A Mulher na Academia: Histórico e Desafios
A Mulher na Academia: Histórico e Desafios
A Mulher na Academia: Histórico e Desafios
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Furtado, <strong>na</strong>scida em Vitória, em 1890. No ano seguinte, Guilhermi<strong>na</strong> casou-se e se mudou com<br />
o marido para o Rio de Janeiro. Lá publicou o livro de contos Esmaltes e Camafeus, pela Ed.<br />
Garnier,com o nome Guilly Furtado Bandeira, tor<strong>na</strong>ndo-se a primeira escritora capixaba a<br />
editar um livro; todavia, a crítica impiedosa do crítico paraense José Veríssimo afugentou a<br />
jovem escritora de novas publicações. Quando a <strong>Academia</strong> Espírito-santense de Letras foi<br />
fundada, em 1921, não foi cogitado nenhum nome feminino. Guilly F. Bandeira, já acadêmica<br />
no Pará, não foi lembrada, embora um de seus primos, Manoel Pimenta, tenha sido um dos<br />
fundadores da AEL. Outros nomes de mulheres escritoras só se destacariam mais à frente<br />
como Maria Stella de Novaes, Maria Antonieta Tatagiba,Haydée Nicolussi, Lidia Besouchet, Ilza<br />
Dessaune, Judith Leão, Virgínia Tamanini. Eram todas muito novas e em formação.<br />
Na <strong>Academia</strong> Brasileira de Letras, a discussão sobre a entrada das mulheres continuava.<br />
Havia uma minoria que aprovava e uma maioria que discordava. Em 1920, quando faleceu<br />
Francisca Júlia, ela foi home<strong>na</strong>geada <strong>na</strong> ABL e alguns acadêmicos lamentaram ela não ser um<br />
deles. Em 1922, Rosali<strong>na</strong> Coelho Lisboa e Gilka Machado, duas das mais importantes poetisas<br />
da época, foram premiadas em concurso da ABL e o acadêmico Carlos Magalhães de Azeredo<br />
publicou <strong>na</strong> Revista Brasileira o artigo “O Feminismo e a <strong>Academia</strong>” em que dizia: “Imagino<br />
que os mais espantados teriam sido os juízes mesmo, quando viram a quem haviam premiado!<br />
De fato, ainda não é a entrada das mulheres <strong>na</strong> <strong>Academia</strong> que eu advogava há meses, mas já o<br />
reconhecimento estrondoso – tanto mais impressio<strong>na</strong>dor, porque o produziu a força das<br />
coisas e não o arbítrio dos homens – de que se continuam a fechar-lhes as nossas portas, não<br />
se podendo alegar que seja por lhes faltar a elas merecimento para serem admitidas <strong>na</strong> nossa<br />
companhia”. (Apud Ve<strong>na</strong>ncio Filho).<br />
Em 1930, dentre os inscritos à vaga aberta pela morte do acadêmico Pujol, estavam<br />
Viriato Correia, Menotti Del Picchia, Alcântara Machado e D. Amélia de Freitas<br />
Bevilaqua. Pela primeira vez se apresentava à <strong>Academia</strong> uma candidatura femini<strong>na</strong> e a<br />
polêmica se instalou. O Presidente Aloísio de Castro pediu a seus pares que se<br />
manifestassem, em voto nomi<strong>na</strong>l, tendo sete deles votado a favor e quatorze contra.<br />
Isso levou a poetisa mineira Henriqueta Lisboa a escrever, com ironia, o seguinte<br />
soneto:<br />
As cadeiras azuis da <strong>Academia</strong><br />
é problema insolúvel da mulher . . .<br />
Acrescentar ao caso uma ironia,<br />
Eis, a meu ver, o que se faz mister.<br />
As reticências, em diplomacia,<br />
são recursos melhores que qualquer,<br />
Eu sei de gente má que malicia<br />
pelo que se disser ou não disser . . .<br />
Vejo-vos, ó poltro<strong>na</strong>s, face a face,<br />
e não posso atingir a honra suprema<br />
enquanto ao meu alcance não descerdes!