ROMANTISMO – SÉCULO XIX
ROMANTISMO – SÉCULO XIX
ROMANTISMO – SÉCULO XIX
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<strong>ROMANTISMO</strong> <strong>–</strong> <strong>SÉCULO</strong> <strong>XIX</strong>
Momento Histórico do Brasil
Início 1836 (Suspiros Poéticos e Saudades)<br />
Transferência da Família Real para o Rio de<br />
Janeiro (1808)<br />
A elevação do Brasil à categoria de reino<br />
(1816)<br />
A independência em 1822<br />
Reinado de D. Pedro I (1822-1831)<br />
Regência de D. Pedro II (menoridade) (1831-<br />
1840)<br />
Segundo Reinado por D. João VI até 1889<br />
Fundação do Partido Republicano (1870)<br />
Campanha abolicionista
Niterói, revista brasiliense.<br />
Suspiros Poéticos e Saudades, de<br />
Domingos José Gonçalves de<br />
Magalhães<br />
As três gerações românticas<br />
Término 1881 (início do Realismo-<br />
Naturalismo-Parnasianismo)
Primeira geração romântica<br />
Nacionalismo<br />
Indianismo<br />
Cor local<br />
Décadas de 30 e 40<br />
Gonçalves de<br />
Magalhães<br />
Porto Alegre<br />
Gonçalves Dias
- Gonçalves de Magalhães <strong>–</strong> Suspiros Poéticos e<br />
Saudades e Confederação dos Tamoios.<br />
Temática: nacionalismo, religiosidade,<br />
sentimentalismo, indianismo.<br />
- Gonçalves Dias <strong>–</strong> Cantos e os Timbiras.<br />
Temática: indianismo, saudade, amor, natureza.
CANÇÃO DO EXÍLIO<br />
Gonçalves Dias<br />
Minha terra tem palmeias,<br />
Onde canta o Sabiá;<br />
As aves, que aqui gorjeiam,<br />
Não gorjeiam como lá.<br />
Nosso céu tem mais estrelas,<br />
Nossas várzeas têm mais flores,<br />
Nossos bosques têm mais vida,<br />
Nossas vidas mais amores.
NACIONALISMO<br />
CONSTRUÇÃO DO HERÓI<br />
NACIONAL<br />
BUSCA DA IDENTIDADE LITERÁRIA<br />
BRASILEIRA<br />
VALORIZAÇÃO DA MORAL E<br />
CASAMENTO<br />
PERSONAGENS SIMPLES
I JUCA PIRAMA<br />
Tu choraste em presença da morte?<br />
Na presença de estranhos chorastes?<br />
Não descende o cobarde do forte;<br />
Pois choraste, meu filho não és!<br />
Possas tu, descendente maldito<br />
De uma tribo de nobres guerreiros<br />
Implorando cruéis forasteiros<br />
Seres presa de vis Aimorés<br />
IRACEMA<br />
“Além, muito além daquela serra, que ainda<br />
azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a<br />
virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos<br />
mais negos que a asa da graúna, e mais longos<br />
que seu talhes de palmeira”<br />
REVER COMPARAÇÃO DO ÍNDIO
CANÇÃO DO TAMOIO<br />
I<br />
Não chores, meu filho;<br />
Não chores, que a vida<br />
É luta renhida:<br />
Viver é lutar.<br />
A vida é combate,<br />
Que os fracos abate,<br />
Que os fortes, os bravos<br />
Só pode exaltar.<br />
II<br />
Um dia vivemos!<br />
O homem que é forte<br />
Não teme da morte;<br />
Só teme fugir;<br />
No arco que entesa<br />
Tem certa uma presa,<br />
Quer seja tapuia,<br />
Condor ou tapir.
III<br />
O forte, o cobarde<br />
Seus feitos inveja<br />
De o ver na peleja<br />
Garboso e feroz;<br />
E os tímidos velhos<br />
Nos graves conselhos,<br />
Curvadas as frontes,<br />
Escutam-lhe a voz!<br />
IV<br />
Domina, se vive;<br />
Se morre, descansa<br />
Dos seus na lembrança,<br />
Na voz do porvir.<br />
Não cures da vida!<br />
Sê bravo, sê forte!<br />
Não fujas da morte,<br />
Que a morte há de vir!
V<br />
E pois que és meu filho,<br />
Meus brios reveste;<br />
Tamoio nasceste,<br />
Valente serás.<br />
Sê duro guerreiro,<br />
Robusto, fragueiro,<br />
Brasão dos tamoios<br />
Na guerra e na paz.<br />
VI<br />
Teu grito de guerra<br />
Retumbe aos ouvidos<br />
D'imigos transidos<br />
Por vil comoção;<br />
E tremam d'ouvi-lo<br />
Pior que o sibilo<br />
Das setas ligeiras,<br />
Pior que o trovão.
Segunda geração romântica<br />
Ultra-Romantismo:<br />
Mal do século<br />
Décadas de 40 e 50<br />
Excessos do subjetivismo e<br />
do emocionalismo<br />
românticos<br />
Escapismo; fantasia; culto<br />
da morte<br />
pessimismo<br />
Junqueira Freire<br />
Casimiro de Abreu<br />
Álvares de<br />
Azevedo
- Álvares de Azevedo <strong>–</strong> Lira dos vinte anos.<br />
Temática: byronismo, mal do século, exarcebação dos<br />
sentimentos, dramaticidade, amor, morte.<br />
Noite na Taverna <strong>–</strong> contos ultra-românticos, macabros,<br />
cheios de perversões.<br />
-Casimiro de Abreu <strong>–</strong> Primaveras.<br />
Temática: saudade, amor ingênuo.<br />
-Junqueira Freire <strong>–</strong> Inspiração do claustro e Contradições<br />
poéticas.<br />
Temática: desilusão com a vida no mosteiro, obsessão pela<br />
morte, solidão, frustração amorosa.
REVISÃO<br />
CULTO À MORTE<br />
ESCAPISMO<br />
MAL DO <strong>SÉCULO</strong><br />
SENTIMENTALISMO EXAGERADO<br />
PESSIMISMO<br />
FUGA PARA INFÂNCIA
Soneto<br />
Álvares de Azevedo<br />
Pálida, à luz da Lâmpada sombria,<br />
Sobre o leito de flores reclinada,<br />
Como a lua por noite embalsamada,<br />
Entre as nuvens do amor ela dormia!<br />
Era virgem do mar! Na escuma fria<br />
Pela maré das águas embalada!<br />
Era um anjo entre nuvens d’ alvorada<br />
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...<br />
Negros olhos as pálpebras abrindo...<br />
Formas nuas no leito resvalando...<br />
Não te rias de mim, meu anjo lindo!<br />
Por ti <strong>–</strong> as noites eu velei chorando,<br />
Por ti <strong>–</strong> nos sonhos morrerei sorrindo!
SE EU MORRESSE AMANHÃ<br />
Se eu morresse amanhã, viria ao menos<br />
Fechar meus olhos minha triste irmã,<br />
Minha mãe de saudades morreria<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Quanta glória pressinto em meu futuro!<br />
Que aurora de porvir e que manhã!<br />
Eu perdera chorando essas coroas<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Que sol! que céu azul! que doce n’alva<br />
Acorda ti natureza mais louçã!<br />
Não me batera tanto amor no peito<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Mas essa dor da vida que devora<br />
A ânsia de glória, o dolorido afã...<br />
A dor no peito emudecera ao menos<br />
Se eu morresse amanhã!
MINHA DESGRAÇA<br />
Minha desgraça não é ser poeta,<br />
Nem na terra de amor não ter um eco,<br />
E meu anjo de Deus, o meu planeta<br />
Tratar-me como trata-se um boneco...<br />
Não é andar de cotovelos rotos,<br />
Ter duro como pedra o travesseiro...<br />
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido<br />
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...<br />
Minha desgraça, ó cândida donzela,<br />
O que faz que o meu peito blasfema,<br />
É ter para escrever todo um poema<br />
E não ter um vintém para uma vela.
ANJOS DO CÉU<br />
As ondas são anjos que dormem no mar,<br />
Que tremem, palpitam, banhados de luz...<br />
São anjos que dormem, a rir e sonhar<br />
E em leito d'escuma revolvem-se nus!<br />
E quando de noite vem pálida a lua<br />
Seus raios incertos tremer, pratear,<br />
E a trança luzente da nuvem flutua,<br />
As ondas são anjos que dormem no mar!<br />
Que dormem, que sonham- e o vento dos céus<br />
Vem tépido à noite nos seios beijar!<br />
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,<br />
Que ao fresco se embalam do seio do mar!<br />
E quando nas águas os ventos suspiram,<br />
São puros fervores de ventos e mar:<br />
São beijos que queimam... e as noites deliram,<br />
E os pobres anjinhos estão a chorar!<br />
Ai! quando tu sentes dos mares na flor<br />
Os ventos e vagas gemer, palpitar,<br />
Por que não consentes, num beijo de amor<br />
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?
ADEUS, MEUS SONHOS!<br />
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!<br />
Não levo da existência uma saudade!<br />
E tanta vida que meu peito enchia<br />
Morreu na minha triste mocidade!<br />
Misérrimo! Votei meus pobres dias<br />
À sina doida de um amor sem fruto,<br />
E minh'alma na treva agora dorme<br />
Como um olhar que a morte envolve em luto.<br />
Que me resta, meu Deus?<br />
Morra comigo<br />
A estrela de meus cândidos amores,<br />
Já não vejo no meu peito morto<br />
Um punhado sequer de murchas flores!
POR QUE MENTIAS?<br />
Por que mentias leviana e bela?<br />
Se minha face pálida sentias<br />
Queimada pela febre, e minha vida<br />
Tu vias desmaiar, por que mentias?<br />
Acordei da ilusão, a sós morrendo<br />
Sinto na mocidade as agonias.<br />
Por tua causa desespero e morro...<br />
Leviana sem dó, por que mentias?<br />
Sabe Deus se te amei! Sabem as noites<br />
Essa dor que alentei, que tu nutrias!<br />
Sabe esse pobre coração que treme<br />
Que a esperança perdeu por que mentias!<br />
Vê minha palidez- a febre lenta<br />
Esse fogo das pálpebras sombrias...<br />
Pousa a mão no meu peito!<br />
Eu morro! Eu morro!<br />
Leviana sem dó, por que mentias?
AMOR<br />
Amemos! Quero de amor<br />
Viver no teu coração!<br />
Sofrer e amar essa dor<br />
Que desmaia de paixão!<br />
Na tu’alma, em teus encantos<br />
E na tua palidez<br />
E nos teus ardentes prantos<br />
Suspirar de languidez!<br />
Quero em teus lábio beber<br />
Os teus amores do céu,<br />
Quero em teu seio morrer<br />
No enlevo do seio teu!<br />
Quero viver d’esperança,<br />
Quero tremer e sentir!<br />
Na tua cheirosa trança<br />
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,<br />
Minha’alma, meu coração!<br />
Que noite, que noite bela!<br />
Como é doce a viração!<br />
E entre os suspiros do vento<br />
Da noite ao mole frescor,<br />
Quero viver um momento,<br />
Morrer contigo de amor!<br />
O FANTASMA<br />
Sou o sonho da tua esperança,<br />
Tua febre que nunca descansa,<br />
O delírio que te há de matar!.
É ELA! É ELA! É ELA! É ELA! (Álvares de Azevedo<br />
É ela! é ela! — murmurei tremendo,<br />
e o eco ao longe murmurou — é ela!<br />
Eu a vi... minha fada aérea e pura —<br />
a minha lavadeira na janela.<br />
Dessas águas furtadas onde eu moro<br />
eu a vejo estendendo no telhado<br />
os vestidos de chita, as saias brancas;<br />
eu a vejo e suspiro enamorado!<br />
Esta noite eu ousei mais atrevido,<br />
nas telhas que estalavam nos meus passos,<br />
ir espiar seu venturoso sono,<br />
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!<br />
Como dormia! que profundo sono!...<br />
Tinha na mão o ferro do engomado...<br />
Como roncava maviosa e pura!...<br />
Quase caí na rua desmaiado!<br />
Afastei a janela, entrei medroso...<br />
Palpitava-lhe o seio adormecido...<br />
Fui beijá-la... roubei do seio dela<br />
um bilhete que estava ali metido...<br />
Oh! decerto... (pensei) é doce página<br />
onde a alma derramou gentis amores;<br />
são versos dela... que amanhã decerto<br />
ela me enviará cheios de flores...<br />
Tremi de febre! Venturosa folha!<br />
Quem pousasse contigo neste seio!<br />
Como Otelo beijando a sua esposa,<br />
eu beijei-a a tremer de devaneio...<br />
É ela! é ela! — repeti tremendo;<br />
mas cantou nesse instante uma<br />
coruja...<br />
Abri cioso a página secreta...<br />
Oh! meu Deus! era um rol de roupa<br />
suja!
NAMORO A CAVALO<br />
Eu moro em Catumbi: mas a desgraça,<br />
Que rege minha vida maldada,<br />
Pôs lá no fim da rua do Catete<br />
A minha Dulcinéia namorada.<br />
Alugo (três mil réis) por uma tarde<br />
Um cavalo de trote (que esparrela!)<br />
Só para erguer meus olhos suspirando<br />
A minha namorada na janela...<br />
Todo o meu ordenado vai-se em flores<br />
E em lindas folhas de papel bordado...<br />
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,<br />
Algum verso bonito... mas furtado.<br />
Morro pela menina, junto dela<br />
Nem ouso suspirar de acanhamento...<br />
Se ela quisesse eu acabava a história<br />
Como toda a comédia — em casamento...<br />
Ontem tinha chovido... Que desgraça!<br />
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,<br />
Mas lá vai senão quando... uma carroça<br />
Minhas roupas tafuis encheu de lama...<br />
Eu não desanimei. Se Dom Quixote<br />
No Rocinante erguendo a larga espada<br />
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,<br />
Fui mesmo sujo ver a namorada...<br />
Mas eis que no passar pelo sobrado,<br />
Onde habita nas lojas minha bela,<br />
Por ver-me tão lodoso ela irritada<br />
Bateu-me sobre as ventas a janela...<br />
O cavalo ignorante de namoro,<br />
Entre dentes tomou a bofetada,<br />
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo<br />
Com pernas para o ar, sobre a calçada...<br />
Dei ao diabo os namoros. Escovado<br />
Meu chapéu que sofrera no pagode...<br />
Dei de pernas corrido e cabisbaixo<br />
E berrando de raiva como um bode.<br />
Circunstância agravante. A calça inglesa<br />
Rasgou-se no cair de meio a meio,<br />
O sangue pelas ventas me corria<br />
Em paga do amoroso devaneio!...
Terceira geração romântica<br />
Pré-realismo<br />
Décadas de 60 e 70<br />
Condoreirismo<br />
Temas sociais e<br />
políticos<br />
Liberdade<br />
Tom exaltado e<br />
retórico<br />
Fagundes Varela<br />
Castro Alves
ABOLICIONISTA<br />
IDEOLOGIA REPUBLICANA<br />
POLITIZAÇÃO
Na poesia, Castro Alves é o nome de maior destaque da<br />
terceira geração romântica. Autor de Espumas Flutuantes<br />
(1870) e do poema Navio Negreiro, ele celebrizou-se pela força<br />
lírica dos poemas em favor da libertação dos escravos. Também<br />
é relevante nesse período a figura de Sousândrade (1833-1902).<br />
Autor de uma poesia com momentos ricos em<br />
experimentalismo, como se pode notar pela leitura de O Guesa<br />
(1868), ele também teve atuação importante como cronista<br />
político.<br />
As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a<br />
base do pensamento da inteligência brasileira a partir da<br />
década de 1870, que concentra a produção da chamada<br />
Terceira Geração do Romantismo e marca O INÍCIO DA<br />
TRANSIÇÃO PARA O REALISMO. Influenciados pela filosofia<br />
positivista e pelo evolucionismo professado por Auguste Comte,<br />
Charles Darwin e outros pensadores europeus, escritores<br />
importantes como Tobias Barreto, Silvio Romero e Capistrano<br />
de Abreu empenham-se na luta contra a monarquia. Ao lado<br />
deles, intelectuais de vasta formação humanística, como<br />
Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, e poetas de grande expressão,<br />
como Castro Alves, assumem papel de destaque na divulgação<br />
do novo ideário.
TOM RETÓRICO E EXALTADO<br />
Senhor Deus dos desgraçados!<br />
Dizei-me vós, Senhor Deus!<br />
Se é loucura... Se é verdade<br />
Tanto horror perante os céus...<br />
Ó mar! Por que não apagas<br />
Co’a esponja de tuas vagas<br />
De teu manto este borrão?...<br />
Astros! Noite! Tempestades!<br />
Rolai das imensidades!<br />
Varrei os mares, tufão!...<br />
(Castro Alves)
LIBERDADE <strong>–</strong> 1860<br />
“ Ó pátria, desperta... Não curves a fronte (...)<br />
Sê pobre, que importa? Sê livre... És gigante,<br />
Bem como os condores dos píncaros teus!”<br />
(Castro Alves)
Negras mulheres, suspendendo às tetas<br />
Magras crianças, cujas bocas pretas<br />
Rega o sangue das mães:<br />
Outras moças, mas nuas e espantadas,<br />
No turbilhão de espectros arrastadas,<br />
Em ânsia e mágoa vãs!<br />
E ri-se a orquestra irônica, estridente...<br />
E da ronda fantástica a serpente<br />
Faz doudas espirais ...<br />
Se o velho arqueja, se no chão resvala,<br />
Ouvem-se gritos... o chicote estala.<br />
E voam mais e mais...<br />
Presa nos elos de uma só cadeia,<br />
A multidão faminta cambaleia,<br />
E chora e dança ali!<br />
Um de raiva delira, outro enlouquece,<br />
Outro, que martírios embrutece,<br />
Cantando, geme e ri!
O "ADEUS" DE TERESA<br />
A vez primeira que eu fitei Teresa,<br />
Como as plantas que arrasta a correnteza,<br />
A valsa nos levou nos giros seus<br />
E amamos juntos E depois na sala<br />
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala<br />
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."<br />
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .<br />
E da alcova saía um cavaleiro<br />
Inda beijando uma mulher sem véus<br />
Era eu Era a pálida Teresa!<br />
"Adeus" lhe disse conservando-a presa<br />
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"<br />
Passaram tempos sec'los de delírio<br />
Prazeres divinais gozos do Empíreo<br />
... Mas um dia volvi aos lares meus.<br />
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "<br />
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"<br />
Quando voltei era o palácio em festa!<br />
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra<br />
Preenchiam de amor o azul dos céus.<br />
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!<br />
Foi a última vez que eu vi Teresa!<br />
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
PENSAMENTO DE AMOR<br />
Ó PÁLIDA madona de meus sonhos,<br />
Doce filha dos cerros de Engadi!...<br />
Vem inspirar os cantos do poeta,<br />
Rosa branca da lira de Davi!<br />
Todo o amor que em meu peito repousava,<br />
Como o orvalho das noites ao relento,<br />
A teu seio elevou-se, como as névoas,<br />
Que se perdem no azul do firmamento.<br />
Aqui... além... mais longe, em toda a parte,<br />
Meu pensamento segue o passo teu.<br />
Tu és a minha luz, - sou tua sombra,<br />
Eu sou teu lago, - se tu és meu céu.<br />
À tarde, quando chegas à janela,<br />
A trança solta, onde suspira o vento,<br />
Minha alma te contempla de joelhos...<br />
A teus pés vai gemer meu pensamento.
Lá, no teatro, ao som das harmonias,<br />
Vendo-te a fronte altiva e peregrina...<br />
Eu apertava o seio murmurando<br />
- "Oh! mata-me de amor, mulher divina!"<br />
Inda ontem, à noite, no piano<br />
Os dedos teus corriam no teclado;<br />
Que, às carícias destas mãos formosas,<br />
Gemia e suspirava apaixonado.<br />
Depois cantaste... e a ária suspirosa<br />
Veio nalma acender-me mais desejos;<br />
Dir-se-ia que essas notas eram doces<br />
Como sussurro de amorosos beijos.<br />
Oh! diz'me, diz'me, que ainda posso um dia<br />
De teus lábios beber o mel dos céus;<br />
Que eu te direi, mulher dos meus amores:<br />
- Amar-te ainda é melhor do que ser Deus!