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O jornalismo em O tempo eo vento

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Em suas anotações biográficas de Solo de Clarineta I, Erico Verissimo (1995, p.<br />

289) observa que antes de começar o projeto de O T<strong>em</strong>po e o Vento precisou vencer<br />

resistências interiores, a maioria delas originadas nos t<strong>em</strong>pos de escola. Afirma ele que os<br />

livros apresentavam a história do Estado “como uma sucessão aborrecível de nomes de heróis<br />

e batalhas entre tropas brasileiras e castelhanas”, e que “a verdade sobre o passado do Rio<br />

Grande devia ser mais viva e bela que a sua mitologia. E quanto mais examinava a nossa<br />

História, mais convencido ficava da necessidade de desmistificá-la.”<br />

Para a crítica consagrada do autor, Erico Verissimo consegue concretizar o seu<br />

projeto de revelar uma nova história do Rio Grande na trilogia, suplantando a visão romântica<br />

e mitológica do gaúcho. É justamente este o ponto discordante que a pesquisa evidencia<br />

acerca dos recursos jornalísticos na narrativa. Faz<strong>em</strong> parte do romance os políticos gaúchos<br />

influentes, os jornais de maior circulação e as notícias impressas que incut<strong>em</strong> nos leitores as<br />

idéias destes mesmos políticos. Logo, a ficção acaba por legitimar pela repetição 211 os<br />

discursos que caracterizam o gaúcho na historiografia e na literatura do Rio Grande do Sul.<br />

Em seu plano criativo, o escritor transmite ao narrador Floriano Cambará a sua<br />

“psicologia pessoal” 212 e deixa que este se encarregue do acerto de contas com a história<br />

apresentada. Mesmo que no final da trilogia a morte de Rodrigo Cambará e a desestruturação<br />

da família evidenci<strong>em</strong> a queda de uma tradição, muitas lacunas ficam abertas na reflexão que<br />

Erico Verissimo faz da realidade histórica e social. Concorda-se, aqui, com o que assinala<br />

Joaquin Rodrigues Suro (1985, p. 248), quando diz que “essas reflexões históricas são feitas<br />

desde a estrutura mental ambígua de sua posição social de d<strong>em</strong>ocrata liberal de classe média”.<br />

Na sua composição histórica, o escritor concentra-se muito mais sobre os aspectos<br />

políticos da sociedade do que <strong>em</strong> suas ramificações econômicas. Sobre este ponto, Daniel<br />

Fresnot 213 destaca que “a luta política aparece não apenas como parte integrante, mas talvez<br />

como pr<strong>eo</strong>cupação básica de Erico Verissimo”. A constatação de Fresnot se confirma, nesta<br />

pesquisa, tendo <strong>em</strong> vista a numerosa multiplicação de aspectos político-id<strong>eo</strong>lógicos<br />

confrontados <strong>em</strong> diversos instantes da narrativa. Quando projeta sobre a família Cambará o<br />

211 A questão da repetição, ou da redundância, inclusive, foi motivo de estudo <strong>em</strong> outro livro no qual Erico<br />

Verissimo utiliza muitos recursos do <strong>jornalismo</strong>, que é Incidente <strong>em</strong> Antares. Nesta pesquisa, Eliana Pibernat<br />

Antonini afirma que “a repetição se constata plenamente numa cultura de massa” e que “o texto como produto é<br />

objeto da cultura de massa e Erico pode ser considerado, no sist<strong>em</strong>a literário brasileiro e rio-grandense, um<br />

precursor deste tipo de literatura”. In: Incidentes Narrativos: Antares e a Cultura de Massa. Op. cit., p. 173 e<br />

240.<br />

212 A expressão é utilizada por Tristão de Athayde, que afirma ser essa “psicologia pessoal” uma conseqüência<br />

da coincidência do objetivismo realista e da presença subjetiva do autor na obra. Erico e o antimachismo . In:<br />

CHAVES, Flávio Loureiro. O contador de histórias. Op. cit., p. 87.<br />

213 FRESNOT, Daniel. O pensamento político de Erico Verissimo. Rio de Janeiro: Edições do Graal, 1977, p. 32.<br />

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