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O jornalismo em O tempo eo vento

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“Dudu”. 149 As sátiras, manifestadas através de quadrinhos, piadas e trocadilhos, “apareciam<br />

<strong>em</strong> jornais e revistas, eram repetidas pelo hom<strong>em</strong> de rua”.<br />

No entanto, Rodrigo refletia que “o Zé Povo da caricatura não queria mal a<br />

Hermes da Fonseca” (O RETRATO II, p. 449). Para ele, o presidente era atacado apenas por<br />

ser mais vulnerável que Pinheiro Machado, que era imune à sátira. “O ridículo não atingia<br />

aquela figura olímpica”, pensava Rodrigo. O senador Pinheiro Machado volta às páginas dos<br />

jornais de O T<strong>em</strong>po e o Vento de uma forma trágica, mas, antes disso, a Primeira Guerra<br />

Mundial passa a ser o principal assunto da pauta dos personagens.<br />

O t<strong>em</strong>a da guerra persiste no episódio “A Sombra do Anjo”, no qual o autor<br />

procura explicar o conflito mundial a partir de Santa Fé, com informações pinçadas da<br />

imprensa e que ajudam a formar um esboço de cenário político e econômico, por onde se<br />

movimentam os personagens. O editorial do Correio do Povo 150 do dia 3 de janeiro de 1915<br />

enumera as desgraças continentais que afetam aquele princípio de ano: conflito entre México<br />

e Estados Unidos; assassinato do presidente da República da Colômbia; luto na Argentina<br />

pela morte de Saenz Pena; a “s<strong>em</strong>ana vermelha” na Itália; agitação política na França com a<br />

tragédia do Figaro – o escandaloso “affaire Calmette” –; greves na Rússia; novos<br />

desentendimentos entre Turquia e Grécia; a farsa das sufragistas na Inglaterra; guerra civil na<br />

Irlanda; o assassinato do arquiduque herdeiro do trono dos Habsburgos.<br />

105<br />

Rodrigo rel<strong>em</strong>bra todas estas coisas enquanto lê o editorial e volta a uma fria noite<br />

de julho de 1914, quando Cuca Lopes entrara no Sobrado, esbaforido, trazendo uma notícia<br />

dramática:<br />

– Rebentou a guerra na Europa!<br />

Havia s<strong>em</strong>anas que os jornais andavam cheios de negros presságios <strong>em</strong> torno da<br />

possibilidade dum conflito armado no continente europeu. Depois da tragédia de<br />

Serajevo, esperava-se para qualquer momento a deflagração da guerra. Entretanto,<br />

no seu incurável otimismo Rodrigo achava que as dificuldades seriam contornadas e<br />

149 SODRÉ, Nels on Werneck. História da Imprensa no Brasil. Op. cit., p. 378. “Sob a batuta de Pinheiro<br />

Machado e debaixo de implacável crítica da imprensa oposicionista, o governador Hermes da Fonseca assinalou<br />

o apogeu da crítica política <strong>em</strong> caricatura no nosso país. As violências se sucediam”.<br />

150 “Ano Novo! Ano Bom! A alma popular teima, a cada novo ano que surge, <strong>em</strong> querer ver no seu despontar os<br />

raios duma nova aurora, o início dum novo período de ventura e de bondade. O Ano Novo é s<strong>em</strong>pre o Ano Bom.<br />

Assim nos iludíamos todos a 1º de janeiro desse malsinado 1914. Todos esperávamos que ele nos viesse<br />

compensar dos desgostos de 1913, que nos viesse ressarcir dos males que este nos causara. E, no entanto, nunca<br />

houve ano de tão dolorosas provações para todo o mundo, de tantas misérias, de tantas dores, de tantos horrores.<br />

Aqui no Brasil tiv<strong>em</strong>os, logo aos primeiros meses desse ano terrível, a tragédia do Ceará e o seu longo cortejo de<br />

desgraças; vieram depois o estado de sítio, a perseguição à imprensa, os crimes do Contestado; a débâcle<br />

financeira, o abalo do nosso crédito no estrangeiro, arrastando-nos ao beco s<strong>em</strong> saída do “funding loan”. Não<br />

foram mais felizes os outros países do continente. [...] Que das duras provações de hoje surja uma humanidade<br />

melhor, mais tolerante, menos egoísta, mais inclinada a perdoar as culpas do próximo e desculpar-lhe os erros”.<br />

O Retrato II. Op. cit., p. 438.

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