O Perdão - Transformar Sombras em Luzes, por Andrea Vasconcelos
O Perdão - Transformar Sombras em Luzes, por Andrea Vasconcelos
O Perdão - Transformar Sombras em Luzes, por Andrea Vasconcelos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Escola Espanhola de Desenvolvimento Transpessoal<br />
Curso de Terapeuta Transpessoal<br />
ANDRÉA CRISTIANE DO CARMO VASCONCELOS<br />
O PERDÃO: TRANSFORMAR SOMBRAS EM LUZES<br />
Madrid – 2012
ANDRÉA CRISTIANE DO CARMO VASCONCELOS<br />
O PERDÃO: TRANSFORMAR SOMBRAS EM LUZES<br />
Madrid - 2012<br />
2<br />
Tese apresentada como<br />
requisito para a conclusão do<br />
curso de Terapeuta<br />
Transpessoal – 1º Nível.<br />
Tutora: Élia Vieira Lopes
Dedicatória<br />
Dedico este trabalho a todas as pessoas que s<strong>em</strong>pre estiveram ao meu lado pelos<br />
caminhos da vida e que de forma direta ou indireta t<strong>em</strong> compartilhado comigo da grande<br />
aventura do renascer.<br />
Todos são muito especiais para mim. Amo muito todos vocês.<br />
3
4<br />
O Melhor de Você<br />
A melhor coisa que você pode dar ao inimigo é o seu perdão<br />
Ao adversário, sua tolerância<br />
Ao amigo, sua atenção<br />
Ao filho, bons ex<strong>em</strong>plos<br />
Ao pai, sua consideração<br />
A mãe, com<strong>por</strong>tamento que a faça sentir orgulhosa<br />
A todos os homens, caridade<br />
A você próprio, o respeito.<br />
Benjamin Franklin
Índice<br />
1. ........................................................................................................................................I<br />
ntrodução..................................................................................................................07<br />
2. ........................................................................................................................................O<br />
<strong>Perdão</strong>: <strong>Transformar</strong> <strong>Sombras</strong> <strong>em</strong> <strong>Luzes</strong> ................................................................07<br />
2.1. O mito da caverna..............................................................................................07<br />
2.2. O perdão ...........................................................................................................08<br />
2.3. A lenda do perdão .............................................................................................10<br />
2.4. Viver o perdão ...................................................................................................11<br />
2.5. Terapia do perdão .............................................................................................15<br />
Conclusão. ....................................................................................................................17<br />
Referências Bibliográficas .............................................................................................19<br />
Anexos<br />
5
1. Introdução<br />
Quando comecei a pensar no t<strong>em</strong>a que escolheria para meu trabalho, foi interessante de<br />
perceber o quanto o perdão me atraía, e fui buscar dentro de mim mesma as respostas<br />
necessárias para compreender o que a vida estava a me dizer, sobre que questões teria que<br />
aprofundar-me, o que realmente minha alma estava procurando.<br />
L<strong>em</strong>bro-me com muita clareza que na ficha de pré-inscrição do curso tinha a seguinte<br />
pergunta: “Que qualidades admiras mais no ser humano?”, o primeiro pensamento que<br />
me veio a mente foi “A capacidade de perdoar”, percebi que a <strong>em</strong>oção neste instante<br />
tomava conta de minha alma, naquele momento não tinha ainda a clareza de que meu<br />
processo evolutivo estava a caminhar nesta direção. Começava a minha trajetória para<br />
resolver questões pessoais que muito me afligiam e não tinha consciência delas.<br />
Quanto mais lia sobre o perdão, mais tinha a certeza que realmente o caminho para o meu<br />
crescimento <strong>em</strong>ocional e espiritual começava <strong>por</strong> desenvolver toda esta capacidade de<br />
amar e aceitar todo o meu passado, sabendo que tudo o que vivi foi tudo o que foi possível<br />
eu me ofertar naquele momento, e que outro não é tão diferente de mim, também carrega<br />
consigo todas as suas dores. Como diz Casarjian:<br />
“Acredite ou não, você s<strong>em</strong>pre fez o melhor possível <strong>em</strong><br />
qualquer momento, baseado no grau de amor ou de<br />
medo que você estivesse vivenciando”. (p. 33)<br />
À medida que escrevia mais consciência tinha da necessidade de investir na terapêutica do<br />
perdão, de acreditar que a liberdade é uma conquista que se consegue quando o coração<br />
está <strong>em</strong> paz.<br />
O perdão é um exercício de prática diária, nos leva a rever velhas crenças e<br />
condicionamentos, é estarmos atentos as nossas sombras. Ele possibilita reconhecer os<br />
próprios medos e fantasmas, e poder entrar <strong>em</strong> contato com o que de mais sagrado t<strong>em</strong>os<br />
<strong>em</strong> nós: o amor.<br />
Perdoar é muito mais que tirar um fardo desnecessário de cima de nós é abrir todas as<br />
<strong>por</strong>tas da alma para o novo, para o encontro das verdades superiores e acima de tudo<br />
tornar-se um observador atento do ego.<br />
Sinto que este trabalho vai me pro<strong>por</strong>cionar uma expansão da consciência com um olhar<br />
mais acolhedor para mim, para os outros e para vida.<br />
O processo de crescimento espiritual que hoje me proponho, visa integrar partes minhas<br />
que se encontram desconectadas e redirecionar o lugar que desejo que cada pessoa e<br />
situação tenham <strong>em</strong> minha vida.<br />
O perdão nos torna mais conectados com o Universo, possibilita caminhar na direção da<br />
expansão da consciência e da descoberta dos efeitos curativos que amor produz <strong>em</strong> nossa<br />
vida.<br />
Este trabalho é neste momento um presente que me dou. Durante sua elaboração, revisitei<br />
minha estória de vida, e a cada leitura dava-me a o<strong>por</strong>tunidade de rever fatos passados e<br />
suas marcas gravadas <strong>em</strong> mim, aceitei ser amável com a minha dor e saber o quanto eu<br />
estou crescendo <strong>em</strong> direção ao amor que sou.<br />
6
2. O <strong>Perdão</strong>: <strong>Transformar</strong> <strong>Sombras</strong> <strong>em</strong> <strong>Luzes</strong><br />
2.1. O mito da Caverna<br />
Imagin<strong>em</strong>os uma caverna separada do mundo externo <strong>por</strong> um alto muro. Entre o muro e o<br />
chão da caverna há uma fresta <strong>por</strong> onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a<br />
caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres<br />
humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados s<strong>em</strong> poder mover a<br />
cabeça n<strong>em</strong> locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo s<strong>em</strong> nunca<br />
ter visto o mundo exterior n<strong>em</strong> a luz do Sol, s<strong>em</strong> jamais ter efetivamente visto uns aos<br />
outros n<strong>em</strong> a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos <strong>por</strong>que estão no<br />
escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que<br />
ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de<br />
fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora,<br />
pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens,<br />
mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como<br />
num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os<br />
sons de suas falas e as imagens que trans<strong>por</strong>tam nos ombros são as próprias coisas<br />
externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se mov<strong>em</strong> e falam. Os<br />
prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver (s<strong>em</strong> vê-Ias realmente,<br />
pois estão na obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não sab<strong>em</strong> que são sons<br />
vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não dos homens cujas imagens estão<br />
projetadas na parede; também imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esses<br />
homens carregam nos ombros são vozes de seres reais. Qual é, pois, a situação dessas<br />
pessoas aprisionadas? Tomam sombras <strong>por</strong> realidade, tanto as sombras das coisas e dos<br />
homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados <strong>por</strong> eles. Essa confusão,<br />
<strong>por</strong>ém, não t<strong>em</strong> como causa a natureza dos prisioneiros e sim as condições adversas <strong>em</strong><br />
que se encontram. Que aconteceria se foss<strong>em</strong> libertados dessa condição de miséria? Um<br />
dos prisioneiros, inconformado com a condição <strong>em</strong> que se encontra, decide abandoná-Ia.<br />
Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o<br />
corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de<br />
um caminho íngr<strong>em</strong>e e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela<br />
luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor <strong>por</strong><br />
causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus<br />
olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior<br />
da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade<br />
<strong>por</strong>que será obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas<br />
sombras <strong>em</strong> que s<strong>em</strong>pre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) <strong>por</strong>que seus<br />
olhos não consegu<strong>em</strong> ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro impulso é o de<br />
retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto; atraído pela escuridão, que lhe parece<br />
mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso,<br />
fazendo-o desejar a retornar a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido. Sentindo-se<br />
s<strong>em</strong> disposição para regressar à caverna <strong>por</strong> causa da rudeza do caminho, o prisioneiro<br />
permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se,<br />
7
t<strong>em</strong> a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a<br />
vida toda e que <strong>em</strong> sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da<br />
caverna para s<strong>em</strong>pre e lutará com todas as suas forças para jamais regressar a ela. No<br />
entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, <strong>por</strong> fim, toma a difícil<br />
decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos d<strong>em</strong>ais o que viu e convencêlos<br />
a se libertar<strong>em</strong> também. Que lhe acontece nesse retorno? Os d<strong>em</strong>ais prisioneiros<br />
zombam dele, não acreditando <strong>em</strong> suas palavras e, se não consegu<strong>em</strong> silenciá-lo com suas<br />
caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima <strong>em</strong> afirmar o que viu e<br />
os convida a sair da caverna, certamente acabam <strong>por</strong> matá-lo. Mas, qu<strong>em</strong> sabe alguns<br />
pod<strong>em</strong> ouvi-lo e, contra a vontade dos d<strong>em</strong>ais, também decidir sair da caverna rumo à<br />
realidade. O que é a caverna? O mundo de aparências <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os. Que são as<br />
sombras projetadas no fundo? As coisas que perceb<strong>em</strong>os. Que são os grilhões e as<br />
correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos<br />
percebendo é a realidade. Qu<strong>em</strong> é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo.<br />
O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O quê é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A<br />
realidade.<br />
Marilena Chaui – Convite a Filosofia<br />
2.2. O perdão<br />
Exist<strong>em</strong> muitas ideias equivocadas sobre o significado real do perdão. As pessoas não têm<br />
a compreensão clara sobre o seu poder restaurador e sanador, e como pro<strong>por</strong>ciona um<br />
grande crescimento pessoal e um desprendimento do passado. Durante muito t<strong>em</strong>po<br />
também estive a viver neste mar de alienação, e hoje percebo que grande parte das<br />
pessoas ainda encontram-se aí mergulhadas.<br />
O perdão é um processo mental e espiritual de cessar o<br />
sentimento de ressentimento ou raiva contra outra<br />
pessoa ou contra si mesmo, decorrente de uma ofensa<br />
percebida, diferenças, erros ou fracassos, ou cessar a<br />
exigência de castigo ou restituição.<br />
Exist<strong>em</strong> muitas maneiras de definir o perdão, <strong>por</strong>que o<br />
perdão é muitas coisas ao mesmo t<strong>em</strong>po. É uma decisão,<br />
uma atitude, um processo e um modo de vida. Algo que<br />
nós oferec<strong>em</strong>os a outras pessoas e às vezes algo que<br />
aceitamos.<br />
Quando uma pessoa se propõe a perdoar abre um caminho para a paz e a felicidade<br />
interior, conduzindo-a a sua essência espiritual, sua comunhão com o divino, e a uma<br />
percepção mais nítida da realidade externa. Desenvolve sentimentos de compaixão e amor<br />
<strong>por</strong> si mesmo e pelo próximo.<br />
Nesta grande jornada que estamos a viver aqui, somos levados a passar <strong>por</strong> diversos<br />
obstáculos e que <strong>por</strong> muitas vezes nos causa dor e ressentimento.<br />
A culpa varia de acordo com crenças e valores que cada um traz consigo desde a infância, e<br />
que muitas vezes não corresponde mais aos valores e crenças atuais.<br />
8
Culpa, r<strong>em</strong>orso, arrependimento, são inimigos constantes de algumas pessoas e traz junto a<br />
humilhação, vergonha, o medo e a maior consequência: a autopunição.<br />
Perdoar a si mesmo talvez seja um dos maiores desafios, pois está relacionado com a<br />
capacidade - e leia-se também dificuldade - que cada um t<strong>em</strong> de se amar e se aceitar. As<br />
pessoas não se amam <strong>por</strong> acreditar<strong>em</strong> ter<strong>em</strong> feito algo muito terrível, às vezes isso até<br />
corresponde à verdade, mas muitas vezes não.<br />
Na verdade tudo é aprendizado, mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre estamos amadurecidos para olhar para<br />
as adversidades como um momento de crescimento, onde pod<strong>em</strong>os escolher entre seguir<br />
<strong>em</strong> frente ou paralisarmos diante das dores.<br />
O perdão é uma grande ferramenta de desprendimento e de transformação. Faz parte de<br />
uma das etapas do processo evolutivo que pro<strong>por</strong>ciona a nós seres humanos uma maior<br />
aproximação do Ser Supr<strong>em</strong>o.<br />
Ferrini (2007),descreve <strong>em</strong> seu livro As 12 Etapas do <strong>Perdão</strong> sobre as quatro máximas do<br />
perdão:<br />
• O perdão começa no nosso próprio coração. Só depois que nos perdoamos,<br />
conseguimos perdoar as outras pessoas ou receber o seu perdão.<br />
Só oferec<strong>em</strong>os ao outro o que t<strong>em</strong>os. Logo, o processo do perdão começa internamente, na<br />
vivência pessoal, aceitando-nos como seres <strong>em</strong> evolução, que já errou muito e ainda vai<br />
errar. É o processo de aprender a nos amarmos e aceitar-nos aconteça o que acontecer. É a<br />
experiência sublime de compaixão, de amor. É dar-se conta que na ocasião foi o melhor<br />
tinha para oferecer.<br />
• O perdão não é condicional, <strong>em</strong>bora nossa prática do perdão muitas vezes seja.<br />
No processo de cura, o perdão liberta-nos das amarras que nos prendiam ao passado.<br />
Aceitarmos o que aconteceu e deixar que os medos, as dores e ressentimentos possam ser<br />
expressos s<strong>em</strong> julgamentos é muito im<strong>por</strong>tante. O único motivo para perdoar é que é<br />
saudável e permite que a alma possa continuar trilhando pela vida <strong>em</strong> busca de<br />
crescimento.<br />
• O perdão é um processo contínuo. Ele v<strong>em</strong> <strong>em</strong> resposta a todo julgamento que<br />
faz<strong>em</strong>os contra nós mesmos ou contra as outras pessoas.<br />
A vida dinâmica e <strong>por</strong> isso s<strong>em</strong>pre está <strong>em</strong> movimento. Os obstáculos e os dissabores<br />
s<strong>em</strong>pre vão estar lado a lado na vida de todos, mas ao assumir a responsabilidade pela<br />
própria vida, o ser humano abre um leque de possibilidades e percebe que o outro não é<br />
diferente de nós. O perdão não está no que se faz, mas na maneira como se percebe as<br />
pessoas e as circunstâncias.<br />
• Qualquer gesto de perdão é suficiente. Qualquer coisa que possamos fazer hoje<br />
é o bastante. Esse entendimento nos habilita a praticar o perdão com perdão.<br />
O perdão nos conduz a um grande aprendizado de convivência conosco e com o outro,<br />
permite compreender que mesmo <strong>em</strong> desacordo com alguém, a pessoa pode ser amorosa. Ir<br />
além dos t<strong>em</strong>ores e condicionamentos, caminhando na direção de novas escolhas e da<br />
liberdade, descobrir que o amor verdadeiro encontra-se dentro de cada um esperando para<br />
revelar-se. Conduz o ser humano para onde a paz não é desconhecida e poder descobrir<br />
qual é a verdadeira força.<br />
9
No perdão a visão do mundo interno e externo muda completamente, independente do que<br />
cada um escolha fazer. O perdão é s<strong>em</strong> dúvida uma escolha sensata e conveniente.<br />
2.3. A lenda do perdão<br />
Conta uma antiga lenda que existia uma cidade onde a palavra perdão nunca existiu. As<br />
pessoas eram, <strong>por</strong>tanto, donas da verdade, arrogantes e sofriam de uma terrível moléstia, o<br />
complexo de superioridade.<br />
A convivência era bastante complicada <strong>por</strong>que todos se consideravam perfeitos e com isso<br />
não enxergavam, n<strong>em</strong> admitiam seus defeitos, erros ou equívocos.<br />
Nessa cidade reinava a vaidade, a competição e a inimizade, <strong>por</strong> mais que elas andass<strong>em</strong><br />
disfarçadas <strong>por</strong> detrás de sorrisos e manifestações de afeto.<br />
Um dia uma mulher, vinda de outra cidade, foi morar lá.<br />
Todas as tardes ia até a padaria e na volta s<strong>em</strong>pre passava <strong>por</strong> uma praça onde um grupo<br />
de rapazes jogava bola.<br />
Seu trajeto seria b<strong>em</strong> menor se ela cruzasse a praça, mas para não atrapalhar o jogo deles<br />
ela fazia o seu caminho contornando a praça.<br />
Claro que nenhum deles nunca percebeu ou deu valor à sua gentileza.<br />
Naquela cidade muito poucos entendiam desse assunto.<br />
Certo dia essa mulher estava cheia de preocupações, com a cabeça bastante perturbada e<br />
na volta da padaria não se deu conta do caminho que tomou e atravessou a praça no exato<br />
momento <strong>em</strong> que um dos rapazes ia fazer um gol.<br />
O jogo parou, todos se olharam e o tal jov<strong>em</strong>, muito bravo, perguntou a ela:<br />
— A senhora não está vendo o que fez? Que falta de atenção, até mesmo de consideração!<br />
Custava dar a volta na praça?<br />
E ela respondeu:<br />
— Há cerca de seis meses que todos os dias eu dou a volta na praça para não atrapalhar o<br />
jogo de vocês. Hoje, no entanto, eu confesso que me distraí. Estava muito envolvida com<br />
meus pensamentos. Peço a todos vocês perdão <strong>por</strong> isso.<br />
Ninguém entendeu o que ela quis dizer e um dos meninos perguntou:<br />
— <strong>Perdão</strong>? O que é perdão? O que ela significa?<br />
— <strong>Perdão</strong> é um ato de humildade, <strong>em</strong>bora alguns julgu<strong>em</strong> ser um ato de humilhação.<br />
Os meninos foram para suas casas muito pensativos e contaram a seus pais sobre o<br />
perdão.<br />
Errar, cometer injustiças, tomar atitudes precipitadas que pod<strong>em</strong> prejudicar e magoar<br />
terceiros são coisas das quais todo ser humano está sujeito. Reconhecer seus erros e pedir<br />
perdão, no entanto, n<strong>em</strong> todos os seres humanos são capazes.<br />
Para isso é necessária uma enorme dose de humildade, um coração sensato e um espírito<br />
elevado.<br />
Só os grandes sab<strong>em</strong> pedir perdão!<br />
10
Diz<strong>em</strong> que aquela cidade anda muito diferente, mais alegre, as pessoas mais amigas,<br />
menos rivalidades e que todos além de ter<strong>em</strong> aprendido a pedir perdão, agora também<br />
estão aprendendo a perdoar.<br />
2.4. Viver o perdão<br />
Durante este período do curso fui levada a rever muitas crenças na qual acreditava ser<strong>em</strong><br />
as melhores para minha vida.<br />
A prática do perdão se dá pela aceitação de tudo que estamos a sentir, poder entrar <strong>em</strong><br />
contato com a dor e poder expressá-la da melhor forma possível. Quando negamos a<br />
realidade, mas t<strong>em</strong>os medo de assumir o que nos incomoda.<br />
Percebo claramente que para mim não foi fácil iniciar este processo, sabia que era<br />
necessário enfrentar os meus fantasmas e asssumí-los.<br />
O auto-perdão é um trabalho contínuo de aceitação e de amor incondicional <strong>por</strong> nós, levanos<br />
a curar a vergonha e a culpa. Favorece a compreensão de se aceitar que as coisas<br />
acontec<strong>em</strong> como dev<strong>em</strong> acontecer, como precisam ser, para o meu desenvolvimento<br />
<strong>em</strong>ocional e espiritual.<br />
Acolhi minha criança feriada e assustada, ela não se sente só, sabe perfeitamente que<br />
estamos juntas, caminhando lado a lado, e que pod<strong>em</strong>os contar uma com a outra. Estou<br />
aprendendo a ser gentil comigo mesma.<br />
O processo de auto-aceitação revela a nossa luz interior e ajuda a trilhar o caminho. O<br />
transcender faz parte desta jornada infindável pelo aprimoramento e desprendimento de<br />
antigas dores.<br />
Quando entendi realmente o verdadeiro significado da palavra perdão, pude entender<br />
<strong>por</strong>que tantos mestres que passaram pelo nosso planeta, conseguiam manter-se <strong>em</strong> paz e<br />
equilíbrio diante das perseguições e calúnias <strong>em</strong> que eram lançados.<br />
Eles tinham plena consciência da luz que eram, estavam <strong>em</strong> plena harmonia com o<br />
Universo, compreendiam as nossas fraquezas e inquietudes, não julgavam, não<br />
condenavam, estavam para além do ego. Eles são o nosso ex<strong>em</strong>plo do verdadeiro amor.<br />
Nós seres humanos ainda ficamos ofuscados e cegos diante da grandiosidade e beleza de<br />
sua luz.<br />
Avançamos, mas ainda estamos presos a crenças que nos dificultam vermos além de tudo o<br />
que nos acontece. Nada é ruim, tudo é justo e a sabedoria divina, nos permite aprender com<br />
os nossos erros e com o outro que está a me mostrar qu<strong>em</strong> realmente sou neste momento.<br />
Foi assim que aceitei o desafio de encontrar o que de melhor tenho, s<strong>em</strong> negar as minhas<br />
sombras, respeitando-as como uma parte de mim que precisa de luz, para saber que fora da<br />
caverna t<strong>em</strong>os muito mais para aprender e dar para a humanidade.<br />
Então, entendi o que é perdoar:<br />
• Não é aceitar com<strong>por</strong>tamentos negativos e impróprios, sejam meus ou de outras<br />
pessoas. Os relacionamentos dev<strong>em</strong> ter como base o respeito e a consideração<br />
entre as pessoas;<br />
• Não é fingi que tudo está b<strong>em</strong>, quando nós sentimos que não está. Precisei entender<br />
que não correto negar ou reprimir os meus sentimentos de modo a ter aceitação<br />
social. Ter consciência da minha raiva me permitiu ver o que me magoou e assim<br />
poder ter clareza da situação que estou vivendo e como posso transformá-la <strong>em</strong><br />
aprendizado;<br />
11
• Não é manter uma atitude de superioridade ou se achar melhor que o outro. Sei que<br />
quando perdôo entro <strong>em</strong> contato com a minha humanidade e sei somos todos<br />
aprendizes neste momento evolutivo;<br />
• Não significa que devo mudar meu com<strong>por</strong>tamento. Posso perdoar e continuar<br />
seguindo a minha vida s<strong>em</strong> estar próximo de pessoas e coisas que não me faz<strong>em</strong><br />
b<strong>em</strong>;<br />
• Não é preciso que se comunique verbalmente que a pessoa está perdoada. Quando<br />
me decide <strong>por</strong> perdoar sei que estou mudando minha percepção a respeito das<br />
pessoas e da situação.<br />
Neste aprendizado fiquei atenta para perceber o que a raiva e a dor me pro<strong>por</strong>cionavam de<br />
ganhos, pois hoje sei que utilizamos os afetos para conseguirmos atingir as pessoas que<br />
nos fizeram sofrer.<br />
Pude rever o quanto utilizei a minha dor para manipular e controlar as situações sentia a<br />
necessidade de vingança e retaliação a todo custo. Fechava-me no meu mundo de sombras<br />
e ali permanecia a tecer uma maneira de atingir o meu alvo e derramar sobre o meu algoz<br />
toda a minha raiva, s<strong>em</strong> piedade nenhuma. Percebo que o orgulho e a vaidade não me<br />
deixam ver o quanto estava dolorida e com medo, assustada e perdida dentro dos meus<br />
próprios sentimentos. Não tinha consciência do mal que estava a me fazer e usava meu livre<br />
arbítrio para fazer escolhas sensatas.<br />
A imaturidade <strong>em</strong>ocional nos leva a tomar atitudes de certa forma inconseqüente. Quando<br />
olho para trás l<strong>em</strong>bro-me do quanto evolui e cresci para mim mesma. Aprendi a ser paciente<br />
e tolerante, mesmo que, às vezes, ainda reaja de forma um pouco ríspida.<br />
Sinto que as minhas relações conseguiram encontrar uma certa serenidade, aprendi a calarme<br />
e falar só quando realmente for necessário. Estou atenta a tudo que acontece <strong>em</strong> meu<br />
redor. Sei que a relação especular está diariamente a me mostrar qu<strong>em</strong> sou e quero poder<br />
ver além do que está acontecendo no momento.<br />
Hoje vejo que não era uma menina má, apenas insegura e triste, com uma grande sensação<br />
interna de abandono, que usava as armas que tinha no momento para proteger-me. Quando<br />
estamos com medo distorc<strong>em</strong>os a imag<strong>em</strong> da realidade e o que v<strong>em</strong>os são os reflexos das<br />
nossas sombras projetadas nos outros.<br />
Quando estas sombras se tonavam assustadoras me utilizava de com<strong>por</strong>tamentos para<br />
tentar fugir delas, ou seja, destruí-las a todo custo. Hoje sei que as minhas sombras são<br />
partes integrantes de minha alma e que posso conviver com elas, buscando dar luz, na<br />
medida <strong>em</strong> que me conscientizo delas e estou atenta para reconhecê-las na minha relação<br />
com o outro.<br />
O mito da caverna é uma forma metafórica de falarmos do que viv<strong>em</strong>os no mundo. Estamos<br />
o t<strong>em</strong>po todo acreditando que o real está fora, onde na verdade, aquilo que somos mora<br />
dentro de nós, onde amor do Pai nos acolhe s<strong>em</strong>pre e nos permitir recomeçar e perdoa as<br />
nossas fraquezas e ignorâncias.<br />
Para desenvolver o perdão na minha vida comecei a analisar os fatos ocorridos <strong>em</strong> minha<br />
vida. Fui aos poucos entrando no território obscuro da minha alma e começando a dar-me<br />
conta do que realmente estava precisando ser melhorado.<br />
Sei que o que mais deseja era ser escutada e compreendida, aceita e amada pelo que sou.<br />
As diferenças pessoais vão s<strong>em</strong>pre existir, pois faz parte do processo evolutivo, cada qual<br />
no seu momento.<br />
Casarjian (1994), nos mostra com muita clareza a finalidade do perdão e o quanto ele traz<br />
de benefícios para todos os envolvidos:<br />
12
Uma decisão, a de ver além dos limites da personalidade de outra pessoa, de seus medos,<br />
idiossincrasias, neuroses e erros. A decisão de ver uma essência pura, não condicionada <strong>por</strong><br />
histórias pessoais, que t<strong>em</strong> uma capacidade ilimitada e s<strong>em</strong>pre é digna de respeito e amor.<br />
Uma atitude, que pressupõe estar disposto a aceitar a responsabilidade das próprias<br />
percepções, compreendendo que são opções, não fatos objetivos. O perdão é a atitude de<br />
optar <strong>por</strong> olhar para uma pessoa que talvez alguém tenha julgado automaticamente e<br />
perceber que na realidade, é algo mais que a pessoa “terrível” ou insensível que v<strong>em</strong>os.<br />
Uma conseqüência de compreender que as percepções são uma opção é que ao mudar as<br />
percepções, também mudam as reações <strong>em</strong>otivas. No lugar do hom<strong>em</strong> furioso que você viu<br />
te atacar faz cinco minutos, poderá ver agora uma criança frustrada e assustada.<br />
Freqüent<strong>em</strong>ente, é a criança interior ferida ou assustada da outra pessoa a responsável pela<br />
sua falta de delicadeza ou de critério maduro. Quando somos adultos, essa criança interior<br />
ferido vive dentro de nós, caso no decorrer de nossa infância tenha se nos negado o amor, a<br />
compreensão e o consolo de que precisávamos. A criança ferida continua sendo uma força<br />
impulsionadora na psique do adulto, até que seja reconhecido e depois curado. O perdão<br />
nos capacita a perceber, sob esse com<strong>por</strong>tamento insensível, essa criança ferida, os<br />
condicionamentos passados e o grito pedindo ajuda, amor e respeito.<br />
Um processo, que exige que mud<strong>em</strong>os nossas percepções uma vez ou outra. Não é algo<br />
que aconteça de uma vez <strong>por</strong> todas. Nossa visão habitual está obscurecida pelos juízos e<br />
percepções do passado projetado no presente. Nisto, as aparências nos enganam com<br />
facilidade. Quando optamos <strong>por</strong> mudar nossa perspectiva <strong>por</strong> uma visão mais profunda, mais<br />
ampla e abrangente, pod<strong>em</strong>os reconhecer e afirmar a maior verdade a respeito de qu<strong>em</strong><br />
somos nós e qu<strong>em</strong> são os d<strong>em</strong>ais. Como resultado desta mudança, surge de um modo<br />
natural uma maior compreensão e compaixão <strong>por</strong> nós mesmos e pelos d<strong>em</strong>ais. Cada vez<br />
que faz<strong>em</strong>os esta mudança, debilitamos o monopólio do ego sobre nossas percepções e nos<br />
capacitamos para deixar seguir, libertar e esquecer o passado. O perdão costuma ser<br />
experimentado como um sentimento de otimismo, paz, amor e abertura do coração, alívio,<br />
expansão, confiança, liberdade, alegria e uma sensação de estar fazendo o correto.<br />
Uma forma de vida que nos converte gradualmente de vítimas de nossas circunstâncias <strong>em</strong><br />
poderosos e amorosos co-criadores de nossa realidade. Enquanto forma de vida, pressupõe<br />
o compromisso de experimentar cada momento livre de percepções passadas, de ver cada<br />
instante como algo novo, com clareza e s<strong>em</strong> t<strong>em</strong>or. É o desaparecimento das percepções<br />
que dificultavam nossa capacidade de amar.<br />
Para trabalhar o perdão precisei de determinação e ousadia, teve momentos que acreditava<br />
que não conseguiria ir mais longe, pois <strong>em</strong> cada descoberta a dor era muito intensa. O<br />
processo terapêutico foi um grande su<strong>por</strong>te nesta caminhada, sentia-me acolhida e<br />
respeitada.<br />
Na tutoria compreendia que estava começando a fazer grandes mudanças internas e seguia<br />
na trilha para tornar-me uma terapeuta transpessoal. Partilhava as minhas dúvidas e<br />
ansiedades. Foram encontros muito significativos para mim.<br />
Quando iniciei a tutoria achava que não era compreendida <strong>em</strong> minhas ansiedades e dores.<br />
Com o passar do t<strong>em</strong>po pude ver que naquele momento ainda estava a começar a minha<br />
caminhada pela transpessoal, e que eu é que não percebia o quanto a tutora estava a me<br />
entender.<br />
Sinto que t<strong>em</strong>os que estar atento as nossas d<strong>em</strong>andas, e saber perceber as necessidades<br />
do outro. Trabalhar as nossas sombras e evitar julgamentos. “Toda pessoa que cruza o<br />
nosso caminho e coloca o dedo nas nossas feridas não passa de uma personificação da<br />
nossa sombra”. (Ferrini, 2007)<br />
13
Os exercícios respiratórios são ferramentas que me ajudaram bastante quando sentia que<br />
não dava conta das minhas sensações. Neste momento permitia observar como o meu<br />
corpo se com<strong>por</strong>tava e o quanto era necessário reabastecê-lo de paz para poder prosseguir.<br />
Sei que no início senti algumas dificuldades, pois percebia que estava muito condicionada a<br />
um padrão de com<strong>por</strong>tamento <strong>em</strong> que reagia automaticamente. Trabalhar no propósito de<br />
serenar minha alma foi um dos primeiros desafios para uma pessoa extr<strong>em</strong>amente prática e<br />
agitada.<br />
A meditação foi uma grande ferramenta que encontrei para poder aquietar a mente e poder<br />
entra <strong>em</strong> contato com minha alma. Percebi que nestes momentos o ego não se colocava e a<br />
minha essência divina se fazia presente, não havia lugar para discórdia, julgamento ou<br />
medo, havia um despertar da consciência e de uma sensação de serenidade e paz. A<br />
percepção de mundo se modificava e havia uma harmonia entre o mundo interno e o<br />
externo.<br />
O ego não ficava aprisionado, o que acontecia nestes momentos era que eu deixava com<br />
que tudo que estava externo se acalmasse e permitia com que o observador se tornasse<br />
pleno, permitia que <strong>em</strong>ergisse os sentimentos de amor e fraternidade.<br />
Segundo Jampolsky (2006), “O sist<strong>em</strong>a de crenças do ego está baseado no medo, na culpa<br />
e na necessidade de culpar alguém ... o ego acredita, também, que t<strong>em</strong>os de estar s<strong>em</strong>pre<br />
preparados para nos defender. (p.54)<br />
A consciência test<strong>em</strong>unha se tornava mais presente no meu dia-a-dia, a atenção era dirigida<br />
para perceber o que era meu e que estava a projetar no outro. Com consciência mais<br />
expandida a teia da vida começava <strong>por</strong> tecer os seus primeiros fios de equilíbrio.<br />
Não queria julgar meus com<strong>por</strong>tamentos, sentia que precisa aceitar que uma mudança<br />
estava acontecendo dentro de mim. Já não me via como no início do curso, a certeza da<br />
mudança era notória tanto <strong>por</strong> mim quanto pelos que estavam ao meu redor.<br />
Comecei <strong>por</strong> buscar identificar o que mais me atraía neste processo. As leituras traziam um<br />
refletir mais centrado e congruente. Já percebia como este trabalho pessoal transformava<br />
uma simples psicóloga <strong>em</strong> uma acompanhante de almas.<br />
As mudanças no atendimento aos meus pacientes foram acontecendo e eu já os olhava de<br />
um modo mais espiritualizado. Sentia uma grande gratidão <strong>por</strong> eles estar<strong>em</strong> ali, confiando<br />
<strong>em</strong> mim os seus segredos, seus medos e suas dores.<br />
Eles me ensinam muito todos os dias. São como pedras preciosas que começam <strong>por</strong><br />
descobrir o seu brilho e valor na vida. Sei que é um trabalho de grande investimento e tenho<br />
buscado desenvolver as minhas habilidades <strong>em</strong>ocionais e espirituais, pois estamos numa<br />
relação especular muito intensa.<br />
O perdão nos conduz a uma sensação de esperança <strong>em</strong> nós e na humanidade. A uma<br />
consciência cósmica e que o amor é tudo que de melhor pod<strong>em</strong>os oferecer.<br />
A vida é uma grande renovação, sinto que é assim que estou a sentir hoje. Renovando<br />
meus sonhos, minha vida e confiando mais nas pessoas. Sei que tudo isto é reflexo do<br />
investimento que estou a fazer, aprendo a perdoar a mim e aos outros. Desenvolvendo a<br />
minha capacidade de amar e ser feliz.<br />
14
2.5. Terapia do perdão - David W. Schel<br />
1. Perdoar significa vergar s<strong>em</strong> quebrar, ser suficient<strong>em</strong>ente forte para su<strong>por</strong>tar o<br />
grande peso da injúria, mas flexível o bastante para se recuperar. Perdoe!<br />
2. A vida nunca é perfeita. Perdoe as falhas inevitáveis da vida.<br />
3. Perdoe-se: pelo que você lamenta ser e pelo que gostaria de ter feito, <strong>por</strong> não ser<br />
plenamente você mesmo e <strong>por</strong> ser apenas você mesmo.<br />
4. O perdão dado a si mesmo lava a alma, purificando-a da vergonha e da culpa. Do<br />
perdão a si mesmo brota a força de perdoar aos outros.<br />
5. Você t<strong>em</strong> o direito de se sentir triste, traído, irritado e ressentido quando é magoado.<br />
Compreenda, aceite e expresse seus sentimentos. Varrê-los para debaixo do tapete apenas<br />
fará com que venham à tona <strong>em</strong> outro lugar, numa outra ocasião.<br />
6. Aborde as pessoas que o magoaram; diga-lhes como você se sente. Se isso não for<br />
possível, ou se for prejudicial a você ou a outra pessoa, fale-lhes <strong>em</strong> sua imaginação.<br />
7. Perdoar não significa aceitar mais desaforos ou continuar relacionamentos<br />
desgastantes. Estabeleça limites para o que é aceitável para você e deixe claros esses<br />
limites aos outros. Responsabilize-os <strong>por</strong> suas ações.<br />
8. A justiça pode justificar atos ofensivos, mas o perdão cura a ofensa. Procure o<br />
perdão além da justiça.<br />
9. Às vezes as pessoas o ofend<strong>em</strong> <strong>por</strong>que, como você, elas estão aprendendo e se<br />
desenvolvendo. Perdoe-lhes <strong>por</strong> não ser<strong>em</strong> completas; perdoe-lhes <strong>por</strong> ser<strong>em</strong> humanas.<br />
10. Recusar-se a perdoar é ferir a si mesmo. Vitimado uma vez, não perdoar é manter-se<br />
no estado de vítima, é aferrar-se a uma identidade de vítima. Em vez disso, assuma a<br />
identidade de alguém que perdoa.<br />
11. Perceba como você se recusa a perdoar. Manter os monstros interiores acuados<br />
requer energia. Não desperdice energia assim; use-a para afirmar e abraçar a sua vida.<br />
12. As vítimas são impotentes, estão à mercê do agressor. Mostrando misericórdia para<br />
com um agressor, você volta a assumir o controle. Assuma o comando perdoando.<br />
13. Saiba que o perdão é possível mesmo nas circunstâncias mais dolorosas, mesmo<br />
com relação a alguém <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> você talvez não confie ou que não respeite mesmo quando<br />
alguém parece não merecê-lo. O perdão é um test<strong>em</strong>unho da bondade que o seu Criador<br />
infundiu <strong>em</strong> você desde o primeiro momento da sua existência.<br />
14. O perdão é a única receita verdadeira para o sofrimento <strong>em</strong> que você sente <strong>em</strong><br />
decorrência do com<strong>por</strong>tamento de outra pessoa. A decisão de curar-se cabe a você.<br />
15. Pense no perdão como uma poderosa habilidade de sobrevivência. Ele o ajuda a<br />
encontrar o seu caminho <strong>por</strong> entre a incompreensão, a mágoa, o ressentimento e o ódio.<br />
16. Se você acha difícil perdoar aos seus pais <strong>por</strong> sua paternidade imperfeita, l<strong>em</strong>bre-se:<br />
eles foram plasmados pela paternidade imperfeita que receberam de seus pais, que <strong>por</strong> sua<br />
vez foram plasmados pelos seus, e assim sucessivamente...<br />
15
17. Deixe de pensar <strong>em</strong> perdoar uma ofensa. Isso n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é possível, e às vezes<br />
talvez n<strong>em</strong> seja desejável. Decida-se, sim, a avançar, passando do pensamento de querer<br />
perdoar ao perdão propriamente dito.<br />
18. Dê condições a que o perdão seja o catalisador de uma reação <strong>em</strong> cadeia saudável.<br />
O perdão esteriliza a ferida, o que possibilita a cura, o que libera energia para o<br />
crescimento.<br />
19. Nenhuma relação de amor está livre de causar desgostos. Enfaixe as feridas de<br />
amor com o perdão.<br />
20. Nenhuma ofensa é imperdoável, a menos que você assim o queira. Use seu poder<br />
com sabedoria.<br />
21. Quando tiver dificuldade de perdoar, l<strong>em</strong>bre-se de um momento <strong>em</strong> que você queria<br />
ser perdoado. Ofereça à pessoa que lhe pede perdão o que você queria receber naquela<br />
ocasião.<br />
22. Perdoar requer muita prática. Comece pelas pequenas ofensas e abra caminho para<br />
as grandes.<br />
23. Perdoar é um processo de toda uma vida. Perdoe s<strong>em</strong>pre e continue perdoando,<br />
mesmo que seja a mesma ofensa.<br />
24. O perdão pode parecer inútil quando você não vê resultados imediatos. Mas a cura e<br />
o desenvolvimento são como um bom queijo velho, não como purê de batatas instantâneo.<br />
Dê t<strong>em</strong>po ao perdão.<br />
25. Ninguém pode fazê-lo sentir-se mal. Você t<strong>em</strong> o poder de escolher entre viver<br />
amargurando-se ou viver aperfeiçoando-se. Assuma a responsabilidade <strong>por</strong> seus<br />
sentimentos; reivindique o seu poder.<br />
26. Você não pode mudar alguém para melhor nutrindo ressentimentos. Ressentimentos<br />
apenas mudam você, para pior.<br />
27. Pergunte-se se ¨Eu não posso perdoar¨, significa ¨Eu não vou perdoar¨. Então volte o<br />
seu coração para o calor do amor de Deus e deixe que esse amor descongele o seu<br />
coração.<br />
28. O perdão exige corag<strong>em</strong> e determinação. Cave fundo e você encontrará a força de<br />
que necessita.<br />
29. Permita que o perdão abra a <strong>por</strong>ta para a reconciliação. O maldoso de hoje pode ser<br />
o amigo de amanhã.<br />
30. Aceite a possibilidade de reconstruir um relacionamento. Ofensas passadas pod<strong>em</strong><br />
ser r<strong>em</strong>ovidas e enterradas, e uma vida melhor construída sobre o entulho.<br />
16
Conclusão<br />
Inicialmente não foi fácil escrever sobre o perdão, ainda sentia que muito ressentimento e<br />
raiva estavam escondidos <strong>em</strong> baixo do tapete, era preciso ter corag<strong>em</strong> de levantar e<br />
começar a varrer. Nestes dias senti muitas dores de cabeça e enjôos, como que meu corpo<br />
percebesse o quanto estava difícil ter que ir reconhecendo que sujeiras eram estas e <strong>por</strong>que<br />
continuavam ali guardadas <strong>por</strong> tanto t<strong>em</strong>po e o quanto isto me adoecia.<br />
Escolhi este t<strong>em</strong>a <strong>por</strong> ser o trabalho que no momento estou a realizar <strong>em</strong> minha vida. Na<br />
minha estória de vida, ficaram muitos mal entendidos e dores escondidas. Não culpo n<strong>em</strong> a<br />
mim n<strong>em</strong> a ninguém, sei que tudo que aconteceu foi necessário.<br />
Perdoar t<strong>em</strong> sido o meu grande investimento diário, e entendo que quando nós não<br />
quer<strong>em</strong>os aprender pelo amor, vamos aprender pela dor. Minha jornada existencial v<strong>em</strong> de<br />
longas datas e sei perfeitamente que não tenho como desfazer tudo que aconteceu, mas<br />
posso transformar tudo <strong>em</strong> aprendizado, respeitando o que é possível para mim e investindo<br />
para que hoje eu possa ter paz apesar de tudo.<br />
Percebo com mais nitidez as grandes mudanças que passei e que continuo a passar, esta é<br />
a primeira etapa desta nova jornada. Sei que tudo isto está me fazendo muito b<strong>em</strong>. Estou<br />
mais consciente das minhas responsabilidades, s<strong>em</strong> excesso de cobranças e perfeição.<br />
Descobri muitas coisas im<strong>por</strong>tantes da minha vida que tinham sido escondidas no <strong>por</strong>ão da<br />
minha alma. Comecei a arrumar a casa e jogar fora tudo aquilo que não era mais necessário<br />
e sei que <strong>por</strong> vezes tive medo de me perder, pois já estava acostumada a viver daquele<br />
jeito.<br />
Sou mais maleável com meu ego, sei que ele ainda está condicionado a julgar e condenar,<br />
sei que faz parte do processo na qual estou inserida culturalmente. Estou atenta ao que me<br />
incomoda e s<strong>em</strong>pre procuro dar-me conta das minhas sombras, procurando não negá-las ou<br />
refleti-las nos outros.<br />
A mudança de hábito foi acompanhada <strong>por</strong> mudanças significativas na minha forma de<br />
pensar e agir. Tornei-me mais consciente da minha missão e do meu compromisso <strong>em</strong><br />
crescer continuamente.<br />
O t<strong>em</strong>a do perdão tocou-me muito, descobri o quanto preciso desenvolver esta parte da<br />
minha alma. Durante muito t<strong>em</strong>po vivi presa a acontecimentos que não me pro<strong>por</strong>cionava<br />
nenhuma melhora pessoal, movimentava-me <strong>em</strong> círculos s<strong>em</strong> encontrar saída para o<br />
sofrimento. Tornei-me algoz e vítima de mim mesma.<br />
Tenho realizado o trabalho de auto-perdão e paralelamente processo de perdoar os outros.<br />
Sei que não vai mudar tudo de uma vez, mas sinto que já começo a encontrar mais<br />
serenidade e aceitação <strong>em</strong> minha vida.<br />
Continuo o meu processo terapêutico e sei que está a me ajudar <strong>em</strong> encontrar novas formas<br />
de viver e estar <strong>em</strong> paz comigo e com os d<strong>em</strong>ais. Foram muitas <strong>em</strong>oções vividas e<br />
resignificadas. Acredito firm<strong>em</strong>ente que o amor possibilita esse encontro conosco e que o<br />
terapeuta cria pontes onde decidimos passar ou não.<br />
Como acompanhante de almas sigo meu caminho de aprendizado, de tornar-me cada vez<br />
melhor e mais humana. Sigo a direção da luz que hoje surge no alvorecer da minha<br />
caminhada, consciente que estes são os primeiros passos e que preciso realizar muitas<br />
outras mudanças que vão ser significativas para minha jornada na terra.<br />
Durante nove meses me propus a investir no meu aprendizado tanto profissional quanto<br />
pessoal. Hoje já colho algumas alegrias desta escolha. Sei que tudo que consegui até agora<br />
foi <strong>por</strong> que fiz <strong>por</strong> onde merecer e acredito no poder do Universo <strong>em</strong> me ajudar a ir muito<br />
mais além.<br />
17
É assim que resolvi caminhar nesta nova trajetória de vida. Mudar a minha forma de ver e<br />
viver a vida, acreditar que o outro é meu s<strong>em</strong>elhante e que muitas vezes t<strong>em</strong> me revelado o<br />
que tenho tentado manter escondido de mim mesma.<br />
Na espiral evolutiva ainda tenho muito que aprender e sei que posso também ensinar aos<br />
que comigo quiser<strong>em</strong> estar.<br />
Com essas transformações que estou a viver o meu trabalho como psicóloga teve um novo<br />
direcionamento. A psicologia realizada a partir da visão transpessoal permite tratamento<br />
mais eficiente e duradouro.<br />
No seu processo evolutivo a humanidade t<strong>em</strong> realizado grandes avanços. A busca pela paz<br />
e equilíbrio ecológico só são possíveis se as pessoas estiver<strong>em</strong> sintonizadas as energias<br />
positivas que <strong>em</strong>anam do Cosmo e se engajar<strong>em</strong> <strong>em</strong> trabalhos humanitários que possam<br />
ultrapassar as barreiras do medo e assim poder descobrir o amor que traz<strong>em</strong> dentro de suas<br />
almas.<br />
Durante sua passag<strong>em</strong> entre nós Jesus Cristo deixou como ensinamento a Lei maior para a<br />
humanidade: “Lei do Amor”.<br />
Qu<strong>em</strong> ama perdoa. Mas, quantas vezes dev<strong>em</strong>os perdoar? Foi o que o Apóstolo Pedro<br />
perguntou certa vez a Jesus.<br />
- Mestre, quantas vezes devo perdoar aquele que me ofende? Até sete vezes está bom?<br />
- Não até sete vezes, Pedro, mas até setenta vezes sete.<br />
Setenta vezes sete, na maneira de falar dos judeus significa, s<strong>em</strong>pre. Jesus nos manda<br />
amar o próximo assim como Deus nos ama.<br />
Dou-vos um mandamento novo: Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei, amaivos<br />
também uns aos outros (João 13,34)<br />
18
Referências Bibliográficas<br />
Casarjian, Robin. O livro do perdão: o caminho para o coração perdido. Rio de Janeiro:<br />
Rocco, 1994.<br />
Castellanos, Luiz Valdez. <strong>Perdão</strong>: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2011<br />
Contando Histórias. A Lenda do <strong>Perdão</strong>. Disponível <strong>em</strong><br />
http://www.contandohistorias.com.br/historias/2006515.php. Acesso <strong>em</strong> 15/06/12.<br />
Ferrini, Paul. As 12 estapas do perdão: manual prático para transformar o medo <strong>em</strong><br />
amor. São Paulo: Pensamento, 2007.<br />
Fórum Espírita. Terapia do <strong>Perdão</strong>. Disponível <strong>em</strong> http://www.forumespirita.net/fe/o-livrodos-espiritos/terapia-do-perdao.<br />
Acesso <strong>em</strong> 16/06/12.<br />
Jampolsky, Gerald G. <strong>Perdão</strong>: a cura para todos os males. São Paulo: Cultrix, 2006.<br />
O mito da caverna. Disponível <strong>em</strong> http://culturareligare.wordpress.com/2007/07/27/o-mitoda-caverna-2/.<br />
Acesso <strong>em</strong> 15/06/12.<br />
19
ANEXOS<br />
20
Aprendi, outro dia que perdoar...<br />
Artur da Távola<br />
"... Aprendi, outro dia que perdoar<br />
é a junção de "per" com "doar".<br />
Doar é mais do que dar.<br />
Doar é a entrega total do outro.<br />
O prefixo "per" que t<strong>em</strong> várias acepções,<br />
indica movimento no sentido "de"<br />
ou <strong>em</strong> "direção" a ou "através"<br />
ou "para" etimologicamente falando,<br />
<strong>por</strong>tanto, perdoar, quer dizer doar ao<br />
outro a possibilidade de que ele possa amar,<br />
possa doar-se.<br />
Não apenas qu<strong>em</strong> perdoa que se<br />
"doa através do outro".<br />
Perdoar implica abrir possibilidades de<br />
amor para qu<strong>em</strong> foi perdoado,<br />
através da doação oferecida<br />
<strong>por</strong> qu<strong>em</strong> foi agravado.<br />
Perdoar é a única forma de facilitar<br />
ao outro a própria salvação.<br />
Doar é mais do que dar: é a entrega total ...<br />
Perdoar é doar o amor,<br />
é permitir que a pessoa objeto do perdão<br />
possa também devolver um amor que,<br />
até então, só negara ...<br />
21
Epitáfio<br />
Titãs<br />
Devia ter amado mais<br />
Ter chorado mais<br />
Ter visto o sol nascer<br />
Devia ter arriscado mais e até errado mais<br />
Ter feito o que eu queria fazer<br />
Queria ter aceitado as pessoas como elas são<br />
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração<br />
O acaso vai me proteger<br />
Enquanto eu andar distraído<br />
O acaso vai me proteger<br />
Enquanto eu andar...<br />
Devia ter complicado menos, trabalhado menos<br />
Ter visto o sol se pôr<br />
Devia ter me im<strong>por</strong>tado menos com probl<strong>em</strong>as pequenos<br />
Ter morrido de amor<br />
Queria ter aceitado a vida como ela é<br />
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier<br />
O acaso vai me proteger<br />
Enquanto eu andar distraído<br />
O acaso vai me proteger<br />
Enquanto eu andar...<br />
Devia ter complicado menos, trabalhado menos<br />
Ter visto o sol se pôr.<br />
22