A Mulher na Academia: Histórico e Desafios
A Mulher na Academia: Histórico e Desafios
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jor<strong>na</strong>lista e professora, a primeira mulher a se profissio<strong>na</strong>lizar como jor<strong>na</strong>lista. Admirada e<br />
caluniada, rebelde, foi abolicionista e lutou em defesa da mulher e dos oprimidos. Publicou um<br />
livro de poesias, Nebulosas, em 1872, não tendo mais conseguido publicar pelas perseguições<br />
que sofreu <strong>na</strong> imprensa. Foi admirada pelo imperador Pedro II e por Machado de Assis, dentre<br />
tantos outros intelectuais de sua época.<br />
Com o objetivo declarado de se dedicar à “cultura da língua e da literatura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l”, fundouse,<br />
em 1896, no Rio de janeiro, a <strong>Academia</strong> Brasileira de Letras, constituída por quarenta<br />
membros, como a <strong>Academia</strong> Francesa em que se baseou, sendo todos homens. De acordo com<br />
os estatutos da ABL, “só podem ser membros da <strong>Academia</strong> os brasileiros que tenham, em<br />
qualquer dos gêneros da Literatura, obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro<br />
de valor literário”. Durante mais de oitenta anos, a ABL impediu a entrada de mulheres em seu<br />
meio, interpretando o “brasileiros” do seu regulamento como, exclusivamente, os do sexo<br />
masculino. Lúcio Mendonça (1854-1909), um dos seus idealizadores e membro fundador,<br />
chegou a advogar a entrada de mulheres no grupo inicial, chegando a afirmar que três<br />
escritoras de nome Júlia mereciam essa honra: Júlia Lopes de Almeida (1862-1934),<br />
consagrada romancista, com várias obras publicadas; Francisca Júlia (1871-1920), poetisa<br />
par<strong>na</strong>sia<strong>na</strong> paulista reconhecida por seus pares e Júlia Cortines (1863-1948),poeta fluminense<br />
e professora famosa, que publicou seu primeiro livro de poesias, Versos, em 1894, com<br />
Prefácio de Lúcio Mendonça, e Vibrações, em 1905, recentemente editados pela ABL.<br />
Para remediar a não entrada das mulheres <strong>na</strong> ABL, e havia <strong>na</strong>quele fi<strong>na</strong>l do século XIX, pelo<br />
menos, umas dez que se equivaliam com produção e valor literário ao dos homens que<br />
entraram, convidaram o jor<strong>na</strong>lista Filinto de Almeida, português de <strong>na</strong>scimento, o que<br />
contrariava os Estatutos da ABL, mas marido de Júlia Lopes de Almeida, para ser um dos<br />
ocupantes de cadeira. Mais tarde, foi chamado, ironicamente, por Humberto de Campos, de<br />
“Acadêmico Consorte”. O próprio Filinto de Almeida reconhecia os méritos de sua<br />
mulher e num inquérito de João do Rio, O Momento Literário, declarou: “Não era eu<br />
quem devia estar <strong>na</strong> <strong>Academia</strong>, era ela.” (Apud Ve<strong>na</strong>ncio Filho)<br />
Após a criação da <strong>Academia</strong> Brasileira de Letras, começaram a surgir academias estaduais e<br />
regio<strong>na</strong>is, mas, diferente da ABL, algumas começaram a aceitar a presença de mulheres. A<br />
primeira delas foi a <strong>Academia</strong> de Letras de Goiás, em 1904, que teve como sua primeira<br />
Presidente uma mulher, Eurídice Natal. É o que afirma Brito Broca: “Enquanto a <strong>Academia</strong><br />
Brasileira, fiel ao modelo francês, fechava as portas às mulheres, a modesta congênere de<br />
Goiás não só admitia uma mulher como a elegia, por aclamação, presidente do cenáculo,<br />
cabendo as funções de secretário perpétuo ao poeta Joaquim Bonifácio. A instalação da<br />
<strong>Academia</strong> e a posse da diretoria efetuaram-se, cabendo à presidente fazer o elogio de<br />
Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Finda a sessão solene, seguiu-se um grande baile<br />
oferecido pelos acadêmicos à senhora Eurídice Natal.” (In: A Vida Literária no Brasil.<br />
1900.p.101)<br />
Em 1909, instalou-se a <strong>Academia</strong> Paulista de Letras, <strong>na</strong> qual se admitia a presença de<br />
mulheres. As poetisas Francisca Júlia e Zali<strong>na</strong> Rolim, preteridas pela ABL, foram convidadas,<br />
mas decli<strong>na</strong>ram do convite à imortalidade. Em 1913, fundou-se a <strong>Academia</strong> de Letras do Pará e<br />
dentre os vinte membros fundadores estava a jovem jor<strong>na</strong>lista capixaba Guilhermi<strong>na</strong> Tesch