O jornalismo em O tempo eo vento
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Telefone (1879) e a Revista Culto às Letras (1880). O jornal Arcádia, da cidade de Rio<br />
Grande, surgiu um ano antes da fundação do Partenon e circulou até 1870, tendo sido o<br />
segundo de mais longa vida no Estado, ficando atrás apenas da Revista Mensal (SILVEIRA;<br />
BAUMGARTEN, 1980, p. 13).<br />
Em relação ao resto do país, esse florescimento literário chegou com atraso<br />
considerando-se que os intelectuais gaúchos se filiaram à escola do Romantismo – já <strong>em</strong><br />
decadência nos outros centros culturais. É justamente este pensamento vinculado ao idealismo<br />
romântico, mais do que as causas econômicas e sociais, que decreta a extinção da Sociedade<br />
Partenon menos de 15 anos após sua fundação. De acordo com a observação de Carm<strong>em</strong><br />
Consuelo Silveira e Carlos Alexandre Baumgarten (1980, p. 13), Apolinário Porto Alegre era<br />
fundador de vários núcl<strong>eo</strong>s republicanos e não aceitava os rumos que a id<strong>eo</strong>logia tomava:<br />
A nova geração aceitava o republicanismo, mas não idealizado e romântico e,<br />
sim, positivista, abrindo as portas à filosofia de Augusto Comte, prenunciando<br />
novos t<strong>em</strong>pos, novas correntes de pensamento social e literário, alijando este<br />
passado recente que gravitara <strong>em</strong> torno da Sociedade Partenon. Estava-se, pois, às<br />
vésperas da abolição da escravatura e do fim da monarquia , com a vitória da<br />
república positivista. A Sociedade Partenon, dentro deste contexto, envelheceu.<br />
O <strong>jornalismo</strong>-literário independente teve o papel de mediar a passag<strong>em</strong> do<br />
<strong>jornalismo</strong>-partidário para o <strong>jornalismo</strong> estruturado <strong>em</strong> bases <strong>em</strong>presariais. Na década de<br />
1870, os intelectuais da época, <strong>em</strong>bora não atuass<strong>em</strong> diretamente na política, usavam sua arte<br />
para inserir-se no processo político <strong>em</strong> andamento. Diferente dos primeiros românticos, o<br />
principal instrumento de expressão destes escritores foi a poesia, pela qual manifestavam o<br />
ideário liberal, as adesões ao princípio republicano e à glorificação do Farrapo. O meio de<br />
divulgação destas idéias eram os jornais, onde eles publicavam seus versos cada vez mais<br />
identificados com a causa da Abolição. Em decorrência disto, o jornal substitui o livro, e o<br />
hom<strong>em</strong> de imprensa, o poeta de gabinete, vira escritor nas horas vagas (SILVEIRA;<br />
BAUMGARTEN, 1980, p. 26). 74 No Rio de Janeiro, onde os cenários literário e jornalístico<br />
praticamente se fundiam num só, José Veríssimo não escondia seu entusiasmo nos artigos de<br />
fundo, às segundas-feiras, no Jornal do Brasil. Em sua seção de crítica literária, escreveu que<br />
“de todas as manifestações da nossa vida intelectual é talvez o <strong>jornalismo</strong> a mais importante e<br />
a única <strong>em</strong> que se veja progresso, ao menos no que respeita à informação, à notícia, <strong>em</strong> suma,<br />
74 No entanto, João Pinto da Silva entende que o fato do <strong>jornalismo</strong> gaúcho ter sido absorvent<strong>em</strong>ente político<br />
impediu, sob o ponto de vista literário, uma ação direta e estimuladora dos jornais, o que constitui uma das mais<br />
interessantes características da imprensa <strong>em</strong> outras circunscrições do país. SILVA, João Pinto da. História da<br />
Literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1924.<br />
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