Obra Completa - Bad Request - Universidade de Coimbra
Obra Completa - Bad Request - Universidade de Coimbra
Obra Completa - Bad Request - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Paschoa<br />
Celebra hoje o catholicismo<br />
uma das festas mais suggestivas e<br />
emocionantes do symbolismo chrislão.<br />
Atravez dos séculos, viva sempre<br />
nas tradições <strong>de</strong> lodos os povos,<br />
a lenda da Resurreição do Christo<br />
lem lido sempre a sua consagração<br />
nas festas da Paschoa, como feslas<br />
apotheolicas do primeiro propugnador<br />
da Liberda<strong>de</strong>, d'aquelle que,<br />
<strong>de</strong>pois da perseguição mais cruenta,<br />
dos flagícios mais infamantes, re-<br />
.surgiu vivo e são, sublime e perfeitíssimo,<br />
para a vida immactilada da<br />
Eternida<strong>de</strong>, essa vida gloriosa que<br />
se vive no coração e na alma dos<br />
Povos.<br />
E que Jesus, encarnação i<strong>de</strong>al<br />
do que lia <strong>de</strong> mais perfeito e <strong>de</strong><br />
mais santo, <strong>de</strong> mais elevado e <strong>de</strong><br />
mais puro, confundiu o seu nome,<br />
para lodo o sempre, com a historia<br />
da Humanida<strong>de</strong>, a que a elevação<br />
da sua Doutrina, a suavida<strong>de</strong> da<br />
sua Moral, abriu uma nova era para<br />
a re<strong>de</strong>mpção social; é que a Vida<br />
<strong>de</strong> Jesus, na sublimida<strong>de</strong> da sua<br />
singelleza, na doçura da sua humilda<strong>de</strong>,<br />
imperou, principalmente, no<br />
coração dos simples, dos humil<strong>de</strong>s,<br />
encarnou na alma popular e <strong>de</strong> tal<br />
modo, que ainda boje na imaginação<br />
do Povo se <strong>de</strong>senha a sua figura<br />
encantadora e suave, cheia <strong>de</strong><br />
mansidão e <strong>de</strong> paz.<br />
A lenda <strong>de</strong> Jesus, Ião poética e<br />
Ião inebriante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros<br />
vagidos no eslabulo <strong>de</strong> Belhlem até<br />
ás ultimas palavras, sublimes <strong>de</strong><br />
resignação e <strong>de</strong> esperança, no cume<br />
do Golgolha, vem atravessando,<br />
ha tantos séculos já, as evoluções<br />
da Humanida<strong>de</strong>, airavez <strong>de</strong> convulsões<br />
sem nome, e sempre pura, e<br />
sempre bella.. .<br />
O fulgor irradiante dos seus<br />
conceitos profundos; o brilhantismo<br />
dos seus ensinamentos phiiosophicos;<br />
a pureza da sua vida immaculada;<br />
o encanto da sua predica dulcíssima,<br />
impregnaram d'um tal perfume<br />
<strong>de</strong> sympalhia e <strong>de</strong> amor a sua<br />
obra collossal e re<strong>de</strong>mplora, quenem<br />
as perseguições ionarraveis do<br />
Império; nem as truculentas e sanguinarias<br />
orgias do Papado; nem os<br />
crimes escandalosos e infames do<br />
Clero; nem as sangrentas e eternamente<br />
con<strong>de</strong>mnaveis guerras da<br />
Religião; nem os horrores cruéis,<br />
ferozes, da Inquisição, vergonha<br />
eterna;-^nem os Imperadores, nem<br />
os Papas, nem os Padres, nem os<br />
Reis, nem os Torquemadas, po<strong>de</strong>ram<br />
nunca afundal-a, <strong>de</strong> envolta<br />
com os seus crimes, votados á elerna<br />
execração dos Povos.<br />
Philosopho grandioso, inegualavel;<br />
Revolucionário <strong>de</strong>molidor <strong>de</strong><br />
mn velho mundo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spotismos,<br />
para levantar <strong>de</strong> novo um mundo<br />
novo cheio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias as mais elevadas<br />
e as mais nobres; Nivelador <strong>de</strong><br />
todas as <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong>s sociaes,<br />
subinetlendo todos á mesma lei suprema<br />
do Amor e da Fralernisação<br />
universal; Apostolo fremente d'um<br />
gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, lodo elle perfeição e<br />
sublimida<strong>de</strong>; Conquistador glorioso<br />
da mais gloriosa das conquistas—<br />
Defen<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
a conquista da Consciência humana<br />
pela, uncção, pela humilda<strong>de</strong>, pelo<br />
exemplo, pela divina eloquencia da<br />
mais divina das concepções, — as<br />
suas armas rutilantes <strong>de</strong> combate<br />
— Jesus Christo, a Figura épica<br />
sobre Iodas as que se salientam na<br />
historia do mundo, é o centro para<br />
on<strong>de</strong> convergem hoje as adorações<br />
dos homens, que veem nelle o Symbolo<br />
dá Aspiração humana.<br />
Resurgiu! Ergueu-se do aniquilamento<br />
para viv.er eternamente<br />
na glorificação eterna da religião<br />
que fundou; levanlou-se para ascen<strong>de</strong>r<br />
tranquilamente, divinamente,<br />
soberano e magestoso* acima da<br />
Humanida<strong>de</strong>, que elle fez resurgir<br />
e levanlar-se do aniquillamento do<br />
Passado, ao influxo divinal dos seus<br />
princípios sublimes.. .<br />
Feslas da Paschoa, feslas da<br />
Paschoa. .. como a alegria doida<br />
dos sinos que repicam, vibrantes,<br />
por essas campinas fora, dá a nota<br />
hilariante do reconhecimento humano<br />
por esse Homem-Deus que<br />
abnuáHumanida<strong>de</strong> um novo ÍUIUKO<br />
vasto, illuminado, cheio do sol da<br />
Justiça e da Liberda<strong>de</strong>... Como<br />
o perfume que se evola d'essas al<strong>de</strong>ias<br />
juncadas do rosmaninho rescen<strong>de</strong>nle,<br />
lembra a santa admiração<br />
que lodos nós levamos aos pés<br />
do Heroe glorificado, Martyr d'uma<br />
gran<strong>de</strong> I<strong>de</strong>ia.. .<br />
Feslas da Paschoa, feslas da<br />
Paschoa.. . como o vosso symbo-<br />
Iismo é suggeslivo e emocionante...<br />
*<br />
Insirucção primaria<br />
Os srs. ministros do reino, fazenda<br />
e obras publicas, Iraballiatn activamente<br />
no estudo das bases para a reforma da<br />
legislação sobre insirucção primaria-<br />
Oxalá que saia coisa <strong>de</strong> geito ; para<br />
ser melhor do que está não é necessário<br />
muito.<br />
O nobre marquez<br />
Passeia por Lisboa um titular, encarnação<br />
viva da philantropia, que tem <strong>de</strong>slumbrado<br />
os basbaque» com a generosida<strong>de</strong><br />
ostentosa da sua bolsa, nas lestas<br />
<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. E contam-se d eite rasgos<br />
philantropicos <strong>de</strong> admirar, como ollertas<br />
<strong>de</strong> carteiras abarrotadas <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> banco<br />
a damas altamente çoliocauas, por occasião<br />
<strong>de</strong> Kennesses espaventosas; centos <strong>de</strong><br />
mil réis por um camarote em noites <strong>de</strong><br />
beneficio, e muitas outras acções generosas,<br />
que teem Jeito voar na aura da imprensa<br />
o nome aureolado do illustre marquez<br />
<strong>de</strong> tranco, nobre, banqueiro e millionano.<br />
Pois ha poucos dias, quando, pela 1<br />
hora da tar<strong>de</strong>, o caritativo lidalgo ia a<br />
entrar para o seu opulento escriptorio,<br />
na rua dos Capellistas, uma pobre mulher<br />
vestida quasi <strong>de</strong> andrajos, que o esperava<br />
a porta, entregou lhe uma carta.<br />
O gran<strong>de</strong> senhor, olhando a pobre<br />
mulher do alto da sua opulência e com<br />
a sobranceria d'um banqueiro pouco dado<br />
a enternecimentos pelas misérias dos<br />
outros, perguntou-lhe altivo:<br />
— Quem me envia isto ?<br />
— Sou eu, meu senhor, tenho fome.<br />
A carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> v. ex. a é muito faltada, e<br />
eu vinha pedir-lhe uma esmola...<br />
O nobre marquez não quiz ouvir<br />
mais; atirou a carta para o chão num<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo, e entrou, indillerente,<br />
no escriptorio...<br />
Que bom marmanjo nos saiu est,e<br />
fidalgo, que comprehen<strong>de</strong> a carida<strong>de</strong> como<br />
os pnariseus... só ao som <strong>de</strong> trombetas!<br />
Quem te conhecer, pau <strong>de</strong> laranjeira...<br />
Perdõe-nos, mirífico senhor!<br />
Dividas á fazenda<br />
São muitos os figurões que <strong>de</strong>vem á<br />
fazenda grossas quantias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cimas relaxadas,<br />
e entre elles contam se os srs.<br />
Barjona <strong>de</strong> Freitas, que <strong>de</strong>ve 2 contos <strong>de</strong><br />
réis e marquez <strong>de</strong> Vallada, Serpa Pinto<br />
e her<strong>de</strong>iros do dr. Pinto Coelho, que<br />
<strong>de</strong>vem, cada um, mais <strong>de</strong> 1 conto <strong>de</strong><br />
réis.<br />
É vergonhoso.<br />
Os bancos do Porto<br />
Parece que está <strong>de</strong>stinada a questão<br />
dos bancos do Porto a causar muitos<br />
amargos <strong>de</strong> bocca ao actual ministério,<br />
e principalmente aos srs. llintze Ribeiro<br />
e Fuschmi. Aquelle, porque a situação<br />
d'aque!les estabelecimentos <strong>de</strong> credito a<br />
elle se <strong>de</strong>ve, como iniciador e fomentador<br />
das negociatas <strong>de</strong> Salamanca; a este,<br />
porque reconhece a melindrosa situação<br />
dos bancos e as consequências da <strong>de</strong>rrocada<br />
eminente, e, comtudo, não po<strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r-lhes<br />
a esmola nem <strong>de</strong> um real —«<br />
não porque lhe falte, talvez, vonta<strong>de</strong>,<br />
mas pela simples razão <strong>de</strong> que... no<br />
hay.<br />
Mas ainda tem que arrostar o sr.<br />
Fuschmi, segun se cuenta, com a vonta<strong>de</strong><br />
do personagem mais altamente collocado<br />
no paiz, (jue aconselha e insiste pela entrega<br />
aos baucos do Porto do melhor <strong>de</strong><br />
2:0.1)0 contos <strong>de</strong> réis... Mas o sr. Fuschim,<br />
que é pouco maleavel, faz-se forte,<br />
resiste, e appella para as cortes, quando<br />
se reunirem.<br />
Que farão ellas ? Provavelmente o<br />
costume; iuspiram se antes nos interesses<br />
<strong>de</strong> meia dúzia, sem consi<strong>de</strong>ração<br />
pelos interesses geraes, e dão aos bancos<br />
o que elles pedirem. Estaremos il.udidos?...<br />
Ve<strong>de</strong>remo e doppo parleremo.<br />
No emtanto, os accionistas dos baucos<br />
veem-se, na sua gran<strong>de</strong> maioria, reduzidos<br />
a miséria, luctando com as maiores<br />
ditliculdadcs, alguns teudo perdido<br />
nas aventuras criminosas d'aquelles estabelecimentos<br />
toda a sua fortuna, e os<br />
directores, administiadores e tutti quanti<br />
que os comprometeram, vão passeando,<br />
engalanados, os ventres pançudos <strong>de</strong><br />
banqueiro que se presa...<br />
Ali 1 que se em Portugal houvesse<br />
justiça recta e lirme, ao menos as victimas<br />
<strong>de</strong>sses homens teriam, quando não<br />
parte do seu dinheiro, ao menos a satisfação<br />
<strong>de</strong> verem punidos os que os esbulharam<br />
! Mas assim...<br />
Feira <strong>de</strong> bois<br />
em S. Pedro d'Âlva<br />
Foi iuaugurado no domingo próximo<br />
passado este mercado, que continuará a<br />
ter logar em todos os quartos domiugos<br />
<strong>de</strong> cada mez.<br />
ilouve muita concorrência <strong>de</strong> gado,<br />
elíectuando-se já bastantes transacções.<br />
Espera-se que venha a tomar muita<br />
iinportancia esta feira por ser muito central<br />
para os povos d aquellas immediaçeõs.<br />
Correios e telegraphos<br />
No dia 20 d'al)ril, pelas 9 horas da<br />
manhã, realisar-Se-hão as provas do concurso<br />
dos empregados telegrapbo-postaes<br />
para admissão e promoção. As provas verificaui-se<br />
nas capitaes dos districtos<br />
administrativos do continente e Fuuchal.<br />
Para os districtos açorianos fica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
a realisação d'eslas provas da opportuna<br />
lixação do dia, que será annunciado.<br />
Canonisação<br />
Trati-se <strong>de</strong> canonisar o con<strong>de</strong>stavel<br />
D. Nuno Alvares Pereira. De instruir o<br />
processo canonico foi encarregado, pelo<br />
Vaticano, o prior <strong>de</strong> S. Nicolau, <strong>de</strong> Lisboa,<br />
sr. dr. Francisco Alçada <strong>de</strong> Paiva,<br />
que tem o processo já bastante a<strong>de</strong>antado.<br />
Canonisado o con<strong>de</strong>stavel, ficar-se-á<br />
chamando S. Nuno <strong>de</strong> Santa Maria.<br />
ÂNNO I <strong>Coimbra</strong>, 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 74<br />
do Povo<br />
Notas impressionistas<br />
Na terra <strong>de</strong> Christo<br />
Quinta feira santa. Os sinos das<br />
egrejas espalharam pela amplidão, prestes<br />
ao meio dia, umas echonçõts melancólicas<br />
que enchem os corações d'uma uncção<br />
<strong>de</strong> suprema pieda<strong>de</strong>, d'um sentimentalismo<br />
tão christão e vago que parece escoar-se<br />
d'um canteiro virente <strong>de</strong> myosotis.<br />
. .<br />
Aquelle dlãodão, compassado e altivo,<br />
é, na geli<strong>de</strong>z lugubre do bronze, a lingua<br />
morta dos sonhos i<strong>de</strong>aes. D'aquelle som<br />
confuso e disperso, emana uma vaga nostalgia<br />
<strong>de</strong> affeclos sobre-humanos que parecem<br />
vibrar a <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós como<br />
repressão temeraria ás Àllucinações.<br />
Parece a voz enorme d'um Tudo-i<strong>de</strong>al,<br />
que brame, iroso e omnipotente, empinado<br />
na sua auctorida<strong>de</strong> invicta, contra a<br />
abjecção dos Maus que <strong>de</strong>sferem as plangencias<br />
ru<strong>de</strong>s d'um ru<strong>de</strong> industrialismo<br />
nas lyras hereticas da Matéria...<br />
< Declina a tar<strong>de</strong>, envolta num enorme<br />
ante-ceu côr <strong>de</strong> cinza. Em todos os rostos<br />
que caminham ao templo a ver a face macilenta<br />
e ensanguada <strong>de</strong> Jesus da Galilêa,<br />
<strong>de</strong>scobre-se, em linhas vivas, um<br />
mixto <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> dôr. A hypocrisia,<br />
<strong>de</strong>sfeita, enramou se gentilmente <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>.<br />
A todos os lábios afHora, na graciosida<strong>de</strong><br />
languida das coisas divinas, o<br />
verbo macio do Amor. Tudo enluctado.<br />
A paixão do phiiosopbo parece que impregnou<br />
d'um mysticismo santo esta geração<br />
ankilosada <strong>de</strong> paixões ignóbeis.<br />
Os templos, no interior, revestem a<br />
solemnida<strong>de</strong> tocante d'uma mansão. Bustos<br />
unidos, uns que saem e outros que<br />
entram, entrécliucam-^e levemente, os<br />
olhos languidos, postura amena e grave.<br />
AIli, no myslico abandono do Au <strong>de</strong>lá<br />
quieta-se a figura imuiovel do Vencido,<br />
no spasino agoniaco d'um possuido.<br />
Pieda<strong>de</strong> ! Pieda<strong>de</strong> ! Como no dia <strong>de</strong><br />
boje nenhum d'esses viajantes <strong>de</strong> templos,<br />
trajando luclo, o lucto que é a dôr, <strong>de</strong>ixará<br />
<strong>de</strong> afagar, num lance christianissimo,<br />
a mão que da sombra lhe invocar<br />
a Carida<strong>de</strong> !...<br />
No emtanto--oh santa carida<strong>de</strong> cliristãl—está<br />
alli alem, pousado num trotloir,<br />
um pobre velho, muito velho, acurvado<br />
a oito <strong>de</strong>cenni'os que são oito capítulos<br />
d'um gran<strong>de</strong> livro a que o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>u o<br />
nome <strong>de</strong> «Amargaras». O rosto macilento,<br />
d'ou<strong>de</strong> pen<strong>de</strong>m umas barbas <strong>de</strong> neve,<br />
é um pergaminho por entre cujas rugas<br />
se adivinha uma odyssêa <strong>de</strong> misérias.<br />
Do seu olhar mortiço, apenas vislumbram<br />
umas tenues faiscações <strong>de</strong> visionário.<br />
Encostado á pare<strong>de</strong>, a mão distendida<br />
aos que passam, nem uma palavra<br />
cae d'aqueiies lábios resequidos. Dirse-ia<br />
uma estatua pedindo esmola.<br />
Ninguém oiha esse velho. Damas roçagando<br />
os vestidos setinosos, frou-frou,<br />
lixam os olhos no chão, como a exprimirem<br />
uma gran<strong>de</strong> concentração religiosa.<br />
Gran<strong>de</strong>s senhores, <strong>de</strong> aplomb conselheiral,<br />
olham o fumo dos seus charutos que<br />
corta o ar em evoluçõesinhas graceis <strong>de</strong><br />
espiraes.<br />
E o pobre velho, na immohilida<strong>de</strong><br />
morna d um monge, espelha o seu olhar<br />
vago pele opulência que passa, e coteja,<br />
na ru<strong>de</strong>z d'uma philosophia sem escola,<br />
a frieza dos <strong>de</strong>votos pelas suas barbas<br />
brancas, <strong>de</strong> neve, pelos seus oito <strong>de</strong>cennios<br />
que são oito capítulos d'um gran<strong>de</strong><br />
livro a que o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong><br />
«Amarguras»!...<br />
Gri-gri.<br />
31, março.<br />
Assassinato<br />
Em Villar Formoso um guarda fiscal,<br />
chamado Fernando da Costa, assassinou<br />
uma rapariga <strong>de</strong> 14 annos.<br />
Gran<strong>de</strong> incêndio em Lisboa<br />
Recebemos o seguinte telegramma :<br />
«Lisboa, 1 — Redacção Defensor Povo.<br />
— Gran<strong>de</strong> incêndio ás 2 horas da madrugada<br />
<strong>de</strong> hoje, na rua <strong>de</strong> D. Pedro V.<br />
Foram <strong>de</strong>stmidos pelo incêndio sete<br />
estabelecimentos incluindo o theatro Rijou.<br />
Felizmente não houve <strong>de</strong>sastres pessoaes.<br />
Escolas agrícolas<br />
Projecta-se uma reforma dos serviços<br />
agrícolas, pela qual se não elimina nenhuma<br />
das acluaes escolas praticas <strong>de</strong><br />
agricultura, mas tem-se em vista realisar<br />
melhoramentos consi<strong>de</strong>ráveis no ensino,<br />
compatíveis com as forças do thesouro.<br />
Republica em Hespanha<br />
Com a maior attenção temos seguido<br />
a marcha das forças republicanas hespanholas<br />
no sentido da sua concentração,<br />
que tão esplendidos resultados <strong>de</strong>u já,<br />
e temos ido informado o publico dos<br />
pontos principaes' da evolução que no<br />
partido republicano liespanhol se vae<br />
dando.<br />
Por isso damos conta hoje da orientação<br />
para um partido único, fundindõ-se<br />
as parcialida<strong>de</strong>s Republicanas numa só<br />
unida<strong>de</strong>, o que c <strong>de</strong> vantagens intuitivas<br />
e caminho naturalmente indicado.<br />
Pi y Margall acaba <strong>de</strong> publicar um<br />
artigo importantíssimo sob a epigraphe<br />
Partido Único, que hoje publicamos, e<br />
em que se vê como aquelle distincto publicista<br />
e illustre republicano perfilha<br />
aquella i<strong>de</strong>ia.<br />
«No domingo 19 realisou-se na cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Barcelona uma reunião euorme,<br />
á qual assistiram mais <strong>de</strong> 10:000 pessoas.<br />
Falaram nella, entre outros, os <strong>de</strong>putados<br />
eleitos. O sr. Sol y Ortega advogou<br />
eloquentemente a fusão dos partidos<br />
republicanos em um único partido.<br />
E' para nós summamente grato saber<br />
que o sr. Ortega, republicano progressista<br />
e homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e merecida influencia<br />
no seu partido, está ao lado <strong>de</strong><br />
tão fecundo pensamento.<br />
Sem o partido único não seria possível,<br />
no dia do triumpho, estabelecer<br />
qualquer coisa <strong>de</strong> solido e conjurar os<br />
graves perigis a que em todas as revoluções<br />
dá logar a discórdia entre os que<br />
as promovem. Sete cabeças com sete<br />
pensamentos distinctos, é evi<strong>de</strong>nte que<br />
nada po<strong>de</strong>riam fazer nem para evitar<br />
conflictos, nem para alliviar os males da<br />
patria. Gastariam forçosamente o tempo<br />
em <strong>de</strong>liberações inópportunas e luctas<br />
estereis, procurando cada um <strong>de</strong> per si<br />
preparar o terreno para que os seus<br />
correligionários prepon<strong>de</strong>rassem nas cortes<br />
e para que prevalecessem as suas<br />
opiniões.<br />
E' convenientíssima a rapida formação<br />
do partido único. A nação espera da<br />
Republica rápidos remédios e seria um<br />
perigo para a Republica que ella não<br />
começasse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a satisfazer essa<br />
esperança. Os nossos inimigos aproveitariam<br />
essa incontestável <strong>de</strong>liciencia para<br />
enfraquecer os ânimos, diffundir receios<br />
e promover a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m.»<br />
Conegos<br />
Ao sr. bispo <strong>de</strong> Beja foi concedido,<br />
por um rescriplo aposiolico, o po<strong>de</strong>r nomear<br />
conegos honorários, sem prebenda,<br />
para o aeolylarem nas solemnida<strong>de</strong>s do<br />
culto.<br />
Bibliographia<br />
Recebemos, ha dias já, um exemplar<br />
do opu«culo em que o sr. Costa Lobo,<br />
digno par do reino, publica os discursos<br />
que pronunciou nas sessões da camara<br />
dos pares, em 28 e 30 <strong>de</strong> janeiro d'este<br />
anno.<br />
Inlitula-se Descargo das minhas responsabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> ministro.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos.
Á N t S O í — X. n 9-4 O D E F » . \ S O R D O P O V O 8 d e a b r i l d e 1 S 9 3<br />
C r y s t a b s<br />
Historia <strong>de</strong> Jesus<br />
Qaando elle emfirri, morrendo, elle, o cor<strong>de</strong>iro,<br />
Rola mansa 110 ar calado o irnmunJo,<br />
Pen<strong>de</strong>u, bem como um lírio moribundo,<br />
Sobre a haste do trágico ma<strong>de</strong>iro...<br />
Quando, lançando o espirito profundo<br />
Ao Reino bello, gran<strong>de</strong>, verda<strong>de</strong>iro,<br />
Cahiu émfim, chagado, justiceiro,<br />
Ainda, ainda perdoando ao Mundo...<br />
Um soldado romano, vendo-o exposto,<br />
E já morto ua Cruz, livido o rosto,<br />
Com um golpe <strong>de</strong> lança o trespassou.<br />
Sahiu d'aquella chaga sangue e agua;<br />
Sangue que inda quiz dar a tanta magua;<br />
Agua do pranto ainda que chorou I<br />
L e t t r a s<br />
GOMES LEAL.<br />
Impressões <strong>de</strong> um marido<br />
i<br />
No lim do parque, <strong>de</strong>baixo das tilias<br />
cujos ramos em flor, alastram na avenida<br />
uma sombra fresca, apenas estriada <strong>de</strong><br />
algumas gottas <strong>de</strong> luz, ha um banco <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira carunchosa, do qual se avistam<br />
os campos, os pomares, a massa escura<br />
do arvoredo e a linha in<strong>de</strong>cisa e azul do<br />
mar.<br />
Encolhêramos o banco para as horas<br />
<strong>de</strong> preguiça, para a prostração que succe<strong>de</strong><br />
a estes dias abrazadóres', e ahi<br />
<strong>de</strong>scançámos ao lado um do outro, fallando<br />
lentamente, procurando 110 passado<br />
as nossas melhores recordações.<br />
Que suave ambiente ahi se respira<br />
quando o sul <strong>de</strong>sapparece, mergulhando<br />
em fulgurações <strong>de</strong> incêndio, o calor diminue<br />
e o céo vae, pouco a pouco, empalli<strong>de</strong>çêndo,<br />
opalisado, iliuminado <strong>de</strong><br />
uma clarida<strong>de</strong> doce e li na. •<br />
O parque cae então em mysterioso<br />
torpor, sentindo-se no ar rumores vagos<br />
e uma branda palpitação <strong>de</strong> folhas e<br />
azas.<br />
Voos <strong>de</strong> passaros <strong>de</strong>slisam, como que<br />
attrahidos por Qm inian invisível.<br />
Os cavallos, correndo á solta na<br />
planície, relincham, aspirando o vento<br />
impregnado <strong>de</strong> sal e do áspero cheiro<br />
dos sargaços.<br />
Penachos <strong>de</strong> fumo azul <strong>de</strong>sgrenhamse<br />
por cima dos telhados das herda<strong>de</strong>s,<br />
e no céo immovel recortam-se o crescente<br />
da lua e a primeira estreita.<br />
À paz das coisas envolve-nos em<br />
uma onda tépida, e nem palavra sae dos<br />
nossos lábios,, nem um pensamento vibra<br />
no nosso cerebro.<br />
Martha reclina, infantilmente, a cabeça<br />
no meu hombro, fecha os olhos, e<br />
sob o leve estolo do corpete sinto-lhe as<br />
pulsações do coração, a caricia da pelle.<br />
Marília tem a respiração curta das<br />
creauças.<br />
Beijo a, sem que ella entreabra as<br />
palpebras, beijo a na testa, na extremida<strong>de</strong><br />
da orelíia, nos cantos da bocca e<br />
nas covinhas das fices.<br />
Marília espreguiça-se, ri, levanta se<br />
a custo, c saudosos, retomamos o caminho<br />
pálacio, que alveja ao longe, perfilando do<br />
a sua fachada COIII urnas <strong>de</strong> mármore<br />
on<strong>de</strong> brilham genraios escarlates e estatuas<br />
que dormem, em altitu<strong>de</strong>s heraíicas...<br />
I I<br />
Esta manha, Mariba accordou com<br />
um appetite doido <strong>de</strong> fazer doce.<br />
Tratámos logo <strong>de</strong> ir saquar o pomar,<br />
das altas liervas amareiladas do qual se<br />
levantavam nuvens <strong>de</strong> gafanhotos.<br />
Em seguro a escada, em quanto que<br />
Eorlha, com as saias arregaçadas, os<br />
braços nus, um aventual <strong>de</strong> algibeiras,<br />
como uma verda<strong>de</strong>ira al<strong>de</strong>ã, dá principio<br />
á colheita.<br />
Que linda ella está nessa onda <strong>de</strong><br />
luz que inunda os seus cabellos, que<br />
doira as suas faces rosadas!.. .<br />
Como o seu enorme chapéu se emoldura<br />
enlre as folhagens lustrosas e os<br />
fruetos vermelhos das cerejeiras! As<br />
abelha* zuinhem-lhe em torno.<br />
Uma cantiga <strong>de</strong> homem sobe ao longe,<br />
tio fundo da azinhaga.<br />
E vendo a assim atirar-ihe cerejas<br />
com um gesto <strong>de</strong> g a mine, escutando os<br />
seus risos sonoros, explosindo a todo o<br />
instante e a proposito <strong>de</strong> tudo, ruflandolhe<br />
a garganta <strong>de</strong> um arrulho <strong>de</strong> pomba,<br />
lembro-me <strong>de</strong> Virgilio, <strong>de</strong> todos os fra-<br />
gmentos <strong>de</strong> éclogas, outr'ora <strong>de</strong>corados,<br />
e psalmodio gravemente versos latinos,<br />
com gran<strong>de</strong> espanto <strong>de</strong> Martha, que por<br />
pouco não cae da escada nos meus<br />
brfiçcs<br />
Que <strong>de</strong>liciosas compotas, e cumo<br />
ellas : •lip:ã'> bem' . . .<br />
D'a!li i pouco, a mesa da cosinha<br />
cobre-se tle cestos cheios, até não po<strong>de</strong>r<br />
mais, <strong>de</strong> fruetos vermelhos, nimbados<br />
<strong>de</strong> vespas gulosas.<br />
E a casa impregna se do aromn da<br />
baunilha e do assucar, em quanto os<br />
tachos <strong>de</strong> cobre faíscam ao lume com<br />
reflexos que cegam.<br />
Martha atára á cintura um gran<strong>de</strong><br />
avental; não pára, anda <strong>de</strong> um lado<br />
pora o outro, prova a calda, bezunta-se,<br />
enche-se <strong>de</strong> nodoas, com a serieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> um menino <strong>de</strong> côro ajudando á primeira<br />
missa.<br />
E instiga me, com a sua voz vibrante,<br />
ralha, queixa-se <strong>de</strong> que eu não a ajudo,<br />
e exclama, batendo com o pé nos tijolos<br />
usados pelos grossos tumáncos das creadas:<br />
— Oh ! os homens não teem préstimo<br />
para nada!<br />
Como as horas passam <strong>de</strong>pressa,<br />
agora que eu sou feliz !. ..<br />
I I I<br />
Muitas vezes, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> jantar, Martha<br />
assenla-se <strong>de</strong>fronte do cravo, que<br />
data do século passado.<br />
Semi-curvada, as mãos finas e brancas<br />
collocadas sobre as teclas <strong>de</strong> marfim<br />
amarelado, ella assemelha-se a uma bella<br />
dama da antiguida<strong>de</strong>, tocando um minuete<br />
<strong>de</strong> Hanieao, ou uma gavota <strong>de</strong> Lulli.<br />
O, pobre velho cravo já quasi não<br />
tem som, treme, agonisa, exhalando flebeis<br />
suspiros <strong>de</strong> doente e caindo em<br />
silêncios melancólicos.<br />
Mas as notas que ainda vibram teem<br />
um encanto penetrante, uma indisivel suavida<strong>de</strong>,<br />
o que quer que seja auatogo ao<br />
perfume, quasi evaporado, dos sacheis<br />
<strong>de</strong> iris, que se encontram em vestidos<br />
antigos, no fundo <strong>de</strong>~um armario pçr longo<br />
tempo fechado.<br />
E acompanham divinamente as canções<br />
rústicas e a voz clara que as canta,<br />
agitam docemente as historias amorosas,<br />
on<strong>de</strong> ha sempre uma filha <strong>de</strong> rei que se<br />
lamenta e um trovador paladino, que<br />
parte para a guerra.<br />
Martha embala-se com esses perturbentes<br />
sons que mal se ouvem, que<br />
teem uma lenta suavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eclio.<br />
As velas não se accen<strong>de</strong>m, por causa<br />
das borboletas nocturnas e dos mosquitos.<br />
E nada se compara a essa emoção<br />
subtil <strong>de</strong> ouvir a musica em surdina do<br />
instrumento antigo, esmorecendo no silencio,<br />
na escuridão saturada dos perfuperfumes<br />
exteriores, das platibandas <strong>de</strong><br />
heliolropos regados <strong>de</strong> fresco, das roseiras<br />
<strong>de</strong> Provins e <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> trepa<strong>de</strong>ira<br />
que guarnece os muros e cujas<br />
lolhas se arrendam nos altos rectângulos<br />
das portas <strong>de</strong> vidraça, que abrem paia o<br />
largo horisonte.<br />
De vez em quando, a pianista interrompe-se<br />
<strong>de</strong> súbito, e vollando-se no<br />
banco, exclama com inflexão zombeteira:<br />
— Dormes, Jorge?<br />
Comrnovido, supplico-lhe que continue,<br />
que me <strong>de</strong>ixe ouvil-a e sonhar.<br />
— Mas eu não sei mais nada, respon<strong>de</strong><br />
Martha, para se fazer rogar.<br />
— Dize antes que não queres, má!<br />
E todas as gavotas, todas as rondas,<br />
todas as cançonetas <strong>de</strong> guerra e <strong>de</strong><br />
amor, <strong>de</strong> que eu gosto, ahi passam, uma<br />
a uma, como se folheássemos luntos um<br />
livro <strong>de</strong> capítulos maravilhosos...<br />
René Mainero/.<br />
Doelinger<br />
Saiu do hospital <strong>de</strong> alienados do con<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Ferreira, o sr. Armínio von Doelinger,<br />
commandaute dos bombeiros voluntários<br />
do Porto.<br />
Acha--e muito melhor, posto que não<br />
esteja inteiramente restabelecido.<br />
Agricultura<br />
Ha gran<strong>de</strong>s pedidos <strong>de</strong> concessões <strong>de</strong><br />
terrenos para explorações agrícolas e industriaes<br />
na ilha <strong>de</strong> Sanlo Antão <strong>de</strong> Cabo<br />
Ver<strong>de</strong>. O que mais avulta é o pedido <strong>de</strong><br />
um grupo <strong>de</strong> proprietários, negociantes<br />
e funccionarios da província, que offerecem<br />
todas as condições para uma exploração<br />
util e eflicaz.<br />
EM SURDINA<br />
Anda tudo tão forreta,<br />
as crises são tão taludas<br />
que a lenda ohristã, faceta,<br />
<strong>de</strong> se queimarem os Judas<br />
acabou — se não ha cheta I<br />
Nesta <strong>Coimbra</strong> d'encantos<br />
on<strong>de</strong> medra o bom burguez<br />
(é um caso para espantos !)<br />
Judas... queimaram-se tres I<br />
quando ha tantos, tantos, tantos 111<br />
Eu costumo em cada anno<br />
queimar sem p'rigo, nem damno,<br />
ao findar esta semana,<br />
um Iscariote, urn maltez...<br />
Coube a sorte d'e*sta vez<br />
ao tal fibra americana I<br />
PINTA-ROXA.<br />
Tratado <strong>de</strong> commercio<br />
Foi já assignado em Madrid o tratado<br />
<strong>de</strong> commercio entre Portugal e Hespanha.<br />
Portugal é vantajosamente favorecido<br />
pela Hespanha, ohrigando-se esta a nunca<br />
mais conce<strong>de</strong>r a qualquer outra nação<br />
as mesmas vantagens.<br />
Folgamos com a realisação d'este<br />
tratado, que vem ligar mais estreitamente<br />
as relações dos dois povos, que <strong>de</strong>vem<br />
caminhar sempre como irmãos.<br />
Curioso<br />
Diz um jornal <strong>de</strong> Aveiro, que na<br />
Gafanha, ha dias, em casa d'uns lavradores<br />
uma porca <strong>de</strong>u á luz quinze leilões.<br />
A' porca tornava-se impossível criar todos<br />
os 15 filhos, e a dona dos animaes, que<br />
também aleitava uma criança, resolveu<br />
substituir o lugar da porca, dando maminha<br />
a um dos leitõesinhos.<br />
A ama do bácoro, ameiyando-o, cliegou-o<br />
ao seio, on<strong>de</strong> o animal se.agarrou<br />
fortemente, chupando como um damnado<br />
A mulher <strong>de</strong>u um grito afflictivo ao sentir<br />
a mor<strong>de</strong>dura do porco, e lançou-o violentamente<br />
ao chão.<br />
Quando acudiu gente aos gritos da<br />
mulher, esta encontrava-se ainda surpreza<br />
pelo insuccesso da experiencia, e o porquito<br />
falleceu pouco <strong>de</strong>pois, talvez <strong>de</strong><br />
inaniçâo.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
STo digtrieto «le <strong>Coimbra</strong><br />
A fim <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r a uma inspecção<br />
rigorosa sob a confecção das matrizes<br />
prediaes tem sido nomeadas commissões<br />
em todos os districtos do paiz.<br />
E' do conhecimento <strong>de</strong> todos as injustiças<br />
e os escandalos mesmo que se<br />
praticam com a nova revisão das matrizes<br />
prediaes, on<strong>de</strong> os. alfeiçoados foram<br />
protegidos e sacrificados os restantes<br />
contribuintes que não pertenciam á parcialida<strong>de</strong><br />
politica dos louvadores.<br />
Agora que o governo pensa em proce<strong>de</strong>r<br />
a um trabalho correcto e justo e<br />
está nomeando funccionarios para proce<strong>de</strong>rem<br />
á inspecção directa e avaliação<br />
dos prédios rústicos e urbanos, oxalá<br />
que este serviço longe <strong>de</strong> criar novos<br />
abusos, dispensando novas protecções,<br />
saiba cumprir com rectidão os seus <strong>de</strong>veres,<br />
não sujeitando o seu procedimento<br />
ás influencias dos corrilhos locaes, sabendo<br />
só fazer justiça.<br />
Para o serviço <strong>de</strong> inspecção e avaliação<br />
no districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> foram nomeados<br />
os srs. Alvaro Henriques Pereira,<br />
capitão do corpo <strong>de</strong> estado maior; Arthur<br />
da Silva Leitão, agronoino ; e Alberto<br />
<strong>de</strong> Sousa, oílicial addido á repartição<br />
<strong>de</strong> fazenda dislrictal.<br />
Abel
A I — X. 9 U O D K F d X I O K D O P O V O 3 (le abril d e 1 S S 3<br />
muitos outros: é notável o barulho infernal<br />
que se faz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminados<br />
os officios e creiam, que é privativo <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>; ora se s. ex. a o sr. Bispo requisitasse<br />
uns policias que vedassem a<br />
entrada aos gaiatos, porque são elles os<br />
principaes promotores da festa, além <strong>de</strong><br />
evitar o abuso, fazia uma obra <strong>de</strong> carida<strong>de</strong><br />
aos taps guitas qu»' por ahi andam<br />
guardando as esquinas.<br />
O dia <strong>de</strong> quinta feira appareceu formoso<br />
e bastante quente, um verda<strong>de</strong>iro<br />
dra <strong>de</strong> verão.<br />
Sóniente os raios solares eram <strong>de</strong><br />
vez em quando toldados por alguma nuvem<br />
dispersa no azul, cousa que não<br />
impediu que pelas 3 horas da tar<strong>de</strong> a<br />
concorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>votos aos templos<br />
fosse já numerosa.<br />
Entre os templos on<strong>de</strong> havia exposição<br />
merecem especial menção o <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz e o da Misericórdia, que estavam,<br />
na realida<strong>de</strong>, vistosamente adornados.<br />
A.' medida que a tar<strong>de</strong> corria começavam<br />
a ser menos, visitadas as egrejas<br />
da baixa e a apinhar-se a Sé, <strong>de</strong> modo<br />
que, quando se <strong>de</strong>u principio á funoção,<br />
já era difficil a entrada aili. -<br />
Repetiu-se o oíficio <strong>de</strong> trevas da<br />
noite antece<strong>de</strong>nte que terminou pelo<br />
mesmo abuso com a differença única <strong>de</strong><br />
que mais correcto e augmentado.<br />
Houve menino que levou pregos e<br />
competente martello, sendo tal a rapi<strong>de</strong>z<br />
Com que pregava, que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
hora teria com certeza coberto <strong>de</strong> prego,<br />
se não todos, ao menos uma boa parte<br />
dos bancos!<br />
Na sexta feira <strong>de</strong> manhã celebrou-se<br />
a cerimonia do enterro do Senhor, precedida<br />
<strong>de</strong> sermão da Paixão e da adoração<br />
da Cruz; como nos dias antece<strong>de</strong>ntes<br />
houve gran<strong>de</strong> concorrência.<br />
Depois d'esta serie <strong>de</strong> festejos que<br />
bem trazem á memoria os soffrimentos<br />
do Re<strong>de</strong>mptor para a nossa salvação,<br />
soffrimentos em que, apesar <strong>de</strong> serem<br />
causados pelos nossos antepassados, nós<br />
partilhamos a sua culpa, vem emfim o<br />
sabbado que o catholiicsmo consagra á<br />
resurreição.<br />
Toques altisonos attestam que a<br />
egreja está em gala e fecham, por assim<br />
dizer, com chavg d'ouro a quaresma.<br />
Com a sua narração também eu vou<br />
terminar, porque os typographos já vão<br />
reclamando o original, não me dando<br />
tempo para mais.<br />
... Só.<br />
M o v i m e n t o couunereini<br />
Agio—Premio das libras: 950 rs<br />
ouro nacional, 20;<br />
Prata : graúda, a 1.<br />
*<br />
Generos— Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />
tremez 560 — Milho branco 335—Dito<br />
amarello 33^— Feijão vermelho 520 —<br />
Dito branco 420--Dito rajado 340 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 420—-Centeio 440 —Cevada<br />
290 — Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />
meudo 650—Favas 420.<br />
Azeile a 1$610.<br />
25 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
V I I<br />
Vespera <strong>de</strong> noivado<br />
Aos últimos clarões do crepúsculo,<br />
Barbone pareceu sair da terra como o<br />
<strong>de</strong>monio das noites malditas; atravessou<br />
a ponte coin um passo resoluto e entrou<br />
no mirante, para o examinar, sem duvida,<br />
e assegurar se <strong>de</strong> que nenhuma testemunha<br />
lá eslava.<br />
Afinal, nada indicava a presença d'um<br />
único ser vivo nesta solidão. Era o silencio<br />
do aérostato em plena nuvem; as<br />
harmonias da tar<strong>de</strong> resoavam num longínquo<br />
vago; o cantar dos grilos subia<br />
dos campos, os cantos dos marinheiros<br />
subiam dos mares.<br />
Paulo Gréant ouviu como que um<br />
ruido <strong>de</strong> ferramentas, viu que Barbone<br />
se occupava num trabalho mysterioso no<br />
meio da ponte. Observando com um<br />
pouco <strong>de</strong> attenção, era fácil <strong>de</strong> adivinhar<br />
a que genero <strong>de</strong> trabalho se entregava o<br />
bandido; cortou o meio da ponte numa<br />
Camara Municipal ds <strong>Coimbra</strong><br />
S e s s ã o o r d l n a r i a<br />
16 <strong>de</strong> março<br />
Presidência do barbarei Ruben Augusto<br />
d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />
presentes: João da Fonseca Barata,<br />
Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros, João Antonio<br />
da Cunha, Manoel Miranda, Autonio José<br />
Dantas Guimarães, e Joaquim Justiniano<br />
Ferreira Lobo, effectivos; José Corrêa dos<br />
Santos, substituto.<br />
Não sendo apresentada proposta alguma<br />
para o fornecimento d'impressos,<br />
para a secretaria, foi encarregado o presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> fazer a distribuição dos impressos<br />
pelas typographias existentes na cida<strong>de</strong>.<br />
Mandou annunciar <strong>de</strong> novo que se<br />
arrendam em praça as barcas <strong>de</strong> passagem<br />
aos portos <strong>de</strong> Montessão, Taveiro,<br />
São Silvestre e Quimhres.<br />
Mandou annunciar <strong>de</strong> novo a venda<br />
dos lotes <strong>de</strong> terreno n. 0 ' 36, 38 e 39<br />
ao norte da rua n.° 10 da quinta <strong>de</strong><br />
Santa Cruz.<br />
Resolveu ven<strong>de</strong>r em praça dois lotes<br />
<strong>de</strong> terreno com frente para a rua n.° 9<br />
da mesma quinta, contíguos aos n. 0 ' 61<br />
e 62 da rua n.° 8, pertencentes a Antonio<br />
Francisco do Valle e Manoel Gomes<br />
Secco, tendo o primeiro <strong>de</strong> superfície<br />
530," l2 0 e 562, ml 0 o segundo; bem como<br />
outro com 305, m2 0 <strong>de</strong> superfície, formando<br />
um triangulo entre aquella rua n.°<br />
9, atravessa entre ella e a rua n.° 8 e<br />
os terrenos pertencentes a Camillo Duque,<br />
resi<strong>de</strong>nte em Cellas.<br />
Votou a reparação do chafariz do<br />
largo da Sé Nova, segundo o orçamento<br />
apresentado <strong>de</strong> 18$160 réis.<br />
Demittiu o guarda rural do Dianteiro,<br />
Antonio José, por irregularida<strong>de</strong>s confessadas<br />
pelo próprio nesta data, na concessão<br />
a auctorisação para diversas obras<br />
particulares<br />
Mandou-se intimar os proprietários<br />
<strong>de</strong> terrenos junto á la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Santa<br />
Clara para abrirem todos os agueiros<br />
<strong>de</strong>stinados a dar escoante ás aguas pluviaes,<br />
que do alto <strong>de</strong> Santa Clara correm<br />
pelo caminho publico.<br />
Auctorisou a compra <strong>de</strong> quinze metros<br />
<strong>de</strong> mangueira para os serviços <strong>de</strong> limpeza<br />
do matadouro.<br />
Mandou adiantar a quantia <strong>de</strong> réis<br />
10^480 para v custeamenlo do asylo dos<br />
cegos no corrente mez, prefazendo, com<br />
a <strong>de</strong> 9$000 réis votada na sessão anterior<br />
e com a 520 réis que cresceu do<br />
mez antece<strong>de</strong>nte, a somma <strong>de</strong> 20/000<br />
réis.<br />
Resolveu pedir um subsidio do governo<br />
para a sustentação do asylo dos<br />
cegos.<br />
Resolveu pedir ao commissario <strong>de</strong><br />
policia o inteiro cumprimento das posturas<br />
do município, lembrando a conveniência<br />
<strong>de</strong> não consentir a lavagem <strong>de</strong> roupas<br />
junto da avenida Eiuygdio Navarro,<br />
nem tão pouco o ancoradouo <strong>de</strong> barcas<br />
no mesmo ponto.<br />
Resolveu convidar alguns proprietários<br />
a dar começo a edilicações nos terrenos<br />
comprados na quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz.<br />
extensão consi<strong>de</strong>rável, e em seguida<br />
collocou <strong>de</strong> novo a ma<strong>de</strong>ira cortada,<br />
ajustando-a pelas duas extremida<strong>de</strong>s com<br />
apoios fracos, prestes a <strong>de</strong>slocarem-se sob<br />
os pés do primeiro que passasse.<br />
Barbone trabalhou com um phleugma<br />
soberba, como um operário honesto e<br />
laborioso que não <strong>de</strong>spreza cuidado nenhum<br />
para fazer uma obra prima. Concluído<br />
o trabalho, mostrOu-se satisfeito;<br />
parecia mesmo que lamentava a ausência<br />
dalguns <strong>de</strong>stes espectadores ociosos e<br />
benevolos que seguem com attenção um<br />
trabalho publico e exprimem logo a sua<br />
satisfação ao artilice.<br />
Vinte vezes Paulo Gréant tentou levantar-se<br />
como um espectro <strong>de</strong>ante <strong>de</strong><br />
Barbone; mas, reflectindo, viu que nesta<br />
<strong>de</strong>terminação havia um perigo real a correr<br />
sem resultado favoravel a esperar.<br />
Mais valia, pois, calar-se e esperar, porque,<br />
visto tratar-se <strong>de</strong> prestar um serviço<br />
e <strong>de</strong> dar um aviso salutar, era necessário<br />
não <strong>de</strong>struir este plano por uma precipitação<br />
estouvada.<br />
Barbone retirou-se e per<strong>de</strong>u-se no<br />
bosque proximo como o caçador que armou<br />
o laço e se colloca a distancia á<br />
espera do resultado.<br />
- Paulo Gréant levantou-se então e<br />
tornou a entrar no mirante, on<strong>de</strong> reinava<br />
a mais profunda escuridão; levantou uma<br />
I persiana até ao meio, do lado da ponte,<br />
Approvou o arrolamento <strong>de</strong> cães re-lativo<br />
ao anno corrente e mandou annunciar<br />
o praso para as reclamações,<br />
publicando se listas do arrolamento nas<br />
parochias do concelho.<br />
Deferiu os seguintes requerimentos:<br />
De Francisco <strong>de</strong> Moura Coutinho e<br />
Paiva Cardoso <strong>de</strong> Lima, acerca da annulação<br />
<strong>de</strong> contribuição directa como<br />
empregado da 2. a circumscripção Hydraulica,<br />
transferido para n Figueira da Foz.<br />
De João Alves Banda, Francisco<br />
Joaquim da Costa, João Baptista Nobre,<br />
para a collocação <strong>de</strong> tabuletas nos respectivos<br />
estabelecimentos.<br />
De José Joaquim Marques, para collocarum<br />
tubo para conducção <strong>de</strong> fumo na<br />
loja ou barraca do mercado que traz <strong>de</strong><br />
renda.<br />
De Paulino Evaristo Camões, para a<br />
compra <strong>de</strong> terreno para jazigo no cemiterio<br />
da Conchada.<br />
De Joa.juim Antonio José Pereira,<br />
para o pagamento <strong>de</strong> terreno cedido para<br />
alinhamento em 1886, <strong>de</strong> um prédio em<br />
Valle <strong>de</strong> Corredores.<br />
Com informação da repartição dobras,<br />
<strong>de</strong>terminando condições:<br />
De Joaquim Paes Abranches, para a<br />
reparação da canalisação das aguas da<br />
Sé Velha para o seu quintal na rua do<br />
Aguiar.<br />
De José Leonardo Ferreira, para assentar<br />
um <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> pedra com 0, m 37<br />
<strong>de</strong> largura na frontaria da sua casa ás<br />
Ameias.<br />
De Manoel Maria d'Almeida, para<br />
dar mais altura á porta <strong>de</strong> uma casa em<br />
Santo Antonio, rebatendo os <strong>de</strong>graus ali<br />
existentes e rebaixando o terreno por<br />
forma a <strong>de</strong>sapparecer a rampa que ali<br />
se vê.<br />
De Alberto dos Santos, da Pedruiha,<br />
para levantar a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma casa no<br />
mesmo logar.<br />
De José da Costa Mesquita, para<br />
abrir uma porta no sitio em que se vê<br />
urna janella na sua casa da rua <strong>de</strong> Borges<br />
Carneiro.<br />
De João Martins da Fonseca, para<br />
reformar a frontaria <strong>de</strong> um prédio nas<br />
ruas'do Loureiro e Salvador.<br />
De Miguel da Fonseca Barata, para<br />
levantar os rebates <strong>de</strong> uma casa na rua<br />
dos Sapateiros.<br />
De tfrancisco Rebello da Motta Arnaut,<br />
para abrir uma porta em um terraço'<br />
contíguo a uma casa na estrada da Beira<br />
De Bernardo Antonio d'Oliveira, acerca<br />
da multa que lhe foi imposta por infracção<br />
do artigo 120 n.° 23 do codigo<br />
<strong>de</strong> posturas, com a applicação in<strong>de</strong>vida<br />
do art. 95.° das mesmas posturas.<br />
De Francisco d'Almeida Quadros,<br />
para a collocação <strong>de</strong> ura portão <strong>de</strong> ferro<br />
para a sua quinta em Cellas, e para murar<br />
o olival contíguo até ao cruzeiro do<br />
mesmo logar, ficando obrigado a seguir<br />
o alinhamento recto entre o cunhal da<br />
casa e o mirante e a seguir pela aresta<br />
exterior da valleta da estrada até ao cruzeiro,<br />
on<strong>de</strong> o muro <strong>de</strong>verá passar pela<br />
parte <strong>de</strong>traz do mesmo, coin o <strong>de</strong>svio <strong>de</strong><br />
um metro, formando curva.<br />
In<strong>de</strong>feriu .um requerimento <strong>de</strong> José<br />
Antonio Dias.Pereíra, que pedia a anuulação<br />
<strong>de</strong> uma multa pela oecupaçào <strong>de</strong><br />
e postou se <strong>de</strong>terminado a fazer recuar,<br />
por um grito d'alarme', o capitão Van-<br />
Rilter ou qualquer outro que o acaso <strong>de</strong><br />
uma má inspiração conduzisse ao miraule<br />
da quinta.<br />
Ainda que a casa <strong>de</strong> campo ficasse<br />
bastante retirada, comtudo podiam se ouvir<br />
muito bem, por causa da posição e do<br />
silencio da noite, as vozes, os cantos, a<br />
musica e todo o alegre ruido d'uma festa<br />
nupcial. Paulo Gréant admirava se, pois,<br />
e com justa razão, <strong>de</strong> não ouvir nada a<br />
uma hora já bastante a<strong>de</strong>antada da noite.<br />
A cada momento tornava-se mais mysterioso<br />
este silencio da quinta, contrario a<br />
todos os usos dos casamentos, a todos<br />
os hábitos opulentos e hospitaleiros do<br />
marquez di Negro. Paulo Gréant raciocinava<br />
assim:—A ceremonia religiosa e<br />
civil acabou antes da noite; é incontestável.<br />
O palacio Santa-Scala, por tanto<br />
tempo abandonado, não podia estar em<br />
condições convenientes para nelle se dar<br />
um baile nupcial. Todos <strong>de</strong>veriam ter-se<br />
dirigido para a casa <strong>de</strong> campo do marquez,<br />
pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pôr do sol, e,<br />
nem uma voz, nada ali se faz ouvir! E'<br />
<strong>de</strong> endoi<strong>de</strong>cer I<br />
De repente, accor<strong>de</strong>s d'orchestra retumbaram,<br />
vibrantes, como que <strong>de</strong>baixo<br />
dos pés <strong>de</strong> Paulo Gréant, accordando os<br />
ecbos da montanha. Uma aria conhecida,<br />
uma aria <strong>de</strong> Zampa, modulada em qua-<br />
lerreno publico com maleriaes na rua<br />
das Solas.<br />
Enviou ao director das obras publicas<br />
um requerimento, sobre que a camara<br />
pe<strong>de</strong> o parecer d'este funccionario, acerca<br />
do alinhamento a seguir para a reconstrucção<br />
<strong>de</strong> uma casa no caes.<br />
Foram encarregados os vereadores<br />
Quadros, Barata, Miranda e Corrêa, <strong>de</strong><br />
dar o seu parecer acerca <strong>de</strong> um requerimento<br />
em que Joaquim Antonio José<br />
Pereira, queixando-se <strong>de</strong> lerem sido encaminhadas<br />
para um prédio seu as aguas<br />
do caminho <strong>de</strong> Villela, <strong>de</strong>clara que nunca<br />
o mesmo prédio foi sujeito a receber as<br />
mesmas aguas.<br />
A GRANEL<br />
Reúne na terça feira pro*xima a Fe<strong>de</strong>ração<br />
das associaçõ operarias para discussão<br />
do parecer da cofnmissào encarregada<br />
d'estudir as Bolsas do trabalho.<br />
# * # A ponte <strong>de</strong> Lares, na linha<br />
do Oeste, está ameaçando ruina.<br />
# * * Tem tido ultimamente alguma<br />
animação o commeercio <strong>de</strong> vinhos em<br />
Arcos <strong>de</strong> Val <strong>de</strong> Vez; nesta região vinícola<br />
teem estado alguns negociantes <strong>de</strong><br />
Lisboa, que teem adquirido gran<strong>de</strong> porção<br />
<strong>de</strong> vinho aos preços <strong>de</strong> 18$000 o 2O$0O*OO<br />
réis cada pipa <strong>de</strong> 500 litros.<br />
# * * Os srs. drs.-Soares d'Albergaria<br />
e Veiga, juizes das execuções fiscaes<br />
em Lisboa, procuraram o sr. ministro<br />
do reíuo, queixando-se do modo como<br />
alguns indivíduos altamente collocados<br />
teem tratado os officiaes <strong>de</strong> diligencias<br />
portadores <strong>de</strong> citações da execução por<br />
dividas á fazenda.<br />
# * * Foi con<strong>de</strong>corado com o grau<br />
<strong>de</strong> official da or<strong>de</strong>m do Medjid do Egypto<br />
o commandanle do vapor Tungue, da<br />
Mala Real Portugueza, sr. Fernan<strong>de</strong>s<br />
Pinheiro pelo salvamento <strong>de</strong> um navio.<br />
# * # O po<strong>de</strong>r judicial mandou intimar<br />
o governo inglez, por intermédio<br />
da legação <strong>de</strong> Inglaterra para pagar a<br />
contribuição predial em divida <strong>de</strong> um dos<br />
representantes d'aquelle paiz, referente<br />
aos annos <strong>de</strong> 1869 e 1870.<br />
# * # Vão ser admittidas as encommendas<br />
poslaes e amostras proce<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> França, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> beneficiadas.<br />
# * # Formou-se uma companhia<br />
ingleza para comprar e explorar em<br />
ponto gran<strong>de</strong> as famosas minas <strong>de</strong> mármore<br />
<strong>de</strong> Cariara.<br />
# * # Os juizes da relação dos<br />
Açores reclamaram do governo do facto<br />
<strong>de</strong> se promoverem juizes para as relações<br />
do continente sem escala pela das ilhas.<br />
Teem razão.<br />
# * * A casa da moeda remelleu<br />
para o banco <strong>de</strong> Portugal 100 contos <strong>de</strong><br />
réis em moedas <strong>de</strong> oOO réis.<br />
drilha, ergueu se no ar como um feixe<br />
<strong>de</strong> notas vibrantes, saudada por applausos<br />
longínquos. Gréant levantou a persiaua<br />
do lado do mar e viu, como se estivesse<br />
ao alcance da sua mão, a fragata illuminada,<br />
convertido o convez em salão <strong>de</strong><br />
baile. Em volta d'el!a cruzavam-se os<br />
botes num mar resplan<strong>de</strong>cente, que levavam<br />
á escada da fragata grupos <strong>de</strong><br />
senhoras, cujos vestidos brancos <strong>de</strong>stacavam<br />
do flanco escuro do navio.<br />
Do alto do mirante distinguiam-se<br />
perfeitamente as tapeçarias ricas pen<strong>de</strong>ntes<br />
das vergas, os pavilhões <strong>de</strong> phantasia<br />
que se agitavam em volta do baile como<br />
gran<strong>de</strong>s leques, as quadrilhas conduzidas<br />
ao som dos instrumentos <strong>de</strong> cobre, os<br />
immensos bouquets genovezes collocados<br />
nas boccas dos canhões, os tapetes<br />
orientaes lançados, como velas, sobre as<br />
carretas das baterias, os marinheiros,<br />
alcandorados na extremida<strong>de</strong> das vergas,<br />
<strong>de</strong>ixando cair sobre o mar e sobre as<br />
senhoras, uma chuva constante <strong>de</strong> flores.<br />
Era uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Van-Rilter, e que<br />
só elle podia ter.<br />
— Meu caro di Negro, tinha elle dito<br />
ao marquez, quero fazer uma surpreza a<br />
minha mulher e ás bellas geuovezas que<br />
assistirem ao meu casamento; por isso,<br />
não faça preparativos em sua casa. liei<br />
<strong>de</strong> dar o meu baile <strong>de</strong> núpcias a bordo<br />
da Berenice; é mais próprio. Um inari-<br />
* * # Em Espozen<strong>de</strong> vae fundar-se<br />
um instituto <strong>de</strong> soccoros a naufragos.<br />
* * * Segundo o parecer da procuradoria<br />
geral da coroa, o sr. Antonio<br />
Ignacio da Fonseca tem <strong>de</strong> entrar com a<br />
quantia <strong>de</strong> sete contos <strong>de</strong> réis, <strong>de</strong> addicional,<br />
em resultado da liquidação entendida"<br />
pela direcção geral dos Proprii.s<br />
Nacionaes, com relação ao antigo contrato<br />
do pape! sei lado para as loterias<br />
estrangeiras. O sr. Fonseca, que naturalmente<br />
se não conforma, interporá recurso.<br />
* * * Proseguem vagarosamente<br />
em Mogofoies os trabalhos nas vinhas,<br />
notando-se falta <strong>de</strong> braçosr tanto para a<br />
cava, como para a plantação e enxertia<br />
das cepas americanas.<br />
* * * Em Beja queixam-se do extravio<br />
-<strong>de</strong> -cartas com letras e cédulas<br />
lançadas no corraio da mesma cida<strong>de</strong>.<br />
* * * Parece que se pensa em Vizeu<br />
em fazer reapparecer o Viriato, com<br />
côr <strong>de</strong>mocrata.<br />
* * * O cruzador allemão Kaiserin<br />
Augusta, naufragou no gran<strong>de</strong> Belt.<br />
* * # Os habitantes d'algumas freguezias<br />
circumvisinhas da Serra do Marão<br />
realisaram uma gran je montaria aos<br />
lobos. Parece que apenas duas d'estas<br />
feras foram apanhadas e mortas.<br />
* * # Abateu a abobada da sachristia<br />
da egreja <strong>de</strong> Nossa Senhora da Apresentação,<br />
<strong>de</strong> Aveiro.<br />
* * # No vapor Rei <strong>de</strong> Portugal,<br />
foram para o Brazil 751 portuguezes,<br />
que para alli vão á procura <strong>de</strong> fortuna.<br />
* * # Ultimam-se os trabalhos <strong>de</strong><br />
construcção do submarino Fontes, <strong>de</strong><br />
fórma a ser lançado ao mar por todo o<br />
mez <strong>de</strong> abril.<br />
* * * O sr. Bernardino Machado<br />
recebeu uma commissão <strong>de</strong> pedreiros. S.<br />
ex. a mandou que o director das obras<br />
publicas do districto <strong>de</strong>sse as suas or<strong>de</strong>ns<br />
por fórma que lhes fosse fornecido trabalho.<br />
* # * Pela Pesqueira sahiu eleito<br />
<strong>de</strong>putado o sr. dr. Francisco Maria <strong>de</strong><br />
Almeida.<br />
Coisas e loisas<br />
Calino encontra um amigo que lhe<br />
diz :<br />
— Sabes quem está a morrer?<br />
— Quem?<br />
— O Anastacio.<br />
— Homem, que me dizes ? !...<br />
— Ainda não é tudo A mulher também<br />
adoeceu e difficilmente escapará !<br />
Calino, com profunda magua :<br />
— Coitados! E' triste que, com tão<br />
pouco tempo <strong>de</strong> casados, fiquem ambos<br />
viúvos!...<br />
nheiro <strong>de</strong>ve realisar sobre os mar o seu<br />
casamento. Se eu casasse completamente<br />
em terra, tinha medo <strong>de</strong> ter filhos coronéis<br />
<strong>de</strong> regimentos. E' necessário pensar<br />
no futuro da minha familia; os peixes<br />
nascem na agua. Assim, tudo estará<br />
promplo esta tar<strong>de</strong> ; tenho a bordo quatrocentos<br />
homens, eight liundred hands,<br />
como dizem es marinheiros inglezes ;<br />
com auxílios d'estes vae se longe em<br />
pouco lempo.<br />
Não fallemo? d'isto a ninguein ; <strong>de</strong>pois<br />
da ceremonia <strong>de</strong> egreja revelaremos<br />
o segredo do meu baile náutico, que as<br />
lanchas ja nos esperarão.<br />
Talormi teve conhecimento d'este segredo<br />
ao mesmo tempo que os outros,<br />
n-as nenhum viuco <strong>de</strong> contrarieda<strong>de</strong> lhe<br />
coutrahiu as linhas do rosto. Pelo contrario,<br />
o hábil diplomata exclamou, <strong>de</strong><br />
admiração, <strong>de</strong>ante da i<strong>de</strong>ia nautica <strong>de</strong><br />
Van-Rilter:<br />
— Bravo! capitão, disse-lhe elle<br />
apertando lhe a mão, este baile ha <strong>de</strong><br />
ser o seu mais bello combale naval; a<br />
sombra <strong>de</strong> Doria ha <strong>de</strong> invejal-o no seu<br />
palacio.<br />
I<br />
mpresso ua Typograpliia<br />
v>j»ei-iLi-iii — Largo da Freiria n.®<br />
14, proximo à rua dos Sapateiros,—»<br />
COIMBRA.
A V \ O I - 5 1 O D G F E M I O R D O P O V O 2 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> J 893<br />
O T M ^ - S<br />
PA HA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
CJoimbra.<br />
LIVROS<br />
1VVEIÍ«S*1ÍS<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
Annuncios grátis recebeudo-se<br />
um exemplar.<br />
HISTOÍSIÂ DE POSÍGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schaefer<br />
Vertida liei, integral e directamente<br />
do original allemào<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mim 2S SAMPAIO m m<br />
Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>lesso concurso,<br />
entre outros eminentes coilaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Mipfiaelis <strong>de</strong><br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphim <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriplorio da empreza editora,' rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> assigna se nas livrarias<br />
Mesquita e Paula e Silva.<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha 30 réis<br />
Repetições ..... 20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 °Jo<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Estabelecimento<br />
DE FAZENDAS BRANCAS<br />
DE<br />
JOSÉ DE CASTut)<br />
19 —Largo do Príncipe D. Carlos —23<br />
COIMBRA<br />
103 E sta easa acaba <strong>de</strong> receber<br />
um magnifico sortido <strong>de</strong> armures<br />
pretas e cor, tudo novida<strong>de</strong>, merinos<br />
pretos pura lã, flanellas <strong>de</strong> lã pretas<br />
e <strong>de</strong> cores, chailes <strong>de</strong> merino preto,<br />
mantas e singellos lenços <strong>de</strong> seda brancos<br />
e <strong>de</strong> côr, mantilhas <strong>de</strong> seda pretas,<br />
e côr <strong>de</strong> creme; além d'estes artigos<br />
tem um magnifico sortido <strong>de</strong> chitas, setim<br />
percales, zephyres, flanellas <strong>de</strong> algodão<br />
<strong>de</strong> côr e brancos, gravatas pretas e côr,<br />
toalhas e guardanapos <strong>de</strong> linho adamascado,<br />
gostos lindíssimos, pannos patentes,<br />
famílias, ditas <strong>de</strong> linho <strong>de</strong> todas as<br />
larguras, chailes <strong>de</strong> côr, alta novida<strong>de</strong>,<br />
collares, perfumarias, riscados, oxlords,<br />
e muitos mais artigos que é impossível<br />
mencionar, mas as pessoas que se dignarem<br />
visitar esta casa terão occasiào <strong>de</strong><br />
vêr.<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
PECHINCHA ! 1 — Mais <strong>de</strong> 200 cache-noz<br />
<strong>de</strong> metro, gostos e côres lindíssimas<br />
que eram <strong>de</strong> 1$200 a 500!! capuchões<br />
<strong>de</strong> malha <strong>de</strong> lã que eram <strong>de</strong><br />
1$500 a 500!! aventaes <strong>de</strong> phantasia<br />
que eram <strong>de</strong> 600 a 240 ! I velludilhoá<br />
<strong>de</strong> côr a 300 o metro: luvas <strong>de</strong> fio <strong>de</strong><br />
escocia a 40!!! Boinas <strong>de</strong> pelúcia para<br />
creanças que eram <strong>de</strong> 2$000 a 500!!<br />
além d'isto ha muitos mais para saldar. É<br />
aproveitar porque isto não é phantasia.<br />
A K T 1 C I P A<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menus, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria ]<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
^ i T l M A<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
, em cores<br />
Trp • Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ILHETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1VKOS t<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato i<br />
Typ. Operariaj<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
, IMPRESSOS<br />
PA HA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L . A . I R , C 3 - O I D A . F R E I R I A , 1 4<br />
A LA VILLE_DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Coroas e Flores<br />
DF. D E L P O R T<br />
2^7, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JQÃO BDONIFIDBS m u , SSCCESSOB<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
mmm m m SERPES I ENFWHI<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo $ Comp. A — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
M m m DE PHSLL4NOR1Q<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
«te xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmalieos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peilo. Foi ensaiado com optimos resultados nos hospilaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 atteslados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia [tosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
<strong>Coimbra</strong> Rodrigues da Silva & C.<br />
fonso, 61<br />
a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>-<br />
65.<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:099^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
J0A0 RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
G O I I V U O Í : ^ ^<br />
^ i RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã c seda. Vendas por junlo<br />
A e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sorlido <strong>de</strong> cordas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacó e selim, em iodas as côres e larguras. Eças dou •<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se '<strong>de</strong> (uneraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, lanlo nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETÊNCIA.<br />
A R T A X E S<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria j<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
P l M T i i l t<br />
(OFFICINA)<br />
VISOS<br />
Leilões, PARA<br />
casas<br />
11 -'<br />
cotrmerciaes, etc.<br />
Typ, Operaria<br />
S I L V A M O U T I N H O<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ncarrcga-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, doura-<br />
100 E ções <strong>de</strong> egreja», forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cidn<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Na mesma offleina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇO$ COMMODOS<br />
M I M MI mm •««<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
R É I i 8 . 3 0 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
£<br />
M<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
E t É I S 0 1 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
v Praça do Commercio n.° ii-l.°<br />
QUADRANTS<br />
(Jltimos mo<strong>de</strong>los para I 893.<br />
fllase longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSÉ LUIZ MIM U M M<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Qumtlrant»<br />
71 f endas pelo preço da Fabrica.<br />
Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scouto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocipefes e bieycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
PHARMACIA<br />
84 ¥ entle-se, em bom local e bem<br />
afreguezada. Carta a J. E.,<br />
drogaria Villaça, rua Ferreira Borges —<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
comm ss m m :<br />
«FIDELIDADE»<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Cnpitnl PS. F . 3 4 4 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
79 l? 8 * 1 * cw,,, I»»H>»«»> a mais po-<br />
M <strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> Portugal, toma seguros<br />
contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobílias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong>—Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinhas, n.° 45.<br />
Amêndoa e cartonagens<br />
MERCEARIA<br />
DE<br />
José Tavares da Costa, Successor<br />
Largo do Príncipe D. Carlos<br />
C O I A I U K A<br />
99<br />
este estabelecimento acaba <strong>de</strong><br />
chegar, como nos annos anteriores,<br />
a finíssima amêndoa <strong>de</strong> Lisboa,<br />
<strong>de</strong> fabrico especial, só d'assucar, e uma<br />
liudissima collecçào <strong>de</strong> cartonagens para<br />
brin<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Paschoa.<br />
lNo mesmo estabelecimento encontram-se<br />
á venda—com uiexcedivel asseio<br />
— todos os generos proprios <strong>de</strong> mercearia,<br />
taes como:<br />
Assucar <strong>de</strong> linissinia qualida<strong>de</strong>, café<br />
muito superior, coguacs e diflerentes<br />
marcas <strong>de</strong> vinhos nacionaes e importados<br />
directamente do estrangeiro, muitas conservas,<br />
farinhas, massas e stearina; bolachas<br />
avulso e em caixinhas, chocolate<br />
recebido da Suissa, etc, etc.<br />
Deposito <strong>de</strong> ladrilhos mosaicos, agencia<br />
da Companhia <strong>de</strong> seguros Confiança<br />
Portuense, <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> lettras, transferencias<br />
<strong>de</strong> dinheiro, etc.<br />
0 DEFENSOR 00 P01/0<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA Dií FtíKHEIlU BOtUiliS, 29, 1.»<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
E D I T O R ,<br />
CONDIÇÕES D£ ASSIGNATQfiá<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Cm estampilha Sem estampilha<br />
Anno....... 21703 Anno 2£400<br />
Semestre.... 1(0330 Semestre.... 10200<br />
Trimestre... 680 Trimestre... 600
Defensor<br />
0T % Jfi ÂNNO I <strong>Coimbra</strong>, 6 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 H ° 75<br />
p<br />
0 fim <strong>de</strong> nm povo<br />
•\AAAA.<br />
Portugal não é hoje, somente,<br />
uma nação prestes a <strong>de</strong>sapparecer<br />
em virtu<strong>de</strong> da insolvência dos seus<br />
compromissos; é, lambem, uma socieda<strong>de</strong><br />
que se extingue pela ausência<br />
<strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al, o mesmo é dizer<br />
povo sem <strong>de</strong>stino a cumprir.<br />
Porque ainda se comprehen<strong>de</strong> a<br />
exislencia <strong>de</strong> uma nacionalida<strong>de</strong>,<br />
cujas fibras moraes se comprimam<br />
pela acção <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al bárbaro, que,<br />
em muitos casos, po<strong>de</strong> ser um estimulo<br />
<strong>de</strong> raça; mas que tenha direito<br />
e razão á vida um povo, cuja<br />
aspiração ninguém presente, e cujo<br />
i<strong>de</strong>al ninguém conhece, o mesmo é<br />
que assignalar a exislencia <strong>de</strong> um<br />
orgão.cuja funcção se extingue ou<br />
se per<strong>de</strong>u.<br />
Historteamenle, somos um povo<br />
findo. Restava que nesta liquidação<br />
<strong>de</strong> um passado glorioso, já quando<br />
a Europa não precisa dos nossos<br />
roleiros, nem o mundo das nossas<br />
<strong>de</strong>scobertas, que um gran<strong>de</strong> esforço<br />
da anliga alma porlugueza nos<br />
reanimasse para a solução do nosso<br />
<strong>de</strong>stino.<br />
Que o patriotismo que se fez<br />
mareante para <strong>de</strong>scobrir novos mundos,<br />
se fizesse, <strong>de</strong>pois das <strong>de</strong>scobertas,<br />
organisador politico, para<br />
completar a acção da nossa influencia.<br />
Mas não. Malbaratado o património<br />
das conquistas, cal)imos nos<br />
<strong>de</strong>smandos da imprevi<strong>de</strong>ncia.(Quando<br />
a febre da loucura levou escoadas,<br />
<strong>de</strong> lodo, as prezas do Oriente,<br />
Portugal, <strong>de</strong>rivando <strong>de</strong> conquista<br />
hespauhola um instrumento da politica<br />
franceza, fez a restauração do<br />
século xvii, obra <strong>de</strong> apparenle<br />
gran<strong>de</strong>za, é certo, mas em cujo seio<br />
fermentava o veneno que, um século<br />
<strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>via tornar-se nos symplomas<br />
d'esla morle que nos avassalla.<br />
Em toda a vasla obra separatista<br />
d*ess£ tempo, cuja virilida<strong>de</strong> ainda<br />
hoje assombra os <strong>de</strong>scuidados<br />
da sciencia da Historia, presenle-se<br />
mais o cuidado com que um homem<br />
preten<strong>de</strong> assegurar o futuro<br />
politico da sua família, do que o<br />
empenho com que um povo <strong>de</strong>seja<br />
resurgir, forta e altivo, para as<br />
gran<strong>de</strong>s conquistas da civilisaçào.<br />
D'esle <strong>de</strong>svario funesto seguiu-se o<br />
que era <strong>de</strong> prever.<br />
Portugal leve, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse tempo,<br />
uma série ininlerrompida <strong>de</strong><br />
reis taes e <strong>de</strong> tal lei tio, que só com<br />
a ar.alyse da sua <strong>de</strong>generescencia<br />
se escreveriam volumes <strong>de</strong> psychiatria.<br />
Des<strong>de</strong> Alfonso vi até D. João<br />
vi, que é ponto final da imbecilida<strong>de</strong><br />
humana, os palácios reaes lornam-se<br />
ora em manicomios grotescos,<br />
ora em lheatros <strong>de</strong> adultérios,<br />
e, não poucas vezes, em antros on<strong>de</strong><br />
se preparam vinganças brulaes. E<br />
tal é a inconsciência da própria miséria,<br />
que ao lempo em que os limites<br />
da Europa polilica se alteravam<br />
pela ambição bonaparlisla,<br />
Portugal tica surprehendido com o<br />
seu <strong>de</strong>sapparecimento. Eslava consummada<br />
a obra da restauração<br />
seiscentista.<br />
Depois...<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO X V<br />
*<br />
Depois, após o relampago <strong>de</strong><br />
1820 e a chimera generosa <strong>de</strong><br />
1846 em que pela <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira vez<br />
se presenliu o povo—<strong>de</strong>pois.. ..<br />
isto. ..<br />
A regeneração do paiz é iniciada<br />
pela polilica cynica do um<br />
homem fundamentalmente corrupio<br />
e <strong>de</strong>vasso, como era e sempre o foi<br />
Rodrigo da Fonseca. E nesta escola<br />
raza, em que os homens são tratados<br />
como instrumentos, e as paixões<br />
teem foros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, que se<br />
matriculam os jovens prodígios que,<br />
vinte annos <strong>de</strong>pois, nos governam<br />
com a sua vasla clientella. Fontes<br />
é o primeiro fruclo d'esse coilo vil.<br />
A sua acção na politica porlugueza<br />
é, sobre domestica, noloria a lodos.<br />
Foi o primeiro homem estanhado,<br />
que arvorou em principio o faz-me<br />
arranjo. Tanto do seu tempo, e lanto<br />
<strong>de</strong> mol<strong>de</strong> com o mestre, que jámais<br />
concebeu a censura polilica<br />
senão como uma fórma <strong>de</strong> pedir.—<br />
«O que é que esse homem preten<strong>de</strong>?<br />
» — disse elle, um dia; ao ouvir<br />
o discurso vehemente <strong>de</strong> um<br />
aprendiz <strong>de</strong> politico. Na sua vasta<br />
obra <strong>de</strong> trinta e tantos annos não<br />
se presente, sequer, que exisla um<br />
povo. Elle é a representação <strong>de</strong> lodos<br />
os po<strong>de</strong>res. Chamam-lhe o rei.<br />
Esta realeza, que <strong>de</strong> facto o foi,<br />
pelo esludo que fez do caracter cón-<br />
Iradictorio do rei Luiz, não a ulilisou<br />
nem em proveito publico nem<br />
em vantagem nacional.<br />
Governou para si e para o monarcha,<br />
cujas fraquezas soube, magistralmente,<br />
explorar.<br />
Prescindindo do povo, elegeu a<br />
sua guarda numacohoile <strong>de</strong> sobrinhos,<br />
cuja incapacida<strong>de</strong> premiou á<br />
custa do thesouro. Ainda hoje, e<br />
por largos annos ainda, o paiz pagará<br />
a phanlasia com que o gran<strong>de</strong><br />
homem quiz que <strong>de</strong> um estudante<br />
menos que medíocre se fizesse<br />
um engenheiro. Para estas e outras<br />
urgências houve mister falsificar<br />
orçamentos, fazer obras dispendiosas<br />
e alargar quadros. Surgiram,<br />
então, os acampameulos <strong>de</strong> Tancos<br />
e as verda<strong>de</strong>iaas porcarias da Penitenciaria.<br />
Como escaceiassem os<br />
admiradores d'esla politica d'avenluras,<br />
Barjona, o lago d'aquelle<br />
Othello, vae a <strong>Coimbra</strong> fazer uma<br />
leva <strong>de</strong> recrutas, d'aule-mão premunidos<br />
para applaudir o diclador.<br />
Nesta leva vem o gran<strong>de</strong> Lopo, que<br />
é o personagem culminante d'esles<br />
ullimos <strong>de</strong>z annos, e em cujo caracter<br />
se reflectem todas as abominações<br />
do seu lempo. O cuidado com<br />
que esta sinistra figura da nossa<br />
polilica põe em Londres o seu<br />
dinheiro—cuja proce<strong>de</strong>ncia todos<br />
conhecem— explica, a um lempo,<br />
a sua obra e a sua covardia. Coinci<strong>de</strong><br />
a opulência d'elle com a bancarrota<br />
do Estado. Surge rico, á<br />
hora em que o paiz vae fallir!<br />
*<br />
Em toda esla agonia <strong>de</strong> torpezas<br />
inconfessáveis, não se presente<br />
a alma porlugueza. O que se presente<br />
é uma sensação <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong><br />
collecliva, <strong>de</strong> vamos morrer, sem<br />
imprecações nem proleslos. Ao pedantismo<br />
da inconsciência gover-<br />
nativa respon<strong>de</strong>, no paiz, o silencio<br />
da dôr. A miséria moral dos preten<strong>de</strong>ntes<br />
dá o nome <strong>de</strong> paz a esla<br />
<strong>de</strong>solação. E uma <strong>de</strong>signação exacta,<br />
como é exacta, lambem, a synonimia<br />
com que a Morte é, em<br />
muilas línguas, <strong>de</strong>signada com o<br />
epitheto <strong>de</strong> Somno. Classificações<br />
empyricas danimal, simplesmente.<br />
Nada mais triste.<br />
José Caldas.<br />
Tudo envenenado!<br />
Jornaes <strong>de</strong> Lisboa referem que o sr.<br />
José Dias Ferreira figura na lista dos<br />
maiores <strong>de</strong>vedores á fazenda publica, no<br />
concelho <strong>de</strong> Cintra.<br />
O caso, que, tralando-se d'outros esteios<br />
das instituições, passa sem significação<br />
<strong>de</strong> maior, tem, tratando-se do sr.<br />
Dias Ferreira, um alto valor symptomatico.<br />
A vida publica do sr. Dias Ferreira,<br />
foi, anteriormente á sua subida aos conselhos<br />
da coroa, uma lucta severa contra<br />
os actos que no po<strong>de</strong>r se exhibiam <strong>de</strong>shoneslos.<br />
Esta apparencia <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong><br />
que requestou fóros <strong>de</strong> homem <strong>de</strong> bem<br />
ao sr. Dias Ferreira, dada a veracida<strong>de</strong><br />
das noticias, que nos chegam da capital,<br />
é, na sua subtileza calculista, o maior<br />
documento <strong>de</strong> imbecilida<strong>de</strong> que o ex-presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho podia fornecer da<br />
sua personalida<strong>de</strong> moral.<br />
Achamos mais sérios, relativamente,<br />
aquelles que, á luz do dia, espesinham os<br />
mais simples elementos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>, do,<br />
que aquelles que, como agora o sr. Dias<br />
Ferreira, fazem do seu viver um dualismo<br />
indigno: apresentam e exprimem em<br />
largas tiradas oralorias uma austerida<strong>de</strong><br />
inexcedivel, e são, no fundo, uns exemplares<br />
<strong>de</strong>pravados da mais negativa honestida<strong>de</strong>.<br />
Triste I<br />
Cabo para os Açores<br />
Está a expirar o prazo concedido a<br />
uma companhia franceza para o lançamento<br />
do cabo submarino, que ligue os<br />
Açores á metrópole.<br />
O governo tem sido objecto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
instancias para a prorogaçífc do<br />
prazo, mas parece que tal addiamento<br />
se não fará.<br />
Anda bem se assim fizer, porque a<br />
companhia não ha <strong>de</strong> querer per<strong>de</strong>r o<br />
<strong>de</strong>posito, o (jue será motivo, talvez, para<br />
que os açorianos se não vejam in<strong>de</strong>finidamente<br />
privados do cabo submarino,<br />
<strong>de</strong> tanta importancia para elles... e<br />
para nós lambem, que lemos a lucrar, e<br />
não menos, com a maior approxiniação<br />
entre o continente e as ilhas.<br />
D3 relance<br />
Baixo, atarracado, quasi imberbe,<br />
vermelhusco e cumprimentador. Muito direito,<br />
chapéu alto á cabeça, bengalão a<br />
gingar, passeia por essa <strong>Coimbra</strong> como<br />
um vencedor em cida<strong>de</strong> conquistada. E é<br />
que ja a tem conquistado por varias vezes,<br />
e então... é elle quem todo lo<br />
manda.<br />
Muito urbano, muito ceremonioso fora<br />
do seu serviço <strong>de</strong> mantenedor, é fugir<br />
d'elle quando, <strong>de</strong> bengala em punho, o seu<br />
bastão <strong>de</strong> cominando, capitaneia as suas<br />
hostes aguerridas. Caiie a Sé Velha e o<br />
governo civil, como quem diz: — Cahe o<br />
o Carmo e a Trinda<strong>de</strong>.<br />
Elle, para a rapaziada — é um pae,<br />
diz elle; mas pae que dá castanha <strong>de</strong> cahir,<br />
pae severo que acaricia... á pranchada.<br />
Fora d'islo é bom homem.<br />
Quer montado no seu Bucephalo [perdoe-nos<br />
o amigo <strong>de</strong> Julio Cezar), quer na<br />
almofada guiando a quatro, quer na sua<br />
curul <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>, è sempre firme...<br />
mas evitem-lhe os repentes.<br />
Os leões também são bons... quando<br />
dormem.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Poisson d'avril<br />
A Voz Publica <strong>de</strong> sabbado 1 d'abril<br />
<strong>de</strong>u uma palpitante noticia <strong>de</strong> que fora<br />
<strong>de</strong>scoberto um valiosíssimo lhesouro na<br />
quinta <strong>de</strong> Quebrantões, constando <strong>de</strong> peças<br />
em bom ouro antigo, amphoras, columnalas,<br />
ele.<br />
O Cesário, feitor da lai quinta, sabia<br />
da melgueira, mercê da lettra d'um<br />
velho testamento; e vae d'ahi—começa a<br />
investigar, a investigar dia e noite, sem<br />
<strong>de</strong>scanço.<br />
O povinho rosnava que andavam almas<br />
do outro mundo na quinta <strong>de</strong> Quebrantões:<br />
era o Cesário, o infatigavel<br />
ambicioso que, á imitação do Gaspar dos<br />
Sinos, receiava que a noticia do lhesouro<br />
se espalhasse, e <strong>de</strong>sviava as suspeitas<br />
alimentando a superstição.<br />
Já <strong>de</strong>sanimava o feitor quando uni<br />
dia (e foi isto na madrugada do primeiro<br />
d'abril I) <strong>de</strong>scobriu um veio d'agua que<br />
se internava numa caverna.. .<br />
O coração bateu-lhe com violência...<br />
— Sera aqui ?.. .<br />
E seguiu o veio, inlernando-se na<br />
abertura praticada entre a rocha; caminhou<br />
afoitamente, molhado até aos ossos,<br />
rasgando os pés, tintos <strong>de</strong> sangue, nas<br />
pedras do caminho, estonteado pela falta<br />
dar — mas marchando sempre, como<br />
homem seguro do bom êxito da sua i<strong>de</strong>ia,<br />
e firme na sua crença.<br />
Depois d'uma amargurada meia hora<br />
<strong>de</strong> caminho, surprehen<strong>de</strong>u-o uma clarida<strong>de</strong><br />
que <strong>de</strong>senhava, a pequena distancia,<br />
a entrada d'um vasto recinto (estamos<br />
em pleno romance Ponson du Terrail...)<br />
Alravessou-lhe o cerebro a i<strong>de</strong>ia do<br />
lhesouro, e avançou o <strong>de</strong>nodado Cesário,<br />
penetrando no logar mysterioso.<br />
Achára realmente o X do problema I<br />
— O recinto era uma espaçosa loja<br />
cheia d'amphoras romanas, repletas <strong>de</strong><br />
dobtões em ouro...<br />
A entrada dois leões <strong>de</strong> bronze, do<br />
tamanho natural. O venerável pó dos tempos<br />
envolvia tudo aquillo imprimindo-lhe<br />
um certo ar d'antiguida<strong>de</strong>.<br />
—Os olhos do Cesário abriram-se<br />
<strong>de</strong>smesuradamente, mas um sentimento<br />
extrauho e inexplicável impedia o <strong>de</strong> locar<br />
as moedas ha tanto tempo <strong>de</strong>sejadas.<br />
Ficou-se mudo e quédo a contemplar<br />
a maravilha...<br />
Por fim, num impulso que honra em<br />
extremo as «uas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cidadão<br />
portuguez, põe-se <strong>de</strong> novo a caminho,<br />
dirigindo-se ao domicilio do administrador<br />
sr. dr. Fortes Júnior.<br />
Distingue o altamente, ao feitor, este<br />
rasgo patriótico f—Pensou na situação<br />
do paiz, na ameaça da crise, na miséria<br />
que nos cerca--e olíereceu generosamente,<br />
os luzidos dobrões á voracida<strong>de</strong> da<br />
fazenda publica.<br />
O Cesário guindou-se á,estatura <strong>de</strong><br />
um heroe pela sua abnegação exlraordinaria.<br />
O dr. Fortes não per<strong>de</strong>u um minuto,<br />
e lá foi — seguido d^uia bicha <strong>de</strong> policias—introduzindo-se<br />
na vereda tortuosa,<br />
molhado atè aos ossos...<br />
E d'ahi a pouco chegavam escrivães<br />
<strong>de</strong> fazenda, caminhando também pelo<br />
veio d agua, <strong>de</strong> pasta <strong>de</strong>baixo do braço,<br />
oculos na ponta do nariz, ás apalpa<strong>de</strong>llas<br />
pela rocha.. ..<br />
Não tardou a fazer-se representar a<br />
curiosida<strong>de</strong> indígena — em breve começou<br />
a romaria: na vereda havia encontrões,<br />
murros que <strong>de</strong>notavam uma concorrência<br />
<strong>de</strong>susada: rogaram-se pragas,<br />
questionava-se.<br />
O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Samodães invejou<br />
aquella balbúrdia da popularida<strong>de</strong> para<br />
a sua Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s.<br />
O poviléu engrossava minuto a minuto;<br />
a municipal estabeleceu patrulhas<br />
<strong>de</strong> cavallana e o chefe Lopes teve meta<strong>de</strong><br />
do sabre fóra da bainha.<br />
O caso tomou taes proporções que<br />
a companhia do gaz pensou em guarnecer<br />
u vereda mysieriosa <strong>de</strong> candieiros, e<br />
o sr. Juslino Teixeira propoz a instala-<br />
ção <strong>de</strong> comboios <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porta da quinta<br />
á bocca dos dragões.<br />
Gloria ao excelso Cesário !<br />
— A Voz Publica, o nosso excellente<br />
collega, soldado valentíssimo do partido<br />
republicano, encarregou-se <strong>de</strong> immortalisar<br />
o feitor, e assim o fez publicando<br />
e lançando aos quatro ventos o<br />
homem e os feitos <strong>de</strong> tão prestante cidadão.<br />
No numero do 1.° d'abril appareceu<br />
a noticia circumstanciada do caso, captando<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a attenção do publico<br />
que ama o phantastico.<br />
A quinta <strong>de</strong> Quebranlões teve um<br />
successoI — Os nossos bons burguezes<br />
fartaram-se <strong>de</strong> correr para lá á busca<br />
dos dragões (nos dragões é que estava<br />
todo o furor!)—e nem ao menos encontraram<br />
um Judas d'al<strong>de</strong>ia com bombas<br />
<strong>de</strong> vintém na sacca dos trinta dinheiros!<br />
Fiasco em toda a linha, e ingenuida<strong>de</strong><br />
hors ligue!<br />
•—Vae para o ceu, quando Deus a<br />
chame, a actual geração burgueza da invicta<br />
cida<strong>de</strong> que possue as entranhas do<br />
sr. D. Pedro ÍV.<br />
*<br />
Á noite, no Príncipe Real, fallavase<br />
muito da engraçada blague, commentando-se<br />
alegremente a romaria a Quebrantões.<br />
Ksperava se que, ao menos, o Meia<br />
Azul fosse um thesouro... para a empreza.<br />
Infelizmente, continuou o fiasco : —<br />
o Meia Azul passou pela tangente, sem<br />
ao menos alimentar as esperanças que<br />
doiraram o coração do Cesário e a alma<br />
da burguezia.<br />
Decididamente a epocha corre avessa<br />
a thesouros — sem excepção do thesouro<br />
publico.<br />
3 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Fra-Diavolo.<br />
Economias no ministério<br />
da guerra<br />
O sr. ministro da guerra fez publicar<br />
na ultima or<strong>de</strong>m do exercito um <strong>de</strong>creto<br />
em que se manda — cessar o abono<br />
<strong>de</strong> forragens aquelles ofliciaes que não<br />
lenham cavalio praça; conce<strong>de</strong>r o adiantamento<br />
das quantias necessarias para a<br />
acquisiçâo <strong>de</strong> cavallos para os mesmos<br />
ofíiciaes, sendo estes <strong>de</strong>bitados pela sua<br />
importância, que lhes será <strong>de</strong>scontada<br />
no prazo <strong>de</strong> seis annos; estabelecer novas<br />
forragens e cavallos para ofliciaes<br />
que os não tinham.<br />
Daqui se vê que este <strong>de</strong>creto, que,<br />
na sua primeira parte, parece representar<br />
uma economia e gran<strong>de</strong>, aggrava nas<br />
suas <strong>de</strong>terminações posteriores as forças<br />
do thesouro. Porque, acabando com o<br />
escaudalo dos abonos <strong>de</strong> forragens aos<br />
ofliciaes que não lêem cavallos praças,<br />
dá-lhes comtudo o direito <strong>de</strong> adquirirem<br />
um cavalio para o seu serviço, e, portanto,<br />
abonos <strong>de</strong> forragens, o que representa<br />
uma <strong>de</strong>speza gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> forragens<br />
e ao mesmo tempo um gran<strong>de</strong> dispêndio<br />
<strong>de</strong> dinheiro para adiantamento da<br />
compra dos cavallos, quautia <strong>de</strong> que só<br />
sera reembolsado o lhesouro no prazo <strong>de</strong><br />
6 annos. E não contando as quantias<br />
que houver em <strong>de</strong>bito pela inuulisaçào<br />
d'algum cavalio, antes <strong>de</strong> pago por completo,<br />
porque neste caso o otlicial requer<br />
a acquisiçâo d'um outro e consi<strong>de</strong>ra-se<br />
saldada a conta anterior.<br />
Conce<strong>de</strong>ndo ainda a outros ofíiciaes,<br />
que até aqui não tinham direito a cavallos<br />
praças nem a forragens, o direito <strong>de</strong><br />
os adquirirem agora, vem aggravar ainda<br />
mais as <strong>de</strong>spezes a que o <strong>de</strong>creto já<br />
dava occasião, e que são <strong>de</strong> boas <strong>de</strong>zenas<br />
<strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis.<br />
Agora que tanto se apregoam economias,<br />
era, realmente, a occasião mais<br />
própria para o sr. ministro da guerra se<br />
melter em luxos <strong>de</strong> cavallos e forragens...<br />
Bem se vê que s. ex. a quer fazer<br />
verda<strong>de</strong>ira a sua aJirmaçãoao lomar conta<br />
da pasta da guerra:<br />
Com o exercito não se meche... senão<br />
para abouos <strong>de</strong> rações e <strong>de</strong> forragens.
AMO J5 O DEFEORIi DO POVO e <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 18»»<br />
O R Y S T A B S<br />
L'Anje Gardien<br />
A<strong>de</strong>java um sorriso juvenil<br />
nos lábios <strong>de</strong>smaiados da creança,<br />
docemente encostada sabre a trança,<br />
a cabecita loira, tão gentil.<br />
Pequenino jasmim, um loiro Abril,<br />
cândido e meigo como rola mansa,<br />
era riso d'amor, riso d'esp'rança,<br />
tranquillo e calmo como um ceu d'anil.<br />
Librando-se no azul da immensida<strong>de</strong><br />
foi voando, subindo aos astros d'oiro,<br />
cheio d'amor, <strong>de</strong> luz, como um thesoiro,<br />
sereno e triste como a sauda<strong>de</strong>...<br />
E hoje, doce como as pombas mansas,<br />
é —o anjo da guarda das ereanças.<br />
FERNÃO SILVESTRE.<br />
LBTTRAS<br />
Sempre bella<br />
Singella e commovente narrativa é<br />
esta que vae ler-se :<br />
Nas margens do Orge, antes <strong>de</strong> chegar<br />
a Belles-Fonlaines, vê-se unta construcção<br />
elegante, pequeno castello mo<strong>de</strong>rno,<br />
coberto <strong>de</strong> ardozias. Collocada sobre<br />
a vertente da collina, no meio d'um<br />
terreno enrelvado, e cercada por uma pequena<br />
malta, a casa attrae a attenção<br />
dos poucos remadores que <strong>de</strong>scem o Orge<br />
até Juvisy.<br />
Apenas um pescador á linha, em<br />
busca d'um bom local para a pesca, avistou<br />
algumas vezes, lá em cima, uma mulher<br />
com o rosto coberto por um <strong>de</strong>nso<br />
véu, e um mancebo que caminhava vagarosamente,<br />
encostando-se-lhe ao braço.<br />
Ao menor ruido dos remos <strong>de</strong>sappareciam<br />
ambos ao voltar uma rua ou por traz <strong>de</strong><br />
um massiço <strong>de</strong> arvoredo.<br />
A gente <strong>de</strong> Juvisy <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> tentara<br />
<strong>de</strong>svendar o mysterio que parecia envolver<br />
os dois personagens, recemchegados<br />
áquelles sitios.<br />
O jardineiro e os criados fallavam<br />
uma língua <strong>de</strong>sconhecida, que um caixeiro-viajante<br />
<strong>de</strong>clarou ser o baixo-bretão.<br />
Só uma velha criada que fazia as<br />
compras faliava francez, e essa mesma<br />
apenas pronunciava as palavras necessárias<br />
para as transacções da vida usual.<br />
Depois <strong>de</strong> discutirem todas as hypotheses<br />
imaginaveis, o estalaja<strong>de</strong>iro e o<br />
merceeiro <strong>de</strong> Juvisy tinham <strong>de</strong>cidido que<br />
aquelie mancebo era um louco que a família<br />
internara naquella proprieda<strong>de</strong>, limitada<br />
por um elevado muro do lado da<br />
estrada e por uma ribeira do lado dos<br />
campos. Quanto á mulher, era uma parenta<br />
ou uma mercenaria, e quando algum<br />
pintor, ao voltar <strong>de</strong> Belles-Fontaines,<br />
perguntava quem era o dono d'aquelle<br />
pequeno parque cheio <strong>de</strong> sombra e <strong>de</strong><br />
mysterio, respondiam-lhe muito positivamente<br />
:<br />
— Mora alli um doido.<br />
A 10 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1884, num d'e?ses<br />
dias <strong>de</strong> calor que o Senegal nos envia,<br />
o viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monthrun sabia ás nove<br />
horas da manhã do seu palacete da rua<br />
Vernet e <strong>de</strong>scia os Campos Elysios. Ia<br />
ver um cavallo cuja compra lhe tora proposta<br />
por um alquilador da rua da Pepinière.<br />
Os squares ostentavam os seus<br />
açafates <strong>de</strong> flores, cercados <strong>de</strong> folhagens<br />
cujos tons haviam sido artisticamente<br />
graduados como para uma roseta <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações<br />
estrangeiras. No ponto central,<br />
os quatro jactos d'agua erguiam-se<br />
imponentemente, reproduzindo as côres<br />
do arco-iris e espalhando ao mesmo tempo<br />
como que uma fina pulverisação <strong>de</strong><br />
diamantes. ,<br />
O sr. <strong>de</strong> Monthrun era um d'esses<br />
parisienses que não sabem nunca <strong>de</strong><br />
Paris.<br />
«O mar, dizia elle, foi feito para os<br />
pescadores e para os marinheiros. Tem<br />
por certo as suas bellezas, mas não se<br />
pô<strong>de</strong> aturar senão uma hora por dia.<br />
Apenas se retira <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>scoberto uns<br />
lodos pestilenciaes, ao lado dos quaes o<br />
cano principal do exgoto é um frasco <strong>de</strong><br />
agua <strong>de</strong> colonia. Quanto ao campo propriamente<br />
dito, ha lá tanto calor como<br />
em Paris, com a differença <strong>de</strong> que á<br />
noite ninguém sabe o que ha <strong>de</strong> fazer.<br />
Se uma pessoa <strong>de</strong>ixa abertas as janeilas<br />
é <strong>de</strong>vorada pelos mosquitos ; se sts fecha<br />
lica com sauda<strong>de</strong>s da rua Royale e da<br />
Chaussée d'Antin, on<strong>de</strong> se pô<strong>de</strong>, da meia<br />
noite ás duas horas da manhã, fumar<br />
socegadamente um charuto, ao luar, sem<br />
que venha qualquer monstro alado picar<br />
o fumador, ou qualquer morcego bater-<br />
Ihe na cara.» «<br />
No entanto, o viscon<strong>de</strong> notou que os<br />
transeuntes eram raros. Via <strong>de</strong>sembocar<br />
da rua <strong>de</strong> Ponthieu e da rua do Circo<br />
fiacres carregados <strong>de</strong> malas. A vista dos<br />
preparativos da festa imniincnle <strong>de</strong> 14<br />
<strong>de</strong> julho pungiu-lhe o coração ; este sentimento<br />
<strong>de</strong> repulsão não era, porém,<br />
filho <strong>de</strong> quaesquer opiniões politicas; o<br />
dia 15 <strong>de</strong> agosto inspirar-lhe-ia as mesmas<br />
apprehensões no tempo do império.<br />
Mas o verda<strong>de</strong>iro parisiense é o inimigo<br />
das festas publicas, é inimigo <strong>de</strong> tudo<br />
quanto perturba o seu repouso e transtorna<br />
forçadamente os seus hábitos. Por toda<br />
a parle mastros, postes, ban<strong>de</strong>irolas.<br />
— On<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rei refugiar-me durante<br />
estes tres dias? pensou o sr. <strong>de</strong> Monthrun.<br />
No anno anterior tinha ido a Saint-<br />
Germain, on<strong>de</strong> tinham feito tonta hulha<br />
e atirado tantos foguetes como em Paris.<br />
Montbrun lembrou-se então <strong>de</strong> que havia<br />
promettido a si mesmo fazer uma<br />
viagem á Bretanha antes que a picareta<br />
<strong>de</strong>molidora acabasse <strong>de</strong> transformar<br />
aquella região numa succursal <strong>de</strong> Vaugirard.<br />
Visitar novamente Vitré, Fougères,<br />
passar um dia em Saint-Malô e voltar a<br />
Paris. Evitaria a turba-multa, as illuminações.<br />
Visto que a província inva<strong>de</strong> Paris<br />
por occasião das festas é justo que o<br />
parisiense lhe ceda o logar.<br />
D'alli a dois dias, Montbrun chegava<br />
a Vitré. Era ura sabhado <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>. Na<br />
província quem quizer ter uma i<strong>de</strong>ia geral<br />
da belleza das mulheres tem que ir<br />
postar-se, ao domingo, á porta da egreja.<br />
Por este motivo, Montbrun foi logo ás<br />
oito horas da manhã para o adro da basílica<br />
<strong>de</strong> S. Martinho, á espera <strong>de</strong> que<br />
a missa acabasse.<br />
Ao sahir <strong>de</strong> Paris <strong>de</strong>itara no correio<br />
um bilhete postal dirigido a ma<strong>de</strong>moiselle<br />
Paula Salimberi, dançarina no theatro do<br />
E<strong>de</strong>n. Paula era uma formosa rapariga,<br />
uma transleverina d'olhos negros muito<br />
vivos: <strong>de</strong>butara em Nápoles e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
passar uma estação no theatro italiano<br />
<strong>de</strong> Nice viera mostrar aos parisienses as<br />
suas formas irrèprehensiveis e os seus<br />
encantos provocadores.<br />
Montbrun linha então vinte e oito<br />
annos; esbelto e bem parecido, assíduo<br />
frequentador <strong>de</strong> bastidores, juntava aos<br />
seus attraelivos pessoaes as seducções<br />
<strong>de</strong> sessenta mil francos <strong>de</strong> rendimento.<br />
Apresentou st? e foi bem recebido.<br />
Nos primeiros seis mezes aquellas relações<br />
foram <strong>de</strong>liciosas; scenas <strong>de</strong> amor,<br />
protestos <strong>de</strong> eterna fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> entrecortados<br />
<strong>de</strong> passeios ao Bois, cavalgadas<br />
matutinas e ceias alegres.<br />
ViIIe d'Avray e Bougival viram muitas<br />
vezes passar a formosa amazona e<br />
Montbrun galopando ao lado d'ella. Paula<br />
Salimberi tinha apenas um <strong>de</strong>feito : tornava-se<br />
ínsupportavel com o ciúme. Junto<br />
tl'ella Othello seria um Jorge Dandin.<br />
Se Montbruh, no theatro, dirigia vagamente<br />
o binóculo para alguma mulher,<br />
Paula arrancava-lh'o das mãos e <strong>de</strong>satava<br />
a chorar.<br />
Cm dia em que o viscon<strong>de</strong> parára um<br />
momento junto á carruagem <strong>de</strong> madame<br />
<strong>de</strong> C..., a transleverina teve um ataque<br />
<strong>de</strong> nervos.<br />
— Se me <strong>de</strong>ixares, dizia ella muitas<br />
vezes brandindo um punhal, malo te e<br />
mato-me em seguida.<br />
(Conclúe).<br />
Aureliano Scholl.<br />
S. ex. a o sr. Barjona<br />
Este alto Irumpho é gran capitão, a<br />
respeito <strong>de</strong> pagar contribuições, até<br />
hoje... nem nada!<br />
Compellido, comtudo, ao pagamento<br />
d'ellas, pelo <strong>de</strong>creto do sr. Fuschini, já<br />
todos sabem como elle respon<strong>de</strong>u ás intimações<br />
judiciaes.. . rasgou-as, ou mandou<br />
rasgal-as.<br />
Mas tem muito que rasgar, o sr.<br />
Barjona, que vae ser intimado por todos<br />
os bairros da capital a pagar as contribuições<br />
que <strong>de</strong>ve cm todos elles.<br />
An<strong>de</strong>m com elle... e não esqueçam<br />
os outros.<br />
Febre amarella<br />
Em Santos, on<strong>de</strong> a febre amarella<br />
está causando inúmeras victimas, é tal o<br />
<strong>de</strong>sleixo no serviço da immigração, que<br />
um dia d'estes havia alli agglomerados,<br />
sem que se cuidasse em dar-lhes <strong>de</strong>stino,<br />
2:600 immigrantes recem-chegados!<br />
As bodas do rei Humberto<br />
E' positivo que a rainha viuva e o<br />
infante D. Alfonso irão á Italia assistir<br />
ás bodas <strong>de</strong> prata do rei Humberto.<br />
Sobre esta viagem diz o correspon<strong>de</strong>nte<br />
do Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, em Lisboa,<br />
para este jornal:<br />
«A rainha e o infante D. AfTonso<br />
partem no dia 14 para a Italia, <strong>de</strong>morando-se<br />
alli uns 10 ou 15 dias. Sua<br />
magesla<strong>de</strong> leva uns presentes riquíssimos<br />
para seu irmão e cunhada. As toilettes<br />
são opulentíssimas e foram feitas<br />
em Paris, d'on<strong>de</strong> veiu ha dias para assistir<br />
ás provas a afamada modista Lipman,<br />
que hoje se retirou »<br />
Achamos muito louváveis estes bons<br />
sentimentos <strong>de</strong> familia, que exornam os<br />
reaes viajantes. Mas não seria melhor,<br />
até para a modéstia porlugueza, que o<br />
luxo da sr. a D. Maria Pia envergonha,<br />
que sua magesta<strong>de</strong> fos-e ficando por lá<br />
a <strong>de</strong>slumbrar a côrte <strong>de</strong> seu irmão com<br />
as suas toilettes opulentíssimas e o seu<br />
luxo raffiné?<br />
E se o sr. D. Affonso, em logar <strong>de</strong><br />
por aqui andar a estropear cavallos e<br />
atropellar os míseros peões, fosse passeiar<br />
o seu irrequietismo <strong>de</strong> nevropatha<br />
lá muito longe daqui ?...<br />
Quem teria sauda<strong>de</strong>s?...<br />
O crime <strong>de</strong> Villar Formoso<br />
Cimo dissemos, um guarda da alfan<strong>de</strong>ga,<br />
Fernando Costa, assassinou em<br />
Villar Formoso uma rapariga <strong>de</strong> 14 annos,<br />
em quinta foira santa.<br />
Ignoravam-se os pormenoras do criirte<br />
quando dêmos aquella noticia; hoje,<br />
porém, já se conheceu como o assassino<br />
commetteu o crime.<br />
Fernando Costa encontrou a pequenita<br />
na estrada e perguntou-lhe d on<strong>de</strong><br />
vinha. Que vinha <strong>de</strong> resar as cruzes.—<br />
Pois as cruzes eu t'as dou.<br />
E levanda a carabina á cara <strong>de</strong>sfechou<br />
sobre a pequena, que cahiu immediatamente,<br />
fulminada.<br />
Este bandido já praticou uma outra<br />
façanha egual.<br />
Ha tempos foi ás Naves visitar um<br />
seu amigo, Antonio Loroza. Muita festa,<br />
gran<strong>de</strong>s expansões <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e, passados<br />
momentos, dando-lhe um abraço <strong>de</strong><br />
muito amigo, metteu-llie uma bala <strong>de</strong> rewolver<br />
na garganta, a que Antonio Loroza<br />
succumbiu passado pouco tempo.<br />
Pois este lieroe foi patrocinado então<br />
<strong>de</strong> tal modo, que não foi con<strong>de</strong>mnado<br />
como merecia o seu procedimento infamissimo;<br />
e agora parece que se vão encaminhando<br />
as coisas para o mesmo resultado,<br />
allegando-se em seu favor a embriaguez<br />
!... .<br />
Veremos o que d'aqui sabe...<br />
Comício<br />
Na terça feira realisou-se em Aveiro<br />
um comício, numerosamente concorrido<br />
e a que presidiu o sr. Casimiro Barreto.<br />
Usaram da palavra muitos cavalheiros,<br />
combatendo lodos pela necessida<strong>de</strong> d'uma<br />
draga para limpeza da ria e beneliciametito,<br />
portanto, da cida<strong>de</strong>.<br />
Sericicultura<br />
Como já aqui referimos, o sr. ministro<br />
das obras publicas empenha-se no<br />
restabelecimento da industria sericicola.<br />
Sobre este assumpto o sr. dr. Bernardino<br />
Machado, que reuniu já os elementos<br />
indispensáveis, iniciará <strong>de</strong>ntro em pouco<br />
os trabalhos práticos.<br />
Pelos vencidos<br />
Subspripção <strong>de</strong> SOO réis mensaes<br />
<strong>de</strong>stinaria a soeeorrer<br />
os nossos correligionários<br />
emigrados<br />
Transporte 4^7 00<br />
Francisco Mendonça (mez <strong>de</strong><br />
março) 200<br />
Somma, réis 4$900<br />
Os nossos amigos e correligionários<br />
<strong>de</strong> fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que queiram contri-<br />
buir para esta humanitaria acção, po<strong>de</strong>-<br />
rão remelter os seus nomes e as suas<br />
quotas a Teixeira <strong>de</strong> Brito, na redacção<br />
do Defensor do Povo, ou na rua do Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, n.° 88.<br />
EM SURDINA<br />
E' para dar o cavaco<br />
não sair verso que exprima<br />
o que tenho neste caco...<br />
falta-me ás vezes a rima.<br />
Queria dizer que o Viegas<br />
p'ra reclame á botica<br />
e á venda das beldroegas...<br />
á caserna se <strong>de</strong>dica.<br />
Feito alferes tal patusco<br />
á disciplina se doma<br />
A razão d'isto lhe busco:<br />
quer continência — Ora toma!<br />
PINTA-ROXA.<br />
Assalto á mão armada<br />
Ha poucos dias foi assaltado por dois<br />
malandrins, perto do Porto <strong>de</strong> Moz, um<br />
rapaz, negociante <strong>de</strong> objectos <strong>de</strong> vidro,<br />
que se dirigia para a Marinha Gran<strong>de</strong>, a<br />
sortir-se <strong>de</strong> louça para o seu negocio.<br />
Tentou resistir, mas os bandidos feriramno<br />
com um tiro e roubaram-lhe 22$000<br />
réis que trazia. O ferido <strong>de</strong>u entrada no<br />
hospital <strong>de</strong> Porto <strong>de</strong> Moz e os salteadores<br />
evadiram-se.<br />
Tumultos em Pedrogão<br />
As rivalida<strong>de</strong>s cada vez mais accentuadas<br />
entre os povos <strong>de</strong> Castanheira <strong>de</strong><br />
Pera e <strong>de</strong> Pedrogão Gran<strong>de</strong>, por causa<br />
da mudança da comarca <strong>de</strong> Pedrogão<br />
para Figueiró dos Vinhos, que a Castanheira<br />
<strong>de</strong> Pera <strong>de</strong>seja, como mais favoravel<br />
aos seus interesses, e a que os povos<br />
<strong>de</strong> Pedrogão se oppõem tenazmente,<br />
estão dando os resultados <strong>de</strong> prever.<br />
O<strong>de</strong>iam-se encarniçadamente os dois povos,<br />
eesta opposição <strong>de</strong> interesses tem-se<br />
resolvido em luctas asperas por occasião<br />
das eleições municipaes, ainda agora<br />
mais uma vez repetidas.<br />
' No dia 2, por occasião d'eslas eleições,<br />
houve tumultos e <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, que<br />
os sitios tocaram a rebate, 2 policias foram<br />
feridos e um foi preso pelo <strong>de</strong>legado<br />
uma hora <strong>de</strong>pois do tumulto.<br />
E foi tão grave o que se passou, que<br />
os vereadores da Castanheira <strong>de</strong> Pera<br />
não quízeram ir tomar posse dos seus togares<br />
na camara, receando pelas suas<br />
vidas, e é <strong>de</strong> recear que o povo <strong>de</strong> Castanheira<br />
<strong>de</strong> Pera procure <strong>de</strong>sforrar-se do<br />
<strong>de</strong> Pedrogão, o que pô<strong>de</strong> dar occasião a<br />
confliclos <strong>de</strong> serias consequências.<br />
Estes factos, na sua singeleza, e<br />
sem mais pormenores, que por emquunlo<br />
não temos, revelam acontecimentos <strong>de</strong><br />
gravida<strong>de</strong>, que exigem provi<strong>de</strong>ncias immediatas<br />
do governo.<br />
=3<br />
Um filho <strong>de</strong> Joanna d'Arc<br />
Apresentou-se ha poucos dias em Paris<br />
á porta <strong>de</strong> Elyzeu, um campouez dos<br />
Vosges, pedindo com instancia para faltar<br />
ao presi<strong>de</strong>nte da Republica, dizendo<br />
tralar-se <strong>de</strong> altos interesses dó Estado,<br />
que requeriam uma audiência ímmediala<br />
<strong>de</strong> Carnot, pois que a sua missão importante<br />
e secreta, só com o presi<strong>de</strong>nte<br />
da Republica podia ser tratada.<br />
Levado para a Perfeitura, <strong>de</strong>clarou<br />
alli que é filho <strong>de</strong> Joanna d'Arc, e que<br />
tem lido, como ella, repetidas visões e<br />
que os anjos o mandaram a toda a pressa<br />
a Paris, fallar com Carnot para este<br />
o nomear rei do Dahomé, on<strong>de</strong> iria implantar<br />
a civilisação e o christianismo.<br />
Não o mandaram para Dahomé, metleram<br />
o visionário num hospital <strong>de</strong> doidos.<br />
Homenagem<br />
Cousta ao nosso collega a Voz Publica,<br />
que a commissão Executiva do Partido<br />
Republicano no Porto tenciona oiíerecer<br />
aos implicados nos acontecimentos <strong>de</strong> 31<br />
<strong>de</strong> janeiro, e repatriados pela ultima<br />
amnistia, um jantar no Palacio <strong>de</strong> Crystal.<br />
Para este jantar serão convidados<br />
<strong>de</strong>legados <strong>de</strong> todos os concelhos do norte<br />
do paiz on<strong>de</strong> se acham <strong>de</strong>finitivamente<br />
organisadas as forças republicanas, e representantes<br />
da imprensa e corpos dirigentes<br />
do partido em Lisboa.<br />
Este procedimento é simplesmente<br />
para prestar um preito <strong>de</strong> homenagem<br />
aos que, implicados nos acontecimentos<br />
<strong>de</strong> janeiro, supportaram no exilio inclemências<br />
sem nome.<br />
E' um nobre e respeitável exemplo<br />
<strong>de</strong> confraiernisação e solidarieda<strong>de</strong> republicana.<br />
i r<br />
Paris porto do mar<br />
Ha muito tempo já que se projecta<br />
fazer um canal <strong>de</strong> Ruão a Paris, que<br />
permitta a navegação <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> alto<br />
bordo até esta- cida<strong>de</strong>, terminando um<br />
porto <strong>de</strong> mar.<br />
O projecto d'esta obra foi feito já<br />
pelo engenheiro Bouquet <strong>de</strong> la Grye.<br />
Segundo este projecto o canal lerá<br />
180 kilometros por 7 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>,<br />
que pô<strong>de</strong> permittir a navegação<br />
a 95 °/o dos navios que ancoram no Havre.<br />
O porto estabelece-se entre Saint-<br />
Dénis e Clychy, havendo mais cinco portos<br />
secundários, e os navios po<strong>de</strong>rão<br />
transpor a distancia em 17 horas. A <strong>de</strong>speza<br />
é orçada em 27.000:000^000 réis<br />
e as obras não <strong>de</strong>verão exce<strong>de</strong>r 3 annos.<br />
Este é o projecto nas suas linhas geraes;<br />
ma« executar-se-á ?<br />
As vantagens que Paris auferiria da<br />
sua realisação são evi<strong>de</strong>ntes, mas tem a<br />
luctar com a forte opposição d ! algumas<br />
cida<strong>de</strong>s interessadas em que estes trabalhos<br />
se não elfectuem.<br />
Util<br />
Segundo um jornal <strong>de</strong> medicina, a<br />
media do somno necessário ás ereanças<br />
é:<br />
Para as ereanças <strong>de</strong> 4 annos 12 horas<br />
» d 7 » 1 1 »<br />
» • » 9 Í 10 »<br />
» » 12 a 14 » 9 a 10 »<br />
A anemia, a fraqueza, fl hysteria <strong>de</strong>vem<br />
se, a maior parle das vezes, a um<br />
somno insufficienle.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Associação Commercial <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong><br />
E' hoje convocada novamente a assemblêa<br />
geral d'esta associação, a fim <strong>de</strong><br />
tratar <strong>de</strong> assumptos diversos e <strong>de</strong> importância.<br />
Ha tempos que a classe commercial<br />
está daudo provas da sua indilíereuça por<br />
esla associação, que alias tem dispensado<br />
bons serviços, bem como á cida<strong>de</strong>,<br />
pois se tem alli tratado dos interesses locaes<br />
com zelo e <strong>de</strong>dicação, e mal pensados<br />
andam aquelles que julgam ineficazes<br />
estas instituições, que tantos serviços<br />
prestam ás coliectivida<strong>de</strong>s.<br />
Se não fosse a influencia e imporlancia<br />
d'eslas associações uàu teria o commercio<br />
<strong>de</strong> Lisboa, Porto, <strong>Coimbra</strong>, e outras<br />
terras do paiz, obtido dos governos<br />
muitas das concessões que agora gozam<br />
e que estariam a dii&cultar-ihe mais a<br />
vida, criando-lhe uma situação bem embaraçosa.<br />
Está <strong>de</strong>monstrado que eslas instituições,<br />
on<strong>de</strong> se reúnem todos os elementos<br />
<strong>de</strong> acção, estão exercendo bastante<br />
prepon<strong>de</strong>rância sobre os governos, que<br />
teem <strong>de</strong> allen<strong>de</strong>r ás necessida<strong>de</strong>s e aos<br />
seus interesses, embora com isso sotíram<br />
os arraujos políticos <strong>de</strong> qualquer paricalida<strong>de</strong>.<br />
A' opposição do commercio <strong>de</strong> Lisboa<br />
e Porto, secundado pelo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
e outras terras, se <strong>de</strong>ve a revogação <strong>de</strong><br />
leis e a luuiuisaçâo <strong>de</strong> proposta», que<br />
viriam sacrificar o paiz, lezaudo o commercio<br />
e o contribuinte.<br />
E é quando isto está mais que reconhecido,<br />
mais que provado, que a ciasse<br />
commercial lie <strong>Coimbra</strong>, na sua maioria,<br />
se <strong>de</strong>ixa levar por um mau pensamento<br />
abandonando por completo os negocios da<br />
sua associaçao que lao bem tem cuidado<br />
dos seus iuleresses e do seu bem estar.<br />
Esta indilíerença e pelo que nos diz<br />
respeito a pelo que mais, nos interessa é<br />
que tem sido a causa primaria da ruina<br />
(lo paiz e do estado <strong>de</strong> miséria a que<br />
chegamos.<br />
Se não fosse a nossa inércia e o nosso<br />
egoismo, os governantes passados e<br />
os presentes não teriam commettido tanto<br />
crime, nem praticado tantas arbitrarieda<strong>de</strong>s,<br />
nem perpretado tanlo abuso.<br />
Fossemos um povo energico, laborioso,<br />
<strong>de</strong>dicado á nossa patria e a no^sa<br />
terra e o paiz não cahiria do <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro<br />
em que o atiraram os bandos <strong>de</strong><br />
políticos negreiros que se tem vindo<br />
substituindo no po<strong>de</strong>r.<br />
Se não fosse a nossa indolência, a<br />
nossa bonhomia por tudo quanto interessa<br />
á collectivida<strong>de</strong> e à naçao, o paiz não<br />
teria sido tão miseravelmente roubado,<br />
nem os Punamás se teriam avantajado<br />
( tanto.
AK í — IV. 0 95 O I6B2FEKS011 DO POVO G <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803<br />
E tudo isto que nos <strong>de</strong>veria servir<br />
<strong>de</strong> exemplo para nova vida, para nos dar<br />
animo e resolução para um futuro mais<br />
prospero estamos assistindo ao triste espectáculo<br />
<strong>de</strong> vermos caliir <strong>de</strong> inacção e <strong>de</strong><br />
intorpecimento uma associação com bons<br />
serviços prestados, mercê da indiferença<br />
dos seus associados.<br />
Oxalá, porém, que uma hora <strong>de</strong> boa<br />
inspiração venha e seja a conselheira para<br />
chamar á or<strong>de</strong>m os incrédulos e os indifferentes<br />
a fim <strong>de</strong> que se não possa dizer<br />
com razão que o conimercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
trata com indilíerença os interesses da<br />
classe.<br />
AuoeiíifSo dos Artista»<br />
Na segunda feira celebrou-se missa<br />
na egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, commemoração<br />
fúnebre á memoria dos antigos presi<strong>de</strong>ntes<br />
d'esta Associação, Olympio Nicolau<br />
Ruy Fernan<strong>de</strong>s, José <strong>de</strong> Figueiredo Pinto<br />
e Augusto Pinto Tavares.<br />
As associações <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> que haviam<br />
sido convidadas fizeram-se representar<br />
por seus <strong>de</strong>legados e a este acto assistiu<br />
gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> cidadãos.<br />
Desearrilamento<br />
O comboio expresso que costuma chegar<br />
a esta cida<strong>de</strong> ás 7 horas da tar<strong>de</strong>,<br />
com direcção a Lisboa, veiu ante-hontem<br />
ás 11 horas da noite.<br />
A causa d'esta <strong>de</strong>mora foi <strong>de</strong>vida ao<br />
comboio <strong>de</strong> mercadorias ter <strong>de</strong>searrilamento<br />
no mesmo dia 4, as 5 horas da<br />
tar<strong>de</strong>, na ponte sobre o Vouga, próximo<br />
<strong>de</strong> Estarreja.<br />
Diz-se não haver <strong>de</strong>sgraças pessoaes<br />
a lamentar, soffrendo bastantes<br />
prejuízos no material a companhia.<br />
Quartel do %3<br />
Esteve aberto á visita do publico, na<br />
segunda feira, o quartel do regimento<br />
23. As casernas acbavam-se bem<br />
adornadas, algumas com aprimorado gosto<br />
e os visitantes sairam d'alli bem impressionados<br />
pela boa or<strong>de</strong>m em que se<br />
encontravam todos os aposentos.<br />
A' officialida<strong>de</strong> d este regimento, que<br />
se mostra zelosa e <strong>de</strong>dicada para com os<br />
seus subordinados se <strong>de</strong>ve o aceio e cuidado<br />
em que vimos aquelle edilicio, bem<br />
pouco proprio para aquartellamento.<br />
Reforma <strong>de</strong> Estatuto»<br />
Brevemente serão presentes á approvação<br />
dos sócios os novos estatutos que<br />
hao <strong>de</strong> reger os uegocios da Associação<br />
dos Artistas, sendo couvocada para boje<br />
uma assembleia geral, a fim <strong>de</strong> se tratar<br />
d'esle assumpto.<br />
Grémio Operário<br />
Esteve animadíssima a soirée realisada<br />
no domingo nas salas d'esta socieda<strong>de</strong>,<br />
dançando-se até tar<strong>de</strong> e com enthusiasmo.<br />
A connnissão promotora d'este baile<br />
esmerou-se por ser agradavel aos seus hospe<strong>de</strong>s,<br />
olferecendo-lhes um serviço profuso.<br />
Joaquim Antunes <strong>Coimbra</strong>, como sempre,<br />
dirigiu com superiorida<strong>de</strong> a sala do<br />
baile.<br />
I ll—IM<br />
Gato raivoso<br />
A fim <strong>de</strong> serem tratadas dàs mor<strong>de</strong>duras<br />
que receberam d'um galo, partiram<br />
para Lisboa no sabbado ultimo Marianna<br />
e sua irmã Maria <strong>de</strong> Jesus, Maria da<br />
Boa-Morte e seu filho Albertino, moradores<br />
na rua Direita.<br />
JleHmentido<br />
Pelo exame a que proce<strong>de</strong>u uma commissão<br />
<strong>de</strong> engenheiros, verificou se que<br />
a ponte <strong>de</strong> Lares, que atravessa o nosso<br />
Mon<strong>de</strong>go, se acha em boas condições <strong>de</strong><br />
segurança.<br />
Serviço telegrapliieo<br />
A estação principal d'esta cida<strong>de</strong><br />
começa o serviço <strong>de</strong> expedição ás 7 horas<br />
da manhã.<br />
O França roubado<br />
O pobre França, popular cocheiro<br />
conimbricense, todo cortez e serviçal<br />
para com os seus'freguezes, foi infaniemente<br />
roubado.<br />
Do carro em que elle conduz as malas<br />
do correio para a estação velha,<br />
roubaram lhe, na madrugada <strong>de</strong> terça<br />
feira, um capote e a manta com que<br />
elle cobria o gado.<br />
Ainda a policia não <strong>de</strong>scobriu o larapio,<br />
que assim extorquiu ao pobre<br />
França o seu casaco <strong>de</strong> agasalho.<br />
Hospital <strong>de</strong> cliolericos<br />
No Porto começaram os trabalhos<br />
para edificação d'uin hospital <strong>de</strong> cholericos.<br />
Nesta cida<strong>de</strong> o estado sanilario é<br />
péssimo, e não vemos ninguém resolvido<br />
a tomar quaesquer im-iidas preventivas<br />
que minore os estragos que ha <strong>de</strong> causar<br />
o habitante do Ganges, no proximo<br />
verão, se por <strong>de</strong>sgraça nrfs visitar.<br />
As moutureiras e os focos <strong>de</strong> infecção<br />
que se amontoam por toda a cida<strong>de</strong><br />
ahi se conservam para edificação das<br />
nossas auctorida<strong>de</strong>s.<br />
Emigração<br />
Continúa assustadora a emigração<br />
para o Brazil, predominando o operário<br />
agrícola, que vae procurar na America<br />
os meios <strong>de</strong> subsistência.<br />
Logarejos ha por esse paiz em que é<br />
tão diminuto o numero <strong>de</strong> homens que<br />
se vê todo o trabalho do campo entregue<br />
a mulheres, havendo noutros falta <strong>de</strong><br />
braços, o que obriga á elevação <strong>de</strong> salario.<br />
Só do concelho da Mealhada, d'este<br />
districto sairam nos últimos mezes com<br />
<strong>de</strong>stino para o Brazil mais <strong>de</strong> 600 pessoas<br />
I<br />
Portugal <strong>de</strong>spovoa-se e os nossos governos<br />
<strong>de</strong>ixam a revelia tão importante<br />
assumpto e tão grave questão.<br />
Tlieatro-Circo<br />
É no proximo sabbado que a companhia<br />
equestre do real colyseu <strong>de</strong> Lisboa<br />
dará o seu primeiro espectáculo, que,<br />
ouvimos dizer, é offerecido ao Gymuasio<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Está nesta cida<strong>de</strong> com sua ex. raa esposa<br />
e filha o nosso d lecto correligionário,<br />
sr. dr. Jeronymo Silva. Cumprimentamol-o.<br />
* Partiu na segunda feira para<br />
Sin<strong>de</strong> o nosso amigo, sr. A<strong>de</strong>lino Ferreira<br />
Maia, on<strong>de</strong> tenciona passar uma temporada.<br />
* Encontrámos já em via <strong>de</strong> restabelecimento<br />
o nosso amigo sr. Antonio<br />
Pedro Leite, que durante niuilo tempo<br />
esteve gravemente enfermo. Folgamos<br />
sinceramente com as suas melhoras, <strong>de</strong>sejando-lhe<br />
um restabelecimento promptó.<br />
Hospício<br />
Vae ser posto a concurso o logar <strong>de</strong><br />
director do Hospício <strong>de</strong> expostos e abandonados<br />
d'esle districto.<br />
Deelaração<br />
Do sr. José Bento Correia, recebemos<br />
a que abaixo publicamos, e ácer:a da<br />
qual temos a dizer, que nenhuns intuitos<br />
<strong>de</strong> parcialida<strong>de</strong> nos guiaram na redacção<br />
da noticia que <strong>de</strong>mos sobre os factos<br />
a que o mesmo senhor se refere. Narramos<br />
segundo ouvimos contar a alguns<br />
populares, que comnientavam o caso, e<br />
segundo o que ouvimos ao cabo 11 e ao<br />
sr. Moura.<br />
De resto, a <strong>de</strong>claração abaixo não é<br />
uma rectificação ; fundamentalmente contamos<br />
ambos do mesmo modo.<br />
O sr. José Bento Correia repelle o<br />
appellido por que o <strong>de</strong>nominámos; ainda<br />
neste pouto fizemos obra pelo que ouvimos.<br />
E como não temos o prazer <strong>de</strong> conhecer<br />
o signatário da carta, não sabíamos<br />
se era ou nao appellido <strong>de</strong> que usava;<br />
e o appellido nem é do» mais extravagantes.<br />
..<br />
Realmente, houve alguma precipitação<br />
da nossa parte, porque o nome do<br />
sr. Correia já foi publicado neste jornal,<br />
dando-se noticia d'uma aggressão feita,<br />
ao sr. Antonio Rodrigues da Silva, professor<br />
primário ao Carmo, em terça feira<br />
<strong>de</strong> Carnaval.<br />
*<br />
Sr. redactor. — Peço a v. a especial<br />
fineza da publicação 110 seu conceituado<br />
jornal o Defensor do Povo da <strong>de</strong>claração<br />
que incluzo envio.<br />
Confessando-ine agra<strong>de</strong>cido, sou<br />
De v. etc.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 5 — 4 — 93.<br />
José Bento Correia.<br />
Declaração<br />
O pouco ou nenhum escrupulo e imparcialida<strong>de</strong><br />
com que v. narra 110 seu<br />
jornal O Defensor do Povo um inci<strong>de</strong>nte<br />
dado comigo na sexta-feira passada, no<br />
átrio da Se Nova, obriga-me a vir a publico<br />
aclarar os factos passados, não tanto<br />
por mim, como principalmente para repellir<br />
a intenção que na local trausparece<br />
<strong>de</strong> amesquiuhar e <strong>de</strong>preciar o nome <strong>de</strong><br />
bombeiro voluntário, <strong>de</strong>primindo-se assim<br />
a corporação a que pertenço.<br />
Antes, porém, <strong>de</strong> relatar os factos<br />
preciso frisar bem dois pontos:<br />
1.° (pie só sou bombeiro voluntário<br />
e como lai respondo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ando fardado<br />
ou uso qualquer distinctivo da corporação,<br />
2.° que o meu nome é José Bento<br />
Correia para todos os effeitos.<br />
Posto isto passo a expor o- factos.<br />
Na sexta-feira passada estando eu<br />
com minha família na Sé, assistindo aos<br />
officios <strong>de</strong> trevas, approximaram se uns<br />
indivíduos que, não tendo respeito nenhum<br />
pelo sitio em que estavam, dirigiram a<br />
minhas irmãs chufas pouco <strong>de</strong>centes; eu,<br />
não gostando das graçolas d'aquelles espirituosos<br />
mancebos, objectei-lhes que as<br />
graças com que estavam eram impróprias<br />
do logar em que se achavam e que as<br />
pessoas a quem se dirigiam eram <strong>de</strong> minha<br />
família.<br />
Esta minha objecção foi recebida com<br />
riso e escarneo, continuando como «té<br />
alli; eu, porém, para me livrar <strong>de</strong> qualquer<br />
resultado mau fui com um rapaz<br />
que me acompanhava (mas não era o<br />
Chuvas a que se refere na noticia) ter<br />
com o cabo 11 <strong>de</strong> policia civil e preveni-o<br />
do que se passava. Nesta occasião<br />
saiamos da egreja e o cabo acompanhounos<br />
até cá fóra, mas, persuadido <strong>de</strong> que<br />
já nada- haveria, voltou para a egreja.<br />
Quando, porém, <strong>de</strong>scíamos as éscadas<br />
da Sé éramos esperados pelos taes sujeitinhos<br />
que, segundo a noticia informa,<br />
são os briosos Antonio Henriques <strong>de</strong> Carvalho<br />
e Albino Coelho <strong>de</strong> Moura, que<br />
continuaram na faina; mas como já não<br />
estavamos no templo, azedámo-nos e<br />
altercamos, sendo nesta occasião que o<br />
tal sr. estudante Antouio Henriques <strong>de</strong><br />
Carvalho me atirou uma bengalada da<br />
qual me pu<strong>de</strong> salvar, não acontecendo o<br />
mesmo ao seu companheiro Albino <strong>de</strong><br />
Moura que a apanhou na cabeça prostrando-o<br />
por terra.<br />
Isto foi o que se passou occultando<br />
umas scenas que o <strong>de</strong>coro manda calar.<br />
Esta é que é a verda<strong>de</strong> e haja quem<br />
a conteste.<br />
José Bento Correia.<br />
A GRANEL<br />
O publico <strong>de</strong> Turim fez uma bella e<br />
enthusiastica recepção á opera «Irene».<br />
O maestro portuguez, Alfredo Keil<br />
teve <strong>de</strong>zoito chamadas ao proscénio.<br />
* * * Consta que 110 ministério dos<br />
estrangeiros vão fazer-se importantes reducções<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>speza. Para esse fim, o sr.<br />
lliiitze tem trabalhado com o chefe da<br />
repartição <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong> d'aquelle ministério.<br />
* * # Vae ser organisado em Mossame<strong>de</strong>s<br />
um corpo <strong>de</strong> cavallaria.<br />
* * * O sr. ministro da marinha<br />
recebeu hontem uma communicação telegraphica,<br />
referindo que a <strong>de</strong>limitação do<br />
Baixo Congo, fronteiras <strong>de</strong> Portugal e do<br />
Estado Livre, ainda este mez <strong>de</strong>verá ficar<br />
concluída.<br />
* * # Dado o caso <strong>de</strong> se realisar<br />
a visita <strong>de</strong> suas n agesla<strong>de</strong>s aos Açores,<br />
irão os seguintes navios: Vasco da Gama,<br />
índia, e Affonso d'Albuquerque. Parece<br />
que a viagem não se eflectuará antes <strong>de</strong><br />
julho.<br />
* * * O novo escrivão <strong>de</strong> fazenda<br />
do concelho d'Abrantes, para evitar vexames<br />
e <strong>de</strong>sgostos aos contribuintes, mandou<br />
avisar todos os <strong>de</strong>vedores <strong>de</strong> contribuições.<br />
* * # Começa a notar-se certa agitação<br />
anarchista e socialista, percursora<br />
da festa do l.°<strong>de</strong> maio, nalguns centros<br />
manufactureiros <strong>de</strong> França.<br />
* * * As encommendas postaes e<br />
amostras proce<strong>de</strong>ntes da França são admissíveis<br />
no reino mediante <strong>de</strong>sinfecção.<br />
* * * Partiu para Leiria, a fim <strong>de</strong><br />
escolher ali casa para a installação <strong>de</strong><br />
uma escola industrial, o inspector das<br />
escolas industriaes do sul.<br />
ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS DE COIMBRA<br />
AGRADECIMENTO<br />
O conselho administrativo da associação<br />
dos artistas <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, sunimamente<br />
penhorado para-com todas as corporações<br />
e cidadãos que assistiram á<br />
missa fúnebre que foi rezada no dia 3<br />
do correnle, na egreja <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />
tributo <strong>de</strong> homenagem prestada á memoria<br />
<strong>de</strong> seus beuemeritos presi<strong>de</strong>ntes,<br />
Olvinpio Nicolau Ruy Fernan<strong>de</strong>s, José<br />
<strong>de</strong> Figueiredo Pinto e Augusto Pinto Tavares,<br />
torna publico o seu agra<strong>de</strong>cimento<br />
e a todos testemunha o seu affecto.<br />
<strong>Coimbra</strong> 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
O presi<strong>de</strong>nte da meza<br />
João Antonio da Cunha.<br />
AGRADECIMENTO<br />
Os abaixo assignados paes e padrinhos<br />
da fallecida Auzenda Pereira Garcia,<br />
vem tornar publico o seu testemunho<br />
<strong>de</strong> gratidão para com todas as pessoas<br />
que se interessaram pela sua filhinha e<br />
afilhada durante a sua doença e pelos<br />
serviços prestados <strong>de</strong>pois do seu failecimenlo.<br />
Cumpre-lhes também <strong>de</strong>ixar aqui consignado<br />
os bons serviços clínicos prestados<br />
pelo ex. mo sr. dr. Vicente Augusto<br />
lloclia, que foi em extremo disvelado no<br />
tratamento da nossa saudosa Auzenda.<br />
Que todos aceitem estas palavras <strong>de</strong><br />
agra<strong>de</strong>cimento como penhor <strong>de</strong> gratidão.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
José Garcia.<br />
Maria Pereira Garcia.<br />
José Antonio d'Almeida.<br />
Marianna Pereira d'Almeida.<br />
!6<br />
Folhetim do Defensor do Povo<br />
Memma dançava, porque uma mulher<br />
dança sempre que uma orchestra loca<br />
va-se sobre a ponte e não <strong>de</strong>ixava distinguir<br />
mais <strong>de</strong> que uma linha confusa<br />
Eram Débora e o Mitry. O cão saltava<br />
<strong>de</strong>ante d elia, e parecia abrir-lhe o<br />
com um estalejar sinistro e abriu um<br />
alçapão no meio da ponte.<br />
valsas, quadrilhas... o seu rosto expri- traçada entre as duas guardas, sobre caminho e sondar os perigos da solidão, O cão soltou um rugido surdo, como<br />
J. MÉRY<br />
mia uma satisfação calma, inexplicável<br />
para as suas amigas e suas confi<strong>de</strong>ntes.<br />
uiu precipício. Era impossível <strong>de</strong>scobrir<br />
o ponto exacto on<strong>de</strong> Barbone tinha pre-<br />
na obscurida<strong>de</strong> da noite.<br />
Foi então sóuieute que Paulo se lem-<br />
um leão colhido no laço, e Débora parou,<br />
o pé direito estendido, sem se atrever a<br />
A própria ausência <strong>de</strong> seu irmão Santa- parado a sua armadilha. Arriscar um<br />
Scala não parecia preoccupar muito a passo sobre a ponte, era arriscar a vida;<br />
A JUDIA 1 VATICANO bella noiva.<br />
e ainda que nesta hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero a<br />
brou da resposta que esperava <strong>de</strong> Memma<br />
e da sua mensageira, Débora.<br />
Todas as emoções <strong>de</strong> Gréant <strong>de</strong>sap-<br />
pousai-o sobre a ponte, assistindo imniovel<br />
a uma sceua inaudita, que parecia a<br />
visão d'um sonho mau.<br />
VII<br />
E' verda<strong>de</strong>, dizia-se, que um ecclesiastico,<br />
prestes a tomar or<strong>de</strong>ns, não<br />
morte po<strong>de</strong>ria ser olhada como um benelicio<br />
para Paulo Gréant, uma excitação<br />
pareceram <strong>de</strong>ante d'esta, que uma horrível<br />
fatalida<strong>de</strong> fazia nascer; Débora corria<br />
O Mitry tinha <strong>de</strong>sapparecido com a<br />
prancha <strong>de</strong>slocada; mas por uiu d'estes<br />
Vespera <strong>de</strong> noivado<br />
estaria convenientemente 110 meio <strong>de</strong> uin<br />
baile tão mundano.<br />
<strong>de</strong> vingança e <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> infernal<br />
o impellia, mau agrado seu, para esta<br />
cegamente para a ponte que ia subvertel-a,<br />
á sua passagem, numa armadilha<br />
esforços tentados nos momentos supremos<br />
pelos homens ou animaes, alcançou<br />
Ao ver-se a alegria, a graça, a obse- Aliual, a» reflexões, as conjecturas, festa odiosa, e lhe prohibia um suicídio infernal que lhe nao fóra <strong>de</strong>stinada. com as fauces a ma<strong>de</strong>ira intacta e ahi<br />
quiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi, tomar-se-ia pelo<br />
heroe d'esta festa nupcial; parecia que<br />
Talormi ia <strong>de</strong>sposar Memma. Multiplicava-se<br />
a bordo da fragata; era elle quem<br />
jecebia as senhoras, quem corrigia os<br />
<strong>de</strong>feitos das ornamentações, quem vigiava<br />
pela diítribuição imparcial dos sorvetes,<br />
quem indicava as quadrilhas á orchestra<br />
do lheatro Carlo Felice, quem, a cada<br />
os mysterios, não podiam dominar no<br />
meio vertiginoso d'uma noite daquellas;<br />
a musica arrebatava tudo, enchendo as<br />
cabeças <strong>de</strong> <strong>de</strong>lirio e produzindo uma<br />
febre invencível <strong>de</strong> dançar.<br />
A' distancia a que se encontrava,<br />
Paulo não podia appreheu<strong>de</strong>r todas as<br />
minuciosida<strong>de</strong>s intimas do baile da fragata;<br />
mas o que elle via, o que ouvia,<br />
<strong>de</strong> absurda complacência, porque poria A esta i<strong>de</strong>ia, Paulo soltou um grito ferrou os <strong>de</strong>ntes leoninos, agitando ao<br />
muito a sua vonta<strong>de</strong> Memma e Ritter, <strong>de</strong> terror, seguido duma palavra estri- mesmo 'tempo os membros anteriores<br />
promptos a alegrarem-se com a sua morte. <strong>de</strong>nte que or<strong>de</strong>nava a Débora que paras- para os lazer subir a altura da ponte.<br />
INao era um cadaver retirado do fundo se. Mas o vento que soprava nas arvores Gréant correu então em soccorro do<br />
d'um precipício que era necessário levar- e os latidos do Mitry abafavam a voz <strong>de</strong> cão, apezar das oscilações temerosas<br />
llies como presente <strong>de</strong> núpcias; era um Paulo.<br />
d um troço <strong>de</strong> prancha mal pregada,<br />
espectro da meia noite, paílido e formi- Débora caminhava sempre, com uma emquaiito Débora, <strong>de</strong> pé e com as mãos<br />
dável, que <strong>de</strong>via surgir do mar sobre o alegria iouca e gargalhadas que as gen- postas, orava com fervor, não se atre-<br />
navio em festa, e prodigalisar taes tilezas do cao provocavam. Greaut não vendo a retirar os olhos do ceu.<br />
uma dos suas phrases, dirigia um galante era sutlicienle para levar o seu <strong>de</strong>sespero<br />
madrigal á elegancia <strong>de</strong> íViemma, a trium- ao ultimo paroxismo: os seus ouvidos<br />
phante Nereida, a rival <strong>de</strong> Amphitrite, não supportavam ja as erupções d'esta<br />
a irmã <strong>de</strong> Thetis, a- Cleópatra da galera musica longínqua, esle grito intolerável<br />
<strong>de</strong> Actium; e não <strong>de</strong>ixava nunca, ao <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, esle hymno <strong>de</strong> sensualida-<br />
passar <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> Van-Ritter, <strong>de</strong> lhe <strong>de</strong> nupcial, que annunciava a uma cida-<br />
dizer o famoso verso <strong>de</strong> Petrarcba: <strong>de</strong> inteira o orgulho d'um só homem e<br />
insultos, taes insultos, taes espantos,<br />
que toda es=a gente em <strong>de</strong>lírio, esse<br />
aparelho <strong>de</strong> voluplosida<strong>de</strong> nupcial, esse<br />
baile tríumphante se <strong>de</strong>smoronasse na<br />
vergonha e na <strong>de</strong>solação.<br />
Do lado da quinta lizeram se ouvir<br />
os latidos alegres d'um cão. Paulo <strong>de</strong>s-<br />
hesitou mais; saltou do limiar do mirante Paulo agarrou o Mitry pelo pescoço<br />
para a extremida<strong>de</strong> da ponte, bem <strong>de</strong>ci- largo e veloso; levantando o do lado<br />
dido a aifrontar tudo paru salvar as do mirante, favoreceu o esforço do cão<br />
duas viclimas, porque neste momento o e viu o cair sobre um terreno solido e<br />
Mitry excitava quasi tanto interesse como seguro.<br />
a sua joven dona.<br />
Paulo <strong>de</strong>u alguns passos sobre a<br />
a festa da sua voluptuosida<strong>de</strong> insolente. viou-se um pouco do peso das suas com- ponte, sentiu estalar a ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>baixo<br />
Bene<strong>de</strong>tto sia questo giornol<br />
Paulo Greaut precipitou-se para fora moções para prestar um ouvido attento dos pes, e viu abaixo d'elle um abysmo<br />
do mirante, como se não tivesse obstá-<br />
E o cândido hollan<strong>de</strong>z, ébrio <strong>de</strong> feculo neuhum a encontrar 110 seu caminho;<br />
lecida<strong>de</strong>, procurava palavras com que á vista da ponte, lemhrou-se cie Uarboue.<br />
lhe respon<strong>de</strong>r, mas. não achava nada. A sombra das arvores visinhas projeçtaao<br />
ruído que cada vez se approximava negro como uma bocca do inferno. No<br />
mais, e bem <strong>de</strong>pressa percebeu no mas- niesuio instante o Mitry, excitado por<br />
siço sombrio um vestido branco que se DeOora, saltou primeiro, e o pezo do<br />
movia na direcção do mirante.<br />
molosso fez girar a prancha <strong>de</strong> Barbone<br />
Impresso ua TypograplUa<br />
Operaria — Largo da Freiria u.®<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
G OIMBHA.
ANNO I — x." 55 O DEFEMIOR DO POVO 6 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1898<br />
LIVROS<br />
Annuncios grátis reeebeudo-se<br />
um exemplar.<br />
HISTOlllIiPÍlGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schcefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mim 2S SAMPAIO OTO)<br />
Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>feso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaelis <strong>de</strong><br />
Yasconcellos e dos ex. raos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delpblm <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> assigna-se nas livrarias<br />
Mesquita e Paula e Silva.<br />
A Galeria Portugueza<br />
jRevista semanal illustrada<br />
A mais notável do seu genero entre<br />
nós. Sae todos os domingos, com gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> illustrações. Collaboração<br />
Ijiteraris escolhida e variada.<br />
Cada numero <strong>de</strong> 16 paginas 40 réis.<br />
Escriptorio <strong>de</strong> redacção e administração:<br />
—Rua <strong>de</strong> D. Pedro, 1 10, 1.°—<br />
Porto.<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha 30 réis<br />
Repetições 20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Estabelecimento<br />
DE FAZENDAS BRANCAS<br />
DE<br />
JOSÉ DE CASTRO<br />
19 —Largo do Príncipe D. Carlos —23<br />
COIMBRA<br />
103<br />
jpsta easa acaba <strong>de</strong> receber<br />
£•4 um magnifico sortido <strong>de</strong> armures<br />
pretas e cor, tudo novida<strong>de</strong>, merinos<br />
pretos pura lã, flanellas <strong>de</strong> lã pretas<br />
e <strong>de</strong> cores, chailes <strong>de</strong> merino preto,<br />
mantas e sfngellos lenços <strong>de</strong> seda brancos<br />
e <strong>de</strong> côr, mantilhas <strong>de</strong> seda pretas,<br />
e côr <strong>de</strong> creme; além d'estes artigos<br />
tem um magnifico sortido <strong>de</strong> chitas, selim<br />
percales, zephyres, flanellas <strong>de</strong> algodão<br />
<strong>de</strong> côr e brancos, gravatas pretas e côr,<br />
toalhas e guardanapos <strong>de</strong> linho adamascado,<br />
goslos lindíssimos, pannos patentes,<br />
famílias, ditas <strong>de</strong> linho <strong>de</strong> Iodas as<br />
larguras, chailes <strong>de</strong> côr, alta novida<strong>de</strong>,<br />
collares, perfumarias, riscados, oxfords,<br />
e muitos mais artigos que é impossível<br />
mencionar, mas as pessoas que se dignarem<br />
visitar<br />
ver.<br />
esta casa lerão occasião <strong>de</strong><br />
PECHINCHA!! —Mais <strong>de</strong> 200 cache-nez<br />
<strong>de</strong> metro, gostos e côres lindíssimas<br />
que eram <strong>de</strong> 1$200 a 500!! capuchões<br />
<strong>de</strong> malha <strong>de</strong> lã que eram <strong>de</strong><br />
1$500 a 500!! aventaes <strong>de</strong> phantasia<br />
que eram <strong>de</strong> 600 a 240!! velludilhos<br />
<strong>de</strong>^côr a 300 o metro: luvas <strong>de</strong> fio <strong>de</strong><br />
escocia a 40! !l Boinas <strong>de</strong> pelúcia para<br />
ereanças que eram <strong>de</strong> 2$000 a 500! !<br />
além d'isto ha muitos mais para saldar. É<br />
aproveitar porque isto não é phantasia.<br />
TMMIIA11J, A, CAIOINAC<br />
14, Largo <strong>de</strong>nunciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 429<br />
CORKESPONDENTE EM COIMBRA<br />
AM 10 mi SE m u BASTO-BUA m SAFATEISOS, 2B A SS<br />
OFF1CINA A VAPOR NA RIREIRA DO PAPEL<br />
ESTAMPARIA MECHA NICA<br />
g HP inge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />
1. feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />
vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C. a<br />
N. B. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo<br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
Tintas para ess^evei» <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando<br />
dos fabricantes inglezos, ailemães e francezes. Preços inferiores<br />
A LA VILLE_DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Coroas e Flores<br />
IE 1 . D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251— Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRINCtfS E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JQÀO BOOSIBIKS mu, SDCCESSOB<br />
17—ADRO DE CIMA. —20<br />
POMAM m m DESPES g EMPIGENS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
1. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos,<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL Drogaria Areosa<br />
»<br />
COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo SÇ Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos— Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
L I I F L I I<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2 . 0 0 9 : 0 3 0 ^ 0 0 0 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, I.°<br />
100<br />
P M J O T O R<br />
(OFFICINA)<br />
S i r ^ V A M O U T I N H O<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
gíncarrega-se da pintura <strong>de</strong> tabolctas, casas, douraçôes<br />
<strong>de</strong> egrejas, forrar easas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cidaile como em toda a provinda.<br />
vfta mesma ofllcina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, inoldiiraV^para<br />
caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
MMIIIA DI «MOS •TA®<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 1.900:000^000<br />
J<br />
FUNDO DE R E S E R V A<br />
ItÉIS 91:000^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
2<br />
Praça do Commercio n.° il-l."<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
1 7 - Â D E O D E C I M A - 2 0<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
G O I X V I 3 3 SFL<br />
RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junlo<br />
Á e a relalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>s-<br />
conlo nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, gtacé e setim, em todas as côres e larguras. Eças dou,radas<br />
para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />
JULIAO ANTONIO D'ALMEÍDÁ<br />
20<br />
Rua do Sargento-Mór<br />
8 M ° 8 e u a n t '8° estabelecimento<br />
Wl concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portugueza,<br />
pelos seguintes preços:<br />
Guarda sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2/000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis. Guarda-sol para senhora, 1$700<br />
réis. Sombrinhas pjra ditas, 1^500 réis<br />
24<br />
m m z i í ss m : m<br />
FIDELIDADE<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Capital ri. 1.344:000^000<br />
70 I?» 1 » companhia, a mais po-<br />
& <strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> Portugal, toma seguros<br />
contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobílias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong>—Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinha?, n.° 45.<br />
PHARMACIA<br />
en<strong>de</strong>-se, em bom local e bem<br />
T afreguezada. Carla a J. E.,<br />
drogaria<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
Villaça, rua Ferreira Borges •—<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 & ujjusto IVuiies «los San-<br />
JPâ tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
A N T O N I O V E I G A<br />
Latoeiro dtamarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS—COIMBRA<br />
^ p xec««ta-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />
K*t carimbos em todos os gene<br />
ros, sinetes, fac-similes e monogranamas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> cm tampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
amarella e branca. — Prateia-se lodo o<br />
objecto <strong>de</strong> met.al novo ou usado.<br />
UIAMVNTS<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para l§93.<br />
Slase longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
mi m mm§ SE mm<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadrant»<br />
71 ¥ «««das pelo preço da Fabrica.<br />
Envia' catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a pronipto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicyclelas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
C A S Â D E P E N H O R E S<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
g,, anpresla-se dinheiro sobre<br />
£•4 objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
yalor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 0 — COIMBRA.<br />
O DEFENSOR 00 POVO<br />
(PUBI.ICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, i.®<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
K D I T O B<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno....;.. 20700<br />
Semestre.,..<br />
Trimestre...,<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
I$3o0<br />
08Q<br />
Sem estampilha<br />
Anno 20400<br />
Semestre.... 10200<br />
Trimestre ..... 600
Lieiensor Pnvn<br />
O^ T ^ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 76<br />
Golpe <strong>de</strong> Estado<br />
Lentamente, a pouco e pouco,<br />
num trabalho <strong>de</strong> sapa, vae-se forjando,<br />
na sombra, um movimento<br />
<strong>de</strong> retrocesso na nossa vida politica,<br />
ten<strong>de</strong>nte a concentrar nas mãos<br />
d'um só homem os elementos do<br />
po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> força, que, numa socieda<strong>de</strong><br />
bem consliluida, <strong>de</strong>vem pertencer<br />
a diversos orgãos, separados<br />
entre si para garantia da sua<br />
acção.<br />
Mas apezar da opacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
que procuram revestir esse movimento,<br />
que se vae operando em ondulações<br />
subtis <strong>de</strong> verme cautelloso,<br />
todavia não <strong>de</strong>ixa elle <strong>de</strong> se fazer<br />
notar aos que da apparencia<br />
dos phenomenos <strong>de</strong>scerem á investigação<br />
da causa latente que os<br />
produz. Também á superfície serena,<br />
tranquilla, d'um lago, apparecem,<br />
por vezes, ondulações ligeiras,<br />
quasi <strong>de</strong>sapercebidas, como que <strong>de</strong><br />
um bafejo tenue da brisa, e, comtudo,<br />
a causa está em movimentos<br />
<strong>de</strong>sconhecidos que se operam na<br />
profundida<strong>de</strong> das aguas.<br />
É, precisamente, o que agora<br />
se dá no nosso meio social.<br />
Des<strong>de</strong> que um ex-minislro <strong>de</strong><br />
estado, que tem, até hoje, revestido<br />
todas as formas dó i<strong>de</strong>al politico,<br />
partindo das concepções socialistas<br />
francamente confessadas e largamente<br />
<strong>de</strong>fendidas, e passando, por<br />
uma gradação ,constante, das theorias<br />
mais avançadas e radicaes até<br />
ás mais estreitas e retrogradas,<br />
aconselhou ao rei a formula do governo<br />
pessoal, — levado, por certo,<br />
por essas manifestações atavicas tão<br />
claramente affirmadas pelas leis da<br />
hereditarieda<strong>de</strong>,— <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, parece,<br />
o rei sentiu-se dominado por<br />
esses vãos pruridos <strong>de</strong> governo pessoal<br />
e começou a <strong>de</strong>sempenhar nos<br />
negocios públicos uma acção incompatível<br />
com a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
rei constitucional.<br />
É a eloquencia dos factos, para<br />
mostrar o que basta lembrar as peripécias,<br />
contadas baixinho, que se<br />
<strong>de</strong>ram com a organisação do actual<br />
ministério, em que se atlen<strong>de</strong>u menos<br />
ás indicações da opinião do que<br />
ás imposições d'um personagem<br />
eminentemente collocado, o primeiro<br />
funccionario da nação; e em seguida<br />
temos os actos não menos<br />
frisanles d'um ministro da corôa, o<br />
que mais pô<strong>de</strong> dispôr <strong>de</strong> elementos<br />
<strong>de</strong> força e <strong>de</strong> resistência, actos<br />
que evi<strong>de</strong>nceiam a intenção <strong>de</strong> captar<br />
esses elementos — por meio<br />
<strong>de</strong> largas promoções injustificadas<br />
e ruinosas; benesses que as circumslancias<br />
financeiras do paiz não<br />
comportam; auginento da força publica,<br />
d'uma necessida<strong>de</strong> mais que<br />
problemática, quando o eífectivo<br />
militar <strong>de</strong>via ser reduzido; collocação<br />
á frente d'um corpo do exercito,<br />
o mais fiel ás instituições, dizem<br />
elles, d'um homem <strong>de</strong> plena confiança<br />
do paço; substituição dos<br />
membros d'uma commissão militar<br />
importante, a commissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza,<br />
por outros privados das camarilhas<br />
reaes, parentes e amigos dos<br />
parentes e amigos do rei...<br />
Tudo isto mostra, na eloquen-<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO X A V ^ A V ^ V V /<br />
te approximaçao dos factos, que ha<br />
uma intenção reservada predominante<br />
neste modo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r; da<br />
pru<strong>de</strong>nte analyse d'estes phenomenos<br />
chega-se a <strong>de</strong>scobrir a suprema<br />
força que os occasionou, a lei<br />
que os subordina, o centro <strong>de</strong> que<br />
elles são uma irradiação natural—<br />
o governo pessoal do rei.<br />
*<br />
Examinemos, porém, agora,<br />
tanto quanto pô<strong>de</strong> ser permittido<br />
pela ,estreiteza do tempo e do espaço,<br />
as condições <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong><br />
do projecto ineplaniente aconselhado<br />
e soffregamenle posto em pratica.<br />
Governo pessoal é uma formula<br />
repugnante nas socieda<strong>de</strong>s hodiernas,<br />
atlenlaloria da liberda<strong>de</strong> dos<br />
povos, e, portanto, <strong>de</strong>primente e<br />
anti-civilisadora, como repressão<br />
violenta das expansões da activida<strong>de</strong><br />
social; sob este ponto <strong>de</strong> vista é<br />
inadmissível, tanto á luz dos princípios<br />
mo<strong>de</strong>rnos da sociologia, como<br />
perante a dignida<strong>de</strong> e interesses vitaes<br />
dos povos. Haverá, comtudo,<br />
circumstancias exlraordinarias e<br />
anormaes, perturbações lethiferas<br />
na vida dos povos, verda<strong>de</strong>iros estados<br />
palhologicos sociaes, que justifiquem<br />
e exijam até essa panacêa<br />
do governo pessoal ?<br />
Não ha. Nos tempos d'hoje não<br />
é um homem, por valida que seja<br />
a sua constituição, por perspicua<br />
que seja a sua intelligeiícia, seja<br />
qual fôr a acuida<strong>de</strong> das suas vistas,<br />
que, por si só, lenha hombros sufíicienlemente<br />
robustos para arcar<br />
com a empreza superior da reorganisação<br />
d'um povo. Quando uma<br />
socieda<strong>de</strong> chega, como a nossa, ao<br />
ultimo grau <strong>de</strong> abatimento moral,<br />
á prostração mórbida <strong>de</strong> todas as<br />
suas forças, só homens, e não um só,<br />
<strong>de</strong> larga envergadura moral, pura<br />
austerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracteres, uina força<br />
intransigente <strong>de</strong> consciências<br />
impollulas, po<strong>de</strong>m lomar sobre si<br />
esse encargo d'uma responsabilida<strong>de</strong><br />
esmagadora, mas, ao mesmo lempo,<br />
d'uma gloria immarcessivel para<br />
os que o aceitarem como o cumprimento<br />
recto d'um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver.<br />
Homens d'esles, on<strong>de</strong> os lemos?<br />
Vegetam, porventura, na athmosphera<br />
viciada dos paços reaes, aulicos<br />
e camarilhas <strong>de</strong> cabeças coroadas?<br />
Aifirmam-se, por acaso,<br />
nos partidos monarchicos, dominados,<br />
ha tanto lempo, pelos interesses<br />
dynaslicos, que já hoje são para<br />
elles o ar que respiram? Encontral-os-ha<br />
o rei, na cohorle que o<br />
ro<strong>de</strong>ia, se se melter na aventura do<br />
golpe <strong>de</strong> estado que vae minando,<br />
lentamente, num trabalho <strong>de</strong> sapa?<br />
Não, por certo. E a regressão<br />
ao governo pessoal, se, por infelicida<strong>de</strong><br />
se tentar, será mais uma aventura<br />
infelicíssima em que nos metterá<br />
a dynastia reinante, inicio <strong>de</strong><br />
novas calamida<strong>de</strong>s sem nome.<br />
Mas não irá por diante a aventura<br />
criminosa, porque não pô<strong>de</strong><br />
ir; não é da crassa orientação das<br />
instituições dominantes, que sahirá<br />
a reorganisação da nossa socieda<strong>de</strong>,<br />
porque do que é corrupto e immoral<br />
não pô<strong>de</strong> sahir a moralida<strong>de</strong><br />
e a perfeição.<br />
Desenganemo-nos d'islo..<br />
Notas impressionistas<br />
VI<br />
Ao campo ! Ao campo !<br />
A primavera já <strong>de</strong>sfolha gentilmente,<br />
a flux, os odores florejantes do seu toilette.<br />
Quanto <strong>de</strong> mais gracioso a Natureza<br />
aquarella no seu opulento labor artístico,<br />
tudo agora se esboça amplamente<br />
por esses campos além, colorisados d'um<br />
ver<strong>de</strong>-negro felpudo que é o elan emotivo<br />
das nossas almas nostalgicas, insaciadas<br />
<strong>de</strong> pittoresco, rúbidas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al.<br />
Aos primeiros fios quentes do sol <strong>de</strong><br />
abril como que renasce uma alma nova<br />
nas nossas almas. Por toda a parte, o<br />
campo reveste a toilette solemne dos gran<strong>de</strong>s<br />
dias <strong>de</strong> poesia; e os poetas, os pobres<br />
poetas, enlevados nas gouuches sensacionaes<br />
da mãe-Natura, alamse ao mundo<br />
mysterioso do Extasi, nas azas iriadas<br />
do Inexprimível.<br />
Plena primavera. Ao campo, ó gentes<br />
I<br />
I<strong>de</strong> ao campo. E' alli, no remanso<br />
silencioso dó rusticismo, que se aspira a<br />
seiva vital das almas raras. A vida, roçagada<br />
pelos bric-à bracs da Luxuria,reteza-se<br />
alli pela oxigenação tersa e rarefeita.<br />
As almas, doridas do cansaço da<br />
transmigração, <strong>de</strong>linhantes, spleenaticas,<br />
reanimam o perdido vigor ethico, espliacelado.<br />
Dos espíritos fremem madrigaes<br />
tocantes, esbatidos <strong>de</strong> paysagens polychromicas,<br />
que affirmam vida.<br />
Sobe-se I<br />
Estou no campo, á hora do pôr do<br />
sol. Junto d'uin pequeno arroio que<strong>de</strong>slisa<br />
brando. D'aquelle lado lica-me o<br />
poente orlado d'uma facha purpurina, escarlate.<br />
Oiro sobre azul. Ao redor uns<br />
pequenos arbustos ver<strong>de</strong>jantes que oscillam<br />
brandamente ao perpassar da<br />
brisa.<br />
O meu olhar espraia-se nesta paysagem.<br />
voluptuosa, tomificada <strong>de</strong> irisações<br />
apenninas,emquanto o meu espirito, voga,<br />
voga, pelos paramos do Ignoto, a luci<strong>de</strong>z<br />
embotada pelo rutillar das nuances picturaes<br />
I...<br />
Pouco e pouco <strong>de</strong>svanece-se a facha<br />
que purpurisa o azul. Um negro indistincto<br />
começa a esfumar levemente a<br />
paysagem com uns tons glaciaes <strong>de</strong> necropole.<br />
Avança a treva. Pela serenida<strong>de</strong> circumvagain<br />
já uns luzires subtis <strong>de</strong> vagalumes<br />
que dão a nota radiante d'uma<br />
marcha aux flambeaux, em paragem.<br />
Pelos ares retinem os accor<strong>de</strong>s d'uma<br />
musica celeste—uma orchestração meiga,<br />
tão meiga e harmoniosa que parece emanar<br />
<strong>de</strong> anjos com gargantas <strong>de</strong> veliudillw. Os<br />
grillos, os ralos, as rãs...<br />
Como é emocionante, na sua simplicida<strong>de</strong>,<br />
a exhibição nua da Natureza.<br />
Como eu me abalo, mudo e quedo, pelas<br />
regiões serenas das coisas moitas transportado<br />
em miragens aurifulgentes, na<br />
emotivida<strong>de</strong> esthelica das gran<strong>de</strong>s contemplações<br />
I<br />
Ah! I<strong>de</strong> ao campo, ó meus amigos;<br />
i<strong>de</strong> para a al<strong>de</strong>ia, reconfortar as vossas<br />
pobres almas ruidas <strong>de</strong> spleen, cariadas<br />
<strong>de</strong> pessimismo. I<strong>de</strong> 1<br />
7, abril.<br />
Gri-gri.<br />
O cabo para os Açores<br />
A procuradoria geral da corôa foi <strong>de</strong><br />
parecer, que o governo tem direito a dar<br />
como rescindido o contracto celebrado o<br />
anno passado com a companhia concessionaria<br />
do cabo submarino para os Açores,<br />
visto ella ter <strong>de</strong>ixado expirar o prazo<br />
<strong>de</strong>ntro do qual <strong>de</strong>via proce<strong>de</strong>r áquella<br />
obra.<br />
Nestes termos, o governo apo<strong>de</strong>ra-se<br />
do <strong>de</strong>posito feito, que foi <strong>de</strong> noventa<br />
contos <strong>de</strong> réis.<br />
Economias no ministério<br />
da guerra<br />
Realmente, o sr. ministro da guerra<br />
parece-nos que está mesmo á altura para<br />
fazer as economias exigidas pelos tempos<br />
que vão correndo...<br />
Aquilio é um. nunca acabar <strong>de</strong> medidas<br />
largamente economicas— elle é augmento<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas com rações <strong>de</strong> forragens<br />
e abonos para compra <strong>de</strong> cavallos ;<br />
e promoções <strong>de</strong> coronéis em larga escala;<br />
e até agora, contra a <strong>de</strong>terminação expressada<br />
lei, arrenda <strong>de</strong> mão beijada, porque<br />
não houve licitação em hasta publica, um<br />
edifício do estado — o castello <strong>de</strong> Faro,<br />
á companhia dos alcooes, por 450$000<br />
réis, havendo outros preten<strong>de</strong>ntes que<br />
offereciam maior quantia 1<br />
Um assombro, o sr. ministro da guerra;<br />
para fazer economias não ha como elle.<br />
E nós a aturarmos tudo isto, que já<br />
<strong>de</strong>scambou ha muito numa bambochata<br />
cómica, mas que vem a acabar em tragedia.<br />
..<br />
Loterias<br />
O contracto feito ha tempo entre o<br />
Estado e a Companhia Alliança das Loterias,<br />
em que o sr. Antonio Ignacio da<br />
Fonseca e outros apanharam a taluda, foi<br />
rescindido agora pelo sr. ministro da fazenda.<br />
Pela Africa<br />
A immigração dos boers no planalto<br />
<strong>de</strong> Mossame<strong>de</strong>s, vae causando serias apprehensões<br />
pelas suas consequências. Se<br />
da nossa parte se não contraposer áquella<br />
corrente uma corrente forte <strong>de</strong> colonos<br />
porluguezes, em breve dominarão os<br />
boers naquella feracissima região; activos,<br />
intelligentes e ousados, não são os bóeres<br />
povo para se ter era pouca conta.<br />
Tenha nisto o governo toda a attenção,<br />
aliás correremos o risco <strong>de</strong> vermos<br />
escapar se-nos uma das nossas mais ferteis<br />
e mais salubres regiões da Africa,<br />
aquella, talvez, mais própria para a acclimação<br />
do europeu.<br />
*<br />
No planalto <strong>de</strong> Htiilla lavra ura gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sanimo, consequência d'uma grave<br />
crise que atravessa aquella região e que<br />
é <strong>de</strong>vida á falta <strong>de</strong> chuvas, na época<br />
em que ellas mais necessarias se tornam.<br />
As searar morrem estioladas, e receia-se<br />
que esla crise se prolongue.<br />
*<br />
Foi coroada do melhor êxito a expedição<br />
ao Mulondo.<br />
O gentio abandonou as cubatas e<br />
refugiou-se na floresta; o soba Dungulo<br />
foi aprisionado.<br />
*<br />
O governo conlractou com a companhia<br />
da Zambezia a construcção e exploração<br />
das linhas telegraphicas <strong>de</strong> Quelimane<br />
e Moçambique, <strong>de</strong> Tele a Chicoa<br />
e ao Zumbo e as linhas necessarias para<br />
ligar as do territorio britannico. Dentro<br />
d um anuo <strong>de</strong>ve a companhia ter aberto<br />
á exploração' ura cabo submarino que<br />
ligue Queliraane e Moçambique, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> dois annos a linha <strong>de</strong> Tete a Chicoa<br />
e 18 mezes <strong>de</strong>pois a <strong>de</strong> Chicoa ao Zumbo.<br />
A companhia é concessionaria d'estas<br />
linhas por 25 annos, e lica sujeita ás<br />
leis e regulamentos que regem o serviço<br />
telegraphico quanto ao serviço era geral;<br />
quanto á fiscalisação e ao serviço das<br />
estações, po<strong>de</strong>m estes serviços ser <strong>de</strong>sempenhados<br />
por empregados do governo.<br />
A companhia não tem direito a subsidio<br />
algum do governo, e só á isenção<br />
<strong>de</strong> direitos pelo material que importe<br />
para a execução do contracto.<br />
Se as secções telegraphicas indicadas<br />
não forem concluídas pela companhia<br />
nos prasos do contracto, o governo tem<br />
direito a lançar mão das obras feitas,<br />
sem que a companhia poss* exigir quaesquer<br />
in<strong>de</strong>mnisações.<br />
PELOS JORNAES<br />
Cá temos <strong>de</strong> novo as Novida<strong>de</strong>s atiradas<br />
ao governo com o emprestimo dos<br />
tabacos.<br />
Será apenas o amor da justiça e da<br />
equida<strong>de</strong> ?<br />
Não toquemos no ponto que é melindroso.<br />
Mas qualquer que seja o motivo,<br />
não nos cansaremos <strong>de</strong> gritar-lhe:<br />
Para baixo que é o caminho. Só se per<strong>de</strong>m<br />
as que cairem no chão.<br />
E' já tempo <strong>de</strong> se acabar com a chucha<strong>de</strong>ira<br />
ao sr. Rurnay e do sr. Fuschini<br />
proce<strong>de</strong>r como bem' diz o referido<br />
jornal:<br />
«A conta corrente d'esse empréstimo<br />
famoso está a final na sua mão.<br />
Na sua <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia estão todos aquelles<br />
que, pela posição do cargo, <strong>de</strong>vem<br />
ter conhecimento do assumpto e <strong>de</strong><br />
guardas fieis dos documentos respectivos.<br />
Os tribunaes estão ao seu dispôr.<br />
Não lhe fàlta nenhum elemento para<br />
chamar a estreitas coutas aquelles a<br />
quem na camara indicara propositos<br />
moralisadores, tão dignos <strong>de</strong> geral applausos.»<br />
Mas é engraçada a compaixão que<br />
as Novida<strong>de</strong>s mostrara por certos homens<br />
políticos que se acham em <strong>de</strong>bito á fazenda.<br />
Ora é" <strong>de</strong> notar que é esle um dos<br />
jornaes que mais moralida<strong>de</strong> e justiça<br />
tem apregoado por esse paiz fóra. Mas,<br />
não sei porque motivo, apparece-nos<br />
agora <strong>de</strong> lagrimas nos olhos, a prantear<br />
os infelizes cansoeiros cora tiradas d'esta<br />
força :<br />
«Quem não hesitou "em enxovalhai<br />
pessoas collocadas numa situação soeial,<br />
que ,se impunha a consi<strong>de</strong>rações<br />
para a medíocre urbanida<strong>de</strong> d'um aviso<br />
prévio.»<br />
Ora vejam que pena! Pois que melhor<br />
aviso queriam as Novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que<br />
se saber que brevemente ia sair o <strong>de</strong>creto,<br />
mandando cobrar as dividas á fazenda<br />
que o collega reputa em:<br />
«Algumas centenas <strong>de</strong> mil réis,<br />
que andavam <strong>de</strong>moradas na magra<br />
bolsa <strong>de</strong> vários contribuintes remissos.»<br />
-<br />
E' realmente d'uma imaginação fertellissiraa,<br />
sim senhor!<br />
Quem diabo se lembraria <strong>de</strong> dizer,<br />
por exemplo, que o sr. Rarjona, estava<br />
<strong>de</strong>morado com a fazenda ?<br />
Só as Novida<strong>de</strong>s !<br />
*<br />
O Tempo apreciando um artigo das<br />
Novida<strong>de</strong>s em que o colloca <strong>de</strong> morrão<br />
aceso em frente do governo, diz:<br />
«É ao lado do governo cora ramo<br />
<strong>de</strong> oliveira na mão.»<br />
E cal<strong>de</strong>irinha na oulra.<br />
São engraçados estes monarchicos.<br />
Mas infelizmente é uma graça que<br />
bem cara nos tem custado e continuará<br />
a custar.<br />
Assim a proposito das questões dos<br />
credores externos diz o referido jornal :<br />
«Uma questão que só se tornou<br />
grave pelas cabeçadas dos regeneradores.<br />
Depois do governo apurar pelo<br />
orçamento o que pô<strong>de</strong> dar aos credores<br />
externos, é que o paiz po<strong>de</strong>rá preseneear<br />
o espectáculo das cabeçadas<br />
regeneratorias.»<br />
Não fallando em todos os outros que,<br />
para festas da politica, empenharam a nação<br />
e empobreceram o thesouro.<br />
São todos uma belleza I<br />
Reclamações<br />
Contra o âugmento do rendimento<br />
collectavel <strong>de</strong> prédios urbanos, po<strong>de</strong>m<br />
formular-se as <strong>de</strong>vidas reclamações até ao<br />
dia 15 <strong>de</strong> maio, nos lermos do artigo<br />
331 0 do regulamento <strong>de</strong> 85 d'agosto <strong>de</strong><br />
1881.<br />
«O Commercio»<br />
De Lourenço Marques recebemos a<br />
visita d'este nosso coliega, que agra<strong>de</strong>cemos.
ANNO I - N . ' 96 O DEFENSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
C R Y S T A E S<br />
Deslumbramentos<br />
Mylady, é perigoso contemplal-a<br />
Quando passa aromalica o normal,<br />
Com seu typo tão nobre e tão <strong>de</strong> sala,<br />
Com seus gestos <strong>de</strong> neve e <strong>de</strong> metal.<br />
Sem que nisso a <strong>de</strong>sgoste ou <strong>de</strong>senfa<strong>de</strong>,<br />
Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas<br />
Eu vejo-a, eooi real solemnida<strong>de</strong>,<br />
Ir impondo toilettes complicadas I . . .<br />
Em si tudo me attrahe como um thesoiro:<br />
O seu ar pensativo e senhoril,<br />
A sua voz que tem um timbre <strong>de</strong> oiro<br />
E o seu nevado e lúcido perfil.<br />
Ah I Como me estontéa e me fascina ...<br />
E é, na graça distincta do seu porte,<br />
Como a Moda supérflua e feminina,<br />
E tão alta e serena como a Morte I ...<br />
Eu hontem encontrei-a, quando vinha,<br />
Britannica, e fazendo-me assombrar;<br />
Gran<strong>de</strong> dama fatal, sempre sósinha,<br />
E com firmeza e musica no andar I<br />
O seu olhar possue, num jogo ar<strong>de</strong>nte,<br />
Um archanjo e um <strong>de</strong>monio a illuminal-o;<br />
Como um florete, fere agudamente,<br />
E affaga como o pêllo d'iim regalo I<br />
Pois bem. Conserve o gelo por esposo,<br />
E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,<br />
O modo diplomático e orgulhoso<br />
Que Anna d'Áustria mostrava aos cortezãos.<br />
E emflm prosiga altiva como a Fama,<br />
Sem sorrisos, dramatiea, cortante;<br />
Que eu procuro fundir na minha chamma<br />
Seu ermo coração, como a um brilhante.<br />
Mas cuidado, Mylady, não se afoite,<br />
Que hão <strong>de</strong> acabar os barbaros reaes;<br />
E os povos humilhados, pela noite,<br />
Para a vingança aguçam os punhaes.<br />
E um dia, ó flôr do Luxo, nas estradas,<br />
Sob o setim do Azul e as andorinhas,<br />
Eu hei <strong>de</strong> vêr. errar, allucinadas,<br />
E arrastando farrapos — as rainhas I<br />
CESÁRIO VERDE.<br />
LBTTRAS<br />
Sempre bella<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Quando se <strong>de</strong>cidiu a fazer a sua pequena<br />
viagem á Bretanha, Montbrun chegara<br />
ao ponto em que o namorado, já<br />
farto, pergunta a si mesmo se é preferível<br />
mandar 10:000 francos num sobrescripto<br />
á dama que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser amada,<br />
ou se convém mais constituir-lhe um pequeno<br />
rendimento 'vitalício <strong>de</strong> 1:500<br />
francos. Apenas installado na carruagem<br />
que o transportava para longe <strong>de</strong> Paris,<br />
Montbrun não teve senão um pensamento<br />
único; saber como havia <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r<br />
para não ler a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a vêr<br />
Paula Salimberi.<br />
Acabada a missa começavam os fieis<br />
a sahir.<br />
Appareceram dois ou tres homens,<br />
que apenas se cobriram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haverem<br />
transposto a porta do logar santo.<br />
Em seguida as mães e as meninas, algumas<br />
matronas já pesadas, <strong>de</strong> touca, e,<br />
por excepção, algum tabellião ou magistrado.<br />
Pharmaceutico, nenhum.<br />
De repente Monthrun estacou. No<br />
meio d'uma onda <strong>de</strong> gente apparecera-llie<br />
a cabeça <strong>de</strong> uma joven. Seria uma miragem,<br />
uma illusão? Ou estaria realmente<br />
vendo aquelle rosto i<strong>de</strong>al? Nunca nos<br />
seus sonbos mais ar<strong>de</strong>ntes, imaginara<br />
coisa alguma que se approximasse d'aquellas<br />
linhas que tinham o quer que<br />
fosse <strong>de</strong> superior ao i<strong>de</strong>al humano.<br />
Era a pureza calma, a serenida<strong>de</strong><br />
christã, a virginda<strong>de</strong> radiosa, uma nuvem<br />
<strong>de</strong>sprendida do sopro que no principio<br />
fluctuava sobre as aguas. Era uma essencia<br />
d'alma.<br />
Montbrun perguntava a si mesmo se<br />
era possível que existisse uma creatura<br />
assim. Apenas se atrevia a respirar, temendo<br />
que aquelle lyrio cabido do corpete<br />
da Virgem Maria tomasse <strong>de</strong> novo<br />
o caminho dos ceus. E a joven <strong>de</strong>scia os<br />
<strong>de</strong>graus da egreja, sorrindo a uma mulher<br />
já <strong>de</strong> certa eda<strong>de</strong>, sua mãe certamente.<br />
Montbrun seguiu as duas mulheres<br />
instinctivamente, sem saber o que fazia.<br />
Entraram para uma pequena casa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>stíssima<br />
apparencia. Fixou o nome da<br />
rua. Voltando á hospedaria, Montbrun<br />
procurou colher informações.<br />
— E' uma liuda menina. E' ma<strong>de</strong>moiselle<br />
Lara<strong>de</strong> I O pae era um excelente<br />
homem que foi rico antes da Revojução;<br />
<strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> pae para filho, foram<br />
ven<strong>de</strong>ndo ora um pedaço <strong>de</strong> um prado,<br />
ora uma parcella <strong>de</strong> terreno, para po<strong>de</strong>rem<br />
manter a antiga posição. Por fim o<br />
sr. <strong>de</strong> Mira<strong>de</strong>, coitado, retirára-se para<br />
uma casita que fôra noutros tempos liabilada<br />
pelo inten<strong>de</strong>nte da familia, e alli<br />
vivia muito mo<strong>de</strong>stamente com sua mulher,<br />
da família <strong>de</strong> Laroche-Glaieul, e<br />
sua (ilha Joanna. Restar-lhe-hiam, quando<br />
muito, uns 1:200 a 1:500 francos <strong>de</strong><br />
rendimento, mas a esposa e a filha sabiam<br />
viver com muito pouco, e elle, o<br />
pobre velho, privava-se até <strong>de</strong> rapé.<br />
O viscon<strong>de</strong> dirigiu-se em carta ao<br />
seu tabellião em Paris, pedindo-lhe que<br />
escrevesse quanto antes a algum dos<br />
seus collegas <strong>de</strong> Vitré e lhe fizesse saber<br />
que elle, Montbrun, pertencia a uma<br />
boa família, era tido- na conta <strong>de</strong> um<br />
perfeito cavalheiro e gozava <strong>de</strong> uma rasoavel<br />
fortuna, <strong>de</strong>pois d'isto o tabellião<br />
<strong>de</strong> Vitré <strong>de</strong>veria apresental-o a uma família<br />
em cujo seio esperava encontrar a<br />
felicida<strong>de</strong>.<br />
Passaram-sè as coisas como as havia<br />
disposto o viscon<strong>de</strong>. Foi apresentado,<br />
cumprimentou timidamente ma<strong>de</strong>moiselle<br />
<strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>, voltou aquella casa e foi aceite<br />
No entanto, puzeram-lhe algumas condições<br />
ao casamento. O viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria<br />
acompanhar sua mulher á missa todos os<br />
domingos, e commemorar religiosamente<br />
pelo menos a Paschoa. Montbrun esteve<br />
por tudo quanto lhe pediram. Passou,<br />
como num verda<strong>de</strong>iro extasis, as poucas<br />
semanas que prece<strong>de</strong>ram o dia fixado<br />
para o seu casamento.<br />
Quando, <strong>de</strong> volta ao hotel, se achava<br />
a sós, estremecia, lembrando-se que se<br />
não tivesse ido a Vitré, Joanna teria talvez<br />
casado com outro. Mas não, ha leis<br />
escriptas no ceu; Joanna esperava-o. Elle<br />
tinha ido alli, porque assim <strong>de</strong>via ser.<br />
No melhor do seu sonho, recebeu por<br />
intermedio do tabellião, — por isso que<br />
occultava cuidadosamente a todos qual o<br />
sitio em que se refugiára,—um a carta <strong>de</strong><br />
um dos seus amigos. Esse amigo, membro<br />
do Petit Club, escrevia-lhe que Paula<br />
Salimberi o procurava por toda a parte,<br />
proferindo contra elle terríveis ameaças.<br />
Montbrun encarregou o amigo <strong>de</strong><br />
entregar 40:000 francos á transleverina,<br />
annunciaudo-lhe que elle partira para a<br />
America e que elia não o tornaria a vêr.<br />
Chegou finalmente o gran<strong>de</strong> dia.<br />
Fôra já assignado o contracto. Tinham<br />
vindo dois amigos da famiiia Monthrun<br />
para servirem <strong>de</strong> testemunhas do noivo,<br />
e, a 10 <strong>de</strong> setembro, ás 11 horas da<br />
manhã, metteram-se nas carruagens para<br />
irem á muirie. Monthrun e mais duas ou<br />
tres pessoas conversavam com o ofHcia 1<br />
da administração civil, quundo um grilo<br />
agudo, seguido <strong>de</strong> um prolongado elamor<br />
veiu aterrorisal-os.<br />
Correram ás janellas. No pateo havia<br />
um rumor estranho.<br />
— O que foi que succe<strong>de</strong>u ? perguntou<br />
Montbrun, como que estrangulado<br />
pela commoção.<br />
— Uma mulher, uma <strong>de</strong>sconhecida,<br />
atirou com uma porção <strong>de</strong> vitríolo acara<br />
da menina <strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>. A pobre creança<br />
ficou com a meta<strong>de</strong> do rosto queimado, e<br />
está cega <strong>de</strong> um olho. Vão leval-a para<br />
casa do pae.<br />
Montbrun, como fulminado, cahiu<br />
para traz <strong>de</strong>samparadamente.<br />
Em vão'tentou <strong>de</strong>pois, durante o dia,<br />
entrar em casa da noiva.<br />
— Digam lhe que não me torna a<br />
vêr nunca mais, exclamava Joanna, <strong>de</strong>rramando<br />
lagrimas que escorriam por sobre<br />
chagas vivas, queimando-a como se<br />
fossem logo.<br />
O sr. <strong>de</strong> Montbrun estava dominado,<br />
prostrado pela dôr. As ondas rubras da<br />
febre assaltavam-llie o cerebro; sentia<br />
aperíar-se-lhe o coração, como se estivesse<br />
mettido num torno. No dia seguinte,<br />
parecia ter tomado uma resolução.<br />
Expediu para Paris um longo telegrainma.<br />
A volta do correio recebeu um pequeno<br />
embrulho.<br />
A <strong>de</strong>sconhecida, presa logo em seguida<br />
ao erime, <strong>de</strong>clarára chamir-se<br />
Paula Salimberi e ter assim procedido<br />
por espirito <strong>de</strong> vingança.<br />
Mootbrtui fejhou-áe no quarto. Abriu o<br />
embrulho que continha uma certa quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pó branao. Pegou num lenço e<br />
dohróu-o ao comprido para fazer d elle<br />
uma venda; <strong>de</strong>pois mediu duas colheres<br />
<strong>de</strong> pó branco, <strong>de</strong>ilou-as no leuço e, applicando<br />
este sobre os olhos, atou-o fortemente<br />
na nuca:<br />
Duas horas <strong>de</strong>pois, chegava <strong>de</strong> carruagem<br />
em frente da casa do sr. <strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>.<br />
Desceu, encostado ao braço do tabellião<br />
<strong>de</strong> Vitré.<br />
— Não entre, disse-lhe a sr.* <strong>de</strong> Lara<strong>de</strong>.<br />
Seria a morte para Joanna.<br />
— Diga-lhe que pódè receber-me,<br />
respon<strong>de</strong>u o sr. <strong>de</strong> Montbrun. O meu casamento<br />
tera logar logo que ella possa<br />
sahir. Pô<strong>de</strong> receher-me... A sua imagem<br />
permanecerá eternamente para mim<br />
o que era... Estou cego !<br />
O sr <strong>de</strong> Monthrun e sua esposa reliraram-se<br />
para a sua solidão <strong>de</strong> Juvisy.<br />
Joanna adora aquelle que por amor d'ella<br />
renunciou á rista do ccu, dos campos e<br />
das flores. Quanto ao cego, conservou intacta<br />
a imagem da virgem i<strong>de</strong>al, que <strong>de</strong>scia<br />
as escadas da egreja <strong>de</strong> Sainl-Martin-stir-<br />
Vitré.<br />
E' feliz, porque, em a noite sem fim<br />
a que se con<strong>de</strong>mnou, vè-a sempre joven,<br />
sempre bella.<br />
Aureliano Scholl.<br />
Mau!<br />
Terminou o prazo em que o sr. Barjona<br />
<strong>de</strong> Freitas <strong>de</strong>via pagar as contribuições<br />
em divida ao Estado ha largos annos.<br />
A ninguém, porém, consta que esse<br />
pagamento se effectuasse e collegas nossos<br />
<strong>de</strong> Lisboa affirmam que por or<strong>de</strong>m<br />
superior foram sustadas as execuções movidas<br />
contra o sr. Barjona.<br />
Para tão pouco não era preciso tanto,<br />
sr. Fuschini. Seria melhor não ter<br />
entrado na questão com ares tão arrogantes<br />
para ter agora <strong>de</strong> sahir cabisbaixo<br />
e contriclo. Quando não ha estofo<br />
para gran<strong>de</strong>s comuiettimentos é melhor<br />
procurar um meio termo.<br />
Vá, sr. Fuschini, revele-se: ou sim<br />
não !<br />
Agora é que eiles berram<br />
Pelo ministério da fazenda foi sustada<br />
a verba para <strong>de</strong>spezas <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />
no estrangeiro.<br />
Attingia a bonita conta <strong>de</strong> 180 contos<br />
<strong>de</strong> réis; não era nada mau, mas ainda<br />
insuflieiente este osso para os fazer<br />
calar.<br />
Agora, que nem isto se lhes atira, é<br />
que ha <strong>de</strong> ser bonito vêl-os a <strong>de</strong>scoinporem-nos<br />
na primeira occasião...<br />
Mas antes assim, porque os da tal<br />
publicida<strong>de</strong> comiam a isca e ficavam-se<br />
a rir do anzol.<br />
Característico<br />
O seguinte facto, que transcrevemos<br />
d'uma corespon<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Loanda para o<br />
nosso excellente collega da capital — A<br />
Purnilia Portugueza — caracterisa bem o<br />
modo como em Africa correm as nossas<br />
coi-as.<br />
«Havia em Évora um cabo <strong>de</strong> policia<br />
sem nome, sem instrucção e sem protecção<br />
; mas um dia prestou um serviço<br />
qualquer a um doutor daquella cida<strong>de</strong>,<br />
que tinha valor politico. O policia, em<br />
vista do serviço prestado, pedia-lhe um<br />
emprego, com muitos rogos...<br />
O doutor para se ver livre d'elle,<br />
disse-lhe, só se quízeres ir para a Africa,<br />
pensando que o assustava com a palavra<br />
Africa; porém, não aconteceu assim,<br />
porque o policia, respou<strong>de</strong>u-lhe logo:<br />
para a Africa é que eu queria ir.<br />
O doutor escreveu a um seu amigo<br />
<strong>de</strong>putado para pedir um logar <strong>de</strong> amanuense<br />
para o pobre policia, para um<br />
ponto qualquer d Africa.<br />
E qual não foi-a admiração do doutor,<br />
quando d'alli a 8 dias recebe uma<br />
carta do seu amigo <strong>de</strong>putado, dizendo-lhe,<br />
que o seu protegido estava <strong>de</strong>spachado<br />
para um logar <strong>de</strong> amanuense em Loanda.<br />
O policia <strong>de</strong> couiente saltava ao saber<br />
do seu <strong>de</strong>spacho, dando vivas ao doutor.<br />
Pois esse pjíicia veio para Loanda,<br />
e é hoje não só amanuense, mas lambem<br />
advogado nos tribinaes d'esta cida<strong>de</strong>, já<br />
se sabe, sein conhecer cousa alguma <strong>de</strong><br />
direito, e uao admira, porque não teve<br />
estudo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> alguma apenas sabe,<br />
escrever e ler mal; o que é verda<strong>de</strong>,<br />
logico e evi<strong>de</strong>nte, é que elle lá appnrece<br />
110 tribunal com a sua toga <strong>de</strong> juriscon-<br />
sulto, e muitos africanos chamam-lhe<br />
doutor, convencidos, coitados, que na<br />
realida<strong>de</strong> seja um iillio <strong>de</strong> Minerva, da<br />
universida<strong>de</strong> dií <strong>Coimbra</strong>. Agora dizemnos<br />
que o doutor policia, não dando rego<br />
direito na labutação da advocacia, está<br />
empregado numa casa <strong>de</strong> jogo íiiicito.<br />
Isto não se com menta.»<br />
CHRONICA DE COIMBRA<br />
Com franqueza, ha occasiões em que<br />
o chronista se vê numa situação tal, que<br />
não sabe por on<strong>de</strong> começar.<br />
Procura, investiga, esquadrinha todos<br />
os cantos e recantos da vida coimbrã a<br />
ver se dá com um ou outro acontecimento<br />
que possa mais ou menos interessar<br />
; passa <strong>de</strong>pois para a politica e sempre<br />
o mesma estado <strong>de</strong> indifferentismo;<br />
até que, volvendo os olhos para os seus<br />
formosos campos, encontra o único elemento<br />
que na quadra presente se mostra<br />
cheio d'encantos e bellezas.<br />
<strong>Coimbra</strong> é talvez a cida<strong>de</strong> portugueza<br />
cujos arredores são mais pittorescos<br />
e poéticos.<br />
Rastejando-se-lhe aos pés corre o*<br />
seu <strong>de</strong>cantado Mon<strong>de</strong>go, orlado <strong>de</strong> virentes<br />
e formosas margens, formadas em<br />
gran<strong>de</strong> parte por extensos e espessos<br />
salgueiraes. Do lado opposto temos as<br />
serras sobre que assentam a Cumiada e<br />
Santo Antonio, d'on<strong>de</strong> se divisa toda a<br />
vasta extensão dos chamados campos do<br />
Mon<strong>de</strong>go.<br />
De fórma que, para on<strong>de</strong> quer que<br />
se vá, ou nos envolvemos cm tufos <strong>de</strong><br />
verdura regados pelas aguas do rio, ou<br />
divisamos panoramas d'uma belleza surprehen<strong>de</strong>nle.<br />
E d'isto ufana-se <strong>Coimbra</strong> e com razão<br />
; porque, <strong>de</strong> resto, em si é monotona<br />
e triste, com as ruas Íngremes e apertadas,<br />
on<strong>de</strong> falta o sol e a vida e abundam<br />
as suas filhas que, diga-se a verda<strong>de</strong>,<br />
valem bem mais que os proprios<br />
campos, sempre alegres e festivas, respon<strong>de</strong>ndo<br />
a um sorriso com outro sorriso.<br />
E assim se vae passando o tempo<br />
neste indilTerente viver, ora por entre<br />
os prados atapetados <strong>de</strong> boninas, ora pelas<br />
ruas cobertas <strong>de</strong> lama, sem nos importarmos<br />
já com as medidas da fazenda,<br />
já com a questão dos credores.<br />
E nisto faz bem <strong>Coimbra</strong>.<br />
Quem as anne que as <strong>de</strong>sarme.<br />
Ella que do lauto banquete politico<br />
só apanhou a estação nova e o projecto<br />
do caminho <strong>de</strong> ferro d'Arganil, tão tola<br />
seria se estivesse a quebrar lanças por<br />
dividas que não fez, ou a <strong>de</strong>gladiar-se por<br />
situações que não creou.<br />
Já lá se foi o tempo dos seus ídolos<br />
1<br />
Pegou-lhes pelas pernas e quebrou-os<br />
<strong>de</strong> encontro ás conveniências própria»,<br />
jurando e protestando junto do sacrario<br />
da vonta<strong>de</strong> popular — a urna, não adorar<br />
outro Deus, não ter outro idolo que<br />
não seja o seu <strong>de</strong>putado e presi<strong>de</strong>nte da<br />
actual vereação.<br />
Porém em compensação temol-a sempre<br />
prompta para todos os divertimentos<br />
que as emprezas theatraes hajam por<br />
bem impingir-lhe, quer pelos preços do<br />
costume, quer com alguns adicionaes, o<br />
que pouco faz ao caso, contanto que<br />
seja uma Judie, ou uma Geraldine que já<br />
nos faz crear agua na bôcca ao vermos<br />
umas gravuras que a empreza, para peccados<br />
dos homens e <strong>de</strong>speito das mulheres,<br />
tem esp.alhado por essas montras<br />
fóra.<br />
Geraldine a ajuizar pelos chromos e<br />
pelo que nos tem dito a imprensa, não<br />
é apenas uma mulher. E' um anjo, um<br />
archanjo, emfiin uma creação feita <strong>de</strong><br />
proposito para estontear a humanida<strong>de</strong>,<br />
cuja cabeça já não é dds que melhor regulam.<br />
Depois <strong>de</strong> ter colhido entliusiasticos<br />
hurrahs aos fleugmalicos yankees, veiu<br />
para a Europa encher <strong>de</strong> admiração e<br />
d'amor os pensativos teutões, tendo á sua<br />
frente o malogrado príncipe llodolpho.<br />
Em Paris, por esse mundo fóra, por<br />
on<strong>de</strong> quer que tenha passado, Geraldine<br />
tem <strong>de</strong>ixado sempre o rastro brilhante<br />
da arte e da belleza.<br />
Não se sabe bem o que mais se <strong>de</strong>ve<br />
admirar se a belleza, se a artista. Porém<br />
como esta ultima parte toca mais <strong>de</strong> perto<br />
aos artistas <strong>de</strong> mesmo genero, eu inclino-me<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, pelos olhos, pela esculptura,<br />
pela belleza da formosa americana<br />
que, a <strong>de</strong>morar-se* muito por cá, acabará<br />
por nos endoi<strong>de</strong>cer, sendo verda<strong>de</strong> o que<br />
se vê e o que se diz.<br />
Geraldine, com certeza, virá marcar<br />
um noyo período na vida tlieatral da<br />
nossa velha e poética <strong>Coimbra</strong>, como as<br />
eleições <strong>de</strong> 92 vieram marcar uni outro<br />
na sua vida politica.<br />
Eutão gritava-se: á urna, á urna,<br />
eleitores. H>je grita-se — ao Circo, ao<br />
Circo, ó geraldiuos!<br />
E não serei eu que ficarei em<br />
casa.<br />
Crise ministerial<br />
em França<br />
Depois <strong>de</strong> repetidas conferencias entre<br />
Carnot e diversos homens <strong>de</strong> Estado<br />
francezes, chegou-se, por fim, á solução<br />
da crise.<br />
O ministério ficou assim constituído:<br />
Presi<strong>de</strong>nte do conselho e ministro do<br />
interior, o sr. Dupuy; ministro dos negocios<br />
estrangeiros, o sr. Develle ; da<br />
fazenda, o sr. Peytral; da justiça, o sr.<br />
Guériu; da instrucção publica, o sr.<br />
Poincaré; do commercio, o sr. Terrier ;<br />
da guerra, o general Loizillon ; da marinha,<br />
o vice-almirante Rieunier; das<br />
obras publicas, o sr. Vielte; da agricultura,<br />
o sr. Viger.<br />
Quasi toda a imprensa franceza recebeu<br />
com <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> sympathia<br />
este ministério.<br />
Os amigos inglezes<br />
Vão-se turbando os ares no Egyplo<br />
para os nossos amigos inglezes, que veem<br />
a<strong>de</strong>nsar-sc grossas nuvens naquella atmosphera<br />
que elles teem gosado tão límpida<br />
... e tão feraz.<br />
Aos egypcios, vergados até ha bem<br />
pouco ao confortable domínio inglez, vaellies<br />
já parecendo historia aquella historia<br />
da occupaçâo, e tratam <strong>de</strong> sacudir os<br />
vampiros, o que já se vae mostrando nos<br />
conílictos recentes entre as auctorida<strong>de</strong>s<br />
egypcias e as iuglezas.<br />
Dêem-lhes, que não se per<strong>de</strong> nada ;<br />
ponham-nos na rua, que lucra o Egypto<br />
e a Europa.<br />
Graças regias<br />
A rainha <strong>de</strong> Hespanha agraciou com<br />
o collar da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Carlos III o sr.<br />
Hintze Ribeiro; e o rei <strong>de</strong> Portugal con<strong>de</strong>corou<br />
o marquez <strong>de</strong> Vega <strong>de</strong> Armijo<br />
com a grã-cruz <strong>de</strong> S. Thiago.<br />
Fruetos do tratado.<br />
Companhia real<br />
Consta que o governo está promovendo<br />
huj projecto <strong>de</strong> lei que o auclorise<br />
a tomar conta da companhia real<br />
dos caminhos <strong>de</strong> ferro, para as linhas<br />
ferreas serem exploradas por conta do<br />
Estado.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Escola Brolero<br />
O nosso collega--O Conimbricense<br />
publica em o numero <strong>de</strong> hontem a seguinte<br />
com mu nica ção do sr. miuistro<br />
das obras publicas:<br />
«Ministério das obras publicas, commercio<br />
e industria — Gabinete do ministro,<br />
5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893. —Sr. Joaquim<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho — Sua ex. a o sr.<br />
ministro das obras publicas encarrega-me<br />
<strong>de</strong> dizer a v. que <strong>de</strong>u as precisas instrueções<br />
para se organisarem as oilicinas<br />
na Escola Brotero.<br />
De v. att.° ven.° e obrigado,<br />
J. T. da Silva Bastos.»<br />
Esta resolução da ultima hora é <strong>de</strong>vida<br />
a_ um artigo d'aquelle jornal em que<br />
se pedia a organisação immediata das<br />
offiemas <strong>de</strong> trabalho pratico, annexas á<br />
Escola Brotero, chamando-se para este<br />
assumpto a attenção do respectivo ministro<br />
sr. dr. Bernardino Machado.<br />
li' pois mais um serviço que a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ve ao dislinclo jornalista, sempre<br />
na brecha em favor dos interesses <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, e mais uma prova do quaulo o<br />
sr. dr. Bernardino Machado se interessa<br />
pela instrucção artística da classe operaria.<br />
Agora, porém, que o illustrado ministro<br />
das obras publicas está disposto a<br />
completar a nossa Escola Brotero, occasião<br />
propicia era para que s. ex. a atlen<strong>de</strong>sse<br />
também á representação que ha tempos<br />
fôra enviida ao goveruo assiguada por<br />
gran<strong>de</strong> numero d operarios e na qual se<br />
pedia o restabelecimento da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />
francez.<br />
Bem sabida é a necessida<strong>de</strong> que ha<br />
<strong>de</strong> se ensinar ao operário a língua franceza,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sobre artes e offieios<br />
os livros portuguezes são raros e os que<br />
ha tão <strong>de</strong>ficientes que nada utilisam para<br />
um estudo completo; e para louvar seria<br />
se o illustrado ministro das obras publicas<br />
ao orgauisar as otlkinas creasse<br />
também a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> francez nesta Escola.<br />
A' illuslrada consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> s. ex,*<br />
<strong>de</strong>ixamos este assumpto.
AK7kO I — 96 O DEFEMIOR DO POVO » <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803<br />
Associação ( ommercial<br />
Reuniu na quinta feira a assembleia<br />
geral. Foi presente a recusa d'alguns<br />
membros que haviam sido reeleitos, e<br />
<strong>de</strong>cidido que em reunião próxima se combine<br />
a escolha dos indivíduos que hão<br />
<strong>de</strong> preencher as vacaturas.<br />
Bombeiros Voluntários<br />
Os corpos gerentes d'esta instituição<br />
benemerita projectam realisar para maio<br />
proximo uma explendida kermesse em beneficio<br />
do seu cofre.<br />
O publico <strong>de</strong>certo não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> lhes<br />
prestar toda a coadjuvação ; oxalá, porém,<br />
que esta festa não dê os prejuízos<br />
e os incommodos da passada, e que a<br />
associação possa adquirir um bom resultado<br />
a lira <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer face ás suas<br />
<strong>de</strong>spezas.<br />
Companhia equestre<br />
Foi hontem o primeiro espectáculo<br />
pela companhia <strong>de</strong> que é director o sr.<br />
Henrique Diaz, no Theatro-Circo Prin<br />
cipe Real.<br />
Não po<strong>de</strong>mos hoje fazer as nossas<br />
apreciações, mas somos informados <strong>de</strong><br />
que a companhia é no geral bem formada<br />
possuindo artistas <strong>de</strong> valor, como são :<br />
Geraldine e Emrna Gautier.<br />
Preços: Camarotes, 2(51500; ca<strong>de</strong>iras,<br />
500 ; geral, 200 réis. As creanças<br />
até 10 annos e militares sem graduação<br />
pagam meta<strong>de</strong> dos preços.<br />
Tlieatro D. Iiuiz<br />
O espectáculo em beneficio do operário<br />
funileiro, sr. Anselmo Mesquita, foi<br />
transferido, por conveniência e interesse<br />
do beneficiado, para sabbado proximo, 15<br />
do corrente.<br />
Representação<br />
Os distribuidores telegrapho-postaes<br />
d'esta cida<strong>de</strong> vão represeniar ao governo<br />
peduido-lhe para 1 serem dispensados <strong>de</strong><br />
fazer outros fardamentos, a que os obriga<br />
a nova lei.<br />
Mal remunerados como estão estes<br />
pequenos funccionarios públicos, sujeitos<br />
a <strong>de</strong>ducções nos exiguos vencimentos, é<br />
para elles onerosíssima esta <strong>de</strong>speza que<br />
os colioca em bem tristes circunistancias.<br />
O governo pratica um actQ <strong>de</strong> justiça<br />
atten<strong>de</strong>udo a esta petição, por isso mesmo<br />
que muitos dos distribuidores que<br />
ainda ha pouco tempo dispen<strong>de</strong>ram quantias<br />
em uniformes <strong>de</strong> antigo padrão, veem<br />
agora inutilisada essa verba que para<br />
elles representa um alto sacrifício.<br />
Par do reino<br />
Foi eleito por 45 votos par do reino<br />
pelo districto do Porto, o sr. dr. Souto<br />
Rodrigues, lente <strong>de</strong> Mathematica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
Pesos e medidas<br />
No proximo mez proce<strong>de</strong>r-se-ha na<br />
repartição competente d'este concelho ao<br />
alilameuto <strong>de</strong> todos os pesos e medidas.<br />
A lettra adoptada esle anno é — H.<br />
i — — •<br />
87 FoMim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A Jitíii 1 MIMi)<br />
V I I<br />
Vespera <strong>de</strong> noivado<br />
O reconhecimento do animal manifeslou-se<br />
d um modoquasi humano; abraçou<br />
o seu salvador como nós abraçamos<br />
um amigo <strong>de</strong>pois d'um gran<strong>de</strong> serviço<br />
prestado; e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter cumprido esle<br />
<strong>de</strong>ver, o cão voltou bruscamente á sua<br />
posição <strong>de</strong> quadrupe<strong>de</strong>, á voz <strong>de</strong> Débora<br />
; servindo-se então do troço da prancha<br />
como d'um trampolim iormou ura<br />
salto <strong>de</strong> pauthera, <strong>de</strong>screveu uma curva<br />
prodigiosa e cahiu aos pés <strong>de</strong> Débora,<br />
que agra<strong>de</strong>cia a Deus.<br />
Depois d esta scena violenta, Paulo<br />
e Débora conversaram ura instante, a<br />
gran<strong>de</strong> distancia; Débora tinha abandonado<br />
o baile para vir, acompanhada pelo<br />
Mitry, dar parte a Paulo <strong>de</strong> que a festa<br />
não <strong>de</strong>via realisar-se na casa <strong>de</strong> campo,<br />
mas a bordo do navio hollan<strong>de</strong>z.<br />
Memma não recusava respon<strong>de</strong>r; exigia<br />
somente <strong>de</strong> Gréant a tranquillida<strong>de</strong><br />
e a resignação necessarias para receber<br />
Juizes <strong>de</strong> direito<br />
Foram nomeados para juizes <strong>de</strong> direito<br />
substitutos, neste concelho, os srs.<br />
bacharéis Francisco Eduardo d'Almeida<br />
Leilão e Cunha, José Simões da Silva,<br />
Accacio Hypolito Gomes da Fonseca e<br />
José Joaquim Ferreira.<br />
Promoção<br />
O nosso illustrado collega da Gazeta<br />
Nacional e distincto professor <strong>de</strong> mathematica<br />
na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, sr. dr. Costa<br />
Lobo, vae ser promovido <strong>de</strong> lente substituto<br />
a catbedratico d'aquel|a faculda<strong>de</strong>.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
O sr. dr. Bernardo d'Àlbuquerque<br />
partiu na quinta feira para Lisboa, para<br />
assistir ao casamento d'uma sua sobrinha.<br />
Sua ex. a tenciona <strong>de</strong>morar-se até<br />
quinta feira.<br />
# Tem estado nesta cida<strong>de</strong> o nosso<br />
patrício, sr. Antonio Augusto da Costa<br />
Motta, que o anno passado concluiu os<br />
seus estudos na Escola <strong>de</strong> Bellas Artes,<br />
e que agora leni na capitai uma officina<br />
<strong>de</strong> esculptura.<br />
* Esteve na sexta feira nesta cida<strong>de</strong><br />
o sr. Joaquim Antonio Ma<strong>de</strong>ira, negociante<br />
em Villa Nova <strong>de</strong> Gaya.<br />
Fabricação <strong>de</strong> tintas para escrever<br />
O proprietário d'esta fabrica, sr. Alvaro<br />
Esteves Castanheira, um trabalhador<br />
incansavel, e a cujos esforços se <strong>de</strong>ve<br />
esta nova industria em <strong>Coimbra</strong>, ja distribuiu<br />
pelos seus freguezes as tabellas<br />
dos preços d'esta manufactura, na qual<br />
se lê o importante documento que abaixo<br />
publicamos, firmado por dois cidadãos<br />
auctorisados e <strong>de</strong> reconhecida competência<br />
:<br />
Joaquim dos Santos e Silva, chefe dos<br />
trabalhos práticos do Laboratorio chirnico<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
socio effectivo do Instituto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
e da Socieda<strong>de</strong> Chimica <strong>de</strong> Berlim, e<br />
socio honorário da Socieda<strong>de</strong> Pharmaceutica<br />
Lusitana; — e Charles Lepierre,<br />
engenheiro pela escola <strong>de</strong> physica<br />
e chimica industrial <strong>de</strong> Paris,<br />
professor <strong>de</strong> chimica na escola industrial<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e membro da socieda<strong>de</strong><br />
chimica <strong>de</strong> Paris:<br />
Declaramos que tendo examinado as<br />
tintas <strong>de</strong> escrever preta e <strong>de</strong> copiar, da<br />
fabrica do sr. Alvaro Esteves Casteiiheira,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, e tendo um <strong>de</strong> nós assistido<br />
á sua fabricação, achamos que ellas estão<br />
nas condições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem substituir as<br />
melhores marcas estrangeiras. E po<strong>de</strong>mos<br />
accrescentar que estas tintas não criam<br />
bolor, como acontece com muitas outras,<br />
o que é <strong>de</strong>vido não só ao aceio na sua<br />
preparação, inas também aos processos<br />
inteiramente novos que introduzimos no<br />
modo <strong>de</strong> lhes conservar as suas qualida<strong>de</strong>s<br />
sem prejudicar o resultado linal, que<br />
consiste em fornecer ao publico ura producto<br />
sempre na mesma composição e<br />
ao mesmo tempo bygienico.<br />
uma carta escripta com o sentimento rígido<br />
do <strong>de</strong>ver.<br />
Paulo ouviu a mensagem, e dissimulando,<br />
por conveniência, a sua irritação<br />
e a sua incredulida<strong>de</strong>, disse a Débora:<br />
— Muito bem, rainha querida amiga;<br />
agra<strong>de</strong>ço-lhe as suas bonda<strong>de</strong>s. Era nome<br />
do ceu, não falle nunca a ninguém do<br />
que se tem passado esta noite. Não comprometíamos<br />
Memma. Esqueça o terror<br />
que esta excursão lhe causou. Volte para<br />
o baile; eu bei <strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar meio <strong>de</strong><br />
saliir d'aqui e <strong>de</strong>, era pouco tempo, nos<br />
tornarmos a encontrar.<br />
Débora e o Metry afastaram-se <strong>de</strong><br />
vagar, como se fossem a peusar na horrível<br />
armadilha a que acabavam <strong>de</strong> escapar.<br />
Ha horas em que o <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong><br />
amor é tão violento, que or<strong>de</strong>na a pensar<br />
na vida ou a escolher uin genero <strong>de</strong><br />
morte. Paulo Gréant nunca sentiu mais a<br />
uecessidida <strong>de</strong> se aferrar á existeucia<br />
para se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iar, como um lligello<br />
vivo, contra a iutoleravel felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
dois seres odiosos: procurou por muito<br />
tempo, ás apalpa<strong>de</strong>llas, com a prudência<br />
do medo, uma sabida, um caminho, uma<br />
escada <strong>de</strong> arbustos salientes, para <strong>de</strong>scer<br />
do ninho <strong>de</strong> aguia on<strong>de</strong> a sua raiva<br />
estava aprisionada. Nada se lhe oilereceu<br />
aos pés nem ás mãos. A rocha do mirante<br />
levaotava-se <strong>de</strong> todos os lados como<br />
ura cone vulcauico; era uma ilha ro<strong>de</strong>ada<br />
<strong>de</strong> ar — a pequena ponte ligava-a ao<br />
Com effeito, sabe-se que um gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> tintas estrangeiras são aJdi•<br />
cionadas <strong>de</strong> bicbloreto <strong>de</strong> mercúrio, antiseptico<br />
energico que conserva a tinta,<br />
mas que lhe dá proprieda<strong>de</strong>s nocivas,<br />
pois que este composto é um po<strong>de</strong>roso<br />
veneno que pô<strong>de</strong> occasionar graves acci<strong>de</strong>ntes,<br />
visto o costume que as creanças<br />
teem ordinariamente <strong>de</strong> levar a tinta<br />
aos lábios Estes inconvenientes não po<strong>de</strong>m<br />
ter logar com as tintas que examinámos.<br />
Também assistimos na fabrica á preparação<br />
do Lacre <strong>de</strong> differentes côres, e<br />
pelos ensaios sobre a sua fusibilida<strong>de</strong>, a<br />
facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combustão sem se tornar<br />
preto, etc., comparados com os productos<br />
<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>ncia estrangeira, ficámos<br />
convencidos <strong>de</strong> que o Lacre nacional do<br />
sr. Alvaro E. Castanheiro, não é inferior<br />
em qualida<strong>de</strong> ao Lacre estrangeiro.<br />
Finalmente, o. nosso exame ainda se<br />
esten<strong>de</strong>u ás tintas <strong>de</strong> côres e <strong>de</strong> marcar<br />
roupa, gommas e coitas liquidas, que<br />
achámos serem <strong>de</strong> excellente qualida<strong>de</strong>,<br />
todas as garantias <strong>de</strong> perfeita conservação.<br />
E por ser verda<strong>de</strong> passamos a presente<br />
<strong>de</strong>claração que assignainos.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 6 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1893 —<br />
(a) Joaquim dos Santos e Silva. — (a)<br />
Charles Lepierre.<br />
(Segue-se o reconhecimento).<br />
Irmãs hospitaleiras em <strong>Coimbra</strong><br />
Diz o Tempo:<br />
iParece que vae ser entregue ás irmãs<br />
hospitaleiras a egreja e convento <strong>de</strong><br />
Santa Clara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.»<br />
Também por cá iremos ter as santas<br />
irmãsinhas ?...<br />
Estola Central d'Agriçultura<br />
Para esla escola mandou o sr. ministro<br />
das obras publicas remover o viveiro<br />
<strong>de</strong> vi<strong>de</strong>iras que existia em Oliveira do<br />
Hospital.<br />
Questão <strong>de</strong> economia.<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
A'manhã realisa-se em Sernache a<br />
festa annual <strong>de</strong> Nossa Senhora dos Milagres<br />
cora procissão <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>.<br />
Todos os annos costuma ir muita<br />
genle d'esla cida<strong>de</strong> passar o dia áquelle<br />
aprazivel sitio.<br />
Movimento eommereial<br />
Agio—Premio das libras: 800 rs,<br />
ouro nacional, 16;<br />
Prata: graúda, a 3 /*.<br />
*<br />
Generos— Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados: ><br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />
tremez 560 — Milho branco 335 —Duo<br />
amarello 335 —Feijão vermelho 520 —<br />
Dito branco 420 —Dito rajado 340 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 420—Centeio 440 —Cevada<br />
300 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />
meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />
Azeite a 1/610.<br />
continente, e este traço <strong>de</strong> união artificial<br />
não esperava senão que algum ousado<br />
collocasse o pé sobre ella para o<br />
precipitar no abysmo.<br />
Só os peza<strong>de</strong>llos po<strong>de</strong>m dar i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
uma tal situação. Assim, Paulo Gréant<br />
parou por alguns minutos, tomou a fronte<br />
nas mãos e sacudiu-a para se <strong>de</strong>spertar.<br />
A realida<strong>de</strong> horrível estava sempre<br />
alli, na sua crise <strong>de</strong>soladora:—sempre o<br />
ruído do baile, a illuminação do navio,<br />
as canções dos marinheiros, a fúria dos<br />
instrumentos executando as quadrilhas<br />
<strong>de</strong> t'ru-Diavolo, <strong>de</strong> Moysés, da Semiramis,<br />
do Con<strong>de</strong> Ory, isto é, todas as melodias<br />
arrebatadoras que são as palavras<br />
sensuaes do extasis e do amor.<br />
Não, aqui lio não era um sonho, e,<br />
comtudo, nada na vida real se parece<br />
com estas angustias nocturnas, com a<br />
ultuna principalmente, com esta: —Paulo<br />
Gréant não tiulu visto tudo; <strong>de</strong>scobriu<br />
aos clarões esplendidas d'umu constellação,<br />
escalões ver<strong>de</strong>s e vigorosos<br />
formados por saxifragas no Uiaco sul do<br />
miranle. Era um caminho a pique aberto<br />
sobre um precipício d'uina profundida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconhecida.<br />
Paulo experimentou a resislencia dos<br />
primeiros arbustos, e, eucontraudo-os solidos<br />
<strong>de</strong>baixo da mão, levautou ao ceu<br />
um olhar co no que <strong>de</strong> supplica, e, agarrando<br />
pelas raízes os primeiros massiços<br />
<strong>de</strong> saxiíragas, transpoz o primeiro <strong>de</strong>grau<br />
<strong>de</strong>sti escaJa vegetal, procurando, ás<br />
Vexame e extorsão<br />
Por or<strong>de</strong>m da camara foram hoje levantadas<br />
ás ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras <strong>de</strong> pei\e no<br />
mercado os cabazes <strong>de</strong> salgado que tinham<br />
á venda.<br />
A causa d'esta extorsão foi por se<br />
exigir ás pobres mulheres o pagamento<br />
atrazado d'um impo«lo que se julgava<br />
eviinoto.<br />
Trataremos do assumpto no proximo<br />
numero.<br />
Horário postal<br />
Tiragem da correspondência nos marcos<br />
postaes da cida<strong>de</strong>:<br />
1. a ás 12 horas do dia.<br />
2. a ás 2 horas da tar<strong>de</strong>.<br />
3. a ás 8 e um quarto da tar<strong>de</strong>.<br />
Nos marcos poslaes <strong>de</strong> Cellas, Estrada<br />
da Beira e Santa Clara: <strong>de</strong> manhã,<br />
cerca das 7 horas, e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> ás 6 horas!<br />
As ultimas tiragens na caixa gera,<br />
dos correios effectuam-se:<br />
Para a linha leste e Beira Baixa ás<br />
6 horas e 5 m. da tar<strong>de</strong>.<br />
Para o sul ás 9 e 55 m. da n.<br />
Para o norte, Beira Alta e paizes da<br />
Europa ás 12 horas e 30 minutos da<br />
noite.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Concluída enterraram-se,<br />
na semana ultima, os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Raul, filho <strong>de</strong> Joaquim da Costa Coutinho<br />
e Maria da Ercarnação, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
<strong>de</strong> 8 annos e 4 mezes. Falleceu <strong>de</strong><br />
peritonite tuberculose, no dia 27.<br />
Manoel Joaquim Ribeiro, filho <strong>de</strong><br />
Manoel Joaquim Ribeiro e Julia Amélia<br />
Oliveira <strong>de</strong> Abreu, da Guyana Ingleza_,<br />
<strong>de</strong> 20 annos. Falleceu <strong>de</strong> grippe, no<br />
dia 27.<br />
Auzenda Garcia, lilha <strong>de</strong> José Garcia<br />
e Maria do Patrocínio, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />
16 mezes. Falleceu <strong>de</strong> meningite tuberculosa,<br />
no dia 29.<br />
Lucinda <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />
72 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorragia cerebral,<br />
no dia 31.<br />
Recemnascido, filho <strong>de</strong> Nestorio Martins<br />
Ribeiro e Maria d'Assumpção Ribeiro,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 2 horas. Falleceu<br />
<strong>de</strong> distacia materna, no dia 1.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemitério —16:834.<br />
A GRANEL<br />
O sr. ministro da'fazenda, nas instrucções<br />
que <strong>de</strong>u aos ofliciaes encarregados<br />
da inspecção ás proprieda<strong>de</strong>s rústicas<br />
e urbanas do paiz, <strong>de</strong>clarou-lhe que<br />
era indispensável que o governo, no<br />
prazo <strong>de</strong> mez e nie.io, esteja habilitado a<br />
conhecer o valor real das proprieda<strong>de</strong>s<br />
mais importantes do paiz.<br />
* * # A fe<strong>de</strong>ração das associações<br />
do Porto resolveu rejeitar o <strong>de</strong>creto das<br />
bolsas <strong>de</strong> trabalho, tal como está elaborado.<br />
apalpa<strong>de</strong>llas, com a ponta dos pés, as<br />
feudas da rocha, para ahi encontrar um<br />
ponto <strong>de</strong> apoio, muito duvidoso.<br />
O primeiro passo dado ousadamente<br />
no caminho d'um abysmo prependicular,<br />
oppõe-se immediatamente a qualquer esperança<br />
<strong>de</strong> voltar: é necessário continuar<br />
ou cair. Paulo Gréant olhou para cima,<br />
e viu a base do mirante já separada d'elle<br />
por tres <strong>de</strong>graus d'arbustos salientes que<br />
elle tinha <strong>de</strong>scido; olhou para baixo e<br />
<strong>de</strong>scobriu com terror a aresta viva d'um<br />
rochedo nu, <strong>de</strong>spojado <strong>de</strong> verdura e<br />
muito solido para estar fendido. O abysmo<br />
escancarado e sombrio patenteava-se<br />
cora todos os seus horrores. Aqui a realida<strong>de</strong><br />
terrível torna-se o sonho febril.<br />
O moço artista, dominado pela uecessida<strong>de</strong><br />
imperiosa <strong>de</strong> viver, incruslou-se<br />
violentamente <strong>de</strong> encontro ao rochedo,<br />
e sentiu crepitarem-lhe <strong>de</strong>baixo dos <strong>de</strong>dos<br />
as ruizes das saxifragas, emquanto os<br />
seus pés, mal seguros numa fenda, faziam<br />
chover pedras, cujo som expirava, passado<br />
muito tempo, no fundo do precipício.<br />
Aproveitando <strong>de</strong> repente, rápido como<br />
o pensamento, a occasião em que as pedras<br />
da fenda cessaram <strong>de</strong> cahir, abandonou<br />
o arbusto já quasi arrancado, e<br />
crispou as unhas, como garras, numa<br />
raiz <strong>de</strong> pinheiro, o que lhe permiUiu um<br />
movimento <strong>de</strong> ascençto e procurar com<br />
os pés um apiio mais seguro. Inundado<br />
<strong>de</strong> suor, abrazaio <strong>de</strong> lebre, quebrado <strong>de</strong><br />
fadiga, Paulo <strong>de</strong>teve "se para respirar,<br />
* * * Os autos que o sr. juiz<br />
Veiga mandou levantar contra es policias<br />
que se oppozeram a que os empregados<br />
<strong>de</strong> fazenda cumprissem os mandados<br />
<strong>de</strong> que iam munidos quando, por<br />
duas vezes, se dirigiram a casa do sr.<br />
conselheiro Barjona <strong>de</strong> Freitas, já estão<br />
em po<strong>de</strong>r do sr. dr. Tito Vespasiauo<br />
Castello Branco, <strong>de</strong>legado da 5. a vara,<br />
a quem foram entregues, a fim <strong>de</strong> os fazer<br />
distribuir e dar-lhes o <strong>de</strong>vido andamento.<br />
* * * O tratado do commercio entre<br />
Porlugal e Hespanha é publicado nas<br />
duas nações ao mesmo lempo.<br />
* * # Está resolvidf a questão do<br />
convento <strong>de</strong> Carni<strong>de</strong>, ficando inteiramente<br />
separadas as duas communida<strong>de</strong>s.<br />
# * * Foi recebido no ministério<br />
da marinha um telegramma do governador<br />
<strong>de</strong> Angola notificando que a <strong>de</strong>limitação<br />
<strong>de</strong> fronteiras do Baixo Congo ficava<br />
concluída por todo este mez.<br />
# * * O alcai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigo entregou<br />
ás nossas auctorida<strong>de</strong>s 15 portuguezes<br />
que intentavam clan<strong>de</strong>stinamente seguir<br />
viagem para o Brazil.<br />
# * # A companhia geral do credito<br />
predial portuguez pediu ao governo<br />
auctorisação para fazer uma nova emissão<br />
<strong>de</strong> obrigações prediaes a 5 °/0 no<br />
valor <strong>de</strong> 900:000^000 réis.<br />
* * * Começam no dia 22 do corrente<br />
os exercícios no campo <strong>de</strong> Tancos.<br />
* * # Dizem da Regoa : — A arrebentação<br />
das vinhas neste concelho dá<br />
esperanças d'uma boa colheita <strong>de</strong> vinho<br />
este anno. O tempo tem lhe sido favoravel.<br />
# * * Dizem <strong>de</strong> Felgueiras :—Não<br />
lembra que as vi<strong>de</strong>iras apresentassem os<br />
seus gonimos tão prematuramente. Já é<br />
gran<strong>de</strong> o seu <strong>de</strong>senvolvimento e promettem-nos<br />
um abundante anuo <strong>de</strong> vinho,<br />
se os temporaes, nevoeiros e frios não<br />
prejudicarem as nascenças.<br />
* * * Consta officialmente que no<br />
<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Morbthan occorreram<br />
87 casos <strong>de</strong> cholera, dos quaes 22 fataes.<br />
# * # Foi enviada uma circular<br />
aos <strong>de</strong>legados do thesouro, recommendando-lhes<br />
que prestem todo o auxilio<br />
ás commissões encarregadas da inspecção<br />
ás proprieda<strong>de</strong>s, provi<strong>de</strong>nciando<br />
mais para que essas conimissões tenham<br />
em todos os concelhos casa para os seus<br />
Ira bailios.<br />
# * # O sr. Luciano Cor<strong>de</strong>iro, inspector<br />
das escolas industriaes do sul,<br />
partiu para Leiria, a fira <strong>de</strong> adquirir<br />
para a installação da eseola industrial<br />
uma casa d'aquella cida<strong>de</strong> que foi posta<br />
em praça.<br />
como faz um viajante que encontrou<br />
uma pousada.<br />
A orchestra do baile chegava sempre<br />
aos seus ouvidos, como a mais melodiosa<br />
e a mais pungente das ironias: triste<br />
imagem d'este mundo, on<strong>de</strong> as angustias<br />
da dôr andara sempre mescladas com<br />
os extasis longínquos do prazer!<br />
Um supremo esforço e alguns movimentos<br />
ousados e vigorosos, auxiliados<br />
por acci<strong>de</strong>ntes favoraveis <strong>de</strong> apoio, em<br />
pouco tempo collocaram as mãos <strong>de</strong><br />
Gréant ao nivel do balcão do miraute ;<br />
então uma vertigem lhe velou os olhos,<br />
ura zunindo estranho lhe resoou na cabeça,<br />
um estremecimento nervoso liie entorpeceu<br />
os pés; mas os <strong>de</strong>dos e os braços<br />
retesaram-se neste minuto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero<br />
e lançaram se á gra<strong>de</strong> do balcão,<br />
no momento em que fragm mlos <strong>de</strong> terra<br />
vegetal se lhe <strong>de</strong>sfaziam em pó <strong>de</strong>baixo<br />
dos pés; uai ultimo sopro <strong>de</strong> respiração<br />
lhe inflou as veias do pescoço,<br />
elevou o corpo á altura da persiana, e,<br />
fazendo-o saltar por cima do peitoril, atirou<br />
o como massa iuanimada sobre o pavimento,<strong>de</strong><br />
mármore do mirante...<br />
Í mprobo na r / p o » e a p h i a<br />
OpaiMri.i - Lurgo di Fr-jina a.'<br />
li, jf.m ai a r u dos Santeiros, —<br />
C JIIICTSA.
A M O I —HT.° 96 O DEFENSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 18ÔS<br />
OTULOS<br />
PARA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
L I V R O S<br />
1VVELOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
Aijnuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
CHRISTIANISMO<br />
E<br />
Protesto patriotico contra Roma<br />
PELO<br />
PRESBYTERO<br />
Joaquim dos Santos Figueiredo<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas livrarias do Porto, <strong>Coimbra</strong><br />
e Lisboa.—Preço 50 réis.<br />
A Galeria Portugueza<br />
Revista semanal illustrada<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
A mais notável do seu genero entre<br />
nós. Sae todos os domingos, com gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> illustrações. Collaboração<br />
Ijiteraris escolhida e variada.<br />
Cada numero <strong>de</strong> 16 paginas 40 réis.<br />
Escriptorio <strong>de</strong> redacção 'e administração:—Rua<br />
<strong>de</strong> D. Pedro, 110, 1.°—<br />
Porto.<br />
H1ST0UIA DIÍPOIITIM<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schaefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mim SE mm (mm<br />
Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. ma sr. a D. Carolina Michaelis <strong>de</strong><br />
Vasconcellos e dos ex. mos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Bernardino Pinheiro,<br />
Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Barros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da ernpreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> assigna-se nas livrarias<br />
Mesquita e Paula e Silva.<br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha ...<br />
Repetições .<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 °y0<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
104 O IL ' ec '' lgt> "' ,e P ara loja <strong>de</strong><br />
Ir retrozeiro e miu<strong>de</strong>zas. Prefere-se<br />
com alguma pratica.<br />
RUA FERREIRA BORGES, 147<br />
LOJA DO CEPO<br />
ART1C1PA-.<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria J<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
JLTIMA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
era côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IIÍHETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IVROS<br />
e jornaès<br />
.MUPRESSOS<br />
PARA<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong> H repartições<br />
formato H publicas<br />
Typ. Operaria JS1 Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L _A. IEÒ < 3 - O I D - A - F R E I R I A ,<br />
XÂBOPE DE P H E L L & N D R I O<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
s<br />
ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com optimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, corno consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Itosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C.<br />
fonso, 61<br />
a 100<br />
Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo li<strong>de</strong>-<br />
, 65.<br />
COMPANHIA II fflllM -TAGIIS'<br />
FUNDADA EDI 1877<br />
CAPITAL FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 1.200:000^000 RÉIS 91:000^000<br />
m<br />
Efectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° lá —1.°<br />
DEPOSITO DA FABIILCA MCHML<br />
DE<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
2 lvrESTE Deposito regularmente montado, stí acha á venda, por<br />
1M junto e a retalho, todos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem qtiaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições egnaes aos da fabrica.<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
3J 1- D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JDÃQ 100321ES M M , HBGUIDB<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Àgencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97,1.°<br />
AHTAZES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> tbeatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
P 1 M T O R<br />
(OFFICINA)<br />
VISOS<br />
1>ABA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
ncarrega-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, doura-<br />
E eões <strong>de</strong> egrejas, forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Na mesma offiicina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
m i n B E 3 P E S 1 E M P l f i E I S<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — D rogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA: — Serze<strong>de</strong>llo $ Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
Estabelecimento<br />
DE FAZENDAS BRANCAS<br />
DE<br />
JOSÉ DE CASTiiO<br />
19 — Largo do Priacipe D. Carlos — 23<br />
COIMBRA<br />
103<br />
sta casa acaba <strong>de</strong> receber<br />
E um magnifico sortido <strong>de</strong> armures<br />
pretas e cor, tudo novida<strong>de</strong>, merinos<br />
pretos pura lã, flanellas <strong>de</strong> lã pretas<br />
e <strong>de</strong> cores, chailes <strong>de</strong> merino preto,<br />
mantas e siHgellos lenços <strong>de</strong> seda brancos<br />
e <strong>de</strong> côr, mantilhas <strong>de</strong> seda pretas,<br />
e côr <strong>de</strong> creme; além d'estes artigos<br />
tem um magnifico sortido <strong>de</strong> chitas, selim<br />
percales, zephyres, flanellas <strong>de</strong> algodão<br />
<strong>de</strong> côr e brancos, gravatas pretas e côr,<br />
toalhas e guardanapos <strong>de</strong> linho adamascado,<br />
gostos lindíssimos, pannos patentes,<br />
famílias, ditas <strong>de</strong> linho <strong>de</strong> todas as<br />
larguras, chailes <strong>de</strong> côr, alta novida<strong>de</strong>,<br />
collare-, perfumarias, riscados, oxfords,<br />
e muitos mais artigos que é impossível<br />
mencionar, mas as pessoas que se dignarem<br />
vêr.<br />
visitar esia casa terão occasião <strong>de</strong><br />
PECHINCHA 11 — Mais <strong>de</strong> 200 cache-nez<br />
<strong>de</strong> metro, gostos e côres lindíssimas<br />
que eram <strong>de</strong> 1/200 a 500!! capuchões<br />
<strong>de</strong> malha <strong>de</strong> lã que eram <strong>de</strong><br />
1/300 a 500!! aventaes <strong>de</strong> phantasia<br />
que eram <strong>de</strong> .600 a 2401! velludilhos<br />
<strong>de</strong> côr a 300 o metro: luvas <strong>de</strong> fio <strong>de</strong><br />
escocia a 401 II Boinas <strong>de</strong> pelúcia para<br />
ereanças que eram <strong>de</strong> 2/000 a 500!!<br />
além
OT<br />
Defensor<br />
T ^ Jfi ANNO<br />
sg<br />
I <strong>Coimbra</strong>, íS <strong>de</strong> a&ri/ <strong>de</strong> 1898 N ° 77<br />
p<br />
Que fará o sr. FuscMni?<br />
Diga-se em abono da verda<strong>de</strong>.<br />
D'esta série <strong>de</strong> ministérios que se<br />
teem revezado amiudadamente no<br />
po<strong>de</strong>r, ainda não houve nenhum<br />
ministro da fazenda que tivesse<br />
mostrado mais energia e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />
na gerencia da sua pasta do<br />
que o sr. Fuschini.<br />
As medidas ultimamente tomadas<br />
a respeito da cobrança das contribuições<br />
em divida, ainda sobre<br />
a suppressão da verba <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />
no estrangeiro, não obstante<br />
imporem-se lógica e necessariamente<br />
a todos os ministros, todavia<br />
só o sr. Fuschini as poz em<br />
execução.<br />
Não tem trepidado, é verda<strong>de</strong>.<br />
E comtudo nessa enorme redada <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>vedores á fazenda nacional, lá<br />
figuram e apparecem peixes bem<br />
graúdos, que mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pescados<br />
se mostram perigosos, já pelas<br />
artimanhas próprias, já pela<br />
protecção que a corôa quiz dispensar-lhes<br />
preten<strong>de</strong>ndo a exempção<br />
dos seus débitos.<br />
Mas agora? Agora que se trata<br />
<strong>de</strong> enormes passarões, no dizer das<br />
Novida<strong>de</strong>s, agora que a situação é<br />
tão séria como azada para <strong>de</strong>smascarar<br />
e punir esses zangãos terríveis<br />
da nação, que fará o sr. Fuschini<br />
?<br />
Ce<strong>de</strong>rá elle ás prováveis imposições<br />
do Paço, recuando no caminho<br />
da honra, pedindo a sua <strong>de</strong>missão<br />
por não se achar com forças<br />
para a lucla, ou para não acarretar<br />
inimiza<strong>de</strong>s, lançando no Limoeiro<br />
a todos os implicados?<br />
- Não sabemos; todavia crêinos<br />
que não. Pedir a sua <strong>de</strong>missão na<br />
situação presente, em que as Novida<strong>de</strong>s,<br />
não só põem ao dispôr <strong>de</strong><br />
v. ex. a todos os documentos precisos,<br />
mas também se offerecem para<br />
trabalhar na gran<strong>de</strong> obra da moralisação<br />
nacional, fechando os olhos<br />
a tantos crimes e a tantos roubos,<br />
é juntar aquelles mais um, que julgamos<br />
<strong>de</strong> não menor gravida<strong>de</strong>,<br />
tornando-se, por assim dizer, connivenlp<br />
no esphacelamenlo da patria.<br />
E commelter um crime <strong>de</strong> lesa-patria,<br />
abandonando-a exactamente<br />
quando não <strong>de</strong>ve fazer. É<br />
fugir ás durezas do seu encargo. É<br />
consentir que âmanhã nos entre<br />
pela porta <strong>de</strong>ntro, uma administração<br />
estrangeira que s. ex. a po<strong>de</strong>rá<br />
evitar, filando os olhos na França<br />
e seguindo o seu exemplo.<br />
Ha homens importantes implicados?<br />
Também na França os havia,<br />
e, não só illustres, mas também veneráveis<br />
pelos annos e pelo talento.<br />
E nem por isso Lesseps, esse<br />
velho venerando, uma das maiores<br />
glorias francezas, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser punido,<br />
e só porque consentira que<br />
roubassem.<br />
Baihaut, que ainda ha bem pouco<br />
era ministro das obras publicas,<br />
hoje é apenas o presa numero 11<br />
da ca<strong>de</strong>ia correccional <strong>de</strong> E'lampes.<br />
E quando todas as monarchias<br />
europêas, cheias <strong>de</strong> jubilo, suppunham<br />
que mais <strong>de</strong>pressa cahiriam<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO V A V ^ X V ^ V \ J<br />
as instituições do que se faria a luz<br />
sobre lamanho escandalo e se appficaria<br />
a justiça em todo o seu rigor,<br />
nós vimos fortalecer-se a Republica<br />
franceza e con<strong>de</strong>mnaremse<br />
os implicados.<br />
Faça v. ex. a o mesmo.<br />
Ha largos annos, que este pobre<br />
paiz tem sido mesa posta para<br />
quem tem querido <strong>de</strong>vorar, e sempre<br />
á mercê dos especuladores da<br />
nossa pobreza.<br />
Ha largos annos, que soffremos<br />
a mizeria que lemos em casa e a<br />
<strong>de</strong>shonra que nos vem <strong>de</strong> fóra, emquanto<br />
certos indivíduos se banqueteiam<br />
largamente, apparecendo-lhe<br />
o dinheiro por portas mysteriosas,<br />
talvez, as mesmas por on<strong>de</strong><br />
se tem sumido das arcas publicas.<br />
Rasgue-se a mascara e mostrese<br />
o ladrão.<br />
E na mão do sr. ministro da<br />
fazenda eslá fazel-o,<br />
O seu nome ficará vinculado a<br />
esla monumentosa questão, que será<br />
para s. ex. a , ou o ergástulo a que<br />
tantos estão ligados, ou a corôa da<br />
sua gloria e com ella a regeneração<br />
da palria.<br />
Justiça, sr. ministro, loque ella<br />
a quem tocar; porque a seu lado<br />
lerá todos os que ainda pugnam e<br />
trabalham pelos interesses da nossa<br />
bem <strong>de</strong>sgraçada palria.<br />
E' esle o seu <strong>de</strong>ver, é esta a<br />
sua obrigação, já como ministro, já<br />
como porluguez.<br />
Ha quem se imponha e pretenda<br />
<strong>de</strong>svial-o do caminho do seu<br />
<strong>de</strong>ver?<br />
Pois, por mais <strong>de</strong> cima que venha<br />
lai imposição, acima d'ella ha<br />
ainda uma oulra, — a vonta<strong>de</strong> do<br />
povo que lhe pe<strong>de</strong> justiça e só justiça.<br />
Porque será?<br />
Porque será que as Novida<strong>de</strong>s emprehen<strong>de</strong>ram<br />
a sua campanha <strong>de</strong> perseguição<br />
contra os <strong>de</strong>lapidadores dos dinheiros da<br />
nação? Será movidas pelo principio da<br />
justiça, já a fim <strong>de</strong> serem punidos os<br />
implicados nessas escandalosas negociações,<br />
já <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a patria d'esse bando<br />
dabulres? Será somente o resultado <strong>de</strong><br />
meras antipatliias pessoaes.<br />
Será ainda como <strong>de</strong>sforra á medida<br />
tomada pelo sr. Fuschini, supprimindo a<br />
verba <strong>de</strong> publicação 110 extrangeiro, collocando-o<br />
na situação presente entre a<br />
espada e a pare<strong>de</strong> ?<br />
Não sabemos, nem precisamos saber.<br />
O que apenas queremos é luz e mais luz<br />
sobre o caso. Queremos que o sr. ministro<br />
da fazenda em vista d'aquelle artigo, em<br />
vista d'aquel!e documento, primeiro élo<br />
da enorme ca<strong>de</strong>ia, cumpra com o seu<br />
<strong>de</strong>ver, mostrando mais uma vez a todo<br />
o paiz que não trepida no caminho das<br />
suas obrigações.<br />
Noticias <strong>de</strong> João Chagas<br />
Receberam-se noticias do nosso correligionário<br />
João Chagas.<br />
Estava sendo julgado em conselho <strong>de</strong><br />
guerra quando alli chegou o telegramma<br />
annunciando-lhe o <strong>de</strong>creto da amnistia.<br />
Em vista do telegramma o conselho foi<br />
immediatamente interrompido e o illustre<br />
jornalista foi posto em liberda<strong>de</strong> nos limites<br />
da província, emquanto lá não<br />
chegasse a or<strong>de</strong>m escripta para a sua libertação<br />
completa.<br />
Não tardará muito," pois, que tenhamos<br />
occasião <strong>de</strong> ver entre nós o valente<br />
<strong>de</strong>mocrata que tão <strong>de</strong>stemidamente se<br />
tem havido com os seus adversarios.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Los toros!<br />
No ultimo domingo inaugurou o Colyseu<br />
Portuense o gran<strong>de</strong> divertimento<br />
do nosso povo: as touradas.<br />
O Porto adora os touros.<br />
— Con<strong>de</strong>mna as pégas, commove-se<br />
com os boleos dos forcados, grita contra<br />
a barbarida<strong>de</strong> das bandarillias... e, afinal,<br />
lá vae espontaneamente, alegremente,<br />
enchendo as bancadas, agitando os<br />
lenços, applaudindo um acto <strong>de</strong> coragem,<br />
e apupando a covardia d'um diestro<br />
que foge, amedrontado, á fúria d'um<br />
boi <strong>de</strong> sangue.<br />
Uma tourada, num dia claro <strong>de</strong> bom<br />
sol, offerece attractivos irresistíveis: nos<br />
camarotes ostenlam-se as flores escolhidas<br />
da nossa primeira socieda<strong>de</strong>, mantilha<br />
traçada, leques agitando-se nervosamente,<br />
manejados por mãositas <strong>de</strong> neve;<br />
cá em baixo o gran<strong>de</strong> publico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
sportman irreprehensivel, ao garoto <strong>de</strong><br />
jornaes, acotovelando se, praguejando,<br />
soltando exclamações d'enthusiasmo hespanhol;<br />
na arena a quadrilha, exhihindo<br />
garbosamente os ouropéis lantejoulados,<br />
agitando as capas rubras diante do boi<br />
em fúria — e sobretudo isto, o cáustico<br />
do sol, incendiando nos cerebros o enthusiasmo<br />
e na féra o instinclo da bordoada<br />
<strong>de</strong> cégo.<br />
*<br />
Infelizmente — o bom sol da primavera<br />
não conce<strong>de</strong>u um ar <strong>de</strong> sua graça<br />
á primeira tourada da epocha no vasto<br />
Colyseu Portuense I Faltou-nos a luz, e<br />
por isso faltou o enthusiasmo vibrante 1<br />
O cavalleiro Serra, Maleito e os seus<br />
bandarilheiros pouco ou nada fizeram. O<br />
firmamento azul vestiu-se d'um manto<br />
côr <strong>de</strong> chumbo—nem uin raio <strong>de</strong> sol!—<br />
mais proprio á tristeza mystica do tempo<br />
santo do que ao primeiro domingo :<br />
<strong>de</strong> touros—que <strong>de</strong>veria ser profanamente<br />
jovial. Não foi I<br />
E por isso se lidaram os nove touros<br />
com enfado do publico e <strong>de</strong>sprazer<br />
das costellas hespanholas—que a empreza<br />
(honra lhe seja I) pagou por boas I<br />
— Eu tenho, <strong>de</strong> lia muito, uma particular<br />
embirração cora espectáculos <strong>de</strong><br />
abertura em que a Hespanha intervenha:<br />
ou sae come<strong>de</strong>lla para o publico ou pancadaria<br />
velha para os artistas.<br />
Ha ires annos que a minha embirração<br />
se justifica com as festas d'inauguração<br />
na Serra e no Colyseu.<br />
D'esta vez o ceu <strong>de</strong>u-me razão (ando<br />
era graça, pelo visto) e até negou a alegria<br />
da sua luz áquella festa <strong>de</strong>soladora!<br />
*<br />
... E, meus prezados leitores, além<br />
d'esta noticia — que não prima pelo interesse—que<br />
mais hei <strong>de</strong> dizer-lhes?<br />
Novida<strong>de</strong>s—não as lia: a politica não<br />
fornece duas linhas palpitantes.<br />
A diplomacia chafurda na mesma lama<br />
<strong>de</strong> ha dois mezes.<br />
As finanças continuam vivendo do<br />
credito, e soccorrendo-se d'expedientes<br />
particularmente torpes e torpemente particulares.<br />
Nas lettras —• nada ! nem <strong>de</strong>sconchavos<br />
rimados do sr. Alberto d'Oliveira<br />
A bisbilhotice da Praça Nova refina<br />
na semsahoria.<br />
On<strong>de</strong> está o assumpto para a chronica?<br />
Não sei; e não o sabem lambem os<br />
meus collegas, que vão lançando mão do<br />
expediente heroico da politica estrangeira.<br />
Têm razão, realmente. Batem todos<br />
os dias nos mesmos pontos, estafar sempre<br />
as velhas molas — cansa, maça horrivelmente<br />
I<br />
... E, meus prezados leitores, não<br />
quero ser classificado <strong>de</strong> collega do sr.<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mozer — porque, se não fora<br />
isso, estendia o artigo d'hoje, e fallava-<br />
Ihe do eterno i<strong>de</strong>al, e d'uns olhos azues<br />
do ceu, que me trazem presos na doce<br />
luz do seu olhar radiante !...<br />
10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Fra-Diavolo.<br />
Pela Africa<br />
Visitou-nos o.Correio <strong>de</strong> Loanda, jornal<br />
africano, que se publica em Loanda.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos a visita e vamos enviarlhe<br />
o nosso jornal.<br />
> *<br />
Chegaram a Loanda 11 chinezes fugidos<br />
do Estado Livre do Congo e que<br />
tinham sido contractados em Macau por<br />
emissários d'aquelle êslado.<br />
Fizeram todo o trajecto das margens<br />
do Zaire a Loanda por terra, fallecendo<br />
um em Encoge e outro em Loanda, on<strong>de</strong><br />
chegára muito doente.<br />
Os sobreviventes foram admiltidos<br />
ao serviço dos srs. Faro & Lima, que os<br />
mandaram para as suas fazendas em<br />
Cacuaco.<br />
Esperam-se mais chinezes, pois que<br />
se não acostumam ao tratamento que<br />
lhes applicara as humanitarias auctorida<strong>de</strong>s<br />
do Estado Livre.<br />
*<br />
Em Mossangano (Angola) o parocho<br />
mandou queimar parte dos santos que<br />
estavam na egreja e que se achavam em<br />
mau estado <strong>de</strong> conservação.<br />
Foi á porta da egreja que se effectuou<br />
o auto <strong>de</strong> fé, produzindo entre<br />
os habitantes da freguezia gran<strong>de</strong> indignação<br />
o procedimento do parocho.<br />
O S. João na Figueira<br />
Na Figueira da Foz projectam-se este<br />
anno festejos grandiosos e <strong>de</strong>slumbrantes<br />
ao Santo percursor.<br />
E' tradiccional o S. João da Figueira<br />
e as festas que alli costumam fazer-se<br />
attrahem muitos milhares <strong>de</strong> romeiros<br />
áquella bonita cida<strong>de</strong>. Este anno porém,<br />
segundo nos informam, trata-se <strong>de</strong> organisar<br />
regatas, passeios fluviaes, corridas<br />
<strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, fogos <strong>de</strong> artificio, fogueiras<br />
a capricho e tuti quanti lembre para<br />
proporcionar aos forasteiros dois ou tres<br />
dias <strong>de</strong> agradaveis distracções.<br />
O Santo Antonio em Vizeu<br />
Em Vizeu, a velha cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Viriato,<br />
capital da Beira Alta, foi organisada uma<br />
commissão <strong>de</strong> muitos e respeitáveis negociantes<br />
a liIU <strong>de</strong> angariarem meios e<br />
accordarem na maneira <strong>de</strong> se festejar o<br />
Santo Antonio, que, <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sleixo<br />
<strong>de</strong> ha uns annos a esla parte, não o tem<br />
sido com a pompa e solemnida<strong>de</strong> que<br />
era festejado antigamente.<br />
Oxalá que a commis,são consiga o<br />
que Vizeu espera do seu zelo.<br />
Informam-nos <strong>de</strong> que ura dos pontos<br />
do programma é fazer Teviver as antigas<br />
touradas que tanta nomeada tiveram<br />
e que ainda hoje alli são lembradas com<br />
sauda<strong>de</strong>.<br />
A commissão não <strong>de</strong>ve esquecer-se<br />
<strong>de</strong> pedir á camara para que man<strong>de</strong> policiar<br />
a casa <strong>de</strong> Viriato, tornandó-a um<br />
logar aprazível e não o que tem sido até<br />
boje — d'um monturo.<br />
Republica Fe<strong>de</strong>ral Ibérica<br />
Recebemos este pamphleto, protesto<br />
do sr. A. A. da Silva Lobo contra a Fe<strong>de</strong>ração<br />
Ibérica.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos.<br />
PELOS JORNAES<br />
Não é possível conseguir que o Tempo<br />
perca a mania <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 13<br />
<strong>de</strong> junho é uma das paginas gloriosas da<br />
bem memorável administração do sr. Dias<br />
Ferreira.<br />
Por mais que a imprensa se estafe<br />
em dizer-lhe que não passa d'uma simples<br />
prova <strong>de</strong> inépcia do ex-ministro,<br />
cujas consequências estamos a soffrer,<br />
elle quer a todo o transe que seja applicado<br />
como resolução <strong>de</strong> questão, nos<br />
termos seguintes:<br />
«Mas se é preciso resolver a questão<br />
dos credores, seja como fôr, melhor<br />
ou peior, porque é que não a <strong>de</strong>ixaram<br />
resolver pela fórma que estava assente<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho? Bem ou mal era<br />
questão arrumada.»<br />
Mas já é vonta<strong>de</strong> !<br />
Mette-se-lhe na cabeça que o afamado<br />
<strong>de</strong>creto tudo resolve, e agora não ha<br />
quem o <strong>de</strong>mova do seu proposito ou teimosia,<br />
apesar da Tar<strong>de</strong> lhe dizér:<br />
«Nem o que estava assente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13<br />
<strong>de</strong> junho era a resolução da questão,<br />
nem por consequência era uma questão<br />
. arrumada. Uma prova d'isto é que o<br />
relatório e o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho<br />
diziam que <strong>de</strong>ixavam a questão para<br />
ser resolvida pelo po<strong>de</strong>r legislativo na<br />
primeira reunião das cortes geraes.<br />
«A principal razão que davamos<br />
para <strong>de</strong>sejar sem <strong>de</strong>mora e <strong>de</strong> qualquer<br />
modo a resolução da questão era<br />
que, emquanto ella não fôr <strong>de</strong> qualquer<br />
modo resolvida, vemos fechadas<br />
para nós as praças estrangeiras, e que<br />
não ha hoje governo <strong>de</strong> pãiz nenhum<br />
que possa viver por muito tempo neste<br />
estado. Nós vivemos assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13<br />
<strong>de</strong> junho, ha perto d'um anno.<br />
«O <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho não foi<br />
pois uma resolução, melhor ou peior,<br />
da questão, que e ao que nós julgávamos<br />
necessário. Foi a falta <strong>de</strong> resolução<br />
da questão, que é o que julgamos<br />
prejudicial.»<br />
Ainda o Tempo quer coisa mais<br />
clara ?<br />
*<br />
Ultimamente apparece-nos as Novida<strong>de</strong>s<br />
com artigo, sob a epigraphe <strong>de</strong>—<br />
Contradições, versando sobre as presumidas<br />
resoluções que o sr. Fuschini tenciona<br />
dar á.celeberrima questão do empréstimo<br />
aos tabacos e a attitu<strong>de</strong> que<br />
ultimamente teem tomado os açorianos.<br />
Julgamos este assumpto <strong>de</strong> summa<br />
gravida<strong>de</strong>, era vista do que nos dizem<br />
os últimos jornaes d'aquellas ilhas, que<br />
temos á mão.<br />
Vejamos o Açoriano <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> março.<br />
Intitula-se o seu artigo editorial —<br />
Autonomia dos Açores e começa assim:<br />
«Tal é o titulo d'um novo colleg a<br />
que começou a publicar-se em S. Miguel<br />
<strong>de</strong>stinado a advogar a i<strong>de</strong>ia expressa<br />
no proprio titulo O novo periodico<br />
é orgão d'uma commissão eleita<br />
em Ponta Delgada 110 comicio, que teve<br />
logar no theatro d'aquella cida<strong>de</strong>, no<br />
dia 19 <strong>de</strong> fevereiro ultimo, para protestar<br />
contra os novos vexames tributários<br />
<strong>de</strong>cretados pelo ministério do sr.<br />
Dias Ferreira, commissão composta <strong>de</strong><br />
elementos <strong>de</strong> todos os partidos e dalguns<br />
cavalheiros extranhos á politica.»<br />
Mas quasi ao fim da columna accrescenla:<br />
«Acabemos com o centralisação administrativa<br />
e teremos acabado cora o<br />
indifferentismo, a maior-chaga que corróe<br />
o nosso organismo social.»<br />
Ora, se o actual ministério juntar a<br />
estes trechos outras taes como este do<br />
Diário dos Açores:<br />
«Não pô<strong>de</strong> ser I<br />
«Não <strong>de</strong>ve serl<br />
«Não ha <strong>de</strong> ser!<br />
«Ou então, cessemos <strong>de</strong> pedir só a<br />
autonomia administrativa, e procuremos<br />
mais e melhor!»<br />
terá uma i<strong>de</strong>ia perfeita e nitida do estado<br />
ameaçador ji'aquellas ilhas, que não é<br />
outra cousa senão o simples resultado da<br />
politica monarchica <strong>de</strong> que o Açoriano<br />
diz:<br />
«Esta é a principal chaga que nos<br />
tem conduzido á beiía do abysmo a que<br />
temos chegado.<br />
«Salvemos da gangrena geral o archipelago,<br />
exigindo a nossa autonomia<br />
e, quiçá salvaremos d'ella o paiz inteiro,<br />
pelo exemplo <strong>de</strong> energia que lhe<br />
damos e pelo porto <strong>de</strong> salvação que<br />
lhe indigitamos — o restabelecimento<br />
da liberda<strong>de</strong> individual, por meio da<br />
libertação local.»<br />
E, como estes, muitos outros períodos<br />
que bem provam a incúria dos nossos<br />
governos e as ten<strong>de</strong>ncias <strong>de</strong> emancipação<br />
que bastante incremento vão tomando,<br />
chegando mesmo a tornarem-se<br />
perigosas.<br />
Repare bem nisto o governo !
AXXO I-M. 9 99 O DEFENSOR DO POVO 1 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 18f»3<br />
C R Y S T A B S<br />
Resposta<br />
(A MARIA)<br />
Tu perguntas-me, ó pomba estremecida,<br />
Que dôr me faz soffrer...<br />
— E' a dôr cruel que me tortura a vida<br />
Quando estás longe e te não posso vêrl<br />
E pe<strong>de</strong>s-nie, creança, que á affliôção<br />
Não dá jamais ao coração abrigo...<br />
— Não dou; <strong>de</strong>scança, pois o coração<br />
Deixei-o lá comtigo.<br />
AUGUSTO DK MESQUITA.<br />
L B T T R A S<br />
Noite <strong>de</strong> núpcias<br />
i<br />
Quando Mathias Curoz morreu,- sua<br />
viuva Annelte chorou tanto, tanto, que<br />
parecia não querer consolar-se nunca.<br />
E com eífeito, tinha razão para isso.<br />
Mathias Curoz sempre fôra um bom<br />
companheiro e durante os seis annos<br />
que durara a sua união, valente e implacavelmenle<br />
servira a esposa <strong>de</strong> todas<br />
as fórmas. Nunca enfraquecera em matéria<br />
marital e foi por ter cantado muito,<br />
que este precioso gallo morreu, ainda<br />
novo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter dado á Annette uma<br />
gran<strong>de</strong> idéa das" legitimas alegrias do<br />
casamento.<br />
Foi a única loucura que elle praticou<br />
durante a vida. Se a recordação d'este<br />
estado recommendado pela lei tivesse<br />
sido menos agradavel para sua mulher,<br />
talvez esta nunca pensasse em substituil-o<br />
e ficasse eternamente fiel á sua<br />
memoria.<br />
Mas Annette não podia pensar no<br />
-passado sem anceiar por um futuro que<br />
lhe trouxesse as <strong>de</strong>licias experimentadas.<br />
E' verda<strong>de</strong> que ella podia tomar um<br />
amante. Mas Annette era mulher honesta:<br />
não mais conhecer as coisas do amor,<br />
ou então tornar a casar-se.<br />
E foi neste ultimo partido que ella<br />
se <strong>de</strong>teve. Se algum dos nossos leitores<br />
a tivesse conhecido, certamente lhe teria<br />
perdoado. Porque os seus robustos encantos<br />
não a tinham pre<strong>de</strong>stinado ao<br />
papel <strong>de</strong> Joanna d'Arc, e o fogo que<br />
lhe brilhava nos negros olhos não indicava<br />
uma mulher d'ascetico temperamento.<br />
Além <strong>de</strong> que, contava trinta annos<br />
apenas, isto é ainda diante <strong>de</strong>" si quinze<br />
bons annos para receber caricias, o<br />
que é, na opinião <strong>de</strong> muita pessoa sensata,<br />
o melhor emprego <strong>de</strong> tempo. Não<br />
se <strong>de</strong>ita para o lado um similhante thesouro<br />
<strong>de</strong> beijos perdidos e <strong>de</strong> amplexos<br />
ar<strong>de</strong>ntes.<br />
Além <strong>de</strong> que, Annelte que era ingénua,<br />
estava convencida <strong>de</strong> que todos os<br />
homens eram como o fallccido Curoz.<br />
Pela minha parte, não posso reclamar<br />
contra esta boa opinião que ella fazia <strong>de</strong><br />
nós.<br />
E foi neste entrementes que o sr.<br />
Piedamour appareceu resolutamente como<br />
preten<strong>de</strong>nte.<br />
n<br />
Era um homem já maduro o sr. Piedamour,<br />
mas bem conservado e muito<br />
cuidadoso da sua pessoa. Além d'istò, a<br />
sua eloquencia dava-lhe uma gran<strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong><br />
na terra. Era nella o homem<br />
politico e gosava plenamente do prestigio<br />
idiota <strong>de</strong> que são ro<strong>de</strong>ados pelos estúpidos<br />
todos aquelles que julgam ter vocação<br />
para o governo.<br />
Annette admirava como toda a gente, o<br />
sr. Piedamour, e, como não comprehendia<br />
gran<strong>de</strong> coisa dos seus pretenciosos discursos,<br />
não podia medir »a estupi<strong>de</strong>z<br />
d'elles.<br />
O sr. Piedamour era o professor da<br />
terra. Eslava verda<strong>de</strong>iramente enamorado<br />
da bella viuva <strong>de</strong> Curoz? Pelo menos,<br />
recitava-lhe mil galanterias e inepcias<br />
d'um anacreontismo rústico com o que.<br />
ella se lisongeava muito.<br />
Mas eu, eu, creio antes que elle<br />
apreciava a pequena fortuna <strong>de</strong> Annetle,<br />
e contava servir-se d'ella para chegar a<br />
<strong>de</strong>putado, talvez. Porque hoje todo o<br />
homem nasce logo com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ser<br />
<strong>de</strong>putado. Eis francamente o que eu<br />
penso dos sentimentos do sr. Piedamour.<br />
Todos aquelles que amam a mulher como<br />
ella <strong>de</strong>ve ser amada não teem d'estas<br />
velleida<strong>de</strong>s parlamentares. Comprehen<strong>de</strong>m<br />
que toda a sua vida é apenas sufEciente<br />
para adorarem o immortal idolo<br />
que nunca <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser adorado.<br />
Pobre Annette I Como ella se alegrava<br />
á i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> nunca mais dormir,só!<br />
Como fazia d'esta reentrada na vida conjugal,<br />
uma imagem ri<strong>de</strong>nte e florida,<br />
alguma coisa como a volta ao porto<br />
após uni naufragio, como a volta á patria<br />
<strong>de</strong>pois do exilio.<br />
Náo a seguiremos nos seus sonhos<br />
<strong>de</strong> noiva impaciente. Respeitamos a vida<br />
da alma, em que a esperança nos faz<br />
felizes com tantas venturas impossíveis<br />
e mysleriosas.<br />
(Conclúe).<br />
A quem lê<br />
CA. Silvestre.<br />
Declara Gri-gri que não é solidário<br />
com a masculinisação da toilette que<br />
sahiu nas suas Notas Impressionistas,<br />
VI, segunda linha.<br />
Esta mania dos senhores compositores<br />
para masculinisar o que é femenino, dá<br />
margem a Gri gri a suppor-lhes excentricida<strong>de</strong>s<br />
que não acreditam a sua severida<strong>de</strong><br />
pudica. ..<br />
Assim nol-o diz elle.<br />
Rectificando<br />
Em um dos últimos números do nosso<br />
jornal referimos, bazeados na que alguns<br />
jornaes noticiaram, que o sr. Dias Ferreira<br />
era uni dos maiores <strong>de</strong>vedores á<br />
fazenda, no concelho <strong>de</strong> Cintra.<br />
Segundo uma certidão agora publicada<br />
pelas Novida<strong>de</strong>s verifica-se que o caso<br />
não é exacto, o que até certo ponto nos<br />
rejubila.<br />
Esta rectificação é um capitulo a<br />
menos nas responsabilida<strong>de</strong>s que pezam<br />
sobre o sr. Dias Ferreira, que <strong>de</strong> tão<br />
lamentável inépcia se revelou nos seus<br />
acto.» administrativos.<br />
Sendo <strong>de</strong> justiça toda a nossa propaganda,<br />
cumpre-nos registar a rectificação,<br />
Incêndio<br />
Na quarta feira 6 manifestou-se um<br />
incêndio voraz no estabelecimento do sr.<br />
Domingos Simões, em Ancião, propagando-se<br />
com uma rapi<strong>de</strong>z vertiginosa e<br />
tornando em pouco tempo a cinzas e a<br />
um montão <strong>de</strong> escombros o prédio, e estabelecimento.<br />
Os prejuízos são totaes, soffrendo<br />
maior perda a companhia <strong>de</strong> seguros<br />
Probida<strong>de</strong>.<br />
THEATROS<br />
No Theatro Circo Príncipe Real estreiou-se<br />
no sahbado a companhia equestre<br />
do Real Colyseu <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Felizmente para nós, que po<strong>de</strong>mos<br />
registar hoje uma impressão differente<br />
da que nos <strong>de</strong>ixou a primeira noite, es<br />
pectaculo em que, á parte o trabalho<br />
distincto da ecuyère, a gentil baroneza<br />
<strong>de</strong> Rah<strong>de</strong>n, a troupe Noiset, nos velocípe<strong>de</strong>?,<br />
e o Rambú. nada houve que não<br />
fosse banal e batido.<br />
Esta primeira impressão nem por<br />
isso a modificou a noite <strong>de</strong> domingo; na<br />
segunda feira, porém, houve trabalhos<br />
mais correctos, alguns <strong>de</strong> bom eífeito.<br />
De ma<strong>de</strong>nooiselle Polissena na barra fixa,<br />
<strong>de</strong>ve especialisar-se o sarilho <strong>de</strong> curvas<br />
e o sarilho gigante; a família Picchiani<br />
trabalhou também com mais segurança<br />
e_certeza nos seus exercícios acrobáticos;<br />
os velocipedistas, surprehen<strong>de</strong>ntes.<br />
em trabalhos diflicillimos, assombrosa e<br />
perfeitamente executados; o trabalho<br />
equestre das Rainhas das l
J W x o r—w.® » » O DEFENSOR DO POVO 1 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> I 8 » 3<br />
José Falcão<br />
Boa resolução<br />
A camara municipal <strong>de</strong>cidiu dirigir-se<br />
ao sr. governador civil pedindo-lhe a<br />
sua valiosa protecção junto do governo,<br />
a fim <strong>de</strong> que em breve sejam mandados<br />
para o posto hypico, annexo á Escola<br />
Moraes Soares, os cavallos reproductores.<br />
Estamos convencidos <strong>de</strong> que se o sr.<br />
ministro das obras publicas tiver conhecimento<br />
das boas ctndiçSes hygienicas<br />
d'esie estabelecimento e da sua importância,<br />
reconduzirá para aqui o serviço<br />
<strong>de</strong> padreaçào, retirado <strong>de</strong> S. Martinho<br />
do Bispo para se atlen<strong>de</strong>r somente a influencias<br />
e interesses <strong>de</strong> políticos egoístas.<br />
Theatro 1). Luiz<br />
É nos dias 22, 23. 24 e 25 que a<br />
companhia dramatica, dirigida pelo actor<br />
Taveira dará a terceira serie d'espectaculos<br />
que foi annunciada.<br />
Bepresentam-se as seguintes apparatosas<br />
peças :<br />
As noivas do Enéas<br />
O Solar dos Barricas<br />
O Homem da Bomba<br />
O Meia Azul<br />
E não se <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>morar a tomar os<br />
seus logares os que quizerem passar<br />
quatro noites <strong>de</strong> boa risota.<br />
Os bilhetes á venda nos logares do<br />
costume.<br />
OfTerta <strong>de</strong> livros<br />
Afim <strong>de</strong> serem distribuídos pelos<br />
alumnos das escolas primarias do districto<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o sr. bispo con<strong>de</strong> enviou ao<br />
inspector d'esta circumscripção 3:600<br />
exemplares do livro — Fé e Palria.<br />
Merece louvores s. ex. a<br />
4.° anniversario<br />
No domingo os socios activos da Associação<br />
dos bombeiros voluntários festejaram<br />
o 4.° anniversario da fundação<br />
d'esta sympathica instituição. A esquadra<br />
do bairro baixo estava vistosamente adornada<br />
e a rua das Solas foi enfeitada <strong>de</strong><br />
galhar<strong>de</strong>tes e ban<strong>de</strong>iras.<br />
Senliora dou milagres<br />
Na segunda feira celebrou-se com a<br />
pompa dos mais annos a festa que em<br />
Sernache dos Alhos se costuma fazer.<br />
Como nos annos anteriores houve<br />
muita concorrência <strong>de</strong> forasteiros que<br />
alli foram gozar um bello dia.<br />
O sr. Francisco Cardoso dos Santos<br />
com a amabilida<strong>de</strong> que o distingue reuniu<br />
na sua casa algumas famílias d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
proporcionando-lhe um improvisado<br />
salsifre on<strong>de</strong> alegremente se dançou até<br />
á uma hora da noite.<br />
^ÊmÊm—ÊimmÊ—mmmimm—mm—m<br />
28 Folhetim do Defensor do POYO<br />
J. MÉRY<br />
A JCDIA É VATICANO<br />
VII<br />
Vespera <strong>de</strong> noivado<br />
Quando Paulo Gréant voltou a si, as<br />
estrellas brilhavam ainda; levantou-se<br />
para respirar o ar vivificante do mar e<br />
da montanha, e não pou<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> olhar<br />
para o navio—o que elle viu então infundia<br />
uma tristeza medonha; tudo estava<br />
acabado...<br />
A sombra negra da fragata <strong>de</strong>stacava-se<br />
sobre o mar, com os seus ires mastros<br />
cobertos <strong>de</strong> velas. Por uma das portinholas<br />
da popa apercebia-se uma luz, a<br />
que, provavelmente, illuminava a camara<br />
<strong>de</strong> Van Ritter I...<br />
Paulo Gréant <strong>de</strong>u a esta luz um sorriso<br />
triste, e, agitando a mão sobre o<br />
abysmo, disse: — E foi para vér isto<br />
que eu luctei contra a morte com tal<br />
energia I... Que suave seria agora o<br />
meu <strong>de</strong>scanço no fundo d'esle abysmo!...<br />
Meu Deus! perdoa-me o que eu digo!<br />
Assentou-se ao lado da janella, e com<br />
esle encarniçamento infernal que nos iinpelle<br />
sempre a olhar para as coisas <strong>de</strong>-<br />
Viatieo aos enfermos<br />
No_ domingo sairá processionalnunte<br />
0 Correio <strong>de</strong> Loanda, n.9 159, <strong>de</strong><br />
das egrejas parochiaes da Sé Nova e S.<br />
S6 <strong>de</strong> fevereiro, <strong>de</strong>dica o seu artigo edi-<br />
Christovão o Sagrado Yiatico aos enfertorial<br />
a este illustre extincto, dirigindomos.<br />
Ihe palavras <strong>de</strong> merecido louvor.<br />
Trinda<strong>de</strong> Coelho<br />
Está nesta cida<strong>de</strong> este distinctissimo<br />
colaborador das Novida<strong>de</strong>s e notável escriptor.<br />
Demorá-se alguns dias em <strong>Coimbra</strong>.<br />
Valleeimento<br />
Está <strong>de</strong> lucto pela morte <strong>de</strong> sua mãe<br />
o sr. Antonio Jacob Júnior, honrado industrial<br />
d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
Os nossos pezames a sua familia.<br />
Movimento eommereial<br />
Agio—Premio das libras: 800 rs<br />
ouro nacional, 16;<br />
Prata já não tem agio.<br />
#<br />
Getieros — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />
tremez 560 — Milho branco 335 —Dito<br />
amarello 335 — Feijão vermelho 520 —<br />
Dito branco 420 —Dito rajado 340 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 420 —Centeio 440 —Cevada<br />
300 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />
meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />
Azeite a 1/610.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />
na semana ultima, os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Rachel <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Jacintho das<br />
Neves e Margarida Rosa, <strong>de</strong> Coselhas,<br />
<strong>de</strong> 61 annos. Falleccu <strong>de</strong> tuberculose<br />
pulmonar, no dia 1.<br />
Anna Maxima do Carmo Donato, filha<br />
<strong>de</strong> José Rodrigues Tocha e Theresa<br />
Ignacia da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />
87 annos. Falleceu <strong>de</strong> brancho pneumonia<br />
no dia 6.<br />
Antonio Vieira <strong>de</strong> Figueiredo da<br />
Fonseca, filho <strong>de</strong> Julio Augusto da Fonseca<br />
e D. Maria Filomena Vieira <strong>de</strong> Figueiredo,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 9 mezes. Falleceu<br />
<strong>de</strong> tuberculose, no dia 8.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemiterio —16:839.<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordfnaria<br />
23 <strong>de</strong> março<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />
d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />
presentes: João da Fonseca Rarata,<br />
Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros, João Antonio<br />
da Cunha, Manoel Miranda, Antonio José<br />
Dantas Guimarães, e Joaquim Justiniano<br />
Ferreira Lobo, effectivos; José Corrêa dos<br />
Santos, substituto.<br />
Arrematou em praça os impostos in-<br />
soladoras, conservou os olhos fixos na<br />
luz da camara <strong>de</strong> Van-Ritter.<br />
A aurora veiu encontral-o na mesma<br />
attitu<strong>de</strong>. Tinha esgotado já todo o thesouro<br />
<strong>de</strong> dores que ao homem foi dado<br />
para o amor.<br />
Uma commoçã» inesperada lhe faltava<br />
ainda, e essa tornou-o mudo e immovel...<br />
A brisa da manhã inflamma as<br />
velas da fragata, e Paulo Gréant viu-a<br />
voltar sobre a quilha, saliir do ancoradouro<br />
e alcançar o mar alto com a graça<br />
e agilida<strong>de</strong> d'uma ave.<br />
Memma, então, estava perdida para<br />
sempre I<br />
VIII<br />
Um casamento suspenso<br />
Van-Rilter não tinha dito tudo.<br />
Um d'estes <strong>de</strong>spachos, que estão suspensos<br />
sobre a cabeça dos marinheiros<br />
como espadas <strong>de</strong> Dâmocles, levava esta<br />
or<strong>de</strong>m :<br />
«Apparelhará no dia 11, antes do<br />
nascer do sol; á altura da Sicilia abrirá<br />
o invólucro n.° 17, que lhe dará novas<br />
instrucções.»<br />
Ora o dia 11 era o dia seguinte ao<br />
do casamento.<br />
Para não perturbar a festa e o baile,<br />
Van-Ritter só vagamente tinha fallado da<br />
sua próxima partida, sem dizer o dia.<br />
Alem d'isso Santa Scala, que pertencia<br />
directos sobre os generos a consumir<br />
até ao fim do anno, nas Torres, Carva-<br />
Ihosas, Casal da Mizarella, Foz das<br />
Cannas e Zorro, Palheiros; no Tovim e<br />
Chão dr> Rispo; na Pedrulha; nas freguezias<br />
<strong>de</strong> Souzellas, Ribeira, Arzilla e<br />
Assafarge e no Casal do Lobo.<br />
Mandou annunciar nova praça para<br />
o fornecimento <strong>de</strong> pedra para cobertura<br />
<strong>de</strong> canos <strong>de</strong> esgoto, por não terem comparecido<br />
nesta data licitantes.<br />
Resolveu pedir ao chefe do districto,<br />
para se empenhar com o governo, para<br />
que sejam mandados em breve os cavai<br />
los reproductores para os serviços <strong>de</strong><br />
no posto hypico, junto da escola pratica<br />
central d'agricultura.<br />
Auctorisou o presi<strong>de</strong>nte a contractar,<br />
como mais convier, o fornecimento <strong>de</strong><br />
papel para os serviços da secretaria e<br />
repartições annexas, por não ter sido<br />
apresentada hoje proposta alguma para<br />
este fim, segundo os annuncios <strong>de</strong> novo<br />
publicados.<br />
Resolveu prescendir dos serviços do<br />
facultativo do asylo dos cegos.<br />
Resolveu abrir concurso para o provimento<br />
do logar d^nspector dos incêndios,<br />
nos termos dos <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> 13 e<br />
24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892.<br />
Approvou o orçamento <strong>de</strong> réis 82)5830<br />
para a casa <strong>de</strong> officina, junto da casa<br />
das machinas á Alegria, constando esta<br />
obra <strong>de</strong> vários compartimentos na casa<br />
existente e na das machinas e telheiro<br />
contíguo.<br />
Multou em 3 dias <strong>de</strong> vencimento, segundo<br />
o regulamento, o bombeiro n.°<br />
11 da 2.* esquadra, por faltas aos incêndios<br />
e ao serviço <strong>de</strong> revistas <strong>de</strong> material.<br />
Mandou intimar um proprietário <strong>de</strong><br />
Brasfemes para dar seis lanchas <strong>de</strong> oliveira,<br />
como se obrigou em condições <strong>de</strong><br />
substituírem outras tantas arvores, que<br />
se cortaram na estrada, a seu pedido;<br />
outro, d'esta cida<strong>de</strong>, para recolher, segundo<br />
a lei, as aguas <strong>de</strong> uma ca
AIIO I-K. 0 99 O DEFENSOR DO POVO 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
L I V R O S<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
ura exemplar.<br />
A Galeria Portugueza<br />
Revista semanal illustrada<br />
A mais notável do seu genero entre<br />
nós. Sae lodos os domingos, com gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> illuslrações. Collaboração<br />
Ijiteroris escolhida e variada.<br />
Cada numero <strong>de</strong> 16 paginas 40 réis.<br />
Escriptorio <strong>de</strong> redacção e administração:<br />
t-Rua <strong>de</strong> D. Pedro, 11D, 1.°—<br />
Porto.<br />
HISTOUIA DE PORTUGAL<br />
PELO<br />
Doutor Henrique Schaefer<br />
Vertida fiel, integral e directamente<br />
do original allemão<br />
POR<br />
F. <strong>de</strong> Assis Lopes<br />
Continuada, sob o mesmo plano,<br />
até nossos dias<br />
POR<br />
J. mmk SE SAMPAIO (MWO)<br />
Edição completa por um corpo <strong>de</strong><br />
notas, ampliando, corrigindo ou comprovando<br />
o texto, pelo in<strong>de</strong>fesso concurso,<br />
entre outros eminentes collaboradores,<br />
da ex. raa sr. a D. Carolina Michaelis <strong>de</strong><br />
Vasconcellos e dos ex. raos srs. Alberto<br />
Pimentel, Bazilio Telles, Rernardino Pinheiro,<br />
Delphin) <strong>de</strong> Almeida, Henrique<br />
<strong>de</strong> Gama Rarros, Joaquim <strong>de</strong> Araujo,<br />
Joaquim <strong>de</strong> Vasconcelos, Latino Coelho,<br />
Luciano Cor<strong>de</strong>iro, Oliveira Martins, Pinheiro<br />
Chagas e Theophilo Braga.<br />
Publicação semanal aos fascículos <strong>de</strong><br />
100 réis cada um. Lisboa e Porto, 100<br />
réis; províncias e ilhas, 120 réis. Assigna-se<br />
em todas as livrarias do paiz e<br />
no escriptorio da empreza editora, rua<br />
do Bomjardim, 414. — Porto.<br />
Em <strong>Coimbra</strong> assigna se nas livrarias<br />
Mesquita e Paula e Silva.<br />
CHRISTHANISMO<br />
E<br />
OLTMMONTMfSMO<br />
Protesto patriotico contra Roma<br />
PELO<br />
PRESBYTERO<br />
Joaquim dos Santos Figueiredo<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas livrarias do Porto, <strong>Coimbra</strong><br />
e Lisboa. — Preço 5» réis.<br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha ...<br />
Repetições ..<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
gg g^mpresta-ae dinheiro sobre<br />
!•( objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 6 — COIMBRA.<br />
104 d'una para loja <strong>de</strong><br />
Ir retrozeiro e miu<strong>de</strong>zas. Prefere-se<br />
com alguma pratica.<br />
RUA FERREIRA BORGES, 147<br />
I
Defensor<br />
OT P ^ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 78<br />
rin Pnun<br />
• Cada vez peor<br />
E' impossível que, <strong>de</strong>ntro da'<br />
monarchia, lenhamos salvação possível.<br />
Não sei que athmosphera empestada<br />
é aquella em que vivem os<br />
nossos homens <strong>de</strong> estado, que, se<br />
porventura promulgam uma medida<br />
aceitavel pela opinião, logo em<br />
seguida vem oulra que <strong>de</strong>stroe por<br />
completo qualquer benevolencia que<br />
a primeira inspire. E' o que se dá<br />
agora mesmo, neste tempo em que<br />
parecia que o governo se inspirava<br />
mais em governar seriamente e segundo<br />
as conveniências publicas<br />
do que inspirado pelos interesses<br />
<strong>de</strong> qualquer.<br />
Pelo ministério da fazenda tem<br />
ido a celeuma conhecida, em medidas<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance para o thesouro<br />
e alé para a moralida<strong>de</strong>; mas<br />
propala-se ultimamente a noticia<br />
d'um aclo praticado pelo sr. Fuschini<br />
que atlinge as proporções do<br />
escandalo e o apeia do pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong><br />
intransigência e <strong>de</strong> hombrida<strong>de</strong> em<br />
que se collocou.<br />
Se a noticia se comprovar, havemos<br />
<strong>de</strong> a ella nos referir largamente,<br />
criticando, corno elle merece,<br />
o procedimento do sr. Fuschini.<br />
E parallelamente aos actos mais<br />
ou menos moralisadores e <strong>de</strong> boa<br />
administração do actual governo,<br />
surge lambem pelo ministério da<br />
marinha uma concessão escandalosa,<br />
que colloca o sr. Neves Ferreira<br />
numa bem triste situação — é a<br />
concessão do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong><br />
Quelimane ao Chire.<br />
No Diário do Governo, do dia<br />
12, foi publicado um <strong>de</strong>creto que<br />
auclorisou o governo a conce<strong>de</strong>r a<br />
um syndicalo a construcção d'aquelle<br />
caminho <strong>de</strong> ferro em taes condições,<br />
ro<strong>de</strong>ando-se os concessionários<br />
<strong>de</strong> taes direitos, que os interesses<br />
públicos são extraordinariamente<br />
prejudicados em favor do<br />
syndicalo; assim,, conee<strong>de</strong>-lhe:<br />
i<br />
1.° Todos os terrenos do estado que<br />
<strong>de</strong>v-erem ser occupados pela linha ;<br />
2.° Meta<strong>de</strong> dos terrenos numa zona<br />
<strong>de</strong> 2:000 metros para cada lado do eixo<br />
do caminho;<br />
3.° A escolha, <strong>de</strong> accordo com o<br />
governo, <strong>de</strong> terrenos incultos e pertencentes<br />
ao estado no districto <strong>de</strong> Quelimane<br />
e ao norte do Zamheze, a fim <strong>de</strong> nelles<br />
exercer ou promover a exploração agrícola,<br />
mineira ou <strong>de</strong> qualquer outra riqueza<br />
ali existente, não po<strong>de</strong>ndo a area ser superior<br />
a 100 mil hectares;<br />
4.° Uma area <strong>de</strong> terreno pertencente<br />
ao estado, <strong>de</strong> 1 kilomelro quadrado, junto<br />
ás estações do Chire, Mopeia e Zambeze,<br />
para a construcção <strong>de</strong> caes e estações:<br />
8.° Uma porção <strong>de</strong> terreno pertencente<br />
ao estado em Quelimane, escolhida<br />
por mutuo accordo entre o .governo e a<br />
empreza, para a construcção <strong>de</strong> <strong>de</strong>positos,<br />
armazéns e outras installações, não exce<strong>de</strong>ndo,<br />
porém, a 1 kilomelro quadrado ;<br />
e bem assim uma porção da margem do<br />
rio dos Bons Signaes para a construcção<br />
<strong>de</strong> docas., armazéns, caes acostaveis e<br />
ii*slallações necessarias para a carga e<br />
<strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> navios;<br />
6.° O direito, durante o praso da<br />
construcção, <strong>de</strong> exlrair das florestas e<br />
terrenos do estado todas as ma<strong>de</strong>iras e<br />
maleriaes que forem necessários para a<br />
construcção da linha ;<br />
7. u O direito <strong>de</strong> preferencia, em<br />
egualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circumstancias, para a<br />
construcção <strong>de</strong> ramaes e prolongamentos.<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO V A V ^ A V V - /<br />
E tudo isto, e muito mais, por<br />
noventa e quatro contos <strong>de</strong> réis, com<br />
que os concessionários hão <strong>de</strong> reembolsar<br />
o thesouro das <strong>de</strong>spezas feitas<br />
com o estudo do caminho <strong>de</strong><br />
ferro.<br />
E ludo isto — caminho <strong>de</strong> ferro,<br />
docas, pontes, caes, baldios,<br />
mattas, minas, isenção perpetua <strong>de</strong><br />
impostos, um prazo á escolha, etc.,<br />
foi dado <strong>de</strong> mão beijada a uma empreza<br />
particular, sem o governo auferir<br />
um ceitil...<br />
O sr. ministro da marinha não<br />
trepidou em patrocinar esta negociata<br />
escandalosa, contra os interesses<br />
públicos, só em benemerencia<br />
d'uns certos, que d'aqui a pouco<br />
po<strong>de</strong>m ce<strong>de</strong>r a uma companhia<br />
qualquer ingleza os importantes<br />
direitos que souberam apanhar a<br />
um governo pouco escrupuloso; o<br />
sr. ministro da marinha saltou sobre<br />
o protesto energico d'um homem<br />
competentíssimo; oppôz-se á<br />
abertura d'um concurso; dispensouse<br />
<strong>de</strong> levar o caso ao parlamento...<br />
E proce<strong>de</strong>u assim o sr. ministro da<br />
marinha, num gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo pela<br />
opinião e incúria vergonhosa pelos<br />
interesses do seu paiz.<br />
E po<strong>de</strong>, porventura, <strong>de</strong>positarse<br />
qualquer vislumbre <strong>de</strong> esperança<br />
nestes homens?<br />
E' inegável que, <strong>de</strong>ntro da monarchia,<br />
não temos salvação possível.<br />
E continuar-se-ha<br />
Segundo as contas do thesouro, a<br />
divida fluçtuante, relativa a 31 <strong>de</strong> março<br />
ultimo, consta no estrangeiro <strong>de</strong> mil trezentos<br />
e quarenta e tres contos e setecentos<br />
e trinta e oito mil e quinhentos e quarenta<br />
réis, e no paiz, <strong>de</strong>zeseis mil e trezentos e<br />
setenta e oito contos, setecentos e setenta<br />
e seis mil e duzentos e noventa réis.<br />
A esta ultima conta resta addicionar<br />
vinte e dois mil duzentos e cincoenta e<br />
quatro contos, trezentos e <strong>de</strong>zenove mil e<br />
quinhentos e vinte e tres réis.<br />
Tudo isto attinge a bonita cifra <strong>de</strong><br />
39.996:8 I4,$S53 réi«.<br />
E ainda ha por esse mundo além<br />
ingénuos que faliam na salvação da palria,<br />
como se isso fosse mais do que uma<br />
phanlasia dolorosa!<br />
Dividas ao estado<br />
Á medida que os respectivos juizes<br />
vão or<strong>de</strong>nando novas execuçõos por dividas<br />
ao Estado, relata o Século, vão-se<br />
apurando também novos e sempre graves<br />
erros. Agora viu-se que, sendo o sr.<br />
dr. Bernardo d'Albuquerque, lente da<br />
faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, intimado a pagar<br />
uma contribuição em divida, referida a<br />
1870 e relativa a emolumentos, tal contribuição<br />
fôra satisfeita em tempo <strong>de</strong>vido.<br />
Agora, com os juros, custas, etc., exigia-se<br />
ao sr. dr. Bernardo d'Albuquerque<br />
cerca <strong>de</strong> 300$000 réis.<br />
iii<br />
Os Panamás<br />
A Capitale, orgão do ministro da fazenda<br />
<strong>de</strong> Italia, revelou um escandalo similhante<br />
ao do Panamá, praticado no<br />
Banco da Sicilia, e publica os nomes <strong>de</strong><br />
alguns indivíduos compromeltidos no<br />
caso.<br />
Entre os mais importantes ha o senador<br />
Gazalotto, que é <strong>de</strong>vedor <strong>de</strong> dois<br />
milhões ha muitos annos; o do commendador<br />
Bonajuto, antigo <strong>de</strong>putado, que <strong>de</strong>ve<br />
400:000 liras e o marquez Sanginliano,<br />
sub-secretario d'estado no ministério do<br />
commercio, que <strong>de</strong>ve 93:000 liras.<br />
D'on<strong>de</strong> se cooclue que não é privilegio<br />
da França os altos escaudalos como<br />
o do Panamá.<br />
PELOS JORNAES<br />
Já não ha que duvidar. Isto não é<br />
uma questão <strong>de</strong> homens, é uma questão<br />
<strong>de</strong> meio.<br />
Cheio d'esperanças entrou para a<br />
pasta da fazenda, o sr. Fuschini, começando<br />
por uma fórma tão energica e<br />
<strong>de</strong>sassombrada que muito parecia ler-se<br />
a esperar d'elle.<br />
Mas não sei que mau vento é este<br />
que sopra aos nossos homens assim que<br />
ascen<strong>de</strong>m ás ca<strong>de</strong>iras governamentaes.<br />
A questão do emprestimo dos tabacos<br />
parece ter prendido pouco a attenção<br />
<strong>de</strong> s. ex. a mais disposto a beneficiar<br />
os afilhados <strong>de</strong> que a nação, como diz o<br />
Temjpo, num artigo commentando o <strong>de</strong>spacho<br />
<strong>de</strong> chefe <strong>de</strong> repartição <strong>de</strong> Montepio<br />
official:<br />
«Vô-se que está no galerim a Liga<br />
liberal, e que o generoso coração do<br />
austero sr. Fuschini não é <strong>de</strong> ponta tão<br />
dura qtie se não <strong>de</strong>sdodre em affectuosas<br />
ternuras por quem o ajudou a ser<br />
homem.»<br />
O mal vem <strong>de</strong> lá mais fundo e ahi<br />
é que é atacal-o e <strong>de</strong>ixemo-nos <strong>de</strong> mais<br />
trocas e baldrocas ministeriaes.<br />
Corte-se o mal pela raiz e veremos<br />
como isto muda.<br />
Ainda sobre o assumpto diz mais o<br />
referido jornal:<br />
«Houve noutro tampo, in illo tempore,<br />
uma lei chamada <strong>de</strong> salvação<br />
publica que prohibia a creação <strong>de</strong> novos<br />
empregos, e <strong>de</strong>terminava que não<br />
se nomeasse nenhum empregado novo<br />
em quanto houvesse addidos nos quadros.<br />
Hão <strong>de</strong> estar lembrados.»<br />
Admira-se então o Tempo que se atropelle<br />
a lei ?<br />
Pois olhe, que não faz muita honra<br />
ao mestre José Dias.<br />
*<br />
Isto é um nunca acabar.<br />
A cada canto seu espirilo santo.<br />
Por um lado empréstimo <strong>de</strong> tabacos,<br />
salamancada, etc., etc., e á ultima hora<br />
escreve o Popular ácerca da concessão<br />
do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> Quelimane ao<br />
Chire:<br />
«Se o governo enten<strong>de</strong>r praticar o<br />
erro <strong>de</strong> fazer a concessão nos termos<br />
em que é pedida, e <strong>de</strong>pois ella ha <strong>de</strong><br />
ser vendida ao sr. Cameron e consorte»,<br />
porque não a ven<strong>de</strong> o Estado ao<br />
mesmo sr. Cameron e consortes, e ha<br />
<strong>de</strong> passar pelo goso <strong>de</strong> primeiro a dar<br />
<strong>de</strong> graça para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser vendida?<br />
Ora antes, se ha <strong>de</strong> o Estado cabir no<br />
erro d'aquella concessão, por que não<br />
abre concurso para adjudicat-a uas<br />
condições que por melhores tiver?»<br />
«Certo é que o sr. Cameron continua<br />
em Lisboa, e certo é que chegou<br />
agora um agente <strong>de</strong> Cecil Hho<strong>de</strong>s.<br />
«Mas para nós também é certo que<br />
o sr. Neves Ferreira não fará semelhante<br />
concessão, ou que, se a fizer,<br />
a levará previamente ás cortes.»<br />
Pois agora vejam o final.<br />
Diz o nosso collega a Batalha:<br />
«Enganou-se. A concessão está feita<br />
e o <strong>de</strong>creto respectivo já foi hoje publicado<br />
na folha offijial.»<br />
Querem melhor <strong>de</strong> que isto?<br />
*<br />
Traz o nosso collega a Vanguarda<br />
um artigo intitulado — O Exercito —<br />
Economias, pondo em relevo, o que mais<br />
d'uma vez temos aqui dito ácerca do dispêndio<br />
excessivo que estamos fazendo<br />
com tal classe.<br />
E' necessário o exercito activo?<br />
A nosso ver é muito questionável;<br />
mas, dando <strong>de</strong> barato até ponto, concordamos<br />
plenamente com o nosso collega,<br />
quando nos diz:<br />
«Ora, o nosso exercito pô<strong>de</strong> manter<br />
todas as suas condições <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong><br />
publica, sem o esbanjamento luxuoso<br />
da inutilida<strong>de</strong>, mais nociva que<br />
proveitosa.<br />
«A organisação militar <strong>de</strong> 1884 não<br />
resiste á mais rapida critica.<br />
«Setenta e dois batalhões agrupados<br />
em regimentos <strong>de</strong> dois batalhões<br />
activos, só podiam ser acceites, em<br />
Portugal, por quem quizesse arregimentar<br />
trinta e seis coronéis, trinta é<br />
seis tenentes coronéis e setenta e dois<br />
majores.»<br />
E assim é. O único fim foi comprar<br />
já a custo do povo, já com o <strong>de</strong>scredito<br />
d'uma classe, até então tão respeitada e<br />
querida.<br />
João Chagas<br />
Os republicanos do Funchal vão pedir<br />
a João Chagas que caso o vapor que<br />
o conduz a Lisboa tenha paragem naquelle<br />
porto, elle se <strong>de</strong>more alguns dias na ilha<br />
da Ma<strong>de</strong>ira afim <strong>de</strong> lhe tributarem a sua<br />
estima.<br />
Suffragio universal<br />
A regeição pelo parlamento belga da<br />
proposta <strong>de</strong> lei em que se propunha o<br />
estabelecimento do suffragio universal,<br />
instantemente reclamado pelo operariado<br />
da Bélgica, <strong>de</strong>u occasião a tumultos sérios,<br />
para apasiguar os quaes teve <strong>de</strong><br />
intervir a.força armada.<br />
Em virtu<strong>de</strong> d'este procedimento das<br />
cortes constituintes, não acce<strong>de</strong>ndo a satisfazerem<br />
esta reclamação popular, os<br />
operários <strong>de</strong>claram-se em gréve a que<br />
adheriram já mais <strong>de</strong> 2:000 operários<br />
mineiros. E' assim, nesta posição <strong>de</strong> resistência,<br />
em <strong>de</strong>feza dos seus interesses,<br />
das suas garantias sociaes, que a <strong>de</strong>mocracia<br />
belga respon<strong>de</strong> ao espirilo <strong>de</strong> reacção<br />
manifestado no parlamento.<br />
O que é <strong>de</strong> recear é que d'esta situação<br />
tensa, surjam consequências lamentáveis.<br />
Persista o operariado nas suas reclamações,<br />
imponha-se, que a força é sua;<br />
é d'esle modo que conseguira que se<br />
consigne na constituição do seu paiz o<br />
principio do suffragio universal, como a<br />
sua mais segura garantia.<br />
A Cava <strong>de</strong> Viriato<br />
As diabruras dos typographos e a<br />
myopia da revisão, obrigam-nos a erratas<br />
constantes, fóra as gralhas que a<br />
perspicacia dos leitores (vá lá a phrase<br />
consagrada) tem <strong>de</strong> emendar por si.<br />
No ultimo numero, em que Gri-gri<br />
teve <strong>de</strong> appellàr para a benevolencia da<br />
composição, sahiram gralhas que nos<br />
obrigam já hoje a novas emendas.<br />
Ácerca do Santo Antonio em Vizeu,<br />
referimo-nos á cava <strong>de</strong> Viriato, mas lá<br />
sahiu — casa <strong>de</strong> Viriato, que dizíamos<br />
ser hoje um monturo, que os typographos<br />
substituíram por — d'um monturo.<br />
Mas ha males que vêem por bem,<br />
porque este <strong>de</strong>u-nos ensejo para chamarmos<br />
<strong>de</strong> novo a attenção da camara municipal<br />
<strong>de</strong> Vizeu para a tão celebre cava,<br />
reduzida boje a um verda<strong>de</strong>iro monturo.<br />
E é pena, realmente, que se faça vasadouro<br />
publico d'um logar a que andam<br />
ligadas heróicas tradições históricas, e<br />
que, pela sua posição aprazível, d'on<strong>de</strong><br />
se dislructa uiu pauorama bello, e tão<br />
proximo da estação do caminho <strong>de</strong> ferro,<br />
merece realmente mais attenção e cuidado<br />
da municipalida<strong>de</strong> viziense.<br />
Bom será, pois, que esta nossa lembrança<br />
cale no espirito dos senadores <strong>de</strong><br />
Vizeu, realisando esta idêa <strong>de</strong> aformoseainento<br />
da Cava <strong>de</strong> Viriato, mas, claro<br />
é, sera a <strong>de</strong>struírem. Honrarão assim<br />
a memoria d'um heroe da nossa historia,<br />
nos tempos mais remotos, mas que ainda<br />
hoje vive na tradição, immorredouro,<br />
ao mesmo tempo que conseguirão para a<br />
cida<strong>de</strong> um formoso passeio.<br />
A idêa ahi fica.<br />
Gran<strong>de</strong> viagem<br />
Mr. Guillot, tenente <strong>de</strong> infanteria do<br />
exercito francez, partiu na semana ultima<br />
<strong>de</strong> Constantinopla para Paris, em bycicleta,<br />
atravessando a Bulgaria, Servia,<br />
Hungria, Áustria e Suissa.<br />
As auctorida<strong>de</strong>s turcas dispensaram-<br />
Ihe a maior protecção até á fronteira.<br />
In illo tempore<br />
O distincto prosador das Novida<strong>de</strong>s,<br />
o sr. dr. Trinda<strong>de</strong> Coelho, que naquelle<br />
jornal tem burilado bellos trechos <strong>de</strong> prosa<br />
em perfis bem <strong>de</strong>senhados e em historias<br />
do seu tempo <strong>de</strong> estudante, bem<br />
apanhadas, tenciona colligir em livro<br />
aquelles fragmentos dispersos, completando-os<br />
com muitos outros.<br />
O livro será illustrado por Bordallo<br />
Pinheiro com as caricaturas dos indivíduos<br />
a quem o illustre escriptor se tem<br />
referido.<br />
Os excentricos<br />
Sir William Draggs é um excentrico<br />
pur sang.<br />
lia annos entrou numa carruagem <strong>de</strong><br />
praça e foi ao porto <strong>de</strong> Brighton, on<strong>de</strong><br />
estava ancorado o seu yacht.<br />
— Espere ahi—disse elle fleugmalicamente<br />
ao cocheiro. E embarcou no<br />
yacht.<br />
Sir Draggs tencionava fazer um pequeno<br />
passeio mas tão bem se achou<br />
que resolveu no mesmo instante dar a<br />
volta ao mundo.<br />
O que fazia no entretanto o cocheiro<br />
no caes <strong>de</strong> Brighton? Esperava. Pediu<br />
auctorisação para construir uma especie<br />
<strong>de</strong> alpendre que o abrigasse a si e ao cavalio,<br />
e alli permaneceu todos os dias.<br />
Decorreu um anno. O cocheiro vivia<br />
alli, fumando o seu cachimbo á porta,<br />
sempre <strong>de</strong> chicote em punho O cavailo<br />
sempre atrellado, engordava extraordinariamente.<br />
Uma manhã o cocheiro avistou o<br />
yacht <strong>de</strong> sir William Draggs que <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ter dado a volta ao mundo regressava<br />
a Inglaterra. A primeira pessoa que<br />
elle avistou ao <strong>de</strong>sembarcar foi o cocheiro.<br />
Não se surprehen<strong>de</strong>u.<br />
— AU right!— disse elle, quanto lhe<br />
<strong>de</strong>vo ?<br />
O cocheiro apresentou a conta que<br />
subia a perto <strong>de</strong> tres conlos <strong>de</strong> réis. Sem<br />
pestanejar sir Draggs tirou e abriu um livro<br />
<strong>de</strong> cheques e escrevendo nelle » somma<br />
reclamada, entregou-o ao cocheiro.<br />
— Agora, disse elle, leve-me a minha<br />
casa.<br />
Subiu para a carruagem e quando<br />
chegou a casa ia a subir, mas o cocheiro,<br />
chaiu indo o, disse :<br />
— E a corrida?<br />
— E' justo, disse sir Draggs. E <strong>de</strong>ulhe<br />
ainda dois schellings.<br />
O Z R T S r S T A . E S<br />
Yoi populi, YOX Dei<br />
(A ARNALDO D'OLIVEIRA )<br />
Na al<strong>de</strong>ia, toda a gente murmurava<br />
Em <strong>de</strong>sfavor da pobre rapariga;<br />
A mais leal e affeiçoada amiga,<br />
Essa mesma, por fóra, a diffamava.<br />
Uma noite que no adro se cantava<br />
Ao ru<strong>de</strong> som d'uma viola antiga,<br />
Alguém lhe dirigiu certa cantiga,<br />
Que a <strong>de</strong>sgraçada quasi <strong>de</strong>smaiava...<br />
Morreu pouco <strong>de</strong>pois. Á luz d'um cirio<br />
—Kosea camélia transformada em lyrio,<br />
Eu a vi na postura <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira;<br />
Debrucei-me, tremente, sobre a eça<br />
E notei que na languida cabeça<br />
Levava murcha a flôr <strong>de</strong> larangeira...<br />
*<br />
Ho cemiterio<br />
(Ao SR. ANTHERO DO QUENTAL)<br />
Altas horas, o mármore nevado<br />
Das velhas sepulturas esquecidas,<br />
Toma formas phantasticas, doridas,<br />
Em que o luar se alastra, macerado.<br />
O vento, como um doido abandonado,<br />
Soluça nas ramagens estendidas<br />
E as rosas brancas tombam, doloridas,<br />
Sobre o triste caminho <strong>de</strong>solado.<br />
Ao fundo um bronzeo Christo silencioso<br />
Pen<strong>de</strong> da cruz immovel, mysterioso<br />
Os gran<strong>de</strong>s olhos húmidos, celestes...<br />
E a lua, a eterna virgem macilenta,<br />
Põe um lençol <strong>de</strong> luz amarellonta<br />
No ver<strong>de</strong> escuro dos flnaes cyprestes.<br />
EDUARDO COIMBRA.
A M O I — W.* 9 8 O DEFENSOR DO POVO 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
L E T T R A S<br />
Noite <strong>de</strong> núpcias<br />
(CONCLUSÃO)<br />
III ,<br />
Chegou o gran<strong>de</strong> dia, isto é o dia<br />
do casamento <strong>de</strong> Annelte Curoz e <strong>de</strong><br />
Anselmo Piedamour.<br />
Este bem <strong>de</strong>sejaria não entrar- na<br />
egreja, a fim <strong>de</strong> conquistar alguns votos<br />
a mais, mas por cousa alguma do mundo,<br />
Annette consentiria em privar-se d'uma<br />
ceremonia que convinha á sua magestosa<br />
belleza. Porque não é precisamente solemne<br />
a entrevista na mairie em presença<br />
d'um magistrado repleto das côres nacionaes.<br />
Como todas as verda<strong>de</strong>iras mulheres,<br />
Annette amava o odor do incenso,<br />
o esplendor das casulas, a langui<strong>de</strong>z do<br />
orgão, a poesia dos psalmos, emfim todo<br />
este maravilhoso conjuncto <strong>de</strong>corativo e<br />
pagão que ro<strong>de</strong>ia as festas christãs.<br />
Foi um casamento retumbante para<br />
a terra.<br />
Voltando pelo braço do seu novo<br />
marido que caminhava altivo como um<br />
futuro ministro, Annelte tinha um não<br />
sei que <strong>de</strong> triumphante que a tornava<br />
mais appetitosa ainda, uma chamma no<br />
olhar on<strong>de</strong> se liam mil impaciências lisongeiras<br />
para aquelle que a conduzia.<br />
Os seus bellos caiiellos, atravessados <strong>de</strong><br />
tons ruivos em profun<strong>de</strong>zas d'ouro sombrio,<br />
tinham estremecimentos como os<br />
que uma caricia <strong>de</strong>senvolve nas costas<br />
impressionáveis dos felinos, um brilho<br />
magnético, singular como uma corrente<br />
<strong>de</strong> voluptuosida<strong>de</strong> que passa. Os seus<br />
belos lábios, eram como um ninho <strong>de</strong><br />
beijos prestes a voar...<br />
Todos se sentaram á meza, após um<br />
curto passeio, e o repasto foi tanto mais<br />
sumptuoso, que o sr. Piedamour julgava<br />
fazer um reclamo á sua popularida<strong>de</strong>.<br />
Uma hecatombe <strong>de</strong> gallinhas, patos<br />
e perus engolphou-se no estômago dos<br />
eleitores, emquanto o amphitrião punha<br />
em relevo a excellencia dos seus proprios<br />
méritos.<br />
Pela sua parte, Annelte ficou <strong>de</strong>smedidamente<br />
lisongeada por um tal luxo,<br />
e quiz vêr nelle uma prova <strong>de</strong> amor<br />
exaltado; comtudo, comeu pouco, pensando<br />
noutra cousa... e o tempo parecia-lhe<br />
longo. Quanto melhor não seria<br />
estarem ambos sós 1... E como este<br />
ambos sós <strong>de</strong>morava tanto I<br />
Emfim, <strong>de</strong>u meia noite, e ella, <strong>de</strong>clarando<br />
que estava um pouco fatigada<br />
fez levantar todos os convivas.<br />
Qual não foi, porém a sua admiração<br />
ao ouvir Piedamour dizer a alguns dos<br />
seus amigos:<br />
— Fiquem, meus senhores, fiquem,<br />
que ainda vamos beber algumas garrafas<br />
<strong>de</strong> Champagne...<br />
Ella então <strong>de</strong>spediu-se dos convidados<br />
e entrou só no quarto nupcial, imaginando<br />
que não esperaria muito por<br />
Piedamour, mas dizendo para si que elle<br />
bem po<strong>de</strong>ria dispensar-se <strong>de</strong> continuar a<br />
festa.<br />
IV<br />
Havia muito tempo já que Annelte<br />
aguardava seu marido, quando o ouviu<br />
subir. O tempo parecera-lhe muito longo,<br />
pela humilhação que lhe infligira e curto<br />
pelos <strong>de</strong>liciosos projectos com que ella o<br />
preenchera.<br />
Ralharia com o noivo, quando elle<br />
por fim entrasse?<br />
Um pouco... um pouco... que não<br />
durasse muito...<br />
E <strong>de</strong>pois, quem sabe?<br />
Era talvez a commoção da sua felicida<strong>de</strong><br />
que o faria <strong>de</strong>morar... porque<br />
tem-se visto esposos enamoradíssimos<br />
não ousarem, na primeira noite, approximar-se<br />
<strong>de</strong> sua mulher. ..<br />
E se islo succe<strong>de</strong>sse com Piedamour?<br />
Não seria horrível para Annette?<br />
Não, não I Ella animal-o ia, conduzil-o-ia<br />
á confiança em si proprio pela<br />
ternura...<br />
Piedamour entrou, e começou a passear<br />
pelo quarto, como um homem extremamente<br />
preoccupado.<br />
Durou isto uma meia hora.<br />
Por fim, Annette:<br />
— Então, meu amigo, não estás fatigado?<br />
Não será melhor <strong>de</strong>itares-te?<br />
E elle respon<strong>de</strong>u parecendo respon<strong>de</strong>r<br />
antes a si proprio do que ao seu<br />
pensamento:<br />
— E' isto... Com as seis ultimas<br />
garrafas, temos mais cem francos dè<br />
Champagne...<br />
— Não será isso que nos arruinará...<br />
— observou ella sorrindo.<br />
— Com os pasteis que comemos,<br />
caminha para os cento e vinte francos.. .<br />
— Depressa os recuperarás, meu<br />
amigo, dando muitas lições...<br />
— Oh! e as talhadas <strong>de</strong> presunto<br />
com que eu não contava? Temos pelo<br />
menos, pelo menos cento e sessenta<br />
francos.. .<br />
— Oh! meu amigo, não quebres a<br />
cabeça cora tantos cálculos... Vem<br />
<strong>de</strong>itar-te anda...<br />
E dizendo-lhe isto, admiravel <strong>de</strong> paciência<br />
e <strong>de</strong> brandura, Annelte estendia<br />
para elle os seus bellos braços, brancos<br />
roliços, e roçava pela estremida<strong>de</strong> do<br />
travesseiro, uns provocantes princípios<br />
<strong>de</strong> seio, que se entreviam sob a SUJ<br />
camisa aberta.<br />
Sempre pensativo e indiferente Piedamour<br />
continuou:<br />
— E o doce? Po<strong>de</strong>mos pôr cento e<br />
oitenta francos, e não erramos...<br />
Ella suspirava ruidosamente, já zangada.<br />
— E os charutos? Mais vinte francos,<br />
que prefazem a conta redonda <strong>de</strong><br />
duzentos francos...<br />
Annette não pou<strong>de</strong> conter-se mais e<br />
saltou do leito.<br />
— Vamos, sê compassivo, Anselmo!<br />
fez ella com voz supplicanle.<br />
E, como a uma creança, começou a<br />
<strong>de</strong>spil-o, apesar da sua resistencia, uma<br />
resistencia cómica e <strong>de</strong>sastrada como<br />
<strong>de</strong>via ser a <strong>de</strong> José, quando Puliphar o<br />
agarrava pela capa. Em seguida, impelliu-o<br />
para o leito nupcial, e fél-o entrar<br />
quasi violentamente. Emfim! Elle estava<br />
junto d'ella... e, uma vez alli... Mas,<br />
ó pobre Annette! pobre Annette! Piedamour<br />
retomou horisontalmente a meditação<br />
que começára verticalmente, com<br />
um resmungar menos distincto e on<strong>de</strong><br />
se entendia só: « — Duzentos e trinta...»<br />
— a—Duzentos e cincoenta...» — «<br />
— Trezentos...—Emfim, callou-se, e<br />
pareceu a Annette que o seu pensamento<br />
tomava um outro curso. E, após um instante<br />
<strong>de</strong> silencio, em voz baixa:<br />
— Então, meu amigo, nada me dizes?<br />
E elle, voltando se para a pare<strong>de</strong>,<br />
respon<strong>de</strong>u naturalmente:<br />
— Parece-me que ainda me esqueceu<br />
alguma coisa...<br />
E adormeceu profundamente.<br />
qA. Silvestre.<br />
I.° <strong>de</strong> maio<br />
Vae reunir brevemente em Lisboa a<br />
Associação dos Constructores Civis e Mestres<br />
d'<strong>Obra</strong>s, a fim <strong>de</strong> resolver sobre<br />
uma proposta para que seja consi<strong>de</strong>rado<br />
feriado o dia 1.° <strong>de</strong> maio com respeito<br />
ás obras pertencentes aos mestres filiados<br />
naquella associação. ,<br />
Contra a tuberculose<br />
Consta que o dr. Kork <strong>de</strong>scobriu um<br />
novo remedio contra a tysica.<br />
Esse remedio afíirina-se ser (1'uma<br />
efficacia prodigiosa e é applicado por<br />
inhalação.<br />
A Yida e os serviços<br />
do constitucionalismo em Portugal<br />
Sessenta annos estivemos oppressos<br />
pelo jugo castelhano.<br />
Muito soflremos no reinado dos intrusos<br />
Filippes, e o solTrimento não cessou<br />
com a sua expulsão e com a restauração<br />
dos reis indígenas, continuou com<br />
suas variantes. Não era isso <strong>de</strong> estranhar,<br />
como agora, que estava na indole <strong>de</strong><br />
uns e outros, nas suas leis e na corrente<br />
do seu tempo—no principio monarchico<br />
absoluto — no absurdo principio<br />
hereditário, e suas legitimas consequências.<br />
Mas ainda assim, nas raonarchias<br />
francamente absolutas e chamadas <strong>de</strong> direito<br />
divino pelos seus partidarios, não<br />
se crearain, nem toleraram males graves<br />
que se tem creado e tolerado á sombra<br />
dos governos <strong>de</strong>nominados liberaes, os<br />
quaes, praticamente, tem exprimido apenas<br />
Num absolutismo hypocrito, males<br />
que estão pezando esmagadores sobre a<br />
presente geração.<br />
Extremando e <strong>de</strong>testando os excessos<br />
políticos, ajudados pelo fanatismo<br />
religioso, dos reinados absolutos e principalmente<br />
do ultimo é sem questão que<br />
a immoralida<strong>de</strong> era menor, nesses tem-<br />
pos, do que a corrupção que, na mais<br />
ampla escala, tem surgido, durante a<br />
gerencia dos governos constilucionaes,<br />
que lavra fundo pelo paiz, eslen<strong>de</strong>ndo-se<br />
a Iodas as classes, com raras excepções<br />
pessoaes, <strong>de</strong>scendo do alto dos governantes<br />
até aos governados e d'essa immoralida<strong>de</strong>,<br />
porém, senão todos, a maior<br />
parte dos males que nos estão opprimindo<br />
e hão <strong>de</strong> opprimir emquanto existir<br />
a mesma coisa e essa coisa é oriunda<br />
d'outra coisa mais remota, mas que afinal<br />
influe maleficamente em todo o organismo<br />
social e actua sobre todos os<br />
salutares elementos "que <strong>de</strong>vera ser inseparáveis<br />
<strong>de</strong> todo o bom governo; sobre<br />
— a moralida<strong>de</strong>, sobre a economia, sobre<br />
a justiça, reduzindo se tudo isto a<br />
uma <strong>de</strong>cepção, a uma burla !<br />
Com effeito, entre as muitas crises<br />
porque estamos passando, a mais grave<br />
e mais "perigosa é a falta <strong>de</strong> boa moral,<br />
ê a perda dos bons costumes, a qual<br />
<strong>de</strong>vendo ser o apanagio <strong>de</strong> lodo o bom<br />
governo fugiu d'este paiz ha muito, e<br />
tar<strong>de</strong> voltará a elle.<br />
A conducla incorrecta e abusiva dos<br />
governos propagou-se aos povos e ahi<br />
estão elles corruptos, e <strong>de</strong>spidos <strong>de</strong> alguns<br />
escrupulos que convinha que conservassem,<br />
a exemplo dos dirigentes,<br />
cada vez mais propensos ao vicio e menos<br />
inclinados á virtu<strong>de</strong>, enervados e<br />
sem acção e sem enthusiasmo para se<br />
salvarem do abysmo que tem aos pés,<br />
indifferentes a tudo, até á miséria e á<br />
ruina o que governar, sem amor do povo,<br />
sem amor da patria os tem arrastado,<br />
passo a passo, até á situação <strong>de</strong>gradante<br />
que é bem patente <strong>de</strong>ntro e fóra do<br />
paiz.<br />
Implantado e proclamado o systema.<br />
baptisado com o nome pomposo ue constitucional<br />
e liberal, nunca <strong>de</strong>vera abusar<br />
<strong>de</strong>ste característico, ao contrario<br />
era seu honroso <strong>de</strong>ver seguir sempre<br />
avante, empenhando-se em o aperfeiçoar,<br />
a bem da liberda<strong>de</strong> e a bem dos povos<br />
em geral, mas não succe<strong>de</strong>u assim, começou<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo mal a sua marcha politica<br />
e administrativa.<br />
Os homens que vinham <strong>de</strong> combater<br />
no campo os seus adversarios políticos,<br />
por causa da intolerância e das variadas<br />
perseguições que d'elles tinham soffrido,<br />
subindo ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>viam, com melhor<br />
orientação e com mais tino politico, á<br />
intolerância e ás perseguições contrapor<br />
um systema <strong>de</strong> bem entendida tolerância<br />
politica, respeitando todas as opiniões<br />
e abstendo-se <strong>de</strong> perseguições, e<br />
ao mesmo povo estabelecer urna administração<br />
exemplarmente economica e <strong>de</strong><br />
toda a moralida<strong>de</strong>. E que fizeram esses<br />
homens? á intolerância offereceram outra<br />
intolerância, não menos <strong>de</strong>spótica, e<br />
perseguições não menos ferozes e cruéis,<br />
a reter ainda mais. Consentiram que se<br />
creassem quadrilhas <strong>de</strong> bandidos, <strong>de</strong>salmados,<br />
por diversos pontos do paiz, armados<br />
<strong>de</strong> punhal e trabuco e que o latrocínio<br />
fosse, não por alguns mezes, e<br />
no fogo das paixões, mas por muitos annos,<br />
a or<strong>de</strong>m aterradora e sinistra do<br />
dia e da noile I<br />
A guerra, nesse longo período nefasto,<br />
era ao miguelismo vencido e mais<br />
que tudo ao dinheiro! !<br />
Passados muitos annos <strong>de</strong> soffrimento<br />
e terror, <strong>de</strong>svastados os miguelistas<br />
e <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s sommas e outras<br />
preciosida<strong>de</strong>s aquelles que as tinham,<br />
acalmou a guerra ao miguelismo, mas<br />
porque os <strong>de</strong>satinos, os abusos e os escandalos<br />
dos governos tomavam cada vez<br />
proporções mais assustadoras começou a<br />
criar-se um grupo, ao qual <strong>de</strong>sagradava<br />
a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m na governação; e começou<br />
a combatel-a, e então toda a luria do<br />
constitucionalismo se virou contra esse<br />
grupo, que hoje fórma um partido numeroso<br />
e importante, votando-lhe um<br />
odio implacavel e rancoroso a tal ponto<br />
que <strong>de</strong>ixa vêr ura proposito <strong>de</strong> extermínio.<br />
São já muito numerosas as viclimas<br />
da perseguição monarchica constitucional,<br />
com as prisões, com as multas ecom<br />
os <strong>de</strong>gredos, e tem ten<strong>de</strong>ncia para mais!<br />
E' tal a cegueira d'essa gente que, mesmo<br />
longe da côrle, nas mais insignificantes<br />
al<strong>de</strong>ias, o homem que tiver a nota<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>saffecto ao regimen vigente, pelos<br />
maus resultados que tem dado as<br />
suas administrações, por esse simples<br />
facto, é mal vislo e odiado?<br />
E' uma miséria, uma vergonha!<br />
Agora cabe aqui observar aos homens<br />
d'esta ultima perseguição politica: se<br />
acham justa a sua perseguição aos republicanos,<br />
<strong>de</strong>veriam egualinente achar<br />
justa a perseguição que lhes fez o mi-<br />
guelismo, <strong>de</strong>viam soffrel-a com paciência<br />
evangelica, e não <strong>de</strong>viam conspirar contra<br />
ella e revoltar-se com as armas na<br />
mão; se acham injusta a perseguição<br />
miguelista, só por nossa differença <strong>de</strong><br />
opiniões, então injustíssimo é aquella<br />
que tem feito, estão fazendo e protestam<br />
fazer ao partido republicano, porque não<br />
tem outra coisa, senão a mesma differença<br />
dé^pensar e se agora enten<strong>de</strong>m que<br />
um systema <strong>de</strong> governo, por mais <strong>de</strong>spotico,<br />
iníquo e prodigo que seja, se<br />
<strong>de</strong>ve conservar, também <strong>de</strong>viam respeitar<br />
o miguelismo que era nesse lempo o<br />
systema vigenie.<br />
Do contrario têm dois moraes, querem<br />
um Deus para si, outro para os<br />
mais.<br />
E' que os homens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que agarravam<br />
o po<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>ram-o juiz como<br />
um feudo seu, querem a liberda<strong>de</strong> etudo<br />
o mais, só para si; para os outros a escravidão;<br />
mas assim também D. Miguel<br />
era liberal!<br />
Poque o <strong>de</strong>stbronaram ? Emquanto<br />
á moralida<strong>de</strong> constitucional, não é accessorio<br />
acrescentar um ponto sequer ao<br />
sordido estendal que a imprensa <strong>de</strong>mocrática<br />
tem <strong>de</strong>senrolado.<br />
Então em que se tem empregado sessenta<br />
annos <strong>de</strong> governo constitucional?<br />
Em crear nichos para os galopins<br />
mais credores, em crear e addiccionar<br />
tributos, em contrahir dividas fabulosas,<br />
em ampliar as altribuições do<br />
po<strong>de</strong>r central e restringir as garantias<br />
populares, em crear e favorecer companhias<br />
e syndicatos, em monopolisar tudo<br />
até os phosphoros, em crear mais corpos<br />
sem a menor utilida<strong>de</strong>, e em forjar<br />
pavorosas, etc.<br />
Esta, a vida, este*, os benefícios,os<br />
serviços e os dotes cora que o constitucionalismo<br />
tem enriquecido e felicitado<br />
a nação, a par d'outros que ficam no<br />
tinteiro.<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />
EM SURDINA<br />
Os que compõem o jornal<br />
pe<strong>de</strong>m-me que exare aqui<br />
o seu protesto formal<br />
contra a queixa do Gri-gri.<br />
Se escapou o feminino<br />
que <strong>de</strong>parou estas sovas,<br />
lêsse com vagar e tino,<br />
pois lhe tirámos tres provas 1<br />
Tens cabeça d'avelã,<br />
ó meu Gri-gri <strong>de</strong>svairado!<br />
Quizeste vir buscar lã?...<br />
Pois filho, vaes tosquiado.<br />
THEATROS<br />
PINTA-ROXA.<br />
No Circo continúa agradando a companhia<br />
equestre que lá trabalha, embora<br />
seja <strong>de</strong> notar a reparlição <strong>de</strong> trabalhos,<br />
quasi sempre os mesmos, e ainda a exiguida<strong>de</strong><br />
do pessoal.<br />
Nota-se, e cora razão, que o mesmo<br />
artista preencha uns poucos <strong>de</strong> números<br />
do programma <strong>de</strong> cada noite. Mas ha na<br />
companhia artistas <strong>de</strong> bastante merecimento,<br />
que já aqui nos referimos, cujos<br />
trabalhos merecem ser vistos e applaudidos.<br />
Na sexta feira estreou-se m. eiie Lecusson,<br />
e lionlem Geraldine, que o publico<br />
esperava cheio <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>.<br />
Dos trabalhos d'esta artista <strong>de</strong> fama<br />
diremos no proximo numero, que o resto<br />
já é conhecido.<br />
Hoje ha espectáculo <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> e á noite;<br />
e como a companhia pouco se <strong>de</strong>mora<br />
em <strong>Coimbra</strong>, vão aproveitando os que<br />
quizerem divertir-se ura pouco.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Associação Coitunercial<br />
Na ultima reunião d'esta socieda<strong>de</strong><br />
foram eleitos para as vagas que havia nos<br />
çorpos gerentes, os srs. Antonio Jose<br />
Dantas Guimarães, presi<strong>de</strong>nte; Manoel<br />
Marinho Falcão, 1.° secretario; e Antonio<br />
Gomes, vogal.<br />
Espera-se que os novos eleitos empreguem<br />
com constancia os esforços precisos<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento e progresso<br />
d'esta associação, que tão relevantes serviços<br />
po<strong>de</strong> prestar á classe e aos interesses<br />
d'esla cida<strong>de</strong>.<br />
Assoeinfào dos Artistas<br />
Reúne hoje a assemblêa geral para<br />
a escolha dos novos corpos gerentes,<br />
porisso que os eleitos nas passadas eleições<br />
não compareceram para tomar posse<br />
dos seus logares.<br />
Uma commissão nomeada na ultima<br />
assemblea geral para formular lista,<br />
apresentou os seguintes nomes:<br />
ASSEMBLEIA GEHAL<br />
Presi<strong>de</strong>nte — José Correia dos Santos.<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte — José Mana Men<strong>de</strong>s<br />
d'Abreu.<br />
Secretario—Alfredo da Cunha Mello.<br />
2."—dito — Anlonio Lourenço.<br />
Hdito — João Rocha.<br />
DIRECÇÃO<br />
Presi<strong>de</strong>nte—Manoel Iliydio dos Santos<br />
Vice presi<strong>de</strong>nte —Augusto Eduardo.<br />
Ferreira <strong>de</strong> Matlos<br />
Secretario —Francisco Alves Teixeira<br />
Rraga.<br />
Vice-secretario — Antonio da Silva<br />
Baptista.<br />
Tliesoureiro — Manoel dos Santos<br />
Apostolo Júnior.<br />
Vogal —Antonio dos Santos Azevedo.<br />
Duo — Evaristo José Cerveira.<br />
COMMISSÃO FISCAL<br />
José Maria Casimiro d'Abreu.<br />
Francisco da Fonseca.<br />
Manoel José Telles.<br />
A' ultima hora apparece ura grupo<br />
<strong>de</strong> opposição a esta lista, patrocinada<br />
por uiis intriguistas, que, alheios por<br />
completo aos interesses d'esta associação<br />
eslao animando os caprichos egoístas<br />
d'alguus socios, que longe <strong>de</strong> procurarem<br />
o bem estar <strong>de</strong>sta collectivida<strong>de</strong> vão<br />
talvez <strong>de</strong>struir todos os eslorços empregados<br />
pelos actuaes corpos gerentes.<br />
Tourada proliibida<br />
Quasi á .ultima hora é que lembrou<br />
ás nossas auctorida<strong>de</strong>s dar a praça <strong>de</strong><br />
touros como incapaz <strong>de</strong> serviço, ao serllie<br />
presente o programma ua tourada<br />
auuunciada para hoje e cujo producto<br />
reverlia em lavor do sr. Henrique Prata,<br />
o mutilado no incêndio uo theatro Raquel.<br />
11a muitos dias que era do conhecimento<br />
publico este espectáculo, dando<br />
alguns jornaes noticia da vinda a <strong>Coimbra</strong><br />
do actor Miguel Verdial, a quem era<br />
dada a direcção da corrida, bordando alguns<br />
ate sobre este facto umas .consi<strong>de</strong>rações<br />
tolas, chegando-se a pedir a manutenção<br />
da or<strong>de</strong>m. O facto <strong>de</strong> vir o actor<br />
Verdial assistir a tourada explica-se<br />
simplesmente por uma <strong>de</strong>dicação d este<br />
para com o seu antigo companheiro nas<br />
li<strong>de</strong>s dramaticas, Henrique Prata, nunca<br />
loi a intenção <strong>de</strong> pescar niauilesiações<br />
conlra as instituições vigentes.<br />
Mas é certo também que o beneficiado<br />
havia <strong>de</strong>cidido dispensar os serviços<br />
do seu bom amigo, pela razão obvia<br />
<strong>de</strong> que o gado para esta corrida era <strong>de</strong><br />
primeira or<strong>de</strong>m, e portanto, para a sua<br />
direcção precisava U'um pratico, vis.o<br />
que os lidadores não sao prolissionaes,<br />
e elle não <strong>de</strong>sejava que corressem nsco<br />
os que Ião <strong>de</strong>dicameute o auxiliavam na<br />
sua festa.<br />
Isto uicsiuo soube a auctorida<strong>de</strong> que<br />
viu os programmas sem o nume do sr.<br />
Verdial, e comtudo para tingir coherencia<br />
<strong>de</strong>negou a licença, mandando lionlem<br />
proce<strong>de</strong>r a uma visiona !<br />
Ora isto não é serio. Dando mesmo<br />
<strong>de</strong> barato a pouca segurança da praça,<br />
a auctorida<strong>de</strong> competia ha muito tempo<br />
dar as <strong>de</strong>vidas provi<strong>de</strong>ncias, para nao se<br />
illudir ninguém que tentasse servir-se<br />
daquelle recinto para divertimentos públicos.<br />
Porque não é á hora, quando ha <strong>de</strong>spezas<br />
gran<strong>de</strong>s feitas e compromissos senos<br />
a satisfazer, que <strong>de</strong>ve apparecer a<br />
rabulice auctoritaria a prejudicar os interesses<br />
d um cidadão.<br />
Custa a crer que o sr. governador<br />
civil, homem que passa por justiceiro e<br />
recto, désse laes or<strong>de</strong>ns, sem atteu<strong>de</strong>r<br />
aos enormes prejuízos que causou a um<br />
homem pobre, invalido para o trabalho,<br />
que esperava do beneficio publico para<br />
ameuisar as suas precanas circumstancias.<br />
A que obriga o medo — se se não<br />
<strong>de</strong>ve ames chamar poltronice.<br />
Como se umas palmas que porventura<br />
se <strong>de</strong>ssem a Verdial fizessem cair<br />
as instituições 1... Que ridículos l
ik:«O I — t s O OEFENIOR DO POVO 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
í jijL-iui. ^awBg ujegHBBgM-eagggrf^f——i<br />
Abem d« Iiygiene<br />
Está-se proce<strong>de</strong>ndo por conta da camara<br />
municipal aos trabalhos da ligação<br />
do cano <strong>de</strong> esgoto do quartel militar, com<br />
a canalisaçâo geral.<br />
Esta obra é um bom serviço prestado<br />
á hygiene publica ; e bom seria que a<br />
camara não <strong>de</strong>scusasse este ponto, conce<strong>de</strong>ndo<br />
á cida<strong>de</strong> os melhoramentos indispensáveis<br />
<strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que tanto<br />
carece.<br />
Se tal aísumpto merecer da camara<br />
especial menção, <strong>de</strong>certo terá os applausos<br />
unanimes dos seus munícipes.<br />
Centro eominereial e industriai<br />
Falla-se entre alguns membros d'estas<br />
classes na organisação d'um centro nesta<br />
cida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses collectivos,<br />
promovendo também os melhoramentos<br />
materiaes <strong>de</strong> que <strong>Coimbra</strong> tanto<br />
carece.<br />
Como se vê a idêa é magnifica , mas<br />
lembrar-nos que a Associação Commercial<br />
está luctando com a indilferença dos seus<br />
associados que quasi a abandonam, quasi<br />
que <strong>de</strong>sacreditamos da efficacia da nova<br />
associação.<br />
Mas não quer isto dizer que não<br />
mereçam louvores os que conseguirem<br />
levar a cabo tão util instituição.<br />
Ce<strong>de</strong>nein<br />
Foi auctorisada pelo governo a ce<strong>de</strong>ncia<br />
<strong>de</strong> dois compartimentos no ediíicio<br />
do governo civil para o serviço da agencia<br />
do banco <strong>de</strong> Portugal.<br />
Demiaino<br />
A camara municipal, em sessão ultima,<br />
ao julgar dos actos do couductor<br />
<strong>de</strong> obras, sr. Antonio dos Santos Nogueira,<br />
votou por unanimida<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>missão.<br />
Circular<br />
Recebemos uma circular do nosso<br />
correligionário e honrado commerciante<br />
d'esta praça, sr. Antonio Joaquim Valente,<br />
communicando-nos ter passado o<br />
seu Estabelecimento <strong>de</strong> quinquelherias aos<br />
srs. Antonio Augusto Neves e seu irmão<br />
Zacharias Duarte Neves, girando para o<br />
futuro sob a lirma social <strong>de</strong> Antonio Joaquim<br />
Valente, successores.<br />
Os tiovos commerciantes que mereceram<br />
do sr. Valente toda a confiança e<br />
protecção, toruain-se dignos das attenções<br />
do publico, que encontrará nelles apreciáveis<br />
dotes.<br />
Os nossos parabéns aos novéis commerciantes.<br />
Recita do anno<br />
Parece resolvido que a primeira recita<br />
d este curso se realisará nos princípios<br />
<strong>de</strong> maio.<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinaria<br />
1 <strong>de</strong> abril<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />
d'Alineida Araujo Pinto. Vereado-<br />
í9 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1 UTHML)<br />
VXJLI<br />
Um casamento suspenso<br />
Memma, subitamente <strong>de</strong>tida por seu<br />
marido, fez um gesto a pedir o seu leque,<br />
porque os seus lábios anhelantes não<br />
saberiam exprimir uma palavra. Neste<br />
momento, estava ella formosa <strong>de</strong> eudoi<strong>de</strong>cer;<br />
os cabellos <strong>de</strong>smanchados pela<br />
tempestuosa alegria do baile, caiam lhe<br />
ás ondas sobre as espaduas <strong>de</strong> inarlim;<br />
a coroa nupcial tinha <strong>de</strong>sapparecido e<br />
olhando o ramo <strong>de</strong> flores que ella tinha<br />
no seio, julgar-se-ia ver as flores da<br />
primavera <strong>de</strong>slolhadas sobre a neve do<br />
inverno.<br />
Pela primeira vez na sua vida Van-<br />
Ritter ta amaldiçoar a sua vida <strong>de</strong> marinheiro.<br />
mas faltou-lhe a voz para concluir<br />
este sacrilégio; olfereceu humil<strong>de</strong>-<br />
res presentes: João Antonio da Cunha,<br />
Manoel Miranda, Antonio José Dantas<br />
Guimarães, e Joaquim justiniano Feri eira<br />
Lobo, effectivos^ José Corrêa dos Santos,<br />
substituto.<br />
Arrematou os impostos indirectos dos<br />
generos que se consumirem até o fim do<br />
anno, nos logares do Dianteiro, Cova do<br />
Ouro, Cruz dos Mouroços, Senhor, dos<br />
Afflictos e Rordalo.<br />
Auctorisou o presi<strong>de</strong>nte a contractar,<br />
como mais convier, os trabalhos da cobertura<br />
do cano do caes, visto que não<br />
houve licitante em praça para o fornecimento<br />
<strong>de</strong> pedra para esta obra.<br />
Resolveu rectificar a <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong><br />
16 <strong>de</strong> março, acerca da medição <strong>de</strong> 3<br />
lotes <strong>de</strong> terreno para ven<strong>de</strong>r na rua n.°<br />
9 da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz, vendo-se <strong>de</strong><br />
nova informação dada pela repartição<br />
d'ohras e das plantas apresentadas neste<br />
acto, que o lote <strong>de</strong> terreno dado na acta<br />
respectiva com a superlicie <strong>de</strong> 530, m 0<br />
me<strong>de</strong> 566,'"0, que aquelle que foi dado<br />
com a <strong>de</strong> 562, m 0 me<strong>de</strong> 598, 1 "0 ; e que<br />
o 3.° <strong>de</strong> 305, m 0 me<strong>de</strong> 285, m 0; drtferença<br />
que provém das primeiras medições<br />
terem sido feitas pela planta e estas<br />
sobre o terreno. ,<br />
Resolveu ouvir os maiores contribuintes<br />
acerca da creação <strong>de</strong> quatro partidos<br />
médicos no concelho.<br />
Ce<strong>de</strong>u provisoriamente uma das salas<br />
do edilicio municipal para o serviço das<br />
execuções liscaes neste concelho.<br />
Mandou enviar ao comniissario <strong>de</strong><br />
policia uma participação da companhia<br />
cfilluminação a gaz dando conta <strong>de</strong> se<br />
encontrarem apagados e com as-torneiras<br />
fechadas, dois candieiros da illuminação<br />
publica, na noite <strong>de</strong> 29 para 30 <strong>de</strong><br />
março.<br />
Auctorisou o presi<strong>de</strong>nte a fazer o<br />
pagamento <strong>de</strong> prestações vencidas nesta<br />
data, <strong>de</strong> emprestimos contratados com<br />
a companhia <strong>de</strong> credito predial.<br />
Manduu proce<strong>de</strong>r á <strong>de</strong>molição dos<br />
muros elo quintal do terreiro da llerva,<br />
facilitando a passagem entre a rua Direita<br />
e o mesmo terreiro.<br />
Resolveu, com relação ás sé<strong>de</strong>s dos<br />
partidos médicos, que a sé<strong>de</strong> do partido<br />
da Ribeira <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s seja, ou nesta localida<strong>de</strong><br />
ou era Taveiro; que a sé<strong>de</strong> do<br />
partido <strong>de</strong> Assalarge seja também ou<br />
nesta localida<strong>de</strong> ou em Castello Viegas,<br />
se convier: e que d'este partido d'Assalarge<br />
passem para aquelle da Ribeira<br />
<strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s, as freguezias <strong>de</strong> Sernache e<br />
Antauhol.<br />
Resolveu dar o nome <strong>de</strong> rua ValadiIII<br />
a rua n." 10 da quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz.<br />
Tomou conhecimento da correspou<strong>de</strong>ncia<br />
recebida e <strong>de</strong>spachou diversos<br />
requerimentos d'iuteresse particular —<br />
sobre serviços do cemiterio; collocação<br />
<strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos públicos;<br />
annullação <strong>de</strong> contribuição lançada<br />
in<strong>de</strong>vidameute em 1892; multa por <strong>de</strong>scaminho<br />
<strong>de</strong> generos; e relativamente a<br />
uma pequena reparação a fazer na empena<br />
d'um prédio na rua da Sophia.<br />
radas para explicar a sua mulher as fatalida<strong>de</strong>s<br />
inherentes á nobre profissão <strong>de</strong><br />
marinheiro. Depois d'este preambulo,<br />
chegou iiumediaiamente á fatalida<strong>de</strong> particular<br />
do momento, e mostrou o <strong>de</strong>spacho<br />
inexorável, timbrado com o sello do almirantado.<br />
Memma continuava sob a obsessão<br />
anhelante do baile, ou dava-lhe talvez<br />
um suplemento artificial e bem imitado;<br />
o caso é que foi iinpossivel saber-se o<br />
que uma tal noticia lhe causava <strong>de</strong> surpreza,<br />
<strong>de</strong> indilferença, <strong>de</strong> alegria ou <strong>de</strong><br />
pesar. Todavia Vau-Rilter acceitou a interpretação<br />
mais favoravel ao seu amor<br />
proprio <strong>de</strong> maridj d'um dia, e <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> lhe dar a noticia dirigiu-llie palavras<br />
consoladoras com a promessa d'um regresso<br />
proximo. Memma esforçava-se sempre<br />
por tomar a respiração e pronunciava<br />
a cada movimento do leque monosyllabos<br />
sempre extinctos num penoso trabalho<br />
<strong>de</strong> respirar.<br />
As mulheres são maravilhosas <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong> nestes momentos <strong>de</strong> crise,<br />
e os homens então ficam sempre <strong>de</strong>ante<br />
d'ellas coai um ar interrogador, como<br />
<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> sphinges.<br />
Van-Ritter ajuntou ainda algumas<br />
mente o braço a sua mulher, que se palavras que Memma fez voltear nas la-<br />
admirou da direcção que seu marido tominas do seu leque, e, apertando o<br />
mava, e uianifustou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não se braço <strong>de</strong> sua mulher contra o seu, <strong>de</strong>u<br />
retirar do baile, por conveniência. Eutão um passo na direcção tão receada...<br />
Van-Ritter procurou os ro<strong>de</strong>ios mais en- Memiu IUJ oomprelteadju, ou, pelo<br />
genhosos e as formas m us bem prepa -menos, uao mostrou couipreheu<strong>de</strong>r, o<br />
COMMUNICADO<br />
Cada linha, 40 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %•<br />
Pedrogão e Castanheira<br />
Uma noticia publicada no Defensor<br />
do Povo, II.° 75, sob a epigraphe — Tumultos<br />
em Pedrogão, <strong>de</strong>safiou me a vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mais uma vez vir a terreno em<br />
<strong>de</strong>feza do bom nome da minha terra. E<br />
o meu interesse é tanto maior, quanto<br />
me consta que eiu Lisboa alguém ínflue<br />
no animo <strong>de</strong> certos jornalistas, para nada<br />
escreverem <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagradavel para a Castanheira.<br />
Por isso o nosso protesto ha<br />
<strong>de</strong> licar lavrado, embora tenhamos <strong>de</strong><br />
recorrer a pamphlelos. A fórma, como<br />
colloco a questão, <strong>de</strong>ve pôr d'aviso os<br />
que me julguem parcial a Pedrogão. As<br />
afirmações que se seguem <strong>de</strong>safio eu os<br />
partidarios do sr. viscon<strong>de</strong> ou quem quer<br />
que seja, a contestal-as.<br />
1.° O presi<strong>de</strong>nte da camara, viscon<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Castanheira, arranjou camara toda<br />
sua na primeira eleição porque <strong>de</strong>u a sua<br />
palavra d'honra que nada faria sem ouvir<br />
Pedrogão. Faltou a ella.<br />
2.° A camara presidida pelo viscon<strong>de</strong><br />
da Castanheira ven<strong>de</strong>u uns baldios<br />
que mais pertenciam á freguezia do que<br />
ao concelho, não cumprindo as disposições<br />
do auto da arrematação. Neste arranjo<br />
sobreiras seculares foram vendidas<br />
por 1$050 réis, as mais caras !<br />
3.° Os ca<strong>de</strong>rnos do recenseamento<br />
estão falsificados. O presi<strong>de</strong>nte era o sr.<br />
João Bebiano, que residia em Lisboa I<br />
í.° Na primeira eleição a que ultimamente<br />
se proce<strong>de</strong>u — votaram na assembiêa<br />
da Castanheira, mortos, ausentes<br />
e presos. O actual juiz fez o inventario<br />
a <strong>de</strong>z dos que votaram, e dois estão na<br />
Penitenciaria !<br />
5." Os amigos do sr. viscon<strong>de</strong> não<br />
recorreram da sentença que annullou a<br />
eleição, porque não quizeram.<br />
6. 8 O administrador dr. Brandão,<br />
na vespera da eleição, mandou intimar<br />
todos os cabos, que o official visse não votavam<br />
com elle, com o fim <strong>de</strong> acompanharem<br />
um preso no dia seguinte<br />
7.° A camara presidida pelosr. viscon<strong>de</strong><br />
muito poucas vezes se reunia,<br />
apezar <strong>de</strong> justificarem as suas falias,<br />
para não incorrerem nas penas dos artigos<br />
366.° do código administrativo.<br />
8.° A vereação ultimamente nomeada<br />
não vae a Pedrogão, porque contra<br />
alguns dos seus membros, ha mandados<br />
Ue captura por proezas eleitoraes.<br />
De tudo isto ha provas. Documentos<br />
authenticos, autheuticados e testemunhas<br />
affectas ao sr. viscon<strong>de</strong> provam o que<br />
affirmo.<br />
Que o povo <strong>de</strong> Pedrogão é extremamente<br />
pru<strong>de</strong>nte, é prova cabal a altitu<strong>de</strong><br />
pacifica e or<strong>de</strong>ira, perante as basofias<br />
do dr. Brandão, do Batalha e do Lemos,<br />
que pacatamente por ahi passeiam, sem<br />
que é a mesma coisa; o seu rosto exprimiu<br />
uma gran<strong>de</strong> resignarão, e <strong>de</strong>signando<br />
com a mão o baile que ameaçava<br />
extinguir-se, disse:<br />
— Depois d'uma tal noticia, não ha<br />
festa possível. Peça ao marquez di Negro<br />
que me conduza ao palacio Santa-Scala:<br />
é ahi que esperarei a sua volta, enclausurada<br />
como num convento.<br />
A noiva tinha ainda muitos compromissos<br />
do baile a satisfazer; os moços<br />
e ávidos credores correram em multidão<br />
para apresentarem as suas letras <strong>de</strong><br />
cambio a Memma, que com o olhar consultou<br />
seu marido.<br />
— Vamos, disse Van-Ritter observando<br />
as estrellas, uma hora mais ou<br />
menos não coinpromclterá ninguém; pague<br />
as suas dividas, madame Van-Ritter.<br />
Era Talormi que, abandonando o seu<br />
fingido somno, tiuha orgamsado esta insurreição<br />
contra a rainha do baile.<br />
A noticia da partida <strong>de</strong> Van-Ritter<br />
espalhou-se logo a bordo da fragata, e,<br />
coisa estrauha, causou, principalmente<br />
entre os homens, satisfação manifesta.<br />
Só Talormi foi admiravel <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>;<br />
<strong>de</strong>u ao rosto uma tristeza affectuosa, e,<br />
apertando as mãos <strong>de</strong> Van-Ritter, disse:<br />
— Capitão, ahi está uma obediencia<br />
militar que o honra, mas que nos afunda<br />
numa gran<strong>de</strong> tristeza. O capitão é um<br />
d'estes homens que se fazem conhecer<br />
immediatamente, e que orgulham os seus<br />
amigos.<br />
ii i Bgag8B.;~B—-!—— u..<br />
que me conste, que até hoje lhe tenham<br />
pizado os callos.<br />
No emtanto as indigestões <strong>de</strong> força<br />
do Brandão e <strong>de</strong> um tal Victor Portugal,<br />
tem feito vêr a muita gente Pedrogão<br />
nadando em sangue.<br />
Um facto.<br />
Quando pela primeira eleição, aqui<br />
chegou uma força <strong>de</strong> caçadores, commandada<br />
pelo official Lino Ferreira, os<br />
amigos do sr. viscon<strong>de</strong>, mandavam -um<br />
telegramma ao Repórter, dizendo que a<br />
força fôra recebida com assoadas. Ao<br />
mesmo tempo, em telegramma enviado<br />
ao Diário <strong>de</strong> Noticias, o distincto official<br />
affirmava ter sido recebido no meio do<br />
maior socego!<br />
Felizmente para Pedrogão que os<br />
amigos do sr. viscon<strong>de</strong>, nesta terra são<br />
uns foragidos <strong>de</strong> Mêda, d'Arouca e Leiria.<br />
Santissima Trinda<strong>de</strong> em que nenhum<br />
é verda<strong>de</strong>iro<br />
Mas a<strong>de</strong>ante.<br />
Nas accusações ao digno juiz <strong>de</strong> direito<br />
Sá e Motta, estão os amigos dosr.<br />
viscon<strong>de</strong> no seu papel. O digno chefe do<br />
districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, dr. Neves e Sousa,<br />
um caracter ihipolluto, sabe bem avaliar<br />
o que no nosso espirito irá acerca d'este<br />
assumpto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sabermos o que<br />
s. ex. a conhece—que alguém da Castanheira<br />
anda em Lisboa pela Arcada, em<br />
<strong>de</strong>senfreada campanha <strong>de</strong> <strong>de</strong>scredito contra<br />
o digno magistrado dr. Sí e Motta.<br />
D aqui asseveramos ao reles calumniador,<br />
isto muito em família, que não<br />
tem a coragem <strong>de</strong> dizer frente a frente<br />
ao dr. Sá e Motta aquillo que em Lisboa,<br />
com o fim <strong>de</strong> fazer opinião, dizia a diversos<br />
cavalheiros e entré outros a um<br />
magistrado digníssimo que ha pouco <strong>de</strong>ixou<br />
uma das varas <strong>de</strong> Lisboa. Damos-lhe<br />
um doce.<br />
Ainda sobre isto um jornal <strong>de</strong> Pombal—<br />
a Defeza—vem em auxilio do<br />
sr. Bebiano.<br />
Ao redactor, dr. Pimentel, que é um<br />
alho lembro aquelle dito popular — quem<br />
nas faz que as <strong>de</strong>smanche. O assumpto<br />
não é o mais seguro para encher o jornal<br />
e sobretudo não é o logar mais proprio<br />
para advogar a causa dos constituintes,<br />
principalmente quando elles já<br />
têem uma nota no registo criminal.<br />
Do Victor Portugal pouco,direi: Quem<br />
<strong>de</strong>sejar conhecer o cavalheiro, procure,<br />
indague em Alcobaça, Óbidos e sobretudo<br />
na Lourinhã.<br />
Qualquer individuo d'estas terras o<br />
conhece perfeitamente.<br />
De toda esta gente eu fallaria sem<br />
receio, muito iranquillo e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
se d'aqui perto um amigo me não lembrasse-a<br />
lei das rolhas. Não por mira<br />
que não costumo escrever para o publico,<br />
sem provar o que affirmo, mas porque<br />
o editor do jornal teria <strong>de</strong> me fazer<br />
companhia no banco dos réus. Se<br />
não fôra isso creiam os meus bons amigos<br />
que as ouviriam bonitas.<br />
Vou concluir pedindo ao digno ministro<br />
do reino que sem <strong>de</strong>mora man<strong>de</strong><br />
syndicar dos factos que se teem dado,<br />
mas uma syndicancia seria e por homem,<br />
Duas falsas lagrimas cairara sobre<br />
estas palavras, a que Van-Ritter não<br />
pou<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> commovido.<br />
Des<strong>de</strong> que Talormi se <strong>de</strong>sempenhou<br />
d'este affectoso <strong>de</strong>ver, foi-se collocar<br />
<strong>de</strong>ante da orchestra, mettendo habilmente<br />
na mão do regente uma bolsa com dinheiro,<br />
sem dizer uma palavra. A dadiva<br />
generosa foi compriheudida, porque os<br />
instrumentos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iaram-se com uma<br />
violência que não annunciava o fim do<br />
baile.<br />
Ao <strong>de</strong>sapparecerera as ultimas estrellas,<br />
Van-liuter, commovido até ás lagrimas,<br />
poz fim ao baile e dirigiu algumas<br />
palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida aos seus amigos<br />
d'essa noite. Em seguida abraçou ternamente<br />
sua mulher e contiou-a aos bons<br />
cuidados do marquez di Negro. A socieda<strong>de</strong><br />
do baile ia-se <strong>de</strong>spedindo a pouco<br />
e pouco, <strong>de</strong>scendo as escadas da fragata<br />
para os escaleres. Já Van-Ritter commandava<br />
as manobras para levantar ferro, já<br />
os marinheiros subiam ás vergas; um ultimo<br />
e cominovedor a<strong>de</strong>us se fez ouvir. Talormi,<br />
enctiugaado á pressa lagrimas<br />
ausentes, olíereceu a mão respeitosamente<br />
a Memma quando ella poz o pé sobre<br />
o primeiro <strong>de</strong>grau, e acompanhou-a como<br />
um anjo da guarda até ao escaler almirante.<br />
Santa-Scala, que tinha sido prevenido<br />
por uma mensagem <strong>de</strong> Vau-Ruter,<br />
esperava sua irmã meditando nos' bellos<br />
jaiduis do seu palácio. O marquez di<br />
que nada precise do sr. Bebiano nem <strong>de</strong><br />
Pedrogão.<br />
E em quanto isto se não faz, o povo<br />
<strong>de</strong> Pedrogão que contiríue a ser pru<strong>de</strong>nte<br />
mas castigando severamente os fanfarrões<br />
com a arma mais legitima — a lei.<br />
12 — 4 — 93.<br />
A GRANEL<br />
OA.<br />
Vae ser fixado um prazo para se<br />
apresentarem na casa da moeda as cédu-<br />
las <strong>de</strong> 50 e 100 réis da primeira emissão,<br />
e, findo elle, taes cédulas não terão<br />
valor.<br />
* * # Ficou installada na Associação<br />
Commercial <strong>de</strong> Lisboa a commissão<br />
nomeada para estudar e discutir o tratado<br />
do commercio com a flespanha. A<br />
commissão <strong>de</strong>ve reunir brevemente para<br />
encetar os seus trabalhos.<br />
* * * Consta-nos que o sr. ministro<br />
das obras publicas pensa em suppriníir<br />
um gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> postas ruraes,<br />
tendo havido ja algumas reclamações por<br />
parle d'algumas das commissões municipaes.<br />
* * # O sr. <strong>de</strong>putado Paulo Cancella<br />
entregou ao sr. ministro do reino<br />
uma representação da camara municipal<br />
da Anadia, pedindo soccorros para os pobres<br />
d'aquelle concelho, on<strong>de</strong> a epi<strong>de</strong>mia<br />
das bexigas está fazendo gran<strong>de</strong>s estragos.<br />
* * # Acamara municipal <strong>de</strong> Santa<br />
Martha <strong>de</strong> Penaguião enviou ao governo<br />
uma representação ácerca das fermentações<br />
do tabaco colhido no Douro.<br />
* * * A sub-commissão das bolsas<br />
<strong>de</strong> trabalhos na ultima reunião proce<strong>de</strong>u<br />
á revisão do projecto <strong>de</strong> regulamento<br />
distribuindo-o pelos seus membros.<br />
* * * Diz-se que o sr. Correia <strong>de</strong><br />
Barros loi encarregado pelo sr. ministro<br />
da fazenda <strong>de</strong> organisar a proposta <strong>de</strong><br />
lei dos alcooes que <strong>de</strong>ve ser submettida<br />
ao exame parlamentar.<br />
* * * O nosso paiz foi convidado<br />
a fazer-se representar na exposição internacional<br />
<strong>de</strong> medicina e cirurgia que <strong>de</strong>ve<br />
realizar-se em Roma no dia 15 <strong>de</strong> setembro.<br />
* * # O club veloíipedista do Porto<br />
projecta hoje uma excursão á Malveira.<br />
Desgarradag<br />
Pedrinhas doesta calçada<br />
Levantai-vos e dizei<br />
Quem vos passeia <strong>de</strong> noite<br />
Que <strong>de</strong> dia bem o sei<br />
Negro, Talormi e alguns creados acompanharam<br />
madame Van-Ritter até ao<br />
palacio <strong>de</strong> seu irmão, que a recebeu<br />
com uma gran<strong>de</strong> alegria, como se tivesse<br />
receado nunca mais a tornar a ver.<br />
Talormi <strong>de</strong>spediu-se do marquez di<br />
Negro apertando-liie a mão cor<strong>de</strong>almente.<br />
— Aqui esta uma scena <strong>de</strong> separação<br />
que nos conimoveu bastante, a v. ex. a e<br />
a mim, disse-lhe ellej madame Van-Ritter<br />
foi admiravel <strong>de</strong> resiguação: seu marido<br />
foi sublime. Taes actos <strong>de</strong> heroísmo domestico<br />
são mais tocantes que os feitos<br />
heroicos dos campos <strong>de</strong> batalha; não é<br />
assim, marquez?<br />
— Aprecia o caso como eu, meu<br />
caro, e felicito-o, con<strong>de</strong> Talormi, pelo<br />
seu nobre procedimento <strong>de</strong> hontem e<br />
d'esta noite.<br />
— Porque procedimento me felicita?<br />
interrogou Talormi num tora e com ura<br />
ar cheios <strong>de</strong> ingenuida<strong>de</strong>.<br />
— E' bem fácil comprehen<strong>de</strong>r, replicou<br />
di Negro rindo.<br />
— Ali!... comprehen<strong>de</strong>u-o, marquez...<br />
Felicita-me por uma coisa bem<br />
simples. Palavra d'honra, tive um capricho<br />
<strong>de</strong> rapaz...<br />
Impresso ma Typographia<br />
Operaria li. >!*-xi • • —
ANNO I — N.° 98<br />
O T U I i O S<br />
PARA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
LIVROS<br />
lfVEIiOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
Agencia Universal Portugueza<br />
Esta agencia encarrega-se <strong>de</strong> redigir<br />
e fazer inserir annuncios, communicados<br />
e réclames em todos os jornaes do Porto,<br />
Lisboa, províncias^; estrangeiro.<br />
Incumbe-se da redacção <strong>de</strong> estatutos,<br />
relatorios, circulares, requerimentos, cartazes,<br />
prospectos, manifestos, etc, encarregando-se<br />
também <strong>de</strong> os fazer imprimir<br />
e ^distribuir quando o cliente assim o<br />
<strong>de</strong>seje, responsabilisando-se pela niti<strong>de</strong>z<br />
e perfeição do trabalho typographico assim<br />
como pela escrupulosa distribuição.<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Toma conta <strong>de</strong> qualquer trabalho <strong>de</strong><br />
copia.<br />
Acceita quaesquer publicações á commissão,<br />
ou em <strong>de</strong>posito, encarregando-se<br />
da sua venda e distribuição.<br />
Satisfaz com rapi<strong>de</strong>z, todas as encommendas<br />
<strong>de</strong> quaesquer livros nacionaes<br />
e estrangeiros.<br />
Recebe assignaturas e annuncios para<br />
todos os jornaes e publicações litterarias<br />
nacionaes e estrangeiras, pois está em<br />
correspondência directa com as principaes<br />
emprezas e livrarias; tendo representação<br />
e correspon<strong>de</strong>ntes em todas as<br />
principaes cida<strong>de</strong>s.<br />
Rua <strong>de</strong> D. Pedro, 110 —1.°<br />
PORTO<br />
A Galeria Portugueza<br />
Revista semanal illustrada<br />
A mais notável do seu genero entre<br />
nós. Sae todos os domingos, com gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> illustrações. Collaboração<br />
lliteraris escolhida e variada.<br />
Cada numero <strong>de</strong> 16 paginas 40 réis.<br />
Escriptorio <strong>de</strong> redacção e administração:—Rua<br />
<strong>de</strong> D. Pedro, 110, 1.°—<br />
Porto.<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
EDITAL<br />
A camara municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> faz<br />
saber que suspen<strong>de</strong>, por algum tempo,<br />
as canalisações d'agua por conta do município,<br />
em vista <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação tomada<br />
em sessão do dia d'hontem, sera prejuízo,<br />
d'aquellas que se achavam pedidas<br />
até á mesma data.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Paços do Concelho, 14 <strong>de</strong><br />
abril <strong>de</strong> 1893.<br />
O presi<strong>de</strong>nte,<br />
João Maria Correia Ayres <strong>de</strong> Campos.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro d'amarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
- jpxeéu»a-se todo o trabalho <strong>de</strong><br />
M carimbos em todos os gene<br />
ros, sinetes, fac-similes e raonogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal era chapa, fundição e torneiro,<br />
amarella e branca. — Prateia-se lodo o<br />
objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />
A t t « 1C1PA-.<br />
ÇOES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria j<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.ITIItIA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
IKiHETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ivnos<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato<br />
Typ. Operaria i<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.ITIPRESSOS<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L A U G O I D A P R E 1 E I A , 1 4<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
IF 1. D E L P O H T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251— Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE 1 PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
* JOÃO BODBIHES SMBá, SUCCESSOR<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97,1.°<br />
XAROPE DE PHÉLLANDR10<br />
5<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
»tè xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com óptimos resultados fros hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Bosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 6 33.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C.<br />
fonso, 61<br />
a Porto, pharmacia Santos, ma <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>-<br />
,65.<br />
DEPOSITO DA FABRICA K M A L<br />
DE<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
^ IvrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
ll junto e a retalho, todos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
s - m e s<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 9.300:000^000<br />
f<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
Effectua seguros contra a risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA.— JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Coiumercio n.° 11 — 1.°<br />
A H T A Z E S<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operariaj<br />
Coimbfa<br />
P I M T O R<br />
(OFFICINA)<br />
V I S O S<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Gommercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 pnearrega-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, dourala<br />
çôés <strong>de</strong> egrejas, forrar easas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como ein toda a província.<br />
mesma of fiei na se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS C0MM0D0S<br />
m m BOMTBA BEBPIS l EMPIBUS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
NI. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA -. — Serze<strong>de</strong>llo $ Camp>— Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos — Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
ESTAÇÃO DA MODA<br />
domingos "jãiÉ 60mes<br />
- SUCCESSOR DE CALDAS DA CUNHA<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar a esta casa o seguinte:<br />
Chapéus capotes e redondos para<br />
senhora.<br />
Chapéus para creafiça.<br />
Boinas o que ha <strong>de</strong> mais chic.<br />
Voiles em differentes côres.<br />
Fazendas para vestidos.<br />
Capas romeiras o que ha <strong>de</strong> mais<br />
novida<strong>de</strong>.<br />
Camisas <strong>de</strong> exford etc., etc.<br />
Enviam-se amostras a quem as pedir.<br />
111 — R. <strong>de</strong> Ferreira Borges —113<br />
COIMBRA<br />
BIGYGLUTES<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101—Rua do Viseon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
C O I M B R A<br />
93<br />
sta east» acaba <strong>de</strong> receber um<br />
explendido sortido <strong>de</strong>Bicycletes<br />
dos primeiros auctores, como é llnniber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôcas.<br />
A CUEGA.R— Meliopolitau Pneumatique<br />
Torrilhau.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Bicycleles<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 12 O^ O O O réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110$000 111<br />
Tem<br />
amadores.<br />
condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
104<br />
ireeisa-se d'um para loja <strong>de</strong><br />
P retrozeiro e miu<strong>de</strong>zas. Prefere-se<br />
com alguma pratica.<br />
RUA FERREIRA BORGES, 147<br />
L«JA DO CEPO<br />
MARCA «ANCORAS i<br />
en<strong>de</strong>-se 110 estabelecimento<br />
105 jf<br />
<strong>de</strong><br />
J U L I O D A © U N H A P I N T O<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
CASA OE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
gg nipresta-se dinheiro sobre<br />
£•4 objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 6 — COIMBRA.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 |l Nunes <strong>de</strong>u San-<br />
ML tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBUCA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS K DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29,<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
KUIJlOIÍ<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno W 00<br />
Semestre 1$350<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno<br />
Semestre.... 1£200<br />
Trimestre... 600
0 ^<br />
Mais energia, sr. Fuschini<br />
O caso grave do momenlo, o<br />
que absorve e sollicila imperiosamente<br />
as atlenções do paiz, é o escandalosíssimo<br />
arranjo que se occultou<br />
na negociata do empreslimo<br />
<strong>de</strong> D. Miguel, e que as Novida<strong>de</strong>s<br />
têm poslo a claro com um <strong>de</strong>sassombro<br />
e firmeza lai, que as absolvem<br />
<strong>de</strong> certos peccadilhos, seja<br />
qual fôr a intenção que as move e<br />
que nos não imporia por agora.<br />
O modo como a questão foi iniciada,<br />
num appello energico ao sr.<br />
ministro da fazenda para que faça<br />
reentrar no thesoura o melhor <strong>de</strong><br />
quatrocentos e cincoenta contos <strong>de</strong> réis,<br />
dolosamente dislrahidos do empréstimo<br />
negociado pelo sr. Antonio<br />
José da Cunha, a pretexto <strong>de</strong> pagamento<br />
aos portadores dos celebres<br />
títulos <strong>de</strong> D. Miguel, quando<br />
a verda<strong>de</strong> é que lai pagamento não<br />
se effectuou, e que em Paris ha<br />
en<strong>de</strong>nles sele processos contra<br />
orlugal, provido por um grupo<br />
d'aquelles portadores que não receberam<br />
um cêntimo <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisação;<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as Novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cla-.<br />
raram, que em seu po<strong>de</strong>r ha documentos<br />
imporlantissimos para se<br />
tratar esta queslão, e que po<strong>de</strong>m<br />
indicar on<strong>de</strong> se encontrarão muitos<br />
outros; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aquelle jornal<br />
indica, que a somma quantiosa<br />
distrahida o foi em proveito <strong>de</strong> certos<br />
banqueiros opulentos, em manejos<br />
criminosos, da responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> certos homens eminentemente<br />
collocados; ao tomar a questão<br />
este aspecto gravíssimo <strong>de</strong> um<br />
escandalo publico monumental —<br />
mais um para juntarás muitas vergonhas<br />
em que o nosso paiz tem<br />
sido fértil nos últimos annos—; parece<br />
que o procedimento do sr.<br />
ministro da fazenda eslava claramente<br />
indicado—um ministro<br />
energico, cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sassombro e<br />
<strong>de</strong> energia, forte na sua boa vonta<strong>de</strong><br />
inquebranlavel e intransigente,<br />
<strong>de</strong>veria, sem perda d'um momento,<br />
promover um inquérito que expozesse<br />
a toda a luz o que <strong>de</strong>. escuro<br />
e <strong>de</strong> tenebroso haja 110 tal arranjo.<br />
E poucas vezes, como agora,<br />
ao dispôr do ministro da fazenda<br />
se <strong>de</strong>pararão documentos e indicações<br />
Ião precisas e tão nilidas, como<br />
as Novida<strong>de</strong>s apresentam ao sr.<br />
Puschini.<br />
Mas não; o sr. Fuschini enten<strong>de</strong>u<br />
que o negocio não tem a importância<br />
que as Novida<strong>de</strong>s ihe quizeram<br />
dar; e então, em vez <strong>de</strong> se<br />
collocar energicamente e firme á<br />
frente d'uma campanha <strong>de</strong> investigação,<br />
sem ter ein linha <strong>de</strong> conta<br />
os interesses dos trunfos que porventura<br />
fosse ferir um largo inquérito<br />
bem dirigido, orientando-se<br />
unicamente por um critério <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>,<br />
limitou-se a entregar a<br />
queslão á morosida<strong>de</strong> dos processos<br />
judiciaes.<br />
Isto é, o sr. ministro da fazenda<br />
não ousa arcar <strong>de</strong> frente com os<br />
nomes que a negociata envolve.<br />
E é nisto, afinal, que se vae<br />
traduzindo a vida ministerial do sr.<br />
Fuschini; incoherencias, hesitações,<br />
ora arremettidas <strong>de</strong> valente que <strong>de</strong><br />
Defensor<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N°79<br />
Hn Pn<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO X KJR V<br />
nada se arreceia, ora recuos <strong>de</strong><br />
pussilanime que <strong>de</strong> tudo tem medo.<br />
Apresentou-se como o ministro<br />
da occasião; como o homem que<br />
havia <strong>de</strong>, cheio <strong>de</strong> hombrida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong> civismo, cortar a fundo e a direito,<br />
doesse a quem doesse, foi-se<br />
envolvendo num certo manto <strong>de</strong><br />
popularida<strong>de</strong>, mas agora vae-se revelando<br />
um ministro como os mais;<br />
— falla-llie a larga envergadura, o<br />
pulso firme, o caracter energico, a<br />
intransigência que se não torce...<br />
Assim, não, sr. Fuschini,—não<br />
é o homem <strong>de</strong> que o paiz precisa,<br />
e pena é se as aptidões notáveis <strong>de</strong><br />
s. ex. a se inulilisarem <strong>de</strong>sastradamente<br />
para o futuro.<br />
O caminho <strong>de</strong> ferro<br />
do Chire<br />
Continua a ser muito discutido nas<br />
diversas folhas que se publicam por esse<br />
paiz fóra o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 12 d'este mez,<br />
que conce<strong>de</strong> aos srs. Joaquim Pires <strong>de</strong><br />
Sousa Gomes e Alfonso <strong>de</strong> Moraes Sarmento<br />
a concessão da linha ferrea <strong>de</strong><br />
Quelimane ao Chire.<br />
O Diário Popular e o Correio da<br />
Manhã tratam d'este assumpto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo<br />
este o ministro da marinha que<br />
assignou o <strong>de</strong>creto e atacando-o aquelle.<br />
As razões adduzidas pelo Correio da Manhã<br />
110 seu artigo <strong>de</strong> 17 são fracas.<br />
Diz elle que os ministros transactos<br />
não assignaram a concessão por falta <strong>de</strong><br />
opportuuida<strong>de</strong>...<br />
Ora valha-nos Deus I se a não assignaram<br />
foi por que recearam a excitação<br />
dos ânimos pois não ignoravam que o<br />
povo sabe e não esqueceu, nem esquece,<br />
as passeatas a Londres do sr. Moraes<br />
Sarmento e os exforços que este senhor<br />
empregou para arranjar uma companhia<br />
ingleza a quem sublocasse a concessão,<br />
com umas luvazitas.<br />
Como estava ainda muito recente o<br />
ultimatum, não se atreveram a fazer a concessão<br />
com lodos os privilégios, que são<br />
enormes, e que prejudicariam para o futuro<br />
a acção do governo e o futuro <strong>de</strong><br />
aquella nossa província.<br />
O Correio da Manhã, cujo director<br />
politico assignou como ministro da marinha<br />
a celebre concessão Mac-Murdo<br />
que nos occasionou a arbitragem que temos<br />
com os Estados Unidos e Inglaterra,<br />
d'on<strong>de</strong> nos hão <strong>de</strong> advir graves prejuízos,<br />
não lhe lica mal a <strong>de</strong>feza <strong>de</strong> concessão<br />
do sr. Neves Ferreira.<br />
Yae ate muito bem neste papel...<br />
31 <strong>de</strong> Janeiro<br />
Beappareceu em Lisboa este jornal<br />
republicano.<br />
JDo r e l a n c e<br />
Muito cathedratico e muito hirto, barba<br />
á guise talhada escrupulosamente, ares<br />
impávidos <strong>de</strong> mata-moiros, afarçolados,<br />
<strong>de</strong>senvolve a sua activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo que<br />
nunca <strong>de</strong>stroe a sua linha olympica.<br />
Orador celeberrimo, conhecido dos Pereiros<br />
á Pedrulha, sabe reforçar a sua<br />
eloquência com imagens ultra-mirabolantes,<br />
num estylo finamente acendrado, que<br />
parece <strong>de</strong>purar-se no crysoldamais fina eloquência<br />
ciceroneana.<br />
Administrador façanhudo, fez andar<br />
tudo no pó do gato, no seu consulado<br />
glorioso.<br />
Muito activo, conseguiu uma coisa <strong>de</strong><br />
que poucos se gabam — o maior numero<br />
<strong>de</strong> inimigos. .. é um a cada esquina.<br />
Mas elle passa altivo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso, ares<br />
<strong>de</strong> Júpiter, <strong>de</strong> fraque e chapéu alto, barba<br />
i» guine bem talhada, olympico e conse-<br />
lheiro... .<br />
E que zumbam os inimigos e os invejosos,<br />
que não conseguirão modificar a<br />
sua linha olympica.<br />
Loup.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
A prostituição <strong>de</strong> ereanças<br />
Nesta quadra esplendida <strong>de</strong> luz, em<br />
que o Firmamento se veste côr <strong>de</strong> saphira<br />
e o campo d'esmeralda; quando as<br />
rosas entreabrem os cálices <strong>de</strong> purpura<br />
ou d'opala aos clarões do sol ou aos beijos<br />
do luar — não é triste, não é <strong>de</strong>solador<br />
contemplar rosas que tombam no<br />
lôdo, assucenas que chafurdam na lama,<br />
lyrios que se afundam na vasa do monturo?<br />
Não é uma infamia sem nome <strong>de</strong>sfolhar<br />
as pétalas d'uma rosa iriante sobre<br />
a treva calliginosa d um abysmo ?<br />
E no enitanto ha mãos criminosas<br />
que <strong>de</strong>spedaçam flores sobre o charco<br />
do vicio: são os rufiões <strong>de</strong> ereanças e<br />
as ciganas que merca<strong>de</strong>jam a innocencia,<br />
pelo escuro da noite, ven<strong>de</strong>ndo a<br />
candura d'uma pomba ao <strong>de</strong>sejo bestial<br />
d'um cevado.<br />
A pomba, aos <strong>de</strong>z, aos quatorze annos—<br />
concluído o bacharelato da infamia—<br />
transforma-se em fera, e não tarda<br />
a negociar (como a negociaram a ella)<br />
a honra, o pudôr das suas irmãsitas<br />
inexperientes...<br />
— Um amontoado <strong>de</strong> torpezas e uma<br />
longa série <strong>de</strong> crimes 1<br />
*<br />
No Porto está-se dando essa exploração<br />
ignóbil, tolerada pela indilferença<br />
das auctorída<strong>de</strong>s.<br />
Grupos <strong>de</strong> raparigas, sob o cominando<br />
<strong>de</strong> megeras ou fadistas, percorrem as<br />
praças, á noite, provocando os transeuntes<br />
com propostas que mancham a bocca<br />
d uma creança...<br />
—Os nossos valentes collegas A<br />
Portuguezà e Galeria Portugueza (<strong>de</strong> que<br />
são directores os brilhantes jornalistas<br />
Heliodoro Salgado e Alberto Bessa —<br />
duas almas d'oiro, abertas a todos os<br />
sentimentos nobres e generosos) encetaram<br />
a campanha do Beni, combatendo<br />
<strong>de</strong>nodadamente, nas suas columnas, a<br />
prostituição <strong>de</strong> ereanças, esse commercio<br />
vil que vae avultando na nossa terra<br />
para que nesta <strong>de</strong>gringola<strong>de</strong> medonha<br />
não reste a attestar o nosso bom nome<br />
d'outr'ora um só documeulo immaculado,<br />
<strong>de</strong>spido <strong>de</strong> manchas, isempto dnifamias!<br />
Acompanhamos aberta e francamente<br />
os nossos collegas na sua tarefa mais<br />
que civilisadora — caridosa I<br />
A honra diplomatica que não cessam<br />
<strong>de</strong> salvaguardar as folhas monarchicas...<br />
essa per<strong>de</strong>u-se á gargalhada; o brio dos<br />
nossos applaudidos homens públicos vagueia,<br />
como um gatuno, pelos corredores<br />
do tribunal, tremendo ao ruido da<br />
folha d'um processo que se voíta, ao barulho<br />
dos tacões do otlicial <strong>de</strong> diligencias,<br />
ao tinir d'um sabre...<br />
O cadastro das gran<strong>de</strong>s ladroeiras<br />
publicas tem archivada a honra dos nossos<br />
bons portuguezes.<br />
Salveui-se as ereanças 1<br />
Salve-se a geração d'ámanhã ! Educal-as<br />
no vicio é preparar um futuro <strong>de</strong><br />
trevas I<br />
Se <strong>de</strong>ixam prostituir as ereanças —<br />
então acabemos com quanto lia d'immaculado<br />
e puro: cortem, <strong>de</strong>strocem todas<br />
as rosas, estrangulem todos os rouxinoes,<br />
vistam o azul <strong>de</strong> escuro, e arranquem-me<br />
lá <strong>de</strong> cima—<strong>de</strong> sobre esta<br />
malfadada cida<strong>de</strong>— as estrellas, os olhos<br />
límpidos do Firmamento, que contemplam<br />
as nossas torpezas <strong>de</strong>rramando lagrimas<br />
<strong>de</strong> luz ar<strong>de</strong>nte sobre a ruína dos<br />
nossos sentimentos 1...<br />
*<br />
Mães!... As ciganas que exercem<br />
o trafico vil das pobres raparigas inlitulam-se<br />
suas mães!...<br />
Sobre o crime sacrilégio!<br />
Pô<strong>de</strong> haver mãe que venda a filha ?<br />
Pô<strong>de</strong> haver crealura que offereça a alma<br />
<strong>de</strong>spedaçada (os filhos são retalhos d'alma...)<br />
ao libertino que passa?<br />
Não estremecerão d'horror, pensan-<br />
do nesta profanação, as almas das heroinas,<br />
das martyres que morreram dando<br />
exemplo d'abnegaçáo maternal?<br />
Não éropalli<strong>de</strong>cem d'indignação as<br />
santas que arrastam com longa vida <strong>de</strong><br />
sombra se preparam um raio <strong>de</strong> luz no<br />
futuro dos filhos ?<br />
Não vibra <strong>de</strong> cólera todo um organismo,<br />
todo um peito, ao attentar na <strong>de</strong>gradação<br />
a que se arrastou essa palavra<br />
tão doce, tão consoladara — pharol que<br />
nos allumia em estrada da vida, balsanio<br />
<strong>de</strong> todas as maguas, alegria que <strong>de</strong>sfaz,<br />
numa caricia, todas as nossas tristezas<br />
?<br />
Quando olhamos o passado pelo prisma<br />
da memoria—como quem contempla<br />
ruínas á luz d'um archote — o primeiro<br />
vulto que se <strong>de</strong>staca, branco* e puro, é<br />
a nossa mãe!<br />
Ligam-se a ella todas as recordações<br />
gratas, todas as sauda<strong>de</strong>s, todas as<br />
illusões doiradas d'esse tempo feliz I<br />
Não sei, em verda<strong>de</strong>, o que. é mais<br />
baixo, mais infame: Se ven<strong>de</strong>r uma<br />
creança como quem negoceia um trapo;<br />
se entregal-a á prostituição dando-se o<br />
nome <strong>de</strong> sua mãe!<br />
17 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Fra-Diavolo.<br />
Senhor Fuschini!<br />
Noticiam vários jornaes que um escrivão<br />
<strong>de</strong> fazenda foi rancorosamente<br />
perseguido, transferido e até preso por<br />
se não cingir ás imposições d'um administrador<br />
do concelho. Diz-se que a razão<br />
<strong>de</strong> tão insólita perseguição é por o<br />
dito escrivão querer ser justiceiro, sem<br />
contemplações para gregos nem troyanos,<br />
a respeito da nova avaliação <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong>s.<br />
Isto, sr. Fuschini, ainda não teve<br />
um <strong>de</strong>smentido ou uma solução correctiva<br />
para o administrador prepotente.<br />
Senhor Fuschini!<br />
Pela Africa<br />
A expedição que foi a Humpata castigar<br />
as hordas <strong>de</strong> llottentotes, que assolavam<br />
e punham em constante sobresalto<br />
os habitantes d'aquelles logares, levou<br />
a cabo com felicida<strong>de</strong> a sua missão, batendo<br />
aquelles selvagens, aprisionando<br />
alguns, matando muitos e expulsando<br />
para além do Cunene os restantes.<br />
Isaac Peral<br />
Este distincto marinheiro e electrista<br />
inventor do barco submarino Peral, liliouse<br />
no partido republicano hespanhol.<br />
PELOS JORNAES<br />
Traz o nosso collega a Vanguarda,<br />
um artigo firmado pelo nosso presado<br />
amigo, sr. dr. Eduardo d'Abreu, pondo<br />
em relevo as <strong>de</strong>cantadas economias dos<br />
srs. ministros da fazenda e obras publicas.<br />
Começa primeiramente por citar o<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março ultimo on<strong>de</strong> se<br />
diz :<br />
«Consi<strong>de</strong>rando, finalmente, que a'<br />
applicação temporaria nestas inspecções,<br />
<strong>de</strong> empregados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />
ministério das obras publicas, dá a<br />
maior segurança aos resultados garantidos<br />
pela sua larga experiencia e profunda<br />
competeneia em trabalhos <strong>de</strong> semelhante<br />
natureza, permittiudo<br />
além d'isso, que as inspecções<br />
se realisem sem<br />
aug^meuto <strong>de</strong> <strong>de</strong>speza.»<br />
È claro que em vista d'este <strong>de</strong>creto<br />
foram nomeadas as respectivas commissões<br />
a cuja nomeação presidiu a moralida<strong>de</strong><br />
resumida nestas palavras do mesmo<br />
artigo :<br />
«Foram <strong>de</strong>pois nomeadas essas commissões,<br />
algumas das quaes para localida<strong>de</strong>s<br />
on<strong>de</strong> os proprios avaliadores ou<br />
inspectores são importantes proprietários<br />
e até industriaes U<br />
Mas púnhamos <strong>de</strong> parle a questão<br />
da moralida<strong>de</strong> que é coisa que já não se<br />
pergunta neste Portugal monarchico.<br />
Tratemos das economias promettidas<br />
no pro^ramma governamental e estampadas<br />
em lettras gordas no referido <strong>de</strong>creto.<br />
Pois oiçam ainda o sr. dr. Eduardo<br />
d'Abreu :<br />
«Vinte e seis dias <strong>de</strong>pois, como que<br />
escondido ou perdido por entre as folhas<br />
do mesmo Diário, surge-nos um<br />
documento, assignado, não pelos srs.<br />
ministros responsáveis, mas por nm<br />
empregado subalterno, <strong>de</strong>clarando que,<br />
para o serviço das taes inspecções, já<br />
tinha sido mandado abonar cem mil<br />
réis a um, e que agora se mandava<br />
abonar os mesmos cem mil réis a outros<br />
1»<br />
E vá lá a gente ter a ingenuida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
suppôr por um momento, que ainda é<br />
possível á sombra do throno, haver homens<br />
capazes <strong>de</strong> olharem a serio para o<br />
estado gravíssimo do pniz.<br />
E assim diz o mesmo illustre parlamentar<br />
:<br />
«Mas <strong>de</strong>pois, apenas vinte e seis<br />
dias <strong>de</strong>pois, quando se trata <strong>de</strong> sustentar,<br />
no campo pratico dos factos,<br />
aquellas promessas e <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong><br />
economia,—então os ministros recuam<br />
vergonhosamente mandando expedir<br />
um simples aviso, a medo, pubiicado<br />
no Diário do Governo, e com o qual as<br />
<strong>de</strong>spezas publicas são escandalosamente<br />
e immensamente augmentadas 1»<br />
E ainda faliam em economias !<br />
*<br />
Agora vejam esta, sabida das culminancias<br />
do Paço a proposilo da viagem<br />
da »r. a D. Maria Pia, que a Reforma relata<br />
nos termos seguintes :<br />
«Nem nos parece que a magesta<strong>de</strong><br />
das instituições ganhe nada com esta<br />
peregrinação regia por causa dos agiotas.»<br />
Ganha o que o collega diz no periodo<br />
seguinte:<br />
«Pois tudo isto se sabe lá fóra e<br />
também que a companhia dos tabacos,<br />
a nnica que se recusa a contribuir com<br />
sacrifícios para os nossos apuros, é a<br />
que fez o empreslimo <strong>de</strong> viagem.»<br />
Já vê pois que as peregrinações, não<br />
são tão infructiferas que não <strong>de</strong>em pelo<br />
menos para uma viagem.<br />
C R Y S T A E S<br />
Ave Maria, Gratia Plena<br />
De tantos sonhos que abranjo<br />
Tu és o sonho melhor;<br />
Livro escripto por um anjo<br />
E que eu sei lodo <strong>de</strong> cór.<br />
Musa dos bons, que eu procuro<br />
Para inspirar-me e cantar,<br />
E vér o <strong>de</strong>us do futuro<br />
A erguer-se no meu altar.<br />
Estatua que te levantas<br />
Entre as mais cheia <strong>de</strong> luz,<br />
Gomo entre a côrte das santas<br />
Maria, a mãe <strong>de</strong> Jesus 1<br />
Haste que toda te infloras<br />
Quando eu te digo, a tremer,<br />
Que não tenho outras amoras<br />
Mais que os teus olhos, mulherl<br />
Quando os teus olhos serenos<br />
Me vestem com seu fulgor,<br />
Eu sinto erguer-se uma Vénus<br />
Das ondas do meu amor.<br />
O alvor da tua innocencia<br />
E como o alvor matinal<br />
Ao bater na transparência<br />
D'um finissimo crystai.<br />
A tua voz, se me affaga<br />
O ouvido attento a escutar<br />
Julgo-a assim como na vaga<br />
Que traz um cysne a cantar.<br />
Quando eu <strong>de</strong> sonhos coberto,<br />
Vou sentar-me ao lado teu<br />
Gomo estou <strong>de</strong> ti mais perto<br />
Fico mais perto do ceul...<br />
GUILHERME BRAGA. -
A N N O I — N . ° 9 9 O DEFENSOR DO POVO JBO <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
LETTRAS<br />
0 Moreirinha<br />
(SCENAS DA PROVÍNCIA)<br />
V<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Quando o Moreirinha atravessou rapidamente<br />
a sala e <strong>de</strong>sceu as escadas,<br />
(mal resoou o tradicional—à ses places),<br />
irado e convulso, os olhos chammejando<br />
raiva, os lábios sacudidos pela vingança,<br />
o coração prestes a rebentar no peito,<br />
e no cerebro aquella i<strong>de</strong>ia lixa, ru<strong>de</strong><br />
e brutal d'um gran<strong>de</strong> escandalo ou d'um<br />
gran<strong>de</strong> crime; a Guida leve um sorriso<br />
voluptuoso. Comprehen<strong>de</strong>u, e comprehen<strong>de</strong>u<br />
bem, que, mais do que a cólera<br />
d'elle, valia a formosura esculptural do<br />
seu curpo correctíssimo: para lhe suffocar<br />
os odios tinha o fulgor sedutoramente<br />
provocante do seu olhar, e para<br />
lhe sopear todas as velleida<strong>de</strong>s e caprichos<br />
alli estavam as pétalas mimosas da<br />
sua bocca leve e fresca. Ah I então,<br />
convencida da sua belleza e vaidosa da<br />
sua conquista, <strong>de</strong>snudava-se, em espirito:<br />
era a curva suave do seu seio, redondinho<br />
e flácido como um ninho, <strong>de</strong>sabrochando<br />
a alvura marlinea da epi<strong>de</strong>rme<br />
no roseo estonteamento dos biquinhos;<br />
era o roliço do braço, escon<strong>de</strong>ndo sobre<br />
a transparência setinea da pelle a rigeza<br />
dos inusculos, que o Moreirinha quizera<br />
vêr sempre distendidos e retezados,<br />
no esforço egoista <strong>de</strong> o apertar só a elle<br />
e continuamente; era a <strong>de</strong>slumbrancia<br />
da perna, edificada sobre o alicerce pequenino<br />
do pé arqueado e movediço con.o<br />
o das andaluzas, e enchendo e torneando<br />
á medida que subia, ora contornando a<br />
curva, ora <strong>de</strong>senhando e avolumando a<br />
coxa; era, o rei <strong>de</strong> todos os sete peccados<br />
mortaes, o roseo uos teus lábios<br />
frescos e ainda por tocar pudicamente<br />
escondidos no oiro annellado da barba<br />
farta 1...<br />
Sim, a Guida triumpharia <strong>de</strong> tudo...<br />
E, atalayada por esle orgulho e cubiçosa<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar ciúmes, ar<strong>de</strong>ntes e inlinaes,<br />
relanceou os olhos em torno, chamando<br />
a si o Barros. E assim, muito<br />
juntos e confi<strong>de</strong>ncialmente, isolados a<br />
um canto no macio appetitoso da chaiselongue,<br />
os dois <strong>de</strong>sprendiam-se inteiramente<br />
do bulício da sala, tocando-se rápidos<br />
apertos <strong>de</strong> mãos e fisgadas incan<strong>de</strong>scentes<br />
d'olhar. ..<br />
Quando o mestre-sala—aurora lá fóra<br />
pelo ceu alaranjado e pelos chilros das<br />
aves nas moitas—bateu compassadamente<br />
as palmas para a ultima walsa, a Guida<br />
<strong>de</strong>ixou pen<strong>de</strong>r a cabeça sobre o hombro<br />
do Barros, enlaçou-se luxuriosamente<br />
pelo seu braço robusto, e foi assim,<br />
•jJoida e frenetica, re<strong>de</strong>moinhando sempre,<br />
<strong>de</strong>vorando-o agora com os olhos<br />
em braza, sentindo logo estremecimento<br />
e quebreiras nas pernas, como um passarinho,<br />
que morre...<br />
O pacto estava feito. Outro sol não<br />
repontaria, sem que um beijo sonoro e<br />
apaixonado abafasse, sob o docel albente<br />
e rendilhado das cortinas do leito, o<br />
grito cortante, mas amoroso da virgem,<br />
que se afunda...<br />
Tres mezes <strong>de</strong>pois, quando o silvo<br />
agudo da locomotiva uivou no ar, o Zé<br />
da Gallega, entregador do Janeiro, atroava<br />
os ouvidos, sempre <strong>de</strong>liciados em<br />
sentar-lhe as piadas magnilicas, com um<br />
grito d'alegria, bem em conformida<strong>de</strong><br />
com o habito vermelho <strong>de</strong> S. João Evangelista,<br />
que trajava e o reluzente capacete<br />
<strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong> procissão, que lhe encimava<br />
a cara barbada e bexigosa : —<br />
Olha a queda ministerial I Olha a subida<br />
do Zé Luciano I<br />
Foi um dia <strong>de</strong> festa na villa. A philarmonica<br />
resoou sete mil vezes o hymno<br />
progressista e bombas <strong>de</strong> dynamite abalavam<br />
e borravam a atmosphera Jimpida<br />
e serena.<br />
Entretanto, o Barros correra apressado<br />
ao telegrapho a lembrar ao amigo<br />
e importantíssimo ministro da justiça a<br />
sua velha pretensão. tcEspero<strong>de</strong>v. ex. a ,<br />
em paga <strong>de</strong> tantos sacrifícios,'' esle favor»,<br />
terminava.<br />
E quinze dias <strong>de</strong>pois, ainda o sol<br />
não tingira d'oiro as portas do levante,<br />
e lá ia o Barros, acobertado no seu<br />
guarda-pó d'alpaca, muito aconchegado<br />
e somnolento ao fundo da diligencia do<br />
Nipo, a caminho da sua comarca. Dele-<br />
gado do procurador régio, para todos os<br />
effeitos 1<br />
Fugia, por necessida<strong>de</strong> e por interesse;<br />
fugia atravez da villa, ainda adormecida,<br />
op<strong>de</strong> apenas uma pallida luz<br />
coava a sua clarida<strong>de</strong> atravez as cortinas<br />
e a vidraça d'uma janella, lá no alio,<br />
como um olho que prescruta e chora.<br />
Era o quarto da Guida. Coitada, sabedora<br />
da fatal noticia ao cahir da noite,<br />
para alli ficara sobre o leito, estúpida<br />
e imbecilisada, as lagrimas correndo-lhe<br />
pelas faces, a bocca entre-aberta<br />
e soluçante. Agora sim, agora, que o<br />
retinir dos guisos e o estalar do chicote<br />
se perdia ao longe, é que ella comprehendia<br />
bem a enormida<strong>de</strong> da sua <strong>de</strong>sgraça,<br />
o perigo imminente da sua queda<br />
I Horrorisava-se, petrificava-se! Cori;<br />
di*velos d'amante e caricias <strong>de</strong> mãe, ella<br />
sonhara mil felicida<strong>de</strong>s para si e para<br />
o seu Barros, e antevia já o bom cabellitiho,<br />
a boquinha rosada e o sorriso innocente<br />
e meigo do pequenino ser, que<br />
ella sentia avolumar-se, <strong>de</strong>senvolver-se<br />
e aformosentar-se no seu ventre...<br />
E elle fugia! E alli tinha ainda, no<br />
regaço, aberto e molhado em pranto,<br />
lacónica e fria como a sua fugida: «Acabo<br />
<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>spachado <strong>de</strong>legado para<br />
Moimenta da Beira. Parto esta noite.<br />
A<strong>de</strong>us.»<br />
—A<strong>de</strong>us! A<strong>de</strong>us simplesmente! E os<br />
sacrifícios d'ella?) e a sua perdição ?! a<br />
sua honra, a honra <strong>de</strong> seus paes?!<br />
E naquelle momento, brusca e re<strong>de</strong>mptoramente,<br />
<strong>de</strong>senhou-se-lhe ante os<br />
olhos a imagem do Moreirinha, amante<br />
e apaixonado, só d'ella e só para ella...<br />
Sim, contar-lhe-hia tudo, rojar-se-lfte-hia<br />
<strong>de</strong> joelhos, pedir-lhe-hia perdão.<br />
E elle perdoou-lhe, e salvou-a.<br />
Um mez volvido, sobre as mãos cruzadas<br />
da Guida e do Moreirinha caira<br />
a estola sacerdotal e o re<strong>de</strong>mptor—conjugo-vos.<br />
Livre!<br />
O almoço correu vivo e animado.<br />
Os brin<strong>de</strong>s succediam-se e poeta houve<br />
que no furor da inspiração, atirou para<br />
o espaço, com um abrir <strong>de</strong>smesurado <strong>de</strong><br />
braços :<br />
Oh! virgem, virgem, não chores<br />
a laranjeira es folhada...<br />
A Guida ruborisou-se; e, incommodnda,<br />
correu á janella a tomar ar. O<br />
Moreirinha seguiu-a. Acariciou-lhe as<br />
mãos, a curva do seio, locou-lhe o pezinho<br />
calçado nos sapatos <strong>de</strong> setim.<br />
O engenheiro passava, flammante no<br />
seu fato <strong>de</strong> flanella branca, uma nuvem,<br />
<strong>de</strong> fumo emmoldurando-lhe a fronte<br />
russa.<br />
— Ou allez-vous, monsieur?<br />
— Á l'hotel.<br />
— S'tl vous plait. ..<br />
E, radiante, <strong>de</strong>sejos velhos accordados<br />
e novas titilações em effervescencia,<br />
correu a alcànçal-o, a pedir-lhe sensações.<br />
..<br />
O Barros, que chegára na vespera,<br />
ria á porta da Havaneza.<br />
De repente, bateu na testa e, direito<br />
e mélancholico, um ar affeclado <strong>de</strong><br />
tristeza, sahiti para a rua.<br />
A Guida, que o aviítára, teve um<br />
estremecimento.<br />
— Os meus parabéns, D. Margarida.<br />
Se dá licença...<br />
E, indiscreto, um sorriso mephistophelico<br />
nos lábios, subiu as escadas.<br />
— Não, não, não...<br />
— O' filha, mas que tolice!!<br />
E, ao contrario da primeira vez, um<br />
beijo longo abafou, sob o docel rendilhado<br />
do leito, um grito voluptuoso da<br />
Guida...<br />
Antonio Povoas.<br />
A cida<strong>de</strong> do Porto<br />
Em continuação da Semana Alegre,<br />
começou a publicar-se agora no Porto<br />
aquelle jornal, que apresenta o seu 1.°<br />
numero illustrado na 1.* pagina com um<br />
retrato do dr. Cunha e Costa.<br />
E' um jornal <strong>de</strong>mocrático, bem redigido<br />
e que merece todo o favor e accei •<br />
tação.<br />
Correio <strong>de</strong> Pombal<br />
Este jornal interrompeu por algum<br />
lempo a sua publicação.<br />
Pela Bélgica<br />
O operariado belga anda actualmente<br />
numa labutação fremente em prol do suffragio<br />
universal.<br />
De ha muito que a Bélgica, por condições<br />
particulares <strong>de</strong> raça e <strong>de</strong> educação,<br />
se tornou um centro animado <strong>de</strong><br />
socialismo pratico, activando solicitamente<br />
todas as conquistas dos mo<strong>de</strong>rnos codigos<br />
sociologicos e generalisaudo por uma<br />
correlação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, todos os problemas<br />
da questão social.<br />
D'entre esses problemas que pelo<br />
seu radicalismo atterram o espirito ronceiro<br />
da burguezia, avulta gran<strong>de</strong>mente<br />
a universalisação do suffragio, que os<br />
socialistas ha largo tempo veem reclamando,<br />
na justa convicção <strong>de</strong> que o suffragio<br />
universal, selecto e instruído, é o<br />
auxiliar mais po<strong>de</strong>roso, na evolução social,<br />
para a reivindicação pacifica dos<br />
princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />
Não se justifica, ao <strong>de</strong> leve, a pertinácia<br />
reagente da burguezia, recusando<br />
ao proletariado a sua parcella <strong>de</strong> inlerferencia<br />
nos <strong>de</strong>stinos nacionaes, quando,<br />
á luz <strong>de</strong> toda a lógica, o quarto estado,<br />
vivendo inferiormente na estreiteza das<br />
suas condições, nem por isso <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />
representar uma força vital do «eu paiz,<br />
força tanto mais po<strong>de</strong>rosa que pelas suas<br />
condições <strong>de</strong> producção é um elemento<br />
constituivo da riqueza material das nações.<br />
As velhas leis exclusivistas applicadas<br />
á gleba e ás <strong>de</strong>mais bordas trabalhadoras,<br />
sempre affastadas do convívio<br />
social, são hoje banidas fundamentalmente<br />
<strong>de</strong> todos os codigos convencionaes,<br />
como o foram do codigo da Consciência,<br />
humanisado pela largueza <strong>de</strong><br />
vista inlellectual cujo incremento atravez<br />
os séculos tem tocado a balisa da perfectibilida<strong>de</strong>.<br />
D'entre os seres viventes tudo boje<br />
tem direito, já não dizemos á plena liberda<strong>de</strong><br />
legal, porque não comprehen<strong>de</strong>mos<br />
liberda<strong>de</strong> legal sem a responsabilida<strong>de</strong><br />
equivalente que vem <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong><br />
mental; mas todos têm direito, pelo<br />
menos, a uma parcella <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />
na applicação legal da egualda<strong>de</strong>. Isto<br />
pelo que" toca aos povos rudimentares,<br />
que, a certos titulos, é discutivel a sua<br />
razão <strong>de</strong> ser nas luctas conscientes da<br />
civilisação. Porque, quanto a povos como<br />
a Bélgica, em que lia nas suas reclamações<br />
ao Estado conservador, uma orientação<br />
criteriosa e firme, baseada no direito<br />
natural, nem sequer ha uma tangente<br />
para se pôr em duvida a legitimida<strong>de</strong><br />
das suas exigencias.<br />
Querer restringir a administração dos<br />
negocios públicos a uma oligarchia que<br />
apenas tem a reçonimendal a uma argúcia<br />
mal guiada que a leva á systhematisação<br />
das convenções mais contraproducentes,<br />
é, sobre uma heresia social, um ataque á<br />
egualda<strong>de</strong> civil e politica, lida em todos<br />
os codigos dos mo<strong>de</strong>rnos publicistas <strong>de</strong><br />
sociologia.<br />
Esta relutancia dos Estados que firmam<br />
no direito divino a sua razão <strong>de</strong><br />
existência, em transigir com as camadas<br />
gerarchicamente inferiores, é um eterno<br />
incentivo ás luctas <strong>de</strong> classes que serão<br />
tanto mais acirradas quanto maior fôr a<br />
teimosia dos intransigentes.<br />
O que presentemente está succe<strong>de</strong>ndo<br />
na Bélgica é a documentação segura<br />
<strong>de</strong> que não é sem violência que o velho<br />
regimen quer <strong>de</strong>sviar da ingerencia do<br />
Estado as classes protelarias.<br />
E essa violência que já é volumosa<br />
pelo valor das cooperações que registra,<br />
muito embora seja ainda impotente para<br />
um <strong>de</strong>si<strong>de</strong>ratum completo, talvez quem<br />
sabe, ó burguezes?— amanhã se traduza<br />
temerosamente num baque formidando<br />
das vossas prerogalivas e dos vossos privilégios<br />
!.,.<br />
Mappa do moyimento da Caixa Economica<br />
" Fraternida<strong>de</strong> em 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1893<br />
ACTIVO<br />
Empréstimos 104$480<br />
Despezas 8$510<br />
Caixa 209&930<br />
Somma 322$920<br />
PASSIVO<br />
Acções entradas 314$300<br />
Jóias 7$600<br />
Multas 27 e pagas 6 ... 600<br />
Juros 420<br />
Total a22#920<br />
O secretario,<br />
Alberto Ramos <strong>de</strong> Vasconcellos.<br />
EM SURDINA<br />
A Jeronymo Silva<br />
-O nosso dr. Jeronymo<br />
fez annos na terça feira;<br />
dia d'annos ó synoiiymo<br />
<strong>de</strong> festança e pago<strong>de</strong>ira.<br />
E teve festa d'estalo I<br />
Foram lá muitos fulanos,<br />
a caga — fclicital-o<br />
p'los seus trinta e nove annos 1<br />
Quiz lá ir todo lyró,<br />
todo cecio o anafado...<br />
Mas então? A minha avó<br />
não tinha um collar lavado 111<br />
Mas p'ro anno, meu doutor,<br />
que você chega aos quarenta,<br />
lã irei — e sem pavor —<br />
c'uma,camisa sebenta I<br />
PINTA-ROXA.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Associação dos Artistas<br />
Apezar dos muitos esforços da opposição<br />
que appareceu a disputar no domingo<br />
a eleição dos corpos gerentes que<br />
por <strong>de</strong>liberação unanime da assemblêa<br />
geral <strong>de</strong> 6 do corrente, se teve <strong>de</strong> realisar,<br />
apenas conseguiu fazer vingar a<br />
nomeação do sr. Augusto Fino para presi<strong>de</strong>nte,<br />
que obteve 12 votos a mais.<br />
Sairam eleitos os seguintes senhores:<br />
ASSEMBLEIA GERAL<br />
Presi<strong>de</strong>nte — Augusto José Gonçalves<br />
Fino.<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte — José Maria Men<strong>de</strong>s<br />
d'Abreu,<br />
Secretario—Alfredo da Cunha Mello.<br />
2.°—dito — Antonio Lourenço.<br />
3 ° dito — João Rocha.<br />
DIRECÇÃO<br />
Presi<strong>de</strong>nte—Manoel Illydio dos Santos<br />
Vice presi<strong>de</strong>nte — Augusto Eduardo<br />
Ferreira <strong>de</strong> Mattos.<br />
Secretario —Francisco Alves Teixeira<br />
Braga.<br />
Vice-secretario — Antonio da Silva<br />
Baptista.<br />
Thesoureiro — Manoel dos Santos<br />
Apostolo Júnior.<br />
Vogal —Antonio dos Santos Azevedo.<br />
Dito—Evaristo José Cerveira.<br />
COMMISSÃO FISCAL<br />
José Maria Casimiro d'Abreu.<br />
Francisco da Fonseca.<br />
Manoel José Telles.<br />
REPRESENTANTES DOS GRÉMIOS<br />
Alfaiates — Antonio Augusto da Paixão.<br />
Calligraphos — Guilherme José Marques<br />
Pinheiro.<br />
Carpinteiros — Manoel da Conceição<br />
Ningre.<br />
Marceneiros — Joaquim <strong>de</strong> Carvalho<br />
Porto.<br />
Oleiros — José Maria Fernan<strong>de</strong>s.<br />
Pharmaceuticos — Francisco Barata<br />
Bastos.<br />
Sapateiros — Benjamin Ramos.<br />
Serralheiros — Manoel Pedro <strong>de</strong> Jesus.<br />
Typographos — Maximiano José Carvalho.<br />
Mixto— Joaquim Abrantes Saraiva.<br />
E«eala Brotero<br />
São por emquanto tres as oflicinas<br />
que vão ser installadas nesta escola, das<br />
iudustrias que mais prepon<strong>de</strong>ram neste<br />
pequeno centro industrial, e que são:<br />
Ceramica — trabalhos <strong>de</strong> roda, fabrico<br />
corrente, pintura e mo<strong>de</strong>lação, ensaios<br />
<strong>de</strong> coloração e esmalte.<br />
Serralheria— Trabalhos <strong>de</strong> forja e<br />
torno, princípios rudimentares <strong>de</strong> mechanica,<br />
ensaios <strong>de</strong> fundição como complemento<br />
á serralheria d ! arte.<br />
Carpinteria e marceneria — Carpiuteria<br />
<strong>de</strong> branco, ligada ás construcções<br />
civis: merceneria <strong>de</strong> mobiliário, singelo<br />
e <strong>de</strong> luxo, talha, e trabalhos <strong>de</strong> torno.<br />
Gymnasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Debaixo da direcção do socio d'este<br />
gymnasio, sr. Luiz Doria, houve no domingo<br />
uma sessão dos jogos da Pelota,<br />
muito usado em Hespanha e do Ron<strong>de</strong>r.<br />
Correu animado, ainda que um pouco<br />
tumultuoso <strong>de</strong>vido á pouca experiencia<br />
dos jogadores.<br />
No domingo se o tempo permittir ha<br />
outra sessão, no mesmo local, pateo do<br />
convento <strong>de</strong> Sauta Clara.<br />
A eanalisação das aguas<br />
Por edital do >r. presi<strong>de</strong>nte da camara<br />
foi suspensa temporariamente a eanalisação<br />
das aguas por conla do município,<br />
sem prejuízo dos consumidores que haviam<br />
requerido antes d'esta <strong>de</strong>liberação.<br />
Correm diversos boatos sobre este<br />
assumpto, dizendo uns que o município<br />
está soflrendo bastantes prejuízos na eanalisação<br />
por sua conta ; outros affirmam<br />
que esta medida é simplesmente para<br />
dar logar a po<strong>de</strong>r reduzir-se o pessoal.<br />
São tão inverosímeis estes boatos que<br />
apenas os registamos a titulo <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>.<br />
Relativamente ao pessoal das aguas,<br />
sabe-se bem que não é fácil a substituição<br />
do actual empregado, sr. Henrique<br />
Cesar <strong>de</strong> Lima, que tem servido com<br />
tanto zelo e <strong>de</strong>dicação o município que<br />
não acreditamos que este dispense os seus<br />
serviços, quanto mais nos não consta<br />
ter havido os prejuízos que se <strong>de</strong>ram<br />
antes da sua entrada.<br />
Além d'isSo o sr. Henrique é um<br />
empregado cumpridor, muito activo e que<br />
tem lido a rara felicida<strong>de</strong>, pelo sem comportamento<br />
e trato <strong>de</strong>licado, <strong>de</strong> servir a<br />
contento <strong>de</strong> todos os consumidores, não<br />
baixando nunca a repartição da camara<br />
uma queixa accusando-o <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s<br />
ou abandono <strong>de</strong> serviço.<br />
Não conhecemos <strong>de</strong> perto este cidadão,<br />
mas tal tem sido a sua linha <strong>de</strong><br />
conducla, que por todos é estimado, e<br />
bem mal recebida seria qualquer resolução<br />
que a camara tomasse ácerca d'este empregado,<br />
que tem merecido do publico<br />
que o conhece e aprecia, os mais altos<br />
elogios.<br />
A camara que bera melhor que/ nós<br />
saberá avaliar os bons predicados do sr.<br />
Henrique, ha <strong>de</strong> ter para com-elle todas<br />
as consi<strong>de</strong>rações, não commettendo injustiças<br />
para com uin subordinado que<br />
tao bem tem cumprido com os seus <strong>de</strong>veres<br />
prolissionaes e <strong>de</strong> bom cidadão.<br />
O baile na Recreativa<br />
Proporcionou-nos uma noite agradavelmente<br />
passada, no sabbado, a direcção<br />
da Assemuleia Recreativa.<br />
Des<strong>de</strong> o entrudo que alli não tinha<br />
havido reuuião e <strong>de</strong>vido, naturalmente,<br />
a isso foi esta muito concorrida.<br />
Muitas damas, bastantes cavalheiros<br />
e sobretudo gran<strong>de</strong> animação.<br />
Dançou-se até as 3 horas da manhã<br />
e..., se não se dançou até mais tar<strong>de</strong>,<br />
foi porque a essa hora as mamãs começaram<br />
<strong>de</strong> mostrar os seus remuntoirs era<br />
cujos mostradores apparecia a hora fatal<br />
com que <strong>de</strong> costume terminam estas<br />
reuniões.<br />
Durante a noile <strong>de</strong>liciaram-nos com<br />
trechos <strong>de</strong> musica brilhantemente executados<br />
as ex.' nas sr. a ' D. Elvira e D.<br />
Maria Silvano.<br />
Emlim uma noite <strong>de</strong> festa, verda<strong>de</strong>iramente<br />
familiar, on<strong>de</strong> nao houve o<br />
menor inci<strong>de</strong>nte que contrariasse a jovialida<strong>de</strong><br />
que durante o baile reinou.<br />
Não po<strong>de</strong>mos pois <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consignar<br />
aqui á nova di-reçção o nosso parabém<br />
pela maneira 'comó tem procedido<br />
para a sua cònservaçãd eie&envolvimento.<br />
Ao sr. comiuissàrio <strong>de</strong> policia<br />
n r. _<br />
Pedimos para que s. ex. manda po<br />
liciar a rua do Corpo <strong>de</strong> Deus, on<strong>de</strong> sao<br />
constantes os" ralhos e os palavrões.<br />
No domingo passado foi uma iníerneira;<br />
gritos <strong>de</strong> soccorro, scenas <strong>de</strong><br />
pugilato, chegando se a puchar por uma<br />
faca para o adversario.<br />
O sr coinmissario que <strong>de</strong>seja manter<br />
a or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>certo atlenuera ao nosso pedido,<br />
evitaudo que os moradores d aquella<br />
rua estejam em constaute sobresalto.<br />
Trovoada<br />
Na terça feira esteve imminente sobre<br />
esta cida<strong>de</strong> uma forte trovoada que felizmente<br />
passou sem consequências <strong>de</strong>sastrosas.<br />
Partidos médicos<br />
Na reunião dos 40 maiores contribuintes,<br />
realisada na segunda feira, foi<br />
rejeitada a creação dos quatro partidos<br />
médicos creados pela camara actual.<br />
Theatro-C/irco<br />
A companhia equestre, que ultimamente<br />
trabalhou neste theatro, <strong>de</strong>spediuse<br />
hontem.<br />
Nao po<strong>de</strong>mos referir-nos hoje ao trabalho<br />
magistral e correctíssimo da Geraldine<br />
e <strong>de</strong> Emma Gautier; no proximo<br />
numero, porém, apreciaremos como realmente<br />
merecem os trabalhos das gentilissiinas<br />
artistas.
AN^O I — M.* IO O MFElVIiOR DO POVO 8 0 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1 8 ® 3<br />
Desastre<br />
Na segunda feira, ao <strong>de</strong>scer a rua d°<br />
Arco d'Alniedina, o sr. Manoel Lucas,<br />
morador na estrada da Beira, caiu tão<br />
<strong>de</strong>sastradamente que <strong>de</strong>slocou um pé<br />
pelo artelho.<br />
Foi recolhido em casa do nosso cor-<br />
religionário o sr. Manoel Antonio da<br />
Costa, on<strong>de</strong> o hábil clinico sr. dr.<br />
Pontes lhe ministrou os primeiros curativos<br />
seguindo <strong>de</strong>pois em carro para sua<br />
casa, on<strong>de</strong> se acha em tratamento.<br />
Todos os dias se dão naquelle logar<br />
<strong>de</strong>sastres semelhantes, <strong>de</strong>vido á calçada<br />
estar polida pelo transito. Pedimos pois<br />
á camara para que provi<strong>de</strong>ncie mandando<br />
picar as pedras a fim <strong>de</strong> evitar estes<br />
acontecimentos.<br />
Mausoléu<br />
Brevemente será assente no cemiterio<br />
da Conchada o sumptuoso mausoléu que<br />
ha <strong>de</strong> recolher os restos mortaes do benemerito<br />
cidadão dr. João Corrêa Ayres<br />
<strong>de</strong> Campos.<br />
Dizem que é um bello monumento<br />
e que a sua execução ha <strong>de</strong> affirmar os<br />
elevados doles artísticos do nosso patrício<br />
sr. Antonio Augusto da Costa Motta.<br />
O mausoléu é <strong>de</strong> mármore <strong>de</strong> Carrara<br />
é impbrtará "em vinte'contos <strong>de</strong> reis.<br />
Theatro D. Luiz<br />
A companhia <strong>de</strong> opera-comica do<br />
Príncipe Real, do Porto, apresenta-se<br />
<strong>de</strong> novo no theatro D. Luiz no sahbado,<br />
levando á scena As noivas do Enéas e<br />
no domingo O Solar dos Barrigas, applaudidas<br />
operettas <strong>de</strong> Gervásio Lobato.<br />
Recita do 5.° anno<br />
O scenario que ha <strong>de</strong> servir na recita<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida dos alumnos do 5.°<br />
anno <strong>de</strong> Direito, será pintado pelo sr.<br />
Antonio Augusto Gonçalves, cujo talento<br />
artístico se tem revelado com superiorida<strong>de</strong>.<br />
Senhor aos entrevados<br />
No proximo domingo, pelas 7 horas<br />
da manhã, será levado com a pompa<br />
dos annos anteriores, o sagrado viatico<br />
aos entrevados da freguezia <strong>de</strong> S. Bartholomeu.<br />
O itinerário é o seguinte:<br />
ruas do Cego, Ferreira Borges, Corpo<br />
<strong>de</strong> Deus, Viscon<strong>de</strong> da Luz, Martins <strong>de</strong><br />
Carvalho, .praça 8 <strong>de</strong> Maio, ruas do<br />
Corvo, e dos Sapateiros, travessa da rua<br />
Velha,- praça do Commercio, rua das<br />
folias, largos das Ameias e Solta, rua<br />
dos Esteireiros e Adro <strong>de</strong> Baixo.<br />
A mesa pe<strong>de</strong> o obsequio, aos moradores<br />
d'estas ruas e largos para ornamentarem<br />
as suas janellas com colchas<br />
<strong>de</strong> damasco, assim como pe<strong>de</strong> a todos<br />
;0s-irmã0s para não faltarem á hora <strong>de</strong>terminada.<br />
Destroço d'arvores<br />
lnformam-nos que tem sido cortadas<br />
do ;Choupal, junto da praça <strong>de</strong> touros,<br />
muitas arvores, para cultivo d'aquelle<br />
terreno.<br />
O sr. director respectivo lerá conhecimento<br />
d'este vandalismo?<br />
30 Folhetim do Defensor do POYO<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
VXÍI<br />
Um casamento suspenso<br />
...Mas isso já lá vae ha muito tempo...<br />
é já historia antiga. Memma, reconheço-o,<br />
merecia mais que um capricho, e<br />
eu <strong>de</strong>sgraçadamente, não tenho paixão<br />
que oftereça a uma mulher... O estudo<br />
da diplomacia e das altas questões inoraes<br />
arrefece o coração. E' um mal? Não<br />
sei. Cada um tem <strong>de</strong> se submetter ás<br />
exigencias da sua organisação... A<strong>de</strong>us,<br />
marquez di Negro.<br />
— A<strong>de</strong>us, meu caro con<strong>de</strong>.<br />
Quando Talormi licou só, procurou<br />
por lodos os lados em volta <strong>de</strong> si e bem<br />
<strong>de</strong>pressa viu approximar-se um homem<br />
que se tinha conservado na sombra do<br />
portico da Annunciada.<br />
— Pois bera, o golpe falhou, disse<br />
Talormi, mas não importai o lobo do<br />
mar partiu e a mulher ficou só — economizámos<br />
assim a morte d'um homem.<br />
— E agora, disse Barbone, que irá<br />
<strong>de</strong> ser do meu trabalho lá em cima?<br />
N — Ah! é justo, Barbone; tu não<br />
Exames d'instrucçâo primaria<br />
Principiaram já os exames d'ins!rucção<br />
primaria no Lyceu central d'esta<br />
cida<strong>de</strong> ficando os jurys assim compos-<br />
tos:<br />
1. A MESA<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Clemente Pereira <strong>de</strong> Car-<br />
valho.<br />
Vogaes: José Pereira Maduro e Antonio<br />
Albino Mourão.<br />
2. A MESA<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Manoel da Costa Carvalho.<br />
Vogaes: José da Costa Henriques e<br />
Antonio Avelino.<br />
Acto <strong>de</strong> licenciado<br />
Está marcado o dia 22 <strong>de</strong> maio para<br />
o acto <strong>de</strong> licenciado na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Direito do sr. Arthur Pinto <strong>de</strong> Miranda<br />
Montenegro.<br />
Sagrado Viatico<br />
No domingo saiu proeessionaluiénte<br />
o Sagrado Viatico na vi lia <strong>de</strong> Montemor<br />
aos entrevados. A procissão era numerosa,<br />
acompanhando-a a philarmonica da<br />
villa, habilmente regida pelo sr. Francisco<br />
Carvalho, que executou muito bem<br />
alguns trechos <strong>de</strong> musica.<br />
Estatutos<br />
Já concluiu os seus trabalhos a commissão<br />
encarregada <strong>de</strong> elaborar o projecto<br />
dos novos estatutos para o Monte-pio<br />
Conimbricense, o qual será brevemeute<br />
discutido em assembleia geral.<br />
Mariano Machado<br />
Foi convidado para ir dirigir a companhia<br />
<strong>de</strong> Moçambique em Africa, este<br />
nosso amigo.<br />
Movimento commercial<br />
Agio—Premio das libras: 900 rs<br />
ouro nacional, 17 ;<br />
Prata ja não tem agio.<br />
*<br />
Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />
tremez 560 — Milho branco 335 —Dito<br />
amarello 335 — Feijão vermelho 520 —<br />
Dito branco 420 —Dito rajado 340 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 420—-Centeio 440—Cevada<br />
300 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 670 — Dito<br />
meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />
Azeite a 1/610.<br />
Carta<br />
O sr. Bernardo Carvalho dirige-nos<br />
a seguinte carta a proposito da noticia<br />
que <strong>de</strong>mos era o numero passado acerca<br />
da Associação dos Artistas.<br />
Como nos falta espaço, no proximo<br />
numero mostraremos a este senhor que<br />
as informações que nos <strong>de</strong>ram não foram<br />
falsas, como suppõe, e que o caso que<br />
o fez vir varrer a sua teslada não tem a<br />
importaneia nem o valor que lhe quer<br />
dar.<br />
queres per<strong>de</strong>r o teu trabalho e é natural...<br />
Comtuílo não é necessário coinmetter<br />
caiaslrophes inúteis... Ouve,<br />
é indispensável que da tua obra não<br />
resto o mais insignificante traço...<br />
D'aqui a uma hora toda a gente estará<br />
a dormir já ua casa <strong>de</strong> campo, mas, não<br />
obstante, seguiras o teu caminho habitual<br />
em volta da quinta, e <strong>de</strong>molirás completamente<br />
a ponte do mirante... Este<br />
segundo trabalho lia <strong>de</strong>,ser altrrbuido<br />
a <strong>de</strong>vastadores nocturnos.<br />
Vamos a prevenir um caso terrível<br />
— Memnu, quando se levantar, po<strong>de</strong><br />
ter i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ir vUitar o marquez di Negro<br />
e <strong>de</strong> ao mesmo tempo ir passear até<br />
ao mirante para ver <strong>de</strong> longe o caminho<br />
que seu marido tomou... as mulheres<br />
teem d'esles caprichos. Diabo! eu não<br />
quero que Memma caia nesta armadilha<br />
<strong>de</strong> lobos; reservo-lhe uma menos perigosa.<br />
Assim, Barbone, põe-te a caminho<br />
e segue as minhas or<strong>de</strong>ns com a maior<br />
exactidão. You-ine <strong>de</strong>itar. Concluído o<br />
teu trabalho, espero-le em casa.<br />
Barbone inclinou-se <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> seu<br />
amo, e, executor sempre docildas or<strong>de</strong>ns<br />
recebidas, partiu.<br />
Tornamos a Paulo Gréant, precisamente<br />
no momento em que o <strong>de</strong>ixamos<br />
no mirante. O moço artista viu <strong>de</strong>svauecer-se<br />
o sua ultima esperança nas brumas<br />
matinaes do horisonle nuritimo. O dia<br />
<strong>de</strong>sponta já sobre os cumes das montanhas;<br />
é necessário não <strong>de</strong>ixar que os<br />
*<br />
Sr. redactor: — Era o numero 78 do<br />
seu jornal 0 Defensor do Povo, li eu;<br />
uma noticia referente á Associação dos<br />
Artistas, que as eleições se iam fazer<br />
<strong>de</strong> novo em consequência dos indivíduos<br />
que ficaram eleitos na ultima eleição (que<br />
leve logar em 2 d'outubro <strong>de</strong> 1892) não<br />
terem comparecido pasa tomar posse dos<br />
seus cargos!<br />
Não sendo esta a expressão da verda<strong>de</strong><br />
lamento que tão <strong>de</strong> má fé o informassem<br />
e como um dos membros eleitos<br />
em outubro <strong>de</strong> 1892, cumpre-me vir<br />
restabelecer a verda<strong>de</strong> dos factos varrendo<br />
a miulia testada.<br />
Em 2 d'outubro <strong>de</strong> 1892 Gzeram-se<br />
d'uma fornia perfeitamente legal as eleições<br />
dos corpos gerentes da associação<br />
em que estão; no dia 7 do me
A M O I — IV. 9 19 O D E F E N S O R B O P O V O «o <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
LIVROS<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
Agencia Universal Portugueza<br />
Esta agencia encarrega-se <strong>de</strong> redigir<br />
e fazer inserir annuncios, communicados<br />
e réclames em todos os jornaes do Porto,<br />
Lisboa, províncias e estrangeiro.<br />
Incumbe-se da redacção <strong>de</strong> estatutos,<br />
relatorios, circulares, requerimentos, cartazes,<br />
prospectos, manifestos, etc, encarregando-se<br />
também <strong>de</strong> os fazer imprimir<br />
e (distribuir quando o cliente assim o<br />
<strong>de</strong>seje, responsabilisando-se pela niti<strong>de</strong>z<br />
e perfeição do trabalho typographico assim<br />
como pela escrupulosa distribuição.<br />
Toma conta <strong>de</strong> qualquer trabalho <strong>de</strong><br />
copia.<br />
Acceita quaesquer publicações á commissão,<br />
ou em <strong>de</strong>posito, encarregando se<br />
da sua venda e distribuição.<br />
Satisfaz com rapi<strong>de</strong>z, todas as encommendas<br />
<strong>de</strong> quaesquer livros nacionaes<br />
e estrangeiros.<br />
Recebe assignaturas e annuncios para<br />
todos os jornaes e publicações litterarias<br />
nacionaes e estrangeiras, pois está em<br />
correspondência directa com as principaes<br />
eniprezas e livrarias; tendo representação<br />
e correspon<strong>de</strong>ntes em todas as<br />
principaes cida<strong>de</strong>s.<br />
R u a <strong>de</strong> D. Pedro, 110 —1.°<br />
PORTO<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 róis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 30 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Arrematação<br />
(i. a publicação)<br />
109 M « < , Í B ' P r o x ' m o raez l ' e<br />
maio, por II horas da manhã<br />
no tribunal, ha<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r-se em hasta<br />
publica pelo inventario orphanologico <strong>de</strong><br />
Rozaria Maria <strong>de</strong> Jesus, solteira, fallecida<br />
na rua dos Militares d'esta cida<strong>de</strong>, uma<br />
morada <strong>de</strong> casas com tres andares, situada<br />
na rua da Mathemalica, freguezia da Sé<br />
Cathedral, com os números <strong>de</strong> policia<br />
40 e 42, a partir com Raphael Rodrigues<br />
d'Oliveira e her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Diogo Barata,<br />
avaliada em 695$800 réis.<br />
E' foreira do Seminário em 210 réis<br />
annuaes.<br />
A contribuição <strong>de</strong> registro e o lau<strong>de</strong>mio<br />
que for <strong>de</strong>vido serão pagos pelo arrematante.<br />
• Pelo presente são citados quaesquer<br />
credores e intimados incertos para assistirem<br />
á praça.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 14 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Verifiquei a exactidão.<br />
O juiz <strong>de</strong> direito,<br />
Queiroz.<br />
O escrivão,<br />
Joaquim A. Rodrigues Nunes<br />
* -<br />
107 da cida<strong>de</strong><br />
y» <strong>de</strong> Braga, <strong>de</strong>claram para os<br />
<strong>de</strong>vidos effeitos, que no dia 15 do corrente<br />
acceilaram uma letra a João Alves<br />
da Silva Júnior, da Covilhã, da quantia<br />
<strong>de</strong> 148)51080 réis, com vencimento em<br />
11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1893, e liavendo-se<br />
extraviado a mesma, passaram uma 2. a<br />
via, ficando <strong>de</strong> nenhum effeito a l. a ; o<br />
que fazem publico para que ninguém<br />
faça nenhuma transacção com a dita l. a<br />
letra, acceite, mas ainda não saccada.<br />
Braga, 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1893.<br />
11 AVI í\ fJ<br />
MARGA «ANCORAS»<br />
enrie-se no estabelecimento<br />
105 V <strong>de</strong><br />
JULIO DA CUNHA PINTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
ri<br />
flNTIMIâ U P, J, A, CMIMIÍ<br />
14, Largo dlnnuuciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />
CORRESPONDENTE EM COIMBRA<br />
ANTONIO JOSÉ IIM073A BASTO—SUA SOS SAPATEIROS, 23 A 23<br />
OFF1CINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />
ESTAMPARIA MECHAftlCA<br />
6 inge lã, seda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />
1 feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> homem,<br />
vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não éstão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
2<br />
JOIO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIMBRA<br />
ARMAZÉM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
e a retalho. Grandé <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>s-<br />
conto nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças douradas<br />
para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesla cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimtntada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C. a<br />
N. B. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esla marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
mm CQN7SA BBitKS 1 EMPIBSNS -<br />
PREPARADA PELO PIIARMACEUTICO<br />
NI. ANDRADE<br />
Esla pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo $ Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^900 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
(OFFICINA)<br />
SIJLVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
!m) pucarrega-se da jiiatura <strong>de</strong> (aboletas, casas, doura-<br />
M çoes <strong>de</strong> egrejas, forrar casas a papei, etc., etc.,<br />
tauto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Na mesma officina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
i áaa<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
ib\ d e l p o r t<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO BOBBIBBES BBASA, 5DCQESS0B<br />
17—ADRO DE CIMA. —20<br />
COf MIM 01 HUM -TAMIS-<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 1.900:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
SEBE EM KISBOA<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° li — 1.°<br />
orriBi&L be kimm<br />
108 O r e e i , s a " B e u m - Dirigir a Anjr<br />
tonio Augusto Fagulha, Cellas.<br />
QUADRANTS<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para 1 §93.<br />
Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSÉ m mmi n m m<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia
OT<br />
Defensor<br />
^ l J P ANNO<br />
J<br />
I <strong>Coimbra</strong>, 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 H.° 80<br />
p<br />
A lncta na Bélgica<br />
Durante oito dias, tem chegado<br />
da Bélgica noticias <strong>de</strong> um movimento<br />
operário, organisado por chefes<br />
hábeis, secundados por uma<br />
multidão convida.<br />
O partido operário socialista<br />
belga, constituído por maneira que<br />
possa manifestar-se uniforme e rapidamente,<br />
mostrou <strong>de</strong> tal modo a<br />
sua força, que fez recuar a maioria<br />
reaccionaria do parlamento, obrigando-a<br />
a submeller-se quasi completamente<br />
na questão do suffragio<br />
universal.<br />
A lucla <strong>de</strong> protesto, que durou<br />
oito dias, não foi livre <strong>de</strong> scenas<br />
violentas e o sangue <strong>de</strong> muitos trabalhadores<br />
correu pelas ruas das cida<strong>de</strong>s<br />
revoltadas.<br />
Os feridos são por <strong>de</strong>zenas e os<br />
mortos não são poucos.<br />
O paiz mineiro foi occupado militarmente;<br />
a policia multiplicou as<br />
prisões dos insurrectos; o palacio<br />
do rei foi posio em estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>feza,<br />
como uma praça forte; a arlilheria<br />
preparou-se para metralhar a<br />
multidão. E todavia o partido operário<br />
alcançou a suaprimeiragran<strong>de</strong><br />
Victoria pela justiça com que<br />
apresentava as suas reclamações e<br />
pela força com que tratou <strong>de</strong> as garanlir.Pelaforça,<br />
que se viu obrigado<br />
a empregar, convencido <strong>de</strong> que os<br />
meios brandos não bastavam. E sacrificou-se<br />
porque viu que o sacrifício<br />
era necessário.<br />
Mas assim é que se vence. Só<br />
assim é que se po<strong>de</strong> vencer.<br />
E, o velho mundo burguez e conservador<br />
já treme perante as legiões<br />
<strong>de</strong> famintos <strong>de</strong> pão e <strong>de</strong> justiça,<br />
que vêem avançando, illummados<br />
pela revolta, resolutos pela coragem,<br />
archote numa das mãos, machado<br />
na oulra para romper a passagem,<br />
que lhes irriçaram <strong>de</strong> bayonelas e<br />
fecharam com metralhadoras. O seu<br />
grito é um grilo <strong>de</strong> muitos séculos,<br />
sempre perdido, sempre esquecido.<br />
Emlim, elle vae fazer-se ouvir...<br />
*<br />
Um facto significativo contam<br />
as noticias da Bélgica:—No dia<br />
15, quando a camara regeilava a<br />
modificação á lei do suffragio, que<br />
<strong>de</strong>pois veiu a acceitar, com restricções,<br />
que não durarão muito, o<br />
rei Leopoldo foi para o seu parque<br />
<strong>de</strong> Laeken assistir a uma gar<strong>de</strong>nparty<br />
l Mas acrescentam essas noticias,<br />
que a multidão o assobiou e<br />
apupou, crescendo por tal fórma o<br />
seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> protesto, que, a não<br />
acudir em gran<strong>de</strong> força, á <strong>de</strong>sfilada,<br />
um regimento <strong>de</strong> cavallaria,<br />
a gar<strong>de</strong>n-party do rei Leopoldo terminaria<br />
por fórma a servir <strong>de</strong> exemplo,<br />
aos que em railly-paper's se divertem<br />
noulros paizes mais pacientes<br />
e parvos.<br />
*<br />
Ora emquanlo se passavam pelo<br />
norte da Europa estes faclos, prenúncios<br />
d'uma gran<strong>de</strong> revolução,<br />
no cantinho do occi<strong>de</strong>nle o que se<br />
dizia a respeito <strong>de</strong> um povo, tão<br />
conhecedor e <strong>de</strong>fensor dos seus direitos?<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO X V<br />
Cá pelo occi<strong>de</strong>nle, é certo, alguns<br />
se interessavam pelo que occorria<br />
e mostravam-se dispostos a<br />
proce<strong>de</strong>r por fórma egual... se os<br />
porluguezes fossem «como aquella<br />
genle da Bélgica.»<br />
Ora para conseguir o suffragio<br />
universal, para conseguir a sua liberda<strong>de</strong>,<br />
o seu pão, ou para reivindicar<br />
a sua honra pessoal ou collecliva<br />
«Ioda esta genle porlugueza»<br />
não está para massadas.<br />
Na Bélgica havia <strong>de</strong> momento,<br />
uma questão <strong>de</strong> voto; em Portugal<br />
ha <strong>de</strong> momento e sempre uma questão<br />
<strong>de</strong> calote, <strong>de</strong> roubo e fome.<br />
Pois bem 1<br />
Para conquistarem o voto além,<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> cidadãos,<br />
revollam-se, <strong>de</strong>ixam-se fuzilar.<br />
Para repellirmos a <strong>de</strong>shonra,<br />
para fazermos justiça, para evitarmos<br />
a miséria o que fazemos nós<br />
aqui ?<br />
Somos amanuenses, procuramos<br />
sel-o, e dormiremos <strong>de</strong> barriga<br />
para o ar, em <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> o ser.<br />
E o governo affirma que temos<br />
razão, a burgueziá enten<strong>de</strong> que fazemos<br />
bem, o exercito acha melhor<br />
assim...<br />
Ora quando tudo pensa d'esla<br />
maneira, não quererão os que já<br />
não po<strong>de</strong>m esperar, pensar como<br />
os seus camaradas belgas e proce<strong>de</strong>r<br />
como elles?<br />
Assim se daria o faclo inaudito<br />
<strong>de</strong> serem os pequenos e os opprimidos,<br />
que libertassem os que<br />
podiam liberlal-os a elles e liberlar-se<br />
a si 1<br />
Porque na Bélgica eslá-se dando<br />
esse caso, em parle, e aqui darse-hia<br />
por complelo.<br />
Eslará alguém disposto ao que<br />
dizemos ?<br />
Tembem não nos admira que<br />
não.<br />
Emquanlo os belgas, perturbam<br />
a gar<strong>de</strong>n-party do seu rei Leopoldo,<br />
com espontaneas manifestações <strong>de</strong><br />
assobio, os porluguezes pacientes<br />
ao saberem d'uma festa real, só<br />
lêem pena <strong>de</strong> não serem ao menos<br />
cavallos, numa caçada aos lobos,<br />
ou num railly-paper em Cinira.<br />
Bem se imporia este povo com<br />
o que fazem os outros povos!<br />
Julgam taIvez que muitos iam<br />
procurar nas noticias lelagraphicas<br />
se os operários belgas venciam a<br />
tropa e se o rei cedia ao povo?<br />
Não senhor. Por cá vae-se lêr<br />
nos lelegrammas da viagem real,<br />
se as toilettes da sr. a D. Maria Pia<br />
foram admiradas pela sua riqueza e<br />
se o siv D. Alfonso tem sido feliz<br />
em aventuras.<br />
Porque seria realmente triste<br />
se a nossa rainha e o nosso infante,<br />
envergonhassem o paiz por falta <strong>de</strong><br />
dinheiro. Não, que nós somos fidalgos.<br />
..<br />
c<br />
Centro Republicano<br />
À Civilisação, da Guarda <strong>de</strong> 18, diz<br />
que lhe consta se vae fundar naquella<br />
cida<strong>de</strong> um centro <strong>de</strong>mocrático, para o que<br />
o partido republicano conta com elementos<br />
valiosos.<br />
Oxalá que os nossos correligionários<br />
d'aquella cida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>sanimem no seu<br />
proposito, e as mais cida<strong>de</strong>s da província<br />
lhe vão seguindo o exemplo.<br />
CHRONICA DE COIMBRA<br />
<strong>Coimbra</strong> é uma das terras d'este<br />
nosso velho Portugal mais bem disposta<br />
para saber viver.<br />
Emquanto o resto do paiz clama e<br />
berra, porque é vexatória a fórma da<br />
cobrança dos cães á fazenda publica —<br />
dispendioso e infructifero o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />
18 <strong>de</strong> março ultimo, mandando proce<strong>de</strong>r<br />
á inspecção das matrizes, ella apenas<br />
volve os olhos para on<strong>de</strong> julga ouvir algum<br />
sussurro, sorri da sua ingenuida<strong>de</strong><br />
e vel-a lá vae <strong>de</strong> bandolim <strong>de</strong>baixo do<br />
braço, para a beira do seu Mon<strong>de</strong>go,<br />
cantar com os rouxinoes e fallar com a<br />
brisa, emquanto os pastores da Estrella,<br />
para conservarem as tradições legadas<br />
por Viriato, vão dando que fazer ao sr.<br />
general, commandante da terceira divisão<br />
militar.<br />
Mas <strong>Coimbra</strong> é que não está para<br />
essas coisas. Envelheceu e cançou-se nas<br />
luctas civis, que nos legaram a carta e<br />
fizeram tremer a sr. a D. Maria, no seu<br />
augusto throno.<br />
Depois d'isso, nunca mais pensou em<br />
reações e hoje, que os tempos são outros,<br />
só pensa em divertir-se, e nisso faz<br />
bem.<br />
Ultimamente appareeeu a Giraldine.<br />
E então é que é vel-a. Larga o baudolim,<br />
corre a casa, enverga o melhor da<br />
fatiota, põe uma gravata flammante e<br />
vae para o Circo exhibir o seu <strong>de</strong>lírio,<br />
o seu enthusiasmo I<br />
Troam as palmas, repelem-se as chamadas,<br />
e ella, sempre enfeitiçada pelos<br />
olhos rasgados e beilos da artista que,<br />
necessariamente <strong>de</strong>vem ser os taes a que<br />
os poetas chamam filtros d'amor.<br />
Giraldiue, diga-se a verda<strong>de</strong>, é extraordinariamente<br />
bella. D',uma altura<br />
bastante para constituir eleganoia, com<br />
uma cintura <strong>de</strong> vespa, que immediatamente<br />
se <strong>de</strong>senvolve em relevos tão salientes,<br />
tão perfeitos, assentes sobre as<br />
pernas esculpturaes, que euthusiasmam e<br />
pren<strong>de</strong>m a plateia e até aos mais indiffereutesdo<br />
Dello, como succe<strong>de</strong>u a alguns,<br />
não obstante o seu estado morbido permanente.<br />
O <strong>de</strong>lirio augmenla, o dinheiro escassea.<br />
•<br />
Chove, troveja... noites impossíveis.<br />
Mas que importa á nossa ri<strong>de</strong>nte<br />
<strong>Coimbra</strong> essas pequenas coisas ?<br />
Apenas havia um motivo que a forçaria<br />
a ficar em casa. Era a falta <strong>de</strong> dinheiro.<br />
Mas ella é engenhosa e financeira<br />
E logo <strong>de</strong> manhã, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> serventes,<br />
<strong>de</strong> chalé traçado e gran<strong>de</strong> rolo<br />
(não sei <strong>de</strong> que) andam num continuo vaeveui.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois já não parecem as<br />
mesmas. Mais pausadas, e todas <strong>de</strong> papel<br />
na mão, como quem vae <strong>de</strong>itar uma carta<br />
no correio. O que ellas fizeram do rolo<br />
e o que significa o tal papel, não sei,<br />
nem me importa saber. Mas a verda<strong>de</strong> é<br />
que á noite lá lemos os mesmos enthusiastas,<br />
as mesmas palmas, o mesmo<br />
<strong>de</strong>lirio.<br />
Na rua agua a cantaros, no palco<br />
bouquets ás dúzias.<br />
E não fica por aqui o eiithasiasrao<br />
da nossa mocida<strong>de</strong>.<br />
Até mesiuo.quando, a bella Giraldina<br />
(em linguagem <strong>de</strong> cartazes) começa a erabalar-se<br />
nos braços' <strong>de</strong> Morpheu — ellas<br />
— os tristes enamorados, vão divinisarlhe<br />
o somuo cora as notas plangentes do<br />
bandolim, ou com o trinar mavioso da<br />
guitarra.<br />
E sem tomarem alentos, sem <strong>de</strong>scançarem<br />
da refrega, na ultima noite fazera-<br />
Ihe <strong>de</strong>zoito chamadas, que por tal signal<br />
ia redundando numa boa pepineira <strong>de</strong> que<br />
a formosa americana não levará mui<br />
gratas recordaçõe».<br />
E ainda Tão <strong>de</strong>corridos tres dias, já<br />
nos vamos preparondo para as quatro<br />
recitas do D. Luiz.<br />
E diga-se <strong>de</strong>pois que <strong>Coimbra</strong> é serasaborona<br />
e que o paiz está pobre!<br />
Para mim não ha melhor liei para<br />
accusar a riqueza nacional que a nossa<br />
lusa Athenas, para on<strong>de</strong> convergem uma<br />
bôa parte das receitas do paiz.<br />
Pois é ver como ella se diverte, ri e<br />
folga sem querer saber <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas.<br />
E, <strong>de</strong>pois d'isto, digam-me com que<br />
auctorida<strong>de</strong> o sr. Dias Ferreira dizia aos<br />
credores externos que o paiz estava pobre<br />
e não podia pagar senão um terço em<br />
ouro?<br />
Comício<br />
Ilouve um gran<strong>de</strong> comicio em Castanheira<br />
<strong>de</strong> Pera, approvando-se fosse enviada<br />
uma representação a el-rei pedindo-se-lhe<br />
o <strong>de</strong>smembramento do concelho,<br />
e a creação d'um outro cora sé<strong>de</strong> em<br />
Castanheira, fazendo-se a mudança da<br />
sé<strong>de</strong> da comarca para Figueiró. O povo<br />
protestou contra a ligação a Pedrogão.<br />
Esta representação será entregue ao<br />
rei por uma commissão que para esse<br />
fim se nomeou.<br />
I. N. R. I.<br />
Para edificação <strong>de</strong> nós todos leia-se<br />
o que, ácerca <strong>de</strong> Portugal, escreve em<br />
Madrid El Pais:<br />
«Não ha muitos dias um periodico<br />
francez, fazendo-se ecco da opinião <strong>de</strong><br />
importantes homens <strong>de</strong> negocios, expressava-se<br />
d'este modo:<br />
«Essas colónias (as <strong>de</strong> Portugal) que<br />
não conseguiu fazer prosperas e que difficilmente<br />
pô<strong>de</strong> guardar por meio <strong>de</strong><br />
algumas <strong>de</strong>graçadas guarnições, talvez<br />
valesse mais proce<strong>de</strong>r á sua venda. Em<br />
resumo, isto seria menos honroso que<br />
serem o? bancarroteiros internacionaes.<br />
Ha o proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Napoleão, ce<strong>de</strong>ndo<br />
a Luiziania aos Estados-Unidos em<br />
1803, mediante 80 milhões».<br />
«Eis aqui uma nação fidalga, tão<br />
empobrecida e relaxada pelas instituições,<br />
que já se consi<strong>de</strong>ra no caso <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r<br />
aos pedaços o solo pátrio para pagar os<br />
enganos da monarchia. Talvez não estejam<br />
muito longe <strong>de</strong> acceitar a i<strong>de</strong>ia,<br />
esses mesmos que tanto contribuíram<br />
para arruinar Portugal.<br />
«Dos quaes se po<strong>de</strong>rá dizer que <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> haverem crucificado o seu paiz,<br />
lhe puzeram o I. N. R. I. para maior<br />
opprobrio.»<br />
Gazeta <strong>de</strong> Provezen<strong>de</strong><br />
A este nosso collega enviamos sinceras<br />
felicitações pelo seu anniversario,<br />
que passou no dia 16.<br />
PELOS JORNAES<br />
A proposilo d'um artigo publicado no<br />
Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, do sr. José Maria<br />
d'Alpoim, em que o illustre jornalista<br />
expõe <strong>de</strong>sassombradamente o caminho<br />
que trilhará no celeberrimo emprestimo<br />
dos tabacos, trazem as Novida<strong>de</strong>s nus<br />
períodos que põem bem em relevo o estado<br />
<strong>de</strong>gradante dos partidos monarchicos.<br />
Diz o referido jornal :<br />
«Além d'isto, não po<strong>de</strong>mos dispensar<br />
empregos, nem favores ministeriaes.<br />
Não temos, em summa, a preoccupoção<br />
<strong>de</strong> evitar couflietos, que possam<br />
produzir eoasequencias, que perturbem<br />
varias conveniências poiitieas.<br />
Ora, não tendo dinheiro para dar, nem<br />
empregos para offerecer, nem interesses<br />
a sustentar, nem conveniências politieas<br />
a atten<strong>de</strong>r; não tendo meio <strong>de</strong><br />
seduzir uns, não po<strong>de</strong>ndo alugar outros<br />
e ofíju<strong>de</strong>ndo os interesses <strong>de</strong> vários,<br />
não é para estranhar que, nessas<br />
diversas classes, se recrute um<br />
gran<strong>de</strong> exercito, que insinua, que calurnnia,<br />
que perverte, e procura embaraços,<br />
o apparecimento da verda<strong>de</strong>.»<br />
Querem mais claro <strong>de</strong> que isto ?<br />
E' já a própria imprensa monarchica<br />
que <strong>de</strong>clara terminantemente que tal<br />
gente é apenas uma questão <strong>de</strong> preço.<br />
E' um verda<strong>de</strong>iro cabos, a começar<br />
<strong>de</strong> cima até ao mais ínfimo funccionario<br />
publico, alguns dos quaes nera já querem<br />
saber das or<strong>de</strong>ns do governo, como<br />
se está dando em Santarém e Évora, no<br />
cumprimento do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março<br />
ultimo que manda pro<strong>de</strong><strong>de</strong>r á inspecção<br />
das matrizes.<br />
Diz o Diário Popular:<br />
«Em Santarém não ha meio <strong>de</strong> apanhar<br />
um empregado <strong>de</strong> fazenda para<br />
po<strong>de</strong>r funccionar a commissão. Eni<br />
Évora é o conductor que se não apanha<br />
nem á mão <strong>de</strong> Deus Padre. E não<br />
ha que luctar contra istol<br />
«u presi<strong>de</strong>nte da commissão d'inspecção<br />
ás matrizes no districto <strong>de</strong><br />
Évora, o sr Pinheiro Correia, que é<br />
um official muito energico e muito<br />
activo, farto <strong>de</strong> esperar pelo conductor,<br />
<strong>de</strong>senganado <strong>de</strong> que era inútil<br />
esperar por elle, tirou-se <strong>de</strong> mais cuidados<br />
e veio pessoalmente a Lisboa,<br />
expor as circumstancias da commissão<br />
ao governo.»<br />
Mas agora diga-noi o Popular a quem<br />
se <strong>de</strong>ve esta belleza da nossa burocracia?<br />
E' provável dizer-nos que ao povo,<br />
porque é surdo e cego e nunca quiz ver<br />
e«sé vergonhoso proteccionismo da politica<br />
monarchica que so pensa em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
o throno, aninhar e proteger afilhados,<br />
já postergaudo a lei, já lançandonos<br />
na miséria e na <strong>de</strong>shonra.<br />
E talvez, que não seja pequeno o<br />
quinhão que o Popular encontrará lá em<br />
casa.<br />
Ainda ha pouco perguntávamos o que<br />
fazia o sr. Fuschini, na queslão do empreslimo<br />
dos tabacos, esperando seo.pre<br />
que s. ex. a cumprisse com o seu <strong>de</strong>ver,<br />
mandando proce<strong>de</strong>r a uma rigorosa syndicancia.<br />
Mas, não sabemos porque circumstancia,<br />
o governo tomou um caminho completamente<br />
diverso <strong>de</strong> que toda a imprensa<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte lhe apontou, esquecendo<br />
os mais altos interesses da patria.<br />
Ainda ha pouco o nosso collega a<br />
Vanguarda, tratando d'este assumpto,<br />
dizia :<br />
«Mas o que sobretudo reclamamos<br />
é que o governo proceda a um inquérito<br />
que não seja uin sublerfurgio e a<br />
uiua syndicancia que não seja uma<br />
burla.<br />
«No que continuamos insistindo ó<br />
na elucidação <strong>de</strong> todo este mysterio dos<br />
tabacos e <strong>de</strong> todas estas operações do<br />
sr. Burnay.<br />
«O governo a que pertence o sr.<br />
Augusto Fuschini parece mais disposto<br />
a dormir sobre o escaudalo do que a<br />
proce<strong>de</strong>r com energia.»<br />
São todos os mesmos. O sr. Fuschini<br />
apresentou-se cora umas arreraettidas<br />
<strong>de</strong> leão e queira Deus não tenha<br />
saidas <strong>de</strong> sen<strong>de</strong>iro.<br />
Ainda está a leinpo. V. ex. a realmente<br />
é para surpreheu<strong>de</strong>r que, quem teve<br />
coragem para recusar a sr. a D. Maria<br />
Pia as <strong>de</strong>spezas da viajata e não recuar<br />
peranle algumas individualida<strong>de</strong>s politicas,<br />
cansoenos mores da fazenda, recue<br />
agora, quando <strong>de</strong> seu lado tem quasi<br />
todo o paiz, ainda que o Tempo lhe chame<br />
popularida<strong>de</strong> fácil.<br />
*<br />
Ha pouco tempo ainda, exlranhava o<br />
•Correio da Manhã que alguns jornaes<br />
atacassem o sr. Neves Ferreira pelas<br />
condições especiaes era que fôra feita a<br />
concessão do caminho <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong> Queliraane<br />
ao Chire.<br />
Pois agora oiçam ainda a Vanguarda<br />
:<br />
«Que o governo do caminho <strong>de</strong> ferro<br />
<strong>de</strong> Lourenço Marques <strong>de</strong>u logar a que<br />
Mae-Murdo distribuísse por ahi bastante<br />
dinheiro, isso sabe-o muita genta<br />
com uma certeza absoluta. Ha mesmo<br />
quem conheça os nomes dos políticos<br />
que o recebiam.<br />
«E como Mac-Murdo conseguiu assim<br />
tudo o que pretendia, é bem possível<br />
que os inglezes recorressem ao<br />
mesmo processo para apanharem a linha<br />
<strong>de</strong> Quelimane, que acaba <strong>de</strong> ser<br />
concedida aos seus agentes nas mais<br />
<strong>de</strong>ploráveis condições.»<br />
Ora já vé agora o Correio da Manhã,<br />
que os receios que aquelles jornaes mostravam<br />
sempre tinham uma razão dft<br />
ser.
AN.\0 80 O DEFENSOR DO POVO 33 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 189S<br />
CRYSTAES<br />
Esquiva<br />
(A OLIVEIRA ALVARENGA)<br />
Quando te busco, foges sempre. Acaso<br />
Temes, meu anjo I que te créste as azas<br />
Esse fogo d'amor em que te abrazas,<br />
Este fogo d'amor em que me abrazo?<br />
Porque eu bem sei que, muito embora occulto,<br />
Por este amor, das me também amor...<br />
— Almas talhadas para a mesma dôr,<br />
Professamos os dois o mesmo culto.<br />
Sei que pens'as em mim, do mesmo modo<br />
Que penso em ti, ó dona dos ineus ais I<br />
Sei que os nossos <strong>de</strong>sejos são iguaes,<br />
E formam nossos corações um todo.<br />
Não percebes a vida sem a poise<br />
Do meu amor, como eu a não percebo<br />
Sem a esperança que em teus olhos bebo<br />
E em teus sorrisos, minha pomba dôce l<br />
Essa tua esquivança não abrandas...<br />
Mas, longe um do outro, andamos nós butcundo,<br />
Tu, minha amada l os beijos que te mando,<br />
Eu, minha vidai os beijos que me mandas.<br />
No entanto, todos sabem que me evitas,<br />
E riem, riem d'este sonho meu...<br />
Doidos I Que importa que me fujas? Eu<br />
Vivo comtigo, e tu comigo habitasl<br />
Foges-meT. A sorte, que entre gosos cria<br />
Alguns, e a muitos só conce<strong>de</strong> a noute,<br />
Fadou-me para ti, como fadou-te<br />
—Não fujas maisl—para ser minha um dial<br />
HAMILTON D'ARAUJO.<br />
LBTTRAS<br />
Os tres leitos<br />
I<br />
O anjo da guarda <strong>de</strong> Isabel, com<br />
azas <strong>de</strong>stacadas na noite, conservava-se<br />
encostado á cabeceira do pequeno leito<br />
virginal.<br />
— Isabel! Isabel!<br />
— Quem está ahi ? quem me falia ?<br />
— E' o teu anjo da guarda<br />
— Ah! causaste-me medo. Nada ha<br />
mais horrível que ser acordado em sobresalto.<br />
Julguei que tinha aqui entrado<br />
um ladrãe, e que me queria roubar a<br />
cruz <strong>de</strong> ouro que meu avô me <strong>de</strong>u pela<br />
Paschoa, mas já çstou tranquilla; que<br />
queres, meu bom amigo?<br />
— Isabel, não estou contente comtigo.<br />
Acabas <strong>de</strong> faltar á verda<strong>de</strong>, porque<br />
não dormias e pensavas naquelle mancebo<br />
que anle-honlem encontraste sob as<br />
tílias, e não posso tolerar que Uma menina,<br />
cuja alma me foi confiada, empregue<br />
as horas da noite em pensamentos<br />
reprehensiveis.<br />
— E's severo, meu anjo da guarda I<br />
Como estou na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> casar, não sei<br />
porque me seja interdicto pensar naquelie<br />
que <strong>de</strong>ve ser meu esposo; ainda hontem<br />
pediu a minha mão e o seu pedido<br />
foi acceite.<br />
— Isabel! tinha fcito <strong>de</strong> ti outra<br />
i<strong>de</strong>ia. Tu que és mais encantadora que<br />
os mais beilos anjos do Paraizo, que terias<br />
merecido, <strong>de</strong>pois da tua vida mortal<br />
passada em um claustro, <strong>de</strong>sposar no<br />
céu algum espirito <strong>de</strong> mais alta gerarchia,<br />
queres entrar no mundo e conhecer<br />
os seus prazeres? Queres pertencer<br />
a um homem, tu, que podias ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
já esposa d'um divino noivo ? Aconselho-te<br />
que resistas ás tentações d'este<br />
mundo e reserva-te completamente para<br />
as celestes bôdas.<br />
— Meu bon\,anjo, nada lenho a dizer<br />
contra ti; <strong>de</strong>sempenhaste com <strong>de</strong>masiado<br />
zelo os <strong>de</strong>veres que tinhas a<br />
cumprir em volta do meu leito virginal.<br />
Mas, na verda<strong>de</strong>, creio que as coisas <strong>de</strong><br />
que tratas não são da tua compelencia ;<br />
supplico-te que te não zangues, se prefiro<br />
a tudo, na terra e nos céus, aquelle<br />
<strong>de</strong> quem serei esposa carinhosa e fiel.<br />
— Paciência, disse o anjo, voando<br />
pelo espaço emquanto as eslrellas brilhavam,<br />
como diamantes, no azul celeste.<br />
II<br />
O anjo da guarda <strong>de</strong> Isabel, com as<br />
azas tristementes pai fidas, apenas vi-ivel<br />
na penumbra, conservava-se encostado á,<br />
cabeceira do leito nupcial.<br />
— Isabel! IsabelI<br />
— Quem está ahi? quem me falia?<br />
— E' o teu anjo da guarda.<br />
— Ah ! fazes mal em estar ahi, aconselho-te<br />
a que vôes o mais <strong>de</strong>pressa<br />
possível! Meu anjo: o meu marido estremece-me,<br />
ama-me tanto como eu o amo!<br />
Dentro; em pouco entrará nesta alcova.<br />
A tua presença, embora immaterial, <strong>de</strong>s-<br />
agradar-lhe-ia; apenas tens tempo <strong>de</strong><br />
voar.para o teu Paraizo, <strong>de</strong>ixapdo-nos<br />
no nosso.<br />
— Isabel, não estou contente comtigo.<br />
Verda<strong>de</strong> é que vaes ser uma mulher<br />
egual ás outras, e que para sempre renunciaste<br />
a votar-te ao claustro. Que<br />
magnifico futuro terias! Após dias e noites<br />
santificadas pela oração, subirias<br />
como uma setta até á eterna alegria do*<br />
eleitos; e então, no ineffavel enlevo do<br />
Paraizo, serias, com azas <strong>de</strong> neve, companheira<br />
<strong>de</strong> um anjo com azas <strong>de</strong> chamma<br />
!<br />
— Não importa, porque terei um excellente<br />
marido, a quem amarei em extremo<br />
e brevemente se ouvirão na casa,<br />
não rica mas alegre, os risos argentinos<br />
das ereanças que brincam. Serei<br />
uma feliz mulher, uma venturosa mãe.<br />
Não me lastimes, anjo! Não renuncio ao<br />
meu logar no Paraizo, mais tar<strong>de</strong>; porém,<br />
entretanto amo e adoro o que me<br />
ama e adora. Retira-te nas azas pallidas,<br />
porque meu marido arrancar-te-ia algumas<br />
pennas.<br />
— Paciência, disse o anjo voando<br />
ao espaço azul escuro, on<strong>de</strong> algumas pequenas<br />
estrellas brilhavam como pérolas<br />
e zombavam impertinentes.<br />
i n<br />
O anjo da guarda com as suas azas<br />
meio cobertas por um raio da lua, conservava-se<br />
encostado á cabeceira do leito<br />
mortuário <strong>de</strong> mármore branco.<br />
— Isabel! Isabel!<br />
— Quem está ahi? Quem me falia?<br />
— E' o teu anjo da guarda. Pareceme<br />
d'esta vez que darás attenção ás minhas<br />
palavras. Estás morta e certamente<br />
aborrecida nessa cova estreita e escura<br />
on<strong>de</strong> metteram o teu corpo. Porque<br />
não seguiste os meus conselhos? Se, insensível<br />
ás tentações do mundo, tivesses<br />
entrado em um convento, subirias logo<br />
para o divino Paraizo; não estarias nesse<br />
logar <strong>de</strong> <strong>de</strong>solação. Mas preferiste ter<br />
marido, filhos : estás castigada.<br />
— Castigada ? Porquê? Crê que nunca<br />
me arrepen<strong>de</strong>rei do que fiz. Amei<br />
com todas as forças da minha vida,<br />
aquelle que me amava; vi rir em volta<br />
<strong>de</strong> mim, como um grupo <strong>de</strong> flores vivas,<br />
os meus filhos <strong>de</strong> faces rosadas. Fui mulher,<br />
mãe e feliz. Ah I como era encantador,<br />
á noite, collocar o bule e as cliavenas<br />
sobre uma mesa, na alcova cheia<br />
<strong>de</strong> honesta paz, e vêr meu marido sorrir<br />
para meus filhos adormecidos. Sinto<br />
muito ter morrido tão nova, porque ainda<br />
tinha muita ventura para dar aquelles<br />
que me davam a alegria. Mas seja<br />
feita a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
— Isabel, olvida essas chimeras humanas.<br />
Soou a hora em que vaes <strong>de</strong>ixar<br />
o leu sepulchro e voar comniigo para o<br />
Paraizo maravilhoso.<br />
— Oh ! que felicida<strong>de</strong> I<br />
— Vem e verás o <strong>de</strong>slumbramento e<br />
perpetuo prodígio dos céus, ouvirás a<br />
universal harmonia, brilharás mais que<br />
uma rosa ao sol na immarcessivel luz !<br />
E para cumulo <strong>de</strong> gloria, <strong>de</strong>sposarás um<br />
anjo digno da tua belleza em uma egreja<br />
<strong>de</strong> diamante, on<strong>de</strong> receberão a benção<br />
<strong>de</strong> Deus. Então não me segues?<br />
— Não, exclamou ella. Como no Paraizo<br />
não está meu marido, que farei eu<br />
lá? Parle, parte, que eu esperarei para<br />
reviver, que elle reviva lambem. lUicuso<br />
essa gloriosa alegria <strong>de</strong> bôdas infiéis,<br />
embora sublimes, celestes e celebradas<br />
por Deus. A esse serafim, prefiro o homem<br />
que amo. Esperarei resignada e<br />
confiante. Subiremos juntos ao Paraizo !<br />
E se nos recusassem abrir a porta, o<br />
eterno somno nesta casa seria para nós<br />
mais doce, que o eterno <strong>de</strong>spertar com<br />
outro, nos esplendores do Paraizo.<br />
— A<strong>de</strong>us, então ! disse o anjo; e voou<br />
enfurecido para o melancolico azul I E<br />
as estrellas que tantas coisas vêem, pareciam<br />
dizer :<br />
— Isabel tem razão!<br />
Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />
Senhor Pinta-Roxa<br />
Gri-Gri observa-lhe, sem magoas,<br />
que lhe não é pezada a charge que<br />
vossemecê lhe prespega em surdiria.<br />
Gri-Gri possue uma alma muito gran<strong>de</strong><br />
que lhe reduz a infinitamente pequenas<br />
estas manifestações garrulas <strong>de</strong> versejadores<br />
travessos e louros... tão louros<br />
e tão gentis que até lhes fica oiro sobre<br />
azul a teimosa predilecção pela masculinisacão...<br />
das toilettes!<br />
Etc.<br />
THEATROS<br />
Despediu-ie, e é pena, do Theatro-<br />
Circo a companhia do Real Colyseu <strong>de</strong><br />
Lisboa, que alli trabalhou até quarta feira<br />
passada.<br />
lleferimo nos já aos artistas d'esta<br />
companhia, alguns <strong>de</strong> somenos importância,<br />
em quem não vale a pena faIlar,<br />
outros porém valiosos e dignos <strong>de</strong> todo<br />
o elogio, não pela novida<strong>de</strong> dos trabalhos<br />
que a coisa que não houve, mas pelo<br />
<strong>de</strong>sempenho correcto e por vezes perfeito.<br />
Escusado é, pois apreciarmos <strong>de</strong><br />
novo a família Picchiani, principalmente<br />
M.*" es Polissena e Margheritta, que<br />
preenchiam, quasi, todos os espectáculos;<br />
nem mencionaremos a troupe Noiset,<br />
nos seus notáveis exercícios em velocípe<strong>de</strong>.<br />
assombrosos <strong>de</strong> difficulda<strong>de</strong> e perfeição;<br />
e, portanto, não nos referiremos<br />
também aos taes clowns <strong>de</strong> má-morte, a<br />
peior coisa, no genero, que ahi tem ap-<br />
parecido, nem ás semsaborias do D.<br />
Miguel, nem á pose do Barjona,—um<br />
tonel <strong>de</strong> casaca e com pernas — nem a<br />
qualquer outra frandulagem que a companhia<br />
exhibiu em todos os dias que<br />
aqui esteve.<br />
Po<strong>de</strong> dizer-se que no Theatro-Circo<br />
só encontrámos noites boas, com enthusiasmo<br />
e animação, nesla ultima semana.<br />
Não foi unicamente lá porque a Geraldine<br />
trabalhou nos últimos cinco dias — não<br />
se convençam d'isso os geraldinos; foi<br />
porque se reuniram nas mesmas noites<br />
mais artistas bons, e assim cada espectáculo<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser a apresentação <strong>de</strong><br />
dois ou Ires trabalhos <strong>de</strong> merecimento,<br />
como anteriormente acontecia.<br />
Podémos, pois, apreciar com louvor<br />
o trabalho <strong>de</strong> Eugeriia Lecusson, como<br />
amazona <strong>de</strong> alta escola, elegantíssima e<br />
correcta e os trabalhos gymnasticos da<br />
Geraldine, na mesma noite em que admirava<br />
tiios Polissena como acrobata e como<br />
gymnasta, os Noiset nos velocípe<strong>de</strong>s, e,<br />
ultimamente, a equilibrista Emma Gautier<br />
e a jongleusi Olivia Gautier.<br />
Era este conjuncto que chamava aos<br />
espectáculos do Circo a muita concorrência<br />
que tiveram, a animação e o interesse<br />
que <strong>de</strong>spertaram.<br />
Foi no sahbado ultimo, com a estreia<br />
da Geraldine, a primeira noite,<br />
d'esla vez, em que o circo resoou, cheio <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> festa ; era o nome da Geraldine,<br />
nome <strong>de</strong> artista perfeita e <strong>de</strong> mulher<br />
perfeita, que encheu o theatro; mas<br />
d aquellas duas qualida<strong>de</strong>s que a nimbavam<br />
numa aureola <strong>de</strong> fama, resta nos<br />
somente a impressão da mulher <strong>de</strong> belleza<br />
impecável, perfeitíssima; a outra,<br />
a <strong>de</strong> artista sans reproche... conquistou-lh'a<br />
o reclamo e não menos a sua<br />
perfeição plástica, esculptural, auxiliada<br />
pélas poses bem estudadas, pelos sorrisos<br />
escan<strong>de</strong>centes, pelos requebros estonteantes.<br />
E d'aqui, o enthusiasmo febricitante<br />
dos geraldinos, assimados por uma lubricida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> velhos libertinos e <strong>de</strong> rapazes<br />
<strong>de</strong> sangue impetuoso; e, em contraste,<br />
as paleadas sem se saber porquê<br />
dos outros, significativas <strong>de</strong> muito capilé<br />
a girar-lhes nas veias. Porque a Geraldine,<br />
se não é artista para accen<strong>de</strong>r enthusiasmos<br />
e <strong>de</strong>lírios, muitíssimo menos<br />
o é para provocar manifestações <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sagrado, que, neste caso, foram in<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>zas<br />
abonadoras <strong>de</strong> pouca educação;<br />
e se elles dizem que não palearam a<br />
Geraldine mas sim os geraldinos, então,<br />
é o que já dissemos — capilé e agua<br />
morna a girar-lhes nas veias. Applaudil a,<br />
/nesmo exageradamente como ella o foi<br />
agora, é <strong>de</strong>sculpável; mas os geraldinophobos<br />
não teem <strong>de</strong>sculpa.<br />
E, afinal, tanto se importa ella, com<br />
os geraldinos, como com os geraldinophobos,<br />
eomo comnosco que não lapidamos<br />
aquelles. Mas o que nos causa pena é<br />
vermos frios, como o gelo dos poios,<br />
aquelles em que a eda<strong>de</strong> faria suppôr as<br />
ardências dos tropicos... Peior para elles.<br />
Foi d'esla opposição <strong>de</strong> apreciações,<br />
filha da divergencia dos temperamentos,<br />
que nasceu o charivari tempestuoso <strong>de</strong><br />
todas as noites, que nem <strong>de</strong>u occasião<br />
na quarta feira, a que se apreciasse,<br />
como elle merece, o trabalho <strong>de</strong> Alfred<br />
Ltopold em tiros ao alvo, realmente<br />
notável; a que se não <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> attenção,<br />
a Polissena e Margheritta no<br />
duplo-trapezio, on<strong>de</strong> aquella se apresentou<br />
numa nova feição dos seus trabalhos correctíssimos<br />
sempre; a que não se applaudisse<br />
a família Picchiani no Museu<br />
dt esculptura; a que não se notasse, quasi,<br />
Emma Gautier, no arame; a que passasse<br />
<strong>de</strong>sprecebida a troupe Noiset nos velocípe<strong>de</strong>s.<br />
..<br />
Despediu-se, pois, a companhia do<br />
Theatro-Circo; mas oxalá que a empreza<br />
d'esta casa <strong>de</strong> espectáculos a traga cá<br />
<strong>de</strong> novo e breve, pelo que <strong>Coimbra</strong> terá<br />
a agra<strong>de</strong>cer-lhe, e que venha também a<br />
Geradine, para dar uma nota emocionante<br />
á pasmaceira indígena — os geraldinos<br />
enthusiasmam-se, eo enthusiasmo alegra;<br />
os outros... dão sorte, e o dar sorte<br />
diverte.<br />
De modo que os neutros diverlem-se<br />
sempre.<br />
*<br />
No theatro D. Luiz, temos novamente<br />
a companhia do theatro Príncipe Real do<br />
Porto. E' bem nossa conhecida e bem estimada<br />
do nosso publico a companhia do<br />
Taveira, que pela 3.® vez este anno aqui<br />
vem dar uma serie <strong>de</strong> 4 recitas, sempre<br />
escolhidas para <strong>de</strong>sopilação dos merencoreos,<br />
cheias <strong>de</strong> verbe a que não faltam<br />
o sal e a pimenta tão necessários aos<br />
insulsos. E' aproveitarem, portanto.<br />
Hontem serviram nos — As noivas do<br />
Enéas; hoje, como prato <strong>de</strong> resistencia,<br />
temos O Solar dos Barrigas; amanhã —<br />
O Meia Azul, e por ultimo, <strong>de</strong>pois O<br />
Homem da Bomba<br />
O menu não po<strong>de</strong> ser mais aperitivo<br />
nem melhor para os estomagos dyspepticos.<br />
No proximo numero fallaremos mais<br />
<strong>de</strong> espaço das suas qualida<strong>de</strong>s estimulantes.<br />
Pela Africa<br />
Proce<strong>de</strong>-se na Guine á reconslrucçáo<br />
d'IIma al<strong>de</strong>ia, a dos Grumetes, ultimamente<br />
<strong>de</strong>vastada por um vandalismo cujos<br />
andores se não conhecem ainda. Na<br />
reconslrucçáo da al<strong>de</strong>ia a auctorida<strong>de</strong><br />
tem procurado impôr o alinhamento regular<br />
das ruas, ao que se oppõe tenazmente<br />
a superstição dos indígenas.<br />
Cada habitante tinha a casa construída<br />
sobre um terreno transmiltido <strong>de</strong><br />
paes a filhos e receia ficar sujeito a todo»<br />
os malefícios se fôr occupar outro.<br />
E nada os move a consentirem nos<br />
alinhamentos.<br />
*<br />
Morreu na ilha <strong>de</strong> Orango o rei<br />
Odonká, celebre pelas ferozes atrocida<strong>de</strong>s<br />
a que se entregava, matando pelo<br />
mais fulil motivo, escravisando todos os<br />
súbditos que só para elle trabalhavam,<br />
Este déspota selvagem tinha 33<br />
annos somente, mas a sua morte foi um<br />
beneficio para aquelles povos.<br />
*<br />
Na ilha <strong>de</strong> Santo Antão ar<strong>de</strong>ram<br />
completamente os paços do concelho do<br />
Paul, repartição <strong>de</strong> fazenda e recebedoria.<br />
Suppõe se que o incêndio não foi<br />
casual; <strong>de</strong>vorou tudo.<br />
Nos paços do concelho estavam installadas<br />
a administração, a ca<strong>de</strong>ia, a<br />
ambulancia dos medicamentos e a repartição<br />
<strong>de</strong> fazenda. Os presos, que eram<br />
cinco, conseguiram salvar-se, sendo recolhidos<br />
numa outra prisão.<br />
Parece que ao incêndio não foi estranha<br />
a rivalida<strong>de</strong> que lavra entre os<br />
habitantes do concelho da Ribeira Gran<strong>de</strong><br />
e os do Paul.<br />
*<br />
São satiofatorias as noticias. que ha<br />
da força militar <strong>de</strong>stacada no forte <strong>de</strong><br />
S. João Baptista d'Ajudá. Os dois ofliciaes<br />
que alli estão <strong>de</strong> guarnição teem<br />
sido muito obsequiados pelo general<br />
Dodds, comniandante das tropas francezas<br />
que venceram o rei <strong>de</strong> Dahomé, o<br />
qual já lhes oíTereceu por duas vezes<br />
almoço e jantar no seu palacio, fazendo-<br />
Ihes varias visitas e consi<strong>de</strong>rando-os<br />
como amigos.<br />
*<br />
O capitão Rolin, governador do forte<br />
d'Ajudá, apurou, <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>sbarate dos<br />
dahomeanos, por confissão das auctorida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Dahomé, o que se passou com<br />
a trucidação barbara do portuguez Máximo<br />
<strong>de</strong> Carvalho, negociante em Ajtidá,<br />
Contaram que Máximo <strong>de</strong> Carvalho,<br />
numa expedição para a venda <strong>de</strong> certas<br />
fazendas que projectava liquidar, foi assaltado<br />
por um bando <strong>de</strong> dahomeanos<br />
que o amordaçaram e amarraram <strong>de</strong> pés<br />
e mãos, conduzindo-o ao Agou, tribunal<br />
dos dahomeonos. Ahi o cuzugan, primeira<br />
auctoriJa<strong>de</strong>, mandou que o conduzissem<br />
á presença do rei Cehanzin.<br />
Depois d'um simulacro <strong>de</strong> julgamento,<br />
e para lhe roubarem as fazendas, con<strong>de</strong>mnaram-no<br />
á morte que lhe foi dada<br />
barbaramente — amarrarara-no a uma arvore,<br />
amordaçado, e ahi lhe cortaram as<br />
pernas, abriram os intestinos, o peito e<br />
por fim cortaram-lhe a cabeça.<br />
Horrível e infamei<br />
rnrnirnmmmmmmmmmmmmmmmÊmmmmmm^SStmi^mmmi<br />
EM SURDINA<br />
Ando triste, macambúzio,<br />
pois ha quem me vaticine<br />
que não volto a pôr o luzia<br />
na formosa Geraldine I<br />
Dizem-me — por Satanaz I —<br />
que ella cá na Lusa-Athenas<br />
só tivera fatacaz<br />
por um homem — um apenas I<br />
E qu'reis vós saber, leitores,<br />
a quem ella se <strong>de</strong>dica<br />
e por quem morre d'amores ?<br />
... p'lo Viegas — da botica 11!<br />
22 (Tabril<br />
PINTA-ROXA.<br />
Já lá vão 2 annos <strong>de</strong>pois que transpoz<br />
os umbraes da eternida<strong>de</strong>, o meu<br />
<strong>de</strong>sditoso amigo e correligionário João<br />
Fonseca <strong>de</strong> Figueiredo Peixoto.<br />
Pungente é paia mim a recordação<br />
d'este dia, não «ó, por ter perdido um, dos<br />
meus poucos amigos, mas também, porque<br />
vi cahir ao meu lado um <strong>de</strong>molidor,<br />
das instituições vigentes, um <strong>de</strong>mocrata<br />
sincero, um crente na regeneração da<br />
nossa palria querida, pela proclamação<br />
dos sãos princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />
No meio do lodaçal em que está envolvida<br />
a socieda<strong>de</strong> portugueza, quando<br />
a immoralida<strong>de</strong> e a corrupção servem <strong>de</strong><br />
divisa a instituições repudiadas pelas aspirações<br />
populares e con<strong>de</strong>mnadas pela<br />
sciencia hodierna, é triste ver <strong>de</strong>sapparecer,<br />
no verdor dos annos, quem pela<br />
austerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracter e <strong>de</strong> convicções<br />
se impunha ao respeito <strong>de</strong> amigos e adversários.<br />
E' por isso que eu lamento a perda<br />
<strong>de</strong> João Peixoto.<br />
E' por isso que hoje recordo o nome<br />
d'esse sincero luctador, que dotado d'um<br />
coração d'oiro, aberto aos mais generosos<br />
e beilos i<strong>de</strong>aes, jaz, esquecido, além<br />
no cennterio, por queuj não <strong>de</strong>veria olvi- .<br />
dal o....<br />
Com 22 annos, cheio <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong><br />
talento, quanto seria cruel a esse energico<br />
batalhador, se a morte o não arrebata,<br />
contemplar a impassibilida<strong>de</strong> do<br />
povo, que assiste, sem coutrahir um musculo,<br />
sem um protesto ao <strong>de</strong>smantelamento<br />
ignominioso da pairia pela acção<br />
<strong>de</strong>leleria dos partidos moiiarchicos.<br />
E' triste ver <strong>de</strong>sapparecer os novos<br />
quando são da estatura moral <strong>de</strong> João<br />
Peixoto, num paiz ou<strong>de</strong> os Pananias sur-<br />
gem a toda a hora e o indilíerentismo,<br />
prepon<strong>de</strong>ra, nos assumptos <strong>de</strong> interesse<br />
geral; num paiz, on<strong>de</strong> as tradicções gloriosas<br />
e os brilhantes exemplos que a<br />
historia aponta, não se respeitam e muito<br />
menos se imitam; num paiz, em que se<br />
<strong>de</strong>sprezam, por completo, os princípios<br />
<strong>de</strong> justiça e ao qual só uma revolução,<br />
com todas as suas consequências trará a<br />
vida <strong>de</strong> que tanto necessita...<br />
Pobre antigo! A tua memoria «ervirme-ha<br />
<strong>de</strong> aienlo e estimulo na lucta<br />
agresie da vida l<br />
Hoje e sempre a tua memoria saudosa<br />
será pranteada por todos os que<br />
conheceram o teu bello caracter, generoso,<br />
ate ao exagero, republicano, ate ao<br />
<strong>de</strong>lírio !<br />
Neste dia, para mim, immensamenle<br />
triste irei orvalhar <strong>de</strong> lagrimas e cobrir<br />
<strong>de</strong> rosas o teu ataú<strong>de</strong><br />
Cumpro um <strong>de</strong>ver — tranquiliso a<br />
consciência I<br />
Aié lai<br />
Arthur Leitão.<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
ASSUMPTOS LOCAES .<br />
Eseola Brotero<br />
Na oflicina <strong>de</strong> ceramica d'esla escola<br />
vae ser construído um forno egual ao da<br />
fabrica <strong>de</strong> Sevres.<br />
Espera-se que no proximo anno lectivo<br />
comecem a funecionar algumas ofíicinas.<br />
Eu» <strong>Coimbra</strong><br />
Regressou <strong>de</strong> Lisboa e nosso illustrado<br />
collega da Gazeta Nacional o sr.<br />
dr. Joaquim Martins Teixeira <strong>de</strong> Carvalho,
AN* s I — N.® 8© O D E F E N S O R D O P O V O 33 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
Atuoeinçno dos Artistas<br />
Hoje ás 2 lioras da tar<strong>de</strong> tomam<br />
posse dos cargos para que foram eleitos<br />
ultimamente, os novos corpos gerentes<br />
d'esta associação.<br />
E' <strong>de</strong> esperar que todos se esforcem<br />
por bem administrar esta importante<br />
associação, e trabalhem para o seu progresso<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro<br />
Ao nosso collaborador e distincto<br />
correligionário, sr. dr. Bernardo José<br />
Cor<strong>de</strong>iro, pedimos <strong>de</strong>sculpa das incorrecções<br />
que sairam no seu ultimo artigo,<br />
<strong>de</strong>vido á precipitação com que foi revisto.<br />
Cabe aqui um pedido: quando nos honrar<br />
com os seus escriptos envial-os a<br />
esta redacção o mais legíveis possivel,<br />
<strong>de</strong> fórma a não haver embaraços na sua<br />
revisão.<br />
Projecto <strong>de</strong> estatutOM<br />
Consta que a sub-commissão encarregada<br />
do projecto <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> estatutos<br />
da Associação dos Artistas, pensa<br />
em entregar a revisão d'esse projecto, a<br />
um advogado <strong>de</strong> Lisboa.<br />
31 Folhetim do Defensor do POYO<br />
J . M É R Y<br />
A Jlíà 1 MIMO<br />
VJII<br />
Um casamento suspenso<br />
--Não nos enganámos, disse o marquez<br />
em voz baixa ao medico; o casamento<br />
d'houlem foi muito commentado<br />
• na cida<strong>de</strong>. Em Génova ha muito maledicente,<br />
na nobreza como por toda a<br />
parte, emfim... O nosso rapaz provavelmente<br />
ouviu algumas palavras menos<br />
próprias sobre madame Van-Ritter, e recebeu<br />
um golpe <strong>de</strong> empada esta manhã.<br />
— E' evi<strong>de</strong>nte, disse o doutor.<br />
— Meu caro senhor Gréant, disse o<br />
marquez di Negro, com uma bonda<strong>de</strong><br />
paternal, não se inquiete. Nós não queremos<br />
saber os seus segredos; são muito<br />
respeitáveis. Esta aqui com» em sua<br />
casa; os cuidados não lhe hão <strong>de</strong> faltar.<br />
O doutor passará quinze dias no campo,<br />
como amigo; havemos <strong>de</strong> fazer musica,<br />
e da boa, d'aquella <strong>de</strong> que o amigo gosta,<br />
e ao tim <strong>de</strong> duas semanas estará a<br />
pé, não é assim, doutor ?<br />
— Não vou <strong>de</strong>smentil-o, di Negro,<br />
replicou o medico tomando o pulso ao<br />
E é este mesmo senhor que ao ouvir<br />
um seu collega pedir o cumprimento<br />
dos Estatutos, applicação da multa aó»<br />
que não aceitassem os cargos, se insurge<br />
contra o facto, preten<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>monstrar<br />
que não havia utilida<strong>de</strong> na sua applicação.<br />
Nesta assembleia ha <strong>de</strong>clarações cathegoricas<br />
do sr. Fino, Augusto Teixeira,<br />
recusando-se formalmente a servir<br />
qualquer cargo. Lembra aquelle senhor<br />
a conveniência <strong>de</strong> continuarem até janeiro<br />
os actuaes corpos gerentes ao que a<br />
maioria da assemblêa anuue. Em tal altura<br />
o sr. Bernardo Carvalho falia e <strong>de</strong>clara<br />
que fiquem ou não os corpos gerentes<br />
actuaes elle é que não aceita o<br />
cargo para que fora eleito, e negasse em<br />
seguida a aceitar o logar na commissão<br />
que a assemblêa geral approva, a qual<br />
se <strong>de</strong>via enten<strong>de</strong>r com os eleitos, pedindo-lhes<br />
para aceitarem os cargos.<br />
Ninguém sabe, pelas actas o que foi<br />
feito d'essa commissão, até que em 6 <strong>de</strong><br />
abril o presi<strong>de</strong>nte põe a questão nestes<br />
termos: que, se a assemblêa concorda<br />
que se dê posse, elle que a dá da melhor<br />
vonta<strong>de</strong>, mas que n assemblêa diga, se<br />
lhe apparecer um só membro, se o auctorisa<br />
a entregar-lhe tudo; o que não quer<br />
é tomar responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m; —<br />
e <strong>de</strong>mais que não via vantagens para a<br />
Associação, coagir os socios a tomarem<br />
conta <strong>de</strong> cargos contra vonta<strong>de</strong>.<br />
doente, mas é necessário que o nosso<br />
Gréant <strong>de</strong>scance. O somno é um adrniravel<br />
agente <strong>de</strong> cura — leva o soffrimento<br />
e a febre. Esta tar<strong>de</strong> já o teremos<br />
melhor.<br />
O medico correu os cortinados, produziu<br />
na galeria uma noite artificial e fez<br />
signal para se retirarem e <strong>de</strong>ixarem o<br />
doente só.<br />
Passados alguns instantes, Paulo<br />
Gréant adormeceu com esse somno terrível,<br />
que durante alguns minutos <strong>de</strong>ve<br />
ser o somno do suppliciado sobre a prancha<br />
do cadafalso.<br />
IX<br />
O leão em correrias<br />
No quarto <strong>de</strong> dormir <strong>de</strong> Talormi,<br />
severamente mobilado, não havia uma<br />
única d'eslas frivolida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rapaz.<br />
De uma saú<strong>de</strong> vigorosa e constante,<br />
o moço diplomata fazia-se pas»ar por<br />
doente duas ou tres fezes cada quinze<br />
dias, para ter um pretexto <strong>de</strong> receber<br />
visitas <strong>de</strong> amigos e <strong>de</strong> médicos, que tinham<br />
assim toda a occasião <strong>de</strong> examinar<br />
os moveis, os livros, as gravuras e<br />
os quadros, que eram com » que o reflíxo<br />
dos costumas graves do dono da<br />
casa.<br />
Sabre uma secretária <strong>de</strong> acajú ostentava-se<br />
o interminável minuscripto branco<br />
d'uma obra <strong>de</strong> que só existia o titu-<br />
T (teatro D. Luiz<br />
Hoje a incomparável opera-comica, em<br />
3 actos — O Solar dos Barrigas. Espera-se,<br />
pelo extraordinário êxito que obteve<br />
na primeira representação esta engraçadissima<br />
opereta, que a concorrência ao<br />
tbeatro seja enorme.<br />
O enthusiasmo com que os espectadores<br />
receberam o côro dos foguetes, cantado<br />
<strong>de</strong>liciosamente por Angela Pinto, ha -<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a curiosida<strong>de</strong> do nosso publico,<br />
que mais uma vez irá apreciar os<br />
magníficos trechos <strong>de</strong> musica <strong>de</strong> que está<br />
enriquecida esta peça.<br />
Consta-nos que já restam muito poucos<br />
bilhetes.<br />
Carta<br />
Do sr. Manoel Rodrigues d'Almeida<br />
recebemos uma carta relativa ás eleições<br />
ultimamente realisadas naquella associação,<br />
participando-nos que nestas eleições<br />
a opposição vingou que fossem eleitos,<br />
além do presi<strong>de</strong>nte da assembleia geral,<br />
mais o vice-presi<strong>de</strong>nte e 1.° secretario,<br />
da direcção, e ainda representautes<br />
dos grémios <strong>de</strong> alfaiate, carpinteiros,<br />
marceneiros e serralheiros.<br />
Captura<br />
Isto em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> neste jornal se<br />
dizer, que a opposição só tinha feito<br />
Pelo commissario da policia d'esta<br />
vingar a eleição do presi<strong>de</strong>nte.<br />
cida<strong>de</strong> foi expedido mandado <strong>de</strong> captura<br />
Sobre este assumpto, só temos a<br />
a diversas auctorida<strong>de</strong>s, contra Francisco<br />
dizer que estimamos muito a Victoria da<br />
Anlonio <strong>de</strong> Serpa, aecusado pelo furto<br />
<strong>de</strong> 21$150 reis e dois relogios <strong>de</strong> prata.<br />
Examea d'instrucção primaria<br />
O sr. Bernardo confessa-se satisfeito<br />
por ver que as i<strong>de</strong>ias do presi<strong>de</strong>nte eram<br />
as suas relativamente ás eleições, e folga<br />
opposição e que á associação<br />
muitas prosperida<strong>de</strong>s.<br />
E basta.<br />
<strong>de</strong>sejamos<br />
O nosso amigo sr. José Fernan<strong>de</strong>s por ver que as eleições feitas não tenham Jflerendo <strong>de</strong> IHontemór-o-Velho<br />
Carranca da villa da Louzã, tem estado effeito, e a assemblêa approva para que<br />
No ultimo mercado <strong>de</strong> Montemor re-<br />
nesta cida<strong>de</strong> em companhia <strong>de</strong> um seu se proceda a novas eleições, em face<br />
gularam os geueros abaixo <strong>de</strong>signados<br />
liiho Augusto Fernan<strong>de</strong>s Carranca, que das <strong>de</strong>clarações da presi<strong>de</strong>ncia.<br />
pelos seguintes preços:<br />
na sexta feira fez exame <strong>de</strong> instrucção E faz cavalio <strong>de</strong> batalha o sr. Ber-<br />
Milho branco 380 — Dito amarello<br />
primaria, obtendo approvação.<br />
nardo e varre a testada, porque dissemos<br />
370 — Trigo tremez 700 — Dito mouro<br />
Aos paes do examinando enviamos que estas eleições foram feitas por não<br />
720 —Arroz caroliuo 1#300 —Dito re-<br />
os nossos parabéns.<br />
terem comparecido os eleitos da passada<br />
dondo 1 $200 —Cevada 280 —Feijão<br />
a tomar posse dos seus cargos I As pa-<br />
Conferencia<br />
vermelho encarnado 600 — Dito branco<br />
lavras não compareceram é que foram<br />
500 — Dito rajado 420 — Dito fra<strong>de</strong> 440<br />
Dizem os jornaes <strong>de</strong> Lisboa que foi a pedra do escandalo I Queria posse este<br />
— Dito pateta 38i> — Batata, 420 —<br />
brilhantíssima a conferencia feita pelo sr. senhor—e recusava-se a aceitar o cargo.<br />
Tremoçog 430.<br />
dr. Fernando Martins <strong>de</strong> Carvalho, nas E falia este cidadão da ma fé d'um<br />
salas da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> instrucção popu- informador, um sujeito qualquer queosr.<br />
lar.<br />
O illustre conferente recebeu dos nu-<br />
Bernardo i<strong>de</strong>alisou ! Depois dos factos que<br />
ficam expostos que digam os senhores Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
merosos assistentes saudações<br />
ticas.enthusias-<br />
quem sujou a testada do sr. Bernardo<br />
para elle a vir varrer Ião pressuroso.<br />
Sessão ordinaria<br />
Ao sr. Bernardo Carvalho<br />
E ficamos por aqui boje e sempre<br />
porque não ha tempo para questão, nem<br />
6 <strong>de</strong> abril<br />
Não pou<strong>de</strong> ouvir o sr. Bernardo Car- isto aproveita ao publico que no» lê e Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Auvalho<br />
que dissessemos que as ultimas nos paga.<br />
gusto d'Almeida Araujo Pinto. Vereado-<br />
eleições da Associação dos Artistas fores<br />
presentes: João da Fonseca Barata,<br />
ram feitas peia única razão <strong>de</strong> não com- Ker messe<br />
Antonio José Dantas Guimarães, João<br />
parecerem a tomar posse dos seus logares<br />
os eleitos <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> Outubro. E a proposito<br />
d'e»ta nossa asserção copia o officio<br />
que lhe foi dirigido, dando-lhe parte<br />
<strong>de</strong> que havia sido eleito, para provar<br />
que elle não fôra convidado para a ceremonia<br />
da posse.<br />
Até ao dia 10 <strong>de</strong> maio é que á<br />
com missão promotora da kermesse dos<br />
bombeiros voluntários; na Quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz, po<strong>de</strong>m ser enviadas quaesquer<br />
prendas para os bazares.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Antonio da Cunha, Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros,<br />
Manoel Miranda e Joaquim Justiniano<br />
Ferreira Lobo, effectivos; e José<br />
Corrêa dos Santos, substituto.<br />
Resolveu ce<strong>de</strong>r a quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz para a realisação d'uma Kermesse<br />
a beneficio da Associação Humanitaria<br />
Mas o sr. Bernardo esquece notar Está entre nós o sr. dr. João Figuei- dos Bombeiros Voluntários.<br />
que na immediata assemblêa geral, 30 redo Martins Abreu e Castro, hahil cli- Suspen<strong>de</strong>u por 3t) dias, por irregu-<br />
<strong>de</strong> Outubro, fez-se saber á assemblêa nico em Santa Ovaia.<br />
larida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviço, o vigia dos impos-<br />
que só quatro membro dos eleitos aceitavam,<br />
e sendo lidos os oílicios <strong>de</strong> recusa,<br />
lá appareceu um do sr. Bernardo<br />
Carvalho I<br />
# Esteve nesta cida<strong>de</strong> e seguiu<br />
hontem para Murça o sr. dr. Henrique<br />
da Costa e Cunha digno <strong>de</strong>legado do<br />
procurador régio naquella comarca.<br />
tos, Augusto <strong>de</strong> Carvalho Cyrne.<br />
Mandou proce<strong>de</strong>r á limpeza dos <strong>de</strong>positos<br />
das fontes da Sé Nova e Sé Velha.<br />
lo em lettras calligraphicas, ornadas <strong>de</strong><br />
arabescos :<br />
Da influencia dos antigos costumes ligurios<br />
sobre os outros estados da Jtalia<br />
DEDICADA A S. M. CARLOS-ALBERTO<br />
Ao lado da secretária <strong>de</strong>senrolavase<br />
a carta Theodosiana, eriçada <strong>de</strong> alfinetes<br />
<strong>de</strong> todas as côres.<br />
Os livros eternamente espalhados sobre<br />
os moveis eram: —<strong>Obra</strong>s politicas <strong>de</strong><br />
Machiavtl.— Utopia <strong>de</strong> Thomaz Morus.<br />
— Say. — Malthus.— Owen. —• Tratado<br />
dos lueroglyphos <strong>de</strong> Warburton. — Mineralogia<br />
<strong>de</strong> Saavers. — Memoria sobre o<br />
arroteamento da Nóva-Hollanda. — Roma<br />
subterrâneo.<br />
Só tinha dois quadros—um representava<br />
a inhuinação clan<strong>de</strong>stina das cinzas<br />
<strong>de</strong> Phocion, o homem <strong>de</strong> bem ; o<br />
outro—a continência <strong>de</strong> Scipião Africano.<br />
Notavara-se ainda du'as hellas gravuras—<br />
Hypocrates recusando os presentes<br />
<strong>de</strong> Artaxerxes, e Aristi<strong>de</strong>s exilado.<br />
Um bailo retrato <strong>de</strong> Newton, a agua<br />
forte, co nplelava nesta cambra um i piedosa<br />
atmosphera <strong>de</strong> recolhiinsnto.<br />
Tres pancadas ligeiras resoaram na<br />
porta, a que respon<strong>de</strong>u a palavra — Entre<br />
I<br />
— Então, Rarbane, concluíste o teu<br />
trabalho? perguntou Talormi levanlan-<br />
Mandou proce<strong>de</strong>r á caiação do edilicio<br />
dos paços do concelho, resolvendo<br />
convidar os proprietários a fazer caiar<br />
as fachadas dos respectivos prédios.<br />
Mandou communicar ao administrador<br />
do concelho, para o <strong>de</strong>vido procedimento,<br />
o inci<strong>de</strong>nte havido entre uni empregado<br />
do serviço da limpeza e um carroceiro<br />
municipal, <strong>de</strong> que resultou um<br />
ferimento grave no primeiro, por virtu<strong>de</strong><br />
d'uma pedrada.<br />
Mandou reparar o caminho <strong>de</strong> Santo<br />
Antonio dós Olivaes, junto ao logar.<br />
A<strong>de</strong>anlou a quantia <strong>de</strong> 30$000 réis<br />
para custeamento do Asylo dos cegos,<br />
durante o correlfte mez, satisfazendo<br />
também a somma <strong>de</strong> 17$105 réis adiantada<br />
pelo mordomo do mesmo Asylo no<br />
mez findo.<br />
Resolveu convidar por editaes, a reclamar<br />
perante a camara, ácerca da venda<br />
<strong>de</strong> terrenos do antigo caminho á<br />
Guarda Iogleza, <strong>de</strong>saproveitados pela<br />
construcção da estrada para a Escola<br />
pratica.<br />
Nomeou guardas ruraes, mestre <strong>de</strong><br />
valias, e louvados repartidores d'aguas,<br />
para a freguezia <strong>de</strong> Sernache.<br />
Nomeou guardas ruraes para os logares<br />
<strong>de</strong> Andoriuha (Lamarosa), Abrunheira,<br />
Palheiros, Assalarge, Carvalhaes<br />
(Assafarge), para a freguezia <strong>de</strong> Santo<br />
Antonio dos Olivaes e para S. João do<br />
Campo.<br />
Despachou requerimentos sobre assumptos<br />
diversos :<br />
Aitestados <strong>de</strong> comportamento; reconstrucçâo<br />
da rua <strong>de</strong> Mont'arroio, á<br />
custa <strong>de</strong> proprietários da localida<strong>de</strong>; collocação<br />
<strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos;<br />
collocação <strong>de</strong> candieiros d'illuminação<br />
publica em pontos diversos; transgressão<br />
do regulamento dos impostos<br />
indirectos.<br />
E sobre obras particulares :<br />
Auctorisando a vedação d'um terreno<br />
<strong>de</strong> Francisco Gomes, em Ceira, para que<br />
foi ouvida a junta <strong>de</strong> parochia, lixaudose<br />
o alinhamento, sem alienação <strong>de</strong> terreno;<br />
approvando um alçado para a reconstrucção<br />
d'uma casa <strong>de</strong> José Fernan<strong>de</strong>s<br />
Ferreira, na rua da Louça, com o<br />
alinhimento que existe; approvando outro<br />
para reformar a fachada d'uma casa<br />
na rua das Solas, pertencente a Miguel<br />
da Fonseca Barata, fixando lambem o<br />
alinhamento; auctorisando, em vista do<br />
alçado respectivo a construcção da casa<br />
<strong>de</strong> Francisco d'Almeida Quadros na rua<br />
dos Militares, sem se afastar do actual<br />
alinhamento.<br />
Deferiu 18 reclamações ao arrolamento<br />
<strong>de</strong> cães.<br />
EXPEBJEMTE<br />
Prevenimos os nossos<br />
estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />
fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
vamos principiar a cobrança<br />
do-se e apoiando o cotovello esquerdo<br />
sobre o travesseiro.<br />
— Sim, sr. con<strong>de</strong>, respon<strong>de</strong>u Barbone<br />
com uma tranquillida<strong>de</strong> natural.<br />
— Ao menos estas bem certo <strong>de</strong> que<br />
ninguém te viu?<br />
— Oh 1 ninguém.<br />
— Olha bem para mim, Barbone...<br />
— Estou olhando, sr. con<strong>de</strong>.<br />
— Tu estás commovido I<br />
— Ahi sr. con<strong>de</strong>, ha vinte e quatro<br />
horas que trabalho em serviço <strong>de</strong> v. ex. a ,<br />
e ura homem não é <strong>de</strong> ferro.<br />
— Tu <strong>de</strong>ves ser <strong>de</strong> ferro, tu.<br />
— Experimentarei, meu senhor.<br />
— Hoje não tens a appareucia <strong>de</strong><br />
todos os dias...<br />
— E' possivel; e vi 4o que é necessário<br />
fallar francamente a v. ex.V ..<br />
— Falia <strong>de</strong>pressa.<br />
— Recebi esta manhã más noticias<br />
<strong>de</strong> meu pae, que está na fortaleza <strong>de</strong><br />
Civita-Vecchia...<br />
— Um famoso bandido, teu pae Gasperone<br />
I<br />
— A culpa não é d'elle, coitado;<br />
não quizeram aceital-o nos carabineiros<br />
do Santo padre ...<br />
— Comprebendo; e então elle fez-se<br />
bandido ?. ..<br />
— Oh I é muito natural*<br />
— E <strong>de</strong>pois? vamos, Barbone...<br />
— Depois? peço licença a v. ex.®<br />
para ir vêr meu pae, que está á morte<br />
em Civita-Vecchia.<br />
das suas assignaturas relativamente<br />
ao 2.° semestre.<br />
Aos que não tiverem pago<br />
o 1.° semestre enviamos<br />
recibos do anno completo.<br />
Pedimos a todos o obsequio<br />
<strong>de</strong> pagarem logo que<br />
lhes seja apVesentado o recibo<br />
ou mandarem pagar<br />
ás respectivas estações do<br />
correio quando receberem<br />
aviso, afim <strong>de</strong> se.evitar a<br />
<strong>de</strong>volução, que, além do<br />
prejuizo que nos causa, embaraça<br />
a boa regularida<strong>de</strong><br />
da nossa administração.<br />
EXPLICAÇÃO<br />
O facto <strong>de</strong> eu não consi<strong>de</strong>rar<br />
como uma aggressão brutal do sr.<br />
bacharel Simão da Gosta Pessoa,<br />
mas altribuir a um <strong>de</strong>sastre a queda<br />
<strong>de</strong> que me resultou uina fractura<br />
numa perna, em 12 <strong>de</strong> fevereiro,<br />
<strong>de</strong>u margem a que a invenção calumniosa<br />
fizesse espalhar que eu era<br />
estipendiado por aquelle sr. babarei<br />
com a miséria <strong>de</strong> <strong>de</strong>z loslões por<br />
dia!<br />
E convenço-me <strong>de</strong> que a maledicência<br />
foi mais longe com as<br />
suas pulhas <strong>de</strong> soalheiro: como ha<br />
gente para tudo e capaz <strong>de</strong> tudo,<br />
talvez alguém até afirmasse ter<br />
vtslo—«com aquelles olhos que a<br />
terra ha <strong>de</strong> comer»— o sr. bacharel<br />
Simão Pessoa <strong>de</strong>spejar nas minhas<br />
mãos grossas quanlias! li tudo<br />
isto para eu me calar! —rematam.<br />
Pois saiba-se que nunca fui<br />
visitado pelo sr. bacherel Simão<br />
Pessoa, e que não Itve nem tenho<br />
relações pessoaes com s. s.\<br />
Felizmente até hoje ainda não<br />
é o dinheiro do sr. bacharel Simão<br />
Pessoa ou o <strong>de</strong> outro burguez etn<br />
idênticas condições financeiras, que<br />
me proslitue o caracter.<br />
Altnbui a quéda a um <strong>de</strong>sastre<br />
e não a uma aggressão, porque<br />
tenho a consciência <strong>de</strong> que foi um<br />
<strong>de</strong>sastre: eis porque assim pautei<br />
o meu procedimento.<br />
Para que os senhores saibam.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Luiz Cardoso.<br />
— Barbone, tu tens mentido em toda<br />
a tua vida; per<strong>de</strong>ste esla manhã o teu<br />
costume ?<br />
— A menlira é uma arma como<br />
qualquer outra, e eu sirvo-me d'ella com<br />
vantagem quando é necessário, é verda<strong>de</strong>,<br />
senhor con<strong>de</strong>; mas neste momento<br />
não tenho interesse nenhum em mentir.<br />
..<br />
— Quem sabe?... Eu tenho a vista<br />
subtil, meu pobre Barbone, e presinlo<br />
uma mentira não lua peregrinação filial<br />
a Civita-Vecchia.<br />
—• Oh! meu senhor, se me fosse permittido<br />
dizer a v. ex. a que se engana. ..<br />
disse Barbone com um sorriso e uma<br />
candura seraphica.<br />
— Barbone, tiveste qualquer rixa a<br />
noite passada; provavelmente esquecesle-te<br />
<strong>de</strong> ser hábil, surprehen<strong>de</strong>rain-te<br />
num trabalho comproinelledor, <strong>de</strong>nunciaram-te<br />
á policia e tu queres salar-te<br />
para os Apenninos, como o passaro <strong>de</strong>ante<br />
do caçador.<br />
Barbone olhou para Talormi docemente,<br />
fazendo comva cabeça ligeiras<br />
ondulações negativas.<br />
Impresso na Typogfira.pli.itt.<br />
Operaria —Largo da Freiria n.»<br />
14, proximo á rua dos Sapataisos,—<br />
COIMBRA.
AXXO I — 8 O O DEFENSOR DO POVO 9 3 d e abril d e 1 8 9 $<br />
OTVLOS<br />
PAI1A<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
HfVEIiOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
111 M e " d e - * e uma quinta com paúl<br />
W para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
MARGA «ANGORAS»<br />
en<strong>de</strong>-ge no<br />
105 V <strong>de</strong><br />
estabelecimento<br />
«IUIAO DA CUNHA PINTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
E' foreirado Seminário em 210 réis<br />
annuaes.<br />
A contribuição <strong>de</strong> registro e o lau<strong>de</strong>mio<br />
que for <strong>de</strong>vido serão pagos pelo arrematante.<br />
Pelo presente São citados quaesquer<br />
credores e intimados incertos para assistirem<br />
á praça.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 14 d abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Yerifiquei a exactidão.<br />
O juiz <strong>de</strong> direito,<br />
Queiroz.<br />
O escrivão,<br />
Joaquim A. Rodrigues Nunes<br />
107
A crise ministerial<br />
Infelizmente paVece que começam<br />
a tomar um caracter <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />
as nossas presumpções.<br />
Ainda lia pouco quando perguntávamos<br />
qual a altitu<strong>de</strong> que o<br />
sr. ministro da fazenda tomaria em<br />
face da tão celeberrima como vergonhosa<br />
questão doemprestimo dos<br />
tabacos dizíamos: «Mas agora?<br />
Agora que se trata <strong>de</strong> enormes<br />
passarões, no dizer das Novida<strong>de</strong>s,<br />
agora que a situação é tão séria<br />
como azada para <strong>de</strong>smascarar e<br />
punir esses zangãos terríveis da<br />
nação, que fará o sr. Fuschini ?<br />
«Ce<strong>de</strong>rá elle ás prováveis im<br />
posições do paço, recuando, no ca<br />
minho da honra, pedindo a sua <strong>de</strong><br />
missão por não se achar com for<br />
ças para a lucla, ou para não acar<br />
relar inimiza<strong>de</strong>s, lançando no Li<br />
moeiro a todos os implicados?»<br />
Era esla pergunta que então<br />
fazíamos e é hoje a pergunta que<br />
<strong>de</strong> novo repetimos.<br />
Porque sáe s. ex. a ? Para não<br />
arcar com as responsabilida<strong>de</strong>s inherantes<br />
ás suas obrigações ? Por não<br />
querer melindrar o paço? Para não<br />
<strong>de</strong>svendar e mostrar os <strong>de</strong>lapidadores<br />
da fazenda publica? Ou porque?<br />
Ha vonta<strong>de</strong>s e imposições superiores<br />
á energia <strong>de</strong> s. ex.*?<br />
Pois é tar<strong>de</strong> para as conhecer,<br />
se já as não conhecia. Hoje cabe-<br />
Ihe a restricla obrigação <strong>de</strong> se sustentar<br />
na sua ca<strong>de</strong>ira ministerial<br />
até <strong>de</strong>svendar esses vergoahosos<br />
Panamás, que s, ex. a . com a sua<br />
saida parece querer encobrir.<br />
Descubra-os, moslre-os a todo<br />
o paiz, ponha-os em frente da justiça,<br />
e enlão sáia se qúizer sair.<br />
Mas hoje, que quasi toda a imprensa<br />
lhe pe<strong>de</strong> justiça em nome<br />
da nação, não pô<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve sair,<br />
sem que primeiro cumpra com o<br />
seu <strong>de</strong>ver e <strong>de</strong>sfaça os <strong>de</strong>nsos nevoeiros<br />
que cobrem os traficantes<br />
que não só hão <strong>de</strong> concorrer para<br />
a sua saida, como o hão <strong>de</strong> arrastar<br />
pelas ruas da amargura.<br />
Mas o que é Irisle e doloroso<br />
é, que se veja passeiaudo, pela Europa,<br />
ao lado da sr. a D. Mana Fia,<br />
um homem que se aponta como<br />
centro para on<strong>de</strong> lêem convergido<br />
uma boa parle das receitas publicas.<br />
O que é Irisle é que no meio<br />
dos boalos e sussurros que correm<br />
a esle respeito, se diga, que em tal<br />
saida vão envolvidos altos interesses<br />
e altas personalida<strong>de</strong>s, dandose<br />
logo a coincidência <strong>de</strong> ser o apontado<br />
o sr. Bournay que agora se<br />
acha na Ilalia com a sr. 4 D. Maria<br />
Pia, a quein aquelle senhor empreâlára<br />
o dinheiro para as dtispezas<br />
da viagem, tão nobremente recusadas<br />
pelo sr. ministro da fazenda,<br />
cuja <strong>de</strong>missão já se aponla com<br />
insistência 1<br />
A quem se <strong>de</strong>verá pois a sua<br />
<strong>de</strong>missão ?<br />
Significará um aclo meramente<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sua vonta<strong>de</strong>, ou a<br />
pressão <strong>de</strong> forças estranhas, empenhadas<br />
em encobrir o Ião vergonhoso<br />
como importante assumpto do empréstimo<br />
dos tabacos?<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
A primeira hypolhese não nos<br />
parece das mais verd;*Jeiras, pois<br />
que s. ex. a na situação aclual se<br />
achava apenas em mera especlativa,<br />
ainda que naquella mesma questão<br />
já se mostrára mais fracoe tímido<br />
<strong>de</strong> que sé apresenlára <strong>de</strong> principio<br />
ao paiz.<br />
Será a segunda? Assim parece.<br />
Mas quem são essas personalida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> lamanha influencia nos<br />
<strong>de</strong>stinos da palria que se lhe impõem<br />
ao cumprimento do seu<strong>de</strong>vèr,<br />
chegando mesmo a levar o sr. ministro<br />
da fazenda a largar a pasla<br />
que tantos annos sonhára ? Quem<br />
quer que sejam, <strong>de</strong> bem alto <strong>de</strong>vem<br />
ellas parlir.-<br />
Mas venha d'ôn<strong>de</strong> vier lai procedimento,<br />
<strong>de</strong>sviando á força um<br />
ministro do cumprimento dos seus<br />
<strong>de</strong>veres para a regeneração da palria,<br />
não é outra coisa senão um<br />
crime <strong>de</strong> que nos cabe pedir conlas,<br />
mas conlas muilo severas.<br />
i<br />
E viva a folia !<br />
Com quanto se diga e rediga, e isso<br />
esteja supinamente em evi<strong>de</strong>ncia, que o<br />
eslado das nossas liaanças é o mais <strong>de</strong>plorável<br />
que pô<strong>de</strong> conceber-se, nem por<br />
isso affrouxa no animo dos que nos regem,<br />
a tradicional predilecção pelo luxo.<br />
Por esies trechos do Le journal, folha<br />
parisiense, avalie-se o hysterisino<br />
uxuoso da sr. a D. Maria Pia:<br />
«Se é verda<strong>de</strong> que a vida retirada<br />
na Ajuda — palacio <strong>de</strong> construcção pesada,<br />
que lembra alguma coisa o Escu><br />
rial—pesa em tanto á viuva do rei L).<br />
Luiz, e que ella tem a no?talg'a da representação,<br />
eis para a ãugusla princeza<br />
uma bella occ-asiao, seguramente, do ex-<br />
Inbir-se, com as melhore* «toàletes»<br />
pari*ieiMe«, sobre um palco<br />
on<strong>de</strong> os principaes papeis são <strong>de</strong>sempenhados<br />
por imperadores, ou primos <strong>de</strong><br />
imperadores. Parisiense, atheniense pelo<br />
seu bom gosto e cultivaudo coin extraordinário<br />
amor as vaida<strong>de</strong>s mundanas, a<br />
sr. a L). Maria Pia e tudoisso, com elfeito,<br />
d'alma e coração. E' das mãos dn«<br />
•tussas primeiras modistas que<br />
saem regularmente as suas<br />
«toiiettes», cuja riqueza <strong>de</strong>slumbrou<br />
em tempos a corte <strong>de</strong> Lisboa, quando a<br />
soberana, joven ainda, encommendava o<br />
seu retrato a Carlos Duran, e, para toruar-se<br />
mais bella 1 , ajudava po<strong>de</strong>rosamente<br />
a fortuna <strong>de</strong> madame Aline Neuvitle, sua<br />
modista favorita e privilegiada.<br />
«A rainha <strong>de</strong>morar-se-ba em Paris<br />
até a próxima terça leira, e é certo que,<br />
durante a sua estada aqui, a m»i«r<br />
parte, do seu tempo será consagrado<br />
a provas <strong>de</strong> «toiiettei,<br />
<strong>de</strong> preferencia a recepções otiiciaes ou<br />
mesmo oíliciosas, seja dos amigos do<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, seja da colonia porlugueza.»<br />
Nós só lhe pomos o visto.<br />
Pela Cafraria<br />
Oi agonies do tisco appreheu<strong>de</strong>cam<br />
ha dias a um passageiro, uma camisola,<br />
á chegada á estação da Aveuida, Lisboa.<br />
O iudáceuiissimo nnJo por que se<br />
proce<strong>de</strong>u a esta heroicida<strong>de</strong>, e coutado<br />
assim por um nosso collega :<br />
«0< agentes do liscó, com aquella<br />
amabilida<strong>de</strong> que os distingue em occasiõos<br />
solemues, convidaram o passageiro<br />
suspeito a eutrar em u n dos logares reconditos,<br />
em que se acha installada a<br />
liscalisação naquelle recinto, e alli foi<br />
mandado <strong>de</strong>spir, em seguida arrebataram<br />
lue a uuica camisola <strong>de</strong> lã que<br />
trazia vestida e remetteram convenientemente<br />
escoltados para a alfan<strong>de</strong>ga o paciente<br />
e a camisola.»<br />
Como é que epigraphaum isto? Pela<br />
Confraria ? - - lista bem.<br />
REVISTA LITTERARIA<br />
«Reyista Moya» — Miragens<br />
Acabamos <strong>de</strong> lêr o primeiro numero<br />
da Revista Nova.<br />
De todas as producções que nella se<br />
inserem, pareceu-nos intimamente <strong>de</strong>scabida,<br />
não só pela falta <strong>de</strong> boa orientação<br />
litteraria, mas ainda pela mesquinhez<br />
ue boa educação critica, aquella em<br />
que se analysa ou, antes, malsina o tra-<br />
balho recente <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong> Lemos. Firma-a<br />
o sr. Henrique <strong>de</strong> Vasconcellos, um<br />
dos Novos, (vá o termo e a leltra maiuscula)<br />
que não lemos a honra <strong>de</strong> conhecer<br />
pessoalmente, mas que nos dizem<br />
ser um rapaz inteiligente e iliustrado.<br />
Estes dois predicados baslariam, certamente,<br />
a arro<strong>de</strong>lar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua<br />
individualida<strong>de</strong> litteraria, se, no artigo<br />
<strong>de</strong> que vimos fallando, com elle nào corresse<br />
parelhas o «lesejo ar<strong>de</strong>nte e insaciável<br />
<strong>de</strong> tudo controverter e empanar.<br />
E' <strong>de</strong> ha muito a observação, mas não<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ler cabimento aqui: duas linhas<br />
lauçadas para a tela da publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>svairam<br />
e conturbam os espíritos- a tal<br />
ponto que ou a critica se transmuda em<br />
íouvaminhas ou se arvora em inquisidor.<br />
Nem tanto. Criticar bem e sãmente, sem<br />
preoccupações <strong>de</strong>schola e, o que e mais,<br />
sem prendimentos <strong>de</strong> pessoas, é hoje, e<br />
foi-o sempre, o <strong>de</strong>ver sacratíssimo <strong>de</strong><br />
todos aquelles que hão <strong>de</strong> applicar o<br />
bisturi da sua auaJyse ás manifestações<br />
intcliectoaes dos oulros.<br />
Mas d'isto infelizmente, não está<br />
isento ò artigo do sr. Vasconcellos.<br />
Depois que Eugénio <strong>de</strong> Castro implantou,<br />
entre nós, a eschola <strong>de</strong>cadista<br />
ou, como quer o sr. Vasconcellos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que aquelle poeta começou a fazer, nos<br />
Uaristos,- exercícios <strong>de</strong> lechnica e acabou<br />
uas Horas, por pastichar Verlaiue e<br />
outros <strong>de</strong>cadislas francezes; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse<br />
momento, correu accesa nos dois campos<br />
a refrega, sem que d'essa lucla,<br />
braço a braço e peito a peito, nascesse<br />
para a lilteratura uma nova formula, que<br />
não fossem esses dois epilhetos jactanciosamente<br />
arremessados aos românticos,<br />
aos velhos: barbaros, impios! Nisto se<br />
licou; e não pareça por <strong>de</strong>mais exaggerada<br />
a nossa aílirmativa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se<br />
atteate, com critério e imparcialida<strong>de</strong>,<br />
ao juízo do Mestre. E.ie mesmo lança<br />
por lerra o editicio dos que o imitaram,<br />
com estas solemnissiitías palavras: «nao<br />
me corfipieheu<strong>de</strong>ram.»<br />
Mais longe ainda vae o sr. Vasconcello-s:<br />
com um <strong>de</strong>sassombro, que nos<br />
parece loucura, nega a originalida<strong>de</strong> a<br />
todos os poetas mo<strong>de</strong>rnos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o proprio<br />
E. <strong>de</strong> Castro, a Oliveira Soares, Julio<br />
Brandão, D. João <strong>de</strong> Castro, etc. !<br />
Nada lica <strong>de</strong> pé; ou, melhor, lica apenas<br />
um—um, que é Antonio Nohre, e<br />
que o novel escriptor julga ser «o único<br />
successor em Portugal dos gran<strong>de</strong>s poetas,<br />
como foi Authero do Quental e como<br />
é João <strong>de</strong> Deus!»<br />
Aparte a vellm amiza<strong>de</strong> que nos liga<br />
a Antonio Npbre, forçoso nos e confessar,<br />
com esta ru<strong>de</strong> franqueza, que tanto<br />
nos caracterisa e por que e um <strong>de</strong>ver a<br />
cumprir, que a obra do distincto poeta,<br />
com ser uma po<strong>de</strong>rosa vibração <strong>de</strong> talento,<br />
não possue comtudo base bastante<br />
longa nem alicerce sulUcieiítemeiite<br />
solido para suster e acarretar com o pezo<br />
da estatura litteraria e scienlilica daquelles<br />
dois génios. Isto mesmo pensa o sr.<br />
Carlos Mesquita, illustre companheiro<br />
na Revista, do sr. Vasconcellos, quando<br />
nos diz que «Autonio Nobre e um<br />
caso isolado e que o assumpto que elle<br />
começou a explorar é resiricto <strong>de</strong> mais<br />
para formar uma escola sem que os Poetas<br />
se repitam», e mesmo quando anteriormeuie<br />
Irauscreve aquella observação<br />
<strong>de</strong> Leapafdi, que atinai se cifra—-na<br />
imitaçao própria e ainda quando pergunta<br />
: «em que livro <strong>de</strong> novo se vê o germen<br />
d um João <strong>de</strong> Deus ou d um Authero?»<br />
O mesmo aconteceria a Quental e<br />
acontece hoje ainda a João <strong>de</strong> Deus?<br />
Por certo que não.<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 81<br />
do Povo<br />
Sobretudo, em Anthero do Quental<br />
são tão variadas e tão profundas as suas<br />
poesias, tantos e tão esmerilhados o*<br />
seus pensamentos, on<strong>de</strong> uma philosophia<br />
própria se abraça também a um modo<br />
<strong>de</strong> dizer especial e singularissimo, que<br />
muitas veies, ao lermol-o, nos convencemos<br />
<strong>de</strong> que o que elle menos tem é<strong>de</strong><br />
poela. E' talvez um erro nosso. Mas que<br />
admira, pois, que Carlos <strong>de</strong> Lemos nem<br />
sempre o comprehen<strong>de</strong>sse ? Que espanto<br />
ha em que não o comprehendamos nós?<br />
Mas muilo mais do que isso, muito<br />
mais, vale aquella ingénua conlissão do<br />
sr. Vasconcellos, quando nos diz que a<br />
primeira impressão má que lhe veiu do<br />
livro <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong> Lemos foi o tilulo!<br />
Bibliorrhea que infestou o nosso mercado<br />
litterario <strong>de</strong> ha 50 annos a esta<br />
parte; mas abençoada bibliorrhea que<br />
nos <strong>de</strong>ixou as obras incomparáveis <strong>de</strong><br />
Garrett e Castilho I — abençoada, ainda,<br />
porque nos legou os mais formosos mol<strong>de</strong>s<br />
em que a poesia hodierna pô<strong>de</strong> fundir<br />
e vazar o seu pensar e sentir I<br />
E, <strong>de</strong>mais, que vale um titulo? Elle,<br />
quasi sempre, é a synthese das impressões<br />
com que o auclor manufacturou o<br />
seu livro. E quem lê, quem pô<strong>de</strong> lêr na<br />
alma do poeta, quando elle, a sós, no<br />
remanso do seu quarto e na fervilhaçào<br />
do seu pensamento, a rasga e dilacera,<br />
muitas vezes com mão impiedosa ? Oh,<br />
como coisas Ião mesquiuiias po<strong>de</strong>m revolucionar<br />
uin espirito J...<br />
E que grilo <strong>de</strong> ciúme é aquelle, sr.<br />
Vasconcellos, que o leva a esquecer a<br />
sua própria individualida<strong>de</strong>, nascida e<br />
creada hontem nas paginas da Revista,<br />
<strong>de</strong> fórma a arremessar ao peito <strong>de</strong> muitos<br />
escriptores <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> a seita eivada<br />
<strong>de</strong> «mephiticos e rhapsos sem talento<br />
»? Esquadrinhar bem na nossa consciência,<br />
é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos nós; <strong>de</strong>mais<br />
a mais quando, as irreflexões dós primeiros<br />
annos, nos levam a éssa epessima<br />
syntaxe e <strong>de</strong>testável prosodia.» Para<br />
que aliar a língua?<br />
Pô<strong>de</strong> ser que aiguma coisa nos esquecesse,<br />
na rapi<strong>de</strong>z com que escrevemos<br />
estas linhas; mas também não cabe<br />
mais nem tanto nas ensanchas d'uma<br />
revista, que hoje se cria, sem tempo<br />
e sem espaço.<br />
Uma que faltava, por exemplo: Beferindo-se<br />
aos poetas da província, encontra<br />
o sr. Vascoucellos uescuipa para a<br />
falta d originabda<strong>de</strong> d'elles, no motivo <strong>de</strong><br />
tardiamente receberem os livros, que ja<br />
ninguém lê e que estão postos irreverentemente<br />
a margem ha muitos ânuos.<br />
Esta tem graça 1 Segundo nos consta o<br />
sr. Henfique <strong>de</strong> Vasconcellos é africano,<br />
e por isso uma pergunta se nos suggere:<br />
Haverá para a Africa o privilegio <strong>de</strong><br />
se couce<strong>de</strong>r aos livros já lidos e relidos<br />
vigor litterario, no resto do orbe, só <strong>de</strong>pois<br />
da chegada do paquete ?<br />
O certo é que o que ahi lica dito<br />
não e uma <strong>de</strong>leza do livro <strong>de</strong> Carlos <strong>de</strong><br />
Lemos. Encontramos-lhe lambem <strong>de</strong>feitos,<br />
que muito nos aprazaria não lêr.<br />
Mas ainda assim, ante a critica do sr.<br />
Vasconcellos, seria injustiça nao arregaçar<br />
um pouco o véo, negro e espesso,<br />
em que o preten<strong>de</strong>u envolver. Nem<br />
tanto.<br />
A critica, quando assim, sobre ser<br />
injusta, é incivil.<br />
No emtanto, cumpre-nos dar á Revista<br />
Nova as boa» vindas, e damol-as<br />
na certeza <strong>de</strong> que nella leremos um collega<br />
franco e leal.<br />
Reduzir o quasi<br />
irreductivai<br />
Consta que o sr. Bernardino Machado<br />
vae reduzir a 50 e 60 por cento, os or<strong>de</strong>nados<br />
do pessoal menor d) ministério<br />
das obr.93 publicas, que está fóra do<br />
quadro.<br />
D'esta fórma alguns empregados receberão<br />
mensalmente a pequenina quantia<br />
<strong>de</strong>... 4#000 réis, ou seja, por cada<br />
dia, seis vinténs e meio...<br />
Como isto é lamentavel sa se reflectir<br />
que po<strong>de</strong>ríamos viver <strong>de</strong>safogadamente<br />
se os nossos governantes <strong>de</strong> ha<br />
sessenta annos para cá fossem comedidos<br />
nos seus <strong>de</strong>sperdícios I<br />
PELOS JORNAES<br />
Ainda a questão do caminho <strong>de</strong> ferro<br />
<strong>de</strong> Qm'limane Chire.<br />
Parece ser questão assente o contracto<br />
<strong>de</strong> concessão d'aqut*lla linha.<br />
Não se po<strong>de</strong>rá queixar o sr. Neves<br />
Ferreira <strong>de</strong> que a imprensa não lhe tivesse<br />
indicado qual o caminho a seguir<br />
em tão melindroso assumpto e quaes as<br />
consequências da sua imprudência.<br />
Infelizmente para nós e para elle será<br />
já tar<strong>de</strong> quando s. ex. a reconhecer os erros<br />
provenientes meramente da fórma caprichosa<br />
como preten<strong>de</strong> resolver tal caso.<br />
Sua ex. a enten<strong>de</strong>u por bem fazer o<br />
que quer; porisso terá lambem paciência<br />
<strong>de</strong> ouvir o que não quer, como já<br />
lhe dizem as Novida<strong>de</strong>s :<br />
«A final parece ser coisa resolvida<br />
a assiguatura do contracto do caminho<br />
<strong>de</strong> ferro Quehmaúe-Chire. O sr. ministro<br />
da marinha, que apenas tinha auctorisação<br />
pára tornar <strong>de</strong>finitivo esse<br />
contracto, e que sempre suppozemus a<br />
nao usasse, resolveu, ao que se alfir-<br />
111a, ligar o seu nome a este coudcninado<br />
acto <strong>de</strong> administração, arrastado<br />
pelas nefastas influencias que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
muito a opinião aponta com repetidas<br />
suspeições. Temos sincera pena que o<br />
sr. Neves Ferreira, um homem <strong>de</strong> tantos<br />
serviços, e cujo nome andava com<br />
justiça reeommendudo ao applauso patriolico,<br />
ceda ás pressões que sobre<br />
elle pesam, e assim forneça ensejo para<br />
ajustes <strong>de</strong> contas parlamentares, que<br />
nos consta neni serão brandos, nem benignos.»<br />
E diga <strong>de</strong>pois a imprensa monarchica,<br />
que nós não temos razão, quando<br />
affirmâinos ser impossível uma boa administração<br />
<strong>de</strong>ntro das actuaes instituições,<br />
quatido é ella a primeira a fallar-nos em<br />
altas pressões, beis amparos do throno I<br />
Haja em vista a cobrança dos impostos,<br />
o escandalo do «niprestiuio dos tabacos<br />
e por ultimo a concessão do caminho<br />
<strong>de</strong> ferro do Quelimane-Chire.<br />
Sempre as altas pressões — sempre as<br />
nefastas influencias <strong>de</strong> que o nosso collega<br />
— A Vanguarda diz :<br />
«Saba-se que neste negocio ha <strong>de</strong>talhes<br />
tenebrosos, que em Volta do ministério<br />
da marulha se teem agitado ha<br />
dois annos vários influentes políticos a<br />
especuladores do mais apurado quilate,<br />
anoiosus por alcançarem essa concessão<br />
para receberem dos iuglezes, aos quaes<br />
ella aproveita, a gorgeta combinada em<br />
troca <strong>de</strong> tão appetitoso presente.»<br />
Mas oiça mais, sr. Neves Ferreira.<br />
Diz o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro:<br />
«É positivo I O goveino faz o contracto.<br />
o sr. ministro da marinha insiste.<br />
Com a obstinação que é a característica<br />
do seu espirito vae por diante<br />
na sua i<strong>de</strong>ia.<br />
«SttaV Não, que, seguudo consta,<br />
no seu ministério é o sr. Neves Ferreira,<br />
quem menos manda. Governam<br />
outros : uns que estão fóra das secretarias,<br />
outros que ó necessário <strong>de</strong>sviar<br />
d'alli.»<br />
Depois accrescenta o mesmo jornal ;<br />
«K elle que entrega aosginglezes<br />
um caminho <strong>de</strong> ferro que só a inglezes<br />
ou especialmente a elles vae servir.»<br />
E para complemento <strong>de</strong> tão justa<br />
censura diz ainda :<br />
«Já mostrámos naquillo que temos<br />
dito, que á organisaçâo das bases<br />
presidiu a maior levianda<strong>de</strong>, a maior<br />
talta <strong>de</strong> patriotismo, o mais revoltante<br />
<strong>de</strong>sprezo das conveniências do paiz.»<br />
Nós mesmo que nunca tivemos maior<br />
confiança na regeneração da patria, pelos<br />
homens que se sentam nos beiraes<br />
do Paço, magoamo-nos ao vermos o nome<br />
do sr. Neves Ferreira cair d'um para<br />
outro momento, arrastado pelas nefastas<br />
influencias, que assentaram arraiaes junto<br />
ao throno para melhor dominarem todas<br />
as situações.<br />
E assim succe<strong>de</strong>rá a lodos.
AXXO I —X. 9 81 O D E F E N S O R DO P O V O S* <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
CRYSTABS<br />
Deante d'nm Christo<br />
Deixas que prenda assim leu braço forte<br />
A ea<strong>de</strong>ia da negra escravidão,<br />
Pregado nessa cruz <strong>de</strong>pois da morte<br />
Soífrendo uma continua expiação I<br />
Eu não invejo a tua horrível sorte...<br />
Sujeito ao olhar feroz da multidão,<br />
Não vês nunca brilhar no ceu do norte<br />
Uma estrella sequer <strong>de</strong>je<strong>de</strong>mpção.<br />
Ai, meu doce Jesus I eu soffro tanto I<br />
Tenho no peito meu a Raiva e a Dôr<br />
E no olhar <strong>de</strong>svairado a luz do Espanto ..<br />
Mas sei que ha <strong>de</strong> findar o meu Horror<br />
E sei que hei <strong>de</strong> enxugar este meu pranto<br />
A's dobras d'um sudário re<strong>de</strong>mptor.<br />
i<br />
II<br />
E tu, cá ficarás exposto ao frio<br />
Na triste solidão das eathedrae»,<br />
Curvado o rosto pallido e sombrio,<br />
Guardando <strong>de</strong>ntro em ti a Magoa e os Ais.<br />
E tu cá ficarás continuamente,<br />
Exposto aos furacões, aos vendavaes,<br />
Sempre preso na cruz, sempre pen<strong>de</strong>nte,<br />
Sempre submisso á voz dos Car<strong>de</strong>aes.<br />
Horrível fado teu! horrível sorte!<br />
Viver eternamente, após a morte,<br />
Sentir puisar gelado o coração!<br />
Ai meu doce Jesus! ai, que alegria,<br />
Po<strong>de</strong>r a gente dsscançar um dia!...<br />
Antes fosses, Jesus, um meu irmão.<br />
ERNESTO PIBES.<br />
LETTRAS<br />
 Yigilia<br />
- Morrera sem agonia, tranquilamente,<br />
como uma mulher cuja vida fôra sem<br />
macula ; e repousava agora no seu leito,<br />
<strong>de</strong> costas,com os olhos fechados, as feições<br />
calmas, os :longos cabellos brancos cuidadosamente<br />
alisados como se tivesse acabadb<br />
<strong>de</strong> se pentear <strong>de</strong>z minutos antès <strong>de</strong><br />
morrer. Toda a sua physionomia pallida<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>funta estava tão recatada, tão serena,<br />
tão resignada, que bem claramente<br />
se sentia a alma suave que habitara<br />
aquelle corpo,aexistencia sem perturbação<br />
que tivera aquella avó austera, o fim sem<br />
angustias e sem remorsos, que tivera<br />
aquella mulher honesta.<br />
De joelhos, ao pé da cama, o filho, um<br />
magistrado inflexível, e sua filha Margarida,<br />
no claustro soror Eulalia, choravam<br />
doidamente.<br />
Des<strong>de</strong> a sua infancia que ella os robustecera<br />
com uma moral inquebrantável,<br />
ensinando-lhes a Religião sem fraquezas<br />
e o <strong>de</strong>ver sem transigências. Elle, o homem,<br />
lizera-se magistrado, e empunhando<br />
o gladio da lei, feria sem pieda<strong>de</strong> os<br />
fracos, os que tinham fraquejado na lucla;<br />
ella, a filha, impregnada na virtu<strong>de</strong> que<br />
a banhqra n'esta familta austera, <strong>de</strong>sposara<br />
Deus, por tédio dos homens.<br />
Não tinham sequer conhecido o pae;<br />
sabiam unicamente que fizera sua mãe<br />
<strong>de</strong>sgraçada; era tudo quanto sabiam.<br />
A religiosa beijava loucamente a mão<br />
pen<strong>de</strong>nte da morta, mão <strong>de</strong> marfim semelhante<br />
ao gran<strong>de</strong> Christo <strong>de</strong>itado sobre<br />
o leito. Do outro lado do corpo estendido,<br />
a outra, mão parecia agarrar ainda 110<br />
lençol amarrotado, com esse gesto errante<br />
que se chama a préga dos agonisantes,<br />
e a roupa como que conservava umas<br />
pequenas vagas <strong>de</strong> linho, como que uma<br />
recordação d'esses últimos movimentos,<br />
que prece<strong>de</strong>m a eterna immobilida<strong>de</strong>.<br />
Umas leves pancadas na porta fizeram<br />
levantar as duas cabeças soluçantes, e o<br />
padre, que acabára <strong>de</strong> jantar, entrou.<br />
Estava vermelho, resfolegando com a<br />
digestão começada, porque tinha <strong>de</strong>itado<br />
muilo cognac no café para compensar a<br />
fadiga das ultimas noites passadas em<br />
claro, e da vigilia que ia começar.<br />
Perecia triste, com aquella falsa tristeza<br />
d'ecclesiastico para quem a morte é<br />
um ganha pão.<br />
Fez o signal da cruz, e approximando-se<br />
com o seu gesto profissional:<br />
-r-Meus queridos filhos, venho ajudul-os<br />
a passar estes tristes momentos.<br />
Mas soror Eulalia, immedialamenle<br />
levantando-se, disse :<br />
— Obrigada, muito obrigada; meu<br />
irmão e eu <strong>de</strong>sejamos licar sósinbos ao<br />
pé d'eila. São estes os últimos instantes<br />
em que a po<strong>de</strong>remos vér, todos tres,<br />
como dantes, quando nós... éramos pequenos,<br />
e a nossa po... pobre mãe...<br />
Não pou<strong>de</strong> acabar a pbrase, a tal<br />
ponto as lagrimas corriam, sulfocando-a<br />
na sua dôr.<br />
Mas o padre inclinou-se com uma<br />
tranquilida<strong>de</strong> satisfeita a pensar na sua<br />
caminha, que o esperava. ..<br />
— Como quizerem, meus filhos.<br />
Ajoelhou-se, benzeu se, rezou, e <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> se levantar, sahiu <strong>de</strong>vagar murmurando<br />
:<br />
—Era uma santa I<br />
*<br />
Ficaram sós, a morta, e os filhos.<br />
Um relogio que se não via fazia ouvir na<br />
sombra o seu lic-tac regular; e pela janella<br />
aberta o molle cheiro dos fenos e<br />
dos bosques entrava com uns languidos<br />
raios da lua. Não se ouvia no campo<br />
nenhum outro ruido além das notas volantes<br />
dos sapos, e <strong>de</strong> vez em quando o<br />
zumbir d'uni insecto noturno, entrando<br />
como uma baila e indo <strong>de</strong> encontro á<br />
pare<strong>de</strong>. Uma pacificção infinita, uma divina<br />
melancolia, uma serenida<strong>de</strong> silenciosa<br />
ro<strong>de</strong>ando a morta, pareciam como<br />
que voejor em torno d'ella, expandir-se<br />
para fóra, e pedir á própria natureza a<br />
serenida<strong>de</strong> e á paz.<br />
Então o magistrado, sempre <strong>de</strong> joelhos,<br />
a cabeça mergulhada nas roupas da<br />
cama, com uma voz sumida, dilacerante!<br />
abafada pelos lenços mordidos, grilou:<br />
— Mamã, mamã, oh! minha mamã!<br />
E a irmã, curvando-se até ao chãobatendo<br />
no sobrado com a sua fronte <strong>de</strong><br />
fanatica, convulsa, torcendo se, e vibrante<br />
como num ataque epiléptico, gemeu:<br />
— Jesu", Jesus, mamã, Jesus!<br />
E sacudidos ambos violentamente por<br />
uma tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dôr arquejavam, soluçando.<br />
Depois, a Crise a pouco e pouco foi<br />
socegando, e continuaram a chorar num<br />
tom mais baixo, mais brando, como as<br />
chuvosas bonanças, seguindo-se ás borrascas<br />
no mar convulsionado.<br />
Assim estiveram muito tempo, <strong>de</strong>pois<br />
levantaram se e pozeram se a contemplar<br />
o querido cadaver. É as recordações,<br />
aquellas longínquas recordações, honlem<br />
tão cheias <strong>de</strong> alegrias, boje tão cheias<br />
<strong>de</strong> torturas, choviam lhes no espirito com<br />
todos os insignificantes promenores esquecidos,<br />
aquellas pequenas coisas intimas<br />
e familiares que como que fazem<br />
reviver aos nossos olhos o ente que <strong>de</strong>sappareceu.<br />
Recorduvam-se das circunstancias,<br />
das palavras, dos sorrisos, das<br />
inflexões d'aquella voz, que nunca mais<br />
ouviriam.<br />
Tornavani-na a Vêr feliz e tranquilla,<br />
lembravam-se das plirases que ella lhes<br />
dizia, d'um pequeno movimento da mão<br />
que tinha ás vezes, como para bater o<br />
compasso, quando dizia alguma coisa importante.<br />
Adoravam-na agora mais do que<br />
nunca. E percebiam enlão, medindo o<br />
<strong>de</strong>sespero, quanto lhe queriam, como<br />
se iam d'ahi por <strong>de</strong>ante achar abandonados.<br />
Era o seu amparo, o seu guia, toda<br />
a alegre epocha da sua existencia que se<br />
sumia ; eram as suas relações com a vida<br />
a mãe, a mamã, a carne creadora, o laço<br />
com os seus avós que <strong>de</strong>sapparéciam.<br />
Ficavam agora solitários, isolados ; já não<br />
podiam olhar para o passado.<br />
A religiosa disse ao irmão :<br />
— Lembras-le que a mamã lia sempre<br />
as suas velhas cartas; estão todas<br />
alli, na gaveta. Vamos lei as agora nós,<br />
vamos reviver esta noite ao pé d'ella.<br />
Seria como que um caminho da cruz,<br />
como que um conhecimento que travaríamos<br />
com a mãe d'ella, com os nossos<br />
avós <strong>de</strong>sconhecidos, cu^as cartas estão<br />
alli e <strong>de</strong> quem n&s fallitva tantas vezes,<br />
lembras-le ?<br />
*<br />
Tiraram da gaveta uns <strong>de</strong>z massos<br />
<strong>de</strong> papeis amarellos, atacados com cuidado.<br />
e postos em or<strong>de</strong>m. Pozeram em<br />
cima da cama estas relíquias, e, escolhendo<br />
uma d elias que tinha escripto a<br />
palavra «Pae», abriram-na e leram.<br />
Eram d'aquellas velhas epistolas que<br />
se encontram nas velhas secretarias <strong>de</strong><br />
família, d'aquellas cartas que como que<br />
rescen<strong>de</strong>m ao século passado. A primeira<br />
dizia: «Minha querida», uma outra:<br />
«Minha lindinha» ; <strong>de</strong>pois outras: «Meu<br />
querido amor» ; e ainda mais. «Minha<br />
querida filha. E <strong>de</strong> súbito, a religiosa<br />
começou a ler em voz alta, e a reler á<br />
morta a sua historia, todas as suas-queridas<br />
recordações. E o magistrado com<br />
os olhos fixos na mãe. E o cadaver immovel<br />
parecia feliz.<br />
Eulalia, interrompendo a leitura, disse<br />
subitamente:<br />
— Havemos <strong>de</strong> lh'as metter no tumulo,<br />
fazer-lhe uma mortalha com Indo<br />
isto, sepultal-a aqui <strong>de</strong>ntro.<br />
Pegou num outro masso, que não tinha<br />
escripla nenhuma palavra reveladora. E<br />
começou a ler em voz alta : «Minha adorada,<br />
amo le até á loucura. Des<strong>de</strong> hontem,<br />
soffro como um precito queimado<br />
pela tua lembrança. Sinto os teus lábios<br />
nos meus, os teus olhos, a tua carne na<br />
minha carne; amo-te, adoro-te! Enlouqueceste-me.<br />
Os meus braços abrem-se,<br />
o meu peito está arquejante pelo <strong>de</strong>sejo<br />
furioso <strong>de</strong> te possuir ainda mais uma vez.<br />
Todo o meu corpo te chama, te quer.<br />
Conservei na bocca o sabor dos teus<br />
beijos.»<br />
O magistrado erguera-se; a religiosa<br />
parou <strong>de</strong> ler; elle procurou-lhe a assignatura.<br />
Não tinha; mas unicamente <strong>de</strong>baixo<br />
das palavras: «O que le adora» o nome<br />
«Ueiirique». Seu pae chamava-se Renato.<br />
Não era elle portanto. Enlão o filho,<br />
com a mão nervosa, remecheu o maço<br />
<strong>de</strong> cartas, tirou uma outra, e leu: «Não<br />
posso viver sem as tuas caricias.» E <strong>de</strong><br />
pé, severo como no tribuoal, cravou o<br />
olhar duro na morta impassível. A religiosa,<br />
direita como uma estatua, com as<br />
lagrimas presas aos cantos dos olhos,<br />
olhando fixamente para o irmão, esperava.<br />
Então elle atravessou o quarto a<br />
passos vagarosos dirigiu-se para á janella,<br />
e com o olhar perdido na noite, esteve<br />
assim muito tempo a pensar.. •<br />
Quando se voltou, soror Eulalia,<br />
com os olhos seccos, estava ainda <strong>de</strong><br />
pé, junto da cama, com a cabeça caida<br />
sobre o peito.<br />
Elle approximou-se, apanhou rapidamente<br />
as cartas que atirou em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />
para a gaveta, <strong>de</strong>pois fechou as cortinas<br />
do leito.<br />
E, quando o dia empalli<strong>de</strong>ceu as<br />
vellas que estavam sobre a meza, o filho<br />
lentamente, levanlou-se da poltrona, e,<br />
sem tornar a olhar urna única vez para<br />
a mãe que rcpellira, con<strong>de</strong>mnada, disse<br />
<strong>de</strong>vagar:<br />
— Agora, saiamos, minha irmã.<br />
Gny <strong>de</strong> Maupassant.<br />
A levantar a cabeça<br />
O sr. Mariano <strong>de</strong> Carvalho, que em<br />
pleno parlamento se <strong>de</strong>clarou inorto para<br />
a politica, não se sente, mulgrè tout,<br />
vpom feitios para calar <strong>de</strong> vez as suas<br />
jogralidadçs com que. pelo bem condimentado,<br />
costuma embalar a parte ingénua<br />
da opinião publica.<br />
Neste proposilo, que tem alguma<br />
cousa <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> rehabilitação, o sr.<br />
Mariano tem semeado pelo Popular uma<br />
aluvião <strong>de</strong> planos financeiros e políticos,<br />
que elle impinge como sendo os seus<br />
planos financeiros e políticos <strong>de</strong> ex-ministro,<br />
com o sr. João Chrysostomo.<br />
O picaresco do caso salienta-se claramente,<br />
e o ardil, por não ser <strong>de</strong> primeira<br />
edição, po<strong>de</strong>rá impressionar os<br />
que <strong>de</strong> animo leve se <strong>de</strong>ixam alar pelo<br />
pbanlasioso dos factos, mas nunca po<strong>de</strong>rá<br />
provocar mais que um sorriso banal<br />
aquelles que conhecem, a todo o fundo,<br />
a engenhosa habilida<strong>de</strong> do sr. Mariano<br />
e as suas ardilosas artimanhas.<br />
Prosiga, pois, o sr. Mariano que a<br />
nós não nos illu<strong>de</strong>. Conbecemol-o <strong>de</strong><br />
mais.<br />
O Grito <strong>de</strong> Janeiro<br />
Recebemos a visita d'este nosso collega<br />
publicado no Porto e que bastante<br />
agra<strong>de</strong>cemos, <strong>de</strong>sejando-lhe largas prosperida<strong>de</strong>s.<br />
«Esperanto»<br />
Recebemos um curioso livrinho, <strong>de</strong><br />
propaganda em favor d'uma lingua universal.<br />
E' um methodo completo para apren^<br />
<strong>de</strong>r a lingua universal Esperanto, com<br />
uma grammatica e dois vocabulários, Esperanto-Porluguez<br />
e Portuguez-Esperanto.<br />
Na realida<strong>de</strong> o methodo é simplicíssimo,<br />
e tanto, que em poucos dias se<br />
po<strong>de</strong> conhecer o esperantismo lambem<br />
como o auctor, o dr. Luiz Zamenhof.<br />
Alma Nova<br />
Tal é o titulo d'um novo semanario<br />
da aca<strong>de</strong>mia bracarense que ultimamente<br />
nos foi enviado e que agra<strong>de</strong>cemos.<br />
THEATROS<br />
Com as Noivas do Enéas, abriu 110<br />
sabbado a sua serie <strong>de</strong> espectáculos no<br />
lheatro D. Luie a companhia do lhealro<br />
Príncipe Real, superiormente dirigida<br />
pelo actor Taveira.<br />
As Noivas do Enéas é uma comedia<br />
em quatro actos, original d 1 Gervásio<br />
Lobato, (1'on<strong>de</strong> resalta, a cada movimento<br />
scenico, a graça <strong>de</strong> que Gervásio se tornou<br />
único possuidor. Como lodos os trabalhos<br />
theatraes <strong>de</strong> Gervásio, esta comedia<br />
é um continuado <strong>de</strong> disparates inverosímeis,<br />
difficeis <strong>de</strong> apurar no enredo,<br />
<strong>de</strong> que afinal só se encontra sahida pela<br />
gargalhada, que espontaneamente nos<br />
salta. Com situações cheias <strong>de</strong> picaresco,<br />
on<strong>de</strong> abunda sempre a piada bem condimentada,<br />
sem que comtudo seja fresca,<br />
as Noivas do Enéas com algumas passagens<br />
<strong>de</strong> somenos valor substituída por<br />
uns trechos <strong>de</strong> boa musica, seria talvez<br />
um dos trabalhos melhores <strong>de</strong> Gervásio<br />
Lobato.<br />
O <strong>de</strong>sempenho nada <strong>de</strong>ixou a <strong>de</strong>sejar.<br />
José Ricardo, no papel <strong>de</strong> Enéiis houve-se<br />
sem <strong>de</strong>smandos, sabendo sempre<br />
traduzir com rigor a sua situação <strong>de</strong><br />
enamorado infeliz, batido por toda a<br />
casta <strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>. Angela Pinto pareceu-nos<br />
um ludo-nada <strong>de</strong>slocada do seu<br />
campo, no papel <strong>de</strong> Clemência.<br />
Não dizemos isto por que não lhe<br />
víssemos correcção, e muita, 110 seu papel<br />
<strong>de</strong> mulher <strong>de</strong> cabelinho na venta,<br />
mas porque nos pareceu que ella se sente<br />
muito mais á vonta<strong>de</strong> em outros papeis<br />
que a lemos visto <strong>de</strong>senvolver com incontestável<br />
mérito artístico.<br />
Emilia Eduarda, Maria da Luz, Thereza<br />
Prata e Elvira Men<strong>de</strong>s, sempre á<br />
altura dos seus papeis. Sanlos, no papel<br />
<strong>de</strong> Thomé, com quanto muito pezado<br />
para aquellas creancices <strong>de</strong> rapaz travesso<br />
e malcreado, não se sahiu mal. Firmino,<br />
Carlos Sanlos, Pires e Soares não <strong>de</strong>stoaram.<br />
*<br />
No domingo: O Solar dos Barrigas,<br />
a bella operelta já nossa conhecida. Tudo<br />
a postos para admirar, d'entre os mo<strong>de</strong>rnas<br />
operelfas,' aquella que mais superiormente<br />
se salienta. Gervásio e D. João da<br />
Camara foram aqui felicíssimos dando um<br />
relevo um tanto mais rythmico que o que<br />
ordinariamente imprimem ás suas plianíasias.<br />
Além d'isso, a inspiração musical<br />
<strong>de</strong> Cyriaco <strong>de</strong> Cardoso, o distincto maestro,<br />
matizou <strong>de</strong> musicas <strong>de</strong>liciosas o Solar<br />
dos Barrigas, musicas que nos arrebatam<br />
por vezes. O coro das bealas, o<br />
dueto <strong>de</strong> Ramiro e Manuela no segundo<br />
acto, cuja lettra principia :<br />
Ramiro:<br />
Manuela:<br />
Ó minha adorada<br />
Já d'ella fugi.<br />
Que atroz punhalada<br />
Virá dar-me aquil...<br />
e um outro dueto no terceiro acto entre<br />
os mesmos, na lingua dos — pp—, são<br />
trechos <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m que calam<br />
fundo aos amadores <strong>de</strong> boas musicas.<br />
Do <strong>de</strong>sempenho nada accrescentaremos<br />
ao que já aqui dissémos por outra<br />
occasião. Tudo muito correcto e composto.<br />
No final — é sabido — o Côro dos<br />
foguetes, que pela fácil adaptação se tornou<br />
um acepipe indispensável aos espectadores.<br />
Muita gargalhada, muita jniíma,<br />
tudo vicloriado, os foguetes a estalar —<br />
em summa: uma noite cheia, uma casa<br />
cheia e uma recita <strong>de</strong> mão cheia.. .<br />
*<br />
Segunda feira o Meia azul, peça patriótica<br />
em que correm algumas scenas<br />
da famosa revolução franceza <strong>de</strong> 89.<br />
Excèllente musica e um <strong>de</strong>sempenho regular.<br />
O papel <strong>de</strong> protogonista coube a Angela<br />
Pinto, como sempre, correcta e graciosa<br />
na <strong>de</strong>clamação e no canto; um talento,<br />
esta rapariga que sabe captar as<br />
sympathias do publico, que lhe paga em<br />
applausos os seus merecimentos artísticos<br />
e a paciência com que ella atura as<br />
maçadas dos seus admiradores.<br />
Não nos esqueceremos <strong>de</strong> mencionar<br />
aqui Emília Eduarda, uma artista distincta<br />
que em todas as noites nos <strong>de</strong>liciou,<br />
apresentando-nos lypos característicos,<br />
<strong>de</strong> boa graça e pilhéria, bem á altura<br />
dos seus doles.<br />
Theresa Prata, Elvira Men<strong>de</strong>s e Aurélia,<br />
apezar dos fracos recursos <strong>de</strong><br />
que ainda dispõem, muito correctamente.<br />
Aurélia cantou bem, e a canção do marujinlio,<br />
que é um numero <strong>de</strong> musica <strong>de</strong>liciosa,<br />
saiu correcto, valendo-lhe bons<br />
applausos.<br />
José Ricardo bem, sem <strong>de</strong>smandos,<br />
e sein exaggeros ; dando-nos Santos<br />
Mello, um apurado fidalgo, estróina e<br />
galanteador. Os restantes personagens<br />
não <strong>de</strong>stoaram d este agradavel coujuucto,<br />
e o Meia azul foi bem recebido.<br />
Taveira apresentou-nos um bom trabalho<br />
<strong>de</strong> mise en-scène, bem disposto e<br />
bem combinado, que dá vida e produz<br />
um bello elíeilo scenico.<br />
No final muitas chamadas e pe<strong>de</strong>-se<br />
o côro dos foguetes. Angela Pinto, sempre<br />
adoravel, cantu -e os espectadores<br />
acompauham-a euthusiasmados; e repete-se<br />
isto muitas vezes... e Angela, com<br />
uma paciência angélica a aturar-nos e a<br />
cantar. E vae na pan<strong>de</strong>ga !<br />
*<br />
Na terça feira a recita <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida<br />
com o Homem da Bomba, vau<strong>de</strong>ville em<br />
tres actos, musica coor<strong>de</strong>nada por Alves<br />
Rente.<br />
Apezar do insignilicativo do titulo<br />
que fazia prever uma inaçadoria sem<br />
sabor, o Homem da Bomba agradou geralmente,<br />
ja pela parle dramática do<br />
conjunclo, já porque se adorna d'umas<br />
musicas ligeiras, mas graciosas.<br />
A caução do baptisado... da bomba<br />
bellamente cantado por Theresa Prata, é<br />
sobre todas, <strong>de</strong>liciosa.<br />
O <strong>de</strong>sempenho, bem. Uns qui-pro-quós<br />
hilariantes fazem estar os espectadores<br />
sempre <strong>de</strong> gargalhadas em gutiiho, especialmente<br />
no segundo acto.<br />
José Ricardo conserva-se bem composto<br />
durante toda a scena, cheio <strong>de</strong><br />
bom humor e <strong>de</strong> pilhéria. Emília Eduarda<br />
e Maria da Luz fazem e dizem muito<br />
bem. Santos é um commandante tezo,<br />
maníaco, mo<strong>de</strong>lado por exemplares que<br />
por cá possuímos. .. Santos Mello, correcto,<br />
ailirmaudo dia a dia os seus progressos.<br />
Theresa Prata canta muito bem.<br />
Findo o vau<strong>de</strong>ville, começou a ferver<br />
a onda do foguetorio, peduido-o a lodo<br />
o fogo. Angela Piuto que estava em uma<br />
friza teve que saltar ao palco para <strong>de</strong>itar<br />
foguetes.<br />
Gran<strong>de</strong> enthusiasmo, chamadas successivas<br />
aos melhores artistas da companhia,<br />
chamadas especiaes a Taveira, a<br />
Angela Piiito e ao empresário Francisco<br />
Lucas.<br />
*<br />
»<br />
A companhia seguiu para Santarém<br />
on<strong>de</strong> vae dar alguns espectáculos.<br />
Espalhou se honlem, nao sabemos<br />
com que fundamento, que na sua voita<br />
<strong>de</strong> Saularem daria aqui mais tres espectáculos<br />
com o Burro do Sr. Alcai<strong>de</strong>,<br />
El-Bei Damnaúo e o solar dos Barrigas.<br />
Oxala isto se continue.<br />
0-<br />
Primeiro <strong>de</strong> maio<br />
Approxima-se este dia <strong>de</strong> Jèsta do<br />
operariado universal.<br />
Por toda a parle ergue-se a onda do<br />
quarto estado para solemnisar, com lodo<br />
o ardor das almas quenles, a synibolica<br />
festa do 1." <strong>de</strong> maio que e o dia lesiivo<br />
das suas aspirações reiviudicanles.<br />
Esta solcmnisação, pela generalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ptos que a vae avolumando, toma<br />
um caracter respeitado, e ailirma, peia<br />
exposição das lorças disciplinadas, o po<strong>de</strong>rio<br />
enorme do proletariado que dia a<br />
dia vae ruindo as velhas formulas.<br />
As festas do 1.° <strong>de</strong> maio, que'são<br />
uma revista ás forças prolelarias, promelteui<br />
ser este anuo, ainda mais solemnes<br />
que dos annos anteriores. Quem<br />
tiver acompanhado, <strong>de</strong> perlo, o movimento<br />
do 1.° <strong>de</strong> maio, terá observado<br />
que <strong>de</strong> anno para anuo se accentua significativamente<br />
a sua superiorida<strong>de</strong>.<br />
CARTA DE LISBOA<br />
Foi honlem, 23, que muitos dos<br />
nossos correligiouatios foram ao cemiterio<br />
do alto <strong>de</strong> S. João visitar o tumulo<br />
do chefe mais prestigioso do partido republicano,<br />
do nosso inolvidável amigo,<br />
do gran<strong>de</strong> apostolo da <strong>de</strong>mocracia porlugueza,<br />
José Elias Garcia.<br />
Todos os que la foram não fizeram<br />
mais do que cumprir um <strong>de</strong>ver sagrado.<br />
Uma commissão do Grémio Luzitauo<br />
<strong>de</strong>poz uma corôa <strong>de</strong> rozas e amores perfeitos,<br />
com litas brancas franjadas a ouro<br />
e a <strong>de</strong>dicatória: A Maçonaria Portugueza,
ao seu grão mestre José Elias Garcia;<br />
— c outra, <strong>de</strong> lozas e heras, com fitas<br />
ver<strong>de</strong>s e vermelhas, com a <strong>de</strong>signação:<br />
Os republicanos radicaes 23-4-93.<br />
A' beira da campa foram lidos alguns<br />
discursos.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois do meio dia, estando<br />
presente a commissão promotora da manifestação<br />
e a commissão do Grémio<br />
Luzitano, o nosso amigo e correligionário<br />
dr. José Isodoro Vianna leu um breve<br />
discurso <strong>de</strong> homenagem ao glorioso extincto;<br />
em seguida o nosso collega Feio<br />
Terenas leu egualmente um discurso em<br />
que elevava o valor d'aquelle que para<br />
todos nós foi um mestre auctorisado e<br />
um verda<strong>de</strong>iro amigo. Depois o sr. Pereira<br />
Batalha pronunciou do mesmo modo<br />
algumas palavras que representavam o<br />
seu respeito pela memoria <strong>de</strong> Elias Garcia.<br />
Esta sympathica manisfestaçao não<br />
pou<strong>de</strong> ser feita como nós a queríamos.<br />
A auctorida<strong>de</strong>, como sempre, havia <strong>de</strong><br />
fazer das suas. Prohibiu que se juntassem<br />
todas as commissões parochiaes republicanas<br />
e vários grupos <strong>de</strong>mocráticos. Por<br />
isso a manifestação não teve o valor necessário<br />
que se liie <strong>de</strong>via dar. No cernilerio<br />
era gran<strong>de</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> policia<br />
para matar a hydra. ..<br />
Ainda <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminada a manifestação,<br />
foi gran<strong>de</strong> o numero <strong>de</strong> republicanos<br />
que visitou o tumulo do nosso<br />
chefe morto.<br />
Entre muitos indivíduos que estavam<br />
no cemiterio a prestar a homenagem<br />
<strong>de</strong>vida ao glorioso extincto, vimos os seguintes:<br />
Feio Terenas, Gomes da Silva, Estrella<br />
Braga, Yictoriano Franco Braga<br />
que representou a Verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Tliomar,<br />
Alves Correia, Estevão <strong>de</strong> Vasconcellos,<br />
Antonio Luiz Ignacio, José Maria <strong>de</strong><br />
Sousa, Sebastião Teixeira Junior, Agostinho<br />
Manoel <strong>de</strong> Sousa, etc. O Século<br />
estava representado pelos nossos collegas<br />
Andra<strong>de</strong> Neves e Guilherme <strong>de</strong> Sousa;<br />
Gonçalves Neves representou o 31 <strong>de</strong><br />
Janeiro e o Defensor do Povo. Fizeram-se<br />
representar a Aca<strong>de</strong>mia Instrucção<br />
Popular, Associação dos Operários<br />
Manipuladores <strong>de</strong> pão, Socieda<strong>de</strong> 3 <strong>de</strong><br />
agosto. Compareceram egualmente as<br />
commissões republicanas <strong>de</strong> Santos, Lapa,<br />
S. Mame<strong>de</strong>, Alcantara, Pena Coração <strong>de</strong><br />
Jesus, Mercês, S. José e Santa Izabel<br />
O local <strong>de</strong>stinado ao monumento que<br />
vae erigir se ao gran<strong>de</strong> republicano Elias<br />
Garcia, e que lica na retunda por traz<br />
da capella, foi também muito visitado.<br />
24 d'abril.<br />
Gonçalves Neves.<br />
Carta <strong>de</strong> felicitação que alguns estudantes<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ex-alumnos do<br />
collegio jesuitico <strong>de</strong> S. Fiel, dirigiram<br />
ao sr. Manoel Borges Grainha pela publicação<br />
dos seus livros<br />
lll. mo t ex. mo sr.<br />
Quasi ao expirar o século XIX, —<br />
quando lodos pensavam que a obra libertadora<br />
do gran<strong>de</strong> Pombal estava <strong>de</strong>-<br />
32 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JÍ1DIA1 VAiiCAVO<br />
IX<br />
O leão em correrias<br />
— Afinal, continuou Talormi, tudo<br />
isso me é indifferente. Só quero provarte<br />
que um discípulo não pô<strong>de</strong> enganar<br />
um mestre. Pó<strong>de</strong>s fazer o que quizeres;<br />
fica ou parte.<br />
— Peço a v. ex. a que acredite...<br />
— Basta, interrompeu bruscamente<br />
Talormi, não quero ouvir nem mais uma<br />
palavra. Como sempre te tenho pago<br />
adiantado, não to <strong>de</strong>vo nada ; portanto<br />
po<strong>de</strong>s partir já. Se fizeste esta noite ou<br />
esta manhã unia tolice, não quero que<br />
amanhã recomeces.<br />
Talormi indicou a porta a Barbone;<br />
foi a sua <strong>de</strong>spedida.<br />
O filho <strong>de</strong> Gasperone inclinou-se, enxugou<br />
duas lagrimas, que talvez existissem,<br />
e soltando um suspiro abriu lentamente<br />
a porta e saiu como que a seu<br />
pezar.<br />
O naturalista Saavers menciona observações<br />
muito curiosas, que lhe furam<br />
finitivamente consolidada em Portugal,<br />
quando todos julgavam que o nosso paiz<br />
era terreno sáfaro on<strong>de</strong> não mais germinariam<br />
as doutrinas execrandas dos<br />
filhos <strong>de</strong> Loyola, quando todos imaginavam<br />
qu,e a luz fortíssima da civilisaçâo<br />
hodierna bastaria para espancar as trevas<br />
do jesuitismo retrogrado, — com espanto<br />
e assombro viram todos surgir occullamente,<br />
na sombra, com escandalosa<br />
connivencia dos po<strong>de</strong>res públicos, as<br />
malhas da enorme re<strong>de</strong> jesuítica que<br />
ameaça esten<strong>de</strong>r-se por sobre todo o<br />
paiz, sob a fórma <strong>de</strong> collegios, recolhimentos<br />
e outros centros d'acçâo da Companhia<br />
<strong>de</strong> Jesus. Este facto alarmou todos<br />
os que amam a civilisaçâo, porque<br />
on<strong>de</strong> a roupeta consegue trfãmphar, Jjca<br />
algemada a liberda<strong>de</strong>, oITusca-se a sciencia<br />
e a civilisaçâo retrograda.<br />
Enganam se, pois, os que pensaram<br />
que o jesuitismo no século XVIII licára<br />
para sempre extirpado entre nós: a Companhia<br />
é um cancro social que lança raízes<br />
fundas e <strong>de</strong> que é impossível fazer<br />
ablação completa; é um verme enorme<br />
que se multiplica e propaga, ainda mesmo<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o retalharem. Sendo na<br />
sua essencia sempre o mesmo, tem, todavia,<br />
uma força extraordinaria <strong>de</strong> adaptação<br />
: amolda-se a todos os tempos e<br />
logares, toma todas as lórmas, todas as<br />
côres, todas as modalida<strong>de</strong>s das socieda<strong>de</strong>s<br />
por on<strong>de</strong> se alastra, transige appareniemenle<br />
com a civilisaçâo,-se isso lhe<br />
convém, mas a sua essencia, o seu espirite,<br />
a sua doutrina não variam fundamentalmente.<br />
Ainda lioje, como nos tempos<br />
do seu maior esplendor, a instrucção<br />
e a educação da mocida<strong>de</strong> é meio<br />
po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> que se serve para propagar<br />
os seus <strong>de</strong>lelerios ensinamentos ; ainda<br />
hoje o seu lim é offuscar e atrophiar a<br />
intelligeucia pelo emprego <strong>de</strong> methodos<br />
d^ensino obsoletos; esmagar e aniquillar<br />
a vonta<strong>de</strong> com o rigor d'uma disciplina<br />
<strong>de</strong>gradante; pren<strong>de</strong>r e algemar a<br />
consciência, circunscreveudo-a á contemplação<br />
mystica das vacuida<strong>de</strong>s celestes ;<br />
envenenar e <strong>de</strong>pravar o sentimento, fazendo<br />
odiar o mundo, a natureza; suspen<strong>de</strong>r<br />
e alterar todo o systema das rerelações<br />
emotivas da humanida<strong>de</strong>, extinguindo<br />
e fazendo per<strong>de</strong>r as noções da<br />
família, do amor, da amiza<strong>de</strong>, da veneração<br />
paternal, filial, e <strong>de</strong> tudo emtím<br />
quanto e franco, generoso e bom. Ainda<br />
hoje o jesuíta è um eecravo da disciplina;<br />
um auiomato insensível a tudo, que<br />
só procura a gran<strong>de</strong>za, o esplendor, o<br />
triumpho e a hegemonia da Companhia.<br />
Ainda hoje o seu espirito é, como no<br />
século XVI, reduzir a autonomia da consciência<br />
e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar á passivida<strong>de</strong><br />
iminovel da obediência cega;<br />
aiuda hoje as suas armas são a intriga,<br />
o odiosa hypocnsia, a <strong>de</strong>nuncia, a ameaça,<br />
todos os meios, emiim, porque todos<br />
lhe servem, uma vez que possam concorrer<br />
para os seus tins. Aiuda hoje, numa<br />
palavra, a Companhia <strong>de</strong> Loyola e a poiicia<br />
secreta da Egreja, a guarda avançada<br />
do ultramoutanismo, a milícia combatente<br />
da reacção contra os dogmas sociaes<br />
da Liberda<strong>de</strong>, da Egualda<strong>de</strong> e da<br />
Fraternida<strong>de</strong> humana.<br />
transmittidas por um caçador marroquino,<br />
e que nós referiremos aqui, por nossa<br />
vez, para completar o retrato do<br />
con<strong>de</strong> Talormi.<br />
«Segui durante muito tempo, disse<br />
o caçador, os hábitos e costumes d'um<br />
magnilico leão, que não receava ser<br />
visto, e que tinha escolhido para seu<br />
retiro uma caverna poUco profunda, cavada<br />
numa rocha, a <strong>de</strong>z ou doze pés<br />
abaixada planície; via-o muito facilmente<br />
e podia seguil-o com os olhos, tanto no<br />
seu <strong>de</strong>scanço coino nas suas excursões,<br />
collocando-me num cume muito elevado<br />
que dominava aquella solidão. O soberbo<br />
animal estendia-se languidamente á eutrada<br />
da caverna, sem olhar para coisa<br />
alguma, embora a sua cabeça tivesse a<br />
soberba fixi<strong>de</strong>z da observação. Evi<strong>de</strong>ntemente<br />
o leão meditava ; traçava para si<br />
algum plano <strong>de</strong> conducta ; calculava todas<br />
as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fortuna numa correria<br />
próxima; estudava os teirenos conhecidos<br />
que havia <strong>de</strong> percorrer, alim<br />
<strong>de</strong>. supprimir com aniece<strong>de</strong>ncia toda a<br />
in<strong>de</strong>cisão e marchar com esta ousadia<br />
resoluta que <strong>de</strong>termina o bom exilo.<br />
«De repente, e <strong>de</strong>pois d'uma longa<br />
immobilida<strong>de</strong>, a féra, sacudida a juba, distendia<br />
os j irretes <strong>de</strong> aço, escarvava com<br />
as garras o solo, e caia sobre a planície<br />
com o ímpeto iutrepido do animal<br />
que sabe para on<strong>de</strong> vae. Atravessava aos<br />
saltos um comprido prado; parava <strong>de</strong>ante<br />
O DEFENSOR DO POVO 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
Um dos maiores <strong>de</strong>veres cívicos para<br />
aquelles que verda<strong>de</strong>iramente amam a<br />
palria, a sciencia, a verda<strong>de</strong> e todas as<br />
conquistas da civilisaçâo é, portanto,<br />
obstar a que a acção perniciosa do jesuitismo<br />
se renove enr Portugal; é atacar<br />
<strong>de</strong> frente com o cautério da verda<strong>de</strong><br />
esse antigo cancro do nosso paiz ; é<br />
pôr a <strong>de</strong>scoberto os fins nefandos a que<br />
visa, os <strong>de</strong>lelerios processos <strong>de</strong> que usa<br />
e os terríveis efTeitos que produz.<br />
Os abaixo assignados, ex-alumnos<br />
do collegio jesuíta <strong>de</strong> S. Fiel e hoje estudantes<br />
nos cursos superiores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
conhecedores da propaganda<br />
da Companhia em Portugal, vêm enthusiastícamente<br />
congratular-se com V. Ex. a<br />
pelo êxito extraordinário dos seus livros,<br />
confirmando as irrefutáveis verda<strong>de</strong>s que<br />
encerram e dar-lhes o apreço inextimavel<br />
que merecem. Admiramos sinceramente<br />
a coragem com que V. Ex. a tem<br />
atacado a acção do jesuitismo em Portugal,<br />
não temendo arrastar com osodios,<br />
as intrigas e lodos os meios que elle empregue<br />
para combater aquelles que ousam<br />
oppôr-lhe diques a invasão perniciosa<br />
das suas doutrinas; saudamos em<br />
V. Ex. 1 o arrojado e <strong>de</strong>nodado escriptor<br />
que mo<strong>de</strong>rnamente mais tem trabalhado<br />
para conservar intaclas^s conquislas da<br />
civilisaçâo e dá liberda<strong>de</strong>; e veneramos<br />
em V. Ex. a o professor mo<strong>de</strong>sto, trabalhador<br />
e intelligente que honra o ensino<br />
em'Portugal com as mais subidas qualida<strong>de</strong>s<br />
que po<strong>de</strong>m exornar um convicto<br />
e sincero <strong>de</strong>fensor da Sciencia, da Civilisaçâo<br />
e da Liberda<strong>de</strong>.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 23 d'abril <strong>de</strong> 1893.<br />
(Seguem as assignaturas )<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
O» partidos médicos<br />
Como se disse sempre, a creação dos<br />
partidos médicos que figurava' no programnia<br />
dos grau<strong>de</strong>s serviços da actual<br />
vereação, era para se pagar d'uma maneira<br />
indirecta aos influentes políticos,<br />
os benelicios prestados nas eleições camararias,<br />
porisso que só se queria na<br />
camara quem tivesse uma leiçào puramente<br />
governamental, ou pelo menos<br />
transigisse com a maioria.<br />
Começou-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a apontar os<br />
nomes dos bemaventurados e o publico<br />
foi conhecedor do que o gran<strong>de</strong> beneficio<br />
que se lhe queria prestar com a creação<br />
dos partidus médicos era completamente<br />
phanlaslico ; pois que as precarias circumstancias<br />
em que se encontrava o<br />
tbesouro municipal daria logar a novos<br />
encargos que o contribuinte leria <strong>de</strong><br />
satisfazer. E senão vejam: —paralysam-se<br />
as obras da canalisaçao das<br />
aguas, <strong>de</strong>miUe se o medico do Asylo<br />
dos Cegos por falta <strong>de</strong> recursos proprios,<br />
e teiuid-se em crear os partidos médicos<br />
com acréscimo gran<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>spezas!<br />
Bons financeiros e bons administradores<br />
não lia duvida.<br />
Pois não ha dinheiro para as obras<br />
mais indispensáveis, porisso que os encargos<br />
da camara sao agora gran<strong>de</strong>s;<br />
d'uma arvore <strong>de</strong> tronco polido on<strong>de</strong> aliava<br />
as garras, mergulhava o focinho e a<br />
língua numa corrente d'agua, Lendo o<br />
cuidado <strong>de</strong> não molhar o resto do corpo,<br />
e corria até se metter num macisso sombrio<br />
e muito proximo do bebedouro on<strong>de</strong><br />
as gazellas vem <strong>de</strong>salterar-se ao pôr do<br />
sol.<br />
«No dia seguinte, o leão combinava<br />
novas excursões na sua hora <strong>de</strong> calma<br />
reflexão e <strong>de</strong> iminobilid i<strong>de</strong>, e lançava se<br />
noutro caminho com outros planos, sem<br />
nunca dar o meuor sigual <strong>de</strong> hesitação.»<br />
Vamos seguir Talormi <strong>de</strong>pois da partida<br />
<strong>de</strong> Barboue, para melhor justilicarmos<br />
essa comparação zoologica.<br />
O moço diplomata, lioaudo só nem<br />
mudou <strong>de</strong> posição; o braço direito, estendia-se,<br />
abandonado, sobre a colcha<br />
<strong>de</strong> seda, 110 esquerdo, dobrado em angulo<br />
agudo sobre a plumagem da travesseira,<br />
apoiava o corpo—-a Taiorni só lhe faltava<br />
um capacete sobre a cabeça para se<br />
parecer com a obra prima <strong>de</strong> Miguel<br />
Angelo, il Pensiero da rotunda tumular<br />
dos Médicis.<br />
Um — vamos ! — imperativo subiu<br />
ao tecto do quarto, e Talormi saltou sobre<br />
o tapete, feito da pelle d'uin tigre, que,<br />
em vi.Ij, tantas vezes tinha feito as<br />
amesmas evoluções.<br />
San o atfVtíro li iiánhum creado <strong>de</strong><br />
quirtj, 1'JÍ uii toilelle euoaiiUJjra, copal<br />
1 pelo numero das Mo<strong>de</strong>s parisien-<br />
1 : 1 1 um ' •<br />
mercê da reformeca ultima; e não lia receio<br />
<strong>de</strong> se vir pedir augmento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas,<br />
quando se sabe que tudo isso é<br />
para satisfazer interesses <strong>de</strong> políticos e<br />
pagar serviços e.leitoraes !<br />
Bem hajam os quarenta maioros contribuintes<br />
que combateram lai medida,<br />
julgando-a inopportuna e até immoral e<br />
bem merece os nossos louvores a altitu<strong>de</strong><br />
energica que nesta questão tomou<br />
o sr. Oliveira Mattos, um dos maiores<br />
contribuintes d'este concelho.<br />
Yerenios agora se a camara insiste<br />
11a sua louca pretensão.<br />
Reclame á industria e commercio<br />
Será construído um elegante pavilhão,<br />
na próxima kermesst, promovida<br />
pela Associação Humanitaria dos Bombeiros<br />
Voluntários, o qual é <strong>de</strong>stinado á<br />
exposição <strong>de</strong> objectos das industrias manufactureira<br />
e fabril, <strong>de</strong> que fôr offerecido<br />
á mesma associação um exemplar,<br />
e bem assim quaesquer artigos <strong>de</strong> venda<br />
nos estabelecimentos <strong>de</strong> modas, e outros,<br />
cujos proprietários <strong>de</strong>sejem tornar conhecidos<br />
do publico para maior facilida<strong>de</strong> ao<br />
seu consumo.<br />
Os objectos acima indicados <strong>de</strong>vem<br />
ser acompanhados <strong>de</strong> etiqueta comprehen<strong>de</strong>n<strong>de</strong><br />
os nomes dos industriaes que<br />
os manufacturaram, das fabricas on<strong>de</strong><br />
oram construídos, e dos estabelecimentos<br />
commerciaes on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser procutados.<br />
Que a i<strong>de</strong>ia vingue e que os interessados<br />
aproveitem o ensejo que se lhe<br />
offerece para tornarem conhecidos os<br />
seus productos.<br />
O sr. Gonçalves Fino, presi<strong>de</strong>nte da<br />
referida associação, prestara lodos os esclarecimentos<br />
que lhe forem pedidos.<br />
Con<strong>de</strong> do Ameal<br />
Dizem que o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
vae ser agraciado com este titulo nobviarchico.<br />
E <strong>de</strong>ve ser; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> q"ue s, ex. a<br />
se entregou <strong>de</strong> corpo e alma a politica<br />
monarchica e a serve com tanto ardor e<br />
<strong>de</strong>dicação bom é que o nome—Ayres<br />
<strong>de</strong> Campos — <strong>de</strong>sappareça. E' nome Honrado<br />
<strong>de</strong> mais para andar a conspurear-se<br />
pela politica.<br />
Commissão <strong>de</strong> estatística<br />
Foi nomeada esta commissão districlal<br />
licando assim composta :<br />
Vogais: João Autouio da Cunha, bacharel<br />
Augusto Eduardo Ferreira Barbosa,<br />
Antonio Bodrigues Pinto e João<br />
Teixeira Soares <strong>de</strong> Brito; secretario:<br />
bacharel Arthur Eduardo Manso Preto.<br />
João dos Santos laicas •<br />
Esta inteligente creança, filho do<br />
nosso amigo sr.' Francisco dos Siiutos<br />
Lucas fez ua segunda feira exame <strong>de</strong><br />
instrucção pi imana, obtendo plena approvaçao.<br />
A' família do examinando euviamos<br />
as nossas felicitações.<br />
Inspecção dos re«ervistas<br />
Está marcado para o dia 20 do corrente<br />
a revista dlnspecçâo dos reservistas<br />
na Louzã.<br />
nes; <strong>de</strong>pois limou as unhas e calçou um<br />
par <strong>de</strong> luvas cuidadosamente abotoadas.<br />
Collocado enlre dois espelhos sinceros,<br />
examinou se minuciosamente e dirigiu<br />
a si proprio um sorriso satisfeito,<br />
que radiou entre os seus graves bigo<strong>de</strong>s<br />
negros como um raio <strong>de</strong> sol na encruzilhada<br />
d'uma floresta.<br />
E trauteando até á porta da rua a<br />
aria da Lucrécia Borgia — Profitiamo<br />
<strong>de</strong>gli anni jiorenti—encamíuhou-se para<br />
a Bolsa péla estreita rua <strong>de</strong> San-Luca.<br />
Passeou no vasto pórtico on<strong>de</strong> se<br />
tratam os negocios commerciaes e financeiros,<br />
e viu-se abordado pelos novelleiros<br />
frívolos, pelos conselheiros <strong>de</strong><br />
más operações e pelos coimopolitas actores<br />
dos bastidores do theatro europeu<br />
da Bolsa<br />
lia em todas as cida<strong>de</strong>s commerciaes<br />
o mesmo homem—um insinuante e<br />
alegre chronisu que sabe tudo, que é<br />
admittido em todas as couli<strong>de</strong>neias e as<br />
reproduz sem indiscripçao; que trabalha<br />
para se distrahir e se distrahe sempre<br />
para não trabalhar; que conhece os estrangeiros<br />
antes <strong>de</strong> os ter visto, e lhes<br />
dá apertos <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> amigo velho.<br />
Este homem feliz, em Londres, chama-se<br />
Scharpe; em Liverpool, Samt-<br />
Aubui; era Leão, Cheneaux; em Bordéus,<br />
Rodrigues ; em Nantes, Audoy;<br />
110 Havre, Grandin; em Toulon, Moutte;<br />
em Paris, Gustavo Guieu; era Trieste,<br />
No mez <strong>de</strong> maio far-se-hão: em Miranda<br />
do Corvo, no dia 7; no dia 11<br />
em Penella; no dia 14 em Con<strong>de</strong>ixa no<br />
dia 21 Anadia ; e no dia 28 na Mealhada.<br />
Ao sr. ISerttai-do c arvalho<br />
Inhibe-nos a falta do espaço <strong>de</strong> nos<br />
referirmos hoje á carta que este senhor<br />
novamente nos envia. Será no proximo<br />
uumero.<br />
f<br />
Agricultura<br />
Ha muitos annos que os nossos campos<br />
não apresentam um aspecto tão<br />
promettedor como este anno. Os lavradores<br />
estão por este motivo muito satisfeito<br />
e esperam ter uma colheita formidável<br />
se o tempo continuar a favorecel-os<br />
como até aqui.<br />
Companhia do Porto<br />
A companhia que tem trabalhado no<br />
theatro I). Luiz e que é dirigida pelo<br />
talentoso actor Taveira, saiu hontem para<br />
Santarém on<strong>de</strong> vae dar uma serie d'espectaeulos.<br />
Tenciona lambem ir a Vizeu e a<br />
Braga.<br />
CONVITE<br />
A Associação Humanitaria dos Bombeiros<br />
Voluntários <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, confia<br />
em que o seu pedido <strong>de</strong> prendas para a<br />
Kérmesse lia<strong>de</strong> ser tomado em consi<strong>de</strong>ração<br />
pelas gentis damas e cavalheiros a<br />
quem se dirigiu para esse fim; e lhes<br />
solicita a elevada fineza da entrega e<br />
remessa das mesmas prendas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
ja se recebem, ate ao dia 10 Jo proximo<br />
mez <strong>de</strong> maio.<br />
<strong>Coimbra</strong>, abril <strong>de</strong> 1893.<br />
O presi<strong>de</strong>nte,<br />
Augusto José Gonçalves Fino.<br />
: „<br />
ÍAGBÂDECIÍVÍEÍÍÍO<br />
A commissão orgauisadora dá lista<br />
para os corpos gerenies da Associação<br />
tios Altistas vem por este meio agra<strong>de</strong>cer<br />
a lodos os cavalheiros que fazem<br />
parte d,os novos corpos, a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za que<br />
tiveram para com a mesma em ce<strong>de</strong>rem<br />
ao seu convite, iivrando-a por esta forma<br />
do seu espiulioso encargo; assim como<br />
também agra<strong>de</strong>ce aos dignos e prestimosos<br />
socios que faziam parle dos corpos<br />
transactos, o auxilio'que lhe prestaram<br />
ua imcumlieucia <strong>de</strong> que a mesma Associaçao<br />
a encarregou, e pe<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sculpa<br />
a todos <strong>de</strong> qualquer falta que commettesse<br />
involuntariamente nos seus agra<strong>de</strong>cimentos.<br />
Egualmente agra<strong>de</strong>ce a briosa philarmonica<br />
Conimbricense o obsequio que<br />
llie prestou em ir, a seu pedido, locar<br />
á poria dos novos eleitos.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
A commissão,<br />
Antonio Ribeiro das Neves Machado •<br />
João Caetano da Pieda<strong>de</strong>.<br />
João dos Santos.<br />
João Henriques.<br />
Manoli; em Marselha, Guirard; eui Génova,<br />
Lòrenziuo. Sein este homem múltiplo,<br />
ueiiiiuiua cida<strong>de</strong> commercial seria<br />
habuavel um umeo dia. Da a vida a uma<br />
populaçao inteira. Depois da sua morte,<br />
o seu successor é nomeado por um suffragio<br />
verda<strong>de</strong>iramente universal.<br />
Loreuzaio chegou-se a Talormi com<br />
as dua» tnaos fecundas em cumprimentos<br />
e um sorriso provocador; a perguuia banal<br />
que lhe loi leita — Que se du <strong>de</strong> novo?<br />
— respon<strong>de</strong>u com uma avalanche <strong>de</strong><br />
noticias »o.bre a cotaçao dos fuudos inglezes<br />
e fVancezes, sobre politica, ttieatro,<br />
dançarinas, sermões, avarias no mar,<br />
as ostras <strong>de</strong> Nápoles, os almoços ein<br />
San-Pietro d'Arena, os quauros comprados<br />
pelo cônsul d Inglaterra, a opera da<br />
época, o tenor applauuido, os exceliemes<br />
paquetes da compauiiia Ua2.u1 ; e, <strong>de</strong>pois<br />
d esta euuyclu|jeiiiu, cruzou os braços,<br />
sacudiu a cabeça com uma tristeza irónica<br />
e ajuntou :<br />
— Mas tudo isto não é nada, absolutamente<br />
nada, ao pé da gran<strong>de</strong> historia<br />
d'hontem...<br />
I m<br />
p r e s s o n a T y p o g x - a p h l n<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.®<br />
14, proximo á rua dos S&piUiiros,—<br />
COIMBRA.
A\X« I—N.° 81 O D E F E N S O R DO P O V O 2® <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha<br />
Repetições .<br />
80 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
LYCEU CENTRAL DE COIMBRA<br />
EDITAL<br />
EXAMES DE INSTRUCÇÃO<br />
SEGUNDARIA<br />
112 P<br />
eis» reitoria d'este Lyceu se faz<br />
saber que:<br />
Os alumnos extranhos, que, na próxima<br />
epocha, preten<strong>de</strong>rem fazer exame,<br />
<strong>de</strong>vem apresentar os seus requerimentos,<br />
assignados e <strong>de</strong>vidamente reconhecidos,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> hoje até ás 4 horas da tar<strong>de</strong> do<br />
dia 10 do próximo mez <strong>de</strong> maio, <strong>de</strong>signando<br />
nelle nome, filiação e naturalida<strong>de</strong><br />
(freguezia e concelho).<br />
Este praso é imprarogavel.<br />
- : ^ ^ " l " l v ; ^ ^ A^<br />
Os alumnos só po<strong>de</strong>m ser admitlidos<br />
a exames neste Lyceu, quando houverem<br />
feito os seus estudos nesta cida<strong>de</strong> ou no<br />
districto <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, pelo menos durante<br />
os últimos quatro mezes.<br />
****<br />
Os requerimentos serão acompanhados<br />
dçs seguintes documentos:<br />
o) — Certidão pela qual prove ter 10<br />
annos completos;<br />
b) — Certidão líe approvação no<br />
exame <strong>de</strong> admissão aos Lyceus (actualmente<br />
exame <strong>de</strong> instrucção primaria).<br />
Estás duas certidões po<strong>de</strong>m ser substituídas-<br />
pela certidão <strong>de</strong> approvação<br />
em qualquer disciplina <strong>de</strong> instrucção<br />
secundaria.<br />
c) — Estampilhas do valor das respectivas<br />
propinas, colladas no» requerimentos<br />
e <strong>de</strong>vidamente inutilisadas.<br />
d)— Documento legal e reconhecido<br />
por tabellião, pelo qual se prove que os<br />
alumnos estão nas condições do n." 2.°<br />
v* \ • 53<br />
Po<strong>de</strong> requerer-se a admissão a exame<br />
<strong>de</strong> qualquer disciplina sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />
d.e out.ras; excepto o exame <strong>de</strong> parte ou<br />
anno subsequente <strong>de</strong> uma disciplina, sem<br />
provar ter sido approvado na parte ou<br />
anno antece<strong>de</strong>nte da mesma disciplina.<br />
Para isto consi<strong>de</strong>ra-se a geographia<br />
como a l. 1 parle <strong>de</strong> historia e a lingua<br />
portugueza como l. a parte <strong>de</strong> litteratura.<br />
5.°<br />
Po<strong>de</strong> requerer-se um só exame completo<br />
<strong>de</strong> uma disciplina, ainda que o seu<br />
ensino esteja dividido por differentes<br />
annos do curso, com tanto que paguem<br />
todas as propinas, que pagariam pelos<br />
exames feitos por annos.<br />
'' ." 6,° v ;<br />
A importancia das estampilhas é a<br />
seguinte.<br />
Por cada anno do curso — 4$78B<br />
réis — Por exame <strong>de</strong> cada disciplina —-<br />
3)3>190 réis — Pelo mesmo acto no caso<br />
do artigo 11.° do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro<br />
<strong>de</strong> 1888 —1#595 — Pela admissão<br />
a exame singular <strong>de</strong> cada disciplina ou<br />
parte <strong>de</strong> disciplina — 2$660 réis.<br />
De emolumentos pagam os alumnos<br />
300 réis pelo termo <strong>de</strong> matricula, que<br />
será feito por cada uma das disciplinas<br />
<strong>de</strong> cada anno do curso (Port. <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 1891 e artigo 10.° do <strong>de</strong>creto<br />
<strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1888).<br />
Secretaria do Lyceu Central <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
José Joaquim Manso Preto, secretario.<br />
piano com pouco<br />
uso, e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>.<br />
Quem o perten<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> vel-o a toda a<br />
hora na rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz n.° 59.<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimentada lia mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacios.<br />
Deposito geral" — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C. a<br />
N. R. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
I I T O R M Di P, J, CMIIIIMI<br />
14, Largo dlnnuaciada, 16—LISBOA -Rua <strong>de</strong> S. Bento, 420<br />
6<br />
CORRESPONDENTE EM COIMBRÃ<br />
mm josé se moura basto—m aos sapateiros, se a ::<br />
OFFICINA A VAPOR NA RIBEIRA DO PAPEL<br />
EiTAKPARIA MBCHAIWCA<br />
Tinge lã, sêda, linho e algodão em fio ou em tecidos, bem como fato<br />
feito ou <strong>de</strong>smanchado. Limpa pelo processo parisiense: fato <strong>de</strong> ho-<br />
mem, vestidos <strong>de</strong> senhora, <strong>de</strong> sêda, <strong>de</strong> lã, etc., sem serem <strong>de</strong>smanchados. Os artigos<br />
<strong>de</strong> lã, limpos por este processo não estão sujeitos a serem <strong>de</strong>pois atacados<br />
pela traça. Estamparia em sêda e lã.<br />
Tintas p a r a escrever <strong>de</strong> diversas qualida<strong>de</strong>s, rivalisando com as<br />
dos fabricantes inglezes, allemães e francezes. Preços inferiores.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADKO BE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIMBRA<br />
ARMAZÉM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
2<br />
e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para revertdèr.<br />
Completo sortido'<strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas<br />
<strong>de</strong> failie, moiré, giacé. e setim, em todas as côres e larguras. Eças dou •<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continúa a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />
m m mm hbsípes e mmm<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
Kl. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL Drogaria Areosa —, COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA: — Serze<strong>de</strong>llo fl" Comp.' — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Pastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Comhro 48.<br />
(OFFICINA)<br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 ncarrega-se da pintura <strong>de</strong> taholetas, casas, doura-<br />
M ções <strong>de</strong> egrejas; forrar casas a papei, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Ma inesma ofílcina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, l.J<br />
[J<br />
A LA YILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
U"- D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
CASA FILIAL EH LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
. JOiO BOOBIBOIS mU, SUCCBSSOB<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
Dg E M ' T U I<br />
FUNDADA EM 1877<br />
i CAPITAL<br />
R É U 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° ll-l,°<br />
ESTAÇÃO DA MODA<br />
DDMINBOS "JOSÉ mU<br />
SUCCESSOR DE CALDAS DA CUNHA<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar a esta casa o se-<br />
guinte r<br />
Chapéus capotes e redondos para<br />
senhora.<br />
Chapéus para creança.<br />
Boinas o que ha <strong>de</strong> mais chic.<br />
VoHes em diflferentes côres.<br />
Fazendas para vestidos.<br />
Capas romeiras o que ha <strong>de</strong> mais<br />
novida<strong>de</strong>.<br />
Camisas <strong>de</strong> exford etc., etc.<br />
Lindíssimos cortes <strong>de</strong> vestido em<br />
escocer a 4$000 réis.<br />
Enviam-se amostras a quem as pedir.<br />
111 — R. <strong>de</strong> Ferreira Borges — 113<br />
1<br />
COIHBRA<br />
en<strong>de</strong>-se uma quinta com paúl<br />
111 V para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 183, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
105<br />
i U v i i i u ií<br />
MARCA «ANCORAS»<br />
en<strong>de</strong>-se<br />
<strong>de</strong><br />
no estabelecimento<br />
JULIO DA CVWHA PINTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
,,„ jk «igualo NT unes das Sant<br />
k tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Sanlos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
ROA DIREITA, 18 —COIMBRA<br />
i^ree 1 *»-** d'ura para loja <strong>de</strong><br />
II retrozeiro e miu<strong>de</strong>zas. Prefere-se<br />
com alguma pratica.<br />
RUA FERREIRA BORGES, 147<br />
LOJA DO CEPO<br />
QUADIUNTS<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para 1893.<br />
Rase longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
J0SMUI2 umi DE ASAUJO<br />
71<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Qundrant»<br />
Vendas pelo preço da Fabrica.<br />
Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocipeles e bicycietas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
gg ^mpregta-ge dinheiro sobre<br />
objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G — COIMBRA.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, i.®<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNÂTUM<br />
Com estampilha<br />
Anno<br />
Semestre.... i$350<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 21400<br />
Semestre.... 1J200<br />
Trimestre... 600
ueiensor<br />
OT " ^ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 N.° 82<br />
Jn pnvn<br />
ÁmanM<br />
On<strong>de</strong> quer que os principias<br />
socialistas teem já vasado as suas<br />
formulas doutrinarias, agita-se ámanhã,<br />
1.° <strong>de</strong> maio, uma faina jubilosa,<br />
que consigna symbolicamente,<br />
um protesto <strong>de</strong> reivindicações.<br />
De encontro á velha rocha conservanlisla<br />
que se ergue, pavorosa,<br />
no meio termo equidistante <strong>de</strong><br />
dois poios, o Passado e o Futuro,<br />
<strong>de</strong>sperta, sobranceiro, o quarto estado,<br />
sereno nas suas opiniões politicas,<br />
mais intractavel nas suas<br />
aspirações economicas, que contrabalança,<br />
em dissertações <strong>de</strong> historia<br />
pratica, as responsabilida<strong>de</strong>s consequentes<br />
do actual estado politicoeconomico<br />
das socieda<strong>de</strong>s.<br />
' Tal estado tem muito <strong>de</strong> grave<br />
e <strong>de</strong> funesto. As classes conservadoras<br />
que symbolisaram ostensivamente,<br />
por uma admiravel diffnsão<br />
alavica, o enrichessez-vous <strong>de</strong> Guizot,<br />
talhado a foice como theoria<br />
d'uma escola sem princípios, teem<br />
contribuído ob ecadamenle para<br />
uma conflagração <strong>de</strong> classes e <strong>de</strong><br />
raças, cujas resultantes não fácil se<br />
po<strong>de</strong>m prescrever.<br />
Affaslando syslemâlicamente <strong>de</strong><br />
factores da politica do Estado as<br />
classes proletarias, os partidos da<br />
contra-revolução lêem, só por esse<br />
facto, conturbado a paz social, e<br />
emprehendido, posto que insensivelmente,<br />
a própria dissolução.<br />
Intuitivamente se conclue, apontando<br />
a <strong>de</strong>do argumentos ^xperimenlaes,<br />
que são inefficazes e contraproducentes<br />
os expedientes <strong>de</strong><br />
que se lance mão para extirpar<br />
quaesquer seitas politicas ou religiosas<br />
que, ao nascerem, tragam<br />
esculpido o cunho popular. E as<br />
classes conservadoras que lêem sido<br />
por essa historia fóra os suppliciadores<br />
da massa plebêa, não só teem<br />
concitado conlra ellas umodio concentrado<br />
e viril, mas teem, o que<br />
lhes será mais doloroso, accelerado<br />
o terminus do seu predomínio.<br />
Áquem da Revolução Franceza<br />
tem-se transigido levemente, com o<br />
proletariado, em diversos capilulos<br />
<strong>de</strong> Direitos. Essas transigências,<br />
porém, sem compridas esmiuça lhas<br />
<strong>de</strong> provas históricas, evi<strong>de</strong>nciam-se<br />
fundamentalmente cavilosas e sem<br />
outros intuitos que o <strong>de</strong> apoucar,<br />
illudindo, as legitimas aspirações<br />
do povo.<br />
As constituições ditas liberaes,<br />
argamassadas <strong>de</strong> einpyrismo politico<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocralismo mascavado,<br />
cinco partes por uma, são uma salsada<br />
hybrida, sem consistência,<br />
on<strong>de</strong> o bom senso se choca a cada<br />
ponto. Tendo por fundo básico a<br />
theoria da Graça, os systemas representativos,<br />
estiolam-sepela carência<br />
<strong>de</strong> razão <strong>de</strong> ser e pelas condições<br />
<strong>de</strong> negativismo; praticamente comprovadas.<br />
Todavia, os prosaicos fazedores<br />
d'essas constituições, enamorados<br />
da opinião publica que começava a<br />
vegetar dos saguões, consignaram<br />
nos seus codigos alguns d'esses direitos<br />
que a sociologia contemporânea<br />
reclama instantemente. É vaga<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO V L V / X \ J V V ^<br />
essa consignação; é mesmo irrisória<br />
porque é um continuado <strong>de</strong> fiicções<br />
dissolventes com tenções lU<br />
lusorias: no emtanto alteslam o reconhecimento<br />
d'esses direitos que<br />
antigos escribas contestaram sem<br />
appello.<br />
Ora é para a consecução <strong>de</strong>finitiva<br />
d'esses direitos, até agora ler<br />
gislados pro fórma, que o proleta*<br />
riado <strong>de</strong> lodo o mundo levanta a<br />
cabeça, soiemnemente, na convic-<br />
- ção serena da sua justiça.<br />
E para compartir das agruras<br />
e dos benefícios do Estado, que a<br />
gleba reclama, para a pratica, um<br />
vasto tratado <strong>de</strong> reivindicações que<br />
quasi só teem povoado a mente<br />
dos seus conceplores.<br />
A festa <strong>de</strong> ámanhã, pela elevação<br />
que <strong>de</strong> uso reveste, pela alta<br />
significação que assegura na evolução<br />
do socialismo e pelo conspecto<br />
<strong>de</strong> disciplina e mobilisação <strong>de</strong><br />
forças, attrahe toda a nossa sympalhia<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratas, que vemos<br />
neste movimenlo um fundo <strong>de</strong> justiça<br />
incontroversa.<br />
m —-<br />
l.° <strong>de</strong> maio<br />
E m Lisboa — A assemblêa dos<br />
<strong>de</strong>legados á União 1.° <strong>de</strong> maio já reuniu<br />
sendo lido e approvado o manifesto que<br />
ha <strong>de</strong> ser distribuído e que é escripto<br />
pelo sr. Ernesto da Silva.<br />
A commissão que conferenciou com<br />
o srj João Franco, pedindo auctorisação<br />
para levar a effeito as manifestações projectadas<br />
<strong>de</strong>u conta do seguinte:<br />
Que o sr. ministro do reino consente<br />
em toda a execução do programma, excepto<br />
o cortejo civico que se vê obrigado<br />
a prohibir como medida preventiva, <strong>de</strong>clarando<br />
mais o sr. João Franco que o<br />
dia 1.° maio seria <strong>de</strong> feriado em todas<br />
as ofíicinas pertencentes ao estado.<br />
A assembleia em seguida votou uma<br />
moção <strong>de</strong> protesto pela prohibição do<br />
cortejo, resolvendo convidar todos os<br />
operários a comparecerem ámanhã, 1.°<br />
<strong>de</strong> maio, pelas 10 horas da manhã, no<br />
cemiterio dos Prazeres, afim <strong>de</strong> tomarem<br />
parte na manifestação ao tumulo <strong>de</strong> José<br />
Fontana e á 1 hora da tar<strong>de</strong> no comício.<br />
* Alguns Operários da Socieda<strong>de</strong><br />
Fraternal 1.® <strong>de</strong> maio, projectam solemnisar<br />
este dia com um banquete a que<br />
presidirá um anligo socialista.<br />
No Porto — Sob a presi<strong>de</strong>ncia do<br />
sr. Torquato Ricardo Oliveira, reuniu a<br />
Fe<strong>de</strong>ração das Associações. Leu-se tini<br />
officio da Associação dos Manipuladores<br />
<strong>de</strong> Tabaco, nomeando os <strong>de</strong>legados á<br />
Fe<strong>de</strong>ração,<br />
Resolveu-se que a manifestação do<br />
1.° <strong>de</strong> maio se limitasse apenas ao comício<br />
e á publicação <strong>de</strong> um manifesto<br />
que foi lido e approvado, o qual será<br />
distribuído a todos os operários.<br />
Deliberaram também pedir aos industriaes<br />
e ás camaras do Porto e Gaya,<br />
para darem feriado a todos os operários<br />
nesse dia.<br />
* Os operários chapelleiros resolveram<br />
convocar um comício geral para<br />
apresentarem a tabella <strong>de</strong> preços da<br />
mão d'obra e regulamento interino <strong>de</strong><br />
fabrico.<br />
# Os operários tecelões publicarão<br />
um manifesto no dia l.°<strong>de</strong> maio, <strong>de</strong>clarando<br />
a greve geral.<br />
# Deve realisar-se uma sessão solemne<br />
commemorativa ao 1.° <strong>de</strong> maio,<br />
promovida pela propaganda socialista.<br />
E m Setúbal — Foi convidada a<br />
dislincta poetisa D. Angelina Vidal, pela<br />
commissão organisadora das manifestações<br />
do 1.° <strong>de</strong> maio, a encorporar-se<br />
nos festejos que alli se <strong>de</strong>verão organisar.<br />
*<br />
Os srs. Agostinho da Silva e Luiz<br />
<strong>de</strong> Figueiredo partiram para o Algarve em<br />
missão <strong>de</strong> propaganda socialista.<br />
Notas impressionistas<br />
vn<br />
Pelos sonho»<br />
Sobre a taboa marmórea do antro<br />
estirava-se, mal composto, um cadaver<br />
congelado, servindo <strong>de</strong> pasto á anthropophagia<br />
esculapina. As pernas e os braço»,<br />
encurvados, <strong>de</strong>ssymetricos, pendiam<br />
ao <strong>de</strong> fóra da taboa, num abandono cynico.<br />
A cabeça, que a taboa não comportava,<br />
obliqunavá-se, atraz, muito atrozmente,<br />
memorando um supplicio tantalico.<br />
Nesta postura hórrida, torturante, as<br />
palpebras dilatavam-se <strong>de</strong>scommumente<br />
e observava-se no seu olhar vitreo<br />
um lie característico <strong>de</strong> sonâmbulo. A<br />
immobilida<strong>de</strong> da retina dava ao morto a<br />
solemnida<strong>de</strong> espectral d'um doido congestionado.<br />
Da bôcca em oval respigava<br />
uma placa <strong>de</strong> carne alvacenta. Era a língua.<br />
Naquelle <strong>de</strong>sprendimento glacido adivinhava-se<br />
um labyrinlho <strong>de</strong> conjecturas<br />
impressionantes.<br />
Quem foi? Um doido? Um santo?<br />
Um criminoso? Um justo?<br />
-r-Um justo, sim, bradou Alguém do<br />
escuro. Está alli, naquelle proximo esquelecto,<br />
a envergadura severa d'um justo.<br />
Viveu. Luctou. Foi gran<strong>de</strong> na sua<br />
mediocrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenle. Foi strenuo na<br />
sua grandiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luclador. Assimilou,<br />
pelos seus arrojos, a legitimida<strong>de</strong> dos<br />
heroes. Sempre no suppedaneo da virtu<strong>de</strong>,<br />
foi casto e penitente. Tressuou benemerencia.<br />
Odiava a humanida<strong>de</strong> na<br />
sua inconsistência, engolphada <strong>de</strong> pus.<br />
Blaspbemava contra os <strong>de</strong>uses por odiarem<br />
a arithmetica. Na sua alma vibravam<br />
relanipagos <strong>de</strong> génio. D'um cerebro<br />
bem formado, era d'uma luci<strong>de</strong>z ultra.<br />
Era também meigo. Como o Christo,<br />
amava as creancinhas. Na sua alma<br />
amo<strong>de</strong>lavam-se o rugido do leão e o vagido<br />
da creança. Ora revoluteava como<br />
o cachão, ora <strong>de</strong>slisava, vago e setineo,<br />
como o arroio. No emtanto a sua mine<br />
horrorisava. Era d'uma fealda<strong>de</strong> lypica.<br />
Quasi Gwinplaine...—<br />
E porque alli?<br />
— Vivia entre os barbaros que não<br />
lhe attingiam as suas philosophias. Odiavam-n'o<br />
uns. Riam-so outros <strong>de</strong>lle. Se<br />
daquelles lábios puros jorrava alguma<br />
sentença, gargalhava-se alvarmenle. Mofava-se<br />
das suas palavras methodicas, ias<br />
suas concepções altivolas. A gaiatada<br />
cynica da cida<strong>de</strong> inquinava-o <strong>de</strong> epithetos<br />
ignóbeis. O seu papel era <strong>de</strong> clown<br />
ètútiib esb íivno oatnsiMa]<br />
A tudo isto, o justo replicava com<br />
um sprriso <strong>de</strong>sprendido. Por egual, elle<br />
<strong>de</strong>spresava, na serenida<strong>de</strong> épica da sua<br />
tolerancia, os Iregeitos suggestivos dos<br />
que lhe malqueriam. Todavia, a enristação<br />
estável dos conviventes, apoucou-lhe<br />
as forças, asselteou-o, feriu o. O<br />
ultimo periodo da exislencia foi-lbe atroz.<br />
Morreu pobre—eis por que está alli...—<br />
Escuta-me, oh pobre cadaver d'um<br />
justo. A lua i.mmoj>ilida<strong>de</strong> compunge-me;<br />
a lua geli<strong>de</strong>z apavorara-me — a mim,<br />
pobre sonhador que te contemplo I Eu<br />
amaria po<strong>de</strong>r-te insuflar nesses ouvidos<br />
embotados uma lilintação estridulosa :<br />
foste, um justo I<br />
Eu queria que tu, pobre heroe sem<br />
Plutarcho, ouvisses este echo magnanimo<br />
que irrompe, insustido, d'uma cratera<br />
<strong>de</strong> sonhos : tu foste um justo I Porque<br />
tu não ten3 historia, ali miserável, eu<br />
queria enramar-te a fronte com a consagração<br />
suprema <strong>de</strong>—-JustoI<br />
Abril, 2S.<br />
Gri-gri.<br />
Arte <strong>de</strong> governar<br />
Consta que os gabinetes <strong>de</strong> Londres<br />
e Paris renovaram agora as suas reclamações<br />
junlo do nosso governo sobre as<br />
ostreiras do Tejo, que ha tempos foram<br />
concedidas 90 sr. Barbosa du Bocage,<br />
e pelo concessionário transferidas a um<br />
syndicato francez.<br />
Esta questão aclia-se pen<strong>de</strong>nte ha<br />
alguns annos, e a proposito d'ella têem<br />
sido trocadas muitas notas entre Portugal,<br />
França e Inglaterra, como se vê<br />
<strong>de</strong> um dos últimos Livros Brancos distribuídos<br />
no parlamento.<br />
O que se está dando com esta negociata<br />
que ha <strong>de</strong> vir a prejudicar os<br />
cofres do Estado, mercê <strong>de</strong> antigos governos,<br />
que encheram as algibeiras do<br />
sr. Barbosa du Bocage, já se <strong>de</strong>u com<br />
outros; por exemplo, o caso <strong>de</strong> Mac-Murdo,<br />
a quem o thesouro teve <strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnisar, e<br />
<strong>de</strong> cujo inglez o sr. Pinheiro Chagas<br />
recebeu bons auxílios.<br />
O Quelimane-Chire, a nova e iramoral<br />
concessão, que o governo actual<br />
vae legalisar, virá ao mesmo pé, <strong>de</strong>pois<br />
dos concessionários fazerem o seu negocio<br />
com o inglez Cameron, e quando<br />
este insultador <strong>de</strong> Portugal se julgar<br />
senhor e possuidor d'um caminho <strong>de</strong><br />
ferro que só a inglezes vae servir.<br />
E é assim que proce<strong>de</strong> um governo<br />
<strong>de</strong>nominado — salvador! E' infame, realmente<br />
I<br />
De regresso<br />
Os <strong>de</strong>gredados políticos que se achavam<br />
em Catumbella, José Silvério, que<br />
alli estava exercendo o logar <strong>de</strong> chefe<br />
da estação do caminho <strong>de</strong> ferro, e Eduardo<br />
Augusto Fortuna, amanuense das<br />
obras publicas, e que foram amnistiados<br />
em junho do anno passado, já seguiram<br />
viagem no Vapor Ambaia.<br />
Cabo Salomé<br />
No proximo dia 1 <strong>de</strong> maio serão<br />
julgados em Lisboa, o ex-cabo Salomé e<br />
oito indivíduos que com elle foram presos<br />
na noite em que se dirigia para o comboio<br />
em que tencionava seguir para o<br />
Porto.<br />
Mas ninguém sabe quando será o<br />
julgamento dos ladrões da junta do Porto,<br />
da recebedoria d'Evora, doi bincos Lusitano<br />
e do Povo.<br />
Saivé moralida<strong>de</strong> 1<br />
Vergonha <strong>de</strong>... conselheiro<br />
Aflirmam que o sr. José Dias Ferreira<br />
é quem dirigirá nas camaras a opposição<br />
ao actual gabinete.<br />
Cabe aqui perguntar que auctorida<strong>de</strong><br />
moral tem este homem para se collocar<br />
á frente d'uma opposição séria?<br />
Elle que governou, commettendo as<br />
maiores illegalida<strong>de</strong>s e abusos, chegando<br />
á pratica <strong>de</strong> crimes, pô<strong>de</strong> lá ser acatado<br />
pelo paiz que o conhece por <strong>de</strong>ntro<br />
e por fóra ? !<br />
Perdoe-nos o sr. Zé Dias —que não<br />
nos lembravainos que os seus adversários<br />
são do mesmo estofo.<br />
Fugindo á fome<br />
Idos do norte chegaram a Lisboa perto<br />
<strong>de</strong> mil emigrantes cora <strong>de</strong>stino ao<br />
Brazil.<br />
Isto bem prova a felicida<strong>de</strong> d'este<br />
povo e a riqueza do paiz.<br />
Que no po<strong>de</strong>r lá estão sete salvadores,<br />
como sete e$treHa$.<br />
Sem olfensa — ás estrellas !<br />
E viva a folia E<br />
Uma folha alemtejana dá conta que<br />
em maio proximo sua magesla<strong>de</strong> a rainha,<br />
sr. a D. Amélia, visitará a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Beja.<br />
Quem não tem que fazer — faz viagens<br />
1<br />
Que nós cá eslamos <strong>de</strong> bolsa reclieiada—-a<br />
bolsa e o resto I<br />
L B T T R A S<br />
Contos <strong>de</strong> crystal<br />
(A MEUS FILHOS)<br />
Hugo escuta com toda a gravida<strong>de</strong><br />
a narração <strong>de</strong> um caso asombrosp, que<br />
lhe faz abrir muito os lindos e luminosos<br />
olhos escuros e fulgurantes como<br />
lagrimas <strong>de</strong> crystal suspepsps do sol<br />
<strong>de</strong> abril.<br />
Eis o caso: o Joãosito da quinta dos<br />
pinheiros contava que todas $s noites<br />
fazia farta colheita <strong>de</strong> pyrilampos para<br />
os escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />
malga <strong>de</strong> louça coimbrã presente da madrinha,<br />
em dia <strong>de</strong> annos.<br />
— Ora essa 1 Então para que serve<br />
isso? Perguntou muito curiosa a irmãsita<br />
<strong>de</strong> Hugo.<br />
— E' que os bichinhos tornam-se<br />
em dinheiro, e cada um apparece feito<br />
em cinco réis; mas ba<strong>de</strong> a gente ir<br />
muito cedinho vêr <strong>de</strong>baixo da malga,<br />
se não elles fogem e uão fica lá nem<br />
nada I<br />
— Ora I Isso é pêta I Disse rindo a<br />
pequenila Beatriz.<br />
— Qual pêta! Pergunte á minha<br />
mãe verá se eu não acho lá os cinco<br />
réis!<br />
Hugo reflectia, muito concentrado, e<br />
tal era a absorpção do seu espirijto que<br />
ficara com a colher suspensa a meio caminho<br />
da hocca e uma sopinha <strong>de</strong> leite<br />
a alvejar-lhe entre os <strong>de</strong>ntinhos entreabertos.<br />
Arraucou-o d'aquella meditação a<br />
irmãsita que o convidava a brincar po<br />
jardim, porque a mamã linha dado licença.<br />
Hugo correu e saltou alegremente,<br />
mas quando em quando ficava muito<br />
sério a olhar para as trepa<strong>de</strong>iras q^e<br />
subiam elegantemente ao longo dos muros,<br />
sacudindo ao sol as radiantes flores,<br />
pequenas urnas repleclas <strong>de</strong> perfumes<br />
suavíssimos.<br />
Afinai chegou a hora do jantar.<br />
O pequenito senlou-se na sua ca<strong>de</strong>irinha,<br />
throno das suas glorias e perric^s,<br />
e ficou direito, grave e aprumado como<br />
um diplomata que tem ante si os <strong>de</strong>stinos<br />
<strong>de</strong> uma nação.<br />
A mamã que o observava com aquelle<br />
caridoso enlevo que só o coração das<br />
mães encerra, perguntou-lhe se estava<br />
doentinho. Hugo respon<strong>de</strong>u negativamente<br />
e poz-se a bater com a sua colhersita<br />
no copo <strong>de</strong> vinho que linha dianle<br />
do prato. O sol estendia-se indolentemente<br />
ao longo da toalha, branca como<br />
a neve dos Alpes; <strong>de</strong>pois foi trepando<br />
pelo copo, e mergulhando no transparente<br />
licor entrou a semear scintillações<br />
naquells superfície Irémula, que fascinava<br />
o pequenito pensador. A creança metteu<br />
cautellosaineule a colher 110 viului, e<br />
ievantando-a cheia do rahicundo liquido<br />
<strong>de</strong>ixava-o caliir gota a gota, seguindo<br />
curiosamente a quéda do microscopio<br />
Niagára por entre os lios luminosos<br />
do sol avermelhado, que se engolphava<br />
num horisonte límpido como os seus<br />
olhos infantis.<br />
— Tu estás doentinho meu fillw? O<br />
que é que te doe?<br />
— Nada, mamãsinha.<br />
E como o sol lhe fez a <strong>de</strong>sfeita <strong>de</strong><br />
retirar-se, o pequenito pôz-se a comer<br />
com um appelile maravilhoso.<br />
A mamã sorriu-se; do seu Dello rosto<br />
<strong>de</strong>sappareceu a sombra <strong>de</strong> cuidados que<br />
ha pouco alli passara, qual nuvem <strong>de</strong><br />
ignotas amarguras.<br />
A' noite o pequenito uão quiz <strong>de</strong>ilarse.<br />
Estava calor muito calor; as janellas<br />
abertas sobre o jardim franqueavam o<br />
interior das salas á invasão dos <strong>de</strong>licados<br />
aromas que subiam dos cálices das florep,<br />
quaes dulcidas aspirações <strong>de</strong> espíritos<br />
infantis.<br />
O pequeno quiz senlar-pe á varandfi.<br />
Era uma noite <strong>de</strong>liciosa, noite <strong>de</strong> lua<br />
cheia, <strong>de</strong>sfazendo sobre o hemispherio<br />
o seu ramiihete <strong>de</strong> brancas radiações.<br />
Grasnavam melancolicamente as rans, e<br />
a aragem trazia uns echos vagos, in<strong>de</strong>cisos,<br />
<strong>de</strong> mysteriosos cantares.
A.WO I — 8 8 O DEFEKSOR DO POVO 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893<br />
— Não tens hoje ?omno, Hugo?<br />
— Não, minha mamã.<br />
A Beatriz <strong>de</strong>sceu com a creada ao<br />
jardim; iam colher rozas para as jarras<br />
da mamã. O pequeno cheio <strong>de</strong> alegria<br />
<strong>de</strong>itou a correr tanihem.<br />
— Cuidado com as ereanças! Bradou<br />
a mamã á creada<br />
O pequenito agarroii-se ao vestidilo<br />
da írmã e ficou muito quieto, coisa aliás<br />
raríssima naquelle adoravel traquina.<br />
De repente <strong>de</strong>itou a correr por entre<br />
os renques <strong>de</strong> rozeiras, e ora curvado o<br />
pequenino vulto, ora pondo-se em bico<br />
dos pés parecia espreitar o quer que<br />
fosse.<br />
Era um pyrilampo que saltitava ca<br />
prichosamente, como estrella perdida entre<br />
a folhagem ver<strong>de</strong>jante, e que em<br />
vão tentasse volver ao ethereo ninho.<br />
O pequenito esten<strong>de</strong>u a mãosinha,<br />
porém não logrou colher a cuhiçada preza<br />
e zangou-se. Os anneis doirados dos<br />
seus cabellitos pren<strong>de</strong>ram-se então aos<br />
espinhos <strong>de</strong> uma rosa chá ; mas elle não<br />
chorou com receio <strong>de</strong> espantar o luminoso<br />
insecto, que, muito tranquillo repousava<br />
sobre as pétalas <strong>de</strong>licadas <strong>de</strong> um botão<br />
<strong>de</strong> rosa semi-aberto á viração da noite.<br />
Como aguarda avançada que espreita<br />
os movimentos do inimigo, a creança segue<br />
cada pulsação <strong>de</strong> luz <strong>de</strong>sperendida<br />
d'aquelle pequeno thesouro, cuja poáse<br />
lhe fazia supportar em silencio heroico<br />
as dôres produzidas pelos espiuhos da<br />
flor, vingadora da <strong>de</strong>scuidosa victima.<br />
Esten<strong>de</strong>u então o braço, ah I que<br />
momento <strong>de</strong> inrerteza, <strong>de</strong> cubiça, <strong>de</strong> ancieda<strong>de</strong><br />
! Napoleão em vesperas da batalha<br />
<strong>de</strong> Waterloo, Cesar e Alexandre antes<br />
dos indomitos Iriumphos assombro ás<br />
gerações, não tiveram mais anciosos instantes.<br />
Mais um esforço, mais um esforço,<br />
e. ... agora que elle não se move. . ..<br />
vá!<br />
Mas, oh 1 <strong>de</strong>cepção suprema ! o ponto<br />
luminoso apaga-se como por encanto,<br />
e o misero insecto ludibria assim a impotência<br />
do calculo humano !<br />
O pequeno fica abatido, com as lagrimas<br />
suspensas dos longos cilios côr<br />
<strong>de</strong> oiro, e o coracãosito comprimido num<br />
<strong>de</strong>sgosto que comprehendia a <strong>de</strong>scrença<br />
<strong>de</strong> si mesmo.<br />
De súbito reapparece a luz entre a<br />
folhagem; Hugo avança, esten<strong>de</strong> o corpo<br />
flexível e apo<strong>de</strong>ra-se da presa. Seccam-se-lhe<br />
as goltas <strong>de</strong> pranto, rena»celhe<br />
a confiança nas próprias forças, e<br />
<strong>de</strong>ita a correr gritando na expansão da<br />
sua victoria, como um clarim pregoeiro<br />
da formidanda victoria.<br />
Contou então á irmãsita o que vinha<br />
<strong>de</strong> passar-se e ambos riram e festejaram<br />
a conquista.<br />
Logo que entrou em casa procurou<br />
Hugo entre os seus brinquedos uma chavena<br />
pequenina, por on<strong>de</strong> a boneca tomava<br />
chá, e metteu o animalsito <strong>de</strong>baixo<br />
d'ella. Depois, muito caladinho, foi<br />
para o colo da mamã e adormeceu.<br />
Que noite <strong>de</strong> calor; abafa-se!<br />
Hugo, na sua camiuhá, está verda-<br />
A teucrina é o extracto aquoso do<br />
<strong>de</strong>iramente iucommodado com a roupa.<br />
leucrium scordím, das famílias labiadas<br />
Teve um pesa <strong>de</strong> lio, o pobre pequeno :<br />
<strong>de</strong>scoberta peto professor allemão Mosetigera<br />
uma terrina muito gran<strong>de</strong> que vi-<br />
Morhob e <strong>de</strong> que ha dias <strong>de</strong>mos noticia.<br />
nha nas mãos <strong>de</strong> um gigante. Depois, o<br />
Injectada sob a pelle, possue uma<br />
malvado, <strong>de</strong> longas barbas e feia cata-<br />
acção geral e outra local. A geral manidura,<br />
agarrou nelle e metteu-o alli <strong>de</strong>nfesta-se<br />
lambem nos indivíduos sãos e<br />
tro, cobrindo-o com a tampa. Hugo que-<br />
caracterisa-se pela elevação da tempera-<br />
ria gritar, chamar a mamã, mas não<br />
podia, suffocavst !<br />
E accordou em sobresalto, cheio <strong>de</strong><br />
terror, o coração pulsando <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente.<br />
Saltou da cama para ir ler<br />
com a mamã, mas nisto um pensamento<br />
lhe aco<strong>de</strong>. Vae direito ao cárcere do<br />
pyrilampo, levanta-o pouco a pouco, e<br />
á baça clarida<strong>de</strong> da lampada, espreita<br />
o prisioneiro.<br />
Tomou-o então nas mãosinhas <strong>de</strong><br />
jaspe e foi collocal-o junto da vidraça:<br />
— Vae-teembora,coitadinho, não lenhas<br />
medo; já não quero os cinco réis!<br />
nocente cruelda<strong>de</strong> por um acto <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong><br />
adoravel. És bom, meu pequenino<br />
amor I<br />
Os germens do mal e do bem encontram<br />
se no espirito do homem <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
os primeiros movimentos da sua vonta<strong>de</strong>.<br />
Felizes dos filho; cujas mães sabem<br />
cultivar-Ihe nas consciências os lirios da<br />
virtu<strong>de</strong>!<br />
Ditosas das mães que fazem do coração<br />
da infancia o sacrario crystalino<br />
do amor filial, da pieda<strong>de</strong>, e da abnegação<br />
sublime!<br />
oAngelina Vidal.<br />
E salva-se isto I<br />
Dizem os que bebem do fino no tonel<br />
da politica, que para a Liga liberal<br />
têm entrado socios novos, e quasi todos<br />
das classes do commercio e capitalistas.<br />
O capital e o commercio na Liga;<br />
na fazenda o sr. Fuschini!<br />
E a jacobinagem a bramar que o<br />
paiz não tem salvação possivel !<br />
Que isto nos cheira a syndicalos á<br />
laia <strong>de</strong> Foz, Mozer & C. a —é certo!<br />
Quelimane-Chire<br />
O-Universal diz constar lhe ter sido<br />
á assignado o tratado Quelimane-Chire,<br />
obra do patriota ministro da marinha<br />
Neves Ferreira, que tem levantado justos<br />
clamores na maioria da imprensa.<br />
Bem sabem os senhores que este tratado,<br />
como outros, é dado <strong>de</strong> mão beijada<br />
a uns rufiões da politica que vão arranjar<br />
a sua vida com os amigos inglezes.<br />
Isto, porém, não admira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
a presidir um governo está o auclor do<br />
celebre tratado <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> agosto, paleado<br />
nas camaras e corrido pelo paiz.<br />
Mas lá diz o ditado: — que todo o<br />
burro come palha. ..<br />
Mudam-se os tempos...<br />
Para a vaga <strong>de</strong>ixada no conselho <strong>de</strong><br />
estado pela morle do sr. marquez <strong>de</strong> Ficalho,<br />
indigila-se o sr. José Dias Ferreira.<br />
Está dito. Morto para a causa publica,<br />
a quem atraiçoou com infamia, é<br />
bom que reviva no paço e lá encontre<br />
logar entre a chusma <strong>de</strong> renegados que<br />
têm arrastado a nação á miséria e feito<br />
d'este povo heroicó, um bando <strong>de</strong> poltrões.<br />
Gloria a Zé Dias—na terra e a D.<br />
Carlos — nas alturas.<br />
Basilio Telles<br />
E' esperado brevemente no Porto o<br />
nosso diftinclo correligionário Basilio<br />
Telles, que havia emigrado para o Brazil.<br />
O romedio da tysica<br />
tura a 39,40 graus e que sobrevêm<br />
ordinariamente duas horas <strong>de</strong>pois da injecção<br />
e dura seis ou oito horas.<br />
A acção local consiste numa vermelhidão<br />
que apparece ao segundo dia da<br />
injecção ao nível do foco morboso e que<br />
é acompanhada <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma.<br />
A dose d'injecção é <strong>de</strong> 3 grammas ao<br />
nivel do foco morboso.<br />
O dr. Moselig-Morhof empregou-o<br />
com exilo em mais <strong>de</strong> 300 casos <strong>de</strong> tuberculose<br />
dos ganglios lymphaticos, dos<br />
ossos, da ptlle, ele.<br />
Os médicos que experimentem.<br />
De manhã, Beatriz correu pressurosa<br />
a vêr a transformação. Levantou a chave- CONVITE<br />
na e não. encontrando o pyrilampo inter-<br />
A Associação fíummitaria dos Bomrogou<br />
o pequenito.<br />
beiros Voluntários <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, confia<br />
— Man<strong>de</strong>i-o embora.<br />
em que o seu pedido <strong>de</strong> prendas para a<br />
— Que pena! Queria vêr se cá es-<br />
Kermesse ha<strong>de</strong> ser tomado em consi<strong>de</strong>tavam<br />
os cinco réis 1 Porque o <strong>de</strong>ixaste<br />
ração pelas gentis damas e cavalheiros a<br />
fugir ?<br />
quem se dirigiu para esse fim; e lhes<br />
— Elle estava muito triste, queria<br />
solicita a elevada fineza da entrega e<br />
ir para a mãe. A esta hora já elle está<br />
remessa das mesmas prendas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
contente... <strong>de</strong>ixa lá os cinco réis!<br />
já se recebem, até ao dia 10 do proximo<br />
A mamã ouvira tudo! Fez vêr aos<br />
mez <strong>de</strong> maio.<br />
filhos da sua alma o erro em que cahi-<br />
<strong>Coimbra</strong>, abril <strong>de</strong> 1893.<br />
ram e beijando o pequeno :<br />
— Fizeste mal em encarcerar o po-<br />
O presi<strong>de</strong>nte,<br />
bre bichinho, mas resgataste a tua in- Augusto José Gonçalves Fino.<br />
EM SURDINA<br />
Durante o mez <strong>de</strong> março<br />
findo foram concedidas 105<br />
mercês honorificas.<br />
1051 Dm pau p'lo olho!<br />
E p'ra <strong>Coimbra</strong> nem meial<br />
Isto é obra do zarolho...<br />
do farronca patuleia!<br />
(Vários jornaes).<br />
Tenho dó dos meus patrieios<br />
que ao fim <strong>de</strong> tanto trabalho,<br />
em vivorios e artifícios...<br />
negam-lhe o penduricalho!<br />
A má sorte, não lhes gabo,<br />
porém, dou-lhes um conselho:<br />
se cá voltarem — ao cabo —<br />
man<strong>de</strong>m tudo p'ro diabo,<br />
não lhes mettarn o joelho!<br />
PINTA-ROXA.<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Covilhft, «».<br />
No uia 24 <strong>de</strong>u a Troupe Dramatica<br />
' Covilhanense um espectáculo em beneficio<br />
d'uma senhora, a actriz D. Aurora<br />
Diar <strong>de</strong> Rodriguez.<br />
A beneficiada, que os srs. F. Barata<br />
e José Matta apresentaram no palco,<br />
cantou com arte a romanza — Branca<br />
Flor, que lhe mereceu muitos applausos.<br />
Itepresenlaram-se algumas comedias<br />
— Os Estróinas, a Casa <strong>de</strong> Campo, a<br />
Chateau Margaux, on<strong>de</strong> os disliuctos<br />
curiosos se houveram com pericia reveladora<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s aptidões.<br />
O sr. F. Barata, especialmente, que<br />
fazia o papel do principal estróina, não<br />
se <strong>de</strong>smanchou; tinha algumas scenas<br />
admiraveis, que <strong>de</strong>sempenhou com verda<strong>de</strong>iro<br />
talento.<br />
Todo o espectáculo correu bem, <strong>de</strong>vendo<br />
especialisar-se a sr a D. Aurora<br />
Dias, que se portou como artista <strong>de</strong> mérito<br />
real.<br />
* Continúa doente o sr. João Nunes<br />
Mouzaco, cujo restabelecimento <strong>de</strong>sejamos<br />
# Ainda se não abriu á exploração<br />
o troço do caminho <strong>de</strong> ferro da Covilhã<br />
e Guarda, apezar <strong>de</strong> estarem approvadas<br />
as tarifas e nomeado lodo o pessoal das<br />
estações. Já é <strong>de</strong>mais.<br />
# Vae gran<strong>de</strong> movimento neste centro<br />
commercial na venda <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong><br />
verão. Os fabricantes uão teem mãos a<br />
medir.<br />
* Têm corrido com regularida<strong>de</strong> os<br />
exames d'instrucçào primaria na escola<br />
Campos Mello. Nem outra coisa era <strong>de</strong><br />
esperar do jury que excerce aquellas<br />
funeções.<br />
A.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
O fl.° <strong>de</strong> maio em <strong>Coimbra</strong><br />
Um grupo <strong>de</strong> socialistas d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
solidários com as manifestações d'este<br />
dia promovidas pelo mundo operário, resolveu<br />
distribuir ámanhã um manifesto<br />
ineilando á lucta as classes trabalhadoras.<br />
Querem assim aflirmar os seus princípios,<br />
propugnar pelos seus interesses,<br />
fazerem-se ouvir das classes prepon<strong>de</strong>rantes<br />
e no pleno uso d'este direito incontestável,<br />
chamarem ao combate os<br />
seus companheiros, mostrando-lhes a<br />
causa da sua miséria, d'on<strong>de</strong> provem, e<br />
qual a maneira <strong>de</strong> a limitar, <strong>de</strong> a extinguir.<br />
Nada mais justo nem mais humanitário.<br />
Em todos os centros <strong>de</strong> activida<strong>de</strong><br />
este dia é consagrado ao <strong>de</strong>scanço e á<br />
manifestação or<strong>de</strong>ira para a conquista<br />
das suas reivindicações. Os governos<br />
<strong>de</strong>ixam em paz os manifestantes, velando<br />
apenas pela or<strong>de</strong>m e pela segurança publica,<br />
e por toda a parte se nota gran<strong>de</strong><br />
effervescencía entre as classes trabalhadoras.<br />
Em Lisboa e Porto, on<strong>de</strong> ha muitos<br />
elementos, as festas promettem ser <strong>de</strong>slumbrantes<br />
d'enthusiasmo. Apenas um<br />
senão se levantou : o ministro do reino<br />
não consentir na realisaçâo do cortejo<br />
cívico.<br />
No entanto todas as associações operarias<br />
se preparam para a solemnisação<br />
do 1.° <strong>de</strong> Maio, promovendo comícios,<br />
saraus litterarios banquetes, etc.<br />
E como em <strong>Coimbra</strong> o indifferenlismo<br />
por tudo é gran<strong>de</strong>, o grupo da so<br />
cialistas na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizarem<br />
qualquer outra manifestação se limitarão<br />
a distribuir pela cida<strong>de</strong> um<br />
manifesto on<strong>de</strong> sejam nffirmadas as suas<br />
crenças e os seus princípios.<br />
Applaudimos.<br />
Associação dos Artistas<br />
No domingo como noticiámos, tomaram<br />
pospe os novos corpos gerentes<br />
d'esla associação.<br />
O acto da posse foi muito concorrido<br />
e o nosso amigo sr. Antonio Dias Themido<br />
festejou a <strong>de</strong>posição do mandato,<br />
oflerecendo aos seus antigos collegas<br />
uni <strong>de</strong>licioso copo d'agua.<br />
A' noite a commissão eleitoral foi<br />
cumprimentar os corpos gerentes, com a<br />
philarmonica Conimbricense.<br />
O eonflicto académico<br />
Naturalmente <strong>de</strong>vido ás más informações,<br />
alguns jornaes já da capital, já<br />
do Porto têm dito coisas e loisas a respeito<br />
d'um acontecimento que, com a<br />
maior franqueza, não teve, nem podia<br />
ter maior consequência.<br />
O que admiramos é que alguns informadores,<br />
sem maior consi<strong>de</strong>ração pela<br />
magoa que tal noticia po<strong>de</strong>ria cau-ar<br />
na maioria das famílias, que nesta cida<strong>de</strong><br />
lêem seus filhos, espalhassem tal noticia,<br />
que tinha por fundamento um<br />
acontecimento sem maior imporlancia e<br />
resultado.<br />
O facto <strong>de</strong>u-se, em relação aos novatos<br />
e segundanislas <strong>de</strong> direito; mas<br />
as consequências que alguns pessimistas<br />
suppozeram terríveis, não passaram<br />
<strong>de</strong> meras presumpções mais provenientes<br />
das phantasias dos informadores, do<br />
que a realida<strong>de</strong> dos acontecimentos.<br />
O que, por ahi se diz, e se chamou<br />
confliclo académico não passa d'uma coi<br />
sa vulgar, sem imporlancia e sem consequências,<br />
como os factos lêem provado.<br />
Mas a imprensa ou seus informadores<br />
que em tudo vêem terrores, ou coisa<br />
simílhante fizeram por ahi tal clianlage,<br />
que nem merece a veracida<strong>de</strong>.<br />
Os acontecimentos passaram-se pouco<br />
mais ou menos como narram os informadores;<br />
mas as consequências, que<br />
dizem esperar-se estão tão ionge da verda<strong>de</strong>,<br />
que tudo se passou sem maior<br />
resultado.<br />
Posto isto, julgaríamos mais acertado<br />
que as informações fossem mais seguras,<br />
atten<strong>de</strong>ndoás alllicções que por esse paiz<br />
fóra vão causar.<br />
Medalha d'ouro<br />
As obras scienlificas dos srs. drs.<br />
Antonio Augusto da Costa Simões, actual<br />
reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e Bernardino<br />
Machado, ministro das obras publicas,<br />
foram premiadas com a medalha d'ouro<br />
no congresso pedagogico <strong>de</strong> Madrid.<br />
Aqui tem a nobreza <strong>de</strong> meia tijella<br />
uma con<strong>de</strong>coração que não suja, e que<br />
honra sobremaneira os agraciados<br />
E sem nos lembrar que a sobredita<br />
nobreza não se impõe pelo talento — é<br />
pela massa... nas burras!!!<br />
Senlior aos entrevados<br />
Sae hoje da egreja <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />
com a costumada pompa, o Sagrado Viar<br />
tico, em visita aos entrevados d'aquella<br />
freguezia.<br />
Economias do governo<br />
Foi or<strong>de</strong>nado pelo ministério do reino<br />
que fossem contados pela secretaria da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> os vencimentos ao professor<br />
<strong>de</strong> Philosophia, sr. dr. Garrett, em<br />
commissão <strong>de</strong> serviço publico não remunerada.<br />
Ora ninguém sabe que commissão é<br />
essa e todos se convencem que foi invenção<br />
do sr. ministro do reino para<br />
que este senhor doutor esteja ausente<br />
do serviço universatario sem prejuízos<br />
no or<strong>de</strong>nado.<br />
E assim vão ganhando a vida estes<br />
ricos amigos das instituições.<br />
Recita do b.° anno<br />
Está <strong>de</strong>finitivamente marcado o dia<br />
ÍO do proximo mez para a primeira recita<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida d'este curío, que se<br />
realisará no Thealro-circo Príncipe Real.<br />
Proinoç&es na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Em virtu<strong>de</strong> da jubilação do sr. dr.<br />
Pedro Augusto Monteiro Castello Branco<br />
são promovidos a lente <strong>de</strong> prima e director<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o sr. dr. Bernardo<br />
d'Albuquerque; a lente <strong>de</strong> vespera<br />
o sr. dr. Manoel Nunes Giral<strong>de</strong>s; e a<br />
cathedratico o sr. dr. João Arroyo.<br />
Bolacha Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
É hoje posta á venda esta <strong>de</strong>liciosa<br />
bolacha, saida da conceituada fabrica dos<br />
srs. José Francisco da Cruz & Genro.<br />
Às caixas tem o retrato do sr. Joaquim<br />
Martins <strong>de</strong> Carvalho, num bello<br />
chromo lythographico, <strong>de</strong>senho do sr.<br />
Antonio Augusto Gonçalves.<br />
Parabéns aos apreciadores, que encontrara<br />
na vasta coliecção <strong>de</strong> bolachas<br />
que esta fabrica possue, mais um produclo<br />
<strong>de</strong> fino e apurado gosto."<br />
Monte-pio Conimbricenee<br />
Recebemos o Ilelatorio d'esta associação<br />
<strong>de</strong> soccorros mutuos, relativo ao<br />
anno <strong>de</strong> 1892.<br />
Pela exposição dos pareceres das,<br />
commissões <strong>de</strong> coutas vê-se que os corpos<br />
gerentes do Monte-pio, presididos<br />
pelo sr. Januario Damasceno Ratto, trabalharam<br />
com <strong>de</strong>dicação para a sua prosperida<strong>de</strong>,<br />
merecendo justos louvores dos<br />
seus consocios.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos a olferta do exemplar<br />
que nos foi enviado.<br />
Promoção<br />
O sr. dr. Alfredo da Rocha Peixoto,<br />
lente <strong>de</strong> Mathematica da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
foi promovido a primeiro astronomo do<br />
observalorio.<br />
Com o <strong>de</strong>vido respeito diremos: se<br />
tal logar faculta a s. ex. a o po<strong>de</strong>r ausen-^<br />
tar-se <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, diflicil será achar<br />
melhor cumpridor.<br />
Prorogação<br />
Foi concedido a alguns alumnos da<br />
faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina o apresentarem<br />
a certidão <strong>de</strong> approvação nos exames das<br />
línguas allemà e grega, até ao fim do<br />
anuo lectivo.<br />
liuctuosa<br />
E com o maior pezar que noticiamos<br />
o fallecimeuto da sr.* D. Amélia d'Azevedo,<br />
esposa estremecida do sr. dr. Manoel<br />
Justino d'A*.evedo, professor distincto<br />
e respeita bilissimo do lyceu d'esta<br />
cida<strong>de</strong>. A finada senhora, <strong>de</strong> caracter a<br />
todo o ponto digno do maior respeito,<br />
íalleceu no meio dos mais <strong>de</strong>sveilados<br />
cuidados dos seus e <strong>de</strong> famílias amigas,<br />
que seguiam com a mais acurada compuneção<br />
os progressos <strong>de</strong>vastadores da<br />
doença.<br />
E este respeito e estima da família<br />
e dos anugos, inanifestaram-se ainda brilhantemente<br />
da parle dos estranhos, que,<br />
numa concorrência extraordinaria, concorreram<br />
a acompanhar no enterro o<br />
cadaver d'aquella senhora. Estava repre-<br />
sentada a élite <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, mostrando<br />
assim a gran<strong>de</strong> estima que inspira' a todos<br />
o caracter honradíssimo da família<br />
Azevedo. Nao nos e possivel mencionar<br />
os nomes <strong>de</strong> todos os cavalheiros que<br />
aquelle acto concorreram; apenas nos<br />
lembramos dos srs.:<br />
Drs. Assis Teixeira, L. Praça, Pila<br />
Madureira, Yasconcellos, Alves da Hora,<br />
Araujo e Gama, Paes, B. d'Albuquerque,<br />
Fernan<strong>de</strong>s Vaz, Chaves, Callisto, Guimarães<br />
Pedrosa, Dias da Silva, Mirabeau,<br />
Bazilio, Epiphanio Marques, Raymundo<br />
da Motta, Luiz da Costa, Souto<br />
Uodrigues, Costa Lobo, Teixeira <strong>de</strong> Carvalho,<br />
Viegas, Julio Heuriques, Sousa<br />
Gomes, Manoel Paulino, secretario da<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, <strong>Coimbra</strong>, e coronel Reboclio,<br />
major Lopes, cirurgiao-mór Teixeira,<br />
cirurgião ajudante Guimarães,<br />
alferes ajudante Martins' Pedro Ferrão,<br />
José Narciso Simões, Dantas Guimarães,<br />
presi<strong>de</strong>nte da Associação Commercial,<br />
Valle, Antonio d'Almeida e Silva, Julio<br />
Machado, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Foz d'Aouce, Francisco<br />
Furtado <strong>de</strong> Mello, vice-reitor do<br />
Seminário conego Silva, conego Pru<strong>de</strong>ucio,<br />
Sinibaidi, Abranches, padre Mattoso,<br />
padre Andra<strong>de</strong>, padre Gaspar, dr. Carvalho,<br />
dr. Diniz, dr. Teixeira, dr. Pereira,<br />
dr. Clemente, Bastos, Costa Pessoa,<br />
Alberto Pessoa, Francisco Guerra,<br />
dr. Francisco Manso Preto, dr. Arthur<br />
Manso Preto, dr. Julio Dallv, dr. Pinheiro<br />
Pessoa, dr. Lebre, dr. Cancella, A<strong>de</strong>lino<br />
Vieira, dr. Silvio Fellico, dr. Arthur Leitão,<br />
dr. Augusto Cymbron, dr. Silvestre<br />
Falcão, Antonio Jose d'Aimeida, dr. Menezes<br />
Parreira, dr. Albino <strong>de</strong> Mello, A<strong>de</strong>lino<br />
Maia, Antonio ^Pedro, Francisco <strong>de</strong><br />
Sousa Araujo, Alberto Leite, João <strong>de</strong><br />
Menezes e dr. Constantino.<br />
Ao sr. dr. Manoel Justino d'Azevedo,<br />
e a seus filhos, os nossos bons amigos,<br />
en<strong>de</strong>reçamos a publica expressão do nosso<br />
profundo pezar, pelo transe dolorosíssimo<br />
que os angustia, dôr que sinceramente<br />
partilhamos.
A % % .i f — M.* 8 8 O DEFEMSOR DO P O V O 3o <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1803<br />
Transferencia<br />
Em quanto durarem as obras <strong>de</strong> restauração<br />
no templo da Sé Velha, a se<strong>de</strong><br />
d'esta parochia foi transferida, por auctorisa.ção<br />
episcopal, para a egreja <strong>de</strong> S. João<br />
d'Almedina.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
No quadro lega! do corpn docente<br />
das cinco Faculda<strong>de</strong>s d'este estabelecimento<br />
<strong>de</strong> ensino ha actualmente as seguintes<br />
vagas:<br />
, Em Theolcgia, 2—em Direito, 4 —<br />
em Medicina, 4—em Mathematica, 1 —<br />
em Philosophia, 1.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />
na semana ultima, os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Rita <strong>de</strong> Nazareth, filha <strong>de</strong> Manoel<br />
Bernardo e Maria José, da Figueira da<br />
Foz, <strong>de</strong> 20 annos. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose<br />
pulmonar, no dia 10.<br />
Emília, filha <strong>de</strong> Cesar José da Motta<br />
e Maria da Conceição dos Santos, <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 27 mezes. Falleceu <strong>de</strong> meningite<br />
tuberculose, no dia 11.<br />
Josepha Ferreira, filha <strong>de</strong> Francisco<br />
Simões Pedrulhn e Maria Ferreira, <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 62 annos. Falleceu <strong>de</strong> moléstia<br />
<strong>de</strong>sconhecida, no dia 12.<br />
Joaquina Emília Ferreira, filha <strong>de</strong><br />
José Ferreira e Maria Ferreira, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
<strong>de</strong> S8 annos, Falleceu <strong>de</strong> cancro<br />
do útero, no dia 12.<br />
Luiza Emília da Conceição, filha <strong>de</strong><br />
Antonio Rodrigues e Joaquina <strong>de</strong> Jesus,<br />
<strong>de</strong> Poiares, <strong>de</strong> 55 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />
pneumonia grippal, no dia 12.<br />
Recem nascida, filha <strong>de</strong> pae incógnito<br />
e Maria Emilia, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 4 mezes.<br />
Falleceu <strong>de</strong> pneumonia, no dia 13.<br />
Joaquim da Silva Duarte, filho <strong>de</strong><br />
Manoel da Silva Duarte e Maria da Silva,<br />
<strong>de</strong> Arcos <strong>de</strong> Val <strong>de</strong> Vez, <strong>de</strong> 80 annos.<br />
Falleceu <strong>de</strong> pneumonia aguda, no<br />
dia 16r<br />
Augusto Pereira José Soares, filho <strong>de</strong><br />
Pereira Soares e Theolinda Marques <strong>de</strong><br />
Carvalho, <strong>de</strong> Midões, <strong>de</strong> 43 annos. Falleceu<br />
<strong>de</strong> grippe complicada com hepatite<br />
no dia 16.<br />
Luiza Respicia, filha <strong>de</strong> Manoel Caetano<br />
Respicio e Maria Thereza, <strong>de</strong> Valle<br />
<strong>de</strong> Todos, <strong>de</strong> 46 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />
lurbulose pulmuonar no dia 18.<br />
Jose, filho <strong>de</strong> Augusto Rama Pardal<br />
e Maria da Cuncçição Dias, <strong>de</strong> Cadima,<br />
<strong>de</strong> 4 annos. Falleceu <strong>de</strong> meningo encephalile<br />
no dia 19.<br />
Joaquim Gumes Arinto, filho <strong>de</strong> José<br />
Gomes Arinto e Rita <strong>de</strong> S José, <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 31 aunos. Falleceu <strong>de</strong> pi ri -<br />
tonile, no dia 21.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemitério —16:853.<br />
Qamara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinaria<br />
6 <strong>de</strong> abril<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />
Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />
33 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. M É R Y<br />
A JIIÍIIA I mim<br />
IX<br />
O leão em correrias<br />
E Lorenzino calou-se, á espera d'uma<br />
pergunta inevitável sobre esta gran<strong>de</strong><br />
historia tão recente.<br />
— E então? perguntou Talormi sorrindo<br />
com dignida<strong>de</strong>.<br />
— Oh"! é soberbo, continuou Lorenzino,<br />
Um capitao hollan<strong>de</strong>z chega com a<br />
sua fragata para uma missão politica ;<br />
enamora-se da mais formosa das nossas<br />
genovezas, a Vénus da actualida<strong>de</strong>, uma<br />
mulher que faria levantar lodos os mortos<br />
d'um cemiterio, se por alli passasse;<br />
pe<strong>de</strong>-a em casamento, dão-lh'a, porque<br />
v. ex.* bem sabe que aos estrangeiros<br />
tudo se da—um patrício nosso podia<br />
suspirar por ella vinte annos que a não<br />
obtinha—; casaram-se honlem; o baile<br />
foi dado a bordo 'da fragata ; o marido<br />
pedia perdão a Deus pela sua felicida<strong>de</strong>;<br />
todos os nossos rapazes, ao approximar-se<br />
a hora fatal, rugiam unUonos e<br />
em surdina como tigres roubados — era<br />
presentes: Ruben Augusto d'Alnioida<br />
Araujo Pinio, João da F> nseca Barata,<br />
João Antonio da Cunha, Manuel Miranda,<br />
Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros, Joaquim Justiniano<br />
Ferreira Lobo, Antonio José Dantas<br />
Guimarães, elTectivos; José Corrêa dos<br />
Santos, substituto.<br />
Mandou intimar um proprietário em<br />
Santo Antonio dos Olivaes, pnra fazer<br />
vedar, por meio unia cortina, um poço,<br />
ou vallado, que tem em um prédio junto<br />
ao caminho publico. -<br />
Nomeou um guarda rural para.os logares<br />
<strong>de</strong> Valle <strong>de</strong> Cantaro e Invibora,<br />
na freguezia d'Assafarge.<br />
Resolveu suspen<strong>de</strong>r, por emquanto,<br />
as canalisações d'agua por conta da camara,<br />
exceptuando-se as pedidas ante"<br />
riorniente e não executadas até hoje<br />
Mandou intimar um proprietário <strong>de</strong><br />
esta cida<strong>de</strong>, para reparar unia pare<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma casa na rua Direita que confina<br />
com o novo largo, aberto entre a mes-<br />
„ma rua e o Terreiro da Erva.<br />
Auctorisou o concerto d'uma pia no<br />
cemiterio da Conchada, junto á capella.<br />
Auctorisou a mudança <strong>de</strong> tres candieiros<br />
d'illuminaçâo publica na estrada<br />
da Beira.<br />
Resolveu mandar fazer os estudos<br />
necessários para a construcção d'nin<br />
cano d'esgoto entre o bairro <strong>de</strong> Fóra <strong>de</strong><br />
Portas e a parte da rua da rua da Sophia<br />
já canalisada.<br />
Informou 89 proesssos <strong>de</strong> reclamação<br />
ao recrutamento militar do corrente<br />
anno.<br />
Demittiu o chefe interino da repartição<br />
d'obras do município, ouvindo-o<br />
neste acto, ácerca <strong>de</strong> accusações feitas.<br />
Mandou fazer, a pedido d'um proproprielario,<br />
o <strong>de</strong>svio das aguas que se<br />
<strong>de</strong>positam em uma cova junto d'uma<br />
casa na rua n.° 8 da quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz.<br />
Resolveu pedir ao administrador do<br />
concelho o andamento dos processos <strong>de</strong><br />
investigação ácerca <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> bombeiros<br />
e vigias dos impostos, remettendo-lhe<br />
um requerimento <strong>de</strong> diversos contribuintes,<br />
com referencia a serviços do<br />
vigia n.° 6.<br />
Altestou ácerca do comportamento da<br />
professora interina da escola elementar<br />
da freguezia d'Eiras.<br />
Mandou orçar a <strong>de</strong>speza a fazer com<br />
a construcção d'uiu cano d'esgoto na<br />
rua Occi<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> Mont'arroio.<br />
Conce<strong>de</strong>u a exoneração pedida por<br />
Jacinlbo Antonio Dias, do logar <strong>de</strong> fiscal<br />
da montureira.<br />
Deferiu diversos requerimentos —<br />
ácerca <strong>de</strong> acquisiçâo <strong>de</strong> terreno no cemiterio;<br />
transgressão <strong>de</strong> posturas no logar<br />
do Ameal; collocação <strong>de</strong> taboletas<br />
em estabelecimentos particulares na cida<strong>de</strong>,<br />
approvação d'um alçado para ser<br />
levantado um andar em uma casa do<br />
proprietário José Barbosa Lima, na rua<br />
<strong>de</strong> Ferreira Borges, com frente para a<br />
construcção d'uma casa, uo logar das<br />
Casas Novas, freguezia <strong>de</strong> S. Martinho<br />
do Bispo, pertencente a Manoel Mello<br />
Jorge, tomando o proprietário a área <strong>de</strong><br />
3'",45 eiu troca da <strong>de</strong> 4'",0 que ce<strong>de</strong><br />
um incêndio geral <strong>de</strong> voluptuosida<strong>de</strong><br />
clan<strong>de</strong>stina, e ninguém podia ler mão<br />
neste liagello ...<br />
Eis que <strong>de</strong> repente chega uma or<strong>de</strong>m<br />
: um <strong>de</strong>spacho lelegraphico cáe do<br />
céu cômo uma faísca electrica ou o fogo<br />
Sant'Elmo uo mastro gran<strong>de</strong> da fragata.<br />
Dir-se-ia que o diabo levava a fragata.<br />
Tudo <strong>de</strong>sappareceu num momento- Só o<br />
baile se realisou até ao fim. O vento genovez<br />
tomou o partido dos seus compatriotas<br />
; soprou nas velas com a força <strong>de</strong><br />
vinte aquilões colligados.<br />
O marido parte sein a donzelia, sua<br />
mulher. Que diz a isto, senhor ?<br />
— Que realmente é muito curioso,<br />
disse Talormi com um riso contrafeito; e<br />
acrescentou em tom <strong>de</strong> pouco interesse:<br />
E a historia acabou ahi ?<br />
—• Estas historias lambem lê.n fim !<br />
continuou Lorenzino. Eis o que se couta<br />
e que eu posso aílirmar ser verda<strong>de</strong>iro :<br />
Na noite do baile, quando a or<strong>de</strong>m chegou,<br />
conversavam com certi liberda<strong>de</strong><br />
alguns mancebos;—o assumpto prestava-se.<br />
«1£' um inci<strong>de</strong>nte muito feliz»<br />
disse um d'e.les. «E para quem?» perguntou<br />
um parente da noiva. «Ora essa!<br />
Para quem ? Para o uoivo», replicou o<br />
outro «é sempre <strong>de</strong>sagradavel não encontrar<br />
a virtu<strong>de</strong>, quando se procura <strong>de</strong>pois<br />
da meia noite.»<br />
A estas palavras o parente tmou o<br />
partido da noiva; <strong>de</strong>safiou o provocador<br />
ao publico para alargamento da rua do<br />
logar.<br />
In<strong>de</strong>feriu um requerimento <strong>de</strong> Joaquim<br />
Albino Gabriel <strong>de</strong> Mello, para o<br />
pagamento dos seus honorários como<br />
procurador agente do município, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a sua pomeação em 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1892 até 24 <strong>de</strong> março ultimo, em que<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se empregado da<br />
camara.<br />
Tomou conhecimento da correspondência<br />
recebida e registou uma <strong>de</strong>claração<br />
da presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> que os maiores<br />
contribuintes do concelho não reuniram<br />
no dia 8 para eiiitUirem o seu parecer<br />
ácerca da creação <strong>de</strong> 4 partidos médicos<br />
no concelho, e que fóra feita nova<br />
convocação para o dia 17.<br />
Sessão extraordinaria<br />
17 tfubril<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />
d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />
presentes: João Anlonio da Cunha,<br />
João da Fonseca Barata,, Manoel Miranda,<br />
Anlonio José Dantas Guimarães,<br />
elfectivos ; José Corrêa dos Santos, substituto.<br />
Maiores contribuintes presentes^por<br />
virtu<strong>de</strong> da segunda convocação.—Da contribuição<br />
predial:—dr. Francisco Henriques<br />
<strong>de</strong> Sousa Secco, José Maria <strong>de</strong> Seiça<br />
Ferrer, José Maria d'Oliveira Mattos,<br />
Manoel Cabral <strong>de</strong> Moura Coutinho <strong>de</strong><br />
Vilbena e Manoel José da Cunha Novaes.<br />
— Da contribuição industrial: — Augusto<br />
Luiz Marília, Basilio Augusto Xavier <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, David <strong>de</strong> Sousa Gonçalves,<br />
José Guilherme dos Santos e Lino Alberto<br />
Barbosa do Valle.<br />
Ouvidos os maiores contribuintes,<br />
nos lermos da lei, ácerca da creação <strong>de</strong><br />
quatro partidos- médicos no concelho",<br />
votada pela camara na sessão ordinaria<br />
<strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> março, com as alterações feitas<br />
na do 1.° d abril, emiltiram elles o seu<br />
parecer, sendo Ires em sentido favoravel<br />
á creação dos partidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, e sele<br />
em favor do adiamento d'esta medida,<br />
em vista das precarias circunstancias em<br />
que se acha o município ; assignando um<br />
d'estes com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que vota<br />
pela creação immediata dos partidos,<br />
quando se possam sustentar pelas forças<br />
do orçamento, regeitando-os quando seja<br />
necessário crear nova receita.<br />
A GRANEL<br />
Tem sido extraordinário o movimento<br />
no Lazareto, em Lisboa. Numa noite ficaram<br />
alli em cumprimento, <strong>de</strong> medidas<br />
sanitarias, 1:084 quarentenários, proce<strong>de</strong>ntes<br />
dos vapores Malange, Equateur,<br />
Congo, Tamar e Montevi<strong>de</strong>u.<br />
* * * De Loanda queixam-se <strong>de</strong><br />
que na alfan<strong>de</strong>ga d aquella cida<strong>de</strong> se<br />
commettem roubos nas fazendas que entram<br />
nos armazéns liscaes, que não são<br />
seguras.<br />
e bateram se junto da villa di Negro.<br />
Bateram-se bem, segundo se diz, mas o<br />
parente da noiva ficou ferido, porque,<br />
como sabeis, em um duello é muitas vezes<br />
o homem <strong>de</strong> bem. aquelle a quem a<br />
sorte das armas <strong>de</strong>sfavorece.<br />
Talormi, ainda que muito novo, tinha<br />
já a experiencia bastante para não<br />
acreditar tudo quanto lhe diziam; mas<br />
ao mesmo tempo pensou que ha sempre<br />
pelo menos um átomo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> na mentira<br />
mais grosseira : é esse átomo que<br />
se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>scobrir, pois que nada se <strong>de</strong>ve<br />
<strong>de</strong>sprezar.<br />
A hora era conveniente para fazer<br />
uma visita ao palacio <strong>de</strong> Santa-Scala;<br />
Talormi <strong>de</strong>spediu-se <strong>de</strong> Lorenzino, dizendo<br />
lhe :<br />
— Sois uma gazeta viva; ouvir-vosia<br />
com muilo prazer até á noite, mas<br />
esperam no palacio Durazzio, on<strong>de</strong> man<strong>de</strong>i<br />
tirar a cópia <strong>de</strong> duas mirinhas <strong>de</strong><br />
Salvator Rosa para o meu palacio <strong>de</strong><br />
Nápoles. A<strong>de</strong>us.<br />
NJ palacio <strong>de</strong> Sanla-Scala, Talormi,<br />
quando entrou, <strong>de</strong>u ao rosto um aspecto<br />
ausler» c carregado e perguntou se o<br />
príncipe estava vi-ivel. Diu o seu nome<br />
ao creado e ao niísrao tempo, vendo<br />
aberta a porta d» nvmpheu, disse: Vou<br />
para o jardim esperar a resposta.<br />
O nympheu d) palacio <strong>de</strong> Sania-Sca-<br />
U é miravilh >so pela sua graça e pela<br />
sua frescura. A figura <strong>de</strong> uma naia<strong>de</strong>,<br />
* * * Durante o mez <strong>de</strong> março<br />
findo, foram concedidas 105 mercês<br />
honoríficas, sendo 44 a nacionaes e 61<br />
a estranjeiros.<br />
* * # Continuam em Braga, com<br />
a maior activida<strong>de</strong>, os trabalhos para a<br />
insta Ilação da luz electrica, que <strong>de</strong>verá<br />
ser inaugurada na noite <strong>de</strong> S. João.<br />
* * # A camara municipal <strong>de</strong>vora<br />
vae estabeleci r uma exposição permanente<br />
<strong>de</strong> productos agrícolas no palacio<br />
<strong>de</strong> D. Manoel, d'aquella cida<strong>de</strong>.<br />
Ao sr. Bernardo Carvalho<br />
Mudo <strong>de</strong> logar porque não <strong>de</strong>sejo que<br />
a redacção do Defensor do Povo, que<br />
neste inci<strong>de</strong>nte está como Pilatos no credo,<br />
seja solidaria com as minhas caturrices<br />
e com as <strong>de</strong> um meu amigo.<br />
Volla o amigo Bernardo á falia; e<br />
montado no seu cavalio <strong>de</strong> batalha insiste:<br />
que os eleitos <strong>de</strong> 92 não compareceram<br />
á posse porque não foram convidado-.<br />
Depois d'esla afirmação do meu<br />
amigo eu não <strong>de</strong>smenti o tal facto, só<br />
fiz vêr que não podia haver posse quando<br />
a maioria se recusara a acceitar os<br />
seus cargos !<br />
Ora o que digo e disse é que se os<br />
eleitos <strong>de</strong> 92 não tomaram posse e não<br />
receberam o competente officio, foi: no<br />
primeiro caso pela recusa, em resposta<br />
ao officio da presi<strong>de</strong>ncia, dando lhe parte<br />
da sua eleição para os corpos gerentes;<br />
no segundo, apezar da assemblêa geral<br />
os obrigar a aceitar, sob pena <strong>de</strong> multa,<br />
a presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong>clarou haver pedido<br />
particularmente a alguns dos eleitos, mas<br />
que em virtu<strong>de</strong> das primeiras recusas<br />
julgou <strong>de</strong>snecessário continuar.<br />
E em face d'islo a assemblêa <strong>de</strong>cidiu<br />
proce<strong>de</strong>r a novas eleições. Se neste caso<br />
anda nariz <strong>de</strong> cera, não sei—é o que<br />
vejo das actas que tiveram approvação<br />
plena, com a assistência do sr. Bernardo.<br />
Portanto não foram convidados os<br />
que aceitavam a comparecer á posse por<br />
que da leitura das actas se conclue que<br />
não havia maioria.<br />
E em seguida vae a carta que o<br />
amigo Bernardo dirige ao redactor d'este.<br />
jornal.<br />
Pedro Cardoso.<br />
Sr. redactor: —Pasmo <strong>de</strong> vêr como<br />
v. quer <strong>de</strong>monstrar que eu falto á verda<strong>de</strong>,<br />
e como afinal se per<strong>de</strong> nas suas<br />
lucubrações <strong>de</strong> que só aproveita o que<br />
lhe convém.<br />
Julguei que v. jendo-se dado ao trabalho<br />
<strong>de</strong> folhear as actas da associação<br />
viesse dizer tudo, imparcialmente, o que<br />
nellas se contém com relação á malfadada<br />
eleição.<br />
Vejo, porém, que não; v. recortou<br />
muito bem só o que lhe conveio e <strong>de</strong>ixou<br />
no escuro o que lhe não auxiliava<br />
as suas <strong>de</strong>monstrações. Viu v. que eu<br />
e os meus collegas tinham pedido para<br />
sermos dispensados; mas não viu ou não<br />
cercada <strong>de</strong> musgos, lança <strong>de</strong> uma concha<br />
aguas crystallinas em uma larga bacia,<br />
cuja ellipse <strong>de</strong> mármore <strong>de</strong>sapparecc<br />
<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma franja <strong>de</strong> relva e <strong>de</strong><br />
flores. A latada on<strong>de</strong> a vinha se enlaça<br />
com os ramos dos limoeiros apenas <strong>de</strong>ixa<br />
chegar aos bancos do repouso uma<br />
luz crepuscular até nas horas mais esplendidas<br />
do sol do estio.<br />
Debaixo <strong>de</strong> uma magnólia, cujas flores<br />
<strong>de</strong> marfim neste instante pareciam ter<br />
nascido para coroar os seus formosos<br />
cabellos, estava sentada, lendo, uma joven,<br />
que aflagava com a m io direita a<br />
cabeça <strong>de</strong> um enorme cão que se diria<br />
ser o monstro d'est'outro jardim das<br />
<strong>de</strong>speri<strong>de</strong>s. Ao barulho dos passos <strong>de</strong><br />
Talormi, a joven levantou os olhos e a<br />
sua face encantadora coutrahiu-se <strong>de</strong>baixo<br />
<strong>de</strong> uma impressão inexplicável. O cão<br />
não fez ao estrangeiro um acolhimento<br />
dos mais sympathicos; do fundo da sua<br />
garganta sobe uma nota surda, preludio<br />
<strong>de</strong> formidáveis latidos, que uma<br />
mãosinha aiva e soberana reprimiu subitamente<br />
com o auxilio <strong>de</strong> uma reçommendação<br />
feita em inglez: — lie good, Mitry<br />
! — se<strong>de</strong> bom, Mitry I<br />
— Ahi disse Talormi, reconhecendo<br />
Débora, you, speak english very well,<br />
miss Dcbora.<br />
—Nio filio em inglez senão a Mitry,<br />
respon<strong>de</strong>u Débora em italiano ecoiu<br />
uma frieza notável.<br />
quiz vêr que não tendo a assembleia geral<br />
aceitado a nossa recusa nós ficamos<br />
ipso facto sendo os eleitos e como taes<br />
obrigados a tomar posse logo que novo<br />
officio nos convocasse para isso. Ora<br />
como tal officio não appareceu como pô<strong>de</strong><br />
v. dizer que não comparecemos, quando<br />
nós Unhamos necessariamente <strong>de</strong> comparecer<br />
logo que a assembleia geral nos<br />
collocou entre a espada e a pare<strong>de</strong>; isto<br />
é, entre aceitar ou per<strong>de</strong>r os nossos direitos<br />
<strong>de</strong> socios.<br />
Ora, parece que, temio nós em face<br />
d'islo, retirado as nossas escusas, logo<br />
que fossemos avisados para a posse tínhamos<br />
<strong>de</strong> comparecer e se não comparecessemos,<br />
a assemblêa tinha o <strong>de</strong>ver,<br />
por coherencia, <strong>de</strong> nos expulsar <strong>de</strong> socios<br />
conforme o Estatuto.<br />
E' este o ponto da questão e não<br />
vale andar por outros caminhos. Se v.<br />
conseguir affirmar com verda<strong>de</strong> que nós<br />
fomos officiados, estarei calado P resignado.<br />
Diz mais v. que não havia g maioria<br />
para tomar posse.<br />
Pois não ha tal. Ahi vão os nomes<br />
dos indivíduos que aceitaram sem reservas<br />
e os que foram obrigados a aceitar:<br />
De assembleia geral — Augusto José<br />
Gonçalves Fíuo, João Corrêa dos Santos,<br />
Joaquim Ferreira e Bernardo Carvalho.<br />
Aqui só falta um.<br />
Direcção—Augusto Teixeira, Manoel<br />
Duarte Ralha, Pedro Antunes Paulo, Alfredo<br />
Mello. Aqui só faltam tres.<br />
Foi para pedir a estes que se nomeou<br />
uma commissão que não aceitou o<br />
encargo, sendo em vista d'isso auctorisado<br />
o presi<strong>de</strong>nte para lhe officiar a pedir-lbe<br />
para aceitar. Porque se não fez.<br />
Emquanto aos presi<strong>de</strong>ntes dos grémios<br />
todos aceitaram, mas <strong>de</strong>mos <strong>de</strong> barato<br />
que assim não foi.<br />
Já vê, sr. redactor, que continúa a<br />
ser menos correcta a affirmação <strong>de</strong> v.<br />
<strong>de</strong> que nós não comparecemos. Para fazer<br />
uma asserção d'eslas era preciso que<br />
a mesa cumprisse com o seu <strong>de</strong>ver, officiando<br />
para a posse em um <strong>de</strong>terminado<br />
dia e se nós então não comparecessemos<br />
é que po<strong>de</strong>ria dizel-o aifoitamente<br />
e então seriam rasoaveis e justos os reparos<br />
<strong>de</strong> v.<br />
Como porém tal caso se não <strong>de</strong>u e<br />
crendo que v. não lerá duvida em concordar<br />
com a verda<strong>de</strong>, peço-lhe para concordar<br />
em que effectivamente não fomos<br />
convidados para a posse, e que as eleições<br />
foram feitas, segundo proposta da<br />
mesa, approvada pela assembleia geral,<br />
sem que comtudo essa illegalida<strong>de</strong> pasmasse<br />
sem protesto d'alguem.<br />
E' isto o que lhe peço e ultima instancia<br />
e espero da sua hombrida<strong>de</strong> e<br />
honra<strong>de</strong>z <strong>de</strong> caracter que não se recusará<br />
a fazer para bem da verda<strong>de</strong> e para<br />
terminar este inci<strong>de</strong>nte que para nós<br />
só dá incommodo e nada mais.<br />
Sou com subida estima<br />
De v., etc.,<br />
<strong>Coimbra</strong>, 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893 .<br />
Bernardo Carvalho.<br />
— E a quem fallaes em francez?<br />
— A ninguém. Estudo essa língua e<br />
quando a souber, faltarei em francez com<br />
toda a gente.<br />
Nesta occasião Talormi entreabriu<br />
uma porta coberta <strong>de</strong> hera e lançou a<br />
vista para uma porta do jardim que elle<br />
mal linha visto e que queria observar<br />
melhor.<br />
Um rápido relance foi baslanle para<br />
lhe dar a conhecer o local com todos os<br />
pormenores.<br />
No jardim <strong>de</strong> Santa-Scala reiua um<br />
adoravel <strong>de</strong>s<strong>de</strong>m pela cultura e pela symelria;<br />
vê-se que o gosto do príncipe o<br />
abandona a todos os caprichos naturaes<br />
da vegetação. As larangeiras, as acacias,<br />
as nespereiras, as arvores da Judêa,<br />
as palmeiras crescem, cruzam os<br />
seus ramos e confun<strong>de</strong>m as suas flores<br />
e os seus fructos, como se <strong>de</strong> um só<br />
tronco, á semelhança do mulliplicante<br />
indiano, sahissem <strong>de</strong> um só germen todos<br />
estes vegetaes <strong>de</strong> tão variados tons,<br />
formas e perfumes A herva fazia ondas<br />
<strong>de</strong> velludo <strong>de</strong>baixo das arcadas d'esta<br />
floresta que se elevava em amphitheatro<br />
e, como 110 jardim Durazzo, chegava<br />
aos telhados do palacio.<br />
I m p r e s s o n u T j p o j f r u p h l »<br />
O p e r a r i a — Largo da Freiria n.»<br />
14, proximo a rua dos Sapatíiíos, —•<br />
COIMBRA.
1\\«) I-N.' 88 O DEFEMSOR DO POVO 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 18®8<br />
O T II li O S<br />
PA HA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria.<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
LIVROS<br />
WVELOPE8<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
Annuncios grátis recebendo-se<br />
um exemplar.<br />
Agencia Universal Portugueza<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Esta agencia encarrega se <strong>de</strong> redigir<br />
e fazer inserir annuncios, communicados<br />
e reclames em todos os jornaes do Porto,<br />
Lisboa, províncias e estrangeiro.<br />
Incumbe-se da redacção <strong>de</strong> estatutos,<br />
relatorios, circulares, requerimentos, cartazes,<br />
prospectos, manifestos, etc, encarregando-se<br />
também <strong>de</strong> os fazer imprimir<br />
e distribuir quando o cliente assim o<br />
<strong>de</strong>seje, reeponsabilisando-se pela niti<strong>de</strong>z<br />
e perfeição do trabalho lypographico assim<br />
como pela escrupulosa distribuição.<br />
Toma conta <strong>de</strong> qualquer trabalho <strong>de</strong><br />
copia.<br />
Acceita quaesquer publicações á commissão,<br />
ou em <strong>de</strong>posito, encarregando-se<br />
da sua venda e distribuição.<br />
Salisfaz com rapi<strong>de</strong>z, Iodas as encommendas<br />
<strong>de</strong> quaesquer livros nacionaes<br />
e estrangeiros.<br />
Recebe assignaturas e annuncios para<br />
todos os jornaes e publicações litterarias<br />
nacionaes e estrangeiras, pois está em<br />
correspondência directa com as principaes<br />
emprezas e livrarias; tendo representação<br />
e correspon<strong>de</strong>ntes em Iodas as<br />
principaes cida<strong>de</strong>s.<br />
Rua <strong>de</strong> D. Pedro, 110 — 1.*<br />
PORTO<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
111 F| e ® ,,lll, •® a o publico e em es-<br />
JLf pecial a todos os senhores que<br />
tem os seus prédios sèguros contra incêndio<br />
na Compauhia União, <strong>de</strong> Madrid,<br />
com se<strong>de</strong> e administração na cida<strong>de</strong> do<br />
Porto, e cujos seguros se realisarão neste<br />
cida<strong>de</strong> para minha intervenção, que do<br />
commum acordo com a referida direcção<br />
transferi este cargo d'agente da mesma<br />
companhia para o ex. mo sr. Joaquim Maria<br />
Martins, negociante nesta cida<strong>de</strong>, com<br />
com estabelecimento na rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz <strong>de</strong> louças e crystaes n. os 82, 84<br />
e 86, on<strong>de</strong> os segurados nesta companhia<br />
po<strong>de</strong>rão pagar os prémios dos seus<br />
seguros e o publico concorrer a realisar<br />
outros que pretendam.<br />
<strong>Coimbra</strong> 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1893.<br />
Antonio Joaquim Valente.<br />
Administração rua-<strong>de</strong>Ferreira Borges,<br />
29 — 1,°.<br />
BIGYCLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101—Rua do Viseon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
COIMBRA<br />
93<br />
ata caia acaba <strong>de</strong> receber um<br />
explendido sortido <strong>de</strong> Bicycletes<br />
dos primeiros auctores, como é Humber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôcas.<br />
A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Bicycletes<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120)51000 réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110$000 !!!<br />
Tem<br />
amadores.<br />
condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
A R T I C I P A - .<br />
ÇÔES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria j<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.IiTIMA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Espeçialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
I&HETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
t preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
I T K O S<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
, IMPRESSOS<br />
PAKA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
L A R O - O JD -A. F R E I R I A ,<br />
DEPOSITO DA VABUGA NACIONAL<br />
lOLà€BA!<br />
DE<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
g ivrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
11 junto e a relallio, lodos os pueduclos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
ií«! 'in .W j ' * -B .Ji • ' • ' . -<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RIJA DO PRÍNCIPE" E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO BODSISDES BRASA, SOCCESSOD<br />
17—ADRO DE CIMA — 20<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
C O I M E<br />
20<br />
2 A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
£x e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> cordas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, mriré, glncé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças douradas<br />
(tara adultos e crianças.<br />
Continua a encarreg--tr-.se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
,e trasladações, lan.lo nesla cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM GOMPETENGIA<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, l.°<br />
XAROPE DE PHELLANDRIO<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
5 E? B t e xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qual-<br />
Eai quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças «Je<br />
peito. Foi ensaiado com oplimos resultados nos hospilaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
' pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas & Yiegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />
61, 65.<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ARTAZES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VISOS<br />
PABA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
COfANIIIA 1 filM 'TAMIS<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIS 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° ll-i.°<br />
POMADA m m HERPES E EMP1BEIS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA: — Serze<strong>de</strong>llo tf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos — Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
COMPANHIA SE m m<br />
«FIDELIDADE<br />
FUNDADA EM 183S<br />
Capital pb. «.344:000^000<br />
79 E sta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma seguros<br />
contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobílias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong> — Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinhas, n.° 45.<br />
ESTAÇÃO DA MODA<br />
DOMINGOS JOSÉ SOMES<br />
SUCESSOR DE CALDAS DA CUNHA<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar a esta casa o seguinte:<br />
Chapéus capotes e redondos para<br />
senhora.<br />
Chapéus para creança.<br />
Boinas o que ha <strong>de</strong> mais chic.<br />
Voiles em differentes côres.<br />
Fazendas para vestidos.<br />
Capas romeiras o que ha <strong>de</strong> mais<br />
novida<strong>de</strong>.<br />
Camisas <strong>de</strong> exford etc., etc.<br />
Lindíssimos cortes <strong>de</strong> veslido em<br />
escocer a 4$000 réis.<br />
Enviam-se amostras a quem as pedir.<br />
111 — R. <strong>de</strong> Ferreira Borges — 113<br />
COIMBRA<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 ftn Kunes dos Sanjpk<br />
tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18-COIMBRA<br />
111 \t e n a e ~ m t í uma quinta com paul<br />
* para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
•<br />
iMííi iiipaiT<br />
MARCA «ANCORAS»<br />
¥' (HRH<br />
105 |f ?en,,e - se n o estabelecimento<br />
JULIO DA CUNHA PINTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
110 lf e n , l e - ! S e u m piano com pouco<br />
» uso, e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>.<br />
Quem o perten<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> vel o a toda a<br />
hora ha rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz n.° 59.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.®<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração r— dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno WOO<br />
Semestre....<br />
Trimestre...<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
ÍJÍ330<br />
680<br />
Sem estampilha<br />
Anno "... 21400<br />
Semestre.... 1J200<br />
Trimestre... 600
0 quarto Estado<br />
A onda revolucionaria que vae<br />
subindo e se alastra, num crescendo<br />
que aleira a burguezia conservadora,<br />
lem "tomado nos ullimos<br />
annos Ião gran<strong>de</strong> vullo, <strong>de</strong> tal modo<br />
se vae impondo ás allenções <strong>de</strong> todos,<br />
que já ninguém ó indifferenle<br />
ao seu movimento assencional e invasor.<br />
«<br />
A classe proletaria; que atravez<br />
dos> séculos tem vivido esquecida<br />
sempre, e sempre escravisada;;<br />
submettida ora ás oligarcbias feudaes<br />
na servidão da gleba, ora aoi<br />
jugo esmagador da realeza <strong>de</strong>spótica,<br />
ora nesse regimen pseudo-liberal<br />
á escravisação dos Capitães,<br />
sem garantias
ANXO I—X." 89 O D E F E I S O R DO P O V O * <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
C E Y S T A B S<br />
As ondinas<br />
Na praia tranquilla murmuram sonoras<br />
As ondas do mar.<br />
E, ao doce das aguas murmuiio palreiro,<br />
Na areia dormita gentil cavalleiro<br />
A', luz do luar.<br />
As bellas ondinas emergem das grutas<br />
De vivo coral,<br />
Acorrem ligeiras, e apontam, sorrindo,<br />
O moço que julgam <strong>de</strong>véras dormindo<br />
No argenteo areal.<br />
Vem esta, perpassa do gorro nas plumas<br />
As mãos <strong>de</strong> setim.<br />
E aquella, com gesto divino, gracioso,<br />
Nos ares levanta do joven formoso<br />
O áureo telim.<br />
Ess'outra, que lavas, que fogo não vibram<br />
Seus olhos <strong>de</strong> anil 1<br />
Debruça-se e arranca-lhe a rutila espada,<br />
Nos copos brilhantes se apoia azougada,<br />
Travessa e gentil.<br />
A quarta, saltando, retouça, lasciva,<br />
Do moço em redor;<br />
Suspira mansinha, <strong>de</strong> manso murmura:<br />
«Po<strong>de</strong>sse eu em vida gozar a ventura<br />
Do teu fino amor 1»<br />
A quinta rebeija-lbe as mãos, enlevada<br />
Num sonho feliz,<br />
E a sexta, coin tremula e doce esquivança,<br />
Perfuma-lhe a bocca, formosa creança I<br />
Com beijos subtis...<br />
E o moço, fingindo que dorme tranquillo,<br />
Não quer acordar.<br />
E <strong>de</strong>ixa que o abracem as bellas ondinas<br />
E languido gosa caricias divinas<br />
A' luz do luar...<br />
GONÇALVES CRESPO.<br />
LETTRAS<br />
Contos americanos<br />
PROPHIiCIAS El-ECTRICAS<br />
Tome cuidado, doutor, cautella não<br />
lhe quebre alguma coisa, como eu outro<br />
dia fiz ao parisiense ! Os jornaes eléctricos<br />
não se cançarão <strong>de</strong> censurar.<br />
— Oh 1 está muito bem agora, disse<br />
o ouiro medico.<br />
E dirigindo-se a mira: como se sente,<br />
senhor?<br />
— Sinto o cerebro um pouco lúcido,<br />
respondi, mas o que aconteceu? parece<br />
que o capitoiio <strong>de</strong> Washington me caliiu<br />
em cima.<br />
— Está enganado, senhor, esse gran<strong>de</strong><br />
monumento sumiu-se pela terra <strong>de</strong>ntro,<br />
como o pistão d'uma bomba, parece-me<br />
que Ira perto <strong>de</strong> mil annos. O<br />
peso arraslou-o. Tinha <strong>de</strong>ntro um cerebro<br />
<strong>de</strong>masiadamente gran<strong>de</strong>. Ha <strong>de</strong> haver<br />
duzentos annos fizemos <strong>de</strong>senterrar<br />
a coroa da cupula e vêl a-heis em exposição<br />
no nosso museu nacional <strong>de</strong> archeologia,<br />
como um dos mais beilos specimens<br />
da arte primitiva da America.<br />
Aiuda esta manhã tivemos distincloi visitantes,<br />
vindos expressamente da Ethiopia,<br />
gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> civilisaçâo. Manifestaram<br />
um prazer extremo no estudo<br />
dos progressos realisados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período<br />
barbaro <strong>de</strong> 1888 até ao feliz anno<br />
3000, em que temos a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver.<br />
Os viajantes foram fuzilados á chegada<br />
e á partida.. .<br />
— Fuzilados! exclamei com horror.<br />
E falaes <strong>de</strong> civilisaçâo!... V'<br />
— Descance, senhor, disse o doutor<br />
tranquillamente. Comprehendo o seu engano.<br />
Os nossos touristes ethiopios não<br />
receberam tiros, mas vieram á Ncw-York<br />
pelo carro relampago, lançados por uma<br />
arma electrica, como outr'ora uma bala<br />
<strong>de</strong> chumbo. O systeiua é commodo e <strong>de</strong><br />
um uso universai. E' o ruodo <strong>de</strong> transito<br />
mais rápido e bastam dois minutos<br />
para dar a volta ao mundo, comprehen<strong>de</strong>ndo<br />
os refrescamentos — electricos, já<br />
se vê.<br />
Fiquei pensativo alguns segundos.<br />
— Como se sente agora?<br />
— Tudo o que lhe posso dizer, é que<br />
o meu cerebro funeciona regularmente<br />
mas que o meu corpo parece <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />
— Ali! Ah ! exclamou o medico com<br />
um arsíuho scientilico.<br />
E voltando-se para o seu collega:<br />
— Os impon<strong>de</strong>ráveis não começaram<br />
ainda a funccionar.<br />
— Sinlo-me exquisilo, continuei eu,<br />
soffro uma impressão singular, como se<br />
eu tivesse sido <strong>de</strong>s... <strong>de</strong>s..,<br />
— Dessecado ?<br />
— Não.<br />
--Ali! eutendo, <strong>de</strong>slocado?<br />
— Não, não! quero dizer <strong>de</strong>, é...<br />
não pusso acabar a palavra.<br />
— Doutor, disse o sábio ao companheiro,<br />
traga-me o Mnémophone, se faz<br />
favor.<br />
Veiu um pequeno iustruraento; collocaram<br />
um fio electrico <strong>de</strong>baixo do pé<br />
da nieza, um outro ao ouvido do massador.<br />
— E' secco que o senhor quéria dizer,<br />
disse o doutor simplesmente, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ler acertado o instrumento.<br />
— E' isso ! exclamei.<br />
— Está bem, continuou solemnemente<br />
o sábio, a verda<strong>de</strong> é que o senhor<br />
foi secco, como diz na sua lingua imperfeita.<br />
Nós dizemos electrisado.<br />
Aborrecidos da vida, pelos fins <strong>de</strong><br />
janeiro <strong>de</strong> 1889, pelo espectáculo das<br />
dissenções politicas d"essa miserável epocha,<br />
tomou o amigo o partido <strong>de</strong> se suicidar<br />
...<br />
— Cautella, senhor, veja o que<br />
diz... não me <strong>de</strong>ixarei accusar.. .<br />
— Emfim, para evitar questões, continuou<br />
o doutor, o gran<strong>de</strong> fundador da<br />
nossa admiravel sciencia,, um cbfuro<br />
sábio d'essé tempo, Theophilo Smith, salvou-vos,<br />
eleclrisando-vos Quarenta annos<br />
mais tar<strong>de</strong>, quando elle <strong>de</strong>u publicida<strong>de</strong><br />
ao resultado das suas maravilhosas<br />
<strong>de</strong>scobertas, Smith <strong>de</strong>ixou por testamento,<br />
o seu corpo com o d'elle, a seus<br />
discípulos. Fizemos reviver o nosso glorioso<br />
Theophilo Smith, ha século e<br />
meio.<br />
Vou apresenlal-io<br />
O doutor chamou: John I<br />
— Em nome do céo, exclamei eu,<br />
não faça tal; elle é capaz <strong>de</strong> repelir a<br />
experiencia.<br />
— Não tenha receio... Nós não violentamos<br />
ninguém, mas eu continuo :<br />
Os discípulos <strong>de</strong> Smith fizeram gran<strong>de</strong><br />
negocio.<br />
Experimentamos o processo com um<br />
especulador <strong>de</strong> terrenos que tinha comprado<br />
por baixo preço uns pantanos, na<br />
esperança <strong>de</strong> os vêr em breve valerem<br />
<strong>de</strong>z vezes mais. O nosso homem não<br />
queria dar-se ao trabalho <strong>de</strong> esperar.<br />
Foi electrisado <strong>de</strong> noite, e acordou só<br />
passados 30 annos, já milionário. Este<br />
exemplo <strong>de</strong>u nome á nova invenção. Todos<br />
os especuladores infelizes, banqueiros,<br />
jogadores <strong>de</strong> bolsa em alta e baixa<br />
etc., acharam em nós uns salvadores.<br />
Neste momento tivemos mais <strong>de</strong><br />
3.000:000 <strong>de</strong> freguezes que dormem o<br />
somno da morte electrica, scientilico e<br />
provisorio, para acordarem um dia com<br />
gran<strong>de</strong>s fortunas.<br />
Este novo ramo da sciencia medica<br />
enriqueceu se com <strong>de</strong>scobertas importantes.<br />
Em resumo: New-York tornou-se o<br />
primeiro centro scientifico, mas da sciencia<br />
applicada ao commercio.<br />
Esfreguei os olhos, maravilhado com<br />
laes novida<strong>de</strong>s.<br />
—Isto admira-o, continuou o doutor.<br />
Mas não é tudo.<br />
Fazer ricos não basta. Nós encontramos<br />
o meio' <strong>de</strong> fabricar o bom senso<br />
por grosso e ven<strong>de</strong>i-o a retalho.<br />
—Oh! Olil Como pô<strong>de</strong> isso ser?<br />
—Nada mais simples. Uma machina<br />
electrica especial recolhe os germens <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ias que andam 110 ar. E' uma das<br />
mais admiraveis inveuções do anno 2998.<br />
Fixamos e incorporamos estes germens<br />
com o extracto conceutrado das obras dos<br />
gran<strong>de</strong>s homens dos tempos antigos.<br />
Este trabalho é feito pelo Ominphon»,<br />
uma outra machina muito curiosa. Depois,<br />
preparada assim a matéria prima é<br />
posta em contado com o gran<strong>de</strong> svmpathico.<br />
Não lemos mais do que fazer funccionar<br />
a bateria electrica, apoiando o<br />
polo positivo ao orgão da memoria. As<br />
cellulas do tecido nervoso recebera os<br />
crespusculos <strong>de</strong> bom senso, que são muito<br />
naturalmente distribuídos pela circulação<br />
em todo o corpo humano. Graças<br />
a esta bella invenção, a loucura, o idiotismo,<br />
a massa politica, o fanatismo puritano,<br />
<strong>de</strong>sappareceram quasi completamente<br />
da nossa gloriosa União Americana.<br />
Os gran<strong>de</strong>s homens díspensamol-os<br />
vivendo todos <strong>de</strong>baixo do mesmo teclo.<br />
Olhei em volta <strong>de</strong> mim e pela primeira<br />
vez vi que as ruas eram cobertas<br />
com céus <strong>de</strong> vidro, alumiados e ventilados<br />
scientilicarnente.<br />
Os transeuntes não tinham pois necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> chapéu, e na multidão, não<br />
vi um único careca.<br />
O meu rosto exprimiu certamente<br />
gran<strong>de</strong> surpreza porque o meu doutor<br />
me disse <strong>de</strong> repente num tom muito sério<br />
:<br />
— Nfo <strong>de</strong>ve vêr tudo ao mesmo tempo,<br />
fatigar-se iá. Antes, é preciso tomar<br />
forças.<br />
Voltou se para o ajudante.<br />
— John. traga o Soupograplie n.° 14.<br />
Dispozeram a machina <strong>de</strong> maneira a<br />
actuar sobre a minha região eju^nstrica,<br />
e senti immediatamenle uma sensação<br />
agradavel, como se tivesse comido um<br />
excellente jantar á franceza.<br />
(Continua).<br />
Jehan Sondan.<br />
O l.° <strong>de</strong> maio<br />
E m Lisboa — A manifestação na<br />
capital consistia essencialmente em prestar<br />
homenagem ao glorioso José Fontana,<br />
que tão salutares exemplos legou da sua<br />
memoria aos operários.<br />
Para essa bem cabida manifestação<br />
adheriram gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associações<br />
que se dirigiram ao cemiterio dos<br />
Prazeres, acompanhados <strong>de</strong> muitos populares.<br />
A multidão é computada em 10:000<br />
pessoas.<br />
Discursaram os srs. Conceição Fernan<strong>de</strong>s<br />
e Azedo Gnecco, que esboçaram<br />
succintamente as virtu<strong>de</strong>s civicas <strong>de</strong> José<br />
Fontana, ineitando-os á lucta.<br />
Foram <strong>de</strong>postas muitas corôas e ramos,<br />
sobresaindo as flores da carreta da<br />
Voz do Operário.<br />
A' 1 hora da tar<strong>de</strong> reuniu-se um comício<br />
que approvou uma representação<br />
ao governo pedindo a egualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas<br />
<strong>de</strong> trabalho para todos os operários<br />
do estado, dos municípios e das indu»trias<br />
particulares.<br />
Faltaram vários operários, pondo em<br />
relevo a justiça da sua reclamação.<br />
A' noite realisaram-se sessões solemnes<br />
em varias associações operarias.<br />
Vários particulares e varias associações<br />
distribuíram bodos ás viuvas <strong>de</strong><br />
operários pobres.<br />
No Porto — Na Serra do Pilar<br />
realisou-se um comício que foi pouco<br />
concorrido, por 3:000 pessoas apenas<br />
Gran<strong>de</strong> apparato policial sendo afinal<br />
tudo feito em boa or<strong>de</strong>m.<br />
Em Setúbal — Houve uma sessão<br />
solemne, em que fallou a sr. a D.<br />
Angelina Vidal, acerca das reivindicações<br />
do 1.° <strong>de</strong> maio, sendo muito vicloriada<br />
Foi lambera distribuído um manifesto.<br />
Esteve <strong>de</strong> prevenção o regimento <strong>de</strong><br />
caçadores 1.<br />
Em Almada — Duas philarmonicas<br />
tocaram a alvorada, ás 5 da manhã.<br />
Realisou-se um comício em que discursaram<br />
muitos operários. A' noite illuminações.<br />
E m Silves — Imponente reunião,<br />
approvando uma representação. Fizerara-se<br />
representar os operários <strong>de</strong> Faro.<br />
E m Peniche — Também em Peniche<br />
se festejou o 1.° <strong>de</strong> maio, havendo<br />
uma procissão cívica ao cemiterio.<br />
Pelo estrangeiro:— Madrid, 2.<br />
— As - manifestações operarias tiveram<br />
era geral caracter pacifico. Barcelona<br />
apresentava o seu aspecto normal. Só<br />
alguns operários fizeram a festa, estando<br />
fechadas as fabricas.<br />
Em Vigo realisou-se um comício, fazendo-se<br />
em seguida um pediiorio a favor<br />
dos operários presos. Em Sevilha<br />
não houve comício nem manifestações.<br />
Em Santan<strong>de</strong>r assistiram muitas mulheres<br />
ao comício alli realisado.<br />
Na região mineira <strong>de</strong> Bilbau 300<br />
operários tentaram impedir outros <strong>de</strong><br />
trabalhar, acudindo a guarda civil, a fim<br />
<strong>de</strong> evitar coacções. Como os operários<br />
resistissem, a guarda civil fez fogo, ferindo<br />
um d'elles.<br />
Madrid, 1. — Acabou agora sem inci<strong>de</strong>nte<br />
algum o comício socialista no<br />
jardim do Buen Retiro Foram pronunciados<br />
violentos discursos contra a burguezia,<br />
e leram-se adhesões dos socialistas<br />
do Paris, Londres, Berlin, Milão e<br />
Bucharest. A concorrência foi numerosa.<br />
Paris, 1. — Em Paris, no termo e<br />
nas províncias, não lem occorrido até<br />
agora nenhum inci<strong>de</strong>nte. Em todos os<br />
centros operários, Lille, Boubaix, Tourcoing,<br />
Sain-Eiienne, Carmaux, Decazeville,<br />
Marseille, Monlluçon, Nantes,<br />
Amiens, Lyon, etc., o dia annuncia-se<br />
tranquillo. Alguns operários guardam<br />
hoje feriado, nomeadamente em Lyon.<br />
A fo'ga é quasi completa em Toulon.<br />
Telegrammas <strong>de</strong> Bruxellas, Roma, Vienna;<br />
Berlim e Londres dizem que estas<br />
capitaes apresentam a sua physionomia<br />
habitual, trabalhando a maior paite dos<br />
operários. Em Londres ha vários comícios.<br />
Paris, 1.—Foi preso na praça <strong>de</strong><br />
Bepublica o <strong>de</strong>putado socialista Baudin,<br />
por incitar o povo a fazer uma gran<strong>de</strong><br />
manifestação.<br />
Em Marselha e Roubaix as municipalida<strong>de</strong>s,<br />
que são socialistas, receberam<br />
numerosas <strong>de</strong>legações <strong>de</strong> operários que<br />
lhes foram apresentar as suas reivindicações.<br />
Paris, 1.—Em Paris, no termo e<br />
nas províncias, não tem occorrido até<br />
agora nenhum inci<strong>de</strong>nte. Em lodos os<br />
centros operários, Lille, Roubaix, Tourcoing,<br />
Saint Etienne, Carmaux, Decazevílle,<br />
Marseille, Montluçon, Nantes,<br />
Amjens, Lyon, etc. o dia annuncia-se<br />
tranquillo. Alguns operorios guar<strong>de</strong>m<br />
hoje feriado, nomeadamente em Lyon. A<br />
folga é quasi completa em Toulon-Tclegrammas<br />
<strong>de</strong> Bruxellas, Roma, Vienna,<br />
Berlim e Londres dizem que estas capilaes<br />
apresentam a sua physionomia habitual,<br />
trabalhando a maior parte dos<br />
operários. Em Londres ha vários comícios.<br />
Paris, 1. — Foi preso na praça da<br />
Republica o <strong>de</strong>putado socialista Baudin,<br />
por incitar o povo a fazer uma gran<strong>de</strong><br />
manifestação.<br />
Em Marselha e Itoubaix as municipalida<strong>de</strong>s<br />
que são socialistas, receberam<br />
numerosas <strong>de</strong>legações <strong>de</strong> operários que<br />
lhes foram apresentar as suas reivindicações.<br />
Londres, 1. — Reinou socego absoluto.<br />
Não houve nenhuma manifestação<br />
ruidosa Nas províncias rebentaram algumas<br />
grèves parciaes.<br />
Vienna, 1.—Realisou-se a manifestação<br />
operaria no Prater. Houve folga<br />
geral, mas sem inci<strong>de</strong>ntes.<br />
Paris, 1. —Tem havido algumas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />
sem imporlancia, elíecluando-se<br />
dive^as prisões, nas proximida<strong>de</strong>s da<br />
Bolsa do Trabalho. O <strong>de</strong>putado socialista<br />
Baudin foi solto já. A camara dos <strong>de</strong>putados<br />
discute sem inci<strong>de</strong>nte os projectos<br />
da sua or<strong>de</strong>m do dia. Varias <strong>de</strong>legações<br />
operarias compostas <strong>de</strong> cinco pessoas são<br />
recebidas no Palacio Bourbon e apresentam<br />
petições em favor do dia normal <strong>de</strong><br />
trabalho <strong>de</strong> 8 horas.<br />
Pillula dourada<br />
As bases para o contracto do caminho<br />
<strong>de</strong> ferro Quelimane Chire já foram<br />
remmettidas á procuradoria geral da<br />
coroa, acompanhadas <strong>de</strong> umas aclarações<br />
do sr. ministro da marinha, consignado<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que o contracto tenha o caracter<br />
<strong>de</strong> provisorio.<br />
Mo é um nariz.<strong>de</strong> cera, para applacar<br />
os protestos que se esião lavrando<br />
contra este acto anti patriótico e immoral<br />
do referido sr. ministro da marinha.<br />
Bibliographia<br />
<strong>Obra</strong> <strong>de</strong> propaganda socialista, o<br />
Ensaio sobre o socialismo scientifico, <strong>de</strong><br />
Argyriadés, emerito publicista que tanto<br />
se tem <strong>de</strong>votado á obra da solução da<br />
queslão social, é um livrinho que merece<br />
ser lido e estudado. E' um trabalho synthetico,<br />
sem nublações philo.-ophicas, ao<br />
alcance, pois, <strong>de</strong> todas as inlelligenciás.<br />
Estú<strong>de</strong>m-se as questões sociaes que<br />
são estas as questões da actualida<strong>de</strong>, revestidas<br />
d'um interesse palpitante; e<br />
aquelles que não teem educação scientifica,<br />
que lhes permitia o estudo profundo<br />
das lheorias socialistas, estu<strong>de</strong>m nestas<br />
pequenas monographias, que os habilitarão<br />
a comprehen<strong>de</strong>r, em synlhese, as<br />
questões sociaes.<br />
Nlal com Deus...<br />
Parece que não irá para a vaga no<br />
conselho d'estado o notável patuleia,<br />
José Dias. Esta vaga será preenchida<br />
pelo sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ficalho.<br />
Já nem o paço quer esta rica prenda<br />
! Bem se diz — mal com Deus por<br />
causa do Diabo, etc.<br />
Notas d'exilio<br />
É o livro que acaba <strong>de</strong> publicar o<br />
sineero <strong>de</strong>mocrata e erudito escriptor,<br />
sr. José <strong>de</strong> Sampaio (Bruno).<br />
EM SURDINA<br />
Sua magesta<strong>de</strong> el-rei enviou<br />
á Associação dos bombeiros<br />
voluntários uma rica<br />
caixa contendo duas ricas<br />
escovas.<br />
A prenda da magesta<strong>de</strong>,<br />
tão fallada na cida<strong>de</strong>,<br />
- os coramentarios inflamma I<br />
Dizem que aquillo é piada,<br />
uma real brejeirada...<br />
que redunda em epigjamma f<br />
Quando el-rei nos visitou,<br />
quem na borga mais brilhou<br />
com ruídos patriotas...<br />
foi o Zé Povo da bomba<br />
que lhe <strong>de</strong>u vivas d'arromba<br />
puchando-lhe o lustro — ás botas I...<br />
El-rei, que aveza dinheiros,<br />
grato aos nossos bombeiros,<br />
quiz-lhe enviar esta offrenda :<br />
— Duas 'scovas numa caixa 1... —<br />
Se junto não veiu a graxa<br />
p'ro anno manda — a commenda I<br />
PINTA-ROXA.<br />
A questão dos tabacos<br />
Entre o sr. Fuschini ministro da fazenda<br />
e um dos seus collegas lavra<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sintelligencia, com relação á<br />
questão dos tabacos," e aflirma-se que<br />
este facto trará ura conflicto serio, mostrando-se<br />
ao paiz, a toda a luz, esta<br />
enorme ladroeira.<br />
Se não for possivel abafar este conflicto<br />
diz-se que a questão dos tabacos<br />
po<strong>de</strong>rá figurar ao lado do já celebre Panamá.<br />
Veremos o que faz o sr. Fuschini.<br />
Urbino <strong>de</strong> Freitas<br />
Acerca da importantíssima diligencia,<br />
que muita luz lança sobre os crimes attribuidos<br />
a Urbino <strong>de</strong> Freitas, conta se<br />
o seguinte:<br />
E' o caso que o <strong>de</strong>legado da l. a<br />
vara soube que etiegára do Brazil, e estava<br />
em Arcos <strong>de</strong> Val-<strong>de</strong> Vez, o sr.<br />
Manoel Bento <strong>de</strong> Brito e Cunha, que era<br />
testemunha importantíssima no processo<br />
<strong>de</strong> Urbino <strong>de</strong> Freitas.<br />
Dirigindo se logo áquella localida<strong>de</strong>,<br />
e interrogado o sr. Cunha, <strong>de</strong>clarou o<br />
seguinte:<br />
Tendo partido do Porto para Lisboa,<br />
com o li01 <strong>de</strong> embarcar para o Brazil,<br />
110 dia 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1890, e indo em<br />
companhia <strong>de</strong> sua esposa e filhos, na<br />
mesma carruagem <strong>de</strong> I . a classe encontrou<br />
um individuo <strong>de</strong> bigo<strong>de</strong>, luneta escura,<br />
chapéu carregado para os olhos e<br />
sobretudo com a golla para cima.<br />
Entabolaram conversação, e o individuo<br />
<strong>de</strong>clarou chamar-se Eduardo da<br />
Motta, e ser lente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
Disse mais levar comsigo uma eucommenda<br />
cora que um amigo <strong>de</strong>sejava<br />
fazer uma surpreza á família.<br />
Em Estarreja ou Aveiro, o <strong>de</strong>sconhecido,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> encher a guia, pediu ao<br />
sr. Cunha que se encarregasse <strong>de</strong>ssa<br />
expedição, ao que elle acce<strong>de</strong>u, recebendo<br />
por isso 300 réis.<br />
Proximo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o chamado Motta<br />
<strong>de</strong>spediu se do sr. Cunha, agra<strong>de</strong>cendo<br />
a sua amabilida<strong>de</strong>.<br />
Ora a encommenda era uma caixa <strong>de</strong><br />
papelão embrulhado em papel grosso, lacrado<br />
a vermelho, e com o en<strong>de</strong>reço<br />
para D. Berta Sampaio, moradora ua<br />
rua das Flores, Porto.<br />
Chegaudo a Lisboa, o sr. Cunha expediu<br />
a cartonagem pelo correio, como<br />
ihe fôra pedido, e <strong>de</strong>pois partira par» o<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. Só mais tar<strong>de</strong> é que<br />
soubera, pelos jornaes, do envenenamento<br />
da família Sampaio, conheceudo então<br />
que fôra cúmplice inconsciente do<br />
criminoso, e ficando logo convencido <strong>de</strong><br />
que o Eduardo Motta não era outro senão<br />
Urbiuo <strong>de</strong> Freitas. E não <strong>de</strong>ra logo<br />
conhecimento d isto tudo a ju-aiça, por<br />
uão po<strong>de</strong>r fazer uma viagem a Portugal<br />
em tal occasião.<br />
Todas estas <strong>de</strong>clarações foram confirmadas<br />
pela esposa do sr. Cunha, e <strong>de</strong>pois<br />
por um seu cunhado e por seu sogro,<br />
que, quando d elle se <strong>de</strong>spediram<br />
em 1890, viram o tal <strong>de</strong>sconhecido ua<br />
carruagem <strong>de</strong> 1 a classe.<br />
Em vista d'isto, 110 sahbado pela manhã<br />
Urbino <strong>de</strong> Freitas, acompanhado pelo<br />
<strong>de</strong>legado, commissano geral e vários<br />
agentes <strong>de</strong> policia, foi aos Arcos, a fim<br />
<strong>de</strong> ser acareado com o sr. Cunha, que<br />
immediatamente o reconheceu como sendo<br />
o seu companheiro <strong>de</strong> caminho <strong>de</strong><br />
ferro, e como o proprio que lhe entre.
ANNO I — M.* 83 O DEFENSOR DO POVO 41 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1S93<br />
gou a caixa das amêndoas para expedir<br />
<strong>de</strong> Lisboa para o Porto.<br />
Urbino <strong>de</strong> Freitas, esse, visivelmente<br />
perturbado, proferiu algumas palavra»<br />
como para se justificar. Mas o sr. Cunha<br />
insistiu no que allegava. Sua esposa<br />
egualmente reconheceu o criminoso.<br />
Telegrammas <strong>de</strong> domingo á noite dizem<br />
que Urbino <strong>de</strong> Freitas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> jantar<br />
nós Arcos, pernoitou no hotel da Boa<br />
Vista, em Braga, guardado por dois<br />
guardas civis portuenses. Dormiu socegadamente,<br />
sendo acordado ás 3 e meia<br />
da manhã para seguir para o Porto, on<strong>de</strong><br />
chegou acompanhado pelo coramissario<br />
geral, <strong>de</strong>legado Pestana da Silva e vários<br />
policias.<br />
Urbino <strong>de</strong> Freitas durante o caminho<br />
conservou o maior sangue frio.<br />
Eram 9 horas da manhã <strong>de</strong> domingo<br />
quando chegou ao Porto, sendo esperada<br />
á porta da ca<strong>de</strong>ia por muita gente.<br />
Ao meio dia, Urbino <strong>de</strong> Freitas realisou<br />
uma conferencia com o seu advogado<br />
dr. Alexandre Braga, conferencia<br />
que durou cerca <strong>de</strong> hora e meia.<br />
O auto das primeiras <strong>de</strong>clarações do<br />
sr. Brito e Cunha, feito pelo tabellíão,<br />
tendo servido <strong>de</strong> testemunhas o presi<strong>de</strong>nte<br />
da camara, parocho, etc., vae ser<br />
enviado ao <strong>de</strong>legado da comarca <strong>de</strong> Arcos<br />
para elle enviar o mesmo auto <strong>de</strong>vidamente<br />
legalisado para o Porto a fim<br />
<strong>de</strong> ser junto ao processo.<br />
Parece que o empregado do correio<br />
<strong>de</strong> Lisboa que <strong>de</strong>spachou a caixa <strong>de</strong><br />
amêndoas e que disse ao juiz do processo<br />
conhecer o individuo que a levara a<br />
<strong>de</strong>spachar, vae ser conduzido aos Arcos,<br />
a fim ser acareado com o sr. Brito e Cunha.<br />
O dito empregado andou acompanhado<br />
do chefe Lopes, por occasião do<br />
summario, procurando esse individuo em<br />
Lisboa e Porto.<br />
A auctorida<strong>de</strong> judicial quiz saber também<br />
se no correio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> existe ou<br />
alguém se lembra ter alli havido uma<br />
carta para Eduardo Motta, que <strong>de</strong>via<br />
conter, segundo as <strong>de</strong>clarações do sr.<br />
Brito e Cunha, as quatro estampilhas <strong>de</strong><br />
25 réis, excesso da quantia que lhe fôra<br />
entregue para <strong>de</strong>spacho da caixa das<br />
amêndoas. Como aqui não po<strong>de</strong>ram informar,<br />
averiguam em Lisboa.<br />
Como se vê, o processo <strong>de</strong> Urbino<br />
<strong>de</strong> Freitas vae provocar novos inci<strong>de</strong>ntes,<br />
e a opinião publica julga o envenenador<br />
absolutamente perdido.<br />
O assumpto do dia são as importantes<br />
<strong>de</strong>clarações do sr. Brito e Cunha.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Hygieiíe publica<br />
E' <strong>de</strong>testável o estado <strong>de</strong> immundicie<br />
em que se conservam algumas ruas<br />
da baixa, on<strong>de</strong> a vassoura municipal mal<br />
toca, e on<strong>de</strong> se faz <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> toda a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos, obrigando o transeunte<br />
a gran<strong>de</strong>s eslorços para conter<br />
os vomitos que lhe produz o cheiro<br />
34 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JÍLÍLLI 1 MICMO<br />
IX<br />
O leão em correrias<br />
Feita a sua observação, Talormi assegurou-se<br />
<strong>de</strong> que a parle superior do<br />
jardim confinava com o caminho publico,<br />
do qual estava separado apenas por um<br />
muro, que os annos, os transeuntes e a<br />
queda das aguas tinham esburacado e<br />
quasi <strong>de</strong>molido.<br />
Tornou a entrar no njmpheti para<br />
abi esperar Santa-Scala e tomou uns ares<br />
<strong>de</strong> botânico, que estuda alguma família<br />
<strong>de</strong> flores.<br />
Veio um creado annunciar que o<br />
príncipe recebia Talormi nos seus aposentos<br />
; e, caminhando a<strong>de</strong>ante, indicou a<br />
escada por on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong> subir o visitante.<br />
Santa-Scala, ao receber Talormi, não<br />
trazia já o vestuário com que se tinha<br />
apresentado a bordo. Era o ecclesiastico<br />
em todo o rigor das vestes sacerdotaes:<br />
— a mo<strong>de</strong>sta sotaina da sarja preta com<br />
o cinto negligentensente atado ao lado;<br />
volta e cabeção; largos sapatos com fivellas;<br />
cumprimentou Talormi, e, offere-<br />
•HE»<br />
nauseabundo que sabem d'aquellas niontureiras.<br />
A policia continua indifferente; passa,<br />
cheira, e não se inconimoda a dar<br />
provi<strong>de</strong>ncias, consentindo que as gaIlinhos<br />
se repastem por essas ruas e heccos,<br />
como se isto fôra uma al<strong>de</strong>ola.<br />
Da parte da camara e do vereador<br />
do pelouro respectivo a mesma inércia.<br />
Nada mais faèil do que regar essas rua*<br />
e beccos, remover toda essa sujida<strong>de</strong><br />
que está prejudicando a saú<strong>de</strong> dos seus<br />
habitantes, mas por is«o que é fácil se <strong>de</strong>ixa<br />
á revelia este pequeno trabalho que<br />
redundaria em beneficio da saú<strong>de</strong>.<br />
Nunca em <strong>Coimbra</strong> esteve tão <strong>de</strong>sprezada<br />
a limpeza das ruas, nem nunca<br />
chegou a tal <strong>de</strong>sleixo a indifferença da policia<br />
pelo que presenceia a todo o pasto:<br />
habitantes pouco escrupulosos fazerem<br />
das ruas' <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> immundicies <strong>de</strong><br />
toda a casta I<br />
A quadra em que vamos a entrar é<br />
perigosa e a não se tomarem quaesquer<br />
provi<strong>de</strong>ncias, nada admira que a saú<strong>de</strong><br />
publica seja assaltada por qualquer epi<strong>de</strong>mia<br />
<strong>de</strong> resultados funestíssimos.<br />
E' preciso atten<strong>de</strong>r a esse assumpto<br />
<strong>de</strong> importancia e <strong>de</strong> urgência.<br />
Audieucias gerne»<br />
Principiaram na sexta feira as audiências<br />
geraes, sendo julgados os seguintes<br />
reus:<br />
28 <strong>de</strong> abril — Francisco <strong>de</strong> Mattos<br />
— Hermenegildo <strong>de</strong> Mattos — Rosaria<br />
<strong>de</strong> Jesus — Ascanio Pereira Machado —<br />
e Antonio S,imões Motta, accusados <strong>de</strong><br />
crime <strong>de</strong> furto. Defeza olliciosa srs. drs.<br />
Cunha Leilão e Gaspar <strong>de</strong> Mattos.<br />
2 <strong>de</strong> maio—José Antonio dos Santos<br />
— José Ferreira — Antonio Ferreira —<br />
Caetano Simões — e Luiz Antonio Diniz<br />
<strong>de</strong> Carvalho, accusados <strong>de</strong> subtracção<br />
fraudulenta. Deleza srs. drs. Vieira e<br />
Gaspar <strong>de</strong> Mattos.<br />
Resultado :—O primeiro reu con<strong>de</strong>mnado<br />
a dois annos <strong>de</strong> prisão; segundo<br />
e terceiro a 6 mezes; quarto e quinto,<br />
ab-olvidos.<br />
Hoje, 5 — Benedicta Maria <strong>de</strong> Jesus<br />
da Silva —e José Augusto, crime <strong>de</strong><br />
prejurio. Defeza sr. dr. Sousa Bastos.<br />
Destacamento <strong>de</strong> cavailaria<br />
Foi retirado d'esla cida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>staca<br />
mento <strong>de</strong> cavallaria 10, regressando ao<br />
quartel, em Aveiro.<br />
Esta transferencia do <strong>de</strong>stacamento<br />
obe<strong>de</strong>ce ás or<strong>de</strong>ns ultimamente dadas<br />
pelo sr. ministio da guerra, que só con<br />
sente sejam mandados <strong>de</strong>stacamentos<br />
para localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> seja preciso manter<br />
a or<strong>de</strong>m.<br />
Aoa interssados<br />
Começou na segunda-feira, na repartjção<br />
competente, o atilamento <strong>de</strong> pesos<br />
e medidas, que <strong>de</strong>vera terminar no dia<br />
31.<br />
• A' Or<strong>de</strong>m»<br />
Com este titulo recebemos um artigo<br />
do sr. A. J. Sacadura, que pelo adiantado<br />
da hora e pela falta <strong>de</strong> espaço só<br />
po<strong>de</strong>mos publicar em o proximo numero.<br />
cendo-lhe uma ca<strong>de</strong>ira, assentou se ao<br />
seu lado.<br />
— Mousenhor, disse Talormi com<br />
modos respeitosos, não quiz <strong>de</strong>ixar<br />
acabar este dia sem apresentar as<br />
homenagens ao honrado irmão da senhora<br />
Van-Rjtter, ao illu-tre auseule cujo nome<br />
e cujo elogio estavam em todas as boccas<br />
na festa <strong>de</strong> honlem.<br />
— E' minha irmã quem se lisongeará<br />
com esta visita, respon<strong>de</strong>u Santa-Scala ;<br />
quanto a mim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> houtem sou iadiflerente<br />
ou estranho aos <strong>de</strong>veres do mundo<br />
; mas, ouvindo pronunciar o seu nome,<br />
sr. con<strong>de</strong>, apresei-me a recebei o, porque<br />
só nos po<strong>de</strong>remos tornar a encontrar<br />
passado muito tempo. Vou receber or<strong>de</strong>ns<br />
<strong>de</strong> diácono ; estarei ausente no convento<br />
dos dominicos duranle quinze dias, que<br />
começam ámanliã, <strong>de</strong>pois vou para Roma,<br />
on<strong>de</strong> lenciono concluir o meu terceiro anno<br />
lheologico no seminário do Vaticano. O<br />
casamento <strong>de</strong> minha irmã quebra todos<br />
os laços, que me prendiam ao muudo:<br />
agora vou-me <strong>de</strong>dicar inleiramente a.cuiri*<br />
prir os <strong>de</strong>veres do meu estado.<br />
— li' feliz, Monsenhor, disse Talormi<br />
em tom <strong>de</strong> convicção, por ter e po<strong>de</strong>r<br />
seguir uma tão santa vocação. O mundo<br />
é bem triste, é um perigoso mar: nós<br />
navegamos ainda e outros, como Monsenhor,<br />
já entraram no porto. Cada dia<br />
traz comsigo uma nova dôr... Esta<br />
manhã saímos d uma festa e esta tar<strong>de</strong><br />
soubemos que tinha corrido sangue...<br />
Theatro D. Luiz<br />
Consia-nos que a direcção d'este<br />
theatro, coadjuvada por um grupo <strong>de</strong><br />
indivíduos d'esta cida<strong>de</strong>, promove a<br />
assignatura para a constituição d'uma<br />
empreza que se proponha a reconstruir<br />
no mesmo local um theatro mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong><br />
construcção ligeira e <strong>de</strong> maiores dimensões.<br />
Para este fim, dizem-nos, vão ser<br />
adquiridos os prédios confinantes, o<br />
que dará suficiente espaço para uma ampla<br />
casa <strong>de</strong> espectáculos, em cuja construcção<br />
interna será empregue o ferro.<br />
Oxalá vá por diante esla i<strong>de</strong>ia e que<br />
os iniciadores consigam obter o numero<br />
<strong>de</strong> accionistas precisos para que <strong>Coimbra</strong><br />
seja dotada com mais esle melhoramento.<br />
Sabemos que a nova empreza <strong>de</strong>seja<br />
uma construcção solida, elegante,<br />
e que faculte ao publico boas commodida<strong>de</strong>s,<br />
e parece-nos que lhe será fácil<br />
obter tudo isto por uma quantia relativamente<br />
inferior se á direcção dos trabalhos<br />
presidir bom senso e economia.<br />
Octávio Lucas<br />
Esla esperançosa creança filho do nosso<br />
bom amigo, sr. José Anlonio Lucas,<br />
acaba <strong>de</strong> ser lapprovado no exame <strong>de</strong><br />
instrucção primaria.<br />
Regosija-nos este facto e porisso enviamos<br />
nos paes do examinando sinceros<br />
parabéns.<br />
Beneficio<br />
E no sabbado que se realisa no theatro<br />
D. Luiz, a recita <strong>de</strong> beneficio para<br />
o camaroteiro d'este theatro sr. Adriano<br />
Monteiro <strong>de</strong> Carvalho.<br />
O programma é attrahente e variado,<br />
representando-se as comedias: A familia<br />
Beserra, O tio Torquato, e Apanhei<br />
as Ires libras; e as cançonetas cómicas:<br />
Os Milagres, pelo sympathico Julio Lopes,<br />
o pequenino actor <strong>de</strong> 9 annos; e<br />
O pisca-pisca.<br />
Na recita tomam parte alguns académicos<br />
e o nosso amigo Francisco Lucas.<br />
As actrizes são do Porto: D. Belmira<br />
Sauguinetti e D. Carlota Velloso.<br />
Commissão distríctal <strong>de</strong> estatiatiea<br />
Como sahiu incompleta a lista dos<br />
membros d'esta commissão, publicamol-a<br />
novamente:<br />
Dr. Autonio Neves Oliveira e Sousa,<br />
governador civil, presi<strong>de</strong>nte; Antonio Franco<br />
Frazão, director das obras publicas;<br />
Arthur Ernesto da Silva Leitão, agronomo;<br />
Joaquim Augusto Rodrigues, veterinário;<br />
João Antonio da Cunha, vereador<br />
da camara municipal; Bacharel Augusto<br />
Eduardo Ferreira Barbosa; Antonio Rodrigues<br />
Pinto; e João Teixeira Soares<br />
<strong>de</strong> Brito, vogues; bacharel Arthur Eduardo<br />
Manso Preto, official do governo civil,<br />
secretario.<br />
Kermesse<br />
Promelte ser uma festa ruidosa, attrahente<br />
e concorrida A Kermesse-Exposição,<br />
promovida pela Associação Humanitaria<br />
dos Bombeiros Voluntários, que, em beneficio<br />
do seu cofre, ha <strong>de</strong> realisar se no<br />
corrente mez <strong>de</strong> maio, nn quinta <strong>de</strong><br />
Santa Cruz.<br />
Os dois pavilhões para as prendas e<br />
para a exposição dos productos industiiaes<br />
-âo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> effeito; o <strong>de</strong>senho é<br />
do hábil artista, sr João Augusto Machado,<br />
a quem foi incumbida a direcção das respectivas<br />
conslrucções.<br />
E' elevado o numero <strong>de</strong> prendas offerecidas,<br />
e muitasfd'i'lla- <strong>de</strong> valor. Para<br />
que se possa marcar o dia da inauguração<br />
<strong>de</strong> tão magníficos festejos, lorna-se<br />
indispensável que as prendas sejam entregues<br />
com urgência.<br />
Conta-se eg(ialm«nte que a pequena<br />
exposição ha <strong>de</strong> ser superior ao que se<br />
espera ; por que alguns commerciantes e<br />
muitos industriaes se preparam para apresentar<br />
nlli os seus artefactos.<br />
É, <strong>de</strong> crer que a próxima Kermesse-<br />
Exposição seja em tudo superior á <strong>de</strong><br />
1889, e que o publico contribua com a<br />
sua cooperação em beneficio d'uma instituição<br />
sympatbica á qual a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />
incontestavelmente bons serviços.<br />
As prendas <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já entregues<br />
para facilmente se <strong>de</strong>signarem os<br />
dias em que a fe?ta <strong>de</strong>verá effectuar-se.<br />
Tourada<br />
E' no domingo, que se realisará no<br />
Colyseu Conimbricence a tourada em beneficio<br />
do ex actor Henrique Prata.<br />
A' praça foram feitas as obras indicadas<br />
e por este motivo a auctorida<strong>de</strong> já<br />
conce<strong>de</strong>u a respectiva licença.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Passa hoje o anniversario do nosso<br />
patrício, sr. Joaquim Auguslo Preces<br />
Diniz, conceituado e bemquisto proprietário<br />
d esta cidado.<br />
<strong>Completa</strong> 70 annos pelo que lhe dirigimos<br />
as nossas sinceras felicitações.<br />
* Está nesta cida<strong>de</strong> o nosso amigo<br />
sr. Fructuoso Santarino.<br />
Movimento eomniereial<br />
Agio—Premio das libras: 900 rs<br />
ouro nacional, 17 ;<br />
Prata já não tem agio.<br />
*<br />
Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />
tremez 560— Milho branco 320 —Dito<br />
amarello 330 — Feijão vermelho 520 —<br />
Dito branco 420 —Dito rajado 320 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 410 —Centeio 440—Cevada<br />
240—Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 — Dito<br />
meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />
Azeite a 1$610.<br />
A GRANEL<br />
Trabalha activamente a commissão<br />
organisada afira <strong>de</strong> fomentar o commercio<br />
dos nossos vinhos e azeites. São importantes<br />
os esclarecimentos que tem obtido<br />
por intervenção dos consoles.<br />
* * # Deixou <strong>de</strong> existir em uma<br />
al<strong>de</strong>ola do concelho <strong>de</strong> Famalicão, uma<br />
mulher que contava 120 annos.<br />
* * * No <strong>de</strong>posilo <strong>de</strong> sulfureto <strong>de</strong><br />
caibonio <strong>de</strong> Oliveira do Hospital ven<strong>de</strong>ram<br />
se no mez <strong>de</strong> março ultimo a diverso»<br />
vitilcutores para o tratamento das<br />
suas vinhas, 4:870 kilogrammas d'aquelle<br />
insecticida.<br />
* * * São orçadas em perto <strong>de</strong><br />
190 contos as economias realisadas pelo<br />
ministério das obras publicas na construcção<br />
<strong>de</strong> novos lanços <strong>de</strong> estradas.<br />
* * * Todos os empregados telegrapho-postaes<br />
po<strong>de</strong>rão viajar em quaesquer<br />
das linhas ferreas com o bónus <strong>de</strong><br />
50 por cento.<br />
* * * Velha usança :<br />
No proximo mez <strong>de</strong> maio os habitantes<br />
<strong>de</strong> Villa Nova <strong>de</strong> Fozcoa, são obrigados<br />
a entregarem á camara municipal<br />
1 ki!o <strong>de</strong> lagartas das amendoeiras.<br />
que um duello terrível... Monsenhor pura cardinalícia, concedida a alguns dos serto que conduz ao muro superior do<br />
<strong>de</strong>rcerlo conhece melhor do que eu o meus antepassados, é para usar da minha jardim. Ahi tomou os ares <strong>de</strong> uin enge-<br />
que a este respeito se passou. ..<br />
influencia no interesse dos <strong>de</strong>sgraçados, nheiro que projecta a aberlura <strong>de</strong> uma<br />
— Sira. Tive noticia d'esse duello dos afflictos e dos proscripto». A purpura trincheira <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> uma praça forte e<br />
por ura creado do marquez di Negro. não honra; é necessário bonral-a.<br />
parecia satisfeito com a sua inspecção.<br />
Tem razão, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi, todas as<br />
alegrias do mundo são em breve enve-<br />
— São nobres essas palavras...<br />
Quem sabe? Talvez eu um dia o imite,<br />
X<br />
nenadas. Feliz <strong>de</strong> quem se retira para<br />
o seio <strong>de</strong> Deus.<br />
— Que duello terrível, continuou<br />
Monsenhor Santa-Scala, respon<strong>de</strong>u Talormi<br />
com um tom e um ar <strong>de</strong> admiravel<br />
composição theatral. E que haveria ahi<br />
A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />
Oarlo-Felioe<br />
Talormi, batendo com as mSbs uma na <strong>de</strong> extraordinário?<br />
Graças ás comrauuicações clan<strong>de</strong>sti-<br />
outra, e diz-se que não se po<strong>de</strong> saber o Tenho um tio em Palerma nas connas estabelecidas entre as casas nobres<br />
move do ferido I<br />
gregações religiosas e um primo auditor ou barguezas pelas creadas indiscretas,<br />
— Sabe-se muilo bem.<br />
da Rota... dois santos prelados. O tinha chegado ao palacio <strong>de</strong> Santa-Seal a<br />
— Ah! Sabe-se?! disse Talormi ne- munrlo é triste, muito principalmente a nolicia do ferimento <strong>de</strong> Paulo Greant.<br />
gligentemente.<br />
o mundo diplomático no meio do qual Dizia se alé que a ponta da espada linha<br />
— Sem duvida; mas é segredo para eu vivo.<br />
sido envenenada por um adversario <strong>de</strong>s-<br />
todo mundo, exceptuando a rainha famí- Quanto vezes <strong>de</strong>pois da uma d'essas leal. Todo o resto di historia era conforlia,<br />
emquanto o negocio estiver sendo <strong>de</strong>cepções Ião frequentes na diplomacia, me com os boatos que corriam no pu-<br />
tratado pela policia.<br />
tenho dito: Refugiemo-nos na montanha blico, que consi<strong>de</strong>rava este duello como<br />
— Muito bem: isso é muito pru<strong>de</strong>n- e <strong>de</strong>ixemos a cida<strong>de</strong> aos homens, com uma reparação á honra da senhora Vante...<br />
A liual-que importa o nome? li' as suas astúcias, as suas <strong>de</strong>sconfianças, Riiter. O que o mundo diz é sempre ca-<br />
á <strong>de</strong>sgraça que <strong>de</strong>vemas atten<strong>de</strong>r... as suas falsas alegrias e com as suas racterisado por esta mistura dá verda<strong>de</strong><br />
Uma fesla tão sumptuosa !...<br />
dores verda<strong>de</strong>iras!<br />
com a mentira.<br />
Depois, o con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi, levan- Mas os laços da carne são muito A doença <strong>de</strong> Paulo Gréant introduz<br />
tando os olhos, continuou :<br />
(orles; hesito, vacillo e odio a minha neste período da tussa historia um longo<br />
— O senhor Sarita-SoaU tmnni o transformação... A<strong>de</strong>us, Monsenhor, ro- entremez. Talormi fez duas visitas e villa<br />
melhor partido. Na Italia é preciso pergo-lhe que faça os meus cumprimentos di Negro, ou<strong>de</strong> foi recebido friamente, não<br />
tencer ao alio clero 'para ter credito e á senhora Van-Ritter. Na terra ou no lhe fallando ninguém no duello <strong>de</strong> Paulo<br />
consi<strong>de</strong>ração.<br />
ceu ha <strong>de</strong> haver um mun lo melhor, on<strong>de</strong> Gréant.<br />
— Senhor con<strong>de</strong>, disse Santa-Scala, nos tornaremos a ver.<br />
a consi<strong>de</strong>ração e o credito são apenas Talormi <strong>de</strong>sceu a escada com gravi-<br />
vãs pompas do mundo; que coniludo é da<strong>de</strong>, cortejou um creado que lhe abriu<br />
necessário adquirir para fazer o bem e a porta e quando este se fechou, subiu<br />
servir o proximo. Se ambiciono a pur- cora um passo apressado o caminho <strong>de</strong>-<br />
Impresso na T/pojfaplil»<br />
Operaria — Largo da Freiria n.*<br />
li, proximo á rua dos SapaHiaos, —•<br />
COIMBRA.<br />
CONVITE<br />
A Associação Humanitaria dos Bombeiros<br />
Voluntários <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, confia<br />
em que o seu pedido <strong>de</strong> prendas para a<br />
Kermesse lia<strong>de</strong> ser tomado em consi<strong>de</strong>ração<br />
pelas gentis damas e cavalheiros a<br />
quem se dirigiu para esse fim; e lhes<br />
solicita a elevada fiu-tú da entrega e<br />
remessa das mesmas prendas, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
já se recebem, até ao dia 10 do proximo<br />
mez <strong>de</strong> maio.<br />
<strong>Coimbra</strong>, abril <strong>de</strong> 1893.<br />
O presi<strong>de</strong>nte,<br />
Augusto José Gonçalves Fino.<br />
Prevenimos os nossos<br />
estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />
fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
vamos principiar a cobrança<br />
das suas assignaturas relativamente<br />
ao 2.° semestre.<br />
Aos que não tiverem pago<br />
o 1." semestre enviamos<br />
recibos do anno completo.<br />
Pedimos a todos o obsequio<br />
<strong>de</strong> pagarem logo que<br />
lhes seja apresentado o recibo<br />
ou mandarem pagar<br />
ás respectivas estações do<br />
correio quando receberem<br />
aviso, aíim <strong>de</strong> se evitar a<br />
<strong>de</strong>volução, que, além do<br />
prejuizo que nos causa, embaraça<br />
a boa regularida<strong>de</strong><br />
da nossa administração.
AVMO I — W.* 88 O DEFE^oR DO POVO 4 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 18»3<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha ..,<br />
Repetições .<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %><br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
ARRENDAMENTO<br />
114 & rrendn ie do proximo S.<br />
Miguel em diante os altos<br />
d'uma casa sita aos Arcos do Jardim,<br />
n.° 52, on<strong>de</strong> actualmente habita o ex. m °<br />
sr. Lucena, engenheiro.<br />
Tem commodos para uma numerosa<br />
familia.<br />
Quem preten<strong>de</strong>r pô<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r-se<br />
com Bernardo Antonio d'01iveira, rija<br />
dos Sapateiros, 114.<br />
113 | í 'j e e l l a r w 80 publico e em es-<br />
JLI [ pecial a lodos os senhores que<br />
tem os seus prédios seguros contra incêndio<br />
na Companhia União, <strong>de</strong> Madrid,<br />
com se<strong>de</strong> e administração na cida<strong>de</strong> do<br />
Porto, e cujos seguros se realisarão neste<br />
cida<strong>de</strong> para minha intervenção, que do<br />
commum acordo com a referida direcção<br />
transferi este cargo d'agente da mesma<br />
companhia para o ex. mo sr. Joaquim Maria<br />
Martins, negociante nesta cida<strong>de</strong>, com<br />
com estabelecimento na rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz <strong>de</strong> louças e crystaes n. os 82, 84<br />
e 86, on<strong>de</strong> os segurados nesta companhia<br />
po<strong>de</strong>rão pagar os prémios dos seus<br />
seguros e o publico concorrer a realisar<br />
outros que pretendam.<br />
<strong>Coimbra</strong> 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1&93.<br />
Antonio Joaquim Valente.<br />
Administração rua <strong>de</strong> Ferreira Borges,<br />
29 — 1.°.<br />
Q U A M t p f S<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para 1893.<br />
Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JÍSÍ W MM WJS<br />
Único agente em. <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia i^uadriint)<br />
71 ¥ «ndtts pelo preiço da Fanica-<br />
Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as maia acreditadas-<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicyeletas.<br />
Concertam se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
79<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
MMM DE MM<br />
FIDELIDADE<br />
FUiNDADA EM 1835<br />
Capital rs. 1.344:000^000<br />
sta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma se-<br />
guros contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobílias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong> — Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinha», n.° 45.<br />
CASA OE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
65 í? ,M l ,,,ei8 * w " He dinheiro sobre<br />
& objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a C — COIMBRA.<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Ktperiaientada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharraacias.<br />
Deposila geral —Pharmacia Rosa & Viegas* rua <strong>de</strong> S. Yicente.<br />
31, 33 — Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C a<br />
N. B — S ó é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong>'<br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
PIMTOR<br />
(0FF1C1NA)<br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 pncarrega-se dk» pintura <strong>de</strong> taboletas, easas, donra-<br />
M çóes <strong>de</strong> egrejas, forrar easas a papel, ete., etc.,<br />
tanto nesta eida junto e a retalho, lodos os produclos d'aq«eUa fabrica, a, mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica d|e Oorôas e Flores<br />
ZE\ D E L P O H T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 257-— Porto<br />
CASA FILIAL EH LISBOA: RUA DO PRINCIPI I PRAÇA DOS- RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
joâo ssaraes buam, sdccbssob<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
17<br />
SUCCESSOR<br />
- A B R O D E C I M A<br />
fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
20<br />
2 A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
J\ e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sorlido <strong>de</strong> oorôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e selim, em Iodas as côres e larguras. Eças douradas<br />
para adultos e crianças.<br />
Continua a encarreg ir-se <strong>de</strong> fjjneraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agenda em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, V<br />
K EIIM -TAGUS<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉU 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉU 01:000.$000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobílias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILYA PEREIRA<br />
93<br />
Praça do Commercio n.° 11 — f.°<br />
POMADA CDfTBA DS&PfiS 1 EMPtSEIS<br />
PREPARADA PELO PIJARMACEUT1C0<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo Jf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos— Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Comhro 48.<br />
B I G T G L E T A ^<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101—Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
COIMBRA<br />
E<br />
»ta casa acaba <strong>de</strong> receber um<br />
explendido sortido <strong>de</strong>Bicycle-<br />
tes dos primeiros auctores, como é Humber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôcas.<br />
A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Bicycletes<br />
Quadranl que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120$000 réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110^000 111<br />
Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores. i<br />
ESTAÇÃO DA MODA<br />
D0M1N60S JOSÉ SOMES<br />
SUCCESSOR DE CALDAS DA CUNHA<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar a esta casa o seguinte:<br />
Chapéus capotes e redondos para<br />
senhora.<br />
Chapéus para creança.<br />
Boinas o que ha <strong>de</strong> mais chic.<br />
Voiles em differentes côres.<br />
Fazendas para vestidos.<br />
Capas romeiras o que ha <strong>de</strong> mais<br />
novida<strong>de</strong>.<br />
Camisas <strong>de</strong> exford etc., etc.<br />
Lindíssimos cortes <strong>de</strong> vestido em<br />
escocer a 4$000 réis.<br />
Enviam-se amostras a quem as pedir.<br />
111 — R. <strong>de</strong> Ferreira Borges — 113<br />
COIMBRA<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 ík llg|l>tto Nunea ds« San-<br />
SL to», successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong>' instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seusí accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18-COIMBRA<br />
110 M e n , l e - s e ura P' an0 c o m pouco<br />
W uso, e <strong>de</strong> -boa qualida<strong>de</strong>.<br />
Quem o perten<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> vel-o a toda a<br />
hora na rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz n.° 59.<br />
105<br />
l U i m p UUIMVO<br />
MARCA «ANCORAS»<br />
en<strong>de</strong>-Ne no estabelecimento<br />
<strong>de</strong><br />
JULIO DA CU MH A FIMTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
A preto e a côres<br />
i-se na<br />
TYP. OPERARIA<br />
COIMBRA<br />
JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 —Rua do Sargento-Mór — 24<br />
8 M ° " e u ant '§° estabelecimento<br />
l i concerlam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portugueza,<br />
pelos seguintes preços:<br />
Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis. Guarda-sol para senhora, 1#700<br />
réis. Sombrinhas para ditas, 1$500 réis.<br />
Ill M e n * l e - e , e uma quinta com paúl<br />
W para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
O DEFENSOR DO POVcT<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.®<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
KOIXOR,<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Com estampilha Sem estampilhe<br />
Anno 21700 Anuo 2#400<br />
Semestre WSO Semestre aijSOO<br />
Trimestre... 080 Trimestre... 600
0 po<strong>de</strong>r pessoal do rei<br />
A polilica dos nossos dias vaese<br />
accentuando num sentido que<br />
revela uma linha <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r claramente<br />
traçada e precisamente <strong>de</strong>finida—<br />
a direcção suprema dos<br />
negocios públicos entregue, ao rei.<br />
'No regimen politico em que<br />
vivemos, na índole do systema constitucional<br />
que nos governa, o rei<br />
não representa mais do que um<br />
symbolo, e a sua acção polilica não<br />
passa d'uma ficção; é um irresponsável<br />
sentado num throno, simples<br />
chancella constitucional para os<br />
actos dos governos—assigna o que<br />
se lhe põe diante; dá foros <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong>,<br />
com uma palavra, a documentos<br />
que nem lê; hoje referenda<br />
um diploma, ámanhã outro que <strong>de</strong>stróe<br />
aquelle; fluclúa, emfim, ao sabor<br />
da facção polilica que necessariamente<br />
se faz representar no ministério.<br />
Assim tem sido alé hoje e assim<br />
<strong>de</strong>veria continuar a ser, para os<br />
negocios do Estado não estarem<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos reaes caprichos<br />
d'um homem sem conhecimento<br />
dos interesses públicos, sem aptidões<br />
alcançadas num longo labutar<br />
nos meandros da politica e da<br />
administração, sem auctorida<strong>de</strong>,<br />
portanto, para dirigir a vida activa<br />
do Estado.<br />
Entrámos, porém, ultimamente<br />
numa nova phase caracteristicamente<br />
opposla ao*s princípios da<br />
sciencia politica e ainda aos ensinamentos<br />
da pratica; a velha fórmula<br />
que <strong>de</strong>fine a íuncção do rei<br />
constitucional — o rei rema mas não<br />
governa,—mo tem já applicação<br />
entre nós.<br />
O que se passou na formação<br />
do gabinete actual todos o sabem;<br />
o presi<strong>de</strong>nte do conselho, encarregado<br />
<strong>de</strong> formar gabinete, não pou<strong>de</strong><br />
orienlar-se nem pelas indicações<br />
parlamentares, que era o menos,<br />
nem pelas indicações da opinião,<br />
que era o mais importante — teve<br />
<strong>de</strong> se submetler ás indicações do<br />
paço; o sr. Fuschini, todavia dizem,<br />
ibi indicado pelo rei para ministro<br />
da fazenda — mas teve <strong>de</strong> ir ao palacio<br />
<strong>de</strong> Belem penilenciar-se <strong>de</strong><br />
certos peccados, fazer profissão <strong>de</strong><br />
fé, beijar a mão ao rei pelo favor<br />
anciado e concedido. A phrase lypica<br />
do chefe do Estado quando se<br />
organisou o actual ministério—é a<br />
ultima experiencia, <strong>de</strong>pois sei o que<br />
me resta fazer, — isto pouco mais<br />
ou menos, não esqueceu ainda; e<br />
,que o paço prepon<strong>de</strong>ra no andamento<br />
do gabinete, muitos factos<br />
ha que o <strong>de</strong>monstram.<br />
E ainda recentemente, um outro<br />
facto o comprova.<br />
No Diário do Governo, <strong>de</strong> 4, foi<br />
nomeado conselheiro <strong>de</strong> Estado o<br />
sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ficalho, na vaga <strong>de</strong>ixada<br />
110 conselho <strong>de</strong> Estado pelo<br />
fallecimenlo do marquez <strong>de</strong> Ficalho.<br />
Esta nomeação, que parece muito<br />
simples e sem consequência, é<br />
altamente symplomalica.<br />
Os logares <strong>de</strong> membros do conselho<br />
<strong>de</strong> Estado lem sido dados<br />
sempre áqaelles, que, na politica<br />
e na administração tem feito as suas<br />
BI-SEMÍOSÁRIO REPUBLICANO<br />
provas, se teem revelado conhecedores<br />
dos negocios do Estado, capazes<br />
'<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar com critério<br />
as atlribuições que ao conselho <strong>de</strong><br />
Eslado são inherentes.<br />
Não vale a, pena discutir aqui<br />
se o conselho <strong>de</strong> Eslado lem razão<br />
<strong>de</strong> existir. Basta conslatar o facto<br />
<strong>de</strong> lhe/serem próprias atlribuições<br />
pon<strong>de</strong>rosas, que requerem aptidões<br />
especialíssimas, e que lem sido<br />
praxe seguida nomear para elle estadistas<br />
<strong>de</strong> mérito comprovado e tíe<br />
capacida<strong>de</strong> reconhecida.<br />
Não seallen<strong>de</strong>m, porém, agora<br />
a estes requisitos; o ar. con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ficalho não é um esladiSla, nem<br />
um politico, nem se revelou ainda<br />
na administração publica; é simplesmente<br />
um mordomo do Paço,<br />
um fidalgo <strong>de</strong> cumarilha,um;privado<br />
do rei; e foram -estas simplesmente<br />
as qualida<strong>de</strong>s que o recommendaram.<br />
Yê-se, pois, que o sr. D. Carlos<br />
se vae ro<strong>de</strong>ando <strong>de</strong> apaniguados escolhidos<br />
por si; governa e governa<br />
a valer, sob pallialivos por etiiquanlo,<br />
mas em breve o havemos <strong>de</strong> ver<br />
ás claras a fazer o seu governo pessoal.<br />
Serão algumas goltas <strong>de</strong> sangue<br />
do sr. D. Miguel <strong>de</strong> Bragança,<br />
<strong>de</strong> saudosa memoria, que porventura<br />
correm nas regias veias do monarcha?<br />
Rei absoluto, o sr. D. Carlos!...<br />
E afinal, entre nós tudò po<strong>de</strong><br />
ser...<br />
Inspecção das matrizes<br />
A. commissão nomeada pelo sr. ministro<br />
da fazenda para proce<strong>de</strong>r nos diversos<br />
districtos á inspecção dos prédios<br />
está luctando com mil difficuldadçi que<br />
se llte teem levantado no cumprimento<br />
d'este serviço,<br />
Alem da má vonta<strong>de</strong> d'un», das difficiencias<br />
<strong>de</strong> informações d'outros, o ministério<br />
da fazenda mandou abonar nos<br />
presi<strong>de</strong>ntes das commissões gratificações<br />
inferiores ás que recebiam nra commissão<br />
geo<strong>de</strong>sica a que pertenciam. Por este»<br />
motivos parece que se dissolverão aquellas<br />
commissões; e d'este modo ficará o<br />
governo privado das informações indispensáveis<br />
para a verificação dos prédios<br />
sonegados ás niatrizes e ainda d'aquelles<br />
que nellas andam com um rendimento<br />
insignificante.<br />
A idêa do sr. Fuschini, indiscutivelmente<br />
boa, está prestes, pois, a gozar-se.<br />
E continuarão assim os endinheirados,<br />
prepotentes, especie <strong>de</strong> régulos locaes<br />
com um rendiment.fr collectavel insignificante,<br />
e a fazenda continuará a ser <strong>de</strong>fraudada<br />
como até aqui. ..<br />
Crise ministefial<br />
Parece positivo que o sr. Bernardino<br />
Machado sairá do ministério das obras<br />
pflMM&j»**'* *** »í»»«|í , »'»»idi»B<br />
E' assim ; <strong>de</strong>item fóra os <strong>de</strong> valor e<br />
substituam-os pelos inúteis.<br />
Entrará para substituir o ir. Berhardino<br />
Machado o galante Carlos Valbom,<br />
lia tanto tempo á bica pará qualquer<br />
pasta ?<br />
Bom será que assim seja para que o<br />
gentil também entre por sua vez.<br />
cba<br />
E' pagar...<br />
As contribuições <strong>de</strong> registo e sfello<br />
vão ser, parece, augmentadas em mil<br />
contos <strong>de</strong> réis...<br />
Não <strong>de</strong>scancem, que ao canlo da arca<br />
do trabalhador talvez ainda haja algumas<br />
mealhas. Levem o resto, se ainda o<br />
ha...<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Entre nós<br />
O 1.° <strong>de</strong> maio passou socegadamente,<br />
cordatamente, apenas com a nota ridiculamente<br />
burlesca que as auclorida<strong>de</strong>s<br />
imprimiram a 40 cavallos e 200 praças<br />
d'infaúteria, <strong>de</strong>stacadas para o comicio<br />
operário <strong>de</strong> Villa Nova <strong>de</strong> Gava.<br />
A auctorida<strong>de</strong> visivelmente bronca<br />
d'espirilo, não comprehen<strong>de</strong>u ainda que<br />
o operariado portuguez poz <strong>de</strong> parlé,<br />
nas manifestações d este dia, os meios<br />
<strong>de</strong> violência adoptados tá lóra; não percebem<br />
ainda que o proletariado, aqui,<br />
mé<strong>de</strong> no 1.° <strong>de</strong> maio as suas fbrças, lavra<br />
o seu.,protesto sensato e ipacilico, .e<br />
procura affirmar a união que hiais tar<strong>de</strong><br />
o ha <strong>de</strong> fortificar, quiindo a lucla se<br />
trave a sério.<br />
E' apenas uma syudicancia dfe forças;<br />
não é uma provocação em altitu<strong>de</strong><br />
hostil —por isso o comicio se réalisou<br />
na nlelhor or<strong>de</strong>m, por Isso a força publica<br />
foi morta á troça, á gargalhada,<br />
dando-nos a impressão alegre d um <strong>de</strong>stacamento<br />
d'opera-comica, ensaiado a capricho<br />
pelo talento do actor Taveira.<br />
Às nossas aiictorida<strong>de</strong>s temiam a<br />
Itydra; conslava-lhes que se iprojectava<br />
qualquer coisa em Villa Nova <strong>de</strong> Gaya,<br />
que a Serra do Pilar, o étóluartfe do<br />
cêrco, seria o reducto dos revoltosos, e<br />
vae d alii, previ<strong>de</strong>nte como sempre, zelosa<br />
como tem por habrta e costume,<br />
mandou que o clarim soltasse aos quatro<br />
ventos o toque <strong>de</strong> recolher, e que<br />
as tropas ficassem em quartéis no 1.°<br />
<strong>de</strong> nÚM*t»g$9q tsA »up odlnl uiu%<br />
... E ficaram.<br />
E a coisa não rebentou;.. — potqute<br />
o movimento <strong>de</strong> protesto lia <strong>de</strong> explosir<br />
espontaneamente, subitamente, sem que<br />
o esperem, sem que o adivinhem, sem<br />
prevenções «JMJ o contenham, e sem<br />
bayoncia* que lhe tolham a passagem.<br />
Ha <strong>de</strong> irromper coao um clarão do<br />
sol, vihránte e límpido, cortando a treva<br />
numa irradiação fulgeulissima 1<br />
Não havera cano <strong>de</strong>ípingarda que<br />
alveje o coração do povo, quando d'abi<br />
se erguer, como um gran<strong>de</strong> clamor, o<br />
grilo da emancipação dos que soíírem ha<br />
muita, tios tj«e arrastam á vida utóre a<br />
miséria e a fome, os pés rolos nas pedras<br />
tios caminhos, olhar em iahgue,<br />
a fronte em febré, o olhar incendiado<br />
por um raio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo 1 Caminham ha<br />
muito sem conforto, sem pão, sem lagrimas<br />
já!<br />
Ha <strong>de</strong> chegar o dia, por cèitó, em<br />
que b bando hasteie a ban<strong>de</strong>ira côr <strong>de</strong><br />
sangue, em nome dos martyres do trabalho<br />
e das creanças famintas I<br />
E nésse dia da regeneração sõtial<br />
não s^rá occasião opporluna para operetas<br />
que nieltam a ridículo a fcotaparsaria<br />
da municipal...<br />
-und 9)9l«-J8i
AJSJSO I — 8 4 O DEFEMSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
CRYSTAES<br />
Conchas<br />
Aquelle que procura neste mundo<br />
Um puro amor, sem macula, parece<br />
0 pescador <strong>de</strong> pérolas que <strong>de</strong>sce<br />
Nas aguas ver<strong>de</strong>s d'aigum mar profundo.<br />
Para saciar a phantasia ar<strong>de</strong>nte<br />
E as suas loncas ambições fidalgas,<br />
Tem <strong>de</strong> baixar á região das algas<br />
On<strong>de</strong> se obriga a concha reluzente I<br />
Mas, arrancando a peregrina joia.<br />
Esmaga a concha porque já não brilha...<br />
Mãe <strong>de</strong>sgraçada I abandonou-te a lilha-. •<br />
E o teu cadaver sobre as aguas boia 1..<br />
O' companheiras boas <strong>de</strong>licadas,<br />
Da nossa vida amargurada e cérula I<br />
Vós sois ao mesmo tempo a doce pérola<br />
E as infelizes conchas esmagadas 1<br />
JOÃO SARAIVA.<br />
LBTTRAS<br />
Contos americanos<br />
rROPHEClAS ELECTItICAS<br />
— Em breve lhe daremos algum repouso<br />
electrico-^ o que os barbaros <strong>de</strong><br />
1889 na sua lingua rudimentar chamavam<br />
somno. Depois, leval-o-hemos a<br />
uma visita á nossa bibliotheca scientiíica,<br />
on<strong>de</strong> encontrará ,1.500.000:000 volumes<br />
á sua disposição.<br />
— Oh! Oh I doutor, doe-me já a<br />
«-•cabeça <strong>de</strong> tantas commoções.<br />
— Paciência! disse o meu cicerone<br />
com um amavel sorriso. Não terá o trabalho<br />
<strong>de</strong> lêr. Isso era bom no seu tempo<br />
! Hoje não se usa.<br />
Dois pequenos instrumentos combinados,<br />
o ophtalmolographo e o mnémotypo<br />
transcrever-lhe-hão em cinco minutos<br />
no cerebro, pelos olhos, o conlheudo <strong>de</strong><br />
todos os livros, á sua escolha. O processo<br />
é infallivel e garantido por 5 annos,<br />
custando cinco dollars. . •<br />
—-Doutor; perguntei <strong>de</strong>pois d'um<br />
momento <strong>de</strong> reflexão, eu em 1889, era<br />
jornalista, conservei d'esle officio hábitos<br />
<strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>: quaes são as pessoas<br />
que compram assim i<strong>de</strong>ias e senso<br />
commum a peso ?<br />
— Todos vêem pedir-nôs a especialida<strong>de</strong><br />
que os interessa e..><br />
- Entrou um hom cm no atelier do<br />
i<strong>de</strong>iophone, e a sua cabeça sahiu cheia<br />
como um balão.<br />
. . ->— Doutor, doutor, diga-me se com<br />
toda a sua sciencia, este homem será<br />
mais feliz xjue os do meu tempo? Vejamos,<br />
o doutor acha este exercício commodo<br />
?<br />
— Oh! este homem é doido, seccamól-o<br />
<strong>de</strong>pois da gran<strong>de</strong> revolução politica<br />
<strong>de</strong> 1920. Acabava <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r as eleições<br />
para presi<strong>de</strong>nte dos Estados-Uniilos.<br />
Acredita que nós ainda gostaríamos <strong>de</strong><br />
vêr semelhantes velharias e veiu encher<br />
a cabeça <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. Pobre homem! Está<br />
persuadido que é preciso intelligencia<br />
pára ser presi<strong>de</strong>nte.<br />
— Doutor, trataes com o espirito e<br />
os musculos com maneiras que me paíèlíéírt<br />
estranhas:<br />
' ' — Mancebo, não espere penetrar repentinamente<br />
o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas<br />
que levaram líecntos. Vou dar-vos ainda<br />
dois ou tres indicações, e <strong>de</strong>ixal-o-hei em<br />
seguida entregue a si mesmo. Eis aqui<br />
o atelier medico: renunciámos ás drogas.<br />
Collòca sé uma perna, um braço,<br />
um estomago, um íigadò novo, aquelles<br />
que têm estes membros ou estes orgãos<br />
doentes.<br />
Os médicos são carpinteiros, marceneiros<br />
do corpo.<br />
— Qiíe blaèphemia !<br />
— Socegue. Comprehendo que por<br />
meio das machinas scientificas, os cerebros<br />
<strong>de</strong> lodos os homens são eguaes,<br />
pelo tíaeíios no que respeita a conhecimentos.<br />
Os gran<strong>de</strong>s homens já não existem<br />
. /fstiffi^^Qínêns nréts uteís d'hoje<br />
são os machinistas e os engenheiros; quer<br />
dizer 6s qfue são capazes <strong>de</strong> nos fazer 8;<br />
vida mais scienlilicamente agradavel,<br />
mais confortável e que lhe po<strong>de</strong>m prolongar<br />
a duração. A sciencia morreu <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ter esgotado todos os conhecimentos^<br />
combinações. Resta a imaginação<br />
<strong>de</strong> cada um; mas ha já um meu<br />
collega que trabalha numa machina para<br />
manufacturar a imaginação como se fa-<br />
brica qualquer outra coisa. Duvido todavia<br />
que elle consiga bons resultados.<br />
As i<strong>de</strong>ias, para nós, são combinações <strong>de</strong><br />
acção mechanica e não tem nada que<br />
vêr com os productos verda<strong>de</strong>iros da<br />
imaginação. Esta, assim como a emmoção<br />
é produzida pela machina humana.<br />
Como se ha <strong>de</strong> construir uma machina<br />
d'enimoção? Uma coisa pelo menos é<br />
certa: é que nós somos' felizes, o que<br />
não podiam dizer os seus contemporâneos.<br />
— Mas, diga me, doutor, o amor!...<br />
— O amor! Ha perlo <strong>de</strong> 900 annos,<br />
manccbo, que as pessoas <strong>de</strong> senso e os<br />
cidadãos verda<strong>de</strong>iramente livres d'esta<br />
republica scientilica, estão para sempre<br />
livres d'uma tal puerilida<strong>de</strong>. Custa nos<br />
hoje a. comprehen<strong>de</strong>r que a Humanida<strong>de</strong><br />
durante tantos séculos, gastasse o tempo<br />
com semelhante bagalella. Lendo no<br />
cerebro e no coração da mulher, o ho<br />
mem livrou-se <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>sejos, e reciprocamente.<br />
E uma das mais admiráveis<br />
<strong>de</strong>scobertas, pêlos seus resultados,<br />
que o nosso glorioso periodo ' electrico<br />
produziu, porque, supprimiudo o amor,<br />
salvamos um tempo precioso para os<br />
progressos das experiencias scientiíicas.<br />
Entretanto alguns retardatarios, gente<br />
do seu século, quasi todos habitantes<br />
do que oulr'ora se chamava a bella<br />
França, e que foram como o senhor,<br />
acordados na nossa socieda<strong>de</strong> aperfeiçoada,<br />
ficaram obstinadamente ligados a<br />
este brinquedo d'outras efas como o»<br />
jogadores e os fumadores d'opio, o são<br />
pela sua incurável mania. Cheio <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong><br />
por estes cerebros ingénuos e bons,<br />
d'um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>masiadamente primitivo,<br />
muilo <strong>de</strong>líeis para supportarem, sem perigo,<br />
o brilho extraordinário da nossa<br />
educação electrica, um gran<strong>de</strong> philantropo<br />
fundou, nas margens do lago Salé,<br />
um asylo ricamente dotado on<strong>de</strong> elles<br />
po<strong>de</strong>m, ao abrigo da malignida<strong>de</strong> publica,<br />
enlregar-se com toda a liberda<strong>de</strong> á<br />
sua inoffensiva cbimera.<br />
O asylo está collocado no meio d'una<br />
bosquesinho e em frente tem uma paisagem<br />
romantica. Os quartos são forrados<br />
d'eslofos claros e pianos a vapor tocam<br />
incessantemente romanzas senlimentaes.<br />
Por meio d'um Soupographo especial,<br />
administra se ao pobre inconsciente<br />
um composto <strong>de</strong> cytherina. É um<br />
extracto electrico em que entram a tintura<br />
<strong>de</strong> myosotis, pós d'arroz, essejneia<br />
<strong>de</strong> rosa, azas <strong>de</strong> papoila e pennas <strong>de</strong><br />
pomba.<br />
Basta então fazer actuar sobre o craneo<br />
do doente os dois lios d'um Oumilavo,<br />
engenhoso instrumento que põe em<br />
contacto a bóssa da imaginação e a'da<br />
memoria com a da iIlusão d'um lado e<br />
do outro com a do <strong>de</strong>sejo situado na<br />
base do cerebro. Ao paciente affigurase-lhe<br />
então, segundo o capricho da sua<br />
phantasia que está em plena intriga amorosa<br />
com a que elle escolheu na sua<br />
memoria nu na collecção das amorosas<br />
da historia, do romance e da poesia.<br />
Este passatempo é conservado nalgumas<br />
nossas famílias antigas, <strong>de</strong> tradições<br />
caducas, e permitte-se como jogo<br />
innocente ás raparigas dos nove aos doze<br />
annos. si»
ANNO I — N.* 84 O DEFENSOR DO POVO 9 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1993<br />
0 sr. Sá foi multado por ter ás portas<br />
do seu estabelecimento amostras; todos<br />
os <strong>de</strong>mais commerciantes estão nas<br />
mesmas condições. Pergunta-se : porque<br />
só elle merece os rigores da lei e a vigilância<br />
policial?<br />
Kuerra Junqueiro<br />
Seguiu na sexta feira para o Porto<br />
o notável poeta e eminente caudilho do<br />
partido republicano.<br />
Sua ex. a foi a Santo Antonio dos<br />
Olivaes em visita ao tumulo do seu<br />
amigo e nosso saudoso chçfe dr. José<br />
Falcão.<br />
Ao Bhmmo !<br />
É na quinta feira que este aprazivel<br />
e pittoresco retiro costuma a ser visitado<br />
por milhares e milhares <strong>de</strong> pessoas que<br />
alli vão gozar um explendido dia.<br />
De <strong>Coimbra</strong> vão sempre muitos romeiros<br />
e este anno um grupo <strong>de</strong> velocipedistas<br />
projecta fazer a digressão a<br />
Bussaco em numero superior a vinte.<br />
O passeio é explendido e o local<br />
convida bem a gozar-se alli algumas horas<br />
agradaveis.<br />
Ao Bussaco! Ao Bussaco!<br />
Roubo industrioso<br />
Joaquin) Luiz Macieira vivia ha mezes<br />
'em Fora <strong>de</strong> Portas, com a sua amasia<br />
Carolina Pereira. Travaram alli conhecimentos<br />
com a visinhança, e Macieira era<br />
muito consi<strong>de</strong>rado por todos, que o tinham<br />
por bom homem.<br />
Fallava elle numa fortuna gran<strong>de</strong> que<br />
havia <strong>de</strong> receber, cuja resolução estava<br />
pen<strong>de</strong>nte dos tribunaes do Porto, e a<br />
proposito d'isto Macieira affirmava que<br />
os seus amigos não haviam <strong>de</strong> morrer<br />
pobres. Que elle estava alli para os proteger.<br />
A umas raparigas da visinhança proniettera<br />
elle uin bom dote, e a outras<br />
mulheres affirmava fazel-as felizes.<br />
Era tal a propaganda que da sua<br />
fortuna fazia Macieira, que indo á Associação<br />
dos Artistas no dia em que chegara<br />
o retrato do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valenças elle<br />
se offerecera logo para dar áquella associação<br />
uma rica ban<strong>de</strong>ira bordada a ouro!<br />
E se o não fazia já era por falta <strong>de</strong> meios;<br />
mas que a herança estava a ir-lhe para<br />
a mão.<br />
Assim o Macieira, fora encontrando<br />
boas almas que confiavam nelle e lhe iam<br />
emprestando grossas quantias com o<br />
engodo <strong>de</strong> receberem dobrado, como elle<br />
dizia, quando estivesse possuidor da herança.<br />
Quem não tinha dinheiro emprestava-lhe<br />
o seu ouro e rpupas e d'algumas<br />
pessoas sabemos que não tendo valores<br />
para lhe dar <strong>de</strong> emprestimo, solicitaram<br />
d'oulras diversas quantias. E o Macieira<br />
ia fazendo monte, dizendo a todas que<br />
receberiam o seu dinheiro, mais dobro<br />
— afóra o resto !<br />
Depois d'uma boa colheita, aproximadamente<br />
dois contos <strong>de</strong> réis, arranjados<br />
com engenho e arte, Macieira <strong>de</strong>sesperou<br />
com a herança do Porto e numa<br />
d'estas bellas noites alvorou com a companheira,<br />
não escapando á sua sagacida<strong>de</strong><br />
as<br />
Folhetim do Defensor do POYO<br />
J. MERY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />
Carlo-Felice<br />
Algumas vezes <strong>de</strong> noite tentou saltar<br />
o muro do jardim <strong>de</strong> Santa-Scala;<br />
mas ouvindo as notas leoninas do mollosso<br />
do nympheu, voltou (ftlo mesmo<br />
caminho, sem nada ter observado, meditando<br />
alguma habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestidigitador<br />
contra aquelle guarda incorruptível.<br />
Memma já não era protegida pela<br />
presença rospeitavel, pelos conselhos pru<strong>de</strong>ntes<br />
e pela fraternal amisa<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa-<br />
Scala. O príncipe não é agora mais que<br />
um simples padre entre os seminarista?;<br />
estuda as difliceis questões <strong>de</strong> orthodoxia<br />
romana, os segredos dogmáticos do<br />
theologo catholíco; aos seus ouvidos não<br />
chegam as vozes profanas do mundo;<br />
está inteiramente absorvido na meditação<br />
das eternas verda<strong>de</strong>s.<br />
A coragem e a juventu<strong>de</strong>, estes dois<br />
remedios tão efficazes, restabeleceram a<br />
saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo, que ignora tudo, pois<br />
e avi<strong>de</strong>z algum dinheiro e ouro das<br />
creadas. .<br />
A falta do Macieira, <strong>de</strong>spertou sensação.<br />
No primeiro dia ainda se acreditou<br />
que elle tivesie ido fóra tratar dos negocios<br />
da herança, e que guardasse<br />
d'i»so segredo, para a surpreza aos seus<br />
amigos ser completa. Mas os dias foram<br />
passando e as creadas que tinham ouvido<br />
da bôcca <strong>de</strong> sua ama que iam a Lisboa,<br />
começaram a fazer mysterio naquella<br />
partida Hão inesperada — e o que era<br />
mais — ter levado todas a» roupas, a<br />
pretexto dt lá comprarem outras eguaes.<br />
E então é que foi o bonito. A» lagrimas<br />
não se fizeram esperar-—porque<br />
ambas su viam infamemente roubadas.<br />
Uma das creadas. que estava em vésperas<br />
<strong>de</strong> boda lamentava a sua triste<br />
sorte, pois que o melhor que tinha estava<br />
em po<strong>de</strong>r da sua ama e agora para casar<br />
tinha <strong>de</strong> pedir dinheiro emprestado,<br />
não lhe valendo <strong>de</strong> nada o estar incluída<br />
na relação das raparigas a quem<br />
seu amo queria dar bons dotes.<br />
A cérteza, pois, <strong>de</strong> que Macieira se<br />
tinha posto ao fresco, a serio, <strong>de</strong>u logar a<br />
saberem-se dos logros <strong>de</strong> que muita gente<br />
fôra victima, e todas se admiraram da habilida<strong>de</strong><br />
do Macieira, que parecia um<br />
bom serás, um homem <strong>de</strong> religião.e consciência,<br />
mas que <strong>de</strong>ra num gran<strong>de</strong> patife.<br />
E sobre elle e a mulher caem agora as<br />
maldições <strong>de</strong> todos; e se as praga» empeçassem,<br />
estavam os dois a estas horas<br />
feitos em torresmos.<br />
A policia já tem conhecimento das<br />
proezas do Macieira, em virtu<strong>de</strong> da<br />
queixa <strong>de</strong> Maria Ignez íTOliveira, moradora<br />
na praça do Commercio, que caira<br />
no logro <strong>de</strong> lhe emprestar objectos d'ouro<br />
e roupa no valor <strong>de</strong> 170$000 réis.<br />
O sr. commissario parece que provi<strong>de</strong>nciou<br />
a lim <strong>de</strong> conseguir a captura do<br />
Macieira e <strong>de</strong> amante.<br />
Egreja <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
Começaram os trabalhos para o assentamento<br />
do cruzeiro d'esta egreja,<br />
que muito brevemente <strong>de</strong>ve ficar concluído.<br />
V j<br />
Mez <strong>de</strong> Mari»<br />
Este anno celebra-se esta festivida<strong>de</strong><br />
nas capellas da Misericórdia, Santo Anlonio<br />
da Estrella, Santa Thereza, collegio<br />
das Ursulinas e Seminário.<br />
Aos domingos, nesta cnpella, préga<br />
um dos alumnos d'aquella casa <strong>de</strong> educação.<br />
Recenseamento 3<br />
Affirma-se que no recenseamento eleitoral<br />
do concelho <strong>de</strong> Soure, d'este districto,<br />
foram encontradas gran<strong>de</strong>s irregularida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong>vendo-se proce<strong>de</strong>r a exame<br />
<strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>licio.<br />
E' por estas e outras traficancias<br />
que os governos conseguem maioria no<br />
parlamento e a<strong>de</strong>ptos que os sirvam, cegamente<br />
nos seus <strong>de</strong>sbarates.<br />
Eseola Brotero<br />
Foi <strong>de</strong>finitivamente nomeado professor<br />
<strong>de</strong> Matbematica, nesta escola, o sr.<br />
que nada lhe <strong>de</strong>ixaram saber durante a sua<br />
convalescença. Nas suas noites <strong>de</strong> <strong>de</strong>lirio<br />
tinha elle revelado o segredo do seu<br />
pensamento e da sua alma; linha pronunciado<br />
nomes, que <strong>de</strong>viam ficar ignorados<br />
e por estas indiscripções involuntárias<br />
havia justificado a temeraria conjectura,<br />
estabelecida ácerca' do seu duellono<br />
dia seguinte ao do casamento <strong>de</strong><br />
Van Ritter.<br />
Operou também uma mudança salutar<br />
no seu estado morãl uma carta que<br />
recebeu da sua família; tremeu pensando<br />
na dôr, que seu pae e sua mãe soffreriam,<br />
se recebes sem a noticia, da sua morte;<br />
e voltando os seus pensamentos para<br />
estas alfeições <strong>de</strong> familia, tão puras e<br />
tão respeitáveis, comprehen<strong>de</strong>m que o<br />
remedio <strong>de</strong>cisivo estava na companhia <strong>de</strong><br />
saus paes; e corno o filho prodigo, disse:<br />
— Surgave et ivo. ^-Eu me levantarei<br />
e irei.<br />
Paulo Gréant <strong>de</strong>liberou pois voltar<br />
para França e <strong>de</strong>spedir-se do marquez<br />
di Negro, que o confirmou nesta resolução,<br />
mas por motivos inteiramente differentes<br />
dos verda<strong>de</strong>irosr Relirando-se da<br />
casa do marquez, pareceu-lhe insupportavel<br />
o isolamento; queimavam-lhe os pés<br />
as pedras das calçadas da cida<strong>de</strong> e, para<br />
se distrahir, seguio a voz e os passos<br />
<strong>de</strong> alguns compatriotas <strong>de</strong>sconhecidos,<br />
que se encaminham alegremente pelá<br />
soberba rua dos palacios dé mármore,<br />
que termina no theatro Carlo-Felice. o ;<br />
bacharel Albino <strong>de</strong> Mello, que ha quatro<br />
annos exerce aquelle logar interinamente.<br />
/<br />
Serviço <strong>de</strong> bombas<br />
A camara municipal acaba <strong>de</strong> nomear<br />
jnlerinamente para director do<br />
serviço <strong>de</strong> bombeiros, o sr. José Pereira<br />
da Cruz.<br />
Com verda<strong>de</strong> se diz que a quem<br />
Deus promette não falta.<br />
Falla-se que a commissão disirictal<br />
projecta fundar no hospício dos abandonados,<br />
d'esla cida<strong>de</strong> unia creche.<br />
Bella i<strong>de</strong>ia, pois que lia muito se<br />
nota a falta d'uma instituição d'e»la natureza,<br />
que beneficie a classe pobre cuidando-lhc<br />
dos filhos.<br />
Posto hippieo<br />
Na" escola agrícola Moraes Soares,<br />
em S. Martinho do Bispo foi aberto um<br />
posto hippieo com tres cavallos pertencentes<br />
á Cou<strong>de</strong>laria Nacional.<br />
Tourada<br />
E' hoje que se realisa a tourada,<br />
como já dissemos, em beneficio do exactor<br />
Henrique Prata.<br />
Os lidadores são : — cavalleiro A<strong>de</strong>lino<br />
Raposo; bandarilheiros Theodoro<br />
Gonçalves, José dós Sanlos, Antonio da<br />
Costa, Joaquim Peres (El Pechuga), e<br />
José Bello (El Morenito).<br />
Um valente grupo <strong>de</strong> forcados, composto<br />
<strong>de</strong> 8 valentes e corajosos rapazes<br />
<strong>de</strong> Lisboa vem abrilhantar esta corrida,<br />
a primeira da presente epocha.<br />
O gado, dizem-nos, que é bom;<br />
d'esla fórma e atten<strong>de</strong>ndo ao justo fim<br />
a que o produclo é <strong>de</strong>stinado, o publico<br />
ha <strong>de</strong> coadjuvar o beneficiado e oxalá<br />
elle obtenha bom resuliado dos seus esforços.<br />
Aviso aos interessados<br />
O prazo pata a entrega dos requerimentos<br />
<strong>de</strong> admissão a exames no Lyceu<br />
d'esta cida<strong>de</strong> linda no dia 10 do corrente,<br />
ás 4 horas da lar<strong>de</strong>.<br />
O mil<strong>de</strong>w V j<br />
Os viticultores d'esle concelho surprehendidos<br />
pela evasão do mil<strong>de</strong>w que<br />
eslá atacando o* vinhedos, eslão activando<br />
os trabalhos para combater a moléstia<br />
empregando o sulphato <strong>de</strong> cobre.<br />
Desastre -<br />
Em Mangual<strong>de</strong> cairam d'um andaime<br />
dois operários que andavam na construcção<br />
d'um prédio, ficando bastante contusos<br />
e um d'elles até em perigo <strong>de</strong><br />
vida.<br />
Ao <strong>de</strong>sleixo dos operários e á incúria<br />
das anctorida<strong>de</strong>s em não fiscalisarem<br />
estes serviços, se <strong>de</strong>ve o lamenlavel<br />
acontecimento.<br />
Reeita dos quintanistas<br />
E' na quarta feira a primeira recita<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida, representando-se a peça<br />
-Por cama da Borla! — Consta-nos<br />
que serão dados ainda mais dois espectáculos.<br />
Á luz dos candieiros do átrio viu<br />
Paulo Gréant num cartaz a palavra Nor-<br />
ma, esta palavra mysteriosa, que nas<br />
suas combinações anagrammaticus encerra<br />
os dois maiores nomes do Universo:<br />
- Amor — Roma.<br />
Cantava-se pois a Norma, esta obra<br />
prima <strong>de</strong> graciosa riielancholia e <strong>de</strong> profunda<br />
paixão. O artista foi arrastado<br />
pelo <strong>de</strong>monio da musica. Comprou um<br />
mo<strong>de</strong>sto bilhete <strong>de</strong> plateia e entrou no<br />
magnifico templo levantado pela geuerosa<br />
aristocracia genoveza á gloria do divino<br />
Rossini,.,<br />
As cinco or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> camarote estavam<br />
guarnecidas como uma nau <strong>de</strong> cinco cobertas,<br />
em cujas canhoneiras se alternassem<br />
os ramos das flores e os rostos das<br />
mulheres. Mas Paulo Gréant não tinha<br />
ido as theatro para saborear distracções<br />
vulgares; estava inteiramente <strong>de</strong>dicado<br />
á musicas e ao canto, como um piedoso<br />
christão, que ouve os sons do orgão e<br />
fecha os olhos ás pompas mundanas do<br />
templo santo.<br />
Ah! Mas a Norma não é musica saj<br />
n i K U l i v i i U V j I l VJVJTU<br />
A orchestra principia por um preludio<br />
<strong>de</strong> amor; uma voz suave entoou uma<br />
d'essas arias, que perturbam os sentidos,<br />
uma d'esjas phrases. melodiosas que<br />
Paulo Gréant cantava a Memma nos seus<br />
dips <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>,— F»'em in, Iloma,<br />
vietA o» kdfa r ^ o "v * ^ 1 *<br />
Ponte<br />
Vae ultiniar-se a ponte sobre o Alheda,<br />
proximo <strong>de</strong> Miranda do Corvo, dVsie<br />
districto, que ha muito estava começada.<br />
E' um importante melhoramento que<br />
ha muito era vivamente reclamado como<br />
uma impreterível necessida<strong>de</strong> publica.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />
na semana ultima, os seguintes<br />
eftimHP'! ,<br />
Joaquina <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Bernardo<br />
Carvalho e Helena <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong>-Serpins,<br />
<strong>de</strong> 77 annos. Falleceu <strong>de</strong> lesão valvular<br />
do coração, no dia 23.<br />
Maria Julia Reis, filha <strong>de</strong> José Maria<br />
Reis e Maria da Luz, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />
24 annos. Falleceu <strong>de</strong> pneumonia grippal,<br />
no dia 23.<br />
Licínio, filho <strong>de</strong> Leonardo Antonio<br />
Gouvêa e Maria Jooé, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 17<br />
mezes. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose pulmonar,<br />
no dia 24.<br />
Ricardo Gaioso, filho <strong>de</strong> Nicolou<br />
Penha e Theodora Penha, <strong>de</strong> Hespanha,<br />
<strong>de</strong> 55 annos. Falleceu <strong>de</strong> pneumonia<br />
dupla, no dia 26.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemiterio —16:862.<br />
Camara Mnnicipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinaria<br />
20 d'abril<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />
d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />
presentes: Manoel Miranda, João da<br />
Fonseca Barata, Manoel Benlò <strong>de</strong> Quadros,<br />
João Antonio da Cunha, Joaquim<br />
Justiniano Ferreira Lobo, effectivos ; José<br />
Corrêa dos Santos, substituto.<br />
O vereador Dantas Guimarães assistiu<br />
a parle da sessão.<br />
Mandou annunciar a venda <strong>de</strong> tres<br />
lotes <strong>de</strong>, terreno na quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz, com frente para a rua n.° 9.<br />
Nomeou louvados informadores para<br />
o serviço das côngruas dos parochos nas<br />
reguezias <strong>de</strong>.S. Paulo e Santa Clara.<br />
Mandou <strong>de</strong>scontar os veucimentos <strong>de</strong><br />
tres dias a um vigia dos impostos, por<br />
irregularida<strong>de</strong>s praticadas no serviço.<br />
Resolveu pedir ao commissario <strong>de</strong><br />
policia a permanencia do guarda <strong>de</strong> serviço<br />
na quiuta <strong>de</strong> Santa Cruz, que consta<br />
retira d'ahi ás 5 horas da tar<strong>de</strong>; e bem<br />
assim para ser vigiado pelo guarda <strong>de</strong><br />
serviço na rua Direita o novo largo entre<br />
esta rua e o Terreiro da Herva.<br />
Auctorisou a réga e lavagem das<br />
ruas da cida<strong>de</strong>.<br />
Auctorisou avenças com diversos para<br />
o pagamento d'impostos indirectos durante<br />
o trimestre d'abril a junho do corrente<br />
anno.<br />
Despachou vários requerimentos <strong>de</strong><br />
interesse particular sobre assumptos diversos—<br />
collocação <strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos<br />
particulares; concerto da<br />
valia <strong>de</strong> regadia entre Sernache e Villa<br />
Pouca: e relativamente a obras sem alienação<br />
<strong>de</strong> terrenos, a saber para cons-<br />
Era o sonho <strong>de</strong>licioso do artista,<br />
quando elle formava os seus doces pro-<br />
jectos <strong>de</strong> viagem a Roma, a essa cida<strong>de</strong><br />
que elle tanto amava; as montanhas <strong>de</strong><br />
Tivoli, á villa <strong>de</strong> Este, cheia <strong>de</strong> tenras<br />
recordações do cantor <strong>de</strong> Jerusalem.<br />
Vieni in Roma! A orchestra produzia<br />
languidas caricias; as melodias fluctuavam<br />
no ar, como orvalho celeste e<br />
euèbriavam a alma e os sentidos, dando<br />
o prestigio da verda<strong>de</strong> ás divinas mentiras<br />
dos prazeres!<br />
Mas é necessário cahir d'estas alturas<br />
do sonho sublime ! e em que abismos<br />
da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>soladora! Panlo fechou<br />
os ouvidos a esta musica, como o rei <strong>de</strong><br />
Iliáca ao cauto das sereias, levantou os<br />
olhos para o tecto e procurou distracções<br />
burguezas para e»perar o fim do acto e<br />
saliir.<br />
Os seus olhos em parte nenhuma se<br />
fixaram ; ma» correndo <strong>de</strong> ellipse, em ellipse<br />
cairam por acaso em uma figura,<br />
cujo relevo se apresentava em uni camarote.<br />
* •<br />
— Ah! E' elle! é elle, repetiu Paulo<br />
mentalmente. fivlJ<br />
O artista não se enganava; reconhece-se<br />
entre mil a mulher, que se ama e<br />
o homem, que se o<strong>de</strong>ia. Era com effeito<br />
o con<strong>de</strong> Talormi, e< como elle andava <strong>de</strong><br />
camarote em camarote, segundo o uso<br />
italiano, mostrou-se vinte vezes a Paulo<br />
Gréant, <strong>de</strong>baip <strong>de</strong> vinte aspectos variados.<br />
A sua cabeça é as suas suissas es-<br />
trucção d'uma casa ás Parreiras <strong>de</strong><br />
Monte-São, pertencente a Maria Emilia<br />
Diniz, pelo alinhamento d'oulra contigua;<br />
reforma d'uma <strong>de</strong> Joaquim Ferreira Vidinha,<br />
em Pé <strong>de</strong> Cão, não sahindo dos<br />
alicerces primitivos; comtrucção d'outra<br />
no caminho da Lomba d'Arregaça, sobre<br />
um muro recentemente construído, por<br />
José Nogueira, morador na estrada da<br />
Beira, limpeza d'um cano d'aguas da<br />
quinta do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>ixa, em Sernache;<br />
reparação d'outra na rua Velha,<br />
J'esta cida<strong>de</strong>, em um prédio <strong>de</strong> José<br />
Teixeira da Cunha, provando-se ter sido<br />
damnificado com a canalisação d'aguas<br />
para uma casa próxima; construcção<br />
d'uma casa ao cimo da rua Occi<strong>de</strong>ntal<br />
<strong>de</strong> Mont'arrio, pertencente ao proprietário<br />
Dantas Guimarães, lixando-se o alinhamento<br />
pelo cunhal do mirante que<br />
alli existe e pelo cemoro que fica pelo<br />
lado do poente.<br />
Tomou conhecimento da correspondência<br />
recebida que fez registrar.<br />
A GRANEL<br />
Estão já o imprimir na Imprensa Nacional<br />
os orçamento» dos ministérios dos<br />
estrangeiros, íazenda, marinha, guerra e<br />
justiça.<br />
O relatorio do sr. ministro da fazenda<br />
<strong>de</strong>verá conter cerca <strong>de</strong> trezentas paginas.<br />
# * * O sr. ministro das obras publicas<br />
pensa em apropriar o edilicio que<br />
se está construindo em Jesus, para servir<br />
juntamente <strong>de</strong> lyceu e <strong>de</strong> escola <strong>de</strong><br />
bellas-artes.<br />
# * * - O leilão <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> el-rei<br />
D. Fernando foi pouco concorrido. A<br />
obra que mais <strong>de</strong>u, subiu apeuas a réis<br />
60^000. Muitos livros fôram retirados<br />
por não chegarem ao preço da avaliação.<br />
Outros, que continham <strong>de</strong>dicatórias a<br />
pessoas reaes, foram lambem retirados.<br />
* * * A camara municipal <strong>de</strong> Guimarães<br />
creou um premio <strong>de</strong> 300000<br />
réis para o alumno que naquella cida<strong>de</strong><br />
se tomar dislincto no exemplo <strong>de</strong> admissão.<br />
* * * Diz-se que vae ser nomeada<br />
uma commissão <strong>de</strong> médicos e pharmaceulicos,<br />
pertencentes ás socieda<strong>de</strong>s das<br />
sciencias medicas e pharmaceulicas, para<br />
elaborar a lista dos medicamentos que<br />
as alfan<strong>de</strong>gas po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>spachar.<br />
* * * Partiram para o Guadiana,<br />
os commissarios liespauhoes, acompanha-'<br />
dos do coiuinissario portuguez, sr. Ernesto<br />
<strong>de</strong> Vasconcellos, que vão <strong>de</strong>limitar<br />
as aguas territoriaes na foz do mesmo<br />
rio.<br />
# * * Diversos ofliciaes teem ido<br />
ao ministério da marinha oííerecer-se<br />
para fazerem parte da bateria <strong>de</strong> arlilheria,<br />
ultimamente creada em Macau.<br />
curas appareceram successivainente entre<br />
todos os rostos <strong>de</strong> mulheres e lodos os<br />
ramos <strong>de</strong> flores.<br />
Apo<strong>de</strong>rou-se enlão do artista uma<br />
d'eslas i<strong>de</strong>ias confusas, que não eslão<br />
submeltidas a nenhum plano, mas que<br />
se acariciam nos momentos, em que o<br />
<strong>de</strong>sespero se agarra á primeira loucura,<br />
que se lhe apresenta como uma verda<strong>de</strong>ira<br />
inspiração.<br />
Resolveu encontrar-se com o con<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Talormi e pedir-lhe uma conferencia.<br />
Que lhe havia <strong>de</strong> dizer?<br />
Não sabia. Procural-o-ia como amigo,<br />
como inimigo, ou como indifferente ?<br />
Também não sabia; contava com a inspiração<br />
do momeuto. O essencial era começar.<br />
No lim do acto, Paulo Gréant sahiu<br />
da platéa e subiu a gran<strong>de</strong> escadaria,<br />
que conduz ao bello salão do theatro,<br />
que lambem serve <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> concerto.<br />
A socieda<strong>de</strong> elegante, que elle tinha<br />
visto nos camarotes, enchia agora o salão<br />
e Paulo, reparando no seu vestuário mo<strong>de</strong>sto,<br />
não ousou encontrar-se com tanto<br />
luxo <strong>de</strong> toilettes <strong>de</strong> gala. Julgou-se feliz<br />
por o seu plano ter abortado e resolveu<br />
esperar Talormi no fim da opera, <strong>de</strong>baixo<br />
das columnates do átrio.<br />
I mpresso<br />
na Tyj>oífraj)liln<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
Mm*m—W»* 8 4 O OEFBMOUIDO POVO 9 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />
1»A HA |<br />
Pliarmacia 1<br />
Bjeyida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
j<br />
i Typ. Operaria<br />
iW^.ff* <strong>Coimbra</strong> l<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha ...<br />
Repetições .<br />
]W*;i,®FFS<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
impressões rapi- j<br />
'das<br />
1<br />
Typ. Operaria^<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
' Antigo estabelecimento<br />
ANTONIO JOAQUIM VALENTE<br />
(Successores)<br />
11 fi M e " * n Cflsa e n c o n l r a * s e u m varia-<br />
( 1 dissimo sortido em meu<strong>de</strong>zas,<br />
utensílios para caçador, tintas e pincéis<br />
para pintura a oleo e agurella, ferragens<br />
finas, lunetas, papeis <strong>de</strong> côr, para flores<br />
ele., etè.<br />
Os actuaes possuidores rogam ás<br />
pessoas <strong>de</strong> suas relações e aos que fazem<br />
favor <strong>de</strong> os honrarem cpm a sua amiza<strong>de</strong><br />
a fineza ds lhes darem a preferencia na<br />
compra dos artigos do seu estabelecimento<br />
po<strong>de</strong>ndo assegurar-lhes que empregarão<br />
todos os meios para estabelecer preços<br />
muito limitados.<br />
111<br />
Rua Ferreira Borges, 98 a 102<br />
H E N D A I N T O<br />
êr reiída-ee do próximo S.<br />
Miguel em diante os altos<br />
i sita aos Arcos do Jardim,<br />
n.° on<strong>de</strong> actualmente habita o 1 ex. m0<br />
sr. Lucena, engenheiro.<br />
Tem commodos para uma numerosa<br />
fttotôifcl. 11 1? 8 ' 1 ' Vl . * *<br />
Quem preten<strong>de</strong>r pô<strong>de</strong> enlen<strong>de</strong>r-se<br />
com Bernardo Antonio d'01iveira, rua<br />
dos Sapateiros, 114.<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para I §93.<br />
Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSÉ LUÍS m o s os mm<br />
MJ O» Sumiu /I»«»V3II8 III I". 19'jyitiqqB «l.m'J<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia iQuiidranti<br />
||eiidni pelo preço da Fabrica.<br />
jf Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Goncertam-se machinás <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
ccupsil SE 8S5U505<br />
"FIDELIDADE»<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Capital r«. 1.344:000.^000<br />
79 c o m p a n h i a , a mais po-<br />
M <strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> Portugal} toma seguros<br />
éontra o risco <strong>de</strong> fogô 8u raio,<br />
sobre prédios, mobílias e estabeleciníien- ;<br />
to.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong> — Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinhas, n.° 45.<br />
AUTICIPA-<br />
fâr? i<br />
CASAMENTO<br />
Menus, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria,<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
«IMA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em .côres<br />
Typ. Operaria<br />
I&HEXBS<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
il Vito s ,<br />
e jornaes i<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato<br />
Typ. Operaria^ i<br />
t IMPRESSOS<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1-4:, L i A U G O<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
<strong>Coimbra</strong><br />
P . E J 1 1 B U , 1 4<br />
rrn?<br />
•ii > • i ><br />
<strong>Coimbra</strong>,<br />
fonso,<br />
COMPOSTO DE ROSA.<br />
«te xarope é efficaz para a etnia <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com optimos resultados nos hospjfa^s.djs Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaep pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas & Yiegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e '33.<br />
Rodrigues da Silva & C. a Porfo, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> «Santo dl<strong>de</strong>-<br />
, 65.<br />
a i<br />
FUNDADA EM 1877<br />
,C4PÍTAL<br />
£ .300:000^000<br />
i(HSi/3 «b oínoJnA ofol ,»<<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
hinriJ»<br />
Ejfectua seguros contm o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mõf)ilias e estabelecimentos •<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° 14 — 1.°<br />
1IMI -..,lí> -Vli •<br />
 C H J L l<br />
.6V19H Mi ÒT!<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
' ' " ' COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
3 ]Y[ESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
juiilo e a retalho, lodos os productos daquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas peios preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
DELPORT<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL Eli LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
J0&0 R89MB0ES BRASA, SOCCESSOB<br />
17— ADRO DE CIMA —20<br />
VátirJIi<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
PARA<br />
| repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
mmmi CHAPELERIA CENTRAL<br />
AUTA 35 ES<br />
Prospectos 1<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Vil SOS<br />
PARA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
corcmerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
mm CQNTBA HE8PES £1 UMHU<br />
PREPARADA PELO PIIARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA: — Serze<strong>de</strong>llo $ Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
P H M N R « «<br />
(OFFICINA)<br />
SII.VA MOUTINHO<br />
Praça do Oommercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 |E"»caiirega-se da $l«éara <strong>de</strong> taboletas, casas, d oura-<br />
& çóes <strong>de</strong> egreja*, forrar «asas a papei, ete., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Ma mesma ofUcina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
(>5 E* M 1 P r i e * 4 í l -«e dinheiro sobre<br />
'£•4 objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor;<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina. 2 a 6 — COIMBRA.<br />
BICYCLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101—Rua do Viseon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
COIMBRA<br />
93<br />
E<br />
ata e m a acaba <strong>de</strong> receber um<br />
' explendido sortido <strong>de</strong> Bicycletes<br />
dos primeiros auclores, como é Humber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôqas.<br />
A CHEGAR— Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillos.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já'tem á venda, Bicycletes<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120^0.1)0 réis ao passo que<br />
estp casa as tem a 110^000 11!<br />
Tem Qondiçõeg <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores.<br />
MARGA «ANGORAS»<br />
10S I I no estabelecimento<br />
W <strong>de</strong><br />
J U L I O » A C U N H A P I N T O<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
111 fJf e n , l e ~ s e tima quinta com pnúl<br />
1 ' W l Mra arroz e casa <strong>de</strong> Ijabitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se reòebem propostas.<br />
i<br />
ESTAÇÃO DA MODA<br />
SOMIfJBOS ~JUt COMES<br />
SUCCESSOR DE CALDAS DA CUNHA<br />
Acaba <strong>de</strong> chegar a esla casa o seguinte:<br />
Chapéus capotes e redondos para<br />
senhora.<br />
Chapéus para creança.<br />
Boinas o que ha <strong>de</strong> mais chic.<br />
Voiles em differentes côres.<br />
Fazendas para vestidos.<br />
Capas romeiras o que ha <strong>de</strong> mais<br />
novida<strong>de</strong>.<br />
Camisas <strong>de</strong> exford etc., etc.<br />
Lindíssimos cortes <strong>de</strong> vestido em<br />
escocer a 4$000 réis.<br />
Enviam-se amostras a quem as pedir.<br />
111 —R. <strong>de</strong> Ferreira Borges 113<br />
C O I M B R A<br />
IPIOMUS<br />
A preto e a côres<br />
Imprimem-se na<br />
TYP. OPERARIA<br />
COIMBRA<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, I.»<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR,<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATUflA<br />
Com estampilha<br />
Anno 21700<br />
Semestre 1$350<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2Í400<br />
Semestre 2U0Q<br />
Trimestre... 60Q
0 emprestimo <strong>de</strong>D. Miguel<br />
A tramóia escandalosa, manobrada<br />
com o maior <strong>de</strong>scaio sobre<br />
os títulos d'este empreslimo, pelo<br />
sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay, o alio dignalario<br />
porluguez, o po<strong>de</strong>roso banqueiro,<br />
que tem crescido e engordado<br />
á sombra d'esta hospitaleira<br />
arvore, que tantos lorlnlhos tem<br />
abrigado, o ju<strong>de</strong>u das finanças que<br />
em negociatas rendosas se tem abeberado<br />
<strong>de</strong> copioso ouro porluguez,<br />
o nababo estrangeiro, acclimatado<br />
ao nosso paiz como sanguesuga<br />
insaciavel, — está-se revelando a<br />
todos, <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> artifícios e <strong>de</strong> sophismas,<br />
mercê da campanha intemerata<br />
d'um nosso collega <strong>de</strong> Lisboa.<br />
As Novida<strong>de</strong>s, jornal palaciano<br />
e conservador, que, na maioria das<br />
questões, diverge profunda e radicalmente<br />
das nossas convicções,<br />
longe como eslá da nossa orientação,<br />
têem-se empenhado com tudo<br />
numa lucla <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> que só<br />
pô<strong>de</strong> merecer lodos os nossos applausos.<br />
Não lh'os regateamos neste ponto,<br />
como também não lhe poupamos<br />
a opposição intransigente das<br />
nossas ás suas opiniões politicas.<br />
Não po<strong>de</strong>mos, por isso; ser acoimados<br />
<strong>de</strong> suspeitos nem <strong>de</strong> facciosos.<br />
Já aqui o lemos dito — não nos<br />
importamos <strong>de</strong> averiguar qual o fim<br />
que porventura possa mover aquelle<br />
jornal na lucla tenacissima e valente<br />
em que se empenhou ; a sua<br />
campanha é justa, é movida em<br />
pró da causa publica, que nós <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos<br />
a lodo o transe; correspon<strong>de</strong><br />
a um alto critério <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />
que se impõe; inspira se<br />
numa idêa honesta — e tanto nos<br />
basla.<br />
Estamos ao seu lado em tudo o<br />
que seja verberar a gananciosa avi<strong>de</strong>z<br />
d'essa Burnaysia financeira que<br />
por ahi pullula, em tudo o que seja<br />
pugnar pela reversão aos cofres do<br />
Estado das sommas importantíssimas<br />
que aleivosamente d'elle foram<br />
distrahidas.<br />
E esta queslão do empreslimo<br />
<strong>de</strong> D. Miguel é uma d'aquellas que<br />
mais earacterisam um governo e<br />
até uma epocha — pô<strong>de</strong> servir <strong>de</strong><br />
bitola para se aquilalar da gran<strong>de</strong><br />
moralida<strong>de</strong> dos governantes.<br />
Está entregue ao po<strong>de</strong>r judicial<br />
a queslão; o sr. ministro da fazenda<br />
assim enten<strong>de</strong>u o seu primeiro<br />
passo ao ver que um jornal expunha<br />
a Ioda a publicida<strong>de</strong> o famoso<br />
escandalo. Bem sabia elle f|ue o<br />
modo mais energico e porventura<br />
mais proprio <strong>de</strong> èe <strong>de</strong>scobrir a lalcatrua<br />
aos olhos da opinião publica,<br />
não era aquelle; bem sabia o sr.<br />
Fuschini que nos magistrados judiciaes<br />
não havia os elementos indispensáveis<br />
para fazer seguir Ião imporlanle<br />
prticesso, vislo terem <strong>de</strong><br />
se contentar com os documentos<br />
que as Novida<strong>de</strong>s lhe po<strong>de</strong>ssem ou<br />
quizessem prestar, e o sr. Fuschini<br />
bem sabia on<strong>de</strong> esses- documentos<br />
preciosos se occultam —na sua gaveta<br />
— mas não os apresentou...<br />
Este receio do sr. ministro da<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
fazenda, o intransigente, o puro, o<br />
inquebrantável, que se acovarda e<br />
recua, como ministro, perante uma<br />
negociata que atacou vigorosamente<br />
como <strong>de</strong>putado, mostra bem o grau<br />
extraordinário do escandalo e o<br />
grau da energia do sr. ministro,<br />
<strong>de</strong> ponta dura e resistente, como<br />
elle proprio um dia se qualificou.<br />
E já agora, visto o sr. Fuschini<br />
não ler tomado na <strong>de</strong>sgraçada situação<br />
em (pie se collocou, o caminho<br />
mais honroso para um ministro<br />
honesto, ficará o seu nome vinculado<br />
á negociata em queslão, e <strong>de</strong><br />
um modo que não será molivo para<br />
que o sr. Fuschini se orgulhe quando<br />
se retirar da vida publica; e isto<br />
porque, a um homem <strong>de</strong> recta consciência<br />
e honesto, só po<strong>de</strong> servir<br />
<strong>de</strong> remorso o não ter cumprido<br />
com o seu <strong>de</strong>ver.<br />
E o sr. Fuschini eslá muito<br />
longe, infelizmente, <strong>de</strong> ler procedido<br />
nesta queslão do modo mais<br />
consentâneo com o seu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />
ministro, e até com a obrigação em<br />
que o consliluiu o seu passado.<br />
Pela Africa<br />
A província d'Angola, uma das mais<br />
adiantadas das nossas colonias e capaz<br />
<strong>de</strong>, pelo seu ' rendimento, occorrer ás<br />
suas <strong>de</strong>spezas sem auxilio da metropole,<br />
po<strong>de</strong>ndo até fechar cada anno economico<br />
com algum saldo positivo, mercê da má<br />
administração que lá prepon<strong>de</strong>ra não<br />
correspon<strong>de</strong> ao que d'ella se po<strong>de</strong>ria esperar.<br />
Deveria ser administrada d'um modo<br />
muito differenle, com auctorida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
para uma boa fiscalisação indispensável<br />
a uma boa administração,<br />
mas não acontece assim. Basta um exemplo<br />
para <strong>de</strong>monstração : — Para chefe<br />
d'um concelho, logar que correspon<strong>de</strong><br />
ao d'um administrador <strong>de</strong> concelho, é<br />
nomeado um official que accumula este<br />
logar com os <strong>de</strong> escrivão <strong>de</strong> fazenda,<br />
recebedor, juiz ordinário, etc.<br />
D'este modo como po<strong>de</strong>m ser íiscalisados<br />
os actos das diversas auctorida<strong>de</strong>s<br />
se todas ellas se consubstanciam numa<br />
só entida<strong>de</strong>?<br />
Ha concelhos que teem contribuições<br />
por cobrar ha mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z annos, po<strong>de</strong>ndo<br />
calcular-se em não menos <strong>de</strong> 200<br />
contos as contribuições em divida, e<br />
que ha muito <strong>de</strong>veriam ter dado entrada<br />
nos cofres da fazenda. Mas por uma extrema<br />
incúria, por um criminoso <strong>de</strong>sleixo<br />
dos governos, não se tem promovido<br />
a cobrança d'aquelias quantias.<br />
Se os chefes do concelho tivessem o<br />
seu logar distincto d'outras entida<strong>de</strong>s<br />
administrativas, se houvesse escrivães<br />
<strong>de</strong> fazenda, recebedores, emfim, uma<br />
organisação (iscai relativamente perfeita,<br />
talvez que taes casos se não <strong>de</strong>ssem.<br />
Assim, acontece que um chefe <strong>de</strong><br />
concelho é julgado alcançado numa quantia<br />
importante, como ainda ha pouco o<br />
foi um em IS contos <strong>de</strong> réis, não tendo<br />
um real com que supprir o alcance...<br />
E' indispensável, pois, que os governos<br />
olhem com attenção para este estado<br />
<strong>de</strong> coisas, que só po<strong>de</strong>m produzir<br />
a rnina numa das nossas possessões<br />
mais prosperas.<br />
A conveniência, ou antes necessida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> se estabelecer um posto <strong>de</strong> carvão<br />
na ilha <strong>de</strong> S. Vicente, on<strong>de</strong>, mesmo<br />
<strong>de</strong> noite, se abasteçam os vapores, é <strong>de</strong><br />
ha muito reconhecida. Não se tem, comtudo,<br />
attendido a esta necessida<strong>de</strong> urgente<br />
O resultado é, que muitos vapores<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> tocar em S. Vicente e vão ás<br />
Ganarias porque não po<strong>de</strong>m metter carvão<br />
durante a noite no nosso porto, poupando<br />
assim um dia <strong>de</strong> viagem.<br />
Portanto, se não fór auctorisada a<br />
<strong>de</strong>scarga durante a noite em S Vicente,<br />
em pouco tempo veremos a navegação<br />
• ffastar-se d'aquelle porto, o que produzirá<br />
incalculáveis prejuízos.<br />
Urge, pois, que o governo provi<strong>de</strong>ncie;<br />
não se limite só á politica caseira<br />
e comesinlia, que tem muito maiores interesses<br />
a que alten<strong>de</strong>r.<br />
Na Guiné, a cultura que mais ten<strong>de</strong><br />
a <strong>de</strong>senvolver-se, porque é a mais própria<br />
d'aquella região, é a das palmeiras,<br />
arvore preciosa e altamente remuneradora.<br />
Produz a palmeira excellente vinho<br />
e magnifica aguar<strong>de</strong>nte do vinho fermentado<br />
; da polpa da noz exlrahe-se o oleo<br />
<strong>de</strong> palma, <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> applicação na<br />
industria ; a noz quebrada dá a amêndoa<br />
que se ven<strong>de</strong> na Europa ; as folhas são<br />
applicadas em variadíssimas industrias,<br />
muitas <strong>de</strong>lias curiosíssimas.<br />
'E' por isso que algumas fazendas se<br />
entregam com affinco á sua cultura.<br />
A expedição <strong>de</strong> Sousa Caldas, cuja<br />
partida precipitada <strong>de</strong> Lourenço Marques<br />
para o interior noticiámos, leve por fim<br />
a occupação militar dos nossos territórios<br />
na fronteira do Traánsvaal.<br />
Mas se quizermos conseguir alguma<br />
coisa não po<strong>de</strong>mos ficar por aqui; não<br />
basta uma expedição militar, do que ha<br />
necessida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> colonos. E por isso,<br />
trate o governo <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>rivar para as<br />
nossas possessões africanas essa enorme<br />
corrente <strong>de</strong> emigração que afflue aos<br />
Estados Unidos do Brazil, que será o<br />
único meio <strong>de</strong> consolidar o nosso domínio<br />
em Africa, promovendo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das nossas colonias,<br />
E' indispensável que se faça.<br />
Ferrer Farol<br />
Os jornaes <strong>de</strong> terça feira trazem-nos<br />
a dolorosa noticia do fallecimento d'esle<br />
<strong>de</strong>votado republicano, que por muitos<br />
annos combateu as instituições monarchicas<br />
na imprensa e no comício, sendo<br />
os seus escriptos e os seus discursos<br />
muitos apreciados.<br />
Era medico, e no exercício d'esta<br />
profissão soube conquistar bom nome,<br />
impondo-se pelo seu talento. Dotado<br />
d'um bello caracter, o dr. Ferrer Farol<br />
<strong>de</strong>ixa sauda<strong>de</strong>s no partido a quem serviu<br />
com <strong>de</strong>dicação, e pelo qual fez gran<strong>de</strong>s<br />
sacrifícios.<br />
Tomando parte na homenagem <strong>de</strong><br />
sentimento que o partido republicano<br />
lhe presta, d'aqui enviamos sinceros pezames<br />
á família do iIlustre finado.<br />
IDe r e l a n c e<br />
Tia pouco ainda quasi <strong>de</strong>sconhecido<br />
na vida publica, vae-se affirmando já<br />
hoje-nas luctas da politica.<br />
Até ha pouco, conheciam-no, e <strong>de</strong>mais,<br />
os segundanistas <strong>de</strong> mathtmatica, que elle<br />
esten<strong>de</strong> por — dá cá aquella palha—em<br />
problemas transcen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> mathematicas<br />
puras, e no Lusitano, ou á porta do Antonio,<br />
ourives, encostido á vitrine <strong>de</strong>stacava<br />
também pelos collarinhos altos bem<br />
gommados, pelos fatos ultima moda, pelos<br />
bigo<strong>de</strong>s torcidos, bem feitos, num ar <strong>de</strong><br />
dandy bem posto que se não parece nada<br />
com os ares <strong>de</strong> embofias d'um cathedratico<br />
poeirento.<br />
Mas agora, porém, vae <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong><br />
se pren<strong>de</strong>r unicamente com as cavaqueiras<br />
do Lusitano e com as estopadas do<br />
— x — para se entregar também ás locubrações<br />
da politica. E po<strong>de</strong>mos esperar<br />
muito da sua boa-vonla<strong>de</strong> e até do seu talento.<br />
As suas convicções politicas teem como<br />
ponto dt partida a sua convivência com<br />
José Falcão, a extincta gloria do partido<br />
republicano, e affirmaram-se no manifesto<br />
republicano, que <strong>de</strong>sassombradamente assignou.<br />
Loup.<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />
do Povo<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Geraldine... .<br />
Á falta <strong>de</strong> questão <strong>de</strong> maior vulto<br />
em que se dispendam forças e arruinem<br />
pulmões, a mocida<strong>de</strong> portuense fez da<br />
arena do circo campo <strong>de</strong> combate, e pugna<br />
<strong>de</strong>nodadamente, graças ao pomo <strong>de</strong><br />
discórdia—a formosa Geraldine.<br />
Magnifico, pomo, em verda<strong>de</strong> !<br />
Comquanto ver<strong>de</strong>, segundo insinúa<br />
a má lingua indiscreta, tem este pômo<br />
a attracção do fruclo prohibido...<br />
Ora a mocida<strong>de</strong> ar<strong>de</strong>nte e nem sempre<br />
discreta, manifesta a sua admiração,<br />
as suas esperanças, ou os seus <strong>de</strong>senganos,<br />
á ovação e á paleada... pateada e<br />
ovação que <strong>de</strong>scambaram no velho expediente<br />
genuinamente nacional: a bordoada.<br />
Já por ahi temos uma bella collecção<br />
<strong>de</strong> cabeças rachadas a attestar o exilo<br />
extraordinário da gentilissima funambula.<br />
As scenas repetem-se todas as noites,<br />
e a continuar o ruidoso successo,<br />
terá, muito breve, a empreza <strong>de</strong> fornecer<br />
um certo numero <strong>de</strong> pontos a cada<br />
espectador que entre no circo com a<br />
tenção <strong>de</strong> se patentear em favor ou contra<br />
n Geraldine.<br />
Devo advertir que lambem apanha<br />
quem não se mette em manifestações<br />
perigosas...<br />
Em qualquer cida<strong>de</strong> que se orgulhe<br />
<strong>de</strong> seguir as impeccaveis regras da pragmatica,<br />
<strong>de</strong>scambariam estas rixas <strong>de</strong><br />
pica<strong>de</strong>iro em pen<strong>de</strong>ncias d'honra, com<br />
o seu seguimento inevitável: o duelo.<br />
No club soliicitavam-se padrinhos, e<br />
ao <strong>de</strong>spertar a aurora, lavava-se a<br />
honra manchada, e tiravam-se a limpo os<br />
méritos da gymnasta, com duas estocadas<br />
a fundo, vibradas com alma por<br />
uma boa lamina <strong>de</strong> Toledo.<br />
Aqui, " neste Porto essencialmente<br />
burguez, a coisa passa-se d'outra fórma:<br />
os adversarios não esperam o rosicler<br />
d'aurora — serve-lhes mesmo a luz do<br />
gaz, tomam por testemunhas a multidão<br />
d'espectadores, erguem os bengalorios,<br />
e <strong>de</strong>sancam-se, sem formalida<strong>de</strong>s, sem<br />
praxes, distribuindo bordoada <strong>de</strong> cego,<br />
que muita vez attinge o incauto que<br />
leve a <strong>de</strong>sgraça <strong>de</strong> pagar cinco tostões<br />
por uma ca<strong>de</strong>ira, e cuja má sorte lhe<br />
<strong>de</strong>signou o logar ao lado <strong>de</strong> geraldinistas<br />
e seus rivaes.<br />
Ultimamente, porém, tem se dado<br />
aqui um facto anormal.<br />
A policia, evi<strong>de</strong>ntemente do partido<br />
da Geraldine, quando presente o mais<br />
leve rancor da pateada, investe como<br />
bando <strong>de</strong> selvagens, sabre em punho,<br />
e carrega sobre o publico, effectuando<br />
prisões, maltratandç os espectadores, e<br />
provocando gravíssimas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns.<br />
Os <strong>de</strong>sgraçados que teem a infelicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cahir nas unhas da policia soffrem<br />
vexames, maus tratos... e passam<br />
uma noite no Aljube, d'on<strong>de</strong> são remetlidos<br />
no dia seguinte para o tribunal!<br />
É inaudito este procedimento !<br />
Não achamos <strong>de</strong>licado que se pateie<br />
uma boa artista e uma lindíssima mulher,<br />
como Geraldine; parece-nos pouco<br />
correcto incommodar o publico com manifestações<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado exaggerado,<br />
mas não admitlimos tanrbem que a policia<br />
prohiba <strong>de</strong> se manifestar, pró ou<br />
conlra, a quem pagou o seu bilhete, e<br />
revolta-nos a prisão arbitraria com a circumstancia<br />
<strong>de</strong> se maltratar o que está<br />
no uso d'um direito, e não <strong>de</strong>sacata a<br />
auctorida<strong>de</strong> — pouco credora, diga-se a<br />
verda<strong>de</strong> — ao nosso respeito,<br />
Se a policia não mudar <strong>de</strong> rumo, teremos<br />
a regalar novos tumultos, e bem<br />
graves, talvez.<br />
A responsabilida<strong>de</strong> eahirá somente a<br />
quem dá or<strong>de</strong>ns disparatadas e impru<strong>de</strong>ntes.<br />
Geraldine não lucra nada com arbitrarieda<strong>de</strong>s<br />
e <strong>de</strong>saforos policiaes.<br />
Apezar <strong>de</strong> ler diminuído em carnes<br />
não diminuiu em admiradores, e conlinúa<br />
a ser a triumphadora, a <strong>de</strong>slumbrante!<br />
8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />
Fra-Diavolo.<br />
João Chagas<br />
Em breves dias estará em Lisboa<br />
este synipathico republicano e audacioso<br />
jornalista, a figura mais proeminente do<br />
movimento revolucionário <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro.<br />
Na capital espera-o o administrador<br />
d'A Portugueza, sr. Dionysio dos Santos<br />
Silva, um sincero <strong>de</strong>mocrata, e intimo<br />
amigo do <strong>de</strong>portado politico.<br />
Apezar <strong>de</strong> lodos os esforços do governo,<br />
disposto a empregar a força para<br />
conter os enthusiasmos do povo, a presença<br />
<strong>de</strong> João Chagas na capital ha <strong>de</strong><br />
emocionar os nossos correligionários que<br />
hão <strong>de</strong> recebel-o com effusiva alegria.<br />
Uma baleia vivai<br />
O comité da exposição <strong>de</strong> Chicago<br />
julgou que uma baleia viva seria um<br />
objecto muito interessante a expor na<br />
secçã» das pescarias. Consequentemente,<br />
está em via do organisar-se uma expedição<br />
com o lim <strong>de</strong> capturàr o enorme cetáceo.<br />
A captura não será fácil, visto<br />
que não po<strong>de</strong>rão servir-se <strong>de</strong> harpões.<br />
A baleia, uma vez presa, será collocada<br />
num reservatório monstro, e rebocada<br />
até Chicago pelo rio S. Lourenço e pelos<br />
gran<strong>de</strong>s lagos.<br />
Emilio Castelar<br />
Referem os jornaes hespanhoes que<br />
esle illustre orador acaba <strong>de</strong> dar por terminada<br />
a sua vida politica, retirando se<br />
por completo ; que se vae entregar a redacção<br />
d'uma Historia <strong>de</strong> Hespanha que<br />
ficará sendo o maior monumento da sua<br />
vida <strong>de</strong> escriptor e orador; que aconselhou<br />
os seus partidários a filiarem se no<br />
grupo <strong>de</strong> Sagasta, como sendo o que<br />
melhor tem con<strong>de</strong>scendido com as aspirações<br />
d'elle, Castelar.<br />
O facto, se bem que não nos penaíisa,<br />
surprehen<strong>de</strong>u-nos, não tanto pelo<br />
resto, mas pela audacia <strong>de</strong> Castelar em<br />
enviar os seus amigos para um grupo<br />
monarchico. A surpreza, comtudo <strong>de</strong>sce<br />
<strong>de</strong> ponto, se lhe <strong>de</strong>duzirmos o proce<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> Castelar ha algum tempo, affastando-se<br />
systemalicamente dos grupos republicanos<br />
e não pactuando com elles<br />
nem em luctas eleitoraes. Deduzido isto,<br />
fica <strong>de</strong> Castelar uma pequena sombra <strong>de</strong><br />
republicanismo, e já se conclue que, estaudo<br />
affaslado dos republicanos, com a<br />
sua gente, nenhuma falta agora lhes<br />
faz.<br />
Cremos até que a sua retirada beneficia<br />
a <strong>de</strong>mocracia hespanliola, por que<br />
nos convençemos que muitos dos seus<br />
proselytos, sobretudo os que, sendo republicanos,<br />
seguiam Castelar por fanatismo<br />
e por cohereucia, preferirão agora,<br />
ás hostes <strong>de</strong> Sagasta, irem-se alistar<br />
francamente nos partidos avançados da<br />
<strong>de</strong>mocracia.<br />
Em summa, o facto, não fere nos<br />
seus fundamentos a <strong>de</strong>mocracia liespànhola;<br />
em nossa opinião, a submersão<br />
<strong>de</strong> Castelar accelera o triumpho dos<br />
nossos correligionários visinhos.<br />
Morte repentina<br />
No domingo, 7, em um wagon <strong>de</strong><br />
3." classe, 'no comboio que seguia da<br />
Pampilhosa para Villar Formoso, falleeeu<br />
entre Morlagua e Sanla Comba Dão um<br />
pobre homem que regressava do Brazil,<br />
e que se dirigia a Villa Cova da Coelheira,<br />
sua terra natal, proximo a Castro<br />
Daire.<br />
As auctorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Comba tomaram<br />
conta do cadaver encontrando-lhe<br />
no forro do casaco cozido com todo o<br />
cuidado 15 libras em ouro e alguma<br />
prata.
, A.V\0 I — 8S O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1993<br />
LETTRAS<br />
Contos americanos<br />
PROPHECtAS ELECTItlCAS<br />
(CONCLUSÃO)<br />
— Como se administra agora a justiça<br />
?<br />
— Não lia tribunnes, nem criminoso?,<br />
já não ha o embaraço da proprieda<strong>de</strong>.<br />
Nos annos <strong>de</strong> fome não temos<br />
mais que electrisar os pobres para <strong>de</strong>pois<br />
os acordar nos annos <strong>de</strong> lartura.<br />
Quanto aos criminosos, a ceiteza<br />
absoluta <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>scobertos fel-os renunciar<br />
ao crime. A nossa moralida<strong>de</strong> é<br />
garantida, porque o pensamento é traduzido<br />
em expressão material, e tomam<br />
visível aos sentidos <strong>de</strong> lodos.<br />
—Isso é possivel ?<br />
— Espere.<br />
O doutor tirou do bolso um pequeno<br />
instrumento.<br />
—Olhe para aqui um minuto. Bem.<br />
Lein agora.<br />
Li o que eu pensava escriplo por<br />
extenso.<br />
— Mas então, disse eu ancioso, já<br />
não ha necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repor ters, nem<br />
<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>ntes.<br />
— Sem duvida. Com estas machinas<br />
qualquer pô<strong>de</strong> tudo fazer por si mesmo.<br />
Além d'isso, uma outra vantagem<br />
do systema: Àcabaram-se as noticias<br />
falsas, as polemicas entre os jornaes sobre<br />
a exactidão d'um facto.<br />
— E' falso! E' impossível! exclamei<br />
com a energia que dá o amor da<br />
arte.<br />
— Porquê? respon<strong>de</strong>u o doutor. No<br />
seu tempo o pobre Edison, apezar das<br />
suas i<strong>de</strong>ias atrazadas e dos seus processos<br />
infantis, não fixou a palavra?<br />
Porque não quer o meu amigo que nós<br />
possamos phoiographar o pensamento?<br />
— Mas assim <strong>de</strong>vem pren<strong>de</strong>r os criminosos.<br />
Certamente. Ás ereanças na escola<br />
todas as tar<strong>de</strong>s se lhes pholographa o<br />
cerebro. Seguimos assim os progressos<br />
das suas i<strong>de</strong>ias.<br />
Destroem-se as más e subslituem-se<br />
por boas. Não' ha já nem advogados,<br />
nem juizes, nem homens da lei, nem<br />
policias, nem prisões.<br />
Os criminosos endurecidos, aquelles<br />
que foram electrisados no seu tempo,<br />
são tratados como ereanças, se resistem<br />
e são muito difficeis <strong>de</strong> curar, eleclrisam-se<br />
<strong>de</strong> novo. Vê<strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> economia<br />
para o Estado.<br />
Nesta altura pareceu-me que elle<br />
olhava para mim. Tornei-me pallido.<br />
— Esteja <strong>de</strong>scançado, me disse rindo.<br />
Os jornalistas são pobres diabos, e<br />
<strong>de</strong>pois a sua profissão <strong>de</strong>ixa-lhes tão pouco<br />
tempo disponível, que não tem tempo<br />
<strong>de</strong> pensar no mal, por isso chegam<br />
aqui, geralmente bem disciplinados.<br />
— Mas penso, doutor, com todas essas<br />
invenções electro. — Como dizeis?—<br />
Porque não me põe em communicação<br />
immediala com o seu cerebro? Leria alli<br />
todos os seus pensamentos, e apreciaria<br />
uma a uma todas as maravilhas que<br />
ainda me não ensinou ?<br />
— Ai <strong>de</strong> si, mancebo, aqui a cara<br />
do sábio tornou se profundamente triste,<br />
o seu espirito seria afogado na massa<br />
das questões que fervem neste craneo...<br />
— Desculpe me, doutor e permittanie<br />
uma ultima pergunta: acredita que<br />
com todos esses apparelhos, os homens<br />
consigam viver eternamente ?<br />
—E' difficil. „.<br />
— Mas não po<strong>de</strong>m in<strong>de</strong>finidamente<br />
tlectrisar o corpo? Isto parece uma immortalida<strong>de</strong><br />
pratica.<br />
—Tudo tem limite. A cada electrisação<br />
o corpo per<strong>de</strong> alguma coisa da sua<br />
própria personalida<strong>de</strong>, da sua vitalida<strong>de</strong><br />
particular. Todavia nós vivemos mais<br />
tempo que os seus contemporâneos 500<br />
annos médios. Po<strong>de</strong>mos mesmo alcançar<br />
os 1:000, mas <strong>de</strong>pois?... Keliro-me,<br />
tenho muita pressa...<br />
Ainda uma palavra: qutfl é o segredo<br />
da vida humana?<br />
Sem duvida o doutor não estava habituado<br />
ás perguntas dos jornalistas. Sem<br />
me respon<strong>de</strong>r voltou-se para o ajudante<br />
que o não tinha <strong>de</strong>ixado.<br />
Não pronunciou uma palavra ma» o<br />
ajudante, pegando-me pelos braços, lançou-me<br />
num gran<strong>de</strong> tubo semelhante ao<br />
cano d'uma arma <strong>de</strong> fogo gigantesca.<br />
Estalou uma<strong>de</strong>tonação formidável. Eu<br />
fui (fuzilado para traz,» á primavera do<br />
anno 1882. E cabindo em (ima do telhado<br />
<strong>de</strong> minha casa, fiquei pendurado<br />
docemente sobre o craneo polido d'um<br />
homem <strong>de</strong> rosto austero e bondoso. Reconheci<br />
o meu busto <strong>de</strong> Benjamim Franklini,<br />
alojado irreverenciosamente nas<br />
aguas Cortadas pelas suas dimensões incommodus.<br />
Des<strong>de</strong> este dia respeito mais que<br />
d'anles o meu Franklin.<br />
Na realida<strong>de</strong>, experimentei a sua forte<br />
cabeça.<br />
E, muitas vezes, penso que é em<br />
gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>vido a elle, que nós possuímos<br />
esses maravilhososphones, graplies,<br />
e lypos qiie neste momento trabalham —<br />
talvez — para bem da humanida<strong>de</strong>.<br />
Esperando!<br />
Jehan Soudan.<br />
Acabava <strong>de</strong> soar a meia noite no pequeno<br />
e argenteo relogio da alcova perfumada<br />
<strong>de</strong> Bosita, e ella..., sempre<br />
alegre, sempre jovial, foi sentar-se como<br />
<strong>de</strong> costume no seu poético varandim. As<br />
trepa<strong>de</strong>iras, coiladitas, eurvando-se muito<br />
humil<strong>de</strong>s, muito respeitosas, vinham beijar<br />
os pequeninos pésiOs passarinhos, que<br />
das tenras hasteas dos arbusto» faziam,<br />
o seu berço d amor, piavam tristemente,<br />
melancholicamente !<br />
Os rouxinoes, dos elevados olmeiros<br />
soltavam saudosas en<strong>de</strong>ixasá* suas amantes<br />
philonielas... e Rosa, sempre alegre,<br />
semprejovial, sorria angelicamente, pensando<br />
ouvir a cada momento a encantadora<br />
voz do seu amuado Armando.<br />
O seu espirito brincava como uma<br />
creança per<strong>de</strong>ndo se em phantasticas concepções!<br />
Tudo flores... tudo amor...<br />
tudo poesia!... As outras rositas do<br />
jardim, mas lindas irmãs, acenavam lhe<br />
<strong>de</strong> vez em quando impelidas docemente<br />
pela fresca aragem da manhã.. . e ella,<br />
a Rosita, sempre alegre, sempre jovial,<br />
começava <strong>de</strong> entristecer.<br />
Esse amor... essas flores... essa<br />
poesia divinal... tudo fugira veloz,<br />
muito veloz! A razão perturbava-se-lhe<br />
e o espirito já não phantasiava tão docemente<br />
! Soffria, solíria bastante! A lua,<br />
inda que sempre palida e triste, espreitando<br />
<strong>de</strong> além,.<strong>de</strong> muito além, por entre<br />
a negra ramagem das arvores frondosas,<br />
sorria sarcaslica e cruelmente ao contemplar<br />
o rosto angustioso mas sempre angélico<br />
<strong>de</strong> Rosa, e ella... sempre alegre,<br />
sempre jovial, pa<strong>de</strong>cia, pa<strong>de</strong>cia atrozmente<br />
!<br />
As lagrimas inundavam-lhe as faces<br />
alvíssimas, <strong>de</strong>scendo aos pares a beijar-<br />
Ihe o arfante seio!... e a brisa, passando<br />
ao <strong>de</strong> leve por entre os lios do seu Cabello<br />
côr <strong>de</strong> oiro, fazia ouvir uma suavíssima<br />
e encantadora harmonia.<br />
Haviam já soado as Ires da madrugada<br />
; aurora ri<strong>de</strong>nte e bella! As avesinhas<br />
acordando do seu arrulhar tão meigo,<br />
vinham a<strong>de</strong>jar por sobre o jardim, soltando<br />
melodiosos trinados, e llosa... triste e<br />
pesarosa, permanecia fria e immovcl qual<br />
estatua, encostada ao peitoril do varandim.<br />
As outras rositas, como querendo<br />
suavisar tão longo martyrio, sorriam-lhe<br />
meigamente mas <strong>de</strong> coração afflicto.. .,<br />
porém ella já as não via, gelára-se-lhe o<br />
pranto nos olhos, já não chorava!...<br />
E quando o sol apparecia altivo, orgulhoso<br />
e immenso por entre a espessa ramagem<br />
do bosque fronteiro, vindo heijar-llie com<br />
alguns dos seus raios a fronte angustiosa<br />
e palida, angélica e candida ella, conservando<br />
nos lábios um doce sorrir divinal<br />
com os olhos marejados e fixos no horisonle,<br />
permanecia, coiladita, permanecia<br />
ainda encostada ao varandim! Já não<br />
soffria!... Bosa, sempre alegre, sempre<br />
jovial, eslava louca !<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
qA. cA. <strong>de</strong> SMattós.<br />
Está salva a coisa...<br />
E' muito fallada nos centros políticos<br />
a approximação do sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valbom<br />
e do Carlinhos ao partido progressista,<br />
d'on<strong>de</strong> sahiram por incompatibilida<strong>de</strong><br />
com o chefe, sr. José Luciano, <strong>de</strong><br />
quem agora dizem maravilhas.<br />
Esta conciliação, affirmam os que<br />
enten<strong>de</strong>m, é <strong>de</strong> alta vantagem para os<br />
negocios do paiz e moralisação <strong>de</strong> costumes.<br />
Elle cheira 9 isso...<br />
A egreja da Sé Velha<br />
A noticia que o correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
Lisboa mandou para -o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro,<br />
acerca do que disse o sr. Possidonio<br />
da Silva na commissão dos monumentos,<br />
referindo »e á restauração da<br />
eureja da Sé Velha, produziu péssima<br />
impressão no publico d'esla cida<strong>de</strong> conhecedor<br />
do assumpto.<br />
O sr. Posndonio, na sua caturrice<br />
<strong>de</strong> Sabio, cujo cerebro se vae ossificando,<br />
consi<strong>de</strong>ra a obra que se está fazendo<br />
naquelle templo — um altentado contra<br />
o pensamento original do architecto que<br />
<strong>de</strong>lineára o edifício — e reclama a attenção<br />
do governo para este facto!<br />
Nunca se viu audacia tão pyramidal,<br />
nem asserção mais grosseira. Este Possilonio,<br />
que por <strong>de</strong>speito ou por maldado<br />
preten<strong>de</strong> fazer insinuações calumniosa»,<br />
a fingir-se erudito!<br />
Havemos <strong>de</strong> rir — e rir muito —<br />
quando o sr. Antonio Augusto Gonçalves,<br />
que é um dos membros da commissão<br />
encarregada <strong>de</strong> dirigir a restauração<br />
d'aquelle templo, o chamar á responsabilida<strong>de</strong><br />
da asserção que vomitou.<br />
Este critico, cuja orientação ha muito<br />
está <strong>de</strong>finida, e consi<strong>de</strong>rado como um<br />
insignificante, julga que em <strong>Coimbra</strong><br />
não ha ninguém competente para um<br />
trabalho <strong>de</strong>sta imporlancia, e como<br />
uão tem sido ouvido, nem con
ANNO I—N.» 85 O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1§»3<br />
Conselho <strong>de</strong> ileoanog<br />
Reuniu honlem o conselho <strong>de</strong> <strong>de</strong>canos<br />
para nomear os jurys para os exames<br />
<strong>de</strong> preferencia, que ficou assim composto<br />
:<br />
Grego — Drs. Manoel <strong>de</strong> Jesus Lino,<br />
Antonio Garcia Ribeiro <strong>de</strong> Vasconcellos<br />
e Francisco Martins.<br />
Allcmão: — Drs. Anlonio José Gonçalves<br />
Guimarães, Teixeira Bastos e José<br />
Maria Rodrigues.<br />
Inglez—Drs. Augusto ltoclia, Francisco<br />
Antonio Diniz e o professor do<br />
lyceu Hermann Diirlisen.<br />
O mesmo conselho informou favoravelmente<br />
o pedido do ministro da Allemanha,<br />
em Lisboa, para que fosse admittido<br />
como alumno voluntário da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Direito um estudante allemão.<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />
Esta faculda<strong>de</strong> marcou ponto para o<br />
dia 27 do corrente, principiando os actos<br />
no dia 2 do proximo junho.<br />
As posturas municipaea e o<br />
eomniercio<br />
A policia continúa a multar o sr*<br />
Antonio Augusto <strong>de</strong> Sá, pela transgressão<br />
do n.° 9, do art. 120, do codigo <strong>de</strong><br />
posturas, e aquelle commerciante insi-te<br />
em conservar ás portas do seu estabelecimento<br />
as amostras das fazendas.<br />
A ultima multa, no domingo é do<br />
guarda n.° 45, Manoel Francisco, na<br />
importancia <strong>de</strong> 2$000 réis.<br />
Que isto é um abuso dos guardas<br />
não otíerece duvida alguma e quasi nos<br />
convencemos <strong>de</strong> que o sr. commissario<br />
<strong>de</strong> policia não tem d'este fscto conhecimento.<br />
Porque o n.° 9 do art. 120, só prohibe<br />
que se conservem fazendas ás portas—<br />
mesmo a lilulo <strong>de</strong> amostras! E<br />
é certo que todo o commercio — os proprios<br />
vereadores! — transgri<strong>de</strong>m esta<br />
disposição das posturas, e comtudo a<br />
policia <strong>de</strong>ixa-os em paz I Logo a perseguição<br />
que se*está fazendo ao sr. Anlonio<br />
<strong>de</strong> Sá sobre ser iníqua é vexatória<br />
e por isso aqui pedimos provi<strong>de</strong>ncias<br />
para o abuso que se esta exercendo cora<br />
um commerciante que tem direito a gozar<br />
das mesmas regalias concedidas á sua<br />
classe.<br />
Sfo Theatro-Cireo<br />
Francisco Lucas, o activo e inlelligente<br />
emprezario do theatro D. Luiz vae<br />
dar nesta casa <strong>de</strong> espectáculos uma recita<br />
em seu benelicio, na noite <strong>de</strong> 20<br />
do corrente.<br />
A companhia dirigida pelo actor Taveira<br />
é que toma parte no espectáculo;<br />
o que equivale a prognosticar uma esplendida<br />
noite.<br />
Francisco Lucas, merece do publico<br />
toda a protecção; elle que se não tem<br />
poupado a esforços para nos mimosear<br />
com as novida<strong>de</strong>s theatraes, bem merece<br />
que o publico concorra á sua festa,<br />
pagando-lhe assim os seus sacrifícios.<br />
84 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A jpiA i u m m<br />
X<br />
A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />
Carlo-Felice<br />
Impressionado por esla nova idéa,<br />
parecia-lhe um ruido importuno a obraprima<br />
<strong>de</strong> Bellini; <strong>de</strong>sejava que <strong>de</strong>sapparecessem<br />
sem <strong>de</strong>mora a Norma, o gransacerdote,<br />
e lodos aquelles druidas Gomo<br />
todas as operas teem lim, chegou finalmente<br />
a hora da sahida, indo Paulo<br />
Gréant collocar se encostado, a uma<br />
columna, em um sitio escuro, mas muito<br />
proximo <strong>de</strong> uma passagem brilhantemente<br />
illuminada<br />
Os espectadores sabiam em massa<br />
compacta; e seriam necessários todos os<br />
olhos <strong>de</strong> Argus para distinguir e seguir<br />
todas as pessoas, que sabiam pelas cinco<br />
portas do theatro; mas a inlelligencia<br />
que, invisível, nos conduz e que se<br />
chama acaso, veio em auxilio do joven artista<br />
c fez passar junto d'elle o homem<br />
que elle espçrava.<br />
A pressão da chusma impediu que<br />
o braço <strong>de</strong> Gréant alcançasse Talormi.<br />
Hospitaea da IJniveraidado<br />
Teve approvação o orçamento* supplementar<br />
d'esle estabelecimento do Estado<br />
para o anno economico <strong>de</strong> 1892-<br />
1893, na importancia <strong>de</strong> 3:936/684<br />
réis.<br />
A bem da instrucçíío<br />
Noticiam que a camara municipal <strong>de</strong><br />
Guimarães creára um premio <strong>de</strong> 30$000<br />
réis para o alumno <strong>de</strong> instrucção primaria<br />
que mais se distinguisse no exame<br />
<strong>de</strong> admissão aos lyceus<br />
Que os nossos vereadores ponham os<br />
olhos neste incentivo á instrucção popular<br />
e se resolvam a trabalhar em seu<br />
benelicio.<br />
O donativo feito á camara pelo benemerilo<br />
cidadão dr. Henriques Secco, que<br />
a ella legou a sua importante bibliotlieca,<br />
constilue um bello elemento para se<br />
organisar por conta do município um<br />
gabinete <strong>de</strong> leitura, po<strong>de</strong>ndo com isto<br />
utilisar muito a instrucção popular.<br />
São <strong>de</strong>corridos quasi 6 mezes e ainda<br />
ninguém viu a camara affirmar-se em<br />
em qualquer acto que a elevasse quasi<br />
a vemos limitada ao expediente diário,<br />
sem que a preoccupem os importantes melhoramentos<br />
que lorain o cavalio <strong>de</strong> batalha<br />
para a conquista nos logares do<br />
senado.<br />
A <strong>de</strong>cepção porque está passando o<br />
publico conimbricense—que muito coniiou<br />
nos actuaes vereadores, e mormente<br />
no individuo que assumiu a presi<strong>de</strong>ncia—<br />
é gran<strong>de</strong>, e maior será se continuarmos<br />
a presenceiar a mesma indilferença<br />
e a mesma inércia que se está<br />
notando na administração municipal <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
janeiro até hoje.<br />
Que a provi<strong>de</strong>ncia illumine os edis<br />
conimbricenses.<br />
Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valença*<br />
Muito brevemente se realisará na<br />
sala da Associação dos Artistas a sessão<br />
solemne para inaugurar o retrato d'este<br />
titular, presi<strong>de</strong>nte honorário d'esta associação.<br />
Affirma-se que será uma festa <strong>de</strong>slumbrante<br />
para o que trabalham com<br />
enthusiasmo os actuaes corpos gerentes.<br />
Club doa t açadorea<br />
O digníssimo secretario d'esta sympathica<br />
associação acaba <strong>de</strong> entregar ao chefe<br />
da primeira esquadra, com or<strong>de</strong>m do sr.<br />
commissario <strong>de</strong> policia, 4#500 réis para<br />
serem dados ao policia n.° 49. Este donativo<br />
è em cumprimento da promessa<br />
feita por este Glub num annuncio que<br />
aqui publicámos: recompensar aquelle<br />
que avisasse o Club, ou fizesse entregar<br />
a justiça, todo o individuo que faltasse<br />
ao comprimento da lei e caçasse durante<br />
o tempo em que é <strong>de</strong>feza a caça.<br />
Cultura do chá<br />
Na quinta agrícola tem-se experimentado<br />
a cultura do chá, e informamnos<br />
<strong>de</strong> que os seus resultados até hoje<br />
tem sido muito promettedores.<br />
O diplomata <strong>de</strong>sceu apressadamente<br />
os <strong>de</strong>graus do peristylo e per<strong>de</strong>u se,<br />
durante momentos no meio da multidão,<br />
para tornar a apparecer no meio da praça<br />
quasi <strong>de</strong>serta, pois que todas as pessoas,<br />
que sabiam do theatro, seguiam, peln rua<br />
(le Carlo Felice para a strada novíssima<br />
e para os bairros opulentos.<br />
Paulo seguiu "Talormi, que andava<br />
com os passos mysteriosamente precipitados<br />
como homem lançado na pista <strong>de</strong><br />
uma boa aventura, conquistada entre<br />
duas cavatinas. O prestigitador não duvidava<br />
<strong>de</strong> que alguém o seguia; ter-seia<br />
se pu<strong>de</strong>sse, empalmado a si proprio e<br />
Paulo não o teria podido ver no meio<br />
das trevas. Ambos, a certa distancia um<br />
do outro, entraram em um labyrintho <strong>de</strong><br />
ruas, que conduzem á ponte da Cariguan.<br />
O ultimo nunca perdia <strong>de</strong> vista o primeiro,<br />
apezar da illuminação ser unicamente<br />
fornecida pelas estrellas.<br />
Talormi subiu uma rua Íngreme, ao<br />
O ília <strong>de</strong> Itoje<br />
Nesta madrugada sahiram em direcção<br />
ao Bussaco muitos forasteiros d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
O comboio ia a abarrotar <strong>de</strong> passageiros<br />
; além <strong>de</strong> muitas carruagens<br />
que sairam conduzindo famílias.<br />
O Choupal também é costume ser<br />
muito visitado, passando-se naquelle <strong>de</strong>licioso<br />
retiro um dia alegre e divertido<br />
— á vonta<strong>de</strong>.<br />
Que a vida são dois dias!<br />
Monte-pio Conimbricense<br />
Foi distribuído aos socios d'esta<br />
associação <strong>de</strong> soccorros mutuos o projecto<br />
' da reforma <strong>de</strong> estatutos <strong>de</strong>vendo<br />
reunir a assemblêa geral para a sua discussão<br />
e approvação no dia 1.° do proximo<br />
mez.<br />
Fallecimento<br />
Falleceu esta semana o commerciante<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, sr. Anlonio Marques<br />
Cepo, que ha tempos enfermara.<br />
A sua família os nossos pezames.<br />
Franciaeo Hespanhol<br />
Foi na terça feira o enterramento<br />
d'esle infeliz homem, que eslava estabelecido<br />
na praça do Commercio. Deixa<br />
sauda<strong>de</strong>s aos seus, por quem era <strong>de</strong>dicado<br />
em extremo, e que agora lamentam tão<br />
<strong>de</strong>sastrado acontecimento.<br />
Os nossos sentimentos a sua família.<br />
A transformação social<br />
Haverá ainda acaso alguém que<br />
convicta e consciosamente creia que no<br />
mesmo meio em que estamos vivendo,<br />
e sem radical transformação politica,<br />
para d'esta po<strong>de</strong>r proce<strong>de</strong>r uma verda<strong>de</strong>ira<br />
regeneração, social po<strong>de</strong>rá melhora<br />
r-seí*. > » . . . . .<br />
Supposto que o interesse material, individual,<br />
também, em muitos íiomens, forme<br />
convicções mal fundadas e consciências<br />
erróneas, quer-nos parecer que nem<br />
os proprios a quem interessa a ausência<br />
dos elementos essenciaes para constituir<br />
um governo digno <strong>de</strong> uma nação<br />
mais ou menos polida, estão convencidos,<br />
no seu foro interno, <strong>de</strong> que a nação<br />
portugueza pô<strong>de</strong> melhorar das infelizes<br />
e anarchicas, se pô<strong>de</strong> dizer, con-<br />
dições em que se encontra, sem uma<br />
transformação politica, que baseia a melhoria<br />
dos serviços públicos, realisando<br />
incessante e progressivamente um governo<br />
realmente livre, acompanhado <strong>de</strong><br />
moralida<strong>de</strong>, primeiro que tudo, <strong>de</strong> economia,<br />
<strong>de</strong> rectidão, e <strong>de</strong> justiça, predicados<br />
estes, que, por via <strong>de</strong> regra, se não lêem<br />
manifestado nas muitas e variadas administrações<br />
que o liberalismo constitucional<br />
tem imposto ao paiz, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1834,<br />
e muito accentuadaraente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
1852, tendo mostrado uma observação<br />
constante, que <strong>de</strong> parle nenhuma até ao<br />
presente tem advindo nova melhoria positiva,<br />
sensível, que faça mudar a face<br />
da governação publica, e nem já se es-<br />
o muro e seguir Talormi na sua expedição<br />
mysteriosa; <strong>de</strong>sceu lentamente a rua,<br />
reflectindo e torneando sempre o muro<br />
do jardim, encontrou no seu angulo extremo<br />
um palacio, cuja fachada dava para<br />
uma curta rua. Sobre o brazâo da porta<br />
elle po<strong>de</strong>ria ver duas lettras, pintadas <strong>de</strong><br />
azul — dois SS.<br />
Paulo recwiheeeu cf palacio <strong>de</strong> Santa-<br />
S.cata.<br />
Neste bairro da cida<strong>de</strong> muitas pessoas<br />
gosavam, cantando o fresco da noite: e<br />
diante <strong>de</strong> uma loja <strong>de</strong> livreiro alguns<br />
genovezes peripatetas cantavam solta voce<br />
uma especie <strong>de</strong> nocturno primitivo que<br />
começa:<br />
Bove, bove, dolce andate.<br />
Tutte le porte son serratte.<br />
A loja era illuminada por um pequeno<br />
candieiro. Paulo entrou com espanto<br />
cimo da qual passou<br />
do dono da loja, o qual apesar da hora<br />
adiantada da noite,- achou bem <strong>de</strong>pressa<br />
diante <strong>de</strong> um a explicação da visita<br />
muro velho, muito damnificado pelas Gréant, tendo pedido a Guia do via-<br />
raízes das vinhas silvestres e outras jante na ltalia, era, pensava o livreiro,<br />
plantas: saltou por cima do muro e um extrangeiro, que sem duvida partia<br />
<strong>de</strong>sappareceu.<br />
<strong>de</strong> madrugada e que ás onze horas<br />
Paulo ficou immovel como um <strong>de</strong>us- da noite procurava um livro indispensável.<br />
termo e confundido <strong>de</strong> estupefação.<br />
As livrarias são muito frequentadas<br />
Assaltou-o um presentimento, mas lor- em Génova não só pelos eruditos, mas<br />
riu-se do seu presentimento, e envergo- também pelos extrangeiros e pelos estunhou<br />
se da i<strong>de</strong>ia absurda, impossível, que dantes. O livreiro era alegre e gostava<br />
acabava <strong>de</strong> atravessar o seu espirito, das conversações philosophícas; era cu-<br />
como um sonho <strong>de</strong> louco.<br />
rioso como um barbeiro e dirigia nunie-<br />
Gréant não julgou conveniente saltar (osas perguntas ao seu freguez <strong>de</strong> passa-<br />
pera, ou é dado esperar, para allivio e<br />
bem do paiz.<br />
Se são verda<strong>de</strong>iros, como são, os males<br />
<strong>de</strong> que o paiz está soflrendo, inales<br />
reconhecidos por todos, embora attenuados<br />
por alguns e combatidos, como merecem,<br />
por outros; se as garantias populares<br />
estão restringidas, <strong>de</strong>vendo ser<br />
ampliadas ao passo que a illustração ia<br />
progredindo; se os impostos tem crescido<br />
enormemente, quando <strong>de</strong>viam ter diminuído,<br />
pela bem sabida escassez dos<br />
recursos dos contribuintes, motivado pela<br />
crise agrícola <strong>de</strong>vastadora ; se a divida<br />
publica fluctuanle e consolidada subiu a<br />
tal altura que causa cuidados'e susto<br />
<strong>de</strong>ntro e fóra do paiz; se a moralida<strong>de</strong><br />
tem <strong>de</strong>sapparecido como espavorida e<br />
acossada pôr aquelles que <strong>de</strong>viam edificar<br />
e moralisar os povos com os seus<br />
bont exemplos; se a economia se converteu<br />
em <strong>de</strong>sperdícios, dissipações e<br />
<strong>de</strong>spezas inúteis e improductivas e luxuosas,<br />
muitas; se o peculato, este crime<br />
feio, repellente, e outros roubos »e<br />
tem creado e mantido ao lado e no centro<br />
mesmo das repartições publicas centraes<br />
e sociaes, como se diz publicamente,<br />
e não ha exemplo <strong>de</strong> uma só<br />
punição, quando se trata <strong>de</strong> criminosos<br />
altamente collocados ou pelo seu pezo<br />
politico, ou pela sua riqueza e nem mesmo<br />
<strong>de</strong> se ver processamente a sério; se<br />
ha se<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça imparcial, e dissesse,<br />
como <strong>de</strong>ve ser, <strong>de</strong> todo o influxo faccioso,<br />
«alvo honrosas excepções, e é<br />
urgente e impreterível prover <strong>de</strong> remedio<br />
efficaz para curar tantos e tão gran<strong>de</strong>»<br />
males quaes hão <strong>de</strong> ser os homens<br />
quo os hão <strong>de</strong> curar a par do systema<br />
politico que nos rege ?<br />
• Hão <strong>de</strong> cural os aquelles mesmos que<br />
os tem creado, fomentado e tolerado, ou<br />
outros quaesquer pertencentes á mesma<br />
escola ?<br />
Ninguém <strong>de</strong> siso e em boa fé o po<strong>de</strong>rá<br />
affirmar e menos acreditar.<br />
(Conclue).<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />
A. GRANEL<br />
Devido aos esforços d'alguns nossos<br />
correligionários vae fundar-se em Lamego<br />
um novo centro republicano, que será<br />
<strong>de</strong>nominado Centro Democrático Lamecense.<br />
* * * Nos dias 21 e 22 do corrente<br />
<strong>de</strong>ve realisar se em Liège um congresfo<br />
dos livres pensadores belgas.<br />
Entre outros assumptos tratar-se-ha<br />
dos direitos da mulher.<br />
* * * Em Agueda vão muito adiantados<br />
os trabalhos agrícolas, embora os<br />
braços tenham escasseiado.<br />
* * # Parece que Gavarre achou<br />
artista que o substitua. E' o tenor hes-<br />
gem. Folheando o seu livro, Paulo Gréant<br />
disse-lhe:<br />
— Deve aqui fazer bom negocio;<br />
está em um bello bairro, cercado <strong>de</strong><br />
palacios e <strong>de</strong> nobreza. Alli <strong>de</strong>fronte ha<br />
um soberbo edifício.<br />
— E' o palacio do principe <strong>de</strong> Santa-<br />
Scala, meu visinho e meu freguez...<br />
não elle; mas o palacio O principe,<br />
apezar <strong>de</strong> ser ainda novo, é um antigo<br />
marinheiro, que agora se <strong>de</strong>dica ás or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas e que não compra obras<br />
mundanas... Más a irmã do principe<br />
compra muitas vezes livros para uma<br />
encantadora creança, que, segundo se<br />
diz, ella adoptou., .<br />
— A irmã do principe? interrompeu<br />
Paulo com um esforço sobrehumano.<br />
— Sim, senhor, a irmã do principe...<br />
uma soberba mulher, que ultimamente<br />
casou com um almirante hollan<strong>de</strong>z.<br />
— E que sahiu <strong>de</strong> Génova com seu<br />
marido, <strong>de</strong>pois do seu casamento? perguntou<br />
convulsivamente Gréant.<br />
— A senhora Memma Ritter sahiu <strong>de</strong><br />
Génova! disse o livreiro batendo na<br />
cabeça, v. ex. a está enganado. Ainda<br />
esla manhã tive a honra <strong>de</strong> fallar com<br />
ella...<br />
— On<strong>de</strong>?!<br />
— Alli <strong>de</strong>fronte; no palacio <strong>de</strong> Santa-<br />
Scala. Hoje <strong>de</strong> manhã mandou-me pedir<br />
algumas obras francezas, umas ultimamente<br />
publicadas e outras mais antigas.<br />
Vendi-lhea Viagem á ltalia, <strong>de</strong> Lalandi; e<br />
Historia do povo <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> Berruyer,<br />
panhol Mueso, a quem a archiduqueza<br />
regente <strong>de</strong> Hespanha acaba <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r<br />
um subsidio para elle aperfeiçoar a sua<br />
educação musical.<br />
# * * A l'etrole Pisuner Corporation<br />
fabrica no seu estabelecimento <strong>de</strong><br />
Hackuey-Vick em Londres petróleo em<br />
briquette* para uso domestico e- commercial.<br />
A potencia calórica do novo<br />
combustível, comparada com a da hulha<br />
seria na proporção <strong>de</strong> 3 a 1, e o uso do<br />
petroleo solidificado trazia uma economia<br />
<strong>de</strong> pelo menos <strong>de</strong>z por cento em combustível<br />
comparada com o preço da<br />
hulha.<br />
# * # A companhia dos caminhos<br />
<strong>de</strong> ferro do norte e leste, vae comprar<br />
terrenos na Pampilhosa para fazer cons-<br />
truir ali uma estação sua, afim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
rescindirão contracto que tem com a companhia<br />
da Beira Alta.<br />
Prevenimos os nossos<br />
estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />
fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
vamos principiar a cobrança<br />
das suas assignaturas relativamente<br />
ao 2. semestre.<br />
Aos que não tiverem pago<br />
o 1.° semestre enviamos<br />
recibos do anno completo.<br />
Pedimos a todos o obsequio<br />
<strong>de</strong> pagarem logo que<br />
lhes seja apresentado o recibo<br />
ou mandarem pagar<br />
ás respectivas estações do<br />
correio quando receberem<br />
aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />
<strong>de</strong>volução, que, além do<br />
prejuízo que nos causa, embaraça<br />
a boa regularida<strong>de</strong><br />
da nossa administração.<br />
Associação dos Artistas<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Quem preten<strong>de</strong>r o logar <strong>de</strong> cobradorcontinuo<br />
d'esta Associação, queira dirigir-se<br />
até ao dia 12 do corrente, em<br />
carta fechada, ao presi<strong>de</strong>nte da Direcção,<br />
apresentando as suas propostas ou por<br />
percentagem da cobrança ou por or<strong>de</strong>nado<br />
lixo.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />
O secretario,<br />
Francisco Alves Teixeira Braga.<br />
em <strong>de</strong>z volumes; a obra completa <strong>de</strong><br />
Piranése ácerca <strong>de</strong> Roma; o Cerco <strong>de</strong><br />
Roma em 1527, pelo marquez <strong>de</strong> Bonaparte;<br />
os Doze Cezares; os sonetos <strong>de</strong><br />
Tasso a Leonor <strong>de</strong> Esle; Paulo e Virgínia;<br />
as Fabulas <strong>de</strong> Fenélon; as poesias <strong>de</strong><br />
André Chenier, e <strong>de</strong> Viclor Hugo e muitos<br />
mais livros ainda, francezes, inglezes e<br />
italianos. Se eu tivesse em toda a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>z freguezes como a senhora Van Ritter<br />
e a sua joven protegida, estava eu rico<br />
no fim <strong>de</strong> um anno.<br />
— Tem a certeza <strong>de</strong> se não enganar?<br />
perguntou Paulo com uma voz quasi<br />
extincta e que elle fazia esforços para<br />
reanimar. Com certeza foi á senhora<br />
Van-Ritter que o senhor ven<strong>de</strong>u todos<br />
esses livros ?<br />
— Ali! disse o fallador livreiro, cruzando<br />
os braços sobre o peito; vae ver<br />
se conheço a minha formosa visinha. Genovetta<br />
fatta carne, Génova, feita carne,<br />
como aqui lhe chamam. Conheço-a <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
pequena; quando ella brincava diante da<br />
minha loja. Quebrou-me mais <strong>de</strong> vinte<br />
vidros. O mordomo do príncipe vinha<br />
logo pagar m'os e comprava-me sempre<br />
algumas imagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>vo.ção.<br />
Impresso na Typographla<br />
Operaria — Largo da Freiria n.®<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
ANNO I —N. 8 85 O D E F E N S O R DO P O V O 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1S»3<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 INTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
111 M e , , d e " s e Ul,ia quinta com paúl<br />
l' para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
ACTPRAS<br />
IMPRIMEM-SE<br />
Typographia Operaria<br />
Largo da Freiria, 14<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.»<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto^dos Santos<br />
EDITOK<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Com estampilha Sem estampilha<br />
Anno WOÒ Auno.^ 21400<br />
Semestre 1$350 Semestre 21J00<br />
Trimestre... 680 [ Trimestre ... 600
No parlamento<br />
Reabre ámanhã o parlamento;<br />
está prestes a occasião do governo<br />
prestar as suas conlas aos soi-disant<br />
representantes do paiz.<br />
O circo <strong>de</strong> S. Bento vae regurgitar<br />
<strong>de</strong> afficionados; - as galerias<br />
vão-se encher; o corpo diplomático<br />
não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ir receber as impressões<br />
que lia <strong>de</strong> transmitlir aos<br />
respectivos governos; o povo lia <strong>de</strong><br />
apurar o ouvido ás annunciadas reformas;<br />
o ministério lia <strong>de</strong> apresenlar-se<br />
solemne e fúnebre como<br />
quem tem cumprido austeramente<br />
o mais austero dos <strong>de</strong>veres; as pastas<br />
hão <strong>de</strong>-se abrir; vão ser <strong>de</strong>senroladas<br />
perante o paiz expectante<br />
as longas propostas <strong>de</strong> lei, extensas<br />
e luminosas, productos das acuradas<br />
lueubrações minisleriaes...<br />
Mas a lucta prepara-se rija; a<br />
opposição vae tomar os postos <strong>de</strong><br />
combate, para,a golpes <strong>de</strong> rhetorica—ariele<br />
potente das opposições<br />
parlamentares — balofa e ôcca, bater<br />
o reduclo,ministerial.<br />
Pela sua parle o ministério não<br />
<strong>de</strong>scança; precariamente confiado<br />
no mérito da sua obra, arrebanha<br />
com o maior cuidado, por esse paiz<br />
fóra, elementos <strong>de</strong> confiança que lhe<br />
vão servir <strong>de</strong> costas no combate<br />
que se vae travar.<br />
Os lelegrammas circulam por<br />
todo o paiz a chamar os íieis, com<br />
blandícias e mellifluida<strong>de</strong>s; cartas<br />
cheias <strong>de</strong> ternuras, como <strong>de</strong> namorados<br />
lambidos a convites <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>z-vous,<br />
recebem-nas lodos os dias<br />
os eleitos do povo que estão na<br />
graça do Senhor...<br />
É que o ministério receia-se e<br />
lem <strong>de</strong> quê.<br />
Cada ministro lem <strong>de</strong>. apresentar<br />
ao parlamento a conta corrente<br />
dos seus actos duranle o interregno<br />
parlamentar, e raro é o<br />
que não tem na consciência um<br />
peccadilho <strong>de</strong> que se arreceie. -<br />
O presi<strong>de</strong>nte do conselho lem<br />
conlas graves a prestar.<br />
A sua subserviência á corôa ha<br />
<strong>de</strong> ser motivo para que os padresmeslres<br />
<strong>de</strong> direito publico, os liberalões<br />
dos progressistas, <strong>de</strong>fensores<br />
acérrimos dos iinmortaes princípios,<br />
senlinellas vigilantes das immunida<strong>de</strong>s<br />
parlamentares, quando<br />
opposição, lhe casquem como em<br />
centeio ver<strong>de</strong>. E que as mãos lhes<br />
não dôam, porque, embora fossem<br />
capazes <strong>de</strong> fazer o mesmo, o facto<br />
é que o não íizeram agora —o responsável<br />
é o sr. Huitze Ribeiro.<br />
O sr. Fuschini, o integro e austero<br />
sr. Fuschini, não tem menos<br />
que recear dos nnpelos opposicionislas.<br />
Foi-se-lhe embora já a lenda<br />
<strong>de</strong> Calão intransigente e incorruptível,<br />
Cerbéro das linanças portuguezas,<br />
mais formidável que o<br />
outro não menos célebre da mylhologia.<br />
E lá lem no parlamento o sr.<br />
Fuschini aquella meada qaeas Novida<strong>de</strong>s<br />
lhe tecera, em que, é verda<strong>de</strong>,<br />
o sr. ministro da fazenda não<br />
tomou párte, mas a que lem já ligada<br />
a sua responsabilida<strong>de</strong>. A negociata<br />
do emprestimo <strong>de</strong> D. Miguel<br />
e a questão dos labacos, hão<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
<strong>de</strong> dar-lhe que fazer e lanto, que<br />
enlão se justificará o seu <strong>de</strong>sejo ferino<br />
<strong>de</strong> eliminação dos jornalistas<br />
em geral e d'alguns em particular.<br />
Pois veja o sr. Fuschini se se<br />
aguenta, que os ares affiguram-se<br />
turvos, a maré não é <strong>de</strong> bonança e<br />
andam muilos Eolos a assoprar os<br />
ventos, sendo <strong>de</strong> recear, portanto,<br />
qire o seu barco faça agua.<br />
O sr. ministro da guerra, com<br />
as suas conlradanças militares; reformas<br />
no exercito; promoções injustificadas<br />
ao generalato, que. se<br />
não foram refinado favoritismo, bem<br />
o pareceram; exclusão d'um coronel<br />
do quadro dos generaes, a que<br />
tinha cl irei to; provi<strong>de</strong>ncias disciplinadoras<br />
exaggeradas para uns e<br />
frouxidão estranha para outros, em<br />
idênticas circumslancias... lambem<br />
pô<strong>de</strong> ser alvo do fogo bem nutrido<br />
das guerrilhas da opposição.<br />
O seu collega da marinha não<br />
está lambem isento <strong>de</strong> peccado,<br />
com a sua protecção ás companhias<br />
po<strong>de</strong>rosas; o sr. ministro das obras<br />
publicas, parece que também se<br />
não julga em lerreno muilo firme,<br />
porque a par <strong>de</strong> certos serviços <strong>de</strong><br />
merecimento <strong>de</strong>ve ser chamado á<br />
barra por outros <strong>de</strong> uma iniquida<strong>de</strong><br />
flagrante; o sr. ministro do reino,<br />
que é rapoza velha e vae caminhando<br />
pela calada, <strong>de</strong> mansinho, não<br />
é <strong>de</strong> feitio lambem <strong>de</strong> se apresentar<br />
ao parlamento, immaculado, <strong>de</strong><br />
palmilo e Capella; pelo ministério<br />
dos estrangeiros ha <strong>de</strong> haver também<br />
que esbulhar, que as nossas<br />
questões externas não são menos<br />
melindrosas do que as nacionaes...<br />
Emfim, vamos assistir em breve<br />
ao julgamento d'uma situação politica,<br />
levada aos conselhos da corôa<br />
por indicações <strong>de</strong> quem, constitucionalmente<br />
as não pô<strong>de</strong> dar, ministério<br />
accenluadamente palaciano;<br />
veremos em pouco lempo mais uma<br />
<strong>de</strong>cepção para a candida ingenuida<strong>de</strong><br />
indígena, que ainda crê, porventura,<br />
nas faríalhices d'esta m/seen-scène<br />
realenga, á sombra d'uma<br />
constituição obsoleta, que lodos calcam.<br />
Mas será este o ultiino <strong>de</strong>sengano,<br />
ou leremos <strong>de</strong> assistir ainda<br />
a novas experiencias, além <strong>de</strong> inúteis,<br />
prejudiciaes?<br />
Que <strong>de</strong>cida o paiz, porque —<br />
cada povo lem o governo que merece.<br />
João Chagas<br />
Após o martyrio cruento das perseguições<br />
mais odiosas, 1 dos vexames mais<br />
insólitos, capazes <strong>de</strong> quebrantarem caracteres<br />
ainda <strong>de</strong> rija tempera, João<br />
Chagas, o valente caudilho do partido<br />
republicano, que representa já hoje uma<br />
glo/ia do nosso partido, <strong>de</strong>sembarcou em<br />
Lisboa no dia 11, <strong>de</strong> regresso do seu<br />
<strong>de</strong>sterro <strong>de</strong> vingança.<br />
Vem atacado d'uma dyspepsia, recordação<br />
dos flagícios indignos que lhe<br />
infligiram ; o que admiramos é não ter<br />
chegado moribundo, que a anniquilal-o<br />
tendiam os esforços dos seus e nossos<br />
adversarias. Nao o conseguiram, porém,<br />
e as instituições que lhe foram carrasco,<br />
havemos <strong>de</strong> vel-as em breve, temos essa<br />
esperança, estrebucharem agonisantes aos<br />
golpes vigorosos da sua victima d'hontem,<br />
a retemperada penna vibrante <strong>de</strong> tino<br />
aço do brilhante jornalista, que nos presídios<br />
d Alrica foi apren<strong>de</strong>r como a tyrannia<br />
impera á sombra d'uma falsa liberda<strong>de</strong>.<br />
O Jogar do combate que João Chagas<br />
não abandonou nunca, mantendo sempre<br />
nas luctas da nossa imprensa republicana<br />
a energia indomável do seu caracter revolucionário,<br />
exige hoje, principalmente,<br />
o vigor <strong>de</strong> polemista que distingue o brilhante<br />
jornalista, da firmeza <strong>de</strong> luctador<br />
que o caracterisa.<br />
João Chagas era anciosamente esperado<br />
por occasião do seu <strong>de</strong>sembarque ;<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> barcos transportando amigos<br />
do distinclo jornalista acompanharam a<br />
catraia que o conduzia ao caes — recepção<br />
sympatbica e significativa, cordialíssima<br />
e franca,- porque João Chagas<br />
não encontrou a receberam-no só os braços<br />
dos seus correligionários; muitos<br />
jornalistas <strong>de</strong> difíerentes côres politicas<br />
o abraçaram conto a amigo querido, justa<br />
homenagem prestada ao nobilíssimo caracter<br />
<strong>de</strong> João Chagas, homem <strong>de</strong> convicções<br />
sinceras, que não lucta na politica<br />
por ambições mesquinhas.<br />
A nossa alegria, como a <strong>de</strong> lodo o<br />
partido republicano, pelo regresso do<br />
nosso talentoso collega, é enorme ; como<br />
a <strong>de</strong> todo o partido ^publicano, a nossa<br />
felicitação é sincera.<br />
E', pois, effusiva e entusiasticamente<br />
que saudamos João Chagas, honra<br />
dos jornalistas portuguezes e gloria do<br />
partido republicano.<br />
Viva la gracia!<br />
Uma fabrica <strong>de</strong> fundição <strong>de</strong> canhões<br />
do reino vísinho offereceu para artilhar<br />
gratuitamente os navios que a nossa marinha<br />
<strong>de</strong> guerra vae ter com o producto<br />
da Subscripção Nacional.<br />
Serviços <strong>de</strong> colonias<br />
Foram abertas na commissão da Subscripção<br />
Nacional as propostas para a<br />
construcção <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> guerra para o<br />
serviço <strong>de</strong> colonias. Essas propostas são<br />
<strong>de</strong>: Antonio José Sampaio, Lisboa, canhoneira<br />
no lypo da Liberal, preço 160<br />
contos; Antonio Manoel Vagueiro, <strong>de</strong><br />
Setúbal, construcção <strong>de</strong> duas lanchas<br />
daço; 18:750^000 réis cada uma; P.<br />
Dumorá, <strong>de</strong> Belein, construcção <strong>de</strong> duas<br />
lanchas, 41:000^000 réis; Parry. E.<br />
Son, <strong>de</strong> Lisboa, construcção <strong>de</strong> tres navios,<br />
preço, 210:100)51000 réis, os tres<br />
navios são do typo da canhoneira Liberal,<br />
<strong>de</strong> 500 toneladas e das lanças d'aço<br />
Zagaia e Flecha.<br />
Emilio Castelar<br />
Emilio Castelar, que durante muitos<br />
annos arrastou pelo extraordinário prestigio<br />
da sua palavra calorosa quasi todos<br />
os republicanos hespanhoes, a pouco<br />
e pouco vae-se encontrando isolado, pelo<br />
abandono a que votam os seus, até ha<br />
pouco, <strong>de</strong>dicados partidarios. "<br />
A situação dúbia que o eminente<br />
parlamentar para si creou, em tergiversações<br />
e accordos com a monarcbia que<br />
<strong>de</strong>sprestigiaram perante a opinião, traduz-se<br />
agora" no ostracismo justo a que<br />
é votado.<br />
Os castelaristas, ao passo que abandonam<br />
o antigo chefe, vão-se filiando no<br />
partido republicano, <strong>de</strong>senganados e <strong>de</strong>sgostosos<br />
da altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emilio Castelar,<br />
que, d este modo, po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se<br />
politicamente auniquillado.<br />
E' esta a situação que espera todos<br />
os que atraiçoam o seu partido, em maquinações<br />
in<strong>de</strong>corosas.<br />
Roubo na recebedoria'<br />
<strong>de</strong> Villa Franca<br />
Na madrugada <strong>de</strong> quarta feira os ladrões<br />
arrombaram a porta da recebedoria<br />
<strong>de</strong> Villa Franca <strong>de</strong> Xira, que é no<br />
edilicio dos paços do concelho, e roubaram<br />
o cofre que continha seis contos <strong>de</strong><br />
réis. Levaram cofre e dinheiro. No chão<br />
viam-se alguns pingos <strong>de</strong> sangue que<br />
parece foram dos ladrões quando estiveram<br />
arrancando' o cofre que se achava<br />
pregado ao solo. Parece que foi tudo<br />
para algum barco, que estivesse atracado<br />
ao caes.<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />
do<br />
Associações anti-jesuiticas<br />
Iloje que o espirito reaccionário parece<br />
querer dominar todas as classes da<br />
socieda<strong>de</strong>, espalhando pelo paiz idêas<br />
retrogradas, graças ao indifferenlismo<br />
culposo com que se olham as coisas, as<br />
mais importantes, é <strong>de</strong> urgente necessida<strong>de</strong><br />
que todos aquelles que vêem na<br />
propaganda reaccionaria, movida principalmente<br />
pelo- jesuitismo, um terrível<br />
mal, lhe opponham vigorosamente todos<br />
os obstáculos.<br />
Um dos mais efficazgs seria sem duvida<br />
a creação <strong>de</strong> associações anti-reaccionarias,<br />
mormente anti-jesuiticas, porque<br />
o jesuitismo com os variados elementos<br />
<strong>de</strong> que dispõe, com o- seus collogios<br />
<strong>de</strong> educação para indivíduos d^iml^os os<br />
sexos, com os recolhimentos que dirige,<br />
com as muitas resi<strong>de</strong>ncias que possue,<br />
com os missionários que <strong>de</strong>staca por essas<br />
aldêas do paiz, fanatisando o nosso<br />
bom povo, torna-se o mais po<strong>de</strong>roso inimigo,<br />
que é necessário combater por<br />
meio da acção combinada <strong>de</strong> todos o»<br />
que se interessam pelo progresso nacional.<br />
Em todas as nações, on<strong>de</strong> as idêas<br />
<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> não são uma cbimera, existem<br />
associações d'esta natureza que tratam<br />
<strong>de</strong> divulgar doutrinas sãs e moralisadoras<br />
e promover a publicação <strong>de</strong> escriptos<br />
anti-jesuiticos que instruam o povo<br />
nos lins da Companhia <strong>de</strong> Loyola e nos<br />
meios <strong>de</strong> que usa para os conseguir.<br />
Estas associações tratam <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar<br />
claramente quão prejudicial é a<br />
educação ministrada nos collegios jesuíticos<br />
d'um e <strong>de</strong> outro sexo, principalmente<br />
se se atten<strong>de</strong>r a que esses collegios<br />
são o meio mais importante <strong>de</strong> que<br />
a Companhia se serve para recrutar os<br />
seus noviços.<br />
As creanças que em geral são nelles<br />
admittidas na eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sei» a doze annos,<br />
são facilmente seduzidas a entrar<br />
na Or<strong>de</strong>m, mostrando lhes os seus seductores<br />
as <strong>de</strong>licias da vida da Companhia,<br />
insinuaudo-lhes perfidamente que fóra<br />
d'ella dificilmente se encontrara salvação,<br />
a qual é infallivel, morrendo no<br />
seu seio.<br />
l)'aqui se seguem, portanto, todas as<br />
consequências fataes <strong>de</strong> tal doutrina. Incitam<br />
os seus alumnos a abandonar os<br />
paes, <strong>de</strong> quem po<strong>de</strong>riam ser amparo na<br />
velhice, a <strong>de</strong>ixar irmãs e irmãos que po<strong>de</strong>riam<br />
precisar do seu auxilio, a <strong>de</strong>sprezar<br />
os outros parentes a quem po<strong>de</strong>riam<br />
dispensar valimento, emfim a odiar o mundo<br />
que não contém, segundo elles, mais<br />
do que traições e laços armados para<br />
ealiir no Inferno.<br />
Fazem recahir sobre a vila matrimonial<br />
a baba peçonhenta das suas palavras.<br />
Não têm rebuço em atfirinar, até<br />
no proprio púlpito, como já ouvimos e o<br />
attestam muitas testemunhas, que é mais<br />
difficil um casado entrar uo céu do que<br />
encontrar um corvo branco. Allirmações<br />
d'estas fazem-nas a cada passo.<br />
E' fácil <strong>de</strong> vêr quaes o» lins d'esta<br />
-infame seducção exercida com habilida<strong>de</strong>,<br />
principalmente sobre as mulheres, a<br />
quem exaggeram todos os horrores do<br />
matrimonio sem liies mostrar nenhuma<br />
das suas <strong>de</strong>licias.<br />
Esta seducção, como é fácil <strong>de</strong> prevêr,<br />
e exercida <strong>de</strong> preferencia sobre her<strong>de</strong>iras<br />
e her<strong>de</strong>iros ricos que virão mais<br />
tar<strong>de</strong> avolumar os cofres da Companhia.<br />
Se os paes têm influencia bastaute<br />
para arrancar essas vergonteas queridas<br />
á <strong>de</strong>vastação jesuítica, com diffioulda<strong>de</strong><br />
fazem <strong>de</strong>sapparecer, comtudo, do seu espirito<br />
os pbautasmas com que a educação<br />
jesuiiica lh'o ro<strong>de</strong>ou, tornando e?sas<br />
creanças uns entes tímidos e <strong>de</strong>sconfiados<br />
até dos mais íntimos familiares, sendo<br />
preciso <strong>de</strong>pois uma instrucção scientifica<br />
bem dirigida para lhes fazer esquecer<br />
as falsas idêas que os jesuítas<br />
lhes incutiram.<br />
Accrescendo a estes variados meios<br />
<strong>de</strong> seducção as múltiplas associações <strong>de</strong>votas<br />
que por toda a parte o jesuitismo<br />
tem espalhado, do que aufere incalculáveis<br />
riquezas que sobem annualmente<br />
a enormes sommas, e com as quaes alimenta<br />
surda e tenazmente a sua propaganda,<br />
e examinando ainda os seus processos<br />
<strong>de</strong> combate que se resumem na<br />
intriga e na calumnia, lica evi<strong>de</strong>ntemente<br />
<strong>de</strong>monstrada a urgente necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma forte propaganda anti jesuítica.<br />
Como atraz dissémos, nenhum meio<br />
mais eflicaz existe para aotival-a do que<br />
a creação, <strong>de</strong> associações anti-jesuiticas<br />
pelo paiz, ainda que com poucos associados.<br />
Esta idêa que já foi apresentada particularmente<br />
a muitas pessoas, tem sido<br />
bem recebida e por isso em breve se<br />
organisará uma commissão composta <strong>de</strong><br />
individuo* <strong>de</strong> todas as classes a fim <strong>de</strong><br />
crear uma Associação nacional anli-jesuitica.<br />
Aqui fazemos, pois, um appello a todos<br />
o< homens <strong>de</strong> bem para que auxiliem<br />
a realisação d'esta idêa.<br />
G4. S.<br />
Centenario<br />
do Infante D. Henrique<br />
Reuniu a commissão do centenário<br />
e o sr Eduardo Sequeira appreseutou<br />
as bases <strong>de</strong> uma representação ao governo,<br />
pedindo a emissão <strong>de</strong> 200:000<br />
estampilhas postaes <strong>de</strong> cada um dós<br />
typos e a sua circulação obrigatoria no<br />
dia 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1894, sendo consagrado<br />
o producto da venda especialmente<br />
<strong>de</strong>stinada para collecionadores nacionaes<br />
e extrangeiros, ás <strong>de</strong>spezas com o monumento<br />
á memoria do Infante D. Henrique.<br />
O proponente explicou <strong>de</strong>senvolvidamente<br />
o seu penssmento, unanimemente<br />
adoptado pela commissão, referindo que<br />
a procura d'essas estampilhas do Centenario<br />
<strong>de</strong>veria ser muilo importante, pois<br />
bastou constar em Paris o projecto da<br />
emissão para, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, negociantes<br />
<strong>de</strong> estampilhas escreverem para o Porto,<br />
a pedir explicações sobre o assumpto. A<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2u0:000 era mínima, pois<br />
lôra essa a emissão <strong>de</strong> estampilhas feita<br />
pela Republica <strong>de</strong>-Colonibia por occasião<br />
do centenário <strong>de</strong> Colombo e consumiramse<br />
num só dia, tendo immediatamenle<br />
premio.<br />
Resolveu-se dar redacção <strong>de</strong>finitiva<br />
á representação e enviar-se ao seu <strong>de</strong>stino.<br />
Caminho <strong>de</strong> ferro<br />
da Beira Baixa<br />
Inaugurou-se finalmente esta linha<br />
ferrea, <strong>de</strong> extraordinária vantagem para<br />
os povos d'aquella região e em especial<br />
para a Covilhã.<br />
Este importante centro fabril ha<br />
muito que pugnava porque se abrisse á<br />
exploração a linha da Beira Baixa, e<br />
bastante trabalhou para que tal melhoramento<br />
se não <strong>de</strong>morasse.<br />
Com a presença do ministro das<br />
obras publicas ellectuou-se esla inauguração<br />
na quinta feira, com gran<strong>de</strong> enlliusiasmo.<br />
Bolsas <strong>de</strong> trabalho<br />
Na ultima, reunião da commissão das<br />
Bolsas <strong>de</strong> trabalho, foi discutida e rejeitada<br />
uma proposta do sr. Teixeira Bastos<br />
para que as Bolsas ficassem a cargo das<br />
camaras municipaes.<br />
Foi lambem regeilado um additamenlo<br />
do sr. Luiz. Figueiredo, que admitlia<br />
a proposta ao ír. Teixeira Bastos<br />
pira o futuro mas com a condição <strong>de</strong><br />
não prejudicar a creação actual e immediala<br />
das Bilsas.<br />
Na próxima sessão <strong>de</strong>ve ser assignado<br />
o autographo do regulamento.<br />
Direito <strong>de</strong> reunião<br />
Assevera-ie que a primeira proposta<br />
apresentada ao parlamento pelo sr. ministro<br />
do reino será a que tem por tim<br />
regular o direito <strong>de</strong> reunião<br />
Veremos o que d'aqui sabe e se este<br />
Franco <strong>de</strong> nonae, é franco em regalias.<br />
/
A N N O I — N . ° 8 6 O D E F E N S O R O O POVO 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
C R Y S T A E S<br />
HYMNO A. BELLEZA<br />
(VERSÃO DE FERNANDO LEAL)<br />
Saes do abysmo, ó Belleza, ou vens do ceu «ublime?<br />
Teu inebriante olbar, benefico e damninho,<br />
Yerte confusamente o beneficio e o crime,<br />
E po<strong>de</strong>s ser por isso equiparada ao vinho.<br />
Nesses teus olhos tens a aurora e tens • occaso;<br />
Exalas cheiros como a tempestuosa tar<strong>de</strong>;<br />
Teus beijos são um filtro e a tua bocca um vaso,<br />
Que fazem da creança — heroe, do heroe — cobar<strong>de</strong>.<br />
Saes tu do negro aby»mo, ou vens dos astros beilos ?<br />
Segue-te, como um cão, Satan todo contente;<br />
Causas a esmo o bem e o mal, o amor e os zelos,<br />
E reges tudo, tudo, inconscientemente.<br />
Pizas mortos a rir; o Horror, no teu escrínio,<br />
Não é a menos bella e rica joia ; e, d entre<br />
Os teus berloque» mais custosos, o Assassínio<br />
Dança amorosamente em cima do teu ventre.<br />
Deslumbrada a falena, alla-se para a chamma,<br />
Ar<strong>de</strong>, crepita e diz: Bemdito o facho pulcro!<br />
O amante a palpitar, unido á sua dama,<br />
Parece um moribundo afagando o sepulchro.<br />
Que tu venhas do ceu ou do inferno, que importa,<br />
Belleza 1 monstro enorme, ingénuo e pavoroso!<br />
Se o teu olhar e o teu sorriso abrem-me a porta<br />
D'um Infinito ignoto e que eu adoro, o Goso!<br />
Do Demonio ou <strong>de</strong> Deus, que importa, ó fada minha<br />
De suave olhar? se a ti se <strong>de</strong>ve,—Anjo ou Sereia,<br />
Rithmo, perfume, luz, minha única rainha ! —<br />
Ser menos longo o tempo e a vida menos feia?<br />
Fomento civilisador<br />
no Ultramar<br />
Publicamos em seguida a energica<br />
moção que sobre este assumpto apresentou<br />
o nosso collega da Vanguarda, o<br />
sr. Alves Corrêa, em sessão <strong>de</strong> 8 do<br />
corrente.<br />
Como se vê, o sr. Alves Coirêa põe<br />
a questão perfeitamente orientada, pelo<br />
que se toma , mais eflicaz e indispensável<br />
a bem do nosso domínio colonial.<br />
E' nos princípios apresentados que<br />
se <strong>de</strong>ve basear a acção dos governos e<br />
da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geographia.<br />
Eis a moção:<br />
«Consi<strong>de</strong>rando que uma das mais urgentes<br />
necessida<strong>de</strong>s das colonias porluguezas,<br />
<strong>de</strong>monstrada por uma larga experieucia,<br />
consiste em remo<strong>de</strong>lar por completo<br />
a sua viciosa administração exageradamente<br />
centralisadora e por muitos<br />
motivos funesta para as finanças da metropole<br />
e pnra os interesses especiaes <strong>de</strong><br />
cada uma d'essas colonias ;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o meio mais efficaz<br />
<strong>de</strong> se manter o prestigio tradicional do<br />
nome portuguez no continente africano,<br />
consiste em promover o aproveitamento<br />
das riquezas contidas nos terrilorios su<br />
jeitos á soberania <strong>de</strong> Portugal, abrindo<br />
essas regiões á exploração do commercio<br />
e á colonisação;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o commerciante e o<br />
colono, dirigidos e coadjuvados por estações<br />
civilisadoras porluguezas, são os<br />
gran<strong>de</strong>s missionários, os melhores agentes<br />
civilisadores <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos aproveitar-nos<br />
em Africa para manter o nosso<br />
predomínio e alargar a esphera da acção<br />
<strong>de</strong> Portugal ao sertão on<strong>de</strong>, para segurança<br />
c prosperida<strong>de</strong> da província<br />
<strong>de</strong> Angola, é indispensável que ella se<br />
exerça d'um modo effectivo ;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a propaganda propriamente<br />
religiosa é absolutamente inefficaz<br />
como meio <strong>de</strong> civilisaçâo das raças<br />
selvagens, o que se prova pelo malogro<br />
das tentativas feitas em Afiiea, na America<br />
e na Oceania para calhechisar essas<br />
raça», phenomeno este que a sciencia<br />
perfeitamente explica ;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o restabelecimento<br />
das or<strong>de</strong>ns religiosas no ultramar ou na<br />
metropole, seria um attentado contra a<br />
civilisaçâo e um acto affrontoso para a<br />
memoria dos gran<strong>de</strong>s reformadores portuguezes<br />
como Sebastião José <strong>de</strong> Carvalho<br />
e Mello, Mousinho da Silveira, Joaquim<br />
Antonio <strong>de</strong> Aguiar, marquez <strong>de</strong><br />
Sá, Alexandre Herculano, Almeida Garrett,<br />
José Estevão, Vicente Ferrer e<br />
muitos outros, aos quaes a nação porlugueza<br />
presta justa homeuagem e que a<br />
BAUDELAIRK.<br />
Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geographia <strong>de</strong> Lisboa venera<br />
pelos altos serviços que prestaram<br />
á patria ;<br />
Esta Socieda<strong>de</strong> resolve:<br />
1.°— Rejeitar o parecer em discussão<br />
;<br />
2.°—Convidara illustrada commiisão<br />
africana :<br />
a) — A estudar a administração das<br />
colonias porluguezas, segundo os interesses,<br />
usos e costumes proprios <strong>de</strong> cada<br />
umad'ellas, e tendo em vista as circumstancias<br />
economicas e financeiras do paiz,<br />
e a apresentar á assembleia geral um projecto<br />
<strong>de</strong> representação aos po<strong>de</strong>res constituídos<br />
pedindo r,s reformas que forem<br />
julgadas indispensáveis;<br />
b) — A elaborar um plano para o estabelecimento<br />
<strong>de</strong> missões civilisadoras no<br />
hulerland da província <strong>de</strong> Angola.<br />
c) — A estudar quaes os meios que<br />
<strong>de</strong>vem ser empregados para se <strong>de</strong>viar para<br />
a Africa parte da emigração portugueza<br />
e para que os colonos encontrem alli<br />
a protecção e as garantias indispensáveis<br />
;<br />
d)—A propor o que julgar necessário<br />
para a organisação do credito bancario<br />
nas colonias porluguezas.<br />
e) — A examinar quaes são os melhoramentos<br />
que mesmo na situação actual<br />
do paiz é indispensável realisar urgentemente<br />
na província <strong>de</strong> Angola para<br />
assegurar os interesses e o prestigio do<br />
nome portuguez.<br />
*<br />
Para <strong>de</strong>struir quaesquer apprehensões<br />
que a di«cussão agora levantada na<br />
Socieda<strong>de</strong> haja leito surgir no espirito<br />
publico, a assembleia resolve mais affirmar,<br />
que respeitadora das leis do paiz<br />
que expulsaram <strong>de</strong> Portugal os jesuítas<br />
e extinguiram as congregações religiosas,<br />
não pô<strong>de</strong> nem podia em caso algum pedir<br />
aos po<strong>de</strong>res públicos a <strong>de</strong>rrogação<br />
d'essas leis sabias e justas, que são o<br />
resultado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e heróicas luctas e<br />
que representam assignaladas conquistas<br />
da civilisaçâo.<br />
Lisboa e sala das sessões da Socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Geographia, 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1892.<br />
— O socio, Alves Correia.»<br />
=<br />
Apprehensão<br />
<strong>de</strong> 2e000 lenços <strong>de</strong> sêda<br />
O alferes Mello, da guarda fiscal,<br />
acaba <strong>de</strong> realisar em Torres Novas uma<br />
apprehensão approximadamente <strong>de</strong> 2:000<br />
lenços <strong>de</strong> seda, <strong>de</strong> contrabando. O contrabandista<br />
seguiu <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> prisão em<br />
direcção a Lisboa, para on<strong>de</strong> tinha feito<br />
<strong>de</strong>spacho.<br />
Á transformação social<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Esses homens e sob o mesmo systema,<br />
tendo <strong>de</strong> se succe<strong>de</strong>r na gerencia<br />
do Estado, pelo methodo da votação que<br />
elles enten<strong>de</strong>m ao menos alguns sabem,<br />
creio, como e porque processo se<br />
podiam remediar os males que resultara<br />
<strong>de</strong> muitas administrações relaxadas<br />
e <strong>de</strong>sacertadas, mas não po<strong>de</strong>m e não<br />
querem mudar <strong>de</strong> norma <strong>de</strong> governo,<br />
seguem e seguirão sempre pelo mesmo<br />
caminho, e não po<strong>de</strong>m porque, jsendo<br />
diversos, rivaes e incompatíveis os interesses<br />
do elemento real que é o fecho e<br />
a chave do systema, e os interesses do<br />
povo, <strong>de</strong>ixam se arrastar d'aquelle que<br />
pô<strong>de</strong> mais do que este, ou que pô<strong>de</strong> tudo,<br />
absorvendo os outros po<strong>de</strong>res do Estado, e<br />
para irem com a vonta<strong>de</strong> e com as exigências<br />
do paço esquecem e põem <strong>de</strong> parte<br />
os seus <strong>de</strong>veres para com o povo que<br />
<strong>de</strong>viam representar e'não querem porque<br />
atlen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> preferencia aos seus<br />
interesses pessoaes e das classes previlegiadas<br />
a que pertencem, ou virão<br />
a pertencer.<br />
Não po<strong>de</strong>ndo servir bem a dois senhores,<br />
servem aquelle que mais lhes<br />
convém.<br />
Isto é o que tem sido e o que não<br />
pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> futuro, emquanto<br />
vigorarem as presentes instituições.<br />
Eu não creio que alguém governe<br />
mal, somente, peld*pessimo gosto <strong>de</strong> não<br />
governar bem, mas ha outras causas, outras<br />
razões que <strong>de</strong>terminam a conducta<br />
dos nossos homens <strong>de</strong> Estado ou antes<br />
<strong>de</strong> muitos especuladores ambicioso», que<br />
são tantos, que chegam <strong>de</strong> sobejo para<br />
governar cada um sua semana.<br />
Nos paizes em que o systema politico<br />
não é monarchico o officio <strong>de</strong> governar<br />
é mais simples e mais fácil porque<br />
não ha interesses a promover e a<br />
zelar que não sejam os <strong>de</strong>spezas<br />
E quanto dará elle á família real para<br />
viagens e o maia?<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Felicitação a JoSo 1 bagas<br />
O sr. dr. Eduardo Vieira enviou<br />
telegramma <strong>de</strong> felicitação ao valente<br />
jornalista, em nome da commissão executiva<br />
do partido republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
A redacção do Defensor do Povo<br />
lambem lhe dirigiu uma carta congratulatoria<br />
pelo seu regresso á patria.<br />
Salubrida<strong>de</strong> publica<br />
O no»so collega da localida<strong>de</strong> a<br />
Gazeta Nacional propõe-se encetar esta<br />
questão que interessa altamente a <strong>Coimbra</strong><br />
inteira.<br />
Já por vezes a imprensa tem tratado<br />
d'esle assumpto, mas tão friamente, com<br />
tão pouca persislencia, que passa quasi<br />
<strong>de</strong>spercebida uma questão <strong>de</strong> importância<br />
capital.<br />
<strong>Coimbra</strong> é uma cida<strong>de</strong> pouco menos<br />
<strong>de</strong> immunda; por essas ruas, mesmo<br />
pelas mais concorridas, é in<strong>de</strong>centíssimo<br />
o que se pratica até <strong>de</strong> dia.<br />
Habitante» pouco escrupulosos e ainda<br />
menos respeitadores da <strong>de</strong>cencia e<br />
do <strong>de</strong>coro, sem se importarem com posturas<br />
nem com auctorida<strong>de</strong>s — e isto<br />
com razão, porque nesta cida<strong>de</strong> a auctorida<strong>de</strong><br />
só não olha pelo que <strong>de</strong>ve olhar<br />
— projectam para a rua, e não poucas<br />
vezes sobre os transeuntes, toda a especie<br />
<strong>de</strong> iminundicies; das janellas dos<br />
prédios pen<strong>de</strong>m Irequenles vezes roupas,<br />
que seriam uma vergonha para os donos<br />
d'ellas se elles tivessem vergonha; põem<br />
ao sol cobertores e lençoes da» camas,<br />
ás vezes imniundos; batem e saco<strong>de</strong>m<br />
cobertores e tapetes, em pleno dia, para<br />
a rua, sem respeito para quem passa ;<br />
<strong>de</strong> certos recantos, em ruas que <strong>de</strong>viam<br />
ser policiadas — mas que não veem um<br />
policia—exhalam-se emanações que obrigam<br />
sempre a passar <strong>de</strong> lenço no nariz;<br />
os boeiros d'essas ruas tresandam que<br />
teem diabo; — e tudo isto sem que as<br />
auctorida<strong>de</strong>s competentes se dignem olhar<br />
para Ines iminundicies.<br />
E' d'esta incúria vergonhosa d'aquelles<br />
que teem obrigação <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar,<br />
que nasce a fama <strong>de</strong> immunda, <strong>de</strong> que<br />
gosa <strong>Coimbra</strong> lá por fóra. > .<br />
Bom é, pois, o serviço que a Gazeta<br />
Nacional vae prestar a esta cida<strong>de</strong>.<br />
Pela nossa parte não largaremos também<br />
<strong>de</strong> mão o assumpto, que ha muito<br />
nos sollicitava, e secundaremos quanto<br />
em nós caiba os esforços do nosso estimado<br />
collega.<br />
Promptos a prestar o nosso concurso<br />
em favor da salubrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
agra<strong>de</strong>cemos qualquer informação que o<br />
publico nos queira enviar, para o que<br />
ficam as columnas do nosso jornal ao<br />
dispor dos que se dignarem informar-nos.<br />
Teixeira <strong>de</strong> Brito<br />
Este no«so companheiro regressou<br />
sexta feira do Bussaco pnra on<strong>de</strong> partira<br />
na quinta feira, sendo alli acommellido<br />
d'influenza. Que em breve se restabeleça.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Philosophia resolveu<br />
findar os trabalhos escolares em 10 <strong>de</strong><br />
junho; e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theologia, em<br />
22 do mesmo mez.<br />
Beneficio <strong>de</strong> Francisco Lucas<br />
Vamos ler no proximo sahbado um<br />
altrahenle espectáculo, tomando parte os<br />
principaes artista» da companhia do Príncipe<br />
Real, do Porto.<br />
Representa-se — As recleas do governo,<br />
em '5 actos — e Simão, Simões tf<br />
Companhia, zarzuella em 1 acto, cujo<br />
<strong>de</strong>sempenho está a cargo das actrizes:<br />
Angela Pinto, Emilia Eduarda, Elvira<br />
Men<strong>de</strong>* e Theresa Prata ; e dos actores<br />
: Dias, José Ricardo, Santos, Santos<br />
Mello, Carlos Santo», Barros e Portulez.<br />
Como veehi os nossos leitores a feita<br />
<strong>de</strong> Francisco Lucas, no Theatro circo, é<br />
promeltedora.<br />
A festa no Bussaco<br />
Como dis»émo» <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> foi muita<br />
genle ao Bussaco, e mais iria »e o mau<br />
tempo se não tem annunciado na vespera.<br />
A troupe velocipedista, os mais corajoso»<br />
e os mais enthu»iasta«, lá foram<br />
por essas lamas fóra até Luso ; só 9 seguiram.<br />
No Bussaco uma concorrência extraordinaria,<br />
apezar das ameaças <strong>de</strong> chuva,<br />
e muita animação.<br />
Ranchos dançam e cantam em diversos<br />
pontos da malta. As musicas da<br />
Figueira e Anadia abrilhantam a festa e<br />
ás portas da Rainha arma-se uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />
e jogam-se uns soccos; mas cousa<br />
passageira, como a trovoada que parecia<br />
imminente e que afinal se dissipou.<br />
Un» choviscos, umas balegns, mas<br />
lá estavam os gran<strong>de</strong>s guarda*-chuva —<br />
as frondosas arvores — para abrigarem<br />
o forasteiro.<br />
O dia passou-se mal, como era <strong>de</strong><br />
prever—porque o Bussaco só agrada em<br />
dias <strong>de</strong> muito calor.<br />
Gymuasio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Pela nova reforma <strong>de</strong> estatutos teve<br />
<strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r ás eleições dos corpos<br />
gerentes, sendo eleitos para a<br />
ASSEMBLEIA GERAL<br />
Presi<strong>de</strong>nte—Albertino <strong>de</strong> Pinho Ferreira.<br />
*<br />
1." Secretario — Antonio Joaquim<br />
Simões.<br />
2.° Dito Francisco da Costa Carvalho.<br />
* DIRECÇÃO<br />
Presi<strong>de</strong>nte — Augusto Cymbron Borges<br />
<strong>de</strong> Sousa.<br />
Secretario — Euphrosino Alves Teixeira.<br />
Dito — Luiz Doria y Cnmpmany.<br />
Thesoureiro—Silvio Duque.<br />
Directores effectivos<br />
Arthur Cal<strong>de</strong>ira Sçevola.<br />
Angelo Rodrigues da Fonseca.<br />
Eugénio Augusto Amaro.<br />
José Antonio Borralho.<br />
Directores substitutos<br />
José Cardoso <strong>de</strong> Figueiredo Nogueira.<br />
Pedro Cardoso.<br />
- Augusto Henriques.<br />
Francisco Garcia Borges.<br />
CONSELHO FISCAL<br />
Effectivos<br />
Victor José <strong>de</strong> Deus.<br />
Gualdino Antonio <strong>de</strong> Queiroz e<br />
Mello.<br />
João dos Santos Jacob.<br />
Substitutos<br />
João José <strong>de</strong> Freitas.<br />
Antonio Alexandre Saraiva da Bocha.<br />
Arnaldo Bigolte.<br />
Trovoada<br />
Des<strong>de</strong> sexta feira que ella vem pairando<br />
sobre esta cida<strong>de</strong>, ameaçando gran<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>scargas; mas tudo se dissipa <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> caireiít aguaceiros violentos. Na<br />
madrugada <strong>de</strong> hontem foi mais <strong>de</strong>morada;<br />
apenas dois estampidos valentes e<br />
lá marchou para outras bandas. De dia<br />
lambem nos visitou, urrando com força,<br />
mas espalha rapidamente.<br />
Não nos consta que estas pequenas<br />
escaramuças <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>s armadas<br />
tenham feito prejuizos em <strong>Coimbra</strong>.<br />
Abastecimento d*ajjua<br />
A camara municipal, vendo que os<br />
contadores <strong>de</strong> que usa não indicara com<br />
precisão o consumo d'agua, pensa em estabelecer<br />
avenças a fim <strong>de</strong> que os reditos<br />
do município não sejam prejudicados.<br />
E' a melhor solução, e a mais económica,<br />
para se não ler <strong>de</strong> inutilisar os contadores,<br />
que o embirrento sr. Costa Alemão<br />
quiz adoptar, apezar dos conselhos<br />
dos homens práticos.
ANNO S — N. # 8® O D E F E N S O R DO P O V O 14 <strong>de</strong> Mafo <strong>de</strong> 18®3<br />
Deimrntido<br />
Os bem informados <strong>de</strong>smentem a noticia<br />
d'alguns jornaes <strong>de</strong> Lisboa, que dão<br />
o sr. Bispo con<strong>de</strong> em viagem para Roma<br />
S. ex. a e4slá hoje em Aveiro on<strong>de</strong> assistirá<br />
as festas da piinceza Santa Joanna.<br />
Torneio velocipedico<br />
Hoje os velocipedislas eoniiiihricen.-es<br />
vão assistir a um torneio entre os srs.<br />
José Bobella da Motta e Augusto Borges<br />
d'Oliveira, os quaes. darão a volta da corrida<br />
realísada o anno passado pela occasião<br />
dos festejos da Rainha Santa, com<br />
uma extensão <strong>de</strong> 38 kilometros e 400<br />
melros.<br />
Nesta corrida entrou o sr. José da<br />
Motta, ganhando o primeiro premio Eduardo<br />
Minchin, que peicorreu essa distancia<br />
em 1 hora e 39 minutos.<br />
O sr. Borges d'Oliveira entrou somente<br />
na ultima corrida do Gymnasio,<br />
na Escola Central, obtendo um premio;<br />
o sr. Motla ganhou o do campeonato.<br />
Este repto dirigido pelo sr. Oliveira<br />
ao sr. Motla eslá interessando bastante,<br />
por quanto as opiniões divi<strong>de</strong>m-se, ecada<br />
qual vae dando as honras do torneio ao<br />
seu protegido.<br />
A sabida é <strong>de</strong> Santa Clara ás 5 horas<br />
da tar<strong>de</strong>.<br />
O sr. Borges d'01iveira vae montado<br />
numa pneumatica Torrillon, o sr. Motta<br />
numa machina Oppel Victoria, <strong>de</strong> borrachas<br />
ôccas.<br />
*<br />
Parece que se annuncia para muito<br />
breve um outro torneio, em menor extensão.<br />
Os contendores são os srs. Antonio<br />
Men<strong>de</strong>s d'Abreu e Joaquim Pessoa. A<br />
corrida é <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> á Figueira e viceversa.<br />
As machinas d'ambos são pneumáticas<br />
Torrillon.<br />
Faculda<strong>de</strong> d» Direito<br />
Esta corporação universitária foi convidada<br />
a fazer-se representar no congresso<br />
jurídico que vae realisar-se no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
S e s s ã o «rdíuai-la<br />
27 d'ubril<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />
Corrêa Ajros <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />
presentes: Ruben Augusto d'Almeida<br />
Araujo Pinto, João Antonio da Cunha,<br />
João da Fonseca Barata, Manoel Bento<br />
<strong>de</strong> Quadros, Manoel Miranda, Antonio<br />
José Dantas Guimarães, effectivos; José<br />
Corrêa dos Santos, substituto.<br />
Mandou abonar a quantia <strong>de</strong> 20$000<br />
réis para o cusleamento das <strong>de</strong>spezas<br />
com o Asylo dos (.egos.<br />
Mandou intimar dois proprietários <strong>de</strong><br />
Quimbres, para restituírem ao publico<br />
terreno usurpado com silveiras e como-<br />
35 Folhetim do Defensor do POYO<br />
J. M É R Y<br />
A Jitt 1 VA1ÍCA[\0<br />
x<br />
A «Norma» no theatro <strong>de</strong><br />
Carlo-Felioe<br />
Então era ella o vivo <strong>de</strong>monio mas<br />
mudou <strong>de</strong> génio e da sua infanda ella<br />
só ficou com a belleza e com o encanto<br />
dos seus nove annos, pois, como diz o<br />
provérbio, a rosa ou tem perfume logo que<br />
nasce, ou nunca o tem.<br />
E' sempre a mesma Memma. Quando<br />
a vi pela primeira vez, chegava eu<br />
<strong>de</strong> Roma, on<strong>de</strong> tinha leito a minha<br />
aprendizagem em casa do livreiro Merle,<br />
no Corso. Conhece Merle ? E' um homem<br />
muito honrado, estabelecido em<br />
Roma ha vinte e cinco annos. Sim; uão<br />
ha menos <strong>de</strong> vinte e cinco annos, se não<br />
houver trinta. Que dizia eu? Perdi o fio<br />
á conversa.<br />
— Não, não, disse Paulo, convulsivo<br />
<strong>de</strong> impaciência por causa da loquacida<strong>de</strong><br />
vagobunda do livreiro; não é<br />
ros <strong>de</strong> prédios, no caminho <strong>de</strong> S. Marcos.<br />
Alteslou favoravelmente acerca <strong>de</strong><br />
tres petições para subsídios <strong>de</strong> lactação<br />
a menores/<br />
Auctorisou a limpeza do cano do<br />
cães, aos Oleiros, até o cruzamento da<br />
cnnalisação da rua da Magdalena ; o concerto<br />
da facha <strong>de</strong> caniaria e gra<strong>de</strong> do<br />
mesmo cães, junto da azinhaga da rua<br />
da Moeda ; e a reparação <strong>de</strong> pequenas<br />
aberturas no muro ao fundo das escadas<br />
em frente da mesma azinhaga.<br />
Auctorisou o vereador Barata, a provi<strong>de</strong>ncia<br />
para a venda ou troca d'alguns<br />
dos bois do serviço da limpeza da cida<strong>de</strong>.<br />
Auctorisou a presi<strong>de</strong>ncia a tratar<br />
com a companhia conimbricense d'illuminação<br />
a gaz acerca das bases para a<br />
renovação do contracto, que finda no<br />
proximo anno <strong>de</strong> 1894, e bem assim a<br />
provi<strong>de</strong>nciar, como fôr mais conveniente,<br />
relativamente ao arrendamento dos pastos<br />
da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
Mandou reparar a fonte das Vendas<br />
<strong>de</strong> Sant'Anna, recebendo a coadjuvação<br />
offerecida pelos povos da localida<strong>de</strong>, em<br />
conducçâo <strong>de</strong> materiaes.<br />
Resolveu mandar intimar dois proprietários<br />
do Dianteiro, para recuarem<br />
os prumos do centro dos telheiros que<br />
levantaram fóra do alinhamento <strong>de</strong>vido.<br />
Auctorisou o prolongamento da canalisação<br />
d'aguas até á ponte d'agua <strong>de</strong><br />
Maias, segundo o orçamento apresentado<br />
na somma <strong>de</strong> 246$923 réis, tendo a<br />
dispen<strong>de</strong>r somente a quantia <strong>de</strong> 25$423<br />
•réis que, com a <strong>de</strong> 40$000 réis ollerecida<br />
por Espirito Santo, Areosa & C. a e<br />
com a <strong>de</strong> 181$B00 réis <strong>de</strong> tubagem<br />
existente, prefaz aquella somma do orçamento<br />
referido.<br />
Despachou requerimentos sobre assumptos<br />
diversos, a saber—collocação<br />
<strong>de</strong> taboletas em estabelecimentos particulares<br />
e serviços no cemiterio; e com<br />
referencia a obras — auctorisando Antonio<br />
dos Santos Fonseca, <strong>de</strong> Santo Antonio<br />
dos Olivaes, a modificar a frontaria<br />
d'uma casa alli situada, fazendo uma<br />
porta d'uma janella e duas janellas <strong>de</strong><br />
duas portas sem alterar o alinhamento<br />
do prédio; o sr. dr. Francisco Antonio<br />
Rodrigues d'Azevedo, a mudar um portão<br />
no muro d'uma proprieda<strong>de</strong> no caminho<br />
<strong>de</strong> Sauto Antonio para as Sele-lontes,<br />
com egual condição; o sr. dr. Basilio A.<br />
da Costa Freire, a assentar uma gra<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ferro em frente do prédio que possue<br />
ao Penedo da Sauda<strong>de</strong>, em substituição<br />
d'outra <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, que alli tinha, ficando<br />
a mesma gra<strong>de</strong> sohre uma cortina horisoutid<br />
<strong>de</strong> cantaria; a Manoel Ma<strong>de</strong>ira,<br />
do Dianteiro, para construir um muro <strong>de</strong><br />
vedação em volta d'um quintal junto ao<br />
caminho da fonte, e mudar um balcão<br />
para o norte da sua casa, ficando obri•<br />
gado a seguir o alinhamento <strong>de</strong>terminado,<br />
sem «ccupaçào <strong>de</strong> terreno publico;<br />
a Urbano dos Santos, <strong>de</strong> Coselhas, para<br />
abrir com condições, uma serventia entre<br />
a estrada municipal e um prédio a<br />
confinar com a mesma ; a Jo.-é Maria da<br />
Cunha, para abrir dois porlaes e uma<br />
impossível, que o senhor tenha hoje visto<br />
a senhora Van-Ritter.<br />
— Ora essa I Vejo-a todos os dias ; -<br />
acolá, sentada á varanda, ao cahir da<br />
tar<strong>de</strong>: vem para ahi bordar e vêr passar<br />
os passeiantes. Vem com a pequenita,<br />
que dizem judia, mas que o não<br />
<strong>de</strong>ve ser, porque é mais formosa do que<br />
qualquer chriatà. Ora veja : —Se aquellas<br />
ílôres e aquellas taboinhas não as<br />
occultassem um pouco, quando bordam,<br />
haveria todas as tar<strong>de</strong>s, aqui, nesta loja,<br />
gran<strong>de</strong> reunião <strong>de</strong> curiosos, o que eu<br />
estimaria bem, pelo que gosto do movimento<br />
e da multidão. Ouve-se sempre<br />
alguma novida<strong>de</strong>. Mas... <strong>de</strong>seulpe-iue.<br />
Parece-me incommodado ?<br />
— Nao é nada, disse Paulo inteiramente<br />
<strong>de</strong>svairado pela dôr, e dando ao<br />
livreiro uma moeda <strong>de</strong> ouro; obrigado...<br />
disse-me tudo o que eu queria saber.<br />
O livreiro, espantado, não olhava senão<br />
para a moeda <strong>de</strong> ouro e não entendia<br />
o que ouvia.<br />
Comludo o escrupulo e a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ainda fallar mais <strong>de</strong>cidiram o livreiro<br />
a <strong>de</strong>ter pelo braço Paulo Gréant<br />
no limiar da porta.<br />
— Desculpe-me, disse com gravida<strong>de</strong>,<br />
o senhor <strong>de</strong>u-me uma moeda <strong>de</strong> ouro<br />
francez, que tem bom curso na Italia e<br />
comprou-me unicamente o Guia do viajante.<br />
Ahi E' verda<strong>de</strong>I Esquccia-me do<br />
janella na pare<strong>de</strong> d'uma casa da rua Direita,<br />
que olha para o novo largo entre<br />
a mesma rua e o terreiro da Herva, sem<br />
alteração <strong>de</strong> alinhamento; a José Maria<br />
Lobo, <strong>de</strong> Quimbres, para levantar uma<br />
casa em ruina no mesmo logar, sendo<br />
<strong>de</strong>terminado o alinhamento, sem alienação<br />
<strong>de</strong> terreno.<br />
In<strong>de</strong>feriu um requerímenlo <strong>de</strong> Manoel<br />
dos Santos, <strong>de</strong> Botão, por ser pre-<br />
judicial ao publico a ce<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> terreno<br />
para alinhamento da edificação que o<br />
mesmo proprietário pretendia levantar ao<br />
fundo do logar.<br />
Tomou conhecimento da correspondência<br />
recebida, que foi <strong>de</strong>vidamente archivada.<br />
COMMUNICADOS<br />
Cada linha, 40 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %.<br />
Realisou-se no dia 9 do corrente, o<br />
funeral do negociante d'esta praça, Antonio<br />
Marques Cepo, que nos poucos annos<br />
que contava <strong>de</strong> exislencia commercial,<br />
adquirira todavia a sympathia e estima<br />
dos seus collegas, que mais uma vez reconheceram<br />
nelle um espirito franco e leal<br />
e um amigo <strong>de</strong>dicado, e prompto, pela <strong>de</strong>monstração<br />
<strong>de</strong> sentimento que lhe prestaram.<br />
O feretro foi conduzido <strong>de</strong> casa á<br />
egreja na carreia,dos bombeiros voluntários,<br />
sendo conduzido á mão para a<br />
tarima funcraria pelos socios do Grémio<br />
Operário <strong>de</strong> que o finado fazia parte, ás<br />
borlas pegavam apenas negociantes d'esta<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
Collocado novamente na carreta, e<br />
nella conduzido ao cemiterio da Conchada,<br />
em romaria <strong>de</strong> veneração e respeito, foi<br />
acompanhado á beira do tumulo, usando<br />
da palavra um amigo, Julião Veiga, que<br />
não só exaltou as suas qualida<strong>de</strong>s, mas <strong>de</strong>plorou<br />
a morte, que tão cedo o arrebatara.<br />
No feretro foram <strong>de</strong>postas 3 coroas;<br />
uma da irmã, outra do Grémio Operário<br />
e outra <strong>de</strong> um grupo dos seus amigos.<br />
A GRANEL<br />
* * #<br />
Tem <strong>de</strong> ser proximamente julgado,<br />
em ultima instancia, pela camara dos<br />
lords, o processo <strong>de</strong> perdas e damnos,<br />
intentado pela companhia <strong>de</strong> Moçambique<br />
contra a South Africa, como iu<strong>de</strong>mnisação<br />
dos prejuízos causados pela invasão<br />
<strong>de</strong> Manica. O recursot por ora,<br />
diz só respeito á competeocia dos tribunaeí<br />
inglezes para resolverem sobre essas<br />
reclamações.<br />
* # * Todos os empregados das<br />
direcções <strong>de</strong> obras publicas escreveram<br />
no sentido <strong>de</strong> lhes ser concedido o bónus<br />
<strong>de</strong> 50 °/o nas linhas ferreas.<br />
livro, disse Paulo com o mais mentiroso<br />
dos sorrisos.<br />
—Está aqui. Mas talvez antes o queira<br />
enca<strong>de</strong>rnado... São só mais dois<br />
francos.<br />
— Pois sim !<br />
— Tenho aqui um, que foi encar<strong>de</strong>rnado<br />
pela princeza <strong>de</strong> Monte-Catini.<br />
— Fico com esse.<br />
— Tenho a dar <strong>de</strong>z francos <strong>de</strong> troco.<br />
— Fique com tudo.<br />
O livreiro suspeitou <strong>de</strong> que era falsa<br />
a moeda <strong>de</strong> ouro, apalpou-a com os <strong>de</strong>dos<br />
e metleu-a no bolso, fazendo uns tregei-<br />
104, que significav im: Atinai, se fôr falsa,<br />
sempre encontrarei quem m'a receba.<br />
Paulo Gréant sahiu e percorreu ao<br />
acaso muitas ruas estreitas; chegou á<br />
ponte <strong>de</strong> Carignan, obra <strong>de</strong> cyclopes,<br />
construída por cinta dos jardins e dos<br />
telhados das casas, como um tablado <strong>de</strong><br />
suicidas.<br />
— Talormi e Memma! disse eile,<br />
mor<strong>de</strong>ndo os beiços; esláo juntos a esta<br />
hora! O inferno conduziu-me a esta horrível<br />
revelação!<br />
Apouu-se nas guardas da ponte e<br />
sorriu-se para o medonho abysmo, que<br />
se abria <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> seus pés.<br />
E' neste precipício, que <strong>de</strong>vo emfim<br />
encontrar repouso! E subiu para cima<br />
das guardas da ponte a fim <strong>de</strong> ser presa<br />
<strong>de</strong> uma favoravel vertigem e ce<strong>de</strong>r á invencível<br />
attracção do abysmo, poupando-<br />
* * * O novo regulamento das loterias<br />
só começa a vigorar no proximo<br />
futuro anno econoniico.<br />
* * * O comboio maig rápido da<br />
lei ra é o que faz a travessia <strong>de</strong> N< vv York<br />
a BulTalo, ou sejam 708 kilometros em<br />
504 minutos.<br />
* * * Os lobos teem causado gran<strong>de</strong>s<br />
estragos nos rebanhos que pastam na<br />
serra <strong>de</strong> Suajo, em Outeiro Maior. Os<br />
lavradores teem conridado o povo para<br />
realisar montarias aquellas feras.<br />
* * * O mil<strong>de</strong>w invadiu já os vinhedos<br />
<strong>de</strong> Agueda e os proprietários andam<br />
agora na faina <strong>de</strong> o combater com sulfato<br />
<strong>de</strong> cobre.<br />
* * * Ficaram completamente arrasadas,<br />
com as ultimas tempesta<strong>de</strong>s, algumas<br />
vinhas nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alfarellos.<br />
* * * Vae ser or<strong>de</strong>nado que as<br />
praças transferidas d'uns corpos para os<br />
outros, por motivo disciplinar, não possam<br />
tornar a ser collocados no regimento on<strong>de</strong><br />
já tenham castigo, senão passados dois<br />
annos.<br />
* * * Consta que vão ser restabelecidas<br />
as charangas nos corpos monta-<br />
dos da guarnição, occorrendo com as<br />
<strong>de</strong>spezas os officiaes dos mesmos corpos,<br />
se assim o enten<strong>de</strong>ram.<br />
* * * Os prelados vão expor ao<br />
parlamento a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> se<br />
modificar a lei do recrutamento, no sentido<br />
<strong>de</strong> poupar esta os mancebos que<br />
frequentam as aulas ecclesiasticas, cuja<br />
frequencia diminue <strong>de</strong> anno-para anno.<br />
. * * * Na freguezia <strong>de</strong> Telhado,<br />
Famalicão, falieceu Francisca Paula com<br />
a edaile <strong>de</strong> 120 annos!<br />
* * * Para a exposição <strong>de</strong> Chicago<br />
mandou a Imprensa Nacional, <strong>de</strong> Lisboa,<br />
alguns specimens lypograpliicos <strong>de</strong><br />
primorosa execução.<br />
* * * Está em 240$600 réis a<br />
imporlancia recebida pela commissão<br />
para o mausoléu a Elias Garcia.<br />
* * * A camara municipal <strong>de</strong> Peniche<br />
ofTereceu terreno e ma<strong>de</strong>iras para<br />
a construeção da escola industrial - da<br />
mesma villa.<br />
* * * Os gatunos roubaram na<br />
egreja dos Congregados, da cida<strong>de</strong> do<br />
Porto, uma bolsa <strong>de</strong> prata contendo cinco<br />
meias libras, quatro moedas <strong>de</strong> 2)5000<br />
réis, ires <strong>de</strong> 5^000 réis, tudo em ouro,<br />
e uma moeda <strong>de</strong> 200 réis, com a effigie<br />
<strong>de</strong> D. João iv e data <strong>de</strong> 1640.<br />
A auctorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>u as provi<strong>de</strong>ncias<br />
que o caso reclama.<br />
se ao crime do suicídio, ao crime sem<br />
perdão.<br />
XI<br />
Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />
No extremo <strong>de</strong>sespero, produzido<br />
pelas agonias intoleráveis do coração ha<br />
um certo <strong>de</strong>leite, que <strong>de</strong>tem o homem<br />
na rida no momento, em que elle se<br />
prepara para voltar contra si as suas pro<br />
prias mãos. Ha orgulho em ostentar as nossas<br />
felicida<strong>de</strong>s e lambem o ha par» soffrer<br />
os nossos infortúnios; esta ultima lucta<br />
chega até a offerecer algum encanto aos<br />
moços apaixonados, que uma curiosida<strong>de</strong><br />
sSfiinica leva a seguir até ao fim o espectáculo<br />
das próprias dores.<br />
Paulo Gréant entregou-se subitamente<br />
ao orgulho <strong>de</strong> se crêr o mais <strong>de</strong>sgraçado<br />
dos homens; e como toda a supremacia<br />
lisongeia sempre o amor proprio e faz<br />
amar a exislencia, afastou-se da gigantesca<br />
ponte, como se fugisse <strong>de</strong> um mau<br />
conselheiro e passou a noite eniretendo-se<br />
conisigo mesmo <strong>de</strong>ante da egreja <strong>de</strong><br />
Carignan sobre o monte, em frente do<br />
mar. Emquanto as estrellas se viram no<br />
ceu, perseguiu-o uma horrível visão; os<br />
phantasmas <strong>de</strong> Talormi e <strong>de</strong> Memma<br />
acompanharam-o nesta noite abrasadora<br />
e pareceu-lhe ouvir todas as palavras <strong>de</strong><br />
amor trocadas <strong>de</strong>baixo da latada do<br />
nympheo ou das arvores do jardim.<br />
Ao nascer do sol Paulo experimentou<br />
M I S S i l<br />
Emília <strong>de</strong> Jesu-i Marques manda resar<br />
uma missa, na terça-feira, 16 do correntè,<br />
pelas 6 horas da manhã na parochial<br />
egreja <strong>de</strong> Santa Cruz, sulTragando a «Ima<br />
<strong>de</strong> seu irmão, e convida lodos os seus<br />
parentes e pessoas <strong>de</strong> suas relações a<br />
honrarem este acto com a sua preença.<br />
Agra<strong>de</strong>cimento<br />
Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o po<strong>de</strong>rem<br />
fazer pessoalmenle, José Pereira Marques<br />
e Eulalia <strong>de</strong> Jesus Marques, penhoradissimos<br />
com as exhuberantes <strong>de</strong>monstrações<br />
<strong>de</strong> amisa<strong>de</strong> que prestaram<br />
pela ultima vez ao seu sempre chorado<br />
irmão, Antonio Marques Cepo,<br />
-agra<strong>de</strong>cem intimamente reconhecidos,<br />
protestando a todos os que os auxiliaram,<br />
o seu eterno reconhecimento,<br />
especificando a Humanitaria Corporação<br />
dos Bombeiros Voluntários, que<br />
tão obsequiosamente se prestou a acompanhai<br />
o á sua ultima morada.<br />
A todos os protestos da nossa eterna<br />
gratidão.<br />
José Pereira Marques.<br />
Eulalia <strong>de</strong> Jesus Marques.<br />
EXPEDIENTE<br />
Prevenimos os nossos<br />
estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />
fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
vamos principiar a cobrança<br />
das suas assignaturas relativamente<br />
ao 2." semestre.<br />
Aos que não tiverem pago<br />
o 1.° semestre enviamos<br />
recibos do anno completo.<br />
Pedimos a todos o obsequio<br />
<strong>de</strong> pagarem logo que<br />
lhes seja apresentado o recibo<br />
ou mandarem pagar<br />
ás respectivas estações do<br />
correio quando receberem<br />
aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />
<strong>de</strong>volução, que, além do<br />
prejuizo que nos causa, embaraça<br />
a boa regularida<strong>de</strong><br />
da nossa administração.<br />
algum allivio. Não tinha assentado em<br />
nenhum projecto para o futuro; mas<br />
tinha resolvido energicamente fazer nesse<br />
mesmo dia uma visita a senhora Van-Ritter<br />
e julgou ser <strong>de</strong>.gran<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> escrever-lhe<br />
uma carta respeitosa.<br />
Rasgou vinte folhas <strong>de</strong> papel antes<br />
<strong>de</strong> adoptar a redacção <strong>de</strong>finitiva, que se<br />
segue :<br />
«Ex. ma sr. a<br />
No momento em que eu ia partir <strong>de</strong><br />
Génova para ob<strong>de</strong>cer a uma or<strong>de</strong>m sagrada,<br />
reteve-me nesta cida<strong>de</strong> um inci<strong>de</strong>nte,<br />
que podia ler sido lalai, mas que<br />
não passou <strong>de</strong> ser incommodo. Depois do<br />
dia, em que legalmente se <strong>de</strong>suniu o que<br />
<strong>de</strong>via estar unido revelaram-se tantos<br />
factos inesperados, que lalvez seja permittido<br />
a v. ex. a receber hoje um a<strong>de</strong>us<br />
que a minha bocca não podia pronunciar<br />
quando circunstancias, sem duvida respeitáveis,<br />
me afastavam <strong>de</strong> v. ex.* 1<br />
Estarei amanhã, ás nove horas da<br />
mauhâ, na repartição da posta restante.<br />
Desculpe-me se presrsto em pedir esta<br />
entrevista ; será a ultima: a minha partida<br />
para França esta <strong>de</strong>cidida—já tenho<br />
logar tomado nj paquete. Affirmo-lh'o<br />
pela minha honra.<br />
Paulo G.d<br />
Improsso na Typograpliia<br />
Operaria — Largo da Freiria n.«<br />
14, proximo a rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
AXX© I — I.' 86 O DEFENSOR DO POVO 14 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1893<br />
« T i l i O S<br />
PAP.A<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
A N N U N C I O S<br />
Por linha<br />
Repetições<br />
I W E I i O P E S<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
CAIXEIRO<br />
11Í5 O 1 '" 1 ""** Um COm ^ aslanle<br />
II pratica <strong>de</strong> mercearia.<br />
Prefere-se <strong>de</strong> 24 a 27 annos d'eda<strong>de</strong>,<br />
e que tenha praticado nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Para tratar na<br />
MERCEARIA AVENIDA<br />
LARGO DO PRÍNCIPE D. CARLOS<br />
COIMBRA<br />
A QUEM PRECISE<br />
e u m a s e s t a n l e s<br />
117 M
Crasar os braços é morrer<br />
O laborioso parlo financeiro do<br />
sr. ministro da fazenda, cujos resultados<br />
se foram evi<strong>de</strong>nciando, já<br />
na camara dos <strong>de</strong>putados na leitura<br />
do orçamento rectificado e das<br />
propostas <strong>de</strong> fazenda altinentes a<br />
malar o <strong>de</strong>ficit, — espectro <strong>de</strong> lodos<br />
os nossos financeiros, hydra. <strong>de</strong><br />
Lerna que não encontra Hercules,<br />
— serviu, como todos os esforços<br />
dos seus pre<strong>de</strong>cessores, para evi<strong>de</strong>nciar<br />
ainda mais, se é possivel,<br />
que á nossa vida economica e financeira<br />
se vae occorrendo com<br />
meros expedientes.<br />
Não é possivel ainda criticar<br />
seguramente nas suas minu<strong>de</strong>ncias<br />
o projecto financeiro do sr. Fuschini;<br />
mas o que é possivel assignalar<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já é, que o eterno recurso<br />
ao imposto, como a ubere inexgotavel,<br />
ainda d'esta vez não foi<br />
posto <strong>de</strong> parte, embora o sr. ministro<br />
ardilosamente diga o contrario;<br />
se não é ostensivo e claro o estabelecimento<br />
<strong>de</strong> impostos novos,<br />
todavia os actuaes foram augmentados<br />
em mais <strong>de</strong> mil contos <strong>de</strong> réis.<br />
Mais <strong>de</strong> mil contos <strong>de</strong> réis que<br />
o contribuinte, exhauslo já, ha <strong>de</strong><br />
pagar cada anno; mais <strong>de</strong> mil contos<br />
<strong>de</strong> réis com que o povo ha <strong>de</strong><br />
concorrer annualmente para a continuação<br />
da orgia monarchica, para<br />
as consequências dos <strong>de</strong>sperdícios<br />
vergonhosos <strong>de</strong> meio século, que só<br />
serviram para se abarrotarem os<br />
muitos bumays d'este paiz.<br />
São urgentes as necessida<strong>de</strong>s<br />
publicas; são instantes as circumslancias<br />
que levaram o sr. Fuschini<br />
a promover d'esle modo o augmenlo<br />
das receitas;—o sorvedouro<br />
aberto pelas administrações passadas<br />
é enorme; a voragem on<strong>de</strong><br />
se afundam annualmente quarenta<br />
e tantos mil contos <strong>de</strong> reis é insondável;<br />
não o negamos.<br />
Mas o que é incontestável, é<br />
que o povo eslá no seu pleno direito<br />
<strong>de</strong> se levantar <strong>de</strong>cidido e firme<br />
e <strong>de</strong> dizer a lodos os que lhe<br />
querem arrancar as ultimas mealhas<br />
— que não quer pagar mais.<br />
Este direito, que nasce da profunda<br />
miséria em que se vê afundada<br />
a massa productora do paiz,<br />
acurvada ha duas gerações sob um<br />
regimen que só a tem explorado e<br />
envilecido, é respeitável, é sacratíssimo.<br />
O povo portuguez, numa quietu<strong>de</strong><br />
abonadora <strong>de</strong> muita subserviência,<br />
como animal domesticado<br />
que não reage, tem soffrido as mais<br />
vexatórias extorsões sem um movimento<br />
<strong>de</strong> protesto; tem assistido á<br />
mais <strong>de</strong>scarada corrupção anniquiladora,<br />
sem um impelo <strong>de</strong> revolta;<br />
tem soffrido a oppressãc<strong>de</strong>spótica<br />
d'uma oligarchia que lhe nega o<br />
sangue, e limila-se, <strong>de</strong> vez em quando,<br />
a enxotar Iranquillamenle uns,<br />
para immedialamente consenlir a<br />
sucção dos outros...<br />
E nesta passivida<strong>de</strong> vergonhosa<br />
vae assistindo ao <strong>de</strong>smanlellar<br />
da nacionalida<strong>de</strong>, que se vae afundando<br />
numa bancarola ominosa.<br />
Por isso, agora é tempo já — e<br />
oxalá que ainda o sejal—<strong>de</strong> accor-<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
dar do longo somno que tem dormido;<br />
é occasião <strong>de</strong> dizer aos Fuschinis<br />
da monarchia, que já os conhece<br />
<strong>de</strong>mais, que já tem pago <strong>de</strong>mais,<br />
e que já tem dormido <strong>de</strong>mais.<br />
Faça-o, pois, assim. Se neste<br />
paiz ha ainda alguns restos <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> energia, que o possa<br />
livrar d'um suicídio vergonhoso,<br />
sem nome na historia, expulse num<br />
movimeuto <strong>de</strong> indignação a torpeza<br />
que o vilipendia.<br />
Pois que temos nós visto?<br />
Após as maiores veniagas, o<br />
mais <strong>de</strong>saforado tripudiar sobre a<br />
honestida<strong>de</strong> quer na polilica, quer<br />
na administração, que nos trouxeram<br />
á situação vergonhosa em que<br />
nos encontrámos, que nos restará<br />
fazer? Deixarmos que esta bambochata<br />
para ahi continue sem reacção<br />
nem protesto? Não empregarmos<br />
os últimos esforços, e, numa<br />
resignação simiesca, <strong>de</strong> mãos na<br />
cabeça <strong>de</strong>ixarmo-nos ir para o fundo?<br />
Se assim fôr, o Portugal do século<br />
xix não <strong>de</strong>ve merecer da historia<br />
nem a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> se lhe<br />
citar o nome como o d'um povo <strong>de</strong><br />
covar<strong>de</strong>s.<br />
João Chagas<br />
Tem estado doente, sendo accomettido<br />
<strong>de</strong> febres palustres. Os amigos tem-o<br />
ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> cuidados, e ao botei continúa<br />
a afíluir muita gente que o vae felicitar<br />
pela sua chegada e informar-se do seu<br />
estado.<br />
Que as melhoras sejam rnpidas é o<br />
ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> nós todos — <strong>de</strong> todos<br />
nós que muito.lhe queremos.<br />
Contribuição predial<br />
Pelo projecto apresentado pelo sr.<br />
Fuschini a contribuição predial é augmentada<br />
em 7()0 contos.<br />
Como é <strong>de</strong> suppôr e <strong>de</strong> prever o arrendatario<br />
que vá contando com mais<br />
uns cobres paia o pagamento do novo<br />
imposto.<br />
Um financeiro <strong>de</strong> truz — este Fuschini<br />
I<br />
Eduardo Coelho<br />
Realisou-se no domingo, 110 cemiterio<br />
dos Prazeres a homenagem <strong>de</strong> respeito<br />
á memoria d'esle honrado cidadão<br />
e digno filho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a quem o jornalismo<br />
portuguez <strong>de</strong>ve serviços relevantes.<br />
Porque a auctorida<strong>de</strong> prohibiu se fizesse<br />
o cortejo c.ivico ao cemiterio alli<br />
concorreram muitas agremiações populares<br />
e muito povo, reunindo-se mais <strong>de</strong><br />
2:000 pessoas.<br />
Junto do tumulo <strong>de</strong> Eduardo Coelho<br />
oraram, exaltando as bellas qualida<strong>de</strong>s<br />
do seu caracter e a prestigiosa acção da<br />
sua inciativa, os srs. Rodrigues Gonçalves,<br />
Francisco Pereira Jardim, Esteves, Pereira,<br />
Gomes da Siva e Brito Aranha,<br />
sendo <strong>de</strong>postas varias coroas e ramos.<br />
A' noite, na sessão solemne da Associação<br />
Eduardo Coelho, falaram também<br />
vários oradores, que prestaram merecido<br />
culto á memoria do prestimoso cidadão.<br />
De remissa<br />
Alguém pôz em lettra redonda que o<br />
sr. ministro da fazenda ia isentar <strong>de</strong> impostos<br />
as associações operarias.<br />
Tanta liberalida<strong>de</strong> num financeiro,<br />
que só tem em vista fazer augmentar as<br />
receitas á força <strong>de</strong> augmentar os impostos,<br />
custa a acreditar.<br />
No emtanto, esperemos.<br />
A Sé Velha<br />
e a commissão dos monumentos<br />
Ha dias o telegrapho levou a um<br />
jornal do Porto a noticia <strong>de</strong> que o sr.<br />
Possidonio da Silva num conciliábulo, que<br />
sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Commissão dos<br />
monumentos nacionaes se reúne no ministério<br />
das obras publicas, reclamára<br />
energico e apopletico contra os trabalhos<br />
<strong>de</strong> reparação que se andam executando<br />
na Sé Velha <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Este inci<strong>de</strong>nte é <strong>de</strong> tal maneira insolito<br />
e brutal; esta voz grasnando numa<br />
senha tão pouco justificada é d'um atrevimento<br />
tão íóra da ronha pacifica e uncfuosa<br />
do preclaro personagem; e por outro<br />
lado, a aceitação fácil <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
que a reclamação encontrou no conluio<br />
unanime daquelles conspícuos varões é<br />
<strong>de</strong> tal fórma <strong>de</strong>nunciante, que põe bem<br />
a <strong>de</strong>scoberto os mesquinhos propositos<br />
que animam a intrigalha. E como é facciosa,<br />
a parlapatice egoista da insigne<br />
commissão lisboeta, que aceitou a calumnia<br />
sem uma hesitação <strong>de</strong> prudência 1...<br />
«O architecto sr. Possidonio da Silva<br />
occupou-se hoje, na commissão dos monumentos,<br />
da restauração das columnas<br />
e nave central da Sé Velha <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
consi<strong>de</strong>rando a obra que se está alli<br />
fazendo um attentado contra o pensamento<br />
original do architecto que <strong>de</strong>lineára<br />
o edifício. Rcsolveu-se chamar a<br />
attenção do governo para esse facto.»<br />
A aCcusação d'um facto tão grave<br />
produziu no espirito publico um movimento<br />
<strong>de</strong> alarme; e no dia seguinte ao<br />
da propagação da noticia, á Sé Velha affluiu<br />
numerosa concorrência <strong>de</strong> visitantes,<br />
que queriam por si mesmo certificarse<br />
da verda<strong>de</strong> da <strong>de</strong>nuncia.<br />
Porque aos homens honestos parecerá<br />
inacreditável que uma criminação d'esta<br />
or<strong>de</strong>m, que é um atropello a todas as<br />
praxes <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração pessoal, levantada<br />
e sanccionada no seio d'uma commissão<br />
oflicial e sobre a qual se resolve <strong>de</strong><br />
prompto pedir a intervenção suprema do<br />
governo, sem reservas nem contemplações,<br />
seja absolutamente falsà e miseravelmente<br />
calculada i...<br />
A commissão incumbida <strong>de</strong> superinten<strong>de</strong>r<br />
nos trabalhos <strong>de</strong> reparação da Sé<br />
Velha é presidida pelo ex. ra0 Bispo-con<strong>de</strong>,<br />
e fazem parte d'ella o director das<br />
obras publicas do districto e o director<br />
da escola industrial; tem egualmente ura<br />
caracter <strong>de</strong> serviço publico e é <strong>de</strong> tanta<br />
auctorida<strong>de</strong> e valida<strong>de</strong> oúiçial, como a<br />
que em Lisboa eslá ven<strong>de</strong>ndo o seu<br />
peixe e governando a vidinha.. .<br />
Com que direito vem pois essa corporação<br />
ingerir-se nos actos da <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
e iucriininar suppostas faltas, arrogando<br />
-se superiorida<strong>de</strong> que ninguém lhe<br />
reconhece e ninguém lhe conferiu?!<br />
E' um <strong>de</strong>smando burlesco e estúpido,<br />
que tem tanto <strong>de</strong> grosseiro como <strong>de</strong><br />
insensato...<br />
Não vale a pena graciosamente <strong>de</strong>senvolver<br />
aqui em discussão justificativa e<br />
plena as obras em realisaçao na Se Veiha.<br />
O procedimento ru<strong>de</strong> dos insignes<br />
censores loruou-os incompatíveis com<br />
essa <strong>de</strong>fereucia.<br />
Aguar<strong>de</strong>mos os factos e a justificação<br />
se fara <strong>de</strong> maneira tão lúcida e completa,<br />
que não restará um vislumbre <strong>de</strong><br />
hesitação no animo dos mais limidos ou<br />
dos mais cautos para a inteira approvação<br />
do que esta feito e se projecta fazer.<br />
Aguar<strong>de</strong>mos a occasiao.<br />
O governo foi instado a intervir e<br />
a iiluslre commissão. encontra-se numa<br />
situação pouco invejável. Porque <strong>de</strong> duas<br />
uma: o"u a <strong>de</strong>nuncia proce<strong>de</strong> e o paiz<br />
reconhecerá que, para fins occultos, foi<br />
in<strong>de</strong>corosamente illudido; ou o ministro<br />
informado a tempo liga á perlidia o <strong>de</strong>sprezo<br />
que merecem as ejaculações da vileza.<br />
E em qualquer dos casos o impávido<br />
<strong>de</strong>lator e os quatro companheiros<br />
estão em cheque.<br />
A ennegrecer ainda o que ha <strong>de</strong><br />
moralmente con<strong>de</strong>mnavel nesta petulância,<br />
transparece a falta <strong>de</strong> escrupulo com<br />
que se <strong>de</strong>primem os serviços alheios ao<br />
mesrao tempo que se aproveita o ense-<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />
do Povo<br />
jo para dar saliência e brilho á filaucia<br />
própria!<br />
Pela fórma irrisória como o <strong>de</strong>lator<br />
falia do—pensamento original do architecto—<br />
parece querer inculcar que sobre<br />
a comprehensão exacta do monumento<br />
lhe não restam duvidas! Penelrou-lhe<br />
no amago : — o pensamento original do<br />
architecto!<br />
Uma palavra porém o trahe e mostra<br />
como é artificiosa e inculta a idêa que<br />
s. ex. a professa sohre esta gloriosa fabrica.<br />
A historia dos nossos monumentos<br />
eslá por fazer, é verda<strong>de</strong>, mas ignorará<br />
o sr. Possidonio porventura as ligações<br />
<strong>de</strong> analogia da Sé Velha com outras<br />
egrejas da península e contemporâneas,<br />
com as quaes será possivel estabelecer<br />
as mais intimas afinida<strong>de</strong>s !...<br />
Então esle erudito, este critico d'arle<br />
e historiador sapiente, a quem a nação<br />
pagou para estudar este e outros<br />
edifícios, como vamos vêr, <strong>de</strong>sconhece<br />
os preciosos trabalhos <strong>de</strong> Street, tão suggestivos<br />
para a classificação genealógica<br />
dos nossos monumentos ? ! Que quer<br />
dizer pensamento original ?<br />
On<strong>de</strong> é que está a originalida<strong>de</strong> do<br />
architecto? Nos accessorios faustosos da<br />
<strong>de</strong>coração, ou as circumstancias secundarias<br />
e acci<strong>de</strong>ntaes da adaptação ao<br />
local?<br />
Na traça geral <strong>de</strong>certo que não, porque<br />
é typica, congenere <strong>de</strong> S. Isidro <strong>de</strong><br />
Leão, por exemplo.<br />
Mas ha mais! e mais!... Este homem<br />
ainda está treslendo pela cartilha<br />
velha.<br />
Coitado !... qA.<br />
(Continúa).<br />
m<br />
Pelo parlamento<br />
Logo na primeira sessão da camara<br />
dos <strong>de</strong>putados o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay<br />
viu o quanto é sympathica a sua figifra<br />
<strong>de</strong> famoso banqueiro, que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se<br />
ter sabido arranjar <strong>de</strong> modo que se encheu<br />
<strong>de</strong> dinheiro e <strong>de</strong> honrarias, neste<br />
paiz pobre e aviltado por elle e por outros<br />
que taes, se lembrou ainda <strong>de</strong> affVontar<br />
o povo que soube expoliar, assentando<br />
se entre aquelles que são, llieoricamenle,<br />
o-s representantes do paiz.<br />
Bem lhe tei» cuslado a campanha em<br />
que se empenhou, e que <strong>de</strong>monstrou ao<br />
nobre con<strong>de</strong> o quanto é <strong>de</strong> querido em<br />
Portugal. E agora, que todas as dificulda<strong>de</strong>s<br />
!he pareciam resolvidas pelo accordãodo<br />
tribunal <strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res,<br />
— que consi<strong>de</strong>rava nullo o diploma passado<br />
ao sr. Silva Amado, e que <strong>de</strong>clarava<br />
supprido pelo mesmo accordao o diploma<br />
legal do sr. Burnay para se amesendar<br />
no seio da representação nacional; no seio<br />
da dita dizem-lhe que uão; que não<br />
basta. E o peor e que alli <strong>de</strong> pouco po<strong>de</strong>m<br />
valer as libras que abarrotam os<br />
cofres do opulento banqueiro.<br />
Quando pela. presi<strong>de</strong>ncia da camara<br />
era lido o tal accordão, o <strong>de</strong>putado sr.<br />
Alpoim poz a questão da legalida<strong>de</strong> daqelle<br />
doeumeiiio para o sr. Burnay ter assento<br />
ua camara ; visto nao se ler <strong>de</strong>cidido<br />
ainda, por aquelle tribunal se julgar incompetente<br />
para o fazer,» se o nobre<br />
Con<strong>de</strong> é cidadão portuguez e, portanto, se<br />
é elegível.<br />
O sr. Alpoim, acompanhado por toda<br />
a camara, requereu para, que, antes <strong>de</strong><br />
se dar ingresso no parlamento ao sr.<br />
Burnay se dicidam aquelles pontos.<br />
Mas como são flagrantes as provas<br />
<strong>de</strong> que o sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay, gran<strong>de</strong><br />
d'estes reinos, que nelles tem crescido<br />
e medrado, não é portuguez, parece-nos<br />
que o mesmo Ínclito senhor uão conseguirá<br />
levar ao parlamento a sua candidatura<br />
moral.<br />
E era o que faltava...<br />
*<br />
O gran<strong>de</strong> interesse da sessão ligava-se<br />
á leitura do orçamento do sr. Fuschini<br />
e á das suas propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />
Apresentou-se o orçamento e apresentaram-se<br />
as propostas.<br />
Pelo orçamento conclue-se que fica<br />
existindo um <strong>de</strong>ficit <strong>de</strong> 1.545:3740600<br />
réis» que o sr. Fuschini se propõe ohmr<br />
com as suas propostas <strong>de</strong> fazenda, das<br />
quaes conta auferir 1:73o conto», provenientes<br />
<strong>de</strong> augmento <strong>de</strong> receita — sobre<br />
o sello, 500 contos; álcool, 350<br />
contos; contribuição predial, 280 contos;<br />
contribuição industrial, 600 contos.<br />
Desenvolvemos a proposta <strong>de</strong> reforma<br />
do imposto do sello, como a que mais<br />
interessa.<br />
Concluindo, o relatorio enuncia o<br />
rendimento presumível das propostas que<br />
o acompanham e que é o seguinte:<br />
Proposta sobre o sello, 500 contos;<br />
álcool, além da somma já <strong>de</strong>scripta no<br />
orçamento, 350 coutos; contribuição<br />
predial, 280 contos; contribuição industrial,<br />
600 contos. Total, 1:730 contos.<br />
D'estas as duas primeiras ainda para o<br />
exercício <strong>de</strong> 93-94 <strong>de</strong>verão dar as receitas<br />
importantes; as duas ultimas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
o seu lançamento <strong>de</strong> operações<br />
que hão <strong>de</strong> realisar-se em 1894, só em<br />
1895 começarão a produzir receita. E<br />
com estas consi<strong>de</strong>rações e expondo o<br />
pensamento do governo <strong>de</strong> não recorrer<br />
ao credito nem aggravar por qualquer<br />
modo as <strong>de</strong>spezas publicas, e significando<br />
ao mesmo tempo que aos funccionarios<br />
públicos não se po<strong>de</strong>m aggravar as <strong>de</strong>ducções<br />
e mesmo as actuaes só se <strong>de</strong>verão<br />
mantér pelo lenipo estrictamente<br />
necessário, termina o relatorio, seguindo-se-lhe<br />
os mappas elucidativos, no<br />
numero <strong>de</strong> 14 e todos extremamente interessantes,<br />
pois pela sua leitura se faz<br />
logo clara i<strong>de</strong>a da situação do thesouro<br />
e do paiz.<br />
Na reforma do imposto do sêllo calcula<br />
o ministro um augmento <strong>de</strong> receita<br />
<strong>de</strong> 400 a 500 contos, fixando como mínimo<br />
o seguinte:<br />
Papel sellado, 65 contos; sêllo <strong>de</strong><br />
verba, 183 contos, estampilhas <strong>de</strong> sêllo,<br />
160 contos. Total, 408 contos. Esta proposta<br />
não constitue innovação, mas remo<strong>de</strong>lação.<br />
O sêllo para reconhecimentos, que<br />
hoje era simultaneamente <strong>de</strong> 10 e 80<br />
réis, tica reduzido a taxa única <strong>de</strong> 20<br />
reis. Para as socieda<strong>de</strong>s auonymas e para<br />
as outras socieda<strong>de</strong>s commerciaes e civis,<br />
as quaes hoje nos sellos <strong>de</strong> escripluras<br />
correspondia a capital maior menor proporção<br />
da taxa <strong>de</strong> sètlo, estabelece-se a<br />
taxa fixa <strong>de</strong> 300 réis por cada conto do<br />
capital. Os litulos <strong>de</strong> divida publica ficam<br />
sujeitos ao imposto do sê.lo.<br />
Para os dotes é estabelecido o imposto<br />
progressivo até um <strong>de</strong>cimo do rendimento<br />
anuual. O papel sellado da taxa<br />
<strong>de</strong> 50 réis é elevado a 80 réis e o d'esta<br />
taxa a 100 réis.<br />
Para os diplomas nobiliários o sêllo<br />
é elevado. Para cartas <strong>de</strong> mercê <strong>de</strong> duque<br />
011 duqueza, 300$000 réis; marquez ou<br />
marqueza, 2000000 reis; con<strong>de</strong> ou con<strong>de</strong>ssa,<br />
180^000 réis; titulo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za,<br />
1800000 réis; sendo este titulo<br />
inherente a funeção publica, 1500000<br />
réis; viscon<strong>de</strong> ou viscon<strong>de</strong>ssa, 1000000<br />
réis; barão ou baroneza, 800000 réis;<br />
titulo <strong>de</strong> juro e herda<strong>de</strong>, a mais 500000<br />
reis; carta que conce<strong>de</strong> honras <strong>de</strong> parente,<br />
4000000 reis; carias <strong>de</strong> conselho,<br />
1000000 reis; alvará em vida <strong>de</strong> alguns<br />
títulos, 800000 réis; alvará para mércê<br />
<strong>de</strong> brazão <strong>de</strong> armas, 100(5000 reis; portaria<br />
para aceitar ou usar bandas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns<br />
estrangeiras, ou titulos estrangeiros,<br />
3000000 réis; banda da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
Santa ha bel, 1800000, reis; ele.<br />
Para os diplomas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns lambem<br />
é elevada a taxa do sello: gran-cruz, a<br />
1400000 ; cominendador, 800000; official<br />
ou cavaileiro, 400000 ; gran-cruz<br />
estrangeira, 3000000; gran<strong>de</strong> official,<br />
2000000; commendador, 1800000 ; oflicial<br />
ou cavalleiro, 900000 ; gran<strong>de</strong> dignitário,<br />
200^000 réis.<br />
Os diplomas <strong>de</strong> empregados da casa<br />
real, patentes militares, diplomas <strong>de</strong> habilitações<br />
litterarias ou scieulificas, bulias,<br />
dispensas, etc., lambem solírem augmento<br />
no imposto do sello.<br />
Na camara dos pares a sessão durou<br />
apenas meia hora.<br />
Pouco interessante. Foi aprazada para<br />
hontem a sessão seguinte.
A W M O I — li.' O D E F E N S O R D O P O V O 1 8 d e m a i o d e 1 8 0 $<br />
CRYSTABS<br />
A Christo<br />
0 agudo bisturi da nossa experiencia,<br />
A lança da Razão inquebrantável, fria,<br />
Varou <strong>de</strong> lado a lado o olho da Provi<strong>de</strong>ncia:<br />
A abobada celeste é orbita vasia.<br />
A critica fatal da velha <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia<br />
Negou-te a divinda<strong>de</strong>, ó filho <strong>de</strong> Maria.<br />
Desamparou-me a fé. A nossa consciência<br />
Respeita simplesmente as leis <strong>de</strong> geometria.<br />
O tempo, o gran<strong>de</strong> verme, apodreceu a escada<br />
Por on<strong>de</strong> o visionário em noute constellada<br />
Viu anjos a <strong>de</strong>scer da luminosa esphera.<br />
No leito sensual do azul in<strong>de</strong>finido<br />
Ha muito que exhalou seu ultimo gemido<br />
O Deus Omnipotente — essa i<strong>de</strong>al cbimera.<br />
GUERRA JUNQUEIRO.<br />
LETTRAS<br />
0 concertador <strong>de</strong> bilhas<br />
Naquelle tempo e numa gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong><br />
que não contava menos <strong>de</strong> dois milhões<br />
<strong>de</strong> habitantes — espero que a indiscripção<br />
vos não obrigará a commetter a<br />
in<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za <strong>de</strong> me perguntarem em que<br />
paiz era situada essa cida<strong>de</strong>, boje <strong>de</strong>sapparecida<br />
— um prejuízo que prevalecia<br />
apezar da <strong>de</strong>sapprovação <strong>de</strong> todas<br />
as pessoas praticas, estabelecia que as<br />
meninas, quando contrahissem matrimonio,<br />
offerecessem aos seus maridos, além<br />
d'um dote em moeda corrente e títulos<br />
do Estado, uma bilha pequenina e frágil,<br />
não maior que um cálix, perfeitamente<br />
intacta, e o marido apenas, lhe era entregue<br />
a mimosa oflerenda, quebrava-a<br />
com um socco, <strong>de</strong>sapiedadamente.<br />
Que significação teria esta crença ?<br />
Quereriam os noivos contar pelos fragmentos<br />
da faiança os futuros annos <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong>?<br />
Pelo que diz respeito á bilha, tendo<br />
os pintores e os poetas da epocha em<br />
questão <strong>de</strong>ixado — por um outro prejuízo<br />
não menos extravagante — <strong>de</strong> reproduzil-a<br />
nas suas telas e cantal-a nos<br />
seus versos, não posso dar senão indicações<br />
muito vagas e incompletas sobre<br />
este brin<strong>de</strong> nupcial; tudo leva a crer, 110<br />
entretanto, que elle era agradavel á vista,<br />
pequenino, <strong>de</strong>licado, d'uma pintura<br />
côr <strong>de</strong> rosa carregado, sob folhagens cor<br />
d'ouro ou <strong>de</strong> ébano, pu<strong>de</strong>mos mesmo<br />
imaginar que as mais das vezes encerrava<br />
uma essencia preciosis-ima.<br />
O que é certo é que os noivos queriam<br />
recebel-o bem intacto; a mais pequena<br />
beliscadura irritava-os; uma racha<br />
era motivo para as maiores <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns.<br />
O absurdo das suas exigencias<br />
via-se principalmente no facto do intuito<br />
d'elles, ser apenas <strong>de</strong> quebrar as bilhas.<br />
Ora, se ellas só serviam para serem<br />
quebradas, que importava, pergunto eu,<br />
que ella o fosse honlem ou hoje? Parece<br />
até que o novo marido <strong>de</strong>via alegrar-<br />
»e por ter uma maçada a menos.<br />
Porem, os homens d'aquelle tempo,<br />
eram, sobre este asnimpto, d'uma teimosia<br />
sem egual; as melhores razões<br />
não os persuadiam. Bemdigamos á Provi<strong>de</strong>ncia<br />
por lermos nascido num século<br />
em que a humanida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sligou d'esta<br />
crença pueril. Quanto mais o vaso era<br />
difficil <strong>de</strong> quebrar, tanto mais contentes<br />
ficavam os imbecis!<br />
Era pela soli<strong>de</strong>z que elles mediam a<br />
sua gloria e não conheciam maior triumpho<br />
do que voltaram-se-lhe as unhas ou<br />
ensanguentarem se-lhes os <strong>de</strong>dos nos esforços<br />
que faziam.<br />
*<br />
Neste estado <strong>de</strong> coisas, as meninas,<br />
é claro, tinham o máximo cuidado com<br />
este precioso objecto; poupavam-o, o<br />
mais possivel, dos encontrões, dos golfes<br />
d'ar, <strong>de</strong> todas as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sgraça; e, quando precisavam limpal-o,<br />
tomavam, tremulas, tolas as precauções<br />
e tinham a leveza <strong>de</strong> mão d'um colleccionador<br />
que lida com figurinhas <strong>de</strong> Saxe<br />
ou com marfim do Japão. Não iam á<br />
fonte enchel-a com medo <strong>de</strong> a quebrar!<br />
Não se limitavam a cercal-a dos cuidados<br />
mais <strong>de</strong>licados, escondiam-a <strong>de</strong>baixo<br />
das roupas, sedas, lãs, musselinas,<br />
não só para evitar os olhares indiscretos<br />
mas também para tornar 01 choques<br />
menos violentos.<br />
Uma menina que se <strong>de</strong>stinasse ao<br />
casamento—' havia já nesse tempo vocações<br />
infelizes— temia quasi tanto <strong>de</strong>ixar<br />
ver ti sua bilha, como quebral-a.<br />
Apezar <strong>de</strong> tantas precauções occorriam<br />
muilas vezes <strong>de</strong>sagradaveis inci<strong>de</strong>ntes;<br />
uma infelicida<strong>de</strong> aconUce tão subitamente!<br />
As raparigas que por um p»s-<br />
ÍO em falso ou por qualquer outra levianda<strong>de</strong><br />
d'occaiião, para assim dizer,<br />
só podiam juntar ao seu dote uma bilha<br />
sensivelmente ferida, tinham, é verda<strong>de</strong>,<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sculparem com<br />
a sua fragilida<strong>de</strong>, conhecida <strong>de</strong> toda a<br />
gente, e com as tentativas, por geilo<br />
ou por força, <strong>de</strong> certos impertinentes que<br />
queriam gozar privilégios <strong>de</strong> esposo» sem<br />
terem ccntrahido as respectivas responsabilida<strong>de</strong>s.<br />
Mas estas <strong>de</strong>sculpas não<br />
serviam para attestar a innocencia das<br />
pobres creanças; eram vistas com maus<br />
olhares, simulavam lastimal-as, e era<br />
pouco commum que chegassem até ao<br />
casamento. Mesmo aquellas que á força<br />
<strong>de</strong> mysteriosa hypocrisia, conseguiam occultar<br />
a sua <strong>de</strong>sventura — uma bilha<br />
pô<strong>de</strong> rachar-se sem ruido — não tinham<br />
melhor sorte pela <strong>de</strong>scortezia furibunda<br />
que encontravam nos maridos enganados.<br />
De maneira que, por compaixão para<br />
com as ingénuas, cujo thesouro <strong>de</strong> faiança<br />
estava alguma coisa <strong>de</strong>teriorado — e<br />
também na esperança d'uma remuneração<br />
condigna — pessoas hábeis procuraram<br />
saber se existiria meio <strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois<br />
do acci<strong>de</strong>nte, repor as coisas, mais quê<br />
menos quê, no seu primitivo estado Pois<br />
não tardou que na cida<strong>de</strong> dois milhões<br />
<strong>de</strong> habitantes apparecessem especialistas<br />
muito laureados, que exerciam o officio<br />
<strong>de</strong> concertadores <strong>de</strong> bilhas nupciaes.<br />
Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />
(Conclui).<br />
O que se vê...<br />
Pelas <strong>de</strong>clarações do sr. Fuschini sabe-se<br />
que a diminuição da <strong>de</strong>speza realisada<br />
pelos differentes ministérios é a<br />
seguinte:<br />
Fazenda 1SB contos<br />
Reino 47 »<br />
Justiça 35 »<br />
Guerra 605 ^<br />
Marinha 553 »<br />
<strong>Obra</strong>s publicas 492 »<br />
Estrangeiros ^ . 95 ><br />
O que se não vê são as <strong>de</strong>spezas<br />
para as viajatas, e as enormes verbas que<br />
saem a occultas para pagar os caprichos<br />
e as orgias <strong>de</strong> altos funccionarios.<br />
Pois affirmam que na roda do anno<br />
é uma conta callada III<br />
Ridículo<br />
Decididamente o sr. Pedroso <strong>de</strong> Lima,<br />
famigerado commissario <strong>de</strong> policia, anda<br />
a pentear-se para comprido penacho.<br />
Pelo menos os meios bem os emprega<br />
elle.- .<br />
Não <strong>de</strong>scança, o fino commissario.<br />
Sonha conspirações era toda a parte,<br />
manejos terríveis nas trevas, e elle ahi<br />
vae immediatamente, a <strong>de</strong>sfazer-se em<br />
provi<strong>de</strong>ncias luminosas do seu luminoso<br />
cerebro, que <strong>de</strong>sfazem por sua vez os<br />
mysteriosos conluios dos republicanos.<br />
A polieia <strong>de</strong> Lisboa não tem cessado<br />
<strong>de</strong> espionar o sr. João Chagas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que <strong>de</strong>sembarcou, seguindo-o por toda a<br />
parte, e nem emquanto elle tem estado<br />
<strong>de</strong> cama os fieis mollossos <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> lhe<br />
vigiar a porta.<br />
E' um alho, aquelle sr. Pedroso; fino<br />
como um coral, aquelle Lima...<br />
Até parecb o sr. Pedro Ferrão.<br />
Mais um bicho<br />
Na província <strong>de</strong> Tamboff, na Rússia,<br />
appareceu um novo insecto que se multiplica<br />
e propaga <strong>de</strong> uma maneira assombrosa,<br />
e que já tem <strong>de</strong>v*çiado alli<br />
centenares <strong>de</strong> kilometros^qUTítfrados, <strong>de</strong>vorando<br />
as plantas cultivadas.<br />
Causa maiores estragos que o gafanhoto,<br />
e possue extraordinarin resistencia<br />
vital.<br />
Contrabandistas<br />
Na comarca <strong>de</strong> Niza a guarda fiscal<br />
apanhou um grupo <strong>de</strong> contrabandistas<br />
passando a raia e fez fogo sobre elles.<br />
Caiu morto um d'elles, liomem novo e<br />
robusto, fugindo os outroi.<br />
Por este modo a guarda fiscal apprehen<strong>de</strong>u<br />
45 kilos do tabaco, em fardos.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
A <strong>de</strong>solação dos campos<br />
João Chagas<br />
Confrange-íe <strong>de</strong> dôr e annuviam-se<br />
<strong>de</strong> lagrimas todas as almas immaculadas,<br />
ao presencear o estendal <strong>de</strong> misérias<br />
que <strong>de</strong>senrolou a aza do ultimo tufão,<br />
do temporal medonho <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />
sobre nós.<br />
Da província chovem telegrammas<br />
<strong>de</strong>soladores.<br />
Acabo <strong>de</strong> vêr noticias da Regoa,<br />
Mesâo-frio, Aveiro, Ferreira, Penacova e<br />
Agueda, que dão perdidas as arvores <strong>de</strong><br />
fructo e as vinhas escapadas ao furacão<br />
do dia 7.<br />
Os que trabalham, os que moirejam<br />
sem <strong>de</strong>scanso na faina da lavoura, conquistando<br />
num longo dia (sob o cáustico<br />
do sol ou a lunica gelada da neve)<br />
um pedaço <strong>de</strong> pão negro, os que caminham<br />
pela senda dos <strong>de</strong>sherdados, sem<br />
clarão d'esperança a sorrir-lhes no porvir,<br />
sem bálsamo para a magua que lhes<br />
alanrea a alma — per<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> repenje,<br />
<strong>de</strong> súbito, numa rajada forte do vendaval,<br />
o trabalho <strong>de</strong> tantos dias, a lucta<br />
<strong>de</strong> tantos mezes, e encontram-se a braços<br />
com a miséria, espectro negro, que<br />
andou, cavalgando 110 corcel da ventania,<br />
a <strong>de</strong>stroçar as vinhas, a arrancar os<br />
fructos das arvores, a arrazar campos e<br />
<strong>de</strong>struir canteiros, a <strong>de</strong>sbaratar, como<br />
um triumphador selvagem, invadindo —<br />
cavalio a toda a brida, alfanje na <strong>de</strong>xtra<br />
— os arraiaes do inimigo vencido.<br />
Não bastavam os encargos com que<br />
o governo sobrecarrega o agricultor, não<br />
bastava a crise, era pouco a dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> transacções commerciaes e o abandono<br />
a que são votadas as nossas industrias<br />
— faltava o clow das gran<strong>de</strong>s calamida<strong>de</strong>s<br />
I<br />
O nosso homem <strong>de</strong> lavoura encontra-se<br />
na contingência tristíssima disten<strong>de</strong>r<br />
a mão á carida<strong>de</strong> publica, se o<br />
governo não remediar o mal com <strong>de</strong>dicação<br />
e sollicilu<strong>de</strong> immediata.<br />
A fome espreita a casa do lavrador,<br />
a Morte, ave sinistra, esvoaça em torno<br />
ao seu lar, e a <strong>de</strong>sgraça senta-se á beira<br />
dos seus filhos, pousando a mão
AWKú I —X." 8» O DEFEMSOR DO POVO IS <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> JL893<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Felgueira, 16 <strong>de</strong> maio.<br />
Permitta-me, meu amigo, que d'esta<br />
terra, encravada entre montanhas nas<br />
margens do Mon<strong>de</strong>go, que nestes sitios<br />
e nesta occa-ião, <strong>de</strong>vido ás ultimas chuvas,<br />
vae caudaloso, lhe dê noticias minhas<br />
e lhe diga qualquer coisa d'esta estação<br />
balnear. Serei breve porque sei quanto<br />
precisa <strong>de</strong> tempo para as suas occupações<br />
e por isso ih'o não <strong>de</strong>vo roubar<br />
'com superfluida<strong>de</strong>s que pouco o interessam.<br />
O isolamento a que me votei contraria-me<br />
os hábitos; e portanto, na falta<br />
da distracção do Luzitano, da cavaqueira<br />
na redacção do jornal, on<strong>de</strong> o T. <strong>de</strong> B.<br />
com os seus ditos cathedraticos; o M<br />
cora o seu espirito alegre <strong>de</strong> val<strong>de</strong>vinos,<br />
que apparece para fugir logo em seguida,<br />
preoccupado sempre em aventuras galantes<br />
on<strong>de</strong> se suppõe galan e v. preoccupado<br />
tamb< i)i com a visão da Recreativa,<br />
espreitando qualquer gaze negro<br />
que se lhe <strong>de</strong>para, recordando essas horas<br />
ledas que passaram; na falta d'este<br />
convívio <strong>de</strong>ixe que o recor<strong>de</strong>, para assim<br />
ir matando o tempo e para que os dias<br />
e as horas me pareçam mais curtas.<br />
Eesta epocha aqui é insuportável; não<br />
ha ainda ninguém com quem se conviva.<br />
O nosso dr. João Felício não se apanha,<br />
elle que tem ura espirito alegçe, uma<br />
alma aberta e um coração d'ouro, anda<br />
preoccupadissimo com as obras que traz<br />
no Gran<strong>de</strong> Hotel Club, casa <strong>de</strong> primeira<br />
or<strong>de</strong>m e uma das primeiras do paiz<br />
neste genero.<br />
Com o amor que votou á empreza<br />
que dirige, é incansavel e num phreuezi<br />
enorme, elle vê passar os dias e aproximar<br />
o dia 1.° <strong>de</strong> junho em que <strong>de</strong>ve<br />
abrir o Hotel, sem ter tudo concluído,<br />
apezar do seu esforço e da sua enorme<br />
activida<strong>de</strong>.<br />
Este anno os melhoramentos são muitos;<br />
o Hotel todo modificado — cara lavada—<br />
como se costuma dizer. E' uma<br />
alluvião <strong>de</strong> operários a estucarem, caiarem,<br />
pintarem, comporem, modificarem,<br />
ele., etc. O salão <strong>de</strong> baile e todas as<br />
galerias ficam concluídas, po<strong>de</strong>ndo o Hotel<br />
receber e alojar mais <strong>de</strong> cera hospe<strong>de</strong>s.<br />
Fóra do Hotel também ha muitas<br />
obras, tornando-se reparado o chalet do<br />
sr. Elysio Pereira do Valle, bonita construcção<br />
e num magnifico sitio, d'on<strong>de</strong> se<br />
disfructans soberbas vistas; e a estrada<br />
que anda em conslrucção que, partindo<br />
do sítio on<strong>de</strong> se tomam as aguas frias,<br />
vae costeando montes, passando em<br />
frente do Gran<strong>de</strong> Hotel, atravessando o<br />
ribeiro por um bem construído aqueducto<br />
e voltando pela encosta do monte<br />
on<strong>de</strong> está o hotel para ir entroncar<br />
com a outra estrada, acima um pouco<br />
do olival. Esta estrada tornar-se-ha o<br />
ren<strong>de</strong>z-vous dos banhistas pelas bonitas<br />
vistas do Mon<strong>de</strong>go que d'ella se disfructam.<br />
— — —<br />
H Folhetim do Defensor do POYO<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA § VATICANO<br />
XI<br />
Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />
Esta carta pareceu muito bem ao<br />
seu auctor; t ; nha um sentido vago, que<br />
Memma énterpi laria como lhe parecesse<br />
e a mentira d., lim po<strong>de</strong>ria, se fosse preciso,<br />
passar |f.,i u na verda<strong>de</strong>, visto estar<br />
habilmente arranjada.<br />
Ao mesmo tempo Paulo Gréant escreveu<br />
este bilhete:<br />
«Minha querida Débora.<br />
Peço-lhe que me faça mais um ser- -<br />
viço junto d'aquella, que a minha querida<br />
Débora tem a fortuna <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ver<br />
á sua vonta<strong>de</strong>. Escreví-lhe, pedindo-lhe<br />
que me recebesse ainda uma vez, que<br />
será a ultima.<br />
Peço-lhe que me aju<strong>de</strong> a ir a esse<br />
palacio. A sua doce palavra e a sua<br />
angélica influencia fallarão por mim. O<br />
meu estado é <strong>de</strong>sesperado. Se o meu<br />
pedido não for satisfeito, Deus permitia<br />
que eu não perca a razão I<br />
Paulo G.d<br />
Já ha muitas casas arrendadas esperando-se<br />
muitas famílias <strong>de</strong>pois do dia<br />
20; no Gran<strong>de</strong> Hotel, ha muitos pedidos<br />
<strong>de</strong> quartos, <strong>de</strong>ixando prever que este<br />
anno a concorrência seja enorme; nesta<br />
persuasão tanto a empreza do Hotel como<br />
das aguas não poupam esforços e <strong>de</strong>spezas<br />
para po<strong>de</strong>rem offerecer aos banhistas<br />
todas as commodida<strong>de</strong>s que apetecerem.<br />
Até breve.<br />
•<br />
O Panamá dos tabacos<br />
Assevera-se que brevemente será<br />
levantada no parlamento a vergonhosa<br />
questão dos tabacos, na qual estão<br />
corapromettidos diversos homens públicos.<br />
Este caso a apurar se, como <strong>de</strong>ve,<br />
e a fazer-se nelle toda a luz, arrastaria<br />
á penitenciaria muito titular e muitos<br />
trumphos políticos... se isto fosse um<br />
paiz on<strong>de</strong> imperasse a moralida<strong>de</strong> e a<br />
justiça I<br />
Para nós é ponto <strong>de</strong> fé que as<br />
ladroeiras hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir-se, mas que<br />
os ladrões ficarão impunes, como <strong>de</strong><br />
costume.<br />
Descarrillamento<br />
O comboio que sahiu da Guarda no<br />
dia 14, ás 5 e 45 <strong>de</strong>scarrilou <strong>de</strong> manhã<br />
entre as estações <strong>de</strong> Belmonte e Benespeira,<br />
não havendo <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> pessoas;<br />
apenas algumas carruagens ficaram um<br />
tanto damnificadas.<br />
O comboio compunha-se da machina,<br />
fourgon e 5 carruagens.<br />
Ha por ahi um valente...<br />
O general Queiroz, janizaro façanhudo<br />
ás or<strong>de</strong>ns da monarchia, generalíssimo<br />
das guardas municipaes e tarraxa das<br />
instituições, tenciona, ao que parece,<br />
exhibir em publico as suas tropas gloriosas,<br />
immortalisadas já em campanhas<br />
memoráveis, passando-ihes uma revista<br />
era parada.<br />
Revista em fórma, <strong>de</strong> fazer assara-<br />
Ihopar o Zé, que é este o fim do famoso<br />
general.<br />
E dadas as condições <strong>de</strong> pasmaceira,<br />
caracterisliscas do povo alfacinha, o provável<br />
é que elle fique boquiaberto, pasmadinho<br />
mesmo, perante o espectáculo marcial<br />
que o general Queiroz lhe vae servir,<br />
a admirar o aspecto garboso dos 1:700<br />
mancipaes <strong>de</strong>. bigo<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> tremer, firmes,<br />
bem postos na sua formatura bellica,<br />
..muralhas vivas...<br />
E o bravo general, soberbo, mages-toso,<br />
no seu cavallo <strong>de</strong> combate, a passo,<br />
lançando miradas minuciosas ás suas<br />
hostes.. .<br />
De respeito... <strong>de</strong> respeito...<br />
Valente general I<br />
C.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Aggregiâo brutal<br />
O Garibaldi é um carpinteiro, com<br />
est.incia <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira no becco do Bacalhau",<br />
on<strong>de</strong> mora. Chama-se Joaquim<br />
Henriques Marques, é casado em segundas<br />
núpcias, muito estouvado e um<br />
pouco piteireiro, não gozando <strong>de</strong> boa<br />
fama como chefe <strong>de</strong> família.<br />
Nunca o Garibaldi, apezar das suas<br />
constantes camoecas, <strong>de</strong>ra provas <strong>de</strong> instinctos<br />
ferozes, e se armava alguma <strong>de</strong>s-<br />
or<strong>de</strong>m, ou provocava algum banzé, era<br />
com o fim <strong>de</strong> dar o corpo ao sacrifício,<br />
que em laes occasiões era qual bombo<br />
<strong>de</strong> festa.<br />
No seu estado normal, muito tratavel,<br />
e dizem que cuidadoso nos seus negocios<br />
; com a pinguita insupporlavel, chegando<br />
a ser insolente.<br />
Succe<strong>de</strong> que na segunda feira <strong>de</strong><br />
manhã o Garibaldi muito <strong>de</strong>sesperado<br />
porque o filho do Azevedo havia batido<br />
num filho d'elle, arma-se d'um machado,<br />
e entrando em casa do seu inquilino,<br />
José Maria d'Azevedo, força a porta do<br />
quarto, on<strong>de</strong> o pobre homem se estava<br />
tratando d'uma pneumonia.<br />
Trocam-se umas palavras, ha uns<br />
ditos e nesta altura o Garibaldi pucha<br />
do machado e arremessa-o á cabeça do<br />
enfermo produzindo-lhe um grave ferimento<br />
; e lel-o-ia morto se o Azevedo<br />
não fizesse das. fraquezas forças, segurando-lhe<br />
o machado por alguns segundos.<br />
A mulher do aggredido aco<strong>de</strong>, grila<br />
por soccorro, e então Garibaldi convertido<br />
em be-ta-fera, investe com a pobre<br />
mulher, que seria mais uma victima se<br />
ella se não escapa para a cozinha, on<strong>de</strong><br />
se fecha.<br />
Vem gente, os visinhos, e um cunhado<br />
do aggredido <strong>de</strong>sarmam o Garibaldi, que<br />
é conduzido á esquarda entre dois policias,<br />
<strong>de</strong> machado ao hombro.<br />
O pobre Azevedo, em completa prostração,<br />
per<strong>de</strong> os sentidos e é levado numa<br />
maca para o hospital pelos bombeiros da<br />
salvação publica.<br />
Este caso produziu sensação no publico<br />
havendo pelo criminoso uma justificada<br />
repulsão pelas aggravantes do<br />
crime.<br />
Garibaldi está preso, dando entrada<br />
na ca<strong>de</strong>ia ; e o Azevedo, segundo as informações<br />
que temos vae experimentando<br />
algumas melhoras.<br />
*<br />
Cabe aqui recordar aos nossos leitores<br />
a <strong>de</strong>sgraçada situação em que vive<br />
a famiíia <strong>de</strong> José Maria d'Azevedo, on<strong>de</strong><br />
ha muila creança a sustentar e on<strong>de</strong><br />
falta o braço protector do chefe. Os que<br />
po<strong>de</strong>rem soccorrer esta <strong>de</strong>sventurada<br />
gente praticam- uma boa acção e contribuem<br />
para attenuar a miséria e a fome<br />
com que está luctando aquella familia.<br />
O nosso amigo C.<br />
Cartas da Felgueira, d'essa estancia<br />
thermal encravada era montanhas adus-<br />
tas, d'um pitloresco ri<strong>de</strong>nte, começamos<br />
hoje a dal-as aos nossos leitores, mercê<br />
d,'um obsequio especial do nosso amigo<br />
C., que para alli partiu ha dias, e que<br />
nos promette continuar a envial-as.<br />
Que elle não se esqueça do prometlido<br />
e que não se absorva completamente<br />
em improvisar bailes ao ar livre para<br />
fazer dançar as raparigas. . .<br />
Que maganão nos saiu o nosso amigo<br />
C *..<br />
Trovoada<br />
Não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> si gran<strong>de</strong>s benefícios,<br />
e os pobres lavradores das nossas circumvisinhanças<br />
lamentam oi prejuízos<br />
soffridos.<br />
Fortes saraivadas inutilisaram a novida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>struindo as vinhas que apresentavam<br />
um aspecto promettedor; e as<br />
innundações vão continuando a obra <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>struição, o quo faz presagiara todos<br />
um mau anno <strong>de</strong> lavoura.<br />
Felizmente, que nos conste, a trovoada<br />
não fez <strong>de</strong>sgraças pesoaes, apezar<br />
<strong>de</strong> cahirem muitas faíscas eleclricas<br />
nas freguezias ruraes <strong>de</strong> S. Martinho, S.<br />
João do Campo, S. Silvestre e em Tentúgal,<br />
on<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>rrotados uns choupos,<br />
que estavam proximos da egreja<br />
parochial.<br />
Des<strong>de</strong> domingo que a trovoada nos<br />
<strong>de</strong>ixou, legando-nos uns dias chuvosos<br />
e aborrecidos, que nos prohibem gozemos<br />
os <strong>de</strong>liciosos e pittorescos passeios<br />
que a nossa <strong>Coimbra</strong> possue.<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Matliematica<br />
Foi <strong>de</strong>cidido em congregação da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Mathematica que os exercícios<br />
escholares fin<strong>de</strong>m no dia 17 do proximo<br />
mez <strong>de</strong> junho, á excepção da do<br />
primeiro anno que será no dia 23.<br />
Vandalismo<br />
Um grupo <strong>de</strong> noctívagos, muito bêbados<br />
e muito arruaceiros, quebrou uma<br />
arvore no largo das Ameias, numa noite<br />
<strong>de</strong> estúrdia.<br />
A policia passou <strong>de</strong>sapercebido o<br />
vandalismo, pois que ella nunca apparece,<br />
e apezar da informação dos vigias<br />
o caso passou em julgado.<br />
Diz-se que ha ahi quem compre os<br />
policias, obrigando-os a fazer vista baixa,<br />
quando a turbulência da bebe<strong>de</strong>ira é escandalosa.<br />
O sr. coramissario é que podia colher<br />
informações a este respeito.<br />
Kieonidas Lobo<br />
Depois <strong>de</strong> doloroso soffrimento falleceu<br />
este <strong>de</strong>sventurado rapaz, que <strong>de</strong>ixa<br />
inconsolável sua extremosa mãe.<br />
Pertencia o finado á Associação ílumanitaria<br />
dos Bombeiros Voluntários,<br />
on<strong>de</strong> prestou bons serviços. Ao seu funeral<br />
assi>tiram muitas pessoas, fazendo<br />
se representar as diversas corporações<br />
dos bombeiros.<br />
Fechava o cortejo fúnebre a philarmonica<br />
Boa-União.<br />
O cadaver era conduzido na carreta<br />
da corporação e apezar da chuva que<br />
caiu quasi torrencial muita gente foi ao<br />
cemiterio. Alli faltaram os sri. Augusto<br />
José Gonçalves Fino, Joaquim Teixeira<br />
<strong>de</strong> Sá, José Serrano e José Cruz,.consocios<br />
do finado, exaltando as qualida<strong>de</strong>s<br />
do morto o sr. Julião da Veiga.<br />
A' familia do <strong>de</strong>sventurado moço enviámos<br />
a expressão do nosso sentimento.<br />
Exames <strong>de</strong> licenciado<br />
Na segunda feira faz exame <strong>de</strong> licenciado<br />
na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o sr. Arthur<br />
Montenegro.<br />
Nos princípios do proximo mez também<br />
se apresentará a exame na Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Philosophia, o sr. Ruy Telles<br />
Palhinha, <strong>de</strong> Angra do Heroísmo.<br />
Matcli veiocipedieo<br />
Devido a uma confusão <strong>de</strong> nomes<br />
dissémos em o numero passado que do<br />
matcli fazia parle o sr. Augusto Borges<br />
d'Oliveira, quando é o sr. Antonio<br />
Rodrigues d'Uiiveira.<br />
Este senhor tomou parte na corrida<br />
realisada pelos festejos da Rainha Santa,<br />
obtendo medalha <strong>de</strong> cobre.<br />
Logo que o tempo esteja bom realisar-se-ha<br />
este <strong>de</strong>safio que eslá <strong>de</strong>spertando<br />
vivo interesse.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
O nosso amigo, sr. João <strong>de</strong> Menezes,<br />
acaba <strong>de</strong> sofírer a dôr do fallecimenlo<br />
d'uma sua filhinha,a Clarita, victima d'uma<br />
angina diphterica.<br />
Um aperto <strong>de</strong> mão ao nosso amigo.<br />
# Tem èstado doente o sr. José<br />
Francisco da Cruz, honrado industrial<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, a quem <strong>de</strong>sejamos promptas<br />
melhoras.<br />
# lletirou-se na segunda feira para<br />
Gon<strong>de</strong>lim, on<strong>de</strong> rege com proficiência a<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> instrucção primaria, o nosso<br />
amigo sr. José Julio <strong>de</strong> Sousa Henriques.<br />
# Passaram no dia 16 nesta cida<strong>de</strong><br />
com direcção a capital os nossos bons<br />
amigos e conceituados negociantes do<br />
Porto, srs. Joaquim Antonio Ma<strong>de</strong>ira e<br />
David d'Almeida <strong>Coimbra</strong>.<br />
Os nossos amigos vão em viagem <strong>de</strong><br />
recreio tencionando visitar Setúbal e<br />
mais alguns pontos do Sul. Em Lisboa<br />
hospedar-se-hão no hotel Francfort.<br />
Boa fiagem e que gozem a valer.<br />
Movimento commercial<br />
Agio—Premio das libras: 900 rs.<br />
ouro nacional, 17;<br />
Prata ja não tem agio.<br />
*<br />
Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 560—Dito<br />
tremez 660 — Milho branco 32-0 —Dito<br />
aiuarello 330 — Feijão vermelho 520 —<br />
Dito branco 420 — Dito rajado 320 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 410 — Centeio 440—Cevada<br />
240 — Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 —- Dito<br />
meudo 650—Favas 420—Tremoços 280.<br />
Azeile a 1$500.<br />
Ura facchino, inlelligente ou estúpido, Davara nove horas no Aiberg <strong>de</strong>i Po- <strong>de</strong> absoluto isolamento; o menor esque- exercício da mais bellas das virtu<strong>de</strong> — a<br />
á vonta<strong>de</strong>, foi o mensageiro escolhido e ver\; Paulo entrou nesse purgatório episcimento d'esta pru<strong>de</strong>nte resolução abriria gratidao!<br />
bem pago para levar as duas cartas, uma tolar, on<strong>de</strong> tantas almas <strong>de</strong>soladas es- uma brecha á melidicencia e á calumnia ; Com laes sentimentos no coração<br />
a Memma ao palacio <strong>de</strong> Santa-Scala, a peram <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> uma gra<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>s- mas não posso <strong>de</strong>ixar partir para França uma mulher não teme nunca per<strong>de</strong>r-se;<br />
outra a Débora, a S. Pedro <strong>de</strong> Arena. graça ou a sua ventura.<br />
o sr. Greant, sem lhe exprimir <strong>de</strong> viva nada receia, quando cumpre um <strong>de</strong>ver :<br />
Quando tinha passado o tempo ne- O empregado da posta restante é voz toda a gratidão, que o seu nobre o mal nunca loi produzido pelo bem.<br />
cessário para a carta, escripla a Memma, sempre o mesmo em todas as partes do procedimento me inspirou.<br />
Assim tinha raciocinado Memma e<br />
ter chegado ao seu <strong>de</strong>stino, Paulo expe- mundo.<br />
Conheço a sua lealda<strong>de</strong> e não hesito nenhum sentimento seria bastante po<strong>de</strong>rimentou<br />
um pesar mortal por ter feito Só muda <strong>de</strong> nome e <strong>de</strong> lingua. E' em recebel-o durante alguns inslantes roso para a <strong>de</strong>sviar do encontro <strong>de</strong> um<br />
semelhante tentativa, que agora lhe pa- um ser taciturno, distraindo, que ouve para me fazer as suas <strong>de</strong>spedidas.<br />
minuto, a que se <strong>de</strong>veria seguir uma<br />
recia revoltantemente absurda.<br />
mal e que olha para a gente com as A' uma hora da tar<strong>de</strong> estará <strong>de</strong>serta eterna separação.<br />
— Na verda<strong>de</strong>, disse elle a si mes- orelhas. Paulo Gréant repetiu tres vezes a rua escarpada que sobe por fóra do Borbulharam no coração <strong>de</strong> Gréant<br />
mo, a febre e a insonínia alteraram o o seu nome e v-io os dois <strong>de</strong>dos do em- jardim. Ha ahi uma porta velha e baixa as commoções mais opposlas, quando<br />
meu cerebro! Escrever a uma mulher pregado tirar uma carta do comparti- entre dois cypresies. A porta ha <strong>de</strong> acabou <strong>de</strong> ler aquella carta; mas em<br />
indigna, que em tão pouco tempo esquece mento G; uma carta que tinha um abrir-se, quando o sr. Gréant chegar, seguida confundiram-se todos em uma<br />
os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> esposa e que recebe o signal e que por isso facilmente se re- mas não se tornará a fechar.<br />
só, que se resumia em tres palavras: —<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi todas as noites! Oh! conhecia. Estava assignalada no subs- «Não lhe digo agora a<strong>de</strong>us.<br />
vou vel-a I<br />
meu Deus! restitui-meo juízo, estou doido! criplo.<br />
Ficara para logo as <strong>de</strong>spedidas.<br />
Esperando a hora solemne do encon-<br />
Paulo assenlou-se, apoiando a cabeça Paulo poz toda a sua alma na carta,<br />
tro, havia duas expressões, que vinham<br />
nas mãos, para verificar pela reflexão se antes <strong>de</strong> a abrir; uma convulsão <strong>de</strong> ori-<br />
estavam intactas as suas faculda<strong>de</strong>s in-<br />
*M...»<br />
involuntariamente á memoria do artista,<br />
gem <strong>de</strong>sconhecida percorreu a sua epi-<br />
reconhecimento e isolamento.<br />
tellectuaes.<strong>de</strong>rme,<br />
como se neste momento elle ti- Esta carta, tão clara para a mulher, De que reconhecimento fallava Mem-<br />
Teve um dia <strong>de</strong> agonia, um d'estes vesse um sexto sentido.<br />
que a escreveu, tinha algumas palavras ma?<br />
dias que não servem senão para esperar O papel aristocrático exhaiava um obscuras para Gréant. Memma no fundo Sem duvida ella estava agra<strong>de</strong>cida á<br />
o dia seguinle e que <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> se perfume <strong>de</strong> lirio, que obscureceu, como da sua alma julgava, que não podia ra- submissão silenciosa, com que elle tinha<br />
supprimiriam, se po<strong>de</strong>ssemos riscar da uma nuvem, os olhos do leitor.<br />
zoavelmente recusar um a<strong>de</strong>us, como obe<strong>de</strong>cido ás suas or<strong>de</strong>ns.<br />
nossa vida todas as horas inúteis, que Que tempo e que esforço foram prè- recompensa do sangue <strong>de</strong>rramado por Quanto ao isolamento era mais diffi-<br />
nos separam do momento esperado. cisos para ler alé ao fim as linhas se- causa d'ella e sobretudo um a<strong>de</strong>us supremo cil a explicação, pois que Talormi <strong>de</strong>scia<br />
Mas, quando esse momento chegou, guintes :<br />
na vespera da partida <strong>de</strong> Paulo. Que <strong>de</strong> visita aos jardins <strong>de</strong> Santa-Scala e<br />
no fim d'um século, todas as esperanças «Deus é testemunha <strong>de</strong> que eu, res- mulher não proce<strong>de</strong>ria da mesma fórma <strong>de</strong>struía com a sua presença criminosa<br />
<strong>de</strong> Gréant se dissiparam e elle ria-se pon<strong>de</strong>ndo á sua carta, julgo praticar uma em uma posição semelhante?<br />
esse isolamento absoluto.<br />
amargamente <strong>de</strong> si mesmo, dirigindo-se acção boa e honesta: pois que o reco- Não era uma entrevista, era ura en-<br />
para es«a repartição da posta restante, nhecimento não é um crime, com o é a contro <strong>de</strong> um instanto, — o ultimo, o<br />
que elle na vespera havia <strong>de</strong>signado para ingratidão.<br />
mais innocenle: um momento, rápido,<br />
theatro <strong>de</strong> uma inevitável mystificação. «A minha posição impõe-me o <strong>de</strong>ver como um relampago, e consagtado ao<br />
I mpresso na Typographia<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
ANNO I—N.° 9» O DEFENSOR 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> t8»8<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
vim os rsorumoG<br />
119 ¥ en<strong>de</strong>-«e uma proprieda<strong>de</strong> que<br />
se compõe <strong>de</strong> terra lavradia,<br />
pomar, arvores <strong>de</strong> fructo, vinha e casas<br />
<strong>de</strong> habitação, <strong>de</strong>nominada o Casal do<br />
Valle da Serra, em S. Martinho. Tem<br />
boa estrada que vae da Guarda Ingleza<br />
para a Quinta Agrícola.<br />
Para informações na Praça do Commercio<br />
n.° 14, 1.°.<br />
SANTA CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
118<br />
DE<br />
JOSÉ M O R I M B. MIRANDA<br />
ita fabrica continua a pro-<br />
Í duzir as melhores qualida-<br />
<strong>de</strong>s <strong>de</strong> massas, pelos mesmos preçoi,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholameu,<br />
e bem ansim communicação telephonica<br />
com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
«uccessor, no largo do Principe D. Carlos,<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />
ipioms<br />
A preto e a côres<br />
Imprimem-se na<br />
TYP. OPERARIA<br />
C O I M B R A<br />
C A I X E I R O<br />
^reeiga-ae <strong>de</strong> um com bastante<br />
116<br />
F pratica <strong>de</strong> mercearia.<br />
Prefere-se <strong>de</strong> 24 a 27 annos d'eda<strong>de</strong>,<br />
e que tenha praticado nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Para tratar na<br />
MERCEARIA AVENIDA<br />
LARGO DO PRÍNCIPE D. CARLOS<br />
COIMBRA<br />
A QUEM PRECISE<br />
117<br />
en<strong>de</strong>m-se umas estantes<br />
¥ quasi novas; são próprias<br />
para mercearia, ou outro negocio.<br />
Para tratar com João Vieira da Silva<br />
Lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />
UlAIHtAXTS<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para 1893.<br />
Base louga, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSÉ LUIS MASTINS SE ARAUJO<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadrante<br />
l*enda® pelo preço da Fabrica,*<br />
W Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17 - ADRO DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
2 A RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
XI. e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e setim, em todas as côres e larguras. Eças dou •<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENGIA<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral—'Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
«St C. a<br />
N. B. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
i <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
DA F<br />
DE<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, (30<br />
g IVíESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
ll junto e a retalho, lodos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
P 1 M T O R<br />
(OFFICINA)<br />
S I E V A M O U T I N H O<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 jgtnearrega-se da (intnra <strong>de</strong> taboletas, casas, douram<br />
Çôes <strong>de</strong> egrcjasf forrar easas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Na mesatia offlclna se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS GOMMODOS<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Fltfres<br />
I F - D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—P.orto<br />
CASA FILIAL EM LISBOA: RUA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Ú n i c o r e p r e s e n t a n t e e m C o i m b r a<br />
JDÃD mnmm.mu, SDCG&SSOB<br />
17—ADRO bE CIMA —20<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
M F F I U I I SEGUROS -TAGH8<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉU 1.800:000^000<br />
K<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉU 91:000^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° 14-1.°<br />
CONTRA DESPES E EHPIB&IS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUT1C0<br />
RI. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA: — Serze<strong>de</strong>llo tf Comp: a — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
BICYCLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101—Rua do Viseon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
C O I M B R A<br />
93 E***® «»sa acaba <strong>de</strong> receber um<br />
iU esplendido sortido <strong>de</strong> Bicycletes<br />
dos primeiros auctores, como é tlumber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôcas.<br />
A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mondou<br />
vir, e já tem á venda, Bicycletes<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120$000 réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110-$000!1!<br />
Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores.<br />
COMPANHIA SE SE&UROS<br />
«FIDELIDADE»<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Capital ri. 1.344:000.^000<br />
79 E" B * a companhia, a mais po-<br />
M <strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> Portugal, toma seguros<br />
contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobilias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong> — Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinhas, n.° 45.<br />
ilOPKE u<br />
MARCA «ANCORAS»<br />
105<br />
en<strong>de</strong>-se no estabelecimento<br />
<strong>de</strong><br />
JULIO »A CUNHA PINTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
JULIÃO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />
8 " e u a n t '£° estabelecimento<br />
I I concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portugueza,<br />
pelos seguintes preços:<br />
Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2/000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis. Guarda-sol para senhora, 1$700<br />
réis. Sombrinhas para ditas, 1^500 réis.<br />
ACTDRAS<br />
IMPRIMEM-SE<br />
Typographia Operaria<br />
Largo da Freiria, 14<br />
C o i m b r a<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 â ,,9M " tw 5[, " ,e> n A e ~ m t > Ul1111 quinta com paúl<br />
W para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA •<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
^ jg* mpre«ta-«e dinheiro sobre<br />
objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a (i — COIMBRA.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, i.*<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATORâ<br />
Com estampilha<br />
Anno 2Í700<br />
Semestre.... 10350<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 21400<br />
Semestre.... 21*00<br />
Trimestre... 60Q
A choldra monarcMca<br />
Que onda <strong>de</strong> repulsão <strong>de</strong>ve merecer<br />
a todos essa tropa fandanga<br />
<strong>de</strong> políticos, que para ahi tripudia<br />
sobre tudo o que é justo ; que <strong>de</strong><br />
asco inspira essa bambochata, <strong>de</strong><br />
partidos monarchicos, que antepõem<br />
os seus interesses <strong>de</strong> corrilho<br />
aos interesses e bom nome do<br />
seu paiz, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>, na balofa rhetorica<br />
das gran<strong>de</strong>s occasiões, berrarem<br />
a todos os ventos, em longas<br />
tiradas campanudas, que só <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />
e só querem os interesses<br />
do povo, a moralida<strong>de</strong> na administração,<br />
a justiça, a honestida<strong>de</strong> em<br />
tudo — bombas <strong>de</strong> effeito para iilusão<br />
dos ingénuos! Que tédio e<br />
que profundo <strong>de</strong>sprezo tudo isto<br />
causa!<br />
Surgiu ha pouco na imprensa<br />
monarchicu uma questão vergonhosa,<br />
um escandalo que se pren<strong>de</strong> a<br />
um latrocínio ignóbil; adduzem-se<br />
documentos preciosíssimos para a<br />
historia da ladroeira; fazem-se affirwiações,<br />
que são outras tantas<br />
accusações dirigidas <strong>de</strong> cabeça levantada,<br />
abertamente, a aitos figurões<br />
d'este paiz <strong>de</strong>lapidado; as provas,<br />
longe <strong>de</strong> escassearem/ palenteiam-se<br />
aos montões; — prova-se,<br />
emfim, que o nosso paiz foi viCtima<br />
d'um roubo <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> contos,<br />
empolgados pelos traficantes das finanças<br />
em negociatas vilipendiosas.<br />
Questão levantada no parlamento<br />
e para logo abafada; pe<strong>de</strong>mse<br />
documentos, fogem <strong>de</strong> os apresentar;<br />
procura-se por todos os modos<br />
occullar ao paiz o monumental<br />
escandalo, o vergonhoso roubo, a<br />
infame ladroeira do emprestimo <strong>de</strong><br />
D. Miguel.<br />
Mas, apezar <strong>de</strong> .todos os esforços,<br />
a vergonha não se occulla; a<br />
questão renasce na imprensa amplamente<br />
tratada e <strong>de</strong> tal modo,<br />
que nem a judiaria da finança conseguiu<br />
amordaçar a voz reveladora<br />
da veniaga, nem o trunfo politico<br />
conseguiu eliminar o jornalista que<br />
a expoz á publicida<strong>de</strong>. A pouca Vergonha<br />
foi entregue ao po<strong>de</strong>r judicial.<br />
Não era, porém, o bastante. Era<br />
indispensável que a acção morosa<br />
do po<strong>de</strong>r judicial fosse auxiliada<br />
efficazmente por um inquérito parlamentar,<br />
porque só este po<strong>de</strong>ria<br />
fazer projectar uma luz <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>ncia<br />
inelutável sobre esse estendal,<br />
acobertado-pelos interesses miseráveis<br />
d'uns e pela subserviência ignóbil<br />
d'oulros.<br />
A immoralida<strong>de</strong> d'esta questão,<br />
a torpeza d'este escandalo, <strong>de</strong>viam<br />
impôr-se a lodos os que lêem por<br />
obrigação, <strong>de</strong>rivada da sua interferência<br />
directa nos negocios públicos,<br />
zelar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, sem tergiversações<br />
nem tibiezas, os interesses<br />
do paiz. Os partidos políticos no<br />
parlamento tinham o <strong>de</strong>ver impreterível<br />
<strong>de</strong> envidar lodos os seus esforços<br />
em favor d'esla causa <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>scobrindo e apontando,<br />
energica e altivamente ao paiz os<br />
bandoleiros, aos tribunaes os criminosos,<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
Seria este o caminho imposto<br />
pelo <strong>de</strong>ver a lodo o homem <strong>de</strong><br />
honra.<br />
Não o enten<strong>de</strong>ram, porém, assim,<br />
os magnales d'um partido monarchico,<br />
que blasona <strong>de</strong> liberal e<br />
<strong>de</strong>moralão; longe d'isto, muilo longe,<br />
que moralida<strong>de</strong>, e justiça e caros<br />
interesses da palria, são palavras<br />
sem sentido nos partidos monarchicos,<br />
a que só conhecem o valor<br />
<strong>de</strong> embasbacar papalvos.<br />
E por isso que ainda ha pouco,<br />
na camara dos <strong>de</strong>putados, um d'esles<br />
partidos oífereceu ao paiz a prova<br />
mais frisante do valor moral que<br />
o exorna.<br />
Um progressista graúdo, dos<br />
mais chegados ao sacerdos magnus<br />
da grei, o <strong>de</strong>putado Francisco <strong>de</strong><br />
Castro Matloso Côrte-Real, para<br />
apresentar á camara a proposta <strong>de</strong><br />
um inquérito parlamentar sobre<br />
aquella immoralissima questão, teve<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar, salvaguardando assim<br />
os interesses do partido a que tem<br />
a honra <strong>de</strong> pertencer, que a responsabilida<strong>de</strong><br />
da proposta <strong>de</strong> modo nenhum<br />
se po<strong>de</strong>rá atlribuir ao partido<br />
progressista; e faz a preciosa<br />
<strong>de</strong>claração—que pertence ao seu partido<br />
para o acompanhar em todas as<br />
questões politicas, reservando-se toda<br />
a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção nas questões <strong>de</strong><br />
alta moralida<strong>de</strong>, como é aquella a<br />
que a proposta se refere. Que o <strong>de</strong>clara<br />
assim, para que o não acoimem<br />
<strong>de</strong> indisciplinado.<br />
Declaração preciosa, repelimos;<br />
é um dos membros mais consi<strong>de</strong>rados<br />
do par tido monarchico, que<br />
vem dizer ao seu paiz,—que não é<br />
em nome do seu parlido que se<br />
apresenta na camara a fazer uma<br />
proposta <strong>de</strong> alia moralida<strong>de</strong>; que<br />
não o malsinem <strong>de</strong> indisciplinado,<br />
porque, em questões <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />
não se cinge ás imposições do parlido<br />
a que (ainda assim) tem a honra<br />
<strong>de</strong> pertencer!<br />
Prova cabal <strong>de</strong>-que o parlido<br />
progressista repelle a responsabilida<strong>de</strong><br />
da proposta apresentada,<br />
quando se l-rata <strong>de</strong> punir os auctores<br />
criminosos d'uma enorme ladroeira.<br />
Mas não ficou por aqui o parlido<br />
progressista; logo no dia immediato<br />
o seu pharol official veiu<br />
lornar bem publico, em artigo editorial<br />
(Correio da Noite, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />
maio) — que não aconselhou a proposta<br />
apresentada; que regeila ioda<br />
a responsabilida<strong>de</strong> que d'esse facto<br />
possa resultar; que sente que tal<br />
proposta fosse levada ao parlamento<br />
!<br />
Isto é d'uma indignida<strong>de</strong> revoltante<br />
!<br />
E andam esles marmanjões a<br />
apregoar a lodos os ventos a sua<br />
hombrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracter, a sua nobre<br />
e altiva in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia... Que<br />
tartufos!<br />
Desenganem-se os ingénuos<br />
que, porventura, ainda haja por<br />
ahi — mais reles, mais mesquinhos<br />
do que os mandões d'esla confraria,<br />
se os pô<strong>de</strong> haver, só os outros—os<br />
regeneradores.<br />
Que nesta caranguejola monarchica,<br />
lanlo uns como os outros, só<br />
poij^m inspirar o mais profundo<br />
<strong>de</strong>sprezo.<br />
A Sé Velha<br />
e a commissão dos monumentos<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1881 era o sr. Possidonio<br />
da Silva encarregado pelo ministério<br />
das obras publicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver,'<br />
<strong>de</strong>senhar e medir os mais notáveis<br />
monumentos nacionaes. Deram-lhe ajudantes,<br />
secretario e até um servente!<br />
NSo sabemos quanto este apparato<br />
custou ao paiz; o que é certo é que nunca<br />
ninguém viu o resultado util d'essa<br />
afano-a commissão.<br />
Foi então que em <strong>Coimbra</strong> estudou a<br />
Sé Velha I Ávido <strong>de</strong> luz, na nevrose <strong>de</strong><br />
todas as suas faculda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vassando em<br />
evocações cabalísticas o symbolo mqgestoso<br />
do cintro pleno, •— como Champollion<br />
sobre os hierogtypbos da escriptura<br />
egypcia, —pou<strong>de</strong> surprehen<strong>de</strong>r o<br />
pensamento original do architecto!. ..<br />
E para prova do quanto a sua sagacida<strong>de</strong><br />
perfurou nos mysteriosos arcanos<br />
da vetusta catbedral, basta vêr a<br />
passagem do relatorio que lhe diz respeito.<br />
Vinte e nove linhas!...<br />
Em 1888 ainda no Boletim da Real<br />
Associação dos Arcliiteclos, resumindo todos<br />
os ensinamentos que a sua fértil erudição<br />
possuía sobre um tão valioso tliema,<br />
limitava-se a contestar a proveniência<br />
goda, segundo alguns circumspectos<br />
archeologos, e arabe, segundo outros archeologos<br />
não menos circumspectos; espanejava-se<br />
em assomos <strong>de</strong> legitima vaida<strong>de</strong>,<br />
porque esses conspícuos e dissertos<br />
críticos mais tar<strong>de</strong> reconheceram a<br />
vereda errada que trilhavam; e linalmervte<br />
reportava-se todo inteiro a 188.4!<br />
E neste movimento regressivo, nas mesmas<br />
vinte nove linhas, reiterou em <strong>de</strong>clamação<br />
corriqueira mas firrte, as impressões<br />
pavorosas sobre o portal, que no<br />
seu intellecto abrigava.<br />
Contou no portico doze columnas; e<br />
nunca foram mais <strong>de</strong> oito!<br />
Nota sentenciosamente que—os capiteis<br />
das columnas estão suspensos no ar,<br />
como se quizessem protestar contra a falta<br />
<strong>de</strong> apoio que <strong>de</strong>viam ler,—sem reparar<br />
que bem mais expressivo seria esse protesto,<br />
se em vez <strong>de</strong> suspensos no ar, se<br />
<strong>de</strong>ixassem cahir por terra !...<br />
Finalmente confrange-se-lhe a alma,<br />
ao vêr a —porta <strong>de</strong> boa ma<strong>de</strong>ira esíaliada<br />
por se lhe não ter renovado a pintura<br />
ha muitos annos t<br />
Como <strong>de</strong>ve ser doloroso ao coração<br />
d'um archeologo vêr uma porta estallada,<br />
porque a ignorancia lhe recusa am punhado<br />
<strong>de</strong> almagre e dois litros <strong>de</strong> oleo<br />
<strong>de</strong> linhaça 1....<br />
Ouçamos esta voz dilacerante, era<br />
cópia textual :<br />
«Quem contemplar o imponente<br />
portal principal d'es'te venerado ediflcio<br />
religioso, e ooservar boja o aspecto<br />
vergonhoso e <strong>de</strong>smoronado da entrada<br />
para o templo, em que os eapiteis<br />
das doze (alias oito 1) columnas<br />
que <strong>de</strong>coravam o portal estão suspensas<br />
no ar, como se quizessem protestar<br />
contra a falta <strong>de</strong> apoio que <strong>de</strong>viam<br />
ter, e observar o corroído das arestas<br />
dos resaltos das caixas (sic; em que<br />
figuravam, e a sua porta <strong>de</strong> bou ma<strong>de</strong>ira<br />
estando estallada por se lhe não<br />
ter renovado a pintura tia muitos annos,<br />
não po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lastimar e<br />
censurar, por mais indifferente que<br />
seja ao apreço das bellas-artes, a incúria,<br />
<strong>de</strong>sleixo e abandono a que tem<br />
chegado esse edifício.»<br />
E não consta que s. ex. a tenha <strong>de</strong>sferido<br />
voo em mais luminosas lucubrações<br />
ácerca do esplendido monumento I !!<br />
Tal é o facundo critico que <strong>de</strong> longe<br />
está arremessando os dardos da suà reprovação<br />
sobre os obreiros da Sé Velha,<br />
que néscios e vandalicos estão <strong>de</strong>turpando<br />
— o pensamento original do architecto!<br />
I...<br />
Assim é que neste torrão abençoado,<br />
tão fértil <strong>de</strong> reputações faneis, muita<br />
gente consegue o nimbo dos benemerítos<br />
e a benemerencia <strong>de</strong> proventos immerecidos..<br />
. O. formulário do sr. Possidonio<br />
Dão é privilegiado, e os seus processos<br />
<strong>de</strong> celebrida<strong>de</strong> assas divulgados.<br />
Os possidonios abundara I<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 86<br />
do Povo<br />
Foi elle que em 1885, tendo sido encarregado<br />
<strong>de</strong> reformas no palacio d'Ajuda,<br />
escreveu em monographia luxuosa a <strong>de</strong>scripçfio<br />
das obras, e em salamaleques <strong>de</strong>sconchavados<br />
<strong>de</strong> cortezão interesseiro, numa<br />
prostração babosa <strong>de</strong> servo obrigadislimo,<br />
foi espichando sandices contraproducente»<br />
e laudalorias por aquellas quarenta<br />
fastidiosas paginas!...<br />
Como homem dado a sciencias, tem<br />
o seu ultimo trabalho <strong>de</strong> alentado folego :<br />
— Resumo <strong>de</strong> architetura christã, a mais<br />
indigesta e chata rapsódia que possa<br />
produzir uma cabeça sonora I<br />
Foi elle quem assignou o sec. xii ás<br />
arcadas do claustro <strong>de</strong> Cellas! Etc., etc.,<br />
etc.<br />
Em toda a sua obra um facto extranho<br />
se nota: s. ex. a , que mergulha a<br />
fundo no pélago da prehistoria, com a<br />
mesma facilida<strong>de</strong> com que singra, em<br />
viagem <strong>de</strong> recreio, por entre os escolhos<br />
da» antigas civilisações orientaes, da índia<br />
e do Egypto; que passa triumphal<br />
pelas enseadas da- arte grega e romana<br />
e proiegue audaz por sobre as revoltas<br />
ondas da ecla<strong>de</strong>-media, <strong>de</strong> olho rutilo no<br />
horisonte e mão robusta no leme; não<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso, digo, que uma<br />
equivalente erudição e proficiência o não<br />
illustre sobre motivos da historia da<br />
nossa arte nacional!...<br />
Os seus thernas predilectos, as suas<br />
referencias, os seus exemplos, os documentos<br />
que cita, a sua argumentação<br />
repousa quasi exclusivamente sobre monumentos<br />
que s. ex. 8 nunca viu! E' singular<br />
I. . .<br />
Tenho <strong>de</strong>baixo dos olhos um estudo<br />
seu que, como tantos outros, me dá no<br />
gôto: Origem do eslylo ogival na Inglaterra<br />
I<br />
Ora calculem que ventura, a dos<br />
eruditos inglezes!.,.<br />
Mas é feliz. A lenda dos seus méritos<br />
circumda-o com a aureola dos pre<strong>de</strong>stinados.<br />
Os seus trabalhos <strong>de</strong> investigação,<br />
<strong>de</strong> analyse e <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação<br />
histórica não lhe fazem gran<strong>de</strong> peso na<br />
bngagem ; mas é um vulto consagrado !<br />
E' quanto basta !...<br />
Continue s. ex. a gozando, e os seus<br />
companheiros, do» favores da contemplação<br />
publica e das mercês concomitantes;<br />
não queira nunca porém invadir a esphera<br />
dos préstimos alheios...<br />
Porque s. ex. a para exercícios <strong>de</strong><br />
mor<strong>de</strong>dura tem as maxilas fracas; e por<br />
que, mesmo no seu papel <strong>de</strong> Narciso e<br />
<strong>de</strong> Possidonio, só po<strong>de</strong>rá ser apreciavel<br />
CORI a condição fundamentavel <strong>de</strong> ser<br />
bera intencionado e <strong>de</strong> ser manso I<br />
João Chagas<br />
CA.<br />
Pelos jornaes <strong>de</strong> Lisboa sabemos que<br />
o eslado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do distincto jornalista<br />
republicano é animador e que a febre<br />
lem <strong>de</strong>clinado nestes últimos dias.<br />
Itegosija-nos este facto, que <strong>de</strong>ve<br />
alegrar os nossos correligionários que<br />
tanta affeição <strong>de</strong>dicara ao illustre jornalista.<br />
*<br />
Na quinta feira seguiu para o Porto<br />
e logo que esteja restabelecido assumirá<br />
a direcção d 'A Portugueza.<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Começam a <strong>de</strong>spertar no paiz um<br />
vivo clamor <strong>de</strong> protesto as novas exigencias<br />
ao contribuinte, feitas pelo sr. ministro<br />
da fazenda; e tanto mais isto era<br />
<strong>de</strong> prever, quanto se sabe as precarias<br />
circumstancias do povo e a situação <strong>de</strong>sgraçada<br />
a que nos reduziu essa alluvião<br />
<strong>de</strong> crises que estão produzindo agora os<br />
seus nefastos elfeitos.<br />
Pe<strong>de</strong>-se a todos: á industria, á agricultura,<br />
ao commercio e quasi em paz<br />
se <strong>de</strong>ixam as gran<strong>de</strong>s companhias d'on<strong>de</strong><br />
saem gordos capitalistas, que têm esterelisado<br />
os cofres públicos.<br />
Em Faro, lavra gran<strong>de</strong> indignação<br />
entre os lavradores algarvios pelo novo<br />
regimen dos alcooes, segundo o qual<br />
será impossível distillar figo e alfarroba.<br />
Se a lei fôr approvada, os lavradores<br />
sofTrerão graves prejuízos.<br />
Preparam se energicas reclamações<br />
por parte <strong>de</strong> toda a província.<br />
Pelo novo projecto <strong>de</strong> lei sobre os<br />
alcooes, esta industria é ru<strong>de</strong>mente ferida<br />
e com ella todos os agricultures que se<br />
entregam ao cultivo dos productos <strong>de</strong>stiljaveis.<br />
A nossa província do Algarve que tem<br />
a sua maior producção agrícola é em figo<br />
e alfarroba, vê-se completamente arruinada,<br />
mercê da ignorancia do sr. ministro<br />
da fazenda, que no seu relatorio dá<br />
como producto caro o figo e a alfarroba<br />
e <strong>de</strong> inferior producção d'alcool!<br />
Num energico e vigoroso artigo respon<strong>de</strong><br />
a esta falsa asserção o nosso col- -<br />
iega a Folha do Povo, dizendo que as<br />
fabricas do districto do Porto e <strong>de</strong> Torres<br />
Novas durante a regencia do grémio só<br />
<strong>de</strong>stillaram figo.<br />
O figo não é um producto caro, e<br />
a prova <strong>de</strong> que o não é, é que as fabricas<br />
aproveitara-no para a <strong>de</strong>stillação;<br />
nem tão pouco ha falta d'elle, porque <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> feita a exportação ainda fica no<br />
Algarve figo suflicienle para que umas<br />
poucas <strong>de</strong> fabricas trabalhem todo o<br />
anno.<br />
Ainda ha pouco a companhia dos<br />
alcooes <strong>de</strong> Portugal requereu licença<br />
para estabelecer em Faro uma fabrica <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>stillação, empregando o figo e a alfarroba.<br />
E vem o sr. ministro da fazenda<br />
dizer-nos que o figo e a alfarroba estão<br />
fóra da questão!<br />
On<strong>de</strong>^se quiz chegar, sabemos nós,<br />
mas isso fica para analysar <strong>de</strong>pois.<br />
O que é preciso, é que a província<br />
do Algarve reaja energicamente contra<br />
o projecto <strong>de</strong> lei do sr. ministro da fazenda,<br />
que representa um simples<br />
monopolio, e que só vae servir os<br />
interesses <strong>de</strong> escuros syndicatos.<br />
Aos protestos do Algarve seguir-sehão<br />
os das fabricas do Porto, que começam<br />
a protestar também já contra o<br />
aborto ministerial.<br />
Mantenham-s« todos numa altitu<strong>de</strong><br />
firme, e o sr. Augusto Fuschini ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />
na^aveta da sua secretária o seu merifico<br />
projecto que nunca <strong>de</strong> lá <strong>de</strong>vera ter<br />
saído.<br />
Seja também o nosso grito :<br />
Abaixo a proposta do aloool!<br />
*<br />
Em Lisboa também vae reunir a<br />
Associação real d'agricultura e a do s<br />
proprietários para protestarem contra a s<br />
medidas <strong>de</strong> fazenda referentes á contri"<br />
buição predial.<br />
Espera-se, pois, que o paiz se erga<br />
a exigir do ministro a revogação <strong>de</strong><br />
novos impostos, principalmente d'aquelles<br />
que vem aggravar mais as classes que<br />
trabalham, e que <strong>de</strong>vem raerecér dos<br />
governos toda a protecção.<br />
Sobrecarregar, no actual estado <strong>de</strong><br />
cousas, com pezadosimpostos, a industria,<br />
a agricultura e o commercio é querer<br />
aniquilar e per<strong>de</strong>r as principaes fontes<br />
<strong>de</strong> receita d'um paiz que está era ruina<br />
e em bancarrota simulada.<br />
Por isto nos insurgimos contra as<br />
propostas <strong>de</strong> fazenda que vem exigir do<br />
contribuinte maiores contribuições e aconselhamos<br />
o paiz a que se reúna e proteste<br />
contra a pertinacia dos nossos governantes<br />
em sacrificar o povo, quando<br />
estão dispensando altas protecções ás<br />
classes elevadas, que não pagam ao estado<br />
o correspon<strong>de</strong>nte ás suas fortunas.<br />
Abaixo os impostos !<br />
Banco do Povo<br />
No tribunal da Relação <strong>de</strong> Lisboa vae<br />
muito em breve ser julgado o celebre<br />
processo d'este banco, on<strong>de</strong> se praticaram<br />
roubos importantes.<br />
A <strong>de</strong>cisão do tribunal é esperada<br />
com interesse pois se <strong>de</strong>seja que não<br />
fiquem impunes ladrões tão <strong>de</strong>scarados<br />
e tão ruinosos para a socieda<strong>de</strong>.<br />
Veremos agora se a justiça cumpre<br />
o seu <strong>de</strong>ver em face das provas esmagadoras<br />
que ha contra os criminosos.
AWO I — !¥.• 88 O DEFEXSOR DO POVO , »1 <strong>de</strong> llialo <strong>de</strong> 189S<br />
CEYSTAES<br />
A minha Aurora<br />
COMEDIA EM 1 ACTO, EM YEltSO<br />
SCENA III<br />
Felieberto e Aurora<br />
FELISBERTO<br />
(Sentando a filha nos joelhos)<br />
Mas dize cá, creança inexperiente,<br />
Tu, com franqueza, pensas em casar ?<br />
AURORA<br />
O papá tem perguntas, realmente...<br />
Em que hei <strong>de</strong> eu pensar?<br />
FELISBERTO<br />
Em mim, e nas bonecas.<br />
AURORA<br />
Nesta eda<strong>de</strong> ?!<br />
Distrahir-me com monos d'algodão T<br />
(rindo)<br />
Tem graça, na verda<strong>de</strong>I<br />
Soberba distracção!<br />
FELISBERTO<br />
Pois, filha, os outros monos são peiore»:<br />
Acairetam profundos dissabores<br />
De magua e <strong>de</strong> pesar,<br />
Acorrentam-se á nossa vida inteira,<br />
E <strong>de</strong>pois não se pô<strong>de</strong> achar maneira<br />
De os <strong>de</strong>sacorrentar!<br />
Ao menos esses d'algodão — coitados 1<br />
Pó<strong>de</strong>s rasgal-os, pôl-os em bocados,<br />
Conforme o teu prazer,<br />
Quenão gemem, não gritam, não se queixam...<br />
— Os outros, tu verás, nunca nos <strong>de</strong>ixam,<br />
E fazem-nos soffrer.<br />
AURORA<br />
Preten<strong>de</strong>, acaso, o meu papá ciumento<br />
Que eu case co'um boneco 1 ?<br />
(rindo)<br />
Muito bem I _<br />
— Leva a casaca velha ao casamento<br />
E a cartola que tem<br />
Trinta annos <strong>de</strong> serviço.<br />
(levanta-se)<br />
PELISBERTO (rindo)<br />
Comprometto-me I<br />
AURORA<br />
Sim ? Conto com isso.<br />
FELISBERTO<br />
Quer's um marido elegante<br />
De lábios côr <strong>de</strong> romã,<br />
O olhar negro, penetrante ?...<br />
AURORA<br />
Que diga «Papàl Mamã 1»<br />
FELISBERTO<br />
Desejas paisano ou tropa ?<br />
AURORA<br />
Quero-o loiro.<br />
FELISBERTO<br />
Logo vi 1<br />
AURORA<br />
Com cabelleira d'estopa<br />
E o rosto <strong>de</strong> biscuit.<br />
FELISBERTO<br />
Isso sim — que tem a fibra<br />
Do fino gosto escolhido I<br />
AURORA (esten<strong>de</strong>ndo a mão)<br />
Papál Papàl meiajibra<br />
Para comprar um marido I<br />
FELISBERTO (dando lhe dinheiro)<br />
Tome lá, cabeça ôcca:<br />
Satisfiz o seu <strong>de</strong>sejo ?<br />
AURORA (olhando a moeda que recebeu)<br />
E o troco ?<br />
FELISBERTO<br />
Yá! Cale a bccca.<br />
O troco dé-m'o num beijo.<br />
(Aurora beija-o)<br />
AURORA (acariciando o pae)<br />
Agora... sério...<br />
FELISBERTO<br />
Ladina!<br />
AURORA<br />
Eu hei <strong>de</strong> ficar solteira<br />
Como a tia Bernardina,<br />
Ou então metter-me freira?<br />
Tenho vinte annos; preciso,<br />
— Sim, papá, preciso agora...<br />
FELISBERTO (calando-lhe a bocca com a mão)<br />
Precisas, sim — <strong>de</strong>juizo;<br />
Pois Deus t'o dé, minha Aurorai<br />
O4ugustò <strong>de</strong> ^Mesquita.<br />
LETTRAS<br />
0 concertador <strong>de</strong> bilhas<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Nenhum d'estes especialistas porém,<br />
foi tão celebre como aquelle <strong>de</strong> que vou<br />
fallar-YOs.<br />
A sua reputação era <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m<br />
que vinham <strong>de</strong> todos os p&izes do mundo<br />
entregar lhe casos <strong>de</strong> bilhas quebradas<br />
os mais diffieeis.<br />
E em verda<strong>de</strong> elle merecia bem esta<br />
gloria, fecunda em proveitos, pelo gran<strong>de</strong><br />
numero e peia perfeição dos seus concertos.<br />
De que processos usaria elle?<br />
Não sei dízel-o; sem duvida morreu sem<br />
revelar o segredo da sua invenção, eos<br />
clironistas da epocha, nos quaes me inspiro,<br />
nada referem sobre tal objecto. O que<br />
é certo é que elle obtinha maravilhosos<br />
resultados. «Não choreis pelo facto <strong>de</strong><br />
ter<strong>de</strong>s as bilhas quebradas», po<strong>de</strong>ria ter<br />
sido a divisa d'este homem util e celebre.<br />
Agora, os maridos mais minuciosos<br />
não soffriam as <strong>de</strong>sagradaveis <strong>de</strong>cepções<br />
que d'antes eram tão frequentes; alguns<br />
dins <strong>de</strong> applicação do methodo bastavam<br />
para fazer <strong>de</strong>sapparecer todas as fendas<br />
do objecto avariado.<br />
Era já sem receio que as meninas se<br />
arriscavam a algum <strong>de</strong>scuido; podiam<br />
contar com elle, restaurador semi-provi<strong>de</strong>ncial<br />
d'uma tão fina fragilida<strong>de</strong>!<br />
E a sua sciencia não se limitava a<br />
apagar os signaes d'um acci<strong>de</strong>nte único,<br />
fortuito. Não! Mesmo as bilhas cujo uso<br />
se converteu em abuso, rachadas, arruinadas,<br />
fragmentadas, tomavam graças<br />
a elle, a soli<strong>de</strong>z e o brilho <strong>de</strong> novas.<br />
Taes successos acarrelaram-lhe naturalmente<br />
gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> invejosos.<br />
Não faltou quem dissesse que,eram exaggerados<br />
os seus méritos, que a boa apparehcia<br />
da suas soldaduras não resistia<br />
á minuciosida<strong>de</strong> d'um exame e que<br />
só os mentecaptos se <strong>de</strong>ixarem engodar.<br />
Mas que homem <strong>de</strong> génio houve que<br />
não fosse trocado? Que gran<strong>de</strong> invenção<br />
que não fosse combatida?<br />
Os invejosos, porém, viram-se em<br />
breve reduzidos ao mais absoluto silencio<br />
por um caso extraordinário, não se<br />
sabe como divulgado, que estabeleceu o<br />
mais solidamente possivel a gloria do<br />
artista.<br />
*<br />
Uma vez que elle eslava no seu gabinete,<br />
tendo já recebido nesse dia duzentas<br />
ou trezentas freguezas, porque<br />
era muito activo — viu entrar um mancebo,<br />
alto, louro, acompanhando uma<br />
menina doente e limida, os olhos baixos.<br />
— Bem, pensou, uma rapariga que<br />
se não atreveu a vir só e que se lez<br />
acompanhar por seu irmão. E levantando-se,<br />
com <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za:<br />
— Vejo do que se trata. Sem maus<br />
pensamentos, <strong>de</strong>ixou talvez escapar da<br />
mão a sua hilha. Um pequeno inci<strong>de</strong>ntel<br />
Não ha complicações! Concerto fácil.<br />
O homem, porém, respon<strong>de</strong>u, emquanto<br />
a visitante, <strong>de</strong>baixo do véu, corava<br />
até ás orelhas.<br />
— Ah enganaes-vos, senhor. Não é<br />
para" um concerto que nós vimos consultar-vos.<br />
Pelo contrario ! Casamos ha duas<br />
semanas, esta senhora e eu ; e apezar<br />
do meu braço singularmente robusto,<br />
apezar do peso do meu pulso leni-me<br />
sido impossível quebrar a bilha <strong>de</strong> que<br />
minha mulher me fez presente, segundo<br />
o uso. Uma tal situação não me é agradavel<br />
<strong>de</strong> maneira alguma ; vim por isso<br />
consultar-vos não obstante a vossa especialida<strong>de</strong><br />
ser diversa do que eu pretendo.<br />
O illustre pratico ficou admiradíssimo!<br />
Bilhas que facilmente quebram, bilhas<br />
que ce<strong>de</strong>m —por serem <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
medíocre — ao primeiro esforço,<br />
sabia elle que exisliam milhares; mas<br />
nunca, não, nunca elle linha ouvido faltar<br />
d'uma bilha capaz <strong>de</strong> resistir duas<br />
semanas — por mais dura que fosse —<br />
aos esforços terríveis d'um pulso possan<br />
te. Era uma anomalia das mais notáveis<br />
e portanto das mais interessantes; e foi<br />
com gran<strong>de</strong> interesse que se ofíereceu<br />
para examinar sem <strong>de</strong>longas o objecto<br />
tão inconcebivelmente solido.<br />
Examinou-o muito tempo, <strong>de</strong>vagar,<br />
com methodo e reconheceu que elle es-,<br />
tava intacto. Subitamente sentiu-se que<br />
o especialista suffocou a custo um grito<br />
<strong>de</strong> surpreza e <strong>de</strong> triumpho!<br />
Foi porque, levantando os olhos para<br />
a visitante, a quem tinha cahido o véo,<br />
reconheceu nella uma das suas freguezas:<br />
aquella bilha—aquella bilha inquebravel<br />
— tinha sido concertada por elle!<br />
Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />
0 jesuitismo<br />
No ultimo numero do Defensor do<br />
Povo, secundando os esforços que ultimamente<br />
se tem empregado para sustar<br />
o progresso da reacção, provei que um<br />
do» mais temíveis inimigos da civilisaçâo<br />
é o jesuitismo e que urgia, portanto,<br />
combatel-o em lodos os campos e por<br />
lodos os modos.<br />
Não é a tentativa do restabelecimento<br />
dos fra<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>ve merecer principalmente<br />
a nossa attenção, pois que, felizmente,<br />
a sua obra eslá bem conhecida ;<br />
ficou negramenle assignalada no espirito<br />
do povo a sua historia, para que tenhamos<br />
<strong>de</strong> recear-nos d'esse inimigo. E tão<br />
preparado viram os reaccionário» o terreno<br />
para a reimplantação dos fra<strong>de</strong>s que,<br />
para não assistirem á <strong>de</strong>rrota completa<br />
que lhes estava preparada na Socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Geographia, tiveram o bom senso <strong>de</strong><br />
retirar a tempo a inaudita proposta.<br />
É, pois, bem outro o inimigo a temer:<br />
tem sido muito mais nefasta a acção da<br />
Companhia <strong>de</strong> Loyola do que a <strong>de</strong> toda»<br />
as outras or<strong>de</strong>ns juntas. A sua acção é<br />
muito lenta, muito surda e muito occulta<br />
para que possa ser bem conhecida por<br />
lodos. Os jesuítas sabem apresentar-se<br />
com apparencias enganadoras que seduzem<br />
quem as não conhece.<br />
É, pois, preciso pôl-os bem a <strong>de</strong>scoberto<br />
para que os tropeços que atiram<br />
ao progredir do povo diminuam e que os<br />
laços armados aos incautos não arrastem<br />
comsigo tantas creaturas inconscientes.<br />
A imprensa periódica tem <strong>de</strong>ixado<br />
alastrar por lodo o paiz a infame seita<br />
jesuítica, levantando-se apenas <strong>de</strong> um ou<br />
d'oulro campo raríssimos protestos. O<br />
jornalismo, entretido quasi exclusivamente<br />
com as pugnas partidarias, não<br />
tem dispensado senão raros momentos<br />
d'altenção para o micróbio jesuítico que<br />
vae infeccionando o nosso Portugal; não<br />
quer ver os estragos que por toda a parte<br />
os jesuítas estão fazendo com a sua tenaz<br />
propaganda.<br />
Illegalmente restabelecidos no paiz,<br />
não têm eacontrado a resistencia que era<br />
<strong>de</strong> esperar, ao menos da imprensa avançada.<br />
Recea que o jesuitismo com a influencia<br />
<strong>de</strong> que dispõe junto do clero<br />
secular, opponha obstáculos ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da idéa nova, como se elle,<br />
por essas contemplações, <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> investir<br />
contra os propugnadores da liberda<strong>de</strong>,<br />
contra a jacobinagem <strong>de</strong>senfreada,<br />
como elle pittorescamente lhes chama.<br />
Por felicida<strong>de</strong> que ultimamente os<br />
livros publicados pelo sr. M. Borges<br />
Grainha <strong>de</strong>spertaram a imprensa e com<br />
ella todo o paiz do lelhargo cm que pareciam<br />
mergulhados; mas esse fogo sagrado<br />
contra o jesuitismo precisa ser<br />
constantemente alimentado pela imprensa<br />
periódica, e com profundo <strong>de</strong>sgosto vemos<br />
que ella vae recahindo no marasmo anterior.<br />
Os que não conhecem <strong>de</strong> visu a propaganda<br />
jesuítica, mas que sabem, comludo,<br />
da sua nefasta acção, <strong>de</strong>vem comhalel-a,<br />
soccóirendo-se aos livros do sr.<br />
Grainha, on<strong>de</strong> tão lucidamente esclareceu<br />
a questão jesuítica, examinando-a <strong>de</strong>baixo<br />
<strong>de</strong> todos os seus aspectos. Seria para<br />
<strong>de</strong>sejar que por todo o paiz fosse conhecida<br />
a obra <strong>de</strong> Borges Grainha, porque<br />
<strong>de</strong> certo o fanatismo não fazia tantas<br />
victimas. Emquanto, porém, os livros não<br />
po<strong>de</strong>m chegar ao alcance <strong>de</strong> todos, o jornal,<br />
<strong>de</strong> todas as leituras a mais vulgarisada,<br />
tem o seu <strong>de</strong>ver a cumprir: esclarecer<br />
o leitor em tudo o que po<strong>de</strong> interessar<br />
a civilisaçâo.<br />
Sendo o jesuitismo um dos fautores<br />
da <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia dos povos, <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>ve<br />
merecer a attenção <strong>de</strong> lodos os que têm<br />
nalguma conta o caminhar do progresso,<br />
e é assim que em todas as nações cultas<br />
vemos hasteada'a ban<strong>de</strong>ira da revolta<br />
contra a Companhia <strong>de</strong> Loyola. E' assim<br />
que nós os vemos expulsos das nações<br />
mais avançadas, como da Allemanha, da<br />
França, da Itália, etc.<br />
Em Portugal, porém, uma <strong>de</strong>testável<br />
inacção dos po<strong>de</strong>res públicos, auxiliada<br />
pelo indifferéntisnio do maior numero e<br />
pela protecção <strong>de</strong> muitos, tem <strong>de</strong>ixado<br />
crescer e tomar raizes fundas as instituições<br />
jesuíticas, vendo-noi perseguidos<br />
por tão terrível praga.<br />
Venhamos, pois, todos ao templo sagrado<br />
da Imprensa, fazer preces pela<br />
extineção <strong>de</strong> tal peste; roguemos a todos<br />
os santos da grei liberal que peçam pela<br />
extineção do peior dos males.<br />
*<br />
Nos numero» immediatos examinaremos<br />
alguns meios <strong>de</strong> acção da companhia,<br />
principiando pelos collegios jesuíticos;<br />
soccorrer nos hemos aos trabalhos do sr.<br />
Borges Grainha que nos hão <strong>de</strong> prestar<br />
valioso auxilio na exposição das impressões<br />
recebidas durante a nossa educação<br />
num d'esses collegios e dos conhecimentos<br />
adquiridos posteriormente sobre o<br />
mesmo assumpto.<br />
oA. S.<br />
« .<br />
Corrido!...<br />
Ao sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay está sendo<br />
preparado no Porto um formidável cheque.<br />
Nada menos que pôl-o fóra da administração<br />
das Companhias das dokas e<br />
caminhos <strong>de</strong> ferro peninsulares — a conhecida<br />
Salamaucada.<br />
Ninguém o quer. Só o sr. Fuschini<br />
que, por sua parte, vae con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ndo<br />
com bizarra <strong>de</strong>svergonha ás suas exigências,<br />
ajudando o nas suas operações financeiras.<br />
Não se é impunemente banqueiro das<br />
instituições !<br />
Augmento no papel sellado<br />
Diz-se que o papel commum passará<br />
a 100 réis cada meia folha, acabando-se<br />
com a insenção para os cartazes <strong>de</strong> publicações<br />
litterarias e sendo limitado o<br />
tempo da duração para cada cartaz.<br />
Com estas alterações calcula-se um<br />
augmento <strong>de</strong> receila em 500 conto».<br />
E por esta fórma, muito mansamente<br />
se entra pela algibeira do conlrihuiuie<br />
que já paga o que não po<strong>de</strong>.<br />
On<strong>de</strong> quererá esta gente que o povo<br />
vá arranjar dinheiro? E o <strong>de</strong>scaro sobe<br />
<strong>de</strong> ponto quando se apregoa que a» ciastes<br />
pobres são poupadas!...<br />
O temporal<br />
Noticiam do Porto que no dia 17<br />
constava que para o norte estava interrompido<br />
o serviço telegraphico, por causa<br />
dos lemporaes.<br />
Na Foz o mar havia galgado as muralhas,<br />
continuando a rija ventania a fustigar<br />
tudo e ameaçando arrancar arvores<br />
e prédios.<br />
O vento fortíssimo, <strong>de</strong> furacão, soprava<br />
quadrante sudoeste e impedia a<br />
sabida dos vapores que estão ancorados<br />
em Leixões.<br />
O mar arrojava á praia das Pastoras,<br />
na Foz do Douro, bois, porcos, cães,<br />
galos, etc., <strong>de</strong>sconfiando-se que houvesse<br />
naufragios lá para o norte.<br />
O furacão arrancou muitas arvores<br />
da rua Pinto Bessa, Passeio Alegre, Cordoaria<br />
e oulros logares.<br />
O Douro tem crescido muito; e difficilmente<br />
se faz a travessia.<br />
A caça do tigre<br />
O general inglez James Dormer,<br />
chefe d'uma divisão <strong>de</strong> cipayos <strong>de</strong> Madrasta<br />
(Iud ia Ingleza) morreu em conscquencia<br />
das gravíssimas feridas que recebeu<br />
na sua ultima caçada ao tigre.<br />
Eis como se passou esse caso verda<strong>de</strong>iramente<br />
dramatico :<br />
O general, que eslava á espera ha<br />
muito tempo entre a ramaria d'uma arvore,<br />
ao ver que um magnifico tigre se<br />
approximára, porém, não o bastante para<br />
lhe disparar, commetteu a imprudência<br />
<strong>de</strong> abandonar o seu refugio e poz-se a<br />
perseguir a léra.<br />
Con.«eguiu alcançal-a e fez fogo;<br />
porém <strong>de</strong>sgraçadamente só a feriu levemente<br />
e o animal alirou-se sobre elle<br />
agarrando-o por um pé.<br />
Os valentes molossos que acompanhavam<br />
o general precipitaram-se sobre<br />
a féra e conseguiam que ella largasse a<br />
presa por um momento, porém, voltou <strong>de</strong><br />
novo ao ataque <strong>de</strong>stroçando por completo<br />
o pé do valente general.<br />
Acudiram mais caçadores e a fera<br />
fugiu.<br />
O general foi conduzido para casa,<br />
porém apezar <strong>de</strong> todos os cuidados que<br />
lhe foram prodigalisados, fallecia pouco<br />
dias <strong>de</strong>pois.<br />
Cholera<br />
EiuBerlim falleceu nodial7,do cholera<br />
um operário era Wandsbeck, no Holteih.<br />
O Mensageiro official do império russo<br />
regista 4Í1 casos <strong>de</strong> cholera e 68 obilos,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> abril a 27 do mesmo mez,<br />
na província da Podolia.<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Felgueira, 19 <strong>de</strong> maio.<br />
Vejo no Defensor do Povo, <strong>de</strong> quinta<br />
feira, 18, a carta que lhe dirigi, e, não<br />
se contentando com a indiscripção, v.,<br />
para me lisongear, ainda vem com um<br />
reclamo; ai, meu amigo, que mal empregado!<br />
Não sei por que não guardou<br />
para outros, que as mereçam, aquellas<br />
palavras amaveis. Quiz ser agradavel commigo<br />
e não contrariou a sua feição própria—<br />
ser lisongeiro.<br />
Está no seu direito, não lhe contesto<br />
não; Deus me livre <strong>de</strong> tal, por que v.-,<br />
meu amigo, não é tão bom como parece.<br />
Nessas phrase doces, ca<strong>de</strong>nciadas,<br />
e cheias <strong>de</strong> uneção, occulta se muito fel,<br />
muita bílis, e tenho-lhe medo; medo<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ha tempos lhe vi dar uma<br />
tunda nos bombeiros que os fez embatucar.<br />
Pô<strong>de</strong> fazer os espiches que quizer, que<br />
eu calar-me-hei sempre ; e apezar <strong>de</strong> não<br />
ser cobar<strong>de</strong> tenho-lhe... respeito—eis<br />
a razão por que não digo nada.<br />
V., meu amigo, não se limitou ao<br />
espiche, escreveu-me também e tão amavelmente<br />
que me confun<strong>de</strong>; mas para<br />
que Diabo inventou aquella historia do<br />
bailarico? Foi para lhe não faliar mais<br />
em gaze negra, com estrellas, que no<br />
baile fazia <strong>de</strong>stacar a alvura immaculada<br />
d'uns braços divinamente beilos?<br />
Se foi, ganhou a partida porque não<br />
lhe fallaréi mais nisso ; não porque receie<br />
que me falle em serranas e oxigénio,<br />
etc., etc.; mas por que lhe tenho... respeito;<br />
enten<strong>de</strong>, Monsieur?<br />
* Chegou aqui na quinta feira, 18,<br />
o nosso querido amigo e correligionário<br />
Francisco Antonio Meira ; veiu <strong>de</strong> Cannas<br />
para esta terra, a pe, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um<br />
aguaceiro medonho, Quiz ir esperal-o a<br />
meio caminho, mas o tempo nao o permittiu,<br />
e por isso, sentado em uma*ca<strong>de</strong>ira,<br />
na varanda da casa em que habito,<br />
esperei a sua vinda, olhando para<br />
o carreiro que conduz a este logar.<br />
Ai, como elle ctae.gou ! Todo molhado,<br />
com uma cara <strong>de</strong> muito zangado e modos<br />
tão iracundos, qHe causava pavôr. Disseram-me<br />
<strong>de</strong>pois, que lhe são peculiares<br />
aquelles modos, mas que lhe passam <strong>de</strong>pressa.<br />
E assim foi, porque vuitando-o<br />
passado pouco tempo <strong>de</strong>pois, recebeu-me<br />
<strong>de</strong> bífrretinhó <strong>de</strong> velocipedisla, muito<br />
bein e amavelmente, olleieceudo-me com<br />
muito interesse, <strong>de</strong> uma garrafa enorme,<br />
uma pinga, do precioso néctar da afamada<br />
a<strong>de</strong>ga da sr. a Maria Antónia (única<br />
venda cá do logar).<br />
* Continuam as obras no Gran<strong>de</strong><br />
Hotel Club; são eslucadores, pintores,<br />
pedreiros, carpinteiros, o Diabo a quatro;<br />
tudo num boiburiuho infernal ; para um<br />
lado uns, com lalas <strong>de</strong> oleos; para outro<br />
lado, oulros, com gamella* com gesso,<br />
laboas, ele., etc.<br />
Uma alluviào <strong>de</strong> mulheres a lavar e<br />
a varrer, uma faina enorme, dirigida pelo<br />
dr. João Felício, que ao romper da alva,<br />
quando o crepuscuio da manhã transpõe<br />
a montanha Ironteirá ao Gran<strong>de</strong> Hotel,<br />
alli se apresenta a dirigir os trabalhos,<br />
encrepando os mandriões, animando com<br />
a sua presença os tíbios e exultando us<br />
brios dos fortes. E' <strong>de</strong> uma activida<strong>de</strong><br />
pasmosa, este discípulo <strong>de</strong> líy poeta te».<br />
Algumas 'vezes tenho parauo a contemplal-o,<br />
e admiro-me como Diabo é .lão<br />
gordo, sendo lao activo. E' qualida<strong>de</strong>,<br />
me disse um visinho a quem liz a oliservação...<br />
Abençoada qualida<strong>de</strong>!<br />
* A estrada que segue em frente<br />
do Gran<strong>de</strong> Hotel Club, que passa o ribeiro<br />
em um aqueducto proximo á casa<br />
chamada do moleiro e que cosltsia o<br />
monte on<strong>de</strong> esta o Hotel Maial, continua<br />
com muita activida<strong>de</strong> a sua conslrucção.<br />
Se não tivessem partido as guarnições<br />
da ma<strong>de</strong>ira do cylindro que duas juntas<br />
<strong>de</strong> bois foram buscar adiante <strong>de</strong> Cannas,<br />
estaria já a brita calçada e concluída<br />
parte d'ella.<br />
* Tudo se prepara para no dia 1.<br />
<strong>de</strong> junho se abrirem solemneinente os dois<br />
estabelecimentos — Hotel e Aguas.<br />
Não haverá copo d'agua, o que lamento.<br />
Se o dr. Felício fosse como o<br />
José Doria, outro gallo me cantara ; assim<br />
ficarei a fazer cruzes na bocca.<br />
Até outra vez. C.<br />
»- . .<br />
Os dynamitistas<br />
A policia <strong>de</strong> Paris <strong>de</strong>scobriu nos arredores<br />
d'aquella cida<strong>de</strong> uma fabrica <strong>de</strong><br />
bombas explosivas, pertencente a uma<br />
quadrilha <strong>de</strong> ladrões. Foram presos cinco<br />
, indivíduos.
A N ^ i i I — 8 8 O ffiEFENHOR DO P O V O 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> Í803<br />
Para o registro<br />
Assevera uma folha monarchica que<br />
até já têm existido governos (em Portugal)<br />
que <strong>de</strong>claram não po<strong>de</strong>r governar<br />
senão com os homens <strong>de</strong>sacreditados e<br />
<strong>de</strong> honestida<strong>de</strong> duvidosa, porque são<br />
elles que lhes dão força, e têm cynismo<br />
para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem as mais torpes veniagas<br />
Isto <strong>de</strong>line um systema ; mais: synthetisa<br />
claramente a moralida<strong>de</strong> das instuições<br />
monari bicas.<br />
Não se po<strong>de</strong> exigir verda<strong>de</strong> mais patente.<br />
Que respeitável corja I<br />
Contra o garrotilho<br />
Do Correio da Noite transcrevemos,<br />
sohre a cura da angina dipheterica, o<br />
seguinte, que se <strong>de</strong>ve impor a attenção<br />
dos médicos.<br />
«Trata-se da cura rapida e infallivel<br />
da diphettria por um processo novo, que<br />
lem causado gran<strong>de</strong> sensação em França:<br />
a applicação do pelroleo ordinário. Quando<br />
ha tempo vimos annunciada essa <strong>de</strong>scoberta,<br />
feita pelo dr. Flahaut, <strong>de</strong> Rouen,<br />
não lhe ligamos gran<strong>de</strong> importancia, mas<br />
agora que a vemos conlirmada pelo<br />
notável professor Hue, e pelos distinctos<br />
médicos Deshayes, Ballay, Lerêfait e<br />
outros, parece-uos que o tacto é <strong>de</strong> tfio<br />
gran<strong>de</strong> importância para a humanida<strong>de</strong>,<br />
que os nossos clínicos <strong>de</strong>vem experimentar<br />
o novo remedio para verem se elle<br />
realmente tem as milagrosas proprieda<strong>de</strong>s<br />
que se lhe attribuem.<br />
A receita é simplicíssima: pincellar,<br />
<strong>de</strong> hora em hora ou <strong>de</strong> duas em duas<br />
horas, com pelroleo ordinário, as falsas<br />
membranas que se formam na garganta,<br />
tendo o cuidado <strong>de</strong> sacudir bem o pincel<br />
antes <strong>de</strong> o introduzir na bocca do doente,<br />
para que o pelroleo chegue só-as membranas.<br />
Logo ás primeiras operações,<br />
essas membranas principiam a esbranquiçar<br />
e como que a <strong>de</strong>slazer-se sob a<br />
acçao do pelroleo, <strong>de</strong>slacando-se em<br />
seguida e sendo expulsas com gran<strong>de</strong><br />
facilida<strong>de</strong>. O resto do tratamento limita-se<br />
a tónicos <strong>de</strong> toda a especie, para sustentar<br />
as forças do doente.<br />
Diz mais o dr. Flahaut, o <strong>de</strong>scobridor<br />
do maravilhoso remedio: «O tratamento<br />
não apresenta diíliculda<strong>de</strong> alguma, nem<br />
o menor perigo. Des<strong>de</strong> que reconheci a<br />
eãicacia do remedio appliquei eu mesmo<br />
e liz upplicar pelos enlermeiros ou pessoas<br />
<strong>de</strong> família do doente as badigeonnages<br />
com o pelroleo em todos os <strong>de</strong>plneucos<br />
que tenho tratado (mais <strong>de</strong> sesseuta) e<br />
lodos foram salvos. As badigeonnages<br />
com o pelroleo não são dolorosas como<br />
as feitas com o perchloreto <strong>de</strong> lerro ou<br />
com o nitrato <strong>de</strong> prata, mesmo quando<br />
sao applicadas em mucosas ulceradas ou<br />
sangrentas. Peio contrario, os doenles<br />
sentem uma sensação fraca e calmante<br />
com o coutiicto do pelroleo, que imo<br />
produz a menor irritaçao. Não' se produz<br />
a menor dilaceração dos exsudatos inembranosos,<br />
que se diluem por ussim dizer<br />
ao contacto do pelroleo. Apenas o uiau<br />
goslo e cheiro activo é que se lazeiu<br />
sentir duraule alguns instantes <strong>de</strong>pois<br />
37 Follietim do Defensor do Povo<br />
J. M É R Y '<br />
A JUDIA § M I M O<br />
XI<br />
Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />
Môs por que razão <strong>de</strong>scia Talormi<br />
pelo muro em vez <strong>de</strong> entrar por essa<br />
porta baixa, que se abria a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Memma? Esla reflexão, muito natural,<br />
tornava inexplicável a maneira por que<br />
Talormi fazia as suas invasões nocturnas.<br />
Para que escalava elle o muro, se a entrada<br />
era tão lacil ? Paulo Gréant ainda<br />
procurava uma solução para esle problema,<br />
quando <strong>de</strong>ante dos cyprestes ouviu<br />
dar uma hora.<br />
Paulo, empurrando ligeiramente a porta,<br />
que se abnu por cima da herva<br />
crescida, eutrou neste jardim <strong>de</strong>licioso<br />
on<strong>de</strong> a luz do sol quasi não podia penetrar<br />
o copado arvoredo; on<strong>de</strong> a relva<br />
era tão macia como um edredou vegetal;<br />
on<strong>de</strong> o silencio só era perturbado pelo<br />
canto das aves e pelo trinar dos rouxinoes.<br />
Neste crepusculo encantador formado<br />
em pleno dia pelas arcadas <strong>de</strong> verdura<br />
e <strong>de</strong> flores, <strong>de</strong>senhou-se sobre a relva<br />
da operação. Os doentes, tantos adultos<br />
como creanças, não tem rrpugnancia<br />
alguma a esse tratamento, tanto mais<br />
que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras pinceladas,<br />
sentem logo um gran<strong>de</strong> allivio. O pincel<br />
<strong>de</strong>ve ser apenas levemente embebido, o<br />
sacudido antes <strong>de</strong> applicado, psra evitar<br />
a quéda d'nlguma gota <strong>de</strong> pelroleo nas<br />
vias respiratórias, o que produziria sérios<br />
acci<strong>de</strong>nles <strong>de</strong> sulfocação.»<br />
Parece não haver duvida <strong>de</strong> se tratar<br />
realmente <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>phteria, porque<br />
gran<strong>de</strong> numero das falsas membranas<br />
expedidas pelos doentes sujeitos a esse<br />
tratamento, foram analysadas pelo professor<br />
Hue, que constatou a presença<br />
<strong>de</strong> enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bacillus <strong>de</strong><br />
Rlebs Eoefíer, o bacillus da <strong>de</strong>phteria.<br />
Ahi fica tudo o que po<strong>de</strong>mos dizer<br />
a respeito do novo medicamento que, a<br />
ser verda<strong>de</strong> tudo o que d'elle se diz, é"<br />
verda<strong>de</strong>iramente miraculoso. Não é preciso<br />
pedir aos nossos distinctos clinicas<br />
que experimentem a sua efficacia, pois<br />
que o seu amor pela sciencia e pela<br />
humanida<strong>de</strong> os levara a estudar a nova<br />
<strong>de</strong>scoberta com a attenção <strong>de</strong>vida. O<br />
que lhes pedimos é a fineza <strong>de</strong> nos<br />
comniiinicarem os resultados que forem<br />
obtendo para os publicarmos, vulgarisando<br />
assim o remedio contra a terrível <strong>de</strong>phteria,<br />
se realmente esse remedio tem a<br />
virtu<strong>de</strong> que se lhe quer dar. Prestaremos<br />
assim todos um gran<strong>de</strong> serviço á humanida<strong>de</strong>».<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
O Espirito Santo<br />
Principia hoje a romaria annual no<br />
aprazível sitio <strong>de</strong> Santo Antonio dos<br />
Olivaes, suburbios <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a festa<br />
mais concorrida dos arredores coimbrões.<br />
Inaugura esta romaria a gente do<br />
campo, que concorre alli nos dois<br />
primeiros dias, atravessando a cida<strong>de</strong><br />
em gran<strong>de</strong>s ranchos, guitarras e violas<br />
a frente, mantendo o arraial em gran<strong>de</strong><br />
animação.<br />
Como nos mais annos as tradicionaes<br />
barracas para a venda do bom vinho e<br />
petiscos, as gran<strong>de</strong>s filas <strong>de</strong> ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras<br />
<strong>de</strong> arruladas, <strong>de</strong> manjar branco, limonadas,<br />
cerejas, tremoços, etc. E a exposição<br />
<strong>de</strong> louça: as talhas, as campainhas...<br />
Que bellas recordações!<br />
Os dias consagrados para os romeiros<br />
da cida<strong>de</strong> são: terça e quarta feira;<br />
e nestes dias só os velhos rabujemos, os<br />
sovinas e os semsaborões ficam em casa.<br />
O gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> lodos é ir merendar<br />
para Santo Antonio, e para lá vão muitas<br />
lamilias que se espalham por entre os<br />
pinheiraes, na relva, em franco e alegre<br />
convívio-<br />
Altrahe a vista que então se disfructa:<br />
gr.upos aqui e alli, acampados,<br />
reunem-se á volta <strong>de</strong> alvas toalhas, on<strong>de</strong><br />
se e-palha a apettitosa merenda — um<br />
jantarao! — c è ver então com que vonta<strong>de</strong><br />
se come e com que <strong>de</strong>sejo se bebei<br />
um vulto branco ; era uma mulher que<br />
vinha dar vida a este e<strong>de</strong>n maravilhoso,<br />
que só por ella esperava para ficar completa<br />
a sua creação.<br />
Memma a<strong>de</strong>anlou-se com a confiança,<br />
que nos inspira sempre uina acção louvável<br />
; não havia em toda ella nenhum<br />
calculo <strong>de</strong> toilelte nenhuma premeditação<br />
<strong>de</strong> coquetlene, o que ainda a tornava<br />
mais temível, porque nada ha mais perigoso<br />
que uma mulher formosa, que<br />
parece viver na ignorância da sua belleza.<br />
Rrilliava pela ausência dos artifícios<br />
do vestuário ; as suas roupagens simples<br />
velavam-na, mas trahiain-na; a fila do cin-<br />
to era a medida exacta da sua cintura e<br />
não a <strong>de</strong> um espartilho; o <strong>de</strong>cote do<br />
vestido so <strong>de</strong>ixava ver um boíadiuho <strong>de</strong><br />
martiin rosado, tão encantador como a<br />
Iranja <strong>de</strong> uma nuvem <strong>de</strong> primavera. Os<br />
seus cabellos, postos ao acaso, tremiam<br />
e ameaçavam a cada momento <strong>de</strong>smanchar-se<br />
em tranças on<strong>de</strong>antes, que <strong>de</strong>scessem<br />
até as orlas do seu vestido. A<br />
aureola da donzella resplan<strong>de</strong>cia ainda<br />
sobre a fronte d'esta mulher que tiuha<br />
passado pelo leito nupcial sem d'eile<br />
licar com uma lembrança <strong>de</strong> uma sauda<strong>de</strong>.<br />
Memma só conheceu a imprudência<br />
do seu proce<strong>de</strong>r qttándo avistou o artista<br />
em pé, apoiado a uma arvore, com a<br />
cabeça <strong>de</strong>scoberta e tendo na cara essa<br />
palli<strong>de</strong>z nervosa que tão bem faz sobresahir<br />
o arco <strong>de</strong>licado <strong>de</strong> um bigo<strong>de</strong> preto<br />
Sempre um movimento gran<strong>de</strong>, um<br />
sussurro enorme, e sempre os <strong>de</strong>scantes<br />
d'um rancho que passa, ou d'um rancho<br />
que dança, com entbusiasmo e <strong>de</strong>lirio.<br />
Tudo é alegre e folião; os namorados<br />
exultam; trocam-se olhares ternos e<br />
piadas brejeiras; e todos saltam e riem<br />
não os cançando A rodopio da dança. E<br />
lá chega a noite, com o seu negro manto,<br />
a proteger os corações felizes e amantes.<br />
Que sauda<strong>de</strong>s I -<br />
JEassim.se mantém esta festa durante<br />
quatro dias d'esturdia, em que a vida<br />
esquece e todos se julgam felizes!<br />
Attendite et vi<strong>de</strong>te !<br />
Vivam os nossos amigos e os amjgos<br />
dos nossos amigos!...<br />
A vereação d'esta illustre cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, para alargamento da rua dos<br />
Coutinhos, acaba <strong>de</strong> pagar por 22 m ,20<br />
<strong>de</strong> terreno, quasi todo em quintal, réis<br />
B84$600!I<br />
Quem quer ven<strong>de</strong>r terreno para utilida<strong>de</strong><br />
publica a mais <strong>de</strong> 26 mil réis o<br />
metro quadrado I!!<br />
Na mesma sessão, exactamente na<br />
mesma sessão, a mesma austera vereação<br />
conclue com outro amigo a venda<br />
<strong>de</strong> 5 mil metros <strong>de</strong> terreno na quinta <strong>de</strong><br />
Santa Cruz — a tostão I<br />
Viva a camara ! e os amigalhotes!<br />
e os eleitores!<br />
Vá, que isto não tem dono!<br />
O beneficio do Lucas<br />
Por um caso <strong>de</strong> força maior — ler a<br />
companhia dirigida pelo actor Taveira<br />
d'ir a Rraga representar o Burro—7 a<br />
recita annunciada para liontem, no theatro-circo,<br />
leve <strong>de</strong> ser transferida. Não<br />
se sabe ainda se a recita se dará no dia<br />
24 ou 27 do corrente.<br />
Kermesse<br />
Proseguem com activida<strong>de</strong> os trabalhos<br />
para a inslallação da kermesse, na<br />
quinta <strong>de</strong> Santa Cruz. O local escolhido<br />
para se levantarem os pavilhões para as<br />
prendas e para exposição das manufacturas<br />
dos diversos industriaes d'esta cida<strong>de</strong><br />
é uo jogo <strong>de</strong> bola.<br />
João Machado lá anda muilo atarefado<br />
e muito inquieto, ralado e consumido;<br />
porque diz elle que daquillo não sae<br />
cousa com geito... aquelle raio da mo-<br />
déstia !<br />
A illuminação e emban<strong>de</strong>iramento foi<br />
dado, em licitação verbal ao nosso amigo<br />
João Serio Veiga, hábil nestes trabalhos<br />
e com provas sobejas <strong>de</strong> competencia.<br />
A festa dos Bombeiros Voluntários<br />
pronietle ser ruidosa e imponente; e o<br />
nosso maior <strong>de</strong>sejo é que ella seja também<br />
rendosa, aiim <strong>de</strong> que o cofre recolha<br />
boa quantia.<br />
Cão datunsdo<br />
Na quarta feira appareceu na cida<strong>de</strong><br />
um cão atacado <strong>de</strong> raiva que mor<strong>de</strong>u<br />
uma mulher, no bairro <strong>de</strong> Santa Clara.<br />
Por felicida<strong>de</strong> escapou <strong>de</strong> ser mordido<br />
o sr. Francisco Augusto d'Oliveira,<br />
que antes andava passeando na Estrada<br />
da Beira e <strong>de</strong>sconfiando do animal que<br />
e a chamma dos olhos sobas energicas<br />
protuberâncias da fronte. Memma então<br />
julgou ver transformar-se em abysmo a<br />
relva macia do seu jardim; todo uni<br />
passado innocente <strong>de</strong> amor, bruscamente<br />
quebrado por um casamento <strong>de</strong><br />
obedieucia, reappareceu <strong>de</strong>ante d'ella<br />
com as suas alegi ias primaveraes, os seus<br />
sonhos do futuro e mCsino o- seus perigos<br />
attraheutes. E neste intervailo Paulo<br />
Gréant tuiliii adquirido,além d'isto, novos<br />
tilulos a uma aiíeição intensa; acabava<br />
<strong>de</strong> correr o seu sangue, a sua vida tinlia-a<br />
arriscado com heroísmo num combate<br />
nas trevas, no proprio monienio em<br />
que elle perdia para sempre a mulher<br />
cuja honra <strong>de</strong>fendia com as armas na<br />
mão.<br />
A mocida<strong>de</strong> não sabe nunca para<br />
on<strong>de</strong> vae; o seu espirito muda d'idêas,<br />
'o seu pé muda <strong>de</strong> caminho, quando ella<br />
julga nao ter senão uma i<strong>de</strong>ia e senão<br />
um caminho.<br />
Paulo Gréant, apercebendo Memma<br />
<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> si, seutiu-se <strong>de</strong> repente transportado<br />
<strong>de</strong> indignação e <strong>de</strong> cólera. Pareceu-lhe<br />
que esta senhora nova, formosa,<br />
naquelle <strong>de</strong>salinho matinal, acabava <strong>de</strong><br />
sair dos braços <strong>de</strong> Talormi com uma<br />
idêa infernal 11a fronte. Vinha, por meio<br />
d'um a<strong>de</strong>us fementido, em ondulações<br />
felinas, assegúrar-se da realida<strong>de</strong> d uma<br />
subila partida que a livrava d'uma testemunha<br />
importuna e a <strong>de</strong>ixava livre<br />
com Talormi,. o seu amante.<br />
a elle se dirigia, conseguiu, graças ao<br />
guarda-chuva que levava, resguardar-se<br />
das <strong>de</strong>ntadas do cão, que furioso esmordaçoifl<br />
o chapéu quebrando a cana e<br />
algumas varetas.<br />
Pedimos ao sr commissario para<br />
que faça cumprir as posturas municipaes,<br />
e dando caça aos cães vadios<br />
que apparecorem pela cida<strong>de</strong>. E' um<br />
bom serviço prestado ao publico e que<br />
<strong>de</strong>ve merecer uma especial attenção da<br />
T'* > fT' i 'ffà<br />
Lyeeu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Para a primeira epoclia <strong>de</strong> exames<br />
do corrente anno entraram na secretaria<br />
<strong>de</strong>ste lyceu 661 requerimentos para<br />
exames <strong>de</strong>finitivos, sendo:<br />
Portuguez, 81; fiancez, 87; inglez,<br />
63; geographia, 66; historia, 42; latim<br />
(1.°), 37; latim (8.°), 11; latim (6.°),<br />
6; mathematica (1.°), 56; mathemalica<br />
(5.°), 25; mathematica (6.°), 5; physica<br />
(1.°), 44; physica (2.°), 9; philosopbia,<br />
37; litteratura, 30; <strong>de</strong>senho (1.°), 27;<br />
<strong>de</strong>senho (2 o ), 22; <strong>de</strong>senho (curso completo),<br />
11; allemão (2.°), 1; allemão<br />
(curso, completo), 1.<br />
Beneficio<br />
E' no dia 27, segundo nos informam,<br />
que se realisa no theatro D. Luiz a recita<br />
em beneficio do operário funileiro,<br />
sr. Anselmo Mesquita, para quem pedimos<br />
a coadjuvação do publico.<br />
Jogo ao ar livre<br />
Logo que o tempo melhore continuarão<br />
no pateo <strong>de</strong> Santa Clara os jogos da<br />
Pelota e do Ron<strong>de</strong>r, pelos socios do<br />
Gyninasio, "sob a direcção do sr. Luiz<br />
Doria.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Vae experimentando algumas melhoras<br />
o nosso correligionário, sr. Manoel<br />
Augusto Rodrigues da Silva, qué ha semanas<br />
se acha <strong>de</strong> cama.<br />
Depoimento<br />
Na quinta feira foi ao tribunal d'esta<br />
cida<strong>de</strong> o sr. Joaquim Gomes da Fonseca<br />
para fazer o seu <strong>de</strong>poimento que ha <strong>de</strong><br />
figurar no processo Urbino <strong>de</strong> Freitas.<br />
Como muitos outros queixa-se este<br />
senhor da <strong>de</strong>mora que teve no tribunal,<br />
pois que sendo avisado a comparecer<br />
alli ás 11 horas do dia, só proximo das<br />
4 da tar<strong>de</strong> è que saiu, o que representa<br />
um prejuízo gran<strong>de</strong> para quem precisa<br />
<strong>de</strong> não per<strong>de</strong>r tempo para ganhar a<br />
vida.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />
na semana ultima, os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Maria, filha <strong>de</strong> Bernardo Simões e<br />
Julia da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 4<br />
annos. Falleceu <strong>de</strong> croup, no dia 30.<br />
Maria do Patrocínio Castanheira, filha<br />
<strong>de</strong> José Luiz <strong>de</strong> Castro e Joarnia Sousa<br />
Cardoso, <strong>de</strong> Linhares, <strong>de</strong> 7o annos. Falleceu<br />
<strong>de</strong> pleuris agudo, no dia 1.<br />
Tanto Memma como Paulo, nesta<br />
dupla disposição d'éspirito, se dirigiram<br />
um para o outro. Memma esten<strong>de</strong>u a<br />
Gréant a mão, que foi recebida com<br />
uma precipitação equivoca, e disse-lhe<br />
coin emoção dissimulada por um sorriso:<br />
— Estou em minha casa e o meu<br />
<strong>de</strong>ver é ser a primeira a fatiar.<br />
O passado não me pertence; disponho<br />
d'alguns minutos do presente e consagro-os<br />
a agra<strong>de</strong>cer-lhe o seu nobre procedimento.<br />
Uma carta é sempre um intermediário<br />
frio. Quiz dirigir-ltie os meus<br />
agra<strong>de</strong>cimentos em palavras affectuosas.<br />
Agora nada mais posso pedir aos escrúpulos<br />
da minha consciência, se me<br />
diz que o seu coração está contente do<br />
pouco que hoje fiz.<br />
Paulo olhou para Memma com os<br />
olhos perturbados pelo <strong>de</strong>lirio dos ciúmes<br />
e não respon<strong>de</strong>u. A sua mão abandonou<br />
a <strong>de</strong> Memma, que ficou confundida <strong>de</strong><br />
estupefacção. . , ,.r\<br />
llouve um momento <strong>de</strong> silencio, que<br />
foi interrompido por uma phrase lugubre<br />
<strong>de</strong> Paulo.<br />
— Avara para mim, pródiga para<br />
outros 1<br />
— Avara para elle... pródiga para<br />
outros!... repetiu Memma como um<br />
echo enfraquecido, e lixando em Paulo<br />
olhares convulsivos <strong>de</strong> surpreza.<br />
Elle meneou a cabeça com uma expressão<br />
<strong>de</strong> melancolia, como pam dizer<br />
que mantinha a sua phrase.<br />
Maria Constança, filha <strong>de</strong> paes incógnitos,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 40 annos. Falleceu<br />
<strong>de</strong> pleuris consecutivo á influenza,<br />
no dia 5.<br />
Jacintho A<strong>de</strong>lino Barata da Silva,<br />
filho <strong>de</strong> pae incógnito e D. Maria José<br />
Augusta Barata da Silva, <strong>de</strong> Figueiró<br />
dos Vinhos, <strong>de</strong> 36 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />
varíola hemorrhagica, 110 dia 5.<br />
Recem-nascido, filho <strong>de</strong> José Augusto<br />
d'01iveira e Maria Baptista, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
<strong>de</strong> um mez. Falleceu <strong>de</strong> moléstia <strong>de</strong>sconhecida,<br />
no dia 6.<br />
Francisco Pereira <strong>de</strong> S. Romão, filho<br />
<strong>de</strong>~João <strong>de</strong> S. Romão e Maria da Conceição,<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 77 annos, Falleceu<br />
no dia 8.<br />
Antonio Marques Cepo, filho <strong>de</strong> Antonio<br />
Marques e Joaquina <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong><br />
Ourem, <strong>de</strong> 29 annos. Falleceu <strong>de</strong> endocardite<br />
agrida, 110 dia 9.<br />
Maria José da Costa, filha <strong>de</strong> Antonio<br />
Rodrigues e Maria da Costa, <strong>de</strong> Sampaio,<br />
<strong>de</strong> 30 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorrhagia<br />
eerebral, no dia 9.<br />
Guilhermina, lillia <strong>de</strong> Manoel dos<br />
Santos e Anna da Conceição, <strong>de</strong> Santa<br />
Clara, <strong>de</strong> 3 annos. Falleceu <strong>de</strong> pneumonia<br />
dupla, no dia 9.<br />
„ Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemiterio —16:870.<br />
A GRANEL<br />
Principia no dia 2 <strong>de</strong> junho o pagamento<br />
dos tilulos da divida interna consolidada.<br />
O segundo sorteio das relações <strong>de</strong>ve<br />
effcctuar-se nos dias 22 a 31 do corrente.<br />
m * #<br />
O sr. Candido <strong>de</strong> Figueire-<br />
do, governador civil <strong>de</strong> Villa Raal, vae<br />
publicar um folheto sobre a administração<br />
d'aquelle districto.<br />
* * # Dizem <strong>de</strong> Bragança que o<br />
sr. ministro das obras publicas ce<strong>de</strong>rá o<br />
edifício da escola industrial para alli se<br />
estabelecerem tres escolas primarias.<br />
* * * A companhia real projecta<br />
estabelecer, no proximo mez <strong>de</strong> julho, bilhetes<br />
especiaes <strong>de</strong> ida e volta por preços<br />
reduzidos, para diversos pontos do<br />
paiz, servidos pelas suas linhas.<br />
* * # Em Olite, Saragoça, uma<br />
creauça d'onze annos commetteu o crime<br />
<strong>de</strong> parricidio.<br />
O rapaz, vendo que o pae apontava<br />
uma pistola a mãe, agarrou uma navalha<br />
e cravou-a no peito do auctor dos seus<br />
dias, <strong>de</strong>ixando-o morto <strong>de</strong> seguida.<br />
* * * Foi preso e entregue ao<br />
administrador <strong>de</strong> Villa Franca <strong>de</strong> Xira,<br />
um dos auclores do roubo do colre da<br />
recebedoria.<br />
Consta que ainda faltam uns 4 ou 5<br />
dos taes que ajudaram a transportar o<br />
cofre para o ollival.<br />
— Se ouso comprehen<strong>de</strong>l-o, disse<br />
Memma em tom firme, acaba <strong>de</strong> me dirigir<br />
censuras sobre o meu casamento ; não esperava<br />
tal inconveniência da sua generosida<strong>de</strong><br />
franceza.<br />
— Nao, minha senhora, não! disse<br />
Paulo tristemente; nao a censurei nunca<br />
por ler obe<strong>de</strong>cido a seu nobre irmão,<br />
embora a sua obediencia cavasse o meu<br />
tumulo. Não lhe attribuirei nunca um<br />
crime por ter cumprido um <strong>de</strong>ver.<br />
— Então, disse Memma, crusando<br />
os braços, não o comprehendo.<br />
Paulo acolheu estas palavras com um<br />
sorriso cinzelado pela primeira vez num<br />
rosto humano pela mão d'utn <strong>de</strong>monio.<br />
A agitação dos lábios <strong>de</strong> Memma parecia<br />
repelir a sua phrase.<br />
— Ouse comprehen<strong>de</strong>r-me, minha<br />
senhora, disse Paulo accenluando <strong>de</strong><br />
proposito a primeira palavra.<br />
— O <strong>de</strong>lirio da sua febre continua,<br />
disse Memma, oihando-o inquieta; o<br />
Marquez di Negro diz-me que sollreu<br />
tanto...<br />
— Sun, minha senhora, solíri muito !<br />
Algumas lagrimas brilharam no seu<br />
rosto pallido, e a joven senhora, commovida,<br />
eslen<strong>de</strong>u-lhe,ainda a mão, que<br />
se admirou <strong>de</strong> ver repellida.<br />
I m p r e c o n a T y p o g r a p h i a<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros, —<br />
COIMBRA.
AIVNO 88 O DGFEMSOR DO POVO 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
OUTIjOS<br />
PARA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha<br />
Repetições<br />
TVVÊIiOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
SAM V CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
»]>5n «ubsi laUi ) • , p|t..h. xú, laJoT<br />
JOSÉ ¥ICT0RI\0 B. MIRANDA<br />
118<br />
*sta fabrica continúa a proí<br />
duzir as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> maásas, pelos mesmos preços,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.-<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholomeu,<br />
e bem assim communicação telephonica<br />
com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
successor, no largo do Príncipe D. Carlo^dos.<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedi-<br />
G A S A<br />
120 Ã * >reM,,, *- |M! 0 2.° andâr e<br />
mí aguas furtadas da casa<br />
n.° 6 do Pateo <strong>de</strong> Inquisição.<br />
Trata se na Praça do Commercio,<br />
b.° 1 a 8.<br />
VENDA DE PROPRIEDADE<br />
119 \l í ® M<strong>de</strong> "" e u m a proprieda<strong>de</strong> que<br />
W se compõe <strong>de</strong> terra lavradia,<br />
pomar, arvores <strong>de</strong> fructo, vinha e casas<br />
<strong>de</strong> habitação, <strong>de</strong>nominada o Cazal do<br />
Valle cia Serra, em S. Martinho. Tem<br />
boa estrada que vae da Guarda Ingleza<br />
para a Quinta Agrícola.<br />
Para informações na Praça do Commercio<br />
n.° 14, l. a .<br />
CAIXEIRO<br />
116 r ^ ' * " » - " " d® ura 00111 bastante<br />
& pratica <strong>de</strong> mercearia.<br />
Prefere-se <strong>de</strong> 24 a 27 annos d'eda<strong>de</strong>,<br />
e que tenha praticado nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Para tratar na<br />
MERCEARIA AVENIDA<br />
LARGO DO PRÍNCIPE D. CARLOS<br />
COIMBRA<br />
( t l A D R W T S<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para fl 893.<br />
Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSÉ LUÍS m m OS M?JO<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadrant» . .<br />
71 D f M d a i 1 P el ° P re f° Fabrica,<br />
1 Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>saonto.<br />
Preços eguaes «os ^e Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
áRTICIPA-<br />
ÇÓES<br />
DE CASAMENTO<br />
MenAs, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria ]<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.EXI1IA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ILHETRS<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1VROS<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong><br />
formato<br />
Typ. Operariaj<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
, 1WPKESSOS<br />
PAIIA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , H , . A . I R , < 3 - O J D F R E I R I A , 1 4<br />
<strong>Coimbra</strong>,<br />
fonso, 61<br />
XAROPE DE P H E L L A N D R I O<br />
COMPOSTO DE ROSA.<br />
•te xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> catharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com optimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33.<br />
odrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Iltle-<br />
65.<br />
DEPOSITO DA FABRICA NACIONAL<br />
DE<br />
mimm<br />
JOSÉ FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
3 1VESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
ly junto e a retalho, todos os productos daquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> so recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
S •TÂfil<br />
FUNDADA EM 1877<br />
C A P I T A L<br />
RÉIS 1.300:000^000<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° 11 —1.°<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
IB\ D E L P O R T<br />
241, Rua <strong>de</strong> ~Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL U LISBOA: RDA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO BODBIHH m u , SUCCESSOR<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Ageiíbia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, L°<br />
ARTAZES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operariai<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VllVg<br />
FEITOR<br />
(OFFICINA)<br />
Leilões, PARA<br />
casas<br />
commerciaes, etc.<br />
Typ. Operaria<br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
<strong>Coimbra</strong><br />
E 100 ncarrega-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, dourações<br />
<strong>de</strong> egrejas, forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a provinda.<br />
IVa mesma offleina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
PDMASÃ m i M HERPES E ELIPIBERS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL —- Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo tf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos — Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
APRENDIZ DE FUNILEIRO<br />
121 n i ' ec ' l,a * ge '' e um na rua<br />
'<br />
Jr Viscon<strong>de</strong> da Luz, 25.<br />
COIMBRA.<br />
BICYCLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101—Rua do Viseon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
COIMBRA<br />
93<br />
«ta easa acaba <strong>de</strong> receber um<br />
E' esplendido sortido <strong>de</strong>Bicycletes<br />
dos primeiros auctores, como é Ilumber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôcas.<br />
A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Ricycletes<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120$000 réis ao'passo que<br />
esta casa as tem a 110$000 !!!<br />
Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores.<br />
COMPANHIA SE SHUfiOS<br />
«FIDELIDADE<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Capital r«. 1.344t000.$000<br />
79 E sta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma seguros<br />
contra o risco dc fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobilias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong> — Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n.° 86, ou na rua das<br />
Figueirinhas, n.° 45.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53 lk uguito Sfunei dos Sau-<br />
Ml tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, i8—COIMBRA<br />
IMBRES<br />
ENVELLOPES E CARTAS<br />
Imp'rimem-se na<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
I f f i M M | I I I m<br />
111 \ t e n A e ~ 8 e Ullia quinta com paúl<br />
1 para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
JULIÃO ANTONIO D'ALMfilDA<br />
4<br />
20 — Rua do Sargento-Mór — 24<br />
o «eu antigo estabelecimento<br />
N' concertam-se e cobrem-se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portai<br />
gueza, pelos segujntes preços:<br />
Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2/000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
reis. Guarda-sol para senhora, 1$700<br />
réis. Sombrinhas para ditas, 1^500 réis.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBUCA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.»<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDIXOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Cem estampilha<br />
Anno 2$703<br />
Semestre 1*8350<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno./ 21400<br />
Semestre.'... 21#00<br />
Trimestre... 600
0W m Defensor J<br />
\ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 N.° 89<br />
p<br />
Portugal e Hespanha<br />
Pelo ministério dos negocios estrangeiros<br />
foi apresentado á ratificá^ãô<br />
do parlamento o tratado <strong>de</strong><br />
commeTcio entre Portugal e Hespanha,<br />
assignado em Madrid, em 27<br />
<strong>de</strong> março.<br />
Já a este documento nos referimos<br />
anteriormente, e cotrmosco<br />
toda a imprensa o tetn aôeitado Sem<br />
relutancia, mosfrando-se assim que<br />
a opinião publica no nosso paiz se<br />
não orienta já por esso odio tradicional,<br />
injustificável hoje, a tudo o<br />
que tinha caracter hespanhol.<br />
É felizmente, que assim não é.<br />
Portugal e Hespanha têem a<br />
cumprir no futuro uma elevada fun j<br />
ôção ho progresso evolutivo das socieda<strong>de</strong>s,<br />
funcçao Superior que só<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar numa congregação<br />
harmónica <strong>de</strong> esforços, numa<br />
sympathia mutua <strong>de</strong> sentimentos e<br />
cai-Mereg, baseada na commurthão<br />
<strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> aspirações, qiie<br />
a própria natureza lhes <strong>de</strong>terminou.<br />
Povos irmãos e por tanlos sectílos<br />
inimigos;' visinhos pare<strong>de</strong>s<br />
meias e por tanio tempo <strong>de</strong>sconhecidos,<br />
parece que uma como que<br />
murcha <strong>de</strong> bronze se interpunha<br />
entre um e outro, afaslando-os do<br />
convívio social, affecluoso e <strong>de</strong>dica-^<br />
do, que <strong>de</strong>veria ser a mira d'um e<br />
d'outro.<br />
Mas esle bronze vae-se já fundindo;<br />
esla frieza anlipalhica e nociva<br />
aos rriutuos interesses, vae-se<br />
dissipando— prova-o o tralado re-cenle,<br />
que estreita intimamente já<br />
os dçis povos.<br />
E um tralado <strong>de</strong> commercio, e<br />
é pêlo commercio que se afirmará<br />
com a maior intensida<strong>de</strong> a harmonia<br />
<strong>de</strong> relações que entre nós e a<br />
Hespanha <strong>de</strong>ve haver; ha nelle disposições<br />
<strong>de</strong> elevado alcance neste<br />
sentido.<br />
Mas a par d'este, torna-se urgente<br />
que outras provi<strong>de</strong>ncias se<br />
estabeleçam, que irmanem os dois<br />
paizes em lodos os pontos da activida<strong>de</strong><br />
social -— garanla-se nume<br />
noutro a proprieda<strong>de</strong> litteraria; <strong>de</strong>rrame-se<br />
o conhecimento cada vez<br />
mais perfeito da activida<strong>de</strong> artística,<br />
industrial, scienlifica, ele,; faça-se<br />
com que os escriplores e homens<br />
illuslres d'um paiz Sejam conhecidos<br />
no outro como homens<br />
superiores dignos <strong>de</strong> mutuo respeito<br />
e consi<strong>de</strong>ração; promova-se que<br />
tanto a litteratura portugueza como<br />
a hespanholâ não encontrem nas<br />
fronteiras um elemento <strong>de</strong> repulsão<br />
que as afaste uma da outra.<br />
Portugal conhece toda a litteratura<br />
franceza, e não faz idêa da<br />
hespanhola, que lem á poria, publicistas<br />
eminentes e prestigiosos. Empreguem-se,<br />
emfim, lodos os esforços<br />
para que Portugal e Hespanha<br />
se approximem como povos irmãos,<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes da mesma origem,<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspirações e <strong>de</strong> interesses.<br />
Alguma coisa se tem feito neste<br />
gentido. Anterior á approximação<br />
official por meio do tralado, procurava-se<br />
já por meio dç congressos<br />
approximar os dois paizes; e ainda<br />
BI-SÉMANARIO REPUBLICANO A \ J V V ^<br />
ultimamente, por occasião da Hespanha<br />
comrnemorâr um dos seus<br />
mais legitimes heroes, Portugal se<br />
apresentou notavelmente nos cerlamens<br />
alli estabelecidos, homens eminentes<br />
dos dois paizes se reuniram<br />
e concertaram para esla obra grandiosa<br />
do futuro, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> na<br />
maior parte o <strong>de</strong>senvolvimento e o<br />
progresso dos dois povos.<br />
Afaslados, como se mostram já,<br />
os dissentimentos e os odios, aproveitem-seas<br />
actuaes circumslaneias<br />
para ligar Portugal a Hespanha,<br />
cimentando no interesse das suas<br />
relações sociaes, a franca amiza<strong>de</strong><br />
que os <strong>de</strong>ve unir.<br />
Numa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia mutua,<br />
mas subordinados ao mesmo critério<br />
<strong>de</strong> progresso, hão <strong>de</strong>, numa<br />
gran<strong>de</strong> confralernida<strong>de</strong>, concorrer<br />
prodigiosamente para a obra da civilisação.<br />
V<br />
João Chagas<br />
O sr. Joaquim Pacheco, co-proprietario<br />
do Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, oíTereceu na<br />
sua casa em Leça <strong>de</strong> Palmeira um almoço<br />
a João Chagas, almoço intimo para que<br />
foi exclusivamente convidada a redacção<br />
d'aquelle jornal,<br />
Nos brin<strong>de</strong>s, Joaquim Pacheco saudou<br />
Chagas, como antigo redactor do Janeiro,<br />
cujos méritos evi<strong>de</strong>nciou, e como intimo<br />
amigo, João d'Oliveira Ramos brindou ao<br />
ex-companheiro brilhante e leal <strong>de</strong> redacção.<br />
João Chagas agra<strong>de</strong>cendo disse ter<br />
recebido provas <strong>de</strong> affecto da imprensa,<br />
mas especialisava o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro<br />
que o irálára sempre com verda<strong>de</strong>iro<br />
carinho.<br />
=3<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Na reunião da Associação Commercial<br />
dos Lojislis <strong>de</strong> Lisboa, resolveu-se nomear<br />
a seguinte commissão a fim <strong>de</strong> estudar<br />
o projecto que se refere á contribuição<br />
industrial: srs. Saraiva Lima, José<br />
Nunes <strong>de</strong> Carvalho, Anlonio Cardoso<br />
d'Oliveira Júnior, José Romão <strong>de</strong> Maltos,<br />
José Antonio Nunes, Casimiro Valente e<br />
Julio <strong>de</strong> Carvalho.<br />
*<br />
Também reuniu a direcção da Associação<br />
dos Proprietários <strong>de</strong> Lisboa, resolvendo<br />
que, representando a associação<br />
principalmente a proprieda<strong>de</strong> urbana <strong>de</strong><br />
Lisboa, e que sendo esta proprieda<strong>de</strong><br />
aquella cujas matrizes se acham mais<br />
oneradas, não pô<strong>de</strong> <strong>de</strong> fórma alguma supporlar<br />
augmento <strong>de</strong> imposto, e consi<strong>de</strong>rando<br />
mais que esta opinião se tem evi<strong>de</strong>nciado<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a apresentação da mesma<br />
proposta, <strong>de</strong>liberou não <strong>de</strong>scurar o assumpto,<br />
tratando-o em successivas reuniões<br />
para representar opportunamenle<br />
aos po<strong>de</strong>res públicos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ouvida<br />
a opinião <strong>de</strong> todos os seus socios em assemblêa<br />
geral, on<strong>de</strong> o assumplu <strong>de</strong>verá<br />
ser largamente discutido.<br />
BásHio Telles<br />
E' esperado brevemente no Porto<br />
este illustre publicista e dos mais sympalhicos<br />
vultos da revolta <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro.<br />
Emigração<br />
O paquete Rei <strong>de</strong> Portugal saido <strong>de</strong><br />
Lisboa no dia 19 do corrente, levava a<br />
bordo 1:100 emigrados para as terras do<br />
Brazil.<br />
Uns semsaborões I Que alé appetece<br />
ficar em Portugal só para gozar das felicida<strong>de</strong>s<br />
que o povo vae ter com as propostas<br />
do sr. Fuschini I<br />
Os collegios jesuíticos<br />
Antes <strong>de</strong> começarmos a exposição<br />
promeltida, cumpre-nos fazer uma <strong>de</strong>claração<br />
prévia: não temos a pretensão <strong>de</strong><br />
dizer coisas novas sobre o assumpto<br />
proposto; o nosso fim é divulgar o que<br />
já está escriplo sobre elle, o bastante<br />
para que todos dêem o apreço, que merece,<br />
á obra da Companhia <strong>de</strong> Loyola.<br />
Como já o fiz sentir noutro artigo,<br />
existe uma urgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propaganda<br />
anti-reaccionaria, que <strong>de</strong>ve"ser<br />
feita principalmente por meio <strong>de</strong> livri?<br />
nhos populares, pelos jornaes baratos e,<br />
sobretudo, por meio <strong>de</strong> associações, que<br />
dêem forte incremento ás idéás anli-jesuiticías.<br />
Pelo que diz respeito ao primeiro<br />
dos meios indicados, sabemos que se<br />
acham em preparação alguns livrinho»,<br />
imitando outros que em França tiveram<br />
larga circulação e fizeram saber ás camadas<br />
populares, o que têm sido os jesuítas.<br />
Pelo qne toca ao, segundo meio, vemos<br />
que alguns jornaes, vão publicando<br />
artigos que alguma luz hão <strong>de</strong> fazer nos<br />
centros a que chegam. Pelo que respeita<br />
ao uflimo, está-se orgaoisando em<br />
Lisboa uma associação anti-jesuitica que<br />
procurará estabelecer succursaes na província<br />
e que está <strong>de</strong>stinada a produzir<br />
largos fructos, se os seus fundadores não<br />
<strong>de</strong>sistirem nem se <strong>de</strong>ixarem apo<strong>de</strong>rar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sanimo pelo indifferentismo com que<br />
a principio ha <strong>de</strong> ser acolhida a sua iniciativa.<br />
*<br />
Passemos, pois, a examinar um dos<br />
meios <strong>de</strong> que a Companhia <strong>de</strong> Loyola se<br />
serve para espalhar as suas doutrinas,<br />
recrutar gente para os seus noviciados e<br />
arranjar a<strong>de</strong>ptos que a <strong>de</strong>fendam no<br />
convívio do mundo e lhe angariem riquezas<br />
que a tornem mais po<strong>de</strong>rosa.<br />
Existem por esse paiz fóra vários collegios<br />
<strong>de</strong> jesuítas e outros ajesuitados<br />
que, não pertencendo á Companhia, todavia<br />
adoptam os seus systemas <strong>de</strong> educação<br />
Dá-se uma coincidência notável com<br />
a creação dos collegios jesuítas porluguezes,<br />
que não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>ixar no esquecimento.<br />
Todos elles vieram acabar com uns<br />
institutos <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> que davam tão risonhas<br />
esperanças, pondo termo, portanto,<br />
a casas on<strong>de</strong> o orphãosinho recebia<br />
agazalho e alimento, on<strong>de</strong> aprendia as<br />
primeiras noções que o haviam <strong>de</strong> auxiliar<br />
no trato cora a socieda<strong>de</strong> e se lhe<br />
araenisava, emfim, a cruel sorte.<br />
Em vez, pois, <strong>de</strong> contribuírem para<br />
a obra philantropica das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas,<br />
fazendo <strong>de</strong>sapparecer a pouco e<br />
pouco as injustiças existentes, segundo<br />
as quaes o rico gosa <strong>de</strong> todas as immunida<strong>de</strong>s,<br />
absorve todo o bem estar que<br />
lhe proporciona a sua fortuna e o pobre<br />
arrasta uma exislencia vil, que o obriga<br />
a amaldiçoar muitas vezes aquelle que<br />
lhe <strong>de</strong>u o ser, os jesuítas acabaram com<br />
uns focos do bem que haviam <strong>de</strong> irradiar<br />
por todo o paiz, produzindo novos<br />
exemplos <strong>de</strong> amor pela humanida<strong>de</strong>.<br />
Se não, vejâmos.<br />
O collegio <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong> on<strong>de</strong> teve<br />
a sua origem? Num asylo para orphãos<br />
fundado pelo padre Ra<strong>de</strong>maker,,que tantos<br />
serviços prestou aos <strong>de</strong>sgraçados.<br />
Mas quando o asylo tinha já um certo<br />
grau <strong>de</strong> crescimento e precisava mais<br />
<strong>de</strong> um homem que alli exercesse a sua<br />
acção, «lembrou-se Ra<strong>de</strong>maker, diz-nos<br />
o auctor do Portugal Jesuita, <strong>de</strong> pedir<br />
ao Geral dos jesuítas que lhe mandasse,<br />
para o auxiliar nesta caridosa empreza,<br />
alguns jesuítas italianos, que se<br />
achavam expulsos <strong>de</strong> ltalia e dispersos<br />
por differentes paizes. Foi este o seu<br />
gran<strong>de</strong> erro e a ruina da sua obra <strong>de</strong><br />
carida<strong>de</strong>. Porque Ra<strong>de</strong>maker, não tendo<br />
tido tempo em ltalia <strong>de</strong> conhecer hera<br />
intimamente o espirito ambicioso dos jesuítas,<br />
juigava-os a todos pelo seu caridoso<br />
espirito, tendo-os por tão caritativos<br />
como elle proprio e como o Jesus<br />
dos Evangelhos, com cujo nome se ap-<br />
pellidam. Enganou-se o santo homem: e<br />
o seu engano cnstou-lhe amargos dissabores.»<br />
Mas transcrevamos ainda do Portugal<br />
Jesuíta, quanto nol-o permilta o estreito<br />
espaço <strong>de</strong> que dispomos, o que nelle se<br />
encontra relativamente á obra caritativa<br />
<strong>de</strong> Ra<strong>de</strong>maker e á transformação que<br />
nella operaram os jcuitas:<br />
«Ra<strong>de</strong>maker era um simples padre<br />
secular e, como tal, vivia em Lisboa,<br />
quando em 1856 a febre amarella, dizimando<br />
milhares <strong>de</strong> famílias, <strong>de</strong>ixou<br />
na orphanda<strong>de</strong> e miséria muitas pobres<br />
creanças da capital.<br />
Ra<strong>de</strong>maker, á vista d'aquella <strong>de</strong>solação,<br />
com o seu coração ar<strong>de</strong>ntemente<br />
bemfazejo, <strong>de</strong>terminou immediatamente<br />
fazer servir os seus bens<br />
<strong>de</strong> fortuna ao amparo d'esses pobre-<br />
Sinhos, que ficaram neste mundo sem<br />
o arrimo mais suave e forte, que a<br />
natureza nos conce<strong>de</strong>, os paes e as<br />
mães. Constituiu-se portanto em segundo<br />
pae d'esses <strong>de</strong>samparados. Para<br />
levar a efTeito esse intento fundou um<br />
Asylo para abrigo dos orphãos, dando-lhes<br />
a um tempo o pão do corpo e<br />
o do espirito, sustento e educação.<br />
Mas para tão benemerita e dispendiosa<br />
fundação não contava só com o seu<br />
patrimonio, que não tinha a gran<strong>de</strong>za<br />
que taes emprezas <strong>de</strong>mandam, contava<br />
também com as esmolas <strong>de</strong> amigos<br />
e pessoas caridosas. E estas não lhe<br />
faltaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o principio, como me<br />
escreve numa carta o sr. S. L. por<br />
informação d'um antigo professor d'aqtielle<br />
asylo.<br />
Ra<strong>de</strong>maker fundára a principio o<br />
asylo só com o intuito <strong>de</strong> educar pobres<br />
e orphãos. Depois, como quer<br />
que pessoas <strong>de</strong>votas e altamente eollocadas<br />
instassem por que elle edu-<br />
• casse meninos ricos, o padre addicionou<br />
ao seu estabelecimento <strong>de</strong> carida<strong>de</strong><br />
uma secção <strong>de</strong> pensionistas, «secção<br />
<strong>de</strong> janotas», como lhe chama Silva<br />
Pinto.<br />
Tal era o Asylo <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong> em<br />
1859, um anno antes dos jesuítas apparecerem<br />
em Portugal.»<br />
Os <strong>de</strong>fensores dos jesuítas disseram<br />
em resposta ao 1.° livro do sr. Grainha,<br />
on<strong>de</strong> lhes fazia lambem por inci<strong>de</strong>nte a<br />
accusação <strong>de</strong> terem transformado a obra<br />
<strong>de</strong> Ra<strong>de</strong>maker em obra <strong>de</strong> ganancia para<br />
a Companhia, que fôra o proprio Ra<strong>de</strong>maker,<br />
que a esse tempo já linha entrado<br />
para a or<strong>de</strong>m, que fizera essa transformação.<br />
O sr. Grainha <strong>de</strong>monstra exliuberantemente<br />
o contrario, começando assim<br />
a sua <strong>de</strong>monstração:<br />
"Sendo isto assim, e sendo Ra<strong>de</strong>maker<br />
tão caritativo, será crivei que<br />
o proprio Ra<strong>de</strong>maker mudasse a sua<br />
obra <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> e compaixão pelos<br />
<strong>de</strong>svalidos, ém obra <strong>de</strong> lacro e ganancia<br />
apparatosa ? Claro está que não*<br />
E, comtudo, é certo, como todos sabem,<br />
que o collegio <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong> é,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> tia muiios annos, só para quem<br />
pô<strong>de</strong> pagar e pagar caro.»<br />
Mas os jesuítas não proce<strong>de</strong>ram assim<br />
somente entre nós, a sua conducta<br />
foi sempre a mesma em todas as nações.<br />
Os nobres e os ricos mereceram-lhe sempre<br />
a sua quasi exclusiva attenção, porque<br />
bera sabem que o seu domínio dimanou<br />
sempre do dinheiro e da influencia<br />
junto dos po<strong>de</strong>rosos e dos fanaticos.<br />
Ainda entre nós o seu porte foi o<br />
mesmo na antiguida<strong>de</strong>, no tempo do seu<br />
maior esplendor; todos sabem que elles<br />
não fundaram um único estabelecimento<br />
<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, ao passo que tinham em<br />
Lisboa o celebre collegio dos nobres e<br />
outro com o mesmo fim em <strong>Coimbra</strong>.<br />
O collegio <strong>de</strong> S. Fiel, no Louriçal<br />
do Campo, teve também a sua origem<br />
num asylo <strong>de</strong> orphãos fundado por Fr.<br />
Agostinho da Annunciação <strong>de</strong> que os<br />
jesuítas tiveram a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apo<strong>de</strong>rar<br />
e transformar num centro fecundo<br />
da sua propaganda.<br />
Será ainda o livro citado que nos<br />
dirá o que se <strong>de</strong>u com este asvlo (vid.<br />
pag. 469) :<br />
«Frei Agostinho fôra fra<strong>de</strong> franciscano,<br />
e tivera <strong>de</strong> abandonar o silencio<br />
do ciaustro em virtu<strong>de</strong> das leis<br />
<strong>de</strong> Aguiar que extinguiram os conventos,<br />
quando em Portugal ainda havia<br />
homens capazes <strong>de</strong> acabar com conventos<br />
e morgados.<br />
' Aquelle bom ex-fra<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>u,<br />
porém, como todos os que téem boa<br />
vonta<strong>de</strong> e virtu<strong>de</strong>, que fóra do con-<br />
t<br />
vento se pô<strong>de</strong> fazer ainda maior bem<br />
ao proximo, do que quando se está<br />
encerrado <strong>de</strong>ntro das quatro pare<strong>de</strong>s<br />
da cella, sujeito às or<strong>de</strong>ns d'um superior.<br />
E, lançando os olhos para a multidão<br />
das pobres creanças, que a orphanda<strong>de</strong><br />
atira quotidianamente para<br />
os embates da <strong>de</strong>sgraça e do vicio,<br />
guiando-se pelos caritativos dictames<br />
do seu bondoso coração, tratou <strong>de</strong><br />
criar lá, juntò á sua solitária al<strong>de</strong>ia,<br />
um estabelecimento <strong>de</strong> beneficencia,<br />
como o que Ra<strong>de</strong>maker fundára quasi<br />
ao mesmo tempo ás portas da populosa<br />
capital. Provavelmente, Ra<strong>de</strong>maker<br />
e Frei Agostinho ainda então se<br />
não conheciam, mas os corações <strong>de</strong><br />
elite assemelham-se, e, embora as palavras<br />
os não ponham em contacto, o<br />
suavíssimo anjo da carida<strong>de</strong> segreda<br />
a cada um os mesmos santos e <strong>de</strong>liciosos<br />
pensamentos.<br />
Por isso, Frei Agostinho, como Ra<strong>de</strong>maker,<br />
condoeu-se da sorte das pobres<br />
creanças, que per<strong>de</strong>m eedo o <strong>de</strong>liciosíssimo<br />
e incomparável bem do<br />
bafo paternal, e fez-se segundo pae<br />
d'essas infelizes creaturinhas. Mas os<br />
jesuítas, assim como <strong>de</strong>struíram a<br />
santa obra <strong>de</strong> Ra<strong>de</strong>maker, que teve a<br />
infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contiar nelles, assim<br />
lançaram por terra a <strong>de</strong> Frei Agostinho,<br />
que também se fiou nelles enganadoramente.»<br />
Este proce<strong>de</strong>r dos jesuítas é largamente<br />
historiado no livro que citamos e<br />
comprovado por uma carta, alli transcripta,<br />
d'um homem respeitabilissimo, o sr.<br />
Sebastião Ramos Preto, que muito <strong>de</strong><br />
perto conhece os manejos jesuíticos, pois<br />
vive no Louriçal do Campo.<br />
Aquella carta, apezar <strong>de</strong> resumida,<br />
quasi fórma a historia completa do Collegio<br />
<strong>de</strong> S. Fiel, como bem diz o sr.<br />
Grainha.<br />
Alli se prova, entre outras coisas,<br />
que o Asylo <strong>de</strong> S. Fiel foi fundado pelo<br />
mencionado fra<strong>de</strong>, que o <strong>de</strong>stinou á educação<br />
<strong>de</strong> meninos e meninas orphãos <strong>de</strong><br />
pae e mãe e que, tendo Frei Agostinho<br />
entregado a direcção da casa aos jesuítas,<br />
por se encontrar já numa eda<strong>de</strong><br />
avançada e julgar que os jesuítas continuariam<br />
a admittir gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />
orphãos, elles não tem nem admittem já<br />
orphãos naquella casa d'ensino, honrando<br />
assim a memoria do benemerito fra<strong>de</strong>.<br />
Triste é, pois, a historia da origem<br />
dos principaes collegios jesuíticos em<br />
Portugal e não menos triste são, como<br />
veremos, os resultados da educação que<br />
nelles se ministra.<br />
cA. S.<br />
(Continua).<br />
Victor Hugo<br />
Passou na segunda feira, 22, o oitavo<br />
artniversario da morte do gran<strong>de</strong> Mestre.<br />
A perda <strong>de</strong> Victor Hugo foi insuperável<br />
para a humanida<strong>de</strong>. Aquelle génio<br />
que durante muitos annos brotou torrencialmente<br />
grandiosos jactos <strong>de</strong> luz escan<strong>de</strong>cente<br />
em paginas immarcessiveis<br />
<strong>de</strong> eloquencia, <strong>de</strong>ixou no mundo litterario,<br />
politico e philosophico, um vácuo<br />
eterno.<br />
=zs<br />
E o imposto ... a subir!<br />
E' <strong>de</strong> regalar a seguinte noticia que<br />
vamos transcrever d'uma folha monarchica,<br />
referindo-se á próxima viajata regia<br />
á cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Beja.<br />
Para abrilhantar os festejos <strong>de</strong>vem<br />
ir a Beja a bateria <strong>de</strong> arlilheria <strong>de</strong> Vendas<br />
Novas, que dará as salvas do estylo<br />
á chegada do comboio real; a banda <strong>de</strong><br />
infanteria 22 e quatro philarmonicas.<br />
Depois da posse, haverá na praça <strong>de</strong><br />
D. Manoel fogo <strong>de</strong> artificio, marche aux<br />
flambeaux, e no fira baile no Club.<br />
Ora nada d'isto se faz sem dinheiro ;<br />
as <strong>de</strong>spezas <strong>de</strong> viagem, o transporte <strong>de</strong><br />
tropas, a polvora para a salvas, as musicas,<br />
etc., <strong>de</strong>vem custar ao thesouro<br />
publico um bom par <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> réis.<br />
Estas e outras borgas é que tem<br />
empenhado o paiz, e o motivo porque o<br />
sr. Fuschini exige agora dos proprietários,<br />
industriaes e agricultores maiores<br />
sacrifícios.<br />
Tem razão os nossos governantes:<br />
quem quer ter um rei paga-lhe bem e<br />
diverie o melhor. E' dar-lhe para a<br />
frente l
ASLVO I — s e O D E F U K i O R B O P O V O 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
C R Y S T A E S<br />
Rosa branca<br />
Sem ti I Que loucura<br />
Que ingénuo pensarI<br />
Pois has-dtí ignorar<br />
(Por Deusl) que a ventura<br />
Me cae d'esse olhar I<br />
Vê tu: neste amplexo<br />
Ein que me sustenho...<br />
Sim I todo este empenho<br />
E' puro reflexo<br />
Do amor que te tenho.<br />
Sem ti! Não é nova<br />
Que eu dê; e senão<br />
Tu põe essa mão<br />
Aqui, e isto prova<br />
Já meu coração.<br />
Que sentes ? abrolhos<br />
Que em flores singelas<br />
Te mando, as mais bellas,<br />
Dês que esses teus olhos<br />
Me cobrem <strong>de</strong> estrellas.<br />
Dês que essa pupilla<br />
Fiel me alumia,<br />
E a luz d'este dia<br />
No enlevo tranquilla,<br />
Meu ser extasia.<br />
Não ha primavera<br />
Com tua fragrancia...<br />
— O amor não se altera<br />
Se ás almas, na infancia,<br />
Se abraça qual hera.<br />
E assim tu assomas,<br />
Piedosa, entre as flores,<br />
Ri<strong>de</strong>nte nas côres,<br />
Mais grata <strong>de</strong> aromas,<br />
Mais bella <strong>de</strong> amores.<br />
Por isso eu te exoro :<br />
E embora mereça<br />
A fé que te imploro,<br />
Ai I quanto te adoro<br />
Mal sabes, confessa I<br />
Calcula a tristeza<br />
Que legas a quem<br />
Pa<strong>de</strong>ce e não tem<br />
Mais que essa incerteza<br />
Que aos lábios te vem.<br />
Mas tu és discreta I<br />
Não finges o pejo<br />
De occulta violeta,<br />
Fugindo inquieta<br />
A um casto <strong>de</strong>sejo...<br />
— Que ingénuo recatol<br />
Que aroma tão grato<br />
Por on<strong>de</strong> eu fluctuo |...<br />
— Perdão I (insensato I )<br />
A mão restituo I<br />
Porto, 1893.<br />
L B T T R A S<br />
Dentro d'agua?<br />
HUGO DINIZ.<br />
Uma eolonia <strong>de</strong> famílias e empregados<br />
vivia ha annos no becco <strong>de</strong> Feuillantines.<br />
Era na maior parte composta <strong>de</strong><br />
gente <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> viver socegado,<br />
sombrio e economico.<br />
O primeiro e segundo andar <strong>de</strong> cada<br />
prédio tinham duas ou tres casas, e no<br />
terceiro só havia quartos que se alugavam<br />
mobilados. Queslão <strong>de</strong> nome, porque a<br />
mobília apenas constava <strong>de</strong> cama, uma<br />
meza e duas ca<strong>de</strong>iras.<br />
Quem queria agua, era obrigado a ir<br />
buscal-a a uma fonte próxima, e por isso<br />
estabelecia-se em poucos dias a intimida<strong>de</strong><br />
entre aquelles habitantes.<br />
Ora, um d'esses quartos era alugado<br />
por um empregado do correio, rapaz alegre,<br />
<strong>de</strong> boa figura e temperamento equatorial.<br />
Por baixo morava um guarda<br />
d'alfan<strong>de</strong>ga, casado com uma adoravel<br />
mulher loura, mais nova do que elle e<br />
tendo a recommendal-a uma educação<br />
primorosa adquirida nos collegios das<br />
irmãs da carida<strong>de</strong>.<br />
O velho chamava-se Morsafrau e o<br />
rapaz Adolpho.<br />
Este e D. Idalia Morsafrau encontravam-se<br />
frequentes vezes na escada, e<br />
sorriam-se graciosamente. Quando os<br />
dois queriam ir para casa, elle, muito<br />
risonho, muito amavel, convidava-a a<br />
subir primeiro, e o caso é que estas<br />
cerimonias <strong>de</strong> mera <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, não íhe<br />
<strong>de</strong>sagradando a ella, fizeram com que<br />
elle, acostumado a ver-lhe o lindo pé,<br />
tivesse <strong>de</strong>sejos mais lidibinosos. Atreveu-se...<br />
Passou-lhe a mão pela cintura.<br />
Chegaram ao patamar.<br />
— Meu marido fica um dia <strong>de</strong> serviço<br />
em cada semana, disse-lhe ella. Sae<br />
amanhã ás $ horas não volta senão no<br />
dia seguinte.<br />
. Adolpho abraçou a, e neste amplexo,<br />
convenceu se .<strong>de</strong> que alli não Imvia impostura.<br />
Era boa <strong>de</strong> lei, a Ida linha.<br />
A noite foi agitada, é <strong>de</strong> suppor.<br />
Pareceu-lhe que o sol não nasceria, em<br />
sonhos abMçou o travesseiro, beijoit-o<br />
enthusiasmado, incan<strong>de</strong>scente. Soaram<br />
oito horas. Ouviram-se passos pesados<br />
e graves, corre á janella, e quando o<br />
visinho dobra a esquina, já o cabo da<br />
vassoura da querida visinha batia no<br />
tecto, convidandoo para a entrevista<br />
combinada.<br />
Adolpho <strong>de</strong>sceu a quatro e quatro os<br />
<strong>de</strong>graus, ent risco até <strong>de</strong> quebrar uma<br />
perna, mas o amor...<br />
A senhora Morsafrau, em <strong>de</strong>shabillée<br />
provocante, <strong>de</strong>u-lhe entrada na alcova<br />
conjugal.<br />
Fechou a porta á chave, e <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong>ixando-se cahir numa ca<strong>de</strong>ira, disselhe<br />
com amargura :<br />
— Adolpho, vae fazer <strong>de</strong> mim um<br />
péssimo conceito.<br />
— Não sei porque, replicou o empregado,<br />
ajoelhando, receioso <strong>de</strong> que o horisonte<br />
se tivesse turvado.<br />
—Toma-me talvez por uma mulher<br />
fácil ?<br />
— Como se engana, mmlia querida;<br />
o que se espera <strong>de</strong> lima mulher quando<br />
não é estimada ?<br />
— Ha muito que sinto necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafar.<br />
— Quer-me para confi<strong>de</strong>nte?<br />
E como a resposta fosse affirmativa<br />
começaram em terno colloquio, <strong>de</strong>svendando<br />
os mysterios dos seus corações<br />
amantíssimos. Adolpho não podia acreditar<br />
em tão bom êxito. Prcparava-se para<br />
outros pormenores mais Íntimos, quando<br />
na escada se ouviram passos.<br />
— Ai! que é meu marido! disse<br />
Idalia, empalli<strong>de</strong>cendo.<br />
— Diabo, murmurou Adolpho, atrapalhado.<br />
— Venha cá, continuou ella, escon-<br />
da-se aqui, apontando para uma chaminé<br />
!<br />
Elle não hesitou trepando conforme<br />
pou<strong>de</strong>; e a amante, correndo a cortina,<br />
foi abrir a porta. .<br />
— És tu, meu bom amigo, o que<br />
aconteceu? interrogou ella. Demoreí-me<br />
muito, não é verda<strong>de</strong>? E' que tinha<br />
fechado todas as portas.<br />
— Fizeste Item, filhinha. Olha que<br />
eu não fico contente quando te <strong>de</strong>ixo só.<br />
— Mas... houve alguma novida<strong>de</strong>?<br />
— Não... quando cheguei ao posto,<br />
senti-me incommodado. Um collega leve<br />
dó <strong>de</strong> mini, ficou a fazer o meu serviço,<br />
e estou <strong>de</strong> folga até ámanhã.<br />
Dizendo isto, o sr. Morsafrau, começou<br />
a <strong>de</strong>spir-se.<br />
— No caminho, proseguiu elle, lembrou-me<br />
que talvez me fizesse bem tomar<br />
um banho e aluguei uma banheira que<br />
<strong>de</strong>ve estar a chegar.<br />
EITectivamente pouco <strong>de</strong>pois entrou<br />
o moço.<br />
— On<strong>de</strong> se ha <strong>de</strong> collocar? interrogou<br />
elle.<br />
— Alli, ao pé da chaminé !<br />
—-Mas, menino, interrompeu a mulher,<br />
não seria melhor pol-a aqui junto<br />
do leito?<br />
—Não quero, disse o guarda, posso<br />
molhar os lençoes.<br />
O moço arrastou a banheira até á<br />
chaminé, on<strong>de</strong> se transia <strong>de</strong> feio o <strong>de</strong>sgraçado<br />
Adolpho, e quando a agua era<br />
sufficienle, o nosso Morsafrau rnstallou-se<br />
commodamcnle no seu banho.<br />
—Idalia, disse á esposa, dá-me o meu<br />
cachimbo.<br />
— Talvez le faça mal.<br />
— Enganas-te, gosto muito <strong>de</strong>fumar.<br />
E accen<strong>de</strong>ndo o charuto, começou<br />
a saboreal-o, cuspindo para a chaminé,<br />
mesmo em cirna dos pés do rival.<br />
Este supplicio durou meia hora.<br />
Depois, Morsafrau resolveu <strong>de</strong>itar-se.<br />
Estando já na cama, pergunlou-lhe a<br />
mulher:<br />
— Queres que leve a banheira para<br />
a escada, para que nos não ÍDconimo<strong>de</strong>m<br />
quando vierem buscal-a ?<br />
— Como quizeres, respon<strong>de</strong>u o marido.<br />
Ella então fechou .o mais hermeticamente<br />
possivel os cortinados do leito, e<br />
correndo a cortina da chaminé, disse ao<br />
infeliz:<br />
— Entra na banheira.<br />
— Mas.. . ellè vê me.<br />
— Não faz mal, nieltes a cabeça <strong>de</strong>ntro<br />
d'agua.<br />
— Dentro d'agua ?<br />
— Avia-te ou estamos perdidos..<br />
Morsafrau voltava-se impaciente no<br />
leito.<br />
Adolpho entrou na tina. Retendo a<br />
respiração, e lapando os ouvidos com os<br />
<strong>de</strong>dos, sentiu-se rodar para o patamar.<br />
A porta íechou-se, e o empregado<br />
do correio fugiu como um pintainho,<br />
alagado, pela escada abaixo, sacudindo-se<br />
todo, como os paios saco<strong>de</strong>m a cauda,<br />
quando saem d'agua.<br />
De lar<strong>de</strong>, certa visinha bisbi.hoteira<br />
que presenciara tudo, narrando o divertido<br />
episodio, dizia sentenciosamente:<br />
— O senhor Adolpho é muito galante<br />
não ha que ver; mas sempre súa muito.<br />
E' um <strong>de</strong>feito, pois não é ?<br />
Aurelian School.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Casos da semana<br />
A romaria do senhor <strong>de</strong> Mathosinhos<br />
constitue um dos maiores gaudios populares.<br />
O Porto <strong>de</strong>spovoa-se nos tres dias<br />
<strong>de</strong> festa ; a burguezia dá tregoas á gravida<strong>de</strong><br />
habitual, assalta os americanos,<br />
disputa um logar a murro, e ahi vae<br />
ella, berrando, gesticulando, muito alegre<br />
e muito barulhenta, gosar o fogo d'artificio,<br />
a pieda<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>votos e o peixe<br />
frito, com seu quartilho á mistura.<br />
A philarmonica <strong>de</strong> Bouças (que dá<br />
i<strong>de</strong>ia das bandas marciaes <strong>de</strong> 1830) estafam<br />
valsas e polkas com a fúria selvagem<br />
dos que tocaram para cumprir o<br />
seu <strong>de</strong>ver, e o burguez pulla, salta,<br />
atropella, agitando os quadris, em remeniscencias<br />
<strong>de</strong> tempos felizes — soirèes<br />
em casa do papá ou da tia — tempos da<br />
mocida<strong>de</strong> que o passado implacavel sumiu<br />
na voragem das banalida<strong>de</strong> inúteis...<br />
Depois da dança o refresco clássico<br />
das romarias — um copasio do ver<strong>de</strong>,<br />
E como a philarmonica não pára,<br />
não affrouxa, e como, consequentemente,<br />
o refresco se repele a cada peça <strong>de</strong> musica<br />
estafada — segue-se que a cabeça<br />
do burguez começa a andar, a andar,<br />
em rodopio crescente, como aquelle barbeiro<br />
da peça <strong>de</strong> fogo, que amola navalhas,<br />
e rebenta afinal, com gáudio da<br />
rapaziada, no estrondo alordoador d'uma<br />
bomba <strong>de</strong> pataco. A cabeça do burguez<br />
gira sempre: as impressões recebidas<br />
tomam proporções gigantes no seu cerebro<br />
— todas as mulheres lhe parecem<br />
mo<strong>de</strong>los impeccaveis <strong>de</strong> formosura, todos<br />
os olhos tem para elle scintillações<br />
estranhas <strong>de</strong> volúpia secreta.<br />
Atira-se: diz piadas, cinge a cintura<br />
da primeira mulher que o olha, consi<strong>de</strong>rando<br />
a enormida<strong>de</strong> da sua ternura, e<br />
acaba por botar escandalo, por repontar,<br />
dirigindo chufas provocadoras aos que se<br />
inlromeltem no caso.<br />
Desanda a bordoada ; cabeças partidas,<br />
prisões, grilos <strong>de</strong> terror, peixe frito<br />
por terra, bombos furados e clarinetas<br />
partidos...<br />
E o burguez cose a moral do seu procedimento<br />
na esquadra, on<strong>de</strong> a alvorada<br />
do dia seguinte o surprehen<strong>de</strong>, trazendo<br />
no seu clarão límpido e sereno a ameaça<br />
d'umn fiança no tribunal, e a prespectiva<br />
<strong>de</strong>soladora das custas do processo!<br />
*<br />
Este anno, minhas gentis leitoras,<br />
o burguez retrahiu-se á folia habitual, e<br />
não <strong>de</strong>u expansão á sua alma <strong>de</strong> pan<strong>de</strong>go,<br />
constrangida durante longos mezes<br />
na gravida<strong>de</strong> do balcão.<br />
Porque? — Falta <strong>de</strong> dinheiro?<br />
Será o burguez geraldinista, e não<br />
abandonará a sua dama pelos regabofes<br />
do peixe frito, comido piedosamente sob<br />
as vistas do Senhor <strong>de</strong> Mathosinhos ?<br />
Preferirá acaso promover <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />
no Circo, impedindo, a murro, que<br />
quem paga o seu bilhete reprove os<br />
esgares e con<strong>de</strong>mne o trabalho da formosa<br />
Geraldine ?<br />
Não sei I O que affirmo é que a romaria<br />
foi chocha. Dizem os amadores<br />
d'este divertimento que lhe faltou a<br />
oota característica: a bebe<strong>de</strong>ira.<br />
Notaram apenas um padre que se<br />
internou pelo sangue <strong>de</strong> Christo... e<br />
que ficou num Lazaro!<br />
Esta bebe<strong>de</strong>ira foi <strong>de</strong>dicada, provavelmente,<br />
ao sr. Barros Gomes e a idênticos<br />
reaccionários que aventava a i<strong>de</strong>ia<br />
da reorganisação das or<strong>de</strong>ns religiosas.<br />
Com a approvação d'essa medida<br />
emporcalha-se a memoria illuslre <strong>de</strong><br />
Joaquim Antonio dAguiar, que extinguiu<br />
as or<strong>de</strong>ns religiosas em 28 <strong>de</strong><br />
maio <strong>de</strong> 1834.<br />
E' preciso que a borracheira campeie<br />
escandalosamente pelo gabinete dos nos-<br />
sos homens públicos, para que appareça<br />
o aviltre <strong>de</strong>scarado com que se enxovalham<br />
agora as leis da liberda<strong>de</strong> e a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />
<strong>de</strong> nós todos !<br />
Depois dos fra<strong>de</strong>s venham o D Miguel,<br />
o cacete, o auto <strong>de</strong> fé, a censura,<br />
e todas as patifarias regias que escon<strong>de</strong><br />
a historia das nossas vergonhas passadas.<br />
Engana-se o throno enfraquecido se<br />
julga salvar-se, appoiando-se no braço<br />
<strong>de</strong> Loyola. O povo, quando a faina é<br />
ardua, a carga pesada, e chega o momento<br />
<strong>de</strong> reinar, faz fogo d'arlilicio,<br />
mesmo sem a romaria do Senhor <strong>de</strong> Mathosinhos...<br />
*<br />
Um telegramma <strong>de</strong> Lisboa assignado<br />
pelo actor Amaro <strong>de</strong>u-nos, no ullimo<br />
sabbado, a seguinte noticia triste :<br />
«Morreu o actor Oliveira, do Chalet,<br />
com unia congestão cerebral.»<br />
No dia seguinte, <strong>de</strong> manhã, chegava<br />
este outro <strong>de</strong>spacho telegraphico :<br />
«Parto breve para o Porto. Estou <strong>de</strong><br />
boa sau<strong>de</strong>. — Oliveira.»<br />
Como se vê, o primeiro telegramma<br />
era falso Um gracejador <strong>de</strong> mau gosto<br />
divertira-se a alarmar quantos estimam<br />
Oliveira, o actor querido do Chalet do<br />
Porto (<br />
Nós folgamos com o caso, porque<br />
diz o rifão que: «homem dado por<br />
morto vive cem annos!»<br />
— E eu que os conte!<br />
22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 93.<br />
•<br />
De volta<br />
Fra-Diavolo.<br />
Já saiu <strong>de</strong> Italia a sr. a D. Maria Pia,<br />
que se dirige a estes reinos a fim <strong>de</strong><br />
continuar a sua honrosa missão.<br />
E lá se foram do thesouro o melhor<br />
<strong>de</strong> 50 contos <strong>de</strong> réis nesta viagem.<br />
O que nos valerá são os sentimentos<br />
caridosos d'este anjo que nos tem arruinado<br />
e as medidas <strong>de</strong> fazenda do sr.<br />
Fuschini.<br />
Sport velocipedico<br />
O Club veló
ANNO I -W.* 8® O DEFENSOR DO POVO «5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
Divi<strong>de</strong>m-se aos grupos, os romeiros;<br />
em lodos raparigas bonitas, <strong>de</strong> boa voz,<br />
entoando, até sem o acompanhamento da<br />
viola dolente du da guitarra doidivanas,<br />
as nossas canções populares.<br />
Uns cantam, em passo ca<strong>de</strong>nciado, a<br />
—Noite serena; outros seguem-se com a<br />
Joven sereia; ainda outros com — Móro<br />
á beira da estrada; e <strong>de</strong>pois vem —O'<br />
preta, ó preta, o Cana real das canas,<br />
o Tirolé, olé, olé, em passo dobrado,<br />
o Vamos seguindo; Nós somos as morenitas;<br />
uma mayonaise exlraordmaria <strong>de</strong><br />
cantigas, que bem exprime a alegria e a<br />
expansão d'aquellas almas, quentes <strong>de</strong><br />
enthusiasmo... Abençoado néctar, que<br />
mesmo na zurrapa divinisas o teu gran<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r!<br />
E todos berram, saltam e riem.<br />
A mocida<strong>de</strong> e a velhice expan<strong>de</strong>m-se<br />
em santa communida<strong>de</strong>, casando-se bem<br />
nesta gran<strong>de</strong> pan<strong>de</strong>ga em que se esquece<br />
tudo, sem se pensar no dia d'ámanhã !<br />
Pacatos chefes <strong>de</strong> familia lá vão <strong>de</strong><br />
filho ao collo, também na estúrdia, a<br />
cantarolar; e os namorados em duetto<br />
amoroso e alracão constante pela estrada<br />
fóra, vão entoando, em córos <strong>de</strong>safinados,<br />
o que ha <strong>de</strong> mais poético e sentimental<br />
nas nossas canções populares. Um<br />
charivari medonho, interrompido, ás vezes,<br />
por' uns prenúncios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m,<br />
<strong>de</strong> brigões com grão na aza.<br />
E assim se vence a jornada, chegando-se<br />
a casa na convicção <strong>de</strong> que se gozou<br />
á bruta, <strong>de</strong> pigarro na garganta e seccuras<br />
<strong>de</strong> bocca, dando-se tratos á imaginação<br />
a fim <strong>de</strong> resolver este importante<br />
problema: voltar á festa no dia seguinte.<br />
E resolve-se e encontra-se o — X.<br />
— nas casas <strong>de</strong> penhores que nesta semana<br />
fazem sempre grosso negocio.<br />
Attendite et vi<strong>de</strong>te S<br />
Um jornal da cida<strong>de</strong> reclama contra<br />
a noticia que aqui dêmos d'uma muito<br />
amigável expropriação para alargamento<br />
da rua dos Cominhos.<br />
Eial A Correspondência contrapômos<br />
o Imparcial, ambos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Veja-se o u.° 1:422: resumo da sessão<br />
camararia, <strong>de</strong> 4 do corrente:<br />
«..'. tomando conhecimento da planta<br />
do terreno... da qual consta medir o<br />
terreno a adquirir por parte do município,<br />
22 mS ,20 a 3$000 réis o metro quadrado<br />
importando as alvenarias com muros<br />
e pare<strong>de</strong>s da casa, vigamentos e soalhos,<br />
<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> 3 pavimentos, ma<strong>de</strong>iramentos,<br />
tectos, telhados e tabiques e o arco<br />
da rua a <strong>de</strong>molir em 334$600 réis.<br />
«...E resolveu mais dar ao requerente<br />
como in<strong>de</strong>mnisação a quantia <strong>de</strong><br />
250$000 que foi neste acto <strong>de</strong>clarado<br />
pela presidência era acceite pelo proprietário.»<br />
A fonte não tem nada <strong>de</strong> suspeita,<br />
como vêem.<br />
. Que lucrou o município? 22,20 metros<br />
<strong>de</strong> terreno.<br />
Qual a quantia que dispen<strong>de</strong>u<br />
334$600X250/000=584$600 réis.<br />
Logo: cada melro a mais <strong>de</strong> 26<br />
mil r-óis I<br />
38 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1VATIIMO<br />
XI<br />
Duvida e <strong>de</strong>lirio<br />
—Creia-me, minha senhora, disse<br />
Paulo num supremo esforço, não fiz nada<br />
para surprehen<strong>de</strong>r este horrível mysterio...<br />
Foi o acaso.<br />
— Mas que mysterio? interrompeu<br />
Memma; que acaso? Explique-se...<br />
Em nome do ceu, fatie... Se foi<br />
um sonho febril, conte-me o seu sonho...<br />
— Oh! não foi um sonho, é uma<br />
terrível realida<strong>de</strong>. Os meus olhos viram<br />
o que não <strong>de</strong>viam ter visto, mas viram.<br />
-i->Falle, falle, em nome da Virgem<br />
santa. ..<br />
— Pois então, minha senhora, juro-<br />
Ihe, antes <strong>de</strong> tudo, que este segredo<br />
ficará sepultado no fundo da minha alma,<br />
e que nunca me servirei d'elle com vingança<br />
Vi o con<strong>de</strong> Talormi, escalando<br />
furtivamente, <strong>de</strong> noite, os muros<br />
do seu jardim.<br />
Memma recuou dois passos, e o seu<br />
rosto subitamente transtornado, tomou<br />
uma d'estas expressões que não recordam<br />
nenhum sentimento conhecido. Quiz fal-<br />
11 111 -<br />
Assim é que se fazem contas. O<br />
resto faz lembrar a esperteza do estalaja<strong>de</strong>iro<br />
que annunciava jantares <strong>de</strong> graça<br />
com almoços a tres mil réis!<br />
Não havia in<strong>de</strong>mnisações, porque a<br />
casa está em reconslrucçáo.<br />
Se o proprietário alterava a fachada,<br />
a camara intervinha, obrigava a recuar<br />
e pagava o terreno expropriado. Se<br />
o proprietário não estivesse d'accordo, a<br />
não ser coisa mais grave, a camara recusava<br />
a auctorisação e ficava tudo como<br />
d'antes.<br />
Assim é que é; e assim muitas vezes<br />
se tem feito.<br />
E até com applauso da Correspondência<br />
I...<br />
Mas, se ha erro ou ambiguida<strong>de</strong> na<br />
nota publicada, a culpa não é nossa.<br />
Beneficio do Lucas<br />
Está <strong>de</strong>finitivamente marcado para<br />
sahbado, 27, a festa <strong>de</strong> Francisco Lucas,<br />
o íntelligenle emprezario do theatro<br />
<strong>de</strong> D. Luiz.<br />
O programma d'esta recita soffreu<br />
alteração. Represenlar-se-ha a comedia<br />
em tres actos—Os médicos; José Ricardo<br />
<strong>de</strong>sempenhará o monologo — A minha<br />
familia; Taveira dirá outro monologo —<br />
o Mundo livre, — concluindo pela representação<br />
da zarzuella em um acto —<br />
Simão, Simões Sf Companhia.<br />
O beneficiado toma parte na comedia<br />
e zarzuella.<br />
Devemos aqui registar com louvor a<br />
<strong>de</strong>cisão dos accionistas do theatrocirco<br />
que bizarramente dispensaram o cumprimento<br />
do contracto que obrigava Francisco<br />
Lucas ao pagamento do aluguer da<br />
casa, pela falta que houve da vinda da<br />
companhia, no dia marcado.<br />
Hygiene publica<br />
Torna se <strong>de</strong> inadiavel necessida<strong>de</strong><br />
cuidar a serio da hygiene e saú<strong>de</strong> publica,<br />
principalmente neste momento em<br />
que a epi<strong>de</strong>mia do cholera reapparece<br />
na Europa, ,ao approximar-se a estação<br />
do calor.<br />
De todos é conhecido o estado <strong>de</strong><br />
immundicie em que se encontra a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> a cada canto existe<br />
um fóco <strong>de</strong> infecção; e preciso se torna<br />
que os sub-<strong>de</strong>legados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as auctorida<strong>de</strong>s<br />
e a camara tratem d'este assumpto<br />
com zelo e <strong>de</strong>dicação.<br />
Nós vemos em Lisboa, Porlo e mais<br />
terras, que teem os chamados sub-<strong>de</strong>legados<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, prestarem estes os seus<br />
bons serviços á população que lhes paga;<br />
em <strong>Coimbra</strong>, forçoso é confessar, estes<br />
funccionarios parece existirem somente<br />
como um objecto <strong>de</strong> luxo. Ninguém os vê,<br />
a ninguém consta o que <strong>de</strong>cidiram, o que<br />
<strong>de</strong>liberaram a proposito, por exemplo,<br />
dos meios a empregar para resistir á invasão<br />
do cholera, caso sejamos assaltados.<br />
Nunca se fizeram visitas domiciliarias,<br />
nunca se or<strong>de</strong>nou a extincção e re-<br />
moção das montureiras que se consentem<br />
e toleram <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong> I<br />
A camara só pensa em altas ques-<br />
lar, mas não pou<strong>de</strong>. No accesso d'uma<br />
tal emoção, a innocencia po<strong>de</strong> parecer<br />
crime, e a vista mais subtil nada consegue<br />
distinguir.<br />
— Minha senhora, acrescentou Paulo<br />
com a voz tremula, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eu ter tido<br />
a culpável franqueza <strong>de</strong> lhe dizer <strong>de</strong><br />
frente a frente esta verda<strong>de</strong> acabrunhau<br />
te, o meu <strong>de</strong>ver é retirar-me immediatamente<br />
e nunca mais tornar a vel-a:<br />
Paulo <strong>de</strong>u alguns passos para a<br />
porta do jardim.<br />
Memma precipitou-se sobre elle côm<br />
uma fúria italiana e, retendo-o pelo<br />
braço, disse-lhe:<br />
—Não se vá embora! Está enganado<br />
sohre o motivo da minha commoção-<br />
Acredito o que me diz, porque o conheço.<br />
Vio entrar no meu jardim o con<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Talormi: entrou. Esse liomein é capaz<br />
<strong>de</strong> fazer tudo menos o bem. Meu Deus!<br />
Não estou aqui segura, <strong>de</strong>pois da partida<br />
do meu irmão; preciso <strong>de</strong> me retirar<br />
e <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r a todas as vistas o logar<br />
para on<strong>de</strong> vou.<br />
A expressão <strong>de</strong> Memma era a da<br />
verda<strong>de</strong>. Não se justificava <strong>de</strong> um crime<br />
impossível, exprimia com as cores mais<br />
sinceras o terror retrospectivo que d'ella<br />
se tinha apo<strong>de</strong>rado por causa da revelação<br />
<strong>de</strong> um espantoso perigo.<br />
Gréant percebeu tudo: e a vida<br />
tornou a animar o seu corpo.<br />
— Sim, Memma, disse elle com uma<br />
voz <strong>de</strong> resuscitado, não duvi<strong>de</strong>i um<br />
momento <strong>de</strong> si: lambem conheço Talor-<br />
tões <strong>de</strong> favoritismo, e a limpeza da cida<strong>de</strong><br />
continúa em completo <strong>de</strong>sleixo. Se<br />
ella consente a creação <strong>de</strong> gado suino<br />
junto das habitações!<br />
Os saguões, espalhados por muitos<br />
pontos da cida<strong>de</strong>, como lhes falte a <strong>de</strong>vida<br />
fiscalisação, não são limpos com a<br />
regularida<strong>de</strong> indispensável para a boa<br />
hygiene, e d'frrjui resulta a aocumulação<br />
dos <strong>de</strong>jectos, que exhalam cheiros pestilenciaes.<br />
A nossa eamaia ignora tudo! Se<br />
ella <strong>de</strong>sconhece que ua quinta do sr.<br />
Luiz Antunes, alguns moradores da rua<br />
d'Alegria fazem alli <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> toda a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> immundicie!<br />
E note-se que fronteiro a esse fóco<br />
<strong>de</strong> infecção, d'on<strong>de</strong> sae um cheiro pestilento,<br />
está a casa das machinas da camara,<br />
e quasi julgamos impossível que<br />
as narinas dos nossos edis não tenham<br />
sido accommettidas pelo fétido d'8quellas<br />
<strong>de</strong>jecções que se conservam a <strong>de</strong>scoberto,<br />
a fermentar ao sol dias e dias. Em occasiões<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> calor na Estrada da Beira,<br />
um passeio concorridissimo, é impossível<br />
passar-se nas imn.ediações do porto dos<br />
Bentos.<br />
Em Santa Clara, na estrada que conduz<br />
a S. Martinho, succe<strong>de</strong> a mesma<br />
cousa; ha tempos que os habitantes<br />
d'aquelle bairro representaram ao sr.<br />
governador civil pedindo a extincção do<br />
pantano que alli existe ; mas é certo que<br />
nada conseguiram e esse fóco <strong>de</strong> infecção<br />
lá está a attestar a incúria e a<br />
inércia das nossas auctorida<strong>de</strong>s.<br />
E' preciso que a imprensa local levante<br />
uma campanha contra este estado<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sleixo era que vemos as corporações<br />
que a seu cargo teem a conservação<br />
da hygiene publica, por isso que este<br />
assumpto é da maxima importancia,<br />
e d'esta incúria pó<strong>de</strong>in resultar graves<br />
prejuízos para uma população que se<br />
vê completamente <strong>de</strong>sprezada em medidas<br />
sanitarias.<br />
Rainlia Santa<br />
Esle anno não haverá procissão, fazendo-se<br />
comtudo uma pomposa festivida<strong>de</strong><br />
na egreja do convento <strong>de</strong> Santa<br />
Clara.<br />
Consla-nos que a mesa d'esta irmanda<strong>de</strong><br />
tenciona impetrar do sr. bispocon<strong>de</strong><br />
a <strong>de</strong>vida auctorisação para estar<br />
exposto ao publico o tumulo que guarda<br />
o corpo da santa rainha.<br />
Incêndio<br />
Na madrugada <strong>de</strong> terça feira houve<br />
incêndio numas casas <strong>de</strong> que é proprietário<br />
o sr. Antonio <strong>de</strong> Sousa Fonseca,<br />
oleiro, no sitio da Corrente, proximo da<br />
Ribeira <strong>de</strong> Cozelhas.<br />
Os prejuízos foram lotaes, e quando<br />
chegou o material da camara já o fogo<br />
havia <strong>de</strong>struído tudo, fazendo-se só o<br />
serviço <strong>de</strong> rescaldo.<br />
O prédio, mobília e bem assim os artigos<br />
que faziam parle d'um estabelecimento<br />
<strong>de</strong> vinhos, estavam seguros nas<br />
companhias Urbana e Portugal, no valor<br />
<strong>de</strong> 4:000/000 réis.<br />
mi e talvez um dia eu lhe revele coisas<br />
formidáveis, que as estrellas tem illuminado<br />
e que só foram vistas pelos meus<br />
olhos. E' verda<strong>de</strong>:—cercam-a gran<strong>de</strong>s<br />
perigos e orgulho-me por julgar, que<br />
haverá na minha coragem a protecção<br />
que Memma procura.<br />
•—Não, não, disse Memma com ternura,<br />
a sua coraxem já foi submetlida a<br />
muitas provas. Não quero que se expunha<br />
mais por minha causa. Ir-me-ei<br />
embora.<br />
— E eu, Memma, fico e vigio; é o<br />
meu <strong>de</strong>ver. Memma, tenha fé na minha<br />
palavra.<br />
Julga conhecer Talormi, mas não o<br />
conhece. Este jardim, esta relva, estas<br />
arvores, este nympheu estão talvez cheios<br />
<strong>de</strong> armadilhas horríveis preparadas para<br />
as primeiras horas da noite. Às pare<strong>de</strong>s<br />
do seu quarto não protegem o seu somno.<br />
Ha no ar, que respiramos aqui, um <strong>de</strong>monio<br />
que a segue com os olhos, cujo<br />
sopro infernal queima a sua pelle e cujos<br />
lábios <strong>de</strong> fogo não esperam senão uma<br />
noite apropriada, para a ultrajar com as<br />
suas caricias 1<br />
Memma, se o archanjo do ceu não vier<br />
aniquilar esse <strong>de</strong>monio, estarei junto <strong>de</strong><br />
si, tranquillo, como a prudência; rápido,<br />
como a espada, vigilante, como o amor.<br />
— Bem, disse Memma, que entrava<br />
lambem a ser dominada pelo seu primeiro<br />
amor, acceito a sua protecção por<br />
algumas horas pois que a minha partida<br />
não po<strong>de</strong> ser tão rapida como eu <strong>de</strong>se-<br />
Juro das interipfSei<br />
Na agencia do Banco <strong>de</strong> Portugal,<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, serão pagos os juros das inscripções<br />
relativos ao semestre que corre,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 2 a 28 <strong>de</strong> junho.<br />
Or<strong>de</strong>m Terceira<br />
Na eleição a que se proce<strong>de</strong>u para<br />
o novo <strong>de</strong>íiniíorio d'eslu corporação, saliiram<br />
eleitos os seguintes senhores:<br />
Commissario — Padre Adriano dos<br />
Santos Pinto. (<br />
Ministro — Conego Gaspar Alves<br />
Frias <strong>de</strong> Eça Ribeiro.<br />
Vice-ministro — Padre Ignacio <strong>de</strong><br />
Carvalho Freitas.<br />
Mestre <strong>de</strong> noviços — Padre Antonio<br />
Augusto Coelho.<br />
Secretario — Manoel Miranda.<br />
Procurador geral—Bacharel Antonio<br />
José da Silva Poiares.<br />
Syndico — Julio Machado Feliciano.<br />
1." Definidor—Padre Joaquim Antonio<br />
<strong>de</strong> Oliveira.<br />
2." Dito — Antonio José Dantas Guimarães.<br />
3.° Dito — Antonio Correia <strong>de</strong> Carvalho<br />
Santos.<br />
4." Dito — Antonio Dias Themido.<br />
Vigário ecclesiastico — Padre Candido<br />
Antonio Leite.<br />
Vigário secular — Manoel Men<strong>de</strong>s<br />
da Eira.<br />
A Or<strong>de</strong>m Terceira está hoje uma corporação<br />
importante, dispensando aos seus<br />
confrados pobres todo o auxilio e protecção,<br />
e é <strong>de</strong> esperar que os novos<br />
eleitos cui<strong>de</strong>m com zelo e <strong>de</strong>dicação dos<br />
seus negocios, mantendo e conservando<br />
o hospital e o asylo, que tão relevantes<br />
serviços tem prestado.<br />
Ponte da Portella<br />
Brevemente vae ser posta em praça<br />
nesta cida<strong>de</strong> os rendimentos dos direitos<br />
d ; esla ponte, bem como outras que<br />
existem nos districtos d'Aveiro, Braga,<br />
Porto e Villa Real.<br />
A kcrmesie dos bombeiros<br />
Está marcada a inauguração d'esla<br />
festa, em beneficio do cofre dos Bombeiros<br />
Voluntários, para o dia 1.° <strong>de</strong> junho,<br />
<strong>de</strong>vendo prorogar-se até 4.<br />
Tudo promette ser bom: as <strong>de</strong>corações<br />
e a illuminação; o bazar e a exposição<br />
dos artefactos industriaes.<br />
Deve chamar muita concorrência esta<br />
festa, que tem um fim sympathico, humanitário,<br />
qual é o <strong>de</strong> coadjuvar uma<br />
nstituição que vem prestando aos habitantes<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> valiosos serviços.<br />
E só para isso trabalha a zelosa direcção<br />
que <strong>de</strong> certo ha <strong>de</strong> encontrar<br />
um publico que lhe pague tantos esforços<br />
e tantos sacrifícios.<br />
Pesos e medidas<br />
Finda no dia 31 do corrente o praso<br />
para o atilamento <strong>de</strong> pesos e medidas.<br />
Aqui <strong>de</strong>ixamos o aviso aos interesrados.<br />
java. Mas, em nome do ceu, seja pru<strong>de</strong>nte;<br />
nada <strong>de</strong> barulho, nada <strong>de</strong> escandalo.<br />
Lemhre-se da minha singular e<br />
triste posição. Que nada chegue ao conhecimento<br />
do mundo. Ah ! meu Deus!<br />
nem é permittido a uma mulher procurar<br />
a protecção das leis; pois que essa<br />
protecção legitima seria um escandalo.<br />
A jusliça legal <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-nos com uma<br />
das mãos e entrega-nos com a outra ás<br />
interpretações da calumnia. O nome <strong>de</strong><br />
uma mulher, <strong>de</strong>samparada como eu, não<br />
<strong>de</strong>ve nunca ser pronunciado, nem sequer<br />
com elogio, por que no dia seguinte é<br />
asperamente criticado. Não sei o que é<br />
preciso pedir á sua coragem; espero que a<br />
sua prudência seja o que é necessário fazer.<br />
Só peço dois ou trez dias <strong>de</strong> segurança.<br />
— Memma, ha <strong>de</strong> ficar satisfeita<br />
commigo, disse Paulo com voz socegada.<br />
—A<strong>de</strong>us, continuou Memma, o tempo<br />
é para mim precioso.<br />
Ainda o verei outra vez... e <strong>de</strong>pois.<br />
.. não nos veremos mais...<br />
Houve um momento <strong>de</strong> triste silencio;<br />
mas duas mãos, ternamente apertadas,<br />
pareciam <strong>de</strong>smentir estas ultimas<br />
palavras, que, comtudo, eram bem sinceras,<br />
quando Memma as pronunciou.<br />
— Memma, disse Gréant, ignoro o<br />
que o <strong>de</strong>stino -me reserva nos graves<br />
<strong>de</strong>veres, que tenho a cumprir; mas pronietta-me<br />
<strong>de</strong> vir em meu auxilio, se tiver<br />
um conselho a pedir-lhe.<br />
— Sim, sim e a<strong>de</strong>us! Prepare-se<br />
para me esquecer.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Conchada enterrarani-se,<br />
na semana ultin a, os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Arnaldo, filho <strong>de</strong> Antonio Gomes e<br />
Maria José <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 5 annos.<br />
Falleceu <strong>de</strong> bronchite aguda, no dia 15.<br />
Leonidas Lobo. filho <strong>de</strong> Fructuoso<br />
Lobo e Maria José da Encarnação, <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 35 annos. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose,<br />
no dia 15,<br />
Maria Clara, filha <strong>de</strong> João Menezes<br />
e Sara Ermelinda Leite Ribeiro, <strong>de</strong><br />
Cellas, <strong>de</strong> 2 annos. Falleceu <strong>de</strong> angina<br />
dyphterica, no dia 16.<br />
Mo<strong>de</strong>sta, filha <strong>de</strong> Manoel Antonio<br />
Simões e Maria da Pieda<strong>de</strong>, da Estrada<br />
da Beira, <strong>de</strong> 4 annos. Falleceu <strong>de</strong> sarampo<br />
(pneumonia), no dia 16.<br />
Francisco, filho <strong>de</strong> Alfredo Amado Ferreira<br />
e Maria da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
<strong>de</strong> 9 mezes. Falleceu <strong>de</strong> meningite, no<br />
dia 16.<br />
Libania Rita <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> pae<br />
incognito e Thereza Rita <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 72 annos. Falleceu <strong>de</strong> cachexia<br />
senil, no dia 20.<br />
José Affonso. filho <strong>de</strong> José Affonso e<br />
Maria Pastora, da Lamarosa, <strong>de</strong> 80 annos.<br />
Falleceu <strong>de</strong> cachexia senil, no dia 20.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemiterio —16:888.<br />
A GRANEL<br />
Em dilíerentes freguezias do concelho<br />
<strong>de</strong> Lamego, estão sem que fazer,<br />
cerca <strong>de</strong> 2:000 trabalhadores.<br />
* * # Já se <strong>de</strong>scobriu o auctor do<br />
roubo <strong>de</strong> cartas contendo a importante<br />
quantia <strong>de</strong> 209$000 réis, em notas, e<br />
uma letra commercial no valor <strong>de</strong> réis<br />
600$000, lançadas no correio <strong>de</strong> Oliveira<br />
<strong>de</strong> Azemeis.<br />
O criminoso, que já confessou o crime,<br />
é um filho do arrematante da conducção<br />
das males entre aquella villa e Ovar.<br />
* * # Consta que se aggravaram os<br />
pa<strong>de</strong>cimento do sr. Pinheiro Chagas.<br />
* * * No ministério das obras publicas<br />
foi entregue pelo sr. Julio Despêcher,<br />
engenheiro, a proposta para o lançamento<br />
do cabo entre Lisboa e Açores.<br />
* * # E' superior a 30:000 o numero<br />
<strong>de</strong> pés <strong>de</strong> arvores que, por occasião<br />
dos últimos tumultos havidos em Manteigas,<br />
os pastores amotinados <strong>de</strong>rrubaram<br />
e arrancaram.<br />
Estúpidos até alli!<br />
* * * Vae ser inaugurado na Phila<strong>de</strong>lphia<br />
um hospital para cães, que será<br />
dirigido pelos principaes veterinários do<br />
paiz<br />
Memma retirou-se fugindo, como se<br />
estivesse em presença d'um supremo perigo;<br />
Paulo vio a <strong>de</strong>saparecer nas sombrias<br />
arcadas do jardim e, quando o seu vestido<br />
branco <strong>de</strong> todo <strong>de</strong>sapareceu, subiu<br />
lentamente o jardim e sahiu com a frente<br />
curvada <strong>de</strong>baixo do peso do sonho divino,<br />
que acabava <strong>de</strong> passar pelos seus<br />
olhos.<br />
Emquanto o sol esteve no horisonte,<br />
Paulo não experimentou nenhuma inquietação<br />
; mas, quando a noite cahiu, lembrou-se<br />
do audacioso Talormi, da ponte<br />
do mirante, e partiu, como uma senliuella,<br />
que recebeu a sua senha, para se<br />
ir collocar no sitio da vigilancia e do<br />
perigo.<br />
Com a mão no cabo do seu excellente<br />
punhal, prompto para a <strong>de</strong>fesa e<br />
não para a aggressão, esperou longas<br />
horas e quando já não esperava ver, viu.<br />
Era Talormi, que subia a la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>serta<br />
: os olhos do amor e do odio não<br />
se podiam enganar. O seu vulto soberbo,<br />
o seu gracioso andar <strong>de</strong> tigre civilisado,<br />
o seu passo firme nas trevas, tudo o<br />
annunciava ao longe:—era elle.<br />
Paulo Gréant fez brilhar o seu punhal<br />
á luz das estrellas e <strong>de</strong>leve-o, di*<br />
zeudo-lhe:<br />
— Se dá um passo mais para a<br />
frente ou para fugir, mato-o I<br />
I mpresso<br />
na Typographla<br />
Operaria — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros, —<br />
COIMBRA,
A M O I — Hf.* 8 » O BO PflVO 3 5
De Profundis!<br />
Vem ha mezes revolvendo-se<br />
por uma prolongada espectativa comatosa<br />
a chamada opinião publica<br />
nacional.<br />
Tal espectativa, porém, não<br />
obe<strong>de</strong>ce a um systema calculado<br />
<strong>de</strong> comprehensão nem a uma arteirice<br />
sabia <strong>de</strong> genle consciente. Esta<br />
lassidão, que é uma enfermida<strong>de</strong><br />
commum, <strong>de</strong>finiu ha muito, nas or<strong>de</strong>ns<br />
intellectual e moral, esta geração<br />
sem protesto, quebrantada <strong>de</strong><br />
todos os arrojos <strong>de</strong> civismo que<br />
atavicamenle lhe cabiam, <strong>de</strong>liquescida<br />
em convencionalismos contraproducentes<br />
que <strong>de</strong>shonestam por<br />
immoraes.<br />
Ha tres annos que a politica<br />
monarchica vem sendo, ostensivamente,<br />
a exhibição farta d'um gran<strong>de</strong><br />
sudário <strong>de</strong> poucas vergonhas,<br />
quo alemorisam e <strong>de</strong>salentam os<br />
que <strong>de</strong> animo quente e consciência<br />
branca veem ingenuamente baloiçar-se<br />
pelos agares da Politica, offerecendo<br />
a sua quota-parte <strong>de</strong> trabalho<br />
na remo<strong>de</strong>lação da vida nacional.<br />
Dia a dia, pela concatentação<br />
dos factos, tem-se concluído qua a<br />
vida <strong>de</strong>vorista e d espantada da monarchia<br />
é que nos trouxe aos confins<br />
d'uma ruina insuperável, ciara,<br />
próxima, <strong>de</strong> que ninguém po<strong>de</strong><br />
duvidar ainda mesmo que não seja<br />
uma «broca <strong>de</strong> observação» como<br />
pon<strong>de</strong>ra o personagem <strong>de</strong> certo romance.<br />
Cremos mesmo, para não pormos<br />
em duvida o equilíbrio mental<br />
<strong>de</strong> ninguém, que lodos estão formalmente<br />
certos <strong>de</strong> que não ha fugir<br />
d'um solavanco enorme que po<strong>de</strong>rá<br />
dizer do nosso <strong>de</strong>stino geographico<br />
e que dirá, por certo, do<br />
nosso <strong>de</strong>stino moral.<br />
Não ha mister <strong>de</strong>scer a minuciosida<strong>de</strong>s<br />
na vida contemporânea<br />
para colher <strong>de</strong> chofre a dolorosa<br />
impressão <strong>de</strong> que vegetamos sob a<br />
pressãod'um vulcão hiante. As mais<br />
mesquinhas parliluras do viver nacional,<br />
singelas no seu <strong>de</strong>sprendimento,<br />
eloquentes no seu rigor, asseveram<br />
ao mais novellesco optimismo<br />
que esta situação ru<strong>de</strong> e tormentosa<br />
em que Portugal se <strong>de</strong>sequilibra,<br />
agastado e senil, é falalissimamente<br />
uma agonia dolorosa,<br />
triste, coinuiovente, a que só serão<br />
frios os que inteiramente se <strong>de</strong>snudaram<br />
dos simples latejos do coração<br />
...<br />
Pasma, horrorisa, o sangue-frio<br />
com que a quasi loda-a-genle, assiste,<br />
impavida e risonha, ao <strong>de</strong>smantelamento<br />
torpe <strong>de</strong> tudo isto:<br />
— um relicário grandioso que os<br />
avoengos nos legaram na obrigação<br />
in<strong>de</strong>clinável <strong>de</strong> lhe altear as virtu<strong>de</strong>s,<br />
mas que nós, miserandamente,<br />
insistentemente, lemos esfarellado<br />
numa perliuacia cynica <strong>de</strong> vandalos,<br />
sem alma e sem fé !<br />
Ha mezes, sobreludo, que uma<br />
intermillencia prolongada aquietou<br />
numa mansão <strong>de</strong> calmaria a gente<br />
porlugueza. Depois d'um enca<strong>de</strong>amento<br />
<strong>de</strong> ministérios vários, saídos<br />
d'um torpe hermaphrodismo<br />
partidario, subiu mais outro, o<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
actual, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacavam alguns<br />
personagens que da sua esteira <strong>de</strong><br />
socialismos fallados, esten<strong>de</strong>ram<br />
nos braços <strong>de</strong> muitos uma tenue<br />
gaze <strong>de</strong> esperanças. Ensarilharamse<br />
quasi Iodas as armas.<br />
Esse ministério, todavia, tem<br />
sido sobrio em actos que o nobilitem<br />
na consi<strong>de</strong>ração popular. Quatro<br />
ou cinco <strong>de</strong>cretos cujos intuitos<br />
se vêem bons, no fundo, mas cujos<br />
effeitos, na pratica, se tornam ineptos<br />
<strong>de</strong>nlro d'esle regimen. Afora<br />
isto, mera vida <strong>de</strong> expedientes, <strong>de</strong><br />
poeiradas, sem rasgos firmes <strong>de</strong><br />
boa vonta<strong>de</strong>, sem revulsivos energicos<br />
que retezem a fibra d'esle<br />
qírasi-cadaver sobre que paira uma<br />
chusma negrejante <strong>de</strong> corvachada<br />
impu<strong>de</strong>nte, se bem que justa.<br />
Nada <strong>de</strong> pratico, <strong>de</strong> immediatamente<br />
efficaz. Tudo papeloso.<br />
Como que escon<strong>de</strong>ndo numa timi<strong>de</strong>z<br />
<strong>de</strong> ereanças a impotência palpavel<br />
dos seus~ <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
messias, atravessados no acume da<br />
gloriola pela tubagem <strong>de</strong>ificante do<br />
elogio fácil.<br />
E comtudo, vistos estes autos<br />
irrespondiveis, conclu<strong>de</strong>ntes, ferindo<br />
lume, a escaldar, a chamada<br />
opinião publica dorme, dorme flacidamente<br />
sonhando nas promessas<br />
do sr. Fuschini, sem reflectir que<br />
o melhor d'ellas está inédito, roçagado<br />
pelos escaninhos das suas gavetas,<br />
abandonado com um <strong>de</strong>samor<br />
espúrio!'<br />
Não obstante a chata esterilida<strong>de</strong><br />
ministerial, conserva-se geralmente<br />
a mesma espectativa fria<br />
como ao principio, olhando por um<br />
prisma <strong>de</strong> ingenuida<strong>de</strong> uns prometlimentos<br />
lisongeiros que os actuaes<br />
ministros tão galantemente souberam<br />
esfiambrar nos ânimos...<br />
Esta indifferença, esta passivida<strong>de</strong>,<br />
á face das mais contun<strong>de</strong>ntes<br />
dificulda<strong>de</strong>s, é um trislisssimo<br />
symptoma da nossa <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia physica<br />
e moral. Não se altinge, ao<br />
simples raciocínio vulgar, como é<br />
que assim se abandonam quatro<br />
milhões <strong>de</strong> almas num laisser aller<br />
repulsivo, eslerilisante, num cansaço<br />
doente <strong>de</strong> vencidos, escandalisador<br />
e dissoluto.<br />
O ventre! só este consegue do<br />
inslinclo da conseivação um cuidado<br />
affecluoso. Só o ventre, porque<br />
o ventre não transige com a modorra,<br />
obriga, pela activida<strong>de</strong> material,<br />
a alterar a linha <strong>de</strong> panriice<br />
effectiva. O resto, ao largo 1 Que<br />
nada conturbe a serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espirito<br />
d'estes ferneas que uma erratum<br />
histórica collocou na <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia<br />
d'uina raça gran<strong>de</strong> f<br />
Perseguição á imprensa<br />
E stb o governo liberal dos liberaes<br />
Fuschini e Bernardino Machado que se<br />
continua na perseguição á imprensa.<br />
Na Pesqueira acaba <strong>de</strong> ser con<strong>de</strong>mnado<br />
por supposto crime <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> imprensa, a 15 dias <strong>de</strong> prisão remíveis<br />
a 500 réis, o sr. Amândio Silva.<br />
Nós protestamos contra tudo isto que<br />
é attentatorio da liberda<strong>de</strong> e indigno <strong>de</strong><br />
homens que tem aftirmado tão brilhantemente<br />
os seus princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />
Ao con<strong>de</strong>mnado enviamos o testemunho<br />
da nossa solidarieda<strong>de</strong>.<br />
Os collegios jesuíticos<br />
(CONTINUAÇÃO)<br />
O que torna mais odiosa a educação<br />
dos collegios jesuíticos, é o facto <strong>de</strong> ser<br />
sempre dirigida no intuito <strong>de</strong> bestialisar<br />
a creança, a ponto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar só bom<br />
o que o jesuíta ensina e mau tudo o<br />
que elle con<strong>de</strong>mna.<br />
D'aqui a obediencia cega a todas as<br />
suas inslrucções.<br />
Se ao jesuíta convém que o educando<br />
venha a augmentar o numero dos filiados<br />
na Or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>pressa o consegue :<br />
tem artifícios a Companhia que raras vezes<br />
falham.<br />
É esta seducção infame que, mais<br />
que tudo, <strong>de</strong>ve con<strong>de</strong>mnar-se e que, só<br />
ella, <strong>de</strong>via bastar para que os governos,<br />
que têm a verda<strong>de</strong>ira comprehensão do<br />
seu fim, prohibissem á Companhia o<br />
educar a mocida<strong>de</strong><br />
São vários os artifícios <strong>de</strong> que a<br />
Companhia dispõe nos collegios para angariar<br />
noviços. Um d'elles é a educação<br />
religiosa, como a comprehen<strong>de</strong> um bom<br />
pae <strong>de</strong> familia, como a or<strong>de</strong>na a Egreja,<br />
como a ensinam, emfim, todos os que<br />
não têm por fito exclusivo a fanatisação<br />
do individuo.<br />
E' uma educação sui-generis, entretendo<br />
continuamente o espirito da creança<br />
com praticas <strong>de</strong> beaterio, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
levantar até ao <strong>de</strong>itar da cama.<br />
Seria curioso ir acompanhando o alumno<br />
em todos os seus movimentos durante<br />
este período <strong>de</strong> tempo; levar-noshia,<br />
porém muito espaço do qual não po<strong>de</strong>mos<br />
dispor e por isso examinaremos<br />
só os laços principaes da armadilha jesuítica<br />
empregada sempre com toda a<br />
refinada malda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que são capazes os<br />
indivíduos encarregados do infame papel<br />
<strong>de</strong> attrahirem á or<strong>de</strong>m as ereanças que<br />
inconscientemente lhes foram entregues.<br />
Mas antes <strong>de</strong> tudo pe<strong>de</strong> a boa critica<br />
que se diga que nem em ambos os<br />
collegios <strong>de</strong> que faltámos se empregam<br />
com a mesma energia os meios <strong>de</strong> seducção,<br />
nem elles são dirigidos para com<br />
todos os seus alumnos ao mesmo fim.<br />
A educação que se ministra em S,<br />
Fiel, differe muito da que os mesmos<br />
educadores ministram eitf Campoli<strong>de</strong>.<br />
O jesuíta que, sabe aproveitar-se<br />
como ninguém das condições <strong>de</strong> vida nos<br />
diversos meios sociaes, não <strong>de</strong>sconhece<br />
que applicar os processos <strong>de</strong> S. Fiei ao<br />
collegio <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong>, situado num centro<br />
muito mais civihsado, em contacto<br />
com o mundo que ha <strong>de</strong> examinar o seu<br />
modo <strong>de</strong> conducla geral, seria a sua<br />
ruina immediata.<br />
for isso em Campoli<strong>de</strong> os jesuítas<br />
hmitam-se a fazer dos collegiaes, <strong>de</strong> ordinário<br />
filhos <strong>de</strong> genle rica e po<strong>de</strong>rosa,<br />
uns beatos mo<strong>de</strong>rnos, que frequentam<br />
os bailes e gozam <strong>de</strong> todos os prazeres<br />
mundanos, mas que <strong>de</strong>fendam a Companhia<br />
dos ataques que lhe são dirigidos,<br />
que, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluírem os<br />
seus cursos superiores, continuem frequentando<br />
as suas egrejas, as suas residências,<br />
contribuindo com a sua presença<br />
a allrahir outros que, com o seu<br />
exemplo,-vão cahindo nos laços dourados<br />
que o jesuitismo lhes arma.<br />
E' por isto e por outras não menos<br />
po<strong>de</strong>rosas influencias que hoje, quando<br />
qualquer acto extraordinário praticado<br />
nos collegios ou recolhimentos jesuíticos<br />
vem alarmar a opinião publica, se levanta<br />
essa turba <strong>de</strong> fanalicos da moda<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a innocencia <strong>de</strong> tão úteis instituições<br />
jesuíticas, dando o principal<br />
contingente para esse exercito <strong>de</strong>fensor<br />
as diseipulas e protectoras dos collegios<br />
jesuíticos. E a <strong>de</strong>feza produzida, em<br />
muitos casos, por gentilezas femininas<br />
raramente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> calar no animo dos<br />
julgadores.<br />
E' por isso que os jesuítas <strong>de</strong> todos<br />
os tempos têm <strong>de</strong>dicado o maior cuidado<br />
á fanatisação da mulher, pois que<br />
sabem perfeitamente o papel importantíssimo<br />
que ella <strong>de</strong>sempenha na familia<br />
e na socieda<strong>de</strong>.<br />
Era Campoli<strong>de</strong>, como dizia, raramente<br />
se seduzem os alumnos a entrar na<br />
V<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893 H.° 90<br />
do Povo<br />
Or<strong>de</strong>m; só quando não têem a temer a<br />
influencia que a familia, contrariada,<br />
po<strong>de</strong>ria exercer contra os seductores, só<br />
quando as famílias são inteiramente affectas<br />
á Companhia e que mostram <strong>de</strong>sejos<br />
<strong>de</strong> ter a subida honra <strong>de</strong> contar um<br />
dos seus membros entre os filhos <strong>de</strong><br />
Loyola, é que os jesuítas dirigem os<br />
seus manejos no sentido <strong>de</strong> obrigar esses<br />
collegiaes a professar.<br />
Mas a acção do fanatismo <strong>de</strong> que<br />
vem possuídos os collegiaes <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong>,<br />
se <strong>de</strong>pois lhes não <strong>de</strong>sapparece com<br />
os estudos superiores, torna-se talvez<br />
mais perigosa do que a dos proprios<br />
membros da Or<strong>de</strong>m, porque estes têm<br />
uma certa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r os<br />
seus manejos, ao passo que aquelles,<br />
que não po<strong>de</strong>m facilmente ser perseguidos,<br />
fazem até certa gala em se mostrar<br />
<strong>de</strong>xtros <strong>de</strong>fensores do jesuitismo, protegendo<br />
lhe as suas casas, dando incremento<br />
a um sem numero <strong>de</strong> associações<br />
<strong>de</strong>votas que vão creando por esse paiz<br />
fóra, tornando-se, emlim, temíveis propugnadores<br />
das suas perigosas doutrinas.<br />
O meio em que se encontra o collegio<br />
<strong>de</strong> S. Fiel é outro, e, como veremos,<br />
a seducção alli exercida dirige-se<br />
a fins mais complexos e não menos con<strong>de</strong>mnaveis.<br />
cA. S.<br />
Contra as propostas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Reuniram os médicos <strong>de</strong> Lisboa para<br />
representar ao parlamento contra a proposta<br />
da contribuição industrial, na parte<br />
em que lhes eleva a taxa <strong>de</strong> 37/000<br />
para 90/000.<br />
* Os srs. Antonio Almeida da Costa<br />
& C. a , proprietários das fabricas <strong>de</strong> ceramica<br />
e fundição das Devezas, representam<br />
ao parlamento contra o aggravamento<br />
<strong>de</strong> contribuição que o sr. Fuschini<br />
preten<strong>de</strong> impôr-lhes.<br />
Estes industriaes pagam por cada<br />
operário que empregam na fabrica a<br />
contribuição <strong>de</strong> 1/120 réis. O sr. ministro<br />
da fazenda exíge-lhes por cada<br />
operário 1/600, isto é, mais 42 p. c.<br />
e,.além d isso, ainda mais 4/500 por<br />
cada cavallo <strong>de</strong> vapor I<br />
* Os algibebes do Porto resolveram,<br />
por unanimida<strong>de</strong>, representar ao parlamento<br />
pedindo-lhe que não approve as<br />
propostas do sr. Fuschini e, principalmente,<br />
que a cida<strong>de</strong> do Porto não passe<br />
a terra <strong>de</strong> l. a or<strong>de</strong>m para os effeitos<br />
fiscaes e que não seja elevada a taxa<br />
da contribuição industrial dos reclamantes,<br />
<strong>de</strong> 18#000 para 55#000, monstruosida<strong>de</strong><br />
esta que o sr. ministro da fazenda<br />
propõe.<br />
* Está convocada a assemblêa geral<br />
da Associação Industrial Portuense para<br />
apreciar as propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />
* Os ourives portuenses, reunidos<br />
na Associação Beneíica dos Ourives do<br />
Porto, resolveram protestar ante o parlamento<br />
contra a proposta que eleva a<br />
taxa da sua contribuição industrial <strong>de</strong><br />
32$UOO para 90$000.<br />
* As direcções das fabricas <strong>de</strong><br />
chapéus Social e Costa Braga, do Porto,<br />
vão também representar contra as propostas<br />
<strong>de</strong> fazenda.<br />
* Hoje realUa-se em Aveiro um<br />
comício para protestar contra a proposta<br />
da contribuição predial.<br />
Grève dos corliceiros<br />
Estão em grève os corliceiros da fabrica<br />
Villarinho & Caiado, <strong>de</strong> Faro, pedindo<br />
que os salarios lhes sejam equiparados<br />
aos das outras fabricas.<br />
Os grévislas são em numero <strong>de</strong> 64<br />
das profissões <strong>de</strong> rolheiros, manuaes e<br />
mechanicos, recortadores, rabanadores,<br />
quadradores, escolhedores, raspadores e<br />
outros.<br />
Todos os grevistas estão resolvidos<br />
a nada ce<strong>de</strong>r das suas pretensões, e<br />
pe<strong>de</strong>m o auxilio dos operários.<br />
REVISTA LITTERARIA<br />
Á Gandaia, impressões e esbocelos<br />
d'um vadio, por Fernão Vaz — <strong>Coimbra</strong>,<br />
1893, Typographia Operaria.<br />
Assim se chama um livro que nos<br />
caiu sobre a meza <strong>de</strong> trabalho, tendo<br />
98 paginas, papel pardacento e critica<br />
feroz. Fernão Yaz, que julgamos ser um<br />
pseudonymo, é o critico, que sem contemplações<br />
nem reticencias, se julga no<br />
direito <strong>de</strong> cortar por on<strong>de</strong> muito bem<br />
lhe apraz. Neste proposito, corta. A sua<br />
critica é quasi sempre <strong>de</strong>sabrida, o que<br />
lhe prejudica algum tanto o intuito, que<br />
é por vezes apreciavel.<br />
A sua prosa resenle-se suggeslivamente<br />
da <strong>de</strong> Fialho d'Almeida que por<br />
certo Fernão Vaz lê e lê muito.<br />
Ha uns tudo nadas <strong>de</strong>stoantes que<br />
também notaremos: a somenos importância<br />
<strong>de</strong> assumptos tratados: coisas<br />
transitórias, vagas, que dão ao livro a<br />
mera qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pamphleto <strong>de</strong> occasião.<br />
Ao contrario da nova seita litteraria,<br />
qualificada <strong>de</strong> Novos, que se exhihem<br />
numa concentração <strong>de</strong> ascetas, aneurastesicos,<br />
languidos, o sr. Fernão Yaz<br />
surge com todas as fúrias d'um viril, retezado<br />
para o combate, <strong>de</strong> lesta erguida<br />
e olhar esperto, uns leves arrobos richepinistas,<br />
fluctuando...<br />
E' esta uma disposição boa porque<br />
o que a lilteratura precisa, como todas<br />
as nossas manifestações vitaes, é d'animos<br />
inquebraveis que virilisera os seus<br />
pensamentos, dando-lhes vigor na fórma.<br />
De resto, não nos furtaremos a dizer<br />
que a estreia do sr. Fernão Vaz,<br />
tem <strong>de</strong>feitos e muitos, ao lado <strong>de</strong> boas<br />
qualida<strong>de</strong>s. O feitio <strong>de</strong> levar á facada<br />
tudo e todos, aggredindo e insultando<br />
pessoas sem o menor rebuço, encaixando<br />
palavrões <strong>de</strong>safinados, é péssimo; temos<br />
porém a quasi certeza <strong>de</strong> que esse processo<br />
se não systematisará porque cedo<br />
o sr. Fernão Vaz reflectirá que não é<br />
aquelle o caminho que leva ao Conceito<br />
Puro...<br />
A factura <strong>de</strong> Fialho é só: eile tem<br />
a inimilahilida<strong>de</strong> do savoir dire. Rasga,<br />
corta, fura, fere, <strong>de</strong>sfaz, arrasta pela<br />
lama, mas por uma fórma tal, risonho e<br />
severo, que a gente, espíritos dispostos<br />
ao <strong>de</strong>ilar-ahaixo, achamos <strong>de</strong> primeira<br />
or<strong>de</strong>m. E vem a pèllo referir o<br />
ultimo numero dos Gatos, dóse referente<br />
ao Parfum.<br />
Ora o sr. Fernão Vaz, querendo roçar<br />
a obra <strong>de</strong> Fialho, na sua intuição<br />
gcal, per<strong>de</strong>u-se em exaggeros que <strong>de</strong>slustram.<br />
Reconhecendo-lhe habilida<strong>de</strong> e talento,<br />
nós confiamos que Fernão Vaz,<br />
irá recompondo as suas catilinarias, suavísando-lhe<br />
a fórma sem que comtudo<br />
lhe tire o feitio energico e cauterisante.<br />
A contribuição industrial<br />
Para que o leitor possa avaliar bem<br />
o que são as propostas <strong>de</strong> fazenda do<br />
sr. Fuschini, e o que esle ministro do<br />
estado exige do contribuinte, publicámos<br />
a seguinte tabella que é bem elucidativa.<br />
Terias <strong>de</strong> /. a or<strong>de</strong>m Terras <strong>de</strong> 3. 8 iriem<br />
Cias. Taxa actual p r^ t a<br />
1." 3001000 600,0000<br />
2 * 1201000 2001000<br />
3.' 1 901000 1201000<br />
4. a<br />
5."<br />
6.*<br />
7."<br />
8.«<br />
600000 900000<br />
37^000 550000<br />
220OJO 280000<br />
110000<br />
110000<br />
30000<br />
Taxa actual<br />
1500000<br />
600000<br />
520000<br />
370000<br />
220000<br />
130JOO<br />
50000<br />
10200<br />
Taxa<br />
proposta<br />
3000000<br />
1100000<br />
700000<br />
500000<br />
300000<br />
170000<br />
50000<br />
10600<br />
Depois d'isto digam-nos se o povo<br />
pô<strong>de</strong> supportar um augmento d'esta or<strong>de</strong>m<br />
! Como se vê as alterações são<br />
exorbitantes e nem escapou á ambição<br />
do sr. Fuschini a classe 8. a on<strong>de</strong> estão<br />
incluídos os misteres mais mo<strong>de</strong>stos, a<br />
qual solíreu uma elevação importante.<br />
E' impossível que o paiz não reaja<br />
contra semelhante impudência e não<br />
exija do parlamento a reprovação completa<br />
<strong>de</strong> taes medidas.<br />
Abaixo o augmento dos impostos 1
ANNO I — N. 9 90<br />
CEYSTAES<br />
Carta do Outomno<br />
Escreves-me, Maria,<br />
Na folha <strong>de</strong> uma olaya; -<br />
E a carta recebi-a<br />
Já quando a flôr <strong>de</strong>smaia.<br />
É sempre assim! por mais<br />
Que eu chore esse abandono;<br />
—Noticias <strong>de</strong> teus ais<br />
Recebo-as só no outomno.<br />
Mas... e teu nome, espera!<br />
É quanto nella existe...<br />
— Que triste primavera!<br />
Ai, como o outomno ó triste!<br />
Saco<strong>de</strong> o vento a folha,<br />
Arrasta-a pelo azul,<br />
E o sol... esse já olha<br />
Um pouco lá do sul.<br />
O prado ver<strong>de</strong>jante<br />
De relvas e boninas<br />
O cedro mais gigante<br />
D'além, entre collinas;<br />
Aquella arvore immensa<br />
De velha—o roble, enfermo,<br />
Tudo isso dorme e pensa<br />
Neste sombrio ermo.<br />
Outr'ora... (ai! mais não quero<br />
Dizer-te com franqueza,<br />
Pois este <strong>de</strong>sespero<br />
Inflige-me tristeza!)<br />
Das coisas mais formosas<br />
Fallavas-me, e do ceu...<br />
— Mas hoje, só ha rosas<br />
Que o vento emmurcheceu.<br />
Embora 1 só teu nome<br />
Escreve ao menos sim!<br />
Na dôr que me consome<br />
Virá o ailivio; e assim<br />
Direi que tu me escreves<br />
As tuas cartas breves,<br />
Do céu... por malapostas<br />
Que a brisa traz ás costas.<br />
LETTRA.S<br />
Ura susto<br />
HUGO DINIZ.<br />
Estava a fazer-se noite. Já por <strong>de</strong>traz<br />
das carvalhas se erguia um piarão avermelhado<br />
como o d'um pavoroso incêndio:<br />
a lua cheia. »<br />
Não sei que é, mas nos montados, a<br />
esta hora, lia um surdo rumor por sob<br />
as hervas, entre os silvedos, nas arvores<br />
como se um mundo <strong>de</strong> espíritos se estivesse<br />
<strong>de</strong>spertando para viver emquanto<br />
nós dormimos, Ora esle latejar <strong>de</strong> vida<br />
nocturna se assusta espíritos fortes que<br />
fará o d'esta pequena, que guarda uma<br />
cabra preta e outra branca, e terá cinco<br />
annos, se tiver. Vem, portanto, apressadamente<br />
<strong>de</strong>scendo o monte e fazendo seguir<br />
na sua frente os dois animaes que<br />
param aqui, sobem alli, fogem para acolá,<br />
atraz d'um rebento <strong>de</strong> silvados ou d'uma<br />
pernada <strong>de</strong> hei va fresca. Eu não sei <strong>de</strong><br />
animaes mais comedores — chó Branca,<br />
clió Caniça. E a pequenita aillicta lá sóhe<br />
a enxotar uma, la procura pedra para<br />
fazer <strong>de</strong>sempoleirar outra do cimo d'um<br />
alto penhasco Oh! que inferno! Nunca<br />
se satisfazem estes malarricos <strong>de</strong> cabras !<br />
No entanto a lua vae subindo Parece<br />
dia. Na al<strong>de</strong>ia vem tudo para a soleira<br />
das portas. Ninguém se lembra <strong>de</strong> ler<br />
visto uma lua assim.<br />
Luar <strong>de</strong> Janeiro vale um carneiro. ..<br />
diz um visinho.<br />
— Mas lá vem o <strong>de</strong> Agosto que lhe<br />
dá <strong>de</strong> rosto, termina outro.<br />
— Dá-lhe <strong>de</strong> rosto, isso é verda<strong>de</strong>.<br />
Tenho pena até <strong>de</strong> me ir <strong>de</strong>itar. Olhe que<br />
parece dia.<br />
— Isto é bom signal. A novida<strong>de</strong><br />
ha<strong>de</strong> ser boa. Os milhaes estão um regalo.<br />
.. Você não ouviu chorar?<br />
— Ouvi, ouvi.<br />
— Que é lá isso, ó tia Angelica?<br />
A lia Angelica, que passa diante da<br />
porta, pára e diz :<br />
— A Can<strong>de</strong>ias mandou a filha para o<br />
monte com as cabras e está a chorar á<br />
porta porque a pequena ainda não veio.<br />
Chegou agora <strong>de</strong> a procurar por toda a<br />
al<strong>de</strong>ia. Ninguém lhe soube dar noticias.<br />
Quem sabe o que lhe terá succedido ?<br />
Não lem ca o homem. Vou chamar o lio<br />
Zé Pereira para que vá em busca d'ella.<br />
Também quem manda para o monte uma<br />
creança tão pequena I<br />
— Vá lá chamar o Zé Pereira, tia<br />
Angelica. Eu também vou procural-a.<br />
— JS eu,<br />
— E eu.<br />
— E eu.<br />
E toda a al<strong>de</strong>ia quer ir.<br />
— Então vamos lá.<br />
— Por aqui, por aqui.<br />
— Mas para que chora ? tia M»ria.<br />
A pequena ha <strong>de</strong> apparecer. Ninguém<br />
lh'a queria, <strong>de</strong>-cance. Quem os fez que<br />
ós ature.<br />
Vão assim animando a mãe que vae<br />
na frente, em cabeilo, com os olhos chorosos,<br />
muito abertos, espiando as ribanceiras<br />
e os barrocaes,<br />
— Ai I meu Deus, diz ella estacando;<br />
olhem, olhem; que será aquillo preto?<br />
Chegaram-se todos.<br />
— Aon<strong>de</strong> ?<br />
—Alli, no fundo... então não vêem?!'<br />
Ai! Senhor! é ella, é ella. E nisto um<br />
berro que assusta as aves que dormem<br />
nos ninhos com os lilhos <strong>de</strong>baixo d'aza.<br />
— Vossemecê está tonta : alli não<br />
está nada.<br />
— Não está nada, não,—confirmam<br />
as outras mulheres a quem aquelle grito<br />
<strong>de</strong> mãe roubada poz o coração aos<br />
pulos.<br />
— Não é ella? não? digam-me, digam-me.<br />
Tem o terror estampado nas faces,<br />
as mãos apertadas na cabeça, os olhos<br />
esgaseados...— digam-me, dixam-me.<br />
— E' o que eu digo; vossemecê não<br />
está boa.<br />
Mais adiante, a mãe estaca <strong>de</strong> novo,<br />
curvada para a frente, atlrihulada outra<br />
vez. Gemidos? ella ouve gemidos. E' a<br />
pequena. Accudam, accudam.<br />
Mas ninguém ouve nada. A lua vae<br />
alta. Longe, lá para os lados da al<strong>de</strong>ia,<br />
parece que canta um rouxinol. De fraga<br />
em fraga, reverberando o luar, um fio <strong>de</strong><br />
agua, que se <strong>de</strong>spenha, diz uma cantilena<br />
melancólica.<br />
Todos caminham calados. De quando<br />
em quando falia unia voz:—ora a pequena!<br />
on<strong>de</strong> se metteria o mafarrico?<br />
A mãe soluça mais alto. A cousa<br />
torna se um pouco séria, quando, ao<br />
<strong>de</strong>sembocar d'um caminho, todos exclamam<br />
:<br />
—t Olhem-na !<br />
Na verda<strong>de</strong> a pequena lá eslava,<br />
adormecida, com um bracito sobre uma<br />
pedra e a cabecita no braço. A lua dava-lhe<br />
em cheio. D'um e d'outro lado a<br />
cabra branca n a cabra preta pareciam<br />
esperar que <strong>de</strong>speitasse para que as guie<br />
ao curral. Era um gracioso quadro. ,<br />
A al<strong>de</strong>ia fez roda em frente. A mãe<br />
tinha nos olhos e 110 rosto todas as alegrias<br />
d'este mundo e um poucoebito das<br />
do outro. —Oh ! como cila dorme!<br />
E todos repetem. — Como dorme !<br />
— Olhem; e está a sorrir, observa<br />
um.<br />
— Tem razão, sim senhor, a pequena<br />
está a sorrir. Veem-se branquejar entre<br />
os lábios um pouco abertos, os <strong>de</strong>ntitos<br />
aliados.<br />
— Maria ! Maria !<br />
Abre os Olhos:<br />
— Ali! a mãe I<br />
Esta pega nella ao collo, heija-a muito.<br />
Duas lagrimas <strong>de</strong>sceni-llie pelas faces.<br />
— O que lu merecias, bem sei eu !<br />
Que susto! Deixa estar que em casa te<br />
ensino. Isto são modos ?<br />
— Não fui eu ; loram as cabras. Uma<br />
foge para aqui, outra para acolá; a Branca<br />
vae para um lado, a Caniça vae para<br />
outro. Já não podia correr mais atraz<br />
d*elIas. Acho que sc não queriam <strong>de</strong>itar<br />
com uma lua tão bonita. Julgavam que<br />
ainda era dia. Então ella, cançada, sentou-se<br />
alli a òhamal-as:—Caniça, Branca.<br />
E não vinham. Ai! a mãe. Alé se poz a<br />
chorar.—Que cabras! Que castigo! Começou<br />
então a rezar a N. Senhora d'Ajuda<br />
e a pedir-lhe que lh'as trouxesse para se<br />
irem <strong>de</strong>itar que estava cheiinha <strong>de</strong> somno.<br />
«Salvé Rainha, mãe <strong>de</strong> misericórdia» resava<br />
ella, quando vê <strong>de</strong>scer lá dos ceus<br />
uma cachopa muito rica e muito linda e<br />
beijai-a e começar a chamar numa voz<br />
que parecia musica — Branca, Caniça —<br />
e logo as duas,cabras a correr pelo monte<br />
abaixo, logo, logo, e a Senhora a dizerlhe;<br />
—a<strong>de</strong>i, Maria, aqui teus. as tuas<br />
cabras, Maria.. . e abre os olhos e vê a<br />
Branca e a Caniça, e a mãe, e o tio Zé<br />
Pereira, e as amigas, e os visinhos.<br />
oh !...<br />
De caminho para casa—-cabras na<br />
frente — um a um toma-a ao collo e pergunta<br />
lhe :<br />
— Então tu viste N. Senhora, pequena<br />
?<br />
— O' se vi. Tinha o rosto muito lindo:<br />
trazia um chapou <strong>de</strong> velludo com<br />
pena branca e espelhinho como o da Josepha<br />
do Adro; uma saia com muita<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
U» 4M5H9S«BHM«MHMaBHHa»aWM»«- S<br />
roda. Era <strong>de</strong> vêr como vinha cheia <strong>de</strong><br />
oiro e me dizia :<br />
— A<strong>de</strong>i, Maria; queres as luas cabras<br />
Maria; eu vou por ellos, Maria.<br />
A mãe, ao lado, radiante <strong>de</strong> alegria,<br />
ouve.-a e olha-a com os seus olhos <strong>de</strong><br />
amor, ainda chorosos.<br />
Pobre <strong>de</strong> quem tem filhos que nunca<br />
o coração lhe dorme e sempre os olhos<br />
lhe choram.<br />
Guilherme Gama.<br />
Em cheque<br />
Diz se que o sr. ministro das obras<br />
publicas vae sahir do ministério, por<br />
isso que não está disposto a supporlar<br />
por mais tempo as intrigas da politica.<br />
Que saia, pois nunca para lá <strong>de</strong>veria<br />
ter entrado.<br />
Aquilio suja e <strong>de</strong>prime.<br />
O nosso anjo<br />
Ainda por lá anda a flanar pela palria<br />
amada, que felizmente está livre <strong>de</strong> lhe<br />
pagar as suas dissipações. *<br />
Ponta dura que recalcitou em principio,<br />
negando-lhe o dinheiro pedido<br />
para a viagem á ltalia, dizem ter pago<br />
já um saque <strong>de</strong> cincoenta e quatro contos<br />
<strong>de</strong> réis.<br />
Fuschini, amolleceu a ponta. Está<br />
Tartuffo!<br />
Mais fra<strong>de</strong>s!<br />
Está em scena uma peça sympathica<br />
do constitucionalismo mo<strong>de</strong>rno — a creação<br />
<strong>de</strong> novas or<strong>de</strong>ns religiosas, assim<br />
chamadas com pouca razão— e evi<strong>de</strong>ntemente<br />
prejudicial á liberda<strong>de</strong>, ao progresso<br />
e á sã moral, como reaccionaria<br />
e impolitica que é.<br />
Já não é <strong>de</strong> hoje, nem <strong>de</strong> honlem<br />
esta aspiração sinistra e tenebrosa dos<br />
inimigos da liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> parceria com<br />
os falsos amigos d'ella.<br />
De ha muito se pensou nos centros<br />
do constitucionalismo em pôr peias á<br />
marcha liberal e aproveitar todos os meios<br />
e occasiões para o asqueroso retrocesso<br />
político e social.<br />
Têm cooperado na tenebrosa tarefa<br />
a roupeta e a sotaina com a connivencia<br />
e coadjuvação do jesuitismo <strong>de</strong> casaca e<br />
ainda com os bons serviços do sexo feminino<br />
<strong>de</strong> alto e baixo cothurno, não <strong>de</strong><br />
todo, diga-se a verda<strong>de</strong> e faça-se justiça,<br />
mas <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> parte, umas<br />
por força <strong>de</strong> fanatismo, outras pensando<br />
em dar a Deus os resíduos do que levam<br />
ao diabo.<br />
Com todos estes recursos levam todos<br />
á porfia a sua obra bem adiantada,<br />
e não dizemos que não hão <strong>de</strong> levar<br />
ao lim, visto o muito que temos visto e<br />
eslamos vendo.<br />
Nem o pre-ente governo, nem os que<br />
o têiu precedido, se incommodam com<br />
os manejos do jesuitismo e dos seus<br />
agentes e associados, nem é <strong>de</strong> estranhar<br />
isso, se uns e outros, cada um por seu<br />
turno e pela parte tocante aspiram ao<br />
mesmo lim <strong>de</strong> retrocesso fazendo voltar<br />
tudo ao ponto da partida.<br />
Do lado contrario á reacção está apenas<br />
o. partido republicano e, se é verda<strong>de</strong>,<br />
ainda alguns constilucionaes, vão<br />
arrependidos, mas tudo isso é pouco<br />
comparativamente com as forças do inimigo.<br />
Era preciso para isso e para o mais<br />
neccessario o serviço e o apoio das classes<br />
inferiores, e estas para esle louvável<br />
fim po<strong>de</strong>riam prestar se, mas essas<br />
classes só por si nada fazem e nunca o<br />
fizeram, careciam <strong>de</strong> dirigentes c nos tempos<br />
presentes não os encontram, tal é<br />
a força do egoísmo das condições, dada a<br />
crença que já chega a abranger os homens<br />
da escola <strong>de</strong>mocratica que ainda<br />
não foram ao po<strong>de</strong>r e que, por honra<br />
sua e pela mudança <strong>de</strong> systema, não<br />
po<strong>de</strong>riam, nem <strong>de</strong>viam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dirigir<br />
melhor a nau do Estado, em utilida<strong>de</strong><br />
da collectivída<strong>de</strong> social, quando a elle<br />
chegassem.<br />
As massas po<strong>de</strong>m muito quando são<br />
bem dirigidas.<br />
Sem direcção nada valem.<br />
Ern 1846 e 1847 mostraram ellas<br />
ao paiz e ao mundo a força do seu braço<br />
porque tomavam conta da sua direcção<br />
e commatido os homens das localida<strong>de</strong>s,<br />
superiores pelos seus haveres e<br />
pela sua illustração, e não só estes, mas<br />
muitos militares, generaes e <strong>de</strong> patentes<br />
inferiores e confraternisaado assim, o<br />
movimento tomou tal importancia, que<br />
se afinal houvesse quem bem o soubesse<br />
aproveitar, muito leria ganhado o<br />
paiz e a sua situação actual seria muito<br />
outra.<br />
Depois, tudo mudou e muitos d'aquelles<br />
mesmos que dirigiam esse movimento,<br />
renegaram, e como que se refundiram,<br />
e são os que mais têm collaborado<br />
na obra da <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia e da ruína do<br />
povo e da patria, exhibindo o <strong>de</strong>shonroso<br />
papel <strong>de</strong> um egoísmo feroz, anti popular,<br />
anti-palriotico, anti-moral.<br />
Mais <strong>de</strong> quarenta annos <strong>de</strong> reinado<br />
do constitucionalismo não lem passado<br />
<strong>de</strong>bal<strong>de</strong>, tem sido bem aproveitados em<br />
seu proveito pelos reaccionários <strong>de</strong> todas<br />
as facções para o iriumpho da <strong>de</strong>testável<br />
causa a que se propõem.<br />
Neste longo período o povo immobilisou-se,<br />
<strong>de</strong>screu <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong> tudo, até<br />
<strong>de</strong> si mesmo, e fanatisado e amollecido,<br />
como se acha, <strong>de</strong>ixará por tudo — o jejesuitismo—os<br />
novos fra<strong>de</strong>s, o novo cargo<br />
<strong>de</strong> impostos e tudo quanto o crucifica!<br />
Os governos e a realoza-mãe tem-<br />
Ihe tomado o pulso, e sabem que é occasião<br />
opporluna para tudo levarem <strong>de</strong><br />
vencida e por isso marcham á sorte e<br />
sem temer.<br />
Assim, e por este andar, <strong>de</strong>ntro em<br />
pouco, talvez, infelizmente, os que viverem,<br />
terão <strong>de</strong> presenciar coisas tétricas,<br />
se o acaso e a Provi<strong>de</strong>ncia não inspirarem<br />
o sentimento publico para tomar outro<br />
rumo e mais conveniente orientação.<br />
A obra monumental do immortal marquez<br />
<strong>de</strong> Pombal, será anniquillada e a<br />
obra meritória <strong>de</strong> Joaquim Anlonio <strong>de</strong><br />
Aguiar, d'este gran<strong>de</strong> vulto politico e<br />
eximio estadista, os quaes tanto fizeram<br />
no único intuito do bem da sua palria e<br />
não para explorarem o povo, serão neutralisados<br />
em proveito <strong>de</strong> classes privilegiadas,<br />
cuja constante aspiração é su<br />
gar a seiva nacional e o producto das<br />
classes trabalhadoras para mais gozarem<br />
e passarem vida regalada.<br />
. i<br />
Taboa, 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />
•<br />
Novo bando<br />
Começa a fallar-se na resurreição<br />
do parlido reformista, com o srs. Julio<br />
<strong>de</strong> Vilhena e João Arroyo no grémio, e<br />
diz-se que ha probabilida<strong>de</strong>s que o sr.<br />
Mariano <strong>de</strong> Carvalho tome conta do penacho<br />
Que roais quererão estes excelsos patriotas?!.<br />
..<br />
Subsidio aos <strong>de</strong>putados<br />
Vae ser apresentado no parlamento<br />
uma proposta restabelecendo o subsidio<br />
aos <strong>de</strong>putados.<br />
Pelos sacrifícios e pelo trabalho que<br />
offerecem ao paiz bem merecem que<br />
éste lhes pague.<br />
Que a vida está cara ricos filhos! E<br />
são estes que fazem o pão caro.<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Felgueira, 25 <strong>de</strong> maio.<br />
De proposiio guar<strong>de</strong>i para mais tar<strong>de</strong><br />
o faliar do edifício balnear, e das<br />
aguas thermaes d'esta localida<strong>de</strong>.<br />
São sulphuricas estas aguas e reconhecidas<br />
<strong>de</strong> lia muito como óptimas;<br />
todos os annos concorrem a usar d'ellas<br />
centenas <strong>de</strong> pessoas, vindas <strong>de</strong> todos os<br />
pontos do paiz.<br />
Quasi <strong>de</strong>sconhecidas a principio, os<br />
banhos eram tomados em barracas <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, um pouco abaixo da fonte, construídas<br />
toscamente e occupando um limitadíssimo<br />
espaço — pouco mais <strong>de</strong> dois<br />
melros quadrados <strong>de</strong> superfície — em<br />
pias <strong>de</strong> pedra on<strong>de</strong> mal cabiam as quatros<br />
pessoas que em coininum se banhavam.<br />
O mais primitivo, o mais simples<br />
e lambem o menos limpo.<br />
Ainda bem, que taes barracas e taes<br />
pias só vivem hoje na lembrança d'aquelles,<br />
que, por mal dos seus peccados, ou<br />
tinham <strong>de</strong> se aproveitar da chafurdação<br />
commum, ou <strong>de</strong> trazer <strong>de</strong> casa banheiras<br />
próprias e creado que aturar.<br />
Foi em 1882 que, <strong>de</strong>vido á iniciativa<br />
do sr. José Maria Marques Cal<strong>de</strong>ira, a<br />
quem a camara d.s Nelias fez a concessão<br />
(las aguas, se formou em Lisboa uma<br />
companhia para a sua exploração, com o<br />
capital <strong>de</strong> cento e vinte contos <strong>de</strong> réis,<br />
<strong>de</strong>nominando-se — Companhia das aguas<br />
medicinais da Felgueira.<br />
3 8 d e m a i o d e i § 8 3<br />
Começou então o periodo do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
d'esla apreciavel estancia<br />
thermal.<br />
Construiu se um tosto edifício nas<br />
mais apropriadas condições, com 16 tinas,<br />
<strong>de</strong> 1 .*; 13 <strong>de</strong> 2. a ; 4 <strong>de</strong> 3. a ; e 8 <strong>de</strong><br />
4. a , e numa <strong>de</strong>pendência do edifício ha<br />
mais 14 tinas para ns menos abastados ;<br />
os preços são — 400, 300, 200, 150,<br />
100 e 50 réis.<br />
Não cessam, porém, os proprietários<br />
das thermas <strong>de</strong> promover os maiores<br />
melhoramentos, e os trabalhos este anno<br />
feitos são muitos já — constrúiu-se um<br />
novo <strong>de</strong>posito; montõu-se um novo apparelho<br />
para douches, havendo actualmente<br />
dois, um para senhoras e outro para homens;<br />
a sala das inhalações foi mudada<br />
para o primeiro pavimento, dando-se-lhe<br />
o aceio e as commodidá<strong>de</strong>s que este<br />
processo <strong>de</strong> tratamento requer, emfim,<br />
envidam-se lodos os esforços para offerecer<br />
aos banhistas todas as commodida<strong>de</strong>s.<br />
Bepresenta aqui a empreza o sr. Antonio<br />
Rosa Bray, homem respeitável,<br />
sympathico e que apezar do seu aspecto<br />
severo, é comtudo um bom vivant, animando<br />
com as suas historias e os seus<br />
ditos os serões no hotel Maial, on<strong>de</strong> está<br />
hospedado, emquanto o parceiro que foi<br />
á casca, estuda o jogo e <strong>de</strong>clara o<br />
trunfo.<br />
Quando nos conta novamente, sr.<br />
Bray, aquella historia da eleição dos<br />
Dois Postos, on<strong>de</strong> o amigo foi uni heroe<br />
e on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senganou <strong>de</strong> que isto <strong>de</strong><br />
politica é uma farça ?<br />
* Teem chegado muitos banhistas.<br />
No hotel Maial está hospedado o sr.<br />
Anlonio d'Abreu, <strong>de</strong> Cannas <strong>de</strong> Senhorins,<br />
<strong>de</strong> elevado caracter fidalgo.<br />
Até breve. C.<br />
• •<br />
Longevida<strong>de</strong><br />
Em Vi<strong>de</strong>monte, concelho da Guarda,<br />
falleceu ha poucos dias um individuo do<br />
sexo masculino, que contava a bonita<br />
eda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 106 annos; tinha todos os<br />
<strong>de</strong>ntes e estava em perfeito uso das suas<br />
faculda<strong>de</strong>s.<br />
Também em Mello, concelho <strong>de</strong> Gotfvêa,<br />
seguido informa um jornal da Guarda,<br />
existem duas irmãs, que contam<br />
egualQiente 106 annos <strong>de</strong> eda<strong>de</strong> e tratam<br />
com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembaraço dos negocios<br />
caseiros.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A extineção tios fra<strong>de</strong>s<br />
<strong>Completa</strong> hoje 59 annos que o honrado<br />
estadista, Joaquim Antonio d'Aguiar<br />
referendou o notável <strong>de</strong>creto que extinguiu<br />
as or<strong>de</strong>ns religiosas em Portugal,<br />
golpe <strong>de</strong> morte ao bando reaccionário<br />
que coutava com esses focos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smo'<br />
ralisação para continuar combatendo os<br />
piincipios liberaes enlão estabelecidos.<br />
Gran<strong>de</strong> homem, que soube arrostar<br />
com todos: os perigos, vencer todos os<br />
obstáculos para <strong>de</strong>rrubar a infame seita<br />
que protegia abertamente o <strong>de</strong>spotismo,<br />
applaudindo lhe todas as atrocida<strong>de</strong>s, todos<br />
os actos sanguinários que <strong>de</strong>correram<br />
durante o nefasto reinado <strong>de</strong> D.<br />
. Miguel.<br />
Gran<strong>de</strong> exemplo, o d'esse vulto proeminente<br />
da nossa politica, se os homens<br />
<strong>de</strong> hoje, os estadistas da epocha não tivessem<br />
trocado o civismo pela iraição, a<br />
dignida<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>shonra, dando eusejoa<br />
que os reaccionários venham enxovalhar<br />
a memoria honrada d'um cidadão, pedindo,<br />
em nossos dias, a restauração das<br />
or<strong>de</strong>ns religiosas!<br />
O partido liberai está morto. O azul<br />
e branco que ahi se vê só serve para<br />
indicar que nelle houve porluguezes <strong>de</strong><br />
lei, mas que hoje se converleu numa matilha<br />
<strong>de</strong> poltrões <strong>de</strong>vassos e <strong>de</strong> traidores<br />
infames.<br />
Curvemo-nos respeitosos ante o prodigioso<br />
vulto que sobe merecer da posterida<strong>de</strong><br />
sinceros respeitos e veneração<br />
profunda, e prosigamos na sua obra —<br />
guerra á reacção, guerra ao jesuitismo 1<br />
AM propostas <strong>de</strong> fazenda<br />
<strong>Coimbra</strong>, como todo o paiz, não recebeu<br />
com agrado a noticia das propostas<br />
<strong>de</strong> fazenda, que vieram a este mundo<br />
para salvar o paiz e matar o <strong>de</strong>ficit; e<br />
se ingénuos houve que acreditaram na<br />
liberalida<strong>de</strong> do sr. Fuschini e na justiça<br />
cora que elle pr<strong>de</strong>e<strong>de</strong>ria nas exigencia s<br />
do imposto, a estas horas <strong>de</strong>vem estar
<strong>de</strong>senganados e comnosco apertam as<br />
mãos na cabeça, chamando-se <strong>de</strong>sgraçados.<br />
E' impossível supportar se tamanho<br />
sacrifício, e quem o pe<strong>de</strong> ao contribuinte<br />
bem prova que <strong>de</strong>sconhece o viver do<br />
povo e o estado <strong>de</strong> ruina a que chegámos;<br />
e se assim não é mostra então claramente<br />
a sua infamia . e a sua protervia,<br />
exigindo <strong>de</strong> quem não po<strong>de</strong> um augmento<br />
<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 por cento! Isto é immoral!<br />
Começa a notar-se uma certa agitação<br />
nas principaes terras, e cada corporação,<br />
cada collectivida<strong>de</strong>, cada aggremiação<br />
vae reunindo os seus associados,<br />
<strong>de</strong>cidindo entre si fazer toda a opposição<br />
ás propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />
Devia lembrar se o sr. Fuschini das<br />
ondas <strong>de</strong> protesto que se levantaram<br />
contra as medidas salvadoras do sr José<br />
Dias, e ainda que as actuaes propostas<br />
não se possam equiparar, têm o gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>feito <strong>de</strong> exigir do contribuinte, um augmento<br />
<strong>de</strong> imposto tão exorbitante que<br />
elle não pô<strong>de</strong> satisfazer, e que é realmente<br />
uma barbarida<strong>de</strong>.<br />
Avaliando tudo isto a Associação<br />
Commercial d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidiu reunir<br />
e vae representar contra as propostas <strong>de</strong><br />
fazenda, especificadamente contra aquellas<br />
que tanto aggravam a contribuição<br />
industrial.<br />
A's <strong>de</strong>mais associações impõe-se o <strong>de</strong>ver<br />
<strong>de</strong> seguir-lhe os passos. A industria<br />
o commercio, emfim todos os que trabalham,<br />
vêem-se exessivamente aggravados<br />
e ne*te caso a Associação dos Artistas<br />
não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve cruzar os braços ne-te<br />
momento. A ella cumpre também enviar<br />
á camara dos <strong>de</strong>putados uma enérgica<br />
representação em que se peça a revogação<br />
<strong>de</strong> taes impostos.<br />
Que n (amura «lê provi<strong>de</strong>nciai<br />
Tem sido gran<strong>de</strong> a aflluencia <strong>de</strong><br />
gente na repartição dos atilamentos, não<br />
po<strong>de</strong>ndo dar-se expediente a todo o serviço<br />
por falta <strong>de</strong> pessoal.<br />
Informam-nos que camaras transactas<br />
auctorisaram sempre a nomeação d'um<br />
coadjuctor, para que o expediente corresse<br />
rápido e o publico não soffresse<br />
prejuizos com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>moras; este anno,<br />
porém, a nada se atten<strong>de</strong>u e pobres<br />
mulheres <strong>de</strong> fóra não tendo conseguido<br />
o atilamento <strong>de</strong> balanças e outra* medidas,<br />
teem <strong>de</strong> voltar á cida<strong>de</strong>.<br />
Seria bom que a camara provi<strong>de</strong>nciasse<br />
neste sentido <strong>de</strong> fórma a não sacrificar<br />
o contribuinte.<br />
A latada<br />
E' hoje que sae do largo Feira, a<br />
tradiccional latada, com que a aca<strong>de</strong>mia<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> festeja o encerramento das<br />
aulas.<br />
Este anno muitos grupos d'académicos<br />
publicaram diversos programmas,<br />
apparecendo alguns escriptos com graça.<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />
Foi <strong>de</strong>cidido em congregação que o<br />
ponto principiasse no dia 2, começando<br />
os actos no dia 7.<br />
39<br />
Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MERY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
VII<br />
Noite <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> amor<br />
A primeira idêa <strong>de</strong> Talormi foi <strong>de</strong><br />
puchar pelo seu punhal; mas o movimento<br />
<strong>de</strong>lator da mão, que procurava uma<br />
ama, não escaparia ao se.u inimigo, e<br />
Paulo Gréant podia feril-o, neutralisando<br />
pela promptidão do seu ataque uma<br />
<strong>de</strong>fesa tardia.<br />
O diplomata parou e com uma altitu<strong>de</strong><br />
soberba <strong>de</strong> dandismo, como se tivesse<br />
parado por sua própria vonta<strong>de</strong> e<br />
não por obediencia a uma ameaça, disse:<br />
— Ah! E' o sr. Gréant?! '<br />
Faz alli, se não me engano, um<br />
papel muito honroso; — um papel, que<br />
tem <strong>de</strong>signação própria na historia <strong>de</strong><br />
muitas estradas. Estou tentado a entregar-lhe<br />
a minha bolsa-para respon<strong>de</strong>r á<br />
interrogação muda do seu punhal.<br />
— O senhor vae saber o motivo,<br />
que aqui me trouxe, respon<strong>de</strong>u Paulo<br />
em hoz baixa, mas distincla. Eslava armado<br />
para a <strong>de</strong>fesa e não para o assassinato;<br />
venho insultal-o e esbofetear o<br />
seu orgulho, para ver se a sua nobreza<br />
é <strong>de</strong> boa lei: —coisa <strong>de</strong> que duvido.<br />
A mesma faculda<strong>de</strong> resolveu discutir<br />
e apresentar <strong>de</strong>pois ao claustro pleno<br />
uma proposta para que as faculda<strong>de</strong>s<br />
universitárias, á similhança do que se<br />
acha estabelecido nos principaes institutos<br />
congeneres da Europa, possam con<br />
ferir o grau honorário <strong>de</strong> doutor ás sum-<br />
mida<strong>de</strong>s scientilicas, quer nacionaes quer<br />
estrangeiras, que pelos seus estudos e<br />
serviços se tornem dignas <strong>de</strong> tão elevada<br />
distincção.<br />
Salvação Publica<br />
Esta real corporação <strong>de</strong> bombeiros<br />
faz hoje o seu beneficio no theatro circo,<br />
preenchendo o espectáculo a companhia<br />
draniatica do Porto, dirigida pelo actor<br />
Taveira.<br />
Representa se a comedia em 3 actos<br />
Xs re<strong>de</strong>as do governo e a zarzuella em<br />
um acto —Simão, Simões tf Companhia.<br />
Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> S. Tlioinnz<br />
É no dia 4 <strong>de</strong> junho que se ha <strong>de</strong><br />
realisar nas salas do Seminário o costumado<br />
sarau da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> S. Tliomaz<br />
d'Aquino, a que presidirá o sr. Bispo<br />
con<strong>de</strong>.<br />
Anselmo Mesquita<br />
Está <strong>de</strong>finitivamente marcado o dia 3<br />
do corrente para a recita que um grupo<br />
<strong>de</strong> operários promovem em beneficio d este<br />
<strong>de</strong>sventurado chefe <strong>de</strong> familia que vive<br />
em precarias circumslancias..<br />
Que o nosso publico auxilie o beneficiado<br />
concorrendo com o seu obulo para<br />
esta festa <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />
Corpus riirietig<br />
Na quinta feira realisa-se a procissão<br />
do Corpo <strong>de</strong> Deus, para o que a cantara<br />
municipal já dirigiu circulares fazendo os<br />
convites do estylo.<br />
Uma bella i<strong>de</strong>ia para assoalhar as<br />
casacas e pôr em evi<strong>de</strong>ncia os personalida<strong>de</strong>s<br />
do senado.<br />
Que pena o acabar-se coin o calção<br />
e o sapatinho <strong>de</strong> laço!. ..<br />
Festa da Santíssima Trinda<strong>de</strong><br />
É hoje esta festivida<strong>de</strong> que a Or<strong>de</strong>m<br />
Terceira solemnisa com gran<strong>de</strong> pompa.<br />
De manhã ha missa cantada e sermão<br />
pelo prior d'Eiras. De tar<strong>de</strong> vesperas,<br />
pregando o prior <strong>de</strong> Blasfemes.<br />
Por causa da borla<br />
v O curso do 5.° anno <strong>de</strong> Direito vae<br />
dar a Vizeu duas representações com a<br />
sua peça nos dias 29 e 30 do corrente.<br />
Em Vizeu vae gran<strong>de</strong> enthusiasmo e<br />
os bilhetes começam a ter muita procura.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Ao nosso <strong>de</strong>dicado correligionário e<br />
distincto amigo, sr. dr. Augusto Cymbron,<br />
damos parabéns cor<strong>de</strong>aes pelo nascimento<br />
d'uin seu filho.<br />
.# Está completamente restabelecido<br />
o nosso amigo sr. José Francisco da<br />
Cruz, o que <strong>de</strong>veras nos regosija.<br />
— Não quer mais nada ? perguntou<br />
Talormi, rindo; não se po<strong>de</strong> dizer que<br />
é exigente, é sobrio ua sua-ambição e<br />
toda a modéstia é meritória. Mas em<br />
troca, exijo da sua parle uma egual<br />
acquie-cencia. Antes <strong>de</strong> me bater, quero<br />
saber o motivo por que me bato. Vamo",<br />
senhor, seja sincero e queira esclarecer a<br />
minha ignorancia neste ponto <strong>de</strong>licado.<br />
— Con<strong>de</strong> Talormi, acabo <strong>de</strong> o insultar<br />
com uma afTronta sangrenta; não<br />
lhe basta?<br />
— Não; sou diflicil <strong>de</strong> contentar.<br />
— Pois bem! con<strong>de</strong> Talormi, iosuital-o-ei<br />
em publico, ao sair da uliima<br />
missa da Annunciada.<br />
— Ah! isso agora é miis grave. Mas,<br />
se nos batermos, ha <strong>de</strong> ser necessário<br />
dizer a causa ás nossas testemunhas...<br />
— Bater-nos-emos sem testemunhas,<br />
interrompeu Gréant com vivacida<strong>de</strong>.<br />
— Sem testemunhas! disse Talormi,<br />
reflectindo dois minutos sobre uma inspiração<br />
repentina.<br />
—.Sim, con<strong>de</strong> Talormi, e <strong>de</strong>ve compreheudér,<br />
que ninguém po<strong>de</strong> entrar na<br />
confi<strong>de</strong>ncia d'um du:!lo cm qtie o nome<br />
d'uma senhora <strong>de</strong>ve ser pronunciado.<br />
— Tem razão, disse Talormi com naturalida<strong>de</strong>.<br />
De modo que, batemo-nos<br />
por uma mulher?<br />
Paulo guardou silencio. Talormi continuou<br />
:<br />
— Bem, está combinado... Agora,<br />
fixemos o dia e a hora...<br />
— A hora... agora mesmo.<br />
O H R F E N i O R DO POVO 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
* Completou na segunda feira o<br />
seu <strong>de</strong>cimo anniversario natalício a menina<br />
Laura Corrêa dos Santos, interessante<br />
filha do nosso bom amigo sr. Antonio<br />
Corrêa dos Santos. Os nossos parabéns.<br />
Movimento commercial<br />
Agio—Premio das libras: 900 r«<br />
ouro nacional, 18,<br />
Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo 580—Dito<br />
tremez 560— Milho branco 310—Dito<br />
amarello 330 —Feijão vermelho 500 —<br />
Dito branco 400 — Dito rajado 300 —<br />
Dito fra<strong>de</strong> 390 —Centeio 440—Cevada<br />
240 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 — Dito<br />
meudo 680— Favas 380—Tremoços 280.<br />
Azeite a 1/500.<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinaria<br />
De 4 <strong>de</strong> maio<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />
Corrêa Ajres <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />
presentes: Ruben Augusto d'Almeida<br />
Araujo Pinto, João Antonio da Cunha,<br />
João da Fonseca Barata, Manoel Bento<br />
<strong>de</strong> Quadros, Joaquim Justiniano Ferreira<br />
Lobo, Antonio José Dantas Guimarães,<br />
effeclivos ; José Corrêa dos Santos,<br />
substituto.<br />
Encarregou o procurador João Marques<br />
Mósca <strong>de</strong> requerer em juizo o levantamento<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong>posito, por virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> canalisação d'aguas que ficou por pagar,<br />
por fallecunenlq <strong>de</strong> José Augusto<br />
Martins Barbosa.<br />
Mandou melhorar as condições da<br />
canalisação das aguas que correm peia<br />
quinta <strong>de</strong> Santa Cruz para o matadouro<br />
e para o hospício dos abandonados, empregando-se<br />
tubagem <strong>de</strong> ferro, obra para<br />
que concorre a commissão districlal com<br />
meta<strong>de</strong> da <strong>de</strong>speza.<br />
Mandou fazer pequenos reparos na<br />
estrada que <strong>de</strong> Sar.t'Anna conduz a Celtas,<br />
bem como na da Concitada.<br />
Mandou passar licenças para apascentamento<br />
<strong>de</strong> cabras a tres lavradores<br />
do concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Mandou canalisar as aguas para as<br />
latrinas publicas do Collegio Novo e Muzeu.<br />
Mandou lavrar conlrato <strong>de</strong>finitivo da<br />
venda <strong>de</strong> terrenos na .quinta <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz a Francisco d'AJmeida Quadros, segundo<br />
<strong>de</strong>liberações anteriores e em vista<br />
do termo <strong>de</strong> medição dos mesmos terrenos<br />
apresentado perante a vereação.<br />
Mandou intimar Leonel Maia, <strong>de</strong> Chão<br />
do Bispo, para reduzir ao seu antigo estado<br />
o caminho publico que conduz ao<br />
Logar, pertencente a Manoel da Silva<br />
Men<strong>de</strong>s, do mesmo logar.<br />
— Ah ! é cedo <strong>de</strong>mais, disse Talormi<br />
ligeiramente; nem a toda a hora qualquer<br />
eslá prompto para morrer, ha sempre<br />
pequenos negocios, que é necessário<br />
pôr era or<strong>de</strong>m. Não pô<strong>de</strong> haver menos <strong>de</strong><br />
vinte e quatro horas <strong>de</strong> sobreaviso;<br />
addiemos a questão, para ámanhã.<br />
— Sim, disse Paulo, para lhe dar<br />
tempo <strong>de</strong> avisar os seus valentes ou <strong>de</strong><br />
armar as suas ratoeiras...<br />
— Que creancice, meu caro senhor,<br />
Então acredita em valentes a ratoeiras?<br />
—Tenho para isso excellentes razões,<br />
senhor con<strong>de</strong>.<br />
—-Seja; respeito os seus prejuízos<br />
parizienses e os seus estudos sobre Auna<br />
Ralclitfe. Pois bem, estou ás suas or<strong>de</strong>ns.<br />
Forme o seu plano, regule o ceremonial,<br />
que eu acceitarei todas as suas combinações;<br />
encontrará centenares <strong>de</strong> msio<<br />
que o salvaguar<strong>de</strong>m dos valentes e das<br />
ratoeiras. Mas ha <strong>de</strong> ficar isto para ámanhã,<br />
não <strong>de</strong>sisto. Tenho dois sobriohos<br />
que estimo muito e que são os meus<br />
her<strong>de</strong>iros legítimos; é necessário fazer<br />
alguma coisa por elles, com) diz Moor<br />
<strong>de</strong> Schiller, antes <strong>de</strong> morrer.<br />
Paulo reflecti u alguns momentos e<br />
disse :<br />
— A minha primeira condição é a<br />
seguinte, e se a acceitar regularemos<br />
immediatamente a nossa questão.<br />
— Vamos lá a ver a sua primeira<br />
condição ?<br />
— Descerá pira a cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ante <strong>de</strong><br />
mim, e só me <strong>de</strong>ixará ao nascer do dia.<br />
Mandou intimar os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> José<br />
Fernan<strong>de</strong>s das Neves, das Casas Novas,<br />
para mandarem <strong>de</strong>molir uma pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uma casa em ruina que possue no mesmo<br />
logar.<br />
Mandou satisfazer a Joaquim Ferreireira<br />
d'Araujo, <strong>de</strong> Tovim, o resto do<br />
preço da empreitada que tomou da conslrucção<br />
da ponte <strong>de</strong> Ceira,<br />
Resolveu pedir provi<strong>de</strong>ncias pela secção<br />
da 2. a circumscripção hydraulica a<br />
fim <strong>de</strong> serem intimados diversos moradores<br />
do logar do Ameal, para restituírem<br />
ao estado primitivo um ribeiro publico<br />
<strong>de</strong> que tem usurpado terrenos.<br />
Resolveu fazer alguns reparos no coreto<br />
da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz a pedido<br />
da Associação humanitaria dos bombeiros<br />
voluntários.<br />
Resolveu mandar sustar a venda do<br />
terreno á Guarda Ingleza, por virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma reclamação apresentada contra a<br />
mesma venda por Francisco Lopes, <strong>de</strong><br />
Sargenlo-Mór.<br />
Attestou ácerca do comportamento<br />
moral c civil do bacharel Vicente Augusto<br />
Ferreira Rocha, d'esta cida<strong>de</strong>, por assim<br />
o haver requerido.<br />
Attestou ácerca <strong>de</strong> duas petições para<br />
subsídios <strong>de</strong> lactação a filhos menores.<br />
Approvou o alçado para a reconstrução<br />
<strong>de</strong> uma casa da rua dos Coutinhos,<br />
pertencente ao dr. Julio San<strong>de</strong> Sacadura<br />
Botle, tomando conhecimento da planta<br />
do terreno, por virtu<strong>de</strong> do alinhamento<br />
a seguir na reconstrucção e do termo<br />
<strong>de</strong> medição e avaliação feita pelos conductores<br />
Esteves e Parada, do qual custa<br />
medir o terreno a adquirir por parte<br />
do município 22 mí ,20 a 3/000 réis o<br />
melro quadrado, importando as alvenarias,<br />
um muro e pare<strong>de</strong>s da casa, vigamentos<br />
e soalhos <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> 3 pavimentos,<br />
ma<strong>de</strong>iramentos, tectos, telhados, e<br />
tabiques e o arco da rua a <strong>de</strong>molir<br />
334$600 réis. E conformando-se com o<br />
alinhamento indicado pelos conduclores,<br />
por achar <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r-se ao<br />
alargamento da rua naquelle ponto, auctorisando<br />
assim a reconslrucçáo com o<br />
recuamenlo <strong>de</strong> l m ,85 na ligação com o<br />
pequeno jardim da antiga casa <strong>de</strong> Luiz<br />
Monteiro Soares d'Albergaria e acabando<br />
era zero no extremo sul do prédio. E resolveu<br />
dar mais ao requerente, como<br />
in<strong>de</strong>mnisação, a quantia <strong>de</strong> 250/000<br />
réis, que foi neste acto <strong>de</strong>clarado pela<br />
presi<strong>de</strong>ncia era aceite pelo proprietário.<br />
Despachou diversos requerimentos<br />
sohre serviços no cemiterio — taboletas<br />
era estabelecimentos e amostras e sobre<br />
obras particulares, sem alienação <strong>de</strong> terreno»,<br />
a saber:<br />
De Francisco Dias d'Almeida, <strong>de</strong><br />
Ceira, para a conslrucção <strong>de</strong> uma casa,<br />
no mesj»o logar.<br />
De D. Maria <strong>de</strong> Jesus Chaves Pereira<br />
e Almeida para abrir 2 janellas em 2<br />
prédios no becco d'Anarda:<br />
De José da Cruz <strong>de</strong> Santo Antonio<br />
dos Olivaes, para mandar rossar por<br />
sua conla uma saibreira junto <strong>de</strong> sua<br />
casa ollerecendo o saibro para a estrada<br />
que alli anda eiu construcção.<br />
— E' rasoavel... E <strong>de</strong>pois?<br />
— Depois, nós veremos.<br />
— Admire a minha con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia,<br />
disse Talormi rindo; eu vou adiante,<br />
siga-me.<br />
Antes <strong>de</strong> chegarem aos bairros opulentos,<br />
on<strong>de</strong> passavam era grupos tocadores<br />
nocturnos, Talormi disse a Gréant:<br />
— Meu caro senhor, se eu quizer<br />
posso agora levantar a voz e fazel-o<br />
pren<strong>de</strong>r como assassínio — encontrarão<br />
comsigo um punhal.<br />
Gréant parou, olhando fixamente<br />
Talormi para advinhar o seu pensamento.<br />
—-Não se arreceia d'isto?<br />
— Não, senhor.<br />
— E faz bem. Somente lhe observo,<br />
que tinha aqui uma ratoeira bem armada<br />
mas que não quero, servir-ine d 'ella.<br />
— Mis, con<strong>de</strong> Talormi, uma tal<br />
acção seria o cumulo da cobardia!<br />
— Vamos, senhor! vejo que me vae<br />
restituindo a sua estima, disse Talormi<br />
com emphase <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>.<br />
Foram estas as ultimas palavras que<br />
pronunciaram naquella noite; assentaram-se<br />
ambos <strong>de</strong>baixo do portico gothico<br />
<strong>de</strong> S. Lourenço, e quando a aurora se<br />
reflectiu no bello e<strong>de</strong>licio <strong>de</strong> mármore<br />
branco e preto, Paulo Gréant retomou a<br />
palavra:<br />
— Coa<strong>de</strong> Talormi, é ooffendido, pertence-lhe<br />
a escolha das armas.<br />
— Para um duello sem testemunhas,<br />
só a espada; escolho a espada.<br />
— E' a arma franceza, disse Paulo.<br />
De José Duarte Júnior <strong>de</strong> Villela para<br />
um rauro em vedação a uma sua proprieda<strong>de</strong><br />
no mesmo logar.<br />
De Antonio Julio <strong>de</strong> Campos <strong>de</strong>sta<br />
cida<strong>de</strong>, para levantar um muro que tem<br />
em frente <strong>de</strong> sua casa ao Arco Pintado<br />
e abrir uma porta.<br />
De João d'01iveira d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
para a reconstrucção <strong>de</strong> uma casa em<br />
Monfarroio.<br />
De José Correia <strong>de</strong> Brito d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
para mandar reconstruir um cano<br />
<strong>de</strong> esgoto que se encontra junto da sua<br />
casa na rua das Cozinhas.<br />
D.! Julia Maria Ferreira <strong>de</strong> S. João<br />
do Campo, para levantar um andar a<br />
uma sua casa 110 mesrao logar.<br />
De João Gomes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, para<br />
canalisar os esgotos d'aguas da sua casa<br />
ao Arnado.<br />
De D. Francisca A<strong>de</strong>lina d'Almeida<br />
Pacheco, para o mesmo fim na sua casa<br />
da rua das Cozinhas.<br />
De Thereza <strong>de</strong> Castro Corte Real <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> para a mudança <strong>de</strong> um syphão<br />
que se acha junto da sua casa na rua<br />
do Infante D. Augusto.<br />
De Antonio José Dantas Guimarães<br />
d'esta cida<strong>de</strong>, para ser ractificado o alinhamento<br />
dado a uma casa em construcção<br />
ao cima da rua Occi<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong><br />
Mont'arroiò.<br />
In<strong>de</strong>feriu 2 requerimentos <strong>de</strong> Manoel<br />
Mello Jorge, das Casas Novas em que<br />
pedia para reconstruir o cunhal em uma<br />
sua casa no mesmo logar e <strong>de</strong> José Carvalho<br />
André <strong>de</strong> Villa Pouca <strong>de</strong> Ameal<br />
que pedia licença para construir um<br />
balcão junto á porta da sua casa no<br />
mesmo logar.<br />
Exenorou a seu pedido <strong>de</strong> logar <strong>de</strong><br />
comniandante do corpo <strong>de</strong> bombeiros<br />
municipaes, Joaquim Alves nomeando<br />
interinamente para exercer as respectivas<br />
funcções a José Pereira da Cruz<br />
d'èsta cida<strong>de</strong>, com superiten<strong>de</strong>ncia no<br />
serviço da inspecção dos incêndios.<br />
A GRANEL<br />
Foi prorogado por dois annos o praso<br />
para a rectificação do tratado do commercio<br />
entre Portugal e Brazil.<br />
# * * O sr. Ramalho Ortigão está<br />
encarregado pelo governo hespanhol <strong>de</strong><br />
elaborar uma memoria sobre o ensino<br />
portuguez e seus melhodos.<br />
# * * Passaram a ter a qualificação<br />
<strong>de</strong> suspfeitos todos os portos francezes<br />
do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Pas-<strong>de</strong> Calais.<br />
# * * Em Londres, em um leilão<br />
<strong>de</strong> moveis pertencentes ao viscon<strong>de</strong><br />
Clif<strong>de</strong>n, foi vendida uma mesa da época<br />
<strong>de</strong> Luiz xvi, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira americana, guarnecida<br />
<strong>de</strong> placas <strong>de</strong> porcelana <strong>de</strong> Sevres,<br />
por 11:880/000 réis. Esta mesa é a<br />
nnica conhecida no seu genero.<br />
— E a italiana, replicou Talormi.<br />
— Seja, seuhor con<strong>de</strong>; haverá duas<br />
espadas promptas num logar seguro.<br />
— Que <strong>de</strong> precauções contra os ealentes<br />
dos Mysterios <strong>de</strong> Udolpho! murmurou<br />
ironicamente.<br />
— Sira, sim, disse Paulo meneando<br />
a cabeça com um ar <strong>de</strong> queiu po<strong>de</strong><br />
pronunciar uma só palavra para acabar<br />
com toda a ironia.<br />
— Bom ! estão promptas as espadas,'<br />
continuou<br />
condições.<br />
Talormi; vamos as outras<br />
— O resto é muito simples, disse<br />
Paulo. Ao cair da noite estará na praça<br />
Mari e seguir-me-á.<br />
— Aon<strong>de</strong> ?<br />
— Esta Ur<strong>de</strong> o saberá.<br />
Talormi levantou-se e o seu rosto<br />
tomou uma expressão terrível; agarrou<br />
a mão <strong>de</strong> Paulo e disse-lhe num tom<br />
dramalico :<br />
— Agora, cessa toda a zombaria,<br />
começa o caso a ser serio; Paulo Gréant,<br />
insultou brutalmente um homem d'houra,<br />
um <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte do illustre Paulo Talormi,<br />
que se crusou, na Sicilia, com os cavai -<br />
leiros normandos, em 1325; pois bem,<br />
<strong>de</strong>sgraçado <strong>de</strong> si! <strong>de</strong>sgraçado <strong>de</strong> si!...<br />
Esta tar<strong>de</strong> os meus lábios hão <strong>de</strong> beber<br />
o seu sangue! A<strong>de</strong>us!<br />
I<br />
mpresso aa Typographia<br />
Operaria — Largo da Fruiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros, —.<br />
COIMBRA.
A S S O » © O D E F E N S O R B O P O V O 88 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893<br />
H W ! ! * » *<br />
PA HA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
Ooimbía<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha ......<br />
Repetições<br />
I V T f l L O P P<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Irapressqes rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
• P P M H H<br />
122 go"»«IUÍM» d« .VdMiweiíto,<br />
9$ moritdor na rua das Pa<strong>de</strong>iras<br />
n.° Í;J, encatrega-sè <strong>de</strong> todos os papeis<br />
nrecipps nata casamentos, taes como certidões,<br />
folhas corrida'", passaportes, e<br />
putro^ documentos q^e sejam preqisos<br />
mandar tirar fora da letTM -<br />
mu os « m a s<br />
119<br />
íen<strong>de</strong>-se uma proprieda<strong>de</strong> que<br />
se compõe <strong>de</strong> terra lavradia,<br />
pomar, arvores <strong>de</strong> fructo, vinha e casas<br />
<strong>de</strong> habitação, <strong>de</strong>nominada o Cazal do<br />
Valle da Serra, em S. Martinho. Tem<br />
boa estrada que vae da Guarda Ingleza<br />
para a Quinta Agrícola.<br />
Para informações na Praça do Commercio<br />
n.° 14, 1.°.<br />
SANTA CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentieias<br />
DE<br />
JOSÉ VIC10RI\0 B. MIRANDA<br />
11X §? fabrjai continua a pro-<br />
Im( duzir as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> massas, pelos mesníos preços,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>pqsito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Batthqlanteu,<br />
e hem assitu cQmmunicação telephonica<br />
com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
sttccessor, no largo do Príncipe D. Carlos,<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />
HUÃDItANTS<br />
Ultimo» mo<strong>de</strong>los para 18O3.<br />
Rase looga, e outros aperfeiçoamentos<br />
josê LUIZ umn n m m<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Qnndrantt<br />
« f e n d a s pelo preço da Fabrica<br />
y Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocipeles e bicycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
IMBRES<br />
I ENVELLOPES E CARTAS<br />
Imprimem-se na<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
A R T I C I F A - ,<br />
Ç0ES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menús, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria J<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.IÍTIW*<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
çm côres<br />
Typ. Operaria<br />
Çoirabra<br />
I L H i V K I<br />
<strong>de</strong> visita<br />
e preço*<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IWPRFSSOS<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
X j A . S t a - 0 J D À . F R E I R I A , 1 4<br />
XàRQPE DE PHELLANDR10<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> cathírros ç tosses <strong>de</strong> quab<br />
quer natureza, ataques agthraatjcos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiqdo com optimos resultados nos bospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pçlos principais facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 atlftetado.s q ^ acompanham<br />
o fra sfp,.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pbarmacias do reino. Deposito garal —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas $ Viegas, Bua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & Ç," ftyiio, pharmacia Sintas, tua <strong>de</strong> Santo li<strong>de</strong>.<br />
fonso, 61, 65. ~<br />
DEPOSITO DA FABRICA MC101L<br />
DP<br />
Í 1 W 1 T O<br />
DJS<br />
JOSE FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
^ jVrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
llj junto e a retalho, lodos os, productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem diiaqsfjúer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos
Defensor<br />
Ol ^ A ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N ° 91<br />
H p<br />
Ad corintlrios<br />
Na vaidosa pretensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
o que chama —os seus direitos,<br />
— contra as mais claras provas adduzidas<br />
em argumentos irrespondiveis<br />
por tres membros da commissão<br />
<strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res,<br />
o nobre con<strong>de</strong> e opulento banqueiro,<br />
sr. <strong>de</strong> Burnay, botou carta na<br />
imprensa, num louco tentamen <strong>de</strong><br />
crear opinião, sustentando com<br />
linhas e <strong>de</strong>ntes o seu direito a entrar<br />
no parlamento portuguez.<br />
A candidatura moral do illustre<br />
fidalgo, portuguez agora, porque<br />
os seus caprichos, ou antes os<br />
seus interesses, assim lh'o recommendam,<br />
é já agora para o sr. Burnay<br />
um peza<strong>de</strong>llo que o não larga,<br />
um acicate que espicaça continuamente<br />
a sua gran<strong>de</strong> activida<strong>de</strong> em<br />
correrias intermináveis <strong>de</strong> casa <strong>de</strong><br />
uns para casa d'oulros, informando-se<br />
aqui dos <strong>de</strong>putados accommodalicios;<br />
conferenciando acolá<br />
com altos trunfos polilicõeá, que<br />
lhe estendam a mão, bastas vezes<br />
beneficiada pelo oiro dos seus cofres;<br />
ora no ministério do reino, ora<br />
no da fazenda, em conferencias<br />
sempre, sempre numa roda viva.<br />
E não se cança, o nobilíssimo<br />
senhor; abarrotado d'oiro, vampirisado<br />
num paiz empobrecido, que<br />
elle explorou e tem <strong>de</strong>sprezado; nobilitado<br />
pelas mais subidas honras,<br />
que governos sem escrupulos se não<br />
teem <strong>de</strong>dignado <strong>de</strong> lhe conce<strong>de</strong>r; rei<br />
da finança porlugueza, ousado e <strong>de</strong><br />
consciência larga, na brecha sempre<br />
que se trate <strong>de</strong> tranquibernias<br />
que enriqueçam; commendador,<br />
grã-cruz, con<strong>de</strong>, fidalgo, banqueiro,<br />
visita e talvez até compadre do<br />
rei, esta illustre sanguesuga insaciável,<br />
quer ainda affrontar, do alto<br />
da representação nacional, o paiz,<br />
que vilipendiou e extorquiu, num<br />
assomo <strong>de</strong> orgulho e <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>,<br />
num capricho <strong>de</strong> quem conhece<br />
bem a força prodigiosa do oiro e a<br />
fraqueza subserviente dos míseros<br />
mortaes, ainda mesmo dos paes da<br />
patria.<br />
O que admira, porém, é a enorme<br />
celeuma levantada perante a<br />
ambição disparatada do gran<strong>de</strong> homem.<br />
Provou-se á evi<strong>de</strong>ncia que a<br />
sua nacionalida<strong>de</strong> não é, para honra<br />
nossa, a porlugueza; eslá <strong>de</strong>monstrado<br />
cabal e irrespondivelmerile<br />
que a sua enorme fortuna, adquirida<br />
em muito menos <strong>de</strong> cincoenta<br />
annos, é proveniente <strong>de</strong> tramóias e<br />
negociatas, veniagas, syndicalos e<br />
exploração <strong>de</strong> toda a casta, em que<br />
só o paiz tem sido o expoliado e o<br />
vendido; e assim, porque não se<br />
adoptará antes, sem espalhafatos,<br />
nem <strong>de</strong>clamações eslereis, o meio<br />
mais simples e mais curial <strong>de</strong> libertar<br />
o paiz d'este parasita — pegar-lhe<br />
por um braço e pôl-o fóra<br />
da fronteira, com prohibição expressa<br />
daqui tornar a pôr os pés ?<br />
E queríamos nós mostrar-nos generosos<br />
e <strong>de</strong>sprendidos, nesta mania<br />
fidalga que nos faz andar a pedir?<br />
Era <strong>de</strong>uçal-o ir e mail-os seus<br />
contos <strong>de</strong> réis, cuja reivindicação a<br />
equida<strong>de</strong> pedia, mas que, emfiiri,<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO JL \ J V V /<br />
era bem feilo que elle levasse para<br />
castigo d'aquelles que lh'os <strong>de</strong>ixaram<br />
comer.<br />
E <strong>de</strong>pois, fechada a porta na<br />
cara d'esle, que escolha era urgente<br />
fazer cá por <strong>de</strong>ntro e que <strong>de</strong> hervas<br />
damninhas a mondar.. .<br />
• •<br />
Erratas<br />
No arligo editorial do ultimo numero<br />
do Defensor sahiu, na primeira columna,<br />
«agares® em vez <strong>de</strong> «algares» e «concalentação»<br />
por «concatenação».<br />
Olho aberto, senhores typographos I<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Reuniu domingo a classe medica <strong>de</strong><br />
Lisboa, sob a presi<strong>de</strong>ncia do sr. conselheiro<br />
Gaspar Gomes, a fim <strong>de</strong> representar<br />
no governo contra o augmento da<br />
contribuição industrial com que é aggravada<br />
nas ultimas propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />
# Reuniu a Associação Industrial<br />
do Porto, a fim <strong>de</strong> tratar das medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda que dizem respeito á classe<br />
industrial. Presidiu Jacintho <strong>de</strong> Magalhães,<br />
lendo como secretários Augusto<br />
Gama e Henrique Assumpção. Fallaram<br />
o presi<strong>de</strong>nte Luiz Pinto, Carlos Alfonso,<br />
Yieira <strong>de</strong> Castro, Francisco Gonçalves e<br />
Joaquim Ventura, protestando contra a<br />
elevação do Porto a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> l. a classe.<br />
Referindo se o presi<strong>de</strong>nte aos rendimenr<br />
los aduaneiros, disse não po<strong>de</strong>r a industria<br />
ser responsável pela diminuição<br />
dos mesmos. Falou támbem na falta <strong>de</strong><br />
auxilio forte do estado ás industrias e<br />
da <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong> entre as emprezas particulares<br />
e socieda<strong>de</strong>s anonymas, aquellas<br />
que pagam segundo os seus lucros e<br />
estas que tem taxa fixa.<br />
Foram approvadas as seguintes propostas<br />
: Que a Associação Industrial represente<br />
ao governo affirmando que os<br />
industriaes eslão promptos a contribuir<br />
para as urgências do thesouro, e que<br />
confiam que será justa e equitativa a<br />
distribuição da quota que lhes couber<br />
para que a associação se preste a collaborar<br />
com o governo; que a Associação .<br />
Industrial convi<strong>de</strong> lodos os industriaes<br />
que se julguem lesados com as propostas<br />
<strong>de</strong> fazenda a enviarem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminado praso as suas reclamações<br />
para serem enviadas ao governo <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> compendiadas pela direcção.<br />
# Reuniram as classes dos advogados.<br />
negociantes <strong>de</strong> couros e banheiros<br />
da praia da Foz do Douro, resolvendo<br />
reclamar contra o aggravamento das respectivas<br />
contribuições.<br />
Um cumulo!<br />
Se mais nada houvesse que con<strong>de</strong>mnar<br />
nas disposições tributarias do sr.<br />
Fuschini, bastaria o que vae ler-se para<br />
revoltar todos os que ganham a vida jungidos<br />
ao trabalho.<br />
Pagam os <strong>de</strong>spachantes do caminho<br />
d« ferro <strong>de</strong> contribuição industrial 9$000<br />
réis; porém, pelas propostas do sr.<br />
Fuschini è-lhes cotada a verba em réis<br />
55/000.<br />
O <strong>de</strong>scaro é tão inaudito que prescin<strong>de</strong><br />
bem <strong>de</strong> commentarios.<br />
No reinado do sr. Fuschini<br />
O Grito <strong>de</strong> Janeiro, senianario do<br />
Porto, foi querellado por con<strong>de</strong>mnar<br />
energicamente o insolito procedimento<br />
do sr. commissario Accacio, na occasião<br />
da chegada ao Porto do distincto jornalista<br />
João Chagas.<br />
E' tal a impudência d'esla gente,<br />
que não se peja <strong>de</strong> perseguir cidadãos<br />
honrados e dignos que teem a hombrida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> lhe corrigir os <strong>de</strong>smandos, para<br />
<strong>de</strong>ixar em paz os gran<strong>de</strong>s criminosos e<br />
os gran<strong>de</strong>s ladrões
A.V\0 91 O D E F E X S u R DO POVO 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18»3<br />
CRYSTAB S<br />
Tudo escurece<br />
Não po<strong>de</strong>s ser amada. A natureza<br />
Quiz ser i<strong>de</strong>al conitigo e mãe profusa,<br />
E fez-te a <strong>de</strong>usa fria, a etherea musa<br />
Dos infindos poetastros da bulleza.<br />
Porém negou-te a sensual viveza,<br />
O salero gentil d'uma andaluza:<br />
Ora a taça da velha syracusa<br />
Não vale um copo <strong>de</strong> cerveja ingleza.<br />
Filha da Escossia, e como a Escossia algente<br />
Não tens das bellas regiões do sul<br />
A graça feminil, o amor ar<strong>de</strong>nte.<br />
E comtudo, se acaso o pando Buli<br />
Te leva, sinto alguém que <strong>de</strong> repente<br />
Subtil me põe uma luneta azul.<br />
JOÃO PENHA.<br />
LBTTBAS<br />
Junho, julho, agosto<br />
(A COQBELIN CADET)<br />
Amai-vos uns aos outros<br />
Novo testamento<br />
Era um egoisla meticuloso.<br />
Usava flanella e cautchouc, seguia<br />
um regimen <strong>de</strong>terminado, purgava se em<br />
época lixa, fazia tudo por conta, pezo e<br />
medida, e a sua vida era regrada como<br />
um papel <strong>de</strong> musica.<br />
Sabia <strong>de</strong> cór os preceitos da escola<br />
<strong>de</strong> Salerno, linha como palavras do Evangelho<br />
os adagios populares que teem relação<br />
com a saú<strong>de</strong>.<br />
Nada <strong>de</strong> parentescos prejudiciaes nada<br />
<strong>de</strong> ligações embaraçadoras. De amisa.<strong>de</strong><br />
e camaradagem só adoptava o necessário<br />
para tomar alegre a sua exislencia. Teria<br />
sacrilicado o mundo inteiro ao seu conforto.<br />
Ura dia, comtudo, foi obrigado a romper<br />
com os seus queridos costumes. Uma<br />
avultada herança a receber chamava-o á<br />
America. Não havia que hesitar. Era um<br />
pequeno mal para um gran<strong>de</strong> bem. Graças<br />
a uma mudança e alguns dissabores, <strong>de</strong><br />
resto pouco importantes, ganhava <strong>de</strong> repente<br />
com que dar um tratamento <strong>de</strong> rei<br />
ao seu egoismo.<br />
Embarcou, mas não sem se ter munido<br />
<strong>de</strong> tudo que pu<strong>de</strong>sse tornar menos<br />
penosa a viagem: provisões <strong>de</strong> gulodice,<br />
pharmacia d'algibcira, cinto hypogastrico<br />
contra o enjoo do mar, apparelho <strong>de</strong> salvação<br />
em caso <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>. Apezar <strong>de</strong><br />
tudo não foi feliz.<br />
As provisões foram avariadas pelo<br />
bolor, a pharmacia quebrada por um balanço<br />
brusco, e o cinto facilitava os vomitos.<br />
Só o appjrelho <strong>de</strong> salvação foi útil<br />
no regresso.<br />
Naufragaram com effeito. Quasi ao<br />
chegar ao porto, o navio bateu contra um<br />
escolho e sossobrou.<br />
Mas levou um quarto <strong>de</strong> hora a<br />
stibmergir-se e o nosso homem teve tempo<br />
<strong>de</strong> armar-se contra o mar. Vestiu o<br />
seu costume <strong>de</strong> guttapercha, soprou-lhe<br />
o sufficiente para fazer d'elle uma bexiga<br />
e conseguiu boiar.<br />
Um companheiro d'infortunio a quem<br />
elle 110 navio tratava como amigo, quiz<br />
agarrar-se a elle: repelliu-o com indignação.<br />
Uma pobre mãe, que levantava acima<br />
das ondas uma creança <strong>de</strong> peito, esten<strong>de</strong>u-lh'a<br />
para que lh'a salvasse e <strong>de</strong>sappareceu,<br />
engulida por unia vaga : elle<br />
pegou na creança e <strong>de</strong>ixou-a cair <strong>de</strong> novo<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter apo<strong>de</strong>rado do seu biberon.<br />
Torna-se feroz para salvar a sua preciosa<br />
pelle. Custou-lhe a salval-a. Levado<br />
para o largo pela ressaca, via a terra<br />
sem po<strong>de</strong>r approximar-se «J'ella. Batido<br />
pelos ventose marés, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se durante<br />
dois dias contra as vagas.<br />
O sangue subira-lhe á cabeça. Tinha<br />
o estômago vasio, febre no pulso, os<br />
membros entorpecidos pelo frio. Outro,<br />
menos tenaz, teria esvasiado o apparelho<br />
e <strong>de</strong>ixar-se-hia afogar antes que soffr.cr<br />
as torturas por que passou. Mas elle teve<br />
a coragem do seu egoismo e não quiz renunciar<br />
á vida.<br />
Emfim pô<strong>de</strong> ser arremessado á praia,<br />
Extenuado, muribundo, agarrou-se ao<br />
rochedo com mãos aduncas, e reuniu todas<br />
as suas forjas para gritar por socçorro,<br />
Era noite. Ninguém vinha.<br />
— Ai! pensava elle, agora que po<strong>de</strong>ria<br />
ser salvo, vou morrer aqui? Ah!<br />
se tivesse força para me arrastar até<br />
aquellas casas on<strong>de</strong> a minha voz não<br />
chega! Ah! se pu<strong>de</strong>sse comer um pouco,<br />
ao menos! recuperava as forças,<br />
Como chorava <strong>de</strong> raiva e <strong>de</strong> fraqueza<br />
os seus <strong>de</strong>dos encontraram sobre o rochedo<br />
marisco, mexilhões, ostras.<br />
A fome dá vigor. Teve energia bastante<br />
para os arrancar e abrir. Era o<br />
soccorro pedido, era a força, era a vida.<br />
Pru<strong>de</strong>ntemente, sensatamente, com<br />
temperança, comeu a carne saborosa e<br />
pô<strong>de</strong> alimentar-se.<br />
Assim confortado, começou <strong>de</strong> novo<br />
a gritar. D'esta vez a sua voz mais sonora<br />
foi ouvida. Uns pescadores vieram<br />
buscai o, e <strong>de</strong>ntro em pouco foi installado<br />
numa boa cama. proximo d'uma fogueira.<br />
Deram-llie a beber um cordial que acabou<br />
<strong>de</strong> reanimai o.<br />
Estava salvo!! I<br />
De repente, uma dôr atroz apagou-<br />
Ihe o sorriso dos lábios. Os olhos voltaram-se-lhe,<br />
os membros coatrahiram selhe.<br />
Uma caimbia d'estomago, seguida<br />
d'uma cólica, abalou-lhe o corpo todo.<br />
Tinha fogo nos intestinos, e o ventre estava<br />
como que contorcido.<br />
Chamaram um velho medico das visinhanças.<br />
Entre os suspiros, o ranger <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes,<br />
os sobresallos, o doente contou o<br />
o seu naufragio e as suas quarenta e oito<br />
horas passadas sem alimento, na agua<br />
glacial.<br />
— Não foi isso, diz o patrício. Vejamos<br />
: tomou alguma coisa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
aqui está?<br />
—: Demos-llie um pouco <strong>de</strong> rbum em<br />
caldo <strong>de</strong> couves, inierromperam os pescadores.<br />
— Não é preciso mais nada. Ow eis<br />
um caso verda<strong>de</strong>iramente extravagante.<br />
— O que? O que? murmurou o<br />
doente, presa do terror <strong>de</strong> morte.<br />
Mas o medico não lhe respondia, e<br />
absorto no seu pensamento, murmurou<br />
por entre <strong>de</strong>ntes:<br />
— Já vi afogados por asphyvia, mas<br />
é a primeira vez que vejo afogados por<br />
envenenamento.<br />
— Por envenenamento! grilou o nosso<br />
homem. Por envenenamento. Ah! percebo.<br />
Em que mez estamos ?<br />
— Em junho.<br />
— Como aterrado por esta resposta,<br />
começou a <strong>de</strong>itar sangue pela bocca.<br />
Eram os arrancos da agonia !<br />
E tomaram nos suspiros do estertor<br />
o dicto incomprehensivel que elle pronunciou<br />
ao morrer:<br />
Em junho, julho e acosto, ouves?<br />
Nem ostras, nem mulheres, nem couves.<br />
Jean Richepin.<br />
S. João em Braga<br />
Parece que tomarão parte no certamen<br />
musical que se realisa naquella cu<br />
da<strong>de</strong> por occasião dos festejos ao Santo<br />
percursor as blindas <strong>de</strong> caçadores 3,<br />
infanleria 2, 9 e 20 e a da guarda municipal<br />
do Porto,<br />
Para o dia 24 <strong>de</strong> junho projecla-se<br />
a exhibiçâo <strong>de</strong> uma engraçada dança <strong>de</strong><br />
amazonas.<br />
Começaram já os ensaios para os<br />
bailes e canções populares e consta que<br />
será conferido um premio pecuniário ás<br />
corporações <strong>de</strong> bombeiros que tomarem<br />
parte no gran<strong>de</strong> exercício do dia 25.<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
Mangual<strong>de</strong>, 27 <strong>de</strong> maio.<br />
Na arcada (é bom saber-so a arcada<br />
mangualense é no estabelecimento do<br />
nosso amigo José Cabral, on<strong>de</strong> se reúne<br />
o melhor das pessoas <strong>de</strong> bom tom) temse<br />
discutido esta semana a questão da<br />
illegibilida<strong>de</strong> ou não illegibilida<strong>de</strong> do belga<br />
con<strong>de</strong> Burnay para <strong>de</strong>putado da nação<br />
portugueza. E' ma rcditavel que, para<br />
escorraçar das bancadas da camara um<br />
typo d'esta or<strong>de</strong>m, seja preciso tanta<br />
maçada. No entanto, acreditamos que a<br />
commissão encarregada do trabalho <strong>de</strong>slindará<br />
o fio da meada e não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong><br />
ter o h
AXXOJ-M»» 94 O DEFKNiOR DO POVO 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18»3<br />
As pessoas que <strong>de</strong>sejarem ca<strong>de</strong>iras<br />
têem <strong>de</strong> as rfquisilar á respectiva commissão.<br />
Os artigos da exposição que forem<br />
offerecidos, bem como as prendas que não<br />
tiverem saido até ás 5 horas da tar<strong>de</strong> do<br />
dia 4, serão arrematadas <strong>de</strong>pois d'aquella<br />
hora, e adjudicadas a quem maior lanço<br />
offerecer, se este convier.<br />
Ás pessoas que visitarem a Exposição,<br />
pe<strong>de</strong> a commissão a especial fineza <strong>de</strong><br />
comprarem á entrada do pavilhão um bilhete<br />
da Kermesse, do preço <strong>de</strong> 20 réis.<br />
Sempre o calote<br />
Porque do ministério das obras publicas<br />
ainda não baixou a respectiva or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> pagamento eslão sem receber os seus<br />
honorários do mez <strong>de</strong> abril os agronomos,<br />
veterinários e florestaes do districto <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
O estado maior das repartições publicas<br />
que vive á regalada recebendo<br />
até adiantadamente os seus or<strong>de</strong>nados,<br />
esquece-se por completo dos pequenos<br />
funccionarios e não lhes repugna o sacrifical-os<br />
á sua mandria.<br />
Bem podiam e <strong>de</strong>viam os srs. ministros<br />
velar por estas cousas e obrigar os<br />
seus subordinados ao cumprimento dos<br />
seus <strong>de</strong>veres.<br />
Mas todos leem pela mesma cartilha!<br />
De luto<br />
Pelo fallecimento <strong>de</strong> seu irmão, o<br />
sr. Joaquim Itocha, eslá <strong>de</strong> luto o sr. dr.<br />
Vicente Rocha, a quem enviamos o testemunho<br />
do nosso pesar, por mais este<br />
golpe soffrido.<br />
Peixe fresco<br />
Sabemos que se tem vendido no<br />
nosso mercado algum peixe em péssimo<br />
estado, pela razão <strong>de</strong> não ter havido a<br />
fiscalisação precisa, <strong>de</strong> modo a evitar um<br />
tal abuso, que po<strong>de</strong> acarretar á saú<strong>de</strong><br />
publica funestas consequências.<br />
Numa remessa que chegou ha dias<br />
ven<strong>de</strong>u-se o peixe conhecido pelo nome<br />
<strong>de</strong> — raia — quasi liquefeito, exhalando<br />
um cheiro insupportavel.<br />
Para este caso chamamos a altenção<br />
da camara e do vereador do pelouro respectivo.<br />
Torna-se <strong>de</strong> urgente necessida<strong>de</strong> que<br />
a camara municipal tenha um funccionario<br />
competente para a revista do peixe,<br />
a fim <strong>de</strong> que o publico não seja ludibriado<br />
pela consciência pouco escrupulosa<br />
das ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras, que para serem<br />
agradaveis aos coutractadores, acceilani<br />
toda a pescaria, não lhes repugnando<br />
ven<strong>de</strong>r o que aqui chega em mau estado.<br />
Esperamos ser attendidos neste pedido,<br />
<strong>de</strong> todo o ponto justo, e que bem<br />
merece a especial attenção dos vereadores,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se trata da saú<strong>de</strong> publica.<br />
Urbana Portuguez»<br />
Informam-nos que esla Companhia <strong>de</strong><br />
segmos liquidou na terça feira a importância<br />
dos prejuízos havidos no incêndio<br />
40 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A M l 1VAIICWO<br />
XII<br />
Noite <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> amor<br />
E afastou-se rapidamente, resmoneando<br />
numa cólera surda, que Paulo<br />
ouviu ainda ao longe, em virtu<strong>de</strong> do silencio<br />
do <strong>de</strong>spontar do d ; a.<br />
Paulo Gréant, que tinha a coragem<br />
fria que nenhuma ameaça perturba, ouviu<br />
as palavras fulminantes <strong>de</strong> Talormi<br />
numa gran<strong>de</strong> tranquillida<strong>de</strong>, e apenas se<br />
encontrou só resolveu consagrar o dia á<br />
execução do plano meditado nas ultimas<br />
horas da noite.<br />
Ao anoitecer o porto <strong>de</strong> Génova offerecia<br />
um quadro encantador; os marinheiros<br />
promplos a fazerem-se <strong>de</strong> véla,<br />
mettiam agua da fonte <strong>de</strong> S. Chrislovão;<br />
<strong>de</strong> bordo dos navios erguiam-se, em<br />
arias dolentes, as velhas cantilenas da<br />
Italia; alguns marinheiros jogavam a<br />
morra, no meio d'um circulo <strong>de</strong> populares;<br />
os barcos cruzavam se sobre a<br />
agua, e, ao fundo, o palacio Doria ostentava-se,<br />
esplendido, encostado á sua<br />
montanha-<strong>de</strong> jardins.<br />
Paulo Gréant, artista, não via nada;<br />
teria dado todos os seus pincéis e toda<br />
que ha dias <strong>de</strong>struiu um prédio do sr.<br />
Antonio <strong>de</strong> Sousa, como noticiamos.<br />
Ao commissario<br />
Pe<strong>de</strong>-se a s. ex. a para que dê instrucções<br />
aos seus subordinados a fim <strong>de</strong><br />
obstar ao abuso que constantemente se<br />
eslá presenceando dos carreiros carregarem<br />
extraordinariamente os seus carros<br />
Na segunda feira seguia para o-Tovim<br />
um carro <strong>de</strong> bois conduzindo trouxas<br />
<strong>de</strong> roupa, sendo tal o peso da carga<br />
que aos aniinaes custava-Ihes a arrastar.<br />
Proximo da Portella os bois não po<strong>de</strong>ndo<br />
su-tentar tão extraordinário carregamento<br />
cairam e se por infelicida<strong>de</strong> o carro<br />
tomba para a estrada podíamos ter a<br />
lamentar algum <strong>de</strong>sastre pessoal, porisso<br />
que nessa occasião passava muita gente,<br />
que esteve <strong>de</strong>pois auxiliando o carreiro.<br />
Bom serviço prestava a policia se<br />
interviesse nestes casos, prohibindo a<br />
continuação <strong>de</strong> semelhantes brutalida<strong>de</strong>s.<br />
E já que nos occupamos d'este assumpto<br />
bom é aqui lembrar lambem a<br />
conveniência <strong>de</strong> conter os Ímpetos ferozes<br />
dos carreiros, que bestialmente espicaçam<br />
os" animaes a toda a hora do<br />
dia, chegando as ferroadas com o aguillião<br />
a produzirem <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue.<br />
Não ha muitos dias que esla scena<br />
se presenciou na rua do Viscon<strong>de</strong> da<br />
Luz, indignando todos os que alli estavam.<br />
Nós esperamos que o sr. commissario<br />
tome na <strong>de</strong>vida consi<strong>de</strong>ração os factos<br />
que apontamos.<br />
Incêndio<br />
Na segunda feira houve principio <strong>de</strong><br />
incêndio numa casa da rua <strong>de</strong> Simão<br />
d'Evora, que foi extincto pela visinliança.<br />
Chegou a comparecer o material e<br />
pessoal das corporações, não trabalhando.<br />
Apresentaram-se primeiro os Bombeiros<br />
Volunlarios.<br />
*<br />
Na terça feira <strong>de</strong>pois das 10 horas<br />
da noite espalhou-se o boato <strong>de</strong> fogo numa<br />
casa ao Arnado. Para aquelle local se<br />
conduziram as bombas verificando-se a<br />
falsida<strong>de</strong> do boato que poz em alarme os<br />
bombeiros.<br />
O dono d'um prédio em conslrucção<br />
mandára queimar num quintal uma gran<strong>de</strong><br />
porção <strong>de</strong> aparas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, o que <strong>de</strong>u<br />
logar a que se suppozesse que o fogo<br />
que se via era no prédio.<br />
Kega Uns ruas<br />
O esguicho municipal anda ha dias<br />
a refrescar algumas ruas da baixa, <strong>de</strong>ixando<br />
intactos os beccos e travessas que<br />
ha muito estão a pedir uma lavagem<br />
energica que <strong>de</strong>scasque das sargetas<br />
as <strong>de</strong>jecções amontoadas.<br />
E' preciso abrir <strong>de</strong> par em par essas<br />
torneiras e dar á cida<strong>de</strong> uma limpeza<br />
geral, persistente, que nos <strong>de</strong>ixe transitar<br />
á vonta<strong>de</strong> sem nos vermos obrigados<br />
a andar por ahi <strong>de</strong> lenço no nariz. '<br />
esta paisagem marilima pela espada veneziana<br />
<strong>de</strong> André Doria.<br />
Talormi foi pontual á entrevista apra-<br />
zada, e Paulo agra<strong>de</strong>ceu-lhe com uma<br />
saudação polida e fria.<br />
— Queira seguir me, disse Paulo indicando-lhe<br />
com a mão um bote. Bem<br />
sabe que nada <strong>de</strong> <strong>de</strong>sleal <strong>de</strong>ve. esperar<br />
<strong>de</strong> mim, pois que ainda a noite passada<br />
o <strong>de</strong>ixei sair vivo d'um <strong>de</strong>serto on<strong>de</strong><br />
eu estava armado d'um punhal.<br />
Talormi não respon<strong>de</strong>u; o seu rosto<br />
sombrio mantinha a ameaça da manhã ;<br />
entrou com Paulo no barco e assentouse<br />
apoiando a cabeça entre as mãos.<br />
Paulo tinha notado ao primeiro relance<br />
uma gran<strong>de</strong> mudança na toilelte <strong>de</strong><br />
Talormi; o diplomata eslava em verda<strong>de</strong>iro<br />
costume <strong>de</strong> baile, e o seu colete,<br />
d'uma alvura <strong>de</strong> neve, abrindo sobre o<br />
seu peito hercúleo, tel-o-ia feito reconhecer<br />
a uma gran<strong>de</strong> distancia, <strong>de</strong> noite:<br />
só Talormi podia ter aquelle peito e<br />
aquelle collete.<br />
Os remos moveram-se com vigor e<br />
agilida<strong>de</strong> nas mãos hab,:is <strong>de</strong> Gréant, e,<br />
á sabida do porto, uma ligeira brisa encheu<br />
a vela e impelliu o barco para<br />
uma costa baixa,arenosa, <strong>de</strong>serta, inteiramente<br />
favorável ao terrível combate<br />
projectado.<br />
Próximos a <strong>de</strong>sembarcarem, Pattlo<br />
Gréant, que tinha os olhos sempre fitos<br />
em Talormi, receando alguma surpreza,<br />
disse-lhe tranquillamente:<br />
— Comprei este barco hoje <strong>de</strong> ma-<br />
Agua, srs. camaristas, agua para<br />
essas ruas mal cheirosas e beccos immundos<br />
que ahi eslão a procrear microbios<br />
<strong>de</strong> toda a especie.<br />
A estação do calor já se faz sentir<br />
e lembramos aos vereadores o bom serviço<br />
que pô<strong>de</strong> prestar á hygiene uma<br />
limpeza aturada, cuidadosa<br />
Para beneficio da saú<strong>de</strong> publica não<br />
<strong>de</strong>ve haver mesquinhezas e nunca o<br />
publico se queixará se a camara dispen<strong>de</strong>r<br />
neste serviço algumas quantias a<br />
mais do que é costume.<br />
Economias po<strong>de</strong>m fazer-se e muitas,<br />
em outros ramos <strong>de</strong> serviço e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
a camara feche a torneira das concessões<br />
e dos benesses a amigos particulares e<br />
políticos, sempre ha <strong>de</strong> encontrar nos<br />
seus cofres umas mealhas com que possa<br />
occorrer ás <strong>de</strong>spezas que fizer com a<br />
limpeza da cida<strong>de</strong>.<br />
Exportação <strong>de</strong> cereja<br />
Para Lisboa, como nos mais annos,<br />
têm sido enviadas d'esta cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
remessas <strong>de</strong> cereja.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Devido a um lamentavel <strong>de</strong>sastre<br />
fracturou uma perna a esposa do sr.<br />
Antonio José Gonçalves Neves e mãe do<br />
nosso <strong>de</strong>dicado correligionário sr. Antonio<br />
Augusto Gonçalves.<br />
O tratamento da enferma segue regularmente<br />
sem que haja por em quanto<br />
indícios <strong>de</strong> perigo.<br />
Sentimos <strong>de</strong>veras este acontecimento<br />
e oxala possamos em curto espaço noticiar<br />
um restabelecimento completo.<br />
* Encontra-se em convalescença o<br />
.sr. Manoel Augusto Bodrigues da Silva,<br />
que felizmente já o vemos no seu estabelecimento.<br />
* Esteve nesta cida<strong>de</strong> o nosso<br />
amigo sr. Leonardo dos Sanlos Coelho,<br />
digno empregado do commercio, na cida<strong>de</strong><br />
do Porto.<br />
* Está quasi restabelecido d'uma<br />
grave operação que soffreu a esposa do<br />
nosso amigo sr. Manoel Gonçalves Pereira<br />
Guimarães, conceituado commerciante<br />
d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
* Para Ancião vae com sua esposa<br />
e filha o nosso bom amigo e correligionário,<br />
sr. dr. Alberto David, nomeado<br />
ultimamente para conservador d'aquella<br />
comarca.<br />
O povo <strong>de</strong> Ancião encontrará no<br />
nosso amigo um funccionario zeloso e<br />
<strong>de</strong>dicado e em breve tempo po<strong>de</strong>rá apreciar<br />
as dislinctas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caracter,<br />
que tanto o nobilitam.<br />
Ilovinieiito commercial<br />
Agio—Premio das libras: 900 rs<br />
ouro nacional, 18.<br />
*<br />
Generos — Nesta cida<strong>de</strong> regulam<br />
pelos seguintes preços os generos abaixo<br />
indicados:<br />
Trigo <strong>de</strong> Celorico graúdo S80—Dito<br />
tremez 500 — Milho branco 310—Dito<br />
amarello 330 — Feijão vermelho 800 —<br />
Dito branco 400—Dito ruja do 300 —<br />
nhã, pertencia a um navio que partiu<br />
ao.meio dia, e ninguém foi testemunha<br />
d'esta compra. A's duas horas abor<strong>de</strong>i a<br />
esta costa, entre estes dois macissos <strong>de</strong><br />
plantas que vê, e em cada um d'elles occultei<br />
uma espada. Con<strong>de</strong> Talormi, pô<strong>de</strong><br />
escolher uma d'ellas, á direita ou á esquerda<br />
— é <strong>de</strong> justiça.<br />
Talormi levantou a cabeça e olhou os<br />
dois pontos <strong>de</strong>siguados; <strong>de</strong>pojs esten<strong>de</strong>u<br />
a mão paia a direita e fez assim a sua<br />
escolha sem pronunciar uma palavra.<br />
O barco, obe<strong>de</strong>cendo a uma guinada<br />
do leme, enrascou na areia; Talormi<br />
<strong>de</strong>sembarcou lentamente e caminhou com<br />
passo resoluto para o macisso <strong>de</strong> plantas<br />
marítimas, on<strong>de</strong> encontrou uma boa espada<br />
<strong>de</strong> combate.<br />
Os dois inimigos, illuminados pelas<br />
brilhantes constellaçõcs do céu italiano,<br />
collocaram-se ousadamente um em frente<br />
do outro; Paulo Gréant tomou uma guarda<br />
cheia <strong>de</strong> elegancia e <strong>de</strong> altivez, mas<br />
Talormi pareceu querer conservar as<br />
tradições d'algumas escolas napolitanas<br />
e recusou-se ao cruzamento leal do<br />
ferro.<br />
— Con<strong>de</strong> Talormi, disse Paulo, estáse<br />
<strong>de</strong>scobrindo continuamente.<br />
— Senhor, respon<strong>de</strong>u Talormi, o<br />
campo auctorisa tudo; guar<strong>de</strong> as suas lições<br />
para uma sala.<br />
Todavia, passados cinco minutos <strong>de</strong><br />
curdio, Talormi <strong>de</strong>ixou-se arrastar pelo<br />
calor do combate e estabeleceu-se uma<br />
certa regularida<strong>de</strong> académica no jogo das l<br />
"'•II 1 '»II» • I • < I I I II I • 1.1'JIH<br />
Dito fra<strong>de</strong> 390 —Centeio 440 —Cevada<br />
240 —Grão <strong>de</strong> bico graúdo 700 — Dito<br />
meudo 680—Favas 380—Tremoços 280.<br />
Azeite a 1$S00.<br />
A GRANEL<br />
O sr. ministro da fazenda <strong>de</strong>clarou na<br />
commissão do orçamento que o governo<br />
poria em concurso a adjudicação das fabricas<br />
<strong>de</strong> vidros da Marinha Gran<strong>de</strong>.<br />
# * * Ha dias, no sitio da Ferraria,<br />
em Rio Tinto, um suino comeu parte<br />
<strong>de</strong> um pé, unia das mãos e uma orelha<br />
a uma creancinha. A pobresita morreu<br />
d'alli a pouco.<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinaria<br />
De 12 <strong>de</strong> maio<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel João Maria<br />
Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos. Vereadores<br />
presentes: João da Fonseca Barata, Manoel<br />
Bento <strong>de</strong> Quadros, Manoel Miranda,<br />
João Antonio da Cunha, Joaquim Justiniano<br />
Ferreira Lobo, Antonio José Dantas<br />
Guimarães; effectivos José Corrêa dos<br />
Santos, substituto.<br />
Ven<strong>de</strong>u em praça Ires lotes <strong>de</strong> terreno<br />
na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz rua n.° 9.<br />
Mandou provi<strong>de</strong>nciar pnra a limpeza<br />
e cobertura <strong>de</strong> um poço d'agua em Taveiro,<br />
a pedido da junta respectiva<br />
chia.paro-<br />
Mandou collocar uma bocca d'incendio<br />
ao fundo da rua da Louça.<br />
Mandou pa-sar licenças para apasceniamenlo<br />
<strong>de</strong> cabras em favor <strong>de</strong> 4<br />
proprietários do concelho.<br />
Mandou annunciar a venda <strong>de</strong> pastos<br />
da quinta <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
Resolveu permittir que a Associação<br />
<strong>de</strong> bombeiros voluntários man<strong>de</strong> abrir<br />
um lago, por sua conta, no largo <strong>de</strong><br />
D. Luiz na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz, por<br />
occasião da Kermesse que alli vae realisar<br />
ce<strong>de</strong>ndo-se gratuitamente a agua<br />
necessaria e prestando-se para estes trabalhos,<br />
não só o material que possa dispor-se,<br />
mas o pessoal habilitado dos serviços<br />
municipaes.<br />
Mandou abonar a quantia <strong>de</strong> 30$000<br />
réis para o costeamenlo das <strong>de</strong>spezas<br />
do asylo dos cegos em todo o mez <strong>de</strong><br />
maio corrente.<br />
Resolveu pedir ao commissario <strong>de</strong><br />
policia o inteiro cumprimento das posturas,<br />
niaxime na parte relativa á limpeza<br />
publica, provi<strong>de</strong>nciando para que<br />
cesse o abuso <strong>de</strong> se fazerem <strong>de</strong>spejos<br />
para a via publica; e para que os proprietários<br />
canalisem para a canalisação<br />
geral os esgotos das pias das cozinhas<br />
dos respectivos prédios.<br />
Resolveu ir ao logar <strong>de</strong> Vi 11ela examinar<br />
o ponto por on<strong>de</strong> se encaminham<br />
as aditas pluviaes, junto a um prédio<br />
duas espadas. Paulo, que a principio tinha<br />
conservado muito sangue frio, sentiu<br />
o sangue escaldar-lhe o rosto e o seu<br />
ataque lornou-se mais furioso do que<br />
hábil; Talormi respondia, não com uma<br />
correcção <strong>de</strong> mestre d'armas, mas como<br />
quem está dominado pela estupefacção.<br />
Gréant mais se excitou ainda com o terror<br />
do seu adversario; simulou um bote,<br />
caiu sobre Talormi e viu-o saltar pura<br />
traz e cair sobre a praia agitando no<br />
ar convulsivamente a sua espada.<br />
— Minha mãe, minha mãe ! exclamou<br />
elle em voz surda; e o corpo inteiriçouse-lhe,<br />
e o seu rosto cobriu se da palli<strong>de</strong>z<br />
da morte. O cadaver <strong>de</strong>senhou-se<br />
horrivelmente sobre a areia.<br />
Nestes momentos supremos uma súbita<br />
reacção se apo<strong>de</strong>ra dos ânimos ainda<br />
dos que maior odio sentem. O homem<br />
que chega ao terreuo d'um combate<br />
singular, cheio <strong>de</strong> cólera e se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong><br />
sangue, e que vê caliir o seu inimigo<br />
como se ferido d'um raio, sente logo em<br />
seguida extiuguir-se-lhe no imo da alma<br />
o fogo <strong>de</strong> vingança que o animava. Ser<br />
a causa da morte doutrem, eliminar do<br />
numero dos vivos uma creatura <strong>de</strong> Deus;<br />
dar trabalho ao coveiro e levar o lucto a<br />
uma familia <strong>de</strong>sconhecida; ligar eternamente<br />
a si um pliantasma accusador;<br />
tingir as mãos d'uma nodoa vermelha<br />
in<strong>de</strong>level; con<strong>de</strong>mnar-se a ouvir constantemente<br />
o stertor d'uma agonia que causou,<br />
é intolerável, é o castigo mais legitimo<br />
do duello, a lição mais terrível<br />
<strong>de</strong> Joaquim Antonio José Pereira, a con.<br />
finar com a rua do logar.<br />
Auctorisou o vereador do pelouro<br />
dos incêndios a provi<strong>de</strong>nciar para a reparação<br />
do material dos incêndios, segundo<br />
o pedido do cominandante interino<br />
do corpo <strong>de</strong> bombeiros municipaes.<br />
Auctorisou a reparação da fonte da<br />
Marmeleira, freguezia <strong>de</strong> Souzellas.<br />
Nomeou para exercer interinamente<br />
as funeções <strong>de</strong> fiscal da montureira;<br />
Antonio Men<strong>de</strong>s Garcia Rodrigues Tavares.<br />
Nomeou para exercer interinamente<br />
as funeções <strong>de</strong> chefe da repartições<br />
dobras municipaes o conduclor <strong>de</strong> trabalhos,<br />
Joaquim Maria Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo.<br />
'<br />
Attestou favoravelmente ácerca <strong>de</strong><br />
uma petição <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Nazareth, <strong>de</strong>sta<br />
cida<strong>de</strong>, para a concessão <strong>de</strong> um subsidio<br />
<strong>de</strong> lactação para um filho menor.<br />
Deferiu alguns requerimentos sobre<br />
assumptos diversos; transgressão <strong>de</strong> posturas;<br />
comportamento moral e civil, taboletas<br />
em estabelecimentos particulares;<br />
renovação <strong>de</strong> covatos no cemitério; e<br />
annulação <strong>de</strong> contribuição directa.<br />
Associação dos Artistas<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Para conhecimento dos associados se<br />
faz publico que o actual facultativo d'esta<br />
associação é o ex. rao sr. dr. Antonio da<br />
Silva Pontes, com Posto medico ao Arco<br />
d'Almedina, n.° 6.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />
O Secretario,<br />
Alfredo da Cunha Mello.<br />
Prevenimos os nossos<br />
estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />
fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
vamos principiar a cobrança<br />
das suas assignaturas relativamente<br />
ao 2." semestre.<br />
Aos que não tiverem pago<br />
o 1.° semestre enviamos<br />
recibos do anno completo.<br />
Pedimos a todos o obsequio<br />
<strong>de</strong> pagarem logo que<br />
lhes seja apresentado o recibo<br />
ou mandarem pagar<br />
ás respectivas estações do<br />
correio quando receberem<br />
aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />
<strong>de</strong>volução, que, além do<br />
prejuizo que nos causa, embaraça<br />
a boa regularida<strong>de</strong><br />
da nossa administração.<br />
recebida quando se violam as leis sagradas<br />
da religião e da humanida<strong>de</strong><br />
Paulo seutiu expirar o seu odio, principalmente<br />
áquelle grito dilacerante :—<br />
Minha mãe' que acabava <strong>de</strong> ouvir duas<br />
vezes e que lhe recordava a sua.<br />
Afastou subitamente os olhos d'aquelle<br />
espectáculo, e abandonando o barco<br />
encalhado retomou a pé o caminho da<br />
cida<strong>de</strong>, atirando fóra a sua espada.<br />
No palacio Santa-Srala, madame Van-<br />
Ritter pelava por <strong>de</strong>traz da persiana do<br />
balcão, bordando ao lado <strong>de</strong> Débora, que<br />
lhe lia sonetos <strong>de</strong> Miguel Angelo.<br />
De repente, unia voz suave e cautelosa<br />
fez-se ouvir perto do palacio; cantava<br />
Vieni in Roma, trecho divino da<br />
Norma. Mínima procurou um pretexto<br />
para afastar a sua joven amiga, e erguendo<br />
um pouco da persiana, viu e<br />
fez-se vêr.<br />
Quem cantava dobrou a esquina do<br />
palacio Santa-Scala e subiu para a pequena<br />
rua, on<strong>de</strong> pronunciou mais distincta<br />
mente ainda o Vieni! mysterioso.<br />
— Oh! meu Deus! disse Memma<br />
comsigo, ha alguma coisa <strong>de</strong> lugubre<br />
na voz d'este rapaz; alguma horrível noticia<br />
paira e vae cair sobre mim 1<br />
Impresso na Typographla<br />
Operaria — Largo da Frsiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros, —<br />
COIMBRA.
A X X O I — 9 1 O DEFENSOR DO POVO 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> IS9S<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
G A S A<br />
120<br />
ft rremla-se o 2.° andar e<br />
aguas furtadas da casa<br />
n.° 6 do Pateo <strong>de</strong> Inquisição.<br />
Trata-se<br />
n.° 1 a 5.<br />
na Praça do Commercio,<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
65<br />
lll P*' elBta ' 8e dinheiro sobre<br />
Id objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina. 2 a 0 - COIMBRA.<br />
Joaquin» do .Nascimento,<br />
W morador na rua das Pa<strong>de</strong>iras<br />
n.° 11, encarrega-se <strong>de</strong> todos os papeis<br />
precisos para casamentos, taes como certidões,<br />
folhas corridas, passaportes, e<br />
outros documentos que sejam precisos<br />
mandar tirar fora da terra.<br />
mu DE PBOFBIEIUN<br />
119 l / e M d e " 8 e un,a Proprieda<strong>de</strong> que<br />
H se compõe <strong>de</strong> terra lavradia,<br />
pomar, arvores <strong>de</strong> fructo, vinha e casas<br />
<strong>de</strong> habitação, <strong>de</strong>nominada o Cazal do<br />
Valle da Serra, em S. Martinho. Tem<br />
boa estrada que vae da Guarda Ingleza<br />
para a Quinta Agrícola.<br />
Para informações na Praça do Commercio<br />
n.° 14, 1.°.<br />
111 l/' e M ' , l e ~ l 8 e "mH quinta com paúl<br />
W para arroz e casa <strong>de</strong> habitação<br />
no logar <strong>de</strong> S. Fagundo.<br />
Para tratarem com a sua proprietária<br />
D. Quitéria <strong>de</strong> Sousa na rua do Ferreira<br />
Borges n.° 185, on<strong>de</strong> se recebem propostas.<br />
*<br />
SANTA CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
DE<br />
JOSÉ VICT0RI\0 B. MIRANDA<br />
118<br />
»sta fabrica continua a produzir<br />
as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> massas, pelos mesmos preços,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> lem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholameu,<br />
e bem assim communicação lelephonica<br />
coui o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
successor, no largo do Principe D. Carlos,<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />
IMBRES<br />
ENVELLOPES E CARTAS<br />
Imprimem-se na<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
„„ I ..«justo Innea dos Sai»-<br />
14 tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />
RUA DIREITA, 18-COIMBRA<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
Á<br />
1 7 - A D B / J D E C I M A - 2 0<br />
fAtraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIMBRA<br />
2<br />
RMAZEíYl <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para-reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras.<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Eças dou •<br />
Continua a .encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações<br />
bres, e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
fúne-<br />
PREÇOS SEM COMPETENGIA<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral— Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues tia Silva<br />
& C. a<br />
N. B. — Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
|lf| DI<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
K É l i í. « 0 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
B É I I 9 1 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
E/fectna seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio u.° Il-i.°<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Corôas e Flores<br />
JF. D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—-Porto<br />
CASA FILIAL EU LISBOA: RUA 1)0 PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVMIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO mmmu mu, SBCCBSSQB<br />
1 7 — A D R O D E C I M A — 2 0<br />
II<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.®<br />
w m mm r wmBWM~<br />
(OFFICINA)<br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
Iqq encarregasse da pintura <strong>de</strong> ta boletas, casas, d-oura-<br />
Cí çôes <strong>de</strong> egreijas? forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a [província.<br />
Ma mesma offieina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para eaixfiitos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
}<br />
mm DESPIS I IIFFISW<br />
PREPARADA PELO PÍIARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMRRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo tf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos — Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
DEPOSITO DA FABRICA NACIONAL<br />
1 DE<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
^ IVíESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
junto e a retalho, lodos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
U I A I M A N T S<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para ( §93.<br />
Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
josé luís m i H S se mm<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadra»»t»<br />
71 l|' eMdwisl P e '° P re £° d" Fabrica<br />
1 Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocipeles e bicycletas.<br />
Concertam se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
79<br />
mmm as mm<br />
FIDELIDADE<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Capital rs. 1.344:000.$000<br />
sta companhia, a mais po<strong>de</strong>rosa<br />
<strong>de</strong> Portugal, toma se-<br />
guros contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobilias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong>—Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Lue, n.° 86, ou na rua das<br />
Eigueirinhas n.° 45.<br />
APRENDIZ DE FUNILEIRO<br />
121 p reciga ' ll
Deus nobis hsec otia íecit<br />
A questão Burnay, que tão<br />
gran<strong>de</strong> celeuma tem levantado em<br />
todo o paiz, e dado occasião ás mais<br />
encontradas opiniões, d'entre as<br />
quaes, para honra nossa, se <strong>de</strong>staca<br />
a gran<strong>de</strong> maioria que se oppõe<br />
á tentativa parlamentar do nobre<br />
con<strong>de</strong>, tem absorvido quasi por<br />
completo as altenções <strong>de</strong> lodos. E<br />
tanto, que, na ancia <strong>de</strong> saberem se<br />
Burnay entra se Burnay fica á porta<br />
<strong>de</strong> S. Bento, poucos pensam no<br />
que o governo laz, nem no que é<br />
preciso fazer-se; não se dá toda a<br />
attenção que ellas merecem ás propostas<br />
financeiras do sr. Fuschini;<br />
pensa-se menos na tributação eminente,<br />
<strong>de</strong> levar coiro e cabello, do<br />
que no modo porque a camara resolverá<br />
o empate da commissão <strong>de</strong><br />
verificação dê po<strong>de</strong>res; <strong>de</strong>ixa-se trabalhar<br />
á vonta<strong>de</strong>, na sombra, mas<br />
constantemente, a reacção que se<br />
prepara para o restabelecimento<br />
das or<strong>de</strong>ns religiosas... E po<strong>de</strong><br />
fazér-se tudo quanto se quizer, porque<br />
a opinião publica, como uma<br />
creança, vae-se entretendo com a<br />
distracção que lhe offerece a queslão<br />
burnaysiana.<br />
E entretanto o governo folga e<br />
fará o que muite bem quizer; e o<br />
parlamento continuará naquelle do/ce<br />
far mente, gozando do bucolico<br />
<strong>de</strong>scanço que Deus fez para elles;<br />
e as propostas <strong>de</strong> fazenda hão <strong>de</strong><br />
passar; e os conventos hão <strong>de</strong><br />
vir. .. E então, quando lhe chover<br />
em cima uma saraivada <strong>de</strong> impostos,<br />
violentos, <strong>de</strong> a/r azar, e quando<br />
por toda a parle se encontrar, <strong>de</strong><br />
sandalias e camandulas e hábitos<br />
negros <strong>de</strong> mangas largas, em bandos<br />
<strong>de</strong> parasitas a fradalhad-a, será<br />
só então que acordará a opinião<br />
publica dormente.<br />
Que acordará... Mas para quê?<br />
Yale, por ventura, a pena cuidar<br />
do modo como a administração publica<br />
é gerida, pôr peias aos abusos<br />
que se commellem, 'pôr um dique<br />
á torrente <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoralisação que<br />
tudo inva<strong>de</strong>, pôr obstáculos á ruina<br />
eminente?<br />
Dorme, pois, <strong>de</strong>scuidoso, óbom<br />
povo d'este bel lo paiz, á sombra<br />
das arvores frondosas dos teus<br />
campos ri<strong>de</strong>ntissimos; <strong>de</strong>scança do<br />
teu gran<strong>de</strong> labor <strong>de</strong> ha cincoenla<br />
annos, dos teus homéricos esforços<br />
pelo progresso e pela civilisaçâo;<br />
<strong>de</strong>ixa que os teus homens <strong>de</strong> elite,<br />
essas honestas creaturas, que velam<br />
sollicitos\ pelos teus mais sagrados<br />
interesses, emquanlo disfrulas o leu<br />
somno <strong>de</strong>licioso, levem/singrando<br />
serenamente neste mar <strong>de</strong> bonança,<br />
o teu barco na <strong>de</strong>rrota do futuro<br />
prospero, que é a tua terra da promissão.<br />
Dorme, que não vale a pena<br />
ter cuidados.<br />
Esta vida <strong>de</strong> quietação, que<br />
faz lembrar os plácidos costumes<br />
do bucolismo virgiliano, é <strong>de</strong> todas<br />
a mais suave. E a herança que ás<br />
gerações seguintes havemos <strong>de</strong> legar,<br />
não po<strong>de</strong> senão ser <strong>de</strong> tal modo<br />
fecunda e rica que os vindouros<br />
abençoarão sem cessar a memoria<br />
<strong>de</strong> tão pru<strong>de</strong>ntes antepassados.<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
:<br />
Os collegios jesuíticos<br />
(CONTINUAÇÃO)<br />
A arma mais terrível do jesuitismo<br />
é, como dissémos, a educação da mocida<strong>de</strong>;<br />
bem sabe a Companhia que, se<br />
quizer continuar a prepon<strong>de</strong>rância em<br />
qualquer povo, precisa <strong>de</strong> se apo<strong>de</strong>rar<br />
dos ânimos juvenis, vergando-os a seu<br />
bel-prazer, levando aquelles espíritos irreflectidos<br />
a adherir ás suas doutrinas.<br />
É por isso que a educação litteraria<br />
e a religiosa, principalmente, lhe merecem<br />
o seu particular cuidado.<br />
Não é o amor pela instrucção bem<br />
entendida que lhe faz abrir collegios; se<br />
o fosse, veriamos a Companhia crear escolas<br />
primarias nas diversas terras do<br />
reino; mas isso não o faz, porque a<br />
ignorancia popular lhe <strong>de</strong>u sempre largos<br />
contingentes para os seus a<strong>de</strong>ptos.<br />
E' nos centros d'ignorancia absoluta,<br />
on<strong>de</strong> os jesuítas vivem <strong>de</strong>safogadamente<br />
e on<strong>de</strong> angariam forças que sustentam<br />
a Companhia.<br />
Por outro lado sabem bem que as<br />
nossas escolas primarias officiaes não<br />
po<strong>de</strong>m fazer muito mal ás suas idêas e<br />
portanto não tratam <strong>de</strong> crear escolas<br />
suas.<br />
O seu fito é a instrucção secundaria<br />
e antigamente também a superior. Por<br />
isso os vemos hoje fazer concorrência<br />
aos nossos lyceus e collegios seculares,<br />
on<strong>de</strong> se ministra aos estudantes uma<br />
educação mo<strong>de</strong>rna sem os antigos preconceitos<br />
que a influencia jesuítica tinha<br />
inoculado no modo <strong>de</strong> ser da nossa instrucção<br />
e que tão gravosamente nos fizera<br />
seguir sempre muito atraz das outras<br />
nações na carreira do progresso.<br />
O jesuíta no collegio faz um estudo<br />
minucioso do alumno, examina as suas<br />
ten<strong>de</strong>ncias, as suas disposições, a fim<br />
<strong>de</strong> lhes dar uma direcção consentanea<br />
com os fins da Or<strong>de</strong>m.<br />
Nesse estudo tem um papel importante<br />
e especial o prefeito e o confessor;<br />
o prefeito com quem o collegial tem a<br />
maior convivência e o confessor a quem<br />
elle confia os mais Íntimos segredos da<br />
sua alma.<br />
-Com que solercia estas individualida<strong>de</strong>s<br />
se insinuam no animo do alumno,<br />
com que habilida<strong>de</strong> procuram saber dos<br />
mais reconditos pensamentos das ereanças<br />
que lhes são entreguesl Como elles<br />
obrigam suavemente a confiar-lhes tudo<br />
o que se passa, não só no interior do<br />
alumno, mas, o que é muito mais perigoso,<br />
tudo o que se passa no seio <strong>de</strong><br />
suas famílias I E como elles sabem aproveitar-se<br />
<strong>de</strong> todas as confissões a que<br />
obrigam aquellas confiantes creaturinhasl<br />
Ah! que se muitos paes soubessem como<br />
os segredos Íntimos da sua vida são<br />
dissecados no confessionário jesuítico,<br />
como elles se precaveriam <strong>de</strong> entregar<br />
os seus filhos aquelles collegios.<br />
O viver do alumuo está submettido<br />
a uma vigilancia continua e severa; terase<br />
em vista, como noutro numero dissemos,<br />
obter d'elle uma obedíencia absoluta.<br />
Toda a sua educaçao é inspirada<br />
no espirito exaggeradamente ullramontano,<br />
principalmente a religiosa e a moral.<br />
Pelo que diz respeito em primeiro<br />
logar á educação religiosa, todos os que<br />
frequentaram os collegios dos jesuítas,<br />
po<strong>de</strong>m attestar a veracida<strong>de</strong> do que vamos<br />
expor.<br />
Além da missa que são obrigados a<br />
ouvir todos os dias, além do terço que<br />
têem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> rezar <strong>de</strong> joelhos diariamente,<br />
seguido <strong>de</strong> ladainhas e leituras<br />
piedosas, além das confissões que<br />
pelo regulamento têm <strong>de</strong> fazer todos os<br />
mezes, mas que <strong>de</strong> facto se fazem todas<br />
as quartas feiras e sabbados, sob pena<br />
<strong>de</strong> se ser consi<strong>de</strong>rado como mau alumno,<br />
ha ainda ao levantar da cama outras rezas<br />
seguidas <strong>de</strong> meditação matutina na<br />
egreja sempre sobre assumptos que<br />
preoccupem constantemente a imaginação<br />
do collegial.<br />
E quando os pontos a meditar não<br />
são expostos por um jesuila adre<strong>de</strong> instruído<br />
sobre taes exercícios, são lidos<br />
quasi sempre em livros jesuilicos apro-<br />
priados á fanatisação d'aquelles que os<br />
lêem <strong>de</strong>sprevenidamente.<br />
Além d'esles exercícios religiosos,<br />
têm ainda aos domingos <strong>de</strong> ouvir o sermão<br />
<strong>de</strong> um jesuíta da casa, prégado aos<br />
<strong>de</strong>votos; assim como em vários dias da<br />
semana têem <strong>de</strong> assistir a uma pratica<br />
estapafurdia N por um dos padres espirituaes.<br />
Mas não fica ainda por aqui a série<br />
<strong>de</strong> praticas religiosas. Nos collegios existem<br />
duas congregações <strong>de</strong>votas: uma<br />
para a divisão do's Pequenos e outra para<br />
a dos Maiores; a primeira chamada <strong>de</strong><br />
S. Luiz, a segunda <strong>de</strong> Nossa Senhora;<br />
não fallando noutras a que os alumnos<br />
po<strong>de</strong>m pertencer voluntariamente, como<br />
a do Coração <strong>de</strong> Jesus, a <strong>de</strong> S. José,<br />
eto.su «J>» oJiirausM ob« - a Je3<br />
As duas primeiras são formadas exclusivamentfr<strong>de</strong><br />
alumnos escolhidos <strong>de</strong>ntre<br />
os <strong>de</strong> melhor comportamento religioso<br />
e disciplinar; é fácil, portanto, calcular<br />
quaes os alumnos que nellas têem<br />
entrada.<br />
Para se chegar ao grau <strong>de</strong> eongregado,<br />
passa-se por uma especie <strong>de</strong> noviciado,<br />
e só quando os méritos do alumno<br />
são já muito consi<strong>de</strong>ráveis é que se<br />
lhe conce<strong>de</strong> a honra <strong>de</strong> entrar na congregação.<br />
Para isso é preciso o voto dos consultores,<br />
dos assistentes e do presi<strong>de</strong>nte,<br />
todos alumnos <strong>de</strong>baixo da direcção <strong>de</strong><br />
um superior, que para se convencerem<br />
das boas qualida<strong>de</strong>s do candidato, o sujeitam<br />
a um certo numero <strong>de</strong> provas.<br />
D aqui a espionagem constante sobre<br />
os actos do alumno, a <strong>de</strong>lacção junto<br />
dos superiores e oulros actos vergonhosos<br />
a que acostumam aquellas pobres<br />
ereanças que julgam a principio praticar<br />
o bem, cumprindo as instrucções que<br />
lhes são dadas por taes educadores,<br />
e que <strong>de</strong>pois para alguns se convertem<br />
em habito a que não po<strong>de</strong>m fugir,<br />
ficando sempre uns intrigantes d'officio.<br />
A pratica da <strong>de</strong>iacção não fica encerrada<br />
entre as pare<strong>de</strong>s do collegio;<br />
sabemos <strong>de</strong> ex collegiaes a quem os jesuítas<br />
pediam noticias amiudadas do proce<strong>de</strong>r<br />
dos seus companheiros nos cursos<br />
superiores, e que tem havido alguns,<br />
não sei se por ingenuida<strong>de</strong>, que correspon<strong>de</strong>m<br />
aos <strong>de</strong>sejos dos jesuitas. Este<br />
ponto dar nos-hia logar a vários consi<strong>de</strong>randos,<br />
roas como o assumpto é muito<br />
melindroso, <strong>de</strong>ixal-o-hemos a quem<br />
melhor o possa tratar.<br />
O que refina a educação religiosa<br />
do alumno, já bastante apurada pelas<br />
praticas <strong>de</strong> que temos fatiado, são os<br />
terríveis exercícios espirituaes <strong>de</strong> que<br />
trataremos noutro numero.<br />
*<br />
No artigo anterior, on<strong>de</strong> se lê: como<br />
a compre/ten<strong>de</strong> Um bom pae <strong>de</strong> familia,<br />
<strong>de</strong>ve lêr-se: não como a comprehen<strong>de</strong> um<br />
bom pae <strong>de</strong> familia.<br />
oA. S.<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Reuniu ha dias na Associação Commercial<br />
<strong>de</strong> Lisboa a classe <strong>de</strong> guardalivros,<br />
a fim <strong>de</strong> reclamarem contra o<br />
augmento <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> contribuição industrial<br />
proposta nas medidas <strong>de</strong> fazenda.<br />
Presidiu o sr. João Espinheiro, secretariado<br />
pelos srs. Alfredo <strong>de</strong> Jesus Freire<br />
e Augusto Loureiro Júnior. Depois <strong>de</strong><br />
ligeira discussão foi nomeada uma commissão<br />
composta dos srs. João Espinheiro<br />
Júnior, Alfredo <strong>de</strong> Jesus Freire, Augusto<br />
Loureiro Júnior, Ricardo <strong>de</strong> Sá e Manoel<br />
Alves Ribeiro, para estudar e tratar um<br />
tão importante assumpto. A sessão esteve<br />
muito concorrida.<br />
* iEiri Aveiro o comício contra as<br />
propostas <strong>de</strong> fazenda teve verda<strong>de</strong>ira<br />
imponência.<br />
* No Porto, a classe dos advogados,<br />
negociantes <strong>de</strong> couros e banheiros<br />
da praia da Foz do DOHTO, resolveram<br />
protestar contra o aggravamento das<br />
respectivas contribuições.<br />
* Vae reunir extraordinariamente,<br />
para protestar contra as propostas <strong>de</strong><br />
fazenda, a camara municipal do Porto.<br />
ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 92<br />
Narração <strong>de</strong> factos<br />
Deram-se ultimamente alguns factos<br />
na grey regeneradora <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos<br />
dar conta neste jornal.<br />
A historia é um pouco longa, mas<br />
edificante.<br />
O partido regenerador ainda ha poucos<br />
annos consi<strong>de</strong>rava esta cida<strong>de</strong> como<br />
um dos seus principaes baluartes. Era<br />
aqui dirigido por um professor muito distincto<br />
e clinico ainda mais distincto, que<br />
tinha sabido agrupar em volta <strong>de</strong> si um<br />
grandíssimo numero <strong>de</strong> elementos políticos<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e do seu districto.<br />
Este clinico retirou-se para Lisboa,<br />
e esta data marca o principio d'uma rapida<br />
<strong>de</strong>clinação nas forças do partido,<br />
cuja chefia passou para outro medico.<br />
(Nesta historia figuram 5 médicos — o<br />
que talvez explique a morte do doente.)<br />
O novo chefe era muito eloquente,<br />
muito cortez e <strong>de</strong> primorosa educação;<br />
mas, coisa notável! muito antipaihico á<br />
maior parte dos seus correligionários.<br />
A morte <strong>de</strong> Fontes Pereira <strong>de</strong> Mello<br />
e, posteriormente, a do antigo chefe local,<br />
que, mesmo ausente, <strong>de</strong>sfazia muitos<br />
attrictos, vieram augmentar as dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Seguiu-se a questão ingleza<br />
com as suas conhecidas consequências;<br />
vieram successivos ministérios e no segundo<br />
consulado <strong>de</strong> Lopo Vaz foi nomeado<br />
governador civil <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> um<br />
homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor politico — se<br />
valor se <strong>de</strong>ve dar ás malícias e artimanhas.<br />
Esta auctorida<strong>de</strong>, conhecendo a falta<br />
<strong>de</strong> synipalhia do chefe local, o medico<br />
eloquente, tratou <strong>de</strong> o fazer substituir<br />
por um antigo regenerador, que<br />
não havia seguido a ban<strong>de</strong>ira rica da<br />
rua dos Fanqueiros, que os car<strong>de</strong>aes regeneradores<br />
melteram na mão do sr. Antonio<br />
<strong>de</strong> Serpa.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois ao segundo ministério<br />
nephelibata seguiu-se o do sr. Dias Ferreira,<br />
que mandou governar <strong>Coimbra</strong> por<br />
um nobre con<strong>de</strong>, que suppria a sua carência<br />
<strong>de</strong> conhecimentos administrativos<br />
pela habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recitar paginas e paginas<br />
<strong>de</strong> Ovídio e <strong>de</strong> Tito-Livio. Mas o<br />
latim <strong>de</strong> s.-ex. a para alguma coisa serviu.<br />
Nas eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados organisou-se<br />
á custa do partido regenerador<br />
um grupo que apoiou o sr. Dias Ferreira<br />
e que <strong>de</strong>u a victoria a dois cavalheiros,<br />
um antigo regenerador >e outro<br />
renegado dos princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />
Este ultimo, passados poucos" dias, estava<br />
também eleito vereador. Está alli<br />
evi<strong>de</strong>ntemente um chefe, que podia dizer,<br />
na língua do sr. governador civil,<br />
veni, vidi, vici.<br />
Julgamos até que venceu sem ver<br />
coisa nenhuma.<br />
O certo é que o chefe regenerador<br />
ficou sem logar no parlamento, graças á<br />
<strong>de</strong>serção dos seus soldados para as hostes<br />
do sr. Dias Ferreira.<br />
Veiu o ministério Hintze e continuaram<br />
na situação anterior aquelles dois<br />
<strong>de</strong>putados ; d'aqui um embaraço singular<br />
— haver nesta cida<strong>de</strong> dois partidos regeneradores;<br />
um, <strong>de</strong> que é chefe um<br />
distincto mathematico e sub chefe um<br />
illustre operador (temos o 3.° medico !),<br />
e outro <strong>de</strong> que é chefe o dilecto da urna<br />
Coimbrã e sub-chefe um vereador, secretario<br />
<strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns e confrarias.<br />
Quando o sr. ministro do reino nomeou<br />
o actual governador civil, não tratou<br />
<strong>de</strong> antecipadamente saber, como é<br />
d'uso, se este cavalheiro era persona grata<br />
aos políticos da localida<strong>de</strong> — coisa que<br />
muito azedou o partido regenerador n.°<br />
1, o qual ficou ainda mais azedo em<br />
consequência da conservação em certo<br />
logar <strong>de</strong> imporlancia politica d'um sobrinho<br />
do sub-chefe do partido regenerador<br />
n.° 2.<br />
Até aqui, o prologo indispensável<br />
para a intelligencía da historia, que no<br />
proximo numero contaremos, historia fértil<br />
em inci<strong>de</strong>ntes que bem <strong>de</strong>monstram<br />
o que é a politica <strong>de</strong> corrilho.<br />
Contribuição industrial<br />
VWVl<br />
Aviso aos contribuintes<br />
Está em reclamação a matriz<br />
industrial, po<strong>de</strong>ndo ser examinada<br />
na repartição <strong>de</strong> fazenda d'este<br />
concelho, até ao dia 7 do correule,<br />
das 9 horas da manhã ás 3 da<br />
tar<strong>de</strong>.<br />
Este anno as notas que eram<br />
fornecidas aos regedores das freguezias<br />
para serem distribuídas pelos<br />
contribuintes são entregues na<br />
repartição, o que po<strong>de</strong> dar logar a<br />
que o collectado ignore qual a sua<br />
classificação.<br />
Devem estar lembrados os contribuintes<br />
das flagrantes injustiças<br />
que se praticaram o anno passado<br />
e portanto o cuidado que <strong>de</strong>ve<br />
haver da parle dos interessados em<br />
examinar a matriz industrial a fim<br />
<strong>de</strong> reclamarem contra qualquer illegalida<strong>de</strong><br />
no praso que a lei faculta.<br />
Aqui <strong>de</strong>ixámos este aviso na<br />
supposição <strong>de</strong> que prestamos um<br />
bom serviço ao contribuinte, que<br />
po<strong>de</strong> ser lesado pela falta do competente<br />
aviso.<br />
• •<br />
Sempre roubos<br />
Na alfan<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> Lisboa foram <strong>de</strong>scobertos<br />
roubos importantes <strong>de</strong> direitos<br />
<strong>de</strong> mercadorias saidas d'aquella casa<br />
fiscal e que eram acompanhadas <strong>de</strong> guias<br />
<strong>de</strong> fragata e entradas no consumo por<br />
um processo, na verda<strong>de</strong>, um pouco surprehen<strong>de</strong>nte<br />
pelo arrojo <strong>de</strong> quem o praticou.<br />
Já subiu participação do facto ao contencioso<br />
fiscal <strong>de</strong> l. a instancia e foram<br />
mandadas arrestar todas as mercadorias<br />
que se achavam armazenadas ou pedidas<br />
a <strong>de</strong>spacho por uma casa commercial<br />
d'aquella praça, que tem ainda pen<strong>de</strong>nte<br />
um processo recente por <strong>de</strong>scaminho<br />
<strong>de</strong> direitos d'amído em pedra.<br />
A revisão da Bélgica<br />
A camara dos <strong>de</strong>putados belgas approvou<br />
com a maioria <strong>de</strong> 43 votos o<br />
paragrapho primeiro da revisão da Constituição,<br />
segundo o qual a divisão das<br />
circumscripções eleitoraes será regulada<br />
por uma lei.<br />
Questões religiosas<br />
Foi <strong>de</strong>mittido o bispo do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Por tal motivo consta por telegrammas,<br />
que vae pela capitai da republica<br />
sul-americaua, gran<strong>de</strong> celeuma.<br />
Os jornaes e os centros catliolicos<br />
pe<strong>de</strong>m ao papa a conservação do bispo.<br />
A questão será apresentada no congresso.<br />
O cholera na Europa<br />
Confirinou-se officialmente que se<br />
<strong>de</strong>u um caso <strong>de</strong> cholera em Hamburgo.<br />
A junta <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, da capital, que<br />
reuniu para tomar conhecimento d'este<br />
facto, foi <strong>de</strong> parecer, que, por emquanto,<br />
se <strong>de</strong>ve só recommendar á estação<br />
competente que tenha o maior cuidado<br />
na visita aos navios d'aquella procedência.<br />
*<br />
Os jornaes hespanhoes, chegados ultimamente,<br />
trazem também noticias pouco<br />
agradaveis ácerca do estado da saú<strong>de</strong><br />
publica nos <strong>de</strong>partamentos do meio<br />
dia da França.<br />
Affirmam que se <strong>de</strong>ram casos mais<br />
que suspeitos em Nimes, Cetle, e Montpellier<br />
e que ha receio <strong>de</strong> que a epi<strong>de</strong>mia<br />
se alastre este anno.
AX.XO I — 9 3 O D E F E X I O R DO P O V O 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
C R Y S T A E S<br />
A uma creança<br />
Eu gosto d'essa innocencia,<br />
d'esse boin tempo em que a gente<br />
Levou a 'sorrir a existencia,<br />
Descuidosa, alegremente...<br />
0 tempo da flicida<strong>de</strong><br />
E' como pomba <strong>de</strong> neve<br />
Passando na immensida<strong>de</strong>,<br />
— Mas dura pouco... ó tão breve,<br />
A mocida<strong>de</strong> acabada<br />
Encontramo-nosfla vida<br />
Im noite escura e cerrada,<br />
Com a illusão <strong>de</strong>struída.<br />
O que era luz flca treva,<br />
E se por nosso castigo<br />
Vem a dôr, ella nos leva<br />
Toda a alegria coinsigo!<br />
Essa eda<strong>de</strong>, filha, é a única<br />
Em que se po<strong>de</strong> gosar,<br />
Em que a alma é como túnica<br />
Feita da luz do luar<br />
— Brinca, creança : o Senhor<br />
Sorrirá do parai so<br />
Se nos teus lábios <strong>de</strong> flôr<br />
Vir <strong>de</strong>spontar um sorriso I<br />
AUGUSTO DB MESQUITA.<br />
L B T T R A S<br />
A corda<br />
«As illu.ões — dizia-me um amigo,<br />
— são tão innumeraveis talvez como as<br />
relações dos homens entre si ou dos homens<br />
entre as coisas. E quando a illusão<br />
<strong>de</strong>sapparece, isto é, quando vemos a realida<strong>de</strong><br />
tal como existe, sentimos um bisarro<br />
seniimento <strong>de</strong> pezar pelo fantasma<br />
que <strong>de</strong>sappareceu e <strong>de</strong> surpreza agradavel<br />
<strong>de</strong>ante da novida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ante do facto<br />
real. Se existe um phenomeno evi<strong>de</strong>nte,<br />
trivial, sempre semelhante e d'uma natureza<br />
em que o engano não é admissível,<br />
é o amor maternal. E' tão diíScil suppôr<br />
uma mãe sem amor maternal como admittir<br />
uma luz sem calor; não é pois perfeitamente<br />
legitimo attribuir ao amor<br />
maternal todas as acções e palavras d'uma<br />
mãe, relativas a seu filho? e no entanto<br />
escutem esta pequena historia, em que<br />
eu fui singularmente lu lihriado pela mais<br />
natural das illusões.<br />
«A minha profissão <strong>de</strong> pintor força-me<br />
a olhar com attenção os rostos e as pliisionomias<br />
que encontro pelo caminho e<br />
não ignoram que prazer a gente não tira<br />
d'essa faculda<strong>de</strong> que torna aos nossos<br />
olhos a vida mais brilhante e significativa<br />
do que aos outros homens No bairro<br />
affastado on<strong>de</strong> habito e on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
taboleiros d'herva não calcada divi<strong>de</strong>m<br />
ainda as casas, observei muitas vezes<br />
uma creança cuja phisionomia ar<strong>de</strong>nte e<br />
travessa, mais do que todas as outras,<br />
me seduziu á primeira vista. Mais d'uma<br />
vez me serviu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo e eu transformei-a<br />
umas vezes num pequeno cigano,<br />
entras em anjo e outras em Amor mytho<br />
logico. Fil-a trazer o violino do vagabundo,<br />
a corôa <strong>de</strong> espinhos, os pregos da<br />
Paixão e a tocha d'Ero.<br />
Tomei emfim áquella galanteria do<br />
garoto tão vivo prazer, que um dia pedi<br />
aos paes d'elle, gente pobre, que m'o<br />
ce<strong>de</strong>ssem, promeltendo vestil-o, dar-lhe<br />
algum dinheiro e não lhe exigir outro<br />
trabalho a não ser limpar-me os pincéis<br />
e fazer recados.<br />
Essa creança <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lavada tornou-se<br />
encantadora e a vida que linha<br />
em minha casa parecia-lhe um paraizo<br />
comparada com a que vivia na mansarda<br />
paterna. Somente <strong>de</strong>vo dizer que o rapazito<br />
me surpreheu<strong>de</strong>u algumas vezes<br />
com singulares crises <strong>de</strong> tristeza precoce<br />
e que em breve manifestou um go-to immo<strong>de</strong>rado<br />
pelo assucar e pelos licôres:<br />
tanto que um dia em que adquiri a prova<br />
<strong>de</strong> que, apesar das minhas frequentes recommendações,<br />
elle commelteu novo <strong>de</strong>licio<br />
do mesmo género, ameacei-o com<br />
mandal-o, no caso <strong>de</strong> reincidência, para<br />
casa dos paes. Depois saí e os negocios<br />
da minha casa <strong>de</strong>moraram-me bastante<br />
tempo fóra <strong>de</strong> casa.<br />
Entrando era casa esperava me uma<br />
horrorosa surpreza.<br />
O primeiro objecto que me feriu a<br />
vista foi o rapasito, o travesso companheiro<br />
da minha vida, enforcado num<br />
armario ! Os pés quasi que tocavam no<br />
chão; uma ca<strong>de</strong>ira que elle sem duvida<br />
empurrara ao soltar-se no vácuo estava<br />
caída ao pé d'e!le; a cabeça mantinhae<br />
convulsivamente iuclinada para ura dos<br />
hombros ; o rosto horrorosamente inchado<br />
e os olhos arregalados com uma fixi<strong>de</strong>z<br />
medonha, causaram-me a principio a illusão<br />
da vida. Sollal-o da corda não era<br />
uma tarefa tão fácil como po<strong>de</strong>m imaginar.<br />
Estava já muito inteiriçado e eu<br />
tinha uma repugnancia inexplicável em<br />
<strong>de</strong>ixa-lo cahir bruscamente no chão. Era<br />
preciso amparal-o em peso com um braço<br />
e com a outra mão cortar a corda. Mas<br />
feito isso, ainda não era tudo; o pequenb<br />
monstro tinha se servido d'um cor<strong>de</strong>l<br />
muito <strong>de</strong>lgado que tinha entrado profundamente<br />
na carne, e era preciso então,<br />
com uma tesoura pequena, procurar a<br />
corda entre os dois lábios da ferida para<br />
lhe <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r o pescoço.<br />
E' escusado dizer que gritei afllictivamente<br />
por soccorro; mas todos os<br />
meus visinhos se tinham recusado a ajudar-me,<br />
fieis em tal resolução aos costumes<br />
dos homens civilisados, que não querem<br />
nunca, não sei porque razão, ter<br />
contacto com um enforcado Emfim, chegou<br />
um medico que <strong>de</strong>clarou ter a creança<br />
morrido já havia horas. Quando, m^is<br />
tar<strong>de</strong>, tivemos <strong>de</strong> o <strong>de</strong>spir para o amortalhar,<br />
a rigi<strong>de</strong>z cadavérica era tal, que<br />
<strong>de</strong>sesperando <strong>de</strong> dobrar-lhes os membros,<br />
usamos do recurso <strong>de</strong> cortar e rasgar-lhe<br />
a roupa.<br />
O commissario, a quem naturalmente<br />
participei o occorrido, olhou-me <strong>de</strong> travez<br />
e di-se-me: «E' um caso suspeito!»<br />
movido sem duvida pelo <strong>de</strong>sejo inveterado<br />
e habito da profissão <strong>de</strong> metler medo<br />
tanto aos innocentes como aos culpados.<br />
Ainda havia uma tarefa a cumprir<br />
e só a lembrança d 'ella me causava uma<br />
angustia terrível: era preciso avisar os<br />
paes. Os meus pés recusavam levar-me<br />
até á casa d'elles. Emfim, ganhei coragem.<br />
Mas, com gran<strong>de</strong> espanto meu, a<br />
mãe ficou impassível; nem uma lagrima<br />
lhe appareceu ao canto do olho. Attribui<br />
essa irregularida<strong>de</strong> ao gran<strong>de</strong> horror que<br />
ella <strong>de</strong>via seotir, e lembrei-me da conhecida<br />
sentença :« —As dores mais terríveis<br />
são as dôres mudas.» O pae lirailou-se<br />
a dizer com um ar meio embrutecido,<br />
meio abstracto: «Emfim, talvez<br />
isso não fosse peior; elle havia <strong>de</strong> acabar<br />
mal por força!<br />
O corpo estava estendido no meu<br />
divan e guardado por uma creada ; eu<br />
occupava me dos últimos preparativos,<br />
quando a mãe entrou no meu atelier.<br />
Queria, dizia ella, vêr o cadaver do filho.<br />
Eu não podia, na verda<strong>de</strong>, impedil-a <strong>de</strong><br />
se embriagar com a sua <strong>de</strong>sgraça, e<br />
recusar-lhe esta suprema e sombria consolação.<br />
Em seguida pediu-me que lhe mostrasse<br />
o sitio on<strong>de</strong> a creança se tinha<br />
enforcado «Oh 1 não I minha senhora —<br />
lhe respondi eu, — esse espectáculo augmentará<br />
a sua dôr». E como involuntariamente<br />
os meus olhos se levantassem<br />
para o fúnebre armario, <strong>de</strong>scobri, com<br />
um <strong>de</strong>sgosto misturado <strong>de</strong> horror e <strong>de</strong><br />
cólera, que o prego tinha ficado na pare<strong>de</strong>,<br />
com uma ponta <strong>de</strong> corda baloiçando<br />
sinistramente. Eu corri iinmediatamenle<br />
para arrancar esses últimos vestígios<br />
do <strong>de</strong>sastre, e quando os ia a atirar<br />
pela janella fóra, a pobre mãe agarroume<br />
no braço e disse-me com uma dôr<br />
irresistível: «Oh! senhor! dê me isso!<br />
peço-llfo! supplico-lir.o!» Parece-me que<br />
o seu <strong>de</strong>sespero a tinha <strong>de</strong> tal modo<br />
enlouquecido que ella se sentia subitamente<br />
enternecida e apaixonada por tudo<br />
que tinha servido d'i.nstrumento á morte<br />
<strong>de</strong> seu filho e que queria guardar esses<br />
objectos como uma horrível e querida<br />
relíquia. — E ella apo<strong>de</strong>rou-se do prego<br />
e do cor<strong>de</strong>l.<br />
Emfim! emfimI estava tudo acabado.<br />
Apenas me restava entregar-me <strong>de</strong><br />
novo ao trabalho, mais ar<strong>de</strong>ntemente<br />
ainda que <strong>de</strong> costume para apagar pouco<br />
a pouco esse pequeno cadaver que vivia<br />
nas profun<strong>de</strong>zas do meu cerebro e cujo<br />
phantasma me fatigava com a estranha<br />
persistência dos seus olhos arregalados.<br />
Mas no dia seguinte recebi um masso<br />
<strong>de</strong> cartas, umas dos moradores, outras<br />
dos localarios das casas visinhas; uma do<br />
primeiro andar, outra do segundo, outra<br />
do terceiro, e assim <strong>de</strong> seguida, umas<br />
em estylo meio comico como procurando<br />
disfarçar snb uma app.irente zombaria a<br />
sincerida<strong>de</strong> do pedido, outras <strong>de</strong>scoradas<br />
e sem orthographia, mas todas com o<br />
mesmo fim, isto é, alcançar <strong>de</strong> mim um<br />
pedaço da funesta e beatifica corda.<br />
Entre os signalarios, havia, <strong>de</strong>vo essa<br />
confissão, mais mulheres do que homens,<br />
mas todos, po<strong>de</strong>m crêr, não pertenciam<br />
só a classe intima e vulgar. Guar<strong>de</strong>i<br />
essas cartas.<br />
E então, rapidamente, um raio <strong>de</strong><br />
luz esclareceu o meu espirito e comprehendi<br />
porque a mãe tanto se empenhava<br />
em tirar-me a corda e por que especie<br />
<strong>de</strong> negocio ella pretendia encontrar consolações<br />
para a sua magoa.»<br />
Charles Bau<strong>de</strong>laire.<br />
E verda<strong>de</strong>!<br />
Nota um nosso collega o facto do<br />
sr. ministro da justiça não ter até boje<br />
apresentado ao parlamento uma proposta<br />
<strong>de</strong> lei regulando a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />
que vinha no sacco do actual<br />
ministro, quando elle appareceu no po<strong>de</strong>r.<br />
Realmente o facto é para apprehensões,<br />
porque o caso da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa<br />
não é tão comezinho que possa<br />
completamente <strong>de</strong>sviar-se da attenção<br />
publica.<br />
Vá, sr. ministro da justiça, vamos a<br />
isso. E que venha obra limpa.<br />
Ainda mais fra<strong>de</strong>s!<br />
Este negregado assumpto está na or<strong>de</strong>m<br />
do dia e na or<strong>de</strong>m das trevas, planeado<br />
entre a <strong>de</strong>sceu<strong>de</strong>ncia do ultimo<br />
absolutismo e o constitucionalismo, ou o<br />
absolutismo illustrado, como lhe chamam<br />
os seus amadores, ou pelo menos tacitamente<br />
adoptado; e como tal convidanos<br />
a acompanhal-o <strong>de</strong> varias consi<strong>de</strong>rações,<br />
remontando ao passado, pondo<br />
em revista o presente e volvendo ao futuro.<br />
Joaquim Antonio d'Aguiar, louvado e<br />
apoiado por outros constitucionaes do<br />
seu tempo, <strong>de</strong>cretou a extincçâo dos fra<strong>de</strong>s<br />
como medida politica e a um tempo<br />
como medida ecooomica, para assegurar<br />
e consolidar o nosso regimen implantado<br />
e para arrancar dos conventos, d'esses<br />
centros improductivos e ociosos, os milhares<br />
<strong>de</strong> braços que alli estavam accumulados,<br />
prejudicando todos os fins sociaes.<br />
Eram justos os seus intuitos, plausíveis<br />
as razões que os <strong>de</strong>terminavam,<br />
queria a liberda<strong>de</strong>, a prosperida<strong>de</strong> e a moralida<strong>de</strong><br />
no seu paiz e para todos que<br />
não só para alguns.<br />
Com a sua resolução governativa,<br />
Aguiar conseguiu o primeiro dos seus<br />
fins e no momento, parte do segundo,<br />
mas não todo porque o thesouro publico<br />
ficou pensionando os egressos, como<br />
era <strong>de</strong> razão, moralida<strong>de</strong> e justiça porque<br />
tinham levado para os respectivos<br />
conventos os seus dotes, e não <strong>de</strong>viam<br />
ser lançados á margem e con<strong>de</strong>mnados<br />
ao ostracismo, para pouco <strong>de</strong>pois esses<br />
dotes e dos outros mais antigos ser pasto<br />
do <strong>de</strong>vorismo <strong>de</strong> muitos papões constitucionaes,<br />
verda<strong>de</strong>ira nuvem <strong>de</strong> carnívoros,<br />
que <strong>de</strong>sceu sobre o paiz e que<br />
vagueia por elle ao cheiro <strong>de</strong> mais prezas.<br />
Mas continuando a moralisar o gran<strong>de</strong><br />
successo da extiucção e os factos que<br />
se lhe sobseguirão acha-se a verda<strong>de</strong><br />
que Joaquim Antonio d'Aguiar, que tanto<br />
constitue contra si a má vonta<strong>de</strong> do<br />
partido miguelista, não era um ambicioso,<br />
um especulador politico que linha em<br />
vista locuplelar-se com as grau<strong>de</strong>s riquezas<br />
dos conventos em preciosida<strong>de</strong>s<br />
metallicas e proprieda<strong>de</strong>s territoriaes,<br />
porque, se não laboramos em erro, Joaquim<br />
Antonio d'Aguiar que aioda viveu<br />
bastantes annos <strong>de</strong>pois da sua obra<br />
consummada, não morreu mais rico do<br />
que era quando foi ministro, não comprou,<br />
nem sorripiou alguns dos bens dos<br />
fra<strong>de</strong>s, uão partilhou com outros do seu<br />
partido as enormes preciosida<strong>de</strong>s que<br />
havia em alguns conventos, em baixella<br />
<strong>de</strong> prata e outros objectos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor,<br />
não construiu chalets soberbos, não<br />
metteu nos bancos nacionaes, estrangeiros,<br />
alguns capitaes e não tinha carruagens<br />
luxuosas e respectiva criadagem<br />
suas e ao seu serviço, com tem lido e<br />
tem outros muitos á custa dos dinheiros<br />
públicos, viveu e morreu mo<strong>de</strong>stamente.<br />
Por outra parle o tempo e os factos<br />
tem patenteado que muitos dos contemporâneos<br />
e partidarios do aliudido systema<br />
constitucional e a quasi universalida<strong>de</strong><br />
dos posthumos tinha e tem outras<br />
vistas, que não são o interesse publico,<br />
tem gozado e os seus successores os<br />
bens dos conventos, improvisado fortunas<br />
fabulosas e tuexplieaveis, e folgado<br />
muito, em quanto o maior numero<br />
está na miséria e a nação arruinada material<br />
e moralmente <strong>de</strong> fórma que Joaquim<br />
Antonio d'Aguiar, na sua boa fé,<br />
ve'o a ser o instrumento para muitos<br />
comilões comerem á farta e improvisar<br />
fortuna, sem proveito proprio e com<br />
pouco proveito da nação.<br />
O pensamento do legislador não foi<br />
mau, mas o uso que se fez da lei e a<br />
applicação que se fez dos bens dos fra<strong>de</strong>s<br />
e do relativamente pequeno producto<br />
das suas vendas, é que foi péssimo. A<br />
enormíssima massa dos bens dos fra<strong>de</strong>s<br />
podia ven<strong>de</strong>r milhões e estes se forem<br />
zelosamente administrados assim como<br />
foram <strong>de</strong>scurados e prodigalisados, dispensariam<br />
muilo <strong>de</strong> sua monstruosa divida<br />
que se tem contraindo e o progressivo<br />
e illimitado augmento dos impostos<br />
sobre o povo.<br />
D*es^a immensa massa uns passaram<br />
a novos possuidores gratuitamente,<br />
a titulo <strong>de</strong> serviços já bastante remunerados,<br />
muitos a troco <strong>de</strong> papeis velhos<br />
a que se <strong>de</strong>u subido valor ad hoc, outros<br />
por um preço muito inferior ao seu<br />
valor real para servir amigos? Foi um<br />
segundo cliviserunt vestimenta meai A<br />
mesma má sorte tiveram os bens das<br />
freiras, das collegiadas, dos cabidos, dos<br />
seminários et caetera et caetera ! A queda<br />
do absolutismo e a proclamação do<br />
constitucionalismo são dois factos que<br />
engran<strong>de</strong>ceram muitos e empobreceram<br />
muitos, e o resultado final foi a <strong>de</strong>cadência<br />
e a ruina nacional.<br />
Esgotada a ubérrima fonte dos bens<br />
<strong>de</strong>samortisados seguindo-se a serie dos<br />
émprestimós e das contribuições e não<br />
saciada a cobiça dos innumeraveis especuladores<br />
ambiciosos e <strong>de</strong>voristas que<br />
fervilham pelo paiz e frequentara a capital<br />
que é o seu centro, alguns d'elles<br />
voltaram as suas vistas para a rapacida<strong>de</strong><br />
dos dinheiros públicos entrados nos<br />
cofres públicos, nalguns bancos, e recorrendo<br />
a toda a sorte <strong>de</strong> falcatruas,<br />
como se sabe.<br />
Assim tem corrido neste malfadado<br />
paiz os negocios públicos e assim hão <strong>de</strong><br />
continuar a correr, porque sem castigo<br />
não ha emenda e esse castigo hão se<br />
receia em quanto reinar o actual systema,<br />
porque as coisas eslão calculadamente<br />
dispostas para a impunida<strong>de</strong>.<br />
Taboa, 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1893.<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />
Escola industrial<br />
Trala-se <strong>de</strong> estabelecer uma escola<br />
indnstrial junto á fabrica da Mariuha<br />
Gran<strong>de</strong> ou uma secção da escola industrial<br />
<strong>de</strong> Leiria.<br />
EM SURDINA<br />
Um dia cheio, d'estalo,<br />
a quinta feira passada;<br />
té dá gosto, dá regalo,<br />
ter <strong>de</strong> fazer versalhada.<br />
Na kermesse, o nosso Fino,<br />
<strong>de</strong> maneiras jubilosas,<br />
vestia qual figurino,<br />
e sempre alegre, ladino,<br />
recebia as donairosas.<br />
Deu-nos gin-gin, foguatorio,<br />
fez um <strong>de</strong>curso mo<strong>de</strong>lo<br />
e em seguida — que finorio! -<br />
apresenta ao auditorio<br />
um orador — <strong>de</strong> capello !<br />
E ambos, como uns catitas,<br />
fizeram phrases d'arromba,<br />
com tiradas eruditas,<br />
dizendo coisas bonitas<br />
dos romanos, mais da bomba.<br />
O que a muitos causou gana<br />
foi ver a troca immoral<br />
feita á fibra americana,<br />
pelo nervo nacional 111<br />
—Yaes bem Miguel, nessa scena,<br />
resmungava um popular<br />
ao ouvir-lhe a caniilana :<br />
- Quanto virias ganhar 11...<br />
De tar<strong>de</strong>, o largo da Feira,<br />
tinha enorme multidão,<br />
que aguardava, ein pasmaceira,<br />
o S. Jorge e a procissão.<br />
Gosta o povo da farçada<br />
e apraz-ihe ver o senado<br />
figurar na fantochada<br />
do santinho atarraxado...<br />
Ver a tropa apresentar,<br />
á voz do seu briga<strong>de</strong>iro<br />
as armas —só p'ra honrar —<br />
o S. Jorge e o esterqueiro t<br />
Faz-nos rir esta homenagem<br />
<strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong> fervor.<br />
Inda espero ver <strong>de</strong> pagein<br />
p'r'o anno—um vereador I<br />
PINTA-ROXA.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A festa do Corpus Cliristi<br />
Interrompida o anno passado esta<br />
festa tradicional da camara <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
por um acto <strong>de</strong> boa administração do<br />
anterior consulado, o único talvez digno<br />
<strong>de</strong> louvor da camara presidida pelo sr.<br />
dr. Costa Allemão, renovou-se este anno,<br />
com o costumado espieudor, dizem eíles,<br />
Esle bom povo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que, em<br />
lhe cheirando a tropas e a <strong>de</strong>scargas,<br />
não falha nunca ao apparatoso espectáculo,<br />
não se esqueceu <strong>de</strong> concorrer em<br />
gran<strong>de</strong> numero a admirar a espaventosa<br />
festa, que em cada anno vem pôr na<br />
pacatice indígena esla nota hilariante <strong>de</strong><br />
ridículo, que <strong>de</strong>sperta o bom humor e<br />
faz esquecer por momentos a <strong>de</strong>sbragada<br />
carga <strong>de</strong> impostos com que o sr.<br />
Fuschini nos ameaça. E faz bem o povo<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> porque, nem só <strong>de</strong> pão vive<br />
o homem,, como o evangelho é o primeiro<br />
a confessar, e uiuas <strong>de</strong>sopilantes gargalhadas<br />
<strong>de</strong> vez em quando são lambem<br />
o pão do espirito; e outra coisa não<br />
<strong>de</strong>sperta o S. Jorge atarrachado; o pagem,<br />
um varredor da camara, cheio <strong>de</strong> vermelhão,<br />
escarranchado numa pileca, cujo<br />
olhar terno parece supplicar uma quarta<br />
<strong>de</strong> lava, e que, por ironia, com certeza,<br />
o celebre França, solemnissimo no seu<br />
papel, vae couduziudo á arreata.<br />
E la vae <strong>de</strong>sfilando este trio <strong>de</strong> fantochada,<br />
ruas fóra, o santo a abanar,<br />
cambaleante na tarracha lassa já; o pagein,<br />
ancho na sua figura guerreira, <strong>de</strong> escudo<br />
<strong>de</strong> papellào cozido ao braço direito<br />
e lança na mão esquerda, vestido a capricho,<br />
<strong>de</strong> fatos guerreiros em panninho<br />
<strong>de</strong> côres; o França, <strong>de</strong> luva branca, raboua<br />
azul e cigarro ao canto da orelha, 110<br />
seu orgulho postiço d'uma tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> figura,<br />
na festa da camara; e em seguida o esquadrão<br />
<strong>de</strong> cavallaria a fazer pinotear<br />
os cavallos; dois renques <strong>de</strong> sorumbáticas<br />
confrarias, pés <strong>de</strong> boi, num chouto<br />
pausado e lento; os formigões, em filas,<br />
caras amarcllcntas e esquahdas chupadas<br />
por vicios secretos; solemnes e graves<br />
como conspícuos bonzos, <strong>de</strong> capas d'asperges<br />
rutilantes <strong>de</strong> doiraduras, segue se<br />
o clero coimbrão, o cabido da Sé, e sob<br />
o pallio festivo, <strong>de</strong> borla ein cada vara,<br />
o sr. Bispo Con<strong>de</strong>, moutanha auri-ílamante,<br />
acompauhado <strong>de</strong> seraphiços conegos<br />
que transportavam o báculo episcopal<br />
e a 'mitra ponteaguda com pedras<br />
a rutilarem.<br />
E <strong>de</strong>stila o cortejo processional, nesta<br />
festa <strong>de</strong> espavento em que querem vero<br />
maior esplendor, e que não passa d'uma<br />
patuscada imprópria do respeito que<br />
<strong>de</strong>ve impõr o culto christâo, restos aiuda<br />
<strong>de</strong> tradições pagãs.<br />
A abrilhantar a sua festa lá iam, <strong>de</strong><br />
sorriso orgulhoso nos lábios, enca<strong>de</strong>rnados<br />
em casacas <strong>de</strong>sajeitadas, <strong>de</strong> ver a<br />
Deus, fachas novas <strong>de</strong> sed
A.VS.O I -M.» 9» O DGFEKiOR DO POVO 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1SB3<br />
0 sr. Augusto José Gonçalves Fino,<br />
presi<strong>de</strong>nte dos bombeiros e iniciador<br />
d'esta festa, num singelo e frisante discurso<br />
fez a historia da associação a que<br />
presi<strong>de</strong>, tendo palavras <strong>de</strong> louvor e<br />
agra<strong>de</strong>cimento para todos os que o coadjuvaram<br />
naquelle emprehendimento.<br />
Convidado a collaborar na celebração<br />
d'nquella festa com a sua palavra<br />
brilhante e enthusiastica, tomou a pala-<br />
vra o sr. dr. Augusto Hocha, que produziu<br />
um discurso muito interessante,<br />
que foi ouvido com admiração por aquelles<br />
poucos que tiveram a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ouvir ainda os seus rasgos <strong>de</strong> eloquência.<br />
Ambos os oradores, srs. Gouçalves<br />
Fino e dr. Augusto Hocha, foram cum-<br />
primentados pelos assistentes que se<br />
achavam na sala, passando-se em seguida<br />
á visita dos objectos expostos.<br />
As philarmonicas Boa-União e Conimbricense<br />
tocavam alternadamente algumas<br />
jteças, e no bazar, bem guarnecido<br />
<strong>de</strong> prendas, abriu se a venda ao<br />
publico.<br />
João Serio Veiga <strong>de</strong>u-nos, á noite,<br />
uma bella illuminação á veneziana, num<br />
bonito sortido <strong>de</strong> balões representando<br />
1° anno. — Amândio Antonio Baptista<br />
<strong>de</strong> Sousa e Antonio Augusto d'AImeida<br />
Mumjão.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2." anno. — Albino Alves d'01iveira,<br />
Albino Antonio d'Almeida Mattos, Alfredo<br />
Martins Fernan<strong>de</strong>s Nogueira e Alipio Albano<br />
Camello.<br />
3." anno. — Alberto Maria da Silva<br />
Casquero e Albertino da Veiga Preto Pacheco.<br />
4." anno. — Abilio Gil Ferrão e Alberto<br />
<strong>de</strong> Mello Pances <strong>de</strong> Carvalho.<br />
41 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MERY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
XII<br />
Noite <strong>de</strong> odio e <strong>de</strong> amor<br />
Impossível, resistir a um tal appello<br />
e em semelhante situação. Memma <strong>de</strong>sceu<br />
ligeiramente, atravessou o jardim,<br />
chamou o Mitry, discreto <strong>de</strong>fensor em<br />
caso <strong>de</strong> perigo, e fez-se acompanhar<br />
por elle até á porta do jardim, que<br />
abriu.<br />
O molosso <strong>de</strong>itou-se sobre a relva<br />
filando Memma, como se dissesse: Aqui<br />
estou prompto; se precisar <strong>de</strong> mim, é só<br />
chamar.<br />
Passados poucos instantes, Paulo<br />
Gréant entrou no jardim, e não viu nas<br />
trevas senão um vestido branco a dois<br />
passos <strong>de</strong> si; um sopro <strong>de</strong> voz pronunciou<br />
no mesmo instante estas palavras:<br />
— Não me atrevo a interrogal-o.<br />
— Memma, disse Paulo, cançado <strong>de</strong><br />
correr, dê-me a sua mão, que tenho<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio... Bem! sinto-me<br />
forte agora... Não tenha medo, Memma...<br />
porque não hei <strong>de</strong> eu dizer,<br />
alegre-se?... Oh! não, a morte dum<br />
õ.° anno. — Affonso Brandão <strong>de</strong> Mendonça<br />
Vanconcellos e Afif nsi> Coutiiilio<br />
<strong>de</strong> Sousa Cal<strong>de</strong>ira.<br />
Dissidências politica*<br />
Tem se reunido em sesfões magnas<br />
os altos trunphos políticos da regeneração<br />
(com o <strong>de</strong>vido respeito) a fim <strong>de</strong><br />
resolverem ácerca da sua attitu<strong>de</strong>, visto<br />
a quebra <strong>de</strong> relações partidárias' entre<br />
os membros da commissão districtal e o<br />
sr. ministro do reino.<br />
Escusado será dizer aqui que estas<br />
inimisa<strong>de</strong>s pessoaes não foram provocadas<br />
por qualquer das partes belligerantes<br />
haver pugnado pelos interesses do<br />
paiz, ou por uma questão <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>,<br />
antes pelo contrario. Os amuos entre os<br />
regeneradores da commissão districtal e<br />
o ministro <strong>de</strong>ram-se pelo facto d'este<br />
não ser attendido no pedido que fizera<br />
á referida commissão: — nomear esta<br />
um seu protegido e compadre, para o<br />
logar <strong>de</strong> director do hospício districtal<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
O sr. Zacliarias Monteiro foi aposentado<br />
no logar <strong>de</strong> primeiro aspirante da<br />
estação telegrapho-postal d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
on<strong>de</strong> ha muitos annos era empregado e<br />
havia conquistado, pelo seu porte correcto<br />
e qualida<strong>de</strong>s distinctas, um honrado<br />
nome.<br />
Á camara municipal<br />
Para que bem se avalie o <strong>de</strong>sleixo<br />
com que a cantara trata da limpeza publica,<br />
basta dizer-se que na quinta <strong>de</strong><br />
Santa Cruz, junto á praça D. Luiz e ao<br />
homem é uma coisa terrivel sempre!...<br />
Memma; acabo <strong>de</strong> matar em duello o<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Talormi.<br />
Memma tomou energicamente as duas<br />
mão.s <strong>de</strong> Paulo e todo o corpo lhe estremeceu.<br />
— Virgem santa! disse ella, elle<br />
arriscou <strong>de</strong> novo a sua vida por mim!...<br />
Nobre rapaz! Oh! é <strong>de</strong>masiada <strong>de</strong>dicação,<br />
<strong>de</strong>masiado heroisnio! Paulo, e mais que<br />
o meu protector, é para mim um outro<br />
anjo da guarda!<br />
O moço artista então, obe<strong>de</strong>cendo a<br />
uma supplica, contou com todas as minuciosida<strong>de</strong>s<br />
a aventura emocinante <strong>de</strong><br />
que elle tinha sido o heroe. A cada<br />
phrase d esta narração Memma soltava<br />
exclamações <strong>de</strong> terror, como se ella<br />
assistisse ao combate; e á ultima palavra,<br />
que annunciava mo<strong>de</strong>stamente a victoria,<br />
pousou os lábios sobre a mão direita <strong>de</strong><br />
Paulo; mas esta recompensa foi a faisca<br />
d um incêndio.<br />
A chamma invisível correu, e nada<br />
já podia extinguil-a, nem a prudência,<br />
nem o <strong>de</strong>ver, nem a reflexão, trez nobilíssimas<br />
vozes que numa noite se esqueceram<br />
<strong>de</strong> escutar.<br />
Neste momento havia mundo, socieda<strong>de</strong>,<br />
lei? Paulo e Meuinla, ro<strong>de</strong>ados <strong>de</strong><br />
trevas e violentamente expulsos da vida<br />
normal para as mais empolgantes emoções,<br />
podiam julgar-se transportados para<br />
uma d'essas espheras sombrias <strong>de</strong>scriptas<br />
pelo Dante, on<strong>de</strong> duas almas se<br />
principio da rua Alexandre Herculano,<br />
lado esquerdo, se conserva a <strong>de</strong>scoberto,<br />
ttiti <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> matérias fecaes e aguas<br />
sujas, don<strong>de</strong> sáem exhalações mephiticas.<br />
Havemos <strong>de</strong> tratar d'este assumpto no^<br />
proximo numero, visto que hoje nos falta<br />
o tempo e o espaço.<br />
Donativo<br />
O sr. João Maria Corrêa Ayres <strong>de</strong><br />
Campos ao visitar na .-exta feira a kermesse,<br />
offereceu aos Bombeiros Voluntários<br />
a quantia <strong>de</strong> 100$000 réis.<br />
Compare-se a generosida<strong>de</strong> d'esta offerla<br />
com as dadivas <strong>de</strong> suas majesta<strong>de</strong>s,<br />
que lá estão a attestar a sua insignificância.<br />
E' ver.<br />
Projectos <strong>de</strong> Estatutos<br />
Hoje o Grémio dos empregados no<br />
commercio e Associação <strong>de</strong> sexo feminino,<br />
discutem os seus respectivos pro-<br />
Pelos vistos a commissão linha outro<br />
jectos <strong>de</strong> estatutos, que <strong>de</strong>vem ser apresentados<br />
á approvação do governo até<br />
protegido e compadre majs das suas gra- ao fim do corrente mez.<br />
ças, e não esteve para aturar as impertinências<br />
do ministro, que pô<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong><br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
pan<strong>de</strong>iros, relogios, tulipas, etc., <strong>de</strong> muitos mais empregos do que os da De visita a esta cida<strong>de</strong> o nosso pa-<br />
be.lo effeito.<br />
junta que têm também os seus amigos, trício Adriano Costa, que veio passar<br />
O recinto <strong>de</strong> Santa Cruz, repleto <strong>de</strong><br />
com estomago e barriga, talqualmente alguns dias na companhia dos seus ami-<br />
gente, a gozar o effeito surprehen<strong>de</strong>nte<br />
como os amigos do sr. Franco Castello gos.<br />
das illuminações e a <strong>de</strong>liciar-se com a<br />
Branco.<br />
execução dos beilos trechos <strong>de</strong> musica Vê se, pois, que a dissidência foi<br />
Obituário<br />
que nos <strong>de</strong>u a philarmonica Boa-União, motivada unicamente por um <strong>de</strong>sarranjo No cemiterio da Concbada enterra-<br />
regida pela competencia do sr. Augusto politico para o ministro, e por um arram-se, na semana ullin a, os seguintes<br />
Paes.<br />
ranjo partidario para a commissão. cadaveres:<br />
Porque neste paiz em que a crapula Antonio, filho <strong>de</strong> pae incógnito e<br />
Actos em direito<br />
se <strong>de</strong>senvolve a olhos vistos, nós só os Maria A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 9 me-<br />
Começou na sexta feira, em todos os vemos mecher, <strong>de</strong> punhos cerrados, zes. Falleceu <strong>de</strong> enterite, no dia 21.<br />
anno* da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o ser- quando se não aco<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressa ao esto- Isabel, filha <strong>de</strong> Francisco da Silva e<br />
viço d'actos.<br />
mago <strong>de</strong> qualquer amigalhote que os te- Maria José, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 18 mezes.<br />
Os resultados foram:<br />
nha ajudado na infame batota que tem Falleceu <strong>de</strong> pneumonia, no dja 24.<br />
posto o paiz no prégo.<br />
Maria José, filha <strong>de</strong> Manoel Maria<br />
Dia 2<br />
Este caso, vulgarissimo nos bandos Barreira e Maria da Pieda<strong>de</strong>, do Theo-<br />
1.° anno. — Abel <strong>de</strong> Vasconcellos d'esla politica que po<strong>de</strong> e manda, bem doro, <strong>de</strong> 7 annos. Falleceu <strong>de</strong> Congestão<br />
Gonçalves c Alexandre Braga.<br />
os <strong>de</strong>fine aos olhos <strong>de</strong> todos, e já nin- pulmonar, no dia 26.<br />
Houve duas reprovações.<br />
guém admira porque estes homens per- Maria Rosa, filha <strong>de</strong> paes incognitos,<br />
2.° anno. — Abilio Dias d'Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ram completamente as mais rudimen- <strong>de</strong> Botão, <strong>de</strong> 73 annos. Falleceu <strong>de</strong><br />
Abilio Monteiro da Fonseca, Alberto Autares noções do <strong>de</strong>coro e da honra. pneumonia aguda, no dia 26.<br />
gusto Leite Ribeiro e Alberto Teixeira Tudo isto é edificante e porco.<br />
Joaquim Ferreira Hocha, filho <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Sampaio.<br />
Em breve o penacho do chefio da re- Francisco Ferreira Rocha e Maria Joanna<br />
3.° anno. — Alberto Centeno.<br />
generação (salvo seja) será dado a ou- da Conceição, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 43 annos.<br />
Houve uma reprovação.<br />
trem, pela razão obvia <strong>de</strong> que o sr. dr. Falleceu <strong>de</strong> congestão pulmonar moti-<br />
4." anno. — Abel Corrêa da Silva Souto Rodrigues, em vista <strong>de</strong> lhe ser vada por myocatdite chronica, no dia 28.<br />
Portal e Abel do Nascimento da Costa retirada a confiança do ministro, pedira Total dos cadaveres enterrados neste<br />
Faria e Silva.<br />
a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> chefe dos regeneradores cemiterio —16:903.<br />
5." anno — Accacio <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Ma d'esta cida<strong>de</strong>.<br />
rinha, e Adriano Augusto da Veiga Rodrigues.<br />
Dia 3<br />
Isto é assombroso!<br />
Aposentação<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinaria<br />
De 18 <strong>de</strong> maio<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />
d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />
presentes : João da Fonseca Barata, Manoel<br />
Miranda, Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros,<br />
João Antonio da Cunha, Joaquim<br />
Justiniano Ferreira Lobo, Antonio José<br />
Dantas Guimarães, efíectivos; José Corrêa<br />
dos Santos, substituto.<br />
Ven<strong>de</strong>u em praça os pastos da quinta<br />
<strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
encontram, se seguem, e sabem que<br />
vivem ainda porque amam, porque a<br />
vida não é mais que o amor.<br />
Nas palavras do mancebo havia este<br />
murmurio melodioso e penetrante que se<br />
e>cuta como num sonho e que recordam<br />
ás imaginações poéticas as suaves conversações<br />
d'aquellas sombras elj>eas,<br />
que faliavam dos seus extasís passados<br />
antes <strong>de</strong> beberem da agua do esquecimento.<br />
Memma aspirava esta harmonia<br />
do amor, que, perturbando a sua razão,<br />
lhe fez acreditar que habitava um mundo<br />
melhor e que tudo o que nella havia <strong>de</strong><br />
terrestre acabava <strong>de</strong> se evolar numa súbita<br />
transformação celeste.<br />
O pallido clarão do crepusculo não<br />
penetrava ua espessa alcova <strong>de</strong> verdura<br />
que tinha roubado ás estrellas os ineffaveis<br />
segredos da noite. A aurora, mais<br />
brilhante, <strong>de</strong>ixou cair sobre as arvores<br />
um rastro d'opala, e Memma, subitamente<br />
receosa d'esta clarida<strong>de</strong> repentina como<br />
d'uma testemunha <strong>de</strong>latora, velou o rosto<br />
com as duas mãos e fugiu ligeiramente<br />
suspirando um a<strong>de</strong>us.<br />
Paulo Gréant saiu do jardim como<br />
Adão do É<strong>de</strong>n, fulminado <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />
ejie remorsos; ao chegar á rua, procurou<br />
no céo o primeiro raio <strong>de</strong> sol, como<br />
se procura o amigo que fortifica e consola.<br />
Mas o que o pincel d'um artista<br />
nunca exprimiu numa tela, mesmo Salvator<br />
Rosa, quando evocou o fantasma <strong>de</strong><br />
Samuel <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> Saul, é a contracção<br />
Resolveu renovar perante o commissario<br />
<strong>de</strong> policia o pedido feito para a<br />
execução das posturas, lembrando a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar ácerca das officinas<br />
<strong>de</strong> fogueieiro e <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> polvora<br />
e mais combustíveis no bairro <strong>de</strong><br />
Fóra <strong>de</strong> Portas.<br />
Attestou favoravelmente ácerca <strong>de</strong><br />
uma petiço para um subsidio <strong>de</strong> lactação<br />
pedido por Maria da Conceição, solteira,<br />
<strong>de</strong> Santo Antonio dos Olivaes, fcm<br />
favor <strong>de</strong> sua filha Maria, nascida em novembro<br />
<strong>de</strong> 1892.<br />
Mandou passar licenças para apascentamento<br />
<strong>de</strong> cabras a tres lavradores<br />
do concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Mandou pagar ao conductor Esteves,<br />
a quantia <strong>de</strong> 7/500 réis <strong>de</strong> serviços<br />
que tem prestado ao município em medições<br />
<strong>de</strong> terrenos para venda.<br />
Resolveu celebrar a procissão <strong>de</strong><br />
Corpus Christi no 1.° <strong>de</strong> junho.<br />
Auctorisou a presi<strong>de</strong>ncia a consultar<br />
o chefe do districto ácerca do lançamento<br />
<strong>de</strong> contribuições e percentagens parochiaes.<br />
Auctorisou a conclusão dos trabalhos<br />
da casa d'officina junto da casa das machinas,<br />
votando mais para esta obra a<br />
quantia <strong>de</strong> 20/000 réis.<br />
- Auctorisou a mudança d'alguns candieiros<br />
da illuminação da rua <strong>de</strong> Entre-<br />
Muros, fazendo-os collocar do lado do<br />
cerco dos Jesuítas.<br />
Resolveu officiar ao chefe do districto<br />
ácerca dos serviços da inspecção <strong>de</strong><br />
generos expostos á venda nos mercados.<br />
Mandou pagar os serviços da cobrança<br />
das importâncias <strong>de</strong>vidas pelo consumo<br />
d'agua, relativamente aos mezes <strong>de</strong>-<br />
corridos <strong>de</strong>-<strong>de</strong> janeiro.<br />
Resolveu pedir informações ao director<br />
das obras publicas do districto sobre<br />
as provi<strong>de</strong>ncias tomadas superiormente,<br />
com relação á pare<strong>de</strong> em ruina<br />
do paço episcopal, do lado da rua <strong>de</strong> S.<br />
Salvador.<br />
Resolveu provi<strong>de</strong>nciar para que seja<br />
<strong>de</strong>molida pelo proprietário, a casa em<br />
ruina, na rua dos Militares, sob osn. 08<br />
52 e 54.<br />
Resolveu manter a <strong>de</strong>liberação tomada,<br />
com referencia ás canalisações <strong>de</strong><br />
agua por conta da camara, em vista <strong>de</strong><br />
pretensões apresentadas sobre o assumpto.<br />
In<strong>de</strong>feriu, em vista d'informações da<br />
junta <strong>de</strong> parochia, um requerimento dirigido<br />
á cantara para occupação <strong>de</strong> terrenos<br />
para alinhamento no Casal da Mizo<br />
relia.<br />
Mandou ouvir o advogado ácerca do<br />
pedido feito para a rescisão do contrato<br />
<strong>de</strong> arrendamento do terreno em que existe<br />
a praça <strong>de</strong> touros nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Resolveu reservar para occasião opportuua,<br />
a <strong>de</strong>liberação a tomar ácerca<br />
da canalisação d'aguas no sitio das Arcas<br />
d'Agua, pedida por alguns proprietários,<br />
bem como a illuminação publica<br />
do mesmo local.<br />
Auctorisou a reconstrucção <strong>de</strong> uma<br />
casa ao Caes, pertencente a D. Rosa<br />
Felismina Barbosa, d'esta cida<strong>de</strong>, com<br />
frente também para a Sotta e para a tra-<br />
<strong>de</strong> espanto que <strong>de</strong>spedaçou o rosto <strong>de</strong><br />
Paulo a alguns passos da porta do seu<br />
É<strong>de</strong>n.<br />
Os olhos vidraram-se-lhe, erriçaramse-lheos<br />
cabellos; uma surda exclamação<br />
lhe agitou o peito sem po<strong>de</strong>r subir aos<br />
lábios, e a sua mão direita esten<strong>de</strong>u-se<br />
nervosamente para um fantasma horrível,<br />
que o sol ainda não tinha dissipado.<br />
Era Talormi, vestido como na vespera<br />
antes do combate; soberbo <strong>de</strong> insolência<br />
zombeteira, e mostrando no<br />
rosto colorido a expressão da saú<strong>de</strong>, da<br />
mocida<strong>de</strong> e do vigor.<br />
Neste momento, os homens e as<br />
mulheres do campo atravessavam a estreita<br />
rua a caminho da cida<strong>de</strong>. Paulo,<br />
recobrado do seu primeiro terror, caminhou<br />
direito a Talormi para o examinar<br />
mais <strong>de</strong> perto.<br />
— Oh! sou eu todo inteiro, disse o<br />
prestidigitador sorrindo, não sou a minha<br />
sombra, sou eu proprio e conheço o seu<br />
segredo. Meu caro, é um estouvado e<br />
uma creança; e os homens como eu<br />
brincam comvosco com tanta facilida<strong>de</strong>,<br />
que nem mesmo merecemos o mais<br />
simples elogio pela nossa habilida<strong>de</strong>.<br />
Quiz conhecer a fundo a sua historia.<br />
Estão ambos em meu po<strong>de</strong>r. O leal<br />
Paulo Gréant é o amante <strong>de</strong> madame<br />
Van Ritter. Vejamos, senhor, <strong>de</strong>sminta-me.<br />
Paulo Gréant julgava-se presa d'um<br />
<strong>de</strong>stes sonhos, que começam nos extasis<br />
vessa entre estas duas ruas, ce<strong>de</strong>ndo a<br />
proprietária gratuitamente, como <strong>de</strong>clarou<br />
por escripto, para alargamento e alinhamento<br />
38 ra ,70 <strong>de</strong> terreno, sendo<br />
3^,70 pelo lado do Caes; pela Sotta<br />
24 ,n ,0 e pela travessa ll m ,0.<br />
A reconstrucção é no alinhamento<br />
primitivo pelo lado do Caes; pela Sotta<br />
é no prolongamento da casa <strong>de</strong> Antonio<br />
Maria Antunes; pela travessa córta 0 m ,30<br />
na quina para o Caes, ficando alli a mesma<br />
travessa com 4 m ,0 <strong>de</strong> largo e terminando<br />
em zero no cruzamento com o<br />
alinhamento pelo lado da Sotta.<br />
Deferiu 4 requerimentos relativamente<br />
a canalisações para esgoto d'aguas<br />
<strong>de</strong> prédios situados <strong>de</strong>ntro do perímetro<br />
da cida<strong>de</strong>, letreiro^ em estabelecimentos<br />
particulares e alteração nas portas <strong>de</strong><br />
uma casa no Becco do Castilho.<br />
A GRANEL<br />
* * # A camara municipal da Figueira<br />
da Foz consignou nus suas actas<br />
um voto <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento ao sr. ministro<br />
das obras publicas pelo facto do<br />
mesmo ministro ter dado or<strong>de</strong>m para serem<br />
limpas as docas d'aquella cida<strong>de</strong>.<br />
* * # As remissões do serviço militar<br />
efifectuadas no mez <strong>de</strong> abril ultimo<br />
nos districtos abaixo mencionados do<br />
continente do reino e ilhas importaram<br />
ern 4.604/800 ráis, sendo:—Vianna do<br />
Alemtejo 460/000, Braga 1:924/800,<br />
<strong>Coimbra</strong> 800/000, Vizeu 550/000,<br />
Guarda 80/000, Lisboa 320/000, Beja<br />
150/000, Angra 160/000, Horta<br />
80/000 e Funchal, 80/000 réis.<br />
i ;<br />
Prevenimos os nossos<br />
estimáveis assignantes <strong>de</strong><br />
fóra d'esta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
vamos principiar a cobrança<br />
das suas assignaturas relativamente<br />
ao 2.° semestre.<br />
Aos que não tiverem pago<br />
o 1.° semestre enviamos<br />
recibos do anno completo.<br />
Pedimos a todos o obsequio<br />
<strong>de</strong> pagarem logo que<br />
lhes seja apresentado o recibo<br />
ou mandarem pagar<br />
ás respectivas estações do<br />
correio quando receberem<br />
aviso, afim <strong>de</strong> se evitar a<br />
<strong>de</strong>volução, que, além do<br />
prejuizo que nos causa, embaraça<br />
a boa regularida<strong>de</strong><br />
da nossa administração.<br />
do céo e acabam nas torturas do inferno.<br />
O sol tinha se erguido, mus o phantasma<br />
não <strong>de</strong>*apparecera.<br />
XIXI<br />
O prestidigitador da morte<br />
Nestes momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>lirio, o pensamento,<br />
rápido como o relampago, resume<br />
num fascículo uma multidão <strong>de</strong><br />
inci<strong>de</strong>ntes que o espirito calmo a custo<br />
<strong>de</strong>stinguiria numa longa reflexão.<br />
A' vista <strong>de</strong> Talormi, <strong>de</strong> pé <strong>de</strong>ante<br />
<strong>de</strong> si, Paulo Gréant recorda-se <strong>de</strong> todas<br />
as circumstancias do duello; vê-o cair e<br />
contorcer-se-nos supremos arrancos d'uma<br />
agonia que se revolta contra a morte; ouve<br />
ainda um ultimo grilo, um ultimo estertor,<br />
um ultimo a<strong>de</strong>us; lembra se d'aquelle<br />
nobre sentimento <strong>de</strong> compaixão que lhe<br />
tinha merecido um cadaver, d'aquelle<br />
remorso que se tinha seguido á sua victoria,<br />
e o seu cerebro todo se abalou<br />
como se uma garra <strong>de</strong> ferro lh'o tivesse<br />
arrancado. Não acreditava no que via;<br />
accusava <strong>de</strong> mentirosos os seus olhos e<br />
a própria luz do sol, e esperava sempre<br />
que a brisa da manhã afastasse esta<br />
visão impossível que um capricho da<br />
noite linha, por um instante, emprestado<br />
ao proprio dia.<br />
Impresso na Typographía<br />
Ojperarla — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
AS*O I-M.»98 O DEFENSOR DO POVO 4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1883<br />
OUTI/OS<br />
PARA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha<br />
Repetições<br />
WVElftPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
ARRENDAMENTO<br />
rrenda-se a casa da quinta<br />
123<br />
Í do Cidral, cuja casa está<br />
localisada no sitio mais bonito que ha á<br />
roda <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. Tem lambem a vantagem<br />
<strong>de</strong> ter alli boa agua e com abundancia.<br />
Para tratar na Casa Ilavaneza ou na<br />
mesma quinta.<br />
124 W"">e-ee um quasi novoe muito<br />
1 bom, com todos os seus pertences<br />
como seja 12 tacos, taqueiros,<br />
marcador resto, e um jogo <strong>de</strong> bollas, para<br />
ver e tratar com Rocha <strong>Coimbra</strong>, rua do<br />
João Cabreira, n.° 3.<br />
G A S A<br />
rrenda-se o 2.° andar e<br />
120<br />
k' aguas furtadas da casa<br />
n.° 6 do Pateo <strong>de</strong> Inquisição.<br />
Trata-se na Praça do Commercio,<br />
n.° 1 a 5.<br />
SANTA CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
DE<br />
JOSÉ VICTORIXO B. MIRANDA<br />
118<br />
ísta fabrica continúa a produzir<br />
as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> massas, pelos mesmos preços,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholameu,<br />
e bem assim communicação lelephonica<br />
com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
successor, no largo do Príncipe D. Carlos,dos.<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedi-<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
mpresta-se dinheiro sobre<br />
65<br />
objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e oulros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G — COIMBRA.<br />
CASAMENTOS<br />
... lonquim do STaseiínento,<br />
| | morador na rua das Pa<strong>de</strong>iras<br />
n.° 11, encarrega-se <strong>de</strong> todos os papeis<br />
precisos para casamentos, taes corno certidões,<br />
folhas corridas, passaportes, e<br />
outros documentos que sejam precisos<br />
mandar tirar fora da terra.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
53<br />
ugusto Nunes dos San-<br />
â tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
&.KT1C1 PA" a<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menus, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria j<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
^LTIIIA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IliHETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
Qualida<strong>de</strong>s<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 V R « 8 ,<br />
e jornaes j<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong> i<br />
formato<br />
Typ. Operaria \<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
(MPKESSOS<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , 3 1 . - à . I R , G h O D A . F R E I R I A , 1 4<br />
XâRjOPE DE PHELLâNORIO<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
ste xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> calharros e tosses <strong>de</strong> qualquer<br />
natureza, ataques aslhmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com optimos resultados nos hospitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes facultativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 attestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
Lisboa, pharmacia Rosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />
61, 65.<br />
ÍIIIÂ III i «118<br />
FUMDADâ EM 1877<br />
CAPITAL<br />
R É I S 1 . 2 0 0 : 0 0 0 * 0 0 0<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉIS 91:000^000<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA—JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio n.° I â — I<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Coroas e Flores<br />
! E \ D E L P O R T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251—Porto<br />
CASA FILIAL EH LISBOA•' ROA DO PRINCIPI E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO QOOBISDES MhU, SDCCESSOB<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
DEPOSITO DA FABRICA MC101L<br />
DE<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
3 l^ESTE Deposito regularmente monlado, se acha á venda, por<br />
1)1 junlo e a retallto, lodos os pfoductos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97,1.°<br />
100<br />
ARTA25ES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
VISOS<br />
PNTOR<br />
(OFFICINA)<br />
PABA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, ect.<br />
Typ. Operaria<br />
Coim br a<br />
SIJ^VA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
^ncarrega-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, doura-<br />
Eà çôes <strong>de</strong> egrejas, forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Na mesma officina se veu<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
m m HERPES 1 EMPI6ENS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
IH. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>lto tf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos — Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
BIGYGLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101— Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
COIMBRA<br />
93<br />
sta casa acaba <strong>de</strong> receber um<br />
explendido sortido <strong>de</strong>Bicycletes<br />
dos primeiros auclores, como é llumber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ocas.<br />
A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Bicycletcs<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120$0(»0 réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110$000!!!<br />
Tem<br />
amadores.<br />
condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
U U A I M t W T S<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para I §93.<br />
Base longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSS mmnn os mm<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadrant»<br />
71 Me 1 1 " 1 »* pelo preço da Fabrica,*<br />
1 Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
IMBRES<br />
ENVELLOPES E CARTAS'<br />
Imprimem-se na<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
APRENDIZ DE FUNILEIRO<br />
121<br />
(' e um> na rua d 0<br />
IT Viscon<strong>de</strong> da Luz, 25.<br />
C O I M B R A<br />
mmm se mm:<br />
«FIDELIDADE»<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Capital rs. 1.344:000.$000<br />
79 I* companhia, a mais po-<br />
M <strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> Portugal, toma seguros<br />
contra o risco <strong>de</strong> fogo ou raio,<br />
sobre prédios, mobilias e estabelecimento.<br />
Agente em <strong>Coimbra</strong>—Basilio Augusto<br />
Xavier <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, rua do Viscon<strong>de</strong><br />
da Luz, n. 0 86, ou na rua das<br />
Figueirinhas, n.° 45.<br />
O DEFENSOR 00 POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção 6 administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.®<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE áSSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno WOO<br />
Semestre....<br />
Trimestre...<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 21400<br />
y350 Semestre.,<br />
680 , Trimestre,<br />
21#00<br />
600
0 rei diverte-se!<br />
D'um a outro extremo do paiz<br />
percorre, unisono e constante, um<br />
lamento <strong>de</strong> dôr, que é, ao mesmo<br />
tempo, um lamento <strong>de</strong> fome. A corrente<br />
<strong>de</strong> emigração engrossa e cresce<br />
num movimento assustador, symptoma<br />
d'um <strong>de</strong>pauperainenlo fatal<br />
e completo das forças vivas da nação.<br />
Fogem, emigiam, milhares <strong>de</strong><br />
homens, lamilias inteiras, que no<br />
seu paiz não encontram senão miséria<br />
e fome.<br />
Expoliados, ha <strong>de</strong>zenas d'annos,<br />
porsuccessivas administrações<br />
criminosas; embalados constantemente<br />
pelas promessas fementidas<br />
<strong>de</strong> todos; <strong>de</strong>sdludidos, sem esperança,<br />
abandonam—com o coração<br />
em sangue e em farrapos a alma—<br />
os lares exhaustos, empobrecidos,<br />
da sua palria, para irem, animados<br />
da esperança d'um bem que aqui<br />
não encontram, morrer aos montões<br />
em paizes estranhos...<br />
E os poucos que por cá ficam,<br />
adslrictosao torrão exhaurido, como<br />
á gleba os antigos servos, arrastam<br />
<strong>de</strong> dia para dia uma vida cada vez<br />
mais cortada <strong>de</strong> privações e <strong>de</strong> misérias.<br />
O fisco arrebata ao pobre a ultima<br />
mealha que a proprieda<strong>de</strong> ren<strong>de</strong>,<br />
emquanto o gran<strong>de</strong> proprietário<br />
sonega á contribuição gran<strong>de</strong><br />
parte do seu rendimento; o pobre,<br />
no misero alimento, insufficienle e<br />
mau, é explorado ainda gananciosamente<br />
— a fome, o aniquillamento,<br />
eslen<strong>de</strong>m-se, pois, imperiosamente,<br />
soberanos, sobre o paiz inteiro.<br />
Não ha tranquillida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espíritos,<br />
nem alegria, nem conforto,<br />
porque na maior parte das mesas<br />
— não ha pão!<br />
E entretanto as magestu<strong>de</strong>s divertem-se<br />
e folgam e riem em festas<br />
e viajatas; as côres flaminejantes das<br />
ban<strong>de</strong>iras ao vento, põem notas<br />
triumphaes na passagem do real<br />
cortejo; municipalida<strong>de</strong>s perdulárias,<br />
prodigalisam, do dinheiro do<br />
povo, Contos <strong>de</strong> réis em recepções<br />
reaes; banquelêam-se opulentamente,<br />
á custa do povo, os reis, os aulicos,<br />
e os parasitas, e parasitas sao<br />
lodos elles; philannonicas certanejas<br />
atroam os ares <strong>de</strong> notas hilariantes<br />
em liymnos <strong>de</strong> triumptio,<br />
num paiz on<strong>de</strong> a taciturnida<strong>de</strong> lugubre<br />
ha muito que acampou; ha<br />
bailes e recepções, foguetes em girandolas<br />
e colchas <strong>de</strong> damasco a<br />
drapejarem... Abram alas, que<br />
passam os nossos reis, excelsos e<br />
mageslosos, por entre o povo em<br />
festa I<br />
E ao mesmo lempo, a caminho<br />
do Brazil, carneiro enorme das ossadas<br />
<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> portuguezes,<br />
passam legiões e legiões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraçados,<br />
sombrios como o <strong>de</strong>sespero,<br />
amaldiçoando, quem sabe 1 o paiz<br />
que os expulsa...<br />
E não se levanla, como um só<br />
homem, u paiz inteiro, para afogar,<br />
numa cólera sanla, os exploradores<br />
sem alma, sem virtu<strong>de</strong> ou sem talento,<br />
que o levaram vergonhosa-<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
mente a esla miserável <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia;<br />
e não se vinga, num supremo <strong>de</strong>sforço<br />
do espectáculo <strong>de</strong>primente que<br />
ao mundo eslamos dando, d'um<br />
povo que vergonhosamente se <strong>de</strong>ixa<br />
<strong>de</strong>smoronar em ruinas!<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
As propostas <strong>de</strong> fazenda continuam<br />
a merecer <strong>de</strong> todo o pâiz protestos vehementes<br />
e á camara dos <strong>de</strong>putados começa<br />
a affluir as representações das diversas<br />
classes, reclamando contra o augmento<br />
dos impostos.<br />
# Os jardineiros e horticultores do Porto<br />
enviaram uma representação ao sr.<br />
ministro da fazeúda, reclamando contra<br />
o aggravameuto da sua taxa <strong>de</strong> contribuição.<br />
Esse aggravaniento é apenas <strong>de</strong> 211<br />
por cento.<br />
* As camaras municipaes do districto<br />
<strong>de</strong> Aveiro vão representar cada<br />
uma <strong>de</strong> per si contra a proposta da contribuição<br />
predial.<br />
* Para protestar contra a passagem<br />
da 5. a para a 4. a classe, reuniram na<br />
segunda feira, os commerciautes <strong>de</strong> ferragens<br />
novas, nas salas da Associação<br />
dos Lojistas <strong>de</strong> Lisboa, rua <strong>de</strong> Victor<br />
Cordon, 1.<br />
Esta classe, que no seu grémio tem<br />
um consi<strong>de</strong>rável numero <strong>de</strong> pequenos<br />
commerciantes, não po<strong>de</strong> supportar tão<br />
vexatorio aggravaniento.<br />
* Os <strong>de</strong>putados do Algarve vão<br />
reunir-se para accordarem sobre o meio<br />
<strong>de</strong> combaterem a proposta do álcool.<br />
* Healisou-se na Regoa um comício<br />
promovido p«la Liga dçs lavradores<br />
do Douro, para protestar contra a proposta<br />
da contribuição predial.<br />
* A camara do Porto approvou uma<br />
representação ao parlamento coutra as<br />
medidas <strong>de</strong> lazenda.<br />
* Reuniu também a commissão da<br />
Associaçao dos Lojistas encarregada do<br />
exame das propostas sobre a contribuição<br />
industrial. Concluiu o seu estudo, resolvendo<br />
representar contra a elevação<br />
das laxas <strong>de</strong> transferencia <strong>de</strong> classes, e<br />
elaborar com a maior urgência uma representação<br />
ao parlamento que sera presente<br />
a assembleia geral, que para esle<br />
tim reunira num dos proximos dias <strong>de</strong>sla<br />
semana.<br />
Os revoltosos <strong>de</strong> janeiro<br />
Diz o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro:<br />
«Vimos houtem uma carta datada <strong>de</strong><br />
Moçambique em 28 <strong>de</strong> abril passado e<br />
dirigida por um dos revoltosos <strong>de</strong> janeiro<br />
a seu pae, resi<strong>de</strong>nte nesta cida<strong>de</strong>. O<br />
signatario, que pertenceu a iufauteria<br />
18, queixa-se <strong>de</strong> não ter ainda alli chegado,<br />
aquella data, a or<strong>de</strong>m official para<br />
applicaçáo da amnistia <strong>de</strong>cretada em tius<br />
<strong>de</strong> levereiro.<br />
Custar-uos-ia acreditar, se o não víssemos<br />
documentado. Realmente, chega a<br />
ser inverosímil e revoltante incúria, ou<br />
o quer que seja, que assim priva da liberda<strong>de</strong><br />
os pobres condcmuados para a<br />
Alrica oriental, comprehendidos uo mesmo<br />
<strong>de</strong>creto que repatriou opportunamenle<br />
os <strong>de</strong>sterrados para outros pontos.<br />
Allenção para as iniquida<strong>de</strong>s.»<br />
Bem se vê que o sr. ministro da<br />
marinha anda atarefado com os negocios<br />
<strong>de</strong> Quelimane-Chire— que lhe <strong>de</strong>vem<br />
ren<strong>de</strong>r mais que a sorte dos revoltosos.<br />
Cultura do chá<br />
Vae <strong>de</strong>senvolvendo se com gran<strong>de</strong><br />
incremento nos Açores, ilha <strong>de</strong> S. Miguel,<br />
a cultura da planta do chá.<br />
Ja alli existe urna fabrica montada<br />
com os mais mo<strong>de</strong>rnos aperfeiçoamentos,<br />
<strong>de</strong> que é proprietário o sr. José do Canto,<br />
e tudo prenuncia que gran<strong>de</strong>s são os lucros<br />
que da cultura do chá se po<strong>de</strong>m<br />
esperar.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Fuschini, o excelso I<br />
No tempo em que o sr. D. Sebastião<br />
(o tal <strong>de</strong>sejado que os rheuniaticos<br />
hão <strong>de</strong> annunciar quando os ossos lhe<br />
<strong>de</strong>nunciarem forte manhã <strong>de</strong> nevoeiro)<br />
— no lempo em que o legendário monarcha<br />
se preparava para dar uma caiholica<br />
casaca no lombo do mouro infiel,<br />
o governo na febre <strong>de</strong> preparar machinas<br />
<strong>de</strong> guerra e comprar navios com dinheiro<br />
que o thesouro não tinha, <strong>de</strong>cretou<br />
medidas pesadas e vexatórias, que<br />
espantaram pela <strong>de</strong>sfaçatez e <strong>de</strong>splante<br />
a burguezia ingénua da epocha.<br />
O sal foi coliectado com um imposto<br />
<strong>de</strong> respeito, cunhou-se moeda <strong>de</strong> couro,<br />
(não chegou o atrevimento ao fabrico do<br />
papel...) a moeda bespanhola circulou<br />
no reino, subindo <strong>de</strong> valor, e os ju<strong>de</strong>us<br />
pagaram tributos pesadíssimos, tanto mais<br />
injustos quanto é certo que d'elles viera<br />
a riqueza a Portugal embora o não<br />
compréhen<strong>de</strong>sse assim o cerebro quadrado<br />
do sr. D. Manoel.<br />
Todas essas patifarias se pozeram em<br />
pratica; havia, porém, a <strong>de</strong>sculpal-as o<br />
fim que as promovia — a conquista da<br />
Africa. Fim grandioso, em verda<strong>de</strong>, que<br />
valia o sacrifício <strong>de</strong> patriotas <strong>de</strong>dicados!<br />
No emtanto a ban<strong>de</strong>ira rebel<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Mahomeh pou<strong>de</strong> mais que o pendão piedoso<br />
do jesuíta privado do principe, o<br />
afamado Luiz da Camara—e os esforços<br />
da palria, e os brocados dos luzidos cavalleiros,<br />
e a lança faiscante dos valentes,<br />
e a nossa esperança, e o noso nome,<br />
e a nossa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia...— tudo isso<br />
ficou em estilhas, <strong>de</strong>spedaçado, <strong>de</strong>sfeito,<br />
perdido, arrazado, na planície arida e<br />
ar<strong>de</strong>nte d'Alcacer-Quibir, tinta <strong>de</strong> sangue<br />
lusitano e innundada pelos clarões vermelhos<br />
do sol da Africa I<br />
Falhára o commettimento : <strong>de</strong>sventuras<br />
do acaso ou inexperiencias <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong><br />
mal guiada 1<br />
Hoje parece que se trata <strong>de</strong> nova expedição<br />
á Lybia; o sr. Fuschini <strong>de</strong>speja<br />
a cornucopia das albardas sobre o paiz,<br />
e <strong>de</strong>creta medidas que traduzem, das<br />
duas uma: ou o completo e absoluto esfalfameuto<br />
do thesouro (quem o roubou?)<br />
ou a i<strong>de</strong>ia d'um gran<strong>de</strong> feito guerreiro.<br />
Não sabemos qual conjectura se <strong>de</strong>va<br />
preferir. A labella das medidas fazendarias<br />
indica enlallação graúda, e necessida<strong>de</strong><br />
absoluta <strong>de</strong> recursos, e tão imuiediata<br />
que o sr. Fuschini atirou com escrúpulos<br />
para o cesto da roupa suja, e<br />
cortou a direito, sem consi<strong>de</strong>ração pelas<br />
garantias individuaes, sem atteutar no<br />
progresso da crise, sem respeito pela<br />
situação da industria nacional !<br />
Se não temessemos melindrar s. ex. a<br />
(a quem muito respeitamos, porque o seu<br />
uome nos recorda um terror celebre —<br />
Fraschini) dir-ihe-iamos que tributos<br />
como os que apresentou ultimamente dispensam<br />
<strong>de</strong>feza d imprensa, e approvação<br />
<strong>de</strong> camaras: <strong>de</strong>cretam-se á esquina <strong>de</strong><br />
uma encruzilhada.<br />
... E pagam-se!<br />
*<br />
Pedimos licença para lembrar um additameuto<br />
ás propostas; parece-nos que<br />
elle completara a obra <strong>de</strong> s. ex.\ e a<br />
sua execução afigura-se-uos tão fácil —•<br />
e ião justilicada —como as medidas que<br />
para ahi se discutem, sem <strong>de</strong>scredito<br />
para o governo — na verda<strong>de</strong> superior a<br />
todo o elogio e a toda a troça.<br />
Lembra-nos que o sr. Fuschini po<strong>de</strong>rá<br />
collectar o beijo, o abraço, a caricia,<br />
o namoro, a olha<strong>de</strong>lla sentimental,<br />
a carta amorosa, a flor na lapella do<br />
frak, os versos a Julieta, e... e tudo o<br />
mais que estiver na esphera do epicurismo<br />
fim do século.<br />
Por exemplo: Beijos — (o cento) —<br />
50 réis, sendo legítimos, isto é, entre<br />
marido e mulher, tem 50 °/0 dabatimento<br />
ou 25 réis, que po<strong>de</strong>m ser pagos<br />
em estampilha.<br />
Relações adullerinas teriam um preço<br />
salgado, convenientemente estabelecido<br />
ANNO ! <strong>Coimbra</strong>, 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 95<br />
do Povo<br />
com o governo, e estabelecido segundo<br />
uma escala <strong>de</strong> regulamento especial. O<br />
namorado que tomasse gargarejos habituaes<br />
pagaria, por exemplo, 400 réis cada<br />
noile, ou 120 réis cada hora, po<strong>de</strong>ndo<br />
assignar ao mez ou annualmente, com<br />
vantagens no caso <strong>de</strong> garantir o idyllio<br />
por mais <strong>de</strong> seis mezes. A catrapiscada<br />
seria obrigada a pagar um juro <strong>de</strong> 6 °/0<br />
sobre o imposto do seu bem.<br />
Parece-nos ainda da maior conveniência<br />
que se inverta a lei franceza que<br />
premeia o ca^al mais fecundo. Façamos<br />
o contrario: Quantos mais filhos, mais<br />
tributos t A contribuição <strong>de</strong>ve augmentar<br />
conforme a fecundida<strong>de</strong> da dona da<br />
casa e a felicida<strong>de</strong> presumível do cabeça.<br />
Filhos são prazeres; os prazeres pagam-se.<br />
Aí senhoras estereis ficam supprimidas.<br />
Serão severamente reprimidos<br />
todos os meios que diminuam a população;<br />
serão prohibidas as operações <strong>de</strong><br />
ovariotomia, e castigados com rigor os<br />
infractores d'esta disposição.<br />
Que diz a isto o st. Fuschini ?<br />
NOTAS DE SEMANA :<br />
A auctorida<strong>de</strong> superior não consentiu<br />
que o sr. Oliveir.i e Silva (a quem<br />
me referi na chronica passada) entrasse<br />
com o domador Max na jaula dos leões.<br />
Regisle-se este acto ajuizado com excepção<br />
aos <strong>de</strong>satinos que a nossa auctorida<strong>de</strong><br />
para ahi tem praticado.<br />
Vimos ha pouco o local on<strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>sastre do elevador dos Guindaes,<br />
a que as folhas da tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>vem referir<br />
e relatar miudamente. O carro, que<br />
se <strong>de</strong>spenhou por imperícia do machinista<br />
Antonio Dias dOliveira, é um<br />
montão <strong>de</strong> <strong>de</strong>stroços.<br />
Iam <strong>de</strong>ntro o conductor n.° 5, Antonio<br />
Martins, e a menina A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, fillia<br />
do sr. Costa Braga, quando o vehiculo,<br />
<strong>de</strong>slocado pelo choque contra a guarda<br />
<strong>de</strong> resguardo, partiu em carreira vertiginosa<br />
pelo <strong>de</strong>clive, quasi a pique. O<br />
conductor ficou horrorosamente mutilado<br />
; está em perigo <strong>de</strong> vida. A creança<br />
sollreu escoriações <strong>de</strong> pouca gravida<strong>de</strong>.<br />
O machinista, perseguido pela policia,<br />
<strong>de</strong>sappareceu. Não dou larga noticia<br />
do <strong>de</strong>sastre atlen<strong>de</strong>ndo a que os leitores<br />
do Defensor já <strong>de</strong>vem estar informados<br />
do caso pela imprensa diaria daqui.<br />
5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 93.<br />
Fra-Diavolo.<br />
A felicida<strong>de</strong> do paiz<br />
Lemos isto: Des<strong>de</strong> o principio do<br />
actual anno economico, alé fins <strong>de</strong> abril,<br />
foram vendidas na recebedoria da comarca<br />
<strong>de</strong> Villa Real e Traz-os-Montes,<br />
2:400 passaportes.<br />
Tudo a fugir — á fome.<br />
Grave<br />
Pelo caminho que se vae seguindo,<br />
teremos <strong>de</strong>ntro em pouco as nossas colonias<br />
invadidas completamente por inglezes.<br />
Uma companhia, obrigada nas<br />
clausulas do contracto com o governo a<br />
mandar para Africa até 1:000 famílias<br />
annualmente, trata agora <strong>de</strong> só enviar<br />
para alli famílias inglezas, o que dará<br />
ein resultado <strong>de</strong>snacionalisarem-se as<br />
nossas colonias e estarem d'aqui a pouco<br />
<strong>de</strong> todo nas mãos d'aquelles nossos amigos.<br />
Mas ao mesmo tempo a corrente <strong>de</strong><br />
emigração para o Brazil apresenla-se com<br />
uma intensida<strong>de</strong> cada vez mais exlraordinaria,<br />
para irem servir <strong>de</strong> pasto os<br />
nossos emigrantes ás febres <strong>de</strong>vastadoras<br />
d'aquelle paiz; e entretanto não se procura<br />
<strong>de</strong>rivar para a nossa Africa a emigração<br />
porlugueza, a fecundar as nossas<br />
riquíssimas possessões; e permilte-se que<br />
os boers o os inglezes por lá se estabeleçam,<br />
sem receio pelo perigo que as<br />
nossas colonias correm.<br />
Vae tudo assim, á matroca...<br />
C R Y S T A E S<br />
Yia lactea<br />
(A meu pae)<br />
Dorme o teu somno, coração liberto<br />
Dorme na mão <strong>de</strong> Deus eternamente I<br />
LIV. «Os Son»—ANTHERO DO QUENTAL<br />
Amo a lampada ar<strong>de</strong>nte que crepita<br />
E cae suspensa d'um cruseiro branco;<br />
Amo a rosa esqueida sobre o flanco,<br />
Pallida e triste, d'aspero rochedo;<br />
Amo o raio que crusa á noite os ares<br />
Amo a virgem piedosa adormecida;<br />
E se uma nuvem cae, invoco a vida<br />
No mysterio que envolve o seu segr»do.<br />
A prece que dos lábios ignorada<br />
"Vae até Deus em conii<strong>de</strong>ncia pura,<br />
E' perfume que exhala esta ventura<br />
Ainda mal sonhada e peregrina;<br />
E a terra não na havia Deus formado<br />
Se a estrella mais distante, um dia, apenas,<br />
Do solo ethereo, um raio ás açucenas<br />
Não mandasse <strong>de</strong> sua luz divina.<br />
Como a folha que rola solitaria<br />
Impellida dos ventos do nor<strong>de</strong>ste,<br />
Assim se vão na orbita celeste<br />
Outros mundos d'aroma, assim dispersos ;<br />
E na <strong>de</strong>rrota immensa do <strong>de</strong>stino,<br />
Revolvidos uuru vácuo sempre aberto,<br />
Parece que escutam o concerto<br />
D'aquella marcha eterna, em luz immersos.<br />
A alma então não pára: ergue-se ovante<br />
Na asa do harpejo que seu vôo augmental...<br />
— E És Tu Só quem a lagrima sustenta,<br />
Divino Sêrl na palpebramais linda! —<br />
Lá quando a onda em catadupa enorme<br />
Expira como o beijo sobre a face<br />
Oh! quanto aroma, sobre a areia, nasce<br />
Da branca espuma que suspira ainda 1<br />
Mas esta luz não vem do sol somente,<br />
Embora o sol, medindo o firmamento,<br />
Invada o albergue, como a chuva e o vento,<br />
Do leproso famiuto, do mais triste!<br />
A fé baixando envolta no sudário<br />
I<strong>de</strong>al do Christo sobre a alma impía,<br />
Desata em flores a occulta phantasia,<br />
— Renova a haste que no peito existe I<br />
Fugaz meteoro é isso que não pousa<br />
No cume d'estas serras como a ave;<br />
Mysterio é isso que um momento grave<br />
Logo ó dôce qual osculo materno;<br />
Inviolável, sagrado, alvo, ineffavef,<br />
(Mas sempre ethereo aos olhos d'esta gente)<br />
E' todo o incenso que nos câe luzente<br />
Do áureo thuribulo da mão do Eterno...<br />
— Da sua mão direita! que suspenda<br />
A rapida ampulheta on<strong>de</strong> a existencia<br />
Se escoa mais fugace do que a essencia<br />
De toda a planta ou do palavra vã;<br />
On<strong>de</strong> o espirito accêso mysterioso<br />
A uui sopro d'alguus ventos que conhece,<br />
Naquella areia eterna, como a prece<br />
Se esvae... ou como os beijos da manhã.<br />
Por isso adoro em ti a fiôr dos valles<br />
Supremo Deusl e a ingénua sensitiva;<br />
Por isso aspiro a ti, se um beijo, esquiva,<br />
A aragem vae <strong>de</strong>pôr no adusto veio;<br />
Por ti as mãos levanto ao cóo piedosas<br />
E meu ser se evapora ante o Calvario,<br />
E caio, como o echo tumultuado,<br />
Nos calados abysmos do teu Seio 1<br />
Mas... e se a crença (a vista dos <strong>de</strong>sertos<br />
Que dá ao palladino a clarida<strong>de</strong>)<br />
E' o sustentáculo dôce da Verda<strong>de</strong>,<br />
A forma impressa a luz inas vagamente. .<br />
— Se a razão me adivinha um bem gerado<br />
Aos pés da cruz (autes resgate certo 1)<br />
«Dorme o teu somno, coração liberto,<br />
Dorine na mão <strong>de</strong> Daus eternamente I»<br />
Porto 1893.<br />
L B T T R A S<br />
Socego<br />
HUGO DINIZ.<br />
A genlil-baroneza Thereza <strong>de</strong> Luxille,<br />
ainda muito pallida, d'uma palli<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />
pessoa ferida e sem forças, que tivesse<br />
perdido muito sangue, tão abatida, com<br />
os lindos olhos pisados, que tinham como<br />
um olhar <strong>de</strong> souho, os lábios sem côr,<br />
agitados por um leve estremecimento, as<br />
ma<strong>de</strong>ixas loiras do seu cabello caindo-lhe<br />
em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m para a testa e para o pescoço,<br />
o rosto tão emmagreçido que parecia<br />
o d'uma creança, com uma expressão<br />
a uni tempo infantil e grave, recostava-se<br />
languidamente no immenso leito<br />
morno, encoataado-se ás almofadas, feliz<br />
por ter acabado o soffrimento, cançada<br />
e entorpecida como <strong>de</strong>pois d'um doloroso<br />
calvario.
- .<br />
A N N O<br />
I — tf." » 3 iDluítlJÍ<br />
Às cortinas cahida ! ? da cama mal<br />
<strong>de</strong>ixam penetrar a clarida<strong>de</strong> baça da lamparina.<br />
No tapete reflecte-se o esbrazeamento<br />
do fogão, e pela porta entreaberta passam<br />
os murmurios rápidos <strong>de</strong> vozes, um<br />
som secco <strong>de</strong> dobrar e <strong>de</strong>sdobrar <strong>de</strong> roupa,<br />
gargalhadas mal <strong>de</strong>finidas, como que<br />
abafadas, e <strong>de</strong> repente, leve, intraduzifel,<br />
como o estranho "grito d um animatsinho<br />
<strong>de</strong>sconhecido, um queixoso vagido<br />
<strong>de</strong> creança recemoascida, que a ama embrulha<br />
nos eoeiros: 4=5 ~ ><br />
E a parturiente inerte não pensa em<br />
coisa alguma, <strong>de</strong>ljçía-se naquelle torpor<br />
completo <strong>de</strong> todo o'seu ser, não faz o<br />
minimo movimento, e, a não ser a rythmica<br />
respiração que lhe entumece a garganta,<br />
a fixi<strong>de</strong>z allucinaute das suas pupilas,<br />
jugal-a-hiam morta nomeio das incessantes<br />
convulsões, que ainda ha pouco como<br />
que <strong>de</strong>spedaçavam o seu frágil corpinho<br />
<strong>de</strong> creança, que as suas pálpebras <strong>de</strong>smaiadas<br />
esperam apenas o piedoso gesto<br />
que para sempre as feche.<br />
Está só, mas tão prostrada que nem<br />
dá pela sua solidão, que não a sente, que<br />
nem mesmo <strong>de</strong>u pela brusca <strong>de</strong>sapparição<br />
<strong>de</strong> todos os seus, do marido, dos paes,<br />
que ro<strong>de</strong>iam a creança, procurando já<br />
ver com quem se parect j , moendo o medico<br />
com perguutas, esquecendo quasi<br />
como um objecto perdido esse ente que<br />
ainda ha pouco tempo tanto soffria e gemia,<br />
<strong>de</strong>batendo-sc horas e horas como<br />
sob as mãos implacaveis d'um carrasco.<br />
E abysmavase naquella beatitu<strong>de</strong>,<br />
quando se levantou o reposteiro <strong>de</strong> peluche.<br />
c eulròu a parteira, irazetido nos<br />
braços o pequenino, cuja cabeça quasi<br />
<strong>de</strong>sapparecia nos folhos <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> Bruges,<br />
da touca. maloas» «np soè-iaí<br />
Tem a carita inchada, unias facesinhas<br />
rosadas e uma pequenina cova na<br />
bartotiómsijj; oóv use (Uip oi,íMji£d ob iVl<br />
Tbereza viii-o, e a sua pliisionomia,<br />
que num momento se transfigurou, estava<br />
radiante <strong>de</strong> alegria. Sorriu se. Diz-<br />
Ihe palavras d'uma gran<strong>de</strong> ternura. EdO<br />
ten<strong>de</strong>-lhe as mãos muito brancas, que as<br />
veias azulam.<br />
E áo ver que a parteira <strong>de</strong>põe sobre<br />
uma almofada, perto, muito perto <strong>de</strong> si,<br />
esse corpinho franzino, essa mistura <strong>de</strong><br />
rendas e_ carne rosada, segue lhe todos<br />
os movimentos com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sasocego,<br />
dizendo-ihe numa voz <strong>de</strong> medo:<br />
— Veja lá não lhe faça mal!<br />
Depois Tbereza conchega se, põe-se<br />
muito pertinho <strong>de</strong> seu filho, impregna-o<br />
do seu calor, cuhiça o com os olhos a<br />
brilharem d'uma immensa tornura, <strong>de</strong>licia-se,<br />
sente-se tão feliz como nunca se<br />
sentira autes e quasi num tom <strong>de</strong> supplica,<br />
com uma voz a um tempo doce e<br />
imperiosa, como quando queremos que<br />
nos obe<strong>de</strong>çam, mas que não <strong>de</strong>sejamos<br />
offen<strong>de</strong>r sem motivo, disse lentamente<br />
para a parteira : btm olniqas o obnO<br />
— O melhor é <strong>de</strong>ixar-nos sós agora,<br />
por um bocadinho, e dizer que eu quero<br />
estar só.<br />
A parteira allastou-se docilmente e<br />
ficaram os dois sosinhos, áo pé um do<br />
outro, num regalo suave, num silencio<br />
apenas cortado, agora e logo pelo rodar<br />
dos carros pela rua e o crepitar da lenha<br />
húmida no fogão, esse murmurio in<strong>de</strong>finível,<br />
que nos traz á memoria uns trillus<br />
<strong>de</strong> cotovia, um rumorejar <strong>de</strong> folhas no<br />
fundo d'um bosque.<br />
Contempla-o. Toca-lhe quasi a medo<br />
como fazia á boneca quando era pequena.<br />
Olha-o com admiração, lncliiia-se para o<br />
beijar, e sente uma <strong>de</strong>licia immensa ao<br />
contacto dos seus ia bios cheios <strong>de</strong> ternura<br />
com aquella epi<strong>de</strong>rme que estremece,<br />
que vive.<br />
Ê uni extase divino que se espalha pelo<br />
seu cerebro, pela sua alma, o quer que<br />
seja <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong> sobrelitimano, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecido,<br />
que cada minuto mais augmenta,<br />
uma seducção a cada novo beijo. '<br />
E sente que d'alli para o futuro pertence<br />
áquella creança, que se transfigurou<br />
<strong>de</strong> mulher em mãe, que talvez tenha<br />
um dia <strong>de</strong> se sacrificar, que sofírer, que<br />
se aniquillar por elle, a quem pertence<br />
ago^a o mej|)or do seu coraçã.o. E a sua<br />
finda carinha gaiata, tomou a pouco e<br />
pouco uma expressão mais seria, nmito<br />
meiga,, uma leve nuvem <strong>de</strong> melancholia,<br />
como quando se pensa no dia seguinte.<br />
Passou o braço por cima da creança,<br />
conla-jhe as fracas pulsações do coração,<br />
qué nãó é maior do que o <strong>de</strong> um passarinho.<br />
E <strong>de</strong> repente os seus olhos tão<br />
meigos molham-se <strong>de</strong> lagrimas, pesadas<br />
lagrimas que cahem a uma e uma ao<br />
' longo das suas faces muito brancas, lagrimas<br />
<strong>de</strong> extrema alegria ou lagrimas<br />
ae profunda dôr, quem o pódç dizer,<br />
quem fabe mudar esse movediço lago,<br />
tão <strong>de</strong>pressa agitado, tão <strong>de</strong>pressa tranquillo,<br />
que se chama um cerebro <strong>de</strong> mulher<br />
!<br />
O senhor <strong>de</strong> Luxille, quéjtinha levanljd<br />
i muito <strong>de</strong> vagar o pesado reposteiro,<br />
éVpreila, immovel, aquella a loravel<br />
cabeça loiía que se inclina para o pequenino,<br />
e pergunta-lhe a meia voz, camiíihando<br />
para a cama :<br />
— Também eu serei <strong>de</strong> mais aqui?<br />
— Tu, tu que eu amo tanto!<br />
E Thereza esten<strong>de</strong>-lbe os braços, beija-o<br />
com effusão, dá-llie toda a ternura<br />
do seu corarão num só beijo, e pergunta-lhe<br />
muito feliz apontando para o petizinho:<br />
— Gostas <strong>de</strong> ter um filho? Amas-me<br />
mais ainda? A .»»$9/n s .>o a . ob sinm ioq<br />
0\ E o marido, que a ama loucamente,<br />
não sabendo <strong>de</strong> palavra bastante doce,<br />
bastante terna, bastante carinhosa para<br />
lhe respon<strong>de</strong>r, ajoelha com fervor ao pé<br />
do leito e beija e torna a beijar a carinha<br />
da creança e os <strong>de</strong>dos da sua adorada...<br />
René Mai\erov.<br />
Infamia sem nome<br />
- O jesuitismo<br />
Com esta mesma epigraphe relata o<br />
nosso collega o Correio do Porto o seguinte<br />
, !? r,I ' ,i l° gfí **® iail,l ' 1, t ' - < l<br />
«A' hora em que este jornal vae eútrar<br />
na machina, <strong>de</strong>ixa a nossa redacção<br />
uma creança <strong>de</strong> 5 annos, por nome Julio,<br />
filho do sr. João Cardoso, que foi<br />
barbaramente espancado pelas hospitaleiras<br />
e bondosas irmãs <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, cora<br />
coio estabelecido á riia da Cónceíçáo.<br />
Julio commQtteu a gran<strong>de</strong> falta <strong>de</strong><br />
olhar para a rua, e, por isso, foi castigado<br />
com um terrivCl golpe <strong>de</strong> vassoura,<br />
que lhe abriu uma enorme brecha<br />
na cabeça, ensanguentando lhe todo o<br />
rosto e peito. o> ,. |<br />
Que o publico avalie a doçura <strong>de</strong>stas<br />
ajpiftjs seraphiças que pregam a doutrina<br />
<strong>de</strong> Christo a chicote, e ensinam o<br />
A B C á vassourada.<br />
Chamámos a attenção das auctorida<strong>de</strong>s<br />
para este facto isolado, semelhente<br />
a tantos outros que se <strong>de</strong>senrolam na<br />
treva.<br />
A canalha torpíssima <strong>de</strong> Loyola gerou<br />
num enfraquecimento covar<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vencido da vida, commetle toda a casta<br />
<strong>de</strong> crime sem receio <strong>de</strong> punição.<br />
A justiça dorme, ou apadrinha os<br />
bandidas que assaltam o lar, que espancam<br />
as'creanças, e arrancam, neste fim<br />
<strong>de</strong> século, a sua ban<strong>de</strong>ira d'estupi<strong>de</strong>z e<br />
<strong>de</strong>vassidão.<br />
Pedimos provi<strong>de</strong>ncia?, pedimos um<br />
inquérito, uma syndicancia a sério—sobre<br />
as torpezas que. para ahi se praticam<br />
nesses covis <strong>de</strong> corrupção.<br />
Nós—-ficaremos alerta, promettendo<br />
investigar, e esclarecer brevemente o<br />
publico rfôbfe rasos idênticos.<br />
O publico terá então <strong>de</strong> fazer justiça<br />
por suas mãos, se a justiça do reino<br />
dormir o somno criminoso da tolerancia.»<br />
Só temos a acrescentar que os protestos<br />
do collega ç. o pedido <strong>de</strong> justiça<br />
ás aucToridarles contra as santinhas ha<br />
<strong>de</strong> ficar, como sempre, no olvido. As<br />
auctorida<strong>de</strong>s vivem <strong>de</strong> bem com essa<br />
gente, com carta branca neste paiz para<br />
todos os commetlimentos.<br />
Esta gente não vae com protestos...<br />
Narração <strong>de</strong> factos<br />
Em o numero anterior dissémos como<br />
em <strong>Coimbra</strong> a grey regeneradora se dividiu<br />
em dois grupos, capitaneados o<br />
primeiro por . um malhemalico distincto<br />
e o segundo ppr capitalista opulento; e<br />
referimos ainda — como, por o ministro<br />
do reino ter nomeado para este districto<br />
um governador civil sem consulta previa,<br />
o parlido regenerador n.° 1 se azedMjs<br />
e 8fô$m4Ml9upf>'b soêtn «sn oboi si<br />
Contemos agora a historia e vejamos<br />
como, por questões mesquinhas <strong>de</strong> interesse<br />
proprio, os dois grupos se malquistaram.<br />
Entre o sub chefe do partido u.° 1,<br />
um operador notável, e outro medico ^é<br />
o quarto que apparece), que nesta cida<strong>de</strong><br />
tem extensa clinica e que pertence<br />
ao partido n.° 2, existem, In annos, divergências,<br />
que é tão diflicil augmentarem<br />
como diminuírem; chegaram ao zenitli<br />
e paraiian), 0laq 0Í8091 ipa ,011,59<br />
Este ultimo clinico julga-se também<br />
aggravijdo por um outro medico (o quin-<br />
O DEFE\Hi)R »© POVO 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18»»<br />
to !) em uma ruidosa questão levantada<br />
em um estabelecimento <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Dados estes esclarecimentos, diremos<br />
agora que em 1892 falleceu o medico<br />
que dirigia o latim do nobre con<strong>de</strong><br />
e que era também director <strong>de</strong> ura<br />
hospício administrado pela commissão<br />
districtal.<br />
Presidia a esta, então, o medico que<br />
acabamos <strong>de</strong> menciouar, o quinto, e que<br />
havia perdido o logar que tinha no tal<br />
estabelecimento dç .carida<strong>de</strong>-on<strong>de</strong> a ruidosa<br />
questão se levantou.<br />
Lembrou-se este <strong>de</strong> se fazer nomear<br />
director do hospício e formou o plano <strong>de</strong><br />
se <strong>de</strong>mitiir da presi<strong>de</strong>ncia da commissão,<br />
a fim <strong>de</strong>, pelos seus collcgas, ser<br />
NOMEADO^! 1 H. «>|U OBOVW>H KJ O) OBÍJ<br />
1. Estes, porém, julgaram mais acertado<br />
adiar o concurso e guardar o <strong>de</strong>spacho<br />
para a nova commissão, que em breve<br />
seria eleita, e que Dão podia <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong> ser da sua. feição politica—Dias Feri<br />
reira, e que faria tudo quanto se lhe<br />
mandasse e na qual o alludido medico<br />
não entraria para o negocio se tornar<br />
mais airoso. fet;tjiL>s(fi- uoJ<br />
Calculavam elles que a situação Dias<br />
Ferreira se manteria por largos annos,<br />
que a sua victoria na eleição da commissão<br />
districtal era certa, e que, portanto,<br />
não havia o menor risco no adiamento<br />
do negocio para o principio <strong>de</strong> fevereiro,<br />
po<strong>de</strong>ndo, inclusivamente, apresenlarse<br />
como concorrente o antigo substituto<br />
do hospício, com longos annos <strong>de</strong> bom<br />
serviço, que o nomeado não seria este,<br />
mas o que recentemente pretendia o tal<br />
logar.<br />
Mas tudo falhou; o sr. Dias Ferreira<br />
per<strong>de</strong>u a eleição, e, poucas semanas<br />
<strong>de</strong>pois, caiu do po<strong>de</strong>r..,mio' aup im|<br />
A nova commissão, presidida pelo<br />
chefe do partido n.° 1, apressou-se a<br />
pedir auctorisação para abrir concurso,<br />
auctorisação que lhe foi dada pelo actual<br />
ministro do reino. Apresenlaram-se dois<br />
concorrentes:--o sub-director do hospício<br />
e o medico ex-presi<strong>de</strong>nte da commissão<br />
anterior; o primeiro, protegido<br />
pelos regeneradores do grupo n.° 1; o<br />
segundo pelos do grupo n.° 2.<br />
O maioral d'este rebanho obteve do<br />
sr. ministro do reino a promessa <strong>de</strong><br />
obrigar a commissão districtal a não<br />
prover o logar, annullando-se d'esta fórma<br />
o concurso aberto; por isso que um<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1892<br />
torna sem effeito todos os concursos a<br />
que se não siga a nomeação <strong>de</strong> um dos<br />
candidatos <strong>de</strong>utro do prazo <strong>de</strong> 15 dias<br />
a contar do seu encerramento.<br />
O sr. ministro do reino fez esta promessa<br />
sem consultar os seu? correligionários<br />
da commissão districtal, os quaes<br />
quando, passado tempo, foram instados<br />
pelo sr. governador civil para adiarem<br />
a nomeação, <strong>de</strong>clararam unanime e terminantemente,<br />
que, em consequência dos<br />
seus compromissos, não podiam satisfazer<br />
ao pedido do sr, ministro do reino.<br />
Este, é homem sans peur et sans grammaire,<br />
como já lhe chamaram, e enviou<br />
para <strong>Coimbra</strong> um oíiicio suspen<strong>de</strong>ndo o<br />
provimento do logar; mas por a matéria<br />
do officio ser illegal e por varias outras<br />
razões, que callaremos, não produziu o<br />
expediente ministerial nenhum elleito.<br />
Foi chamado a Lisboa o sr. governador<br />
civil e ahi foi incumbido <strong>de</strong> instar<br />
e teimar novamente com a commissão<br />
districtal para que obe<strong>de</strong>cesse ás or<strong>de</strong>ns<br />
do sr. ministro, que queria satisfazer o<br />
pedido do chefe dos regeneradores n.° 2.<br />
Mas não foi feliz o illustre magistrado<br />
110 cumprimento da sua missão,<br />
porque, logo <strong>de</strong>pois das suas exhorlações,<br />
<strong>de</strong>liberou a commissão districtal<br />
nomear director do hospício o antigo<br />
sub director.<br />
In<strong>de</strong> irae. É indiscriptivel a fúria<br />
que se apo<strong>de</strong>rou do ministro do reino, a<br />
qual só se compara áquella que traz<br />
irrascivel o capitalista chefe dos regeneradores<br />
n.° 2.<br />
Nas altas regiões foi iinmediatamente<br />
<strong>de</strong>cretada a <strong>de</strong>sthronisação do *ehefe<br />
dos regeneradores n 0 1, o distincto nmtheuiaiico;<br />
e perguutadQ o ministro sobre<br />
se queria que este fosse substituído na<br />
chefatura pelo capitalista opulento dos<br />
regeneradores n.° 2, respon<strong>de</strong>u: — Não,<br />
porque fui seu condiscípulo durante<br />
cinco annos. O chefe fica sendo ó governador<br />
civil.<br />
Esta auctorida<strong>de</strong> chamou ao palaeios<br />
dos Loyos vários regeneradores n.° 1<br />
para lhes (çommuiiicar a. <strong>de</strong>posição do seu<br />
chefe p os arrastar para o lado do governo.<br />
Anda, porém, infeliz o sr. governador<br />
civil; ouviu em resposta palavras duras<br />
e, para cumulo da <strong>de</strong>sventura, acaba<br />
<strong>de</strong> ter conhecimento <strong>de</strong> que no sabbado<br />
á noite todos os regeneradores d'este<br />
grupo gritavam em côro, 110 centro dí<br />
rua das Fangas: — Pro rege nostro moriamur!<br />
Este rei é .0 sr. João José d'Antas<br />
Souto Rodrigues, qiie foí Novamente acclamado.<br />
Da acclamação se lavrou um<br />
auto, com cuja copiava e ser brindado o<br />
sr. ministro do reino. Sinceramente felicitaremos<br />
o illustre conselheiro da corôa,<br />
se os regeneradores do sr. Souto<br />
Rodr.iguçs lhe conce<strong>de</strong>rem uma capitulação<br />
honrosa.<br />
Mas já se diz que s. ex. a se ren<strong>de</strong><br />
com armas é bagagens...<br />
E aqui temos nós uma questão magna,<br />
digna do talent-ó d'um Cruz e Silva<br />
que a cajitasse num outro Hyssope, para<br />
recreio e instrucção da gente séria e da<br />
ingénua. Porquê èstas qúéstiunculas <strong>de</strong><br />
corrilho e... <strong>de</strong> estomago, no seio dos<br />
partidos, são realmente, <strong>de</strong> instrucção<br />
e recreio.<br />
CORRESPONDÊNCIAS<br />
felgueira, 6 <strong>de</strong> junho.<br />
Abriram como tinhamos annunciado,<br />
na quinta feira, 1." <strong>de</strong> junho, o Grand<br />
Hotel Club e o estabelecimento thermal,<br />
com o aceio e boa or<strong>de</strong>m que era <strong>de</strong>i<br />
e-perar das intelligentes direcções dos<br />
srs. dr. João Felício e Antonio Rosa<br />
Bflsy.Bb slaaqoiq « enjoou nq 9b «m*<br />
Não houve musica, nem foguetes, nem<br />
copo d'agua, mas a culpa fo| só dos srs.<br />
dr. Felício e Antonio Diogo da Silva.<br />
Ficamos <strong>de</strong> remissa para na primeira<br />
occasião verberarmos o seu procedimento.<br />
Pois haverá coisa mais mesquinjia<br />
do que em dia <strong>de</strong> inauguração não nos <strong>de</strong>ssem<br />
foguetes e musica! seja tudo pelo<br />
divino amor <strong>de</strong> Deus !<br />
rA Felgueira reassume o aspecto alegre<br />
e festivo d'esto quadra.<br />
Nos pontos mais piltorescos, nps sítios<br />
que a natureza a favoreceu mais, ahi apparecem<br />
ranchos <strong>de</strong> forasteiros que aqui<br />
vêm fazer uso das aguas e dos banhos.<br />
De manhã, das 6 horas ás 9, é vêr como,<br />
em piedosa romagem, vão a gruta da<br />
menina Isabelinba beber as aguas que<br />
lhes hão <strong>de</strong> <strong>de</strong> minorar os soffrimentos,<br />
acabar <strong>de</strong> vez com a enxaqueca e refazer<br />
as forças que a vida acci<strong>de</strong>ntada<br />
<strong>de</strong>teriorou.<br />
A' tar<strong>de</strong> os passeios ás margens do<br />
Mon<strong>de</strong>go, ao sitio on<strong>de</strong> se tomam as<br />
aguas frias, a contemplar os penedos <strong>de</strong><br />
granito que a natureza accumulou uns<br />
sobre os outros, dando-lbe um aspecto<br />
selvagem mas soberbo; e pela estrada.<br />
fóra gozando á hora .do crepusculo a<br />
frescura que a viração traz, refazendo<br />
os plumões nps ares puros e oxigenados<br />
das montanhas, são grupos <strong>de</strong> cavalheiros<br />
e senhoras que com os seus risos argentinos<br />
estabelecem uma harmonia que<br />
muito bem se casa com o barulho que<br />
o <strong>de</strong>spegar do trabalho produz e com<br />
toque <strong>de</strong> pífaro que o pastor, além, na<br />
campina, loca como tyara embalar as<br />
ovelhas que apascentou durante o dia.<br />
Tem chegado <strong>de</strong> lodos os pontos do<br />
paiz muitos banhistas; no Gran<strong>de</strong> Hotel<br />
Club estão hospedados:<br />
Dr. José Antonio d'Almada, José<br />
Augusto Bizarro da Silva, Eduardo Henriques<br />
<strong>de</strong> Freitas, José Ribeiro <strong>de</strong> Mesquita,<br />
Arthur Hinlz Ribeiro, D. Maria<br />
Francisca Ilintze Ribeiro, dr. Lima Nunes,<br />
D. Leonarda F. Mesquita, D. Cacilda<br />
F. Mesquita, dr. Bernardo Homeiú <strong>de</strong><br />
Figueiredo e sua sympatica filhinha D.<br />
Eugenia Vianna Caria, D. Emília Leite,<br />
D. Maria Emília Vianna, con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Caria, D. Estephania Cari.', Jose Gregorio<br />
da Silva Barbosa, D. Beatriz B. Duarte<br />
Ferreira, Henrique Duarte Ferreira, Fre<strong>de</strong>rico<br />
Pereira Palha, viscondéssa <strong>de</strong><br />
Carvalho, Henrique Pereira Leite Jardim,<br />
dr. 'Psreira' Mello, Julio Caldas, D.<br />
Emilia Silveira Barbosa; D. Maria Lucra<br />
Caldas e Coelho <strong>de</strong> Carvalho.<br />
Também chegaram e eslão hospedados<br />
em casa sua, o sr. dr. Manoel Paulino,<br />
lente da uniVefsraá<strong>de</strong>^tié Cóíiubra; família<br />
Cabral Mettello da mesma cida<strong>de</strong>,<br />
Antonio Homem Ferreira, <strong>de</strong>Paranhos, D.<br />
Anha Gomes d'Almeida e D. Maria da<br />
Conceição d'Almeida Cunha <strong>de</strong> Rio Torto.<br />
Espera-se lambem na quinta Ceira o<br />
sr. Joaquim Martins da Cunha, abastado<br />
capitalista <strong>de</strong> Rio Torto; vem passar<br />
nesta instancia um mez.<br />
C.<br />
EM SURDINA<br />
«A rainha saindo do templo<br />
(em Beja), encaminhou-se<br />
para junto das carretas e,<br />
o mais <strong>de</strong>spretenciosamente<br />
possivel, começou acariciando<br />
os bois.»<br />
(«NOVIDADES»)<br />
O rico povo <strong>de</strong> Beja<br />
ficou todo apalermado,<br />
p'la rainha—-Salvo sejal —<br />
ao sair da santa egreja<br />
ir fazer festas ao gadol<br />
O povo que ainda é carola ([<br />
não percebem — cebolorio! =<br />
que afinal essa graçola H<br />
fôra a sorte <strong>de</strong> gaiolla,<br />
para apanhar o vivorio 1. .^.<br />
Demonstrado fica, pois,<br />
porque ella afagou os bois I<br />
Alcance<br />
PINTA-ROXA.<br />
De Portalegre fugiu 0 recebedor,<br />
alcançado em <strong>de</strong>zeseis contos <strong>de</strong> reis.<br />
•fit;'b ?j;ii9.v®* , 0 ' e r a «jioqxíi<br />
O governo hespanhol recebeu telegrammas<br />
annunciando que se <strong>de</strong>ram dois<br />
casos <strong>de</strong> cholera em Marselha.<br />
Eni Hamburgo por emquanto ainda<br />
não houVe repetição <strong>de</strong> casos choléricos.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
A quinta <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
Este novo bairro on<strong>de</strong> se está <strong>de</strong>senvolvendo<br />
o goàto pela babitaçao e on<strong>de</strong><br />
se encontram já magníficos prédios, bem<br />
merecia que a camara dirigisse para elle<br />
a sua atteução, empregando todos os esforços<br />
a lim <strong>de</strong> conseguir que aquelle<br />
centro <strong>de</strong> população se auime e progrida.<br />
Além do mtíis o que se torna urgente e<br />
<strong>de</strong> immediata necessida<strong>de</strong> é o alinhamento<br />
das ruas e a sua construcção, bem como<br />
a construcção <strong>de</strong> canos d esgoto, para<br />
não vermos aquelle local, em boas condições<br />
bygienicas, convertido numa possiíga<br />
in<strong>de</strong>cente.<br />
Porque ã camara tem o <strong>de</strong>ver moral<br />
<strong>de</strong> assegurar aos proprietários os melho-í<br />
ramenlos indicados uas suas plantas, e<br />
faltar ao cumprimento d'esse uever seria<br />
lograr a boa fé d'uquelles que ja alli tem<br />
dispendido niuilos contos <strong>de</strong> reis.<br />
Queixam se-nos os habitantes da rua<br />
<strong>de</strong> Alexaudre Herculano do loco <strong>de</strong> infecção<br />
que ji camara consente junto da<br />
praça <strong>de</strong> D. Luiz, proveniente da falta<br />
<strong>de</strong> caualisaçâo geral e da concessão feita 1<br />
a proprietários d aquella rua que têem<br />
nos seus prédios canos conduclores d'aguas<br />
sujas e <strong>de</strong>jectos que se vão <strong>de</strong>positar<br />
nuus fossos abertos, ao principio<br />
daquella rua, o que esta prejudicando<br />
aftameule a^sauue publica e podè provocar<br />
épi<strong>de</strong>iiiíá s s', atteif<strong>de</strong>ndo a que aquellé<br />
<strong>de</strong>posito <strong>de</strong> matérias lecaes e gordurosas<br />
esla constantemente exposto ao sol <strong>de</strong><br />
todo o dia.<br />
Este lacto que é do conhecimento<br />
do vereador do pelouro respectivo, que<br />
uo dia da inauguração da kermesse recebeu<br />
d'um dos proprietários d'aquelle locai<br />
a <strong>de</strong>vida queixa e justa censura, merecia<br />
da camara ímuiediatas provi<strong>de</strong>ncias<br />
ten<strong>de</strong>ntes a fazer <strong>de</strong>sapparecer tão damuoso<br />
foco ; e todavia dizem-nos que<br />
aiuda lá áe conserva tudo, o que prova a<br />
indifferença da camara no que diz respeito<br />
a hygieue publica.<br />
Isto é um abuso inqualificável e da<br />
parle da camara revela uma ma vonta<strong>de</strong><br />
em conce<strong>de</strong>r ao novo bairro os necessários<br />
luetlíòrameiítos que convi<strong>de</strong>m o puuhco<br />
a fazer alli novas coiistrucções<br />
E tanto mais nos convencemos da indifferença<br />
da camara pelo novo bairro<br />
<strong>de</strong> Santa Cruz, quanto é certo que vemos<br />
<strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r verbas grau<strong>de</strong>s eiu beneficio<br />
d'apaniguados, si>b o pretexto <strong>de</strong> alargamento<br />
<strong>de</strong> ruas que bem se di.sp&nsavaiUj<br />
e nao se tratar <strong>de</strong> obter nie.ius par« se<br />
proce<strong>de</strong>r iuimediatameute ao alinhamento<br />
e construcção <strong>de</strong> ruas, o que <strong>de</strong>certo<br />
traria uma receita provável na venda dos<br />
terrenos, que imo são procurados pelas<br />
faltas que <strong>de</strong>ixamos apontadas.<br />
A continuar-se assim os proprietários<br />
do novo bairro vêem-se altamente prejudicados<br />
e isto afugentara a corrente <strong>de</strong><br />
sympallua que está gozando aquelle magttincó'local,<br />
qiíe pela incúria da camara<br />
po<strong>de</strong> ticar conuemuado.
jm*m i — o 3 O ItEFEWiOR DO POVO 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 19S3<br />
Ha quasi seis mezes que esta cnmara<br />
está gerindo os negocios municipais e<br />
apezar das sius promessas e dos bons<br />
<strong>de</strong>sejos que fez ver a levavam alli, não<br />
vemos que ella tenha correspondido ao<br />
que se esperava. Não se tem passado <strong>de</strong><br />
expedientes; nem se olha para as neoessida<strong>de</strong>s<br />
urgentes, nem se trata dos melhoramentos<br />
indispensáveis.<br />
Hygiene publica<br />
Felizmente que algum cuidado se vae<br />
prestando ao saneamento da cida<strong>de</strong>, e<br />
oxalá que os nossos esforços, chamando<br />
a attenção da camara, do sr. commissario<br />
<strong>de</strong> 'policia e a dos proprios particulares<br />
para este assumpto, importantissi<br />
1110 á san<strong>de</strong> publica, sejam secundados<br />
pela arção da auctorida<strong>de</strong>.<br />
Sabemos que o sr. <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> sauincansavel<br />
no cumprimento d'este gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ver, se não tem poupado a trabalho,<br />
fazendo visitas sanitarias, aconselhando<br />
o que é necessário íazer-se, dando<br />
instrucções ás auctorida<strong>de</strong>s, etc. Mas<br />
d'este funccionario nada mais se pô<strong>de</strong><br />
exigir, porque, neste ponto, são estas<br />
as suas funeções; o que se torna indispensável—<br />
é, que o sr. commissario <strong>de</strong><br />
policia dê as or<strong>de</strong>ns mais terminantes<br />
para que seja (iscalisado o cumprimento<br />
das <strong>de</strong>terminações do sr. <strong>de</strong>legado <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, e que vigie sem cessar o modo<br />
como os seus subordinados fiscalisam os<br />
serviços <strong>de</strong> limpeza.<br />
A' camara municipal não menos cumpre<br />
olhar por estes serviços. Os encarregados<br />
da limpeza das ruas pouco se<br />
importam com o trabalho que lhes incumbe;<br />
os boeiros d'essas ruas permanecem<br />
sempre quasi obstruídos pela áccumulação<br />
<strong>de</strong> iminundicies; ora é isto precisamente<br />
o que não pô<strong>de</strong> continuar. Que a camara<br />
não poupe a agua, que a tem e em<br />
abundancia, e esta é o principal elemento<br />
para sanear a cida<strong>de</strong>.<br />
Agua, muita a^ua, senhores vereadores<br />
; não se limitem aos borrifos que or<strong>de</strong>nam<br />
pelas ruas principaes; abram boccas<br />
<strong>de</strong> incêndios e façam jorrar a agua<br />
por essas sargetas infectas, reguem todas<br />
as ruas e beccos tres. quatro vezes<br />
por semana, as que forem necessarias para<br />
se acabar com as emanações perniciosas<br />
que <strong>de</strong> todos os recantos se exhalam.<br />
E, por sua vez, compenetrem-se os<br />
particulares <strong>de</strong> que o seu gran<strong>de</strong> interesse<br />
eslá em conservarem as suas casas<br />
110 maior aceio. Não esperem tudo da iniciativa<br />
das auctorida<strong>de</strong>s, porque estas,<br />
embora tenham obrigação <strong>de</strong> fazer muito,<br />
não po<strong>de</strong>m fazer tudo.<br />
A Uermesse<br />
Infelizmente acabou já a kermesse<br />
realisada na quinta <strong>de</strong> Santa Cruz pela<br />
corporação dos bombeiros voluntários,<br />
havendo ámanhã o leilão das prendas<br />
que sobejaram.<br />
Inaugurada na quinta feira, proporcionou<br />
nos cinco noites agradavelmente<br />
passadas, concorrendo á kermesse <strong>Coimbra</strong><br />
em pezo. Durante todas as noites<br />
tocou a philarmonica Boa-União no<br />
coreto da quinta, sendo recebida.com<br />
FoMim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
XIII<br />
O prestidigitador da morte<br />
— Olhe bem para mim, muito tempo,<br />
disse Talormi a Gréant, zombando; olhe<br />
bem, que sou eu mesmo.<br />
A sua e-pada <strong>de</strong> noviço teve a louca<br />
preteuçào <strong>de</strong> tocar o meu peito! Pobre<br />
creMifa; não passou d'um joguete nas<br />
minhas mãos!<br />
Eu não queria a sua morte, embora<br />
a tivesse ua ponta da minha espada;<br />
pura que me serviria cila? Deixando-lhe<br />
a vida servi bem melhor os meus inleresSés,<br />
como agora mesmo está vendb<br />
Possuo o seu segredo e hei <strong>de</strong> possuir<br />
a sua amante, ou per<strong>de</strong>l-os-ei a<br />
ambos!<br />
— De modo que, con<strong>de</strong> Talormi, é<br />
com uma cobar<strong>de</strong> trapaça <strong>de</strong> bandido<br />
dos Abruzzos, que lava a alfronta sangrenta<br />
<strong>de</strong> hontem?<br />
—Mas com que tom melodramático<br />
elle me <strong>de</strong>sfecha esta phrase ! disse Talormi<br />
sorrindo. Colloca-se muito alto,<br />
<strong>de</strong>masiadamente, ineit caro, mas essas<br />
salvas <strong>de</strong> palmas e bisadas pelo publico<br />
algumas das suas composições.<br />
Nò domingo a troupe Infante da<br />
Camara apresentou-se lambem executando<br />
com mimo e correcção algumas<br />
composições do seu reportorio. A sympathia<br />
que rt <strong>de</strong>ia este agrupamento <strong>de</strong><br />
rapazes, evi<strong>de</strong>nciou-se bem no interesse<br />
com que todos a ouviram e no enthusiasmo<br />
com que os acclamavam.<br />
J3sta troupe executou cinco composições:<br />
- • Amor da Patria, Pa<strong>de</strong>ira d Aljubarrota,<br />
Malaguenas, Hymno da troupe<br />
e a Porlugueza, que foi coberta <strong>de</strong> enthusiasticos<br />
applausos.<br />
No modo como se apresentou revela<br />
a troupe Infante da Camara qualida<strong>de</strong>s<br />
artísticas <strong>de</strong> louvor. /<br />
Lyeeii <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Damos hoje a nota estatística dos<br />
alumnos internos d'este lyceu que encerraram<br />
matricula nas dilfereetes disciplinas.<br />
Portuguez, 16 — Francez, 7—Inglez,<br />
27— Geographia, 19 — Historia,<br />
21—Latim (l. a ), 19 —Latim (2.»)| 6<br />
— Mathematica (l. a ), 18 — Malhematica<br />
(2 a ), 23 — Physica (l. a ), 34 —Physica<br />
(2. a), 13 — Philosophia, 34 —Litteralura,<br />
31 — Desenho (1.°), 21 —Desenho<br />
(2.°), 6 —Allemão (1.°), S—Allemão<br />
(2.°), 2.<br />
No dia 12 principiam os exames,<br />
sendo; portuguez e latim, (6.° anno) ás<br />
9 horas da manhã ; <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho ás 9<br />
francez e malnematica (1.°) ás 10; os<br />
<strong>de</strong> geographia ás 11.<br />
Julio Cuggiani<br />
Este distincto violinista do. theatro<br />
<strong>de</strong> S. Carlos;, <strong>de</strong> Lisboa, tenciona dar<br />
um concerto, nesta cida<strong>de</strong> coadjuvado<br />
por aluuns amadores conimbricenses.<br />
Dizem nos que será 110 salão da<br />
Associação dos Artistas que se realisará<br />
a lesta artística <strong>de</strong> Cuggiani.<br />
Roubo importante<br />
Na segunda feira as auctoriíld<strong>de</strong>s judicias,<br />
acompanhadas <strong>de</strong> polícias civis,<br />
entraram em casa do sr. Antonio dos<br />
Santos Fonseca, a fim <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>rem<br />
á busca d'um roubo por este praticado<br />
no espolio da sr. a Castanheira, moradora<br />
na Couraça <strong>de</strong> Lisboa, ha pouco fallecida.<br />
Po<strong>de</strong>mos averiguar o seguinte ; que<br />
o sr. Fonseca, sublrahira <strong>de</strong> casa da tia<br />
<strong>de</strong> sua primeira mulher, que já o havia<br />
contemplado e a seus filhos no testamento,<br />
uns quinze contos <strong>de</strong> réis, parte<br />
em libras e o resto em coupons e outros<br />
títulos, e que a um sobrinho, educando<br />
do Seminário, <strong>de</strong>ra cinco contos <strong>de</strong> réis,<br />
comprando assim o segredo no roubo<br />
que praticara, aceitando aquelle a referida<br />
quantia. Ambos sabiam on<strong>de</strong> cada<br />
um escon<strong>de</strong>ra o thesouro e apezar dos<br />
zuns-zuns que principiaram a correr e<br />
das recriminações que ao Fonseca fazia<br />
a visinhança, nem porisso emendara o<br />
mau passo que <strong>de</strong>ra.<br />
Por confissão do educando do Seminário<br />
ao sr. padre Almeida, procurador<br />
d'aquelle estabelecimento, se <strong>de</strong>scobriu<br />
pernas <strong>de</strong> pau não lhe dão nem uma pollegada<br />
mais.<br />
Suppõe então, que me po<strong>de</strong> fazer<br />
uma alfronta sangrenta, frágil canniço<br />
que 11111 a sopro meu se quebra! Vejo<br />
que está touiãndo-se muito a serio. Os<br />
elogios das córtezãs encheram-no <strong>de</strong><br />
orgulho; passaram-lhe um ^iploma <strong>de</strong><br />
homem, diploma que eu rasgo <strong>de</strong>baixo<br />
do >eu buço <strong>de</strong> collegial.<br />
Do peito <strong>de</strong> Paulo saiu um grito<br />
estri<strong>de</strong>nte, e a sua mão precipitou-se<br />
sobre o seu punhal. Talormi, com admiravel<br />
<strong>de</strong>xtreza, metteu o seu braço, <strong>de</strong><br />
baixo para cima, sob o do seu adversário,<br />
e levantando-o bem alto, para o<br />
fazer cair pesadamente, <strong>de</strong>sarmôu-o.<br />
Paulo ergueu-se <strong>de</strong> salto, como o<br />
tigre surprèhendrdo, o seu olhar lançava<br />
cbamnijs, os lábios brancos <strong>de</strong> cólera, e<br />
levantando-se a toda a altura d'uma inguação<br />
soberba, exclamou, num accento<br />
(í$ifiififiiféití:"' i OitOftOSI ioq BDibn v<br />
— Ah! tem o meu segredo I Pois<br />
bem I eu também tenho o ÍÃi, con<strong>de</strong><br />
Talormi, e vou lulminal-o com elle, como<br />
se fôra um raio!<br />
Neste momento ouvirain-se vozes <strong>de</strong><br />
mulheres cantando; eram raparigas do<br />
campo que vinham para a cida<strong>de</strong>, com<br />
cabazes <strong>de</strong> fructas á cabeça, a cantarem<br />
o — O pescator <strong>de</strong>ll'onda — numa <strong>de</strong>liciosa<br />
harmonia.<br />
— Venha, disse Paulo tomando o<br />
braço <strong>de</strong> Talormi e arrastando-o para o<br />
este furto e na administração do concelho<br />
foram entregues os cinco contos com<br />
a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que o Fonseca tinha escondido<br />
na casa <strong>de</strong> siia habitação, á rua<br />
dos Gatos, o restante — <strong>de</strong>z coutos <strong>de</strong><br />
ré's. - a O c o í<br />
Na busca a que se proce<strong>de</strong>u foi encontrado<br />
o dinheiro, 110 sítio "Htáfcado,<br />
num vaso que estava nn varanda da sala,<br />
e numa estante os coupons que faziam<br />
parte do espolio da fallecida Castanheira.<br />
O: Fonseca foi immediatamente<br />
preso, saindo na terça feira, mediante<br />
fiança.<br />
O processo segue seus termos, comjrticfindo-se<br />
o caso com a morte d'uma<br />
muliiia serva <strong>de</strong> confiança da fallecida<br />
Castanheira, que a voz publica diz fôra<br />
victima da ambição do Fonseca.<br />
Causa nos dó a situação <strong>de</strong>sgraçada<br />
em que vemos esse homem, um trabalhador,<br />
que, cego pela ambição se per<strong>de</strong>u,<br />
per<strong>de</strong>ndo também o futuro <strong>de</strong> seus<br />
filhos.<br />
As medidas <strong>de</strong> fazenda e as associaçSes<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Até hoje não vimos que os corpos<br />
gerentes da Associação dos Artistas, on<strong>de</strong><br />
éstão representadas as differentes classes<br />
da industria conimbricense, resolvessem<br />
acerca do modo como <strong>de</strong>ve ser levado ao<br />
parlamento o seu protesto contra o excessivo<br />
augmento <strong>de</strong> tributos com que o<br />
governo vem prejudicar as nossas industrias.<br />
E não se pô<strong>de</strong> dizer, com verda<strong>de</strong>,<br />
que os industriaes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> aceitam<br />
<strong>de</strong> bom grado sèmelhante extohão, que<br />
vem aggravar muitq mais as precárias<br />
circumstancias em que viveto os que trabalham<br />
dia a dia para assegurar o parco<br />
sustento <strong>de</strong> suas famílias.<br />
Não po<strong>de</strong>mos advinhar as razões que<br />
levam os corpos gerentes a um silencio<br />
tão completo, num assumpto que tanto<br />
interessa a collectivida<strong>de</strong> que a Associação<br />
dos Artistas representa, quanto mais<br />
nos lembra <strong>de</strong> a lermos visto sempre a<br />
pugnar pelos interesses da classe, <strong>de</strong>ntro<br />
dos limites que preceitua a lettra dos<br />
seus estatutos.<br />
Eguai .alta notamos se dê no Grémio<br />
dos empregados no commercio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
sempre solicito a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses<br />
da sua classe, que bem prejudicados<br />
se vem nas propostas <strong>de</strong> fazenda,<br />
o que está dando logar a reclamações<br />
energicas da parte dos caixeiros <strong>de</strong> Lisboa<br />
e Porto, que já reuniram, <strong>de</strong>cidindo<br />
enviar ao parlamento uma representação,<br />
on<strong>de</strong> se con<strong>de</strong>mne o augmento tão excessivo<br />
a uma classe pobre, cujós honorários<br />
são insignificantíssimos, havendo todas<br />
as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixarem, atten<strong>de</strong>ndo<br />
á péssima situação em que se encontra<br />
o commercio em geral.<br />
Nós esperamos ainda, que estas duas<br />
cóllectivida<strong>de</strong>s, venham em auxilio dos<br />
interesses das classes que representam,<br />
e façam ouvir os brados da sua justiça<br />
junto do parlamento, on<strong>de</strong> em breve<br />
serão apresentadas á discussão as uovas<br />
propostas que exigem do contribuinte<br />
lado da cida<strong>de</strong>, estas coUas po<strong>de</strong>m dizerse<br />
em voz baixa. Venha.<br />
As raparigas do campo, orgulhosas<br />
<strong>de</strong> passarem a cantar <strong>de</strong>ante <strong>de</strong> dois<br />
tão beilos senhores, metteram-nos no<br />
meio d'ellas, continuando a andar e a<br />
cantar.<br />
Era como um d estes coros do theatro<br />
antigo, cujos accor<strong>de</strong>s suaves temperavam<br />
as cóleras e acalmavam os e.»piritos,<br />
nas scenas dramaticas on<strong>de</strong> estalava<br />
a paixão dos reis e dos lieroes.<br />
Foram interrompidos então por uma<br />
força contra a qual era impossível luctarem,<br />
força que residia na mais graciosa<br />
fraqueza. Estes acci<strong>de</strong>trtes são frequentisssimos<br />
ua Italia, paiz on<strong>de</strong> toda a<br />
gente canta, e canta bem.<br />
As raparigas geuovezas, carregadas<br />
<strong>de</strong> flores e <strong>de</strong> fruetos, escoltavam Talormi<br />
e Paulo, é mostravám-lhes, cantando<br />
e rindo, <strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> marfim eulre lábios<br />
<strong>de</strong> cereja, e olhos soberbos que illuminavam<br />
o proprio sol.<br />
Mas era necessário tomarem o seu<br />
partido, e, coisa extraordiuaria, <strong>de</strong>pois<br />
da scena terrível que acabava <strong>de</strong> se<br />
passar, e no «meio das i<strong>de</strong>ias sombrias<br />
que agitavam estes dois homens, a graciosa<br />
. intervenção dlaquellas raparigas<br />
caminhando a seu lado corn os perfumes<br />
dos jardins, a serenida<strong>de</strong> dos campos e<br />
a melodia das suas vozes, arrancou sorrisos<br />
a dois rostos <strong>de</strong>vasíados pela febre<br />
das mais violentas paixões. Paulo e Ta-<br />
gran<strong>de</strong>s sacrifícios impossíveis <strong>de</strong> satisfazer.<br />
E tanto mais esperamos isto, quanto<br />
é certa a confiança, que nos merecem<br />
os corpos gerentes das duas associações<br />
que hão <strong>de</strong> querer manter com dignida<strong>de</strong><br />
as suas honrosas tradicções.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
NA FACULDADE DS DIREITO<br />
Dia 5<br />
1.° anno - Antonio Barreto d'AImeida<br />
Soares Lencastre, Antonio Casimiro<br />
da Cruz Teixeira Júnior, Antonio<br />
Correia Teixeira <strong>de</strong> Yasconcellos Portocarrero<br />
e Antonio Domingues Jacintho<br />
Maia.<br />
2.° anno — Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Castro Pereira<br />
e Solla, Ama<strong>de</strong>u Fernan<strong>de</strong>s da Silva<br />
Pinto e Abreu, Ama<strong>de</strong>u Gonçalves Guimarães<br />
e André Lopes da Motta Capitão.<br />
3.° anno—Alvaro da Costa Machado<br />
Vilella e Antonio Biscaya <strong>de</strong> Ma-<br />
ÇHf, ,. li .< V - •'•> i
A S S O í — 31/
0 1<br />
Defensor J p<br />
"\ ANNO I <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 94<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO V l V / J-,' X X ^ V ; "<br />
• • . • • • . - . . . i-itti U i . : . . I •.!'< ..11! Ill» «>ilii .-.I ,<br />
Falia a provincial<br />
Durante dias successivos, o jornal<br />
Novida<strong>de</strong>s, transcreveu, subordinando-os<br />
ao titulo do nosso artigo,<br />
os trechos da imprensa da província<br />
que atacavam a entrada <strong>de</strong><br />
Burnay no parlamento.<br />
Do nosso jornal vimos lá t/anscriptas<br />
algumas palavras, honra <strong>de</strong><br />
tal modo subida, que nos leva a dizer<br />
mais alguma coisa ainda a proposilo<br />
do famoso belga, isto em<br />
agra<strong>de</strong>cimento á gentileza do collega.<br />
*<br />
Falia a provínciae falia contente<br />
porque, durante alguns mezes,<br />
Burnay não será <strong>de</strong>putado; mas a<br />
província diz ainda mais do que<br />
isto, a província pergunta mais alguma<br />
coisa:— Burnay será posto<br />
na fronteira? Burnay será mettido<br />
na penitenciaria? Burnay continuará<br />
sendo recebido pelos monarchas,<br />
pelos ministros, pelos influentes políticos<br />
mais importantes?<br />
Burnay continuará sendo o collaborador<br />
da rainha em actos <strong>de</strong><br />
carida<strong>de</strong>, pagos á cusla do thesouro?<br />
Burnay continuará a ser agraciado,<br />
con<strong>de</strong>corado pelo rei?<br />
*<br />
Estas perguntas fazemol-as porque<br />
apezar <strong>de</strong> tudo o que se disse<br />
contra o banqueiro, nada se escreveu<br />
contra os que d'elle são cúmplices,<br />
amigos, collegas, collaboradores<br />
na obra <strong>de</strong> <strong>de</strong>boche financeiro<br />
que nos apressou a bancarrota.<br />
Fazemos estas perguntas porque<br />
o facto <strong>de</strong> Burnay não entrar<br />
hoje na camara dos <strong>de</strong>putados, não<br />
impe<strong>de</strong> que elle confmue a ser o<br />
mesmo Burnay que traficou <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong><br />
com os regeneradores, que<br />
traficou <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> com os progressistas<br />
e que ha <strong>de</strong> traficar com<br />
lodos os quadrilheiros que apparecerem<br />
no matagal da polilica, fazendo<br />
chantage a proposito <strong>de</strong> tudo.<br />
E perguntámos mais se é Burnay<br />
simplesmente o criminoso ou<br />
se as Novida<strong>de</strong>s do sr. Collen, director<br />
da moralida<strong>de</strong> publica, e o<br />
Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> o correspon<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> Lisboa tanto falia na<br />
altivez do sr. Alpoim, não conhecem<br />
mais vinte ou trinta traficantes<br />
tão bons como Burnay e só inferiores<br />
a elle por não po<strong>de</strong>rem ter accumulado<br />
lanlo dinheiro ?<br />
João Chagas<br />
Regressou ao Porto este energico<br />
jornalista republicano, experimentando<br />
Jjoucas melbqras em Braga, on<strong>de</strong> esteve<br />
algumas semana;.<br />
Pezarosos nos sentimos com este<br />
acontecimento, e oxalá que os <strong>de</strong>sejos<br />
<strong>de</strong> vermos restabelecido tão distincto<br />
porreljgionario em breve sejam satisfeitos.<br />
Alcance na recebedoria<br />
<strong>de</strong> Portalegre<br />
Segundo o balanço que se proce<strong>de</strong>u<br />
o alcance na recebedoria <strong>de</strong> Portalegre<br />
é <strong>de</strong> 16:19S$S31 réis.<br />
Ignora-se por emquanto ainda on<strong>de</strong><br />
esteja o recebedor Joaquim Luiz Machado,<br />
pondo-se <strong>de</strong> parte a hypothese <strong>de</strong><br />
que elle se tivesse suicidado.<br />
Notas impressionistas<br />
VIU<br />
Emigremos!<br />
Eia, rapazes ! O sol do S. João dar<strong>de</strong>ja<br />
ríspido na nossa epi<strong>de</strong>rme, requeimando-a.<br />
Parece que habitamos a soturnida<strong>de</strong><br />
d^im forno. Não voga uma vira -<br />
çãosinha que nos suavise. A sombra já<br />
não tem a frescura d'abril que dá ás<br />
almas irrigações consoladoras. Da pelle<br />
escoam secreções sebosas <strong>de</strong> suor, que<br />
<strong>de</strong>stiila, luzente.<br />
Nada! Vivemos adormecidos pelo<br />
opío da modorra, a alma, dolente, espumando<br />
spleen. Pois emigremos para o<br />
Choupal, pleno antídoto para este transe<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> aneurastesia...<br />
Vamos, meus amigos, emigremos para<br />
o Choupal, avigorar esta vida se<strong>de</strong>ntária<br />
<strong>de</strong> parasitas lúbricos, corrigir esta<br />
baixa existência <strong>de</strong> doentes.<br />
Vamos dar alma ao corpo e vigor ao<br />
espirito. Alli, longe do bulício dos barbaros,<br />
auscultando a Natureza no que<br />
ella lem <strong>de</strong> mais grani, <strong>de</strong>sprendidos<br />
numa beatitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> monges... — o trillar<br />
rythmico dos passarinhos, o ciciar<br />
morno dos cltoupos e das aceacias, perpassados<br />
por uma brisa lenue... —ai!<br />
meus amigos, como isto extasia, como<br />
longos haustos <strong>de</strong> volúpia inflam todo o<br />
meu ser nevrotico, allucinado f...<br />
Cá eslamos. O sol forte do S. João<br />
bate ri<strong>de</strong>nte nas cristas dos choupos que<br />
formam alas á nossa passagem. Cada<br />
choupo assimitla um enorme pára-sol;<br />
e nós passamos, risonhos e sensuaes,<br />
sob esta abobada florente <strong>de</strong> pára-ioes<br />
que lá em cima oscillam ao bater quente<br />
do sol. Cá em baixo, apenas, agora e<br />
além, se escóa algum raio, que, philaucioso,<br />
atravessou a ramaria selim-ver<strong>de</strong><br />
d'algum pára-sol velhinho.<br />
E a gente cá vae, risonho e sensual,<br />
sentindo-se languido ante a fecundia<br />
luxuriante da Natureza e alando-se<br />
ás regiões i<strong>de</strong>aes da via lactea ,on<strong>de</strong> nos<br />
arrebatam sonhos quentes volvidos em<br />
braços niveos <strong>de</strong> mulheres 1.. .<br />
Paremos aqui. Atapetam-nos o chão<br />
amplas orlas <strong>de</strong> relva ver<strong>de</strong>, setinea,<br />
on<strong>de</strong> a gente se esten<strong>de</strong> patriarchalmente,<br />
num supremo á vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> selvagens.<br />
Por cima éobre-nos uma frondosa ramaria<br />
ver<strong>de</strong>, acariciadora, formando store. Acolá,<br />
floresce um canteiro <strong>de</strong> dhalias que<br />
ver<strong>de</strong>jam, occultas como namoradas. Ao<br />
nosso lado, aquelle rouxinol — vêem?—<br />
estribilho umas estrophes lindas e nervosas,<br />
cheias <strong>de</strong> musica e <strong>de</strong> poesia.<br />
Ha aqui a solemnida<strong>de</strong> tocante d'um<br />
templo, mas d'um templo ameno on<strong>de</strong><br />
vive a Poesia e on<strong>de</strong> a Arte se expan<strong>de</strong><br />
com fervor.<br />
Vae <strong>de</strong>clinando o dia. O sol, que<br />
ora assesta <strong>de</strong> ilharga na ramaria, vae<br />
menos insistente e ríspido, alquebrado<br />
como um vencido.<br />
Por fim submerge-se — eile lá vae!<br />
— <strong>de</strong>ixando a faiscar no horigonte azulourado<br />
uma fímbria rutilante <strong>de</strong> pedras<br />
multicores. Esta a hora santa da Poesia,<br />
hora dos myslerios, hora dos namorados.<br />
Anoiteceu. E agora — olhem! olhem!<br />
— uma aluvião luzente <strong>de</strong> pyrilampos<br />
ahi anda a saltitar garotamente. E' uma<br />
família que se diverte. Vejam aquelle<br />
fervilhar insistente, rutilo, mysterioso,<br />
sem ruído, anthitese frisante da vida dos<br />
homens, turbulenta, rústica, insolente.<br />
Eu linto <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> saber sfi esta serenida<strong>de</strong><br />
mystica dos pyrilampos, não é<br />
uma erratura á má-lingua verbhorrosa"<br />
da humana gente...<br />
.. .Boa, noite, Natureza amiga! Emquanto<br />
no teu seio opulento existirem as<br />
tuas flores, os leus passarinhos, os teus<br />
pyrilampos, eu serei o mais grato dos<br />
teus namorados. Boa noite !<br />
9 <strong>de</strong> junho.<br />
Gri-gri.<br />
Os collegios jesniticos<br />
(CONTINUAÇÃO)<br />
Não basta a longa série <strong>de</strong> praticas<br />
<strong>de</strong>votas a que se sujeitam os collegiaes<br />
e que enumerámos no artigo ultimo.<br />
Os jesuítas enten<strong>de</strong>m que a educação<br />
religiosa dos alumnos (içaria incompleta,<br />
se os não sujeitassem durante ires<br />
dias em cada anno aos afamados exercidos<br />
espirituaes.<br />
Ainda hoje nos lembrámos com horror<br />
d'esses dias <strong>de</strong> marlyrio, em que o<br />
espirilo anda cheio <strong>de</strong> imagens tétricas,<br />
capazes <strong>de</strong> atemorisar o mais forte.<br />
O <strong>de</strong>sassocego do espirito, a que levam<br />
o alumno, vem claramente exposto<br />
numa carta <strong>de</strong> um estudante <strong>de</strong> medicina,<br />
ex-alumno <strong>de</strong> um collegio jesuítico,<br />
ao sr. Manoel Borges Grainha e que<br />
este transcreve no Portugal Jesuíta.<br />
Neila se diz :<br />
«Acabo <strong>de</strong> lér o teu livro, Os jesuítas,<br />
etc., e nelle noto que, sem quereres<br />
fazer estylo, és na verda<strong>de</strong>,<br />
quanto se pô<strong>de</strong> ser, sincero, fiel e verda<strong>de</strong>iro...<br />
Quem lér o teu livro, DO<br />
que diz respeito aos exerrícios espirituaes,<br />
verá logo pela simples leitura,<br />
porque torturas e martyrios não passará<br />
aquelle que está <strong>de</strong>baixo do seu<br />
jugo, ou antes, tyrannia religiosa...<br />
Nem me quero lembrar d'esses tempos<br />
<strong>de</strong> horror, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sassocego constante<br />
d'espirito, d'esse mal estar continuo<br />
<strong>de</strong> consciência esphacelada .por<br />
um não sei quê vago, in<strong>de</strong>finido, imaginário,<br />
uma vida toda espirito, toda<br />
imaginação, em que a alma mordida,<br />
macerada por mesquinhos preconceitos,<br />
terrores infernaes, por vezes viu<br />
apagada a luz da razão.»<br />
Depois d'estes exercícios, se o ainmno<br />
não tem coragem para reagir e para<br />
se libertar da suggestão que sobre elle<br />
exercem, torna se um ente sem vonla<strong>de</strong><br />
própria, completamente dócil á vonla<strong>de</strong><br />
do superior que o conduzirá, on<strong>de</strong> quizer.<br />
E se nos lembrarmos que a acção<br />
dos exercícios é continuada <strong>de</strong>pois pelo<br />
padre espiritual, principalmente, veremos<br />
quanto tem <strong>de</strong> horrorosa tal educação,<br />
-sqooí s»j> ?bt-i.sn^n ?wb "í.^a^udo *<br />
É nos exercícios esptriluaes, feitos <strong>de</strong><br />
diversas formas, segundo as pessoas qtie<br />
a elles concorrem, que os jesuítas têm<br />
maior confiança. E' uma machina <strong>de</strong> tal<br />
fórma montada que raramente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />
produzir os resultados que <strong>de</strong>sejam.<br />
E' por isso que a Companhia procura<br />
com tanto afan que o maior numero<br />
<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> todas as classes concorra<br />
a elles, e é para obter esse resultado<br />
que <strong>de</strong>staca pelas aldêas os seus famosos<br />
missionário», tornando-se assim a<br />
sua acção mais geral.<br />
O que se procura com os exercidos,<br />
como é fácil <strong>de</strong> prever, é incutir no<br />
animo do individuo a <strong>de</strong>sconfiança <strong>de</strong> si<br />
mesmo e <strong>de</strong> todos os que o ro<strong>de</strong>iam,<br />
tendo apenas confiança illimilada no superior<br />
jesuíta, no director espiritual.<br />
D'aqui vem, como diz Edgar Quinei,<br />
que a <strong>de</strong>lação está inscripta, como fundamento<br />
da Constituição <strong>de</strong> Loyola E<br />
visto que o espirilo por si só nada pô<strong>de</strong><br />
nem <strong>de</strong>ve inspirar, d'aqui vem lambem<br />
a obediencia cega, a morte volunlaria<br />
da consciência, a repressão necessaria e<br />
sy-lematica dos gran<strong>de</strong>s instinctos.<br />
A obediencia cega é a gran<strong>de</strong> regra<br />
da Companhia. Que a humanida<strong>de</strong>, na<br />
phrase do citado escriptor, se sujeite<br />
como uma bengala na mão d'um velho,<br />
ut senis baculus 1 E' o testamento do fundador,<br />
é lambem o ultimo voto da Companhia.<br />
As pessoes insensíveis aos efleitos<br />
dos eiercicios espirituaes, diz Huber,<br />
não são aptas a servir os <strong>de</strong>sígnios da<br />
Companhia.<br />
Este escriptor na sua notável obra<br />
Os jesuítas (Der Jestiiten-Or<strong>de</strong>n), cuja<br />
traducção franceza <strong>de</strong> Alfred Marchand,<br />
temos sobre a nossa banca d'estudo,<br />
apresenta-nos um capitulo especial sobre<br />
estes exercícios.<br />
O Portugal Jesuíta, na sua 3." parte<br />
--meios <strong>de</strong> propaganda—traz também<br />
um esplendido capitulo sobre o mesmo<br />
assumpto.<br />
Em qualquer d'esles livros se mostra<br />
que os exercícios espirituaes são impostos<br />
a varias classes <strong>de</strong> pessoas: aos a<strong>de</strong>ptos<br />
e aos membros da Or<strong>de</strong>m; po<strong>de</strong>m ser<br />
cumpridos egualmente por ecclesiasticos<br />
e leigos, ainda que não mantenham relações<br />
estreitas com a or<strong>de</strong>m. E segundo<br />
as classes <strong>de</strong> pessoas, assim têm maior<br />
ou menor duração; nos collegios, como<br />
já dissémos, duram tres dias, assim<br />
como os exercícios ao povo; para os ecclesiasticos<br />
seculares em geral duram oito<br />
dia«; para os membros da Or<strong>de</strong>m um<br />
mez.<br />
Também se têm feito em varias casas<br />
<strong>de</strong> jesuítas exercícios ás senhoras<br />
!<br />
Ainda não ha muito que a este respeito<br />
nos foram contadas coisas extraordinarias<br />
por ura estudante <strong>de</strong> Braga,<br />
on<strong>de</strong> se têm feito e á porta feohada!<br />
Seria curioso um estudo- sobre os<br />
exercícios a estas diversas classes <strong>de</strong><br />
pessoas e havemos <strong>de</strong> aqui apresenlal-o<br />
mais tar<strong>de</strong>; hoje occupar-nos-hemos somente<br />
dos exercicits aos collegiaes.<br />
*<br />
Nas regras do Directoria dos exercidos,<br />
entre outras coisas, preceitua-se<br />
que o jesuita <strong>de</strong>ve acautelar-se especialmente<br />
<strong>de</strong> fazer suspeitar que se quer<br />
altrahir alguém ao eslado religioso por<br />
meio dos exercícios e que «as melhores<br />
occasiões para induzir qualquer individuo<br />
a fazer os exercícios são quando tenha<br />
alguma afilicção interior ou exterior,<br />
quando os seus negocios não corram<br />
bem, quando seja tratado mal pelos<br />
seus proprios parentes ou amigos, ou<br />
quando se dêem outras causas similhantes.»<br />
Durante os exercícios o individuo<br />
mergulha-se num completo silencio, e<br />
or<strong>de</strong>na-se-lhe que afaste <strong>de</strong> si qualquer<br />
lembrança que possa produzir-lhe alegria<br />
, meditando simplesmente no que o<br />
instructor lhe propuzer.<br />
As meditações fazem-se numa sala<br />
apropriada, forrad,a <strong>de</strong> pannos escuros e<br />
alumiada apenas pela luz <strong>de</strong> alguma*<br />
vellas. Pí? extremo da sala, proximo ao<br />
estrado do sacerdote encontra-se uma<br />
mesa, on<strong>de</strong> se improvisa um altar, no<br />
qual se colloca um gran<strong>de</strong> Christo crucificado<br />
com algumas caveiras em volta.<br />
A primeira meditação consiste sobre<br />
o fim do homem, o peccado e o inferno;<br />
a segunda sobre o ensino <strong>de</strong> Christo e<br />
sobre a sua vida, até á Paixão ; a treceira<br />
sobre a Paixão; e a quarta sobre a Resurreição.<br />
A meditação, como diz Huber, <strong>de</strong>ve<br />
ser levada alé á allucinação.<br />
Na primeira meditação, como diz este<br />
escriptor, e temos a própria experiencia,<br />
contempla-se o fim do homem que é louvar<br />
a Deus. veneral-o e procurar a felicida<strong>de</strong><br />
servindo-o. Tudo o que a terra<br />
contem foi creado para o homem, para<br />
que d'elle se sirva ou se abstenha, segundo<br />
o approxime ou afaste do seu fim.<br />
Não <strong>de</strong>vemos escolher nem <strong>de</strong>sejar senão<br />
o que se referir á salvação da nossa<br />
alma; a respeito do resto, é-nos or<strong>de</strong>nada<br />
a indjfferença completa, <strong>de</strong> sorte que<br />
antes procuremos » doença do que a<br />
saú<strong>de</strong>, e que prefiramos a pobreza á riqueza,<br />
o <strong>de</strong>sprezo ás honras, uma vida<br />
curta a uma vida longa.<br />
Esta indifferença, diz ainda Huber,<br />
é da mais alta importancia: tanto mais<br />
fundos são os alicerces, tanto mais sólido<br />
é o edifício.<br />
E' assim que começa a pren<strong>de</strong>r-se o<br />
espirito do alumno e a conceber uma<br />
certa norma <strong>de</strong> viver com a qual, se<br />
fosse levada a cabo, nada lucraria a socieda<strong>de</strong>,<br />
antes pelo contrario.<br />
Já por esta meditação se vê que se<br />
preten<strong>de</strong> que o alumno não tenha outro<br />
fim senão o procurar a salvação da alma<br />
pelo que chamam perfeito cumprimento<br />
dos <strong>de</strong>veres religiosos! Começa a pensar<br />
nas bellezas do isolamento da socieda<strong>de</strong>,<br />
no <strong>de</strong>sprezo das coisas humanas,<br />
na renuncia aos bellos sentimentos da<br />
amiza<strong>de</strong>, da familia e até da própria palria.<br />
Tristes concepções dos <strong>de</strong>veres a<br />
cumprir I Tristes resultados <strong>de</strong> péssimos<br />
santimentos!<br />
QA. S.<br />
— —<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Os tabelliães <strong>de</strong> notas do concelho<br />
da Maia adheriram ás reclamações apresentadas<br />
pelos seus collegas <strong>de</strong> Lisboa,<br />
relativamente á taxa <strong>de</strong> 15 °/o <strong>de</strong> contribuição<br />
industrial sobre dois terços dos<br />
emolumentos a que tem direito, e remetteram<br />
uma representação, sobre este<br />
assumpto, ao parlamento.<br />
* Por intermedio do sr. governador<br />
civil do Porto, os agentes comraerciaes<br />
vão enviar ao parlamento uma energica<br />
representação contra as medidas<br />
Iributarias, na parte que lhes aggrava o<br />
imposto industrial.<br />
A phylloxera<br />
Escrevem do Fundão: a phylloxera<br />
vae alastrando <strong>de</strong> anno para anno a esphera<br />
da sua acção, e a sua influencia<br />
accentua-se d'um modo assustador nas<br />
freguezias <strong>de</strong> Valver<strong>de</strong>, Fundão e Valle<br />
<strong>de</strong> Prazeres, on<strong>de</strong> a colheita este anno<br />
<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ravelmente reduzida. E'<br />
uma calamida<strong>de</strong> em uma região essencialmente<br />
vinhateira como esta.<br />
E o sr. Fuschini a exigir do contribuinte<br />
mais dinheiro, quando a industria,<br />
commercio e agricultura se veem a<br />
braços com uma crise medonha!<br />
E' não ler consciência.<br />
A querella da Batalha<br />
Confirma-se a noticia <strong>de</strong> que o sr.<br />
Burnay move processo <strong>de</strong> querella contra<br />
o nosso estimado collega a Batalha.<br />
Nada espanta ; quando vimos a audacia<br />
d'esse estrangeiro a querer tomar<br />
assento no parlamento, como representante<br />
do paiz que elle tem insultado e<br />
roubado, sob a guarda protectora da polilica<br />
monarchica 1 ! I<br />
Crise ministerial<br />
O camaroeiro da politica parece que<br />
annunciava borrasca para breve. Prevê-se<br />
que do chaveco ministeriat sejam alijados<br />
os srs. Fuschini e Bernardino Machado,<br />
tripulantes que se tem mostrado<br />
pouco hábeis nas manobras.<br />
E não se falia lambem em que o<br />
financeiro-mór d'estes reinos, o sr. Mariano<br />
<strong>de</strong> Carvalho, irá <strong>de</strong> novo para a<br />
pasta da fazenda ? !...<br />
E é que neste paiz nada nos <strong>de</strong>ve<br />
causar surpreza...<br />
Bibliographia<br />
A Patria — poemeto do sr. Manoel<br />
Augusto d'Amaral.<br />
Do seu auctor acabamos <strong>de</strong> receber<br />
este opusculo, que em estrophes vibrantes<br />
con<strong>de</strong>mna a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia do<br />
nosso paiz.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos.<br />
Subsidio aos <strong>de</strong>putados<br />
Diz-se que em breves dias será presente<br />
á camara popular um <strong>de</strong>creto que<br />
restabeleça o subsidio aos <strong>de</strong>putados,<br />
revogando assim a lei do sr. Dias Ferreira.<br />
Isto é uma completa farça! Em nome<br />
das precarias circumstancias do thesouro<br />
suppriraiu-se o subsidio aos eleitos do<br />
pnvor e agora que se pe<strong>de</strong> ao paiz mais<br />
impostos, para acudir ás necessida<strong>de</strong>s do<br />
Estado, vae pagar-se aos <strong>de</strong>putados!<br />
E o que tem mais pilhéria é que o<br />
novo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong>rterminará que o pagamento<br />
seja feito em todo o lempo que<br />
tiveram <strong>de</strong> exercício sem vencerem.<br />
Que sublimes pantomimeiros 1
ASSO l — S." 94<br />
•sq enq^iq ssi<br />
• «S19Y6Í) ÍO<br />
kOfflitesq cb<br />
•sim*<br />
C R Y S T A B S<br />
O L H A K A Z T I L ...<br />
Na phantasia i<strong>de</strong>al d'um sonho <strong>de</strong>licado<br />
Vesti-te cora o azul da abbohada dos ceus<br />
MMMH<br />
— 0 teu rosto gentil ficou illuminado<br />
— 0 manto côr <strong>de</strong> luz pousou nos hoiubros teus.<br />
— No teu cabello d'oiro engrinal<strong>de</strong>i uni astro,<br />
Cobri as tqas mãos pequenas, e tão bellas<br />
E calcei esses teus pésitos d'alabastro<br />
Com cem fulgor'» d aurora e mil clarões d'estrellas!<br />
Comtemplei-te <strong>de</strong>pois: estatua da belleza!<br />
Eras perfeita —Mas... extremo <strong>de</strong> surpreza:<br />
Dentre tudo o que mais fazia <strong>de</strong>slumbrar<br />
Era dos olhos teus a luz abençoada,<br />
Que olfuscava com seu fulgente scintillar.<br />
As estrellas o azul, os astros, a alvorada !...<br />
L E T T R A S<br />
O lavrador<br />
AUGUSTO DK MKSQUITA.<br />
res se per<strong>de</strong>m no ar, ou vão .consolar<br />
enamorados corações.<br />
O lavrador ao pé da.sua eira, ro<strong>de</strong>ado<br />
<strong>de</strong> suas messes, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma<br />
arvore que plantou seu pae e que <strong>de</strong>ixa<br />
cahir sobre elle seus ramos, oflerecendo-<br />
Ilie mimosos fruetos; recostado aos quadris<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus bois, que, jungidos,<br />
o olham submissos como que esperando<br />
pelo trabalho; vendo cruzar nos ares a<br />
branca pomba, a quem presta asylo, e<br />
pastar a seus pés o cor<strong>de</strong>iro que apascepta;<br />
entoando cantares melancólicos,<br />
que semelham o ruído das folhas seocas<br />
do outonino; é um artista da natureza.<br />
O DEFENSOR DO POVO<br />
*<br />
A conclusão a respeito<br />
dos novos fra<strong>de</strong>s em perspectiva<br />
Vimos os fins que tinha etQ vista o<br />
legislador quando resolveu <strong>de</strong>cretar a<br />
extincção das or<strong>de</strong>ns religiosas, e é sabido<br />
que. um d'e!les era libertar a terra<br />
e franqueai a á circulação pelas transmissões<br />
e transacções, mas que fins terão<br />
agora em vista os preten<strong>de</strong>ntes da creação<br />
das novas congregações fra<strong>de</strong>scas,<br />
porque as outras eslão mortas e quem<br />
eslá morto não resuscita ?<br />
É este um phenomeno que nos não<br />
parece fácil <strong>de</strong> explicar e tanto mais<br />
difficil quando é certo que cooperam para<br />
o mesmo nefando fim elementos <strong>de</strong> dois<br />
partidos—o miguelista e o constitucional<br />
— unidos por um connnbio in<strong>de</strong>cente e<br />
que moral e politicamente, seria inadimissível<br />
entre genle que militou em campos<br />
contrários e que reciprocamente se<br />
hosiílísou até ao extermínio e á morte,<br />
se da parte <strong>de</strong> um d'elles, ao menos,<br />
houvesse brios e sentimentos nobres.<br />
Quanto a nós afEgurn se-nos que<br />
toda esta manobra Conspira ao mesmo<br />
fim, isto é, a combater o partido republicano<br />
até o anniquillar, se lanlo fosse<br />
possível, porque o consi<strong>de</strong>ram como inimigo<br />
politico commum e que é intransrgivel,<br />
mas isso não po<strong>de</strong>riam jámais<br />
consegtiil-o, porque o i<strong>de</strong>al d'este é o<br />
mais natural, o mais racional, o verda<strong>de</strong>iro,<br />
e porque as i<strong>de</strong>ias não se matam,<br />
nem morrem.<br />
o<br />
dos bons e dos maus constitucionaes,<br />
dos quaes muitos estão gozando as riquezas<br />
dos fra<strong>de</strong>s, por pouco, ou por<br />
nenhum dinheiro, não veem nas or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas ura perigo para a liberda<strong>de</strong>,<br />
mas sim um elemento d'alta conveniência<br />
para fins nefastos e antisocines, e <strong>de</strong><br />
propaganda e combate contra o republicanismo.<br />
Parece estarem sonhando com nova»<br />
e grandiosas accumulações <strong>de</strong> bens para<br />
no futuro cairem nas garras d'outrns<br />
harpias; mas puro engano, porque era<br />
preciso edificar centenas <strong>de</strong> casas que,<br />
pelo preço actual, custariam muitos milhões,<br />
e não ha bago, o thesouro está<br />
limpo, como limpos ficaram os conventos,<br />
e para enriquecer os novos conventos<br />
era preciso o concurso <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> dotes, e já não haveria tolos que<br />
cãissem cm as dar para mais tar<strong>de</strong> serem<br />
<strong>de</strong>vorados por outros abutres.<br />
Bernardo José Cor<strong>de</strong>iro.<br />
Taboa, 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
EM SURDINA<br />
«El-rei agraciou o sr.<br />
bispo <strong>de</strong> Beja cóm a grãcruz<strong>de</strong><br />
Ghristo; e o mestre<br />
da banda do regimento 17<br />
vae ter o habito <strong>de</strong> S.<br />
Thiago.<br />
11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> IO8 3<br />
tão poucas são estas casas <strong>de</strong>stinadas á<br />
vendagem <strong>de</strong> carnes frescas, que constantemente<br />
se improvisam tendas ao<br />
ar livre, estando a attestar o sol<br />
nas peças <strong>de</strong> carne, cheias <strong>de</strong> mosquedo<br />
e <strong>de</strong> vareja.<br />
O que ahi fica escripto não é invenção<br />
nossa; vê-se dia a dia, todos os annos,<br />
<strong>de</strong>vido á pouca attenção que as camaras<br />
prestam aos negocios municipaes<br />
e melhoramentos da cida<strong>de</strong>.<br />
Neste merendo não ha latrinas nem<br />
orinoes proprios para ambos os sexos, <strong>de</strong><br />
fórina que as necessida<strong>de</strong>s eventuaes<br />
são satisfeitas do lado do sul da praça,<br />
que se converte numa perfeita sentina<br />
e que está sendo aproveitado agora<br />
para a gente rural que vem ao mercado<br />
ven<strong>de</strong>r hortaliças e fruclas!<br />
E comtudo sabemos que as receitas<br />
do mercado sobem todos os annos, sem<br />
que as camaras tenham dispensado a mínima<br />
quantia para melhorar as suas péssimas<br />
condições.<br />
Com a actual vereação ainda resta<br />
uma esperança,» cuniprir-se o que ouvimos<br />
antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser eleita: na<br />
lista dos melhoramentos que ella planeou<br />
figura a conslrucção <strong>de</strong> um novo mercado<br />
; e a realisar-se esta obra, prestam os<br />
novos administradores da fazenda municipal<br />
um gran<strong>de</strong> serviço a esta cida<strong>de</strong>,<br />
sendo poucos todos os louvores para os<br />
iniciadores d'este melhoramento.<br />
O lavrador é o rei da natureza, mas<br />
o escravo tombem da socieda<strong>de</strong>.<br />
Os céos offereceni rocio á sua obra,<br />
fecunda-a o sol, o ar coiíserVa-a, a terra<br />
alinienta-a, as estrellas velam suas noites,<br />
e todos os eccos <strong>de</strong> creação são os cantares,<br />
que ou celebram o seú nascimento<br />
ou pranteiam a sua morte. Todos os germens<br />
da vida que o alento do creador<br />
<strong>de</strong>rramou no espaço, como semente dos<br />
seres, fecundam, brotam e crescem ao<br />
sopro <strong>de</strong> lavrador. De sorte que os seus<br />
braços são como o instrumento <strong>de</strong> que<br />
DQUS se vale para aperfeiçoar a sua<br />
íffcbb i £ o bani D or J ifíiiih riu
4YM> I — O DEFENSOR DO POVO ll|«1e junho <strong>de</strong> 1893<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
FACULDADE DE MEDICINA<br />
Dia 7<br />
1." anno — Antonio Cesar Rodrigues,<br />
formado em medicina pela Univer<br />
sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Edimburgo, na Escossia (Gran<br />
Bretanha); Ama<strong>de</strong>u Werneck d'Aguilar,<br />
formado em medicina peia <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> Tubingue, no Wartembcrg (império<br />
allemão).<br />
2." anno — Adriano Luiz d'Oliveira<br />
Peça e Fre<strong>de</strong>rico Augusto Sanches <strong>de</strong><br />
Pereira <strong>de</strong> Moraes.<br />
3.° ai\no— Carlos Leite Monteiro e<br />
Angelo Pereira Dias Ferreira.<br />
4 0 anno — A<strong>de</strong>lino Vieira <strong>de</strong> Campos<br />
<strong>de</strong> Carvalho e Alfredo Abilio da Rocha<br />
Peixoto.<br />
Dia 8<br />
1." anno—Anthero Augusto Ferreira<br />
<strong>de</strong> Magalhães.<br />
Houve uma reprovação.<br />
2." anno — João Avelino Pereira da<br />
Rocha e José Maria Cardoso.<br />
3.° anno — Anselmo Patrício e Antonio<br />
d'Ahreu Freire.<br />
4* anno — Anlonio Couceiro Martins<br />
u Antonio Ferreira <strong>de</strong> Paiva Sampaio.<br />
Dia 10<br />
1." anno — Antonio Fernan<strong>de</strong>s Pires<br />
Padinha e Antonio Olympio Cagigal.<br />
2." anno — Manoel Anlonio Martins<br />
Pereira.<br />
3.° anno — Anlonio da Costa Almeida<br />
e Antonio Gonçalves.<br />
4° anno—Antonio Maria Dias <strong>de</strong><br />
Oliveira e Antonio dos Sanlos Cor<strong>de</strong>iro.<br />
i-O^r^n. SMSS<br />
FACULDADE DIS DIREITO<br />
Dia 8<br />
1.° anno ^ Eduardo d'Alineida Saldanha,<br />
Eduardo Pinho d'Almeida e Ernesto<br />
Augusto Garcia Marques.<br />
Houve uma reprovação.<br />
2.° anno — Arnaldo Augusto d'AImeida<br />
Bigotte <strong>de</strong> Carvalho, Arnaldo Fragateiro<br />
<strong>de</strong> Pinho Branco, Arthur <strong>de</strong> Mesquita<br />
Guimarães e Augusto Borges d'Oliveiía.<br />
3.° anno — Arthur Maciel <strong>de</strong> Faria<br />
Machado e Augusto Cesar Nogueira.<br />
4° anno — Antonio Alberto Charula<br />
Pessanha e Anlonio Carlos da Costa Botelho<br />
Moniz!'<br />
5." anno — Alvaro Miranda Pinto <strong>de</strong><br />
Vasconcellos e Américo Claro da Fonseca.<br />
Dia 10<br />
1." anno — Francisco Lebre <strong>de</strong> Sousa<br />
e Vasconcellos, Jayme Duarte <strong>de</strong> Moraes<br />
Silva e João Pereira Soares da Mc;tta.<br />
Houve uma reprovação.<br />
2.° anno — Augusto Cesar Ribeiro<br />
Lima, Augusto Fernan<strong>de</strong>s Correia, Augusto<br />
Francisco <strong>de</strong> Assis e Augusto Lopes<br />
Men<strong>de</strong>s e Silva.<br />
Folhetim do Defensor do POYO<br />
J. MÉRY<br />
A mu § I P I<br />
XIII<br />
O prestidigitador da morte<br />
.. .Bah? Que está para ahi a falar em<br />
ar natal! Ha por ventura ar natal no<br />
Tosso Paris? A vida está aqui, <strong>de</strong>baixo<br />
do nosso ceu, no meio das larangeiras era<br />
flor, á borda do no »ft t n<br />
•—Lavega talvez para as índias, disse<br />
o cônsul inglês.<br />
— Mas-, disse um couviva indifferenle,<br />
madame Van Ritter lem recebido, sem<br />
duvida, noticias do seu marido...<br />
— Nem mesmo sua mulher, disse o<br />
marquez.<br />
— Tem a visto, marquez? perguntou<br />
o cônsul.<br />
— Vi-a hoje, ás 3 horas, ao levantar<br />
se da cama.<br />
Uma gargalhada discreta circulou em<br />
volta da meza.<br />
— Então' çra casa da sua bella genovera,<br />
marquez, só amanhece ás tres horas<br />
da tar<strong>de</strong>?<br />
— Mas, realmente, disse o mrrquez,<br />
que querem os senhores que faça uma<br />
<strong>de</strong>senvolveu em procurar soccorros para<br />
um incêndio em Cozelhas, pela 1 hora<br />
da noite <strong>de</strong> 24 do corrente, e nos trabalhos<br />
<strong>de</strong> rescaldo em que se occupou<br />
com outros bombeiros municipaes.<br />
Mandou intimar o proprietário Viciorino<br />
Henriques Lebre, para fazer collocar<br />
a caleira para as aguas que retirou<br />
da sua casa tia run <strong>de</strong> Ferreira Borges.<br />
Auctorisou o arrendamento da casa<br />
n. c 57 na rua da Sophía, para a escóla<br />
<strong>de</strong> ensino elementar e completamenlar<br />
dó sexo" feminino dà freguezia <strong>de</strong> Santa<br />
Cruz e habitação da professora.<br />
Altestou favoravelmente ácerca d'uma<br />
petição para a concessão d'um subsidio<br />
<strong>de</strong> lactação para um filho natural <strong>de</strong><br />
Anna <strong>de</strong> Jesus, da rua Direita.<br />
Mandou passar licença para apascentamento<br />
<strong>de</strong> cabras a um proprietário do<br />
Chão do Bispo. <<br />
Resolveu pedir provi<strong>de</strong>ncias ao cliefe<br />
do districto ácerca da existencia <strong>de</strong> corraes<br />
<strong>de</strong> gado <strong>de</strong>ntro do perímetro da cida<strong>de</strong>,<br />
consi<strong>de</strong>rados estabelecimentos insalubres<br />
pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 21 d'oulubro<br />
<strong>de</strong> 1863.<br />
Resolveu pedir ao testamenteiro do<br />
fallecido dr. Antonio Luiz <strong>de</strong> Sousa Henriques<br />
Secco uma nota approximada dos<br />
volumes <strong>de</strong>ixados á Camara, para esta<br />
provi<strong>de</strong>nciar para a accommodação d'elles<br />
no archivo municipal.<br />
Mandou collocar um portal novo na<br />
runa da rua da Moeda, no terreiro <strong>de</strong><br />
Santo Antonio.<br />
Resolveu prescindir da casa arrendada<br />
na praça do Commercio para arrecadação<br />
do material d'incendios, aproveitando-se<br />
<strong>de</strong> novo para este fim da loja<br />
na rua do Cego pertencente ao município.<br />
Resolveu ouvir o advogado ácerca da<br />
condição imposta a diversos, para não<br />
ser exigida in<strong>de</strong>mnisação pelo altearaento<br />
das ruas da cida<strong>de</strong>.<br />
Mandou pagar a quantia <strong>de</strong> 19$200<br />
réis da differeuça entre o preço <strong>de</strong> réis-<br />
292$800 porque foram vendidos cinco<br />
bois do serviço da limpeza e o <strong>de</strong> réis<br />
312$000 porque foram comprados quatro,<br />
para o mesmo serviço.<br />
Approvou o rol da contribuição <strong>de</strong><br />
serviço para o corrente anno e o rol do<br />
ijmprosto sobre cães, mandando annunciar<br />
a sua exposição durante o praso <strong>de</strong> 15<br />
dias, em que se receberão reclamações.<br />
Mâmlou fazer novas intimações para<br />
a <strong>de</strong>molição d 'tuna pare<strong>de</strong>, em ruina.<br />
d'uma casa 110 lagar das Casas 'Novas-;<br />
e para ser restituído ao estado primitivo<br />
um caminho no lógar do Chão do Bispo<br />
O presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>u conheçinTeuto á<br />
camara <strong>de</strong> ter mandado organisar pela<br />
repartição d'obras uma das fontes do<br />
concelho que precisam reparações; e<br />
participou também que os marchantes<br />
resi<strong>de</strong>ntes ne.-la cida<strong>de</strong> esperam po<strong>de</strong>r<br />
abater em breve, 20 réis no preço <strong>de</strong><br />
cada um kilogramma 1 <strong>de</strong> vacca ; e que<br />
para outubro apresentam uma labella <strong>de</strong><br />
preços das diversas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carne<br />
que expozerem á venda.<br />
Despachou cinco requerimentos sobre<br />
diversos assumptos, a saber — letreiro<br />
mulher em tal situação? Des<strong>de</strong> a partida<br />
<strong>de</strong> seu marido, Memma nunca mais saiu<br />
do palacio Santa-Scala ; não vê ninguém,<br />
não recebe ninguém, a sua socieda<strong>de</strong> é<br />
uma menina judia que seu irmão livrou<br />
dos salteadores no littoral africano. Suppliquei<br />
hoje a Memma, <strong>de</strong> todos os modos,<br />
para a <strong>de</strong>cidir a vir jantar comnosco;<br />
recusou cora a maior obstinação. E<br />
<strong>de</strong>vo dizer-lhes que a encontrei um pouco<br />
mudada, a minha hella Memma. A inquietação<br />
altera-lhe as suas bellas cores e<br />
constante alegria. Afinal,' qualquer se<br />
<strong>de</strong>solaria com menos razão.<br />
— Diz-se que ella é muito amiga <strong>de</strong><br />
seu marido, disse um conviva estúpido.<br />
— Mas isso é muito natural! respon<strong>de</strong>u<br />
di Negro com uma ingenuida<strong>de</strong> antiga,<br />
os noivos amara-se sempre, principalmente<br />
quando casam com reciproco<br />
consentimento.<br />
— lista vida é verda<strong>de</strong>ira viuvez jia<br />
lua <strong>de</strong> mel, notou judiciosamente o cônsul.<br />
— Hoje, conlinuou di Negro, fiz uma<br />
ru<strong>de</strong> guerra á melancolia exagerada da<br />
formosa Memma.<br />
Disse-lhe eu que, na ausência <strong>de</strong><br />
Van Ritter, continuava a exercer junto<br />
d'elln as minhas funeções <strong>de</strong> tutor, e que<br />
eu <strong>de</strong>via usar da rainha auctorida<strong>de</strong> para<br />
a arrancar, d'aquelle tumulo on<strong>de</strong> ella<br />
se enterrou em vida.<br />
— Pois bera, meu caro lio, me respon<strong>de</strong>u<br />
ella, é assim que ella me trata,<br />
era um estabelecimento particular, e<br />
limpeza d'ura cano d'esgolo d'um prédio<br />
na praça do Commercio: e sobre obras<br />
particulares — auctorisando, sob condições,<br />
Anlonio Corrêa Lemos, d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
a modificar as portas d'entradas<br />
do seu estabelecimento na rua <strong>de</strong> Ferreira<br />
Borges; Antonio Maria da Gama,<br />
a hietter portas novos em uma casa na<br />
rua da Louça, com frente para o largo<br />
do Poçinho; e José Barbosa Lima, a fazer<br />
uma pequena alteração nas janellas<br />
do andar superior da sua casa na rua<br />
<strong>de</strong> Ferreira Borges, com frente também<br />
para a prfiça do Commercio.<br />
In<strong>de</strong>feriu um requerimento, em que<br />
so pedia licença para estabelecer uma<br />
barraca para venda <strong>de</strong> vinho na quinta<br />
<strong>de</strong> Santa Cruz, junto á Castata, durante<br />
Os dias da Kermesse.<br />
Mandou satisfazer ás indicações da<br />
repartição d'obras dois proprietários que<br />
requereram — para substituir os portaes<br />
d'uma casa no logar do Poçinho por se<br />
ver do alçado que os portaes não tem a<br />
altura correspon<strong>de</strong>nte á largura : outro<br />
<strong>de</strong> S. João do Campo, para a reconstrucção<br />
d'uma casa no mesmo logar, por<br />
não se conhecer da planta que offerece<br />
as condições actuaes do terreno.<br />
Enviou ao vereador respectivo, para<br />
informações, um requerimento <strong>de</strong> Antonio<br />
Pereira, sapateiro, pedindo para ser<br />
admittido no corpo <strong>de</strong> bombeiros municipaes.<br />
Tomou conhecimento da correspondência<br />
recebida, que mandou archivar.<br />
a<br />
Balancete do espectáculo que a Corperação<br />
<strong>de</strong> bombeiros voluntários da<br />
Salvação Publica, realisou no dia 28<br />
<strong>de</strong> maio<br />
RECEITA<br />
Bilhetes vendidos 183^700<br />
Donativos 10$000<br />
1 DESPEZA<br />
193$700<br />
Companhia...... 80$ll00<br />
Aluguer do thealro 20$tlOO<br />
Gaz........ 5$000<br />
Orchestra 14$000<br />
Impressos...... 4$400<br />
Adressista 3^700<br />
Piquete <strong>de</strong> bombeiros municipaes<br />
1$400<br />
Empregados 5$260<br />
Luzes <strong>de</strong> supporte. ...... 480<br />
136$4S0<br />
Saldo 57&220<br />
193^700<br />
<strong>Coimbra</strong>, 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
A commissão,<br />
Jorge da Silveira Moraes<br />
Antonio Corrêa da Costa<br />
Bernardo Maria da Silvá.<br />
não irei jantar a sua casa, mas prometto-<br />
Ihe dar comsigo um passeio, esta tar<strong>de</strong>,<br />
mais a Débora.<br />
O copo <strong>de</strong> crystal da Bohemia, cheio<br />
<strong>de</strong> lacrima-christi, cão chegou aos lábios<br />
<strong>de</strong> Paulo Gréant, e o liquido <strong>de</strong>rramouse<br />
sobre a toalha.<br />
Talormi escutava o marquez di Negro<br />
<strong>de</strong>sempenhando-se ao mesmo tempo das<br />
suas funeções <strong>de</strong> conviva, mas não perdia<br />
nada do que se passava no coração<br />
e no rosto do seu visinho.<br />
Paulo fez um supremo esforço para<br />
se dar uma attilu<strong>de</strong> natural e á sua palavra<br />
uma forma fictícia.<br />
Estes copos da Bohemia, disse elle,<br />
são magníficos, a sua forma é encantadora,<br />
mas só tinham utilida<strong>de</strong> para os antigos,<br />
que os inventaram. Largos e <strong>de</strong><br />
pouco fundo como são, estes corpos só<br />
po<strong>de</strong>m conter vinhos subslanciaes e compactos,<br />
antes alimento que bebida, como<br />
o falerno dos romanos.<br />
— O que ahi vãe I exclamou di Negro<br />
rindo; que gran<strong>de</strong> dissertação para<br />
<strong>de</strong>sculpar uma pequena falta <strong>de</strong> geito !<br />
— Este episodio dos copos, disse<br />
Talormi, <strong>de</strong>sviou-nos do assumpto da sua<br />
conversação, marquez di Negra. Acredita<br />
que madame Van-Ritter nos traga esta<br />
tar<strong>de</strong> a menina Débora?<br />
I mprenso na Typojfraphia<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.*<br />
14, proximo á rua dos Sapateiro»,—<br />
COIMBRA.
A.\.\0 I — 91 O DEFENSOR DO POVO 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
OIJTIiOS<br />
PARA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha 30 réis<br />
Repetições ..... 20 réis<br />
IVELOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapi- *<br />
das<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
LEILÃO<br />
[o domingo, 11 do corrente,<br />
pelas 12 horas da manhã,<br />
serão vendidos todos os utensílios pertencentes<br />
a um restaurante, na Praça do<br />
Commercio, n. os 125<br />
55 e 57, taes como: hancos,<br />
ca<strong>de</strong>iras, mesas, mostradores, trem<br />
<strong>de</strong> cozinha, louças, talheres, guardanapos,<br />
fogão e muitos outros objectos.<br />
Bem assim será vendido um bom<br />
bilhar com todos os pertences, se o preço<br />
convier.<br />
s Companhia Auxiliar,<br />
1 2 b A ao Arco do Bispo, n.° 2,<br />
faz leilão <strong>de</strong> todos os penhores que estejam<br />
em divida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tres mezes<br />
<strong>de</strong> juros, no dia 18 do corrente mez.<br />
O leilão começa ás 11 horas da manhã<br />
e fecha ás 4 da tar<strong>de</strong>, coustando<br />
<strong>de</strong> roupas, fazendas <strong>de</strong> lã, ouro e prata<br />
moveis, muitos livros e outros objectos.<br />
Ficam por este meio prevenidos todos<br />
os mutuários que tenham valores<br />
nesta easa.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
O gerente da Companhia,<br />
João Augusto S- Favas.<br />
O.A-Í3.A-<br />
rrenda-ie o 2.° andar e<br />
120<br />
aguas furtadas da casa<br />
n.° 6 do Pateo <strong>de</strong> Inquisição.<br />
Trata se na Praça do Commercio,<br />
n.° 1 a 5.<br />
S4NTA CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
DE<br />
JOSÉ VICIORHO B. MIRANDA<br />
£»«ta fabrica continua a prof£í<br />
duziír as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> massas, pelos mesmos preços,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartholameu,<br />
e bem assim communicação telephonica<br />
cnm o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
successor, no largo do Principe I). Carlos,<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />
CASA DE PENHORES<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
65<br />
mprei(a-ie dinheiro sobre<br />
objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina. 2 a G. — COIMBRA.<br />
TQUEM PRECISE<br />
117<br />
fen<strong>de</strong>m-se umas estantes<br />
f« quasi novas; são próprias<br />
para mercearia, ou outro negocio.<br />
Para tratar com João Vieira da Silva<br />
lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />
4RTIC1PA-,<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menus, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria ]<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
.i/r i m a<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1LHETGS<br />
<strong>de</strong> visita<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
IVROS ««ÍIPUIÍSSOS<br />
e jornaes |g PARA<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong> B repartições<br />
formato H publicas<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 4 , L A R O - O ID.A. F R E I R I A , 1 4<br />
agente nesta cida<strong>de</strong>, J. L. Martins <strong>de</strong> Araujo<br />
DEPOSITO DA mim NACIONAL<br />
DE<br />
l€iâi<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
2 ivrESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
junto e a retalho, lodos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos da fabrica.<br />
XAROPE DE PHELUNDRIO<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
5 g
A postos!<br />
Todos a postos, to^os os que<br />
em Portugal ha <strong>de</strong> liberaes sinceros,<br />
nestes tempos <strong>de</strong> fementida<br />
liberda<strong>de</strong>; ergam-se to<strong>de</strong>s, erga-se<br />
o paiz inteiro, se ainda qner<br />
conservar, á face das nações civilisadas,<br />
um resto <strong>de</strong> pundonor, se<br />
não quer recuar <strong>de</strong> lodo no caminho<br />
do retrocesso; a postos lodos,<br />
que a Reacção avança <strong>de</strong>smascarada<br />
e franca!<br />
Os processos que ainda hontem<br />
o Ultramontanismo maquinara nas<br />
trevas, eil-os ahi já expostos â luz<br />
do dia, sem tergiversações, ousadamente.<br />
O parlamento, em nome<br />
da liberda<strong>de</strong> instituído como a<br />
mais solemne garantia dos povos,<br />
ha muito já que esqueceu o fim da<br />
sua instituição; e tanto, que, segundo<br />
se vae vendo, o proprio parlamento<br />
vae ser o emporio reaccionário,<br />
Iranspondo-se para alli a<br />
lucla primeiro travada na Socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Geographia, on<strong>de</strong> a reacção<br />
foi batida.<br />
Sob a capa da instituição das<br />
or<strong>de</strong>ns religiosas, como o único<br />
meio <strong>de</strong> levar a civilisaçâo ás colonias<br />
africanas e conquislal-as assim<br />
para o dominio portuguez, a aspiração<br />
constante para o restabelecimento<br />
no reino das or<strong>de</strong>ns monásticas,<br />
que tem vivido, latente, no<br />
escuro das sachristias e dos paços<br />
episcopaese até nos solios realengos,<br />
<strong>de</strong>smascarou-se <strong>de</strong> vez e apresenta-se<br />
com <strong>de</strong>scaro ao paiz inteiro.<br />
O pengo é imminente, instante,<br />
por mais que procurem ro<strong>de</strong>ial-o<br />
<strong>de</strong> doiraduras e íulgencias; já ninguém<br />
<strong>de</strong>sconhece as intenções do<br />
cleticahsmo, e nem elle proprio<br />
procura escon<strong>de</strong>l-as. Um membro,<br />
até, do parlamento, o viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Pin<strong>de</strong>lla (e é bom que o povo vá<br />
conhecendo os que se <strong>de</strong>smascaram)<br />
apresentou um projecto <strong>de</strong> lei para<br />
que seja rasgado em pedaços o<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Joaquim Antonio <strong>de</strong><br />
Aguiar, que extinguiu em 1834 as<br />
or<strong>de</strong>ns religiosas em Portugal, íundando-se<br />
na conveniência publica,<br />
no íra<strong>de</strong>sco facciosimo politico, nos<br />
entraves que ellas erguiam no caminho<br />
do nosso progressivo <strong>de</strong>senvolvimento;<br />
a meia dúzia <strong>de</strong> linhas,<br />
d'aquelle projecto <strong>de</strong> lei, o mais<br />
claro monumento do muito a que<br />
lem <strong>de</strong>scido em Portugal o parlamentarismo,<br />
preten<strong>de</strong> apagar da<br />
memoria <strong>de</strong> lodosa lembrança da<br />
campanha fecunda suslenlada por<br />
Gairetl, José Eslevão e tantos outros,<br />
em favor da causa da liberda<strong>de</strong>.<br />
E tnovem-se as maiores influencias,<br />
lauto <strong>de</strong>ntro do parlamento<br />
como até nos paços reaes, para que<br />
a nova insliluiçgio das or<strong>de</strong>ns religiosas<br />
em Portugal seja um facto;<br />
e comprehen<strong>de</strong>-se perfeitamente a<br />
razão do po<strong>de</strong>roso favoritismo, porque<br />
seria o melhor meto <strong>de</strong> conservar<br />
por largos annos, mercê da<br />
força esmagadora e beslialtsanle do<br />
clericalismo sobre a intellecluaiida<strong>de</strong><br />
popular, este misérrimo estado<br />
<strong>de</strong> coisas, este <strong>de</strong>plorável syslema<br />
constitucional, que nos levou á ultima<br />
ruina. São, hoje como em tempos<br />
não mui remotos, a realeza e<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
o clero, a monarchia e o jesuitismo<br />
a darem-se as mãos numa confralernisação<br />
ferina <strong>de</strong> lobos em alcatêa,<br />
que melhor se concertam para<br />
o dilacera,mento da preza.<br />
E a preza somos nós todos, os<br />
dilacerados seremos nós, se, poN<br />
venlura, alguns restos <strong>de</strong> energia e<br />
<strong>de</strong> força se não tenham <strong>de</strong> todo<br />
ennervado no organismo <strong>de</strong>generado<br />
d'este povo, cadaver quasi, tão<br />
gran<strong>de</strong> é a modorra da sua somnolencia.<br />
Levanlemo-nos, portanto, e sacudamos<br />
a golpes <strong>de</strong> azorrague ou<br />
a golpes <strong>de</strong> zombaria e <strong>de</strong> sarcasmo,<br />
essa corvachada em bandos,<br />
que bale as azas sobre o banquete<br />
opimo d'um povo que se esphacela;<br />
mostremos ao mundo, que ainda<br />
não chegou a tanto a nossa <strong>de</strong>+<br />
ca<strong>de</strong>ncia moral, que consintamos<br />
entre nós esses zangãos do progresso<br />
e da civilisaçâo, esses parasitas<br />
que vivem da ignorancia dos povos.<br />
AX.XO I — » 5<br />
1886.<br />
CRYSTAES<br />
CARTA INTIMA<br />
Eu não aspiro a nuiito. Unicamente sonho<br />
Com um porvir feliz, com um porvir risonho<br />
<strong>de</strong> modéstia e socego. 0 que <strong>de</strong>sejo e quero,<br />
é o teu amor somente, o teu amor sincero.<br />
A A.<br />
Quero viver na paz sagrada da família<br />
e como quem se abriga á sombra d'uma tília,<br />
para evilar o sol, o sol que aprumo cae,<br />
viver sob esse amor — a abobada uo Templo<br />
cujo altar será a Honra, a Dignida<strong>de</strong> e o Exemplo,<br />
para evitar o Mal que sempre nos attrahe.<br />
Pois <strong>de</strong>ve ser tão bom á gente, ao recolher,<br />
ter uns braços gentis para nos receber,<br />
ouvir umas canções, uns simples estribilhos<br />
que soltam rouxinoes a quem chamamos filhos,<br />
sentir sobre o joelho o peso d'essas flores,<br />
cohrir-lhes com a bocca os lábios seductores,<br />
pôr-lhes a cabecita aqui, no nosso peito,<br />
olhal-os a brincar, contentes, a sorrir...<br />
e quando estão dormindo, á noite, no seu leito,<br />
ir vêr, pé ante pé, uns anjos a dormir!<br />
Pois <strong>de</strong>ve ser tão bom termos um ser amigo<br />
com quem <strong>de</strong>sabafar as penas que choramos,<br />
entregarmos lhe tudo, ao carinhoso abrigo<br />
do grato cotação, os sonhos que sonhamos,<br />
as nossas illusões, as ancias, o receio<br />
que temos ao pensar na vida do futuro!<br />
Pois <strong>de</strong>ve ser Ião bom abrir o nosso seio<br />
ás doces pulsações d'um seio honesto e puro<br />
e ter num certo olhar d'uns olhos si<strong>de</strong>raes<br />
sempre um conselho amigo, um parecer austero,<br />
que ao pensar nisto tudo, eu não aspiro a mais<br />
que ao teu amor somente, ao teu amor sincero !<br />
LETTRAS<br />
As rosas 8 as borboletas<br />
Uma rosa branca, ainda mal aberta,<br />
voava pairando aqui e alli, sem saber em<br />
que borboleta iria poisar. Toda tremula<br />
á luz do sol suspensa no ar, hesitava a<br />
ingénua flor, a contemplar, in<strong>de</strong>cisa, lodos<br />
esses formosos insectos que, lá em<br />
baixo, presos nas hastes no fundo do<br />
valfe, tremiam <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos só <strong>de</strong> a verem.<br />
Por qual se <strong>de</strong>cidiria? pela silvano <strong>de</strong><br />
azas negras? pela céphala, côr <strong>de</strong> oiro?<br />
pelo das azas azues?<br />
E ella continuava a voejar, ora baixando,<br />
ora «levando-se aos ares, por sobre<br />
o vasto campo <strong>de</strong> borboletas.<br />
Sim, porque naquclle tempo eram as<br />
ro«as que tinham azas—as próprias pétalas<br />
— e eram as borboletas que se baloiçavam<br />
em hastes ligeiras que as retinham<br />
presas ao solo.<br />
II<br />
E foi tal a perplexida<strong>de</strong> da rosa que<br />
se <strong>de</strong>cidiu a ir consultar as outras rosas,<br />
suas irmãs. Voltou, pois, para as<br />
hervagens frescas on<strong>de</strong> ellas tinham fabricado<br />
os ninhos — havia ninhos <strong>de</strong> rosas<br />
então — e disse-lhes toda ruborisada<br />
:<br />
— Minhas irmãs, tenho umas certas<br />
duvidas e peço que m'as <strong>de</strong>sfaçam. Sou<br />
ainda muito pequenina, e só hontem<br />
principiei a voar, vinha rompendo a madrugada:<br />
ora como tenho pouca experiencia<br />
da vida, receio praticar alguma tolice.<br />
..<br />
— Vamos; falia interromperam em<br />
côro as rosas.<br />
— Vi perto d'aqui umas borboletas<br />
tão bonitas, tão bonitas, que nem eu sei!<br />
E como todas ellas são formosas, queria<br />
saber em qual <strong>de</strong>verei poisar para<br />
lhe dar o meu amor.<br />
Respon<strong>de</strong>u-lhe um côro <strong>de</strong> gargalhadas<br />
trocistas.<br />
— Que innocente 1<br />
— Ora a ignorante !<br />
— Comt)? Pois ella <strong>de</strong>ixou-se enfeitiçar<br />
por esses miseráveis insectos, que<br />
. não po<strong>de</strong>m érguer-se da terra ? I<br />
— Ora não ha! Se amasse a aguia<br />
altiva, que crusa o. azul, ou a andorinha<br />
ligeira, ou a cotovia, que vae para além<br />
das nuvens <strong>de</strong>spertar com o seu chilrear<br />
alegre a aurora preguiçosa... comprehen<strong>de</strong>-se.<br />
Mas é indigno dar o seu amor<br />
Joaquim <strong>de</strong> Lemos.<br />
a esses Ínfimos que não po<strong>de</strong>rão nunca<br />
salvar o rio do prado, nem saltar por sobre<br />
a exurrada dos montes!<br />
Mas ella fallou com tanto entusiasmo<br />
dos insectos do campo visinho, que as<br />
rosas, um nadita picadas <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong><br />
quizeram certificar-se.<br />
— Pois vamos tá !<br />
E partiram todas, ares fóra, batendo<br />
as azas, <strong>de</strong> que se escaparam uns perfumes<br />
dulcíssimos, como não havia outros<br />
eguaes e tão suaves, em todo o mundo<br />
Pois se naquelle tempo ainda não havia<br />
mulheres sobre a terra !<br />
III<br />
Impossível <strong>de</strong>screver a alegria das<br />
borboletas apenas viram revoluteando em<br />
redor e tão perto, aquelle bando adoravel<br />
<strong>de</strong> rosas. E que lindas todas ellas,<br />
umas brancas, outras vermelhas, outras<br />
<strong>de</strong>smaiadas, outras mal abertas!<br />
— Vin<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scei. Porque nos <strong>de</strong>sprezaes?<br />
porque não po<strong>de</strong>mos seguir-vos<br />
por esses ares e ventos? Temos as azas<br />
prezas, mas ve<strong>de</strong> como são formosas. Não<br />
parece que nos lançaram sobre ellas punhados<br />
<strong>de</strong> rubis, <strong>de</strong> saphiras, <strong>de</strong> amethvstas<br />
e <strong>de</strong> esmeraldas? Não vos parece<br />
que pulverisaram sobre nós um arco-iris?<br />
E sois tão amadas 1 se consentísseis em<br />
cerrar as vossas pétalas sob as nosias<br />
azas, quantas caricias, quantas ternuras<br />
vos seriam prodigalisadas ! Vin<strong>de</strong> e tereis<br />
o nosso amor constante, e tanto que nunca<br />
tereis sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> voar<br />
sósinhas por estes dias <strong>de</strong> calma e por<br />
estas noites sem lua ! Mas a» rosas não<br />
se <strong>de</strong>ixaram enternecer, e, reabrindo as<br />
azas á brisa, <strong>de</strong>ixaram no espaço um vago<br />
rumor <strong>de</strong> ironias cruéis, e partiram para<br />
longe, muito longe, para além do campo<br />
das borboletas, para além dos montes até<br />
dsapparecerem no horisonte.<br />
Ora, neste tempo, como ainda hoje<br />
succe<strong>de</strong>, havia uma justiça no céu. A<br />
brisa, movida <strong>de</strong> certo pela varinha<br />
magica <strong>de</strong> alguma fada—e quem sabe le<br />
a fada se transformara em brisa ? —<br />
envolveu, cingiu e arrastou comsigo o<br />
bando <strong>de</strong> flores, precipitando-as <strong>de</strong>pois<br />
numa enorme planície em que só havia<br />
silvados e espinheiros, ou<strong>de</strong> ellas se feriram<br />
todas, e d'on<strong>de</strong> nunca mais po<strong>de</strong>ram<br />
soltar-se.<br />
Des<strong>de</strong> então as rosas licaram presas<br />
á terra e não tornaram a voar com as<br />
toutinegras nem a fabricar os ninhos<br />
nas ramagens dos bosques.<br />
(Conclue),<br />
Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />
O D G F E N i O R DO P O V O<br />
As or<strong>de</strong>ns religiosas<br />
A reacção continúa em propaganda<br />
activa a tini <strong>de</strong> restabelecer neste paiz<br />
as or<strong>de</strong>ns religiosas, extinctas pelo liberal<br />
<strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Joaquim Anlonio d'Aguiar.<br />
Na camara dos pares e <strong>de</strong>putados<br />
têm sido entregues algumas representações,<br />
assistindo-se ao repugnante espectáculo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> famílias liberaes<br />
que tão atrozmente foram perseguidas<br />
pelo absolutismo, que os fra<strong>de</strong>s<br />
apoiavam e <strong>de</strong>fendiam, estarem hoje a<br />
propugnar pelo restabelecimento d'esses<br />
coios <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoralisação e <strong>de</strong> conservantismo.<br />
Chega a tal ponto a impudência <strong>de</strong><br />
alguns chamados liberaes que para <strong>de</strong>feza<br />
da causa da reacção fazem esta affirmativa—que<br />
o <strong>de</strong>creto que extinguiu<br />
as or<strong>de</strong>ns religiosas em Portugal, não<br />
prohibe o estabelecimento cToutras que se<br />
fundassem <strong>de</strong>pois, visto que o <strong>de</strong>creto se<br />
refere apenas ás que então existiam!<br />
E' com esta argumentação que os<br />
reaccionários, <strong>de</strong> mãos dadas com os renegados<br />
liberaes, contam levar, por diante<br />
a sua nefasta obra anti-civilisadora.<br />
Mas nós cremos que o paiz ha <strong>de</strong><br />
saber reagir e fazer respeitar as leis,<br />
quando a afíronta tomar um aspecto mais<br />
energico.<br />
Que por emquanto tudo isso não passe<br />
d'uma farça indigna.<br />
Pelas folhas governamentaes não se.<br />
sabe em que condições o sr Fuschini<br />
levantou no estrangeiro aquella impor<br />
tanle quantia para pagamento do eoupon<br />
<strong>de</strong> julho; o que faz suppôr que esta ope<br />
ração é d.is taes em que o thesouro publico<br />
é fortemente <strong>de</strong>sfalcado.<br />
Diz-se que o que serviu <strong>de</strong> caução<br />
foi o papel dos tabacos, que lem sido<br />
nma mina inexgotavel I<br />
EM SURDINA<br />
Dizem que o povo está pobre,<br />
que a nação está empenhada,<br />
mas sempre apparece cobre,<br />
se o rei, mail-a gente nobre,<br />
quer fazer a patuscada I<br />
Agora, no Entroncamento,<br />
quando o rei foi p'r'as manobras<br />
houve jantar d'espavento<br />
<strong>de</strong>vorando, num momento,<br />
o que julgavam <strong>de</strong> sobras.<br />
O nosso povo é feliz,<br />
isto não digo por troça,<br />
pois tem a mãe em Paris<br />
e o lilho cá no paiz<br />
a gastar-lhe a bagalhoçal<br />
... tão amavel, tão gentil<br />
é o Zé... que, tendo fome,<br />
<strong>de</strong>ita a fugir — p'ro Brazil I<br />
PINTÀ-ROXA.<br />
Contra as medidas<br />
<strong>de</strong> fazenda<br />
Nos paços do concelho <strong>de</strong> Ferreira<br />
louve uma importante reunião, a que<br />
concorreram os homens mais importan-<br />
tes <strong>de</strong> quasi toda a comarca, a fim <strong>de</strong><br />
irotestarem contra as propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />
Recebemos o n.° 9 d'esle bem redigido<br />
semanário republicano, orgáo da<br />
aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Braga.<br />
Como o seu titulo indica é a juventu<strong>de</strong>,<br />
a mocida<strong>de</strong> das escolas, <strong>de</strong> quem<br />
tanto ha a esperar, que, com o seu coração<br />
generoso, vem em <strong>de</strong>feza das<br />
idêas republicanas, verberando a nionarchia<br />
que, <strong>de</strong> ha tres séculos, transformou,<br />
pela fogueira e pelo confessionário,<br />
um povo energico e audaz num<br />
povo <strong>de</strong> pediutes, sem acção própria e<br />
sem energia.<br />
É das almas novas, sem macula ainda,<br />
cheias <strong>de</strong> aspirações nobres e <strong>de</strong>sinteressadas,<br />
que o paiz espera a sua<br />
regeneração.<br />
A'vante, pois, e longa vida.<br />
JL5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Eduardo Abreu<br />
Esteve nesta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> visita ao<br />
seu antigo mestre e amigo, o sr. dr.<br />
Costa Simões, respeitável reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
o distincto parlamentar e<br />
nosso correligionário, sr. dr. Eduardo<br />
Abreu, que tantas sympathias goza em<br />
<strong>Coimbra</strong>.<br />
S. ex. a retirou ante-hontem para<br />
Lisboa.<br />
Tavares Coutinho<br />
Tem estado nesta cida<strong>de</strong> este nosso<br />
<strong>de</strong>dicado correligionário e um dos valentes<br />
revolucionários do Porto. Veio do<br />
exílio e dinge-se áquella cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
vae fixar resi<strong>de</strong>ncia.<br />
Muitas felicida<strong>de</strong>s.<br />
JUagalliãe» lama<br />
Esteve em <strong>Coimbra</strong>, o antigo e energico<br />
redactor do Século, que veiu visitar<br />
seu cunhado o sr. dr. Julio Heuriques,<br />
digno director do Jardim Botânico.<br />
Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> S. Tliomaz d'Aquino<br />
D. Maria Pia em Marselha<br />
Dizem as Novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 12, na secção<br />
—Casos do dia—que a sr. a D. Maria Pia e<br />
seu filho o sr. D. Affonso estão em Paris<br />
e que na sua passagem por Marselha lhe<br />
foram offerecidas muitas flores pela colonia<br />
potugueza.<br />
Que se divirta a sr. a Sob a presi<strong>de</strong>ncia do sr. Bispo Con<strong>de</strong><br />
A discussão correu energica e ani- e assistência do Arcebispo <strong>de</strong> Côa, sr.<br />
mada.<br />
André Valente, celebrou-se uo domingo,<br />
* Esteve em Lisboa o sr. João Pin- num salão do seminário, a sessão aunual<br />
to, do Porto, que foi entregar ao sr. mi- d esta aca<strong>de</strong>mia.<br />
nistro da fazenda uma representação da<br />
Associação Industrial Portuense dos Lo-<br />
Abriu a sessão o sr. Bispo, referindo-se<br />
as relações entre a egreja e o esjistas<br />
<strong>de</strong> Calçado contra as medidas fazendarias<br />
d'aquelle ministro.<br />
lado e a qu«slao social, repelindo consi<strong>de</strong>rações<br />
ja leitas numa sessão anterior.<br />
* No ministério da fazenda, uma Discursou o sr. Siuibaldi, continuando,<br />
commissão da Associação dos Lojistas como auteriormente, a combater as dou-<br />
D. Maria Pia e<br />
<strong>de</strong> Lisboa, apresentou as suas reclamações<br />
contra a proposta <strong>de</strong> lei sobre a<br />
contribuição industrial.<br />
trinas positivistas. O discurso d este dr.<br />
lhomista íoi, em grau<strong>de</strong> parte, a reedição<br />
d'um outro que alli ja lhe ouvimos ; atlir-<br />
o sr. duque do Porto mas que não A conferencia com o sr. Fuschini foi mações que, nos pontos principaes, nao<br />
tragam nas suas mallas, ou nas da sua muito longa e animada.<br />
cousegue provar, nao <strong>de</strong>struindo, portanto,<br />
comitiva, o microbio da cholera que<br />
grassa em França.<br />
Que não sejam perniciosos sempre!<br />
* Os directores e representante» o systema positivista, que é ja hoje o<br />
das companhias fabris e industriar* lis- que se impõe, o que bem se <strong>de</strong>monstra<br />
bonenses nomearam o sr. Zophimo Cuu- pelo trabalho que s. ex.<br />
siglieri Pedroso para se enten<strong>de</strong>r com o<br />
A cholera<br />
sr. ministro da fazenda sobre as propostas<br />
relativas á contribuição industrial.<br />
Os jornaes do todas as feições poli-<br />
Arroyo, o feroz<br />
ticas lêem annunciado o apparecimento<br />
da cholera-morbus em França, e todos Crescem-lhe os ímpetos contra os re-<br />
os dias o telegrapho registra os casos que publicanos e ha dias, no parlamento,<br />
diariamente se vão dando.<br />
esle <strong>de</strong>sgraçado conselheiro d'estado ho-<br />
Os últimos lelegrammas <strong>de</strong> Marselha norário, prometteu aos amigos que se ha<br />
accusam diversos casos e os <strong>de</strong> diver- <strong>de</strong> oppôr, com a energia do seu pulso e<br />
sos outros pontos confirmam a existen- do seu braço, á onda crescente qua precia<br />
<strong>de</strong> Ião lerrivel mal naquelle paiz; ten<strong>de</strong> durruhar as instituições.<br />
cumpre pois ao governo adoptar as me- Pelos modos o homem vae quebrar<br />
didas mais energicas que a sciencia mais carteiras e julga assim melter medo<br />
aconselha, fazendo-as observar com ri- ao papão republicano, que em lempos<br />
gor e que essas medidas sejam geraes, idos foi o seu Ídolo.<br />
absolutamente, por mais graduada que<br />
Que bem vos <strong>de</strong>veis lembrar <strong>de</strong> ou-<br />
seja a gerarchia <strong>de</strong> qualquer, a fim <strong>de</strong><br />
vir do Arroyo palavras rubras <strong>de</strong> con-<br />
evitar a importação d'aquelle flagello.<br />
<strong>de</strong>mnação contra jesuítas e reis; e da<br />
Para nos flagellar bem basta o sr. scena em Madrid, por occasião do cen-<br />
Fuschini com as suas propostas <strong>de</strong> fazentenário <strong>de</strong> Cal<strong>de</strong>ron, recusaudo-se a<br />
da e a miséria que vae por esse paiz cumprimentar o rei <strong>de</strong> Hespanha.<br />
fóra.<br />
Mas a ninguém assustam as palavras<br />
do irrevogável Arroyo ; elle é hoje um<br />
conservador convicto, como amanha sera<br />
Occorreram vários casos d'enfermida- um republicano siucero, se em antes o<br />
<strong>de</strong> suspeita em Narbonne, fallecendo dois não expropriarem por utilida<strong>de</strong> da na-<br />
dos atacados.<br />
ção. ..<br />
Em Bezières houve uma morte, oiitra<br />
em Carants, outra em Baillargues, O commercio <strong>de</strong> Lisboa<br />
em Cette duas e em Montpellier têem-se<br />
dado vários casos, registando-se em Mar No tribunal do commercio da capital<br />
selha no dia 6, seis obitos.<br />
tem apparecido nesta ultima semana<br />
gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> fallencias <strong>de</strong> impor-<br />
Em 9 entraram no hospital <strong>de</strong> Cette<br />
tantes casas, impotentes para resistirem<br />
mais dois cholericos, havendo vários ca<br />
ao prolongamento d'esta crise medonha<br />
sos em Frontignan.<br />
que ninguém sabe on<strong>de</strong> nos arrastará.<br />
Em Constantinopla foi recebida uma<br />
grave noticia <strong>de</strong> Jeddacb. A cholera ap<br />
E nestas alturas o sr. Fuschini a<br />
parecera em Meca, produzindo logo ses-<br />
exigir d'esta classe um augmento exorsenta<br />
mortes. O governo or<strong>de</strong>nou ener<br />
bitaute nas contribuições, que colloca o<br />
gicas medidas sanitarias.<br />
commerciante'numa situação <strong>de</strong>sgraçada.<br />
Receia-se que o calor e os peregrinos<br />
contribuam para a propagação do A «Alma Nova»<br />
mal, que com tanta intensida<strong>de</strong> se apresentou.<br />
Espera-se também que o gover<br />
no egypcio adopte rigorosas precauções<br />
no canal <strong>de</strong> Suez com respeito ás procedências<br />
da Arabía.<br />
O caso das 270 mil libras<br />
a envida em o<br />
contestar.<br />
Tomando para lhema do seu discurso<br />
--o problema social ea sua sòluçao pelos<br />
princípios religiosos — o sr. Dias<br />
d'Audra<strong>de</strong> apresentou-se como orador <strong>de</strong><br />
talento e <strong>de</strong> orientação.<br />
Em phrase castigada e correcta, embora<br />
num tom um tanto <strong>de</strong>clamatório e<br />
emphalico, que o prejudica, o sr. Andra<strong>de</strong><br />
fallou com brilho e por vezes eloquencia,<br />
con<strong>de</strong>uinado Veheuieuteuiente o individualismo<br />
mo<strong>de</strong>rno, a actual urgauisação<br />
social, tudo eiutim, que faz uo protelai<br />
iadó uma legião enorme <strong>de</strong> escravos,<br />
mo<strong>de</strong>rnos fetlahs Ua miséria. Foi<br />
justo, mormente quando iucrepou o actual<br />
regimen da proprieda<strong>de</strong> como fonte do<br />
<strong>de</strong>sequilíbrio *ocia|, que faz levantar-se<br />
ASTXO I — M.* 9& O DEFENSOR DO POVO 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
sanitarias a diversos estabelecimentos da<br />
cida<strong>de</strong>, e em algumas tabernas foram encontradas<br />
pipas <strong>de</strong> vinho falsificado, sendo-llie<br />
apprehendidas.<br />
Ha muito que nós clamamos para que<br />
se façam amiudadas vezes estas visitas,<br />
mas nada temos conseguido, vendo se o<br />
publico roubado, sem que a auctorida<strong>de</strong><br />
competente ponha cobro a semelhante<br />
abuso.<br />
E agora que a auctorida<strong>de</strong> surprehen<strong>de</strong>u<br />
alguns commercianles <strong>de</strong> vinhos<br />
na pratica d'um crime, que outra cousa<br />
não é a falsificação dos generos alimen<br />
ticios, que seja rigorosa na applicação<br />
da lei, castigando os criminosos, que,<br />
para atten<strong>de</strong>rem aos seus interesses, não<br />
têm duvida em prejudicar a saú<strong>de</strong> publica.<br />
Se os srs. <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> quizerem<br />
cumprir com os seus <strong>de</strong>veres, relevantes<br />
serviços po<strong>de</strong>m prestar aos habitantes<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que estão sendo infamemente<br />
explorados por commerciantes<br />
falsificadores e egoístas.<br />
E para que o publico os conheça e<br />
esteja precavido, iremos dando nota dos<br />
nomes d'aquelles a quem a auctorida<strong>de</strong><br />
apprehen<strong>de</strong>r generos falsificados.<br />
Ctyninaaio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
A commissão promotora das corridas<br />
<strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s que hão <strong>de</strong> realisar-se na<br />
Figueira da Foz, no dia 24 do corrente<br />
pela occasião dos festejos a S. João,<br />
mandou convidar os velocipedistas d'estn<br />
aggremiação a inscreverem-se nas corridas.<br />
Na secretaria do Gymnasio está aberta<br />
a inscripção, achondo-se já inscriptos<br />
os srs. José <strong>de</strong> Paiva Bobeia Motta e<br />
Antonio Rodrigues d'Oliveira.<br />
O precurso é <strong>de</strong> 30 kilomctros e os<br />
prémios constam <strong>de</strong> quatro medalhas:<br />
ouro, prata e duas <strong>de</strong> cobre.<br />
Bairro <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
Os proprietários e habitantes da rua<br />
<strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, d'aquelle bairro,<br />
dirigiram á camara municipal um requerimento<br />
pedindo para seja também feita<br />
a canali-ação naquella rua, atten<strong>de</strong>ndo<br />
ás péssimas condições <strong>de</strong> salubrida<strong>de</strong> em<br />
que se acha, e visto constar que a camara<br />
tenciona proce<strong>de</strong>r a essa obra na<br />
rua Alexandre Herculano.<br />
A camara, sem duvida, <strong>de</strong>ferirá este<br />
requerimento, e ao novo bairro se irão<br />
fazendo os melhoramentos indispensáveis,<br />
que convi<strong>de</strong>m a que alli se façam novas<br />
edificações.<br />
Oxalá que a camâra se convença<br />
da urgência que ha em promover no<br />
novo bairro as obras precisas, a fim <strong>de</strong><br />
que oíi terrenos obtenham compradores.<br />
Sabemos que o sr. Monteiro <strong>de</strong> Figueiredo,<br />
intelligente mestre d'obras da<br />
camara, está completando uma nova<br />
planta, ttfpdificaudó-a e allerando-a convenientemente<br />
e que muito breve serão<br />
anuunciados alguns lotes <strong>de</strong> terreno.<br />
Bem <strong>de</strong>sejavamos ter <strong>de</strong> louvar os<br />
aclos da camara, signal evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> que<br />
43 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MERY<br />
A JUDIA É VATIIMI)<br />
« XIII<br />
O prestidigitador da morte<br />
— Oh! prometteu-m'o ella solemnemeute,<br />
respon<strong>de</strong>u o marquez com segurança;<br />
e eu prometti-lhe, por minha<br />
vez, acompanhai a eu mesmo, com qua<br />
tro creados, até á cida<strong>de</strong>. A's onze horas<br />
quer ella reeuirar no palacio Santa-Scala.<br />
E voltando-se para um creado, disse-lhe:<br />
— Pergunte ao mordomo se já está<br />
completa a reparação da ponte do mirante.<br />
—Mandou reparar a sua ponte? interrogou<br />
o cônsul.<br />
— E' verda<strong>de</strong>, cônsul, respon<strong>de</strong>u o<br />
marquez; em &s nossas montanhas ha<br />
selvagens que <strong>de</strong>vastam pelo prazer <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>struir...<br />
— São malfeitores d'uma especie<br />
singular, disse Talormi sorrindo.<br />
— Muito singular, insistiu Paulo<br />
lançando a Talormi um olhar que o <strong>de</strong>sconcertou.<br />
— Ha noticias muito mais graves<br />
do que essas, disse o cônsul inglez num<br />
tom mysterioso.<br />
ella vae dando á cida<strong>de</strong> os melhoramentos<br />
mais urgentes e que todos reclamam.<br />
A's auctorida<strong>de</strong>s<br />
Já aqui dissémo«, para bem frisar a<br />
indifferença <strong>de</strong> todos os que superinten<strong>de</strong>m<br />
no serviço hygienico, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ntro<br />
da cida<strong>de</strong>, se consentia a creação <strong>de</strong> gado<br />
suino, com grave prejuízo para a saú<strong>de</strong><br />
dos habitantes on<strong>de</strong> taes posilgas existem.<br />
Agora consta-nos que apezar <strong>de</strong> muitos<br />
proprietários serem avisados para<br />
removerem o gado e <strong>de</strong>struírem os cortelhos<br />
que estão na cerca do Carmo,<br />
alguém tenta, fiado em protecções, não<br />
obe<strong>de</strong>cer ás or<strong>de</strong>ns recebidas, teimando<br />
em conservar alli aquelles animaes.<br />
E a proposito <strong>de</strong>vemos perguntar: — a<br />
auctorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecerá que em Mont'arroyo<br />
existe gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gado<br />
suino ?<br />
Se <strong>de</strong> facto o não sabia d'isso a prevenimos.<br />
Iiegado Luz Soriano<br />
Estão dois logares <strong>de</strong>'pensionistas,<br />
que a Santa Casa da Misericórdia vae<br />
prover em cumprimento do legado do<br />
bemfeitor Simão Jose da Luz Soriano.<br />
Os concorrentes <strong>de</strong>verão apresentar<br />
na secretaria da Santa Casa, os seus<br />
requerimentos, nos quaes se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>clarar<br />
a faculda<strong>de</strong> da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> que já frequentassem,<br />
ou em que preten<strong>de</strong>m, matricular-se<br />
no proximo anno lectivo, juntando<br />
attestados e documentos que provem<br />
a sua capacida<strong>de</strong> e talento, pobreza<br />
e boa conducta moral e civil, apresentando<br />
as certidões <strong>de</strong> todos os exames e<br />
actos que tenham feito, e das distincções,<br />
accessits ou prémios que tiverem obtido.<br />
Os providos têm direito á prestação <strong>de</strong><br />
15$000 réis mensaes, matriculas e livros,<br />
e 100$000 réis concluído que<br />
seja o seu curso, não po<strong>de</strong>ndo mudar<br />
para outro curso, consenvando a pensão.<br />
Ficam lambem obrigados a apresentar<br />
todos os annos, á administração da<br />
Santa Casa antes <strong>de</strong> findar o mez <strong>de</strong><br />
agosto, autheutica do resultado dos actos<br />
ou exames que fizerem e attestações da<br />
sua boa conducta passada pelos professores,<br />
ou auctorida<strong>de</strong>s administrativas.<br />
Cirrumgcripfâo liydrauliea<br />
Affirma-se que o sr. ministro das obras<br />
publicas pensa em dividir o paiz em tres<br />
divisões hydraulicas; a primeira com sé<strong>de</strong><br />
no Porto, abrangendo os rios Douro, Lima,<br />
e Minho; a segunda com sé<strong>de</strong> em<br />
<strong>Coimbra</strong>, coniprehen<strong>de</strong>ndo os rios Vouga<br />
e Mon<strong>de</strong>go e as barras d'Aveiro e Figueira;<br />
a terceira era Lisboa, conteúdo os<br />
o rios Tejo e Sado.<br />
Esta <strong>de</strong>claração fizera o ministro na<br />
commissão d'obras publicas, ao occuparse<br />
d'este assumpto o <strong>de</strong>putado por este<br />
circulo, sr. Alberto Monteiro.<br />
A ser verda<strong>de</strong>iro o facto da projectada<br />
divisão, bom serviço presta o sr. dr.<br />
Bernardino Machado aos proprietários e<br />
— Ah! bem sei o que quer dizer,<br />
cônsul, interrompeu Talormi.<br />
— Mas não o sabemos nós, murmuraram<br />
alguns convivas.<br />
— Muilo bem I continuou o cônsul,<br />
ha uma gran<strong>de</strong> agitação latente na ltalia.<br />
Estamos talvez em vespera <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
acontecimentos políticos<br />
— Meus senhores, exclamou di Negro<br />
esten<strong>de</strong>ndo as mãos para a direita e<br />
para a esquerda, como para extinguir a<br />
conversa que principiava; meus senhores,<br />
estamos aqui para nos divertirmos e não<br />
para nos eutrislecermos. Não nos entreguemos<br />
a coisas seria».<br />
— Bravo, marquez! exclamou Talormi,<br />
tréguas á polilica. Não dê nunca a<br />
esta senhora entrada na sua quinta;<br />
guar<strong>de</strong>mol-a para a cida<strong>de</strong>, que ella não<br />
é senhora do campo. A nobre irmã <strong>de</strong><br />
Santa Scala, que chega, não <strong>de</strong>ve encontrar<br />
esla rival austríaca.<br />
— Ella vem afu ? 1 disseram alguns.<br />
— Eu sei bem porque faliu, continuou<br />
Talormi. Por aquella janella aberta<br />
acabo <strong>de</strong> ver passar madame Van-Rilter<br />
com uma menina <strong>de</strong> quinze a <strong>de</strong>seseis<br />
annos.<br />
— Meus senhores, disse o marquez<br />
di Negro levantando-se, vamos receber<br />
a rainha da graça e da belleza.<br />
Todos os convivas se levantaram,<br />
excepto Paulo Gréant, que se dava ares<br />
<strong>de</strong> e-tar muito preoccupado com uma<br />
talhada <strong>de</strong> annanaz.<br />
— Visto a ponte já estar reparada,<br />
disse o marquez, tomaremos o café<br />
lavradores dos campos do Mon<strong>de</strong>go que<br />
se vêem bastante prejudicados com a<br />
mudança para o Porto da sé<strong>de</strong> d'esta<br />
circumscripção.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
FACULDADE Dii DIREITO<br />
Dia 12<br />
1." anno — Joaquim Festas Picanço<br />
e Joaquim Gonçalves d'Araujo.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2.° anno — Augusto <strong>de</strong> Sousa Maldonado,<br />
Ayres Lobo <strong>de</strong> Sousa Ramos<br />
Arnaud. Benjamim Caudido Vieira Lisboa<br />
e Benjamim Pereira d'Amaral Netlo.<br />
3." anno — Carlos Ferreira Pires e<br />
Delfim Martins Flores.<br />
4." atino — José Pinto Leite e Antonio<br />
Maria Fructuoso da Silva.<br />
5." anno — José Carlos <strong>de</strong> Castro<br />
Corte Real Machado e Antonio Auguslo<br />
d'Almeida Arez.<br />
Dia 13<br />
1.° anno—: José d'Azevedo Fonseca<br />
e Moura, José Carlos Lopes Júnior e José<br />
Joaquim Cardoso.<br />
Houve uma reprovação.<br />
2." anno— Bernardo Vellez <strong>de</strong> Lima,<br />
Carlos Mesquita, Daniel da Silva e Diogo<br />
João Mascarenhas Marreiros Netto.<br />
3." anno—Diogo Alcoforado da<br />
Costa.<br />
Neste anno fallou um alumno ao acto<br />
por doença.<br />
4.° anno — Anlonio Pedro <strong>de</strong> Barros<br />
<strong>de</strong> San<strong>de</strong> e Antonio Pereira da Silva<br />
Figueiredo.<br />
5.° anno — Antonio Dias Sousa da<br />
Co »ta Cabral e Anlonio José Teixeira<br />
d'Abreu.<br />
Dia 14<br />
1anno—José Marreiros Mascarenhas<br />
Serrão, José Sebastião Cardoso <strong>de</strong><br />
Menezes, Luiz Gonçalves Forte c Manoel<br />
Emysdio Furtado Garcia.<br />
2.° anno—Eduardo <strong>de</strong> Moura Borges,<br />
Eduardo da Silva, Emérico d'Alpoim<br />
<strong>de</strong> Cerqueira Borges Cabral e Fausto<br />
Gue<strong>de</strong>s Teixeira.<br />
3.° anno — Eduviges Goulart Prieto<br />
e Eugénio Augusto Dias Colonna.<br />
4.° anno — Antonio Pinto <strong>de</strong> Carvalho<br />
<strong>Coimbra</strong> e Antonio Rodrigues Vianna.<br />
5.° anno — Antonio José Vieira e<br />
Antonio Maria <strong>de</strong> Mattos Cardoso.<br />
FACULDADE DE MEDICINA<br />
Dia 12<br />
1.° anno— Antonio <strong>de</strong> Pádua.<br />
Neste anno faltou um alumno ao acto<br />
por doença.<br />
2 ' anno — Arthur d'Azevedo Leitão<br />
e Francisco Antonio <strong>de</strong> Paula.<br />
3." anno — Antonio Julio Telles <strong>de</strong><br />
Sampaio Itio e Antonio <strong>de</strong> Sousa Vadre.<br />
4 0 anno — Antonio <strong>de</strong> Sousa Neves<br />
e Augusto Machado.<br />
no mirante e Memma tomai-o-á comnosco.<br />
— Exce<strong>de</strong>nte idêa! exclamou Talormi<br />
com ar <strong>de</strong> triumpho.<br />
E inclinando-se para Paulo, disse-lhe:<br />
— Vamos assistir a uma bella surpreza,<br />
não é verda<strong>de</strong>?<br />
— E' <strong>de</strong> esperar, respon<strong>de</strong>u o artista,<br />
pallido como um cadaver.<br />
Todos o» outros conviva» tinham partido<br />
já.<br />
— Já estou antegostando esta <strong>de</strong>liciosa<br />
scena, continuou Talormi com um<br />
sorriso <strong>de</strong> <strong>de</strong>monio. Vae ofiferecer o seu<br />
braço a madame Van-Ritter, bem vivo,<br />
o homem que lhe foi honlem dado por<br />
morto num duello.<br />
— Não lhe offerecerá o seu braço,<br />
disse Paulo levantando-se; leia esta<br />
carta, ella lhe provará que possuo o seu<br />
segredo.<br />
Talormi abriu a carta que Paulo<br />
tinha escripto <strong>de</strong> manhã, e leu.<br />
«Con<strong>de</strong> Talormi, julga-se um homem<br />
hábil e não passa d'um bandido vulgar.<br />
Se duvidar, leia esta até ao fim.<br />
Quando prepara um cobar<strong>de</strong> assassinato,<br />
commette a imprudência <strong>de</strong> operar<br />
<strong>de</strong>ante <strong>de</strong> testemunhas. Assim é que,<br />
no dia do casamento, havia no mirante<br />
ouvidos que o escutavam e olhos que o<br />
viam.<br />
E estava alli, con<strong>de</strong> Talormi, com o<br />
seu cúmplice Barbone, occupados em<br />
preparar a mais horrível das armadilhas<br />
na ponte do mirante.<br />
Ua uma justiça neste mundo, e ella<br />
Dia 13<br />
1.° anno — Benjamim <strong>de</strong> Sousa Teixeira<br />
e Carlos Alberto Lopes d'Almeida.<br />
Houve exames <strong>de</strong> pratica no 1.°, 2.°<br />
e 3.° anno.<br />
Dia 14<br />
1° anno—Diogo Barata Cortez e<br />
Gualdim Antonio <strong>de</strong> Queiroz e Mello.<br />
Houve exames <strong>de</strong> pratica no 2.° e 3.°<br />
annos.<br />
FACDLDADE DE PHILOSOPMA<br />
Esta faculda<strong>de</strong> reunida em congregação<br />
constituiu assim os jurys dos aclos.<br />
1.* ca<strong>de</strong>ira.— Drs. Sousa Gomes e<br />
Bernardo Ayres (fixos) e drs. Viegas e<br />
Teixeira Bastos (alternados).<br />
2. a ca<strong>de</strong>ira. — I<strong>de</strong>m.<br />
3. a ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Viegas e Teixeira<br />
Bastos (fixos) e drs. Sousa Gomes<br />
e Bernardo Ayres (alternados).<br />
4. a ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Paulino, Julio<br />
Henriques e Gonçalves Guimarães.<br />
5. a ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Viegas, Teixeira<br />
Bastos (fixos) e drs. Sousa Gomes e Bernardo<br />
Ayres (alternados).<br />
6.* ca<strong>de</strong>ira. — Drs. Paulino, Julio<br />
Henriques e Gonçalves Guimarães.<br />
7. a ca<strong>de</strong>ira — I<strong>de</strong>m.<br />
5." anno. — Presi<strong>de</strong>nte variavel, drs.<br />
Julio Henriques, Gonçalves Guimarães e<br />
Bernardo Ayres.<br />
As amostrais nos estabelecimentos<br />
Continúa a policia, por exigencia da<br />
camara, a multar o sr. Antonio Augusto<br />
<strong>de</strong> Sá, por supposta transgressão <strong>de</strong> posturas<br />
municipaes.<br />
Já aqui dissémos e <strong>de</strong>monstrámos<br />
que a lei não prohibe ao commercio a<br />
exposição <strong>de</strong> amostras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estas<br />
não impeçam o transito; e as amoslras<br />
que á poita tem este commerciante estão<br />
em idênticas condições com as do commercio<br />
em geral, com a differença única<br />
<strong>de</strong> que nos andares superiores faz também<br />
exposição <strong>de</strong> fazendas.<br />
Ora as posturas não prohibera ao<br />
commercio a exposição d'amostras nas<br />
janellas, e num certificado que aqui temos<br />
passado pela secretaria da camara, requerido<br />
pelo sr. Antonio <strong>de</strong> Sá, que<br />
pe<strong>de</strong> se lhe indique qual o artigo que<br />
não permitte se colloquem amostras na s<br />
janellas não se vê qualquer, indicação<br />
prohibitiva que dê logar a perseguição<br />
acintosa que se está fazendo a esle commerciante.<br />
O sr. Sá parece-nos que vae apresentar<br />
esta questão nos tribunaes a fim<br />
<strong>de</strong> se eximir ao pagamento das multas<br />
que individamente lhe foram impostas.<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
O Santo Antonio, que está no seu<br />
nicho, ao Paço do Con<strong>de</strong>, terá festa<br />
estrondosa no sabbado e domingo. Haverá<br />
illuminação, fogo, balão e musica<br />
na noite <strong>de</strong> sabbado; c missa, musica<br />
das 6 da tar<strong>de</strong> ás 9 da noile, e arrematação<br />
<strong>de</strong> fogaças, no domingo.<br />
escutará sempre a voz honesta que lhe<br />
<strong>de</strong>nunciar um tal crime; esta voz ha<br />
<strong>de</strong> ser a minha — muda ou retumbante,<br />
como quizer.<br />
Paulo Gréant.»<br />
Este golpe era fulminante, mesmo<br />
para o homem mais forte e melhor preparado<br />
para as terríveis eventualida<strong>de</strong>s<br />
d'uma vida tempestuosa. Talormi tinha<br />
lido a carta e conservava-a ainda aberta<br />
<strong>de</strong>baixo dos olhos á procura d'um<br />
expediente propicio. Paulo Gréant, <strong>de</strong><br />
braços crusados e <strong>de</strong> pé <strong>de</strong>ante d'elle,<br />
olhava-o com um olhar fixo, que promettia<br />
um escandalo prestes e uma <strong>de</strong>lação<br />
publica.<br />
Uma voz alegre se fez ouvir, e o<br />
marquez di Negro entrou prece<strong>de</strong>ndo<br />
d'uma gargalhada o que vinha communicar.<br />
—Venham, meus senhores, disse elle<br />
tomando Talormi pelo braço; que diabo<br />
fazem aqui?<br />
O cônsul acaba <strong>de</strong> fazer uma aposta<br />
com madame Van-Ritter, aposta previamente<br />
ganha: os inglezes não apostam<br />
d'outro modo. Imaginem que a proposito<br />
<strong>de</strong> politica o cônsul pronunciou o nome<br />
<strong>de</strong> Talormi.<br />
Memma não quer acreditar que o<br />
con<strong>de</strong> Tolormi esteja em minha casa;<br />
sustenta que é impossicel. O cônsul<br />
apostou doze vasos <strong>de</strong> heliotropios <strong>de</strong><br />
Voltaire. Venham, vamos rir do <strong>de</strong>speito<br />
<strong>de</strong> Memma.<br />
—Meu caro di Negro, disse Talormi<br />
Desastres<br />
No domingo o carro que guiava o sr.<br />
Joaquim Albino Gabriel e Mello, ao <strong>de</strong>scer<br />
a la<strong>de</strong>ira do Seminário para a estrada<br />
da Beira, resvalou caindo o cavalio<br />
que o pucluva.<br />
Felizmente não houve <strong>de</strong>sgraças pessoaes;<br />
apenas se quebraram os arreios,<br />
socegando do susto c do trambulhão os<br />
que vinham <strong>de</strong>ntro do carro.<br />
# Na terça feira brincavam uns rapazes<br />
no largo do Romal, on<strong>de</strong> estava<br />
um carro sera os bois atrelados, o que<br />
lhes permittia dar-lhes movimento. Succe<strong>de</strong><br />
que as-rodas colheram um dos rapazes<br />
fraclurando-lhe a perna. Foi levado<br />
ao hospital.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
Tem eslado doente o nosso amigo sr.<br />
Francisco dos Santos Almeida, intelligente<br />
guarda-livros da camara municipal d'esta<br />
cida<strong>de</strong>. Desejamos as suas melhoras."<br />
DECLARAÇÃO<br />
Sr. redactor do Defensor do Povo —<br />
Rogo a v. ex. a o especial favor <strong>de</strong> fazer<br />
publicar no seu muilo lido e conceituado<br />
jornal a seguinte <strong>de</strong>claração:<br />
Constando me que o meu cobar<strong>de</strong><br />
aggressor, Joaquim Henriques Marques,<br />
e sua mulher, teem propalado que eu<br />
recebera d'elles uma certa quantia e, ainda<br />
que me estavam soccorrendo e a minha<br />
iamilia, venho <strong>de</strong>clarar que é completamente<br />
falso o eu ter d'elles recebido<br />
quantia aiguma, nem mesmo qualquer<br />
insignificante esmola. E' certo ler sido<br />
traiçoeira e propositadamente aggredido<br />
por elle, mas resta-me a dignida<strong>de</strong>, e essa<br />
prohibe-me que eu trausija com quem<br />
tão violentamente-me aggrediu.<br />
Sou pobre, mesmo pobríssimo, mas<br />
não me <strong>de</strong>ixaria corromper, praticando<br />
acções menos dignas. Isto aqui <strong>de</strong>claro<br />
para os <strong>de</strong>vidos elleitos.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
José Maria <strong>de</strong> Azevedo.<br />
a —<br />
AGRADECIMENTO<br />
Alexandre Horta e Zacharias <strong>de</strong> Sousa,<br />
vem por esta lorma tornar publico o seu<br />
elerno agra<strong>de</strong>cimento a todos os cavalheiros<br />
e corporações que se dignaram<br />
assistir ás missas <strong>de</strong> Requten que se<br />
celebraram na egreja <strong>de</strong> S. Pedro, no dia<br />
10 do corrente, por alma da ex. ma sr. a D.<br />
Aurélia Rosa Martins Sequeira da Fonseca,<br />
virtuosa esposa, do ex. m0 sr. dr. Augusto<br />
d'Arzilla Fonseca, lente <strong>de</strong> Mathematica<br />
e capitao do exercito.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
Alexandre Horta<br />
Zacharias <strong>de</strong> Sousa.<br />
<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>ndo-se do braço do marquez,<br />
quero fazer per<strong>de</strong>r a aposta cotisul ;<br />
não gosto dos inglezes. A<strong>de</strong>us; salo-me<br />
pela escada particular.<br />
— Muito bem, con<strong>de</strong> Talormi, disse<br />
Paulo, alu esta uma galanteria franceza<br />
e uma excellente inspiraçao. Deixe ganhar<br />
a aposta a madame Van-Ritter.<br />
— Já não lia lempo 1 disse o marquez<br />
di Negro. Eil-os que chegam!<br />
Ouviu-se uma voz doce e lirme que<br />
dizia:<br />
— Senhor cônsul, ê por pura complacência<br />
que o acompanho nesta investigação.<br />
Aposto ainda iodas as flores <strong>de</strong><br />
Génova.<br />
— E per<strong>de</strong>, minha senhora, disse o<br />
cônsul mostrando Taiormi que procurava<br />
fugir sem ser visto.<br />
Memma soltou um grito lugubre,<br />
junctou as mãos, olhou para o ceu e<br />
iuctando com energia conlra a súbita<br />
fraqueza, sorriu como louca e disse<br />
nuiua voz estri<strong>de</strong>nte:<br />
— Está bem! está bem, senhor! perdi!<br />
Talormi e Paulo tinham parado no<br />
limiar da porta da sala; o marquez di<br />
Negro e alguus outros indivíduos, testemunhas<br />
d esta scena, olhavam para<br />
Memma e olhavam-se em seguida numa<br />
altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> profunda estupefacção.<br />
I mpresso<br />
na Tyjjoyrajdiia<br />
Operaria — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
A Si MO I — M. 9 05 O DEFENSOR » POVO 15 dé fuinho <strong>de</strong> ISO®<br />
ANNUNCIOS<br />
128<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 ojo<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
EDITAL<br />
Cantara municipal <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> convida todos os<br />
cidadãos inscriptos no rol da contribuição<br />
<strong>de</strong> serviço d'este concelho, relativo<br />
ao corrente anno, a que venham <strong>de</strong>clarar<br />
na secretaria da municipalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> 15, dias a contar da data do presente<br />
edital, se querem pagar em serviço<br />
ou remir a dinheiro suas collectas,<br />
na conformida<strong>de</strong> do disposto no paragrapho<br />
2.° do artigo 18. c da lei <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong><br />
junho <strong>de</strong> 18M.<br />
<strong>Coimbra</strong>, Secretaria da Municipalida<strong>de</strong>,<br />
10 <strong>de</strong> judho <strong>de</strong> 1893<br />
O vice-presi<strong>de</strong>nte,<br />
Ruben Augusto d'Almeida Araujo Pinto-.<br />
1^6 f CoHtp** 1 * 1 *'" Auxiliar,<br />
« ao Arco do Bispo, t).° 2,<br />
faz leilão <strong>de</strong> todos os penhores que estejam<br />
em divida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tres mezes<br />
<strong>de</strong> juros, no dia 18 do corrente mez.<br />
O leilão começa ás 11 horas da manhã<br />
e fecha ás 4 da tar<strong>de</strong>, constando<br />
<strong>de</strong> roupas, fazendas <strong>de</strong> lã, ouro e prata<br />
moveis, muitos livros «e outros objectos.<br />
Ficam por este meio prevenidos todos<br />
os mutuários que tenham valores<br />
nesta casa.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
O gerente da Companhia,<br />
João-Augusto S. Favas.<br />
MOTO BARATO<br />
129<br />
fen<strong>de</strong>-ee em bom uso uma<br />
V mobilia <strong>de</strong> quarto, em<br />
mogno, fogão do cozinha, colchões, enxergões,<br />
candieiros <strong>de</strong> suspensão e <strong>de</strong><br />
pé para petroleo, e outros objectos <strong>de</strong><br />
uso domestico.<br />
Rua da Louça, 80, 2.°<br />
tyUADSlANTS<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para l SOS.<br />
SB ase longa, e outros apcr-<br />
* feiçoamentos<br />
JOSÉ m m i m s& ABANO<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da CortipUnhia Qimdinnti<br />
71<br />
Vendas pelo preço da Fabrica<br />
Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
124 M ^ e - a * um quasi Í10V( > e muito<br />
w bom, com todos os seus perteóces<br />
como seja 12 tacos, faqueiros,<br />
mãrcadoi 1 resto, e um jogo <strong>de</strong> bollas, para<br />
Ver e tratar cóm Rocha <strong>Coimbra</strong>, rua do<br />
João Cabreira, n.° 3.<br />
APRENDIZ DE FUNÍLEIRO<br />
191 I^reciga-se <strong>de</strong> um, na rua do<br />
JP Viscon<strong>de</strong> da Luz, 25.<br />
POMADA DO DR. QUÊIRÕ2<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para durar empigens<br />
e outras doetfças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geral — Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33—Lisboa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& C a<br />
N. B.— Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, Segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADBO DE C I M A - 2 0<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
G O I M S M i ^<br />
2 á RMAZEM <strong>de</strong> lamidas <strong>de</strong> algodão, íã e seda. Vendas por junto<br />
ix e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas tíoTfipfas para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> coróas e liouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glaeé e selim, em Iodas as côres 6 fargufas. douradas<br />
para adultos e eriançaá.<br />
Goniinúa a éivcarregat -se <strong>de</strong> íuneraes completos, armações fúnebres,<br />
e irasladaçôH láliío' nefsta Cida<strong>de</strong> Como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />
DA FABRICA<br />
DE<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
^ ivr^STE Deposito ffegufármente montado* se acha á venda* por<br />
junto e a retalho, lodos os produclos 4'aqwflia fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eguaes aos dâ fabrica.<br />
P M J W O R<br />
(OFF1CINA)<br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 l^ncarrcga-sc da pintara <strong>de</strong> taboletas, «asas, dotira-<br />
Kí çôes <strong>de</strong> egrejâs, *forrar casas a papel, ete., etc.,<br />
tanto*nesta cida<strong>de</strong> coino em toda a província.<br />
Ma mesma oilieina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS GOMMODOS<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital á.OOO:OOD^OOD réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1/<br />
A LA VILLE DE PARIS<br />
i<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
HP. IDÍE3XJIPQ;R.T<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 Porto<br />
CASA FILIAL EH LISBOA: RITA DO PRÍNCIPE E PRAÇA DOS RESTAURADORES (AVENIDA)<br />
Único repreâeiítante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOIO D09B1BBES SMM, ttUttlOB<br />
17—ADRO DE CIMA—20<br />
• A M 1 m m TACUS<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
RÉIi 1.300:000^000<br />
FUNDO DE BESERVA<br />
l|£II 91:000^000<br />
SJ&B® mm M S B O A<br />
Effectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio, n.° 14, 1.°<br />
POMADA B01T8A BBBPES 1 IMFIUH<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
Mi pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA: — Serze<strong>de</strong>llo tf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Rastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
BICYCLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101— Rua do Viscon<strong>de</strong> da Lui—lOÕ<br />
COIMBRA<br />
93<br />
«ta casa acaba <strong>de</strong> receber um<br />
E" explendido sortido <strong>de</strong> Bicycletes<br />
dos primeiros auclores, como é llumber,<br />
Durkopp Diannas Clement-^-em<br />
borrachas ôcas.<br />
A C11I2GAK—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrtllon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Bicy<strong>de</strong>tes<br />
Quadram que ven<strong>de</strong> por -preços muito<br />
mais-baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120$0o0 réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110$000 111<br />
Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores.<br />
SANTA CLARA<br />
Fabrica <strong>de</strong> massas alimentícias<br />
CE<br />
JOSÉ MORIM) B. MIRANDA<br />
118 S?"* 1 * fabrica continúa a pro J<br />
m (luzir as melhores qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> massas, pelos mesmos preços,<br />
satisfazendo sempre <strong>de</strong> prompto quaesquer<br />
encommendas.<br />
Para commodida<strong>de</strong> dos seus freguezes<br />
em <strong>Coimbra</strong> tem estabelecido um<br />
<strong>de</strong>posito no Adro <strong>de</strong> Cima <strong>de</strong> S. Bartliolameu,<br />
e bem assim communicação telephonica<br />
com o estabelecimento <strong>de</strong> mercearia<br />
do sr. José Tavares da Costa,<br />
successor, no largo do Príncipe D. Carlos,<br />
on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser feitos os pedidos.<br />
ANTONIO VEIGA<br />
Latoeiro tTamarello<br />
e fabricante <strong>de</strong> carimbos <strong>de</strong> borracha<br />
RUA DAS SOLAS-COIMBRA<br />
^ gtxecuta-ge todo o trabalho <strong>de</strong><br />
jfat carimbos em todos os gene<br />
ros, sinetes, fac-similes e monogrammas.<br />
— Especialida<strong>de</strong> em lampadas, cruzes,<br />
banquetas, cal<strong>de</strong>irinhas e mais objectos<br />
para egreja. — Faz-se toda a obra <strong>de</strong><br />
metal em chapa, fundição e torneiro,<br />
âmáfella e branca. — Prateia-se lodo o<br />
objecto <strong>de</strong> metal novo ou usado.<br />
120 A r r e M , , a " I B e 0 2.° andar e<br />
M aguas furtadas da casa<br />
n.° 6 do Paleo <strong>de</strong> Inquisição.<br />
Trata-se na Praça do Commercio,<br />
n.° 1 a 5.<br />
CASA DE PENHORES<br />
I • |H>ft>| /!• ; 3 !• I<br />
NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
r-i inpresta-ae dinheiro sobre<br />
M objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
A.rco <strong>de</strong> Almedina. 2 a G — COIMBRA.<br />
A QUEM PRECISE<br />
117 umas estantes<br />
V qttinsi novos; são próprias<br />
para mercearia, ou outro negocio.<br />
Para tratar com João Vieira da Silva<br />
Lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />
105<br />
MARCA «ANGORAS»<br />
V *<br />
mi<br />
entle-ge no estabelecimento<br />
.M IJO OA CUNHA PINTO<br />
74, Rua dos Sapateiros, 80<br />
O DEFENSOR DO PúVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, 1.»<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir a<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATORA<br />
Com estampilha<br />
Anno 20700<br />
Semestre.... 10350<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2*5400<br />
Semestre.... 21£00<br />
Trimestre... 600
0 orçamento<br />
Depois <strong>de</strong> bastantes annos <strong>de</strong><br />
abstenção, da parte do nosso parlamento,<br />
<strong>de</strong> se seguir o preceito<br />
constitucional da discussão do orçamento,<br />
quizeram as camaras<br />
actuaes quebrar essa tradição prejudicial<br />
e discutir á face do paiz o<br />
orçamento do Eslado.<br />
Parecia, assim, que o empenlio<br />
do governo, e não menos o do parlamento,<br />
era entrar numa nova era<br />
<strong>de</strong> reflexão e <strong>de</strong> prudência, com o<br />
fito sempre numa analyse judiciosa<br />
das receitas do estado, lendo em<br />
mira constantemente o equilíbrio<br />
orçamental; e que para isto envidariam<br />
o melhor dos seus esforços,<br />
absorveriam a sua attenção inteira,<br />
o seu cuidado constante, 110 trabalho<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>strinçarem, no mare mcignum<br />
orçamental, as multíplices verbas<br />
injustificadas, que estão onerando<br />
extraordinariamente o nosso<br />
orçamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas; e que levantariam,<br />
<strong>de</strong>pois d'um critério seguramente<br />
baseado num exame <strong>de</strong>tido<br />
e consciencioso dos recursos<br />
do paiz, os muitos talheres escandalosamente<br />
postos á meza do orçamento,<br />
sacudindo d'esle modo o<br />
bando <strong>de</strong> parasitas, que, á semelhança<br />
dos zangãos das colmeias,<br />
só sabem sugar o mel sem nada<br />
produzirem.<br />
Parece que <strong>de</strong>via ser este o fim<br />
do parlamento ao propôr-se discutir<br />
o orçamento, e que para isso<br />
<strong>de</strong>veria empregar todos os meios<br />
alimentes á sua consecução. Mas,<br />
o que vemos nós? Tal qual como<br />
quando se limitavam a approvar,<br />
<strong>de</strong>pois d'um simulacro <strong>de</strong> discussão,<br />
as leis <strong>de</strong> meios, vemos agora<br />
do mesmo modo o sr. Carrilho, o<br />
indispensável Carrilho <strong>de</strong> lodos os<br />
ministérios, o mais celebre <strong>de</strong> todos<br />
os embrulhadores <strong>de</strong> algarismos,<br />
prompto sempre a <strong>de</strong>monstrar que<br />
o mais positivo saldo se <strong>de</strong>duz das<br />
conlas geraes do Eslado, e que isto<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficit, em o nosso orçamento,<br />
não passa <strong>de</strong> mera phanlasmagoria!.<br />
.. Esle tour <strong>de</strong> force <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração<br />
já o emerito conselheiro<br />
tem feito; e, se não o fizer agora,<br />
será por <strong>de</strong> todo achar imprópria a<br />
occasião para taes acrobatismos financeiros.<br />
Pois o illustre orçamenlologo<br />
lá continua ua sua funcção <strong>de</strong> relator<br />
encartado, orgão já imprescindível<br />
em o nosso organismo financeiro,<br />
a baralhar e barafustar, em<br />
explicações que têm o raro mérito<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar tudo na mesma. E é tão<br />
conscienciosa a tal discussão, que<br />
o orçamento vae sendo votado <strong>de</strong><br />
afogadilho na generalida<strong>de</strong> e na<br />
especialida<strong>de</strong>; tudo <strong>de</strong> corrida. ..<br />
Bom éassim, que nestes tempos<br />
<strong>de</strong> pouco vale cada um cançar-se,<br />
nem mesmo no <strong>de</strong>sempenho dos<br />
seus <strong>de</strong>veres—é esla, infelizmente,<br />
a fórmula corrente; e os srs. <strong>de</strong>putados<br />
dizem <strong>de</strong> si para si, que é<br />
escusado ninguém metter-se a endireitar<br />
o mundo.<br />
E d'este modo, na corrente <strong>de</strong>stes<br />
aphorismos, que já vão fazendo<br />
parte da sabedoria das nações, cada<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
um vae <strong>de</strong>sculpando a sua inôúria,<br />
ou a sua inépcia; Os negocios públicos<br />
continuarão como alé aqui;<br />
o orçamento não será discutido; ós<br />
escalrachos continuarão a vegetar<br />
nas sarças orçamenlaes; o vampirismo<br />
lornar-se-ha normal; o paiz,<br />
muito <strong>de</strong>scançado e tranquillo, não<br />
<strong>de</strong>ixa,á <strong>de</strong> pagar bealificamenle,<br />
todos os <strong>de</strong>sperdícios e todas as<br />
roubalheiras... e tudo continuará<br />
nesta sanla pan<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> lazzaroni<br />
para quem não ha o dia d amanhã!<br />
Povo feliz, o nosso...<br />
• «<br />
As economias<br />
Esta gente do ministério anda a<br />
brincar com os cofres públicos, apezar<br />
<strong>de</strong> confessarem que tudo está limpinho<br />
e secco.<br />
No orçamento do ministério da marinha<br />
introduzitt-se mais uma verba para<br />
pagamento <strong>de</strong> gratificações da patente<br />
aos diversos ofliciaes da armada que<br />
tenham exercício <strong>de</strong> conimissões no ministério.<br />
E é nesta febre <strong>de</strong> augmento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spezas<br />
em que dão as apregoadas economias!<br />
Mas lemos mais:<br />
• A generaes <strong>de</strong> brigada vão ser providos<br />
na primeira or<strong>de</strong>m do exercito os<br />
«rs. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Januario e Il<strong>de</strong>fonso<br />
<strong>de</strong> Azevedo, do estado maior;. Lobo<br />
Sepulveda, <strong>de</strong> artilheria; Antonio Campos,<br />
<strong>de</strong> cavallaria; Costa Ribeiro e Costa<br />
Pimentel, <strong>de</strong> infanteria.<br />
Das promoções nascem as reformas<br />
e o paiz lica a braços com mais estes<br />
inválidos. Bem se diz que o exercito<br />
portuguez é composto <strong>de</strong> espadas e<br />
bandas.<br />
E o sr. ministro da guerra a arranjar<br />
o escadorio para subir <strong>de</strong>pressa — maganão<br />
!<br />
E mais:<br />
O orçamento do ministério das obras<br />
publicas accusa um augmento na <strong>de</strong>spesa<br />
ordinaria <strong>de</strong> 95:254/000 e na<br />
extraordinaria <strong>de</strong> 50:000/000 <strong>de</strong> réis;<br />
Diminuindo-se no capitulo <strong>de</strong> estradas<br />
59:852/000 réis.<br />
Lembra aquelle dito: arroz para a<br />
musica, bacalhau para o pregador.<br />
Liberda<strong>de</strong> religiosa<br />
Vae ser dirigida uma representação<br />
á camara dos <strong>de</strong>putados, assignada por<br />
pessoas liberaes e conscienciosas, sem<br />
resliicção do parlido religioso ou politico,<br />
pedindo a abolição dos artigos 130 e<br />
135 do Codigo Penal. E' justo que se<br />
retirem da nos-a legislação taes artigos,<br />
proprios das antigas epochas tenebrosas<br />
e atterrorisadoras, e <strong>de</strong> que os proprios<br />
marroquinos e j iponezeg actualmente se<br />
ririam, se tivessem conhecimento d'eiles;<br />
porque na verda<strong>de</strong> em Marrocos, no<br />
Japào e outros paizes ha liberda<strong>de</strong> religiosa,<br />
e Portugal, embora não siga por<br />
emquanto na sua plenitu<strong>de</strong> os altos princípios<br />
<strong>de</strong>mocráticos, não <strong>de</strong>ve entretanto<br />
ficar inferior as nações inferiores. E<br />
agora que para rever o codigo penal foi<br />
nomeada uma commissão, aon<strong>de</strong>, segundo<br />
consta, ha indivíduos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
illustração e <strong>de</strong> reconhecidos "sentimen<br />
tos liberaes não <strong>de</strong>vem esses artigos<br />
<strong>de</strong>smerecer uma especial attenção da<br />
parte dos commissionados.<br />
Ainda ha pouco tempo no parlamento<br />
austríaco foi apresentada pelo ministro<br />
respectivo uma proposta sobrte liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cultos, que loi recebida com vivos e<br />
geraes applausos. Noutros paizes catholicoi<br />
apezar da viva opposição ultramontana<br />
ha muito que imperam os princípios<br />
sobre liberda<strong>de</strong> religiosa.<br />
Não é justo então que nos vamos<br />
também emancipando pouco a pouco do<br />
jesuitismo, do ultramontanismo, <strong>de</strong> todas<br />
as aves negras, que querem voltar aos<br />
conventos, á santíssima inquisição e suas<br />
purificadoras e queridas fogueiras?!...<br />
0 abastecimento d'agua<br />
Ainda temos bem presente o conciso<br />
artigo local, que em 22 <strong>de</strong> novembro<br />
do anno passado publicou o nosso<br />
collega a Correspondência <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
quando a administração da camara estava<br />
nas mãos do sr. dr. Costa Allemão.<br />
B"oflf artfrfff na verda<strong>de</strong>'; bem eScripto,<br />
bem pensado, tfarrando a historia<br />
do abastecimento das aguas que era instantemente<br />
pedido em nome da hygiene,<br />
e mostrando que agora que a canalisação<br />
estava feita e a agua corria por<br />
<strong>de</strong>baixo do solo, as classes menos abastadas<br />
continuavam sem ter agua enf<br />
abundancia para seu uso, para banhos<br />
e para a lavagem das suas casas, em<br />
geral pouco bygienicas.<br />
E neste tom, por ahi fóra, o nosso<br />
collega fazia ver, com justa razão, que<br />
a agua impura é o mais perigoso vehicuto<br />
<strong>de</strong> germens epi<strong>de</strong>micos; e que a agua<br />
pura é consi<strong>de</strong>rada como o primeiro<br />
agente para a boa hygiene, pori sso que<br />
conserva a limpeza e é um <strong>de</strong>sinfectante<br />
barato.<br />
E tinha razão a Correspondência <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, e ainda a tem hoje, apezar <strong>de</strong><br />
que a não vêmos insistir neste importante<br />
assumpto, o principal para a boa<br />
hygiene d'uma cida<strong>de</strong> como <strong>Coimbra</strong>,<br />
que até se consi<strong>de</strong>ra a terceira do reino 1<br />
Des<strong>de</strong> a saida do sr. dr. Costa Allemão<br />
as condições em que nos achamos<br />
são as mesmas, as necessida<strong>de</strong>s eguaes,<br />
e agora que a cholera, lá longe, parece<br />
recru<strong>de</strong>scer com violência, mais urgente<br />
se torna que o collega, nós todo*—que<br />
temos por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses<br />
públicos e zelar pela saú<strong>de</strong> e hygiene dos<br />
nossos conterrâneos—unamos os nossos<br />
brados, pedindo á camara que tenha em<br />
consi<strong>de</strong>ração este pon<strong>de</strong>roso assumpto,<br />
dando immediatas provi<strong>de</strong>ncias.<br />
E <strong>de</strong> braço dado com o collega, nesta<br />
questão, pois que ella constitue um melhoramento<br />
indispensável feito á população<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, para aqui transcrevemos,<br />
com respeitoso cumprimento, os<br />
consi<strong>de</strong>randos que fizeram parte do magnifico<br />
artigo a que nos vimos referindo:<br />
«—Está ou não provado que a agua<br />
é um dos primeiros elementos <strong>de</strong> uso<br />
commum e ordinário, para todos os misteres<br />
da vida ; para beber, para todas<br />
as necessida<strong>de</strong>s domesticas e culinares,<br />
para banhos, para lavagem?<br />
«Está provado por unanimida<strong>de</strong>...<br />
«—Está ou não provado que a agua<br />
é um dos primeiros agenies da boa hygiene<br />
para combater por meio da limpeza qualquer<br />
principio morbido na presença <strong>de</strong><br />
uma epi<strong>de</strong>mia ?<br />
«Está provado; cremos que também<br />
por unanimida<strong>de</strong><br />
«— Está ou não provado que a agua<br />
se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar, <strong>de</strong>baixo d'este ponto<br />
<strong>de</strong> vista, como o primeiro, e até por<br />
ventura, o maior <strong>de</strong>sinfectante barato que<br />
temos facilmente ao nosso alcance ?<br />
«Está provado do mesmo modo.<br />
«—Está ou não provado que, lendo<br />
nós hoje este gran<strong>de</strong> agente da hygieue<br />
ao nos-o alcance, facilmente po<strong>de</strong>mos e<br />
<strong>de</strong>vemos leval-o a todos, os pontos da<br />
cida<strong>de</strong> ?<br />
«Está provado egualmente.<br />
«— Está ou não provado finalmente<br />
que a agua é absolutamente necessaria a<br />
todos, ricos e pobres; mas que a estes<br />
muito mais pelas razões que a todos são<br />
obvias ?<br />
«Está lambem provado, bem provado<br />
á evi<strong>de</strong>ncia.<br />
«Em vista, pois, <strong>de</strong> (anta prova provada,<br />
que ninguém contesta, nem pô<strong>de</strong>,<br />
resla-nos pedir á nova camara que dè a<br />
sua sentença isto é, que nos dê agua<br />
com fartura, em abundancia, por toda a<br />
parte, por qualquer modo que seja, e<br />
para todos: por meio <strong>de</strong> marcos fontenarios,<br />
ou não fontenarios, chafarizes,<br />
fontes, ou como melhor queiram<br />
chamar-lhe.»<br />
São, pois, estes consi<strong>de</strong>randos, que<br />
fazemos nossos, que nós oITerecemos á<br />
consi<strong>de</strong>ração dos actuaes vereadores,<br />
<strong>de</strong> modo que cm breve possam dar o<br />
ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />
do Povo<br />
seu veredictum e conce<strong>de</strong>r aos habitantes<br />
d'esta cida<strong>de</strong> tão importante melhoramento.<br />
E esperamos também que aquelle<br />
nosso collega empenhe, a sua importancia<br />
e valimento — que o tem — junto da<br />
camara, conseguindo que estas faltas que<br />
foram notadas na gerência do sr. dr.<br />
Costa Allemão, e que ainda se conservam<br />
na camara a quê presi<strong>de</strong> o sr. dr. João<br />
Maria Corrêa Ayres <strong>de</strong> Campos, obtenham<br />
em muito brévé tempo reparação.<br />
Cate aqui chamar a attenção dos<br />
vereadores para o populoso bairro d'Arregaça,<br />
on<strong>de</strong> os seus moradores luclam<br />
com gran<strong>de</strong>s difficulda<strong>de</strong>s para obter a<br />
agua necessaria para o uso domestico.<br />
Não sabemos a razão porque um bairro<br />
tão populoso não mereceu da camara<br />
passadaespecial attenção, e para aquelle<br />
sitio se não canalisou a agua, conce<strong>de</strong>ndo<br />
assim aquelles munícipes as regalias<br />
<strong>de</strong> que gosa toda a cida<strong>de</strong> que tem o<br />
rio a dois passos da sua habitação.<br />
Porque nós consi<strong>de</strong>ramos os habitantes<br />
d'Arregaça com egual direito a usufruir<br />
dos melhoramentos que a cida<strong>de</strong><br />
disfrucla, pela razão <strong>de</strong> que todos pagam<br />
e contribuem com pezado imposto.<br />
Como se po<strong>de</strong> suppôr é cara e trabalhosa<br />
a acquisiçâo d agua para aquelle<br />
ponto, distante como lhe fica o rio Mon<strong>de</strong>go,<br />
porisso da única fonte que ha e lhe lica<br />
próxima — a do Castanheiro — corre um<br />
tenue fio d'agua que quasi não chega<br />
para beber, sendo preciso gastar muito<br />
lempo para se conseguir encher um<br />
cantaro.<br />
E', como se vê, <strong>de</strong> absoluta necessida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> inteira justiça que a actual<br />
camara repare esta falta, e man<strong>de</strong> canalisar<br />
agua para aquelle bairro, não sacrificando<br />
por mais tempo os habitantes do<br />
bairro d'Arregaça, que se veem excluídos<br />
d' um tão importante elemento <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> hygiene.<br />
290 contos!<br />
Mais um <strong>de</strong>sfalque, como se chama<br />
aos roubos gran<strong>de</strong>s, acaba <strong>de</strong> apparecer<br />
no banco Commercial e Industrial do<br />
Porto.<br />
Segundo noticias do Porto ácerca<br />
d'este importante roubo, diz-se que em<br />
consequência <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> artigos<br />
publicados o anno passado numa folha<br />
d'aquella cida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>legado do ministério<br />
publico, dr. Castro Sola, mandou examinar<br />
por peritos a escripturação do Banco<br />
Commercio e Industria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua inslallaçao.<br />
Examinada a escripturação, os<br />
peritos íoram <strong>de</strong> parecer que havia um<br />
<strong>de</strong>sfalque <strong>de</strong> duzentos e noventa e tantos<br />
contos. O dr. Castro Sola formulou quesitos,<br />
perguntando quaes os indivíduos<br />
responsáveis pelo <strong>de</strong>sfalque.<br />
A resposta dos peritos foi que não<br />
era possivel apurar essa responsabilida<strong>de</strong>,<br />
a qual cabia a todos os directores e conselheiros<br />
fiscaes.<br />
Em face da resposta dos peritos, o<br />
dr. Castro Sola requereu querela contra<br />
todos os directores e membros dos conselhos<br />
fiscaes do banco, tendo o processo<br />
sido presente ao juiz Margarido<br />
Pacheco.<br />
Os accusados eram 18, mas já morreram<br />
ou sahiram do paiz 6.<br />
Como se vê os ladrões augmentam,<br />
sem o que o paiz os veja castigados, e<br />
sem que a Penitenciária os tenha sob a<br />
sua guarda.<br />
Bica justiça a d'estes reinos!<br />
De regresso<br />
E' esperada em Lisboa no dia 22<br />
a sr. a D. Maria Pia e a sua comitiva,<br />
que regressam <strong>de</strong> Paris, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>morada<br />
viagem pela ltalia.<br />
Como sabem os leitores, a rainha<br />
esteve em Marselha e o microbio da<br />
cholera continua <strong>de</strong>vastador. Que não<br />
tenhamos dois prejuízos: ver ar<strong>de</strong>r o<br />
nosso dinheiro, pagando-nos o sacrifício<br />
cio com a internação da cholera em Portugal.<br />
Perigosos viajantes!<br />
Sé Velha<br />
Acabam <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scobertos na capella-mór<br />
da Sé Velha dois túmulos muraes,<br />
cuja existencia era <strong>de</strong>sconhecida :<br />
um com a figura jacente d'um bispo em<br />
vestes <strong>de</strong> pontifical, do lado do evangelho;<br />
o outro, do lado da epistola, encimado<br />
por uma <strong>de</strong>coração golhica, talvez<br />
trabalho mu<strong>de</strong>gar, circumdando um nicho.<br />
Estavam occultos sob os apainelados<br />
<strong>de</strong> talha que revestem as pare<strong>de</strong>s e abobada<br />
da capella.<br />
_ Neste momento não será fácil a <strong>de</strong>terminação<br />
exacta dos prelados a quem<br />
pertencem. Na archeologia conimbricense<br />
é manha velha catfa um aflirmar o que<br />
lhe apraz sobre qualquer texto mais ou<br />
menos illusorio; <strong>de</strong> forma que naquella<br />
uecropole episcopal a confusão é completa<br />
e ninguém se enten<strong>de</strong>.<br />
Não ha inscripções authenticas e as<br />
etiquetas tem sido fix^las ao sabor da<br />
phautasia.<br />
Este sepulchro do lado do evangelho,<br />
ua verda<strong>de</strong> muito notável, será <strong>de</strong> D. Tiburcio,<br />
<strong>de</strong>vendo attribuir-se a D. Bermudo,<br />
por exemplo, o que até aqui tem sido<br />
consi<strong>de</strong>rado como sendo d'aquelle prelado?<br />
Será o <strong>de</strong> D. Egas Fafes, suppondo<br />
o da porta <strong>de</strong> Santa Clara <strong>de</strong> epocha<br />
posterior? *<br />
E on<strong>de</strong> ficará o <strong>de</strong> D. Estevão e outros?..<br />
.<br />
Para ja, seria menos pru<strong>de</strong>nte aventar<br />
opinião, sem que seja <strong>de</strong>monstrável<br />
por argumentos sérios. Mas é <strong>de</strong> crer<br />
que <strong>de</strong>ntro em pouco os dados do problema<br />
possam ser coliocados em condições<br />
que facilitem as investigações e a<br />
solução <strong>de</strong>finitiva.<br />
A obra <strong>de</strong> ^lalha que os escondia<br />
sendo, como é, <strong>de</strong> somenos importancia<br />
relativa, constitue um additamento <strong>de</strong><br />
péssimo gosto pela perturbação com que<br />
aflronla a sobrieda<strong>de</strong> do templo e a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />
dos lavores liligranados do explendido<br />
altar-mór.<br />
A arte nada solfria e, pelo contrario,<br />
haveria tudo a lucrar removeudo aquella<br />
pesadíssima moldura, d'um vegctabilismo<br />
a século XVII, aliás valioso, em outra<br />
qualquer parte.<br />
Merece ser maduramente <strong>de</strong>batido o<br />
alvitre que naturalmente se suggere acerca<br />
da remoção d um tal revesiimeiilo <strong>de</strong>corativo,<br />
que nada justifica, prolixo, insupporlavei,<br />
d um contraste suffocante.<br />
Por fórma alguma aconselharíamos a<br />
sua <strong>de</strong>struição; mas simplesmente reconhecemos<br />
a necessida<strong>de</strong> impreterível <strong>de</strong><br />
fazer <strong>de</strong>sapparecer d'alli aquella sobrecarga<br />
inteiramente ina<strong>de</strong>quada e insensata.<br />
A applicação a dar-lbe seria uma<br />
outra questão.<br />
Assim seria reposta em toda a evi<strong>de</strong>ncia<br />
no pleno elleito do seu esplendor<br />
o <strong>de</strong>licioso aitar, que brilharia, como<br />
um sacrário <strong>de</strong> ouro, sobre o fundo da<br />
côr terna e doce da cilhana.<br />
Apanhado e preso<br />
OA.<br />
Foi preso na estação da Barquinha<br />
quando tentava seguir para Hespanha,<br />
Theodoro da Costa, empregado ua recebedoria<br />
do Cadaval, que lia dias fugira<br />
por ver alcançado o cofre em quantia<br />
superior a um conto <strong>de</strong> réis.<br />
Que ninguém ainda apanhou o ladrão<br />
da junta geral do Porto e o d Evora, que<br />
se abotoaram com centenas <strong>de</strong> contos I<br />
Um achado<br />
Numa proprieda<strong>de</strong> do sr. dr. José<br />
Men<strong>de</strong>s Alçada <strong>de</strong> Paiva, <strong>de</strong>nominada a<br />
Palhota, proximo á Covilhã, foi encontrado<br />
uma importante somma <strong>de</strong> dinheiro<br />
em ouro, em boas libras e moedas <strong>de</strong><br />
cinco mil réis, por um trabalhador que<br />
procedia a excavação em umas obras<br />
que o sr. dr. Alçada trazia naquella proprieda<strong>de</strong>.<br />
O trabalhador que encontrou o dinheiro<br />
dividiu-o pelos companheiros.
A N N O I — N.° O ©<br />
C R Y S T A E S<br />
Orações <strong>de</strong> amor<br />
Creio no que tu crês;<br />
por isso escuto o que essa voz me diz<br />
e te ajoelho assiduamente aos pés.<br />
Creio no teu sorriso;<br />
e sinto-me, se o vejo, — tão feliz,<br />
como junto do sonho que i<strong>de</strong>aliso.<br />
Creio no teu olhar,<br />
é elle que me rasga, glorioso,<br />
as mil portas do céo <strong>de</strong> par em par.<br />
Creio em teu coração;<br />
que, emfim, é como um templo magestoso,<br />
on<strong>de</strong> eu adoro a própria adoração.<br />
ANTONIO FOGAÇA.<br />
LBTTRAS<br />
As rosas e as borboletas<br />
(CONCLUSÃO)<br />
IV<br />
No entanto as borboletas esperavam<br />
ainda que ellas, as bellas fugitivas,<br />
viessem pousar entre as suas azas tremulas<br />
dc amor e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. Mas <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>!<br />
As águias; as andorinhas e as cotovias<br />
cruzavam o espaço e lá em cima, nem<br />
uma rosa, nem uma, surgia no azul!<br />
Como te entristecerias, leitora, se visses<br />
as pobres borboletas quando se convenceram<br />
<strong>de</strong> que as rosas tinham partido<br />
e para sempre. Pendidas nas hastes,<br />
dír-se-hiam mortas. Coitadas 1 Tinham<br />
no coração o <strong>de</strong>sanimo e por toda a<br />
parle a treva, a solidão. On<strong>de</strong> esses<br />
punhados <strong>de</strong> rubis, <strong>de</strong> saphiras, <strong>de</strong><br />
ametistas e <strong>de</strong> esmdTaldas das suas<br />
azitas? On<strong>de</strong> esse fragmento <strong>de</strong> arcoiris?<br />
Nada tudo isso <strong>de</strong>sbotará. Nisto<br />
voltou a briosa feiticeira que tinha castigado<br />
as rosas ingratas, e conipu<strong>de</strong>cendo-s,e<br />
das tristes borboletas, partiu com<br />
um sopro as hastes que a prendiam á<br />
terra.<br />
E as borboletas libertas bateram as<br />
azas e voaram... Para on<strong>de</strong>? Fm busca<br />
do vaMe, <strong>de</strong> silvados e espinheiros, on<strong>de</strong><br />
as rosas esmoreciam sobre as bastes,<br />
que o vento balouçava brandamente.<br />
J£' <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse dia que as borboletas<br />
beijam livremente os seios sonhe rios e<br />
perfumados das rosas que não voam<br />
mais.<br />
V<br />
Mas por muito ternamente beijadas<br />
que sejam as rosas não se julgam <strong>de</strong><br />
lodo felizes.<br />
Deve ser suave e doce, sendo flôr,<br />
sentir-se acariciada no fundo do cálice.<br />
Mas a immobilida<strong>de</strong> a que se acham<br />
con<strong>de</strong>mnadas, impe<strong>de</strong>-as <strong>de</strong> escolher<br />
aquelles por quem <strong>de</strong>sejariam ser amadas.<br />
E ellas, coitadas, enlregam-se >em<br />
resistencia! Uma borh<strong>de</strong>ta veiu poisar-<br />
Ihe nas pétalas... Mas quantos <strong>de</strong>sejos,<br />
quantas sauda<strong>de</strong>s por aquella que passou<br />
sem vel-as 1 Triste! Assim, as rosas<br />
lamentam-se continuamente,- e choram,<br />
emquanlo a natureza espalha sorrisos,<br />
perfumes e luz. E nao voltarão jamais<br />
os beijos tempos idos da sua liberda<strong>de</strong><br />
por esses campos fóra' em que se libravam<br />
<strong>de</strong> envolta com as andorinhas e as<br />
cotovias! A fada dos ventos, na sua<br />
justiça, não as julgou até hoje suficientemente<br />
castigadas; e ellas coniinuam,<br />
presas as solo, a baloiçar-se nas hastes<br />
que as brisas não quebrarão nunca.<br />
Mas a fada ha <strong>de</strong> uni dia humauisarse,<br />
ámanhã talvez: as flores libertas<br />
seguirão os insectos livres, e' na luz<br />
veremos então voejar, palpitando, os<br />
dois amante», alados ambos ! Então, no<br />
topo das hervagens frescas, nos ramos<br />
altos das carvalheiras e das acaiias, em<br />
cada vergonlea, em cada lufo <strong>de</strong> verdura,<br />
a brisa baloiçará um ninho <strong>de</strong> borboleta<br />
e rosa...<br />
Catulle Men<strong>de</strong>s<br />
• O somno dos justos<br />
Dorme — ha que tempos! — o somno<br />
dos justos o celebre projecto <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />
ministerial, que está sendo<br />
embalado pela commissão respectiva que<br />
não <strong>de</strong>u ainda o seu parecer.<br />
Nem dará! Tão tolos seriam os ministros<br />
e os outros que iriam dar corda<br />
para se enforcar; não que Mariano e os<br />
outros marianos ainda esperam voltar aos<br />
conselhos da coroa.<br />
B a n q u e i r o con<strong>de</strong>mnado<br />
O tribunal criminal dc Roma, con<strong>de</strong>mnou<br />
e réu Cucimiello, ex-director do<br />
banoo <strong>de</strong> Nápoles, a 10 annos <strong>de</strong> recluzão<br />
e o caixa Dalessandro a 6 annos e<br />
8 mezes da mesma pena, ambos accu-ados<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>, fundos.<br />
Portugal é um paraizo. Veja-se se<br />
os da quadrilha que assaltaram o cofre<br />
da junta do Porto, a lhesouíaria d'Evora,<br />
os bancos do Povo c Lusitano, a Com<br />
panhia dos caminhos <strong>de</strong> ferro, e tantos<br />
outros hidrões e panamistas, não gozam<br />
á regalada, sendo consi<strong>de</strong>rados e queridos<br />
pela alta socieda<strong>de</strong>.<br />
Razão tinha A<strong>de</strong>lino Veiga, quando<br />
escreveu :<br />
Em tempos que já là vão<br />
punham-se os ladrões nas cruzes;<br />
hoje, no sedo das luzes,<br />
põe-se as cruzes no ladrão...<br />
Dynamite em Madrid<br />
Pela noticia transmittida pela Flavas<br />
sobre a explosão na praça do Oriente,<br />
sabe-se que a bomba rebentou ás 10 horas<br />
da noite, alarmando toda a gente<br />
que nessa occasião se achava naquella<br />
praça e nas immediações.<br />
O petardo estalára com tanta força<br />
que o estrondo ?e ouviu dislinctamente<br />
no bairro <strong>de</strong> Salamanca e na parte baixa<br />
<strong>de</strong> Madrid, até á estação das Delicias.<br />
Pô<strong>de</strong> calcular se o ruido produzido<br />
pela <strong>de</strong>tonação. Muitas pessoas suppozeram<br />
que ella tivesse partido do local <strong>de</strong><br />
alguma das festas, especie <strong>de</strong> romarias<br />
que ha em Madrid nas noites <strong>de</strong> Santo<br />
Antonio, attributndo a a. qualquer peça<br />
<strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> artificio disparada cm virtu<strong>de</strong><br />
d'unia explosão.<br />
Durante mais d'uma hora não se -oube,<br />
com precisão, <strong>de</strong>terminar o local<br />
on<strong>de</strong> rebentara o petardo. Somais tar<strong>de</strong><br />
é que se pô<strong>de</strong> saber que a explosão ?e<br />
déra em frente do palacio real.<br />
O ruido da explosão poz em alarme<br />
a guarda do palacio, os serenos que já<br />
estavam em serviço e as patrulhas, que<br />
naquelles sitios são numerosas.<br />
Os soldados pertencentes ao quarto<br />
vigilante da guarda do palacio, que eram<br />
oito, além do cabo e do sargento <strong>de</strong> serviço,<br />
sairam armados do seu posto ccomeçaram<br />
afastando do largo o povo que<br />
se agglomerára <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> saber o que<br />
tinha acontecido.<br />
Tinha acabado a ceia da familia real<br />
quando rebentou a bomba <strong>de</strong> dynamite.<br />
Como era natural, no paço sentiu se curiosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> saber o que succedia, sem<br />
que, apezar d'isso, se désse ao facto importância<br />
alguma.<br />
Sua magesta<strong>de</strong> a rainha regente, que<br />
estivera <strong>de</strong> cama durante todo o dia, em<br />
consequência d uma ligeira indisposição,<br />
linha ceiado no seu quarto. Logo que<br />
se <strong>de</strong>u a explosão, enlrou nos aposentos<br />
da regente a archiduqueza Isabel,<br />
ipie lhe foi dar parte do succedido.<br />
A rainha também não ligou imporlancia<br />
ao caso.<br />
Meia hora <strong>de</strong>pois da explosão tudo<br />
tinha retomado o seu normal aspecto na<br />
piaça do Oriente.<br />
Que parelha <strong>de</strong>diplomatas!<br />
Còiista qiie o Ínclito Emygdio Navarro,<br />
o lai que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> bem abotoado<br />
com chnlels sumptuosos e muclias cosas<br />
mus, t alou <strong>de</strong> vigorar grossas prebendas<br />
no haut mon<strong>de</strong> da diplomacia,<br />
<strong>de</strong>seja passar <strong>de</strong> Paris para Madrid.<br />
Neste caso, parece que o substiiuirá<br />
naquella embaixada o não menos illustre<br />
senhor Mariano <strong>de</strong> Carvalho, que<br />
po<strong>de</strong>rá em Paris, pelas suas ultimas relações<br />
com a judiaria da linança, empregar<br />
bem a sua activida<strong>de</strong> honesta.<br />
Do que Portugal se pô<strong>de</strong> gabar é <strong>de</strong><br />
ser representado no estrangeiro pelos<br />
dois especiniens mais característicos da<br />
honestida<strong>de</strong>.<br />
Que dois sucios !<br />
A viajata aos Açores<br />
E' certa a visita <strong>de</strong> suas magesta<strong>de</strong>s<br />
aos Açores, sendo conduzidas no Vasco<br />
da Gama, comboiado pela corveta Affonso<br />
d'Albuquerque, e por outra que se achar<br />
disponível, e que servirá <strong>de</strong> aviso.<br />
Que até consola a genle ver augmentar<br />
os impostos, para que os nossos reis<br />
vão regalad unente passear os Açores.<br />
Quando irão para a Africa?<br />
O D E F E N S O R D O P O V O 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 18® 3<br />
EM SURDINA<br />
Guilherme Gomes, do Porto,<br />
grã-general dos bombeiros,<br />
foi a Londres — e, absorto<br />
com a terra dos gaiteiros...<br />
<strong>de</strong>iton falias choramingas,<br />
<strong>de</strong>u vivas em gran<strong>de</strong> berra,<br />
e com inais duas, tres pingas<br />
disse ser a Inglaterra,<br />
a segunda patria amada III...<br />
— Diz-me aqui o Xavier:<br />
bombeiros —uma cambada...<br />
são paus p'ra toda a colher 111<br />
PINTA-ROXA.<br />
Os bombeiros do Porto<br />
em Londres<br />
O Lord Mayor <strong>de</strong> Londres inaugurou<br />
no dia 12 o congresso dos bombeiros,<br />
ao qual assistiram contingentes dos Estados-Unidos,<br />
França, Rússia, Portugal<br />
(Porto), Italia, Bélgica, Uollanda, índia,<br />
etc.<br />
Os contingentes e as differentes <strong>de</strong>legações<br />
<strong>de</strong>slilaram diante da tribuna real,<br />
e as musicas tocaram os hymnos nacionaes<br />
<strong>de</strong> cada uma das <strong>de</strong>legações presentes,<br />
cujos chefes ou commandanles<br />
foram apresentados ao Lord Mayor.<br />
O contingente portuense tornou-se notado<br />
pela agilida<strong>de</strong> e bello porte.<br />
Teem sido altamente obsequiados<br />
pelos collegas <strong>de</strong> Londres, os bombeiros<br />
portuguezes.<br />
No dia 14 o Lord Mayor <strong>de</strong>u um<br />
gran<strong>de</strong> almoço <strong>de</strong> ISO talheres em honra<br />
dos bombeiros estrangeiros.<br />
As proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mansion house<br />
estavam cheias <strong>de</strong> espectadores, que vicloriavam<br />
os contingentes á medida que<br />
elles vinham chegando com as suas bombas.<br />
O Lord Mayor e sua mulher <strong>de</strong>ram-<br />
Ihes pessoalmente as boas vindas, levantando<br />
aquelle brin<strong>de</strong>s aos soberanos<br />
e presi<strong>de</strong>ntes dos paizes representados.<br />
A resposta do chefe portuguez, o sr.<br />
Guilherme Gomes Fernan<strong>de</strong>s, do Porto,<br />
que fallou em inglez, produziu gran<strong>de</strong><br />
enthusiasmo.<br />
O sr. Fernan<strong>de</strong>s exprimiu o seu prazer<br />
pelo acolhimento benevolo da Inglaterra,<br />
a qual é a sua segunda patria, e<br />
dirigiiKse <strong>de</strong>pois ao contingente portuguez,<br />
que gritou: Viva o Lord Mayor!<br />
Viva a Inglaterra! O» convivas respon<strong>de</strong>ram<br />
: Viva Portugal !<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
O St. João em <strong>Coimbra</strong><br />
Uns pequenos ranchos <strong>de</strong> raparigas,<br />
sem aquelle enthusiasmo <strong>de</strong> tempos idos.<br />
andam por ahi a colher donativos para<br />
festejar o bom santo, que as ha <strong>de</strong> conduzir<br />
em linha recta ao almejado matrimonio.<br />
Vamos, pois, ter fogueiras, um pailido<br />
reflexo das tradiccionaes, das classicas<br />
fogueiras coimbrãs, on<strong>de</strong> se dançava<br />
com ardor, conservando-se a nota<br />
característica e piltoresca, que quasi se<br />
per<strong>de</strong>u com a introducção <strong>de</strong> cantos <strong>de</strong><br />
operetas nas danças populares.<br />
Beilos tempos, em que as fogueiras<br />
do S. João, S. Pedro e Rainha Santa<br />
traziam a mocida<strong>de</strong> irrequieta, num constante<br />
rodopio, ouvindo-se em todos os<br />
pontos da cida<strong>de</strong> a voz do marcador e as<br />
cantiga* bem timbradas dos ranchos <strong>de</strong><br />
tricanas, que se saracoteavam ao redor do<br />
pavilhão enfeitado <strong>de</strong> buxo e flores, cheias<br />
d'animação e <strong>de</strong> vida, ao som do cavaquinho<br />
vibrante e da viola dolente.<br />
Ricas recordações da mocida<strong>de</strong>, que<br />
ao ver fugir, num sôpro, essas noites <strong>de</strong><br />
ventura, era surprehendida, ainda pelo<br />
bruxelear d'aurora, na Fonte do Castanheiro,<br />
on<strong>de</strong> os namorados davam o ultimo<br />
ren<strong>de</strong>z vous, <strong>de</strong> braço dado ao par,<br />
e on<strong>de</strong> acabavam as ultimas voltas <strong>de</strong><br />
dauça, esgotaudo-se as ultimas estrophes,<br />
<strong>de</strong>pois d'uma noite d'eslurdia.<br />
E nesse mesmo dia, <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> e á<br />
noite, a dança reanimava, e <strong>Coimbra</strong><br />
vollava a sair dos seus cubículos em<br />
romaria ás fogueiras, commenlando e<br />
comparando o que havia <strong>de</strong> melhor, ás<br />
vezes em discussões accesas.<br />
Será assim o S. João do presente<br />
anno? Nós o diremos.<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
Na egreja do Salvador ha hoje festa,<br />
com missa a gran<strong>de</strong> instrumental.<br />
Julio Caggiani<br />
Auxiliado por um grupo <strong>de</strong> distincto»<br />
amadores, os srs. Luiz d'Albuquerque,<br />
Ribeiro Alves, Mário da Silva Gayo,<br />
Francisco Macedo, João Maria Roque,<br />
Augusto Martins, Augusto Paes, A. Machado<br />
e Samuel Pessoa, este notável concertino<br />
do theatro <strong>de</strong> S. Carlos, realisou<br />
na quarta feira, no salão da Associação<br />
dos Artistas, um brilhante concerto.<br />
O profíramma finamente elaborado,<br />
teve por todos uma execução correctíssima,<br />
sobresaindo, como não podia <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong>^er, o sr. Caggiani, violinista <strong>de</strong> alto<br />
mérito e musico distinctissimo.<br />
O assombroso primor <strong>de</strong> execução, o<br />
talentoso savoir faire do insigne artista,<br />
tiveram o maior relevo na Fantaisie militaire,<br />
<strong>de</strong> Léonard, que bastava por si<br />
só para dar ao sr. Caggiani os foros <strong>de</strong><br />
violinista perfeito. Mas muitas outras<br />
foram as occasiões em que o sr. Cagniani<br />
revelou o seu incontestável merecimento;<br />
na Fantaisie Suèdoise, <strong>de</strong> Léonard, na<br />
Avé Maria, <strong>de</strong> Gounod, na Scene Ballet,<br />
<strong>de</strong> Bériot, e em todos os outros números<br />
do arti-tico programma. mostrou-se sempre<br />
artista impeccavel e correctíssimo.<br />
Mencionaremos ainda, pela execução<br />
perfeita, a Ouverture, <strong>de</strong> Alves, o Menuet,<br />
<strong>de</strong> Bocherini e a Serena<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mandolines,<br />
<strong>de</strong> Desormes, composições em que todos<br />
os concertantes com a maior justiça foram<br />
francamente applaudidos. Num ma<br />
gnifico piano <strong>de</strong> concerto, o sr. L. d'AI<br />
buquerque executou, com a maior <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />
<strong>de</strong> pianista amador, uma bella<br />
Rapsódia <strong>de</strong> sua composição sobre motivos<br />
<strong>de</strong> canções populares da Beira.<br />
O concerto <strong>de</strong> quarta feira, louvor<br />
aos seus iniciadores, <strong>de</strong>ixou aos muitos<br />
apreciadores <strong>de</strong> boa musica, e principalmente<br />
aos raros enten<strong>de</strong>dores que a elle<br />
assistiram, uma impressão gratíssima.<br />
Roubo <strong>de</strong> fazenda*<br />
Ao regressar do Porto o sr. Domingos<br />
José Gomes, proprietário da Estação da<br />
Moda, notou a falta <strong>de</strong> fazendas em algumas<br />
estantes, e extranhou que sua<br />
creada Maria da Conceição, que estava<br />
ao seu serviço ha 4 mezes, recusasse<br />
agora aceitar um cliaile que lhe haviam<br />
dado.<br />
Pou<strong>de</strong> o sr. Gomes verificar gran<strong>de</strong><br />
parle do roubo e obter da creada uma<br />
confissão formal : que havia sido ella<br />
que o roubára, só ella, mandando as fazendas<br />
para casa d'uma sua amiga, nesta<br />
cida<strong>de</strong>, Deolinda da Boa Morte, e para<br />
o Espinhal para casa <strong>de</strong> sua mãe.<br />
Na secunda feira, ao meio dia, foi o<br />
sr. Gomes fazer a sua queixa ao commissanado,<br />
pedinda a captura <strong>de</strong> Joaquina<br />
<strong>de</strong> Jesus, mãe <strong>de</strong> sua creada ; o sr. commissario<br />
pouco o atten<strong>de</strong>u, pois eslava<br />
dispondo a sua genle para guardar e vigiar<br />
a lujdra, hospedada no hotel Mon<strong>de</strong>go,<br />
e apesar dos rogos do sr. Domingos<br />
é certo que naquelle dia não se tratou<br />
<strong>de</strong> cousa alguma e só na quarta feira<br />
é que a criada Maria da Conceição foi<br />
presa.<br />
Prestou bons serviços nesta diligencia<br />
o chefe da primeira esquardra, sr.<br />
Cesar da Motta, e por indicação do sr.<br />
Gomes foram immedialaimmte passar busca<br />
a casa <strong>de</strong> Deolinda, á rua <strong>de</strong> Sub-ripas,<br />
enconlrando-se lhe num hahú algu<br />
mas fazendas.<br />
Viu o sr. Gomes que aquillo era pouco<br />
para o que lhe faltava e então a Deolinda,<br />
<strong>de</strong>peis <strong>de</strong> presa e no comniissariado,<br />
confessou que tinha fazendas <strong>de</strong>baixo das<br />
taboas do soalho, encontrando-se bastantes,<br />
embrulhadas em jornaes.<br />
O valor das fazendas encontradas em<br />
casa <strong>de</strong> Deolinda loram avaliadas em<br />
55$000 réis, constando <strong>de</strong> chailes, saiabalão,<br />
selinetas, cortes <strong>de</strong> vestidos, meias,<br />
lenços, gravatas, camisas <strong>de</strong> oxford, camisollas<br />
e outras miu<strong>de</strong>zas.<br />
Na quinta feira foi o sr. Gomes,<br />
acompanhado do chefe, ao Espinhal, e<br />
coadjuvados pelo administrador d'aquelle<br />
concelho passou-se busca á casa, encontrando-se:<br />
2 cortes <strong>de</strong> vestidos, 4 chailes<br />
retalhos <strong>de</strong> fazenda, casaco <strong>de</strong> senhora,<br />
meias e gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> botões, no<br />
valor <strong>de</strong> 40,5(000 réis.<br />
Joaquina <strong>de</strong> Jesus veiu para esta<br />
cida<strong>de</strong> e todas foram remetlidas para<br />
juizo, dando entrada na ca<strong>de</strong>ia.<br />
Troca <strong>de</strong> eedulaa — Aviso<br />
Na casa da Moeda, estão sendo trocadas<br />
as cédulas <strong>de</strong> 100 e 50 réis das<br />
primeiras remissões pelas <strong>de</strong> novo padrão.<br />
As antigas cédulas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter<br />
valor no fim do corrente mez <strong>de</strong> junho.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
FACULDADE DK DIHEITO<br />
Dia 16<br />
1.° anno —• Manoel José Moreira <strong>de</strong><br />
Sá Couto. Manoel Maria Toscano, Manoel<br />
<strong>de</strong> Mello Vaz <strong>de</strong> Sampaio, Manoel<br />
Pessoa Torreira da Fonseca.<br />
2 " anno — Fortunato d'Almeida Pereira<br />
d'Andra<strong>de</strong>, Francisco Antonio Baião<br />
Taquenho, Francisco José <strong>de</strong> Moraes e<br />
Francisco Marques.<br />
3." anno — Fortunato dos Santos Pinto,<br />
Francisco Joaquim Fernar<strong>de</strong>s.<br />
4." anno — Armando d'Azevedo <strong>de</strong><br />
Mello Freire e Vasconcellos e ArmairJo<br />
Navarro.<br />
5." anno. — Antonio Maria Pinheiro<br />
Torres e Antonio Pinto Ayres <strong>de</strong> Lemos.<br />
Dia 17<br />
1." anno — Pedro <strong>de</strong> Barbosa Falcão<br />
d'Azevedo e Pedro <strong>de</strong> Barros Rodrigues.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2.° anno—Francisco Ramos da Cruz,<br />
Gaspar José Henriques e Germano Lopes<br />
Martins.<br />
llouve uma reprovação.<br />
3." anno— Gaspar Alveí Moreira e<br />
Guilhermino Augusto <strong>de</strong> Barros Júnior.<br />
4° anno—Arnaldo <strong>de</strong> Jesus Saca»<br />
dura e Arthur Vieira <strong>de</strong> Castro.<br />
õ." anno — Antonio Pinto <strong>de</strong> Magalhães<br />
e Almeida e Antonio Tavares Af-<br />
Jonso e Cunha.<br />
FACULDADE DE MEDICINA<br />
Dia 16<br />
1." anno — João dos Santos Jacob.<br />
Houve uma reprovação.<br />
Houve exames <strong>de</strong> pratica no 2.°<br />
anno.<br />
Bia 11<br />
1." anno — José Miguel Corrêa <strong>de</strong><br />
Oliveira e Manoel Vieira <strong>de</strong> Carvalho.<br />
2.° anno—Antonio Cesar Rodrigues,<br />
formado pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Edimburgo<br />
e Ama<strong>de</strong>u Werueck d'Aguilar — doutor<br />
pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Tubiugeu.<br />
3." anno — Custodio José Moniz Galvão<br />
e José Fie<strong>de</strong>rico Cortes Menezes.<br />
4.° anno — Domingos Fernando Garcia<br />
e Domingos Pulido Garcia.<br />
FACULDADE DE PHILOSOPHIA<br />
Dia 16<br />
1. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorgânica).<br />
— Ord. Luiz Vasques da Cunha fliaamcamp<br />
<strong>de</strong> Maucellos; ohrg. Amândio Gonçalves<br />
Paúl e Alexandre da Silva Rastos.<br />
3." ca<strong>de</strong>ira — (Physica, I , a parte)—<br />
Obrg. Joaquim Matinas Sdverio, Oscar<br />
Pereira Marinho, Jo=e Augustu Telles e<br />
Adrião <strong>de</strong> Moura.<br />
4. a ca<strong>de</strong>ira — (Rotaiiica) — Vcd. Alvaro<br />
Jose da SiUa Basto; obrg. Eugénio<br />
Pereira <strong>de</strong> Castro Caldas e Abel Soares<br />
Rodiigues.<br />
Nao houve actos -nas outras ca<strong>de</strong>iras.<br />
Via 17<br />
l. a ca<strong>de</strong>ira—(< himica inorgauica).<br />
— Ord. Jo.-e .Novaes <strong>de</strong> Carvalho Soares<br />
<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, Obr. Jose Baptista Monteiro.<br />
3. a ca<strong>de</strong>ira—(Physica, l. a pai te —<br />
Obrg. Albeito Simões da Co la Rego,<br />
Antonio Henriques <strong>de</strong> Carvalho, Antonio<br />
Rodrigues Corrêa da Fonseca, Autouio<br />
da Silva Ferreira Rabia.<br />
4.* ca<strong>de</strong>ira — Botânica—Vol. Alfredo<br />
Machado, Obrs. Adriano Jose <strong>de</strong><br />
Carvalho, Alfredo Eduardo d Almeida.<br />
Aiuda não começaram os aclos nas<br />
outras ca<strong>de</strong>iras.<br />
FACULDADE DE MATHEMATICA<br />
Esta faculda<strong>de</strong> reunida em congregação<br />
constituiu assim os jurys dos actos.<br />
1.° anno — Drs. Souto Rodrigues,<br />
Sousa Pinto, Henrique <strong>de</strong> Figuiredo e<br />
Luciano.<br />
2.° anno—Drs. José Bruno, Luiz<br />
da Costa e Costa Lobo.<br />
3.° anno — Drs. Luiz da Costa, Arzilla<br />
e Luciano.<br />
4." anno — Drs. Sousa Pinto, Costa<br />
Lobo e Henrique <strong>de</strong> Figueiredo.<br />
õ."anno — Assiste toda a Faculda<strong>de</strong>.<br />
Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho — O professor,<br />
João Rodrigues Vieira, dr. Arzilla e um<br />
outro lente alternado.<br />
llouve hontem ponto na facilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> matheinatica á excepção do 1.° anno<br />
cujas aulas continuam ate ao dia 23 do<br />
corrente.
•AN.-W 2 —IV. 0 oe O DEFEIIOR DO P O V O 1§ <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> ig93<br />
j^o ir, director do correio<br />
De novo chamamos a attenção do sr.<br />
director dos correios e telegraphos d'este<br />
districto para o que se está dando<br />
com a estação telegrapho-postal da Louzã.<br />
Ha bastantes mezes já que á frente<br />
d'ella se encontra um empregado a quem<br />
não é permillidn a emissão <strong>de</strong> vales e<br />
cobrança <strong>de</strong> titulos, e já por mais d"uma<br />
vez uos referimos ás dificulda<strong>de</strong>s e prejuízos<br />
que este estado <strong>de</strong> coisas importa<br />
para o publico em jieral.<br />
A Louzã é uma villa <strong>de</strong> certo <strong>de</strong>senvolvimento<br />
commercial, em communicação<br />
directa com localida<strong>de</strong>s importantes,<br />
e não <strong>de</strong>ve, por isso, continuar como<br />
está o serviço do correio naquella localida<strong>de</strong>.<br />
E' prejudicado o commercio e a<br />
imprensa não o é menos na falta <strong>de</strong> cobrança<br />
<strong>de</strong> títulos. No Jornal da Louzã,<br />
<strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> março, vimos uma local dando<br />
para breve o restabelecimento d'aquelles<br />
serviços naquella estação; até<br />
hoje, porém, nada se resolveu ainda,<br />
não se atten<strong>de</strong>ndo, assim, ao interesse<br />
do publico.<br />
Do conhecido zelo e cuidado do digno<br />
funccionario que se encontra neste<br />
districto á testa dos serviços <strong>de</strong> correios<br />
e telegraphos, esperamos as mais promptas<br />
provi<strong>de</strong>ncias sobre este assumpto;<br />
e s. ex. a melhor que ninguém conhece<br />
os prejuízos que <strong>de</strong>rivam da falta d'aquelles<br />
serriços postaes.<br />
O que se está dando com a estação<br />
da Louzã é uma das muitas consequências<br />
<strong>de</strong>ploráveis originadas em reformas<br />
sem critério, que só produzem a <strong>de</strong>sorganisação<br />
dos serviços. O terem baixado<br />
<strong>de</strong> classe a estação telegrapho postal<br />
d'aquella villa, collocando nella um empregado<br />
que, pelo que vêmos, não pô<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sempenhar todas as attribuições inherentes<br />
aos serviços telegrapho-postaes,<br />
está dando o resultado que era <strong>de</strong> prever—<br />
serviço incompleto, e d'ahi, consequência<br />
natural, perturbações que se<br />
reflectem nos interesses do publico enão<br />
menos nos rendimentos do Estado.<br />
Esperamos, pois, que o sr. director<br />
do correio se esforçara pelo restabelecimento,<br />
na estação da-Louzã, do serviço<br />
<strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> vales e cobrança <strong>de</strong> títulos,<br />
por qualquer modo.<br />
Isto como está é que não <strong>de</strong>ve con<br />
tinuar, e a principal responsabilida<strong>de</strong><br />
d'este e-tado anormal e pernicioso para<br />
o publico não po<strong>de</strong> senão ser attribuida<br />
ao distincto funccionario a quem nos dirigimos.<br />
Ataaei»fHO Commercial<br />
Como já em tempo dissémos, aos socios<br />
d'esta associação ainda não foi presente<br />
o projecto dos novos estatutos,<br />
po<strong>de</strong>ndo isto dar logar ao cumprimento<br />
do <strong>de</strong>creto, que manda dissolver todas<br />
as associações que até ao fim do corren<br />
le mez não tiverem enviado á approvação<br />
do governo os seus estatutos.<br />
E' <strong>de</strong> tal gravida<strong>de</strong> esle assumpto<br />
que não compreben<strong>de</strong>nios como os corpos<br />
gerentes d'uma associação tomam<br />
sobre si tão gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />
44 Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. M É R Y<br />
A JUDIA I U M M<br />
VIX<br />
Débora<br />
Esta situação era coma um problema<br />
inextrincavel, um nó gordio vivo que<br />
pedia a penna <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s ou a espada<br />
<strong>de</strong> Alexandre. Talormi a<strong>de</strong>autou-se com<br />
o sorriso uos lábios e disse:<br />
— Estão admirados, meus senhores,<br />
e eu comprehen lo que assim seja; sou<br />
eu o único, aqui, que possa coniprehen<strong>de</strong>r<br />
a surpreza <strong>de</strong> madame Van Uitter.<br />
Na ultima visita que fiz a seu illustre<br />
irmão Santa-Scala, comprometti me eu<br />
a partir com elle, no dia seguinte, e<br />
acompanha-lo no convento das Camaldu<br />
las. Faltei á minha palavra, e madame<br />
Van-Ritter tinha todas as razões possíveis<br />
para me julgar ausente.<br />
Concebo assim, perfeitamente, o violento<br />
<strong>de</strong>speito que experimenta quem acaba<br />
<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r uma aposta, mesmo ligeira,<br />
contra um especulador que aposta cora<br />
a cerleza <strong>de</strong> ganhar.<br />
— Um espleculador <strong>de</strong> heliotropios,<br />
disse o cônsul ruído.<br />
Elevador em <strong>Coimbra</strong><br />
Dizem-nos que, <strong>de</strong>wdo «os esforços<br />
empregados pelo sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />
presi<strong>de</strong>nte da camara, se acha constituída<br />
a empreza exploradora do elevador,<br />
tomando aquelle senhor meta<strong>de</strong> das<br />
acções.<br />
A estação do elevador, na baixa,<br />
será feita na rua <strong>de</strong> Ferreira Borges,<br />
num prédio pertencente ao sr. Moraes<br />
Silvano, on<strong>de</strong> está estabelecida a antiga<br />
mercearia <strong>de</strong> Innocencia & Sobrinho,<br />
seguindo pela rua <strong>de</strong> Quebra-Costas, largo<br />
da Sé Velha, rua Borges Carneiro<br />
até á Feira, segundo nos informam.<br />
E' um bom melhoramento com que o<br />
sr. Ayres <strong>de</strong> Campos dota <strong>Coimbra</strong>, e<br />
estamos certos <strong>de</strong> que a empreza ha <strong>de</strong><br />
ver bem compensados os seus capitães,<br />
por isso que ninguém <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> se utilisnr<br />
da commodida<strong>de</strong> do elevador pela<br />
pequena quantia <strong>de</strong> 20 réis.<br />
A*»o«inffto dos Artistas<br />
Até ao presente os corpos administrativos<br />
d'esta socieda<strong>de</strong> ainda não apresentaram<br />
aos socios o projecto dos novos<br />
estatutos que, segundo a lei, <strong>de</strong>vem<br />
ser presentes á approvação do governo<br />
até ao dia 30 do corrente, sob pena <strong>de</strong><br />
dissolução.<br />
Como se vê, este caso é gravíssimo,<br />
e os corpos gerentes são os únicos responsáveis<br />
se o governo estiver disposto<br />
a cumprir a lei.<br />
O que nos admira e pasma é que os<br />
associados, em presença <strong>de</strong> tal acontecimento,<br />
não tenham tomado uma altitu<strong>de</strong><br />
energica, a tini <strong>de</strong> obstar a que<br />
seja dissolvida aquella associação que<br />
tão relevantes serviços presta aos seus<br />
associados.<br />
Banhos no Mon<strong>de</strong>go<br />
Já eslão construídas algumas barracas<br />
para os banhos do rio, que começam<br />
a ser muito concorridos <strong>de</strong> manhã<br />
e ao cair da tar<strong>de</strong>.<br />
Em breve veremos gran<strong>de</strong> animação<br />
no areal, que principia a ala^trar-se,<br />
convidando á ceia muitas famílias da cida<strong>de</strong>,<br />
que vão para alli gosar o fresco<br />
da noite e o bello luar que tudo illumina.<br />
Cobardia<br />
No dia 13 do corrente, na casa das<br />
machinas, <strong>de</strong>u-se um conflicto enlre dois<br />
empregados da camara, praticando um<br />
d'elles a cobardia <strong>de</strong> conseguir por bons<br />
modos a entrada no seu gabinete do<br />
contendor e ahi soccal-o, a fim <strong>de</strong> o obrigar<br />
a uma <strong>de</strong>feza energica em que elle<br />
po<strong>de</strong>sse ser accusado <strong>de</strong> aggredir um<br />
superior <strong>de</strong>ntro do gabinete.<br />
Ao sr. dr. Buben d'Almeida vicepresi<strong>de</strong>ule<br />
da camara foi entregue, na<br />
quarta feira um officio do queixoso narrando<br />
os factos, o qual náo foi presente<br />
em sessão da camara ullima, altenla a<br />
alta protecção que aquelle vereador dispensa<br />
ao empregado aggressor, a quem<br />
<strong>de</strong>seja dar melhor collocação em prejuízo<br />
do aggredido. 1'arece que foi isto o que<br />
<strong>de</strong>u logar á scena do escandalo.<br />
— O preço da »posta não faz nada<br />
ao caso, continuou Talormi em tom ligeiro.<br />
Por bem menos se joga o xadrez,<br />
joga-se mesmo por coisa nenhuma, e<br />
comtudo aquelle que per<strong>de</strong> ganha uma<br />
boa hora <strong>de</strong> ferro.<br />
— E' a pura verda<strong>de</strong>, disse o marquez<br />
di Negro, satisfeito com esta diversão;<br />
um cheque-mate enche-me <strong>de</strong><br />
mau humor ate ao dia seguinte.<br />
— Só me resta agora, minha senhora,<br />
disse o cônsul, apresentar-lhe as<br />
minhas <strong>de</strong>sculpas.<br />
Na minha qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inglez, não<br />
posso per<strong>de</strong>r a occasião <strong>de</strong> fazer uma<br />
apo-la vantajosa.<br />
Nas scenas d'este genero que se<br />
representam no mundo, todos comprehen<strong>de</strong>m<br />
que nem tudo fica esclarecido<br />
com as explicações dadas, e que no<br />
fundo alguma coisa <strong>de</strong> inexplicável e <strong>de</strong><br />
mysterioso subsiste ainda; mas os actores<br />
fingem lodos uma gran<strong>de</strong> complacência<br />
e afixam sobre o rosto a mascara <strong>de</strong> uma<br />
plena satisfação.<br />
Paulo Gréant tinha na alma as torturas<br />
do inferno; um olhar rápido <strong>de</strong><br />
Memma dirigido sobre elle, olhar <strong>de</strong><br />
cólera e <strong>de</strong> censura, afiado como um<br />
estylete <strong>de</strong> aço, atravessou-lhe o peito.<br />
E era necessário calar-se. E toda a justificação<br />
era impossível em publico!<br />
E cada minuto <strong>de</strong>corrido loroava-se<br />
I intolerável em presença d'esla mulher<br />
Escola Brotero<br />
O conselho escolar d'este instituto<br />
d'ensino nomeou para as mesas d'exames,<br />
os seguintes professores:<br />
ARITHMETICA— Presi<strong>de</strong>nte, Antonio<br />
Augusto Gonçalves; vogaes, dr. Albino<br />
<strong>de</strong> Mello e Emil Ioctí.<br />
DESENHO ELEMENTAR — Presi<strong>de</strong>nte,<br />
Leopoldo Bitti-tini; vogaes, Antonio Augusto<br />
Gonçalves e Hans Dickel<br />
DESEEHO ARCHITECTURAL— Presi<strong>de</strong>nte,<br />
Emil IocH; vogaes, Hans Dickel e, Leopoldo<br />
Battislini.<br />
DESENHO ORNAMENTAL — Presi<strong>de</strong>nte,<br />
Antonio Augusto Gonçalves; vogaes, Leopoldo<br />
Battislini e Hans Dickel.<br />
DESENHO MECHANICO — Presi<strong>de</strong>nte,<br />
Hans Dickel; vogaes, Emil Ioch e Leopoldo<br />
Battislini.<br />
PHYSICA E MECHANICA INDUSTRIAL —<br />
Presi<strong>de</strong>nte, Anlonio Augusto Gonçalves;<br />
vogaes, Emil Ioch e Leopoldo Battislini.<br />
CHIMICA INDUSTRIAL—Presi<strong>de</strong>nte, Antonio<br />
Augusto Gonçalves; vogaes, Charles<br />
Lepierre e Emil Ioch.<br />
*<br />
Os exames nesta escola principiaram<br />
na segunda feira, sendo approvados os<br />
alumnos que enumeramos:<br />
Dia 12<br />
DESENHO ELEMENTAR, CLASSE PREPARATÓRIA<br />
Ordinários<br />
Felícia Augusta da Conceição, filha<br />
<strong>de</strong> José Dias da Silva.<br />
Fernanda Gomes Paes, e Graziella<br />
Gomes Paes, filhas <strong>de</strong> João Gomes Paes.<br />
Abel Franco, carpinteiro.<br />
João <strong>de</strong> Nazareth Bizarro, typographo,<br />
filho <strong>de</strong> Antonio Francisco Bizarro.<br />
José Lucas da Silva e Santos, latoeiro,<br />
filho <strong>de</strong> Joaquim da Silva.<br />
Samuel <strong>de</strong> Campos, pedreiro, filho<br />
<strong>de</strong> José Antonio Campos.<br />
Alfredo d'Oiiveira, pintor <strong>de</strong> louça,<br />
filho <strong>de</strong> Joaquim d'Oliveira Júnior.<br />
Antonio Augusto Martins, serralheiro,<br />
filho <strong>de</strong> Augusto Martins.<br />
Antonio Pereira, serralheiro, filho <strong>de</strong><br />
Bento Pereira.<br />
Augusto Ferreira Arnaldo, latoeiro,<br />
filho <strong>de</strong> João Ferreira Arnaldo.<br />
Francisco Antonio dos Sanlos, filho<br />
<strong>de</strong> Francisco Anlonio dos Santos.<br />
Daniel Alves, sapateiro, filho <strong>de</strong><br />
Francisco Anlonio.<br />
Dia 13<br />
Ordinários<br />
Antonio Marques Perdigão, filho <strong>de</strong><br />
Henrique Marques Perdgiáo.<br />
Julio Fonseca, canteiro, filho <strong>de</strong> Joaquim<br />
Fonseca.<br />
Jose Bento, carpinteiro, filho <strong>de</strong> José<br />
Bento.<br />
A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong> Mattos, ourives, filho <strong>de</strong><br />
Casimiro <strong>de</strong> Mattos.<br />
José Augusto da Conceição e Sousa,<br />
filho <strong>de</strong> Augusto <strong>de</strong> Sousa.<br />
Severioo Augusto das Neves Elyseu,<br />
filho <strong>de</strong> Joaquim Augusto dasNeves Eiyseu<br />
Salvino <strong>de</strong> Macedo, filho <strong>de</strong> Eduardo<br />
Lopes <strong>de</strong> Lima Macedo.<br />
cujo silencio e cujo olhar eram uma<br />
continua e hcabruubanle accusação.<br />
A joven senhora que, apesar da sua<br />
energia, não tinha podido reprimir um<br />
primeiro movimento que a caluiiiuia podia<br />
interpretar á sua vonta<strong>de</strong>, conipreheu<strong>de</strong>u<br />
immedialamente o perigo da sua<br />
posição, e approvou por alguns ges<br />
los naturaes e um falso sorriso todos<br />
os commeiitadores d'esta scena mysteriosa.<br />
Tudo isto se passou em muito menos<br />
tempo do que tem levado a coutar. Uma<br />
tranquillida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira ou falsa reappareceu<br />
nas pbysiouomias, e di Negro,<br />
offerecendo o braço a madame Vau-Bitler,<br />
encaminhoti-se com todos os seus amigos<br />
para o mirante dn quinta.<br />
Paulo Gréant resolveu aproveitar<br />
qualquer d'estas occasiões, ,ji que a liberda<strong>de</strong><br />
do campo dá sempre logar, para<br />
se justificar perante Memma. Parecia-lhe<br />
impossível adiar para o dia seguinte a<br />
sua justificação. Neste intuito correu a<br />
coilocar-se ao lado do marquez, procuraudo<br />
em todas as suas palavras um poulo<br />
<strong>de</strong> partida natural ou forçado para preparar<br />
a sua justificação sem dirigir directamente<br />
a palavra a Memma.<br />
Memma, porem, melindrada com a<br />
audacia <strong>de</strong> Paulo e vendo-o disposto a<br />
aproveitar as plirases do marquez para<br />
engendrar uma odiosa mentira justificativa,<br />
voltou a cabeça com uma altivez<br />
bem evi<strong>de</strong>nte e affectou procurar á sua<br />
Extraordinários<br />
Carlos Pompeu da Silva, carpinteiro,<br />
filho <strong>de</strong> José Antonio da Silva.<br />
Anlonio Augusto da Silvn, alfaiate,<br />
filho <strong>de</strong> Augusto Maria da Silva.<br />
Matheus Aííbnso Dias, carpinteiro, filho<br />
<strong>de</strong> Francisco Affonso Dias.<br />
Leonardo Antonio Gouvêa, fundidor,<br />
filho <strong>de</strong> Anlonio Gouvêa.<br />
Dias 12 e 13<br />
DESENNO INDUSTRIAL, 11AMO ORNAMENTAL<br />
Ornato— parte<br />
Bebiana Elysa Augusta Soares, filha<br />
<strong>de</strong> Alexandre Antonio Soares.<br />
Emilia <strong>de</strong> Jesus Fonseca, filha <strong>de</strong> José<br />
Miguel da Fonseca.<br />
Jayme dos Santos Sá, caixeiro, filho<br />
<strong>de</strong> Manoel Maria <strong>de</strong> Sá.<br />
Alfredo Paes, typographo, filho <strong>de</strong><br />
Antonio Paes.<br />
Birardo Buivo, filho <strong>de</strong> Antonio Buivo<br />
Júnior.<br />
Victor Elyseu, pintor, filho <strong>de</strong> Abel<br />
Ferreira das Neves Elyseu.<br />
José Gomes Tinoco, photographo,<br />
filho <strong>de</strong> Adriano Gomes Tinoco.<br />
Ornato — 2. a parte<br />
José Alves dos Santos, typographo,<br />
filho <strong>de</strong> Manoel Alves dos Santos.<br />
Hygiene publica<br />
Brevemente será entregue á camara<br />
municipal uma representação assignada<br />
pelos proprietários e moradores da rua<br />
da Moeda, pedindo provi<strong>de</strong>ncias para o<br />
estado em que se encontra a runa, que<br />
alli passa, e que é o mais perigoso fóco<br />
<strong>de</strong> infecção que existe <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>.<br />
A camara, por certo, <strong>de</strong>verá atten<strong>de</strong>r<br />
os peticionários por isso que é um<br />
assumpto <strong>de</strong> importância para a saú<strong>de</strong><br />
publica.<br />
Falleeimento<br />
Na quarta feira, 14 do corrente, finouse,<br />
na sua casa da Quinta das Lamas, o<br />
sr. Antonio José Duarte Moreira que no<br />
Brazil adquiriu uma forluua avultadíssima.<br />
Este cidadão foi um completo homem<br />
<strong>de</strong> trabalho. Durante vinte annos, pelas<br />
roças do Brazil, em conslrucções <strong>de</strong> caminho<br />
<strong>de</strong> ferro, <strong>de</strong>signadamente na <strong>de</strong><br />
S. Paulo, ou<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> si memoria<br />
gloriosa, obrigou se sempre a um trabalho<br />
iocessanle que foi a admiração dos<br />
seus companheiros <strong>de</strong> lucta nos melhoramentos<br />
d'essa formosa província do<br />
Brazil. D'este trabalho perseverante foi<br />
(pie elle conseguiu gran<strong>de</strong>s meios <strong>de</strong><br />
fortuna, regressaudo rico á sua patria<br />
ou<strong>de</strong> o seu braço não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> trabalhar,<br />
como o aitesta a Quinta das Lamas<br />
on<strong>de</strong> está consumida uma colossal somma<br />
<strong>de</strong> trabalho.<br />
Depois <strong>de</strong> toda esta lucta que mais<br />
parece d'um gigante do que d'um lio<br />
ruem, o honrado cidadão acaba <strong>de</strong> fallecer<br />
victiiua d'um ataque epileptico!<br />
A toda a familia do finado, especialmente<br />
ao seu genro, o nos-o amigo sr.<br />
José Ma<strong>de</strong>ira Marques, en<strong>de</strong>reçamos a<br />
expressão da nossa condolência.<br />
esquerda, pelo campo, pontos <strong>de</strong> vista<br />
que a sua direita náo encontrava.<br />
Chegaram a ponte do mirante, on<strong>de</strong><br />
o serviço do cale já estava preparado.<br />
Uma menina correu, como um anjo, da<br />
extremida<strong>de</strong> da ponte; madame Van Uitter<br />
recebeu-a nos braços cobrindo-lhe a fronte<br />
<strong>de</strong> beijos.<br />
— Oh! como a innocencia é bôa,<br />
para os olhos e para os lábios! disse<br />
ella ao marquez di Negro.<br />
Débora beijando Memma, disse-lhe:<br />
— Se não fosse o ter-me distrahido<br />
a conilemplar o golfo <strong>de</strong> Génova, havia<br />
<strong>de</strong> aborrecer-me muito esperando-a. Mas<br />
<strong>de</strong>sculpa-me, não é verda<strong>de</strong>, por eu não<br />
me ter aborrecido ?<br />
— Sim, sim, meu anjo, disse Memma<br />
passando a ponte com ella, nas suas<br />
com as mãos <strong>de</strong> Débora. Mas não me<br />
<strong>de</strong>ixes mais; preciso <strong>de</strong> ti sempre ao pé<br />
<strong>de</strong> mim, minha querida Débora.<br />
Memma acabava <strong>de</strong> aproveitar uma<br />
occasião natural <strong>de</strong> apresentar Débora uo<br />
mundo dos nobres artistas,<br />
Josué Constantini, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> vexações<br />
no seu commercio, ou ce<strong>de</strong>ndo talvez<br />
a um vivo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver Boma e os<br />
seus amigos do ghetlo, tinha partido só,<br />
<strong>de</strong>ixando em Génova seus filhos.<br />
Débora tornou-se, assim, a amiga<br />
inseparavel <strong>de</strong> Memma, sua companhia e<br />
seu conforto durante a momentania viuvez.<br />
E' por isso que a encontramos hoje<br />
na quinta di Negro.<br />
Apontamentos <strong>de</strong> carteira<br />
O nosso amigo e patrício, sr. Antonio<br />
Alves <strong>de</strong> Carvalho Júnior, digno<br />
chefe da estação <strong>de</strong> S Martinho, foi<br />
transferido para-chefe da estação <strong>de</strong> Esmeris.<br />
* Tem estado nesta cida<strong>de</strong> o nosso<br />
<strong>de</strong>dicado correligionário, sr. João Maria<br />
Cravella, regressando houtem a Lisboa.<br />
# Esteve em <strong>Coimbra</strong> o sr. Antonio<br />
Maria Nogueira, digno gerente da<br />
firma Antonio Augusto Lopes da Costa,<br />
<strong>de</strong> Moimenta da Serra.<br />
Obituário<br />
No cemiterio da Conchada enterraram-se,<br />
na semana ullima, os seguintes<br />
cadaveres:<br />
Rachel <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Antonio<br />
Joaquim Pinheiro e Maria das Dores, <strong>de</strong><br />
Semi<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 53 annos. Falleceu <strong>de</strong> amolecimento<br />
cerebral, no dia 1.<br />
Antonio dos Sanlos, filho <strong>de</strong> Manoel<br />
dos Santos e Carlota <strong>de</strong> Jesus, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
<strong>de</strong> 50 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorrhagia<br />
cerebral, no dia 2.<br />
Gumersindo <strong>de</strong> Miranda Catalão, filho<br />
<strong>de</strong> Marco Antonio Miranda e D. Rita Maria<br />
Theresa d'Oliveira Costa, <strong>de</strong> Bragança,<br />
<strong>de</strong> 85 annos. Falleceu <strong>de</strong> hemorrhagia<br />
cerebral, no dia 4.<br />
Henrique Padró, filho <strong>de</strong> João Aimami<br />
e Josepha Padró, <strong>de</strong> Hespanha, <strong>de</strong> 42<br />
annos. Falleceu <strong>de</strong> tuberculose pulmonar,<br />
no dia 5.<br />
Corina, filha <strong>de</strong> pae incognito e Julia<br />
Carvalho, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 3 mezes. Faleceu<br />
<strong>de</strong> bronchite capilar no dia 9.<br />
Candida d'Assumpção, filha <strong>de</strong> José<br />
Maria e Maria Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong><br />
54 annos. Falleceu <strong>de</strong> bronchite asmalica,<br />
no dia 10.<br />
Total dos cadaveres enterrados neste<br />
cemiterio —16:918.<br />
A GRANEL<br />
Foram passadas muitas portarias a<br />
favor <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> instrucção secundam<br />
que preten<strong>de</strong>m fazer exame e não<br />
po<strong>de</strong>ram apresentar os seus requerimentos<br />
em lempo.<br />
* * * Na vespera <strong>de</strong> S, João ®<br />
inaugurada em Braga a iiluminaçâo ele"<br />
ctrica.<br />
* * # Os orçamentos da secção<br />
portugueza na exposição <strong>de</strong> Madrid serão<br />
transportados para o Porto, on<strong>de</strong> teem<br />
<strong>de</strong> figurar nas festas do ceulcnario do<br />
infante D. Henrique.<br />
* * * A direcção da fabrica <strong>de</strong><br />
vidros da Marinha Gaiu<strong>de</strong> pediu ao<br />
governo a creação <strong>de</strong> uma escola industrial<br />
junto a essa fabrica, para o que<br />
otíereceu terrenos.<br />
* * * Vão ser supprimiihs, á medida<br />
que forem vagando os consolados<br />
Marselha, New Castle e Cardiff.<br />
Paulo Gréant, dominado sempre pela<br />
sua idêa lixa. foi um dos primeiros que<br />
entraram no mirante e assentou se, <strong>de</strong>sviado,<br />
na altitu<strong>de</strong> d'estes namorados<br />
pouco felizes, que escutam, olham e não<br />
faliam nunca.<br />
Talormi, que presentia sempre uma<br />
<strong>de</strong>nuncia suspensa sobre a sua cabeça,<br />
e que era o único que estudava a situação<br />
<strong>de</strong> espirito em que Paulo se encontrava,<br />
encostou-se a porta, prestes a fazer<br />
face ás eventualida<strong>de</strong>s perigosas do<br />
momento.<br />
O marquez di Negro continuava a não<br />
ver senão a sua própria felicida<strong>de</strong>, e lodos<br />
os seus convidados lhe pareciam felizes.<br />
— Eespero, disse elle a Memma, que<br />
virá ver-me mais algumas vezes, e com<br />
a menina Débora, que, segundo vejo,<br />
gosta muito do campo.<br />
— Meu caro marquez, disse Memma,<br />
parece-me que estou em vespera <strong>de</strong><br />
partir.<br />
Como, enlão <strong>de</strong>ixa-nos.?! exclamou<br />
o marquez, como se tivesse sabido uma<br />
verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>sgraça.<br />
— Assim é necessário, continuou<br />
Memma num tom <strong>de</strong> indifferença. Não<br />
disponho da minha liberda<strong>de</strong>; ha vonta<strong>de</strong>s<br />
superiores ás minhas.<br />
Ímpresiso na Typographia<br />
O|)or;ir|;t _ Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros, —.<br />
COIMBRA.
ANN» B — X." 86 O DEFENSOR DO POVO 1 § <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1 SOS<br />
OITIiflS<br />
PARA<br />
Piíarmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operará a<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha ...<br />
Repetições .<br />
SVFXOPES<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Decreto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1891<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
130 Â e ® I a " s e ® veni ' a e m t°das as<br />
m. livrarias <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o <strong>de</strong>creto<br />
<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, regulador<br />
dos direitos e obrigações das<br />
associações, <strong>de</strong> seccorros uuit.uos, indispensável<br />
a todos os socios das mesmas<br />
as^o.ciações, preço 50 réis.<br />
126 Â<br />
a ti,<br />
ILI<br />
Companhia Auxiliar,<br />
ao Arco do Bispo, n.° 2,<br />
faz leilão <strong>de</strong> todos o- 1 penhores que estejam<br />
em divida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tres mezes<br />
<strong>de</strong> juros, no dia 18 do corrente mez.<br />
O leilão começa ás 11 horas da manhã<br />
e fecha ás 4 da tar<strong>de</strong>, constando<br />
<strong>de</strong> roupas, fazendas <strong>de</strong> lã, ouro e prata<br />
moveis, muitos livros e outros objectos.<br />
Ficam por este meio prevenidos to-<br />
successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios.<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
1KTICIPA-.<br />
ÇÕES<br />
DE CASAMENTO<br />
Menus, etc.<br />
Perfeição<br />
Typ. Operaria |<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
liTIMA<br />
NOVIDADE<br />
em facturas<br />
Especialida<strong>de</strong><br />
em côres<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong>'<br />
IliHETES<br />
<strong>de</strong> visita<br />
e preços<br />
diversos<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1VROS<br />
e jornaes<br />
Pequeno e gran<strong>de</strong> j<br />
formato<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
npRiísso»<br />
PARA<br />
repartições<br />
publicas<br />
Typ. Operaria<br />
1 4 , L A R G - O ID .A. F R E I R I A ,<br />
COMPOSTO DE ROSA<br />
5 wi»te xarope é efficaz para a cura <strong>de</strong> eatharros e tosses <strong>de</strong> quaf-<br />
JM quer natureza, ataques asthmaticos e todas as doenças <strong>de</strong><br />
peito. Foi ensaiado com optímos resultados nos hespitaes <strong>de</strong> Lisboa e<br />
pelo conselho medico do Porto, bem como pelos principaes firmltativos<br />
da capital e das províncias, como consta <strong>de</strong> 41 allestados que acompanham<br />
o frasco.<br />
Vea<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias do reino. Deposito geral —<br />
! Lisboa, pharmacia Llosas & Viegas, Rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 e 33<br />
<strong>Coimbra</strong>, Rodrigues da Silva & C. a Porto, pharmacia Santos-, rua <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso,<br />
61, 65.<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97, 1.°<br />
i B i i v r i i i f i<br />
(QFFICINA)<br />
SILVA MOUTINHO<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
100 ncarrega-se da pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, doura-<br />
M çôes <strong>de</strong> egire$asf forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Na mesma officina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilho» e objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
DEPOSITO DA FABRICA NACIONAL<br />
b IS<br />
DE<br />
DE<br />
JOSÉ FRANCISCO DA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
o "VIESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
ly junto e a relallro, lodos os produclos d'aqitella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem "quaesquer encommendas pelos preços<br />
e condições eg.uaes aos da fabrica.<br />
o<br />
Q<br />
m<br />
O<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ARTAZES<br />
Prospectos<br />
e bilhetes<br />
<strong>de</strong> theatro<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
rOXIDA CDITBA BBSPSf B<br />
PREPARADA PELO PRARMACEUTICO<br />
VISOS<br />
M. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
PAKA<br />
Leilões,<br />
casas<br />
commerciaes, ect.<br />
Typ. Operaria<br />
CoinoUfa<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo tf Comp.* — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
BIGYGLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101— Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
93 Iç? 8 *** ® W 8 a acaba <strong>de</strong> receber um<br />
M explendido sortido <strong>de</strong> Bieycletes<br />
dos primeiros auctores, como é llumber,<br />
Durkopp Diannas Clement — em<br />
borrachas ôcas.<br />
A CHEGAR—Metropolitan Pneumatique<br />
Torrillon.<br />
Para facilitar aos seus clientes, mandou<br />
vir, e já tem á venda, Bicycletes<br />
Quadrant que ven<strong>de</strong> por preços muito<br />
mais baratos; pois esta machina tem sido<br />
vendida por 120$0(i0 réis ao passo que<br />
esta casa as tom a 110$000 II!<br />
Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores.<br />
Q I I A D I 1 A I T S<br />
H J<br />
m<br />
p<br />
o<br />
CG Èã<br />
O<br />
& cn<br />
* °<br />
S<br />
z o<br />
cc<br />
S o<br />
H<br />
»<br />
w<br />
Único agente nesta cida<strong>de</strong>, J. L. Martins <strong>de</strong> Araujo<br />
JULIAO ANTONIO D'ALMEIDA<br />
20 — Rua do Sargento-Mór - 24<br />
g »,j o seu antigo estabelecimento<br />
P i concertam-se e cobreui-Se <strong>de</strong><br />
novo, guarda-soes <strong>de</strong> boa seda portugueza,<br />
pelos seguintes preços:<br />
Guarda-sol para homem, <strong>de</strong> 8 varas,<br />
2$000 réis; <strong>de</strong> 12 varas, 2$200<br />
réis. Guarda-sol para senhora, 1$700<br />
réis. Sombrinhas para ditas, 1^500 reis.<br />
A QUEM PRECISE<br />
117<br />
i f e m l e m - s e umas estantes<br />
1 quasi novas; são próprias<br />
para mercearia, ou outro negocio.<br />
Para tratar com João Vieira da Silva<br />
Lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17-ADRO DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIMBRA<br />
9 i RMAZEM. <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquels, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e setun, em todas as côres e larguras. Eças douradas<br />
para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM GOMPETENCIA<br />
o<br />
h—I<br />
s<br />
td<br />
><br />
CO<br />
CSi<br />
O<br />
r-j<br />
c o<br />
K J<br />
m m \ i DE w m m<br />
121 ^J 1 ""®' 1 "* -8 ® '' e 11,11 • n f ua do<br />
Ir Visconte da Liu, 25,<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS K DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FEiiREMA BORGES, 29, i.»<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir u<br />
Antonio Augusto dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATORi<br />
Com estampilha<br />
Anno WOO<br />
Semestre.... LS350<br />
Trimestie... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 21400<br />
Semestre.... 21000<br />
Trimestre... 600
0 dinheiro do paiz<br />
Um padre, o <strong>de</strong>pulado Alfredo<br />
Brandão, apresenlou na sessão nocturna<br />
<strong>de</strong> segunda feira uma moção<br />
<strong>de</strong> que <strong>de</strong>stacamos os seguintes<br />
consi<strong>de</strong>randos.<br />
Dizem elles:<br />
tConsi<strong>de</strong>rando que um paiz,<br />
cuja receita publica "se calcula em<br />
43.800:000|000 réis, e que gasta,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> reduzidos os juros da divida<br />
externa a um terço, e os da<br />
divida inferna a dois terços, muilo<br />
mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> lai receita com<br />
os encargos da divida publica ecom<br />
as classes inactivas e pensões vitalícias,<br />
não po<strong>de</strong> gastar com a força<br />
publica 747:000^000 réis pelo ministério<br />
do reino, 5.100:000^000<br />
réis com o ministério da guerra, e<br />
2.400:000$00,0 réis com o ministério<br />
da marinha, ou sejam réis<br />
8.300:000^000 (números redondos),<br />
não comprehen<strong>de</strong>ndo a guarda<br />
fiscal e a policia districtal, nem<br />
os encargos militares distribuídos<br />
pelas colonias e pelos outros ministérios,<br />
e até pela Bulla da Santa<br />
Cruzada;<br />
«Consi<strong>de</strong>rando que o que resta<br />
dos encargos indicados, será pouco<br />
mais d'uma meia dúzia <strong>de</strong> mil contos<br />
<strong>de</strong> réis para todas as mais <strong>de</strong>spezas<br />
do Estado, absorvendo, só á<br />
sua parle, o ministério das obras<br />
publicas perto <strong>de</strong> 4.000:000^000<br />
réis com engenheiros e conductores,<br />
que chegariam para estudar e<br />
fiscalisar todas as estradas da Europa,<br />
embora não haja dinheiro<br />
para reparar as existentes no paiz,<br />
e com especialistas agricultores e<br />
industriaes que só amanham ,e exploram<br />
com vantagem a granja do<br />
thesouro publico;<br />
«Consi<strong>de</strong>rando que o sr. ministro<br />
da guerra, fazendo no seu ministério<br />
economias no valor <strong>de</strong> réis<br />
605:000^000, comprehen<strong>de</strong> nestas<br />
318:000^000 réis com o licenceamento<br />
<strong>de</strong> 12:000 praças <strong>de</strong> pret,<br />
e 171:000^000 réis com economias<br />
não permanentes, que já assim<br />
o eram por sua própria natureza,<br />
ainda antes <strong>de</strong> como taes serem<br />
classificadas no orçamento em<br />
discussão, ou sejam 490:000^000<br />
réis, reduzindo-se lodxis as restantes<br />
economias d'esle ministério a<br />
pouco mais <strong>de</strong> 100:000^000 réis;<br />
«Consi<strong>de</strong>rando que o effeclivo<br />
ordinário do exercito, ou o numero<br />
<strong>de</strong> praças em serviço activo, regula<br />
ordinariamente pelo numero <strong>de</strong> praças<br />
licenceadas no aclual orçamento,<br />
o que equivale a ficarmos gastando<br />
5.100:000^000 réis com um<br />
exercito sem soldados.»<br />
Parece-nos não ser necessário<br />
trancrever mais. Este padre Alfredo<br />
bem po<strong>de</strong>ria chamar-se Chrysoslomo<br />
(bocca d'oiro) tão preciosas e<br />
verda<strong>de</strong>iras são as palavras sabidas<br />
<strong>de</strong> seus lábios sacerdotaes e justos.<br />
Tão <strong>de</strong>senvolvida a moção, é<br />
possivel que muitos não a comprehendam,<br />
mas nós vamos resumil-a<br />
<strong>de</strong> fórma a que o nosso bom, adoravel<br />
e paciente povo a saboreie. O<br />
caso é principalmente este: O mi-<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
nistério da guerra consome por<br />
anno 5:100 contos com um exercito<br />
que não chega a 12:000 soldados.<br />
Agora o orçamento do mesmo<br />
minislerio propõe o licenceamenlo<br />
<strong>de</strong> 12:000 homens, com o que diz<br />
economisar 318 contos, além <strong>de</strong><br />
mais 171 contos economisados por<br />
formas varias.<br />
De maneira que lemos, um<br />
exercito com 12:000 praças como o<br />
aclual, cuslando 5:100 contos; um<br />
exercito sem praça nenhuma, porque<br />
se forem licenceados os 12:000<br />
soldados o exercito <strong>de</strong>sappareceu<br />
custando 3:610 contos.<br />
É isto? Não é isto?<br />
Ou servirão os 3:610 contos<br />
para fortalezas que não existem, para<br />
arlilheria Krupp negociada por inlermedio<br />
do sr. Burnay, como succe<strong>de</strong>u<br />
ha pouco?<br />
Nós não sabemos o que significa<br />
tanta intrujice, tanta asneira,<br />
nem cou).prehen<strong>de</strong>mos para que se<br />
gasta lempo a discutir o orçamento,<br />
se tudo tem <strong>de</strong> ser approvado<br />
tal qual os ministros o apresentam.<br />
Um ou ou Iro como o padre Brandão,<br />
per<strong>de</strong> o seu tempo se quer tomar<br />
a sério, os ministros, a camara<br />
e o paiz.<br />
A serieda<strong>de</strong> com que no parlamento<br />
se tratam as questões financeiras,<br />
está bem synthelisada no<br />
episodio que se passou ha tres ou<br />
quatro dias: O sr. Carrilho, impavidamente,<br />
<strong>de</strong>scaradamente, disse<br />
com a mesma naturalida<strong>de</strong> com que<br />
empalmaria uma carta no jogo da<br />
vermelhinha: «O governo falia sempre<br />
verda<strong>de</strong> no orçamento ! !»<br />
A camara, cretina como o Sergio,<br />
cynica ao mesmo lempo como<br />
qualquer Marianno, respon<strong>de</strong>u,<br />
numa gargalhada unanime e estrondosa,<br />
á phrase do sr. Carrilho. A<br />
galeria riu.<br />
E no meio da chalaça, da imbecilida<strong>de</strong>,<br />
do <strong>de</strong>scaramento <strong>de</strong> toda<br />
«essa malta 1' vae-se arranjando o<br />
orçamento.<br />
Mas o povo gosta, esle povo<br />
que é dos mais corruptos da Europa,<br />
ri-se do caso. Já ferrou o calote<br />
nacional aos credores externos e<br />
tripudiou com o caso.<br />
. Senle por cá amarguras varias<br />
mas <strong>de</strong> tudo se consola coin uma<br />
festa regia.<br />
Ainda ha pouco, dizem gazelas<br />
varias,"a população <strong>de</strong> Beja <strong>de</strong>lirou,<br />
porque a rainha fez festas aos boisinhos.<br />
O povo senliu que o aííagavam<br />
naquelles seus representantes,<br />
pacientes e <strong>de</strong> chifres. Gostou!<br />
Um dia affagal-o-hão representado<br />
num burro carregando com<br />
um fra<strong>de</strong>. Então o povo ha <strong>de</strong> ainda<br />
sentir mais enthusiasmo.<br />
E quanto a dinheiro elle ha <strong>de</strong><br />
arranjar-se, que tudo isto e o mais<br />
das Africas vendido dá para uns<br />
dias <strong>de</strong> gozo.<br />
Beslialissimo paiz 1<br />
: •<br />
Augusto <strong>de</strong> Mesquita<br />
Passou ha dias o anniversario d'este<br />
nosso distincto collega da imprensa portuense,<br />
director principal do Correio do<br />
Porto, cuja camaradagem em o nosso<br />
jornal nos orgulha.<br />
Mil felicitações.<br />
CHRONICA DA INVICTA<br />
Notas da semana<br />
O nosso governador civil, enten<strong>de</strong>u<br />
(e enten<strong>de</strong>u bem) que a monotonia da<br />
semana <strong>de</strong>via ser cortada com o inci<strong>de</strong>nte<br />
alegre d'um edital patusco.<br />
Conseguiu o seu fim!<br />
Nada mais patusco do que o edital<br />
aflixado no átrio do Circo Principe Real,<br />
composto em tres gran<strong>de</strong>s columnas,<br />
cerradas, corpo 8.<br />
Nos intervallos do espectáculo gymnastico<br />
era o edital quem dava a funcção,<br />
provocando commentarios trocistas,<br />
ditos picarescos, que <strong>de</strong>vem ler lisongeado<br />
o espirilo <strong>de</strong> s. ex. a o sr. governador.<br />
O edital (extranho não vêr uma única<br />
palavra a tal respeito nos jornaes da<br />
imprensa (liaria) preten<strong>de</strong> regular, por<br />
uma legislação especial, os espectáculos<br />
públicos, incluindo corridas <strong>de</strong> touros,<br />
que mereceram ao sr. Campos Henriques<br />
a attenção d'um capitulo especial.<br />
Num capitulo reserva-se a auctorida<strong>de</strong><br />
o direito <strong>de</strong> nomear intelligente, á sua<br />
escolha, confirmar o que a empreza annuncie,<br />
caso este tenha a bôa fortuna<br />
<strong>de</strong> captar as sympathias do auctor do<br />
edital.<br />
Os amadores touromachicos só po<strong>de</strong>rão<br />
lidar quando a auctorida<strong>de</strong> lhes rerconheça<br />
méritos para isso.<br />
Surprehen<strong>de</strong>-nos não vêr um artigo,<br />
um paragrapho que fosse, relativamente<br />
a pegas!—O sr. Terra Vianna, hoje<br />
commissario <strong>de</strong> policia, pegou no seu<br />
tempo, e se a memoria nos não atraiçoa,<br />
foi cabo <strong>de</strong> forcados em mais d'uma corrida.<br />
Legislação <strong>de</strong> cernelha ou <strong>de</strong> cara<br />
calhava com este funccionario.<br />
Um artigo, ainda relativo a louros,<br />
prohibe terminantemente os intervallos<br />
comicoâ que offendam a moral. Intervallos<br />
que offen<strong>de</strong>m a moral?! Sáo novos,<br />
para nós taes intervallos... A menos<br />
que o illustre sr. governador se refira<br />
ás scenas d'amor epicurista que os Lovelaces<br />
do Suisso entretem com as hnperias<br />
da Praça <strong>de</strong> D. Pedro, nas archihaucadás<br />
da sombra, durante os 20 minutos d'espera<br />
; a menos que o sr. Campos Henriques<br />
se retira aos olhares sén»ualistas<br />
que se cruzam <strong>de</strong> camarote a camarote,<br />
Irisando promessas, incendiando esperanças.<br />
..<br />
Com respeito a trabalhos da companhia<br />
gymnaslica e acrobatica, ficam os<br />
menores prohibidos <strong>de</strong> tomar parte em<br />
espectáculos públicos.<br />
Fez-se, para se produzir este effeito,<br />
a applicação da lei que regula o trabalho<br />
<strong>de</strong> menores nas fabricas. A applicação<br />
foi <strong>de</strong>scabida, e <strong>de</strong>sconchavada até.<br />
Se a interpretação do sr. Campos é<br />
a que <strong>de</strong>ve presidir ao cumprimento da<br />
lei, são então uma illegalida<strong>de</strong> o Asylo<br />
do Terço, o Collegio Militar, a Oiliciua<br />
<strong>de</strong> S. José, etc.<br />
E até aos ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> jornaes, os<br />
meaores que por ahi andam trabalhando<br />
dia e noite na faina d'angariar um pedaço<br />
<strong>de</strong> pao negro — até esses ficam conipreheudidos<br />
ua exclusão do sr. governador,<br />
que já <strong>de</strong>veria ter-lhes applicado o seu<br />
famoso artigo.<br />
Questões internas entre emprezarios<br />
e artistas, ou entre estes, diz o edital,<br />
serão resolvidas pela auctorida<strong>de</strong>.<br />
Temos a policia accumulaudo fuucções<br />
<strong>de</strong> juiz <strong>de</strong> paz t<br />
Os nnmeros gymnasticos, comicos ou<br />
equestres que tenham <strong>de</strong> ser substituídos,<br />
por causa <strong>de</strong> força maior, só o po<strong>de</strong>rão<br />
ser quando a auctorida<strong>de</strong> entenda que o<br />
numero em substituição equivale ao supprimido.<br />
Hein? Pelo exposto, enten<strong>de</strong> a auctorida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> trapesios, <strong>de</strong> cabriolas e <strong>de</strong><br />
burros !<br />
Vá-se notando, e registando, que a<br />
fiscalisação policial se esten<strong>de</strong> ás attribuições<br />
e regalias do empresário: no circo,<br />
approvando ou regeitando números, <strong>de</strong>cidindo<br />
questões d'artistas; na praça <strong>de</strong><br />
touros, nomeando intelligente, inscrevendo<br />
os amadores <strong>de</strong> seu agrado, etc.<br />
Ha mais:<br />
ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />
do Povo<br />
Em antes <strong>de</strong> principiar o espectáculo<br />
gymnaslico, um.agente <strong>de</strong> policia inspeccionará<br />
os apparelhos para segurança do<br />
artista.<br />
Presume-se, por esta medida, que o<br />
sr. governador observou, mercê d'uma<br />
longa e reflectida pratica, que os artistas<br />
têm nm file especial em e-murrar as ventas.<br />
Não verificam a soli<strong>de</strong>z da corda do<br />
trapézio, da espia do arame, do ferro da<br />
barra--para quê? Se elles tem aquelle<br />
filé que tanto arrelia o sr. governador!<br />
O remedio (expediente heroico!) é<br />
or<strong>de</strong>nar que o chefe Lopes suba ao trapézio,<br />
que o chefe Annes se <strong>de</strong>pendure<br />
nas argolas, e que o cabo Pinto se equilibre<br />
no arame, e que <strong>de</strong>pois, muito respeitosamente,<br />
digam ao sr. Terra Vianna:<br />
«Verificamos, ex. m0 ! os apparelhos<br />
estão solidos, até v. ex. a pô<strong>de</strong> fazer os<br />
seus voos!...»<br />
Disposição sobre os contratadores:<br />
Os contratadores <strong>de</strong> bilhetes não po<strong>de</strong>rão<br />
estar no átrio nem ás portas dos<br />
theatros, nem ainda offerecer a fazenda,<br />
importunando os transeuntes.<br />
Este artigo parece do tempo <strong>de</strong> D.<br />
Miguel:<br />
Os contratadores pagam a sua licença,<br />
trazem a sua chapa, e não lhes permittem<br />
que exerçam a sua industria! Não<br />
po<strong>de</strong>m offerecer a fazenda; não po<strong>de</strong>m<br />
estar no átrio nem parar ás portas do<br />
theatro! On<strong>de</strong> hão <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r? — Na<br />
esquadra?<br />
Para concluir, atten<strong>de</strong>ndo ao muito<br />
espaço que roubaria ao Defensor com a<br />
apreciação <strong>de</strong> todo o edital:<br />
Os espectadores não po<strong>de</strong>m estar na<br />
sala do theatro com bengalas ou guardacluivas;<br />
serão esses objectos <strong>de</strong>positados<br />
num logar proprio em troca d-uma senha<br />
com numero correspon<strong>de</strong>nte.<br />
Não só manda em artistas e emprezarios<br />
a auctorida<strong>de</strong>; manda também<br />
nos nossos guarda chuvas, nas nossas<br />
bengalas, na nossa bolsa — porque la<br />
está uma multa <strong>de</strong> <strong>de</strong>z tostões para os<br />
infractores.<br />
Que rejubile o cofre da policia com<br />
o edital do sr. governador; a verba <strong>de</strong><br />
50 contos, vae augmentar consi<strong>de</strong>ravelmente,<br />
e a única consolação que nos<br />
resta, sr. Campos Henriques, e que po<strong>de</strong>mos<br />
rir <strong>de</strong> todas estas disposições,<br />
emquanto v. ex. a não collectar a gargalhada<br />
por incompatível com a sua posição—<br />
que, realmente, é triste!<br />
O negociante Lopes Cardoso <strong>de</strong>sistiu<br />
da querella apresentada em juizo contra<br />
o notável operador dr. J. Franchini.<br />
Apezar d'isso,'o distincto clinico não<br />
<strong>de</strong>siste da acção que promoveu, por<br />
diffaniação, contra aquelle sr.<br />
A Associação Liberal projecta festejar<br />
o dia 9
A M O I —M.® 91 O DEFENSOR DO POVO 83 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1893<br />
C E Y S T A B S<br />
A minha Yisinha<br />
Eu penso que ella nasceu<br />
ou das espumas do mar<br />
ou dos raios do luar<br />
ou das lagrimas do céu.<br />
Mas ha alguém que assevera<br />
que a nossa gêntil formosa<br />
nasceu <strong>de</strong> um botão <strong>de</strong> rosa<br />
no seio da primavera.<br />
O seu perfil assimilha<br />
o das virgens do Oriente,<br />
quando dormem castamente<br />
á sombra da mancenilha.<br />
Tem nos lábios côr da aurora<br />
suaves como a ventura,<br />
a puríssima frescura<br />
do orvalho, que a manhã chora.<br />
Seus olhos esplen<strong>de</strong>m luz,<br />
mas sempre arrasados d'agua...<br />
não era tão gran<strong>de</strong> a magua<br />
quando expirava Jesus.<br />
Fascina como as visões;<br />
encanta como as sereias;<br />
os seus gostos teem ca<strong>de</strong>ias;<br />
na sua voz ha prisões.<br />
Loira e triste I... na verda<strong>de</strong><br />
tão triste como a violeta,<br />
até lhe chama um poeta<br />
a encarnação da saudaSel<br />
Hugo Diniz<br />
ANTONIO FOGAÇA<br />
Os versos d'este nosso amigo que<br />
foram publicados no n.° 93 do Defensor<br />
do Povo sob o titulo — Via Lactea —<br />
sairam algum tanto incorrectos. Lamentámos<br />
sinceramente este facto, tanto<br />
mais que conhecemos por miúdo as justas<br />
meticulosida<strong>de</strong>s do talentoso poeta.<br />
Havemos porém evitar que se repitam<br />
estes casos para socego d'elle e nosso.<br />
Seguem as correcções:<br />
Na primeira oitava, publicou-se :<br />
«Amo o raio que cruza á noite os ares<br />
«Amo a virgem piedosa adormecida»<br />
e <strong>de</strong>via publicar-se:<br />
Ante o raio que cruza á noite os ares<br />
Amo a virgem piedosa adormecida<br />
Na terceira oitava, o verso:<br />
«Parece que escutam, o concerto»<br />
<strong>de</strong>ve lêr-se:<br />
«Parece que escutamos o concerto»<br />
Na sexta oitava, o verso :<br />
«Inviolável, sagrado, alvo, ineffavel»<br />
<strong>de</strong>via ser:<br />
«Inviolável, sagrado, almo, ineffavel»<br />
A sétima oitava, que começa :<br />
«Da sua mão direita 1 que suspenda<br />
A rapida ampulheta da existencia»<br />
escreveu o auctor:<br />
«Da tua mão direita I que suspen<strong>de</strong><br />
A rapida ampulheta da existencia...»<br />
Lobos<br />
Na povoação das Al<strong>de</strong>ias, pequeno<br />
logar situado numa encosta da Serra da<br />
Estrella, proximo á Villa <strong>de</strong> Gouvêa, on<strong>de</strong><br />
se fabrica o magnifico queijo da Serra,<br />
e para on<strong>de</strong> nesta oporha é costume<br />
emigrarem gran<strong>de</strong>s rebanhos <strong>de</strong> ovelhas,<br />
foi encontrada por Anlonio Bento uma<br />
ninhada <strong>de</strong> cinco lobitos que tirou, an<br />
dando com elles pelas povoações próximas<br />
fazendo peditorio.<br />
E' usança antiga as camaras municipaes<br />
d'aquelles sitios darem um premio<br />
pecuniário a quem apanhe estas ninhadas<br />
ou mate um lobo, e por isso Antonio<br />
Bento já <strong>de</strong>ve ter recebido esse<br />
premio da camara <strong>de</strong> Gouveia.<br />
Os paes dos lobitos uivam medonhamente<br />
no sitio on<strong>de</strong> tinham o ninho, e<br />
para os exterminar pozeram-lhe um carneiro<br />
envenenado, esperando conseguir o<br />
seu intuito d'esta fórma.<br />
Exposição industrial<br />
A exposição industrial porlugueza,<br />
no museu dos Jeronymo», em Belem,<br />
<strong>de</strong>ve talvez abrir no dia 1 do proximo<br />
mez <strong>de</strong> julho.<br />
Eslá muito adiantada dizem, e <strong>de</strong>ve<br />
ficar interessantíssima, trabalhamlo-se<br />
nesse sentido com a maxima activida<strong>de</strong>.<br />
A inauguração será presidida por suas<br />
magesta<strong>de</strong>s.<br />
6. João na Figueira da Foz<br />
Este anno os festejos do Santo Precursor<br />
promellem ser <strong>de</strong>slumbrantes. Nestes<br />
trarlicionaes festejos a Figueira é uma<br />
das terras do paiz on<strong>de</strong> com mais brilho<br />
emais caracteristicamente se festeja o S.<br />
João.<br />
Formam-se grupos <strong>de</strong> esbeltas raparigas<br />
rpie promovem as danças populares,<br />
e em <strong>de</strong>spique, apresentam canções<br />
apropriadas que ensaiam com antecipação<br />
e que nas noites <strong>de</strong> 23, 24 e 25<br />
exhibem nas ruas on<strong>de</strong> attrahem enorme<br />
concorrência.<br />
Este anno ha quatro grupos: Carvoeiras,<br />
Flor da Mocida<strong>de</strong>, Vasco da<br />
Gama e Figueirense que lêem orrhestras<br />
suas -e que se ensaiaram já publicamente<br />
na noite <strong>de</strong> Santo Antonio, distinguindo<br />
se muito as Carvoeiras.<br />
lia cinco annos que estes folguedos<br />
populares ten<strong>de</strong>m a per<strong>de</strong>r a originalida<strong>de</strong><br />
local porém,a gran<strong>de</strong> commissão organisadora<br />
<strong>de</strong> todas as feitas, para obstar<br />
a isso e para fazer reviver o Malhão, o<br />
Estnlhuló, o Patusco e o Landum dn Figueira,<br />
estabeleceu dois prémios, ti n <strong>de</strong><br />
3B$00fte outro-<strong>de</strong> 1S#000 réis, que serão<br />
conferidos aos dois grupos que mais<br />
se dis tinguirem no canto e dança d'aquellas<br />
modas, queantigamente tanta nomeada<br />
tinham e tão bem dançadas e cantadas<br />
eram na Figueira.<br />
Tudo quanto seja para nacionalisar<br />
os nossos folguedos e fazer reviver as<br />
tradicções populares é louvável; e por<br />
Uso felictamos os cavalheiros que compõem<br />
a commissão pela sua feliz i<strong>de</strong>ia.<br />
As festas, segundo as <strong>de</strong>screve o programma,<br />
serão :<br />
Dia 23 —De manhã: alvorada; á<br />
noite: bailes populares e o gran<strong>de</strong> certamen<br />
dos ranchos, segundo os antigos<br />
costumes figueirenses.<br />
Dia 2 4 — De manhã: cortejo da<br />
ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> S. João; á tar<strong>de</strong> : corridas<br />
<strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s, corridas <strong>de</strong> rantaros e<br />
sacos (antigas usanças); á noite: illuminações.<br />
Dia 25 — De manhã: gran<strong>de</strong> regata<br />
no rio; á tar<strong>de</strong>: corrida <strong>de</strong> touros; e<br />
á noite, fogo <strong>de</strong> artificio.<br />
=x<br />
E queixam-se!<br />
A Correspondência, d'Aveiro, jornal<br />
da classe dos empregados telegraphoposlaes,<br />
apresenta o seu ultimo numero<br />
tarjado <strong>de</strong> lucto e appella para a nação<br />
porque foram supprimidos 32 logares<br />
no quadro dos serviços telegrapho postaes.<br />
Achamos justas as reclamações, a<br />
Correspondência, porque realmente a<br />
classe que e*te jornal <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> tem sido<br />
posta sempre á margem pelos po<strong>de</strong>res<br />
publicos; mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Correspondência,<br />
ao appellar para a nação lhe<br />
apresenta como lollia <strong>de</strong> serviços relevantes<br />
prestados—-o <strong>de</strong>ver-se aos empregados<br />
telegrapliicos o abortamento da<br />
revolução dc 31 <strong>de</strong> janeiro — a nação,<br />
que, por este facto, continua ainda<br />
acorrentada ao ergástulo que a estrangula,<br />
nada lhes <strong>de</strong>ve. -<br />
Appelle a Correspondência para o<br />
sr. D. Carlos e para o glorioso systema<br />
a que o excelso monarcha presi<strong>de</strong>, o<br />
qual, parece, se lembra pouco do to 1<br />
relevante serviço prestado — a elle, que<br />
á nação não.<br />
Um maluquinho da Lisbia<br />
Em correspondência para O Commercio<br />
<strong>de</strong> Vizeu, um cerebro <strong>de</strong>ssorado, que<br />
da província foi pavonear se para os asphaltos<br />
da capital, ejacula <strong>de</strong> lá umas<br />
sandices quaesquer, com pouca grammatica<br />
e nenhuma critica, contra os <strong>de</strong>putados<br />
republicanos e em especial contra<br />
o sr. dr. Jacintho Nunes.<br />
O pobre do homem, coiladito ! está<br />
como o pilrileiro da cantiga popular, sabem<br />
?<br />
Pilriteiro, que dás pilritos,<br />
porque não dás coisa boaí<br />
Cada um dá o que tem<br />
conforme a sua pessoa. -<br />
A calhar, hein?<br />
Trema a Europa!<br />
Conhecem os senhores o principe<br />
real, um petizinho muito galante, como<br />
todas as creanças da sua eda<strong>de</strong>? Pois<br />
vae boje tomar o cominando honorário<br />
do batalhão do collegio militar!<br />
Não são tão ridículas estas scenas,<br />
próprias só <strong>de</strong> opera buffa, com musica<br />
<strong>de</strong> Offenhach ?<br />
Asphixiados num balseiro<br />
Communicam-nos <strong>de</strong> Alqneidão, que,<br />
ha poucos dias, o sino da capella d'aquelle<br />
logar, tocando a rebate, poz em alvoroço<br />
o povo d'aquella localida<strong>de</strong>.<br />
Era o caso que, andando o sr. Francisco<br />
Simões dos Santos a traçar vinho<br />
com vinagre que mandava tirar d'um<br />
balseiro que leva 21 pipas e me<strong>de</strong> 10<br />
palmo» <strong>de</strong> altura por 10 <strong>de</strong> largo, saindo<br />
o vinagre por um postigo, chegou o<br />
momento <strong>de</strong>, para sair mais vinagre, ser<br />
necessário tirar o postigo.<br />
Como este não po<strong>de</strong>sse ser arrancado,<br />
dois creados do sr. Santos lembraram-se<br />
<strong>de</strong> entrar um d'elles <strong>de</strong>ntro do<br />
balseiro por um outro postigo para, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro para fóra, empurrarem e abrirem<br />
aquelle. Saltou <strong>de</strong>ntro um d'elles, sem<br />
pensar no perigo que corria, e caiu logo<br />
asphixiado; o outro, José Gaspar, para<br />
salvar o primeiro saltou também para<br />
<strong>de</strong>ntro, e lá ficou; e emquanto Joaquim<br />
Gomes Erve<strong>de</strong>ira partia o postigo a machado,<br />
Manoel Maria Lopes Mergulhão<br />
lançou uma escada <strong>de</strong>ntro do balseiro<br />
para por ella <strong>de</strong>scer a ver se salvava<br />
os dois primeiros, e lá teria caido lam-<br />
_bem se um seu irmão não obstasse á<br />
<strong>de</strong>scida.<br />
Os dois que saltaram <strong>de</strong>ntro do balseiro<br />
foram a tempo salvos pelo postigo<br />
arrombado, mas ainda estiveram tres<br />
horas sem falia. Parece que cairam como<br />
fulminados apenas entraram no balseiro,<br />
porque <strong>de</strong> nada se recordavam.<br />
Para que se saiba<br />
Diz o Tempo que o sr. ministro da<br />
guerra mandou processar <strong>de</strong>ntro da verba<br />
<strong>de</strong> transportes dois contos <strong>de</strong> réis gastos<br />
em champagne e trufas nos banquetes do<br />
Entroncamento.<br />
Sabem, aquella comezaina da passeata<br />
real a Tancos?<br />
Por esta e tantas outras é que o sr.<br />
Fuschini está fazendo questão <strong>de</strong> receitas.<br />
E o povo a pagar.. .<br />
Um coronel processado<br />
Lembram-se d'aquelle coronel d'infanteria<br />
12, a quem ha tempo no» referimos,<br />
dirigindo-nos ao sr. ministro da<br />
guerra para pôr cobro ao excessivo zelo<br />
d'aquelle official, que em toda a parte via<br />
hydras e conspiradores, numa ancia burlesca<br />
<strong>de</strong> se fazer notado?<br />
Pois aquelle official, tendo sido exonerado<br />
do cominando, vingou-se mandando<br />
arrancar da porta do quartel uma<br />
enorme corôa real com as iniciaes C A,<br />
e por este motivo vae respon<strong>de</strong>r a conselho<br />
<strong>de</strong> guerra pelo nefando attentado.<br />
E' a paga que lhe dão, sr. corortel,<br />
pelo seu furor <strong>de</strong> sustentáculo da realeza<br />
I<br />
Ingratos, pois não são?...<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Pazei, pazei. . .<br />
Os arrufos que por dias separaram os<br />
srs. ministro do reino e dr. Souto Rodrigues,<br />
<strong>de</strong>pressa se <strong>de</strong>sfizeram e o chefe<br />
dos regeneradores voltou <strong>de</strong> facto a tomar<br />
o seu logar, olhando sobranceiro para a<br />
pequenez dos adversarios, que sonharam<br />
por um momento empolgar-lhe o mando.<br />
E neste caso nós vemos o sr. Ayres<br />
<strong>de</strong> Campos bem mal collocado e em irrisória<br />
posição, pois se sabe que o ministro<br />
do reino nunca pensou em'substituir o<br />
sr. Souto Bodrigues. Somente lhe convinha<br />
aproveitar os serviços que á politica<br />
po<strong>de</strong> prestar o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos, e<br />
por isso se mostrara <strong>de</strong>speitado com o<br />
sr. Souto, vendo fugir a occasião para se<br />
mostrar grato ao novel correligionário, que<br />
com tanto amor e <strong>de</strong>dicação se entregou<br />
aos azares d'esla politica que tudo <strong>de</strong>prime<br />
e corrompe.<br />
Neste lance jogaram-se todas as cartas,<br />
mostrando o sr. Souto Rodrigues ter<br />
os maiores trumphos e os mais importantes,<br />
o que fez recuar os parceiros do si*.<br />
Ayres <strong>de</strong> Campos, a quem, na verificação<br />
<strong>de</strong> contas, lhe faltaram ós proprios collegas<br />
camaristas, que <strong>de</strong> corpo e alma pertencem<br />
ao sr. Souto, o que já ficou <strong>de</strong>monstrado<br />
na eleição da commissão districtal.<br />
Os bem informados contam, que ao<br />
lado do sr. Ayres <strong>de</strong> Campos apenas eslão<br />
cinco homens e que a magna caterva que<br />
lhe bebeu o vinho e comeu os bolos nas<br />
proximida<strong>de</strong>s das eleições, voára, <strong>de</strong>ixando<br />
<strong>de</strong> si bem triste memoria.<br />
Pelo que mais nos convencemos <strong>de</strong> que<br />
não engabavamos o sr. Ayres <strong>de</strong> Campos<br />
ao aconselhar lhe que se emancipasse <strong>de</strong><br />
partidos e <strong>de</strong> partidarios, on<strong>de</strong> difficilmente<br />
se encontram <strong>de</strong>dicações, mas on<strong>de</strong><br />
sobeja o cynismo e a má fé.<br />
S. ex. a nos achará verda<strong>de</strong>iros, ao fim<br />
d'uma temporada mais ou menos próxima,<br />
e quando as <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rações se forem<br />
avolumando em seu redor.<br />
Bastava uma nova lucta eleitoral para<br />
a <strong>de</strong>cepção ser completa; e o sr. Ayres<br />
<strong>de</strong> Campos só não ficaria <strong>de</strong>rrotado se<br />
abrisse <strong>de</strong> par em par as portas da sua<br />
burra.<br />
Mas vai a politica, a que se entregou<br />
o sr. Ayres <strong>de</strong> Campo», to Io» e»«es sacrifícios?<br />
Que honras e que glorias lhe<br />
po<strong>de</strong>m dar partidos con<strong>de</strong>mnado» pela<br />
opinião publica, e odiados intimamente<br />
pelo paiz?<br />
Oxalá que s. ex a , ao experimentar na<br />
sua vida publica dois maus bocados," se<br />
entregue somente a promover os melhoramentos<br />
locaes da terra que lhe foi berço<br />
e que ha <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer reconhecida, como<br />
reconhecida agra<strong>de</strong>ceu os benefícios relevantes<br />
que á pobresa indigente dispensou<br />
o honrado cidadão, João Corrêa Ayres <strong>de</strong><br />
Campos.<br />
Teixeira <strong>de</strong> Brito<br />
Este nosso amigo e estimado collega<br />
<strong>de</strong>'redacção continúa gravemente doente.<br />
Um prompto restabelecimento é o que<br />
cor<strong>de</strong>almente lhe <strong>de</strong>sejamos.<br />
Sem nerimonia<br />
Não pon<strong>de</strong> ver um jornal d'esla cida<strong>de</strong><br />
que dissessemos, a proposito do<br />
conflicto entre dois empregados da camara,<br />
que o sr. vice-presi<strong>de</strong>nte protegia o aggressor<br />
a quem <strong>de</strong>seja dar melhor collocação,<br />
em prejuízo do aggredido. E nesta<br />
embirra assevera o collega que fallámos<br />
por paixão e sem informações. E' uma<br />
opinião!<br />
Ponhâmos, porém os pontos no* ii,<br />
e vamos a factos. Se da parte do sr vice-presi<strong>de</strong>nte<br />
não houvesse uma protecção<br />
bem evi<strong>de</strong>nte por esse empregado,<br />
s. ex/, logo que recebeu o officio do<br />
queixoso dando-lhe parte do conflicto,<br />
não <strong>de</strong>veria hesitar em dar d 'elle conhecimento<br />
á camara na sessão <strong>de</strong> quinta<br />
feira ultima, escusando <strong>de</strong> convocar para<br />
este fim sessões extraordinárias, on<strong>de</strong><br />
mais »e provou a sua <strong>de</strong>dicação por esse<br />
mesmo empregado.<br />
Demais, sabemos que o sr. vice-presi<strong>de</strong>nte<br />
pretendia terminar este conflicto<br />
fazendo com que o aggredido se humilha-se<br />
ao aggressor, e o aconselhára a<br />
que <strong>de</strong>sse explicações!<br />
E por ultimo viu-se a propoita <strong>de</strong> s.<br />
ex. a apresentada na sessão extraordinaria:<br />
castigando o aggressor em 15 dias<br />
<strong>de</strong> suspensão sem vencimento e o aggredido<br />
ein 8 dias!<br />
Mas o sr. Manoel Miranda, e tod* a<br />
camara, que viu a injustiça flagrante<br />
d'aquella proposta, substituiu-a, castigando<br />
somente o protegido do sr. vicepresi<strong>de</strong>nte<br />
com 30 dias <strong>de</strong> suspensão.<br />
Estes são os factos, estas as n ssas<br />
informações, e bem lamentamos que tal<br />
acontecimento se désse e que um jornal<br />
d'esta cida<strong>de</strong> nos venha ainda dizer que<br />
fallámos por paixão, quando os facto" que<br />
narramos e que são do dominio publico,<br />
vêm provar a verda<strong>de</strong> da nossa asserção.<br />
E ainda podíamos dizer muito mais!<br />
Saneamento <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> registar aqui<br />
os perseverantes esforços do <strong>de</strong>putado<br />
por este circulo, sr. Matloso Corte-iteal,<br />
que tem tido d'uma tenacida<strong>de</strong> inegualavel<br />
no que diz respeito aos melhoramentos<br />
locaes d'esta cida<strong>de</strong>, achando-se<br />
neste assumpto quasi isolado dos seus<br />
collegas, representantes d'esla cida<strong>de</strong>.<br />
Beferiu-se s. ex.* ha dias, nas camaras,<br />
á auctorisação dada ao governo para<br />
contractar o esgoto e saneamento da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, dizendo que por essa<br />
auctorisação íe mandou abrir concurso<br />
para os projectos da obra, os quaes foram<br />
apresentados á junta consultiva dobras<br />
publicas que <strong>de</strong>u o seu parecer, recebendo<br />
os auctores dos projectos as <strong>de</strong>vidas<br />
remunerações.<br />
Estranhou, e com justificada razão,<br />
que apezar <strong>de</strong> tudo isto nada se tenha<br />
feito e que porisso mesmo perguntava<br />
ao sr. ministro das obras publicas se<br />
tencionava fazer alguma cousa, ou se este<br />
estado <strong>de</strong> coisas permaneceria como ha<br />
quatro annos.<br />
Affirmou que este melhoramento se<br />
podia conseguir sera gran<strong>de</strong> encargo<br />
para o thesouro, e estranhou que, èonlie-<br />
cendotão bem <strong>Coimbra</strong> o sr. ministro das<br />
obras publicas, se não <strong>de</strong>cida a conce<strong>de</strong>rllie<br />
um melhoramento tão indispensável<br />
para a boa hygiene da cida<strong>de</strong>.<br />
Falia o sr. Matloso relativamente á<br />
Escola pratica d'agricultura e lembra ao<br />
governo, que, quando este estabelecimento<br />
principiava a dar resultados sati-factorios,<br />
se retirara d'aqui a cou<strong>de</strong>laria, não se<br />
olhando ás centenas <strong>de</strong> contos que se<br />
haviam gasto com a edificação e installação<br />
d'um estabelecimento proprio, que<br />
se achava completamence <strong>de</strong>spresado.<br />
Pe<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>ncias ao respectivo ministro,<br />
sr. dr. Bernardino Machado.<br />
Inundaçffo<br />
Na segunda feira, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>scargos electricas,sobrevieram violentas<br />
bateras <strong>de</strong> agua, chegando a ficar o transito<br />
impedido em muitas ruas da baixa.<br />
Os canos <strong>de</strong> esgoto d'algumas ruas rebentaram<br />
saindo a agua em jorros a invadir<br />
as lojas; a egreja <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
ficou inundada por muito lempo; do<br />
claustro do silencio e da sachristia saía<br />
a agua dos canos com gran<strong>de</strong> violência,<br />
e no átrio da egreja tomou muita altura.<br />
Trabalhou no exgotamento a bomba da<br />
salvação publica e <strong>de</strong>pois appareceram<br />
alguns bombeiros municipaes que fizeram<br />
serviço com bal<strong>de</strong>s.<br />
Não é a primeira vez que tal succe<strong>de</strong><br />
neste templo e em 1875, uma inundação<br />
tomou a altura <strong>de</strong> l, m 00, o que parece<br />
aconselhar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sviado<br />
o cânp <strong>de</strong> esgoto que atravessa a egreja<br />
obstando assim a estas inundações, que<br />
necessariamente hão <strong>de</strong> prejudicar este<br />
magnifico templo, on<strong>de</strong> se estão fazendo<br />
obras <strong>de</strong> restauração.<br />
Aqui <strong>de</strong>ixamos á consi<strong>de</strong>ração dos<br />
competentes e d'aquelles que a seu cargo<br />
têm a conservação dos monumentos nacionaes<br />
este caso que po<strong>de</strong> repetir-se<br />
muitas vezes e que bem merece evitar-se.<br />
Parabéns<br />
Enviamol-os ao nosso amigo, sr. Antonio<br />
Correia dos Sanlos, pela approvação<br />
dc seu lilho Antonio, no exame <strong>de</strong><br />
portuguez.<br />
Professor <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />
O sr. Lourenço Augusto Esteves<br />
Martins acaba <strong>de</strong> apresentar aos exames<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>seubo (2.° anno), tres alumnos, D.<br />
Maria José Henriques Godiuho, Vietorino<br />
Godinho e José Francisco Bugalho, que<br />
ficaram plenamente approvados.<br />
Ja em Outubro <strong>de</strong> 1892, apresentou<br />
ao exame <strong>de</strong> 1.° e 2.° anuo da mesma<br />
disciplina, Gregorio <strong>de</strong> Mello Nunes<br />
Giral<strong>de</strong>s, lilho do sr. dr. Manuel Nunes<br />
Giral<strong>de</strong>s, ficando distincto no 1.° anno<br />
e approvado no 2.°.<br />
O sr. Esteves Martins continua para<br />
outubro a leccionar na rua do Bego<br />
d'Agua 7.<br />
Contra as propostas <strong>de</strong> fazenda<br />
Foi presente ao parlamento pelo <strong>de</strong>putado<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, sr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />
a representação da Associação Commercial<br />
contra as propostas <strong>de</strong> fazenda.<br />
S. ex. a apenas se permitiiu pedir a<br />
sua publicação no Diário do Governo.<br />
O novel <strong>de</strong>putado, ao mauuar para<br />
a mesa a representação do commercio<br />
conimbricense, não teve duas palavras<br />
em que mostrasse francamente a sua opinião<br />
no assumpto <strong>de</strong> que se ti atava, e<br />
talvez essa falta obrigasse o sr. Matloso<br />
Corte-Real a associar-se á representação<br />
da Associção Commercial <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
contra as propostas <strong>de</strong> lazenda, pedindo<br />
para que a publicação no Utario se fizesse<br />
som a maior brevida<strong>de</strong>.<br />
E«eóla Brotero<br />
Ficaram approvados nos exames feitos<br />
nesta escola os alumnos que enumeramos<br />
:<br />
1 Dia 14<br />
DESENHO ELEMENTAR, CLASSE PREPARATÓRIA<br />
Maria da Conceição Moura Bastos,<br />
filha <strong>de</strong> Antonio Jose Moura Bastos.<br />
Maria do Carmo Teixeira Marques,<br />
filha <strong>de</strong> José dos Santos Marques.<br />
Maria Julia da Conceição, filha <strong>de</strong><br />
Julio Cesar Augusto.<br />
Isabel da Fonseca, filha <strong>de</strong> Joaquim<br />
Nunes.<br />
Joaquim Maria d'Azevedo,typographo,<br />
filho <strong>de</strong> Procopio Maria Azevedo.<br />
Luciauo dos Beis Alves, pintor, filho<br />
<strong>de</strong> Antonio Emygdio Alves.<br />
João Rocha, canteiro, filho <strong>de</strong> Miguel<br />
Rocha.<br />
Augusto Simões Mizarella, canteiro,<br />
filho <strong>de</strong> Joaquim Simões Mizarella.
Í—S. 0 97 O IHilFEMSOR D O P O V O 92 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
José Graça, alfaiate, filho <strong>de</strong> Manoel<br />
Graça.<br />
Francisco Manoel da Silva Teixeira,<br />
tecelão mechanico, filho <strong>de</strong> Narciso Fortunato<br />
da SÍIVH Teixeira.<br />
Joaquim da Costa Netto, pedreiro,filho<br />
e Antonio da Costa Netto.<br />
Alfredo Pessoa, typographo, filho <strong>de</strong><br />
Manoel Antonio <strong>de</strong> Figueiredo.<br />
Francisco Augusto Ramalhete,alfaiate,<br />
filho <strong>de</strong> Nuno Rodrigues Ramalhete.<br />
Theodorico Moita, marceneiro, filho<br />
<strong>de</strong> Manoel Gaspar.<br />
Antonio dos Santos, carpinteiro, filho<br />
<strong>de</strong> Joaquim dos Santos.<br />
Jose Antonio Lagôas, pedreiro, filho<br />
<strong>de</strong> José Antonio Lagôas.<br />
Candido Augusto <strong>de</strong> Nazareth, typographo,<br />
filho <strong>de</strong> Francisco Antonio <strong>de</strong><br />
Nazareth.<br />
NAS CLASSES PREPARATÓRIA E COMPLEMENTAR<br />
Desi<strong>de</strong>rio Pina, typographo, filho <strong>de</strong><br />
Antonio Maria Pina.<br />
Manoel Pedro Cor<strong>de</strong>iro, serralheiro,<br />
filho <strong>de</strong> Joaquim Pedro Bizarro.<br />
José das Neves, alfaiate, filho <strong>de</strong><br />
Eleuterio das Neves.<br />
Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira, typographo,<br />
filho <strong>de</strong> Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira.<br />
Dias 15 e 16<br />
DESENHO INDUSTRIAL, RAMO ARCHITECTORAL<br />
1. a parle<br />
João Bento La<strong>de</strong>ira, carpinteiro, filho<br />
<strong>de</strong> Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira.<br />
Antonio da Costa, canteiro, filho <strong>de</strong><br />
Joaquim da Costa Carolino.<br />
2.* parte<br />
Anacleto Garcia, canteiro, filho <strong>de</strong><br />
Sebastião Garcia.<br />
DESENHO INDUSTRIAL, RAMO MECHANICO<br />
1.* parte<br />
Manoel Rodrigues d'Almeida, marceneiro,<br />
filho <strong>de</strong> José Rodrigues d'Almeida.<br />
Eduardo Mauricio, relojoeiro, filho<br />
<strong>de</strong> Francisco Mauricio.<br />
Caetano Rocha, canalizador, filho <strong>de</strong><br />
Bento Rocha.<br />
Dia 17<br />
ARITHMETICA<br />
José Antonio dos Santis, typographo,<br />
filho <strong>de</strong> José Antonio dos Santos.<br />
A<strong>de</strong>lino Viriato da Costa Almeida,<br />
typographo, filho <strong>de</strong> Bernardo Domingos<br />
d'Almeida.<br />
José Augusto Gonçalves <strong>de</strong> Freitas.<br />
Antonio Henriques, typographo, filho<br />
<strong>de</strong> Manoel Henriques.<br />
Duarte Men<strong>de</strong>s da Costa, professor<br />
d'instrucção primaria, filho <strong>de</strong> José Feliciano<br />
da Costa.<br />
Dias 19 e 20<br />
MODELAÇÃO ORNAMENTAL (DUAS SESSÕES)<br />
Bebiana Elysa Augusta Soares, filha<br />
<strong>de</strong> Alexandre Antonio Soares.<br />
Emilia <strong>de</strong> Jesus Fonseca, filha <strong>de</strong> José<br />
Miguel da Fonseca.<br />
4K Folhetim do Defensor do Povo<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1 VATIIMO<br />
TTX<br />
Débora<br />
— Alguma carta, naturalmente, que<br />
a chama á Hollanda? disse o marquez.<br />
Ah! minlia querida Memma, que não<br />
encontrara alli a sua Italia, o seu bello<br />
palacio, o seu <strong>de</strong>licioso jardim... E a<br />
menina Débora acompanha-a, sem duvida?...<br />
— Sempre, senhor marquez, respon<strong>de</strong>u<br />
a creança com uma firmeza maravilhosa,<br />
não <strong>de</strong>ixarei nunca madame<br />
Van-Ritter.<br />
— Embora ella vá para a Hollanda ?<br />
perguntou di Negro rindo.<br />
— Ah I confesso, replicou Débora<br />
com uma graça infantil, e inclinando sobre<br />
o hombro a cabeça encantadora,<br />
confesso que antes queria ir a Roma;<br />
mas com madame Van-Ritter até a Hollanda<br />
será um bello paiz.<br />
— E quem lhe faHou <strong>de</strong> Roma, <strong>de</strong><br />
que gosta tanto? perguntou o cônsul<br />
para perguntar alguma coisa.<br />
— Toda a gente, senhor.<br />
José Gomes Tinoco, photographo,<br />
filho <strong>de</strong> Adriano Gomes Tinoco.<br />
MODELAÇÃO ARCHITECTURAL<br />
João Bento La<strong>de</strong>ira, carpinteiro, filho<br />
<strong>de</strong> Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira.<br />
Antonio da Costa, canteiro, filho <strong>de</strong><br />
Joaquim da Costa Carolino.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Coinihi-a<br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
FACULDADE DK DIREITO<br />
Dia 19<br />
1 0 anno — Accacio Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Magalhães<br />
Ramalho, Primo Firmino do Nascimento<br />
Frazão.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2° anno — Herculano <strong>de</strong> Almeida<br />
Mattos, Jayme Rebello da Costa Aruaud,<br />
João Caetano da Fonseca Lima, João<br />
José Bragança <strong>de</strong> Miranda<br />
3.° anno — Gustavo <strong>de</strong> Lima Brandão,<br />
Henrique Maria Cisneiros Ferreira.<br />
4." anno — Augusto Casimiro Alves<br />
Monteiro, Bernardino Gomes Pereira Baptista.<br />
5." anno — Arnaldo Machado, Arthur<br />
Novaes Villaça.<br />
Dia 20<br />
1." anno—Simão <strong>de</strong> Gusmão Corrêa<br />
Arouca, Antonio Rodrigues da Costa<br />
Silveira Júnior, Abilio Augusto Men<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Carvalho, Julio Maria d'Andra<strong>de</strong> e<br />
Sousa.<br />
2.° anno—João Maria <strong>de</strong> Albuquerque<br />
<strong>de</strong> Azevedo Coutinho, João Men<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Vasconcellos, João <strong>de</strong> Passos <strong>de</strong> Sousa<br />
Canavarro, João Pimenta.<br />
3.° anno — João Lopes Garcia Reis,<br />
Joaquim Rodrigues Davim.<br />
4 0 anno—Bernardo Pacheco Pereira<br />
Leite, Caetano José <strong>de</strong> Sousa Madureira<br />
e Castro.<br />
5." anno,—Carlos <strong>de</strong> Saccadura Botte<br />
Pinto <strong>de</strong> Mascarenhas, Clemente Annibal<br />
dc Mendonça. -<br />
Dia 21<br />
1° anno — André Gago da .Camara,<br />
Alfredo Augusto <strong>de</strong> Frias Ribeiro.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2." anno—João <strong>de</strong> Sampaio Freire<br />
d'Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousa Cyrne, Joaquim<br />
Men<strong>de</strong>s, Joaquim <strong>de</strong> Moraes Sarmento,<br />
Joaquim Nunes Borges Madureira <strong>de</strong><br />
Carvalho<br />
3." anno — José Bento <strong>de</strong> Novaes<br />
Peixoto, José Ferreira Mornoco e Sousa.<br />
4." anno—Carlos Alberto Leite <strong>de</strong><br />
Faria, Carlos Fe<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Castro Pereira<br />
Lopes,<br />
5.° anno — Domingos Lopes da Costa.<br />
Houve uma reprovação.<br />
FACULDADE DE MEDICINA<br />
Dia 19<br />
1.° anno — Pedro Maria <strong>de</strong> Macedo<br />
da Cunha Coutinho.<br />
Houve uma reprovação.<br />
2.° anno — Alfredo Lopes> Antonio<br />
Agostinho Mourão <strong>de</strong> Campos.<br />
llouve uma <strong>de</strong>sislencia.<br />
— Creança! disse Memma abraçando-a,<br />
não se dirá, ao ouvil-a, que toda<br />
a gente lhe tem fallado <strong>de</strong> Roma?<br />
— Não, coniintiou Débora; mas o<br />
principe Santa Scala, a minha boa amiga,<br />
meu pae e meu irmão lêem-me fallado<br />
<strong>de</strong> Roma muitas vezes; para mim, é toda<br />
a gente.<br />
— Ella tem razão, disse o marquez.<br />
— Uma cida<strong>de</strong> soberba, proseguiu<br />
Débora com este enthusiasmo que a ereanças<br />
tomam quando as pessoas gran<strong>de</strong>s<br />
escutam e a.pprovam, uma cida<strong>de</strong> que tem<br />
uma historia tão curiosa, ruínas tão antigas,<br />
monumentos tão beilos, festas tão<br />
alegres. Todas as noites sonho com<br />
Roma, e parece-me que já a vi, porque<br />
os meus sonhos <strong>de</strong>fem ser verda<strong>de</strong>iros.<br />
Senhor marquez, já esteve em<br />
Roma?<br />
— Já, minha menina, muitas vezes.<br />
— Então conhece-a bem ?<br />
— Julgo que a conheço alguma coisa.<br />
— Então <strong>de</strong>ve gostar muito d'ella...<br />
— Gosto mais <strong>de</strong> Génova.<br />
— Porque o sr. marquez é <strong>de</strong> Génova,<br />
e cada um gosta mais da sua terra.<br />
Mas quem, como eu, não tem terra própria,<br />
gosta mais <strong>de</strong> Roma do que qualquer<br />
outra.<br />
—Minha amiguinha, sinto muito que<br />
não goste <strong>de</strong> Génova.<br />
— Habito-a, e não a vi nunca, senhor<br />
marquez. Mas disse-me meu irmão<br />
Ge<strong>de</strong>ão, que ha nella uma rua <strong>de</strong> pala-<br />
3." anno—Lucio Paes d'Abranches,<br />
Victoriano da Gloria Ribeiro <strong>de</strong> Figueiredo<br />
e Castio.<br />
4." anno — Francisco Antonio da<br />
Cruz Amante, Francisco Baptista da Silva.<br />
Dia 20<br />
1.° anno — João da Silva Lino.<br />
Neste anno faltou um alumno ao a- to<br />
2 ' anno — Accacio Julio Ferreira,<br />
José ^artins da Silva Teixeira.<br />
3." anno — Virgilio Affonso da Silva<br />
Poiares, Francisco Maria dè Amaral.<br />
4anno—Francisco <strong>de</strong> Freitas Cardoso<br />
e Costa, Herculano Pinto Diniz.<br />
Dia 21<br />
1.° anno — José Rodrigues d'01iveira,<br />
Augusto Raphael Garcia l d'Araujo.'<br />
2." anno—Antonio dos Santos Tovim,<br />
João Serras e Silva.<br />
3.° anno — Alberto Deodato da Costa<br />
Rato, Ayres Julio <strong>de</strong> Sousa Lobão <strong>de</strong><br />
Macedo Chaves<br />
4." anno — Izidoro Joaquim da Silva<br />
Rico, João Raphael Men<strong>de</strong>s Dona.<br />
FACULDADE DE PHILOSOPHIA<br />
Dia 19<br />
1. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica).<br />
— Vol. Jo-é <strong>de</strong> Mattos Sobral Cid.—<br />
José Baleiras Proença, João Luciano<br />
Torres.<br />
Nesta ca<strong>de</strong>ira houve uma reprovação.<br />
3. a ca<strong>de</strong>ira—(Physica, l. a parte)—<br />
Vol. Antonio d'Andra<strong>de</strong> Pisarro e Gouvêa.—Obrs.<br />
Arnaldo Fernan<strong>de</strong>s d'Andra<strong>de</strong>,<br />
Christovão <strong>de</strong> Sousa Pinto, Duarte<br />
<strong>de</strong> Mello Ponces <strong>de</strong> Carvalho, Ernesto<br />
Redolpho Alves <strong>de</strong> Castro.<br />
4, a ca<strong>de</strong>ira — (Botanica) — Obrs,<br />
Alfredo Pereira <strong>de</strong> Barreto Barbosa.<br />
Amândio Celestino Vieira Lisboa.<br />
Dia 20<br />
í. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica).<br />
— Vol. Estevão Pereira Palha Van-Zeller,<br />
José Julio Bettencourt Rodrigues Júnior,<br />
— Obrs. José Pinto da Silva Faia, Sergio<br />
Augusto Parreira.<br />
3/ ca<strong>de</strong>ira — (Physica, 1 parte)—<br />
Vol. José Augusto d'Andra<strong>de</strong> Sequeira,<br />
— Obrs. Eugénio Pereira <strong>de</strong> Castro Caldas,<br />
D. Fernando d'Almeida, Guilherme<br />
Vieira, Henrique Simões d'Oliveira.<br />
4 a ca<strong>de</strong>ira — (Botanica). — Obrs.<br />
Francisco Pinto <strong>de</strong> Miranda Júnior, Gregorio<br />
Pinto d'Almeida Forjaz, João Silveira<br />
Malheiro.<br />
Dia 21<br />
i. a ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica)<br />
— Vol. Antonio da Gama Rodrigues,<br />
Antonio José da Costa Sampaio. Obrs.<br />
Jacintlio Manoel d'Oliveira, Luiz da<br />
Cruz Navega.<br />
3. a ca<strong>de</strong>ira — (Physica l. a parte) —<br />
Vol. Virgilio Pinto da Silva, Obrs. João<br />
<strong>de</strong> Barros Rodrigues, Joaquim Alberto<br />
do Carvalho e Oliveira, Joaquim Pereira<br />
Pimenta <strong>de</strong> Sousa e Castro, Jordão <strong>de</strong><br />
Mello Falcão.<br />
4. a ca<strong>de</strong>ira — (Botanica). — Ord.<br />
Tliomaz Alexandre <strong>de</strong> Oliveira Lobo,<br />
cios <strong>de</strong> mármores e que em todas as outras<br />
ruas não ha senão casas infectas,<br />
on<strong>de</strong> faltam a luz e o ar. E' verda<strong>de</strong><br />
isto ?<br />
— Realmente, dissê o cônsul, não é<br />
inteiramente falso.<br />
— Pois bem, nunca estimarei uma<br />
cida<strong>de</strong> como esta. Li na bibliolheca do<br />
palacio Santa-Scala muitos livros <strong>de</strong> viagens,<br />
e principalmente os que faliam <strong>de</strong><br />
Christovão Colombo. Ha em todos bellas<br />
gravuras on<strong>de</strong> se vêem praias <strong>de</strong> mar<br />
<strong>de</strong>liciosas, com arvores soberbas e famílias<br />
selvagens que parecem felizes.<br />
Estes negros, homens e mulheres, moços<br />
e velhos, não fizeram differença nas<br />
suas habitações; todos elles têem o seu<br />
bom logar á sombra, ao sol ou á chuva.<br />
Como nos appellidarão a nós, que<br />
alojamos homens em casas ignóbeis, sombrias,<br />
húmidas, e logo ao lado d'esses<br />
palacios sumptuosos, como para maior<br />
prazer dos que habitam em mármore e<br />
maior tristeza dos que habitam em<br />
barro ?<br />
Aqui eslá porque eu não gosto <strong>de</strong><br />
Génova, embora seja esta a sua terra,<br />
senhor marquez.<br />
— Muito bem! exclamou o cônsul.<br />
— Mas, disse di Negro rindo, esta<br />
creança falia já como um velho revolucionário.<br />
— Aflírmo-lhe, disse Memma, que a<br />
minha joven amiga me embaraça muitas<br />
I vezes nas nossas conversas; tem idêas<br />
Obrs. Joaquim Antonio Lopes <strong>de</strong> Castro,<br />
José Francisco Tavares.<br />
*<br />
Encerrou hontem os seus trabalhos<br />
escolares a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Theologia, pondo<br />
ponto em todos os annos começando os<br />
actos no dia 26 <strong>de</strong> junho.<br />
Os jurvs para os actos dos differentes<br />
annos ficou assim composto:<br />
1." anno — Drs Manoel d^zevedo<br />
Araujo e Gama, Francisco Martins, e<br />
Antonio Garcia Ribeiro <strong>de</strong> Vasconcellos.<br />
2." anno — Drs. Antonio Garcia Ribeiro<br />
<strong>de</strong> Vasconcellos, Manoel d'Avevedo<br />
Araujo e Gama e Avelino Cesar Augusto<br />
Callisto.<br />
3." anno—Drs. Bernardo Augusto<br />
<strong>de</strong> Madureira, Joaquim Alves da Hora e<br />
Francisco Martins.<br />
4." anno — Drs. Luiz Maria da Silva<br />
Ramos, Porphvrio Antonio da Silva e<br />
Manoel Emvgdio Garcia.<br />
5." anno — Drs.- Manoel <strong>de</strong> Jesus<br />
Lino, Porphvrio Antonio da Silva, José<br />
Pereira <strong>de</strong> Paiva Pitta e José Maria Rodrigues.<br />
Jury da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Hebreu — Drs.<br />
Manoel <strong>de</strong> Jesus Lino, Manoel d'Azevedo<br />
Araujo e Gama e José Maria Rodrigues.<br />
Camara Municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinarla<br />
De 2 <strong>de</strong> junho<br />
Presi<strong>de</strong>ncia do bacharel Ruben Augusto<br />
d'Almeida Araujo Pinto. Vereadores<br />
presentes: João da Fonseca Barata, Manoel<br />
Miranda, Manoel Bento <strong>de</strong> Quadros,<br />
João Antonio da Cunha, Joaquim<br />
Justiniano Ferreira Lobo, Antonio José<br />
Dantas Guimarães, effectivos ; José Corrêa<br />
dos Santos, substituto.<br />
Mandou abrir concurso para o provimento<br />
do logar d'inspector dos incêndios,<br />
em vista da auctorisação superiormente<br />
concedida.<br />
Tomou nota do fallecimcnto do administrador<br />
do cemiterio Joaquim Ferreira<br />
Rocha.<br />
Approvou uma <strong>de</strong>liberação da junta<br />
<strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S. Bartholomeu, para o<br />
arrendamento em praça por tres annos,<br />
<strong>de</strong> duas lojas pertencentes á egieja.<br />
Auctorisou o vereador Miranda a<br />
provi<strong>de</strong>nciar pelas corporações <strong>de</strong> bombeiros<br />
ácerca do signal d'alarme para os<br />
incêndios, <strong>de</strong>clarando a presi<strong>de</strong>ncia que<br />
[iedira ao sr. commissario <strong>de</strong> policia as<br />
suas medidas por parle do corpo <strong>de</strong> policia.<br />
Resolveu recommendar a vigilancia<br />
da policia para as transgressões <strong>de</strong> posturas<br />
praticadas diariamente em parte da<br />
rua <strong>de</strong> Sub-ripas.<br />
Auctorisou os vereadores Barata e<br />
João Antonio da Cunha a realisarem a<br />
compra d'uma junta <strong>de</strong> bois para os serviços<br />
da limpeza da cida<strong>de</strong>.<br />
Auctorisou a collocação d'um syphão<br />
na rua do Infante D. Augusto.<br />
precoces inteiramente singulares e que<br />
me espantam. Surprehendo-a por vezes<br />
com um livro na mão, na altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uma mulher <strong>de</strong> quarenta annos; não lê,<br />
reflecte sobre o que acaba <strong>de</strong> lêr.<br />
Na sua eda<strong>de</strong> é extraordinário.<br />
— Mas, menina Débora, disse o cônsul,<br />
acautelle-se! Se fallar sempre d'este<br />
modo e viajar, vae lançar o fogo aos<br />
quatro cantos da Italia.<br />
— Como, senhor! fallar a verda<strong>de</strong> é<br />
subversivo ?<br />
— A's vezes.<br />
—Vamos, minha querida, disse Memma<br />
levantando-se, é necessário irmo-nos<br />
embora. Fez hoje a sua entrada no mundo,<br />
e para a primeira vez fallou talvez<br />
um pouco <strong>de</strong>mais.<br />
— Todos nós applaudimos sinceramente<br />
a menina Débora, disse Talormi<br />
com um sorriso gracioso e um gssto encantador.<br />
— E' preciso, replicou Memma, que<br />
Débora se acostume cedo a <strong>de</strong>sprezar os<br />
applausos.<br />
— Habito, disse Talormi, que será<br />
diflicilimo <strong>de</strong> tomar a qualquer dos dois<br />
sexos.<br />
— Hei <strong>de</strong> habituar me eu, se madame<br />
Van-Ritter m'o or<strong>de</strong>nar.<br />
— Já um dia tive o prazer <strong>de</strong> a vêr,<br />
meniná Débora, disse Talormi; foi quando<br />
fiz a minha ultima visita ao príncipe<br />
Santa-Scala, e on<strong>de</strong> eu tive a infelicidada<br />
<strong>de</strong> lhe prometler acompanhal-o. Quan-<br />
Mandou passar licença para apag.<br />
centamento <strong>de</strong> cabras, segundo a postura<br />
respectiva, a Manoel Carvalho, da<br />
freguezia <strong>de</strong> Brasfemes.<br />
• Resolveu enviar ao proprietário Antonio<br />
Roxanes <strong>de</strong> Carvalho, para o <strong>de</strong>vido<br />
conhecimento, a informação da repartição<br />
d'obras ácerca <strong>de</strong> dois requerimentos<br />
que dirigiu á cabinra cm 24 d'abril<br />
e 24 <strong>de</strong> maio (dos quaes, por um terceiro<br />
pe<strong>de</strong> <strong>de</strong>spacho), para o pagamento<br />
do preço da expropriação <strong>de</strong> terrenos na<br />
sua quinta ao Almegue. O proprietário<br />
diz que cumpriu todas as obrigações do<br />
contracto. A informação diz que o requerente<br />
fez o muro em todo o comprimento<br />
<strong>de</strong>ixando-o <strong>de</strong> nível inferior á estrada<br />
; que não pô<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r-se ao<br />
aterro do terreno expropriado, sem o<br />
muro ser levantado mais l m ,20; e que<br />
o proprietário fez mover as terras do<br />
leito do terreno expropriado em prejuizo<br />
do município.<br />
Despachou diversos requerimentos<br />
sohre vários assumptos— reparação do<br />
caminho da Pousada e Loureiro; exhumação<br />
<strong>de</strong> cadaver no cemiterio ; —conservação<br />
dum candieiro d'illuminação<br />
publica, á Sé Velha ;— <strong>de</strong>signação do<br />
ponto para a conslrucção <strong>de</strong> barracas <strong>de</strong><br />
banhos no rio Mon<strong>de</strong>go; — crescimento<br />
do muro d'um prédio em Cozelhás, sujeito<br />
a indicações, e approvação d'um<br />
alçado para um portão <strong>de</strong> ferro em um<br />
prédio na la<strong>de</strong>ira do Seminário.<br />
In<strong>de</strong>feriu um requeiimenlo em que<br />
se pedia para chegar á frente do Rocio<br />
das Casas Novas, uma casa siluada a<br />
pouca distancia do mesmo em terreno <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong> particular.<br />
A GRANEL<br />
A Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Bellas Artes, pediu<br />
uma verba ao governo para adquirir no<br />
leilão da livraria do sr. D. Fernando, que<br />
é magnifica, as numerosas obras que se<br />
encontram alli sobre Bellas Artes, evitando<br />
assim que ellas vão parar por uma<br />
insignificância ás mãos <strong>de</strong> pessoas que<br />
nem a» apreciem, nem as aproveitem.<br />
* * # Consta que as côrtes serão<br />
prorogadas até aô fim do mez corrente,<br />
e que para a discussão do orçamento<br />
haverá na camara dós <strong>de</strong>putados tres<br />
sessões nocturnas por semana.<br />
* * # Da estação postal <strong>de</strong> Santarém<br />
teem sido roubadas varias cartas registradas<br />
contendo valores, e, secundo<br />
se affirma, o auclor da proeza julga-se<br />
seguro da impunida<strong>de</strong>, dada a protecção<br />
<strong>de</strong> que gosa em uão sabemos que elevadas<br />
regiões.<br />
* * # Durante os mezes <strong>de</strong> março,<br />
abril e maio últimos carregaram-se fora<br />
da barra do porto <strong>de</strong> Vianna do Castello<br />
14 navios Irancezes, que conduziram<br />
para Brest, Camaret, Abewrace e Roscotí<br />
26:011 lagostas vivas, no valor approximado<br />
<strong>de</strong> 6:500/000 réis.<br />
do entrei, a menina Ha com a maior attenção<br />
e eu fiquei <strong>de</strong>sesperado <strong>de</strong> a perturbar<br />
por uai instante ua sua leitura.<br />
— Ah! e verda<strong>de</strong>, disse Débora<br />
olhando fixamente para Talormi ; lembro-me<br />
muito bem, e por signal que<br />
me causou bastante medo.<br />
— Causei-lhe medo, eu! disse Talormi<br />
sorrindo; então estava eu aterrorisador<br />
nesse dia !<br />
--Realmente estava, por causa dos<br />
seus olhos que miravam tudo, por toda<br />
a parte e ao mesmo tempo, como os olhos<br />
d'um chacal que nós tínhamos cm Tunis,<br />
em nossa casa.<br />
— E' encantadora! exclamou Talormi<br />
; tem comparações africanas do mais<br />
fino gosto.<br />
—Mas, senhor con<strong>de</strong>, não era a mira<br />
só que mellia susto.<br />
—Ah I... a menina não estava!...<br />
balbuciou Talormi embaraçado pela primeira<br />
vez na sua vida.<br />
— Éramos dois da mesma opinião,<br />
accrescentou Débora.<br />
— E quem era o outro, menina Débora<br />
?<br />
— Mitry.<br />
— Um cão I...<br />
Impresso na Typograpliia,<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.«<br />
COIMBRA. 14, proximo á rua dos Sapateiros,—
A X X O I — X. n 9 3<br />
ANNUNCIOS<br />
Por linha ...<br />
Repetições .<br />
30 réis'<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Mala Real Portugueza<br />
PASSAGENS DE GRAÇA<br />
PARA 0<br />
BRAZIL<br />
, OA WOMENS <strong>de</strong> 16 a 40<br />
&& annos, casados,<br />
solteiros ou viúvos, teem<br />
passagem <strong>de</strong> graça para a<br />
provincia <strong>de</strong> S. Paulo e que<br />
queiram ir trabalhar nas<br />
obras do caminho <strong>de</strong> ferro<br />
da companhia Paulista.<br />
Para tratar com<br />
ANTONIO FEONANDES<br />
RUA DO CORVO<br />
tia<br />
anoel Koiiçnlvei Perei-<br />
131 M ra Guimarães, precisa<br />
d'um marçano com alguma pratica <strong>de</strong><br />
fazendas brancas.<br />
[en<strong>de</strong>-se um quasi novo e muito<br />
T bom, com todos os seus pertences<br />
como seja 12 tacos, taqueiros,<br />
marcador resto, e um jogo <strong>de</strong> hollas, para<br />
ver e tratar com Rocha <strong>Coimbra</strong>, rua do<br />
João Cabreira, n.° 3.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
„„ £ uyusto Nunes dos San-<br />
M tos, successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
CASA DE PENHORES<br />
"NA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
„„ jgt mpresta-se dinheiro sobre<br />
• tU objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a 6 — COIMBRA.<br />
Ali<br />
Últimos mo<strong>de</strong>los para (I §83.<br />
Rase longa, e outros aperfeiçoamentos<br />
JOSÉ LUIZ MAOTS 11 muJO<br />
Único agente em <strong>Coimbra</strong><br />
da Companhia «Quadra**»<br />
71<br />
Vendas pelo preço da Fabrica<br />
Envia catalogos grátis pelo<br />
correio. Machinas Singer, as mais acreditadas<br />
do mundo. Vendas a prestações<br />
e a prompto pagamento gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />
Preços eguaes aos <strong>de</strong> Lisboa e Porto.<br />
Alugam-se velocípe<strong>de</strong>s e bicycletas.<br />
Concertam-se machinas <strong>de</strong> costura.<br />
LOJA DE FAZENDAS<br />
90—Rua Viscon<strong>de</strong> da Luz—92<br />
POMADA DO DR. QUEIROZ<br />
O »EFEX«OH D» POVO<br />
Experimentada ha mais <strong>de</strong> 40 annos, para curar empigens<br />
e outras doenças <strong>de</strong> pelle. Ven<strong>de</strong>-se nas principaes pharmacias.<br />
Deposito geraí —Pharmacia Rosa & Viegas, rua <strong>de</strong> S. Vicente.<br />
31, 33 —Lishoa—Em <strong>Coimbra</strong>, na drogaria Rodrigues da Silva<br />
& (] a . '<br />
N. B. —Só é verda<strong>de</strong>ira a que tiver esta marca registada, segundo a lei <strong>de</strong><br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1883.<br />
A LA VILLE_DE PARIS<br />
Gran<strong>de</strong> Fabrica <strong>de</strong> Oorôas e Flores<br />
DELPOBT<br />
247, Rua <strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, 251 — Porto<br />
FILIAL KV LISBOA: RUA BO PRÍNCIPE E PRAÇA BOS RESTAURADORES (AYUIM)<br />
Único representante em <strong>Coimbra</strong><br />
JOÃO B00SIB0ES BBAOA, SOCCESSOB<br />
17—ADRO DE CIMA —20<br />
DEPOSITO DA FABRICA NACIONAL<br />
DE<br />
DE<br />
JOSE FRANCISCO OA CRUZ & GENRO<br />
COIMBRA<br />
128, Rua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 130<br />
|\TESTE Deposito regularmente montado, se acha á venda, por<br />
1\| junto e a retalho,.lodos os productos d'aquella fabrica, a mais<br />
antiga <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong> se recebem quaesquer encommendas pelos pre<br />
ços e condições eguaes aos da fabrica.<br />
2<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
'1111<br />
17-ADRO DE C I M A - 2 0<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartholomeu)<br />
COIMBRA.<br />
ARMAZÉM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>s-<br />
conto nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Filas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças dou •<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continúa a encarregtr-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETENCIA<br />
P M W T O N<br />
(CFFICINA)<br />
SLL.VA M O U T I N H O<br />
Praça do Commercio—<strong>Coimbra</strong><br />
IA II EDI<br />
Companhia geral <strong>de</strong> seguros<br />
Capital 2.000:000^000 réis<br />
———.<br />
100 ncarrega-se «la pintura <strong>de</strong> taboletas, casas, donra-<br />
H ções <strong>de</strong> cgrcjas, forrar casas a papel, etc., etc.,<br />
tanto nesta cida<strong>de</strong> como em toda a província.<br />
Ma mesma offleina se ven<strong>de</strong>m papeis pintados, molduras<br />
para caixilhos c objectos para egrejas.<br />
PREÇOS COMMODOS<br />
Agencia em <strong>Coimbra</strong>—Rua Ferreira Borges, 97,1.°<br />
POMADA CONTRA HI1PES E IHPIBEIS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUT1CO<br />
NI. ANDRADE<br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉIS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo tf CompS — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Vastos— Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
III BIOS -TAGUS<br />
FUNDADA EM 1877<br />
CAPITAL<br />
R É I S 1 . 3 0 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0<br />
FUNDO DE RESERVA<br />
RÉU 91:000^000<br />
SEBE EM U 8 B 0 A<br />
V<br />
Ejfectua seguros contra o risco <strong>de</strong> incêndio em prédios,<br />
mobilias e estabelecimentos<br />
AGENTE EM COIMBRA — JOSE' JOAQUIM DA SILVA PEREIRA<br />
Praça do Commercio, 14, 1.°<br />
coram is mm<br />
«FIDELIDADE»<br />
FUNDADA EM 1835<br />
Com sé<strong>de</strong> em Lisbo»<br />
, Q S o avisados os srs. accionistas<br />
y!< d'esta companhia, <strong>de</strong> que pó<strong>de</strong>m<br />
receber na agencia d'esta cida<strong>de</strong><br />
o divi<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> 1892, na razão <strong>de</strong> réis<br />
por cada acção.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
O agente,<br />
Basilio Augusto Xavier d'Andra<strong>de</strong>.<br />
Decreto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1891<br />
eha-se á venda em todas as<br />
livrarias <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o <strong>de</strong>creto<br />
<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, regulador<br />
dos direitos e obrigações das<br />
associações, <strong>de</strong> seccorros muiuos, indispensável<br />
a todos os socios das mesmas<br />
associações, preço 50 réis.<br />
BICYCLETAS<br />
ANTONIO JOSÉ ALVES<br />
101— Rua do Viscon<strong>de</strong> da Luz—105<br />
93 ||
Caíholico, sim;<br />
theocratico, não<br />
Um jornal da terra, bem conhecido,<br />
aliás, pelo seu ultramontanismo<br />
enragé, pelas idêas reaccionárias<br />
que advoga sempre, e que, na<br />
questão que ultimamente se vem<br />
dirimindo na imprensa e no parlamento<br />
sobre o Restabelecimento das<br />
or<strong>de</strong>ns religiosas, colierente coin a<br />
sua orientação, abertamente se colloca<br />
ao lado (Feslas, finge não perceber,<br />
ou na realida<strong>de</strong> não a allinge,<br />
a fórmula conceiluosa que nos<br />
serve, <strong>de</strong> epigraphe.<br />
É nella que aquelle jornal fundamenta<br />
um arrasoado <strong>de</strong> quasi<br />
tres columnas, em que procura<br />
combater a doutrina eminentemente<br />
liberal sustentada no parlamento<br />
pelo <strong>de</strong>putado Simões Ferreira,<br />
num pequeno mas substancioso discurso,<br />
em resposta ao <strong>de</strong>putado padre<br />
Santos Viegas.<br />
O nosso proposito, agora, não<br />
é analysar o discurso d'esle <strong>de</strong>putado<br />
na sua <strong>de</strong>feza das or<strong>de</strong>ns religiosas<br />
em Portugal, discurso que<br />
suggere naturalmente diversas consi<strong>de</strong>rações,<br />
que ficarão para outra<br />
vez; temos em vista, unicamente,<br />
dirigir sobre o artigo a que alludimos<br />
a nossa altenção.<br />
O articulista regeita aquella formula,<br />
pois ser caíholico e não ser<br />
theocralico parece-lhe «assim uma<br />
coisa a modo <strong>de</strong> papel pardo côr<br />
<strong>de</strong> rosa» ; e, comtudo, o sr. Simões<br />
Ferreira lúcida e claramente a <strong>de</strong>senvolve<br />
em termos levantados, que<br />
traduzem uma gran<strong>de</strong> convicção liberal,<br />
como na seguinte passagem<br />
do seu discurso:<br />
«Quero a religião catholica<br />
como toda a doutrina <strong>de</strong> boa moral<br />
como a ensiuou Jesus, mas<br />
não quero o predomínio do governo<br />
ecclesiastico na socieda<strong>de</strong><br />
civil, não quero o regimen fra<strong>de</strong>sco<br />
na minha patria, porque a<br />
historia me ensinou que esse regimen<br />
foi o principio e. a causa<br />
principal da sua <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncia, emquanto<br />
que caminhavam para a<br />
luz e para o progresso tantas nações<br />
que se levantaram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
Portugal, partindo <strong>de</strong> condições<br />
relativamente inferiores.»<br />
15' clara, é expressiva a explicação,<br />
mas os peiores cegos são os<br />
que não querem vêr.<br />
Parece-nos, porém, pelo bom<br />
juizo que fazemos da perspicuida<strong>de</strong><br />
do auctor do artigo, que esle<br />
lançou mão d'aquellas palavras<br />
como um mero pretexto para a elaboração<br />
das suas consi<strong>de</strong>rações; e<br />
islo, porque não encontramos em<br />
todo o seu dissertar, affirmações<br />
provadas que invali<strong>de</strong>m aquella<br />
doutrina, antes o vemos emmaranhar-se<br />
em proposições <strong>de</strong> puro effeilo<br />
para uma gran<strong>de</strong> parte dos<br />
seus leitores, num melaphysismo<br />
que obscurece o que prelen<strong>de</strong>-.esclarecer<br />
e d'on<strong>de</strong> resultam conlradicções<br />
manifestas. E alé nos faz<br />
acreditar na sua má fé, que não na<br />
sua ignorancia, quando affirma, que<br />
os fra<strong>de</strong>s em Portugal só produziram<br />
o maior bein,— «tomando a<br />
nessa litteratura uma das primeiras<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
litteraluras do mundo, o nosso nome<br />
conhecido e; respeitado em lodos<br />
os domínios eoloniaes que a cruz<br />
do fra<strong>de</strong>, mais do que a espada do<br />
guerreiro, conquistou para a corôa<br />
<strong>de</strong> Portugal! »<br />
Pelo que se vê, o jornal a que<br />
nos estamos referindo é <strong>de</strong> opinião<br />
— que os fra<strong>de</strong>s não foram um dos<br />
principaes, senão o principal factor<br />
da nossa profunda <strong>de</strong>cadência; que<br />
o regimen fra<strong>de</strong>sco, pelos seus bestificanles<br />
processos, não empolgou<br />
a consciência e espirilo d'este povo,<br />
que ainda hoje Irezanda ao caldo<br />
das podarias; que os conventos,<br />
longe <strong>de</strong> serem estancias <strong>de</strong> tranquill<br />
da<strong>de</strong> e socego, tão próprias<br />
para a cultura scientifica e litteraria<br />
que se apregôa, não foram, pelo<br />
contrario, antros <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassidão, <strong>de</strong><br />
orgias e <strong>de</strong>boches; que a sua influencia<br />
em o nosso meio social,<br />
mercê do fanatismo dos reis, inlelligenteme.nle<br />
promovido e animado,<br />
não foi das mais perniciosas consequências...<br />
Tudo islo finge ignorar o beatifico<br />
jornal; nós, porém, <strong>de</strong>monstraremos<br />
posteriormente, que não<br />
cabem neste artigo a§ consi<strong>de</strong>rações<br />
que temos a fazer, o quanto<br />
<strong>de</strong> funeslo houve na conservação das<br />
or<strong>de</strong>ns religiosas em o nosso paiz.<br />
Hoje, porque esle artigo já vae<br />
longo, lunilar-nos-hemos a.apontar<br />
ás inlelligencias esclarecidas as seguintes<br />
affirmações:—que a Egreja,<br />
por ser <strong>de</strong> instituição divina, é<br />
superior ao Estado, e que, portanto,<br />
este lhe <strong>de</strong>ve estar subordinado;<br />
e logo em seguida — que as duas<br />
socieda<strong>de</strong>s, Egreja e Eslado, são<br />
livres e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes na sua esphera;<br />
mas que como é da essencia<br />
das coisas que os seres inferiores<br />
estejam naturalmente subordinados<br />
aos superiores, o Eslado que é,<br />
evi<strong>de</strong>ntemente, uma socieda<strong>de</strong> inferior<br />
á Egreja, <strong>de</strong>ve naturalmente<br />
estar lhe sujeito.<br />
Não comprehen<strong>de</strong> o articulista<br />
que se possa ser caíholico não se<br />
sendo theocralico, isto é, que se<br />
admilta a religião catholica mas sem<br />
o predomínio da Egreja sobre a socieda<strong>de</strong><br />
civil; mas quer fingir que<br />
comprehen<strong>de</strong> a liberda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ha<br />
a Sujeição, a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia do que<br />
está subordinado, perante o principio<br />
que o subordina 1<br />
Puras affirmações metaphysicas<br />
para illusão dos ingénuos.<br />
~ O que a Africa precisa<br />
A camara municipal <strong>de</strong> Loanda dirigiu<br />
se ao governo pedindo a creação d'um<br />
lyceu naquella cida<strong>de</strong>.<br />
E a metrópole a querer mandar-lhe<br />
o adiposo fra<strong>de</strong>! Náo é <strong>de</strong> trevas que vive<br />
um povo; luz e muita luz <strong>de</strong>rramada<br />
pela instrucção é o que a Africa precisa<br />
e o metrópole também.<br />
Emigração<br />
Na comarca <strong>de</strong> Villa Heal, Traz-os-<br />
Montes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1892 a abril <strong>de</strong><br />
1893, foram passados 2:400 passaportes<br />
a emigrantes.<br />
Em fevereiro do presente anno ven<strong>de</strong>ram-se<br />
alli 400 passaportes, em março<br />
SOO e em abril, 400 !<br />
Não se po<strong>de</strong> negar, em presença<br />
d'estas cifras, que Portugal está prospero<br />
e feliz.<br />
Chegue-lhe sr. Fuschini, chegue-lhe!<br />
As legações<br />
Como se sabe este luxo diplomático<br />
lein custado ao paiz milhares e milhares<br />
<strong>de</strong> contos, e apezar das economias feitas<br />
actualmente pelo minislerio dos estrangeiros,<br />
não foram ellas tão completas<br />
como <strong>de</strong>viam e podiam ser<br />
Nestas condições o <strong>de</strong>putado republicano<br />
sr Jacintho Nunes, apresentou<br />
ha dias nas camaras as seguintes propostas<br />
:<br />
«Proponho que sejam supprimidas as<br />
seguintes legações :<br />
Santa Sé.<br />
Bruxellas.<br />
Haja.<br />
Vienna <strong>de</strong> Áustria.<br />
S. Petersburgo.<br />
Stokolmo. >•<br />
Economia inimediata, sem prejuízo<br />
dos actuaes vencimentos do pessoal das<br />
legações 30:600^000 réis. — O <strong>de</strong>putado<br />
por Lisboa, Josi Jacintho Nunes.»<br />
Foi admittida a proposta; resta ver<br />
se ella obtém approvação, o que duvidamos,<br />
pois é sabido que as gran<strong>de</strong>s postas<br />
sempre se conservaram para gozo e felicida<strong>de</strong><br />
da malta.<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />
O governo da florescente republica<br />
dos Estados-Unidos do Brazil telegraphou<br />
ao seu representante em Paris, sr. Gtianabara,<br />
confirmando a noticia dada ha<br />
dias <strong>de</strong> estar pacificado já o Estado do<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
Aquella noticia dada então, não mereceu<br />
toda a confiança <strong>de</strong> alguns jornaes<br />
europeus que, servindo os intereises dos<br />
ju<strong>de</strong>us da finança, se compraram em<br />
apregoar tudo o que possa concorrer<br />
para <strong>de</strong>scredito da nova, mas já forte,<br />
republica do Brazil.<br />
Ainda que lhes peze, é um facto ter<br />
terminado a revolução no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul.<br />
Mau caminho<br />
O sr. con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Burnay, que ultimamente<br />
<strong>de</strong> tanta floria se cobriu nas<br />
nunca assas cantadas eleições <strong>de</strong> Thomar<br />
e no seu natural complemento na camara<br />
dos <strong>de</strong>putados, <strong>de</strong>u uma sorte real com<br />
a campanha que contra elle moveram as<br />
Novida<strong>de</strong>s e o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro, e<br />
não menos com a da Batalha.<br />
E zangou-se o illustre fidalgo, titular<br />
do paço e <strong>de</strong> tudo o mais que tem querido,<br />
com as verda<strong>de</strong>s que então lhe disseram,<br />
e d'ahi, natural <strong>de</strong>sforço, querei las para<br />
cima dosjornae»; jáquerellou a Batalha<br />
e agora vae fazer o mesmo ás Novida<strong>de</strong>s<br />
e Primeiro <strong>de</strong> Janeiro!<br />
Ahi, valente!<br />
Em pró da instrucção<br />
Ao sr. Manoel Alves Barbosa Júnior,<br />
foi concedida a medalha <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> ins<br />
trucção primaria pela doação que fez á<br />
[unta <strong>de</strong> parochia <strong>de</strong> S Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Seroa,<br />
concelho <strong>de</strong> Paços <strong>de</strong> Ferreira, d'uin<br />
edilicio mobilado para as escolas dos<br />
dois sexos e dos rendimentos necessários<br />
para o pagamento dos or<strong>de</strong>nados dos<br />
professores.<br />
Aqui está uma graça que não <strong>de</strong>prime<br />
o con<strong>de</strong>corado, que bem a mereceu<br />
pela acção meritória que praticou, e pelos<br />
serviços prestados á instrucção popular.<br />
T 1."<br />
Quelimane-Chire<br />
Desistiram d'esta concessão, a que<br />
opportunamente nos referimos, os respectivos<br />
preten<strong>de</strong>ntes.<br />
Assim o <strong>de</strong>clarou o sr. ministro da<br />
marinha.<br />
Insubordinação militar<br />
Por uma questão <strong>de</strong> dispensas <strong>de</strong> recolher<br />
<strong>de</strong>u-se um caso <strong>de</strong> insubordinação<br />
no regimento <strong>de</strong>cavallaria 4, aquartellado<br />
em Beiem.<br />
Foram presos 13 soldados e instaurou-se<br />
o respectivo processo.<br />
ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />
do Povo<br />
NOYO regimen tributário<br />
E' com prazer que damos á carta,<br />
que em seguida começamos a publicar,<br />
a publicida<strong>de</strong> que nos pe<strong>de</strong> o seu illustre<br />
auctor, o sr. Nobre França; e tanto<br />
mais, quanto consi<strong>de</strong>ramos o seu trabalho<br />
como uma das mais nobres tentativas em<br />
favor do nosso progredimento.<br />
A nobilíssima intenção do distincto<br />
publicista transluz immediatamente das<br />
conclusões a que chega <strong>de</strong>pois da breve<br />
exposição do seu systema tributário, digno<br />
<strong>de</strong> toda a consi<strong>de</strong>ração e do mais<br />
reflectido estudo d'aquelles que teem por<br />
obrigação promover o resurgimento nacional;<br />
e para e>te a questão do imposto<br />
é uma questão capital.<br />
Sentimos, porém, que as dimensões<br />
do nosso jornal nos não permittam o publicar,<br />
na integra, a carta do sr. Nobre<br />
França, o que prejudicará, porventura, a<br />
apreciação que ella merece da parte dos<br />
nossos leitores.<br />
Sr. redactor do Defensor do Povo —<br />
Rogo a v. a mercê <strong>de</strong> dar publicida<strong>de</strong><br />
pelo seu jornal a esla carta, que tenho<br />
a honra <strong>de</strong> <strong>de</strong>pôr nas suas mãos, e sobre<br />
cujo assumpto eu ouso chamar a attenção<br />
<strong>de</strong> v. solicitando-lhe duas palavras<br />
apenas <strong>de</strong> dicção do seu justo e elevado<br />
critério.<br />
Ha muito tempo que eu penso, sr.<br />
redactor, que as relações do Estado com<br />
a população <strong>de</strong>veram ser e carecem <strong>de</strong><br />
ser mui diversas das actuaes. No nosso<br />
paiz essas relações são ainda bastante<br />
bruscas, e por ellas po<strong>de</strong>mos julgar da<br />
nossa situação, tanto mental, como economica<br />
e financeira. Cm dos aspectos<br />
bruscos d'essas relações é o nosso systema<br />
tributário, ao qual faltam as melhorés<br />
condições <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>. Essa<br />
falta é principalmente sensível pela interferencia<br />
prepon<strong>de</strong>rante, e <strong>de</strong> certo modo<br />
aggressiva, do fisco em muitos actos da<br />
vida familiar, industrial e commercial. Ao<br />
nosso fisco faltam noções <strong>de</strong>mocráticas,<br />
e o seu caracter tem ainda profundos<br />
vestígios dos velhos regimens. O nosso<br />
systema tributário não constitue uma<br />
excepção do dos outros povos, todavia<br />
faltam aos seus agentes aquellas condições<br />
<strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong><br />
livres instituições administrativas ou po<br />
liticas.<br />
O nosso systema tributário caracte<br />
risa-se pela sua intensida<strong>de</strong> e especificação.<br />
Temos nada menos <strong>de</strong> 122 especies<br />
tributarias, e a população que as<br />
supporta é geralmente a mais laboriosa<br />
ou a mais pobre. Os imposlos recaem<br />
quasi exclusivamente sobre os mesmos<br />
pacientes, ou sobre os productos do trabalho,<br />
principalmente rurál. No'escripto<br />
a que me vou referir estão em parte <strong>de</strong>monstrados<br />
estes assertos, e nelle po<strong>de</strong>mos<br />
ver monstruosida<strong>de</strong>s, taes como a do<br />
imposto industrial, on<strong>de</strong> ninguém suspeita<br />
que ellas existam. #<br />
Attralndo, pois, para esta matéria por<br />
círcumstancias talvez fortuitas, entregueime-<br />
ultimamente ao seu estudo, buscando<br />
uma solução que, pelo menos, me<br />
désse o prazer <strong>de</strong> conversar em familia<br />
sobre a instabilida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>stinos humanos,<br />
que levam uns a gozar e outros a<br />
soffror do Estado, que é cego como a fortuna<br />
e inconstante, segundo dizem, como<br />
a mulher.<br />
O i<strong>de</strong>al que me orientou foi o <strong>de</strong>scobrimento<br />
<strong>de</strong> um regimen tributário extensivo<br />
e generico, que substituísse o<br />
systema vigente <strong>de</strong> impostos intensivos<br />
e específicos; que désse ao Estado um<br />
elevado rendimento, ás camaras municipaes<br />
um abundante reddito, e á população<br />
uma ampla liberda<strong>de</strong> economica e superiores<br />
condições <strong>de</strong> bem estar commum;<br />
sobretudo, que pozesse termo positivo<br />
á crise que ameaça cada ve.z mais<br />
a nossa integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nação.<br />
Julgando ter resolvido o problema<br />
redigi então — durante o interregno parlamentar—<br />
um plano tributário, que <strong>de</strong>stinei<br />
a ser apresentado á camara dos<br />
senhores <strong>de</strong>putados e á sua consequente<br />
publicação no Diário do Governo. Esta<br />
apresentação constitucional, que julguei<br />
ser simples, tem sido todavia contrariada<br />
por occorrencias sem duvida casuaes.<br />
Depois <strong>de</strong> dar alguns passos no solido<br />
indicado, dirigi-me ao ex. mo sr. José<br />
Maria <strong>de</strong> Alpoim, a quem entreguei o<br />
.meu mantiscripto no dia 6 do corrente.<br />
Esperando <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> por uma solução alErmativa<br />
ou negativa, soube no dia 17 que<br />
s. ex.* havia sabido ha tres ou quatro<br />
dias <strong>de</strong> Lisboa, <strong>de</strong>ixando-me na impo>sihilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> o apresentar na actual sessão<br />
legislativa, visío ser custosa e <strong>de</strong>morada<br />
a sua reproducção calligraphica.<br />
E' pelo motivo exposto que eu antecipo<br />
a divulgação do meu plano, reduzindo<br />
o a esla breve exposição.<br />
A minha solução do problema tributário—<br />
para não dizer nacional — é a<br />
mais simples que possa ser imaginada.<br />
Crio dois impostos únicos; um recáe<br />
sobre toda a proprieda<strong>de</strong> immovel, rústica<br />
e urbana ; o outro inci<strong>de</strong> directamente<br />
sobre as pessoas, ou, melhor, sobre<br />
os 1.132:870 chefes <strong>de</strong> famílias. Ao<br />
primeiro <strong>de</strong>nomino naturalmente imposto<br />
territorial, e ao segundo imposto pessoal<br />
ou. <strong>de</strong> rendimento.<br />
A <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> imposto territorial<br />
pô<strong>de</strong> existir nalguns paizes, mas ahi só<br />
existirá como contribuição accessoria ou<br />
concorrente com outros impostos; portanto,<br />
não é traduzida do francez ou doutra<br />
lingua.<br />
A sua organisação e a applicação que<br />
faço da sua taxa-á proprieda<strong>de</strong> urbana<br />
bera provará a sua originalida<strong>de</strong> indígena.<br />
E' d'este imposto que eu me occupo expressamente<br />
no Memorial que <strong>de</strong>stinei á<br />
apreseutação parlamentar, e que mais<br />
tar<strong>de</strong> darei á publicida<strong>de</strong> na sua integra.<br />
O imposto pessoal é também original<br />
e exclusivamente meti, mas esse reservo-o<br />
eu, porque entendo que não <strong>de</strong>ve<br />
nem pô<strong>de</strong> ser altruísta quem não tem<br />
quatro palmos <strong>de</strong> terra para ser enterrado.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a proprieda<strong>de</strong> territorial,<br />
rústica e urbana, constitue a<br />
fundamental riqueza publica e privada,<br />
que o territorio éa base da nacionalida<strong>de</strong><br />
e que é immutavel e perdurável atravéz<br />
dos tempos e dos regimens políticos, consi<strong>de</strong>rei<br />
essa proprieda<strong>de</strong> como matéria<br />
collectavel por ex.ellencia, e sobre ella<br />
baseei todo o meu plano<br />
Lisboa, 20 <strong>de</strong> jtiuho <strong>de</strong> 1893.<br />
José Correia Nobre França.<br />
(Continua).<br />
Confraternida<strong>de</strong> politica<br />
A convite honrorissimo <strong>de</strong> alguns dos<br />
mais arados políticos republicanos hespanhoes,<br />
reuniram-se honlem, na cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz, alguns dos homens mais<br />
eminentes do partido republicano portuguez,<br />
para, com aquelles, estreitarem na<br />
maior intimida<strong>de</strong> as relações- amigáveis<br />
que entre os dois povos <strong>de</strong>vem existir.<br />
D'esta reunião on<strong>de</strong>, indubitavelmente,<br />
<strong>de</strong>vem ter sido'discutidas e apreciadas<br />
as condições politicas e sociaes <strong>de</strong> Portugal<br />
e Hespanha, ha <strong>de</strong> sair, necessariamente,<br />
uma superior orientação no <strong>de</strong>stino<br />
dos dois paizes, orientação que os ha <strong>de</strong><br />
levar ao seu resurgimento, <strong>de</strong> modo que<br />
se tornem credores do respeito e consi<strong>de</strong>ração<br />
das outras nações. E assim, Porlugal<br />
e Hespanha, numa autonomia mutua,<br />
que garanta a um e outro povo as<br />
maiores condições <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia e <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção, caminharão <strong>de</strong> mãos<br />
dadas, harmonicamente, como bons amigos,<br />
auxiliando-se po<strong>de</strong>rosamente um ao<br />
outro, no caminho do progresso, ao lado<br />
das nações cultas.<br />
Muito ha, pois, a esperar d'esta reunião,<br />
que se traduzirá numa gran<strong>de</strong><br />
cohesão <strong>de</strong> forças republicanas da península.<br />
Bolsas <strong>de</strong> trabalho<br />
O Diário do Governo <strong>de</strong> quinta feira<br />
promulgou o <strong>de</strong>creto approvando o regulamento<br />
das bolsas <strong>de</strong> trabalho, que<br />
faz parte do mesmo <strong>de</strong>creto e tem 37<br />
artigos.
A M . \ 0 1 — X / ' 9 8 O D E F E N S O R DO POVO »5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
C R Y S T A E S<br />
Cahir do azul<br />
(Ao VISCONDK DO SEIZAL)<br />
Uma noite, sahira toda a genle,<br />
Não sei porquê, mais cedo que o costume :<br />
Ella fleára apathica, indolente,<br />
Pensando, ao pé do lume.<br />
Estendia-se em flocos, espumosa,<br />
De velha renda e sedas murmurantes,<br />
A cauda do vestido côr <strong>de</strong> rosa,<br />
Em linhas on<strong>de</strong>antes.<br />
O seu pé pequenino, bem calçado.<br />
Batia, sobre os ferros do fogão,<br />
Vagaroso compasso ca<strong>de</strong>nciado<br />
D'uma velha,canção.<br />
Uma velha caução já <strong>de</strong>sbotada,<br />
E d'uma graça ingénua, on<strong>de</strong> sorri<br />
O animado partir para a caçada,<br />
E o som do halali...<br />
Julgava então ouvir distinctamente,<br />
Nas trombetas <strong>de</strong> caça, o ritornello<br />
E o latir da matilha impaciente<br />
Nos pateos do castello.<br />
Via alegres montar os cavalleiros<br />
Sorrindo ás amazonas nos balcões,<br />
E nas mangas azues dos falcoairos<br />
As garras dos falcões.<br />
Louros pagens <strong>de</strong> gorras emplumadas,<br />
Que seda tina e multicor vestia,<br />
Adornam as extensas balaustradas<br />
Da larga escadaria.<br />
Entre os pagens se nota um mais gentil,<br />
Travesso, menestrel e trovador<br />
Que em noites <strong>de</strong> luar, ao arrabil,<br />
Falia do seu amor.<br />
E que ao vér elegante aproximar-se<br />
Do favorito férvido alazão<br />
A loira castellã, corre a postar-se<br />
De joelhos no chão.<br />
Ella poisa-lhe então o pé tremente<br />
Nesse amoroso estribo <strong>de</strong> velludo.<br />
E no joelho a marca fica assente<br />
D'uin sentimento mudo.<br />
E lembrando a princeza da bailada,<br />
Que amando um pagem namorado e loiro<br />
Enxuga a mão comprida e orvalhada<br />
Nos seus cabeilos d'oiro,<br />
Segurando-se á fulva cabelleira<br />
Do pagem, que no pé lhe poisa um beijo.<br />
Sobre o cavallo salta e vae ligeira<br />
Metter-se no cortejo.<br />
Apagára-se o lume no fogão;<br />
Ella accorda do sonho em alvoroço,<br />
Ouvindo resonar o capellão<br />
Que pensa no almoço I<br />
CONDE DE SABUGOSA.<br />
LBTTRAS<br />
0 rouxinol, a pérola e a rosa<br />
O rouxinol di - se :<br />
— Não espalho á roda <strong>de</strong> mim perfume<br />
algum.<br />
A pérola queixou-se: •<br />
— Oh! meu Deus, eu não sei cantar!<br />
— O que é cruel, disse a rosa, é<br />
que eu não tenha nem a voz do rouxinol<br />
nem o brilho pallido e tremulo, a pureza<br />
da pérola.<br />
Nessa occasião passava eu por alli,<br />
ouvi-os e não pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me compa<strong>de</strong>cer<br />
da melancholia da rosa, da pérola<br />
e do rouxinol.<br />
Tratei então <strong>de</strong> os consolar.<br />
— E' necessário entrar na razão,<br />
disse lhes, não é possivel ler-se tudo.<br />
E' já muito invejável, rouxinol, maravilhar<br />
com suaves trilos os silêncios<br />
nocturnos; ser pura e diaphana, ó pérola.<br />
como uma lagrima <strong>de</strong>sprendida dos<br />
olho» da lua; ter tanto perfume, ó rosa,<br />
como a bocca das donzellas no momento<br />
em que um beijo as obriga a expandir-se.<br />
E fallando ao mesmo tempo a rosa,<br />
a pérola e o rouxinol, respon<strong>de</strong>ram-me:<br />
— Hontem seriamos ainda da tua<br />
opinião. O perfume, a pureza e o canto<br />
eram, ao que nos parecia, dotes do»<br />
quaes um só bastava a satisfazer o<br />
orgulho <strong>de</strong> uma coisa creada, qualquer<br />
que ella fosse! Mas, é bem singular!<br />
perto <strong>de</strong> nós passou uma donzella...<br />
— Que linha mais melodia na voz<br />
do que cu, disse o rouxinol.<br />
— Que era mais luminosa do que<br />
eu, replicou a pérola.<br />
— E mais perfumada do que eu,<br />
disse a rosa.<br />
—'E as tre» que se estavam lastimando,<br />
accrescenlaram:<br />
— De sorte que a nossa <strong>de</strong>rrota é<br />
tão «marga quanto po>sivel; pois fomos<br />
obrigada* a admirar e a amar, agrupados<br />
em uma só pessoa, os Ires encantos, dos<br />
quaes um só nos foi dado a cada uma I<br />
Pensei nisto e disse:<br />
— Já vejo bem o que aconteceu.<br />
Guilhermina passou por aqui. Tratem,<br />
porém, <strong>de</strong> esquecer esse momento <strong>de</strong><br />
ciúme e <strong>de</strong>ixarem as suns tristezas. Como<br />
sou amigo d'ella, pedir-lhe hei que não<br />
passeie nas suas proximida<strong>de</strong>s, e nunca<br />
mais terão <strong>de</strong> passar por essa humilhação;<br />
porque, entre as maturas animadas,<br />
não ha outra que ao mesmo tempo<br />
»eja, como ella, perfume, canto e luz!<br />
Catulle Men<strong>de</strong>s.<br />
Contra a reaccão jesuítica<br />
Foi a camara <strong>de</strong> Thomar a primeira<br />
que nobremente representou ao parlamento<br />
contra o estabelecimento, das or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas.<br />
Bom seria que as <strong>de</strong>mais camaras do<br />
paiz, que ainda têem em alguma consi<strong>de</strong>ração<br />
as idêas liberaes, indispensáveis<br />
para o nosso <strong>de</strong>senvolvimento e progresso<br />
social, imitem o levantado e pátriotico,exemplo<br />
qu:i lhes «leu a camara <strong>de</strong><br />
Thomar.<br />
Um <strong>de</strong>fensor do throno<br />
Acaba <strong>de</strong> dar-se na Guarda um acontecimento<br />
realmente interessante.<br />
Pela ultima or<strong>de</strong>m do exercito foi<br />
collocado no estado maior d'infanleria,<br />
sem o ter solicitado, o ex-commandante<br />
do regimento d'infanteria 12, aquartellado<br />
naquella cida<strong>de</strong>. Este coronel, que ira<br />
<strong>de</strong>feza das instituições actuaes tinha<br />
gasto o melhor ilos seus cuidados, recebeu<br />
com a collocação no E. M. da arma<br />
uma <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ha muito<br />
teria recebido, se estivessemos num paiz<br />
<strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>.<br />
Pelo que nos consta, aquelle official<br />
pretendia um commando em Lisboa e<br />
enten<strong>de</strong>u na sua alta sabedoria, que o<br />
melher meio <strong>de</strong> obter o que <strong>de</strong>sejava<br />
era dar nas vistas como <strong>de</strong>fensor do<br />
throno.<br />
Por isso espionava os «eus mais insignificantes<br />
actos dos seus subordinado»,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tenente coronel até ao mais<br />
insignificante corneta.<br />
Em todos lhe parecia ver a hydra e<br />
muitos foram victima* do seu inqualificável<br />
zelo.<br />
Contam-se factos engraçadíssimos<br />
succedidos com aquelle brioso official.<br />
Um dia, vendo numa loja <strong>de</strong> barbeiro<br />
que alguém alli se entrelinha lendo a<br />
Vanguarda, prohibiu immediatamente. aos<br />
sargentos, que, diga-se <strong>de</strong> passagem,<br />
constituem uma corporaçno digníssima,<br />
que entrassem naquella officina.<br />
Um dia viu expostos numa montra<br />
chapéus com forro on<strong>de</strong> se via o retrato<br />
<strong>de</strong> Malheiros; immediatamente se informou<br />
pelo proprietário se haveria algum<br />
official safardana que se arrojasse a comprar<br />
algum.<br />
As lojas on<strong>de</strong> se ven<strong>de</strong>m jornaes<br />
republicanos eram objectos das suas<br />
constantes visitas, e ai do militar que alli<br />
ousasse entrar! Emfim, seria um nunca<br />
acabar, »e qiiizessemo» referir todas as<br />
ridicularias em que entretinha os seus<br />
furores guerrciro-monarchicos.<br />
As informações conli<strong>de</strong>nciaes para o<br />
M. da G. mereciam lhe particular cuidado<br />
e constituíam para elle o melhor baluarte<br />
para conquistar o <strong>de</strong>sejado commando.<br />
Foram bem recebidas a principio<br />
e os seus resultados bem <strong>de</strong>pressa se<br />
manifestaram por succesivas transferencias<br />
e <strong>de</strong>missões, que na maioria dos<br />
casos causavam ás victimas os maiores<br />
<strong>de</strong>sarranjos.<br />
No ministério, porém, foram coniprehen<strong>de</strong>ndo<br />
que tal coronel se estava tornando<br />
num creador <strong>de</strong> republicanos e por<br />
isso resolveram passal-o ao estado maior<br />
da arma.<br />
Mas cesse tudo o que a antiga musa<br />
canta que a mais alta vingança st alevanta.<br />
O brioso militar, que fora levado pelo<br />
seu enthusia-mo pela monarchia a collocar<br />
ua fechada principal do quartel o<br />
monogramma das mageita<strong>de</strong>s, logo que<br />
soube da or<strong>de</strong>m feroz, ferozmente mandou<br />
arrancar o referido monogramma.<br />
Este ultimo acto, que tem sido noticiado<br />
por todo o paiz, que tem feito<br />
tremer toda a Europa, <strong>de</strong>u origem at<br />
uma syndjcancia. Para esse fim encontrase<br />
na Guarda o sr. general Rosa.<br />
Do que soubermos daremos noticia<br />
aos nossos leitores.<br />
Ultimo recurso dos illndidos<br />
Ha pouco tempo que o partido republicano<br />
concentra as suas forças e fe<br />
dispõe a luctar corpo a corpo com o<br />
inimigo do no nosso bem estar politico<br />
e social — a monarchia — não faltando<br />
a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> todos os dias a aliarem-se ás<br />
nossas fileiras.<br />
Esta reacção e este movimento constante<br />
que tanlo engrossa as nossas fileiras,<br />
é d'um alto e significativo valor,<br />
não só representando <strong>de</strong>screntes da politica<br />
nefasta que até hoje tem sido a<br />
causa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s males para a nossa<br />
patria, como também soldados, propugnadores<br />
puros do nosso crédo politico, que<br />
estarão promptos, una voce, a Cílirpnr<br />
<strong>de</strong> vez c-sse cancro que tem corrompido<br />
a socieda<strong>de</strong> portugueza.<br />
Era e é <strong>de</strong> esperar. Os verda<strong>de</strong>iros<br />
homens <strong>de</strong> bem, todos aquelles em quem<br />
se arreiga um instincto nobre e grandioso,<br />
á força <strong>de</strong> esperarem cousas ratoaveis<br />
da monarchia, não teem visto<br />
senão commctter loucuras <strong>de</strong>testáveis.<br />
Em face <strong>de</strong> acontecimentos transactos e<br />
presentes, que não po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
condizer com os futuros emquanto tal<br />
systema governativo po<strong>de</strong>r e mandar, os<br />
homens políticos, mas que não fazem<br />
politica e só seguem aquella que se<br />
coaduna com o seu pensar, teem <strong>de</strong>sertado<br />
das fileiras realistas para virem engrossar<br />
o partido da <strong>de</strong>mocracia.<br />
E' para nós por <strong>de</strong>mais agradavel<br />
receber no uosso seio tantos homens honestos<br />
e trabalhadores< não só porque<br />
são uma força vital e moral, era parte<br />
mas também porque representam o<br />
inicio d'uma <strong>de</strong>rrocada tremenda que,<br />
qual juizo final, fará diluir os alicerces<br />
já mal seguros da dynastia Briganlina,<br />
que um systema <strong>de</strong>mocrata puro, evangelista<br />
e moralisador virá a substituir.<br />
Não faltam infelizmente, <strong>de</strong>screntes;<br />
a esses, a quem não po<strong>de</strong>mos fazer<br />
alimentar a cliamma do enthusiasmo,<br />
ilada a nossa falta <strong>de</strong> auctorida<strong>de</strong>, só<br />
recommendamos a leitura <strong>de</strong> successivos<br />
artigos do nosso correligionário sr. dr.<br />
Cunha e Costa, artigos publicados no<br />
nosso collega a Voz Publica e que<br />
bastam para elucidar e tornar crentes os<br />
mais apegados ao seu sccpticismo e falta<br />
<strong>de</strong> convicção.<br />
SMen<strong>de</strong>s Cabral.<br />
Senhor do Calvario<br />
<strong>de</strong> Gouvêa<br />
Nos dias 12, 13 e 14 <strong>de</strong> agosto haverá<br />
em -Gouvêa gran<strong>de</strong>s e esplendidos<br />
festejos em honra do Senhor do Calvario,<br />
Esto anno a mesa da irmanda<strong>de</strong>, a<br />
cargo <strong>de</strong> quem estáa festa d'egrcja e das<br />
ruas, <strong>de</strong>senvolve prodigiosa activida<strong>de</strong> a<br />
fira <strong>de</strong> hera se <strong>de</strong>sempenhar da sua missão.<br />
Haverá kermesse naquelles tres dias,<br />
<strong>de</strong>stinnndo-se o producto para aformoseamento<br />
do monte Calvario, on<strong>de</strong> se<br />
acha situada a ermida; corridas <strong>de</strong> velocípe<strong>de</strong>s<br />
na estrada <strong>de</strong> Freixo; locará no<br />
jardim e na kermesse a troupe Infante da<br />
Camara, que a convite muito especial<br />
alli irá; fogo preso e illuminações a ca<br />
pricho e para não faltar nada, haverá<br />
também recita <strong>de</strong> gala no theatro.<br />
O club que se acha já inslallado ou<br />
se- vae instai lar numa casa, mandadn<br />
construir <strong>de</strong> propósito e que é ura do*<br />
melhores <strong>de</strong> província, será franquiado<br />
aos romeiros naquelles dias.<br />
Não faltará concorrência a esta feita,<br />
não.<br />
A meza da irmanda<strong>de</strong>, a quem felicitamos<br />
pelo seu zelo, é composta pelos<br />
seguintes cavalheiros:<br />
Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caria<br />
Conego Prior, Henrique A. Simões<br />
da Costa<br />
Joaquim A<strong>de</strong>lino Pires<br />
José Augusto Fra<strong>de</strong><br />
José Maria da Costa Duarte<br />
José Pires Marques<br />
Manoel Ribeiro Bellino<br />
Antonio Augusto Fernan<strong>de</strong>s da Cunha.<br />
*<br />
Quaesquer donativos ou prendas para a<br />
kermesse po<strong>de</strong>rão ser entregue» em Lisboa<br />
a Antonio Tha<strong>de</strong>u, rua do Ouro,<br />
180; Porto, João Lopes Martins, rua das<br />
Flores, 198; <strong>Coimbra</strong>, Valentim José Rodrigues;<br />
e em Gouvêa a qualquer dos<br />
vogaes da irmanda<strong>de</strong>.<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Teixeira <strong>de</strong> Brito<br />
Não são animadoras as noticits que<br />
po<strong>de</strong>mos dar aos seus amigos. O nosso<br />
bom companheiro não tem experimentado<br />
melhoras, receiaudo-se bastante pela<br />
sua vida, se por estes dias a doença não<br />
apresentar um caracter mais benigno.<br />
Martins <strong>de</strong> Carvallio<br />
O respeitável redactor do Conimbricense<br />
foi acommettido ultimamente d'um<br />
ataque d'ietericia, razão porque não publicou<br />
hontem o seu jornal.<br />
Esperamos em breve vel-o restabelecido<br />
do novo incommodo que venceu a<br />
sua tenacida<strong>de</strong> no trabalho, que vae<br />
roubando as forças e a energia do honrado<br />
velho.<br />
Contro os fra<strong>de</strong>s<br />
Lemos no nosso collega — a Gazeta<br />
Nacional—que constava que a camara<br />
municipal, interpretando o» »entimentos<br />
liberaes d'este concelho, ia representar<br />
contra a pretensão do restabelecimento<br />
das or<strong>de</strong>ns religiosas.<br />
Applaudimos com enthusiasmo tal <strong>de</strong>liberação,<br />
que bem prova que o» nos»o»<br />
vereadores honram sobremaneira as tradições<br />
liberaes dos seus antepassados.<br />
Estando na camara o sr. dr. Ruben<br />
d'Almeida, filho do bravo militar, João<br />
Marques d'Almeida Araujo Pinto, que<br />
pelos seus serviços soube merecer da<br />
patria justa remuneração até á sua morte;<br />
e bem assim o sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />
que recebeu <strong>de</strong> seu pae tantos exemplos<br />
<strong>de</strong> civi
A N X O I - M . » » 8 O D E F E N S O R D O P O V O «5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1SB3<br />
Festivida<strong>de</strong>s<br />
A irmandan<strong>de</strong> do Santíssimo da Sé<br />
Yelha faz este anno a sua festa na egreja<br />
<strong>de</strong> S. João d'Almedina.<br />
A's 11 horas da manhã ha missa a<br />
gran<strong>de</strong> instrumental e sermão. De tar<strong>de</strong><br />
Te-Deum e procissão, que ha <strong>de</strong> sair ás<br />
8 horas, sfguimio pela rua Borge» Carneiro,<br />
largo da Sé Ye'ha rua <strong>de</strong> Joaquim<br />
Antonio d'Aguiar, largo da Estrella, Couraça<br />
<strong>de</strong> Lishoa, ruas <strong>de</strong> S. Pedro, Sá<br />
<strong>de</strong> Miranda e largo <strong>de</strong> - S. João. Acompanha<br />
a philarmonica lloa-União e uma<br />
força <strong>de</strong> infanteria.<br />
* Os promotores da festa ao Senhor<br />
do Aunado que estava annunciada<br />
para hoje foi transferida para quinta<br />
feira, Í9 do corrente.<br />
* A mesa da irmanda<strong>de</strong> do Satissimo<br />
Sacramento <strong>de</strong> S. Bartholomeu,<br />
resolveu fazer esle anno uma brilhante<br />
solemnida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>verá realisar-se no<br />
dia 2 <strong>de</strong> junho.<br />
De vespera haverá um vistoso fogo<br />
preso e do ar, balão, illuminação na<br />
frontaria da egreja e musica; no dia,<br />
missa cantada a gran<strong>de</strong> orchestra sermão,<br />
e procissão para o que foram convidadas<br />
muitas irmanda<strong>de</strong>s.<br />
A' camara e á policia<br />
^Ainda se conservam a <strong>de</strong>saguar para<br />
a vKUéta os canos das pias d'algumas<br />
casas da rua das Pa<strong>de</strong>iras, conforme referimos.<br />
Agora consta-nos que algumas cavallariças<br />
da baixa, não tem a necessaria<br />
limpeza, produzindo maus cheiros e incommodando<br />
a visinhança. Obteremos<br />
informações e se antes se não tiver provi<strong>de</strong>nciado<br />
indicaremos no proximo numero<br />
o local para que a auctorida<strong>de</strong> obrigue<br />
o infractor a cumprir o» seus <strong>de</strong>veres.<br />
A««ocinfSo dos Artistas<br />
Parece que os corpos geientes d'esta<br />
associação em vista do offerecimento<br />
da camara municipal, nomeou uma commissão<br />
para a escolha do local na quinta<br />
<strong>de</strong> Santa Cruz, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ler construído<br />
o seu novo editicio. .<br />
Dizem-nos que essa commissão é<br />
composta dos srs. Anlonio Augusto Gonçalves,<br />
Benjamim Ventura, Antonio Pedro,<br />
conslructores civis, que da melhor<br />
vonta<strong>de</strong> se prestam a satisfazer ao pedido<br />
que lhes lôra feito.<br />
Wevo jornal<br />
O centro regenerador trabalha na organisação<br />
d'um jornal, que brevemente<br />
apparecerá.<br />
Sera o representante, na imprensa,<br />
do parlido, advogando a sua politica e<br />
os seus interesses, que nunca po<strong>de</strong>m<br />
ser os interesses do paiz, nem do povo.<br />
AtietorisafSo<br />
A camara dos pares <strong>de</strong>u auctorisação<br />
para fazer parte dos jurys nos actos <strong>de</strong><br />
Mathematica, na <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, o sr. dr.<br />
Souto Rodrigues.<br />
46 Folhetim do Defensor dó POYO<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA Nft V:\TIIH\II<br />
YIX<br />
Débora<br />
— E* verda<strong>de</strong>, sr. con<strong>de</strong>, mas não<br />
falle do Mitry com esse <strong>de</strong> ar <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso.<br />
O Mitry, se fatiasse, era um homem;<br />
e tenho esperança em que ha <strong>de</strong> faltar<br />
um dia.<br />
— E' adoravel 1 disseram algumas<br />
vozes.<br />
--Con<strong>de</strong> Talormi, não levou a melhor<br />
nesta lucta, ajuntou o marquez.<br />
— Diabo I disse Talormi, ahi está<br />
um jardim on<strong>de</strong> não enirhréi mais.<br />
— A'manhã estará abandonado, disse<br />
Memma tomando a mão <strong>de</strong> Débora e<br />
saudando com um ligeiro movimento <strong>de</strong><br />
cabeça.<br />
—Deixa nos assim tão cedo?<br />
— Sim, meu caro marquez.<br />
— Mas, Memma, não sabe então o<br />
que per<strong>de</strong>?<br />
— Não, mas sei sempre o que ganho.<br />
— Acabam <strong>de</strong> me annunciar que o»<br />
nossos artistas do Carlo-Felice chegaram<br />
Esctfla Brotem<br />
Ficaram approvados nos exames feitos<br />
nesta escola os alumnos que enumeramos<br />
:<br />
Dia 21<br />
PHYSICA E MECHANICA INDUSTRIAL<br />
Francisco Manoel da Silva Teixeira,<br />
tecelão mechanico, filho <strong>de</strong> Narciso Fortunato<br />
da Silva Teixeira.<br />
Augusto Gonçalves da Silva, marceneiro,<br />
filho <strong>de</strong> José Men<strong>de</strong>s da Silva.<br />
» Joaquim Gomes Pare<strong>de</strong>s, empregado,<br />
filho <strong>de</strong> Antonio Gomes Pare<strong>de</strong>s.<br />
Manoel Rodrigues d'Almeida, marceneiro,<br />
filho <strong>de</strong> José Rodrigues d'Almeida.<br />
Eduardo Mauricio, relojoeiro, filho<br />
<strong>de</strong> Francisco Mauricio.<br />
Manoel Pedro Cor<strong>de</strong>iro, serralheiro,<br />
filho <strong>de</strong> Joaquim Pedro Bizarro.<br />
Antonio Corrêa d^ndra<strong>de</strong>, serralheiro,<br />
filho <strong>de</strong> Antonio d'Andra<strong>de</strong> Corrêa.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
FACULDADE DE DIREITO<br />
Dia 22<br />
1anno — José Augusto Diniz,<br />
Elysio Ferreira <strong>de</strong> Lima e Sousa.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2." anno — Joaquim Telles <strong>de</strong> Menezts<br />
Vieira <strong>de</strong> Meyrelles, Jorge da Silveira<br />
Freire Themudo <strong>de</strong> Vera, José Agostinho<br />
<strong>de</strong> Figueiredo Pacheco Telles, Jo
AXXO í - &H O D K P E . ^ O R B O POVO 25 (le lanho <strong>de</strong> J SOS<br />
OITI^S<br />
PARA<br />
Pharmacia<br />
Brevida<strong>de</strong> e niti<strong>de</strong>z<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
ANNUNCIOS<br />
KVFXOPF^<br />
E PAPEL<br />
timbrado<br />
Por linha 30 réis<br />
* Repetições 20 róis<br />
Impressões rapidas<br />
Typ. Operaria<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
c c m m CE m m i<br />
' F I B<br />
w<br />
FUNDADA EM 183a<br />
Com sé<strong>de</strong> em IJÍ»I»O»<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
1 Si 2 J J<br />
ião avisados os srs. accionistas<br />
d'esta companhia, <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m<br />
receber na agencia d'esta cida<strong>de</strong>,<br />
o divi<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> 1892, na razão <strong>de</strong> réis<br />
por cada acção.<br />
"<strong>Coimbra</strong>, 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893.<br />
O agente,<br />
Basilio Augusto Xavier d'Andru<strong>de</strong>.<br />
Mala Real Portugueza<br />
130<br />
PASSAGENS DE GRAÇA<br />
PARA O<br />
B K & Z I h<br />
>OMENS <strong>de</strong> 16 a 40<br />
annos, casados,<br />
solteiros ou viúvos, teem<br />
passagem <strong>de</strong> graça para a<br />
província <strong>de</strong> S. Paulo e que<br />
queiram ir trabalhar nas<br />
obras do caminho <strong>de</strong> ferro<br />
da companhia Paulista.<br />
Para tratar com<br />
RUA DO CORVO<br />
Decreto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1891<br />
fl elia-ge á venda em todas as<br />
#4 livrarias <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, o <strong>de</strong>creto<br />
<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1891, regulador<br />
dos direitos e obrigações das<br />
associações, <strong>de</strong> seccorros mútuos, indispensável<br />
a todos os socios das mesmas<br />
associações, preço 50 réis.<br />
Instrumentos <strong>de</strong> corda<br />
„„ a uguRto Uune» dos Sant«B><br />
successor <strong>de</strong> Antonio<br />
dos Santos, executa e ven<strong>de</strong> instrumentos<br />
<strong>de</strong> corda e seus accessorios<br />
RUA DIREITA, 18—COIMBRA<br />
CASA OE PENHORES<br />
HA<br />
CHAPELERIA CENTRAL<br />
„ gw nipreata-se dinheiro sobre<br />
£•{ objectos <strong>de</strong> ouro, prata, papeis<br />
<strong>de</strong> credito, e outros que representem<br />
valor.<br />
Bua <strong>de</strong> Ferreira Borges, 77 a 81 e<br />
Arco <strong>de</strong> Almedina, 2 a G - COIMBBA.<br />
Sa<br />
.„. Mjganoel Gonçalves Perel-<br />
Ífl ra Guimarães, precisa<br />
d'um marçano com alguma pratica <strong>de</strong><br />
fazendas brancas.<br />
ARÍlCido<br />
vendida por 120$0u0 réis ao passo que<br />
esta casa as tem a 110$000!!I<br />
Tem condições <strong>de</strong> corridas e para<br />
amadores.<br />
APRENDIZ DE FUNILEIR0<br />
121 O pecUa_Be ( ' e um > na rua do<br />
Ir Viscon<strong>de</strong> da Luz, 25.<br />
JOÃO RODRIGUES BRAGA<br />
SUCCESSOR<br />
17 — ADE 3 DE CIMA-20<br />
(Atraz <strong>de</strong> S. Bartliolomeu)<br />
C O I MC B »L' ^<br />
2 À RMAZEM <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> algodão, lã e seda. Vendas por junto<br />
J\_ e a retalho. Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> pannos crus. Faz-se <strong>de</strong>sconto<br />
nas compras para reven<strong>de</strong>r.<br />
Completo sortido <strong>de</strong> corôas e bouquets, fúnebres e <strong>de</strong> gala. Fitas<br />
<strong>de</strong> faille, moiré, glacé e selim, em todas as côres e larguras. Eças dou •<br />
radas para adultos e crianças.<br />
Continua a encarregar-se <strong>de</strong> funeraes completos, armações fúnebres,<br />
e trasladações, tanto nesta cida<strong>de</strong> como fora.<br />
PREÇOS SEM COMPETÊNCIA<br />
mm BESTES E EMFISENS<br />
PREPARADA PELO PHARMACEUTICO<br />
M. ANDRADE<br />
' \ • . i! ><br />
Esta pomada tem sido empregada por muitos médicos<br />
tirando os melhores resultados<br />
PREÇO DE CADA CAIXA 360 RÉÍS<br />
DEPOSITO GERAL — Drogaria Areosa — COIMBRA<br />
DEPOSITO EM LISBOA : — Serze<strong>de</strong>llo $ Comp & — Largo do Corpo<br />
Santo; José Pereira Bastos—Rua Augusta; João Nunes <strong>de</strong> Almeida —<br />
Calçada do Combro 48.<br />
IMBRES<br />
ENVELLOPES E CARTAS<br />
Imprimem-se na<br />
Typ. Operaria<br />
<strong>Coimbra</strong><br />
A QUEM PRECISE<br />
117 M " " 1 " » - * * u m a s estantes<br />
' I quasi novas; são próprias<br />
para mercearia, ou outro negocio.<br />
Para tratar com João Vieira da Silva<br />
Lima — <strong>Coimbra</strong>.<br />
0 DEFENSOR DO POVO<br />
(PUBLICA-SE ÁS QUINTAS FEIRAS E DOMINGOS)<br />
Redacção e administração<br />
RUA DE FERREIRA BORGES, 29, I.«<br />
Assumptos <strong>de</strong> administração — dirigir u<br />
Antonio Augusta dos Santos<br />
EDITOR<br />
CONDIÇÕES DE ASSIGNATURA<br />
Com estampilha<br />
Anno ' 20700<br />
Semestre 10330<br />
Trimestre... 680<br />
(PAGA ADIANTADA)<br />
Sem estampilha<br />
Anno 2«00<br />
Semestre.... 21000<br />
Trimestre... 600
A festa republicana<br />
em <strong>Bad</strong>ajoz<br />
Foi verda<strong>de</strong>iramente notável a<br />
conferencia republicana, celebrada<br />
em <strong>Bad</strong>ajoz, por hespanhoes e portuguezes<br />
nos dias 24 e 25 do corrente,<br />
dias consagrados pela egreja<br />
ao Percursor do Chrislianismo, que<br />
também foi uma profunda transformação<br />
social politica, economica e<br />
moral, sob as formas apparenles<br />
d'uma revolução religiosa.<br />
Este assignalado acontecimento,<br />
simplesmente peninsular, é o inicio<br />
<strong>de</strong> oulros <strong>de</strong> maior acção e mais<br />
po<strong>de</strong>rosa influencia; e pequeno como<br />
parece á primeira vista, po<strong>de</strong> lornar-se<br />
gran<strong>de</strong>, enorme para toda a<br />
Europa, nas suas consequências, as<br />
quaes em parle previstas não é fa*<br />
cil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>de</strong>terminar, ou ao menos<br />
calcular nos seus effeitos.<br />
Auxiliados com as informações<br />
que nos trazem os jornaes <strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz<br />
e <strong>de</strong> outros pontos <strong>de</strong> Hespanha,<br />
os jornaes porluguezes e a exposição<br />
que d'aquella sympathica<br />
festa nos têm feito alguns dos nossos<br />
amigos que a presencearam e<br />
nella tomaram parte, procuraremos<br />
informar os nossos leitores, e convencer-se-hão<br />
<strong>de</strong> que o facto altamente<br />
significativo como acontecimento,<br />
loi também como espectáculo<br />
brilhante e assombroso.<br />
VIAGEM<br />
Levados pela nobilíssima idêa d'uma<br />
approximação intima e fraternal <strong>de</strong> Portugal<br />
e Hespanha, que os interesses dynasticos<br />
dos dois paizes por tantos séculos<br />
afastaram, tornando inimigos seculares<br />
dois povos que a natureza lizera<br />
irmãos, reuuiram-se na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz,<br />
cujas convicções accentuadamente<br />
republicanas naturalmente indicavam para<br />
a importante reunião, os chefes mais<br />
prestigiosos do partido republicano hespanhol,<br />
acompanhados <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> nume<br />
ro dos mais eminentes e enthusiastas republicanos<br />
hespanhoes, para receberem<br />
os <strong>de</strong>legados do partido republicano portuguez,<br />
que alli se fez representar do<br />
modo mais brilhante por muitos dos vultos<br />
mais distuictos na politica, na sciencia e<br />
na imprensa.<br />
Foi como que uma viagem <strong>de</strong> triumpho<br />
a que liaeram os republicanos porluguezes<br />
a <strong>Bad</strong>ajoz. Nas linhas do percurso<br />
eram esperados ein quasi todas as<br />
estações por muito povo e comniisaõe»<br />
republicanas, que iam, assim, dar aos<br />
seus representantes a expressão da sua<br />
conliança e assegurar-lhe» com o seu enthusiasmo<br />
a esperança <strong>de</strong> que ficavam<br />
animados.<br />
Aos illustres republicanos portuguezes<br />
que salitram <strong>de</strong> Lisboa com <strong>de</strong>stino<br />
a <strong>Bad</strong>ajoz, os srs. dr. Jaciutho Nunes,<br />
dr. Eduardo Abreu, Teixeira Bastos, dr.<br />
Magalhaes Lima, Gomes da Silva, Alves<br />
Corrêa, Cecílio <strong>de</strong> Sousa, Feio Terenas,<br />
Andra<strong>de</strong> Neves, Magalhães Bastos,<br />
Autónio Cardoso <strong>de</strong> Oliveira, João<br />
Jaeiulho Fernan<strong>de</strong>s, dr. Ignacio Ferrari,<br />
Azevedo liamos, Oliveira e Silva, Manoel<br />
Autonio Dias Ferreira, Perry Vidal,<br />
dr. Bruklami, Rodrigues Tocha, Coelho<br />
da Silva, João lgiiaoio Garcia e Soares<br />
Gue<strong>de</strong>s, juntaram-se em Santarém os srs.<br />
Francisco Canha e Manoel Antonio das<br />
Neves; no Poço do Bispo, Coelho da Silva;<br />
no Entroncamento — a <strong>de</strong>legação do<br />
Porto, Cunha e Cosia, Bessa Carvailio,<br />
dr. Gama e Salgado Lencart; a <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
dr. Emygdio Garcia, lente <strong>de</strong> direito,<br />
dr. Jose Bruno, lente <strong>de</strong> malhematica,<br />
e dr. Martins Teixeira <strong>de</strong> Carvalho;<br />
em Abrantes o dr. Ramiro Gue<strong>de</strong>s;<br />
Da Torre das Vargens, entrou o dr.<br />
Defensor<br />
BI-SEMANARIO REPUBLICANO<br />
Soms, lente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Salamanca,<br />
e Lourinho, professor do lyceu<br />
<strong>de</strong> Portalegre, Vicente Bugalho, Mourato<br />
e Teixeira <strong>de</strong> Queiroz; seguiu lambem<br />
uma commissão <strong>de</strong> republicanos <strong>de</strong> Vigo,<br />
e o dr. Martins Lima e Manoel<br />
Vianna, <strong>de</strong> Barcellos; em Elvas eram os<br />
nossos correligionários esperados pelos<br />
srs. D. Ruben Landa, Carrasco e Parra,<br />
que em nome dos republicanos hespanhoes<br />
dirigiram aos nossos as mais cor<strong>de</strong>aes<br />
e enthusiasticas saudações.<br />
Mas imponente e <strong>de</strong>lirante <strong>de</strong> enthusiasmo<br />
foi a recepção em<br />
BADAJOZ<br />
Mais <strong>de</strong> 4:000 pessoas esperavam o<br />
comboio, applaudindo o mais calorosamente<br />
possivel e recebendo com o maior<br />
<strong>de</strong>lirio os <strong>de</strong>legados portuguezes, numa<br />
ovação fremente, estrepitosa e polongada,<br />
emquanto uma banda tocava o hymno<br />
nacional portuguez.<br />
Os hespanhoes republicanos mais<br />
illustres estavam na estação, á frente<br />
dos quaes se notava Solmeron, o prestigioso<br />
chefe da união republicana <strong>de</strong><br />
Hespanha, e Pedregal, Cervera, Ver<strong>de</strong>z,<br />
Montenegro, Luiz Cal<strong>de</strong>ron, Salas Anton,<br />
Altamira, e os <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> Alméria,<br />
Pontevedra, Salamanca, Vigo, Oviedo,<br />
Orense, Alicante e Riscaya, acompanhando<br />
todos, em numeroso cortejo <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> pessoas, os <strong>de</strong>legados portuguezes<br />
até a cida<strong>de</strong>.<br />
Maniieslações da mais subida consi<strong>de</strong>ração,<br />
da mais nffectuosa estima, não<br />
cessavam <strong>de</strong> as receber os portuguezes<br />
no mais fidalgo acolhimento que lhes fez<br />
o povo hespanhol, sendo visitados pelo<br />
que <strong>de</strong> mais illustre se encontrava em<br />
<strong>Bad</strong>ajoz, não faltando até os jornaes<br />
monarchicos d'aquella cida<strong>de</strong> a dirigirem<br />
as boas vindas aos republicanos <strong>de</strong> Portugal.<br />
O COMÍCIO<br />
Começou ás 9-horas no theatro Lopes<br />
d'Ayala, que, regurgitando numa concorrência<br />
exlraordmaria e selectissima,<br />
assistiu ao acontecimento mais aotavel e<br />
mais fecundo para a prosperida<strong>de</strong> e<br />
pogresso da península, que se tem realisado<br />
na segunda meta<strong>de</strong> d'este século.<br />
Presidiam a notabilissima asseuiblêa<br />
os srs. Landa, tendo á sua direita o sr.<br />
dr. Emygdio Garcia e Pedregal, e á esquerda<br />
Salmeron e Magalhães Lima.<br />
O mefling realisou-se no meio d'um<br />
in<strong>de</strong>scriptivel enthusiasmo, d'uma animação<br />
vibrante e quente, on<strong>de</strong> palpitavam,<br />
emocionadas, inlelligencias das mais brilhantes,<br />
sentimentos dos mais sinceros,<br />
a mais franca cor<strong>de</strong>alida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicações<br />
das mais <strong>de</strong>cididas e a sympatlna mais<br />
viva, eloquentíssima, entre os dois povos.<br />
Rompeu-se o gelo que havia entre<br />
Portugal e Hespanha, como disse D.<br />
Ruben Landa, e este facto, das cousequeucias<br />
mais transcen<strong>de</strong>ntes para o futuro<br />
dos povos da península, <strong>de</strong>ve-se<br />
á coufraternisação republicana, franca e<br />
leal, <strong>de</strong> hespanhoes e portuguezes. Que<br />
as monarchtas peninsulares só lêem<br />
promovido odios e repulsões, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via<br />
ler existido, sempre a ainisa<strong>de</strong> cor<strong>de</strong>al<br />
<strong>de</strong> irmãos.<br />
A enlrada no theatro dos <strong>de</strong>legados<br />
do partido republicano portuguez foi<br />
acolhida com salvas <strong>de</strong> palmas tempestuosas<br />
e frementes e vivas a Portugal e<br />
Hespanha, e o mesmo acolhimento enthusiastico<br />
foi feito á entrada <strong>de</strong> Salmeron.<br />
O primeiro discurso foi pronunciado<br />
por D. Ruben <strong>de</strong> Landa, que em phrase<br />
levantada enaltece a reuuiao que se<br />
realisa c que ha <strong>de</strong> estreitar mais e<br />
mais os laços <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> eutre os<br />
dois paizes; que Portugal po<strong>de</strong> coutar<br />
com o auxilio da Hespanha para mauter<br />
a sua dignida<strong>de</strong> e a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia.<br />
A este orador seguiu-ae o sr. dr.<br />
Eduardo Abreu, que apresentou as mensagens<br />
<strong>de</strong> adhesão <strong>de</strong> llieoplnlo Braga,<br />
Rodrigues <strong>de</strong> Freitas, Guerra Junqueiro,<br />
e <strong>de</strong> outros republicanos <strong>de</strong> Portugal,<br />
das quaes começamos hoje a publicar<br />
algumas das mais notáveis. Com gran<strong>de</strong><br />
eloquencia exprimiu o dr. Eduardo Abreu<br />
a alta significação d'aquella assembleia,<br />
on<strong>de</strong> predominava como base <strong>de</strong> discussão<br />
a in<strong>de</strong>pendência e autonomia dos<br />
dois paizes.<br />
Ao terminar o seu discurso este<br />
orador, os porluguezes, <strong>de</strong> pé,levantaram<br />
vivas á Hespanha; Salmeron, Pedregal<br />
e outros abraçaram-no e o publico levantou<br />
vivas a Portugal.<br />
Fallou <strong>de</strong>pois osr. Cal<strong>de</strong>ron, <strong>de</strong>legado<br />
da província <strong>de</strong> Segovia, que, dirigindo-se<br />
ás muitas senhoras que aisistiani<br />
ao comício, ostentando na maior<br />
parte as côres nacionaes portuguezas,<br />
applaudiu a sua <strong>de</strong>licadíssima intenção,<br />
e disse-lhes, que a -sua comparência<br />
naquellas reuniões ha <strong>de</strong> ser efÈcacissima,<br />
porque as idêas <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e as<br />
doutrinas <strong>de</strong>mocráticas se hão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
no seio das famílias, ao influxo<br />
benefico da mulher; e que estas idêas,<br />
por serem nobres e puras, nenhum perigo<br />
po<strong>de</strong>m constituir.<br />
O sr. Magalhães Lima, que toda a<br />
Hespanha conhece e admira, recebeu,<br />
ao levantar-se para fallar, uma gran<strong>de</strong><br />
ovação.<br />
Exprimiu o seu gran<strong>de</strong> afTecto á<br />
Hespanha e affirmou as suas idêas fe<strong>de</strong>ralistas.<br />
Fez resaltar a grandiosa approximação,<br />
que alli se estava iniciando<br />
entre os dois paizes, dizendo que só os<br />
republicanos a po<strong>de</strong>m realisar; que as<br />
idêas fe<strong>de</strong>raes eslão n«t tradição do partido<br />
republicano portuguez; que as idêa*<br />
<strong>de</strong> odio, <strong>de</strong> hypocrisia, não caem ao<br />
impulso dos canhões mas ao impulso das<br />
iueas.<br />
Com o maior brilho discursou em<br />
seguida o sr. Salas Anton, <strong>de</strong>legado <strong>de</strong><br />
Barcelona. Em nome da Catalunha saudou<br />
Portugal e <strong>Bad</strong>ajoz, e disse que<br />
Portugal c Hespanha só <strong>de</strong>sejam a fe<strong>de</strong>ração<br />
dos dois paizes, conservando ambos<br />
a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia. Mostra-se fe<strong>de</strong>ralista<br />
ar<strong>de</strong>nte e termina o seu discurso<br />
brilhante fazendo votos pela breve realisação<br />
do seu i<strong>de</strong>al — que uma republica<br />
fe<strong>de</strong>ral dos dois paizes seja em breve<br />
um facto.<br />
O <strong>de</strong>legado portuguez, sr. Gomes da<br />
Silva, dirige á Hespanha e a <strong>Bad</strong>ajoz<br />
expressões <strong>de</strong> grau<strong>de</strong> alíecto.<br />
Advoga as idêas fe<strong>de</strong>ralistas, mostra<br />
as vantagens que da sua realisação hão<br />
<strong>de</strong> provir, e saúda a imprensa liespanhola<br />
em nome da imprensa porlugueza.<br />
O sr, Altamira saúda Portugal em<br />
nome dos republicanos <strong>de</strong> Alicante e <strong>de</strong><br />
Valencia; tem phrases affectuosas e <strong>de</strong>licadas<br />
para a imprensa republicana porlugueza,<br />
on<strong>de</strong>, disse elle, po<strong>de</strong>ria inspirar<br />
se, se porventura <strong>de</strong>síallecesse no<br />
seu labor <strong>de</strong> jornalista; que a imprensa<br />
hespanhola, principalmente a republicana,<br />
tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> tornar conhecidas<br />
as individualida<strong>de</strong>s politicas, luteranas<br />
e scientificas <strong>de</strong> Portugal e as mais importantes<br />
obras portuguezas.<br />
Discursou em seguida o sr. Gomes<br />
Dias, numa orientação clara <strong>de</strong> republicano<br />
fe<strong>de</strong>ral; atlirmou que o partido<br />
republicano portuguez estava representado<br />
<strong>de</strong> modo, que os dois paizes<br />
bem podiam <strong>de</strong>liberar sobre o que mais<br />
convenha aos seus interesses.<br />
O sr. Ver<strong>de</strong>s Montenegro, director<br />
da Justicia <strong>de</strong> Bubao, engran<strong>de</strong>ce a im<br />
porlaucia do acto que se estava realisando<br />
e disse que Portugal e Hespanha<br />
<strong>de</strong>sejam a approximação dos dois paizes,<br />
a que os iuteresses dynasticos não po<strong>de</strong>rão<br />
ooslar.<br />
Levanta-se em seguida o sr. dr.<br />
Emygdio Garcia, lente da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que produziu um discurso<br />
fulgurante e eulbusiasla, cheio <strong>de</strong> fervor<br />
e <strong>de</strong> elevação, <strong>de</strong> quo noutro logar da<br />
mos um extracto.<br />
O discurso do sr. dr. Garcia foi<br />
coberto <strong>de</strong> mos applausos.<br />
O sr. Pedregal y Canedo dirigiu-se<br />
aos portuguezes em phrases affectuosas,<br />
« disse, que Portugal e Hespanha se.<br />
approxinijiu do momeulo d'uma gran<strong>de</strong><br />
transformação, que as próprias leis da<br />
historia impõem; referiu-se aos <strong>de</strong>scobrimentos<br />
que aos dois paizes se <strong>de</strong>vem;<br />
fez appro.xiinações históricas, felizes, <strong>de</strong><br />
Portugal e Hespanha em diversas épocas;<br />
<strong>de</strong>screve o estado <strong>de</strong> abatimento<br />
em que um e outro se encontravam e <strong>de</strong><br />
ANNO I ' <strong>Coimbra</strong>, 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893 N.° 99<br />
do Povo<br />
que só a republica os pô<strong>de</strong> levantar;<br />
que a Republica franceza se consolidou<br />
por si própria, e que o mesmo ha <strong>de</strong><br />
acontecer á republica hespanhola; que<br />
doi males <strong>de</strong> que enfermam os povos<br />
peninsulares teem mais culpa as instituições<br />
do que os governos, e todas<br />
estas affirmações baseava-as em consi<strong>de</strong>rações<br />
brilhantes e imagens felicíssimas,<br />
que enthusiasmaram a todos.<br />
Em seguida o sr. Teixeira <strong>de</strong> Queiroz,<br />
saudando o povo hespanhol, offereceu<br />
aos chefes republicanos <strong>de</strong> Hespanha<br />
tres livros que os republicanos portuguezes<br />
lhes ofíereceram, brin<strong>de</strong>s valiosos<br />
e significativos que hão <strong>de</strong> ser apreciados<br />
como monumentos da alma portugueza.<br />
Ao sr. Salmeron foi ofíerecida<br />
uma edição <strong>de</strong> Luiz <strong>de</strong> Camões, publicada<br />
no Porto por Emilio Biel, luxuosamente<br />
enca<strong>de</strong>rnada, tendo no frontespicio<br />
dois escudos com as côres portuguezas<br />
e hespanholas, on<strong>de</strong> está gravada a <strong>de</strong>dicatória<br />
ao illustre ex-presi<strong>de</strong>nte da Republica<br />
Hespanhola, e com a data <strong>de</strong><br />
24—6—93; a Pi y Margall, uma edição<br />
<strong>de</strong> 1685 das Rimas e Luziadas <strong>de</strong><br />
Luiz <strong>de</strong> Camões, commenladas por Manoel<br />
<strong>de</strong> Faria e Sousa; a Ruiz Zorilla<br />
um álbum com 60 magnificas photographias<br />
das principaes cida<strong>de</strong>s e monumentos<br />
portuguezes.<br />
O orador <strong>de</strong>screveu eloquentemente<br />
a intenção da offerta d'aqueiles livros,<br />
dizendo que nelles palpita a nacionalida<strong>de</strong><br />
portugueza.<br />
O sr. Salmeron ficou encarregado <strong>de</strong><br />
fazer entregar aos srs. Pi y Margall e<br />
Ruiz Zorrilla os brin<strong>de</strong>s que lhes foram<br />
<strong>de</strong>stinados.<br />
Fechou a assemblêa com um discurso<br />
do sr. Salmeron, que, ao levantar-se,<br />
foi recebido com innumeros applausos<br />
numa ovação enthusiastica.<br />
Para nós, o discurso do eminente<br />
<strong>de</strong>mocrata tem uma importancia excepcional<br />
pelas affirmações que fez e que<br />
altamente nos interessam, <strong>de</strong>clarações<br />
que registramos com a maior satisfação.<br />
O illustre chefe da <strong>de</strong>mocracia hespanhola<br />
affirmou, que a base» d'aquella<br />
reunião era a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Portugal,<br />
<strong>de</strong>clarando, que não só a respeitarão os<br />
republicanos, mas que a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rão contra<br />
qualquer violência, por que isto constitue<br />
um <strong>de</strong>ver sagrado; o que altentasse<br />
contra ella, exclamou o auctorisado<br />
republicano,—seria um parricida!<br />
Que a fe<strong>de</strong>ração ibérica <strong>de</strong>ve estar no<br />
pensamento dos republicanos <strong>de</strong> ambos<br />
os paizes, •estabelecendo-se sobre as bases<br />
das autonomias regionaes, fundadas<br />
na differenciaçàô que ha <strong>de</strong> facto no território<br />
e nas raças peninsulares, e que<br />
por ella <strong>de</strong>vem trabalhar os republicanos<br />
portuguezes e hespanhoes. Alludindo<br />
á representação portugueza naquelle<br />
acto <strong>de</strong> tão relevante .significação e imporlancia,<br />
disse Salmeron que assim se<br />
seilou a fraternida<strong>de</strong> dos republicanos<br />
portuguezes e hespanhoes para a obra<br />
commum.<br />
Digno e alevantado discurso, em todo<br />
o ponto á altura da gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />
inteliectual do illustre <strong>de</strong>mocrala hespanhol<br />
e do acto importantíssimo que se<br />
realisava. .<br />
E assim terminou a conferencia republicana<br />
<strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz, perto das duas<br />
iioras da noite ; acontecimeuto memorável<br />
e grandioso, que encen<strong>de</strong>u no animo<br />
da numerosa multidão que a elle accorreu<br />
o mais fervoroso enthusiasmo; convívio<br />
fraternal das mais generosas idêas,<br />
syiuhese d'uma aspiração immensa e<br />
grandiosa — o resurgimento d'este Lazaro<br />
peninsular, que, <strong>de</strong>pois das conquistas<br />
mais heróicas para a sciencia epara<br />
a humanida<strong>de</strong>, tem <strong>de</strong>cahido miseravelmente<br />
num torpor secular, mercê dos<br />
con<strong>de</strong>mnados regimens monarchicos.<br />
E para se ver o quanto <strong>de</strong> enthusiasmo<br />
<strong>de</strong>spertava a idêa <strong>de</strong> fraternisação<br />
dos dois paizes da península, bastará<br />
dizer-se, que das regiões mais distantes<br />
accorreram representantes <strong>de</strong> todos os<br />
povos peninsulares, <strong>de</strong>spertados lá ao<br />
longe pela festa fraternal que em <strong>Bad</strong>ajoz<br />
ia realisar-se. E assim é, que, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> uma fadigosa viagem <strong>de</strong> quatro dias<br />
nuns vehiculos quasi primitivos, chegou<br />
a <strong>Bad</strong>ajoz uma commissão <strong>de</strong> republicanos<br />
<strong>de</strong> Navarra, que <strong>de</strong>ixaram as,suas<br />
montanhas, guiados, cheios <strong>de</strong> enthusiasmo<br />
e <strong>de</strong> fé, por uma nova estrella indicadora<br />
d'um novo futuro <strong>de</strong> gloria e <strong>de</strong><br />
prosperida<strong>de</strong>, como outr'ora, nos tempos<br />
bíblicos, uma outra estrella guiou os<br />
Magos ao estabulo <strong>de</strong> Bethlem.<br />
O BANOUETE<br />
realisou-se no domingo, 25, nnm salão<br />
do Casino Republicano, ricamente ornamentado<br />
<strong>de</strong> flores e colgaduras, escudos<br />
e ban<strong>de</strong>iras portuguezas e hespanholas,<br />
presidindo a elle Salmeron e Magalhães<br />
Lima.<br />
Iniciou os brin<strong>de</strong>s o sr. Ruben Landa,<br />
seguindo-se a mesma or<strong>de</strong>m dos oradores<br />
que no comício, fallando alternadamente<br />
um portuguez e um hespanhol. Succediam-se<br />
os brin<strong>de</strong>s, vibrando todos a<br />
mesma nota <strong>de</strong> fraternisaçSo e cor<strong>de</strong>alida<strong>de</strong>,<br />
todos na mesma expressão alfectuosa<br />
e amiga.<br />
O nosso distincto collaborador e illustre<br />
correligionário, sr. Albano Coutinho,<br />
brindou brilhantemente, e temos o<br />
prazer <strong>de</strong> publicar a<strong>de</strong>ante o notável<br />
discurso.<br />
Um orador hespanhol, o sr. Ortiz,<br />
brindou em portuguez, seguindo-se-lhe<br />
logo o sr. dr. Emygdio Garcia, que em<br />
castelhano brindou, em nome da aca<strong>de</strong>mia<br />
republicana porlugueza á mocida<strong>de</strong><br />
académica republicana <strong>de</strong> Hespanha, produzindo<br />
um eloquente discurso na pura<br />
lingua <strong>de</strong> Cervantes.<br />
O dr. Magalhães Lima, em phrases<br />
sempre eloquentes, ia apresentando os<br />
oradores que <strong>de</strong>viam levanlar os brin<strong>de</strong>s.<br />
O sr. dr. Eduardo Abreu convidou,<br />
em nome da commissão, o comité republicano<br />
<strong>de</strong> <strong>Bad</strong>ajoz, os chefes da União<br />
Republicana os <strong>de</strong>putados republicanos<br />
e representantes das províncias hespanholas<br />
para uma outra reunião em Portugal,<br />
que, suppõe-se, se realisará em<br />
Outubro proximo, havendo probabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> que será a <strong>Coimbra</strong> que caberá<br />
a honra <strong>de</strong> receber os illustres republicanos<br />
<strong>de</strong> Hespanha.<br />
Esta festa affectuosissima terminou<br />
com uni discurso <strong>de</strong> Salmeron, que oílereceu<br />
aos portuguezes as flores que ornamentavam<br />
a mesa e levantou um viva<br />
a Portugal, correspondido pelos nossos<br />
com vivas á Hespanha.<br />
A'<br />
DESPEDIDA<br />
os <strong>de</strong>legados portuguezes áquella festa<br />
<strong>de</strong> tanta sympathià e solidarieda<strong>de</strong>, foram<br />
acompanhados á estação do caminho <strong>de</strong><br />
ferro pelos representantes hespanhoes e<br />
enorme multidão que os vicloriava a<br />
todos.<br />
Do wagon já, o sr. dr, Emygdio<br />
Garcia saudou em hespanhol o povo <strong>de</strong><br />
Hespanha, a que respon<strong>de</strong>ram com muitos<br />
vivas a Portugal, numa imponente<br />
manifestação <strong>de</strong> enthusiasmo.<br />
Os republicanos portuguezes foram<br />
acompanhados até Elvas por muitos republicanos<br />
hespanhoes e até ao Entroncamento<br />
pelos srs. Salmerou, Salas Antón<br />
e oulros republicanos <strong>de</strong> Hespanha, que<br />
seguiram na linha do norle para Salamanca<br />
e Vigo.<br />
A commissão republicana <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
foi esperada na estação d'esta cida<strong>de</strong><br />
por uma commissão <strong>de</strong> muitos dos nossos<br />
amigos, que alli a foram receber.<br />
A figura imponente <strong>de</strong> Salmeron, que<br />
se impõe por um ar <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>,<br />
ao mesmo tempo, magestoso e bom, inspirou<br />
em lodos os nossos correligionários<br />
que tiveram a surpresa <strong>de</strong> o encontrar a<br />
mais funda impressão <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong><br />
sympathia.<br />
Os nossos distinctos correligionários<br />
que a <strong>Bad</strong>ajoz nos foram representar,<br />
vêm animados d'um grau<strong>de</strong> enthusiasmo,<br />
retemperando o seu animo naquella<br />
festa, que a todos <strong>de</strong>ixou as recordações<br />
mais gratas.<br />
Inspirados no gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al a que o<br />
partido republicano se dirige, insuflarão<br />
em todos os portuguezes a coragem e a<br />
<strong>de</strong>votada <strong>de</strong>dicação exigidas pela gran«<br />
diosa obra que se preparou.
AX\Q I —X." O D E F E N S O R DO P O V O 99 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1893<br />
Discursos<br />
Publicamos em seguida um extracto<br />
<strong>de</strong>senvolvido do discurso notável e eloquentíssimo<br />
do nosso illustre correligionário,<br />
sr. dr. Monoel Emygdio Garcia,<br />
bem como o que no banquete pronunciou<br />
o nosso distincto collaborador e integerrimo<br />
republicano, sr. Ur. Albano Coutinho.<br />
*<br />
O orador, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cumprimentar a<br />
assembleia e lamentar o adiantado da<br />
hora em que lhe chega a palavra, mostra<br />
em periodos, cheios <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rosa energia<br />
e vivíssimo colorido, que a Hespanha<br />
e Portugal eram não só duas nações<br />
bem caracterisadas e constituíam dois<br />
povos bem differenciados nas suas distinctas<br />
qualida<strong>de</strong>s éthnicas, mas lambem<br />
eram duas nações irmãs, dois povo» irmãos<br />
pela natureza, pela historia e pelas<br />
aspirações <strong>de</strong> futuro,<br />
Saúda a Hespanha em nome da sua<br />
litteratura que é brilhante e encantado<br />
ra; da sua sciencia, rica, opulentíssima;<br />
da sua industria hoje prodigiosa; da sua<br />
arte maravilhosa e fascinadora, a sua<br />
arte, a qual, durante séculos, se tem<br />
<strong>de</strong>sentranhado em obras primas e assombrosos<br />
monumentos, e anceadamente se<br />
expan<strong>de</strong> em largos e iu<strong>de</strong>fruidos horisontes<br />
<strong>de</strong> fulgurantes e sublimes i<strong>de</strong>aes no<br />
sentimento arrebatador e na concepção<br />
insaciavel, em as inesgotáveis formas<br />
do bello, subordinadas aos caprichos da<br />
sua genial phantasia e indomável po<strong>de</strong>r<br />
creador.<br />
Todos estes pontos foram rapida, mas<br />
impetuosamente tocados pelo orador, em<br />
syntheses completas.<br />
Referindo-se á litteratura hespanhola<br />
cita, entre outros, Cervantes, Cal<strong>de</strong>ron,<br />
Espronceda, astros <strong>de</strong> maior gran<strong>de</strong>za,<br />
como entre nós o foram Camões,<br />
Garrett e Herculano.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a sciencia, que o orador<br />
proclama a maior e~ mais po<strong>de</strong>rosa<br />
força que os homens <strong>de</strong>scobriram (porque<br />
a sciencia, disse elle, é uma creação<br />
humana) tem empregado e hão <strong>de</strong><br />
empregar e cada vez mais na civilisaçâo<br />
da humanida<strong>de</strong>; fatiando da sciencia, que<br />
elle orador affirma e <strong>de</strong>monstra ser o<br />
único po<strong>de</strong>r soberano e infallivel do<br />
mundo, relembra alguns dos mais notáveis<br />
vultos da sciencia hespanhola contemporânea,<br />
alli tão. superiormente representada<br />
pelo sr. Nicolau Salmeron, o<br />
sábio e honrado professor, que em Madrid<br />
e na sua cathedra <strong>de</strong> philosophia,<br />
que tanto ennobrece e glorifica com o<br />
seu privilegiado talento e palavra eloquente,<br />
disciplinando a mentalida<strong>de</strong> das<br />
novas gerações académicas da sua patria.<br />
Apontando também para o sr. Manuel<br />
Pedregal, um sábio jurisconsulto,<br />
um dos primeiros e mais notáveis advogados<br />
na vizinha Hespanha, a elle e ao<br />
«r. Salmerou faz os maiores elogios como<br />
dislincíos homens <strong>de</strong> sciencia, parlamentares,<br />
estadistas, <strong>de</strong>dicados e fervorosos<br />
dirigentes, vultos magnanimós e prestigiosos<br />
da Democracia peninsular. (Ruidosos<br />
applauscis )<br />
Passando a fallar <strong>de</strong> politica, disse<br />
que o faria não como parlidario d'esteou<br />
d'aque!le i<strong>de</strong>al, não como revolucionário<br />
intransigente na lucta dos factos; mas<br />
como o faria e, por vezes tem feito e<br />
habitualmente faz na sua amantíssima<br />
cathedra <strong>de</strong> professor, a qual é e representa<br />
para elle a sua maior honra, a sua<br />
maior gloria, e á qual tem <strong>de</strong>votado a<br />
sua vida, que já conta mais <strong>de</strong> meio século.<br />
' /<br />
Que faltaria com toda a in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia,<br />
liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>safogo, como cultor<br />
da sciencia e professor d\ima <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
convencido <strong>de</strong> que para a<br />
sciencia não ha fronteiras, e que a missão<br />
do ensino é universal e humanitaria.<br />
Dois gran<strong>de</strong>s systemas, duas po<strong>de</strong>rosas<br />
influencias têm dominado e dirigido<br />
a activida<strong>de</strong> humana, divi<strong>de</strong>m a historia,<br />
e são como as duas gran<strong>de</strong>s pbases<br />
da evolução social na exislencia dos<br />
povos, das nações ç da humanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a eda<strong>de</strong> media principalmente, e que<br />
se chamam—regimen catholicò' findai,<br />
regimen scientifico industrial.<br />
O regimen catholico <strong>de</strong>u-nos nas*suas<br />
ultimas consequências — b papado infallivel<br />
e o jesuitismo, sem duvida impotente,<br />
mas sempre ou*»do e tenebroso.<br />
Do valor d'estes ' ricos presentes e<br />
preciosos legados <strong>de</strong>ixa o calculo e a<br />
apreciação á asseinblêa...<br />
O feudalismo gerou em ultimo parto<br />
a monarchia bastarda e o seu indissolúvel<br />
apanágio, o seu inseparável accessorio<br />
— o parlamentarismo balofo.<br />
A monarchia já foi uma instituição<br />
respeitável e uma po<strong>de</strong>rosa energia civilisadora;<br />
reduzida, porém, ás ficções pueris<br />
do ifgimen constitucional e ao apparato<br />
comico e burlesco <strong>de</strong> uma corte<br />
theatral, é coisa inutil e caduca, não só<br />
caduca e inutil, mas lambem ridícula.<br />
(Muitos bravos.)<br />
A monarchia já foi uma instituição<br />
respeitável e uma po<strong>de</strong>rosa energia civilisadora,<br />
outr'ora, quando os reis, ao<br />
mesmo tempo chefes militares e dirigentes<br />
políticos, guiavam com a sua gloriosa<br />
espada os povos e as nações á conquista<br />
da sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia, da sua liberda<strong>de</strong>,<br />
da sua riqueza, da sua in-trucção, em<br />
<strong>de</strong>saffronla da justiça óffendida, em <strong>de</strong>sagaravo<br />
do direito postergado ; outr'ora,<br />
quando os reis e a monarchia por sua<br />
iniciativa povoavam os campos, fomentavam<br />
e <strong>de</strong>senvolviam a agricultura e a industria,<br />
ensinavam o commercio, as artes<br />
e as letlras, organisavam o ensino,<br />
fundavam, dotavam e protegiam <strong>Universida<strong>de</strong></strong>s,<br />
e aca<strong>de</strong>mias, alargavam a navegação,<br />
dirigiam, e impulsionavam expedições<br />
marítimas, que faziam dos povos<br />
e das nações <strong>de</strong>scobridores <strong>de</strong> novos mundos,<br />
creadores e edificadores <strong>de</strong> opulentos<br />
e famosos impérios.<br />
Mas hoje que as monarchias c os<br />
seus representantes nascem e morrem<br />
sem <strong>de</strong>sembainhar as suas espadas, que<br />
a ferrugem da immobilida<strong>de</strong> mantém na<br />
virginda<strong>de</strong> da inacção ; hoje que. a monarchia<br />
e a sua phantastica e chimerica<br />
realeza se transformaram em calculadas<br />
restricções <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, na systematica<br />
sophismação da verda<strong>de</strong>, da justiça, da<br />
or<strong>de</strong>m e do progresse. ... a monarchia,<br />
a realeza é mais do que inutil, caduca e<br />
ridícula; é prejudicial, chega a ser coisa<br />
<strong>de</strong>gradante e vergonhosa, é uma terrível<br />
ameaça, um perigo para as nações que<br />
a toleram, reduzidas á servil condição<br />
<strong>de</strong> um feudo dynastico! (Prolongados e<br />
ruidosos applausos.)<br />
Na politica das nações, a monarchia<br />
é e representa o privilegio e a excepção<br />
odiosa.<br />
Na economia o monopolio é o parasitismo<br />
insaciavel.<br />
Na administração o centralismo absorvente<br />
é a tutela <strong>de</strong>gradante.<br />
Na moral a immoralida<strong>de</strong> característica<br />
e a <strong>de</strong>smoralisação contagiosa.<br />
No direito a <strong>de</strong>seguàlda<strong>de</strong> e o arbítrio.<br />
A monarchia é, em conclusão, para<br />
os organismos sociaes, no cerebro e no<br />
coração dos organismos sociaes da actualida<strong>de</strong>,<br />
uma excrecencia maligna, um<br />
abscesso conlamínador e mortífero ; na<br />
lógica dos espíritos o maior dos absurdos;<br />
na religião da Humanida<strong>de</strong> a maior<br />
das heresias. (Novos applausos.)<br />
Tratando do regimen scientifico-induslrial,<br />
proprio, característico e predominante<br />
nos nossos dias, o orador disse:<br />
«A sciencia, chegada á sua maiorida<strong>de</strong><br />
positiva pelo experimentalismo <strong>de</strong><br />
Comte e Herbert Spencer, concebeu, gerou<br />
nas suas entranhas, e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma<br />
longa e peno-a gestação, <strong>de</strong>u á luz a<br />
Democracia mo<strong>de</strong>rna; sob a fórma e «tructura<br />
apropriada da Republica Fe<strong>de</strong>ral.<br />
O industrialismo mo<strong>de</strong>rno, fecundado<br />
pela Democracia,, atlíngíu em nossos<br />
dias a eda<strong>de</strong> da emancipação e da liberda<strong>de</strong>;<br />
concebeu, gerou e produziu o Socialismo<br />
contemporâneo solr a fórma<br />
cooperativa. .<br />
E assim vemos que a Democracia<br />
Republicana e socialista se impõe, como<br />
integração <strong>de</strong> todas as forças, <strong>de</strong> todas<br />
as energias, <strong>de</strong> todos os interesses e <strong>de</strong><br />
todas as aspirações no systema social do<br />
futuro, a todos os povos, a todas as<br />
najõ.es, á humanida<strong>de</strong> inteira; e por isso<br />
aos
A W O I - M . ' O » O D E F E N S O R D O P O V O 89 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1893<br />
Olhem para si<br />
0 Correio da Manhã, jornal que<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a concessão Quelimane-Chire, e<br />
que já linha <strong>de</strong>fendido a concessão Mac-<br />
Murdo e que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rá amanhã quantas<br />
concessões appareçam ruinosas para o paiz<br />
jornal que não per<strong>de</strong> occasião para nas<br />
suas columnas apresentar insidias contra<br />
o parltdu republicano, ou contra os homens<br />
ou jornaes republicanos, diz, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> dar os nomes <strong>de</strong> vários homens<br />
importantes, nossos correligionários, que<br />
partiram para <strong>Bad</strong>ajoz: «Que o Gaspacho<br />
e o Val <strong>de</strong> Penas não transtornem o<br />
estomago dos nossos concidadãos é o que<br />
•inceramenle <strong>de</strong>sejamos.»<br />
Suppõem que nos banquetes republicanos<br />
ha o mesmo uso que nos monarchicos,<br />
d'on<strong>de</strong> saem todos <strong>de</strong> estomago<br />
transtornado, com a aggravante <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapparecerem<br />
as colheres <strong>de</strong> prata e o<br />
mais que se sabe !...<br />
ASSUMPTOS LOCAES<br />
Teixeira «le Brito<br />
Po<strong>de</strong>mos hoje informar os amigos do<br />
nosso companheiro <strong>de</strong> que o seu estado<br />
vae melhorando, sem comtudo apresentar<br />
indícios d'um breve restabelecimento.<br />
Resta-nos a esperança <strong>de</strong> que os<br />
esforços da sciencia hão <strong>de</strong> vencer o mau<br />
carater da doença que acommetteu tão<br />
horrivelmente o nosso collega.<br />
Iflartins «le Carvalho<br />
Apezar do seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que<br />
começa a inspirar serio» cuidados, o velho<br />
jornalista sobre tantos soffrimentos,<br />
ainda esta semana conseguiu o enorme<br />
sacrifício <strong>de</strong> publicar e dirigir o seu Conimbricense.<br />
A publicação <strong>de</strong>ste jornal proseguirá,<br />
organiséindo-se uma redacção provisória<br />
<strong>de</strong> que fazem parte alguns seus<br />
amigos até que o sr. Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
possa assumir a direcção do seu<br />
Conimbricense. Oxalá que seja em muilo<br />
breve tempo.<br />
AH fogueiras a S. João<br />
Uma pobreza franciscana, este anno;<br />
tudo muilo estropiado, sem. entbusiasmo<br />
e sem animação.<br />
Poucas danças e nenhuma <strong>de</strong> que se<br />
possa dizer bem, a termo» <strong>de</strong> recordar<br />
outras epochas.<br />
Canções genuinamente populares, nem<br />
uma para amostra ; em compensação ouvimos,<br />
num estropiar insano e numa <strong>de</strong>safinação<br />
impossível, cantarem se uns<br />
trechos <strong>de</strong> valsas e polkas, que hão <strong>de</strong><br />
continuar a obra <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição e esphacellamento<br />
das trovas populares,tão apreciadas<br />
e tão características do nosso<br />
povo.<br />
As fogueiras este anno foram uma<br />
massada insupportavel para o publico,<br />
que tinha <strong>de</strong> fazer a caminhada dc Fóra<br />
<strong>de</strong> Portas á Arregaça e d'alli a Santa<br />
Clara; porque na baixa só a rua do Corpo<br />
47 Folhetim do Defensor do Poyo<br />
J. MÉRY<br />
A JUDIA 1 VATICANO<br />
V I X<br />
Débora<br />
A.' medida que a multidão dos convidados<br />
se afastava da quinta do marquez,<br />
Paulo Gréant fazia uma reflexão muito<br />
natural.<br />
— A morte neste momento, dizia<br />
elle comsigo, sem duvida que seria um<br />
favor bem recebido; mas morrer sem<br />
me justificar aos olhos <strong>de</strong> Memma...<br />
oh! não, mais valeria viver sempre immerso<br />
nas mais fundas dores do con<strong>de</strong><br />
mnado! Talormi conheceu-me. Este homem<br />
é capaz <strong>de</strong> tudo. Elle, que não<br />
tem medo <strong>de</strong> nada, tem medo <strong>de</strong> mim.<br />
A minha carta é uma cabeça <strong>de</strong> Medusa.<br />
A sua tranquilida<strong>de</strong> é mentirosa. Esta á<br />
minha espera, ahi, esta noite, á beira<br />
do caminho. Para .elle, matar um homem<br />
é uma simples brinca<strong>de</strong>ira, e se me<br />
mata fica á sua vonta<strong>de</strong>. Memma está<br />
perdida, e eu <strong>de</strong>shonrado aos olhos d'ella<br />
para sempre. Não <strong>de</strong>mos a Talormi esta<br />
estúpida satisfação, e, apezar da suavida<strong>de</strong><br />
que me offerece o lumulo, lenhamos<br />
R coragem <strong>de</strong> viver... Vivamos!<br />
<strong>de</strong> Deus teve a» honras d'esle divertimento<br />
popular.<br />
Em Santa Clara... Nem uma leve<br />
reminiscência do que foi aquelle bairro<br />
em noites <strong>de</strong> S João! Per<strong>de</strong>u-se alli,<br />
como em toda a parto, a nossa bella tradição<br />
e as raparigas não conservam dos<br />
seus antepassados umá única qualida<strong>de</strong><br />
das tantas que distinguiram os guapos<br />
ranchos d'aquelies sitios.<br />
Hoje ha danças e não consta que sejam<br />
mais animadoras as fogueiras em<br />
honra do chaveiro celeste. Diremos.<br />
Procissão<br />
Esle anno a mesa da irmanda<strong>de</strong> do<br />
Santíssimo da freguezia <strong>de</strong> S. Bartliolomeu,<br />
celebra com gran<strong>de</strong> pompa e apparato<br />
a festivida<strong>de</strong> annual.<br />
No sabbado será queimado um explendido<br />
fogo preso, a expensas d'uma commissão<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>votos, na praça do Commercio,<br />
sendo profusamente illuminada a<br />
frontaria da egreja; toca a philarmonica<br />
Boa União, que tem adquirido geraes<br />
sympathias pela maneira brilhante como<br />
se apresenta e executa o seu variado reportorio.<br />
No domingo <strong>de</strong> manhã a festivida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> egreja: missa cantada, com gran<strong>de</strong><br />
orchestra e sermão pelo insigne orador<br />
sagrado, dr. Francisco Martins. A' tar<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>pois dc celebrado o Te-Deum sairá a<br />
procissão seguindo pela rua <strong>de</strong> Sargentomór,<br />
largo do principe D. Carlos, ruas<br />
<strong>de</strong> Ferreira Borges e Viscon<strong>de</strong> da Luz,<br />
praça 8 <strong>de</strong> Maio, ruas do Corvo e Sapateiros<br />
e praça do Commercio.<br />
O cortejo religioso compõe-se <strong>de</strong> diversas<br />
irmanda<strong>de</strong>s d'esta cida<strong>de</strong>, fazendo<br />
a guarda d'honra uma numerosa força<br />
<strong>de</strong> infauteria 23, acompanhada pela banda<br />
do mesmo regimento.<br />
Para o brilhantismo d'esta festa tem<br />
sido incansavel o mesario, sr. José Monteiro<br />
dos Santos, que ha muitos annos<br />
presta áquella corporação os seus bons<br />
serviços.<br />
A mesa espera que os parochianos<br />
d'esta freguezia illuminem a frontaria<br />
dos seus prédios no sabbado e domingo.<br />
IVn rua da* Pa<strong>de</strong>iras<br />
Já se começou a canalisar para o<br />
cano geral, as aguas que d'alguns prédios<br />
d'esta rua vinham <strong>de</strong>saguar nas valetas,<br />
comforme noticiámos, e que estavam<br />
incommodando horrivelmente os moradores<br />
que alli habitam.<br />
Felizmente que o sr. vereador da<br />
limpeza ouviu as nossas queixas e viu<br />
que ellas eram bem justificadas.<br />
Ao Commereio <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Pedimos <strong>de</strong>sculpa a esle nosso collega<br />
<strong>de</strong> lhe dizermos, que Alqueidão é do<br />
concelho da Figueira da Foz, e não <strong>de</strong><br />
Porto d« Moz, como o Commercio escre<br />
veu ao transcrever a noticia que aqui<br />
<strong>de</strong>mos sob a epigraphe — Asphixiados<br />
<strong>de</strong>ntro d'um balseiro.<br />
Ao collega agra<strong>de</strong>cemos, penhorados,<br />
as íranscripyões que do uosso jornal fizer,<br />
o que não é motivo para que não<br />
rectifiquemos.<br />
Taloimi tinha saído da quinta em<br />
numerosa companhia, mas <strong>de</strong>pressa se<br />
furtou aos olhares <strong>de</strong> todos e se escon<strong>de</strong>u<br />
num massiço <strong>de</strong> pinheiros, á margem<br />
da única vereda que Paulo Gréant podia<br />
seguir <strong>de</strong> volta á cida<strong>de</strong>.<br />
A partida tinha sido bem jògada,<br />
por um e por outro, mas Paulo ganhou-a<br />
pela sua previ<strong>de</strong>ncia; pediu a di Negro<br />
hospitalida<strong>de</strong> por uma noite e não saiu<br />
da quinta.<br />
— E' mais fino do que eu! disse<br />
Talormi aos primeiros clarões da aurora;<br />
e mettendo o punhal na bainha <strong>de</strong>sceu<br />
para a cida<strong>de</strong>, meditando uma nova tentativa<br />
em melhores condições.<br />
X V<br />
Intermedio politico<br />
No lempo em que vivemos, como<br />
em muitas outras épocas lambem, os<br />
nossos negocios as nossas paixões, os<br />
nossos prazeres vêm embater a cada<br />
instante contra um facto politico; e<br />
Deus sabe quantos casamentos, projectos,<br />
especulações, planos domésticos<br />
teem sido <strong>de</strong>struídos pela queda d'um<br />
ministro, revolla d'um povo, <strong>de</strong>sabamento<br />
d'um throno abdicação d'um lei.<br />
lia nos arredores <strong>de</strong> Nápoles um<br />
phenomeno geologico chamado la Solfatare.<br />
Quando o Vesúvio está para arremessar<br />
uma erupção <strong>de</strong> fogo, la Solfalare<br />
ruge surdamente; é um emblema<br />
italiano. Ora, na época em que a nossa<br />
Barqueiros multados<br />
Já aqui nos referimos, pedindo até<br />
provi<strong>de</strong>ncias, ao abandono em que se encontram<br />
as mottas do rio Mon<strong>de</strong>go, o<br />
que faz com que as aguas invadam os<br />
campos e se paralyse a navegação.<br />
Por este facto Ires barqueiros na<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazerem viagem fio<br />
acima, metleram pelo campo, sendo<br />
admoestados pelos guardas que pretendiam<br />
impedir-lhes seguissem. Chegados ao Caes<br />
os guardas que perseguiram os barqueiros<br />
participaram o caso á policia, que<br />
multou em 6$000 réis.<br />
Chamamos a attenção do sr. João<br />
Tomaz da Costa, a fim <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar,<br />
porisso que se está prejudicando uma<br />
classe pobríssima:<br />
Ese«Sla Brotero<br />
Ficaram approvados nos exames feitos<br />
nesta escola os alumnos que enumeramos<br />
:<br />
Dias 22 e 23<br />
CHIMICA INDUSTRIAL<br />
í. a parte (exame <strong>de</strong> passagem)<br />
Augusto Gonçalves da Silva, marceneiro,<br />
filho <strong>de</strong> José Men<strong>de</strong>s da Silva.<br />
Affonso Augusto Pessoa, piutor <strong>de</strong><br />
louça, filho <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lino Augusto Pessoa.<br />
Carlos da Silva e Sousa, photographo,<br />
filho <strong>de</strong> Adriano da Silva e Sousa.<br />
Emilia <strong>de</strong> Jesus Fonseca, filha <strong>de</strong> José<br />
Miguel da Fonseca.<br />
2. a parte<br />
Joaquim Bento La<strong>de</strong>ira, typographo,<br />
filho <strong>de</strong> Bento Joaquim La<strong>de</strong>ira.<br />
Anlonio Carvalho da Fonseca, filho<br />
<strong>de</strong> José Carvalho da Fonseca.<br />
Euphrosino Alves Teixeira, filho <strong>de</strong><br />
Francisco Alves Teixeira.<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Fizeram acto e ficaram approvados<br />
os seguintes estudantes:<br />
FACULDADE DE DIREITO<br />
Dia 26<br />
1." anno — Alvaro Monteiro e Joaquim<br />
Adriano Vellostr d'Abranches.<br />
Houve duas reprovações.<br />
2.' anno — Não houve actos.<br />
3." anno — Eduardo Ernesto <strong>de</strong> Faria<br />
e José da Silva Fia<strong>de</strong>iro.<br />
4." anno — Domingos Carneiro <strong>de</strong><br />
Oliveira Pacheco e Fortunato Jorge Guimarães.<br />
5." anno — Filippe Fernan<strong>de</strong>s Leite<br />
<strong>de</strong> Barros Moura e Francisco Augusto<br />
Alcoforado tia Costa.<br />
Dia 27<br />
1.° anno—Francisco Navarro Marques<br />
<strong>de</strong> Paiva, Ricardo Paes Gomes, José<br />
Leite Nogueira Pinto.<br />
Neste anno houve uma reprovação.<br />
2.° anno — José Vicente Me<strong>de</strong>ira,<br />
Julio Armando da Silva Pereira, Leopoldo<br />
Augusto Cesar <strong>de</strong> Carvalho Sameiro, Luiz<br />
Augusto da Fonseca Diune.<br />
historia se passa, aquelles que uão dormiam<br />
sobre as rosas <strong>de</strong> Poestum ou<br />
sobre os leitos <strong>de</strong> marfim <strong>de</strong> Sybaris,<br />
ouviam ruídos subterraueos que o echo<br />
da ca<strong>de</strong>ia apeuniua levava do golfo <strong>de</strong><br />
Liguria ao gulpho <strong>de</strong> Baia.<br />
Toda a ltalia se agitava em estremecimentos<br />
<strong>de</strong> impaciência liberal; e Vieuna,<br />
vigilaute sempre, seguia altentamente<br />
todo o movimento da ltalia.<br />
Vieuna tem sempre ao seu serviço<br />
uma multidão <strong>de</strong> Machiaveis que viajam<br />
na sua ltalia íiuginJo estudar os monumentos<br />
mudos para escutarem os homens<br />
que (aliam. E apenas um italiauo ousa<br />
contestar á Áustria o seu direito sobre<br />
a ltalia, immediatainente o Michiavel<br />
que se encontra sempre ao lado do audacioso<br />
o communica para Vienna; convoca-se<br />
o conselho d'Éstado, <strong>de</strong>libera se,<br />
behe-se Johannisberg e envia-se á guarnição<br />
<strong>de</strong> Verona um reforço <strong>de</strong> mais<br />
dois mil soldados.<br />
Tal é a politica da Áustria.<br />
Talormi era um d'aquelles que exploravam<br />
a politica <strong>de</strong> Vienna em prejuízo<br />
dos italiauo»; e Vienna cousi<strong>de</strong>rava-o<br />
como um homem austero, integro,<br />
hábil, proiuudo. Vienna conhece perfeitamente<br />
o coração humano.<br />
No dia seguinte áquelle em que<br />
Talormi tinha dirigido tão habilmente<br />
o coucerto na^quinta di Negro, recebeu<br />
uma carta com tres sellos a fecharem-na,<br />
e atravez hierogliplios <strong>de</strong> chancellaria<br />
que esta missiva encerrava, comprehen-<br />
3.° anno—José Teixeira <strong>de</strong> Queiroz,<br />
Luiz da Cunha Nogueira.<br />
4.° anno — Francisco Falcão da Silva<br />
Ribeiro, Francisco Henriques Goes.<br />
õ.° anno — Francisco Cabral Pinto,<br />
Francisco Corrêa Borges <strong>de</strong> Lacerda.<br />
Dia 28<br />
1.' anno — José Marin Joaquim Tarares.<br />
Houve tres reprovações.<br />
2.' anno — Luiz Bernardo da Silva<br />
Rosas Júnior, Manoel d'Abrantes Moraes,<br />
Manoel Ferreira da Costa Amador Valente,<br />
Manoel Joaquim d'Almeida. .<br />
3." anno — Luiz Neves Alves Baptista.<br />
4.* anno — Francisco Manoel Couceiro<br />
da Costa Júnior, Francisco Manoel<br />
Rodrigues Pinto Brandão.<br />
5." anno — Francisco <strong>de</strong> Mello Lemos<br />
« Alvellos, Francisco <strong>de</strong> Sousa Vinhoz.<br />
FACULDADE DE 11EDICINA<br />
Dia 26<br />
1." anno — Joaquim Luiz Martha.<br />
Houve uma reprovação.<br />
Não houve actos nos outros annos,<br />
por haver exames <strong>de</strong> practica no 1.*<br />
anno.<br />
Dia 27<br />
1.° anno — Antonio Alexandre Saraiva<br />
da Rocha.<br />
Houve uma reprovação.<br />
2." anno — Guilherme Henrique <strong>de</strong><br />
Moura Neves, José Maria da Silveira<br />
Montenegro.<br />
Terminaram os actos neste anno.<br />
3.° anno—Antonio Cesar Rodrigues,<br />
formado pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Edimburgo,<br />
(Escossia); Ama<strong>de</strong>u Verneck <strong>de</strong> Aguilar,<br />
doutor pela <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Tubingen,<br />
(Allemanha). ,<br />
4 0 anno — Joaquim Augusto Amorim<br />
da Fonseca, José Augusto da Costa Palmeira.<br />
Dia 28<br />
1." anno — Joaquim Salinas Antunes,<br />
Cesar Fernan<strong>de</strong>s Ventura.<br />
3." anno — Adolpho Carlo» Barroso<br />
da Silveira, Augusto <strong>de</strong> San<strong>de</strong> Saccadura<br />
Botte.<br />
4." anno — José Ernesto d'Amorim,<br />
Bodrigo da Silva Araujo.<br />
FACULDADE DE FHILOSOPHIA<br />
Dia 26<br />
1.* ca<strong>de</strong>ira—(Chimica inorganica).<br />
— Vol. José Henriques Lebre, Manoel<br />
Gaspar <strong>de</strong> Lemo».— Obrs. Luiz Martins<br />
da Cosia Soares, Fernando Pinto <strong>de</strong> Mendonça<br />
Ferrão.<br />
3. a castra—(Physica, l. a parte)—<br />
Vol. Pedro <strong>de</strong> Gusmão.—Obrs, íausto<br />
Men<strong>de</strong>s Teixeira <strong>de</strong> Magalhães, José <strong>de</strong><br />
Brito Prego Lyra, Joaquim Navarro Marques<br />
<strong>de</strong> Paiva, José Augusto Duarte.<br />
Neste anno faltou um alumuo ao ponto<br />
4. a ca<strong>de</strong>ira (Botanica) — Obrs.<br />
Antonio Feruírn<strong>de</strong>s Gaspar, João Serrão<br />
<strong>de</strong>u que era necessário visitar, como<br />
tourisle attento, os dois obeliscos inclinados<br />
<strong>de</strong> Bolonha, a celebre feira <strong>de</strong> Sinigaglia<br />
e as ruinas <strong>de</strong> Roma. Nenhuma<br />
<strong>de</strong>mora se lhe concedia; era necessário<br />
partir.<br />
Os homens <strong>de</strong> Estado que administram<br />
os impérios ignoram sempre qua<br />
todo o diplomata subalterno encarregado<br />
<strong>de</strong> uma missão tem sempre os pés embaraçados<br />
numa saia <strong>de</strong> musselina ou<br />
<strong>de</strong> velludo, conforme a estação<br />
Talormi correu immediatamente a<br />
fazer visar o seu passaporte e annunciou<br />
bein alto que nessa mesma tar<strong>de</strong><br />
partiria para Liorne. Beguladoeste ponto,<br />
era necessário pensar no amor, ou para<br />
melhor dizer no odio, duas coisa que<br />
muitas vezes se parecera.<br />
Naquelle mesmo dia uma carruagem<br />
<strong>de</strong> posta estacionava, com uma certa<br />
premeditação <strong>de</strong> dar nas vistas, <strong>de</strong>ante<br />
do palacio Santa-Scala. Os creados amontoavam<br />
as bagagens, as janellas da fachada,<br />
abertas <strong>de</strong> par em par, annunciavam<br />
a partida do dono ou dona da<br />
casa. O inten<strong>de</strong>nte, revestido com as<br />
suas insígnias, conservava-se <strong>de</strong> pé;<br />
<strong>de</strong>ante do porteiro, numa altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
tristeza que fazia elogios aos seus bons<br />
sentimentos.<br />
Uma multidão <strong>de</strong> curiosos formava<br />
um semi-circulo em volta da berlinda,<br />
ao uso do paiz:<br />
Ao bater das duas horas, um gran<strong>de</strong><br />
movimento se fez na creadagem do prin-<br />
<strong>de</strong> Moura Freitas, Albano Baptista Taure<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Sousa, Manoel Vicente d'Abreu.<br />
Neste anno filtou um alumno ao<br />
ponto.<br />
Dia 27<br />
2.* ca<strong>de</strong>ira — (Chimica Organica).—<br />
Ord. Angelo Rodrigues da Fonseca. —<br />
Vol. Francisco Cardoso <strong>de</strong> Lemos, Lino<br />
Ferreira.<br />
3. a ca<strong>de</strong>ira — (Physica, l. a parte)—<br />
Vol José Alberto Pereira '<strong>de</strong> Carvalho.—<br />
Obr. Eugénio Augusto Amaro, José Pereira<br />
Barata, Belarmino Augusto Pereira<br />
d'Ahreu e Sousa, Augusto <strong>de</strong> Sousa Bosa.<br />
4. í ca<strong>de</strong>ira — (Botanica). — Obrs.<br />
Francisco d'Ascenção Ramos, Tliomaz<br />
Men<strong>de</strong>s Norton <strong>de</strong> Mallos Prego.<br />
Nesta ca<strong>de</strong>ira houve uma reprovação.<br />
Não houve aclos nas outras ca<strong>de</strong>iras<br />
d'esta faculda<strong>de</strong>.<br />
Dia 28<br />
2. 1 ca<strong>de</strong>ira — (Chimica inorganica)<br />
— Vol. Américo Manuel da Conceição<br />
Mattos dos Santos, Antonio Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Gouvêa, Autonio Maria Dias Milheiriço,<br />
— Obr. Manuel Gue<strong>de</strong>s da Silva Fonseca.<br />
3.*- ca<strong>de</strong>ira — (Physica, 1.* parte)—<br />
Vol. Antonio Bodrigues d'Oliveira —<br />
Obr. José Homem Corrêa Telles d'Araujo<br />
e Albuquerque, Albino Joaquim Gomes,<br />
Abilio Bibeiro <strong>de</strong> Miranda, João Francisco<br />
d'Almada.<br />
FACULDADE DE MATHEMATICA<br />
Dia 26<br />
3.' anno — Ord. Octávio <strong>de</strong> Campos<br />
Monteiro.'—Vol. Manoel Xavier Ribeiro<br />
Yaz <strong>de</strong> Carvalho.<br />
Não houve actos nos outros annos.<br />
Dia 27<br />
3.° anno — José Augusto da Cosia<br />
Rego, Pedro Joyce Diniz.<br />
Não houve actos nos outros annos<br />
d'esta faculda<strong>de</strong>.<br />
FACULDADE DE THEOLOGIA<br />
Dia 26<br />
1.° anno — José Nave Catalão, José<br />
Norberto Araujo Esmeriz.<br />
õ.° anno — Accacio Antonio Ferreira<br />
Barbosa.<br />
Não houve mais actog nesta faculda<strong>de</strong>.<br />
Dia 27<br />
2.° anno—Albino Francisco Ramos.<br />
3.° anno — Antonio Gonçalves Carteado<br />
Monteiro.<br />
4." anno — Adriano Gonçalves Vaz.<br />
Não houve actos nos outros annos<br />
d'esta faculda<strong>de</strong>.<br />
Dia 28<br />
1.° anno — José Ailves Correia da<br />
Silva, Antonio Ferreira Pinto.<br />
õ.° anno — Antonio Alves Ferreira,<br />
Abel Augusto Dias Urbano.<br />
Não houve actos nos outros annos.<br />
cipe Santa-Scala Duas mulheres em trages<br />
<strong>de</strong> viagem e véus <strong>de</strong> seda ver<strong>de</strong>, metteram-se<br />
no carro com uma agilida<strong>de</strong> surprehen<strong>de</strong>nle;<br />
um groom gritou ao cocheiro:—<br />
«Estrada <strong>de</strong> Milão!» e os<br />
cavallos tomaram a galope pela estrada<br />
<strong>de</strong> Milão.<br />
—'E' a irmã do principe Santa-<br />
Scala, dizia-se, que vae juntar-se a seu<br />
marido em Milão.<br />
Talormi fingiu dar fé á relação da<br />
sua policia secreta que lhe anuunciou a<br />
partida <strong>de</strong> madame Van-Ritter, mas adivinhou<br />
que tanto ruido publico occultava<br />
uma artimanha feminina. Era com certeza<br />
uma partida simulada.<br />
Comtudo, para esclarecer a sombra<br />
<strong>de</strong> duvida que resta sempre no fundo<br />
da mais bem estabelecida conjectura,<br />
Talormi mandou o seu creado Paolo,<br />
um outro Barbone, ás duas mudas <strong>de</strong><br />
posta da estrada <strong>de</strong> Milão, e soube que<br />
na segunda muda a carruagem tinha parado,<br />
e que duas mulheres haviam tomado<br />
<strong>de</strong> novo o caminho <strong>de</strong> Génova numa<br />
d'aquellas berlindas que só andam a<br />
pasio.<br />
Iinprêsao u a I r p o g r a p L i a<br />
Operaria, — Largo da Freiria n.°<br />
14, proximo á rua dos Sapateiros,—<br />
COIMBRA.
A I M O I - K . ' » »<br />
A n n u n c i o s<br />
Por linha .<br />
Repetições<br />
30 réis<br />
20 réis<br />
Para os srs. assignantes <strong>de</strong>sconto<br />
<strong>de</strong> 50 %<br />
Contracto especial para annuncios<br />
permanentes.<br />
Aos pharmaceuticos e ao publico<br />
. „„ A a pliarmaceuticos Rosa & Viegas,<br />
U proprietários da antiga pharmacia<br />
sita na rua <strong>de</strong> S. Vicente, 31 a<br />
33, previnem os seus freguezes e collegas<br />
<strong>de</strong> que alguns pharmaceuticos, por<br />
especulação, mesquinhez, ou completa<br />
ausência <strong>de</strong> união e lialda<strong>de</strong> pharmaceutica,<br />
teem procurado imitar os seus<br />
preparados, especialmente a P o m a d a<br />
do dr. Queiroz; por isso lhes fazem<br />
constar que só é verda<strong>de</strong>ira a que se<br />
prepara em stia casa (rua <strong>de</strong> S. Vicente,<br />
31 a 33), e que tem a marca registada<br />
segundo a lei <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1883.<br />
Mala Real Portugueza<br />
PASSAGENS DE GRAÇA<br />
PARA O<br />
BUAZIL<br />
HOMENS <strong>de</strong> 16 a 40<br />
130<br />
annos, casados,<br />
solteiros ou viúvos, teem<br />
passagem <strong>de</strong> graça para a<br />
província <strong>de</strong> S. Paulo e que<br />
queiram ir trabalhar nas<br />
obras do caminho <strong>de</strong> ferro<br />
da companhia Paulista.<br />
Para tratar com<br />
ARTOIiO FERNANDES<br />
RUA DO CORVO<br />