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Weekend 1197 : Plano 56 : 1 : P.gina 1- - Económico

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36 | Outlook | Sábado, 19.12.2009<br />

ALMANAQUE<br />

O Vaticano diz que é uma “tendência imoral”, mas em todo o mundo<br />

há igrejas a serem transformadas em bares e discotecas. No Bairro<br />

Alto, a igreja de São Pedro e São Paulo aguarda comprador<br />

TEXTO BÁRBARA SILVA / FOTOS PAULA NUNES<br />

Em vez de um padre, uma<br />

‘striper’ no altar. Em vez de<br />

música religiosa e vozes angelicais,<br />

ritmos de dança e<br />

luzes psicadélicas. Em vez de<br />

fiéis na plateia, clientes alcoolizados<br />

e ávidos de diversão. O Vaticano<br />

está em choque. Na Hungria, uma igreja<br />

foi vendida para se transformar num<br />

clube de ‘striptease’. O arcebispo Gianfranco<br />

Ravisi, director do departamento<br />

cultural do Vaticano, fala de uma “tendência<br />

imoral”, em todo o mundo, para vender<br />

antigas igrejas que depois são convertidas<br />

em bares, discotecas, cinemas, museus,<br />

lojas, habitações e até escritórios.<br />

Aqui mesmo, em Lisboa, no coração do<br />

Bairro Alto, também há uma igreja à venda.<br />

Uma igreja que não é uma igreja (porque<br />

deixou de ser um templo católico há<br />

mais de 30 anos), mas que em tudo se parece<br />

com uma igreja: nave com coro alto,<br />

dez metros de pé-direito, quatro altares<br />

laterais e retábulo-mor, vitral dedicado a<br />

São Pedro e São Paulo (os santos que dão<br />

nomeàigreja),tectoemabóbadadeberço,<br />

frescos de Lourenço da Cunha, confessionários,<br />

órgão barroco e sinos, sepulturas<br />

com inscrições em latim.<br />

A Chamartín, proprietária do imóvel<br />

(integrado no condomínio de luxo Con-<br />

vento dos Inglesinhos, mas vendido como<br />

fracção autónoma), mantém o preço em<br />

segredo, mas garante que há interessados.<br />

Por se tratar de um imóvel “especial”, a<br />

promoção é discreta, com os mediadores<br />

imobiliários a contactarem directamente<br />

os possíveis interessados: fundações, galerias<br />

de arte, artistas, empresas que organizam<br />

eventos. Esses seriam os “compradores<br />

ideais” para João Leal Barreto, administrador<br />

executivo da Chamartín, sublinhando<br />

que o primeiro contacto foi feito<br />

com o Patriarcado de Lisboa, que não se<br />

mostrou interessado na compra. “Não está<br />

no circuito normal. É um nicho de mercado<br />

complicado. Não vem no jornal e até<br />

tem uma brochura específica, dada a exclusividade”,<br />

diz Leal Barreto. O restauro<br />

da igreja custou 1,5 milhões de euros.<br />

Apesar do secretismo, a venda da igreja<br />

de São Pedro e São Paulo chegou a estar<br />

anunciada na Internet , como um T0 com<br />

uma área útil de 772 metros quadrados,<br />

com cozinha equipada e aquecimento<br />

central, por dois milhões de euros. A Chamartín<br />

diz que é mentira e “foi um erro”.<br />

O espaço tem licença para receber comércio<br />

e serviços mas, acima de tudo,<br />

querem dar-lhe um “fim nobre” e um<br />

“uso digno”: “Pode ser um atelier de um<br />

artista, um espaço para exposições ou<br />

Na Hungria, uma<br />

igreja foi vendida<br />

para se transformar<br />

num clube<br />

de ‘striptease’.<br />

O Vaticano fala<br />

em “tendência<br />

imoral”<br />

eventos, uma galeria de arte. Nunca seria<br />

uma loja qualquer”, garante o responsável<br />

da Chamartín. A fracção tem uma área<br />

bruta privativa de <strong>56</strong>0 m2, que integra<br />

também um pátio sevilhano com 341m2,<br />

nove lugares de estacionamento e duas<br />

arrecadações com 28 m2. A vizinhança é<br />

selecta: 29 famílias que vivem no condomínio<br />

de luxo Convento dos Inglesinhos.<br />

Apesar da ausência de imagens e símbolos<br />

religiosos, quem entra pela primeira<br />

vez na igreja de São Pedro e São Paulo sente-se,<br />

de facto, numa igreja. O sítio é imponente<br />

e transpira história: foi erguida<br />

no século XVII, como parte do Venerável<br />

Colégio Pontifício de São Pedro e São Paulo,<br />

construído no Bairro Alto pelos católicos<br />

ingleses refugiados em Portugal. Sobreviveu<br />

ao terramoto de 1755, mas ficou<br />

torta para sempre. Em 1976 foi desactivada<br />

pela Igreja Católica e nos anos 80 a Santa<br />

Casa da Misericórdia comprou o edificado.<br />

Nos anos 90 foi adquirido pela Chamartín<br />

Imobiliária.<br />

Se em Portugal é caso raro, a dessacralização<br />

de igrejas é comum no Reino Unido,<br />

Holanda, Alemanha e Suíça. No Reino<br />

Unido, algumas igrejas foram transformadas<br />

em mesquitas e no Chipre a antiga<br />

catedral de São Nicolau é agora a mesquita<br />

Lala Mustafa Pasha. Em Maastricht, na

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