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Capivaras do Lago Paranoá - Embrapa Recursos Genéticos e ...

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

FAUNA<br />

Zooplâncton<br />

Comunidade<br />

Bentônica<br />

Peixes<br />

Anfíbios e<br />

Répteis<br />

Avifauna<br />

Mastofauna<br />

<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

CAPIVARAS DO LAGO PARANOÁ<br />

José Roberto Moreira, biólogo, <strong>do</strong>utor em biologia<br />

Patrícia Ribeiro Salga<strong>do</strong> Pinha, bacharel em engenharia florestal<br />

Hélio Jorge da Cunha, bacharel em ciências biológicas<br />

Com o enchimento <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, em 1959, as espécies da fauna da área<br />

alagada, dentre elas a capivara, foram expulsas para as cabeceiras <strong>do</strong>s rios<br />

forma<strong>do</strong>res ou para áreas menos adequadas para a sua sobrevivência. A ocupação<br />

humana provavelmente trouxe uma maior pressão de caça sobre espécies de<br />

potencial cinegético, bem como pode ter altera<strong>do</strong> o uso <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> espaço e da<br />

estrutura social e populacional das espécies da área. A presença da capivara<br />

nestas áreas de ocupação humana pode levar a conflitos de uso <strong>do</strong> espaço. Elas<br />

invadem os quintais das casas, comem as plantas <strong>do</strong>s jardins e hortas e sujam<br />

varandas e piscinas. A falta de informações sobre o animal pode levar ao me<strong>do</strong> de<br />

que ele ataque as pessoas ou transmita <strong>do</strong>enças.<br />

Por ser um animal generalista, muitas vezes a capivara beneficia-se das alterações<br />

ambientais antrópicas. É um animal que não está em risco de extinção e,<br />

aparentemente, sofre pouco com a expansão da ocupação humana. Pode mesmo<br />

vir a competir por alimento com o ga<strong>do</strong> bovino ou tornar-se peste de plantações<br />

de cana-de-açúcar, milho, arroz e outras culturas (Moreira, 1995).<br />

A presença de fauna de médio porte em área de ocupação humana, como é o caso<br />

da capivara, por sua vez, pode trazer para as pessoas o prazer da proximidade<br />

com a natureza, o desejo de proteção e o carinho por um animal nativo.<br />

Dessa maneira, em breve será necessário o desenvolvimento de uma estratégia de<br />

manejo <strong>do</strong>s grupos de capivaras <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>. Para isso, é necessário o<br />

conhecimento das relações entre os recursos disponíveis e a estrutura e a<br />

dinâmica da capivara na região. Entretanto, até o presente momento, nenhum<br />

estu<strong>do</strong> sobre as capivaras <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> foi realiza<strong>do</strong>.<br />

O projeto Capivara <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> que está sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> pela <strong>Embrapa</strong><br />

<strong>Recursos</strong> <strong>Genéticos</strong> e Biotecnologia tem como objetivo estudar os efeitos da<br />

presença da capivara sobre as populações humanas e as conseqüências da<br />

ocupação humana desta área sobre elas. Também tem o objetivo de encontrar<br />

informações que permitam a conservação das populações remanescentes de<br />

capivara na beira <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, a longo termo, e reduzam os distúrbios que<br />

elas causam às populações humanas locais.<br />

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O Maior Roe<strong>do</strong>r


<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é o maior roe<strong>do</strong>r vivente e parente<br />

próximo da paca, <strong>do</strong> mocó, da cutia, <strong>do</strong> preá e <strong>do</strong> porquinho-da-índia (Moreira,<br />

1995). Na maior parte <strong>do</strong> Brasil ela é conhecida como capivara, mas no Rio Grande<br />

<strong>do</strong> Sul é também chamada de carpincho ou capincho; no Pará, por cupi<strong>do</strong> ou<br />

beque; e, em Goiás, por cubu. Seu nome científico descreve o hábito semiaquático<br />

vin<strong>do</strong> das palavras gregas hydrochoerus, que significa “porco d’água”, e<br />

hydrochaeris, que significa “amante da água”. Apresenta nadadeiras entre os<br />

de<strong>do</strong>s das patas, o que a faz excelente nada<strong>do</strong>ra. Seu couro apresenta poucas<br />

glândulas de suor, o que faz necessário o uso da água para esfriá-la. Também<br />

utiliza a água como abrigo contra preda<strong>do</strong>res e para a cópula (Ojasti, 1973). Os<br />

machos apresentam uma glândula no topo <strong>do</strong> focinho, o que os diferencia das<br />

fêmeas. São mais ativas no final das tardes e à noite.<br />

A capivara é encontrada desde o Canal <strong>do</strong> Panamá até a foz <strong>do</strong> Rio da Prata. O<br />

único país da América <strong>do</strong> Sul que não possui capivaras é o Chile e ela não é<br />

encontrada em outros continentes. O habitat ideal para a capivara são os campos<br />

alagáveis, como os <strong>do</strong> Pantanal Mato-grossense, das várzeas da Bacia Amazônica<br />

e da região <strong>do</strong>s lagos gaúchos. Adapta-se bem às alterações <strong>do</strong> ambiente.<br />

O nome vulgar “capivara” vem <strong>do</strong> tupi kapi’wara, que significa “come<strong>do</strong>r de<br />

capim”. A capivara alimenta-se, principalmente, de capins, geralmente de áreas<br />

alagadas, mas também inclui em sua dieta aguapés, cascas de árvores, folhas de<br />

arbustos, brotos de gravatás, etc. (Alho et al., 1987 a). Ao contrário <strong>do</strong> boi, a<br />

capivara não é um ruminante. Apresenta a digestão <strong>do</strong> capim no ceco - uma<br />

câmara de fermentação localizada no intestino (Ojasti, 1973). Aproveita a proteína<br />

proveniente da fermentação microbiana, comen<strong>do</strong> suas próprias fezes nas<br />

primeiras horas da manhã (Moreira & Mac<strong>do</strong>nald, 1997). Pesa em torno de 45 kg<br />

aos <strong>do</strong>is anos de idade, mas podem ser encontradas capivaras na natureza com<br />

mais de 60 kg.<br />

Atinge a maturidade sexual aos 12 meses de idade (Lópes-Barbella, 1987). A<br />

fêmea encontra-se fértil por to<strong>do</strong> o ano, mas na Amazônia e no Cerra<strong>do</strong> a maioria<br />

<strong>do</strong>s nascimentos ocorre no início da estação das chuvas. No Pantanal Matogrossense,<br />

no início da estação seca (Alho et al., 1987 b; Schaller & Crawshaw<br />

1981; Moreira & Cunha 1998). Apresenta um tempo de gestação relativamente<br />

grande - cinco meses, e tem em média um parto por ano. Algumas fêmeas podem<br />

parir duas vezes no ano. Uma média de quatro filhotes nasce por ninhada, já com<br />

pêlos e dentes, aptos para andar e pastam com poucos dias (Lópes-Barbella,<br />

1987).<br />

As capivaras vivem em grupos familiares fecha<strong>do</strong>s de cinco a 14 adultos,<br />

geralmente compostos por um macho <strong>do</strong>minante, diversas fêmeas aparentadas e<br />

alguns outros machos. O macho <strong>do</strong>minante é responsável por 50% das cópulas e<br />

os outros machos, <strong>do</strong> restante. As fêmeas amamentam qualquer filhote de seu<br />

grupo (Herrera & Mac<strong>do</strong>nald, 1987). O território da capivara mede de 5 a 16 ha,<br />

onde há área de pastejo, de corpos d’água e de um abrigo seco (Herrera &<br />

Mac<strong>do</strong>nald, 1989). Durante a estação seca, diferentes grupos podem formar<br />

grandes aglomerações em torno <strong>do</strong> que resta <strong>do</strong>s corpos d’água (Azcárate, 1981;<br />

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

Mac<strong>do</strong>nald, 1981; Jorgenson, 1986).<br />

É uma das espécies da fauna da América <strong>do</strong> Sul com grande potencial produtivo e<br />

excelentes condições para ser <strong>do</strong>mesticada. Antes da proibição da caça, a capivara<br />

era abatida para o uso de seu couro nas regiões mais ao Sul <strong>do</strong> Brasil. Já na região<br />

Amazônica, era abatida tanto para a venda <strong>do</strong> couro como da carne (Moreira &<br />

Mac<strong>do</strong>nald, 1996). Produz em abundância carne de boa qualidade e com baixo teor<br />

de gordura e de colesterol. Dependen<strong>do</strong> da forma de abate na natureza sua carne<br />

pode apresentar um gosto forte e desagradável. Entretanto, sen<strong>do</strong> abatida<br />

adequadamente, apresenta carne saborosa. A propriedade de seu couro de<br />

distender-se em apenas uma direção o faz adequa<strong>do</strong> para a produção de luvas.<br />

Também é utiliza<strong>do</strong> para a manufatura de sapatos, cintos, selas e estofa<strong>do</strong>s. A<br />

gordura é utilizada comercialmente, ten<strong>do</strong> fins medicinais (asma, alergias e<br />

reumatismo) e como revitalizante de energia (Moreira & Mac<strong>do</strong>nald, 1997).<br />

Atualmente, já existem mais de 50 autorizações para a criação comercial de<br />

capivara no Brasil.<br />

A formação <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, a redução <strong>do</strong><br />

hábitat<br />

e as mudanças comportamentais da capivara<br />

A retirada da vegetação das sub-bacias forma<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, para dar<br />

lugar às atividades urbanas e agrícolas, facilitou o surgimento de processos<br />

erosivos. Os materiais sóli<strong>do</strong>s carrea<strong>do</strong>s pelos tributários e galerias de água pluvial<br />

vêm sedimentan<strong>do</strong>-se no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> lago, provocan<strong>do</strong> o assoreamento. Em to<strong>do</strong>s os<br />

tributários verifica-se uma evolução <strong>do</strong> fenômeno, especialmente no Riacho Fun<strong>do</strong>.<br />

Os problemas antrópicos mais proeminentes dizem respeito ao aumento da<br />

densidade na bacia, proposto pelo atual Plano Diretor de Ordenamento<br />

Territorial (PDOT). Além disso, existe uma crescente pressão de con<strong>do</strong>mínios em<br />

torno das unidades de conservação. Isso tem contribuí<strong>do</strong> para o processo de<br />

fragmentação da vegetação natural dessas áreas, comprometen<strong>do</strong> a integridade<br />

<strong>do</strong>s ecossistemas terrestres e aquáticos (Pinha et al., 1999).<br />

O adensamento proposto pelo atual PDOT poderá contribuir para o assoreamento<br />

<strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, bem como para aumentar o processo erosivo e a perda laminar<br />

<strong>do</strong> solo em direção às calhas <strong>do</strong>s cursos d’ água, além <strong>do</strong> processo de<br />

fragmentação da vegetação natural. Já se pode observar inúmeras áreas<br />

degradadas, com matas fragmentadas, principalmente nas áreas de influência<br />

antrópica (Pinha et al., 1999).<br />

To<strong>do</strong>s esses fatores soma<strong>do</strong>s contribuíram e ainda contribuem negativamente para<br />

a manutenção das populações animais, em especial de capivaras, que ocupam a<br />

área <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>. Quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> enchimento <strong>do</strong> lago, essas populações foram<br />

expulsas para as cabeceiras <strong>do</strong>s rios forma<strong>do</strong>res ou para áreas menos adequadas<br />

à sua sobrevivência. As conseqüências da urbanização e da ocupação das margens<br />

foram a degradação da vegetação adjacente e <strong>do</strong>s rios tributários, a fragmentação<br />

<strong>do</strong> habitat pelo cinturão de casas e a maior pressão de caça, reduzin<strong>do</strong> ainda mais<br />

o habitat disponível, levan<strong>do</strong> os animais a uma proximidade mais estreita com as<br />

populações das margens.<br />

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

As comunidades que se encontram sob forte pressão antrópica geralmente<br />

apresentam alteração de comportamento e, aparentemente, esse também é o caso<br />

das capivaras <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>. Os grupos de capivaras que habitam o lago<br />

utilizam-se em grande parte de recursos disponíveis nas residências às margens<br />

(alimento, abrigo, etc.). Muitas vezes, valen<strong>do</strong>-se de um número grande desses<br />

terrenos, acabam por ocupar uma faixa estreita e longa como área de vida,<br />

situação que não é percebida em ambientes naturais. Além <strong>do</strong> uso inadequa<strong>do</strong> de<br />

seu habitat, também alteram seu uso <strong>do</strong> tempo, passan<strong>do</strong> a ser mais noturnas, ou<br />

aumentam o nível de alerta, a distância de fuga e a carga de estresse.<br />

Aparentemente, o tamanho <strong>do</strong>s grupos também está reduzi<strong>do</strong>, provavelmente<br />

devi<strong>do</strong> aos longos percursos a percorrer em busca de alimentos, ou ainda devi<strong>do</strong><br />

ao isolamento imposto pelo cinturão de casas que diminui o fluxo gênico entre as<br />

populações, poden<strong>do</strong> até ocasionar a reprodução entre indivíduos aparenta<strong>do</strong>s. O<br />

decréscimo no tamanho <strong>do</strong> grupo poderá reduzir a sobrevivência <strong>do</strong>s animais,<br />

como foi observa<strong>do</strong> em capivaras na Venezuela, onde um aumento na<br />

sobrevivência de jovens foi associa<strong>do</strong> ao aumento de tamanho <strong>do</strong> grupo (Herrera<br />

& Mac<strong>do</strong>nald, 1987). A longo prazo, esta situação pode alcançar a redução da<br />

diversidade genética, bem como da prolificidade da população, junto com o<br />

aparecimento de <strong>do</strong>enças genéticas e até a extinção local.<br />

Subsídios para a conservação da população<br />

de capivaras das margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

Os da<strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s referem-se à pesquisa, em andamento, junto aos<br />

mora<strong>do</strong>res das margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> em relação às capivaras que habitam a<br />

área. O projeto de pesquisa teve início no 2º semestre <strong>do</strong> ano 2000.<br />

A abundância de capivaras<br />

A estimativa <strong>do</strong> índice de abundância de capivaras vem sen<strong>do</strong> realizada com o<br />

auxílio de uma embarcação <strong>do</strong> Corpo de Bombeiros <strong>do</strong> Distrito Federal, sempre no<br />

perío<strong>do</strong> da noite, ao longo das margens <strong>do</strong> lago (Figura 1). Para o cálculo desse<br />

índice utiliza-se estimativa baseada nas contagens simultâneas de <strong>do</strong>is censores,<br />

equivalente ao méto<strong>do</strong> de captura-marcação-recaptura (Magnusson et al., 1978).<br />

As parcelas são preestabelecidas por intervalos de tempo (um minuto) e a<br />

embarcação procura manter velocidade (12 km/h) e distância da margem (20 m),<br />

constantes. A estimativa é realizada em quatro noites consecutivas, a cada <strong>do</strong>is<br />

meses, desde agosto de 2000.<br />

Esse méto<strong>do</strong> não permite o cálculo <strong>do</strong> tamanho populacional, mas facilita o<br />

acompanhamento das variações ao longo <strong>do</strong> tempo, sen<strong>do</strong> de grande importância<br />

para o desenvolvimento de qualquer programa de conservação da espécie.<br />

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

Ten<strong>do</strong> em vista que apenas as margens <strong>do</strong> lago são cobertas pelo levantamento, e<br />

que em virtude <strong>do</strong> assoreamento <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> a embarcação não consegue<br />

margear to<strong>do</strong> o seu perímetro, a estimativa aqui apresentada é, portanto,<br />

referente apenas à área amostrada. Por isso, muito provavelmente, o valor esteja<br />

subestima<strong>do</strong>, já que, justamente nos estuários de seus tributários, onde se<br />

encontram os melhores habitats para as capivaras, o assoreamento é mais<br />

acentua<strong>do</strong>. Nesses lugares ainda existem fragmentos de mata, que proporcionam<br />

abrigos mais seguros para os animais.<br />

A estimativa média <strong>do</strong> índice de abundância, realizada entre agosto e dezembro de<br />

2000, foi de 0,75 capivaras/km linear de margem <strong>do</strong> lago. A Figura 2 apresenta as<br />

localizações das capivaras nas margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> nas amostragens<br />

realizadas.<br />

Estu<strong>do</strong> da Relação entre a População Humana e as <strong>Capivaras</strong><br />

A fim de medir o conhecimento, a opinião e o interesse <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res das<br />

margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> em relação à população de capivara ali existente,<br />

desenvolveu-se um questionário, buscan<strong>do</strong> respostas claras, breves e objetivas.<br />

To<strong>do</strong>s os entrevista<strong>do</strong>res foram treina<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong> à imparcialidade <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s,<br />

manutenção <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> e uniformidade na execução das<br />

questões. A forma e o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> questionário foram extensamente estuda<strong>do</strong>s<br />

perseguin<strong>do</strong> sempre a obtenção de todas as informações relevantes ao objetivo<br />

proposto, a manutenção <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> em participar da pesquisa e,<br />

por fim, o menor grau de complexidade para elaboração de suas respostas.<br />

Realizou-se ainda um pré-teste em 21 residências, visan<strong>do</strong> a apenas testar a<br />

aplicabilidade <strong>do</strong> questionário e assim aperfeiçoá-lo.<br />

O questionário foi aplica<strong>do</strong> aos mora<strong>do</strong>res ou funcionários das residências que<br />

margeiam o <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>. Em um censo que englobou 392 residências, foram<br />

entrevistadas 163 pessoas no <strong>Lago</strong> Sul, 76 no <strong>Lago</strong> Norte, 95 no Setor de Mansões<br />

<strong>do</strong> <strong>Lago</strong> Norte e 9 no Núcleo Rural Córrego <strong>do</strong> Torto.<br />

Procurou-se avaliar:<br />

● o conhecimento e o interesse da população alvo sobre a capivara;<br />

● o grau de contato/interação da população com as capivaras e viceversa;<br />

● a entrada ou não das capivaras nas propriedades;<br />

● as formas de percepção da população em relação à presença das<br />

capivaras;<br />

● as atitudes da população em relação as capivaras;<br />

● as opiniões da população quanto a interação com as capivaras;<br />

● as formas de interação população-capivara e vice-versa;<br />

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

● os fatores que influenciam a interação população-capivara e viceversa;<br />

● alterações comportamentais das capivaras;<br />

● a opinião da população quanto ao consumo de carne de capivara e a<br />

apreciação pela mesma;<br />

● o interesse da população sobre a natureza em geral.<br />

Apresentaremos aqui apenas parte <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com os questionários,<br />

que ainda estão em processo de análise.<br />

As capivaras utilizam as áreas próximas às residências, ou costumam entrar nas<br />

propriedades localizadas às margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, em busca de alimento e<br />

abrigo para descanso e reprodução. A porcentagem das propriedades às margens<br />

<strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> nas quais as capivaras costumam entrar varia por região.<br />

Em função da utilização <strong>do</strong>s jardins de várias propriedades às margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong><br />

<strong>Paranoá</strong>, pelas capivaras, muitas pessoas se sentem incomodadas. As<br />

porcentagens <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s nas diferentes regiões <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> que se<br />

sentem, de algum mo<strong>do</strong>, incomoda<strong>do</strong>s pelas capivaras não são elevadas, mas<br />

demonstram que existe descontentamento de uma parcela da população. Vale<br />

salientar que já estão excluídas destas porcentagens aquelas propriedades que<br />

possuem muros ou outros obstáculos que impedem a entrada <strong>do</strong>s animais. As<br />

regiões onde as capivaras utilizam um maior número de propriedades, como no<br />

Setor de Mansões <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> Norte ou Núcleo Rural Córrego <strong>do</strong> Torto, não são<br />

necessariamente aquelas nas quais existe uma maior porcentagem das pessoas<br />

incomodadas.<br />

Os principais incômo<strong>do</strong>s referem-se à destruição <strong>do</strong> jardim. As capivaras comem<br />

várias plantas, principalmente bananeiras ornamentais e palmeiras, e estragam e<br />

sujam os jardins. Entretanto, existem outros incômo<strong>do</strong>s que as capivaras trazem<br />

para os mora<strong>do</strong>res das margens <strong>do</strong> lago: os cachorros latem demais, as capivaras<br />

infestam a propriedade de carrapatos, mergulham nas piscinas, espantam e<br />

machucam os cachorros, quan<strong>do</strong> ameaçadas. Além disso, algumas pessoas têm<br />

me<strong>do</strong> das capivaras e a simples presença <strong>do</strong> animal já as incomoda.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, várias pessoas declararam que as capivaras trazem algum tipo de<br />

benefício ou prazer (Figura 6). O <strong>Lago</strong> Sul é a região que apresenta as maiores<br />

porcentagens tanto de entrevista<strong>do</strong>s incomoda<strong>do</strong>s como daqueles que acreditam<br />

obter benefícios da presença da capivara. Dentre os benefícios ou prazeres mais<br />

cita<strong>do</strong>s, foram observa<strong>do</strong>s: o contato com a natureza; o prazer em saber da<br />

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

existência das capivaras no meio da cidade; poder vê-las, ou admirá-las; o corte<br />

da grama e a adubação <strong>do</strong> jardim pelos animais; o prazer em contar para amigos<br />

e familiares sobre a presença das mesmas na propriedade; e até a simples<br />

presença <strong>do</strong>s animais.<br />

O curioso é perceber que determina<strong>do</strong>s incômo<strong>do</strong>s para certas pessoas podem ser<br />

vistos como benefícios para outras. Por exemplo, alguns entrevista<strong>do</strong>s acham que<br />

as capivaras sujam os jardins com suas fezes enquanto outros acham que elas<br />

adubam.<br />

As pessoas têm diversas reações com relação à entrada das capivaras em suas<br />

propriedades. Existem aquelas que admiram e protegem as capivaras, chegan<strong>do</strong><br />

mesmo a alimentá-las, plantan<strong>do</strong> algo especialmente para elas comerem.<br />

Entretanto, também existem aquelas que já cercaram ou cercarão o terreno e/ou<br />

as plantas para que as capivaras não entrem ou não estraguem seus jardins.<br />

Existem também aqueles que espantam as capivaras ou que usam cachorros para<br />

isso. Por outro la<strong>do</strong>, em todas as regiões a reação mais comum foi a de não reagir<br />

com a presença delas na propriedade (Figura 7). Esses valores estão de acor<strong>do</strong><br />

com o baixo índice de incômo<strong>do</strong>s que as capivaras provocam nos entrevista<strong>do</strong>s.<br />

Em relação à opinião a respeito <strong>do</strong> que deveria ser feito com a população de<br />

capivaras <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, as respostas variaram com a região. Todavia, em<br />

todas as regiões, a maior parte <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s respondeu que os mora<strong>do</strong>res<br />

deveriam conviver com as capivaras, protegê-las ou não incomodá-las.<br />

Apenas uma pequena porcentagem das pessoas entrevistadas afirmou já ter<br />

experimenta<strong>do</strong> a carne de capivara, varian<strong>do</strong> de 20% (Setor de Mansões <strong>do</strong> <strong>Lago</strong><br />

Norte) a 33,33% (Núcleo Rural Córrego <strong>do</strong> Torto). O consumo de carne de<br />

capivara legalmente criada em cativeiro ainda é pouco difundi<strong>do</strong> entre a<br />

população. No Distrito Federal, já existem criatórios para produção de carne de<br />

capivara e alguns restaurantes oferecem-na em seus cardápios.<br />

De maneira geral, a população humana residente nas margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

gosta da presença das capivaras. Entretanto, a parcela da população que se sente<br />

incomodada com as capivaras, ainda que pequena, não pode deixar de ser<br />

considerada em um programa de conservação da espécie. A sobrevivência da<br />

população de capivaras <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> está muito relacionada com as pessoas<br />

que moram em suas margens. Por isso, trabalhos de educação ambiental serão<br />

fundamentais para a sua conservação no futuro próximo.<br />

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<strong>Capivaras</strong> <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong><br />

A redução <strong>do</strong> habitat das capivaras na região <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong> também é<br />

preocupante no que diz respeito a sobrevivência desse espécie, a longo prazo, na<br />

região. Com a crescente urbanização e o desmatamento às margens <strong>do</strong> lago, o<br />

habitat para as capivaras tem sofri<strong>do</strong> grandes reduções. A conservação da<br />

vegetação da foz <strong>do</strong>s tributários e das áreas verdes, bem como a manutenção de<br />

propriedades às margens <strong>do</strong> <strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>, que permitam o acesso das capivaras<br />

aos seus jardins, são medidas fundamentais para garantir o futuro dessa espécie<br />

na região.<br />

Um programa de monitoramento da área disponível para a capivara e da<br />

população remanescente deve ser posto em atividade com urgência. O mais<br />

importante de tu<strong>do</strong> é a conscientização das autoridades competentes, e <strong>do</strong><br />

governo local, para que seja possível o desenvolvimento de uma política para a<br />

conservação, a longo termo, da população de capivaras residente às margens <strong>do</strong><br />

<strong>Lago</strong> <strong>Paranoá</strong>.<br />

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Brasília-DF - Brasil - Telefax: 0**(61) 340-3782<br />

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