18.04.2013 Views

Jornal do Agrupamento Vertical de Escolas de Macedo

Jornal do Agrupamento Vertical de Escolas de Macedo

Jornal do Agrupamento Vertical de Escolas de Macedo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Área disciplinar <strong>de</strong> Português<br />

Entrevista aos heterónimos <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Pessoa:<br />

Alberto Caeiro:<br />

1. Alberto Caeiro é visto como o “mestre” até <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Pessoa.<br />

Como explica isso?<br />

É simples, eu tenho tu<strong>do</strong> aquilo que Fernan<strong>do</strong> pessoa <strong>de</strong>seja ter. o<br />

meu objectivismo, o sensacionismo, a recusa <strong>do</strong> pensamento são os<br />

<strong>de</strong>sejos mais profun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Pessoa e eu possuo-os.<br />

Para mim nada como sentir a natureza sem pensar apenas sentir,<br />

pois como sabem “pensar é estar <strong>do</strong>ente <strong>do</strong>s olhos”.<br />

2. Sen<strong>do</strong> uma pessoa com poucos estu<strong>do</strong>s como classifica a sua poesia?<br />

Como já to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem saber “ser poeta não é uma ambição<br />

minha. É a minha maneira <strong>de</strong> estar sozinho”. Mas aquilo que eu escrevo<br />

é apenas o que me vai na alma, tratan<strong>do</strong>-se então <strong>de</strong> uma poesia<br />

simples, sem ro<strong>de</strong>ios nem filosofias.<br />

3. Você tem pre<strong>do</strong>minância para usar as sensações, principalmente<br />

a visão. É assim que é feliz?<br />

Claro, eu nem sou poeta: vejo. É através das sensações que<br />

eu vivo a minha vida, <strong>de</strong> que me serve o pensamento? Por isso normalmente<br />

“fecho os olhos quentes, sinto to<strong>do</strong> o meu corpo <strong>de</strong>ita<strong>do</strong><br />

na realida<strong>de</strong>, sei a verda<strong>de</strong> e sou feliz”.<br />

4. Acredita plenamente que os <strong>de</strong>uses se encontram na natureza,<br />

nas árvores, nas flores e não ter <strong>de</strong> pensar neles?<br />

Como é óbvio pois “pensar em Deus é <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer a Deus,<br />

Porque Deus quis que o não conhecêssemos, Por isso se nos não<br />

mostrou”.<br />

5. Então acredita que as coisas são aquilo que são, aquilo que se vê<br />

sem mistério algum.<br />

Plenamente, “As coisas não tem<br />

significação: têm existência. As coisas<br />

são o único senti<strong>do</strong> oculto das coisas”. É<br />

por isso, que vejo as coisas e não as penso.<br />

Portanto, digo-vos: “Acreditem, pensar<br />

incomoda como andar a chuva”.<br />

6. Quer <strong>de</strong>ixar alguma mensagem final?<br />

Sim, gostaria <strong>de</strong> acrescentar que<br />

“se, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eu morrer, quiserem escrever<br />

a minha biografia, Não há nada mais<br />

simples. Têm só duas datas, a da minha<br />

nascença e a da minha morte. Entre uma<br />

e outra to<strong>do</strong>s os dias são meus”.<br />

Ricar<strong>do</strong> Reis:<br />

1. Para começar, gostaria que me explicasse<br />

o porque da influência <strong>de</strong> Horácio<br />

na sua poesia.<br />

Como <strong>de</strong>ve saber, eu tenho uma educação latinista e semi –<br />

helenista, o que explica logo a partida tu<strong>do</strong>. Além disso, para mim Horácio<br />

é perfeito em “quase tu<strong>do</strong>” e atenção ao “quase tu<strong>do</strong>”. Eu concor<strong>do</strong><br />

com ele, em algumas coisas e foi nele que me baseei muitas<br />

vezes para dar resposta as minhas criações e sentimentos.<br />

2. Aquilo que você chama “felicida<strong>de</strong>” através <strong>do</strong> epicurismo será<br />

que é mesmo uma “felicida<strong>de</strong>”?<br />

Para mim é sem sombra <strong>de</strong> dúvidas. Se quisermos ser felizes,<br />

temos <strong>de</strong> faze-lo sem <strong>de</strong>sprazer ou <strong>do</strong>r, com tranquilida<strong>de</strong>. É necessário<br />

saber que para ser feliz é importante “Desenlaçar as mãos”<br />

e ver passar a vida tranquilamente “sem amores, nem ódios, nem paixões<br />

que levantam a voz”.<br />

3. Para si o Estoicismo é também um princípio <strong>de</strong> vida muito importante.<br />

Po<strong>de</strong> explica-lo?<br />

A vida <strong>de</strong>ve ser vivida com felicida<strong>de</strong>, mas esta só é possível<br />

se nós aceitar-mos as leis <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino e vivermos em conformida<strong>de</strong><br />

com elas. Para isto é necessário ser indiferente as paixões e aos males<br />

que po<strong>de</strong>m tornar-se num gran<strong>de</strong> risco na vida. É melhor que nos<br />

“Amemos tranquilamente (…) senta<strong>do</strong>s um ao pé <strong>do</strong> outro ouvin<strong>do</strong><br />

correr o rio (…)” <strong>do</strong> que num futuro quan<strong>do</strong> for sombra se lembrem<br />

<strong>de</strong> mim <strong>do</strong>lorosamente.<br />

4. Porque a existência <strong>do</strong> «carpe diem» na sua poesia?<br />

O «carpe diem», viver o dia é fundamental, pois para ser felizes<br />

é necessário aproveitar o dia ao máximo. Tem <strong>de</strong> existir sempre<br />

a noção <strong>de</strong> que “Este é o dia, esta é a hora, este é o momento, isto é<br />

quem somos, e é tu<strong>do</strong>”.<br />

5. Acha portanto que viven<strong>do</strong> com estes princípios aproveitará a sua<br />

vida ao máximo sen<strong>do</strong> feliz?<br />

Acredito e espero que muitos o assim façam também, pois<br />

nós não somos <strong>do</strong>nos <strong>do</strong> tempo e “No mesmo hausto em que vivemos,<br />

morreremos”, sen<strong>do</strong> por isso fundamental viver o dia como se<br />

tu<strong>do</strong> fosse bom mesmo que o não seja.<br />

6. Para terminar, gostaria que me explicasse como vê o fa<strong>do</strong> na sua<br />

vida.<br />

O fa<strong>do</strong>, ou seja, o <strong>de</strong>stino é algo incontrolável, que nem sequer<br />

os <strong>de</strong>uses conseguem <strong>do</strong>minar. Este controla os <strong>de</strong>uses que<br />

por sua vez nos controlam a nós. Como <strong>de</strong>vem saber “Anjos ou <strong>de</strong>uses,<br />

sempre nós tivemos”, mas <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>mos tentar fugir. Agora <strong>do</strong><br />

fa<strong>do</strong> é diferente, pois ele é tão superior que nada o controla fazen<strong>do</strong>nos<br />

perceber que “Acima <strong>do</strong>s <strong>de</strong>uses o Destino é calmo e inexorável”.<br />

Álvaro <strong>de</strong> Campos:<br />

1. Para começar, você é um poeta que se encontra no la<strong>do</strong> oposto<br />

aos heterónimos Alberto Caeiro e principalmente Ricar<strong>do</strong> Reis. É<br />

<strong>de</strong>sta mesma forma que você se vê?<br />

Sim, para mim quan<strong>do</strong> Pessoa me <strong>de</strong>finiu como estan<strong>do</strong> «no<br />

extremo oposto, inteiramente oposto a Ricar<strong>do</strong> Reis» possuía uma<br />

extrema razão. Apesar <strong>de</strong> ter como mestre Alberto Caeiro, os meus<br />

princípios e i<strong>de</strong>ais não o seguem cegamente. A minha necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sensação é diferente da <strong>do</strong> mestre e é assim que <strong>de</strong>ve ser.<br />

2. Você é caracteriza<strong>do</strong> como o mais histérico. É aquele que têm<br />

mais violência e mais fraqueza. É assim mesmo?<br />

Sim, sem a mínima dúvida e é através da minha fase futurista<br />

que isto se revela. Tal como o meu cria<strong>do</strong>r disse «Se eu fosse mulher<br />

– na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e<br />

coisas parecidas – cada poema <strong>de</strong> Álvaro<br />

<strong>de</strong> Campos seria um alarme para a vizinhança.<br />

Mas sou homem – e nos homens<br />

a histeria assume principalmente aspectos<br />

mentais, assim, tu<strong>do</strong> acaba em silêncio e<br />

poesia.» Eu não po<strong>de</strong>ria concordar mais<br />

com ele e é assim histérico que me encontro<br />

bem, sentin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> ao milímetro.<br />

3. A sua poesia é caracterizada por três fases.<br />

Po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e caracterizá-las?<br />

Com to<strong>do</strong> o gosto. Inicialmente tive<br />

uma fase <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntista na qual se exprimia<br />

o tédio, o cansaço, e principalmente a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter novas sensações. De<br />

seguida tive os melhores tempos da minha<br />

vida, a fase futurista e sensacionista<br />

on<strong>de</strong> me encontrava no auge da minha<br />

energia. Durante este tempo exprimia tu<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> bom que as máquinas possuem, exaltava<br />

a energia e punha toda a beleza das<br />

máquinas à vista.<br />

Por fim, encontro-me na minha última fase, a intimista, on<strong>de</strong><br />

o cansaço <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização me inva<strong>de</strong> e insiste<br />

em não sair. Por isso agra<strong>de</strong>ço que seja rápida, porque este cansaço...<br />

4. As máquinas são algo <strong>do</strong> melhor que há para si, são como uma<br />

Deusa, algo que é tão bom que parece inacreditável. De que mo<strong>do</strong><br />

as sente?<br />

Elas são <strong>do</strong> mais esplêndi<strong>do</strong> que há, tu<strong>do</strong> nelas é belo e era<br />

isso que eu pretendia ser: “po<strong>de</strong>r exprimir-me to<strong>do</strong> como um motor<br />

se exprime! (...) po<strong>de</strong>r ir na vida triunfante como um automóvel último<br />

– mo<strong>de</strong>lo! Po<strong>de</strong>r ao menos penetrar-me fisicamente <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> isto”<br />

O que eu mais queria era po<strong>de</strong>r “possui-las como a uma mulher<br />

bela, uma mulher bela que não se ama, que se encontra casualmente<br />

e se acha interessantíssima.<br />

5. Então, para si, o progresso da civilização é como um sonho torna<strong>do</strong><br />

realida<strong>de</strong>?<br />

Claro! Para mim isso é ter tu<strong>do</strong> e ser tu<strong>do</strong>, é po<strong>de</strong>r ver “gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sastres <strong>de</strong> comboios! Eh-lá <strong>de</strong>sabamentos <strong>de</strong> galerias <strong>de</strong> minas!<br />

Eh-lá naufrágios <strong>de</strong>liciosos <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s transatlânticos!<br />

Eh-lá.hô revoluções aqui e acolá (...)” só este progresso me satisfaz,<br />

só estes <strong>de</strong>sastres me fazem sentir e ver o quão as máquinas são<br />

belas e completas.<br />

6. Mas e então quer dizer que aqui, neste momento to<strong>do</strong>s os seus<br />

sonhos estão concretiza<strong>do</strong>s, que consegue sentir tu<strong>do</strong> e assim ser<br />

feliz?<br />

Infelizmente não. Como eu gostaria! “Ah, não ser eu toda

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!