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VJ OUT 06 - Visão Judaica

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10<br />

* Breno Lerner é<br />

editor e gourmand,<br />

especializado em<br />

culinária judaica.<br />

Escreve para revistas,<br />

sites e jornais. Dá<br />

regularmente cursos e<br />

workshops. Tem três<br />

livros publicados,<br />

dois deles sobre<br />

culinária judaica.<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Breno Lerner*<br />

o princípio eram os vegetais...<br />

Na criação D-us reserva<br />

como alimento ao homem “...<br />

todas as plantas que dão sementes<br />

e todas as árvores em que haja<br />

fruto que dê semente...” (Gen 1:29).<br />

Assim, o cardápio inicial devia ser<br />

composto de trigo, cevada, centeio,<br />

aveia, painço entre os grãos. As sementes<br />

deveriam ser o girassol, gergelim,<br />

linho ou linhaça, abóbora e<br />

outras frutas. As oleaginosas: lentilhas,<br />

ervilhas, talvez o amendoim,<br />

quem sabe a soja.<br />

Berinjelas, pimentões, melões,<br />

pepinos, eventualmente quiabos abobrinhas<br />

e feijão de corda eram as<br />

suculentas mais consumidas.<br />

Das frutas, neste primeiro momento,<br />

as cítricas e aparentemente as<br />

palmáceas.<br />

Das nozes, amêndoas e pecans.<br />

Ou seja, o plano original era que<br />

o homem comesse plantas e frutas.<br />

Ocorre que após o pecado original,<br />

o homem é expulso do paraíso<br />

e condenado a tirar da terra o<br />

seu sustento, sendo incluídas em<br />

sua dieta as folhas verdes – a relva<br />

-, até então reservadas aos animais<br />

(Gen 3:17,19).<br />

Possivelmente passam a fazer<br />

parte da dieta a couve, a endívia,<br />

a escarola, a couve-flor e provavelmente<br />

nabos e beterrabas numa etapa<br />

posterior.<br />

Carne e peixe são adicionados ao<br />

cardápio humano após o dilúvio.<br />

D-us, após sentir o aroma da fumaça<br />

do sacrifício ofertado por Noé<br />

(Gen 8:21) concede aos homens to-<br />

A dieta bíblica<br />

dos os animais que se movem (Gen<br />

9:2) como alimento, apesar de já<br />

proibir o consumo de sangue.<br />

É também após o dilúvio que o<br />

homem conhece o vinho e seu primeiro<br />

“porre”. Noé planta a vinha,<br />

colhe a uva, faz o vinho e o bebe<br />

bem bebido (Gen 9:21).<br />

Vinho e bebedeira que, aliás, na<br />

história de Lot, vão ser pano de fundo<br />

de um dos momentos mais escabrosos<br />

da história bíblica (Gen<br />

19:31,38).<br />

Mais à frente serão diferenciados<br />

os animais puros dos impuros bem<br />

como restrições ao consumo de gordura<br />

(Lev 7:23,24) e até restrições a<br />

glutonice (Provérbios 23:2).<br />

Na chegada à Terra Prometida são<br />

introduzidos o leite e o mel, na verdade,<br />

o equilíbrio entre o carboidrato<br />

(leite) e a proteína (mel).<br />

Aliás, uma leitura genérica do<br />

texto sagrado nos leva a uma sensação<br />

de que o autor gostaria de uma<br />

dieta mais vegetariana e menos carnívora.<br />

A carne é mais reservada aos<br />

sacrifícios, festas, visitas, oferendas.<br />

Tem todo o código de impureza a ser<br />

respeitado, restrições diversas a seu<br />

consumo, a restrição maior de não<br />

mistura com o leite, enfim, tudo leva<br />

a crer numa forte preferência pelo<br />

alto consumo de vegetais.<br />

Alto lá diriam os médicos e nutricionistas.<br />

E as proteínas? De onde tiraria<br />

o homem bíblico suas proteínas?<br />

Até onde sabemos, o alimento<br />

mais completo que o homem conhece<br />

é o leite materno, ele contém ou<br />

deveria conter tudo que um ser humano<br />

necessita para uma alimentação<br />

100% equilibrada.<br />

Pois bem, pasmem, apenas 1,5 %<br />

de seu total é proteína, ou seja, um<br />

bom prato de brócolis tem mais proteínas<br />

que uma mamadeira!<br />

Em outras palavras, mais uma vez,<br />

o escritor do texto sagrado, mostra<br />

seu conhecimento da natureza humana,<br />

seu comportamento e suas<br />

necessidades.<br />

Conhecimento este que é consagrado<br />

e definitivo no que tange<br />

à dietas na história de Daniel, que<br />

terá sido não apenas o inventor<br />

da primeira e bem sucedida dieta<br />

como também o precursor do método<br />

científico com controle de<br />

amostragem, 2.000 anos antes de<br />

Sir Roger Bacon.<br />

Em 586 A.C. Nabucodonosor in-<br />

vade Jerusalém, destrói o Templo e<br />

leva cativo o povo judeu para a Babilônia,<br />

naquilo que convencionouse<br />

chamar primeira diáspora. Desta<br />

época vem a narração do Livro de<br />

Daniel e sua curiosa dieta.<br />

O grande Nabucodonosor pretendia<br />

converter os jovens judeus aos<br />

costumes e à religião local, ordenando<br />

ao seu chefe dos eunucos, Aspenaz,<br />

que lhes desse nomes babilônicos<br />

e os alimentasse com o melhor<br />

de sua cozinha e seus melhores vinhos,<br />

corrompendo assim suas mentes<br />

e seus costumes.<br />

Daniel e três de seus amigos,<br />

Hananias, Misael e Azarias recusamse<br />

a aceitar seus novos nomes Beltessazar,<br />

Sadraque, Mesaqu e Abede-Nego<br />

e principalmente a comida<br />

e o vinho.<br />

Após muita conversa com Aspenaz<br />

que teme ter sua cabeça cortada<br />

por causa dos quatro rebeldes,<br />

combinam fingir aceitar seus nomes<br />

e fazem um trato com o cozinheiro<br />

real. Durante 10 dias receberão<br />

apenas legumes e água. Se,<br />

ao cabo de dez dias, não estiverem<br />

em condições melhores que os outros<br />

jovens, não criarão problemas<br />

a Aspenaz e ao cozinheiro.<br />

Passados os 10 dias e comparados<br />

ao grupo de controle estão muito<br />

mais saudáveis e corados que os<br />

outros jovens, ficando assim isentos<br />

da comida impura e do vinho e<br />

sendo levados à presença do rei<br />

como sábios. O resto da história<br />

todos sabemos e, quando os persas<br />

chegaram e Nabucodonosor já tinha<br />

morrido louco, lá estava Daniel,<br />

aguardando Ciro.<br />

Estudando-se o que comiam os<br />

caldeus na época é de se presumir<br />

que Daniel e seus amigos tenham rejeitado<br />

carneiro temperado com muita<br />

cebola, alho-porró e algumas ervas.<br />

Possivelmente galinhas, pombas<br />

ou tordas, sempre assados ou fritos<br />

em gordura animal.<br />

Alguns peixes de mar, não muitos<br />

e sempre grelhados diretamente<br />

no fogo. Tudo sempre com pouco sal<br />

embora ele já fosse bem conhecido.<br />

A pimenta já era também utilizada<br />

e apreciada.<br />

Devem também ter recusado vinhos<br />

de alta graduação alcoólica,<br />

que eram bebidos diluídos em água<br />

ou misturados com ervas.<br />

Por outro lado devem ter comido<br />

lentilhas, trigo e cevada, sempre<br />

cozidos, em papas ou em farelo,<br />

apenas temperados com sal e<br />

uma ou outra erva. Eventualmente<br />

nabos ou abóboras ensopados ou<br />

em purê. Faziam-se conservas, mas<br />

acredito que devido às restrições<br />

ao vinho, Daniel e seus amigos não<br />

as experimentaram.<br />

A dieta babilônica já incluía folhas<br />

verdes e frutas, mas o texto do<br />

livro de Daniel refere-se exclusivamente<br />

a uma dieta de legumes.<br />

Fica aqui então, uma sugestão bíblica,<br />

para uma dieta, que vai te deixar<br />

mais saudável e mais corado (a)...<br />

Diverso estudo médico e sociológico<br />

tem abordado esta inclinação<br />

do texto sagrado por uma dieta vegetariana.<br />

Pouco se concluiu das<br />

razões que levaram a esta conduta.<br />

Povos nômades teriam como base de<br />

sua dieta os vegetais e o leite e seus<br />

derivados, mas consumiam naturalmente<br />

a carne. A aceitar-se o dilúvio<br />

como fenômeno universal, é de<br />

se supor uma mudança de hábitos<br />

alimentares uma vez que, com todas<br />

a vegetação destruída, o homem teria<br />

de servir-se um pouco mais da<br />

caça para alimentar-se.<br />

Todavia, toda constituição biológica<br />

e física do homem, o prepara<br />

para ser onívoro, mas com bons<br />

dentes caninos e excelente aparelho<br />

digestivo e enzimático, apto a<br />

consumir carne duas vezes ao dia,<br />

por maiores danos que isto cause<br />

no longo prazo.<br />

Será que o autor do texto bíblico<br />

já sabia de tudo isto?<br />

Como sempre, muito provavelmente,<br />

sim...<br />

Mês que vem tem mais papo de<br />

cozinha.

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