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Preconceito e discriminação com as mulheres negras - PROEJA - RS

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UNIVE<strong>RS</strong>IDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL<br />

FACULDADE DE EDUCAÇÃO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À<br />

EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E<br />

ADULTOS<br />

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO COM AS MULHERES NEGRAS DA E. J. A.<br />

VIAMÃO – <strong>RS</strong> E SUA INCLUSÃO NO MUNDO DO TRABALHO<br />

MARIA DARCILA TINOCO<br />

Orientador: profª. Dra. MARILENE LEAL PARÉ<br />

Porto Alegre<br />

2009


FICHA CATALOGRÁFICA<br />

___________________________________________________________________________<br />

T591p Tinoco, Maria Darcila<br />

<strong>Preconceito</strong> e <strong>discriminação</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> da E.J.A. Viamão-<strong>RS</strong> e sua<br />

inclusão no mundo do trabalho / Maria Darcila Tinoco ; orientadora Marilene Leal<br />

Paré. – Porto Alegre, 2009.<br />

43 f. : il.<br />

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande<br />

do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação.<br />

Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica<br />

na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-<strong>RS</strong>.<br />

1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. Mulheres negr<strong>as</strong> – EJA<br />

– Escol<strong>as</strong> Estaduais – Município de Viamão, <strong>RS</strong>. 5. Mulheres afro-descendentes –<br />

<strong>Preconceito</strong> – Discriminação – Ingresso – Mundo do trabalho - EJA – Viamão, <strong>RS</strong>. I.<br />

Paré, Marilene Leal. II. Título<br />

CDU 374.7<br />

_____________________________________________________________________________<br />

CIP-Br<strong>as</strong>il. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.<br />

(Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)<br />

2


SUMÁRIO<br />

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4<br />

2. CONCEITOS ........................................................................................................................ 5<br />

2. 1. Definição de racismo, preconceito e <strong>discriminação</strong> ...................................................... 5<br />

2.2. A Situação Atual do <strong>Preconceito</strong> Racial ......................................................................... 6<br />

3. VEICULADORES DOS PRECONCEITOS RACIAIS .................................................... 8<br />

3.1. <strong>Preconceito</strong> velado na escola ........................................................................................... 8<br />

3.2. Tabus históricos ............................................................................................................... 9<br />

3.3. O fant<strong>as</strong>ma do racismo .................................................................................................. 10<br />

4. LEVANTAMENTOS DE DADOS ATRAVÉS DE PESQUISAS COM ALUNAS<br />

NEGRAS DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE VIAMÃO ...................... 12<br />

4.1. Pesquisa <strong>com</strong> <strong>as</strong> alun<strong>as</strong> .................................................................................................. 12<br />

4.2 Perfil d<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> da EJA ................................................................................................ 17<br />

5. DIFERENÇA ENTRE TRABALHO E EMPREGO ...................................................... 20<br />

6. GÊNERO E ETNIA NO MUNDO DO TRABALHO ..................................................... 24<br />

6.1. Índices de homens e <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> e não-negr<strong>as</strong> ...................................................... 25<br />

6.2. Índices de desemprego por sexo .................................................................................... 26<br />

6.3 Salário por sexo, segundo a etnia, em reais .................................................................... 27<br />

6.4 Inserção dos negros no mundo do trabalho .................................................................... 27<br />

7. TIPO DE TRABALHO/EMPREGO OFERECIDO NO MUNICíPIO ......................... 29<br />

7.1. Fich<strong>as</strong> de Entrevist<strong>as</strong> n<strong>as</strong> agênci<strong>as</strong> de emprego e d<strong>as</strong> Empres<strong>as</strong> de Viamão (Empresa<br />

de transportes de Viamão, Mumu Ltda , SINE) ................................................................... 29<br />

7.2. Entrevista <strong>com</strong> <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> responsáveis pel<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> <strong>com</strong> os candidatos ............ 30<br />

7.3. O que o Município de Viamão oferece no mundo do trabalho para ess<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> negr<strong>as</strong>/<br />

afro-descendentes da EJA ..................................................................................................... 31<br />

7.4. Análise de dados – Tabulação e Gráficos ................................................................... 32<br />

8. DOCUMENTO BASE DO <strong>PROEJA</strong> ................................................................................ 32<br />

8.1. Surgimento e Finalidade do <strong>PROEJA</strong> ........................................................................... 33<br />

8.2. Integração do currículo de formação inicial e integrada ............................................... 34<br />

8.3 Legislação: documento b<strong>as</strong>e do <strong>PROEJA</strong> ...................................................................... 35<br />

8.4. Educação X Trabalho: Uma nova perspectiva .............................................................. 38<br />

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 39<br />

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 43<br />

3


1. INTRODUÇÃO<br />

O mundo do trabalho esta cada vez mais limitado na cidade de Viamão/<strong>RS</strong>, pois o<br />

número de desempregados é muito grande e o número de empres<strong>as</strong> existentes na cidade é<br />

muito pequena. Esse fato deve-se aos nossos prefeitos não desejarem que a cidade se torne<br />

uma cidade poluída daí não permitirem qualquer empresa se instalar no Município.<br />

Entretanto, <strong>com</strong> isso não há recursos financeiros e nem emprego para os trabalhadores<br />

viamonenses e, neste contexto econômico, temos <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> trabalhador<strong>as</strong>, dentre el<strong>as</strong>, <strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> estudantes, <strong>as</strong> quais, por muitos motivos, estão estudando na Educação de<br />

Jovens e Adultos.<br />

Esta pesquisa tem a finalidade de verificar se existe preconceito e <strong>discriminação</strong> <strong>com</strong><br />

<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>/afro-descendentes que estudam n<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Estaduais, na modalidade de<br />

Educação de Jovens e Adultos, no Município de Viamão, para ingressarem no mundo do<br />

trabalho.<br />

4


2. CONCEITOS<br />

2. 1. Definição de racismo, preconceito e <strong>discriminação</strong><br />

O racismo não surgiu de uma hora para a outra, m<strong>as</strong> estava presente lá no período de<br />

colonização onde <strong>com</strong>eçou a exploração de mão-de-obra barata. Exploração que gerava<br />

riqueza e poder para o branco colonizador e opressor.O racismo entre os seres humanos foi<br />

surgindo e se consolidando.<br />

O conceito de racismo é tão antigo que Aristóteles dizia que uma parte dos homens<br />

n<strong>as</strong>ceu forte e resistente, destinada expressamente pela natureza para o trabalho duro e<br />

forçado. A outra parte- os senhores- n<strong>as</strong>ceu fisicamente débil; contudo, possuidora de dotes<br />

artísticos, capacitada, <strong>as</strong>sim, para fazer grandes progressos n<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> filosófic<strong>as</strong> e<br />

outr<strong>as</strong>(GRIGULEVICH,1983, p.105)<br />

Para o Programa Nacional de Direitos Humanos, Racismo ¨é uma ideologia que<br />

postula a existência de hierarquia entre os grupos humanos¨(1998, p.12)<br />

“ Racismo é a afirmação da superioridade de uma raça / etnia sobre <strong>as</strong> outr<strong>as</strong>. ¨É a<br />

suposição de que há raç<strong>as</strong>... uma maneira de justificar a dominação de um grupo sobre o<br />

outro, inspirada n<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> fenotípic<strong>as</strong> da nossa espécie.¨( SANTOS,1990,p.12).<br />

Para <strong>com</strong>preender melhor o preconceito racial sofrido pelos negros e negr<strong>as</strong> deve-se<br />

diferenciar: <strong>Preconceito</strong> e Discriminação.<br />

Discriminação é o nome que se dá para a conduta (ação ou omissão) que viola direitos<br />

d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> <strong>com</strong> b<strong>as</strong>e em critérios injustificados e injustos, tais <strong>com</strong>o a raça, o sexo, a idade, a<br />

opção religiosa e outr<strong>as</strong>.¨(Programa Nacional de Direitos Humanos, 1998,p.15).<br />

Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferênci<strong>as</strong><br />

b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica.¨( Idem, ibidem) Ocorre<br />

quando a igualdade de tratamento é negada a uma pessoa ou a um grupo de pesso<strong>as</strong> em razão<br />

de sua origem.¨ É atitude ou ação de distinguir, separar <strong>as</strong> raç<strong>as</strong>, tendo por b<strong>as</strong>e idéi<strong>as</strong><br />

preconceituos<strong>as</strong>.¨(LOPES,2001,p.187) È a pior forma de <strong>discriminação</strong> porque o discriminado<br />

não pode mudar su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> raciais que a natureza lhe deu.<br />

<strong>Preconceito</strong> Racial é o pré-julgamento negativo realizado quanto a uma pessoa em<br />

função de sua raça/etnia. Pode ser expresso através de piad<strong>as</strong>, injúri<strong>as</strong>, apelidos,... É a idéia<br />

pré-concebida suspeita de intolerância e aversão de uma raça em relação a outra, sem razão<br />

5


objetiva ou refletida. Normalmente, o preconceito vem a<strong>com</strong>panhado de uma atitude<br />

discriminatória .¨(LOPES, 2001,p. 18) É uma opinião pré-estabelecida, que é imposta pelo<br />

meio, época e educação. Ele regula <strong>as</strong> relações de uma pessoa <strong>com</strong> a sociedade”. ( Antonio<br />

Olimpio de Sant´Ana, 2001,p.62)<br />

2.2. A Situação Atual do <strong>Preconceito</strong> Racial<br />

O racismo, a <strong>discriminação</strong> e o preconceito são muito fortes, atualmente, m<strong>as</strong> também<br />

cresce o nível de consciência de que o racismo, a <strong>discriminação</strong> e o preconceito devem ser<br />

<strong>com</strong>batidos , denunciados e eliminados.<br />

As pesso<strong>as</strong> não herdam, geneticamente, idéi<strong>as</strong> de racismo, sentimentos de<br />

preconceitos e modo de exercitar a <strong>discriminação</strong>. As pesso<strong>as</strong> aprendem, desenvolvem ,<br />

tornam-se preconceituos<strong>as</strong> e discriminador<strong>as</strong> em relação ao outro.<br />

Segundo Agnes Heller Sant’Ana (2001), preconceito tem relação <strong>com</strong> o fenômeno<br />

social, no entanto, o coloca na esfera dos fenômenos psicológicos porque ele considera que o<br />

preconceito está b<strong>as</strong>eado em julgamentos de pesso<strong>as</strong> sobre outr<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, ou seja, encontra-<br />

se na esfera da consciência dos indivíduos, pois, ninguém é obrigado a gostar de alguém,<br />

m<strong>as</strong>, é obrigado a respeitar os seus direitos. O preconceituoso nem sempre fere os direitos, de<br />

fato, do outro, mesmo que não alimente grandes simpati<strong>as</strong> por esse outro. <strong>Preconceito</strong> é,<br />

portanto, uma opinião pré-estabelecida, que é imposta pelo meio, época e educação. Ele regula <strong>as</strong><br />

relações de uma pessoa <strong>com</strong> a sociedade. Ao regular, ele permeia toda a sociedade, tornando-a uma<br />

espécie de mediador de tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> relações human<strong>as</strong>.<br />

Ele pode ser definido, também, <strong>com</strong>o uma indisposição, um julgamento prévio,<br />

negativo, que se faz de pesso<strong>as</strong> estigmatizad<strong>as</strong> por estereótipos. (Sant’Ana, 2001, p. 54)<br />

Como a escola é parte integrante e muito importante na sociedade, cabe a ela a<br />

mudança, o <strong>com</strong>prometimento e a transformação desta sociedade n<strong>as</strong> questões sobre racismo,<br />

<strong>discriminação</strong> e preconceito pelos quais muitos de nossos alunos negros sofrem.<br />

O preconceito manifesta-se em brincadeir<strong>as</strong> ou apelidos alusivos a cor. E esta<br />

<strong>discriminação</strong> e preconceito vão a<strong>com</strong>panhando tanto homens quanto <strong>mulheres</strong> para o resto<br />

de su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong>, <strong>com</strong>o se ter uma cor, ser negro, fosse um defeito;daí os muitos afro-<br />

descendentes serem discriminados ao concorrerem a uma vaga de emprego no mundo do<br />

trabalho.<br />

6


Como professora negra e educadora que sou, senti a necessidade de pesquisar e tentar,<br />

na medida do possível, investigar se acontece <strong>discriminação</strong> e preconceito <strong>com</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong><br />

negr<strong>as</strong> que estudam n<strong>as</strong> Escola Estaduais, na modalidade de Ensino EJA . , no mundo do<br />

trabalho da cidade de Viamão, pois “ A maioria, 53%, dos jovens entre 15 e 24 anos , já<br />

estão fora da escola” (FRIGOTTO, 2004).<br />

“As estatístic<strong>as</strong> relativ<strong>as</strong> à inserção , tanto de crianç<strong>as</strong> quanto de<br />

jovens, no mundo do trabalho revelam, invariavelmente, uma desvantagem<br />

dos negros. A inserção precoce no mundo do trabalho atinge mais <strong>as</strong><br />

crianç<strong>as</strong> negr<strong>as</strong>... na faixa de 05 a 09 anos, eram afro- descendentes.”<br />

(FRIGOTTO, 2004)<br />

As Escol<strong>as</strong> em questão são três escol<strong>as</strong> estaduais, sendo uma escola de Ensino<br />

Fundamental, a qual chamei de Escola X e du<strong>as</strong> de Ensino Médio Y e Z , onde realizei minha<br />

pesquisa.<br />

“trabalho, na sua essência e generalidade, não é atividade laborativa ou<br />

emprego que o homem desempenha e que, de retorno, exerce uma influência<br />

sobre a sua psique, o seu habitus e o seu pensamento, isto é, sobre esfer<strong>as</strong><br />

parciais do ser humano. O trabalho é um processo que permeia todo o ser do<br />

homem e constitui a sua especificidade” (KOSIK, 1986)<br />

7


3. VEICULADORES DOS PRECONCEITOS RACIAIS<br />

3.1. <strong>Preconceito</strong> velado na escola<br />

Discriminar significa ¨fazer uma distinção¨. As discriminações mais <strong>com</strong>uns são <strong>as</strong><br />

sociais: racial, religiosa, sexual e étnica. Há du<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de discriminar:a primeira é a<br />

visível, reprovável de imediato;a segunda é a indireta, que diz respeito a prática de atos<br />

aparentemente neutros, m<strong>as</strong> que produzem efeitos diversos sobre determinados grupos.<br />

Existe a <strong>discriminação</strong> positiva e negativa. Negativa ocorre quando se dá um<br />

tratamento diferenciado a um grupo, ou categoria de pesso<strong>as</strong>, visando menosprezá-l<strong>as</strong>.Positiva<br />

ocorre quando tratar de ações que visam equiparar grupos ou pesso<strong>as</strong> que são discriminad<strong>as</strong><br />

negativamente, de modo a trazê-l<strong>as</strong> para a sociedade de uma forma igualitária. Como<br />

exemplo temos a ação afirmativa que procura minimizar <strong>as</strong> desigualdades existentes entre<br />

grupos discriminados negativamente ao longo da história, através da aplicação de polític<strong>as</strong><br />

públic<strong>as</strong>.<br />

Dizem que no Br<strong>as</strong>il já não existe mais racismo, preconceito ou <strong>discriminação</strong>.Ao<br />

mesmo tempo é impossível negar o alargamento d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sociais e econômic<strong>as</strong> sofrid<strong>as</strong><br />

pela sociedade no decorrer dos séculos. É necessário voltar ao período de colonização do País,<br />

para perceber, também, que há, através da história a perpetuação da <strong>discriminação</strong>. Em1888 a<br />

princesa Isabel declarou que os negros não eram obrigados a trabalhar de graça e serem<br />

humilhados de tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> form<strong>as</strong> pelos brancos.Hoje a realidade é que a escravidão está aí, não<br />

só para negros, m<strong>as</strong> para brancos, amarelos, vermelhos…e não há lei que a impeça. Ao<br />

contrário da escravidão dos<br />

negros, que era escancarada, esta é uma escravidão silenciosa, que qu<strong>as</strong>e não se<br />

percebe. Somos todos escravos. Queremos tomar um suco de laranja, m<strong>as</strong> a Coca Cola não<br />

deixa. Queremos sair e praticar um esporte, m<strong>as</strong> o Domingo Legal nos impede. Não adianta<br />

querer <strong>com</strong>prar um tênis simples: a sociedade, nossa terrível senhora, nos chicoteia <strong>com</strong><br />

artist<strong>as</strong> famosos usando Nike.<br />

Uma d<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong> de <strong>com</strong>bater estes preconceitos é através da valorização da cultura<br />

afro-br<strong>as</strong>ileira, de não permitir <strong>as</strong> brincadeir<strong>as</strong> <strong>com</strong>o: ele é um negro de ¨alma branca¨, isso é<br />

¨coisa de preto¨ou ¨serviço de preto¨, não permitir o uso da palavra sujo <strong>as</strong>sociada a negro,...<br />

8


Temos que conhecer... refletir e reformular alguns conceitos <strong>com</strong>o:<br />

O negro ¨veio¨para o Br<strong>as</strong>il...<br />

O negro escravo era indolente, preguiçoso...<br />

O negro era bem tratado...<br />

O negro era p<strong>as</strong>sivo em sua posição de escravo...<br />

3.2. Tabus históricos<br />

É impossível negar o alargamento d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sociais e econômic<strong>as</strong> sofrid<strong>as</strong> pela<br />

sociedade no decorrer dos séculos. A abolição da escravatura aconteceu, m<strong>as</strong>, percebe-se que<br />

houve, através da história, a perpetuação da <strong>discriminação</strong>. Em 1888 foi declarado que os<br />

negros não eram obrigados a trabalhar de graça e serem humilhados de tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> form<strong>as</strong> pelos<br />

brancos, m<strong>as</strong> não foram dad<strong>as</strong> condições para que esses negros tivessem <strong>com</strong>o trabalhar,<br />

onde morar, <strong>com</strong>o terem uma vida digna <strong>com</strong>o qualquer cidadão <strong>com</strong>um.É neste período que<br />

<strong>com</strong>eça a marginalização, a segregação e a condenação do negro a condições de desigualdade<br />

em nosso país. Durante o período escravista e no pós-abolição leis e norm<strong>as</strong> sociais<br />

impediam o acesso dos negros n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong>.<br />

A partir da lei do Ventre livre, criam-se patronatos agrícol<strong>as</strong> para acolher os filhos dos<br />

escravos e orfanatos para acolher <strong>as</strong> filh<strong>as</strong> de escravos. Certamente <strong>com</strong> o intuito de preparar<br />

trabalhadores e trabalhador<strong>as</strong> para trabalhos menos valorizados os quais, conseqüentemente,<br />

receberiam por estes serviços um salário mais baixo.<br />

Já se p<strong>as</strong>saram cem anos desde a abolição e o negro continua lutando por um espaço<br />

digno na sociedade. O que sobrou a esta etnia após a abolição foi o preconceito racial, a<br />

rejeição social, a desvalorização, a marginalidade. E a democracia racial é um mito na<br />

sociedade br<strong>as</strong>ileira porque este mito serve para m<strong>as</strong>carar o preconceito racial existente.<br />

Todos esses fatores contribuíram para dificultar a construção da identidade social do<br />

negro. A idéia que se tem de construção da identidade social é a da construção de um<br />

processo de socialização que <strong>com</strong>eça na infância e continua ao longo da vida, a partir do<br />

aprendizado de norm<strong>as</strong>, valores sejam eles culturais, religiosos, políticos. M<strong>as</strong> o problema<br />

dessa identificação da etnia negra reside no fato de que cada grupo por onde esse indivíduo<br />

vive recebe mensagens diferentes de cada grupo social que convive: a família o ensina que o<br />

respeito é recíproco, a auto-valorização, que <strong>as</strong> relações são de igualdade. Quando chega na<br />

9


escola ess<strong>as</strong> mensagens são tod<strong>as</strong> lembrad<strong>as</strong> nos discursos, m<strong>as</strong> no dia-a-dia não são<br />

aplicad<strong>as</strong>.<br />

3.3. O fant<strong>as</strong>ma do racismo<br />

Difundiu-se no Br<strong>as</strong>il a idéia de que não existe desigualdade racial, logo não temos<br />

exclusão social e muito menos o racismo.<br />

Tem-se a idéia de que os negros são pobres porque são a<strong>com</strong>odados ou até<br />

preguiçosos, e essa idéia não é só d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> de etnia branca. Muit<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> de etnia negra<br />

pensam a mesma coisa. Essa idéia foi implantada <strong>com</strong> a finalidade de justificar <strong>as</strong> graves<br />

injustiç<strong>as</strong> sociais:<br />

É uma estratégia de dominação secular reinventada:o mesmo mito que<br />

esconde o racismo reforça e cristaliza a exclusão do negro em nossa<br />

sociedade.” (AMARO, 2002).<br />

Na realidade br<strong>as</strong>ileira existe uma falsa democracia racial, pois muit<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong><br />

afirmam que <strong>as</strong> discriminações e preconceitos existentes no Br<strong>as</strong>il são contra os pobres, em<br />

geral, e não contra os negros. É um modo distorcido e equivocado de ver a questão.<br />

A <strong>discriminação</strong> é contra os pobres, m<strong>as</strong> quem são a maioria destes pobres? Por que a<br />

maioria da população negra permanece pobre? Por que <strong>as</strong> tax<strong>as</strong> de desemprego e subemprego<br />

são maiores entre os negros? E <strong>as</strong> taref<strong>as</strong> de menor remuneração e baixo prestígio social são<br />

realizad<strong>as</strong> por negros?<br />

Os indivíduos negros bem sucedidos no mundo do trabalho são muito poucos e isto<br />

vem a confirmar a regra geral da <strong>discriminação</strong> e do preconceito.<br />

N<strong>as</strong> escol<strong>as</strong>, o preconceito e a <strong>discriminação</strong> constituem um reflexo evidente do que<br />

ocorre no mundo d<strong>as</strong> relações sociais. Nos apelidos, n<strong>as</strong> anedot<strong>as</strong>, n<strong>as</strong> máxim<strong>as</strong> são sempre os<br />

negros que são os personagens feios, malandros, preguiçosos, inferiores. Muita gente acha<br />

ess<strong>as</strong> piad<strong>as</strong> inocentes ou engraçad<strong>as</strong> , m<strong>as</strong> é exatamente por parecerem inocentes e banais <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> não se dão conta de quanto preconceito racial existe.<br />

A permanência do aluno negro na escola é extremamente dificultada devido a vários<br />

fatores dentre eles a insuficiência da renda familiar que faz <strong>com</strong> que a criança negra vá mais<br />

cedo em busca do trabalho realizando biscates, se sujeitando a taref<strong>as</strong> adult<strong>as</strong>, às vezes até de<br />

semi-escravidão, trabalhando no tráfico de drog<strong>as</strong> ou prostituindo-se. Pode-se dizer que esses<br />

10


problem<strong>as</strong> são dos pobres em geral, m<strong>as</strong> são os negros que deixam a escola mais cedo que os<br />

brancos. São vários os problem<strong>as</strong> que excluem o aluno negro da escola. A rejeição por parte<br />

d<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> branc<strong>as</strong> reflete a carga de preconceito recebida no âmbito familiar e essa rejeição<br />

provoca danos gravíssimos à formação de auto-estima da criança negra, o que se refletirá na<br />

sua produção escolar e inevitávelmente influenciará na sua vida adulta e n<strong>as</strong> su<strong>as</strong><br />

possibilidades de entrar no mundo do trabalho, pois não terá <strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> condições de<br />

<strong>com</strong>petir a uma vaga num emprego.<br />

11


4. LEVANTAMENTOS DE DADOS ATRAVÉS DE PESQUISAS COM<br />

ALUNAS NEGRAS DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE VIAMÃO<br />

4.1. Pesquisa <strong>com</strong> <strong>as</strong> alun<strong>as</strong><br />

A) X1<br />

Escola Est. De Ens. Fund. X<br />

Não trabalha porque está difícil por não ter estudo. Tem que ter uma boa qualidade de<br />

ensino e um bom curso. Diz que o estudo <strong>com</strong> a EJA fica mais difícil porque não se aprende<br />

tudo que é necessário, é rápido. No ensino médio pretende fazer normal. Veio para a EJA<br />

por problem<strong>as</strong> na outra escola.<br />

Ao ser explicado o que é o <strong>PROEJA</strong> disse que não seria a solução para os estudos<br />

porque continuaria sendo uma EJA. O estudo na EJA é <strong>com</strong>plicado no mundo do trabalho.<br />

Para ela,a mulher negra no mundo do trabalho, mesmo tendo estudado, ainda é<br />

colocada na faxina, para servir cafezinho. E diz que existe preconceito para a mulher negra<br />

que estudou na EJA, pois acham que são “burr<strong>as</strong>.”<br />

Diz que nunca sofreu <strong>discriminação</strong> e nem preconceito.<br />

Acha que existe <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho por ser negra e pobre, m<strong>as</strong> a<br />

dificuldade maior de ser inserida no mundo do trabalho é a falta de estudo.<br />

Se houvesse a possibilidade do <strong>PROEJA</strong> na escola que estud<strong>as</strong>se gostaria de fazer um<br />

curso de contabilidade.<br />

B) X2<br />

durante o dia.<br />

trabalhar.<br />

Estuda na EJA porque quer trabalhar e <strong>com</strong> a idade dela não pode mais estudar<br />

Não trabalha. Já largou currículo e nada. Não sabe porquê não a chamam para<br />

Já trabalhou de babá. Quando <strong>com</strong>eçou a trabalhar era só para cuidar da criança, m<strong>as</strong><br />

depois a patroa <strong>com</strong>eçou a pedir para limpar a c<strong>as</strong>a e ficar depois do horário. Ficou nessa c<strong>as</strong>a<br />

um ano e três meses. A patroa devia pensar que eu era “burra”.<br />

Acha que a EJA só vai ajudá-la e que se tivesse <strong>PROEJA</strong> na escola a ajudaria a<br />

arrumar um emprego melhor.<br />

12


Atualmente trabalha num salão e ajuda a mãe n<strong>as</strong> faxin<strong>as</strong>.<br />

Acha que é difícil arrumar um emprego sendo mulher, negra e sem estudo”.<br />

Diz nunca ter sofrido preconceito e nem <strong>discriminação</strong>.<br />

Acredita que há <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho pelo fato de ser negra e pobre,<br />

m<strong>as</strong> a dificuldade maior de se inserir no mundo do trabalho é falta de estudos.<br />

p<strong>as</strong>sagem.<br />

No <strong>PROEJA</strong> gostaria de fazer um curso de Informática.<br />

C) X3<br />

Trabalhou <strong>com</strong>o divulgadora de uma pizzaria em POA e saiu porque não ganhava<br />

Está a procura de emprego, m<strong>as</strong> não achou nada até agora. Largou currículo, m<strong>as</strong> acha<br />

que pela idade não é chamada. Veio para a EJA porque quer trabalhar e acha que o estudo irá<br />

ajudá-la, pois terá mais conhecimento.<br />

Ao perguntar-lhe sobre o <strong>PROEJA</strong>, disse ser melhor estudar do que fazer um curso<br />

profissionalizante junto <strong>com</strong> o estudo.<br />

Acha que a mulher negra vai para a faxina e é discriminada ainda mais se fez EJA”.<br />

Diz nunca ter sofrido <strong>discriminação</strong> e nem preconceito.<br />

Acha que há <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho <strong>com</strong> a mulher por ser negra e pobre,<br />

m<strong>as</strong> o que dificulta a ser inserida no mundo do trabalho é a falta de estudos.<br />

Se houvesse o <strong>PROEJA</strong> em sua escola faria um curso de Informática.<br />

D) X4<br />

Já sofreu preconceito, m<strong>as</strong> <strong>com</strong> a filha no supermercado, pois uma senhora pensou que<br />

ela estava furando a fila. Já foi discriminada no serviço, pois colega que tinha mais estudo, era<br />

branca e foi promovida e ela era negra sem estudos, apesar de ter mais anos na empresa, mais<br />

experiência. Pesou o fato de ser negra e não ter estudo.Faz EJA porque teve que trabalhar<br />

muito cedo. Sempre quis estudar, m<strong>as</strong> a mãe não estudou e não valorizava, depois vieram os<br />

filhos. C<strong>as</strong>ou du<strong>as</strong> vezes e o segundo marido dá apoio para estudar. Ele fica <strong>com</strong> os filhos,<br />

quatro, dois do primeiro c<strong>as</strong>amento e dois desse.<br />

Acredita que o fato de ser mulher, negra e estudar na EJA não vai atrapalhar seu<br />

serviço. E o <strong>PROEJA</strong> só ajudaria”.<br />

13


Acha que existe <strong>discriminação</strong> <strong>com</strong> a mulher para ser inserida no mundo do trabalho<br />

por ser negra e pobre, m<strong>as</strong> a dificuldade maior de se inserir no mundo do trabalho é a falta de<br />

qualificação.<br />

A) Y1<br />

Escola Estadual de Ensino Médio Y<br />

Aluna muito simpática, cativante e brincalhona. Estudava à tarde, foi para a noite por<br />

causa da idade. Trabalhava numa creche onde foi indicada para o serviço.<br />

Acha que o estudo ajuda muito e que a EJA vai ajudá-la a arrumar um serviço decente.<br />

Já trabalhou numa firma, supermercado, <strong>com</strong>o auxiliar de limpeza.<br />

Acha que o fato e estudar na EJA e ser mulher e negra não vai interferir para que<br />

arrume um bom trabalho.<br />

Quanto ao <strong>PROEJA</strong>, acha melhor fazer um curso e aprender outr<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>, mais<br />

direcionado, melhor para ter mais chance na vida.<br />

Diz nunca ter sofrido preconceito e nem <strong>discriminação</strong>, m<strong>as</strong> acha que existe<br />

<strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho <strong>com</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>.<br />

Acha que <strong>as</strong> dificuldades para ser inserida no mundo do trabalho é a falta de estudos e<br />

se tivesse <strong>PROEJA</strong> na sua escola gostaria de fazer um curso de informática.<br />

B) Y2<br />

Sempre teve vontade ( sonho) de estudar “ recuperar o tempo perdido” e não teve<br />

oportunidade de terminar os estudos porque teve que <strong>com</strong>eçar a trabalhar; c<strong>as</strong>ou, vieram os<br />

filhos. Agora que se aposentou e surgiu a oportunidade de realizar “meu sonho”, “voltei a<br />

estudar e já estou terminando o T6 e” já penso na faculdade, se sobreviver até lá”. Diz ser<br />

mais fácil agora porque a EJA é mais rápido e é a noite.<br />

Essa aluna diz já tersofrido <strong>discriminação</strong> e preconceito e diz que “ se estudo tiver a<br />

cor não será considerada, m<strong>as</strong> a cor influencia. Nunca se deve pensar que tá bom. No emprego<br />

sempre será considerado o conhecimento e não a cor, m<strong>as</strong> temos que nos destacar para termos<br />

melhores empregos, cargos”<br />

Quanto ao <strong>PROEJA</strong>, acha fundamental a idéia. Se tivesse na sua escola faria um curso<br />

de Informática.<br />

14


Acha que existe <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho devido ao fato de se ser negra e<br />

pobre, por falta de qualificação e outra dificuldade é a idade.<br />

C) Y3<br />

Foi para a EJA porque queria arrumar um emprego, m<strong>as</strong> não conseguiu nada e aí<br />

<strong>com</strong>eçou a fazer um curso no SENAC de administração e já esta no curso há cinco meses.<br />

Está na EJA por ser mais rápido e isso a ajudará a arrumar um emprego logo, “ já terá<br />

estudado”<br />

Acha uma “boa” o <strong>PROEJA</strong> porque <strong>as</strong>sim termina os estudos mais rápido e ainda sai<br />

<strong>com</strong> um profissionalizante junto.<br />

Diz nunca ter sofrido preconceito e nem <strong>discriminação</strong>, m<strong>as</strong> acha que existe mais<br />

<strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho pelo fato de ser negra.<br />

Se tivesse <strong>PROEJA</strong> na sua escola faria um curso de contabilidade. Acredita que uma<br />

d<strong>as</strong> dificuldades para se inserir no mundo do trabalho seja a falta de qualificação.<br />

dia.<br />

D) Y4<br />

Diz nunca ter sofrido <strong>discriminação</strong> e nem preconceito.<br />

Está na EJA porque está fazendo um curso de Administração e Informática durante o<br />

Acha que <strong>as</strong> negr<strong>as</strong> são discriminad<strong>as</strong> para o mundo do trabalho, m<strong>as</strong> o que dificulta a<br />

mulher negra a se inserir no mundo do trabalho é a falta de qualificação e a falta de<br />

experiência.<br />

Fez uma entrevista numa empresa e diz ter sido eliminada por ser “mais escurinha”<br />

inclusive ouviu a funcionária disser “ ela é pretinha”<br />

Acredita que o fato de ser mulher, negra e estudar na EJA não a prejudica em nada<br />

para o mundo do trabalho.<br />

Quanto ao <strong>PROEJA</strong> “é bom” No mundo do trabalho ajudaria muito.<br />

15


A) Z1<br />

Esc. Est. De Ensino Médio Z<br />

Estuda na EJA porque o trabalho exige que tenha o Ensino Fundamental <strong>com</strong>pleto.<br />

Diz nunca ter sofrido <strong>discriminação</strong> nem preconceito, m<strong>as</strong> acha que há <strong>discriminação</strong><br />

no mundo do trabalho pelo fato de ser negra e a maior dificuldade de se inserir no mundo do<br />

trabalho é a idade.<br />

Faz cursos para se aperfeiçoar.<br />

Acha que a EJA vai auxiliá-la a arrumar um emprego melhor.<br />

Se houvesse o <strong>PROEJA</strong> em sua escola faria um curso de Informática.<br />

B) Z2<br />

Está estudando na EJA porque é uma exigência do serviço.<br />

Diz nunca ter sofrido <strong>discriminação</strong> e preconceito,<br />

Acha que existe preconceito e <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho por ser negra, m<strong>as</strong><br />

acha que uma d<strong>as</strong> dificuldades de se inserir no mundo do trabalho seja o fator idade.<br />

de emprego.<br />

Informática.<br />

Espera aprender cada vez mais na EJA e sabe que este estudo vai ajudá-la a melhorar<br />

Faz cursinho de Informática e se tivesse <strong>PROEJA</strong> na sua escola ,faria o curso de<br />

C) Z3<br />

Estuda na EJA porque teve que <strong>com</strong>eçar a trabalhar.<br />

Diz já ter sofrido <strong>discriminação</strong> e preconceito ao ser eliminada de uma seleção de<br />

emprego,pois a colega que foi contratada tinha o mesmo grau de estudo que ela, só que era<br />

branca. Acredita que para ser inserida no mundo do trabalho há <strong>discriminação</strong> ocorre pelo fato<br />

de ser pobre, m<strong>as</strong> uma d<strong>as</strong> dificuldades para ser inserida no mundo do trabalho é a falta de<br />

estudo por isso continua estudando.<br />

Se houvesse <strong>PROEJA</strong> na sua escola gostaria de fazer um curso de secretariado.<br />

16


4.2 Perfil d<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> da EJA<br />

Realizei entrevista <strong>com</strong> <strong>as</strong> alun<strong>as</strong> negr<strong>as</strong> que estudam na modalidade de ensino E.J.A.<br />

d<strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Estaduais de Ensino Fundamental e Médio “ X, Y e Z”, do Município de<br />

Viamão.<br />

Sabe-se que uma d<strong>as</strong> grandes dificuldades enfrentad<strong>as</strong> por ess<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong>, alun<strong>as</strong>, são<br />

a de <strong>as</strong>sumirem sua etnia, devido a toda a problemática que envolve o universo negro<br />

(<strong>discriminação</strong>, racismo, preconceito, ...), onde há dificuldade dessa mulher se encarar e<br />

<strong>as</strong>sumir seu papel de negra, numa sociedade que desvaloriza ou valoriza o ser humano pela<br />

sua cor.<br />

Um dos grandes problem<strong>as</strong> que enfrentados ao selecionar <strong>as</strong> alun<strong>as</strong> para realizar a<br />

pesquisa foi el<strong>as</strong> se <strong>as</strong>sumirem <strong>com</strong>o negr<strong>as</strong>.<br />

Ao apresentar-me n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> e explicar qual era o trabalho, qual a finalidade dele e o<br />

porquê de realizar esta pesquisa já enfrentei o preconceito e a <strong>discriminação</strong> por parte d<strong>as</strong><br />

alun<strong>as</strong> negr<strong>as</strong>.<br />

O número de alun<strong>as</strong> de cor negra visível n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> “ X, Y,Z” totalizam 76 alun<strong>as</strong>,<br />

m<strong>as</strong> <strong>com</strong>pareceram apen<strong>as</strong> 11 alun<strong>as</strong> que se <strong>as</strong>sumem <strong>com</strong>o negr<strong>as</strong> para realizarem a<br />

entrevista.<br />

Dest<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> , apen<strong>as</strong> 05 estão inserid<strong>as</strong> no mundo do trabalho.Estão estudando na<br />

EJA pelo fato de ser exigido escolaridade no emprego ou pela idade avançada.<br />

Na escola “X” existem 32 alun<strong>as</strong> de cor negra visível e se apresentaram apen<strong>as</strong> 04<br />

para me auxiliarem na entrevista.<br />

Dest<strong>as</strong> alun<strong>as</strong>, 03 dizem nunca terem sofrido <strong>discriminação</strong> e nem preconceito, m<strong>as</strong><br />

acreditam que no mundo do trabalho há <strong>discriminação</strong> pelo fato de serem negr<strong>as</strong> e pobres e<br />

que uma d<strong>as</strong> chances de se colocarem no mundo do trabalho é através do estudo e da<br />

qualificação profissional.Quando encontram trabalho é sempre de nível mais inferior, <strong>com</strong>o<br />

por exemplo, faxina, servir cafezinho e inclusive que a negra é “ burra”, ou seja, mesmo<br />

sendo negra e <strong>com</strong> estudo ainda terão muit<strong>as</strong> dificuldades.<br />

Perguntei-me se será que é por isso que não procuram fazer cursos de especialização?<br />

Um dado que me chamou a atenção ao entrevistá-l<strong>as</strong> é que apesar de acreditarem no<br />

estudo e na qualificação profissional, nenhuma del<strong>as</strong> faz cursos, procuram se qualificar para<br />

17


se inserirem no mundo do trabalho, m<strong>as</strong> tem uma visão maior da realidade no que se refere a<br />

<strong>discriminação</strong> e o preconceito.<br />

Na escola “Y” existem 26 alun<strong>as</strong> de cor negra visível e se apresentaram apen<strong>as</strong> 04<br />

alun<strong>as</strong> para me auxiliarem na entrevista. Inclusive aqui nesta escola só apareceram ess<strong>as</strong><br />

alun<strong>as</strong> porque a supervisora da escola convenceu-<strong>as</strong> a participarem da entrevista, pois se não<br />

fosse a intervenção da supervisora não teria aparecido nenhuma aluna.<br />

Nesta escola, apen<strong>as</strong> uma del<strong>as</strong> já sofreu <strong>discriminação</strong> e preconceito no trabalho.<br />

Quanto a <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho apen<strong>as</strong> uma atribui ter <strong>discriminação</strong><br />

por ser negra e pobre, du<strong>as</strong> atribuem a <strong>discriminação</strong> por serem negr<strong>as</strong> e uma, por ser pobre.<br />

Uma só del<strong>as</strong> acredita que no mundo do trabalho há <strong>discriminação</strong> por não ter estudo e <strong>as</strong><br />

outr<strong>as</strong> três acham que há <strong>discriminação</strong> pela falta de qualificação.<br />

O que me chamou a atenção nest<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> é que tod<strong>as</strong> fazem cursos de qualificação(<br />

Informática, contabilidade,...), fora o fato de estudarem na EJA. estão mais preocupad<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

qualificação profissional.<br />

Amb<strong>as</strong> acreditam que o fato e serem negr<strong>as</strong> e estudarem na EJA não deverá prejudicá-<br />

l<strong>as</strong> para se inserirem no mundo do trabalho, pois acreditam que se tiverem estudo poderão<br />

<strong>com</strong>petir de igual no mundo do trabalho.<br />

Na escola “Z” existem 18 alun<strong>as</strong> de cor negra visível e se apresentaram apen<strong>as</strong> 03<br />

alun<strong>as</strong> para me auxiliarem na pesquisa.<br />

Aqui também, apen<strong>as</strong> uma d<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> diz já ter sofrido <strong>discriminação</strong> e preconceito,<br />

m<strong>as</strong> amb<strong>as</strong> acreditam que há <strong>discriminação</strong> no mundo do trabalho por serem negr<strong>as</strong> e uma só<br />

acha que o que discrimina é ser pobre, m<strong>as</strong> uma d<strong>as</strong> dificuldades para se inserir no mundo do<br />

trabalho é a idade.<br />

Est<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> também estão preocupad<strong>as</strong> <strong>com</strong> a qualificação profissional e tod<strong>as</strong> fazem<br />

cursos de especialização para se colocarem melhor no mundo do trabalho.<br />

Uma realidade visível é que tod<strong>as</strong> sabem que existe preconceito e <strong>discriminação</strong> racial,<br />

m<strong>as</strong> não se dão conta que muit<strong>as</strong> vezes sofrem essa <strong>discriminação</strong> e preconceito pelo fato da<br />

dificuldade de se <strong>as</strong>sumirem <strong>com</strong>o negr<strong>as</strong>. O preconceito e a <strong>discriminação</strong> já <strong>com</strong>eça por aí.<br />

Ao <strong>com</strong>parar os dados sobre o preconceito e a <strong>discriminação</strong> que acontece no Br<strong>as</strong>il,<br />

tem-se uma clara idéia de <strong>com</strong>o tanto na escola “Y” e “Z” ess<strong>as</strong> alun<strong>as</strong> estão fora da<br />

realidade do universo negro no que diz respeito ao mundo do trabalho.<br />

18


Desconhecem os preconceitos e <strong>as</strong> discriminações que ocorrem neste mundo, m<strong>as</strong><br />

ainda têm esperança que o estudo, e por isso fazem cursos, seja de grande valia para enfrentar<br />

e <strong>com</strong>petir no mundo do trabalho.<br />

Já na escola “X” a realidade do mundo do trabalho é bem conhecida, pois já sofreram<br />

na “carne” <strong>as</strong> discriminações, m<strong>as</strong> também continuam lutando e na esperança que o estudo vá<br />

ajudá-l<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> sabem que mesmo <strong>com</strong> estudo ainda vai ser difícil uma colocação melhor no<br />

mundo do trabalho, m<strong>as</strong> não perdem a vontade e a garra de lutar por su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong>, por seus<br />

sonhos, por seu futuro.<br />

19


5. DIFERENÇA ENTRE TRABALHO E EMPREGO<br />

A maioria d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> <strong>as</strong>socia <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> trabalho e emprego <strong>com</strong>o se fossem a<br />

mesma coisa, não são. Apesar de estarem ligad<strong>as</strong>, ess<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> possuem significados<br />

diferentes. O trabalho é mais antigo que o emprego, o trabalho existe desde o momento que o<br />

homem <strong>com</strong>eçou a transformar a natureza e o ambiente ao seu redor, desde o momento que o<br />

homem <strong>com</strong>eçou a fazer utensílios e ferrament<strong>as</strong>. Por outro lado, o emprego é algo recente na<br />

história da humanidade. O emprego é um conceito que surgiu por volta da Revolução<br />

Industrial, é uma relação entre homens que vendem sua força de trabalho por algum valor,<br />

alguma remuneração, e homens que <strong>com</strong>pram essa força de trabalho pagando algo em troca,<br />

algo <strong>com</strong>o um salário. De acordo <strong>com</strong> a definição do Dicionário do Pensamento Social do<br />

Século XX, trabalho é o esforço humano dotado de um propósito e envolve a transformação<br />

da natureza através do dispêndio de capacidades físic<strong>as</strong> e mentais. É a relação, estável, e<br />

mais ou menos duradoura, que existe entre quem organiza o trabalho e quem realiza o<br />

trabalho. É uma espécie de contrato no qual o possuidor dos meios de produção paga pelo<br />

trabalho de outros, que não são possuidores do meio de produção.<br />

Ao longo da história da humanidade, variando <strong>com</strong> o nível cultural e <strong>com</strong> o estágio<br />

evolutivo de cada sociedade, o trabalho tem sido percebido de forma diferenciada. Como<br />

lembra Peter Drucker, o trabalho é tão antigo quanto o ser humano. No ocidente, a dignidade<br />

do trabalho foi falsamente louvada por muito tempo. O segundo texto grego mais antigo,<br />

cerca de cem anos mais novo que os poem<strong>as</strong> épicos de Homero, é um poema de Hesíodo (800<br />

a.C.), intitulado "Os Trabalhos e os Di<strong>as</strong>", que canta o trabalho de um agricultor. Porém, tanto<br />

no ocidente <strong>com</strong>o no oriente esses gestos de louvor eram puramente simbólicos. Nem<br />

Hesíodo, nem Virgílio, nem ninguém da época, estudou de fato o que um agricultor faz e,<br />

menos ainda, <strong>com</strong>o faz. O trabalho não merecia a atenção de pesso<strong>as</strong> educad<strong>as</strong>, ab<strong>as</strong>tad<strong>as</strong> ou<br />

<strong>com</strong> autoridade. Trabalho era o que os escravos faziam. M<strong>as</strong> o trabalho é mais do que um<br />

instrumento criador de riqueza (posição dos economist<strong>as</strong> clássicos). Além do valor intrínseco,<br />

serve também para expressar muito da essência do ser humano (o homo faber). O trabalho<br />

está intimamente relacionada à personalidade. (Quando dizemos que fulano é um carpinteiro,<br />

um médico ou um mecânico, estamos, de certa forma, definindo um ser a partir do trabalho<br />

que ele exerce).<br />

20


No <strong>com</strong>eço dos tempos, o trabalho era a luta constante para sobreviver (acepção<br />

bíblica). A necessidade de <strong>com</strong>er, de se abrigar, etc. era que determinava a necessidade de<br />

trabalhar. O avanço da agricultura, de seus instrumentos e ferrament<strong>as</strong> trouxe progressos ao<br />

trabalho. O advento do arado representou uma d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> revoluções no mundo do<br />

trabalho. Mais tarde, a Revolução Industrial viria a afetar também não só o valor e <strong>as</strong> form<strong>as</strong><br />

de trabalho, <strong>com</strong>o sua organização e até o aparecimento de polític<strong>as</strong> sociais. A necessidade de<br />

organizar o trabalho, principalmente quando envolve muit<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e ou muitos instrumentos<br />

e muitos processos, criou a idéia do "emprego". Nos tempos primitivos, da Babilônia, do<br />

Egito, de Israel, etc., havia o trabalho escravo e o trabalho livre; havia até o trabalho de<br />

artesãos e o trabalho de um rudimento de ciência, m<strong>as</strong> não havia o emprego, tal <strong>com</strong>o nós o<br />

<strong>com</strong>preendemos atualmente.<br />

Na Antiguidade, não existia a noção de emprego. A relação trabalhista que existia<br />

entre <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> era a relação escravizador-escravo. Podemos tomar <strong>as</strong> três civilizações mais<br />

influentes de sua época e que influenciaram o Ocidente <strong>com</strong> sociedades escravist<strong>as</strong>, a epípcia,<br />

a grega e a romana. Nessa época, todo o trabalho era feito por escravos. Havia artesãos, m<strong>as</strong><br />

estes não tinham patrões definidos, tinham clientes que pagavam por seus serviços. Os<br />

artesãos poderiam ser <strong>com</strong>parados aos profissionais liberais de hoje, já que trabalhavam por<br />

conta própria sem ter patrões. Para os artesãos não existe a relação empregador-empregado,<br />

portanto não podemos falar que o artesão tinha um emprego, apesar de ter uma profissão.<br />

Na Idade Média também não havia a noção de emprego. A relação trabalhista da<br />

época era a relação senhor-servo. A servidão é diferente da escravidão, já que os servos são<br />

ligeiramente mais livres que os escravos. Um servo podia sair d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> do senhor de terr<strong>as</strong> e<br />

ir para onde quisesse, desde que não tivesse dívid<strong>as</strong> a pagar para o senhor de terr<strong>as</strong>. Na<br />

servidão, o servo não trabalha para receber uma remuneração, m<strong>as</strong> para ter o direito de morar<br />

n<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> do seu senhor. Também não existe qualquer vínculo contratual entre os dois,<br />

mesmo porque senhor e servo eram analfabetos.<br />

Na Idade Moderna <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> <strong>com</strong>eçam a mudar. Nessa época, existiam vári<strong>as</strong> empres<strong>as</strong><br />

familiares que vendiam uma pequena produção artesanal, todos os membros da família<br />

trabalhavam juntos para vender produtos nos mercados; não podemos falar de emprego nesse<br />

c<strong>as</strong>o. Além d<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> familiares, havia oficin<strong>as</strong> <strong>com</strong> muitos aprendizes que recebiam<br />

moradia e alimentação em troca e, oc<strong>as</strong>ionalmente, alguns trocados. É por essa época que<br />

<strong>com</strong>eça a se esboçar o conceito de emprego. Com o advento da Revolução Industrial, êxodo<br />

21


ural, concentração dos meios de produção, a maior parte da população não tinha nem<br />

ferrament<strong>as</strong> para trabalhar <strong>com</strong>o artesãos. Sendo <strong>as</strong>sim, restava às pesso<strong>as</strong> oferecer seu<br />

trabalho <strong>com</strong>o moeda de troca. É nessa época que a noção de emprego toma sua forma. O<br />

conceito de emprego é característico da Idade Contemporânea.<br />

Discorremos sobre o trabalho e <strong>as</strong> relações trabalhist<strong>as</strong> tendo em vista os quatro<br />

períodos históricos, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea para<br />

que fic<strong>as</strong>se visível a lógica da divisão da História em quatro períodos. Cada período histórico<br />

é marcado por uma organização sócio-político-econômico-cultural própria. Temos motivos<br />

para crer que esse fim de século XX é o início de um período de transição de onde p<strong>as</strong>saremos<br />

da idade contemporânea para uma Idade pós-Contemporânea. As mudanç<strong>as</strong> que vêm<br />

ocorrendo graç<strong>as</strong> à tecnologia, principalmente a tecnologia da <strong>com</strong>putação-tele<strong>com</strong>unicação,<br />

estão modificando <strong>as</strong> relações econômic<strong>as</strong> entre empres<strong>as</strong>, empregados, governos, países,<br />

língu<strong>as</strong>, cultur<strong>as</strong> e sociedades. Ess<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> parecem estar caminhando para uma situação<br />

tão diferente da existente no final da Segunda Guerra Mundial, que podemos a<br />

individualidade que somos e a natureza que desenvolvemos (nutridos, subnutridos, abrigados,<br />

sem teto, sem terra etc.) estão subordinad<strong>as</strong> ou resultam de determinad<strong>as</strong> relações sociais que<br />

os seres humanos <strong>as</strong>sumem historicamente (GRAMSCI, 1978) os seres humanos criam e<br />

recriam, pela ação consciente do trabalho sua própria existência (LUKÁCS, 1978). É a partir<br />

dessa elementar constatação que Marx destaca uma dupla centralidade do trabalho quando<br />

concebido <strong>com</strong>o valor de uso: criador e mantenedor da vida humana em su<strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> e<br />

históric<strong>as</strong> necessidades e, desse <strong>as</strong>pecto, <strong>com</strong>o princípio educativo:<br />

O trabalho, <strong>com</strong>o criador de valores de uso, <strong>com</strong>o trabalho útil, é<br />

indispensável à existência do homem - quaisquer que sejam <strong>as</strong> form<strong>as</strong> de<br />

sociedade- é necessidade natural e terna de efetivar o intercâmbio material<br />

entre o homem e a natureza, e portanto, de manter a vida humana (MARX,<br />

1982p.50).<br />

Nessa concepção de trabalho também está implícito o conceito ontológico de<br />

propriedade - intercâmbio material entre o ser humano e a natureza, para poder manter a vida<br />

humana. Ontológico, é o direito do ser humano, em relação e acordo solidário <strong>com</strong> os demais<br />

seres humanos, de apropriar-se da (o que implica, também, transformar, criar e recriar,<br />

mediado pelo conhecimento, ciência e tecnologia) da natureza e dos bens que produz, para<br />

produzir e reproduzir a sua existência, primeiramente física e biológica, m<strong>as</strong> não só, também,<br />

cultural, social, simbólica e afetiva. Nesse sentido, para Marx, o trabalho <strong>as</strong>sume du<strong>as</strong><br />

22


dimensões distint<strong>as</strong> e sempre articulad<strong>as</strong>: trabalho <strong>com</strong>o mundo da necessidade e trabalho<br />

<strong>com</strong>o mundo da liberdade. O primeiro está subordinado à resposta d<strong>as</strong> necessidades<br />

imperativ<strong>as</strong> do ser humano enquanto um ser histórico-natural.<br />

É a partir da resposta a ess<strong>as</strong> necessidades imperativ<strong>as</strong> que o ser humano pode fruir do<br />

trabalho propriamente humano - criativo e livre.<br />

Nos últimos três séculos o trabalho esteve regulado pel<strong>as</strong> relações sociais capitalist<strong>as</strong>.<br />

Trata-se de um modo de produção social da existência humana que foi se estruturando, desde<br />

o século XI, em contraposição ao modo de produção feudal, e que se caracteriza pela<br />

emergência da acumulação de capital e, em seguida, mediante esta acumulação, pelo<br />

surgimento da propriedade privada dos meios e instrumentos de produção. Para constituir-se,<br />

todavia, necessitava da abolição da escravidão, já que era fundamental dispor de trabalhadores<br />

duplamente livres: não proprietários de meios e instrumentos de produção e também não<br />

propriedade de senhores ou donos. Ess<strong>as</strong> du<strong>as</strong> prerrogativ<strong>as</strong> os tomava em proletários que<br />

necessitariam imperativamente vender seu tempo de trabalho. É dessa relação social<br />

<strong>as</strong>simétrica que se constituem <strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses sociais fundamentais: proprietários privados dos<br />

meios e instrumentos de produção e os não proprietários - trabalhadores que necessitam<br />

vender sua força de trabalho para sobreviver. Daqui é que surge o trabalho/emprego, o<br />

trabalho <strong>as</strong>salariado. Tanto a propriedade quanto o trabalho,a ciência e a tecnologia , sob o<br />

capitalismo, deixam de ter centralidade <strong>com</strong>o valores de uso, resposta a necessidades vitais de<br />

todos os sereshumanos. Sua centralidade fundamental se transforma em valor de troca, <strong>com</strong> o<br />

fim de gerar mais lucro ou mais capital. A distinção do trabalho e da propriedade e tecnologia<br />

<strong>com</strong>o valores de uso e de troca é fundamental para entendermos os desafios que se<br />

apresentam à humanidade nos di<strong>as</strong> atuais.<br />

23


6. GÊNERO E ETNIA NO MUNDO DO TRABALHO<br />

O gênero e a raça não são questões de minoria e que p<strong>as</strong>sam desapercebid<strong>as</strong> no Br<strong>as</strong>il;<br />

são, sim, questões muito importantes sobre a sociedade br<strong>as</strong>ileira. Dentro do número da<br />

população negra br<strong>as</strong>ileira, <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> representam 70% da população que trabalham no<br />

Br<strong>as</strong>il. As <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> são <strong>as</strong> que mais sofrem <strong>com</strong> a <strong>discriminação</strong>, pois representam a<br />

menor taxa de participação no mundo do trabalho, menor taxa de ocupação em setores<br />

importantes da economia, maior taxa de desemprego e ainda têm o menor rendimento<br />

financeiro.O mundo do trabalho está cada vez mais restrito para todos , m<strong>as</strong>, para <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong><br />

afro-descendentes, essa inclusão, inserção, neste mundo do trabalho está ainda mais restrito.<br />

Diante desta realidade, pergunta-se <strong>com</strong>o fica a mulher negra que não teve condições<br />

de estudar no período da infância e da adolescência e que hoje tem de estudar na modalidade<br />

de Educação de Jovens e Adultos, E. J. A., e se inserir neste mundo do trabalho tão restrito e<br />

cheio de preconceitos e discriminatório?<br />

[...] na faixa dos 10 aos 14 anos, 61, 3% , dos 15 aos 17anos devido aos<br />

estágios e ingresso no mercado forma de trabalho, a proporção cai para 53%<br />

de negros. (FRIGOTTO, 2004)<br />

Com ess<strong>as</strong> condições, a mulher negra/afro-descendente tem que ampliar seus<br />

horizontes n que diz respeito a <strong>com</strong>petitividade do mundo do trabalho e para que isso<br />

aconteça tem que se especializar, tem que ter mais opções de estudo e é fundamental que uma<br />

política pública estável voltada para a EJA contemple a elevação da escolaridade <strong>com</strong><br />

profissionalização no sentido de contribuir para a integração sócio-laboral dessa mulher negra<br />

que está se inserindo no mundo do trabalho. Ela tem de ter condições e ter acesso a uma<br />

formação profissional de qualidade.<br />

No Br<strong>as</strong>il, os preconceitos raciais/étnicos ocorrem em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses e sustentam<br />

uma forma de dominação que se apóia unicamente na diferença da cor da pele e/ou da cultura.<br />

No mundo do trabalho, preconceito é algo tão <strong>com</strong>um que p<strong>as</strong>sa despercebido na<br />

maioria d<strong>as</strong> vezes. Do mesmo modo que <strong>as</strong> relações de gênero, <strong>as</strong> relações raciais ocorrem no<br />

cotidiano do trabalho e resultam em uma intricada rede de poder e dominação, que vem de<br />

cima para baixo e retorna fortalecida pel<strong>as</strong> sustentações que se dão de baixo para cima.<br />

O preconceito é uma atitude, uma predisposição positiva ou negativa, que não<br />

significa necessariamente uma ação, m<strong>as</strong> prepara para que a ação possa ocorrer. Essa ação é a<br />

24


<strong>discriminação</strong>, capaz de beneficiar ou prejudicar, social e psicologicamente, pesso<strong>as</strong> e/ou<br />

grupos.<br />

Por muitos anos se privilegiou <strong>as</strong> relações entre cl<strong>as</strong>ses, sem incorporar gênero e raça,<br />

<strong>com</strong>o subprodutos da proletarização do trabalho, estreitando a visão d<strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong><br />

negativ<strong>as</strong> sofrid<strong>as</strong> pelos trabalhadores negros e negr<strong>as</strong>, e pela sociedade integralmente.<br />

Os números que apresentados a seguir demonstram a segmentação do racismo e do<br />

sexismo no mercado de trabalho br<strong>as</strong>ileiro. A pergunta que se faz é a seguinte:<br />

negr<strong>as</strong>?<br />

A que atribuir tais números? Apen<strong>as</strong> à exploração capitalista?<br />

E o papel do Estado e dos empregadores em todo o contexto da saga de negros e<br />

Segundo o CEERT – Centro de Estudos d<strong>as</strong> Relações do Trabalho e Desigualdades de<br />

São Paulo , pelo menos 6 em cada 10 c<strong>as</strong>os de <strong>discriminação</strong> racial registrados em delegaci<strong>as</strong><br />

são de <strong>discriminação</strong> no trabalho, especialmente nos processos de admissão e demissão .<br />

O requisito da boa aparência é um dos mecanismos criados para impedir o acesso de<br />

negros e negr<strong>as</strong> a determinados postos de trabalho.<br />

Negr<strong>as</strong> e negros, quando empregados, ocupam os piores postos de trabalho. E mesmo<br />

que tenham o mesmo nível de estudo, ocupando o mesmo posto, ainda <strong>as</strong>sim a remuneração é<br />

menor.<br />

6.1. Índices de homens e <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> e não-negr<strong>as</strong><br />

Na escala da <strong>discriminação</strong>, a mulher negra ocupa a pior posição, pois fica depois do<br />

homem negro e da mulher branca.<br />

O peso da cor, ou, melhor dizendo, o preço da cor, recorta o mundo do trabalho de<br />

cima a baixo, cria divisões, segrega e traça <strong>as</strong> linh<strong>as</strong> da diferença <strong>com</strong> que<br />

negros e brancos são tratados, formando um verdadeiro mapa discriminatório<br />

racial no trabalho.<br />

Observação: Neste contexto vale explicar que a Etnia negra são os negros e os pardos<br />

e Etnia não-negra são os brancos e os amarelos.<br />

25


6.2. Índices de desemprego por sexo<br />

Desemprego por sexo - RM Porto Alegre (2005)<br />

40,0%<br />

30,0%<br />

20,0%<br />

10,0%<br />

0,0%<br />

Homens<br />

negros<br />

Mulheres<br />

negr<strong>as</strong><br />

Homens<br />

não-negros<br />

Mulheres<br />

não-negr<strong>as</strong><br />

Fonte: Fonte: IPE –INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA<br />

O rendimento é o indicador fundamental em relação à qualidade de vida e trabalho.<br />

Este parâmetro define, por si, a situação social de um indivíduo ou um grupo e seus<br />

diferenciais indicam, de forma concreta, <strong>com</strong>o a riqueza se distribui em uma sociedade.<br />

Os rendimentos dos trabalhadores e trabalhador<strong>as</strong> negros são sistematicamente<br />

inferiores aos rendimentos dos não-negros, quaisquer que sejam <strong>as</strong> situações ou os atributos<br />

considerados. Expressam o conjunto de fatores que reúne desde a entrada precoce no mercado<br />

de trabalho, a maior inserção da população negra nos setores menos dinâmicos da economia, a<br />

elevada participação em postos de trabalho precários e em atividades não-qualificad<strong>as</strong> e <strong>as</strong><br />

dificuldades que cercam <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> no trabalho.<br />

São o indicador, por excelência, dos resultados da <strong>com</strong>binação da pobreza, da<br />

desigualdade e da <strong>discriminação</strong> na constituição da sociedade br<strong>as</strong>ileira.<br />

Em primeiro lugar, é necessário considerar que os patamares de rendimentos da<br />

população em geral são baixos. M<strong>as</strong>, a desigualdade que caracteriza a situação dos negros<br />

mostra-se <strong>com</strong> b<strong>as</strong>tante clareza quando <strong>com</strong>parados os rendimentos entre <strong>as</strong> du<strong>as</strong> etni<strong>as</strong>.<br />

Os resultados permitem concluir que a <strong>discriminação</strong> racial sobrepõe-se à<br />

<strong>discriminação</strong> por sexo, <strong>com</strong>binando-se a esta para constituir o cenário de aguda dificuldade<br />

em que vivem <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>, atingid<strong>as</strong> por amb<strong>as</strong>. No entanto, <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> dest<strong>as</strong> tax<strong>as</strong><br />

entre <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> e não-negr<strong>as</strong> são consideravelmente menores do que entre os<br />

homens.<br />

26


6.3 Salário por sexo, segundo a etnia, em reais<br />

Tomando <strong>com</strong>o b<strong>as</strong>e os homens não-negros, que estão no topo da escala de<br />

rendimentos, <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> são b<strong>as</strong>tante acentuad<strong>as</strong> não apen<strong>as</strong> no que se refere aos homens,<br />

m<strong>as</strong> especialmente às <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>, que apresentam os níveis mais baixos de rendimentos<br />

em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> situações.<br />

R$ 1.400,00<br />

R$ 1.200,00<br />

R$ 1.000,00<br />

R$ 800,00<br />

R$ 600,00<br />

R$ 400,00<br />

R$ 200,00<br />

R$ 0,00<br />

Rendimento Médio Mensal - 2007<br />

Homens<br />

negros<br />

Mulheres<br />

negr<strong>as</strong><br />

Fonte: IPE –INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA<br />

Homens<br />

brancos<br />

Mulheres<br />

branc<strong>as</strong><br />

O salário de <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> é menor e el<strong>as</strong> são mais afetad<strong>as</strong> pelo desemprego do<br />

que outros extratos da sociedade br<strong>as</strong>ileira. A duplicidade de discriminações – de raça e de<br />

gênero – torna-se inquestionável.<br />

6.4 Inserção dos negros no mundo do trabalho<br />

As condições atuais do mundo de trabalho br<strong>as</strong>ileiro e tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> questões que afetam <strong>as</strong><br />

possibilidades de ingresso, permanência e crescimento profissional da população negra<br />

conjugam-se <strong>as</strong>sim, para <strong>com</strong>por o quadro de extrema gravidade que caracteriza sua inserção<br />

no mundo do trabalho.<br />

27


Indicadores São Paulo Salvador Recife<br />

Distrito<br />

Federal<br />

Belo<br />

Horizonte<br />

Porto<br />

Alegre<br />

Tax<strong>as</strong> de Participação 63,2% 60,8% 54,2% 62,6% 58,5% 56,0%<br />

Tax<strong>as</strong> de Desemprego 22,7% 25,7% 23,0% 20,5% 17,8% 20,6%<br />

Ocupados em Situações Vulneráveis<br />

(1)<br />

Ocupados em Postos de Trabalho Não<br />

Qualificados (2)<br />

Rendimento Médio Mensal dos<br />

Ocupados<br />

42,4% 46,2% 44,7% 35,4% 40,3% 38,2%<br />

28,6% 25,6% 24,2% 25,2% 27,00% 30,6%<br />

R$ 512,00 R$403,00 R$ 363,00 R$ 776,00 R$ 444,00 R$<br />

409,00<br />

Salário por Hora R$ 2,94 R$ 2,88 R$ 2,46 R$ 5,06 R$ 2,88 R$ 2,43<br />

Assalariados <strong>com</strong> Jornada Superior à<br />

Legal<br />

45,3% 41,7% 50,0% 28,00% 43,5% 38,9%<br />

Fonte: DIEESE/SEADE e entidades regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Elaboração:<br />

DIEESE<br />

Not<strong>as</strong>: (1)Inclui os <strong>as</strong>salariados sem carteira de trabalho <strong>as</strong>sinada, os autônomos que trabalham para o público, os<br />

trabalhadores familiares não remunerados e os empregados domésticos<br />

(2) Inclui <strong>as</strong> atividades não qualificad<strong>as</strong> do grupo de ocupação da execução e <strong>as</strong> atividades de serviços gerais no<br />

grupo de ocupação de apoio<br />

Obs.: Raça negra: pretos e pardos; raça não-negra: brancos e amarelos<br />

A situação apresentada por estes dados revela um <strong>as</strong>pecto crucial da desigualdade<br />

social no Br<strong>as</strong>il: ela resulta não apen<strong>as</strong> sobre a injusta distribuição da riqueza gerada e de<br />

polític<strong>as</strong> econômic<strong>as</strong> que beneficiam grupos privilegiados desta sociedade, em detrimento dos<br />

trabalhadores. Está calcada também sobre diferenciações e <strong>com</strong>portamentos discriminatórios<br />

disseminados por todo o país.<br />

A justiça social, a igualdade de oportunidades, a cidadania plena, enfim, <strong>as</strong> condições<br />

que ofereçam a todos uma igual distribuição d<strong>as</strong> possibilidades de obter seu sustento e a plena<br />

realização de su<strong>as</strong> capacidades p<strong>as</strong>sam, necessariamente, pela construção da igualdade racial<br />

no Br<strong>as</strong>il.<br />

28


7. TIPO DE TRABALHO/EMPREGO OFERECIDO NO MUNICÍPIO<br />

7.1. Fich<strong>as</strong> de Entrevist<strong>as</strong> n<strong>as</strong> agênci<strong>as</strong> de emprego e d<strong>as</strong> Empres<strong>as</strong> de Viamão<br />

(Empresa de transportes de Viamão, Mumu Ltda , SINE)<br />

A pesquisa consistiu em entrevistar <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> responsáveis pela seleção dos<br />

empregados que irão trabalhar n<strong>as</strong> seguintes empres<strong>as</strong> no município de Viamão: Empresa de<br />

Transportes Coletivo Viamão Ltda, situada na av, Bento Gonçalves nº1157 e Mumu<br />

Alimentos Ltda , situada na av. Senador Salgado Filho nº 4756.<br />

Entrei em contato por telefone <strong>com</strong> a pessoa responsável pela seleção dos futuros<br />

funcionários da Fábrica Mumu e fui informada que a seleção é feita por uma agência de<br />

empregos, situada na av. Liberdade, no bairro Santa Isabel. Ao solicitar o endereço, a pessoa<br />

em questão não soube me fornecer o endereço e ainda me informou que a agência não existia<br />

mais, m<strong>as</strong> que eles contratavam pesso<strong>as</strong> sem estudo “para ajudá-l<strong>as</strong>”, pois é “difícil sua<br />

colocação no mundo do trabalho, já que tem funcionários que nem a 4ª série, 5º ano, tem<br />

<strong>com</strong>pleta. Ao questionar <strong>com</strong>o essa pessoa foi selecionada para estar trabalhando na empresa,<br />

disse que já tinha trabalhado na empresa e que por isso foi chamado novamente. Então<br />

perguntei se também selecionavam <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> por Q.I. , Quem Indica ? , Prontamente disse<br />

que não e pediu desculp<strong>as</strong>, pois estava muito ocupado e desligou. Tentei novamente falar <strong>com</strong><br />

essa pessoa por telefone e não estava no momento. Fui à Fábrica e descobri que a pessoa <strong>com</strong><br />

quem tive contato não trabalhava mais lá e pedi para conversar <strong>com</strong> a pessoa que ficou no seu<br />

lugar, m<strong>as</strong> também não se encontrava no momento. A secretária que me atendeu pediu meu<br />

número de telefone para entrar em contato, m<strong>as</strong> “ até o presente momento não foi possível o<br />

contato.”<br />

Já a tentativa de entrevistar a pessoa responsável pela seleção na Empresa de<br />

Transporte Coletivo já foi mais burocrática do que na Fábrica Mumu. Ao entrar em contato<br />

<strong>com</strong> a Empresa, por telefone, para agendar a entrevista fui encaminhada para a psicóloga da<br />

empresa, que solicitou que eu mand<strong>as</strong>se meu projeto para ser avaliado.<br />

A princípio fiquei muito preocupada, pois se mand<strong>as</strong>se o projeto onde quero verificar<br />

se existe preconceito e <strong>discriminação</strong> <strong>com</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> que estudam na EJA para se<br />

inserirem no mundo do trabalho, tinha certeza que não me receberiam.<br />

Pensei num primeiro momento em mudar o projeto para poder realizar a entrevista.<br />

29


Ao conversar <strong>com</strong> minha orientadora ela fez eu ver que não posso partir de dados não<br />

reais para atender meu objetivo e que ao não aceitarem meu projeto e nem quererem que eu<br />

os entrevist<strong>as</strong>se já demonstraria o preconceito e a <strong>discriminação</strong> que existe na empresa.<br />

Mandei por e-mail o projeto real. Fiquei à disposição da Empresa e mandando e-mails<br />

para saber <strong>com</strong>o estaria a avaliação. Depois de qu<strong>as</strong>e um mês de expectativa, recebi um e-<br />

mail avisando-me que a Empresa estava em auditoria e que não poderiam me receber. Mandei<br />

outro e-mail agradecendo a atenção a mim considerada.<br />

Viamão.<br />

Est<strong>as</strong> atitudes só vêm reforçar o que realmente acontece no mundo do trabalho em<br />

Esses teriam sido os p<strong>as</strong>sos a serem trilhados, se tivesse havido a possibilidade d<strong>as</strong><br />

entrevist<strong>as</strong> n<strong>as</strong> empres<strong>as</strong>.<br />

7.2. Entrevista <strong>com</strong> <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> responsáveis pel<strong>as</strong> entrevist<strong>as</strong> <strong>com</strong> os candidatos<br />

Na última década, a situação econômica dos negros, <strong>com</strong>parada a dos brancos,<br />

manteve-se praticamente a mesma. Pesquisa da OIT (Organização Internacional do Trabalho)<br />

mostra que um negro recebe, em média, 50% do salário de um branco no Br<strong>as</strong>il. Em 1992, a<br />

taxa equivalia a 51%.<br />

O dado esconde uma <strong>discriminação</strong> maior quando se leva em conta o aumento no grau<br />

de escolaridade dos negros. Em 92, 23% dos negros economicamente ativos e maiores de 16<br />

anos tinham mais de sete anos de estudo. Em 2001, eram 35%.Isso quer dizer que os<br />

trabalhadores negros não conseguiram melhorar de vida, mesmo <strong>com</strong> o aumento da<br />

escolaridade.s diferenç<strong>as</strong> de remuneração entre os grupos analisados vêm caindo ao longo dos<br />

anos. Entre 1996 e 2007, segundo o Ipea, <strong>as</strong> desigualdades de renda entre brancos e negros<br />

caíram 13% e entre homens e <strong>mulheres</strong>, 10%.<br />

Entre os 10% mais pobres da população em 2007, cerca de 67,9% eram negros. Essa<br />

proporção cai para 21,9% no grupo dos 10% mais ricos. Já no grupo do 1% mais rico da<br />

população, somente 15,3% eram indivíduos negros. Já 41,7%, da população negra<br />

encontrava-se abaixo da linha da pobreza, enquanto 20% da população branca situava-se na<br />

mesma situação. No c<strong>as</strong>o de indigência, 16,9% da população negra recebe menos de um<br />

quarto de salário mínimo per capita por mês, contra 6,6% dos brancos.<br />

30


Embora o desemprego atinja mais <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong>, a pesquisa destaca que el<strong>as</strong> vêm<br />

aumentando a participação no mundo do trabalho nos últimos anos. Em 1996, 46% da<br />

população feminina estava ocupada ou à procura de emprego, m<strong>as</strong> essa proporção subiu para<br />

52,4% em 2007.<br />

Os maiores percentuais de vulnerabilidade da mulher negra no universo dos<br />

trabalhadores ocupados se explicam, sobretudo, pela intensidade de sua presença no emprego<br />

doméstico. Esta atividade, tipicamente feminina, é desvalorizada aos olhos de grande parte da<br />

sociedade, caracterizando –se pelos baixos salários e elevad<strong>as</strong> jornad<strong>as</strong>, além de altos índices<br />

de contratação à margem da legalidade e ausência de contribuição à previdência.<br />

O rendimento- hora da mulher negra corresponde a não mais do que 61,2% daquele<br />

recebido pelos homens não-negros, enquanto os homens não-negros recebiam, por hora, R$<br />

8,08 em média, <strong>as</strong> negr<strong>as</strong> recebiam R$ 3,17, o que representava apen<strong>as</strong> 39,2% do rendimento<br />

médio por eles recebidos.<br />

7.3. O que o Município de Viamão oferece no mundo do trabalho para ess<strong>as</strong><br />

alun<strong>as</strong> negr<strong>as</strong>/ afro-descendentes da EJA<br />

Viamão é um município grande em extensão e largura, m<strong>as</strong> pouco desenvolvido<br />

economicamente. Grande parte da população viamonense trabalha em Porto Alegre, por isso é<br />

conhecida <strong>com</strong>o cidade- dormitório. A cidade tem pouc<strong>as</strong> loj<strong>as</strong> <strong>com</strong>erciais e <strong>as</strong> empres<strong>as</strong> de<br />

grande porte são <strong>as</strong> Empresa de Transportes Coletivo Viamão, Fábrica Mumu, a cervejaria<br />

Brahma e a fábrica de pão Bread’s Indústria de Alimentos.<br />

A maioria d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> que ali residem, buscam emprego em Porto Alegre por ter mais<br />

chances de colocação no mundo do trabalho. O município oferece empregos em<br />

supermercados, padari<strong>as</strong>, lancheri<strong>as</strong>, farmáci<strong>as</strong> e serviços tercerizados,..<br />

Dentro deste quadro econômico precário, do município, ainda encontramos barreir<strong>as</strong><br />

para <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>, que estudam na EJA para se inserirem no mundo do trabalho. Ainda<br />

nos deparamos <strong>com</strong> preconceitos e discriminações <strong>com</strong> <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> e muito mais <strong>com</strong> <strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>.<br />

O <strong>PROEJA</strong> viria ajudar esses estudantes da EJA, principalmente <strong>as</strong> alun<strong>as</strong> negr<strong>as</strong>,<br />

através dos cursos con<strong>com</strong>itantes, pois estariam mais habilitad<strong>as</strong> para o tipo de serviço<br />

31


oferecido no município, <strong>com</strong>o por exemplo, secretariado, informática, contabilidade, ... que<br />

são do interesse dos alunos, sejam negros ou não negros, <strong>mulheres</strong> ou homens.<br />

7.4. Análise de dados – Tabulação e Gráficos<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Distribuição Étnica Escola X<br />

Negros Brancos Pardos Indígen<strong>as</strong> Não<br />

declarados<br />

As escol<strong>as</strong> Y e Z não aparecem, n<strong>as</strong> fich<strong>as</strong> de matrícul<strong>as</strong>, a etni<strong>as</strong> dos alunos.<br />

8. DOCUMENTO BASE DO <strong>PROEJA</strong><br />

Homens<br />

Mulheres<br />

O Documento B<strong>as</strong>e tem o enfoque na integração entre o ensino médio e os cursos<br />

técnicos de nível médio, enquanto estes têm por objetivos fazer uma reflexão e propor<br />

fundamentos a cerca da integração entre a formação inicial e continuada de trabalhadores e os<br />

anos finais do ensino fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos – EJA.<br />

O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional <strong>com</strong> a Educação Básica<br />

na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – <strong>PROEJA</strong> abrange cursos que, <strong>com</strong>o o<br />

próprio nome diz, proporcionam formação profissional <strong>com</strong> escolarização para jovens e<br />

adultos. Os cursos podem ser oferecidos de forma integrada ou con<strong>com</strong>itante. A forma<br />

integrada é aquela em que o estudante tem matrícula única e o curso possui currículo único,<br />

ou seja, a formação profissional e a formação geral são unificad<strong>as</strong>. Na forma con<strong>com</strong>itante, o<br />

curso é oferecido em instituições distint<strong>as</strong>, isto é, em uma escola o estudante terá aul<strong>as</strong> dos<br />

<strong>com</strong>ponentes da educação profissional e em outra do ensino médio ou do ensino fundamental,<br />

32


conforme o c<strong>as</strong>o. As instituições que optarem pela forma con<strong>com</strong>itante devem celebrar<br />

convênios de inter<strong>com</strong>plementaridade, visando o planejamento e o desenvolvimento de<br />

projetos pedagógicos unificados.<br />

A idade mínima para acessar os cursos do <strong>PROEJA</strong> é de 18 anos na data da matrícula<br />

e não há limite máximo.<br />

Ainda contribuíram para sua criação, os debates sobre <strong>as</strong> possibilidades d<strong>as</strong><br />

instituições federais de educação tecnológica atuarem na educação de jovens e adultos. Ess<strong>as</strong><br />

negociações já vinham se desenvolvendo desde o seminário nacional “Ensino Médio:<br />

Construção Política”, maio de 2003, e os três encontros nacionais de educação profissional<br />

acontecidos, em 2004, n<strong>as</strong> cidades de Natal, São Paulo e Curitiba. Também no relatório anual<br />

2004 do Tribunal de Cont<strong>as</strong> da União (TCU), encontra-se relatada a necessidade de maior<br />

participação dess<strong>as</strong> instituições n<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> de inclusão social. No entanto, a implantação do<br />

programa trazia consigo diversos desafios políticos e pedagógicos. Como construir um<br />

currículo integrado considerando <strong>as</strong> especificidades desse público tão diverso; quais os<br />

instrumentos para reconhecimento dos saberes adquiridos em espaços não-formais de<br />

aprendizagem; <strong>com</strong>o articular <strong>as</strong> diferentes polític<strong>as</strong> sociais e qual o papel da escola pública<br />

são algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> questões trazid<strong>as</strong> pelo Proeja<br />

8.1. Surgimento e Finalidade do <strong>PROEJA</strong><br />

Decreto nº. 5.478, de 24/06/2005, e denominado inicialmente <strong>com</strong>o Programa de<br />

Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e<br />

Adultos, o <strong>PROEJA</strong> revelava a decisão governamental de atender à demanda de jovens e<br />

adultos pela oferta de educação profissional técnica de nível médio, da qual, em geral, são<br />

excluídos, bem <strong>com</strong>o, em muit<strong>as</strong> situações, do próprio ensino médio, representado um<br />

aumento substantivo de jovens na EJA, todos <strong>com</strong> escolaridade descontínua, não-concluintes<br />

<strong>com</strong> êxito do ensino fundamental, obrigados a abandonar o percurso, ou pel<strong>as</strong> reiterad<strong>as</strong><br />

repetênci<strong>as</strong>, indicador<strong>as</strong> do próprio “frac<strong>as</strong>so”, ou pel<strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong> de <strong>com</strong>por renda familiar,<br />

insuficiente para a sobrevivência, face ao desemprego crescente, à informalidade e a<br />

degradação d<strong>as</strong> relações de trabalho, ao decréscimo do número de postos.<br />

Nessa exclusão aos estudos também está muito presente <strong>as</strong> condições geracionais, de<br />

gênero, de relações étnico-raciais , os fundantes da formação humana e dos modos <strong>com</strong>o se<br />

33


produzem <strong>as</strong> identidades sociais. Nesse sentido, outr<strong>as</strong> categori<strong>as</strong> para além da de<br />

“trabalhadores”, devem ser considerad<strong>as</strong> pelo fato de serem el<strong>as</strong> constituintes d<strong>as</strong> identidades<br />

e não se separarem, nem se dissociarem dos Entretanto, mesmo ness<strong>as</strong> situações excepcionais,<br />

é fundamental que seja elaborado um projeto político-pedagógico único, a partir da ação<br />

conjunta d<strong>as</strong> instituições que estiverem colaborando no sentido de viabilizar a respectiva<br />

oferta. Nesse projeto político-pedagógico interinstitucional único, é imprescindível que se<br />

incorporem, ao máximo possível, <strong>as</strong> concepções, princípios e diretrizes estabelecid<strong>as</strong> para a<br />

oferta integrada.<br />

Dessa forma, no c<strong>as</strong>o da con<strong>com</strong>itância, <strong>as</strong> instituições que estiverem colaborando,<br />

elaborarão de forma conjunta e prévia ao desenvolvimento da oferta, o respectivo projeto<br />

político-pedagógico. É nessa perspectiv<strong>as</strong> que o <strong>PROEJA</strong> vem dar mais subsídios, condições<br />

de luta, de igualdade para a mulher negra/afro-descendente ter condições de <strong>com</strong>petir no<br />

mundo do trabalho.<br />

[...]. Significa que buscamos enfocar o trabalho <strong>com</strong>o princípio<br />

educativo, no sentido de superar a dicotomia trabalho, trabalho/ manual,<br />

intelectual, de incorporar a dimensão intelectual ao trabalho produtivo de<br />

formar trabalhadores capazes de atuar <strong>com</strong>o dirigentes e cidadãos.<br />

(CIAVATTA, 2005, p. 84).<br />

8.2. Integração do currículo de formação inicial e integrada<br />

Ciavatta (2005), ao se propor a refletir sobre o que é ou que pode vir a ser a formação<br />

integrada pergunta: que é integrar? A autora remete o termo, então, ao seu sentido de<br />

<strong>com</strong>pletude, de <strong>com</strong>preensão d<strong>as</strong> partes no seu todo ou da unidade no diverso, o que implica<br />

tratar a educação <strong>com</strong>o uma totalidade social, isto é, n<strong>as</strong> múltipl<strong>as</strong> mediações históric<strong>as</strong> que<br />

concretizam os processos educativos. No c<strong>as</strong>o da formação integrada ou do ensino médio<br />

integrado ao ensino técnico, o que se quer <strong>com</strong> a concepção de Educação integrada é que a<br />

educação geral se torne parte inseparável da educação profissional em todos os campos onde<br />

se dá a preparação para o trabalho: seja nos processos produtivos, seja nos processos<br />

educativos <strong>com</strong>o a formação inicial, <strong>com</strong>o o ensino técnico, tecnológico ou superior. Significa<br />

que buscamos enfocar o trabalho <strong>com</strong>o princípio educativo, no sentido de superar a dicotomia<br />

trabalho manual / trabalho intelectual, de incorporar a dimensão intelectual ao trabalho<br />

produtivo, de formar trabalhadores capazes de atuar <strong>com</strong>o dirigentes e cidadãos.A idéia de<br />

formação integrada sugere superar o ser humano dividido historicamente pela divisão social<br />

34


do trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou planejar. Trata-se de superar<br />

a redução da preparação para o trabalho ao seu <strong>as</strong>pecto operacional, simplificado, escoimado<br />

dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-tecnológica e na sua apropriação<br />

histórico-social. Como formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem<br />

e ao adulto trabalhador o direito a uma formação <strong>com</strong>pleta para a leitura do mundo e para a<br />

atuação <strong>com</strong>o cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política.<br />

Formação que, nesse sentido, supõe a <strong>com</strong>preensão d<strong>as</strong> relações sociais subjacentes a<br />

todos os fenômenos. (Ciavatta, 2005, p. 85)<br />

8.3 Legislação: documento b<strong>as</strong>e do <strong>PROEJA</strong><br />

A b<strong>as</strong>e legal do Programa é o Decreto no 5.840, de 13 de julho de 2006. Outros atos<br />

normativos que fundamentam o <strong>PROEJA</strong> são: a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, o<br />

Decreto no 5.154, de 23 de julho de 2004, os Pareceres CNE/CEB nº 16/99, nº 11/2000 e nº<br />

39/2004 e <strong>as</strong> Resoluções CNE/CEB nº 04/99 e nº 01/2005.<br />

Estão entre os fundamentos do programa <strong>as</strong> discussões sobre a integração entre<br />

formação geral e formação profissional, travad<strong>as</strong> desde os anos 80 e tendo <strong>com</strong>o marco a<br />

promulgação do Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004.<br />

DECRETO Nº 5.840, DE 13 DE JULHO DE 2006.<br />

Institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional <strong>com</strong><br />

a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - <strong>PROEJA</strong>, e dá outr<strong>as</strong><br />

providênci<strong>as</strong>.<br />

.<br />

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV,<br />

da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 35 a 42 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de<br />

1996, e no Decreto no 5.154, de 23 de julho de 2004, no art. 6o, inciso III, da Lei no 8.080, de 19 de<br />

setembro de 1990, e no art. 54, inciso XV, da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994,<br />

DECRETA:<br />

Art. 1o Fica instituído, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação<br />

Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - <strong>PROEJA</strong>, conforme<br />

<strong>as</strong> diretrizes estabelecid<strong>as</strong> neste Decreto.<br />

§ 1o O <strong>PROEJA</strong> abrangerá os seguintes cursos e program<strong>as</strong> de educação profissional:<br />

35


I - formação inicial e continuada de trabalhadores; e<br />

II - educação profissional técnica de nível médio.<br />

§ 2o Os cursos e program<strong>as</strong> do <strong>PROEJA</strong> deverão considerar <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> dos jovens e<br />

adultos atendidos, e poderão ser articulados:<br />

I - ao ensino fundamental ou ao ensino médio, objetivando a elevação do nível de escolaridade<br />

do trabalhador, no c<strong>as</strong>o da formação inicial e continuada de trabalhadores, nos termos do art. 3 o , § 2<br />

o , do Decreto n o 5.154, de 23 de julho de 2004; e<br />

II - ao ensino médio, de forma integrada ou con<strong>com</strong>itante, nos termos do art. 4 o , § 1 o incisos<br />

I e II, do Decreto n o 5.154, de 2004.<br />

§ 3o O <strong>PROEJA</strong> poderá ser adotado pel<strong>as</strong> instituições públic<strong>as</strong> dos sistem<strong>as</strong> de ensino<br />

estaduais e municipais e pel<strong>as</strong> entidades privad<strong>as</strong> nacionais de serviço social, aprendizagem e<br />

formação profissional vinculad<strong>as</strong> ao sistema sindical (“Sistema S”), sem prejuízo do disposto no § 4o<br />

deste artigo.<br />

§ 4o Os cursos e program<strong>as</strong> do <strong>PROEJA</strong> deverão ser oferecidos, em qualquer c<strong>as</strong>o, a partir da<br />

construção prévia de projeto pedagógico integrado único, inclusive quando envolver articulações<br />

interinstitucionais ou intergovernamentais.<br />

§ 5o Para os fins deste Decreto, a rede de instituições federais de educação profissional<br />

<strong>com</strong>preende a Universidade Federal Tecnológica do Paraná, os Centros Federais de Educação<br />

Tecnológica, <strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Técnic<strong>as</strong> Federais, <strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Agrotécnic<strong>as</strong> Federais, <strong>as</strong> Escol<strong>as</strong> Técnic<strong>as</strong><br />

Vinculad<strong>as</strong> às Universidades Federais e o Colégio Pedro II, sem prejuízo de outr<strong>as</strong> instituições que<br />

venham a ser criad<strong>as</strong>.<br />

Art. 2o As instituições federais de educação profissional deverão implantar cursos e<br />

program<strong>as</strong> regulares do <strong>PROEJA</strong> até o ano de 2007.<br />

§ 1o As instituições referid<strong>as</strong> no caput disponibilizarão ao <strong>PROEJA</strong>, em 2006, no mínimo dez<br />

por cento do total d<strong>as</strong> vag<strong>as</strong> de ingresso da instituição, tomando <strong>com</strong>o referência o quantitativo de<br />

matrícul<strong>as</strong> do ano anterior, ampliando essa oferta a partir do ano de 2007.<br />

§ 2o A ampliação da oferta de que trata o § 1o deverá estar incluída no plano de<br />

desenvolvimento institucional da instituição federal de ensino.<br />

Art. 3o Os cursos do <strong>PROEJA</strong>, destinados à formação inicial e continuada de trabalhadores,<br />

deverão contar <strong>com</strong> carga horária mínima de mil e quatrocent<strong>as</strong> hor<strong>as</strong>, <strong>as</strong>segurando-se<br />

cumulativamente:<br />

I - a destinação de, no mínimo, mil e duzent<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> para formação geral; e<br />

II - a destinação de, no mínimo, duzent<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> para a formação profissional.<br />

Art. 4o Os cursos de educação profissional técnica de nível médio do <strong>PROEJA</strong> deverão contar<br />

<strong>com</strong> carga horária mínima de du<strong>as</strong> mil e quatrocent<strong>as</strong> hor<strong>as</strong>, <strong>as</strong>segurando-se cumulativamente:<br />

36


I - a destinação de, no mínimo, mil e duzent<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> para a formação geral;<br />

II - a carga horária mínima estabelecida para a respectiva habilitação profissional técnica; e<br />

III - a observância às diretrizes curriculares nacionais e demais atos normativos do Conselho<br />

Nacional de Educação para a educação profissional técnica de nível médio, para o ensino fundamental,<br />

para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos.<br />

Art. 5o As instituições de ensino ofertantes de cursos e program<strong>as</strong> do <strong>PROEJA</strong> serão<br />

responsáveis pela estruturação dos cursos oferecidos e pela expedição de certificados e diplom<strong>as</strong>.<br />

Parágrafo único. As áre<strong>as</strong> profissionais escolhid<strong>as</strong> para a estruturação dos cursos serão,<br />

preferencialmente, <strong>as</strong> que maior sintonia guardarem <strong>com</strong> <strong>as</strong> demand<strong>as</strong> de nível local e regional, de<br />

forma a contribuir <strong>com</strong> o fortalecimento d<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> de desenvolvimento socioeconômico e<br />

cultural.<br />

Art. 6o O aluno que demonstrar a qualquer tempo aproveitamento no curso de educação<br />

profissional técnica de nível médio, no âmbito do <strong>PROEJA</strong>, fará jus à obtenção do correspondente<br />

diploma, <strong>com</strong> validade nacional, tanto para fins de habilitação na respectiva área profissional, quanto<br />

para atestar a conclusão do ensino médio, possibilitando o prosseguimento de estudos em nível<br />

superior.<br />

Parágrafo único. Todos os cursos e program<strong>as</strong> do <strong>PROEJA</strong> devem prever a possibilidade de<br />

conclusão, a qualquer tempo, desde que demonstrado aproveitamento e atingidos os objetivos desse<br />

nível de ensino, mediante avaliação e reconhecimento por parte da respectiva instituição de ensino.<br />

Art. 7o As instituições ofertantes de cursos e program<strong>as</strong> do <strong>PROEJA</strong> poderão aferir e<br />

reconhecer, mediante avaliação individual, conhecimentos e habilidades obtidos em processos<br />

formativos extra-escolares.<br />

Art. 8o Os diplom<strong>as</strong> de cursos técnicos de nível médio desenvolvidos no âmbito do<br />

<strong>PROEJA</strong> terão validade nacional, conforme a legislação aplicável.<br />

Art. 9o O a<strong>com</strong>panhamento e o controle social da implementação nacional do <strong>PROEJA</strong> será<br />

exercido por <strong>com</strong>itê nacional, <strong>com</strong> função consultiva.<br />

Parágrafo único. A <strong>com</strong>posição, <strong>as</strong> atribuições e o regimento do <strong>com</strong>itê de que trata o caput<br />

deste artigo serão definidos conjuntamente pelos Ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego.<br />

Art. 10. O § 2 o do art. 28 do Decreto n o 5.773, de 9 de maio de 2006, p<strong>as</strong>sa a vigorar <strong>com</strong> a<br />

seguinte redação:<br />

“§ 2o A criação de cursos de graduação em direito e em medicina, odontologia e psicologia,<br />

inclusive em universidades e centros universitários, deverá ser submetida, respectivamente, à<br />

manifestação do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Br<strong>as</strong>il ou do Conselho Nacional de<br />

Saúde, previamente à autorização pelo Ministério da Educação.” (NR)<br />

Art. 11. Fica revogado o Decreto n o 5.478, de 24 de junho de 2005.<br />

37


Art. 12. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.<br />

Br<strong>as</strong>ília, 13 de julho de 2006; 185o da Independência e 118o da República.<br />

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA<br />

Fernando Haddad<br />

8.4. Educação X Trabalho: Uma nova perspectiva<br />

O <strong>PROEJA</strong> considera três campos da Educação: a formação para a atuação no mundo<br />

do trabalho; o modo próprio de fazer a educação, considerando o sujeito da EJA; e a formação<br />

para o exercício da cidadania.<br />

No <strong>PROEJA</strong> o sujeito é educando, é adulto, é trabalhador e é o cidadão, é o sujeito que<br />

existe, que produz e reproduz vida humana e consequentemente é a nossa sociedade viva. O<br />

papel do <strong>PROEJA</strong> é unir isso tudo e dar condições a esse educando de adquirir mais<br />

conhecimento cientifico e tecnológico; abstrair mais conhecimento, capacitá-lo a redigir e<br />

interpretar divers<strong>as</strong> leitur<strong>as</strong> de mundo; capacitá-lo a tomar decisões, iniciativ<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> <strong>com</strong><br />

conhecimentos significativos levando sempre em consideração os seus saberes.<br />

Essa educação integrada do <strong>PROEJA</strong> proporcionará a esse educando uma reconstrução<br />

de conhecimentos, de atitudes, uma reinserção digna no mundo do trabalho.<br />

O <strong>PROEJA</strong> Formação Inicial e Continuada visa a formação inicial e continuada para o<br />

trabalho, visa qualificar o educando para se inserir no mundo do trabalho.<br />

É claro que para construir um currículo integrado é necessário algum<strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong>,<br />

reorganização curricular onde seja redimensionado e redirecionado os conteúdos escolares,<br />

integrando-o aos saberes de formação geral <strong>com</strong> os de formação profissional. Assim permite-<br />

se que o educando aproprie-se d<strong>as</strong> informações, desenvolva habilidades e postura que lhe<br />

possibilitem uma melhor qualidade de vida.<br />

38


9. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Apesar de todos os problem<strong>as</strong> sociais enfrentados pela mulher ao longo dos anos, ela<br />

vem se firmando junto a essa sociedade e <strong>com</strong>o se não b<strong>as</strong>t<strong>as</strong>se <strong>as</strong> dificuldades da <strong>as</strong>censão da<br />

mulher, ainda há alguns dificultadores para esta <strong>as</strong>censão.<br />

Um desses fatores é o ético, pois a mulher negra além de ser considerada sexo frágil<br />

ainda há o fato de ser negra, o que a faz ter que lutar o dobro para conseguir seu lugar nesta<br />

sociedade.<br />

A situação da mulher negra hoje é apen<strong>as</strong> um prolongamento dos acontecimentos do<br />

período negro (a escravidão), <strong>com</strong> algum<strong>as</strong> ressalv<strong>as</strong>, porque a mulher continua em último<br />

lugar na escala social, continua em desvantagem, <strong>com</strong>o por exemplo: <strong>as</strong> negr<strong>as</strong> apresentam<br />

menor nível de escolaridade, trabalham mais e seu rendimento é menor na escala salarial.<br />

Um dos muitos fatores que faz <strong>com</strong> que esta mulher se sinta inferiorizada é, muit<strong>as</strong><br />

vezes, não se reconhecer <strong>com</strong>o negra, é o ter que <strong>com</strong>eçar a trabalhar desde cedo, ainda<br />

criança, é a pobreza, é a marginalidade a qual é submetida.Est<strong>as</strong> situações contribuem para<br />

que a mulher negra interiorize a condição de se achar inferior.<br />

Temos que levar em consideração e não esquecer que ser negra no Br<strong>as</strong>il constitui um<br />

real impecilho na trajetória da busca da cidadania e da <strong>as</strong>censão social. Agnes Heller<br />

Sant’Ana (2001) 1 fez relações do preconceito <strong>com</strong> o fenômeno social, m<strong>as</strong> o coloca na esfera<br />

dos fenômenos psicológicos porque acha que o preconceito está b<strong>as</strong>eado em julgamentos de<br />

pesso<strong>as</strong> sobre outr<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, ou seja, está ligado a esfera da consciência dos indivíduos, m<strong>as</strong><br />

é obrigado a respeitar os direitos de cada um. Para Agnes Sant’Ana o preconceito é uma<br />

opinião pré-estabelecida, que é imposta ou pelo meio, ou pela época, ou pela educação.Ele<br />

regula <strong>as</strong> relações de uma pessoa <strong>com</strong> a sociedade. Ao regular, ele permeia toda a sociedade,<br />

fazendo <strong>com</strong> que pesso<strong>as</strong>, previamente, façam um julgamento, negativo, e criem estereótipos.<br />

(SANT’ANA, p.54). M<strong>as</strong> isto acontece sem que <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, aparentemente, se dêem conta,<br />

pois o racismo, a <strong>discriminação</strong> e o preconceito a primeira vista são disfarçados porque <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> não são racist<strong>as</strong>, não são preconceituos<strong>as</strong> e nem discriminam ninguém.<br />

“O preconceito é uma atitude que viola, no mínimo três norm<strong>as</strong> básic<strong>as</strong>: racionalidade,<br />

afeição e justiça” (LECINA, 2003, p.32).<br />

Já o racismo é uma ideologia, um processo pelo qual um grupo étnico é taxado de<br />

diferente ou inferior no que tange aos recursos culturais e materiais. É o princípio de<br />

39


inferiorização de um grupo, sendo antes de tudo desigual e injusto. M<strong>as</strong> o termo racismo só é<br />

usado quando nos referimos a crenç<strong>as</strong> e ações, diminuindo a contribuição cultural de uma<br />

raça, fazendo <strong>com</strong> que apareça mais a contribuição de uma cultura dominante, tornando-a<br />

superior e mostrando, <strong>com</strong>o por exemplo a cultura negra, esta cultura <strong>com</strong>o atr<strong>as</strong>ada.<br />

Como esse grupo já se sente inferior, desvalorizado, desde a escravidão, não percebe<br />

que são vítim<strong>as</strong> do racismo e acabam se auto-rejeitando, rejeitando seu igual, tendo ódio<br />

contra si, se inferiorizando, desagregando-se individualmente e desmobilizando-se<br />

coletivamente, desacreditando-se, perdendo seu valor, sua garra, não criticando nada,<br />

<strong>as</strong>sumindo o papel de inferior e sua consciência crítica acaba desaparecendo no meio social.<br />

“Inclusive uma d<strong>as</strong> justificativ<strong>as</strong> para a escravidão: é que os afro-descendentes e<br />

africanos se adaptaram melhor ao regime de exploração” ( LENCINA, p.47).<br />

Quando buscam negar a humanidade de outra pessoa estamos praticando racismo.<br />

Quando ouvem piad<strong>as</strong> racist<strong>as</strong>,ouvem expressões <strong>com</strong> <strong>as</strong> quais apresentam o ser humano<br />

inferior a humanidade, isto é racismo. O racismo transforma <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> físic<strong>as</strong>: cor da pele,<br />

textura do cabelo, forma do nariz em desigualdade.<br />

A educação contribuir e <strong>as</strong>segurar os direitos sociais e individuais d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> negr<strong>as</strong><br />

porque é na escola que temos que mostrar que essa pseudo-inferioridade não deve existir. E<br />

deve <strong>com</strong>eçar já nos primeiros anos escolares. Temos que mostrar uma nova visão de mundo.<br />

Lutar para mostrar o valor desta raça, pois é <strong>com</strong> a chegada dos negros que nossa cultura<br />

aprimorou-se. Noss<strong>as</strong> raízes são negr<strong>as</strong>, mostrar que o negro tem seu valor e parar <strong>com</strong> o faz<br />

de conta que o racismo, o preconceito e a <strong>discriminação</strong> não existem porque isto é visto<br />

dentro d<strong>as</strong> sal<strong>as</strong> de aul<strong>as</strong> e deve ser <strong>com</strong>batido e que, acima de tudo, os negros tem que<br />

conhecer sua história, lutar por seus direitos e se valorizar e que mesmo <strong>com</strong> su<strong>as</strong><br />

dessemelhanç<strong>as</strong>, todos são iguais entre si.<br />

Todos tem direito de acesso aos bens, aos serviços de que a sociedade dispõe, de<br />

usufruí-los e criar outros.<br />

A idéia de racismo de preconceito e de <strong>discriminação</strong> vem da família, do trabalho, da<br />

escola, da religião. Por isto aprendemos a ser ou tornar-se preconceituosos e discriminadores.<br />

No que se refere ao mundo do trabalho a situação dos trabalhadores negros, em<br />

especial d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, pode-se ter uma aproximação da realidade<br />

vivenciada pelos afro-descendentes no Br<strong>as</strong>il. As condições sociais que permeiam a maioria<br />

da população negra no país, já que é protagonista de índices desfavoráveis no que se refere à<br />

40


pobreza, educação, trabalho, qualidade de vida, saúde etc. Atualmente, “os setores<br />

econômicos <strong>com</strong> <strong>as</strong> piores condições laborais (em termos de remuneração, de estabilidade, de<br />

proteção e <strong>as</strong>sim por diante) contam <strong>com</strong> acentuada participação da parcela negra da força de<br />

trabalho” (IPEA, 2008, p. 13).<br />

Est<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> fazem parte do cotidiano de muitos negros e negr<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileiros<br />

desde a abolição da escravidão.<br />

No Br<strong>as</strong>il, aos libertos não foram dad<strong>as</strong> nem escol<strong>as</strong>, nem terr<strong>as</strong>, nem<br />

empregos. p<strong>as</strong>sada a euforia da libertação muitos ex-escravos regressaram a<br />

su<strong>as</strong> fazend<strong>as</strong>, ou a fazend<strong>as</strong> vizinh<strong>as</strong> para retomar o trabalho por baixo<br />

salário” (José Murilo de Carvalho, 2006, p. 52).<br />

As conseqüênci<strong>as</strong> disso foram duradour<strong>as</strong> para a população negra. Até hoje essa<br />

população ocupa posição inferior em todos os indicadores de qualidade de vida.<br />

É a parcela menos educada da população, <strong>com</strong> os empregos menos<br />

qualificados, os menores salários, os piores índices de <strong>as</strong>censão social<br />

(CARVALHO, 2006, p. 52).<br />

De forma mais abrangente a população br<strong>as</strong>ileira e em especial a população negra, os<br />

níveis de desemprego, precariedade e informalidade no trabalho têm feito parte do cotidiano<br />

dos br<strong>as</strong>ileiros atingindo de maneira significante <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> que têm sua situação<br />

agravada por dois fatores determinantes: gênero e raça. Fatores estes que influenciam demais<br />

na busca por de oportunidades no mundo do trabalho.<br />

As <strong>mulheres</strong> estão cada vez mais <strong>as</strong>sumindo <strong>as</strong> responsabilidades de seus lares e <strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>, até mesmo por conta do seu histórico relacionado ao trabalho, fazem parte<br />

desta estatística. Logo, poder contar <strong>com</strong> acesso ao emprego de qualidade configura maiores<br />

chances de superação da pobreza. Ter ou não acesso a um emprego decente demonstra o<br />

quanto à sociedade avança ou retrocede diante os desafios postos para se conquistar eqüidade<br />

social. O trabalho descente para a população negra, sobretudo, para <strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>,<br />

configura-se <strong>com</strong>o a efetivação da cidadania que embora esteja <strong>as</strong>segurada pel<strong>as</strong> leis não se<br />

dá de maneira plena para todos. Para enfrentar tal problemática a política social é tida <strong>com</strong>o<br />

um mecanismo de amortecimento social na medida que tenta reduzir <strong>as</strong> desigualdades da<br />

situação d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> no mundo do trabalho.<br />

Diferentes indicadores mostram um país racista e sexista. Uma "escada" <strong>com</strong>eça n<strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>, p<strong>as</strong>sa por homens negros e <strong>mulheres</strong> branc<strong>as</strong>, até chegar aos homens<br />

brancos - no "último andar" da pirâmide de exclusão. No Br<strong>as</strong>il, 21,4% d<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong><br />

41


são empregad<strong>as</strong> doméstic<strong>as</strong> e apen<strong>as</strong> 23% del<strong>as</strong> têm carteira <strong>as</strong>sinada - contra 12,5% d<strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> branc<strong>as</strong> que são empregad<strong>as</strong> doméstic<strong>as</strong>, sendo que 30% del<strong>as</strong> têm registro em<br />

carteira."As <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> ganham apen<strong>as</strong> 30% do que ganham os homens brancos",<br />

informou a pesquisadora do IPEA, Luana Pinheiro. Ela mostrou, em gráficos, que existe uma<br />

"escada" que <strong>com</strong>eça n<strong>as</strong> <strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong>, p<strong>as</strong>sa por homens negros e <strong>mulheres</strong> branc<strong>as</strong>, até<br />

chegar aos homens brancos - no "último andar". O baixo acesso dos negros à escolaridade e a<br />

serviços de saúde é outro dado alarmante. De acordo <strong>com</strong> os dados levantados, 46,27% d<strong>as</strong><br />

<strong>mulheres</strong> negr<strong>as</strong> nunca p<strong>as</strong>saram por nenhum exame clínico de mama - contra 28,73% de<br />

<strong>mulheres</strong> branc<strong>as</strong>. "Vale lembrar que quando falamos de negros e <strong>mulheres</strong>, não estamos<br />

falando de minori<strong>as</strong>", ressalta a coordenadora do Programa de Igualdade de Gênero e Raça do<br />

Unifem, Vera Soares, lembrando que este segmento representa mais de 50% da população do<br />

Br<strong>as</strong>il.<br />

A importância e o desafio de implantar uma educação que tenha o trabalho <strong>com</strong>o<br />

princípio educativo, ou seja, “pelo entendimento de que homens e <strong>mulheres</strong> produzem sua<br />

condição humana pelo trabalho, ação transformadora no mundo, de si, para si e para outrem”<br />

(BRASIL, 2006, p.35) Não se trata de apen<strong>as</strong> adaptar um currículo ao outro, m<strong>as</strong> de viabilizar<br />

possibilidades e integrar currículo <strong>com</strong> profissionalizante, um curso profissionalizante de<br />

qualidade. . Isso faz <strong>com</strong> que paremos para analisar a formação integrada e a necessidade real<br />

da integração da formação geral de ensino médio à formação profissional de jovens e adulto<br />

“O <strong>PROEJA</strong> é mais que um projeto educacional. Ele, certamente, será<br />

um poderoso instrumento de resgate da cidadania de toda uma imensa<br />

parcela de br<strong>as</strong>ileiros expulsos do sistema escolar por problem<strong>as</strong><br />

encontrados dentro e fora da escola”(Documento B<strong>as</strong>e, 2006, p.03).<br />

Quem ganha <strong>com</strong> ess<strong>as</strong> ofert<strong>as</strong> de escolarização são todos os estudantes, sejam negr<strong>as</strong>,<br />

negros, branco, branc<strong>as</strong>,... que não tiveram oportunidades de freqüentar a escola na idade dita<br />

regular e que podem sair da escola melhor qualificados para o mundo do Trabalho.<br />

Os estudantes do <strong>PROEJA</strong>, em princípio, sairão da escola <strong>com</strong> uma profissão. Esse é<br />

um diferencial em relação à EJA não profissionalizante. A auto-estima, portanto, tende a<br />

elevar-se, teremos <strong>mulheres</strong>, homens negros ou brancos mais confiantes, m<strong>as</strong> valorizados e<br />

profissionais mais felizes.<br />

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