a leitura do texto literário ea busca da identidade: leitores na ... - UEM
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<strong>texto</strong> significa?”, mas “o que o <strong>texto</strong> significa para mim?”, ou seja, a relação <strong>do</strong> <strong>texto</strong><br />
com o EU.<br />
Apesar de a proposta <strong>da</strong>r ênfase maior para o processo de autoconhecimento <strong>do</strong><br />
leitor através <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, a <strong>leitura</strong>, para Kügler, não se resume ape<strong>na</strong>s a isso. Devem ser<br />
leva<strong>da</strong>s em consideração as três etapas pelas quais o leitor deve passar.<br />
Para melhor eluci<strong>da</strong>r a proposta <strong>do</strong> autor, explicitaremos ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s etapas<br />
de recepção. Na <strong>leitura</strong> primária, temos a silenciosa compreensão afetiva <strong>do</strong> <strong>texto</strong> (o que<br />
o <strong>texto</strong> significa para MIM). Neste momento, o leitor deve encontrar no <strong>texto</strong> um lugar<br />
de sua dimensão pessoal. A partir <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> silenciosa, comentários subjetivos são<br />
feitos, tais como “Eu já senti isso”, “eu sou assim”, “<strong>na</strong> minha vi<strong>da</strong> também já<br />
aconteceu isso”, entre outros comentários pessoais.<br />
Além disso, três traços caracterizam a <strong>leitura</strong> primária. O primeiro deles é a<br />
<strong>leitura</strong> não duplica<strong>da</strong>, <strong>na</strong> qual o leitor não duplica a linguagem origi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> <strong>texto</strong> ou<br />
tampouco a associa a uma linguagem crítica e <strong>da</strong> teoria literária:<br />
[...] a <strong>leitura</strong> primária é, necessariamente, não-crítica e<br />
afirmativa. O leitor penetra <strong>na</strong>s perspectivas ofereci<strong>da</strong>s pelo<br />
<strong>texto</strong>, completa os espaços esquemáticos e transpõe as<br />
informações recebi<strong>da</strong>s em representações, que continuam a<br />
existir <strong>na</strong> sua consciência consideravelmente libertas, embora<br />
não independentes <strong>da</strong> configuração textual. (Kügler, 1987,p, 36)<br />
Nesta etapa, o leitor passa pelo processo de formação <strong>da</strong> ilusão, que é pessoal.<br />
Há a relação com o <strong>texto</strong> porque o leitor o co-produziu. É a partir <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> ilusão<br />
que temos a segun<strong>da</strong> característica de <strong>leitura</strong> primária, intitula<strong>da</strong> por Kügler de projeção<br />
e auto-inserção simulativa, <strong>na</strong> qual o leitor cria representações e projeções pessoais com<br />
as quais se insere no <strong>texto</strong> como atuante e passa a executar padrões e comportamentos<br />
ofereci<strong>do</strong>s pelo <strong>texto</strong>. O leitor identifica-se com a perso<strong>na</strong>gem, com o espaço, com a<br />
história e passa, com base <strong>na</strong>s informações <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, a criar sua própria imagem, suas<br />
perso<strong>na</strong>gens, sua <strong>na</strong>rrativa.<br />
A etapa fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> primária é marca<strong>da</strong> pelo deslocamento e pela<br />
condensação <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. O deslocamento caracteriza-se por aquilo que o <strong>texto</strong> representa<br />
para o leitor, “o que é o <strong>texto</strong> para mim”, atenden<strong>do</strong> às expectativas e às necessi<strong>da</strong>des<br />
próprias <strong>do</strong> mesmo. A compreensão, as possíveis contradições e as explicações<br />
presentes no <strong>texto</strong> são deixa<strong>da</strong>s à margem. Em contraparti<strong>da</strong>, <strong>na</strong> condensação, temos a<br />
reflexão (o que é o <strong>texto</strong> para MIM acresci<strong>do</strong> de uma reflexão), que <strong>na</strong><strong>da</strong> mais é que<br />
uma articulação de significa<strong>do</strong>. Rompemos assim com a noção de que o <strong>texto</strong> atende<br />
ape<strong>na</strong>s às expectativas <strong>do</strong> EU, pois há ruptura com a formação de ilusão e conseqüente<br />
articulação <strong>do</strong> significa<strong>do</strong>, o que fi<strong>na</strong>liza a etapa de <strong>leitura</strong> primária.<br />
No segun<strong>do</strong> nível de <strong>leitura</strong> proposto por Kügler, a constituição coletiva <strong>do</strong><br />
significa<strong>do</strong>, o leitor aprende a elaborar e articular a experiência de <strong>leitura</strong> vivi<strong>da</strong> por ele<br />
e a defender suas idéias perante os outros. Tal mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de <strong>leitura</strong> é r<strong>ea</strong>liza<strong>da</strong> pelo<br />
grupo de aprendizagem no qual o leitor está inseri<strong>do</strong>. Desta maneira:<br />
A constituição coletiva <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> (elaboração e confronto <strong>do</strong>s<br />
mo<strong>do</strong>s de ler de responsabili<strong>da</strong>de subjetiva <strong>na</strong> sala de aula) ocorre, <strong>na</strong><br />
ver<strong>da</strong>de, com a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> ilusão, logra<strong>da</strong> <strong>na</strong> <strong>leitura</strong> primária, e com o<br />
acréscimo de tentativas de racio<strong>na</strong>lização <strong>da</strong> experiência de <strong>leitura</strong>.<br />
(Kügler, 1987, p. 38)<br />
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