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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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Se você diz que não tem medo, comigo tu vai topar parada”. 60<br />

O Rei Congo, africano, é o vencedor, e sua forma <strong>de</strong> subjugar o Rei Bamba é através<br />

do batismo. Aqui temos a marca mais forte do sincretismo religioso da “brinca<strong>de</strong>ira”: por<br />

um lado, o símbolo da vitória na guerra religiosa consiste num ritual cristão; por outro, a<br />

luta po<strong>de</strong> ser entendida como guerra entre duas nações africanas, e o batismo como uma<br />

“vergonha” a ser passada ao per<strong>de</strong>dor: Segundo LYRA,<br />

“O código da resistência, em sua ambivalência, transparece também no<br />

próprio ‘relato’ da dramatização. Dois reis, ambos negros, um batizado<br />

(presume-se), outro não, porfiam por fazer a festa do santo. Por certo o rei <strong>de</strong><br />

Congo, personificando aquele que na própria história da África foi chamado<br />

‘rei cristão’, retém os signos brancos católicos. Curiosamente, seu direito <strong>de</strong><br />

fazer a festa <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> ser ele ‘o rei mais velho’.<br />

Valorizado segundo a pertinência <strong>de</strong> uma cultura branca, o rei <strong>de</strong> Congo tem<br />

sua priorida<strong>de</strong> afirmada através <strong>de</strong> um traço cultural negro. Após vencer a<br />

‘guerra’, o rei <strong>de</strong> Congo se apressa em batizar o inimigo. Assim como os<br />

senhores se apressavam em batizar os escravos chegados da África. O rei <strong>de</strong><br />

Bamba submete-se ao batismo com seus guerreiros” 61 .<br />

Além dos Reis <strong>de</strong> Congo e <strong>de</strong> Bamba e seus Secretários, cada grupo conta com 12<br />

Congos, homens que entoam os pan<strong>de</strong>iros em acompanhamento ao violeiro e assim<br />

realizam a melodia do Baile <strong>de</strong> Congo. O texto do Baile é escrito pelo “Mestre da<br />

Brinca<strong>de</strong>ira” e iniciado pelas Marchas, seguidas do Chiquiniqui, Versos, Entrada <strong>de</strong><br />

Contra-Guia, Discante, Guerra, Empire, Corpo <strong>de</strong> Baile, Ticumbi e Roda Gran<strong>de</strong>, cada<br />

trecho correspon<strong>de</strong>ndo a ritmos, coreografias e mensagens diversas.<br />

Nas “Marchas” e primeiros “Versos”, os <strong>de</strong>votos iniciam o primeiro contato com o<br />

santo, pedindo e agra<strong>de</strong>cendo todas as bênçãos concedidas, e apresentam a “brinca<strong>de</strong>ira”:<br />

“Glorioso <strong>São</strong> Benedito, <strong>de</strong>voto tem paciência,<br />

Vou pedir a Deus do céu para acabar com a violência.<br />

Glorioso <strong>São</strong> Benedito, não muda aquilo que é seu,<br />

60 “Entrada <strong>de</strong> Contra-Guia” e “Versos”. Baile <strong>de</strong> Congo do Ticumbi do Bongado, janeiro/2001.<br />

61 LYRA, op.cit., p.93.<br />

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