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O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo

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estrangeiro foragi<strong>do</strong>. Bem sei que as florestas imensas estão à nossa<br />

disposição, e que em qualquer canto da terra, sem nada mais que o nosso<br />

amor, seríamos felizes, como o somos agora <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta lapa zomban<strong>do</strong><br />

das tormentas, que aí rugem pelo mun<strong>do</strong>. Mas tu bem sabes, jurei lealda<strong>de</strong><br />

e prometi meus serviços a Oriçanga e à sua tribo, e a nossa fuga seria uma<br />

torpe traição, em que nem eu nem tu consentiríamos jamais. Entretanto eu<br />

te amo com amor inextinguível, e creio que nem na terra nem no céu há<br />

po<strong>de</strong>r para apagar esta chama viva e pura que ar<strong>de</strong>-me no coração, e nem<br />

<strong>de</strong> leve posso suportar a idéia <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r-te um dia. Ó<br />

Guaraciaba, minha <strong>do</strong>ce e pura Guaraciaba! Pu<strong>de</strong>ssem estes momentos, que<br />

aqui passamos sós nesta caverna ignorada, ten<strong>do</strong> aos pés essa torrente,<br />

ampara<strong>do</strong>s por este pene<strong>do</strong> e guarda<strong>do</strong>s pela tempesta<strong>de</strong>, pu<strong>de</strong>ssem estes<br />

momentos prolongar-se por toda a eternida<strong>de</strong>!<br />

Estas palavras coavam <strong>do</strong>cemente pelos atentos ouvi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Guaraciaba,<br />

e lhe ressoavam na alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo<br />

tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indômito guerreiro<br />

pronunciar a seus pés palavras <strong>do</strong> mais submisso e mavioso amor, e<br />

respon<strong>de</strong>u-lhe cheia <strong>de</strong> emoção:<br />

— Itajiba, tuas falas são mais <strong>do</strong>ces para a minha alma <strong>do</strong> que os favos<br />

da jataí, ou o suco <strong>de</strong>licioso <strong>do</strong> abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração<br />

como a flor que estremece ao bafejo perfuma<strong>do</strong> das brisas da manhã. Tu me<br />

amas, bem o sei: e o amor que te consagro, também não é para ti nenhum<br />

segre<strong>do</strong>, embora meus lábios não o tenham revela<strong>do</strong>. A flor mesmo nas<br />

trevas se trai pelo seu perfume; a fonte <strong>do</strong> <strong>de</strong>serto escondida entre os<br />

roche<strong>do</strong>s se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Des<strong>de</strong> os<br />

primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor <strong>do</strong><br />

manacá aos primeiros raios <strong>do</strong> sol. Sinto que não po<strong>de</strong>rei viver mais senão<br />

ao teu la<strong>do</strong> e à tua sombra; se eles quiserem separar-me <strong>de</strong> ti, ah! morrerei<br />

como a flor que da sombra orvalhada <strong>do</strong> bosque foi transplantada para os<br />

areais <strong>de</strong> fogo. Mas, Itajiba, confiemos na proteção <strong>do</strong> céu; Tupá é bom e<br />

ampara os amores puros. Inimá bem <strong>de</strong>pressa se convencerá <strong>de</strong> que o não<br />

posso amar, procurará esquecer-se <strong>de</strong> mim, e <strong>de</strong>sistirá <strong>de</strong> suas pretensões;<br />

e meu pai <strong>de</strong>sliga<strong>do</strong> <strong>de</strong> suas promessas abençoará nosso amor. Amemo-nos,<br />

Itajiba, amemo-nos cada vez mais, se é possível, e o céu encarregará <strong>de</strong><br />

nosso futuro.<br />

E dizen<strong>do</strong> estas palavras Guaraciaba lançava seus mimosos braços ao<br />

colo <strong>de</strong> Itajiba e o bafejava com seu amor, como a baunilha que enlaça seus<br />

tenros vimes ao robusto e altivo tronco <strong>do</strong> <strong>de</strong>serto, e lhe distila em torno seu<br />

<strong>de</strong>licioso perfume.<br />

Itajiba, beben<strong>do</strong> com avi<strong>de</strong>z as suaves falas <strong>de</strong> Guaraciaba, foi-se<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> também enlevar pela ingênua e viva confiança que aquela alma<br />

inocente <strong>de</strong>positava na proteção <strong>do</strong> céu. A tempesta<strong>de</strong> tinha si<strong>do</strong> tão<br />

violenta quanto passageira. O mesmo vento impetuoso que a trouxera a<br />

varria rapidamente <strong>do</strong> firmamento e impelia as nuvens dilaceradas para além<br />

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