Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...
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“Porto <strong>de</strong> <strong>São</strong> Benedito”, no Rio Itaúnas. Embarcado em canoas e botes, o grupo <strong>de</strong>sceu o<br />
rio entoando seu Baile <strong>de</strong> Congo até a Vila, on<strong>de</strong> foi recebido pelos moradores e turistas.<br />
Caboquinho afirma que esta festa esteve tão bonita que <strong>São</strong> Benedito até suou na porta da<br />
Igreja! A relação que se estabelece com o santo é direta e familiar -a própria imagem<br />
personifica o santo-, típica do “catolicismo rústico”, segundo QUEIROZ 67 :<br />
“A idéia que o sitiante forma a respeito dos santos é também do tipo familiar.<br />
O santo não é um ser longínquo, impessoal, invisível; sob a forma <strong>de</strong> imagem,<br />
habita o oratório ou capela. A imagem não é um símbolo, ela é o próprio<br />
santo; o santo pertence ao mundo natural pela representação que está no altar<br />
e ao mundo sobrenatural por sua essência”.<br />
O Ticumbi do Bongado faz seu Ensaio Geral na noite <strong>de</strong> 18 para 19 <strong>de</strong> janeiro –<br />
quando <strong>de</strong>sembarca na Vila- e sua apresentação em frente à Igreja <strong>de</strong> <strong>São</strong> Sebastião, o<br />
padroeiro, ocorre no dia 20 <strong>de</strong> janeiro, após a Missa realizada pelo padre. O Ensaio Geral<br />
do Ticumbi <strong>de</strong> Itaúnas acontece na noite <strong>de</strong> 17 para 18 <strong>de</strong> janeiro e sua apresentação no dia<br />
19 <strong>de</strong> janeiro, após o Culto a <strong>São</strong> Benedito na Capela construída por Seu Antero. O Culto a<br />
<strong>São</strong> Benedito é realizado pelas mulheres religiosas da comunida<strong>de</strong>, uma vez que a Capela<br />
não é reconhecida pela Igreja oficial. No entanto, embora “profanado”, este Culto na<br />
Capela traz um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> aproximação da comunida<strong>de</strong>, elucidando questões que<br />
estão diretamente enraizadas em seu cotidiano. No Culto realizado em 19 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />
1999, partiu-se da louvação ao santo negro a um momento <strong>de</strong> discussão sobre o preconceito<br />
racial, nesta comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> presença negra. Os versos cantados vinham neste<br />
caminho:<br />
“<strong>São</strong> Benedito que é tão simples como nós<br />
Sabe quem somos, vai ouvir a nossa voz.<br />
O santo negro que é nosso protetor<br />
Sempre amou a sua gente, sua raça <strong>de</strong>sprezada.<br />
Ele não tinha nem dinheiro, nem leitura,<br />
Mas sabia dar lição a muita gente preparada.<br />
Quem é o santo que nós homenageamos ?<br />
É o negro po<strong>de</strong>roso, sua força é o Divino.<br />
Todos os negros e os pobres <strong>de</strong>sta terra<br />
67 QUEIROZ, Maria Isaura, op.cit., p. 60.<br />
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