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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras - World ...

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<strong>São</strong> irmãos <strong>de</strong> Benedito, protetor dos pequeninos”.<br />

Assim, no culto cristão o Ticumbi afirma sua resistência cultural que remonta à época<br />

da escravidão africana. A festa é o momento do encontro que reafirma laços <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

vivifica as lembranças <strong>de</strong> tempos idos:<br />

“Um estudo sobre a religiosida<strong>de</strong> popular e sobre a sua significação atual<br />

po<strong>de</strong>, indubitavelmente, fundamentar-se nas ocasiões <strong>de</strong> festa, que representam<br />

um esboço <strong>de</strong> síntese <strong>de</strong> encontros e <strong>de</strong> confrontos <strong>de</strong> idéias, <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong><br />

sentimentos. (...) E é precisamente a festa que coloca em evidência a<br />

reapropriação, ou, pelo menos, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> recuperação, <strong>de</strong> uma solidarieda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> uma vivência intensa, <strong>de</strong> um exercício da fantasia (...). Antes <strong>de</strong> tudo, não<br />

seria possível falar <strong>de</strong> uma fratura absoluta existente entre a festa religiosapopular<br />

e todo o resto da experiência cotidiana. O continuum não se<br />

interrompe. Tudo é impregnado simultaneamente <strong>de</strong> pragmatismo e <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>alismo, que, ao conjugarem paralelamente a tradição do passado e o<br />

impulso na direção <strong>de</strong> um novo mundo, recuperam, ao mesmo tempo, i<strong>de</strong>ologia<br />

e utopia.” 68<br />

A tradição vem per<strong>de</strong>ndo alguns <strong>de</strong> seus traços e encontrando dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

para a manutenção das vestimentas e instrumentos, que antes vinha <strong>de</strong> doações dos<br />

fazen<strong>de</strong>iros e comerciantes da região. O fluxo turístico trouxe novos valores que vêm<br />

absorvendo o sentido da “brinca<strong>de</strong>ira” para os mais jovens. No entanto, por outro lado, um<br />

movimento por sua revalorização como manifestação folclórica, inclusive pelos turistas,<br />

vem <strong>de</strong>spertando o interesse dos mais jovens pela continuida<strong>de</strong> do Ticumbi. Este interesse<br />

incentivou a formação do Ticumbi Mirim <strong>de</strong> Itaúnas, cuja primeira apresentação realizouse<br />

na ocasião do Primeiro Seminário <strong>de</strong> Folclore <strong>de</strong> Conceição da Barra (agosto <strong>de</strong> 2001).<br />

<strong>São</strong> Benedito também é valorizado pelo Jongo, outra tradição da época da<br />

escravidão,<br />

“(...) uma espécie <strong>de</strong> samba <strong>de</strong> roda do qual participam homens, mulheres e<br />

crianças e tem como principal característica a movimentação no sentido anti-<br />

68 CIPRIANI, Roberto. “Biografia e símbolos da cultura popular: o Cristo vermelho”.In: VON SIMSON,<br />

op. cit., p.124.<br />

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