Trabalhadores - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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O economista, porém, mesmo reco-<br />
nhecendo ser muito gran<strong>de</strong> o custo social<br />
da estratégia recessiva do govemo, não<br />
tem dúvidas <strong>de</strong> que "este é o custo a se<br />
pagar para a queda da inflação brasileira,<br />
não tem outra salda".<br />
Ferreira da Silva acredita que boa parte<br />
<strong>de</strong>ssa recessão já aconteceu, tendo-se<br />
concentrado nos meses <strong>de</strong> março, abril e<br />
maio e que, nos últimos dois meses, a<br />
economia vem dando sinais positivos <strong>de</strong><br />
reação. Mas sua expectativa é <strong>de</strong> que, no<br />
último quadrimestre, ocorra uma nova on-<br />
da contracionista.<br />
Na análise do coor<strong>de</strong>nador do GAC do<br />
IPEA-RJ, a queda do PIB per capita neste<br />
ano será amortecida pelas oportunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> emprego no período eleitoral. "A crise<br />
social estoura no ano que vem. A partir <strong>de</strong><br />
janeiro a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego vai mostrar<br />
seu verda<strong>de</strong>iro tamanho", consi<strong>de</strong>ra Fer-<br />
reira da Silva. Para evitar que os que per-<br />
<strong>de</strong>rão seus empregos se transformem nos<br />
gran<strong>de</strong>s pagadores da conta da polllica <strong>de</strong><br />
combate à inflação, o economista <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
a adoção <strong>de</strong> polílicas compensatórias <strong>de</strong><br />
emprego pelo govemo a partir do próximo<br />
ano.<br />
Na década <strong>de</strong> 80, as condições <strong>de</strong> vida<br />
e trabalho dos brasileiros, segundo o prin-<br />
cipal indicador da economia, só fizeram<br />
piorar. A média/ano <strong>de</strong> crescimento do<br />
PIB, caso se concretize a queda <strong>de</strong> menos<br />
5,5% em 1990 será <strong>de</strong> 1,9%. Este número<br />
situa-se abaixo da taxa média <strong>de</strong> expan-<br />
são <strong>de</strong>mográfica do País, <strong>de</strong> 2,1% no pe-<br />
ríodo <strong>de</strong> 10 anos, ou seja, a economia<br />
cresceu menos que a população.<br />
Na avaliação do ex-ministro Mário Hen-<br />
rique Simonsen, o Brasil terá que expandir<br />
seu produto real em 6% ao ano para sa-<br />
tisfazer as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong><br />
bens e <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> seu povo.<br />
Os dados da última pesquisa nacional<br />
por amostra <strong>de</strong> domicilio (PNAD) do IBGE<br />
retratam a dura realida<strong>de</strong> nacional contida<br />
nos indicadores oficiais: 58% da população<br />
ocupada recebe entre meio e dois salários<br />
mínimos, enquanto apenas 7% ganha aci-<br />
ma <strong>de</strong> 10 mínimos. De um total <strong>de</strong> 35,4<br />
milhões <strong>de</strong> famílias existentes 5,1% vive<br />
com rendimento <strong>de</strong> até um salário mínimo<br />
(hoje <strong>de</strong> Cr$ 6 mil), enquanto a maior parte<br />
contingente, ou seja, 10,9% vive com ren-<br />
da entre 2 e 5 mínimos. Somente 1,9%<br />
<strong>de</strong>ssas famílias contam com renda supe-<br />
rior a 20 mínimos (Cr$ 120 mil), e 20% da<br />
população ainda é analfabeta.<br />
COMENTÁRIOS SOBRE A CHAMADA POLÍTICA INDUSTRIAL<br />
O governo anunciou, dia 26 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1990, o que<br />
chamou <strong>de</strong> "diretrizes gerais para a política industriai e<br />
<strong>de</strong> comércio exterior'. Tais diretrizes consubstanciam-se<br />
num conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> intenções e <strong>de</strong> medidas<br />
que entram imediatamente em vigor, como a redução <strong>de</strong><br />
algumas alíquotas <strong>de</strong> importação e a simplificação dos<br />
mecanismos <strong>de</strong> importação e <strong>de</strong> exportação.<br />
Como muitos pontos das "diretrizes" se remetem a<br />
medidas que seriam tomadas, a projetos <strong>de</strong> lei a serem<br />
encaminhados no futuro, a efetivação da assim chamada<br />
"política industrial e <strong>de</strong> comércio exterior" vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong>ssas medidas. Nessas condições, teremos alguns co-<br />
mentários sobre o conjunto <strong>de</strong> diretrizes, mas sempre<br />
lembrando que uma percela primordial <strong>de</strong> medidas ainda<br />
são <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> intenções.<br />
Os comentários serão norteados pela idéia que uma<br />
política industrial <strong>de</strong>veria, por um lado, nortear a estraté-<br />
gia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e investimento na indústria, si-<br />
nalizando padrão <strong>de</strong> estrutura industrial, setores, subse-<br />
tores e segmentos consi<strong>de</strong>rados estratégicos, formas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e industrial, entre outros.<br />
Por outro lado, <strong>de</strong>veria estar integrada com um rol mais<br />
amplo <strong>de</strong> políticas públicas, dado que o fim último <strong>de</strong><br />
uma política industrial - e, como <strong>de</strong> resto, <strong>de</strong> toda políti-<br />
ca pública - <strong>de</strong>veria ser a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
da população. Isto, no Brasil significa, entre outros, a re-<br />
tomada do <strong>de</strong>senvolvimento econômico associada a uma<br />
distribuição <strong>de</strong> renda mais equámme.<br />
PORQUE INTERESSA AO MOVIMENTO SINDICAL<br />
DISCUTIR POLÍTICA INDUSTRIAL<br />
As diretrizes <strong>de</strong> política industrial do atual govemo fo-<br />
ram oficialmente anunciadas quase que concomitante-<br />
mente com o anúncio da sua política salarial. Devido à<br />
repercussão imediata e às próprias peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />
política salarial, ela ten<strong>de</strong> a ganhar o primeiro plano da<br />
discussão sindical. Porém, é preciso lembrar que uma<br />
E DE COMÉRCIO EXTERIOR<br />
política industrial apresenta efeitos a médio e longo pra-<br />
zos, sendo esses efeitos geralmente mais profundos e<br />
duradouros que os efeitos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada política<br />
salarial. Mais que isso, a questão da política industrial<br />
está (ou <strong>de</strong>veria estar) intimamente associada à discus-<br />
são <strong>de</strong> um novo padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial,<br />
com repercussões sobre a composição da força <strong>de</strong> tra-<br />
balho, intra e extra indústria, sobre o nível <strong>de</strong> emprego<br />
industriai, sobre o tipo <strong>de</strong> indústria e <strong>de</strong> produtos que se<br />
quer para o país.<br />
Portanto, apesar <strong>de</strong> os efeitos das políticas industriais<br />
não serem sentidos <strong>de</strong> imediato, eles são tão ou mais<br />
importantes para o sindicalismo em particular, e para a<br />
socieda<strong>de</strong> em geral, que as políticas salariais. A<strong>de</strong>mais,<br />
como disse Bruno Latour, parafraseando Clausewitz," a<br />
ciência é o prolongamento da política com outros meios.<br />
Os industriais e os tecnocratas sabem disso. Só os sindi-<br />
catos ainda tem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendê-lo".<br />
SENTIDO GERAL DAS "DIRETRIZES DE POLÍTICA<br />
INDUSTRIAL E DE COMÉRCIO EXTERIOR"<br />
ANUNCIADAS PELO GOVERNO<br />
O govemo se manifestou, em diversas ocasiões, favo-<br />
rável à chamada "integração competitiva". Isto quer dizer<br />
que é feito um diagnóstico que consi<strong>de</strong>ra encerrada a fa-<br />
se <strong>de</strong> "substituição <strong>de</strong> importações" que marcou as polí-<br />
ticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos últimos <strong>de</strong>cênios e que,<br />
bem ou mal, acabou gerando um parque industrial diver-<br />
sificado. A fase necessária, no enten<strong>de</strong>r do governo, se-<br />
ria então a <strong>de</strong> integrar essa indústria na competição in-<br />
ternacional, ou seja, atingir patamares <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, pro-<br />
dutivida<strong>de</strong> (e preço) das empresas lí<strong>de</strong>res no mercado<br />
mundial.<br />
O sentido apontado para essa "integração competiti-<br />
va" é a redução dos níveis <strong>de</strong> proteção à industria radi-