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Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis

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sível, na pista do mestre de Weimar, a ação racional com sentido. As relações<br />

tornam-se opacas, intransparentes. O fetiche alcança sua máxima expressão:<br />

é um mundo que opera com signos, sem contacto com o real. A política, neste<br />

caso, torna-se, necessariamente, um espetáculo, e deixa de ser opera<strong>da</strong> pelos<br />

ci<strong>da</strong>dãos. Não é de individualismo que se trata, mas <strong>da</strong> atomização. As classes<br />

sociais desfazem-se na bruma espêssa <strong>da</strong>s recombinações que parecem aleatórias,<br />

mas são, na ver<strong>da</strong>de, dirigi<strong>da</strong>s pelo “piloto automático” do capital.<br />

O outro do falso: a democracia no Brasil<br />

To<strong>da</strong>s as poderosas tendências interpreta<strong>da</strong>s abatem-se com fúria nas periferias<br />

capitalistas, e o Brasil está profun<strong>da</strong>mente imerso nelas. Tendo como lastro<br />

de sua atualização uma herança pesa<strong>da</strong>mente anti-democrática, a socie<strong>da</strong>de<br />

brasileira é joga<strong>da</strong> no novo turbilhão por uma aceleração sem precedentes <strong>da</strong><br />

acumulação de capital à escala mundial. Mundializando-se agora para tentar<br />

crescer economicamente, inviabiliza-se como nação, como economia e como<br />

socie<strong>da</strong>de. O tempo prestisimo do capitalismo mundial já havia obrigado a<br />

uma compactação formidável de tempos, desde os anos 30. Em 50 anos de<br />

industrialização, 35 anos de regimes despóticos em que a correlação entre<br />

mundialização e regimes de exceção não necessita ser exagera<strong>da</strong>: taxas de<br />

crescimento de 8% ao ano. A dívi<strong>da</strong> externa é a prova que não falta: a de que,<br />

nesta aceleração, a capaci<strong>da</strong>de interna de acumulação será sempre insuficiente.<br />

O suplício de Sísifo é permanente, já que partimos <strong>da</strong> democracia grega: quanto<br />

mais tentarmos crescer, tanto mais deveremos. Nestas condições, a soberania<br />

é troca<strong>da</strong>, atualizando-se a história de Esaú, por um prato de celulares: 9% do<br />

PIB como pagamento de juros <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> externa. A combinação do aumento <strong>da</strong><br />

produtivi<strong>da</strong>de do trabalho e a financeirização, expressa pelas altas porcentagens<br />

<strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s externa e interna sobre as despesas estatais e o PIB, mostram<br />

que em se fazendo um enorme esforço para seu pagamento, não aumentam<br />

nem o investimento nem o emprego. Então, a desterritorialização <strong>da</strong> política<br />

afirma-se taxativa e implacavelmente: as políticas são impostas pelas enti<strong>da</strong>des<br />

supranacionais, e retira<strong>da</strong>s do âmbito <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia; 145 bilhões de reais<br />

para pagamento dos juros <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> interna, isto é, cerca de 10% do PIB para<br />

um coeficiente de investimento que não chega a 20%; este serviço <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong><br />

corresponde a uns 30% <strong>da</strong>s despesas orçamentárias e é igual à soma de todos<br />

os gastos com políticas sociais!<br />

Da plataforma <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de histórica, anti-republicana e anti-democrática,<br />

uma nova e intransponível desigual<strong>da</strong>de se “alevanta” (desculpe Camões,<br />

por utilizar seu belo e arcaico verbo): 60% <strong>da</strong> população economicamente ativa<br />

(PEA) se ocupa de tarefas “informais” – agora o substantivo não engana: destituído<br />

de formali<strong>da</strong>de, pelo bom Aurélio, sem-forma – onde sequer o contrato<br />

mercantil existe. Não juridificável, enquanto no ano de 2003 cresceu em 5% o<br />

número de novos milionários, sobre uma taxa de crescimento global <strong>da</strong> economia<br />

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