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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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<strong>de</strong> Conceição da Barra -“Baile <strong>de</strong> Congo <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito”- é formado somente por negros<br />

e dirigido pelo Mestre Tertolino. Um <strong>de</strong> seus antigos participantes, Pedro Bongado, o levou<br />

<strong>de</strong> Conceição da Barra para o “sertão” <strong>de</strong> Itaúnas: o Ticumbi do Bongado. Há cerca <strong>de</strong> 20<br />

anos, Seu Antero, morador antigo da Vila <strong>de</strong> Itaúnas e também membro do Ticumbi do<br />

Bongado, resolve trazer a brinca<strong>de</strong>ira para a Vila, <strong>de</strong>vido às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensaiar na roça:<br />

nascia o Ticumbi <strong>de</strong> Itaúnas. Para isto, constrói uma igrejinha para ser a moradia do santo,<br />

ganho <strong>de</strong> presente vindo <strong>de</strong> turistas <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />

Na “Itaúnas Velha”, o santo também tinha morada fixa. Porém, em data não<br />

lembrada, histórias dizem que <strong>São</strong> Benedito –entalhado em ma<strong>de</strong>ira com cerca <strong>de</strong> 300<br />

anos- foi caçado pela Igreja e jogado no lixo ou levado para um <strong>de</strong>pósito pelo padre. A<br />

troca do santo negro por um santo branco –<strong>São</strong> Sebastião, o atual padroeiro da Vila- revela<br />

o preconceito racial encampado também como forma <strong>de</strong> dominação pela Igreja Católica,<br />

verificado em muitos episódios da história brasileira. Encontrado por um seu <strong>de</strong>voto, <strong>São</strong><br />

Benedito foi morar em Santana e é buscado todos os anos pelo Ticumbi do Bongado para<br />

brincar na Festa da Vila nos dias 19 e 20 <strong>de</strong> janeiro, em sua homenagem e em homenagem<br />

ao padroeiro <strong>São</strong> Sebastião.<br />

Em LYRA, junto <strong>de</strong> outras manifestações culturais afro-brasileiras, o Ticumbi<br />

também não consiste na adaptação passiva do africano escravizado à nova referência<br />

cultural que se impõe –cristianismo católico-, mas é fruto <strong>de</strong> um processo concomitante <strong>de</strong><br />

assimilação e resistência, atestando a “continuida<strong>de</strong> e reelaboração <strong>de</strong> um complexo<br />

cultural básico negro em confronto com a prática religiosa do colonizador” 59 . A<br />

reelaboração simbólica e cultural po<strong>de</strong> ser verificada no enredo do Ticumbi: a disputa entre<br />

o Rei Congo e o Rei Bamba, para ver quem irá fazer a festa <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito.<br />

“Reis <strong>de</strong> Bamba é reis valente, não tem pena da pobreza,<br />

Só pensa em violência, só por conta da riqueza.<br />

Reis <strong>de</strong> Congo está brigando pra <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>São</strong> Benedito,<br />

Tá pegando sua ban<strong>de</strong>ira pra levar lá pro Egito.<br />

Reis <strong>de</strong> Bamba está dizendo: ‘Eu quero ver quem é bonito’,<br />

Ele vai topar parada se pegar <strong>São</strong> Benedito.<br />

Reis Bamba e seu vassalo, eu quero ver sua jornada,<br />

59 LYRA, op.cit., p.17.<br />

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