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Cinco critérios para a formação do psicólogo - Vigotski - Brasil

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VIII JOP<br />

Jornada Internacional de Psicologia<br />

perío<strong>do</strong> helenístico, que coloca a serenidade ou a “ataraxia” (a ausência de perturbações da alma) como<br />

princípio ético maior, como bem maior a ser busca<strong>do</strong>. Em seguida recordamos Espinosa (1979) com uma<br />

ética voltada à emancipação ligada ao esclarecimento quanto às determinações que não nos permitem sermos<br />

totalmente livres e que define a “alegria” como processo pelo qual a alma passa de um esta<strong>do</strong> inferior a um<br />

superior, mediante o ato de compor-se com o mun<strong>do</strong>, entenden<strong>do</strong> melhor suas relações com ele e consigo,<br />

superan<strong>do</strong> superstições. Por fim, recordamos Kant (1974; 2002), que, a seu mo<strong>do</strong>, também defende o<br />

esclarecimento, que se compõe, entre outros fatores, <strong>do</strong> exercício público da razão. Este autor constrói uma<br />

ética pautada na universalidade de uma lei moral que to<strong>do</strong> homem deve assumir e que se exprime pelo<br />

imperativo “Tu deves” – um dever não imposto de fora, mas assumi<strong>do</strong> pelo sujeito na medida em que<br />

reconhece que deve agir de mo<strong>do</strong> que aquilo que faz possa ser assumi<strong>do</strong> também por to<strong>do</strong>s os demais sem<br />

conseqüências prejudiciais a ninguém e com conseqüências benéficas <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s. Algo que Sartre (1978),<br />

retomará em seu célebre “O existencialismo é um humanismo”. Além dessas quatro referências clássicas,<br />

lembramos a crítica levantada por Horkheimer e A<strong>do</strong>rno (1985) ao esclarecimento e, por conseguinte, à<br />

emancipação que ele promete, uma vez que a razão iluminista pode passar a cumprir uma função justamente<br />

oposta àquela que ela se propõe. E indicamos, por fim, uma reflexão sobre os <strong>critérios</strong> éticos próprios a uma<br />

visão de construção coletiva e/ou classista <strong>para</strong> emancipação humana, onde a ênfase na satisfação individual<br />

é deslocada <strong>para</strong> a satisfação que emana da cooperação entre os homens na luta contra a expropriação, e<br />

coloca o esclarecimento individual sob o critério <strong>do</strong> diálogo, da crítica e, portanto, da práxis – como ocorre<br />

no marxismo clássico. Como resulta<strong>do</strong> destacam-se as diferentes conseqüências destas vertentes éticas, as<br />

quais implicam contribuições distintas à <strong>formação</strong> <strong>do</strong> profissional ético. E ficam levantadas algumas questões<br />

quanto a como se caracteriza o profissional ético: (a) aquele que busca o equilíbrio num mun<strong>do</strong> em que tu<strong>do</strong><br />

tem o seu lugar exceto, talvez, o próprio desequilíbrio? (b) aquele que busca serenidade num mun<strong>do</strong> de<br />

injustiça, sen<strong>do</strong> senhor de suas paixões e razões mais íntimas e não deixan<strong>do</strong> que nenhum tirano nelas<br />

interfira? (c) aquele que busca a emancipação pela alegria da superação da ignorância da superstição, da<br />

solidão e <strong>do</strong> me<strong>do</strong>? (d) aquele que busca também a emancipação agin<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a razão exercida<br />

publicamente e pautada numa lei moral assumida com autonomia? (e) aquele que faz a crítica da própria ética<br />

da emancipação pelo esclarecimento denuncian<strong>do</strong> a capacidade que a razão tem de negar aquilo que ela<br />

mesma promete? (f) aquele que revê os conceitos liberais de emancipação e esclarecimento e toma a<br />

cooperação, o diálogo e a possibilidade de associar-se com seus semelhantes como critério ético-político de<br />

construção de uma vida melhor <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s? Estes são alguns <strong>do</strong>s conceitos éticos que pudemos enumerar, e<br />

partimos da hipótese de que estão relaciona<strong>do</strong>s a diferentes mo<strong>do</strong>s de compreender o compromisso social <strong>do</strong><br />

profissional que se pretende formar.<br />

(2) Quanto ao critério <strong>do</strong> “compromisso social”, o estu<strong>do</strong> indica a necessidade de se exprimir<br />

melhor qual seja a sua natureza. Está claro que raros ou inexistentes são os discursos que pregam o<br />

compromisso com a manutenção da sociedade tal como está. Fica implícito, e em muitos casos também<br />

explícito, que falar em “compromisso social” é falar em “compromisso com a mudança social”, por vezes<br />

usa-se mesmo a palavra “trans<strong>formação</strong>”. Se deve haver mudança, evidentemente fica a pergunta sobre o que<br />

deve ser muda<strong>do</strong>? Outra questão, ainda mais complexa, nos indica que se a sociedade precisa mudar, nós<br />

mesmos não sairemos modifica<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> essa mudança vier a ocorrer? Ou ainda: como formar, dentro de<br />

uma sociedade que ainda não mu<strong>do</strong>u, profissionais capazes criar algo que vá além das próprias condições<br />

sociais atuais que determinam, entre outras coisas, a sua própria <strong>formação</strong>? Destacamos em nosso estu<strong>do</strong> o<br />

fato de que a via reformista <strong>para</strong> a mudança social prevaleceu sobre a via revolucionária em escala planetária.<br />

De mo<strong>do</strong> que as mudanças em pauta tem si<strong>do</strong> pensadas em termos de reforma e <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s que se dá<br />

<strong>para</strong> as reformas em cada área, sua profundidade e abrangência. Isso dá um indicativo, não uma opção,<br />

quanto ao méto<strong>do</strong> geral, mas ainda não especifica pautas de reformas prioritárias, nem os mo<strong>do</strong>s de<br />

organização da sociedade civil que seriam prioritários no processo de mudança, <strong>para</strong> além <strong>do</strong>s aspectos mais<br />

formais da democracia tal como experimentada no momento histórico atual. O indicativo, em nosso estu<strong>do</strong>, é<br />

o de destacar o próprio mo<strong>do</strong> de funcionamento das sociedades contemporâneas, sobretu<strong>do</strong>, dentre elas, a<br />

brasileira, e visualizar suas principais contradições, <strong>para</strong> poder estabelecer <strong>critérios</strong> mais claros quanto a que<br />

tipo de mudança pretende-se promover quan<strong>do</strong> se fala de compromisso social. É destacada, como categoria<br />

de análise no campo da economia-política (MARX, 1989) a “contradição capital-trabalho”, em suas<br />

conseqüências mais diretas <strong>para</strong> o estabelecimento das desigualdades nos países capitalistas periféricos como<br />

o <strong>Brasil</strong>. Destacam-se ainda mudanças importantes na forma de acumulação <strong>do</strong> capital, tal como sintetizadas<br />

pelo conceito de “regime de acumulação flexível” de David Harvey (1992) – o que implica ênfase no capital<br />

financeiro sobre o produtivo e o nomadismo da especulação financeira sem base nacional claramente<br />

definida, associa<strong>do</strong>s ao vertiginoso incremento da automação das linhas de produção, o que contribui <strong>para</strong><br />

uma revisão geral <strong>do</strong> conceito de emprego, e abre espaço <strong>para</strong> a criação de formas distintas de expropriação<br />

de mais-valia, uma vez que esta não pode ser extraída de máquinas. Questões étnicas, raciais, de geração e de<br />

gênero, se inter-cruzam com as questões de classe <strong>para</strong> proporcionar um quadro mais completo <strong>do</strong>s conflitos

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