <strong>de</strong> propaganda socialista, o<br />

Ensaio sobre o socialismo scientifico, <strong>de</strong><br />

Argyriadés, emerito publicista que tanto<br />

se tem <strong>de</strong>votado á obra da solução da<br />

queslão social, é um livrinho que merece<br />

ser lido e estudado. E' um trabalho synthetico,<br />

sem nublações philo.-ophicas, ao<br />

alcance, pois, <strong>de</strong> todas as inlelligenciás.<br />

Estú<strong>de</strong>m-se as questões sociaes que<br />

são estas as questões da actualida<strong>de</strong>, revestidas<br />

d'um interesse palpitante; e<br />

aquelles que não teem educação scientifica,<br />

que lhes permitia o estudo profundo<br />

das lheorias socialistas, estu<strong>de</strong>m nestas<br />

pequenas monographias, que os habilitarão<br />

a comprehen<strong>de</strong>r, em synlhese, as<br />

questões sociaes.<br />

Nlal com Deus...<br />

Parece que não irá para a vaga no<br />

conselho d'estado o notável patuleia,<br />

José Dias. Esta vaga será preenchida<br />

pelo sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ficalho.<br />

Já nem o paço quer esta rica prenda<br />

! Bem se diz — mal com Deus por<br />

causa do Diabo, etc.<br />

Notas d'exilio<br />

É o livro que acaba <strong>de</strong> publicar o<br />

sineero <strong>de</strong>mocrata e erudito escriptor,<br />

sr. José <strong>de</strong> Sampaio (Bruno).<br />

EM SURDINA<br />

Sua magesta<strong>de</strong> el-rei enviou<br />

á Associação dos bombeiros<br />

voluntários uma rica<br />

caixa contendo duas ricas<br />

escovas.<br />

A prenda da magesta<strong>de</strong>,<br />

tão fallada na cida<strong>de</strong>,<br />

- os coramentarios inflamma I<br />

Dizem que aquillo é piada,<br />

uma real brejeirada...<br />

que redunda em epigjamma f<br />

Quando el-rei nos visitou,<br />

quem na borga mais brilhou<br />

com ruídos patriotas...<br />

foi o Zé Povo da bomba<br />

que lhe <strong>de</strong>u vivas d'arromba<br />

puchando-lhe o lustro — ás botas I...<br />

El-rei, que aveza dinheiros,<br />

grato aos nossos bombeiros,<br />

quiz-lhe enviar esta offrenda :<br />

— Duas 'scovas numa caixa 1... —<br />

Se junto não veiu a graxa<br />

p'ro anno manda — a commenda I<br />

PINTA-ROXA.<br />

A questão dos tabacos<br />

Entre o sr. Fuschini ministro da fazenda<br />

e um dos seus collegas lavra<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintelligencia, com relação á<br />

questão dos tabacos," e aflirma-se que<br />

este facto trará ura conflicto serio, mostrando-se<br />

ao paiz, a toda a luz, esta<br />

enorme ladroeira.<br />

Se não for possivel abafar este conflicto<br />

diz-se que a questão dos tabacos<br />

po<strong>de</strong>rá figurar ao lado do já celebre Panamá.<br />

Veremos o que faz o sr. Fuschini.<br />

Urbino <strong>de</strong> Freitas<br />

Acerca da importantíssima diligencia,<br />

que muita luz lança sobre os crimes attribuidos<br />

a Urbino <strong>de</strong> Freitas, conta se<br />

o seguinte:<br />

E' o caso que o <strong>de</strong>legado da l. a<br />

vara soube que etiegára do Brazil, e estava<br />

em Arcos <strong>de</strong> Val-<strong>de</strong> Vez, o sr.<br />

Manoel Bento <strong>de</strong> Brito e Cunha, que era<br />

testemunha importantíssima no processo<br />

<strong>de</strong> Urbino <strong>de</strong> Freitas.<br />

Dirigindo se logo áquella localida<strong>de</strong>,<br />

e interrogado o sr. Cunha, <strong>de</strong>clarou o<br />

seguinte:<br />

Tendo partido do Porto para Lisboa,<br />

com o li01 <strong>de</strong> embarcar para o Brazil,<br />

110 dia 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1890, e indo em<br />

companhia <strong>de</strong> sua esposa e filhos, na<br />

mesma carruagem <strong>de</strong> I . a classe encontrou<br />

um individuo <strong>de</strong> bigo<strong>de</strong>, luneta escura,<br />

chapéu carregado para os olhos e<br />

sobretudo com a golla para cima.<br />

Entabolaram conversação, e o individuo<br />

<strong>de</strong>clarou chamar-se Eduardo da<br />

Motta, e ser lente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

Disse mais levar comsigo uma eucommenda<br />

cora que um amigo <strong>de</strong>sejava<br />

fazer uma surpreza á família.<br />

Em Estarreja ou Aveiro, o <strong>de</strong>sconhecido,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> encher a guia, pediu ao<br />

sr. Cunha que se encarregasse <strong>de</strong>ssa<br />

expedição, ao que elle acce<strong>de</strong>u, recebendo<br />

por isso 300 réis.<br />

Proximo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o chamado Motta<br />

<strong>de</strong>spediu se do sr. Cunha, agra<strong>de</strong>cendo<br />

a sua amabilida<strong>de</strong>.<br />

Ora a encommenda era uma caixa <strong>de</strong><br />

papelão embrulhado em papel grosso, lacrado<br />

a vermelho, e com o en<strong>de</strong>reço<br />

para D. Berta Sampaio, moradora ua<br />

rua das Flores, Porto.<br />

Chegaudo a Lisboa, o sr. Cunha expediu<br />

a cartonagem pelo correio, como<br />

ihe fôra pedido, e <strong>de</strong>pois partira par» o<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. Só mais tar<strong>de</strong> é que<br />

soubera, pelos jornaes, do envenenamento<br />

da família Sampaio, conheceudo então<br />

que fôra cúmplice inconsciente do<br />

criminoso, e ficando logo convencido <strong>de</strong><br />

que o Eduardo Motta não era outro senão<br />

Urbiuo <strong>de</strong> Freitas. E não <strong>de</strong>ra logo<br />

conhecimento d isto tudo a ju-aiça, por<br />

uão po<strong>de</strong>r fazer uma viagem a Portugal<br />

em tal occasião.<br />

Todas estas <strong>de</strong>clarações foram confirmadas<br />

pela esposa do sr. Cunha, e <strong>de</strong>pois<br />

por um seu cunhado e por seu sogro,<br />

que, quando d elle se <strong>de</strong>spediram<br />

em 1890, viram o tal <strong>de</strong>sconhecido ua<br />

carruagem <strong>de</strong> 1 a classe.<br />

Em vista d'isto, 110 sahbado pela manhã<br />

Urbino <strong>de</strong> Freitas, acompanhado pelo<br />

<strong>de</strong>legado, commissano geral e vários<br />

agentes <strong>de</strong> policia, foi aos Arcos, a fim<br />

<strong>de</strong> ser acareado com o sr. Cunha, que<br />

immediatamente o reconheceu como sendo<br />

o seu companheiro <strong>de</strong> caminho <strong>de</strong><br />

ferro, e como o proprio que lhe entre.


ANNO I — M.* 83 O DEFENSOR DO POVO 41 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1S93<br />

gou a caixa das amêndoas para expedir<br />

<strong>de</strong> Lisboa para o Porto.<br />

Urbino <strong>de</strong> Freitas, esse, visivelmente<br />

perturbado, proferiu algumas palavra»<br />

como para se justificar. Mas o sr. Cunha<br />

insistiu no que allegava. Sua esposa<br />

egualmente reconheceu o criminoso.<br />

Telegrammas <strong>de</strong> domingo á noite dizem<br />

que Urbino <strong>de</strong> Freitas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> jantar<br />

nós Arcos, pernoitou no hotel da Boa<br />

Vista, em Braga, guardado por dois<br />

guardas civis portuenses. Dormiu socegadamente,<br />

sendo acordado ás 3 e meia<br />

da manhã para seguir para o Porto, on<strong>de</strong><br />

chegou acompanhado pelo coramissario<br />

geral, <strong>de</strong>legado Pestana da Silva e vários<br />

policias.<br />

Urbino <strong>de</strong> Freitas durante o caminho<br />

conservou o maior sangue frio.<br />

Eram 9 horas da manhã <strong>de</strong> domingo<br />

quando chegou ao Porto, sendo esperada<br />

á porta da ca<strong>de</strong>ia por muita gente.<br />

Ao meio dia, Urbino <strong>de</strong> Freitas realisou<br />

uma conferencia com o seu advogado<br />

dr. Alexandre Braga, conferencia<br />

que durou cerca <strong>de</strong> hora e meia.<br />

O auto das primeiras <strong>de</strong>clarações do<br />

sr. Brito e Cunha, feito pelo tabellíão,<br />

tendo servido <strong>de</strong> testemunhas o presi<strong>de</strong>nte<br />

da camara, parocho, etc., vae ser<br />

enviado ao <strong>de</strong>legado da comarca <strong>de</strong> Arcos<br />

para elle enviar o mesmo auto <strong>de</strong>vidamente<br />

legalisado para o Porto a fim<br />

<strong>de</strong> ser junto ao processo.<br />

Parece que o empregado do correio<br />

<strong>de</strong> Lisboa que <strong>de</strong>spachou a caixa <strong>de</strong><br />

amêndoas e que disse ao juiz do processo<br />

conhecer o individuo que a levara a<br />

<strong>de</strong>spachar, vae ser conduzido aos Arcos,<br />

a fim ser acareado com o sr. Brito e Cunha.<br />

O dito empregado andou acompanhado<br />

do chefe Lopes, por occasião do<br />

summario, procurando esse individuo em<br />

Lisboa e Porto.<br />

A auctorida<strong>de</strong> judicial quiz saber também<br />

se no correio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> existe ou<br />

alguém se lembra ter alli havido uma<br />

carta para Eduardo Motta, que <strong>de</strong>via<br />

conter, segundo as <strong>de</strong>clarações do sr.<br />

Brito e Cunha, as quatro estampilhas <strong>de</strong><br />

25 réis, excesso da quantia que lhe fôra<br />

entregue para <strong>de</strong>spacho da caixa das<br />

amêndoas. Como aqui não po<strong>de</strong>ram informar,<br />

averiguam em Lisboa.<br />

Como se vê, o processo <strong>de</strong> Urbino<br />

<strong>de</strong> Freitas vae provocar novos inci<strong>de</strong>ntes,<br />

e a opinião publica julga o envenenador<br />

absolutamente perdido.<br />

O assumpto do dia são as importantes<br />

<strong>de</strong>clarações do sr. Brito e Cunha.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Hygieiíe publica<br />

E' <strong>de</strong>testável o estado <strong>de</strong> immundicie<br />

em que se conservam algumas ruas<br />

da baixa, on<strong>de</strong> a vassoura municipal mal<br />

toca, e on<strong>de</strong> se faz <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> toda a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos, obrigando o transeunte<br />

a gran<strong>de</strong>s eslorços para conter<br />

os vomitos que lhe produz o cheiro<br />

34 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JÍLÍLLI 1 MICMO<br />

IX<br />

O leão em correrias<br />

Feita a sua observação, Talormi assegurou-se<br />

<strong>de</strong> que a parle superior do<br />

jardim confinava com o caminho publico,<br />

do qual estava separado apenas por um<br />

muro, que os annos, os transeuntes e a<br />

queda das aguas tinham esburacado e<br />

quasi <strong>de</strong>molido.<br />

Tornou a entrar no njmpheti para<br />

abi esperar Santa-Scala e tomou uns ares<br />

<strong>de</strong> botânico, que estuda alguma família<br />

<strong>de</strong> flores.<br />

Veio um creado annunciar que o<br />

príncipe recebia Talormi nos seus aposentos<br />

; e, caminhando a<strong>de</strong>ante, indicou a<br />

escada por on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong> subir o visitante.<br />

Santa-Scala, ao receber Talormi, não<br />

trazia já o vestuário com que se tinha<br />

apresentado a bordo. Era o ecclesiastico<br />

em todo o rigor das vestes sacerdotaes:<br />

— a mo<strong>de</strong>sta sotaina da sarja preta com<br />

o cinto negligentensente atado ao lado;<br />

volta e cabeção; largos sapatos com fivellas;<br />

cumprimentou Talormi, e, offere-<br />

•HE»<br />

nauseabundo que sabem d'aquellas niontureiras.<br />

A policia continua indifferente; passa,<br />

cheira, e não se inconimoda a dar<br />

provi<strong>de</strong>ncias, consentindo que as gaIlinhos<br />

se repastem por essas ruas e heccos,<br />

como se isto fôra uma al<strong>de</strong>ola.<br />

Da parte da camara e do vereador<br />

do pelouro respectivo a mesma inércia.<br />

Nada mais faèil do que regar essas rua*<br />

e beccos, remover toda essa sujida<strong>de</strong><br />

que está prejudicando a saú<strong>de</strong> dos seus<br />

habitantes, mas por is«o que é fácil se <strong>de</strong>ixa<br />

á revelia este pequeno trabalho que<br />

redundaria em beneficio da saú<strong>de</strong>.<br />

Nunca em <strong>Coimbra</strong> esteve tão <strong>de</strong>sprezada<br />

a limpeza das ruas, nem nunca<br />

chegou a tal <strong>de</strong>sleixo a indifferença da policia<br />

pelo que presenceia a todo o pasto:<br />

habitantes pouco escrupulosos fazerem<br />

das ruas' <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> immundicies <strong>de</strong><br />

toda a casta I<br />

A quadra em que vamos a entrar é<br />

perigosa e a não se tomarem quaesquer<br />

provi<strong>de</strong>ncias, nada admira que a saú<strong>de</strong><br />

publica seja assaltada por qualquer epi<strong>de</strong>mia<br />

<strong>de</strong> resultados funestíssimos.<br />

E' preciso atten<strong>de</strong>r a esse assumpto<br />

<strong>de</strong> importancia e <strong>de</strong> urgência.<br />

Audieucias gerne»<br />

Principiaram na sexta feira as audiências<br />

geraes, sendo julgados os seguintes<br />

reus:<br />

28 <strong>de</strong> abril — Francisco <strong>de</strong> Mattos<br />

— Hermenegildo <strong>de</strong> Mattos — Rosaria<br />

<strong>de</strong> Jesus — Ascanio Pereira Machado —<br />

e Antonio S,imões Motta, accusados <strong>de</strong><br />

crime <strong>de</strong> furto. Defeza olliciosa srs. drs.<br />

Cunha Leilão e Gaspar <strong>de</strong> Mattos.<br />

2 <strong>de</strong> maio—José Antonio dos Santos<br />

— José Ferreira — Antonio Ferreira —<br />

Caetano Simões — e Luiz Antonio Diniz<br />

<strong>de</strong> Carvalho, accusados <strong>de</strong> subtracção<br />

fraudulenta. Deleza srs. drs. Vieira e<br />

Gaspar <strong>de</strong> Mattos.<br />

Resultado :—O primeiro reu con<strong>de</strong>mnado<br />

a dois annos <strong>de</strong> prisão; segundo<br />

e terceiro a 6 mezes; quarto e quinto,<br />

ab-olvidos.<br />

Hoje, 5 — Benedicta Maria <strong>de</strong> Jesus<br />

da Silva —e José Augusto, crime <strong>de</strong><br />

prejurio. Defeza sr. dr. Sousa Bastos.<br />

Destacamento <strong>de</strong> cavailaria<br />

Foi retirado d'esla cida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>staca<br />

mento <strong>de</strong> cavallaria 10, regressando ao<br />

quartel, em Aveiro.<br />

Esta transferencia do <strong>de</strong>stacamento<br />

obe<strong>de</strong>ce ás or<strong>de</strong>ns ultimamente dadas<br />

pelo sr. ministio da guerra, que só con<br />

sente sejam mandados <strong>de</strong>stacamentos<br />

para localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> seja preciso manter<br />

a or<strong>de</strong>m.<br />

Aoa interssados<br />

Começou na segunda-feira, na repartjção<br />

competente, o atilamento <strong>de</strong> pesos<br />

e medidas, que <strong>de</strong>vera terminar no dia<br />

31.<br />

• A' Or<strong>de</strong>m»<br />

Com este titulo recebemos um artigo<br />

do sr. A. J. Sacadura, que pelo adiantado<br />

da hora e pela falta <strong>de</strong> espaço só<br />

po<strong>de</strong>mos publicar em o proximo numero.<br />

cendo-lhe uma ca<strong>de</strong>ira, assentou se ao<br />

seu lado.<br />

— Mousenhor, disse Talormi com<br />

modos respeitosos, não quiz <strong>de</strong>ixar<br />

acabar este dia sem apresentar as<br />

homenagens ao honrado irmão da senhora<br />

Van-Rjtter, ao illu-tre auseule cujo nome<br />

e cujo elogio estavam em todas as boccas<br />

na festa <strong>de</strong> honlem.<br />

— E' minha irmã quem se lisongeará<br />

com esta visita, respon<strong>de</strong>u Santa-Scala ;<br />

quanto a mim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> houtem sou iadiflerente<br />

ou estranho aos <strong>de</strong>veres do mundo<br />

; mas, ouvindo pronunciar o seu nome,<br />

sr. con<strong>de</strong>, apresei-me a recebei o, porque<br />

só nos po<strong>de</strong>remos tornar a encontrar<br />

passado muito tempo. Vou receber or<strong>de</strong>ns<br />

<strong>de</strong> diácono ; estarei ausente no convento<br />

dos dominicos duranle quinze dias, que<br />

começam ámanliã, <strong>de</strong>pois vou para Roma,<br />

on<strong>de</strong> lenciono concluir o meu terceiro anno<br />

lheologico no seminário do Vaticano. O<br />

casamento <strong>de</strong> minha irmã quebra todos<br />

os laços, que me prendiam ao muudo:<br />

agora vou-me <strong>de</strong>dicar inleiramente a.cuiri*<br />

prir os <strong>de</strong>veres do meu estado.<br />

— li' feliz, Monsenhor, disse Talormi<br />

em tom <strong>de</strong> convicção, por ter e po<strong>de</strong>r<br />

seguir uma tão santa vocação. O mundo<br />

é bem triste, é um perigoso mar: nós<br />

navegamos ainda e outros, como Monsenhor,<br />

já entraram no porto. Cada dia<br />

traz comsigo uma nova dôr... Esta<br />

manhã saímos d uma festa e esta tar<strong>de</strong><br />

soubemos que tinha corrido sangue...<br />

Theatro D. Luiz<br />

Consia-nos que a direcção d'este<br />

theatro, coadjuvada por um grupo <strong>de</strong><br />

indivíduos d'esta cida<strong>de</strong>, promove a<br />

assignatura para a constituição d'uma<br />

empreza que se proponha a reconstruir<br />

no mesmo local um theatro mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong><br />

construcção ligeira e <strong>de</strong> maiores dimensões.<br />

Para este fim, dizem-nos, vão ser<br />

adquiridos os prédios confinantes, o<br />

que dará suficiente espaço para uma ampla<br />

casa <strong>de</strong> espectáculos, em cuja construcção<br />

interna será empregue o ferro.<br />

Oxalá vá por diante esla i<strong>de</strong>ia e que<br />

os iniciadores consigam obter o numero<br />

<strong>de</strong> accionistas precisos para que <strong>Coimbra</strong><br />

seja dotada com mais esle melhoramento.<br />

Sabemos que a nova empreza <strong>de</strong>seja<br />

uma construcção solida, elegante,<br />

e que faculte ao publico boas commodida<strong>de</strong>s,<br />

e parece-nos que lhe será fácil<br />

obter tudo isto por uma quantia relativamente<br />

inferior se á direcção dos trabalhos<br />

presidir bom senso e economia.<br />

Octávio Lucas<br />

Esla esperançosa creança filho do nosso<br />

bom amigo, sr. José Anlonio Lucas,<br />

acaba <strong>de</strong> ser lapprovado no exame <strong>de</strong><br />

instrucção primaria.<br />

Regosija-nos este facto e porisso enviamos<br />

nos paes do examinando sinceros<br />

parabéns.<br />

Beneficio<br />

E no sabbado que se realisa no theatro<br />

D. Luiz, a recita <strong>de</strong> beneficio para<br />

o camaroteiro d'este theatro sr. Adriano<br />

Monteiro <strong>de</strong> Carvalho.<br />

O programma é attrahente e variado,<br />

representando-se as comedias: A familia<br />

Beserra, O tio Torquato, e Apanhei<br />

as Ires libras; e as cançonetas cómicas:<br />

Os Milagres, pelo sympathico Julio Lopes,<br />

o pequenino actor <strong>de</strong> 9 annos; e<br />

O pisca-pisca.<br />

Na recita tomam parte alguns académicos<br />

e o nosso amigo Francisco Lucas.<br />

As actrizes são do Porto: D. Belmira<br />

Sauguinetti e D. Carlota Velloso.<br />

Commissão distríctal <strong>de</strong> estatiatiea<br />

Como sahiu incompleta a lista dos<br />

membros d'esta commissão, publicamol-a<br />

novamente:<br />

Dr. Autonio Neves Oliveira e Sousa,<br />

governador civil, presi<strong>de</strong>nte; Antonio Franco<br />

Frazão, director das obras publicas;<br />

Arthur Ernesto da Silva Leitão, agronomo;<br />

Joaquim Augusto Rodrigues, veterinário;<br />

João Antonio da Cunha, vereador<br />

da camara municipal; Bacharel Augusto<br />

Eduardo Ferreira Barbosa; Antonio Rodrigues<br />

Pinto; e João Teixeira Soares<br />

<strong>de</strong> Brito, vogues; bacharel Arthur Eduardo<br />

Manso Preto, official do governo civil,<br />

secretario.<br />

Kermesse<br />

Promelte ser uma festa ruidosa, attrahente<br />

e concorrida A Kermesse-Exposição,<br />

promovida pela Associação Humanitaria<br />

dos Bombeiros Voluntários, que, em beneficio<br />

do seu cofre, ha <strong>de</strong> realisar se no<br />

corrente mez <strong>de</strong> maio, nn quinta <strong>de</strong><br />

Santa Cruz.<br />

Os dois pavilhões para as prendas e<br />

para a exposição dos productos industiiaes<br />

-âo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> effeito; o <strong>de</strong>senho é<br />

do hábil artista, sr João Augusto Machado,<br />

a quem foi incumbida a direcção das respectivas<br />

conslrucções.<br />

E' elevado o numero <strong>de</strong> prendas offerecidas,<br />

e muitasfd'i'lla- <strong>de</strong> valor. Para<br />

que se possa marcar o dia da inauguração<br />

<strong>de</strong> tão magníficos festejos, lorna-se<br />

indispensável que as prendas sejam entregues<br />

com urgência.<br />

Conta-se eg(ialm«nte que a pequena<br />

exposição ha <strong>de</strong> ser superior ao que se<br />

espera ; por que alguns commerciantes e<br />

muitos industriaes se preparam para apresentar<br />

nlli os seus artefactos.<br />

É, <strong>de</strong> crer que a próxima Kermesse-<br />

Exposição seja em tudo superior á <strong>de</strong><br />

1889, e que o publico contribua com a<br />

sua cooperação em beneficio d'uma instituição<br />

sympatbica á qual a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />

incontestavelmente bons serviços.<br />

As prendas <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já entregues<br />

para facilmente se <strong>de</strong>signarem os<br />

dias em que a fe?ta <strong>de</strong>verá effectuar-se.<br />

Tourada<br />

E' no domingo, que se realisará no<br />

Colyseu Conimbricence a tourada em beneficio<br />

do ex actor Henrique Prata.<br />

A' praça foram feitas as obras indicadas<br />

e por este motivo a auctorida<strong>de</strong> já<br />

conce<strong>de</strong>u a respectiva licença.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Passa hoje o anniversario do nosso<br />

patrício, sr. Joaquim Auguslo Preces<br />

Diniz, conceituado e bemquisto proprietário<br />

d esta cidado.<br />

<strong>Completa</strong> 70 annos pelo que lhe dirigimos<br />

as nossas sinceras felicitações.<br />

* Está nesta cida<strong>de</strong> o nosso amigo<br />

sr. Fructuoso Santarino.<br />

Movimento eomniereial<br />

Agio—Premio das libras: 900 rs<br />

ouro nacional, 17 ;<br />

Prata já não tem agio.<br />

*<br />

Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />

tremez 560— Milho branco 320 —Dito<br />

amarello 330 — Feijão vermelho 520 —<br />

Dito branco 420 —Dito rajado 320 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 410 —Centeio 440—Cevada<br />

240—Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 — Dito<br />

meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />

Azeite a 1$610.<br />

A GRANEL<br />

Trabalha activamente a commissão<br />

organisada afira <strong>de</strong> fomentar o commercio<br />

dos nossos vinhos e azeites. São importantes<br />

os esclarecimentos que tem obtido<br />

por intervenção dos consoles.<br />

* * # Deixou <strong>de</strong> existir em uma<br />

al<strong>de</strong>ola do concelho <strong>de</strong> Famalicão, uma<br />

mulher que contava 120 annos.<br />

* * * No <strong>de</strong>posilo <strong>de</strong> sulfureto <strong>de</strong><br />

caibonio <strong>de</strong> Oliveira do Hospital ven<strong>de</strong>ram<br />

se no mez <strong>de</strong> março ultimo a diverso»<br />

vitilcutores para o tratamento das<br />

suas vinhas, 4:870 kilogrammas d'aquelle<br />

insecticida.<br />

* * * São orçadas em perto <strong>de</strong><br />

190 contos as economias realisadas pelo<br />

ministério das obras publicas na construcção<br />

<strong>de</strong> novos lanços <strong>de</strong> estradas.<br />

* * * Todos os empregados telegrapho-postaes<br />

po<strong>de</strong>rão viajar em quaesquer<br />

das linhas ferreas com o bónus <strong>de</strong><br />

50 por cento.<br />

* * * Velha usança :<br />

No proximo mez <strong>de</strong> maio os habitantes<br />

<strong>de</strong> Villa Nova <strong>de</strong> Fozcoa, são obrigados<br />

a entregarem á camara municipal<br />

1 ki!o <strong>de</strong> lagartas das amendoeiras.<br />

que um duello terrível... Monsenhor pura cardinalícia, concedida a alguns dos serto que conduz ao muro superior do<br />

<strong>de</strong>rcerlo conhece melhor do que eu o meus antepassados, é para usar da minha jardim. Ahi tomou os ares <strong>de</strong> uin enge-<br />

que a este respeito se passou. ..<br />

influencia no interesse dos <strong>de</strong>sgraçados, nheiro que projecta a aberlura <strong>de</strong> uma<br />

— Sira. Tive noticia d'esse duello dos afflictos e dos proscripto». A purpura trincheira <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> uma praça forte e<br />

por ura creado do marquez di Negro. não honra; é necessário bonral-a.<br />

parecia satisfeito com a sua inspecção.<br />

Tem razão, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi, todas as<br />

alegrias do mundo são em breve enve-<br />

— São nobres essas palavras...<br />

Quem sabe? Talvez eu um dia o imite,<br />

X<br />

nenadas. Feliz <strong>de</strong> quem se retira para<br />

o seio <strong>de</strong> Deus.<br />

— Que duello terrível, continuou<br />

Monsenhor Santa-Scala, respon<strong>de</strong>u Talormi<br />

com um tom e um ar <strong>de</strong> admiravel<br />

composição theatral. E que haveria ahi<br />

A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />

Oarlo-Felioe<br />

Talormi, batendo com as mSbs uma na <strong>de</strong> extraordinário?<br />

Graças ás comrauuicações clan<strong>de</strong>sti-<br />

outra, e diz-se que não se po<strong>de</strong> saber o Tenho um tio em Palerma nas connas estabelecidas entre as casas nobres<br />

move do ferido I<br />

gregações religiosas e um primo auditor ou barguezas pelas creadas indiscretas,<br />

— Sabe-se muilo bem.<br />

da Rota... dois santos prelados. O tinha chegado ao palacio <strong>de</strong> Santa-Seal a<br />

— Ah! Sabe-se?! disse Talormi ne- munrlo é triste, muito principalmente a nolicia do ferimento <strong>de</strong> Paulo Greant.<br />

gligentemente.<br />

o mundo diplomático no meio do qual Dizia se alé que a ponta da espada linha<br />

— Sem duvida; mas é segredo para eu vivo.<br />

sido envenenada por um adversario <strong>de</strong>s-<br />

todo mundo, exceptuando a rainha famí- Quanto vezes <strong>de</strong>pois da uma d'essas leal. Todo o resto di historia era conforlia,<br />

emquanto o negocio estiver sendo <strong>de</strong>cepções Ião frequentes na diplomacia, me com os boatos que corriam no pu-<br />

tratado pela policia.<br />

tenho dito: Refugiemo-nos na montanha blico, que consi<strong>de</strong>rava este duello como<br />

— Muito bem: isso é muito pru<strong>de</strong>n- e <strong>de</strong>ixemos a cida<strong>de</strong> aos homens, com uma reparação á honra da senhora Vante...<br />

A liual-que importa o nome? li' as suas astúcias, as suas <strong>de</strong>sconfianças, Riiter. O que o mundo diz é sempre ca-<br />

á <strong>de</strong>sgraça que <strong>de</strong>vemas atten<strong>de</strong>r... as suas falsas alegrias e com as suas racterisado por esta mistura dá verda<strong>de</strong><br />

Uma fesla tão sumptuosa !...<br />

dores verda<strong>de</strong>iras!<br />

com a mentira.<br />

Depois, o con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi, levan- Mas os laços da carne são muito A doença <strong>de</strong> Paulo Gréant introduz<br />

tando os olhos, continuou :<br />

(orles; hesito, vacillo e odio a minha neste período da tussa historia um longo<br />

— O senhor Sarita-SoaU tmnni o transformação... A<strong>de</strong>us, Monsenhor, ro- entremez. Talormi fez duas visitas e villa<br />

melhor partido. Na Italia é preciso pergo-lhe que faça os meus cumprimentos di Negro, ou<strong>de</strong> foi recebido friamente, não<br />

tencer ao alio clero 'para ter credito e á senhora Van-Ritter. Na terra ou no lhe fallando ninguém no duello <strong>de</strong> Paulo<br />

consi<strong>de</strong>ração.<br />

ceu ha <strong>de</strong> haver um mun lo melhor, on<strong>de</strong> Gréant.<br />

— Senhor con<strong>de</strong>, disse Santa-Scala, nos tornaremos a ver.<br />

a consi<strong>de</strong>ração e o credito são apenas Talormi <strong>de</strong>sceu a escada com gravi-<br />

vãs pompas do mundo; que coniludo é da<strong>de</strong>, cortejou um creado que lhe abriu<br />

necessário adquirir para fazer o bem e a porta e quando este se fechou, subiu<br />

servir o proximo. Se ambiciono a pur- cora um passo apressado o caminho <strong>de</strong>-<br />

Impresso na T/pojfaplil»<br />

Operaria — Largo da Freiria n.*<br />

li, proximo á rua dos SapaHiaos, —•<br />

COIMBRA.<br />

CONVITE<br />

A Associação Humanitaria dos Bombeiros<br />

Voluntários <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, confia<br />

em que o seu pedido <strong>de</strong> prendas para a<br />

Kermesse lia<strong>de</strong> ser tomado em consi<strong>de</strong>ração<br />

pelas gentis damas e cavalheiros a<br />

quem se dirigiu para esse fim; e lhes<br />

solicita a elevada fiu-tú da entrega e<br />

remessa das mesmas prendas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

já se recebem, até ao dia 10 do proximo<br />

mez <strong>de</strong> maio.<br />

<strong>Coimbra</strong>, abril <strong>de</strong> 1893.<br />

O presi<strong>de</strong>nte,<br />

Augusto José Gonçalves Fino.<br />

Prevenimos os nossos<br />

estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />

fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

vamos principiar a cobrança<br />

das suas assignaturas relativamente<br />

ao 2.° semestre.<br />

Aos que não tiverem pago<br />

o 1." semestre enviamos<br />

recibos do anno completo.<br />

Pedimos a todos o obsequio<br />

<strong>de</strong> pagarem logo que<br />

lhes seja apresentado o recibo<br />

ou mandarem pagar<br />

ás respectivas estações do<br />

correio quando receberem<br />

aviso, aíim <strong>de</strong> se evitar a<br />

<strong>de</strong>volução, que, além do<br />

prejuizo que nos causa, embaraça<br />

a boa regularida<strong>de</strong><br />

da nossa administração.


AVMO I — W.* 88 O DEFE^oR DO POVO 4 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 18»3<br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha ..,<br />

Repetições .<br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %><br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

ARRENDAMENTO<br />

114 & rrendn ie do proximo S.<br />

Miguel em diante os altos<br />

d'uma casa sita aos Arcos do Jardim,<br />

n.° 52, on<strong>de</strong> actualmente habita o ex. m °<br />

sr. Lucena, engenheiro.<br />

Tem commodos para uma numerosa<br />

familia.<br />

Quem preten<strong>de</strong>r pô<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r-se<br />

com Bernardo Antonio d'01iveira, rija<br />

dos Sapateiros, 114.<br />

113 | í 'j e e l l a r w 80 publico e em es-<br />

JLI [ pecial a lodos os senhores que<br />

tem os seus prédios seguros contra incêndio<br />

na Companhia União, <strong>de</strong> Madrid,<br />

com se<strong>de</strong> e administração na cida<strong>de</strong> do<br />

Porto, e cujos seguros se realisarão neste<br />

cida<strong>de</strong> para minha intervenção, que do<br />

commum acordo com a referida direcção<br />

transferi este cargo d'agente da mesma<br />

companhia para o ex. mo sr. Joaquim Maria<br />

Martins, negociante nesta cida<strong>de</strong>, com<br />

com estabelecimento na rua do Viscon<strong>de</strong><br />

da Luz <strong>de</strong> louças e crystaes n. os 82, 84<br />

e 86, on<strong>de</strong> os segurados nesta companhia<br />

po<strong>de</strong>rão pagar os prémios dos seus<br />

seguros e o publico concorrer a realisar<br />

outros que pretendam.<br />

<strong>Coimbra</strong> 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1&93.<br />

Antonio Joaquim Valente.<br />

Administração rua <strong>de</strong> Ferreira Borges,<br />

29 — 1.°.<br />

Q U A M t p f S<br />

Últimos mo<strong>de</strong>los para 1893.<br />

Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />

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da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />

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e condições eguaes aos da fabrica.<br />

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fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />

20<br />

2 A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />

J\ e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />

nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />

Completo sorlido <strong>de</strong> oorôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />

<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças douradas<br />

para adultos e crianças.<br />

Continua a encarreg ir-se <strong>de</strong> fjjneraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />

PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />

Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />

Capital 2.000:000^000 réis<br />

Agenda em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, V<br />

K EIIM -TAGUS<br />

FUNDADA EM 1877<br />

CAPITAL<br />

RÉU 1.300:000^000<br />

FUNDO DE RESERVA<br />

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Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />

mobílias e estabelecimentos<br />

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93<br />

Praça do Commercio n.° 11 — f.°<br />

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Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />

tirando os melhores resultados<br />

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DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />

DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo Jf Comp.* — Largo do Corpo<br />

Santo; José Pereira Bastos— Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />

Calçada do Comhro 48.<br />

B I G T G L E T A ^<br />

ANTONIO JOSÉ ALVES<br />

101—Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />

COIMBRA<br />

E<br />

»ta casa acaba <strong>de</strong> receber um<br />

explendido sortido <strong>de</strong>Bicycle-<br />

tes dos primeiros auctores, como é Humber,<br />

Durkopp Diannas Clement — em<br />

borrachas ôcas.<br />

A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />

Torrillon.<br />

Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />

vir, e já tem á venda, Bicycletes<br />

Quadranl que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />

mais baratos; pois esta machina tem sido<br />

vendida por 120$000 réis ao passo que<br />

esta casa as tem a 110^000 111<br />

Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />

amadores. i<br />

ESTAÇÃO DA MODA<br />

D0M1N60S JOSÉ SOMES<br />

SUCCESSOR DE CALDAS DA CUNHA<br />

Acaba <strong>de</strong> chegar a esta casa o seguinte:<br />

Chapéus capotes e redondos para<br />

senhora.<br />

Chapéus para creança.<br />

Boinas o que ha <strong>de</strong> mais chic.<br />

Voiles em differentes côres.<br />

Fazendas para vestidos.<br />

Capas romeiras o que ha <strong>de</strong> mais<br />

novida<strong>de</strong>.<br />

Camisas <strong>de</strong> exford etc., etc.<br />

Lindíssimos cortes <strong>de</strong> vestido em<br />

escocer a 4$000 réis.<br />

Enviam-se amostras a quem as pedir.<br />

111 — R. <strong>de</strong> Ferreira Borges — 113<br />

COIMBRA<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

53 ík llg|l>tto Nunea ds« San-<br />

SL to», successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong>' instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seusí accessorios.<br />

RUA DIREITA, 18-COIMBRA<br />

110 M e n , l e - s e ura P' an0 c o m pouco<br />

W uso, e <strong>de</strong> -boa qualida<strong>de</strong>.<br />

Quem o perten<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> vel-o a toda a<br />

hora na rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz n.° 59.<br />

105<br />

l U i m p UUIMVO<br />

MARCA «ANCORAS»<br />

en<strong>de</strong>-Ne no estabelecimento<br />

<strong>de</strong><br />

JULIO DA CU MH A FIMTO<br />

74, Rua dos Sapateiros, 80<br />

A preto e a côres<br />

i-se na<br />

TYP. OPERARIA<br />

COIMBRA<br />

JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />

20 —Rua do Sargento-Mór — 24<br />

8 M ° " e u ant '§° estabelecimento<br />

l i concerlam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portugueza,<br />

pelos seguintes preços:<br />

Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />

réis. Guarda-sol para senhora, 1#700<br />

réis. Sombrinhas para ditas, 1$500 réis.<br />

Ill M e n * l e - e , e uma quinta com paúl<br />

W para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />

no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />

Para tratarem com a sua proprietária<br />

D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />

Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />

O DEFENSOR DO POVcT<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.®<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

KOIXOR,<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Com estampilha Sem estampilhe<br />

Anno 21700 Anuo 2#400<br />

Semestre WSO Semestre aijSOO<br />

Trimestre... 080 Trimestre... 600


0 po<strong>de</strong>r pessoal do rei<br />

A polilica dos nossos dias vaese<br />

accentuando num sentido que<br />

revela uma linha <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r claramente<br />

traçada e precisamente <strong>de</strong>finida—<br />

a direcção suprema dos<br />

negocios públicos entregue, ao rei.<br />

'No regimen politico em que<br />

vivemos, na índole do systema constitucional<br />

que nos governa, o rei<br />

não representa mais do que um<br />

symbolo, e a sua acção polilica não<br />

passa d'uma ficção; é um irresponsável<br />

sentado num throno, simples<br />

chancella constitucional para os<br />

actos dos governos—assigna o que<br />

se lhe põe diante; dá foros <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong>,<br />

com uma palavra, a documentos<br />

que nem lê; hoje referenda<br />

um diploma, ámanhã outro que <strong>de</strong>stróe<br />

aquelle; fluclúa, emfim, ao sabor<br />

da facção polilica que necessariamente<br />

se faz representar no ministério.<br />

Assim tem sido alé hoje e assim<br />

<strong>de</strong>veria continuar a ser, para os<br />

negocios do Estado não estarem<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos reaes caprichos<br />

d'um homem sem conhecimento<br />

dos interesses públicos, sem aptidões<br />

alcançadas num longo labutar<br />

nos meandros da politica e da<br />

administração, sem auctorida<strong>de</strong>,<br />

portanto, para dirigir a vida activa<br />

do Estado.<br />

Entrámos, porém, ultimamente<br />

numa nova phase caracteristicamente<br />

opposla ao*s princípios da<br />

sciencia politica e ainda aos ensinamentos<br />

da pratica; a velha fórmula<br />

que <strong>de</strong>fine a íuncção do rei<br />

constitucional — o rei rema mas não<br />

governa,—mo tem já applicação<br />

entre nós.<br />

O que se passou na formação<br />

do gabinete actual todos o sabem;<br />

o presi<strong>de</strong>nte do conselho, encarregado<br />

<strong>de</strong> formar gabinete, não pou<strong>de</strong><br />

orienlar-se nem pelas indicações<br />

parlamentares, que era o menos,<br />

nem pelas indicações da opinião,<br />

que era o mais importante — teve<br />

<strong>de</strong> se submetler ás indicações do<br />

paço; o sr. Fuschini, todavia dizem,<br />

ibi indicado pelo rei para ministro<br />

da fazenda — mas teve <strong>de</strong> ir ao palacio<br />

<strong>de</strong> Belem penilenciar-se <strong>de</strong><br />

certos peccados, fazer profissão <strong>de</strong><br />

fé, beijar a mão ao rei pelo favor<br />

anciado e concedido. A phrase lypica<br />

do chefe do Estado quando se<br />

organisou o actual ministério—é a<br />

ultima experiencia, <strong>de</strong>pois sei o que<br />

me resta fazer, — isto pouco mais<br />

ou menos, não esqueceu ainda; e<br />

,que o paço prepon<strong>de</strong>ra no andamento<br />

do gabinete, muitos factos<br />

ha que o <strong>de</strong>monstram.<br />

E ainda recentemente, um outro<br />

facto o comprova.<br />

No Diário do Governo, <strong>de</strong> 4, foi<br />

nomeado conselheiro <strong>de</strong> Estado o<br />

sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ficalho, na vaga <strong>de</strong>ixada<br />

110 conselho <strong>de</strong> Estado pelo<br />

fallecimenlo do marquez <strong>de</strong> Ficalho.<br />

Esta nomeação, que parece muito<br />

simples e sem consequência, é<br />

altamente symplomalica.<br />

Os logares <strong>de</strong> membros do conselho<br />

<strong>de</strong> Estado lem sido dados<br />

sempre áqaelles, que, na politica<br />

e na administração tem feito as suas<br />

BI-SEMÍOSÁRIO REPUBLICANO<br />

provas, se teem revelado conhecedores<br />

dos negocios do Estado, capazes<br />

'<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar com critério<br />

as atlribuições que ao conselho <strong>de</strong><br />

Eslado são inherentes.<br />

Não vale a, pena discutir aqui<br />

se o conselho <strong>de</strong> Eslado lem razão<br />

<strong>de</strong> existir. Basta conslatar o facto<br />

<strong>de</strong> lhe/serem próprias atlribuições<br />

pon<strong>de</strong>rosas, que requerem aptidões<br />

especialíssimas, e que lem sido<br />

praxe seguida nomear para elle estadistas<br />

<strong>de</strong> mérito comprovado e tíe<br />

capacida<strong>de</strong> reconhecida.<br />

Não seallen<strong>de</strong>m, porém, agora<br />

a estes requisitos; o ar. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ficalho não é um esladiSla, nem<br />

um politico, nem se revelou ainda<br />

na administração publica; é simplesmente<br />

um mordomo do Paço,<br />

um fidalgo <strong>de</strong> cumarilha,um;privado<br />

do rei; e foram -estas simplesmente<br />

as qualida<strong>de</strong>s que o recommendaram.<br />

Yê-se, pois, que o sr. D. Carlos<br />

se vae ro<strong>de</strong>ando <strong>de</strong> apaniguados escolhidos<br />

por si; governa e governa<br />

a valer, sob pallialivos por etiiquanlo,<br />

mas em breve o havemos <strong>de</strong> ver<br />

ás claras a fazer o seu governo pessoal.<br />

Serão algumas goltas <strong>de</strong> sangue<br />

do sr. D. Miguel <strong>de</strong> Bragança,<br />

<strong>de</strong> saudosa memoria, que porventura<br />

correm nas regias veias do monarcha?<br />

Rei absoluto, o sr. D. Carlos!...<br />

E afinal, entre nós tudò po<strong>de</strong><br />

ser...<br />

Inspecção das matrizes<br />

A. commissão nomeada pelo sr. ministro<br />

da fazenda para proce<strong>de</strong>r nos diversos<br />

districtos á inspecção dos prédios<br />

está luctando com mil difficuldadçi que<br />

se llte teem levantado no cumprimento<br />

d'este serviço,<br />

Alem da má vonta<strong>de</strong> d'un», das difficiencias<br />

<strong>de</strong> informações d'outros, o ministério<br />

da fazenda mandou abonar nos<br />

presi<strong>de</strong>ntes das commissões gratificações<br />

inferiores ás que recebiam nra commissão<br />

geo<strong>de</strong>sica a que pertenciam. Por este»<br />

motivos parece que se dissolverão aquellas<br />

commissões; e d'este modo ficará o<br />

governo privado das informações indispensáveis<br />

para a verificação dos prédios<br />

sonegados ás niatrizes e ainda d'aquelles<br />

que nellas andam com um rendimento<br />

insignificante.<br />

A idêa do sr. Fuschini, indiscutivelmente<br />

boa, está prestes, pois, a gozar-se.<br />

E continuarão assim os endinheirados,<br />

prepotentes, especie <strong>de</strong> régulos locaes<br />

com um rendiment.fr collectavel insignificante,<br />

e a fazenda continuará a ser <strong>de</strong>fraudada<br />

como até aqui. ..<br />

Crise ministefial<br />

Parece positivo que o sr. Bernardino<br />

Machado sairá do ministério das obras<br />

pflMM&j»**'* *** »í»»«|í , »'»»idi»B<br />

E' assim ; <strong>de</strong>item fóra os <strong>de</strong> valor e<br />

substituam-os pelos inúteis.<br />

Entrará para substituir o ir. Berhardino<br />

Machado o galante Carlos Valbom,<br />

lia tanto tempo á bica pará qualquer<br />

pasta ?<br />

Bom será que assim seja para que o<br />

gentil também entre por sua vez.<br />

cba<br />

E' pagar...<br />

As contribuições <strong>de</strong> registo e sfello<br />

vão ser, parece, augmentadas em mil<br />

contos <strong>de</strong> réis...<br />

Não <strong>de</strong>scancem, que ao canlo da arca<br />

do trabalhador talvez ainda haja algumas<br />

mealhas. Levem o resto, se ainda o<br />

ha...<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Entre nós<br />

O 1.° <strong>de</strong> maio passou socegadamente,<br />

cordatamente, apenas com a nota ridiculamente<br />

burlesca que as auclorida<strong>de</strong>s<br />

imprimiram a 40 cavallos e 200 praças<br />

d'infaúteria, <strong>de</strong>stacadas para o comicio<br />

operário <strong>de</strong> Villa Nova <strong>de</strong> Gava.<br />

A auctorida<strong>de</strong> visivelmente bronca<br />

d'espirilo, não comprehen<strong>de</strong>u ainda que<br />

o operariado portuguez poz <strong>de</strong> parlé,<br />

nas manifestações d este dia, os meios<br />

<strong>de</strong> violência adoptados tá lóra; não percebem<br />

ainda que o proletariado, aqui,<br />

mé<strong>de</strong> no 1.° <strong>de</strong> maio as suas fbrças, lavra<br />

o seu.,protesto sensato e ipacilico, .e<br />

procura affirmar a união que hiais tar<strong>de</strong><br />

o ha <strong>de</strong> fortificar, quiindo a lucla se<br />

trave a sério.<br />

E' apenas uma syudicancia dfe forças;<br />

não é uma provocação em altitu<strong>de</strong><br />

hostil —por isso o comicio se réalisou<br />

na nlelhor or<strong>de</strong>m, por Isso a força publica<br />

foi morta á troça, á gargalhada,<br />

dando-nos a impressão alegre d um <strong>de</strong>stacamento<br />

d'opera-comica, ensaiado a capricho<br />

pelo talento do actor Taveira.<br />

Às nossas aiictorida<strong>de</strong>s temiam a<br />

Itydra; conslava-lhes que se iprojectava<br />

qualquer coisa em Villa Nova <strong>de</strong> Gaya,<br />

que a Serra do Pilar, o étóluartfe do<br />

cêrco, seria o reducto dos revoltosos, e<br />

vae d alii, previ<strong>de</strong>nte como sempre, zelosa<br />

como tem por habrta e costume,<br />

mandou que o clarim soltasse aos quatro<br />

ventos o toque <strong>de</strong> recolher, e que<br />

as tropas ficassem em quartéis no 1.°<br />

<strong>de</strong> nÚM*t»g$9q tsA »up odlnl uiu%<br />

... E ficaram.<br />

E a coisa não rebentou;.. — potqute<br />

o movimento <strong>de</strong> protesto lia <strong>de</strong> explosir<br />

espontaneamente, subitamente, sem que<br />

o esperem, sem que o adivinhem, sem<br />

prevenções «JMJ o contenham, e sem<br />

bayoncia* que lhe tolham a passagem.<br />

Ha <strong>de</strong> irromper coao um clarão do<br />

sol, vihránte e límpido, cortando a treva<br />

numa irradiação fulgeulissima 1<br />

Não havera cano <strong>de</strong>ípingarda que<br />

alveje o coração do povo, quando d'abi<br />

se erguer, como um gran<strong>de</strong> clamor, o<br />

grilo da emancipação dos que soíírem ha<br />

muita, tios tj«e arrastam á vida utóre a<br />

miséria e a fome, os pés rolos nas pedras<br />

tios caminhos, olhar em iahgue,<br />

a fronte em febré, o olhar incendiado<br />

por um raio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo 1 Caminham ha<br />

muito sem conforto, sem pão, sem lagrimas<br />

já!<br />

Ha <strong>de</strong> chegar o dia, por cèitó, em<br />

que b bando hasteie a ban<strong>de</strong>ira côr <strong>de</strong><br />

sangue, em nome dos martyres do trabalho<br />

e das creanças famintas I<br />

E nésse dia da regeneração sõtial<br />

não s^rá occasião opporluna para operetas<br />

que nieltam a ridículo a fcotaparsaria<br />

da municipal...<br />

-und 9)9l«-J8i


AJSJSO I — 8 4 O DEFEMSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

CRYSTAES<br />

Conchas<br />

Aquelle que procura neste mundo<br />

Um puro amor, sem macula, parece<br />

0 pescador <strong>de</strong> pérolas que <strong>de</strong>sce<br />

Nas aguas ver<strong>de</strong>s d'aigum mar profundo.<br />

Para saciar a phantasia ar<strong>de</strong>nte<br />

E as suas loncas ambições fidalgas,<br />

Tem <strong>de</strong> baixar á região das algas<br />

On<strong>de</strong> se obriga a concha reluzente I<br />

Mas, arrancando a peregrina joia.<br />

Esmaga a concha porque já não brilha...<br />

Mãe <strong>de</strong>sgraçada I abandonou-te a lilha-. •<br />

E o teu cadaver sobre as aguas boia 1..<br />

O' companheiras boas <strong>de</strong>licadas,<br />

Da nossa vida amargurada e cérula I<br />

Vós sois ao mesmo tempo a doce pérola<br />

E as infelizes conchas esmagadas 1<br />

JOÃO SARAIVA.<br />

LBTTRAS<br />

Contos americanos<br />

rROPHEClAS ELECTItICAS<br />

— Em breve lhe daremos algum repouso<br />

electrico-^ o que os barbaros <strong>de</strong><br />

1889 na sua lingua rudimentar chamavam<br />

somno. Depois, leval-o-hemos a<br />

uma visita á nossa bibliotheca scientiíica,<br />

on<strong>de</strong> encontrará ,1.500.000:000 volumes<br />

á sua disposição.<br />

— Oh! Oh I doutor, doe-me já a<br />

«-•cabeça <strong>de</strong> tantas commoções.<br />

— Paciência! disse o meu cicerone<br />

com um amavel sorriso. Não terá o trabalho<br />

<strong>de</strong> lêr. Isso era bom no seu tempo<br />

! Hoje não se usa.<br />

Dois pequenos instrumentos combinados,<br />

o ophtalmolographo e o mnémotypo<br />

transcrever-lhe-hão em cinco minutos<br />

no cerebro, pelos olhos, o conlheudo <strong>de</strong><br />

todos os livros, á sua escolha. O processo<br />

é infallivel e garantido por 5 annos,<br />

custando cinco dollars. . •<br />

—-Doutor; perguntei <strong>de</strong>pois d'um<br />

momento <strong>de</strong> reflexão, eu em 1889, era<br />

jornalista, conservei d'esle officio hábitos<br />

<strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>: quaes são as pessoas<br />

que compram assim i<strong>de</strong>ias e senso<br />

commum a peso ?<br />

— Todos vêem pedir-nôs a especialida<strong>de</strong><br />

que os interessa e..><br />

- Entrou um hom cm no atelier do<br />

i<strong>de</strong>iophone, e a sua cabeça sahiu cheia<br />

como um balão.<br />

. . ->— Doutor, doutor, diga-me se com<br />

toda a sua sciencia, este homem será<br />

mais feliz xjue os do meu tempo? Vejamos,<br />

o doutor acha este exercício commodo<br />

?<br />

— Oh! este homem é doido, seccamól-o<br />

<strong>de</strong>pois da gran<strong>de</strong> revolução politica<br />

<strong>de</strong> 1920. Acabava <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r as eleições<br />

para presi<strong>de</strong>nte dos Estados-Uniilos.<br />

Acredita que nós ainda gostaríamos <strong>de</strong><br />

vêr semelhantes velharias e veiu encher<br />

a cabeça <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. Pobre homem! Está<br />

persuadido que é preciso intelligencia<br />

pára ser presi<strong>de</strong>nte.<br />

— Doutor, trataes com o espirito e<br />

os musculos com maneiras que me paíèlíéírt<br />

estranhas:<br />

' ' — Mancebo, não espere penetrar repentinamente<br />

o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas<br />

que levaram líecntos. Vou dar-vos ainda<br />

dois ou tres indicações, e <strong>de</strong>ixal-o-hei em<br />

seguida entregue a si mesmo. Eis aqui<br />

o atelier medico: renunciámos ás drogas.<br />

Collòca sé uma perna, um braço,<br />

um estomago, um íigadò novo, aquelles<br />

que têm estes membros ou estes orgãos<br />

doentes.<br />

Os médicos são carpinteiros, marceneiros<br />

do corpo.<br />

— Qiíe blaèphemia !<br />

— Socegue. Comprehendo que por<br />

meio das machinas scientificas, os cerebros<br />

<strong>de</strong> lodos os homens são eguaes,<br />

pelo tíaeíios no que respeita a conhecimentos.<br />

Os gran<strong>de</strong>s homens já não existem<br />

. /fstiffi^^Qínêns nréts uteís d'hoje<br />

são os machinistas e os engenheiros; quer<br />

dizer 6s qfue são capazes <strong>de</strong> nos fazer 8;<br />

vida mais scienlilicamente agradavel,<br />

mais confortável e que lhe po<strong>de</strong>m prolongar<br />

a duração. A sciencia morreu <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ter esgotado todos os conhecimentos^<br />

combinações. Resta a imaginação<br />

<strong>de</strong> cada um; mas ha já um meu<br />

collega que trabalha numa machina para<br />

manufacturar a imaginação como se fa-<br />

brica qualquer outra coisa. Duvido todavia<br />

que elle consiga bons resultados.<br />

As i<strong>de</strong>ias, para nós, são combinações <strong>de</strong><br />

acção mechanica e não tem nada que<br />

vêr com os productos verda<strong>de</strong>iros da<br />

imaginação. Esta, assim como a emmoção<br />

é produzida pela machina humana.<br />

Como se ha <strong>de</strong> construir uma machina<br />

d'enimoção? Uma coisa pelo menos é<br />

certa: é que nós somos' felizes, o que<br />

não podiam dizer os seus contemporâneos.<br />

— Mas, diga me, doutor, o amor!...<br />

— O amor! Ha perlo <strong>de</strong> 900 annos,<br />

manccbo, que as pessoas <strong>de</strong> senso e os<br />

cidadãos verda<strong>de</strong>iramente livres d'esta<br />

republica scientilica, estão para sempre<br />

livres d'uma tal puerilida<strong>de</strong>. Custa nos<br />

hoje a. comprehen<strong>de</strong>r que a Humanida<strong>de</strong><br />

durante tantos séculos, gastasse o tempo<br />

com semelhante bagalella. Lendo no<br />

cerebro e no coração da mulher, o ho<br />

mem livrou-se <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>sejos, e reciprocamente.<br />

E uma das mais admiráveis<br />

<strong>de</strong>scobertas, pêlos seus resultados,<br />

que o nosso glorioso periodo ' electrico<br />

produziu, porque, supprimiudo o amor,<br />

salvamos um tempo precioso para os<br />

progressos das experiencias scientiíicas.<br />

Entretanto alguns retardatarios, gente<br />

do seu século, quasi todos habitantes<br />

do que oulr'ora se chamava a bella<br />

França, e que foram como o senhor,<br />

acordados na nossa socieda<strong>de</strong> aperfeiçoada,<br />

ficaram obstinadamente ligados a<br />

este brinquedo d'outras efas como o»<br />

jogadores e os fumadores d'opio, o são<br />

pela sua incurável mania. Cheio <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong><br />

por estes cerebros ingénuos e bons,<br />

d'um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>masiadamente primitivo,<br />

muilo <strong>de</strong>líeis para supportarem, sem perigo,<br />

o brilho extraordinário da nossa<br />

educação electrica, um gran<strong>de</strong> philantropo<br />

fundou, nas margens do lago Salé,<br />

um asylo ricamente dotado on<strong>de</strong> elles<br />

po<strong>de</strong>m, ao abrigo da malignida<strong>de</strong> publica,<br />

enlregar-se com toda a liberda<strong>de</strong> á<br />

sua inoffensiva cbimera.<br />

O asylo está collocado no meio d'una<br />

bosquesinho e em frente tem uma paisagem<br />

romantica. Os quartos são forrados<br />

d'eslofos claros e pianos a vapor tocam<br />

incessantemente romanzas senlimentaes.<br />

Por meio d'um Soupographo especial,<br />

administra se ao pobre inconsciente<br />

um composto <strong>de</strong> cytherina. É um<br />

extracto electrico em que entram a tintura<br />

<strong>de</strong> myosotis, pós d'arroz, essejneia<br />

<strong>de</strong> rosa, azas <strong>de</strong> papoila e pennas <strong>de</strong><br />

pomba.<br />

Basta então fazer actuar sobre o craneo<br />

do doente os dois lios d'um Oumilavo,<br />

engenhoso instrumento que põe em<br />

contacto a bóssa da imaginação e a'da<br />

memoria com a da iIlusão d'um lado e<br />

do outro com a do <strong>de</strong>sejo situado na<br />

base do cerebro. Ao paciente affigurase-lhe<br />

então, segundo o capricho da sua<br />

phantasia que está em plena intriga amorosa<br />

com a que elle escolheu na sua<br />

memoria nu na collecção das amorosas<br />

da historia, do romance e da poesia.<br />

Este passatempo é conservado nalgumas<br />

nossas famílias antigas, <strong>de</strong> tradições<br />

caducas, e permitte-se como jogo<br />

innocente ás raparigas dos nove aos doze<br />

annos. si»


ANNO I — N.* 84 O DEFENSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1993<br />

0 sr. Sá foi multado por ter ás portas<br />

do seu estabelecimento amostras; todos<br />

os <strong>de</strong>mais commerciantes estão nas<br />

mesmas condições. Pergunta-se : porque<br />

só elle merece os rigores da lei e a vigilância<br />

policial?<br />

Kuerra Junqueiro<br />

Seguiu na sexta feira para o Porto<br />

o notável poeta e eminente caudilho do<br />

partido republicano.<br />

Sua ex. a foi a Santo Antonio dos<br />

Olivaes em visita ao tumulo do seu<br />

amigo e nosso saudoso chçfe dr. José<br />

Falcão.<br />

Ao Bhmmo !<br />

É na quinta feira que este aprazivel<br />

e pittoresco retiro costuma a ser visitado<br />

por milhares e milhares <strong>de</strong> pessoas que<br />

alli vão gozar um explendido dia.<br />

De <strong>Coimbra</strong> vão sempre muitos romeiros<br />

e este anno um grupo <strong>de</strong> velocipedistas<br />

projecta fazer a digressão a<br />

Bussaco em numero superior a vinte.<br />

O passeio é explendido e o local<br />

convida bem a gozar-se alli algumas horas<br />

agradaveis.<br />

Ao Bussaco! Ao Bussaco!<br />

Roubo industrioso<br />

Joaquin) Luiz Macieira vivia ha mezes<br />

'em Fora <strong>de</strong> Portas, com a sua amasia<br />

Carolina Pereira. Travaram alli conhecimentos<br />

com a visinhança, e Macieira era<br />

muito consi<strong>de</strong>rado por todos, que o tinham<br />

por bom homem.<br />

Fallava elle numa fortuna gran<strong>de</strong> que<br />

havia <strong>de</strong> receber, cuja resolução estava<br />

pen<strong>de</strong>nte dos tribunaes do Porto, e a<br />

proposito d'isto Macieira affirmava que<br />

os seus amigos não haviam <strong>de</strong> morrer<br />

pobres. Que elle estava alli para os proteger.<br />

A umas raparigas da visinhança proniettera<br />

elle uin bom dote, e a outras<br />

mulheres affirmava fazel-as felizes.<br />

Era tal a propaganda que da sua<br />

fortuna fazia Macieira, que indo á Associação<br />

dos Artistas no dia em que chegara<br />

o retrato do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valenças elle<br />

se offerecera logo para dar áquella associação<br />

uma rica ban<strong>de</strong>ira bordada a ouro!<br />

E se o não fazia já era por falta <strong>de</strong> meios;<br />

mas que a herança estava a ir-lhe para<br />

a mão.<br />

Assim o Macieira, fora encontrando<br />

boas almas que confiavam nelle e lhe iam<br />

emprestando grossas quantias com o<br />

engodo <strong>de</strong> receberem dobrado, como elle<br />

dizia, quando estivesse possuidor da herança.<br />

Quem não tinha dinheiro emprestava-lhe<br />

o seu ouro e rpupas e d'algumas<br />

pessoas sabemos que não tendo valores<br />

para lhe dar <strong>de</strong> emprestimo, solicitaram<br />

d'oulras diversas quantias. E o Macieira<br />

ia fazendo monte, dizendo a todas que<br />

receberiam o seu dinheiro, mais dobro<br />

— afóra o resto !<br />

Depois d'uma boa colheita, aproximadamente<br />

dois contos <strong>de</strong> réis, arranjados<br />

com engenho e arte, Macieira <strong>de</strong>sesperou<br />

com a herança do Porto e numa<br />

d'estas bellas noites alvorou com a companheira,<br />

não escapando á sua sagacida<strong>de</strong><br />

as<br />

Folhetim do Defensor do POYO<br />

J. MERY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />

Carlo-Felice<br />

Algumas vezes <strong>de</strong> noite tentou saltar<br />

o muro do jardim <strong>de</strong> Santa-Scala;<br />

mas ouvindo as notas leoninas do mollosso<br />

do nympheu, voltou (ftlo mesmo<br />

caminho, sem nada ter observado, meditando<br />

alguma habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestidigitador<br />

contra aquelle guarda incorruptível.<br />

Memma já não era protegida pela<br />

presença rospeitavel, pelos conselhos pru<strong>de</strong>ntes<br />

e pela fraternal amisa<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa-<br />

Scala. O príncipe não é agora mais que<br />

um simples padre entre os seminarista?;<br />

estuda as difliceis questões <strong>de</strong> orthodoxia<br />

romana, os segredos dogmáticos do<br />

theologo catholíco; aos seus ouvidos não<br />

chegam as vozes profanas do mundo;<br />

está inteiramente absorvido na meditação<br />

das eternas verda<strong>de</strong>s.<br />

A coragem e a juventu<strong>de</strong>, estes dois<br />

remedios tão efficazes, restabeleceram a<br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo, que ignora tudo, pois<br />

e avi<strong>de</strong>z algum dinheiro e ouro das<br />

creadas. .<br />

A falta do Macieira, <strong>de</strong>spertou sensação.<br />

No primeiro dia ainda se acreditou<br />

que elle tivesie ido fóra tratar dos negocios<br />

da herança, e que guardasse<br />

d'i»so segredo, para a surpreza aos seus<br />

amigos ser completa. Mas os dias foram<br />

passando e as creadas que tinham ouvido<br />

da bôcca <strong>de</strong> sua ama que iam a Lisboa,<br />

começaram a fazer mysterio naquella<br />

partida Hão inesperada — e o que era<br />

mais — ter levado todas a» roupas, a<br />

pretexto dt lá comprarem outras eguaes.<br />

E então é que foi o bonito. A» lagrimas<br />

não se fizeram esperar-—porque<br />

ambas su viam infamemente roubadas.<br />

Uma das creadas. que estava em vésperas<br />

<strong>de</strong> boda lamentava a sua triste<br />

sorte, pois que o melhor que tinha estava<br />

em po<strong>de</strong>r da sua ama e agora para casar<br />

tinha <strong>de</strong> pedir dinheiro emprestado,<br />

não lhe valendo <strong>de</strong> nada o estar incluída<br />

na relação das raparigas a quem<br />

seu amo queria dar bons dotes.<br />

A cérteza, pois, <strong>de</strong> que Macieira se<br />

tinha posto ao fresco, a serio, <strong>de</strong>u logar a<br />

saberem-se dos logros <strong>de</strong> que muita gente<br />

fôra victima, e todas se admiraram da habilida<strong>de</strong><br />

do Macieira, que parecia um<br />

bom serás, um homem <strong>de</strong> religião.e consciência,<br />

mas que <strong>de</strong>ra num gran<strong>de</strong> patife.<br />

E sobre elle e a mulher caem agora as<br />

maldições <strong>de</strong> todos; e se as praga» empeçassem,<br />

estavam os dois a estas horas<br />

feitos em torresmos.<br />

A policia já tem conhecimento das<br />

proezas do Macieira, em virtu<strong>de</strong> da<br />

queixa <strong>de</strong> Maria Ignez íTOliveira, moradora<br />

na praça do Commercio, que caira<br />

no logro <strong>de</strong> lhe emprestar objectos d'ouro<br />

e roupa no valor <strong>de</strong> 170$000 réis.<br />

O sr. commissario parece que provi<strong>de</strong>nciou<br />

a lim <strong>de</strong> conseguir a captura do<br />

Macieira e <strong>de</strong> amante.<br />

Egreja <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

Começaram os trabalhos para o assentamento<br />

do cruzeiro d'esta egreja,<br />

que muito brevemente <strong>de</strong>ve ficar concluído.<br />

V j<br />

Mez <strong>de</strong> Mari»<br />

Este anno celebra-se esta festivida<strong>de</strong><br />

nas capellas da Misericórdia, Santo Anlonio<br />

da Estrella, Santa Thereza, collegio<br />

das Ursulinas e Seminário.<br />

Aos domingos, nesta cnpella, préga<br />

um dos alumnos d'aquella casa <strong>de</strong> educação.<br />

Recenseamento 3<br />

Affirma-se que no recenseamento eleitoral<br />

do concelho <strong>de</strong> Soure, d'este districto,<br />

foram encontradas gran<strong>de</strong>s irregularida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>vendo-se proce<strong>de</strong>r a exame<br />

<strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>licio.<br />

E' por estas e outras traficancias<br />

que os governos conseguem maioria no<br />

parlamento e a<strong>de</strong>ptos que os sirvam, cegamente<br />

nos seus <strong>de</strong>sbarates.<br />

Eseola Brotero<br />

Foi <strong>de</strong>finitivamente nomeado professor<br />

<strong>de</strong> Matbematica, nesta escola, o sr.<br />

que nada lhe <strong>de</strong>ixaram saber durante a sua<br />

convalescença. Nas suas noites <strong>de</strong> <strong>de</strong>lirio<br />

tinha elle revelado o segredo do seu<br />

pensamento e da sua alma; linha pronunciado<br />

nomes, que <strong>de</strong>viam ficar ignorados<br />

e por estas indiscripções involuntárias<br />

havia justificado a temeraria conjectura,<br />

estabelecida ácerca' do seu duellono<br />

dia seguinte ao do casamento <strong>de</strong><br />

Van Ritter.<br />

Operou também uma mudança salutar<br />

no seu estado morãl uma carta que<br />

recebeu da sua família; tremeu pensando<br />

na dôr, que seu pae e sua mãe soffreriam,<br />

se recebes sem a noticia, da sua morte;<br />

e voltando os seus pensamentos para<br />

estas alfeições <strong>de</strong> familia, tão puras e<br />

tão respeitáveis, comprehen<strong>de</strong>m que o<br />

remedio <strong>de</strong>cisivo estava na companhia <strong>de</strong><br />

saus paes; e corno o filho prodigo, disse:<br />

— Surgave et ivo. ^-Eu me levantarei<br />

e irei.<br />

Paulo Gréant <strong>de</strong>liberou pois voltar<br />

para França e <strong>de</strong>spedir-se do marquez<br />

di Negro, que o confirmou nesta resolução,<br />

mas por motivos inteiramente differentes<br />

dos verda<strong>de</strong>irosr Relirando-se da<br />

casa do marquez, pareceu-lhe insupportavel<br />

o isolamento; queimavam-lhe os pés<br />

as pedras das calçadas da cida<strong>de</strong> e, para<br />

se distrahir, seguio a voz e os passos<br />

<strong>de</strong> alguns compatriotas <strong>de</strong>sconhecidos,<br />

que se encaminham alegremente pelá<br />

soberba rua dos palacios dé mármore,<br />

que termina no theatro Carlo-Felice. o ;<br />

bacharel Albino <strong>de</strong> Mello, que ha quatro<br />

annos exerce aquelle logar interinamente.<br />

/<br />

Serviço <strong>de</strong> bombas<br />

A camara municipal acaba <strong>de</strong> nomear<br />

jnlerinamente para director do<br />

serviço <strong>de</strong> bombeiros, o sr. José Pereira<br />

da Cruz.<br />

Com verda<strong>de</strong> se diz que a quem<br />

Deus promette não falta.<br />

Falla-se que a commissão disirictal<br />

projecta fundar no hospício dos abandonados,<br />

d'esla cida<strong>de</strong> unia creche.<br />

Bella i<strong>de</strong>ia, pois que lia muito se<br />

nota a falta d'uma instituição d'e»la natureza,<br />

que beneficie a classe pobre cuidando-lhc<br />

dos filhos.<br />

Posto hippieo<br />

Na" escola agrícola Moraes Soares,<br />

em S. Martinho do Bispo foi aberto um<br />

posto hippieo com tres cavallos pertencentes<br />

á Cou<strong>de</strong>laria Nacional.<br />

Tourada<br />

E' hoje que se realisa a tourada,<br />

como já dissemos, em beneficio do exactor<br />

Henrique Prata.<br />

Os lidadores são : — cavalleiro A<strong>de</strong>lino<br />

Raposo; bandarilheiros Theodoro<br />

Gonçalves, José dós Sanlos, Antonio da<br />

Costa, Joaquim Peres (El Pechuga), e<br />

José Bello (El Morenito).<br />

Um valente grupo <strong>de</strong> forcados, composto<br />

<strong>de</strong> 8 valentes e corajosos rapazes<br />

<strong>de</strong> Lisboa vem abrilhantar esta corrida,<br />

a primeira da presente epocha.<br />

O gado, dizem-nos, que é bom;<br />

d'esla fórma e atten<strong>de</strong>ndo ao justo fim<br />

a que o produclo é <strong>de</strong>stinado, o publico<br />

ha <strong>de</strong> coadjuvar o beneficiado e oxalá<br />

elle obtenha bom resuliado dos seus esforços.<br />

Aviso aos interessados<br />

O prazo pata a entrega dos requerimentos<br />

<strong>de</strong> admissão a exames no Lyceu<br />

d'esta cida<strong>de</strong> linda no dia 10 do corrente,<br />

ás 4 horas da lar<strong>de</strong>.<br />

O mil<strong>de</strong>w V j<br />

Os viticultores d'esle concelho surprehendidos<br />

pela evasão do mil<strong>de</strong>w que<br />

eslá atacando o* vinhedos, eslão activando<br />

os trabalhos para combater a moléstia<br />

empregando o sulphato <strong>de</strong> cobre.<br />

Desastre -<br />

Em Mangual<strong>de</strong> cairam d'um andaime<br />

dois operários que andavam na construcção<br />

d'um prédio, ficando bastante contusos<br />

e um d'elles até em perigo <strong>de</strong><br />

vida.<br />

Ao <strong>de</strong>sleixo dos operários e á incúria<br />

das anctorida<strong>de</strong>s em não fiscalisarem<br />

estes serviços, se <strong>de</strong>ve o lamenlavel<br />

acontecimento.<br />

Reeita dos quintanistas<br />

E' na quarta feira a primeira recita<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida, representando-se a peça<br />

-Por cama da Borla! — Consta-nos<br />

que serão dados ainda mais dois espectáculos.<br />

Á luz dos candieiros do átrio viu<br />

Paulo Gréant num cartaz a palavra Nor-<br />

ma, esta palavra mysteriosa, que nas<br />

suas combinações anagrammaticus encerra<br />

os dois maiores nomes do Universo:<br />

- Amor — Roma.<br />

Cantava-se pois a Norma, esta obra<br />

prima <strong>de</strong> graciosa riielancholia e <strong>de</strong> profunda<br />

paixão. O artista foi arrastado<br />

pelo <strong>de</strong>monio da musica. Comprou um<br />

mo<strong>de</strong>sto bilhete <strong>de</strong> plateia e entrou no<br />

magnifico templo levantado pela geuerosa<br />

aristocracia genoveza á gloria do divino<br />

Rossini,.,<br />

As cinco or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> camarote estavam<br />

guarnecidas como uma nau <strong>de</strong> cinco cobertas,<br />

em cujas canhoneiras se alternassem<br />

os ramos das flores e os rostos das<br />

mulheres. Mas Paulo Gréant não tinha<br />

ido as theatro para saborear distracções<br />

vulgares; estava inteiramente <strong>de</strong>dicado<br />

á musicas e ao canto, como um piedoso<br />

christão, que ouve os sons do orgão e<br />

fecha os olhos ás pompas mundanas do<br />

templo santo.<br />

Ah! Mas a Norma não é musica saj<br />

n i K U l i v i i U V j I l VJVJTU<br />

A orchestra principia por um preludio<br />

<strong>de</strong> amor; uma voz suave entoou uma<br />

d'essas arias, que perturbam os sentidos,<br />

uma d'esjas phrases. melodiosas que<br />

Paulo Gréant cantava a Memma nos seus<br />

dips <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>,— F»'em in, Iloma,<br />

vietA o» kdfa r ^ o "v * ^ 1 *<br />

Ponte<br />

Vae ultiniar-se a ponte sobre o Alheda,<br />

proximo <strong>de</strong> Miranda do Corvo, dVsie<br />

districto, que ha muito estava começada.<br />

E' um importante melhoramento que<br />

ha muito era vivamente reclamado como<br />

uma impreterível necessida<strong>de</strong> publica.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />

na semana ultima, os seguintes<br />

eftimHP'! ,<br />

Joaquina <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Bernardo<br />

Carvalho e Helena <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong>-Serpins,<br />

<strong>de</strong> 77 annos. Falleceu <strong>de</strong> lesão valvular<br />

do coração, no dia 23.<br />

Maria Julia Reis, filha <strong>de</strong> José Maria<br />

Reis e Maria da Luz, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />

24 annos. Falleceu <strong>de</strong> pneumonia grippal,<br />

no dia 23.<br />

Licínio, filho <strong>de</strong> Leonardo Antonio<br />

Gouvêa e Maria Jooé, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 17<br />

mezes. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose pulmonar,<br />

no dia 24.<br />

Ricardo Gaioso, filho <strong>de</strong> Nicolou<br />

Penha e Theodora Penha, <strong>de</strong> Hespanha,<br />

<strong>de</strong> 55 annos. Falleceu <strong>de</strong> pneumonia<br />

dupla, no dia 26.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemiterio —16:862.<br />

Camara Mnnicipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinaria<br />

20 d'abril<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />

d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />

presentes: Manoel Miranda, João da<br />

Fonseca Barata, Manoel Benlò <strong>de</strong> Quadros,<br />

João Antonio da Cunha, Joaquim<br />

Justiniano Ferreira Lobo, effectivos ; José<br />

Corrêa dos Santos, substituto.<br />

O vereador Dantas Guimarães assistiu<br />

a parle da sessão.<br />

Mandou annunciar a venda <strong>de</strong> tres<br />

lotes <strong>de</strong>, terreno na quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz, com frente para a rua n.° 9.<br />

Nomeou louvados informadores para<br />

o serviço das côngruas dos parochos nas<br />

reguezias <strong>de</strong>.S. Paulo e Santa Clara.<br />

Mandou <strong>de</strong>scontar os veucimentos <strong>de</strong><br />

tres dias a um vigia dos impostos, por<br />

irregularida<strong>de</strong>s praticadas no serviço.<br />

Resolveu pedir ao commissario <strong>de</strong><br />

policia a permanencia do guarda <strong>de</strong> serviço<br />

na quiuta <strong>de</strong> Santa Cruz, que consta<br />

retira d'ahi ás 5 horas da tar<strong>de</strong>; e bem<br />

assim para ser vigiado pelo guarda <strong>de</strong><br />

serviço na rua Direita o novo largo entre<br />

esta rua e o Terreiro da Herva.<br />

Auctorisou a réga e lavagem das<br />

ruas da cida<strong>de</strong>.<br />

Auctorisou avenças com diversos para<br />

o pagamento d'impostos indirectos durante<br />

o trimestre d'abril a junho do corrente<br />

anno.<br />

Despachou vários requerimentos <strong>de</strong><br />

interesse particular sobre assumptos diversos—<br />

collocação <strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos<br />

particulares; concerto da<br />

valia <strong>de</strong> regadia entre Sernache e Villa<br />

Pouca: e relativamente a obras sem alienação<br />

<strong>de</strong> terrenos, a saber para cons-<br />

Era o sonho <strong>de</strong>licioso do artista,<br />

quando elle formava os seus doces pro-<br />

jectos <strong>de</strong> viagem a Roma, a essa cida<strong>de</strong><br />

que elle tanto amava; as montanhas <strong>de</strong><br />

Tivoli, á villa <strong>de</strong> Este, cheia <strong>de</strong> tenras<br />

recordações do cantor <strong>de</strong> Jerusalem.<br />

Vieni in Roma! A orchestra produzia<br />

languidas caricias; as melodias fluctuavam<br />

no ar, como orvalho celeste e<br />

euèbriavam a alma e os sentidos, dando<br />

o prestigio da verda<strong>de</strong> ás divinas mentiras<br />

dos prazeres!<br />

Mas é necessário cahir d'estas alturas<br />

do sonho sublime ! e em que abismos<br />

da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>soladora! Panlo fechou<br />

os ouvidos a esta musica, como o rei <strong>de</strong><br />

Iliáca ao cauto das sereias, levantou os<br />

olhos para o tecto e procurou distracções<br />

burguezas para e»perar o fim do acto e<br />

saliir.<br />

Os seus olhos em parte nenhuma se<br />

fixaram ; ma» correndo <strong>de</strong> ellipse, em ellipse<br />

cairam por acaso em uma figura,<br />

cujo relevo se apresentava em uni camarote.<br />

* •<br />

— Ah! E' elle! é elle, repetiu Paulo<br />

mentalmente. fivlJ<br />

O artista não se enganava; reconhece-se<br />

entre mil a mulher, que se ama e<br />

o homem, que se o<strong>de</strong>ia. Era com effeito<br />

o con<strong>de</strong> Talormi, e< como elle andava <strong>de</strong><br />

camarote em camarote, segundo o uso<br />

italiano, mostrou-se vinte vezes a Paulo<br />

Gréant, <strong>de</strong>baip <strong>de</strong> vinte aspectos variados.<br />

A sua cabeça é as suas suissas es-<br />

trucção d'uma casa ás Parreiras <strong>de</strong><br />

Monte-São, pertencente a Maria Emilia<br />

Diniz, pelo alinhamento d'oulra contigua;<br />

reforma d'uma <strong>de</strong> Joaquim Ferreira Vidinha,<br />

em Pé <strong>de</strong> Cão, não sahindo dos<br />

alicerces primitivos; comtrucção d'outra<br />

no caminho da Lomba d'Arregaça, sobre<br />

um muro recentemente construído, por<br />

José Nogueira, morador na estrada da<br />

Beira, limpeza d'um cano d'aguas da<br />

quinta do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, em Sernache;<br />

reparação d'outra na rua Velha,<br />

J'esta cida<strong>de</strong>, em um prédio <strong>de</strong> José<br />

Teixeira da Cunha, provando-se ter sido<br />

damnificado com a canalisação d'aguas<br />

para uma casa próxima; construcção<br />

d'uma casa ao cimo da rua Occi<strong>de</strong>ntal<br />

<strong>de</strong> Mont'arrio, pertencente ao proprietário<br />

Dantas Guimarães, lixando-se o alinhamento<br />

pelo cunhal do mirante que<br />

alli existe e pelo cemoro que fica pelo<br />

lado do poente.<br />

Tomou conhecimento da correspondência<br />

recebida que fez registrar.<br />

A GRANEL<br />

Estão já o imprimir na Imprensa Nacional<br />

os orçamento» dos ministérios dos<br />

estrangeiros, íazenda, marinha, guerra e<br />

justiça.<br />

O relatorio do sr. ministro da fazenda<br />

<strong>de</strong>verá conter cerca <strong>de</strong> trezentas paginas.<br />

# * * O sr. ministro das obras publicas<br />

pensa em apropriar o edilicio que<br />

se está construindo em Jesus, para servir<br />

juntamente <strong>de</strong> lyceu e <strong>de</strong> escola <strong>de</strong><br />

bellas-artes.<br />

# * * - O leilão <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> el-rei<br />

D. Fernando foi pouco concorrido. A<br />

obra que mais <strong>de</strong>u, subiu apeuas a réis<br />

60^000. Muitos livros fôram retirados<br />

por não chegarem ao preço da avaliação.<br />

Outros, que continham <strong>de</strong>dicatórias a<br />

pessoas reaes, foram lambem retirados.<br />

* * * A camara municipal <strong>de</strong> Guimarães<br />

creou um premio <strong>de</strong> 300000<br />

réis para o alumno que naquella cida<strong>de</strong><br />

se tomar dislincto no exemplo <strong>de</strong> admissão.<br />

* * * Diz-se que vae ser nomeada<br />

uma commissão <strong>de</strong> médicos e pharmaceulicos,<br />

pertencentes ás socieda<strong>de</strong>s das<br />

sciencias medicas e pharmaceulicas, para<br />

elaborar a lista dos medicamentos que<br />

as alfan<strong>de</strong>gas po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>spachar.<br />

* * * Partiram para o Guadiana,<br />

os commissarios liespauhoes, acompanha-'<br />

dos do coiuinissario portuguez, sr. Ernesto<br />

<strong>de</strong> Vasconcellos, que vão <strong>de</strong>limitar<br />

as aguas territoriaes na foz do mesmo<br />

rio.<br />

# * * Diversos ofliciaes teem ido<br />

ao ministério da marinha oííerecer-se<br />

para fazerem parte da bateria <strong>de</strong> arlilheria,<br />

ultimamente creada em Macau.<br />

curas appareceram successivainente entre<br />

todos os rostos <strong>de</strong> mulheres e lodos os<br />

ramos <strong>de</strong> flores.<br />

Apo<strong>de</strong>rou-se enlão do artista uma<br />

d'eslas i<strong>de</strong>ias confusas, que não eslão<br />

submeltidas a nenhum plano, mas que<br />

se acariciam nos momentos, em que o<br />

<strong>de</strong>sespero se agarra á primeira loucura,<br />

que se lhe apresenta como uma verda<strong>de</strong>ira<br />

inspiração.<br />

Resolveu encontrar-se com o con<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Talormi e pedir-lhe uma conferencia.<br />

Que lhe havia <strong>de</strong> dizer?<br />

Não sabia. Procural-o-ia como amigo,<br />

como inimigo, ou como indifferente ?<br />

Também não sabia; contava com a inspiração<br />

do momeuto. O essencial era começar.<br />

No lim do acto, Paulo Gréant sahiu<br />

da platéa e subiu a gran<strong>de</strong> escadaria,<br />

que conduz ao bello salão do theatro,<br />

que lambem serve <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> concerto.<br />

A socieda<strong>de</strong> elegante, que elle tinha<br />

visto nos camarotes, enchia agora o salão<br />

e Paulo, reparando no seu vestuário mo<strong>de</strong>sto,<br />

não ousou encontrar-se com tanto<br />

luxo <strong>de</strong> toilettes <strong>de</strong> gala. Julgou-se feliz<br />

por o seu plano ter abortado e resolveu<br />

esperar Talormi no fim da opera, <strong>de</strong>baixo<br />

das columnates do átrio.<br />

I mpresso<br />

na Tyj>oífraj)liln<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


Mm*m—W»* 8 4 O OEFBMOUIDO POVO 9 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />

1»A HA |<br />

Pliarmacia 1<br />

Bjeyida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

j<br />

i Typ. Operaria<br />

iW^.ff* <strong>Coimbra</strong> l<br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha ...<br />

Repetições .<br />

]W*;i,®FFS<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

impressões rapi- j<br />

'das<br />

1<br />

Typ. Operaria^<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

' Antigo estabelecimento<br />

ANTONIO JOAQUIM VALENTE<br />

(Successores)<br />

11 fi M e " * n Cflsa e n c o n l r a * s e u m varia-<br />

( 1 dissimo sortido em meu<strong>de</strong>zas,<br />

utensílios para caçador, tintas e pincéis<br />

para pintura a oleo e agurella, ferragens<br />

finas, lunetas, papeis <strong>de</strong> côr, para flores<br />

ele., etè.<br />

Os actuaes possuidores rogam ás<br />

pessoas <strong>de</strong> suas relações e aos que fazem<br />

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0 emprestimo <strong>de</strong>D. Miguel<br />

A tramóia escandalosa, manobrada<br />

com o maior <strong>de</strong>scaio sobre<br />

os títulos d'este empreslimo, pelo<br />

sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay, o alio dignalario<br />

porluguez, o po<strong>de</strong>roso banqueiro,<br />

que tem crescido e engordado<br />

á sombra d'esta hospitaleira<br />

arvore, que tantos lorlnlhos tem<br />

abrigado, o ju<strong>de</strong>u das finanças que<br />

em negociatas rendosas se tem abeberado<br />

<strong>de</strong> copioso ouro porluguez,<br />

o nababo estrangeiro, acclimatado<br />

ao nosso paiz como sanguesuga<br />

insaciavel, — está-se revelando a<br />

todos, <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> artifícios e <strong>de</strong> sophismas,<br />

mercê da campanha intemerata<br />

d'um nosso collega <strong>de</strong> Lisboa.<br />

As Novida<strong>de</strong>s, jornal palaciano<br />

e conservador, que, na maioria das<br />

questões, diverge profunda e radicalmente<br />

das nossas convicções,<br />

longe como eslá da nossa orientação,<br />

têem-se empenhado com tudo<br />

numa lucla <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> que só<br />

pô<strong>de</strong> merecer lodos os nossos applausos.<br />

Não lh'os regateamos neste ponto,<br />

como também não lhe poupamos<br />

a opposição intransigente das<br />

nossas ás suas opiniões politicas.<br />

Não po<strong>de</strong>mos, por isso; ser acoimados<br />

<strong>de</strong> suspeitos nem <strong>de</strong> facciosos.<br />

Já aqui o lemos dito — não nos<br />

importamos <strong>de</strong> averiguar qual o fim<br />

que porventura possa mover aquelle<br />

jornal na lucla tenacissima e valente<br />

em que se empenhou ; a sua<br />

campanha é justa, é movida em<br />

pró da causa publica, que nós <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos<br />

a lodo o transe; correspon<strong>de</strong><br />

a um alto critério <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />

que se impõe; inspira se<br />

numa idêa honesta — e tanto nos<br />

basla.<br />

Estamos ao seu lado em tudo o<br />

que seja verberar a gananciosa avi<strong>de</strong>z<br />

d'essa Burnaysia financeira que<br />

por ahi pullula, em tudo o que seja<br />

pugnar pela reversão aos cofres do<br />

Estado das sommas importantíssimas<br />

que aleivosamente d'elle foram<br />

distrahidas.<br />

E esta queslão do empreslimo<br />

<strong>de</strong> D. Miguel é uma d'aquellas que<br />

mais earacterisam um governo e<br />

até uma epocha — pô<strong>de</strong> servir <strong>de</strong><br />

bitola para se aquilalar da gran<strong>de</strong><br />

moralida<strong>de</strong> dos governantes.<br />

Está entregue ao po<strong>de</strong>r judicial<br />

a queslão; o sr. ministro da fazenda<br />

assim enten<strong>de</strong>u o seu primeiro<br />

passo ao ver que um jornal expunha<br />

a Ioda a publicida<strong>de</strong> o famoso<br />

escandalo. Bem sabia elle f|ue o<br />

modo mais energico e porventura<br />

mais proprio <strong>de</strong> èe <strong>de</strong>scobrir a lalcatrua<br />

aos olhos da opinião publica,<br />

não era aquelle; bem sabia o sr.<br />

Fuschini que nos magistrados judiciaes<br />

não havia os elementos indispensáveis<br />

para fazer seguir Ião imporlanle<br />

prticesso, vislo terem <strong>de</strong><br />

se contentar com os documentos<br />

que as Novida<strong>de</strong>s lhe po<strong>de</strong>ssem ou<br />

quizessem prestar, e o sr. Fuschini<br />

bem sabia on<strong>de</strong> esses- documentos<br />

preciosos se occultam —na sua gaveta<br />

— mas não os apresentou...<br />

Este receio do sr. ministro da<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

fazenda, o intransigente, o puro, o<br />

inquebrantável, que se acovarda e<br />

recua, como ministro, perante uma<br />

negociata que atacou vigorosamente<br />

como <strong>de</strong>putado, mostra bem o grau<br />

extraordinário do escandalo e o<br />

grau da energia do sr. ministro,<br />

<strong>de</strong> ponta dura e resistente, como<br />

elle proprio um dia se qualificou.<br />

E já agora, visto o sr. Fuschini<br />

não ler tomado na <strong>de</strong>sgraçada situação<br />

em (pie se collocou, o caminho<br />

mais honroso para um ministro<br />

honesto, ficará o seu nome vinculado<br />

á negociata em queslão, e <strong>de</strong><br />

um modo que não será molivo para<br />

que o sr. Fuschini se orgulhe quando<br />

se retirar da vida publica; e isto<br />

porque, a um homem <strong>de</strong> recta consciência<br />

e honesto, só po<strong>de</strong> servir<br />

<strong>de</strong> remorso o não ter cumprido<br />

com o seu <strong>de</strong>ver.<br />

E o sr. Fuschini eslá muito<br />

longe, infelizmente, <strong>de</strong> ler procedido<br />

nesta queslão do modo mais<br />

consentâneo com o seu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

ministro, e até com a obrigação em<br />

que o consliluiu o seu passado.<br />

Pela Africa<br />

A província d'Angola, uma das mais<br />

adiantadas das nossas colonias e capaz<br />

<strong>de</strong>, pelo seu ' rendimento, occorrer ás<br />

suas <strong>de</strong>spezas sem auxilio da metropole,<br />

po<strong>de</strong>ndo até fechar cada anno economico<br />

com algum saldo positivo, mercê da má<br />

administração que lá prepon<strong>de</strong>ra não<br />

correspon<strong>de</strong> ao que d'ella se po<strong>de</strong>ria esperar.<br />

Deveria ser administrada d'um modo<br />

muito differenle, com auctorida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

para uma boa fiscalisação indispensável<br />

a uma boa administração,<br />

mas não acontece assim. Basta um exemplo<br />

para <strong>de</strong>monstração : — Para chefe<br />

d'um concelho, logar que correspon<strong>de</strong><br />

ao d'um administrador <strong>de</strong> concelho, é<br />

nomeado um official que accumula este<br />

logar com os <strong>de</strong> escrivão <strong>de</strong> fazenda,<br />

recebedor, juiz ordinário, etc.<br />

D'este modo como po<strong>de</strong>m ser íiscalisados<br />

os actos das diversas auctorida<strong>de</strong>s<br />

se todas ellas se consubstanciam numa<br />

só entida<strong>de</strong>?<br />

Ha concelhos que teem contribuições<br />

por cobrar ha mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z annos, po<strong>de</strong>ndo<br />

calcular-se em não menos <strong>de</strong> 200<br />

contos as contribuições em divida, e<br />

que ha muito <strong>de</strong>veriam ter dado entrada<br />

nos cofres da fazenda. Mas por uma extrema<br />

incúria, por um criminoso <strong>de</strong>sleixo<br />

dos governos, não se tem promovido<br />

a cobrança d'aquelias quantias.<br />

Se os chefes do concelho tivessem o<br />

seu logar distincto d'outras entida<strong>de</strong>s<br />

administrativas, se houvesse escrivães<br />

<strong>de</strong> fazenda, recebedores, emfim, uma<br />

organisação (iscai relativamente perfeita,<br />

talvez que taes casos se não <strong>de</strong>ssem.<br />

Assim, acontece que um chefe <strong>de</strong><br />

concelho é julgado alcançado numa quantia<br />

importante, como ainda ha pouco o<br />

foi um em IS contos <strong>de</strong> réis, não tendo<br />

um real com que supprir o alcance...<br />

E' indispensável, pois, que os governos<br />

olhem com attenção para este estado<br />

<strong>de</strong> coisas, que só po<strong>de</strong>m produzir<br />

a rnina numa das nossas possessões<br />

mais prosperas.<br />

A conveniência, ou antes necessida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> se estabelecer um posto <strong>de</strong> carvão<br />

na ilha <strong>de</strong> S. Vicente, on<strong>de</strong>, mesmo<br />

<strong>de</strong> noite, se abasteçam os vapores, é <strong>de</strong><br />

ha muito reconhecida. Não se tem, comtudo,<br />

attendido a esta necessida<strong>de</strong> urgente<br />

O resultado é, que muitos vapores<br />

<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> tocar em S. Vicente e vão ás<br />

Ganarias porque não po<strong>de</strong>m metter carvão<br />

durante a noite no nosso porto, poupando<br />

assim um dia <strong>de</strong> viagem.<br />

Portanto, se não fór auctorisada a<br />

<strong>de</strong>scarga durante a noite em S Vicente,<br />

em pouco tempo veremos a navegação<br />

• ffastar-se d'aquelle porto, o que produzirá<br />

incalculáveis prejuízos.<br />

Urge, pois, que o governo provi<strong>de</strong>ncie;<br />

não se limite só á politica caseira<br />

e comesinlia, que tem muito maiores interesses<br />

a que alten<strong>de</strong>r.<br />

Na Guiné, a cultura que mais ten<strong>de</strong><br />

a <strong>de</strong>senvolver-se, porque é a mais própria<br />

d'aquella região, é a das palmeiras,<br />

arvore preciosa e altamente remuneradora.<br />

Produz a palmeira excellente vinho<br />

e magnifica aguar<strong>de</strong>nte do vinho fermentado<br />

; da polpa da noz exlrahe-se o oleo<br />

<strong>de</strong> palma, <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> applicação na<br />

industria ; a noz quebrada dá a amêndoa<br />

que se ven<strong>de</strong> na Europa ; as folhas são<br />

applicadas em variadíssimas industrias,<br />

muitas <strong>de</strong>lias curiosíssimas.<br />

'E' por isso que algumas fazendas se<br />

entregam com affinco á sua cultura.<br />

A expedição <strong>de</strong> Sousa Caldas, cuja<br />

partida precipitada <strong>de</strong> Lourenço Marques<br />

para o interior noticiámos, leve por fim<br />

a occupação militar dos nossos territórios<br />

na fronteira do Traánsvaal.<br />

Mas se quizermos conseguir alguma<br />

coisa não po<strong>de</strong>mos ficar por aqui; não<br />

basta uma expedição militar, do que ha<br />

necessida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> colonos. E por isso,<br />

trate o governo <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>rivar para as<br />

nossas possessões africanas essa enorme<br />

corrente <strong>de</strong> emigração que afflue aos<br />

Estados Unidos do Brazil, que será o<br />

único meio <strong>de</strong> consolidar o nosso domínio<br />

em Africa, promovendo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das nossas colonias,<br />

E' indispensável que se faça.<br />

Ferrer Farol<br />

Os jornaes <strong>de</strong> terça feira trazem-nos<br />

a dolorosa noticia do fallecimento d'esle<br />

<strong>de</strong>votado republicano, que por muitos<br />

annos combateu as instituições monarchicas<br />

na imprensa e no comício, sendo<br />

os seus escriptos e os seus discursos<br />

muitos apreciados.<br />

Era medico, e no exercício d'esta<br />

profissão soube conquistar bom nome,<br />

impondo-se pelo seu talento. Dotado<br />

d'um bello caracter, o dr. Ferrer Farol<br />

<strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s no partido a quem serviu<br />

com <strong>de</strong>dicação, e pelo qual fez gran<strong>de</strong>s<br />

sacrifícios.<br />

Tomando parte na homenagem <strong>de</strong><br />

sentimento que o partido republicano<br />

lhe presta, d'aqui enviamos sinceros pezames<br />

á família do iIlustre finado.<br />

IDe r e l a n c e<br />

Tia pouco ainda quasi <strong>de</strong>sconhecido<br />

na vida publica, vae-se affirmando já<br />

hoje-nas luctas da politica.<br />

Até ha pouco, conheciam-no, e <strong>de</strong>mais,<br />

os segundanistas <strong>de</strong> mathtmatica, que elle<br />

esten<strong>de</strong> por — dá cá aquella palha—em<br />

problemas transcen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> mathematicas<br />

puras, e no Lusitano, ou á porta do Antonio,<br />

ourives, encostido á vitrine <strong>de</strong>stacava<br />

também pelos collarinhos altos bem<br />

gommados, pelos fatos ultima moda, pelos<br />

bigo<strong>de</strong>s torcidos, bem feitos, num ar <strong>de</strong><br />

dandy bem posto que se não parece nada<br />

com os ares <strong>de</strong> embofias d'um cathedratico<br />

poeirento.<br />

Mas agora, porém, vae <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong><br />

se pren<strong>de</strong>r unicamente com as cavaqueiras<br />

do Lusitano e com as estopadas do<br />

— x — para se entregar também ás locubrações<br />

da politica. E po<strong>de</strong>mos esperar<br />

muito da sua boa-vonla<strong>de</strong> e até do seu talento.<br />

As suas convicções politicas teem como<br />

ponto dt partida a sua convivência com<br />

José Falcão, a extincta gloria do partido<br />

republicano, e affirmaram-se no manifesto<br />

republicano, que <strong>de</strong>sassombradamente assignou.<br />

Loup.<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />

do Povo<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Geraldine... .<br />

Á falta <strong>de</strong> questão <strong>de</strong> maior vulto<br />

em que se dispendam forças e arruinem<br />

pulmões, a mocida<strong>de</strong> portuense fez da<br />

arena do circo campo <strong>de</strong> combate, e pugna<br />

<strong>de</strong>nodadamente, graças ao pomo <strong>de</strong><br />

discórdia—a formosa Geraldine.<br />

Magnifico, pomo, em verda<strong>de</strong> !<br />

Comquanto ver<strong>de</strong>, segundo insinúa<br />

a má lingua indiscreta, tem este pômo<br />

a attracção do fruclo prohibido...<br />

Ora a mocida<strong>de</strong> ar<strong>de</strong>nte e nem sempre<br />

discreta, manifesta a sua admiração,<br />

as suas esperanças, ou os seus <strong>de</strong>senganos,<br />

á ovação e á paleada... pateada e<br />

ovação que <strong>de</strong>scambaram no velho expediente<br />

genuinamente nacional: a bordoada.<br />

Já por ahi temos uma bella collecção<br />

<strong>de</strong> cabeças rachadas a attestar o exilo<br />

extraordinário da gentilissima funambula.<br />

As scenas repetem-se todas as noites,<br />

e a continuar o ruidoso successo,<br />

terá, muito breve, a empreza <strong>de</strong> fornecer<br />

um certo numero <strong>de</strong> pontos a cada<br />

espectador que entre no circo com a<br />

tenção <strong>de</strong> se patentear em favor ou contra<br />

n Geraldine.<br />

Devo advertir que lambem apanha<br />

quem não se mette em manifestações<br />

perigosas...<br />

Em qualquer cida<strong>de</strong> que se orgulhe<br />

<strong>de</strong> seguir as impeccaveis regras da pragmatica,<br />

<strong>de</strong>scambariam estas rixas <strong>de</strong><br />

pica<strong>de</strong>iro em pen<strong>de</strong>ncias d'honra, com<br />

o seu seguimento inevitável: o duelo.<br />

No club soliicitavam-se padrinhos, e<br />

ao <strong>de</strong>spertar a aurora, lavava-se a<br />

honra manchada, e tiravam-se a limpo os<br />

méritos da gymnasta, com duas estocadas<br />

a fundo, vibradas com alma por<br />

uma boa lamina <strong>de</strong> Toledo.<br />

Aqui, " neste Porto essencialmente<br />

burguez, a coisa passa-se d'outra fórma:<br />

os adversarios não esperam o rosicler<br />

d'aurora — serve-lhes mesmo a luz do<br />

gaz, tomam por testemunhas a multidão<br />

d'espectadores, erguem os bengalorios,<br />

e <strong>de</strong>sancam-se, sem formalida<strong>de</strong>s, sem<br />

praxes, distribuindo bordoada <strong>de</strong> cego,<br />

que muita vez attinge o incauto que<br />

leve a <strong>de</strong>sgraça <strong>de</strong> pagar cinco tostões<br />

por uma ca<strong>de</strong>ira, e cuja má sorte lhe<br />

<strong>de</strong>signou o logar ao lado <strong>de</strong> geraldinistas<br />

e seus rivaes.<br />

Ultimamente, porém, tem se dado<br />

aqui um facto anormal.<br />

A policia, evi<strong>de</strong>ntemente do partido<br />

da Geraldine, quando presente o mais<br />

leve rancor da pateada, investe como<br />

bando <strong>de</strong> selvagens, sabre em punho,<br />

e carrega sobre o publico, effectuando<br />

prisões, maltratandç os espectadores, e<br />

provocando gravíssimas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns.<br />

Os <strong>de</strong>sgraçados que teem a infelicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cahir nas unhas da policia soffrem<br />

vexames, maus tratos... e passam<br />

uma noite no Aljube, d'on<strong>de</strong> são remetlidos<br />

no dia seguinte para o tribunal!<br />

É inaudito este procedimento !<br />

Não achamos <strong>de</strong>licado que se pateie<br />

uma boa artista e uma lindíssima mulher,<br />

como Geraldine; parece-nos pouco<br />

correcto incommodar o publico com manifestações<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado exaggerado,<br />

mas não admitlimos tanrbem que a policia<br />

prohiba <strong>de</strong> se manifestar, pró ou<br />

conlra, a quem pagou o seu bilhete, e<br />

revolta-nos a prisão arbitraria com a circumstancia<br />

<strong>de</strong> se maltratar o que está<br />

no uso d'um direito, e não <strong>de</strong>sacata a<br />

auctorida<strong>de</strong> — pouco credora, diga-se a<br />

verda<strong>de</strong> — ao nosso respeito,<br />

Se a policia não mudar <strong>de</strong> rumo, teremos<br />

a regalar novos tumultos, e bem<br />

graves, talvez.<br />

A responsabilida<strong>de</strong> eahirá somente a<br />

quem dá or<strong>de</strong>ns disparatadas e impru<strong>de</strong>ntes.<br />

Geraldine não lucra nada com arbitrarieda<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong>saforos policiaes.<br />

Apezar <strong>de</strong> ler diminuído em carnes<br />

não diminuiu em admiradores, e conlinúa<br />

a ser a triumphadora, a <strong>de</strong>slumbrante!<br />

8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />

Fra-Diavolo.<br />

João Chagas<br />

Em breves dias estará em Lisboa<br />

este synipathico republicano e audacioso<br />

jornalista, a figura mais proeminente do<br />

movimento revolucionário <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro.<br />

Na capital espera-o o administrador<br />

d'A Portugueza, sr. Dionysio dos Santos<br />

Silva, um sincero <strong>de</strong>mocrata, e intimo<br />

amigo do <strong>de</strong>portado politico.<br />

Apezar <strong>de</strong> lodos os esforços do governo,<br />

disposto a empregar a força para<br />

conter os enthusiasmos do povo, a presença<br />

<strong>de</strong> João Chagas na capital ha <strong>de</strong><br />

emocionar os nossos correligionários que<br />

hão <strong>de</strong> recebel-o com effusiva alegria.<br />

Uma baleia vivai<br />

O comité da exposição <strong>de</strong> Chicago<br />

julgou que uma baleia viva seria um<br />

objecto muito interessante a expor na<br />

secçã» das pescarias. Consequentemente,<br />

está em via do organisar-se uma expedição<br />

com o lim <strong>de</strong> capturàr o enorme cetáceo.<br />

A captura não será fácil, visto<br />

que não po<strong>de</strong>rão servir-se <strong>de</strong> harpões.<br />

A baleia, uma vez presa, será collocada<br />

num reservatório monstro, e rebocada<br />

até Chicago pelo rio S. Lourenço e pelos<br />

gran<strong>de</strong>s lagos.<br />

Emilio Castelar<br />

Referem os jornaes hespanhoes que<br />

esle illustre orador acaba <strong>de</strong> dar por terminada<br />

a sua vida politica, retirando se<br />

por completo ; que se vae entregar a redacção<br />

d'uma Historia <strong>de</strong> Hespanha que<br />

ficará sendo o maior monumento da sua<br />

vida <strong>de</strong> escriptor e orador; que aconselhou<br />

os seus partidários a filiarem se no<br />

grupo <strong>de</strong> Sagasta, como sendo o que<br />

melhor tem con<strong>de</strong>scendido com as aspirações<br />

d'elle, Castelar.<br />

O facto, se bem que não nos penaíisa,<br />

surprehen<strong>de</strong>u-nos, não tanto pelo<br />

resto, mas pela audacia <strong>de</strong> Castelar em<br />

enviar os seus amigos para um grupo<br />

monarchico. A surpreza, comtudo <strong>de</strong>sce<br />

<strong>de</strong> ponto, se lhe <strong>de</strong>duzirmos o proce<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> Castelar ha algum tempo, affastando-se<br />

systemalicamente dos grupos republicanos<br />

e não pactuando com elles<br />

nem em luctas eleitoraes. Deduzido isto,<br />

fica <strong>de</strong> Castelar uma pequena sombra <strong>de</strong><br />

republicanismo, e já se conclue que, estaudo<br />

affaslado dos republicanos, com a<br />

sua gente, nenhuma falta agora lhes<br />

faz.<br />

Cremos até que a sua retirada beneficia<br />

a <strong>de</strong>mocracia hespanliola, por que<br />

nos convençemos que muitos dos seus<br />

proselytos, sobretudo os que, sendo republicanos,<br />

seguiam Castelar por fanatismo<br />

e por cohereucia, preferirão agora,<br />

ás hostes <strong>de</strong> Sagasta, irem-se alistar<br />

francamente nos partidos avançados da<br />

<strong>de</strong>mocracia.<br />

Em summa, o facto, não fere nos<br />

seus fundamentos a <strong>de</strong>mocracia liespànhola;<br />

em nossa opinião, a submersão<br />

<strong>de</strong> Castelar accelera o triumpho dos<br />

nossos correligionários visinhos.<br />

Morte repentina<br />

No domingo, 7, em um wagon <strong>de</strong><br />

3." classe, 'no comboio que seguia da<br />

Pampilhosa para Villar Formoso, falleeeu<br />

entre Morlagua e Sanla Comba Dão um<br />

pobre homem que regressava do Brazil,<br />

e que se dirigia a Villa Cova da Coelheira,<br />

sua terra natal, proximo a Castro<br />

Daire.<br />

As auctorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Comba tomaram<br />

conta do cadaver encontrando-lhe<br />

no forro do casaco cozido com todo o<br />

cuidado 15 libras em ouro e alguma<br />

prata.


, A.V\0 I — 8S O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1993<br />

LETTRAS<br />

Contos americanos<br />

PROPHECtAS ELECTItlCAS<br />

(CONCLUSÃO)<br />

— Como se administra agora a justiça<br />

?<br />

— Não lia tribunnes, nem criminoso?,<br />

já não ha o embaraço da proprieda<strong>de</strong>.<br />

Nos annos <strong>de</strong> fome não temos<br />

mais que electrisar os pobres para <strong>de</strong>pois<br />

os acordar nos annos <strong>de</strong> lartura.<br />

Quanto aos criminosos, a ceiteza<br />

absoluta <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>scobertos fel-os renunciar<br />

ao crime. A nossa moralida<strong>de</strong> é<br />

garantida, porque o pensamento é traduzido<br />

em expressão material, e tomam<br />

visível aos sentidos <strong>de</strong> lodos.<br />

—Isso é possivel ?<br />

— Espere.<br />

O doutor tirou do bolso um pequeno<br />

instrumento.<br />

—Olhe para aqui um minuto. Bem.<br />

Lein agora.<br />

Li o que eu pensava escriplo por<br />

extenso.<br />

— Mas então, disse eu ancioso, já<br />

não ha necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repor ters, nem<br />

<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>ntes.<br />

— Sem duvida. Com estas machinas<br />

qualquer pô<strong>de</strong> tudo fazer por si mesmo.<br />

Além d'isso, uma outra vantagem<br />

do systema: Àcabaram-se as noticias<br />

falsas, as polemicas entre os jornaes sobre<br />

a exactidão d'um facto.<br />

— E' falso! E' impossível! exclamei<br />

com a energia que dá o amor da<br />

arte.<br />

— Porquê? respon<strong>de</strong>u o doutor. No<br />

seu tempo o pobre Edison, apezar das<br />

suas i<strong>de</strong>ias atrazadas e dos seus processos<br />

infantis, não fixou a palavra?<br />

Porque não quer o meu amigo que nós<br />

possamos phoiographar o pensamento?<br />

— Mas assim <strong>de</strong>vem pren<strong>de</strong>r os criminosos.<br />

Certamente. Ás ereanças na escola<br />

todas as tar<strong>de</strong>s se lhes pholographa o<br />

cerebro. Seguimos assim os progressos<br />

das suas i<strong>de</strong>ias.<br />

Destroem-se as más e subslituem-se<br />

por boas. Não' ha já nem advogados,<br />

nem juizes, nem homens da lei, nem<br />

policias, nem prisões.<br />

Os criminosos endurecidos, aquelles<br />

que foram electrisados no seu tempo,<br />

são tratados como ereanças, se resistem<br />

e são muito difficeis <strong>de</strong> curar, eleclrisam-se<br />

<strong>de</strong> novo. Vê<strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> economia<br />

para o Estado.<br />

Nesta altura pareceu-me que elle<br />

olhava para mim. Tornei-me pallido.<br />

— Esteja <strong>de</strong>scançado, me disse rindo.<br />

Os jornalistas são pobres diabos, e<br />

<strong>de</strong>pois a sua profissão <strong>de</strong>ixa-lhes tão pouco<br />

tempo disponível, que não tem tempo<br />

<strong>de</strong> pensar no mal, por isso chegam<br />

aqui, geralmente bem disciplinados.<br />

— Mas penso, doutor, com todas essas<br />

invenções electro. — Como dizeis?—<br />

Porque não me põe em communicação<br />

immediala com o seu cerebro? Leria alli<br />

todos os seus pensamentos, e apreciaria<br />

uma a uma todas as maravilhas que<br />

ainda me não ensinou ?<br />

— Ai <strong>de</strong> si, mancebo, aqui a cara<br />

do sábio tornou se profundamente triste,<br />

o seu espirito seria afogado na massa<br />

das questões que fervem neste craneo...<br />

— Desculpe me, doutor e permittanie<br />

uma ultima pergunta: acredita que<br />

com todos esses apparelhos, os homens<br />

consigam viver eternamente ?<br />

—E' difficil. „.<br />

— Mas não po<strong>de</strong>m in<strong>de</strong>finidamente<br />

tlectrisar o corpo? Isto parece uma immortalida<strong>de</strong><br />

pratica.<br />

—Tudo tem limite. A cada electrisação<br />

o corpo per<strong>de</strong> alguma coisa da sua<br />

própria personalida<strong>de</strong>, da sua vitalida<strong>de</strong><br />

particular. Todavia nós vivemos mais<br />

tempo que os seus contemporâneos 500<br />

annos médios. Po<strong>de</strong>mos mesmo alcançar<br />

os 1:000, mas <strong>de</strong>pois?... Keliro-me,<br />

tenho muita pressa...<br />

Ainda uma palavra: qutfl é o segredo<br />

da vida humana?<br />

Sem duvida o doutor não estava habituado<br />

ás perguntas dos jornalistas. Sem<br />

me respon<strong>de</strong>r voltou-se para o ajudante<br />

que o não tinha <strong>de</strong>ixado.<br />

Não pronunciou uma palavra ma» o<br />

ajudante, pegando-me pelos braços, lançou-me<br />

num gran<strong>de</strong> tubo semelhante ao<br />

cano d'uma arma <strong>de</strong> fogo gigantesca.<br />

Estalou uma<strong>de</strong>tonação formidável. Eu<br />

fui (fuzilado para traz,» á primavera do<br />

anno 1882. E cabindo em (ima do telhado<br />

<strong>de</strong> minha casa, fiquei pendurado<br />

docemente sobre o craneo polido d'um<br />

homem <strong>de</strong> rosto austero e bondoso. Reconheci<br />

o meu busto <strong>de</strong> Benjamim Franklini,<br />

alojado irreverenciosamente nas<br />

aguas Cortadas pelas suas dimensões incommodus.<br />

Des<strong>de</strong> este dia respeito mais que<br />

d'anles o meu Franklin.<br />

Na realida<strong>de</strong>, experimentei a sua forte<br />

cabeça.<br />

E, muitas vezes, penso que é em<br />

gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>vido a elle, que nós possuímos<br />

esses maravilhososphones, graplies,<br />

e lypos qiie neste momento trabalham —<br />

talvez — para bem da humanida<strong>de</strong>.<br />

Esperando!<br />

Jehan Soudan.<br />

Acabava <strong>de</strong> soar a meia noite no pequeno<br />

e argenteo relogio da alcova perfumada<br />

<strong>de</strong> Bosita, e ella..., sempre<br />

alegre, sempre jovial, foi sentar-se como<br />

<strong>de</strong> costume no seu poético varandim. As<br />

trepa<strong>de</strong>iras, coiladitas, eurvando-se muito<br />

humil<strong>de</strong>s, muito respeitosas, vinham beijar<br />

os pequeninos pésiOs passarinhos, que<br />

das tenras hasteas dos arbusto» faziam,<br />

o seu berço d amor, piavam tristemente,<br />

melancholicamente !<br />

Os rouxinoes, dos elevados olmeiros<br />

soltavam saudosas en<strong>de</strong>ixasá* suas amantes<br />

philonielas... e Rosa, sempre alegre,<br />

semprejovial, sorria angelicamente, pensando<br />

ouvir a cada momento a encantadora<br />

voz do seu amuado Armando.<br />

O seu espirito brincava como uma<br />

creança per<strong>de</strong>ndo se em phantasticas concepções!<br />

Tudo flores... tudo amor...<br />

tudo poesia!... As outras rositas do<br />

jardim, mas lindas irmãs, acenavam lhe<br />

<strong>de</strong> vez em quando impelidas docemente<br />

pela fresca aragem da manhã.. . e ella,<br />

a Rosita, sempre alegre, sempre jovial,<br />

começava <strong>de</strong> entristecer.<br />

Esse amor... essas flores... essa<br />

poesia divinal... tudo fugira veloz,<br />

muito veloz! A razão perturbava-se-lhe<br />

e o espirito já não phantasiava tão docemente<br />

! Soffria, solíria bastante! A lua,<br />

inda que sempre palida e triste, espreitando<br />

<strong>de</strong> além,.<strong>de</strong> muito além, por entre<br />

a negra ramagem das arvores frondosas,<br />

sorria sarcaslica e cruelmente ao contemplar<br />

o rosto angustioso mas sempre angélico<br />

<strong>de</strong> Rosa, e ella... sempre alegre,<br />

sempre jovial, pa<strong>de</strong>cia, pa<strong>de</strong>cia atrozmente<br />

!<br />

As lagrimas inundavam-lhe as faces<br />

alvíssimas, <strong>de</strong>scendo aos pares a beijar-<br />

Ihe o arfante seio!... e a brisa, passando<br />

ao <strong>de</strong> leve por entre os lios do seu Cabello<br />

côr <strong>de</strong> oiro, fazia ouvir uma suavíssima<br />

e encantadora harmonia.<br />

Haviam já soado as Ires da madrugada<br />

; aurora ri<strong>de</strong>nte e bella! As avesinhas<br />

acordando do seu arrulhar tão meigo,<br />

vinham a<strong>de</strong>jar por sobre o jardim, soltando<br />

melodiosos trinados, e llosa... triste e<br />

pesarosa, permanecia fria e immovcl qual<br />

estatua, encostada ao peitoril do varandim.<br />

As outras rositas, como querendo<br />

suavisar tão longo martyrio, sorriam-lhe<br />

meigamente mas <strong>de</strong> coração afflicto.. .,<br />

porém ella já as não via, gelára-se-lhe o<br />

pranto nos olhos, já não chorava!...<br />

E quando o sol apparecia altivo, orgulhoso<br />

e immenso por entre a espessa ramagem<br />

do bosque fronteiro, vindo heijar-llie com<br />

alguns dos seus raios a fronte angustiosa<br />

e palida, angélica e candida ella, conservando<br />

nos lábios um doce sorrir divinal<br />

com os olhos marejados e fixos no horisonle,<br />

permanecia, coiladita, permanecia<br />

ainda encostada ao varandim! Já não<br />

soffria!... Bosa, sempre alegre, sempre<br />

jovial, eslava louca !<br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

qA. cA. <strong>de</strong> SMattós.<br />

Está salva a coisa...<br />

E' muito fallada nos centros políticos<br />

a approximação do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valbom<br />

e do Carlinhos ao partido progressista,<br />

d'on<strong>de</strong> sahiram por incompatibilida<strong>de</strong><br />

com o chefe, sr. José Luciano, <strong>de</strong><br />

quem agora dizem maravilhas.<br />

Esta conciliação, affirmam os que<br />

enten<strong>de</strong>m, é <strong>de</strong> alta vantagem para os<br />

negocios do paiz e moralisação <strong>de</strong> costumes.<br />

Elle cheira 9 isso...<br />

A egreja da Sé Velha<br />

A noticia que o correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

Lisboa mandou para -o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro,<br />

acerca do que disse o sr. Possidonio<br />

da Silva na commissão dos monumentos,<br />

referindo »e á restauração da<br />

eureja da Sé Velha, produziu péssima<br />

impressão no publico d'esla cida<strong>de</strong> conhecedor<br />

do assumpto.<br />

O sr. Posndonio, na sua caturrice<br />

<strong>de</strong> Sabio, cujo cerebro se vae ossificando,<br />

consi<strong>de</strong>ra a obra que se está fazendo<br />

naquelle templo — um altentado contra<br />

o pensamento original do architecto que<br />

<strong>de</strong>lineára o edifício — e reclama a attenção<br />

do governo para este facto!<br />

Nunca se viu audacia tão pyramidal,<br />

nem asserção mais grosseira. Este Possilonio,<br />

que por <strong>de</strong>speito ou por maldado<br />

preten<strong>de</strong> fazer insinuações calumniosa»,<br />

a fingir-se erudito!<br />

Havemos <strong>de</strong> rir — e rir muito —<br />

quando o sr. Antonio Augusto Gonçalves,<br />

que é um dos membros da commissão<br />

encarregada <strong>de</strong> dirigir a restauração<br />

d'aquelle templo, o chamar á responsabilida<strong>de</strong><br />

da asserção que vomitou.<br />

Este critico, cuja orientação ha muito<br />

está <strong>de</strong>finida, e consi<strong>de</strong>rado como um<br />

insignificante, julga que em <strong>Coimbra</strong><br />

não ha ninguém competente para um<br />

trabalho <strong>de</strong>sta imporlancia, e como<br />

uão tem sido ouvido, nem con


ANNO I—N.» 85 O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1§»3<br />

Conselho <strong>de</strong> ileoanog<br />

Reuniu honlem o conselho <strong>de</strong> <strong>de</strong>canos<br />

para nomear os jurys para os exames<br />

<strong>de</strong> preferencia, que ficou assim composto<br />

:<br />

Grego — Drs. Manoel <strong>de</strong> Jesus Lino,<br />

Antonio Garcia Ribeiro <strong>de</strong> Vasconcellos<br />

e Francisco Martins.<br />

Allcmão: — Drs. Anlonio José Gonçalves<br />

Guimarães, Teixeira Bastos e José<br />

Maria Rodrigues.<br />

Inglez—Drs. Augusto ltoclia, Francisco<br />

Antonio Diniz e o professor do<br />

lyceu Hermann Diirlisen.<br />

O mesmo conselho informou favoravelmente<br />

o pedido do ministro da Allemanha,<br />

em Lisboa, para que fosse admittido<br />

como alumno voluntário da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Direito um estudante allemão.<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

Esta faculda<strong>de</strong> marcou ponto para o<br />

dia 27 do corrente, principiando os actos<br />

no dia 2 do proximo junho.<br />

As posturas municipaea e o<br />

eomniercio<br />

A policia continúa a multar o sr*<br />

Antonio Augusto <strong>de</strong> Sá, pela transgressão<br />

do n.° 9, do art. 120, do codigo <strong>de</strong><br />

posturas, e aquelle commerciante insi-te<br />

em conservar ás portas do seu estabelecimento<br />

as amostras das fazendas.<br />

A ultima multa, no domingo é do<br />

guarda n.° 45, Manoel Francisco, na<br />

importancia <strong>de</strong> 2$000 réis.<br />

Que isto é um abuso dos guardas<br />

não otíerece duvida alguma e quasi nos<br />

convencemos <strong>de</strong> que o sr. commissario<br />

<strong>de</strong> policia não tem d'este fscto conhecimento.<br />

Porque o n.° 9 do art. 120, só prohibe<br />

que se conservem fazendas ás portas—<br />

mesmo a lilulo <strong>de</strong> amostras! E<br />

é certo que todo o commercio — os proprios<br />

vereadores! — transgri<strong>de</strong>m esta<br />

disposição das posturas, e comtudo a<br />

policia <strong>de</strong>ixa-os em paz I Logo a perseguição<br />

que se*está fazendo ao sr. Anlonio<br />

<strong>de</strong> Sá sobre ser iníqua é vexatória<br />

e por isso aqui pedimos provi<strong>de</strong>ncias<br />

para o abuso que se esta exercendo cora<br />

um commerciante que tem direito a gozar<br />

das mesmas regalias concedidas á sua<br />

classe.<br />

Sfo Theatro-Cireo<br />

Francisco Lucas, o activo e inlelligente<br />

emprezario do theatro D. Luiz vae<br />

dar nesta casa <strong>de</strong> espectáculos uma recita<br />

em seu benelicio, na noite <strong>de</strong> 20<br />

do corrente.<br />

A companhia dirigida pelo actor Taveira<br />

é que toma parte no espectáculo;<br />

o que equivale a prognosticar uma esplendida<br />

noite.<br />

Francisco Lucas, merece do publico<br />

toda a protecção; elle que se não tem<br />

poupado a esforços para nos mimosear<br />

com as novida<strong>de</strong>s theatraes, bem merece<br />

que o publico concorra á sua festa,<br />

pagando-lhe assim os seus sacrifícios.<br />

84 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A jpiA i u m m<br />

X<br />

A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />

Carlo-Felice<br />

Impressionado por esla nova idéa,<br />

parecia-lhe um ruido importuno a obraprima<br />

<strong>de</strong> Bellini; <strong>de</strong>sejava que <strong>de</strong>sapparecessem<br />

sem <strong>de</strong>mora a Norma, o gransacerdote,<br />

e lodos aquelles druidas Gomo<br />

todas as operas teem lim, chegou finalmente<br />

a hora da sahida, indo Paulo<br />

Gréant collocar se encostado, a uma<br />

columna, em um sitio escuro, mas muito<br />

proximo <strong>de</strong> uma passagem brilhantemente<br />

illuminada<br />

Os espectadores sabiam em massa<br />

compacta; e seriam necessários todos os<br />

olhos <strong>de</strong> Argus para distinguir e seguir<br />

todas as pessoas, que sabiam pelas cinco<br />

portas do theatro; mas a inlelligencia<br />

que, invisível, nos conduz e que se<br />

chama acaso, veio em auxilio do joven artista<br />

c fez passar junto d'elle o homem<br />

que elle espçrava.<br />

A pressão da chusma impediu que<br />

o braço <strong>de</strong> Gréant alcançasse Talormi.<br />

Hospitaea da IJniveraidado<br />

Teve approvação o orçamento* supplementar<br />

d'esle estabelecimento do Estado<br />

para o anno economico <strong>de</strong> 1892-<br />

1893, na importancia <strong>de</strong> 3:936/684<br />

réis.<br />

A bem da instrucçíío<br />

Noticiam que a camara municipal <strong>de</strong><br />

Guimarães creára um premio <strong>de</strong> 30$000<br />

réis para o alumno <strong>de</strong> instrucção primaria<br />

que mais se distinguisse no exame<br />

<strong>de</strong> admissão aos lyceus<br />

Que os nossos vereadores ponham os<br />

olhos neste incentivo á instrucção popular<br />

e se resolvam a trabalhar em seu<br />

benelicio.<br />

O donativo feito á camara pelo benemerilo<br />

cidadão dr. Henriques Secco, que<br />

a ella legou a sua importante bibliotlieca,<br />

constilue um bello elemento para se<br />

organisar por conta do município um<br />

gabinete <strong>de</strong> leitura, po<strong>de</strong>ndo com isto<br />

utilisar muito a instrucção popular.<br />

São <strong>de</strong>corridos quasi 6 mezes e ainda<br />

ninguém viu a camara affirmar-se em<br />

em qualquer acto que a elevasse quasi<br />

a vemos limitada ao expediente diário,<br />

sem que a preoccupem os importantes melhoramentos<br />

que lorain o cavalio <strong>de</strong> batalha<br />

para a conquista nos logares do<br />

senado.<br />

A <strong>de</strong>cepção porque está passando o<br />

publico conimbricense—que muito coniiou<br />

nos actuaes vereadores, e mormente<br />

no individuo que assumiu a presi<strong>de</strong>ncia—<br />

é gran<strong>de</strong>, e maior será se continuarmos<br />

a presenceiar a mesma indilferença<br />

e a mesma inércia que se está<br />

notando na administração municipal <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

janeiro até hoje.<br />

Que a provi<strong>de</strong>ncia illumine os edis<br />

conimbricenses.<br />

Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valença*<br />

Muito brevemente se realisará na<br />

sala da Associação dos Artistas a sessão<br />

solemne para inaugurar o retrato d'este<br />

titular, presi<strong>de</strong>nte honorário d'esta associação.<br />

Affirma-se que será uma festa <strong>de</strong>slumbrante<br />

para o que trabalham com<br />

enthusiasmo os actuaes corpos gerentes.<br />

Club doa t açadorea<br />

O digníssimo secretario d'esta sympathica<br />

associação acaba <strong>de</strong> entregar ao chefe<br />

da primeira esquadra, com or<strong>de</strong>m do sr.<br />

commissario <strong>de</strong> policia, 4#500 réis para<br />

serem dados ao policia n.° 49. Este donativo<br />

è em cumprimento da promessa<br />

feita por este Glub num annuncio que<br />

aqui publicámos: recompensar aquelle<br />

que avisasse o Club, ou fizesse entregar<br />

a justiça, todo o individuo que faltasse<br />

ao comprimento da lei e caçasse durante<br />

o tempo em que é <strong>de</strong>feza a caça.<br />

Cultura do chá<br />

Na quinta agrícola tem-se experimentado<br />

a cultura do chá, e informamnos<br />

<strong>de</strong> que os seus resultados até hoje<br />

tem sido muito promettedores.<br />

O diplomata <strong>de</strong>sceu apressadamente<br />

os <strong>de</strong>graus do peristylo e per<strong>de</strong>u se,<br />

durante momentos no meio da multidão,<br />

para tornar a apparecer no meio da praça<br />

quasi <strong>de</strong>serta, pois que todas as pessoas,<br />

que sabiam do theatro, seguiam, peln rua<br />

(le Carlo Felice para a strada novíssima<br />

e para os bairros opulentos.<br />

Paulo seguiu "Talormi, que andava<br />

com os passos mysteriosamente precipitados<br />

como homem lançado na pista <strong>de</strong><br />

uma boa aventura, conquistada entre<br />

duas cavatinas. O prestigitador não duvidava<br />

<strong>de</strong> que alguém o seguia; ter-seia<br />

se pu<strong>de</strong>sse, empalmado a si proprio e<br />

Paulo não o teria podido ver no meio<br />

das trevas. Ambos, a certa distancia um<br />

do outro, entraram em um labyrintho <strong>de</strong><br />

ruas, que conduzem á ponte da Cariguan.<br />

O ultimo nunca perdia <strong>de</strong> vista o primeiro,<br />

apezar da illuminação ser unicamente<br />

fornecida pelas estrellas.<br />

Talormi subiu uma rua Íngreme, ao<br />

O ília <strong>de</strong> Itoje<br />

Nesta madrugada sahiram em direcção<br />

ao Bussaco muitos forasteiros d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

O comboio ia a abarrotar <strong>de</strong> passageiros<br />

; além <strong>de</strong> muitas carruagens<br />

que sairam conduzindo famílias.<br />

O Choupal também é costume ser<br />

muito visitado, passando-se naquelle <strong>de</strong>licioso<br />

retiro um dia alegre e divertido<br />

— á vonta<strong>de</strong>.<br />

Que a vida são dois dias!<br />

Monte-pio Conimbricense<br />

Foi distribuído aos socios d'esta<br />

associação <strong>de</strong> soccorros mutuos o projecto<br />

' da reforma <strong>de</strong> estatutos <strong>de</strong>vendo<br />

reunir a assemblêa geral para a sua discussão<br />

e approvação no dia 1.° do proximo<br />

mez.<br />

Fallecimento<br />

Falleceu esta semana o commerciante<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, sr. Anlonio Marques<br />

Cepo, que ha tempos enfermara.<br />

A sua família os nossos pezames.<br />

Franciaeo Hespanhol<br />

Foi na terça feira o enterramento<br />

d'esle infeliz homem, que eslava estabelecido<br />

na praça do Commercio. Deixa<br />

sauda<strong>de</strong>s aos seus, por quem era <strong>de</strong>dicado<br />

em extremo, e que agora lamentam tão<br />

<strong>de</strong>sastrado acontecimento.<br />

Os nossos sentimentos a sua família.<br />

A transformação social<br />

Haverá ainda acaso alguém que<br />

convicta e consciosamente creia que no<br />

mesmo meio em que estamos vivendo,<br />

e sem radical transformação politica,<br />

para d'esta po<strong>de</strong>r proce<strong>de</strong>r uma verda<strong>de</strong>ira<br />

regeneração, social po<strong>de</strong>rá melhora<br />

r-seí*. > » . . . . .<br />

Supposto que o interesse material, individual,<br />

também, em muitos íiomens, forme<br />

convicções mal fundadas e consciências<br />

erróneas, quer-nos parecer que nem<br />

os proprios a quem interessa a ausência<br />

dos elementos essenciaes para constituir<br />

um governo digno <strong>de</strong> uma nação<br />

mais ou menos polida, estão convencidos,<br />

no seu foro interno, <strong>de</strong> que a nação<br />

portugueza pô<strong>de</strong> melhorar das infelizes<br />

e anarchicas, se pô<strong>de</strong> dizer, con-<br />

dições em que se encontra, sem uma<br />

transformação politica, que baseia a melhoria<br />

dos serviços públicos, realisando<br />

incessante e progressivamente um governo<br />

realmente livre, acompanhado <strong>de</strong><br />

moralida<strong>de</strong>, primeiro que tudo, <strong>de</strong> economia,<br />

<strong>de</strong> rectidão, e <strong>de</strong> justiça, predicados<br />

estes, que, por via <strong>de</strong> regra, se não lêem<br />

manifestado nas muitas e variadas administrações<br />

que o liberalismo constitucional<br />

tem imposto ao paiz, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1834,<br />

e muito accentuadaraente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

1852, tendo mostrado uma observação<br />

constante, que <strong>de</strong> parle nenhuma até ao<br />

presente tem advindo nova melhoria positiva,<br />

sensível, que faça mudar a face<br />

da governação publica, e nem já se es-<br />

o muro e seguir Talormi na sua expedição<br />

mysteriosa; <strong>de</strong>sceu lentamente a rua,<br />

reflectindo e torneando sempre o muro<br />

do jardim, encontrou no seu angulo extremo<br />

um palacio, cuja fachada dava para<br />

uma curta rua. Sobre o brazâo da porta<br />

elle po<strong>de</strong>ria ver duas lettras, pintadas <strong>de</strong><br />

azul — dois SS.<br />

Paulo recwiheeeu cf palacio <strong>de</strong> Santa-<br />

S.cata.<br />

Neste bairro da cida<strong>de</strong> muitas pessoas<br />

gosavam, cantando o fresco da noite: e<br />

diante <strong>de</strong> uma loja <strong>de</strong> livreiro alguns<br />

genovezes peripatetas cantavam solta voce<br />

uma especie <strong>de</strong> nocturno primitivo que<br />

começa:<br />

Bove, bove, dolce andate.<br />

Tutte le porte son serratte.<br />

A loja era illuminada por um pequeno<br />

candieiro. Paulo entrou com espanto<br />

cimo da qual passou<br />

do dono da loja, o qual apesar da hora<br />

adiantada da noite,- achou bem <strong>de</strong>pressa<br />

diante <strong>de</strong> um a explicação da visita<br />

muro velho, muito damnificado pelas Gréant, tendo pedido a Guia do via-<br />

raízes das vinhas silvestres e outras jante na ltalia, era, pensava o livreiro,<br />

plantas: saltou por cima do muro e um extrangeiro, que sem duvida partia<br />

<strong>de</strong>sappareceu.<br />

<strong>de</strong> madrugada e que ás onze horas<br />

Paulo ficou immovel como um <strong>de</strong>us- da noite procurava um livro indispensável.<br />

termo e confundido <strong>de</strong> estupefação.<br />

As livrarias são muito frequentadas<br />

Assaltou-o um presentimento, mas lor- em Génova não só pelos eruditos, mas<br />

riu-se do seu presentimento, e envergo- também pelos extrangeiros e pelos estunhou<br />

se da i<strong>de</strong>ia absurda, impossível, que dantes. O livreiro era alegre e gostava<br />

acabava <strong>de</strong> atravessar o seu espirito, das conversações philosophícas; era cu-<br />

como um sonho <strong>de</strong> louco.<br />

rioso como um barbeiro e dirigia nunie-<br />

Gréant não julgou conveniente saltar (osas perguntas ao seu freguez <strong>de</strong> passa-<br />

pera, ou é dado esperar, para allivio e<br />

bem do paiz.<br />

Se são verda<strong>de</strong>iros, como são, os males<br />

<strong>de</strong> que o paiz está soflrendo, inales<br />

reconhecidos por todos, embora attenuados<br />

por alguns e combatidos, como merecem,<br />

por outros; se as garantias populares<br />

estão restringidas, <strong>de</strong>vendo ser<br />

ampliadas ao passo que a illustração ia<br />

progredindo; se os impostos tem crescido<br />

enormemente, quando <strong>de</strong>viam ter diminuído,<br />

pela bem sabida escassez dos<br />

recursos dos contribuintes, motivado pela<br />

crise agrícola <strong>de</strong>vastadora ; se a divida<br />

publica fluctuanle e consolidada subiu a<br />

tal altura que causa cuidados'e susto<br />

<strong>de</strong>ntro e fóra do paiz; se a moralida<strong>de</strong><br />

tem <strong>de</strong>sapparecido como espavorida e<br />

acossada pôr aquelles que <strong>de</strong>viam edificar<br />

e moralisar os povos com os seus<br />

bont exemplos; se a economia se converteu<br />

em <strong>de</strong>sperdícios, dissipações e<br />

<strong>de</strong>spezas inúteis e improductivas e luxuosas,<br />

muitas; se o peculato, este crime<br />

feio, repellente, e outros roubos »e<br />

tem creado e mantido ao lado e no centro<br />

mesmo das repartições publicas centraes<br />

e sociaes, como se diz publicamente,<br />

e não ha exemplo <strong>de</strong> uma só<br />

punição, quando se trata <strong>de</strong> criminosos<br />

altamente collocados ou pelo seu pezo<br />

politico, ou pela sua riqueza e nem mesmo<br />

<strong>de</strong> se ver processamente a sério; se<br />

ha se<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça imparcial, e dissesse,<br />

como <strong>de</strong>ve ser, <strong>de</strong> todo o influxo faccioso,<br />

«alvo honrosas excepções, e é<br />

urgente e impreterível prover <strong>de</strong> remedio<br />

efficaz para curar tantos e tão gran<strong>de</strong>»<br />

males quaes hão <strong>de</strong> ser os homens<br />

quo os hão <strong>de</strong> curar a par do systema<br />

politico que nos rege ?<br />

• Hão <strong>de</strong> cural os aquelles mesmos que<br />

os tem creado, fomentado e tolerado, ou<br />

outros quaesquer pertencentes á mesma<br />

escola ?<br />

Ninguém <strong>de</strong> siso e em boa fé o po<strong>de</strong>rá<br />

affirmar e menos acreditar.<br />

(Conclue).<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />

A. GRANEL<br />

Devido aos esforços d'alguns nossos<br />

correligionários vae fundar-se em Lamego<br />

um novo centro republicano, que será<br />

<strong>de</strong>nominado Centro Democrático Lamecense.<br />

* * * Nos dias 21 e 22 do corrente<br />

<strong>de</strong>ve realisar se em Liège um congresfo<br />

dos livres pensadores belgas.<br />

Entre outros assumptos tratar-se-ha<br />

dos direitos da mulher.<br />

* * * Em Agueda vão muito adiantados<br />

os trabalhos agrícolas, embora os<br />

braços tenham escasseiado.<br />

* * # Parece que Gavarre achou<br />

artista que o substitua. E' o tenor hes-<br />

gem. Folheando o seu livro, Paulo Gréant<br />

disse-lhe:<br />

— Deve aqui fazer bom negocio;<br />

está em um bello bairro, cercado <strong>de</strong><br />

palacios e <strong>de</strong> nobreza. Alli <strong>de</strong>fronte ha<br />

um soberbo edifício.<br />

— E' o palacio do principe <strong>de</strong> Santa-<br />

Scala, meu visinho e meu freguez...<br />

não elle; mas o palacio O principe,<br />

apezar <strong>de</strong> ser ainda novo, é um antigo<br />

marinheiro, que agora se <strong>de</strong>dica ás or<strong>de</strong>ns<br />

religiosas e que não compra obras<br />

mundanas... Más a irmã do principe<br />

compra muitas vezes livros para uma<br />

encantadora creança, que, segundo se<br />

diz, ella adoptou., .<br />

— A irmã do principe? interrompeu<br />

Paulo com um esforço sobrehumano.<br />

— Sim, senhor, a irmã do principe...<br />

uma soberba mulher, que ultimamente<br />

casou com um almirante hollan<strong>de</strong>z.<br />

— E que sahiu <strong>de</strong> Génova com seu<br />

marido, <strong>de</strong>pois do seu casamento? perguntou<br />

convulsivamente Gréant.<br />

— A senhora Memma Ritter sahiu <strong>de</strong><br />

Génova! disse o livreiro batendo na<br />

cabeça, v. ex. a está enganado. Ainda<br />

esla manhã tive a honra <strong>de</strong> fallar com<br />

ella...<br />

— On<strong>de</strong>?!<br />

— Alli <strong>de</strong>fronte; no palacio <strong>de</strong> Santa-<br />

Scala. Hoje <strong>de</strong> manhã mandou-me pedir<br />

algumas obras francezas, umas ultimamente<br />

publicadas e outras mais antigas.<br />

Vendi-lhea Viagem á ltalia, <strong>de</strong> Lalandi; e<br />

Historia do povo <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> Berruyer,<br />

panhol Mueso, a quem a archiduqueza<br />

regente <strong>de</strong> Hespanha acaba <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r<br />

um subsidio para elle aperfeiçoar a sua<br />

educação musical.<br />

# * * A l'etrole Pisuner Corporation<br />

fabrica no seu estabelecimento <strong>de</strong><br />

Hackuey-Vick em Londres petróleo em<br />

briquette* para uso domestico e- commercial.<br />

A potencia calórica do novo<br />

combustível, comparada com a da hulha<br />

seria na proporção <strong>de</strong> 3 a 1, e o uso do<br />

petroleo solidificado trazia uma economia<br />

<strong>de</strong> pelo menos <strong>de</strong>z por cento em combustível<br />

comparada com o preço da<br />

hulha.<br />

# * # A companhia dos caminhos<br />

<strong>de</strong> ferro do norte e leste, vae comprar<br />

terrenos na Pampilhosa para fazer cons-<br />

truir ali uma estação sua, afim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

rescindirão contracto que tem com a companhia<br />

da Beira Alta.<br />

Prevenimos os nossos<br />

estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />

fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

vamos principiar a cobrança<br />

das suas assignaturas relativamente<br />

ao 2. semestre.<br />

Aos que não tiverem pago<br />

o 1.° semestre enviamos<br />

recibos do anno completo.<br />

Pedimos a todos o obsequio<br />

<strong>de</strong> pagarem logo que<br />

lhes seja apresentado o recibo<br />

ou mandarem pagar<br />

ás respectivas estações do<br />

correio quando receberem<br />

aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />

<strong>de</strong>volução, que, além do<br />

prejuízo que nos causa, embaraça<br />

a boa regularida<strong>de</strong><br />

da nossa administração.<br />

Associação dos Artistas<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Quem preten<strong>de</strong>r o logar <strong>de</strong> cobradorcontinuo<br />

d'esta Associação, queira dirigir-se<br />

até ao dia 12 do corrente, em<br />

carta fechada, ao presi<strong>de</strong>nte da Direcção,<br />

apresentando as suas propostas ou por<br />

percentagem da cobrança ou por or<strong>de</strong>nado<br />

lixo.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />

O secretario,<br />

Francisco Alves Teixeira Braga.<br />

em <strong>de</strong>z volumes; a obra completa <strong>de</strong><br />

Piranése ácerca <strong>de</strong> Roma; o Cerco <strong>de</strong><br />

Roma em 1527, pelo marquez <strong>de</strong> Bonaparte;<br />

os Doze Cezares; os sonetos <strong>de</strong><br />

Tasso a Leonor <strong>de</strong> Esle; Paulo e Virgínia;<br />

as Fabulas <strong>de</strong> Fenélon; as poesias <strong>de</strong><br />

André Chenier, e <strong>de</strong> Viclor Hugo e muitos<br />

mais livros ainda, francezes, inglezes e<br />

italianos. Se eu tivesse em toda a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z freguezes como a senhora Van Ritter<br />

e a sua joven protegida, estava eu rico<br />

no fim <strong>de</strong> um anno.<br />

— Tem a certeza <strong>de</strong> se não enganar?<br />

perguntou Paulo com uma voz quasi<br />

extincta e que elle fazia esforços para<br />

reanimar. Com certeza foi á senhora<br />

Van-Ritter que o senhor ven<strong>de</strong>u todos<br />

esses livros ?<br />

— Ali! disse o fallador livreiro, cruzando<br />

os braços sobre o peito; vae ver<br />

se conheço a minha formosa visinha. Genovetta<br />

fatta carne, Génova, feita carne,<br />

como aqui lhe chamam. Conheço-a <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

pequena; quando ella brincava diante da<br />

minha loja. Quebrou-me mais <strong>de</strong> vinte<br />

vidros. O mordomo do príncipe vinha<br />

logo pagar m'os e comprava-me sempre<br />

algumas imagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>vo.ção.<br />

Impresso na Typographla<br />

Operaria — Largo da Freiria n.®<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


ANNO I —N. 8 85 O D E F E N S O R DO P O V O 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1S»3<br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha .<br />

Repetições<br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 INTO<br />

74, Rua dos Sapateiros, 80<br />

111 M e , , d e " s e Ul,ia quinta com paúl<br />

l' para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />

no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />

Para tratarem com a sua proprietária<br />

D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />

Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />

ACTPRAS<br />

IMPRIMEM-SE<br />

Typographia Operaria<br />

Largo da Freiria, 14<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.»<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto^dos Santos<br />

EDITOK<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Com estampilha Sem estampilha<br />

Anno WOÒ Auno.^ 21400<br />

Semestre 1$350 Semestre 21J00<br />

Trimestre... 680 [ Trimestre ... 600


No parlamento<br />

Reabre ámanhã o parlamento;<br />

está prestes a occasião do governo<br />

prestar as suas conlas aos soi-disant<br />

representantes do paiz.<br />

O circo <strong>de</strong> S. Bento vae regurgitar<br />

<strong>de</strong> afficionados; - as galerias<br />

vão-se encher; o corpo diplomático<br />

não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ir receber as impressões<br />

que lia <strong>de</strong> transmitlir aos<br />

respectivos governos; o povo lia <strong>de</strong><br />

apurar o ouvido ás annunciadas reformas;<br />

o ministério lia <strong>de</strong> apresenlar-se<br />

solemne e fúnebre como<br />

quem tem cumprido austeramente<br />

o mais austero dos <strong>de</strong>veres; as pastas<br />

hão <strong>de</strong>-se abrir; vão ser <strong>de</strong>senroladas<br />

perante o paiz expectante<br />

as longas propostas <strong>de</strong> lei, extensas<br />

e luminosas, productos das acuradas<br />

lueubrações minisleriaes...<br />

Mas a lucta prepara-se rija; a<br />

opposição vae tomar os postos <strong>de</strong><br />

combate, para,a golpes <strong>de</strong> rhetorica—ariele<br />

potente das opposições<br />

parlamentares — balofa e ôcca, bater<br />

o reduclo,ministerial.<br />

Pela sua parle o ministério não<br />

<strong>de</strong>scança; precariamente confiado<br />

no mérito da sua obra, arrebanha<br />

com o maior cuidado, por esse paiz<br />

fóra, elementos <strong>de</strong> confiança que lhe<br />

vão servir <strong>de</strong> costas no combate<br />

que se vae travar.<br />

Os lelegrammas circulam por<br />

todo o paiz a chamar os íieis, com<br />

blandícias e mellifluida<strong>de</strong>s; cartas<br />

cheias <strong>de</strong> ternuras, como <strong>de</strong> namorados<br />

lambidos a convites <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>z-vous,<br />

recebem-nas lodos os dias<br />

os eleitos do povo que estão na<br />

graça do Senhor...<br />

É que o ministério receia-se e<br />

lem <strong>de</strong> quê.<br />

Cada ministro lem <strong>de</strong>. apresentar<br />

ao parlamento a conta corrente<br />

dos seus actos duranle o interregno<br />

parlamentar, e raro é o<br />

que não tem na consciência um<br />

peccadilho <strong>de</strong> que se arreceie. -<br />

O presi<strong>de</strong>nte do conselho lem<br />

conlas graves a prestar.<br />

A sua subserviência á corôa ha<br />

<strong>de</strong> ser motivo para que os padresmeslres<br />

<strong>de</strong> direito publico, os liberalões<br />

dos progressistas, <strong>de</strong>fensores<br />

acérrimos dos iinmortaes princípios,<br />

senlinellas vigilantes das immunida<strong>de</strong>s<br />

parlamentares, quando<br />

opposição, lhe casquem como em<br />

centeio ver<strong>de</strong>. E que as mãos lhes<br />

não dôam, porque, embora fossem<br />

capazes <strong>de</strong> fazer o mesmo, o facto<br />

é que o não íizeram agora —o responsável<br />

é o sr. Huitze Ribeiro.<br />

O sr. Fuschini, o integro e austero<br />

sr. Fuschini, não tem menos<br />

que recear dos nnpelos opposicionislas.<br />

Foi-se-lhe embora já a lenda<br />

<strong>de</strong> Calão intransigente e incorruptível,<br />

Cerbéro das linanças portuguezas,<br />

mais formidável que o<br />

outro não menos célebre da mylhologia.<br />

E lá lem no parlamento o sr.<br />

Fuschini aquella meada qaeas Novida<strong>de</strong>s<br />

lhe tecera, em que, é verda<strong>de</strong>,<br />

o sr. ministro da fazenda não<br />

tomou párte, mas a que lem já ligada<br />

a sua responsabilida<strong>de</strong>. A negociata<br />

do emprestimo <strong>de</strong> D. Miguel<br />

e a questão dos labacos, hão<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

<strong>de</strong> dar-lhe que fazer e lanto, que<br />

enlão se justificará o seu <strong>de</strong>sejo ferino<br />

<strong>de</strong> eliminação dos jornalistas<br />

em geral e d'alguns em particular.<br />

Pois veja o sr. Fuschini se se<br />

aguenta, que os ares affiguram-se<br />

turvos, a maré não é <strong>de</strong> bonança e<br />

andam muilos Eolos a assoprar os<br />

ventos, sendo <strong>de</strong> recear, portanto,<br />

qire o seu barco faça agua.<br />

O sr. ministro da guerra, com<br />

as suas conlradanças militares; reformas<br />

no exercito; promoções injustificadas<br />

ao generalato, que. se<br />

não foram refinado favoritismo, bem<br />

o pareceram; exclusão d'um coronel<br />

do quadro dos generaes, a que<br />

tinha cl irei to; provi<strong>de</strong>ncias disciplinadoras<br />

exaggeradas para uns e<br />

frouxidão estranha para outros, em<br />

idênticas circumslancias... lambem<br />

pô<strong>de</strong> ser alvo do fogo bem nutrido<br />

das guerrilhas da opposição.<br />

O seu collega da marinha não<br />

está lambem isento <strong>de</strong> peccado,<br />

com a sua protecção ás companhias<br />

po<strong>de</strong>rosas; o sr. ministro das obras<br />

publicas, parece que também se<br />

não julga em lerreno muilo firme,<br />

porque a par <strong>de</strong> certos serviços <strong>de</strong><br />

merecimento <strong>de</strong>ve ser chamado á<br />

barra por outros <strong>de</strong> uma iniquida<strong>de</strong><br />

flagrante; o sr. ministro do reino,<br />

que é rapoza velha e vae caminhando<br />

pela calada, <strong>de</strong> mansinho, não<br />

é <strong>de</strong> feitio lambem <strong>de</strong> se apresentar<br />

ao parlamento, immaculado, <strong>de</strong><br />

palmilo e Capella; pelo ministério<br />

dos estrangeiros ha <strong>de</strong> haver também<br />

que esbulhar, que as nossas<br />

questões externas não são menos<br />

melindrosas do que as nacionaes...<br />

Emfim, vamos assistir em breve<br />

ao julgamento d'uma situação politica,<br />

levada aos conselhos da corôa<br />

por indicações <strong>de</strong> quem, constitucionalmente<br />

as não pô<strong>de</strong> dar, ministério<br />

accenluadamente palaciano;<br />

veremos em pouco lempo mais uma<br />

<strong>de</strong>cepção para a candida ingenuida<strong>de</strong><br />

indígena, que ainda crê, porventura,<br />

nas faríalhices d'esta m/seen-scène<br />

realenga, á sombra d'uma<br />

constituição obsoleta, que lodos calcam.<br />

Mas será este o ultiino <strong>de</strong>sengano,<br />

ou leremos <strong>de</strong> assistir ainda<br />

a novas experiencias, além <strong>de</strong> inúteis,<br />

prejudiciaes?<br />

Que <strong>de</strong>cida o paiz, porque —<br />

cada povo lem o governo que merece.<br />

João Chagas<br />

Após o martyrio cruento das perseguições<br />

mais odiosas, 1 dos vexames mais<br />

insólitos, capazes <strong>de</strong> quebrantarem caracteres<br />

ainda <strong>de</strong> rija tempera, João<br />

Chagas, o valente caudilho do partido<br />

republicano, que representa já hoje uma<br />

glo/ia do nosso partido, <strong>de</strong>sembarcou em<br />

Lisboa no dia 11, <strong>de</strong> regresso do seu<br />

<strong>de</strong>sterro <strong>de</strong> vingança.<br />

Vem atacado d'uma dyspepsia, recordação<br />

dos flagícios indignos que lhe<br />

infligiram ; o que admiramos é não ter<br />

chegado moribundo, que a anniquilal-o<br />

tendiam os esforços dos seus e nossos<br />

adversarias. Nao o conseguiram, porém,<br />

e as instituições que lhe foram carrasco,<br />

havemos <strong>de</strong> vel-as em breve, temos essa<br />

esperança, estrebucharem agonisantes aos<br />

golpes vigorosos da sua victima d'hontem,<br />

a retemperada penna vibrante <strong>de</strong> tino<br />

aço do brilhante jornalista, que nos presídios<br />

d Alrica foi apren<strong>de</strong>r como a tyrannia<br />

impera á sombra d'uma falsa liberda<strong>de</strong>.<br />

O Jogar do combate que João Chagas<br />

não abandonou nunca, mantendo sempre<br />

nas luctas da nossa imprensa republicana<br />

a energia indomável do seu caracter revolucionário,<br />

exige hoje, principalmente,<br />

o vigor <strong>de</strong> polemista que distingue o brilhante<br />

jornalista, da firmeza <strong>de</strong> luctador<br />

que o caracterisa.<br />

João Chagas era anciosamente esperado<br />

por occasião do seu <strong>de</strong>sembarque ;<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> barcos transportando amigos<br />

do distinclo jornalista acompanharam a<br />

catraia que o conduzia ao caes — recepção<br />

sympatbica e significativa, cordialíssima<br />

e franca,- porque João Chagas<br />

não encontrou a receberam-no só os braços<br />

dos seus correligionários; muitos<br />

jornalistas <strong>de</strong> difíerentes côres politicas<br />

o abraçaram conto a amigo querido, justa<br />

homenagem prestada ao nobilíssimo caracter<br />

<strong>de</strong> João Chagas, homem <strong>de</strong> convicções<br />

sinceras, que não lucta na politica<br />

por ambições mesquinhas.<br />

A nossa alegria, como a <strong>de</strong> lodo o<br />

partido republicano, pelo regresso do<br />

nosso talentoso collega, é enorme ; como<br />

a <strong>de</strong> todo o partido ^publicano, a nossa<br />

felicitação é sincera.<br />

E', pois, effusiva e entusiasticamente<br />

que saudamos João Chagas, honra<br />

dos jornalistas portuguezes e gloria do<br />

partido republicano.<br />

Viva la gracia!<br />

Uma fabrica <strong>de</strong> fundição <strong>de</strong> canhões<br />

do reino vísinho offereceu para artilhar<br />

gratuitamente os navios que a nossa marinha<br />

<strong>de</strong> guerra vae ter com o producto<br />

da Subscripção Nacional.<br />

Serviços <strong>de</strong> colonias<br />

Foram abertas na commissão da Subscripção<br />

Nacional as propostas para a<br />

construcção <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> guerra para o<br />

serviço <strong>de</strong> colonias. Essas propostas são<br />

<strong>de</strong>: Antonio José Sampaio, Lisboa, canhoneira<br />

no lypo da Liberal, preço 160<br />

contos; Antonio Manoel Vagueiro, <strong>de</strong><br />

Setúbal, construcção <strong>de</strong> duas lanchas<br />

daço; 18:750^000 réis cada uma; P.<br />

Dumorá, <strong>de</strong> Belein, construcção <strong>de</strong> duas<br />

lanchas, 41:000^000 réis; Parry. E.<br />

Son, <strong>de</strong> Lisboa, construcção <strong>de</strong> tres navios,<br />

preço, 210:100)51000 réis, os tres<br />

navios são do typo da canhoneira Liberal,<br />

<strong>de</strong> 500 toneladas e das lanças d'aço<br />

Zagaia e Flecha.<br />

Emilio Castelar<br />

Emilio Castelar, que durante muitos<br />

annos arrastou pelo extraordinário prestigio<br />

da sua palavra calorosa quasi todos<br />

os republicanos hespanhoes, a pouco<br />

e pouco vae-se encontrando isolado, pelo<br />

abandono a que votam os seus, até ha<br />

pouco, <strong>de</strong>dicados partidarios. "<br />

A situação dúbia que o eminente<br />

parlamentar para si creou, em tergiversações<br />

e accordos com a monarcbia que<br />

<strong>de</strong>sprestigiaram perante a opinião, traduz-se<br />

agora" no ostracismo justo a que<br />

é votado.<br />

Os castelaristas, ao passo que abandonam<br />

o antigo chefe, vão-se filiando no<br />

partido republicano, <strong>de</strong>senganados e <strong>de</strong>sgostosos<br />

da altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emilio Castelar,<br />

que, d este modo, po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se<br />

politicamente auniquillado.<br />

E' esta a situação que espera todos<br />

os que atraiçoam o seu partido, em maquinações<br />

in<strong>de</strong>corosas.<br />

Roubo na recebedoria'<br />

<strong>de</strong> Villa Franca<br />

Na madrugada <strong>de</strong> quarta feira os ladrões<br />

arrombaram a porta da recebedoria<br />

<strong>de</strong> Villa Franca <strong>de</strong> Xira, que é no<br />

edilicio dos paços do concelho, e roubaram<br />

o cofre que continha seis contos <strong>de</strong><br />

réis. Levaram cofre e dinheiro. No chão<br />

viam-se alguns pingos <strong>de</strong> sangue que<br />

parece foram dos ladrões quando estiveram<br />

arrancando' o cofre que se achava<br />

pregado ao solo. Parece que foi tudo<br />

para algum barco, que estivesse atracado<br />

ao caes.<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />

do<br />

Associações anti-jesuiticas<br />

Iloje que o espirito reaccionário parece<br />

querer dominar todas as classes da<br />

socieda<strong>de</strong>, espalhando pelo paiz idêas<br />

retrogradas, graças ao indifferenlismo<br />

culposo com que se olham as coisas, as<br />

mais importantes, é <strong>de</strong> urgente necessida<strong>de</strong><br />

que todos aquelles que vêem na<br />

propaganda reaccionaria, movida principalmente<br />

pelo- jesuitismo, um terrível<br />

mal, lhe opponham vigorosamente todos<br />

os obstáculos.<br />

Um dos mais efficazgs seria sem duvida<br />

a creação <strong>de</strong> associações anti-reaccionarias,<br />

mormente anti-jesuiticas, porque<br />

o jesuitismo com os variados elementos<br />

<strong>de</strong> que dispõe, com o- seus collogios<br />

<strong>de</strong> educação para indivíduos d^iml^os os<br />

sexos, com os recolhimentos que dirige,<br />

com as muitas resi<strong>de</strong>ncias que possue,<br />

com os missionários que <strong>de</strong>staca por essas<br />

aldêas do paiz, fanatisando o nosso<br />

bom povo, torna-se o mais po<strong>de</strong>roso inimigo,<br />

que é necessário combater por<br />

meio da acção combinada <strong>de</strong> todos o»<br />

que se interessam pelo progresso nacional.<br />

Em todas as nações, on<strong>de</strong> as idêas<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> não são uma cbimera, existem<br />

associações d'esta natureza que tratam<br />

<strong>de</strong> divulgar doutrinas sãs e moralisadoras<br />

e promover a publicação <strong>de</strong> escriptos<br />

anti-jesuiticos que instruam o povo<br />

nos lins da Companhia <strong>de</strong> Loyola e nos<br />

meios <strong>de</strong> que usa para os conseguir.<br />

Estas associações tratam <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar<br />

claramente quão prejudicial é a<br />

educação ministrada nos collegios jesuíticos<br />

d'um e <strong>de</strong> outro sexo, principalmente<br />

se se atten<strong>de</strong>r a que esses collegios<br />

são o meio mais importante <strong>de</strong> que<br />

a Companhia se serve para recrutar os<br />

seus noviços.<br />

As creanças que em geral são nelles<br />

admittidas na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sei» a doze annos,<br />

são facilmente seduzidas a entrar<br />

na Or<strong>de</strong>m, mostrando lhes os seus seductores<br />

as <strong>de</strong>licias da vida da Companhia,<br />

insinuaudo-lhes perfidamente que fóra<br />

d'ella dificilmente se encontrara salvação,<br />

a qual é infallivel, morrendo no<br />

seu seio.<br />

l)'aqui se seguem, portanto, todas as<br />

consequências fataes <strong>de</strong> tal doutrina. Incitam<br />

os seus alumnos a abandonar os<br />

paes, <strong>de</strong> quem po<strong>de</strong>riam ser amparo na<br />

velhice, a <strong>de</strong>ixar irmãs e irmãos que po<strong>de</strong>riam<br />

precisar do seu auxilio, a <strong>de</strong>sprezar<br />

os outros parentes a quem po<strong>de</strong>riam<br />

dispensar valimento, emfim a odiar o mundo<br />

que não contém, segundo elles, mais<br />

do que traições e laços armados para<br />

ealiir no Inferno.<br />

Fazem recahir sobre a vila matrimonial<br />

a baba peçonhenta das suas palavras.<br />

Não têm rebuço em atfirinar, até<br />

no proprio púlpito, como já ouvimos e o<br />

attestam muitas testemunhas, que é mais<br />

difficil um casado entrar uo céu do que<br />

encontrar um corvo branco. Allirmações<br />

d'estas fazem-nas a cada passo.<br />

E' fácil <strong>de</strong> vêr quaes o» lins d'esta<br />

-infame seducção exercida com habilida<strong>de</strong>,<br />

principalmente sobre as mulheres, a<br />

quem exaggeram todos os horrores do<br />

matrimonio sem liies mostrar nenhuma<br />

das suas <strong>de</strong>licias.<br />

Esta seducção, como é fácil <strong>de</strong> prevêr,<br />

e exercida <strong>de</strong> preferencia sobre her<strong>de</strong>iras<br />

e her<strong>de</strong>iros ricos que virão mais<br />

tar<strong>de</strong> avolumar os cofres da Companhia.<br />

Se os paes têm influencia bastaute<br />

para arrancar essas vergonteas queridas<br />

á <strong>de</strong>vastação jesuítica, com diffioulda<strong>de</strong><br />

fazem <strong>de</strong>sapparecer, comtudo, do seu espirito<br />

os pbautasmas com que a educação<br />

jesuiiica lh'o ro<strong>de</strong>ou, tornando e?sas<br />

creanças uns entes tímidos e <strong>de</strong>sconfiados<br />

até dos mais íntimos familiares, sendo<br />

preciso <strong>de</strong>pois uma instrucção scientifica<br />

bem dirigida para lhes fazer esquecer<br />

as falsas idêas que os jesuítas<br />

lhes incutiram.<br />

Accrescendo a estes variados meios<br />

<strong>de</strong> seducção as múltiplas associações <strong>de</strong>votas<br />

que por toda a parte o jesuitismo<br />

tem espalhado, do que aufere incalculáveis<br />

riquezas que sobem annualmente<br />

a enormes sommas, e com as quaes alimenta<br />

surda e tenazmente a sua propaganda,<br />

e examinando ainda os seus processos<br />

<strong>de</strong> combate que se resumem na<br />

intriga e na calumnia, lica evi<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong>monstrada a urgente necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma forte propaganda anti jesuítica.<br />

Como atraz dissémos, nenhum meio<br />

mais eflicaz existe para aotival-a do que<br />

a creação, <strong>de</strong> associações anti-jesuiticas<br />

pelo paiz, ainda que com poucos associados.<br />

Esta idêa que já foi apresentada particularmente<br />

a muitas pessoas, tem sido<br />

bem recebida e por isso em breve se<br />

organisará uma commissão composta <strong>de</strong><br />

individuo* <strong>de</strong> todas as classes a fim <strong>de</strong><br />

crear uma Associação nacional anli-jesuitica.<br />

Aqui fazemos, pois, um appello a todos<br />

o< homens <strong>de</strong> bem para que auxiliem<br />

a realisação d'esta idêa.<br />

G4. S.<br />

Centenario<br />

do Infante D. Henrique<br />

Reuniu a commissão do centenário<br />

e o sr Eduardo Sequeira appreseutou<br />

as bases <strong>de</strong> uma representação ao governo,<br />

pedindo a emissão <strong>de</strong> 200:000<br />

estampilhas postaes <strong>de</strong> cada um dós<br />

typos e a sua circulação obrigatoria no<br />

dia 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1894, sendo consagrado<br />

o producto da venda especialmente<br />

<strong>de</strong>stinada para collecionadores nacionaes<br />

e extrangeiros, ás <strong>de</strong>spezas com o monumento<br />

á memoria do Infante D. Henrique.<br />

O proponente explicou <strong>de</strong>senvolvidamente<br />

o seu penssmento, unanimemente<br />

adoptado pela commissão, referindo que<br />

a procura d'essas estampilhas do Centenario<br />

<strong>de</strong>veria ser muilo importante, pois<br />

bastou constar em Paris o projecto da<br />

emissão para, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, negociantes<br />

<strong>de</strong> estampilhas escreverem para o Porto,<br />

a pedir explicações sobre o assumpto. A<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2u0:000 era mínima, pois<br />

lôra essa a emissão <strong>de</strong> estampilhas feita<br />

pela Republica <strong>de</strong>-Colonibia por occasião<br />

do centenário <strong>de</strong> Colombo e consumiramse<br />

num só dia, tendo immediatamenle<br />

premio.<br />

Resolveu-se dar redacção <strong>de</strong>finitiva<br />

á representação e enviar-se ao seu <strong>de</strong>stino.<br />

Caminho <strong>de</strong> ferro<br />

da Beira Baixa<br />

Inaugurou-se finalmente esta linha<br />

ferrea, <strong>de</strong> extraordinária vantagem para<br />

os povos d'aquella região e em especial<br />

para a Covilhã.<br />

Este importante centro fabril ha<br />

muito que pugnava porque se abrisse á<br />

exploração a linha da Beira Baixa, e<br />

bastante trabalhou para que tal melhoramento<br />

se não <strong>de</strong>morasse.<br />

Com a presença do ministro das<br />

obras publicas ellectuou-se esla inauguração<br />

na quinta feira, com gran<strong>de</strong> enlliusiasmo.<br />

Bolsas <strong>de</strong> trabalho<br />

Na ultima, reunião da commissão das<br />

Bolsas <strong>de</strong> trabalho, foi discutida e rejeitada<br />

uma proposta do sr. Teixeira Bastos<br />

para que as Bolsas ficassem a cargo das<br />

camaras municipaes.<br />

Foi lambem regeilado um additamenlo<br />

do sr. Luiz. Figueiredo, que admitlia<br />

a proposta ao ír. Teixeira Bastos<br />

pira o futuro mas com a condição <strong>de</strong><br />

não prejudicar a creação actual e immediala<br />

das Bilsas.<br />

Na próxima sessão <strong>de</strong>ve ser assignado<br />

o autographo do regulamento.<br />

Direito <strong>de</strong> reunião<br />

Assevera-ie que a primeira proposta<br />

apresentada ao parlamento pelo sr. ministro<br />

do reino será a que tem por tim<br />

regular o direito <strong>de</strong> reunião<br />

Veremos o que d'aqui sabe e se este<br />

Franco <strong>de</strong> nonae, é franco em regalias.<br />

/


A N N O I — N . ° 8 6 O D E F E N S O R O O POVO 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

C R Y S T A E S<br />

HYMNO A. BELLEZA<br />

(VERSÃO DE FERNANDO LEAL)<br />

Saes do abysmo, ó Belleza, ou vens do ceu «ublime?<br />

Teu inebriante olbar, benefico e damninho,<br />

Yerte confusamente o beneficio e o crime,<br />

E po<strong>de</strong>s ser por isso equiparada ao vinho.<br />

Nesses teus olhos tens a aurora e tens • occaso;<br />

Exalas cheiros como a tempestuosa tar<strong>de</strong>;<br />

Teus beijos são um filtro e a tua bocca um vaso,<br />

Que fazem da creança — heroe, do heroe — cobar<strong>de</strong>.<br />

Saes tu do negro aby»mo, ou vens dos astros beilos ?<br />

Segue-te, como um cão, Satan todo contente;<br />

Causas a esmo o bem e o mal, o amor e os zelos,<br />

E reges tudo, tudo, inconscientemente.<br />

Pizas mortos a rir; o Horror, no teu escrínio,<br />

Não é a menos bella e rica joia ; e, d entre<br />

Os teus berloque» mais custosos, o Assassínio<br />

Dança amorosamente em cima do teu ventre.<br />

Deslumbrada a falena, alla-se para a chamma,<br />

Ar<strong>de</strong>, crepita e diz: Bemdito o facho pulcro!<br />

O amante a palpitar, unido á sua dama,<br />

Parece um moribundo afagando o sepulchro.<br />

Que tu venhas do ceu ou do inferno, que importa,<br />

Belleza 1 monstro enorme, ingénuo e pavoroso!<br />

Se o teu olhar e o teu sorriso abrem-me a porta<br />

D'um Infinito ignoto e que eu adoro, o Goso!<br />

Do Demonio ou <strong>de</strong> Deus, que importa, ó fada minha<br />

De suave olhar? se a ti se <strong>de</strong>ve,—Anjo ou Sereia,<br />

Rithmo, perfume, luz, minha única rainha ! —<br />

Ser menos longo o tempo e a vida menos feia?<br />

Fomento civilisador<br />

no Ultramar<br />

Publicamos em seguida a energica<br />

moção que sobre este assumpto apresentou<br />

o nosso collega da Vanguarda, o<br />

sr. Alves Corrêa, em sessão <strong>de</strong> 8 do<br />

corrente.<br />

Como se vê, o sr. Alves Coirêa põe<br />

a questão perfeitamente orientada, pelo<br />

que se toma , mais eflicaz e indispensável<br />

a bem do nosso domínio colonial.<br />

E' nos princípios apresentados que<br />

se <strong>de</strong>ve basear a acção dos governos e<br />

da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geographia.<br />

Eis a moção:<br />

«Consi<strong>de</strong>rando que uma das mais urgentes<br />

necessida<strong>de</strong>s das colonias porluguezas,<br />

<strong>de</strong>monstrada por uma larga experieucia,<br />

consiste em remo<strong>de</strong>lar por completo<br />

a sua viciosa administração exageradamente<br />

centralisadora e por muitos<br />

motivos funesta para as finanças da metropole<br />

e pnra os interesses especiaes <strong>de</strong><br />

cada uma d'essas colonias ;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o meio mais efficaz<br />

<strong>de</strong> se manter o prestigio tradicional do<br />

nome portuguez no continente africano,<br />

consiste em promover o aproveitamento<br />

das riquezas contidas nos terrilorios su<br />

jeitos á soberania <strong>de</strong> Portugal, abrindo<br />

essas regiões á exploração do commercio<br />

e á colonisação;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o commerciante e o<br />

colono, dirigidos e coadjuvados por estações<br />

civilisadoras porluguezas, são os<br />

gran<strong>de</strong>s missionários, os melhores agentes<br />

civilisadores <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos aproveitar-nos<br />

em Africa para manter o nosso<br />

predomínio e alargar a esphera da acção<br />

<strong>de</strong> Portugal ao sertão on<strong>de</strong>, para segurança<br />

c prosperida<strong>de</strong> da província<br />

<strong>de</strong> Angola, é indispensável que ella se<br />

exerça d'um modo effectivo ;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a propaganda propriamente<br />

religiosa é absolutamente inefficaz<br />

como meio <strong>de</strong> civilisaçâo das raças<br />

selvagens, o que se prova pelo malogro<br />

das tentativas feitas em Afiiea, na America<br />

e na Oceania para calhechisar essas<br />

raça», phenomeno este que a sciencia<br />

perfeitamente explica ;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o restabelecimento<br />

das or<strong>de</strong>ns religiosas no ultramar ou na<br />

metropole, seria um attentado contra a<br />

civilisaçâo e um acto affrontoso para a<br />

memoria dos gran<strong>de</strong>s reformadores portuguezes<br />

como Sebastião José <strong>de</strong> Carvalho<br />

e Mello, Mousinho da Silveira, Joaquim<br />

Antonio <strong>de</strong> Aguiar, marquez <strong>de</strong><br />

Sá, Alexandre Herculano, Almeida Garrett,<br />

José Estevão, Vicente Ferrer e<br />

muitos outros, aos quaes a nação porlugueza<br />

presta justa homeuagem e que a<br />

BAUDELAIRK.<br />

Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geographia <strong>de</strong> Lisboa venera<br />

pelos altos serviços que prestaram<br />

á patria ;<br />

Esta Socieda<strong>de</strong> resolve:<br />

1.°— Rejeitar o parecer em discussão<br />

;<br />

2.°—Convidara illustrada commiisão<br />

africana :<br />

a) — A estudar a administração das<br />

colonias porluguezas, segundo os interesses,<br />

usos e costumes proprios <strong>de</strong> cada<br />

umad'ellas, e tendo em vista as circumstancias<br />

economicas e financeiras do paiz,<br />

e a apresentar á assembleia geral um projecto<br />

<strong>de</strong> representação aos po<strong>de</strong>res constituídos<br />

pedindo r,s reformas que forem<br />

julgadas indispensáveis;<br />

b) — A elaborar um plano para o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> missões civilisadoras no<br />

hulerland da província <strong>de</strong> Angola.<br />

c) — A estudar quaes os meios que<br />

<strong>de</strong>vem ser empregados para se <strong>de</strong>viar para<br />

a Africa parte da emigração portugueza<br />

e para que os colonos encontrem alli<br />

a protecção e as garantias indispensáveis<br />

;<br />

d)—A propor o que julgar necessário<br />

para a organisação do credito bancario<br />

nas colonias porluguezas.<br />

e) — A examinar quaes são os melhoramentos<br />

que mesmo na situação actual<br />

do paiz é indispensável realisar urgentemente<br />

na província <strong>de</strong> Angola para<br />

assegurar os interesses e o prestigio do<br />

nome portuguez.<br />

*<br />

Para <strong>de</strong>struir quaesquer apprehensões<br />

que a di«cussão agora levantada na<br />

Socieda<strong>de</strong> haja leito surgir no espirito<br />

publico, a assembleia resolve mais affirmar,<br />

que respeitadora das leis do paiz<br />

que expulsaram <strong>de</strong> Portugal os jesuítas<br />

e extinguiram as congregações religiosas,<br />

não pô<strong>de</strong> nem podia em caso algum pedir<br />

aos po<strong>de</strong>res públicos a <strong>de</strong>rrogação<br />

d'essas leis sabias e justas, que são o<br />

resultado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e heróicas luctas e<br />

que representam assignaladas conquistas<br />

da civilisaçâo.<br />

Lisboa e sala das sessões da Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Geographia, 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1892.<br />

— O socio, Alves Correia.»<br />

=<br />

Apprehensão<br />

<strong>de</strong> 2e000 lenços <strong>de</strong> sêda<br />

O alferes Mello, da guarda fiscal,<br />

acaba <strong>de</strong> realisar em Torres Novas uma<br />

apprehensão approximadamente <strong>de</strong> 2:000<br />

lenços <strong>de</strong> seda, <strong>de</strong> contrabando. O contrabandista<br />

seguiu <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> prisão em<br />

direcção a Lisboa, para on<strong>de</strong> tinha feito<br />

<strong>de</strong>spacho.<br />

Á transformação social<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Esses homens e sob o mesmo systema,<br />

tendo <strong>de</strong> se succe<strong>de</strong>r na gerencia<br />

do Estado, pelo methodo da votação que<br />

elles enten<strong>de</strong>m ao menos alguns sabem,<br />

creio, como e porque processo se<br />

podiam remediar os males que resultara<br />

<strong>de</strong> muitas administrações relaxadas<br />

e <strong>de</strong>sacertadas, mas não po<strong>de</strong>m e não<br />

querem mudar <strong>de</strong> norma <strong>de</strong> governo,<br />

seguem e seguirão sempre pelo mesmo<br />

caminho, e não po<strong>de</strong>m porque, jsendo<br />

diversos, rivaes e incompatíveis os interesses<br />

do elemento real que é o fecho e<br />

a chave do systema, e os interesses do<br />

povo, <strong>de</strong>ixam se arrastar d'aquelle que<br />

pô<strong>de</strong> mais do que este, ou que pô<strong>de</strong> tudo,<br />

absorvendo os outros po<strong>de</strong>res do Estado, e<br />

para irem com a vonta<strong>de</strong> e com as exigências<br />

do paço esquecem e põem <strong>de</strong> parte<br />

os seus <strong>de</strong>veres para com o povo que<br />

<strong>de</strong>viam representar e'não querem porque<br />

atlen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> preferencia aos seus<br />

interesses pessoaes e das classes previlegiadas<br />

a que pertencem, ou virão<br />

a pertencer.<br />

Não po<strong>de</strong>ndo servir bem a dois senhores,<br />

servem aquelle que mais lhes<br />

convém.<br />

Isto é o que tem sido e o que não<br />

pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> futuro, emquanto<br />

vigorarem as presentes instituições.<br />

Eu não creio que alguém governe<br />

mal, somente, peld*pessimo gosto <strong>de</strong> não<br />

governar bem, mas ha outras causas, outras<br />

razões que <strong>de</strong>terminam a conducta<br />

dos nossos homens <strong>de</strong> Estado ou antes<br />

<strong>de</strong> muitos especuladores ambicioso», que<br />

são tantos, que chegam <strong>de</strong> sobejo para<br />

governar cada um sua semana.<br />

Nos paizes em que o systema politico<br />

não é monarchico o officio <strong>de</strong> governar<br />

é mais simples e mais fácil porque<br />

não ha interesses a promover e a<br />

zelar que não sejam os <strong>de</strong>spezas<br />

E quanto dará elle á família real para<br />

viagens e o maia?<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Felicitação a JoSo 1 bagas<br />

O sr. dr. Eduardo Vieira enviou<br />

telegramma <strong>de</strong> felicitação ao valente<br />

jornalista, em nome da commissão executiva<br />

do partido republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

A redacção do Defensor do Povo<br />

lambem lhe dirigiu uma carta congratulatoria<br />

pelo seu regresso á patria.<br />

Salubrida<strong>de</strong> publica<br />

O no»so collega da localida<strong>de</strong> a<br />

Gazeta Nacional propõe-se encetar esta<br />

questão que interessa altamente a <strong>Coimbra</strong><br />

inteira.<br />

Já por vezes a imprensa tem tratado<br />

d'esle assumpto, mas tão friamente, com<br />

tão pouca persislencia, que passa quasi<br />

<strong>de</strong>spercebida uma questão <strong>de</strong> importância<br />

capital.<br />

<strong>Coimbra</strong> é uma cida<strong>de</strong> pouco menos<br />

<strong>de</strong> immunda; por essas ruas, mesmo<br />

pelas mais concorridas, é in<strong>de</strong>centíssimo<br />

o que se pratica até <strong>de</strong> dia.<br />

Habitante» pouco escrupulosos e ainda<br />

menos respeitadores da <strong>de</strong>cencia e<br />

do <strong>de</strong>coro, sem se importarem com posturas<br />

nem com auctorida<strong>de</strong>s — e isto<br />

com razão, porque nesta cida<strong>de</strong> a auctorida<strong>de</strong><br />

só não olha pelo que <strong>de</strong>ve olhar<br />

— projectam para a rua, e não poucas<br />

vezes sobre os transeuntes, toda a especie<br />

<strong>de</strong> iminundicies; das janellas dos<br />

prédios pen<strong>de</strong>m Irequenles vezes roupas,<br />

que seriam uma vergonha para os donos<br />

d'ellas se elles tivessem vergonha; põem<br />

ao sol cobertores e lençoes da» camas,<br />

ás vezes imniundos; batem e saco<strong>de</strong>m<br />

cobertores e tapetes, em pleno dia, para<br />

a rua, sem respeito para quem passa ;<br />

<strong>de</strong> certos recantos, em ruas que <strong>de</strong>viam<br />

ser policiadas — mas que não veem um<br />

policia—exhalam-se emanações que obrigam<br />

sempre a passar <strong>de</strong> lenço no nariz;<br />

os boeiros d'essas ruas tresandam que<br />

teem diabo; — e tudo isto sem que as<br />

auctorida<strong>de</strong>s competentes se dignem olhar<br />

para Ines iminundicies.<br />

E' d'esta incúria vergonhosa d'aquelles<br />

que teem obrigação <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar,<br />

que nasce a fama <strong>de</strong> immunda, <strong>de</strong> que<br />

gosa <strong>Coimbra</strong> lá por fóra. > .<br />

Bom é, pois, o serviço que a Gazeta<br />

Nacional vae prestar a esta cida<strong>de</strong>.<br />

Pela nossa parte não largaremos também<br />

<strong>de</strong> mão o assumpto, que ha muito<br />

nos sollicitava, e secundaremos quanto<br />

em nós caiba os esforços do nosso estimado<br />

collega.<br />

Promptos a prestar o nosso concurso<br />

em favor da salubrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

agra<strong>de</strong>cemos qualquer informação que o<br />

publico nos queira enviar, para o que<br />

ficam as columnas do nosso jornal ao<br />

dispor dos que se dignarem informar-nos.<br />

Teixeira <strong>de</strong> Brito<br />

Este no«so companheiro regressou<br />

sexta feira do Bussaco pnra on<strong>de</strong> partira<br />

na quinta feira, sendo alli acommellido<br />

d'influenza. Que em breve se restabeleça.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Philosophia resolveu<br />

findar os trabalhos escolares em 10 <strong>de</strong><br />

junho; e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theologia, em<br />

22 do mesmo mez.<br />

Beneficio <strong>de</strong> Francisco Lucas<br />

Vamos ler no proximo sahbado um<br />

altrahenle espectáculo, tomando parte os<br />

principaes artista» da companhia do Príncipe<br />

Real, do Porto.<br />

Representa-se — As recleas do governo,<br />

em '5 actos — e Simão, Simões tf<br />

Companhia, zarzuella em 1 acto, cujo<br />

<strong>de</strong>sempenho está a cargo das actrizes:<br />

Angela Pinto, Emilia Eduarda, Elvira<br />

Men<strong>de</strong>* e Theresa Prata ; e dos actores<br />

: Dias, José Ricardo, Santos, Santos<br />

Mello, Carlos Santo», Barros e Portulez.<br />

Como veehi os nossos leitores a feita<br />

<strong>de</strong> Francisco Lucas, no Theatro circo, é<br />

promeltedora.<br />

A festa no Bussaco<br />

Como dis»émo» <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> foi muita<br />

genle ao Bussaco, e mais iria »e o mau<br />

tempo se não tem annunciado na vespera.<br />

A troupe velocipedista, os mais corajoso»<br />

e os mais enthu»iasta«, lá foram<br />

por essas lamas fóra até Luso ; só 9 seguiram.<br />

No Bussaco uma concorrência extraordinaria,<br />

apezar das ameaças <strong>de</strong> chuva,<br />

e muita animação.<br />

Ranchos dançam e cantam em diversos<br />

pontos da malta. As musicas da<br />

Figueira e Anadia abrilhantam a festa e<br />

ás portas da Rainha arma-se uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />

e jogam-se uns soccos; mas cousa<br />

passageira, como a trovoada que parecia<br />

imminente e que afinal se dissipou.<br />

Un» choviscos, umas balegns, mas<br />

lá estavam os gran<strong>de</strong>s guarda*-chuva —<br />

as frondosas arvores — para abrigarem<br />

o forasteiro.<br />

O dia passou-se mal, como era <strong>de</strong><br />

prever—porque o Bussaco só agrada em<br />

dias <strong>de</strong> muito calor.<br />

Gymuasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Pela nova reforma <strong>de</strong> estatutos teve<br />

<strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r ás eleições dos corpos<br />

gerentes, sendo eleitos para a<br />

ASSEMBLEIA GERAL<br />

Presi<strong>de</strong>nte—Albertino <strong>de</strong> Pinho Ferreira.<br />

*<br />

1." Secretario — Antonio Joaquim<br />

Simões.<br />

2.° Dito Francisco da Costa Carvalho.<br />

* DIRECÇÃO<br />

Presi<strong>de</strong>nte — Augusto Cymbron Borges<br />

<strong>de</strong> Sousa.<br />

Secretario — Euphrosino Alves Teixeira.<br />

Dito — Luiz Doria y Cnmpmany.<br />

Thesoureiro—Silvio Duque.<br />

Directores effectivos<br />

Arthur Cal<strong>de</strong>ira Sçevola.<br />

Angelo Rodrigues da Fonseca.<br />

Eugénio Augusto Amaro.<br />

José Antonio Borralho.<br />

Directores substitutos<br />

José Cardoso <strong>de</strong> Figueiredo Nogueira.<br />

Pedro Cardoso.<br />

- Augusto Henriques.<br />

Francisco Garcia Borges.<br />

CONSELHO FISCAL<br />

Effectivos<br />

Victor José <strong>de</strong> Deus.<br />

Gualdino Antonio <strong>de</strong> Queiroz e<br />

Mello.<br />

João dos Santos Jacob.<br />

Substitutos<br />

João José <strong>de</strong> Freitas.<br />

Antonio Alexandre Saraiva da Bocha.<br />

Arnaldo Bigolte.<br />

Trovoada<br />

Des<strong>de</strong> sexta feira que ella vem pairando<br />

sobre esta cida<strong>de</strong>, ameaçando gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>scargas; mas tudo se dissipa <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> caireiít aguaceiros violentos. Na<br />

madrugada <strong>de</strong> hontem foi mais <strong>de</strong>morada;<br />

apenas dois estampidos valentes e<br />

lá marchou para outras bandas. De dia<br />

lambem nos visitou, urrando com força,<br />

mas espalha rapidamente.<br />

Não nos consta que estas pequenas<br />

escaramuças <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>s armadas<br />

tenham feito prejuizos em <strong>Coimbra</strong>.<br />

Abastecimento d*ajjua<br />

A camara municipal, vendo que os<br />

contadores <strong>de</strong> que usa não indicara com<br />

precisão o consumo d'agua, pensa em estabelecer<br />

avenças a fim <strong>de</strong> que os reditos<br />

do município não sejam prejudicados.<br />

E' a melhor solução, e a mais económica,<br />

para se não ler <strong>de</strong> inutilisar os contadores,<br />

que o embirrento sr. Costa Alemão<br />

quiz adoptar, apezar dos conselhos<br />

dos homens práticos.


ANNO S — N. # 8® O D E F E N S O R DO P O V O 14 <strong>de</strong> Mafo <strong>de</strong> 18®3<br />

Deimrntido<br />

Os bem informados <strong>de</strong>smentem a noticia<br />

d'alguns jornaes <strong>de</strong> Lisboa, que dão<br />

o sr. Bispo con<strong>de</strong> em viagem para Roma<br />

S. ex. a e4slá hoje em Aveiro on<strong>de</strong> assistirá<br />

as festas da piinceza Santa Joanna.<br />

Torneio velocipedico<br />

Hoje os velocipedislas eoniiiihricen.-es<br />

vão assistir a um torneio entre os srs.<br />

José Bobella da Motta e Augusto Borges<br />

d'Oliveira, os quaes. darão a volta da corrida<br />

realísada o anno passado pela occasião<br />

dos festejos da Rainha Santa, com<br />

uma extensão <strong>de</strong> 38 kilometros e 400<br />

melros.<br />

Nesta corrida entrou o sr. José da<br />

Motta, ganhando o primeiro premio Eduardo<br />

Minchin, que peicorreu essa distancia<br />

em 1 hora e 39 minutos.<br />

O sr. Borges d'Oliveira entrou somente<br />

na ultima corrida do Gymnasio,<br />

na Escola Central, obtendo um premio;<br />

o sr. Motla ganhou o do campeonato.<br />

Este repto dirigido pelo sr. Oliveira<br />

ao sr. Motla eslá interessando bastante,<br />

por quanto as opiniões divi<strong>de</strong>m-se, ecada<br />

qual vae dando as honras do torneio ao<br />

seu protegido.<br />

A sabida é <strong>de</strong> Santa Clara ás 5 horas<br />

da tar<strong>de</strong>.<br />

O sr. Borges d'01iveira vae montado<br />

numa pneumatica Torrillon, o sr. Motta<br />

numa machina Oppel Victoria, <strong>de</strong> borrachas<br />

ôccas.<br />

*<br />

Parece que se annuncia para muito<br />

breve um outro torneio, em menor extensão.<br />

Os contendores são os srs. Antonio<br />

Men<strong>de</strong>s d'Abreu e Joaquim Pessoa. A<br />

corrida é <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> á Figueira e viceversa.<br />

As machinas d'ambos são pneumáticas<br />

Torrillon.<br />

Faculda<strong>de</strong> d» Direito<br />

Esta corporação universitária foi convidada<br />

a fazer-se representar no congresso<br />

jurídico que vae realisar-se no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

S e s s ã o «rdíuai-la<br />

27 d'ubril<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />

Corrêa Ajros <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />

presentes: Ruben Augusto d'Almeida<br />

Araujo Pinto, João Antonio da Cunha,<br />

João da Fonseca Barata, Manoel Bento<br />

<strong>de</strong> Quadros, Manoel Miranda, Antonio<br />

José Dantas Guimarães, effectivos; José<br />

Corrêa dos Santos, substituto.<br />

Mandou abonar a quantia <strong>de</strong> 20$000<br />

réis para o cusleamento das <strong>de</strong>spezas<br />

com o Asylo dos (.egos.<br />

Mandou intimar dois proprietários <strong>de</strong><br />

Quimbres, para restituírem ao publico<br />

terreno usurpado com silveiras e como-<br />

35 Folhetim do Defensor do POYO<br />

J. M É R Y<br />

A Jitt 1 VA1ÍCA[\0<br />

x<br />

A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />

Carlo-Felioe<br />

Então era ella o vivo <strong>de</strong>monio mas<br />

mudou <strong>de</strong> génio e da sua infanda ella<br />

só ficou com a belleza e com o encanto<br />

dos seus nove annos, pois, como diz o<br />

provérbio, a rosa ou tem perfume logo que<br />

nasce, ou nunca o tem.<br />

E' sempre a mesma Memma. Quando<br />

a vi pela primeira vez, chegava eu<br />

<strong>de</strong> Roma, on<strong>de</strong> tinha leito a minha<br />

aprendizagem em casa do livreiro Merle,<br />

no Corso. Conhece Merle ? E' um homem<br />

muito honrado, estabelecido em<br />

Roma ha vinte e cinco annos. Sim; uão<br />

ha menos <strong>de</strong> vinte e cinco annos, se não<br />

houver trinta. Que dizia eu? Perdi o fio<br />

á conversa.<br />

— Não, não, disse Paulo, convulsivo<br />

<strong>de</strong> impaciência por causa da loquacida<strong>de</strong><br />

vagobunda do livreiro; não é<br />

ros <strong>de</strong> prédios, no caminho <strong>de</strong> S. Marcos.<br />

Alteslou favoravelmente acerca <strong>de</strong><br />

tres petições para subsídios <strong>de</strong> lactação<br />

a menores/<br />

Auctorisou a limpeza do cano do<br />

cães, aos Oleiros, até o cruzamento da<br />

cnnalisação da rua da Magdalena ; o concerto<br />

da facha <strong>de</strong> caniaria e gra<strong>de</strong> do<br />

mesmo cães, junto da azinhaga da rua<br />

da Moeda ; e a reparação <strong>de</strong> pequenas<br />

aberturas no muro ao fundo das escadas<br />

em frente da mesma azinhaga.<br />

Auctorisou o vereador Barata, a provi<strong>de</strong>ncia<br />

para a venda ou troca d'alguns<br />

dos bois do serviço da limpeza da cida<strong>de</strong>.<br />

Auctorisou a presi<strong>de</strong>ncia a tratar<br />

com a companhia conimbricense d'illuminação<br />

a gaz acerca das bases para a<br />

renovação do contracto, que finda no<br />

proximo anno <strong>de</strong> 1894, e bem assim a<br />

provi<strong>de</strong>nciar, como fôr mais conveniente,<br />

relativamente ao arrendamento dos pastos<br />

da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />

Mandou reparar a fonte das Vendas<br />

<strong>de</strong> Sant'Anna, recebendo a coadjuvação<br />

offerecida pelos povos da localida<strong>de</strong>, em<br />

conducçâo <strong>de</strong> materiaes.<br />

Resolveu mandar intimar dois proprietários<br />

do Dianteiro, para recuarem<br />

os prumos do centro dos telheiros que<br />

levantaram fóra do alinhamento <strong>de</strong>vido.<br />

Auctorisou o prolongamento da canalisação<br />

d'aguas até á ponte d'agua <strong>de</strong><br />

Maias, segundo o orçamento apresentado<br />

na somma <strong>de</strong> 246$923 réis, tendo a<br />

dispen<strong>de</strong>r somente a quantia <strong>de</strong> 25$423<br />

•réis que, com a <strong>de</strong> 40$000 réis ollerecida<br />

por Espirito Santo, Areosa & C. a e<br />

com a <strong>de</strong> 181$B00 réis <strong>de</strong> tubagem<br />

existente, prefaz aquella somma do orçamento<br />

referido.<br />

Despachou requerimentos sobre assumptos<br />

diversos, a saber—collocação<br />

<strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos particulares<br />

e serviços no cemiterio; e com<br />

referencia a obras — auctorisando Antonio<br />

dos Santos Fonseca, <strong>de</strong> Santo Antonio<br />

dos Olivaes, a modificar a frontaria<br />

d'uma casa alli situada, fazendo uma<br />

porta d'uma janella e duas janellas <strong>de</strong><br />

duas portas sem alterar o alinhamento<br />

do prédio; o sr. dr. Francisco Antonio<br />

Rodrigues d'Azevedo, a mudar um portão<br />

no muro d'uma proprieda<strong>de</strong> no caminho<br />

<strong>de</strong> Sauto Antonio para as Sele-lontes,<br />

com egual condição; o sr. dr. Basilio A.<br />

da Costa Freire, a assentar uma gra<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ferro em frente do prédio que possue<br />

ao Penedo da Sauda<strong>de</strong>, em substituição<br />

d'outra <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, que alli tinha, ficando<br />

a mesma gra<strong>de</strong> sohre uma cortina horisoutid<br />

<strong>de</strong> cantaria; a Manoel Ma<strong>de</strong>ira,<br />

do Dianteiro, para construir um muro <strong>de</strong><br />

vedação em volta d'um quintal junto ao<br />

caminho da fonte, e mudar um balcão<br />

para o norte da sua casa, ficando obri•<br />

gado a seguir o alinhamento <strong>de</strong>terminado,<br />

sem «ccupaçào <strong>de</strong> terreno publico;<br />

a Urbano dos Santos, <strong>de</strong> Coselhas, para<br />

abrir com condições, uma serventia entre<br />

a estrada municipal e um prédio a<br />

confinar com a mesma ; a Jo.-é Maria da<br />

Cunha, para abrir dois porlaes e uma<br />

impossível, que o senhor tenha hoje visto<br />

a senhora Van-Ritter.<br />

— Ora essa I Vejo-a todos os dias ; -<br />

acolá, sentada á varanda, ao cahir da<br />

tar<strong>de</strong>: vem para ahi bordar e vêr passar<br />

os passeiantes. Vem com a pequenita,<br />

que dizem judia, mas que o não<br />

<strong>de</strong>ve ser, porque é mais formosa do que<br />

qualquer chriatà. Ora veja : —Se aquellas<br />

ílôres e aquellas taboinhas não as<br />

occultassem um pouco, quando bordam,<br />

haveria todas as tar<strong>de</strong>s, aqui, nesta loja,<br />

gran<strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> curiosos, o que eu<br />

estimaria bem, pelo que gosto do movimento<br />

e da multidão. Ouve-se sempre<br />

alguma novida<strong>de</strong>. Mas... <strong>de</strong>seulpe-iue.<br />

Parece-me incommodado ?<br />

— Nao é nada, disse Paulo inteiramente<br />

<strong>de</strong>svairado pela dôr, e dando ao<br />

livreiro uma moeda <strong>de</strong> ouro; obrigado...<br />

disse-me tudo o que eu queria saber.<br />

O livreiro, espantado, não olhava senão<br />

para a moeda <strong>de</strong> ouro e não entendia<br />

o que ouvia.<br />

Comludo o escrupulo e a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ainda fallar mais <strong>de</strong>cidiram o livreiro<br />

a <strong>de</strong>ter pelo braço Paulo Gréant<br />

no limiar da porta.<br />

— Desculpe-me, disse com gravida<strong>de</strong>,<br />

o senhor <strong>de</strong>u-me uma moeda <strong>de</strong> ouro<br />

francez, que tem bom curso na Italia e<br />

comprou-me unicamente o Guia do viajante.<br />

Ahi E' verda<strong>de</strong>I Esquccia-me do<br />

janella na pare<strong>de</strong> d'uma casa da rua Direita,<br />

que olha para o novo largo entre<br />

a mesma rua e o terreiro da Herva, sem<br />

alteração <strong>de</strong> alinhamento; a José Maria<br />

Lobo, <strong>de</strong> Quimbres, para levantar uma<br />

casa em ruina no mesmo logar, sendo<br />

<strong>de</strong>terminado o alinhamento, sem alienação<br />

<strong>de</strong> terreno.<br />

In<strong>de</strong>feriu um requerímenlo <strong>de</strong> Manoel<br />

dos Santos, <strong>de</strong> Botão, por ser pre-<br />

judicial ao publico a ce<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> terreno<br />

para alinhamento da edificação que o<br />

mesmo proprietário pretendia levantar ao<br />

fundo do logar.<br />

Tomou conhecimento da correspondência<br />

recebida, que foi <strong>de</strong>vidamente archivada.<br />

COMMUNICADOS<br />

Cada linha, 40 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %.<br />

Realisou-se no dia 9 do corrente, o<br />

funeral do negociante d'esta praça, Antonio<br />

Marques Cepo, que nos poucos annos<br />

que contava <strong>de</strong> exislencia commercial,<br />

adquirira todavia a sympathia e estima<br />

dos seus collegas, que mais uma vez reconheceram<br />

nelle um espirito franco e leal<br />

e um amigo <strong>de</strong>dicado, e prompto, pela <strong>de</strong>monstração<br />

<strong>de</strong> sentimento que lhe prestaram.<br />

O feretro foi conduzido <strong>de</strong> casa á<br />

egreja na carreia,dos bombeiros voluntários,<br />

sendo conduzido á mão para a<br />

tarima funcraria pelos socios do Grémio<br />

Operário <strong>de</strong> que o finado fazia parte, ás<br />

borlas pegavam apenas negociantes d'esta<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Collocado novamente na carreta, e<br />

nella conduzido ao cemiterio da Conchada,<br />

em romaria <strong>de</strong> veneração e respeito, foi<br />

acompanhado á beira do tumulo, usando<br />

da palavra um amigo, Julião Veiga, que<br />

não só exaltou as suas qualida<strong>de</strong>s, mas <strong>de</strong>plorou<br />

a morte, que tão cedo o arrebatara.<br />

No feretro foram <strong>de</strong>postas 3 coroas;<br />

uma da irmã, outra do Grémio Operário<br />

e outra <strong>de</strong> um grupo dos seus amigos.<br />

A GRANEL<br />

* * #<br />

Tem <strong>de</strong> ser proximamente julgado,<br />

em ultima instancia, pela camara dos<br />

lords, o processo <strong>de</strong> perdas e damnos,<br />

intentado pela companhia <strong>de</strong> Moçambique<br />

contra a South Africa, como iu<strong>de</strong>mnisação<br />

dos prejuízos causados pela invasão<br />

<strong>de</strong> Manica. O recursot por ora,<br />

diz só respeito á competeocia dos tribunaeí<br />

inglezes para resolverem sobre essas<br />

reclamações.<br />

* # * Todos os empregados das<br />

direcções <strong>de</strong> obras publicas escreveram<br />

no sentido <strong>de</strong> lhes ser concedido o bónus<br />

<strong>de</strong> 50 °/o nas linhas ferreas.<br />

livro, disse Paulo com o mais mentiroso<br />

dos sorrisos.<br />

—Está aqui. Mas talvez antes o queira<br />

enca<strong>de</strong>rnado... São só mais dois<br />

francos.<br />

— Pois sim !<br />

— Tenho aqui um, que foi encar<strong>de</strong>rnado<br />

pela princeza <strong>de</strong> Monte-Catini.<br />

— Fico com esse.<br />

— Tenho a dar <strong>de</strong>z francos <strong>de</strong> troco.<br />

— Fique com tudo.<br />

O livreiro suspeitou <strong>de</strong> que era falsa<br />

a moeda <strong>de</strong> ouro, apalpou-a com os <strong>de</strong>dos<br />

e metleu-a no bolso, fazendo uns tregei-<br />

104, que significav im: Atinai, se fôr falsa,<br />

sempre encontrarei quem m'a receba.<br />

Paulo Gréant sahiu e percorreu ao<br />

acaso muitas ruas estreitas; chegou á<br />

ponte <strong>de</strong> Carignan, obra <strong>de</strong> cyclopes,<br />

construída por cinta dos jardins e dos<br />

telhados das casas, como um tablado <strong>de</strong><br />

suicidas.<br />

— Talormi e Memma! disse eile,<br />

mor<strong>de</strong>ndo os beiços; esláo juntos a esta<br />

hora! O inferno conduziu-me a esta horrível<br />

revelação!<br />

Apouu-se nas guardas da ponte e<br />

sorriu-se para o medonho abysmo, que<br />

se abria <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> seus pés.<br />

E' neste precipício, que <strong>de</strong>vo emfim<br />

encontrar repouso! E subiu para cima<br />

das guardas da ponte a fim <strong>de</strong> ser presa<br />

<strong>de</strong> uma favoravel vertigem e ce<strong>de</strong>r á invencível<br />

attracção do abysmo, poupando-<br />

* * * O novo regulamento das loterias<br />

só começa a vigorar no proximo<br />

futuro anno econoniico.<br />

* * * O comboio maig rápido da<br />

lei ra é o que faz a travessia <strong>de</strong> N< vv York<br />

a BulTalo, ou sejam 708 kilometros em<br />

504 minutos.<br />

* * * Os lobos teem causado gran<strong>de</strong>s<br />

estragos nos rebanhos que pastam na<br />

serra <strong>de</strong> Suajo, em Outeiro Maior. Os<br />

lavradores teem conridado o povo para<br />

realisar montarias aquellas feras.<br />

* * * O mil<strong>de</strong>w invadiu já os vinhedos<br />

<strong>de</strong> Agueda e os proprietários andam<br />

agora na faina <strong>de</strong> o combater com sulfato<br />

<strong>de</strong> cobre.<br />

* * * Ficaram completamente arrasadas,<br />

com as ultimas tempesta<strong>de</strong>s, algumas<br />

vinhas nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alfarellos.<br />

* * * Vae ser or<strong>de</strong>nado que as<br />

praças transferidas d'uns corpos para os<br />

outros, por motivo disciplinar, não possam<br />

tornar a ser collocados no regimento on<strong>de</strong><br />

já tenham castigo, senão passados dois<br />

annos.<br />

* * * Consta que vão ser restabelecidas<br />

as charangas nos corpos monta-<br />

dos da guarnição, occorrendo com as<br />

<strong>de</strong>spezas os officiaes dos mesmos corpos,<br />

se assim o enten<strong>de</strong>ram.<br />

* * * Os prelados vão expor ao<br />

parlamento a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> se<br />

modificar a lei do recrutamento, no sentido<br />

<strong>de</strong> poupar esta os mancebos que<br />

frequentam as aulas ecclesiasticas, cuja<br />

frequencia diminue <strong>de</strong> anno-para anno.<br />

. * * * Na freguezia <strong>de</strong> Telhado,<br />

Famalicão, falieceu Francisca Paula com<br />

a edaile <strong>de</strong> 120 annos!<br />

* * * Para a exposição <strong>de</strong> Chicago<br />

mandou a Imprensa Nacional, <strong>de</strong> Lisboa,<br />

alguns specimens lypograpliicos <strong>de</strong><br />

primorosa execução.<br />

* * * Está em 240$600 réis a<br />

imporlancia recebida pela commissão<br />

para o mausoléu a Elias Garcia.<br />

* * * A camara municipal <strong>de</strong> Peniche<br />

ofTereceu terreno e ma<strong>de</strong>iras para<br />

a construeção da escola industrial - da<br />

mesma villa.<br />

* * * Os gatunos roubaram na<br />

egreja dos Congregados, da cida<strong>de</strong> do<br />

Porto, uma bolsa <strong>de</strong> prata contendo cinco<br />

meias libras, quatro moedas <strong>de</strong> 2)5000<br />

réis, ires <strong>de</strong> 5^000 réis, tudo em ouro,<br />

e uma moeda <strong>de</strong> 200 réis, com a effigie<br />

<strong>de</strong> D. João iv e data <strong>de</strong> 1640.<br />

A auctorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>u as provi<strong>de</strong>ncias<br />

que o caso reclama.<br />

se ao crime do suicídio, ao crime sem<br />

perdão.<br />

XI<br />

Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />

No extremo <strong>de</strong>sespero, produzido<br />

pelas agonias intoleráveis do coração ha<br />

um certo <strong>de</strong>leite, que <strong>de</strong>tem o homem<br />

na rida no momento, em que elle se<br />

prepara para voltar contra si as suas pro<br />

prias mãos. Ha orgulho em ostentar as nossas<br />

felicida<strong>de</strong>s e lambem o ha par» soffrer<br />

os nossos infortúnios; esta ultima lucta<br />

chega até a offerecer algum encanto aos<br />

moços apaixonados, que uma curiosida<strong>de</strong><br />

sSfiinica leva a seguir até ao fim o espectáculo<br />

das próprias dores.<br />

Paulo Gréant entregou-se subitamente<br />

ao orgulho <strong>de</strong> se crêr o mais <strong>de</strong>sgraçado<br />

dos homens; e como toda a supremacia<br />

lisongeia sempre o amor proprio e faz<br />

amar a exislencia, afastou-se da gigantesca<br />

ponte, como se fugisse <strong>de</strong> um mau<br />

conselheiro e passou a noite eniretendo-se<br />

conisigo mesmo <strong>de</strong>ante da egreja <strong>de</strong><br />

Carignan sobre o monte, em frente do<br />

mar. Emquanto as estrellas se viram no<br />

ceu, perseguiu-o uma horrível visão; os<br />

phantasmas <strong>de</strong> Talormi e <strong>de</strong> Memma<br />

acompanharam-o nesta noite abrasadora<br />

e pareceu-lhe ouvir todas as palavras <strong>de</strong><br />

amor trocadas <strong>de</strong>baixo da latada do<br />

nympheo ou das arvores do jardim.<br />

Ao nascer do sol Paulo experimentou<br />

M I S S i l<br />

Emília <strong>de</strong> Jesu-i Marques manda resar<br />

uma missa, na terça-feira, 16 do correntè,<br />

pelas 6 horas da manhã na parochial<br />

egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, sulTragando a «Ima<br />

<strong>de</strong> seu irmão, e convida lodos os seus<br />

parentes e pessoas <strong>de</strong> suas relações a<br />

honrarem este acto com a sua preença.<br />

Agra<strong>de</strong>cimento<br />

Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o po<strong>de</strong>rem<br />

fazer pessoalmenle, José Pereira Marques<br />

e Eulalia <strong>de</strong> Jesus Marques, penhoradissimos<br />

com as exhuberantes <strong>de</strong>monstrações<br />

<strong>de</strong> amisa<strong>de</strong> que prestaram<br />

pela ultima vez ao seu sempre chorado<br />

irmão, Antonio Marques Cepo,<br />

-agra<strong>de</strong>cem intimamente reconhecidos,<br />

protestando a todos os que os auxiliaram,<br />

o seu eterno reconhecimento,<br />

especificando a Humanitaria Corporação<br />

dos Bombeiros Voluntários, que<br />

tão obsequiosamente se prestou a acompanhai<br />

o á sua ultima morada.<br />

A todos os protestos da nossa eterna<br />

gratidão.<br />

José Pereira Marques.<br />

Eulalia <strong>de</strong> Jesus Marques.<br />

EXPEDIENTE<br />

Prevenimos os nossos<br />

estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />

fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

vamos principiar a cobrança<br />

das suas assignaturas relativamente<br />

ao 2." semestre.<br />

Aos que não tiverem pago<br />

o 1.° semestre enviamos<br />

recibos do anno completo.<br />

Pedimos a todos o obsequio<br />

<strong>de</strong> pagarem logo que<br />

lhes seja apresentado o recibo<br />

ou mandarem pagar<br />

ás respectivas estações do<br />

correio quando receberem<br />

aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />

<strong>de</strong>volução, que, além do<br />

prejuizo que nos causa, embaraça<br />

a boa regularida<strong>de</strong><br />

da nossa administração.<br />

algum allivio. Não tinha assentado em<br />

nenhum projecto para o futuro; mas<br />

tinha resolvido energicamente fazer nesse<br />

mesmo dia uma visita a senhora Van-Ritter<br />

e julgou ser <strong>de</strong>.gran<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> escrever-lhe<br />

uma carta respeitosa.<br />

Rasgou vinte folhas <strong>de</strong> papel antes<br />

<strong>de</strong> adoptar a redacção <strong>de</strong>finitiva, que se<br />

segue :<br />

«Ex. ma sr. a<br />

No momento em que eu ia partir <strong>de</strong><br />

Génova para ob<strong>de</strong>cer a uma or<strong>de</strong>m sagrada,<br />

reteve-me nesta cida<strong>de</strong> um inci<strong>de</strong>nte,<br />

que podia ler sido lalai, mas que<br />

não passou <strong>de</strong> ser incommodo. Depois do<br />

dia, em que legalmente se <strong>de</strong>suniu o que<br />

<strong>de</strong>via estar unido revelaram-se tantos<br />

factos inesperados, que lalvez seja permittido<br />

a v. ex. a receber hoje um a<strong>de</strong>us<br />

que a minha bocca não podia pronunciar<br />

quando circunstancias, sem duvida respeitáveis,<br />

me afastavam <strong>de</strong> v. ex.* 1<br />

Estarei amanhã, ás nove horas da<br />

mauhâ, na repartição da posta restante.<br />

Desculpe-me se presrsto em pedir esta<br />

entrevista ; será a ultima: a minha partida<br />

para França esta <strong>de</strong>cidida—já tenho<br />

logar tomado nj paquete. Affirmo-lh'o<br />

pela minha honra.<br />

Paulo G.d<br />

Improsso na Typograpliia<br />

Operaria — Largo da Freiria n.«<br />

14, proximo a rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


AXX© I — I.' 86 O DEFENSOR DO POVO 14 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1893<br />

« T i l i O S<br />

PAP.A<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

A N N U N C I O S<br />

Por linha<br />

Repetições<br />

I W E I i O P E S<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapidas<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

CAIXEIRO<br />

11Í5 O 1 '" 1 ""** Um COm ^ aslanle<br />

II pratica <strong>de</strong> mercearia.<br />

Prefere-se <strong>de</strong> 24 a 27 annos d'eda<strong>de</strong>,<br />

e que tenha praticado nesta cida<strong>de</strong>.<br />

Para tratar na<br />

MERCEARIA AVENIDA<br />

LARGO DO PRÍNCIPE D. CARLOS<br />

COIMBRA<br />

A QUEM PRECISE<br />

e u m a s e s t a n l e s<br />

117 M


Crasar os braços é morrer<br />

O laborioso parlo financeiro do<br />

sr. ministro da fazenda, cujos resultados<br />

se foram evi<strong>de</strong>nciando, já<br />

na camara dos <strong>de</strong>putados na leitura<br />

do orçamento rectificado e das<br />

propostas <strong>de</strong> fazenda altinentes a<br />

malar o <strong>de</strong>ficit, — espectro <strong>de</strong> lodos<br />

os nossos financeiros, hydra. <strong>de</strong><br />

Lerna que não encontra Hercules,<br />

— serviu, como todos os esforços<br />

dos seus pre<strong>de</strong>cessores, para evi<strong>de</strong>nciar<br />

ainda mais, se é possivel,<br />

que á nossa vida economica e financeira<br />

se vae occorrendo com<br />

meros expedientes.<br />

Não é possivel ainda criticar<br />

seguramente nas suas minu<strong>de</strong>ncias<br />

o projecto financeiro do sr. Fuschini;<br />

mas o que é possivel assignalar<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já é, que o eterno recurso<br />

ao imposto, como a ubere inexgotavel,<br />

ainda d'esta vez não foi<br />

posto <strong>de</strong> parte, embora o sr. ministro<br />

ardilosamente diga o contrario;<br />

se não é ostensivo e claro o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> impostos novos,<br />

todavia os actuaes foram augmentados<br />

em mais <strong>de</strong> mil contos <strong>de</strong> réis.<br />

Mais <strong>de</strong> mil contos <strong>de</strong> réis que<br />

o contribuinte, exhauslo já, ha <strong>de</strong><br />

pagar cada anno; mais <strong>de</strong> mil contos<br />

<strong>de</strong> réis com que o povo ha <strong>de</strong><br />

concorrer annualmente para a continuação<br />

da orgia monarchica, para<br />

as consequências dos <strong>de</strong>sperdícios<br />

vergonhosos <strong>de</strong> meio século, que só<br />

serviram para se abarrotarem os<br />

muitos bumays d'este paiz.<br />

São urgentes as necessida<strong>de</strong>s<br />

publicas; são instantes as circumslancias<br />

que levaram o sr. Fuschini<br />

a promover d'esle modo o augmenlo<br />

das receitas;—o sorvedouro<br />

aberto pelas administrações passadas<br />

é enorme; a voragem on<strong>de</strong><br />

se afundam annualmente quarenta<br />

e tantos mil contos <strong>de</strong> reis é insondável;<br />

não o negamos.<br />

Mas o que é incontestável, é<br />

que o povo eslá no seu pleno direito<br />

<strong>de</strong> se levantar <strong>de</strong>cidido e firme<br />

e <strong>de</strong> dizer a lodos os que lhe<br />

querem arrancar as ultimas mealhas<br />

— que não quer pagar mais.<br />

Este direito, que nasce da profunda<br />

miséria em que se vê afundada<br />

a massa productora do paiz,<br />

acurvada ha duas gerações sob um<br />

regimen que só a tem explorado e<br />

envilecido, é respeitável, é sacratíssimo.<br />

O povo portuguez, numa quietu<strong>de</strong><br />

abonadora <strong>de</strong> muita subserviência,<br />

como animal domesticado<br />

que não reage, tem soffrido as mais<br />

vexatórias extorsões sem um movimento<br />

<strong>de</strong> protesto; tem assistido á<br />

mais <strong>de</strong>scarada corrupção anniquiladora,<br />

sem um impelo <strong>de</strong> revolta;<br />

tem soffrido a oppressãc<strong>de</strong>spótica<br />

d'uma oligarchia que lhe nega o<br />

sangue, e limila-se, <strong>de</strong> vez em quando,<br />

a enxotar Iranquillamenle uns,<br />

para immedialamente consenlir a<br />

sucção dos outros...<br />

E nesta passivida<strong>de</strong> vergonhosa<br />

vae assistindo ao <strong>de</strong>smanlellar<br />

da nacionalida<strong>de</strong>, que se vae afundando<br />

numa bancarola ominosa.<br />

Por isso, agora é tempo já — e<br />

oxalá que ainda o sejal—<strong>de</strong> accor-<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

dar do longo somno que tem dormido;<br />

é occasião <strong>de</strong> dizer aos Fuschinis<br />

da monarchia, que já os conhece<br />

<strong>de</strong>mais, que já tem pago <strong>de</strong>mais,<br />

e que já tem dormido <strong>de</strong>mais.<br />

Faça-o, pois, assim. Se neste<br />

paiz ha ainda alguns restos <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> energia, que o possa<br />

livrar d'um suicídio vergonhoso,<br />

sem nome na historia, expulse num<br />

movimeuto <strong>de</strong> indignação a torpeza<br />

que o vilipendia.<br />

Pois que temos nós visto?<br />

Após as maiores veniagas, o<br />

mais <strong>de</strong>saforado tripudiar sobre a<br />

honestida<strong>de</strong> quer na polilica, quer<br />

na administração, que nos trouxeram<br />

á situação vergonhosa em que<br />

nos encontrámos, que nos restará<br />

fazer? Deixarmos que esta bambochata<br />

para ahi continue sem reacção<br />

nem protesto? Não empregarmos<br />

os últimos esforços, e, numa<br />

resignação simiesca, <strong>de</strong> mãos na<br />

cabeça <strong>de</strong>ixarmo-nos ir para o fundo?<br />

Se assim fôr, o Portugal do século<br />

xix não <strong>de</strong>ve merecer da historia<br />

nem a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> se lhe<br />

citar o nome como o d'um povo <strong>de</strong><br />

covar<strong>de</strong>s.<br />

João Chagas<br />

Tem estado doente, sendo accomettido<br />

<strong>de</strong> febres palustres. Os amigos tem-o<br />

ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> cuidados, e ao botei continúa<br />

a afíluir muita gente que o vae felicitar<br />

pela sua chegada e informar-se do seu<br />

estado.<br />

Que as melhoras sejam rnpidas é o<br />

ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> nós todos — <strong>de</strong> todos<br />

nós que muito.lhe queremos.<br />

Contribuição predial<br />

Pelo projecto apresentado pelo sr.<br />

Fuschini a contribuição predial é augmentada<br />

em 7()0 contos.<br />

Como é <strong>de</strong> suppôr e <strong>de</strong> prever o arrendatario<br />

que vá contando com mais<br />

uns cobres paia o pagamento do novo<br />

imposto.<br />

Um financeiro <strong>de</strong> truz — este Fuschini<br />

I<br />

Eduardo Coelho<br />

Realisou-se no domingo, 110 cemiterio<br />

dos Prazeres a homenagem <strong>de</strong> respeito<br />

á memoria d'esle honrado cidadão<br />

e digno filho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a quem o jornalismo<br />

portuguez <strong>de</strong>ve serviços relevantes.<br />

Porque a auctorida<strong>de</strong> prohibiu se fizesse<br />

o cortejo c.ivico ao cemiterio alli<br />

concorreram muitas agremiações populares<br />

e muito povo, reunindo-se mais <strong>de</strong><br />

2:000 pessoas.<br />

Junto do tumulo <strong>de</strong> Eduardo Coelho<br />

oraram, exaltando as bellas qualida<strong>de</strong>s<br />

do seu caracter e a prestigiosa acção da<br />

sua inciativa, os srs. Rodrigues Gonçalves,<br />

Francisco Pereira Jardim, Esteves, Pereira,<br />

Gomes da Siva e Brito Aranha,<br />

sendo <strong>de</strong>postas varias coroas e ramos.<br />

A' noite, na sessão solemne da Associação<br />

Eduardo Coelho, falaram também<br />

vários oradores, que prestaram merecido<br />

culto á memoria do prestimoso cidadão.<br />

De remissa<br />

Alguém pôz em lettra redonda que o<br />

sr. ministro da fazenda ia isentar <strong>de</strong> impostos<br />

as associações operarias.<br />

Tanta liberalida<strong>de</strong> num financeiro,<br />

que só tem em vista fazer augmentar as<br />

receitas á força <strong>de</strong> augmentar os impostos,<br />

custa a acreditar.<br />

No emtanto, esperemos.<br />

A Sé Velha<br />

e a commissão dos monumentos<br />

Ha dias o telegrapho levou a um<br />

jornal do Porto a noticia <strong>de</strong> que o sr.<br />

Possidonio da Silva num conciliábulo, que<br />

sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Commissão dos<br />

monumentos nacionaes se reúne no ministério<br />

das obras publicas, reclamára<br />

energico e apopletico contra os trabalhos<br />

<strong>de</strong> reparação que se andam executando<br />

na Sé Velha <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Este inci<strong>de</strong>nte é <strong>de</strong> tal maneira insolito<br />

e brutal; esta voz grasnando numa<br />

senha tão pouco justificada é d'um atrevimento<br />

tão íóra da ronha pacifica e uncfuosa<br />

do preclaro personagem; e por outro<br />

lado, a aceitação fácil <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

que a reclamação encontrou no conluio<br />

unanime daquelles conspícuos varões é<br />

<strong>de</strong> tal fórma <strong>de</strong>nunciante, que põe bem<br />

a <strong>de</strong>scoberto os mesquinhos propositos<br />

que animam a intrigalha. E como é facciosa,<br />

a parlapatice egoista da insigne<br />

commissão lisboeta, que aceitou a calumnia<br />

sem uma hesitação <strong>de</strong> prudência 1...<br />

«O architecto sr. Possidonio da Silva<br />

occupou-se hoje, na commissão dos monumentos,<br />

da restauração das columnas<br />

e nave central da Sé Velha <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

consi<strong>de</strong>rando a obra que se está alli<br />

fazendo um attentado contra o pensamento<br />

original do architecto que <strong>de</strong>lineára<br />

o edifício. Rcsolveu-se chamar a<br />

attenção do governo para esse facto.»<br />

A aCcusação d'um facto tão grave<br />

produziu no espirito publico um movimento<br />

<strong>de</strong> alarme; e no dia seguinte ao<br />

da propagação da noticia, á Sé Velha affluiu<br />

numerosa concorrência <strong>de</strong> visitantes,<br />

que queriam por si mesmo certificarse<br />

da verda<strong>de</strong> da <strong>de</strong>nuncia.<br />

Porque aos homens honestos parecerá<br />

inacreditável que uma criminação d'esta<br />

or<strong>de</strong>m, que é um atropello a todas as<br />

praxes <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração pessoal, levantada<br />

e sanccionada no seio d'uma commissão<br />

oflicial e sobre a qual se resolve <strong>de</strong><br />

prompto pedir a intervenção suprema do<br />

governo, sem reservas nem contemplações,<br />

seja absolutamente falsà e miseravelmente<br />

calculada i...<br />

A commissão incumbida <strong>de</strong> superinten<strong>de</strong>r<br />

nos trabalhos <strong>de</strong> reparação da Sé<br />

Velha é presidida pelo ex. ra0 Bispo-con<strong>de</strong>,<br />

e fazem parte d'ella o director das<br />

obras publicas do districto e o director<br />

da escola industrial; tem egualmente ura<br />

caracter <strong>de</strong> serviço publico e é <strong>de</strong> tanta<br />

auctorida<strong>de</strong> e valida<strong>de</strong> oúiçial, como a<br />

que em Lisboa eslá ven<strong>de</strong>ndo o seu<br />

peixe e governando a vidinha.. .<br />

Com que direito vem pois essa corporação<br />

ingerir-se nos actos da <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

e iucriininar suppostas faltas, arrogando<br />

-se superiorida<strong>de</strong> que ninguém lhe<br />

reconhece e ninguém lhe conferiu?!<br />

E' um <strong>de</strong>smando burlesco e estúpido,<br />

que tem tanto <strong>de</strong> grosseiro como <strong>de</strong><br />

insensato...<br />

Não vale a pena graciosamente <strong>de</strong>senvolver<br />

aqui em discussão justificativa e<br />

plena as obras em realisaçao na Se Veiha.<br />

O procedimento ru<strong>de</strong> dos insignes<br />

censores loruou-os incompatíveis com<br />

essa <strong>de</strong>fereucia.<br />

Aguar<strong>de</strong>mos os factos e a justificação<br />

se fara <strong>de</strong> maneira tão lúcida e completa,<br />

que não restará um vislumbre <strong>de</strong><br />

hesitação no animo dos mais limidos ou<br />

dos mais cautos para a inteira approvação<br />

do que esta feito e se projecta fazer.<br />

Aguar<strong>de</strong>mos a occasiao.<br />

O governo foi instado a intervir e<br />

a iiluslre commissão. encontra-se numa<br />

situação pouco invejável. Porque <strong>de</strong> duas<br />

uma: o"u a <strong>de</strong>nuncia proce<strong>de</strong> e o paiz<br />

reconhecerá que, para fins occultos, foi<br />

in<strong>de</strong>corosamente illudido; ou o ministro<br />

informado a tempo liga á perlidia o <strong>de</strong>sprezo<br />

que merecem as ejaculações da vileza.<br />

E em qualquer dos casos o impávido<br />

<strong>de</strong>lator e os quatro companheiros<br />

estão em cheque.<br />

A ennegrecer ainda o que ha <strong>de</strong><br />

moralmente con<strong>de</strong>mnavel nesta petulância,<br />

transparece a falta <strong>de</strong> escrupulo com<br />

que se <strong>de</strong>primem os serviços alheios ao<br />

mesrao tempo que se aproveita o ense-<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />

do Povo<br />

jo para dar saliência e brilho á filaucia<br />

própria!<br />

Pela fórma irrisória como o <strong>de</strong>lator<br />

falia do—pensamento original do architecto—<br />

parece querer inculcar que sobre<br />

a comprehensão exacta do monumento<br />

lhe não restam duvidas! Penelrou-lhe<br />

no amago : — o pensamento original do<br />

architecto!<br />

Uma palavra porém o trahe e mostra<br />

como é artificiosa e inculta a idêa que<br />

s. ex. a professa sohre esta gloriosa fabrica.<br />

A historia dos nossos monumentos<br />

eslá por fazer, é verda<strong>de</strong>, mas ignorará<br />

o sr. Possidonio porventura as ligações<br />

<strong>de</strong> analogia da Sé Velha com outras<br />

egrejas da península e contemporâneas,<br />

com as quaes será possivel estabelecer<br />

as mais intimas afinida<strong>de</strong>s !...<br />

Então esle erudito, este critico d'arle<br />

e historiador sapiente, a quem a nação<br />

pagou para estudar este e outros<br />

edifícios, como vamos vêr, <strong>de</strong>sconhece<br />

os preciosos trabalhos <strong>de</strong> Street, tão suggestivos<br />

para a classificação genealógica<br />

dos nossos monumentos ? ! Que quer<br />

dizer pensamento original ?<br />

On<strong>de</strong> é que está a originalida<strong>de</strong> do<br />

architecto? Nos accessorios faustosos da<br />

<strong>de</strong>coração, ou as circumstancias secundarias<br />

e acci<strong>de</strong>ntaes da adaptação ao<br />

local?<br />

Na traça geral <strong>de</strong>certo que não, porque<br />

é typica, congenere <strong>de</strong> S. Isidro <strong>de</strong><br />

Leão, por exemplo.<br />

Mas ha mais! e mais!... Este homem<br />

ainda está treslendo pela cartilha<br />

velha.<br />

Coitado !... qA.<br />

(Continúa).<br />

m<br />

Pelo parlamento<br />

Logo na primeira sessão da camara<br />

dos <strong>de</strong>putados o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay<br />

viu o quanto é sympathica a sua figifra<br />

<strong>de</strong> famoso banqueiro, que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se<br />

ter sabido arranjar <strong>de</strong> modo que se encheu<br />

<strong>de</strong> dinheiro e <strong>de</strong> honrarias, neste<br />

paiz pobre e aviltado por elle e por outros<br />

que taes, se lembrou ainda <strong>de</strong> affVontar<br />

o povo que soube expoliar, assentando<br />

se entre aquelles que são, llieoricamenle,<br />

o-s representantes do paiz.<br />

Bem lhe tei» cuslado a campanha em<br />

que se empenhou, e que <strong>de</strong>monstrou ao<br />

nobre con<strong>de</strong> o quanto é <strong>de</strong> querido em<br />

Portugal. E agora, que todas as dificulda<strong>de</strong>s<br />

!he pareciam resolvidas pelo accordãodo<br />

tribunal <strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res,<br />

— que consi<strong>de</strong>rava nullo o diploma passado<br />

ao sr. Silva Amado, e que <strong>de</strong>clarava<br />

supprido pelo mesmo accordao o diploma<br />

legal do sr. Burnay para se amesendar<br />

no seio da representação nacional; no seio<br />

da dita dizem-lhe que uão; que não<br />

basta. E o peor e que alli <strong>de</strong> pouco po<strong>de</strong>m<br />

valer as libras que abarrotam os<br />

cofres do opulento banqueiro.<br />

Quando pela. presi<strong>de</strong>ncia da camara<br />

era lido o tal accordão, o <strong>de</strong>putado sr.<br />

Alpoim poz a questão da legalida<strong>de</strong> daqelle<br />

doeumeiiio para o sr. Burnay ter assento<br />

ua camara ; visto nao se ler <strong>de</strong>cidido<br />

ainda, por aquelle tribunal se julgar incompetente<br />

para o fazer,» se o nobre<br />

Con<strong>de</strong> é cidadão portuguez e, portanto, se<br />

é elegível.<br />

O sr. Alpoim, acompanhado por toda<br />

a camara, requereu para, que, antes <strong>de</strong><br />

se dar ingresso no parlamento ao sr.<br />

Burnay se dicidam aquelles pontos.<br />

Mas como são flagrantes as provas<br />

<strong>de</strong> que o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay, gran<strong>de</strong><br />

d'estes reinos, que nelles tem crescido<br />

e medrado, não é portuguez, parece-nos<br />

que o mesmo Ínclito senhor uão conseguirá<br />

levar ao parlamento a sua candidatura<br />

moral.<br />

E era o que faltava...<br />

*<br />

O gran<strong>de</strong> interesse da sessão ligava-se<br />

á leitura do orçamento do sr. Fuschini<br />

e á das suas propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />

Apresentou-se o orçamento e apresentaram-se<br />

as propostas.<br />

Pelo orçamento conclue-se que fica<br />

existindo um <strong>de</strong>ficit <strong>de</strong> 1.545:3740600<br />

réis» que o sr. Fuschini se propõe ohmr<br />

com as suas propostas <strong>de</strong> fazenda, das<br />

quaes conta auferir 1:73o conto», provenientes<br />

<strong>de</strong> augmento <strong>de</strong> receita — sobre<br />

o sello, 500 contos; álcool, 350<br />

contos; contribuição predial, 280 contos;<br />

contribuição industrial, 600 contos.<br />

Desenvolvemos a proposta <strong>de</strong> reforma<br />

do imposto do sello, como a que mais<br />

interessa.<br />

Concluindo, o relatorio enuncia o<br />

rendimento presumível das propostas que<br />

o acompanham e que é o seguinte:<br />

Proposta sobre o sello, 500 contos;<br />

álcool, além da somma já <strong>de</strong>scripta no<br />

orçamento, 350 coutos; contribuição<br />

predial, 280 contos; contribuição industrial,<br />

600 contos. Total, 1:730 contos.<br />

D'estas as duas primeiras ainda para o<br />

exercício <strong>de</strong> 93-94 <strong>de</strong>verão dar as receitas<br />

importantes; as duas ultimas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

o seu lançamento <strong>de</strong> operações<br />

que hão <strong>de</strong> realisar-se em 1894, só em<br />

1895 começarão a produzir receita. E<br />

com estas consi<strong>de</strong>rações e expondo o<br />

pensamento do governo <strong>de</strong> não recorrer<br />

ao credito nem aggravar por qualquer<br />

modo as <strong>de</strong>spezas publicas, e significando<br />

ao mesmo tempo que aos funccionarios<br />

públicos não se po<strong>de</strong>m aggravar as <strong>de</strong>ducções<br />

e mesmo as actuaes só se <strong>de</strong>verão<br />

mantér pelo lenipo estrictamente<br />

necessário, termina o relatorio, seguindo-se-lhe<br />

os mappas elucidativos, no<br />

numero <strong>de</strong> 14 e todos extremamente interessantes,<br />

pois pela sua leitura se faz<br />

logo clara i<strong>de</strong>a da situação do thesouro<br />

e do paiz.<br />

Na reforma do imposto do sêllo calcula<br />

o ministro um augmento <strong>de</strong> receita<br />

<strong>de</strong> 400 a 500 contos, fixando como mínimo<br />

o seguinte:<br />

Papel sellado, 65 contos; sêllo <strong>de</strong><br />

verba, 183 contos, estampilhas <strong>de</strong> sêllo,<br />

160 contos. Total, 408 contos. Esta proposta<br />

não constitue innovação, mas remo<strong>de</strong>lação.<br />

O sêllo para reconhecimentos, que<br />

hoje era simultaneamente <strong>de</strong> 10 e 80<br />

réis, tica reduzido a taxa única <strong>de</strong> 20<br />

reis. Para as socieda<strong>de</strong>s auonymas e para<br />

as outras socieda<strong>de</strong>s commerciaes e civis,<br />

as quaes hoje nos sellos <strong>de</strong> escripluras<br />

correspondia a capital maior menor proporção<br />

da taxa <strong>de</strong> sètlo, estabelece-se a<br />

taxa fixa <strong>de</strong> 300 réis por cada conto do<br />

capital. Os litulos <strong>de</strong> divida publica ficam<br />

sujeitos ao imposto do sê.lo.<br />

Para os dotes é estabelecido o imposto<br />

progressivo até um <strong>de</strong>cimo do rendimento<br />

anuual. O papel sellado da taxa<br />

<strong>de</strong> 50 réis é elevado a 80 réis e o d'esta<br />

taxa a 100 réis.<br />

Para os diplomas nobiliários o sêllo<br />

é elevado. Para cartas <strong>de</strong> mercê <strong>de</strong> duque<br />

011 duqueza, 300$000 réis; marquez ou<br />

marqueza, 2000000 reis; con<strong>de</strong> ou con<strong>de</strong>ssa,<br />

180^000 réis; titulo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za,<br />

1800000 réis; sendo este titulo<br />

inherente a funeção publica, 1500000<br />

réis; viscon<strong>de</strong> ou viscon<strong>de</strong>ssa, 1000000<br />

réis; barão ou baroneza, 800000 réis;<br />

titulo <strong>de</strong> juro e herda<strong>de</strong>, a mais 500000<br />

reis; carta que conce<strong>de</strong> honras <strong>de</strong> parente,<br />

4000000 reis; carias <strong>de</strong> conselho,<br />

1000000 reis; alvará em vida <strong>de</strong> alguns<br />

títulos, 800000 réis; alvará para mércê<br />

<strong>de</strong> brazão <strong>de</strong> armas, 100(5000 reis; portaria<br />

para aceitar ou usar bandas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns<br />

estrangeiras, ou titulos estrangeiros,<br />

3000000 réis; banda da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Santa ha bel, 1800000, reis; ele.<br />

Para os diplomas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns lambem<br />

é elevada a taxa do sello: gran-cruz, a<br />

1400000 ; cominendador, 800000; official<br />

ou cavaileiro, 400000 ; gran-cruz<br />

estrangeira, 3000000; gran<strong>de</strong> official,<br />

2000000; commendador, 1800000 ; oflicial<br />

ou cavalleiro, 900000 ; gran<strong>de</strong> dignitário,<br />

200^000 réis.<br />

Os diplomas <strong>de</strong> empregados da casa<br />

real, patentes militares, diplomas <strong>de</strong> habilitações<br />

litterarias ou scieulificas, bulias,<br />

dispensas, etc., lambem solírem augmento<br />

no imposto do sello.<br />

Na camara dos pares a sessão durou<br />

apenas meia hora.<br />

Pouco interessante. Foi aprazada para<br />

hontem a sessão seguinte.


A W M O I — li.' O D E F E N S O R D O P O V O 1 8 d e m a i o d e 1 8 0 $<br />

CRYSTABS<br />

A Christo<br />

0 agudo bisturi da nossa experiencia,<br />

A lança da Razão inquebrantável, fria,<br />

Varou <strong>de</strong> lado a lado o olho da Provi<strong>de</strong>ncia:<br />

A abobada celeste é orbita vasia.<br />

A critica fatal da velha <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia<br />

Negou-te a divinda<strong>de</strong>, ó filho <strong>de</strong> Maria.<br />

Desamparou-me a fé. A nossa consciência<br />

Respeita simplesmente as leis <strong>de</strong> geometria.<br />

O tempo, o gran<strong>de</strong> verme, apodreceu a escada<br />

Por on<strong>de</strong> o visionário em noute constellada<br />

Viu anjos a <strong>de</strong>scer da luminosa esphera.<br />

No leito sensual do azul in<strong>de</strong>finido<br />

Ha muito que exhalou seu ultimo gemido<br />

O Deus Omnipotente — essa i<strong>de</strong>al cbimera.<br />

GUERRA JUNQUEIRO.<br />

LETTRAS<br />

0 concertador <strong>de</strong> bilhas<br />

Naquelle tempo e numa gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong><br />

que não contava menos <strong>de</strong> dois milhões<br />

<strong>de</strong> habitantes — espero que a indiscripção<br />

vos não obrigará a commetter a<br />

in<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za <strong>de</strong> me perguntarem em que<br />

paiz era situada essa cida<strong>de</strong>, boje <strong>de</strong>sapparecida<br />

— um prejuízo que prevalecia<br />

apezar da <strong>de</strong>sapprovação <strong>de</strong> todas<br />

as pessoas praticas, estabelecia que as<br />

meninas, quando contrahissem matrimonio,<br />

offerecessem aos seus maridos, além<br />

d'um dote em moeda corrente e títulos<br />

do Estado, uma bilha pequenina e frágil,<br />

não maior que um cálix, perfeitamente<br />

intacta, e o marido apenas, lhe era entregue<br />

a mimosa oflerenda, quebrava-a<br />

com um socco, <strong>de</strong>sapiedadamente.<br />

Que significação teria esta crença ?<br />

Quereriam os noivos contar pelos fragmentos<br />

da faiança os futuros annos <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong>?<br />

Pelo que diz respeito á bilha, tendo<br />

os pintores e os poetas da epocha em<br />

questão <strong>de</strong>ixado — por um outro prejuízo<br />

não menos extravagante — <strong>de</strong> reproduzil-a<br />

nas suas telas e cantal-a nos<br />

seus versos, não posso dar senão indicações<br />

muito vagas e incompletas sobre<br />

este brin<strong>de</strong> nupcial; tudo leva a crer, 110<br />

entretanto, que elle era agradavel á vista,<br />

pequenino, <strong>de</strong>licado, d'uma pintura<br />

côr <strong>de</strong> rosa carregado, sob folhagens cor<br />

d'ouro ou <strong>de</strong> ébano, pu<strong>de</strong>mos mesmo<br />

imaginar que as mais das vezes encerrava<br />

uma essencia preciosis-ima.<br />

O que é certo é que os noivos queriam<br />

recebel-o bem intacto; a mais pequena<br />

beliscadura irritava-os; uma racha<br />

era motivo para as maiores <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns.<br />

O absurdo das suas exigencias<br />

via-se principalmente no facto do intuito<br />

d'elles, ser apenas <strong>de</strong> quebrar as bilhas.<br />

Ora, se ellas só serviam para serem<br />

quebradas, que importava, pergunto eu,<br />

que ella o fosse honlem ou hoje? Parece<br />

até que o novo marido <strong>de</strong>via alegrar-<br />

»e por ter uma maçada a menos.<br />

Porem, os homens d'aquelle tempo,<br />

eram, sobre este asnimpto, d'uma teimosia<br />

sem egual; as melhores razões<br />

não os persuadiam. Bemdigamos á Provi<strong>de</strong>ncia<br />

por lermos nascido num século<br />

em que a humanida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sligou d'esta<br />

crença pueril. Quanto mais o vaso era<br />

difficil <strong>de</strong> quebrar, tanto mais contentes<br />

ficavam os imbecis!<br />

Era pela soli<strong>de</strong>z que elles mediam a<br />

sua gloria e não conheciam maior triumpho<br />

do que voltaram-se-lhe as unhas ou<br />

ensanguentarem se-lhes os <strong>de</strong>dos nos esforços<br />

que faziam.<br />

*<br />

Neste estado <strong>de</strong> coisas, as meninas,<br />

é claro, tinham o máximo cuidado com<br />

este precioso objecto; poupavam-o, o<br />

mais possivel, dos encontrões, dos golfes<br />

d'ar, <strong>de</strong> todas as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sgraça; e, quando precisavam limpal-o,<br />

tomavam, tremulas, tolas as precauções<br />

e tinham a leveza <strong>de</strong> mão d'um colleccionador<br />

que lida com figurinhas <strong>de</strong> Saxe<br />

ou com marfim do Japão. Não iam á<br />

fonte enchel-a com medo <strong>de</strong> a quebrar!<br />

Não se limitavam a cercal-a dos cuidados<br />

mais <strong>de</strong>licados, escondiam-a <strong>de</strong>baixo<br />

das roupas, sedas, lãs, musselinas,<br />

não só para evitar os olhares indiscretos<br />

mas também para tornar 01 choques<br />

menos violentos.<br />

Uma menina que se <strong>de</strong>stinasse ao<br />

casamento—' havia já nesse tempo vocações<br />

infelizes— temia quasi tanto <strong>de</strong>ixar<br />

ver ti sua bilha, como quebral-a.<br />

Apezar <strong>de</strong> tantas precauções occorriam<br />

muilas vezes <strong>de</strong>sagradaveis inci<strong>de</strong>ntes;<br />

uma infelicida<strong>de</strong> aconUce tão subitamente!<br />

As raparigas que por um p»s-<br />

ÍO em falso ou por qualquer outra levianda<strong>de</strong><br />

d'occaiião, para assim dizer,<br />

só podiam juntar ao seu dote uma bilha<br />

sensivelmente ferida, tinham, é verda<strong>de</strong>,<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sculparem com<br />

a sua fragilida<strong>de</strong>, conhecida <strong>de</strong> toda a<br />

gente, e com as tentativas, por geilo<br />

ou por força, <strong>de</strong> certos impertinentes que<br />

queriam gozar privilégios <strong>de</strong> esposo» sem<br />

terem ccntrahido as respectivas responsabilida<strong>de</strong>s.<br />

Mas estas <strong>de</strong>sculpas não<br />

serviam para attestar a innocencia das<br />

pobres creanças; eram vistas com maus<br />

olhares, simulavam lastimal-as, e era<br />

pouco commum que chegassem até ao<br />

casamento. Mesmo aquellas que á força<br />

<strong>de</strong> mysteriosa hypocrisia, conseguiam occultar<br />

a sua <strong>de</strong>sventura — uma bilha<br />

pô<strong>de</strong> rachar-se sem ruido — não tinham<br />

melhor sorte pela <strong>de</strong>scortezia furibunda<br />

que encontravam nos maridos enganados.<br />

De maneira que, por compaixão para<br />

com as ingénuas, cujo thesouro <strong>de</strong> faiança<br />

estava alguma coisa <strong>de</strong>teriorado — e<br />

também na esperança d'uma remuneração<br />

condigna — pessoas hábeis procuraram<br />

saber se existiria meio <strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois<br />

do acci<strong>de</strong>nte, repor as coisas, mais quê<br />

menos quê, no seu primitivo estado Pois<br />

não tardou que na cida<strong>de</strong> dois milhões<br />

<strong>de</strong> habitantes apparecessem especialistas<br />

muito laureados, que exerciam o officio<br />

<strong>de</strong> concertadores <strong>de</strong> bilhas nupciaes.<br />

Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />

(Conclui).<br />

O que se vê...<br />

Pelas <strong>de</strong>clarações do sr. Fuschini sabe-se<br />

que a diminuição da <strong>de</strong>speza realisada<br />

pelos differentes ministérios é a<br />

seguinte:<br />

Fazenda 1SB contos<br />

Reino 47 »<br />

Justiça 35 »<br />

Guerra 605 ^<br />

Marinha 553 »<br />

<strong>Obra</strong>s publicas 492 »<br />

Estrangeiros ^ . 95 ><br />

O que se não vê são as <strong>de</strong>spezas<br />

para as viajatas, e as enormes verbas que<br />

saem a occultas para pagar os caprichos<br />

e as orgias <strong>de</strong> altos funccionarios.<br />

Pois affirmam que na roda do anno<br />

é uma conta callada III<br />

Ridículo<br />

Decididamente o sr. Pedroso <strong>de</strong> Lima,<br />

famigerado commissario <strong>de</strong> policia, anda<br />

a pentear-se para comprido penacho.<br />

Pelo menos os meios bem os emprega<br />

elle.- .<br />

Não <strong>de</strong>scança, o fino commissario.<br />

Sonha conspirações era toda a parte,<br />

manejos terríveis nas trevas, e elle ahi<br />

vae immediatamente, a <strong>de</strong>sfazer-se em<br />

provi<strong>de</strong>ncias luminosas do seu luminoso<br />

cerebro, que <strong>de</strong>sfazem por sua vez os<br />

mysteriosos conluios dos republicanos.<br />

A polieia <strong>de</strong> Lisboa não tem cessado<br />

<strong>de</strong> espionar o sr. João Chagas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que <strong>de</strong>sembarcou, seguindo-o por toda a<br />

parte, e nem emquanto elle tem estado<br />

<strong>de</strong> cama os fieis mollossos <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> lhe<br />

vigiar a porta.<br />

E' um alho, aquelle sr. Pedroso; fino<br />

como um coral, aquelle Lima...<br />

Até parecb o sr. Pedro Ferrão.<br />

Mais um bicho<br />

Na província <strong>de</strong> Tamboff, na Rússia,<br />

appareceu um novo insecto que se multiplica<br />

e propaga <strong>de</strong> uma maneira assombrosa,<br />

e que já tem <strong>de</strong>v*çiado alli<br />

centenares <strong>de</strong> kilometros^qUTítfrados, <strong>de</strong>vorando<br />

as plantas cultivadas.<br />

Causa maiores estragos que o gafanhoto,<br />

e possue extraordinarin resistencia<br />

vital.<br />

Contrabandistas<br />

Na comarca <strong>de</strong> Niza a guarda fiscal<br />

apanhou um grupo <strong>de</strong> contrabandistas<br />

passando a raia e fez fogo sobre elles.<br />

Caiu morto um d'elles, liomem novo e<br />

robusto, fugindo os outroi.<br />

Por este modo a guarda fiscal apprehen<strong>de</strong>u<br />

45 kilos do tabaco, em fardos.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

A <strong>de</strong>solação dos campos<br />

João Chagas<br />

Confrange-íe <strong>de</strong> dôr e annuviam-se<br />

<strong>de</strong> lagrimas todas as almas immaculadas,<br />

ao presencear o estendal <strong>de</strong> misérias<br />

que <strong>de</strong>senrolou a aza do ultimo tufão,<br />

do temporal medonho <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />

sobre nós.<br />

Da província chovem telegrammas<br />

<strong>de</strong>soladores.<br />

Acabo <strong>de</strong> vêr noticias da Regoa,<br />

Mesâo-frio, Aveiro, Ferreira, Penacova e<br />

Agueda, que dão perdidas as arvores <strong>de</strong><br />

fructo e as vinhas escapadas ao furacão<br />

do dia 7.<br />

Os que trabalham, os que moirejam<br />

sem <strong>de</strong>scanso na faina da lavoura, conquistando<br />

num longo dia (sob o cáustico<br />

do sol ou a lunica gelada da neve)<br />

um pedaço <strong>de</strong> pão negro, os que caminham<br />

pela senda dos <strong>de</strong>sherdados, sem<br />

clarão d'esperança a sorrir-lhes no porvir,<br />

sem bálsamo para a magua que lhes<br />

alanrea a alma — per<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> repenje,<br />

<strong>de</strong> súbito, numa rajada forte do vendaval,<br />

o trabalho <strong>de</strong> tantos dias, a lucta<br />

<strong>de</strong> tantos mezes, e encontram-se a braços<br />

com a miséria, espectro negro, que<br />

andou, cavalgando 110 corcel da ventania,<br />

a <strong>de</strong>stroçar as vinhas, a arrancar os<br />

fructos das arvores, a arrazar campos e<br />

<strong>de</strong>struir canteiros, a <strong>de</strong>sbaratar, como<br />

um triumphador selvagem, invadindo —<br />

cavalio a toda a brida, alfanje na <strong>de</strong>xtra<br />

— os arraiaes do inimigo vencido.<br />

Não bastavam os encargos com que<br />

o governo sobrecarrega o agricultor, não<br />

bastava a crise, era pouco a dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> transacções commerciaes e o abandono<br />

a que são votadas as nossas industrias<br />

— faltava o clow das gran<strong>de</strong>s calamida<strong>de</strong>s<br />

I<br />

O nosso homem <strong>de</strong> lavoura encontra-se<br />

na contingência tristíssima disten<strong>de</strong>r<br />

a mão á carida<strong>de</strong> publica, se o<br />

governo não remediar o mal com <strong>de</strong>dicação<br />

e sollicilu<strong>de</strong> immediata.<br />

A fome espreita a casa do lavrador,<br />

a Morte, ave sinistra, esvoaça em torno<br />

ao seu lar, e a <strong>de</strong>sgraça senta-se á beira<br />

dos seus filhos, pousando a mão


AWKú I —X." 8» O DEFEMSOR DO POVO IS <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> JL893<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Felgueira, 16 <strong>de</strong> maio.<br />

Permitta-me, meu amigo, que d'esta<br />

terra, encravada entre montanhas nas<br />

margens do Mon<strong>de</strong>go, que nestes sitios<br />

e nesta occa-ião, <strong>de</strong>vido ás ultimas chuvas,<br />

vae caudaloso, lhe dê noticias minhas<br />

e lhe diga qualquer coisa d'esta estação<br />

balnear. Serei breve porque sei quanto<br />

precisa <strong>de</strong> tempo para as suas occupações<br />

e por isso ih'o não <strong>de</strong>vo roubar<br />

'com superfluida<strong>de</strong>s que pouco o interessam.<br />

O isolamento a que me votei contraria-me<br />

os hábitos; e portanto, na falta<br />

da distracção do Luzitano, da cavaqueira<br />

na redacção do jornal, on<strong>de</strong> o T. <strong>de</strong> B.<br />

com os seus ditos cathedraticos; o M<br />

cora o seu espirito alegre <strong>de</strong> val<strong>de</strong>vinos,<br />

que apparece para fugir logo em seguida,<br />

preoccupado sempre em aventuras galantes<br />

on<strong>de</strong> se suppõe galan e v. preoccupado<br />

tamb< i)i com a visão da Recreativa,<br />

espreitando qualquer gaze negro<br />

que se lhe <strong>de</strong>para, recordando essas horas<br />

ledas que passaram; na falta d'este<br />

convívio <strong>de</strong>ixe que o recor<strong>de</strong>, para assim<br />

ir matando o tempo e para que os dias<br />

e as horas me pareçam mais curtas.<br />

Eesta epocha aqui é insuportável; não<br />

ha ainda ninguém com quem se conviva.<br />

O nosso dr. João Felício não se apanha,<br />

elle que tem ura espirito alegçe, uma<br />

alma aberta e um coração d'ouro, anda<br />

preoccupadissimo com as obras que traz<br />

no Gran<strong>de</strong> Hotel Club, casa <strong>de</strong> primeira<br />

or<strong>de</strong>m e uma das primeiras do paiz<br />

neste genero.<br />

Com o amor que votou á empreza<br />

que dirige, é incansavel e num phreuezi<br />

enorme, elle vê passar os dias e aproximar<br />

o dia 1.° <strong>de</strong> junho em que <strong>de</strong>ve<br />

abrir o Hotel, sem ter tudo concluído,<br />

apezar do seu esforço e da sua enorme<br />

activida<strong>de</strong>.<br />

Este anno os melhoramentos são muitos;<br />

o Hotel todo modificado — cara lavada—<br />

como se costuma dizer. E' uma<br />

alluvião <strong>de</strong> operários a estucarem, caiarem,<br />

pintarem, comporem, modificarem,<br />

ele., etc. O salão <strong>de</strong> baile e todas as<br />

galerias ficam concluídas, po<strong>de</strong>ndo o Hotel<br />

receber e alojar mais <strong>de</strong> cera hospe<strong>de</strong>s.<br />

Fóra do Hotel também ha muitas<br />

obras, tornando-se reparado o chalet do<br />

sr. Elysio Pereira do Valle, bonita construcção<br />

e num magnifico sitio, d'on<strong>de</strong> se<br />

disfructans soberbas vistas; e a estrada<br />

que anda em conslrucção que, partindo<br />

do sítio on<strong>de</strong> se tomam as aguas frias,<br />

vae costeando montes, passando em<br />

frente do Gran<strong>de</strong> Hotel, atravessando o<br />

ribeiro por um bem construído aqueducto<br />

e voltando pela encosta do monte<br />

on<strong>de</strong> está o hotel para ir entroncar<br />

com a outra estrada, acima um pouco<br />

do olival. Esta estrada tornar-se-ha o<br />

ren<strong>de</strong>z-vous dos banhistas pelas bonitas<br />

vistas do Mon<strong>de</strong>go que d'ella se disfructam.<br />

— — —<br />

H Folhetim do Defensor do POYO<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA § VATICANO<br />

XI<br />

Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />

Esta carta pareceu muito bem ao<br />

seu auctor; t ; nha um sentido vago, que<br />

Memma énterpi laria como lhe parecesse<br />

e a mentira d., lim po<strong>de</strong>ria, se fosse preciso,<br />

passar |f.,i u na verda<strong>de</strong>, visto estar<br />

habilmente arranjada.<br />

Ao mesmo tempo Paulo Gréant escreveu<br />

este bilhete:<br />

«Minha querida Débora.<br />

Peço-lhe que me faça mais um ser- -<br />

viço junto d'aquella, que a minha querida<br />

Débora tem a fortuna <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ver<br />

á sua vonta<strong>de</strong>. Escreví-lhe, pedindo-lhe<br />

que me recebesse ainda uma vez, que<br />

será a ultima.<br />

Peço-lhe que me aju<strong>de</strong> a ir a esse<br />

palacio. A sua doce palavra e a sua<br />

angélica influencia fallarão por mim. O<br />

meu estado é <strong>de</strong>sesperado. Se o meu<br />

pedido não for satisfeito, Deus permitia<br />

que eu não perca a razão I<br />

Paulo G.d<br />

Já ha muitas casas arrendadas esperando-se<br />

muitas famílias <strong>de</strong>pois do dia<br />

20; no Gran<strong>de</strong> Hotel, ha muitos pedidos<br />

<strong>de</strong> quartos, <strong>de</strong>ixando prever que este<br />

anno a concorrência seja enorme; nesta<br />

persuasão tanto a empreza do Hotel como<br />

das aguas não poupam esforços e <strong>de</strong>spezas<br />

para po<strong>de</strong>rem offerecer aos banhistas<br />

todas as commodida<strong>de</strong>s que apetecerem.<br />

Até breve.<br />

•<br />

O Panamá dos tabacos<br />

Assevera-se que brevemente será<br />

levantada no parlamento a vergonhosa<br />

questão dos tabacos, na qual estão<br />

corapromettidos diversos homens públicos.<br />

Este caso a apurar se, como <strong>de</strong>ve,<br />

e a fazer-se nelle toda a luz, arrastaria<br />

á penitenciaria muito titular e muitos<br />

trumphos políticos... se isto fosse um<br />

paiz on<strong>de</strong> imperasse a moralida<strong>de</strong> e a<br />

justiça I<br />

Para nós é ponto <strong>de</strong> fé que as<br />

ladroeiras hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir-se, mas que<br />

os ladrões ficarão impunes, como <strong>de</strong><br />

costume.<br />

Descarrillamento<br />

O comboio que sahiu da Guarda no<br />

dia 14, ás 5 e 45 <strong>de</strong>scarrilou <strong>de</strong> manhã<br />

entre as estações <strong>de</strong> Belmonte e Benespeira,<br />

não havendo <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> pessoas;<br />

apenas algumas carruagens ficaram um<br />

tanto damnificadas.<br />

O comboio compunha-se da machina,<br />

fourgon e 5 carruagens.<br />

Ha por ahi um valente...<br />

O general Queiroz, janizaro façanhudo<br />

ás or<strong>de</strong>ns da monarchia, generalíssimo<br />

das guardas municipaes e tarraxa das<br />

instituições, tenciona, ao que parece,<br />

exhibir em publico as suas tropas gloriosas,<br />

immortalisadas já em campanhas<br />

memoráveis, passando-ihes uma revista<br />

era parada.<br />

Revista em fórma, <strong>de</strong> fazer assara-<br />

Ihopar o Zé, que é este o fim do famoso<br />

general.<br />

E dadas as condições <strong>de</strong> pasmaceira,<br />

caracterisliscas do povo alfacinha, o provável<br />

é que elle fique boquiaberto, pasmadinho<br />

mesmo, perante o espectáculo marcial<br />

que o general Queiroz lhe vae servir,<br />

a admirar o aspecto garboso dos 1:700<br />

mancipaes <strong>de</strong>. bigo<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> tremer, firmes,<br />

bem postos na sua formatura bellica,<br />

..muralhas vivas...<br />

E o bravo general, soberbo, mages-toso,<br />

no seu cavallo <strong>de</strong> combate, a passo,<br />

lançando miradas minuciosas ás suas<br />

hostes.. .<br />

De respeito... <strong>de</strong> respeito...<br />

Valente general I<br />

C.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Aggregiâo brutal<br />

O Garibaldi é um carpinteiro, com<br />

est.incia <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira no becco do Bacalhau",<br />

on<strong>de</strong> mora. Chama-se Joaquim<br />

Henriques Marques, é casado em segundas<br />

núpcias, muito estouvado e um<br />

pouco piteireiro, não gozando <strong>de</strong> boa<br />

fama como chefe <strong>de</strong> família.<br />

Nunca o Garibaldi, apezar das suas<br />

constantes camoecas, <strong>de</strong>ra provas <strong>de</strong> instinctos<br />

ferozes, e se armava alguma <strong>de</strong>s-<br />

or<strong>de</strong>m, ou provocava algum banzé, era<br />

com o fim <strong>de</strong> dar o corpo ao sacrifício,<br />

que em laes occasiões era qual bombo<br />

<strong>de</strong> festa.<br />

No seu estado normal, muito tratavel,<br />

e dizem que cuidadoso nos seus negocios<br />

; com a pinguita insupporlavel, chegando<br />

a ser insolente.<br />

Succe<strong>de</strong> que na segunda feira <strong>de</strong><br />

manhã o Garibaldi muito <strong>de</strong>sesperado<br />

porque o filho do Azevedo havia batido<br />

num filho d'elle, arma-se d'um machado,<br />

e entrando em casa do seu inquilino,<br />

José Maria d'Azevedo, força a porta do<br />

quarto, on<strong>de</strong> o pobre homem se estava<br />

tratando d'uma pneumonia.<br />

Trocam-se umas palavras, ha uns<br />

ditos e nesta altura o Garibaldi pucha<br />

do machado e arremessa-o á cabeça do<br />

enfermo produzindo-lhe um grave ferimento<br />

; e lel-o-ia morto se o Azevedo<br />

não fizesse das. fraquezas forças, segurando-lhe<br />

o machado por alguns segundos.<br />

A mulher do aggredido aco<strong>de</strong>, grila<br />

por soccorro, e então Garibaldi convertido<br />

em be-ta-fera, investe com a pobre<br />

mulher, que seria mais uma victima se<br />

ella se não escapa para a cozinha, on<strong>de</strong><br />

se fecha.<br />

Vem gente, os visinhos, e um cunhado<br />

do aggredido <strong>de</strong>sarmam o Garibaldi, que<br />

é conduzido á esquarda entre dois policias,<br />

<strong>de</strong> machado ao hombro.<br />

O pobre Azevedo, em completa prostração,<br />

per<strong>de</strong> os sentidos e é levado numa<br />

maca para o hospital pelos bombeiros da<br />

salvação publica.<br />

Este caso produziu sensação no publico<br />

havendo pelo criminoso uma justificada<br />

repulsão pelas aggravantes do<br />

crime.<br />

Garibaldi está preso, dando entrada<br />

na ca<strong>de</strong>ia ; e o Azevedo, segundo as informações<br />

que temos vae experimentando<br />

algumas melhoras.<br />

*<br />

Cabe aqui recordar aos nossos leitores<br />

a <strong>de</strong>sgraçada situação em que vive<br />

a famiíia <strong>de</strong> José Maria d'Azevedo, on<strong>de</strong><br />

ha muila creança a sustentar e on<strong>de</strong><br />

falta o braço protector do chefe. Os que<br />

po<strong>de</strong>rem soccorrer esta <strong>de</strong>sventurada<br />

gente praticam- uma boa acção e contribuem<br />

para attenuar a miséria e a fome<br />

com que está luctando aquella familia.<br />

O nosso amigo C.<br />

Cartas da Felgueira, d'essa estancia<br />

thermal encravada era montanhas adus-<br />

tas, d'um pitloresco ri<strong>de</strong>nte, começamos<br />

hoje a dal-as aos nossos leitores, mercê<br />

d,'um obsequio especial do nosso amigo<br />

C., que para alli partiu ha dias, e que<br />

nos promette continuar a envial-as.<br />

Que elle não se esqueça do prometlido<br />

e que não se absorva completamente<br />

em improvisar bailes ao ar livre para<br />

fazer dançar as raparigas. . .<br />

Que maganão nos saiu o nosso amigo<br />

C *..<br />

Trovoada<br />

Não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> si gran<strong>de</strong>s benefícios,<br />

e os pobres lavradores das nossas circumvisinhanças<br />

lamentam oi prejuízos<br />

soffridos.<br />

Fortes saraivadas inutilisaram a novida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>struindo as vinhas que apresentavam<br />

um aspecto promettedor; e as<br />

innundações vão continuando a obra <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struição, o quo faz presagiara todos<br />

um mau anno <strong>de</strong> lavoura.<br />

Felizmente, que nos conste, a trovoada<br />

não fez <strong>de</strong>sgraças pesoaes, apezar<br />

<strong>de</strong> cahirem muitas faíscas eleclricas<br />

nas freguezias ruraes <strong>de</strong> S. Martinho, S.<br />

João do Campo, S. Silvestre e em Tentúgal,<br />

on<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>rrotados uns choupos,<br />

que estavam proximos da egreja<br />

parochial.<br />

Des<strong>de</strong> domingo que a trovoada nos<br />

<strong>de</strong>ixou, legando-nos uns dias chuvosos<br />

e aborrecidos, que nos prohibem gozemos<br />

os <strong>de</strong>liciosos e pittorescos passeios<br />

que a nossa <strong>Coimbra</strong> possue.<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Matliematica<br />

Foi <strong>de</strong>cidido em congregação da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Mathematica que os exercícios<br />

escholares fin<strong>de</strong>m no dia 17 do proximo<br />

mez <strong>de</strong> junho, á excepção da do<br />

primeiro anno que será no dia 23.<br />

Vandalismo<br />

Um grupo <strong>de</strong> noctívagos, muito bêbados<br />

e muito arruaceiros, quebrou uma<br />

arvore no largo das Ameias, numa noite<br />

<strong>de</strong> estúrdia.<br />

A policia passou <strong>de</strong>sapercebido o<br />

vandalismo, pois que ella nunca apparece,<br />

e apezar da informação dos vigias<br />

o caso passou em julgado.<br />

Diz-se que ha ahi quem compre os<br />

policias, obrigando-os a fazer vista baixa,<br />

quando a turbulência da bebe<strong>de</strong>ira é escandalosa.<br />

O sr. coramissario é que podia colher<br />

informações a este respeito.<br />

Kieonidas Lobo<br />

Depois <strong>de</strong> doloroso soffrimento falleceu<br />

este <strong>de</strong>sventurado rapaz, que <strong>de</strong>ixa<br />

inconsolável sua extremosa mãe.<br />

Pertencia o finado á Associação ílumanitaria<br />

dos Bombeiros Voluntários,<br />

on<strong>de</strong> prestou bons serviços. Ao seu funeral<br />

assi>tiram muitas pessoas, fazendo<br />

se representar as diversas corporações<br />

dos bombeiros.<br />

Fechava o cortejo fúnebre a philarmonica<br />

Boa-União.<br />

O cadaver era conduzido na carreta<br />

da corporação e apezar da chuva que<br />

caiu quasi torrencial muita gente foi ao<br />

cemiterio. Alli faltaram os sri. Augusto<br />

José Gonçalves Fino, Joaquim Teixeira<br />

<strong>de</strong> Sá, José Serrano e José Cruz,.consocios<br />

do finado, exaltando as qualida<strong>de</strong>s<br />

do morto o sr. Julião da Veiga.<br />

A' familia do <strong>de</strong>sventurado moço enviámos<br />

a expressão do nosso sentimento.<br />

Exames <strong>de</strong> licenciado<br />

Na segunda feira faz exame <strong>de</strong> licenciado<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o sr. Arthur<br />

Montenegro.<br />

Nos princípios do proximo mez também<br />

se apresentará a exame na Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Philosophia, o sr. Ruy Telles<br />

Palhinha, <strong>de</strong> Angra do Heroísmo.<br />

Matcli veiocipedieo<br />

Devido a uma confusão <strong>de</strong> nomes<br />

dissémos em o numero passado que do<br />

matcli fazia parle o sr. Augusto Borges<br />

d'Oliveira, quando é o sr. Antonio<br />

Rodrigues d'Uiiveira.<br />

Este senhor tomou parte na corrida<br />

realisada pelos festejos da Rainha Santa,<br />

obtendo medalha <strong>de</strong> cobre.<br />

Logo que o tempo esteja bom realisar-se-ha<br />

este <strong>de</strong>safio que eslá <strong>de</strong>spertando<br />

vivo interesse.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

O nosso amigo, sr. João <strong>de</strong> Menezes,<br />

acaba <strong>de</strong> sofírer a dôr do fallecimenlo<br />

d'uma sua filhinha,a Clarita, victima d'uma<br />

angina diphterica.<br />

Um aperto <strong>de</strong> mão ao nosso amigo.<br />

# Tem èstado doente o sr. José<br />

Francisco da Cruz, honrado industrial<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, a quem <strong>de</strong>sejamos promptas<br />

melhoras.<br />

# lletirou-se na segunda feira para<br />

Gon<strong>de</strong>lim, on<strong>de</strong> rege com proficiência a<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> instrucção primaria, o nosso<br />

amigo sr. José Julio <strong>de</strong> Sousa Henriques.<br />

# Passaram no dia 16 nesta cida<strong>de</strong><br />

com direcção a capital os nossos bons<br />

amigos e conceituados negociantes do<br />

Porto, srs. Joaquim Antonio Ma<strong>de</strong>ira e<br />

David d'Almeida <strong>Coimbra</strong>.<br />

Os nossos amigos vão em viagem <strong>de</strong><br />

recreio tencionando visitar Setúbal e<br />

mais alguns pontos do Sul. Em Lisboa<br />

hospedar-se-hão no hotel Francfort.<br />

Boa fiagem e que gozem a valer.<br />

Movimento commercial<br />

Agio—Premio das libras: 900 rs.<br />

ouro nacional, 17;<br />

Prata ja não tem agio.<br />

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Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />

tremez 660 — Milho branco 32-0 —Dito<br />

aiuarello 330 — Feijão vermelho 520 —<br />

Dito branco 420 — Dito rajado 320 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 410 — Centeio 440—Cevada<br />

240 — Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 —- Dito<br />

meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />

Azeile a 1$500.<br />

Ura facchino, inlelligente ou estúpido, Davara nove horas no Aiberg <strong>de</strong>i Po- <strong>de</strong> absoluto isolamento; o menor esque- exercício da mais bellas das virtu<strong>de</strong> — a<br />

á vonta<strong>de</strong>, foi o mensageiro escolhido e ver\; Paulo entrou nesse purgatório episcimento d'esta pru<strong>de</strong>nte resolução abriria gratidao!<br />

bem pago para levar as duas cartas, uma tolar, on<strong>de</strong> tantas almas <strong>de</strong>soladas es- uma brecha á melidicencia e á calumnia ; Com laes sentimentos no coração<br />

a Memma ao palacio <strong>de</strong> Santa-Scala, a peram <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> uma gra<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>s- mas não posso <strong>de</strong>ixar partir para França uma mulher não teme nunca per<strong>de</strong>r-se;<br />

outra a Débora, a S. Pedro <strong>de</strong> Arena. graça ou a sua ventura.<br />

o sr. Greant, sem lhe exprimir <strong>de</strong> viva nada receia, quando cumpre um <strong>de</strong>ver :<br />

Quando tinha passado o tempo ne- O empregado da posta restante é voz toda a gratidão, que o seu nobre o mal nunca loi produzido pelo bem.<br />

cessário para a carta, escripla a Memma, sempre o mesmo em todas as partes do procedimento me inspirou.<br />

Assim tinha raciocinado Memma e<br />

ter chegado ao seu <strong>de</strong>stino, Paulo expe- mundo.<br />

Conheço a sua lealda<strong>de</strong> e não hesito nenhum sentimento seria bastante po<strong>de</strong>rimentou<br />

um pesar mortal por ter feito Só muda <strong>de</strong> nome e <strong>de</strong> lingua. E' em recebel-o durante alguns inslantes roso para a <strong>de</strong>sviar do encontro <strong>de</strong> um<br />

semelhante tentativa, que agora lhe pa- um ser taciturno, distraindo, que ouve para me fazer as suas <strong>de</strong>spedidas.<br />

minuto, a que se <strong>de</strong>veria seguir uma<br />

recia revoltantemente absurda.<br />

mal e que olha para a gente com as A' uma hora da tar<strong>de</strong> estará <strong>de</strong>serta eterna separação.<br />

— Na verda<strong>de</strong>, disse elle a si mes- orelhas. Paulo Gréant repetiu tres vezes a rua escarpada que sobe por fóra do Borbulharam no coração <strong>de</strong> Gréant<br />

mo, a febre e a insonínia alteraram o o seu nome e v-io os dois <strong>de</strong>dos do em- jardim. Ha ahi uma porta velha e baixa as commoções mais opposlas, quando<br />

meu cerebro! Escrever a uma mulher pregado tirar uma carta do comparti- entre dois cypresies. A porta ha <strong>de</strong> acabou <strong>de</strong> ler aquella carta; mas em<br />

indigna, que em tão pouco tempo esquece mento G; uma carta que tinha um abrir-se, quando o sr. Gréant chegar, seguida confundiram-se todos em uma<br />

os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> esposa e que recebe o signal e que por isso facilmente se re- mas não se tornará a fechar.<br />

só, que se resumia em tres palavras: —<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi todas as noites! Oh! conhecia. Estava assignalada no subs- «Não lhe digo agora a<strong>de</strong>us.<br />

vou vel-a I<br />

meu Deus! restitui-meo juízo, estou doido! criplo.<br />

Ficara para logo as <strong>de</strong>spedidas.<br />

Esperando a hora solemne do encon-<br />

Paulo assenlou-se, apoiando a cabeça Paulo poz toda a sua alma na carta,<br />

tro, havia duas expressões, que vinham<br />

nas mãos, para verificar pela reflexão se antes <strong>de</strong> a abrir; uma convulsão <strong>de</strong> ori-<br />

estavam intactas as suas faculda<strong>de</strong>s in-<br />

*M...»<br />

involuntariamente á memoria do artista,<br />

gem <strong>de</strong>sconhecida percorreu a sua epi-<br />

reconhecimento e isolamento.<br />

tellectuaes.<strong>de</strong>rme,<br />

como se neste momento elle ti- Esta carta, tão clara para a mulher, De que reconhecimento fallava Mem-<br />

Teve um dia <strong>de</strong> agonia, um d'estes vesse um sexto sentido.<br />

que a escreveu, tinha algumas palavras ma?<br />

dias que não servem senão para esperar O papel aristocrático exhaiava um obscuras para Gréant. Memma no fundo Sem duvida ella estava agra<strong>de</strong>cida á<br />

o dia seguinle e que <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> se perfume <strong>de</strong> lirio, que obscureceu, como da sua alma julgava, que não podia ra- submissão silenciosa, com que elle tinha<br />

supprimiriam, se po<strong>de</strong>ssemos riscar da uma nuvem, os olhos do leitor.<br />

zoavelmente recusar um a<strong>de</strong>us, como obe<strong>de</strong>cido ás suas or<strong>de</strong>ns.<br />

nossa vida todas as horas inúteis, que Que tempo e que esforço foram prè- recompensa do sangue <strong>de</strong>rramado por Quanto ao isolamento era mais diffi-<br />

nos separam do momento esperado. cisos para ler alé ao fim as linhas se- causa d'ella e sobretudo um a<strong>de</strong>us supremo cil a explicação, pois que Talormi <strong>de</strong>scia<br />

Mas, quando esse momento chegou, guintes :<br />

na vespera da partida <strong>de</strong> Paulo. Que <strong>de</strong> visita aos jardins <strong>de</strong> Santa-Scala e<br />

no fim d'um século, todas as esperanças «Deus é testemunha <strong>de</strong> que eu, res- mulher não proce<strong>de</strong>ria da mesma fórma <strong>de</strong>struía com a sua presença criminosa<br />

<strong>de</strong> Gréant se dissiparam e elle ria-se pon<strong>de</strong>ndo á sua carta, julgo praticar uma em uma posição semelhante?<br />

esse isolamento absoluto.<br />

amargamente <strong>de</strong> si mesmo, dirigindo-se acção boa e honesta: pois que o reco- Não era uma entrevista, era ura en-<br />

para es«a repartição da posta restante, nhecimento não é um crime, com o é a contro <strong>de</strong> um instanto, — o ultimo, o<br />

que elle na vespera havia <strong>de</strong>signado para ingratidão.<br />

mais innocenle: um momento, rápido,<br />

theatro <strong>de</strong> uma inevitável mystificação. «A minha posição impõe-me o <strong>de</strong>ver como um relampago, e consagtado ao<br />

I mpresso na Typographia<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


ANNO I—N.° 9» O DEFENSOR 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> t8»8<br />

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i <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />

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O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, i.*<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATORâ<br />

Com estampilha<br />

Anno 2Í700<br />

Semestre.... 10350<br />

Trimestre... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 21400<br />

Semestre.... 21*00<br />

Trimestre... 60Q


A choldra monarcMca<br />

Que onda <strong>de</strong> repulsão <strong>de</strong>ve merecer<br />

a todos essa tropa fandanga<br />

<strong>de</strong> políticos, que para ahi tripudia<br />

sobre tudo o que é justo ; que <strong>de</strong><br />

asco inspira essa bambochata, <strong>de</strong><br />

partidos monarchicos, que antepõem<br />

os seus interesses <strong>de</strong> corrilho<br />

aos interesses e bom nome do<br />

seu paiz, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>, na balofa rhetorica<br />

das gran<strong>de</strong>s occasiões, berrarem<br />

a todos os ventos, em longas<br />

tiradas campanudas, que só <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />

e só querem os interesses<br />

do povo, a moralida<strong>de</strong> na administração,<br />

a justiça, a honestida<strong>de</strong> em<br />

tudo — bombas <strong>de</strong> effeito para iilusão<br />

dos ingénuos! Que tédio e<br />

que profundo <strong>de</strong>sprezo tudo isto<br />

causa!<br />

Surgiu ha pouco na imprensa<br />

monarchicu uma questão vergonhosa,<br />

um escandalo que se pren<strong>de</strong> a<br />

um latrocínio ignóbil; adduzem-se<br />

documentos preciosíssimos para a<br />

historia da ladroeira; fazem-se affirwiações,<br />

que são outras tantas<br />

accusações dirigidas <strong>de</strong> cabeça levantada,<br />

abertamente, a aitos figurões<br />

d'este paiz <strong>de</strong>lapidado; as provas,<br />

longe <strong>de</strong> escassearem/ palenteiam-se<br />

aos montões; — prova-se,<br />

emfim, que o nosso paiz foi viCtima<br />

d'um roubo <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> contos,<br />

empolgados pelos traficantes das finanças<br />

em negociatas vilipendiosas.<br />

Questão levantada no parlamento<br />

e para logo abafada; pe<strong>de</strong>mse<br />

documentos, fogem <strong>de</strong> os apresentar;<br />

procura-se por todos os modos<br />

occullar ao paiz o monumental<br />

escandalo, o vergonhoso roubo, a<br />

infame ladroeira do emprestimo <strong>de</strong><br />

D. Miguel.<br />

Mas, apezar <strong>de</strong> .todos os esforços,<br />

a vergonha não se occulla; a<br />

questão renasce na imprensa amplamente<br />

tratada e <strong>de</strong> tal modo,<br />

que nem a judiaria da finança conseguiu<br />

amordaçar a voz reveladora<br />

da veniaga, nem o trunfo politico<br />

conseguiu eliminar o jornalista que<br />

a expoz á publicida<strong>de</strong>. A pouca Vergonha<br />

foi entregue ao po<strong>de</strong>r judicial.<br />

Não era, porém, o bastante. Era<br />

indispensável que a acção morosa<br />

do po<strong>de</strong>r judicial fosse auxiliada<br />

efficazmente por um inquérito parlamentar,<br />

porque só este po<strong>de</strong>ria<br />

fazer projectar uma luz <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>ncia<br />

inelutável sobre esse estendal,<br />

acobertado-pelos interesses miseráveis<br />

d'uns e pela subserviência ignóbil<br />

d'oulros.<br />

A immoralida<strong>de</strong> d'esta questão,<br />

a torpeza d'este escandalo, <strong>de</strong>viam<br />

impôr-se a lodos os que lêem por<br />

obrigação, <strong>de</strong>rivada da sua interferência<br />

directa nos negocios públicos,<br />

zelar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, sem tergiversações<br />

nem tibiezas, os interesses<br />

do paiz. Os partidos políticos no<br />

parlamento tinham o <strong>de</strong>ver impreterível<br />

<strong>de</strong> envidar lodos os seus esforços<br />

em favor d'esla causa <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>scobrindo e apontando,<br />

energica e altivamente ao paiz os<br />

bandoleiros, aos tribunaes os criminosos,<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

Seria este o caminho imposto<br />

pelo <strong>de</strong>ver a lodo o homem <strong>de</strong><br />

honra.<br />

Não o enten<strong>de</strong>ram, porém, assim,<br />

os magnales d'um partido monarchico,<br />

que blasona <strong>de</strong> liberal e<br />

<strong>de</strong>moralão; longe d'isto, muilo longe,<br />

que moralida<strong>de</strong>, e justiça e caros<br />

interesses da palria, são palavras<br />

sem sentido nos partidos monarchicos,<br />

a que só conhecem o valor<br />

<strong>de</strong> embasbacar papalvos.<br />

E por isso que ainda ha pouco,<br />

na camara dos <strong>de</strong>putados, um d'esles<br />

partidos oífereceu ao paiz a prova<br />

mais frisante do valor moral que<br />

o exorna.<br />

Um progressista graúdo, dos<br />

mais chegados ao sacerdos magnus<br />

da grei, o <strong>de</strong>putado Francisco <strong>de</strong><br />

Castro Matloso Côrte-Real, para<br />

apresentar á camara a proposta <strong>de</strong><br />

um inquérito parlamentar sobre<br />

aquella immoralissima questão, teve<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar, salvaguardando assim<br />

os interesses do partido a que tem<br />

a honra <strong>de</strong> pertencer, que a responsabilida<strong>de</strong><br />

da proposta <strong>de</strong> modo nenhum<br />

se po<strong>de</strong>rá atlribuir ao partido<br />

progressista; e faz a preciosa<br />

<strong>de</strong>claração—que pertence ao seu partido<br />

para o acompanhar em todas as<br />

questões politicas, reservando-se toda<br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção nas questões <strong>de</strong><br />

alta moralida<strong>de</strong>, como é aquella a<br />

que a proposta se refere. Que o <strong>de</strong>clara<br />

assim, para que o não acoimem<br />

<strong>de</strong> indisciplinado.<br />

Declaração preciosa, repelimos;<br />

é um dos membros mais consi<strong>de</strong>rados<br />

do par tido monarchico, que<br />

vem dizer ao seu paiz,—que não é<br />

em nome do seu parlido que se<br />

apresenta na camara a fazer uma<br />

proposta <strong>de</strong> alia moralida<strong>de</strong>; que<br />

não o malsinem <strong>de</strong> indisciplinado,<br />

porque, em questões <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />

não se cinge ás imposições do parlido<br />

a que (ainda assim) tem a honra<br />

<strong>de</strong> pertencer!<br />

Prova cabal <strong>de</strong>-que o parlido<br />

progressista repelle a responsabilida<strong>de</strong><br />

da proposta apresentada,<br />

quando se l-rata <strong>de</strong> punir os auctores<br />

criminosos d'uma enorme ladroeira.<br />

Mas não ficou por aqui o parlido<br />

progressista; logo no dia immediato<br />

o seu pharol official veiu<br />

lornar bem publico, em artigo editorial<br />

(Correio da Noite, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />

maio) — que não aconselhou a proposta<br />

apresentada; que regeila ioda<br />

a responsabilida<strong>de</strong> que d'esse facto<br />

possa resultar; que sente que tal<br />

proposta fosse levada ao parlamento<br />

!<br />

Isto é d'uma indignida<strong>de</strong> revoltante<br />

!<br />

E andam esles marmanjões a<br />

apregoar a lodos os ventos a sua<br />

hombrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracter, a sua nobre<br />

e altiva in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia... Que<br />

tartufos!<br />

Desenganem-se os ingénuos<br />

que, porventura, ainda haja por<br />

ahi — mais reles, mais mesquinhos<br />

do que os mandões d'esla confraria,<br />

se os pô<strong>de</strong> haver, só os outros—os<br />

regeneradores.<br />

Que nesta caranguejola monarchica,<br />

lanlo uns como os outros, só<br />

poij^m inspirar o mais profundo<br />

<strong>de</strong>sprezo.<br />

A Sé Velha<br />

e a commissão dos monumentos<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1881 era o sr. Possidonio<br />

da Silva encarregado pelo ministério<br />

das obras publicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver,'<br />

<strong>de</strong>senhar e medir os mais notáveis<br />

monumentos nacionaes. Deram-lhe ajudantes,<br />

secretario e até um servente!<br />

NSo sabemos quanto este apparato<br />

custou ao paiz; o que é certo é que nunca<br />

ninguém viu o resultado util d'essa<br />

afano-a commissão.<br />

Foi então que em <strong>Coimbra</strong> estudou a<br />

Sé Velha I Ávido <strong>de</strong> luz, na nevrose <strong>de</strong><br />

todas as suas faculda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vassando em<br />

evocações cabalísticas o symbolo mqgestoso<br />

do cintro pleno, •— como Champollion<br />

sobre os hierogtypbos da escriptura<br />

egypcia, —pou<strong>de</strong> surprehen<strong>de</strong>r o<br />

pensamento original do architecto!. ..<br />

E para prova do quanto a sua sagacida<strong>de</strong><br />

perfurou nos mysteriosos arcanos<br />

da vetusta catbedral, basta vêr a<br />

passagem do relatorio que lhe diz respeito.<br />

Vinte e nove linhas!...<br />

Em 1888 ainda no Boletim da Real<br />

Associação dos Arcliiteclos, resumindo todos<br />

os ensinamentos que a sua fértil erudição<br />

possuía sobre um tão valioso tliema,<br />

limitava-se a contestar a proveniência<br />

goda, segundo alguns circumspectos<br />

archeologos, e arabe, segundo outros archeologos<br />

não menos circumspectos; espanejava-se<br />

em assomos <strong>de</strong> legitima vaida<strong>de</strong>,<br />

porque esses conspícuos e dissertos<br />

críticos mais tar<strong>de</strong> reconheceram a<br />

vereda errada que trilhavam; e linalmervte<br />

reportava-se todo inteiro a 188.4!<br />

E neste movimento regressivo, nas mesmas<br />

vinte nove linhas, reiterou em <strong>de</strong>clamação<br />

corriqueira mas firrte, as impressões<br />

pavorosas sobre o portal, que no<br />

seu intellecto abrigava.<br />

Contou no portico doze columnas; e<br />

nunca foram mais <strong>de</strong> oito!<br />

Nota sentenciosamente que—os capiteis<br />

das columnas estão suspensos no ar,<br />

como se quizessem protestar contra a falta<br />

<strong>de</strong> apoio que <strong>de</strong>viam ler,—sem reparar<br />

que bem mais expressivo seria esse protesto,<br />

se em vez <strong>de</strong> suspensos no ar, se<br />

<strong>de</strong>ixassem cahir por terra !...<br />

Finalmente confrange-se-lhe a alma,<br />

ao vêr a —porta <strong>de</strong> boa ma<strong>de</strong>ira esíaliada<br />

por se lhe não ter renovado a pintura<br />

ha muitos annos t<br />

Como <strong>de</strong>ve ser doloroso ao coração<br />

d'um archeologo vêr uma porta estallada,<br />

porque a ignorancia lhe recusa am punhado<br />

<strong>de</strong> almagre e dois litros <strong>de</strong> oleo<br />

<strong>de</strong> linhaça 1....<br />

Ouçamos esta voz dilacerante, era<br />

cópia textual :<br />

«Quem contemplar o imponente<br />

portal principal d'es'te venerado ediflcio<br />

religioso, e ooservar boja o aspecto<br />

vergonhoso e <strong>de</strong>smoronado da entrada<br />

para o templo, em que os eapiteis<br />

das doze (alias oito 1) columnas<br />

que <strong>de</strong>coravam o portal estão suspensas<br />

no ar, como se quizessem protestar<br />

contra a falta <strong>de</strong> apoio que <strong>de</strong>viam<br />

ter, e observar o corroído das arestas<br />

dos resaltos das caixas (sic; em que<br />

figuravam, e a sua porta <strong>de</strong> bou ma<strong>de</strong>ira<br />

estando estallada por se lhe não<br />

ter renovado a pintura tia muitos annos,<br />

não po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lastimar e<br />

censurar, por mais indifferente que<br />

seja ao apreço das bellas-artes, a incúria,<br />

<strong>de</strong>sleixo e abandono a que tem<br />

chegado esse edifício.»<br />

E não consta que s. ex. a tenha <strong>de</strong>sferido<br />

voo em mais luminosas lucubrações<br />

ácerca do esplendido monumento I !!<br />

Tal é o facundo critico que <strong>de</strong> longe<br />

está arremessando os dardos da suà reprovação<br />

sobre os obreiros da Sé Velha,<br />

que néscios e vandalicos estão <strong>de</strong>turpando<br />

— o pensamento original do architecto!<br />

I...<br />

Assim é que neste torrão abençoado,<br />

tão fértil <strong>de</strong> reputações faneis, muita<br />

gente consegue o nimbo dos benemerítos<br />

e a benemerencia <strong>de</strong> proventos immerecidos..<br />

. O. formulário do sr. Possidonio<br />

Dão é privilegiado, e os seus processos<br />

<strong>de</strong> celebrida<strong>de</strong> assas divulgados.<br />

Os possidonios abundara I<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />

do Povo<br />

Foi elle que em 1885, tendo sido encarregado<br />

<strong>de</strong> reformas no palacio d'Ajuda,<br />

escreveu em monographia luxuosa a <strong>de</strong>scripçfio<br />

das obras, e em salamaleques <strong>de</strong>sconchavados<br />

<strong>de</strong> cortezão interesseiro, numa<br />

prostração babosa <strong>de</strong> servo obrigadislimo,<br />

foi espichando sandices contraproducente»<br />

e laudalorias por aquellas quarenta<br />

fastidiosas paginas!...<br />

Como homem dado a sciencias, tem<br />

o seu ultimo trabalho <strong>de</strong> alentado folego :<br />

— Resumo <strong>de</strong> architetura christã, a mais<br />

indigesta e chata rapsódia que possa<br />

produzir uma cabeça sonora I<br />

Foi elle quem assignou o sec. xii ás<br />

arcadas do claustro <strong>de</strong> Cellas! Etc., etc.,<br />

etc.<br />

Em toda a sua obra um facto extranho<br />

se nota: s. ex. a , que mergulha a<br />

fundo no pélago da prehistoria, com a<br />

mesma facilida<strong>de</strong> com que singra, em<br />

viagem <strong>de</strong> recreio, por entre os escolhos<br />

da» antigas civilisações orientaes, da índia<br />

e do Egypto; que passa triumphal<br />

pelas enseadas da- arte grega e romana<br />

e proiegue audaz por sobre as revoltas<br />

ondas da ecla<strong>de</strong>-media, <strong>de</strong> olho rutilo no<br />

horisonte e mão robusta no leme; não<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso, digo, que uma<br />

equivalente erudição e proficiência o não<br />

illustre sobre motivos da historia da<br />

nossa arte nacional!...<br />

Os seus thernas predilectos, as suas<br />

referencias, os seus exemplos, os documentos<br />

que cita, a sua argumentação<br />

repousa quasi exclusivamente sobre monumentos<br />

que s. ex. 8 nunca viu! E' singular<br />

I. . .<br />

Tenho <strong>de</strong>baixo dos olhos um estudo<br />

seu que, como tantos outros, me dá no<br />

gôto: Origem do eslylo ogival na Inglaterra<br />

I<br />

Ora calculem que ventura, a dos<br />

eruditos inglezes!.,.<br />

Mas é feliz. A lenda dos seus méritos<br />

circumda-o com a aureola dos pre<strong>de</strong>stinados.<br />

Os seus trabalhos <strong>de</strong> investigação,<br />

<strong>de</strong> analyse e <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação<br />

histórica não lhe fazem gran<strong>de</strong> peso na<br />

bngagem ; mas é um vulto consagrado !<br />

E' quanto basta !...<br />

Continue s. ex. a gozando, e os seus<br />

companheiros, do» favores da contemplação<br />

publica e das mercês concomitantes;<br />

não queira nunca porém invadir a esphera<br />

dos préstimos alheios...<br />

Porque s. ex. a para exercícios <strong>de</strong><br />

mor<strong>de</strong>dura tem as maxilas fracas; e por<br />

que, mesmo no seu papel <strong>de</strong> Narciso e<br />

<strong>de</strong> Possidonio, só po<strong>de</strong>rá ser apreciavel<br />

CORI a condição fundamentavel <strong>de</strong> ser<br />

bera intencionado e <strong>de</strong> ser manso I<br />

João Chagas<br />

CA.<br />

Pelos jornaes <strong>de</strong> Lisboa sabemos que<br />

o eslado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do distincto jornalista<br />

republicano é animador e que a febre<br />

lem <strong>de</strong>clinado nestes últimos dias.<br />

Itegosija-nos este facto, que <strong>de</strong>ve<br />

alegrar os nossos correligionários que<br />

tanta affeição <strong>de</strong>dicara ao illustre jornalista.<br />

*<br />

Na quinta feira seguiu para o Porto<br />

e logo que esteja restabelecido assumirá<br />

a direcção d 'A Portugueza.<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Começam a <strong>de</strong>spertar no paiz um<br />

vivo clamor <strong>de</strong> protesto as novas exigencias<br />

ao contribuinte, feitas pelo sr. ministro<br />

da fazenda; e tanto mais isto era<br />

<strong>de</strong> prever, quanto se sabe as precarias<br />

circumstancias do povo e a situação <strong>de</strong>sgraçada<br />

a que nos reduziu essa alluvião<br />

<strong>de</strong> crises que estão produzindo agora os<br />

seus nefastos elfeitos.<br />

Pe<strong>de</strong>-se a todos: á industria, á agricultura,<br />

ao commercio e quasi em paz<br />

se <strong>de</strong>ixam as gran<strong>de</strong>s companhias d'on<strong>de</strong><br />

saem gordos capitalistas, que têm esterelisado<br />

os cofres públicos.<br />

Em Faro, lavra gran<strong>de</strong> indignação<br />

entre os lavradores algarvios pelo novo<br />

regimen dos alcooes, segundo o qual<br />

será impossível distillar figo e alfarroba.<br />

Se a lei fôr approvada, os lavradores<br />

sofTrerão graves prejuízos.<br />

Preparam se energicas reclamações<br />

por parte <strong>de</strong> toda a província.<br />

Pelo novo projecto <strong>de</strong> lei sobre os<br />

alcooes, esta industria é ru<strong>de</strong>mente ferida<br />

e com ella todos os agricultures que se<br />

entregam ao cultivo dos productos <strong>de</strong>stiljaveis.<br />

A nossa província do Algarve que tem<br />

a sua maior producção agrícola é em figo<br />

e alfarroba, vê-se completamente arruinada,<br />

mercê da ignorancia do sr. ministro<br />

da fazenda, que no seu relatorio dá<br />

como producto caro o figo e a alfarroba<br />

e <strong>de</strong> inferior producção d'alcool!<br />

Num energico e vigoroso artigo respon<strong>de</strong><br />

a esta falsa asserção o nosso col- -<br />

iega a Folha do Povo, dizendo que as<br />

fabricas do districto do Porto e <strong>de</strong> Torres<br />

Novas durante a regencia do grémio só<br />

<strong>de</strong>stillaram figo.<br />

O figo não é um producto caro, e<br />

a prova <strong>de</strong> que o não é, é que as fabricas<br />

aproveitara-no para a <strong>de</strong>stillação;<br />

nem tão pouco ha falta d'elle, porque <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> feita a exportação ainda fica no<br />

Algarve figo suflicienle para que umas<br />

poucas <strong>de</strong> fabricas trabalhem todo o<br />

anno.<br />

Ainda ha pouco a companhia dos<br />

alcooes <strong>de</strong> Portugal requereu licença<br />

para estabelecer em Faro uma fabrica <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stillação, empregando o figo e a alfarroba.<br />

E vem o sr. ministro da fazenda<br />

dizer-nos que o figo e a alfarroba estão<br />

fóra da questão!<br />

On<strong>de</strong>^se quiz chegar, sabemos nós,<br />

mas isso fica para analysar <strong>de</strong>pois.<br />

O que é preciso, é que a província<br />

do Algarve reaja energicamente contra<br />

o projecto <strong>de</strong> lei do sr. ministro da fazenda,<br />

que representa um simples<br />

monopolio, e que só vae servir os<br />

interesses <strong>de</strong> escuros syndicatos.<br />

Aos protestos do Algarve seguir-sehão<br />

os das fabricas do Porto, que começam<br />

a protestar também já contra o<br />

aborto ministerial.<br />

Mantenham-s« todos numa altitu<strong>de</strong><br />

firme, e o sr. Augusto Fuschini ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

na^aveta da sua secretária o seu merifico<br />

projecto que nunca <strong>de</strong> lá <strong>de</strong>vera ter<br />

saído.<br />

Seja também o nosso grito :<br />

Abaixo a proposta do aloool!<br />

*<br />

Em Lisboa também vae reunir a<br />

Associação real d'agricultura e a do s<br />

proprietários para protestarem contra a s<br />

medidas <strong>de</strong> fazenda referentes á contri"<br />

buição predial.<br />

Espera-se, pois, que o paiz se erga<br />

a exigir do ministro a revogação <strong>de</strong><br />

novos impostos, principalmente d'aquelles<br />

que vem aggravar mais as classes que<br />

trabalham, e que <strong>de</strong>vem raerecér dos<br />

governos toda a protecção.<br />

Sobrecarregar, no actual estado <strong>de</strong><br />

cousas, com pezadosimpostos, a industria,<br />

a agricultura e o commercio é querer<br />

aniquilar e per<strong>de</strong>r as principaes fontes<br />

<strong>de</strong> receita d'um paiz que está era ruina<br />

e em bancarrota simulada.<br />

Por isto nos insurgimos contra as<br />

propostas <strong>de</strong> fazenda que vem exigir do<br />

contribuinte maiores contribuições e aconselhamos<br />

o paiz a que se reúna e proteste<br />

contra a pertinacia dos nossos governantes<br />

em sacrificar o povo, quando<br />

estão dispensando altas protecções ás<br />

classes elevadas, que não pagam ao estado<br />

o correspon<strong>de</strong>nte ás suas fortunas.<br />

Abaixo os impostos !<br />

Banco do Povo<br />

No tribunal da Relação <strong>de</strong> Lisboa vae<br />

muito em breve ser julgado o celebre<br />

processo d'este banco, on<strong>de</strong> se praticaram<br />

roubos importantes.<br />

A <strong>de</strong>cisão do tribunal é esperada<br />

com interesse pois se <strong>de</strong>seja que não<br />

fiquem impunes ladrões tão <strong>de</strong>scarados<br />

e tão ruinosos para a socieda<strong>de</strong>.<br />

Veremos agora se a justiça cumpre<br />

o seu <strong>de</strong>ver em face das provas esmagadoras<br />

que ha contra os criminosos.


AWO I — !¥.• 88 O DEFEXSOR DO POVO , »1 <strong>de</strong> llialo <strong>de</strong> 189S<br />

CEYSTAES<br />

A minha Aurora<br />

COMEDIA EM 1 ACTO, EM YEltSO<br />

SCENA III<br />

Felieberto e Aurora<br />

FELISBERTO<br />

(Sentando a filha nos joelhos)<br />

Mas dize cá, creança inexperiente,<br />

Tu, com franqueza, pensas em casar ?<br />

AURORA<br />

O papá tem perguntas, realmente...<br />

Em que hei <strong>de</strong> eu pensar?<br />

FELISBERTO<br />

Em mim, e nas bonecas.<br />

AURORA<br />

Nesta eda<strong>de</strong> ?!<br />

Distrahir-me com monos d'algodão T<br />

(rindo)<br />

Tem graça, na verda<strong>de</strong>I<br />

Soberba distracção!<br />

FELISBERTO<br />

Pois, filha, os outros monos são peiore»:<br />

Acairetam profundos dissabores<br />

De magua e <strong>de</strong> pesar,<br />

Acorrentam-se á nossa vida inteira,<br />

E <strong>de</strong>pois não se pô<strong>de</strong> achar maneira<br />

De os <strong>de</strong>sacorrentar!<br />

Ao menos esses d'algodão — coitados 1<br />

Pó<strong>de</strong>s rasgal-os, pôl-os em bocados,<br />

Conforme o teu prazer,<br />

Quenão gemem, não gritam, não se queixam...<br />

— Os outros, tu verás, nunca nos <strong>de</strong>ixam,<br />

E fazem-nos soffrer.<br />

AURORA<br />

Preten<strong>de</strong>, acaso, o meu papá ciumento<br />

Que eu case co'um boneco 1 ?<br />

(rindo)<br />

Muito bem I _<br />

— Leva a casaca velha ao casamento<br />

E a cartola que tem<br />

Trinta annos <strong>de</strong> serviço.<br />

(levanta-se)<br />

PELISBERTO (rindo)<br />

Comprometto-me I<br />

AURORA<br />

Sim ? Conto com isso.<br />

FELISBERTO<br />

Quer's um marido elegante<br />

De lábios côr <strong>de</strong> romã,<br />

O olhar negro, penetrante ?...<br />

AURORA<br />

Que diga «Papàl Mamã 1»<br />

FELISBERTO<br />

Desejas paisano ou tropa ?<br />

AURORA<br />

Quero-o loiro.<br />

FELISBERTO<br />

Logo vi 1<br />

AURORA<br />

Com cabelleira d'estopa<br />

E o rosto <strong>de</strong> biscuit.<br />

FELISBERTO<br />

Isso sim — que tem a fibra<br />

Do fino gosto escolhido I<br />

AURORA (esten<strong>de</strong>ndo a mão)<br />

Papál Papàl meiajibra<br />

Para comprar um marido I<br />

FELISBERTO (dando lhe dinheiro)<br />

Tome lá, cabeça ôcca:<br />

Satisfiz o seu <strong>de</strong>sejo ?<br />

AURORA (olhando a moeda que recebeu)<br />

E o troco ?<br />

FELISBERTO<br />

Yá! Cale a bccca.<br />

O troco dé-m'o num beijo.<br />

(Aurora beija-o)<br />

AURORA (acariciando o pae)<br />

Agora... sério...<br />

FELISBERTO<br />

Ladina!<br />

AURORA<br />

Eu hei <strong>de</strong> ficar solteira<br />

Como a tia Bernardina,<br />

Ou então metter-me freira?<br />

Tenho vinte annos; preciso,<br />

— Sim, papá, preciso agora...<br />

FELISBERTO (calando-lhe a bocca com a mão)<br />

Precisas, sim — <strong>de</strong>juizo;<br />

Pois Deus t'o dé, minha Aurorai<br />

O4ugustò <strong>de</strong> ^Mesquita.<br />

LETTRAS<br />

0 concertador <strong>de</strong> bilhas<br />

(CONCLUSÃO)<br />

Nenhum d'estes especialistas porém,<br />

foi tão celebre como aquelle <strong>de</strong> que vou<br />

fallar-YOs.<br />

A sua reputação era <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m<br />

que vinham <strong>de</strong> todos os p&izes do mundo<br />

entregar lhe casos <strong>de</strong> bilhas quebradas<br />

os mais diffieeis.<br />

E em verda<strong>de</strong> elle merecia bem esta<br />

gloria, fecunda em proveitos, pelo gran<strong>de</strong><br />

numero e peia perfeição dos seus concertos.<br />

De que processos usaria elle?<br />

Não sei dízel-o; sem duvida morreu sem<br />

revelar o segredo da sua invenção, eos<br />

clironistas da epocha, nos quaes me inspiro,<br />

nada referem sobre tal objecto. O que<br />

é certo é que elle obtinha maravilhosos<br />

resultados. «Não choreis pelo facto <strong>de</strong><br />

ter<strong>de</strong>s as bilhas quebradas», po<strong>de</strong>ria ter<br />

sido a divisa d'este homem util e celebre.<br />

Agora, os maridos mais minuciosos<br />

não soffriam as <strong>de</strong>sagradaveis <strong>de</strong>cepções<br />

que d'antes eram tão frequentes; alguns<br />

dins <strong>de</strong> applicação do methodo bastavam<br />

para fazer <strong>de</strong>sapparecer todas as fendas<br />

do objecto avariado.<br />

Era já sem receio que as meninas se<br />

arriscavam a algum <strong>de</strong>scuido; podiam<br />

contar com elle, restaurador semi-provi<strong>de</strong>ncial<br />

d'uma tão fina fragilida<strong>de</strong>!<br />

E a sua sciencia não se limitava a<br />

apagar os signaes d'um acci<strong>de</strong>nte único,<br />

fortuito. Não! Mesmo as bilhas cujo uso<br />

se converteu em abuso, rachadas, arruinadas,<br />

fragmentadas, tomavam graças<br />

a elle, a soli<strong>de</strong>z e o brilho <strong>de</strong> novas.<br />

Taes successos acarrelaram-lhe naturalmente<br />

gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> invejosos.<br />

Não faltou quem dissesse que,eram exaggerados<br />

os seus méritos, que a boa apparehcia<br />

da suas soldaduras não resistia<br />

á minuciosida<strong>de</strong> d'um exame e que<br />

só os mentecaptos se <strong>de</strong>ixarem engodar.<br />

Mas que homem <strong>de</strong> génio houve que<br />

não fosse trocado? Que gran<strong>de</strong> invenção<br />

que não fosse combatida?<br />

Os invejosos, porém, viram-se em<br />

breve reduzidos ao mais absoluto silencio<br />

por um caso extraordinário, não se<br />

sabe como divulgado, que estabeleceu o<br />

mais solidamente possivel a gloria do<br />

artista.<br />

*<br />

Uma vez que elle eslava no seu gabinete,<br />

tendo já recebido nesse dia duzentas<br />

ou trezentas freguezas, porque<br />

era muito activo — viu entrar um mancebo,<br />

alto, louro, acompanhando uma<br />

menina doente e limida, os olhos baixos.<br />

— Bem, pensou, uma rapariga que<br />

se não atreveu a vir só e que se lez<br />

acompanhar por seu irmão. E levantando-se,<br />

com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za:<br />

— Vejo do que se trata. Sem maus<br />

pensamentos, <strong>de</strong>ixou talvez escapar da<br />

mão a sua hilha. Um pequeno inci<strong>de</strong>ntel<br />

Não ha complicações! Concerto fácil.<br />

O homem, porém, respon<strong>de</strong>u, emquanto<br />

a visitante, <strong>de</strong>baixo do véu, corava<br />

até ás orelhas.<br />

— Ah enganaes-vos, senhor. Não é<br />

para" um concerto que nós vimos consultar-vos.<br />

Pelo contrario ! Casamos ha duas<br />

semanas, esta senhora e eu ; e apezar<br />

do meu braço singularmente robusto,<br />

apezar do peso do meu pulso leni-me<br />

sido impossível quebrar a bilha <strong>de</strong> que<br />

minha mulher me fez presente, segundo<br />

o uso. Uma tal situação não me é agradavel<br />

<strong>de</strong> maneira alguma ; vim por isso<br />

consultar-vos não obstante a vossa especialida<strong>de</strong><br />

ser diversa do que eu pretendo.<br />

O illustre pratico ficou admiradíssimo!<br />

Bilhas que facilmente quebram, bilhas<br />

que ce<strong>de</strong>m —por serem <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

medíocre — ao primeiro esforço,<br />

sabia elle que exisliam milhares; mas<br />

nunca, não, nunca elle linha ouvido faltar<br />

d'uma bilha capaz <strong>de</strong> resistir duas<br />

semanas — por mais dura que fosse —<br />

aos esforços terríveis d'um pulso possan<br />

te. Era uma anomalia das mais notáveis<br />

e portanto das mais interessantes; e foi<br />

com gran<strong>de</strong> interesse que se ofíereceu<br />

para examinar sem <strong>de</strong>longas o objecto<br />

tão inconcebivelmente solido.<br />

Examinou-o muito tempo, <strong>de</strong>vagar,<br />

com methodo e reconheceu que elle es-,<br />

tava intacto. Subitamente sentiu-se que<br />

o especialista suffocou a custo um grito<br />

<strong>de</strong> surpreza e <strong>de</strong> triumpho!<br />

Foi porque, levantando os olhos para<br />

a visitante, a quem tinha cahido o véo,<br />

reconheceu nella uma das suas freguezas:<br />

aquella bilha—aquella bilha inquebravel<br />

— tinha sido concertada por elle!<br />

Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />

0 jesuitismo<br />

No ultimo numero do Defensor do<br />

Povo, secundando os esforços que ultimamente<br />

se tem empregado para sustar<br />

o progresso da reacção, provei que um<br />

do» mais temíveis inimigos da civilisaçâo<br />

é o jesuitismo e que urgia, portanto,<br />

combatel-o em lodos os campos e por<br />

lodos os modos.<br />

Não é a tentativa do restabelecimento<br />

dos fra<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>ve merecer principalmente<br />

a nossa attenção, pois que, felizmente,<br />

a sua obra eslá bem conhecida ;<br />

ficou negramenle assignalada no espirito<br />

do povo a sua historia, para que tenhamos<br />

<strong>de</strong> recear-nos d'esse inimigo. E tão<br />

preparado viram os reaccionário» o terreno<br />

para a reimplantação dos fra<strong>de</strong>s que,<br />

para não assistirem á <strong>de</strong>rrota completa<br />

que lhes estava preparada na Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Geographia, tiveram o bom senso <strong>de</strong><br />

retirar a tempo a inaudita proposta.<br />

É, pois, bem outro o inimigo a temer:<br />

tem sido muito mais nefasta a acção da<br />

Companhia <strong>de</strong> Loyola do que a <strong>de</strong> toda»<br />

as outras or<strong>de</strong>ns juntas. A sua acção é<br />

muito lenta, muito surda e muito occulta<br />

para que possa ser bem conhecida por<br />

lodos. Os jesuítas sabem apresentar-se<br />

com apparencias enganadoras que seduzem<br />

quem as não conhece.<br />

É, pois, preciso pôl-os bem a <strong>de</strong>scoberto<br />

para que os tropeços que atiram<br />

ao progredir do povo diminuam e que os<br />

laços armados aos incautos não arrastem<br />

comsigo tantas creaturas inconscientes.<br />

A imprensa periódica tem <strong>de</strong>ixado<br />

alastrar por lodo o paiz a infame seita<br />

jesuítica, levantando-se apenas <strong>de</strong> um ou<br />

d'oulro campo raríssimos protestos. O<br />

jornalismo, entretido quasi exclusivamente<br />

com as pugnas partidarias, não<br />

tem dispensado senão raros momentos<br />

d'altenção para o micróbio jesuítico que<br />

vae infeccionando o nosso Portugal; não<br />

quer ver os estragos que por toda a parte<br />

os jesuítas estão fazendo com a sua tenaz<br />

propaganda.<br />

Illegalmente restabelecidos no paiz,<br />

não têm eacontrado a resistencia que era<br />

<strong>de</strong> esperar, ao menos da imprensa avançada.<br />

Recea que o jesuitismo com a influencia<br />

<strong>de</strong> que dispõe junto do clero<br />

secular, opponha obstáculos ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da idéa nova, como se elle,<br />

por essas contemplações, <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> investir<br />

contra os propugnadores da liberda<strong>de</strong>,<br />

contra a jacobinagem <strong>de</strong>senfreada,<br />

como elle pittorescamente lhes chama.<br />

Por felicida<strong>de</strong> que ultimamente os<br />

livros publicados pelo sr. M. Borges<br />

Grainha <strong>de</strong>spertaram a imprensa e com<br />

ella todo o paiz do lelhargo cm que pareciam<br />

mergulhados; mas esse fogo sagrado<br />

contra o jesuitismo precisa ser<br />

constantemente alimentado pela imprensa<br />

periódica, e com profundo <strong>de</strong>sgosto vemos<br />

que ella vae recahindo no marasmo anterior.<br />

Os que não conhecem <strong>de</strong> visu a propaganda<br />

jesuítica, mas que sabem, comludo,<br />

da sua nefasta acção, <strong>de</strong>vem comhalel-a,<br />

soccóirendo-se aos livros do sr.<br />

Grainha, on<strong>de</strong> tão lucidamente esclareceu<br />

a questão jesuítica, examinando-a <strong>de</strong>baixo<br />

<strong>de</strong> todos os seus aspectos. Seria para<br />

<strong>de</strong>sejar que por todo o paiz fosse conhecida<br />

a obra <strong>de</strong> Borges Grainha, porque<br />

<strong>de</strong> certo o fanatismo não fazia tantas<br />

victimas. Emquanto, porém, os livros não<br />

po<strong>de</strong>m chegar ao alcance <strong>de</strong> todos, o jornal,<br />

<strong>de</strong> todas as leituras a mais vulgarisada,<br />

tem o seu <strong>de</strong>ver a cumprir: esclarecer<br />

o leitor em tudo o que po<strong>de</strong> interessar<br />

a civilisaçâo.<br />

Sendo o jesuitismo um dos fautores<br />

da <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia dos povos, <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>ve<br />

merecer a attenção <strong>de</strong> lodos os que têm<br />

nalguma conta o caminhar do progresso,<br />

e é assim que em todas as nações cultas<br />

vemos hasteada'a ban<strong>de</strong>ira da revolta<br />

contra a Companhia <strong>de</strong> Loyola. E' assim<br />

que nós os vemos expulsos das nações<br />

mais avançadas, como da Allemanha, da<br />

França, da Itália, etc.<br />

Em Portugal, porém, uma <strong>de</strong>testável<br />

inacção dos po<strong>de</strong>res públicos, auxiliada<br />

pelo indifferéntisnio do maior numero e<br />

pela protecção <strong>de</strong> muitos, tem <strong>de</strong>ixado<br />

crescer e tomar raizes fundas as instituições<br />

jesuíticas, vendo-noi perseguidos<br />

por tão terrível praga.<br />

Venhamos, pois, todos ao templo sagrado<br />

da Imprensa, fazer preces pela<br />

extineção <strong>de</strong> tal peste; roguemos a todos<br />

os santos da grei liberal que peçam pela<br />

extineção do peior dos males.<br />

*<br />

Nos numero» immediatos examinaremos<br />

alguns meios <strong>de</strong> acção da companhia,<br />

principiando pelos collegios jesuíticos;<br />

soccorrer nos hemos aos trabalhos do sr.<br />

Borges Grainha que nos hão <strong>de</strong> prestar<br />

valioso auxilio na exposição das impressões<br />

recebidas durante a nossa educação<br />

num d'esses collegios e dos conhecimentos<br />

adquiridos posteriormente sobre o<br />

mesmo assumpto.<br />

oA. S.<br />

« .<br />

Corrido!...<br />

Ao sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay está sendo<br />

preparado no Porto um formidável cheque.<br />

Nada menos que pôl-o fóra da administração<br />

das Companhias das dokas e<br />

caminhos <strong>de</strong> ferro peninsulares — a conhecida<br />

Salamaucada.<br />

Ninguém o quer. Só o sr. Fuschini<br />

que, por sua parte, vae con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ndo<br />

com bizarra <strong>de</strong>svergonha ás suas exigências,<br />

ajudando o nas suas operações financeiras.<br />

Não se é impunemente banqueiro das<br />

instituições !<br />

Augmento no papel sellado<br />

Diz-se que o papel commum passará<br />

a 100 réis cada meia folha, acabando-se<br />

com a insenção para os cartazes <strong>de</strong> publicações<br />

litterarias e sendo limitado o<br />

tempo da duração para cada cartaz.<br />

Com estas alterações calcula-se um<br />

augmento <strong>de</strong> receila em 500 conto».<br />

E por esta fórma, muito mansamente<br />

se entra pela algibeira do conlrihuiuie<br />

que já paga o que não po<strong>de</strong>.<br />

On<strong>de</strong> quererá esta gente que o povo<br />

vá arranjar dinheiro? E o <strong>de</strong>scaro sobe<br />

<strong>de</strong> ponto quando se apregoa que a» ciastes<br />

pobres são poupadas!...<br />

O temporal<br />

Noticiam do Porto que no dia 17<br />

constava que para o norte estava interrompido<br />

o serviço telegraphico, por causa<br />

dos lemporaes.<br />

Na Foz o mar havia galgado as muralhas,<br />

continuando a rija ventania a fustigar<br />

tudo e ameaçando arrancar arvores<br />

e prédios.<br />

O vento fortíssimo, <strong>de</strong> furacão, soprava<br />

quadrante sudoeste e impedia a<br />

sabida dos vapores que estão ancorados<br />

em Leixões.<br />

O mar arrojava á praia das Pastoras,<br />

na Foz do Douro, bois, porcos, cães,<br />

galos, etc., <strong>de</strong>sconfiando-se que houvesse<br />

naufragios lá para o norte.<br />

O furacão arrancou muitas arvores<br />

da rua Pinto Bessa, Passeio Alegre, Cordoaria<br />

e oulros logares.<br />

O Douro tem crescido muito; e difficilmente<br />

se faz a travessia.<br />

A caça do tigre<br />

O general inglez James Dormer,<br />

chefe d'uma divisão <strong>de</strong> cipayos <strong>de</strong> Madrasta<br />

(Iud ia Ingleza) morreu em conscquencia<br />

das gravíssimas feridas que recebeu<br />

na sua ultima caçada ao tigre.<br />

Eis como se passou esse caso verda<strong>de</strong>iramente<br />

dramatico :<br />

O general, que eslava á espera ha<br />

muito tempo entre a ramaria d'uma arvore,<br />

ao ver que um magnifico tigre se<br />

approximára, porém, não o bastante para<br />

lhe disparar, commetteu a imprudência<br />

<strong>de</strong> abandonar o seu refugio e poz-se a<br />

perseguir a léra.<br />

Con.«eguiu alcançal-a e fez fogo;<br />

porém <strong>de</strong>sgraçadamente só a feriu levemente<br />

e o animal alirou-se sobre elle<br />

agarrando-o por um pé.<br />

Os valentes molossos que acompanhavam<br />

o general precipitaram-se sobre<br />

a féra e conseguiam que ella largasse a<br />

presa por um momento, porém, voltou <strong>de</strong><br />

novo ao ataque <strong>de</strong>stroçando por completo<br />

o pé do valente general.<br />

Acudiram mais caçadores e a fera<br />

fugiu.<br />

O general foi conduzido para casa,<br />

porém apezar <strong>de</strong> todos os cuidados que<br />

lhe foram prodigalisados, fallecia pouco<br />

dias <strong>de</strong>pois.<br />

Cholera<br />

EiuBerlim falleceu nodial7,do cholera<br />

um operário era Wandsbeck, no Holteih.<br />

O Mensageiro official do império russo<br />

regista 4Í1 casos <strong>de</strong> cholera e 68 obilos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> abril a 27 do mesmo mez,<br />

na província da Podolia.<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Felgueira, 19 <strong>de</strong> maio.<br />

Vejo no Defensor do Povo, <strong>de</strong> quinta<br />

feira, 18, a carta que lhe dirigi, e, não<br />

se contentando com a indiscripção, v.,<br />

para me lisongear, ainda vem com um<br />

reclamo; ai, meu amigo, que mal empregado!<br />

Não sei por que não guardou<br />

para outros, que as mereçam, aquellas<br />

palavras amaveis. Quiz ser agradavel commigo<br />

e não contrariou a sua feição própria—<br />

ser lisongeiro.<br />

Está no seu direito, não lhe contesto<br />

não; Deus me livre <strong>de</strong> tal, por que v.-,<br />

meu amigo, não é tão bom como parece.<br />

Nessas phrase doces, ca<strong>de</strong>nciadas,<br />

e cheias <strong>de</strong> uneção, occulta se muito fel,<br />

muita bílis, e tenho-lhe medo; medo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ha tempos lhe vi dar uma<br />

tunda nos bombeiros que os fez embatucar.<br />

Pô<strong>de</strong> fazer os espiches que quizer, que<br />

eu calar-me-hei sempre ; e apezar <strong>de</strong> não<br />

ser cobar<strong>de</strong> tenho-lhe... respeito—eis<br />

a razão por que não digo nada.<br />

V., meu amigo, não se limitou ao<br />

espiche, escreveu-me também e tão amavelmente<br />

que me confun<strong>de</strong>; mas para<br />

que Diabo inventou aquella historia do<br />

bailarico? Foi para lhe não faliar mais<br />

em gaze negra, com estrellas, que no<br />

baile fazia <strong>de</strong>stacar a alvura immaculada<br />

d'uns braços divinamente beilos?<br />

Se foi, ganhou a partida porque não<br />

lhe fallaréi mais nisso ; não porque receie<br />

que me falle em serranas e oxigénio,<br />

etc., etc.; mas por que lhe tenho... respeito;<br />

enten<strong>de</strong>, Monsieur?<br />

* Chegou aqui na quinta feira, 18,<br />

o nosso querido amigo e correligionário<br />

Francisco Antonio Meira ; veiu <strong>de</strong> Cannas<br />

para esta terra, a pe, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um<br />

aguaceiro medonho, Quiz ir esperal-o a<br />

meio caminho, mas o tempo nao o permittiu,<br />

e por isso, sentado em uma*ca<strong>de</strong>ira,<br />

na varanda da casa em que habito,<br />

esperei a sua vinda, olhando para<br />

o carreiro que conduz a este logar.<br />

Ai, como elle ctae.gou ! Todo molhado,<br />

com uma cara <strong>de</strong> muito zangado e modos<br />

tão iracundos, qHe causava pavôr. Disseram-me<br />

<strong>de</strong>pois, que lhe são peculiares<br />

aquelles modos, mas que lhe passam <strong>de</strong>pressa.<br />

E assim foi, porque vuitando-o<br />

passado pouco tempo <strong>de</strong>pois, recebeu-me<br />

<strong>de</strong> bífrretinhó <strong>de</strong> velocipedisla, muito<br />

bein e amavelmente, olleieceudo-me com<br />

muito interesse, <strong>de</strong> uma garrafa enorme,<br />

uma pinga, do precioso néctar da afamada<br />

a<strong>de</strong>ga da sr. a Maria Antónia (única<br />

venda cá do logar).<br />

* Continuam as obras no Gran<strong>de</strong><br />

Hotel Club; são eslucadores, pintores,<br />

pedreiros, carpinteiros, o Diabo a quatro;<br />

tudo num boiburiuho infernal ; para um<br />

lado uns, com lalas <strong>de</strong> oleos; para outro<br />

lado, oulros, com gamella* com gesso,<br />

laboas, ele., etc.<br />

Uma alluviào <strong>de</strong> mulheres a lavar e<br />

a varrer, uma faina enorme, dirigida pelo<br />

dr. João Felício, que ao romper da alva,<br />

quando o crepuscuio da manhã transpõe<br />

a montanha Ironteirá ao Gran<strong>de</strong> Hotel,<br />

alli se apresenta a dirigir os trabalhos,<br />

encrepando os mandriões, animando com<br />

a sua presença os tíbios e exultando us<br />

brios dos fortes. E' <strong>de</strong> uma activida<strong>de</strong><br />

pasmosa, este discípulo <strong>de</strong> líy poeta te».<br />

Algumas 'vezes tenho parauo a contemplal-o,<br />

e admiro-me como Diabo é .lão<br />

gordo, sendo lao activo. E' qualida<strong>de</strong>,<br />

me disse um visinho a quem liz a oliservação...<br />

Abençoada qualida<strong>de</strong>!<br />

* A estrada que segue em frente<br />

do Gran<strong>de</strong> Hotel Club, que passa o ribeiro<br />

em um aqueducto proximo á casa<br />

chamada do moleiro e que cosltsia o<br />

monte on<strong>de</strong> esta o Hotel Maial, continua<br />

com muita activida<strong>de</strong> a sua conslrucção.<br />

Se não tivessem partido as guarnições<br />

da ma<strong>de</strong>ira do cylindro que duas juntas<br />

<strong>de</strong> bois foram buscar adiante <strong>de</strong> Cannas,<br />

estaria já a brita calçada e concluída<br />

parte d'ella.<br />

* Tudo se prepara para no dia 1.<br />

<strong>de</strong> junho se abrirem solemneinente os dois<br />

estabelecimentos — Hotel e Aguas.<br />

Não haverá copo d'agua, o que lamento.<br />

Se o dr. Felício fosse como o<br />

José Doria, outro gallo me cantara ; assim<br />

ficarei a fazer cruzes na bocca.<br />

Até outra vez. C.<br />

»- . .<br />

Os dynamitistas<br />

A policia <strong>de</strong> Paris <strong>de</strong>scobriu nos arredores<br />

d'aquella cida<strong>de</strong> uma fabrica <strong>de</strong><br />

bombas explosivas, pertencente a uma<br />

quadrilha <strong>de</strong> ladrões. Foram presos cinco<br />

, indivíduos.


A N ^ i i I — 8 8 O ffiEFENHOR DO P O V O 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> Í803<br />

Para o registro<br />

Assevera uma folha monarchica que<br />

até já têm existido governos (em Portugal)<br />

que <strong>de</strong>claram não po<strong>de</strong>r governar<br />

senão com os homens <strong>de</strong>sacreditados e<br />

<strong>de</strong> honestida<strong>de</strong> duvidosa, porque são<br />

elles que lhes dão força, e têm cynismo<br />

para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem as mais torpes veniagas<br />

Isto <strong>de</strong>line um systema ; mais: synthetisa<br />

claramente a moralida<strong>de</strong> das instuições<br />

monari bicas.<br />

Não se po<strong>de</strong> exigir verda<strong>de</strong> mais patente.<br />

Que respeitável corja I<br />

Contra o garrotilho<br />

Do Correio da Noite transcrevemos,<br />

sohre a cura da angina dipheterica, o<br />

seguinte, que se <strong>de</strong>ve impor a attenção<br />

dos médicos.<br />

«Trata-se da cura rapida e infallivel<br />

da diphettria por um processo novo, que<br />

lem causado gran<strong>de</strong> sensação em França:<br />

a applicação do pelroleo ordinário. Quando<br />

ha tempo vimos annunciada essa <strong>de</strong>scoberta,<br />

feita pelo dr. Flahaut, <strong>de</strong> Rouen,<br />

não lhe ligamos gran<strong>de</strong> importancia, mas<br />

agora que a vemos conlirmada pelo<br />

notável professor Hue, e pelos distinctos<br />

médicos Deshayes, Ballay, Lerêfait e<br />

outros, parece-uos que o tacto é <strong>de</strong> tfio<br />

gran<strong>de</strong> importância para a humanida<strong>de</strong>,<br />

que os nossos clínicos <strong>de</strong>vem experimentar<br />

o novo remedio para verem se elle<br />

realmente tem as milagrosas proprieda<strong>de</strong>s<br />

que se lhe attribuem.<br />

A receita é simplicíssima: pincellar,<br />

<strong>de</strong> hora em hora ou <strong>de</strong> duas em duas<br />

horas, com pelroleo ordinário, as falsas<br />

membranas que se formam na garganta,<br />

tendo o cuidado <strong>de</strong> sacudir bem o pincel<br />

antes <strong>de</strong> o introduzir na bocca do doente,<br />

para que o pelroleo chegue só-as membranas.<br />

Logo ás primeiras operações,<br />

essas membranas principiam a esbranquiçar<br />

e como que a <strong>de</strong>slazer-se sob a<br />

acçao do pelroleo, <strong>de</strong>slacando-se em<br />

seguida e sendo expulsas com gran<strong>de</strong><br />

facilida<strong>de</strong>. O resto do tratamento limita-se<br />

a tónicos <strong>de</strong> toda a especie, para sustentar<br />

as forças do doente.<br />

Diz mais o dr. Flahaut, o <strong>de</strong>scobridor<br />

do maravilhoso remedio: «O tratamento<br />

não apresenta diíliculda<strong>de</strong> alguma, nem<br />

o menor perigo. Des<strong>de</strong> que reconheci a<br />

eãicacia do remedio appliquei eu mesmo<br />

e liz upplicar pelos enlermeiros ou pessoas<br />

<strong>de</strong> família do doente as badigeonnages<br />

com o pelroleo em todos os <strong>de</strong>plneucos<br />

que tenho tratado (mais <strong>de</strong> sesseuta) e<br />

lodos foram salvos. As badigeonnages<br />

com o pelroleo não são dolorosas como<br />

as feitas com o perchloreto <strong>de</strong> lerro ou<br />

com o nitrato <strong>de</strong> prata, mesmo quando<br />

sao applicadas em mucosas ulceradas ou<br />

sangrentas. Peio contrario, os doenles<br />

sentem uma sensação fraca e calmante<br />

com o coutiicto do pelroleo, que imo<br />

produz a menor irritaçao. Não' se produz<br />

a menor dilaceração dos exsudatos inembranosos,<br />

que se diluem por ussim dizer<br />

ao contacto do pelroleo. Apenas o uiau<br />

goslo e cheiro activo é que se lazeiu<br />

sentir duraule alguns instantes <strong>de</strong>pois<br />

37 Follietim do Defensor do Povo<br />

J. M É R Y '<br />

A JUDIA § M I M O<br />

XI<br />

Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />

Môs por que razão <strong>de</strong>scia Talormi<br />

pelo muro em vez <strong>de</strong> entrar por essa<br />

porta baixa, que se abria a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Memma? Esla reflexão, muito natural,<br />

tornava inexplicável a maneira por que<br />

Talormi fazia as suas invasões nocturnas.<br />

Para que escalava elle o muro, se a entrada<br />

era tão lacil ? Paulo Gréant ainda<br />

procurava uma solução para esle problema,<br />

quando <strong>de</strong>ante dos cyprestes ouviu<br />

dar uma hora.<br />

Paulo, empurrando ligeiramente a porta,<br />

que se abnu por cima da herva<br />

crescida, eutrou neste jardim <strong>de</strong>licioso<br />

on<strong>de</strong> a luz do sol quasi não podia penetrar<br />

o copado arvoredo; on<strong>de</strong> a relva<br />

era tão macia como um edredou vegetal;<br />

on<strong>de</strong> o silencio só era perturbado pelo<br />

canto das aves e pelo trinar dos rouxinoes.<br />

Neste crepusculo encantador formado<br />

em pleno dia pelas arcadas <strong>de</strong> verdura<br />

e <strong>de</strong> flores, <strong>de</strong>senhou-se sobre a relva<br />

da operação. Os doentes, tantos adultos<br />

como creanças, não tem rrpugnancia<br />

alguma a esse tratamento, tanto mais<br />

que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras pinceladas,<br />

sentem logo um gran<strong>de</strong> allivio. O pincel<br />

<strong>de</strong>ve ser apenas levemente embebido, o<br />

sacudido antes <strong>de</strong> applicado, psra evitar<br />

a quéda d'nlguma gota <strong>de</strong> pelroleo nas<br />

vias respiratórias, o que produziria sérios<br />

acci<strong>de</strong>nles <strong>de</strong> sulfocação.»<br />

Parece não haver duvida <strong>de</strong> se tratar<br />

realmente <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>phteria, porque<br />

gran<strong>de</strong> numero das falsas membranas<br />

expedidas pelos doentes sujeitos a esse<br />

tratamento, foram analysadas pelo professor<br />

Hue, que constatou a presença<br />

<strong>de</strong> enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bacillus <strong>de</strong><br />

Rlebs Eoefíer, o bacillus da <strong>de</strong>phteria.<br />

Ahi fica tudo o que po<strong>de</strong>mos dizer<br />

a respeito do novo medicamento que, a<br />

ser verda<strong>de</strong> tudo o que d'elle se diz, é"<br />

verda<strong>de</strong>iramente miraculoso. Não é preciso<br />

pedir aos nossos distinctos clinicas<br />

que experimentem a sua efficacia, pois<br />

que o seu amor pela sciencia e pela<br />

humanida<strong>de</strong> os levara a estudar a nova<br />

<strong>de</strong>scoberta com a attenção <strong>de</strong>vida. O<br />

que lhes pedimos é a fineza <strong>de</strong> nos<br />

comniiinicarem os resultados que forem<br />

obtendo para os publicarmos, vulgarisando<br />

assim o remedio contra a terrível <strong>de</strong>phteria,<br />

se realmente esse remedio tem a<br />

virtu<strong>de</strong> que se lhe quer dar. Prestaremos<br />

assim todos um gran<strong>de</strong> serviço á humanida<strong>de</strong>».<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

O Espirito Santo<br />

Principia hoje a romaria annual no<br />

aprazível sitio <strong>de</strong> Santo Antonio dos<br />

Olivaes, suburbios <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a festa<br />

mais concorrida dos arredores coimbrões.<br />

Inaugura esta romaria a gente do<br />

campo, que concorre alli nos dois<br />

primeiros dias, atravessando a cida<strong>de</strong><br />

em gran<strong>de</strong>s ranchos, guitarras e violas<br />

a frente, mantendo o arraial em gran<strong>de</strong><br />

animação.<br />

Como nos mais annos as tradicionaes<br />

barracas para a venda do bom vinho e<br />

petiscos, as gran<strong>de</strong>s filas <strong>de</strong> ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras<br />

<strong>de</strong> arruladas, <strong>de</strong> manjar branco, limonadas,<br />

cerejas, tremoços, etc. E a exposição<br />

<strong>de</strong> louça: as talhas, as campainhas...<br />

Que bellas recordações!<br />

Os dias consagrados para os romeiros<br />

da cida<strong>de</strong> são: terça e quarta feira;<br />

e nestes dias só os velhos rabujemos, os<br />

sovinas e os semsaborões ficam em casa.<br />

O gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> lodos é ir merendar<br />

para Santo Antonio, e para lá vão muitas<br />

lamilias que se espalham por entre os<br />

pinheiraes, na relva, em franco e alegre<br />

convívio-<br />

Altrahe a vista que então se disfructa:<br />

gr.upos aqui e alli, acampados,<br />

reunem-se á volta <strong>de</strong> alvas toalhas, on<strong>de</strong><br />

se e-palha a apettitosa merenda — um<br />

jantarao! — c è ver então com que vonta<strong>de</strong><br />

se come e com que <strong>de</strong>sejo se bebei<br />

um vulto branco ; era uma mulher que<br />

vinha dar vida a este e<strong>de</strong>n maravilhoso,<br />

que só por ella esperava para ficar completa<br />

a sua creação.<br />

Memma a<strong>de</strong>anlou-se com a confiança,<br />

que nos inspira sempre uina acção louvável<br />

; não havia em toda ella nenhum<br />

calculo <strong>de</strong> toilelte nenhuma premeditação<br />

<strong>de</strong> coquetlene, o que ainda a tornava<br />

mais temível, porque nada ha mais perigoso<br />

que uma mulher formosa, que<br />

parece viver na ignorância da sua belleza.<br />

Rrilliava pela ausência dos artifícios<br />

do vestuário ; as suas roupagens simples<br />

velavam-na, mas trahiain-na; a fila do cin-<br />

to era a medida exacta da sua cintura e<br />

não a <strong>de</strong> um espartilho; o <strong>de</strong>cote do<br />

vestido so <strong>de</strong>ixava ver um boíadiuho <strong>de</strong><br />

martiin rosado, tão encantador como a<br />

Iranja <strong>de</strong> uma nuvem <strong>de</strong> primavera. Os<br />

seus cabellos, postos ao acaso, tremiam<br />

e ameaçavam a cada momento <strong>de</strong>smanchar-se<br />

em tranças on<strong>de</strong>antes, que <strong>de</strong>scessem<br />

até as orlas do seu vestido. A<br />

aureola da donzella resplan<strong>de</strong>cia ainda<br />

sobre a fronte d'esta mulher que tiuha<br />

passado pelo leito nupcial sem d'eile<br />

licar com uma lembrança <strong>de</strong> uma sauda<strong>de</strong>.<br />

Memma só conheceu a imprudência<br />

do seu proce<strong>de</strong>r qttándo avistou o artista<br />

em pé, apoiado a uma arvore, com a<br />

cabeça <strong>de</strong>scoberta e tendo na cara essa<br />

palli<strong>de</strong>z nervosa que tão bem faz sobresahir<br />

o arco <strong>de</strong>licado <strong>de</strong> um bigo<strong>de</strong> preto<br />

Sempre um movimento gran<strong>de</strong>, um<br />

sussurro enorme, e sempre os <strong>de</strong>scantes<br />

d'um rancho que passa, ou d'um rancho<br />

que dança, com entbusiasmo e <strong>de</strong>lirio.<br />

Tudo é alegre e folião; os namorados<br />

exultam; trocam-se olhares ternos e<br />

piadas brejeiras; e todos saltam e riem<br />

não os cançando A rodopio da dança. E<br />

lá chega a noite, com o seu negro manto,<br />

a proteger os corações felizes e amantes.<br />

Que sauda<strong>de</strong>s I -<br />

JEassim.se mantém esta festa durante<br />

quatro dias d'esturdia, em que a vida<br />

esquece e todos se julgam felizes!<br />

Attendite et vi<strong>de</strong>te !<br />

Vivam os nossos amigos e os amjgos<br />

dos nossos amigos!...<br />

A vereação d'esta illustre cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, para alargamento da rua dos<br />

Coutinhos, acaba <strong>de</strong> pagar por 22 m ,20<br />

<strong>de</strong> terreno, quasi todo em quintal, réis<br />

B84$600!I<br />

Quem quer ven<strong>de</strong>r terreno para utilida<strong>de</strong><br />

publica a mais <strong>de</strong> 26 mil réis o<br />

metro quadrado I!!<br />

Na mesma sessão, exactamente na<br />

mesma sessão, a mesma austera vereação<br />

conclue com outro amigo a venda<br />

<strong>de</strong> 5 mil metros <strong>de</strong> terreno na quinta <strong>de</strong><br />

Santa Cruz — a tostão I<br />

Viva a camara ! e os amigalhotes!<br />

e os eleitores!<br />

Vá, que isto não tem dono!<br />

O beneficio do Lucas<br />

Por um caso <strong>de</strong> força maior — ler a<br />

companhia dirigida pelo actor Taveira<br />

d'ir a Rraga representar o Burro—7 a<br />

recita annunciada para liontem, no theatro-circo,<br />

leve <strong>de</strong> ser transferida. Não<br />

se sabe ainda se a recita se dará no dia<br />

24 ou 27 do corrente.<br />

Kermesse<br />

Proseguem com activida<strong>de</strong> os trabalhos<br />

para a inslallação da kermesse, na<br />

quinta <strong>de</strong> Santa Cruz. O local escolhido<br />

para se levantarem os pavilhões para as<br />

prendas e para exposição das manufacturas<br />

dos diversos industriaes d'esta cida<strong>de</strong><br />

é uo jogo <strong>de</strong> bola.<br />

João Machado lá anda muilo atarefado<br />

e muito inquieto, ralado e consumido;<br />

porque diz elle que daquillo não sae<br />

cousa com geito... aquelle raio da mo-<br />

déstia !<br />

A illuminação e emban<strong>de</strong>iramento foi<br />

dado, em licitação verbal ao nosso amigo<br />

João Serio Veiga, hábil nestes trabalhos<br />

e com provas sobejas <strong>de</strong> competencia.<br />

A festa dos Bombeiros Voluntários<br />

pronietle ser ruidosa e imponente; e o<br />

nosso maior <strong>de</strong>sejo é que ella seja também<br />

rendosa, aiim <strong>de</strong> que o cofre recolha<br />

boa quantia.<br />

Cão datunsdo<br />

Na quarta feira appareceu na cida<strong>de</strong><br />

um cão atacado <strong>de</strong> raiva que mor<strong>de</strong>u<br />

uma mulher, no bairro <strong>de</strong> Santa Clara.<br />

Por felicida<strong>de</strong> escapou <strong>de</strong> ser mordido<br />

o sr. Francisco Augusto d'Oliveira,<br />

que antes andava passeando na Estrada<br />

da Beira e <strong>de</strong>sconfiando do animal que<br />

e a chamma dos olhos sobas energicas<br />

protuberâncias da fronte. Memma então<br />

julgou ver transformar-se em abysmo a<br />

relva macia do seu jardim; todo uni<br />

passado innocente <strong>de</strong> amor, bruscamente<br />

quebrado por um casamento <strong>de</strong><br />

obedieucia, reappareceu <strong>de</strong>ante d'ella<br />

com as suas alegi ias primaveraes, os seus<br />

sonhos do futuro e mCsino o- seus perigos<br />

attraheutes. E neste intervailo Paulo<br />

Gréant tuiliii adquirido,além d'isto, novos<br />

tilulos a uma aiíeição intensa; acabava<br />

<strong>de</strong> correr o seu sangue, a sua vida tinlia-a<br />

arriscado com heroísmo num combate<br />

nas trevas, no proprio monienio em<br />

que elle perdia para sempre a mulher<br />

cuja honra <strong>de</strong>fendia com as armas na<br />

mão.<br />

A mocida<strong>de</strong> não sabe nunca para<br />

on<strong>de</strong> vae; o seu espirito muda d'idêas,<br />

'o seu pé muda <strong>de</strong> caminho, quando ella<br />

julga nao ter senão uma i<strong>de</strong>ia e senão<br />

um caminho.<br />

Paulo Gréant, apercebendo Memma<br />

<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> si, seutiu-se <strong>de</strong> repente transportado<br />

<strong>de</strong> indignação e <strong>de</strong> cólera. Pareceu-lhe<br />

que esta senhora nova, formosa,<br />

naquelle <strong>de</strong>salinho matinal, acabava <strong>de</strong><br />

sair dos braços <strong>de</strong> Talormi com uma<br />

idêa infernal 11a fronte. Vinha, por meio<br />

d'um a<strong>de</strong>us fementido, em ondulações<br />

felinas, assegúrar-se da realida<strong>de</strong> d uma<br />

subila partida que a livrava d'uma testemunha<br />

importuna e a <strong>de</strong>ixava livre<br />

com Talormi,. o seu amante.<br />

a elle se dirigia, conseguiu, graças ao<br />

guarda-chuva que levava, resguardar-se<br />

das <strong>de</strong>ntadas do cão, que furioso esmordaçoifl<br />

o chapéu quebrando a cana e<br />

algumas varetas.<br />

Pedimos ao sr commissario para<br />

que faça cumprir as posturas municipaes,<br />

e dando caça aos cães vadios<br />

que apparecorem pela cida<strong>de</strong>. E' um<br />

bom serviço prestado ao publico e que<br />

<strong>de</strong>ve merecer uma especial attenção da<br />

T'* > fT' i 'ffà<br />

Lyeeu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Para a primeira epoclia <strong>de</strong> exames<br />

do corrente anno entraram na secretaria<br />

<strong>de</strong>ste lyceu 661 requerimentos para<br />

exames <strong>de</strong>finitivos, sendo:<br />

Portuguez, 81; fiancez, 87; inglez,<br />

63; geographia, 66; historia, 42; latim<br />

(1.°), 37; latim (8.°), 11; latim (6.°),<br />

6; mathematica (1.°), 56; mathemalica<br />

(5.°), 25; mathematica (6.°), 5; physica<br />

(1.°), 44; physica (2.°), 9; philosopbia,<br />

37; litteratura, 30; <strong>de</strong>senho (1.°), 27;<br />

<strong>de</strong>senho (2 o ), 22; <strong>de</strong>senho (curso completo),<br />

11; allemão (2.°), 1; allemão<br />

(curso, completo), 1.<br />

Beneficio<br />

E' no dia 27, segundo nos informam,<br />

que se realisa no theatro D. Luiz a recita<br />

em beneficio do operário funileiro,<br />

sr. Anselmo Mesquita, para quem pedimos<br />

a coadjuvação do publico.<br />

Jogo ao ar livre<br />

Logo que o tempo melhore continuarão<br />

no pateo <strong>de</strong> Santa Clara os jogos da<br />

Pelota e do Ron<strong>de</strong>r, pelos socios do<br />

Gyninasio, "sob a direcção do sr. Luiz<br />

Doria.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Vae experimentando algumas melhoras<br />

o nosso correligionário, sr. Manoel<br />

Augusto Rodrigues da Silva, qué ha semanas<br />

se acha <strong>de</strong> cama.<br />

Depoimento<br />

Na quinta feira foi ao tribunal d'esta<br />

cida<strong>de</strong> o sr. Joaquim Gomes da Fonseca<br />

para fazer o seu <strong>de</strong>poimento que ha <strong>de</strong><br />

figurar no processo Urbino <strong>de</strong> Freitas.<br />

Como muitos outros queixa-se este<br />

senhor da <strong>de</strong>mora que teve no tribunal,<br />

pois que sendo avisado a comparecer<br />

alli ás 11 horas do dia, só proximo das<br />

4 da tar<strong>de</strong> è que saiu, o que representa<br />

um prejuízo gran<strong>de</strong> para quem precisa<br />

<strong>de</strong> não per<strong>de</strong>r tempo para ganhar a<br />

vida.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />

na semana ultima, os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Maria, filha <strong>de</strong> Bernardo Simões e<br />

Julia da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 4<br />

annos. Falleceu <strong>de</strong> croup, no dia 30.<br />

Maria do Patrocínio Castanheira, filha<br />

<strong>de</strong> José Luiz <strong>de</strong> Castro e Joarnia Sousa<br />

Cardoso, <strong>de</strong> Linhares, <strong>de</strong> 7o annos. Falleceu<br />

<strong>de</strong> pleuris agudo, no dia 1.<br />

Tanto Memma como Paulo, nesta<br />

dupla disposição d'éspirito, se dirigiram<br />

um para o outro. Memma esten<strong>de</strong>u a<br />

Gréant a mão, que foi recebida com<br />

uma precipitação equivoca, e disse-lhe<br />

coin emoção dissimulada por um sorriso:<br />

— Estou em minha casa e o meu<br />

<strong>de</strong>ver é ser a primeira a fatiar.<br />

O passado não me pertence; disponho<br />

d'alguns minutos do presente e consagro-os<br />

a agra<strong>de</strong>cer-lhe o seu nobre procedimento.<br />

Uma carta é sempre um intermediário<br />

frio. Quiz dirigir-ltie os meus<br />

agra<strong>de</strong>cimentos em palavras affectuosas.<br />

Agora nada mais posso pedir aos escrúpulos<br />

da minha consciência, se me<br />

diz que o seu coração está contente do<br />

pouco que hoje fiz.<br />

Paulo olhou para Memma com os<br />

olhos perturbados pelo <strong>de</strong>lirio dos ciúmes<br />

e não respon<strong>de</strong>u. A sua mão abandonou<br />

a <strong>de</strong> Memma, que ficou confundida <strong>de</strong><br />

estupefacção. . , ,.r\<br />

llouve um momento <strong>de</strong> silencio, que<br />

foi interrompido por uma phrase lugubre<br />

<strong>de</strong> Paulo.<br />

— Avara para mim, pródiga para<br />

outros 1<br />

— Avara para elle... pródiga para<br />

outros!... repetiu Memma como um<br />

echo enfraquecido, e lixando em Paulo<br />

olhares convulsivos <strong>de</strong> surpreza.<br />

Elle meneou a cabeça com uma expressão<br />

<strong>de</strong> melancolia, como pam dizer<br />

que mantinha a sua phrase.<br />

Maria Constança, filha <strong>de</strong> paes incógnitos,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 40 annos. Falleceu<br />

<strong>de</strong> pleuris consecutivo á influenza,<br />

no dia 5.<br />

Jacintho A<strong>de</strong>lino Barata da Silva,<br />

filho <strong>de</strong> pae incógnito e D. Maria José<br />

Augusta Barata da Silva, <strong>de</strong> Figueiró<br />

dos Vinhos, <strong>de</strong> 36 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />

varíola hemorrhagica, 110 dia 5.<br />

Recem-nascido, filho <strong>de</strong> José Augusto<br />

d'01iveira e Maria Baptista, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

<strong>de</strong> um mez. Falleceu <strong>de</strong> moléstia <strong>de</strong>sconhecida,<br />

no dia 6.<br />

Francisco Pereira <strong>de</strong> S. Romão, filho<br />

<strong>de</strong>~João <strong>de</strong> S. Romão e Maria da Conceição,<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 77 annos, Falleceu<br />

no dia 8.<br />

Antonio Marques Cepo, filho <strong>de</strong> Antonio<br />

Marques e Joaquina <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong><br />

Ourem, <strong>de</strong> 29 annos. Falleceu <strong>de</strong> endocardite<br />

agrida, 110 dia 9.<br />

Maria José da Costa, filha <strong>de</strong> Antonio<br />

Rodrigues e Maria da Costa, <strong>de</strong> Sampaio,<br />

<strong>de</strong> 30 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorrhagia<br />

eerebral, no dia 9.<br />

Guilhermina, lillia <strong>de</strong> Manoel dos<br />

Santos e Anna da Conceição, <strong>de</strong> Santa<br />

Clara, <strong>de</strong> 3 annos. Falleceu <strong>de</strong> pneumonia<br />

dupla, no dia 9.<br />

„ Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemiterio —16:870.<br />

A GRANEL<br />

Principia no dia 2 <strong>de</strong> junho o pagamento<br />

dos tilulos da divida interna consolidada.<br />

O segundo sorteio das relações <strong>de</strong>ve<br />

effcctuar-se nos dias 22 a 31 do corrente.<br />

m * #<br />

O sr. Candido <strong>de</strong> Figueire-<br />

do, governador civil <strong>de</strong> Villa Raal, vae<br />

publicar um folheto sobre a administração<br />

d'aquelle districto.<br />

* * # Dizem <strong>de</strong> Bragança que o<br />

sr. ministro das obras publicas ce<strong>de</strong>rá o<br />

edifício da escola industrial para alli se<br />

estabelecerem tres escolas primarias.<br />

* * * A companhia real projecta<br />

estabelecer, no proximo mez <strong>de</strong> julho, bilhetes<br />

especiaes <strong>de</strong> ida e volta por preços<br />

reduzidos, para diversos pontos do<br />

paiz, servidos pelas suas linhas.<br />

* * # Em Olite, Saragoça, uma<br />

creauça d'onze annos commetteu o crime<br />

<strong>de</strong> parricidio.<br />

O rapaz, vendo que o pae apontava<br />

uma pistola a mãe, agarrou uma navalha<br />

e cravou-a no peito do auctor dos seus<br />

dias, <strong>de</strong>ixando-o morto <strong>de</strong> seguida.<br />

* * * Foi preso e entregue ao<br />

administrador <strong>de</strong> Villa Franca <strong>de</strong> Xira,<br />

um dos auclores do roubo do colre da<br />

recebedoria.<br />

Consta que ainda faltam uns 4 ou 5<br />

dos taes que ajudaram a transportar o<br />

cofre para o ollival.<br />

— Se ouso comprehen<strong>de</strong>l-o, disse<br />

Memma em tom firme, acaba <strong>de</strong> me dirigir<br />

censuras sobre o meu casamento ; não esperava<br />

tal inconveniência da sua generosida<strong>de</strong><br />

franceza.<br />

— Nao, minha senhora, não! disse<br />

Paulo tristemente; nao a censurei nunca<br />

por ler obe<strong>de</strong>cido a seu nobre irmão,<br />

embora a sua obediencia cavasse o meu<br />

tumulo. Não lhe attribuirei nunca um<br />

crime por ter cumprido um <strong>de</strong>ver.<br />

— Então, disse Memma, crusando<br />

os braços, não o comprehendo.<br />

Paulo acolheu estas palavras com um<br />

sorriso cinzelado pela primeira vez num<br />

rosto humano pela mão d'utn <strong>de</strong>monio.<br />

A agitação dos lábios <strong>de</strong> Memma parecia<br />

repelir a sua phrase.<br />

— Ouse comprehen<strong>de</strong>r-me, minha<br />

senhora, disse Paulo accenluando <strong>de</strong><br />

proposito a primeira palavra.<br />

— O <strong>de</strong>lirio da sua febre continua,<br />

disse Memma, oihando-o inquieta; o<br />

Marquez di Negro diz-me que sollreu<br />

tanto...<br />

— Sun, minha senhora, solíri muito !<br />

Algumas lagrimas brilharam no seu<br />

rosto pallido, e a joven senhora, commovida,<br />

eslen<strong>de</strong>u-lhe,ainda a mão, que<br />

se admirou <strong>de</strong> ver repellida.<br />

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e bem assim communicação telephonica<br />

com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />

do sr. José Tavares da Costa,<br />

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4<br />

20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />

o «eu antigo estabelecimento<br />

N' concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />

novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portai<br />

gueza, pelos segujntes preços:<br />

Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />

2/000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />

reis. Guarda-sol para senhora, 1$700<br />

réis. Sombrinhas para ditas, 1^500 réis.<br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBUCA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.»<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDIXOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Cem estampilha<br />

Anno 2$703<br />

Semestre 1*8350<br />

Trimestre... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno./ 21400<br />

Semestre.'... 21#00<br />

Trimestre... 600


0W m Defensor J<br />

\ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 89<br />

p<br />

Portugal e Hespanha<br />

Pelo ministério dos negocios estrangeiros<br />

foi apresentado á ratificá^ãô<br />

do parlamento o tratado <strong>de</strong><br />

commeTcio entre Portugal e Hespanha,<br />

assignado em Madrid, em 27<br />

<strong>de</strong> março.<br />

Já a este documento nos referimos<br />

anteriormente, e cotrmosco<br />

toda a imprensa o tetn aôeitado Sem<br />

relutancia, mosfrando-se assim que<br />

a opinião publica no nosso paiz se<br />

não orienta já por esso odio tradicional,<br />

injustificável hoje, a tudo o<br />

que tinha caracter hespanhol.<br />

É felizmente, que assim não é.<br />

Portugal e Hespanha têem a<br />

cumprir no futuro uma elevada fun j<br />

ôção ho progresso evolutivo das socieda<strong>de</strong>s,<br />

funcçao Superior que só<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar numa congregação<br />

harmónica <strong>de</strong> esforços, numa<br />

sympathia mutua <strong>de</strong> sentimentos e<br />

cai-Mereg, baseada na commurthão<br />

<strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> aspirações, qiie<br />

a própria natureza lhes <strong>de</strong>terminou.<br />

Povos irmãos e por tanlos sectílos<br />

inimigos;' visinhos pare<strong>de</strong>s<br />

meias e por tanio tempo <strong>de</strong>sconhecidos,<br />

parece que uma como que<br />

murcha <strong>de</strong> bronze se interpunha<br />

entre um e outro, afaslando-os do<br />

convívio social, affecluoso e <strong>de</strong>dica-^<br />

do, que <strong>de</strong>veria ser a mira d'um e<br />

d'outro.<br />

Mas esle bronze vae-se já fundindo;<br />

esla frieza anlipalhica e nociva<br />

aos rriutuos interesses, vae-se<br />

dissipando— prova-o o tralado re-cenle,<br />

que estreita intimamente já<br />

os dçis povos.<br />

E um tralado <strong>de</strong> commercio, e<br />

é pêlo commercio que se afirmará<br />

com a maior intensida<strong>de</strong> a harmonia<br />

<strong>de</strong> relações que entre nós e a<br />

Hespanha <strong>de</strong>ve haver; ha nelle disposições<br />

<strong>de</strong> elevado alcance neste<br />

sentido.<br />

Mas a par d'este, torna-se urgente<br />

que outras provi<strong>de</strong>ncias se<br />

estabeleçam, que irmanem os dois<br />

paizes em lodos os pontos da activida<strong>de</strong><br />

social -— garanla-se nume<br />

noutro a proprieda<strong>de</strong> litteraria; <strong>de</strong>rrame-se<br />

o conhecimento cada vez<br />

mais perfeito da activida<strong>de</strong> artística,<br />

industrial, scienlifica, ele,; faça-se<br />

com que os escriplores e homens<br />

illuslres d'um paiz Sejam conhecidos<br />

no outro como homens<br />

superiores dignos <strong>de</strong> mutuo respeito<br />

e consi<strong>de</strong>ração; promova-se que<br />

tanto a litteratura portugueza como<br />

a hespanholâ não encontrem nas<br />

fronteiras um elemento <strong>de</strong> repulsão<br />

que as afaste uma da outra.<br />

Portugal conhece toda a litteratura<br />

franceza, e não faz idêa da<br />

hespanhola, que lem á poria, publicistas<br />

eminentes e prestigiosos. Empreguem-se,<br />

emfim, lodos os esforços<br />

para que Portugal e Hespanha<br />

se approximem como povos irmãos,<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes da mesma origem,<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspirações e <strong>de</strong> interesses.<br />

Alguma coisa se tem feito neste<br />

gentido. Anterior á approximação<br />

official por meio do tralado, procurava-se<br />

já por meio dç congressos<br />

approximar os dois paizes; e ainda<br />

BI-SÉMANARIO REPUBLICANO A \ J V V ^<br />

ultimamente, por occasião da Hespanha<br />

comrnemorâr um dos seus<br />

mais legitimes heroes, Portugal se<br />

apresentou notavelmente nos cerlamens<br />

alli estabelecidos, homens eminentes<br />

dos dois paizes se reuniram<br />

e concertaram para esla obra grandiosa<br />

do futuro, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> na<br />

maior parte o <strong>de</strong>senvolvimento e o<br />

progresso dos dois povos.<br />

Afaslados, como se mostram já,<br />

os dissentimentos e os odios, aproveitem-seas<br />

actuaes circumslaneias<br />

para ligar Portugal a Hespanha,<br />

cimentando no interesse das suas<br />

relações sociaes, a franca amiza<strong>de</strong><br />

que os <strong>de</strong>ve unir.<br />

Numa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia mutua,<br />

mas subordinados ao mesmo critério<br />

<strong>de</strong> progresso, hão <strong>de</strong>, numa<br />

gran<strong>de</strong> confralernida<strong>de</strong>, concorrer<br />

prodigiosamente para a obra da civilisação.<br />

V<br />

João Chagas<br />

O sr. Joaquim Pacheco, co-proprietario<br />

do Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, oíTereceu na<br />

sua casa em Leça <strong>de</strong> Palmeira um almoço<br />

a João Chagas, almoço intimo para que<br />

foi exclusivamente convidada a redacção<br />

d'aquelle jornal,<br />

Nos brin<strong>de</strong>s, Joaquim Pacheco saudou<br />

Chagas, como antigo redactor do Janeiro,<br />

cujos méritos evi<strong>de</strong>nciou, e como intimo<br />

amigo, João d'Oliveira Ramos brindou ao<br />

ex-companheiro brilhante e leal <strong>de</strong> redacção.<br />

João Chagas agra<strong>de</strong>cendo disse ter<br />

recebido provas <strong>de</strong> affecto da imprensa,<br />

mas especialisava o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro<br />

que o irálára sempre com verda<strong>de</strong>iro<br />

carinho.<br />

=3<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Na reunião da Associação Commercial<br />

dos Lojislis <strong>de</strong> Lisboa, resolveu-se nomear<br />

a seguinte commissão a fim <strong>de</strong> estudar<br />

o projecto que se refere á contribuição<br />

industrial: srs. Saraiva Lima, José<br />

Nunes <strong>de</strong> Carvalho, Anlonio Cardoso<br />

d'Oliveira Júnior, José Romão <strong>de</strong> Maltos,<br />

José Antonio Nunes, Casimiro Valente e<br />

Julio <strong>de</strong> Carvalho.<br />

*<br />

Também reuniu a direcção da Associação<br />

dos Proprietários <strong>de</strong> Lisboa, resolvendo<br />

que, representando a associação<br />

principalmente a proprieda<strong>de</strong> urbana <strong>de</strong><br />

Lisboa, e que sendo esta proprieda<strong>de</strong><br />

aquella cujas matrizes se acham mais<br />

oneradas, não pô<strong>de</strong> <strong>de</strong> fórma alguma supporlar<br />

augmento <strong>de</strong> imposto, e consi<strong>de</strong>rando<br />

mais que esta opinião se tem evi<strong>de</strong>nciado<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a apresentação da mesma<br />

proposta, <strong>de</strong>liberou não <strong>de</strong>scurar o assumpto,<br />

tratando-o em successivas reuniões<br />

para representar opportunamenle<br />

aos po<strong>de</strong>res públicos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ouvida<br />

a opinião <strong>de</strong> todos os seus socios em assemblêa<br />

geral, on<strong>de</strong> o assumplu <strong>de</strong>verá<br />

ser largamente discutido.<br />

BásHio Telles<br />

E' esperado brevemente no Porto<br />

este illustre publicista e dos mais sympalhicos<br />

vultos da revolta <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro.<br />

Emigração<br />

O paquete Rei <strong>de</strong> Portugal saido <strong>de</strong><br />

Lisboa no dia 19 do corrente, levava a<br />

bordo 1:100 emigrados para as terras do<br />

Brazil.<br />

Uns semsaborões I Que alé appetece<br />

ficar em Portugal só para gozar das felicida<strong>de</strong>s<br />

que o povo vae ter com as propostas<br />

do sr. Fuschini I<br />

Os collegios jesuíticos<br />

Antes <strong>de</strong> começarmos a exposição<br />

promeltida, cumpre-nos fazer uma <strong>de</strong>claração<br />

prévia: não temos a pretensão <strong>de</strong><br />

dizer coisas novas sobre o assumpto<br />

proposto; o nosso fim é divulgar o que<br />

já está escriplo sobre elle, o bastante<br />

para que todos dêem o apreço, que merece,<br />

á obra da Companhia <strong>de</strong> Loyola.<br />

Como já o fiz sentir noutro artigo,<br />

existe uma urgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propaganda<br />

anti-reaccionaria, que <strong>de</strong>ve"ser<br />

feita principalmente por meio <strong>de</strong> livri?<br />

nhos populares, pelos jornaes baratos e,<br />

sobretudo, por meio <strong>de</strong> associações, que<br />

dêem forte incremento ás idéás anli-jesuiticías.<br />

Pelo que diz respeito ao primeiro<br />

dos meios indicados, sabemos que se<br />

acham em preparação alguns livrinho»,<br />

imitando outros que em França tiveram<br />

larga circulação e fizeram saber ás camadas<br />

populares, o que têm sido os jesuítas.<br />

Pelo qne toca ao, segundo meio, vemos<br />

que alguns jornaes, vão publicando<br />

artigos que alguma luz hão <strong>de</strong> fazer nos<br />

centros a que chegam. Pelo que respeita<br />

ao uflimo, está-se orgaoisando em<br />

Lisboa uma associação anti-jesuitica que<br />

procurará estabelecer succursaes na província<br />

e que está <strong>de</strong>stinada a produzir<br />

largos fructos, se os seus fundadores não<br />

<strong>de</strong>sistirem nem se <strong>de</strong>ixarem apo<strong>de</strong>rar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sanimo pelo indifferentismo com que<br />

a principio ha <strong>de</strong> ser acolhida a sua iniciativa.<br />

*<br />

Passemos, pois, a examinar um dos<br />

meios <strong>de</strong> que a Companhia <strong>de</strong> Loyola se<br />

serve para espalhar as suas doutrinas,<br />

recrutar gente para os seus noviciados e<br />

arranjar a<strong>de</strong>ptos que a <strong>de</strong>fendam no<br />

convívio do mundo e lhe angariem riquezas<br />

que a tornem mais po<strong>de</strong>rosa.<br />

Existem por esse paiz fóra vários collegios<br />

<strong>de</strong> jesuítas e outros ajesuitados<br />

que, não pertencendo á Companhia, todavia<br />

adoptam os seus systemas <strong>de</strong> educação<br />

Dá-se uma coincidência notável com<br />

a creação dos collegios jesuítas porluguezes,<br />

que não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>ixar no esquecimento.<br />

Todos elles vieram acabar com uns<br />

institutos <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> que davam tão risonhas<br />

esperanças, pondo termo, portanto,<br />

a casas on<strong>de</strong> o orphãosinho recebia<br />

agazalho e alimento, on<strong>de</strong> aprendia as<br />

primeiras noções que o haviam <strong>de</strong> auxiliar<br />

no trato cora a socieda<strong>de</strong> e se lhe<br />

araenisava, emfim, a cruel sorte.<br />

Em vez, pois, <strong>de</strong> contribuírem para<br />

a obra philantropica das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas,<br />

fazendo <strong>de</strong>sapparecer a pouco e<br />

pouco as injustiças existentes, segundo<br />

as quaes o rico gosa <strong>de</strong> todas as immunida<strong>de</strong>s,<br />

absorve todo o bem estar que<br />

lhe proporciona a sua fortuna e o pobre<br />

arrasta uma exislencia vil, que o obriga<br />

a amaldiçoar muitas vezes aquelle que<br />

lhe <strong>de</strong>u o ser, os jesuítas acabaram com<br />

uns focos do bem que haviam <strong>de</strong> irradiar<br />

por todo o paiz, produzindo novos<br />

exemplos <strong>de</strong> amor pela humanida<strong>de</strong>.<br />

Se não, vejâmos.<br />

O collegio <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong> on<strong>de</strong> teve<br />

a sua origem? Num asylo para orphãos<br />

fundado pelo padre Ra<strong>de</strong>maker,,que tantos<br />

serviços prestou aos <strong>de</strong>sgraçados.<br />

Mas quando o asylo tinha já um certo<br />

grau <strong>de</strong> crescimento e precisava mais<br />

<strong>de</strong> um homem que alli exercesse a sua<br />

acção, «lembrou-se Ra<strong>de</strong>maker, diz-nos<br />

o auctor do Portugal Jesuita, <strong>de</strong> pedir<br />

ao Geral dos jesuítas que lhe mandasse,<br />

para o auxiliar nesta caridosa empreza,<br />

alguns jesuítas italianos, que se<br />

achavam expulsos <strong>de</strong> ltalia e dispersos<br />

por differentes paizes. Foi este o seu<br />

gran<strong>de</strong> erro e a ruina da sua obra <strong>de</strong><br />

carida<strong>de</strong>. Porque Ra<strong>de</strong>maker, não tendo<br />

tido tempo em ltalia <strong>de</strong> conhecer hera<br />

intimamente o espirito ambicioso dos jesuítas,<br />

juigava-os a todos pelo seu caridoso<br />

espirito, tendo-os por tão caritativos<br />

como elle proprio e como o Jesus<br />

dos Evangelhos, com cujo nome se ap-<br />

pellidam. Enganou-se o santo homem: e<br />

o seu engano cnstou-lhe amargos dissabores.»<br />

Mas transcrevamos ainda do Portugal<br />

Jesuíta, quanto nol-o permilta o estreito<br />

espaço <strong>de</strong> que dispomos, o que nelle se<br />

encontra relativamente á obra caritativa<br />

<strong>de</strong> Ra<strong>de</strong>maker e á transformação que<br />

nella operaram os jcuitas:<br />

«Ra<strong>de</strong>maker era um simples padre<br />

secular e, como tal, vivia em Lisboa,<br />

quando em 1856 a febre amarella, dizimando<br />

milhares <strong>de</strong> famílias, <strong>de</strong>ixou<br />

na orphanda<strong>de</strong> e miséria muitas pobres<br />

creanças da capital.<br />

Ra<strong>de</strong>maker, á vista d'aquella <strong>de</strong>solação,<br />

com o seu coração ar<strong>de</strong>ntemente<br />

bemfazejo, <strong>de</strong>terminou immediatamente<br />

fazer servir os seus bens<br />

<strong>de</strong> fortuna ao amparo d'esses pobre-<br />

Sinhos, que ficaram neste mundo sem<br />

o arrimo mais suave e forte, que a<br />

natureza nos conce<strong>de</strong>, os paes e as<br />

mães. Constituiu-se portanto em segundo<br />

pae d'esses <strong>de</strong>samparados. Para<br />

levar a efTeito esse intento fundou um<br />

Asylo para abrigo dos orphãos, dando-lhes<br />

a um tempo o pão do corpo e<br />

o do espirito, sustento e educação.<br />

Mas para tão benemerita e dispendiosa<br />

fundação não contava só com o seu<br />

patrimonio, que não tinha a gran<strong>de</strong>za<br />

que taes emprezas <strong>de</strong>mandam, contava<br />

também com as esmolas <strong>de</strong> amigos<br />

e pessoas caridosas. E estas não lhe<br />

faltaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o principio, como me<br />

escreve numa carta o sr. S. L. por<br />

informação d'um antigo professor d'aqtielle<br />

asylo.<br />

Ra<strong>de</strong>maker fundára a principio o<br />

asylo só com o intuito <strong>de</strong> educar pobres<br />

e orphãos. Depois, como quer<br />

que pessoas <strong>de</strong>votas e altamente eollocadas<br />

instassem por que elle edu-<br />

• casse meninos ricos, o padre addicionou<br />

ao seu estabelecimento <strong>de</strong> carida<strong>de</strong><br />

uma secção <strong>de</strong> pensionistas, «secção<br />

<strong>de</strong> janotas», como lhe chama Silva<br />

Pinto.<br />

Tal era o Asylo <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong> em<br />

1859, um anno antes dos jesuítas apparecerem<br />

em Portugal.»<br />

Os <strong>de</strong>fensores dos jesuítas disseram<br />

em resposta ao 1.° livro do sr. Grainha,<br />

on<strong>de</strong> lhes fazia lambem por inci<strong>de</strong>nte a<br />

accusação <strong>de</strong> terem transformado a obra<br />

<strong>de</strong> Ra<strong>de</strong>maker em obra <strong>de</strong> ganancia para<br />

a Companhia, que fôra o proprio Ra<strong>de</strong>maker,<br />

que a esse tempo já linha entrado<br />

para a or<strong>de</strong>m, que fizera essa transformação.<br />

O sr. Grainha <strong>de</strong>monstra exliuberantemente<br />

o contrario, começando assim<br />

a sua <strong>de</strong>monstração:<br />

"Sendo isto assim, e sendo Ra<strong>de</strong>maker<br />

tão caritativo, será crivei que<br />

o proprio Ra<strong>de</strong>maker mudasse a sua<br />

obra <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> e compaixão pelos<br />

<strong>de</strong>svalidos, ém obra <strong>de</strong> lacro e ganancia<br />

apparatosa ? Claro está que não*<br />

E, comtudo, é certo, como todos sabem,<br />

que o collegio <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong> é,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> tia muiios annos, só para quem<br />

pô<strong>de</strong> pagar e pagar caro.»<br />

Mas os jesuítas não proce<strong>de</strong>ram assim<br />

somente entre nós, a sua conducta<br />

foi sempre a mesma em todas as nações.<br />

Os nobres e os ricos mereceram-lhe sempre<br />

a sua quasi exclusiva attenção, porque<br />

bera sabem que o seu domínio dimanou<br />

sempre do dinheiro e da influencia<br />

junto dos po<strong>de</strong>rosos e dos fanaticos.<br />

Ainda entre nós o seu porte foi o<br />

mesmo na antiguida<strong>de</strong>, no tempo do seu<br />

maior esplendor; todos sabem que elles<br />

não fundaram um único estabelecimento<br />

<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, ao passo que tinham em<br />

Lisboa o celebre collegio dos nobres e<br />

outro com o mesmo fim em <strong>Coimbra</strong>.<br />

O collegio <strong>de</strong> S. Fiel, no Louriçal<br />

do Campo, teve também a sua origem<br />

num asylo <strong>de</strong> orphãos fundado por Fr.<br />

Agostinho da Annunciação <strong>de</strong> que os<br />

jesuítas tiveram a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apo<strong>de</strong>rar<br />

e transformar num centro fecundo<br />

da sua propaganda.<br />

Será ainda o livro citado que nos<br />

dirá o que se <strong>de</strong>u com este asvlo (vid.<br />

pag. 469) :<br />

«Frei Agostinho fôra fra<strong>de</strong> franciscano,<br />

e tivera <strong>de</strong> abandonar o silencio<br />

do ciaustro em virtu<strong>de</strong> das leis<br />

<strong>de</strong> Aguiar que extinguiram os conventos,<br />

quando em Portugal ainda havia<br />

homens capazes <strong>de</strong> acabar com conventos<br />

e morgados.<br />

' Aquelle bom ex-fra<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>u,<br />

porém, como todos os que téem boa<br />

vonta<strong>de</strong> e virtu<strong>de</strong>, que fóra do con-<br />

t<br />

vento se pô<strong>de</strong> fazer ainda maior bem<br />

ao proximo, do que quando se está<br />

encerrado <strong>de</strong>ntro das quatro pare<strong>de</strong>s<br />

da cella, sujeito às or<strong>de</strong>ns d'um superior.<br />

E, lançando os olhos para a multidão<br />

das pobres creanças, que a orphanda<strong>de</strong><br />

atira quotidianamente para<br />

os embates da <strong>de</strong>sgraça e do vicio,<br />

guiando-se pelos caritativos dictames<br />

do seu bondoso coração, tratou <strong>de</strong><br />

criar lá, juntò á sua solitária al<strong>de</strong>ia,<br />

um estabelecimento <strong>de</strong> beneficencia,<br />

como o que Ra<strong>de</strong>maker fundára quasi<br />

ao mesmo tempo ás portas da populosa<br />

capital. Provavelmente, Ra<strong>de</strong>maker<br />

e Frei Agostinho ainda então se<br />

não conheciam, mas os corações <strong>de</strong><br />

elite assemelham-se, e, embora as palavras<br />

os não ponham em contacto, o<br />

suavíssimo anjo da carida<strong>de</strong> segreda<br />

a cada um os mesmos santos e <strong>de</strong>liciosos<br />

pensamentos.<br />

Por isso, Frei Agostinho, como Ra<strong>de</strong>maker,<br />

condoeu-se da sorte das pobres<br />

creanças, que per<strong>de</strong>m eedo o <strong>de</strong>liciosíssimo<br />

e incomparável bem do<br />

bafo paternal, e fez-se segundo pae<br />

d'essas infelizes creaturinhas. Mas os<br />

jesuítas, assim como <strong>de</strong>struíram a<br />

santa obra <strong>de</strong> Ra<strong>de</strong>maker, que teve a<br />

infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contiar nelles, assim<br />

lançaram por terra a <strong>de</strong> Frei Agostinho,<br />

que também se fiou nelles enganadoramente.»<br />

Este proce<strong>de</strong>r dos jesuítas é largamente<br />

historiado no livro que citamos e<br />

comprovado por uma carta, alli transcripta,<br />

d'um homem respeitabilissimo, o sr.<br />

Sebastião Ramos Preto, que muito <strong>de</strong><br />

perto conhece os manejos jesuíticos, pois<br />

vive no Louriçal do Campo.<br />

Aquella carta, apezar <strong>de</strong> resumida,<br />

quasi fórma a historia completa do Collegio<br />

<strong>de</strong> S. Fiel, como bem diz o sr.<br />

Grainha.<br />

Alli se prova, entre outras coisas,<br />

que o Asylo <strong>de</strong> S. Fiel foi fundado pelo<br />

mencionado fra<strong>de</strong>, que o <strong>de</strong>stinou á educação<br />

<strong>de</strong> meninos e meninas orphãos <strong>de</strong><br />

pae e mãe e que, tendo Frei Agostinho<br />

entregado a direcção da casa aos jesuítas,<br />

por se encontrar já numa eda<strong>de</strong><br />

avançada e julgar que os jesuítas continuariam<br />

a admittir gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />

orphãos, elles não tem nem admittem já<br />

orphãos naquella casa d'ensino, honrando<br />

assim a memoria do benemerito fra<strong>de</strong>.<br />

Triste é, pois, a historia da origem<br />

dos principaes collegios jesuíticos em<br />

Portugal e não menos triste são, como<br />

veremos, os resultados da educação que<br />

nelles se ministra.<br />

cA. S.<br />

(Continua).<br />

Victor Hugo<br />

Passou na segunda feira, 22, o oitavo<br />

artniversario da morte do gran<strong>de</strong> Mestre.<br />

A perda <strong>de</strong> Victor Hugo foi insuperável<br />

para a humanida<strong>de</strong>. Aquelle génio<br />

que durante muitos annos brotou torrencialmente<br />

grandiosos jactos <strong>de</strong> luz escan<strong>de</strong>cente<br />

em paginas immarcessiveis<br />

<strong>de</strong> eloquencia, <strong>de</strong>ixou no mundo litterario,<br />

politico e philosophico, um vácuo<br />

eterno.<br />

=zs<br />

E o imposto ... a subir!<br />

E' <strong>de</strong> regalar a seguinte noticia que<br />

vamos transcrever d'uma folha monarchica,<br />

referindo-se á próxima viajata regia<br />

á cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Beja.<br />

Para abrilhantar os festejos <strong>de</strong>vem<br />

ir a Beja a bateria <strong>de</strong> arlilheria <strong>de</strong> Vendas<br />

Novas, que dará as salvas do estylo<br />

á chegada do comboio real; a banda <strong>de</strong><br />

infanteria 22 e quatro philarmonicas.<br />

Depois da posse, haverá na praça <strong>de</strong><br />

D. Manoel fogo <strong>de</strong> artificio, marche aux<br />

flambeaux, e no fira baile no Club.<br />

Ora nada d'isto se faz sem dinheiro ;<br />

as <strong>de</strong>spezas <strong>de</strong> viagem, o transporte <strong>de</strong><br />

tropas, a polvora para a salvas, as musicas,<br />

etc., <strong>de</strong>vem custar ao thesouro<br />

publico um bom par <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis.<br />

Estas e outras borgas é que tem<br />

empenhado o paiz, e o motivo porque o<br />

sr. Fuschini exige agora dos proprietários,<br />

industriaes e agricultores maiores<br />

sacrifícios.<br />

Tem razão os nossos governantes:<br />

quem quer ter um rei paga-lhe bem e<br />

diverie o melhor. E' dar-lhe para a<br />

frente l


ASLVO I — s e O D E F U K i O R B O P O V O 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

C R Y S T A E S<br />

Rosa branca<br />

Sem ti I Que loucura<br />

Que ingénuo pensarI<br />

Pois has-dtí ignorar<br />

(Por Deusl) que a ventura<br />

Me cae d'esse olhar I<br />

Vê tu: neste amplexo<br />

Ein que me sustenho...<br />

Sim I todo este empenho<br />

E' puro reflexo<br />

Do amor que te tenho.<br />

Sem ti! Não é nova<br />

Que eu dê; e senão<br />

Tu põe essa mão<br />

Aqui, e isto prova<br />

Já meu coração.<br />

Que sentes ? abrolhos<br />

Que em flores singelas<br />

Te mando, as mais bellas,<br />

Dês que esses teus olhos<br />

Me cobrem <strong>de</strong> estrellas.<br />

Dês que essa pupilla<br />

Fiel me alumia,<br />

E a luz d'este dia<br />

No enlevo tranquilla,<br />

Meu ser extasia.<br />

Não ha primavera<br />

Com tua fragrancia...<br />

— O amor não se altera<br />

Se ás almas, na infancia,<br />

Se abraça qual hera.<br />

E assim tu assomas,<br />

Piedosa, entre as flores,<br />

Ri<strong>de</strong>nte nas côres,<br />

Mais grata <strong>de</strong> aromas,<br />

Mais bella <strong>de</strong> amores.<br />

Por isso eu te exoro :<br />

E embora mereça<br />

A fé que te imploro,<br />

Ai I quanto te adoro<br />

Mal sabes, confessa I<br />

Calcula a tristeza<br />

Que legas a quem<br />

Pa<strong>de</strong>ce e não tem<br />

Mais que essa incerteza<br />

Que aos lábios te vem.<br />

Mas tu és discreta I<br />

Não finges o pejo<br />

De occulta violeta,<br />

Fugindo inquieta<br />

A um casto <strong>de</strong>sejo...<br />

— Que ingénuo recatol<br />

Que aroma tão grato<br />

Por on<strong>de</strong> eu fluctuo |...<br />

— Perdão I (insensato I )<br />

A mão restituo I<br />

Porto, 1893.<br />

L B T T R A S<br />

Dentro d'agua?<br />

HUGO DINIZ.<br />

Uma eolonia <strong>de</strong> famílias e empregados<br />

vivia ha annos no becco <strong>de</strong> Feuillantines.<br />

Era na maior parte composta <strong>de</strong><br />

gente <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> viver socegado,<br />

sombrio e economico.<br />

O primeiro e segundo andar <strong>de</strong> cada<br />

prédio tinham duas ou tres casas, e no<br />

terceiro só havia quartos que se alugavam<br />

mobilados. Queslão <strong>de</strong> nome, porque a<br />

mobília apenas constava <strong>de</strong> cama, uma<br />

meza e duas ca<strong>de</strong>iras.<br />

Quem queria agua, era obrigado a ir<br />

buscal-a a uma fonte próxima, e por isso<br />

estabelecia-se em poucos dias a intimida<strong>de</strong><br />

entre aquelles habitantes.<br />

Ora, um d'esses quartos era alugado<br />

por um empregado do correio, rapaz alegre,<br />

<strong>de</strong> boa figura e temperamento equatorial.<br />

Por baixo morava um guarda<br />

d'alfan<strong>de</strong>ga, casado com uma adoravel<br />

mulher loura, mais nova do que elle e<br />

tendo a recommendal-a uma educação<br />

primorosa adquirida nos collegios das<br />

irmãs da carida<strong>de</strong>.<br />

O velho chamava-se Morsafrau e o<br />

rapaz Adolpho.<br />

Este e D. Idalia Morsafrau encontravam-se<br />

frequentes vezes na escada, e<br />

sorriam-se graciosamente. Quando os<br />

dois queriam ir para casa, elle, muito<br />

risonho, muito amavel, convidava-a a<br />

subir primeiro, e o caso é que estas<br />

cerimonias <strong>de</strong> mera <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, não íhe<br />

<strong>de</strong>sagradando a ella, fizeram com que<br />

elle, acostumado a ver-lhe o lindo pé,<br />

tivesse <strong>de</strong>sejos mais lidibinosos. Atreveu-se...<br />

Passou-lhe a mão pela cintura.<br />

Chegaram ao patamar.<br />

— Meu marido fica um dia <strong>de</strong> serviço<br />

em cada semana, disse-lhe ella. Sae<br />

amanhã ás $ horas não volta senão no<br />

dia seguinte.<br />

. Adolpho abraçou a, e neste amplexo,<br />

convenceu se .<strong>de</strong> que alli não Imvia impostura.<br />

Era boa <strong>de</strong> lei, a Ida linha.<br />

A noite foi agitada, é <strong>de</strong> suppor.<br />

Pareceu-lhe que o sol não nasceria, em<br />

sonhos abMçou o travesseiro, beijoit-o<br />

enthusiasmado, incan<strong>de</strong>scente. Soaram<br />

oito horas. Ouviram-se passos pesados<br />

e graves, corre á janella, e quando o<br />

visinho dobra a esquina, já o cabo da<br />

vassoura da querida visinha batia no<br />

tecto, convidandoo para a entrevista<br />

combinada.<br />

Adolpho <strong>de</strong>sceu a quatro e quatro os<br />

<strong>de</strong>graus, ent risco até <strong>de</strong> quebrar uma<br />

perna, mas o amor...<br />

A senhora Morsafrau, em <strong>de</strong>shabillée<br />

provocante, <strong>de</strong>u-lhe entrada na alcova<br />

conjugal.<br />

Fechou a porta á chave, e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>ixando-se cahir numa ca<strong>de</strong>ira, disselhe<br />

com amargura :<br />

— Adolpho, vae fazer <strong>de</strong> mim um<br />

péssimo conceito.<br />

— Não sei porque, replicou o empregado,<br />

ajoelhando, receioso <strong>de</strong> que o horisonte<br />

se tivesse turvado.<br />

—Toma-me talvez por uma mulher<br />

fácil ?<br />

— Como se engana, mmlia querida;<br />

o que se espera <strong>de</strong> lima mulher quando<br />

não é estimada ?<br />

— Ha muito que sinto necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafar.<br />

— Quer-me para confi<strong>de</strong>nte?<br />

E como a resposta fosse affirmativa<br />

começaram em terno colloquio, <strong>de</strong>svendando<br />

os mysterios dos seus corações<br />

amantíssimos. Adolpho não podia acreditar<br />

em tão bom êxito. Prcparava-se para<br />

outros pormenores mais Íntimos, quando<br />

na escada se ouviram passos.<br />

— Ai! que é meu marido! disse<br />

Idalia, empalli<strong>de</strong>cendo.<br />

— Diabo, murmurou Adolpho, atrapalhado.<br />

— Venha cá, continuou ella, escon-<br />

da-se aqui, apontando para uma chaminé<br />

!<br />

Elle não hesitou trepando conforme<br />

pou<strong>de</strong>; e a amante, correndo a cortina,<br />

foi abrir a porta. .<br />

— És tu, meu bom amigo, o que<br />

aconteceu? interrogou ella. Demoreí-me<br />

muito, não é verda<strong>de</strong>? E' que tinha<br />

fechado todas as portas.<br />

— Fizeste Item, filhinha. Olha que<br />

eu não fico contente quando te <strong>de</strong>ixo só.<br />

— Mas... houve alguma novida<strong>de</strong>?<br />

— Não... quando cheguei ao posto,<br />

senti-me incommodado. Um collega leve<br />

dó <strong>de</strong> mini, ficou a fazer o meu serviço,<br />

e estou <strong>de</strong> folga até ámanhã.<br />

Dizendo isto, o sr. Morsafrau, começou<br />

a <strong>de</strong>spir-se.<br />

— No caminho, proseguiu elle, lembrou-me<br />

que talvez me fizesse bem tomar<br />

um banho e aluguei uma banheira que<br />

<strong>de</strong>ve estar a chegar.<br />

EITectivamente pouco <strong>de</strong>pois entrou<br />

o moço.<br />

— On<strong>de</strong> se ha <strong>de</strong> collocar? interrogou<br />

elle.<br />

— Alli, ao pé da chaminé !<br />

—-Mas, menino, interrompeu a mulher,<br />

não seria melhor pol-a aqui junto<br />

do leito?<br />

—Não quero, disse o guarda, posso<br />

molhar os lençoes.<br />

O moço arrastou a banheira até á<br />

chaminé, on<strong>de</strong> se transia <strong>de</strong> feio o <strong>de</strong>sgraçado<br />

Adolpho, e quando a agua era<br />

sufficienle, o nosso Morsafrau rnstallou-se<br />

commodamcnle no seu banho.<br />

—Idalia, disse á esposa, dá-me o meu<br />

cachimbo.<br />

— Talvez le faça mal.<br />

— Enganas-te, gosto muito <strong>de</strong>fumar.<br />

E accen<strong>de</strong>ndo o charuto, começou<br />

a saboreal-o, cuspindo para a chaminé,<br />

mesmo em cirna dos pés do rival.<br />

Este supplicio durou meia hora.<br />

Depois, Morsafrau resolveu <strong>de</strong>itar-se.<br />

Estando já na cama, pergunlou-lhe a<br />

mulher:<br />

— Queres que leve a banheira para<br />

a escada, para que nos não ÍDconimo<strong>de</strong>m<br />

quando vierem buscal-a ?<br />

— Como quizeres, respon<strong>de</strong>u o marido.<br />

Ella então fechou .o mais hermeticamente<br />

possivel os cortinados do leito, e<br />

correndo a cortina da chaminé, disse ao<br />

infeliz:<br />

— Entra na banheira.<br />

— Mas.. . ellè vê me.<br />

— Não faz mal, nieltes a cabeça <strong>de</strong>ntro<br />

d'agua.<br />

— Dentro d'agua ?<br />

— Avia-te ou estamos perdidos..<br />

Morsafrau voltava-se impaciente no<br />

leito.<br />

Adolpho entrou na tina. Retendo a<br />

respiração, e lapando os ouvidos com os<br />

<strong>de</strong>dos, sentiu-se rodar para o patamar.<br />

A porta íechou-se, e o empregado<br />

do correio fugiu como um pintainho,<br />

alagado, pela escada abaixo, sacudindo-se<br />

todo, como os paios saco<strong>de</strong>m a cauda,<br />

quando saem d'agua.<br />

De lar<strong>de</strong>, certa visinha bisbi.hoteira<br />

que presenciara tudo, narrando o divertido<br />

episodio, dizia sentenciosamente:<br />

— O senhor Adolpho é muito galante<br />

não ha que ver; mas sempre súa muito.<br />

E' um <strong>de</strong>feito, pois não é ?<br />

Aurelian School.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Casos da semana<br />

A romaria do senhor <strong>de</strong> Mathosinhos<br />

constitue um dos maiores gaudios populares.<br />

O Porto <strong>de</strong>spovoa-se nos tres dias<br />

<strong>de</strong> festa ; a burguezia dá tregoas á gravida<strong>de</strong><br />

habitual, assalta os americanos,<br />

disputa um logar a murro, e ahi vae<br />

ella, berrando, gesticulando, muito alegre<br />

e muito barulhenta, gosar o fogo d'artificio,<br />

a pieda<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>votos e o peixe<br />

frito, com seu quartilho á mistura.<br />

A philarmonica <strong>de</strong> Bouças (que dá<br />

i<strong>de</strong>ia das bandas marciaes <strong>de</strong> 1830) estafam<br />

valsas e polkas com a fúria selvagem<br />

dos que tocaram para cumprir o<br />

seu <strong>de</strong>ver, e o burguez pulla, salta,<br />

atropella, agitando os quadris, em remeniscencias<br />

<strong>de</strong> tempos felizes — soirèes<br />

em casa do papá ou da tia — tempos da<br />

mocida<strong>de</strong> que o passado implacavel sumiu<br />

na voragem das banalida<strong>de</strong> inúteis...<br />

Depois da dança o refresco clássico<br />

das romarias — um copasio do ver<strong>de</strong>,<br />

E como a philarmonica não pára,<br />

não affrouxa, e como, consequentemente,<br />

o refresco se repele a cada peça <strong>de</strong> musica<br />

estafada — segue-se que a cabeça<br />

do burguez começa a andar, a andar,<br />

em rodopio crescente, como aquelle barbeiro<br />

da peça <strong>de</strong> fogo, que amola navalhas,<br />

e rebenta afinal, com gáudio da<br />

rapaziada, no estrondo alordoador d'uma<br />

bomba <strong>de</strong> pataco. A cabeça do burguez<br />

gira sempre: as impressões recebidas<br />

tomam proporções gigantes no seu cerebro<br />

— todas as mulheres lhe parecem<br />

mo<strong>de</strong>los impeccaveis <strong>de</strong> formosura, todos<br />

os olhos tem para elle scintillações<br />

estranhas <strong>de</strong> volúpia secreta.<br />

Atira-se: diz piadas, cinge a cintura<br />

da primeira mulher que o olha, consi<strong>de</strong>rando<br />

a enormida<strong>de</strong> da sua ternura, e<br />

acaba por botar escandalo, por repontar,<br />

dirigindo chufas provocadoras aos que se<br />

inlromeltem no caso.<br />

Desanda a bordoada ; cabeças partidas,<br />

prisões, grilos <strong>de</strong> terror, peixe frito<br />

por terra, bombos furados e clarinetas<br />

partidos...<br />

E o burguez cose a moral do seu procedimento<br />

na esquadra, on<strong>de</strong> a alvorada<br />

do dia seguinte o surprehen<strong>de</strong>, trazendo<br />

no seu clarão límpido e sereno a ameaça<br />

d'umn fiança no tribunal, e a prespectiva<br />

<strong>de</strong>soladora das custas do processo!<br />

*<br />

Este anno, minhas gentis leitoras,<br />

o burguez retrahiu-se á folia habitual, e<br />

não <strong>de</strong>u expansão á sua alma <strong>de</strong> pan<strong>de</strong>go,<br />

constrangida durante longos mezes<br />

na gravida<strong>de</strong> do balcão.<br />

Porque? — Falta <strong>de</strong> dinheiro?<br />

Será o burguez geraldinista, e não<br />

abandonará a sua dama pelos regabofes<br />

do peixe frito, comido piedosamente sob<br />

as vistas do Senhor <strong>de</strong> Mathosinhos ?<br />

Preferirá acaso promover <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

no Circo, impedindo, a murro, que<br />

quem paga o seu bilhete reprove os<br />

esgares e con<strong>de</strong>mne o trabalho da formosa<br />

Geraldine ?<br />

Não sei I O que affirmo é que a romaria<br />

foi chocha. Dizem os amadores<br />

d'este divertimento que lhe faltou a<br />

oota característica: a bebe<strong>de</strong>ira.<br />

Notaram apenas um padre que se<br />

internou pelo sangue <strong>de</strong> Christo... e<br />

que ficou num Lazaro!<br />

Esta bebe<strong>de</strong>ira foi <strong>de</strong>dicada, provavelmente,<br />

ao sr. Barros Gomes e a idênticos<br />

reaccionários que aventava a i<strong>de</strong>ia<br />

da reorganisação das or<strong>de</strong>ns religiosas.<br />

Com a approvação d'essa medida<br />

emporcalha-se a memoria illuslre <strong>de</strong><br />

Joaquim Antonio dAguiar, que extinguiu<br />

as or<strong>de</strong>ns religiosas em 28 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1834.<br />

E' preciso que a borracheira campeie<br />

escandalosamente pelo gabinete dos nos-<br />

sos homens públicos, para que appareça<br />

o aviltre <strong>de</strong>scarado com que se enxovalham<br />

agora as leis da liberda<strong>de</strong> e a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />

<strong>de</strong> nós todos !<br />

Depois dos fra<strong>de</strong>s venham o D Miguel,<br />

o cacete, o auto <strong>de</strong> fé, a censura,<br />

e todas as patifarias regias que escon<strong>de</strong><br />

a historia das nossas vergonhas passadas.<br />

Engana-se o throno enfraquecido se<br />

julga salvar-se, appoiando-se no braço<br />

<strong>de</strong> Loyola. O povo, quando a faina é<br />

ardua, a carga pesada, e chega o momento<br />

<strong>de</strong> reinar, faz fogo d'arlilicio,<br />

mesmo sem a romaria do Senhor <strong>de</strong> Mathosinhos...<br />

*<br />

Um telegramma <strong>de</strong> Lisboa assignado<br />

pelo actor Amaro <strong>de</strong>u-nos, no ullimo<br />

sabbado, a seguinte noticia triste :<br />

«Morreu o actor Oliveira, do Chalet,<br />

com unia congestão cerebral.»<br />

No dia seguinte, <strong>de</strong> manhã, chegava<br />

este outro <strong>de</strong>spacho telegraphico :<br />

«Parto breve para o Porto. Estou <strong>de</strong><br />

boa sau<strong>de</strong>. — Oliveira.»<br />

Como se vê, o primeiro telegramma<br />

era falso Um gracejador <strong>de</strong> mau gosto<br />

divertira-se a alarmar quantos estimam<br />

Oliveira, o actor querido do Chalet do<br />

Porto (<br />

Nós folgamos com o caso, porque<br />

diz o rifão que: «homem dado por<br />

morto vive cem annos!»<br />

— E eu que os conte!<br />

22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 93.<br />

•<br />

De volta<br />

Fra-Diavolo.<br />

Já saiu <strong>de</strong> Italia a sr. a D. Maria Pia,<br />

que se dirige a estes reinos a fim <strong>de</strong><br />

continuar a sua honrosa missão.<br />

E lá se foram do thesouro o melhor<br />

<strong>de</strong> 50 contos <strong>de</strong> réis nesta viagem.<br />

O que nos valerá são os sentimentos<br />

caridosos d'este anjo que nos tem arruinado<br />

e as medidas <strong>de</strong> fazenda do sr.<br />

Fuschini.<br />

Sport velocipedico<br />

O Club veló


ANNO I -W.* 8® O DEFENSOR DO POVO «5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

Divi<strong>de</strong>m-se aos grupos, os romeiros;<br />

em lodos raparigas bonitas, <strong>de</strong> boa voz,<br />

entoando, até sem o acompanhamento da<br />

viola dolente du da guitarra doidivanas,<br />

as nossas canções populares.<br />

Uns cantam, em passo ca<strong>de</strong>nciado, a<br />

—Noite serena; outros seguem-se com a<br />

Joven sereia; ainda outros com — Móro<br />

á beira da estrada; e <strong>de</strong>pois vem —O'<br />

preta, ó preta, o Cana real das canas,<br />

o Tirolé, olé, olé, em passo dobrado,<br />

o Vamos seguindo; Nós somos as morenitas;<br />

uma mayonaise exlraordmaria <strong>de</strong><br />

cantigas, que bem exprime a alegria e a<br />

expansão d'aquellas almas, quentes <strong>de</strong><br />

enthusiasmo... Abençoado néctar, que<br />

mesmo na zurrapa divinisas o teu gran<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r!<br />

E todos berram, saltam e riem.<br />

A mocida<strong>de</strong> e a velhice expan<strong>de</strong>m-se<br />

em santa communida<strong>de</strong>, casando-se bem<br />

nesta gran<strong>de</strong> pan<strong>de</strong>ga em que se esquece<br />

tudo, sem se pensar no dia d'ámanhã !<br />

Pacatos chefes <strong>de</strong> familia lá vão <strong>de</strong><br />

filho ao collo, também na estúrdia, a<br />

cantarolar; e os namorados em duetto<br />

amoroso e alracão constante pela estrada<br />

fóra, vão entoando, em córos <strong>de</strong>safinados,<br />

o que ha <strong>de</strong> mais poético e sentimental<br />

nas nossas canções populares. Um<br />

charivari medonho, interrompido, ás vezes,<br />

por' uns prenúncios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m,<br />

<strong>de</strong> brigões com grão na aza.<br />

E assim se vence a jornada, chegando-se<br />

a casa na convicção <strong>de</strong> que se gozou<br />

á bruta, <strong>de</strong> pigarro na garganta e seccuras<br />

<strong>de</strong> bocca, dando-se tratos á imaginação<br />

a fim <strong>de</strong> resolver este importante<br />

problema: voltar á festa no dia seguinte.<br />

E resolve-se e encontra-se o — X.<br />

— nas casas <strong>de</strong> penhores que nesta semana<br />

fazem sempre grosso negocio.<br />

Attendite et vi<strong>de</strong>te S<br />

Um jornal da cida<strong>de</strong> reclama contra<br />

a noticia que aqui dêmos d'uma muito<br />

amigável expropriação para alargamento<br />

da rua dos Cominhos.<br />

Eial A Correspondência contrapômos<br />

o Imparcial, ambos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Veja-se o u.° 1:422: resumo da sessão<br />

camararia, <strong>de</strong> 4 do corrente:<br />

«..'. tomando conhecimento da planta<br />

do terreno... da qual consta medir o<br />

terreno a adquirir por parte do município,<br />

22 mS ,20 a 3$000 réis o metro quadrado<br />

importando as alvenarias com muros<br />

e pare<strong>de</strong>s da casa, vigamentos e soalhos,<br />

<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> 3 pavimentos, ma<strong>de</strong>iramentos,<br />

tectos, telhados e tabiques e o arco<br />

da rua a <strong>de</strong>molir em 334$600 réis.<br />

«...E resolveu mais dar ao requerente<br />

como in<strong>de</strong>mnisação a quantia <strong>de</strong><br />

250$000 que foi neste acto <strong>de</strong>clarado<br />

pela presidência era acceite pelo proprietário.»<br />

A fonte não tem nada <strong>de</strong> suspeita,<br />

como vêem.<br />

. Que lucrou o município? 22,20 metros<br />

<strong>de</strong> terreno.<br />

Qual a quantia que dispen<strong>de</strong>u<br />

334$600X250/000=584$600 réis.<br />

Logo: cada melro a mais <strong>de</strong> 26<br />

mil r-óis I<br />

38 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1VATIIMO<br />

XI<br />

Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />

—Creia-me, minha senhora, disse<br />

Paulo num supremo esforço, não fiz nada<br />

para surprehen<strong>de</strong>r este horrível mysterio...<br />

Foi o acaso.<br />

— Mas que mysterio? interrompeu<br />

Memma; que acaso? Explique-se...<br />

Em nome do ceu, fatie... Se foi<br />

um sonho febril, conte-me o seu sonho...<br />

— Oh! não foi um sonho, é uma<br />

terrível realida<strong>de</strong>. Os meus olhos viram<br />

o que não <strong>de</strong>viam ter visto, mas viram.<br />

-i->Falle, falle, em nome da Virgem<br />

santa. ..<br />

— Pois então, minha senhora, juro-<br />

Ihe, antes <strong>de</strong> tudo, que este segredo<br />

ficará sepultado no fundo da minha alma,<br />

e que nunca me servirei d'elle com vingança<br />

Vi o con<strong>de</strong> Talormi, escalando<br />

furtivamente, <strong>de</strong> noite, os muros<br />

do seu jardim.<br />

Memma recuou dois passos, e o seu<br />

rosto subitamente transtornado, tomou<br />

uma d'estas expressões que não recordam<br />

nenhum sentimento conhecido. Quiz fal-<br />

11 111 -<br />

Assim é que se fazem contas. O<br />

resto faz lembrar a esperteza do estalaja<strong>de</strong>iro<br />

que annunciava jantares <strong>de</strong> graça<br />

com almoços a tres mil réis!<br />

Não havia in<strong>de</strong>mnisações, porque a<br />

casa está em reconslrucçáo.<br />

Se o proprietário alterava a fachada,<br />

a camara intervinha, obrigava a recuar<br />

e pagava o terreno expropriado. Se<br />

o proprietário não estivesse d'accordo, a<br />

não ser coisa mais grave, a camara recusava<br />

a auctorisação e ficava tudo como<br />

d'antes.<br />

Assim é que é; e assim muitas vezes<br />

se tem feito.<br />

E até com applauso da Correspondência<br />

I...<br />

Mas, se ha erro ou ambiguida<strong>de</strong> na<br />

nota publicada, a culpa não é nossa.<br />

Beneficio do Lucas<br />

Está <strong>de</strong>finitivamente marcado para<br />

sahbado, 27, a festa <strong>de</strong> Francisco Lucas,<br />

o íntelligenle emprezario do theatro<br />

<strong>de</strong> D. Luiz.<br />

O programma d'esta recita soffreu<br />

alteração. Represenlar-se-ha a comedia<br />

em tres actos—Os médicos; José Ricardo<br />

<strong>de</strong>sempenhará o monologo — A minha<br />

familia; Taveira dirá outro monologo —<br />

o Mundo livre, — concluindo pela representação<br />

da zarzuella em um acto —<br />

Simão, Simões Sf Companhia.<br />

O beneficiado toma parte na comedia<br />

e zarzuella.<br />

Devemos aqui registar com louvor a<br />

<strong>de</strong>cisão dos accionistas do theatrocirco<br />

que bizarramente dispensaram o cumprimento<br />

do contracto que obrigava Francisco<br />

Lucas ao pagamento do aluguer da<br />

casa, pela falta que houve da vinda da<br />

companhia, no dia marcado.<br />

Hygiene publica<br />

Torna se <strong>de</strong> inadiavel necessida<strong>de</strong><br />

cuidar a serio da hygiene e saú<strong>de</strong> publica,<br />

principalmente neste momento em<br />

que a epi<strong>de</strong>mia do cholera reapparece<br />

na Europa, ,ao approximar-se a estação<br />

do calor.<br />

De todos é conhecido o estado <strong>de</strong><br />

immundicie em que se encontra a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> a cada canto existe<br />

um fóco <strong>de</strong> infecção; e preciso se torna<br />

que os sub-<strong>de</strong>legados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as auctorida<strong>de</strong>s<br />

e a camara tratem d'este assumpto<br />

com zelo e <strong>de</strong>dicação.<br />

Nós vemos em Lisboa, Porlo e mais<br />

terras, que teem os chamados sub-<strong>de</strong>legados<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, prestarem estes os seus<br />

bons serviços á população que lhes paga;<br />

em <strong>Coimbra</strong>, forçoso é confessar, estes<br />

funccionarios parece existirem somente<br />

como um objecto <strong>de</strong> luxo. Ninguém os vê,<br />

a ninguém consta o que <strong>de</strong>cidiram, o que<br />

<strong>de</strong>liberaram a proposito, por exemplo,<br />

dos meios a empregar para resistir á invasão<br />

do cholera, caso sejamos assaltados.<br />

Nunca se fizeram visitas domiciliarias,<br />

nunca se or<strong>de</strong>nou a extincção e re-<br />

moção das montureiras que se consentem<br />

e toleram <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong> I<br />

A camara só pensa em altas ques-<br />

lar, mas não pou<strong>de</strong>. No accesso d'uma<br />

tal emoção, a innocencia po<strong>de</strong> parecer<br />

crime, e a vista mais subtil nada consegue<br />

distinguir.<br />

— Minha senhora, acrescentou Paulo<br />

com a voz tremula, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eu ter tido<br />

a culpável franqueza <strong>de</strong> lhe dizer <strong>de</strong><br />

frente a frente esta verda<strong>de</strong> acabrunhau<br />

te, o meu <strong>de</strong>ver é retirar-me immediatamente<br />

e nunca mais tornar a vel-a:<br />

Paulo <strong>de</strong>u alguns passos para a<br />

porta do jardim.<br />

Memma precipitou-se sobre elle côm<br />

uma fúria italiana e, retendo-o pelo<br />

braço, disse-lhe:<br />

—Não se vá embora! Está enganado<br />

sohre o motivo da minha commoção-<br />

Acredito o que me diz, porque o conheço.<br />

Vio entrar no meu jardim o con<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Talormi: entrou. Esse liomein é capaz<br />

<strong>de</strong> fazer tudo menos o bem. Meu Deus!<br />

Não estou aqui segura, <strong>de</strong>pois da partida<br />

do meu irmão; preciso <strong>de</strong> me retirar<br />

e <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r a todas as vistas o logar<br />

para on<strong>de</strong> vou.<br />

A expressão <strong>de</strong> Memma era a da<br />

verda<strong>de</strong>. Não se justificava <strong>de</strong> um crime<br />

impossível, exprimia com as cores mais<br />

sinceras o terror retrospectivo que d'ella<br />

se tinha apo<strong>de</strong>rado por causa da revelação<br />

<strong>de</strong> um espantoso perigo.<br />

Gréant percebeu tudo: e a vida<br />

tornou a animar o seu corpo.<br />

— Sim, Memma, disse elle com uma<br />

voz <strong>de</strong> resuscitado, não duvi<strong>de</strong>i um<br />

momento <strong>de</strong> si: lambem conheço Talor-<br />

tões <strong>de</strong> favoritismo, e a limpeza da cida<strong>de</strong><br />

continúa em completo <strong>de</strong>sleixo. Se<br />

ella consente a creação <strong>de</strong> gado suino<br />

junto das habitações!<br />

Os saguões, espalhados por muitos<br />

pontos da cida<strong>de</strong>, como lhes falte a <strong>de</strong>vida<br />

fiscalisação, não são limpos com a<br />

regularida<strong>de</strong> indispensável para a boa<br />

hygiene, e d'frrjui resulta a aocumulação<br />

dos <strong>de</strong>jectos, que exhalam cheiros pestilenciaes.<br />

A nossa eamaia ignora tudo! Se<br />

ella <strong>de</strong>sconhece que ua quinta do sr.<br />

Luiz Antunes, alguns moradores da rua<br />

d'Alegria fazem alli <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> toda a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> immundicie!<br />

E note-se que fronteiro a esse fóco<br />

<strong>de</strong> infecção, d'on<strong>de</strong> sae um cheiro pestilento,<br />

está a casa das machinas da camara,<br />

e quasi julgamos impossível que<br />

as narinas dos nossos edis não tenham<br />

sido accommettidas pelo fétido d'8quellas<br />

<strong>de</strong>jecções que se conservam a <strong>de</strong>scoberto,<br />

a fermentar ao sol dias e dias. Em occasiões<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> calor na Estrada da Beira,<br />

um passeio concorridissimo, é impossível<br />

passar-se nas imn.ediações do porto dos<br />

Bentos.<br />

Em Santa Clara, na estrada que conduz<br />

a S. Martinho, succe<strong>de</strong> a mesma<br />

cousa; ha tempos que os habitantes<br />

d'aquelle bairro representaram ao sr.<br />

governador civil pedindo a extincção do<br />

pantano que alli existe ; mas é certo que<br />

nada conseguiram e esse fóco <strong>de</strong> infecção<br />

lá está a attestar a incúria e a<br />

inércia das nossas auctorida<strong>de</strong>s.<br />

E' preciso que a imprensa local levante<br />

uma campanha contra este estado<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sleixo era que vemos as corporações<br />

que a seu cargo teem a conservação<br />

da hygiene publica, por isso que este<br />

assumpto é da maxima importancia,<br />

e d'esta incúria pó<strong>de</strong>in resultar graves<br />

prejuízos para uma população que se<br />

vê completamente <strong>de</strong>sprezada em medidas<br />

sanitarias.<br />

Rainlia Santa<br />

Esle anno não haverá procissão, fazendo-se<br />

comtudo uma pomposa festivida<strong>de</strong><br />

na egreja do convento <strong>de</strong> Santa<br />

Clara.<br />

Consla-nos que a mesa d'esta irmanda<strong>de</strong><br />

tenciona impetrar do sr. bispocon<strong>de</strong><br />

a <strong>de</strong>vida auctorisação para estar<br />

exposto ao publico o tumulo que guarda<br />

o corpo da santa rainha.<br />

Incêndio<br />

Na madrugada <strong>de</strong> terça feira houve<br />

incêndio numas casas <strong>de</strong> que é proprietário<br />

o sr. Antonio <strong>de</strong> Sousa Fonseca,<br />

oleiro, no sitio da Corrente, proximo da<br />

Ribeira <strong>de</strong> Cozelhas.<br />

Os prejuízos foram lotaes, e quando<br />

chegou o material da camara já o fogo<br />

havia <strong>de</strong>struído tudo, fazendo-se só o<br />

serviço <strong>de</strong> rescaldo.<br />

O prédio, mobília e bem assim os artigos<br />

que faziam parle d'um estabelecimento<br />

<strong>de</strong> vinhos, estavam seguros nas<br />

companhias Urbana e Portugal, no valor<br />

<strong>de</strong> 4:000/000 réis.<br />

mi e talvez um dia eu lhe revele coisas<br />

formidáveis, que as estrellas tem illuminado<br />

e que só foram vistas pelos meus<br />

olhos. E' verda<strong>de</strong>:—cercam-a gran<strong>de</strong>s<br />

perigos e orgulho-me por julgar, que<br />

haverá na minha coragem a protecção<br />

que Memma procura.<br />

•—Não, não, disse Memma com ternura,<br />

a sua coraxem já foi submetlida a<br />

muitas provas. Não quero que se expunha<br />

mais por minha causa. Ir-me-ei<br />

embora.<br />

— E eu, Memma, fico e vigio; é o<br />

meu <strong>de</strong>ver. Memma, tenha fé na minha<br />

palavra.<br />

Julga conhecer Talormi, mas não o<br />

conhece. Este jardim, esta relva, estas<br />

arvores, este nympheu estão talvez cheios<br />

<strong>de</strong> armadilhas horríveis preparadas para<br />

as primeiras horas da noite. Às pare<strong>de</strong>s<br />

do seu quarto não protegem o seu somno.<br />

Ha no ar, que respiramos aqui, um <strong>de</strong>monio<br />

que a segue com os olhos, cujo<br />

sopro infernal queima a sua pelle e cujos<br />

lábios <strong>de</strong> fogo não esperam senão uma<br />

noite apropriada, para a ultrajar com as<br />

suas caricias 1<br />

Memma, se o archanjo do ceu não vier<br />

aniquilar esse <strong>de</strong>monio, estarei junto <strong>de</strong><br />

si, tranquillo, como a prudência; rápido,<br />

como a espada, vigilante, como o amor.<br />

— Bem, disse Memma, que entrava<br />

lambem a ser dominada pelo seu primeiro<br />

amor, acceito a sua protecção por<br />

algumas horas pois que a minha partida<br />

não po<strong>de</strong> ser tão rapida como eu <strong>de</strong>se-<br />

Juro das interipfSei<br />

Na agencia do Banco <strong>de</strong> Portugal,<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, serão pagos os juros das inscripções<br />

relativos ao semestre que corre,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 2 a 28 <strong>de</strong> junho.<br />

Or<strong>de</strong>m Terceira<br />

Na eleição a que se proce<strong>de</strong>u para<br />

o novo <strong>de</strong>íiniíorio d'eslu corporação, saliiram<br />

eleitos os seguintes senhores:<br />

Commissario — Padre Adriano dos<br />

Santos Pinto. (<br />

Ministro — Conego Gaspar Alves<br />

Frias <strong>de</strong> Eça Ribeiro.<br />

Vice-ministro — Padre Ignacio <strong>de</strong><br />

Carvalho Freitas.<br />

Mestre <strong>de</strong> noviços — Padre Antonio<br />

Augusto Coelho.<br />

Secretario — Manoel Miranda.<br />

Procurador geral—Bacharel Antonio<br />

José da Silva Poiares.<br />

Syndico — Julio Machado Feliciano.<br />

1." Definidor—Padre Joaquim Antonio<br />

<strong>de</strong> Oliveira.<br />

2." Dito — Antonio José Dantas Guimarães.<br />

3.° Dito — Antonio Correia <strong>de</strong> Carvalho<br />

Santos.<br />

4." Dito — Antonio Dias Themido.<br />

Vigário ecclesiastico — Padre Candido<br />

Antonio Leite.<br />

Vigário secular — Manoel Men<strong>de</strong>s<br />

da Eira.<br />

A Or<strong>de</strong>m Terceira está hoje uma corporação<br />

importante, dispensando aos seus<br />

confrados pobres todo o auxilio e protecção,<br />

e é <strong>de</strong> esperar que os novos<br />

eleitos cui<strong>de</strong>m com zelo e <strong>de</strong>dicação dos<br />

seus negocios, mantendo e conservando<br />

o hospital e o asylo, que tão relevantes<br />

serviços tem prestado.<br />

Ponte da Portella<br />

Brevemente vae ser posta em praça<br />

nesta cida<strong>de</strong> os rendimentos dos direitos<br />

d ; esla ponte, bem como outras que<br />

existem nos districtos d'Aveiro, Braga,<br />

Porto e Villa Real.<br />

A kcrmesie dos bombeiros<br />

Está marcada a inauguração d'esla<br />

festa, em beneficio do cofre dos Bombeiros<br />

Voluntários, para o dia 1.° <strong>de</strong> junho,<br />

<strong>de</strong>vendo prorogar-se até 4.<br />

Tudo promette ser bom: as <strong>de</strong>corações<br />

e a illuminação; o bazar e a exposição<br />

dos artefactos industriaes.<br />

Deve chamar muita concorrência esta<br />

festa, que tem um fim sympathico, humanitário,<br />

qual é o <strong>de</strong> coadjuvar uma<br />

nstituição que vem prestando aos habitantes<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> valiosos serviços.<br />

E só para isso trabalha a zelosa direcção<br />

que <strong>de</strong> certo ha <strong>de</strong> encontrar<br />

um publico que lhe pague tantos esforços<br />

e tantos sacrifícios.<br />

Pesos e medidas<br />

Finda no dia 31 do corrente o praso<br />

para o atilamento <strong>de</strong> pesos e medidas.<br />

Aqui <strong>de</strong>ixamos o aviso aos interesrados.<br />

java. Mas, em nome do ceu, seja pru<strong>de</strong>nte;<br />

nada <strong>de</strong> barulho, nada <strong>de</strong> escandalo.<br />

Lemhre-se da minha singular e<br />

triste posição. Que nada chegue ao conhecimento<br />

do mundo. Ah ! meu Deus!<br />

nem é permittido a uma mulher procurar<br />

a protecção das leis; pois que essa<br />

protecção legitima seria um escandalo.<br />

A jusliça legal <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-nos com uma<br />

das mãos e entrega-nos com a outra ás<br />

interpretações da calumnia. O nome <strong>de</strong><br />

uma mulher, <strong>de</strong>samparada como eu, não<br />

<strong>de</strong>ve nunca ser pronunciado, nem sequer<br />

com elogio, por que no dia seguinte é<br />

asperamente criticado. Não sei o que é<br />

preciso pedir á sua coragem; espero que a<br />

sua prudência seja o que é necessário fazer.<br />

Só peço dois ou trez dias <strong>de</strong> segurança.<br />

— Memma, ha <strong>de</strong> ficar satisfeita<br />

commigo, disse Paulo com voz socegada.<br />

—A<strong>de</strong>us, continuou Memma, o tempo<br />

é para mim precioso.<br />

Ainda o verei outra vez... e <strong>de</strong>pois.<br />

.. não nos veremos mais...<br />

Houve um momento <strong>de</strong> triste silencio;<br />

mas duas mãos, ternamente apertadas,<br />

pareciam <strong>de</strong>smentir estas ultimas<br />

palavras, que, comtudo, eram bem sinceras,<br />

quando Memma as pronunciou.<br />

— Memma, disse Gréant, ignoro o<br />

que o <strong>de</strong>stino -me reserva nos graves<br />

<strong>de</strong>veres, que tenho a cumprir; mas pronietta-me<br />

<strong>de</strong> vir em meu auxilio, se tiver<br />

um conselho a pedir-lhe.<br />

— Sim, sim e a<strong>de</strong>us! Prepare-se<br />

para me esquecer.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Conchada enterrarani-se,<br />

na semana ultin a, os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Arnaldo, filho <strong>de</strong> Antonio Gomes e<br />

Maria José <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 5 annos.<br />

Falleceu <strong>de</strong> bronchite aguda, no dia 15.<br />

Leonidas Lobo. filho <strong>de</strong> Fructuoso<br />

Lobo e Maria José da Encarnação, <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 35 annos. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose,<br />

no dia 15,<br />

Maria Clara, filha <strong>de</strong> João Menezes<br />

e Sara Ermelinda Leite Ribeiro, <strong>de</strong><br />

Cellas, <strong>de</strong> 2 annos. Falleceu <strong>de</strong> angina<br />

dyphterica, no dia 16.<br />

Mo<strong>de</strong>sta, filha <strong>de</strong> Manoel Antonio<br />

Simões e Maria da Pieda<strong>de</strong>, da Estrada<br />

da Beira, <strong>de</strong> 4 annos. Falleceu <strong>de</strong> sarampo<br />

(pneumonia), no dia 16.<br />

Francisco, filho <strong>de</strong> Alfredo Amado Ferreira<br />

e Maria da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

<strong>de</strong> 9 mezes. Falleceu <strong>de</strong> meningite, no<br />

dia 16.<br />

Libania Rita <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> pae<br />

incognito e Thereza Rita <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 72 annos. Falleceu <strong>de</strong> cachexia<br />

senil, no dia 20.<br />

José Affonso. filho <strong>de</strong> José Affonso e<br />

Maria Pastora, da Lamarosa, <strong>de</strong> 80 annos.<br />

Falleceu <strong>de</strong> cachexia senil, no dia 20.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemiterio —16:888.<br />

A GRANEL<br />

Em dilíerentes freguezias do concelho<br />

<strong>de</strong> Lamego, estão sem que fazer,<br />

cerca <strong>de</strong> 2:000 trabalhadores.<br />

* * # Já se <strong>de</strong>scobriu o auctor do<br />

roubo <strong>de</strong> cartas contendo a importante<br />

quantia <strong>de</strong> 209$000 réis, em notas, e<br />

uma letra commercial no valor <strong>de</strong> réis<br />

600$000, lançadas no correio <strong>de</strong> Oliveira<br />

<strong>de</strong> Azemeis.<br />

O criminoso, que já confessou o crime,<br />

é um filho do arrematante da conducção<br />

das males entre aquella villa e Ovar.<br />

* * # Consta que se aggravaram os<br />

pa<strong>de</strong>cimento do sr. Pinheiro Chagas.<br />

* * * No ministério das obras publicas<br />

foi entregue pelo sr. Julio Despêcher,<br />

engenheiro, a proposta para o lançamento<br />

do cabo entre Lisboa e Açores.<br />

* * # E' superior a 30:000 o numero<br />

<strong>de</strong> pés <strong>de</strong> arvores que, por occasião<br />

dos últimos tumultos havidos em Manteigas,<br />

os pastores amotinados <strong>de</strong>rrubaram<br />

e arrancaram.<br />

Estúpidos até alli!<br />

* * * Vae ser inaugurado na Phila<strong>de</strong>lphia<br />

um hospital para cães, que será<br />

dirigido pelos principaes veterinários do<br />

paiz<br />

Memma retirou-se fugindo, como se<br />

estivesse em presença d'um supremo perigo;<br />

Paulo vio a <strong>de</strong>saparecer nas sombrias<br />

arcadas do jardim e, quando o seu vestido<br />

branco <strong>de</strong> todo <strong>de</strong>sapareceu, subiu<br />

lentamente o jardim e sahiu com a frente<br />

curvada <strong>de</strong>baixo do peso do sonho divino,<br />

que acabava <strong>de</strong> passar pelos seus<br />

olhos.<br />

Emquanto o sol esteve no horisonte,<br />

Paulo não experimentou nenhuma inquietação<br />

; mas, quando a noite cahiu, lembrou-se<br />

do audacioso Talormi, da ponte<br />

do mirante, e partiu, como uma senliuella,<br />

que recebeu a sua senha, para se<br />

ir collocar no sitio da vigilancia e do<br />

perigo.<br />

Com a mão no cabo do seu excellente<br />

punhal, prompto para a <strong>de</strong>fesa e<br />

não para a aggressão, esperou longas<br />

horas e quando já não esperava ver, viu.<br />

Era Talormi, que subia a la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>serta<br />

: os olhos do amor e do odio não<br />

se podiam enganar. O seu vulto soberbo,<br />

o seu gracioso andar <strong>de</strong> tigre civilisado,<br />

o seu passo firme nas trevas, tudo o<br />

annunciava ao longe:—era elle.<br />

Paulo Gréant fez brilhar o seu punhal<br />

á luz das estrellas e <strong>de</strong>leve-o, di*<br />

zeudo-lhe:<br />

— Se dá um passo mais para a<br />

frente ou para fugir, mato-o I<br />

I mpresso<br />

na Typographla<br />

Operaria — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros, —<br />

COIMBRA,


A M O I — Hf.* 8 » O BO PflVO 3 5


De Profundis!<br />

Vem ha mezes revolvendo-se<br />

por uma prolongada espectativa comatosa<br />

a chamada opinião publica<br />

nacional.<br />

Tal espectativa, porém, não<br />

obe<strong>de</strong>ce a um systema calculado<br />

<strong>de</strong> comprehensão nem a uma arteirice<br />

sabia <strong>de</strong> genle consciente. Esta<br />

lassidão, que é uma enfermida<strong>de</strong><br />

commum, <strong>de</strong>finiu ha muito, nas or<strong>de</strong>ns<br />

intellectual e moral, esta geração<br />

sem protesto, quebrantada <strong>de</strong><br />

todos os arrojos <strong>de</strong> civismo que<br />

atavicamenle lhe cabiam, <strong>de</strong>liquescida<br />

em convencionalismos contraproducentes<br />

que <strong>de</strong>shonestam por<br />

immoraes.<br />

Ha tres annos que a politica<br />

monarchica vem sendo, ostensivamente,<br />

a exhibição farta d'um gran<strong>de</strong><br />

sudário <strong>de</strong> poucas vergonhas,<br />

quo alemorisam e <strong>de</strong>salentam os<br />

que <strong>de</strong> animo quente e consciência<br />

branca veem ingenuamente baloiçar-se<br />

pelos agares da Politica, offerecendo<br />

a sua quota-parte <strong>de</strong> trabalho<br />

na remo<strong>de</strong>lação da vida nacional.<br />

Dia a dia, pela concatentação<br />

dos factos, tem-se concluído qua a<br />

vida <strong>de</strong>vorista e d espantada da monarchia<br />

é que nos trouxe aos confins<br />

d'uma ruina insuperável, ciara,<br />

próxima, <strong>de</strong> que ninguém po<strong>de</strong><br />

duvidar ainda mesmo que não seja<br />

uma «broca <strong>de</strong> observação» como<br />

pon<strong>de</strong>ra o personagem <strong>de</strong> certo romance.<br />

Cremos mesmo, para não pormos<br />

em duvida o equilíbrio mental<br />

<strong>de</strong> ninguém, que lodos estão formalmente<br />

certos <strong>de</strong> que não ha fugir<br />

d'um solavanco enorme que po<strong>de</strong>rá<br />

dizer do nosso <strong>de</strong>stino geographico<br />

e que dirá, por certo, do<br />

nosso <strong>de</strong>stino moral.<br />

Não ha mister <strong>de</strong>scer a minuciosida<strong>de</strong>s<br />

na vida contemporânea<br />

para colher <strong>de</strong> chofre a dolorosa<br />

impressão <strong>de</strong> que vegetamos sob a<br />

pressãod'um vulcão hiante. As mais<br />

mesquinhas parliluras do viver nacional,<br />

singelas no seu <strong>de</strong>sprendimento,<br />

eloquentes no seu rigor, asseveram<br />

ao mais novellesco optimismo<br />

que esta situação ru<strong>de</strong> e tormentosa<br />

em que Portugal se <strong>de</strong>sequilibra,<br />

agastado e senil, é falalissimamente<br />

uma agonia dolorosa,<br />

triste, coinuiovente, a que só serão<br />

frios os que inteiramente se <strong>de</strong>snudaram<br />

dos simples latejos do coração<br />

...<br />

Pasma, horrorisa, o sangue-frio<br />

com que a quasi loda-a-genle, assiste,<br />

impavida e risonha, ao <strong>de</strong>smantelamento<br />

torpe <strong>de</strong> tudo isto:<br />

— um relicário grandioso que os<br />

avoengos nos legaram na obrigação<br />

in<strong>de</strong>clinável <strong>de</strong> lhe altear as virtu<strong>de</strong>s,<br />

mas que nós, miserandamente,<br />

insistentemente, lemos esfarellado<br />

numa perliuacia cynica <strong>de</strong> vandalos,<br />

sem alma e sem fé !<br />

Ha mezes, sobreludo, que uma<br />

intermillencia prolongada aquietou<br />

numa mansão <strong>de</strong> calmaria a gente<br />

porlugueza. Depois d'um enca<strong>de</strong>amento<br />

<strong>de</strong> ministérios vários, saídos<br />

d'um torpe hermaphrodismo<br />

partidario, subiu mais outro, o<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

actual, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacavam alguns<br />

personagens que da sua esteira <strong>de</strong><br />

socialismos fallados, esten<strong>de</strong>ram<br />

nos braços <strong>de</strong> muitos uma tenue<br />

gaze <strong>de</strong> esperanças. Ensarilharamse<br />

quasi Iodas as armas.<br />

Esse ministério, todavia, tem<br />

sido sobrio em actos que o nobilitem<br />

na consi<strong>de</strong>ração popular. Quatro<br />

ou cinco <strong>de</strong>cretos cujos intuitos<br />

se vêem bons, no fundo, mas cujos<br />

effeitos, na pratica, se tornam ineptos<br />

<strong>de</strong>nlro d'esle regimen. Afora<br />

isto, mera vida <strong>de</strong> expedientes, <strong>de</strong><br />

poeiradas, sem rasgos firmes <strong>de</strong><br />

boa vonta<strong>de</strong>, sem revulsivos energicos<br />

que retezem a fibra d'esle<br />

qírasi-cadaver sobre que paira uma<br />

chusma negrejante <strong>de</strong> corvachada<br />

impu<strong>de</strong>nte, se bem que justa.<br />

Nada <strong>de</strong> pratico, <strong>de</strong> immediatamente<br />

efficaz. Tudo papeloso.<br />

Como que escon<strong>de</strong>ndo numa timi<strong>de</strong>z<br />

<strong>de</strong> ereanças a impotência palpavel<br />

dos seus~ <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

messias, atravessados no acume da<br />

gloriola pela tubagem <strong>de</strong>ificante do<br />

elogio fácil.<br />

E comtudo, vistos estes autos<br />

irrespondiveis, conclu<strong>de</strong>ntes, ferindo<br />

lume, a escaldar, a chamada<br />

opinião publica dorme, dorme flacidamente<br />

sonhando nas promessas<br />

do sr. Fuschini, sem reflectir que<br />

o melhor d'ellas está inédito, roçagado<br />

pelos escaninhos das suas gavetas,<br />

abandonado com um <strong>de</strong>samor<br />

espúrio!'<br />

Não obstante a chata esterilida<strong>de</strong><br />

ministerial, conserva-se geralmente<br />

a mesma espectativa fria<br />

como ao principio, olhando por um<br />

prisma <strong>de</strong> ingenuida<strong>de</strong> uns prometlimentos<br />

lisongeiros que os actuaes<br />

ministros tão galantemente souberam<br />

esfiambrar nos ânimos...<br />

Esta indifferença, esta passivida<strong>de</strong>,<br />

á face das mais contun<strong>de</strong>ntes<br />

dificulda<strong>de</strong>s, é um trislisssimo<br />

symptoma da nossa <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia physica<br />

e moral. Não se altinge, ao<br />

simples raciocínio vulgar, como é<br />

que assim se abandonam quatro<br />

milhões <strong>de</strong> almas num laisser aller<br />

repulsivo, eslerilisante, num cansaço<br />

doente <strong>de</strong> vencidos, escandalisador<br />

e dissoluto.<br />

O ventre! só este consegue do<br />

inslinclo da conseivação um cuidado<br />

affecluoso. Só o ventre, porque<br />

o ventre não transige com a modorra,<br />

obriga, pela activida<strong>de</strong> material,<br />

a alterar a linha <strong>de</strong> panriice<br />

effectiva. O resto, ao largo 1 Que<br />

nada conturbe a serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espirito<br />

d'estes ferneas que uma erratum<br />

histórica collocou na <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia<br />

d'uina raça gran<strong>de</strong> f<br />

Perseguição á imprensa<br />

E stb o governo liberal dos liberaes<br />

Fuschini e Bernardino Machado que se<br />

continua na perseguição á imprensa.<br />

Na Pesqueira acaba <strong>de</strong> ser con<strong>de</strong>mnado<br />

por supposto crime <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> imprensa, a 15 dias <strong>de</strong> prisão remíveis<br />

a 500 réis, o sr. Amândio Silva.<br />

Nós protestamos contra tudo isto que<br />

é attentatorio da liberda<strong>de</strong> e indigno <strong>de</strong><br />

homens que tem aftirmado tão brilhantemente<br />

os seus princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />

Ao con<strong>de</strong>mnado enviamos o testemunho<br />

da nossa solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Os collegios jesuíticos<br />

(CONTINUAÇÃO)<br />

O que torna mais odiosa a educação<br />

dos collegios jesuíticos, é o facto <strong>de</strong> ser<br />

sempre dirigida no intuito <strong>de</strong> bestialisar<br />

a creança, a ponto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar só bom<br />

o que o jesuíta ensina e mau tudo o<br />

que elle con<strong>de</strong>mna.<br />

D'aqui a obediencia cega a todas as<br />

suas inslrucções.<br />

Se ao jesuíta convém que o educando<br />

venha a augmentar o numero dos filiados<br />

na Or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>pressa o consegue :<br />

tem artifícios a Companhia que raras vezes<br />

falham.<br />

É esta seducção infame que, mais<br />

que tudo, <strong>de</strong>ve con<strong>de</strong>mnar-se e que, só<br />

ella, <strong>de</strong>via bastar para que os governos,<br />

que têm a verda<strong>de</strong>ira comprehensão do<br />

seu fim, prohibissem á Companhia o<br />

educar a mocida<strong>de</strong><br />

São vários os artifícios <strong>de</strong> que a<br />

Companhia dispõe nos collegios para angariar<br />

noviços. Um d'elles é a educação<br />

religiosa, como a comprehen<strong>de</strong> um bom<br />

pae <strong>de</strong> familia, como a or<strong>de</strong>na a Egreja,<br />

como a ensinam, emfim, todos os que<br />

não têm por fito exclusivo a fanatisação<br />

do individuo.<br />

E' uma educação sui-generis, entretendo<br />

continuamente o espirito da creança<br />

com praticas <strong>de</strong> beaterio, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

levantar até ao <strong>de</strong>itar da cama.<br />

Seria curioso ir acompanhando o alumno<br />

em todos os seus movimentos durante<br />

este período <strong>de</strong> tempo; levar-noshia,<br />

porém muito espaço do qual não po<strong>de</strong>mos<br />

dispor e por isso examinaremos<br />

só os laços principaes da armadilha jesuítica<br />

empregada sempre com toda a<br />

refinada malda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que são capazes os<br />

indivíduos encarregados do infame papel<br />

<strong>de</strong> attrahirem á or<strong>de</strong>m as ereanças que<br />

inconscientemente lhes foram entregues.<br />

Mas antes <strong>de</strong> tudo pe<strong>de</strong> a boa critica<br />

que se diga que nem em ambos os<br />

collegios <strong>de</strong> que faltámos se empregam<br />

com a mesma energia os meios <strong>de</strong> seducção,<br />

nem elles são dirigidos para com<br />

todos os seus alumnos ao mesmo fim.<br />

A educação que se ministra em S,<br />

Fiel, differe muito da que os mesmos<br />

educadores ministram eitf Campoli<strong>de</strong>.<br />

O jesuíta que, sabe aproveitar-se<br />

como ninguém das condições <strong>de</strong> vida nos<br />

diversos meios sociaes, não <strong>de</strong>sconhece<br />

que applicar os processos <strong>de</strong> S. Fiei ao<br />

collegio <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong>, situado num centro<br />

muito mais civihsado, em contacto<br />

com o mundo que ha <strong>de</strong> examinar o seu<br />

modo <strong>de</strong> conducla geral, seria a sua<br />

ruina immediata.<br />

for isso em Campoli<strong>de</strong> os jesuítas<br />

hmitam-se a fazer dos collegiaes, <strong>de</strong> ordinário<br />

filhos <strong>de</strong> genle rica e po<strong>de</strong>rosa,<br />

uns beatos mo<strong>de</strong>rnos, que frequentam<br />

os bailes e gozam <strong>de</strong> todos os prazeres<br />

mundanos, mas que <strong>de</strong>fendam a Companhia<br />

dos ataques que lhe são dirigidos,<br />

que, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluírem os<br />

seus cursos superiores, continuem frequentando<br />

as suas egrejas, as suas residências,<br />

contribuindo com a sua presença<br />

a allrahir outros que, com o seu<br />

exemplo,-vão cahindo nos laços dourados<br />

que o jesuitismo lhes arma.<br />

E' por isto e por outras não menos<br />

po<strong>de</strong>rosas influencias que hoje, quando<br />

qualquer acto extraordinário praticado<br />

nos collegios ou recolhimentos jesuíticos<br />

vem alarmar a opinião publica, se levanta<br />

essa turba <strong>de</strong> fanalicos da moda<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a innocencia <strong>de</strong> tão úteis instituições<br />

jesuíticas, dando o principal<br />

contingente para esse exercito <strong>de</strong>fensor<br />

as diseipulas e protectoras dos collegios<br />

jesuíticos. E a <strong>de</strong>feza produzida, em<br />

muitos casos, por gentilezas femininas<br />

raramente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> calar no animo dos<br />

julgadores.<br />

E' por isso que os jesuítas <strong>de</strong> todos<br />

os tempos têm <strong>de</strong>dicado o maior cuidado<br />

á fanatisação da mulher, pois que<br />

sabem perfeitamente o papel importantíssimo<br />

que ella <strong>de</strong>sempenha na familia<br />

e na socieda<strong>de</strong>.<br />

Era Campoli<strong>de</strong>, como dizia, raramente<br />

se seduzem os alumnos a entrar na<br />

V<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 H.° 90<br />

do Povo<br />

Or<strong>de</strong>m; só quando não têem a temer a<br />

influencia que a familia, contrariada,<br />

po<strong>de</strong>ria exercer contra os seductores, só<br />

quando as famílias são inteiramente affectas<br />

á Companhia e que mostram <strong>de</strong>sejos<br />

<strong>de</strong> ter a subida honra <strong>de</strong> contar um<br />

dos seus membros entre os filhos <strong>de</strong><br />

Loyola, é que os jesuítas dirigem os<br />

seus manejos no sentido <strong>de</strong> obrigar esses<br />

collegiaes a professar.<br />

Mas a acção do fanatismo <strong>de</strong> que<br />

vem possuídos os collegiaes <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong>,<br />

se <strong>de</strong>pois lhes não <strong>de</strong>sapparece com<br />

os estudos superiores, torna-se talvez<br />

mais perigosa do que a dos proprios<br />

membros da Or<strong>de</strong>m, porque estes têm<br />

uma certa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r os<br />

seus manejos, ao passo que aquelles,<br />

que não po<strong>de</strong>m facilmente ser perseguidos,<br />

fazem até certa gala em se mostrar<br />

<strong>de</strong>xtros <strong>de</strong>fensores do jesuitismo, protegendo<br />

lhe as suas casas, dando incremento<br />

a um sem numero <strong>de</strong> associações<br />

<strong>de</strong>votas que vão creando por esse paiz<br />

fóra, tornando-se, emlim, temíveis propugnadores<br />

das suas perigosas doutrinas.<br />

O meio em que se encontra o collegio<br />

<strong>de</strong> S. Fiel é outro, e, como veremos,<br />

a seducção alli exercida dirige-se<br />

a fins mais complexos e não menos con<strong>de</strong>mnaveis.<br />

cA. S.<br />

Contra as propostas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Reuniram os médicos <strong>de</strong> Lisboa para<br />

representar ao parlamento contra a proposta<br />

da contribuição industrial, na parte<br />

em que lhes eleva a taxa <strong>de</strong> 37/000<br />

para 90/000.<br />

* Os srs. Antonio Almeida da Costa<br />

& C. a , proprietários das fabricas <strong>de</strong> ceramica<br />

e fundição das Devezas, representam<br />

ao parlamento contra o aggravamento<br />

<strong>de</strong> contribuição que o sr. Fuschini<br />

preten<strong>de</strong> impôr-lhes.<br />

Estes industriaes pagam por cada<br />

operário que empregam na fabrica a<br />

contribuição <strong>de</strong> 1/120 réis. O sr. ministro<br />

da fazenda exíge-lhes por cada<br />

operário 1/600, isto é, mais 42 p. c.<br />

e,.além d isso, ainda mais 4/500 por<br />

cada cavallo <strong>de</strong> vapor I<br />

* Os algibebes do Porto resolveram,<br />

por unanimida<strong>de</strong>, representar ao parlamento<br />

pedindo-lhe que não approve as<br />

propostas do sr. Fuschini e, principalmente,<br />

que a cida<strong>de</strong> do Porto não passe<br />

a terra <strong>de</strong> l. a or<strong>de</strong>m para os effeitos<br />

fiscaes e que não seja elevada a taxa<br />

da contribuição industrial dos reclamantes,<br />

<strong>de</strong> 18#000 para 55#000, monstruosida<strong>de</strong><br />

esta que o sr. ministro da fazenda<br />

propõe.<br />

* Está convocada a assemblêa geral<br />

da Associação Industrial Portuense para<br />

apreciar as propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />

* Os ourives portuenses, reunidos<br />

na Associação Beneíica dos Ourives do<br />

Porto, resolveram protestar ante o parlamento<br />

contra a proposta que eleva a<br />

taxa da sua contribuição industrial <strong>de</strong><br />

32$UOO para 90$000.<br />

* As direcções das fabricas <strong>de</strong><br />

chapéus Social e Costa Braga, do Porto,<br />

vão também representar contra as propostas<br />

<strong>de</strong> fazenda.<br />

* Hoje realUa-se em Aveiro um<br />

comício para protestar contra a proposta<br />

da contribuição predial.<br />

Grève dos corliceiros<br />

Estão em grève os corliceiros da fabrica<br />

Villarinho & Caiado, <strong>de</strong> Faro, pedindo<br />

que os salarios lhes sejam equiparados<br />

aos das outras fabricas.<br />

Os grévislas são em numero <strong>de</strong> 64<br />

das profissões <strong>de</strong> rolheiros, manuaes e<br />

mechanicos, recortadores, rabanadores,<br />

quadradores, escolhedores, raspadores e<br />

outros.<br />

Todos os grevistas estão resolvidos<br />

a nada ce<strong>de</strong>r das suas pretensões, e<br />

pe<strong>de</strong>m o auxilio dos operários.<br />

REVISTA LITTERARIA<br />

Á Gandaia, impressões e esbocelos<br />

d'um vadio, por Fernão Vaz — <strong>Coimbra</strong>,<br />

1893, Typographia Operaria.<br />

Assim se chama um livro que nos<br />

caiu sobre a meza <strong>de</strong> trabalho, tendo<br />

98 paginas, papel pardacento e critica<br />

feroz. Fernão Yaz, que julgamos ser um<br />

pseudonymo, é o critico, que sem contemplações<br />

nem reticencias, se julga no<br />

direito <strong>de</strong> cortar por on<strong>de</strong> muito bem<br />

lhe apraz. Neste proposito, corta. A sua<br />

critica é quasi sempre <strong>de</strong>sabrida, o que<br />

lhe prejudica algum tanto o intuito, que<br />

é por vezes apreciavel.<br />

A sua prosa resenle-se suggeslivamente<br />

da <strong>de</strong> Fialho d'Almeida que por<br />

certo Fernão Vaz lê e lê muito.<br />

Ha uns tudo nadas <strong>de</strong>stoantes que<br />

também notaremos: a somenos importância<br />

<strong>de</strong> assumptos tratados: coisas<br />

transitórias, vagas, que dão ao livro a<br />

mera qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pamphleto <strong>de</strong> occasião.<br />

Ao contrario da nova seita litteraria,<br />

qualificada <strong>de</strong> Novos, que se exhihem<br />

numa concentração <strong>de</strong> ascetas, aneurastesicos,<br />

languidos, o sr. Fernão Yaz<br />

surge com todas as fúrias d'um viril, retezado<br />

para o combate, <strong>de</strong> lesta erguida<br />

e olhar esperto, uns leves arrobos richepinistas,<br />

fluctuando...<br />

E' esta uma disposição boa porque<br />

o que a lilteratura precisa, como todas<br />

as nossas manifestações vitaes, é d'animos<br />

inquebraveis que virilisera os seus<br />

pensamentos, dando-lhes vigor na fórma.<br />

De resto, não nos furtaremos a dizer<br />

que a estreia do sr. Fernão Vaz,<br />

tem <strong>de</strong>feitos e muitos, ao lado <strong>de</strong> boas<br />

qualida<strong>de</strong>s. O feitio <strong>de</strong> levar á facada<br />

tudo e todos, aggredindo e insultando<br />

pessoas sem o menor rebuço, encaixando<br />

palavrões <strong>de</strong>safinados, é péssimo; temos<br />

porém a quasi certeza <strong>de</strong> que esse processo<br />

se não systematisará porque cedo<br />

o sr. Fernão Vaz reflectirá que não é<br />

aquelle o caminho que leva ao Conceito<br />

Puro...<br />

A factura <strong>de</strong> Fialho é só: eile tem<br />

a inimilahilida<strong>de</strong> do savoir dire. Rasga,<br />

corta, fura, fere, <strong>de</strong>sfaz, arrasta pela<br />

lama, mas por uma fórma tal, risonho e<br />

severo, que a gente, espíritos dispostos<br />

ao <strong>de</strong>ilar-ahaixo, achamos <strong>de</strong> primeira<br />

or<strong>de</strong>m. E vem a pèllo referir o<br />

ultimo numero dos Gatos, dóse referente<br />

ao Parfum.<br />

Ora o sr. Fernão Vaz, querendo roçar<br />

a obra <strong>de</strong> Fialho, na sua intuição<br />

gcal, per<strong>de</strong>u-se em exaggeros que <strong>de</strong>slustram.<br />

Reconhecendo-lhe habilida<strong>de</strong> e talento,<br />

nós confiamos que Fernão Vaz,<br />

irá recompondo as suas catilinarias, suavísando-lhe<br />

a fórma sem que comtudo<br />

lhe tire o feitio energico e cauterisante.<br />

A contribuição industrial<br />

Para que o leitor possa avaliar bem<br />

o que são as propostas <strong>de</strong> fazenda do<br />

sr. Fuschini, e o que esle ministro do<br />

estado exige do contribuinte, publicámos<br />

a seguinte tabella que é bem elucidativa.<br />

Terias <strong>de</strong> /. a or<strong>de</strong>m Terras <strong>de</strong> 3. 8 iriem<br />

Cias. Taxa actual p r^ t a<br />

1." 3001000 600,0000<br />

2 * 1201000 2001000<br />

3.' 1 901000 1201000<br />

4. a<br />

5."<br />

6.*<br />

7."<br />

8.«<br />

600000 900000<br />

37^000 550000<br />

220OJO 280000<br />

110000<br />

110000<br />

30000<br />

Taxa actual<br />

1500000<br />

600000<br />

520000<br />

370000<br />

220000<br />

130JOO<br />

50000<br />

10200<br />

Taxa<br />

proposta<br />

3000000<br />

1100000<br />

700000<br />

500000<br />

300000<br />

170000<br />

50000<br />

10600<br />

Depois d'isto digam-nos se o povo<br />

pô<strong>de</strong> supportar um augmento d'esta or<strong>de</strong>m<br />

! Como se vê as alterações são<br />

exorbitantes e nem escapou á ambição<br />

do sr. Fuschini a classe 8. a on<strong>de</strong> estão<br />

incluídos os misteres mais mo<strong>de</strong>stos, a<br />

qual solíreu uma elevação importante.<br />

E' impossível que o paiz não reaja<br />

contra semelhante impudência e não<br />

exija do parlamento a reprovação completa<br />

<strong>de</strong> taes medidas.<br />

Abaixo o augmento dos impostos 1


ANNO I — N. 9 90<br />

CEYSTAES<br />

Carta do Outomno<br />

Escreves-me, Maria,<br />

Na folha <strong>de</strong> uma olaya; -<br />

E a carta recebi-a<br />

Já quando a flôr <strong>de</strong>smaia.<br />

É sempre assim! por mais<br />

Que eu chore esse abandono;<br />

—Noticias <strong>de</strong> teus ais<br />

Recebo-as só no outomno.<br />

Mas... e teu nome, espera!<br />

É quanto nella existe...<br />

— Que triste primavera!<br />

Ai, como o outomno ó triste!<br />

Saco<strong>de</strong> o vento a folha,<br />

Arrasta-a pelo azul,<br />

E o sol... esse já olha<br />

Um pouco lá do sul.<br />

O prado ver<strong>de</strong>jante<br />

De relvas e boninas<br />

O cedro mais gigante<br />

D'além, entre collinas;<br />

Aquella arvore immensa<br />

De velha—o roble, enfermo,<br />

Tudo isso dorme e pensa<br />

Neste sombrio ermo.<br />

Outr'ora... (ai! mais não quero<br />

Dizer-te com franqueza,<br />

Pois este <strong>de</strong>sespero<br />

Inflige-me tristeza!)<br />

Das coisas mais formosas<br />

Fallavas-me, e do ceu...<br />

— Mas hoje, só ha rosas<br />

Que o vento emmurcheceu.<br />

Embora 1 só teu nome<br />

Escreve ao menos sim!<br />

Na dôr que me consome<br />

Virá o ailivio; e assim<br />

Direi que tu me escreves<br />

As tuas cartas breves,<br />

Do céu... por malapostas<br />

Que a brisa traz ás costas.<br />

LETTRA.S<br />

Ura susto<br />

HUGO DINIZ.<br />

Estava a fazer-se noite. Já por <strong>de</strong>traz<br />

das carvalhas se erguia um piarão avermelhado<br />

como o d'um pavoroso incêndio:<br />

a lua cheia. »<br />

Não sei que é, mas nos montados, a<br />

esta hora, lia um surdo rumor por sob<br />

as hervas, entre os silvedos, nas arvores<br />

como se um mundo <strong>de</strong> espíritos se estivesse<br />

<strong>de</strong>spertando para viver emquanto<br />

nós dormimos, Ora esle latejar <strong>de</strong> vida<br />

nocturna se assusta espíritos fortes que<br />

fará o d'esta pequena, que guarda uma<br />

cabra preta e outra branca, e terá cinco<br />

annos, se tiver. Vem, portanto, apressadamente<br />

<strong>de</strong>scendo o monte e fazendo seguir<br />

na sua frente os dois animaes que<br />

param aqui, sobem alli, fogem para acolá,<br />

atraz d'um rebento <strong>de</strong> silvados ou d'uma<br />

pernada <strong>de</strong> hei va fresca. Eu não sei <strong>de</strong><br />

animaes mais comedores — chó Branca,<br />

clió Caniça. E a pequenita aillicta lá sóhe<br />

a enxotar uma, la procura pedra para<br />

fazer <strong>de</strong>sempoleirar outra do cimo d'um<br />

alto penhasco Oh! que inferno! Nunca<br />

se satisfazem estes malarricos <strong>de</strong> cabras !<br />

No entanto a lua vae subindo Parece<br />

dia. Na al<strong>de</strong>ia vem tudo para a soleira<br />

das portas. Ninguém se lembra <strong>de</strong> ler<br />

visto uma lua assim.<br />

Luar <strong>de</strong> Janeiro vale um carneiro. ..<br />

diz um visinho.<br />

— Mas lá vem o <strong>de</strong> Agosto que lhe<br />

dá <strong>de</strong> rosto, termina outro.<br />

— Dá-lhe <strong>de</strong> rosto, isso é verda<strong>de</strong>.<br />

Tenho pena até <strong>de</strong> me ir <strong>de</strong>itar. Olhe que<br />

parece dia.<br />

— Isto é bom signal. A novida<strong>de</strong><br />

ha<strong>de</strong> ser boa. Os milhaes estão um regalo.<br />

.. Você não ouviu chorar?<br />

— Ouvi, ouvi.<br />

— Que é lá isso, ó tia Angelica?<br />

A lia Angelica, que passa diante da<br />

porta, pára e diz :<br />

— A Can<strong>de</strong>ias mandou a filha para o<br />

monte com as cabras e está a chorar á<br />

porta porque a pequena ainda não veio.<br />

Chegou agora <strong>de</strong> a procurar por toda a<br />

al<strong>de</strong>ia. Ninguém lhe soube dar noticias.<br />

Quem sabe o que lhe terá succedido ?<br />

Não lem ca o homem. Vou chamar o lio<br />

Zé Pereira para que vá em busca d'ella.<br />

Também quem manda para o monte uma<br />

creança tão pequena I<br />

— Vá lá chamar o Zé Pereira, tia<br />

Angelica. Eu também vou procural-a.<br />

— JS eu,<br />

— E eu.<br />

— E eu.<br />

E toda a al<strong>de</strong>ia quer ir.<br />

— Então vamos lá.<br />

— Por aqui, por aqui.<br />

— Mas para que chora ? tia M»ria.<br />

A pequena ha <strong>de</strong> apparecer. Ninguém<br />

lh'a queria, <strong>de</strong>-cance. Quem os fez que<br />

ós ature.<br />

Vão assim animando a mãe que vae<br />

na frente, em cabeilo, com os olhos chorosos,<br />

muito abertos, espiando as ribanceiras<br />

e os barrocaes,<br />

— Ai I meu Deus, diz ella estacando;<br />

olhem, olhem; que será aquillo preto?<br />

Chegaram-se todos.<br />

— Aon<strong>de</strong> ?<br />

—Alli, no fundo... então não vêem?!'<br />

Ai! Senhor! é ella, é ella. E nisto um<br />

berro que assusta as aves que dormem<br />

nos ninhos com os lilhos <strong>de</strong>baixo d'aza.<br />

— Vossemecê está tonta : alli não<br />

está nada.<br />

— Não está nada, não,—confirmam<br />

as outras mulheres a quem aquelle grito<br />

<strong>de</strong> mãe roubada poz o coração aos<br />

pulos.<br />

— Não é ella? não? digam-me, digam-me.<br />

Tem o terror estampado nas faces,<br />

as mãos apertadas na cabeça, os olhos<br />

esgaseados...— digam-me, dixam-me.<br />

— E' o que eu digo; vossemecê não<br />

está boa.<br />

Mais adiante, a mãe estaca <strong>de</strong> novo,<br />

curvada para a frente, atlrihulada outra<br />

vez. Gemidos? ella ouve gemidos. E' a<br />

pequena. Accudam, accudam.<br />

Mas ninguém ouve nada. A lua vae<br />

alta. Longe, lá para os lados da al<strong>de</strong>ia,<br />

parece que canta um rouxinol. De fraga<br />

em fraga, reverberando o luar, um fio <strong>de</strong><br />

agua, que se <strong>de</strong>spenha, diz uma cantilena<br />

melancólica.<br />

Todos caminham calados. De quando<br />

em quando falia unia voz:—ora a pequena!<br />

on<strong>de</strong> se metteria o mafarrico?<br />

A mãe soluça mais alto. A cousa<br />

torna se um pouco séria, quando, ao<br />

<strong>de</strong>sembocar d'um caminho, todos exclamam<br />

:<br />

—t Olhem-na !<br />

Na verda<strong>de</strong> a pequena lá eslava,<br />

adormecida, com um bracito sobre uma<br />

pedra e a cabecita no braço. A lua dava-lhe<br />

em cheio. D'um e d'outro lado a<br />

cabra branca n a cabra preta pareciam<br />

esperar que <strong>de</strong>speitasse para que as guie<br />

ao curral. Era um gracioso quadro. ,<br />

A al<strong>de</strong>ia fez roda em frente. A mãe<br />

tinha nos olhos e 110 rosto todas as alegrias<br />

d'este mundo e um poucoebito das<br />

do outro. —Oh ! como cila dorme!<br />

E todos repetem. — Como dorme !<br />

— Olhem; e está a sorrir, observa<br />

um.<br />

— Tem razão, sim senhor, a pequena<br />

está a sorrir. Veem-se branquejar entre<br />

os lábios um pouco abertos, os <strong>de</strong>ntitos<br />

aliados.<br />

— Maria ! Maria !<br />

Abre os Olhos:<br />

— Ali! a mãe I<br />

Esta pega nella ao collo, heija-a muito.<br />

Duas lagrimas <strong>de</strong>sceni-llie pelas faces.<br />

— O que lu merecias, bem sei eu !<br />

Que susto! Deixa estar que em casa te<br />

ensino. Isto são modos ?<br />

— Não fui eu ; loram as cabras. Uma<br />

foge para aqui, outra para acolá; a Branca<br />

vae para um lado, a Caniça vae para<br />

outro. Já não podia correr mais atraz<br />

d*elIas. Acho que sc não queriam <strong>de</strong>itar<br />

com uma lua tão bonita. Julgavam que<br />

ainda era dia. Então ella, cançada, sentou-se<br />

alli a òhamal-as:—Caniça, Branca.<br />

E não vinham. Ai! a mãe. Alé se poz a<br />

chorar.—Que cabras! Que castigo! Começou<br />

então a rezar a N. Senhora d'Ajuda<br />

e a pedir-lhe que lh'as trouxesse para se<br />

irem <strong>de</strong>itar que estava cheiinha <strong>de</strong> somno.<br />

«Salvé Rainha, mãe <strong>de</strong> misericórdia» resava<br />

ella, quando vê <strong>de</strong>scer lá dos ceus<br />

uma cachopa muito rica e muito linda e<br />

beijai-a e começar a chamar numa voz<br />

que parecia musica — Branca, Caniça —<br />

e logo as duas,cabras a correr pelo monte<br />

abaixo, logo, logo, e a Senhora a dizerlhe;<br />

—a<strong>de</strong>i, Maria, aqui teus. as tuas<br />

cabras, Maria.. . e abre os olhos e vê a<br />

Branca e a Caniça, e a mãe, e o tio Zé<br />

Pereira, e as amigas, e os visinhos.<br />

oh !...<br />

De caminho para casa—-cabras na<br />

frente — um a um toma-a ao collo e pergunta<br />

lhe :<br />

— Então tu viste N. Senhora, pequena<br />

?<br />

— O' se vi. Tinha o rosto muito lindo:<br />

trazia um chapou <strong>de</strong> velludo com<br />

pena branca e espelhinho como o da Josepha<br />

do Adro; uma saia com muita<br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

U» 4M5H9S«BHM«MHMaBHHa»aWM»«- S<br />

roda. Era <strong>de</strong> vêr como vinha cheia <strong>de</strong><br />

oiro e me dizia :<br />

— A<strong>de</strong>i, Maria; queres as luas cabras<br />

Maria; eu vou por ellos, Maria.<br />

A mãe, ao lado, radiante <strong>de</strong> alegria,<br />

ouve.-a e olha-a com os seus olhos <strong>de</strong><br />

amor, ainda chorosos.<br />

Pobre <strong>de</strong> quem tem filhos que nunca<br />

o coração lhe dorme e sempre os olhos<br />

lhe choram.<br />

Guilherme Gama.<br />

Em cheque<br />

Diz se que o sr. ministro das obras<br />

publicas vae sahir do ministério, por<br />

isso que não está disposto a supporlar<br />

por mais tempo as intrigas da politica.<br />

Que saia, pois nunca para lá <strong>de</strong>veria<br />

ter entrado.<br />

Aquilio suja e <strong>de</strong>prime.<br />

O nosso anjo<br />

Ainda por lá anda a flanar pela palria<br />

amada, que felizmente está livre <strong>de</strong> lhe<br />

pagar as suas dissipações. *<br />

Ponta dura que recalcitou em principio,<br />

negando-lhe o dinheiro pedido<br />

para a viagem á ltalia, dizem ter pago<br />

já um saque <strong>de</strong> cincoenta e quatro contos<br />

<strong>de</strong> réis.<br />

Fuschini, amolleceu a ponta. Está<br />

Tartuffo!<br />

Mais fra<strong>de</strong>s!<br />

Está em scena uma peça sympathica<br />

do constitucionalismo mo<strong>de</strong>rno — a creação<br />

<strong>de</strong> novas or<strong>de</strong>ns religiosas, assim<br />

chamadas com pouca razão— e evi<strong>de</strong>ntemente<br />

prejudicial á liberda<strong>de</strong>, ao progresso<br />

e á sã moral, como reaccionaria<br />

e impolitica que é.<br />

Já não é <strong>de</strong> hoje, nem <strong>de</strong> honlem<br />

esta aspiração sinistra e tenebrosa dos<br />

inimigos da liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> parceria com<br />

os falsos amigos d'ella.<br />

De ha muito se pensou nos centros<br />

do constitucionalismo em pôr peias á<br />

marcha liberal e aproveitar todos os meios<br />

e occasiões para o asqueroso retrocesso<br />

político e social.<br />

Têm cooperado na tenebrosa tarefa<br />

a roupeta e a sotaina com a connivencia<br />

e coadjuvação do jesuitismo <strong>de</strong> casaca e<br />

ainda com os bons serviços do sexo feminino<br />

<strong>de</strong> alto e baixo cothurno, não <strong>de</strong><br />

todo, diga-se a verda<strong>de</strong> e faça-se justiça,<br />

mas <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> parte, umas<br />

por força <strong>de</strong> fanatismo, outras pensando<br />

em dar a Deus os resíduos do que levam<br />

ao diabo.<br />

Com todos estes recursos levam todos<br />

á porfia a sua obra bem adiantada,<br />

e não dizemos que não hão <strong>de</strong> levar<br />

ao lim, visto o muito que temos visto e<br />

eslamos vendo.<br />

Nem o pre-ente governo, nem os que<br />

o têiu precedido, se incommodam com<br />

os manejos do jesuitismo e dos seus<br />

agentes e associados, nem é <strong>de</strong> estranhar<br />

isso, se uns e outros, cada um por seu<br />

turno e pela parte tocante aspiram ao<br />

mesmo lim <strong>de</strong> retrocesso fazendo voltar<br />

tudo ao ponto da partida.<br />

Do lado contrario á reacção está apenas<br />

o. partido republicano e, se é verda<strong>de</strong>,<br />

ainda alguns constilucionaes, vão<br />

arrependidos, mas tudo isso é pouco<br />

comparativamente com as forças do inimigo.<br />

Era preciso para isso e para o mais<br />

neccessario o serviço e o apoio das classes<br />

inferiores, e estas para esle louvável<br />

fim po<strong>de</strong>riam prestar se, mas essas<br />

classes só por si nada fazem e nunca o<br />

fizeram, careciam <strong>de</strong> dirigentes c nos tempos<br />

presentes não os encontram, tal é<br />

a força do egoísmo das condições, dada a<br />

crença que já chega a abranger os homens<br />

da escola <strong>de</strong>mocratica que ainda<br />

não foram ao po<strong>de</strong>r e que, por honra<br />

sua e pela mudança <strong>de</strong> systema, não<br />

po<strong>de</strong>riam, nem <strong>de</strong>viam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dirigir<br />

melhor a nau do Estado, em utilida<strong>de</strong><br />

da collectivída<strong>de</strong> social, quando a elle<br />

chegassem.<br />

As massas po<strong>de</strong>m muito quando são<br />

bem dirigidas.<br />

Sem direcção nada valem.<br />

Ern 1846 e 1847 mostraram ellas<br />

ao paiz e ao mundo a força do seu braço<br />

porque tomavam conta da sua direcção<br />

e commatido os homens das localida<strong>de</strong>s,<br />

superiores pelos seus haveres e<br />

pela sua illustração, e não só estes, mas<br />

muitos militares, generaes e <strong>de</strong> patentes<br />

inferiores e confraternisaado assim, o<br />

movimento tomou tal importancia, que<br />

se afinal houvesse quem bem o soubesse<br />

aproveitar, muito leria ganhado o<br />

paiz e a sua situação actual seria muito<br />

outra.<br />

Depois, tudo mudou e muitos d'aquelles<br />

mesmos que dirigiam esse movimento,<br />

renegaram, e como que se refundiram,<br />

e são os que mais têm collaborado<br />

na obra da <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia e da ruína do<br />

povo e da patria, exhibindo o <strong>de</strong>shonroso<br />

papel <strong>de</strong> um egoísmo feroz, anti popular,<br />

anti-palriotico, anti-moral.<br />

Mais <strong>de</strong> quarenta annos <strong>de</strong> reinado<br />

do constitucionalismo não lem passado<br />

<strong>de</strong>bal<strong>de</strong>, tem sido bem aproveitados em<br />

seu proveito pelos reaccionários <strong>de</strong> todas<br />

as facções para o iriumpho da <strong>de</strong>testável<br />

causa a que se propõem.<br />

Neste longo período o povo immobilisou-se,<br />

<strong>de</strong>screu <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong> tudo, até<br />

<strong>de</strong> si mesmo, e fanatisado e amollecido,<br />

como se acha, <strong>de</strong>ixará por tudo — o jejesuitismo—os<br />

novos fra<strong>de</strong>s, o novo cargo<br />

<strong>de</strong> impostos e tudo quanto o crucifica!<br />

Os governos e a realoza-mãe tem-<br />

Ihe tomado o pulso, e sabem que é occasião<br />

opporluna para tudo levarem <strong>de</strong><br />

vencida e por isso marcham á sorte e<br />

sem temer.<br />

Assim, e por este andar, <strong>de</strong>ntro em<br />

pouco, talvez, infelizmente, os que viverem,<br />

terão <strong>de</strong> presenciar coisas tétricas,<br />

se o acaso e a Provi<strong>de</strong>ncia não inspirarem<br />

o sentimento publico para tomar outro<br />

rumo e mais conveniente orientação.<br />

A obra monumental do immortal marquez<br />

<strong>de</strong> Pombal, será anniquillada e a<br />

obra meritória <strong>de</strong> Joaquim Anlonio <strong>de</strong><br />

Aguiar, d'este gran<strong>de</strong> vulto politico e<br />

eximio estadista, os quaes tanto fizeram<br />

no único intuito do bem da sua palria e<br />

não para explorarem o povo, serão neutralisados<br />

em proveito <strong>de</strong> classes privilegiadas,<br />

cuja constante aspiração é su<br />

gar a seiva nacional e o producto das<br />

classes trabalhadoras para mais gozarem<br />

e passarem vida regalada.<br />

. i<br />

Taboa, 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />

•<br />

Novo bando<br />

Começa a fallar-se na resurreição<br />

do parlido reformista, com o srs. Julio<br />

<strong>de</strong> Vilhena e João Arroyo no grémio, e<br />

diz-se que ha probabilida<strong>de</strong>s que o sr.<br />

Mariano <strong>de</strong> Carvalho tome conta do penacho<br />

Que roais quererão estes excelsos patriotas?!.<br />

..<br />

Subsidio aos <strong>de</strong>putados<br />

Vae ser apresentado no parlamento<br />

uma proposta restabelecendo o subsidio<br />

aos <strong>de</strong>putados.<br />

Pelos sacrifícios e pelo trabalho que<br />

offerecem ao paiz bem merecem que<br />

éste lhes pague.<br />

Que a vida está cara ricos filhos! E<br />

são estes que fazem o pão caro.<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Felgueira, 25 <strong>de</strong> maio.<br />

De proposiio guar<strong>de</strong>i para mais tar<strong>de</strong><br />

o faliar do edifício balnear, e das<br />

aguas thermaes d'esta localida<strong>de</strong>.<br />

São sulphuricas estas aguas e reconhecidas<br />

<strong>de</strong> lia muito como óptimas;<br />

todos os annos concorrem a usar d'ellas<br />

centenas <strong>de</strong> pessoas, vindas <strong>de</strong> todos os<br />

pontos do paiz.<br />

Quasi <strong>de</strong>sconhecidas a principio, os<br />

banhos eram tomados em barracas <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, um pouco abaixo da fonte, construídas<br />

toscamente e occupando um limitadíssimo<br />

espaço — pouco mais <strong>de</strong> dois<br />

melros quadrados <strong>de</strong> superfície — em<br />

pias <strong>de</strong> pedra on<strong>de</strong> mal cabiam as quatros<br />

pessoas que em coininum se banhavam.<br />

O mais primitivo, o mais simples<br />

e lambem o menos limpo.<br />

Ainda bem, que taes barracas e taes<br />

pias só vivem hoje na lembrança d'aquelles,<br />

que, por mal dos seus peccados, ou<br />

tinham <strong>de</strong> se aproveitar da chafurdação<br />

commum, ou <strong>de</strong> trazer <strong>de</strong> casa banheiras<br />

próprias e creado que aturar.<br />

Foi em 1882 que, <strong>de</strong>vido á iniciativa<br />

do sr. José Maria Marques Cal<strong>de</strong>ira, a<br />

quem a camara d.s Nelias fez a concessão<br />

(las aguas, se formou em Lisboa uma<br />

companhia para a sua exploração, com o<br />

capital <strong>de</strong> cento e vinte contos <strong>de</strong> réis,<br />

<strong>de</strong>nominando-se — Companhia das aguas<br />

medicinais da Felgueira.<br />

3 8 d e m a i o d e i § 8 3<br />

Começou então o periodo do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

d'esla apreciavel estancia<br />

thermal.<br />

Construiu se um tosto edifício nas<br />

mais apropriadas condições, com 16 tinas,<br />

<strong>de</strong> 1 .*; 13 <strong>de</strong> 2. a ; 4 <strong>de</strong> 3. a ; e 8 <strong>de</strong><br />

4. a , e numa <strong>de</strong>pendência do edifício ha<br />

mais 14 tinas para ns menos abastados ;<br />

os preços são — 400, 300, 200, 150,<br />

100 e 50 réis.<br />

Não cessam, porém, os proprietários<br />

das thermas <strong>de</strong> promover os maiores<br />

melhoramentos, e os trabalhos este anno<br />

feitos são muitos já — constrúiu-se um<br />

novo <strong>de</strong>posito; montõu-se um novo apparelho<br />

para douches, havendo actualmente<br />

dois, um para senhoras e outro para homens;<br />

a sala das inhalações foi mudada<br />

para o primeiro pavimento, dando-se-lhe<br />

o aceio e as commodidá<strong>de</strong>s que este<br />

processo <strong>de</strong> tratamento requer, emfim,<br />

envidam-se lodos os esforços para offerecer<br />

aos banhistas todas as commodida<strong>de</strong>s.<br />

Bepresenta aqui a empreza o sr. Antonio<br />

Rosa Bray, homem respeitável,<br />

sympathico e que apezar do seu aspecto<br />

severo, é comtudo um bom vivant, animando<br />

com as suas historias e os seus<br />

ditos os serões no hotel Maial, on<strong>de</strong> está<br />

hospedado, emquanto o parceiro que foi<br />

á casca, estuda o jogo e <strong>de</strong>clara o<br />

trunfo.<br />

Quando nos conta novamente, sr.<br />

Bray, aquella historia da eleição dos<br />

Dois Postos, on<strong>de</strong> o amigo foi uni heroe<br />

e on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senganou <strong>de</strong> que isto <strong>de</strong><br />

politica é uma farça ?<br />

* Teem chegado muitos banhistas.<br />

No hotel Maial está hospedado o sr.<br />

Anlonio d'Abreu, <strong>de</strong> Cannas <strong>de</strong> Senhorins,<br />

<strong>de</strong> elevado caracter fidalgo.<br />

Até breve. C.<br />

• •<br />

Longevida<strong>de</strong><br />

Em Vi<strong>de</strong>monte, concelho da Guarda,<br />

falleceu ha poucos dias um individuo do<br />

sexo masculino, que contava a bonita<br />

eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 106 annos; tinha todos os<br />

<strong>de</strong>ntes e estava em perfeito uso das suas<br />

faculda<strong>de</strong>s.<br />

Também em Mello, concelho <strong>de</strong> Gotfvêa,<br />

seguido informa um jornal da Guarda,<br />

existem duas irmãs, que contam<br />

egualQiente 106 annos <strong>de</strong> eda<strong>de</strong> e tratam<br />

com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembaraço dos negocios<br />

caseiros.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A extineção tios fra<strong>de</strong>s<br />

<strong>Completa</strong> hoje 59 annos que o honrado<br />

estadista, Joaquim Antonio d'Aguiar<br />

referendou o notável <strong>de</strong>creto que extinguiu<br />

as or<strong>de</strong>ns religiosas em Portugal,<br />

golpe <strong>de</strong> morte ao bando reaccionário<br />

que coutava com esses focos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smo'<br />

ralisação para continuar combatendo os<br />

piincipios liberaes enlão estabelecidos.<br />

Gran<strong>de</strong> homem, que soube arrostar<br />

com todos: os perigos, vencer todos os<br />

obstáculos para <strong>de</strong>rrubar a infame seita<br />

que protegia abertamente o <strong>de</strong>spotismo,<br />

applaudindo lhe todas as atrocida<strong>de</strong>s, todos<br />

os actos sanguinários que <strong>de</strong>correram<br />

durante o nefasto reinado <strong>de</strong> D.<br />

. Miguel.<br />

Gran<strong>de</strong> exemplo, o d'esse vulto proeminente<br />

da nossa politica, se os homens<br />

<strong>de</strong> hoje, os estadistas da epocha não tivessem<br />

trocado o civismo pela iraição, a<br />

dignida<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>shonra, dando eusejoa<br />

que os reaccionários venham enxovalhar<br />

a memoria honrada d'um cidadão, pedindo,<br />

em nossos dias, a restauração das<br />

or<strong>de</strong>ns religiosas!<br />

O partido liberai está morto. O azul<br />

e branco que ahi se vê só serve para<br />

indicar que nelle houve porluguezes <strong>de</strong><br />

lei, mas que hoje se converleu numa matilha<br />

<strong>de</strong> poltrões <strong>de</strong>vassos e <strong>de</strong> traidores<br />

infames.<br />

Curvemo-nos respeitosos ante o prodigioso<br />

vulto que sobe merecer da posterida<strong>de</strong><br />

sinceros respeitos e veneração<br />

profunda, e prosigamos na sua obra —<br />

guerra á reacção, guerra ao jesuitismo 1<br />

AM propostas <strong>de</strong> fazenda<br />

<strong>Coimbra</strong>, como todo o paiz, não recebeu<br />

com agrado a noticia das propostas<br />

<strong>de</strong> fazenda, que vieram a este mundo<br />

para salvar o paiz e matar o <strong>de</strong>ficit; e<br />

se ingénuos houve que acreditaram na<br />

liberalida<strong>de</strong> do sr. Fuschini e na justiça<br />

cora que elle pr<strong>de</strong>e<strong>de</strong>ria nas exigencia s<br />

do imposto, a estas horas <strong>de</strong>vem estar


<strong>de</strong>senganados e comnosco apertam as<br />

mãos na cabeça, chamando-se <strong>de</strong>sgraçados.<br />

E' impossível supportar se tamanho<br />

sacrifício, e quem o pe<strong>de</strong> ao contribuinte<br />

bem prova que <strong>de</strong>sconhece o viver do<br />

povo e o estado <strong>de</strong> ruina a que chegámos;<br />

e se assim não é mostra então claramente<br />

a sua infamia . e a sua protervia,<br />

exigindo <strong>de</strong> quem não po<strong>de</strong> um augmento<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 por cento! Isto é immoral!<br />

Começa a notar-se uma certa agitação<br />

nas principaes terras, e cada corporação,<br />

cada collectivida<strong>de</strong>, cada aggremiação<br />

vae reunindo os seus associados,<br />

<strong>de</strong>cidindo entre si fazer toda a opposição<br />

ás propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />

Devia lembrar se o sr. Fuschini das<br />

ondas <strong>de</strong> protesto que se levantaram<br />

contra as medidas salvadoras do sr José<br />

Dias, e ainda que as actuaes propostas<br />

não se possam equiparar, têm o gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>feito <strong>de</strong> exigir do contribuinte, um augmento<br />

<strong>de</strong> imposto tão exorbitante que<br />

elle não pô<strong>de</strong> satisfazer, e que é realmente<br />

uma barbarida<strong>de</strong>.<br />

Avaliando tudo isto a Associação<br />

Commercial d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidiu reunir<br />

e vae representar contra as propostas <strong>de</strong><br />

fazenda, especificadamente contra aquellas<br />

que tanto aggravam a contribuição<br />

industrial.<br />

A's <strong>de</strong>mais associações impõe-se o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> seguir-lhe os passos. A industria<br />

o commercio, emfim todos os que trabalham,<br />

vêem-se exessivamente aggravados<br />

e ne*te caso a Associação dos Artistas<br />

não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve cruzar os braços ne-te<br />

momento. A ella cumpre também enviar<br />

á camara dos <strong>de</strong>putados uma enérgica<br />

representação em que se peça a revogação<br />

<strong>de</strong> taes impostos.<br />

Que n (amura «lê provi<strong>de</strong>nciai<br />

Tem sido gran<strong>de</strong> a aflluencia <strong>de</strong><br />

gente na repartição dos atilamentos, não<br />

po<strong>de</strong>ndo dar-se expediente a todo o serviço<br />

por falta <strong>de</strong> pessoal.<br />

Informam-nos que camaras transactas<br />

auctorisaram sempre a nomeação d'um<br />

coadjuctor, para que o expediente corresse<br />

rápido e o publico não soffresse<br />

prejuizos com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>moras; este anno,<br />

porém, a nada se atten<strong>de</strong>u e pobres<br />

mulheres <strong>de</strong> fóra não tendo conseguido<br />

o atilamento <strong>de</strong> balanças e outra* medidas,<br />

teem <strong>de</strong> voltar á cida<strong>de</strong>.<br />

Seria bom que a camara provi<strong>de</strong>nciasse<br />

neste sentido <strong>de</strong> fórma a não sacrificar<br />

o contribuinte.<br />

A latada<br />

E' hoje que sae do largo Feira, a<br />

tradiccional latada, com que a aca<strong>de</strong>mia<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> festeja o encerramento das<br />

aulas.<br />

Este anno muitos grupos d'académicos<br />

publicaram diversos programmas,<br />

apparecendo alguns escriptos com graça.<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />

Foi <strong>de</strong>cidido em congregação que o<br />

ponto principiasse no dia 2, começando<br />

os actos no dia 7.<br />

39<br />

Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MERY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

VII<br />

Noite <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> amor<br />

A primeira idêa <strong>de</strong> Talormi foi <strong>de</strong><br />

puchar pelo seu punhal; mas o movimento<br />

<strong>de</strong>lator da mão, que procurava uma<br />

ama, não escaparia ao se.u inimigo, e<br />

Paulo Gréant podia feril-o, neutralisando<br />

pela promptidão do seu ataque uma<br />

<strong>de</strong>fesa tardia.<br />

O diplomata parou e com uma altitu<strong>de</strong><br />

soberba <strong>de</strong> dandismo, como se tivesse<br />

parado por sua própria vonta<strong>de</strong> e<br />

não por obediencia a uma ameaça, disse:<br />

— Ah! E' o sr. Gréant?! '<br />

Faz alli, se não me engano, um<br />

papel muito honroso; — um papel, que<br />

tem <strong>de</strong>signação própria na historia <strong>de</strong><br />

muitas estradas. Estou tentado a entregar-lhe<br />

a minha bolsa-para respon<strong>de</strong>r á<br />

interrogação muda do seu punhal.<br />

— O senhor vae saber o motivo,<br />

que aqui me trouxe, respon<strong>de</strong>u Paulo<br />

em hoz baixa, mas distincla. Eslava armado<br />

para a <strong>de</strong>fesa e não para o assassinato;<br />

venho insultal-o e esbofetear o<br />

seu orgulho, para ver se a sua nobreza<br />

é <strong>de</strong> boa lei: —coisa <strong>de</strong> que duvido.<br />

A mesma faculda<strong>de</strong> resolveu discutir<br />

e apresentar <strong>de</strong>pois ao claustro pleno<br />

uma proposta para que as faculda<strong>de</strong>s<br />

universitárias, á similhança do que se<br />

acha estabelecido nos principaes institutos<br />

congeneres da Europa, possam con<br />

ferir o grau honorário <strong>de</strong> doutor ás sum-<br />

mida<strong>de</strong>s scientilicas, quer nacionaes quer<br />

estrangeiras, que pelos seus estudos e<br />

serviços se tornem dignas <strong>de</strong> tão elevada<br />

distincção.<br />

Salvação Publica<br />

Esta real corporação <strong>de</strong> bombeiros<br />

faz hoje o seu beneficio no theatro circo,<br />

preenchendo o espectáculo a companhia<br />

draniatica do Porto, dirigida pelo actor<br />

Taveira.<br />

Representa se a comedia em 3 actos<br />

Xs re<strong>de</strong>as do governo e a zarzuella em<br />

um acto —Simão, Simões tf Companhia.<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> S. Tlioinnz<br />

É no dia 4 <strong>de</strong> junho que se ha <strong>de</strong><br />

realisar nas salas do Seminário o costumado<br />

sarau da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> S. Tliomaz<br />

d'Aquino, a que presidirá o sr. Bispo<br />

con<strong>de</strong>.<br />

Anselmo Mesquita<br />

Está <strong>de</strong>finitivamente marcado o dia 3<br />

do corrente para a recita que um grupo<br />

<strong>de</strong> operários promovem em beneficio d este<br />

<strong>de</strong>sventurado chefe <strong>de</strong> familia que vive<br />

em precarias circumslancias..<br />

Que o nosso publico auxilie o beneficiado<br />

concorrendo com o seu obulo para<br />

esta festa <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />

Corpus riirietig<br />

Na quinta feira realisa-se a procissão<br />

do Corpo <strong>de</strong> Deus, para o que a cantara<br />

municipal já dirigiu circulares fazendo os<br />

convites do estylo.<br />

Uma bella i<strong>de</strong>ia para assoalhar as<br />

casacas e pôr em evi<strong>de</strong>ncia os personalida<strong>de</strong>s<br />

do senado.<br />

Que pena o acabar-se coin o calção<br />

e o sapatinho <strong>de</strong> laço!. ..<br />

Festa da Santíssima Trinda<strong>de</strong><br />

É hoje esta festivida<strong>de</strong> que a Or<strong>de</strong>m<br />

Terceira solemnisa com gran<strong>de</strong> pompa.<br />

De manhã ha missa cantada e sermão<br />

pelo prior d'Eiras. De tar<strong>de</strong> vesperas,<br />

pregando o prior <strong>de</strong> Blasfemes.<br />

Por causa da borla<br />

v O curso do 5.° anno <strong>de</strong> Direito vae<br />

dar a Vizeu duas representações com a<br />

sua peça nos dias 29 e 30 do corrente.<br />

Em Vizeu vae gran<strong>de</strong> enthusiasmo e<br />

os bilhetes começam a ter muita procura.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Ao nosso <strong>de</strong>dicado correligionário e<br />

distincto amigo, sr. dr. Augusto Cymbron,<br />

damos parabéns cor<strong>de</strong>aes pelo nascimento<br />

d'uin seu filho.<br />

.# Está completamente restabelecido<br />

o nosso amigo sr. José Francisco da<br />

Cruz, o que <strong>de</strong>veras nos regosija.<br />

— Não quer mais nada ? perguntou<br />

Talormi, rindo; não se po<strong>de</strong> dizer que<br />

é exigente, é sobrio ua sua-ambição e<br />

toda a modéstia é meritória. Mas em<br />

troca, exijo da sua parle uma egual<br />

acquie-cencia. Antes <strong>de</strong> me bater, quero<br />

saber o motivo por que me bato. Vamo",<br />

senhor, seja sincero e queira esclarecer a<br />

minha ignorancia neste ponto <strong>de</strong>licado.<br />

— Con<strong>de</strong> Talormi, acabo <strong>de</strong> o insultar<br />

com uma afTronta sangrenta; não<br />

lhe basta?<br />

— Não; sou diflicil <strong>de</strong> contentar.<br />

— Pois bem! con<strong>de</strong> Talormi, iosuital-o-ei<br />

em publico, ao sair da uliima<br />

missa da Annunciada.<br />

— Ah! isso agora é miis grave. Mas,<br />

se nos batermos, ha <strong>de</strong> ser necessário<br />

dizer a causa ás nossas testemunhas...<br />

— Bater-nos-emos sem testemunhas,<br />

interrompeu Gréant com vivacida<strong>de</strong>.<br />

— Sem testemunhas! disse Talormi,<br />

reflectindo dois minutos sobre uma inspiração<br />

repentina.<br />

—.Sim, con<strong>de</strong> Talormi, e <strong>de</strong>ve compreheudér,<br />

que ninguém po<strong>de</strong> entrar na<br />

confi<strong>de</strong>ncia d'um du:!lo cm qtie o nome<br />

d'uma senhora <strong>de</strong>ve ser pronunciado.<br />

— Tem razão, disse Talormi com naturalida<strong>de</strong>.<br />

De modo que, batemo-nos<br />

por uma mulher?<br />

Paulo guardou silencio. Talormi continuou<br />

:<br />

— Bem, está combinado... Agora,<br />

fixemos o dia e a hora...<br />

— A hora... agora mesmo.<br />

O H R F E N i O R DO POVO 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

* Completou na segunda feira o<br />

seu <strong>de</strong>cimo anniversario natalício a menina<br />

Laura Corrêa dos Santos, interessante<br />

filha do nosso bom amigo sr. Antonio<br />

Corrêa dos Santos. Os nossos parabéns.<br />

Movimento commercial<br />

Agio—Premio das libras: 900 r«<br />

ouro nacional, 18,<br />

Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 580—Dito<br />

tremez 560— Milho branco 310—Dito<br />

amarello 330 —Feijão vermelho 500 —<br />

Dito branco 400 — Dito rajado 300 —<br />

Dito fra<strong>de</strong> 390 —Centeio 440—Cevada<br />

240 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 — Dito<br />

meudo 680— Favas 380—Tremoços 280.<br />

Azeite a 1/500.<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinaria<br />

De 4 <strong>de</strong> maio<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />

Corrêa Ajres <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />

presentes: Ruben Augusto d'Almeida<br />

Araujo Pinto, João Antonio da Cunha,<br />

João da Fonseca Barata, Manoel Bento<br />

<strong>de</strong> Quadros, Joaquim Justiniano Ferreira<br />

Lobo, Antonio José Dantas Guimarães,<br />

effeclivos ; José Corrêa dos Santos,<br />

substituto.<br />

Encarregou o procurador João Marques<br />

Mósca <strong>de</strong> requerer em juizo o levantamento<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>posito, por virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> canalisação d'aguas que ficou por pagar,<br />

por fallecunenlq <strong>de</strong> José Augusto<br />

Martins Barbosa.<br />

Mandou melhorar as condições da<br />

canalisação das aguas que correm peia<br />

quinta <strong>de</strong> Santa Cruz para o matadouro<br />

e para o hospício dos abandonados, empregando-se<br />

tubagem <strong>de</strong> ferro, obra para<br />

que concorre a commissão districlal com<br />

meta<strong>de</strong> da <strong>de</strong>speza.<br />

Mandou fazer pequenos reparos na<br />

estrada que <strong>de</strong> Sar.t'Anna conduz a Celtas,<br />

bem como na da Concitada.<br />

Mandou passar licenças para apascentamento<br />

<strong>de</strong> cabras a tres lavradores<br />

do concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Mandou canalisar as aguas para as<br />

latrinas publicas do Collegio Novo e Muzeu.<br />

Mandou lavrar conlrato <strong>de</strong>finitivo da<br />

venda <strong>de</strong> terrenos na .quinta <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz a Francisco d'AJmeida Quadros, segundo<br />

<strong>de</strong>liberações anteriores e em vista<br />

do termo <strong>de</strong> medição dos mesmos terrenos<br />

apresentado perante a vereação.<br />

Mandou intimar Leonel Maia, <strong>de</strong> Chão<br />

do Bispo, para reduzir ao seu antigo estado<br />

o caminho publico que conduz ao<br />

Logar, pertencente a Manoel da Silva<br />

Men<strong>de</strong>s, do mesmo logar.<br />

— Ah ! é cedo <strong>de</strong>mais, disse Talormi<br />

ligeiramente; nem a toda a hora qualquer<br />

eslá prompto para morrer, ha sempre<br />

pequenos negocios, que é necessário<br />

pôr era or<strong>de</strong>m. Não pô<strong>de</strong> haver menos <strong>de</strong><br />

vinte e quatro horas <strong>de</strong> sobreaviso;<br />

addiemos a questão, para ámanhã.<br />

— Sim, disse Paulo, para lhe dar<br />

tempo <strong>de</strong> avisar os seus valentes ou <strong>de</strong><br />

armar as suas ratoeiras...<br />

— Que creancice, meu caro senhor,<br />

Então acredita em valentes a ratoeiras?<br />

—Tenho para isso excellentes razões,<br />

senhor con<strong>de</strong>.<br />

—-Seja; respeito os seus prejuízos<br />

parizienses e os seus estudos sobre Auna<br />

Ralclitfe. Pois bem, estou ás suas or<strong>de</strong>ns.<br />

Forme o seu plano, regule o ceremonial,<br />

que eu acceitarei todas as suas combinações;<br />

encontrará centenares <strong>de</strong> msio<<br />

que o salvaguar<strong>de</strong>m dos valentes e das<br />

ratoeiras. Mas ha <strong>de</strong> ficar isto para ámanhã,<br />

não <strong>de</strong>sisto. Tenho dois sobriohos<br />

que estimo muito e que são os meus<br />

her<strong>de</strong>iros legítimos; é necessário fazer<br />

alguma coisa por elles, com) diz Moor<br />

<strong>de</strong> Schiller, antes <strong>de</strong> morrer.<br />

Paulo reflecti u alguns momentos e<br />

disse :<br />

— A minha primeira condição é a<br />

seguinte, e se a acceitar regularemos<br />

immediatamente a nossa questão.<br />

— Vamos lá a ver a sua primeira<br />

condição ?<br />

— Descerá pira a cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ante <strong>de</strong><br />

mim, e só me <strong>de</strong>ixará ao nascer do dia.<br />

Mandou intimar os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> José<br />

Fernan<strong>de</strong>s das Neves, das Casas Novas,<br />

para mandarem <strong>de</strong>molir uma pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma casa em ruina que possue no mesmo<br />

logar.<br />

Mandou satisfazer a Joaquim Ferreireira<br />

d'Araujo, <strong>de</strong> Tovim, o resto do<br />

preço da empreitada que tomou da conslrucção<br />

da ponte <strong>de</strong> Ceira,<br />

Resolveu pedir provi<strong>de</strong>ncias pela secção<br />

da 2. a circumscripção hydraulica a<br />

fim <strong>de</strong> serem intimados diversos moradores<br />

do logar do Ameal, para restituírem<br />

ao estado primitivo um ribeiro publico<br />

<strong>de</strong> que tem usurpado terrenos.<br />

Resolveu fazer alguns reparos no coreto<br />

da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz a pedido<br />

da Associação humanitaria dos bombeiros<br />

voluntários.<br />

Resolveu mandar sustar a venda do<br />

terreno á Guarda Ingleza, por virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma reclamação apresentada contra a<br />

mesma venda por Francisco Lopes, <strong>de</strong><br />

Sargenlo-Mór.<br />

Attestou ácerca do comportamento<br />

moral c civil do bacharel Vicente Augusto<br />

Ferreira Rocha, d'esta cida<strong>de</strong>, por assim<br />

o haver requerido.<br />

Attestou ácerca <strong>de</strong> duas petições para<br />

subsídios <strong>de</strong> lactação a filhos menores.<br />

Approvou o alçado para a reconstrução<br />

<strong>de</strong> uma casa da rua dos Coutinhos,<br />

pertencente ao dr. Julio San<strong>de</strong> Sacadura<br />

Botle, tomando conhecimento da planta<br />

do terreno, por virtu<strong>de</strong> do alinhamento<br />

a seguir na reconstrucção e do termo<br />

<strong>de</strong> medição e avaliação feita pelos conductores<br />

Esteves e Parada, do qual custa<br />

medir o terreno a adquirir por parte<br />

do município 22 mí ,20 a 3/000 réis o<br />

melro quadrado, importando as alvenarias,<br />

um muro e pare<strong>de</strong>s da casa, vigamentos<br />

e soalhos <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> 3 pavimentos,<br />

ma<strong>de</strong>iramentos, tectos, telhados, e<br />

tabiques e o arco da rua a <strong>de</strong>molir<br />

334$600 réis. E conformando-se com o<br />

alinhamento indicado pelos conduclores,<br />

por achar <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r-se ao<br />

alargamento da rua naquelle ponto, auctorisando<br />

assim a reconslrucçáo com o<br />

recuamenlo <strong>de</strong> l m ,85 na ligação com o<br />

pequeno jardim da antiga casa <strong>de</strong> Luiz<br />

Monteiro Soares d'Albergaria e acabando<br />

era zero no extremo sul do prédio. E resolveu<br />

dar mais ao requerente, como<br />

in<strong>de</strong>mnisação, a quantia <strong>de</strong> 250/000<br />

réis, que foi neste acto <strong>de</strong>clarado pela<br />

presi<strong>de</strong>ncia era aceite pelo proprietário.<br />

Despachou diversos requerimentos<br />

sohre serviços no cemiterio — taboletas<br />

era estabelecimentos e amostras e sobre<br />

obras particulares, sem alienação <strong>de</strong> terreno»,<br />

a saber:<br />

De Francisco Dias d'Almeida, <strong>de</strong><br />

Ceira, para a conslrucção <strong>de</strong> uma casa,<br />

no mesj»o logar.<br />

De D. Maria <strong>de</strong> Jesus Chaves Pereira<br />

e Almeida para abrir 2 janellas em 2<br />

prédios no becco d'Anarda:<br />

De José da Cruz <strong>de</strong> Santo Antonio<br />

dos Olivaes, para mandar rossar por<br />

sua conla uma saibreira junto <strong>de</strong> sua<br />

casa ollerecendo o saibro para a estrada<br />

que alli anda eiu construcção.<br />

— E' rasoavel... E <strong>de</strong>pois?<br />

— Depois, nós veremos.<br />

— Admire a minha con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia,<br />

disse Talormi rindo; eu vou adiante,<br />

siga-me.<br />

Antes <strong>de</strong> chegarem aos bairros opulentos,<br />

on<strong>de</strong> passavam era grupos tocadores<br />

nocturnos, Talormi disse a Gréant:<br />

— Meu caro senhor, se eu quizer<br />

posso agora levantar a voz e fazel-o<br />

pren<strong>de</strong>r como assassínio — encontrarão<br />

comsigo um punhal.<br />

Gréant parou, olhando fixamente<br />

Talormi para advinhar o seu pensamento.<br />

—-Não se arreceia d'isto?<br />

— Não, senhor.<br />

— E faz bem. Somente lhe observo,<br />

que tinha aqui uma ratoeira bem armada<br />

mas que não quero, servir-ine d 'ella.<br />

— Mis, con<strong>de</strong> Talormi, uma tal<br />

acção seria o cumulo da cobardia!<br />

— Vamos, senhor! vejo que me vae<br />

restituindo a sua estima, disse Talormi<br />

com emphase <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>.<br />

Foram estas as ultimas palavras que<br />

pronunciaram naquella noite; assentaram-se<br />

ambos <strong>de</strong>baixo do portico gothico<br />

<strong>de</strong> S. Lourenço, e quando a aurora se<br />

reflectiu no bello e<strong>de</strong>licio <strong>de</strong> mármore<br />

branco e preto, Paulo Gréant retomou a<br />

palavra:<br />

— Coa<strong>de</strong> Talormi, é ooffendido, pertence-lhe<br />

a escolha das armas.<br />

— Para um duello sem testemunhas,<br />

só a espada; escolho a espada.<br />

— E' a arma franceza, disse Paulo.<br />

De José Duarte Júnior <strong>de</strong> Villela para<br />

um rauro em vedação a uma sua proprieda<strong>de</strong><br />

no mesmo logar.<br />

De Antonio Julio <strong>de</strong> Campos <strong>de</strong>sta<br />

cida<strong>de</strong>, para levantar um muro que tem<br />

em frente <strong>de</strong> sua casa ao Arco Pintado<br />

e abrir uma porta.<br />

De João d'01iveira d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

para a reconstrucção <strong>de</strong> uma casa em<br />

Monfarroio.<br />

De José Correia <strong>de</strong> Brito d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

para mandar reconstruir um cano<br />

<strong>de</strong> esgoto que se encontra junto da sua<br />

casa na rua das Cozinhas.<br />

D.! Julia Maria Ferreira <strong>de</strong> S. João<br />

do Campo, para levantar um andar a<br />

uma sua casa 110 mesrao logar.<br />

De João Gomes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, para<br />

canalisar os esgotos d'aguas da sua casa<br />

ao Arnado.<br />

De D. Francisca A<strong>de</strong>lina d'Almeida<br />

Pacheco, para o mesmo fim na sua casa<br />

da rua das Cozinhas.<br />

De Thereza <strong>de</strong> Castro Corte Real <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> para a mudança <strong>de</strong> um syphão<br />

que se acha junto da sua casa na rua<br />

do Infante D. Augusto.<br />

De Antonio José Dantas Guimarães<br />

d'esta cida<strong>de</strong>, para ser ractificado o alinhamento<br />

dado a uma casa em construcção<br />

ao cima da rua Occi<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong><br />

Mont'arroiò.<br />

In<strong>de</strong>feriu 2 requerimentos <strong>de</strong> Manoel<br />

Mello Jorge, das Casas Novas em que<br />

pedia para reconstruir o cunhal em uma<br />

sua casa no mesmo logar e <strong>de</strong> José Carvalho<br />

André <strong>de</strong> Villa Pouca <strong>de</strong> Ameal<br />

que pedia licença para construir um<br />

balcão junto á porta da sua casa no<br />

mesmo logar.<br />

Exenorou a seu pedido <strong>de</strong> logar <strong>de</strong><br />

comniandante do corpo <strong>de</strong> bombeiros<br />

municipaes, Joaquim Alves nomeando<br />

interinamente para exercer as respectivas<br />

funcções a José Pereira da Cruz<br />

d'èsta cida<strong>de</strong>, com superiten<strong>de</strong>ncia no<br />

serviço da inspecção dos incêndios.<br />

A GRANEL<br />

Foi prorogado por dois annos o praso<br />

para a rectificação do tratado do commercio<br />

entre Portugal e Brazil.<br />

# * * O sr. Ramalho Ortigão está<br />

encarregado pelo governo hespanhol <strong>de</strong><br />

elaborar uma memoria sobre o ensino<br />

portuguez e seus melhodos.<br />

# * * Passaram a ter a qualificação<br />

<strong>de</strong> suspfeitos todos os portos francezes<br />

do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Pas-<strong>de</strong> Calais.<br />

# * * Em Londres, em um leilão<br />

<strong>de</strong> moveis pertencentes ao viscon<strong>de</strong><br />

Clif<strong>de</strong>n, foi vendida uma mesa da época<br />

<strong>de</strong> Luiz xvi, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira americana, guarnecida<br />

<strong>de</strong> placas <strong>de</strong> porcelana <strong>de</strong> Sevres,<br />

por 11:880/000 réis. Esta mesa é a<br />

nnica conhecida no seu genero.<br />

— E a italiana, replicou Talormi.<br />

— Seja, seuhor con<strong>de</strong>; haverá duas<br />

espadas promptas num logar seguro.<br />

— Que <strong>de</strong> precauções contra os ealentes<br />

dos Mysterios <strong>de</strong> Udolpho! murmurou<br />

ironicamente.<br />

— Sira, sim, disse Paulo meneando<br />

a cabeça com um ar <strong>de</strong> queiu po<strong>de</strong><br />

pronunciar uma só palavra para acabar<br />

com toda a ironia.<br />

— Bom ! estão promptas as espadas,'<br />

continuou<br />

condições.<br />

Talormi; vamos as outras<br />

— O resto é muito simples, disse<br />

Paulo. Ao cair da noite estará na praça<br />

Mari e seguir-me-á.<br />

— Aon<strong>de</strong> ?<br />

— Esta Ur<strong>de</strong> o saberá.<br />

Talormi levantou-se e o seu rosto<br />

tomou uma expressão terrível; agarrou<br />

a mão <strong>de</strong> Paulo e disse-lhe num tom<br />

dramalico :<br />

— Agora, cessa toda a zombaria,<br />

começa o caso a ser serio; Paulo Gréant,<br />

insultou brutalmente um homem d'houra,<br />

um <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte do illustre Paulo Talormi,<br />

que se crusou, na Sicilia, com os cavai -<br />

leiros normandos, em 1325; pois bem,<br />

<strong>de</strong>sgraçado <strong>de</strong> si! <strong>de</strong>sgraçado <strong>de</strong> si!...<br />

Esta tar<strong>de</strong> os meus lábios hão <strong>de</strong> beber<br />

o seu sangue! A<strong>de</strong>us!<br />

I<br />

mpresso aa Typographia<br />

Operaria — Largo da Fruiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros, —.<br />

COIMBRA.


A S S O » © O D E F E N S O R B O P O V O 88 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />

H W ! ! * » *<br />

PA HA<br />

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Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

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<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

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122 go"»«IUÍM» d« .VdMiweiíto,<br />

9$ moritdor na rua das Pa<strong>de</strong>iras<br />

n.° Í;J, encatrega-sè <strong>de</strong> todos os papeis<br />

nrecipps nata casamentos, taes como certidões,<br />

folhas corrida'", passaportes, e<br />

putro^ documentos q^e sejam preqisos<br />

mandar tirar fora da letTM -<br />

mu os « m a s<br />

119<br />

íen<strong>de</strong>-se uma proprieda<strong>de</strong> que<br />

se compõe <strong>de</strong> terra lavradia,<br />

pomar, arvores <strong>de</strong> fructo, vinha e casas<br />

<strong>de</strong> habitação, <strong>de</strong>nominada o Cazal do<br />

Valle da Serra, em S. Martinho. Tem<br />

boa estrada que vae da Guarda Ingleza<br />

para a Quinta Agrícola.<br />

Para informações na Praça do Commercio<br />

n.° 14, 1.°.<br />

SANTA CLARA<br />

Fabrica <strong>de</strong> massas alimentieias<br />

DE<br />

JOSÉ VIC10RI\0 B. MIRANDA<br />

11X §? fabrjai continua a pro-<br />

Im( duzir as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> massas, pelos mesníos preços,<br />

satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />

encommendas.<br />

Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />

em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />

<strong>de</strong>pqsito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Batthqlanteu,<br />

e hem assitu cQmmunicação telephonica<br />

com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />

do sr. José Tavares da Costa,<br />

sttccessor, no largo do Príncipe D. Carlos,<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />

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Ultimo» mo<strong>de</strong>los para 18O3.<br />

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quer natureza, ataques agthraatjcos e todas as doenças <strong>de</strong><br />

peito. Foi ensaiqdo com optimos resultados nos bospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />

pelo conselho medico do Porto, bem como pçlos principais facultativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 atlftetado.s q ^ acompanham<br />

o fra sfp,.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pbarmacias do reino. Deposito garal —<br />

Lisboa, pharmacia Rosas $ Viegas, Bua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33<br />

<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & Ç," ftyiio, pharmacia Sintas, tua <strong>de</strong> Santo li<strong>de</strong>.<br />

fonso, 61, 65. ~<br />

DEPOSITO DA FABRICA MC101L<br />

DP<br />

Í 1 W 1 T O<br />

DJS<br />

JOSE FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

^ jVrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

llj junto e a retalho, lodos os, productos d'aquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem diiaqsfjúer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos


Defensor<br />

Ol ^ A ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N ° 91<br />

H p<br />

Ad corintlrios<br />

Na vaidosa pretensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

o que chama —os seus direitos,<br />

— contra as mais claras provas adduzidas<br />

em argumentos irrespondiveis<br />

por tres membros da commissão<br />

<strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res,<br />

o nobre con<strong>de</strong> e opulento banqueiro,<br />

sr. <strong>de</strong> Burnay, botou carta na<br />

imprensa, num louco tentamen <strong>de</strong><br />

crear opinião, sustentando com<br />

linhas e <strong>de</strong>ntes o seu direito a entrar<br />

no parlamento portuguez.<br />

A candidatura moral do illustre<br />

fidalgo, portuguez agora, porque<br />

os seus caprichos, ou antes os<br />

seus interesses, assim lh'o recommendam,<br />

é já agora para o sr. Burnay<br />

um peza<strong>de</strong>llo que o não larga,<br />

um acicate que espicaça continuamente<br />

a sua gran<strong>de</strong> activida<strong>de</strong> em<br />

correrias intermináveis <strong>de</strong> casa <strong>de</strong><br />

uns para casa d'oulros, informando-se<br />

aqui dos <strong>de</strong>putados accommodalicios;<br />

conferenciando acolá<br />

com altos trunfos polilicõeá, que<br />

lhe estendam a mão, bastas vezes<br />

beneficiada pelo oiro dos seus cofres;<br />

ora no ministério do reino, ora<br />

no da fazenda, em conferencias<br />

sempre, sempre numa roda viva.<br />

E não se cança, o nobilíssimo<br />

senhor; abarrotado d'oiro, vampirisado<br />

num paiz empobrecido, que<br />

elle explorou e tem <strong>de</strong>sprezado; nobilitado<br />

pelas mais subidas honras,<br />

que governos sem escrupulos se não<br />

teem <strong>de</strong>dignado <strong>de</strong> lhe conce<strong>de</strong>r; rei<br />

da finança porlugueza, ousado e <strong>de</strong><br />

consciência larga, na brecha sempre<br />

que se trate <strong>de</strong> tranquibernias<br />

que enriqueçam; commendador,<br />

grã-cruz, con<strong>de</strong>, fidalgo, banqueiro,<br />

visita e talvez até compadre do<br />

rei, esta illustre sanguesuga insaciável,<br />

quer ainda affrontar, do alto<br />

da representação nacional, o paiz,<br />

que vilipendiou e extorquiu, num<br />

assomo <strong>de</strong> orgulho e <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>,<br />

num capricho <strong>de</strong> quem conhece<br />

bem a força prodigiosa do oiro e a<br />

fraqueza subserviente dos míseros<br />

mortaes, ainda mesmo dos paes da<br />

patria.<br />

O que admira, porém, é a enorme<br />

celeuma levantada perante a<br />

ambição disparatada do gran<strong>de</strong> homem.<br />

Provou-se á evi<strong>de</strong>ncia que a<br />

sua nacionalida<strong>de</strong> não é, para honra<br />

nossa, a porlugueza; eslá <strong>de</strong>monstrado<br />

cabal e irrespondivelmerile<br />

que a sua enorme fortuna, adquirida<br />

em muito menos <strong>de</strong> cincoenta<br />

annos, é proveniente <strong>de</strong> tramóias e<br />

negociatas, veniagas, syndicalos e<br />

exploração <strong>de</strong> toda a casta, em que<br />

só o paiz tem sido o expoliado e o<br />

vendido; e assim, porque não se<br />

adoptará antes, sem espalhafatos,<br />

nem <strong>de</strong>clamações eslereis, o meio<br />

mais simples e mais curial <strong>de</strong> libertar<br />

o paiz d'este parasita — pegar-lhe<br />

por um braço e pôl-o fóra<br />

da fronteira, com prohibição expressa<br />

daqui tornar a pôr os pés ?<br />

E queríamos nós mostrar-nos generosos<br />

e <strong>de</strong>sprendidos, nesta mania<br />

fidalga que nos faz andar a pedir?<br />

Era <strong>de</strong>uçal-o ir e mail-os seus<br />

contos <strong>de</strong> réis, cuja reivindicação a<br />

equida<strong>de</strong> pedia, mas que, emfiiri,<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO JL \ J V V /<br />

era bem feilo que elle levasse para<br />

castigo d'aquelles que lh'os <strong>de</strong>ixaram<br />

comer.<br />

E <strong>de</strong>pois, fechada a porta na<br />

cara d'esle, que escolha era urgente<br />

fazer cá por <strong>de</strong>ntro e que <strong>de</strong> hervas<br />

damninhas a mondar.. .<br />

• •<br />

Erratas<br />

No arligo editorial do ultimo numero<br />

do Defensor sahiu, na primeira columna,<br />

«agares® em vez <strong>de</strong> «algares» e «concalentação»<br />

por «concatenação».<br />

Olho aberto, senhores typographos I<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Reuniu domingo a classe medica <strong>de</strong><br />

Lisboa, sob a presi<strong>de</strong>ncia do sr. conselheiro<br />

Gaspar Gomes, a fim <strong>de</strong> representar<br />

no governo contra o augmento da<br />

contribuição industrial com que é aggravada<br />

nas ultimas propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />

# Reuniu a Associação Industrial<br />

do Porto, a fim <strong>de</strong> tratar das medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda que dizem respeito á classe<br />

industrial. Presidiu Jacintho <strong>de</strong> Magalhães,<br />

lendo como secretários Augusto<br />

Gama e Henrique Assumpção. Fallaram<br />

o presi<strong>de</strong>nte Luiz Pinto, Carlos Alfonso,<br />

Yieira <strong>de</strong> Castro, Francisco Gonçalves e<br />

Joaquim Ventura, protestando contra a<br />

elevação do Porto a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> l. a classe.<br />

Referindo se o presi<strong>de</strong>nte aos rendimenr<br />

los aduaneiros, disse não po<strong>de</strong>r a industria<br />

ser responsável pela diminuição<br />

dos mesmos. Falou támbem na falta <strong>de</strong><br />

auxilio forte do estado ás industrias e<br />

da <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong> entre as emprezas particulares<br />

e socieda<strong>de</strong>s anonymas, aquellas<br />

que pagam segundo os seus lucros e<br />

estas que tem taxa fixa.<br />

Foram approvadas as seguintes propostas<br />

: Que a Associação Industrial represente<br />

ao governo affirmando que os<br />

industriaes eslão promptos a contribuir<br />

para as urgências do thesouro, e que<br />

confiam que será justa e equitativa a<br />

distribuição da quota que lhes couber<br />

para que a associação se preste a collaborar<br />

com o governo; que a Associação .<br />

Industrial convi<strong>de</strong> lodos os industriaes<br />

que se julguem lesados com as propostas<br />

<strong>de</strong> fazenda a enviarem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminado praso as suas reclamações<br />

para serem enviadas ao governo <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> compendiadas pela direcção.<br />

# Reuniram as classes dos advogados.<br />

negociantes <strong>de</strong> couros e banheiros<br />

da praia da Foz do Douro, resolvendo<br />

reclamar contra o aggravamento das respectivas<br />

contribuições.<br />

Um cumulo!<br />

Se mais nada houvesse que con<strong>de</strong>mnar<br />

nas disposições tributarias do sr.<br />

Fuschini, bastaria o que vae ler-se para<br />

revoltar todos os que ganham a vida jungidos<br />

ao trabalho.<br />

Pagam os <strong>de</strong>spachantes do caminho<br />

d« ferro <strong>de</strong> contribuição industrial 9$000<br />

réis; porém, pelas propostas do sr.<br />

Fuschini è-lhes cotada a verba em réis<br />

55/000.<br />

O <strong>de</strong>scaro é tão inaudito que prescin<strong>de</strong><br />

bem <strong>de</strong> commentarios.<br />

No reinado do sr. Fuschini<br />

O Grito <strong>de</strong> Janeiro, senianario do<br />

Porto, foi querellado por con<strong>de</strong>mnar<br />

energicamente o insolito procedimento<br />

do sr. commissario Accacio, na occasião<br />

da chegada ao Porto do distincto jornalista<br />

João Chagas.<br />

E' tal a impudência d'esla gente,<br />

que não se peja <strong>de</strong> perseguir cidadãos<br />

honrados e dignos que teem a hombrida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> lhe corrigir os <strong>de</strong>smandos, para<br />

<strong>de</strong>ixar em paz os gran<strong>de</strong>s criminosos e<br />

os gran<strong>de</strong>s ladrões


A.V\0 91 O D E F E X S u R DO POVO 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18»3<br />

CRYSTAB S<br />

Tudo escurece<br />

Não po<strong>de</strong>s ser amada. A natureza<br />

Quiz ser i<strong>de</strong>al conitigo e mãe profusa,<br />

E fez-te a <strong>de</strong>usa fria, a etherea musa<br />

Dos infindos poetastros da bulleza.<br />

Porém negou-te a sensual viveza,<br />

O salero gentil d'uma andaluza:<br />

Ora a taça da velha syracusa<br />

Não vale um copo <strong>de</strong> cerveja ingleza.<br />

Filha da Escossia, e como a Escossia algente<br />

Não tens das bellas regiões do sul<br />

A graça feminil, o amor ar<strong>de</strong>nte.<br />

E comtudo, se acaso o pando Buli<br />

Te leva, sinto alguém que <strong>de</strong> repente<br />

Subtil me põe uma luneta azul.<br />

JOÃO PENHA.<br />

LBTTBAS<br />

Junho, julho, agosto<br />

(A COQBELIN CADET)<br />

Amai-vos uns aos outros<br />

Novo testamento<br />

Era um egoisla meticuloso.<br />

Usava flanella e cautchouc, seguia<br />

um regimen <strong>de</strong>terminado, purgava se em<br />

época lixa, fazia tudo por conta, pezo e<br />

medida, e a sua vida era regrada como<br />

um papel <strong>de</strong> musica.<br />

Sabia <strong>de</strong> cór os preceitos da escola<br />

<strong>de</strong> Salerno, linha como palavras do Evangelho<br />

os adagios populares que teem relação<br />

com a saú<strong>de</strong>.<br />

Nada <strong>de</strong> parentescos prejudiciaes nada<br />

<strong>de</strong> ligações embaraçadoras. De amisa.<strong>de</strong><br />

e camaradagem só adoptava o necessário<br />

para tomar alegre a sua exislencia. Teria<br />

sacrilicado o mundo inteiro ao seu conforto.<br />

Ura dia, comtudo, foi obrigado a romper<br />

com os seus queridos costumes. Uma<br />

avultada herança a receber chamava-o á<br />

America. Não havia que hesitar. Era um<br />

pequeno mal para um gran<strong>de</strong> bem. Graças<br />

a uma mudança e alguns dissabores, <strong>de</strong><br />

resto pouco importantes, ganhava <strong>de</strong> repente<br />

com que dar um tratamento <strong>de</strong> rei<br />

ao seu egoismo.<br />

Embarcou, mas não sem se ter munido<br />

<strong>de</strong> tudo que pu<strong>de</strong>sse tornar menos<br />

penosa a viagem: provisões <strong>de</strong> gulodice,<br />

pharmacia d'algibcira, cinto hypogastrico<br />

contra o enjoo do mar, apparelho <strong>de</strong> salvação<br />

em caso <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>. Apezar <strong>de</strong><br />

tudo não foi feliz.<br />

As provisões foram avariadas pelo<br />

bolor, a pharmacia quebrada por um balanço<br />

brusco, e o cinto facilitava os vomitos.<br />

Só o appjrelho <strong>de</strong> salvação foi útil<br />

no regresso.<br />

Naufragaram com effeito. Quasi ao<br />

chegar ao porto, o navio bateu contra um<br />

escolho e sossobrou.<br />

Mas levou um quarto <strong>de</strong> hora a<br />

stibmergir-se e o nosso homem teve tempo<br />

<strong>de</strong> armar-se contra o mar. Vestiu o<br />

seu costume <strong>de</strong> guttapercha, soprou-lhe<br />

o sufficiente para fazer d'elle uma bexiga<br />

e conseguiu boiar.<br />

Um companheiro d'infortunio a quem<br />

elle 110 navio tratava como amigo, quiz<br />

agarrar-se a elle: repelliu-o com indignação.<br />

Uma pobre mãe, que levantava acima<br />

das ondas uma creança <strong>de</strong> peito, esten<strong>de</strong>u-lh'a<br />

para que lh'a salvasse e <strong>de</strong>sappareceu,<br />

engulida por unia vaga : elle<br />

pegou na creança e <strong>de</strong>ixou-a cair <strong>de</strong> novo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter apo<strong>de</strong>rado do seu biberon.<br />

Torna-se feroz para salvar a sua preciosa<br />

pelle. Custou-lhe a salval-a. Levado<br />

para o largo pela ressaca, via a terra<br />

sem po<strong>de</strong>r approximar-se «J'ella. Batido<br />

pelos ventose marés, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se durante<br />

dois dias contra as vagas.<br />

O sangue subira-lhe á cabeça. Tinha<br />

o estômago vasio, febre no pulso, os<br />

membros entorpecidos pelo frio. Outro,<br />

menos tenaz, teria esvasiado o apparelho<br />

e <strong>de</strong>ixar-se-hia afogar antes que soffr.cr<br />

as torturas por que passou. Mas elle teve<br />

a coragem do seu egoismo e não quiz renunciar<br />

á vida.<br />

Emfim pô<strong>de</strong> ser arremessado á praia,<br />

Extenuado, muribundo, agarrou-se ao<br />

rochedo com mãos aduncas, e reuniu todas<br />

as suas forjas para gritar por socçorro,<br />

Era noite. Ninguém vinha.<br />

— Ai! pensava elle, agora que po<strong>de</strong>ria<br />

ser salvo, vou morrer aqui? Ah!<br />

se tivesse força para me arrastar até<br />

aquellas casas on<strong>de</strong> a minha voz não<br />

chega! Ah! se pu<strong>de</strong>sse comer um pouco,<br />

ao menos! recuperava as forças,<br />

Como chorava <strong>de</strong> raiva e <strong>de</strong> fraqueza<br />

os seus <strong>de</strong>dos encontraram sobre o rochedo<br />

marisco, mexilhões, ostras.<br />

A fome dá vigor. Teve energia bastante<br />

para os arrancar e abrir. Era o<br />

soccorro pedido, era a força, era a vida.<br />

Pru<strong>de</strong>ntemente, sensatamente, com<br />

temperança, comeu a carne saborosa e<br />

pô<strong>de</strong> alimentar-se.<br />

Assim confortado, começou <strong>de</strong> novo<br />

a gritar. D'esta vez a sua voz mais sonora<br />

foi ouvida. Uns pescadores vieram<br />

buscai o, e <strong>de</strong>ntro em pouco foi installado<br />

numa boa cama. proximo d'uma fogueira.<br />

Deram-llie a beber um cordial que acabou<br />

<strong>de</strong> reanimai o.<br />

Estava salvo!! I<br />

De repente, uma dôr atroz apagou-<br />

Ihe o sorriso dos lábios. Os olhos voltaram-se-lhe,<br />

os membros coatrahiram selhe.<br />

Uma caimbia d'estomago, seguida<br />

d'uma cólica, abalou-lhe o corpo todo.<br />

Tinha fogo nos intestinos, e o ventre estava<br />

como que contorcido.<br />

Chamaram um velho medico das visinhanças.<br />

Entre os suspiros, o ranger <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes,<br />

os sobresallos, o doente contou o<br />

o seu naufragio e as suas quarenta e oito<br />

horas passadas sem alimento, na agua<br />

glacial.<br />

— Não foi isso, diz o patrício. Vejamos<br />

: tomou alguma coisa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

aqui está?<br />

—: Demos-llie um pouco <strong>de</strong> rbum em<br />

caldo <strong>de</strong> couves, inierromperam os pescadores.<br />

— Não é preciso mais nada. Ow eis<br />

um caso verda<strong>de</strong>iramente extravagante.<br />

— O que? O que? murmurou o<br />

doente, presa do terror <strong>de</strong> morte.<br />

Mas o medico não lhe respondia, e<br />

absorto no seu pensamento, murmurou<br />

por entre <strong>de</strong>ntes:<br />

— Já vi afogados por asphyvia, mas<br />

é a primeira vez que vejo afogados por<br />

envenenamento.<br />

— Por envenenamento! grilou o nosso<br />

homem. Por envenenamento. Ah! percebo.<br />

Em que mez estamos ?<br />

— Em junho.<br />

— Como aterrado por esta resposta,<br />

começou a <strong>de</strong>itar sangue pela bocca.<br />

Eram os arrancos da agonia !<br />

E tomaram nos suspiros do estertor<br />

o dicto incomprehensivel que elle pronunciou<br />

ao morrer:<br />

Em junho, julho e acosto, ouves?<br />

Nem ostras, nem mulheres, nem couves.<br />

Jean Richepin.<br />

S. João em Braga<br />

Parece que tomarão parte no certamen<br />

musical que se realisa naquella cu<br />

da<strong>de</strong> por occasião dos festejos ao Santo<br />

percursor as blindas <strong>de</strong> caçadores 3,<br />

infanleria 2, 9 e 20 e a da guarda municipal<br />

do Porto,<br />

Para o dia 24 <strong>de</strong> junho projecla-se<br />

a exhibiçâo <strong>de</strong> uma engraçada dança <strong>de</strong><br />

amazonas.<br />

Começaram já os ensaios para os<br />

bailes e canções populares e consta que<br />

será conferido um premio pecuniário ás<br />

corporações <strong>de</strong> bombeiros que tomarem<br />

parte no gran<strong>de</strong> exercício do dia 25.<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

Mangual<strong>de</strong>, 27 <strong>de</strong> maio.<br />

Na arcada (é bom saber-so a arcada<br />

mangualense é no estabelecimento do<br />

nosso amigo José Cabral, on<strong>de</strong> se reúne<br />

o melhor das pessoas <strong>de</strong> bom tom) temse<br />

discutido esta semana a questão da<br />

illegibilida<strong>de</strong> ou não illegibilida<strong>de</strong> do belga<br />

con<strong>de</strong> Burnay para <strong>de</strong>putado da nação<br />

portugueza. E' ma rcditavel que, para<br />

escorraçar das bancadas da camara um<br />

typo d'esta or<strong>de</strong>m, seja preciso tanta<br />

maçada. No entanto, acreditamos que a<br />

commissão encarregada do trabalho <strong>de</strong>slindará<br />

o fio da meada e não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong><br />

ter o h


AXXOJ-M»» 94 O DEFKNiOR DO POVO 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18»3<br />

As pessoas que <strong>de</strong>sejarem ca<strong>de</strong>iras<br />

têem <strong>de</strong> as rfquisilar á respectiva commissão.<br />

Os artigos da exposição que forem<br />

offerecidos, bem como as prendas que não<br />

tiverem saido até ás 5 horas da tar<strong>de</strong> do<br />

dia 4, serão arrematadas <strong>de</strong>pois d'aquella<br />

hora, e adjudicadas a quem maior lanço<br />

offerecer, se este convier.<br />

Ás pessoas que visitarem a Exposição,<br />

pe<strong>de</strong> a commissão a especial fineza <strong>de</strong><br />

comprarem á entrada do pavilhão um bilhete<br />

da Kermesse, do preço <strong>de</strong> 20 réis.<br />

Sempre o calote<br />

Porque do ministério das obras publicas<br />

ainda não baixou a respectiva or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> pagamento eslão sem receber os seus<br />

honorários do mez <strong>de</strong> abril os agronomos,<br />

veterinários e florestaes do districto <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

O estado maior das repartições publicas<br />

que vive á regalada recebendo<br />

até adiantadamente os seus or<strong>de</strong>nados,<br />

esquece-se por completo dos pequenos<br />

funccionarios e não lhes repugna o sacrifical-os<br />

á sua mandria.<br />

Bem podiam e <strong>de</strong>viam os srs. ministros<br />

velar por estas cousas e obrigar os<br />

seus subordinados ao cumprimento dos<br />

seus <strong>de</strong>veres.<br />

Mas todos leem pela mesma cartilha!<br />

De luto<br />

Pelo fallecimento <strong>de</strong> seu irmão, o<br />

sr. Joaquim Itocha, eslá <strong>de</strong> luto o sr. dr.<br />

Vicente Rocha, a quem enviamos o testemunho<br />

do nosso pesar, por mais este<br />

golpe soffrido.<br />

Peixe fresco<br />

Sabemos que se tem vendido no<br />

nosso mercado algum peixe em péssimo<br />

estado, pela razão <strong>de</strong> não ter havido a<br />

fiscalisação precisa, <strong>de</strong> modo a evitar um<br />

tal abuso, que po<strong>de</strong> acarretar á saú<strong>de</strong><br />

publica funestas consequências.<br />

Numa remessa que chegou ha dias<br />

ven<strong>de</strong>u-se o peixe conhecido pelo nome<br />

<strong>de</strong> — raia — quasi liquefeito, exhalando<br />

um cheiro insupportavel.<br />

Para este caso chamamos a altenção<br />

da camara e do vereador do pelouro respectivo.<br />

Torna-se <strong>de</strong> urgente necessida<strong>de</strong> que<br />

a camara municipal tenha um funccionario<br />

competente para a revista do peixe,<br />

a fim <strong>de</strong> que o publico não seja ludibriado<br />

pela consciência pouco escrupulosa<br />

das ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras, que para serem<br />

agradaveis aos coutractadores, acceilani<br />

toda a pescaria, não lhes repugnando<br />

ven<strong>de</strong>r o que aqui chega em mau estado.<br />

Esperamos ser attendidos neste pedido,<br />

<strong>de</strong> todo o ponto justo, e que bem<br />

merece a especial attenção dos vereadores,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se trata da saú<strong>de</strong> publica.<br />

Urbana Portuguez»<br />

Informam-nos que esla Companhia <strong>de</strong><br />

segmos liquidou na terça feira a importância<br />

dos prejuízos havidos no incêndio<br />

40 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A M l 1VAIICWO<br />

XII<br />

Noite <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> amor<br />

E afastou-se rapidamente, resmoneando<br />

numa cólera surda, que Paulo<br />

ouviu ainda ao longe, em virtu<strong>de</strong> do silencio<br />

do <strong>de</strong>spontar do d ; a.<br />

Paulo Gréant, que tinha a coragem<br />

fria que nenhuma ameaça perturba, ouviu<br />

as palavras fulminantes <strong>de</strong> Talormi<br />

numa gran<strong>de</strong> tranquillida<strong>de</strong>, e apenas se<br />

encontrou só resolveu consagrar o dia á<br />

execução do plano meditado nas ultimas<br />

horas da noite.<br />

Ao anoitecer o porto <strong>de</strong> Génova offerecia<br />

um quadro encantador; os marinheiros<br />

promplos a fazerem-se <strong>de</strong> véla,<br />

mettiam agua da fonte <strong>de</strong> S. Chrislovão;<br />

<strong>de</strong> bordo dos navios erguiam-se, em<br />

arias dolentes, as velhas cantilenas da<br />

Italia; alguns marinheiros jogavam a<br />

morra, no meio d'um circulo <strong>de</strong> populares;<br />

os barcos cruzavam se sobre a<br />

agua, e, ao fundo, o palacio Doria ostentava-se,<br />

esplendido, encostado á sua<br />

montanha-<strong>de</strong> jardins.<br />

Paulo Gréant, artista, não via nada;<br />

teria dado todos os seus pincéis e toda<br />

que ha dias <strong>de</strong>struiu um prédio do sr.<br />

Antonio <strong>de</strong> Sousa, como noticiamos.<br />

Ao commissario<br />

Pe<strong>de</strong>-se a s. ex. a para que dê instrucções<br />

aos seus subordinados a fim <strong>de</strong><br />

obstar ao abuso que constantemente se<br />

eslá presenceando dos carreiros carregarem<br />

extraordinariamente os seus carros<br />

Na segunda feira seguia para o-Tovim<br />

um carro <strong>de</strong> bois conduzindo trouxas<br />

<strong>de</strong> roupa, sendo tal o peso da carga<br />

que aos aniinaes custava-Ihes a arrastar.<br />

Proximo da Portella os bois não po<strong>de</strong>ndo<br />

su-tentar tão extraordinário carregamento<br />

cairam e se por infelicida<strong>de</strong> o carro<br />

tomba para a estrada podíamos ter a<br />

lamentar algum <strong>de</strong>sastre pessoal, porisso<br />

que nessa occasião passava muita gente,<br />

que esteve <strong>de</strong>pois auxiliando o carreiro.<br />

Bom serviço prestava a policia se<br />

interviesse nestes casos, prohibindo a<br />

continuação <strong>de</strong> semelhantes brutalida<strong>de</strong>s.<br />

E já que nos occupamos d'este assumpto<br />

bom é aqui lembrar lambem a<br />

conveniência <strong>de</strong> conter os Ímpetos ferozes<br />

dos carreiros, que bestialmente espicaçam<br />

os" animaes a toda a hora do<br />

dia, chegando as ferroadas com o aguillião<br />

a produzirem <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue.<br />

Não ha muitos dias que esla scena<br />

se presenciou na rua do Viscon<strong>de</strong> da<br />

Luz, indignando todos os que alli estavam.<br />

Nós esperamos que o sr. commissario<br />

tome na <strong>de</strong>vida consi<strong>de</strong>ração os factos<br />

que apontamos.<br />

Incêndio<br />

Na segunda feira houve principio <strong>de</strong><br />

incêndio numa casa da rua <strong>de</strong> Simão<br />

d'Evora, que foi extincto pela visinliança.<br />

Chegou a comparecer o material e<br />

pessoal das corporações, não trabalhando.<br />

Apresentaram-se primeiro os Bombeiros<br />

Volunlarios.<br />

*<br />

Na terça feira <strong>de</strong>pois das 10 horas<br />

da noite espalhou-se o boato <strong>de</strong> fogo numa<br />

casa ao Arnado. Para aquelle local se<br />

conduziram as bombas verificando-se a<br />

falsida<strong>de</strong> do boato que poz em alarme os<br />

bombeiros.<br />

O dono d'um prédio em conslrucção<br />

mandára queimar num quintal uma gran<strong>de</strong><br />

porção <strong>de</strong> aparas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, o que <strong>de</strong>u<br />

logar a que se suppozesse que o fogo<br />

que se via era no prédio.<br />

Kega Uns ruas<br />

O esguicho municipal anda ha dias<br />

a refrescar algumas ruas da baixa, <strong>de</strong>ixando<br />

intactos os beccos e travessas que<br />

ha muito estão a pedir uma lavagem<br />

energica que <strong>de</strong>scasque das sargetas<br />

as <strong>de</strong>jecções amontoadas.<br />

E' preciso abrir <strong>de</strong> par em par essas<br />

torneiras e dar á cida<strong>de</strong> uma limpeza<br />

geral, persistente, que nos <strong>de</strong>ixe transitar<br />

á vonta<strong>de</strong> sem nos vermos obrigados<br />

a andar por ahi <strong>de</strong> lenço no nariz. '<br />

esta paisagem marilima pela espada veneziana<br />

<strong>de</strong> André Doria.<br />

Talormi foi pontual á entrevista apra-<br />

zada, e Paulo agra<strong>de</strong>ceu-lhe com uma<br />

saudação polida e fria.<br />

— Queira seguir me, disse Paulo indicando-lhe<br />

com a mão um bote. Bem<br />

sabe que nada <strong>de</strong> <strong>de</strong>sleal <strong>de</strong>ve. esperar<br />

<strong>de</strong> mim, pois que ainda a noite passada<br />

o <strong>de</strong>ixei sair vivo d'um <strong>de</strong>serto on<strong>de</strong><br />

eu estava armado d'um punhal.<br />

Talormi não respon<strong>de</strong>u; o seu rosto<br />

sombrio mantinha a ameaça da manhã ;<br />

entrou com Paulo no barco e assentouse<br />

apoiando a cabeça entre as mãos.<br />

Paulo tinha notado ao primeiro relance<br />

uma gran<strong>de</strong> mudança na toilelte <strong>de</strong><br />

Talormi; o diplomata eslava em verda<strong>de</strong>iro<br />

costume <strong>de</strong> baile, e o seu colete,<br />

d'uma alvura <strong>de</strong> neve, abrindo sobre o<br />

seu peito hercúleo, tel-o-ia feito reconhecer<br />

a uma gran<strong>de</strong> distancia, <strong>de</strong> noite:<br />

só Talormi podia ter aquelle peito e<br />

aquelle collete.<br />

Os remos moveram-se com vigor e<br />

agilida<strong>de</strong> nas mãos hab,:is <strong>de</strong> Gréant, e,<br />

á sabida do porto, uma ligeira brisa encheu<br />

a vela e impelliu o barco para<br />

uma costa baixa,arenosa, <strong>de</strong>serta, inteiramente<br />

favorável ao terrível combate<br />

projectado.<br />

Próximos a <strong>de</strong>sembarcarem, Pattlo<br />

Gréant, que tinha os olhos sempre fitos<br />

em Talormi, receando alguma surpreza,<br />

disse-lhe tranquillamente:<br />

— Comprei este barco hoje <strong>de</strong> ma-<br />

Agua, srs. camaristas, agua para<br />

essas ruas mal cheirosas e beccos immundos<br />

que ahi eslão a procrear microbios<br />

<strong>de</strong> toda a especie.<br />

A estação do calor já se faz sentir<br />

e lembramos aos vereadores o bom serviço<br />

que pô<strong>de</strong> prestar á hygiene uma<br />

limpeza aturada, cuidadosa<br />

Para beneficio da saú<strong>de</strong> publica não<br />

<strong>de</strong>ve haver mesquinhezas e nunca o<br />

publico se queixará se a camara dispen<strong>de</strong>r<br />

neste serviço algumas quantias a<br />

mais do que é costume.<br />

Economias po<strong>de</strong>m fazer-se e muitas,<br />

em outros ramos <strong>de</strong> serviço e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

a camara feche a torneira das concessões<br />

e dos benesses a amigos particulares e<br />

políticos, sempre ha <strong>de</strong> encontrar nos<br />

seus cofres umas mealhas com que possa<br />

occorrer ás <strong>de</strong>spezas que fizer com a<br />

limpeza da cida<strong>de</strong>.<br />

Exportação <strong>de</strong> cereja<br />

Para Lisboa, como nos mais annos,<br />

têm sido enviadas d'esta cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

remessas <strong>de</strong> cereja.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Devido a um lamentavel <strong>de</strong>sastre<br />

fracturou uma perna a esposa do sr.<br />

Antonio José Gonçalves Neves e mãe do<br />

nosso <strong>de</strong>dicado correligionário sr. Antonio<br />

Augusto Gonçalves.<br />

O tratamento da enferma segue regularmente<br />

sem que haja por em quanto<br />

indícios <strong>de</strong> perigo.<br />

Sentimos <strong>de</strong>veras este acontecimento<br />

e oxala possamos em curto espaço noticiar<br />

um restabelecimento completo.<br />

* Encontra-se em convalescença o<br />

.sr. Manoel Augusto Bodrigues da Silva,<br />

que felizmente já o vemos no seu estabelecimento.<br />

* Esteve nesta cida<strong>de</strong> o nosso<br />

amigo sr. Leonardo dos Sanlos Coelho,<br />

digno empregado do commercio, na cida<strong>de</strong><br />

do Porto.<br />

* Está quasi restabelecido d'uma<br />

grave operação que soffreu a esposa do<br />

nosso amigo sr. Manoel Gonçalves Pereira<br />

Guimarães, conceituado commerciante<br />

d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

* Para Ancião vae com sua esposa<br />

e filha o nosso bom amigo e correligionário,<br />

sr. dr. Alberto David, nomeado<br />

ultimamente para conservador d'aquella<br />

comarca.<br />

O povo <strong>de</strong> Ancião encontrará no<br />

nosso amigo um funccionario zeloso e<br />

<strong>de</strong>dicado e em breve tempo po<strong>de</strong>rá apreciar<br />

as dislinctas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caracter,<br />

que tanto o nobilitam.<br />

Ilovinieiito commercial<br />

Agio—Premio das libras: 900 rs<br />

ouro nacional, 18.<br />

*<br />

Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />

pelos seguintes preços os generos abaixo<br />

indicados:<br />

Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo S80—Dito<br />

tremez 500 — Milho branco 310—Dito<br />

amarello 330 — Feijão vermelho 800 —<br />

Dito branco 400—Dito ruja do 300 —<br />

nhã, pertencia a um navio que partiu<br />

ao.meio dia, e ninguém foi testemunha<br />

d'esta compra. A's duas horas abor<strong>de</strong>i a<br />

esta costa, entre estes dois macissos <strong>de</strong><br />

plantas que vê, e em cada um d'elles occultei<br />

uma espada. Con<strong>de</strong> Talormi, pô<strong>de</strong><br />

escolher uma d'ellas, á direita ou á esquerda<br />

— é <strong>de</strong> justiça.<br />

Talormi levantou a cabeça e olhou os<br />

dois pontos <strong>de</strong>siguados; <strong>de</strong>pojs esten<strong>de</strong>u<br />

a mão paia a direita e fez assim a sua<br />

escolha sem pronunciar uma palavra.<br />

O barco, obe<strong>de</strong>cendo a uma guinada<br />

do leme, enrascou na areia; Talormi<br />

<strong>de</strong>sembarcou lentamente e caminhou com<br />

passo resoluto para o macisso <strong>de</strong> plantas<br />

marítimas, on<strong>de</strong> encontrou uma boa espada<br />

<strong>de</strong> combate.<br />

Os dois inimigos, illuminados pelas<br />

brilhantes constellaçõcs do céu italiano,<br />

collocaram-se ousadamente um em frente<br />

do outro; Paulo Gréant tomou uma guarda<br />

cheia <strong>de</strong> elegancia e <strong>de</strong> altivez, mas<br />

Talormi pareceu querer conservar as<br />

tradições d'algumas escolas napolitanas<br />

e recusou-se ao cruzamento leal do<br />

ferro.<br />

— Con<strong>de</strong> Talormi, disse Paulo, estáse<br />

<strong>de</strong>scobrindo continuamente.<br />

— Senhor, respon<strong>de</strong>u Talormi, o<br />

campo auctorisa tudo; guar<strong>de</strong> as suas lições<br />

para uma sala.<br />

Todavia, passados cinco minutos <strong>de</strong><br />

curdio, Talormi <strong>de</strong>ixou-se arrastar pelo<br />

calor do combate e estabeleceu-se uma<br />

certa regularida<strong>de</strong> académica no jogo das l<br />

"'•II 1 '»II» • I • < I I I II I • 1.1'JIH<br />

Dito fra<strong>de</strong> 390 —Centeio 440 —Cevada<br />

240 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 — Dito<br />

meudo 680—Favas 380—Tremoços 280.<br />

Azeite a 1$S00.<br />

A GRANEL<br />

O sr. ministro da fazenda <strong>de</strong>clarou na<br />

commissão do orçamento que o governo<br />

poria em concurso a adjudicação das fabricas<br />

<strong>de</strong> vidros da Marinha Gran<strong>de</strong>.<br />

# * * Ha dias, no sitio da Ferraria,<br />

em Rio Tinto, um suino comeu parte<br />

<strong>de</strong> um pé, unia das mãos e uma orelha<br />

a uma creancinha. A pobresita morreu<br />

d'alli a pouco.<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinaria<br />

De 12 <strong>de</strong> maio<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />

Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />

presentes: João da Fonseca Barata, Manoel<br />

Bento <strong>de</strong> Quadros, Manoel Miranda,<br />

João Antonio da Cunha, Joaquim Justiniano<br />

Ferreira Lobo, Antonio José Dantas<br />

Guimarães; effectivos José Corrêa dos<br />

Santos, substituto.<br />

Ven<strong>de</strong>u em praça Ires lotes <strong>de</strong> terreno<br />

na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz rua n.° 9.<br />

Mandou provi<strong>de</strong>nciar pnra a limpeza<br />

e cobertura <strong>de</strong> um poço d'agua em Taveiro,<br />

a pedido da junta respectiva<br />

chia.paro-<br />

Mandou collocar uma bocca d'incendio<br />

ao fundo da rua da Louça.<br />

Mandou pa-sar licenças para apasceniamenlo<br />

<strong>de</strong> cabras em favor <strong>de</strong> 4<br />

proprietários do concelho.<br />

Mandou annunciar a venda <strong>de</strong> pastos<br />

da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />

Resolveu permittir que a Associação<br />

<strong>de</strong> bombeiros voluntários man<strong>de</strong> abrir<br />

um lago, por sua conta, no largo <strong>de</strong><br />

D. Luiz na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz, por<br />

occasião da Kermesse que alli vae realisar<br />

ce<strong>de</strong>ndo-se gratuitamente a agua<br />

necessaria e prestando-se para estes trabalhos,<br />

não só o material que possa dispor-se,<br />

mas o pessoal habilitado dos serviços<br />

municipaes.<br />

Mandou abonar a quantia <strong>de</strong> 30$000<br />

réis para o costeamenlo das <strong>de</strong>spezas<br />

do asylo dos cegos em todo o mez <strong>de</strong><br />

maio corrente.<br />

Resolveu pedir ao commissario <strong>de</strong><br />

policia o inteiro cumprimento das posturas,<br />

niaxime na parte relativa á limpeza<br />

publica, provi<strong>de</strong>nciando para que<br />

cesse o abuso <strong>de</strong> se fazerem <strong>de</strong>spejos<br />

para a via publica; e para que os proprietários<br />

canalisem para a canalisação<br />

geral os esgotos das pias das cozinhas<br />

dos respectivos prédios.<br />

Resolveu ir ao logar <strong>de</strong> Vi 11ela examinar<br />

o ponto por on<strong>de</strong> se encaminham<br />

as aditas pluviaes, junto a um prédio<br />

duas espadas. Paulo, que a principio tinha<br />

conservado muito sangue frio, sentiu<br />

o sangue escaldar-lhe o rosto e o seu<br />

ataque lornou-se mais furioso do que<br />

hábil; Talormi respondia, não com uma<br />

correcção <strong>de</strong> mestre d'armas, mas como<br />

quem está dominado pela estupefacção.<br />

Gréant mais se excitou ainda com o terror<br />

do seu adversario; simulou um bote,<br />

caiu sobre Talormi e viu-o saltar pura<br />

traz e cair sobre a praia agitando no<br />

ar convulsivamente a sua espada.<br />

— Minha mãe, minha mãe ! exclamou<br />

elle em voz surda; e o corpo inteiriçouse-lhe,<br />

e o seu rosto cobriu se da palli<strong>de</strong>z<br />

da morte. O cadaver <strong>de</strong>senhou-se<br />

horrivelmente sobre a areia.<br />

Nestes momentos supremos uma súbita<br />

reacção se apo<strong>de</strong>ra dos ânimos ainda<br />

dos que maior odio sentem. O homem<br />

que chega ao terreuo d'um combate<br />

singular, cheio <strong>de</strong> cólera e se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong><br />

sangue, e que vê caliir o seu inimigo<br />

como se ferido d'um raio, sente logo em<br />

seguida extiuguir-se-lhe no imo da alma<br />

o fogo <strong>de</strong> vingança que o animava. Ser<br />

a causa da morte doutrem, eliminar do<br />

numero dos vivos uma creatura <strong>de</strong> Deus;<br />

dar trabalho ao coveiro e levar o lucto a<br />

uma familia <strong>de</strong>sconhecida; ligar eternamente<br />

a si um pliantasma accusador;<br />

tingir as mãos d'uma nodoa vermelha<br />

in<strong>de</strong>level; con<strong>de</strong>mnar-se a ouvir constantemente<br />

o stertor d'uma agonia que causou,<br />

é intolerável, é o castigo mais legitimo<br />

do duello, a lição mais terrível<br />

<strong>de</strong> Joaquim Antonio José Pereira, a con.<br />

finar com a rua do logar.<br />

Auctorisou o vereador do pelouro<br />

dos incêndios a provi<strong>de</strong>nciar para a reparação<br />

do material dos incêndios, segundo<br />

o pedido do cominandante interino<br />

do corpo <strong>de</strong> bombeiros municipaes.<br />

Auctorisou a reparação da fonte da<br />

Marmeleira, freguezia <strong>de</strong> Souzellas.<br />

Nomeou para exercer interinamente<br />

as funeções <strong>de</strong> fiscal da montureira;<br />

Antonio Men<strong>de</strong>s Garcia Rodrigues Tavares.<br />

Nomeou para exercer interinamente<br />

as funeções <strong>de</strong> chefe da repartições<br />

dobras municipaes o conduclor <strong>de</strong> trabalhos,<br />

Joaquim Maria Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo.<br />

'<br />

Attestou favoravelmente ácerca <strong>de</strong><br />

uma petição <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Nazareth, <strong>de</strong>sta<br />

cida<strong>de</strong>, para a concessão <strong>de</strong> um subsidio<br />

<strong>de</strong> lactação para um filho menor.<br />

Deferiu alguns requerimentos sobre<br />

assumptos diversos; transgressão <strong>de</strong> posturas;<br />

comportamento moral e civil, taboletas<br />

em estabelecimentos particulares;<br />

renovação <strong>de</strong> covatos no cemitério; e<br />

annulação <strong>de</strong> contribuição directa.<br />

Associação dos Artistas<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Para conhecimento dos associados se<br />

faz publico que o actual facultativo d'esta<br />

associação é o ex. rao sr. dr. Antonio da<br />

Silva Pontes, com Posto medico ao Arco<br />

d'Almedina, n.° 6.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />

O Secretario,<br />

Alfredo da Cunha Mello.<br />

Prevenimos os nossos<br />

estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />

fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

vamos principiar a cobrança<br />

das suas assignaturas relativamente<br />

ao 2." semestre.<br />

Aos que não tiverem pago<br />

o 1.° semestre enviamos<br />

recibos do anno completo.<br />

Pedimos a todos o obsequio<br />

<strong>de</strong> pagarem logo que<br />

lhes seja apresentado o recibo<br />

ou mandarem pagar<br />

ás respectivas estações do<br />

correio quando receberem<br />

aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />

<strong>de</strong>volução, que, além do<br />

prejuizo que nos causa, embaraça<br />

a boa regularida<strong>de</strong><br />

da nossa administração.<br />

recebida quando se violam as leis sagradas<br />

da religião e da humanida<strong>de</strong><br />

Paulo seutiu expirar o seu odio, principalmente<br />

áquelle grito dilacerante :—<br />

Minha mãe' que acabava <strong>de</strong> ouvir duas<br />

vezes e que lhe recordava a sua.<br />

Afastou subitamente os olhos d'aquelle<br />

espectáculo, e abandonando o barco<br />

encalhado retomou a pé o caminho da<br />

cida<strong>de</strong>, atirando fóra a sua espada.<br />

No palacio Santa-Srala, madame Van-<br />

Ritter pelava por <strong>de</strong>traz da persiana do<br />

balcão, bordando ao lado <strong>de</strong> Débora, que<br />

lhe lia sonetos <strong>de</strong> Miguel Angelo.<br />

De repente, unia voz suave e cautelosa<br />

fez-se ouvir perto do palacio; cantava<br />

Vieni in Roma, trecho divino da<br />

Norma. Mínima procurou um pretexto<br />

para afastar a sua joven amiga, e erguendo<br />

um pouco da persiana, viu e<br />

fez-se vêr.<br />

Quem cantava dobrou a esquina do<br />

palacio Santa-Scala e subiu para a pequena<br />

rua, on<strong>de</strong> pronunciou mais distincta<br />

mente ainda o Vieni! mysterioso.<br />

— Oh! meu Deus! disse Memma<br />

comsigo, ha alguma coisa <strong>de</strong> lugubre<br />

na voz d'este rapaz; alguma horrível noticia<br />

paira e vae cair sobre mim 1<br />

Impresso na Typographla<br />

Operaria — Largo da Frsiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros, —<br />

COIMBRA.


A X X O I — 9 1 O DEFENSOR DO POVO 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> IS9S<br />

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Repetições<br />

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mandar tirar fora da terra.<br />

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Valle da Serra, em S. Martinho. Tem<br />

boa estrada que vae da Guarda Ingleza<br />

para a Quinta Agrícola.<br />

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e bem assim communicação lelephonica<br />

coui o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />

do sr. José Tavares da Costa,<br />

successor, no largo do Principe D. Carlos,<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />

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APRENDIZ DE FUNILEIRO<br />

121 p reciga ' ll


Deus nobis hsec otia íecit<br />

A questão Burnay, que tão<br />

gran<strong>de</strong> celeuma tem levantado em<br />

todo o paiz, e dado occasião ás mais<br />

encontradas opiniões, d'entre as<br />

quaes, para honra nossa, se <strong>de</strong>staca<br />

a gran<strong>de</strong> maioria que se oppõe<br />

á tentativa parlamentar do nobre<br />

con<strong>de</strong>, tem absorvido quasi por<br />

completo as altenções <strong>de</strong> lodos. E<br />

tanto, que, na ancia <strong>de</strong> saberem se<br />

Burnay entra se Burnay fica á porta<br />

<strong>de</strong> S. Bento, poucos pensam no<br />

que o governo laz, nem no que é<br />

preciso fazer-se; não se dá toda a<br />

attenção que ellas merecem ás propostas<br />

financeiras do sr. Fuschini;<br />

pensa-se menos na tributação eminente,<br />

<strong>de</strong> levar coiro e cabello, do<br />

que no modo porque a camara resolverá<br />

o empate da commissão <strong>de</strong><br />

verificação dê po<strong>de</strong>res; <strong>de</strong>ixa-se trabalhar<br />

á vonta<strong>de</strong>, na sombra, mas<br />

constantemente, a reacção que se<br />

prepara para o restabelecimento<br />

das or<strong>de</strong>ns religiosas... E po<strong>de</strong><br />

fazér-se tudo quanto se quizer, porque<br />

a opinião publica, como uma<br />

creança, vae-se entretendo com a<br />

distracção que lhe offerece a queslão<br />

burnaysiana.<br />

E entretanto o governo folga e<br />

fará o que muite bem quizer; e o<br />

parlamento continuará naquelle do/ce<br />

far mente, gozando do bucolico<br />

<strong>de</strong>scanço que Deus fez para elles;<br />

e as propostas <strong>de</strong> fazenda hão <strong>de</strong><br />

passar; e os conventos hão <strong>de</strong><br />

vir. .. E então, quando lhe chover<br />

em cima uma saraivada <strong>de</strong> impostos,<br />

violentos, <strong>de</strong> a/r azar, e quando<br />

por toda a parle se encontrar, <strong>de</strong><br />

sandalias e camandulas e hábitos<br />

negros <strong>de</strong> mangas largas, em bandos<br />

<strong>de</strong> parasitas a fradalhad-a, será<br />

só então que acordará a opinião<br />

publica dormente.<br />

Que acordará... Mas para quê?<br />

Yale, por ventura, a pena cuidar<br />

do modo como a administração publica<br />

é gerida, pôr peias aos abusos<br />

que se commellem, 'pôr um dique<br />

á torrente <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoralisação que<br />

tudo inva<strong>de</strong>, pôr obstáculos á ruina<br />

eminente?<br />

Dorme, pois, <strong>de</strong>scuidoso, óbom<br />

povo d'este bel lo paiz, á sombra<br />

das arvores frondosas dos teus<br />

campos ri<strong>de</strong>ntissimos; <strong>de</strong>scança do<br />

teu gran<strong>de</strong> labor <strong>de</strong> ha cincoenla<br />

annos, dos teus homéricos esforços<br />

pelo progresso e pela civilisaçâo;<br />

<strong>de</strong>ixa que os teus homens <strong>de</strong> elite,<br />

essas honestas creaturas, que velam<br />

sollicitos\ pelos teus mais sagrados<br />

interesses, emquanlo disfrulas o leu<br />

somno <strong>de</strong>licioso, levem/singrando<br />

serenamente neste mar <strong>de</strong> bonança,<br />

o teu barco na <strong>de</strong>rrota do futuro<br />

prospero, que é a tua terra da promissão.<br />

Dorme, que não vale a pena<br />

ter cuidados.<br />

Esta vida <strong>de</strong> quietação, que<br />

faz lembrar os plácidos costumes<br />

do bucolismo virgiliano, é <strong>de</strong> todas<br />

a mais suave. E a herança que ás<br />

gerações seguintes havemos <strong>de</strong> legar,<br />

não po<strong>de</strong> senão ser <strong>de</strong> tal modo<br />

fecunda e rica que os vindouros<br />

abençoarão sem cessar a memoria<br />

<strong>de</strong> tão pru<strong>de</strong>ntes antepassados.<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

:<br />

Os collegios jesuíticos<br />

(CONTINUAÇÃO)<br />

A arma mais terrível do jesuitismo<br />

é, como dissémos, a educação da mocida<strong>de</strong>;<br />

bem sabe a Companhia que, se<br />

quizer continuar a prepon<strong>de</strong>rância em<br />

qualquer povo, precisa <strong>de</strong> se apo<strong>de</strong>rar<br />

dos ânimos juvenis, vergando-os a seu<br />

bel-prazer, levando aquelles espíritos irreflectidos<br />

a adherir ás suas doutrinas.<br />

É por isso que a educação litteraria<br />

e a religiosa, principalmente, lhe merecem<br />

o seu particular cuidado.<br />

Não é o amor pela instrucção bem<br />

entendida que lhe faz abrir collegios; se<br />

o fosse, veriamos a Companhia crear escolas<br />

primarias nas diversas terras do<br />

reino; mas isso não o faz, porque a<br />

ignorancia popular lhe <strong>de</strong>u sempre largos<br />

contingentes para os seus a<strong>de</strong>ptos.<br />

E' nos centros d'ignorancia absoluta,<br />

on<strong>de</strong> os jesuítas vivem <strong>de</strong>safogadamente<br />

e on<strong>de</strong> angariam forças que sustentam<br />

a Companhia.<br />

Por outro lado sabem bem que as<br />

nossas escolas primarias officiaes não<br />

po<strong>de</strong>m fazer muito mal ás suas idêas e<br />

portanto não tratam <strong>de</strong> crear escolas<br />

suas.<br />

O seu fito é a instrucção secundaria<br />

e antigamente também a superior. Por<br />

isso os vemos hoje fazer concorrência<br />

aos nossos lyceus e collegios seculares,<br />

on<strong>de</strong> se ministra aos estudantes uma<br />

educação mo<strong>de</strong>rna sem os antigos preconceitos<br />

que a influencia jesuítica tinha<br />

inoculado no modo <strong>de</strong> ser da nossa instrucção<br />

e que tão gravosamente nos fizera<br />

seguir sempre muito atraz das outras<br />

nações na carreira do progresso.<br />

O jesuíta no collegio faz um estudo<br />

minucioso do alumno, examina as suas<br />

ten<strong>de</strong>ncias, as suas disposições, a fim<br />

<strong>de</strong> lhes dar uma direcção consentanea<br />

com os fins da Or<strong>de</strong>m.<br />

Nesse estudo tem um papel importante<br />

e especial o prefeito e o confessor;<br />

o prefeito com quem o collegial tem a<br />

maior convivência e o confessor a quem<br />

elle confia os mais Íntimos segredos da<br />

sua alma.<br />

-Com que solercia estas individualida<strong>de</strong>s<br />

se insinuam no animo do alumno,<br />

com que habilida<strong>de</strong> procuram saber dos<br />

mais reconditos pensamentos das ereanças<br />

que lhes são entreguesl Como elles<br />

obrigam suavemente a confiar-lhes tudo<br />

o que se passa, não só no interior do<br />

alumno, mas, o que é muito mais perigoso,<br />

tudo o que se passa no seio <strong>de</strong><br />

suas famílias I E como elles sabem aproveitar-se<br />

<strong>de</strong> todas as confissões a que<br />

obrigam aquellas confiantes creaturinhasl<br />

Ah! que se muitos paes soubessem como<br />

os segredos Íntimos da sua vida são<br />

dissecados no confessionário jesuítico,<br />

como elles se precaveriam <strong>de</strong> entregar<br />

os seus filhos aquelles collegios.<br />

O viver do alumuo está submettido<br />

a uma vigilancia continua e severa; terase<br />

em vista, como noutro numero dissemos,<br />

obter d'elle uma obedíencia absoluta.<br />

Toda a sua educaçao é inspirada<br />

no espirito exaggeradamente ullramontano,<br />

principalmente a religiosa e a moral.<br />

Pelo que diz respeito em primeiro<br />

logar á educação religiosa, todos os que<br />

frequentaram os collegios dos jesuítas,<br />

po<strong>de</strong>m attestar a veracida<strong>de</strong> do que vamos<br />

expor.<br />

Além da missa que são obrigados a<br />

ouvir todos os dias, além do terço que<br />

têem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> rezar <strong>de</strong> joelhos diariamente,<br />

seguido <strong>de</strong> ladainhas e leituras<br />

piedosas, além das confissões que<br />

pelo regulamento têm <strong>de</strong> fazer todos os<br />

mezes, mas que <strong>de</strong> facto se fazem todas<br />

as quartas feiras e sabbados, sob pena<br />

<strong>de</strong> se ser consi<strong>de</strong>rado como mau alumno,<br />

ha ainda ao levantar da cama outras rezas<br />

seguidas <strong>de</strong> meditação matutina na<br />

egreja sempre sobre assumptos que<br />

preoccupem constantemente a imaginação<br />

do collegial.<br />

E quando os pontos a meditar não<br />

são expostos por um jesuila adre<strong>de</strong> instruído<br />

sobre taes exercícios, são lidos<br />

quasi sempre em livros jesuilicos apro-<br />

priados á fanatisação d'aquelles que os<br />

lêem <strong>de</strong>sprevenidamente.<br />

Além d'esles exercícios religiosos,<br />

têm ainda aos domingos <strong>de</strong> ouvir o sermão<br />

<strong>de</strong> um jesuíta da casa, prégado aos<br />

<strong>de</strong>votos; assim como em vários dias da<br />

semana têem <strong>de</strong> assistir a uma pratica<br />

estapafurdia N por um dos padres espirituaes.<br />

Mas não fica ainda por aqui a série<br />

<strong>de</strong> praticas religiosas. Nos collegios existem<br />

duas congregações <strong>de</strong>votas: uma<br />

para a divisão do's Pequenos e outra para<br />

a dos Maiores; a primeira chamada <strong>de</strong><br />

S. Luiz, a segunda <strong>de</strong> Nossa Senhora;<br />

não fallando noutras a que os alumnos<br />

po<strong>de</strong>m pertencer voluntariamente, como<br />

a do Coração <strong>de</strong> Jesus, a <strong>de</strong> S. José,<br />

eto.su «J>» oJiirausM ob« - a Je3<br />

As duas primeiras são formadas exclusivamentfr<strong>de</strong><br />

alumnos escolhidos <strong>de</strong>ntre<br />

os <strong>de</strong> melhor comportamento religioso<br />

e disciplinar; é fácil, portanto, calcular<br />

quaes os alumnos que nellas têem<br />

entrada.<br />

Para se chegar ao grau <strong>de</strong> eongregado,<br />

passa-se por uma especie <strong>de</strong> noviciado,<br />

e só quando os méritos do alumno<br />

são já muito consi<strong>de</strong>ráveis é que se<br />

lhe conce<strong>de</strong> a honra <strong>de</strong> entrar na congregação.<br />

Para isso é preciso o voto dos consultores,<br />

dos assistentes e do presi<strong>de</strong>nte,<br />

todos alumnos <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong><br />

um superior, que para se convencerem<br />

das boas qualida<strong>de</strong>s do candidato, o sujeitam<br />

a um certo numero <strong>de</strong> provas.<br />

D aqui a espionagem constante sobre<br />

os actos do alumno, a <strong>de</strong>lacção junto<br />

dos superiores e oulros actos vergonhosos<br />

a que acostumam aquellas pobres<br />

ereanças que julgam a principio praticar<br />

o bem, cumprindo as instrucções que<br />

lhes são dadas por taes educadores,<br />

e que <strong>de</strong>pois para alguns se convertem<br />

em habito a que não po<strong>de</strong>m fugir,<br />

ficando sempre uns intrigantes d'officio.<br />

A pratica da <strong>de</strong>iacção não fica encerrada<br />

entre as pare<strong>de</strong>s do collegio;<br />

sabemos <strong>de</strong> ex collegiaes a quem os jesuítas<br />

pediam noticias amiudadas do proce<strong>de</strong>r<br />

dos seus companheiros nos cursos<br />

superiores, e que tem havido alguns,<br />

não sei se por ingenuida<strong>de</strong>, que correspon<strong>de</strong>m<br />

aos <strong>de</strong>sejos dos jesuitas. Este<br />

ponto dar nos-hia logar a vários consi<strong>de</strong>randos,<br />

roas como o assumpto é muito<br />

melindroso, <strong>de</strong>ixal-o-hemos a quem<br />

melhor o possa tratar.<br />

O que refina a educação religiosa<br />

do alumno, já bastante apurada pelas<br />

praticas <strong>de</strong> que temos fatiado, são os<br />

terríveis exercícios espirituaes <strong>de</strong> que<br />

trataremos noutro numero.<br />

*<br />

No artigo anterior, on<strong>de</strong> se lê: como<br />

a compre/ten<strong>de</strong> Um bom pae <strong>de</strong> familia,<br />

<strong>de</strong>ve lêr-se: não como a comprehen<strong>de</strong> um<br />

bom pae <strong>de</strong> familia.<br />

oA. S.<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Reuniu ha dias na Associação Commercial<br />

<strong>de</strong> Lisboa a classe <strong>de</strong> guardalivros,<br />

a fim <strong>de</strong> reclamarem contra o<br />

augmento <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> contribuição industrial<br />

proposta nas medidas <strong>de</strong> fazenda.<br />

Presidiu o sr. João Espinheiro, secretariado<br />

pelos srs. Alfredo <strong>de</strong> Jesus Freire<br />

e Augusto Loureiro Júnior. Depois <strong>de</strong><br />

ligeira discussão foi nomeada uma commissão<br />

composta dos srs. João Espinheiro<br />

Júnior, Alfredo <strong>de</strong> Jesus Freire, Augusto<br />

Loureiro Júnior, Ricardo <strong>de</strong> Sá e Manoel<br />

Alves Ribeiro, para estudar e tratar um<br />

tão importante assumpto. A sessão esteve<br />

muito concorrida.<br />

* iEiri Aveiro o comício contra as<br />

propostas <strong>de</strong> fazenda teve verda<strong>de</strong>ira<br />

imponência.<br />

* No Porto, a classe dos advogados,<br />

negociantes <strong>de</strong> couros e banheiros<br />

da praia da Foz do DOHTO, resolveram<br />

protestar contra o aggravamento das<br />

respectivas contribuições.<br />

* Vae reunir extraordinariamente,<br />

para protestar contra as propostas <strong>de</strong><br />

fazenda, a camara municipal do Porto.<br />

ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 92<br />

Narração <strong>de</strong> factos<br />

Deram-se ultimamente alguns factos<br />

na grey regeneradora <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos<br />

dar conta neste jornal.<br />

A historia é um pouco longa, mas<br />

edificante.<br />

O partido regenerador ainda ha poucos<br />

annos consi<strong>de</strong>rava esta cida<strong>de</strong> como<br />

um dos seus principaes baluartes. Era<br />

aqui dirigido por um professor muito distincto<br />

e clinico ainda mais distincto, que<br />

tinha sabido agrupar em volta <strong>de</strong> si um<br />

grandíssimo numero <strong>de</strong> elementos políticos<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e do seu districto.<br />

Este clinico retirou-se para Lisboa,<br />

e esta data marca o principio d'uma rapida<br />

<strong>de</strong>clinação nas forças do partido,<br />

cuja chefia passou para outro medico.<br />

(Nesta historia figuram 5 médicos — o<br />

que talvez explique a morte do doente.)<br />

O novo chefe era muito eloquente,<br />

muito cortez e <strong>de</strong> primorosa educação;<br />

mas, coisa notável! muito antipaihico á<br />

maior parte dos seus correligionários.<br />

A morte <strong>de</strong> Fontes Pereira <strong>de</strong> Mello<br />

e, posteriormente, a do antigo chefe local,<br />

que, mesmo ausente, <strong>de</strong>sfazia muitos<br />

attrictos, vieram augmentar as dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Seguiu-se a questão ingleza<br />

com as suas conhecidas consequências;<br />

vieram successivos ministérios e no segundo<br />

consulado <strong>de</strong> Lopo Vaz foi nomeado<br />

governador civil <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> um<br />

homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor politico — se<br />

valor se <strong>de</strong>ve dar ás malícias e artimanhas.<br />

Esta auctorida<strong>de</strong>, conhecendo a falta<br />

<strong>de</strong> synipalhia do chefe local, o medico<br />

eloquente, tratou <strong>de</strong> o fazer substituir<br />

por um antigo regenerador, que<br />

não havia seguido a ban<strong>de</strong>ira rica da<br />

rua dos Fanqueiros, que os car<strong>de</strong>aes regeneradores<br />

melteram na mão do sr. Antonio<br />

<strong>de</strong> Serpa.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois ao segundo ministério<br />

nephelibata seguiu-se o do sr. Dias Ferreira,<br />

que mandou governar <strong>Coimbra</strong> por<br />

um nobre con<strong>de</strong>, que suppria a sua carência<br />

<strong>de</strong> conhecimentos administrativos<br />

pela habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recitar paginas e paginas<br />

<strong>de</strong> Ovídio e <strong>de</strong> Tito-Livio. Mas o<br />

latim <strong>de</strong> s.-ex. a para alguma coisa serviu.<br />

Nas eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados organisou-se<br />

á custa do partido regenerador<br />

um grupo que apoiou o sr. Dias Ferreira<br />

e que <strong>de</strong>u a victoria a dois cavalheiros,<br />

um antigo regenerador >e outro<br />

renegado dos princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />

Este ultimo, passados poucos" dias, estava<br />

também eleito vereador. Está alli<br />

evi<strong>de</strong>ntemente um chefe, que podia dizer,<br />

na língua do sr. governador civil,<br />

veni, vidi, vici.<br />

Julgamos até que venceu sem ver<br />

coisa nenhuma.<br />

O certo é que o chefe regenerador<br />

ficou sem logar no parlamento, graças á<br />

<strong>de</strong>serção dos seus soldados para as hostes<br />

do sr. Dias Ferreira.<br />

Veiu o ministério Hintze e continuaram<br />

na situação anterior aquelles dois<br />

<strong>de</strong>putados ; d'aqui um embaraço singular<br />

— haver nesta cida<strong>de</strong> dois partidos regeneradores;<br />

um, <strong>de</strong> que é chefe um<br />

distincto mathematico e sub chefe um<br />

illustre operador (temos o 3.° medico !),<br />

e outro <strong>de</strong> que é chefe o dilecto da urna<br />

Coimbrã e sub-chefe um vereador, secretario<br />

<strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns e confrarias.<br />

Quando o sr. ministro do reino nomeou<br />

o actual governador civil, não tratou<br />

<strong>de</strong> antecipadamente saber, como é<br />

d'uso, se este cavalheiro era persona grata<br />

aos políticos da localida<strong>de</strong> — coisa que<br />

muito azedou o partido regenerador n.°<br />

1, o qual ficou ainda mais azedo em<br />

consequência da conservação em certo<br />

logar <strong>de</strong> imporlancia politica d'um sobrinho<br />

do sub-chefe do partido regenerador<br />

n.° 2.<br />

Até aqui, o prologo indispensável<br />

para a intelligencía da historia, que no<br />

proximo numero contaremos, historia fértil<br />

em inci<strong>de</strong>ntes que bem <strong>de</strong>monstram<br />

o que é a politica <strong>de</strong> corrilho.<br />

Contribuição industrial<br />

VWVl<br />

Aviso aos contribuintes<br />

Está em reclamação a matriz<br />

industrial, po<strong>de</strong>ndo ser examinada<br />

na repartição <strong>de</strong> fazenda d'este<br />

concelho, até ao dia 7 do correule,<br />

das 9 horas da manhã ás 3 da<br />

tar<strong>de</strong>.<br />

Este anno as notas que eram<br />

fornecidas aos regedores das freguezias<br />

para serem distribuídas pelos<br />

contribuintes são entregues na<br />

repartição, o que po<strong>de</strong> dar logar a<br />

que o collectado ignore qual a sua<br />

classificação.<br />

Devem estar lembrados os contribuintes<br />

das flagrantes injustiças<br />

que se praticaram o anno passado<br />

e portanto o cuidado que <strong>de</strong>ve<br />

haver da parle dos interessados em<br />

examinar a matriz industrial a fim<br />

<strong>de</strong> reclamarem contra qualquer illegalida<strong>de</strong><br />

no praso que a lei faculta.<br />

Aqui <strong>de</strong>ixámos este aviso na<br />

supposição <strong>de</strong> que prestamos um<br />

bom serviço ao contribuinte, que<br />

po<strong>de</strong> ser lesado pela falta do competente<br />

aviso.<br />

• •<br />

Sempre roubos<br />

Na alfan<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> Lisboa foram <strong>de</strong>scobertos<br />

roubos importantes <strong>de</strong> direitos<br />

<strong>de</strong> mercadorias saidas d'aquella casa<br />

fiscal e que eram acompanhadas <strong>de</strong> guias<br />

<strong>de</strong> fragata e entradas no consumo por<br />

um processo, na verda<strong>de</strong>, um pouco surprehen<strong>de</strong>nte<br />

pelo arrojo <strong>de</strong> quem o praticou.<br />

Já subiu participação do facto ao contencioso<br />

fiscal <strong>de</strong> l. a instancia e foram<br />

mandadas arrestar todas as mercadorias<br />

que se achavam armazenadas ou pedidas<br />

a <strong>de</strong>spacho por uma casa commercial<br />

d'aquella praça, que tem ainda pen<strong>de</strong>nte<br />

um processo recente por <strong>de</strong>scaminho<br />

<strong>de</strong> direitos d'amído em pedra.<br />

A revisão da Bélgica<br />

A camara dos <strong>de</strong>putados belgas approvou<br />

com a maioria <strong>de</strong> 43 votos o<br />

paragrapho primeiro da revisão da Constituição,<br />

segundo o qual a divisão das<br />

circumscripções eleitoraes será regulada<br />

por uma lei.<br />

Questões religiosas<br />

Foi <strong>de</strong>mittido o bispo do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Por tal motivo consta por telegrammas,<br />

que vae pela capitai da republica<br />

sul-americaua, gran<strong>de</strong> celeuma.<br />

Os jornaes e os centros catliolicos<br />

pe<strong>de</strong>m ao papa a conservação do bispo.<br />

A questão será apresentada no congresso.<br />

O cholera na Europa<br />

Confirinou-se officialmente que se<br />

<strong>de</strong>u um caso <strong>de</strong> cholera em Hamburgo.<br />

A junta <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, da capital, que<br />

reuniu para tomar conhecimento d'este<br />

facto, foi <strong>de</strong> parecer, que, por emquanto,<br />

se <strong>de</strong>ve só recommendar á estação<br />

competente que tenha o maior cuidado<br />

na visita aos navios d'aquella procedência.<br />

*<br />

Os jornaes hespanhoes, chegados ultimamente,<br />

trazem também noticias pouco<br />

agradaveis ácerca do estado da saú<strong>de</strong><br />

publica nos <strong>de</strong>partamentos do meio<br />

dia da França.<br />

Affirmam que se <strong>de</strong>ram casos mais<br />

que suspeitos em Nimes, Cetle, e Montpellier<br />

e que ha receio <strong>de</strong> que a epi<strong>de</strong>mia<br />

se alastre este anno.


AX.XO I — 9 3 O D E F E X I O R DO P O V O 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

C R Y S T A E S<br />

A uma creança<br />

Eu gosto d'essa innocencia,<br />

d'esse boin tempo em que a gente<br />

Levou a 'sorrir a existencia,<br />

Descuidosa, alegremente...<br />

0 tempo da flicida<strong>de</strong><br />

E' como pomba <strong>de</strong> neve<br />

Passando na immensida<strong>de</strong>,<br />

— Mas dura pouco... ó tão breve,<br />

A mocida<strong>de</strong> acabada<br />

Encontramo-nosfla vida<br />

Im noite escura e cerrada,<br />

Com a illusão <strong>de</strong>struída.<br />

O que era luz flca treva,<br />

E se por nosso castigo<br />

Vem a dôr, ella nos leva<br />

Toda a alegria coinsigo!<br />

Essa eda<strong>de</strong>, filha, é a única<br />

Em que se po<strong>de</strong> gosar,<br />

Em que a alma é como túnica<br />

Feita da luz do luar<br />

— Brinca, creança : o Senhor<br />

Sorrirá do parai so<br />

Se nos teus lábios <strong>de</strong> flôr<br />

Vir <strong>de</strong>spontar um sorriso I<br />

AUGUSTO DB MESQUITA.<br />

L B T T R A S<br />

A corda<br />

«As illu.ões — dizia-me um amigo,<br />

— são tão innumeraveis talvez como as<br />

relações dos homens entre si ou dos homens<br />

entre as coisas. E quando a illusão<br />

<strong>de</strong>sapparece, isto é, quando vemos a realida<strong>de</strong><br />

tal como existe, sentimos um bisarro<br />

seniimento <strong>de</strong> pezar pelo fantasma<br />

que <strong>de</strong>sappareceu e <strong>de</strong> surpreza agradavel<br />

<strong>de</strong>ante da novida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ante do facto<br />

real. Se existe um phenomeno evi<strong>de</strong>nte,<br />

trivial, sempre semelhante e d'uma natureza<br />

em que o engano não é admissível,<br />

é o amor maternal. E' tão diíScil suppôr<br />

uma mãe sem amor maternal como admittir<br />

uma luz sem calor; não é pois perfeitamente<br />

legitimo attribuir ao amor<br />

maternal todas as acções e palavras d'uma<br />

mãe, relativas a seu filho? e no entanto<br />

escutem esta pequena historia, em que<br />

eu fui singularmente lu lihriado pela mais<br />

natural das illusões.<br />

«A minha profissão <strong>de</strong> pintor força-me<br />

a olhar com attenção os rostos e as pliisionomias<br />

que encontro pelo caminho e<br />

não ignoram que prazer a gente não tira<br />

d'essa faculda<strong>de</strong> que torna aos nossos<br />

olhos a vida mais brilhante e significativa<br />

do que aos outros homens No bairro<br />

affastado on<strong>de</strong> habito e on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

taboleiros d'herva não calcada divi<strong>de</strong>m<br />

ainda as casas, observei muitas vezes<br />

uma creança cuja phisionomia ar<strong>de</strong>nte e<br />

travessa, mais do que todas as outras,<br />

me seduziu á primeira vista. Mais d'uma<br />

vez me serviu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo e eu transformei-a<br />

umas vezes num pequeno cigano,<br />

entras em anjo e outras em Amor mytho<br />

logico. Fil-a trazer o violino do vagabundo,<br />

a corôa <strong>de</strong> espinhos, os pregos da<br />

Paixão e a tocha d'Ero.<br />

Tomei emfim áquella galanteria do<br />

garoto tão vivo prazer, que um dia pedi<br />

aos paes d'elle, gente pobre, que m'o<br />

ce<strong>de</strong>ssem, promeltendo vestil-o, dar-lhe<br />

algum dinheiro e não lhe exigir outro<br />

trabalho a não ser limpar-me os pincéis<br />

e fazer recados.<br />

Essa creança <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lavada tornou-se<br />

encantadora e a vida que linha<br />

em minha casa parecia-lhe um paraizo<br />

comparada com a que vivia na mansarda<br />

paterna. Somente <strong>de</strong>vo dizer que o rapazito<br />

me surpreheu<strong>de</strong>u algumas vezes<br />

com singulares crises <strong>de</strong> tristeza precoce<br />

e que em breve manifestou um go-to immo<strong>de</strong>rado<br />

pelo assucar e pelos licôres:<br />

tanto que um dia em que adquiri a prova<br />

<strong>de</strong> que, apesar das minhas frequentes recommendações,<br />

elle commelteu novo <strong>de</strong>licio<br />

do mesmo género, ameacei-o com<br />

mandal-o, no caso <strong>de</strong> reincidência, para<br />

casa dos paes. Depois saí e os negocios<br />

da minha casa <strong>de</strong>moraram-me bastante<br />

tempo fóra <strong>de</strong> casa.<br />

Entrando era casa esperava me uma<br />

horrorosa surpreza.<br />

O primeiro objecto que me feriu a<br />

vista foi o rapasito, o travesso companheiro<br />

da minha vida, enforcado num<br />

armario ! Os pés quasi que tocavam no<br />

chão; uma ca<strong>de</strong>ira que elle sem duvida<br />

empurrara ao soltar-se no vácuo estava<br />

caída ao pé d'e!le; a cabeça mantinhae<br />

convulsivamente iuclinada para ura dos<br />

hombros ; o rosto horrorosamente inchado<br />

e os olhos arregalados com uma fixi<strong>de</strong>z<br />

medonha, causaram-me a principio a illusão<br />

da vida. Sollal-o da corda não era<br />

uma tarefa tão fácil como po<strong>de</strong>m imaginar.<br />

Estava já muito inteiriçado e eu<br />

tinha uma repugnancia inexplicável em<br />

<strong>de</strong>ixa-lo cahir bruscamente no chão. Era<br />

preciso amparal-o em peso com um braço<br />

e com a outra mão cortar a corda. Mas<br />

feito isso, ainda não era tudo; o pequenb<br />

monstro tinha se servido d'um cor<strong>de</strong>l<br />

muito <strong>de</strong>lgado que tinha entrado profundamente<br />

na carne, e era preciso então,<br />

com uma tesoura pequena, procurar a<br />

corda entre os dois lábios da ferida para<br />

lhe <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r o pescoço.<br />

E' escusado dizer que gritei afllictivamente<br />

por soccorro; mas todos os<br />

meus visinhos se tinham recusado a ajudar-me,<br />

fieis em tal resolução aos costumes<br />

dos homens civilisados, que não querem<br />

nunca, não sei porque razão, ter<br />

contacto com um enforcado Emfim, chegou<br />

um medico que <strong>de</strong>clarou ter a creança<br />

morrido já havia horas. Quando, m^is<br />

tar<strong>de</strong>, tivemos <strong>de</strong> o <strong>de</strong>spir para o amortalhar,<br />

a rigi<strong>de</strong>z cadavérica era tal, que<br />

<strong>de</strong>sesperando <strong>de</strong> dobrar-lhes os membros,<br />

usamos do recurso <strong>de</strong> cortar e rasgar-lhe<br />

a roupa.<br />

O commissario, a quem naturalmente<br />

participei o occorrido, olhou-me <strong>de</strong> travez<br />

e di-se-me: «E' um caso suspeito!»<br />

movido sem duvida pelo <strong>de</strong>sejo inveterado<br />

e habito da profissão <strong>de</strong> metler medo<br />

tanto aos innocentes como aos culpados.<br />

Ainda havia uma tarefa a cumprir<br />

e só a lembrança d 'ella me causava uma<br />

angustia terrível: era preciso avisar os<br />

paes. Os meus pés recusavam levar-me<br />

até á casa d'elles. Emfim, ganhei coragem.<br />

Mas, com gran<strong>de</strong> espanto meu, a<br />

mãe ficou impassível; nem uma lagrima<br />

lhe appareceu ao canto do olho. Attribui<br />

essa irregularida<strong>de</strong> ao gran<strong>de</strong> horror que<br />

ella <strong>de</strong>via seotir, e lembrei-me da conhecida<br />

sentença :« —As dores mais terríveis<br />

são as dôres mudas.» O pae lirailou-se<br />

a dizer com um ar meio embrutecido,<br />

meio abstracto: «Emfim, talvez<br />

isso não fosse peior; elle havia <strong>de</strong> acabar<br />

mal por força!<br />

O corpo estava estendido no meu<br />

divan e guardado por uma creada ; eu<br />

occupava me dos últimos preparativos,<br />

quando a mãe entrou no meu atelier.<br />

Queria, dizia ella, vêr o cadaver do filho.<br />

Eu não podia, na verda<strong>de</strong>, impedil-a <strong>de</strong><br />

se embriagar com a sua <strong>de</strong>sgraça, e<br />

recusar-lhe esta suprema e sombria consolação.<br />

Em seguida pediu-me que lhe mostrasse<br />

o sitio on<strong>de</strong> a creança se tinha<br />

enforcado «Oh 1 não I minha senhora —<br />

lhe respondi eu, — esse espectáculo augmentará<br />

a sua dôr». E como involuntariamente<br />

os meus olhos se levantassem<br />

para o fúnebre armario, <strong>de</strong>scobri, com<br />

um <strong>de</strong>sgosto misturado <strong>de</strong> horror e <strong>de</strong><br />

cólera, que o prego tinha ficado na pare<strong>de</strong>,<br />

com uma ponta <strong>de</strong> corda baloiçando<br />

sinistramente. Eu corri iinmediatamenle<br />

para arrancar esses últimos vestígios<br />

do <strong>de</strong>sastre, e quando os ia a atirar<br />

pela janella fóra, a pobre mãe agarroume<br />

no braço e disse-me com uma dôr<br />

irresistível: «Oh! senhor! dê me isso!<br />

peço-llfo! supplico-lir.o!» Parece-me que<br />

o seu <strong>de</strong>sespero a tinha <strong>de</strong> tal modo<br />

enlouquecido que ella se sentia subitamente<br />

enternecida e apaixonada por tudo<br />

que tinha servido d'i.nstrumento á morte<br />

<strong>de</strong> seu filho e que queria guardar esses<br />

objectos como uma horrível e querida<br />

relíquia. — E ella apo<strong>de</strong>rou-se do prego<br />

e do cor<strong>de</strong>l.<br />

Emfim! emfimI estava tudo acabado.<br />

Apenas me restava entregar-me <strong>de</strong><br />

novo ao trabalho, mais ar<strong>de</strong>ntemente<br />

ainda que <strong>de</strong> costume para apagar pouco<br />

a pouco esse pequeno cadaver que vivia<br />

nas profun<strong>de</strong>zas do meu cerebro e cujo<br />

phantasma me fatigava com a estranha<br />

persistência dos seus olhos arregalados.<br />

Mas no dia seguinte recebi um masso<br />

<strong>de</strong> cartas, umas dos moradores, outras<br />

dos localarios das casas visinhas; uma do<br />

primeiro andar, outra do segundo, outra<br />

do terceiro, e assim <strong>de</strong> seguida, umas<br />

em estylo meio comico como procurando<br />

disfarçar snb uma app.irente zombaria a<br />

sincerida<strong>de</strong> do pedido, outras <strong>de</strong>scoradas<br />

e sem orthographia, mas todas com o<br />

mesmo fim, isto é, alcançar <strong>de</strong> mim um<br />

pedaço da funesta e beatifica corda.<br />

Entre os signalarios, havia, <strong>de</strong>vo essa<br />

confissão, mais mulheres do que homens,<br />

mas todos, po<strong>de</strong>m crêr, não pertenciam<br />

só a classe intima e vulgar. Guar<strong>de</strong>i<br />

essas cartas.<br />

E então, rapidamente, um raio <strong>de</strong><br />

luz esclareceu o meu espirito e comprehendi<br />

porque a mãe tanto se empenhava<br />

em tirar-me a corda e por que especie<br />

<strong>de</strong> negocio ella pretendia encontrar consolações<br />

para a sua magoa.»<br />

Charles Bau<strong>de</strong>laire.<br />

E verda<strong>de</strong>!<br />

Nota um nosso collega o facto do<br />

sr. ministro da justiça não ter até boje<br />

apresentado ao parlamento uma proposta<br />

<strong>de</strong> lei regulando a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />

que vinha no sacco do actual<br />

ministro, quando elle appareceu no po<strong>de</strong>r.<br />

Realmente o facto é para apprehensões,<br />

porque o caso da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa<br />

não é tão comezinho que possa<br />

completamente <strong>de</strong>sviar-se da attenção<br />

publica.<br />

Vá, sr. ministro da justiça, vamos a<br />

isso. E que venha obra limpa.<br />

Ainda mais fra<strong>de</strong>s!<br />

Este negregado assumpto está na or<strong>de</strong>m<br />

do dia e na or<strong>de</strong>m das trevas, planeado<br />

entre a <strong>de</strong>sceu<strong>de</strong>ncia do ultimo<br />

absolutismo e o constitucionalismo, ou o<br />

absolutismo illustrado, como lhe chamam<br />

os seus amadores, ou pelo menos tacitamente<br />

adoptado; e como tal convidanos<br />

a acompanhal-o <strong>de</strong> varias consi<strong>de</strong>rações,<br />

remontando ao passado, pondo<br />

em revista o presente e volvendo ao futuro.<br />

Joaquim Antonio d'Aguiar, louvado e<br />

apoiado por outros constitucionaes do<br />

seu tempo, <strong>de</strong>cretou a extincçâo dos fra<strong>de</strong>s<br />

como medida politica e a um tempo<br />

como medida ecooomica, para assegurar<br />

e consolidar o nosso regimen implantado<br />

e para arrancar dos conventos, d'esses<br />

centros improductivos e ociosos, os milhares<br />

<strong>de</strong> braços que alli estavam accumulados,<br />

prejudicando todos os fins sociaes.<br />

Eram justos os seus intuitos, plausíveis<br />

as razões que os <strong>de</strong>terminavam,<br />

queria a liberda<strong>de</strong>, a prosperida<strong>de</strong> e a moralida<strong>de</strong><br />

no seu paiz e para todos que<br />

não só para alguns.<br />

Com a sua resolução governativa,<br />

Aguiar conseguiu o primeiro dos seus<br />

fins e no momento, parte do segundo,<br />

mas não todo porque o thesouro publico<br />

ficou pensionando os egressos, como<br />

era <strong>de</strong> razão, moralida<strong>de</strong> e justiça porque<br />

tinham levado para os respectivos<br />

conventos os seus dotes, e não <strong>de</strong>viam<br />

ser lançados á margem e con<strong>de</strong>mnados<br />

ao ostracismo, para pouco <strong>de</strong>pois esses<br />

dotes e dos outros mais antigos ser pasto<br />

do <strong>de</strong>vorismo <strong>de</strong> muitos papões constitucionaes,<br />

verda<strong>de</strong>ira nuvem <strong>de</strong> carnívoros,<br />

que <strong>de</strong>sceu sobre o paiz e que<br />

vagueia por elle ao cheiro <strong>de</strong> mais prezas.<br />

Mas continuando a moralisar o gran<strong>de</strong><br />

successo da extiucção e os factos que<br />

se lhe sobseguirão acha-se a verda<strong>de</strong><br />

que Joaquim Antonio d'Aguiar, que tanto<br />

constitue contra si a má vonta<strong>de</strong> do<br />

partido miguelista, não era um ambicioso,<br />

um especulador politico que linha em<br />

vista locuplelar-se com as grau<strong>de</strong>s riquezas<br />

dos conventos em preciosida<strong>de</strong>s<br />

metallicas e proprieda<strong>de</strong>s territoriaes,<br />

porque, se não laboramos em erro, Joaquim<br />

Antonio d'Aguiar que aioda viveu<br />

bastantes annos <strong>de</strong>pois da sua obra<br />

consummada, não morreu mais rico do<br />

que era quando foi ministro, não comprou,<br />

nem sorripiou alguns dos bens dos<br />

fra<strong>de</strong>s, uão partilhou com outros do seu<br />

partido as enormes preciosida<strong>de</strong>s que<br />

havia em alguns conventos, em baixella<br />

<strong>de</strong> prata e outros objectos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor,<br />

não construiu chalets soberbos, não<br />

metteu nos bancos nacionaes, estrangeiros,<br />

alguns capitaes e não tinha carruagens<br />

luxuosas e respectiva criadagem<br />

suas e ao seu serviço, com tem lido e<br />

tem outros muitos á custa dos dinheiros<br />

públicos, viveu e morreu mo<strong>de</strong>stamente.<br />

Por outra parle o tempo e os factos<br />

tem patenteado que muitos dos contemporâneos<br />

e partidarios do aliudido systema<br />

constitucional e a quasi universalida<strong>de</strong><br />

dos posthumos tinha e tem outras<br />

vistas, que não são o interesse publico,<br />

tem gozado e os seus successores os<br />

bens dos conventos, improvisado fortunas<br />

fabulosas e tuexplieaveis, e folgado<br />

muito, em quanto o maior numero<br />

está na miséria e a nação arruinada material<br />

e moralmente <strong>de</strong> fórma que Joaquim<br />

Antonio d'Aguiar, na sua boa fé,<br />

ve'o a ser o instrumento para muitos<br />

comilões comerem á farta e improvisar<br />

fortuna, sem proveito proprio e com<br />

pouco proveito da nação.<br />

O pensamento do legislador não foi<br />

mau, mas o uso que se fez da lei e a<br />

applicação que se fez dos bens dos fra<strong>de</strong>s<br />

e do relativamente pequeno producto<br />

das suas vendas, é que foi péssimo. A<br />

enormíssima massa dos bens dos fra<strong>de</strong>s<br />

podia ven<strong>de</strong>r milhões e estes se forem<br />

zelosamente administrados assim como<br />

foram <strong>de</strong>scurados e prodigalisados, dispensariam<br />

muilo <strong>de</strong> sua monstruosa divida<br />

que se tem contraindo e o progressivo<br />

e illimitado augmento dos impostos<br />

sobre o povo.<br />

D*es^a immensa massa uns passaram<br />

a novos possuidores gratuitamente,<br />

a titulo <strong>de</strong> serviços já bastante remunerados,<br />

muitos a troco <strong>de</strong> papeis velhos<br />

a que se <strong>de</strong>u subido valor ad hoc, outros<br />

por um preço muito inferior ao seu<br />

valor real para servir amigos? Foi um<br />

segundo cliviserunt vestimenta meai A<br />

mesma má sorte tiveram os bens das<br />

freiras, das collegiadas, dos cabidos, dos<br />

seminários et caetera et caetera ! A queda<br />

do absolutismo e a proclamação do<br />

constitucionalismo são dois factos que<br />

engran<strong>de</strong>ceram muitos e empobreceram<br />

muitos, e o resultado final foi a <strong>de</strong>cadência<br />

e a ruina nacional.<br />

Esgotada a ubérrima fonte dos bens<br />

<strong>de</strong>samortisados seguindo-se a serie dos<br />

émprestimós e das contribuições e não<br />

saciada a cobiça dos innumeraveis especuladores<br />

ambiciosos e <strong>de</strong>voristas que<br />

fervilham pelo paiz e frequentara a capital<br />

que é o seu centro, alguns d'elles<br />

voltaram as suas vistas para a rapacida<strong>de</strong><br />

dos dinheiros públicos entrados nos<br />

cofres públicos, nalguns bancos, e recorrendo<br />

a toda a sorte <strong>de</strong> falcatruas,<br />

como se sabe.<br />

Assim tem corrido neste malfadado<br />

paiz os negocios públicos e assim hão <strong>de</strong><br />

continuar a correr, porque sem castigo<br />

não ha emenda e esse castigo hão se<br />

receia em quanto reinar o actual systema,<br />

porque as coisas eslão calculadamente<br />

dispostas para a impunida<strong>de</strong>.<br />

Taboa, 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />

Escola industrial<br />

Trala-se <strong>de</strong> estabelecer uma escola<br />

indnstrial junto á fabrica da Mariuha<br />

Gran<strong>de</strong> ou uma secção da escola industrial<br />

<strong>de</strong> Leiria.<br />

EM SURDINA<br />

Um dia cheio, d'estalo,<br />

a quinta feira passada;<br />

té dá gosto, dá regalo,<br />

ter <strong>de</strong> fazer versalhada.<br />

Na kermesse, o nosso Fino,<br />

<strong>de</strong> maneiras jubilosas,<br />

vestia qual figurino,<br />

e sempre alegre, ladino,<br />

recebia as donairosas.<br />

Deu-nos gin-gin, foguatorio,<br />

fez um <strong>de</strong>curso mo<strong>de</strong>lo<br />

e em seguida — que finorio! -<br />

apresenta ao auditorio<br />

um orador — <strong>de</strong> capello !<br />

E ambos, como uns catitas,<br />

fizeram phrases d'arromba,<br />

com tiradas eruditas,<br />

dizendo coisas bonitas<br />

dos romanos, mais da bomba.<br />

O que a muitos causou gana<br />

foi ver a troca immoral<br />

feita á fibra americana,<br />

pelo nervo nacional 111<br />

—Yaes bem Miguel, nessa scena,<br />

resmungava um popular<br />

ao ouvir-lhe a caniilana :<br />

- Quanto virias ganhar 11...<br />

De tar<strong>de</strong>, o largo da Feira,<br />

tinha enorme multidão,<br />

que aguardava, ein pasmaceira,<br />

o S. Jorge e a procissão.<br />

Gosta o povo da farçada<br />

e apraz-ihe ver o senado<br />

figurar na fantochada<br />

do santinho atarraxado...<br />

Ver a tropa apresentar,<br />

á voz do seu briga<strong>de</strong>iro<br />

as armas —só p'ra honrar —<br />

o S. Jorge e o esterqueiro t<br />

Faz-nos rir esta homenagem<br />

<strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong> fervor.<br />

Inda espero ver <strong>de</strong> pagein<br />

p'r'o anno—um vereador I<br />

PINTA-ROXA.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A festa do Corpus Cliristi<br />

Interrompida o anno passado esta<br />

festa tradicional da camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

por um acto <strong>de</strong> boa administração do<br />

anterior consulado, o único talvez digno<br />

<strong>de</strong> louvor da camara presidida pelo sr.<br />

dr. Costa Allemão, renovou-se este anno,<br />

com o costumado espieudor, dizem eíles,<br />

Esle bom povo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que, em<br />

lhe cheirando a tropas e a <strong>de</strong>scargas,<br />

não falha nunca ao apparatoso espectáculo,<br />

não se esqueceu <strong>de</strong> concorrer em<br />

gran<strong>de</strong> numero a admirar a espaventosa<br />

festa, que em cada anno vem pôr na<br />

pacatice indígena esla nota hilariante <strong>de</strong><br />

ridículo, que <strong>de</strong>sperta o bom humor e<br />

faz esquecer por momentos a <strong>de</strong>sbragada<br />

carga <strong>de</strong> impostos com que o sr.<br />

Fuschini nos ameaça. E faz bem o povo<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> porque, nem só <strong>de</strong> pão vive<br />

o homem,, como o evangelho é o primeiro<br />

a confessar, e uiuas <strong>de</strong>sopilantes gargalhadas<br />

<strong>de</strong> vez em quando são lambem<br />

o pão do espirito; e outra coisa não<br />

<strong>de</strong>sperta o S. Jorge atarrachado; o pagem,<br />

um varredor da camara, cheio <strong>de</strong> vermelhão,<br />

escarranchado numa pileca, cujo<br />

olhar terno parece supplicar uma quarta<br />

<strong>de</strong> lava, e que, por ironia, com certeza,<br />

o celebre França, solemnissimo no seu<br />

papel, vae couduziudo á arreata.<br />

E la vae <strong>de</strong>sfilando este trio <strong>de</strong> fantochada,<br />

ruas fóra, o santo a abanar,<br />

cambaleante na tarracha lassa já; o pagein,<br />

ancho na sua figura guerreira, <strong>de</strong> escudo<br />

<strong>de</strong> papellào cozido ao braço direito<br />

e lança na mão esquerda, vestido a capricho,<br />

<strong>de</strong> fatos guerreiros em panninho<br />

<strong>de</strong> côres; o França, <strong>de</strong> luva branca, raboua<br />

azul e cigarro ao canto da orelha, 110<br />

seu orgulho postiço d'uma tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> figura,<br />

na festa da camara; e em seguida o esquadrão<br />

<strong>de</strong> cavallaria a fazer pinotear<br />

os cavallos; dois renques <strong>de</strong> sorumbáticas<br />

confrarias, pés <strong>de</strong> boi, num chouto<br />

pausado e lento; os formigões, em filas,<br />

caras amarcllcntas e esquahdas chupadas<br />

por vicios secretos; solemnes e graves<br />

como conspícuos bonzos, <strong>de</strong> capas d'asperges<br />

rutilantes <strong>de</strong> doiraduras, segue se<br />

o clero coimbrão, o cabido da Sé, e sob<br />

o pallio festivo, <strong>de</strong> borla ein cada vara,<br />

o sr. Bispo Con<strong>de</strong>, moutanha auri-ílamante,<br />

acompauhado <strong>de</strong> seraphiços conegos<br />

que transportavam o báculo episcopal<br />

e a 'mitra ponteaguda com pedras<br />

a rutilarem.<br />

E <strong>de</strong>stila o cortejo processional, nesta<br />

festa <strong>de</strong> espavento em que querem vero<br />

maior esplendor, e que não passa d'uma<br />

patuscada imprópria do respeito que<br />

<strong>de</strong>ve impõr o culto christâo, restos aiuda<br />

<strong>de</strong> tradições pagãs.<br />

A abrilhantar a sua festa lá iam, <strong>de</strong><br />

sorriso orgulhoso nos lábios, enca<strong>de</strong>rnados<br />

em casacas <strong>de</strong>sajeitadas, <strong>de</strong> ver a<br />

Deus, fachas novas <strong>de</strong> sed


A.VS.O I -M.» 9» O DGFEKiOR DO POVO 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1SB3<br />

0 sr. Augusto José Gonçalves Fino,<br />

presi<strong>de</strong>nte dos bombeiros e iniciador<br />

d'esta festa, num singelo e frisante discurso<br />

fez a historia da associação a que<br />

presi<strong>de</strong>, tendo palavras <strong>de</strong> louvor e<br />

agra<strong>de</strong>cimento para todos os que o coadjuvaram<br />

naquelle emprehendimento.<br />

Convidado a collaborar na celebração<br />

d'nquella festa com a sua palavra<br />

brilhante e enthusiastica, tomou a pala-<br />

vra o sr. dr. Augusto Hocha, que produziu<br />

um discurso muito interessante,<br />

que foi ouvido com admiração por aquelles<br />

poucos que tiveram a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ouvir ainda os seus rasgos <strong>de</strong> eloquência.<br />

Ambos os oradores, srs. Gouçalves<br />

Fino e dr. Augusto Hocha, foram cum-<br />

primentados pelos assistentes que se<br />

achavam na sala, passando-se em seguida<br />

á visita dos objectos expostos.<br />

As philarmonicas Boa-União e Conimbricense<br />

tocavam alternadamente algumas<br />

jteças, e no bazar, bem guarnecido<br />

<strong>de</strong> prendas, abriu se a venda ao<br />

publico.<br />

João Serio Veiga <strong>de</strong>u-nos, á noite,<br />

uma bella illuminação á veneziana, num<br />

bonito sortido <strong>de</strong> balões representando<br />

1° anno. — Amândio Antonio Baptista<br />

<strong>de</strong> Sousa e Antonio Augusto d'AImeida<br />

Mumjão.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2." anno. — Albino Alves d'01iveira,<br />

Albino Antonio d'Almeida Mattos, Alfredo<br />

Martins Fernan<strong>de</strong>s Nogueira e Alipio Albano<br />

Camello.<br />

3." anno. — Alberto Maria da Silva<br />

Casquero e Albertino da Veiga Preto Pacheco.<br />

4." anno. — Abilio Gil Ferrão e Alberto<br />

<strong>de</strong> Mello Pances <strong>de</strong> Carvalho.<br />

41 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MERY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

XII<br />

Noite <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> amor<br />

Impossível, resistir a um tal appello<br />

e em semelhante situação. Memma <strong>de</strong>sceu<br />

ligeiramente, atravessou o jardim,<br />

chamou o Mitry, discreto <strong>de</strong>fensor em<br />

caso <strong>de</strong> perigo, e fez-se acompanhar<br />

por elle até á porta do jardim, que<br />

abriu.<br />

O molosso <strong>de</strong>itou-se sobre a relva<br />

filando Memma, como se dissesse: Aqui<br />

estou prompto; se precisar <strong>de</strong> mim, é só<br />

chamar.<br />

Passados poucos instantes, Paulo<br />

Gréant entrou no jardim, e não viu nas<br />

trevas senão um vestido branco a dois<br />

passos <strong>de</strong> si; um sopro <strong>de</strong> voz pronunciou<br />

no mesmo instante estas palavras:<br />

— Não me atrevo a interrogal-o.<br />

— Memma, disse Paulo, cançado <strong>de</strong><br />

correr, dê-me a sua mão, que tenho<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio... Bem! sinto-me<br />

forte agora... Não tenha medo, Memma...<br />

porque não hei <strong>de</strong> eu dizer,<br />

alegre-se?... Oh! não, a morte dum<br />

õ.° anno. — Affonso Brandão <strong>de</strong> Mendonça<br />

Vanconcellos e Afif nsi> Coutiiilio<br />

<strong>de</strong> Sousa Cal<strong>de</strong>ira.<br />

Dissidências politica*<br />

Tem se reunido em sesfões magnas<br />

os altos trunphos políticos da regeneração<br />

(com o <strong>de</strong>vido respeito) a fim <strong>de</strong><br />

resolverem ácerca da sua attitu<strong>de</strong>, visto<br />

a quebra <strong>de</strong> relações partidárias' entre<br />

os membros da commissão districtal e o<br />

sr. ministro do reino.<br />

Escusado será dizer aqui que estas<br />

inimisa<strong>de</strong>s pessoaes não foram provocadas<br />

por qualquer das partes belligerantes<br />

haver pugnado pelos interesses do<br />

paiz, ou por uma questão <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>,<br />

antes pelo contrario. Os amuos entre os<br />

regeneradores da commissão districtal e<br />

o ministro <strong>de</strong>ram-se pelo facto d'este<br />

não ser attendido no pedido que fizera<br />

á referida commissão: — nomear esta<br />

um seu protegido e compadre, para o<br />

logar <strong>de</strong> director do hospício districtal<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

O sr. Zacliarias Monteiro foi aposentado<br />

no logar <strong>de</strong> primeiro aspirante da<br />

estação telegrapho-postal d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

on<strong>de</strong> ha muitos annos era empregado e<br />

havia conquistado, pelo seu porte correcto<br />

e qualida<strong>de</strong>s distinctas, um honrado<br />

nome.<br />

Á camara municipal<br />

Para que bem se avalie o <strong>de</strong>sleixo<br />

com que a cantara trata da limpeza publica,<br />

basta dizer-se que na quinta <strong>de</strong><br />

Santa Cruz, junto á praça D. Luiz e ao<br />

homem é uma coisa terrivel sempre!...<br />

Memma; acabo <strong>de</strong> matar em duello o<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi.<br />

Memma tomou energicamente as duas<br />

mão.s <strong>de</strong> Paulo e todo o corpo lhe estremeceu.<br />

— Virgem santa! disse ella, elle<br />

arriscou <strong>de</strong> novo a sua vida por mim!...<br />

Nobre rapaz! Oh! é <strong>de</strong>masiada <strong>de</strong>dicação,<br />

<strong>de</strong>masiado heroisnio! Paulo, e mais que<br />

o meu protector, é para mim um outro<br />

anjo da guarda!<br />

O moço artista então, obe<strong>de</strong>cendo a<br />

uma supplica, contou com todas as minuciosida<strong>de</strong>s<br />

a aventura emocinante <strong>de</strong><br />

que elle tinha sido o heroe. A cada<br />

phrase d esta narração Memma soltava<br />

exclamações <strong>de</strong> terror, como se ella<br />

assistisse ao combate; e á ultima palavra,<br />

que annunciava mo<strong>de</strong>stamente a victoria,<br />

pousou os lábios sobre a mão direita <strong>de</strong><br />

Paulo; mas esta recompensa foi a faisca<br />

d um incêndio.<br />

A chamma invisível correu, e nada<br />

já podia extinguil-a, nem a prudência,<br />

nem o <strong>de</strong>ver, nem a reflexão, trez nobilíssimas<br />

vozes que numa noite se esqueceram<br />

<strong>de</strong> escutar.<br />

Neste momento havia mundo, socieda<strong>de</strong>,<br />

lei? Paulo e Meuinla, ro<strong>de</strong>ados <strong>de</strong><br />

trevas e violentamente expulsos da vida<br />

normal para as mais empolgantes emoções,<br />

podiam julgar-se transportados para<br />

uma d'essas espheras sombrias <strong>de</strong>scriptas<br />

pelo Dante, on<strong>de</strong> duas almas se<br />

principio da rua Alexandre Herculano,<br />

lado esquerdo, se conserva a <strong>de</strong>scoberto,<br />

ttiti <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> matérias fecaes e aguas<br />

sujas, don<strong>de</strong> sáem exhalações mephiticas.<br />

Havemos <strong>de</strong> tratar d'este assumpto no^<br />

proximo numero, visto que hoje nos falta<br />

o tempo e o espaço.<br />

Donativo<br />

O sr. João Maria Corrêa Ayres <strong>de</strong><br />

Campos ao visitar na .-exta feira a kermesse,<br />

offereceu aos Bombeiros Voluntários<br />

a quantia <strong>de</strong> 100$000 réis.<br />

Compare-se a generosida<strong>de</strong> d'esta offerla<br />

com as dadivas <strong>de</strong> suas majesta<strong>de</strong>s,<br />

que lá estão a attestar a sua insignificância.<br />

E' ver.<br />

Projectos <strong>de</strong> Estatutos<br />

Hoje o Grémio dos empregados no<br />

commercio e Associação <strong>de</strong> sexo feminino,<br />

discutem os seus respectivos pro-<br />

Pelos vistos a commissão linha outro<br />

jectos <strong>de</strong> estatutos, que <strong>de</strong>vem ser apresentados<br />

á approvação do governo até<br />

protegido e compadre majs das suas gra- ao fim do corrente mez.<br />

ças, e não esteve para aturar as impertinências<br />

do ministro, que pô<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong><br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

pan<strong>de</strong>iros, relogios, tulipas, etc., <strong>de</strong> muitos mais empregos do que os da De visita a esta cida<strong>de</strong> o nosso pa-<br />

be.lo effeito.<br />

junta que têm também os seus amigos, trício Adriano Costa, que veio passar<br />

O recinto <strong>de</strong> Santa Cruz, repleto <strong>de</strong><br />

com estomago e barriga, talqualmente alguns dias na companhia dos seus ami-<br />

gente, a gozar o effeito surprehen<strong>de</strong>nte<br />

como os amigos do sr. Franco Castello gos.<br />

das illuminações e a <strong>de</strong>liciar-se com a<br />

Branco.<br />

execução dos beilos trechos <strong>de</strong> musica Vê se, pois, que a dissidência foi<br />

Obituário<br />

que nos <strong>de</strong>u a philarmonica Boa-União, motivada unicamente por um <strong>de</strong>sarranjo No cemiterio da Concbada enterra-<br />

regida pela competencia do sr. Augusto politico para o ministro, e por um arram-se, na semana ullin a, os seguintes<br />

Paes.<br />

ranjo partidario para a commissão. cadaveres:<br />

Porque neste paiz em que a crapula Antonio, filho <strong>de</strong> pae incógnito e<br />

Actos em direito<br />

se <strong>de</strong>senvolve a olhos vistos, nós só os Maria A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 9 me-<br />

Começou na sexta feira, em todos os vemos mecher, <strong>de</strong> punhos cerrados, zes. Falleceu <strong>de</strong> enterite, no dia 21.<br />

anno* da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o ser- quando se não aco<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressa ao esto- Isabel, filha <strong>de</strong> Francisco da Silva e<br />

viço d'actos.<br />

mago <strong>de</strong> qualquer amigalhote que os te- Maria José, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 18 mezes.<br />

Os resultados foram:<br />

nha ajudado na infame batota que tem Falleceu <strong>de</strong> pneumonia, no dja 24.<br />

posto o paiz no prégo.<br />

Maria José, filha <strong>de</strong> Manoel Maria<br />

Dia 2<br />

Este caso, vulgarissimo nos bandos Barreira e Maria da Pieda<strong>de</strong>, do Theo-<br />

1.° anno. — Abel <strong>de</strong> Vasconcellos d'esla politica que po<strong>de</strong> e manda, bem doro, <strong>de</strong> 7 annos. Falleceu <strong>de</strong> Congestão<br />

Gonçalves c Alexandre Braga.<br />

os <strong>de</strong>fine aos olhos <strong>de</strong> todos, e já nin- pulmonar, no dia 26.<br />

Houve duas reprovações.<br />

guém admira porque estes homens per- Maria Rosa, filha <strong>de</strong> paes incognitos,<br />

2.° anno. — Abilio Dias d'Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ram completamente as mais rudimen- <strong>de</strong> Botão, <strong>de</strong> 73 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />

Abilio Monteiro da Fonseca, Alberto Autares noções do <strong>de</strong>coro e da honra. pneumonia aguda, no dia 26.<br />

gusto Leite Ribeiro e Alberto Teixeira Tudo isto é edificante e porco.<br />

Joaquim Ferreira Hocha, filho <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Sampaio.<br />

Em breve o penacho do chefio da re- Francisco Ferreira Rocha e Maria Joanna<br />

3.° anno. — Alberto Centeno.<br />

generação (salvo seja) será dado a ou- da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 43 annos.<br />

Houve uma reprovação.<br />

trem, pela razão obvia <strong>de</strong> que o sr. dr. Falleceu <strong>de</strong> congestão pulmonar moti-<br />

4." anno. — Abel Corrêa da Silva Souto Rodrigues, em vista <strong>de</strong> lhe ser vada por myocatdite chronica, no dia 28.<br />

Portal e Abel do Nascimento da Costa retirada a confiança do ministro, pedira Total dos cadaveres enterrados neste<br />

Faria e Silva.<br />

a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> chefe dos regeneradores cemiterio —16:903.<br />

5." anno — Accacio <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Ma d'esta cida<strong>de</strong>.<br />

rinha, e Adriano Augusto da Veiga Rodrigues.<br />

Dia 3<br />

Isto é assombroso!<br />

Aposentação<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinaria<br />

De 18 <strong>de</strong> maio<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />

d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />

presentes : João da Fonseca Barata, Manoel<br />

Miranda, Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros,<br />

João Antonio da Cunha, Joaquim<br />

Justiniano Ferreira Lobo, Antonio José<br />

Dantas Guimarães, efíectivos; José Corrêa<br />

dos Santos, substituto.<br />

Ven<strong>de</strong>u em praça os pastos da quinta<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz.<br />

encontram, se seguem, e sabem que<br />

vivem ainda porque amam, porque a<br />

vida não é mais que o amor.<br />

Nas palavras do mancebo havia este<br />

murmurio melodioso e penetrante que se<br />

e>cuta como num sonho e que recordam<br />

ás imaginações poéticas as suaves conversações<br />

d'aquellas sombras elj>eas,<br />

que faliavam dos seus extasís passados<br />

antes <strong>de</strong> beberem da agua do esquecimento.<br />

Memma aspirava esta harmonia<br />

do amor, que, perturbando a sua razão,<br />

lhe fez acreditar que habitava um mundo<br />

melhor e que tudo o que nella havia <strong>de</strong><br />

terrestre acabava <strong>de</strong> se evolar numa súbita<br />

transformação celeste.<br />

O pallido clarão do crepusculo não<br />

penetrava ua espessa alcova <strong>de</strong> verdura<br />

que tinha roubado ás estrellas os ineffaveis<br />

segredos da noite. A aurora, mais<br />

brilhante, <strong>de</strong>ixou cair sobre as arvores<br />

um rastro d'opala, e Memma, subitamente<br />

receosa d'esta clarida<strong>de</strong> repentina como<br />

d'uma testemunha <strong>de</strong>latora, velou o rosto<br />

com as duas mãos e fugiu ligeiramente<br />

suspirando um a<strong>de</strong>us.<br />

Paulo Gréant saiu do jardim como<br />

Adão do É<strong>de</strong>n, fulminado <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />

ejie remorsos; ao chegar á rua, procurou<br />

no céo o primeiro raio <strong>de</strong> sol, como<br />

se procura o amigo que fortifica e consola.<br />

Mas o que o pincel d'um artista<br />

nunca exprimiu numa tela, mesmo Salvator<br />

Rosa, quando evocou o fantasma <strong>de</strong><br />

Samuel <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> Saul, é a contracção<br />

Resolveu renovar perante o commissario<br />

<strong>de</strong> policia o pedido feito para a<br />

execução das posturas, lembrando a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar ácerca das officinas<br />

<strong>de</strong> fogueieiro e <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> polvora<br />

e mais combustíveis no bairro <strong>de</strong><br />

Fóra <strong>de</strong> Portas.<br />

Attestou favoravelmente ácerca <strong>de</strong><br />

uma petiço para um subsidio <strong>de</strong> lactação<br />

pedido por Maria da Conceição, solteira,<br />

<strong>de</strong> Santo Antonio dos Olivaes, fcm<br />

favor <strong>de</strong> sua filha Maria, nascida em novembro<br />

<strong>de</strong> 1892.<br />

Mandou passar licenças para apascentamento<br />

<strong>de</strong> cabras a tres lavradores<br />

do concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Mandou pagar ao conductor Esteves,<br />

a quantia <strong>de</strong> 7/500 réis <strong>de</strong> serviços<br />

que tem prestado ao município em medições<br />

<strong>de</strong> terrenos para venda.<br />

Resolveu celebrar a procissão <strong>de</strong><br />

Corpus Christi no 1.° <strong>de</strong> junho.<br />

Auctorisou a presi<strong>de</strong>ncia a consultar<br />

o chefe do districto ácerca do lançamento<br />

<strong>de</strong> contribuições e percentagens parochiaes.<br />

Auctorisou a conclusão dos trabalhos<br />

da casa d'officina junto da casa das machinas,<br />

votando mais para esta obra a<br />

quantia <strong>de</strong> 20/000 réis.<br />

- Auctorisou a mudança d'alguns candieiros<br />

da illuminação da rua <strong>de</strong> Entre-<br />

Muros, fazendo-os collocar do lado do<br />

cerco dos Jesuítas.<br />

Resolveu officiar ao chefe do districto<br />

ácerca dos serviços da inspecção <strong>de</strong><br />

generos expostos á venda nos mercados.<br />

Mandou pagar os serviços da cobrança<br />

das importâncias <strong>de</strong>vidas pelo consumo<br />

d'agua, relativamente aos mezes <strong>de</strong>-<br />

corridos <strong>de</strong>-<strong>de</strong> janeiro.<br />

Resolveu pedir informações ao director<br />

das obras publicas do districto sobre<br />

as provi<strong>de</strong>ncias tomadas superiormente,<br />

com relação á pare<strong>de</strong> em ruina<br />

do paço episcopal, do lado da rua <strong>de</strong> S.<br />

Salvador.<br />

Resolveu provi<strong>de</strong>nciar para que seja<br />

<strong>de</strong>molida pelo proprietário, a casa em<br />

ruina, na rua dos Militares, sob osn. 08<br />

52 e 54.<br />

Resolveu manter a <strong>de</strong>liberação tomada,<br />

com referencia ás canalisações <strong>de</strong><br />

agua por conta da camara, em vista <strong>de</strong><br />

pretensões apresentadas sobre o assumpto.<br />

In<strong>de</strong>feriu, em vista d'informações da<br />

junta <strong>de</strong> parochia, um requerimento dirigido<br />

á cantara para occupação <strong>de</strong> terrenos<br />

para alinhamento no Casal da Mizo<br />

relia.<br />

Mandou ouvir o advogado ácerca do<br />

pedido feito para a rescisão do contrato<br />

<strong>de</strong> arrendamento do terreno em que existe<br />

a praça <strong>de</strong> touros nesta cida<strong>de</strong>.<br />

Resolveu reservar para occasião opportuua,<br />

a <strong>de</strong>liberação a tomar ácerca<br />

da canalisação d'aguas no sitio das Arcas<br />

d'Agua, pedida por alguns proprietários,<br />

bem como a illuminação publica<br />

do mesmo local.<br />

Auctorisou a reconstrucção <strong>de</strong> uma<br />

casa ao Caes, pertencente a D. Rosa<br />

Felismina Barbosa, d'esta cida<strong>de</strong>, com<br />

frente também para a Sotta e para a tra-<br />

<strong>de</strong> espanto que <strong>de</strong>spedaçou o rosto <strong>de</strong><br />

Paulo a alguns passos da porta do seu<br />

É<strong>de</strong>n.<br />

Os olhos vidraram-se-lhe, erriçaramse-lheos<br />

cabellos; uma surda exclamação<br />

lhe agitou o peito sem po<strong>de</strong>r subir aos<br />

lábios, e a sua mão direita esten<strong>de</strong>u-se<br />

nervosamente para um fantasma horrível,<br />

que o sol ainda não tinha dissipado.<br />

Era Talormi, vestido como na vespera<br />

antes do combate; soberbo <strong>de</strong> insolência<br />

zombeteira, e mostrando no<br />

rosto colorido a expressão da saú<strong>de</strong>, da<br />

mocida<strong>de</strong> e do vigor.<br />

Neste momento, os homens e as<br />

mulheres do campo atravessavam a estreita<br />

rua a caminho da cida<strong>de</strong>. Paulo,<br />

recobrado do seu primeiro terror, caminhou<br />

direito a Talormi para o examinar<br />

mais <strong>de</strong> perto.<br />

— Oh! sou eu todo inteiro, disse o<br />

prestidigitador sorrindo, não sou a minha<br />

sombra, sou eu proprio e conheço o seu<br />

segredo. Meu caro, é um estouvado e<br />

uma creança; e os homens como eu<br />

brincam comvosco com tanta facilida<strong>de</strong>,<br />

que nem mesmo merecemos o mais<br />

simples elogio pela nossa habilida<strong>de</strong>.<br />

Quiz conhecer a fundo a sua historia.<br />

Estão ambos em meu po<strong>de</strong>r. O leal<br />

Paulo Gréant é o amante <strong>de</strong> madame<br />

Van Ritter. Vejamos, senhor, <strong>de</strong>sminta-me.<br />

Paulo Gréant julgava-se presa d'um<br />

<strong>de</strong>stes sonhos, que começam nos extasis<br />

vessa entre estas duas ruas, ce<strong>de</strong>ndo a<br />

proprietária gratuitamente, como <strong>de</strong>clarou<br />

por escripto, para alargamento e alinhamento<br />

38 ra ,70 <strong>de</strong> terreno, sendo<br />

3^,70 pelo lado do Caes; pela Sotta<br />

24 ,n ,0 e pela travessa ll m ,0.<br />

A reconstrucção é no alinhamento<br />

primitivo pelo lado do Caes; pela Sotta<br />

é no prolongamento da casa <strong>de</strong> Antonio<br />

Maria Antunes; pela travessa córta 0 m ,30<br />

na quina para o Caes, ficando alli a mesma<br />

travessa com 4 m ,0 <strong>de</strong> largo e terminando<br />

em zero no cruzamento com o<br />

alinhamento pelo lado da Sotta.<br />

Deferiu 4 requerimentos relativamente<br />

a canalisações para esgoto d'aguas<br />

<strong>de</strong> prédios situados <strong>de</strong>ntro do perímetro<br />

da cida<strong>de</strong>, letreiro^ em estabelecimentos<br />

particulares e alteração nas portas <strong>de</strong><br />

uma casa no Becco do Castilho.<br />

A GRANEL<br />

* * # A camara municipal da Figueira<br />

da Foz consignou nus suas actas<br />

um voto <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento ao sr. ministro<br />

das obras publicas pelo facto do<br />

mesmo ministro ter dado or<strong>de</strong>m para serem<br />

limpas as docas d'aquella cida<strong>de</strong>.<br />

* * # As remissões do serviço militar<br />

efifectuadas no mez <strong>de</strong> abril ultimo<br />

nos districtos abaixo mencionados do<br />

continente do reino e ilhas importaram<br />

ern 4.604/800 ráis, sendo:—Vianna do<br />

Alemtejo 460/000, Braga 1:924/800,<br />

<strong>Coimbra</strong> 800/000, Vizeu 550/000,<br />

Guarda 80/000, Lisboa 320/000, Beja<br />

150/000, Angra 160/000, Horta<br />

80/000 e Funchal, 80/000 réis.<br />

i ;<br />

Prevenimos os nossos<br />

estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />

fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

vamos principiar a cobrança<br />

das suas assignaturas relativamente<br />

ao 2.° semestre.<br />

Aos que não tiverem pago<br />

o 1.° semestre enviamos<br />

recibos do anno completo.<br />

Pedimos a todos o obsequio<br />

<strong>de</strong> pagarem logo que<br />

lhes seja apresentado o recibo<br />

ou mandarem pagar<br />

ás respectivas estações do<br />

correio quando receberem<br />

aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />

<strong>de</strong>volução, que, além do<br />

prejuizo que nos causa, embaraça<br />

a boa regularida<strong>de</strong><br />

da nossa administração.<br />

do céo e acabam nas torturas do inferno.<br />

O sol tinha se erguido, mus o phantasma<br />

não <strong>de</strong>*apparecera.<br />

XIXI<br />

O prestidigitador da morte<br />

Nestes momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>lirio, o pensamento,<br />

rápido como o relampago, resume<br />

num fascículo uma multidão <strong>de</strong><br />

inci<strong>de</strong>ntes que o espirito calmo a custo<br />

<strong>de</strong>stinguiria numa longa reflexão.<br />

A' vista <strong>de</strong> Talormi, <strong>de</strong> pé <strong>de</strong>ante<br />

<strong>de</strong> si, Paulo Gréant recorda-se <strong>de</strong> todas<br />

as circumstancias do duello; vê-o cair e<br />

contorcer-se-nos supremos arrancos d'uma<br />

agonia que se revolta contra a morte; ouve<br />

ainda um ultimo grilo, um ultimo estertor,<br />

um ultimo a<strong>de</strong>us; lembra se d'aquelle<br />

nobre sentimento <strong>de</strong> compaixão que lhe<br />

tinha merecido um cadaver, d'aquelle<br />

remorso que se tinha seguido á sua victoria,<br />

e o seu cerebro todo se abalou<br />

como se uma garra <strong>de</strong> ferro lh'o tivesse<br />

arrancado. Não acreditava no que via;<br />

accusava <strong>de</strong> mentirosos os seus olhos e<br />

a própria luz do sol, e esperava sempre<br />

que a brisa da manhã afastasse esta<br />

visão impossível que um capricho da<br />

noite linha, por um instante, emprestado<br />

ao proprio dia.<br />

Impresso na Typographía<br />

Ojperarla — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


AS*O I-M.»98 O DEFENSOR DO POVO 4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1883<br />

OUTI/OS<br />

PARA<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha<br />

Repetições<br />

WVElftPES<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapidas<br />

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<strong>Coimbra</strong><br />

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20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

ARRENDAMENTO<br />

rrenda-se a casa da quinta<br />

123<br />

Í do Cidral, cuja casa está<br />

localisada no sitio mais bonito que ha á<br />

roda <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. Tem lambem a vantagem<br />

<strong>de</strong> ter alli boa agua e com abundancia.<br />

Para tratar na Casa Ilavaneza ou na<br />

mesma quinta.<br />

124 W"">e-ee um quasi novoe muito<br />

1 bom, com todos os seus pertences<br />

como seja 12 tacos, taqueiros,<br />

marcador resto, e um jogo <strong>de</strong> bollas, para<br />

ver e tratar com Rocha <strong>Coimbra</strong>, rua do<br />

João Cabreira, n.° 3.<br />

G A S A<br />

rrenda-se o 2.° andar e<br />

120<br />

k' aguas furtadas da casa<br />

n.° 6 do Pateo <strong>de</strong> Inquisição.<br />

Trata-se na Praça do Commercio,<br />

n.° 1 a 5.<br />

SANTA CLARA<br />

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JOSÉ VICTORIXO B. MIRANDA<br />

118<br />

ísta fabrica continúa a produzir<br />

as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> massas, pelos mesmos preços,<br />

satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />

encommendas.<br />

Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />

em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />

<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholameu,<br />

e bem assim communicação lelephonica<br />

com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />

do sr. José Tavares da Costa,<br />

successor, no largo do Príncipe D. Carlos,dos.<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedi-<br />

CASA DE PENHORES<br />

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CHAPELERIA CENTRAL<br />

mpresta-se dinheiro sobre<br />

65<br />

objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />

<strong>de</strong> credito, e oulros que representem<br />

valor.<br />

Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />

Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G — COIMBRA.<br />

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... lonquim do STaseiínento,<br />

| | morador na rua das Pa<strong>de</strong>iras<br />

n.° 11, encarrega-se <strong>de</strong> todos os papeis<br />

precisos para casamentos, taes corno certidões,<br />

folhas corridas, passaportes, e<br />

outros documentos que sejam precisos<br />

mandar tirar fora da terra.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

53<br />

ugusto Nunes dos San-<br />

â tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />

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pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

Lisboa, pharmacia Rosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33<br />

<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />

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JOSÉ FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

3 l^ESTE Deposito regularmente monlado, se acha á venda, por<br />

1)1 junlo e a retallto, lodos os pfoductos d'aquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />

Capital 2.000:000^000 réis<br />

Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97,1.°<br />

100<br />

ARTA25ES<br />

Prospectos<br />

e bilhetes<br />

<strong>de</strong> theatro<br />

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<strong>Coimbra</strong><br />

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PNTOR<br />

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Leilões,<br />

casas<br />

commerciaes, ect.<br />

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Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />

^ncarrega-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, doura-<br />

Eà çôes <strong>de</strong> egrejas, forrar casas a papel, etc., etc.,<br />

tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />

Na mesma officina se veu<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />

para caixilhos e objectos para egrejas.<br />

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dos primeiros auclores, como é llumber,<br />

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vir, e já tem á venda, Bicycletcs<br />

Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />

mais baratos; pois esta machina tem sido<br />

vendida por 120$0(»0 réis ao passo que<br />

esta casa as tem a 110$000!!!<br />

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da Luz, n. 0 86, ou na rua das<br />

Figueirinhas, n.° 45.<br />

O DEFENSOR 00 POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção 6 administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.®<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE áSSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno WOO<br />

Semestre....<br />

Trimestre...<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 21400<br />

y350 Semestre.,<br />

680 , Trimestre,<br />

21#00<br />

600


0 rei diverte-se!<br />

D'um a outro extremo do paiz<br />

percorre, unisono e constante, um<br />

lamento <strong>de</strong> dôr, que é, ao mesmo<br />

tempo, um lamento <strong>de</strong> fome. A corrente<br />

<strong>de</strong> emigração engrossa e cresce<br />

num movimento assustador, symptoma<br />

d'um <strong>de</strong>pauperainenlo fatal<br />

e completo das forças vivas da nação.<br />

Fogem, emigiam, milhares <strong>de</strong><br />

homens, lamilias inteiras, que no<br />

seu paiz não encontram senão miséria<br />

e fome.<br />

Expoliados, ha <strong>de</strong>zenas d'annos,<br />

porsuccessivas administrações<br />

criminosas; embalados constantemente<br />

pelas promessas fementidas<br />

<strong>de</strong> todos; <strong>de</strong>sdludidos, sem esperança,<br />

abandonam—com o coração<br />

em sangue e em farrapos a alma—<br />

os lares exhaustos, empobrecidos,<br />

da sua palria, para irem, animados<br />

da esperança d'um bem que aqui<br />

não encontram, morrer aos montões<br />

em paizes estranhos...<br />

E os poucos que por cá ficam,<br />

adslrictosao torrão exhaurido, como<br />

á gleba os antigos servos, arrastam<br />

<strong>de</strong> dia para dia uma vida cada vez<br />

mais cortada <strong>de</strong> privações e <strong>de</strong> misérias.<br />

O fisco arrebata ao pobre a ultima<br />

mealha que a proprieda<strong>de</strong> ren<strong>de</strong>,<br />

emquanto o gran<strong>de</strong> proprietário<br />

sonega á contribuição gran<strong>de</strong><br />

parte do seu rendimento; o pobre,<br />

no misero alimento, insufficienle e<br />

mau, é explorado ainda gananciosamente<br />

— a fome, o aniquillamento,<br />

eslen<strong>de</strong>m-se, pois, imperiosamente,<br />

soberanos, sobre o paiz inteiro.<br />

Não ha tranquillida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espíritos,<br />

nem alegria, nem conforto,<br />

porque na maior parte das mesas<br />

— não ha pão!<br />

E entretanto as magestu<strong>de</strong>s divertem-se<br />

e folgam e riem em festas<br />

e viajatas; as côres flaminejantes das<br />

ban<strong>de</strong>iras ao vento, põem notas<br />

triumphaes na passagem do real<br />

cortejo; municipalida<strong>de</strong>s perdulárias,<br />

prodigalisam, do dinheiro do<br />

povo, Contos <strong>de</strong> réis em recepções<br />

reaes; banquelêam-se opulentamente,<br />

á custa do povo, os reis, os aulicos,<br />

e os parasitas, e parasitas sao<br />

lodos elles; philannonicas certanejas<br />

atroam os ares <strong>de</strong> notas hilariantes<br />

em liymnos <strong>de</strong> triumptio,<br />

num paiz on<strong>de</strong> a taciturnida<strong>de</strong> lugubre<br />

ha muito que acampou; ha<br />

bailes e recepções, foguetes em girandolas<br />

e colchas <strong>de</strong> damasco a<br />

drapejarem... Abram alas, que<br />

passam os nossos reis, excelsos e<br />

mageslosos, por entre o povo em<br />

festa I<br />

E ao mesmo lempo, a caminho<br />

do Brazil, carneiro enorme das ossadas<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> portuguezes,<br />

passam legiões e legiões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraçados,<br />

sombrios como o <strong>de</strong>sespero,<br />

amaldiçoando, quem sabe 1 o paiz<br />

que os expulsa...<br />

E não se levanla, como um só<br />

homem, u paiz inteiro, para afogar,<br />

numa cólera sanla, os exploradores<br />

sem alma, sem virtu<strong>de</strong> ou sem talento,<br />

que o levaram vergonhosa-<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

mente a esla miserável <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia;<br />

e não se vinga, num supremo <strong>de</strong>sforço<br />

do espectáculo <strong>de</strong>primente que<br />

ao mundo eslamos dando, d'um<br />

povo que vergonhosamente se <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong>smoronar em ruinas!<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

As propostas <strong>de</strong> fazenda continuam<br />

a merecer <strong>de</strong> todo o pâiz protestos vehementes<br />

e á camara dos <strong>de</strong>putados começa<br />

a affluir as representações das diversas<br />

classes, reclamando contra o augmento<br />

dos impostos.<br />

# Os jardineiros e horticultores do Porto<br />

enviaram uma representação ao sr.<br />

ministro da fazeúda, reclamando contra<br />

o aggravameuto da sua taxa <strong>de</strong> contribuição.<br />

Esse aggravaniento é apenas <strong>de</strong> 211<br />

por cento.<br />

* As camaras municipaes do districto<br />

<strong>de</strong> Aveiro vão representar cada<br />

uma <strong>de</strong> per si contra a proposta da contribuição<br />

predial.<br />

* Para protestar contra a passagem<br />

da 5. a para a 4. a classe, reuniram na<br />

segunda feira, os commerciautes <strong>de</strong> ferragens<br />

novas, nas salas da Associação<br />

dos Lojistas <strong>de</strong> Lisboa, rua <strong>de</strong> Victor<br />

Cordon, 1.<br />

Esta classe, que no seu grémio tem<br />

um consi<strong>de</strong>rável numero <strong>de</strong> pequenos<br />

commerciantes, não po<strong>de</strong> supportar tão<br />

vexatorio aggravaniento.<br />

* Os <strong>de</strong>putados do Algarve vão<br />

reunir-se para accordarem sobre o meio<br />

<strong>de</strong> combaterem a proposta do álcool.<br />

* Healisou-se na Regoa um comício<br />

promovido p«la Liga dçs lavradores<br />

do Douro, para protestar contra a proposta<br />

da contribuição predial.<br />

* A camara do Porto approvou uma<br />

representação ao parlamento coutra as<br />

medidas <strong>de</strong> lazenda.<br />

* Reuniu também a commissão da<br />

Associaçao dos Lojistas encarregada do<br />

exame das propostas sobre a contribuição<br />

industrial. Concluiu o seu estudo, resolvendo<br />

representar contra a elevação<br />

das laxas <strong>de</strong> transferencia <strong>de</strong> classes, e<br />

elaborar com a maior urgência uma representação<br />

ao parlamento que sera presente<br />

a assembleia geral, que para esle<br />

tim reunira num dos proximos dias <strong>de</strong>sla<br />

semana.<br />

Os revoltosos <strong>de</strong> janeiro<br />

Diz o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro:<br />

«Vimos houtem uma carta datada <strong>de</strong><br />

Moçambique em 28 <strong>de</strong> abril passado e<br />

dirigida por um dos revoltosos <strong>de</strong> janeiro<br />

a seu pae, resi<strong>de</strong>nte nesta cida<strong>de</strong>. O<br />

signatario, que pertenceu a iufauteria<br />

18, queixa-se <strong>de</strong> não ter ainda alli chegado,<br />

aquella data, a or<strong>de</strong>m official para<br />

applicaçáo da amnistia <strong>de</strong>cretada em tius<br />

<strong>de</strong> levereiro.<br />

Custar-uos-ia acreditar, se o não víssemos<br />

documentado. Realmente, chega a<br />

ser inverosímil e revoltante incúria, ou<br />

o quer que seja, que assim priva da liberda<strong>de</strong><br />

os pobres condcmuados para a<br />

Alrica oriental, comprehendidos uo mesmo<br />

<strong>de</strong>creto que repatriou opportunamenle<br />

os <strong>de</strong>sterrados para outros pontos.<br />

Allenção para as iniquida<strong>de</strong>s.»<br />

Bem se vê que o sr. ministro da<br />

marinha anda atarefado com os negocios<br />

<strong>de</strong> Quelimane-Chire— que lhe <strong>de</strong>vem<br />

ren<strong>de</strong>r mais que a sorte dos revoltosos.<br />

Cultura do chá<br />

Vae <strong>de</strong>senvolvendo se com gran<strong>de</strong><br />

incremento nos Açores, ilha <strong>de</strong> S. Miguel,<br />

a cultura da planta do chá.<br />

Ja alli existe urna fabrica montada<br />

com os mais mo<strong>de</strong>rnos aperfeiçoamentos,<br />

<strong>de</strong> que é proprietário o sr. José do Canto,<br />

e tudo prenuncia que gran<strong>de</strong>s são os lucros<br />

que da cultura do chá se po<strong>de</strong>m<br />

esperar.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Fuschini, o excelso I<br />

No tempo em que o sr. D. Sebastião<br />

(o tal <strong>de</strong>sejado que os rheuniaticos<br />

hão <strong>de</strong> annunciar quando os ossos lhe<br />

<strong>de</strong>nunciarem forte manhã <strong>de</strong> nevoeiro)<br />

— no lempo em que o legendário monarcha<br />

se preparava para dar uma caiholica<br />

casaca no lombo do mouro infiel,<br />

o governo na febre <strong>de</strong> preparar machinas<br />

<strong>de</strong> guerra e comprar navios com dinheiro<br />

que o thesouro não tinha, <strong>de</strong>cretou<br />

medidas pesadas e vexatórias, que<br />

espantaram pela <strong>de</strong>sfaçatez e <strong>de</strong>splante<br />

a burguezia ingénua da epocha.<br />

O sal foi coliectado com um imposto<br />

<strong>de</strong> respeito, cunhou-se moeda <strong>de</strong> couro,<br />

(não chegou o atrevimento ao fabrico do<br />

papel...) a moeda bespanhola circulou<br />

no reino, subindo <strong>de</strong> valor, e os ju<strong>de</strong>us<br />

pagaram tributos pesadíssimos, tanto mais<br />

injustos quanto é certo que d'elles viera<br />

a riqueza a Portugal embora o não<br />

compréhen<strong>de</strong>sse assim o cerebro quadrado<br />

do sr. D. Manoel.<br />

Todas essas patifarias se pozeram em<br />

pratica; havia, porém, a <strong>de</strong>sculpal-as o<br />

fim que as promovia — a conquista da<br />

Africa. Fim grandioso, em verda<strong>de</strong>, que<br />

valia o sacrifício <strong>de</strong> patriotas <strong>de</strong>dicados!<br />

No emtanto a ban<strong>de</strong>ira rebel<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Mahomeh pou<strong>de</strong> mais que o pendão piedoso<br />

do jesuíta privado do principe, o<br />

afamado Luiz da Camara—e os esforços<br />

da palria, e os brocados dos luzidos cavalleiros,<br />

e a lança faiscante dos valentes,<br />

e a nossa esperança, e o noso nome,<br />

e a nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia...— tudo isso<br />

ficou em estilhas, <strong>de</strong>spedaçado, <strong>de</strong>sfeito,<br />

perdido, arrazado, na planície arida e<br />

ar<strong>de</strong>nte d'Alcacer-Quibir, tinta <strong>de</strong> sangue<br />

lusitano e innundada pelos clarões vermelhos<br />

do sol da Africa I<br />

Falhára o commettimento : <strong>de</strong>sventuras<br />

do acaso ou inexperiencias <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong><br />

mal guiada 1<br />

Hoje parece que se trata <strong>de</strong> nova expedição<br />

á Lybia; o sr. Fuschini <strong>de</strong>speja<br />

a cornucopia das albardas sobre o paiz,<br />

e <strong>de</strong>creta medidas que traduzem, das<br />

duas uma: ou o completo e absoluto esfalfameuto<br />

do thesouro (quem o roubou?)<br />

ou a i<strong>de</strong>ia d'um gran<strong>de</strong> feito guerreiro.<br />

Não sabemos qual conjectura se <strong>de</strong>va<br />

preferir. A labella das medidas fazendarias<br />

indica enlallação graúda, e necessida<strong>de</strong><br />

absoluta <strong>de</strong> recursos, e tão imuiediata<br />

que o sr. Fuschini atirou com escrúpulos<br />

para o cesto da roupa suja, e<br />

cortou a direito, sem consi<strong>de</strong>ração pelas<br />

garantias individuaes, sem atteutar no<br />

progresso da crise, sem respeito pela<br />

situação da industria nacional !<br />

Se não temessemos melindrar s. ex. a<br />

(a quem muito respeitamos, porque o seu<br />

uome nos recorda um terror celebre —<br />

Fraschini) dir-ihe-iamos que tributos<br />

como os que apresentou ultimamente dispensam<br />

<strong>de</strong>feza d imprensa, e approvação<br />

<strong>de</strong> camaras: <strong>de</strong>cretam-se á esquina <strong>de</strong><br />

uma encruzilhada.<br />

... E pagam-se!<br />

*<br />

Pedimos licença para lembrar um additameuto<br />

ás propostas; parece-nos que<br />

elle completara a obra <strong>de</strong> s. ex.\ e a<br />

sua execução afigura-se-uos tão fácil —•<br />

e ião justilicada —como as medidas que<br />

para ahi se discutem, sem <strong>de</strong>scredito<br />

para o governo — na verda<strong>de</strong> superior a<br />

todo o elogio e a toda a troça.<br />

Lembra-nos que o sr. Fuschini po<strong>de</strong>rá<br />

collectar o beijo, o abraço, a caricia,<br />

o namoro, a olha<strong>de</strong>lla sentimental,<br />

a carta amorosa, a flor na lapella do<br />

frak, os versos a Julieta, e... e tudo o<br />

mais que estiver na esphera do epicurismo<br />

fim do século.<br />

Por exemplo: Beijos — (o cento) —<br />

50 réis, sendo legítimos, isto é, entre<br />

marido e mulher, tem 50 °/0 dabatimento<br />

ou 25 réis, que po<strong>de</strong>m ser pagos<br />

em estampilha.<br />

Relações adullerinas teriam um preço<br />

salgado, convenientemente estabelecido<br />

ANNO ! <strong>Coimbra</strong>, 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 95<br />

do Povo<br />

com o governo, e estabelecido segundo<br />

uma escala <strong>de</strong> regulamento especial. O<br />

namorado que tomasse gargarejos habituaes<br />

pagaria, por exemplo, 400 réis cada<br />

noile, ou 120 réis cada hora, po<strong>de</strong>ndo<br />

assignar ao mez ou annualmente, com<br />

vantagens no caso <strong>de</strong> garantir o idyllio<br />

por mais <strong>de</strong> seis mezes. A catrapiscada<br />

seria obrigada a pagar um juro <strong>de</strong> 6 °/0<br />

sobre o imposto do seu bem.<br />

Parece-nos ainda da maior conveniência<br />

que se inverta a lei franceza que<br />

premeia o ca^al mais fecundo. Façamos<br />

o contrario: Quantos mais filhos, mais<br />

tributos t A contribuição <strong>de</strong>ve augmentar<br />

conforme a fecundida<strong>de</strong> da dona da<br />

casa e a felicida<strong>de</strong> presumível do cabeça.<br />

Filhos são prazeres; os prazeres pagam-se.<br />

Aí senhoras estereis ficam supprimidas.<br />

Serão severamente reprimidos<br />

todos os meios que diminuam a população;<br />

serão prohibidas as operações <strong>de</strong><br />

ovariotomia, e castigados com rigor os<br />

infractores d'esta disposição.<br />

Que diz a isto o st. Fuschini ?<br />

NOTAS DE SEMANA :<br />

A auctorida<strong>de</strong> superior não consentiu<br />

que o sr. Oliveir.i e Silva (a quem<br />

me referi na chronica passada) entrasse<br />

com o domador Max na jaula dos leões.<br />

Regisle-se este acto ajuizado com excepção<br />

aos <strong>de</strong>satinos que a nossa auctorida<strong>de</strong><br />

para ahi tem praticado.<br />

Vimos ha pouco o local on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>sastre do elevador dos Guindaes,<br />

a que as folhas da tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>vem referir<br />

e relatar miudamente. O carro, que<br />

se <strong>de</strong>spenhou por imperícia do machinista<br />

Antonio Dias dOliveira, é um<br />

montão <strong>de</strong> <strong>de</strong>stroços.<br />

Iam <strong>de</strong>ntro o conductor n.° 5, Antonio<br />

Martins, e a menina A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, fillia<br />

do sr. Costa Braga, quando o vehiculo,<br />

<strong>de</strong>slocado pelo choque contra a guarda<br />

<strong>de</strong> resguardo, partiu em carreira vertiginosa<br />

pelo <strong>de</strong>clive, quasi a pique. O<br />

conductor ficou horrorosamente mutilado<br />

; está em perigo <strong>de</strong> vida. A creança<br />

sollreu escoriações <strong>de</strong> pouca gravida<strong>de</strong>.<br />

O machinista, perseguido pela policia,<br />

<strong>de</strong>sappareceu. Não dou larga noticia<br />

do <strong>de</strong>sastre atlen<strong>de</strong>ndo a que os leitores<br />

do Defensor já <strong>de</strong>vem estar informados<br />

do caso pela imprensa diaria daqui.<br />

5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 93.<br />

Fra-Diavolo.<br />

A felicida<strong>de</strong> do paiz<br />

Lemos isto: Des<strong>de</strong> o principio do<br />

actual anno economico, alé fins <strong>de</strong> abril,<br />

foram vendidas na recebedoria da comarca<br />

<strong>de</strong> Villa Real e Traz-os-Montes,<br />

2:400 passaportes.<br />

Tudo a fugir — á fome.<br />

Grave<br />

Pelo caminho que se vae seguindo,<br />

teremos <strong>de</strong>ntro em pouco as nossas colonias<br />

invadidas completamente por inglezes.<br />

Uma companhia, obrigada nas<br />

clausulas do contracto com o governo a<br />

mandar para Africa até 1:000 famílias<br />

annualmente, trata agora <strong>de</strong> só enviar<br />

para alli famílias inglezas, o que dará<br />

ein resultado <strong>de</strong>snacionalisarem-se as<br />

nossas colonias e estarem d'aqui a pouco<br />

<strong>de</strong> todo nas mãos d'aquelles nossos amigos.<br />

Mas ao mesmo tempo a corrente <strong>de</strong><br />

emigração para o Brazil apresenla-se com<br />

uma intensida<strong>de</strong> cada vez mais exlraordinaria,<br />

para irem servir <strong>de</strong> pasto os<br />

nossos emigrantes ás febres <strong>de</strong>vastadoras<br />

d'aquelle paiz; e entretanto não se procura<br />

<strong>de</strong>rivar para a nossa Africa a emigração<br />

porlugueza, a fecundar as nossas<br />

riquíssimas possessões; e permilte-se que<br />

os boers o os inglezes por lá se estabeleçam,<br />

sem receio pelo perigo que as<br />

nossas colonias correm.<br />

Vae tudo assim, á matroca...<br />

C R Y S T A E S<br />

Yia lactea<br />

(A meu pae)<br />

Dorme o teu somno, coração liberto<br />

Dorme na mão <strong>de</strong> Deus eternamente I<br />

LIV. «Os Son»—ANTHERO DO QUENTAL<br />

Amo a lampada ar<strong>de</strong>nte que crepita<br />

E cae suspensa d'um cruseiro branco;<br />

Amo a rosa esqueida sobre o flanco,<br />

Pallida e triste, d'aspero rochedo;<br />

Amo o raio que crusa á noite os ares<br />

Amo a virgem piedosa adormecida;<br />

E se uma nuvem cae, invoco a vida<br />

No mysterio que envolve o seu segr»do.<br />

A prece que dos lábios ignorada<br />

"Vae até Deus em conii<strong>de</strong>ncia pura,<br />

E' perfume que exhala esta ventura<br />

Ainda mal sonhada e peregrina;<br />

E a terra não na havia Deus formado<br />

Se a estrella mais distante, um dia, apenas,<br />

Do solo ethereo, um raio ás açucenas<br />

Não mandasse <strong>de</strong> sua luz divina.<br />

Como a folha que rola solitaria<br />

Impellida dos ventos do nor<strong>de</strong>ste,<br />

Assim se vão na orbita celeste<br />

Outros mundos d'aroma, assim dispersos ;<br />

E na <strong>de</strong>rrota immensa do <strong>de</strong>stino,<br />

Revolvidos uuru vácuo sempre aberto,<br />

Parece que escutam o concerto<br />

D'aquella marcha eterna, em luz immersos.<br />

A alma então não pára: ergue-se ovante<br />

Na asa do harpejo que seu vôo augmental...<br />

— E És Tu Só quem a lagrima sustenta,<br />

Divino Sêrl na palpebramais linda! —<br />

Lá quando a onda em catadupa enorme<br />

Expira como o beijo sobre a face<br />

Oh! quanto aroma, sobre a areia, nasce<br />

Da branca espuma que suspira ainda 1<br />

Mas esta luz não vem do sol somente,<br />

Embora o sol, medindo o firmamento,<br />

Invada o albergue, como a chuva e o vento,<br />

Do leproso famiuto, do mais triste!<br />

A fé baixando envolta no sudário<br />

I<strong>de</strong>al do Christo sobre a alma impía,<br />

Desata em flores a occulta phantasia,<br />

— Renova a haste que no peito existe I<br />

Fugaz meteoro é isso que não pousa<br />

No cume d'estas serras como a ave;<br />

Mysterio é isso que um momento grave<br />

Logo ó dôce qual osculo materno;<br />

Inviolável, sagrado, alvo, ineffavef,<br />

(Mas sempre ethereo aos olhos d'esta gente)<br />

E' todo o incenso que nos câe luzente<br />

Do áureo thuribulo da mão do Eterno...<br />

— Da sua mão direita! que suspenda<br />

A rapida ampulheta on<strong>de</strong> a existencia<br />

Se escoa mais fugace do que a essencia<br />

De toda a planta ou do palavra vã;<br />

On<strong>de</strong> o espirito accêso mysterioso<br />

A uui sopro d'alguus ventos que conhece,<br />

Naquella areia eterna, como a prece<br />

Se esvae... ou como os beijos da manhã.<br />

Por isso adoro em ti a fiôr dos valles<br />

Supremo Deusl e a ingénua sensitiva;<br />

Por isso aspiro a ti, se um beijo, esquiva,<br />

A aragem vae <strong>de</strong>pôr no adusto veio;<br />

Por ti as mãos levanto ao cóo piedosas<br />

E meu ser se evapora ante o Calvario,<br />

E caio, como o echo tumultuado,<br />

Nos calados abysmos do teu Seio 1<br />

Mas... e se a crença (a vista dos <strong>de</strong>sertos<br />

Que dá ao palladino a clarida<strong>de</strong>)<br />

E' o sustentáculo dôce da Verda<strong>de</strong>,<br />

A forma impressa a luz inas vagamente. .<br />

— Se a razão me adivinha um bem gerado<br />

Aos pés da cruz (autes resgate certo 1)<br />

«Dorme o teu somno, coração liberto,<br />

Dorine na mão <strong>de</strong> Daus eternamente I»<br />

Porto 1893.<br />

L B T T R A S<br />

Socego<br />

HUGO DINIZ.<br />

A genlil-baroneza Thereza <strong>de</strong> Luxille,<br />

ainda muito pallida, d'uma palli<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />

pessoa ferida e sem forças, que tivesse<br />

perdido muito sangue, tão abatida, com<br />

os lindos olhos pisados, que tinham como<br />

um olhar <strong>de</strong> souho, os lábios sem côr,<br />

agitados por um leve estremecimento, as<br />

ma<strong>de</strong>ixas loiras do seu cabello caindo-lhe<br />

em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m para a testa e para o pescoço,<br />

o rosto tão emmagreçido que parecia<br />

o d'uma creança, com uma expressão<br />

a uni tempo infantil e grave, recostava-se<br />

languidamente no immenso leito<br />

morno, encoataado-se ás almofadas, feliz<br />

por ter acabado o soffrimento, cançada<br />

e entorpecida como <strong>de</strong>pois d'um doloroso<br />

calvario.


- .<br />

A N N O<br />

I — tf." » 3 iDluítlJÍ<br />

Às cortinas cahida ! ? da cama mal<br />

<strong>de</strong>ixam penetrar a clarida<strong>de</strong> baça da lamparina.<br />

No tapete reflecte-se o esbrazeamento<br />

do fogão, e pela porta entreaberta passam<br />

os murmurios rápidos <strong>de</strong> vozes, um<br />

som secco <strong>de</strong> dobrar e <strong>de</strong>sdobrar <strong>de</strong> roupa,<br />

gargalhadas mal <strong>de</strong>finidas, como que<br />

abafadas, e <strong>de</strong> repente, leve, intraduzifel,<br />

como o estranho "grito d um animatsinho<br />

<strong>de</strong>sconhecido, um queixoso vagido<br />

<strong>de</strong> creança recemoascida, que a ama embrulha<br />

nos eoeiros: 4=5 ~ ><br />

E a parturiente inerte não pensa em<br />

coisa alguma, <strong>de</strong>ljçía-se naquelle torpor<br />

completo <strong>de</strong> todo o'seu ser, não faz o<br />

minimo movimento, e, a não ser a rythmica<br />

respiração que lhe entumece a garganta,<br />

a fixi<strong>de</strong>z allucinaute das suas pupilas,<br />

jugal-a-hiam morta nomeio das incessantes<br />

convulsões, que ainda ha pouco como<br />

que <strong>de</strong>spedaçavam o seu frágil corpinho<br />

<strong>de</strong> creança, que as suas pálpebras <strong>de</strong>smaiadas<br />

esperam apenas o piedoso gesto<br />

que para sempre as feche.<br />

Está só, mas tão prostrada que nem<br />

dá pela sua solidão, que não a sente, que<br />

nem mesmo <strong>de</strong>u pela brusca <strong>de</strong>sapparição<br />

<strong>de</strong> todos os seus, do marido, dos paes,<br />

que ro<strong>de</strong>iam a creança, procurando já<br />

ver com quem se parect j , moendo o medico<br />

com perguutas, esquecendo quasi<br />

como um objecto perdido esse ente que<br />

ainda ha pouco tempo tanto soffria e gemia,<br />

<strong>de</strong>batendo-sc horas e horas como<br />

sob as mãos implacaveis d'um carrasco.<br />

E abysmavase naquella beatitu<strong>de</strong>,<br />

quando se levantou o reposteiro <strong>de</strong> peluche.<br />

c eulròu a parteira, irazetido nos<br />

braços o pequenino, cuja cabeça quasi<br />

<strong>de</strong>sapparecia nos folhos <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> Bruges,<br />

da touca. maloas» «np soè-iaí<br />

Tem a carita inchada, unias facesinhas<br />

rosadas e uma pequenina cova na<br />

bartotiómsijj; oóv use (Uip oi,íMji£d ob iVl<br />

Tbereza viii-o, e a sua pliisionomia,<br />

que num momento se transfigurou, estava<br />

radiante <strong>de</strong> alegria. Sorriu se. Diz-<br />

Ihe palavras d'uma gran<strong>de</strong> ternura. EdO<br />

ten<strong>de</strong>-lhe as mãos muito brancas, que as<br />

veias azulam.<br />

E áo ver que a parteira <strong>de</strong>põe sobre<br />

uma almofada, perto, muito perto <strong>de</strong> si,<br />

esse corpinho franzino, essa mistura <strong>de</strong><br />

rendas e_ carne rosada, segue lhe todos<br />

os movimentos com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sasocego,<br />

dizendo-ihe numa voz <strong>de</strong> medo:<br />

— Veja lá não lhe faça mal!<br />

Depois Tbereza conchega se, põe-se<br />

muito pertinho <strong>de</strong> seu filho, impregna-o<br />

do seu calor, cuhiça o com os olhos a<br />

brilharem d'uma immensa tornura, <strong>de</strong>licia-se,<br />

sente-se tão feliz como nunca se<br />

sentira autes e quasi num tom <strong>de</strong> supplica,<br />

com uma voz a um tempo doce e<br />

imperiosa, como quando queremos que<br />

nos obe<strong>de</strong>çam, mas que não <strong>de</strong>sejamos<br />

offen<strong>de</strong>r sem motivo, disse lentamente<br />

para a parteira : btm olniqas o obnO<br />

— O melhor é <strong>de</strong>ixar-nos sós agora,<br />

por um bocadinho, e dizer que eu quero<br />

estar só.<br />

A parteira allastou-se docilmente e<br />

ficaram os dois sosinhos, áo pé um do<br />

outro, num regalo suave, num silencio<br />

apenas cortado, agora e logo pelo rodar<br />

dos carros pela rua e o crepitar da lenha<br />

húmida no fogão, esse murmurio in<strong>de</strong>finível,<br />

que nos traz á memoria uns trillus<br />

<strong>de</strong> cotovia, um rumorejar <strong>de</strong> folhas no<br />

fundo d'um bosque.<br />

Contempla-o. Toca-lhe quasi a medo<br />

como fazia á boneca quando era pequena.<br />

Olha-o com admiração, lncliiia-se para o<br />

beijar, e sente uma <strong>de</strong>licia immensa ao<br />

contacto dos seus ia bios cheios <strong>de</strong> ternura<br />

com aquella epi<strong>de</strong>rme que estremece,<br />

que vive.<br />

Ê uni extase divino que se espalha pelo<br />

seu cerebro, pela sua alma, o quer que<br />

seja <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong> sobrelitimano, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecido,<br />

que cada minuto mais augmenta,<br />

uma seducção a cada novo beijo. '<br />

E sente que d'alli para o futuro pertence<br />

áquella creança, que se transfigurou<br />

<strong>de</strong> mulher em mãe, que talvez tenha<br />

um dia <strong>de</strong> se sacrificar, que sofírer, que<br />

se aniquillar por elle, a quem pertence<br />

ago^a o mej|)or do seu coraçã.o. E a sua<br />

finda carinha gaiata, tomou a pouco e<br />

pouco uma expressão mais seria, nmito<br />

meiga,, uma leve nuvem <strong>de</strong> melancholia,<br />

como quando se pensa no dia seguinte.<br />

Passou o braço por cima da creança,<br />

conla-jhe as fracas pulsações do coração,<br />

qué nãó é maior do que o <strong>de</strong> um passarinho.<br />

E <strong>de</strong> repente os seus olhos tão<br />

meigos molham-se <strong>de</strong> lagrimas, pesadas<br />

lagrimas que cahem a uma e uma ao<br />

' longo das suas faces muito brancas, lagrimas<br />

<strong>de</strong> extrema alegria ou lagrimas<br />

ae profunda dôr, quem o pódç dizer,<br />

quem fabe mudar esse movediço lago,<br />

tão <strong>de</strong>pressa agitado, tão <strong>de</strong>pressa tranquillo,<br />

que se chama um cerebro <strong>de</strong> mulher<br />

!<br />

O senhor <strong>de</strong> Luxille, quéjtinha levanljd<br />

i muito <strong>de</strong> vagar o pesado reposteiro,<br />

éVpreila, immovel, aquella a loravel<br />

cabeça loiía que se inclina para o pequenino,<br />

e pergunta-lhe a meia voz, camiíihando<br />

para a cama :<br />

— Também eu serei <strong>de</strong> mais aqui?<br />

— Tu, tu que eu amo tanto!<br />

E Thereza esten<strong>de</strong>-lbe os braços, beija-o<br />

com effusão, dá-llie toda a ternura<br />

do seu corarão num só beijo, e pergunta-lhe<br />

muito feliz apontando para o petizinho:<br />

— Gostas <strong>de</strong> ter um filho? Amas-me<br />

mais ainda? A .»»$9/n s .>o a . ob sinm ioq<br />

0\ E o marido, que a ama loucamente,<br />

não sabendo <strong>de</strong> palavra bastante doce,<br />

bastante terna, bastante carinhosa para<br />

lhe respon<strong>de</strong>r, ajoelha com fervor ao pé<br />

do leito e beija e torna a beijar a carinha<br />

da creança e os <strong>de</strong>dos da sua adorada...<br />

René Mai\erov.<br />

Infamia sem nome<br />

- O jesuitismo<br />

Com esta mesma epigraphe relata o<br />

nosso collega o Correio do Porto o seguinte<br />

, !? r,I ' ,i l° gfí **® iail,l ' 1, t ' - < l<br />

«A' hora em que este jornal vae eútrar<br />

na machina, <strong>de</strong>ixa a nossa redacção<br />

uma creança <strong>de</strong> 5 annos, por nome Julio,<br />

filho do sr. João Cardoso, que foi<br />

barbaramente espancado pelas hospitaleiras<br />

e bondosas irmãs <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, cora<br />

coio estabelecido á riia da Cónceíçáo.<br />

Julio commQtteu a gran<strong>de</strong> falta <strong>de</strong><br />

olhar para a rua, e, por isso, foi castigado<br />

com um terrivCl golpe <strong>de</strong> vassoura,<br />

que lhe abriu uma enorme brecha<br />

na cabeça, ensanguentando lhe todo o<br />

rosto e peito. o> ,. |<br />

Que o publico avalie a doçura <strong>de</strong>stas<br />

ajpiftjs seraphiças que pregam a doutrina<br />

<strong>de</strong> Christo a chicote, e ensinam o<br />

A B C á vassourada.<br />

Chamámos a attenção das auctorida<strong>de</strong>s<br />

para este facto isolado, semelhente<br />

a tantos outros que se <strong>de</strong>senrolam na<br />

treva.<br />

A canalha torpíssima <strong>de</strong> Loyola gerou<br />

num enfraquecimento covar<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vencido da vida, commetle toda a casta<br />

<strong>de</strong> crime sem receio <strong>de</strong> punição.<br />

A justiça dorme, ou apadrinha os<br />

bandidas que assaltam o lar, que espancam<br />

as'creanças, e arrancam, neste fim<br />

<strong>de</strong> século, a sua ban<strong>de</strong>ira d'estupi<strong>de</strong>z e<br />

<strong>de</strong>vassidão.<br />

Pedimos provi<strong>de</strong>ncia?, pedimos um<br />

inquérito, uma syndicancia a sério—sobre<br />

as torpezas que. para ahi se praticam<br />

nesses covis <strong>de</strong> corrupção.<br />

Nós—-ficaremos alerta, promettendo<br />

investigar, e esclarecer brevemente o<br />

publico rfôbfe rasos idênticos.<br />

O publico terá então <strong>de</strong> fazer justiça<br />

por suas mãos, se a justiça do reino<br />

dormir o somno criminoso da tolerancia.»<br />

Só temos a acrescentar que os protestos<br />

do collega ç. o pedido <strong>de</strong> justiça<br />

ás aucToridarles contra as santinhas ha<br />

<strong>de</strong> ficar, como sempre, no olvido. As<br />

auctorida<strong>de</strong>s vivem <strong>de</strong> bem com essa<br />

gente, com carta branca neste paiz para<br />

todos os commetlimentos.<br />

Esta gente não vae com protestos...<br />

Narração <strong>de</strong> factos<br />

Em o numero anterior dissémos como<br />

em <strong>Coimbra</strong> a grey regeneradora se dividiu<br />

em dois grupos, capitaneados o<br />

primeiro por . um malhemalico distincto<br />

e o segundo ppr capitalista opulento; e<br />

referimos ainda — como, por o ministro<br />

do reino ter nomeado para este districto<br />

um governador civil sem consulta previa,<br />

o parlido regenerador n.° 1 se azedMjs<br />

e 8fô$m4Ml9upf>'b soêtn «sn oboi si<br />

Contemos agora a historia e vejamos<br />

como, por questões mesquinhas <strong>de</strong> interesse<br />

proprio, os dois grupos se malquistaram.<br />

Entre o sub chefe do partido u.° 1,<br />

um operador notável, e outro medico ^é<br />

o quarto que apparece), que nesta cida<strong>de</strong><br />

tem extensa clinica e que pertence<br />

ao partido n.° 2, existem, In annos, divergências,<br />

que é tão diflicil augmentarem<br />

como diminuírem; chegaram ao zenitli<br />

e paraiian), 0laq 0Í8091 ipa ,011,59<br />

Este ultimo clinico julga-se também<br />

aggravijdo por um outro medico (o quin-<br />

O DEFE\Hi)R »© POVO 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18»»<br />

to !) em uma ruidosa questão levantada<br />

em um estabelecimento <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />

Dados estes esclarecimentos, diremos<br />

agora que em 1892 falleceu o medico<br />

que dirigia o latim do nobre con<strong>de</strong><br />

e que era também director <strong>de</strong> ura<br />

hospício administrado pela commissão<br />

districtal.<br />

Presidia a esta, então, o medico que<br />

acabamos <strong>de</strong> menciouar, o quinto, e que<br />

havia perdido o logar que tinha no tal<br />

estabelecimento dç .carida<strong>de</strong>-on<strong>de</strong> a ruidosa<br />

questão se levantou.<br />

Lembrou-se este <strong>de</strong> se fazer nomear<br />

director do hospício e formou o plano <strong>de</strong><br />

se <strong>de</strong>mitiir da presi<strong>de</strong>ncia da commissão,<br />

a fim <strong>de</strong>, pelos seus collcgas, ser<br />

NOMEADO^! 1 H. «>|U OBOVW>H KJ O) OBÍJ<br />

1. Estes, porém, julgaram mais acertado<br />

adiar o concurso e guardar o <strong>de</strong>spacho<br />

para a nova commissão, que em breve<br />

seria eleita, e que Dão podia <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> ser da sua. feição politica—Dias Feri<br />

reira, e que faria tudo quanto se lhe<br />

mandasse e na qual o alludido medico<br />

não entraria para o negocio se tornar<br />

mais airoso. fet;tjiL>s(fi- uoJ<br />

Calculavam elles que a situação Dias<br />

Ferreira se manteria por largos annos,<br />

que a sua victoria na eleição da commissão<br />

districtal era certa, e que, portanto,<br />

não havia o menor risco no adiamento<br />

do negocio para o principio <strong>de</strong> fevereiro,<br />

po<strong>de</strong>ndo, inclusivamente, apresenlarse<br />

como concorrente o antigo substituto<br />

do hospício, com longos annos <strong>de</strong> bom<br />

serviço, que o nomeado não seria este,<br />

mas o que recentemente pretendia o tal<br />

logar.<br />

Mas tudo falhou; o sr. Dias Ferreira<br />

per<strong>de</strong>u a eleição, e, poucas semanas<br />

<strong>de</strong>pois, caiu do po<strong>de</strong>r..,mio' aup im|<br />

A nova commissão, presidida pelo<br />

chefe do partido n.° 1, apressou-se a<br />

pedir auctorisação para abrir concurso,<br />

auctorisação que lhe foi dada pelo actual<br />

ministro do reino. Apresenlaram-se dois<br />

concorrentes:--o sub-director do hospício<br />

e o medico ex-presi<strong>de</strong>nte da commissão<br />

anterior; o primeiro, protegido<br />

pelos regeneradores do grupo n.° 1; o<br />

segundo pelos do grupo n.° 2.<br />

O maioral d'este rebanho obteve do<br />

sr. ministro do reino a promessa <strong>de</strong><br />

obrigar a commissão districtal a não<br />

prover o logar, annullando-se d'esta fórma<br />

o concurso aberto; por isso que um<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />

torna sem effeito todos os concursos a<br />

que se não siga a nomeação <strong>de</strong> um dos<br />

candidatos <strong>de</strong>utro do prazo <strong>de</strong> 15 dias<br />

a contar do seu encerramento.<br />

O sr. ministro do reino fez esta promessa<br />

sem consultar os seu? correligionários<br />

da commissão districtal, os quaes<br />

quando, passado tempo, foram instados<br />

pelo sr. governador civil para adiarem<br />

a nomeação, <strong>de</strong>clararam unanime e terminantemente,<br />

que, em consequência dos<br />

seus compromissos, não podiam satisfazer<br />

ao pedido do sr, ministro do reino.<br />

Este, é homem sans peur et sans grammaire,<br />

como já lhe chamaram, e enviou<br />

para <strong>Coimbra</strong> um oíiicio suspen<strong>de</strong>ndo o<br />

provimento do logar; mas por a matéria<br />

do officio ser illegal e por varias outras<br />

razões, que callaremos, não produziu o<br />

expediente ministerial nenhum elleito.<br />

Foi chamado a Lisboa o sr. governador<br />

civil e ahi foi incumbido <strong>de</strong> instar<br />

e teimar novamente com a commissão<br />

districtal para que obe<strong>de</strong>cesse ás or<strong>de</strong>ns<br />

do sr. ministro, que queria satisfazer o<br />

pedido do chefe dos regeneradores n.° 2.<br />

Mas não foi feliz o illustre magistrado<br />

110 cumprimento da sua missão,<br />

porque, logo <strong>de</strong>pois das suas exhorlações,<br />

<strong>de</strong>liberou a commissão districtal<br />

nomear director do hospício o antigo<br />

sub director.<br />

In<strong>de</strong> irae. É indiscriptivel a fúria<br />

que se apo<strong>de</strong>rou do ministro do reino, a<br />

qual só se compara áquella que traz<br />

irrascivel o capitalista chefe dos regeneradores<br />

n.° 2.<br />

Nas altas regiões foi iinmediatamente<br />

<strong>de</strong>cretada a <strong>de</strong>sthronisação do *ehefe<br />

dos regeneradores n 0 1, o distincto nmtheuiaiico;<br />

e perguutadQ o ministro sobre<br />

se queria que este fosse substituído na<br />

chefatura pelo capitalista opulento dos<br />

regeneradores n.° 2, respon<strong>de</strong>u: — Não,<br />

porque fui seu condiscípulo durante<br />

cinco annos. O chefe fica sendo ó governador<br />

civil.<br />

Esta auctorida<strong>de</strong> chamou ao palaeios<br />

dos Loyos vários regeneradores n.° 1<br />

para lhes (çommuiiicar a. <strong>de</strong>posição do seu<br />

chefe p os arrastar para o lado do governo.<br />

Anda, porém, infeliz o sr. governador<br />

civil; ouviu em resposta palavras duras<br />

e, para cumulo da <strong>de</strong>sventura, acaba<br />

<strong>de</strong> ter conhecimento <strong>de</strong> que no sabbado<br />

á noite todos os regeneradores d'este<br />

grupo gritavam em côro, 110 centro dí<br />

rua das Fangas: — Pro rege nostro moriamur!<br />

Este rei é .0 sr. João José d'Antas<br />

Souto Rodrigues, qiie foí Novamente acclamado.<br />

Da acclamação se lavrou um<br />

auto, com cuja copiava e ser brindado o<br />

sr. ministro do reino. Sinceramente felicitaremos<br />

o illustre conselheiro da corôa,<br />

se os regeneradores do sr. Souto<br />

Rodr.iguçs lhe conce<strong>de</strong>rem uma capitulação<br />

honrosa.<br />

Mas já se diz que s. ex. a se ren<strong>de</strong><br />

com armas é bagagens...<br />

E aqui temos nós uma questão magna,<br />

digna do talent-ó d'um Cruz e Silva<br />

que a cajitasse num outro Hyssope, para<br />

recreio e instrucção da gente séria e da<br />

ingénua. Porquê èstas qúéstiunculas <strong>de</strong><br />

corrilho e... <strong>de</strong> estomago, no seio dos<br />

partidos, são realmente, <strong>de</strong> instrucção<br />

e recreio.<br />

CORRESPONDÊNCIAS<br />

felgueira, 6 <strong>de</strong> junho.<br />

Abriram como tinhamos annunciado,<br />

na quinta feira, 1." <strong>de</strong> junho, o Grand<br />

Hotel Club e o estabelecimento thermal,<br />

com o aceio e boa or<strong>de</strong>m que era <strong>de</strong>i<br />

e-perar das intelligentes direcções dos<br />

srs. dr. João Felício e Antonio Rosa<br />

Bflsy.Bb slaaqoiq « enjoou nq 9b «m*<br />

Não houve musica, nem foguetes, nem<br />

copo d'agua, mas a culpa fo| só dos srs.<br />

dr. Felício e Antonio Diogo da Silva.<br />

Ficamos <strong>de</strong> remissa para na primeira<br />

occasião verberarmos o seu procedimento.<br />

Pois haverá coisa mais mesquinjia<br />

do que em dia <strong>de</strong> inauguração não nos <strong>de</strong>ssem<br />

foguetes e musica! seja tudo pelo<br />

divino amor <strong>de</strong> Deus !<br />

rA Felgueira reassume o aspecto alegre<br />

e festivo d'esto quadra.<br />

Nos pontos mais piltorescos, nps sítios<br />

que a natureza a favoreceu mais, ahi apparecem<br />

ranchos <strong>de</strong> forasteiros que aqui<br />

vêm fazer uso das aguas e dos banhos.<br />

De manhã, das 6 horas ás 9, é vêr como,<br />

em piedosa romagem, vão a gruta da<br />

menina Isabelinba beber as aguas que<br />

lhes hão <strong>de</strong> <strong>de</strong> minorar os soffrimentos,<br />

acabar <strong>de</strong> vez com a enxaqueca e refazer<br />

as forças que a vida acci<strong>de</strong>ntada<br />

<strong>de</strong>teriorou.<br />

A' tar<strong>de</strong> os passeios ás margens do<br />

Mon<strong>de</strong>go, ao sitio on<strong>de</strong> se tomam as<br />

aguas frias, a contemplar os penedos <strong>de</strong><br />

granito que a natureza accumulou uns<br />

sobre os outros, dando-lbe um aspecto<br />

selvagem mas soberbo; e pela estrada.<br />

fóra gozando á hora .do crepusculo a<br />

frescura que a viração traz, refazendo<br />

os plumões nps ares puros e oxigenados<br />

das montanhas, são grupos <strong>de</strong> cavalheiros<br />

e senhoras que com os seus risos argentinos<br />

estabelecem uma harmonia que<br />

muito bem se casa com o barulho que<br />

o <strong>de</strong>spegar do trabalho produz e com<br />

toque <strong>de</strong> pífaro que o pastor, além, na<br />

campina, loca como tyara embalar as<br />

ovelhas que apascentou durante o dia.<br />

Tem chegado <strong>de</strong> lodos os pontos do<br />

paiz muitos banhistas; no Gran<strong>de</strong> Hotel<br />

Club estão hospedados:<br />

Dr. José Antonio d'Almada, José<br />

Augusto Bizarro da Silva, Eduardo Henriques<br />

<strong>de</strong> Freitas, José Ribeiro <strong>de</strong> Mesquita,<br />

Arthur Hinlz Ribeiro, D. Maria<br />

Francisca Ilintze Ribeiro, dr. Lima Nunes,<br />

D. Leonarda F. Mesquita, D. Cacilda<br />

F. Mesquita, dr. Bernardo Homeiú <strong>de</strong><br />

Figueiredo e sua sympatica filhinha D.<br />

Eugenia Vianna Caria, D. Emília Leite,<br />

D. Maria Emília Vianna, con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Caria, D. Estephania Cari.', Jose Gregorio<br />

da Silva Barbosa, D. Beatriz B. Duarte<br />

Ferreira, Henrique Duarte Ferreira, Fre<strong>de</strong>rico<br />

Pereira Palha, viscondéssa <strong>de</strong><br />

Carvalho, Henrique Pereira Leite Jardim,<br />

dr. 'Psreira' Mello, Julio Caldas, D.<br />

Emilia Silveira Barbosa; D. Maria Lucra<br />

Caldas e Coelho <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Também chegaram e eslão hospedados<br />

em casa sua, o sr. dr. Manoel Paulino,<br />

lente da uniVefsraá<strong>de</strong>^tié Cóíiubra; família<br />

Cabral Mettello da mesma cida<strong>de</strong>,<br />

Antonio Homem Ferreira, <strong>de</strong>Paranhos, D.<br />

Anha Gomes d'Almeida e D. Maria da<br />

Conceição d'Almeida Cunha <strong>de</strong> Rio Torto.<br />

Espera-se lambem na quinta Ceira o<br />

sr. Joaquim Martins da Cunha, abastado<br />

capitalista <strong>de</strong> Rio Torto; vem passar<br />

nesta instancia um mez.<br />

C.<br />

EM SURDINA<br />

«A rainha saindo do templo<br />

(em Beja), encaminhou-se<br />

para junto das carretas e,<br />

o mais <strong>de</strong>spretenciosamente<br />

possivel, começou acariciando<br />

os bois.»<br />

(«NOVIDADES»)<br />

O rico povo <strong>de</strong> Beja<br />

ficou todo apalermado,<br />

p'la rainha—-Salvo sejal —<br />

ao sair da santa egreja<br />

ir fazer festas ao gadol<br />

O povo que ainda é carola ([<br />

não percebem — cebolorio! =<br />

que afinal essa graçola H<br />

fôra a sorte <strong>de</strong> gaiolla,<br />

para apanhar o vivorio 1. .^.<br />

Demonstrado fica, pois,<br />

porque ella afagou os bois I<br />

Alcance<br />

PINTA-ROXA.<br />

De Portalegre fugiu 0 recebedor,<br />

alcançado em <strong>de</strong>zeseis contos <strong>de</strong> reis.<br />

•fit;'b ?j;ii9.v®* , 0 ' e r a «jioqxíi<br />

O governo hespanhol recebeu telegrammas<br />

annunciando que se <strong>de</strong>ram dois<br />

casos <strong>de</strong> cholera em Marselha.<br />

Eni Hamburgo por emquanto ainda<br />

não houVe repetição <strong>de</strong> casos choléricos.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

A quinta <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

Este novo bairro on<strong>de</strong> se está <strong>de</strong>senvolvendo<br />

o goàto pela babitaçao e on<strong>de</strong><br />

se encontram já magníficos prédios, bem<br />

merecia que a camara dirigisse para elle<br />

a sua atteução, empregando todos os esforços<br />

a lim <strong>de</strong> conseguir que aquelle<br />

centro <strong>de</strong> população se auime e progrida.<br />

Além do mtíis o que se torna urgente e<br />

<strong>de</strong> immediata necessida<strong>de</strong> é o alinhamento<br />

das ruas e a sua construcção, bem como<br />

a construcção <strong>de</strong> canos d esgoto, para<br />

não vermos aquelle local, em boas condições<br />

bygienicas, convertido numa possiíga<br />

in<strong>de</strong>cente.<br />

Porque ã camara tem o <strong>de</strong>ver moral<br />

<strong>de</strong> assegurar aos proprietários os melho-í<br />

ramenlos indicados uas suas plantas, e<br />

faltar ao cumprimento d'esse uever seria<br />

lograr a boa fé d'uquelles que ja alli tem<br />

dispendido niuilos contos <strong>de</strong> reis.<br />

Queixam se-nos os habitantes da rua<br />

<strong>de</strong> Alexaudre Herculano do loco <strong>de</strong> infecção<br />

que ji camara consente junto da<br />

praça <strong>de</strong> D. Luiz, proveniente da falta<br />

<strong>de</strong> caualisaçâo geral e da concessão feita 1<br />

a proprietários d aquella rua que têem<br />

nos seus prédios canos conduclores d'aguas<br />

sujas e <strong>de</strong>jectos que se vão <strong>de</strong>positar<br />

nuus fossos abertos, ao principio<br />

daquella rua, o que esta prejudicando<br />

aftameule a^sauue publica e podè provocar<br />

épi<strong>de</strong>iiiíá s s', atteif<strong>de</strong>ndo a que aquellé<br />

<strong>de</strong>posito <strong>de</strong> matérias lecaes e gordurosas<br />

esla constantemente exposto ao sol <strong>de</strong><br />

todo o dia.<br />

Este lacto que é do conhecimento<br />

do vereador do pelouro respectivo, que<br />

uo dia da inauguração da kermesse recebeu<br />

d'um dos proprietários d'aquelle locai<br />

a <strong>de</strong>vida queixa e justa censura, merecia<br />

da camara ímuiediatas provi<strong>de</strong>ncias<br />

ten<strong>de</strong>ntes a fazer <strong>de</strong>sapparecer tão damuoso<br />

foco ; e todavia dizem-nos que<br />

aiuda lá áe conserva tudo, o que prova a<br />

indifferença da camara no que diz respeito<br />

a hygieue publica.<br />

Isto é um abuso inqualificável e da<br />

parle da camara revela uma ma vonta<strong>de</strong><br />

em conce<strong>de</strong>r ao novo bairro os necessários<br />

luetlíòrameiítos que convi<strong>de</strong>m o puuhco<br />

a fazer alli novas coiistrucções<br />

E tanto mais nos convencemos da indifferença<br />

da camara pelo novo bairro<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz, quanto é certo que vemos<br />

<strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r verbas grau<strong>de</strong>s eiu beneficio<br />

d'apaniguados, si>b o pretexto <strong>de</strong> alargamento<br />

<strong>de</strong> ruas que bem se di.sp&nsavaiUj<br />

e nao se tratar <strong>de</strong> obter nie.ius par« se<br />

proce<strong>de</strong>r iuimediatameute ao alinhamento<br />

e construcção <strong>de</strong> ruas, o que <strong>de</strong>certo<br />

traria uma receita provável na venda dos<br />

terrenos, que imo são procurados pelas<br />

faltas que <strong>de</strong>ixamos apontadas.<br />

A continuar-se assim os proprietários<br />

do novo bairro vêem-se altamente prejudicados<br />

e isto afugentara a corrente <strong>de</strong><br />

sympallua que está gozando aquelle magttincó'local,<br />

qiíe pela incúria da camara<br />

po<strong>de</strong> ticar conuemuado.


jm*m i — o 3 O ItEFEWiOR DO POVO 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 19S3<br />

Ha quasi seis mezes que esta cnmara<br />

está gerindo os negocios municipais e<br />

apezar das sius promessas e dos bons<br />

<strong>de</strong>sejos que fez ver a levavam alli, não<br />

vemos que ella tenha correspondido ao<br />

que se esperava. Não se tem passado <strong>de</strong><br />

expedientes; nem se olha para as neoessida<strong>de</strong>s<br />

urgentes, nem se trata dos melhoramentos<br />

indispensáveis.<br />

Hygiene publica<br />

Felizmente que algum cuidado se vae<br />

prestando ao saneamento da cida<strong>de</strong>, e<br />

oxalá que os nossos esforços, chamando<br />

a attenção da camara, do sr. commissario<br />

<strong>de</strong> 'policia e a dos proprios particulares<br />

para este assumpto, importantissi<br />

1110 á san<strong>de</strong> publica, sejam secundados<br />

pela arção da auctorida<strong>de</strong>.<br />

Sabemos que o sr. <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> sauincansavel<br />

no cumprimento d'este gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ver, se não tem poupado a trabalho,<br />

fazendo visitas sanitarias, aconselhando<br />

o que é necessário íazer-se, dando<br />

instrucções ás auctorida<strong>de</strong>s, etc. Mas<br />

d'este funccionario nada mais se pô<strong>de</strong><br />

exigir, porque, neste ponto, são estas<br />

as suas funeções; o que se torna indispensável—<br />

é, que o sr. commissario <strong>de</strong><br />

policia dê as or<strong>de</strong>ns mais terminantes<br />

para que seja (iscalisado o cumprimento<br />

das <strong>de</strong>terminações do sr. <strong>de</strong>legado <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, e que vigie sem cessar o modo<br />

como os seus subordinados fiscalisam os<br />

serviços <strong>de</strong> limpeza.<br />

A' camara municipal não menos cumpre<br />

olhar por estes serviços. Os encarregados<br />

da limpeza das ruas pouco se<br />

importam com o trabalho que lhes incumbe;<br />

os boeiros d'essas ruas permanecem<br />

sempre quasi obstruídos pela áccumulação<br />

<strong>de</strong> iminundicies; ora é isto precisamente<br />

o que não pô<strong>de</strong> continuar. Que a camara<br />

não poupe a agua, que a tem e em<br />

abundancia, e esta é o principal elemento<br />

para sanear a cida<strong>de</strong>.<br />

Agua, muita a^ua, senhores vereadores<br />

; não se limitem aos borrifos que or<strong>de</strong>nam<br />

pelas ruas principaes; abram boccas<br />

<strong>de</strong> incêndios e façam jorrar a agua<br />

por essas sargetas infectas, reguem todas<br />

as ruas e beccos tres. quatro vezes<br />

por semana, as que forem necessarias para<br />

se acabar com as emanações perniciosas<br />

que <strong>de</strong> todos os recantos se exhalam.<br />

E, por sua vez, compenetrem-se os<br />

particulares <strong>de</strong> que o seu gran<strong>de</strong> interesse<br />

eslá em conservarem as suas casas<br />

110 maior aceio. Não esperem tudo da iniciativa<br />

das auctorida<strong>de</strong>s, porque estas,<br />

embora tenham obrigação <strong>de</strong> fazer muito,<br />

não po<strong>de</strong>m fazer tudo.<br />

A Uermesse<br />

Infelizmente acabou já a kermesse<br />

realisada na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz pela<br />

corporação dos bombeiros voluntários,<br />

havendo ámanhã o leilão das prendas<br />

que sobejaram.<br />

Inaugurada na quinta feira, proporcionou<br />

nos cinco noites agradavelmente<br />

passadas, concorrendo á kermesse <strong>Coimbra</strong><br />

em pezo. Durante todas as noites<br />

tocou a philarmonica Boa-União no<br />

coreto da quinta, sendo recebida.com<br />

FoMim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

XIII<br />

O prestidigitador da morte<br />

— Olhe bem para mim, muito tempo,<br />

disse Talormi a Gréant, zombando; olhe<br />

bem, que sou eu mesmo.<br />

A sua e-pada <strong>de</strong> noviço teve a louca<br />

preteuçào <strong>de</strong> tocar o meu peito! Pobre<br />

creMifa; não passou d'um joguete nas<br />

minhas mãos!<br />

Eu não queria a sua morte, embora<br />

a tivesse ua ponta da minha espada;<br />

pura que me serviria cila? Deixando-lhe<br />

a vida servi bem melhor os meus inleresSés,<br />

como agora mesmo está vendb<br />

Possuo o seu segredo e hei <strong>de</strong> possuir<br />

a sua amante, ou per<strong>de</strong>l-os-ei a<br />

ambos!<br />

— De modo que, con<strong>de</strong> Talormi, é<br />

com uma cobar<strong>de</strong> trapaça <strong>de</strong> bandido<br />

dos Abruzzos, que lava a alfronta sangrenta<br />

<strong>de</strong> hontem?<br />

—Mas com que tom melodramático<br />

elle me <strong>de</strong>sfecha esta phrase ! disse Talormi<br />

sorrindo. Colloca-se muito alto,<br />

<strong>de</strong>masiadamente, ineit caro, mas essas<br />

salvas <strong>de</strong> palmas e bisadas pelo publico<br />

algumas das suas composições.<br />

Nò domingo a troupe Infante da<br />

Camara apresentou-se lambem executando<br />

com mimo e correcção algumas<br />

composições do seu reportorio. A sympathia<br />

que rt <strong>de</strong>ia este agrupamento <strong>de</strong><br />

rapazes, evi<strong>de</strong>nciou-se bem no interesse<br />

com que todos a ouviram e no enthusiasmo<br />

com que os acclamavam.<br />

J3sta troupe executou cinco composições:<br />

- • Amor da Patria, Pa<strong>de</strong>ira d Aljubarrota,<br />

Malaguenas, Hymno da troupe<br />

e a Porlugueza, que foi coberta <strong>de</strong> enthusiasticos<br />

applausos.<br />

No modo como se apresentou revela<br />

a troupe Infante da Camara qualida<strong>de</strong>s<br />

artísticas <strong>de</strong> louvor. /<br />

Lyeeii <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Damos hoje a nota estatística dos<br />

alumnos internos d'este lyceu que encerraram<br />

matricula nas dilfereetes disciplinas.<br />

Portuguez, 16 — Francez, 7—Inglez,<br />

27— Geographia, 19 — Historia,<br />

21—Latim (l. a ), 19 —Latim (2.»)| 6<br />

— Mathematica (l. a ), 18 — Malhematica<br />

(2 a ), 23 — Physica (l. a ), 34 —Physica<br />

(2. a), 13 — Philosophia, 34 —Litteralura,<br />

31 — Desenho (1.°), 21 —Desenho<br />

(2.°), 6 —Allemão (1.°), S—Allemão<br />

(2.°), 2.<br />

No dia 12 principiam os exames,<br />

sendo; portuguez e latim, (6.° anno) ás<br />

9 horas da manhã ; <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho ás 9<br />

francez e malnematica (1.°) ás 10; os<br />

<strong>de</strong> geographia ás 11.<br />

Julio Cuggiani<br />

Este distincto violinista do. theatro<br />

<strong>de</strong> S. Carlos;, <strong>de</strong> Lisboa, tenciona dar<br />

um concerto, nesta cida<strong>de</strong> coadjuvado<br />

por aluuns amadores conimbricenses.<br />

Dizem nos que será 110 salão da<br />

Associação dos Artistas que se realisará<br />

a lesta artística <strong>de</strong> Cuggiani.<br />

Roubo importante<br />

Na segunda feira as auctoriíld<strong>de</strong>s judicias,<br />

acompanhadas <strong>de</strong> polícias civis,<br />

entraram em casa do sr. Antonio dos<br />

Santos Fonseca, a fim <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>rem<br />

á busca d'um roubo por este praticado<br />

no espolio da sr. a Castanheira, moradora<br />

na Couraça <strong>de</strong> Lisboa, ha pouco fallecida.<br />

Po<strong>de</strong>mos averiguar o seguinte ; que<br />

o sr. Fonseca, sublrahira <strong>de</strong> casa da tia<br />

<strong>de</strong> sua primeira mulher, que já o havia<br />

contemplado e a seus filhos no testamento,<br />

uns quinze contos <strong>de</strong> réis, parte<br />

em libras e o resto em coupons e outros<br />

títulos, e que a um sobrinho, educando<br />

do Seminário, <strong>de</strong>ra cinco contos <strong>de</strong> réis,<br />

comprando assim o segredo no roubo<br />

que praticara, aceitando aquelle a referida<br />

quantia. Ambos sabiam on<strong>de</strong> cada<br />

um escon<strong>de</strong>ra o thesouro e apezar dos<br />

zuns-zuns que principiaram a correr e<br />

das recriminações que ao Fonseca fazia<br />

a visinhança, nem porisso emendara o<br />

mau passo que <strong>de</strong>ra.<br />

Por confissão do educando do Seminário<br />

ao sr. padre Almeida, procurador<br />

d'aquelle estabelecimento, se <strong>de</strong>scobriu<br />

pernas <strong>de</strong> pau não lhe dão nem uma pollegada<br />

mais.<br />

Suppõe então, que me po<strong>de</strong> fazer<br />

uma alfronta sangrenta, frágil canniço<br />

que 11111 a sopro meu se quebra! Vejo<br />

que está touiãndo-se muito a serio. Os<br />

elogios das córtezãs encheram-no <strong>de</strong><br />

orgulho; passaram-lhe um ^iploma <strong>de</strong><br />

homem, diploma que eu rasgo <strong>de</strong>baixo<br />

do >eu buço <strong>de</strong> collegial.<br />

Do peito <strong>de</strong> Paulo saiu um grito<br />

estri<strong>de</strong>nte, e a sua mão precipitou-se<br />

sobre o seu punhal. Talormi, com admiravel<br />

<strong>de</strong>xtreza, metteu o seu braço, <strong>de</strong><br />

baixo para cima, sob o do seu adversário,<br />

e levantando-o bem alto, para o<br />

fazer cair pesadamente, <strong>de</strong>sarmôu-o.<br />

Paulo ergueu-se <strong>de</strong> salto, como o<br />

tigre surprèhendrdo, o seu olhar lançava<br />

cbamnijs, os lábios brancos <strong>de</strong> cólera, e<br />

levantando-se a toda a altura d'uma inguação<br />

soberba, exclamou, num accento<br />

(í$ifiififiiféití:"' i OitOftOSI ioq BDibn v<br />

— Ah! tem o meu segredo I Pois<br />

bem I eu também tenho o ÍÃi, con<strong>de</strong><br />

Talormi, e vou lulminal-o com elle, como<br />

se fôra um raio!<br />

Neste momento ouvirain-se vozes <strong>de</strong><br />

mulheres cantando; eram raparigas do<br />

campo que vinham para a cida<strong>de</strong>, com<br />

cabazes <strong>de</strong> fructas á cabeça, a cantarem<br />

o — O pescator <strong>de</strong>ll'onda — numa <strong>de</strong>liciosa<br />

harmonia.<br />

— Venha, disse Paulo tomando o<br />

braço <strong>de</strong> Talormi e arrastando-o para o<br />

este furto e na administração do concelho<br />

foram entregues os cinco contos com<br />

a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que o Fonseca tinha escondido<br />

na casa <strong>de</strong> siia habitação, á rua<br />

dos Gatos, o restante — <strong>de</strong>z coutos <strong>de</strong><br />

ré's. - a O c o í<br />

Na busca a que se proce<strong>de</strong>u foi encontrado<br />

o dinheiro, 110 sítio "Htáfcado,<br />

num vaso que estava nn varanda da sala,<br />

e numa estante os coupons que faziam<br />

parte do espolio da fallecida Castanheira.<br />

O: Fonseca foi immediatamente<br />

preso, saindo na terça feira, mediante<br />

fiança.<br />

O processo segue seus termos, comjrticfindo-se<br />

o caso com a morte d'uma<br />

muliiia serva <strong>de</strong> confiança da fallecida<br />

Castanheira, que a voz publica diz fôra<br />

victima da ambição do Fonseca.<br />

Causa nos dó a situação <strong>de</strong>sgraçada<br />

em que vemos esse homem, um trabalhador,<br />

que, cego pela ambição se per<strong>de</strong>u,<br />

per<strong>de</strong>ndo também o futuro <strong>de</strong> seus<br />

filhos.<br />

As medidas <strong>de</strong> fazenda e as associaçSes<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Até hoje não vimos que os corpos<br />

gerentes da Associação dos Artistas, on<strong>de</strong><br />

éstão representadas as differentes classes<br />

da industria conimbricense, resolvessem<br />

acerca do modo como <strong>de</strong>ve ser levado ao<br />

parlamento o seu protesto contra o excessivo<br />

augmento <strong>de</strong> tributos com que o<br />

governo vem prejudicar as nossas industrias.<br />

E não se pô<strong>de</strong> dizer, com verda<strong>de</strong>,<br />

que os industriaes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> aceitam<br />

<strong>de</strong> bom grado sèmelhante extohão, que<br />

vem aggravar muitq mais as precárias<br />

circumstancias em que viveto os que trabalham<br />

dia a dia para assegurar o parco<br />

sustento <strong>de</strong> suas famílias.<br />

Não po<strong>de</strong>mos advinhar as razões que<br />

levam os corpos gerentes a um silencio<br />

tão completo, num assumpto que tanto<br />

interessa a collectivida<strong>de</strong> que a Associação<br />

dos Artistas representa, quanto mais<br />

nos lembra <strong>de</strong> a lermos visto sempre a<br />

pugnar pelos interesses da classe, <strong>de</strong>ntro<br />

dos limites que preceitua a lettra dos<br />

seus estatutos.<br />

Eguai .alta notamos se dê no Grémio<br />

dos empregados no commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

sempre solicito a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses<br />

da sua classe, que bem prejudicados<br />

se vem nas propostas <strong>de</strong> fazenda,<br />

o que está dando logar a reclamações<br />

energicas da parte dos caixeiros <strong>de</strong> Lisboa<br />

e Porto, que já reuniram, <strong>de</strong>cidindo<br />

enviar ao parlamento uma representação,<br />

on<strong>de</strong> se con<strong>de</strong>mne o augmento tão excessivo<br />

a uma classe pobre, cujós honorários<br />

são insignificantíssimos, havendo todas<br />

as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixarem, atten<strong>de</strong>ndo<br />

á péssima situação em que se encontra<br />

o commercio em geral.<br />

Nós esperamos ainda, que estas duas<br />

cóllectivida<strong>de</strong>s, venham em auxilio dos<br />

interesses das classes que representam,<br />

e façam ouvir os brados da sua justiça<br />

junto do parlamento, on<strong>de</strong> em breve<br />

serão apresentadas á discussão as uovas<br />

propostas que exigem do contribuinte<br />

lado da cida<strong>de</strong>, estas coUas po<strong>de</strong>m dizerse<br />

em voz baixa. Venha.<br />

As raparigas do campo, orgulhosas<br />

<strong>de</strong> passarem a cantar <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> dois<br />

tão beilos senhores, metteram-nos no<br />

meio d'ellas, continuando a andar e a<br />

cantar.<br />

Era como um d estes coros do theatro<br />

antigo, cujos accor<strong>de</strong>s suaves temperavam<br />

as cóleras e acalmavam os e.»piritos,<br />

nas scenas dramaticas on<strong>de</strong> estalava<br />

a paixão dos reis e dos lieroes.<br />

Foram interrompidos então por uma<br />

força contra a qual era impossível luctarem,<br />

força que residia na mais graciosa<br />

fraqueza. Estes acci<strong>de</strong>trtes são frequentisssimos<br />

ua Italia, paiz on<strong>de</strong> toda a<br />

gente canta, e canta bem.<br />

As raparigas geuovezas, carregadas<br />

<strong>de</strong> flores e <strong>de</strong> fruetos, escoltavam Talormi<br />

e Paulo, é mostravám-lhes, cantando<br />

e rindo, <strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> marfim eulre lábios<br />

<strong>de</strong> cereja, e olhos soberbos que illuminavam<br />

o proprio sol.<br />

Mas era necessário tomarem o seu<br />

partido, e, coisa extraordiuaria, <strong>de</strong>pois<br />

da scena terrível que acabava <strong>de</strong> se<br />

passar, e no «meio das i<strong>de</strong>ias sombrias<br />

que agitavam estes dois homens, a graciosa<br />

. intervenção dlaquellas raparigas<br />

caminhando a seu lado corn os perfumes<br />

dos jardins, a serenida<strong>de</strong> dos campos e<br />

a melodia das suas vozes, arrancou sorrisos<br />

a dois rostos <strong>de</strong>vasíados pela febre<br />

das mais violentas paixões. Paulo e Ta-<br />

gran<strong>de</strong>s sacrifícios impossíveis <strong>de</strong> satisfazer.<br />

E tanto mais esperamos isto, quanto<br />

é certa a confiança, que nos merecem<br />

os corpos gerentes das duas associações<br />

que hão <strong>de</strong> querer manter com dignida<strong>de</strong><br />

as suas honrosas tradicções.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

NA FACULDADE DS DIREITO<br />

Dia 5<br />

1.° anno - Antonio Barreto d'AImeida<br />

Soares Lencastre, Antonio Casimiro<br />

da Cruz Teixeira Júnior, Antonio<br />

Correia Teixeira <strong>de</strong> Yasconcellos Portocarrero<br />

e Antonio Domingues Jacintho<br />

Maia.<br />

2.° anno — Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Castro Pereira<br />

e Solla, Ama<strong>de</strong>u Fernan<strong>de</strong>s da Silva<br />

Pinto e Abreu, Ama<strong>de</strong>u Gonçalves Guimarães<br />

e André Lopes da Motta Capitão.<br />

3.° anno—Alvaro da Costa Machado<br />

Vilella e Antonio Biscaya <strong>de</strong> Ma-<br />

ÇHf, ,. li .< V - •'•> i


A S S O í — 31/


0 1<br />

Defensor J p<br />

"\ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 94<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO V l V / J-,' X X ^ V ; "<br />

• • . • • • . - . . . i-itti U i . : . . I •.!'< ..11! Ill» «>ilii .-.I ,<br />

Falia a provincial<br />

Durante dias successivos, o jornal<br />

Novida<strong>de</strong>s, transcreveu, subordinando-os<br />

ao titulo do nosso artigo,<br />

os trechos da imprensa da província<br />

que atacavam a entrada <strong>de</strong><br />

Burnay no parlamento.<br />

Do nosso jornal vimos lá t/anscriptas<br />

algumas palavras, honra <strong>de</strong><br />

tal modo subida, que nos leva a dizer<br />

mais alguma coisa ainda a proposilo<br />

do famoso belga, isto em<br />

agra<strong>de</strong>cimento á gentileza do collega.<br />

*<br />

Falia a provínciae falia contente<br />

porque, durante alguns mezes,<br />

Burnay não será <strong>de</strong>putado; mas a<br />

província diz ainda mais do que<br />

isto, a província pergunta mais alguma<br />

coisa:— Burnay será posto<br />

na fronteira? Burnay será mettido<br />

na penitenciaria? Burnay continuará<br />

sendo recebido pelos monarchas,<br />

pelos ministros, pelos influentes políticos<br />

mais importantes?<br />

Burnay continuará sendo o collaborador<br />

da rainha em actos <strong>de</strong><br />

carida<strong>de</strong>, pagos á cusla do thesouro?<br />

Burnay continuará a ser agraciado,<br />

con<strong>de</strong>corado pelo rei?<br />

*<br />

Estas perguntas fazemol-as porque<br />

apezar <strong>de</strong> tudo o que se disse<br />

contra o banqueiro, nada se escreveu<br />

contra os que d'elle são cúmplices,<br />

amigos, collegas, collaboradores<br />

na obra <strong>de</strong> <strong>de</strong>boche financeiro<br />

que nos apressou a bancarrota.<br />

Fazemos estas perguntas porque<br />

o facto <strong>de</strong> Burnay não entrar<br />

hoje na camara dos <strong>de</strong>putados, não<br />

impe<strong>de</strong> que elle confmue a ser o<br />

mesmo Burnay que traficou <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong><br />

com os regeneradores, que<br />

traficou <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> com os progressistas<br />

e que ha <strong>de</strong> traficar com<br />

lodos os quadrilheiros que apparecerem<br />

no matagal da polilica, fazendo<br />

chantage a proposito <strong>de</strong> tudo.<br />

E perguntámos mais se é Burnay<br />

simplesmente o criminoso ou<br />

se as Novida<strong>de</strong>s do sr. Collen, director<br />

da moralida<strong>de</strong> publica, e o<br />

Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> o correspon<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> Lisboa tanto falia na<br />

altivez do sr. Alpoim, não conhecem<br />

mais vinte ou trinta traficantes<br />

tão bons como Burnay e só inferiores<br />

a elle por não po<strong>de</strong>rem ter accumulado<br />

lanlo dinheiro ?<br />

João Chagas<br />

Regressou ao Porto este energico<br />

jornalista republicano, experimentando<br />

Jjoucas melbqras em Braga, on<strong>de</strong> esteve<br />

algumas semana;.<br />

Pezarosos nos sentimos com este<br />

acontecimento, e oxalá que os <strong>de</strong>sejos<br />

<strong>de</strong> vermos restabelecido tão distincto<br />

porreljgionario em breve sejam satisfeitos.<br />

Alcance na recebedoria<br />

<strong>de</strong> Portalegre<br />

Segundo o balanço que se proce<strong>de</strong>u<br />

o alcance na recebedoria <strong>de</strong> Portalegre<br />

é <strong>de</strong> 16:19S$S31 réis.<br />

Ignora-se por emquanto ainda on<strong>de</strong><br />

esteja o recebedor Joaquim Luiz Machado,<br />

pondo-se <strong>de</strong> parte a hypothese <strong>de</strong><br />

que elle se tivesse suicidado.<br />

Notas impressionistas<br />

VIU<br />

Emigremos!<br />

Eia, rapazes ! O sol do S. João dar<strong>de</strong>ja<br />

ríspido na nossa epi<strong>de</strong>rme, requeimando-a.<br />

Parece que habitamos a soturnida<strong>de</strong><br />

d^im forno. Não voga uma vira -<br />

çãosinha que nos suavise. A sombra já<br />

não tem a frescura d'abril que dá ás<br />

almas irrigações consoladoras. Da pelle<br />

escoam secreções sebosas <strong>de</strong> suor, que<br />

<strong>de</strong>stiila, luzente.<br />

Nada! Vivemos adormecidos pelo<br />

opío da modorra, a alma, dolente, espumando<br />

spleen. Pois emigremos para o<br />

Choupal, pleno antídoto para este transe<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> aneurastesia...<br />

Vamos, meus amigos, emigremos para<br />

o Choupal, avigorar esta vida se<strong>de</strong>ntária<br />

<strong>de</strong> parasitas lúbricos, corrigir esta<br />

baixa existência <strong>de</strong> doentes.<br />

Vamos dar alma ao corpo e vigor ao<br />

espirito. Alli, longe do bulício dos barbaros,<br />

auscultando a Natureza no que<br />

ella lem <strong>de</strong> mais grani, <strong>de</strong>sprendidos<br />

numa beatitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> monges... — o trillar<br />

rythmico dos passarinhos, o ciciar<br />

morno dos cltoupos e das aceacias, perpassados<br />

por uma brisa lenue... —ai!<br />

meus amigos, como isto extasia, como<br />

longos haustos <strong>de</strong> volúpia inflam todo o<br />

meu ser nevrotico, allucinado f...<br />

Cá eslamos. O sol forte do S. João<br />

bate ri<strong>de</strong>nte nas cristas dos choupos que<br />

formam alas á nossa passagem. Cada<br />

choupo assimitla um enorme pára-sol;<br />

e nós passamos, risonhos e sensuaes,<br />

sob esta abobada florente <strong>de</strong> pára-ioes<br />

que lá em cima oscillam ao bater quente<br />

do sol. Cá em baixo, apenas, agora e<br />

além, se escóa algum raio, que, philaucioso,<br />

atravessou a ramaria selim-ver<strong>de</strong><br />

d'algum pára-sol velhinho.<br />

E a gente cá vae, risonho e sensual,<br />

sentindo-se languido ante a fecundia<br />

luxuriante da Natureza e alando-se<br />

ás regiões i<strong>de</strong>aes da via lactea ,on<strong>de</strong> nos<br />

arrebatam sonhos quentes volvidos em<br />

braços niveos <strong>de</strong> mulheres 1.. .<br />

Paremos aqui. Atapetam-nos o chão<br />

amplas orlas <strong>de</strong> relva ver<strong>de</strong>, setinea,<br />

on<strong>de</strong> a gente se esten<strong>de</strong> patriarchalmente,<br />

num supremo á vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> selvagens.<br />

Por cima éobre-nos uma frondosa ramaria<br />

ver<strong>de</strong>, acariciadora, formando store. Acolá,<br />

floresce um canteiro <strong>de</strong> dhalias que<br />

ver<strong>de</strong>jam, occultas como namoradas. Ao<br />

nosso lado, aquelle rouxinol — vêem?—<br />

estribilho umas estrophes lindas e nervosas,<br />

cheias <strong>de</strong> musica e <strong>de</strong> poesia.<br />

Ha aqui a solemnida<strong>de</strong> tocante d'um<br />

templo, mas d'um templo ameno on<strong>de</strong><br />

vive a Poesia e on<strong>de</strong> a Arte se expan<strong>de</strong><br />

com fervor.<br />

Vae <strong>de</strong>clinando o dia. O sol, que<br />

ora assesta <strong>de</strong> ilharga na ramaria, vae<br />

menos insistente e ríspido, alquebrado<br />

como um vencido.<br />

Por fim submerge-se — eile lá vae!<br />

— <strong>de</strong>ixando a faiscar no horigonte azulourado<br />

uma fímbria rutilante <strong>de</strong> pedras<br />

multicores. Esta a hora santa da Poesia,<br />

hora dos myslerios, hora dos namorados.<br />

Anoiteceu. E agora — olhem! olhem!<br />

— uma aluvião luzente <strong>de</strong> pyrilampos<br />

ahi anda a saltitar garotamente. E' uma<br />

família que se diverte. Vejam aquelle<br />

fervilhar insistente, rutilo, mysterioso,<br />

sem ruído, anthitese frisante da vida dos<br />

homens, turbulenta, rústica, insolente.<br />

Eu linto <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> saber sfi esta serenida<strong>de</strong><br />

mystica dos pyrilampos, não é<br />

uma erratura á má-lingua verbhorrosa"<br />

da humana gente...<br />

.. .Boa, noite, Natureza amiga! Emquanto<br />

no teu seio opulento existirem as<br />

tuas flores, os leus passarinhos, os teus<br />

pyrilampos, eu serei o mais grato dos<br />

teus namorados. Boa noite !<br />

9 <strong>de</strong> junho.<br />

Gri-gri.<br />

Os collegios jesniticos<br />

(CONTINUAÇÃO)<br />

Não basta a longa série <strong>de</strong> praticas<br />

<strong>de</strong>votas a que se sujeitam os collegiaes<br />

e que enumerámos no artigo ultimo.<br />

Os jesuítas enten<strong>de</strong>m que a educação<br />

religiosa dos alumnos (içaria incompleta,<br />

se os não sujeitassem durante ires<br />

dias em cada anno aos afamados exercidos<br />

espirituaes.<br />

Ainda hoje nos lembrámos com horror<br />

d'esses dias <strong>de</strong> marlyrio, em que o<br />

espirilo anda cheio <strong>de</strong> imagens tétricas,<br />

capazes <strong>de</strong> atemorisar o mais forte.<br />

O <strong>de</strong>sassocego do espirito, a que levam<br />

o alumno, vem claramente exposto<br />

numa carta <strong>de</strong> um estudante <strong>de</strong> medicina,<br />

ex-alumno <strong>de</strong> um collegio jesuítico,<br />

ao sr. Manoel Borges Grainha e que<br />

este transcreve no Portugal Jesuíta.<br />

Neila se diz :<br />

«Acabo <strong>de</strong> lér o teu livro, Os jesuítas,<br />

etc., e nelle noto que, sem quereres<br />

fazer estylo, és na verda<strong>de</strong>,<br />

quanto se pô<strong>de</strong> ser, sincero, fiel e verda<strong>de</strong>iro...<br />

Quem lér o teu livro, DO<br />

que diz respeito aos exerrícios espirituaes,<br />

verá logo pela simples leitura,<br />

porque torturas e martyrios não passará<br />

aquelle que está <strong>de</strong>baixo do seu<br />

jugo, ou antes, tyrannia religiosa...<br />

Nem me quero lembrar d'esses tempos<br />

<strong>de</strong> horror, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sassocego constante<br />

d'espirito, d'esse mal estar continuo<br />

<strong>de</strong> consciência esphacelada .por<br />

um não sei quê vago, in<strong>de</strong>finido, imaginário,<br />

uma vida toda espirito, toda<br />

imaginação, em que a alma mordida,<br />

macerada por mesquinhos preconceitos,<br />

terrores infernaes, por vezes viu<br />

apagada a luz da razão.»<br />

Depois d'estes exercícios, se o ainmno<br />

não tem coragem para reagir e para<br />

se libertar da suggestão que sobre elle<br />

exercem, torna se um ente sem vonla<strong>de</strong><br />

própria, completamente dócil á vonla<strong>de</strong><br />

do superior que o conduzirá, on<strong>de</strong> quizer.<br />

E se nos lembrarmos que a acção<br />

dos exercícios é continuada <strong>de</strong>pois pelo<br />

padre espiritual, principalmente, veremos<br />

quanto tem <strong>de</strong> horrorosa tal educação,<br />

-sqooí s»j> ?bt-i.sn^n ?wb "í.^a^udo *<br />

É nos exercícios esptriluaes, feitos <strong>de</strong><br />

diversas formas, segundo as pessoas qtie<br />

a elles concorrem, que os jesuítas têm<br />

maior confiança. E' uma machina <strong>de</strong> tal<br />

fórma montada que raramente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

produzir os resultados que <strong>de</strong>sejam.<br />

E' por isso que a Companhia procura<br />

com tanto afan que o maior numero<br />

<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> todas as classes concorra<br />

a elles, e é para obter esse resultado<br />

que <strong>de</strong>staca pelas aldêas os seus famosos<br />

missionário», tornando-se assim a<br />

sua acção mais geral.<br />

O que se procura com os exercidos,<br />

como é fácil <strong>de</strong> prever, é incutir no<br />

animo do individuo a <strong>de</strong>sconfiança <strong>de</strong> si<br />

mesmo e <strong>de</strong> todos os que o ro<strong>de</strong>iam,<br />

tendo apenas confiança illimilada no superior<br />

jesuíta, no director espiritual.<br />

D'aqui vem, como diz Edgar Quinei,<br />

que a <strong>de</strong>lação está inscripta, como fundamento<br />

da Constituição <strong>de</strong> Loyola E<br />

visto que o espirilo por si só nada pô<strong>de</strong><br />

nem <strong>de</strong>ve inspirar, d'aqui vem lambem<br />

a obediencia cega, a morte volunlaria<br />

da consciência, a repressão necessaria e<br />

sy-lematica dos gran<strong>de</strong>s instinctos.<br />

A obediencia cega é a gran<strong>de</strong> regra<br />

da Companhia. Que a humanida<strong>de</strong>, na<br />

phrase do citado escriptor, se sujeite<br />

como uma bengala na mão d'um velho,<br />

ut senis baculus 1 E' o testamento do fundador,<br />

é lambem o ultimo voto da Companhia.<br />

As pessoes insensíveis aos efleitos<br />

dos eiercicios espirituaes, diz Huber,<br />

não são aptas a servir os <strong>de</strong>sígnios da<br />

Companhia.<br />

Este escriptor na sua notável obra<br />

Os jesuítas (Der Jestiiten-Or<strong>de</strong>n), cuja<br />

traducção franceza <strong>de</strong> Alfred Marchand,<br />

temos sobre a nossa banca d'estudo,<br />

apresenta-nos um capitulo especial sobre<br />

estes exercícios.<br />

O Portugal Jesuíta, na sua 3." parte<br />

--meios <strong>de</strong> propaganda—traz também<br />

um esplendido capitulo sobre o mesmo<br />

assumpto.<br />

Em qualquer d'esles livros se mostra<br />

que os exercícios espirituaes são impostos<br />

a varias classes <strong>de</strong> pessoas: aos a<strong>de</strong>ptos<br />

e aos membros da Or<strong>de</strong>m; po<strong>de</strong>m ser<br />

cumpridos egualmente por ecclesiasticos<br />

e leigos, ainda que não mantenham relações<br />

estreitas com a or<strong>de</strong>m. E segundo<br />

as classes <strong>de</strong> pessoas, assim têm maior<br />

ou menor duração; nos collegios, como<br />

já dissémos, duram tres dias, assim<br />

como os exercícios ao povo; para os ecclesiasticos<br />

seculares em geral duram oito<br />

dia«; para os membros da Or<strong>de</strong>m um<br />

mez.<br />

Também se têm feito em varias casas<br />

<strong>de</strong> jesuítas exercícios ás senhoras<br />

!<br />

Ainda não ha muito que a este respeito<br />

nos foram contadas coisas extraordinarias<br />

por ura estudante <strong>de</strong> Braga,<br />

on<strong>de</strong> se têm feito e á porta feohada!<br />

Seria curioso um estudo- sobre os<br />

exercícios a estas diversas classes <strong>de</strong><br />

pessoas e havemos <strong>de</strong> aqui apresenlal-o<br />

mais tar<strong>de</strong>; hoje occupar-nos-hemos somente<br />

dos exercicits aos collegiaes.<br />

*<br />

Nas regras do Directoria dos exercidos,<br />

entre outras coisas, preceitua-se<br />

que o jesuita <strong>de</strong>ve acautelar-se especialmente<br />

<strong>de</strong> fazer suspeitar que se quer<br />

altrahir alguém ao eslado religioso por<br />

meio dos exercícios e que «as melhores<br />

occasiões para induzir qualquer individuo<br />

a fazer os exercícios são quando tenha<br />

alguma afilicção interior ou exterior,<br />

quando os seus negocios não corram<br />

bem, quando seja tratado mal pelos<br />

seus proprios parentes ou amigos, ou<br />

quando se dêem outras causas similhantes.»<br />

Durante os exercícios o individuo<br />

mergulha-se num completo silencio, e<br />

or<strong>de</strong>na-se-lhe que afaste <strong>de</strong> si qualquer<br />

lembrança que possa produzir-lhe alegria<br />

, meditando simplesmente no que o<br />

instructor lhe propuzer.<br />

As meditações fazem-se numa sala<br />

apropriada, forrad,a <strong>de</strong> pannos escuros e<br />

alumiada apenas pela luz <strong>de</strong> alguma*<br />

vellas. Pí? extremo da sala, proximo ao<br />

estrado do sacerdote encontra-se uma<br />

mesa, on<strong>de</strong> se improvisa um altar, no<br />

qual se colloca um gran<strong>de</strong> Christo crucificado<br />

com algumas caveiras em volta.<br />

A primeira meditação consiste sobre<br />

o fim do homem, o peccado e o inferno;<br />

a segunda sobre o ensino <strong>de</strong> Christo e<br />

sobre a sua vida, até á Paixão ; a treceira<br />

sobre a Paixão; e a quarta sobre a Resurreição.<br />

A meditação, como diz Huber, <strong>de</strong>ve<br />

ser levada alé á allucinação.<br />

Na primeira meditação, como diz este<br />

escriptor, e temos a própria experiencia,<br />

contempla-se o fim do homem que é louvar<br />

a Deus. veneral-o e procurar a felicida<strong>de</strong><br />

servindo-o. Tudo o que a terra<br />

contem foi creado para o homem, para<br />

que d'elle se sirva ou se abstenha, segundo<br />

o approxime ou afaste do seu fim.<br />

Não <strong>de</strong>vemos escolher nem <strong>de</strong>sejar senão<br />

o que se referir á salvação da nossa<br />

alma; a respeito do resto, é-nos or<strong>de</strong>nada<br />

a indjfferença completa, <strong>de</strong> sorte que<br />

antes procuremos » doença do que a<br />

saú<strong>de</strong>, e que prefiramos a pobreza á riqueza,<br />

o <strong>de</strong>sprezo ás honras, uma vida<br />

curta a uma vida longa.<br />

Esta indifferença, diz ainda Huber,<br />

é da mais alta importancia: tanto mais<br />

fundos são os alicerces, tanto mais sólido<br />

é o edifício.<br />

E' assim que começa a pren<strong>de</strong>r-se o<br />

espirito do alumno e a conceber uma<br />

certa norma <strong>de</strong> viver com a qual, se<br />

fosse levada a cabo, nada lucraria a socieda<strong>de</strong>,<br />

antes pelo contrario.<br />

Já por esta meditação se vê que se<br />

preten<strong>de</strong> que o alumno não tenha outro<br />

fim senão o procurar a salvação da alma<br />

pelo que chamam perfeito cumprimento<br />

dos <strong>de</strong>veres religiosos! Começa a pensar<br />

nas bellezas do isolamento da socieda<strong>de</strong>,<br />

no <strong>de</strong>sprezo das coisas humanas,<br />

na renuncia aos bellos sentimentos da<br />

amiza<strong>de</strong>, da familia e até da própria palria.<br />

Tristes concepções dos <strong>de</strong>veres a<br />

cumprir I Tristes resultados <strong>de</strong> péssimos<br />

santimentos!<br />

QA. S.<br />

— —<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Os tabelliães <strong>de</strong> notas do concelho<br />

da Maia adheriram ás reclamações apresentadas<br />

pelos seus collegas <strong>de</strong> Lisboa,<br />

relativamente á taxa <strong>de</strong> 15 °/o <strong>de</strong> contribuição<br />

industrial sobre dois terços dos<br />

emolumentos a que tem direito, e remetteram<br />

uma representação, sobre este<br />

assumpto, ao parlamento.<br />

* Por intermedio do sr. governador<br />

civil do Porto, os agentes comraerciaes<br />

vão enviar ao parlamento uma energica<br />

representação contra as medidas<br />

Iributarias, na parte que lhes aggrava o<br />

imposto industrial.<br />

A phylloxera<br />

Escrevem do Fundão: a phylloxera<br />

vae alastrando <strong>de</strong> anno para anno a esphera<br />

da sua acção, e a sua influencia<br />

accentua-se d'um modo assustador nas<br />

freguezias <strong>de</strong> Valver<strong>de</strong>, Fundão e Valle<br />

<strong>de</strong> Prazeres, on<strong>de</strong> a colheita este anno<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ravelmente reduzida. E'<br />

uma calamida<strong>de</strong> em uma região essencialmente<br />

vinhateira como esta.<br />

E o sr. Fuschini a exigir do contribuinte<br />

mais dinheiro, quando a industria,<br />

commercio e agricultura se veem a<br />

braços com uma crise medonha!<br />

E' não ler consciência.<br />

A querella da Batalha<br />

Confirma-se a noticia <strong>de</strong> que o sr.<br />

Burnay move processo <strong>de</strong> querella contra<br />

o nosso estimado collega a Batalha.<br />

Nada espanta ; quando vimos a audacia<br />

d'esse estrangeiro a querer tomar<br />

assento no parlamento, como representante<br />

do paiz que elle tem insultado e<br />

roubado, sob a guarda protectora da polilica<br />

monarchica 1 ! I<br />

Crise ministerial<br />

O camaroeiro da politica parece que<br />

annunciava borrasca para breve. Prevê-se<br />

que do chaveco ministeriat sejam alijados<br />

os srs. Fuschini e Bernardino Machado,<br />

tripulantes que se tem mostrado<br />

pouco hábeis nas manobras.<br />

E não se falia lambem em que o<br />

financeiro-mór d'estes reinos, o sr. Mariano<br />

<strong>de</strong> Carvalho, irá <strong>de</strong> novo para a<br />

pasta da fazenda ? !...<br />

E é que neste paiz nada nos <strong>de</strong>ve<br />

causar surpreza...<br />

Bibliographia<br />

A Patria — poemeto do sr. Manoel<br />

Augusto d'Amaral.<br />

Do seu auctor acabamos <strong>de</strong> receber<br />

este opusculo, que em estrophes vibrantes<br />

con<strong>de</strong>mna a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia do<br />

nosso paiz.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos.<br />

Subsidio aos <strong>de</strong>putados<br />

Diz-se que em breves dias será presente<br />

á camara popular um <strong>de</strong>creto que<br />

restabeleça o subsidio aos <strong>de</strong>putados,<br />

revogando assim a lei do sr. Dias Ferreira.<br />

Isto é uma completa farça! Em nome<br />

das precarias circumstancias do thesouro<br />

suppriraiu-se o subsidio aos eleitos do<br />

pnvor e agora que se pe<strong>de</strong> ao paiz mais<br />

impostos, para acudir ás necessida<strong>de</strong>s do<br />

Estado, vae pagar-se aos <strong>de</strong>putados!<br />

E o que tem mais pilhéria é que o<br />

novo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong>rterminará que o pagamento<br />

seja feito em todo o lempo que<br />

tiveram <strong>de</strong> exercício sem vencerem.<br />

Que sublimes pantomimeiros 1


ASSO l — S." 94<br />

•sq enq^iq ssi<br />

• «S19Y6Í) ÍO<br />

kOfflitesq cb<br />

•sim*<br />

C R Y S T A B S<br />

O L H A K A Z T I L ...<br />

Na phantasia i<strong>de</strong>al d'um sonho <strong>de</strong>licado<br />

Vesti-te cora o azul da abbohada dos ceus<br />

MMMH<br />

— 0 teu rosto gentil ficou illuminado<br />

— 0 manto côr <strong>de</strong> luz pousou nos hoiubros teus.<br />

— No teu cabello d'oiro engrinal<strong>de</strong>i uni astro,<br />

Cobri as tqas mãos pequenas, e tão bellas<br />

E calcei esses teus pésitos d'alabastro<br />

Com cem fulgor'» d aurora e mil clarões d'estrellas!<br />

Comtemplei-te <strong>de</strong>pois: estatua da belleza!<br />

Eras perfeita —Mas... extremo <strong>de</strong> surpreza:<br />

Dentre tudo o que mais fazia <strong>de</strong>slumbrar<br />

Era dos olhos teus a luz abençoada,<br />

Que olfuscava com seu fulgente scintillar.<br />

As estrellas o azul, os astros, a alvorada !...<br />

L E T T R A S<br />

O lavrador<br />

AUGUSTO DK MKSQUITA.<br />

res se per<strong>de</strong>m no ar, ou vão .consolar<br />

enamorados corações.<br />

O lavrador ao pé da.sua eira, ro<strong>de</strong>ado<br />

<strong>de</strong> suas messes, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma<br />

arvore que plantou seu pae e que <strong>de</strong>ixa<br />

cahir sobre elle seus ramos, oflerecendo-<br />

Ilie mimosos fruetos; recostado aos quadris<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus bois, que, jungidos,<br />

o olham submissos como que esperando<br />

pelo trabalho; vendo cruzar nos ares a<br />

branca pomba, a quem presta asylo, e<br />

pastar a seus pés o cor<strong>de</strong>iro que apascepta;<br />

entoando cantares melancólicos,<br />

que semelham o ruído das folhas seocas<br />

do outonino; é um artista da natureza.<br />

O DEFENSOR DO POVO<br />

*<br />

A conclusão a respeito<br />

dos novos fra<strong>de</strong>s em perspectiva<br />

Vimos os fins que tinha etQ vista o<br />

legislador quando resolveu <strong>de</strong>cretar a<br />

extincção das or<strong>de</strong>ns religiosas, e é sabido<br />

que. um d'e!les era libertar a terra<br />

e franqueai a á circulação pelas transmissões<br />

e transacções, mas que fins terão<br />

agora em vista os preten<strong>de</strong>ntes da creação<br />

das novas congregações fra<strong>de</strong>scas,<br />

porque as outras eslão mortas e quem<br />

eslá morto não resuscita ?<br />

É este um phenomeno que nos não<br />

parece fácil <strong>de</strong> explicar e tanto mais<br />

difficil quando é certo que cooperam para<br />

o mesmo nefando fim elementos <strong>de</strong> dois<br />

partidos—o miguelista e o constitucional<br />

— unidos por um connnbio in<strong>de</strong>cente e<br />

que moral e politicamente, seria inadimissível<br />

entre genle que militou em campos<br />

contrários e que reciprocamente se<br />

hosiílísou até ao extermínio e á morte,<br />

se da parte <strong>de</strong> um d'elles, ao menos,<br />

houvesse brios e sentimentos nobres.<br />

Quanto a nós afEgurn se-nos que<br />

toda esta manobra Conspira ao mesmo<br />

fim, isto é, a combater o partido republicano<br />

até o anniquillar, se lanlo fosse<br />

possível, porque o consi<strong>de</strong>ram como inimigo<br />

politico commum e que é intransrgivel,<br />

mas isso não po<strong>de</strong>riam jámais<br />

consegtiil-o, porque o i<strong>de</strong>al d'este é o<br />

mais natural, o mais racional, o verda<strong>de</strong>iro,<br />

e porque as i<strong>de</strong>ias não se matam,<br />

nem morrem.<br />

o<br />

dos bons e dos maus constitucionaes,<br />

dos quaes muitos estão gozando as riquezas<br />

dos fra<strong>de</strong>s, por pouco, ou por<br />

nenhum dinheiro, não veem nas or<strong>de</strong>ns<br />

religiosas ura perigo para a liberda<strong>de</strong>,<br />

mas sim um elemento d'alta conveniência<br />

para fins nefastos e antisocines, e <strong>de</strong><br />

propaganda e combate contra o republicanismo.<br />

Parece estarem sonhando com nova»<br />

e grandiosas accumulações <strong>de</strong> bens para<br />

no futuro cairem nas garras d'outrns<br />

harpias; mas puro engano, porque era<br />

preciso edificar centenas <strong>de</strong> casas que,<br />

pelo preço actual, custariam muitos milhões,<br />

e não ha bago, o thesouro está<br />

limpo, como limpos ficaram os conventos,<br />

e para enriquecer os novos conventos<br />

era preciso o concurso <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> dotes, e já não haveria tolos que<br />

cãissem cm as dar para mais tar<strong>de</strong> serem<br />

<strong>de</strong>vorados por outros abutres.<br />

Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />

Taboa, 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

EM SURDINA<br />

«El-rei agraciou o sr.<br />

bispo <strong>de</strong> Beja cóm a grãcruz<strong>de</strong><br />

Ghristo; e o mestre<br />

da banda do regimento 17<br />

vae ter o habito <strong>de</strong> S.<br />

Thiago.<br />

11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> IO8 3<br />

tão poucas são estas casas <strong>de</strong>stinadas á<br />

vendagem <strong>de</strong> carnes frescas, que constantemente<br />

se improvisam tendas ao<br />

ar livre, estando a attestar o sol<br />

nas peças <strong>de</strong> carne, cheias <strong>de</strong> mosquedo<br />

e <strong>de</strong> vareja.<br />

O que ahi fica escripto não é invenção<br />

nossa; vê-se dia a dia, todos os annos,<br />

<strong>de</strong>vido á pouca attenção que as camaras<br />

prestam aos negocios municipaes<br />

e melhoramentos da cida<strong>de</strong>.<br />

Neste merendo não ha latrinas nem<br />

orinoes proprios para ambos os sexos, <strong>de</strong><br />

fórina que as necessida<strong>de</strong>s eventuaes<br />

são satisfeitas do lado do sul da praça,<br />

que se converte numa perfeita sentina<br />

e que está sendo aproveitado agora<br />

para a gente rural que vem ao mercado<br />

ven<strong>de</strong>r hortaliças e fruclas!<br />

E comtudo sabemos que as receitas<br />

do mercado sobem todos os annos, sem<br />

que as camaras tenham dispensado a mínima<br />

quantia para melhorar as suas péssimas<br />

condições.<br />

Com a actual vereação ainda resta<br />

uma esperança,» cuniprir-se o que ouvimos<br />

antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser eleita: na<br />

lista dos melhoramentos que ella planeou<br />

figura a conslrucção <strong>de</strong> um novo mercado<br />

; e a realisar-se esta obra, prestam os<br />

novos administradores da fazenda municipal<br />

um gran<strong>de</strong> serviço a esta cida<strong>de</strong>,<br />

sendo poucos todos os louvores para os<br />

iniciadores d'este melhoramento.<br />

O lavrador é o rei da natureza, mas<br />

o escravo tombem da socieda<strong>de</strong>.<br />

Os céos offereceni rocio á sua obra,<br />

fecunda-a o sol, o ar coiíserVa-a, a terra<br />

alinienta-a, as estrellas velam suas noites,<br />

e todos os eccos <strong>de</strong> creação são os cantares,<br />

que ou celebram o seú nascimento<br />

ou pranteiam a sua morte. Todos os germens<br />

da vida que o alento do creador<br />

<strong>de</strong>rramou no espaço, como semente dos<br />

seres, fecundam, brotam e crescem ao<br />

sopro <strong>de</strong> lavrador. De sorte que os seus<br />

braços são como o instrumento <strong>de</strong> que<br />

DQUS se vale para aperfeiçoar a sua<br />

íffcbb i £ o bani D or J ifíiiih riu


4YM> I — O DEFENSOR DO POVO ll|«1e junho <strong>de</strong> 1893<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

FACULDADE DE MEDICINA<br />

Dia 7<br />

1." anno — Antonio Cesar Rodrigues,<br />

formado em medicina pela Univer<br />

sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Edimburgo, na Escossia (Gran<br />

Bretanha); Ama<strong>de</strong>u Werneck d'Aguilar,<br />

formado em medicina peia <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> Tubingue, no Wartembcrg (império<br />

allemão).<br />

2." anno — Adriano Luiz d'Oliveira<br />

Peça e Fre<strong>de</strong>rico Augusto Sanches <strong>de</strong><br />

Pereira <strong>de</strong> Moraes.<br />

3.° ai\no— Carlos Leite Monteiro e<br />

Angelo Pereira Dias Ferreira.<br />

4 0 anno — A<strong>de</strong>lino Vieira <strong>de</strong> Campos<br />

<strong>de</strong> Carvalho e Alfredo Abilio da Rocha<br />

Peixoto.<br />

Dia 8<br />

1." anno—Anthero Augusto Ferreira<br />

<strong>de</strong> Magalhães.<br />

Houve uma reprovação.<br />

2." anno — João Avelino Pereira da<br />

Rocha e José Maria Cardoso.<br />

3.° anno — Anselmo Patrício e Antonio<br />

d'Ahreu Freire.<br />

4* anno — Anlonio Couceiro Martins<br />

u Antonio Ferreira <strong>de</strong> Paiva Sampaio.<br />

Dia 10<br />

1." anno — Antonio Fernan<strong>de</strong>s Pires<br />

Padinha e Antonio Olympio Cagigal.<br />

2." anno — Manoel Anlonio Martins<br />

Pereira.<br />

3.° anno — Anlonio da Costa Almeida<br />

e Antonio Gonçalves.<br />

4° anno—Antonio Maria Dias <strong>de</strong><br />

Oliveira e Antonio dos Sanlos Cor<strong>de</strong>iro.<br />

i-O^r^n. SMSS<br />

FACULDADE DIS DIREITO<br />

Dia 8<br />

1.° anno ^ Eduardo d'Alineida Saldanha,<br />

Eduardo Pinho d'Almeida e Ernesto<br />

Augusto Garcia Marques.<br />

Houve uma reprovação.<br />

2.° anno — Arnaldo Augusto d'AImeida<br />

Bigotte <strong>de</strong> Carvalho, Arnaldo Fragateiro<br />

<strong>de</strong> Pinho Branco, Arthur <strong>de</strong> Mesquita<br />

Guimarães e Augusto Borges d'Oliveiía.<br />

3.° anno — Arthur Maciel <strong>de</strong> Faria<br />

Machado e Augusto Cesar Nogueira.<br />

4° anno — Antonio Alberto Charula<br />

Pessanha e Anlonio Carlos da Costa Botelho<br />

Moniz!'<br />

5." anno — Alvaro Miranda Pinto <strong>de</strong><br />

Vasconcellos e Américo Claro da Fonseca.<br />

Dia 10<br />

1." anno — Francisco Lebre <strong>de</strong> Sousa<br />

e Vasconcellos, Jayme Duarte <strong>de</strong> Moraes<br />

Silva e João Pereira Soares da Mc;tta.<br />

Houve uma reprovação.<br />

2.° anno — Augusto Cesar Ribeiro<br />

Lima, Augusto Fernan<strong>de</strong>s Correia, Augusto<br />

Francisco <strong>de</strong> Assis e Augusto Lopes<br />

Men<strong>de</strong>s e Silva.<br />

Folhetim do Defensor do POYO<br />

J. MÉRY<br />

A mu § I P I<br />

XIII<br />

O prestidigitador da morte<br />

.. .Bah? Que está para ahi a falar em<br />

ar natal! Ha por ventura ar natal no<br />

Tosso Paris? A vida está aqui, <strong>de</strong>baixo<br />

do nosso ceu, no meio das larangeiras era<br />

flor, á borda do no »ft t n<br />

•—Lavega talvez para as índias, disse<br />

o cônsul inglês.<br />

— Mas-, disse um couviva indifferenle,<br />

madame Van Ritter lem recebido, sem<br />

duvida, noticias do seu marido...<br />

— Nem mesmo sua mulher, disse o<br />

marquez.<br />

— Tem a visto, marquez? perguntou<br />

o cônsul.<br />

— Vi-a hoje, ás 3 horas, ao levantar<br />

se da cama.<br />

Uma gargalhada discreta circulou em<br />

volta da meza.<br />

— Então' çra casa da sua bella genovera,<br />

marquez, só amanhece ás tres horas<br />

da tar<strong>de</strong>?<br />

— Mas, realmente, disse o mrrquez,<br />

que querem os senhores que faça uma<br />

<strong>de</strong>senvolveu em procurar soccorros para<br />

um incêndio em Cozelhas, pela 1 hora<br />

da noite <strong>de</strong> 24 do corrente, e nos trabalhos<br />

<strong>de</strong> rescaldo em que se occupou<br />

com outros bombeiros municipaes.<br />

Mandou intimar o proprietário Viciorino<br />

Henriques Lebre, para fazer collocar<br />

a caleira para as aguas que retirou<br />

da sua casa tia run <strong>de</strong> Ferreira Borges.<br />

Auctorisou o arrendamento da casa<br />

n. c 57 na rua da Sophía, para a escóla<br />

<strong>de</strong> ensino elementar e completamenlar<br />

dó sexo" feminino dà freguezia <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz e habitação da professora.<br />

Altestou favoravelmente ácerca d'uma<br />

petição para a concessão d'um subsidio<br />

<strong>de</strong> lactação para um filho natural <strong>de</strong><br />

Anna <strong>de</strong> Jesus, da rua Direita.<br />

Mandou passar licença para apascentamento<br />

<strong>de</strong> cabras a um proprietário do<br />

Chão do Bispo. <<br />

Resolveu pedir provi<strong>de</strong>ncias ao cliefe<br />

do districto ácerca da existencia <strong>de</strong> corraes<br />

<strong>de</strong> gado <strong>de</strong>ntro do perímetro da cida<strong>de</strong>,<br />

consi<strong>de</strong>rados estabelecimentos insalubres<br />

pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 21 d'oulubro<br />

<strong>de</strong> 1863.<br />

Resolveu pedir ao testamenteiro do<br />

fallecido dr. Antonio Luiz <strong>de</strong> Sousa Henriques<br />

Secco uma nota approximada dos<br />

volumes <strong>de</strong>ixados á Camara, para esta<br />

provi<strong>de</strong>nciar para a accommodação d'elles<br />

no archivo municipal.<br />

Mandou collocar um portal novo na<br />

runa da rua da Moeda, no terreiro <strong>de</strong><br />

Santo Antonio.<br />

Resolveu prescindir da casa arrendada<br />

na praça do Commercio para arrecadação<br />

do material d'incendios, aproveitando-se<br />

<strong>de</strong> novo para este fim da loja<br />

na rua do Cego pertencente ao município.<br />

Resolveu ouvir o advogado ácerca da<br />

condição imposta a diversos, para não<br />

ser exigida in<strong>de</strong>mnisação pelo altearaento<br />

das ruas da cida<strong>de</strong>.<br />

Mandou pagar a quantia <strong>de</strong> 19$200<br />

réis da differeuça entre o preço <strong>de</strong> réis-<br />

292$800 porque foram vendidos cinco<br />

bois do serviço da limpeza e o <strong>de</strong> réis<br />

312$000 porque foram comprados quatro,<br />

para o mesmo serviço.<br />

Approvou o rol da contribuição <strong>de</strong><br />

serviço para o corrente anno e o rol do<br />

ijmprosto sobre cães, mandando annunciar<br />

a sua exposição durante o praso <strong>de</strong> 15<br />

dias, em que se receberão reclamações.<br />

Mâmlou fazer novas intimações para<br />

a <strong>de</strong>molição d 'tuna pare<strong>de</strong>, em ruina.<br />

d'uma casa 110 lagar das Casas 'Novas-;<br />

e para ser restituído ao estado primitivo<br />

um caminho no lógar do Chão do Bispo<br />

O presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>u conheçinTeuto á<br />

camara <strong>de</strong> ter mandado organisar pela<br />

repartição d'obras uma das fontes do<br />

concelho que precisam reparações; e<br />

participou também que os marchantes<br />

resi<strong>de</strong>ntes ne.-la cida<strong>de</strong> esperam po<strong>de</strong>r<br />

abater em breve, 20 réis no preço <strong>de</strong><br />

cada um kilogramma 1 <strong>de</strong> vacca ; e que<br />

para outubro apresentam uma labella <strong>de</strong><br />

preços das diversas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carne<br />

que expozerem á venda.<br />

Despachou cinco requerimentos sobre<br />

diversos assumptos, a saber — letreiro<br />

mulher em tal situação? Des<strong>de</strong> a partida<br />

<strong>de</strong> seu marido, Memma nunca mais saiu<br />

do palacio Santa-Scala ; não vê ninguém,<br />

não recebe ninguém, a sua socieda<strong>de</strong> é<br />

uma menina judia que seu irmão livrou<br />

dos salteadores no littoral africano. Suppliquei<br />

hoje a Memma, <strong>de</strong> todos os modos,<br />

para a <strong>de</strong>cidir a vir jantar comnosco;<br />

recusou cora a maior obstinação. E<br />

<strong>de</strong>vo dizer-lhes que a encontrei um pouco<br />

mudada, a minha hella Memma. A inquietação<br />

altera-lhe as suas bellas cores e<br />

constante alegria. Afinal,' qualquer se<br />

<strong>de</strong>solaria com menos razão.<br />

— Diz-se que ella é muito amiga <strong>de</strong><br />

seu marido, disse um conviva estúpido.<br />

— Mas isso é muito natural! respon<strong>de</strong>u<br />

di Negro com uma ingenuida<strong>de</strong> antiga,<br />

os noivos amara-se sempre, principalmente<br />

quando casam com reciproco<br />

consentimento.<br />

— lista vida é verda<strong>de</strong>ira viuvez jia<br />

lua <strong>de</strong> mel, notou judiciosamente o cônsul.<br />

— Hoje, conlinuou di Negro, fiz uma<br />

ru<strong>de</strong> guerra á melancolia exagerada da<br />

formosa Memma.<br />

Disse-lhe eu que, na ausência <strong>de</strong><br />

Van Ritter, continuava a exercer junto<br />

d'elln as minhas funeções <strong>de</strong> tutor, e que<br />

eu <strong>de</strong>via usar da rainha auctorida<strong>de</strong> para<br />

a arrancar, d'aquelle tumulo on<strong>de</strong> ella<br />

se enterrou em vida.<br />

— Pois bera, meu caro lio, me respon<strong>de</strong>u<br />

ella, é assim que ella me trata,<br />

era um estabelecimento particular, e<br />

limpeza d'ura cano d'esgolo d'um prédio<br />

na praça do Commercio: e sobre obras<br />

particulares — auctorisando, sob condições,<br />

Anlonio Corrêa Lemos, d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

a modificar as portas d'entradas<br />

do seu estabelecimento na rua <strong>de</strong> Ferreira<br />

Borges; Antonio Maria da Gama,<br />

a hietter portas novos em uma casa na<br />

rua da Louça, com frente para o largo<br />

do Poçinho; e José Barbosa Lima, a fazer<br />

uma pequena alteração nas janellas<br />

do andar superior da sua casa na rua<br />

<strong>de</strong> Ferreira Borges, com frente também<br />

para a prfiça do Commercio.<br />

In<strong>de</strong>feriu um requerimento, em que<br />

so pedia licença para estabelecer uma<br />

barraca para venda <strong>de</strong> vinho na quinta<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz, junto á Castata, durante<br />

Os dias da Kermesse.<br />

Mandou satisfazer ás indicações da<br />

repartição d'obras dois proprietários que<br />

requereram — para substituir os portaes<br />

d'uma casa no logar do Poçinho por se<br />

ver do alçado que os portaes não tem a<br />

altura correspon<strong>de</strong>nte á largura : outro<br />

<strong>de</strong> S. João do Campo, para a reconstrucção<br />

d'uma casa no mesmo logar, por<br />

não se conhecer da planta que offerece<br />

as condições actuaes do terreno.<br />

Enviou ao vereador respectivo, para<br />

informações, um requerimento <strong>de</strong> Antonio<br />

Pereira, sapateiro, pedindo para ser<br />

admittido no corpo <strong>de</strong> bombeiros municipaes.<br />

Tomou conhecimento da correspondência<br />

recebida, que mandou archivar.<br />

a<br />

Balancete do espectáculo que a Corperação<br />

<strong>de</strong> bombeiros voluntários da<br />

Salvação Publica, realisou no dia 28<br />

<strong>de</strong> maio<br />

RECEITA<br />

Bilhetes vendidos 183^700<br />

Donativos 10$000<br />

1 DESPEZA<br />

193$700<br />

Companhia...... 80$ll00<br />

Aluguer do thealro 20$tlOO<br />

Gaz........ 5$000<br />

Orchestra 14$000<br />

Impressos...... 4$400<br />

Adressista 3^700<br />

Piquete <strong>de</strong> bombeiros municipaes<br />

1$400<br />

Empregados 5$260<br />

Luzes <strong>de</strong> supporte. ...... 480<br />

136$4S0<br />

Saldo 57&220<br />

193^700<br />

<strong>Coimbra</strong>, 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

A commissão,<br />

Jorge da Silveira Moraes<br />

Antonio Corrêa da Costa<br />

Bernardo Maria da Silvá.<br />

não irei jantar a sua casa, mas prometto-<br />

Ihe dar comsigo um passeio, esta tar<strong>de</strong>,<br />

mais a Débora.<br />

O copo <strong>de</strong> crystal da Bohemia, cheio<br />

<strong>de</strong> lacrima-christi, cão chegou aos lábios<br />

<strong>de</strong> Paulo Gréant, e o liquido <strong>de</strong>rramouse<br />

sobre a toalha.<br />

Talormi escutava o marquez di Negro<br />

<strong>de</strong>sempenhando-se ao mesmo tempo das<br />

suas funeções <strong>de</strong> conviva, mas não perdia<br />

nada do que se passava no coração<br />

e no rosto do seu visinho.<br />

Paulo fez um supremo esforço para<br />

se dar uma attilu<strong>de</strong> natural e á sua palavra<br />

uma forma fictícia.<br />

Estes copos da Bohemia, disse elle,<br />

são magníficos, a sua forma é encantadora,<br />

mas só tinham utilida<strong>de</strong> para os antigos,<br />

que os inventaram. Largos e <strong>de</strong><br />

pouco fundo como são, estes corpos só<br />

po<strong>de</strong>m conter vinhos subslanciaes e compactos,<br />

antes alimento que bebida, como<br />

o falerno dos romanos.<br />

— O que ahi vãe I exclamou di Negro<br />

rindo; que gran<strong>de</strong> dissertação para<br />

<strong>de</strong>sculpar uma pequena falta <strong>de</strong> geito !<br />

— Este episodio dos copos, disse<br />

Talormi, <strong>de</strong>sviou-nos do assumpto da sua<br />

conversação, marquez di Negra. Acredita<br />

que madame Van-Ritter nos traga esta<br />

tar<strong>de</strong> a menina Débora?<br />

I mprenso na Typojfraphia<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.*<br />

14, proximo á rua dos Sapateiro»,—<br />

COIMBRA.


A.\.\0 I — 91 O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

OIJTIiOS<br />

PARA<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

ANNUNCIOS<br />

Por linha 30 réis<br />

Repetições ..... 20 réis<br />

IVELOPES<br />

E PAPEL<br />

timbrado<br />

Impressões rapi- *<br />

das<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

LEILÃO<br />

[o domingo, 11 do corrente,<br />

pelas 12 horas da manhã,<br />

serão vendidos todos os utensílios pertencentes<br />

a um restaurante, na Praça do<br />

Commercio, n. os 125<br />

55 e 57, taes como: hancos,<br />

ca<strong>de</strong>iras, mesas, mostradores, trem<br />

<strong>de</strong> cozinha, louças, talheres, guardanapos,<br />

fogão e muitos outros objectos.<br />

Bem assim será vendido um bom<br />

bilhar com todos os pertences, se o preço<br />

convier.<br />

s Companhia Auxiliar,<br />

1 2 b A ao Arco do Bispo, n.° 2,<br />

faz leilão <strong>de</strong> todos os penhores que estejam<br />

em divida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tres mezes<br />

<strong>de</strong> juros, no dia 18 do corrente mez.<br />

O leilão começa ás 11 horas da manhã<br />

e fecha ás 4 da tar<strong>de</strong>, coustando<br />

<strong>de</strong> roupas, fazendas <strong>de</strong> lã, ouro e prata<br />

moveis, muitos livros e outros objectos.<br />

Ficam por este meio prevenidos todos<br />

os mutuários que tenham valores<br />

nesta easa.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

O gerente da Companhia,<br />

João Augusto S- Favas.<br />

O.A-Í3.A-<br />

rrenda-ie o 2.° andar e<br />

120<br />

aguas furtadas da casa<br />

n.° 6 do Pateo <strong>de</strong> Inquisição.<br />

Trata se na Praça do Commercio,<br />

n.° 1 a 5.<br />

S4NTA CLARA<br />

Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />

DE<br />

JOSÉ VICIORHO B. MIRANDA<br />

£»«ta fabrica continua a prof£í<br />

duziír as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> massas, pelos mesmos preços,<br />

satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />

encommendas.<br />

Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />

em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />

<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholameu,<br />

e bem assim communicação telephonica<br />

cnm o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />

do sr. José Tavares da Costa,<br />

successor, no largo do Principe I). Carlos,<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />

CASA DE PENHORES<br />

NA<br />

CHAPELERIA CENTRAL<br />

65<br />

mprei(a-ie dinheiro sobre<br />

objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />

<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />

valor.<br />

Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />

Arco <strong>de</strong> Almedina. 2 a G. — COIMBRA.<br />

TQUEM PRECISE<br />

117<br />

fen<strong>de</strong>m-se umas estantes<br />

f« quasi novas; são próprias<br />

para mercearia, ou outro negocio.<br />

Para tratar com João Vieira da Silva<br />

lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />

4RTIC1PA-,<br />

ÇÕES<br />

DE CASAMENTO<br />

Menus, etc.<br />

Perfeição<br />

Typ. Operaria ]<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

.i/r i m a<br />

NOVIDADE<br />

em facturas<br />

Especialida<strong>de</strong><br />

em côres<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

1LHETGS<br />

<strong>de</strong> visita<br />

e preços<br />

diversos<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

IVROS ««ÍIPUIÍSSOS<br />

e jornaes |g PARA<br />

Pequeno e gran<strong>de</strong> B repartições<br />

formato H publicas<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

1 4 , L A R O - O ID.A. F R E I R I A , 1 4<br />

agente nesta cida<strong>de</strong>, J. L. Martins <strong>de</strong> Araujo<br />

DEPOSITO DA mim NACIONAL<br />

DE<br />

l€iâi<br />

DE<br />

JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />

COIMBRA<br />

128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

2 ivrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

junto e a retalho, lodos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eguaes aos da fabrica.<br />

XAROPE DE PHELUNDRIO<br />

COMPOSTO DE ROSA<br />

5 g


A postos!<br />

Todos a postos, to^os os que<br />

em Portugal ha <strong>de</strong> liberaes sinceros,<br />

nestes tempos <strong>de</strong> fementida<br />

liberda<strong>de</strong>; ergam-se to<strong>de</strong>s, erga-se<br />

o paiz inteiro, se ainda qner<br />

conservar, á face das nações civilisadas,<br />

um resto <strong>de</strong> pundonor, se<br />

não quer recuar <strong>de</strong> lodo no caminho<br />

do retrocesso; a postos lodos,<br />

que a Reacção avança <strong>de</strong>smascarada<br />

e franca!<br />

Os processos que ainda hontem<br />

o Ultramontanismo maquinara nas<br />

trevas, eil-os ahi já expostos â luz<br />

do dia, sem tergiversações, ousadamente.<br />

O parlamento, em nome<br />

da liberda<strong>de</strong> instituído como a<br />

mais solemne garantia dos povos,<br />

ha muito já que esqueceu o fim da<br />

sua instituição; e tanto, que, segundo<br />

se vae vendo, o proprio parlamento<br />

vae ser o emporio reaccionário,<br />

Iranspondo-se para alli a<br />

lucla primeiro travada na Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Geographia, on<strong>de</strong> a reacção<br />

foi batida.<br />

Sob a capa da instituição das<br />

or<strong>de</strong>ns religiosas, como o único<br />

meio <strong>de</strong> levar a civilisaçâo ás colonias<br />

africanas e conquislal-as assim<br />

para o dominio portuguez, a aspiração<br />

constante para o restabelecimento<br />

no reino das or<strong>de</strong>ns monásticas,<br />

que tem vivido, latente, no<br />

escuro das sachristias e dos paços<br />

episcopaese até nos solios realengos,<br />

<strong>de</strong>smascarou-se <strong>de</strong> vez e apresenta-se<br />

com <strong>de</strong>scaro ao paiz inteiro.<br />

O pengo é imminente, instante,<br />

por mais que procurem ro<strong>de</strong>ial-o<br />

<strong>de</strong> doiraduras e íulgencias; já ninguém<br />

<strong>de</strong>sconhece as intenções do<br />

cleticahsmo, e nem elle proprio<br />

procura escon<strong>de</strong>l-as. Um membro,<br />

até, do parlamento, o viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pin<strong>de</strong>lla (e é bom que o povo vá<br />

conhecendo os que se <strong>de</strong>smascaram)<br />

apresentou um projecto <strong>de</strong> lei para<br />

que seja rasgado em pedaços o<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Joaquim Antonio <strong>de</strong><br />

Aguiar, que extinguiu em 1834 as<br />

or<strong>de</strong>ns religiosas em Portugal, íundando-se<br />

na conveniência publica,<br />

no íra<strong>de</strong>sco facciosimo politico, nos<br />

entraves que ellas erguiam no caminho<br />

do nosso progressivo <strong>de</strong>senvolvimento;<br />

a meia dúzia <strong>de</strong> linhas,<br />

d'aquelle projecto <strong>de</strong> lei, o mais<br />

claro monumento do muito a que<br />

lem <strong>de</strong>scido em Portugal o parlamentarismo,<br />

preten<strong>de</strong> apagar da<br />

memoria <strong>de</strong> lodosa lembrança da<br />

campanha fecunda suslenlada por<br />

Gairetl, José Eslevão e tantos outros,<br />

em favor da causa da liberda<strong>de</strong>.<br />

E tnovem-se as maiores influencias,<br />

lauto <strong>de</strong>ntro do parlamento<br />

como até nos paços reaes, para que<br />

a nova insliluiçgio das or<strong>de</strong>ns religiosas<br />

em Portugal seja um facto;<br />

e comprehen<strong>de</strong>-se perfeitamente a<br />

razão do po<strong>de</strong>roso favoritismo, porque<br />

seria o melhor meto <strong>de</strong> conservar<br />

por largos annos, mercê da<br />

força esmagadora e beslialtsanle do<br />

clericalismo sobre a intellecluaiida<strong>de</strong><br />

popular, este misérrimo estado<br />

<strong>de</strong> coisas, este <strong>de</strong>plorável syslema<br />

constitucional, que nos levou á ultima<br />

ruina. São, hoje como em tempos<br />

não mui remotos, a realeza e<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

o clero, a monarchia e o jesuitismo<br />

a darem-se as mãos numa confralernisação<br />

ferina <strong>de</strong> lobos em alcatêa,<br />

que melhor se concertam para<br />

o dilacera,mento da preza.<br />

E a preza somos nós todos, os<br />

dilacerados seremos nós, se, poN<br />

venlura, alguns restos <strong>de</strong> energia e<br />

<strong>de</strong> força se não tenham <strong>de</strong> todo<br />

ennervado no organismo <strong>de</strong>generado<br />

d'este povo, cadaver quasi, tão<br />

gran<strong>de</strong> é a modorra da sua somnolencia.<br />

Levanlemo-nos, portanto, e sacudamos<br />

a golpes <strong>de</strong> azorrague ou<br />

a golpes <strong>de</strong> zombaria e <strong>de</strong> sarcasmo,<br />

essa corvachada em bandos,<br />

que bale as azas sobre o banquete<br />

opimo d'um povo que se esphacela;<br />

mostremos ao mundo, que ainda<br />

não chegou a tanto a nossa <strong>de</strong>+<br />

ca<strong>de</strong>ncia moral, que consintamos<br />

entre nós esses zangãos do progresso<br />

e da civilisaçâo, esses parasitas<br />

que vivem da ignorancia dos povos.<br />


AX.XO I — » 5<br />

1886.<br />

CRYSTAES<br />

CARTA INTIMA<br />

Eu não aspiro a nuiito. Unicamente sonho<br />

Com um porvir feliz, com um porvir risonho<br />

<strong>de</strong> modéstia e socego. 0 que <strong>de</strong>sejo e quero,<br />

é o teu amor somente, o teu amor sincero.<br />

A A.<br />

Quero viver na paz sagrada da família<br />

e como quem se abriga á sombra d'uma tília,<br />

para evilar o sol, o sol que aprumo cae,<br />

viver sob esse amor — a abobada uo Templo<br />

cujo altar será a Honra, a Dignida<strong>de</strong> e o Exemplo,<br />

para evitar o Mal que sempre nos attrahe.<br />

Pois <strong>de</strong>ve ser tão bom á gente, ao recolher,<br />

ter uns braços gentis para nos receber,<br />

ouvir umas canções, uns simples estribilhos<br />

que soltam rouxinoes a quem chamamos filhos,<br />

sentir sobre o joelho o peso d'essas flores,<br />

cohrir-lhes com a bocca os lábios seductores,<br />

pôr-lhes a cabecita aqui, no nosso peito,<br />

olhal-os a brincar, contentes, a sorrir...<br />

e quando estão dormindo, á noite, no seu leito,<br />

ir vêr, pé ante pé, uns anjos a dormir!<br />

Pois <strong>de</strong>ve ser tão bom termos um ser amigo<br />

com quem <strong>de</strong>sabafar as penas que choramos,<br />

entregarmos lhe tudo, ao carinhoso abrigo<br />

do grato cotação, os sonhos que sonhamos,<br />

as nossas illusões, as ancias, o receio<br />

que temos ao pensar na vida do futuro!<br />

Pois <strong>de</strong>ve ser Ião bom abrir o nosso seio<br />

ás doces pulsações d'um seio honesto e puro<br />

e ter num certo olhar d'uns olhos si<strong>de</strong>raes<br />

sempre um conselho amigo, um parecer austero,<br />

que ao pensar nisto tudo, eu não aspiro a mais<br />

que ao teu amor somente, ao teu amor sincero !<br />

LETTRAS<br />

As rosas 8 as borboletas<br />

Uma rosa branca, ainda mal aberta,<br />

voava pairando aqui e alli, sem saber em<br />

que borboleta iria poisar. Toda tremula<br />

á luz do sol suspensa no ar, hesitava a<br />

ingénua flor, a contemplar, in<strong>de</strong>cisa, lodos<br />

esses formosos insectos que, lá em<br />

baixo, presos nas hastes no fundo do<br />

valfe, tremiam <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos só <strong>de</strong> a verem.<br />

Por qual se <strong>de</strong>cidiria? pela silvano <strong>de</strong><br />

azas negras? pela céphala, côr <strong>de</strong> oiro?<br />

pelo das azas azues?<br />

E ella continuava a voejar, ora baixando,<br />

ora «levando-se aos ares, por sobre<br />

o vasto campo <strong>de</strong> borboletas.<br />

Sim, porque naquclle tempo eram as<br />

ro«as que tinham azas—as próprias pétalas<br />

— e eram as borboletas que se baloiçavam<br />

em hastes ligeiras que as retinham<br />

presas ao solo.<br />

II<br />

E foi tal a perplexida<strong>de</strong> da rosa que<br />

se <strong>de</strong>cidiu a ir consultar as outras rosas,<br />

suas irmãs. Voltou, pois, para as<br />

hervagens frescas on<strong>de</strong> ellas tinham fabricado<br />

os ninhos — havia ninhos <strong>de</strong> rosas<br />

então — e disse-lhes toda ruborisada<br />

:<br />

— Minhas irmãs, tenho umas certas<br />

duvidas e peço que m'as <strong>de</strong>sfaçam. Sou<br />

ainda muito pequenina, e só hontem<br />

principiei a voar, vinha rompendo a madrugada:<br />

ora como tenho pouca experiencia<br />

da vida, receio praticar alguma tolice.<br />

..<br />

— Vamos; falia interromperam em<br />

côro as rosas.<br />

— Vi perto d'aqui umas borboletas<br />

tão bonitas, tão bonitas, que nem eu sei!<br />

E como todas ellas são formosas, queria<br />

saber em qual <strong>de</strong>verei poisar para<br />

lhe dar o meu amor.<br />

Respon<strong>de</strong>u-lhe um côro <strong>de</strong> gargalhadas<br />

trocistas.<br />

— Que innocente 1<br />

— Ora a ignorante !<br />

— Comt)? Pois ella <strong>de</strong>ixou-se enfeitiçar<br />

por esses miseráveis insectos, que<br />

. não po<strong>de</strong>m érguer-se da terra ? I<br />

— Ora não ha! Se amasse a aguia<br />

altiva, que crusa o. azul, ou a andorinha<br />

ligeira, ou a cotovia, que vae para além<br />

das nuvens <strong>de</strong>spertar com o seu chilrear<br />

alegre a aurora preguiçosa... comprehen<strong>de</strong>-se.<br />

Mas é indigno dar o seu amor<br />

Joaquim <strong>de</strong> Lemos.<br />

a esses Ínfimos que não po<strong>de</strong>rão nunca<br />

salvar o rio do prado, nem saltar por sobre<br />

a exurrada dos montes!<br />

Mas ella fallou com tanto entusiasmo<br />

dos insectos do campo visinho, que as<br />

rosas, um nadita picadas <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong><br />

quizeram certificar-se.<br />

— Pois vamos tá !<br />

E partiram todas, ares fóra, batendo<br />

as azas, <strong>de</strong> que se escaparam uns perfumes<br />

dulcíssimos, como não havia outros<br />

eguaes e tão suaves, em todo o mundo<br />

Pois se naquelle tempo ainda não havia<br />

mulheres sobre a terra !<br />

III<br />

Impossível <strong>de</strong>screver a alegria das<br />

borboletas apenas viram revoluteando em<br />

redor e tão perto, aquelle bando adoravel<br />

<strong>de</strong> rosas. E que lindas todas ellas,<br />

umas brancas, outras vermelhas, outras<br />

<strong>de</strong>smaiadas, outras mal abertas!<br />

— Vin<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scei. Porque nos <strong>de</strong>sprezaes?<br />

porque não po<strong>de</strong>mos seguir-vos<br />

por esses ares e ventos? Temos as azas<br />

prezas, mas ve<strong>de</strong> como são formosas. Não<br />

parece que nos lançaram sobre ellas punhados<br />

<strong>de</strong> rubis, <strong>de</strong> saphiras, <strong>de</strong> amethvstas<br />

e <strong>de</strong> esmeraldas? Não vos parece<br />

que pulverisaram sobre nós um arco-iris?<br />

E sois tão amadas 1 se consentísseis em<br />

cerrar as vossas pétalas sob as nosias<br />

azas, quantas caricias, quantas ternuras<br />

vos seriam prodigalisadas ! Vin<strong>de</strong> e tereis<br />

o nosso amor constante, e tanto que nunca<br />

tereis sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> voar<br />

sósinhas por estes dias <strong>de</strong> calma e por<br />

estas noites sem lua ! Mas a» rosas não<br />

se <strong>de</strong>ixaram enternecer, e, reabrindo as<br />

azas á brisa, <strong>de</strong>ixaram no espaço um vago<br />

rumor <strong>de</strong> ironias cruéis, e partiram para<br />

longe, muito longe, para além do campo<br />

das borboletas, para além dos montes até<br />

dsapparecerem no horisonte.<br />

Ora, neste tempo, como ainda hoje<br />

succe<strong>de</strong>, havia uma justiça no céu. A<br />

brisa, movida <strong>de</strong> certo pela varinha<br />

magica <strong>de</strong> alguma fada—e quem sabe le<br />

a fada se transformara em brisa ? —<br />

envolveu, cingiu e arrastou comsigo o<br />

bando <strong>de</strong> flores, precipitando-as <strong>de</strong>pois<br />

numa enorme planície em que só havia<br />

silvados e espinheiros, ou<strong>de</strong> ellas se feriram<br />

todas, e d'on<strong>de</strong> nunca mais po<strong>de</strong>ram<br />

soltar-se.<br />

Des<strong>de</strong> então as rosas licaram presas<br />

á terra e não tornaram a voar com as<br />

toutinegras nem a fabricar os ninhos<br />

nas ramagens dos bosques.<br />

(Conclue),<br />

Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />

O D G F E N i O R DO P O V O<br />

As or<strong>de</strong>ns religiosas<br />

A reacção continúa em propaganda<br />

activa a tini <strong>de</strong> restabelecer neste paiz<br />

as or<strong>de</strong>ns religiosas, extinctas pelo liberal<br />

<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Joaquim Anlonio d'Aguiar.<br />

Na camara dos pares e <strong>de</strong>putados<br />

têm sido entregues algumas representações,<br />

assistindo-se ao repugnante espectáculo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> famílias liberaes<br />

que tão atrozmente foram perseguidas<br />

pelo absolutismo, que os fra<strong>de</strong>s<br />

apoiavam e <strong>de</strong>fendiam, estarem hoje a<br />

propugnar pelo restabelecimento d'esses<br />

coios <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoralisação e <strong>de</strong> conservantismo.<br />

Chega a tal ponto a impudência <strong>de</strong><br />

alguns chamados liberaes que para <strong>de</strong>feza<br />

da causa da reacção fazem esta affirmativa—que<br />

o <strong>de</strong>creto que extinguiu<br />

as or<strong>de</strong>ns religiosas em Portugal, não<br />

prohibe o estabelecimento cToutras que se<br />

fundassem <strong>de</strong>pois, visto que o <strong>de</strong>creto se<br />

refere apenas ás que então existiam!<br />

E' com esta argumentação que os<br />

reaccionários, <strong>de</strong> mãos dadas com os renegados<br />

liberaes, contam levar, por diante<br />

a sua nefasta obra anti-civilisadora.<br />

Mas nós cremos que o paiz ha <strong>de</strong><br />

saber reagir e fazer respeitar as leis,<br />

quando a afíronta tomar um aspecto mais<br />

energico.<br />

Que por emquanto tudo isso não passe<br />

d'uma farça indigna.<br />

Pelas folhas governamentaes não se.<br />

sabe em que condições o sr Fuschini<br />

levantou no estrangeiro aquella impor<br />

tanle quantia para pagamento do eoupon<br />

<strong>de</strong> julho; o que faz suppôr que esta ope<br />

ração é d.is taes em que o thesouro publico<br />

é fortemente <strong>de</strong>sfalcado.<br />

Diz-se que o que serviu <strong>de</strong> caução<br />

foi o papel dos tabacos, que lem sido<br />

nma mina inexgotavel I<br />

EM SURDINA<br />

Dizem que o povo está pobre,<br />

que a nação está empenhada,<br />

mas sempre apparece cobre,<br />

se o rei, mail-a gente nobre,<br />

quer fazer a patuscada I<br />

Agora, no Entroncamento,<br />

quando o rei foi p'r'as manobras<br />

houve jantar d'espavento<br />

<strong>de</strong>vorando, num momento,<br />

o que julgavam <strong>de</strong> sobras.<br />

O nosso povo é feliz,<br />

isto não digo por troça,<br />

pois tem a mãe em Paris<br />

e o lilho cá no paiz<br />

a gastar-lhe a bagalhoçal<br />

... tão amavel, tão gentil<br />

é o Zé... que, tendo fome,<br />

<strong>de</strong>ita a fugir — p'ro Brazil I<br />

PINTÀ-ROXA.<br />

Contra as medidas<br />

<strong>de</strong> fazenda<br />

Nos paços do concelho <strong>de</strong> Ferreira<br />

louve uma importante reunião, a que<br />

concorreram os homens mais importan-<br />

tes <strong>de</strong> quasi toda a comarca, a fim <strong>de</strong><br />

irotestarem contra as propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />

Recebemos o n.° 9 d'esle bem redigido<br />

semanário republicano, orgáo da<br />

aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Braga.<br />

Como o seu titulo indica é a juventu<strong>de</strong>,<br />

a mocida<strong>de</strong> das escolas, <strong>de</strong> quem<br />

tanto ha a esperar, que, com o seu coração<br />

generoso, vem em <strong>de</strong>feza das<br />

idêas republicanas, verberando a nionarchia<br />

que, <strong>de</strong> ha tres séculos, transformou,<br />

pela fogueira e pelo confessionário,<br />

um povo energico e audaz num<br />

povo <strong>de</strong> pediutes, sem acção própria e<br />

sem energia.<br />

É das almas novas, sem macula ainda,<br />

cheias <strong>de</strong> aspirações nobres e <strong>de</strong>sinteressadas,<br />

que o paiz espera a sua<br />

regeneração.<br />

A'vante, pois, e longa vida.<br />

JL5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Eduardo Abreu<br />

Esteve nesta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> visita ao<br />

seu antigo mestre e amigo, o sr. dr.<br />

Costa Simões, respeitável reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

o distincto parlamentar e<br />

nosso correligionário, sr. dr. Eduardo<br />

Abreu, que tantas sympathias goza em<br />

<strong>Coimbra</strong>.<br />

S. ex. a retirou ante-hontem para<br />

Lisboa.<br />

Tavares Coutinho<br />

Tem estado nesta cida<strong>de</strong> este nosso<br />

<strong>de</strong>dicado correligionário e um dos valentes<br />

revolucionários do Porto. Veio do<br />

exílio e dinge-se áquella cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

vae fixar resi<strong>de</strong>ncia.<br />

Muitas felicida<strong>de</strong>s.<br />

JUagalliãe» lama<br />

Esteve em <strong>Coimbra</strong>, o antigo e energico<br />

redactor do Século, que veiu visitar<br />

seu cunhado o sr. dr. Julio Heuriques,<br />

digno director do Jardim Botânico.<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> S. Tliomaz d'Aquino<br />

D. Maria Pia em Marselha<br />

Dizem as Novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 12, na secção<br />

—Casos do dia—que a sr. a D. Maria Pia e<br />

seu filho o sr. D. Affonso estão em Paris<br />

e que na sua passagem por Marselha lhe<br />

foram offerecidas muitas flores pela colonia<br />

potugueza.<br />

Que se divirta a sr. a Sob a presi<strong>de</strong>ncia do sr. Bispo Con<strong>de</strong><br />

A discussão correu energica e ani- e assistência do Arcebispo <strong>de</strong> Côa, sr.<br />

mada.<br />

André Valente, celebrou-se uo domingo,<br />

* Esteve em Lisboa o sr. João Pin- num salão do seminário, a sessão aunual<br />

to, do Porto, que foi entregar ao sr. mi- d esta aca<strong>de</strong>mia.<br />

nistro da fazenda uma representação da<br />

Associação Industrial Portuense dos Lo-<br />

Abriu a sessão o sr. Bispo, referindo-se<br />

as relações entre a egreja e o esjistas<br />

<strong>de</strong> Calçado contra as medidas fazendarias<br />

d'aquelle ministro.<br />

lado e a qu«slao social, repelindo consi<strong>de</strong>rações<br />

ja leitas numa sessão anterior.<br />

* No ministério da fazenda, uma Discursou o sr. Siuibaldi, continuando,<br />

commissão da Associação dos Lojistas como auteriormente, a combater as dou-<br />

D. Maria Pia e<br />

<strong>de</strong> Lisboa, apresentou as suas reclamações<br />

contra a proposta <strong>de</strong> lei sobre a<br />

contribuição industrial.<br />

trinas positivistas. O discurso d este dr.<br />

lhomista íoi, em grau<strong>de</strong> parte, a reedição<br />

d'um outro que alli ja lhe ouvimos ; atlir-<br />

o sr. duque do Porto mas que não A conferencia com o sr. Fuschini foi mações que, nos pontos principaes, nao<br />

tragam nas suas mallas, ou nas da sua muito longa e animada.<br />

cousegue provar, nao <strong>de</strong>struindo, portanto,<br />

comitiva, o microbio da cholera que<br />

grassa em França.<br />

Que não sejam perniciosos sempre!<br />

* Os directores e representante» o systema positivista, que é ja hoje o<br />

das companhias fabris e industriar* lis- que se impõe, o que bem se <strong>de</strong>monstra<br />

bonenses nomearam o sr. Zophimo Cuu- pelo trabalho que s. ex.<br />

siglieri Pedroso para se enten<strong>de</strong>r com o<br />

A cholera<br />

sr. ministro da fazenda sobre as propostas<br />

relativas á contribuição industrial.<br />

Os jornaes do todas as feições poli-<br />

Arroyo, o feroz<br />

ticas lêem annunciado o apparecimento<br />

da cholera-morbus em França, e todos Crescem-lhe os ímpetos contra os re-<br />

os dias o telegrapho registra os casos que publicanos e ha dias, no parlamento,<br />

diariamente se vão dando.<br />

esle <strong>de</strong>sgraçado conselheiro d'estado ho-<br />

Os últimos lelegrammas <strong>de</strong> Marselha norário, prometteu aos amigos que se ha<br />

accusam diversos casos e os <strong>de</strong> diver- <strong>de</strong> oppôr, com a energia do seu pulso e<br />

sos outros pontos confirmam a existen- do seu braço, á onda crescente qua precia<br />

<strong>de</strong> Ião lerrivel mal naquelle paiz; ten<strong>de</strong> durruhar as instituições.<br />

cumpre pois ao governo adoptar as me- Pelos modos o homem vae quebrar<br />

didas mais energicas que a sciencia mais carteiras e julga assim melter medo<br />

aconselha, fazendo-as observar com ri- ao papão republicano, que em lempos<br />

gor e que essas medidas sejam geraes, idos foi o seu Ídolo.<br />

absolutamente, por mais graduada que<br />

Que bem vos <strong>de</strong>veis lembrar <strong>de</strong> ou-<br />

seja a gerarchia <strong>de</strong> qualquer, a fim <strong>de</strong><br />

vir do Arroyo palavras rubras <strong>de</strong> con-<br />

evitar a importação d'aquelle flagello.<br />

<strong>de</strong>mnação contra jesuítas e reis; e da<br />

Para nos flagellar bem basta o sr. scena em Madrid, por occasião do cen-<br />

Fuschini com as suas propostas <strong>de</strong> fazentenário <strong>de</strong> Cal<strong>de</strong>ron, recusaudo-se a<br />

da e a miséria que vae por esse paiz cumprimentar o rei <strong>de</strong> Hespanha.<br />

fóra.<br />

Mas a ninguém assustam as palavras<br />

do irrevogável Arroyo ; elle é hoje um<br />

conservador convicto, como amanha sera<br />

Occorreram vários casos d'enfermida- um republicano siucero, se em antes o<br />

<strong>de</strong> suspeita em Narbonne, fallecendo dois não expropriarem por utilida<strong>de</strong> da na-<br />

dos atacados.<br />

ção. ..<br />

Em Bezières houve uma morte, oiitra<br />

em Carants, outra em Baillargues, O commercio <strong>de</strong> Lisboa<br />

em Cette duas e em Montpellier têem-se<br />

dado vários casos, registando-se em Mar No tribunal do commercio da capital<br />

selha no dia 6, seis obitos.<br />

tem apparecido nesta ultima semana<br />

gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> fallencias <strong>de</strong> impor-<br />

Em 9 entraram no hospital <strong>de</strong> Cette<br />

tantes casas, impotentes para resistirem<br />

mais dois cholericos, havendo vários ca<br />

ao prolongamento d'esta crise medonha<br />

sos em Frontignan.<br />

que ninguém sabe on<strong>de</strong> nos arrastará.<br />

Em Constantinopla foi recebida uma<br />

grave noticia <strong>de</strong> Jeddacb. A cholera ap<br />

E nestas alturas o sr. Fuschini a<br />

parecera em Meca, produzindo logo ses-<br />

exigir d'esta classe um augmento exorsenta<br />

mortes. O governo or<strong>de</strong>nou ener<br />

bitaute nas contribuições, que colloca o<br />

gicas medidas sanitarias.<br />

commerciante'numa situação <strong>de</strong>sgraçada.<br />

Receia-se que o calor e os peregrinos<br />

contribuam para a propagação do A «Alma Nova»<br />

mal, que com tanta intensida<strong>de</strong> se apresentou.<br />

Espera-se também que o gover<br />

no egypcio adopte rigorosas precauções<br />

no canal <strong>de</strong> Suez com respeito ás procedências<br />

da Arabía.<br />

O caso das 270 mil libras<br />

a envida em o<br />

contestar.<br />

Tomando para lhema do seu discurso<br />

--o problema social ea sua sòluçao pelos<br />

princípios religiosos — o sr. Dias<br />

d'Audra<strong>de</strong> apresentou-se como orador <strong>de</strong><br />

talento e <strong>de</strong> orientação.<br />

Em phrase castigada e correcta, embora<br />

num tom um tanto <strong>de</strong>clamatório e<br />

emphalico, que o prejudica, o sr. Andra<strong>de</strong><br />

fallou com brilho e por vezes eloquencia,<br />

con<strong>de</strong>uinado Veheuieuteuiente o individualismo<br />

mo<strong>de</strong>rno, a actual urgauisação<br />

social, tudo eiutim, que faz uo protelai<br />

iadó uma legião enorme <strong>de</strong> escravos,<br />

mo<strong>de</strong>rnos fetlahs Ua miséria. Foi<br />

justo, mormente quando iucrepou o actual<br />

regimen da proprieda<strong>de</strong> como fonte do<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio *ocia|, que faz levantar-se<br />


ASTXO I — M.* 9& O DEFENSOR DO POVO 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

sanitarias a diversos estabelecimentos da<br />

cida<strong>de</strong>, e em algumas tabernas foram encontradas<br />

pipas <strong>de</strong> vinho falsificado, sendo-llie<br />

apprehendidas.<br />

Ha muito que nós clamamos para que<br />

se façam amiudadas vezes estas visitas,<br />

mas nada temos conseguido, vendo se o<br />

publico roubado, sem que a auctorida<strong>de</strong><br />

competente ponha cobro a semelhante<br />

abuso.<br />

E agora que a auctorida<strong>de</strong> surprehen<strong>de</strong>u<br />

alguns commercianles <strong>de</strong> vinhos<br />

na pratica d'um crime, que outra cousa<br />

não é a falsificação dos generos alimen<br />

ticios, que seja rigorosa na applicação<br />

da lei, castigando os criminosos, que,<br />

para atten<strong>de</strong>rem aos seus interesses, não<br />

têm duvida em prejudicar a saú<strong>de</strong> publica.<br />

Se os srs. <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> quizerem<br />

cumprir com os seus <strong>de</strong>veres, relevantes<br />

serviços po<strong>de</strong>m prestar aos habitantes<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que estão sendo infamemente<br />

explorados por commerciantes<br />

falsificadores e egoístas.<br />

E para que o publico os conheça e<br />

esteja precavido, iremos dando nota dos<br />

nomes d'aquelles a quem a auctorida<strong>de</strong><br />

apprehen<strong>de</strong>r generos falsificados.<br />

Ctyninaaio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

A commissão promotora das corridas<br />

<strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s que hão <strong>de</strong> realisar-se na<br />

Figueira da Foz, no dia 24 do corrente<br />

pela occasião dos festejos a S. João,<br />

mandou convidar os velocipedistas d'estn<br />

aggremiação a inscreverem-se nas corridas.<br />

Na secretaria do Gymnasio está aberta<br />

a inscripção, achondo-se já inscriptos<br />

os srs. José <strong>de</strong> Paiva Bobeia Motta e<br />

Antonio Rodrigues d'Oliveira.<br />

O precurso é <strong>de</strong> 30 kilomctros e os<br />

prémios constam <strong>de</strong> quatro medalhas:<br />

ouro, prata e duas <strong>de</strong> cobre.<br />

Bairro <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

Os proprietários e habitantes da rua<br />

<strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, d'aquelle bairro,<br />

dirigiram á camara municipal um requerimento<br />

pedindo para seja também feita<br />

a canali-ação naquella rua, atten<strong>de</strong>ndo<br />

ás péssimas condições <strong>de</strong> salubrida<strong>de</strong> em<br />

que se acha, e visto constar que a camara<br />

tenciona proce<strong>de</strong>r a essa obra na<br />

rua Alexandre Herculano.<br />

A camara, sem duvida, <strong>de</strong>ferirá este<br />

requerimento, e ao novo bairro se irão<br />

fazendo os melhoramentos indispensáveis,<br />

que convi<strong>de</strong>m a que alli se façam novas<br />

edificações.<br />

Oxalá que a camâra se convença<br />

da urgência que ha em promover no<br />

novo bairro as obras precisas, a fim <strong>de</strong><br />

que oíi terrenos obtenham compradores.<br />

Sabemos que o sr. Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo,<br />

intelligente mestre d'obras da<br />

camara, está completando uma nova<br />

planta, ttfpdificaudó-a e allerando-a convenientemente<br />

e que muito breve serão<br />

anuunciados alguns lotes <strong>de</strong> terreno.<br />

Bem <strong>de</strong>sejavamos ter <strong>de</strong> louvar os<br />

aclos da camara, signal evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> que<br />

43 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MERY<br />

A JUDIA É VATIIMI)<br />

« XIII<br />

O prestidigitador da morte<br />

— Oh! prometteu-m'o ella solemnemeute,<br />

respon<strong>de</strong>u o marquez com segurança;<br />

e eu prometti-lhe, por minha<br />

vez, acompanhai a eu mesmo, com qua<br />

tro creados, até á cida<strong>de</strong>. A's onze horas<br />

quer ella reeuirar no palacio Santa-Scala.<br />

E voltando-se para um creado, disse-lhe:<br />

— Pergunte ao mordomo se já está<br />

completa a reparação da ponte do mirante.<br />

—Mandou reparar a sua ponte? interrogou<br />

o cônsul.<br />

— E' verda<strong>de</strong>, cônsul, respon<strong>de</strong>u o<br />

marquez; em &s nossas montanhas ha<br />

selvagens que <strong>de</strong>vastam pelo prazer <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struir...<br />

— São malfeitores d'uma especie<br />

singular, disse Talormi sorrindo.<br />

— Muito singular, insistiu Paulo<br />

lançando a Talormi um olhar que o <strong>de</strong>sconcertou.<br />

— Ha noticias muito mais graves<br />

do que essas, disse o cônsul inglez num<br />

tom mysterioso.<br />

ella vae dando á cida<strong>de</strong> os melhoramentos<br />

mais urgentes e que todos reclamam.<br />

A's auctorida<strong>de</strong>s<br />

Já aqui dissémo«, para bem frisar a<br />

indifferença <strong>de</strong> todos os que superinten<strong>de</strong>m<br />

no serviço hygienico, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ntro<br />

da cida<strong>de</strong>, se consentia a creação <strong>de</strong> gado<br />

suino, com grave prejuízo para a saú<strong>de</strong><br />

dos habitantes on<strong>de</strong> taes posilgas existem.<br />

Agora consta-nos que apezar <strong>de</strong> muitos<br />

proprietários serem avisados para<br />

removerem o gado e <strong>de</strong>struírem os cortelhos<br />

que estão na cerca do Carmo,<br />

alguém tenta, fiado em protecções, não<br />

obe<strong>de</strong>cer ás or<strong>de</strong>ns recebidas, teimando<br />

em conservar alli aquelles animaes.<br />

E a proposito <strong>de</strong>vemos perguntar: — a<br />

auctorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecerá que em Mont'arroyo<br />

existe gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gado<br />

suino ?<br />

Se <strong>de</strong> facto o não sabia d'isso a prevenimos.<br />

Iiegado Luz Soriano<br />

Estão dois logares <strong>de</strong>'pensionistas,<br />

que a Santa Casa da Misericórdia vae<br />

prover em cumprimento do legado do<br />

bemfeitor Simão Jose da Luz Soriano.<br />

Os concorrentes <strong>de</strong>verão apresentar<br />

na secretaria da Santa Casa, os seus<br />

requerimentos, nos quaes se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>clarar<br />

a faculda<strong>de</strong> da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> que já frequentassem,<br />

ou em que preten<strong>de</strong>m, matricular-se<br />

no proximo anno lectivo, juntando<br />

attestados e documentos que provem<br />

a sua capacida<strong>de</strong> e talento, pobreza<br />

e boa conducta moral e civil, apresentando<br />

as certidões <strong>de</strong> todos os exames e<br />

actos que tenham feito, e das distincções,<br />

accessits ou prémios que tiverem obtido.<br />

Os providos têm direito á prestação <strong>de</strong><br />

15$000 réis mensaes, matriculas e livros,<br />

e 100$000 réis concluído que<br />

seja o seu curso, não po<strong>de</strong>ndo mudar<br />

para outro curso, consenvando a pensão.<br />

Ficam lambem obrigados a apresentar<br />

todos os annos, á administração da<br />

Santa Casa antes <strong>de</strong> findar o mez <strong>de</strong><br />

agosto, autheutica do resultado dos actos<br />

ou exames que fizerem e attestações da<br />

sua boa conducta passada pelos professores,<br />

ou auctorida<strong>de</strong>s administrativas.<br />

Cirrumgcripfâo liydrauliea<br />

Affirma-se que o sr. ministro das obras<br />

publicas pensa em dividir o paiz em tres<br />

divisões hydraulicas; a primeira com sé<strong>de</strong><br />

no Porto, abrangendo os rios Douro, Lima,<br />

e Minho; a segunda com sé<strong>de</strong> em<br />

<strong>Coimbra</strong>, coniprehen<strong>de</strong>ndo os rios Vouga<br />

e Mon<strong>de</strong>go e as barras d'Aveiro e Figueira;<br />

a terceira era Lisboa, conteúdo os<br />

o rios Tejo e Sado.<br />

Esta <strong>de</strong>claração fizera o ministro na<br />

commissão d'obras publicas, ao occuparse<br />

d'este assumpto o <strong>de</strong>putado por este<br />

circulo, sr. Alberto Monteiro.<br />

A ser verda<strong>de</strong>iro o facto da projectada<br />

divisão, bom serviço presta o sr. dr.<br />

Bernardino Machado aos proprietários e<br />

— Ah! bem sei o que quer dizer,<br />

cônsul, interrompeu Talormi.<br />

— Mas não o sabemos nós, murmuraram<br />

alguns convivas.<br />

— Muilo bem I continuou o cônsul,<br />

ha uma gran<strong>de</strong> agitação latente na ltalia.<br />

Estamos talvez em vespera <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

acontecimentos políticos<br />

— Meus senhores, exclamou di Negro<br />

esten<strong>de</strong>ndo as mãos para a direita e<br />

para a esquerda, como para extinguir a<br />

conversa que principiava; meus senhores,<br />

estamos aqui para nos divertirmos e não<br />

para nos eutrislecermos. Não nos entreguemos<br />

a coisas seria».<br />

— Bravo, marquez! exclamou Talormi,<br />

tréguas á polilica. Não dê nunca a<br />

esta senhora entrada na sua quinta;<br />

guar<strong>de</strong>mol-a para a cida<strong>de</strong>, que ella não<br />

é senhora do campo. A nobre irmã <strong>de</strong><br />

Santa Scala, que chega, não <strong>de</strong>ve encontrar<br />

esla rival austríaca.<br />

— Ella vem afu ? 1 disseram alguns.<br />

— Eu sei bem porque faliu, continuou<br />

Talormi. Por aquella janella aberta<br />

acabo <strong>de</strong> ver passar madame Van-Rilter<br />

com uma menina <strong>de</strong> quinze a <strong>de</strong>seseis<br />

annos.<br />

— Meus senhores, disse o marquez<br />

di Negro levantando-se, vamos receber<br />

a rainha da graça e da belleza.<br />

Todos os convivas se levantaram,<br />

excepto Paulo Gréant, que se dava ares<br />

<strong>de</strong> e-tar muito preoccupado com uma<br />

talhada <strong>de</strong> annanaz.<br />

— Visto a ponte já estar reparada,<br />

disse o marquez, tomaremos o café<br />

lavradores dos campos do Mon<strong>de</strong>go que<br />

se vêem bastante prejudicados com a<br />

mudança para o Porto da sé<strong>de</strong> d'esta<br />

circumscripção.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

FACULDADE Dii DIREITO<br />

Dia 12<br />

1." anno — Joaquim Festas Picanço<br />

e Joaquim Gonçalves d'Araujo.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2.° anno — Augusto <strong>de</strong> Sousa Maldonado,<br />

Ayres Lobo <strong>de</strong> Sousa Ramos<br />

Arnaud. Benjamim Caudido Vieira Lisboa<br />

e Benjamim Pereira d'Amaral Netlo.<br />

3." anno — Carlos Ferreira Pires e<br />

Delfim Martins Flores.<br />

4." atino — José Pinto Leite e Antonio<br />

Maria Fructuoso da Silva.<br />

5." anno — José Carlos <strong>de</strong> Castro<br />

Corte Real Machado e Antonio Auguslo<br />

d'Almeida Arez.<br />

Dia 13<br />

1.° anno—: José d'Azevedo Fonseca<br />

e Moura, José Carlos Lopes Júnior e José<br />

Joaquim Cardoso.<br />

Houve uma reprovação.<br />

2." anno— Bernardo Vellez <strong>de</strong> Lima,<br />

Carlos Mesquita, Daniel da Silva e Diogo<br />

João Mascarenhas Marreiros Netto.<br />

3." anno—Diogo Alcoforado da<br />

Costa.<br />

Neste anno fallou um alumno ao acto<br />

por doença.<br />

4.° anno — Anlonio Pedro <strong>de</strong> Barros<br />

<strong>de</strong> San<strong>de</strong> e Antonio Pereira da Silva<br />

Figueiredo.<br />

5.° anno — Antonio Dias Sousa da<br />

Co »ta Cabral e Anlonio José Teixeira<br />

d'Abreu.<br />

Dia 14<br />

1anno—José Marreiros Mascarenhas<br />

Serrão, José Sebastião Cardoso <strong>de</strong><br />

Menezes, Luiz Gonçalves Forte c Manoel<br />

Emysdio Furtado Garcia.<br />

2.° anno—Eduardo <strong>de</strong> Moura Borges,<br />

Eduardo da Silva, Emérico d'Alpoim<br />

<strong>de</strong> Cerqueira Borges Cabral e Fausto<br />

Gue<strong>de</strong>s Teixeira.<br />

3.° anno — Eduviges Goulart Prieto<br />

e Eugénio Augusto Dias Colonna.<br />

4.° anno — Antonio Pinto <strong>de</strong> Carvalho<br />

<strong>Coimbra</strong> e Antonio Rodrigues Vianna.<br />

5.° anno — Antonio José Vieira e<br />

Antonio Maria <strong>de</strong> Mattos Cardoso.<br />

FACULDADE DE MEDICINA<br />

Dia 12<br />

1.° anno— Antonio <strong>de</strong> Pádua.<br />

Neste anno faltou um alumno ao acto<br />

por doença.<br />

2 ' anno — Arthur d'Azevedo Leitão<br />

e Francisco Antonio <strong>de</strong> Paula.<br />

3." anno — Antonio Julio Telles <strong>de</strong><br />

Sampaio Itio e Antonio <strong>de</strong> Sousa Vadre.<br />

4 0 anno — Antonio <strong>de</strong> Sousa Neves<br />

e Augusto Machado.<br />

no mirante e Memma tomai-o-á comnosco.<br />

— Exce<strong>de</strong>nte idêa! exclamou Talormi<br />

com ar <strong>de</strong> triumpho.<br />

E inclinando-se para Paulo, disse-lhe:<br />

— Vamos assistir a uma bella surpreza,<br />

não é verda<strong>de</strong>?<br />

— E' <strong>de</strong> esperar, respon<strong>de</strong>u o artista,<br />

pallido como um cadaver.<br />

Todos o» outros conviva» tinham partido<br />

já.<br />

— Já estou antegostando esta <strong>de</strong>liciosa<br />

scena, continuou Talormi com um<br />

sorriso <strong>de</strong> <strong>de</strong>monio. Vae ofiferecer o seu<br />

braço a madame Van-Ritter, bem vivo,<br />

o homem que lhe foi honlem dado por<br />

morto num duello.<br />

— Não lhe offerecerá o seu braço,<br />

disse Paulo levantando-se; leia esta<br />

carta, ella lhe provará que possuo o seu<br />

segredo.<br />

Talormi abriu a carta que Paulo<br />

tinha escripto <strong>de</strong> manhã, e leu.<br />

«Con<strong>de</strong> Talormi, julga-se um homem<br />

hábil e não passa d'um bandido vulgar.<br />

Se duvidar, leia esta até ao fim.<br />

Quando prepara um cobar<strong>de</strong> assassinato,<br />

commette a imprudência <strong>de</strong> operar<br />

<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> testemunhas. Assim é que,<br />

no dia do casamento, havia no mirante<br />

ouvidos que o escutavam e olhos que o<br />

viam.<br />

E estava alli, con<strong>de</strong> Talormi, com o<br />

seu cúmplice Barbone, occupados em<br />

preparar a mais horrível das armadilhas<br />

na ponte do mirante.<br />

Ua uma justiça neste mundo, e ella<br />

Dia 13<br />

1.° anno — Benjamim <strong>de</strong> Sousa Teixeira<br />

e Carlos Alberto Lopes d'Almeida.<br />

Houve exames <strong>de</strong> pratica no 1.°, 2.°<br />

e 3.° anno.<br />

Dia 14<br />

1° anno—Diogo Barata Cortez e<br />

Gualdim Antonio <strong>de</strong> Queiroz e Mello.<br />

Houve exames <strong>de</strong> pratica no 2.° e 3.°<br />

annos.<br />

FACDLDADE DE PHILOSOPMA<br />

Esta faculda<strong>de</strong> reunida em congregação<br />

constituiu assim os jurys dos aclos.<br />

1.* ca<strong>de</strong>ira.— Drs. Sousa Gomes e<br />

Bernardo Ayres (fixos) e drs. Viegas e<br />

Teixeira Bastos (alternados).<br />

2. a ca<strong>de</strong>ira. — I<strong>de</strong>m.<br />

3. a ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Viegas e Teixeira<br />

Bastos (fixos) e drs. Sousa Gomes<br />

e Bernardo Ayres (alternados).<br />

4. a ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Paulino, Julio<br />

Henriques e Gonçalves Guimarães.<br />

5. a ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Viegas, Teixeira<br />

Bastos (fixos) e drs. Sousa Gomes e Bernardo<br />

Ayres (alternados).<br />

6.* ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Paulino, Julio<br />

Henriques e Gonçalves Guimarães.<br />

7. a ca<strong>de</strong>ira — I<strong>de</strong>m.<br />

5." anno. — Presi<strong>de</strong>nte variavel, drs.<br />

Julio Henriques, Gonçalves Guimarães e<br />

Bernardo Ayres.<br />

As amostrais nos estabelecimentos<br />

Continúa a policia, por exigencia da<br />

camara, a multar o sr. Antonio Augusto<br />

<strong>de</strong> Sá, por supposta transgressão <strong>de</strong> posturas<br />

municipaes.<br />

Já aqui dissémos e <strong>de</strong>monstrámos<br />

que a lei não prohibe ao commercio a<br />

exposição <strong>de</strong> amostras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estas<br />

não impeçam o transito; e as amoslras<br />

que á poita tem este commerciante estão<br />

em idênticas condições com as do commercio<br />

em geral, com a differença única<br />

<strong>de</strong> que nos andares superiores faz também<br />

exposição <strong>de</strong> fazendas.<br />

Ora as posturas não prohibera ao<br />

commercio a exposição d'amostras nas<br />

janellas, e num certificado que aqui temos<br />

passado pela secretaria da camara, requerido<br />

pelo sr. Antonio <strong>de</strong> Sá, que<br />

pe<strong>de</strong> se lhe indique qual o artigo que<br />

não permitte se colloquem amostras na s<br />

janellas não se vê qualquer, indicação<br />

prohibitiva que dê logar a perseguição<br />

acintosa que se está fazendo a esle commerciante.<br />

O sr. Sá parece-nos que vae apresentar<br />

esta questão nos tribunaes a fim<br />

<strong>de</strong> se eximir ao pagamento das multas<br />

que individamente lhe foram impostas.<br />

Festivida<strong>de</strong><br />

O Santo Antonio, que está no seu<br />

nicho, ao Paço do Con<strong>de</strong>, terá festa<br />

estrondosa no sabbado e domingo. Haverá<br />

illuminação, fogo, balão e musica<br />

na noite <strong>de</strong> sabbado; c missa, musica<br />

das 6 da tar<strong>de</strong> ás 9 da noile, e arrematação<br />

<strong>de</strong> fogaças, no domingo.<br />

escutará sempre a voz honesta que lhe<br />

<strong>de</strong>nunciar um tal crime; esta voz ha<br />

<strong>de</strong> ser a minha — muda ou retumbante,<br />

como quizer.<br />

Paulo Gréant.»<br />

Este golpe era fulminante, mesmo<br />

para o homem mais forte e melhor preparado<br />

para as terríveis eventualida<strong>de</strong>s<br />

d'uma vida tempestuosa. Talormi tinha<br />

lido a carta e conservava-a ainda aberta<br />

<strong>de</strong>baixo dos olhos á procura d'um<br />

expediente propicio. Paulo Gréant, <strong>de</strong><br />

braços crusados e <strong>de</strong> pé <strong>de</strong>ante d'elle,<br />

olhava-o com um olhar fixo, que promettia<br />

um escandalo prestes e uma <strong>de</strong>lação<br />

publica.<br />

Uma voz alegre se fez ouvir, e o<br />

marquez di Negro entrou prece<strong>de</strong>ndo<br />

d'uma gargalhada o que vinha communicar.<br />

—Venham, meus senhores, disse elle<br />

tomando Talormi pelo braço; que diabo<br />

fazem aqui?<br />

O cônsul acaba <strong>de</strong> fazer uma aposta<br />

com madame Van-Ritter, aposta previamente<br />

ganha: os inglezes não apostam<br />

d'outro modo. Imaginem que a proposito<br />

<strong>de</strong> politica o cônsul pronunciou o nome<br />

<strong>de</strong> Talormi.<br />

Memma não quer acreditar que o<br />

con<strong>de</strong> Tolormi esteja em minha casa;<br />

sustenta que é impossicel. O cônsul<br />

apostou doze vasos <strong>de</strong> heliotropios <strong>de</strong><br />

Voltaire. Venham, vamos rir do <strong>de</strong>speito<br />

<strong>de</strong> Memma.<br />

—Meu caro di Negro, disse Talormi<br />

Desastres<br />

No domingo o carro que guiava o sr.<br />

Joaquim Albino Gabriel e Mello, ao <strong>de</strong>scer<br />

a la<strong>de</strong>ira do Seminário para a estrada<br />

da Beira, resvalou caindo o cavalio<br />

que o pucluva.<br />

Felizmente não houve <strong>de</strong>sgraças pessoaes;<br />

apenas se quebraram os arreios,<br />

socegando do susto c do trambulhão os<br />

que vinham <strong>de</strong>ntro do carro.<br />

# Na terça feira brincavam uns rapazes<br />

no largo do Romal, on<strong>de</strong> estava<br />

um carro sera os bois atrelados, o que<br />

lhes permittia dar-lhes movimento. Succe<strong>de</strong><br />

que as-rodas colheram um dos rapazes<br />

fraclurando-lhe a perna. Foi levado<br />

ao hospital.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

Tem eslado doente o nosso amigo sr.<br />

Francisco dos Santos Almeida, intelligente<br />

guarda-livros da camara municipal d'esta<br />

cida<strong>de</strong>. Desejamos as suas melhoras."<br />

DECLARAÇÃO<br />

Sr. redactor do Defensor do Povo —<br />

Rogo a v. ex. a o especial favor <strong>de</strong> fazer<br />

publicar no seu muilo lido e conceituado<br />

jornal a seguinte <strong>de</strong>claração:<br />

Constando me que o meu cobar<strong>de</strong><br />

aggressor, Joaquim Henriques Marques,<br />

e sua mulher, teem propalado que eu<br />

recebera d'elles uma certa quantia e, ainda<br />

que me estavam soccorrendo e a minha<br />

iamilia, venho <strong>de</strong>clarar que é completamente<br />

falso o eu ter d'elles recebido<br />

quantia aiguma, nem mesmo qualquer<br />

insignificante esmola. E' certo ler sido<br />

traiçoeira e propositadamente aggredido<br />

por elle, mas resta-me a dignida<strong>de</strong>, e essa<br />

prohibe-me que eu trausija com quem<br />

tão violentamente-me aggrediu.<br />

Sou pobre, mesmo pobríssimo, mas<br />

não me <strong>de</strong>ixaria corromper, praticando<br />

acções menos dignas. Isto aqui <strong>de</strong>claro<br />

para os <strong>de</strong>vidos elleitos.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

José Maria <strong>de</strong> Azevedo.<br />

a —<br />

AGRADECIMENTO<br />

Alexandre Horta e Zacharias <strong>de</strong> Sousa,<br />

vem por esta lorma tornar publico o seu<br />

elerno agra<strong>de</strong>cimento a todos os cavalheiros<br />

e corporações que se dignaram<br />

assistir ás missas <strong>de</strong> Requten que se<br />

celebraram na egreja <strong>de</strong> S. Pedro, no dia<br />

10 do corrente, por alma da ex. ma sr. a D.<br />

Aurélia Rosa Martins Sequeira da Fonseca,<br />

virtuosa esposa, do ex. m0 sr. dr. Augusto<br />

d'Arzilla Fonseca, lente <strong>de</strong> Mathematica<br />

e capitao do exercito.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

Alexandre Horta<br />

Zacharias <strong>de</strong> Sousa.<br />

<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>ndo-se do braço do marquez,<br />

quero fazer per<strong>de</strong>r a aposta cotisul ;<br />

não gosto dos inglezes. A<strong>de</strong>us; salo-me<br />

pela escada particular.<br />

— Muito bem, con<strong>de</strong> Talormi, disse<br />

Paulo, alu esta uma galanteria franceza<br />

e uma excellente inspiraçao. Deixe ganhar<br />

a aposta a madame Van-Ritter.<br />

— Já não lia lempo 1 disse o marquez<br />

di Negro. Eil-os que chegam!<br />

Ouviu-se uma voz doce e lirme que<br />

dizia:<br />

— Senhor cônsul, ê por pura complacência<br />

que o acompanho nesta investigação.<br />

Aposto ainda iodas as flores <strong>de</strong><br />

Génova.<br />

— E per<strong>de</strong>, minha senhora, disse o<br />

cônsul mostrando Taiormi que procurava<br />

fugir sem ser visto.<br />

Memma soltou um grito lugubre,<br />

junctou as mãos, olhou para o ceu e<br />

iuctando com energia conlra a súbita<br />

fraqueza, sorriu como louca e disse<br />

nuiua voz estri<strong>de</strong>nte:<br />

— Está bem! está bem, senhor! perdi!<br />

Talormi e Paulo tinham parado no<br />

limiar da porta da sala; o marquez di<br />

Negro e alguus outros indivíduos, testemunhas<br />

d esta scena, olhavam para<br />

Memma e olhavam-se em seguida numa<br />

altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> profunda estupefacção.<br />

I mpresso<br />

na Tyjjoyrajdiia<br />

Operaria — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

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permanentes.<br />

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<strong>Coimbra</strong> convida todos os<br />

cidadãos inscriptos no rol da contribuição<br />

<strong>de</strong> serviço d'este concelho, relativo<br />

ao corrente anno, a que venham <strong>de</strong>clarar<br />

na secretaria da municipalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> 15, dias a contar da data do presente<br />

edital, se querem pagar em serviço<br />

ou remir a dinheiro suas collectas,<br />

na conformida<strong>de</strong> do disposto no paragrapho<br />

2.° do artigo 18. c da lei <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 18M.<br />

<strong>Coimbra</strong>, Secretaria da Municipalida<strong>de</strong>,<br />

10 <strong>de</strong> judho <strong>de</strong> 1893<br />

O vice-presi<strong>de</strong>nte,<br />

Ruben Augusto d'Almeida Araujo Pinto-.<br />

1^6 f CoHtp** 1 * 1 *'" Auxiliar,<br />

« ao Arco do Bispo, t).° 2,<br />

faz leilão <strong>de</strong> todos os penhores que estejam<br />

em divida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tres mezes<br />

<strong>de</strong> juros, no dia 18 do corrente mez.<br />

O leilão começa ás 11 horas da manhã<br />

e fecha ás 4 da tar<strong>de</strong>, constando<br />

<strong>de</strong> roupas, fazendas <strong>de</strong> lã, ouro e prata<br />

moveis, muitos livros «e outros objectos.<br />

Ficam por este meio prevenidos todos<br />

os mutuários que tenham valores<br />

nesta casa.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

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João-Augusto S. Favas.<br />

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e bem assim communicação telephonica<br />

com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />

do sr. José Tavares da Costa,<br />

successor, no largo do Príncipe D. Carlos,<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />

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O DEFENSOR DO PúVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.»<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATORA<br />

Com estampilha<br />

Anno 20700<br />

Semestre.... 10350<br />

Trimestre... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2*5400<br />

Semestre.... 21£00<br />

Trimestre... 600


0 orçamento<br />

Depois <strong>de</strong> bastantes annos <strong>de</strong><br />

abstenção, da parte do nosso parlamento,<br />

<strong>de</strong> se seguir o preceito<br />

constitucional da discussão do orçamento,<br />

quizeram as camaras<br />

actuaes quebrar essa tradição prejudicial<br />

e discutir á face do paiz o<br />

orçamento do Eslado.<br />

Parecia, assim, que o empenlio<br />

do governo, e não menos o do parlamento,<br />

era entrar numa nova era<br />

<strong>de</strong> reflexão e <strong>de</strong> prudência, com o<br />

fito sempre numa analyse judiciosa<br />

das receitas do estado, lendo em<br />

mira constantemente o equilíbrio<br />

orçamental; e que para isto envidariam<br />

o melhor dos seus esforços,<br />

absorveriam a sua attenção inteira,<br />

o seu cuidado constante, 110 trabalho<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>strinçarem, no mare mcignum<br />

orçamental, as multíplices verbas<br />

injustificadas, que estão onerando<br />

extraordinariamente o nosso<br />

orçamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas; e que levantariam,<br />

<strong>de</strong>pois d'um critério seguramente<br />

baseado num exame <strong>de</strong>tido<br />

e consciencioso dos recursos<br />

do paiz, os muitos talheres escandalosamente<br />

postos á meza do orçamento,<br />

sacudindo d'esle modo o<br />

bando <strong>de</strong> parasitas, que, á semelhança<br />

dos zangãos das colmeias,<br />

só sabem sugar o mel sem nada<br />

produzirem.<br />

Parece que <strong>de</strong>via ser este o fim<br />

do parlamento ao propôr-se discutir<br />

o orçamento, e que para isso<br />

<strong>de</strong>veria empregar todos os meios<br />

alimentes á sua consecução. Mas,<br />

o que vemos nós? Tal qual como<br />

quando se limitavam a approvar,<br />

<strong>de</strong>pois d'um simulacro <strong>de</strong> discussão,<br />

as leis <strong>de</strong> meios, vemos agora<br />

do mesmo modo o sr. Carrilho, o<br />

indispensável Carrilho <strong>de</strong> lodos os<br />

ministérios, o mais celebre <strong>de</strong> todos<br />

os embrulhadores <strong>de</strong> algarismos,<br />

prompto sempre a <strong>de</strong>monstrar que<br />

o mais positivo saldo se <strong>de</strong>duz das<br />

conlas geraes do Eslado, e que isto<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficit, em o nosso orçamento,<br />

não passa <strong>de</strong> mera phanlasmagoria!.<br />

.. Esle tour <strong>de</strong> force <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração<br />

já o emerito conselheiro<br />

tem feito; e, se não o fizer agora,<br />

será por <strong>de</strong> todo achar imprópria a<br />

occasião para taes acrobatismos financeiros.<br />

Pois o illustre orçamenlologo<br />

lá continua ua sua funcção <strong>de</strong> relator<br />

encartado, orgão já imprescindível<br />

em o nosso organismo financeiro,<br />

a baralhar e barafustar, em<br />

explicações que têm o raro mérito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar tudo na mesma. E é tão<br />

conscienciosa a tal discussão, que<br />

o orçamento vae sendo votado <strong>de</strong><br />

afogadilho na generalida<strong>de</strong> e na<br />

especialida<strong>de</strong>; tudo <strong>de</strong> corrida. ..<br />

Bom éassim, que nestes tempos<br />

<strong>de</strong> pouco vale cada um cançar-se,<br />

nem mesmo no <strong>de</strong>sempenho dos<br />

seus <strong>de</strong>veres—é esla, infelizmente,<br />

a fórmula corrente; e os srs. <strong>de</strong>putados<br />

dizem <strong>de</strong> si para si, que é<br />

escusado ninguém metter-se a endireitar<br />

o mundo.<br />

E d'este modo, na corrente <strong>de</strong>stes<br />

aphorismos, que já vão fazendo<br />

parte da sabedoria das nações, cada<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

um vae <strong>de</strong>sculpando a sua inôúria,<br />

ou a sua inépcia; Os negocios públicos<br />

continuarão como alé aqui;<br />

o orçamento não será discutido; ós<br />

escalrachos continuarão a vegetar<br />

nas sarças orçamenlaes; o vampirismo<br />

lornar-se-ha normal; o paiz,<br />

muito <strong>de</strong>scançado e tranquillo, não<br />

<strong>de</strong>ixa,á <strong>de</strong> pagar bealificamenle,<br />

todos os <strong>de</strong>sperdícios e todas as<br />

roubalheiras... e tudo continuará<br />

nesta sanla pan<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> lazzaroni<br />

para quem não ha o dia d amanhã!<br />

Povo feliz, o nosso...<br />

• «<br />

As economias<br />

Esta gente do ministério anda a<br />

brincar com os cofres públicos, apezar<br />

<strong>de</strong> confessarem que tudo está limpinho<br />

e secco.<br />

No orçamento do ministério da marinha<br />

introduzitt-se mais uma verba para<br />

pagamento <strong>de</strong> gratificações da patente<br />

aos diversos ofliciaes da armada que<br />

tenham exercício <strong>de</strong> conimissões no ministério.<br />

E é nesta febre <strong>de</strong> augmento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas<br />

em que dão as apregoadas economias!<br />

Mas lemos mais:<br />

• A generaes <strong>de</strong> brigada vão ser providos<br />

na primeira or<strong>de</strong>m do exercito os<br />

«rs. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Januario e Il<strong>de</strong>fonso<br />

<strong>de</strong> Azevedo, do estado maior;. Lobo<br />

Sepulveda, <strong>de</strong> artilheria; Antonio Campos,<br />

<strong>de</strong> cavallaria; Costa Ribeiro e Costa<br />

Pimentel, <strong>de</strong> infanteria.<br />

Das promoções nascem as reformas<br />

e o paiz lica a braços com mais estes<br />

inválidos. Bem se diz que o exercito<br />

portuguez é composto <strong>de</strong> espadas e<br />

bandas.<br />

E o sr. ministro da guerra a arranjar<br />

o escadorio para subir <strong>de</strong>pressa — maganão<br />

!<br />

E mais:<br />

O orçamento do ministério das obras<br />

publicas accusa um augmento na <strong>de</strong>spesa<br />

ordinaria <strong>de</strong> 95:254/000 e na<br />

extraordinaria <strong>de</strong> 50:000/000 <strong>de</strong> réis;<br />

Diminuindo-se no capitulo <strong>de</strong> estradas<br />

59:852/000 réis.<br />

Lembra aquelle dito: arroz para a<br />

musica, bacalhau para o pregador.<br />

Liberda<strong>de</strong> religiosa<br />

Vae ser dirigida uma representação<br />

á camara dos <strong>de</strong>putados, assignada por<br />

pessoas liberaes e conscienciosas, sem<br />

resliicção do parlido religioso ou politico,<br />

pedindo a abolição dos artigos 130 e<br />

135 do Codigo Penal. E' justo que se<br />

retirem da nos-a legislação taes artigos,<br />

proprios das antigas epochas tenebrosas<br />

e atterrorisadoras, e <strong>de</strong> que os proprios<br />

marroquinos e j iponezeg actualmente se<br />

ririam, se tivessem conhecimento d'eiles;<br />

porque na verda<strong>de</strong> em Marrocos, no<br />

Japào e outros paizes ha liberda<strong>de</strong> religiosa,<br />

e Portugal, embora não siga por<br />

emquanto na sua plenitu<strong>de</strong> os altos princípios<br />

<strong>de</strong>mocráticos, não <strong>de</strong>ve entretanto<br />

ficar inferior as nações inferiores. E<br />

agora que para rever o codigo penal foi<br />

nomeada uma commissão, aon<strong>de</strong>, segundo<br />

consta, ha indivíduos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

illustração e <strong>de</strong> reconhecidos "sentimen<br />

tos liberaes não <strong>de</strong>vem esses artigos<br />

<strong>de</strong>smerecer uma especial attenção da<br />

parte dos commissionados.<br />

Ainda ha pouco tempo no parlamento<br />

austríaco foi apresentada pelo ministro<br />

respectivo uma proposta sobrte liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cultos, que loi recebida com vivos e<br />

geraes applausos. Noutros paizes catholicoi<br />

apezar da viva opposição ultramontana<br />

ha muito que imperam os princípios<br />

sobre liberda<strong>de</strong> religiosa.<br />

Não é justo então que nos vamos<br />

também emancipando pouco a pouco do<br />

jesuitismo, do ultramontanismo, <strong>de</strong> todas<br />

as aves negras, que querem voltar aos<br />

conventos, á santíssima inquisição e suas<br />

purificadoras e queridas fogueiras?!...<br />

0 abastecimento d'agua<br />

Ainda temos bem presente o conciso<br />

artigo local, que em 22 <strong>de</strong> novembro<br />

do anno passado publicou o nosso<br />

collega a Correspondência <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

quando a administração da camara estava<br />

nas mãos do sr. dr. Costa Allemão.<br />

B"oflf artfrfff na verda<strong>de</strong>'; bem eScripto,<br />

bem pensado, tfarrando a historia<br />

do abastecimento das aguas que era instantemente<br />

pedido em nome da hygiene,<br />

e mostrando que agora que a canalisação<br />

estava feita e a agua corria por<br />

<strong>de</strong>baixo do solo, as classes menos abastadas<br />

continuavam sem ter agua enf<br />

abundancia para seu uso, para banhos<br />

e para a lavagem das suas casas, em<br />

geral pouco bygienicas.<br />

E neste tom, por ahi fóra, o nosso<br />

collega fazia ver, com justa razão, que<br />

a agua impura é o mais perigoso vehicuto<br />

<strong>de</strong> germens epi<strong>de</strong>micos; e que a agua<br />

pura é consi<strong>de</strong>rada como o primeiro<br />

agente para a boa hygiene, pori sso que<br />

conserva a limpeza e é um <strong>de</strong>sinfectante<br />

barato.<br />

E tinha razão a Correspondência <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, e ainda a tem hoje, apezar <strong>de</strong><br />

que a não vêmos insistir neste importante<br />

assumpto, o principal para a boa<br />

hygiene d'uma cida<strong>de</strong> como <strong>Coimbra</strong>,<br />

que até se consi<strong>de</strong>ra a terceira do reino 1<br />

Des<strong>de</strong> a saida do sr. dr. Costa Allemão<br />

as condições em que nos achamos<br />

são as mesmas, as necessida<strong>de</strong>s eguaes,<br />

e agora que a cholera, lá longe, parece<br />

recru<strong>de</strong>scer com violência, mais urgente<br />

se torna que o collega, nós todo*—que<br />

temos por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses<br />

públicos e zelar pela saú<strong>de</strong> e hygiene dos<br />

nossos conterrâneos—unamos os nossos<br />

brados, pedindo á camara que tenha em<br />

consi<strong>de</strong>ração este pon<strong>de</strong>roso assumpto,<br />

dando immediatas provi<strong>de</strong>ncias.<br />

E <strong>de</strong> braço dado com o collega, nesta<br />

questão, pois que ella constitue um melhoramento<br />

indispensável feito á população<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, para aqui transcrevemos,<br />

com respeitoso cumprimento, os<br />

consi<strong>de</strong>randos que fizeram parte do magnifico<br />

artigo a que nos vimos referindo:<br />

«—Está ou não provado que a agua<br />

é um dos primeiros elementos <strong>de</strong> uso<br />

commum e ordinário, para todos os misteres<br />

da vida ; para beber, para todas<br />

as necessida<strong>de</strong>s domesticas e culinares,<br />

para banhos, para lavagem?<br />

«Está provado por unanimida<strong>de</strong>...<br />

«—Está ou não provado que a agua<br />

é um dos primeiros agenies da boa hygiene<br />

para combater por meio da limpeza qualquer<br />

principio morbido na presença <strong>de</strong><br />

uma epi<strong>de</strong>mia ?<br />

«Está provado; cremos que também<br />

por unanimida<strong>de</strong><br />

«— Está ou não provado que a agua<br />

se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar, <strong>de</strong>baixo d'este ponto<br />

<strong>de</strong> vista, como o primeiro, e até por<br />

ventura, o maior <strong>de</strong>sinfectante barato que<br />

temos facilmente ao nosso alcance ?<br />

«Está provado do mesmo modo.<br />

«—Está ou não provado que, lendo<br />

nós hoje este gran<strong>de</strong> agente da hygieue<br />

ao nos-o alcance, facilmente po<strong>de</strong>mos e<br />

<strong>de</strong>vemos leval-o a todos, os pontos da<br />

cida<strong>de</strong> ?<br />

«Está provado egualmente.<br />

«— Está ou não provado finalmente<br />

que a agua é absolutamente necessaria a<br />

todos, ricos e pobres; mas que a estes<br />

muito mais pelas razões que a todos são<br />

obvias ?<br />

«Está lambem provado, bem provado<br />

á evi<strong>de</strong>ncia.<br />

«Em vista, pois, <strong>de</strong> (anta prova provada,<br />

que ninguém contesta, nem pô<strong>de</strong>,<br />

resla-nos pedir á nova camara que dè a<br />

sua sentença isto é, que nos dê agua<br />

com fartura, em abundancia, por toda a<br />

parte, por qualquer modo que seja, e<br />

para todos: por meio <strong>de</strong> marcos fontenarios,<br />

ou não fontenarios, chafarizes,<br />

fontes, ou como melhor queiram<br />

chamar-lhe.»<br />

São, pois, estes consi<strong>de</strong>randos, que<br />

fazemos nossos, que nós oITerecemos á<br />

consi<strong>de</strong>ração dos actuaes vereadores,<br />

<strong>de</strong> modo que cm breve possam dar o<br />

ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />

do Povo<br />

seu veredictum e conce<strong>de</strong>r aos habitantes<br />

d'esta cida<strong>de</strong> tão importante melhoramento.<br />

E esperamos também que aquelle<br />

nosso collega empenhe, a sua importancia<br />

e valimento — que o tem — junto da<br />

camara, conseguindo que estas faltas que<br />

foram notadas na gerência do sr. dr.<br />

Costa Allemão, e que ainda se conservam<br />

na camara a quê presi<strong>de</strong> o sr. dr. João<br />

Maria Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos, obtenham<br />

em muito brévé tempo reparação.<br />

Cate aqui chamar a attenção dos<br />

vereadores para o populoso bairro d'Arregaça,<br />

on<strong>de</strong> os seus moradores luclam<br />

com gran<strong>de</strong>s difficulda<strong>de</strong>s para obter a<br />

agua necessaria para o uso domestico.<br />

Não sabemos a razão porque um bairro<br />

tão populoso não mereceu da camara<br />

passadaespecial attenção, e para aquelle<br />

sitio se não canalisou a agua, conce<strong>de</strong>ndo<br />

assim aquelles munícipes as regalias<br />

<strong>de</strong> que gosa toda a cida<strong>de</strong> que tem o<br />

rio a dois passos da sua habitação.<br />

Porque nós consi<strong>de</strong>ramos os habitantes<br />

d'Arregaça com egual direito a usufruir<br />

dos melhoramentos que a cida<strong>de</strong><br />

disfrucla, pela razão <strong>de</strong> que todos pagam<br />

e contribuem com pezado imposto.<br />

Como se po<strong>de</strong> suppôr é cara e trabalhosa<br />

a acquisiçâo d agua para aquelle<br />

ponto, distante como lhe fica o rio Mon<strong>de</strong>go,<br />

porisso da única fonte que ha e lhe lica<br />

próxima — a do Castanheiro — corre um<br />

tenue fio d'agua que quasi não chega<br />

para beber, sendo preciso gastar muito<br />

lempo para se conseguir encher um<br />

cantaro.<br />

E', como se vê, <strong>de</strong> absoluta necessida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> inteira justiça que a actual<br />

camara repare esta falta, e man<strong>de</strong> canalisar<br />

agua para aquelle bairro, não sacrificando<br />

por mais tempo os habitantes do<br />

bairro d'Arregaça, que se veem excluídos<br />

d' um tão importante elemento <strong>de</strong><br />

vida e <strong>de</strong> hygiene.<br />

290 contos!<br />

Mais um <strong>de</strong>sfalque, como se chama<br />

aos roubos gran<strong>de</strong>s, acaba <strong>de</strong> apparecer<br />

no banco Commercial e Industrial do<br />

Porto.<br />

Segundo noticias do Porto ácerca<br />

d'este importante roubo, diz-se que em<br />

consequência <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> artigos<br />

publicados o anno passado numa folha<br />

d'aquella cida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>legado do ministério<br />

publico, dr. Castro Sola, mandou examinar<br />

por peritos a escripturação do Banco<br />

Commercio e Industria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua inslallaçao.<br />

Examinada a escripturação, os<br />

peritos íoram <strong>de</strong> parecer que havia um<br />

<strong>de</strong>sfalque <strong>de</strong> duzentos e noventa e tantos<br />

contos. O dr. Castro Sola formulou quesitos,<br />

perguntando quaes os indivíduos<br />

responsáveis pelo <strong>de</strong>sfalque.<br />

A resposta dos peritos foi que não<br />

era possivel apurar essa responsabilida<strong>de</strong>,<br />

a qual cabia a todos os directores e conselheiros<br />

fiscaes.<br />

Em face da resposta dos peritos, o<br />

dr. Castro Sola requereu querela contra<br />

todos os directores e membros dos conselhos<br />

fiscaes do banco, tendo o processo<br />

sido presente ao juiz Margarido<br />

Pacheco.<br />

Os accusados eram 18, mas já morreram<br />

ou sahiram do paiz 6.<br />

Como se vê os ladrões augmentam,<br />

sem o que o paiz os veja castigados, e<br />

sem que a Penitenciária os tenha sob a<br />

sua guarda.<br />

Bica justiça a d'estes reinos!<br />

De regresso<br />

E' esperada em Lisboa no dia 22<br />

a sr. a D. Maria Pia e a sua comitiva,<br />

que regressam <strong>de</strong> Paris, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>morada<br />

viagem pela ltalia.<br />

Como sabem os leitores, a rainha<br />

esteve em Marselha e o microbio da<br />

cholera continua <strong>de</strong>vastador. Que não<br />

tenhamos dois prejuízos: ver ar<strong>de</strong>r o<br />

nosso dinheiro, pagando-nos o sacrifício<br />

cio com a internação da cholera em Portugal.<br />

Perigosos viajantes!<br />

Sé Velha<br />

Acabam <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scobertos na capella-mór<br />

da Sé Velha dois túmulos muraes,<br />

cuja existencia era <strong>de</strong>sconhecida :<br />

um com a figura jacente d'um bispo em<br />

vestes <strong>de</strong> pontifical, do lado do evangelho;<br />

o outro, do lado da epistola, encimado<br />

por uma <strong>de</strong>coração golhica, talvez<br />

trabalho mu<strong>de</strong>gar, circumdando um nicho.<br />

Estavam occultos sob os apainelados<br />

<strong>de</strong> talha que revestem as pare<strong>de</strong>s e abobada<br />

da capella.<br />

_ Neste momento não será fácil a <strong>de</strong>terminação<br />

exacta dos prelados a quem<br />

pertencem. Na archeologia conimbricense<br />

é manha velha catfa um aflirmar o que<br />

lhe apraz sobre qualquer texto mais ou<br />

menos illusorio; <strong>de</strong> forma que naquella<br />

uecropole episcopal a confusão é completa<br />

e ninguém se enten<strong>de</strong>.<br />

Não ha inscripções authenticas e as<br />

etiquetas tem sido fix^las ao sabor da<br />

phautasia.<br />

Este sepulchro do lado do evangelho,<br />

ua verda<strong>de</strong> muito notável, será <strong>de</strong> D. Tiburcio,<br />

<strong>de</strong>vendo attribuir-se a D. Bermudo,<br />

por exemplo, o que até aqui tem sido<br />

consi<strong>de</strong>rado como sendo d'aquelle prelado?<br />

Será o <strong>de</strong> D. Egas Fafes, suppondo<br />

o da porta <strong>de</strong> Santa Clara <strong>de</strong> epocha<br />

posterior? *<br />

E on<strong>de</strong> ficará o <strong>de</strong> D. Estevão e outros?..<br />

.<br />

Para ja, seria menos pru<strong>de</strong>nte aventar<br />

opinião, sem que seja <strong>de</strong>monstrável<br />

por argumentos sérios. Mas é <strong>de</strong> crer<br />

que <strong>de</strong>ntro em pouco os dados do problema<br />

possam ser coliocados em condições<br />

que facilitem as investigações e a<br />

solução <strong>de</strong>finitiva.<br />

A obra <strong>de</strong> ^lalha que os escondia<br />

sendo, como é, <strong>de</strong> somenos importancia<br />

relativa, constitue um additamento <strong>de</strong><br />

péssimo gosto pela perturbação com que<br />

aflronla a sobrieda<strong>de</strong> do templo e a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />

dos lavores liligranados do explendido<br />

altar-mór.<br />

A arte nada solfria e, pelo contrario,<br />

haveria tudo a lucrar removeudo aquella<br />

pesadíssima moldura, d'um vegctabilismo<br />

a século XVII, aliás valioso, em outra<br />

qualquer parte.<br />

Merece ser maduramente <strong>de</strong>batido o<br />

alvitre que naturalmente se suggere acerca<br />

da remoção d um tal revesiimeiilo <strong>de</strong>corativo,<br />

que nada justifica, prolixo, insupporlavei,<br />

d um contraste suffocante.<br />

Por fórma alguma aconselharíamos a<br />

sua <strong>de</strong>struição; mas simplesmente reconhecemos<br />

a necessida<strong>de</strong> impreterível <strong>de</strong><br />

fazer <strong>de</strong>sapparecer d'alli aquella sobrecarga<br />

inteiramente ina<strong>de</strong>quada e insensata.<br />

A applicação a dar-lbe seria uma<br />

outra questão.<br />

Assim seria reposta em toda a evi<strong>de</strong>ncia<br />

no pleno elleito do seu esplendor<br />

o <strong>de</strong>licioso aitar, que brilharia, como<br />

um sacrário <strong>de</strong> ouro, sobre o fundo da<br />

côr terna e doce da cilhana.<br />

Apanhado e preso<br />

OA.<br />

Foi preso na estação da Barquinha<br />

quando tentava seguir para Hespanha,<br />

Theodoro da Costa, empregado ua recebedoria<br />

do Cadaval, que lia dias fugira<br />

por ver alcançado o cofre em quantia<br />

superior a um conto <strong>de</strong> réis.<br />

Que ninguém ainda apanhou o ladrão<br />

da junta geral do Porto e o d Evora, que<br />

se abotoaram com centenas <strong>de</strong> contos I<br />

Um achado<br />

Numa proprieda<strong>de</strong> do sr. dr. José<br />

Men<strong>de</strong>s Alçada <strong>de</strong> Paiva, <strong>de</strong>nominada a<br />

Palhota, proximo á Covilhã, foi encontrado<br />

uma importante somma <strong>de</strong> dinheiro<br />

em ouro, em boas libras e moedas <strong>de</strong><br />

cinco mil réis, por um trabalhador que<br />

procedia a excavação em umas obras<br />

que o sr. dr. Alçada trazia naquella proprieda<strong>de</strong>.<br />

O trabalhador que encontrou o dinheiro<br />

dividiu-o pelos companheiros.


A N N O I — N.° O ©<br />

C R Y S T A E S<br />

Orações <strong>de</strong> amor<br />

Creio no que tu crês;<br />

por isso escuto o que essa voz me diz<br />

e te ajoelho assiduamente aos pés.<br />

Creio no teu sorriso;<br />

e sinto-me, se o vejo, — tão feliz,<br />

como junto do sonho que i<strong>de</strong>aliso.<br />

Creio no teu olhar,<br />

é elle que me rasga, glorioso,<br />

as mil portas do céo <strong>de</strong> par em par.<br />

Creio em teu coração;<br />

que, emfim, é como um templo magestoso,<br />

on<strong>de</strong> eu adoro a própria adoração.<br />

ANTONIO FOGAÇA.<br />

LBTTRAS<br />

As rosas e as borboletas<br />

(CONCLUSÃO)<br />

IV<br />

No entanto as borboletas esperavam<br />

ainda que ellas, as bellas fugitivas,<br />

viessem pousar entre as suas azas tremulas<br />

dc amor e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. Mas <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>!<br />

As águias; as andorinhas e as cotovias<br />

cruzavam o espaço e lá em cima, nem<br />

uma rosa, nem uma, surgia no azul!<br />

Como te entristecerias, leitora, se visses<br />

as pobres borboletas quando se convenceram<br />

<strong>de</strong> que as rosas tinham partido<br />

e para sempre. Pendidas nas hastes,<br />

dír-se-hiam mortas. Coitadas 1 Tinham<br />

no coração o <strong>de</strong>sanimo e por toda a<br />

parle a treva, a solidão. On<strong>de</strong> esses<br />

punhados <strong>de</strong> rubis, <strong>de</strong> saphiras, <strong>de</strong><br />

ametistas e <strong>de</strong> esmdTaldas das suas<br />

azitas? On<strong>de</strong> esse fragmento <strong>de</strong> arcoiris?<br />

Nada tudo isso <strong>de</strong>sbotará. Nisto<br />

voltou a briosa feiticeira que tinha castigado<br />

as rosas ingratas, e conipu<strong>de</strong>cendo-s,e<br />

das tristes borboletas, partiu com<br />

um sopro as hastes que a prendiam á<br />

terra.<br />

E as borboletas libertas bateram as<br />

azas e voaram... Para on<strong>de</strong>? Fm busca<br />

do vaMe, <strong>de</strong> silvados e espinheiros, on<strong>de</strong><br />

as rosas esmoreciam sobre as bastes,<br />

que o vento balouçava brandamente.<br />

J£' <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse dia que as borboletas<br />

beijam livremente os seios sonhe rios e<br />

perfumados das rosas que não voam<br />

mais.<br />

V<br />

Mas por muito ternamente beijadas<br />

que sejam as rosas não se julgam <strong>de</strong><br />

lodo felizes.<br />

Deve ser suave e doce, sendo flôr,<br />

sentir-se acariciada no fundo do cálice.<br />

Mas a immobilida<strong>de</strong> a que se acham<br />

con<strong>de</strong>mnadas, impe<strong>de</strong>-as <strong>de</strong> escolher<br />

aquelles por quem <strong>de</strong>sejariam ser amadas.<br />

E ellas, coitadas, enlregam-se >em<br />

resistencia! Uma borh<strong>de</strong>ta veiu poisar-<br />

Ihe nas pétalas... Mas quantos <strong>de</strong>sejos,<br />

quantas sauda<strong>de</strong>s por aquella que passou<br />

sem vel-as 1 Triste! Assim, as rosas<br />

lamentam-se continuamente,- e choram,<br />

emquanlo a natureza espalha sorrisos,<br />

perfumes e luz. E nao voltarão jamais<br />

os beijos tempos idos da sua liberda<strong>de</strong><br />

por esses campos fóra' em que se libravam<br />

<strong>de</strong> envolta com as andorinhas e as<br />

cotovias! A fada dos ventos, na sua<br />

justiça, não as julgou até hoje suficientemente<br />

castigadas; e ellas coniinuam,<br />

presas as solo, a baloiçar-se nas hastes<br />

que as brisas não quebrarão nunca.<br />

Mas a fada ha <strong>de</strong> uni dia humauisarse,<br />

ámanhã talvez: as flores libertas<br />

seguirão os insectos livres, e' na luz<br />

veremos então voejar, palpitando, os<br />

dois amante», alados ambos ! Então, no<br />

topo das hervagens frescas, nos ramos<br />

altos das carvalheiras e das acaiias, em<br />

cada vergonlea, em cada lufo <strong>de</strong> verdura,<br />

a brisa baloiçará um ninho <strong>de</strong> borboleta<br />

e rosa...<br />

Catulle Men<strong>de</strong>s<br />

• O somno dos justos<br />

Dorme — ha que tempos! — o somno<br />

dos justos o celebre projecto <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

ministerial, que está sendo<br />

embalado pela commissão respectiva que<br />

não <strong>de</strong>u ainda o seu parecer.<br />

Nem dará! Tão tolos seriam os ministros<br />

e os outros que iriam dar corda<br />

para se enforcar; não que Mariano e os<br />

outros marianos ainda esperam voltar aos<br />

conselhos da coroa.<br />

B a n q u e i r o con<strong>de</strong>mnado<br />

O tribunal criminal dc Roma, con<strong>de</strong>mnou<br />

e réu Cucimiello, ex-director do<br />

banoo <strong>de</strong> Nápoles, a 10 annos <strong>de</strong> recluzão<br />

e o caixa Dalessandro a 6 annos e<br />

8 mezes da mesma pena, ambos accu-ados<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>, fundos.<br />

Portugal é um paraizo. Veja-se se<br />

os da quadrilha que assaltaram o cofre<br />

da junta do Porto, a lhesouíaria d'Evora,<br />

os bancos do Povo c Lusitano, a Com<br />

panhia dos caminhos <strong>de</strong> ferro, e tantos<br />

outros hidrões e panamistas, não gozam<br />

á regalada, sendo consi<strong>de</strong>rados e queridos<br />

pela alta socieda<strong>de</strong>.<br />

Razão tinha A<strong>de</strong>lino Veiga, quando<br />

escreveu :<br />

Em tempos que já là vão<br />

punham-se os ladrões nas cruzes;<br />

hoje, no sedo das luzes,<br />

põe-se as cruzes no ladrão...<br />

Dynamite em Madrid<br />

Pela noticia transmittida pela Flavas<br />

sobre a explosão na praça do Oriente,<br />

sabe-se que a bomba rebentou ás 10 horas<br />

da noite, alarmando toda a gente<br />

que nessa occasião se achava naquella<br />

praça e nas immediações.<br />

O petardo estalára com tanta força<br />

que o estrondo ?e ouviu dislinctamente<br />

no bairro <strong>de</strong> Salamanca e na parte baixa<br />

<strong>de</strong> Madrid, até á estação das Delicias.<br />

Pô<strong>de</strong> calcular se o ruido produzido<br />

pela <strong>de</strong>tonação. Muitas pessoas suppozeram<br />

que ella tivesse partido do local <strong>de</strong><br />

alguma das festas, especie <strong>de</strong> romarias<br />

que ha em Madrid nas noites <strong>de</strong> Santo<br />

Antonio, attributndo a a. qualquer peça<br />

<strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> artificio disparada cm virtu<strong>de</strong><br />

d'unia explosão.<br />

Durante mais d'uma hora não se -oube,<br />

com precisão, <strong>de</strong>terminar o local<br />

on<strong>de</strong> rebentara o petardo. Somais tar<strong>de</strong><br />

é que se pô<strong>de</strong> saber que a explosão ?e<br />

déra em frente do palacio real.<br />

O ruido da explosão poz em alarme<br />

a guarda do palacio, os serenos que já<br />

estavam em serviço e as patrulhas, que<br />

naquelles sitios são numerosas.<br />

Os soldados pertencentes ao quarto<br />

vigilante da guarda do palacio, que eram<br />

oito, além do cabo e do sargento <strong>de</strong> serviço,<br />

sairam armados do seu posto ccomeçaram<br />

afastando do largo o povo que<br />

se agglomerára <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> saber o que<br />

tinha acontecido.<br />

Tinha acabado a ceia da familia real<br />

quando rebentou a bomba <strong>de</strong> dynamite.<br />

Como era natural, no paço sentiu se curiosida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> saber o que succedia, sem<br />

que, apezar d'isso, se désse ao facto importância<br />

alguma.<br />

Sua magesta<strong>de</strong> a rainha regente, que<br />

estivera <strong>de</strong> cama durante todo o dia, em<br />

consequência d uma ligeira indisposição,<br />

linha ceiado no seu quarto. Logo que<br />

se <strong>de</strong>u a explosão, enlrou nos aposentos<br />

da regente a archiduqueza Isabel,<br />

ipie lhe foi dar parte do succedido.<br />

A rainha também não ligou imporlancia<br />

ao caso.<br />

Meia hora <strong>de</strong>pois da explosão tudo<br />

tinha retomado o seu normal aspecto na<br />

piaça do Oriente.<br />

Que parelha <strong>de</strong>diplomatas!<br />

Còiista qiie o Ínclito Emygdio Navarro,<br />

o lai que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> bem abotoado<br />

com chnlels sumptuosos e muclias cosas<br />

mus, t alou <strong>de</strong> vigorar grossas prebendas<br />

no haut mon<strong>de</strong> da diplomacia,<br />

<strong>de</strong>seja passar <strong>de</strong> Paris para Madrid.<br />

Neste caso, parece que o substiiuirá<br />

naquella embaixada o não menos illustre<br />

senhor Mariano <strong>de</strong> Carvalho, que<br />

po<strong>de</strong>rá em Paris, pelas suas ultimas relações<br />

com a judiaria da linança, empregar<br />

bem a sua activida<strong>de</strong> honesta.<br />

Do que Portugal se pô<strong>de</strong> gabar é <strong>de</strong><br />

ser representado no estrangeiro pelos<br />

dois especiniens mais característicos da<br />

honestida<strong>de</strong>.<br />

Que dois sucios !<br />

A viajata aos Açores<br />

E' certa a visita <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s<br />

aos Açores, sendo conduzidas no Vasco<br />

da Gama, comboiado pela corveta Affonso<br />

d'Albuquerque, e por outra que se achar<br />

disponível, e que servirá <strong>de</strong> aviso.<br />

Que até consola a genle ver augmentar<br />

os impostos, para que os nossos reis<br />

vão regalad unente passear os Açores.<br />

Quando irão para a Africa?<br />

O D E F E N S O R D O P O V O 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18® 3<br />

EM SURDINA<br />

Guilherme Gomes, do Porto,<br />

grã-general dos bombeiros,<br />

foi a Londres — e, absorto<br />

com a terra dos gaiteiros...<br />

<strong>de</strong>iton falias choramingas,<br />

<strong>de</strong>u vivas em gran<strong>de</strong> berra,<br />

e com inais duas, tres pingas<br />

disse ser a Inglaterra,<br />

a segunda patria amada III...<br />

— Diz-me aqui o Xavier:<br />

bombeiros —uma cambada...<br />

são paus p'ra toda a colher 111<br />

PINTA-ROXA.<br />

Os bombeiros do Porto<br />

em Londres<br />

O Lord Mayor <strong>de</strong> Londres inaugurou<br />

no dia 12 o congresso dos bombeiros,<br />

ao qual assistiram contingentes dos Estados-Unidos,<br />

França, Rússia, Portugal<br />

(Porto), Italia, Bélgica, Uollanda, índia,<br />

etc.<br />

Os contingentes e as differentes <strong>de</strong>legações<br />

<strong>de</strong>slilaram diante da tribuna real,<br />

e as musicas tocaram os hymnos nacionaes<br />

<strong>de</strong> cada uma das <strong>de</strong>legações presentes,<br />

cujos chefes ou commandanles<br />

foram apresentados ao Lord Mayor.<br />

O contingente portuense tornou-se notado<br />

pela agilida<strong>de</strong> e bello porte.<br />

Teem sido altamente obsequiados<br />

pelos collegas <strong>de</strong> Londres, os bombeiros<br />

portuguezes.<br />

No dia 14 o Lord Mayor <strong>de</strong>u um<br />

gran<strong>de</strong> almoço <strong>de</strong> ISO talheres em honra<br />

dos bombeiros estrangeiros.<br />

As proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mansion house<br />

estavam cheias <strong>de</strong> espectadores, que vicloriavam<br />

os contingentes á medida que<br />

elles vinham chegando com as suas bombas.<br />

O Lord Mayor e sua mulher <strong>de</strong>ram-<br />

Ihes pessoalmente as boas vindas, levantando<br />

aquelle brin<strong>de</strong>s aos soberanos<br />

e presi<strong>de</strong>ntes dos paizes representados.<br />

A resposta do chefe portuguez, o sr.<br />

Guilherme Gomes Fernan<strong>de</strong>s, do Porto,<br />

que fallou em inglez, produziu gran<strong>de</strong><br />

enthusiasmo.<br />

O sr. Fernan<strong>de</strong>s exprimiu o seu prazer<br />

pelo acolhimento benevolo da Inglaterra,<br />

a qual é a sua segunda patria, e<br />

dirigiiKse <strong>de</strong>pois ao contingente portuguez,<br />

que gritou: Viva o Lord Mayor!<br />

Viva a Inglaterra! O» convivas respon<strong>de</strong>ram<br />

: Viva Portugal !<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

O St. João em <strong>Coimbra</strong><br />

Uns pequenos ranchos <strong>de</strong> raparigas,<br />

sem aquelle enthusiasmo <strong>de</strong> tempos idos.<br />

andam por ahi a colher donativos para<br />

festejar o bom santo, que as ha <strong>de</strong> conduzir<br />

em linha recta ao almejado matrimonio.<br />

Vamos, pois, ter fogueiras, um pailido<br />

reflexo das tradiccionaes, das classicas<br />

fogueiras coimbrãs, on<strong>de</strong> se dançava<br />

com ardor, conservando-se a nota<br />

característica e piltoresca, que quasi se<br />

per<strong>de</strong>u com a introducção <strong>de</strong> cantos <strong>de</strong><br />

operetas nas danças populares.<br />

Beilos tempos, em que as fogueiras<br />

do S. João, S. Pedro e Rainha Santa<br />

traziam a mocida<strong>de</strong> irrequieta, num constante<br />

rodopio, ouvindo-se em todos os<br />

pontos da cida<strong>de</strong> a voz do marcador e as<br />

cantiga* bem timbradas dos ranchos <strong>de</strong><br />

tricanas, que se saracoteavam ao redor do<br />

pavilhão enfeitado <strong>de</strong> buxo e flores, cheias<br />

d'animação e <strong>de</strong> vida, ao som do cavaquinho<br />

vibrante e da viola dolente.<br />

Ricas recordações da mocida<strong>de</strong>, que<br />

ao ver fugir, num sôpro, essas noites <strong>de</strong><br />

ventura, era surprehendida, ainda pelo<br />

bruxelear d'aurora, na Fonte do Castanheiro,<br />

on<strong>de</strong> os namorados davam o ultimo<br />

ren<strong>de</strong>z vous, <strong>de</strong> braço dado ao par,<br />

e on<strong>de</strong> acabavam as ultimas voltas <strong>de</strong><br />

dauça, esgotaudo-se as ultimas estrophes,<br />

<strong>de</strong>pois d'uma noite d'eslurdia.<br />

E nesse mesmo dia, <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> e á<br />

noite, a dança reanimava, e <strong>Coimbra</strong><br />

vollava a sair dos seus cubículos em<br />

romaria ás fogueiras, commenlando e<br />

comparando o que havia <strong>de</strong> melhor, ás<br />

vezes em discussões accesas.<br />

Será assim o S. João do presente<br />

anno? Nós o diremos.<br />

Festivida<strong>de</strong><br />

Na egreja do Salvador ha hoje festa,<br />

com missa a gran<strong>de</strong> instrumental.<br />

Julio Caggiani<br />

Auxiliado por um grupo <strong>de</strong> distincto»<br />

amadores, os srs. Luiz d'Albuquerque,<br />

Ribeiro Alves, Mário da Silva Gayo,<br />

Francisco Macedo, João Maria Roque,<br />

Augusto Martins, Augusto Paes, A. Machado<br />

e Samuel Pessoa, este notável concertino<br />

do theatro <strong>de</strong> S. Carlos, realisou<br />

na quarta feira, no salão da Associação<br />

dos Artistas, um brilhante concerto.<br />

O profíramma finamente elaborado,<br />

teve por todos uma execução correctíssima,<br />

sobresaindo, como não podia <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong>^er, o sr. Caggiani, violinista <strong>de</strong> alto<br />

mérito e musico distinctissimo.<br />

O assombroso primor <strong>de</strong> execução, o<br />

talentoso savoir faire do insigne artista,<br />

tiveram o maior relevo na Fantaisie militaire,<br />

<strong>de</strong> Léonard, que bastava por si<br />

só para dar ao sr. Caggiani os foros <strong>de</strong><br />

violinista perfeito. Mas muitas outras<br />

foram as occasiões em que o sr. Cagniani<br />

revelou o seu incontestável merecimento;<br />

na Fantaisie Suèdoise, <strong>de</strong> Léonard, na<br />

Avé Maria, <strong>de</strong> Gounod, na Scene Ballet,<br />

<strong>de</strong> Bériot, e em todos os outros números<br />

do arti-tico programma. mostrou-se sempre<br />

artista impeccavel e correctíssimo.<br />

Mencionaremos ainda, pela execução<br />

perfeita, a Ouverture, <strong>de</strong> Alves, o Menuet,<br />

<strong>de</strong> Bocherini e a Serena<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mandolines,<br />

<strong>de</strong> Desormes, composições em que todos<br />

os concertantes com a maior justiça foram<br />

francamente applaudidos. Num ma<br />

gnifico piano <strong>de</strong> concerto, o sr. L. d'AI<br />

buquerque executou, com a maior <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />

<strong>de</strong> pianista amador, uma bella<br />

Rapsódia <strong>de</strong> sua composição sobre motivos<br />

<strong>de</strong> canções populares da Beira.<br />

O concerto <strong>de</strong> quarta feira, louvor<br />

aos seus iniciadores, <strong>de</strong>ixou aos muitos<br />

apreciadores <strong>de</strong> boa musica, e principalmente<br />

aos raros enten<strong>de</strong>dores que a elle<br />

assistiram, uma impressão gratíssima.<br />

Roubo <strong>de</strong> fazenda*<br />

Ao regressar do Porto o sr. Domingos<br />

José Gomes, proprietário da Estação da<br />

Moda, notou a falta <strong>de</strong> fazendas em algumas<br />

estantes, e extranhou que sua<br />

creada Maria da Conceição, que estava<br />

ao seu serviço ha 4 mezes, recusasse<br />

agora aceitar um cliaile que lhe haviam<br />

dado.<br />

Pou<strong>de</strong> o sr. Gomes verificar gran<strong>de</strong><br />

parle do roubo e obter da creada uma<br />

confissão formal : que havia sido ella<br />

que o roubára, só ella, mandando as fazendas<br />

para casa d'uma sua amiga, nesta<br />

cida<strong>de</strong>, Deolinda da Boa Morte, e para<br />

o Espinhal para casa <strong>de</strong> sua mãe.<br />

Na secunda feira, ao meio dia, foi o<br />

sr. Gomes fazer a sua queixa ao commissanado,<br />

pedinda a captura <strong>de</strong> Joaquina<br />

<strong>de</strong> Jesus, mãe <strong>de</strong> sua creada ; o sr. commissario<br />

pouco o atten<strong>de</strong>u, pois eslava<br />

dispondo a sua genle para guardar e vigiar<br />

a lujdra, hospedada no hotel Mon<strong>de</strong>go,<br />

e apesar dos rogos do sr. Domingos<br />

é certo que naquelle dia não se tratou<br />

<strong>de</strong> cousa alguma e só na quarta feira<br />

é que a criada Maria da Conceição foi<br />

presa.<br />

Prestou bons serviços nesta diligencia<br />

o chefe da primeira esquardra, sr.<br />

Cesar da Motta, e por indicação do sr.<br />

Gomes foram immedialaimmte passar busca<br />

a casa <strong>de</strong> Deolinda, á rua <strong>de</strong> Sub-ripas,<br />

enconlrando-se lhe num hahú algu<br />

mas fazendas.<br />

Viu o sr. Gomes que aquillo era pouco<br />

para o que lhe faltava e então a Deolinda,<br />

<strong>de</strong>peis <strong>de</strong> presa e no comniissariado,<br />

confessou que tinha fazendas <strong>de</strong>baixo das<br />

taboas do soalho, encontrando-se bastantes,<br />

embrulhadas em jornaes.<br />

O valor das fazendas encontradas em<br />

casa <strong>de</strong> Deolinda loram avaliadas em<br />

55$000 réis, constando <strong>de</strong> chailes, saiabalão,<br />

selinetas, cortes <strong>de</strong> vestidos, meias,<br />

lenços, gravatas, camisas <strong>de</strong> oxford, camisollas<br />

e outras miu<strong>de</strong>zas.<br />

Na quinta feira foi o sr. Gomes,<br />

acompanhado do chefe, ao Espinhal, e<br />

coadjuvados pelo administrador d'aquelle<br />

concelho passou-se busca á casa, encontrando-se:<br />

2 cortes <strong>de</strong> vestidos, 4 chailes<br />

retalhos <strong>de</strong> fazenda, casaco <strong>de</strong> senhora,<br />

meias e gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> botões, no<br />

valor <strong>de</strong> 40,5(000 réis.<br />

Joaquina <strong>de</strong> Jesus veiu para esta<br />

cida<strong>de</strong> e todas foram remetlidas para<br />

juizo, dando entrada na ca<strong>de</strong>ia.<br />

Troca <strong>de</strong> eedulaa — Aviso<br />

Na casa da Moeda, estão sendo trocadas<br />

as cédulas <strong>de</strong> 100 e 50 réis das<br />

primeiras remissões pelas <strong>de</strong> novo padrão.<br />

As antigas cédulas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter<br />

valor no fim do corrente mez <strong>de</strong> junho.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

FACULDADE DK DIHEITO<br />

Dia 16<br />

1.° anno —• Manoel José Moreira <strong>de</strong><br />

Sá Couto. Manoel Maria Toscano, Manoel<br />

<strong>de</strong> Mello Vaz <strong>de</strong> Sampaio, Manoel<br />

Pessoa Torreira da Fonseca.<br />

2 " anno — Fortunato d'Almeida Pereira<br />

d'Andra<strong>de</strong>, Francisco Antonio Baião<br />

Taquenho, Francisco José <strong>de</strong> Moraes e<br />

Francisco Marques.<br />

3." anno — Fortunato dos Santos Pinto,<br />

Francisco Joaquim Fernar<strong>de</strong>s.<br />

4." anno — Armando d'Azevedo <strong>de</strong><br />

Mello Freire e Vasconcellos e ArmairJo<br />

Navarro.<br />

5." anno. — Antonio Maria Pinheiro<br />

Torres e Antonio Pinto Ayres <strong>de</strong> Lemos.<br />

Dia 17<br />

1." anno — Pedro <strong>de</strong> Barbosa Falcão<br />

d'Azevedo e Pedro <strong>de</strong> Barros Rodrigues.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2.° anno—Francisco Ramos da Cruz,<br />

Gaspar José Henriques e Germano Lopes<br />

Martins.<br />

llouve uma reprovação.<br />

3." anno— Gaspar Alveí Moreira e<br />

Guilhermino Augusto <strong>de</strong> Barros Júnior.<br />

4° anno—Arnaldo <strong>de</strong> Jesus Saca»<br />

dura e Arthur Vieira <strong>de</strong> Castro.<br />

õ." anno — Antonio Pinto <strong>de</strong> Magalhães<br />

e Almeida e Antonio Tavares Af-<br />

Jonso e Cunha.<br />

FACULDADE DE MEDICINA<br />

Dia 16<br />

1." anno — João dos Santos Jacob.<br />

Houve uma reprovação.<br />

Houve exames <strong>de</strong> pratica no 2.°<br />

anno.<br />

Bia 11<br />

1." anno — José Miguel Corrêa <strong>de</strong><br />

Oliveira e Manoel Vieira <strong>de</strong> Carvalho.<br />

2.° anno—Antonio Cesar Rodrigues,<br />

formado pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Edimburgo<br />

e Ama<strong>de</strong>u Werueck d'Aguilar — doutor<br />

pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Tubiugeu.<br />

3." anno — Custodio José Moniz Galvão<br />

e José Fie<strong>de</strong>rico Cortes Menezes.<br />

4.° anno — Domingos Fernando Garcia<br />

e Domingos Pulido Garcia.<br />

FACULDADE DE PHILOSOPHIA<br />

Dia 16<br />

1. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorgânica).<br />

— Ord. Luiz Vasques da Cunha fliaamcamp<br />

<strong>de</strong> Maucellos; ohrg. Amândio Gonçalves<br />

Paúl e Alexandre da Silva Rastos.<br />

3." ca<strong>de</strong>ira — (Physica, I , a parte)—<br />

Obrg. Joaquim Matinas Sdverio, Oscar<br />

Pereira Marinho, Jo=e Augustu Telles e<br />

Adrião <strong>de</strong> Moura.<br />

4. a ca<strong>de</strong>ira — (Rotaiiica) — Vcd. Alvaro<br />

Jose da SiUa Basto; obrg. Eugénio<br />

Pereira <strong>de</strong> Castro Caldas e Abel Soares<br />

Rodiigues.<br />

Nao houve actos -nas outras ca<strong>de</strong>iras.<br />

Via 17<br />

l. a ca<strong>de</strong>ira—(< himica inorgauica).<br />

— Ord. Jo.-e .Novaes <strong>de</strong> Carvalho Soares<br />

<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, Obr. Jose Baptista Monteiro.<br />

3. a ca<strong>de</strong>ira—(Physica, l. a pai te —<br />

Obrg. Albeito Simões da Co la Rego,<br />

Antonio Henriques <strong>de</strong> Carvalho, Antonio<br />

Rodrigues Corrêa da Fonseca, Autouio<br />

da Silva Ferreira Rabia.<br />

4.* ca<strong>de</strong>ira — Botânica—Vol. Alfredo<br />

Machado, Obrs. Adriano Jose <strong>de</strong><br />

Carvalho, Alfredo Eduardo d Almeida.<br />

Aiuda não começaram os aclos nas<br />

outras ca<strong>de</strong>iras.<br />

FACULDADE DE MATHEMATICA<br />

Esta faculda<strong>de</strong> reunida em congregação<br />

constituiu assim os jurys dos actos.<br />

1.° anno — Drs. Souto Rodrigues,<br />

Sousa Pinto, Henrique <strong>de</strong> Figuiredo e<br />

Luciano.<br />

2.° anno—Drs. José Bruno, Luiz<br />

da Costa e Costa Lobo.<br />

3.° anno — Drs. Luiz da Costa, Arzilla<br />

e Luciano.<br />

4." anno — Drs. Sousa Pinto, Costa<br />

Lobo e Henrique <strong>de</strong> Figueiredo.<br />

õ."anno — Assiste toda a Faculda<strong>de</strong>.<br />

Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho — O professor,<br />

João Rodrigues Vieira, dr. Arzilla e um<br />

outro lente alternado.<br />

llouve hontem ponto na facilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> matheinatica á excepção do 1.° anno<br />

cujas aulas continuam ate ao dia 23 do<br />

corrente.


•AN.-W 2 —IV. 0 oe O DEFEIIOR DO P O V O 1§ <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> ig93<br />

j^o ir, director do correio<br />

De novo chamamos a attenção do sr.<br />

director dos correios e telegraphos d'este<br />

districto para o que se está dando<br />

com a estação telegrapho-postal da Louzã.<br />

Ha bastantes mezes já que á frente<br />

d'ella se encontra um empregado a quem<br />

não é permillidn a emissão <strong>de</strong> vales e<br />

cobrança <strong>de</strong> titulos, e já por mais d"uma<br />

vez uos referimos ás dificulda<strong>de</strong>s e prejuízos<br />

que este estado <strong>de</strong> coisas importa<br />

para o publico em jieral.<br />

A Louzã é uma villa <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

commercial, em communicação<br />

directa com localida<strong>de</strong>s importantes,<br />

e não <strong>de</strong>ve, por isso, continuar como<br />

está o serviço do correio naquella localida<strong>de</strong>.<br />

E' prejudicado o commercio e a<br />

imprensa não o é menos na falta <strong>de</strong> cobrança<br />

<strong>de</strong> títulos. No Jornal da Louzã,<br />

<strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> março, vimos uma local dando<br />

para breve o restabelecimento d'aquelles<br />

serviços naquella estação; até<br />

hoje, porém, nada se resolveu ainda,<br />

não se atten<strong>de</strong>ndo, assim, ao interesse<br />

do publico.<br />

Do conhecido zelo e cuidado do digno<br />

funccionario que se encontra neste<br />

districto á testa dos serviços <strong>de</strong> correios<br />

e telegraphos, esperamos as mais promptas<br />

provi<strong>de</strong>ncias sobre este assumpto;<br />

e s. ex. a melhor que ninguém conhece<br />

os prejuízos que <strong>de</strong>rivam da falta d'aquelles<br />

serriços postaes.<br />

O que se está dando com a estação<br />

da Louzã é uma das muitas consequências<br />

<strong>de</strong>ploráveis originadas em reformas<br />

sem critério, que só produzem a <strong>de</strong>sorganisação<br />

dos serviços. O terem baixado<br />

<strong>de</strong> classe a estação telegrapho postal<br />

d'aquella villa, collocando nella um empregado<br />

que, pelo que vêmos, não pô<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenhar todas as attribuições inherentes<br />

aos serviços telegrapho-postaes,<br />

está dando o resultado que era <strong>de</strong> prever—<br />

serviço incompleto, e d'ahi, consequência<br />

natural, perturbações que se<br />

reflectem nos interesses do publico enão<br />

menos nos rendimentos do Estado.<br />

Esperamos, pois, que o sr. director<br />

do correio se esforçara pelo restabelecimento,<br />

na estação da-Louzã, do serviço<br />

<strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> vales e cobrança <strong>de</strong> títulos,<br />

por qualquer modo.<br />

Isto como está é que não <strong>de</strong>ve con<br />

tinuar, e a principal responsabilida<strong>de</strong><br />

d'este e-tado anormal e pernicioso para<br />

o publico não po<strong>de</strong> senão ser attribuida<br />

ao distincto funccionario a quem nos dirigimos.<br />

Ataaei»fHO Commercial<br />

Como já em tempo dissémos, aos socios<br />

d'esta associação ainda não foi presente<br />

o projecto dos novos estatutos,<br />

po<strong>de</strong>ndo isto dar logar ao cumprimento<br />

do <strong>de</strong>creto, que manda dissolver todas<br />

as associações que até ao fim do corren<br />

le mez não tiverem enviado á approvação<br />

do governo os seus estatutos.<br />

E' <strong>de</strong> tal gravida<strong>de</strong> esle assumpto<br />

que não compreben<strong>de</strong>nios como os corpos<br />

gerentes d'uma associação tomam<br />

sobre si tão gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />

44 Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. M É R Y<br />

A JUDIA I U M M<br />

VIX<br />

Débora<br />

Esta situação era coma um problema<br />

inextrincavel, um nó gordio vivo que<br />

pedia a penna <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s ou a espada<br />

<strong>de</strong> Alexandre. Talormi a<strong>de</strong>autou-se com<br />

o sorriso uos lábios e disse:<br />

— Estão admirados, meus senhores,<br />

e eu comprehen lo que assim seja; sou<br />

eu o único, aqui, que possa coniprehen<strong>de</strong>r<br />

a surpreza <strong>de</strong> madame Van Uitter.<br />

Na ultima visita que fiz a seu illustre<br />

irmão Santa-Scala, comprometti me eu<br />

a partir com elle, no dia seguinte, e<br />

acompanha-lo no convento das Camaldu<br />

las. Faltei á minha palavra, e madame<br />

Van-Ritter tinha todas as razões possíveis<br />

para me julgar ausente.<br />

Concebo assim, perfeitamente, o violento<br />

<strong>de</strong>speito que experimenta quem acaba<br />

<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r uma aposta, mesmo ligeira,<br />

contra um especulador que aposta cora<br />

a cerleza <strong>de</strong> ganhar.<br />

— Um espleculador <strong>de</strong> heliotropios,<br />

disse o cônsul ruído.<br />

Elevador em <strong>Coimbra</strong><br />

Dizem-nos que, <strong>de</strong>wdo «os esforços<br />

empregados pelo sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />

presi<strong>de</strong>nte da camara, se acha constituída<br />

a empreza exploradora do elevador,<br />

tomando aquelle senhor meta<strong>de</strong> das<br />

acções.<br />

A estação do elevador, na baixa,<br />

será feita na rua <strong>de</strong> Ferreira Borges,<br />

num prédio pertencente ao sr. Moraes<br />

Silvano, on<strong>de</strong> está estabelecida a antiga<br />

mercearia <strong>de</strong> Innocencia & Sobrinho,<br />

seguindo pela rua <strong>de</strong> Quebra-Costas, largo<br />

da Sé Velha, rua Borges Carneiro<br />

até á Feira, segundo nos informam.<br />

E' um bom melhoramento com que o<br />

sr. Ayres <strong>de</strong> Campos dota <strong>Coimbra</strong>, e<br />

estamos certos <strong>de</strong> que a empreza ha <strong>de</strong><br />

ver bem compensados os seus capitães,<br />

por isso que ninguém <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> se utilisnr<br />

da commodida<strong>de</strong> do elevador pela<br />

pequena quantia <strong>de</strong> 20 réis.<br />

A*»o«inffto dos Artistas<br />

Até ao presente os corpos administrativos<br />

d'esta socieda<strong>de</strong> ainda não apresentaram<br />

aos socios o projecto dos novos<br />

estatutos que, segundo a lei, <strong>de</strong>vem<br />

ser presentes á approvação do governo<br />

até ao dia 30 do corrente, sob pena <strong>de</strong><br />

dissolução.<br />

Como se vê, este caso é gravíssimo,<br />

e os corpos gerentes são os únicos responsáveis<br />

se o governo estiver disposto<br />

a cumprir a lei.<br />

O que nos admira e pasma é que os<br />

associados, em presença <strong>de</strong> tal acontecimento,<br />

não tenham tomado uma altitu<strong>de</strong><br />

energica, a tini <strong>de</strong> obstar a que<br />

seja dissolvida aquella associação que<br />

tão relevantes serviços presta aos seus<br />

associados.<br />

Banhos no Mon<strong>de</strong>go<br />

Já eslão construídas algumas barracas<br />

para os banhos do rio, que começam<br />

a ser muito concorridos <strong>de</strong> manhã<br />

e ao cair da tar<strong>de</strong>.<br />

Em breve veremos gran<strong>de</strong> animação<br />

no areal, que principia a ala^trar-se,<br />

convidando á ceia muitas famílias da cida<strong>de</strong>,<br />

que vão para alli gosar o fresco<br />

da noite e o bello luar que tudo illumina.<br />

Cobardia<br />

No dia 13 do corrente, na casa das<br />

machinas, <strong>de</strong>u-se um conflicto enlre dois<br />

empregados da camara, praticando um<br />

d'elles a cobardia <strong>de</strong> conseguir por bons<br />

modos a entrada no seu gabinete do<br />

contendor e ahi soccal-o, a fim <strong>de</strong> o obrigar<br />

a uma <strong>de</strong>feza energica em que elle<br />

po<strong>de</strong>sse ser accusado <strong>de</strong> aggredir um<br />

superior <strong>de</strong>ntro do gabinete.<br />

Ao sr. dr. Buben d'Almeida vicepresi<strong>de</strong>ule<br />

da camara foi entregue, na<br />

quarta feira um officio do queixoso narrando<br />

os factos, o qual náo foi presente<br />

em sessão da camara ullima, altenla a<br />

alta protecção que aquelle vereador dispensa<br />

ao empregado aggressor, a quem<br />

<strong>de</strong>seja dar melhor collocação em prejuízo<br />

do aggredido. 1'arece que foi isto o que<br />

<strong>de</strong>u logar á scena do escandalo.<br />

— O preço da »posta não faz nada<br />

ao caso, continuou Talormi em tom ligeiro.<br />

Por bem menos se joga o xadrez,<br />

joga-se mesmo por coisa nenhuma, e<br />

comtudo aquelle que per<strong>de</strong> ganha uma<br />

boa hora <strong>de</strong> ferro.<br />

— E' a pura verda<strong>de</strong>, disse o marquez<br />

di Negro, satisfeito com esta diversão;<br />

um cheque-mate enche-me <strong>de</strong><br />

mau humor ate ao dia seguinte.<br />

— Só me resta agora, minha senhora,<br />

disse o cônsul, apresentar-lhe as<br />

minhas <strong>de</strong>sculpas.<br />

Na minha qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inglez, não<br />

posso per<strong>de</strong>r a occasião <strong>de</strong> fazer uma<br />

apo-la vantajosa.<br />

Nas scenas d'este genero que se<br />

representam no mundo, todos comprehen<strong>de</strong>m<br />

que nem tudo fica esclarecido<br />

com as explicações dadas, e que no<br />

fundo alguma coisa <strong>de</strong> inexplicável e <strong>de</strong><br />

mysterioso subsiste ainda; mas os actores<br />

fingem lodos uma gran<strong>de</strong> complacência<br />

e afixam sobre o rosto a mascara <strong>de</strong> uma<br />

plena satisfação.<br />

Paulo Gréant tinha na alma as torturas<br />

do inferno; um olhar rápido <strong>de</strong><br />

Memma dirigido sobre elle, olhar <strong>de</strong><br />

cólera e <strong>de</strong> censura, afiado como um<br />

estylete <strong>de</strong> aço, atravessou-lhe o peito.<br />

E era necessário calar-se. E toda a justificação<br />

era impossível em publico!<br />

E cada minuto <strong>de</strong>corrido loroava-se<br />

I intolerável em presença d'esla mulher<br />

Escola Brotero<br />

O conselho escolar d'este instituto<br />

d'ensino nomeou para as mesas d'exames,<br />

os seguintes professores:<br />

ARITHMETICA— Presi<strong>de</strong>nte, Antonio<br />

Augusto Gonçalves; vogaes, dr. Albino<br />

<strong>de</strong> Mello e Emil Ioctí.<br />

DESENHO ELEMENTAR — Presi<strong>de</strong>nte,<br />

Leopoldo Bitti-tini; vogaes, Antonio Augusto<br />

Gonçalves e Hans Dickel<br />

DESEEHO ARCHITECTURAL— Presi<strong>de</strong>nte,<br />

Emil IocH; vogaes, Hans Dickel e, Leopoldo<br />

Battislini.<br />

DESENHO ORNAMENTAL — Presi<strong>de</strong>nte,<br />

Antonio Augusto Gonçalves; vogaes, Leopoldo<br />

Battislini e Hans Dickel.<br />

DESENHO MECHANICO — Presi<strong>de</strong>nte,<br />

Hans Dickel; vogaes, Emil Ioch e Leopoldo<br />

Battislini.<br />

PHYSICA E MECHANICA INDUSTRIAL —<br />

Presi<strong>de</strong>nte, Anlonio Augusto Gonçalves;<br />

vogaes, Emil Ioch e Leopoldo Battislini.<br />

CHIMICA INDUSTRIAL—Presi<strong>de</strong>nte, Antonio<br />

Augusto Gonçalves; vogaes, Charles<br />

Lepierre e Emil Ioch.<br />

*<br />

Os exames nesta escola principiaram<br />

na segunda feira, sendo approvados os<br />

alumnos que enumeramos:<br />

Dia 12<br />

DESENHO ELEMENTAR, CLASSE PREPARATÓRIA<br />

Ordinários<br />

Felícia Augusta da Conceição, filha<br />

<strong>de</strong> José Dias da Silva.<br />

Fernanda Gomes Paes, e Graziella<br />

Gomes Paes, filhas <strong>de</strong> João Gomes Paes.<br />

Abel Franco, carpinteiro.<br />

João <strong>de</strong> Nazareth Bizarro, typographo,<br />

filho <strong>de</strong> Antonio Francisco Bizarro.<br />

José Lucas da Silva e Santos, latoeiro,<br />

filho <strong>de</strong> Joaquim da Silva.<br />

Samuel <strong>de</strong> Campos, pedreiro, filho<br />

<strong>de</strong> José Antonio Campos.<br />

Alfredo d'Oiiveira, pintor <strong>de</strong> louça,<br />

filho <strong>de</strong> Joaquim d'Oliveira Júnior.<br />

Antonio Augusto Martins, serralheiro,<br />

filho <strong>de</strong> Augusto Martins.<br />

Antonio Pereira, serralheiro, filho <strong>de</strong><br />

Bento Pereira.<br />

Augusto Ferreira Arnaldo, latoeiro,<br />

filho <strong>de</strong> João Ferreira Arnaldo.<br />

Francisco Antonio dos Sanlos, filho<br />

<strong>de</strong> Francisco Anlonio dos Santos.<br />

Daniel Alves, sapateiro, filho <strong>de</strong><br />

Francisco Anlonio.<br />

Dia 13<br />

Ordinários<br />

Antonio Marques Perdigão, filho <strong>de</strong><br />

Henrique Marques Perdgiáo.<br />

Julio Fonseca, canteiro, filho <strong>de</strong> Joaquim<br />

Fonseca.<br />

Jose Bento, carpinteiro, filho <strong>de</strong> José<br />

Bento.<br />

A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Mattos, ourives, filho <strong>de</strong><br />

Casimiro <strong>de</strong> Mattos.<br />

José Augusto da Conceição e Sousa,<br />

filho <strong>de</strong> Augusto <strong>de</strong> Sousa.<br />

Severioo Augusto das Neves Elyseu,<br />

filho <strong>de</strong> Joaquim Augusto dasNeves Eiyseu<br />

Salvino <strong>de</strong> Macedo, filho <strong>de</strong> Eduardo<br />

Lopes <strong>de</strong> Lima Macedo.<br />

cujo silencio e cujo olhar eram uma<br />

continua e hcabruubanle accusação.<br />

A joven senhora que, apesar da sua<br />

energia, não tinha podido reprimir um<br />

primeiro movimento que a caluiiiuia podia<br />

interpretar á sua vonta<strong>de</strong>, conipreheu<strong>de</strong>u<br />

immedialamente o perigo da sua<br />

posição, e approvou por alguns ges<br />

los naturaes e um falso sorriso todos<br />

os commeiitadores d'esta scena mysteriosa.<br />

Tudo isto se passou em muito menos<br />

tempo do que tem levado a coutar. Uma<br />

tranquillida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira ou falsa reappareceu<br />

nas pbysiouomias, e di Negro,<br />

offerecendo o braço a madame Vau-Bitler,<br />

encaminhoti-se com todos os seus amigos<br />

para o mirante dn quinta.<br />

Paulo Gréant resolveu aproveitar<br />

qualquer d'estas occasiões, ,ji que a liberda<strong>de</strong><br />

do campo dá sempre logar, para<br />

se justificar perante Memma. Parecia-lhe<br />

impossível adiar para o dia seguinte a<br />

sua justificação. Neste intuito correu a<br />

coilocar-se ao lado do marquez, procuraudo<br />

em todas as suas palavras um poulo<br />

<strong>de</strong> partida natural ou forçado para preparar<br />

a sua justificação sem dirigir directamente<br />

a palavra a Memma.<br />

Memma, porem, melindrada com a<br />

audacia <strong>de</strong> Paulo e vendo-o disposto a<br />

aproveitar as plirases do marquez para<br />

engendrar uma odiosa mentira justificativa,<br />

voltou a cabeça com uma altivez<br />

bem evi<strong>de</strong>nte e affectou procurar á sua<br />

Extraordinários<br />

Carlos Pompeu da Silva, carpinteiro,<br />

filho <strong>de</strong> José Antonio da Silva.<br />

Anlonio Augusto da Silvn, alfaiate,<br />

filho <strong>de</strong> Augusto Maria da Silva.<br />

Matheus Aííbnso Dias, carpinteiro, filho<br />

<strong>de</strong> Francisco Affonso Dias.<br />

Leonardo Antonio Gouvêa, fundidor,<br />

filho <strong>de</strong> Anlonio Gouvêa.<br />

Dias 12 e 13<br />

DESENNO INDUSTRIAL, 11AMO ORNAMENTAL<br />

Ornato— parte<br />

Bebiana Elysa Augusta Soares, filha<br />

<strong>de</strong> Alexandre Antonio Soares.<br />

Emilia <strong>de</strong> Jesus Fonseca, filha <strong>de</strong> José<br />

Miguel da Fonseca.<br />

Jayme dos Santos Sá, caixeiro, filho<br />

<strong>de</strong> Manoel Maria <strong>de</strong> Sá.<br />

Alfredo Paes, typographo, filho <strong>de</strong><br />

Antonio Paes.<br />

Birardo Buivo, filho <strong>de</strong> Antonio Buivo<br />

Júnior.<br />

Victor Elyseu, pintor, filho <strong>de</strong> Abel<br />

Ferreira das Neves Elyseu.<br />

José Gomes Tinoco, photographo,<br />

filho <strong>de</strong> Adriano Gomes Tinoco.<br />

Ornato — 2. a parte<br />

José Alves dos Santos, typographo,<br />

filho <strong>de</strong> Manoel Alves dos Santos.<br />

Hygiene publica<br />

Brevemente será entregue á camara<br />

municipal uma representação assignada<br />

pelos proprietários e moradores da rua<br />

da Moeda, pedindo provi<strong>de</strong>ncias para o<br />

estado em que se encontra a runa, que<br />

alli passa, e que é o mais perigoso fóco<br />

<strong>de</strong> infecção que existe <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>.<br />

A camara, por certo, <strong>de</strong>verá atten<strong>de</strong>r<br />

os peticionários por isso que é um<br />

assumpto <strong>de</strong> importância para a saú<strong>de</strong><br />

publica.<br />

Falleeimento<br />

Na quarta feira, 14 do corrente, finouse,<br />

na sua casa da Quinta das Lamas, o<br />

sr. Antonio José Duarte Moreira que no<br />

Brazil adquiriu uma forluua avultadíssima.<br />

Este cidadão foi um completo homem<br />

<strong>de</strong> trabalho. Durante vinte annos, pelas<br />

roças do Brazil, em conslrucções <strong>de</strong> caminho<br />

<strong>de</strong> ferro, <strong>de</strong>signadamente na <strong>de</strong><br />

S. Paulo, ou<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> si memoria<br />

gloriosa, obrigou se sempre a um trabalho<br />

iocessanle que foi a admiração dos<br />

seus companheiros <strong>de</strong> lucta nos melhoramentos<br />

d'essa formosa província do<br />

Brazil. D'este trabalho perseverante foi<br />

(pie elle conseguiu gran<strong>de</strong>s meios <strong>de</strong><br />

fortuna, regressaudo rico á sua patria<br />

ou<strong>de</strong> o seu braço não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> trabalhar,<br />

como o aitesta a Quinta das Lamas<br />

on<strong>de</strong> está consumida uma colossal somma<br />

<strong>de</strong> trabalho.<br />

Depois <strong>de</strong> toda esta lucta que mais<br />

parece d'um gigante do que d'um lio<br />

ruem, o honrado cidadão acaba <strong>de</strong> fallecer<br />

victiiua d'um ataque epileptico!<br />

A toda a familia do finado, especialmente<br />

ao seu genro, o nos-o amigo sr.<br />

José Ma<strong>de</strong>ira Marques, en<strong>de</strong>reçamos a<br />

expressão da nossa condolência.<br />

esquerda, pelo campo, pontos <strong>de</strong> vista<br />

que a sua direita náo encontrava.<br />

Chegaram a ponte do mirante, on<strong>de</strong><br />

o serviço do cale já estava preparado.<br />

Uma menina correu, como um anjo, da<br />

extremida<strong>de</strong> da ponte; madame Van Uitter<br />

recebeu-a nos braços cobrindo-lhe a fronte<br />

<strong>de</strong> beijos.<br />

— Oh! como a innocencia é bôa,<br />

para os olhos e para os lábios! disse<br />

ella ao marquez di Negro.<br />

Débora beijando Memma, disse-lhe:<br />

— Se não fosse o ter-me distrahido<br />

a conilemplar o golfo <strong>de</strong> Génova, havia<br />

<strong>de</strong> aborrecer-me muito esperando-a. Mas<br />

<strong>de</strong>sculpa-me, não é verda<strong>de</strong>, por eu não<br />

me ter aborrecido ?<br />

— Sim, sim, meu anjo, disse Memma<br />

passando a ponte com ella, nas suas<br />

com as mãos <strong>de</strong> Débora. Mas não me<br />

<strong>de</strong>ixes mais; preciso <strong>de</strong> ti sempre ao pé<br />

<strong>de</strong> mim, minha querida Débora.<br />

Memma acabava <strong>de</strong> aproveitar uma<br />

occasião natural <strong>de</strong> apresentar Débora uo<br />

mundo dos nobres artistas,<br />

Josué Constantini, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> vexações<br />

no seu commercio, ou ce<strong>de</strong>ndo talvez<br />

a um vivo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver Boma e os<br />

seus amigos do ghetlo, tinha partido só,<br />

<strong>de</strong>ixando em Génova seus filhos.<br />

Débora tornou-se, assim, a amiga<br />

inseparavel <strong>de</strong> Memma, sua companhia e<br />

seu conforto durante a momentania viuvez.<br />

E' por isso que a encontramos hoje<br />

na quinta di Negro.<br />

Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />

O nosso amigo e patrício, sr. Antonio<br />

Alves <strong>de</strong> Carvalho Júnior, digno<br />

chefe da estação <strong>de</strong> S Martinho, foi<br />

transferido para-chefe da estação <strong>de</strong> Esmeris.<br />

* Tem estado nesta cida<strong>de</strong> o nosso<br />

<strong>de</strong>dicado correligionário, sr. João Maria<br />

Cravella, regressando houtem a Lisboa.<br />

# Esteve em <strong>Coimbra</strong> o sr. Antonio<br />

Maria Nogueira, digno gerente da<br />

firma Antonio Augusto Lopes da Costa,<br />

<strong>de</strong> Moimenta da Serra.<br />

Obituário<br />

No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />

na semana ullima, os seguintes<br />

cadaveres:<br />

Rachel <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Antonio<br />

Joaquim Pinheiro e Maria das Dores, <strong>de</strong><br />

Semi<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 53 annos. Falleceu <strong>de</strong> amolecimento<br />

cerebral, no dia 1.<br />

Antonio dos Sanlos, filho <strong>de</strong> Manoel<br />

dos Santos e Carlota <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

<strong>de</strong> 50 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorrhagia<br />

cerebral, no dia 2.<br />

Gumersindo <strong>de</strong> Miranda Catalão, filho<br />

<strong>de</strong> Marco Antonio Miranda e D. Rita Maria<br />

Theresa d'Oliveira Costa, <strong>de</strong> Bragança,<br />

<strong>de</strong> 85 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorrhagia<br />

cerebral, no dia 4.<br />

Henrique Padró, filho <strong>de</strong> João Aimami<br />

e Josepha Padró, <strong>de</strong> Hespanha, <strong>de</strong> 42<br />

annos. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose pulmonar,<br />

no dia 5.<br />

Corina, filha <strong>de</strong> pae incognito e Julia<br />

Carvalho, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 3 mezes. Faleceu<br />

<strong>de</strong> bronchite capilar no dia 9.<br />

Candida d'Assumpção, filha <strong>de</strong> José<br />

Maria e Maria Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />

54 annos. Falleceu <strong>de</strong> bronchite asmalica,<br />

no dia 10.<br />

Total dos cadaveres enterrados neste<br />

cemiterio —16:918.<br />

A GRANEL<br />

Foram passadas muitas portarias a<br />

favor <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> instrucção secundam<br />

que preten<strong>de</strong>m fazer exame e não<br />

po<strong>de</strong>ram apresentar os seus requerimentos<br />

em lempo.<br />

* * * Na vespera <strong>de</strong> S, João ®<br />

inaugurada em Braga a iiluminaçâo ele"<br />

ctrica.<br />

* * # Os orçamentos da secção<br />

portugueza na exposição <strong>de</strong> Madrid serão<br />

transportados para o Porto, on<strong>de</strong> teem<br />

<strong>de</strong> figurar nas festas do ceulcnario do<br />

infante D. Henrique.<br />

* * * A direcção da fabrica <strong>de</strong><br />

vidros da Marinha Gaiu<strong>de</strong> pediu ao<br />

governo a creação <strong>de</strong> uma escola industrial<br />

junto a essa fabrica, para o que<br />

otíereceu terrenos.<br />

* * * Vão ser supprimiihs, á medida<br />

que forem vagando os consolados<br />

Marselha, New Castle e Cardiff.<br />

Paulo Gréant, dominado sempre pela<br />

sua idêa lixa. foi um dos primeiros que<br />

entraram no mirante e assentou se, <strong>de</strong>sviado,<br />

na altitu<strong>de</strong> d'estes namorados<br />

pouco felizes, que escutam, olham e não<br />

faliam nunca.<br />

Talormi, que presentia sempre uma<br />

<strong>de</strong>nuncia suspensa sobre a sua cabeça,<br />

e que era o único que estudava a situação<br />

<strong>de</strong> espirito em que Paulo se encontrava,<br />

encostou-se a porta, prestes a fazer<br />

face ás eventualida<strong>de</strong>s perigosas do<br />

momento.<br />

O marquez di Negro continuava a não<br />

ver senão a sua própria felicida<strong>de</strong>, e lodos<br />

os seus convidados lhe pareciam felizes.<br />

— Eespero, disse elle a Memma, que<br />

virá ver-me mais algumas vezes, e com<br />

a menina Débora, que, segundo vejo,<br />

gosta muito do campo.<br />

— Meu caro marquez, disse Memma,<br />

parece-me que estou em vespera <strong>de</strong><br />

partir.<br />

Como, enlão <strong>de</strong>ixa-nos.?! exclamou<br />

o marquez, como se tivesse sabido uma<br />

verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>sgraça.<br />

— Assim é necessário, continuou<br />

Memma num tom <strong>de</strong> indifferença. Não<br />

disponho da minha liberda<strong>de</strong>; ha vonta<strong>de</strong>s<br />

superiores ás minhas.<br />

Ímpresiso na Typographia<br />

O|)or;ir|;t _ Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros, —.<br />

COIMBRA.


ANN» B — X." 86 O DEFENSOR DO POVO 1 § <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1 SOS<br />

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Piíarmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operará a<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

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Repetições .<br />

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permanentes.<br />

Decreto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1891<br />

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m. livrarias <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o <strong>de</strong>creto<br />

<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, regulador<br />

dos direitos e obrigações das<br />

associações, <strong>de</strong> seccorros uuit.uos, indispensável<br />

a todos os socios das mesmas<br />

as^o.ciações, preço 50 réis.<br />

126 Â<br />

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Companhia Auxiliar,<br />

ao Arco do Bispo, n.° 2,<br />

faz leilão <strong>de</strong> todos o- 1 penhores que estejam<br />

em divida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tres mezes<br />

<strong>de</strong> juros, no dia 18 do corrente mez.<br />

O leilão começa ás 11 horas da manhã<br />

e fecha ás 4 da tar<strong>de</strong>, constando<br />

<strong>de</strong> roupas, fazendas <strong>de</strong> lã, ouro e prata<br />

moveis, muitos livros e outros objectos.<br />

Ficam por este meio prevenidos to-<br />

successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

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peito. Foi ensaiado com optímos resultados nos hespitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />

pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes firmltativos<br />

da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 allestados que acompanham<br />

o frasco.<br />

Vea<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />

! Lisboa, pharmacia Llosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33<br />

<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos-, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />

61, 65.<br />

Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />

Capital 2.000:000^000 réis<br />

Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />

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Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />

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M çôes <strong>de</strong> egire$asf forrar casas a papel, etc., etc.,<br />

tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />

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para caixilho» e objectos para egrejas.<br />

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128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />

o "VIESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />

ly junto e a relallro, lodos os produclos d'aqitella fabrica, a mais<br />

antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem "quaesquer encommendas pelos preços<br />

e condições eg.uaes aos da fabrica.<br />

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<strong>Coimbra</strong><br />

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Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />

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101— Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />

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mais baratos; pois esta machina tem sido<br />

vendida por 120$0(i0 réis ao passo que<br />

esta casa as tom a 110$000 II!<br />

Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />

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JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />

20 — Rua do Sargento-Mór - 24<br />

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2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />

réis. Guarda-sol para senhora, 1$700<br />

réis. Sombrinhas para ditas, 1^500 reis.<br />

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1 quasi novas; são próprias<br />

para mercearia, ou outro negocio.<br />

Para tratar com João Vieira da Silva<br />

Lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />

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e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />

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121 ^J 1 ""®' 1 "* -8 ® '' e 11,11 • n f ua do<br />

Ir Visconte da Liu, 25,<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS K DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FEiiREMA BORGES, 29, i.»<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir u<br />

Antonio Augusto dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATORi<br />

Com estampilha<br />

Anno WOO<br />

Semestre.... LS350<br />

Trimestie... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 21400<br />

Semestre.... 21000<br />

Trimestre... 600


0 dinheiro do paiz<br />

Um padre, o <strong>de</strong>pulado Alfredo<br />

Brandão, apresenlou na sessão nocturna<br />

<strong>de</strong> segunda feira uma moção<br />

<strong>de</strong> que <strong>de</strong>stacamos os seguintes<br />

consi<strong>de</strong>randos.<br />

Dizem elles:<br />

tConsi<strong>de</strong>rando que um paiz,<br />

cuja receita publica "se calcula em<br />

43.800:000|000 réis, e que gasta,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> reduzidos os juros da divida<br />

externa a um terço, e os da<br />

divida inferna a dois terços, muilo<br />

mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> lai receita com<br />

os encargos da divida publica ecom<br />

as classes inactivas e pensões vitalícias,<br />

não po<strong>de</strong> gastar com a força<br />

publica 747:000^000 réis pelo ministério<br />

do reino, 5.100:000^000<br />

réis com o ministério da guerra, e<br />

2.400:000$00,0 réis com o ministério<br />

da marinha, ou sejam réis<br />

8.300:000^000 (números redondos),<br />

não comprehen<strong>de</strong>ndo a guarda<br />

fiscal e a policia districtal, nem<br />

os encargos militares distribuídos<br />

pelas colonias e pelos outros ministérios,<br />

e até pela Bulla da Santa<br />

Cruzada;<br />

«Consi<strong>de</strong>rando que o que resta<br />

dos encargos indicados, será pouco<br />

mais d'uma meia dúzia <strong>de</strong> mil contos<br />

<strong>de</strong> réis para todas as mais <strong>de</strong>spezas<br />

do Estado, absorvendo, só á<br />

sua parle, o ministério das obras<br />

publicas perto <strong>de</strong> 4.000:000^000<br />

réis com engenheiros e conductores,<br />

que chegariam para estudar e<br />

fiscalisar todas as estradas da Europa,<br />

embora não haja dinheiro<br />

para reparar as existentes no paiz,<br />

e com especialistas agricultores e<br />

industriaes que só amanham ,e exploram<br />

com vantagem a granja do<br />

thesouro publico;<br />

«Consi<strong>de</strong>rando que o sr. ministro<br />

da guerra, fazendo no seu ministério<br />

economias no valor <strong>de</strong> réis<br />

605:000^000, comprehen<strong>de</strong> nestas<br />

318:000^000 réis com o licenceamento<br />

<strong>de</strong> 12:000 praças <strong>de</strong> pret,<br />

e 171:000^000 réis com economias<br />

não permanentes, que já assim<br />

o eram por sua própria natureza,<br />

ainda antes <strong>de</strong> como taes serem<br />

classificadas no orçamento em<br />

discussão, ou sejam 490:000^000<br />

réis, reduzindo-se lodxis as restantes<br />

economias d'esle ministério a<br />

pouco mais <strong>de</strong> 100:000^000 réis;<br />

«Consi<strong>de</strong>rando que o effeclivo<br />

ordinário do exercito, ou o numero<br />

<strong>de</strong> praças em serviço activo, regula<br />

ordinariamente pelo numero <strong>de</strong> praças<br />

licenceadas no aclual orçamento,<br />

o que equivale a ficarmos gastando<br />

5.100:000^000 réis com um<br />

exercito sem soldados.»<br />

Parece-nos não ser necessário<br />

trancrever mais. Este padre Alfredo<br />

bem po<strong>de</strong>ria chamar-se Chrysoslomo<br />

(bocca d'oiro) tão preciosas e<br />

verda<strong>de</strong>iras são as palavras sabidas<br />

<strong>de</strong> seus lábios sacerdotaes e justos.<br />

Tão <strong>de</strong>senvolvida a moção, é<br />

possivel que muitos não a comprehendam,<br />

mas nós vamos resumil-a<br />

<strong>de</strong> fórma a que o nosso bom, adoravel<br />

e paciente povo a saboreie. O<br />

caso é principalmente este: O mi-<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

nistério da guerra consome por<br />

anno 5:100 contos com um exercito<br />

que não chega a 12:000 soldados.<br />

Agora o orçamento do mesmo<br />

minislerio propõe o licenceamenlo<br />

<strong>de</strong> 12:000 homens, com o que diz<br />

economisar 318 contos, além <strong>de</strong><br />

mais 171 contos economisados por<br />

formas varias.<br />

De maneira que lemos, um<br />

exercito com 12:000 praças como o<br />

aclual, cuslando 5:100 contos; um<br />

exercito sem praça nenhuma, porque<br />

se forem licenceados os 12:000<br />

soldados o exercito <strong>de</strong>sappareceu<br />

custando 3:610 contos.<br />

É isto? Não é isto?<br />

Ou servirão os 3:610 contos<br />

para fortalezas que não existem, para<br />

arlilheria Krupp negociada por inlermedio<br />

do sr. Burnay, como succe<strong>de</strong>u<br />

ha pouco?<br />

Nós não sabemos o que significa<br />

tanta intrujice, tanta asneira,<br />

nem cou).prehen<strong>de</strong>mos para que se<br />

gasta lempo a discutir o orçamento,<br />

se tudo tem <strong>de</strong> ser approvado<br />

tal qual os ministros o apresentam.<br />

Um ou ou Iro como o padre Brandão,<br />

per<strong>de</strong> o seu tempo se quer tomar<br />

a sério, os ministros, a camara<br />

e o paiz.<br />

A serieda<strong>de</strong> com que no parlamento<br />

se tratam as questões financeiras,<br />

está bem synthelisada no<br />

episodio que se passou ha tres ou<br />

quatro dias: O sr. Carrilho, impavidamente,<br />

<strong>de</strong>scaradamente, disse<br />

com a mesma naturalida<strong>de</strong> com que<br />

empalmaria uma carta no jogo da<br />

vermelhinha: «O governo falia sempre<br />

verda<strong>de</strong> no orçamento ! !»<br />

A camara, cretina como o Sergio,<br />

cynica ao mesmo lempo como<br />

qualquer Marianno, respon<strong>de</strong>u,<br />

numa gargalhada unanime e estrondosa,<br />

á phrase do sr. Carrilho. A<br />

galeria riu.<br />

E no meio da chalaça, da imbecilida<strong>de</strong>,<br />

do <strong>de</strong>scaramento <strong>de</strong> toda<br />

«essa malta 1' vae-se arranjando o<br />

orçamento.<br />

Mas o povo gosta, esle povo<br />

que é dos mais corruptos da Europa,<br />

ri-se do caso. Já ferrou o calote<br />

nacional aos credores externos e<br />

tripudiou com o caso.<br />

. Senle por cá amarguras varias<br />

mas <strong>de</strong> tudo se consola coin uma<br />

festa regia.<br />

Ainda ha pouco, dizem gazelas<br />

varias,"a população <strong>de</strong> Beja <strong>de</strong>lirou,<br />

porque a rainha fez festas aos boisinhos.<br />

O povo senliu que o aííagavam<br />

naquelles seus representantes,<br />

pacientes e <strong>de</strong> chifres. Gostou!<br />

Um dia affagal-o-hão representado<br />

num burro carregando com<br />

um fra<strong>de</strong>. Então o povo ha <strong>de</strong> ainda<br />

sentir mais enthusiasmo.<br />

E quanto a dinheiro elle ha <strong>de</strong><br />

arranjar-se, que tudo isto e o mais<br />

das Africas vendido dá para uns<br />

dias <strong>de</strong> gozo.<br />

Beslialissimo paiz 1<br />

: •<br />

Augusto <strong>de</strong> Mesquita<br />

Passou ha dias o anniversario d'este<br />

nosso distincto collega da imprensa portuense,<br />

director principal do Correio do<br />

Porto, cuja camaradagem em o nosso<br />

jornal nos orgulha.<br />

Mil felicitações.<br />

CHRONICA DA INVICTA<br />

Notas da semana<br />

O nosso governador civil, enten<strong>de</strong>u<br />

(e enten<strong>de</strong>u bem) que a monotonia da<br />

semana <strong>de</strong>via ser cortada com o inci<strong>de</strong>nte<br />

alegre d'um edital patusco.<br />

Conseguiu o seu fim!<br />

Nada mais patusco do que o edital<br />

aflixado no átrio do Circo Principe Real,<br />

composto em tres gran<strong>de</strong>s columnas,<br />

cerradas, corpo 8.<br />

Nos intervallos do espectáculo gymnastico<br />

era o edital quem dava a funcção,<br />

provocando commentarios trocistas,<br />

ditos picarescos, que <strong>de</strong>vem ler lisongeado<br />

o espirilo <strong>de</strong> s. ex. a o sr. governador.<br />

O edital (extranho não vêr uma única<br />

palavra a tal respeito nos jornaes da<br />

imprensa (liaria) preten<strong>de</strong> regular, por<br />

uma legislação especial, os espectáculos<br />

públicos, incluindo corridas <strong>de</strong> touros,<br />

que mereceram ao sr. Campos Henriques<br />

a attenção d'um capitulo especial.<br />

Num capitulo reserva-se a auctorida<strong>de</strong><br />

o direito <strong>de</strong> nomear intelligente, á sua<br />

escolha, confirmar o que a empreza annuncie,<br />

caso este tenha a bôa fortuna<br />

<strong>de</strong> captar as sympathias do auctor do<br />

edital.<br />

Os amadores touromachicos só po<strong>de</strong>rão<br />

lidar quando a auctorida<strong>de</strong> lhes rerconheça<br />

méritos para isso.<br />

Surprehen<strong>de</strong>-nos não vêr um artigo,<br />

um paragrapho que fosse, relativamente<br />

a pegas!—O sr. Terra Vianna, hoje<br />

commissario <strong>de</strong> policia, pegou no seu<br />

tempo, e se a memoria nos não atraiçoa,<br />

foi cabo <strong>de</strong> forcados em mais d'uma corrida.<br />

Legislação <strong>de</strong> cernelha ou <strong>de</strong> cara<br />

calhava com este funccionario.<br />

Um artigo, ainda relativo a louros,<br />

prohibe terminantemente os intervallos<br />

comicoâ que offendam a moral. Intervallos<br />

que offen<strong>de</strong>m a moral?! Sáo novos,<br />

para nós taes intervallos... A menos<br />

que o illustre sr. governador se refira<br />

ás scenas d'amor epicurista que os Lovelaces<br />

do Suisso entretem com as hnperias<br />

da Praça <strong>de</strong> D. Pedro, nas archihaucadás<br />

da sombra, durante os 20 minutos d'espera<br />

; a menos que o sr. Campos Henriques<br />

se retira aos olhares sén»ualistas<br />

que se cruzam <strong>de</strong> camarote a camarote,<br />

Irisando promessas, incendiando esperanças.<br />

..<br />

Com respeito a trabalhos da companhia<br />

gymnaslica e acrobatica, ficam os<br />

menores prohibidos <strong>de</strong> tomar parte em<br />

espectáculos públicos.<br />

Fez-se, para se produzir este effeito,<br />

a applicação da lei que regula o trabalho<br />

<strong>de</strong> menores nas fabricas. A applicação<br />

foi <strong>de</strong>scabida, e <strong>de</strong>sconchavada até.<br />

Se a interpretação do sr. Campos é<br />

a que <strong>de</strong>ve presidir ao cumprimento da<br />

lei, são então uma illegalida<strong>de</strong> o Asylo<br />

do Terço, o Collegio Militar, a Oiliciua<br />

<strong>de</strong> S. José, etc.<br />

E até aos ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> jornaes, os<br />

meaores que por ahi andam trabalhando<br />

dia e noite na faina d'angariar um pedaço<br />

<strong>de</strong> pao negro — até esses ficam conipreheudidos<br />

ua exclusão do sr. governador,<br />

que já <strong>de</strong>veria ter-lhes applicado o seu<br />

famoso artigo.<br />

Questões internas entre emprezarios<br />

e artistas, ou entre estes, diz o edital,<br />

serão resolvidas pela auctorida<strong>de</strong>.<br />

Temos a policia accumulaudo fuucções<br />

<strong>de</strong> juiz <strong>de</strong> paz t<br />

Os nnmeros gymnasticos, comicos ou<br />

equestres que tenham <strong>de</strong> ser substituídos,<br />

por causa <strong>de</strong> força maior, só o po<strong>de</strong>rão<br />

ser quando a auctorida<strong>de</strong> entenda que o<br />

numero em substituição equivale ao supprimido.<br />

Hein? Pelo exposto, enten<strong>de</strong> a auctorida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trapesios, <strong>de</strong> cabriolas e <strong>de</strong><br />

burros !<br />

Vá-se notando, e registando, que a<br />

fiscalisação policial se esten<strong>de</strong> ás attribuições<br />

e regalias do empresário: no circo,<br />

approvando ou regeitando números, <strong>de</strong>cidindo<br />

questões d'artistas; na praça <strong>de</strong><br />

touros, nomeando intelligente, inscrevendo<br />

os amadores <strong>de</strong> seu agrado, etc.<br />

Ha mais:<br />

ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />

do Povo<br />

Em antes <strong>de</strong> principiar o espectáculo<br />

gymnaslico, um.agente <strong>de</strong> policia inspeccionará<br />

os apparelhos para segurança do<br />

artista.<br />

Presume-se, por esta medida, que o<br />

sr. governador observou, mercê d'uma<br />

longa e reflectida pratica, que os artistas<br />

têm nm file especial em e-murrar as ventas.<br />

Não verificam a soli<strong>de</strong>z da corda do<br />

trapézio, da espia do arame, do ferro da<br />

barra--para quê? Se elles tem aquelle<br />

filé que tanto arrelia o sr. governador!<br />

O remedio (expediente heroico!) é<br />

or<strong>de</strong>nar que o chefe Lopes suba ao trapézio,<br />

que o chefe Annes se <strong>de</strong>pendure<br />

nas argolas, e que o cabo Pinto se equilibre<br />

no arame, e que <strong>de</strong>pois, muito respeitosamente,<br />

digam ao sr. Terra Vianna:<br />

«Verificamos, ex. m0 ! os apparelhos<br />

estão solidos, até v. ex. a pô<strong>de</strong> fazer os<br />

seus voos!...»<br />

Disposição sobre os contratadores:<br />

Os contratadores <strong>de</strong> bilhetes não po<strong>de</strong>rão<br />

estar no átrio nem ás portas dos<br />

theatros, nem ainda offerecer a fazenda,<br />

importunando os transeuntes.<br />

Este artigo parece do tempo <strong>de</strong> D.<br />

Miguel:<br />

Os contratadores pagam a sua licença,<br />

trazem a sua chapa, e não lhes permittem<br />

que exerçam a sua industria! Não<br />

po<strong>de</strong>m offerecer a fazenda; não po<strong>de</strong>m<br />

estar no átrio nem parar ás portas do<br />

theatro! On<strong>de</strong> hão <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r? — Na<br />

esquadra?<br />

Para concluir, atten<strong>de</strong>ndo ao muito<br />

espaço que roubaria ao Defensor com a<br />

apreciação <strong>de</strong> todo o edital:<br />

Os espectadores não po<strong>de</strong>m estar na<br />

sala do theatro com bengalas ou guardacluivas;<br />

serão esses objectos <strong>de</strong>positados<br />

num logar proprio em troca d-uma senha<br />

com numero correspon<strong>de</strong>nte.<br />

Não só manda em artistas e emprezarios<br />

a auctorida<strong>de</strong>; manda também<br />

nos nossos guarda chuvas, nas nossas<br />

bengalas, na nossa bolsa — porque la<br />

está uma multa <strong>de</strong> <strong>de</strong>z tostões para os<br />

infractores.<br />

Que rejubile o cofre da policia com<br />

o edital do sr. governador; a verba <strong>de</strong><br />

50 contos, vae augmentar consi<strong>de</strong>ravelmente,<br />

e a única consolação que nos<br />

resta, sr. Campos Henriques, e que po<strong>de</strong>mos<br />

rir <strong>de</strong> todas estas disposições,<br />

emquanto v. ex. a não collectar a gargalhada<br />

por incompatível com a sua posição—<br />

que, realmente, é triste!<br />

O negociante Lopes Cardoso <strong>de</strong>sistiu<br />

da querella apresentada em juizo contra<br />

o notável operador dr. J. Franchini.<br />

Apezar d'isso,'o distincto clinico não<br />

<strong>de</strong>siste da acção que promoveu, por<br />

diffaniação, contra aquelle sr.<br />

A Associação Liberal projecta festejar<br />

o dia 9


A M O I —M.® 91 O DEFENSOR DO POVO 83 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1893<br />

C E Y S T A B S<br />

A minha Yisinha<br />

Eu penso que ella nasceu<br />

ou das espumas do mar<br />

ou dos raios do luar<br />

ou das lagrimas do céu.<br />

Mas ha alguém que assevera<br />

que a nossa gêntil formosa<br />

nasceu <strong>de</strong> um botão <strong>de</strong> rosa<br />

no seio da primavera.<br />

O seu perfil assimilha<br />

o das virgens do Oriente,<br />

quando dormem castamente<br />

á sombra da mancenilha.<br />

Tem nos lábios côr da aurora<br />

suaves como a ventura,<br />

a puríssima frescura<br />

do orvalho, que a manhã chora.<br />

Seus olhos esplen<strong>de</strong>m luz,<br />

mas sempre arrasados d'agua...<br />

não era tão gran<strong>de</strong> a magua<br />

quando expirava Jesus.<br />

Fascina como as visões;<br />

encanta como as sereias;<br />

os seus gostos teem ca<strong>de</strong>ias;<br />

na sua voz ha prisões.<br />

Loira e triste I... na verda<strong>de</strong><br />

tão triste como a violeta,<br />

até lhe chama um poeta<br />

a encarnação da saudaSel<br />

Hugo Diniz<br />

ANTONIO FOGAÇA<br />

Os versos d'este nosso amigo que<br />

foram publicados no n.° 93 do Defensor<br />

do Povo sob o titulo — Via Lactea —<br />

sairam algum tanto incorrectos. Lamentámos<br />

sinceramente este facto, tanto<br />

mais que conhecemos por miúdo as justas<br />

meticulosida<strong>de</strong>s do talentoso poeta.<br />

Havemos porém evitar que se repitam<br />

estes casos para socego d'elle e nosso.<br />

Seguem as correcções:<br />

Na primeira oitava, publicou-se :<br />

«Amo o raio que cruza á noite os ares<br />

«Amo a virgem piedosa adormecida»<br />

e <strong>de</strong>via publicar-se:<br />

Ante o raio que cruza á noite os ares<br />

Amo a virgem piedosa adormecida<br />

Na terceira oitava, o verso:<br />

«Parece que escutam, o concerto»<br />

<strong>de</strong>ve lêr-se:<br />

«Parece que escutamos o concerto»<br />

Na sexta oitava, o verso :<br />

«Inviolável, sagrado, alvo, ineffavel»<br />

<strong>de</strong>via ser:<br />

«Inviolável, sagrado, almo, ineffavel»<br />

A sétima oitava, que começa :<br />

«Da sua mão direita 1 que suspenda<br />

A rapida ampulheta da existencia»<br />

escreveu o auctor:<br />

«Da tua mão direita I que suspen<strong>de</strong><br />

A rapida ampulheta da existencia...»<br />

Lobos<br />

Na povoação das Al<strong>de</strong>ias, pequeno<br />

logar situado numa encosta da Serra da<br />

Estrella, proximo á Villa <strong>de</strong> Gouvêa, on<strong>de</strong><br />

se fabrica o magnifico queijo da Serra,<br />

e para on<strong>de</strong> nesta oporha é costume<br />

emigrarem gran<strong>de</strong>s rebanhos <strong>de</strong> ovelhas,<br />

foi encontrada por Anlonio Bento uma<br />

ninhada <strong>de</strong> cinco lobitos que tirou, an<br />

dando com elles pelas povoações próximas<br />

fazendo peditorio.<br />

E' usança antiga as camaras municipaes<br />

d'aquelles sitios darem um premio<br />

pecuniário a quem apanhe estas ninhadas<br />

ou mate um lobo, e por isso Antonio<br />

Bento já <strong>de</strong>ve ter recebido esse<br />

premio da camara <strong>de</strong> Gouveia.<br />

Os paes dos lobitos uivam medonhamente<br />

no sitio on<strong>de</strong> tinham o ninho, e<br />

para os exterminar pozeram-lhe um carneiro<br />

envenenado, esperando conseguir o<br />

seu intuito d'esta fórma.<br />

Exposição industrial<br />

A exposição industrial porlugueza,<br />

no museu dos Jeronymo», em Belem,<br />

<strong>de</strong>ve talvez abrir no dia 1 do proximo<br />

mez <strong>de</strong> julho.<br />

Eslá muito adiantada dizem, e <strong>de</strong>ve<br />

ficar interessantíssima, trabalhamlo-se<br />

nesse sentido com a maxima activida<strong>de</strong>.<br />

A inauguração será presidida por suas<br />

magesta<strong>de</strong>s.<br />

6. João na Figueira da Foz<br />

Este anno os festejos do Santo Precursor<br />

promellem ser <strong>de</strong>slumbrantes. Nestes<br />

trarlicionaes festejos a Figueira é uma<br />

das terras do paiz on<strong>de</strong> com mais brilho<br />

emais caracteristicamente se festeja o S.<br />

João.<br />

Formam-se grupos <strong>de</strong> esbeltas raparigas<br />

rpie promovem as danças populares,<br />

e em <strong>de</strong>spique, apresentam canções<br />

apropriadas que ensaiam com antecipação<br />

e que nas noites <strong>de</strong> 23, 24 e 25<br />

exhibem nas ruas on<strong>de</strong> attrahem enorme<br />

concorrência.<br />

Este anno ha quatro grupos: Carvoeiras,<br />

Flor da Mocida<strong>de</strong>, Vasco da<br />

Gama e Figueirense que lêem orrhestras<br />

suas -e que se ensaiaram já publicamente<br />

na noite <strong>de</strong> Santo Antonio, distinguindo<br />

se muito as Carvoeiras.<br />

lia cinco annos que estes folguedos<br />

populares ten<strong>de</strong>m a per<strong>de</strong>r a originalida<strong>de</strong><br />

local porém,a gran<strong>de</strong> commissão organisadora<br />

<strong>de</strong> todas as feitas, para obstar<br />

a isso e para fazer reviver o Malhão, o<br />

Estnlhuló, o Patusco e o Landum dn Figueira,<br />

estabeleceu dois prémios, ti n <strong>de</strong><br />

3B$00fte outro-<strong>de</strong> 1S#000 réis, que serão<br />

conferidos aos dois grupos que mais<br />

se dis tinguirem no canto e dança d'aquellas<br />

modas, queantigamente tanta nomeada<br />

tinham e tão bem dançadas e cantadas<br />

eram na Figueira.<br />

Tudo quanto seja para nacionalisar<br />

os nossos folguedos e fazer reviver as<br />

tradicções populares é louvável; e por<br />

Uso felictamos os cavalheiros que compõem<br />

a commissão pela sua feliz i<strong>de</strong>ia.<br />

As festas, segundo as <strong>de</strong>screve o programma,<br />

serão :<br />

Dia 23 —De manhã: alvorada; á<br />

noite: bailes populares e o gran<strong>de</strong> certamen<br />

dos ranchos, segundo os antigos<br />

costumes figueirenses.<br />

Dia 2 4 — De manhã: cortejo da<br />

ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> S. João; á tar<strong>de</strong> : corridas<br />

<strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, corridas <strong>de</strong> rantaros e<br />

sacos (antigas usanças); á noite: illuminações.<br />

Dia 25 — De manhã: gran<strong>de</strong> regata<br />

no rio; á tar<strong>de</strong>: corrida <strong>de</strong> touros; e<br />

á noite, fogo <strong>de</strong> artificio.<br />

=x<br />

E queixam-se!<br />

A Correspondência, d'Aveiro, jornal<br />

da classe dos empregados telegraphoposlaes,<br />

apresenta o seu ultimo numero<br />

tarjado <strong>de</strong> lucto e appella para a nação<br />

porque foram supprimidos 32 logares<br />

no quadro dos serviços telegrapho postaes.<br />

Achamos justas as reclamações, a<br />

Correspondência, porque realmente a<br />

classe que e*te jornal <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> tem sido<br />

posta sempre á margem pelos po<strong>de</strong>res<br />

publicos; mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Correspondência,<br />

ao appellar para a nação lhe<br />

apresenta como lollia <strong>de</strong> serviços relevantes<br />

prestados—-o <strong>de</strong>ver-se aos empregados<br />

telegrapliicos o abortamento da<br />

revolução dc 31 <strong>de</strong> janeiro — a nação,<br />

que, por este facto, continua ainda<br />

acorrentada ao ergástulo que a estrangula,<br />

nada lhes <strong>de</strong>ve. -<br />

Appelle a Correspondência para o<br />

sr. D. Carlos e para o glorioso systema<br />

a que o excelso monarcha presi<strong>de</strong>, o<br />

qual, parece, se lembra pouco do to 1<br />

relevante serviço prestado — a elle, que<br />

á nação não.<br />

Um maluquinho da Lisbia<br />

Em correspondência para O Commercio<br />

<strong>de</strong> Vizeu, um cerebro <strong>de</strong>ssorado, que<br />

da província foi pavonear se para os asphaltos<br />

da capital, ejacula <strong>de</strong> lá umas<br />

sandices quaesquer, com pouca grammatica<br />

e nenhuma critica, contra os <strong>de</strong>putados<br />

republicanos e em especial contra<br />

o sr. dr. Jacintho Nunes.<br />

O pobre do homem, coiladito ! está<br />

como o pilrileiro da cantiga popular, sabem<br />

?<br />

Pilriteiro, que dás pilritos,<br />

porque não dás coisa boaí<br />

Cada um dá o que tem<br />

conforme a sua pessoa. -<br />

A calhar, hein?<br />

Trema a Europa!<br />

Conhecem os senhores o principe<br />

real, um petizinho muito galante, como<br />

todas as creanças da sua eda<strong>de</strong>? Pois<br />

vae boje tomar o cominando honorário<br />

do batalhão do collegio militar!<br />

Não são tão ridículas estas scenas,<br />

próprias só <strong>de</strong> opera buffa, com musica<br />

<strong>de</strong> Offenhach ?<br />

Asphixiados num balseiro<br />

Communicam-nos <strong>de</strong> Alqneidão, que,<br />

ha poucos dias, o sino da capella d'aquelle<br />

logar, tocando a rebate, poz em alvoroço<br />

o povo d'aquella localida<strong>de</strong>.<br />

Era o caso que, andando o sr. Francisco<br />

Simões dos Santos a traçar vinho<br />

com vinagre que mandava tirar d'um<br />

balseiro que leva 21 pipas e me<strong>de</strong> 10<br />

palmo» <strong>de</strong> altura por 10 <strong>de</strong> largo, saindo<br />

o vinagre por um postigo, chegou o<br />

momento <strong>de</strong>, para sair mais vinagre, ser<br />

necessário tirar o postigo.<br />

Como este não po<strong>de</strong>sse ser arrancado,<br />

dois creados do sr. Santos lembraram-se<br />

<strong>de</strong> entrar um d'elles <strong>de</strong>ntro do<br />

balseiro por um outro postigo para, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro para fóra, empurrarem e abrirem<br />

aquelle. Saltou <strong>de</strong>ntro um d'elles, sem<br />

pensar no perigo que corria, e caiu logo<br />

asphixiado; o outro, José Gaspar, para<br />

salvar o primeiro saltou também para<br />

<strong>de</strong>ntro, e lá ficou; e emquanto Joaquim<br />

Gomes Erve<strong>de</strong>ira partia o postigo a machado,<br />

Manoel Maria Lopes Mergulhão<br />

lançou uma escada <strong>de</strong>ntro do balseiro<br />

para por ella <strong>de</strong>scer a ver se salvava<br />

os dois primeiros, e lá teria caido lam-<br />

_bem se um seu irmão não obstasse á<br />

<strong>de</strong>scida.<br />

Os dois que saltaram <strong>de</strong>ntro do balseiro<br />

foram a tempo salvos pelo postigo<br />

arrombado, mas ainda estiveram tres<br />

horas sem falia. Parece que cairam como<br />

fulminados apenas entraram no balseiro,<br />

porque <strong>de</strong> nada se recordavam.<br />

Para que se saiba<br />

Diz o Tempo que o sr. ministro da<br />

guerra mandou processar <strong>de</strong>ntro da verba<br />

<strong>de</strong> transportes dois contos <strong>de</strong> réis gastos<br />

em champagne e trufas nos banquetes do<br />

Entroncamento.<br />

Sabem, aquella comezaina da passeata<br />

real a Tancos?<br />

Por esta e tantas outras é que o sr.<br />

Fuschini está fazendo questão <strong>de</strong> receitas.<br />

E o povo a pagar.. .<br />

Um coronel processado<br />

Lembram-se d'aquelle coronel d'infanteria<br />

12, a quem ha tempo no» referimos,<br />

dirigindo-nos ao sr. ministro da<br />

guerra para pôr cobro ao excessivo zelo<br />

d'aquelle official, que em toda a parte via<br />

hydras e conspiradores, numa ancia burlesca<br />

<strong>de</strong> se fazer notado?<br />

Pois aquelle official, tendo sido exonerado<br />

do cominando, vingou-se mandando<br />

arrancar da porta do quartel uma<br />

enorme corôa real com as iniciaes C A,<br />

e por este motivo vae respon<strong>de</strong>r a conselho<br />

<strong>de</strong> guerra pelo nefando attentado.<br />

E' a paga que lhe dão, sr. corortel,<br />

pelo seu furor <strong>de</strong> sustentáculo da realeza<br />

I<br />

Ingratos, pois não são?...<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Pazei, pazei. . .<br />

Os arrufos que por dias separaram os<br />

srs. ministro do reino e dr. Souto Rodrigues,<br />

<strong>de</strong>pressa se <strong>de</strong>sfizeram e o chefe<br />

dos regeneradores voltou <strong>de</strong> facto a tomar<br />

o seu logar, olhando sobranceiro para a<br />

pequenez dos adversarios, que sonharam<br />

por um momento empolgar-lhe o mando.<br />

E neste caso nós vemos o sr. Ayres<br />

<strong>de</strong> Campos bem mal collocado e em irrisória<br />

posição, pois se sabe que o ministro<br />

do reino nunca pensou em'substituir o<br />

sr. Souto Bodrigues. Somente lhe convinha<br />

aproveitar os serviços que á politica<br />

po<strong>de</strong> prestar o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos, e<br />

por isso se mostrara <strong>de</strong>speitado com o<br />

sr. Souto, vendo fugir a occasião para se<br />

mostrar grato ao novel correligionário, que<br />

com tanto amor e <strong>de</strong>dicação se entregou<br />

aos azares d'esla politica que tudo <strong>de</strong>prime<br />

e corrompe.<br />

Neste lance jogaram-se todas as cartas,<br />

mostrando o sr. Souto Rodrigues ter<br />

os maiores trumphos e os mais importantes,<br />

o que fez recuar os parceiros do si*.<br />

Ayres <strong>de</strong> Campos, a quem, na verificação<br />

<strong>de</strong> contas, lhe faltaram ós proprios collegas<br />

camaristas, que <strong>de</strong> corpo e alma pertencem<br />

ao sr. Souto, o que já ficou <strong>de</strong>monstrado<br />

na eleição da commissão districtal.<br />

Os bem informados contam, que ao<br />

lado do sr. Ayres <strong>de</strong> Campos apenas eslão<br />

cinco homens e que a magna caterva que<br />

lhe bebeu o vinho e comeu os bolos nas<br />

proximida<strong>de</strong>s das eleições, voára, <strong>de</strong>ixando<br />

<strong>de</strong> si bem triste memoria.<br />

Pelo que mais nos convencemos <strong>de</strong> que<br />

não engabavamos o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos<br />

ao aconselhar lhe que se emancipasse <strong>de</strong><br />

partidos e <strong>de</strong> partidarios, on<strong>de</strong> difficilmente<br />

se encontram <strong>de</strong>dicações, mas on<strong>de</strong><br />

sobeja o cynismo e a má fé.<br />

S. ex. a nos achará verda<strong>de</strong>iros, ao fim<br />

d'uma temporada mais ou menos próxima,<br />

e quando as <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rações se forem<br />

avolumando em seu redor.<br />

Bastava uma nova lucta eleitoral para<br />

a <strong>de</strong>cepção ser completa; e o sr. Ayres<br />

<strong>de</strong> Campos só não ficaria <strong>de</strong>rrotado se<br />

abrisse <strong>de</strong> par em par as portas da sua<br />

burra.<br />

Mas vai a politica, a que se entregou<br />

o sr. Ayres <strong>de</strong> Campo», to Io» e»«es sacrifícios?<br />

Que honras e que glorias lhe<br />

po<strong>de</strong>m dar partidos con<strong>de</strong>mnado» pela<br />

opinião publica, e odiados intimamente<br />

pelo paiz?<br />

Oxalá que s. ex a , ao experimentar na<br />

sua vida publica dois maus bocados," se<br />

entregue somente a promover os melhoramentos<br />

locaes da terra que lhe foi berço<br />

e que ha <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer reconhecida, como<br />

reconhecida agra<strong>de</strong>ceu os benefícios relevantes<br />

que á pobresa indigente dispensou<br />

o honrado cidadão, João Corrêa Ayres <strong>de</strong><br />

Campos.<br />

Teixeira <strong>de</strong> Brito<br />

Este nosso amigo e estimado collega<br />

<strong>de</strong>'redacção continúa gravemente doente.<br />

Um prompto restabelecimento é o que<br />

cor<strong>de</strong>almente lhe <strong>de</strong>sejamos.<br />

Sem nerimonia<br />

Não pon<strong>de</strong> ver um jornal d'esla cida<strong>de</strong><br />

que dissessemos, a proposito do<br />

conflicto entre dois empregados da camara,<br />

que o sr. vice-presi<strong>de</strong>nte protegia o aggressor<br />

a quem <strong>de</strong>seja dar melhor collocação,<br />

em prejuízo do aggredido. E nesta<br />

embirra assevera o collega que fallámos<br />

por paixão e sem informações. E' uma<br />

opinião!<br />

Ponhâmos, porém os pontos no* ii,<br />

e vamos a factos. Se da parte do sr vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

não houvesse uma protecção<br />

bem evi<strong>de</strong>nte por esse empregado,<br />

s. ex/, logo que recebeu o officio do<br />

queixoso dando-lhe parte do conflicto,<br />

não <strong>de</strong>veria hesitar em dar d 'elle conhecimento<br />

á camara na sessão <strong>de</strong> quinta<br />

feira ultima, escusando <strong>de</strong> convocar para<br />

este fim sessões extraordinárias, on<strong>de</strong><br />

mais »e provou a sua <strong>de</strong>dicação por esse<br />

mesmo empregado.<br />

Demais, sabemos que o sr. vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

pretendia terminar este conflicto<br />

fazendo com que o aggredido se humilha-se<br />

ao aggressor, e o aconselhára a<br />

que <strong>de</strong>sse explicações!<br />

E por ultimo viu-se a propoita <strong>de</strong> s.<br />

ex. a apresentada na sessão extraordinaria:<br />

castigando o aggressor em 15 dias<br />

<strong>de</strong> suspensão sem vencimento e o aggredido<br />

ein 8 dias!<br />

Mas o sr. Manoel Miranda, e tod* a<br />

camara, que viu a injustiça flagrante<br />

d'aquella proposta, substituiu-a, castigando<br />

somente o protegido do sr. vicepresi<strong>de</strong>nte<br />

com 30 dias <strong>de</strong> suspensão.<br />

Estes são os factos, estas as n ssas<br />

informações, e bem lamentamos que tal<br />

acontecimento se désse e que um jornal<br />

d'esta cida<strong>de</strong> nos venha ainda dizer que<br />

fallámos por paixão, quando os facto" que<br />

narramos e que são do dominio publico,<br />

vêm provar a verda<strong>de</strong> da nossa asserção.<br />

E ainda podíamos dizer muito mais!<br />

Saneamento <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> registar aqui<br />

os perseverantes esforços do <strong>de</strong>putado<br />

por este circulo, sr. Matloso Corte-iteal,<br />

que tem tido d'uma tenacida<strong>de</strong> inegualavel<br />

no que diz respeito aos melhoramentos<br />

locaes d'esta cida<strong>de</strong>, achando-se<br />

neste assumpto quasi isolado dos seus<br />

collegas, representantes d'esla cida<strong>de</strong>.<br />

Beferiu-se s. ex.* ha dias, nas camaras,<br />

á auctorisação dada ao governo para<br />

contractar o esgoto e saneamento da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, dizendo que por essa<br />

auctorisação íe mandou abrir concurso<br />

para os projectos da obra, os quaes foram<br />

apresentados á junta consultiva dobras<br />

publicas que <strong>de</strong>u o seu parecer, recebendo<br />

os auctores dos projectos as <strong>de</strong>vidas<br />

remunerações.<br />

Estranhou, e com justificada razão,<br />

que apezar <strong>de</strong> tudo isto nada se tenha<br />

feito e que porisso mesmo perguntava<br />

ao sr. ministro das obras publicas se<br />

tencionava fazer alguma cousa, ou se este<br />

estado <strong>de</strong> coisas permaneceria como ha<br />

quatro annos.<br />

Affirmou que este melhoramento se<br />

podia conseguir sera gran<strong>de</strong> encargo<br />

para o thesouro, e estranhou que, èonlie-<br />

cendotão bem <strong>Coimbra</strong> o sr. ministro das<br />

obras publicas, se não <strong>de</strong>cida a conce<strong>de</strong>rllie<br />

um melhoramento tão indispensável<br />

para a boa hygiene da cida<strong>de</strong>.<br />

Falia o sr. Matloso relativamente á<br />

Escola pratica d'agricultura e lembra ao<br />

governo, que, quando este estabelecimento<br />

principiava a dar resultados sati-factorios,<br />

se retirara d'aqui a cou<strong>de</strong>laria, não se<br />

olhando ás centenas <strong>de</strong> contos que se<br />

haviam gasto com a edificação e installação<br />

d'um estabelecimento proprio, que<br />

se achava completamence <strong>de</strong>spresado.<br />

Pe<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>ncias ao respectivo ministro,<br />

sr. dr. Bernardino Machado.<br />

Inundaçffo<br />

Na segunda feira, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>scargos electricas,sobrevieram violentas<br />

bateras <strong>de</strong> agua, chegando a ficar o transito<br />

impedido em muitas ruas da baixa.<br />

Os canos <strong>de</strong> esgoto d'algumas ruas rebentaram<br />

saindo a agua em jorros a invadir<br />

as lojas; a egreja <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

ficou inundada por muito lempo; do<br />

claustro do silencio e da sachristia saía<br />

a agua dos canos com gran<strong>de</strong> violência,<br />

e no átrio da egreja tomou muita altura.<br />

Trabalhou no exgotamento a bomba da<br />

salvação publica e <strong>de</strong>pois appareceram<br />

alguns bombeiros municipaes que fizeram<br />

serviço com bal<strong>de</strong>s.<br />

Não é a primeira vez que tal succe<strong>de</strong><br />

neste templo e em 1875, uma inundação<br />

tomou a altura <strong>de</strong> l, m 00, o que parece<br />

aconselhar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sviado<br />

o cânp <strong>de</strong> esgoto que atravessa a egreja<br />

obstando assim a estas inundações, que<br />

necessariamente hão <strong>de</strong> prejudicar este<br />

magnifico templo, on<strong>de</strong> se estão fazendo<br />

obras <strong>de</strong> restauração.<br />

Aqui <strong>de</strong>ixamos á consi<strong>de</strong>ração dos<br />

competentes e d'aquelles que a seu cargo<br />

têm a conservação dos monumentos nacionaes<br />

este caso que po<strong>de</strong> repetir-se<br />

muitas vezes e que bem merece evitar-se.<br />

Parabéns<br />

Enviamol-os ao nosso amigo, sr. Antonio<br />

Correia dos Sanlos, pela approvação<br />

dc seu lilho Antonio, no exame <strong>de</strong><br />

portuguez.<br />

Professor <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />

O sr. Lourenço Augusto Esteves<br />

Martins acaba <strong>de</strong> apresentar aos exames<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>seubo (2.° anno), tres alumnos, D.<br />

Maria José Henriques Godiuho, Vietorino<br />

Godinho e José Francisco Bugalho, que<br />

ficaram plenamente approvados.<br />

Ja em Outubro <strong>de</strong> 1892, apresentou<br />

ao exame <strong>de</strong> 1.° e 2.° anuo da mesma<br />

disciplina, Gregorio <strong>de</strong> Mello Nunes<br />

Giral<strong>de</strong>s, lilho do sr. dr. Manuel Nunes<br />

Giral<strong>de</strong>s, ficando distincto no 1.° anno<br />

e approvado no 2.°.<br />

O sr. Esteves Martins continua para<br />

outubro a leccionar na rua do Bego<br />

d'Agua 7.<br />

Contra as propostas <strong>de</strong> fazenda<br />

Foi presente ao parlamento pelo <strong>de</strong>putado<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, sr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />

a representação da Associação Commercial<br />

contra as propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />

S. ex. a apenas se permitiiu pedir a<br />

sua publicação no Diário do Governo.<br />

O novel <strong>de</strong>putado, ao mauuar para<br />

a mesa a representação do commercio<br />

conimbricense, não teve duas palavras<br />

em que mostrasse francamente a sua opinião<br />

no assumpto <strong>de</strong> que se ti atava, e<br />

talvez essa falta obrigasse o sr. Matloso<br />

Corte-Real a associar-se á representação<br />

da Associção Commercial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

contra as propostas <strong>de</strong> lazenda, pedindo<br />

para que a publicação no Utario se fizesse<br />

som a maior brevida<strong>de</strong>.<br />

E«eóla Brotero<br />

Ficaram approvados nos exames feitos<br />

nesta escola os alumnos que enumeramos<br />

:<br />

1 Dia 14<br />

DESENHO ELEMENTAR, CLASSE PREPARATÓRIA<br />

Maria da Conceição Moura Bastos,<br />

filha <strong>de</strong> Antonio Jose Moura Bastos.<br />

Maria do Carmo Teixeira Marques,<br />

filha <strong>de</strong> José dos Santos Marques.<br />

Maria Julia da Conceição, filha <strong>de</strong><br />

Julio Cesar Augusto.<br />

Isabel da Fonseca, filha <strong>de</strong> Joaquim<br />

Nunes.<br />

Joaquim Maria d'Azevedo,typographo,<br />

filho <strong>de</strong> Procopio Maria Azevedo.<br />

Luciauo dos Beis Alves, pintor, filho<br />

<strong>de</strong> Antonio Emygdio Alves.<br />

João Rocha, canteiro, filho <strong>de</strong> Miguel<br />

Rocha.<br />

Augusto Simões Mizarella, canteiro,<br />

filho <strong>de</strong> Joaquim Simões Mizarella.


Í—S. 0 97 O IHilFEMSOR D O P O V O 92 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

José Graça, alfaiate, filho <strong>de</strong> Manoel<br />

Graça.<br />

Francisco Manoel da Silva Teixeira,<br />

tecelão mechanico, filho <strong>de</strong> Narciso Fortunato<br />

da SÍIVH Teixeira.<br />

Joaquim da Costa Netto, pedreiro,filho<br />

e Antonio da Costa Netto.<br />

Alfredo Pessoa, typographo, filho <strong>de</strong><br />

Manoel Antonio <strong>de</strong> Figueiredo.<br />

Francisco Augusto Ramalhete,alfaiate,<br />

filho <strong>de</strong> Nuno Rodrigues Ramalhete.<br />

Theodorico Moita, marceneiro, filho<br />

<strong>de</strong> Manoel Gaspar.<br />

Antonio dos Santos, carpinteiro, filho<br />

<strong>de</strong> Joaquim dos Santos.<br />

Jose Antonio Lagôas, pedreiro, filho<br />

<strong>de</strong> José Antonio Lagôas.<br />

Candido Augusto <strong>de</strong> Nazareth, typographo,<br />

filho <strong>de</strong> Francisco Antonio <strong>de</strong><br />

Nazareth.<br />

NAS CLASSES PREPARATÓRIA E COMPLEMENTAR<br />

Desi<strong>de</strong>rio Pina, typographo, filho <strong>de</strong><br />

Antonio Maria Pina.<br />

Manoel Pedro Cor<strong>de</strong>iro, serralheiro,<br />

filho <strong>de</strong> Joaquim Pedro Bizarro.<br />

José das Neves, alfaiate, filho <strong>de</strong><br />

Eleuterio das Neves.<br />

Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira, typographo,<br />

filho <strong>de</strong> Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira.<br />

Dias 15 e 16<br />

DESENHO INDUSTRIAL, RAMO ARCHITECTORAL<br />

1. a parle<br />

João Bento La<strong>de</strong>ira, carpinteiro, filho<br />

<strong>de</strong> Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira.<br />

Antonio da Costa, canteiro, filho <strong>de</strong><br />

Joaquim da Costa Carolino.<br />

2.* parte<br />

Anacleto Garcia, canteiro, filho <strong>de</strong><br />

Sebastião Garcia.<br />

DESENHO INDUSTRIAL, RAMO MECHANICO<br />

1.* parte<br />

Manoel Rodrigues d'Almeida, marceneiro,<br />

filho <strong>de</strong> José Rodrigues d'Almeida.<br />

Eduardo Mauricio, relojoeiro, filho<br />

<strong>de</strong> Francisco Mauricio.<br />

Caetano Rocha, canalizador, filho <strong>de</strong><br />

Bento Rocha.<br />

Dia 17<br />

ARITHMETICA<br />

José Antonio dos Santis, typographo,<br />

filho <strong>de</strong> José Antonio dos Santos.<br />

A<strong>de</strong>lino Viriato da Costa Almeida,<br />

typographo, filho <strong>de</strong> Bernardo Domingos<br />

d'Almeida.<br />

José Augusto Gonçalves <strong>de</strong> Freitas.<br />

Antonio Henriques, typographo, filho<br />

<strong>de</strong> Manoel Henriques.<br />

Duarte Men<strong>de</strong>s da Costa, professor<br />

d'instrucção primaria, filho <strong>de</strong> José Feliciano<br />

da Costa.<br />

Dias 19 e 20<br />

MODELAÇÃO ORNAMENTAL (DUAS SESSÕES)<br />

Bebiana Elysa Augusta Soares, filha<br />

<strong>de</strong> Alexandre Antonio Soares.<br />

Emilia <strong>de</strong> Jesus Fonseca, filha <strong>de</strong> José<br />

Miguel da Fonseca.<br />

4K Folhetim do Defensor do Povo<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1 VATIIMO<br />

TTX<br />

Débora<br />

— Alguma carta, naturalmente, que<br />

a chama á Hollanda? disse o marquez.<br />

Ah! minlia querida Memma, que não<br />

encontrara alli a sua Italia, o seu bello<br />

palacio, o seu <strong>de</strong>licioso jardim... E a<br />

menina Débora acompanha-a, sem duvida?...<br />

— Sempre, senhor marquez, respon<strong>de</strong>u<br />

a creança com uma firmeza maravilhosa,<br />

não <strong>de</strong>ixarei nunca madame<br />

Van-Ritter.<br />

— Embora ella vá para a Hollanda ?<br />

perguntou di Negro rindo.<br />

— Ah I confesso, replicou Débora<br />

com uma graça infantil, e inclinando sobre<br />

o hombro a cabeça encantadora,<br />

confesso que antes queria ir a Roma;<br />

mas com madame Van-Ritter até a Hollanda<br />

será um bello paiz.<br />

— E quem lhe faHou <strong>de</strong> Roma, <strong>de</strong><br />

que gosta tanto? perguntou o cônsul<br />

para perguntar alguma coisa.<br />

— Toda a gente, senhor.<br />

José Gomes Tinoco, photographo,<br />

filho <strong>de</strong> Adriano Gomes Tinoco.<br />

MODELAÇÃO ARCHITECTURAL<br />

João Bento La<strong>de</strong>ira, carpinteiro, filho<br />

<strong>de</strong> Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira.<br />

Antonio da Costa, canteiro, filho <strong>de</strong><br />

Joaquim da Costa Carolino.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Coinihi-a<br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

FACULDADE DK DIREITO<br />

Dia 19<br />

1 0 anno — Accacio Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Magalhães<br />

Ramalho, Primo Firmino do Nascimento<br />

Frazão.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2° anno — Herculano <strong>de</strong> Almeida<br />

Mattos, Jayme Rebello da Costa Aruaud,<br />

João Caetano da Fonseca Lima, João<br />

José Bragança <strong>de</strong> Miranda<br />

3.° anno — Gustavo <strong>de</strong> Lima Brandão,<br />

Henrique Maria Cisneiros Ferreira.<br />

4." anno — Augusto Casimiro Alves<br />

Monteiro, Bernardino Gomes Pereira Baptista.<br />

5." anno — Arnaldo Machado, Arthur<br />

Novaes Villaça.<br />

Dia 20<br />

1." anno—Simão <strong>de</strong> Gusmão Corrêa<br />

Arouca, Antonio Rodrigues da Costa<br />

Silveira Júnior, Abilio Augusto Men<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Carvalho, Julio Maria d'Andra<strong>de</strong> e<br />

Sousa.<br />

2.° anno—João Maria <strong>de</strong> Albuquerque<br />

<strong>de</strong> Azevedo Coutinho, João Men<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Vasconcellos, João <strong>de</strong> Passos <strong>de</strong> Sousa<br />

Canavarro, João Pimenta.<br />

3.° anno — João Lopes Garcia Reis,<br />

Joaquim Rodrigues Davim.<br />

4 0 anno—Bernardo Pacheco Pereira<br />

Leite, Caetano José <strong>de</strong> Sousa Madureira<br />

e Castro.<br />

5." anno,—Carlos <strong>de</strong> Saccadura Botte<br />

Pinto <strong>de</strong> Mascarenhas, Clemente Annibal<br />

dc Mendonça. -<br />

Dia 21<br />

1° anno — André Gago da .Camara,<br />

Alfredo Augusto <strong>de</strong> Frias Ribeiro.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2." anno—João <strong>de</strong> Sampaio Freire<br />

d'Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousa Cyrne, Joaquim<br />

Men<strong>de</strong>s, Joaquim <strong>de</strong> Moraes Sarmento,<br />

Joaquim Nunes Borges Madureira <strong>de</strong><br />

Carvalho<br />

3." anno — José Bento <strong>de</strong> Novaes<br />

Peixoto, José Ferreira Mornoco e Sousa.<br />

4." anno—Carlos Alberto Leite <strong>de</strong><br />

Faria, Carlos Fe<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Castro Pereira<br />

Lopes,<br />

5.° anno — Domingos Lopes da Costa.<br />

Houve uma reprovação.<br />

FACULDADE DE MEDICINA<br />

Dia 19<br />

1.° anno — Pedro Maria <strong>de</strong> Macedo<br />

da Cunha Coutinho.<br />

Houve uma reprovação.<br />

2.° anno — Alfredo Lopes> Antonio<br />

Agostinho Mourão <strong>de</strong> Campos.<br />

llouve uma <strong>de</strong>sislencia.<br />

— Creança! disse Memma abraçando-a,<br />

não se dirá, ao ouvil-a, que toda<br />

a gente lhe tem fallado <strong>de</strong> Roma?<br />

— Não, coniintiou Débora; mas o<br />

principe Santa Scala, a minha boa amiga,<br />

meu pae e meu irmão lêem-me fallado<br />

<strong>de</strong> Roma muitas vezes; para mim, é toda<br />

a gente.<br />

— Ella tem razão, disse o marquez.<br />

— Uma cida<strong>de</strong> soberba, proseguiu<br />

Débora com este enthusiasmo que a ereanças<br />

tomam quando as pessoas gran<strong>de</strong>s<br />

escutam e a.pprovam, uma cida<strong>de</strong> que tem<br />

uma historia tão curiosa, ruínas tão antigas,<br />

monumentos tão beilos, festas tão<br />

alegres. Todas as noites sonho com<br />

Roma, e parece-me que já a vi, porque<br />

os meus sonhos <strong>de</strong>fem ser verda<strong>de</strong>iros.<br />

Senhor marquez, já esteve em<br />

Roma?<br />

— Já, minha menina, muitas vezes.<br />

— Então conhece-a bem ?<br />

— Julgo que a conheço alguma coisa.<br />

— Então <strong>de</strong>ve gostar muito d'ella...<br />

— Gosto mais <strong>de</strong> Génova.<br />

— Porque o sr. marquez é <strong>de</strong> Génova,<br />

e cada um gosta mais da sua terra.<br />

Mas quem, como eu, não tem terra própria,<br />

gosta mais <strong>de</strong> Roma do que qualquer<br />

outra.<br />

—Minha amiguinha, sinto muito que<br />

não goste <strong>de</strong> Génova.<br />

— Habito-a, e não a vi nunca, senhor<br />

marquez. Mas disse-me meu irmão<br />

Ge<strong>de</strong>ão, que ha nella uma rua <strong>de</strong> pala-<br />

3." anno—Lucio Paes d'Abranches,<br />

Victoriano da Gloria Ribeiro <strong>de</strong> Figueiredo<br />

e Castio.<br />

4." anno — Francisco Antonio da<br />

Cruz Amante, Francisco Baptista da Silva.<br />

Dia 20<br />

1.° anno — João da Silva Lino.<br />

Neste anno faltou um alumno ao a- to<br />

2 ' anno — Accacio Julio Ferreira,<br />

José ^artins da Silva Teixeira.<br />

3." anno — Virgilio Affonso da Silva<br />

Poiares, Francisco Maria dè Amaral.<br />

4anno—Francisco <strong>de</strong> Freitas Cardoso<br />

e Costa, Herculano Pinto Diniz.<br />

Dia 21<br />

1.° anno — José Rodrigues d'01iveira,<br />

Augusto Raphael Garcia l d'Araujo.'<br />

2." anno—Antonio dos Santos Tovim,<br />

João Serras e Silva.<br />

3.° anno — Alberto Deodato da Costa<br />

Rato, Ayres Julio <strong>de</strong> Sousa Lobão <strong>de</strong><br />

Macedo Chaves<br />

4." anno — Izidoro Joaquim da Silva<br />

Rico, João Raphael Men<strong>de</strong>s Dona.<br />

FACULDADE DE PHILOSOPHIA<br />

Dia 19<br />

1. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica).<br />

— Vol. Jo-é <strong>de</strong> Mattos Sobral Cid.—<br />

José Baleiras Proença, João Luciano<br />

Torres.<br />

Nesta ca<strong>de</strong>ira houve uma reprovação.<br />

3. a ca<strong>de</strong>ira—(Physica, l. a parte)—<br />

Vol. Antonio d'Andra<strong>de</strong> Pisarro e Gouvêa.—Obrs.<br />

Arnaldo Fernan<strong>de</strong>s d'Andra<strong>de</strong>,<br />

Christovão <strong>de</strong> Sousa Pinto, Duarte<br />

<strong>de</strong> Mello Ponces <strong>de</strong> Carvalho, Ernesto<br />

Redolpho Alves <strong>de</strong> Castro.<br />

4, a ca<strong>de</strong>ira — (Botanica) — Obrs,<br />

Alfredo Pereira <strong>de</strong> Barreto Barbosa.<br />

Amândio Celestino Vieira Lisboa.<br />

Dia 20<br />

í. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica).<br />

— Vol. Estevão Pereira Palha Van-Zeller,<br />

José Julio Bettencourt Rodrigues Júnior,<br />

— Obrs. José Pinto da Silva Faia, Sergio<br />

Augusto Parreira.<br />

3/ ca<strong>de</strong>ira — (Physica, 1 parte)—<br />

Vol. José Augusto d'Andra<strong>de</strong> Sequeira,<br />

— Obrs. Eugénio Pereira <strong>de</strong> Castro Caldas,<br />

D. Fernando d'Almeida, Guilherme<br />

Vieira, Henrique Simões d'Oliveira.<br />

4 a ca<strong>de</strong>ira — (Botanica). — Obrs.<br />

Francisco Pinto <strong>de</strong> Miranda Júnior, Gregorio<br />

Pinto d'Almeida Forjaz, João Silveira<br />

Malheiro.<br />

Dia 21<br />

i. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica)<br />

— Vol. Antonio da Gama Rodrigues,<br />

Antonio José da Costa Sampaio. Obrs.<br />

Jacintlio Manoel d'Oliveira, Luiz da<br />

Cruz Navega.<br />

3. a ca<strong>de</strong>ira — (Physica l. a parte) —<br />

Vol. Virgilio Pinto da Silva, Obrs. João<br />

<strong>de</strong> Barros Rodrigues, Joaquim Alberto<br />

do Carvalho e Oliveira, Joaquim Pereira<br />

Pimenta <strong>de</strong> Sousa e Castro, Jordão <strong>de</strong><br />

Mello Falcão.<br />

4. a ca<strong>de</strong>ira — (Botanica). — Ord.<br />

Tliomaz Alexandre <strong>de</strong> Oliveira Lobo,<br />

cios <strong>de</strong> mármores e que em todas as outras<br />

ruas não ha senão casas infectas,<br />

on<strong>de</strong> faltam a luz e o ar. E' verda<strong>de</strong><br />

isto ?<br />

— Realmente, dissê o cônsul, não é<br />

inteiramente falso.<br />

— Pois bem, nunca estimarei uma<br />

cida<strong>de</strong> como esta. Li na bibliolheca do<br />

palacio Santa-Scala muitos livros <strong>de</strong> viagens,<br />

e principalmente os que faliam <strong>de</strong><br />

Christovão Colombo. Ha em todos bellas<br />

gravuras on<strong>de</strong> se vêem praias <strong>de</strong> mar<br />

<strong>de</strong>liciosas, com arvores soberbas e famílias<br />

selvagens que parecem felizes.<br />

Estes negros, homens e mulheres, moços<br />

e velhos, não fizeram differença nas<br />

suas habitações; todos elles têem o seu<br />

bom logar á sombra, ao sol ou á chuva.<br />

Como nos appellidarão a nós, que<br />

alojamos homens em casas ignóbeis, sombrias,<br />

húmidas, e logo ao lado d'esses<br />

palacios sumptuosos, como para maior<br />

prazer dos que habitam em mármore e<br />

maior tristeza dos que habitam em<br />

barro ?<br />

Aqui eslá porque eu não gosto <strong>de</strong><br />

Génova, embora seja esta a sua terra,<br />

senhor marquez.<br />

— Muito bem! exclamou o cônsul.<br />

— Mas, disse di Negro rindo, esta<br />

creança falia já como um velho revolucionário.<br />

— Aflírmo-lhe, disse Memma, que a<br />

minha joven amiga me embaraça muitas<br />

I vezes nas nossas conversas; tem idêas<br />

Obrs. Joaquim Antonio Lopes <strong>de</strong> Castro,<br />

José Francisco Tavares.<br />

*<br />

Encerrou hontem os seus trabalhos<br />

escolares a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theologia, pondo<br />

ponto em todos os annos começando os<br />

actos no dia 26 <strong>de</strong> junho.<br />

Os jurvs para os actos dos differentes<br />

annos ficou assim composto:<br />

1." anno — Drs Manoel d^zevedo<br />

Araujo e Gama, Francisco Martins, e<br />

Antonio Garcia Ribeiro <strong>de</strong> Vasconcellos.<br />

2." anno — Drs. Antonio Garcia Ribeiro<br />

<strong>de</strong> Vasconcellos, Manoel d'Avevedo<br />

Araujo e Gama e Avelino Cesar Augusto<br />

Callisto.<br />

3." anno—Drs. Bernardo Augusto<br />

<strong>de</strong> Madureira, Joaquim Alves da Hora e<br />

Francisco Martins.<br />

4." anno — Drs. Luiz Maria da Silva<br />

Ramos, Porphvrio Antonio da Silva e<br />

Manoel Emvgdio Garcia.<br />

5." anno — Drs.- Manoel <strong>de</strong> Jesus<br />

Lino, Porphvrio Antonio da Silva, José<br />

Pereira <strong>de</strong> Paiva Pitta e José Maria Rodrigues.<br />

Jury da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Hebreu — Drs.<br />

Manoel <strong>de</strong> Jesus Lino, Manoel d'Azevedo<br />

Araujo e Gama e José Maria Rodrigues.<br />

Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Sessão ordinarla<br />

De 2 <strong>de</strong> junho<br />

Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />

d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />

presentes: João da Fonseca Barata, Manoel<br />

Miranda, Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros,<br />

João Antonio da Cunha, Joaquim<br />

Justiniano Ferreira Lobo, Antonio José<br />

Dantas Guimarães, effectivos ; José Corrêa<br />

dos Santos, substituto.<br />

Mandou abrir concurso para o provimento<br />

do logar d'inspector dos incêndios,<br />

em vista da auctorisação superiormente<br />

concedida.<br />

Tomou nota do fallecimcnto do administrador<br />

do cemiterio Joaquim Ferreira<br />

Rocha.<br />

Approvou uma <strong>de</strong>liberação da junta<br />

<strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S. Bartholomeu, para o<br />

arrendamento em praça por tres annos,<br />

<strong>de</strong> duas lojas pertencentes á egieja.<br />

Auctorisou o vereador Miranda a<br />

provi<strong>de</strong>nciar pelas corporações <strong>de</strong> bombeiros<br />

ácerca do signal d'alarme para os<br />

incêndios, <strong>de</strong>clarando a presi<strong>de</strong>ncia que<br />

[iedira ao sr. commissario <strong>de</strong> policia as<br />

suas medidas por parle do corpo <strong>de</strong> policia.<br />

Resolveu recommendar a vigilancia<br />

da policia para as transgressões <strong>de</strong> posturas<br />

praticadas diariamente em parte da<br />

rua <strong>de</strong> Sub-ripas.<br />

Auctorisou os vereadores Barata e<br />

João Antonio da Cunha a realisarem a<br />

compra d'uma junta <strong>de</strong> bois para os serviços<br />

da limpeza da cida<strong>de</strong>.<br />

Auctorisou a collocação d'um syphão<br />

na rua do Infante D. Augusto.<br />

precoces inteiramente singulares e que<br />

me espantam. Surprehendo-a por vezes<br />

com um livro na mão, na altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma mulher <strong>de</strong> quarenta annos; não lê,<br />

reflecte sobre o que acaba <strong>de</strong> lêr.<br />

Na sua eda<strong>de</strong> é extraordinário.<br />

— Mas, menina Débora, disse o cônsul,<br />

acautelle-se! Se fallar sempre d'este<br />

modo e viajar, vae lançar o fogo aos<br />

quatro cantos da Italia.<br />

— Como, senhor! fallar a verda<strong>de</strong> é<br />

subversivo ?<br />

— A's vezes.<br />

—Vamos, minha querida, disse Memma<br />

levantando-se, é necessário irmo-nos<br />

embora. Fez hoje a sua entrada no mundo,<br />

e para a primeira vez fallou talvez<br />

um pouco <strong>de</strong>mais.<br />

— Todos nós applaudimos sinceramente<br />

a menina Débora, disse Talormi<br />

com um sorriso gracioso e um gssto encantador.<br />

— E' preciso, replicou Memma, que<br />

Débora se acostume cedo a <strong>de</strong>sprezar os<br />

applausos.<br />

— Habito, disse Talormi, que será<br />

diflicilimo <strong>de</strong> tomar a qualquer dos dois<br />

sexos.<br />

— Hei <strong>de</strong> habituar me eu, se madame<br />

Van-Ritter m'o or<strong>de</strong>nar.<br />

— Já um dia tive o prazer <strong>de</strong> a vêr,<br />

meniná Débora, disse Talormi; foi quando<br />

fiz a minha ultima visita ao príncipe<br />

Santa-Scala, e on<strong>de</strong> eu tive a infelicidada<br />

<strong>de</strong> lhe prometler acompanhal-o. Quan-<br />

Mandou passar licença para apag.<br />

centamento <strong>de</strong> cabras, segundo a postura<br />

respectiva, a Manoel Carvalho, da<br />

freguezia <strong>de</strong> Brasfemes.<br />

• Resolveu enviar ao proprietário Antonio<br />

Roxanes <strong>de</strong> Carvalho, para o <strong>de</strong>vido<br />

conhecimento, a informação da repartição<br />

d'obras ácerca <strong>de</strong> dois requerimentos<br />

que dirigiu á cabinra cm 24 d'abril<br />

e 24 <strong>de</strong> maio (dos quaes, por um terceiro<br />

pe<strong>de</strong> <strong>de</strong>spacho), para o pagamento<br />

do preço da expropriação <strong>de</strong> terrenos na<br />

sua quinta ao Almegue. O proprietário<br />

diz que cumpriu todas as obrigações do<br />

contracto. A informação diz que o requerente<br />

fez o muro em todo o comprimento<br />

<strong>de</strong>ixando-o <strong>de</strong> nível inferior á estrada<br />

; que não pô<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r-se ao<br />

aterro do terreno expropriado, sem o<br />

muro ser levantado mais l m ,20; e que<br />

o proprietário fez mover as terras do<br />

leito do terreno expropriado em prejuizo<br />

do município.<br />

Despachou diversos requerimentos<br />

sohre vários assumptos— reparação do<br />

caminho da Pousada e Loureiro; exhumação<br />

<strong>de</strong> cadaver no cemiterio ; —conservação<br />

dum candieiro d'illuminação<br />

publica, á Sé Velha ;— <strong>de</strong>signação do<br />

ponto para a conslrucção <strong>de</strong> barracas <strong>de</strong><br />

banhos no rio Mon<strong>de</strong>go; — crescimento<br />

do muro d'um prédio em Cozelhás, sujeito<br />

a indicações, e approvação d'um<br />

alçado para um portão <strong>de</strong> ferro em um<br />

prédio na la<strong>de</strong>ira do Seminário.<br />

In<strong>de</strong>feriu um requeiimenlo em que<br />

se pedia para chegar á frente do Rocio<br />

das Casas Novas, uma casa siluada a<br />

pouca distancia do mesmo em terreno <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> particular.<br />

A GRANEL<br />

A Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Bellas Artes, pediu<br />

uma verba ao governo para adquirir no<br />

leilão da livraria do sr. D. Fernando, que<br />

é magnifica, as numerosas obras que se<br />

encontram alli sobre Bellas Artes, evitando<br />

assim que ellas vão parar por uma<br />

insignificância ás mãos <strong>de</strong> pessoas que<br />

nem a» apreciem, nem as aproveitem.<br />

* * # Consta que as côrtes serão<br />

prorogadas até aô fim do mez corrente,<br />

e que para a discussão do orçamento<br />

haverá na camara dós <strong>de</strong>putados tres<br />

sessões nocturnas por semana.<br />

* * # Da estação postal <strong>de</strong> Santarém<br />

teem sido roubadas varias cartas registradas<br />

contendo valores, e, secundo<br />

se affirma, o auclor da proeza julga-se<br />

seguro da impunida<strong>de</strong>, dada a protecção<br />

<strong>de</strong> que gosa em uão sabemos que elevadas<br />

regiões.<br />

* * # Durante os mezes <strong>de</strong> março,<br />

abril e maio últimos carregaram-se fora<br />

da barra do porto <strong>de</strong> Vianna do Castello<br />

14 navios Irancezes, que conduziram<br />

para Brest, Camaret, Abewrace e Roscotí<br />

26:011 lagostas vivas, no valor approximado<br />

<strong>de</strong> 6:500/000 réis.<br />

do entrei, a menina Ha com a maior attenção<br />

e eu fiquei <strong>de</strong>sesperado <strong>de</strong> a perturbar<br />

por uai instante ua sua leitura.<br />

— Ah! e verda<strong>de</strong>, disse Débora<br />

olhando fixamente para Talormi ; lembro-me<br />

muito bem, e por signal que<br />

me causou bastante medo.<br />

— Causei-lhe medo, eu! disse Talormi<br />

sorrindo; então estava eu aterrorisador<br />

nesse dia !<br />

--Realmente estava, por causa dos<br />

seus olhos que miravam tudo, por toda<br />

a parte e ao mesmo tempo, como os olhos<br />

d'um chacal que nós tínhamos cm Tunis,<br />

em nossa casa.<br />

— E' encantadora! exclamou Talormi<br />

; tem comparações africanas do mais<br />

fino gosto.<br />

—Mas, senhor con<strong>de</strong>, não era a mira<br />

só que mellia susto.<br />

—Ah I... a menina não estava!...<br />

balbuciou Talormi embaraçado pela primeira<br />

vez na sua vida.<br />

— Éramos dois da mesma opinião,<br />

accrescentou Débora.<br />

— E quem era o outro, menina Débora<br />

?<br />

— Mitry.<br />

— Um cão I...<br />

Impresso na Typograpliia,<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.«<br />

COIMBRA. 14, proximo á rua dos Sapateiros,—


A X X O I — X. n 9 3<br />

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queiram ir trabalhar nas<br />

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, Q S o avisados os srs. accionistas<br />

y!< d'esta companhia, <strong>de</strong> que pó<strong>de</strong>m<br />

receber na agencia d'esta cida<strong>de</strong><br />

o divi<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> 1892, na razão <strong>de</strong> réis<br />

por cada acção.<br />

<strong>Coimbra</strong>, 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

O agente,<br />

Basilio Augusto Xavier d'Andra<strong>de</strong>.<br />

Decreto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1891<br />

eha-se á venda em todas as<br />

livrarias <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o <strong>de</strong>creto<br />

<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, regulador<br />

dos direitos e obrigações das<br />

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ANTONIO JOSÉ ALVES<br />

101— Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />

93 ||


Caíholico, sim;<br />

theocratico, não<br />

Um jornal da terra, bem conhecido,<br />

aliás, pelo seu ultramontanismo<br />

enragé, pelas idêas reaccionárias<br />

que advoga sempre, e que, na<br />

questão que ultimamente se vem<br />

dirimindo na imprensa e no parlamento<br />

sobre o Restabelecimento das<br />

or<strong>de</strong>ns religiosas, colierente coin a<br />

sua orientação, abertamente se colloca<br />

ao lado (Feslas, finge não perceber,<br />

ou na realida<strong>de</strong> não a allinge,<br />

a fórmula conceiluosa que nos<br />

serve, <strong>de</strong> epigraphe.<br />

É nella que aquelle jornal fundamenta<br />

um arrasoado <strong>de</strong> quasi<br />

tres columnas, em que procura<br />

combater a doutrina eminentemente<br />

liberal sustentada no parlamento<br />

pelo <strong>de</strong>putado Simões Ferreira,<br />

num pequeno mas substancioso discurso,<br />

em resposta ao <strong>de</strong>putado padre<br />

Santos Viegas.<br />

O nosso proposito, agora, não<br />

é analysar o discurso d'esle <strong>de</strong>putado<br />

na sua <strong>de</strong>feza das or<strong>de</strong>ns religiosas<br />

em Portugal, discurso que<br />

suggere naturalmente diversas consi<strong>de</strong>rações,<br />

que ficarão para outra<br />

vez; temos em vista, unicamente,<br />

dirigir sobre o artigo a que alludimos<br />

a nossa altenção.<br />

O articulista regeita aquella formula,<br />

pois ser caíholico e não ser<br />

theocralico parece-lhe «assim uma<br />

coisa a modo <strong>de</strong> papel pardo côr<br />

<strong>de</strong> rosa» ; e, comtudo, o sr. Simões<br />

Ferreira lúcida e claramente a <strong>de</strong>senvolve<br />

em termos levantados, que<br />

traduzem uma gran<strong>de</strong> convicção liberal,<br />

como na seguinte passagem<br />

do seu discurso:<br />

«Quero a religião catholica<br />

como toda a doutrina <strong>de</strong> boa moral<br />

como a ensiuou Jesus, mas<br />

não quero o predomínio do governo<br />

ecclesiastico na socieda<strong>de</strong><br />

civil, não quero o regimen fra<strong>de</strong>sco<br />

na minha patria, porque a<br />

historia me ensinou que esse regimen<br />

foi o principio e. a causa<br />

principal da sua <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia, emquanto<br />

que caminhavam para a<br />

luz e para o progresso tantas nações<br />

que se levantaram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

Portugal, partindo <strong>de</strong> condições<br />

relativamente inferiores.»<br />

15' clara, é expressiva a explicação,<br />

mas os peiores cegos são os<br />

que não querem vêr.<br />

Parece-nos, porém, pelo bom<br />

juizo que fazemos da perspicuida<strong>de</strong><br />

do auctor do artigo, que esle<br />

lançou mão d'aquellas palavras<br />

como um mero pretexto para a elaboração<br />

das suas consi<strong>de</strong>rações; e<br />

islo, porque não encontramos em<br />

todo o seu dissertar, affirmações<br />

provadas que invali<strong>de</strong>m aquella<br />

doutrina, antes o vemos emmaranhar-se<br />

em proposições <strong>de</strong> puro effeilo<br />

para uma gran<strong>de</strong> parte dos<br />

seus leitores, num melaphysismo<br />

que obscurece o que prelen<strong>de</strong>-.esclarecer<br />

e d'on<strong>de</strong> resultam conlradicções<br />

manifestas. E alé nos faz<br />

acreditar na sua má fé, que não na<br />

sua ignorancia, quando affirma, que<br />

os fra<strong>de</strong>s em Portugal só produziram<br />

o maior bein,— «tomando a<br />

nessa litteratura uma das primeiras<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

litteraluras do mundo, o nosso nome<br />

conhecido e; respeitado em lodos<br />

os domínios eoloniaes que a cruz<br />

do fra<strong>de</strong>, mais do que a espada do<br />

guerreiro, conquistou para a corôa<br />

<strong>de</strong> Portugal! »<br />

Pelo que se vê, o jornal a que<br />

nos estamos referindo é <strong>de</strong> opinião<br />

— que os fra<strong>de</strong>s não foram um dos<br />

principaes, senão o principal factor<br />

da nossa profunda <strong>de</strong>cadência; que<br />

o regimen fra<strong>de</strong>sco, pelos seus bestificanles<br />

processos, não empolgou<br />

a consciência e espirilo d'este povo,<br />

que ainda hoje Irezanda ao caldo<br />

das podarias; que os conventos,<br />

longe <strong>de</strong> serem estancias <strong>de</strong> tranquill<br />

da<strong>de</strong> e socego, tão próprias<br />

para a cultura scientifica e litteraria<br />

que se apregôa, não foram, pelo<br />

contrario, antros <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassidão, <strong>de</strong><br />

orgias e <strong>de</strong>boches; que a sua influencia<br />

em o nosso meio social,<br />

mercê do fanatismo dos reis, inlelligenteme.nle<br />

promovido e animado,<br />

não foi das mais perniciosas consequências...<br />

Tudo islo finge ignorar o beatifico<br />

jornal; nós, porém, <strong>de</strong>monstraremos<br />

posteriormente, que não<br />

cabem neste artigo a§ consi<strong>de</strong>rações<br />

que temos a fazer, o quanto<br />

<strong>de</strong> funeslo houve na conservação das<br />

or<strong>de</strong>ns religiosas em o nosso paiz.<br />

Hoje, porque esle artigo já vae<br />

longo, lunilar-nos-hemos a.apontar<br />

ás inlelligencias esclarecidas as seguintes<br />

affirmações:—que a Egreja,<br />

por ser <strong>de</strong> instituição divina, é<br />

superior ao Estado, e que, portanto,<br />

este lhe <strong>de</strong>ve estar subordinado;<br />

e logo em seguida — que as duas<br />

socieda<strong>de</strong>s, Egreja e Eslado, são<br />

livres e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes na sua esphera;<br />

mas que como é da essencia<br />

das coisas que os seres inferiores<br />

estejam naturalmente subordinados<br />

aos superiores, o Eslado que é,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, uma socieda<strong>de</strong> inferior<br />

á Egreja, <strong>de</strong>ve naturalmente<br />

estar lhe sujeito.<br />

Não comprehen<strong>de</strong> o articulista<br />

que se possa ser caíholico não se<br />

sendo theocralico, isto é, que se<br />

admilta a religião catholica mas sem<br />

o predomínio da Egreja sobre a socieda<strong>de</strong><br />

civil; mas quer fingir que<br />

comprehen<strong>de</strong> a liberda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ha<br />

a Sujeição, a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia do que<br />

está subordinado, perante o principio<br />

que o subordina 1<br />

Puras affirmações metaphysicas<br />

para illusão dos ingénuos.<br />

~ O que a Africa precisa<br />

A camara municipal <strong>de</strong> Loanda dirigiu<br />

se ao governo pedindo a creação d'um<br />

lyceu naquella cida<strong>de</strong>.<br />

E a metrópole a querer mandar-lhe<br />

o adiposo fra<strong>de</strong>! Náo é <strong>de</strong> trevas que vive<br />

um povo; luz e muita luz <strong>de</strong>rramada<br />

pela instrucção é o que a Africa precisa<br />

e o metrópole também.<br />

Emigração<br />

Na comarca <strong>de</strong> Villa Heal, Traz-os-<br />

Montes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1892 a abril <strong>de</strong><br />

1893, foram passados 2:400 passaportes<br />

a emigrantes.<br />

Em fevereiro do presente anno ven<strong>de</strong>ram-se<br />

alli 400 passaportes, em março<br />

SOO e em abril, 400 !<br />

Não se po<strong>de</strong> negar, em presença<br />

d'estas cifras, que Portugal está prospero<br />

e feliz.<br />

Chegue-lhe sr. Fuschini, chegue-lhe!<br />

As legações<br />

Como se sabe este luxo diplomático<br />

lein custado ao paiz milhares e milhares<br />

<strong>de</strong> contos, e apezar das economias feitas<br />

actualmente pelo minislerio dos estrangeiros,<br />

não foram ellas tão completas<br />

como <strong>de</strong>viam e podiam ser<br />

Nestas condições o <strong>de</strong>putado republicano<br />

sr Jacintho Nunes, apresentou<br />

ha dias nas camaras as seguintes propostas<br />

:<br />

«Proponho que sejam supprimidas as<br />

seguintes legações :<br />

Santa Sé.<br />

Bruxellas.<br />

Haja.<br />

Vienna <strong>de</strong> Áustria.<br />

S. Petersburgo.<br />

Stokolmo. >•<br />

Economia inimediata, sem prejuízo<br />

dos actuaes vencimentos do pessoal das<br />

legações 30:600^000 réis. — O <strong>de</strong>putado<br />

por Lisboa, Josi Jacintho Nunes.»<br />

Foi admittida a proposta; resta ver<br />

se ella obtém approvação, o que duvidamos,<br />

pois é sabido que as gran<strong>de</strong>s postas<br />

sempre se conservaram para gozo e felicida<strong>de</strong><br />

da malta.<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

O governo da florescente republica<br />

dos Estados-Unidos do Brazil telegraphou<br />

ao seu representante em Paris, sr. Gtianabara,<br />

confirmando a noticia dada ha<br />

dias <strong>de</strong> estar pacificado já o Estado do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Aquella noticia dada então, não mereceu<br />

toda a confiança <strong>de</strong> alguns jornaes<br />

europeus que, servindo os intereises dos<br />

ju<strong>de</strong>us da finança, se compraram em<br />

apregoar tudo o que possa concorrer<br />

para <strong>de</strong>scredito da nova, mas já forte,<br />

republica do Brazil.<br />

Ainda que lhes peze, é um facto ter<br />

terminado a revolução no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul.<br />

Mau caminho<br />

O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay, que ultimamente<br />

<strong>de</strong> tanta floria se cobriu nas<br />

nunca assas cantadas eleições <strong>de</strong> Thomar<br />

e no seu natural complemento na camara<br />

dos <strong>de</strong>putados, <strong>de</strong>u uma sorte real com<br />

a campanha que contra elle moveram as<br />

Novida<strong>de</strong>s e o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, e<br />

não menos com a da Batalha.<br />

E zangou-se o illustre fidalgo, titular<br />

do paço e <strong>de</strong> tudo o mais que tem querido,<br />

com as verda<strong>de</strong>s que então lhe disseram,<br />

e d'ahi, natural <strong>de</strong>sforço, querei las para<br />

cima dosjornae»; jáquerellou a Batalha<br />

e agora vae fazer o mesmo ás Novida<strong>de</strong>s<br />

e Primeiro <strong>de</strong> Janeiro!<br />

Ahi, valente!<br />

Em pró da instrucção<br />

Ao sr. Manoel Alves Barbosa Júnior,<br />

foi concedida a medalha <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> ins<br />

trucção primaria pela doação que fez á<br />

[unta <strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Seroa,<br />

concelho <strong>de</strong> Paços <strong>de</strong> Ferreira, d'uin<br />

edilicio mobilado para as escolas dos<br />

dois sexos e dos rendimentos necessários<br />

para o pagamento dos or<strong>de</strong>nados dos<br />

professores.<br />

Aqui está uma graça que não <strong>de</strong>prime<br />

o con<strong>de</strong>corado, que bem a mereceu<br />

pela acção meritória que praticou, e pelos<br />

serviços prestados á instrucção popular.<br />

T 1."<br />

Quelimane-Chire<br />

Desistiram d'esta concessão, a que<br />

opportunamente nos referimos, os respectivos<br />

preten<strong>de</strong>ntes.<br />

Assim o <strong>de</strong>clarou o sr. ministro da<br />

marinha.<br />

Insubordinação militar<br />

Por uma questão <strong>de</strong> dispensas <strong>de</strong> recolher<br />

<strong>de</strong>u-se um caso <strong>de</strong> insubordinação<br />

no regimento <strong>de</strong>cavallaria 4, aquartellado<br />

em Beiem.<br />

Foram presos 13 soldados e instaurou-se<br />

o respectivo processo.<br />

ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />

do Povo<br />

NOYO regimen tributário<br />

E' com prazer que damos á carta,<br />

que em seguida começamos a publicar,<br />

a publicida<strong>de</strong> que nos pe<strong>de</strong> o seu illustre<br />

auctor, o sr. Nobre França; e tanto<br />

mais, quanto consi<strong>de</strong>ramos o seu trabalho<br />

como uma das mais nobres tentativas em<br />

favor do nosso progredimento.<br />

A nobilíssima intenção do distincto<br />

publicista transluz immediatamente das<br />

conclusões a que chega <strong>de</strong>pois da breve<br />

exposição do seu systema tributário, digno<br />

<strong>de</strong> toda a consi<strong>de</strong>ração e do mais<br />

reflectido estudo d'aquelles que teem por<br />

obrigação promover o resurgimento nacional;<br />

e para e>te a questão do imposto<br />

é uma questão capital.<br />

Sentimos, porém, que as dimensões<br />

do nosso jornal nos não permittam o publicar,<br />

na integra, a carta do sr. Nobre<br />

França, o que prejudicará, porventura, a<br />

apreciação que ella merece da parte dos<br />

nossos leitores.<br />

Sr. redactor do Defensor do Povo —<br />

Rogo a v. a mercê <strong>de</strong> dar publicida<strong>de</strong><br />

pelo seu jornal a esla carta, que tenho<br />

a honra <strong>de</strong> <strong>de</strong>pôr nas suas mãos, e sobre<br />

cujo assumpto eu ouso chamar a attenção<br />

<strong>de</strong> v. solicitando-lhe duas palavras<br />

apenas <strong>de</strong> dicção do seu justo e elevado<br />

critério.<br />

Ha muito tempo que eu penso, sr.<br />

redactor, que as relações do Estado com<br />

a população <strong>de</strong>veram ser e carecem <strong>de</strong><br />

ser mui diversas das actuaes. No nosso<br />

paiz essas relações são ainda bastante<br />

bruscas, e por ellas po<strong>de</strong>mos julgar da<br />

nossa situação, tanto mental, como economica<br />

e financeira. Cm dos aspectos<br />

bruscos d'essas relações é o nosso systema<br />

tributário, ao qual faltam as melhorés<br />

condições <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>. Essa<br />

falta é principalmente sensível pela interferencia<br />

prepon<strong>de</strong>rante, e <strong>de</strong> certo modo<br />

aggressiva, do fisco em muitos actos da<br />

vida familiar, industrial e commercial. Ao<br />

nosso fisco faltam noções <strong>de</strong>mocráticas,<br />

e o seu caracter tem ainda profundos<br />

vestígios dos velhos regimens. O nosso<br />

systema tributário não constitue uma<br />

excepção do dos outros povos, todavia<br />

faltam aos seus agentes aquellas condições<br />

<strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong><br />

livres instituições administrativas ou po<br />

liticas.<br />

O nosso systema tributário caracte<br />

risa-se pela sua intensida<strong>de</strong> e especificação.<br />

Temos nada menos <strong>de</strong> 122 especies<br />

tributarias, e a população que as<br />

supporta é geralmente a mais laboriosa<br />

ou a mais pobre. Os imposlos recaem<br />

quasi exclusivamente sobre os mesmos<br />

pacientes, ou sobre os productos do trabalho,<br />

principalmente rurál. No'escripto<br />

a que me vou referir estão em parte <strong>de</strong>monstrados<br />

estes assertos, e nelle po<strong>de</strong>mos<br />

ver monstruosida<strong>de</strong>s, taes como a do<br />

imposto industrial, on<strong>de</strong> ninguém suspeita<br />

que ellas existam. #<br />

Attralndo, pois, para esta matéria por<br />

círcumstancias talvez fortuitas, entregueime-<br />

ultimamente ao seu estudo, buscando<br />

uma solução que, pelo menos, me<br />

désse o prazer <strong>de</strong> conversar em familia<br />

sobre a instabilida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>stinos humanos,<br />

que levam uns a gozar e outros a<br />

soffror do Estado, que é cego como a fortuna<br />

e inconstante, segundo dizem, como<br />

a mulher.<br />

O i<strong>de</strong>al que me orientou foi o <strong>de</strong>scobrimento<br />

<strong>de</strong> um regimen tributário extensivo<br />

e generico, que substituísse o<br />

systema vigente <strong>de</strong> impostos intensivos<br />

e específicos; que désse ao Estado um<br />

elevado rendimento, ás camaras municipaes<br />

um abundante reddito, e á população<br />

uma ampla liberda<strong>de</strong> economica e superiores<br />

condições <strong>de</strong> bem estar commum;<br />

sobretudo, que pozesse termo positivo<br />

á crise que ameaça cada ve.z mais<br />

a nossa integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nação.<br />

Julgando ter resolvido o problema<br />

redigi então — durante o interregno parlamentar—<br />

um plano tributário, que <strong>de</strong>stinei<br />

a ser apresentado á camara dos<br />

senhores <strong>de</strong>putados e á sua consequente<br />

publicação no Diário do Governo. Esta<br />

apresentação constitucional, que julguei<br />

ser simples, tem sido todavia contrariada<br />

por occorrencias sem duvida casuaes.<br />

Depois <strong>de</strong> dar alguns passos no solido<br />

indicado, dirigi-me ao ex. mo sr. José<br />

Maria <strong>de</strong> Alpoim, a quem entreguei o<br />

.meu mantiscripto no dia 6 do corrente.<br />

Esperando <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> por uma solução alErmativa<br />

ou negativa, soube no dia 17 que<br />

s. ex.* havia sabido ha tres ou quatro<br />

dias <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>ixando-me na impo>sihilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> o apresentar na actual sessão<br />

legislativa, visío ser custosa e <strong>de</strong>morada<br />

a sua reproducção calligraphica.<br />

E' pelo motivo exposto que eu antecipo<br />

a divulgação do meu plano, reduzindo<br />

o a esla breve exposição.<br />

A minha solução do problema tributário—<br />

para não dizer nacional — é a<br />

mais simples que possa ser imaginada.<br />

Crio dois impostos únicos; um recáe<br />

sobre toda a proprieda<strong>de</strong> immovel, rústica<br />

e urbana ; o outro inci<strong>de</strong> directamente<br />

sobre as pessoas, ou, melhor, sobre<br />

os 1.132:870 chefes <strong>de</strong> famílias. Ao<br />

primeiro <strong>de</strong>nomino naturalmente imposto<br />

territorial, e ao segundo imposto pessoal<br />

ou. <strong>de</strong> rendimento.<br />

A <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> imposto territorial<br />

pô<strong>de</strong> existir nalguns paizes, mas ahi só<br />

existirá como contribuição accessoria ou<br />

concorrente com outros impostos; portanto,<br />

não é traduzida do francez ou doutra<br />

lingua.<br />

A sua organisação e a applicação que<br />

faço da sua taxa-á proprieda<strong>de</strong> urbana<br />

bera provará a sua originalida<strong>de</strong> indígena.<br />

E' d'este imposto que eu me occupo expressamente<br />

no Memorial que <strong>de</strong>stinei á<br />

apreseutação parlamentar, e que mais<br />

tar<strong>de</strong> darei á publicida<strong>de</strong> na sua integra.<br />

O imposto pessoal é também original<br />

e exclusivamente meti, mas esse reservo-o<br />

eu, porque entendo que não <strong>de</strong>ve<br />

nem pô<strong>de</strong> ser altruísta quem não tem<br />

quatro palmos <strong>de</strong> terra para ser enterrado.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a proprieda<strong>de</strong> territorial,<br />

rústica e urbana, constitue a<br />

fundamental riqueza publica e privada,<br />

que o territorio éa base da nacionalida<strong>de</strong><br />

e que é immutavel e perdurável atravéz<br />

dos tempos e dos regimens políticos, consi<strong>de</strong>rei<br />

essa proprieda<strong>de</strong> como matéria<br />

collectavel por ex.ellencia, e sobre ella<br />

baseei todo o meu plano<br />

Lisboa, 20 <strong>de</strong> jtiuho <strong>de</strong> 1893.<br />

José Correia Nobre França.<br />

(Continua).<br />

Confraternida<strong>de</strong> politica<br />

A convite honrorissimo <strong>de</strong> alguns dos<br />

mais arados políticos republicanos hespanhoes,<br />

reuniram-se honlem, na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz, alguns dos homens mais<br />

eminentes do partido republicano portuguez,<br />

para, com aquelles, estreitarem na<br />

maior intimida<strong>de</strong> as relações- amigáveis<br />

que entre os dois povos <strong>de</strong>vem existir.<br />

D'esta reunião on<strong>de</strong>, indubitavelmente,<br />

<strong>de</strong>vem ter sido'discutidas e apreciadas<br />

as condições politicas e sociaes <strong>de</strong> Portugal<br />

e Hespanha, ha <strong>de</strong> sair, necessariamente,<br />

uma superior orientação no <strong>de</strong>stino<br />

dos dois paizes, orientação que os ha <strong>de</strong><br />

levar ao seu resurgimento, <strong>de</strong> modo que<br />

se tornem credores do respeito e consi<strong>de</strong>ração<br />

das outras nações. E assim, Porlugal<br />

e Hespanha, numa autonomia mutua,<br />

que garanta a um e outro povo as<br />

maiores condições <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção, caminharão <strong>de</strong> mãos<br />

dadas, harmonicamente, como bons amigos,<br />

auxiliando-se po<strong>de</strong>rosamente um ao<br />

outro, no caminho do progresso, ao lado<br />

das nações cultas.<br />

Muito ha, pois, a esperar d'esta reunião,<br />

que se traduzirá numa gran<strong>de</strong><br />

cohesão <strong>de</strong> forças republicanas da península.<br />

Bolsas <strong>de</strong> trabalho<br />

O Diário do Governo <strong>de</strong> quinta feira<br />

promulgou o <strong>de</strong>creto approvando o regulamento<br />

das bolsas <strong>de</strong> trabalho, que<br />

faz parte do mesmo <strong>de</strong>creto e tem 37<br />

artigos.


A M . \ 0 1 — X / ' 9 8 O D E F E N S O R DO POVO »5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

C R Y S T A E S<br />

Cahir do azul<br />

(Ao VISCONDK DO SEIZAL)<br />

Uma noite, sahira toda a genle,<br />

Não sei porquê, mais cedo que o costume :<br />

Ella fleára apathica, indolente,<br />

Pensando, ao pé do lume.<br />

Estendia-se em flocos, espumosa,<br />

De velha renda e sedas murmurantes,<br />

A cauda do vestido côr <strong>de</strong> rosa,<br />

Em linhas on<strong>de</strong>antes.<br />

O seu pé pequenino, bem calçado.<br />

Batia, sobre os ferros do fogão,<br />

Vagaroso compasso ca<strong>de</strong>nciado<br />

D'uma velha,canção.<br />

Uma velha caução já <strong>de</strong>sbotada,<br />

E d'uma graça ingénua, on<strong>de</strong> sorri<br />

O animado partir para a caçada,<br />

E o som do halali...<br />

Julgava então ouvir distinctamente,<br />

Nas trombetas <strong>de</strong> caça, o ritornello<br />

E o latir da matilha impaciente<br />

Nos pateos do castello.<br />

Via alegres montar os cavalleiros<br />

Sorrindo ás amazonas nos balcões,<br />

E nas mangas azues dos falcoairos<br />

As garras dos falcões.<br />

Louros pagens <strong>de</strong> gorras emplumadas,<br />

Que seda tina e multicor vestia,<br />

Adornam as extensas balaustradas<br />

Da larga escadaria.<br />

Entre os pagens se nota um mais gentil,<br />

Travesso, menestrel e trovador<br />

Que em noites <strong>de</strong> luar, ao arrabil,<br />

Falia do seu amor.<br />

E que ao vér elegante aproximar-se<br />

Do favorito férvido alazão<br />

A loira castellã, corre a postar-se<br />

De joelhos no chão.<br />

Ella poisa-lhe então o pé tremente<br />

Nesse amoroso estribo <strong>de</strong> velludo.<br />

E no joelho a marca fica assente<br />

D'uin sentimento mudo.<br />

E lembrando a princeza da bailada,<br />

Que amando um pagem namorado e loiro<br />

Enxuga a mão comprida e orvalhada<br />

Nos seus cabeilos d'oiro,<br />

Segurando-se á fulva cabelleira<br />

Do pagem, que no pé lhe poisa um beijo.<br />

Sobre o cavallo salta e vae ligeira<br />

Metter-se no cortejo.<br />

Apagára-se o lume no fogão;<br />

Ella accorda do sonho em alvoroço,<br />

Ouvindo resonar o capellão<br />

Que pensa no almoço I<br />

CONDE DE SABUGOSA.<br />

LBTTRAS<br />

0 rouxinol, a pérola e a rosa<br />

O rouxinol di - se :<br />

— Não espalho á roda <strong>de</strong> mim perfume<br />

algum.<br />

A pérola queixou-se: •<br />

— Oh! meu Deus, eu não sei cantar!<br />

— O que é cruel, disse a rosa, é<br />

que eu não tenha nem a voz do rouxinol<br />

nem o brilho pallido e tremulo, a pureza<br />

da pérola.<br />

Nessa occasião passava eu por alli,<br />

ouvi-os e não pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me compa<strong>de</strong>cer<br />

da melancholia da rosa, da pérola<br />

e do rouxinol.<br />

Tratei então <strong>de</strong> os consolar.<br />

— E' necessário entrar na razão,<br />

disse lhes, não é possivel ler-se tudo.<br />

E' já muito invejável, rouxinol, maravilhar<br />

com suaves trilos os silêncios<br />

nocturnos; ser pura e diaphana, ó pérola.<br />

como uma lagrima <strong>de</strong>sprendida dos<br />

olho» da lua; ter tanto perfume, ó rosa,<br />

como a bocca das donzellas no momento<br />

em que um beijo as obriga a expandir-se.<br />

E fallando ao mesmo tempo a rosa,<br />

a pérola e o rouxinol, respon<strong>de</strong>ram-me:<br />

— Hontem seriamos ainda da tua<br />

opinião. O perfume, a pureza e o canto<br />

eram, ao que nos parecia, dotes do»<br />

quaes um só bastava a satisfazer o<br />

orgulho <strong>de</strong> uma coisa creada, qualquer<br />

que ella fosse! Mas, é bem singular!<br />

perto <strong>de</strong> nós passou uma donzella...<br />

— Que linha mais melodia na voz<br />

do que cu, disse o rouxinol.<br />

— Que era mais luminosa do que<br />

eu, replicou a pérola.<br />

— E mais perfumada do que eu,<br />

disse a rosa.<br />

—'E as tre» que se estavam lastimando,<br />

accrescenlaram:<br />

— De sorte que a nossa <strong>de</strong>rrota é<br />

tão «marga quanto po>sivel; pois fomos<br />

obrigada* a admirar e a amar, agrupados<br />

em uma só pessoa, os Ires encantos, dos<br />

quaes um só nos foi dado a cada uma I<br />

Pensei nisto e disse:<br />

— Já vejo bem o que aconteceu.<br />

Guilhermina passou por aqui. Tratem,<br />

porém, <strong>de</strong> esquecer esse momento <strong>de</strong><br />

ciúme e <strong>de</strong>ixarem as suns tristezas. Como<br />

sou amigo d'ella, pedir-lhe hei que não<br />

passeie nas suas proximida<strong>de</strong>s, e nunca<br />

mais terão <strong>de</strong> passar por essa humilhação;<br />

porque, entre as maturas animadas,<br />

não ha outra que ao mesmo tempo<br />

»eja, como ella, perfume, canto e luz!<br />

Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />

Contra a reaccão jesuítica<br />

Foi a camara <strong>de</strong> Thomar a primeira<br />

que nobremente representou ao parlamento<br />

contra o estabelecimento, das or<strong>de</strong>ns<br />

religiosas.<br />

Bom seria que as <strong>de</strong>mais camaras do<br />

paiz, que ainda têem em alguma consi<strong>de</strong>ração<br />

as idêas liberaes, indispensáveis<br />

para o nosso <strong>de</strong>senvolvimento e progresso<br />

social, imitem o levantado e pátriotico,exemplo<br />

qu:i lhes «leu a camara <strong>de</strong><br />

Thomar.<br />

Um <strong>de</strong>fensor do throno<br />

Acaba <strong>de</strong> dar-se na Guarda um acontecimento<br />

realmente interessante.<br />

Pela ultima or<strong>de</strong>m do exercito foi<br />

collocado no estado maior d'infanleria,<br />

sem o ter solicitado, o ex-commandante<br />

do regimento d'infanteria 12, aquartellado<br />

naquella cida<strong>de</strong>. Este coronel, que ira<br />

<strong>de</strong>feza das instituições actuaes tinha<br />

gasto o melhor ilos seus cuidados, recebeu<br />

com a collocação no E. M. da arma<br />

uma <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ha muito<br />

teria recebido, se estivessemos num paiz<br />

<strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>.<br />

Pelo que nos consta, aquelle official<br />

pretendia um commando em Lisboa e<br />

enten<strong>de</strong>u na sua alta sabedoria, que o<br />

melher meio <strong>de</strong> obter o que <strong>de</strong>sejava<br />

era dar nas vistas como <strong>de</strong>fensor do<br />

throno.<br />

Por isso espionava os «eus mais insignificantes<br />

actos dos seus subordinado»,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tenente coronel até ao mais<br />

insignificante corneta.<br />

Em todos lhe parecia ver a hydra e<br />

muitos foram victima* do seu inqualificável<br />

zelo.<br />

Contam-se factos engraçadíssimos<br />

succedidos com aquelle brioso official.<br />

Um dia, vendo numa loja <strong>de</strong> barbeiro<br />

que alguém alli se entrelinha lendo a<br />

Vanguarda, prohibiu immediatamente. aos<br />

sargentos, que, diga-se <strong>de</strong> passagem,<br />

constituem uma corporaçno digníssima,<br />

que entrassem naquella officina.<br />

Um dia viu expostos numa montra<br />

chapéus com forro on<strong>de</strong> se via o retrato<br />

<strong>de</strong> Malheiros; immediatamente se informou<br />

pelo proprietário se haveria algum<br />

official safardana que se arrojasse a comprar<br />

algum.<br />

As lojas on<strong>de</strong> se ven<strong>de</strong>m jornaes<br />

republicanos eram objectos das suas<br />

constantes visitas, e ai do militar que alli<br />

ousasse entrar! Emfim, seria um nunca<br />

acabar, »e qiiizessemo» referir todas as<br />

ridicularias em que entretinha os seus<br />

furores guerrciro-monarchicos.<br />

As informações conli<strong>de</strong>nciaes para o<br />

M. da G. mereciam lhe particular cuidado<br />

e constituíam para elle o melhor baluarte<br />

para conquistar o <strong>de</strong>sejado commando.<br />

Foram bem recebidas a principio<br />

e os seus resultados bem <strong>de</strong>pressa se<br />

manifestaram por succesivas transferencias<br />

e <strong>de</strong>missões, que na maioria dos<br />

casos causavam ás victimas os maiores<br />

<strong>de</strong>sarranjos.<br />

No ministério, porém, foram coniprehen<strong>de</strong>ndo<br />

que tal coronel se estava tornando<br />

num creador <strong>de</strong> republicanos e por<br />

isso resolveram passal-o ao estado maior<br />

da arma.<br />

Mas cesse tudo o que a antiga musa<br />

canta que a mais alta vingança st alevanta.<br />

O brioso militar, que fora levado pelo<br />

seu enthusia-mo pela monarchia a collocar<br />

ua fechada principal do quartel o<br />

monogramma das mageita<strong>de</strong>s, logo que<br />

soube da or<strong>de</strong>m feroz, ferozmente mandou<br />

arrancar o referido monogramma.<br />

Este ultimo acto, que tem sido noticiado<br />

por todo o paiz, que tem feito<br />

tremer toda a Europa, <strong>de</strong>u origem at<br />

uma syndjcancia. Para esse fim encontrase<br />

na Guarda o sr. general Rosa.<br />

Do que soubermos daremos noticia<br />

aos nossos leitores.<br />

Ultimo recurso dos illndidos<br />

Ha pouco tempo que o partido republicano<br />

concentra as suas forças e fe<br />

dispõe a luctar corpo a corpo com o<br />

inimigo do no nosso bem estar politico<br />

e social — a monarchia — não faltando<br />

a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> todos os dias a aliarem-se ás<br />

nossas fileiras.<br />

Esta reacção e este movimento constante<br />

que tanlo engrossa as nossas fileiras,<br />

é d'um alto e significativo valor,<br />

não só representando <strong>de</strong>screntes da politica<br />

nefasta que até hoje tem sido a<br />

causa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s males para a nossa<br />

patria, como também soldados, propugnadores<br />

puros do nosso crédo politico, que<br />

estarão promptos, una voce, a Cílirpnr<br />

<strong>de</strong> vez c-sse cancro que tem corrompido<br />

a socieda<strong>de</strong> portugueza.<br />

Era e é <strong>de</strong> esperar. Os verda<strong>de</strong>iros<br />

homens <strong>de</strong> bem, todos aquelles em quem<br />

se arreiga um instincto nobre e grandioso,<br />

á força <strong>de</strong> esperarem cousas ratoaveis<br />

da monarchia, não teem visto<br />

senão commctter loucuras <strong>de</strong>testáveis.<br />

Em face <strong>de</strong> acontecimentos transactos e<br />

presentes, que não po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

condizer com os futuros emquanto tal<br />

systema governativo po<strong>de</strong>r e mandar, os<br />

homens políticos, mas que não fazem<br />

politica e só seguem aquella que se<br />

coaduna com o seu pensar, teem <strong>de</strong>sertado<br />

das fileiras realistas para virem engrossar<br />

o partido da <strong>de</strong>mocracia.<br />

E' para nós por <strong>de</strong>mais agradavel<br />

receber no uosso seio tantos homens honestos<br />

e trabalhadores< não só porque<br />

são uma força vital e moral, era parte<br />

mas também porque representam o<br />

inicio d'uma <strong>de</strong>rrocada tremenda que,<br />

qual juizo final, fará diluir os alicerces<br />

já mal seguros da dynastia Briganlina,<br />

que um systema <strong>de</strong>mocrata puro, evangelista<br />

e moralisador virá a substituir.<br />

Não faltam infelizmente, <strong>de</strong>screntes;<br />

a esses, a quem não po<strong>de</strong>mos fazer<br />

alimentar a cliamma do enthusiasmo,<br />

ilada a nossa falta <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>, só<br />

recommendamos a leitura <strong>de</strong> successivos<br />

artigos do nosso correligionário sr. dr.<br />

Cunha e Costa, artigos publicados no<br />

nosso collega a Voz Publica e que<br />

bastam para elucidar e tornar crentes os<br />

mais apegados ao seu sccpticismo e falta<br />

<strong>de</strong> convicção.<br />

SMen<strong>de</strong>s Cabral.<br />

Senhor do Calvario<br />

<strong>de</strong> Gouvêa<br />

Nos dias 12, 13 e 14 <strong>de</strong> agosto haverá<br />

em -Gouvêa gran<strong>de</strong>s e esplendidos<br />

festejos em honra do Senhor do Calvario,<br />

Esto anno a mesa da irmanda<strong>de</strong>, a<br />

cargo <strong>de</strong> quem estáa festa d'egrcja e das<br />

ruas, <strong>de</strong>senvolve prodigiosa activida<strong>de</strong> a<br />

fira <strong>de</strong> hera se <strong>de</strong>sempenhar da sua missão.<br />

Haverá kermesse naquelles tres dias,<br />

<strong>de</strong>stinnndo-se o producto para aformoseamento<br />

do monte Calvario, on<strong>de</strong> se<br />

acha situada a ermida; corridas <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />

na estrada <strong>de</strong> Freixo; locará no<br />

jardim e na kermesse a troupe Infante da<br />

Camara, que a convite muito especial<br />

alli irá; fogo preso e illuminações a ca<br />

pricho e para não faltar nada, haverá<br />

também recita <strong>de</strong> gala no theatro.<br />

O club que se acha já inslallado ou<br />

se- vae instai lar numa casa, mandadn<br />

construir <strong>de</strong> propósito e que é ura do*<br />

melhores <strong>de</strong> província, será franquiado<br />

aos romeiros naquelles dias.<br />

Não faltará concorrência a esta feita,<br />

não.<br />

A meza da irmanda<strong>de</strong>, a quem felicitamos<br />

pelo seu zelo, é composta pelos<br />

seguintes cavalheiros:<br />

Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caria<br />

Conego Prior, Henrique A. Simões<br />

da Costa<br />

Joaquim A<strong>de</strong>lino Pires<br />

José Augusto Fra<strong>de</strong><br />

José Maria da Costa Duarte<br />

José Pires Marques<br />

Manoel Ribeiro Bellino<br />

Antonio Augusto Fernan<strong>de</strong>s da Cunha.<br />

*<br />

Quaesquer donativos ou prendas para a<br />

kermesse po<strong>de</strong>rão ser entregue» em Lisboa<br />

a Antonio Tha<strong>de</strong>u, rua do Ouro,<br />

180; Porto, João Lopes Martins, rua das<br />

Flores, 198; <strong>Coimbra</strong>, Valentim José Rodrigues;<br />

e em Gouvêa a qualquer dos<br />

vogaes da irmanda<strong>de</strong>.<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Teixeira <strong>de</strong> Brito<br />

Não são animadoras as noticits que<br />

po<strong>de</strong>mos dar aos seus amigos. O nosso<br />

bom companheiro não tem experimentado<br />

melhoras, receiaudo-se bastante pela<br />

sua vida, se por estes dias a doença não<br />

apresentar um caracter mais benigno.<br />

Martins <strong>de</strong> Carvallio<br />

O respeitável redactor do Conimbricense<br />

foi acommettido ultimamente d'um<br />

ataque d'ietericia, razão porque não publicou<br />

hontem o seu jornal.<br />

Esperamos em breve vel-o restabelecido<br />

do novo incommodo que venceu a<br />

sua tenacida<strong>de</strong> no trabalho, que vae<br />

roubando as forças e a energia do honrado<br />

velho.<br />

Contro os fra<strong>de</strong>s<br />

Lemos no nosso collega — a Gazeta<br />

Nacional—que constava que a camara<br />

municipal, interpretando o» »entimentos<br />

liberaes d'este concelho, ia representar<br />

contra a pretensão do restabelecimento<br />

das or<strong>de</strong>ns religiosas.<br />

Applaudimos com enthusiasmo tal <strong>de</strong>liberação,<br />

que bem prova que o» nos»o»<br />

vereadores honram sobremaneira as tradições<br />

liberaes dos seus antepassados.<br />

Estando na camara o sr. dr. Ruben<br />

d'Almeida, filho do bravo militar, João<br />

Marques d'Almeida Araujo Pinto, que<br />

pelos seus serviços soube merecer da<br />

patria justa remuneração até á sua morte;<br />

e bem assim o sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />

que recebeu <strong>de</strong> seu pae tantos exemplos<br />

<strong>de</strong> civi


A N X O I - M . » » 8 O D E F E N S O R D O P O V O «5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1SB3<br />

Festivida<strong>de</strong>s<br />

A irmandan<strong>de</strong> do Santíssimo da Sé<br />

Yelha faz este anno a sua festa na egreja<br />

<strong>de</strong> S. João d'Almedina.<br />

A's 11 horas da manhã ha missa a<br />

gran<strong>de</strong> instrumental e sermão. De tar<strong>de</strong><br />

Te-Deum e procissão, que ha <strong>de</strong> sair ás<br />

8 horas, sfguimio pela rua Borge» Carneiro,<br />

largo da Sé Ye'ha rua <strong>de</strong> Joaquim<br />

Antonio d'Aguiar, largo da Estrella, Couraça<br />

<strong>de</strong> Lishoa, ruas <strong>de</strong> S. Pedro, Sá<br />

<strong>de</strong> Miranda e largo <strong>de</strong> - S. João. Acompanha<br />

a philarmonica lloa-União e uma<br />

força <strong>de</strong> infanteria.<br />

* Os promotores da festa ao Senhor<br />

do Aunado que estava annunciada<br />

para hoje foi transferida para quinta<br />

feira, Í9 do corrente.<br />

* A mesa da irmanda<strong>de</strong> do Satissimo<br />

Sacramento <strong>de</strong> S. Bartholomeu,<br />

resolveu fazer esle anno uma brilhante<br />

solemnida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>verá realisar-se no<br />

dia 2 <strong>de</strong> junho.<br />

De vespera haverá um vistoso fogo<br />

preso e do ar, balão, illuminação na<br />

frontaria da egreja e musica; no dia,<br />

missa cantada a gran<strong>de</strong> orchestra sermão,<br />

e procissão para o que foram convidadas<br />

muitas irmanda<strong>de</strong>s.<br />

A' camara e á policia<br />

^Ainda se conservam a <strong>de</strong>saguar para<br />

a vKUéta os canos das pias d'algumas<br />

casas da rua das Pa<strong>de</strong>iras, conforme referimos.<br />

Agora consta-nos que algumas cavallariças<br />

da baixa, não tem a necessaria<br />

limpeza, produzindo maus cheiros e incommodando<br />

a visinhança. Obteremos<br />

informações e se antes se não tiver provi<strong>de</strong>nciado<br />

indicaremos no proximo numero<br />

o local para que a auctorida<strong>de</strong> obrigue<br />

o infractor a cumprir o» seus <strong>de</strong>veres.<br />

A««ocinfSo dos Artistas<br />

Parece que os corpos geientes d'esta<br />

associação em vista do offerecimento<br />

da camara municipal, nomeou uma commissão<br />

para a escolha do local na quinta<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ler construído<br />

o seu novo editicio. .<br />

Dizem-nos que essa commissão é<br />

composta dos srs. Anlonio Augusto Gonçalves,<br />

Benjamim Ventura, Antonio Pedro,<br />

conslructores civis, que da melhor<br />

vonta<strong>de</strong> se prestam a satisfazer ao pedido<br />

que lhes lôra feito.<br />

Wevo jornal<br />

O centro regenerador trabalha na organisação<br />

d'um jornal, que brevemente<br />

apparecerá.<br />

Sera o representante, na imprensa,<br />

do parlido, advogando a sua politica e<br />

os seus interesses, que nunca po<strong>de</strong>m<br />

ser os interesses do paiz, nem do povo.<br />

AtietorisafSo<br />

A camara dos pares <strong>de</strong>u auctorisação<br />

para fazer parte dos jurys nos actos <strong>de</strong><br />

Mathematica, na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o sr. dr.<br />

Souto Rodrigues.<br />

46 Folhetim do Defensor dó POYO<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA Nft V:\TIIH\II<br />

YIX<br />

Débora<br />

— E* verda<strong>de</strong>, sr. con<strong>de</strong>, mas não<br />

falle do Mitry com esse <strong>de</strong> ar <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso.<br />

O Mitry, se fatiasse, era um homem;<br />

e tenho esperança em que ha <strong>de</strong> faltar<br />

um dia.<br />

— E' adoravel 1 disseram algumas<br />

vozes.<br />

--Con<strong>de</strong> Talormi, não levou a melhor<br />

nesta lucta, ajuntou o marquez.<br />

— Diabo I disse Talormi, ahi está<br />

um jardim on<strong>de</strong> não enirhréi mais.<br />

— A'manhã estará abandonado, disse<br />

Memma tomando a mão <strong>de</strong> Débora e<br />

saudando com um ligeiro movimento <strong>de</strong><br />

cabeça.<br />

—Deixa nos assim tão cedo?<br />

— Sim, meu caro marquez.<br />

— Mas, Memma, não sabe então o<br />

que per<strong>de</strong>?<br />

— Não, mas sei sempre o que ganho.<br />

— Acabam <strong>de</strong> me annunciar que o»<br />

nossos artistas do Carlo-Felice chegaram<br />

Esctfla Brotem<br />

Ficaram approvados nos exames feitos<br />

nesta escola os alumnos que enumeramos<br />

:<br />

Dia 21<br />

PHYSICA E MECHANICA INDUSTRIAL<br />

Francisco Manoel da Silva Teixeira,<br />

tecelão mechanico, filho <strong>de</strong> Narciso Fortunato<br />

da Silva Teixeira.<br />

Augusto Gonçalves da Silva, marceneiro,<br />

filho <strong>de</strong> José Men<strong>de</strong>s da Silva.<br />

» Joaquim Gomes Pare<strong>de</strong>s, empregado,<br />

filho <strong>de</strong> Antonio Gomes Pare<strong>de</strong>s.<br />

Manoel Rodrigues d'Almeida, marceneiro,<br />

filho <strong>de</strong> José Rodrigues d'Almeida.<br />

Eduardo Mauricio, relojoeiro, filho<br />

<strong>de</strong> Francisco Mauricio.<br />

Manoel Pedro Cor<strong>de</strong>iro, serralheiro,<br />

filho <strong>de</strong> Joaquim Pedro Bizarro.<br />

Antonio Corrêa d^ndra<strong>de</strong>, serralheiro,<br />

filho <strong>de</strong> Antonio d'Andra<strong>de</strong> Corrêa.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

FACULDADE DE DIREITO<br />

Dia 22<br />

1anno — José Augusto Diniz,<br />

Elysio Ferreira <strong>de</strong> Lima e Sousa.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2." anno — Joaquim Telles <strong>de</strong> Menezts<br />

Vieira <strong>de</strong> Meyrelles, Jorge da Silveira<br />

Freire Themudo <strong>de</strong> Vera, José Agostinho<br />

<strong>de</strong> Figueiredo Pacheco Telles, Jo


AXXO í - &H O D K P E . ^ O R B O POVO 25 (le lanho <strong>de</strong> J SOS<br />

OITI^S<br />

PARA<br />

Pharmacia<br />

Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />

Typ. Operaria<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

ANNUNCIOS<br />

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timbrado<br />

Por linha 30 réis<br />

* Repetições 20 róis<br />

Impressões rapidas<br />

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Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

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' F I B<br />

w<br />

FUNDADA EM 183a<br />

Com sé<strong>de</strong> em IJÍ»I»O»<br />

<strong>Coimbra</strong><br />

1 Si 2 J J<br />

ião avisados os srs. accionistas<br />

d'esta companhia, <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m<br />

receber na agencia d'esta cida<strong>de</strong>,<br />

o divi<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> 1892, na razão <strong>de</strong> réis<br />

por cada acção.<br />

"<strong>Coimbra</strong>, 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />

O agente,<br />

Basilio Augusto Xavier d'Andru<strong>de</strong>.<br />

Mala Real Portugueza<br />

130<br />

PASSAGENS DE GRAÇA<br />

PARA O<br />

B K & Z I h<br />

>OMENS <strong>de</strong> 16 a 40<br />

annos, casados,<br />

solteiros ou viúvos, teem<br />

passagem <strong>de</strong> graça para a<br />

província <strong>de</strong> S. Paulo e que<br />

queiram ir trabalhar nas<br />

obras do caminho <strong>de</strong> ferro<br />

da companhia Paulista.<br />

Para tratar com<br />

RUA DO CORVO<br />

Decreto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1891<br />

fl elia-ge á venda em todas as<br />

#4 livrarias <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o <strong>de</strong>creto<br />

<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, regulador<br />

dos direitos e obrigações das<br />

associações, <strong>de</strong> seccorros mútuos, indispensável<br />

a todos os socios das mesmas<br />

associações, preço 50 réis.<br />

Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />

„„ a uguRto Uune» dos Sant«B><br />

successor <strong>de</strong> Antonio<br />

dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />

<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />

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<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />

valor.<br />

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Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G - COIMBBA.<br />

Sa<br />

.„. Mjganoel Gonçalves Perel-<br />

Ífl ra Guimarães, precisa<br />

d'um marçano com alguma pratica <strong>de</strong><br />

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vendida por 120$0u0 réis ao passo que<br />

esta casa as tem a 110$000!!I<br />

Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />

amadores.<br />

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Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />

e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />

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Imprimem-se na<br />

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<strong>Coimbra</strong><br />

A QUEM PRECISE<br />

117 M " " 1 " » - * * u m a s estantes<br />

' I quasi novas; são próprias<br />

para mercearia, ou outro negocio.<br />

Para tratar com João Vieira da Silva<br />

Lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />

0 DEFENSOR DO POVO<br />

(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />

Redacção e administração<br />

RUA DE FERREIRA BORGES, 29, I.«<br />

Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir u<br />

Antonio Augusta dos Santos<br />

EDITOR<br />

CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />

Com estampilha<br />

Anno ' 20700<br />

Semestre 10330<br />

Trimestre... 680<br />

(PAGA ADIANTADA)<br />

Sem estampilha<br />

Anno 2«00<br />

Semestre.... 21000<br />

Trimestre... 600


A festa republicana<br />

em <strong>Bad</strong>ajoz<br />

Foi verda<strong>de</strong>iramente notável a<br />

conferencia republicana, celebrada<br />

em <strong>Bad</strong>ajoz, por hespanhoes e portuguezes<br />

nos dias 24 e 25 do corrente,<br />

dias consagrados pela egreja<br />

ao Percursor do Chrislianismo, que<br />

também foi uma profunda transformação<br />

social politica, economica e<br />

moral, sob as formas apparenles<br />

d'uma revolução religiosa.<br />

Este assignalado acontecimento,<br />

simplesmente peninsular, é o inicio<br />

<strong>de</strong> oulros <strong>de</strong> maior acção e mais<br />

po<strong>de</strong>rosa influencia; e pequeno como<br />

parece á primeira vista, po<strong>de</strong> lornar-se<br />

gran<strong>de</strong>, enorme para toda a<br />

Europa, nas suas consequências, as<br />

quaes em parle previstas não é fa*<br />

cil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>de</strong>terminar, ou ao menos<br />

calcular nos seus effeitos.<br />

Auxiliados com as informações<br />

que nos trazem os jornaes <strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz<br />

e <strong>de</strong> outros pontos <strong>de</strong> Hespanha,<br />

os jornaes porluguezes e a exposição<br />

que d'aquella sympathica<br />

festa nos têm feito alguns dos nossos<br />

amigos que a presencearam e<br />

nella tomaram parte, procuraremos<br />

informar os nossos leitores, e convencer-se-hão<br />

<strong>de</strong> que o facto altamente<br />

significativo como acontecimento,<br />

loi também como espectáculo<br />

brilhante e assombroso.<br />

VIAGEM<br />

Levados pela nobilíssima idêa d'uma<br />

approximação intima e fraternal <strong>de</strong> Portugal<br />

e Hespanha, que os interesses dynasticos<br />

dos dois paizes por tantos séculos<br />

afastaram, tornando inimigos seculares<br />

dois povos que a natureza lizera<br />

irmãos, reuuiram-se na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz,<br />

cujas convicções accentuadamente<br />

republicanas naturalmente indicavam para<br />

a importante reunião, os chefes mais<br />

prestigiosos do partido republicano hespanhol,<br />

acompanhados <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> nume<br />

ro dos mais eminentes e enthusiastas republicanos<br />

hespanhoes, para receberem<br />

os <strong>de</strong>legados do partido republicano portuguez,<br />

que alli se fez representar do<br />

modo mais brilhante por muitos dos vultos<br />

mais distuictos na politica, na sciencia e<br />

na imprensa.<br />

Foi como que uma viagem <strong>de</strong> triumpho<br />

a que liaeram os republicanos porluguezes<br />

a <strong>Bad</strong>ajoz. Nas linhas do percurso<br />

eram esperados ein quasi todas as<br />

estações por muito povo e comniisaõe»<br />

republicanas, que iam, assim, dar aos<br />

seus representantes a expressão da sua<br />

conliança e assegurar-lhe» com o seu enthusiasmo<br />

a esperança <strong>de</strong> que ficavam<br />

animados.<br />

Aos illustres republicanos portuguezes<br />

que salitram <strong>de</strong> Lisboa com <strong>de</strong>stino<br />

a <strong>Bad</strong>ajoz, os srs. dr. Jaciutho Nunes,<br />

dr. Eduardo Abreu, Teixeira Bastos, dr.<br />

Magalhaes Lima, Gomes da Silva, Alves<br />

Corrêa, Cecílio <strong>de</strong> Sousa, Feio Terenas,<br />

Andra<strong>de</strong> Neves, Magalhães Bastos,<br />

Autónio Cardoso <strong>de</strong> Oliveira, João<br />

Jaeiulho Fernan<strong>de</strong>s, dr. Ignacio Ferrari,<br />

Azevedo liamos, Oliveira e Silva, Manoel<br />

Autonio Dias Ferreira, Perry Vidal,<br />

dr. Bruklami, Rodrigues Tocha, Coelho<br />

da Silva, João lgiiaoio Garcia e Soares<br />

Gue<strong>de</strong>s, juntaram-se em Santarém os srs.<br />

Francisco Canha e Manoel Antonio das<br />

Neves; no Poço do Bispo, Coelho da Silva;<br />

no Entroncamento — a <strong>de</strong>legação do<br />

Porto, Cunha e Cosia, Bessa Carvailio,<br />

dr. Gama e Salgado Lencart; a <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

dr. Emygdio Garcia, lente <strong>de</strong> direito,<br />

dr. Jose Bruno, lente <strong>de</strong> malhematica,<br />

e dr. Martins Teixeira <strong>de</strong> Carvalho;<br />

em Abrantes o dr. Ramiro Gue<strong>de</strong>s;<br />

Da Torre das Vargens, entrou o dr.<br />

Defensor<br />

BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />

Soms, lente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Salamanca,<br />

e Lourinho, professor do lyceu<br />

<strong>de</strong> Portalegre, Vicente Bugalho, Mourato<br />

e Teixeira <strong>de</strong> Queiroz; seguiu lambem<br />

uma commissão <strong>de</strong> republicanos <strong>de</strong> Vigo,<br />

e o dr. Martins Lima e Manoel<br />

Vianna, <strong>de</strong> Barcellos; em Elvas eram os<br />

nossos correligionários esperados pelos<br />

srs. D. Ruben Landa, Carrasco e Parra,<br />

que em nome dos republicanos hespanhoes<br />

dirigiram aos nossos as mais cor<strong>de</strong>aes<br />

e enthusiasticas saudações.<br />

Mas imponente e <strong>de</strong>lirante <strong>de</strong> enthusiasmo<br />

foi a recepção em<br />

BADAJOZ<br />

Mais <strong>de</strong> 4:000 pessoas esperavam o<br />

comboio, applaudindo o mais calorosamente<br />

possivel e recebendo com o maior<br />

<strong>de</strong>lirio os <strong>de</strong>legados portuguezes, numa<br />

ovação fremente, estrepitosa e polongada,<br />

emquanto uma banda tocava o hymno<br />

nacional portuguez.<br />

Os hespanhoes republicanos mais<br />

illustres estavam na estação, á frente<br />

dos quaes se notava Solmeron, o prestigioso<br />

chefe da união republicana <strong>de</strong><br />

Hespanha, e Pedregal, Cervera, Ver<strong>de</strong>z,<br />

Montenegro, Luiz Cal<strong>de</strong>ron, Salas Anton,<br />

Altamira, e os <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> Alméria,<br />

Pontevedra, Salamanca, Vigo, Oviedo,<br />

Orense, Alicante e Riscaya, acompanhando<br />

todos, em numeroso cortejo <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> pessoas, os <strong>de</strong>legados portuguezes<br />

até a cida<strong>de</strong>.<br />

Maniieslações da mais subida consi<strong>de</strong>ração,<br />

da mais nffectuosa estima, não<br />

cessavam <strong>de</strong> as receber os portuguezes<br />

no mais fidalgo acolhimento que lhes fez<br />

o povo hespanhol, sendo visitados pelo<br />

que <strong>de</strong> mais illustre se encontrava em<br />

<strong>Bad</strong>ajoz, não faltando até os jornaes<br />

monarchicos d'aquella cida<strong>de</strong> a dirigirem<br />

as boas vindas aos republicanos <strong>de</strong> Portugal.<br />

O COMÍCIO<br />

Começou ás 9-horas no theatro Lopes<br />

d'Ayala, que, regurgitando numa concorrência<br />

exlraordmaria e selectissima,<br />

assistiu ao acontecimento mais aotavel e<br />

mais fecundo para a prosperida<strong>de</strong> e<br />

pogresso da península, que se tem realisado<br />

na segunda meta<strong>de</strong> d'este século.<br />

Presidiam a notabilissima asseuiblêa<br />

os srs. Landa, tendo á sua direita o sr.<br />

dr. Emygdio Garcia e Pedregal, e á esquerda<br />

Salmeron e Magalhães Lima.<br />

O mefling realisou-se no meio d'um<br />

in<strong>de</strong>scriptivel enthusiasmo, d'uma animação<br />

vibrante e quente, on<strong>de</strong> palpitavam,<br />

emocionadas, inlelligencias das mais brilhantes,<br />

sentimentos dos mais sinceros,<br />

a mais franca cor<strong>de</strong>alida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicações<br />

das mais <strong>de</strong>cididas e a sympatlna mais<br />

viva, eloquentíssima, entre os dois povos.<br />

Rompeu-se o gelo que havia entre<br />

Portugal e Hespanha, como disse D.<br />

Ruben Landa, e este facto, das cousequeucias<br />

mais transcen<strong>de</strong>ntes para o futuro<br />

dos povos da península, <strong>de</strong>ve-se<br />

á coufraternisação republicana, franca e<br />

leal, <strong>de</strong> hespanhoes e portuguezes. Que<br />

as monarchtas peninsulares só lêem<br />

promovido odios e repulsões, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via<br />

ler existido, sempre a ainisa<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>al<br />

<strong>de</strong> irmãos.<br />

A enlrada no theatro dos <strong>de</strong>legados<br />

do partido republicano portuguez foi<br />

acolhida com salvas <strong>de</strong> palmas tempestuosas<br />

e frementes e vivas a Portugal e<br />

Hespanha, e o mesmo acolhimento enthusiastico<br />

foi feito á entrada <strong>de</strong> Salmeron.<br />

O primeiro discurso foi pronunciado<br />

por D. Ruben <strong>de</strong> Landa, que em phrase<br />

levantada enaltece a reuuiao que se<br />

realisa c que ha <strong>de</strong> estreitar mais e<br />

mais os laços <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> eutre os<br />

dois paizes; que Portugal po<strong>de</strong> coutar<br />

com o auxilio da Hespanha para mauter<br />

a sua dignida<strong>de</strong> e a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.<br />

A este orador seguiu-ae o sr. dr.<br />

Eduardo Abreu, que apresentou as mensagens<br />

<strong>de</strong> adhesão <strong>de</strong> llieoplnlo Braga,<br />

Rodrigues <strong>de</strong> Freitas, Guerra Junqueiro,<br />

e <strong>de</strong> outros republicanos <strong>de</strong> Portugal,<br />

das quaes começamos hoje a publicar<br />

algumas das mais notáveis. Com gran<strong>de</strong><br />

eloquencia exprimiu o dr. Eduardo Abreu<br />

a alta significação d'aquella assembleia,<br />

on<strong>de</strong> predominava como base <strong>de</strong> discussão<br />

a in<strong>de</strong>pendência e autonomia dos<br />

dois paizes.<br />

Ao terminar o seu discurso este<br />

orador, os porluguezes, <strong>de</strong> pé,levantaram<br />

vivas á Hespanha; Salmeron, Pedregal<br />

e outros abraçaram-no e o publico levantou<br />

vivas a Portugal.<br />

Fallou <strong>de</strong>pois osr. Cal<strong>de</strong>ron, <strong>de</strong>legado<br />

da província <strong>de</strong> Segovia, que, dirigindo-se<br />

ás muitas senhoras que aisistiani<br />

ao comício, ostentando na maior<br />

parte as côres nacionaes portuguezas,<br />

applaudiu a sua <strong>de</strong>licadíssima intenção,<br />

e disse-lhes, que a -sua comparência<br />

naquellas reuniões ha <strong>de</strong> ser efÈcacissima,<br />

porque as idêas <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e as<br />

doutrinas <strong>de</strong>mocráticas se hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

no seio das famílias, ao influxo<br />

benefico da mulher; e que estas idêas,<br />

por serem nobres e puras, nenhum perigo<br />

po<strong>de</strong>m constituir.<br />

O sr. Magalhães Lima, que toda a<br />

Hespanha conhece e admira, recebeu,<br />

ao levantar-se para fallar, uma gran<strong>de</strong><br />

ovação.<br />

Exprimiu o seu gran<strong>de</strong> afTecto á<br />

Hespanha e affirmou as suas idêas fe<strong>de</strong>ralistas.<br />

Fez resaltar a grandiosa approximação,<br />

que alli se estava iniciando<br />

entre os dois paizes, dizendo que só os<br />

republicanos a po<strong>de</strong>m realisar; que as<br />

idêas fe<strong>de</strong>raes eslão n«t tradição do partido<br />

republicano portuguez; que as idêa*<br />

<strong>de</strong> odio, <strong>de</strong> hypocrisia, não caem ao<br />

impulso dos canhões mas ao impulso das<br />

iueas.<br />

Com o maior brilho discursou em<br />

seguida o sr. Salas Anton, <strong>de</strong>legado <strong>de</strong><br />

Barcelona. Em nome da Catalunha saudou<br />

Portugal e <strong>Bad</strong>ajoz, e disse que<br />

Portugal c Hespanha só <strong>de</strong>sejam a fe<strong>de</strong>ração<br />

dos dois paizes, conservando ambos<br />

a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia. Mostra-se fe<strong>de</strong>ralista<br />

ar<strong>de</strong>nte e termina o seu discurso<br />

brilhante fazendo votos pela breve realisação<br />

do seu i<strong>de</strong>al — que uma republica<br />

fe<strong>de</strong>ral dos dois paizes seja em breve<br />

um facto.<br />

O <strong>de</strong>legado portuguez, sr. Gomes da<br />

Silva, dirige á Hespanha e a <strong>Bad</strong>ajoz<br />

expressões <strong>de</strong> grau<strong>de</strong> alíecto.<br />

Advoga as idêas fe<strong>de</strong>ralistas, mostra<br />

as vantagens que da sua realisação hão<br />

<strong>de</strong> provir, e saúda a imprensa liespanhola<br />

em nome da imprensa porlugueza.<br />

O sr, Altamira saúda Portugal em<br />

nome dos republicanos <strong>de</strong> Alicante e <strong>de</strong><br />

Valencia; tem phrases affectuosas e <strong>de</strong>licadas<br />

para a imprensa republicana porlugueza,<br />

on<strong>de</strong>, disse elle, po<strong>de</strong>ria inspirar<br />

se, se porventura <strong>de</strong>síallecesse no<br />

seu labor <strong>de</strong> jornalista; que a imprensa<br />

hespanhola, principalmente a republicana,<br />

tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> tornar conhecidas<br />

as individualida<strong>de</strong>s politicas, luteranas<br />

e scientificas <strong>de</strong> Portugal e as mais importantes<br />

obras portuguezas.<br />

Discursou em seguida o sr. Gomes<br />

Dias, numa orientação clara <strong>de</strong> republicano<br />

fe<strong>de</strong>ral; atlirmou que o partido<br />

republicano portuguez estava representado<br />

<strong>de</strong> modo, que os dois paizes<br />

bem podiam <strong>de</strong>liberar sobre o que mais<br />

convenha aos seus interesses.<br />

O sr. Ver<strong>de</strong>s Montenegro, director<br />

da Justicia <strong>de</strong> Bubao, engran<strong>de</strong>ce a im<br />

porlaucia do acto que se estava realisando<br />

e disse que Portugal e Hespanha<br />

<strong>de</strong>sejam a approximação dos dois paizes,<br />

a que os iuteresses dynasticos não po<strong>de</strong>rão<br />

ooslar.<br />

Levanta-se em seguida o sr. dr.<br />

Emygdio Garcia, lente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que produziu um discurso<br />

fulgurante e eulbusiasla, cheio <strong>de</strong> fervor<br />

e <strong>de</strong> elevação, <strong>de</strong> quo noutro logar da<br />

mos um extracto.<br />

O discurso do sr. dr. Garcia foi<br />

coberto <strong>de</strong> mos applausos.<br />

O sr. Pedregal y Canedo dirigiu-se<br />

aos portuguezes em phrases affectuosas,<br />

« disse, que Portugal e Hespanha se.<br />

approxinijiu do momeulo d'uma gran<strong>de</strong><br />

transformação, que as próprias leis da<br />

historia impõem; referiu-se aos <strong>de</strong>scobrimentos<br />

que aos dois paizes se <strong>de</strong>vem;<br />

fez appro.xiinações históricas, felizes, <strong>de</strong><br />

Portugal e Hespanha em diversas épocas;<br />

<strong>de</strong>screve o estado <strong>de</strong> abatimento<br />

em que um e outro se encontravam e <strong>de</strong><br />

ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />

do Povo<br />

que só a republica os pô<strong>de</strong> levantar;<br />

que a Republica franceza se consolidou<br />

por si própria, e que o mesmo ha <strong>de</strong><br />

acontecer á republica hespanhola; que<br />

doi males <strong>de</strong> que enfermam os povos<br />

peninsulares teem mais culpa as instituições<br />

do que os governos, e todas<br />

estas affirmações baseava-as em consi<strong>de</strong>rações<br />

brilhantes e imagens felicíssimas,<br />

que enthusiasmaram a todos.<br />

Em seguida o sr. Teixeira <strong>de</strong> Queiroz,<br />

saudando o povo hespanhol, offereceu<br />

aos chefes republicanos <strong>de</strong> Hespanha<br />

tres livros que os republicanos portuguezes<br />

lhes ofíereceram, brin<strong>de</strong>s valiosos<br />

e significativos que hão <strong>de</strong> ser apreciados<br />

como monumentos da alma portugueza.<br />

Ao sr. Salmeron foi ofíerecida<br />

uma edição <strong>de</strong> Luiz <strong>de</strong> Camões, publicada<br />

no Porto por Emilio Biel, luxuosamente<br />

enca<strong>de</strong>rnada, tendo no frontespicio<br />

dois escudos com as côres portuguezas<br />

e hespanholas, on<strong>de</strong> está gravada a <strong>de</strong>dicatória<br />

ao illustre ex-presi<strong>de</strong>nte da Republica<br />

Hespanhola, e com a data <strong>de</strong><br />

24—6—93; a Pi y Margall, uma edição<br />

<strong>de</strong> 1685 das Rimas e Luziadas <strong>de</strong><br />

Luiz <strong>de</strong> Camões, commenladas por Manoel<br />

<strong>de</strong> Faria e Sousa; a Ruiz Zorilla<br />

um álbum com 60 magnificas photographias<br />

das principaes cida<strong>de</strong>s e monumentos<br />

portuguezes.<br />

O orador <strong>de</strong>screveu eloquentemente<br />

a intenção da offerta d'aqueiles livros,<br />

dizendo que nelles palpita a nacionalida<strong>de</strong><br />

portugueza.<br />

O sr. Salmeron ficou encarregado <strong>de</strong><br />

fazer entregar aos srs. Pi y Margall e<br />

Ruiz Zorrilla os brin<strong>de</strong>s que lhes foram<br />

<strong>de</strong>stinados.<br />

Fechou a assemblêa com um discurso<br />

do sr. Salmeron, que, ao levantar-se,<br />

foi recebido com innumeros applausos<br />

numa ovação enthusiastica.<br />

Para nós, o discurso do eminente<br />

<strong>de</strong>mocrata tem uma importancia excepcional<br />

pelas affirmações que fez e que<br />

altamente nos interessam, <strong>de</strong>clarações<br />

que registramos com a maior satisfação.<br />

O illustre chefe da <strong>de</strong>mocracia hespanhola<br />

affirmou, que a base» d'aquella<br />

reunião era a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Portugal,<br />

<strong>de</strong>clarando, que não só a respeitarão os<br />

republicanos, mas que a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rão contra<br />

qualquer violência, por que isto constitue<br />

um <strong>de</strong>ver sagrado; o que altentasse<br />

contra ella, exclamou o auctorisado<br />

republicano,—seria um parricida!<br />

Que a fe<strong>de</strong>ração ibérica <strong>de</strong>ve estar no<br />

pensamento dos republicanos <strong>de</strong> ambos<br />

os paizes, •estabelecendo-se sobre as bases<br />

das autonomias regionaes, fundadas<br />

na differenciaçàô que ha <strong>de</strong> facto no território<br />

e nas raças peninsulares, e que<br />

por ella <strong>de</strong>vem trabalhar os republicanos<br />

portuguezes e hespanhoes. Alludindo<br />

á representação portugueza naquelle<br />

acto <strong>de</strong> tão relevante .significação e imporlancia,<br />

disse Salmeron que assim se<br />

seilou a fraternida<strong>de</strong> dos republicanos<br />

portuguezes e hespanhoes para a obra<br />

commum.<br />

Digno e alevantado discurso, em todo<br />

o ponto á altura da gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />

inteliectual do illustre <strong>de</strong>mocrala hespanhol<br />

e do acto importantíssimo que se<br />

realisava. .<br />

E assim terminou a conferencia republicana<br />

<strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz, perto das duas<br />

iioras da noite ; acontecimeuto memorável<br />

e grandioso, que encen<strong>de</strong>u no animo<br />

da numerosa multidão que a elle accorreu<br />

o mais fervoroso enthusiasmo; convívio<br />

fraternal das mais generosas idêas,<br />

syiuhese d'uma aspiração immensa e<br />

grandiosa — o resurgimento d'este Lazaro<br />

peninsular, que, <strong>de</strong>pois das conquistas<br />

mais heróicas para a sciencia epara<br />

a humanida<strong>de</strong>, tem <strong>de</strong>cahido miseravelmente<br />

num torpor secular, mercê dos<br />

con<strong>de</strong>mnados regimens monarchicos.<br />

E para se ver o quanto <strong>de</strong> enthusiasmo<br />

<strong>de</strong>spertava a idêa <strong>de</strong> fraternisação<br />

dos dois paizes da península, bastará<br />

dizer-se, que das regiões mais distantes<br />

accorreram representantes <strong>de</strong> todos os<br />

povos peninsulares, <strong>de</strong>spertados lá ao<br />

longe pela festa fraternal que em <strong>Bad</strong>ajoz<br />

ia realisar-se. E assim é, que, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> uma fadigosa viagem <strong>de</strong> quatro dias<br />

nuns vehiculos quasi primitivos, chegou<br />

a <strong>Bad</strong>ajoz uma commissão <strong>de</strong> republicanos<br />

<strong>de</strong> Navarra, que <strong>de</strong>ixaram as,suas<br />

montanhas, guiados, cheios <strong>de</strong> enthusiasmo<br />

e <strong>de</strong> fé, por uma nova estrella indicadora<br />

d'um novo futuro <strong>de</strong> gloria e <strong>de</strong><br />

prosperida<strong>de</strong>, como outr'ora, nos tempos<br />

bíblicos, uma outra estrella guiou os<br />

Magos ao estabulo <strong>de</strong> Bethlem.<br />

O BANOUETE<br />

realisou-se no domingo, 25, nnm salão<br />

do Casino Republicano, ricamente ornamentado<br />

<strong>de</strong> flores e colgaduras, escudos<br />

e ban<strong>de</strong>iras portuguezas e hespanholas,<br />

presidindo a elle Salmeron e Magalhães<br />

Lima.<br />

Iniciou os brin<strong>de</strong>s o sr. Ruben Landa,<br />

seguindo-se a mesma or<strong>de</strong>m dos oradores<br />

que no comício, fallando alternadamente<br />

um portuguez e um hespanhol. Succediam-se<br />

os brin<strong>de</strong>s, vibrando todos a<br />

mesma nota <strong>de</strong> fraternisaçSo e cor<strong>de</strong>alida<strong>de</strong>,<br />

todos na mesma expressão alfectuosa<br />

e amiga.<br />

O nosso distincto collaborador e illustre<br />

correligionário, sr. Albano Coutinho,<br />

brindou brilhantemente, e temos o<br />

prazer <strong>de</strong> publicar a<strong>de</strong>ante o notável<br />

discurso.<br />

Um orador hespanhol, o sr. Ortiz,<br />

brindou em portuguez, seguindo-se-lhe<br />

logo o sr. dr. Emygdio Garcia, que em<br />

castelhano brindou, em nome da aca<strong>de</strong>mia<br />

republicana porlugueza á mocida<strong>de</strong><br />

académica republicana <strong>de</strong> Hespanha, produzindo<br />

um eloquente discurso na pura<br />

lingua <strong>de</strong> Cervantes.<br />

O dr. Magalhães Lima, em phrases<br />

sempre eloquentes, ia apresentando os<br />

oradores que <strong>de</strong>viam levanlar os brin<strong>de</strong>s.<br />

O sr. dr. Eduardo Abreu convidou,<br />

em nome da commissão, o comité republicano<br />

<strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz, os chefes da União<br />

Republicana os <strong>de</strong>putados republicanos<br />

e representantes das províncias hespanholas<br />

para uma outra reunião em Portugal,<br />

que, suppõe-se, se realisará em<br />

Outubro proximo, havendo probabilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> que será a <strong>Coimbra</strong> que caberá<br />

a honra <strong>de</strong> receber os illustres republicanos<br />

<strong>de</strong> Hespanha.<br />

Esta festa affectuosissima terminou<br />

com uni discurso <strong>de</strong> Salmeron, que oílereceu<br />

aos portuguezes as flores que ornamentavam<br />

a mesa e levantou um viva<br />

a Portugal, correspondido pelos nossos<br />

com vivas á Hespanha.<br />

A'<br />

DESPEDIDA<br />

os <strong>de</strong>legados portuguezes áquella festa<br />

<strong>de</strong> tanta sympathià e solidarieda<strong>de</strong>, foram<br />

acompanhados á estação do caminho <strong>de</strong><br />

ferro pelos representantes hespanhoes e<br />

enorme multidão que os vicloriava a<br />

todos.<br />

Do wagon já, o sr. dr, Emygdio<br />

Garcia saudou em hespanhol o povo <strong>de</strong><br />

Hespanha, a que respon<strong>de</strong>ram com muitos<br />

vivas a Portugal, numa imponente<br />

manifestação <strong>de</strong> enthusiasmo.<br />

Os republicanos portuguezes foram<br />

acompanhados até Elvas por muitos republicanos<br />

hespanhoes e até ao Entroncamento<br />

pelos srs. Salmerou, Salas Antón<br />

e oulros republicanos <strong>de</strong> Hespanha, que<br />

seguiram na linha do norle para Salamanca<br />

e Vigo.<br />

A commissão republicana <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

foi esperada na estação d'esta cida<strong>de</strong><br />

por uma commissão <strong>de</strong> muitos dos nossos<br />

amigos, que alli a foram receber.<br />

A figura imponente <strong>de</strong> Salmeron, que<br />

se impõe por um ar <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>,<br />

ao mesmo tempo, magestoso e bom, inspirou<br />

em lodos os nossos correligionários<br />

que tiveram a surpresa <strong>de</strong> o encontrar a<br />

mais funda impressão <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong><br />

sympathia.<br />

Os nossos distinctos correligionários<br />

que a <strong>Bad</strong>ajoz nos foram representar,<br />

vêm animados d'um grau<strong>de</strong> enthusiasmo,<br />

retemperando o seu animo naquella<br />

festa, que a todos <strong>de</strong>ixou as recordações<br />

mais gratas.<br />

Inspirados no gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al a que o<br />

partido republicano se dirige, insuflarão<br />

em todos os portuguezes a coragem e a<br />

<strong>de</strong>votada <strong>de</strong>dicação exigidas pela gran«<br />

diosa obra que se preparou.


AX\Q I —X." O D E F E N S O R DO P O V O 99 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1893<br />

Discursos<br />

Publicamos em seguida um extracto<br />

<strong>de</strong>senvolvido do discurso notável e eloquentíssimo<br />

do nosso illustre correligionário,<br />

sr. dr. Monoel Emygdio Garcia,<br />

bem como o que no banquete pronunciou<br />

o nosso distincto collaborador e integerrimo<br />

republicano, sr. Ur. Albano Coutinho.<br />

*<br />

O orador, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cumprimentar a<br />

assembleia e lamentar o adiantado da<br />

hora em que lhe chega a palavra, mostra<br />

em periodos, cheios <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rosa energia<br />

e vivíssimo colorido, que a Hespanha<br />

e Portugal eram não só duas nações<br />

bem caracterisadas e constituíam dois<br />

povos bem differenciados nas suas distinctas<br />

qualida<strong>de</strong>s éthnicas, mas lambem<br />

eram duas nações irmãs, dois povo» irmãos<br />

pela natureza, pela historia e pelas<br />

aspirações <strong>de</strong> futuro,<br />

Saúda a Hespanha em nome da sua<br />

litteratura que é brilhante e encantado<br />

ra; da sua sciencia, rica, opulentíssima;<br />

da sua industria hoje prodigiosa; da sua<br />

arte maravilhosa e fascinadora, a sua<br />

arte, a qual, durante séculos, se tem<br />

<strong>de</strong>sentranhado em obras primas e assombrosos<br />

monumentos, e anceadamente se<br />

expan<strong>de</strong> em largos e iu<strong>de</strong>fruidos horisontes<br />

<strong>de</strong> fulgurantes e sublimes i<strong>de</strong>aes no<br />

sentimento arrebatador e na concepção<br />

insaciavel, em as inesgotáveis formas<br />

do bello, subordinadas aos caprichos da<br />

sua genial phantasia e indomável po<strong>de</strong>r<br />

creador.<br />

Todos estes pontos foram rapida, mas<br />

impetuosamente tocados pelo orador, em<br />

syntheses completas.<br />

Referindo-se á litteratura hespanhola<br />

cita, entre outros, Cervantes, Cal<strong>de</strong>ron,<br />

Espronceda, astros <strong>de</strong> maior gran<strong>de</strong>za,<br />

como entre nós o foram Camões,<br />

Garrett e Herculano.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a sciencia, que o orador<br />

proclama a maior e~ mais po<strong>de</strong>rosa<br />

força que os homens <strong>de</strong>scobriram (porque<br />

a sciencia, disse elle, é uma creação<br />

humana) tem empregado e hão <strong>de</strong><br />

empregar e cada vez mais na civilisaçâo<br />

da humanida<strong>de</strong>; fatiando da sciencia, que<br />

elle orador affirma e <strong>de</strong>monstra ser o<br />

único po<strong>de</strong>r soberano e infallivel do<br />

mundo, relembra alguns dos mais notáveis<br />

vultos da sciencia hespanhola contemporânea,<br />

alli tão. superiormente representada<br />

pelo sr. Nicolau Salmeron, o<br />

sábio e honrado professor, que em Madrid<br />

e na sua cathedra <strong>de</strong> philosophia,<br />

que tanto ennobrece e glorifica com o<br />

seu privilegiado talento e palavra eloquente,<br />

disciplinando a mentalida<strong>de</strong> das<br />

novas gerações académicas da sua patria.<br />

Apontando também para o sr. Manuel<br />

Pedregal, um sábio jurisconsulto,<br />

um dos primeiros e mais notáveis advogados<br />

na vizinha Hespanha, a elle e ao<br />

«r. Salmerou faz os maiores elogios como<br />

dislincíos homens <strong>de</strong> sciencia, parlamentares,<br />

estadistas, <strong>de</strong>dicados e fervorosos<br />

dirigentes, vultos magnanimós e prestigiosos<br />

da Democracia peninsular. (Ruidosos<br />

applauscis )<br />

Passando a fallar <strong>de</strong> politica, disse<br />

que o faria não como parlidario d'esteou<br />

d'aque!le i<strong>de</strong>al, não como revolucionário<br />

intransigente na lucta dos factos; mas<br />

como o faria e, por vezes tem feito e<br />

habitualmente faz na sua amantíssima<br />

cathedra <strong>de</strong> professor, a qual é e representa<br />

para elle a sua maior honra, a sua<br />

maior gloria, e á qual tem <strong>de</strong>votado a<br />

sua vida, que já conta mais <strong>de</strong> meio século.<br />

' /<br />

Que faltaria com toda a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia,<br />

liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>safogo, como cultor<br />

da sciencia e professor d\ima <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

convencido <strong>de</strong> que para a<br />

sciencia não ha fronteiras, e que a missão<br />

do ensino é universal e humanitaria.<br />

Dois gran<strong>de</strong>s systemas, duas po<strong>de</strong>rosas<br />

influencias têm dominado e dirigido<br />

a activida<strong>de</strong> humana, divi<strong>de</strong>m a historia,<br />

e são como as duas gran<strong>de</strong>s pbases<br />

da evolução social na exislencia dos<br />

povos, das nações ç da humanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a eda<strong>de</strong> media principalmente, e que<br />

se chamam—regimen catholicò' findai,<br />

regimen scientifico industrial.<br />

O regimen catholico <strong>de</strong>u-nos nas*suas<br />

ultimas consequências — b papado infallivel<br />

e o jesuitismo, sem duvida impotente,<br />

mas sempre ou*»do e tenebroso.<br />

Do valor d'estes ' ricos presentes e<br />

preciosos legados <strong>de</strong>ixa o calculo e a<br />

apreciação á asseinblêa...<br />

O feudalismo gerou em ultimo parto<br />

a monarchia bastarda e o seu indissolúvel<br />

apanágio, o seu inseparável accessorio<br />

— o parlamentarismo balofo.<br />

A monarchia já foi uma instituição<br />

respeitável e uma po<strong>de</strong>rosa energia civilisadora;<br />

reduzida, porém, ás ficções pueris<br />

do ifgimen constitucional e ao apparato<br />

comico e burlesco <strong>de</strong> uma corte<br />

theatral, é coisa inutil e caduca, não só<br />

caduca e inutil, mas lambem ridícula.<br />

(Muitos bravos.)<br />

A monarchia já foi uma instituição<br />

respeitável e uma po<strong>de</strong>rosa energia civilisadora,<br />

outr'ora, quando os reis, ao<br />

mesmo tempo chefes militares e dirigentes<br />

políticos, guiavam com a sua gloriosa<br />

espada os povos e as nações á conquista<br />

da sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia, da sua liberda<strong>de</strong>,<br />

da sua riqueza, da sua in-trucção, em<br />

<strong>de</strong>saffronla da justiça óffendida, em <strong>de</strong>sagaravo<br />

do direito postergado ; outr'ora,<br />

quando os reis e a monarchia por sua<br />

iniciativa povoavam os campos, fomentavam<br />

e <strong>de</strong>senvolviam a agricultura e a industria,<br />

ensinavam o commercio, as artes<br />

e as letlras, organisavam o ensino,<br />

fundavam, dotavam e protegiam <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s,<br />

e aca<strong>de</strong>mias, alargavam a navegação,<br />

dirigiam, e impulsionavam expedições<br />

marítimas, que faziam dos povos<br />

e das nações <strong>de</strong>scobridores <strong>de</strong> novos mundos,<br />

creadores e edificadores <strong>de</strong> opulentos<br />

e famosos impérios.<br />

Mas hoje que as monarchias c os<br />

seus representantes nascem e morrem<br />

sem <strong>de</strong>sembainhar as suas espadas, que<br />

a ferrugem da immobilida<strong>de</strong> mantém na<br />

virginda<strong>de</strong> da inacção ; hoje que. a monarchia<br />

e a sua phantastica e chimerica<br />

realeza se transformaram em calculadas<br />

restricções <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, na systematica<br />

sophismação da verda<strong>de</strong>, da justiça, da<br />

or<strong>de</strong>m e do progresse. ... a monarchia,<br />

a realeza é mais do que inutil, caduca e<br />

ridícula; é prejudicial, chega a ser coisa<br />

<strong>de</strong>gradante e vergonhosa, é uma terrível<br />

ameaça, um perigo para as nações que<br />

a toleram, reduzidas á servil condição<br />

<strong>de</strong> um feudo dynastico! (Prolongados e<br />

ruidosos applausos.)<br />

Na politica das nações, a monarchia<br />

é e representa o privilegio e a excepção<br />

odiosa.<br />

Na economia o monopolio é o parasitismo<br />

insaciavel.<br />

Na administração o centralismo absorvente<br />

é a tutela <strong>de</strong>gradante.<br />

Na moral a immoralida<strong>de</strong> característica<br />

e a <strong>de</strong>smoralisação contagiosa.<br />

No direito a <strong>de</strong>seguàlda<strong>de</strong> e o arbítrio.<br />

A monarchia é, em conclusão, para<br />

os organismos sociaes, no cerebro e no<br />

coração dos organismos sociaes da actualida<strong>de</strong>,<br />

uma excrecencia maligna, um<br />

abscesso conlamínador e mortífero ; na<br />

lógica dos espíritos o maior dos absurdos;<br />

na religião da Humanida<strong>de</strong> a maior<br />

das heresias. (Novos applausos.)<br />

Tratando do regimen scientifico-induslrial,<br />

proprio, característico e predominante<br />

nos nossos dias, o orador disse:<br />

«A sciencia, chegada á sua maiorida<strong>de</strong><br />

positiva pelo experimentalismo <strong>de</strong><br />

Comte e Herbert Spencer, concebeu, gerou<br />

nas suas entranhas, e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma<br />

longa e peno-a gestação, <strong>de</strong>u á luz a<br />

Democracia mo<strong>de</strong>rna; sob a fórma e «tructura<br />

apropriada da Republica Fe<strong>de</strong>ral.<br />

O industrialismo mo<strong>de</strong>rno, fecundado<br />

pela Democracia,, atlíngíu em nossos<br />

dias a eda<strong>de</strong> da emancipação e da liberda<strong>de</strong>;<br />

concebeu, gerou e produziu o Socialismo<br />

contemporâneo solr a fórma<br />

cooperativa. .<br />

E assim vemos que a Democracia<br />

Republicana e socialista se impõe, como<br />

integração <strong>de</strong> todas as forças, <strong>de</strong> todas<br />

as energias, <strong>de</strong> todos os interesses e <strong>de</strong><br />

todas as aspirações no systema social do<br />

futuro, a todos os povos, a todas as<br />

najõ.es, á humanida<strong>de</strong> inteira; e por isso<br />

aos


A W O I - M . ' O » O D E F E N S O R D O P O V O 89 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />

Olhem para si<br />

0 Correio da Manhã, jornal que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a concessão Quelimane-Chire, e<br />

que já linha <strong>de</strong>fendido a concessão Mac-<br />

Murdo e que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rá amanhã quantas<br />

concessões appareçam ruinosas para o paiz<br />

jornal que não per<strong>de</strong> occasião para nas<br />

suas columnas apresentar insidias contra<br />

o parltdu republicano, ou contra os homens<br />

ou jornaes republicanos, diz, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> dar os nomes <strong>de</strong> vários homens<br />

importantes, nossos correligionários, que<br />

partiram para <strong>Bad</strong>ajoz: «Que o Gaspacho<br />

e o Val <strong>de</strong> Penas não transtornem o<br />

estomago dos nossos concidadãos é o que<br />

•inceramenle <strong>de</strong>sejamos.»<br />

Suppõem que nos banquetes republicanos<br />

ha o mesmo uso que nos monarchicos,<br />

d'on<strong>de</strong> saem todos <strong>de</strong> estomago<br />

transtornado, com a aggravante <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapparecerem<br />

as colheres <strong>de</strong> prata e o<br />

mais que se sabe !...<br />

ASSUMPTOS LOCAES<br />

Teixeira «le Brito<br />

Po<strong>de</strong>mos hoje informar os amigos do<br />

nosso companheiro <strong>de</strong> que o seu estado<br />

vae melhorando, sem comtudo apresentar<br />

indícios d'um breve restabelecimento.<br />

Resta-nos a esperança <strong>de</strong> que os<br />

esforços da sciencia hão <strong>de</strong> vencer o mau<br />

carater da doença que acommetteu tão<br />

horrivelmente o nosso collega.<br />

Iflartins «le Carvalho<br />

Apezar do seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que<br />

começa a inspirar serio» cuidados, o velho<br />

jornalista sobre tantos soffrimentos,<br />

ainda esta semana conseguiu o enorme<br />

sacrifício <strong>de</strong> publicar e dirigir o seu Conimbricense.<br />

A publicação <strong>de</strong>ste jornal proseguirá,<br />

organiséindo-se uma redacção provisória<br />

<strong>de</strong> que fazem parte alguns seus<br />

amigos até que o sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />

possa assumir a direcção do seu<br />

Conimbricense. Oxalá que seja em muilo<br />

breve tempo.<br />

AH fogueiras a S. João<br />

Uma pobreza franciscana, este anno;<br />

tudo muilo estropiado, sem. entbusiasmo<br />

e sem animação.<br />

Poucas danças e nenhuma <strong>de</strong> que se<br />

possa dizer bem, a termo» <strong>de</strong> recordar<br />

outras epochas.<br />

Canções genuinamente populares, nem<br />

uma para amostra ; em compensação ouvimos,<br />

num estropiar insano e numa <strong>de</strong>safinação<br />

impossível, cantarem se uns<br />

trechos <strong>de</strong> valsas e polkas, que hão <strong>de</strong><br />

continuar a obra <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição e esphacellamento<br />

das trovas populares,tão apreciadas<br />

e tão características do nosso<br />

povo.<br />

As fogueiras este anno foram uma<br />

massada insupportavel para o publico,<br />

que tinha <strong>de</strong> fazer a caminhada dc Fóra<br />

<strong>de</strong> Portas á Arregaça e d'alli a Santa<br />

Clara; porque na baixa só a rua do Corpo<br />

47 Folhetim do Defensor do Poyo<br />

J. MÉRY<br />

A JUDIA 1 VATICANO<br />

V I X<br />

Débora<br />

A.' medida que a multidão dos convidados<br />

se afastava da quinta do marquez,<br />

Paulo Gréant fazia uma reflexão muito<br />

natural.<br />

— A morte neste momento, dizia<br />

elle comsigo, sem duvida que seria um<br />

favor bem recebido; mas morrer sem<br />

me justificar aos olhos <strong>de</strong> Memma...<br />

oh! não, mais valeria viver sempre immerso<br />

nas mais fundas dores do con<strong>de</strong><br />

mnado! Talormi conheceu-me. Este homem<br />

é capaz <strong>de</strong> tudo. Elle, que não<br />

tem medo <strong>de</strong> nada, tem medo <strong>de</strong> mim.<br />

A minha carta é uma cabeça <strong>de</strong> Medusa.<br />

A sua tranquilida<strong>de</strong> é mentirosa. Esta á<br />

minha espera, ahi, esta noite, á beira<br />

do caminho. Para .elle, matar um homem<br />

é uma simples brinca<strong>de</strong>ira, e se me<br />

mata fica á sua vonta<strong>de</strong>. Memma está<br />

perdida, e eu <strong>de</strong>shonrado aos olhos d'ella<br />

para sempre. Não <strong>de</strong>mos a Talormi esta<br />

estúpida satisfação, e, apezar da suavida<strong>de</strong><br />

que me offerece o lumulo, lenhamos<br />

R coragem <strong>de</strong> viver... Vivamos!<br />

<strong>de</strong> Deus teve a» honras d'esle divertimento<br />

popular.<br />

Em Santa Clara... Nem uma leve<br />

reminiscência do que foi aquelle bairro<br />

em noites <strong>de</strong> S João! Per<strong>de</strong>u-se alli,<br />

como em toda a parto, a nossa bella tradição<br />

e as raparigas não conservam dos<br />

seus antepassados umá única qualida<strong>de</strong><br />

das tantas que distinguiram os guapos<br />

ranchos d'aquelies sitios.<br />

Hoje ha danças e não consta que sejam<br />

mais animadoras as fogueiras em<br />

honra do chaveiro celeste. Diremos.<br />

Procissão<br />

Esle anno a mesa da irmanda<strong>de</strong> do<br />

Santíssimo da freguezia <strong>de</strong> S. Bartliolomeu,<br />

celebra com gran<strong>de</strong> pompa e apparato<br />

a festivida<strong>de</strong> annual.<br />

No sabbado será queimado um explendido<br />

fogo preso, a expensas d'uma commissão<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>votos, na praça do Commercio,<br />

sendo profusamente illuminada a<br />

frontaria da egreja; toca a philarmonica<br />

Boa União, que tem adquirido geraes<br />

sympathias pela maneira brilhante como<br />

se apresenta e executa o seu variado reportorio.<br />

No domingo <strong>de</strong> manhã a festivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> egreja: missa cantada, com gran<strong>de</strong><br />

orchestra e sermão pelo insigne orador<br />

sagrado, dr. Francisco Martins. A' tar<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois dc celebrado o Te-Deum sairá a<br />

procissão seguindo pela rua <strong>de</strong> Sargentomór,<br />

largo do principe D. Carlos, ruas<br />

<strong>de</strong> Ferreira Borges e Viscon<strong>de</strong> da Luz,<br />

praça 8 <strong>de</strong> Maio, ruas do Corvo e Sapateiros<br />

e praça do Commercio.<br />

O cortejo religioso compõe-se <strong>de</strong> diversas<br />

irmanda<strong>de</strong>s d'esta cida<strong>de</strong>, fazendo<br />

a guarda d'honra uma numerosa força<br />

<strong>de</strong> infauteria 23, acompanhada pela banda<br />

do mesmo regimento.<br />

Para o brilhantismo d'esta festa tem<br />

sido incansavel o mesario, sr. José Monteiro<br />

dos Santos, que ha muitos annos<br />

presta áquella corporação os seus bons<br />

serviços.<br />

A mesa espera que os parochianos<br />

d'esta freguezia illuminem a frontaria<br />

dos seus prédios no sabbado e domingo.<br />

IVn rua da* Pa<strong>de</strong>iras<br />

Já se começou a canalisar para o<br />

cano geral, as aguas que d'alguns prédios<br />

d'esta rua vinham <strong>de</strong>saguar nas valetas,<br />

comforme noticiámos, e que estavam<br />

incommodando horrivelmente os moradores<br />

que alli habitam.<br />

Felizmente que o sr. vereador da<br />

limpeza ouviu as nossas queixas e viu<br />

que ellas eram bem justificadas.<br />

Ao Commereio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Pedimos <strong>de</strong>sculpa a esle nosso collega<br />

<strong>de</strong> lhe dizermos, que Alqueidão é do<br />

concelho da Figueira da Foz, e não <strong>de</strong><br />

Porto d« Moz, como o Commercio escre<br />

veu ao transcrever a noticia que aqui<br />

<strong>de</strong>mos sob a epigraphe — Asphixiados<br />

<strong>de</strong>ntro d'um balseiro.<br />

Ao collega agra<strong>de</strong>cemos, penhorados,<br />

as íranscripyões que do uosso jornal fizer,<br />

o que não é motivo para que não<br />

rectifiquemos.<br />

Taloimi tinha saído da quinta em<br />

numerosa companhia, mas <strong>de</strong>pressa se<br />

furtou aos olhares <strong>de</strong> todos e se escon<strong>de</strong>u<br />

num massiço <strong>de</strong> pinheiros, á margem<br />

da única vereda que Paulo Gréant podia<br />

seguir <strong>de</strong> volta á cida<strong>de</strong>.<br />

A partida tinha sido bem jògada,<br />

por um e por outro, mas Paulo ganhou-a<br />

pela sua previ<strong>de</strong>ncia; pediu a di Negro<br />

hospitalida<strong>de</strong> por uma noite e não saiu<br />

da quinta.<br />

— E' mais fino do que eu! disse<br />

Talormi aos primeiros clarões da aurora;<br />

e mettendo o punhal na bainha <strong>de</strong>sceu<br />

para a cida<strong>de</strong>, meditando uma nova tentativa<br />

em melhores condições.<br />

X V<br />

Intermedio politico<br />

No lempo em que vivemos, como<br />

em muitas outras épocas lambem, os<br />

nossos negocios as nossas paixões, os<br />

nossos prazeres vêm embater a cada<br />

instante contra um facto politico; e<br />

Deus sabe quantos casamentos, projectos,<br />

especulações, planos domésticos<br />

teem sido <strong>de</strong>struídos pela queda d'um<br />

ministro, revolla d'um povo, <strong>de</strong>sabamento<br />

d'um throno abdicação d'um lei.<br />

lia nos arredores <strong>de</strong> Nápoles um<br />

phenomeno geologico chamado la Solfatare.<br />

Quando o Vesúvio está para arremessar<br />

uma erupção <strong>de</strong> fogo, la Solfalare<br />

ruge surdamente; é um emblema<br />

italiano. Ora, na época em que a nossa<br />

Barqueiros multados<br />

Já aqui nos referimos, pedindo até<br />

provi<strong>de</strong>ncias, ao abandono em que se encontram<br />

as mottas do rio Mon<strong>de</strong>go, o<br />

que faz com que as aguas invadam os<br />

campos e se paralyse a navegação.<br />

Por este facto Ires barqueiros na<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazerem viagem fio<br />

acima, metleram pelo campo, sendo<br />

admoestados pelos guardas que pretendiam<br />

impedir-lhes seguissem. Chegados ao Caes<br />

os guardas que perseguiram os barqueiros<br />

participaram o caso á policia, que<br />

multou em 6$000 réis.<br />

Chamamos a attenção do sr. João<br />

Tomaz da Costa, a fim <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar,<br />

porisso que se está prejudicando uma<br />

classe pobríssima:<br />

Ese«Sla Brotero<br />

Ficaram approvados nos exames feitos<br />

nesta escola os alumnos que enumeramos<br />

:<br />

Dias 22 e 23<br />

CHIMICA INDUSTRIAL<br />

í. a parte (exame <strong>de</strong> passagem)<br />

Augusto Gonçalves da Silva, marceneiro,<br />

filho <strong>de</strong> José Men<strong>de</strong>s da Silva.<br />

Affonso Augusto Pessoa, piutor <strong>de</strong><br />

louça, filho <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lino Augusto Pessoa.<br />

Carlos da Silva e Sousa, photographo,<br />

filho <strong>de</strong> Adriano da Silva e Sousa.<br />

Emilia <strong>de</strong> Jesus Fonseca, filha <strong>de</strong> José<br />

Miguel da Fonseca.<br />

2. a parte<br />

Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira, typographo,<br />

filho <strong>de</strong> Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira.<br />

Anlonio Carvalho da Fonseca, filho<br />

<strong>de</strong> José Carvalho da Fonseca.<br />

Euphrosino Alves Teixeira, filho <strong>de</strong><br />

Francisco Alves Teixeira.<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />

Fizeram acto e ficaram approvados<br />

os seguintes estudantes:<br />

FACULDADE DE DIREITO<br />

Dia 26<br />

1." anno — Alvaro Monteiro e Joaquim<br />

Adriano Vellostr d'Abranches.<br />

Houve duas reprovações.<br />

2.' anno — Não houve actos.<br />

3." anno — Eduardo Ernesto <strong>de</strong> Faria<br />

e José da Silva Fia<strong>de</strong>iro.<br />

4." anno — Domingos Carneiro <strong>de</strong><br />

Oliveira Pacheco e Fortunato Jorge Guimarães.<br />

5." anno — Filippe Fernan<strong>de</strong>s Leite<br />

<strong>de</strong> Barros Moura e Francisco Augusto<br />

Alcoforado tia Costa.<br />

Dia 27<br />

1.° anno—Francisco Navarro Marques<br />

<strong>de</strong> Paiva, Ricardo Paes Gomes, José<br />

Leite Nogueira Pinto.<br />

Neste anno houve uma reprovação.<br />

2.° anno — José Vicente Me<strong>de</strong>ira,<br />

Julio Armando da Silva Pereira, Leopoldo<br />

Augusto Cesar <strong>de</strong> Carvalho Sameiro, Luiz<br />

Augusto da Fonseca Diune.<br />

historia se passa, aquelles que uão dormiam<br />

sobre as rosas <strong>de</strong> Poestum ou<br />

sobre os leitos <strong>de</strong> marfim <strong>de</strong> Sybaris,<br />

ouviam ruídos subterraueos que o echo<br />

da ca<strong>de</strong>ia apeuniua levava do golfo <strong>de</strong><br />

Liguria ao gulpho <strong>de</strong> Baia.<br />

Toda a ltalia se agitava em estremecimentos<br />

<strong>de</strong> impaciência liberal; e Vieuna,<br />

vigilaute sempre, seguia altentamente<br />

todo o movimento da ltalia.<br />

Vieuna tem sempre ao seu serviço<br />

uma multidão <strong>de</strong> Machiaveis que viajam<br />

na sua ltalia íiuginJo estudar os monumentos<br />

mudos para escutarem os homens<br />

que (aliam. E apenas um italiauo ousa<br />

contestar á Áustria o seu direito sobre<br />

a ltalia, immediatainente o Michiavel<br />

que se encontra sempre ao lado do audacioso<br />

o communica para Vienna; convoca-se<br />

o conselho d'Éstado, <strong>de</strong>libera se,<br />

behe-se Johannisberg e envia-se á guarnição<br />

<strong>de</strong> Verona um reforço <strong>de</strong> mais<br />

dois mil soldados.<br />

Tal é a politica da Áustria.<br />

Talormi era um d'aquelles que exploravam<br />

a politica <strong>de</strong> Vienna em prejuízo<br />

dos italiauo»; e Vienna cousi<strong>de</strong>rava-o<br />

como um homem austero, integro,<br />

hábil, proiuudo. Vienna conhece perfeitamente<br />

o coração humano.<br />

No dia seguinte áquelle em que<br />

Talormi tinha dirigido tão habilmente<br />

o coucerto na^quinta di Negro, recebeu<br />

uma carta com tres sellos a fecharem-na,<br />

e atravez hierogliplios <strong>de</strong> chancellaria<br />

que esta missiva encerrava, comprehen-<br />

3.° anno—José Teixeira <strong>de</strong> Queiroz,<br />

Luiz da Cunha Nogueira.<br />

4.° anno — Francisco Falcão da Silva<br />

Ribeiro, Francisco Henriques Goes.<br />

õ.° anno — Francisco Cabral Pinto,<br />

Francisco Corrêa Borges <strong>de</strong> Lacerda.<br />

Dia 28<br />

1.' anno — José Marin Joaquim Tarares.<br />

Houve tres reprovações.<br />

2.' anno — Luiz Bernardo da Silva<br />

Rosas Júnior, Manoel d'Abrantes Moraes,<br />

Manoel Ferreira da Costa Amador Valente,<br />

Manoel Joaquim d'Almeida. .<br />

3." anno — Luiz Neves Alves Baptista.<br />

4.* anno — Francisco Manoel Couceiro<br />

da Costa Júnior, Francisco Manoel<br />

Rodrigues Pinto Brandão.<br />

5." anno — Francisco <strong>de</strong> Mello Lemos<br />

« Alvellos, Francisco <strong>de</strong> Sousa Vinhoz.<br />

FACULDADE DE 11EDICINA<br />

Dia 26<br />

1." anno — Joaquim Luiz Martha.<br />

Houve uma reprovação.<br />

Não houve actos nos outros annos,<br />

por haver exames <strong>de</strong> practica no 1.*<br />

anno.<br />

Dia 27<br />

1.° anno — Antonio Alexandre Saraiva<br />

da Rocha.<br />

Houve uma reprovação.<br />

2." anno — Guilherme Henrique <strong>de</strong><br />

Moura Neves, José Maria da Silveira<br />

Montenegro.<br />

Terminaram os actos neste anno.<br />

3.° anno—Antonio Cesar Rodrigues,<br />

formado pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Edimburgo,<br />

(Escossia); Ama<strong>de</strong>u Verneck <strong>de</strong> Aguilar,<br />

doutor pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Tubingen,<br />

(Allemanha). ,<br />

4 0 anno — Joaquim Augusto Amorim<br />

da Fonseca, José Augusto da Costa Palmeira.<br />

Dia 28<br />

1." anno — Joaquim Salinas Antunes,<br />

Cesar Fernan<strong>de</strong>s Ventura.<br />

3." anno — Adolpho Carlo» Barroso<br />

da Silveira, Augusto <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Saccadura<br />

Botte.<br />

4." anno — José Ernesto d'Amorim,<br />

Bodrigo da Silva Araujo.<br />

FACULDADE DE FHILOSOPHIA<br />

Dia 26<br />

1.* ca<strong>de</strong>ira—(Chimica inorganica).<br />

— Vol. José Henriques Lebre, Manoel<br />

Gaspar <strong>de</strong> Lemo».— Obrs. Luiz Martins<br />

da Cosia Soares, Fernando Pinto <strong>de</strong> Mendonça<br />

Ferrão.<br />

3. a castra—(Physica, l. a parte)—<br />

Vol. Pedro <strong>de</strong> Gusmão.—Obrs, íausto<br />

Men<strong>de</strong>s Teixeira <strong>de</strong> Magalhães, José <strong>de</strong><br />

Brito Prego Lyra, Joaquim Navarro Marques<br />

<strong>de</strong> Paiva, José Augusto Duarte.<br />

Neste anno faltou um alumuo ao ponto<br />

4. a ca<strong>de</strong>ira (Botanica) — Obrs.<br />

Antonio Feruírn<strong>de</strong>s Gaspar, João Serrão<br />

<strong>de</strong>u que era necessário visitar, como<br />

tourisle attento, os dois obeliscos inclinados<br />

<strong>de</strong> Bolonha, a celebre feira <strong>de</strong> Sinigaglia<br />

e as ruinas <strong>de</strong> Roma. Nenhuma<br />

<strong>de</strong>mora se lhe concedia; era necessário<br />

partir.<br />

Os homens <strong>de</strong> Estado que administram<br />

os impérios ignoram sempre qua<br />

todo o diplomata subalterno encarregado<br />

<strong>de</strong> uma missão tem sempre os pés embaraçados<br />

numa saia <strong>de</strong> musselina ou<br />

<strong>de</strong> velludo, conforme a estação<br />

Talormi correu immediatamente a<br />

fazer visar o seu passaporte e annunciou<br />

bein alto que nessa mesma tar<strong>de</strong><br />

partiria para Liorne. Beguladoeste ponto,<br />

era necessário pensar no amor, ou para<br />

melhor dizer no odio, duas coisa que<br />

muitas vezes se parecera.<br />

Naquelle mesmo dia uma carruagem<br />

<strong>de</strong> posta estacionava, com uma certa<br />

premeditação <strong>de</strong> dar nas vistas, <strong>de</strong>ante<br />

do palacio Santa-Scala. Os creados amontoavam<br />

as bagagens, as janellas da fachada,<br />

abertas <strong>de</strong> par em par, annunciavam<br />

a partida do dono ou dona da<br />

casa. O inten<strong>de</strong>nte, revestido com as<br />

suas insígnias, conservava-se <strong>de</strong> pé;<br />

<strong>de</strong>ante do porteiro, numa altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tristeza que fazia elogios aos seus bons<br />

sentimentos.<br />

Uma multidão <strong>de</strong> curiosos formava<br />

um semi-circulo em volta da berlinda,<br />

ao uso do paiz:<br />

Ao bater das duas horas, um gran<strong>de</strong><br />

movimento se fez na creadagem do prin-<br />

<strong>de</strong> Moura Freitas, Albano Baptista Taure<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Sousa, Manoel Vicente d'Abreu.<br />

Neste anno filtou um alumno ao<br />

ponto.<br />

Dia 27<br />

2.* ca<strong>de</strong>ira — (Chimica Organica).—<br />

Ord. Angelo Rodrigues da Fonseca. —<br />

Vol. Francisco Cardoso <strong>de</strong> Lemos, Lino<br />

Ferreira.<br />

3. a ca<strong>de</strong>ira — (Physica, l. a parte)—<br />

Vol José Alberto Pereira '<strong>de</strong> Carvalho.—<br />

Obr. Eugénio Augusto Amaro, José Pereira<br />

Barata, Belarmino Augusto Pereira<br />

d'Ahreu e Sousa, Augusto <strong>de</strong> Sousa Bosa.<br />

4. í ca<strong>de</strong>ira — (Botanica). — Obrs.<br />

Francisco d'Ascenção Ramos, Tliomaz<br />

Men<strong>de</strong>s Norton <strong>de</strong> Mallos Prego.<br />

Nesta ca<strong>de</strong>ira houve uma reprovação.<br />

Não houve aclos nas outras ca<strong>de</strong>iras<br />

d'esta faculda<strong>de</strong>.<br />

Dia 28<br />

2. 1 ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica)<br />

— Vol. Américo Manuel da Conceição<br />

Mattos dos Santos, Antonio Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Gouvêa, Autonio Maria Dias Milheiriço,<br />

— Obr. Manuel Gue<strong>de</strong>s da Silva Fonseca.<br />

3.*- ca<strong>de</strong>ira — (Physica, 1.* parte)—<br />

Vol. Antonio Bodrigues d'Oliveira —<br />

Obr. José Homem Corrêa Telles d'Araujo<br />

e Albuquerque, Albino Joaquim Gomes,<br />

Abilio Bibeiro <strong>de</strong> Miranda, João Francisco<br />

d'Almada.<br />

FACULDADE DE MATHEMATICA<br />

Dia 26<br />

3.' anno — Ord. Octávio <strong>de</strong> Campos<br />

Monteiro.'—Vol. Manoel Xavier Ribeiro<br />

Yaz <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Não houve actos nos outros annos.<br />

Dia 27<br />

3.° anno — José Augusto da Cosia<br />

Rego, Pedro Joyce Diniz.<br />

Não houve actos nos outros annos<br />

d'esta faculda<strong>de</strong>.<br />

FACULDADE DE THEOLOGIA<br />

Dia 26<br />

1.° anno — José Nave Catalão, José<br />

Norberto Araujo Esmeriz.<br />

õ.° anno — Accacio Antonio Ferreira<br />

Barbosa.<br />

Não houve mais actog nesta faculda<strong>de</strong>.<br />

Dia 27<br />

2.° anno—Albino Francisco Ramos.<br />

3.° anno — Antonio Gonçalves Carteado<br />

Monteiro.<br />

4." anno — Adriano Gonçalves Vaz.<br />

Não houve actos nos outros annos<br />

d'esta faculda<strong>de</strong>.<br />

Dia 28<br />

1.° anno — José Ailves Correia da<br />

Silva, Antonio Ferreira Pinto.<br />

õ.° anno — Antonio Alves Ferreira,<br />

Abel Augusto Dias Urbano.<br />

Não houve actos nos outros annos.<br />

cipe Santa-Scala Duas mulheres em trages<br />

<strong>de</strong> viagem e véus <strong>de</strong> seda ver<strong>de</strong>, metteram-se<br />

no carro com uma agilida<strong>de</strong> surprehen<strong>de</strong>nle;<br />

um groom gritou ao cocheiro:—<br />

«Estrada <strong>de</strong> Milão!» e os<br />

cavallos tomaram a galope pela estrada<br />

<strong>de</strong> Milão.<br />

—'E' a irmã do principe Santa-<br />

Scala, dizia-se, que vae juntar-se a seu<br />

marido em Milão.<br />

Talormi fingiu dar fé á relação da<br />

sua policia secreta que lhe anuunciou a<br />

partida <strong>de</strong> madame Van-Ritter, mas adivinhou<br />

que tanto ruido publico occultava<br />

uma artimanha feminina. Era com certeza<br />

uma partida simulada.<br />

Comtudo, para esclarecer a sombra<br />

<strong>de</strong> duvida que resta sempre no fundo<br />

da mais bem estabelecida conjectura,<br />

Talormi mandou o seu creado Paolo,<br />

um outro Barbone, ás duas mudas <strong>de</strong><br />

posta da estrada <strong>de</strong> Milão, e soube que<br />

na segunda muda a carruagem tinha parado,<br />

e que duas mulheres haviam tomado<br />

<strong>de</strong> novo o caminho <strong>de</strong> Génova numa<br />

d'aquellas berlindas que só andam a<br />

pasio.<br />

Iinprêsao u a I r p o g r a p L i a<br />

Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />

14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />

COIMBRA.


A I M O I - K . ' » »<br />

A n n u n c i o s<br />

Por linha .<br />

Repetições<br />

30 réis<br />

20 réis<br />

Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />

<strong>de</strong> 50 %<br />

Contracto especial para annuncios<br />

permanentes.<br />

Aos pharmaceuticos e ao publico<br />

. „„ A a pliarmaceuticos Rosa & Viegas,<br />

U proprietários da antiga pharmacia<br />

sita na rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 a<br />

33, previnem os seus freguezes e collegas<br />

<strong>de</strong> que alguns pharmaceuticos, por<br />

especulação, mesquinhez, ou completa<br />

ausência <strong>de</strong> união e lialda<strong>de</strong> pharmaceutica,<br />

teem procurado imitar os seus<br />

preparados, especialmente a P o m a d a<br />

do dr. Queiroz; por isso lhes fazem<br />

constar que só é verda<strong>de</strong>ira a que se<br />

prepara em stia casa (rua <strong>de</strong> S. Vicente,<br />

31 a 33), e que tem a marca registada<br />

segundo a lei <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1883.<br />

Mala Real Portugueza<br />

PASSAGENS DE GRAÇA<br />

PARA O<br />

BUAZIL<br />

HOMENS <strong>de</strong> 16 a 40<br />

130<br />

annos, casados,<br />

solteiros ou viúvos, teem<br />

passagem <strong>de</strong> graça para a<br />

província <strong>de</strong> S. Paulo e que<br />

queiram ir trabalhar nas<br />

obras do caminho <strong>de</strong> ferro<br />

da companhia Paulista.<br />

Para tratar com<br />

ARTOIiO FERNANDES<br />

RUA DO CORVO<br />

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