matizes culturais do universo “kariri” - GT Nacional de História Cultural
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VI Simpósio <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> <strong>Cultural</strong><br />
Escritas da <strong>História</strong>: Ver – Sentir – Narrar<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Piauí – UFPI<br />
Teresina-PI<br />
ISBN: 978 978-85 978 85 85-98711 85 98711 98711-10 98711 10 10-2 10<br />
Conforme apresentamos anteriormente apesar da flexibilida<strong>de</strong> a que se presta<br />
a caboclinha, o <strong>de</strong>scumprimento <strong>do</strong> pacto por parte <strong>do</strong>s caça<strong>do</strong>res, ou seja, a quebra da<br />
relação contratual da troca simbólica, baseada na lógica <strong>do</strong> dar para receber tem retorno<br />
com uma punição, o que também foi representa<strong>do</strong> na trama <strong>do</strong>s versos <strong>do</strong> cor<strong>de</strong>l,<br />
quan<strong>do</strong> seu Raimun<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> levar sua oferta:<br />
Na mata toda se ouvia<br />
A chicotada no ar<br />
Quem batia não se via<br />
Ali em nenhum lugar<br />
Seu Raimun<strong>do</strong> então lembrou<br />
Do fumo que não <strong>de</strong>ixou<br />
Para a caipora fumar.<br />
Foi tão gran<strong>de</strong> a confusão<br />
Que estremeceu a terra<br />
Grito, lati<strong>do</strong> <strong>de</strong> cão<br />
Até parecia guerra<br />
Seu Raimun<strong>do</strong> correu tanto<br />
Que foi parar noutro canto<br />
Do outro la<strong>do</strong> da serra.<br />
(...)<br />
O cor<strong>de</strong>l ao lançar luz sobre a crença transforma-se em memória, ao tempo que<br />
extrapola a visão representativa e produz uma linguagem originada <strong>de</strong> uma memória<br />
popular que se torna uma realida<strong>de</strong> misturada <strong>de</strong> acontecimentos <strong>de</strong> diferentes<br />
temporalida<strong>de</strong>s e espacialida<strong>de</strong>s, ao mesmo tempo que cria significa<strong>do</strong>s próprios.<br />
Essa experiência poética, juntamente com as narrativas anteriormente<br />
discutidas, ao serem cotejadas com os registros produzi<strong>do</strong>s pelos Capuchinhos, remete-<br />
nos a uma possível ligação entre a caboclinha e o pai da mata com divinda<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />
índios cariris, conhecidas como Badzé e Politão.<br />
Os registros <strong>do</strong>s Capuchinhos oferecem informações <strong>de</strong> valor etnográfico e<br />
histórico inestimáveis sobre a religiosida<strong>de</strong> <strong>do</strong> povo Kariri, num perío<strong>do</strong> em que a<br />
nação ainda se situava à margem <strong>do</strong> rio São Francisco. 10 O traço, que expõe certa<br />
semelhança entre essas crenças, toma como base a analogia existente no ritual <strong>de</strong><br />
oferendas, já menciona<strong>do</strong> em nosso estu<strong>do</strong>.<br />
10 Ver: ABREU, J. Capistrano <strong>de</strong>. Capítulos <strong>de</strong> história colonial, 1500/1800. [s.l.]: Livraria Briguet,<br />
[s.d.], p. 160.<br />
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