O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo
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isso <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser uma das usanças mais poéticas e tocantes <strong>do</strong><br />
cristianismo.<br />
O Rio <strong>de</strong> Janeiro possui em seus aprazíveis e magníficos arrabal<strong>de</strong>s<br />
mais <strong>de</strong> uma ermida, que to<strong>do</strong>s os anos em dias certos atrai imenso<br />
concurso <strong>de</strong> romeiros. A nobre e altiva Paulicéa também to<strong>do</strong>s os anos vê<br />
saírem <strong>de</strong> seu seio milhares <strong>de</strong> habitantes, que em <strong>de</strong>vota romaria vão levar<br />
oferendas e votos à milagrosa Nossa Senhora da Penha, que se a<strong>do</strong>ra em<br />
sua linda capela erigida a duas léguas da cida<strong>de</strong> em um risonho outeiro, que<br />
<strong>do</strong>mina as aprazíveis lezírias por on<strong>de</strong> remanseia o Tietê.<br />
Em Minas quem não tem ouvi<strong>do</strong> falar no irmão Lourenço, nesse novo<br />
Paulo Eremita, que nos frague<strong>do</strong>s da Serra <strong>do</strong> Caraça passou a vida na<br />
prática <strong>do</strong> mais rigoroso ascetismo e da mais austera penitência, e lá num<br />
recinto circunda<strong>do</strong> <strong>de</strong> crespas e alterosas serranias erigiu um templo com a<br />
invocação <strong>de</strong> Nossa Senhora Mãe <strong>do</strong>s Homens, e lançou os fundamentos da<br />
gran<strong>de</strong> instituição <strong>do</strong> seminário Caraça, que <strong>de</strong>via servir <strong>de</strong> núcleo aos filhos<br />
<strong>de</strong> Vicente <strong>de</strong> Paula para espalharem a luz da instrução e da fé por toda a<br />
província?<br />
A capelinha <strong>de</strong> Nossa Senhora da Lapa, perto <strong>do</strong> arraial <strong>de</strong> Antônio<br />
Pereira, a duas léguas <strong>de</strong> distância <strong>do</strong> Ouro Preto, cavada pela natureza no<br />
flanco <strong>de</strong> uma montanha, é objeto também <strong>do</strong> fervoroso culto <strong>do</strong>s fiéis, e da<br />
admiração <strong>do</strong>s curiosos.<br />
Nas altas e escabrosas cumeadas <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> cordilheira campea o<br />
arraial <strong>de</strong> S. Tomé das Letras com suas alvas casinhas, semelhan<strong>do</strong> um<br />
ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> brancas pombas pousadas sobre o teto <strong>do</strong> antigo templo <strong>de</strong>rroca<strong>do</strong><br />
e <strong>de</strong>negri<strong>do</strong> pelo tempo. É crença <strong>do</strong> povo que o apóstolo S. Tomé viajou e<br />
pregou na América, e a alguns sinais pareci<strong>do</strong>s com letras, que se notam em<br />
uma pedra, e que se acredita terem si<strong>do</strong> ali gravadas pelo apóstolo, <strong>de</strong>ve a<br />
povoação o seu nome.<br />
Congonhas <strong>do</strong> Campo, com sua rica e formosa capela ten<strong>do</strong> por orago<br />
o Sr, Bom Jesus <strong>do</strong> Matosinho, com seu vistoso adro <strong>de</strong> escadarias, povoa<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> profetas <strong>de</strong> pedra (escultura curiosa <strong>de</strong> um homem mutila<strong>do</strong> da mão<br />
direita, e que atava ao punho o instrumento com que trabalhava), atrai <strong>de</strong><br />
imensas distâncias os fiéis, que vêm pedir ao milagroso Jesus a cura <strong>de</strong> suas<br />
enfermida<strong>de</strong>s, ou cumprir pie<strong>do</strong>sas promessas.<br />
Há ainda inúmeras outras romarias disseminadas por toda a extensão<br />
<strong>do</strong> império. A origem da fundação <strong>de</strong> todas essas capelas é quase sempre a<br />
aparição miraculosa da imagem <strong>de</strong> algum santo no interior <strong>de</strong> uma caverna,<br />
no seio <strong>de</strong> uma floresta, no leito <strong>de</strong> um córrego, ou mesmo no côncavo <strong>de</strong><br />
um tronco. Os filósofos <strong>do</strong> século, os apóstolos da <strong>de</strong>scrença riem-se com<br />
<strong>de</strong>sdém <strong>de</strong>ssas ingênuas e tocantes crenças <strong>do</strong> povo. Todavia seus<br />
engenhosos raciocínios, seus sistemas transcen<strong>de</strong>ntes, não po<strong>de</strong>m substituir<br />
essa fé viva e singela, que alenta e consola o homem <strong>do</strong> povo nos<br />
trabalhosos caminhos da vida. Embora envolvida no cortejo <strong>de</strong> mil<br />
superstições grosseiras, <strong>de</strong> mil tradições absurdas, <strong>de</strong>ixemos-lhe essa fé,<br />
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