17.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Arthur Jaceguai<br />

Numa das frases mais duras que alguém jamais terá escrito sobre a monarquia,<br />

Jaceguai aponta: “uma planta que só po<strong>de</strong> medrar artificialmente,<br />

enquanto teve para vivificá-la o estrume da escravidão”.<br />

Explica o advento da República, a atitu<strong>de</strong> conformada do povo, que não<br />

encontrava razões para uma fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> mais enérgica ao regime <strong>de</strong>posto. Não<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> anotar que a ditadura republicana se exercera fazendo promoções <strong>de</strong><br />

militares aos milhares. Quanto a ele, não sustentava essas i<strong>de</strong>ias com qualquer<br />

pensamento subalterno. Declarava que “todas as minhas ambições limitaram-se<br />

à esfera da minha profissão” e que a política não o atraía, sendo, no<br />

Brasil, uma carreira que, “para o maior número, assemelhava-se ao esporte da<br />

montanha-russa – em que o veículo começa <strong>de</strong>scendo para po<strong>de</strong>r elevar-se”.<br />

Dizia que: “A república tem gran<strong>de</strong>s problemas preliminares que resolver<br />

e que são incógnitas uns dos outros. Tem o problema financeiro, o problema<br />

fe<strong>de</strong>ral, o problema militar. Tornar a república solvável; tornar a república<br />

articulada; tornar a república civil não é pequena tarefa”.<br />

E fazia um apelo ao amigo Nabuco para que esquecesse o “exotismo”<br />

monárquico e que viesse “ilustrar o novo regime político do Brasil com esse<br />

nome venerado com que vosso pai ilustrou o amigo”.<br />

Para Jaceguai não há argumento melhor do que o ativo da república:<br />

“Temos seis anos <strong>de</strong> república; tínhamos uma tradição <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />

a mais bela da América: <strong>de</strong> abolição sem guerra civil, <strong>de</strong> guerras exteriores<br />

sem conquista, <strong>de</strong> revoluções sem vinganças, e hoje? On<strong>de</strong> está Lorena?<br />

On<strong>de</strong> estão os filhos <strong>de</strong> Trajano <strong>de</strong> Carvalho? On<strong>de</strong> está o marechal Batovy?<br />

On<strong>de</strong> está o barão do Serro-Azul, com os seus companheiros <strong>de</strong> vagon?<br />

On<strong>de</strong> está Saldanha da Gama?<br />

Declaro, sem afetação <strong>de</strong> patriotismo, que, com a minha experiência, se<br />

eu tivesse <strong>de</strong> escolher uma pátria, outra não escolheria senão este mesmo<br />

Brasil, porque, apesar <strong>de</strong> todas as incertezas <strong>de</strong> seu futuro, ainda será, por<br />

muito tempo, o país on<strong>de</strong> os <strong>de</strong>serdados da fortuna serão menos <strong>de</strong>sgraçados.<br />

Sou o homem da minha raça: tanto basta para que eu não a julgue<br />

inferior a qualquer outra”.<br />

183

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!