fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
As teóricas feministas alertam para a centralida<strong>de</strong> do corpo e <strong>de</strong> suas diferenças biológicas<br />
nos discursos dominantes, que pensam tais diferenças como irredutíveis. A diferença sexual<br />
pensada como imutável engendra <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e hierarquias <strong>de</strong> <strong>gênero</strong>, colocando a mulher<br />
em uma posição subordinada, pois presa à sua capacida<strong>de</strong> corporal e à idéia <strong>de</strong> que é natural<br />
gestar. Nesta lógica, a paternida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>finida como aspecto simbólico e a maternida<strong>de</strong>,<br />
esvaziada do seu caráter cultural é construída como matéria, como natureza e como terra que<br />
se há <strong>de</strong> fertilizar (TUBERT, 1996).<br />
Forte movimento, no sentido <strong>de</strong> promover a <strong>de</strong>snaturalização <strong>de</strong>ssa biologização é<br />
realizado ainda nos anos 70 quando as feministas reivindicam o controle sobre seus corpos e<br />
sobre a reprodução, criticando o i<strong>de</strong>al da maternida<strong>de</strong> obrigatória e compulsória, promovendo<br />
um florescimento <strong>de</strong> <strong>estudos</strong> <strong>de</strong>dicados a historicização da problemática imbricada na<br />
biologização da mulher. Em consonância às lutas e <strong>estudos</strong> dos anos prece<strong>de</strong>ntes, os anos 80<br />
aparecem como locus dos questionamentos <strong>de</strong> pressupostos dicotômicos enraizados, como os<br />
duos natureza/cultura e sexo/<strong>gênero</strong>. Questionam-se as visões universalizantes e<br />
essencializadas das diferenças sexuais. Os corpos <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser compreendidos como<br />
superfícies pré discursivas e naturais sobre as quais a cultura se inscreve. Desta maneira, a<br />
categoria sexo se <strong>de</strong>snaturaliza a<strong>de</strong>ntrando igualmente o campo das construções culturais e<br />
simbólicas <strong>de</strong>sfazendo-se, assim, a i<strong>de</strong>ia naturalizada do corpo feminino maternal.<br />
Neste sentido, Elisabeth Badinter (1985) problematiza o mito do amor materno ao<br />
questionar as bases on<strong>de</strong> <strong>de</strong>itam-se os discursos que impõem a tría<strong>de</strong> mulher-mãe-natureza.<br />
Assim, a autora historicamente <strong>de</strong>sconstrói a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que existe uma natureza feminina pré-<br />
estabelecida.<br />
Levantando a hipótese <strong>de</strong> que o amor materno não é inato, Badinter estabelece uma<br />
busca histórica que nos remete a socieda<strong>de</strong> francesa dos séculos passados, em especial dos<br />
séculos XVII e XVIII, on<strong>de</strong> a autora encontra os pilares que fundamentam a sua proposição<br />
<strong>de</strong> que o amor materno não é instintivo do ser feminino. Vale ressaltar que não é pretensão da<br />
autora negar a existência do amor materno, mas atentar para o fato <strong>de</strong> que ele não existe em<br />
todas as mulheres, assim como não é um componente indispensável à sobrevivência da<br />
espécie.<br />
A França urbana do século XVII vê surgir um discurso pedagógico e filosófico que<br />
situa a criança em um lugar significativamente diferente do que ela ocupa em nossa socieda<strong>de</strong><br />
atual. Segundo os preceitos <strong>de</strong>ssa época, a criança era tomada como débil <strong>de</strong> espírito e privada<br />
<strong>de</strong> razão, ou em casos menos acentuados, percebida como um estorvo do qual era necessário<br />
livrar-se. Existia uma gama <strong>de</strong> soluções possíveis para este aparente problema, e a rejeição e o<br />
12