Weekend 1197 : Plano 56 : 1 : P.gina 1- - Económico

20 | Outlook | Sábado, 19.12.2009
BEST OF
Lusa
Ao abrigo da arte
Estaéahistóriadeumconcursoquecombinaarquitectura e natureza,
arte e sustentabilidade. É promovido pelo Museu Guggenheim de Nova
Iorque e foi ganho por um português. Uma inspiração no momento
em que o mundo decide o que está disposto a fazer pelo ambiente
Apesar dos esforços e desenvolvimentos
políticos que
se traduzem na organização
de eventos como o COP15 –
a mega cimeira que terminou
ontem em Copenhaga
– e através das notícias trazidas a público
durante todo o tempo em que esta decorreu,
ficamos a conhecer a difícil tarefa a
que se propõem as grandes instituições
mundiais. A responsabilidade de desenvolvimento
de uma atitude sustentável –
eco-lógica - perante o panorama em que
se situa o nosso planeta, não pode assim ficar
dependente da actuação dos grandes.
É essa a mensagem que se tem tentado
passar e que, efectivamente, tem dado resultados.
A comprová-lo está o exemplo dado por
um grupo de acção ligado ao mundo da
cortiça em Portugal. Utilizando as novas
tecnologias de informação, mais precisamente
o Facebook, a Confraria do Sobreiro
e da Cortiça, através da sua chanceler, Teresa
Ramada-Curto, movimentou uma
alargada acção de divulgação e sensibilização
relativamente a um concurso internacional
baseado na questão da arquitectura
sustentável.
O concurso, de título “Design it: Shelter
Competion”, havia sido lançado pelo Museu
Guggenheim, Nova Iorque. A proposta
era a de, na sequência das exposições Frank
Loyd Whright: From Within Outward e
Learning by Doing, e convidar arquitectos
amadores e profissionais de todo o mundo a
realizarem um projecto em 3D, utilizando
ferramentas do Google (Google SketchUp e
Google Earth). O tema a abordar: a conceptualização
de um abrigo que se poderia localizar
em qualquer local do globo, considerando
fundamentalmente as preocupações
evidenciadas por toda linha de pensamento
e actuação de Frank Loyd Whrigt,
baseada na analogia entre a arquitectura e a
natureza. “Pode o seu abrigo relacionar-se
com o enquadramento natural e construído
que o rodeia?” era o desafio lançado. A par
dessa condição elementar, deveria ter uma
dimensão específica e uma distribuição espacial
determinada. Os materiais, obviamente,
deveriam corresponder aos imperativos
sustentáveis que serviam de pilar a
toda a acção e serem provenientes da zona
de implantação. Não tardou a que David
Mares (n. 1983) tivesse conhecimento do
mesmo e a pôr mãos à obra, tirando partido
das características da cortiça e apelidando o
seu projecto de CBS - Cork Block Shelter.
Este foi escolhido entre os quase 600 enviados
à instituição, provenientes de 68 países.
Contando com o apoio da Confraria do
Sobreiro e da Cortiça e através das redes de
comunicação contemporâneas, recebeu os
64.875 votos que o fizeram vencedor do
People’s Prize. É constituído por uma estrutura
rectangular cujas paredes de cortiça
promovem uma protecção térmica que
O abrigo pensado
pelo português
David Mares foi
o mais votado pelo
público de todo o
mundo entre os 600
projectos que foram
submetidos
a concurso
se traduz numa defesa face ao microclima
da localização em que se situa, Vale de Barris,
que se caracteriza por uma amplitude
profunda entre o calor seco e o frio húmido.
Como afirmou David Mares, “a sua fachada
dinâmica permite uma interacção visual –
numarelaçãoprivilegiadacomanatureza–
no contexto quotidiano de estudo ou trabalho,
ao mesmo tempo que, quando necessário,
facultando uma necessária privacidade,
quando em modo de descanso”.
O arquitecto estará este fim de semana
em Nova Iorque, onde terá a honra de receber
o seu prémio, e dessa forma, divulgar
uma das mais importantes actividades
económicas do nosso pais, a extracção e
indústria da cortiça. Segundo a UNAC –
União de Florestas Mediterrânica – este é
ainda uma campo económico profundamente
afectado pela actual crise e para o
qual se exige uma politica de implementação
de medidas que o revigorem. E atitudes
destas vêm com certeza dinamizar a
sensibilização para a questão económica a
todos os níveis, inclusive o da sustentabilidade,
assim como a divulgação e promoção
dos produtos portugueses no mundo.
Com apenas 33 anos, este arquitecto,
natural de Setúbal, recebe assim, o seu
primeiro prémio internacional. (ver o vídeo
do projecto em www.guggenheim.org/new-york/press-
-room/news/3064).
MARIA DO CARMO ESPÍRITO SANTO