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Resenha Meninos Não Choram

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS<br />

Aciepe – Direitos Humanos pelo Cinema<br />

Leticia C. Pavarina R.A 357650<br />

(<strong>Resenha</strong> sobre o filme <strong>Meninos</strong> não choram, EUA, 1999, Kimberly Peirce)<br />

<strong>Meninos</strong> jogam futebol, brincam de carrinho, enfrentam monstros em suas<br />

lutas e podem sair para explorar o quarteirão. Meninas brincam de casinha,<br />

maquiam suas bonecas e inventam coreografias para suas músicas preferidas.<br />

Sempre bem delimitados são os limites entre o que é para meninas e o que é para<br />

meninos, para um menino não é bem visto brincar de casinha e para uma menina<br />

não seria de bom tom brincar de lutinha.<br />

De diferentes formas somos ensinados a nos comportar de acordo com o<br />

sexo que nascemos, sente de perna fechada, não fale alto, olha a postura, e assim<br />

aprendemos que essas regras que vão desde o modo de se vestir, a fala, nos<br />

enquadra em padrões e que ao escolher estar fora deles, seremos julgados.<br />

No filme francês Tomboy de Céline Sciamma, Laura, uma menina de cerca<br />

de dez anos acaba de se mudar com sua família para um novo bairro, neste ela<br />

conhece uma vizinha da mesma faixa etária que a confunde com um menino, pelo<br />

modo como Lauren se veste e por ter o cabelo curto. Laura decide então não<br />

esclarecer a confusão feita pela menina e passa a assumir a identidade masculina,<br />

adotando o nome de Michael, para a nova colega e sua turma.<br />

O filme mostra situações cotidianas de brincadeiras entre crianças e nele<br />

aparece bem a separação entre os gêneros, como em uma cena em que os<br />

meninos estão jogando futebol e uma menina não participa, fica apenas assistindo.<br />

Nessa atitude de mudança da ordem Laura se sente bem, buscando ser ela mesma<br />

e ser aceita pelo grupo e o filme mostra isso de forma leve e com humor, ao retratar<br />

como Lauren sai de diversas situações em que se mete por se passar por menino.<br />

Em <strong>Meninos</strong> não choram o filme retrata a história real de Teena Brandon,<br />

uma mulher que quer se tornar um homem, para tal ela passa a vestir-se,<br />

comportar-se e agir como um, tornando-se assim Brandon Teena. No meio de uma


confusão em um bar Brandon conhece alguns jovens e vai com eles para a cidade<br />

de Fall City, Nebraska, lá ele fica mais próximo desses jovens e conhece novas<br />

pessoas se apaixonando por uma garota. Após um acontecimento em que Brandon<br />

infringi a lei ele é preso, e sua verdadeira identidade aparece no jornal da cidade. A<br />

partir dai uma onda de violência assola a vida de Teena, inconformados por serem<br />

enganados dois de seus amigos, a levam a um lugar distante, a violentam e a<br />

espancam.<br />

Os dois filmes retratam em idades diferentes o desejo de ser aceito por aquilo<br />

que se é, ou que se sente bem em ser e que a intolerância em não aceitar o outro,<br />

não respeitar o modo como o outro decide ser e viver ainda é muito forte. O<br />

diferente causa medo, uma confusão na ordem, mostrando que o considerado<br />

correto pode não servir pra todo mundo.<br />

Em <strong>Meninos</strong> não choram não há tolerância, não há se quer a tentativa de<br />

procurar entender o outro, o que ocorre é uma reação acida, cruel, deixando em<br />

quem assiste o filme, aquela sensação ruim, que vai sufocando, se tornando maior<br />

no decorrer do filme, não é um filme fácil de esquecer ao final, ele continua<br />

martelando na mente durante alguns dias. É difícil de digerir toda a história quando<br />

se lembra de que ela foi baseada em uma história real.<br />

Os estereótipos aos quais meninas e meninos tem que corresponder não são<br />

completamente ruins ou falsos, muitos meninos amam esportes e muitas meninas<br />

adoram decorar a casa e se arrumar, mas quando esses estereótipos se tornam<br />

limitadores é que surge o problema. Ainda hoje a um número muito pequeno de<br />

mulheres em profissões voltado para a área de exatas, meninas devem ir bem nos<br />

estudos tanto quanto os meninos, entretanto elas seriam ruins em matérias para as<br />

áreas “consideradas” mais cientificas.<br />

Para os meninos que seguem carreira em determinadas áreas das ciências<br />

humanas também a um estigma, principalmente relacionado a sua sexualidade. Isso<br />

também ocorre com os garotos que não são tão ligados em esportes.<br />

Já existe em alguns países famílias que não determinam o que os filhos<br />

devem ou não usar, criando os filhos sem delimitação de gêneros, elas os deixam


livres para gostarem do que quiserem e eles mesmo conforme vão crescendo, irem<br />

lidando e entendendo qual o significado do gênero para eles.<br />

Essa pode vir a ser uma boa alternativa para que as pessoas aprendam a<br />

conviver e respeitar o diferente, apesar de ainda existir muita intolerância e<br />

preconceito é através de pequenos e grandes gestos e lutas que as coisas podem<br />

mudar, para que ninguém mais seja mal tratado por se vestir, ser ou falar de um<br />

modo diferente daquele que se considera o ideal.

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