A Mulher na Academia: Histórico e Desafios
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simplesmente, as normas de funcio<strong>na</strong>mento desta. Ora, o Regimento consig<strong>na</strong> somente tais<br />
normas; não comporta as que alterem a estrutura tradicio<strong>na</strong>l da <strong>Academia</strong>.Seja-me permitido<br />
acrescentar que minha atitude atual, inspirada pelo zelo de uma tradição desta Casa, onde<br />
tanto valem as tradições, não colide com os meus velhos e arraigados sentimentos feministas.<br />
A eles tenho sido e serei fiel, e ainda há pouco me levaram eles a sugerir que se conferisse o<br />
prêmio maior da <strong>Academia</strong>, o Prêmio Machado de Assis, a uma de nossas grandes escritoras.”<br />
(Apud Ve<strong>na</strong>ncio Filho). Foi voto vencido, pois a maioria dos acadêmicos não permitia a entrada<br />
de mulheres no “Clube do Bolinha”.<br />
Em 1970, o Presidente Austregésilo de Atayde, baseado no disposto do artigo 17 do<br />
Regimento, negou a inscrição solicitada pela escritora Di<strong>na</strong>h Silveira de Queiroz, candidata à<br />
vaga do acadêmico Álvaro Lins. Um grupo de acadêmicos, revoltado com a recusa à entrada do<br />
nome de Di<strong>na</strong>h S. de Queiroz, protocolou requerimento de mudança do Regimento, nos<br />
seguintes termos: ”A <strong>Academia</strong> Brasileira de Letras, por outro lado, não pode tor<strong>na</strong>r-se um<br />
retrógrado e a<strong>na</strong>crônico cenáculo, um clube de velhos misóginos, um se<strong>na</strong>do de egoísmos<br />
masculinos, num mundo em que o igualitarismo e as conquistas sociais, intelectuais e<br />
científicas das mulheres se avantajam de tal forma que até no espaço cósmico elas já<br />
concorrem com o homem. A <strong>Academia</strong> Brasileira de Letras, que <strong>na</strong>sceu sem preconceito de<br />
raça, presidida por Machado de Assis e integrada por José do Patrocínio, e sem preconceitos<br />
ideológicos, reunindo republicanos e mo<strong>na</strong>rquistas impenitentes, não pode se tor<strong>na</strong>r aos olhos<br />
da <strong>na</strong>ção brasileira culpada de ‘preconceito de sexo’, mais grave e mais indesculpável do que<br />
qualquer outro. Aliás, como existe uma lei para punir o ‘preconceito de raça’, elaborada pelo<br />
Sr.Afonso Arinos de Melo Franco, membro desta Casa, devia existir também uma lei para punir<br />
as outras formas de discrimi<strong>na</strong>ção irracio<strong>na</strong>is, como a que se baseia <strong>na</strong> distinção entre os<br />
sexos.” (Apud Ve<strong>na</strong>ncio Filho).<br />
Após muitas discussões entre os acadêmicos, <strong>na</strong> sessão de 14 de outubro de 1976, o<br />
Presidente Austregésilo de Athayde procedeu à votação da proposta de Osvaldo Orico, com<br />
emenda aditiva de Hermes Lima, permitindo, com a emenda do artigo 17 do Regimento<br />
Interno, a inscrição de mulheres <strong>na</strong> <strong>Academia</strong> Brasileira de Letras. A primeira mulher recebida<br />
<strong>na</strong> <strong>Academia</strong> foi Rachel de Queiroz, saudada em 4 de novembro de 1977 por Adonias Filho,<br />
mas em nenhum dos dois discursos se fez referência à controvérsia. No discurso de posse, Rachel<br />
declarou: "Não entrei para a ABL por ser mulher. Entrei porque, independentemente disso,<br />
tenho uma obra”.<br />
A segunda acadêmica a entrar <strong>na</strong> ABL foi Di<strong>na</strong>h Silveira de Queiroz,em 1980, recebida pelo<br />
acadêmico Raymundo Magalhães Júnior. Ela, que tinha sido preterida dez anos antes, não<br />
mencionou o tema, ape<strong>na</strong>s dizendo que a ideia de ingresso <strong>na</strong> <strong>Academia</strong> decorreu de encontro<br />
com o acadêmico Osvaldo Orico, só o fazendo com a revogação do impedimento da entrada de<br />
escritoras <strong>na</strong> <strong>Academia</strong>. Magalhães Júnior, no entanto, fez, em seu discurso, todo um histórico<br />
da luta das mulheres brasileiras por um espaço <strong>na</strong> sociedade ao lado dos homens. Depois<br />
dessas duas pioneiras romancistas, entraram, <strong>na</strong> ABL, Lygia Fagundes Telles, em 1985, Nélida<br />
Piñon, em 1989, sendo a primeira mulher a presidi-la, em 1996-7, no I Centenário de sua<br />
fundação. Zélia Gattai Amado, em 2001, A<strong>na</strong> Maria Machado, em 2003, e a professora<br />
Cleonice S. Motta Berardinelli, em, 2009.<br />
Na <strong>Academia</strong> Espírito-santense de Letras, não ocorreu o debate caloroso sobre a entrada de<br />
mulheres ocorrido <strong>na</strong> ABL, em diferentes épocas. O fato de as mulheres terem criado uma<br />
<strong>Academia</strong> para si, aquietou-as, de uma certa maneira, conformando-as a não reivindicarem<br />
lugar <strong>na</strong> “<strong>Academia</strong> dos Homens”. Sabe-se que Maria Stella de Novaes (1894-1881), autora de<br />
várias obras, premiada pela ABL, em 1952, a primeira mulher a ser membro do Instituto<br />
<strong>Histórico</strong> e Geográfico do Espírito Santo, além de ter pertencido a várias instituições culturais,<br />
sentiu-se preterida por não ser convidada a entrar <strong>na</strong> AEL, instituição que tinha dois tios seus<br />
como patronos, os irmãos Jerônimo e Fer<strong>na</strong>ndo Monteiro.<br />
Judith Leão Castello Ribeiro (1898-1982), professora catedrática da Escola Normal Pedro II,<br />
foi a primeira mulher eleita deputada para a Assembleia Legislativa, em 1947, reeleita em