mo~ao paga que extraio dos livros adolescencia - Aurora Luque
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1. Poemas traduci<strong>dos</strong> al portugués por Joaquim M. Magalhâes<br />
2. Poemas traduci<strong>dos</strong> al portugués por Alberto Augusto Miranda<br />
TABELA<br />
Com a emoção pagã <strong>que</strong> <strong>extraio</strong> <strong>dos</strong> <strong>livros</strong><br />
e da <strong>adolescencia</strong><br />
cheguei ao amor e voltei.<br />
Também regressei do abismo<br />
E quase não me espantam<br />
os esforços titânicos da arte<br />
para aclarar a eterna turvação <strong>dos</strong> dias.<br />
CASINO JUNTO AO MAR<br />
O amor é um jogo<br />
de azar do universo.<br />
Há apostas imensas<br />
nas mesas e alguns<br />
sorriem para o tabuleiro.<br />
A ânsia de voltar a lançar os da<strong>dos</strong>,<br />
de merecer os trajectos luminosos<br />
e ficar apanha<strong>dos</strong> para sempre<br />
em maléficos casinos.<br />
Nao importamjá <strong>que</strong> quantias, <strong>que</strong> cômputo de astros,<br />
<strong>que</strong> derrotas avultadas alarmam o destino,<br />
o impecável dono da sala.<br />
O amor é o jogo<br />
de perder universos.<br />
1
MANUAL DO FAROLEIRO<br />
-Quando vislumbro um barco<br />
mudo as minhas luzes, deixo<br />
acreditar com perversidade num consolo,<br />
numa enseada plácida: chamam-me<br />
farol do falso sul; eu sei <strong>que</strong> tudo é falso.<br />
Sou solidário pois com o destino<br />
de to<strong>dos</strong> os viajantes: deixo-os ser conscientes<br />
entre ondas nocturnas<br />
da estúpida crista <strong>dos</strong> seus sonhos.<br />
O fundo de água negra fala-lhes do nada.<br />
Da estrada<br />
entrevêem-me os breves automóveis<br />
com furtivos pares.<br />
Poderia aniquilá-los. Mas prefiro afundar<br />
as branquíssimas proas<br />
desses barcos altivos <strong>que</strong> acreditam no sul.<br />
DESOLAÇAO DA SEREIA<br />
Sereia. As sereias. A palavra sereia.<br />
Como se desmoronam<br />
as palavras luminosas, portadoras<br />
de gérmenes de mito.<br />
Escutou as sereias. Escuto uma sereia.<br />
Apenas fica nas sílabas<br />
um eco atroz de alarme<br />
e o ruído da morte.<br />
Será urna doença<br />
mortal a da linguagem?<br />
LEITURA DE VIRGÍLIO<br />
Sibila ao domicílio. Quis ser a sua sibila.<br />
-Dá-me sonhos - disse-lhe.<br />
Há sonhos destina<strong>dos</strong> ao alto mar<br />
tempus inane peto, requiem spatium<strong>que</strong> furori<br />
(Virg., En. IV, 433)
como barcos <strong>que</strong> <strong>que</strong>rem morrer fora do porto.<br />
* *<br />
Será outra vez verâo e <strong>dos</strong> mapas<br />
recortarás as ilhas.<br />
O tempo de estar mortos<br />
<strong>que</strong> delícia consegui-Io<br />
para esse estranho limbo do <strong>que</strong> tem amor<br />
quando o Tempo decide não tremer, não se mover,<br />
não rasgar a luz e contemplar-nos.<br />
Será outra vez verão. A memória<br />
nunca encontrará esses mapas.<br />
* *<br />
E tudo para quê,<br />
se no fundo do sonho<br />
Dido passa à distancia.<br />
A ILHA DE MÁCAR<br />
Há uma ilha dentro da noite.<br />
Varre a brisa o óxido de um porto abandonado.<br />
Em sonhos falo a sós. Com a qualidade de corpos<br />
submarinos, a noite<br />
traz do seu fundo restos de palavras.<br />
Voltam as sensações, mandíbulas de peixes de outro mar,<br />
e os desejos nadam caprichosos<br />
como delfins livres e convida<strong>dos</strong>.<br />
Na ilha de Mácar, quando fecham os bares,<br />
o mar tira de si o seu veludo.<br />
Um fluido incandescente de memória circula<br />
tão dentro desse sonho <strong>que</strong> no caso<br />
de aflorar a superfície com as pálpebras<br />
é tão letal o dia<br />
quanto a mais escura substância da morte.
Poemas de Camaradas de Ícaro en traducción al portugués de Alberto<br />
Augusto Miranda<br />
(Publica<strong>dos</strong> en www.incomunidade.com.sapo.pt)<br />
A CRATERA DE HIPATIA<br />
Canta Albert Pla <strong>que</strong> a lua se esconde<br />
para cagar estrelas. Os cantautores cagam<br />
qual<strong>que</strong>r coisa.<br />
A ideia é velha, velha,<br />
como a própria lua venerável:<br />
A lua pretende-se<br />
uma coisa mais inter nos. Os poetas puseram<br />
a lua e o céu a fazer de tudo:<br />
tremeluzir, acompanhar, escutar, ter noivo.<br />
Um sideral minuto de silêncio<br />
para ela. Por ela:<br />
Hipatia tem uma cratera dedicada<br />
algum poro lunar, alguma estria<br />
desse mudo emplastro de cal branca<br />
se chama como ela.<br />
Hipatia, os humanos<br />
não merecem a lua e o seu mistério<br />
nem os teus desejos livre nem o teu nome.<br />
ANIMALIA II<br />
São peixes abissais,<br />
cegos no mais fundo de sus corpos,<br />
com uma apaixonada cegueira <strong>que</strong> os cobre<br />
como se fosse pele.<br />
Deslocam-se fogosos por abismos e fossas,<br />
submersos e despi<strong>dos</strong><br />
de suas próprias escamas,
organismos exaustos e incolores<br />
saben<strong>dos</strong>e matérias em via de extinção.<br />
Falo <strong>dos</strong> Desejos: <strong>dos</strong> sobreviventes<br />
<strong>dos</strong> desejos.<br />
Para quê o seu es<strong>que</strong>leto,as suas barbatanas cortantes,<br />
a sua gelatina branca, o seu existir<br />
sinuoso e submarino<br />
e os seus carapazões simula<strong>dos</strong>.<br />
São espécies distintas e inimigas<br />
e cada uma esgota<br />
o seu ardente reportório, a sua letal emergência<br />
poisnão se reproduzem em nenhuma<br />
leve modalidade de cativeiro.<br />
-Quando subir nas redes gotejantes<br />
deixa-me, e <strong>que</strong> a luz<br />
me dissolva e me apague.<br />
GIRASSÓIS DE KARLSPLATZ<br />
Apanhas sol nas antigas línguas extintas.<br />
Ne scitis ne<strong>que</strong> diem ne<strong>que</strong> horam.<br />
Cavalgarás o largo dorso de um centauro<br />
os seus dois voluptuosos costa<strong>dos</strong> sucessivos<br />
sobre os girassóis macera<strong>dos</strong>.<br />
O sol terá a culpa: vai soldando cavalos,<br />
músculos húmedeci<strong>dos</strong>, costa<strong>dos</strong> combustíveis.<br />
Cavalgarás o lombo fervente do centauro...
AO ENCONTRAR NA INTERNET UM MAPA DO MUNDO<br />
SUBTERRÁNEO<br />
Morrer tem um guia privado de viagem.<br />
Caminhar na margem de um rio murmurante<br />
e es<strong>que</strong>cer o som da palavra rio.<br />
Pisar erva muito fresca e muito obscura<br />
Estrear roupa negra: ser apenas roupa negra.<br />
Viver a vida foi tantalizar<br />
Possuir tanta fruta <strong>que</strong> nunca saciava.<br />
Não tentes consolar-me da morte,<br />
consola-me talvez <strong>dos</strong> andaimes<br />
parti<strong>dos</strong> da vida.<br />
Tenuidade da sombra,<br />
dívidas como bar<strong>que</strong>iro.<br />
-Não <strong>paga</strong>rei a Caronte do meu próprio bolso.<br />
(Publica<strong>dos</strong> en www.incomunidade.com.sapo.pt)