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Nº 99<br />
PUBLICAÇÃO BIMESTRAL<br />
MARÇO/ABRIL 2008<br />
ANO XVI<br />
PREÇO € 6,50<br />
Alta densidade<br />
de plantação<br />
em cerejeira p.43<br />
Tomate de cacho<br />
conquista Portugal<br />
p.48<br />
Descontaminação<br />
em hortofrutícolas<br />
inteiros<br />
ESPECIAL VINHA<br />
p.67
ficha técnica editorial<br />
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Propriedade: Publicações Groupo TB<br />
Editor: Publicações Groupo TB<br />
Sócio - Gerente: Jean-Claude Bousigon<br />
Director de Marketing: Ezio Gomes<br />
Chefe de Redacção: Nélia Silva<br />
Redacção: Nélia Silva<br />
Consultor Técnico: Guy Dubon<br />
Colaboração Jurídica: José Manuel Sosa Advogados<br />
Revisão Ortográfica: Nélia Silva<br />
Assinaturas: Ronaldo Fernandes de Souza<br />
Traduções: Carla Araújo, Nélia Silva<br />
Fotografias: Ezio Gomes, Nélia Silva, Pierre Escodo<br />
Publicidade: Ezio Gomes, Pierre Escodo.<br />
Depto. Financeiro: Carla Araújo.<br />
Colaboraram Nesta Edição: José Gomes Laranjo,<br />
Alberto Santos, Amaral A., António Crespi, Associação<br />
de Floricultores de Portugal, Avelino Balsinhas, Boteta L.,<br />
Carla Alegria, Carlos Arruda Pacheco, Carlos Ramos,<br />
Catronga H., Cristina L.M. Silva, Elsa M. Gonçalves,<br />
Guerreiro C., Hipólito R., Iris Salgueiro, Isabel Spranger,<br />
Joaquina Pinheiro, Jorge F. Moreira, José Silvestre,<br />
Lúcia Correia, Margarida Moldão-Martins, Marisa Simões,<br />
Marta Abreu, Matos M.S., Miguel de Castro Neto,<br />
Oliveira. I., Rosalina Santos-Ribeiro, Ribeiro, N..<br />
Design Gráfico e Paginação: Nuno Magro<br />
(nunomagro@iol.pt)<br />
Impressão: Sociedade Tipográfica, S.A – Nº Registo<br />
D.G.C.S. 115808 . Empresa Jornalística nº 223666<br />
Depósito Legal Nº 545443/92 . ISSN 0873 - 6626<br />
Os artigos assinados são da única responsabilidade<br />
dos seus autores; as páginas que possuem no canto<br />
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Novas Culturas Menores<br />
A recente reclassificação das culturas para fins de homologação de produtos fitossanitários<br />
é um “balão de oxigénio” para os agricultores portugueses.<br />
Morango, melão, couves, pimento, clementinas, tangerinas, limoeiro, damasqueiro<br />
e alperce, entre outras, foram reclassificadas como Culturas Menores. Um estatuto<br />
que permite acelerar o processo de autorização de pesticidas, alargando<br />
o leque de soluções fitossanitárias para estas culturas. Em Portugal já foram concedidas<br />
cerca de 1000 autorizações para Usos Menores, desde 2001, provando<br />
a utilidade desta ferramenta.<br />
Apesar de tardia, é uma oportunidade que pode ajudar a reduzir a falta de competitividade<br />
dos hortofruticultores portugueses, face aos seus concorrentes do Sul<br />
da Europa, muito mais bem apetrechados com soluções fitossanitárias.<br />
Outra medida que contribuirá para pôr Portugal em pé de igualdade com o resto<br />
da Europa é a homologação dos pesticidas por zonas de autorização – Portugal<br />
pertencerá à Zona C, com Espanha, Grécia, França, Itália, Malta e Chipre. Isto<br />
significa que bastará realizar os testes de avaliação dos pesticidas para fins de<br />
homologação uma única vez em cada zona, sem duplicação de ensaios para cada<br />
país. Aguarda-se um acordo político entre as instâncias europeias, depois de<br />
o Parlamento Europeu ter chumbado a primeira proposta da Comissão Europeia,<br />
pelo que só em 2009 é provável a publicação da directiva comunitária com as<br />
novas regras. Boas notícias para a agricultura portuguesa.<br />
sumário<br />
<br />
actualidade 5<br />
<br />
especial vinha 23<br />
<br />
cultivo<br />
pomares 43<br />
<br />
mercado e empresas<br />
tomate 48<br />
batata 51<br />
morango 52<br />
<br />
factores de produção<br />
protecção 54<br />
nutrição 59<br />
rega 62<br />
<br />
boas práticas agrícolas 65<br />
<br />
tecnologia<br />
pós-colheita 67<br />
<br />
higiene e segurança 69<br />
<br />
flores e ornamentais<br />
margarida 71<br />
azáleas 73<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
4
5<br />
Candidaturas às novas agro-ambientais até 15 de Maio<br />
Os prazos para apresentação das candidaturas de apoios para 2008, relativos a Alteração<br />
de Modos de Produção Agrícola e Manutenção da Actividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas<br />
decorrem até 15 de Maio de 2008. Informações pelo N.º Verde - 800 500 064.<br />
Entretanto, o IFAP anunciou para 31 de Março os pagamentos referentes ao Regime<br />
de Pagamento Único (5º. pagamento) e Manutenção da Actividade Agrícola em Zonas<br />
Desfavorecidas da campanha 2007 e das Medidas Agro e Silvo-Ambientais, com compromissos<br />
iniciados em Outubro de 2007. “Quanto a estas últimas será pago um adiantamento<br />
de 75 por cento do valor da ajuda a todos os requerentes que reúnam condições<br />
de elegibilidade para o pagamento, incluindo os marcados para controlo físico. Os<br />
restantes 25 por cento serão pagos após a realização dos controlos administrativos cruzados,<br />
que ocorrerão após o final do período de candidaturas em curso, e da conclusão<br />
dos controlos físicos”, explicou o IFAP em comunicado.<br />
Rua das Pedreiras - Apartado 8<br />
4741-908 FÃO<br />
Tel.: 253 989 360<br />
Fax: 253 989 369<br />
E-mail: geral@estufasminho.pt<br />
www.estufasminho.pt<br />
Secretário de Estado inaugurou Exploflor<br />
O secretário de Estado do Desenvolvimento Rural<br />
inaugurou a Exploflor 2008, realizada no Montijo<br />
de 3 a 6 de Abril. Ascenso Simões lembrou que<br />
a fileira florícola “tem um peso determinante no<br />
produto agrícola, mais de 200 milhões de euros/ano,<br />
superando o sector dos cereais ou do azeite” e incentivou<br />
os floricultores a investir na modernização<br />
das explorações, através de projectos de fileira<br />
financiados pelo PRODER. Embora sem adiantar<br />
quando poderão ser entregues as candidaturas, disse<br />
que os regulamentos do Eixo 1 – Promoção da<br />
Competitividade - que arrecada 1.437,8 milhões de<br />
euros, a maior fatia do PRODER - estarão prontos<br />
nos próximos dias. Ascenso Simões lembrou que,<br />
desde a adesão à União Europeia até ao fim do último<br />
Quadro Comunitário de Apoio, “a agricultura<br />
portuguesa recebeu 26 mil milhões de euros, o equivalente a 27 pontes Vasco da Gama, e<br />
levou a que o produto agrícola se mantivesse praticamente estagnado… com este novo QCA<br />
queremos dar o salto que se impõe no sector primário em Portugal”.<br />
A Exploflor pretendeu chamar a atenção para o esforço que os floricultores do Montijo têm<br />
feito na melhoria da qualidade das flores e na conquista de novos mercados. Apesar disso,<br />
Portugal continua a importar muito mais flores do que a exportar. De 2002 a 2004 comprámos<br />
ao estrangeiro 59 milhões de euros em flores e só vendemos para fora 22 milhões de euros. O<br />
comércio externo escoa 16 por cento do produto vendido em termos nacionais.<br />
actualidade<br />
país<br />
Citricultores querem apoios<br />
ao combate à mosca<br />
Os citricultores reclamam do Governo um sistema<br />
de apoio colectivo ao combate à mosca-do-<br />
Mediterrâneo, para que haja um controlo simultâneo<br />
da mosca em parcelas contíguas. “É um<br />
inimigo de difícil combate, contra o qual a conjugação<br />
de esforços é determinante para o sucesso<br />
da luta”, afirmou Celestino Soares num colóquio<br />
sobre esta praga, a 12 de Fevereiro, na Direcção<br />
Geral de Agricultura e Pescas do Algarve.<br />
O chefe da Divisão de Sanidade Vegetal da DRA-<br />
PALG defende a conjugação da luta biotécnica<br />
com a luta química, bem como a colheita das variedades<br />
tardias de citrinos o mais cedo possível,<br />
para evitar elevados riscos de ataque. No entanto,<br />
Eduardo Ângelo, da Uniprofrutal, lembrou<br />
que “não há suficientes infra-estruturas de frio<br />
no Algarve para colher a Valência Late no Verão,<br />
o que a obriga a ficar nos pomares até Setembro-Outubro”,<br />
agravando os ataques de mosca.<br />
O colóquio foi organizado pela Syngenta e visou<br />
a apresentação do Adress ® , um novo sistema<br />
de controlo da mosca-do-Mediterrâneo. Este<br />
produto foi aplicado em 7645 hectares de citrinos,<br />
em Espanha, no ano passado. Em Portugal<br />
está homologado para citrinos, pomóideas,<br />
prunóideas, vinha e diospireiro, em Protecção<br />
Integrada. A empresa aguarda a inclusão na lista<br />
de produtos autorizados em Modo de Produção<br />
Biológico.
actualidade<br />
agenda mundo<br />
ABRIL<br />
EUROAGRO FRUITS<br />
16 a 18 de Abril<br />
Feira Internacional<br />
de Tecnologias<br />
Feria Valência - (Espanha)<br />
www.feriavalencia.com<br />
I CONGRESSO REGIONAL DE<br />
FRUTICULTURA E VITICULTURA<br />
17 e 18 de Abril<br />
Universidade dos Açores<br />
Pico da Urze<br />
Açores - (Portugal)<br />
www.interfruta.net<br />
MACFRUT 2008<br />
17 a 19 Abril<br />
Salão Internacional de Fruta<br />
Casa Cesena<br />
Cesena - (Itália)<br />
www.macfrut.com<br />
XII SIMPÓSIO<br />
INTERNACIONAL SOBRE<br />
VÍRUS EM ORNAMENTAIS<br />
20 a 24 de Abril<br />
Haarlem - (Holanda)<br />
www.plant-virology.nl/ISVDOP12/<br />
X SIMPÓSIO INTERNACIONAL<br />
DE FLORES DE BOLBO<br />
E HERBÁCEAS PERENES<br />
20 a 24 de Abril<br />
Lisse - (Holanda)<br />
http://www.isfbp2008.wur.nl/<br />
EUROPECH’ 2008<br />
Forum Internacional de Frutas<br />
e Legumes<br />
22 a 24 de Abril<br />
Perpignan - (França)<br />
www.europech.eu<br />
25ª OVIBEJA<br />
26 de Abril a 4 de Maio<br />
ExpoBeja – Parque de Feiras<br />
e Exposições de Beja<br />
Beja - (Portugal)<br />
www.ovibeja.com<br />
MAIO<br />
FOOD FÓRUM ÍNDIA<br />
6 a 7 de Maio<br />
Encontro Internacional<br />
de Retalhistas do Sector<br />
Alimentar<br />
Renaissance Hotel, Mumbai<br />
(Índia)<br />
www.foodforumindia.com<br />
GRUPO ALIMENTAÇÃO<br />
7 a 10 de Maio<br />
Encontro dos Profissionais<br />
da Indústria Alimentar<br />
Exponor – Feira Internacional<br />
do Porto<br />
Leça da Palmeira - (Portugal)<br />
www.grupoalimentação.exponor.pt<br />
BIOPTIMA<br />
8 a 10 de Maio<br />
II Feira Internacional<br />
de Biomassa, Energias<br />
Renováveis e Água<br />
Recinto de Feiras de Jaén<br />
(Espanha)<br />
www.bioptima.es<br />
III COLÓQUIO NACIONAL DE<br />
HORTICULTURA PROTEGIDA<br />
9 e 10 de Maio<br />
Auditório Municipal<br />
Póvoa do Varzim - (Portugal)<br />
www.aphorticultura.pt<br />
14ª FEIRA DO OLIVAL<br />
DE MONTORO<br />
14 a 17 de Maio<br />
Montoro, Córdoba - (Espanha)<br />
www.feriadelolivo.es<br />
MEDOLIVA<br />
17 a 19 de Maio<br />
Feira de Azeite<br />
do Mediterrâneo<br />
Palácio de Negócios de Arezzo<br />
(Itália)<br />
www.medoliva.it<br />
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL<br />
SOBRE NUTRIÇÃO MINERAL<br />
DE FRUTEIRAS (ISHS)<br />
19 a 21 de Maio<br />
Universidade do Algarve<br />
Faro - (Portugal)<br />
http://eventos.ualg.pt/mnutrition6/1ªcircular<br />
JUNHO<br />
45ª FEIRA NACIONAL<br />
DE AGRICULTURA<br />
55ª Feira do Ribatejo 2008<br />
7 a 15 de Junho<br />
Santarém - (Portugal)<br />
www.cnema.pt<br />
III COLÓQUIO VITIVINÍCOLA<br />
DA ESTREMADURA<br />
20 e 21 de Junho<br />
Auditório Damião de Goes<br />
Alenquer - (Portugal)<br />
www.aphorticultura.pt<br />
III COLÓQUIO NACIONAL<br />
DE PRODUÇÃO DE PEQUENOS<br />
FRUTOS<br />
26 e 27 de Junho<br />
Sever do Vouga - (Portugal)<br />
I FEIRA INTERNACIONAL<br />
DO MIRTILO<br />
27 a 29 de Junho<br />
Auditório Municipal de Sever<br />
do Vouga - (Portugal)<br />
SETEMBRO<br />
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL<br />
SOBRE OLIVICULTURA (ISHS)<br />
9 a 13 de Setembro<br />
Universidade de Évora<br />
Évora - (Portugal)<br />
http://olivegrowing.uevora.pt<br />
ÁSIA FRUIT LOGÍSTICA<br />
10 a 12 de Setembro<br />
(Hong Kong)<br />
www.asiafruitlogistica.com<br />
SPV-SALÃO DA PLANTA,<br />
JARDIM E COMPLEMENTOS<br />
18 a 20 de Setembro<br />
Fira de Girona - (Espanha)<br />
www.spc.cat<br />
UE harmoniza LMR<br />
A Comissão Europeia publicou, dia 1 de Março, a legislação que estabelece<br />
Limites Máximos de Resíduos (LMR) para produtos vegetais,<br />
que passam a ser iguais para todos os países da União Europeia. O Regulamento<br />
CE nº 149/2008 cria os anexos II (LMR permanentes), III (LMR<br />
temporários) e IV (combinações de substâncias activas e produtos aos<br />
quais não se exigem LMR) que fixam LMR para os produtos abrangidos<br />
pelo anexo I (já publicado e que previa os produtos aos quais são exigidos<br />
LMR). As novas regras entram em vigor a 1 de Setembro deste<br />
ano, eliminando um dos grandes obstáculos ao comércio internacional<br />
de frutas e legumes.<br />
Pesticidas on-line<br />
A Associação Europeia da Indústria Fitofarmacêutica, ECPA – European<br />
Crop Protection Association lançou, em Março, um website<br />
para discussão pública da revisão da Directiva 91/414 - www.pesticideinformation.eu.<br />
O objectivo é disponibilizar informação para<br />
jornalistas, políticos, agricultores e o público geral, de forma a<br />
conhecerem melhor a discussão gerada em torno dos produtos fitofarmacêuticos,<br />
ajudando a construir uma opinião informada sobre<br />
a sua utilização e o seu futuro. Este portal oferece ainda inúmeros<br />
recursos para aprender mais sobre os pesticidas.<br />
Europeus favoráveis à nova PAC<br />
A opinião pública da União Europeia continua a mostrar-se altamente<br />
favorável às recentes reformas de política agrícola. O inquérito, realizado<br />
pela TNS Opinion, em nome da Direcção-Geral da Agricultura e<br />
do Desenvolvimento Rural da Comissão Europeia, entre 19 de Novembro<br />
e 14 de Dezembro de 2007, nos 27 Estados-membros, revela que 52 %<br />
dos inquiridos é a favor de maior financiamento do desenvolvimento rural<br />
e do pagamento directo aos agricultores, em vez de subsídios aos produtos.<br />
Os europeus também são muito favoráveis (85 % e 88 %, consoantes<br />
as medidas) às regras da condicionalidade. O inquérito mostrou<br />
também que o preço dos géneros alimentícios se tornou uma questão<br />
essencial em 2007, tendo 43 % dos inquiridos referido como uma prioridade<br />
política a garantia de preços razoáveis para esses géneros. Quase<br />
seis em cada 10 pessoas (58 %) consideram que o orçamento agrícola deve<br />
manter-se ou aumentar nos próximos anos, enquanto apenas 18 %<br />
pensam que deve ser reduzido. Além disso, a percentagem dos inquiridos<br />
que acham que o orçamento deve ser maior aumentou três pontos.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
6
7<br />
Floricultura presente na Agro Braga<br />
O sector florícola esteve representado na Feira Internacional de Agricultura,<br />
Agro Braga, através de diversas empresas. Uma iniciativa da<br />
Associação de Floricultores de Portugal (AFP), que organizou debates sobre<br />
a implementação de normas de qualidade em floricultura e sobre as<br />
medidas de apoio ao sector, no âmbito do Plano de Desenvolvimento Rural.<br />
O desfile “Noivas Floridas” e um workshop sobre arranjos florais completaram<br />
a oferta de actividades da fileira florícola na feira. Em Fevereiro,<br />
a AFP havia recebido a subcomissão Parlamentar de Agricultura numa<br />
visita pela região Norte para dar a conhecer a importância deste sector<br />
na economia regional e nacional.<br />
actualidade<br />
empresas<br />
“Sabor do Ano” 2009<br />
Estão abertas as candidaturas ao selo de qualidade “Sabor do<br />
Ano” relativas às distinções de 2009. O regulamento está disponível<br />
em www.sabordoano.com. O prazo para inscrição termina<br />
a 30 de Junho e os resultados serão revelados em Novembro<br />
de 2008. De acordo com inquéritos realizados junto dos consumidores,<br />
revelados pela organização deste evento, cerca de 44<br />
por cento dos portugueses assume que o sabor é o critério que<br />
mais os influencia na decisão de compra e perto de 78 por cento<br />
admite pagar mais por um produto mais saboroso, se a diferença<br />
de preço for razoável. Aos olhos de metade dos inquiridos,<br />
produtos alimentares<br />
como as frutas<br />
e legumes, o peixe<br />
e carne estão a piorar<br />
de sabor. Por<br />
outro lado, o binómio<br />
sabor-saúde é<br />
um critério de compra<br />
a que dois em<br />
cada três inquiridos<br />
diz dar preferência.
actualidade<br />
empresas<br />
Três milhões de plantas de Albión em Portugal<br />
O multiplicador espanhol Eurosemillas deverá fornecer a Portugal, este ano, três milhões<br />
de plantas de morango Albión. A variedade pertence a uma nova geração de morangueiros<br />
de dia neutro, que conseguem manter a qualidade da fruta com poucas horas de frio.<br />
Ensaios realizados em Odemira, com plantações tardias (Novembro), permitiram colher morangos<br />
no final da Primavera, mas também durante todo o Verão e Outono, com boa qualidade,<br />
assegurou Francisco Cobos da Eurosemillas. A Albión destaca-se pelo sabor, boa qualidade<br />
pós-colheita, alta resistência a adversidades climáticas e boa resistência a doenças.<br />
É uma variedade indicada para Portugal e Inglaterra, de acordo com a informação veiculada<br />
na Convenção Internacional Eurosemillas, realizada a 5 de Março, em Islantilla, Huelva.<br />
Palomar, Portola, Monterey e San Andreas foram as restantes variedades de dia neutro<br />
apresentadas. A empresa destacou o pontencial da Montrey para o mercado asiático (China,<br />
Coreia e Japão), revelando a sua vontade de continuar a investir no mercado chinês, onde<br />
é já o maior detentor de variedades. A China produz 44 mil hectares de morango.<br />
Máquina de envasar de alto rendimento<br />
Máquina de envasar do fornecedor holandês Javo Rollands, com<br />
alto rendimento (3600 vasos/hora), adaptada a vasos com diâmetro<br />
de boca de oito a 23 centímetros. Pesa e prensa o substrato automaticamente<br />
e faz o orifício para colocar a planta. O sistema de<br />
elevação do substrato é por transmissão de correias. Custa entre<br />
15 a 20 mil euros, consoante os opcionais. Apresentada na Expojardim,<br />
e vendida à Mari Flores para envasamento de azáleas. Marca<br />
representada em Portugal pela Biochem Ibérica.<br />
Novo herbicida para milho<br />
A Bayer Cropscience lançou um novo herbicida para milho - Aspect ® -<br />
absorvido pelas folhas e pela raiz, que possui um espectro de acção muito<br />
abrangente, sendo eficaz em fases de pré ou pós emergência precoce<br />
do milho. Protege a cultura do milho contra as principais infestantes - milhã<br />
digitada, milhã pé-de-galo, bredos, catassol, erva-pessegueira, ervamoira,<br />
beldroega e Saramago - nas fases iniciais. O Aspect ® tem perfil ambiental<br />
favorável e está disponível em embalagens de 1,5 e 20 litros.<br />
Hazera ensaia tomate na Silveira<br />
A Hazera tem em curso um ensaio com vários tipos de tomate de estufa<br />
(beef, longa vida, cacho, cherry, super-sabor, verdes e com alto teor<br />
de licopeno) na Silveira, Torres Vedras. Visitas e outras informações<br />
podem ser marcadas pelo mail joaod@hazera.es, informa a empresa.<br />
8
9<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
actualidade<br />
país<br />
Ajuda ao tomate só será<br />
conhecida no Verão<br />
1250€/hectare é o valor indicativo da ajuda por<br />
superfície ao tomate para indústria nesta campanha,<br />
mas o valor definitivo só será conhecido quando<br />
a área nacional total estiver instalada.<br />
Entra este ano em vigor um<br />
regime de ajuda transitória<br />
por superfície ao tomate entregue<br />
para transformação, que<br />
poderá vigorar até 2011. O valor<br />
da ajuda por hectare passa a depender<br />
do total de área contratada<br />
com a indústria em todo o País,<br />
número que só será conhecido<br />
no início do Verão. O despacho<br />
normativo que regula esta matéria<br />
prevê, para a campanha de<br />
2008, um montante de ajuda indicativo<br />
de 1250€/hectare. Esta<br />
verba indicativa será conhecida<br />
até 15 de Março de cada ano. Organizações<br />
de produtores e indústria<br />
devem firmar os contratos até<br />
15 de Fevereiro, tendo mais 10<br />
dias para entrega da documentação<br />
no IFAP.<br />
Uma das novidades deste regime<br />
transitório é a obrigação de<br />
entrega de uma quantidade mínima<br />
de 60 toneladas/hectare à indústria,<br />
calculada sobre a média<br />
da totalidade das entregas.<br />
A obrigação de as organizações<br />
de produtores e as indústrias<br />
desenvolverem a sua actividade<br />
em território nacional foi uma das<br />
questões mais contestadas na primeira<br />
proposta de despacho, em<br />
finais de Fevereiro. Uma vez que<br />
algumas OP já haviam realizado,<br />
à data da apresentação documento,<br />
contractos de fornecimento de<br />
tomate com indústrias estrangeiras.<br />
Produto que não seria alvo de<br />
ajuda, caso esta regra vingasse. O<br />
que acabou por não acontecer.<br />
Modulação<br />
voluntária Não!<br />
A questão da modulação voluntária<br />
voltou a ser contestada<br />
pelo sector durante o V Seminário<br />
Internacional do Tomate para<br />
Indústria, realizado no âmbito<br />
da VI Feira Nacional do Tomate,<br />
em Mora, de 22 a 24 de Fevereiro.<br />
Os produtores de tomate<br />
exigiram que Jaime Silva deixe<br />
cair até 2013 (data em que a<br />
Comissão Europeia pretende<br />
aplicar modulação obrigatória<br />
de 13% a todos os estados-membros)<br />
a transferência de parte<br />
das ajudas directas para as medidas<br />
de desenvolvimento rural.<br />
“Não nos tirem competitividade<br />
Produtores de tomate reclamam melhores apoios à fileira<br />
face a outros países”, reclamou<br />
Gonçalo Escudeiro da FNOP,<br />
acrescentando “conseguimos<br />
produzir melhor do que espanhóis<br />
e italianos e por isso os investimentos<br />
da indústria estrangeira<br />
vieram para cá”.<br />
Miguel Freitas, representante<br />
de Portugal na União Europeia, e<br />
Nuno Manana, do Gabinete de<br />
Planeamento, reconheceram que<br />
o sector do tomate fica prejudicado<br />
pela opção da modulação voluntária.<br />
“Portugal consegue arrecadar<br />
mais dinheiro com a modulação,<br />
mas ela pode não ser boa<br />
para alguns agricultores”, admitiu<br />
Miguel Freitas.<br />
À indústria, a produção reclamou<br />
melhores preços: “esperamos<br />
que a indústria possa começar a<br />
pagar aos agricultores portugueses<br />
ao nível do que se paga no resto<br />
da Europa”, disse o representante<br />
da FNOP.<br />
Licopeno<br />
não valorizado<br />
O licopeno é uma característica<br />
que começa a ganhar relevância nas<br />
novas variedades de tomate para<br />
indústria, embora não seja ainda<br />
valorizada pelos transformadores<br />
nacionais. “Ainda não há um valor<br />
no mercado para o licopeno. A<br />
indústria alimentar não valoriza este<br />
factor, apesar de ser uma característica<br />
funcional já valorizada pela<br />
indústria farmacêutica”, reconheceu<br />
Rogelio Vazquez do grupo<br />
E-Conesa. A United Genetics<br />
apresentou, no seminário, três novos<br />
híbridos – Brixsol VFFNP TSW,<br />
Red Code e Triple Red - com elevado<br />
teor de licopeno (20 a 30 % mais<br />
do que o tomate tradicional). Esta<br />
substância, sintetizada na pele do<br />
tomate, está relacionada com a cor<br />
vermelha intensa e é conhecida pelo<br />
seu poder anti-oxidante, importante<br />
na prevenção de doenças.
actualidade<br />
país<br />
Ano atípico na<br />
produção de castanha<br />
Por: José Gomes Laranjo*, António Crespi*, Carlos Ramos**<br />
Em 2007 ocorreram grandes quebras na produção de<br />
castanha nas terras altas de Trás-os-Montes, que contrariaram<br />
a tendência para maior e melhor produção<br />
nos soutos das regiões mais frias e de maior altitude.<br />
A produção de castanha em<br />
Trás-os-Montes, em 2007, teve<br />
uma quebra global de 40<br />
a 60 por cento. No entanto, esta<br />
quebra oscilou entre os 80 a 90<br />
por cento nas zonas de maior altitude<br />
(acima dos 800 m) e os 20<br />
a 30 por cento nas zonas de baixa<br />
altitude (abaixo dos 700 m). Importa<br />
percebermos porquê.<br />
Em Trás-os-Montes, a cultura do<br />
castanheiro para fruto é feita na<br />
sua parte mais fria, a chamada Terra<br />
Fria, em altitudes que vão desde<br />
cerca de 500 m até aos 1000 m. Esta<br />
inclui duas zonas, que correspondem<br />
a duas Denominações de Origem<br />
Protegida (DOP): a DOP da Padrela,<br />
que se insere na zona com o<br />
mesmo nome (com centro em Carrazedo<br />
de Montenegro), e a DOP<br />
da Terra Fria, que inclui as Terras de<br />
Vinhais até Bragança e Macedo Cavaleiros.<br />
Na primeira, a principal variedade<br />
é a Judia, enquanto na segunda<br />
é a Longal a variedade mais<br />
cultivada, embora nos soutos novos<br />
se comece a ver principalmente<br />
a enxertia com a variedade Judia.<br />
A área total de souto é de cerca<br />
de 25 000 hectares.<br />
O Verão de 2007 foi muito mais<br />
ameno que o habitual. Contrariamente<br />
à tendência da última década,<br />
em que se tem observado valores<br />
recorde de temperatura máxima<br />
durante o período de Verão,<br />
em consequência das alterações<br />
climáticas, o Verão de 2007 foi um<br />
dos mais frios do último meio século.<br />
Durante os meses de Junho,<br />
Julho e Agosto, foram vários os<br />
dias em que a temperatura ao<br />
meio-dia (altura do dia em que<br />
ocorrem os valores máximos) foi<br />
inferior 5-6ºC relativamente à média,<br />
o mesmo sucedendo com a<br />
temperatura nocturna (altura em<br />
que ocorrem os valores mínimos).<br />
A limitação da produção adveio<br />
sobretudo da elevada percentagem<br />
de frutos abortados que se<br />
encontravam nos ouriços. Assim<br />
nas zonas mais baixas a percentagem<br />
de “castanhas chochas” em<br />
cada ouriço foi menor, aproximando-se<br />
das quase três castanhas chochas<br />
nas zonas mais altas (acima<br />
dos 800 m). Este problema foi mais<br />
significativo na variedade Judia,<br />
que é ao mesmo tempo a de maior<br />
expressão na região. Isto deve-se<br />
ao seu calibre e aspecto muito<br />
apreciados no mercado. Contudo<br />
esta variedade tem bastante predisposição<br />
para produzir frutos polispérmicos<br />
(castanhas com 2 ou<br />
mais sementes) o que constitui um<br />
problema. Noutras variedades, como<br />
a Longal, esta tendência não<br />
ocorre com tanta facilidade. Por<br />
isso, a quebra de produção na DOP<br />
da Terra Fria (zona de Bragança)<br />
não foi tão acentuada como na<br />
DOP da Padrela (Carrazedo Montenegro),<br />
onde preomina a Judia.<br />
Floração longa<br />
e dupla floração<br />
Embora precise de ser estudada,<br />
esta grande percentagem de castanhas<br />
abortadas deveu-se ao fac-<br />
to de, segundo os dados de que<br />
dispomos, o período de floração<br />
feminina em 2007 ter sido anormalmente<br />
longo (sobretudo nas<br />
zonas mais altas), o que proporcionou<br />
uma polinização abundante e<br />
consequente fecundação de quase<br />
todos os cinco a seis óvulos que<br />
se encontram dentro da castanha,<br />
que depois viriam a abortar. Se todos<br />
tivessem crescido teriam “esgotado”<br />
a árvore (Figura 1). Também<br />
por este facto se explica a<br />
enorme quantidade de ouriços que<br />
as árvores tinham (Figura 2).<br />
Outro aspecto que deve ser re-<br />
alçado foi o aparecimento de uma<br />
segunda floração em Setembro<br />
(Figura 2). O castanheiro pertencendo<br />
à Família das Fagaceae é<br />
uma planta relativamente pouco<br />
desenvolvida nos seus mecanismos<br />
de regulação da floração (de facto,<br />
não podemos esquecer que estamos<br />
perante um dos géneros<br />
mais primitivos desta família), o<br />
que levou a que dadas as condições<br />
climatéricas tivesse emitido,<br />
com muita facilidade, novos<br />
amentilhos e ouriços.<br />
Neste ano, também a queda e<br />
abertura dos ouriços para deixa-<br />
Figura 1 - Na castanha à esquerda pode ver-se uma semente em pleno<br />
desenvolvimento ao lado de outras já abortadas. Na castanha à direita<br />
todos as sementes apresentam desenvolvimento idêntico, originando uma<br />
castanha chocha.<br />
Figura 2 - Aspecto da segunda floração no castanheiro, observada em Setembro.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
10
actualidade<br />
país<br />
Figura 3 - Aspecto de um ramo de castanheiro, em 11 Novembro 2007, a 800<br />
m de altitude na Serra da Padrela, podendo observar-se as folhas secas devido<br />
aos primeiros frios e os ouriços ainda meios esverdeados e fechados.<br />
rem sair as castanhas foi muito retardada,<br />
tendo atingido os 15 dias<br />
nas zonas de média a alta altitude.<br />
Inclusivamente nas zonas mais<br />
altas, não chegaram sequer a cair<br />
em devido tempo (Figura 3). Foi<br />
frequente encontrar-se numa<br />
mesma árvore ouriços com estados<br />
de maturação muito diferentes,<br />
em consequência do já referido<br />
prolongado período de floração.<br />
Os ouriços caíram juntamente<br />
com as folhas, após as primeiras<br />
geadas. Por outro lado, nos<br />
soutos, era recorrente observar as<br />
pessoas a abrirem ouriços para retirar<br />
castanhas. Dadas as baixas<br />
temperaturas médias registadas<br />
durante o Verão, o processo de<br />
formação de amido para o desenvolvimento<br />
do endosperma decorreu<br />
a taxas muito baixas, tendo<br />
provocado atraso na maturação.<br />
Por outro lado, dadas as condições<br />
extremamente favoráveis de<br />
crescimento, as árvores não desencadearam<br />
atempadamente os<br />
mecanismos de paragem de cres-<br />
cimento, isto é, maturação e queda<br />
de frutos e folhas, tendo sido<br />
“surpreendidas” pelo frio.<br />
Calibres excelentes<br />
Ao nível do calibre, o ano de<br />
2007 foi extraordinário. Por um<br />
lado, nas zonas mais baixas produziram-se<br />
castanhas muito maiores<br />
que o habitual, o mesmo sucedendo<br />
nas zonas mais altas (800-<br />
900 m) em que as castanhas também<br />
foram um pouco maiores<br />
que o normal (Figura 4). Globalmente,<br />
o ano 2007 caracterizouse<br />
pelo alcance de calibres excelentes,<br />
com castanhas cerca de 30<br />
a 60 por cento maiores, sendo indiferente<br />
a altitude do souto. O<br />
mesmo não sucedeu em 2006, em<br />
que se observa uma clara influência<br />
da altitude.<br />
O que sucedeu em 2007 é bastante<br />
diferente do que normalmente<br />
acontece. Habitualmente<br />
as maiores produções, e as melhores<br />
castanhas são provenientes dos<br />
soutos localizados em maior alti-<br />
Figura 4 - Variação do calibre das castanhas provenientes de diversos soutos<br />
da Terra Fria transmontana localizados a diferentes altitudes. Em 2007 não<br />
há dados provenientes da altitude 1050 m, uma vez que as castanhas não<br />
atingiram a maturação.<br />
Figura 5 - Comparação entre o crescimento dos ramos do ano em 2006 e<br />
2007, num souto situado a 600 m de altitude. Pode observar-se que o crescimento<br />
medido em Setembro de 2007 é já o dobro do verificado em 2006.<br />
tude (800-1000 m), mostrando os<br />
castanheiros das zonas mais baixas<br />
grandes dificuldades de sobrevivência.<br />
Nos concursos de castanha<br />
que todos os anos são feitos<br />
os prémios são normalmente ganhos<br />
pelos produtores das terras<br />
mais altas.<br />
O clima ameno verificado durante<br />
o Verão e Outono de 2007<br />
foi marcante no crescimento vegetativo<br />
dos ramos novos das árvores.<br />
Estes foram, regra geral, superiores<br />
aos dos anos anteriores,<br />
encontrando-se, nas zonas mais<br />
baixas, ramos do ano com o dobro<br />
do tamanho do ano anterior,<br />
(Figura 5). Nas árvores mais jovens,<br />
esta tendência para o crescimento<br />
vegetativo foi ainda mais acentuada,<br />
o que levou ao aparecimento<br />
de ramos com crescimento<br />
exagerado depois da inserção<br />
dos ouriços, sinal de que estas condições<br />
climáticas acentuaram ainda<br />
mais o carácter de juvenilidade<br />
dessas árvores.<br />
Em condições tão favoráveis ao<br />
crescimento, a doença da tinta<br />
também não fez, certamente, tantos<br />
estragos nas árvores. Com efeito,<br />
nem as árvores estavam tão<br />
fragilizadas, nem o agente da tinta<br />
conseguiu atingir níveis de<br />
agressividade tão elevada, como<br />
é habitual nos solos mais secos e<br />
pobres. Esta doença ataca mais<br />
frequentemente os soutos localizados<br />
nas encostas mais soalheiras<br />
(voltadas a sul) e nas altitudes<br />
mais baixas.<br />
O castanheiro gosta dos terrenos<br />
mais sombrios, que são ao<br />
mesmo tempo mais frescos. Apresenta<br />
uma forte redução de crescimento<br />
para temperaturas acima<br />
dos 32ºC, a temperatura óptima é<br />
de 24-28ºC, consoante a variedade.<br />
Por isto, nas zonas mais baixas<br />
de Trás-os-Montes (a 600-700 m<br />
altitude, onde a temperatura ultrapassa<br />
este intervalo), tem crescimentos<br />
muito fracos, podendo<br />
passar a maior parte do dia quase<br />
sem crescer.<br />
Para o castanheiro em Trás-os-<br />
Montes o principal factor limitante<br />
à produção não é a falta de<br />
água, mas a temperatura ambiente.<br />
Julgamos mesmo que este problema<br />
de sobrevivência da espécie<br />
nas terras baixas se agravará<br />
com as alterações climáticas. Vemos<br />
hoje o plantio de castanheiros<br />
em altitudes cada vez maiores<br />
(como na Serra da Padrela, 1000<br />
– 1100 m de altitude).<br />
Em conclusão, provavelmente o<br />
castanheiro irá subir “um patamar”<br />
em altitude, conquistando<br />
terrenos mais frescos e sendo forçado<br />
a deixar as zonas mais baixas,<br />
demasiado quentes, ou irá voltar<br />
a outras regiões de clima mais fresco,<br />
de onde em tempos idos foi<br />
“expulso” por outras culturas como<br />
a região do Minho. <br />
*CITAB, Universidade de Trás-os-Montes e<br />
Alto Douro, Apt 202, 5000-911 Vila Real<br />
**Viveiros RibaDouro, 5000 Vila Real<br />
jlaranjo@utad.pt<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
12
13<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
actualidade<br />
país<br />
Bioetanol a partir do<br />
milho duplicará até 2015<br />
O milho é uma das matérias-primas como mais<br />
potencial para produção de bioetanol,<br />
mas diversas contingências estão a atrasar<br />
a instalação de fábricas em Portugal, concluiu<br />
o VI Congresso Nacional do Milho.<br />
O milho grão é a matériaprima<br />
do futuro para a produção<br />
de bioetanol e os seus<br />
resíduos – folhas e canas – estão<br />
a ser aproveitados para o fabrico<br />
de biomassa, usada na co-geração<br />
de energia eléctrica. Segundo a<br />
FAO (Organização das Nações Unidas<br />
para a Alimentação e Agricultura),<br />
em 2015 serão produzidos<br />
57 biliões de litros de etanol a partir<br />
do milho, em todo o Mundo, o<br />
dobro dos volumes actuais, revelou<br />
Abdolreza Abbassian, responsável<br />
pelo Grupo de Cereais da<br />
FAO, durante o VI Congresso Nacional<br />
do Milho, realizado a 20 e<br />
21 de Fevereiro, em Lisboa.<br />
Alguns países europeus já produzem<br />
bioetanol a partir de cereais.<br />
Desde que abandonou o nuclear,<br />
a Alemanha está a usar o<br />
milho de forma massiva para<br />
aquecimento de habitações, e em<br />
França existem 30 projectos para<br />
E-Mail:<br />
hortasdoribatejo@iol.pt<br />
Sede:<br />
Lentrisqueira - Apartado 27<br />
2120-216 FOROS DE SAVATERRA<br />
co-geração de energia a partir de<br />
bioetanol, que aguardam aprovação<br />
do Governo francês, para iniciar<br />
a produção em 2010.<br />
Portugal ainda não produz<br />
bioetanol, mas existem dois projectos<br />
para instalação de fábricas<br />
(ver caixa), que têm sido adiados<br />
devido ao atraso na regulamentação<br />
do sector. Só em Dezembro<br />
passado, o Governo decidiu (Portaria<br />
nº 1554-A/2007 de 7 de Dezembro)<br />
isentar de imposto sobre<br />
produtos petrolíferos e energéticos<br />
(ISP) os biocombustíveis<br />
substitutos da gasolina (bioetanol).<br />
Estarão isentos do imposto<br />
165 milhões de litros de bioetanol,<br />
em 2009, e a mesma quantidade<br />
em 2010. As candidaturas à<br />
isenção decorrem até 30 de Junho<br />
deste ano, após o que serão<br />
atribuídas as quotas de isenção<br />
aos candidatos. Noutros países da<br />
União Europeia, como Espanha,<br />
HORTAS DO RIBATEJO<br />
TRANSFORMAÇÃO E COMÉRCIO<br />
DE PRODUTOS AGRÍCOLAS, LDA.<br />
IMPORT - EXPORT<br />
Jorge Cardoso<br />
Tlm.: 917 287 656<br />
Armazém:<br />
Estrada do Convento<br />
Tel.: 263 506 720 - 263 506 724<br />
Fax: 263 506 722<br />
2120-063 SALVATERRA DE MAGOS<br />
Em 2015 serão produzidos<br />
57 biliões de<br />
litros de etanol a<br />
partir do milho<br />
a isenção de ISP é total.<br />
A inexistência de um comprador<br />
nacional para a futura produção<br />
é outro entrave ao avanço das<br />
fábricas. Segundo Francisco Avilez,<br />
investigador do Instituto Superior<br />
de Agronomia e consultor<br />
de um dos porjectos, a Galp, única<br />
empresa nacional que poderá<br />
assegurar o escoamento do biocombustível,<br />
recusa-se, nas circunstâncias<br />
actuais, a realizar contratos<br />
promessa de compra. A gasolineira<br />
nacional está a investir na<br />
produção de biodísel (biocombustível<br />
produzido a partir de oleaginosas),<br />
um concorrente do bioetanol<br />
e de produção mais barata.<br />
Apesar destes atrasos, o bioetanol<br />
criará uma oportunidade para<br />
o aumento da produção de milho<br />
em Portugal. Francisco Avilez<br />
prevê que o negócio dos biocombustíveis<br />
impulsionará o crescimento<br />
de área para 50 a 80 mil<br />
novos hectares, dos quais 20 a 30<br />
mil no Ribatejo, 20 a 30 mil na zona<br />
irrigada pelo Alqueva e 10 a 20
actualidade<br />
país<br />
mil no resto do Alentejo. Para<br />
atingir a meta traçada pelo Governo<br />
de 10 por cento de biocombustíveis<br />
até 2010, será necessária<br />
uma produção de milho de 227<br />
mil toneladas, estima o consultor.<br />
Preços altos<br />
continuam em 2008<br />
O ambiente entre os muitos<br />
congressistas presentes no Hotel<br />
Altis foi de optimismo quanto o<br />
futuro do sector. O responsável<br />
pelo Grupo de Cereais da FAO revelou,<br />
em primeira-mão, as estimativas<br />
deste organismo para<br />
2008. Os preços vão continuar altos,<br />
embora não tão altos como<br />
Com a liderança nas soluções de carências<br />
de micronutrientes, a Ciba Specialty Chemicals pode<br />
justificadamente afirmar que é a empresa mais<br />
especializada na formulação de quelatos.<br />
em 2007. A produção de milho na<br />
União Europeia (UE) deverá aumentar<br />
até três por cento, mas<br />
nos EUA poderá descer, o que indica<br />
preços iguais, ou até uma ligeira<br />
descida face a 2007. No caso<br />
do trigo, a área deverá aumentar<br />
de três a cinco por cento, e a<br />
produção cinco a 10 por cento -<br />
mais 10 milhões de toneladas na<br />
UE, 5 mt nos EUA, 3 mt no Canadá,<br />
2 mt na Turquia e 2 mt na<br />
Ucrânia. Até cinco por cento de<br />
aumento na produção significará<br />
manutenção dos preços, já abaixo<br />
desse valor (cenário possível se<br />
o clima não ajudar), os preços podem<br />
ser inferiores aos de 2007.<br />
A baixa dos stocks mundais de<br />
cereais (mais baixos no trigo do<br />
que no milho) será, a partir de<br />
agora, uma constante, tal como a<br />
volatilidade dos mercados, pelo<br />
O VI Congresso Nacional do Milho decorreu em tom optimista com boas perspectivas de valorização dos cereais<br />
Duas fábricas de bioetanol em Portugal<br />
A empresa Biofuels prevê a construção de uma fábrica de<br />
bioetanol em Sines, tendo como matéria-prima o milho, o trigo e<br />
a beterraba. O consórcio integra a EDIA, a Fomentinveste, a CO-<br />
PAM e a Fundação Vítor e Graça Carmona e Costa.<br />
O ProBEP - Projecto Bioetanol em Portugal prevê a construção<br />
da fábrica ETHAGL Biocombustíveis de Portugal, que produzirá 100<br />
milhões de litros/ano de bioetanol a partir de milho. As possíveis<br />
localizações são o Eco Parque da Charneca ou o Parque Industrial<br />
da Sapec, em Setúbal. Ambos foram reconhecidos como Projecto<br />
de Interesse Nacional (PIN).<br />
Os produtos Ciba ® Librel, Ciba ® LibFer e Ciba ® ChauFer,<br />
cobrem uma grande diversidade de aplicações<br />
que incluem cultivos extensivos, horticultura, vinha,<br />
ornamentais e sistemas hidropónicos.<br />
que se torna prudente diversificar<br />
a produção agrícola, aconselhou<br />
Abdolreza Abbassian.<br />
Este iraniano contesta o alarmismo<br />
lançado por algumas entidades<br />
quanto à alegada incapacidade<br />
da agricultura para alimentar<br />
a crescente população mundial,<br />
a médio prazo. O crescimento<br />
da população mundial vai<br />
abrandar neste século. Por outro<br />
lado, a Índia e China (consumidores<br />
emergentes) são e continuarão<br />
a ser auto-suficientes na produção<br />
de cereais, nos próximos<br />
anos. E se a procura cresce, a oferta<br />
continuará a dar resposta. Brasil<br />
e Cazaquistão serão potências<br />
produtoras, nos próximos anos.<br />
Ainda assim, é necessário aumentar<br />
a produtividade dos cereais a<br />
nível mundial e as sementes transgénicas<br />
terão aqui um papel essencial,<br />
disse o especialista. <br />
14<br />
Rua da Estação 20/22<br />
Vala do Carregado • Apartado 97<br />
2584-908 CARREGADO<br />
Telef.: 263 856 200 • Fax 263 856 210<br />
agriculture@neoquimica.pt<br />
www.neoquimica.pt
actualidade<br />
país<br />
Rega e fitossanidade<br />
os desafios da fruticultura<br />
Os fruticultores devem encarar a rega de forma<br />
mais profissional e precisam de produtos<br />
fitossanitários autorizados para combater pragas<br />
cujos ataques se intensificam a cada campanha.<br />
Rega e fitossanidade ocuparam<br />
as III Jornadas Técnicas<br />
de Fruticultura, realizadas<br />
durante a Feira Agrícola de Alcobaça,<br />
de 7 a 9 de Março. “Regar<br />
bem não é fácil, mas é importante”<br />
foi uma das conclusões do painel<br />
sobre rega, no qual os oradores<br />
desafiaram os agricultores a<br />
encarar a rega de forma mais profissional.<br />
A falta de assistência técnica<br />
e de projectos de rega são<br />
problemas que afectam a fruticultura<br />
nacional. Daí resulta o mau<br />
dimensionamento dos sistemas<br />
instalados nas parcelas, bem como<br />
a falta de monitorização e manutenção<br />
dos mesmos, afirmou<br />
Isaurindo Oliveira. Na opinião do<br />
director do Centro Operativo e<br />
Tecnológico do Regadio (COTR),<br />
cabe às associações de regantes<br />
contribuir para a melhoria da gestão<br />
da rega.<br />
Regar muito não<br />
significa regar bem<br />
Joan Girona, investigador do<br />
IRTA (Instituto de Pesquisa e Tecnologia<br />
Agro-alimentar) de Lérida<br />
partilhou a sua experiência na<br />
avaliação da qualidade da rega e<br />
deixou alguns alertas. Regar muito<br />
não significa regar bem. Prova<br />
disso é a rega deficitária controlada,<br />
usada na Catalunha em<br />
algumas fruteiras (ex: pessegueiros),<br />
sem perdas de calibre nem<br />
da qualidade da fruta e com significativa<br />
poupança de água. Es-<br />
As III Jornadas Técnicas de Fruticultura debateram a rega e fitossanidade dos pomares<br />
ta estratégia consiste em submeter<br />
a planta a stress hídrico moderado<br />
em determinados períodos<br />
críticos do seu ciclo biológico,<br />
através da paragem ou redução<br />
da rega.<br />
É importante saber se o volume<br />
de água programado chega de<br />
facto à planta. Isto pode ser verificado<br />
através de contadores instalados<br />
em cada parcela, que detectarão<br />
eventuais entupimentos,<br />
faltas de pressão, etc; e também<br />
com sensores, varetas e outros instrumentos<br />
de monitorização, que<br />
detectam a localização exacta na<br />
água no perímetro das raízes da<br />
árvore. Regar bem também não<br />
significa regar de forma uniforme.<br />
A composição do solo afecta<br />
a distribuição da água, pelo que<br />
é preciso adaptar os volumes de<br />
água à maior ou menor permeabilidade<br />
do terreno duma parcela.<br />
O último e mais precioso indicador<br />
da eficiência da rega é a<br />
medição semanal dos frutos, lembrou<br />
Joan Girona.<br />
Filoxera<br />
sem soluções<br />
No painel dedicado à fitossanidade,<br />
a filoxera foi destacada como<br />
um dos problemas fitossanitários<br />
com incidência crescente no<br />
Oeste. Observações realizadas pela<br />
Frutus e Frutoeste, desde 2005,<br />
confirmam o aumento dos ataques.<br />
Em 2007, todas as fitas de monitorização<br />
colocadas nos pomares<br />
da região detectaram o afídeo acima<br />
dos níveis económicos de ataque,<br />
desde a queda da pétala até<br />
Outubro. Os estragos causados pela<br />
filoxera são muitas vezes confundidos<br />
com os originados pela estenfiliose,<br />
mas a diferença é que na filoxera<br />
os fungos desenvolvem-se<br />
do interior para o exterior do fruto<br />
(durante o Inverno o afídeo põe<br />
ovos no tronco e pernadas e acaba<br />
por picar o fruto na zona da fossa<br />
apical, dando origem ao aparecimento<br />
de fungos no interior da fruta),<br />
e não ao contrário, como acontece<br />
com a estenfiliose.<br />
Os agricultores estão limitados<br />
na luta contra esta praga. A única<br />
substância activa autorizada em<br />
Portugal é o diazinão (uma aplicação).<br />
Uma situação de desigualdade<br />
perante franceses (deltametrina),<br />
espanhóis (3 substâncias activas)<br />
e italianos ( 4 substâncias activas),<br />
que têm um leque maior de<br />
meios de luta autorizados. Os técnicos<br />
portugueses esperam que o<br />
Ministério da Agricultura alargue<br />
o leque de autorizações, ainda que<br />
a indústria de pesticidas não faça<br />
pedidos. “Os técnicos estão limitados<br />
e os agricultores são obrigados<br />
a seguir regras feitas atrás da se-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
16
17<br />
O Ecofly é um novo líquido atractivo<br />
ecológico e natural para controlo da<br />
mosca-do-Mediterrâneo, de fabrico<br />
nacional. É usado em armadilhas<br />
penduradas nas árvores, com duração<br />
de seis a oito semanas. Deve ser<br />
aplicado à queda das pétalas e permanecer<br />
nas árvores até à colheita<br />
dos frutos. Apresentado pela<br />
empresa Insecta.<br />
cretária”, lamentou Delia Fialho,<br />
técnica da Frutus, a propósito da<br />
forma “cega” como a DGADR faz<br />
homologação de pesticidas.<br />
Por seu turno, Raul Rodrigues<br />
sugeriu alterações à forma como<br />
os produtos são homologados para<br />
Protecção Integrada. Segundo<br />
este investigador especializado em<br />
ácaros, as autorizações das substâncias<br />
e aplicações recomendadas<br />
devem ser previstas em função<br />
das espécies de ácaros naturais<br />
existentes em cada região e<br />
da sua sensibilidade às substâncias<br />
activas e não de forma igual para<br />
todo o País, com base em ensaios<br />
feitos no estrangeiro. O investigador<br />
referiu-se aos fitoseídeos, limitadores<br />
naturais do aranhiço<br />
vermelho e amarelo, pragas cuja<br />
pressão está a aumentar nas regiões<br />
fruteiras. Os fitoseídeos estão<br />
presentes no pomar e é importante<br />
mantê-los através do enrelvamento<br />
e de sebes. <br />
actualidade<br />
país<br />
Registador de temperatura e humidade, composto por sensores com memória<br />
e impressora portátil (450€) para emissão de talões de temperatura nas<br />
entregas. Permite controlo centralizado da informação num único local,<br />
informação em tempo real e alertas imediatos via SMS ou e-mail, em caso de<br />
situações anómalas. O sensor tem capacidade para 2024 registos e pilha com<br />
duração de oito anos. 79,70€ é o preço por sensor. Apresentado pela empresa<br />
Eclo, que procura distribuidores para este equipamento.
actualidade<br />
país<br />
ProDer 2007-2013 – enqua<br />
Por: Marisa Simões (msimoes@consulai.com), Departamento Técnico<br />
CONSULAI, Lda (www.consulai.com)<br />
A medida Inovação e Desenvolvimento Empresarial,<br />
do PRODER é a mais importante para os investimentos<br />
de modernização das empresas de produção,<br />
transformação e comercialização agro-alimentar.<br />
No passado dia 4 de Dezembro<br />
de 2007 foi aprovado, pela<br />
Comissão Europeia, o Programa<br />
de Desenvolvimento Rural<br />
para Portugal Continental (ProDeR),<br />
que integra os apoios à produção<br />
agro-florestal, à transformação<br />
agro-industrial e ao desenvolvimento<br />
rural, no período de 2007 a 2013.<br />
Após esta formalidade, a aplicação<br />
das medidas previstas no<br />
Programa fica apenas dependente<br />
da regulamentação nacional. O<br />
Programa está estruturado em 4<br />
sub-programas:<br />
● SUBPROGRAMA 1 – Promoção<br />
da Competitividade<br />
● SUBPROGRAMA 2 – Gestão<br />
Sustentável do Espaço Rural<br />
● SUBPROGRAMA 3 – Dinamização<br />
das Zonas Rurais (abordagem<br />
LEADER)<br />
● SUBPROGRAMA 4 – Promoção<br />
do Conhecimento e Desenvolvimento<br />
de Competências<br />
Dentro destes sub-programas<br />
estão definidas Medidas e Acções<br />
que concretizam objectivos estratégicos<br />
da Política Agrícola Nacional,<br />
na qual estão definidas cinco<br />
fileiras estratégicas:<br />
● Horticultura<br />
● Fruticultura<br />
● Floricultura<br />
● Viticultura<br />
● Olivicultura<br />
No âmbito destas fileiras, os<br />
promotores poderão apresentar<br />
projectos integrados em Planos Estratégicos<br />
de Fileira, que são instrumentos<br />
que permitirão dar um<br />
“fio condutor” aos investimentos<br />
nas fileiras estratégicas.<br />
O Sub-programa 1 concentra a<br />
maior fatia financeira do Programa,<br />
num total de 1.437,8 M€, dividido<br />
por seis medidas:<br />
● Inovação e Desenvolvimento<br />
Empresarial<br />
● Cooperação Empresarial para o<br />
Mercado e Internacionalização<br />
● Promoção da Competitividade<br />
Florestal<br />
● Valorização da Produção de<br />
Qualidade<br />
● Instrumentos Financeiros e de<br />
Gestão de Riscos e de Crises<br />
● Regadios e Outras Infra-estrutu-<br />
ras Colectivas<br />
Pela importância no conjunto do<br />
sub-programa, e porque a sua aplicação<br />
é a que mais relevância tem<br />
para os investimentos de modernização<br />
das unidades produtivas, iremos<br />
centrar este artigo na apresentação<br />
da Medida 1 – Inovação e<br />
Desenvolvimento Empresarial.<br />
Esta medida é operacionalizada<br />
através das seguintes acções:<br />
● Modernização e Capacitação das<br />
Empresas<br />
● Investimentos de Pequena Dimensão<br />
● Instalação de Jovens Agricultores<br />
Os agricultores, empresas de<br />
produtores e empresas de transformação<br />
e comercialização que<br />
pretendam modernizar as suas<br />
empresas estão enquadrados na<br />
Acção “Modernização e Capacitação<br />
das Empresas”. Com esta<br />
acção, pretende-se:<br />
● Promover o processo de modernização<br />
e capacitação das empresas<br />
do sector agro-alimentar.<br />
● Promover o desenvolvimento da<br />
competitividade das fileiras, privilegiando<br />
as explorações agrícolas<br />
e as empresas de transformação<br />
e comercialização inseridas<br />
em fileiras estratégicas e, nestas,<br />
aquelas que se incluam em planos<br />
de desenvolvimento, com base em<br />
Planos Estratégicos de Fileiras.<br />
● Preservar e melhorar o ambiente,<br />
assegurando a compatibilidade<br />
dos investimentos<br />
com as normas ambientais e de<br />
segurança.<br />
As empresas inseridas em fileiras<br />
estratégicas podem apresentar<br />
planos de investimento que integrem<br />
produção, transformação<br />
e comercialização. Dentro desta<br />
acção, os apoios aos investimentos<br />
são diferenciados para o caso<br />
de se tratar de uma empresa agrícola<br />
ou uma empresa de comercialização<br />
e transformação. Nas<br />
despesas elegíveis para os investimentos<br />
em explorações agrícolas<br />
estão incluídos custos com:<br />
● Construção, aquisição, incluin-<br />
do a locação financeira ou melhoramento<br />
de bens imóveis,<br />
plantações plurianuais e despesas<br />
associadas à consolidação do<br />
investimento e outras estruturas<br />
de produção<br />
● Apoio à instalação de “pastagens<br />
permanentes biodiversas”<br />
● Compra ou locação-compra de<br />
novas máquinas e equipamentos,<br />
incluindo programas informáticos.<br />
● Instalação ou modernização de<br />
sistemas de rega, nomeadamente<br />
captação, condução e distribuição<br />
da água.<br />
● Adaptação e aquisição de equipamento<br />
específico com vista à<br />
produção e utilização de energias<br />
renováveis, visando nomeadamente<br />
a valorização económica<br />
dos subprodutos e resíduos<br />
da actividade.<br />
● Investimentos associados ao<br />
cumprimento de novas normas<br />
ambientais, de higiene e de<br />
bem-estar animal.<br />
● Acções de formação profissional<br />
dos activos que desenvolvam a<br />
sua actividade no âmbito do<br />
projecto.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
18
19<br />
actualidade<br />
país<br />
dramento de investimentos<br />
● Custos gerais relacionados com<br />
as despesas de investimento, tais<br />
como estudos de viabilidade e<br />
aquisição de patentes e licenças<br />
e honorários de arquitectos, engenheiros<br />
e consultores.<br />
Na componente da transformação<br />
e comercialização de produtos<br />
agrícolas são elegíveis as despesas<br />
com:<br />
● Construção, aquisição, incluindo<br />
a locação financeira ou melhoramento<br />
de bens imóveis.<br />
● Compra ou locação-compra de<br />
novas máquinas e equipamentos,<br />
incluindo programas informáticos.<br />
● Adaptação e aquisição de equipamento<br />
específico com vista à<br />
produção e utilização de energias<br />
renováveis visando, nomeadamente,<br />
a valorização econó-<br />
mica dos subprodutos e resíduos<br />
da actividade.<br />
● Investimentos associados ao<br />
cumprimento de novas normas<br />
ambientais, de higiene e de<br />
bem-estar animal<br />
● Acções de formação profissional<br />
dos activos que desenvolvam a<br />
sua actividade no âmbito do<br />
projecto.<br />
● Custos gerais relacionados com<br />
as despesas de investimento, tais<br />
como estudos de viabilidade e<br />
aquisição de patentes e licenças<br />
e honorários de arquitectos, engenheiros<br />
e consultores.<br />
Quanto aos níveis de apoio, dependem<br />
não só do tipo de empresa<br />
e da tipologia de investimentos<br />
mas, também, da natureza da candidatura,<br />
ou seja, os incentivos têm<br />
taxas superiores para investimentos<br />
materiais a partir dos 100.000€ para<br />
as empresas agrícolas, e a partir<br />
dos 250.000€ para as empresas de<br />
comercialização e transformação.<br />
No caso dos investimentos em<br />
explorações agrícolas, os valores<br />
máximos podem ser aumentados<br />
em cinco por cento no caso das<br />
zonas desfavorecidas e em 10 por<br />
cento no caso dos jovens agricultores<br />
em primeira instalação. O incentivo<br />
é dado sob a forma de<br />
apoio não reembolsável e/ou através<br />
da bonificação de juros.<br />
No caso dos sectores da fruta, legumes<br />
e flores tem particular relevância<br />
a alteração territorial que<br />
ocorreu entre o QCAIII e o ProDeR:<br />
o Oeste, Médio Tejo e Lezíria do<br />
Tejo fazem parte, novamente, do<br />
Objectivo Convergência, devido à<br />
alteração da NUTS II de Lisboa e<br />
Vale do Tejo. Desta forma, os projectos<br />
inseridos nestas regiões terão<br />
níveis de apoio superiores aos<br />
que teriam caso estivessem sujeitos<br />
ao Objectivo Competitividade.<br />
Numa altura em que se aguarda<br />
a saída das portarias, é importante<br />
referir que os investimentos<br />
realizados desde 1 de Janeiro de<br />
2007 serão elegíveis desde que integrados<br />
num projecto que não<br />
tenha sido concluído e que se enquadrem<br />
em tipologias de investimento<br />
financiáveis.<br />
Os empresários que ainda não<br />
iniciaram os seus projectos deverão<br />
analisar as suas necessidades<br />
de investimento para os próximos<br />
anos, e enquadrá-los em projectos<br />
bem estruturados, de forma a<br />
maximizar a sua integração no<br />
âmbito do ProDeR.
actualidade<br />
mundo<br />
Novidades<br />
da AGROEXPO<br />
Mais de 400 expositores apresentaram novos produtos e serviços<br />
na 20ª edição da AGROEXPO- Feira Internacional do Sudoeste<br />
Ibérico, em Don Benito, de 30 de Janeiro a 2 de Fevereiro.<br />
A <strong>FLF</strong> mostra-lhe as principais novidades dos salões Hortofrutec,<br />
Olivac e Tomatec.<br />
Abonos Naturales Del Guadiana,<br />
empresa criada há dois anos com<br />
intuito de melhorar a fertilidade dos<br />
solos, espera vender cerca de 6000<br />
toneladas de fertilizantes em 2008.<br />
Os Viveiros Provedo apresentaram novas<br />
variedades de pêssego de polpa amarela<br />
e polpa branca, desenvolvidas nas condições<br />
edafoclimáticas da Extremadura.<br />
Novo tubete com capacidade para três litros,<br />
indicado para fruteiras e plantas de grande<br />
porte. Apresentado pela empresa portuguesa<br />
Sinorgan.<br />
A empresa Todolivo prepara-se para instalar mais 3500<br />
hectares de olival superintensivo em Portugal, por intermédio<br />
do seu novo accionista SOS Cuétara, a multinacional<br />
do ramo alimentar, detentora da marca de azeite<br />
Carbonell, uma das mais vendidas no Mundo.<br />
O Hydro PC é um novo gotejador<br />
com alta resistência ao entupimento,<br />
graças a uma nova tecnologia<br />
que consiste em aplicar<br />
um herbicida - a trifularina - ao<br />
plástico do gotejador, durante o<br />
processo de fabrico. Esta substância<br />
liberta-se lentamente<br />
quando o tubo é enterrado,<br />
impedindo as raízes de crescer à<br />
volta dele. A injecção de trifularina<br />
na água da rega será proibida<br />
a curto prazo, por legislação<br />
europeia. Novidade apresentada<br />
pela Plastroberica, representada<br />
em Portugal pela Hubel<br />
Irrigation Systems.<br />
Nova linha de adubos<br />
ecológicos que<br />
estimulam as defesas<br />
naturais das plantas<br />
e as defendem de<br />
pragas e doenças,<br />
indicada para todo o<br />
tipo de frutas e legumes.<br />
Lançado pela<br />
empresa (Greencare<br />
By) SAS. Ainda não<br />
disponíveis em<br />
Portugal.<br />
Mercoguadiana é o distribuidor para a Extremadura<br />
das mangueiras Flextec, marca representada em<br />
Portugal e Espanha pela Agroquisa.<br />
Os Viveiros Vipesa apresentaram duas<br />
novas variedades de amêndoa de floração<br />
tardia, que permitem produção em zonas<br />
altas, onde as geadas prejudicam a floração,<br />
e que são resistentes a fungos.<br />
Estão a ser ensaiadas em Portugal.<br />
A CBHAgro, empresa prestadora de serviços de<br />
instalação e tratamento do olival, apresentou<br />
uma nova máquina de plantação de olival, que<br />
planta e coloca o tutor de forma automática e<br />
simultânea, com alinhamento perfeito e sem<br />
intervenção manual.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
20
ESPECIAL<br />
VINHA<br />
Vitivinicultura - um sector de futuro<br />
Entre 2009 e 2015, Portugal vai receber da União Europeia 71,2 milhões de<br />
euros, por ano, para modernizar o sector vitivinícola. O Governo está a estudar<br />
a forma como o dinheiro vai ser aplicado e, até final de Junho, apresenta<br />
um programa e respectivo orçamento à Comissão Europeia. Entretanto, o<br />
ministro da Agricultura elegeu como prioritário o arranque de 12 mil hectares<br />
de vinha, a reestruturação das vinhas e a promoção dos vinhos.<br />
Neste Especial Vinha damos-lhe a conhecer técnicas de instalação da vinha<br />
que lhe podem poupar dinheiro; apresentamos equipamentos de monitorização<br />
das necessidades em água da vinha e conselhos para gerir a rega de<br />
forma mais eficiente, nomeadamente do ponto de vista da melhoria da composição<br />
fenólica das uvas. Na protecção fitossanitária, mostramos-lhe uma<br />
nova tecnologia de análise automática da qualidade da pulverização da<br />
vinha – o Spr@y_Image; falamos da importância da prescrição de receitas de<br />
pesticidas e fazemos o balanço dos ataques de míldio na vinha em Portugal,<br />
Espanha e França, em 2007, e perspectivas para 2008.<br />
Por fim, mostramos-lhe dois exemplos do que melhor se faz na investigação<br />
aplicada à enologia- o ENOCHIP, um novo instrumento de detecção rápida<br />
e precoce das leveduras vínicas e um novo kit para análises rápidas da uva e<br />
do vinho, que usa biosensores fabricados com um novo plástico condutor de<br />
corrente eléctrica.
FRUTAS<br />
HORTÍCOLAS<br />
ORNAMENTAIS<br />
FLORES<br />
VINHA<br />
OLIVAL<br />
OUTRAS CULTURAS<br />
A SUA<br />
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à ordem de PUBLICAÇÕES GROUPO TB.<br />
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Ajude-nos a conhecê-lo melhor. Diga-nos qual a sua actividade principal.<br />
Produtor Frutícola O que produz?<br />
Produtor Hortícola O que produz?<br />
Técnico Área:<br />
Floricultor O que produz?<br />
Distribuidor de Factores de Produção Quais?<br />
Indústria de Transformação O que transforma?<br />
Grossista/Armazenista Do quê?<br />
Outros:
23<br />
A vinha enquanto cultura<br />
apresenta uma grande longevidade,<br />
de 30 a 50 anos.<br />
Como planta possui um sistema<br />
radicular muito plástico e profundo,<br />
com capacidade para penetrar<br />
até vários metros, colonizando<br />
e extraindo água e nutrientes<br />
de um grande volume pedolitológico.<br />
A Figura 1 mostra-nos o<br />
padrão de distribuição radicular<br />
da vinha em solo argiloso e expansível,<br />
sobrejacente a camadas<br />
compactas de carbonato de cálcio<br />
secundário. O terreno foi subsolado<br />
para instalação da vinha<br />
até aos 0,7 m de profundidade.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
Foram diagnosticadas duas situações<br />
distintas:<br />
- Na primeira, a subsolagem atingiu<br />
a camada de carbonato de<br />
cálcio (foto 1 e perfil radicular 1);<br />
- Na segunda, porque a espessura<br />
do horizonte argiloso era > 0,8m,<br />
não se observaram vestígios da<br />
subsolagem 10 anos após a instalação<br />
(foto 2 e perfil radicular 2).<br />
Dito isto, passemos em revista<br />
os objectivos genéricos da preparação<br />
do terreno:<br />
• Fragmentar o solo, tornandoo<br />
mais solto e mais poroso, facilitando<br />
o crescimento das raízes.<br />
Mais e melhor repartidas,<br />
as raízes aumentam o vigor da<br />
planta e a longevidade da<br />
plantação;<br />
• Colocar os fertilizantes e/ou correctivos,<br />
minerais ou orgânicos,<br />
a maior profundidade e garantir<br />
uma distribuição uniforme e<br />
homogénea;<br />
• Romper camadas de solo compactas,<br />
que impedem, simultaneamente,<br />
a penetração das raízes,<br />
da água e do ar. Sem oxigénio e<br />
água não existe vida vegetal;<br />
• Facilitar o processo de plantação<br />
e o maneio do solo pós-instalação.<br />
A modelação do terreno<br />
de modo a garantir um trânsito<br />
fácil de máquinas, em simultâneo<br />
com a preservação do solo<br />
contra os riscos da erosão hídrica,<br />
é também um dos aspectos<br />
relevantes na fase da instalação<br />
da vinha.<br />
Quais os meios<br />
utilizados?<br />
Para atingir os objectivos acima<br />
referidos são correntemente utilizados<br />
os seguintes instrumentos<br />
de preparação do solo:<br />
• Charruas de média, a muito<br />
grande dimensão, com capaci-<br />
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Preparação do terreno<br />
na instalação<br />
Por: Carlos Arruda Pacheco (Instituto Superior de Agronomia)<br />
A mobilização profunda é quase sempre um investimento<br />
desnecessário, que prejudica a distribuição<br />
das raízes da videira em profundidade.<br />
Antes de mobilizar aconselhe-se com um especialista<br />
e poupe muito dinheiro.<br />
<br />
Figura 1: Padrão de distribuição radicular da vinha<br />
Foto 1: Perfil do solo 1<br />
Foto 2: Perfil do solo 2 Foto 3: Caterpillar equipado com subsolador<br />
dade para romperem o solo até<br />
1 m ou mais de profundidade,<br />
promovendo a inversão de camadas<br />
de solo e a mistura de<br />
materiais diferentes. As fotos 4A<br />
e 4B mostram-nos o resultado<br />
do charruamento do terreno;<br />
• Subsoladores equipados com<br />
dentes que provocam a ruptura<br />
do solo, até 1 m ou mais de<br />
profundidade, sem reviramento<br />
ou inversão de camadas e<br />
fraca mistura de materiais. O<br />
volume do solo fragmentado é<br />
função do tipo de solo, estado<br />
hídrico deste e da distância entre<br />
dentes. Os subsoladores podem<br />
ser equipados com sistema<br />
de distribuição de adubo<br />
em profundidade. A foto 3<br />
mostra-nos um subsolador preparando<br />
o terreno para a instalação<br />
da vinha;<br />
• Grades de discos pesadas com<br />
capacidade para fragmentar e<br />
misturar o solo até 0,5 m ou<br />
mais de profundidade;<br />
• Retroescavadoras, muito utilizadas<br />
na adaptação de encostas<br />
em socalcos ou em operações de<br />
nivelamento do terreno. Neste<br />
caso, temos a deslocação de ma-
ESPECIAL<br />
vinha<br />
teriais diversos de um local e a<br />
sua acumulação noutro. Esta<br />
técnica de adaptação /modelação<br />
do terreno necessita de uma<br />
explicação mais detalhada que<br />
não cabe no âmbito destas breves<br />
notas.<br />
Todos os solos se comportam<br />
do mesmo modo quando rasgados<br />
por uma charrua ou<br />
subsolador?<br />
A resposta é, obviamente, não.<br />
O comportamento à ruptura é específico<br />
de cada tipo de material<br />
solo. O mesmo tipo de solo comporta-se<br />
de forma muito diferente<br />
no estado seco, quando comparado<br />
com o estado húmido.<br />
Por tipo de solo entenda-se uma<br />
sequência vertical de camadas diferentes<br />
numa ou mais propriedades<br />
relativas à sua granulometria,<br />
composição mineral e orgânica<br />
e demais características físicas<br />
e químicas.<br />
Exemplos<br />
Solo argiloso como os Barros de<br />
Beja: quando pouco húmidos ou<br />
secos são extremamente coesos,<br />
exigindo uma energia muito elevada<br />
para serem lavrados e o resultado<br />
final é a formação de<br />
grandes torrões. Se húmidos são<br />
muito difíceis de trabalhar e o resultado<br />
é a formação de leiva moldada<br />
e, por isso, pouco fragmentada.<br />
Em ambas as situações o trabalho<br />
realizado é deficiente, não<br />
tendo sido atingidos os objectivos<br />
teóricos imputados às técnicas de<br />
mobilização do solo.<br />
Sendo um solo argiloso com argilas<br />
expansíveis, apresenta elevado<br />
fendilhamento quando pouco<br />
húmido ou seco. Estamos na presença<br />
de um solo com capacidade<br />
de se auto-mobilizar pelo mecanismo<br />
natural de humedecimento<br />
e secagem do solo, induzidos<br />
pelo clima.<br />
Num solo de textura arenosa –<br />
arenossolos - como os do pinhal<br />
de Leiria ou outros derivados de<br />
arenitos, os quais não são nem<br />
plásticos nem pegajosos, o comportamento<br />
à ruptura é distinto<br />
dos argilosos. São solos de muito<br />
fácil mobilização.<br />
Vale a pena charruar ou subsolar<br />
um solo arenoso?<br />
Em primeiro lugar, um solo arenoso<br />
é constituído por grãos de<br />
areia mais ou menos soltos e com<br />
uma percentagem de macroporos<br />
(poros visíveis a olho nu) muito<br />
elevada. É através deles que as raízes<br />
da vinha crescem e se desenvolvem<br />
à procura da pouca água<br />
e nutrientes que este solo retém.<br />
Se mobilizados apenas com o objectivo<br />
de afofar o solo, o resultado<br />
é fugaz devido ao assentamento<br />
natural dos grãos de areia. Nenhum<br />
benefício para a planta daí<br />
advém. Portanto, pura perda de<br />
dinheiro. Saliente-se que a prepa-<br />
FÁBRICA DE TUBOS INVERNADERO PARA TODO O TIPO DE PLANTAS<br />
Tanto o tubo invernadero micropefurado, como o tubo Liso FORTETUB é uma peça única<br />
e rígida, permite poupanças de até 70% em sua instalação.<br />
FORTETUB é biselado e com camada dupla produzindo um efeito de microclima, evitando<br />
ramificações em seu interior. FORTETUB é muito eficaz contra herbicidas e roedores.<br />
ração do terreno pode atingir 20<br />
a 30 por cento do custo total da<br />
instalação.<br />
Outros exemplos teóricos e<br />
práticos, demonstrativos da inutilidade<br />
das operações de mobilização<br />
profunda do solo e dos<br />
prejuízos causados no padrão de<br />
distribuição das raízes da videira<br />
em profundidade, podiam ser<br />
aqui citados.<br />
Tudo isto acontece porque os<br />
decisores, ao optarem pela mobilização<br />
profunda do solo, não<br />
tiveram em linha de conta o tipo<br />
de solo e as características do sistema<br />
radicular da vinha. Além do<br />
mais, ninguém se preocupa em<br />
verificar se o resultado daquele<br />
trabalho está em correspondência<br />
com os objectivos pretendidos.<br />
Bastaria, no início do processo<br />
de preparação do solo, cavar<br />
uma vala perpendicular ao sentido<br />
de trabalho das máquinas, observar<br />
e diagnosticar com ferra-<br />
24
25<br />
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Foto 4A: Solo lavrado com reviramento de camadas de solo. O material de<br />
cor acinzentada, proveniente da rocha podre, atinge a superfície do solo.<br />
Esta apresenta-se compacta na espessura 0,1 a 0,2m. Um exemplo do que<br />
nunca deveria acontecer, mas que infelizmente é dos mais frequentes nos<br />
vinhedos de norte a sul do Pais.<br />
Foto 4B: Solo lavrado a 0,8 m de profundidade com inversão de camadas: cor<br />
escura – solo argiloso; cor cinzenta clara – carbonato de cálcio secundário.<br />
Vinha com 20 anos.<br />
mentas e critérios específicos a<br />
qualidade do trabalho realizado.<br />
Muito poucos decisores se dão ao<br />
trabalho de confrontarem os objectivos<br />
específicos da mobilização<br />
com a qualidade do trabalho<br />
realizado pelas máquinas. Ficamse<br />
quase sempre pela observação<br />
do sucesso da plantação, esquecendo-se<br />
que o tempo de vida<br />
útil desta é longo. Também não<br />
fazem o prognóstico do comportamento<br />
do solo quanto à evolução<br />
imediata da compactação, infiltração<br />
da água e erosão hídrica,<br />
por exemplo.<br />
Das muitas dezenas de vinhas<br />
adultas estudadas pelo autor destas<br />
notas, poucas foram as situações<br />
em que o diagnóstico foi positivo<br />
acerca da influência das técnicas<br />
de preparação do solo sobre<br />
o crescimento radicular e a alimentação<br />
hídrica da videira. Os<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
aspectos mais negativos são:<br />
• Inutilidade da mobilização profunda,<br />
porque as raízes da videira<br />
ocupam sem dificuldade<br />
as camadas não afectadas pela<br />
mobilização atingindo os 3 a 4<br />
m de profundidade, como nos<br />
mostra a figura 1;<br />
• Quando, com a lavoura, se formam<br />
grandes torrões/blocos de<br />
terra compacta as raízes da videira<br />
agrupam-se nas zonas porosas<br />
localizadas entre blocos<br />
sem conseguirem penetrar nestes.<br />
O fundo de lavoura impede<br />
o normal crescimento das raízes<br />
em profundidade e em muitas<br />
situações dificulta o normal humedecimento<br />
das camadas profundas,<br />
durante o Inverno. Solo<br />
compacto e encharcado como<br />
o da foto 6;<br />
• Reviramento com inversão de<br />
camadas de solo, com colocação
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Foto 5: Solo franco-limoso não expansível, bastante profundo, subsolado a<br />
1m, seguido de lavoura a 0,3m e gradagem superficial. Trabalho realizado há<br />
menos de um mês. Os torrões até 1m apresentam porosidade fechada, i.e.,<br />
sem poros visíveis a olho nú. Os torrões entre 1 e 1,5m, não afectados pelas<br />
técnicas de mobilização são moderadamente porosos com poros finos e<br />
médios. Mais um exemplo de trabalho inútil, com custos económicos elevados,<br />
com consequências ambientais e para a vinha a instalar bastante negativas.<br />
Foto 6: Solo muito compactado e de má drenagem interna, lavrado a 0,9 m<br />
com charrua. A videira na fase activa não resiste ao encharcamento.<br />
Mortalidade muito elevada no terreno em redor deste pedone.<br />
Foto 7A: Vinhedo em solo pedregoso da região francesa de Chateau – Neuf<br />
du Pape - Avignon<br />
Foto 7B: Perfil pedolitológico do solo. Topografia aplanada e elevada pedregosidade.<br />
Observa-se como o sistema radicular da vegetação nativa (bosque)<br />
perfura o material litológico.<br />
à superfície de material pobre<br />
e altamente propenso à erosão<br />
hídrica, quando o material mais<br />
rico e, por vezes, compactado é<br />
colocado no fundo da cova, como<br />
nos mostra as fotos 4A e 4B;<br />
• Fragmentação esmiuçada do solo<br />
com destruição dos macroporos<br />
e quebra das ligações (poros<br />
biológicos) entre as camadas sobre<br />
e subjacentes. O afofamento<br />
dos primeiros 20 a 30 cm de<br />
solo desaparece rapidamente<br />
por acção compactiva das chuvas<br />
e das máquinas. Sem macroporos<br />
a drenagem é má e o solo<br />
encharca e torna-se altamente<br />
propenso à erosão hídrica, como<br />
o da foto 5.<br />
Peça ajuda<br />
a um especialista<br />
Antes de se decidir sobre o tipo<br />
de mobilização a realizar no seu<br />
terreno solicite a um “expert” na<br />
matéria o estudo dos solos, em cujo<br />
relatório deverá constar a caracterização<br />
pedológica e o diagnóstico<br />
dos factores físicos e/ou<br />
químicos limitativos do normal<br />
desenvolvimento da vinha e a<br />
apresentação de soluções viáveis<br />
e económicas.<br />
Suponhamos que o horizonte<br />
superficial do solo (0-0,3 m) se<br />
apresenta bastante compacto. A<br />
solução está em romper o solo<br />
com duas passagens cruzadas de<br />
ripper, com a distancia mínima entre<br />
dentes (< 0,5 m) e à profundidade<br />
média de 0,35 m. Aproveite<br />
este trabalho de mobilização para<br />
incorporar estrumes, adubos e,<br />
sempre que se justifique, para corrigir<br />
o pH do solo adicionando calcário<br />
moído. As quantidades têm<br />
que ser definidas caso a caso. A<br />
neutralização da acidez dos solos<br />
faz-se com calcário (CaCO3) ou dolomite<br />
CaMg(CO3)2 e não com gesso<br />
(CaSO4). Este último só se aplica<br />
nos solos sódicos.<br />
Se o horizonte subjacente (0,3-<br />
0,8 m) ao superficial for argiloso<br />
(> 40% de argila), acontece uma<br />
de duas coisas: ou a argila é expansível,<br />
i.e., fendilha, e a estru-<br />
tura é má; ou, a argila é pouco expansível<br />
e a estrutura é igualmente<br />
má. Em ambas as situações o<br />
trabalho do solo (lavoura ou subsolagem)<br />
não adianta nada, porque,<br />
no primeiro caso, o fendilhamento<br />
natural garante a passagem<br />
das raízes e, no segundo caso,<br />
qualquer efeito positivo da<br />
mobilização será temporalmente<br />
fugaz. São necessárias outras<br />
soluções técnicas:<br />
• Adaptar o terreno (no caso de<br />
topografia aplanada) de modo<br />
a garantir uma boa drenagem<br />
externa e evitar o encharcamento<br />
durante o período húmido;<br />
• Investir na melhoria das condições<br />
físicas e nutricionais do solo superficial,<br />
o que dá à videira boas<br />
condições no início do ciclo vegetativo.<br />
Após meados de Maio as<br />
raízes finas têm condições para<br />
se desenvolver a partir das poucas<br />
ou mesmo raras raízes grossas<br />
que penetram em camadas<br />
aparentemente inacessíveis.<br />
Muitos outros exemplos podiam<br />
ser apresentados, caso o espaço<br />
disponível fosse suficiente.<br />
O tema aqui tratado é polémico<br />
e muito pouco discutido entre<br />
nós. Tem prevalecido a força da<br />
tradição ou a adaptação de métodos<br />
de intervenção no terreno radicais.<br />
Estes últimos com custos<br />
económicos e ambientais elevadíssimos.<br />
Não fiquem os senhores leitores<br />
a pensar que o autor destas linhas<br />
é um “fundamentalista” da<br />
não mobilização. Preparação do<br />
terreno para a instalação da vinha,<br />
“sim”, sempre que os resultados<br />
sejam positivos, de baixo custo e<br />
ambientalmente sustentáveis.<br />
Como exemplo positivo de preparação<br />
do solo para a instalação<br />
da vinha deixo ao leitor o exemplo<br />
dos “terroirs” vitícolas de Chateau<br />
– Neuf du Pape – Avignon – França<br />
(fotos 7A e 7B). A intervenção<br />
em terrenos de elevada pedregosidade<br />
é feita de modo a criar à superfície<br />
um ambiente altamente favorável<br />
à vinha, tanto do ponto de<br />
vista térmico como hídrico. <br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
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rápida e precoce das leveduras vínicas,<br />
desenvolvido pelo Centro de Investigação<br />
em Biotecnologia (Biocant) em parceria com<br />
a Adega Cooperativa de Cantanhede.<br />
Melhorar a produção de uva<br />
e vinho da casta Baga é o<br />
objectivo de uma parceria<br />
criada, há três anos, entre a Adega<br />
Cooperativa de Cantanhede e<br />
o Centro de Investigação em Biotecnologia<br />
(Biocant), sedeado em<br />
Catanhede. A Baga é uma casta<br />
autóctone da Bairrada, cuja produção<br />
representa cerca de 80 por<br />
cento dos vinhos da região, e que<br />
o sector deseja preservar. “Temos<br />
que apostar no que é típico da região<br />
e que faz a diferença”, disse<br />
José Salgueiro, presidente da<br />
direcção da adega de Cantanhede,<br />
produtora de seis milhões de<br />
litros de vinho por ano.<br />
Uma das vertentes mais avançadas<br />
da parceria é a criação de<br />
Uva paga por estado sanitário<br />
um método rápido e fiável para<br />
detecção precoce das leveduras vínicas<br />
(Brettanomyces/Dekkera bruxulensis,<br />
Zygosaccharomyces bailii,<br />
Acetobacter aceti, etc), que surgem<br />
durante o processo de fermentação<br />
do vinho e podem comprometer<br />
a sua qualidade. O ENO-<br />
CHIP substitui os métodos de<br />
microbiologia tradicional e permite<br />
fazer detecção precoce das leveduras<br />
em apenas algumas horas.<br />
“É extraído ADN de tudo o<br />
que esteja presente numa amostra<br />
de vinho e, como cada microorganismo<br />
tem sequências únicas<br />
de ADN, é-nos possível, sem nunca<br />
ver o microorganismo, fazer a<br />
sua identificação e alertar a adega<br />
para a presença de leveduras<br />
A Adega Cooperativa de Cantanhede adquiriu um espectofotómetro<br />
– Wine Scan FT 120 – para avaliar o estado sanitário das<br />
uvas recebidas na adega. Este será um novo critério de pagamento<br />
da uva aos associados (além da relação grau alcoólico/kg), já<br />
este ano. O aparelho faz a detecção de podridão cinzenta, podridão<br />
ácida, actividade fermentativa<br />
e actividade bacteriana<br />
no mosto, através de luz infravermelha.<br />
Também analisa diversos<br />
parâmetros do vinho -<br />
como pH, acidez, ácido tartárico<br />
e málico, polifenóis, antocianinas,<br />
potássio, entre outros.<br />
O mosto e o vinho são filtrados<br />
e analisados em apenas alguns<br />
segundos<br />
no vinho”, explicou Catarina Gomes,<br />
investigadora da Unidade de<br />
Genómica do Biocant.<br />
Fermentos vínicos<br />
para a Baga<br />
Outra componente da colaboração<br />
entre as duas entidades é o<br />
desenvolvimento de fermentos vínicos<br />
adaptados à Baga, que possam<br />
substituir o fermento industrial,<br />
optimizado para castas internacionais.<br />
“Não tinha havido até<br />
agora um aperfeiçoamento das<br />
questões ligadas à fermentação<br />
da Baga … precisamos de uma super-levedura<br />
que fermente com<br />
pH baixo e temperaturas elevadas,<br />
mas que seja versátil na fermentação<br />
de vinhos de várias castas”,<br />
admitiu Tiago Machado, e-<br />
ENOCHIP detecta Acetobacter<br />
aceti, levedura responsável pela<br />
transformação do vinho em vinagre<br />
A detecção precoce de leveduras<br />
vínicas é fundamental para a qualidade<br />
do vinho<br />
nólogo da Adega Cooperativa de<br />
Cantanhede.<br />
O primeiro passo é a identificação,<br />
nas vinhas da Bairrada, dos microorganismos<br />
responsáveis pela<br />
fermentação e que mais facilmente<br />
se adaptem às propriedades da<br />
Baga. A equipa do Biocant já identificou<br />
e caracterizou 2500 microorganismos<br />
fermentadores e tem<br />
outros tantos em mãos. Até agora,<br />
conseguiu 200 fermentos da<br />
Bairrada geneticamente diferentes<br />
entre si. O objectivo é chegar a<br />
20 potenciais bons fermentadores<br />
da Baga, que serão usados em micro-vinificações<br />
na Adega Cooperativa<br />
de Cantanhede, na campanha<br />
de 2009. Uma vez identificado<br />
o fermento ideal para os vinhos<br />
da região, o passo seguinte será a<br />
produção em larga escala.<br />
O Biocant tem ainda a seu cargo<br />
o estudo da variabilidade genética<br />
da Baga. Conhecidos todos<br />
os clones presentes nas vinhas da<br />
região, será feita a sua correlação<br />
com a produtividade das vinhas e<br />
qualidade dos vinhos. Uma informação<br />
que ajudará a escolher os<br />
clones mais adaptados aos diferentes<br />
terroirs (tipo de solos, inclinação<br />
do terreno, forma de condução,<br />
etc). <br />
Padrão de DNA de levedura vínica<br />
isolada na casta Baga<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
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Monitorização da água<br />
e balanço hídrico<br />
Por: Carlos Arruda Pacheco; Ana Costa Dias (ISA)<br />
Em matéria de monitorização e de quantificação das<br />
necessidades em água da vinha, senhor viticultor ou<br />
técnico aqui fica o meu conselho: trabalhe, compare,<br />
aperfeiçoe e ajuste ao seu “terroir” a informação<br />
fornecida com base no solo, no clima e na planta.<br />
<br />
Por monitorização entendase<br />
o acompanhamento da<br />
variação da água na atmosfera,<br />
na planta ou no solo, para<br />
fins de aconselhamento. A monitorização<br />
do estado hídrico da<br />
vinha com vista à quantificação<br />
das suas necessidades em água, ao<br />
longo do ciclo vegetativo, pode<br />
ser abordada na dupla perspectiva<br />
da investigação e do utilizador.<br />
Métodos e equipamentos<br />
usados<br />
em investigação<br />
• Métodos micrometeorológicos<br />
que quantificam, com sensores<br />
ultrasónicos, a tensão de vapor<br />
de água sobre o coberto das<br />
plantações e indirectamente a<br />
evapotranspiração, como por<br />
exemplo, o das flutuações instantâneas.<br />
Outros, baseando-se nos<br />
elementos climáticos (radiação,<br />
temperatura, etc.), quantificam<br />
Foto 1 – Camâra de Scholänder<br />
a energia disponível e estabelecem<br />
relações entre esta e a água<br />
libertada pelo sistema solo-planta.<br />
Por exemplo, o modelo de<br />
Penman-Monteith, utilizado na<br />
quantificação da evapotranspiração<br />
de referência (ETo) de uma<br />
cultura de prado bem abastecida<br />
em água e desenvolvida;<br />
• Na planta podem ser utilizados<br />
diversos métodos: os dos impulsos<br />
e/ou balanço e/ou dissipação<br />
do calor medem o fluxo de seiva<br />
que atravessa os vasos xilémicos<br />
do caule da planta; o dendométrico<br />
mede a variação do<br />
diâmetro do tronco; o termográfico<br />
mede o espectro da temperatura<br />
da folha, e ainda, o da<br />
câmara de pressão de Scholander<br />
(foto1) mede o potencial hídrico<br />
da folha (f);<br />
• No solo medimos o teor em<br />
água mássico (kg.kg -1 ) ou volúmico<br />
(m 3 .m -3 ) ou a energia (ge-<br />
ralmente expressa em unidades<br />
de pressão bar ou pascal), com<br />
que o solo retém a água. Entre<br />
os métodos indirectos temos: o<br />
da sonda de neutrões, baseado<br />
no amortecimento da velocidade<br />
das partículas neutrónicas pelos<br />
átomos de hidrogénio da<br />
água; do TDR (Time domaine reflectrometry),<br />
baseado na influência<br />
da água do solo na velocidade<br />
de propagação de impulsos<br />
electromagnéticos através<br />
de pontas metálicas; os capacitivos,<br />
baseados na influência<br />
da água na resistividade do<br />
solo à propagação de ondas<br />
electromagnéticas. São exemplos<br />
destes últimos as sondas das<br />
marcas Enviroscan, Diviner; Delta-T<br />
(foto 2), etc. A energia com<br />
que o solo retém a água tanto<br />
pode ser medida no laboratório,<br />
pelo método das placas de<br />
pressão de Richards, como no<br />
campo pelos tensiómetros.<br />
Todos os equipamentos apresentam<br />
vantagens e inconvenientes.<br />
Uns são mais representativos,<br />
precisos e fiáveis do que outros.<br />
Por exemplo, o método neutrónico<br />
é de todos o mais representativo,<br />
porque a leitura que registamos<br />
refere-se ao valor médio do<br />
teor em água volúmico (Hv) de<br />
uma esfera de solo de raio, variando<br />
entre 20 e 50 cm, este em função<br />
da maior ou menor humidade<br />
do solo. As sondas capacitivas<br />
dão-nos o Hv de um elipsóide cujo<br />
eixo maior é cerca de 20cm e<br />
o menor de 5cm, ou seja, a onda<br />
electromagnética penetra pouco<br />
no interior do solo, por isso as leituras<br />
são menos representativas e<br />
muito influenciáveis pela boa ou<br />
má instalação dos tubos. As leituras<br />
dos tensiómetros reportam-se<br />
ao volume de solo mais próximo<br />
do bolbo de porcelana.<br />
PS: O valor indicado no manómetro<br />
do tensiómetro (L) não corresponde<br />
directamente ao potencial<br />
mátrico (m) da água do solo à<br />
profundidade a que se encontra<br />
o bolbo de porcelana. Se o manómetro<br />
estiver à altura da superfície<br />
do solo devemos subtrair a<br />
profundidade a que se encontra<br />
o ponto médio daquele. Exemplo:<br />
L=10cb=100cm; prof. do bolbo<br />
=30cm; o m=-70cm=-7cb.<br />
Métodos aplicados<br />
pelo utilizador<br />
Podem ser usados “per se” ou<br />
em simultâneo para quantificar o<br />
consumo ou as necessidades em<br />
água da vinha. Os especialistas,<br />
com base nos elementos climáticos<br />
diários, estimam através de<br />
modelos, a evapotranspiração potencial<br />
(ETP) ou de referência<br />
(ETo). Através da experimentação<br />
sabemos os coeficientes culturais<br />
(Kc) a aplicar à vinha nas diferentes<br />
fases do ciclo vegetativo. Deste<br />
modo podemos estimar as necessidades<br />
em água da vinha. Se,<br />
por exemplo, a ETo de um dia hipotético<br />
do mês de Junho for de<br />
8 mm (8L/m 2 ) e se o Kc for igual<br />
a 0,6, este variável com a superfície<br />
foliar da cultura, estimamos<br />
o consumo diário em água da vinha<br />
multiplicando 8 mm x 0,6=4,8<br />
mm, ou seja, 4,8 L/m 2 . Se a vinha<br />
for regada e apresentar um compasso<br />
3x1 metros, o sistema for a<br />
gota-a-gota, com gotejadores distanciados<br />
de 1 m e débito 3L/h,<br />
para satisfazer as necessidades<br />
diárias em água da vinha são ne-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
30
31<br />
Foto 2: Sonda Delta T<br />
cessários 4,8 L/m 2 x 3 m 2 =14,4 L, o<br />
que corresponde a 14,4 L/3.L.h -1<br />
=4,8 horas de funcionamento dos<br />
gotejadores.<br />
Este tipo de cálculo pode ser<br />
executado em segundos ou mesmo<br />
automaticamente e disponibilizado<br />
“on line” pelos serviços<br />
oficiais (exemplo: ver COTR-www.<br />
cotr.pt) em tempo real.<br />
Sobre este assunto, a grande<br />
questão que se coloca é de sabermos<br />
se dispomos já de Kc aferidos<br />
para as diferentes regiões vitícolas<br />
do País e, ainda, se para uma mesma<br />
região aplicamos o mesmo Kc<br />
independentemente da técnica cultural<br />
de manutenção do solo, do<br />
sistema de condução da vinha, da<br />
casta em questão, etc. Infelizmente,<br />
os valores de Kc disponíveis são<br />
apenas indicativos, devendo ser<br />
ajustados a cada local e objectivos<br />
específicos de cada produtor. Isto<br />
tudo, sem esquecer que a rega a<br />
aplicar em vinha é sempre deficitária<br />
e este último conceito tem<br />
muitas mais implicações.<br />
Câmara de pressão<br />
de Scholander<br />
Para avaliarem a condição de<br />
conforto ou de stress hídrico da<br />
planta, os viticultores ou os técnicos<br />
recorrem com a periodicidade<br />
adequada a medições do f, atra-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
vés da câmara de pressão de Scholander.<br />
O modo de operar com este<br />
aparelho é simples: a tampa movível<br />
da cavidade onde introduzimos<br />
a folha (limbo) e o gás (azoto)<br />
sobre pressão apresenta um orifício<br />
pelo qual fazemos passar o<br />
pecíolo para o exterior. O gás (azoto)<br />
é introduzido na câmara, estanque,<br />
de forma progressiva, até ao<br />
momento em que observamos o<br />
aparecimento de uma bolha de<br />
água no pecíolo. A pressão indicada<br />
pelo ponteiro do manómetro,<br />
no momento do aparecimento da<br />
gota de água, corresponde à pressão<br />
de equilíbrio entre a água no<br />
xilema e o gás na câmara.<br />
Se, por exemplo, registarmos<br />
para uma mesma videira o f de<br />
folhas adultas, sãs e bem expostas,<br />
desde o nascer ao por do sol,<br />
observamos que as pressões (negativas<br />
por convenção) decrescem<br />
desde o nascer até ao meio-dia solar,<br />
iniciando depois uma progressiva<br />
recuperação até ao por do sol.<br />
Exemplo: -1bar às 5h, -2bar às 9h,<br />
-10bar às 11h, e -16bar às 14h<br />
(meio dia solar). Ou seja, o potencial<br />
é máximo antes do nascer do<br />
sol, designado por potencial de<br />
base (b) e mínimo ao meio dia<br />
solar. Aquele representa o potencial<br />
mais alto da camada de solo<br />
em exploração pelo sistema radi-<br />
cular da videira. Se, por exemplo,<br />
a videira extrair, num dado momento,<br />
a água entre os 0,3 e 1 m<br />
de espessura e a camada mais profunda<br />
se apresentar mais húmida,<br />
portanto com um potencial mais<br />
alto do que as restantes, então o<br />
b corresponde não ao potencial<br />
médio de toda a camada, mas ao<br />
da camada com maior potencial.<br />
O b varia entre -1bar e -12bar.<br />
Valores < -3 bar correspondem à<br />
condição de conforto hídrico e ><br />
-7bar de elevado stress hídrico. Os<br />
valores mínimos ao meio-dia solar<br />
variam com a idade da folha e<br />
exposição e situam-se no intervalo<br />
-12 a -18 bar.<br />
Medição da água<br />
no solo<br />
No solo, o teor em água medese<br />
recolhendo directamente amostras<br />
de solo com sonda de meia<br />
cana (foto 3) ou indirectamente<br />
com diversos tipos de aparelhos.<br />
No momento da recolha a amostra<br />
húmida é colocada em lata<br />
hermética, pesada e seca em estufa<br />
a 105º C até atingir peso<br />
constante, e de novo pesada. O<br />
quociente entre a massa de água<br />
perdida por secagem e a massa de<br />
solo seco dá-nos o teor em água,<br />
expresso em kg/kg, i.e. x kg de<br />
água por kg de solo seco. Exemplo:<br />
um solo argiloso, sem elementos<br />
grosseiros (e.g. Ø > 2mm), retém<br />
na condição de capacidade<br />
de campo(Ccc) 0,35 kg/kg, enquanto<br />
o arenoso na mesma con-<br />
ESPECIAL<br />
vinha<br />
dição retém apenas 0,06 kg/kg. Se<br />
queremos expressar estes mesmos<br />
valores em unidades volumétricas,<br />
temos que saber a massa volúmica<br />
(Mv), isto é, a massa de solo seco<br />
a 105º C por unidade de volume<br />
de solo na situação natural, de<br />
cada um destes solos. Para as condições<br />
anteriores ao solo argiloso<br />
estruturado corresponde, em média,<br />
uma Mv=1200kg/m 3 equivalente<br />
a 1,2 t/m 3 , e para o arenoso<br />
Mv=1700 kg/m 3 . A conversão<br />
do teor em água mássico para volúmico<br />
faz-se multiplicando, por<br />
exemplo, 0,35 kg/kg x 1,2<br />
t/m 3 =0,42 m 3 /m 3 e 0,06 kg/kg x1,7<br />
t/m 3 = 0,10 m 3 /m 3 .<br />
Dois conceitos<br />
importantes<br />
importa reter<br />
Na Ccc todos os microporos estão<br />
preenchidos com água e os<br />
macroporos foram esvaziados por<br />
drenagem devido às forças da gravidade;<br />
Na condição de coeficiente de<br />
emurchecimento permanente<br />
(Cce), o qual é atingido quando as<br />
raízes não conseguem extrair mais<br />
água do solo, porque a energia<br />
desenvolvida ao nível das folhas<br />
(processo da transpiração) e transmitida<br />
às raízes, iguala o estado<br />
energético da água no solo. Na<br />
condição de equilíbrio energético<br />
entre o solo e a raiz não há lugar<br />
à transmissão de água.<br />
A água disponível ou utilizável<br />
pelas plantas (Au) é pois a dife-
ESPECIAL<br />
vinha<br />
rença entre os teores em água nas<br />
condições de Ccc e de Cce. Os solos<br />
referidos apresentam em média<br />
os seguintes valores de Au: Argiloso<br />
=0,10 a 0,12 m 3 /m 3 e arenoso<br />
=0,03 a 0,05 m 3 /m 3 .<br />
Um solo argiloso com 1m de espessura<br />
armazena em média entre<br />
100 a 120 mm de água e o arenoso<br />
com igual espessura entre 30<br />
a 50 mm (1mm=1L/m 2 ).<br />
PS: para obter a água armazenada<br />
no solo expressa em altura de<br />
água equivalente (h) multiplique<br />
a Au pela espessura (E), ou seja, h<br />
= Au x E. Para passar de h em mm<br />
para m 3 /ha multiplique por 10.<br />
Exemplo: se h=30mm=30L/m 2 =<br />
300m 3 /ha porque 1ha=10.000 m 2<br />
X30/1000 m=300m 3 .<br />
Um solo diz-se argiloso porque<br />
apresenta mais de 40% (400g/kg)<br />
de argila na fracção do solo da<br />
terra fina (t.f. Ø 2 a 3%.<br />
Admitamos que a Au=0,12<br />
m 3 /m 3 do solo argiloso foi calculada<br />
pela diferença entre o teor em<br />
água a 0,33 bar e a 15 bar determinados<br />
no laboratório, na t.f., pelo<br />
método das placas de pressão<br />
de Richards. Se por hipótese a<br />
quantidade de e.g.=10% então o<br />
verdadeiro valor de Au baixa de<br />
0,12m 3 /m 3 para aproximadamente<br />
0,11m 3 /m 3 e a água útil armazenada<br />
por metro de espessura de solo<br />
passa dos 120 mm para 110 mm.<br />
É igualmente importante ter<br />
presente que o destinatário do balanço<br />
hídrico do solo são as plantas.<br />
Estas extraem a água do solo<br />
através do sistema radicular. A<br />
eficiência deste na absorção da<br />
água é tanto mais elevada quanto<br />
maior for a quantidade e melhor<br />
distribuídas estiveram as raízes.<br />
Conhecer o padrão de distribuição<br />
das raízes ao longo de todo<br />
o perfil pedolitológico é fundamental<br />
para se poder estimar a<br />
eficiência percentual das raízes relativamente<br />
à Au disponível por<br />
camadas. Exemplo: suponhamos<br />
que o sistema radicular da videira<br />
atinge num dado perfil os 3 m<br />
e que a eficiência radicular decres-<br />
Foto 3 – Sonda de meia-cana, maço e latas de alumínio para colheitas de<br />
amostras de solo<br />
ce em média 20% por cada 50cm<br />
de profundidade até aos 2,5 m e<br />
é igual a 5% nos últimos 50 cm.<br />
Se a Au para o primeiro metro for<br />
de 100 mm, para o segundo de 50<br />
mm e para o terceiro de 20 mm,<br />
teremos que o total da água extraída<br />
pela planta será igual a 118<br />
mm, i.e., dos 170 mm de Au potencial<br />
apenas extraíu 118 mm, o<br />
que representa uma eficiência média<br />
de 69,41%.<br />
Como estimar<br />
a reserva em água<br />
disponível (Au)<br />
do perfil<br />
pedolitológico?<br />
Em primeiro lugar, pedolitológico<br />
e não apenas pedológico<br />
porque a vinha explora as camadas<br />
profundas constituídas por rocha<br />
fissurada ou apodrecida e esta<br />
água é muito importante para<br />
a regularização do ciclo vegetativo<br />
em clima mediterrâneo. Em segundo<br />
lugar, não é possível termos<br />
uma viticultura de qualidade<br />
e de precisão sem atribuirmos<br />
ao solo o importante papel que<br />
desempenha.<br />
Posto isto, a caracterização morfológica<br />
dos pédones no campo é<br />
acompanhada da recolha de<br />
amostras dos perfis mais representativos.<br />
Estes são tratados e analisados<br />
em termos físicos e químicos.<br />
Da caracterização física consta<br />
a textura (percentagens de<br />
areia, limo e argila), os e.g., e as<br />
constantes de humidade a 0,33<br />
bar (ou 0,1 bar) e 15 bares, determinadas<br />
na t.f. O total da Au será<br />
igual ao somatório das Au de<br />
todos os horizontes e/ou camadas.<br />
Com base na percentagem de e.g.,<br />
corrigimos o valor para as condições<br />
do terreno. Conhecendo o<br />
padrão de distribuição radicular<br />
estimamos a sua eficiência e quantificamos<br />
a água efectivamente<br />
disponível para a planta.<br />
Uma alternativa ao método baseado<br />
nas constantes de humidade<br />
consiste em, no final do período<br />
húmido (Fevereiro, Março),<br />
amostrar o terreno por manchas<br />
homogéneas com uma sonda (foto<br />
3), a fim de obter os perfis médios<br />
do teor em água por manchas<br />
de solos na Ccc. Repetir este<br />
processo no final do Verão, e assim<br />
obtemos o perfil em água na<br />
condição de máxima dessecação<br />
(Cmd). A diferença entre os perfis<br />
médios húmido e seco, dá-nos o<br />
perfil de AU expresso em Kg.Kg-<br />
1. O resultado do somatório da<br />
contribuição de todas as camadas<br />
multiplicadas pelas respectivas espessuras<br />
e massas volúmicas corresponde<br />
à totalidade de AU armazenada,<br />
expressa em altura de<br />
água equivalente.<br />
Por último, se dispusermos de<br />
equipamento instalado no terreno<br />
e registos dos perfis hídricos ao<br />
longo do ciclo vegetativo facilmente<br />
calculamos a reserva em Au.<br />
O grande problema na caracterização<br />
hídrica dos solos está na<br />
sua elevada heterogeneidade e<br />
variabilidade espacial. São sempre<br />
necessários muitos perfis para<br />
termos um valor médio fiável.<br />
Dispormos apenas de dois ou três<br />
tubos de acesso a equipamento<br />
manual ou automático, quaisquer<br />
que sejam os métodos de medição<br />
ou marcas, é manifestamente<br />
pouco.<br />
Pelas razões expostas é que a<br />
complementaridade de métodos<br />
de diagnóstico do estado hídrico<br />
da videira é fundamental. Até<br />
porque alguns são mais expeditos<br />
e menos onerosos do que outros.<br />
Por exemplo, quase sempre não é<br />
possível dispormos de uma adequada<br />
caracterização hídrica dos<br />
solos. Neste contexto, o recurso à<br />
informação fornecida pela câmara<br />
de pressão é fundamental. O<br />
que não é correcto e pode induzir<br />
a erros de prognóstico grosseiros<br />
é considerar esta última técnica<br />
como auto-suficiente.<br />
A realidade de um “terroir” é<br />
apreendida de forma progressiva,<br />
ano após ano. E para a compreensão<br />
global do sistema, é fundamental<br />
cruzarmos a informação<br />
fornecida por processos e métodos<br />
diferentes. <br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
32
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Míldio em Portugal,<br />
Espanha e França<br />
O míldio causou elevados prejuízos na vinha<br />
em Portugal, Espanha e França em 2007. O Outono<br />
seco não faz antever grande pressão da doença<br />
nesta campanha, mas é preciso estar vigilante.<br />
A Lusosem organizou dia 28<br />
de Fevereiro, em Gaia, um<br />
workshop sobre o míldio da<br />
vinha onde foi feito o balanço dos<br />
ataques da doença em Portugal,<br />
Espanha e França, na campanha<br />
passada, e apresentadas estratégias<br />
de luta.<br />
As chuvas e temperaturas elevadas<br />
do Outono de 2006 (um dos<br />
mais quentes desde 1996) e as chuvas<br />
ocorridas em Fevereiro e Junho<br />
de 2007 criaram condições<br />
ideais para o desenvolvimento da<br />
infecção em Portugal. Os primeiros<br />
sinais de míldio surgiram na vinha<br />
em Abril (com variações por região),<br />
mas foram as infecções secundárias<br />
de meados de Junho (as<br />
trovoadas e chuvas contínuas inesperadas<br />
favoreceram o desenvolvimento<br />
do fungo, que nesta fase demora<br />
poucos dias a incubar) que<br />
tornaram a situação incontrolável.<br />
Os viticultores que não haviam tratado<br />
até então, foram apanhados<br />
desprevenidos e não conseguiram<br />
tratar a vinha em tempo útil. No<br />
Douro, as perdas da produção atingiram<br />
os 18 por cento, segundo José<br />
Freitas, responsável pela Estação<br />
de Avisos do Douro.<br />
Em França, o panorama foi<br />
idêntico. A infecção teve particular<br />
incidência na parte atlântica<br />
(Bordéus, Charente e Vale do Loire),<br />
obrigando a realizar oito tratamentos<br />
por hectare, revelou<br />
Bernard Molot do Instituto Francês da Vinha e do Vinho disse que as resistências<br />
aos fungicidas vão agravar-se<br />
É importante estar alerta ao aparecimento dos primeiros sintomas<br />
de infecção e fazer tratamentos preventivos<br />
Bernard Molot, do Instituto Francês<br />
da Vinha e do Vinho e director<br />
da Estação de Nimes.<br />
Em Espanha, o míldio atacou zonas<br />
dispersas, com maior incidência<br />
na região de La Rioja. Apesar<br />
da gravidade dos ataques, os viticultores<br />
conseguiram controlar os<br />
estragos, graças ao vasto leque de<br />
fungicidas autorizados e ao aconselhamento<br />
do Grupo de Trabalho<br />
dos Problemas Fitossanitários da<br />
Vinha, explicou José Marín, coordenador<br />
deste grupo e chefe de<br />
Protecção das Culturas da Conselharia<br />
de Agricultura de La Rioja.<br />
Menos míldio<br />
em 2008<br />
2008 deverá ser um ano de menor<br />
pressão de míldio. O Outono<br />
seco não favoreceu o desenvolvimento<br />
de novos zoósporos, embora<br />
tenham persistido alguns nas vinhas<br />
desde a campanha passada.<br />
Na semana de 18 a 23 de Fevereiro<br />
já houve indicação de germinação<br />
de zoósporos nas vinhas, alertou o<br />
responsável pela Estação de Avisos<br />
do Douro. É importante estar vigilante<br />
aos alertas da Estações de Avisos<br />
e ao aparecimento dos primeiros<br />
sintomas de infecção e fazer tra-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
34
35<br />
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Mildicut- fungicida à base de ciazofamida<br />
A Lusosem apresentou o novo fungicida sistémico da Belchium,<br />
o Mildicut. Esta nova solução contra o míldio, à base de ciozofamida,<br />
actua interrompendo a actividade respiratória do fungo.<br />
Tem uma acção preventiva, anti-esporulante e efeito stop curativo,<br />
quando aplicado 24 a 48 horas após a infecção. Além de proteger<br />
os cachos, também protege os novos crescimentos, porque<br />
a ciozofamida consegue redistribuir-se nos órgãos da planta, e<br />
no Mildicut é formulada com um adjuvante que aumenta a sua<br />
mobilidade na planta, acompanhando o seu crescimento e desenvolvimento.<br />
Não apresenta resistências cruzadas e é recomendado<br />
em Protecção Integrada. Deve ser aplicado com intervalos<br />
de 12 a 14 dias, consoante a pressão do míldio, à dose de 4<br />
litros/hectare (400 ml/hl).<br />
tamentos preventivos. José Marín<br />
aconselhou a “fazer um tratamento<br />
no início da floração, de preferência<br />
com um produto sistémico,<br />
ainda que não exista risco de ataque”.<br />
Não lavrar durante a floração;<br />
encurtar o prazo de persistência<br />
recomendado (em dois dias)<br />
quando a pressão da doença é elevada;<br />
utilizar atomizadores e não<br />
realizar mais do que três tratamentos<br />
por ano com produtos sistémicos,<br />
para a evitar o aparecimento<br />
de resistências, foram outros conselhos<br />
do especialista espanhol.<br />
Resistências<br />
No futuro teremos cada vez mais<br />
resistências dos fungos às novas<br />
substâncias activas dos fungicidas,<br />
porque a nova geração de produtos<br />
actua apenas sobre uma parte<br />
do gene do fungo, alertou o director<br />
da Estação de Nimes. Bernard<br />
Molot apresentou os resultados da<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
monitorização realizada em todo<br />
o território francês, entre 2005 e<br />
2007, sobre as resistências do míldio<br />
a várias famílias de fungicidas.<br />
As vinhas francesas já apresentam<br />
alguns fenómenos de resistência ao<br />
cimoxanil, embora não consistentes,<br />
porque esta matéria activa é<br />
formulada em conjunto com outras;<br />
já com o QoI há um problema<br />
generalizado de resistência. No caso<br />
dos fungicidas à base de zoxamida<br />
(produto de contacto e mais<br />
recente) não foram ainda detectadas<br />
resistências.<br />
Molot revelou o plano de tratamentos<br />
contra o míldio aconselhado<br />
em França, baseado no<br />
princípio da alternância entre<br />
fungicidas: cimoxanil (não usar<br />
toda a campanha); anilidas (2 a 3<br />
tratamentos preventivos no início<br />
da campanha); CAA (3 tratamentos)<br />
e QoI (2 a 3 tratamentos<br />
preventivos). <br />
220 pessoas participaram no workshop sobre míldio organizado pela Lusosem
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Quanto vale uma<br />
receita de pesticidas<br />
A prescrição de receitas de pesticidas ainda<br />
não é uma prática corrente em Portugal, mas<br />
tem vantagens óbvias para o viticultor.<br />
A Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo<br />
passa receitas há mais de 20 anos.<br />
Se fosse ao médico e ele lhe<br />
indicasse de boca os medicamentos<br />
que devia tomar,<br />
acharia no mínimo estranho! A receita<br />
escrita salvaguarda que tomará<br />
apenas o medicamento mais<br />
indicado à sua doença, não deixa<br />
dúvidas ao farmacêutico e responsabiliza<br />
o médico que a passou.<br />
Não acha que o mesmo se deveria<br />
passar com as suas plantas?<br />
Elas são seres vivos, sofrem de pragas<br />
e doenças e sem um tratamento<br />
adequado não produzem tanto<br />
ou tão bem como esperaria delas.<br />
A receita escrita, com o nome<br />
comercial do pesticida, a recomendação<br />
da dose, do número de tratamentos<br />
e do período do dia<br />
oportuno para os fazer, é um instrumento<br />
fundamental para o sucesso<br />
do controlo dos problemas<br />
fitossanitários da vinha.<br />
A Associação Técnica dos Viticultores<br />
do Alentejo (ATEVA) faz<br />
prescrição de receitas de pesticidas<br />
desde os anos 80 e os seus<br />
mais de dois mil associados estão<br />
satisfeitos com esta prática.<br />
“Acho importante que as recomendações<br />
sejam escritas, até<br />
porque mais tarde são arquivadas<br />
e servem de base para elaborar<br />
o caderno de campo … tenho<br />
certeza que os técnicos que cá<br />
vêm são competentes e empenhados”,<br />
afirmou João Gancho,<br />
viticultor do Redondo, proprietário<br />
de 24 hectares de vinha.<br />
Receitar um produto não por<br />
substância activa, mas por nome<br />
comercial e assumi-lo de forma escrita<br />
pode ser controverso, mas facilita<br />
a vida ao agricultor e ao distribuidor.<br />
“Isto deu algumas guerras,<br />
mas a responsabilização dos<br />
nossos técnicos é importante, porque<br />
os agricultores se sentem mais<br />
seguros”, explicou António Rosa,<br />
da equipa técnica da ATEVA.<br />
Protecção contra o GRANIZO<br />
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A ATEVA, que passa receitas<br />
escritas há mais de 20 anos,<br />
lamenta que a lei não responsabilize<br />
os prescritores<br />
José Rosa, viticultor<br />
de Évora, com sete<br />
hectares de vinha na<br />
freguesia da Senhora<br />
da Saúde, confessou<br />
que nem sempre segue<br />
o que é recomendado,<br />
mas admite<br />
que já se tem<br />
arrependido. Dá como exemplo o<br />
Dia de São Pedro, em 2007, em<br />
que choveu muito e teve recomendação<br />
para tratamento imediato<br />
contra o míldio, mas não o<br />
fez: “descuidei-me dois dias e foi<br />
o suficiente para não conseguir<br />
controlar a situação”. Outras vezes<br />
é o preço da marca recomendada<br />
que o inibe de cumprir as recomendações<br />
dos técnicos: “por<br />
vezes, se a marca recomendada é<br />
mais cara, tento comprar uma<br />
mais barata com a mesma subs-<br />
Radar<br />
automático<br />
de detecção<br />
da nuvem<br />
tância activa”. Em qualquer<br />
dos casos, para ele conta<br />
muito mais a experiência dos técnicos<br />
do que a forma escrita da recomendação.<br />
António Rosa da ATEVA lamenta<br />
que a legislação mais recente<br />
sobre venda e aplicação de pesticidas<br />
não contemple a figura do<br />
prescritor: “estamos à frente da<br />
legislação, porque no conceito de<br />
Venda Responsável é deixado de<br />
fora o papel do prescritor”. <br />
36<br />
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na europa
37<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Analise automática da<br />
qualidade da pulverização<br />
Spr@y_Image é um novo programa informático,<br />
desenvolvido pela Faculdade de Ciências da Universidade<br />
do Porto, que analisa de forma automática<br />
e objectiva a qualidade da pulverização em vinha.<br />
Os papéis hidrosensíveis<br />
(PHS) são usados há mais de<br />
30 anos para avaliar a quantidade<br />
de calda aplicada às plantas,<br />
sobretudo em vinha. Instalados<br />
junto aos cachos ou na folhagem,<br />
absorvem as gotas de calda,<br />
como uma impressão digital, dando<br />
ideia da forma como se distribui<br />
a pulverização pelas plantas.<br />
Eles são uma ferramenta de trabalho<br />
importante, uma vez que as<br />
técnicas de pulverização emergentes,<br />
baseadas em baixos volumes,<br />
são cada vez mais sensíveis a falhas<br />
operacionais, exigindo uma<br />
monitorização rigorosa e oportuna<br />
da qualidade da pulverização.<br />
Porém, a leitura dos PHS é feita<br />
através da observação, um processo<br />
demorado e gerador de<br />
erros de interpretação na contagem<br />
das gotas, sobretudo em ca-<br />
sos de sobreposição das gotas. Para<br />
contornar esta subjectividade<br />
de análise, Mário Campos Cunha<br />
e André Marçal, da Faculdade de<br />
Ciências da Universidade do Porto,<br />
desenvolveram um software<br />
que processa de forma rápida e<br />
automática as imagens dos PHS,<br />
dando informação rigorosa sobre<br />
a qualidade da pulverização. “O<br />
Spr@y_Image faz a contagem das<br />
gotas, classifica-as por diâmetro e<br />
analisa a homogeneidade da distribuição<br />
no papel. Tudo isto com<br />
o mínimo de intervenção do operador,<br />
que não precisa de ter grandes<br />
conhecimentos informáticos”,<br />
explicou Mário Campos Cunha à<br />
“Frutas, Legumes e Flores”.<br />
Mesmo em situações de elevados<br />
volumes de calda, com sobreposição<br />
das gotas, este software<br />
permite fazer uma leitura rigoro-<br />
Mário Campos Cunha (à dir.) e André Marçal (à esq.) ganharam o “Prémio Syngenta<br />
Inovação em Agricultura 2007 com o Spr@y_Image<br />
sa dos PHS. Será útil na testagem<br />
de técnicas de pulverização mais<br />
apropriadas a diferentes variantes<br />
introduzidas nos sistemas de condução<br />
da vinha; localização dos tratamentos;<br />
avaliação da eficácia de<br />
produtos fitofarmacêuticos no<br />
combate a pragas, doenças e infestantes<br />
e em estudos de impacto<br />
ambiental relacionadas com a pulverização.<br />
“Não existe no mercado<br />
uma ferramenta que faça leituras<br />
tão rigorosas nestas condições.<br />
A maior parte dos programas comercializados<br />
faz leitura pouco rigorosa,<br />
sobretudo quando existem<br />
muitas gotas e estão muito próximas<br />
… o Spr@y_Image dá resposta<br />
a uma necessidade muito concreta,<br />
com elevada aplicabilidade<br />
prática e o mínimo de intervenção<br />
do aplicador”, acrescentou.<br />
Interpretação via Net<br />
O agricultor faz a digitalização<br />
dos PHS, que posteriormente são<br />
interpretados pelo software instalado<br />
no computador, para produzir<br />
indicadores relacionados<br />
Os papéis hidrosensíveis<br />
serão<br />
substituídos por<br />
sensores digitais<br />
com comunicação<br />
via wireless<br />
com a qualidade da pulverização.<br />
Na posse da informação, o viticultor<br />
reajusta as condições de<br />
pulverização, nomeadamente a<br />
quantidade de gotas por cm 2 e o<br />
tamanho das gotas, consoante o<br />
objectivo que quer atingir. “Para<br />
agilizar o processo, estamos a desenvolver<br />
um sítio na Internet para<br />
onde podem enviar as imagens<br />
dos papéis e receber automaticamente<br />
a resposta”, revelou o investigador.<br />
O Spr@y_Image está ainda “em<br />
bruto” e o próximo passo é colocá-lo<br />
numa linguagem mais amigável,<br />
com manual de instruções.<br />
A dupla de investigadores aguarda<br />
a parceria de empresas interessadas<br />
em pôr esta ferramenta ao<br />
serviço dos agricultores. O software<br />
analisa a pulverização em qualquer<br />
cultura. Por exemplo, na aplicação<br />
de herbicidas residuais em<br />
culturas arvenses. Neste caso, os<br />
PHS são colocados sobre o solo e<br />
o software permite avaliar se está<br />
a ser feita uma boa cobertura,<br />
se há zonas com descontinuidades<br />
de aplicação, se o tamanho das<br />
gotas é o ideal, etc.<br />
Sensores digitais<br />
O próximo passo será integrar o<br />
Spr@y_Image com sensores digitais<br />
(substitutos dos PHS) com comunicação<br />
via wireless. Isto permitirá<br />
que todo o processo esteja automatizado,<br />
desde o envio de dados<br />
para o software, passando pela leitura<br />
das gotas e comando da pressão<br />
e caudal do pulverizador, através<br />
de uma consola instalada na<br />
cabina do tractor. A tecnologia já<br />
existe, basta integrá-la e estará<br />
criado um precioso instrumento de<br />
viticultura de precisão.
ESPECIAL<br />
vinha<br />
i-Farm - a exploração<br />
agrícola inteligente<br />
Por: Miguel de Castro Neto (mneto@agriciencia.com)<br />
O I-farm é uma plataforma tecnológica que integra<br />
sensores de monitorização e câmaras de vídeo<br />
sem fios e transmite a informação sobre a vinha em<br />
tempo real e com ligação remota.<br />
A agricultura de precisão começou<br />
nas culturas arvenses<br />
e na zootecnia de precisão,<br />
mas no futuro toda a agricultura<br />
praticada será de precisão. As decisões<br />
tomadas e acções praticadas<br />
serão realizadas num contexto de<br />
informação intensivo. Neste novo<br />
ambiente o factor crítico de sucesso<br />
residirá na capacidade de, suportado<br />
por repositórios de dados<br />
das mais diversas origens, natureza<br />
e formato, fornecer aqueles<br />
que, no momento oportuno e no<br />
formato adequado, serão informação<br />
e, na interacção com o empresário,<br />
se transformam em conhecimento<br />
e o apoiam nos seus<br />
processos de tomada de decisão.<br />
Neste contexto a Agri-Ciência<br />
lançou o projecto i-Farm, onde integra<br />
numa única plataforma tecnológica,<br />
instalada numa vinha,<br />
os mais recentes avanços tecnológicos,<br />
construindo um sistema de<br />
informação de suporte à exploração<br />
agrícola inteligente da sociedade<br />
da informação e do conhecimento.<br />
A i-Farm é um projecto<br />
financiado pelo Programa DEM-<br />
TEC da Agência de Inovação.<br />
i-Farm<br />
A i-Farm é suportada por um sistema<br />
de informação que integra<br />
múltiplas funcionalidades, acessí-<br />
texto publicitário<br />
veis num ponto de acesso único na<br />
Web, como sejam:<br />
• Sensores de monitorização sem<br />
fios para recolha de dados, nomeadamente:<br />
informação de<br />
contexto/ambiental (edáfica e<br />
climática) – temperatura do ar,<br />
temperatura à superfície do solo,<br />
humidade relativa do ar, humidade<br />
do solo, radiação solar,<br />
velocidade do vento, precipitação,<br />
etc; informação da planta<br />
(fito-sensores) - humectação, fluxo<br />
de seiva, variação do diâmetro<br />
do tronco, temperatura da<br />
folha, dimensão do fruto, etc.<br />
• Câmaras de vídeo/fotográficas<br />
sem fios para recolha de imagens<br />
e visitas virtuais à exploração;<br />
• Assistentes pessoais digitais, com<br />
ligação à Internet, para recolha<br />
de informação de campo e acesso<br />
directo, a partir do campo, ao<br />
repositório de conhecimento/sis-<br />
temas de apoio à decisão.<br />
• Cobertura sem fios da exploração<br />
(Wi-Fi, Wimax, mesh-networks,…)<br />
para suportar a recolha<br />
e transmissão em tempo real<br />
dos dados que estão a ser monitorizados<br />
e o acesso à Intranet<br />
e Internet a partir do campo;<br />
O factor crítico de sucesso da i-<br />
Farm será a interface que os seus<br />
“clientes”, os técnicos / empresários<br />
agrícolas, terão de utilizar para<br />
aceder ao conhecimento criado.<br />
Podem consultar em tempo<br />
real a informação que está a ser<br />
recolhida num determinado momento,<br />
visualizá-la sob diversas<br />
formas (gráficos, tabelas, SIG, fotografias,<br />
vídeos, etc.), quando tal<br />
se justifique. Este acesso é feito<br />
num interface amigável em ambiente<br />
Web, para duas plataformas<br />
distintas - computadores de<br />
secretária / portáteis e assistentes<br />
pessoais digitais. No caso dos<br />
PDAs, o acesso à Internet sem fios<br />
permitirá o acesso através da própria<br />
rede local sem fios da i-Farm,<br />
enquanto o técnico está a realizar<br />
a visita ao terreno.<br />
A i-Farm pode ainda ser ligada<br />
a sistemas de informação externos,<br />
permite o acesso a utilizadores<br />
externos (consultores), para<br />
acompanhamento remoto da<br />
evolução da vinha e das variáveis<br />
ambientais, culturais e edáficas<br />
que a suportam.<br />
Neste momento está instalada<br />
uma unidade de demonstração,<br />
com três ilhas de monitorização,<br />
numa vinha da Herdade da Pimenta,<br />
em São Miguel de Machede<br />
– Évora, sendo possível conhecer<br />
com maior detalhe este projecto<br />
em www.i-farm.pt. <br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
38
39<br />
avaliada numa base ampla, tendo<br />
em conta alguns aspectos relacionados<br />
não só com a uva, mas também<br />
com a vinha, como por exemplo<br />
o equilíbrio entre vigor e produção,<br />
a exposição dos cachos à<br />
luz, a incidência de doenças, o tamanho/peso<br />
do bago, etc.. Definir<br />
a qualidade das uvas de uma forma<br />
objectiva é uma tarefa difícil.<br />
Para tal é necessário complementar<br />
os índices tradicionais (grau<br />
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Rega da vinha e composição<br />
fenólica das uvas<br />
Por: José Silvestre*, Isabel Spranger (Insti. Nac. Rec. Bio., ex-Estação<br />
Vitivinícola Nacional)<br />
A rega é uma ferramenta importante na gestão da<br />
composição fenólica das uvas, em particular no teor<br />
e perfil em antocianinas, polifenóis totais e taninos.<br />
<br />
O sector vitivinícola representa<br />
cerca de 14 por cento<br />
do Produto Agrícola Bruto<br />
(incluindo produção animal) e<br />
exporta cerca de 560 milhões de<br />
euros (1.6% do total das exportações<br />
portuguesas), valor que tem<br />
vindo a crescer de uma forma moderada,<br />
mas sustentável durante<br />
a última década. Para incrementar<br />
estas tendências e aumentar<br />
a competitividade deste sector<br />
é essencial promover a qualidade<br />
da produção.<br />
Em particular, os trabalhos efectuados<br />
na área das relações hídricas<br />
da vinha têm evidenciado que<br />
o uso racional da rega (rega deficitária)<br />
pode contribuir para melhorar<br />
a qualidade das uvas, factor<br />
indispensável para a produção<br />
de vinhos de elevada qualidade,<br />
sem contudo, comprometer a tipicidade<br />
destes. Uma gestão adequada<br />
da rega (sempre deficitária)<br />
visa corrigir situações de stress hídrico<br />
severo, estabelecendo uma<br />
carência hídrica moderada. Permite<br />
igualmente controlar o crescimento<br />
vegetativo e o vigor, estabilizar<br />
a produção, minimizar os<br />
custos ambientais (água e energia),<br />
mitigar quer os impactos negativos<br />
associados às situações cada<br />
vez mais frequentes de variabilidade<br />
climática (nomeadamente<br />
os períodos de seca), quer os efeitos<br />
das alterações climáticas previstas<br />
para as próximas décadas.<br />
Sendo a rega da vinha uma prática<br />
cultural relativamente recente<br />
no nosso País e na generalidade<br />
dos países europeus, verificase<br />
uma necessidade crescente de<br />
compreender os efeitos da rega<br />
no crescimento vegetativo da vinha,<br />
produção e, sobretudo, na<br />
qualidade da uva e do vinho.<br />
De uma forma geral, a qualidade<br />
das uvas para vinho pode ser<br />
A rega deficitária pode contribuir para um aumento do teor em antocianinas<br />
provável, acidez total, pH) com outras<br />
variáveis, tais como a prova<br />
organoléptica dos bagos (avaliando<br />
em particular as películas e as<br />
grainhas), a componente fenólica<br />
e até a componente aromática.<br />
Rega e composição<br />
fenólica<br />
Sendo a qualidade dos vinhos<br />
tintos fortemente dependente da<br />
respectiva composição fenólica, é
ESPECIAL<br />
vinha<br />
NÃO REGADO<br />
REGADO<br />
objectivo dos viticultores produzir<br />
uvas com uma composição fenólica<br />
que corresponda ao perfil<br />
pretendido pelos enólogos. Os<br />
compostos fenólicos existentes nas<br />
uvas incluem vários grupos de<br />
substâncias com propriedades físico-químicas<br />
e sensoriais diferentes.<br />
É o caso das antocianinas, proantocianidinas<br />
(taninos), flavonóis,<br />
ácidos fenólicos, etc. Entre outras<br />
características, são responsáveis<br />
pela cor do vinho e influenciam a<br />
estrutura do vinho (corpo, adstringência,<br />
secura, amargor, etc.).<br />
Além destas propriedades apresentam<br />
potenciais efeitos benéficos<br />
para a saúde do consumidor<br />
(captores de radicais livres, protecção<br />
cardiovascular, propriedades<br />
anti-carcinogénicas e anti-inflamatórias,<br />
entre outras).<br />
A biossíntese e acumulação dos<br />
compostos fenólicos na uva dependem<br />
principalmente da casta,<br />
exposição dos cachos à radiação,<br />
temperatura, vigor da vinha, tipo<br />
de solo, estado nutricional das vinhas,<br />
intensidade de stress hídrico,<br />
entre outros. Estes factores encontram-se<br />
interligados, dificultando<br />
a análise dos seus efeitos.<br />
Assim, vale a pena avaliar o efeito<br />
da rega na composição fenólica,<br />
em particular no teor e perfil<br />
em antocianinas, polifenóis totais<br />
e taninos. Para tal, importa ter em<br />
REGADO<br />
NÃO REGADO<br />
A rega alternada dos dois lados das linhas (Partial Rootzone Drying) estimula<br />
a síntese de ABA nas raízes, uma hormona que influencia a síntese fenólica<br />
consideração que a biossíntese dos<br />
diferentes compostos ocorre a fases<br />
distintas do desenvolvimento<br />
do bago. A acumulação das antocianinas<br />
nas películas começa ao<br />
pintor e atinge o máximo próximo<br />
da maturação, decaindo mesmo<br />
antes da maturação e durante<br />
a sobrematuração. Esta evolução<br />
permite usar o teor em antocianinas<br />
como indicador da maturação<br />
fenólica.<br />
Rega deficitária<br />
A rega deficitária pode contribuir<br />
para um aumento do teor em<br />
antocianinas devido principalmente<br />
a:<br />
1. síntese favorecida pela rega deficitária<br />
– quer em estudos laboratoriais,<br />
quer em ensaios de<br />
campo tem sido verificado que<br />
a biossíntese das antocianinas<br />
é sensível à intensidade do<br />
stress hídrico;<br />
2. diminuição do tamanho do bago<br />
– aumento da relação películas/volume<br />
do mosto, com o<br />
consequente aumento do teor<br />
em antocianinas;<br />
3. exposição dos cachos à radiação<br />
- o controle do vigor vai<br />
proporcionar uma exposição<br />
dos cachos à radiação, que favorece<br />
a síntese das antocianinas<br />
(em condições climáticas severas<br />
uma exposição excessiva<br />
das uvas pode aumentar a temperatura<br />
dos bagos, reduzindo<br />
a síntese de antocianinas);<br />
4. controlo hormonal – regas deficitárias<br />
estimulam a síntese de<br />
ácido abcíssico (ABA), hormona<br />
que, entre outros efeitos, favorece<br />
a acumulação das antocianinas.<br />
As proantocianidinas (taninos<br />
condensados) encontram-se localizadas<br />
essencialmente nas partes<br />
sólidas do cacho, película, grainha<br />
e engaço. Estes compostos podem<br />
ser encontrados quer na forma de<br />
monómeros (catequina, epicatequina<br />
e epicatequina galhato),<br />
quer na forma de oligómeros ou<br />
polímeros. A sua síntese ocorre sobretudo<br />
antes do pintor. As vias de<br />
biossíntese de proantocianidinas<br />
e antocianinas parecem ser reguladas<br />
independentemente, embora<br />
muitos passos enzimáticos sejam<br />
comuns. Há uma acumulação<br />
de catequinas e proantocianidinas<br />
durante a fase pré-pintor, quando<br />
a sintese das antocianinas ainda<br />
não começou. A diminuição de<br />
proantocianidinas na fase pós-pintor<br />
tem sido atribuída à formação<br />
de associações entre os taninos<br />
com outros componentes celulares,<br />
tais como polissacáridos das<br />
paredes das células, lenhinas e proteínas.<br />
Os dados existentes sobre<br />
a variação do grau médio de polimerização<br />
das proantocianidinas<br />
ao longo da maturação são ainda<br />
muito controversos. A composição<br />
em taninos das uvas pode influenciar<br />
as propriedades sensoriais dos<br />
vinhos e a estabilidade da cor dos<br />
vinhos. A síntese de taninos pode<br />
ser prejudicada por situações<br />
de stress hídrico severo antes do<br />
pintor. Por outro lado, situações<br />
de conforto hídrico (devidas por<br />
exemplo a regas excessivas) podem<br />
contribuir para a redução destes<br />
tipos de compostos nas uvas.<br />
A influência da rega deficitária<br />
na composição fenólica das<br />
uvas é complexa porque, além dos<br />
efeitos directos da rega na biossíntese<br />
fenólica, importa considerar<br />
os efeitos indirectos resultantes da<br />
alteração da actividade metabólica<br />
e hormonal da vinha. Por exemplo,<br />
uma rega deficitária de baixa<br />
frequência vai estimular a síntese<br />
de ABA. Esta hormona, além de influenciar<br />
directamente a síntese<br />
fenólica, regula vários processos<br />
nas plantas, salientando-se a redução<br />
das perdas de água por transpiração<br />
(controlo da abertura dos<br />
estomas) e o crescimento vegetativo<br />
(reduz a emissão de netas e<br />
estimula a paragem de crescimento),<br />
favorecendo a acumulação de<br />
açúcares no bago e o microclima<br />
do coberto (em particular na zona<br />
dos cachos), favorecendo a síntese<br />
de compostos fenólicos. Uma<br />
técnica de rega que tira proveito<br />
deste tipo de respostas é o PRD<br />
(Partial Rootzone Drying, dessecagem<br />
parcial da zona radicular). Esta<br />
procura estimular a síntese de<br />
ABA nas raízes regando alternadamente<br />
os dois lados das linhas.<br />
Ao contrário, regas excessivas vão<br />
promover o crescimento dos pampânos,<br />
aumentando a competição<br />
entre a produção e o crescimento<br />
vegetativo pelos produtos da fotossíntese.<br />
Em consequência, a<br />
acumulação de açúcares nos bagos<br />
pode ser mais lenta. O aumento<br />
do vigor pode originar um pior<br />
arejamento na zona dos cachos<br />
(maior susceptibilidade a doenças<br />
criptogâmicas), menor exposição<br />
dos cachos à radiação solar (reduzindo<br />
a síntese de antocianinas) e<br />
aumento do tamanho do bago<br />
(menor concentração de compostos<br />
fenólicos e percursores do aroma<br />
por efeito de diluição).<br />
Para dar resposta a estes aspectos<br />
a ex-Estação Vitivinícola Nacional<br />
participa em vários projectos<br />
de investigação, visando adequar<br />
estratégias de rega deficitária à<br />
produção de vinhos de qualidade<br />
e, tem protocolos com produtores<br />
para condução da rega e avaliação<br />
da sua influência na componente<br />
fenólica das uvas. <br />
*evn.jose.silvestre@mail.net4b.pt<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
40
ESPECIAL<br />
vinha<br />
Biosensores revolucionam<br />
análises de uva e vinho<br />
Esta campanha chega ao mercado um kit para<br />
análises à uva e ao vinho, que inova pela rapidez,<br />
fiabilidade e baixo preço.<br />
Dois doutorados em Química<br />
pela Faculdade de Ciência<br />
da Universidade de Lisboa<br />
constituíram uma empresa –<br />
Lumisense - que está a criar um<br />
novo kit de análises múltiplas, rápidas<br />
e fiáveis para uvas e vinho.<br />
O equipamento, que deverá estar<br />
pronto em Julho e custará entre<br />
1000 e 2000€, usa biosensores<br />
fabricados com um novo polímero.<br />
Trata-se de um plástico<br />
condutor de corrente eléctrica<br />
que emite luz na presença de enzimas<br />
e dos compostos que elas<br />
detectam. A luz emitida indica se<br />
determinado composto está presente<br />
na amostra de sumo de uva<br />
ou de vinho e em que quantidade<br />
existe.<br />
Até ao momento, a Lumisense<br />
desenvolveu sensores para detectar<br />
frutose, glucose, etanol, polifenóis,<br />
ácido láctico, ácido málico<br />
e enxofre, mas quanto o equipamento<br />
sair para o mercado existirão<br />
dois tipos de kits: um para<br />
análise de uva, que medirá numa<br />
só gota de sumo frutose, glucose,<br />
polifenóis e ácidos orgânicos e outro<br />
para vinho, que medirá etanol,<br />
polifenóis, ácido láctico, ácido<br />
málico e enxofre.<br />
A aposta da Lumisense é agregar<br />
os sensores e transformá-los<br />
num kit de análise simultânea de<br />
vários componentes, realizada de<br />
forma rápida, com elevada fiabilidade<br />
e a custo reduzido. Uma<br />
combinação que ainda não existe<br />
no mercado. “O nosso método<br />
tem uma validade semelhante aos<br />
kits enzimáticos, mas que são muito<br />
caros e necessitam de espectofetómetro”,<br />
explicou António Cascalheira,<br />
sócio da Lumisense, criada<br />
em parceria com o investigador<br />
Miguel Freitas.<br />
Hoje em dia, as análises são feitas<br />
com reagentes químicos, um<br />
processo fiável, mas demorado,<br />
ou através de refractómetro, uma<br />
forma rápida, mas pouco precisa.<br />
Por outro lado, um equipamento<br />
que realize um vasto conjunto<br />
de análises de rotina pode custar<br />
cerca de 60 mil euros. Orçamento<br />
fora do alcance dos pequenos<br />
e médios vitivinicultores.<br />
O equipamento da Lumisense<br />
será portátil e pouco maior do<br />
que um telemóvel, com três tipos<br />
de sensores: para 50, 100 e 500<br />
análises (um produtor médio precisa<br />
de fazer 3000 análises por<br />
campanha). Cada análise custará<br />
entre 0,50 a 0,75€. Os dados são<br />
de leitura imediata e transferíveis<br />
para o computador.<br />
A dupla de investigadores desenvolve<br />
agora o design e a parte<br />
electrónica do equipamento e<br />
procura o invólucro ideal. Entretanto,<br />
o protótipo está a ser testado<br />
com alguns vitivinicultores e<br />
“está disponível para ser validado<br />
com qualquer produtor de vinho<br />
interessado …quantos mais clientes<br />
de testes melhor”, garantiu<br />
António Cascalheira.<br />
Além dos produtores de uva e<br />
vinho, o kit poderá ser usado por<br />
António Cascalheira mostra o biosensor feito de um novo plástico que emite<br />
luz ao detectar determinado composto no vinho<br />
consultores de enologia, laboratórios<br />
de análises externas e comissões<br />
vitivinícolas. Num prazo<br />
de sete anos, a Lumisense pretende<br />
conquistar 5 mil clientes em<br />
Portugal e noutros países da Europa,<br />
bem como nos EUA, Nova<br />
Zelândia, Austrália, América<br />
Latina e África do Sul. O<br />
equipamento é aplicável<br />
a outros líquidos agroalimentares.<br />
<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
42
43<br />
Em pomares tradicionais sobre<br />
franco de cerejeira brava<br />
(P. avium) a densidade<br />
ronda as 200 árvores/ha (6 x 8 m),<br />
e sobre porta-enxertos semi-vigorosos<br />
(Maxma 14, Cab 11E, Gisela<br />
12, Weiroot 158) ela pode<br />
aumentar até 500 plantas/ha, mas<br />
os cavalos ananicantes (Gisela 5,<br />
Edabriz) permitem aumentar<br />
mais as densidades de plantação,<br />
atingindo valores superiores a<br />
2000 plantas/ha.<br />
A elevada intensificação cultural<br />
só é economicamente possível<br />
quando se utiliza porta-enxertos<br />
ananicantes, uma vez que nos vigorosos<br />
e semi-vigorosos é mais<br />
difícil e mais caro conter o crescimento<br />
das árvores. Nestes casos,<br />
a opção por compassos apertados<br />
torna as copas das árvores demasiado<br />
altas e densas, e dificulta a<br />
penetração da luz no interior e na<br />
parte basal das copas e das sebes,<br />
interferindo negativamente na<br />
quantidade e qualidade da cereja<br />
produzida, no rendimento das<br />
operações de colheita e poda, no<br />
controlo de doenças e pragas, etc.<br />
O recurso a porta-enxertos ananicantes,<br />
além de ter efeito marcante<br />
na contenção do crescimento<br />
das árvores, induz também a<br />
maior precocidade e abundância<br />
de floração e frutificação, de onde<br />
resultam melhorias substanciais<br />
da sua eficiência produtiva, e consequentemente,<br />
de rendimento<br />
para os produtores.<br />
Apesar de todas as vantagens<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
apontadas à utilização de portaenxertos<br />
ananicantes, convém não<br />
ignorar que a maiores produções<br />
e rendimentos estão associados<br />
acréscimos de risco económico. Estes<br />
porta-enxertos requerem maior<br />
investimento na sua instalação e<br />
cultivo, e um controlo eficaz de todos<br />
os parâmetros produtivos, desde<br />
a qualidade do solo à disponibilidade<br />
e assiduidade de fertirrigação,<br />
ao controlo de pragas e doenças,<br />
e exigem um bom apuramento<br />
das técnicas culturais, como<br />
as podas, mondas, etc., indispensáveis<br />
à criação e manutenção de<br />
um bom equilíbrio crescimento/produção.<br />
Esta relação influencia<br />
directamente o número de folhas<br />
por fruto, e a sua optimização<br />
conduz a bons crescimentos anuais<br />
e à produção de cerejas de bom calibre,<br />
que são as mais procuradas<br />
e melhor pagas pelo consumidor.<br />
Assim, o objectivo desta abordagem<br />
é mostrar o crescimento e<br />
a produção das cultivares de cerejeira<br />
Skeena e Sweetheart até à 4ª<br />
folha de pomar (5º ano de vida das<br />
árvores), num local com boas condições<br />
edafoclimáticas para a cultura,<br />
sob o efeito dos porta-enxertos<br />
Maxma 14, Edabriz e Gisela 5,<br />
e quatro densidades de plantação.<br />
Experimentação<br />
sobre densidades<br />
de plantação<br />
Apresentamos aqui resultados<br />
de um dos quatro ensaios, implantados<br />
em Março de 2003, no âm-<br />
bito do projecto AGRO 86, da Medida<br />
1, Acção 1 do Programa de<br />
Apoio ao Desenvolvimento da<br />
Agricultura Portuguesa, financiado<br />
pelo FEDER do III Quadro Comunitário<br />
de Apoio.<br />
O ensaio situa-se na Freguesia<br />
da Portela, concelho de Vila Real,<br />
e compreende as cultivares Sweetheart<br />
e Skeena, enxertadas em<br />
Edabriz, Gisela 5 e Maxma 14;<br />
uma terceira cultivar, Regina, foi<br />
usada só numa parte do ensaio,<br />
apenas com o porta-enxerto Edabriz,<br />
como substituição da Sweetheart<br />
em Edabriz, pelo facto des-<br />
cultivo<br />
pomares<br />
Alta densidade de<br />
plantação em cerejeira<br />
Por: Alberto Santos e Rosalina Santos-Ribeiro*<br />
Os cavalos ananicantes de cerejeira aumentam<br />
o rendimento do pomar, mas requerem maior investimento<br />
na instalação e cultivo e um controlo eficaz<br />
de todos os parâmetros produtivos.<br />
<br />
ta última combinação ter sido considerada<br />
demasiado frágil para o<br />
local, por os solos serem relativamente<br />
pobres e haver algumas limitações<br />
de água para rega.<br />
A largura de entrelinhas é de<br />
5,5 metros, e as distâncias entre<br />
plantas na linha são de 70, 140,<br />
210 e 280 cm, a que correspondem<br />
densidades aproximadas de<br />
2600, 1300, 860 e 650 plantas por<br />
hectare, respectivamente.<br />
As árvores são conduzidas em<br />
eixo, com limitação da altura através<br />
de poda e/ou empa dos ramos.<br />
Porque as combinações mais
cultivo<br />
pomares<br />
Skeena em Maxma 14, a 70 cm na linha, no momento da plantação<br />
Figura 1. Evolução da área da secção do tronco (AST) das cerejeiras<br />
por porta-enxerto, desde o ano de viveiro até à 4ª folha de pomar<br />
Figura 3. Produção média por árvore no segundo ano de pomar (2004)<br />
por combinação porta-enxerto-cultivar<br />
frágeis não têm ancoragem suficiente,<br />
foi instalada uma estrutura<br />
de suporte colectivo, com postes<br />
de 6–8 cm de diâmetro e um<br />
arame nº9 a 1,70 metros do solo.<br />
Um sistema de rega localizada<br />
fornece água às plantas, mas elas<br />
têm sofrido de stress hídrico durante<br />
o Verão, devido aos elevados<br />
custos de bombagem. Anualmente<br />
é feita adubação e correcção<br />
da acidez do solo, de acordo<br />
com os resultados das análises ao<br />
solo e às folhas.<br />
A manutenção da superfície do<br />
solo é feita sem mobilizações e as<br />
infestantes na linha são controladas<br />
com uma aplicação anual de<br />
glufosinato de amónio, complementada<br />
com ligeiras deservagens<br />
manuais na proximidade dos gotejadores,<br />
ou pontualmente na<br />
entrelinha, quando necessário. A<br />
protecção sanitária é dirigida ao<br />
cancro bacteriano, com duas pul-<br />
verizações anuais de calda bordalesa,<br />
à queda da folhagem e antes<br />
da rebentação. Em regra é feito<br />
um tratamento contra afídeos,<br />
em especial o piolho negro da cerejeira,<br />
e a mosca da cereja (Rhagoletis<br />
cerasi) previne-se com uma<br />
ou duas aplicações de dimetoato,<br />
até ao pintor.<br />
Crescimento<br />
das cerejeiras<br />
O crescimento das cerejeiras foi<br />
avaliado com base no cálculo da<br />
área da secção do tronco das árvores<br />
(AST), a partir do diâmetro<br />
a 10 cm do solo, medida que reflecte<br />
com fidelidade o seu desenvolvimento.<br />
Nos primeiros cinco anos de vida<br />
das cerejeiras, o porta-enxerto<br />
foi o factor que mais influenciou<br />
o crescimento; o seu efeito<br />
na AST das plantas pode ser observado<br />
na Figura 1, desde a fase<br />
Figura 2. Evolução da área da secção do tronco (AST) por densidade<br />
de plantação, desde o ano de viveiro até à 4ª folha de pomar<br />
Figura 4. Produção acumulada nos três primeiros anos (2004 a 2006)<br />
por árvore e por combinação porta-enxerto-cultivar<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
44
45<br />
Sweetheart em Maxma 14, Skeena em Gisela 5 e em Edabriz, a 70 cm na<br />
linha, à 3ª folha Sweetheart em Maxma 14, a 70 cm na linha, à 3ª folha<br />
de viveiro até à 4ª folha de pomar.<br />
É evidente o maior vigor que<br />
o porta-enxerto Maxma 14 imprime<br />
às cerejeiras relativamente ao<br />
Edabriz e ao Gisela 5. Este último<br />
é o porta-enxerto mais ananicante,<br />
e fez com que à 4ª folha de<br />
pomar as árvores tivessem apenas<br />
35,6% da AST das que crescem<br />
em Maxma 14 e 60,5% das que<br />
estão em Edabriz.<br />
A densidade de plantação também<br />
tem influência no crescimento<br />
das árvores, pois na densidade<br />
mais elevada (2600 plantas/ha), onde<br />
as árvores estão a 70 cm na li<br />
nha, é já notória a redução de crescimento,<br />
relativamente às outras<br />
densidades. Como se pode observar<br />
na Figura 2, o peso do factor<br />
densidade no crescimento das cerejeiras<br />
tem aumentado ao longo<br />
Quadro 1. Produção acumulada (2004 a 2006) por árvore,<br />
por combinação porta-enxerto-cultivar-densidade,<br />
e correspondente rendimento por hectare.<br />
Densidade Produção acumulada (kg/árvore) Rendimento (t/ha)<br />
Porta-enxerto<br />
Gisela 5<br />
(plantas/ha) Sweetheart Skeena Sweetheart Skeena<br />
650 1,38 2,25 0,897 1,463<br />
860 1,44 1,70 1,238 1,462<br />
1300 2,06 3,18 2,678 4,134<br />
Edabriz<br />
2600 1,58 2,95 4,108 7,670<br />
650 0,93 2,27 0,605 1,476<br />
860 0,84 2,09 0,722 1,797<br />
1300 1,10 2,25 1,430 2,925<br />
Maxma 14<br />
2600 0,67 2,03 1,742 5,278<br />
650 1,43 1,47 0,930 0,956<br />
860 2,49 0,68 2,141 0,585<br />
1300 1,73 0,62 2,249 0,806<br />
2600 1,78 0,82 4,628 2,132<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
do tempo, facto que se deve à<br />
maior concorrência pela água e nutrientes<br />
entre as raízes das plantas<br />
vizinhas, e que tende a aumentar<br />
à medida que as árvores crescem.<br />
Ao nível das duas cultivares ensaiadas,<br />
nos primeiros três anos de<br />
vida das árvores, não foram observadas<br />
diferenças significativas<br />
no crescimento; no entanto, ao 4ª<br />
ano de pomar já era evidente o<br />
maior engrossamento (AST) da<br />
Sweetheart (26,1 cm 2 ) em relação<br />
à Skeena (23,0 cm 2 ). Este aspecto<br />
não tem implicações práticas, pois<br />
qualquer das cultivares cria uma<br />
estrutura suficientemente rígida<br />
para se sustentar sem necessitar<br />
de tutoragem; todavia, quando<br />
combinadas com o porta-enxerto<br />
Gisela 5, cuja ancoragem é insuficiente<br />
e exige apoio pontual no<br />
eixo, justifica a existência do sistema<br />
de tutoragem colectiva.<br />
Produção<br />
e produtividade<br />
As cerejeiras começaram a produzir<br />
logo à 2ª folha, em 2004, a<br />
cultivo<br />
pomares<br />
produção média foi de 200 g/árvore<br />
e não se registaram diferenças<br />
significativas ao nível dos porta-enxertos.<br />
No entanto, ao analisar as<br />
combinações porta-enxerto/cultivar<br />
verificámos diferenças consideráveis<br />
na produção por árvore, co-
cultivo<br />
pomares<br />
Skeena em Gisela 5, a 70 cm na linha, à 3ª folha<br />
mo se pode observar na Figura 3.<br />
A combinação mais precoce foi a<br />
Skeena/Gisela 5, com uma média<br />
de 250 g/árvore. Convém realçar<br />
que uma das árvores desta combinação<br />
produziu 1250 gramas de cerejas,<br />
logo no primeiro ano de produção.<br />
No entanto, a cultivar Sweetheart<br />
não foi além dos 150 g/árvore<br />
no porta-enxerto Gisela 5.<br />
Os resultados mostram que, ao<br />
segundo ano de pomar, os portaenxertos<br />
mais ananicantes Gisela<br />
5 e Edabriz pertimiram maior<br />
produção de cereja na cultivar<br />
Skeena, mas na Sweetheart, o<br />
Maxma 14 proporcionou produções<br />
mais elevadas.<br />
A produção acumulada nos três<br />
primeiros anos, por porta-enxerto<br />
e cultivar, está apresentada na<br />
Figura 4. Verificamos que de um<br />
de um modo geral o porta-enxerto<br />
Gisela 5 proporcionou produções<br />
médias mais elevadas (2,7<br />
kg/árvore), quando combinado<br />
com a cultivar Skeena; a Sweetheart<br />
enxertada naquele porta-enxerto<br />
somou 1,6 kg/árvore, e a<br />
Skeena também produziu bem sobre<br />
Edabriz (2,1 kg/árvore), mas<br />
deve notar-se que a cultivar Sweetheart<br />
somou as maiores produções<br />
médias por planta (1,8 kg) no<br />
porta-enxerto Maxma 14.<br />
Quanto à produção acumulada<br />
por planta, nas quatro densidades<br />
ensaiadas, verificamos que em Gisela<br />
5 às maiores densidades correspondem<br />
produções por árvore<br />
também mais elevadas, embora<br />
nos outros porta-enxertos não se<br />
verifique o mesmo, como se pode<br />
observar no Quadro 1.<br />
Extrapolando os valores da produção<br />
acumulada/árvore para a<br />
unidade de área (hectare) obtemos<br />
rendimentos que variam entre<br />
pouco mais de 0,5 t/ha (Maxma<br />
14*Skeena, com 860 plantas/ha)<br />
e mais de 7 t/ha (Gisela<br />
5*Skeena, com 2600 plantas/ha).<br />
Conclusões<br />
Os resultados deste ensaio permitem-nos<br />
verificar que, até à 4ª<br />
folha de pomar, as cultivares Sweetheart<br />
e Skeena cresceram de forma<br />
diferenciada, consoante o porta-enxerto:<br />
as plantas enxertadas<br />
em Gisela 5 atingiram menor área<br />
de secção do tronco (AST) do que<br />
as que estão em Edabriz, ao passo<br />
que as enxertadas em Maxma 14<br />
cresceram bastante mais. Até esta<br />
fase já foi possível observar o<br />
efeito da maior densidade de plantação<br />
(2600 plantas/ha) na redução<br />
do crescimento das árvores, e<br />
as diferenças tenderão a acentuarse<br />
à medida que aumenta a con-<br />
Skeena em Edabriz, à 3ª folha Sweetheart em Gisela 5, a 70 cm na linha, à 3ª folha<br />
corrência radicular entre as árvores.<br />
O porta-enxerto Maxma 14<br />
proporcionou melhores produções<br />
na cultivar Sweetheart do que<br />
os ananicantes, mas na cultivar Skeena<br />
foram estes que induziram a<br />
maiores produções acumuladas.<br />
Em porta-enxerto ananicante,<br />
em especial no Gisela 5, as árvores<br />
cresceram muito pouco e produziram<br />
muito. É importante ajustar<br />
as dotações hídricas e nutricionais<br />
às necessidades específicas do<br />
porta-enxerto, como forma de estimular<br />
o crescimento vegetativo,<br />
e quando necessário é recomendado<br />
intervir reduzindo o número<br />
de frutos, através da poda ou<br />
remoção de esporões, no sentido<br />
de melhorar a qualidade e o<br />
valor da produção, que depende<br />
sobretudo do calibre das cerejas.<br />
Nesta fase de ensaio, tendo presente<br />
o objectivo de aceder à totalidade<br />
das cerejas a partir do<br />
chão, já se torna necessário recorrer<br />
a meios químicos para conter<br />
o crescimento das cerejeiras em<br />
Maxma 14, apesar das limitações<br />
de água e da fraca profundidade<br />
e fertilidade do solo. O que<br />
mostra que a densidade de 2600<br />
plantas/ha poderá ser excessiva<br />
para explorar as cultivares neste<br />
porta-enxerto.<br />
O acompanhamento do ensaio<br />
até à fase adulta, tanto no que se<br />
refere ao crescimento vegetativo<br />
como à produção, permitirá determinar<br />
a densidade mais apropriada<br />
para cada combinação cultivar/porta-enxerto<br />
em condições<br />
análogas de cultivo. Também o tratamento<br />
dos dados relativos aos ensaios<br />
nos outros locais (Carrazedo<br />
de Montenegro e Caria) permitirão<br />
comparar e avaliar com maior segurança<br />
o comportamento vegetativo<br />
e produtivo de cada combinaçãoporta-enxerto-cultivar-densidade<br />
de plantação, em condições de<br />
solo e clima diferentes. <br />
*Departamento de Fitotecnia, CECEA, Universidade<br />
de Trás-os-Montes e Alto Douro,<br />
Ap. 1013, 5001–911 Vila Real (PORTU-<br />
GAL), asantos@utad.pt<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
46
mercado e empresas<br />
tomate<br />
Tomate de cacho<br />
conquista Portugal<br />
O tomate de cacho está a conquistar terreno<br />
nas estufas portuguesas, à medida que<br />
as preferências do consumidor português mudam<br />
e que as empresas de comercialização ganham<br />
espaço no mercado externo.<br />
A exportação de tomate<br />
fresco é um negócio que começa<br />
a ganhar dimensão<br />
em Portugal e está a permitir à fileira<br />
hortícola “arrumar a casa”.<br />
Nos últimos sete anos as exportações<br />
aumentaram 10 vezes em volume<br />
e mais do que triplicaram em<br />
valor (ver caixa, pág.14). A produção<br />
de tomate no Oeste e no Litoral<br />
Norte superou o consumo<br />
nacional, o que levou os comerciantes<br />
a procurar alternativas no<br />
estrangeiro. Um rumo também incentivado<br />
pela a política de baixos<br />
preços das grandes superfícies<br />
portuguesas: “nos últimos 10 anos<br />
as grandes superfícies escolheram<br />
o preço como o mais importante<br />
e ninguém mais do que eles tinha<br />
oportunidade de escolher variedades,<br />
mas para fazer esse trabalho<br />
os fornecedores têm que ser<br />
compensados e ter segurança no<br />
trabalho”, lamentou Horácio do<br />
Carmo, gerente da Carmo e Silvério.<br />
Esta empresa é exemplo da vaga<br />
exportadora. Em 2007, vendeu<br />
70 por cento da produção (5600<br />
toneladas) para o exterior. O mesmo<br />
se passou na Primores do Oeste,<br />
que exportou 60 por cento (de<br />
14 mil toneladas de tomate), e na<br />
Hortorres, que tem aumentado as<br />
exportações em 50 por cento ao<br />
ano (no total dos hortícolas).<br />
O tomate de cacho é a grande<br />
aposta destas empresas para singrar<br />
no mercado externo. Na Primores<br />
do Oeste, ele representou 32<br />
por cento das vendas de tomate e<br />
na Carmo e Silvério 24 por cento,<br />
em 2007, com tendência para aumentar<br />
em ambas. Atraente, aromático,<br />
de cor vermelha intensa e<br />
pequeno calibre, é um tomate mui-<br />
Atraente e aromático, o tomate de cacho satisfaz os consumidores por toda<br />
a Europa<br />
Tomates convenientes<br />
A inovação é uma constante no universo dos tomates. Na última<br />
edição da feira FruitLogistica, realizada em Berlim no início de<br />
Fevereiro, dois tomates ganharam o primeiro e terceiro lugares nos<br />
Prémios Inovação. Intense, da Nunhems, foi o grande campeão. É<br />
um tomate de tipo “beef”, de consistência firme e densa, que retém<br />
o sumo quando cortado, libertando em 10 dias a mesma quantidade<br />
de sumo que um tomate “beef” tradicional liberta num dia.<br />
Por ter muita polpa e pouco sumo é ideal para usar em saladas<br />
e para a indústria de IV Gama, mantendo aparência fresca por<br />
mais tempo. Foi pensado para a conveniência do consumidor, que<br />
não se suja de sumo ao come-lo. Tem forma oval, cor vermelho escura,<br />
pesa 90 a 100 gramas e mede 57 a 67 mm. Lançado no mercado<br />
em Março de 2007. www.intensetomatoes.com.<br />
Em terceiro lugar ficou o Tomatoberry, da japonesa Tokitaseed.<br />
Este tomate faz lembrar um morango, tem pele extremamente<br />
macia, é muito doce (8º a 10º de brix) e rico em licopeno, um<br />
anti-oxidante com benefícios para a saúde. É ligeiramente mais<br />
largo do que o tomate-cereja e pesa cerca de 20 gramas. Tratase<br />
de um alimento conveniente, atraente e ao mesmo tempo funcional,<br />
ou seja, com benefícios para a saúde. O nome foi-lhe dado<br />
por uma menina que não gostava de tomates e só o comeu<br />
porque o confundiu com um morango. Lançado no mercado em<br />
Novembro de 2006. www.tokitaseed.co.jp.<br />
Intense Tomatoberry<br />
to versátil, que satisfaz os consumidores<br />
por toda a Europa. “As pessoas<br />
querem tomate não calibrado,<br />
acabado de colher e metido na<br />
caixa, porque está mais bonito e<br />
tem mais sabor … isso consegue-se<br />
fazer com o tomate de cacho”, reconheceu<br />
Horário do Carmo.<br />
Consumidor<br />
português está<br />
a mudar<br />
No mercado nacional, embora<br />
ainda predomine a oferta de tomate<br />
tipo “beef”, de coloração<br />
verde ou rosada, o consumidor<br />
português está a mudar hábitos.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
48
mercado e empresas<br />
tomate<br />
Exportações sobem em flexa<br />
O tomate é um dos produtos hortícolas frescos mais exportados<br />
em Portugal. Nos últimos sete anos, as exportações de tomate<br />
fresco e refrigerado mais do que triplicaram, em valor, subindo<br />
de perto de cinco milhões de euros, em 2000, para 15,7 milhões<br />
de euros, em 2007. O volume de tomate exportado aumentou<br />
10 vezes, de 11,8 mil toneladas, para 101 mil toneladas, no mesmo<br />
período, indicam as estatísticas do INE. Espanha recebe a maior<br />
fatia das exportações, mas é no Reino Unido que o tomate nacional<br />
consegue maior valorização. Em 2007, exportámos 98 mil<br />
toneladas para Espanha (por 9,7 milhões de euros) e apenas 1,4<br />
mil toneladas para o Reino Unido, mas este tomate rendeu 5 milhões<br />
de euros. França, Itália, Cabo Verde e Alemanha são outros<br />
destinos, com menor peso.<br />
O Reino Unido é um mercado apetecível, mas muito particular<br />
e exigente. “Querem um tomate de calibre pequeno e variedades<br />
que não se vendem noutros mercados da Europa… como<br />
temos pouca área, temos que adaptar a produção a três ou quatro<br />
mercados e não temos conseguido dar resposta ao mercado<br />
inglês”, reconheceu Lino Santos, da Primores do Oeste.<br />
A valorização das marcas individuais não tem sido possível no mercado nacional<br />
Portugal consome 105 mil toneladas<br />
Nos últimos 20 anos, o consumo de tomate fresco em Portugal<br />
aumentou gradualmente, tendo atingido um volume médio<br />
anual de 108 mil toneladas, indica o Anuário Vegetal 2006, publicação<br />
do Ministério da Agricultura. Mas o consumo pode crescer<br />
mais, bastando uma boa aposta na promoção do produto. Jorge<br />
Camilo, responsável técnico da Primores do Oeste, acredita que<br />
“a produção organizada têm que olhar para as características que<br />
interessam ao consumidor: como se produz, como se cozinha e<br />
quais os benefícios do tomate para a saúde”.<br />
“A atitude do consumidor português<br />
está a mudar muito e uma<br />
das provas é que se está a vender<br />
muito mais tomate cacho e chucha,<br />
onde ele sabe que não vai<br />
ser enganado”, admitiu Lino Santos,<br />
sócio da Primores do Oeste.<br />
O problema prende-se com a venda<br />
de tomate “beef” de calibres<br />
pequenos, colhido antes do ponto<br />
ideal da maturação, sem brix<br />
nem consistência adequadas.<br />
Uma situação que tende a afastar<br />
o novo consumidor do tomate<br />
redondo.<br />
O desafio actual é produzir em<br />
quantidade, com qualidade e uniformidade.<br />
Requisitos obrigatórios<br />
sobretudo na exportação. Até<br />
agora, a maioria dos produtores<br />
tem cultivado variedades desalinhadas<br />
com o mercado, pouca<br />
quantidade de cada variedade e<br />
sem calendarização da produção.<br />
Uma situação que as empresas de<br />
comercialização estão a mudar,<br />
orientando os agricultores quanto<br />
às variedades e técnicas de produção.<br />
A certificação com proto-<br />
colos de qualidade e boas práticas<br />
agrícolas também começa a<br />
dar os primeiros passos. “Ainda<br />
somos muito pequenos no mercado<br />
de exportação, temos que ir<br />
crescendo e ganhando expressão<br />
em algumas variedades para começar<br />
a ser conhecidos”, reconheceu<br />
Lino Santos.<br />
Um passo importante na organização<br />
da fileira foi a criação dos<br />
Leilões do Oeste. Este sistema concentrou<br />
a oferta de tomate (e outros<br />
hortícolas), tornou a venda<br />
mais transparente e deu força à<br />
produção para ditar preços mais<br />
justos, perante as grandes superfícies<br />
e outros compradores. “A<br />
habilidade dos Leilões é defender<br />
os preços desde a produção, só<br />
desta forma as pessoas querem<br />
produzir mais. Estou convencido<br />
que o Oeste vai duplicar a área<br />
nos próximos três anos, com o<br />
apoio deste novo Quadro Comunitário”,<br />
antevê Horácio do Carmo.<br />
Estima-se que cerca de 80 por<br />
cento do tomate produzido no<br />
Oeste passe pelos Leilões. <br />
50<br />
HORTÍCOLAS DO LITORAL<br />
Zona Industrial de Laundos, Lote36,<br />
Póvoa de Varzim<br />
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51<br />
No Sul do País a sementeira<br />
terminou em finais de Fevereiro<br />
e verificam-se reduções<br />
de área na batata de consumo e<br />
para indústria. No Ribatejo, uma<br />
das maiores organizações de produtores<br />
de batata – Agromais – admite<br />
ter semeado menos 30 por<br />
cento do que em 2007, com menos<br />
área sobretudo na batata para consumo.<br />
No Montijo, a redução poderá<br />
atingir os 10 por cento na produção<br />
não organizada (que representa<br />
mais de metade da área de<br />
batata na região). No entanto, a<br />
principal estrutura de venda de batata<br />
lavada contratada – Eurobatata<br />
– admite que as áreas dos seus<br />
produtores se mantêm.<br />
No Centro e Norte do País (onde<br />
a sementeira se prolonga até<br />
Maio e predominam as pequenas<br />
explorações agrícolas sem contratação<br />
da produção) haverá redução<br />
de área. A subida vertiginosa<br />
mercado e empresas<br />
batata<br />
Redução de área<br />
em Portugal<br />
Este ano há menos batata semeada, devido aos<br />
elevados stocks da campanha passada em toda a<br />
Europa. Os preços da batata nova são uma incógnita.<br />
SOLANUM-BUL, LDA.<br />
dos preços dos adubos e dos combustíveis,<br />
o aumento do preço da<br />
semente e as baixas reservas de<br />
água na terra e nas barragens estão<br />
a desanimar os agricultores de<br />
investir na batata. A percentagem<br />
de redução de área é difícil de<br />
prever. As empresas de batata semente<br />
admitem quebras de 20<br />
por cento na venda de semente,<br />
o que pode não significar uma redução<br />
de área tão acentuada. É<br />
provável que os agricultores optem<br />
por replantar a batata de<br />
consumo que têm em stock, uma<br />
vez que estão a ter dificuldades<br />
em escoá-la, admitiam fontes ligadas<br />
ao sector, no início de Março.<br />
Os preços concorrenciais da batata<br />
importada de França e Espanha<br />
(comprada pelos embaladores<br />
a 0,5€/kg, em finais de Fevereiro)<br />
e a elevada produtividade da batata<br />
estival do Montijo (colhida de<br />
Dezembro a Março) dificultaram<br />
A venda de semente baixou 20 por cento no Centro e Norte do País<br />
o escoamento da batata de conservação<br />
nacional.<br />
O mercado português caracteriza-se<br />
por grande área de batata<br />
não contratada (não lavada), que<br />
destabiliza preços e previsões de<br />
produção, a cada campanha.<br />
Quanto mais batata não lavada<br />
for produzida, menor a valorização<br />
da batata lavada.<br />
As expectativas indicam que<br />
2008 pode ser um ano de reduzida<br />
valorização da batata precoce<br />
ou primor, devido aos stocks de<br />
batata na Europa (sobretudo batata<br />
tardia em Espanha). Ainda assim,<br />
as geadas que destruíram cerca<br />
de 30 por cento da batata extra-precoce<br />
em Israel, no final de<br />
Janeiro, e também causaram danos<br />
à batata de Creta, Sul de Itália<br />
e Sul da Grécia, no final de Fevereiro,<br />
podem diminuir a pres-<br />
SOLANUM-BUL, LDA.<br />
IMPORT - EXPORT<br />
são de oferta de no início da campanha<br />
de comercialização, deixando<br />
mais margem de manobra para<br />
a batata portuguesa.<br />
As negociações com a indústria<br />
foram marcadas pela pressão dos<br />
preços dos cereais. O Ribatejo está<br />
a apostar fortemente no milho<br />
(cultura com menores custos de<br />
produção do que a batata), dando<br />
um argumento aos agricultores<br />
para pedir melhores preços à<br />
indústria pela batata. “A indústria<br />
tem dificuldade em perceber a<br />
evolução da agricultura mundial<br />
nos últimos dois anos e não está<br />
a digerir bem os violentos aumentos<br />
de preços da matéria-prima<br />
(20% em 2007), mas ou acompanha<br />
o mercado ou acaba por não<br />
ter produto”, admitia Jorge Neves,<br />
dirigente da Agromais, no final<br />
de Fevereiro. <br />
Distribuidor<br />
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mercado e empresas<br />
morango<br />
Andaluzia quer ser<br />
ouvida na OCM<br />
A sexta edição da Expocitfresa, em Cartaya,<br />
Huelva, reuniu 60 expositores à volta do morango<br />
e dos citrinos. O Governo da Andaluzia levantou<br />
a voz para defender a agricultura local perante<br />
a União Europeia.<br />
A Andaluzia “não está disposta<br />
a perder ajudas comunitárias”<br />
para o sector do<br />
morango e citrinos, no âmbito da<br />
reforma da Organização Comum<br />
de Mercado (OCM) das Frutas e Legumes,<br />
alertou o conselheiro da<br />
Agricultura da Junta da Andaluzia,<br />
Isaías Pérez Saldaña, durante a cerimónia<br />
de inauguração da VI Expocitfresa.<br />
O governante realçou<br />
o peso dos sectores do morango e<br />
citrinos na província de Huelva,<br />
que geram 620 milhões de euros<br />
anuais provenientes de 1250 explorações<br />
agrícolas. Só a cultura do<br />
morangueiro ocupa seis mil hectares<br />
e contribui com uma facturação<br />
de 225 milhões de euros/ano.<br />
Isaías Pérez Saldaña louvou o<br />
Novidades das Empresas<br />
Guardian Agroplásticos, fábrica de<br />
plásticos agrícolas da Guatemala,<br />
do grupo Olefinas, apresentou plásticos<br />
resistentes ao sol e à acção<br />
dos insecticidas, com larga duração.<br />
Procura distribuidores na Europa e<br />
garante preços competitivos. Na<br />
foto Ricardo Santos, responsável da<br />
empresa guatemalteca.<br />
trabalho da interprofissional do<br />
morango – Interfresa -, pelo contributo<br />
que tem dado na união<br />
das empresas e concentração da<br />
oferta, permitindo obter melhores<br />
preços no morango. A exportação<br />
para países extra-comunitários<br />
é, no entender do governante<br />
andaluz, uma questão urgente<br />
e à qual “a União Europeia deve<br />
responder com uma economia<br />
mais liberal”.<br />
A feira, que aconteceu de 5 a<br />
7 de Março, coincidiu com o VI<br />
Simpósio Internacional do Morango,<br />
uma oportunidade para<br />
encontros bilaterais entre empresas<br />
agro-alimentares e investigadores<br />
das universidades andaluzas<br />
e internacionais. <br />
Chislett é uma nova variedade de<br />
laranja, um pouco mais tardia que a<br />
Navel Powell, bastante sumarenta,<br />
com calibre elevado. Apresentada<br />
pelos Viveiros Alcanar.<br />
O morango e os citrinos geram 620 milhões de euros anuais em receitas na<br />
Andaluzia<br />
O Organio Carbot 500 é um novo<br />
fungicida natural contra oídio e míldio,<br />
apresentado pela Econatur.<br />
Royal, empresa produtora de fruta<br />
de caroço, morango e pequenos<br />
frutos, instalada em Huelva,<br />
Marrocos e Faro (onde tem 30 hectares).<br />
Pretende diversificar a produção<br />
com mirtilos e framboesas.<br />
“O interessante não é crescer muito,<br />
mas no momento oportuno e em<br />
mercados que possam manter os<br />
preços, criando hábitos de consumo<br />
destes pequenos frutos”, afirmou<br />
Gabriel Bários.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
52
factores de produção<br />
protecção<br />
Nova lista<br />
de Culturas Maiores<br />
O morango e vários hortícolas já são Culturas<br />
Menores. A lista, publicada em Fevereiro pela DGADR,<br />
é um “balão de oxigénio” para a resolução dos<br />
problemas fitossanitários dos hortofrutícolas.<br />
A Direcção-Geral de Agricultura<br />
e Desenvolvimento Rural<br />
(DGADR) publicou, a 19<br />
de Fevereiro, a nova classificação<br />
nacional de Culturas Maiores. Várias<br />
culturas foram excluídas, passando<br />
à categoria de Culturas Menores.<br />
É o caso do morango, melão,<br />
pepino, ervilha, todas as couves,<br />
pimento, grão-de-bico, clementinas,<br />
tangerinas, limoeiro,<br />
damasqueiro e alperce. E também<br />
do centeio, cevada e aveia.<br />
A reclassificação das culturas visa<br />
facilitar a vida aos agricultores,<br />
dando-lhes oportunidade de pedir<br />
a autorização de produtos fitofarmacêuticos<br />
via Usos Menores.<br />
Um processo mais rápido, porque<br />
se trata de autorizações adicionais<br />
a produtos já homologados<br />
no País para outras finalidades,<br />
dispensando-se estudos, nomeadamente<br />
de degradação de<br />
resíduos (quando estes existam<br />
noutros países da União Europeia).<br />
Em Portugal já foram concedidas<br />
cerca de 1000 autorizações<br />
para Usos Menores, desde 2001.<br />
“Demos um passo para ir ao encontro<br />
das necessidades da produção,<br />
nos casos em que há problemas<br />
fitossanitários sem cobertura.<br />
É uma situação cada vez mais frequente<br />
e com consequências negativas<br />
ao nível da protecção das<br />
plantas, sobretudo para os países<br />
do Sul da Europa, mais afectados<br />
por pragas e doenças”, explicou<br />
Flávia Alfarroba. A directora de<br />
serviços de Produtos Fitofarma-<br />
cêuticos e Sanidade Vegetal espera<br />
grande afluência de pedidos de<br />
autorização para Usos Menores.<br />
Os primeiros começaram a chegar<br />
à DGADR em início de Março, com<br />
incidência nos hortícolas.<br />
O morango é uma das culturas<br />
que mais pode beneficiar da reclassificação.<br />
A cultura padece de<br />
falta de substâncias activas para<br />
fazer alternância e as que existem<br />
têm intervalos de segurança demasiado<br />
longos. “Gostaríamos de<br />
intervir junto da DGADR para alterar<br />
o intervalo de segurança de<br />
alguns produtos”, disse Daniel<br />
Cunha da Wellpict Portugal, dando<br />
o exemplo do fungicida Switch<br />
(ciprodimil + fludioxonil), contra<br />
a podridão cinzenta, cujo intervalo<br />
de segurança é de sete dias em<br />
Portugal, mas de apenas dois em<br />
Espanha e três em Inglaterra. Contra<br />
a lagarta não há soluções eficazes<br />
para aplicação curativa no<br />
pico de colheita, com um bom intervalo<br />
de segurança, entende o<br />
técnico: “não usamos o clorpirifus<br />
por ser agressivo para a floração<br />
e fauna auxiliar, resta a deltametrina,<br />
com bom intervalo de segurança,<br />
mas sem alternativa, o que<br />
pode criar problemas de resistências”.<br />
Contra os afídeos, o problema<br />
é semelhante. O malatião vai<br />
ser retirado do mercado, restando<br />
o tiaclopride, ao qual são necessárias<br />
alternativas.<br />
No caso dos hortícolas, Carla<br />
Miranda da Hortorres refere alguns<br />
exemplos de finalidades a<br />
O morango é uma das culturas que mais pode beneficiar da reclassificação<br />
descoberto ou com soluções insuficientes.<br />
A alternariose está a descoberto<br />
na couve repolho, tal como<br />
a podridão cinzenta em brócolos<br />
e na couve- flor. Contra a<br />
mosca-da-couve, que tem vindo a<br />
aparecer com maior incidência,<br />
mesmo com temperaturas mais<br />
baixas, causando elevados prejuízos,<br />
também não há soluções após<br />
a instalação da cultura. No pepino,<br />
a Hortorres vai pedir a autorização<br />
do Aliete (fosetil de alúminio),<br />
contra a phytophtora e<br />
phytium. No morango, defende a<br />
necessidade de homologação do<br />
fungicida de largo espectro Boscalide,<br />
já autorizado em Espanha,<br />
com três dias de intervalo de segurança.<br />
O Cabrio (piriclostrobina),<br />
fungicida já autorizado em<br />
vinha, é importante para míldios<br />
e oídios em morango e outras hortícolas,<br />
defende Carla Miranda.<br />
“É enorme a desigualdade de<br />
substâncias activas homologadas,<br />
e respectivos intervalos de segurança,<br />
em Espanha e outros países<br />
do Sul da Europa em comparação<br />
com Portugal. Esperamos<br />
que esta oportunidade, apesar<br />
de tardia, venha ajudar a reduzir<br />
a falta de competitividade dos<br />
nossos produtores face aos mais<br />
directos concorrentes”, concluiu<br />
a técnica. <br />
Nova lista de Culturas Maiores<br />
FRUTEIRAS HORTÍCOLAS OLEAGINOSAS CEREAIS<br />
Laranjeira Cenoura Girassol Milho<br />
Macieira Batata Trigo<br />
Pereira Cebola Arroz<br />
Pessegueiro Tomateiro<br />
Nectarinas Alface<br />
Uva para vinho Feijão verde<br />
Uva de mesa<br />
Oliveira<br />
Fonte: DRADR<br />
Feijão seco<br />
Para ser considerada Maior, uma cultura deve ter uma área mínima de 10 mil hectares, produção de 200 mil<br />
toneladas/ano e entrar na dieta alimentar em quantidades superiores a 7,5 g/dia. Estes critérios de classificação<br />
são comuns a toda a União Europeia.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
54
55<br />
A mineira do tomateiro (Tuta<br />
absoluta) foi detectada<br />
em Março de 2007 na região<br />
de Valência e está a causar graves<br />
prejuízos aos produtores de tomate.<br />
De tal modo, que as autoridades<br />
espanholas tomaram medidas<br />
imediatas de apoio aos agricultores.<br />
Em 2007 distribuíram produtos<br />
fitofarmacêuticos gratuitos e<br />
factores de produção<br />
protecção<br />
“Ruína absoluta”<br />
ameaça tomateiro<br />
A mineira do tomateiro está a causar graves<br />
problemas aos produtores espanhóis de tomate,<br />
que já apelidaram esta praga de “ruína absoluta”.<br />
Os agricultores portugueses devem estar alerta<br />
para o seu aparecimento.<br />
este ano colocaram em marcha<br />
um plano de contenção da praga<br />
(rede de amostragem com armadilhas<br />
com feromonas; estudos<br />
dos pesticidas mais indicados para<br />
combater a praga; assistência<br />
técnica aos produtores; proibição<br />
de venda e circulação de material<br />
vegetal afectado; inspecções fitossanitárias<br />
mais intensas; 100 mil<br />
euros de ajudas compensatórias<br />
aos agricultores obrigados a destruir<br />
as culturas afectadas).<br />
“Apesar das medidas tomadas<br />
em Espanha, os agricultores portugueses<br />
e as suas organizações<br />
devem estar atentas, pois a praga<br />
tem um rápido poder de dispersão.<br />
Caso venha a ser detectada<br />
no nosso País, devem ser<br />
rapidamente alertados os serviços<br />
oficiais do Ministério da Agricultura,<br />
de modo que se possam<br />
tomar atempadamente as medidas<br />
necessárias”, alertava um comunicado<br />
do Instituto Nacional<br />
dos Recursos Biológicos, distribuído<br />
durante o V Seminário Internacional<br />
do Tomate de Indústria,<br />
em Mora.<br />
A mineira do tomateiro é um<br />
pequeno lepidóptero da família<br />
Gelechiidae, classificada desde<br />
2004 como praga de quarentena,<br />
na União Europeia. Foi detectada<br />
pela primeira vez na Europa<br />
em 2007, em Espanha, mas está<br />
disseminada por vários países da<br />
América Latina. O tomateiro é o<br />
seu principal hospedeiro, mas<br />
também pode atacar a batateira<br />
e outras solanáceas. A beringe-
factores de produção<br />
protecção<br />
la é considerada um hospedeiro<br />
potencial, mas não há registo de<br />
estragos no campo.<br />
Biologia<br />
Esta praga tem um alto potencial<br />
reprodutivo, desde que tenha<br />
alimentação disponível. Pode ter<br />
10 a 12 gerações por ano e o seu<br />
ciclo biológico varia de 29 a 38<br />
dias, dependendo das condições<br />
ambientais. Os adultos têm hábitos<br />
nocturnos e durante o dia permanecem<br />
escondidos entre as folhas.<br />
As fêmeas fazem as posturas<br />
na parte aérea das plantas hospedeiras,<br />
podendo pôr cerca de 260<br />
ovos. Ao eclodirem as larvas penetram<br />
nos frutos, folhas ou caules,<br />
dos quais se alimentam, provocando<br />
perfurações nos frutos e<br />
O adulto mede cerca<br />
de 10 mm, tem antenas<br />
filoformes e asas<br />
anteriores cinzentas<br />
ou acastanhadas<br />
com manchas pretas<br />
galerias nas folhas. Depois de passarem<br />
por quatro estados larvares,<br />
pupam no solo ou na superfície<br />
foliar ou dentro das galerias.<br />
A praga hiberna tanto no estado<br />
de ovo, como de pupa ou adulto.<br />
Sintomas<br />
As larvas podem atacar qualquer<br />
fase do ciclo vegetativo da<br />
cultura, penetrando nos frutos,<br />
folhas e caules. As galerias que<br />
abrem nos frutos são rapidamente<br />
invadidas por infecções secundárias<br />
de patogéneos. Nas folhas,<br />
alimentam-se do mesofilo, deixando<br />
a epiderme intacta, criando minas<br />
que acabam por necrosar. As<br />
galerias abertas no caule afectam<br />
o desenvolvimento da planta. A<br />
mineira do tomateiro é facilmen-<br />
As folhas criam<br />
minas que acabam<br />
por necrosar<br />
A larva tem cor creme e<br />
cabeça escura, tornando-se<br />
esverdeada ou rosada<br />
ao quarto estado larvar<br />
te detectada no campo, pois prefere<br />
os gomos apicais, flores ou<br />
frutos recém-formados. Em batateira<br />
não ataca os tubérculos.<br />
Meios de luta<br />
Existem várias substâncias activas<br />
recomendadas para o combate<br />
a esta praga, mas nenhuma delas<br />
está homologada para esta finalidade<br />
em Portugal, porque a praga<br />
ainda não foi detecta no nosso País.<br />
Flufenoxurão, lufenurão, tebufenozida<br />
e teflubenzurão (reguladores<br />
de crescimento de insectos),<br />
abamectina (avermectina), bacillus<br />
thunringiensis (bactéria), clorpirifos,<br />
fosalona (organofosforado),<br />
cabaril (carbamato) são as recomendadas.<br />
A praga deve ser monitorizada<br />
com feromonas sexuais.<br />
No Brasil, onde já há resistências<br />
a alguns insecticidas, está a ser usado<br />
o controlo biológico. Os inimigos<br />
naturais da praga usados são<br />
o parasitóide Trichogramma pretiosum<br />
(Hymenoptera), associado<br />
com bacillus thunringiensis. Os<br />
neurópteros Chrysoperla externa<br />
e Podisus nigripinus são predadores<br />
encarados como promissores.<br />
Algumas medidas culturais podem<br />
ajudar a controlar a sua disseminação:<br />
destruição de todo o material<br />
afectado; rotações com culturas<br />
que não incluam solanáceas e uso<br />
de rega por aspersão. <br />
Fonte: Instituto Nacional dos Recursos<br />
Biológicos, informação distribuída durante<br />
o V Seminário Internacional do Tomate de<br />
Indústria<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
56
57<br />
O uso programado de fungicidas<br />
continua a ser o principal<br />
método no controlo de<br />
doenças provocadas por fungos<br />
em pomóideas. Contudo, alguns<br />
fungicidas podem afectar a actividade<br />
de insectos e ácaros auxiliares.<br />
Estes auxiliares são uma<br />
componente essencial dos sistemas<br />
de produção de frutos, que<br />
pode ser preservada através de<br />
uma adequada selecção e correcta<br />
aplicação dos produtos para a<br />
protecção das culturas.<br />
Os fungicidas Flint e Libero Top<br />
são ideais para a utilização em<br />
programas de Produção Integrada.<br />
Estes produtos pertencem a<br />
grupos químicos diferentes e proporcionam<br />
um excelente controlo<br />
de doenças como o pedrado, oídio<br />
da macieira e estenfiliose da<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
factores de produção<br />
texto publicitário<br />
pereira. Quando utilizados de forma<br />
adequada, estes produtos não<br />
têm um efeito adverso sobre a actividade<br />
dos principais organismos<br />
auxiliares das pomóideas.<br />
Controlo<br />
do pedrado<br />
A fase inicial da campanha é<br />
um período fundamental para o<br />
controlo da doença, durante todo<br />
o ciclo vegetativo. O rápido<br />
desenvolvimento que se verifica<br />
neste período e as baixas temperaturas,<br />
que ocorrem com frequência<br />
nas nossas condições climáticas<br />
levam à necessidade do<br />
uso de um fungicida que proporcione<br />
a protecção dos novos tecidos<br />
formados entre aplicações e<br />
que actue independentemente da<br />
temperatura ambiente. Flint é a<br />
solução adequada para esta fase,<br />
porque evita a germinação dos<br />
esporos de pedrado. Flint é mais<br />
eficaz quando usado preventivamente<br />
contra o pedrado, contudo,<br />
onde já tenha ocorrido a germinação<br />
dos esporos, o Flint consegue<br />
impedir a penetração do<br />
fungo na cutícula e o seu subsequente<br />
desenvolvimento no interior<br />
da folha. Flint é um fungicida<br />
preventivo com uma boa persistência<br />
de acção, graças à sua<br />
acção mesostémica de forte afinidade<br />
com a superfície vegetal,<br />
logo após a aplicação e grande<br />
resistência à lavagem.<br />
Após a floração, o Libero Top é<br />
um fungicida sistémico que, nas<br />
nossas condições climáticas, garante<br />
uma boa protecção dos novos<br />
crescimentos.<br />
Controlo do oídio<br />
Porque o fungo passa o Inverno<br />
nos gomos forais e foliares, um<br />
produto que faça uma boa cobertura<br />
de todos esses tecidos é o ideal<br />
para a fase inicial no controlo<br />
de infecções primárias. Flint, com<br />
o seu efeito de vapor, é uma solução<br />
completa para o controlo do<br />
protecção<br />
Controlo de doenças<br />
em macieira e pereira<br />
Por: Avelino Balsinhas, Bayer CropScience<br />
Os insectos e ácaros auxiliares são uma componente<br />
essencial dos sistemas de produção de frutos,<br />
que pode ser preservada através de uma adequada<br />
selecção e correcta aplicação dos produtos para<br />
a protecção das culturas.<br />
<br />
O pedrado da macieira deve ser controlado desde o início da campanha<br />
Antracol está homologado para pedrado da macieira e pereira a 250g/hl; Flint está homologado para<br />
pedrado da macieira e pereira de 7,5 a 10 g/hl, para oídio da macieira entre 10 e 15 g/hl e encontra-se<br />
em extensão de homologação para estenfiliose da pereria; Libero Top está homologado para pedrado<br />
da macieira e pereira a 30 – 40 g/hl, oídio da macieira a 40 g/hl e estenfiliose da pereria a 75 g/hl.<br />
Aliette Flash estimula as defesas naturais da planta e está homologado para cancro do colo e doenças<br />
de conservação da fruta na concentração de 250 g/hl. Outros fungicidas da Bayer CropScience homologados<br />
em pomóideas: Cupravit, Gafex, Baycor Plus, Baycor S, Enxofre Bayer Ultra D, Mancozan e<br />
Pomarsol Ultra D.<br />
oídio no início da campanha. Simultaneamente<br />
proporciona uma<br />
acção curativa e preventiva contra<br />
o pedrado, evitando a necessidade<br />
de se adicionar um fungicida<br />
específico para o pedrado.<br />
Após a floração e durante o desenvolvimento<br />
dos frutos e enquanto<br />
as condições continuarem<br />
favoráveis ao desenvolvimento<br />
das doenças, o objectivo é prevenir<br />
a ocorrência de infecções secundárias<br />
de oídio. O Libero Top,<br />
devido à sua sistemia, é a solução<br />
ideal pois acompanha o desenvolvimento<br />
dos tecidos vegetais.<br />
Controlo<br />
da estenfiliose<br />
O controlo desta doença na<br />
pereira pode basear-se numa alternância<br />
de produtos com diferentes<br />
modos de acção. Nesta estratégia<br />
integram-se perfeitamente<br />
o Flint (em extensão de<br />
homologação), o Libero Top e o<br />
Pomarsol Ultra D.<br />
Antracol fungicida<br />
e fonte de zinco<br />
Antracol está homologado contra<br />
o pedrado da macieira e da pe
RESERVADA A PROFISSIONAIS. É INTERDITA A ENTRADA A MENORES DE 14 ANOS<br />
factores de produção<br />
protecção<br />
reira, na concentração de 250 g/hl.<br />
Propinebe, a substância activa do<br />
Antracol, pertence ao grupo químico<br />
dos ditiocarbamatos, e é indispensável<br />
nas estratégias antiresistências.<br />
Actua em vários locais<br />
do metabolismo celular dos<br />
fungos, tem baixo risco de desenvolvimento<br />
de resistências e torna-o<br />
um parceiro ideal para a alternância<br />
ou mistura nos tratamentos<br />
com outros fungicidas.<br />
O que é que o Antracol (fungicida)<br />
tem a ver com o zinco<br />
(elemento)?<br />
Zinco é um micronutriente essencial<br />
para as plantas e normalmente<br />
é deficitário nos solos agrícolas,<br />
especialmente em solos com<br />
pH alto ou alto teor de fósforo.<br />
O zinco elementar, existente<br />
nos solos, não está imediatamente<br />
disponível para as plantas, mas<br />
o Antracol contem zinco numa<br />
forma orgânica imediatamente<br />
disponível para ser absorvido pelas<br />
folhas da planta. Encontra-se<br />
na forma certa e no momento certo<br />
e tem uma excelente selectividade.<br />
Com efeito, é um bónus extra<br />
para o utilizador de Antracol,<br />
para além do bom controlo fungicida<br />
desde o botão verde até ao<br />
estado de orelhas de rato.<br />
Outros meios de luta<br />
Existem várias estratégias adi-<br />
Alternância de produtos com diferentes modos de acção é a estratégia ideal<br />
para controlar a estenfiliose<br />
O Ingrediente que falta ao seu Negócio!<br />
www.grupoalimentacao.exponor.pt<br />
cionais que podem ser incorporadas<br />
para reduzir a incidência e severidade<br />
das doenças provocadas<br />
por fungos no pomar:<br />
• Variedades tolerantes ou menos<br />
susceptíveis ao pedrado, oídio<br />
e estenfiliose.<br />
• Condução do pomar mantendo<br />
o bom arejamento da canópia<br />
das árvores.<br />
• Remoção de gomos infectados<br />
com oídio durante a poda para<br />
reduzir o inóculo.<br />
• Retirar ou destruir as folhas existentes<br />
no terreno antes do<br />
abrolhamento, para reduzir a<br />
probabilidade de ocorrência de<br />
infecções primárias.<br />
• Usar os Serviços de Avisos de<br />
forma a melhor posicionar as<br />
aplicações dos fungicidas.<br />
• Calibrar o equipamento de pulverização<br />
regularmente para assegurar<br />
uma óptima cobertura<br />
das folhas e frutos durante os<br />
tratamentos. <br />
Exposição Internacional de Alimentação<br />
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58
59<br />
O cultivo da batata de indústria<br />
no Vale do Tejo tem<br />
assumido nos últimos anos<br />
uma importância crescente. Esta<br />
actividade é um forte incentivo<br />
para os agricultores, funcionando<br />
com pólo dinamizador da actividade<br />
agrícola ao nível da região.<br />
A reforma da PAC, com a introdução<br />
das medidas agro-ambientais,<br />
nomeadamente as relacionadas<br />
com a Produção Integrada, colocou<br />
novos desafios a esta cultura.<br />
O azoto é um dos nutrientes<br />
com maior influência na produção<br />
e no rendimento económico<br />
das culturas e, por este facto, tem<br />
havido uma tendência generalizada<br />
para o aumento da sua aplicação.<br />
Contudo, é necessário um<br />
maior rigor na sua utilização, pois<br />
os excessos são negativos, do ponto<br />
de vista económico, ambiental<br />
e da qualidade da produção. Por<br />
outro lado, há factores que influenciam<br />
a eficiência da utiliza-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
factores de produção<br />
nutrição<br />
Fertilização azotada<br />
em batata de indústria<br />
Por: Amaral A.*; Matos, M.S.**; Ribeiro, N.*; Hipólito, R.*<br />
Ensaio avalia resposta da batata de indústria<br />
Hermes a doses crescentes de azoto, aplicadas<br />
de diferentes modos, quanto à produção comercial,<br />
calibres, teor de matéria seca e taxas de recuperação<br />
do azoto pela cultura.<br />
<br />
ção do azoto: a cultivar; os elementos<br />
climáticos, nomeadamente<br />
a precipitação; o tipo de solo;<br />
o precedente cultural; a produtividade<br />
alcançada; o tipo de adubo<br />
e a forma de distribuição (o seu<br />
fraccionamento), entre outros.<br />
Ensaios com<br />
batata Hermes<br />
Além das regras da Produção Integrada,<br />
torna-se necessário aprofundar<br />
o conhecimento do azoto,<br />
recorrendo a experimentação local.<br />
No projecto Agro nº328, “Sistemas<br />
de produção integrada em<br />
horticultura de ar livre na região<br />
do Ribatejo” instalaram-se campos<br />
experimentais na freguesia do Pinheiro<br />
Grande, concelho da Chamusca,<br />
em dois anos consecutivos, para<br />
avaliar a resposta da cultivar de<br />
batata de indústria Hermes a doses<br />
crescentes de azoto, aplicadas de<br />
diferentes modos. Avaliou-se o efeito<br />
dos tratamentos em relação à<br />
A B<br />
Figura 1 – Aspecto do dispositivo experimental do campo instalado no<br />
Pinheiro Grande<br />
produção comercial, à repartição<br />
dos calibres, ao teor de matéria seca<br />
e quanto às taxas de recuperação<br />
do azoto pela cultura.<br />
Os ensaios foram instalados em<br />
2004 e 2005 em pleno campo de<br />
cultivo, num aluviossolo moderno,<br />
cujas características físicas e<br />
químicas são apresentadas no<br />
Quadro 1. Em ambos os anos seguiu-se<br />
um delineamento experimental<br />
em parcelas sub-divididas,<br />
em que a parcela principal correspondeu<br />
à adubação de fundo (3<br />
doses de azoto – 0, 100 e 200<br />
kg/ha, respectivamente) e a par-<br />
Figura 2 – Aspecto geral do desenvolvimento das plantas do campo experimental em 2004 (A) e em 2005 (B)<br />
cela secundária à adubação de cobertura<br />
(4 doses de azoto – 0,<br />
50+50, 50+50+50 e 100 kg/ha, respectivamente).<br />
A plantação mecânica realizouse<br />
no dia 19 de Março, em ambos<br />
os anos. Utilizou-se batata semente<br />
de calibre 35/60mm, cortada ao<br />
meio, com um peso médio fresco<br />
de 35g, um teor médio de MS de<br />
23% e um teor médio de N total<br />
de 1,3%. A densidade de plantação<br />
por ha foi de 50 000 propágulos,<br />
num compasso de 0,8m na entrelinha,<br />
por 0,25m na linha. A fertilização<br />
foi manual, distribuindo
factores de produção<br />
nutrição<br />
Quadro 1 – Caracterização físico-química<br />
do solo dos campos experimentais<br />
Parâmetro Ano 2004 Ano 2005<br />
Teor de matéria (%) 1,7 2,3<br />
Reacção do solo (pH) 8,2 7,5<br />
Fósforo assimilável (ppm) 322 277<br />
Potássio assimilável (ppm) 214 287<br />
Calcário total (%) 0,5 0,5<br />
Nitratos (ppm) 31,0 20,5<br />
Análise textural Franco-limosa<br />
Soma de bases de troca (meq/100g) 24,1<br />
Capacidade de troca catiónica (meq/100g) 24,8<br />
Grau de saturação em bases (%) 97,3<br />
se o fósforo e o potássio a lanço,<br />
na forma de adubos elementares<br />
(superfosfato e sulfato de potássio).<br />
A adubação azotada foi feita<br />
de acordo com o dispositivo experimental,<br />
utilizando-se nitrato<br />
de amónio. A adubação de cobertura<br />
manual usou o mesmo tipo<br />
de adubo, na 1ª década de Abril,<br />
na 2ª década de Maio e 3ª década<br />
de Maio. O sistema de rega utilizado<br />
foi a aspersão. Foram colocados<br />
udómetros, com o objectivo<br />
de avaliar a repartição e a dotação<br />
média de rega. O teor médio<br />
de nitratos na água de rega<br />
foi de 11,5 e 12,1 mg/l em 2004 e<br />
2005, respectivamente. A colheita<br />
das parcelas foi manual, 150 e<br />
167 dias após a plantação.<br />
Resultados<br />
dos ensaios<br />
Em 2004 houve diferenças significativas<br />
em resposta à adubação<br />
de fundo, mas não em 2005.<br />
Em qualquer um dos anos não<br />
houve resposta à adubação de cobertura<br />
(Quadro 2).<br />
Os tratamentos não influenciaram<br />
significativamente a percentagem<br />
de tubérculos com calibre<br />
superior a 60mm, embora se tenha<br />
registado, em 2004, um aumento<br />
da sua percentagem, com o aumento<br />
da adubação de fundo.<br />
Os quantitativos de azoto não<br />
afectaram significativamente o teor<br />
de matéria seca dos tubérculos,<br />
seja considerando o total de azoto<br />
aplicado apenas em fundo, ou<br />
em fundo e cobertura. No entanto,<br />
em 2004, verificou-se também<br />
em relação a este parâmetro uma<br />
resposta regular, no diminuindo<br />
o teor de matéria seca com o aumento<br />
do quantitativo aplicado<br />
em fundo.<br />
A análise do teor do azoto total<br />
dos tubérculos (expresso em<br />
percentagem da matéria seca)<br />
permitiu-nos concluir que nem a<br />
quantidade de azoto total aplicado,<br />
nem a forma de aplicação,<br />
afectaram este parâmetro.<br />
Tendo por base o teor de matéria<br />
seca dos tubérculos e o teor<br />
de azoto total nessa matéria seca<br />
procedeu-se ao cálculo do<br />
quantitativo de azoto exportado<br />
pelos tubérculos, em função da<br />
sua produção total. A quantidade<br />
de azoto exportado aumentou,<br />
com o aumento da quantidade de<br />
azoto aplicado, até cerca das 250<br />
kg/ha, a partir da qual se regista<br />
uma diminuição desse quantitativo<br />
(Figura 3).<br />
A percentagem de azoto dos<br />
fertilizantes recuperado pelos tubérculos<br />
é um dos indicadores<br />
mais utilizado para avaliar a eficiência<br />
da utilização deste nutriente.<br />
Esta taxa é calculada com base<br />
Quadro 2 – Resultados da análise de variância da produção total de tubérculos<br />
2004 2005<br />
Origem da Variação Graus de liberdade Quadrados médios Valor de F Graus de liberdade Quadrados médios Valor de F<br />
Bloco 2 5,3 0,066 ns 2 356,9 1,56 ns<br />
Adubação de fundo 2 549,0 6,76 s** 2 247,8 1,08 ns<br />
Adubação de fundo x Bloco 4 54,4 0,67 ns 4 93,9 0,41 ns<br />
Adubação de cobertura 3 228,6 2,82 ns 3 596,6 2,61 ns<br />
Interacção 6 289,8 3,57 s* 6 196,4 0,86 ns<br />
Erro 18 81,1 - 18 228,4 -<br />
Nota: s* – significativo a 5%; s** – significativo a 1%; ns – não significativo<br />
Figura 3 – Efeito da adubação total de azoto na quantidade de azoto exportado<br />
pelos tubérculos<br />
Figura 4 – Efeito dos tratamentos na taxa de azoto recuperado pelas plantas<br />
(%), calculado com base nas médias obtidas do conjunto dos campos experimentais<br />
na relação entre a diferença do<br />
azoto recuperado nas modalidades<br />
fertilizadas e o azoto recuperado<br />
pela modalidade testemunha,<br />
pelo azoto utilizado nas modalidades<br />
fertilizadas. Como resultado<br />
da análise média dos campos<br />
acompanhados, verificou-se que a<br />
taxa de recuperação de azoto pelos<br />
tubérculos variou entre 20 e os<br />
40 %, diminuindo das modalidades<br />
com menores quantidades para<br />
as de maior quantidade de azoto<br />
(Figura 4). Estes valores situamse<br />
ligeiramente abaixo dos encontrados<br />
por outros autores. Uma<br />
possível explicação para este facto<br />
poderá residir num maior quantitativo<br />
de azoto disponível para<br />
as plantas, com outras origens que<br />
não os adubos aplicados. A água<br />
de rega e o azoto libertado pela<br />
mineralização da matéria orgânica<br />
constituíram as principais fontes<br />
de azoto para as plantas, para<br />
além dos adubos.<br />
Conclusões<br />
Como principais conclusões deste<br />
trabalho podemos referir: verificou-se<br />
haver resposta à adubação<br />
de fundo em um dos dois<br />
anos de experimentação, mas não<br />
à adubação de cobertura; os tratamentos<br />
não afectaram a percentagem<br />
do número de tubérculos<br />
com calibre superior a 60mm, nem<br />
o teor de matéria seca dos tubérculos,<br />
bem como, o teor de azoto<br />
total dos tubérculos; o teor de<br />
azoto exportado aumentou até<br />
aos 250 kg/ha de N aplicado; a taxa<br />
de recuperação do azoto pelos<br />
tubérculos variou entre 40 e 20%<br />
do total aplicado. <br />
Agradecimentos<br />
Os autores desejam agradecer a contribuição<br />
do Sr. António Sequeira; da Eng.ª Isabel<br />
Tourgal, da Eng.ª Fernanda Pirralho e<br />
da Técnica de Laboratório Maria José Maia,<br />
da Escola Superior Agrária de Santarém.<br />
* Escola Superior Agrária de Santarém;<br />
** Cooperativa Agrícola AgroMais<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
60
factores de produção<br />
rega<br />
Estratégias de rega para<br />
a cultura do girassol<br />
Por: Catronga, H.; Boteta, L.; Guerreiro, C.; Oliveira. I. (1)<br />
A fase critica do girassol quanto às necessidades de<br />
água vai desde o início do botão floral até 15 dias<br />
depois do final da floração, sendo necessário um fornecimento<br />
constante de água até ao final do ciclo,<br />
para favorecer um elevado teor em óleo.<br />
<br />
A cultura do girassol (Helianthus<br />
annuus L.), vista quase<br />
sempre como uma cultura<br />
marginal, tem vindo a perder área<br />
desde 1996, sendo a sua produtividade<br />
muito irregular desde<br />
1980. Como oportunidade para<br />
poder alterar esta situação, em<br />
2003, surge a Directiva 2003/30/CE,<br />
relativa à promoção da utilização<br />
de biocombustíveis, que fomenta<br />
a utilização de biomassa, como<br />
fonte de energia. Preconiza-se assim<br />
que determinados produtos<br />
agrícolas poderão vir a constituirse<br />
como uma fonte de rendimento<br />
alternativa para os agricultores,<br />
devendo os Estados-membros<br />
intensificar os esforços de pesquisa<br />
neste sector.<br />
O girassol está entre as cinco<br />
maiores culturas oleaginosas produtoras<br />
de óleo vegetal comestível<br />
do Mundo (7% da produção<br />
mundial de oleaginosas da campanha<br />
de 2006/2007), ficando<br />
atrás da soja (58%), da canola e<br />
algodão (11%) e do amendoim<br />
(8%). A água é o factor de maior<br />
impacto na produção desta cultura,<br />
apesar do excesso ser prejudicial,<br />
porque aumenta as probabilidades<br />
de semente oca e a incidência<br />
de doenças. A fase critica<br />
quanto às necessidades de água,<br />
estende-se desde o início do botão<br />
floral até 15 dias depois do final<br />
da floração, sendo necessário<br />
um fornecimento constante de<br />
água até ao final do ciclo, para favorecer<br />
um elevado teor em óleo.<br />
O COTR, pretendendo contribuir<br />
para a renovação das estratégias<br />
de gestão da cultura do girassol,<br />
desenvolveu em 2006 um ensaio<br />
para ajudar o agricultor num<br />
possível novo rumo da sua gestão<br />
agrícola. Pretendeu-se analisar a<br />
influência da rega na produção de<br />
girassol, tendo por base, as baixas<br />
dotações que normalmente são<br />
aplicadas nesta cultura, bem como<br />
a aptidão e rendimento para a<br />
produção de biodisel.<br />
Figura 1 – Localização do<br />
ensaio e das parcelas no pivot<br />
A rega não altera significativamente o rendimento da semente em óleo<br />
e biodisel<br />
Delineamento<br />
experimental<br />
O ensaio foi instalado, sob um<br />
center-pivot, no Pólo Experimental<br />
do COTR da Quinta da Saúde,<br />
em Beja, com uma área total de<br />
3 ha (Figura 1). Foram delimitadas<br />
três parcelas, cada qual com<br />
1 ha, com três dotações de rega<br />
diferentes:<br />
• Na parcela A – Rega da cultura<br />
desde a sementeira até ao<br />
fim do ciclo, correspondendo a<br />
cerca de 30% da evapotranspiração<br />
óptima para a cultura.<br />
• Na parcela B – Rega com dotações<br />
iguais à da parcela A até<br />
à germinação, passando depois<br />
para 50% daquela, até ao fim<br />
do ciclo da cultura.<br />
• Na parcela C – Rega com dotações<br />
iguais à da parcela A até<br />
à germinação, sendo conduzida<br />
sob a forma de sequeiro até ao<br />
fim da cultura.<br />
No fim do ciclo da cultura foram<br />
delimitados quatro pontos de<br />
amostragem por parcela onde se<br />
recolheram amostras para:<br />
• Determinação da produção;<br />
• Determinação de valores de biomassa<br />
(altura, diâmetro do capítulo,<br />
matéria seca – MS, peso<br />
de 1000 sementes e valor nutricional);<br />
• Análise de rendimento em óleo<br />
e produção de biodisel.<br />
Necessidades<br />
hídricas da cultura<br />
Atendendo às baixas dotações<br />
de rega que são aplicadas no girassol,<br />
optou-se por fornecer uma<br />
dotação máxima de rega (260<br />
mm), bastante inferior ao valor estimado<br />
para as necessidades óptimas<br />
da cultura (850 mm), indo<br />
de encontro ao objectivo proposto.<br />
Pela observação da Figura 2 verifica-se<br />
que as necessidades óptimas<br />
para a cultura foram de cerca<br />
de 850 mm. Até sensivelmente<br />
o início de Junho, as dotações de<br />
rega foram iguais nas três parcelas<br />
para assegurar a germinação<br />
da cultura, cessando para a parcela<br />
C após esta data. A partir da segunda<br />
semana de Junho as dotações<br />
de água aplicadas (parcela A<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
62
63<br />
Figura 2 – Evolução das necessidades hídricas óptimas para o girassol e DUR<br />
acumuladas paras as várias parcelas<br />
Figura 3 – Dados de biomassa das parcelas de ensaio do girassol<br />
Figura 4 – Produção de girassol das parcelas e peso económico da água<br />
Figura 5 – Rendimento e conteúdo em óleo<br />
Figura 6 – Rendimento em biodisel<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
factores de produção<br />
rega<br />
e B), começaram a divergir até á<br />
colheita. Assim, as dotações úteis<br />
de rega – DUR – foram de cerca<br />
de 260, 180 e 65 mm, respectivamente<br />
nas parcelas A, B e C.<br />
Componentes<br />
de rendimento<br />
Na Figura 3, apresentam-se os<br />
dados de biomassa - produção, peso<br />
de 1000 sementes, altura, diâmetro<br />
do capítulo e MS - , em função<br />
da aplicação de diferentes dotações<br />
de rega (parcelas A, B e C).<br />
Verifica-se que todos os parâmetros<br />
analisados são superiores na<br />
parcela A. Em termos de produção<br />
e de matéria seca, na parcela<br />
A, os valores foram cerca de três<br />
vezes superiores aos da parcela C.<br />
Determinação<br />
do Valor Nutricional<br />
Das análises laboratoriais à proteína<br />
e gordura bruta, em percentagem<br />
de Matéria Bruta (%) e Matéria<br />
Seca (%), os resultados mostram<br />
que não existem diferenças<br />
significativas entre os vários tratamentos,<br />
sendo a produção de<br />
proteína bruta ligeiramente maior<br />
na Parcela B, e a produção de gordura<br />
bruta, ligeiramente maior na<br />
Parcela C.<br />
Análise económica<br />
Na Figura 4, observa-se, o peso<br />
que o custo da água tem no rendimento<br />
bruto da produção de girassol.<br />
Para as produções obtidas<br />
nas parcelas A e C, respectivamente<br />
1,8 e 0,6 ton/ha, o custo da<br />
água representa respectivamente,<br />
cerca de 3 e 7%, do rendimento<br />
bruto da cultura.<br />
Rendimento<br />
da extracção do óleo<br />
Segundo vários autores, o conteúdo<br />
em óleo extraído das sementes<br />
de girassol, situa-se entre 38,0<br />
e 48,0 %. Nos ensaios realizados,<br />
os valores das amostras retiradas<br />
das três parcelas de girassol situam-<br />
-se também dentro deste intervalo,<br />
tal como se pode observar no<br />
gráfico da Figura 5. No entanto, o<br />
rendimento em óleo (ton/ha) que<br />
tem como intervalos indicativos 0,5<br />
a 1,5, foi bastante baixo, especialmente<br />
para a parcela C. As parcelas<br />
A e B, apresentam valores mínimos<br />
para este indicador.<br />
Rendimento da<br />
produção de biodisel<br />
A influência da dotação de rega<br />
no rendimento em biodisel, em<br />
relação ao peso do óleo obtido (Figura<br />
6), é quase nula, sendo, no<br />
entanto, ligeiramente maior para<br />
o girassol da Parcela C. No que diz<br />
respeito ao rendimento em biodisel,<br />
em relação ao peso da semente<br />
(Figura 6), na parcela C verificam-se<br />
valores mais elevados, sem<br />
haver, no entanto, grandes diferenças<br />
entre tratamentos.<br />
Conclusões<br />
1. Aumentos das dotações de rega<br />
levaram a um aumento dos<br />
parâmetros de biomassa (altura,<br />
MS, capítulo, peso das sementes,<br />
etc.);<br />
2. Maior aplicação de água não se<br />
traduziu numa alteração no valor<br />
nutricional desta cultura;<br />
3. Caso se trate a água como um<br />
input isolado, a sua influência<br />
na produção vai aumentando,<br />
com o aumento das dotações<br />
de rega;<br />
4. Caso se trate a água como um<br />
input isolado, o seu peso económico<br />
na cultura vai diminuindo,<br />
com o aumento das dotações<br />
de rega e consequente aumento<br />
de produções;<br />
5. A rega não altera significativamente<br />
as características da<br />
semente em termos de rendimento<br />
em óleo e biodisel. Desta<br />
forma, parece ser claramente<br />
vantajoso produzir girassol<br />
de regadio para aumentar a<br />
produção, e consequentemente,<br />
os subprodutos extraídos<br />
da semente. <br />
(1) Centro Operativo e de Tecnologia do Regadio,<br />
Quinta da Saúde, 7801-901, Beja,<br />
telf.: 284 321 582; fax: 284 321 583.
65<br />
De acordo com dados apresentados<br />
no segundo encontro<br />
europeu de representantes<br />
de organismos coordenadores<br />
da inspecção de pulverizadores da<br />
União Europeia (UE), existem cerca<br />
de dois milhões de máquinas para<br />
aplicação de produtos fitofarmacêuticos<br />
na UE. A sua distribuição<br />
geográfica é muito variável -<br />
mínimo de 0,04 por km 2 , na Bulgária<br />
e Suécia, a um máximo de 1,83,<br />
na Itália, país fabricante de numeroso<br />
equipamento deste tipo.<br />
Em Portugal, de acordo com o<br />
Recenseamento Geral da Agricultura<br />
de 1999, elaborado pelo<br />
Instituto Nacional de Estatística,<br />
o número de pulverizadores e<br />
polvilhadores ultrapassava os 56<br />
mil, em mais de 48 mil explorações,<br />
correspondendo a uma<br />
densidade aproximada de 0,6<br />
por km 2 e grande diversidade de<br />
equipamentos.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
boas práticas agrícolas<br />
Inspecção de pulverizadores<br />
até 2015<br />
Por: Jorge F. Moreira (DGADR)<br />
Uma proposta de Directiva comunitária sobre<br />
“Uso Sustentável de Produtos Fitofarmacêuticos”<br />
prevê que as inspecções de pulverizadores sejam<br />
obrigatórias até 2015.<br />
<br />
Na maioria dos Estados-membros,<br />
em consequência das exigências<br />
do mercado de produtos agrícolas,<br />
a verificação do correcto funcionamento<br />
do equipamento de<br />
aplicação de produtos fitofarmacêuticos<br />
iniciou-se antes das medidas<br />
compulsivas, previstas em legislação.<br />
Na Alemanha a inspecção<br />
é obrigatória desde 1993; no Reino<br />
Unido as inspecções são voluntárias<br />
(de 45 mil pulverizadores, na<br />
maioria em culturas baixas, inspeccionaram-se<br />
5 mil); em Espanha as<br />
inspecções, também voluntárias,<br />
iniciaram-se em 1986 (culturas herbáceas)<br />
e 1990 (fruteiras). A frequência<br />
das inspecções varia entre<br />
um e cinco anos, na UE.<br />
Em Portugal, a empresa Tomix,<br />
desde 2003, a pedido dos clientes,<br />
já verificou o “correcto estado de<br />
funcionamento”, em mais de 500<br />
máquinas. A empresa Rocha, por<br />
igual motivo, mais recentemente,<br />
Figura 2 – Sinalética exemplificativa do risco inerente à utilização de veio<br />
de cardans<br />
Figura 1 – O resguardo dos pulverizadores com fluxo de ar protege o operador<br />
iniciou o “serviço de calibragem e<br />
verificação técnica de equipamento<br />
de pulverização”. O Centro<br />
Operativo de Horto Fruticultura<br />
Nacional, que celebrou um protocolo<br />
com a Direcção-Geral de Agricultura<br />
e Desenvolvimento Rural<br />
(DGADR), começou, em 2006, um<br />
serviço de inspecção de pulverizadores,<br />
obedecendo à Norma Europeia<br />
13 790, em ordem a responder<br />
às crescentes exigências dos sistemas<br />
de certificação do mercado<br />
horto frutícola. No primeiro ano<br />
desta acção, foram inspeccionadas<br />
mais de 200 máquinas.<br />
Inspecção<br />
obrigatória até 2015<br />
Durante a Presidência Portuguesa<br />
da União Europeia, foi<br />
aprovado, por unanimidade da<br />
Comissão e do Conselho, um acor-<br />
do político para a proposta de Directiva<br />
do Parlamento e do Conselho<br />
Europeu “Uso Sustentável<br />
de Produtos Fitofarmacêuticos”.<br />
Esta legislação será aplicada nos<br />
Estados-membros no prazo de<br />
dois anos e torna obrigatória a<br />
inspecção de equipamento para<br />
aplicação de produtos fitofarmacêuticos<br />
(não abrangendo pulverizadores<br />
de dorso nem outros pequenos<br />
aparelhos). A implementação<br />
da inspecção periódica compulsiva<br />
exigirá um esforço considerável<br />
de organização, atendendo<br />
a que a primeira inspecção está<br />
prevista até 2015.<br />
Inspecção<br />
é segurança<br />
A imposição de exigências no<br />
correcto funcionamento deste tipo<br />
de equipamentos tem eviden
oas práticas agrícolas<br />
Figura 3 – Enchimento do depósito de produto fitofarmacêutico<br />
tes vantagens em diversos domínios:<br />
nas boas práticas agrícolas,<br />
protecção dos aplicadores e do<br />
ambiente.<br />
Um projecto europeu, onde participou<br />
a DGADR, estudou a eficácia<br />
de equipamento de protecção<br />
individual (EPI) perante diferentes<br />
graus de exposição do aplicador:<br />
a exposição potencial, dermal e<br />
por inalação, e a exposição real,<br />
i.e., por via sistémica (absorção de<br />
produtos fitofarmacêuticos) dos<br />
aplicadores. Diversos factores influenciam<br />
a segurança durante a<br />
pulverização: condições atmosféricas,<br />
o tipo de cultura, a duração<br />
e técnica de aplicação, volume de<br />
calda e o tipo de EPI.<br />
Não obstante a dificuldade de<br />
quantificar a ligação entre a segurança<br />
para o aplicador e o bom estado<br />
de funcionamento do equipamento,<br />
é evidente a sua importância<br />
na prevenção de riscos.<br />
Órgãos mecânicos<br />
Do ponto vista mecânico, os<br />
veios telescópicos de cardans, nos<br />
pulverizadores suspensos nos três<br />
pontos ou rebocados por tractor,<br />
e os ventiladores (quando existen-<br />
tes) são os órgãos mais susceptíveis<br />
de provocar acidentes.<br />
A proposta legislativa europeia<br />
exige que o resguardo do veio telescópico<br />
de cardans esteja devidamente<br />
montado e em bom estado,<br />
tal todas as componente<br />
deste mecanismo de transmissão<br />
de potência, para protecção do<br />
operador (Figura 2).<br />
No equipamento de pulverização<br />
com fluxo de ar, os ventiladores<br />
(Figura 1) têm de estar munidos<br />
com resguardo, para impossibilitar<br />
o contacto do operador<br />
com o material móvel, em boas<br />
condições, de modo a assegurar<br />
um fluxo de ar estável.<br />
O correcto funcionamento de<br />
componentes, como o “incorporador<br />
de produto”, depósito adicional<br />
onde se colocam os produtos<br />
fitofarmacêuticos para transferência<br />
progressiva para o depósito do<br />
pulverizador (Figura 3), assim como<br />
o depósito de água limpa estritamente<br />
destinado à lavagem de<br />
mãos (figura 4), são essenciais para<br />
diminuir os riscos na aplicação<br />
de produtos fitofarmacêuticos.<br />
De facto, de acordo com a NE<br />
907, para fabrico de máquinas de<br />
pulverização, o depósito de água<br />
limpa destinada ao operador, independente<br />
de outras partes da<br />
máquina, deve ter uma capacidade<br />
igual ou superior a 15 litros e<br />
ter uma torneira (Figura 4).<br />
Importância da inspecção<br />
na calibração<br />
Como é óbvio, o débito dos bicos<br />
de pulverização, normalmente<br />
expresso em l/min, depende da<br />
pressão e do respectivo diâmetro.<br />
Uma vez escolhida a velocidade de<br />
trabalho e conhecida a largura de<br />
trabalho, o erro na calibração da<br />
máquina para um volume de calda<br />
previamente estabelecido, depende<br />
do rigor do seu cálculo.<br />
Este tipo de calibração depende<br />
da precisão entre o valor do débito<br />
tabelado, para a pressão escolhida<br />
dos bicos de pulverização<br />
hidráulica, e os valores verificados<br />
com o pulverizador em funcionamento.<br />
Na experimentação e formação<br />
desenvolvida pela DGADR,<br />
tem sido sempre averiguada a<br />
equivalência daqueles valores e realçada<br />
a sua importância.<br />
A proposta de directiva comunitária<br />
considera imprescindível o<br />
rigor dos instrumentos de Regulação,<br />
Medição e Controlo. Só com<br />
bom funcionamento e rigor dos<br />
dispositivos de controlo de pressão<br />
se pode manter uma pressão<br />
de trabalho constante, respeitante<br />
a uma adequada rotação da<br />
bomba, garantindo uma distribuição<br />
uniforme da calda aplicada<br />
por unidade de superfície. O controlo<br />
de pressão e o seu ajustamento<br />
deverão ser possíveis e fáceis,<br />
durante a aplicação.<br />
Neste artigo referiram-se medidas<br />
previstas em disposições normativas<br />
europeias para alguns<br />
componentes dos pulverizadores<br />
conducentes à segurança. Em próximo<br />
artigo abordar-se-ão medidas<br />
de outros componentes do<br />
equipamento de aplicação de produtos<br />
fitofarmacêuticos, como a<br />
bomba, depósito, tubagens, filtros<br />
e barra de pulverização. <br />
Agradecimentos<br />
À engª Flávia Alfarroba agradece-se a leitura<br />
deste artigo.<br />
Figura 4 – O depósito de água limpa para lavagem de mãos dever ter capacidade<br />
igual ou superior a 15 litros e uma torneira<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
66
67<br />
O incremento verificado no<br />
consumo de hortofrutícolas<br />
frescos (HF), incluindo os minimamente<br />
processados (IV gama),<br />
tem focalizado a atenção de produtores,<br />
transformadores e agências<br />
reguladoras para as questões<br />
de segurança microbiológica e química<br />
associada a estes produtos.<br />
A lavagem e sanitização de HF<br />
são práticas industriais comuns,<br />
cujo objectivo é reduzir a carga<br />
microbiana de deterioração e patogénica,<br />
sem interferir na qualidade<br />
sensorial e nutricional, prolongando<br />
o período de vida dos<br />
produtos. A descontaminação superficial<br />
de HF inteiros e/ou cortados<br />
é uma operação crítica, devido<br />
à multiplicidade da flora contaminante<br />
e das diferentes formas<br />
de adesão dos microrganismos<br />
(mo.) à superfície irregular dos vegetais.<br />
A eventual formação de<br />
biofilmes e / ou a localização de<br />
mo. em zonas de difícil acesso<br />
constituem os principais entraves<br />
à eliminação microbiana.<br />
Para o efeito de descontaminação<br />
são usadas diversas substâncias<br />
químicas (e.g. hipoclorito de sódio<br />
- HIPO e dióxido de cloro) no contacto<br />
directo com produtos frescos<br />
inteiros e/ou cortados, em operações<br />
de lavagem. A eficácia destes<br />
procedimentos está dependente<br />
das condições de aplicação (concentração<br />
do agente químico, tempo<br />
de exposição, pH e temperatura),<br />
que devem ser optimizadas por<br />
produto, sendo ainda condiciona-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
da pela preservação da qualidade<br />
sensorial dos HF. Mesmo após optimizadas<br />
as variáveis de tratamento,<br />
as reduções alcançadas não ultrapassam<br />
normalmente ca. 1 a 2<br />
ciclos Log 10. No entanto, as recomendações<br />
da FDA (Food and<br />
Drug Administration) apontam para<br />
que a acção ideal de um descontaminante<br />
seja de 5 ciclos Log 10.<br />
Tecnologia<br />
de barreiras<br />
A avaliação da aplicação de metodologias<br />
de descontaminação em<br />
HF, tais como o ozono (O 3), água<br />
electrolisada, ultra-sons e calor, é<br />
uma área de investigação emergente<br />
para a viabilização de processos<br />
alternativos mais eficientes. É assumido<br />
por vários autores a vantagem<br />
da combinação de tratamentos, expressa<br />
no conceito da tecnologia de<br />
barreiras ou “hurdle technology”.<br />
Esta baseia-se no princípio técnico<br />
de que vários tratamentos de intensidade<br />
ligeira possam ter uma eficácia<br />
igual ou superior (sinergias) a<br />
um só tratamento de elevada intensidade,<br />
mas com menores repercussões<br />
na qualidade nutricional e organoléptica.<br />
O uso de metodologias<br />
combinadas de sanitização é<br />
estratégia mais adequada e promissora<br />
na prossecução da segurança<br />
microbiológica de HF.<br />
Ozono<br />
A eficácia de descontaminação<br />
do ozono (O 3), nomeadamente<br />
água ozonada (em concentrações<br />
tecnologia<br />
pós-colheita<br />
Descontaminação em<br />
hortofrutícolas inteiros<br />
Por: Joaquina Pinheiro 1 , Carla Alegria 1 , Marta Abreu 1 ,<br />
Elsa M. Gonçalves 1 , Margarida Moldão-Martins 2 , Cristina L.M. Silva 3<br />
Ozono, água electrolisada, ultra-sons e calor<br />
são novas formas de descontaminar hortofruticolas<br />
sem recorrer à adição de químicos. Uma mais valia<br />
no mercado actual.<br />
Combinar métodos de desinfecção é a melhor forma de garantir a segurança<br />
microbiológica dos hortofrutícolas<br />
inferiores a 3 ppm), atribui-se ao<br />
seu elevado poder oxidativo sobre<br />
a estrutura celular das células<br />
microbianas, não envolvendo a<br />
formação de compostos secundários.<br />
A acção letal, referida como<br />
sendo 1,5 vezes superior à do HI-<br />
PO, apresenta um espectro de actuação<br />
sobre um maior número<br />
de microrganismos, incluindo patogénicos,<br />
designadamente E. Coli<br />
e L. monocytogenes. Estudos de<br />
optimização da aplicação de água<br />
ozonada realizados em brócolos<br />
(Figura 1) mostraram que foram<br />
alcançadas reduções máximas na<br />
ordem de 1 ciclo Log 10 (0.75 ppm<br />
de O 3, 5 min), enquanto que em<br />
cenoura os níveis de redução atingidos<br />
nunca excederam 0.4 ciclos<br />
Log 10 (dados não apresentados).<br />
Apesar da baixa eficiência constatada<br />
nestes resultados, a continuidade<br />
de investigação desta metodologia<br />
é justificada pela manutenção<br />
da qualidade sensorial dos<br />
produtos igualmente constatada.<br />
Estudos em que foi verificada uma<br />
maior eficiência de descontami-<br />
nação microbiológica em alface<br />
[1] pela utilização desta metodologia<br />
referem-se a aplicações de<br />
O 3 utilizando concentrações superiores<br />
a 3 ppm (passíveis de alcançar<br />
em sistemas fechados) ou no<br />
estado gasoso.<br />
Calor<br />
A aplicação de calor na óptica<br />
da descontaminação superficial de<br />
HF é ponderada, desde que se verifique<br />
a selecção adequada do binómio<br />
tempo-temperatura, utilizado<br />
de forma a prevenir a alteração<br />
da qualidade sensorial e nutricional<br />
em fresco. Neste sentido,<br />
poderão ser consideradas intensidades<br />
térmicas distintas, aplicação<br />
de tratamentos de temperatura<br />
elevada - tempo reduzido (HTST)<br />
ou tratamentos térmicos moderados<br />
(TTM). O conceito HTST baseia-se<br />
no facto de que inactivação<br />
microbiana depende principalmente<br />
da temperatura do tratamento,<br />
enquanto que as alterações<br />
na qualidade sensorial dependem<br />
da duração do mesmo.
tecnologia<br />
pós-colheita<br />
Bolores (Log 10 UFC/g)<br />
5,0<br />
4,8<br />
4,6<br />
4,4<br />
4,2<br />
4,0<br />
3,8<br />
3,6<br />
Fresco 5 10 15<br />
As aplicações de TTM como tratamento<br />
pós-colheita em HF demonstraram<br />
ser efectivas na prevenção<br />
de desenvolvimento de<br />
fungos, controlo de infestações de<br />
insectos e controlo de processos<br />
fisiológicos, com prolongamento<br />
do período de vida dos produtos.<br />
Uma eficiência de descontaminação<br />
bastante satisfatória (de 3 ciclos<br />
Log 10 para mo. a 30ºC e total<br />
para bolores e leveduras) foi<br />
alcançada pela aplicação de HTST<br />
(100ºC / 45 s) em cenoura, sem alteração<br />
das características em fresco<br />
(Figura 2-a), superando os resultados<br />
do HIPO. Face a estes resultados<br />
favoráveis, o HTST afigura-se<br />
promissor como tratamento<br />
alternativo ao uso de HIPO no âmbito<br />
do processamento mínimo.<br />
Um exemplo prático de aplicação<br />
de TTM é apresentado na Figura<br />
2-b. Nesta observa-se que o<br />
TTM (42ºC / 30 min) aplicado em<br />
tomate permitiu uma redução ca.<br />
3 ciclos Log 10 sobre a carga micro-<br />
Tempo de exposição ao O3 (min)<br />
0.5 ppm 0.75 ppm 1.25 ppm<br />
Figura 1 - Efeito de água ozonada na flora microbiana do grupo de bolores<br />
em brócolos (Brassica oleracea L.) em função da concentração e tempo de<br />
tratamento<br />
Log 10 UFC/g<br />
8,0<br />
7,0<br />
6,0<br />
5,0<br />
4,0<br />
3,0<br />
2,0<br />
1,0<br />
0,0<br />
biana inicial, tendo-se ainda verificado<br />
um controlo microbiológico<br />
superior nas amostras tratadas<br />
ao longo de 14 dias de armazenamento<br />
(7ºC) em comparação com<br />
a ausência de tratamento. Sensorialmente<br />
constatou-se a manutenção<br />
da cor e firmeza em fresco<br />
no tomate tratado nas condições<br />
referidas.<br />
Descontaminação<br />
por ondas sonoras<br />
A sonicação (US) envolve a utilização<br />
de ondas sonoras na gama<br />
de frequência de 20-100 kHz em<br />
água. Os fenómenos de cavitação<br />
gerados (formação, crescimento e<br />
colapso de microbolhas) pela sua<br />
acção mecânica favorecem a remoção<br />
de mo. de locais de difícil<br />
acesso das superfícies irregulares<br />
dos HF. No entanto, as intensidades<br />
ultra-sónicas que facultam a<br />
inactivação dos mo. comprometem<br />
a qualidade sensorial dos HF,<br />
conjecturando-se a sua aplicação<br />
preferencial em combinação com<br />
outros tratamentos de descontaminação<br />
(e.g. com calor, conhecida<br />
como termo-sonicação). A ilustrar<br />
a aplicação desta metodologia,<br />
os resultados obtidos em abóbora<br />
sonicada (45 kHz, 2 min.)<br />
mostram reduções da flora de contaminação<br />
mesófila na ordem de<br />
1 ciclo Log 10 (Figura. 3). No entanto,<br />
a combinação com calor (45<br />
kHz x 71ºC, 2 min) duplicou a eficácia<br />
de descontaminação. Contudo,<br />
em cenoura termo-sonicada<br />
(45 kHz x 50ºC, 1 min) (dados não<br />
apresentados) não foram observados<br />
quaisquer efeitos aditivos na<br />
redução da carga inicial, sendo<br />
que os níveis de descontaminação<br />
alcançados não excederam aqueles<br />
verificados nos tratamentos singulares<br />
em jogo. Refere-se ainda<br />
que em abóbora não foram observados<br />
efeitos adversos para a qualidade<br />
organoléptica, enquanto<br />
que na cenoura constatou-se a<br />
perda do aroma característico.<br />
(a) 8,0<br />
7,0<br />
6,0<br />
5,0<br />
4,0<br />
3,0<br />
2,0<br />
1,0<br />
0,0<br />
(a)<br />
Fresca<br />
HIPO HTST 0 7 14<br />
Microrganismos a 30˚C Bolores & Leveduras<br />
Armazenamento (dias) Fresca TTM<br />
Figura 2 - (a) Comparação da eficiência da descontaminação da cloragem (id: HIPO 200 ppm, 1 min.) com o tratamento<br />
térmico (id: HTST, 100˚C, 45 s) sobre a carga microbiana inicial em cenoura fresca (Daucus carota L., cv. Nantes).<br />
(b) Efeito da descontaminação do tratamento térmico moderado (id: TTM, 42 / 30 min.) relativamente ao tomate em<br />
fresco (Lycopersicum esculentum) sobre a flora mesófila total, ao longo de 14 dias de armazenamento a 7˚C<br />
Microrganismos a 30˚C (Log 10 UFC/g)<br />
Microrganismos a 30˚C (Log 10 UFC/g)<br />
8,0<br />
5,0<br />
4,0<br />
3,0<br />
2,0<br />
1,0<br />
0,0<br />
Fresca US TUS<br />
Figura 3 - Efeito da sonicação (id: US, 45 kHz, 2 min.) e da termossonicação<br />
(id: TUS, 45 kHz x 71˚C, 2 min.) em abóbora (Cucurbita máxima L.) sobre a<br />
flora mesófila total<br />
Os resultados práticos apresentados<br />
neste trabalho, suportados<br />
nos projectos de investigação<br />
Agro 822 e Cleantech, mostram<br />
que a adequação de tratamentos<br />
alternativos e respectivas<br />
condições de aplicação são<br />
muito dependentes do tipo de<br />
hortofrutícola em causa. Apesar<br />
dos níveis de descontaminação<br />
expressos nestes resultados não<br />
serem os ideais, cumpriram-se os<br />
requisitos de manutenção da<br />
qualidade em fresco. Sublinhase<br />
ainda que resultaram da aplicação<br />
de abordagens tecnológicas<br />
sem recurso ou recurso mínimo<br />
a adição de químicos, o que<br />
expressa em si uma mais valia no<br />
mercado actual. <br />
1 Departamento de Tecnologia das<br />
Indústrias Alimentares, INETI, Lisboa<br />
2 Centro de Estudos Agro-Alimentares,<br />
ISA, Lisboa<br />
3 Escola Superior de Biotecnologia, UCP,<br />
Porto<br />
REFERÊNCIAS:<br />
[1] Kim J.G., Yousef A.E., Dave S. (1999).<br />
“Application of ozone for enhancing<br />
the microbiological safety and quality<br />
of foods: a review”. Journal of Food<br />
Protection 62(9):1071–87.<br />
Agro 822 - Novas tecnologias de processamento<br />
de hortofrutícolas congelados<br />
(www.esb.ucp.pt/emercon).<br />
Cleantech – Novas tecnologias limpas<br />
visando a eliminação ou redução do<br />
efeito nocivo de compostos químicos<br />
utilizados na manutenção da qualidade<br />
intrínseca de produtos hortícolas<br />
frescos minimamente processados. Introdução<br />
às embalagens activas na manutenção<br />
da qualidade obtida através<br />
daquelas tecnologias no processo de fabricação.<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
68
69<br />
O Regulamento (CE) n.º<br />
852/2004 do Parlamento Europeu<br />
e do Conselho de 29<br />
de Abril de 2004, relativo à higiene<br />
dos géneros alimentícios, exige<br />
que todas as empresas que operam<br />
no sector alimentar implementem<br />
sistemas de segurança alimentar<br />
baseados nos princípios HACCP<br />
(Hazard Analysis and Critical Control<br />
Points - Análise dos Perigos e<br />
Pontos Críticos de Controlo).<br />
O Sistema HACCP é uma metodologia<br />
reconhecida internacionalmente<br />
e constitui uma importante<br />
ferramenta na protecção alimentar,<br />
baseada em métodos de<br />
prevenção, envolvendo a identificação<br />
de potenciais perigos ao<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
higiene e segurança<br />
Aplicação do sistema<br />
HACCP em adegas<br />
Por: Iris Salgueiro e Lúcia Correia*<br />
A implementação do sistema HACCP contribui<br />
para a manutenção de uma adega limpa<br />
e organizada e minimiza os perigos para<br />
a segurança e qualidade do vinho.<br />
<br />
longo de todo o processo produtivo<br />
e a identificação de Pontos<br />
Críticos de Controlo (PCCs), que<br />
têm de ser identificados e controlados<br />
de modo a garantir a segurança<br />
do produto.<br />
A implementação do sistema<br />
HACCP contribui fortemente para<br />
a manutenção de uma adega<br />
limpa e organizada, onde todos<br />
os perigos para a segurança e qualidade<br />
do vinho são minimizados,<br />
aumentando a credibilidade da<br />
organização e do sector vitivinícola,<br />
dentro e fora do País.<br />
Numa fase inicial de implementação,<br />
é necessário assegurar que<br />
todos os pré-requisitos são assegurados.<br />
Entende-se como pré-re-<br />
A implementação do HACCP contribui para a manutenção de uma adega limpa e organizada<br />
quisitos, as actividades e condições<br />
básicas que são necessárias<br />
para manter um ambiente higiénico,<br />
bem como as condições gerais<br />
técnico-funcionais. Devem ser<br />
implementados tendo por base<br />
a legislação vigente e Códigos de<br />
Boas Práticas do sector. Os pré-requisitos<br />
passam por:<br />
◗◗ Estruturas e equipamentos,<br />
◗◗ Higienização e manutenção de<br />
equipamentos e estruturas,<br />
◗◗ Instalações sanitárias e vestiários,<br />
◗◗ Controlo de pragas,<br />
◗◗ Controlo de água,<br />
◗◗ Sistema de rastreabilidade e<br />
gestão de incidentes,<br />
◗◗ Gestão de resíduos,<br />
◗◗ Formação dos colaboradores,<br />
◗◗ Selecção e avaliação de fornecedores.<br />
Os pré-requisitos estão para o<br />
sistema HACCP, assim como os pilares<br />
estão para a construção de<br />
uma casa, ou seja, se adequados<br />
à dimensão, características e idade<br />
da adega permitem a sustentação<br />
de um bom sistema HACCP.<br />
Ajudam à correcção de todas as situações<br />
que poderiam levar a problemas<br />
de contaminação do produto<br />
e na melhoria da organização<br />
interna, com a consequente<br />
melhoria de produtividade.<br />
Posteriormente, deve ser estudado<br />
em pormenor o processo produtivo,<br />
com identificação dos potenciais<br />
perigos que possam ocorrer<br />
(biológicos, químicos, físicos).<br />
Perigos da qualidade<br />
Devem ser também estudados<br />
os perigos da qualidade. Exemplo<br />
de um perigo da qualidade, há<br />
muito contemplado em grande<br />
parte das adegas, é a aplicação de<br />
sulfuroso. Muito antes da quantidade<br />
aplicada atingir valores que<br />
põem em causa a saúde do consumidor,<br />
já foram atingidos níveis<br />
que depreciam consideravelmente<br />
a qualidade do vinho. Com o<br />
HACCP este perigo é controlado<br />
ao nível de práticas e procedimentos<br />
internos, muito antes de atingir<br />
os limites legais.<br />
Existem ainda outros perigos,<br />
como por exemplo, o controlo da<br />
temperatura de fermentação.<br />
Temperaturas desadequadas não<br />
resultam em problemas de segurança<br />
alimentar, mas podem afectar<br />
a qualidade do produto final.<br />
Quanto aos perigos biológicos,<br />
embora devam ser estudadas as<br />
possíveis contaminações ou crescimentos<br />
indesejados, o vinho, dado<br />
o seu teor alcoólico, é um produto<br />
com elevada estabilidade microbiológica,<br />
sendo um perigo de<br />
ocorrência pouco provável.
higiene e segurança<br />
Os resíduos de pesticidas na uva são um perigo químico a controlar pelo HACCP<br />
Ao nível de perigos químicos, é<br />
necessário controlar a uva à recepção.<br />
Nesta fase, as principais ameaças<br />
são os resíduos de pesticidas<br />
e a utilização de produtos não homologados.<br />
Perigos físicos<br />
Numa adega, os perigos mais<br />
preocupantes ao nível do sistema<br />
HACCP e que requerem um maior<br />
cuidado serão os perigos físicos.<br />
Durante as fases de enchimento e<br />
rolhagem, a frequente quebra de<br />
garrafas pode resultar em contaminações<br />
físicas, muito graves para<br />
o consumidor final. Estes perigos<br />
são, na maior parte das vezes,<br />
classificados como Pontos Críticos<br />
de Controlo.<br />
Todos os perigos identificados<br />
deverão ser sujeitos a uma matriz,<br />
onde se avalia a severidade de determinado<br />
perigo com a probabilidade<br />
de ocorrência do mesmo.<br />
Através desta análise poderemos<br />
focalizar os recursos da empresa<br />
(humanos, financeiros, técnicos)<br />
de forma a optimizar os controlos<br />
a realizar.<br />
Efectuado todo o estudo, é tempo<br />
de dar início à implementação<br />
prática, sendo que o grande desafio<br />
que se coloca é a consciencialização<br />
de que todos os colaboradores<br />
têm um papel vital para o<br />
bom funcionamento do sistema.<br />
Resta, por último, assegurar<br />
que o HACCP é um sistema vivo,<br />
e que existem verificações periódicas,<br />
para garantir a sua constante<br />
adaptação à realidade da empresa<br />
e proporcionar o levantamento<br />
de necessidades ao nível<br />
de mão-de-obra, formação, equipamentos,<br />
manutenções, etc.<br />
A vivacidade do sistema pode<br />
trazer benefícios para a melhoria<br />
de processos e produtos, melho-<br />
Temperaturas desadequadas de fermentação podem afectar a qualidade do produto final<br />
ria da relação cliente/fornecedor,<br />
redução de custos, satisfação do<br />
consumidor e principalmente a<br />
garantia da segurança alimentar,<br />
através do fornecimento de vinhos<br />
seguros.<br />
A aplicação de um sistema<br />
HACCP eficaz é também o primeiro<br />
passo rumo à integração de outros<br />
Sistemas de Gestão da Qualidade<br />
e Segurança Alimentar, que<br />
deverá ser vista como uma oportunidade<br />
de melhoria contínua e<br />
de diferenciação num mercado cada<br />
vez mais competitivo. <br />
*(isalgueiro@consulai.com<br />
e lcorreia@consulai.com)<br />
Departamento Técnico, CONSULAI<br />
(www.consulai.com)<br />
70
71<br />
A Bellis perennis é vulgarmente<br />
chamada por margarida<br />
e também conhecida<br />
por margarita, margarida-vulgar,<br />
margarida-menor, margarida-comum,<br />
margarida-inglesa, bonina,<br />
bela-margarida, sempre-viva, margaridinha,<br />
mãe-de-família, margarida-rasteira,<br />
rapazinho ou rapazinhos.<br />
É uma planta da família<br />
das Asteraceae, que no estado<br />
selvagem atinge uma altura que<br />
varia entre os dois e os cinco centímetros,<br />
e vive junto aos caminhos,<br />
sobretudo no continente europeu<br />
e americano.<br />
Em floricultura existem muitas<br />
variedades híbridas, de cor branca,<br />
vermelha, roxa, rosa e amarela.<br />
Os países que mais produzem<br />
são: Holanda, Rússia, Líbano, Egip-<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
flores e ornamentais<br />
margarida<br />
Margarida – técnicas para<br />
produção de sucesso<br />
Por: Associação de Floricultores de Portugal (AFP)*<br />
A margarida requer sombreamento com telas<br />
opacas pretas, iluminação artificial e um de sistema<br />
de rega eficaz. O cultivo intensivo permite fazer<br />
até quatro colheitas ao ano.<br />
<br />
to e Croácia. Em Portugal, a produção<br />
de margarida não é muito<br />
considerável, mas está em crescimento,<br />
embora não existam dados<br />
fiáveis e actualizados sobre<br />
a área produzida.<br />
Iluminação<br />
e sombreamento<br />
É uma planta de dias curtos, isto<br />
é, para florir terá de existir um<br />
condicionamento de luz, o que em<br />
princípio será com um período mínimo<br />
“nocturno” de 13 horas. Para<br />
um correcto cultivo de margarida,<br />
as estufas devem ter um sistema<br />
de sombreamento, normalmente<br />
feito com telas opacas pretas,<br />
manuais ou automáticas; um<br />
sistema de iluminação artificial,<br />
além de sistema de rega eficaz.<br />
Depois da 8ª/9ª semana a planta está a planta muito sensível a fungos<br />
A margarida precisa de um período “nocturno” de 13 horas<br />
A forma de cultivo mais utilizada<br />
é com o tratamento de Dias<br />
Longos (DL) e Dias Curtos (DC).<br />
No tratamento de DL precisamos<br />
de luz artificial para alongar o<br />
período de luz, pois a planta não<br />
pode estar mais de cinco horas<br />
no escuro. Se a noite for superior<br />
a 11 horas, a luz é ligada quatro<br />
horas, desde o pôr-do-sol, e quatro<br />
horas, antes do nascer do sol.<br />
Em Portugal, nas semanas 18 a 31<br />
(Maio a Agosto), normalmente<br />
não é necessário ligar a luz artificial.<br />
No tratamento de DC são<br />
necessárias telas de sombreamento<br />
opacas, de modo a não entrar<br />
luz natural, quando o dia é superior<br />
a 11 horas. Neste tratamento<br />
são necessárias 13 horas de escuro,<br />
sendo também condicionado<br />
pela variedade da planta e pela<br />
temperatura que terá de rondar<br />
os 16ºC.<br />
Plantação<br />
Na plantação é fundamental a<br />
planta estar em boas condições,<br />
livre de pragas e doenças, inclusive<br />
vírus. O solo deverá ser analisado<br />
quanto a N, P,K, Mg, Ca, Fe,<br />
Mn, Zn, B, Cu, Mo e nível de PH,<br />
podendo ser necessário reposição,<br />
caso não estejam conformes à tabela<br />
de plantação da margarida.<br />
O cultivo intensivo de margarida<br />
poderá fazer até quatro colheitas<br />
ao ano, sendo necessário esterilizar<br />
o solo uma vez por ano.<br />
Rega<br />
A rega pode ser feita por cima<br />
(micro-aspersão) ou por baixo<br />
por gotejamento (gota–a-gota),<br />
tanto uma como outra são<br />
recomendadas. Nas primeiras<br />
três semanas utilize o sistema de<br />
rega por micro-aspersão, depois<br />
do primeiro período aconselha
flores e ornamentais<br />
margarida<br />
Não dê fertilizantes na última semana de crescimento para não contaminar a<br />
próxima plantação<br />
se a utilização dos dois alternadamente.<br />
Dependendo da altura<br />
do ano e do solo, é necessário<br />
regar entre 20 e 60 litros<br />
m 2 /semana. O solo deverá ser<br />
frequentemente vigiado entre<br />
as plantas. Poderá ser utilizada<br />
uma broca de terra para inspecção<br />
mais cuidada.<br />
Vigiar o crescimento<br />
e tratar<br />
Na segunda semana após a<br />
plantação deverá analisar se as<br />
plantas estão a crescer normalmente,<br />
pois é uma fase do ciclo<br />
muito propícia à infecção por<br />
Pythium. Se esta realmente acontecer<br />
deverá realizar o tratamen-<br />
to imediato com um fungicida na<br />
irrigação. A rega deverá ser de 20<br />
a 45 litros/m 2 semana, tendo em<br />
conta sempre a altura do ano.<br />
Na terceira semana, se tudo estiver<br />
dentro dos parâmetros normais,<br />
poderá começar o tratamento<br />
de Dias Curtos (dependendo<br />
sempre da altura do ano). Na quarta<br />
semana poderá iniciar o tratamento<br />
com hormona ananicante<br />
(regulador vegetal), dependendo<br />
da variedade. As quantidades do<br />
produto podem variar entre 50gr<br />
até 350gr por 100 litros de água.<br />
Na quinta semana deverá dar<br />
inicio ao segundo tratamento com<br />
hormona ananicante, que será<br />
pulverizado de manhã e à tarde e<br />
Doenças e pragas mais comuns na produção de margaridas<br />
Fungos<br />
Oildium chrysanthemi – míldio<br />
Puccinia Horiana – ferrugem branca<br />
Pythium ultimum – apodrecimento da raiz<br />
Fusarium oxysporium sp – doença vascular<br />
Verticillium sp.<br />
Insectos e Parasitas<br />
Lagarta Mineira<br />
Aranha Vermelha<br />
Mosca Branca<br />
Thrips<br />
Afídeos<br />
Cinco pés em cada saco é o embalamento ideal<br />
o restante dissolvido em água. Nas<br />
semanas seguintes terá que estar<br />
atento a pragas e doenças que poderão<br />
surgir, podendo ser necessário<br />
um último tratamento com<br />
esta hormona.<br />
Por volta da sétima semana<br />
observe o crescimento das plantas,<br />
utilize a broca de terra para verificar<br />
a humidade do solo. Para um<br />
bom crescimento da planta deverá<br />
utilizar oito a 10 litros de água<br />
m 2 /dia, neste período do ciclo.<br />
Depois da 8ª/9ª semana a planta<br />
já atingiu a altura final, toda<br />
a energia vai para o crescimento<br />
da flor, estando a planta<br />
muito sensível a fungos. A rega<br />
deverá ser por gotejamento<br />
e se este não existir regue a<br />
planta muito cedo. Na 10ª e 11ª<br />
semanas, a planta deverá estar<br />
pronta para o corte. Não dê fertilizantes<br />
na última semana de<br />
crescimento para não contaminar<br />
a próxima plantação.<br />
Embalamento<br />
Estando a margarida pronta para<br />
o corte, deverá cortar e embalar<br />
cinco pés em cada saco, de modo<br />
que estes fiquem organizados<br />
pelo mesmo tamanho e cor. O peso<br />
de cada um rondará 70 gramas.<br />
O mais importante depois do corte<br />
é armazená-las em local fresco<br />
o mais rápido possível. O ideal seria<br />
em caixas. <br />
* Associação de Floricultores de<br />
Portugal<br />
Sede: Rua Fortunato Meneres, nº47<br />
4520 – 163 Santa Maria da Feira<br />
Morada para correspondência:<br />
Casal Novo, 144 Campo 4830 –095<br />
Póvoa de Lanhoso<br />
email:<br />
floricultores.portugal@gmail.com<br />
Tlf: 934056577/ 933812408<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
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A história começou em 1980<br />
quando Robert E. "Buddy"<br />
Lee, melhorador de plantas<br />
norte-americano, observou no<br />
seu viveiro, em Louisiana, um tabuleiro<br />
de estacas de azáleas florescendo<br />
no Verão. Inspirado neste<br />
acontecimento, começou por<br />
cruzar de forma tradicional, azáleas<br />
de floração primaveril e uma<br />
azálea tailandesa muito rara de<br />
floração estival, a Rhododendron<br />
oldhamii. Sucederam-se 15 anos<br />
<strong>FLF</strong> • Nº 99 Março/Abril 2008<br />
flores e ornamentais<br />
azáleas<br />
Azáleas floridas<br />
todo o ano<br />
Estão a chegam ao mercado as primeiras azáleas<br />
com três épocas de floração por ano.<br />
Uma inovação da Encore Azalea ® , representada<br />
em Portugal pela Jardimar.<br />
de hibridações, selecção e melhoramento,<br />
até ao aparecimento da<br />
marca Encore Azalea ® , em 1997.<br />
Em Portugal, a produção destas<br />
revolucionárias azáleas começou<br />
há três anos, pela mão da Jardimar,<br />
empresa localizada em Carreço,<br />
Viana do Castelo. Hoje produz<br />
plantas enraizadas em alvéolos<br />
e plantas em vaso, em 800m 2<br />
de área ao ar livre e 200m 2 de<br />
área coberta.<br />
Ao contrário das azáleas tradi-<br />
Variedade Carnival, com floração mais exuberante no Verão<br />
As Encore Azalea ® florescem na Primavera, Verão e Outono<br />
cionais, que florescem de Março<br />
a Junho, as Encore Azalea ® têm<br />
três épocas de floração - Primavera,<br />
Verão e Outono. Uma característica<br />
que lhes confere valor acrescentado,<br />
permitindo responder às<br />
necessidades de um jardim florido<br />
todo o ano. Além disso, não requerem<br />
grande trabalho de poda<br />
(aparar alguns ramos que alterem<br />
a sua forma normal é suficiente e<br />
aconselhável após as florações) e,<br />
quando colocadas em exposições<br />
mais sombrias, não precisam<br />
de grandes quantidades de água.<br />
Do enraizamento<br />
ao ar livre<br />
O enraizamento em estufa é a<br />
primeira fase do processo. Uma<br />
estaca enraizada, com sete centímetros,<br />
demora seis a oito semanas<br />
a ficar pronta. A época mais<br />
propícia ao enraizamento é a Primavera.<br />
A estacaria é feita em alvéolos,<br />
preenchidos por uma mis-<br />
tura de 1/3 de turfa ruiva e 2/3 de<br />
turfa normal. Para melhorar o enraizamento<br />
é utilizado IBA (ácido<br />
indol-butírico). A temperatura de<br />
enraizamento (ao nível do substrato)<br />
ronda os 21ºC e a humidade<br />
relativa os 94 por cento, nas<br />
primeiras semanas, sendo reduzida<br />
até 70-75 por cento, nas últimas<br />
semanas. Devido à elevada<br />
humidade, é necessária a aplicação<br />
de fungicidas no viveiro.<br />
Quando as raízes das azáleas<br />
preenchem o seu alvéolo é a altura<br />
ideal para as transplantar, permanecendo<br />
em estufa até ao final<br />
do Verão. As azáleas preferem<br />
temperaturas nocturnas de 18-<br />
20ºC e diurnas superiores a 20ºC<br />
e dias longos. Durante este período,<br />
passam por uma fase em que<br />
são fertirrigadas, (as adubações<br />
devem ter níveis de electo-condutividade<br />
inferiores a 0,5<br />
mmhos/cm, sob pena de danificar<br />
as raízes). “Deve ser evitada a adu
DAR O MELHOR<br />
Raízes Raíz Raízes ízes perfeitamente<br />
perfeitamente<br />
saudáveis<br />
Altas exigências de qualidade, na selecção<br />
e mistura de turfa, aditivos e adubos<br />
Óptima adaptação a cada tipo de cultivo –<br />
as melhores condições de crescimento e<br />
um desenvolvimento saudável das raízes<br />
Substratos profissionais por parte<br />
de profissionais em substratos<br />
FLORAGARD Vertriebs GmbH für Gartenbau<br />
P.O. Box 9006 · D-26138 Oldenburg · Germany<br />
Tel +49 (0)441/2092-167 · Fax +49 (0)441/2092-103<br />
Sr. Nuno Maia · P-4430-748 Olliveira do Douro<br />
Tfno. +351 961 727 485<br />
www.floragard.eu · e-mail: info@floragard.de<br />
flores<br />
azáleas<br />
Uma estaca enraizada, com sete centímetros, demora seis a oito semanas a<br />
ficar pronta<br />
bação durante o Inverno, pois nesta<br />
altura a planta não se encontrará<br />
em crescimento vegetativo,<br />
pelo que será um desperdício de<br />
adubo, com efeitos nefastos para<br />
o meio ambiente”, explicou Fernando<br />
Silva, técnico responsável<br />
pela cultura. Ao nível da folha, o<br />
plano de nutrição aconselhado é:<br />
Nitrogénio 2-3%<br />
Fósforo 0,2-0,5%<br />
Potássio 1,0-1,6%<br />
Cálcio 0,5-1,4%<br />
Magnésio 0,2-0,5%<br />
Ferros 50-300 ppm<br />
Manganês 60-150 ppm<br />
Zinco 26-60 ppm<br />
Cobre 5-15 ppm<br />
Boro 30-100 ppm<br />
Depois de bem desenvolvidas,<br />
as azáleas são transferidas para o<br />
exterior, onde permanecem até à<br />
comercialização. Nesta fase, é usado<br />
um sistema de rega por aspersão<br />
e os solos devem ser bem drenados<br />
e ácidos (ph 4.5 – 5.5). “Preferem<br />
exposições de sombra filtrada,<br />
contudo suportam exposições<br />
mais soalheiras que as demais azáleas.<br />
Mas, neste caso, é necessária<br />
maior preocupação relativamente<br />
à rega”, acrescentou Fernando<br />
Silva. Para iniciarem a floração,<br />
as azáleas necessitam apenas de<br />
quatro a seis horas de luz e, no final<br />
do ciclo, atingem em média<br />
1,20m de altura e 1m de largura,<br />
dependendo da variedade. A Jardimar<br />
produz sete das 23 cultivares<br />
obtidas pela Encore Azalea ® .<br />
As azáleas da Jardimar chegam<br />
este ano, pela primeira vez, ao<br />
mercado. A médio prazo, a empresa<br />
deseja trabalhar na base<br />
das encomendas programadas,<br />
tanto de plantas enraizadas em<br />
alvéolos, como de plantas em vaso.<br />
“As plantas devem ser comercializadas<br />
quando os botões ainda<br />
se encontram a abrir, para que<br />
a floração seja observada durante<br />
mais tempo por quem as compra”,<br />
aconselha o técnico. A pensar<br />
no aumento da produção, a<br />
Jardimar tem mais meio hectare<br />
de ar livre pronto a receber plantas<br />
em vaso. <br />
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